Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
HARRY STONE CRESCEU EM MEIO AO GLAMOUR, DINHEIRO, STATUS E PODER, COISAS QUE SEMPRE FORAM
COMUNS AO CLÃ STONE, CONHECIDO NÃO APENAS POR GERIR A MAIOR FÁBRICA DE ARMAS DO MUNDO, MAS
TAMBÉM PELA BELEZA QUE TRANSCENDIA AS GERAÇÕES. ENTRETANTO, DESDE MUITO NOVO DEMONSTROU UM
INTERESSE GENUÍNO PELA POLÍTICA. DIANTE DISSO, SEUS PASSOS FORAM CALCULADAMENTE GUIADOS PARA
QUE, UM DIA, CONSEGUISSE REALIZAR O GRANDE SONHO DE SE TORNAR PRESIDENTE DOS ESTADOS UNIDOS.
TUDO IA MUITO BEM, ATÉ ELE SE DAR CONTA DE QUE NÃO CONSEGUIRIA CHEGAR AO SALÃO OVAL SEM TER
UMA PRIMEIRA-DAMA AO SEU LADO.
PREPAREM-SE, POIS ESSE CONTO DE FADAS MODERNO IRÁ AQUECER NOSSOS CORAÇÕES.
VOLUME I
NOTA DA REVISORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
BÔNUS 01
VOLUME II
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 36
CAPÍTULO 37
CAPÍTULO 38
EPÍLOGO
BÔNUS 02
CONHEÇA A ESTÓRIA DE ZARA E BLAKE
TRECHO DE GAROTA VIP
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
CONTATOS DA AUTORA
O texto a seguir foi revisado de acordo com as novas Regras Ortográficas, entretanto,
com o intuito de deixar a leitura mais leve e fluida, a autora usou de linguagem informal em
vários momentos, especialmente nos diálogos, para que estes se aproximassem da comunicação
oral cotidiana, por isso, é possível encontrar objetos que não estão em conformidade com a
Gramática Normativa.
Para fácil diferenciação do leitor, termos coloquiais, gírias, estrangeirismos, neologismos,
regionalismos, termos técnicos, destaques da autora, entre outros, foram grafados em itálico.
Nova York
No dia seguinte, acordei disposto a ir à casa de Liz logo cedo. Mas então me
lembrei de que alguns sábados atrás a tinha encontrado no orfanato, por isso,
para não me precipitar, pedi a Zed que ligasse e perguntasse a seu respeito.
Não foi nenhuma surpresa saber que ela realmente estava lá, dando aula
de pintura para as crianças.
Preferindo encontrá-la sozinha, parei em frente ao prédio antigo e
malcuidado um pouco antes do horário em que a vi sair da última vez e
esperei.
Não demorou para avistar Liz se despedindo de duas freiras e algumas
crianças. Na mesma hora saí do carro e me encostei na lateral, mãos nos
bolsos, numa tentativa de parecer casual e tranquilo, embora sentisse o
coração palpitando no peito, enquanto a via caminhando a passos lentos, com
olhos vidrados na tela do celular.
Será que ainda esperava por uma ligação minha?, pensei.
Quando ela levantou o olhar e finalmente me notou, vi seu corpo
enrijecer, mas ela logo se recompôs e continuou andando em minha direção.
Conforme se aproximava, fui me deliciando com a suavidade de seus
traços e a beleza de seu rosto.
Liz estava usando um longo vestido azul marinho com estampas
geométricas, os cabelos desciam soltos pelos ombros, mas não havia qualquer
resquício do sorriso que tanto me fascinava.
Desencostei-me do carro e caminhei ao encontro dela. Eu sabia que
tinha muito a esclarecer, mas a única coisa que consegui fazer quando me vi
de frente para ela novamente, foi tomá-la nos braços e beijá-la, tentando
demonstrar toda a saudade que estava sentindo.
Obviamente eu achei que ela fosse resistir, me empurrar para longe,
mas não, após alguns segundos de hesitação, Liz se entregou ao beijo e ao
perceber isso todo meu corpo vibrou, cheio de vida, excitação e mais alguma
coisa.
Enquanto nossas línguas duelavam, tudo em que podia pensar era que
essa garota provocava sensações desconhecidas em meu corpo, minha mente
e, principalmente, em meu coração.
O beijo terminou e agarrei-me a ela, Ficamos assim por vários
segundos, até Liz se dar conta do que estava fazendo e se afastar de mim,
com um olhar raivoso, mas também magoado, que me quebrou por dentro.
Por mais que quisesse puxá-la de volta para mim, havia chegado o
momento de lhe dar explicações e só esperava que ela entendesse, porque
após todo esse tempo longe, meu desejo por ela apenas aumentou e agora eu
queria muito mais que apenas beijos ardentes.
Eu ainda estava atordoada com a gritaria que as crianças fizeram no
final da aula e depois de uma breve conversa com o padre Norton, encerrei
minha manhã com aquela deliciosa sensação de dever cumprido.
Mais cedo havia mandado uma mensagem para Benito dizendo que não
precisava ir me buscar, pretendia ir almoçar no centro e andar um pouco por
lá antes de voltar para casa.
Queria aproveitar meus dias de liberdade ao máximo.
Enquanto percorria a entrada ladeada por árvores gigantescas, peguei
meu celular na bolsa para ver o que recebera, mas só tinham as besteiras que
Freddy, Luna e Stella enviaram ao nosso grupo, do qual tinha sido removida
quando Eleanor pegou meu celular.
Saber que Harry estava na cidade e, ainda assim, não me mandara uma
mensagem sequer, fez a sensação de tristeza e desapontamento que me
acompanhava nos últimos dias voltar com força.
Levantei o olhar para me situar e parei imediatamente, desacreditada do
que via.
Harry Stone, com toda a sua beleza e elegância, se encontrava
encostado em um carro preto, estacionado alguns metros adiante.
Uma infinidade de sentimentos tomou conta de mim e,
inconscientemente, estremeci e enrijeci o corpo.
Se o sol alto do fim da manhã não estivesse queimando minha pele e o
som das risadas das crianças não continuasse ecoando às minhas costas, com
certeza diria que estava vendo coisas.
Olhando ao redor, avistei dois de seus seguranças, um pouco afastados
e de costas para nós. Mais uma prova de que era mesmo verdade.
Durante toda a semana, sem ter qualquer notícia, imaginei o que faria
caso ficasse cara a cara com Harry novamente, também inventei inúmeras
conversas em minha cabeça, mas ali, enquanto isso acontecia, não sabia o que
pensar e muito menos o que falar.
Por um segundo pensei em virar as costas e simplesmente ir embora,
mas estava curiosa para saber o que ele queria comigo após todos esses dias,
apesar de já imaginar que, educado como era, devia estar se sentindo na
obrigação de dar um fim ao relacionamento, que sequer havia começado,
pessoalmente.
Por isso levantei a cabeça e voltei a andar.
Harry se desencostou do carro e vi que estava usando uma calça social
grafite e uma camisa branca de botões. Na hora pensei que, mesmo em um
dia atipicamente ensolarado como aquele, o homem não abria mão de usar
suas roupas de político sério.
Ele tirou os óculos escuros e foi de encontro a mim, fazendo meu
coração bater alucinadamente.
Acalme-se, Liz.
Como em uma cena de cinema, Harry não esperou que eu o
confrontasse, apenas agarrou minha cintura e me beijou, ali mesmo, no meio
da rua, à vista de quem estivesse passando.
Eu até cogitei resistir e empurrá-lo para longe, mas a verdade era que
não sabia o quanto estava desesperada por aquilo, até sentir o gosto de sua
boca mais uma vez.
Ao me ver nos braços dele novamente, esqueci o sumiço repentino e a
raiva que senti por causa disso e me deixei ser beijada, tudo que queria era
aplacar a saudade que me consumia.
O beijo se encerrou, mas em vez de se afastar, Harry me abraçou
apertado e continuou assim por longos segundos, como se tivesse ansiado por
aquele momento tanto quanto eu.
Contudo, por mais que meu desejo fosse me agarrar a ele e não soltar
mais, não poderia deixar que voltasse sem mais nem menos, como se nada
tivesse acontecido.
Eu estava chateada e muito magoada por seu comportamento e quando
me afastei bruscamente, percebi que ele notara isso, pois sua boca se
contorceu em desgosto e o brilho de seu olhar desapareceu.
Harry deu um passo atrás e colocou as mãos nos bolsos, parecendo
constrangido.
— Sinto muito por isso. Vim até aqui para me desculpar pelo meu
sumiço e explicar o porquê, mas ao vê-la depois de todos esses dias, não
consegui me conter — ele falou, e apesar de parecer sincero, resolvi me
manter indiferente.
— Na verdade, você não me deve nada, afinal, nós apenas trocamos
uns poucos beijos, não temos qualquer compromisso um com o outro —
afirmei secamente.
Dessa vez, foi ele quem me lançou um olhar magoado.
— Você sabe tão bem quanto eu que não foram apenas alguns beijos. E
mais do que um compromisso, nós temos uma conexão que se fez presente
desde que nos conhecemos.
E com isso ele me desarmou. Não podia sequer argumentar, pois era
verdade, aquele vínculo surgira desde o início e se tornava mais forte a cada
encontro.
Suspirei pesadamente antes de falar:
— Você me confunde, Harry Stone. E a não ser que tenha morrido
alguém da sua família, não consigo pensar em nada que possa me convencer
a te perdoar.
Harry me pegou pela mão e abriu a porta do carro para que eu entrasse.
— Vamos conversar aqui dentro, será mais seguro.
Assenti e entrei, já ele, ficou conversando com Zed por alguns
segundos antes de fazer o mesmo. Supus que estivera pedindo um pouco de
privacidade, pois o motorista fechou a porta e se postou um pouco mais à
frente, atento a tudo ao seu redor.
Depois que Harry se acomodou no banco de couro, virei-me um pouco
de lado para que pudesse ficar de frente para ele.
— Muito bem, estou ouvindo — falei e imediatamente revirei os olhos
internamente.
Aquilo parecia tão coisa de casal de namorados, que às vezes me
esquecia que ele era um dos homens mais ricos do mundo e futuro candidato
à presidência dos Estados Unidos.
— Graças a Deus não morreu ninguém na minha família, mas meu avô
teve um infarto no sábado de manhã, então você pode imaginar o estresse por
que passamos.
Na mesma hora senti minhas bochechas ruborizarem por ter dito que
apenas uma morte justificaria sua ausência. Mas já tinha soltado e não havia
como mudar isso.
— Sinto muito por seu avô e espero que ele esteja bem — falei com
sinceridade.
— Obrigado, ele está cada dia melhor.
— Eu vi em um site que você estava na Rússia — comentei para saber
o que ele me falaria.
— Sim, fui para lá no domingo. Normalmente é meu pai quem faz as
viagens de negócios das Indústrias Stone, mas por causa do vovô, tive que
substituí-lo. — Ele suspirou e passou a mão pelo cabelo. — Minha semana
foi infernal, cheia de reuniões, jantares e dezenas de outros compromissos
com empresários e membros do governo.
— Entendi, mas você poderia ter me ligado.
Não queria parecer insensível, mas uma ligação breve ou mesmo uma
mensagem para avisar o que estava acontecendo, já teria me tranquilizado.
— Talvez você pense que é uma desculpa, mas meu celular
simplesmente desapareceu no domingo, durante o primeiro jantar que
tivemos na Rússia. Eu consegui outro aparelho no dia seguinte, achando que
quando sincronizasse minha agenda, conseguiria seu número, mas parece até
que havia alguma conspiração, porque ele simplesmente não estava lá e como
não o tinha de cabeça, foi impossível te ligar. Se você tivesse telefone
residencial, eu teria dado um jeito de conseguir seu número, mas também não
tinha, então... — ele deu de ombros, dando a entender que aquela era a
verdade, cabia a mim acreditar ou não.
Nós realmente não tínhamos telefone residencial há muito tempo.
Desde que a herança de Eleanor começou a acabar, ela deixou de pagar
algumas dívidas e para não receber mais telefonemas de cobrança, achou
mais fácil se desfazer da linha.
Desviei o olhar do dele, não sabia o que pensar. Certamente nunca me
passou pela cabeça que algo assim pudesse ter acontecido. Também não
podia negar o quanto me sentia feliz por ele estar ali, tentando se explicar,
contudo...
— Liz, você tem todo o direito de não acreditar em mim, mas é a
verdade, não tenho porque mentir — ele disse, chamando minha atenção e
pegando minha mão. — Nesse momento, eu deveria estar em Nova York,
despedindo-me do meu avô que está voltando para Londres, mas sabia que
precisava lhe dar essa satisfação... Não sei que teorias você criou em sua
cabecinha sobre o que havia acontecido ou como me pintou nesses dias, mas
te garanto que não sou o tipo de homem que engana outra pessoa assim.
Eu realmente fiz uma caricatura bem depreciativa dele desde que
sumiu, mas agora, após todas as explicações, minha raiva tinha amenizado
um pouco. Só que a questão não era apenas esta e eu precisava me abrir.
— Esses dias, achando que não o veria mais, me deu tempo de pensar
um pouco e consegui enxergar algumas coisas, coisas que eu fingi que não
existiam porque queria estar com você.
Parei, tentando encontrar as palavras certas e ele apenas esperou.
— O problema não está somente no seu sumiço, mas em todo o resto...
Quer dizer, você é Harry Stone, caramba! — falei, um tanto quanto irritada,
pois essa era uma das coisas que mais me deixava insegura em relação a tudo
que tinha a ver com nós dois.
O homem à minha frente não era um cara normal, a quem eu poderia
ver sempre que tivesse vontade, ele fora criado para levar o legado da família
adiante e depois, quando estivesse preparado, se tornar um político de renome
e isso tinha um peso enorme para mim.
— Sim, eu sou Harry Stone, mas o dinheiro e status de minha família
nunca interferiram nos meus sentimentos, eu ainda tenho um coração, Liz.
Um coração que se agita bastante quando se trata de você.
Essas simples palavras me desmontaram em milhões de pedaços.
— Eu sei, mas isso não deixa as coisas menos complicadas.
— Isso é verdade, mas você precisa entender que eu calculei todos os
riscos antes de te procurar pela primeira vez e ainda estou aqui.
— Você tem certeza? — quis saber, mesmo vendo a sinceridade em
seus olhos.
— Absoluta.
Não consegui conter o sorriso que surgiu em meu rosto, era bom
demais ouvir tudo isso.
— Tudo bem, então — falei e me aproximei um pouco mais.
Eu sabia que deveria ter sido mais dura com ele, mas Harry já havia se
tornado tão caro a mim, não conseguiria terminar tudo assim.
— Tudo bem? — quis confirmar, segurando meu rosto com ambas as
mãos.
— Uhum — balbuciei, logo antes de ele tomar minha boca novamente
em um beijo arrebatador.
Quando nos afastamos, estávamos ambos ofegantes.
— Seria tão bom se você morasse aqui. Minha mãe viajou e nós
teríamos a semana toda livre — falei, tocando seu rosto. Ainda estava
extasiada por ele ter voltado para mim.
— Ah, é? E quem você acha que providenciou essa viagem para ela?
Afastei-me um pouco para olhar seu rosto e ter certeza do que tinha
ouvido.
— Eu não acredito! — exclamei e ele assentiu com um sorriso enorme
no rosto. — Você é maluco.
Meu Deus, isso mudava tudo. Para fazer algo assim, Harry deveria
estar mesmo muito a fim de mim ou não teria gastado uma fortuna com
aquela megera.
— Maluco para ficar sozinho com você — confessou.
— Quer dizer então que vai ficar em Washington a semana toda?
Ele negou com a cabeça e isso me fez murchar.
— Infelizmente tenho muitos compromissos nas Indústrias Stone, então
pensei que você poderia passar a semana em Nova York comigo. O que
acha?
Sem pensar, pulei em seu colo, sentindo uma euforia enorme tomar
conta de mim.
— Eu vou adorar passar a semana com você — assegurei, enchendo o
rosto dele de beijos.
Deitei a cabeça em seu ombro e enquanto me inebriava com seu
perfume, pensei no quanto nosso futuro era incerto. Mas logo me recriminei.
Naquela semana eu não pensaria em nada sério, apenas aproveitaria a
companhia do homem que conseguia me levar do inferno ao céu com apenas
algumas palavras.
— Eu sei que não foi muito legal, mas prometo compensar — falou,
afrouxando o nó da gravata que ele acabou colocando por insistência de seu
staff, e entrando em sua suíte.
Estar apaixonada era mesmo uma droga, eu não tinha gostado do
evento, mas gostava de Harry, muito, então preferi não falar nada.
Havia uma pressão silenciosa se formando em minha cabeça e me
mostrando que, para ficar com ele, eu precisaria de muita paciência, pois seus
compromissos sempre exigiriam sua total atenção, de forma que eu teria que
ser adulta o suficiente para entender a vida que levava e não me ressentir
depois.
— Tudo bem, vou só tomar um banho — falei, numa boa, e tentei
passar por ele, mas fui interrompida.
Harry me puxou pela cintura e me beijou sem que eu esperasse, e foi só
sentir seu gosto para amolecer em seus braços, totalmente esquecida do
almoço chato.
Entrelacei as mãos atrás de seu pescoço e fiquei na ponta dos pés para
beijá-lo melhor.
Em poucos minutos eu já estava me sentindo molhada de desejo e isso
não me incomodava de jeito nenhum. Exceto pelo fato de que precisaria
providenciar um estoque de calcinhas para continuar namorando com esse
homem, pois era só ele me olhar, tocar ou beijar, para eu ficar pensando
besteira.
— Preparei uma surpresa pra você — contou, beijando meu pescoço.
— Ah, é?
— Sim, tome seu banho e se arrume, porque nós vamos sair.
Sorri, subitamente animada, e voltei a beijá-lo, morrendo de
curiosidade para saber o que ele estava aprontando.
Como de costume, fiquei em dúvida acerca do que usar. Depois de
quebrar a cabeça por um tempo, acabei me lembrando das dicas de Eleanor
— quem diria, não é mesmo? — que sempre dizia que, na dúvida, devia-se
usar preto.
Revirei minha mala e achei um modelo perfeito. O vestido tinha alças
finas, decote quadrado e ficava uns três dedos acima dos joelhos. Consuelo já
o ajustara, então ficou perfeito, acentuando minhas curvas e deixando meu
corpo lindo.
Também peguei um trench coat, não muito pesado, pois não estava tão
frio e para finalizar, optei por uma sandália preta com tiras finas e salto
médio.
Escolhi deixar os cabelos soltos, mas enrolei as pontas, adorava o efeito
de raiz lisa e comprimento ondulado. No rosto fiz o de sempre, apenas rímel,
blush, para dar aquele aspecto saudável na pele e um brilho nos lábios.
Alguns minutos antes, Harry bateu na porta do banheiro, avisando que
me esperaria na sala, e foi para lá que me dirigi assim que acabei de me
arrumar, o barulho do salto da minha sandália soando através do corredor
quando em contato com o mármore do piso.
Conforme avançava, a música que tocava ficava mais audível.
Ao chegar à sala, Harry conversava com Zed, que logo se despediu e
me lançou um meio sorriso antes de desaparecer.
— Está linda — elogiou ao se aproximar.
Seu olhar brilhava em apreciação, deixando-me satisfeita por minha
escolha.
— Você também — retribuí.
Ele estava usando uma calça escura e uma camisa azul marinho de
botões, algo bem casual, para alguém que vivia de terno e gravata.
Num impulso, tomei a liberdade de abraçá-lo. Adorava estar entre seus
braços, seu corpo era tão acolhedor.
— Já posso saber aonde vamos? — perguntei ao me afastar.
— Ainda não, mas garanto que vai gostar — falou, pegando minha mão
e me levando até o elevador.
Revirei os olhos, sabendo que não adiantaria insistir. Mas foi difícil,
ainda era cedo, de forma que fiquei tentando adivinhar onde iríamos antes de
irmos jantar.
Diferente das outras vezes, Harry não tocou no celular e ficou o
caminho todo conversando comigo, mostrando os pontos turísticos pelos
quais passávamos e fazendo comentários relevantes a respeito deles.
Também contou histórias relativas a sua infância em Nova York,
revelando que, apesar de ter tido várias atitudes pertinentes à sua idade, fora
bem diferente das crianças em geral. Falou que após os sete anos, o que mais
gostava de fazer era ir para as Indústrias Stone com seu pai ou avô e eu só
pude imaginar um menininho de cabelos negros e olhos azuis, andando pelos
corredores da empresa, todo sério, como se já soubesse que um dia teria o
mundo em suas mãos.
Quando Zed parou o carro, minutos depois, fiquei confusa e ansiosa ao
ver que estávamos em uma marina.
Harry me ajudou a descer e após uma breve apresentação, fomos
autorizados a entrar.
— Você tem um barco?
— Temos três — respondeu despreocupado —, um fica aqui, outro em
Ibiza e o terceiro em Mônaco.
— Poxa, que chato ser rico, não é? — zombei e ele gargalhou.
— É muito bom, só que eu queria ter mais tempo para aproveitar tudo
que a minha família conquistou ao longo dos anos. Mas a empresa e a política
ocupam praticamente toda a minha vida desde... Desde sempre, eu acho. É
um pouco sufocante, na verdade.
Então, desista de tudo isso e vamos aproveitar a vida, foi o que pensei,
mas de forma alguma iria externar, não quando ele estava prestes a realizar
um sonho.
— É esse aqui — ele apontou para um iate gigantesco onde três rapazes
nos aguardavam.
— Boa noite, Sr. Stone — o mais velho deles disse.
Harry os cumprimentou e então me apresentou a eles.
Nós subimos à bordo e fomos para o último convés, seguidos por Zed,
que ficou invisível, mas eu sabia que ele estava bem perto, de olho em tudo.
No minuto seguinte o iate estava se afastando da marina e eu não
conseguia parar de olhar ao redor. Nunca estivera nem mesmo em um barco
de pesca, quanto mais em uma embarcação tão luxuosa como aquela, então,
achava que tinha o direito de parecer extasiada com tudo.
— Vamos ver o pôr do sol daqui — falou quando chegamos à grade de
proteção.
Ele me abraçou por trás e eu descansei a cabeça em seu torço forte.
Não demorou para um dos rapazes aparecer carregando uma bandeja
com duas taças de vinho branco. Ainda assim, não mudamos de posição,
nenhum de nós queria se afastar do outro.
Àquela hora, o céu já estava todo pintado de tons rosados e alaranjados,
nos oferecendo uma vista realmente fascinante e incrivelmente romântica.
Fiquei chateada por ter esquecido meu telefone. Eu sabia que não
poderia postar a fotografia em nenhum lugar, mas gostaria de ter uma
lembrança daquele momento.
Percebendo que algo me incomodava, Harry perguntou:
— O que aconteceu, Liz?
— Queria ter trazido meu celular para tirar uma foto, só quando
estávamos no carro foi que eu vi que tinha me esquecido de colocá-lo dentro
da bolsa.
— Não seja por isso — falou e um segundo depois me oferecia seu
aparelho.
Dei um beijo leve em seus lábios como agradecimento e tirei uma foto.
Depois ele pediu para tirar uma minha com aquele céu maravilhoso como
cenário.
Queria ter tirado uma de nós dois, mas fiquei com vergonha de pedir.
— Pronto, já enviei para você.
Sorri e voltamos à posição anterior.
— Obrigada por isso — agradeci depois de alguns minutos. — Eu sou
uma pessoa maleável, compassiva e bem pacífica, sabe, tive que aprender a
ser assim ao longo da vida, mas passei tanto tempo praticamente trancada
naquela mansão, que às vezes fico revoltada. Há tanta coisa linda nesse
mundo que eu não tive a chance de conhecer... Às vezes acho tão injusto.
Resolvi me calar ou começaria a chorar.
— Se depender de mim, vai conhecer o mundo inteiro.
Quando eu achava que não tinha como ficar mais apaixonada, ele
conseguia me tirar do chão e me levar ao céu.
— Você fala umas coisas que mexem comigo — admiti, virando-me
para ele.
— Essa é a intenção — ele brincou e me roubou um beijo.
Harry possuía um cuidado especial comigo, mas eu ainda tinha tantas
dúvidas em relação ao nosso futuro, acho que só me sentiria segura quando
estivesse casada com ele, com a casa cheia de filhos.
De onde surgiu esse pensamento?, pensei, voltando-me para a frente
novamente e apoiando os braços na proteção, sendo seguida por Harry.
Ver aquele pôr do sol magnífico na companhia daquele homem, foi, de
longe, a coisa mais romântica que já fiz na vida, algo que eu jamais
esqueceria.
Às vezes me pegava pensando se esses momentos que estava tendo
com ele não seriam uma recompensa por tudo de ruim que já tinha passado
na vida. Junto com esse pensamento vinha a incerteza. Será que aquilo
duraria ou estava sendo oferecido por um tempo limitado?
Não gostava de pensar nisso, por isso voltei a olhar adiante.
Assim que o sol desapareceu no horizonte, Harry me virou de frente e
me beijou de forma apaixonada, fazendo meu coração bater feito um louco.
Eu estava tão envolvida em nossa relação que minha vontade era
guardá-lo dentro de uma caixa e colocá-la no fundo do armário. Harry Stone,
se tornou especial e, mesmo sendo um pensamento egoísta, eu o queria só
para mim.
— Venha, vamos descer para jantar — ele pediu.
Quando chegamos à sala do andar inferior, havia uma mesa posta para
dois, com direito a velas e champanhe no gelo.
— Nossa, que romântico! — brinquei tentando disfarçar a voz, que
havia ficado um pouco embargada.
Harry era maravilhoso, mas eu não queria alimentar minha mente com
esse tipo de coisa. Um homem com a educação que ele teve, devia ser
atencioso com todas as mulheres, e era a isso que eu deveria me apegar, ao
menos por enquanto.
— Só com você — respondeu ele, charmoso, e puxou a cadeira para
mim, sentando-se à minha frente em seguida.
Logo, um de seus funcionários nos serviu mais vinho e imaginei que o
champanhe ficaria para o final.
Enquanto ele falava a respeito das festas de família que já tinham sido
realizadas ali, fiquei analisando cada detalhe daquele homem que exalava
masculinidade combinada com uma beleza e sofisticação que poucos mortais
conseguiam exibir.
Fiquei encarando as mãos grandes que costumavam se mover quando
ele explicava alguma coisa. Subi o olhar por seu pulso adornado por um
Rolex prateado com fundo azul marinho e continuei, reparando nos pelos do
antebraço e mais acima, onde a camisa abraçava seus músculos.
Meu olhar traidor se desviou para o lado e foi direto para o peitoral,
onde eu podia ver pelos escuros, devido aos dois botões que ele deixara
abertos.
Quando finalmente cheguei a seu rosto, Harry me encarava com ar
divertido, como se tivesse percebido toda a minha avaliação.
— Pega em flagrante — falei para descontrair e bebi um gole de vinho.
— Adoro quando me olha assim.
— Todas as mulheres do mundo devem te olhar assim — zombei.
— Só me importo com o jeito que você me olha — sorri satisfeita, mas
não tive chance de responder, pois um dos funcionários de bordo serviu o
nosso jantar.
Era um filé de peixe super aromático com uma salada leve, aliás, toda a
refeição era muito leve, o que me fez supor que Harry tinha mais planos para
a nossa noite.
Rezei para que estivesse certa. Eu já sabia que estava apaixonada e
após todas as demonstrações de carinho que teve comigo, não havia mais
dúvidas de que queria me entregar a ele.
Após o jantar fizemos um tour pelo luxuoso iate e fui avisada de que
passaríamos a noite ali, fiquei super empolgada, pois estava adorando aquele
clima romântico que ele tinha armado para nós.
A suíte onde dormiríamos era gigantesca e belamente decorada, mas só
ficamos ali por alguns segundos, pois logo ele me guiou para fora e de volta
ao último andar, onde um balde de gelo, uma garrafa de champanhe e duas
taças tinham sido colocados sobre uma mesa baixa, entre duas
espreguiçadeiras.
Ele encheu as taças e me levou para o mesmo lugar onde estivemos
mais cedo. Dessa vez, porém, indicou a Estátua da Liberdade.
Fiquei emocionada em vê-la, linda e majestosa acima de nós.
Sem que eu pedisse, ele tirou uma foto de mim com a ilha da Liberdade
como pano de fundo e depois se colocou ao meu lado para fazer uma selfie,
atitude que fez meu coração bater feito louco no peito.
Sem querer demonstrar o quanto ficara tocada, virei-me para apreciar o
monumento gigantesco e, como havia feito antes, Harry me abraçou por trás.
Ele parecia tão relaxado, tinha certeza de que nunca o vira tão à
vontade. O homem que estava comigo não parecia carregar o peso de um
sonho nos ombros e nem a responsabilidade de gerir as Indústrias Stone.
— Queria te ver assim mais vezes — comentei minutos depois, sentada
em seu colo, sobre uma das espreguiçadeiras.
Eu já tinha colocado minha taça vazia em cima da mesinha e estava
com a cabeça apoiada na curvatura de seu pescoço.
— Assim como?
— Leve, relaxado.
— É você quem me deixa assim — devolveu e levantou meu queixo
para alcançar minha boca.
Meu Deus, ele realmente estava inspirado, e eu, cada minuto mais
apaixonada.
— Promete que vai ser sempre assim — roguei quando ele cessou o
beijo.
— Você sabe que sou ocupado, mas quando estivermos sozinhos,
minha atenção será toda sua.
Eu sabia que aquilo era o máximo que ele podia me prometer, e não me
sentia no direito de pedir mais, ele tinha uma vida muito bem estruturada
antes de me conhecer, por isso apenas sorri e o beijei de volta, com mais
ousadia dessa vez.
Logo senti sua ereção pressionando minha bunda e segurei um gemido
de satisfação, mas deixei que Harry tomasse as rédeas.
Ele acompanhou a intensidade do meu beijo e começou a passear as
mãos por meu corpo, subindo os dedos por dentro do meu vestido, chegando
ao limite da minha calcinha.
— O que foi? — ele perguntou quando interrompi o beijo e olhei para
os lados a fim de me certificar de que estávamos sozinhos.
— Pode ter alguém olhando — falei, preocupada e ele sorriu.
— Não tem, mas podemos descer, se preferir.
— Prefiro — respondi rapidamente, odiaria ser espionada por um dos
marinheiros.
Harry pegou minha mão e me guiou até a suíte onde passaríamos a
noite.
Comecei a ficar ansiosa. Iria mesmo acontecer, eu sentia e, mais do que
isso, eu queria demais, como nunca quis algo antes em minha vida.
Foi por isso que, mal ele trancou a porta, eu o ataquei sem qualquer
cerimônia. Agarrei os cabelos em sua nuca, abaixei sua cabeça, colei nossos
corpos e o beijei lascivamente, fazendo-o gemer.
— Não me provoque — disse.
Separei nossos lábios e levei minhas mãos às suas costas para tirar a
camisa de dentro da calça e depois as subi por dentro do tecido.
Era tão bom sentir o calor de sua pele contra as minhas palmas.
Soltei o restante da camisa e apoiei as mãos em seu peito. No minuto
seguinte, pude sentir uma espécie de rugido reverberar dali.
— Harry, eu quero — falei numa voz que não se parecia com a minha
de tão rouca que estava.
— Eu sei que está excitada, mas tem certeza de que quer ir até o fim?
Por mais que a deseje muito, sei que a primeira vez de uma mulher é um
passo importante.
Suas palavras apenas me deixaram ainda mais certa da minha decisão.
— Sim, nunca tive tanta certeza em toda a minha vida.
Seu olhar poderoso suavizou e um sorriso luxurioso brotou de seus
lábios.
Nessa hora eu soube que não haveria mais volta, nós iríamos transar e
eu estava sedenta por isso.
Harry abaixou a cabeça e roçou o nariz no meu antes de começar a me
beijar, sem qualquer pressa, fazendo todo aquele fogo acender dentro de
mim. Era uma mistura de paixão, ansiedade e tesão, muito tesão.
Enquanto o beijo rolava, senti seus dedos descendo o zíper do meu
vestido. O toque, lento e preciso, fez meu corpo estremecer de tal forma, que
poderia afirmar que abalara minha alma.
De repente, uma alça desceu, seguida da outra, fazendo o vestido
deslizar para fora do meu corpo e se acumular aos meus pés.
Como estava sem sutiã, fiquei apenas de calcinha de renda preta e
sandálias.
Harry apartou nossos lábios e deu alguns passos atrás para fitar meu
corpo.
Vê-lo ali, olhando meus seios expostos, fez com que me sentisse um
pouco embaraçada.
— Linda...
Corei com o elogio, ao mesmo tempo em que pensava no quanto queria
vê-lo nu também. Entretanto, pelo fato de nunca ter estado naquela situação
antes, fiquei um pouco constrangida, tinha medo de não saber o que fazer ou
de que forma agir.
Sentia-me meio patética diante de tudo aquilo, afinal, eu estava com 23
anos e me considerava bastante esperta, mas no que se referia ao sexo,
possuía muito entusiasmo e pouco embasamento, e isso era um pouco
frustrante.
Por exemplo, será que eu deveria tirar a roupa dele também ou iria
parecer demasiadamente atirada?
— Vejo uma fumacinha saindo de sua cabeça — Harry gracejou e
voltou a se aproximar para me abraçar, as mãos deslizando pelas laterais do
meu corpo.
— Estou nervosa, eu... — engoli em seco — ...não sei o que fazer —
admiti.
Ele me lançou um sorriso charmoso e beijou a ponta do meu nariz.
— Apenas relaxe, eu vou cuidar de você.
Dito isso, capturou o lóbulo da minha orelha e o chupou com
suavidade, para então descer a língua por meu pescoço.
Certo, como se eu fosse conseguir relaxar com um homem daqueles
fazendo algo que deixava minha pele toda arrepiada e a vagina molhada.
Subi as duas mãos por seu peito e as uni atrás de sua cabeça, bem a
tempo de Harry me erguer, obrigando-me a rodear as pernas em sua cintura,
para logo depois me colocar sentada na ponta da cama e se ajoelhou à minha
frente.
Ah, meu Deus, ele ia fazer aquilo de novo!
Gentilmente, deslizou minha calcinha pelas coxas e abriu um pouco
minhas pernas, colocando-se entre elas.
A luz da suíte era amena, mesmo assim, senti vergonha de tê-lo ali,
fitando minhas partes íntimas.
Mordi o lábio em expectativa enquanto trocávamos olhares intensos. O
meu, eu não sabia o que expressava, mas o dele, era puro fogo.
Após um profundo suspiro, Harry pegou uma de minhas pernas e a
colocou apoiada sobre o próprio ombro.
Isso fez com que eu ficasse ainda mais exposta e muito mais excitada.
Sem pressa, ele se aproximou e passou a língua lentamente contra
minha fenda, para só depois cobri-la com sua boca quente.
Apoiei-me nos cotovelos e joguei a cabeça para trás, deixando-o me
levar ao céu com sua língua e ansiando por um pouco mais de atrito.
Logo, sua mão subiu pela minha barriga e agarrou um de meus seios.
Harry começou a massageá-lo enquanto sugava minha boceta, com cada vez
mais avidez.
Rapidamente, senti todo meu corpo queimando, o ventre se
contorcendo, prenunciando aquela sensação de prazer que me arrebataria,
como havia acontecido pela manhã.
— Ahhh... — gemi e comecei a rebolar em busca de mais fricção.
Ele aumentou o ritmo fazendo sua língua trabalhar intensamente em
meu clitóris, num ponto certeiro, que me fez explodir e gemer alto enquanto o
orgasmo me consumia.
Quando se afastou, tinha o olhar enevoado, enquanto eu estava
completamente ofegante; não havia qualquer resquício da vergonha de
minutos atrás.
— Posso tirar sua roupa? — quis saber, tímida, mas resoluta, assim que
consegui me recuperar.
Harry ficou de pé, deu alguns passos atrás e abriu os braços, como que
me dando autorização.
Levantei-me e parei à sua frente. Minhas pernas estavam trêmulas, mas
respirei fundo e ergui a mão em direção aos botões de sua camisa.
Calmamente, desabotoei um por um, sob o olhar atento dele, sentindo a
sensação de estar abrindo um desejado presente de Natal.
Quase ri com esse pensamento, mas logo o dispersei e continuei.
Depois de o livrar da camisa, analisei seu peitoral, sentindo os pelos
escuros sob as palmas de minhas mãos. Deslizei os dedos para baixo, em
direção a sua barriga, até chegar à fivela quadrada do cinto.
Antes de continuar, dei um beijo em seu peito e fiquei entorpecida com
cheiro de sua pele.
Desafivelei o cinto e abri o botão da calça e, com muita calma, comecei
a descer o zíper que mal escondia a enorme protuberância.
Todo o meu teatro devia estar sendo uma tortura, pois se Harry
estivesse ficando apenas comigo, já estaria há mais de um mês sem sexo.
Deixei a calça cair, como ele fizera com meu vestido e depois me
abaixei para retirá-la por completo.
Dei dois tapinhas em seus tornozelos e quando olhei para cima, ele
tinha uma expressão divertida no rosto bonito.
Quando nos livramos do sapato, das meias e da calça, voltei a me
levantar.
Do mesmo jeito que ele havia feito, dei um passo atrás para poder olhá-
lo por inteiro. Deixei meu olhar passear por suas coxas grossas, o membro
enrijecido dentro da boxer, o abdômen firme e o peito largo, até chegar em
seu rosto, para encontrar um olhar vidrado.
Meu Deus, Harry era todo lindo.
Ele estendeu a mão e me puxou para perto.
Acho que chegou a hora, esse pensamento me fez engolir em seco.
Que Deus me ajudasse a ter um bom desempenho.
Deus não tem nada a ver com essa safadeza.
Antes que eu mandasse minha mente ficar quieta, Harry me segurou
firme pela cintura, colou nossos corpos e voltou a me beijar.
Esse beijo não foi calmo, pelo contrário, ele parecia mais que ansioso
pelo momento de me fazer sua.
Enquanto minha boca era engolida pela dele, meus seios roçavam nos
pelos de seu peito, excitando ainda mais meu corpo.
Harry caminhou comigo pelo quarto em direção à cama, sem descolar
nossas bocas, até cairmos engalfinhados contra ela. Sem qualquer pudor,
minhas mãos passearam pelos músculos de seus braços e costas.
Toda vez que ficávamos juntos, era como se houvesse outra Elizabeth
dominando minhas vontades e ações, eu me despia de todas as reservas, pois
ele tinha o poder de me deixar a vontade.
Exatamente por isso, eu me sentia maravilhada por, finalmente, estar
fazendo aquilo que sempre desejei.
Quando ele se afastou para tirar a boxer e colocar um preservativo
fiquei de olhos arregalados com o tamanho do seu membro, era muito grande.
Bonito e bem dotado daquele jeito... Era ser muito abençoado pelos
deuses.
Harry voltou a pairar sobre mim, a boca sedenta voltou a se apropriar
da minha e a essa altura eu já estava totalmente pronta, louca de vontade de
me entregar a ele.
Respirei fundo quando seu corpo alto e musculoso se acomodou entre
minhas pernas, mas, em vez de investir, ele se apoiou nos antebraços e olhou
para mim.
— Nervosa? — perguntou levando a mão até a junção de minhas coxas
e acariciando minha boceta.
— Um pouco, mas louca para ter você — respondi e mordi o lábio,
distraída pelos movimentos de seus dedos lá embaixo.
Ele gemeu.
— Mal posso acreditar que vou estar dentro de você — sussurrou
contra a minha boca e aproximou o membro da minha entrada.
Senti uma leve pressão, mas ele não avançou, ficou apenas num vai e
vem superficial e delicioso que me deixou ainda mais molhada.
Estava certa de que era essa sua intenção.
— Pare com essa tortura — pedi e ele riu, mas abaixou a cabeça.
Atendendo ao meu suplício, enfiou a língua em minha boca ao mesmo
tempo em que seu membro me invadiu mais um pouquinho.
Involuntariamente fiquei tensa e Harry deve ter percebido, pois parou
por alguns segundos. Quando voltei a relaxar, ele retrocedeu um pouco
apenas para entrar novamente.
Abri os olhos para ver seu rosto e sua expressão era de dor. Parecia que
o intuito de não me machucar estava lhe cobrando um preço alto.
— Você é tão apertada, Liz, isso está me matando — balbuciou e
entrou ainda mais, fazendo com que visse estrelas dessa vez.
A ardência vinha acompanhada por uma sensação de completude... Era
difícil até respirar.
— Calma, já deve passar — murmurou com carinho, embora a voz não
estivesse muito firme.
Para me distrair daquele desconforto, voltou a me beijar e massagear
meus seios.
Deu certo, pois na próxima vez que avançou, conseguiu entrar inteiro.
E foi nessa hora que senti que havia “virado mulher”.
Eu ainda estava dolorida, é óbvio, mesmo assim, não sabia descrever a
sensação de ter sido tomada por ele.
E em meio a toda essa confusão de estímulos e sensações, havia um
prazer quase masoquista, uma vez que a dor que sentia estava misturada à
satisfação de tê-lo preenchendo minha intimidade até há pouco intocada.
O início daquela jornada, repleto de ansiedade e desconforto, se
transformou em puro desejo na medida em que Harry entrava e saía,
arrancando gemidos e suspiros de ambos.
Porque, sim, ele estava se controlando ao máximo para não me invadir
com vontade, tomando muito cuidado para não me machucar mais do que o
necessário em minha primeira vez.
Quando o prazer suplantou a dor e fui ficando mais e mais lubrificada,
ganhei um pouco de confiança e comecei a rebolar embaixo dele, o que o
levou à loucura.
Harry gemeu alto e me beijou com selvageria, sem parar de arremeter.
Para completar, levou uma das mãos à minha boceta para que pudesse
massagear meu clitóris e essa combinação foi o meu fim.
Sem conseguir me conter, cravei as unhas em suas costas úmidas e
enterrei os dentes em seu ombro, quando um orgasmo avassalador tomou
meu ventre.
Foi muito mais intenso gozar enquanto era preenchida por ele, tanto,
que por algum tempo perdi a noção de onde estava. Só voltei a me situar
quando ouvi um ofego e me dei conta de que Harry devia estar chegando ao
clímax também.
Para confirmar minhas suspeitas, ele agarrou uma mexa do meu cabelo
próxima à nuca, voltou a me beijar e começou a estocar com impetuosidade.
Segundos depois mordeu meu lábio rapidamente, antes de começar a
gemer contra minha boca. Quase gozei novamente só de presenciar aquilo.
Ao final, ficamos agarrados, ambos ofegantes, o coração batendo
contra o peito do outro com ferocidade.
— Juro que não queria estragar o momento, mas você pesa uma
tonelada — brinquei quando ele relaxou sobre o meu corpo.
— Desculpe — falou com suavidade, então, saiu vagarosamente de
dentro de mim e se colocou de pé.
Fiquei envergonhada quando notei que havia um pouquinho de sangue
no preservativo.
Harry, no entanto, não pareceu se importar, apenas foi até o banheiro
para descartá-lo, lavou as mãos e voltou para cama.
— Tudo bem? — perguntou, tirando alguns fios suados do meu rosto.
Na verdade, do ponto de vista do nosso sexo, estava tudo maravilhoso,
ele era um deus na cama e fora dela, só que depois dessa noite eu não
conseguia imaginar uma vida sem Harry Stone, e isso sim era uma coisa que
me deixava completamente insegura.
— Está, sim, foi maravilhoso — falei, beijando seu pescoço.
Harry me envolveu nos braços e me puxou para que eu ficasse com a
cabeça encostada em seu peito. Havia tantas coisas que eu queria perguntar,
mas naquele momento me contentei com os carinhos que ele fazia nos meus
cabelos. Não existia nada melhor após aquele sexo maravilhoso.
Despertei da melhor maneira possível, com Harry distribuindo beijos
em meu ombro.
— Bom dia, linda — falou ao pé do meu ouvido me fazendo sorrir
ainda de olhos fechados.
Ao me mexer, senti um pouco de desconforto entre as pernas, o que fez
com que as lembranças da noite anterior voltassem com tudo.
Realmente tinha acontecido, e com o homem que eu amava.
Quando me virei para ele, notei que Harry já tinha tomado banho e
trocado de roupa, o que me deixou mortificada por ainda estar nua e toda
descabelada.
— Bom dia — respondi e me sentei, tomando o cuidado de cobrir meus
seios com o lençol. A Liz atiradinha tinha ido embora e ali estava aquela
boba que corava por tudo.
Percebendo meu embaraço, ele passou os dedos por minha bochecha
ruborizada e depositou um beijo leve em meus lábios.
Olhando-o mais detalhadamente, vi que estava usando uma calça jeans
clara combinada com uma camisa branca e resolvi brincar com o intuito de
desanuviar o clima:
— E eu achando que você não sabia o que era jeans.
— Era a única coisa que tinha para vestir aqui no barco, mas eu gosto
— respondeu ele com um sorriso.
— Eu também.
— Já retornamos à marina e nosso café-da-manhã está pronto. Por que
não se arruma, vou ficar te esperando lá fora.
Assenti e Harry saiu.
Depois de me espreguiçar, dirigi-me ao banheiro onde achei uma
escova de dentes nova, além de vários outros produtos femininos. Fiz minha
higiene matinal, tomei um banho rápido e coloquei o vestido que usara na
noite anterior, porém, não me atrevi a vestir a calcinha, que tinha ficado um
tanto melada das nossas preliminares.
Após guardá-la na bolsa, fiz um rabo-de-cavalo e não passei sequer o
batom que havia levado, estava me sentindo radiante naquela manhã e não
queria nenhum artifício.
Deixei a suíte e encontrei Harry na mesma sala onde havíamos jantado.
Ele se levantou ao me ver, fitou meu corpo e pude enxergar um brilho sensual
se acender em seus olhos. Sem falar nada, colou nossos corpos e me beijou
novamente, dessa vez com um pouco mais de intensidade.
Ao se afastar, ele sorriu e me guiou até a mesa.
— Não sabia o que você gostava, então pedi o básico — falou, puxando
uma cadeira para mim.
— Está ótimo — afirmei.
Harry sentou-se elegantemente a minha frente e abriu o jornal.
Vê-lo naquela pose, fez com que me lembrasse de que o homem à
minha frente poderia ser o próximo presidente dos Estados Unidos e que se
nosso relacionamento progredisse, eu teria que me inteirar de seu mundo.
Estar integrada ao seu meio e não conseguir elaborar um comentário
inteligente, ou ao menos pertinente, acerca de política seria inadmissível, até
mesmo para mim.
Pare de pensar e coma!, disse a mim mesma e foi o que fiz, peguei um
pouco de ovos mexidos e servi uma xícara de café, mas logo me arrependi.
Aquele era o típico café americano e nada tinha a ver com o que Consuelo
fazia lá em casa.
Após alguns goles, que tomei apenas para acompanhar o que havia em
meu prato, desisti e peguei um pouco da salada de frutas que estava deliciosa.
Com sede, servi-me de suco de laranja e fiquei bebericando.
Harry comeu praticamente o mesmo que eu: café preto, ovos mexidos,
a metade de um bagel com cream cheese e, por último, suco de laranja.
Durante a refeição, nós conversamos pouco e apenas sobre assuntos
aleatórios. Nenhum dos dois falou a respeito do que havia acontecido na noite
anterior, o que foi ótimo, eu ainda estava um tanto atordoada com a nossa
nova situação.
De repente, me lembrei de uma coisa.
— Você não tinha que estar trabalhando?
— Sim, mas mandei mensagem para a minha secretária pedindo que
remarcasse toda a agenda do dia.
— Sério? Mas por quê?
— O que foi, não gostou? — perguntou com um sorriso.
— Não, quer dizer, é claro que gostei, mas você é tão ocupado, achei
que fosse passar meus dias sozinha.
Suas feições se enterneceram e ele afastou a cadeira para trás.
— Venha cá, Liz — pediu e quando me aproximei, acomodou-me em
seu colo. — Eu realmente sou muito ocupado e tive que desmarcar
compromissos bem importantes, mas não queria deixá-la sozinha, não hoje,
pelo menos.
Não queria te deixar sozinha depois de termos transado pela primeira
vez, após você ter perdido a virgindade. Era isso que ele estava querendo
dizer.
E eu achando que não poderia ficar mais apaixonada.
Sem hesitar, espalmei seu rosto e o beijei ternamente, querendo
demonstrar o quanto havia apreciado seu gesto.
Contudo, o que começou como sinal de agradecimento, se transformou
num beijo tomado de luxúria e quando dei por mim, estava quase
escarranchada em seu colo, o que me deteve foi a saia do vestido, justa
demais, e a possibilidade de alguém aparecer.
Quando nos afastamos, Harry descansou a testa na minha e pude ver
que ele tinha ficado tão afetado pelo beijo quanto eu.
— É melhor irmos embora — falou após alguns minutos.
— Uhum — foi tudo o que respondi e voltei à suíte, precisava dar uma
passada no banheiro antes de irmos.
Depois de limpar a prova física da minha excitação, escovei os dentes,
peguei minha bolsa e meu casaco e saí novamente.
Quando deixamos o iate, passava pouco das 9h da manhã e fomos
direto para cobertura. Chegando lá, Harry disse que precisaria de alguns
minutos em seu escritório para resolver algumas coisas.
Assenti e fui trocar de roupa.
Como não queria ficar zanzando pelo apartamento feito alma penada,
deitei-me em sua cama e mandei mensagem para Stella. Não entraria em
detalhes por telefone, porque ela não me deixaria em paz, tudo o que queria
era perguntar de Eleanor e avisar que estava bem.
Graças a Deus, a bruxa ainda não tinha dado as caras, sinal de que
estava se divertindo.
Após finalizar nossa conversa, coloquei um filme para assistir.
Cerca de uma hora depois, quando voltou, Harry me pegou rindo feito
uma idiota de uma cena que se desenrolava.
Ao vê-lo, dei pausa no filme e ele se sentou ao meu lado.
— Desculpe minha ausência, mas para poder ficar em paz com você,
precisava resolver algumas coisas. Além disso, ainda recebi em uma ligação
de minha mãe, o que fez com que eu demorasse um pouco mais.
— Tudo bem, não precisa ficar se desculpando por coisas que precisa
fazer. Sei o quanto é ocupado.
— Obrigado — falou, acariciando meu rosto. — Agora me diga o que
deseja fazer hoje — quis saber.
— Posso pedir qualquer coisa?
Harry estreitou os olhos, como se estivesse considerando. Decerto,
devido ao meu histórico, imaginou que eu ia pedir alguma coisa muito louca
ou infantil demais, e na minha opinião, era as duas coisas, ao menos para um
homem como ele.
Finalmente, fez que sim.
— Quero passear no Central Park, como um casal de namorados
normal.
Ele arqueou as sobrancelhas.
— Passear no Central Park? — perguntou, como se eu tivesse pedido
uma viagem à lua.
Assenti e rezei para que aceitasse.
— Em uma escala de 1 a 10, o quanto isso a faria feliz?
— Onze — falei sorrindo e ele me acompanhou.
— Tem muito tempo que não vou lá, mas tenho boas lembranças.
— Isso quer dizer sim?
Ele aproximou o rosto do meu e disse:
— Sim — e então me beijou.
Quando se afastou, analisei a roupa que usava.
O jeans estava ok, mas aquela camisa de botões não combinava muito
com o programa que faríamos.
— Você não tem camisetas? — perguntei.
— Está criticando meu visual, Srta. Reagan? — caçoou.
— Óbvio que não, só queria te ver mais despojado.
Ele meneou a cabeça positivamente e foi para o closet, minutos depois,
quando voltou de lá, vestia uma camiseta azul marinho e um mocassim de
couro, super chique, mas bem mais informal que seus sapatos italianos.
Babei.
— Uau! Agora sim.
Eu já estava com uma bermuda de alfaiataria, que era o único tipo que
Eleanor comprava, e uma blusa soltinha, que coloquei por dentro do cós. Nos
pés, optei por sapatilhas, por serem mais confortáveis. Para completar, peguei
uma bolsa tiracolo nude que combinava com tudo e fora escolhida
exatamente para fazer meus passeios e coloquei dinheiro, documento um
batom e meu celular, dessa vez não o esqueceria.
Quando chegamos à sala, havia cinco seguranças, além de Zed.
— Todos eles vão com a gente? — perguntei baixinho.
Não era exatamente esse o tipo de passeio que tinha em mente; não me
sentiria à vontade com tantos homens atrás de nós, sem contar o tanto de
atenção que isso poderia chamar.
— Zed fica meio tenso em lugares abertos, mas vou tentar barganhar
com ele — respondeu e se afastou.
Após alguns minutos de conversa, ficou decidido que Zed e dois outros
seguranças nos acompanhariam de perto, mas vestidos à paisana. Os outros
ficariam no carro, para o caso de haver alguma emergência.
Não sabia que tipo de emergência poderia acontecer durante um
passeio ao Central Park em um dia ensolarado, mas não discutiria.
Quando todos estavam vestidos de acordo, fomos em direção ao nosso
destino, chegando lá uns cinco minutos depois.
Por ser segunda-feira, e no final da manhã, não havia tanta gente se
exercitando, apenas algumas pessoas com crianças ou cachorros.
— Tinha me esquecido o quanto o Central Park é bonito. Sempre o
vejo da minha cobertura, mas não é a mesma coisa — comentou algum
tempo depois enquanto atravessávamos a Bow Bridge[1].
Ele tinha razão, além de todas as árvores, ainda havia inúmeras outras
coisas que você não espera encontrar em apenas um lugar...
— É igualzinho nos filmes — falei, completamente encantada, mal
acreditando que estava ali.
Harry me encarou com ar divertido, em seguida parou e reclinou-se
sobre a balaustrada da ponte. Após alguns segundos, vi-o fechar os olhos e
inspirar profundamente, o que me instigou a fazer o mesmo.
Voltamos a caminhar e ele me contou dos vários passeios que fizera
com a família.
Foi a primeira vez que falou a respeito deles, o que me deixou
imensamente feliz. Depois de comentar um pouco sobre o irmão, Dominic e
o primo, Alexander, começou contar coisas referentes à prima, Eva. Segundo
me disse, apesar da diferença de idade que havia entre eles, sempre foram
inseparáveis; ela estava morando em Londres agora, mas sempre os visitava.
Quando ele afirmou que nos daríamos muito bem, só pude concordar,
Eva parecia uma garota agradável, divertida e completamente sarcástica;
fiquei muito curiosa em conhecê-la.
— Todos nós sempre estudamos nas mesmas escolas, mas mesmo
tendo Dom e Alex ali, era ela quem ficava no meu pé o tempo todo porque
me achava sério demais. Quando não estava implicando, estava me exibindo
para suas amigas ou tentando me convencer a beijar algumas delas na hora do
intervalo.
— E você beijava? — perguntei.
— Às vezes — respondeu com um sorriso travesso e apontou um dos
bancos espalhados por The Ramble[2].
Olhando todo aquele verde ao redor e o lago a nossa frente, eu nem
podia acreditar que ainda estávamos em Nova York. Mas o melhor de tudo
era ver o quanto Harry parecia relaxado, mesmo sabendo que estávamos sob
vigilância.
— Você mudou completamente a minha rotina — admitiu.
— Isso é ruim?
— É assustador, na verdade.
Suas palavras me fizeram rir e já que ele estava fazendo tantas
concessões, resolvi atiçar um pouquinho mais.
Andando em direção à área gramada que havia à nossa frente, tirei
minha sapatilha e me voltei para ele.
— Vai me deixar fazer isso sozinha? — perguntei, olhando para um
Harry levemente atônito.
Balançando a cabeça, ele se levantou e começou a se aproximar, mas
eu o detive.
— Sem sapatos, Sr. Stone — sentenciei, séria, para ele ver que eu não
estava brincando.
Ele olhou para o lado e quando fiz o mesmo, vi Zed a poucos metros,
com um sorriso enorme no rosto, claramente divertido com o que eu estava
aprontando.
Sem alternativa, Harry deixou os mocassins ao lado das minhas
sapatilhas e foi andando até mim.
— Sabe há quantos anos meus pés não tocam a grama? — falou de
ótimo humor, quando finalmente me alcançou.
— Esse é aquele tipo de coisa simples que todas as pessoas fazem. As
pessoas normais, quero dizer, não empresários supertops como você.
Antes que pudesse responder, o celular dele tocou e eu poderia apostar
minha vida que era Lexy. Harry pegou o aparelho do bolso e pela cara que
fez, soube que estava certa, mas para meu espanto, ele não atendeu, apenas
descartou a chamada e o colocou de volta no bolso.
— Não vai atender? Pode ser importante.
Ele fez que não com a cabeça e, pegando-me completamente
desprevenida, sentou-se no chão e me puxou, colocando-me sentada entre
suas pernas.
— Hoje eu sou só seu — afirmou e senti aquele delicioso friozinho na
barriga que sempre aparecia quando ele falava esse tipo de coisa.
Fiquei com as costas apoiadas em seu peito e as mãos sobre as dele,
que envolviam minha cintura.
Mais uma vez nos perdemos em conversas aleatórias acerca de nossas
vidas. Harry fez muitas perguntas e respondi a todas, comentando inclusive a
respeito de Freddy e Luna. Foi nítido que ele ficou curioso para saber mais
sobre meu amigo, talvez achando que fosse algum paquera.
Logo que garanti que nenhum de nós via o outro de maneira romântica,
mudamos de assunto e acabamos chegando à minha mãe. Eu não queria
estragar nosso momento com um tópico tão pesado, mas não pude evitar. E
conforme eu respondia, seu corpo ficava mais tenso, o que era normal,
qualquer pessoa que me ouvisse sentiria pena da vida que eu levava.
Por fim, não foi tão ruim, Harry era um bom ouvinte e só interrompia
quanto tinha alguma pergunta para fazer.
Em meio ao meu relato, lembrei-me do Sr. Joseph e nosso “noivado”.
Recordei-me da conversa que tivemos e do quanto ele tinha sido fofo, mas
por mais que desejasse ajudá-lo a dar uma lição naqueles dois, não queria
continuar com aquilo.
Só que aí, eu teria que revelar a Eleanor o que andava acontecendo há
mais de um mês e isso não poderia acontecer, ao menos por enquanto.
Eu estava ciente de que precisava falar daquele assunto com Harry,
entretanto, tinha a impressão de que se soubesse o que Eleanor pretendia,
nem o fato de o Sr. Joseph querer apenas brincar com aqueles dois,
abrandaria sua cólera e eu tinha medo do que ele poderia fazer.
Meu Deus, que situação!
— O que foi, Liz — Harry perguntou, provavelmente sentindo minha
tensão.
— Nada, é que falar de minha mãe sempre me chateia — disse, já que
não era mentira.
— Desculpe, vamos falar de outras coisas então.
Assenti e decidi que seria melhor pensar em assuntos desagradáveis
quando estivesse de volta a Washington, não iria macular aqueles dias com as
armações de Eleanor.
Perto do meio dia, ambos estávamos morrendo de calor. Decidimos ir
atrás de algo para nos refrescar e optamos por água e sorvete.
O problema era que Harry, um dos homens mais ricos do mundo, só
tinha cartões de crédito em sua carteira e por causa disso, foi Zed quem
pagou por tudo, uma vez que ele não permitiu que eu o fizesse.
Assim que terminamos o sorvete, fomos embora, mas como ainda
estávamos com fome, Zed passou em um drive-tru onde compramos
hambúrguer e fritas para comer no carro mesmo.
O segurança parecia não acreditar que seu chefe estava fazendo aquele
tipo de coisa — mesmo sabendo que ele havia sido persuadido por mim.
— Tem uma vida que não como hambúrguer.
— Sério?
Ele assentiu e limpou a cantinho da minha boca com o guardanapo.
— Minhas refeições, a maioria delas, pelo menos, são feitas durante
reuniões de negócios e os lugares que frequento não servem fast-food —
gracejou.
— Então aproveite e coma mais um — falei, tirando outro sanduiche do
pacote pardo e o entregando a ele, que aceitou prontamente.
Enquanto comíamos, achei que Zed estava nos levando direto para
casa, mas Harry tinha lhe pedido que rodasse por alguns pontos turísticos da
cidade.
Ao meu olhar questionador, ele explicou que a semana seria cheia de
reuniões e que por isso queria ao menos me mostrar os lugares bacanas, para
que depois eu pudesse ir sozinha durante a semana, caso o desejasse.
Dessa vez, Harry aceitou o boné dos Lakers e o par de óculos que Zed
lhe ofereceu, para não ser reconhecido entre as pessoas.
Durante todo o tempo, passeamos de mãos dadas e tiramos mais
algumas fotos em meu celular, que no mesmo instante foram encaminhadas
para o dele.
Gostei de todas, mas estava apaixonada mesmo pelas que tiramos na
Bow Bridge. Tudo ali, desde o ar bucólico às formas da balaustrada, me
tiraram o fôlego.
Tinha certeza de que nunca me esqueceria daquele passeio.
Depois de quase duas horas perambulando pela cidade, eu já estava
bem cansada, louca para colocar os pés para cima. Harry se sentia da mesma
forma e pediu que Zed nos levasse embora.
Ao entrarmos em sua suíte, joguei-me na cama e ele foi direto para o
banheiro. Segundos depois, escutei barulho de água e estranhei quando ele
reapareceu ainda vestido.
— Que tal um banho de banheira?
Sorri, já percebendo as implicações de sua pergunta e mordi o lábio.
— Vai se comportar? — perguntei de maneira travessa.
— De jeito nenhum.
— Então, eu topo.
Harry gargalhou e se colocou sobre mim para me dar um beijo
daqueles, apenas um aperitivo para o que viria.
Dessa vez, sem dor, tinha certeza de que seria bem melhor, com direito
a um belo orgasmo para finalizar aquele dia incrível.
Lexy vinha me ligando desde o momento em que pisamos no parque e
com toda certeza iria me infernizar por ter saído em público com Liz. Só que,
pela primeira vez em muitos anos, eu não estava ligando para as
consequências, deixaria para lidar com elas no dia seguinte. Tudo o que
queria nesse momento era aproveitar a companhia da linda mulher à minha
frente.
Era incrível como sua presença fazia de mim uma pessoa diferente,
muito mais leve, relaxada e, inegavelmente, mais feliz.
Seu modo de enxergar a vida era admirável e isso se tornava nítido em
cada coisa que fazia, a começar por seus pedidos, sempre tão simples.
Qualquer mulher na posição de minha namorada, iria aproveitar para
pedir coisas materiais ou se aproveitar disso para aparecer, como já aconteceu
no passado, mas Liz, não, ela ficava satisfeita com um passeio ao Central
Park ou com o hambúrguer de um fast-food qualquer.
Estar com alguém assim era tão... libertador, eu não sabia que era essa
leveza que faltava em minha vida até encontrá-la. Elizabeth Reagan estava
sendo uma espécie de refúgio, um oásis em meio aos problemas e
compromissos que eu enfrentava todos os dias.
Peguei sua mão, guiei-a a até o banheiro e, sob meu olhar atento, ela
começou a tirar as roupas. Era tão linda com seu corpo cheio de curvas
delicadas e seios perfeitos...
Saber que somente eu a tinha visto daquela maneira, despertava meu
lado primitivo; não queria que mais ninguém visse o que me pertencia.
Um tanto possessivo, eu sei, mas depois da noite que tivemos, não
havia como negar que ela era minha, assim como eu era dela.
Aquela mulher tinha conseguido despertar uma paixão que até então eu
desconhecia. Sim, eu cheguei a gostar de duas namoradas que tive no
passado, mas era um sentimento mais controlado, nada comparado ao que
sentia quando colocava os olhos em minha doce Liz, que nesse momento me
olhava com imenso desejo, como se eu fosse o homem mais lindo do mundo.
Ajudei-a a entrar na banheira e fiquei observando enquanto seu corpo
mergulhava e sumia por baixo da espuma.
— Sua vez, Sr. Stone — disse ela depois de se acomodar em uma das
extremidades.
Sorri de sua ousadia e, vagarosamente, comecei a me despir, tomando
cuidado para não quebrar o contato visual.
Enquanto me livrava das peças, a safada perscrutava meu corpo. Seu
olhar era sugestivo e o fato de seus dentes morderem o lábio inferior com
certa intensidade, me dizia que havia bastante ansiedade também.
Sem qualquer pudor, seus olhos se fixaram em meu pau, ereto e
pulsante de desejo por ela.
Louco para sentir seu corpo, entrei na banheira e me escorei na
extremidade oposta. Na mesma hora Liz se colocou entre minhas coxas.
Deslizei as mãos pelas laterais de seu corpo e a puxei para perto, quase
encaixando nossos sexos.
Meu Deus, ela era uma delícia!
Gostosa, feminina, delicada... Tê-la ali em meu colo, nua e toda
molhada daquele jeito, me deixou completamente louco.
Aproximando-se ainda mais, ela tomou meus lábios de maneira
faminta, como se quisesse se alimentar dos meus beijos.
— Quero você — sussurrou.
— Sou todo seu, Liz.
Ela sorriu e desceu a mão até encontrar meu pau, que estremeceu ao
seu toque, então, posicionou-o em sua entrada e, com cuidado, foi
introduzindo-o em sua boceta quente e apertada.
— Humm — gemeu quando metade de mim estava dentro dela.
Voltando a me beijar, ela esperou alguns segundos antes de rebolar,
fazendo com que meu pau deslizasse até o fundo.
— Nossa, que delícia! — murmurou contra minha boca, ao mesmo
tempo em que eu gemia quando senti seu interior me tomando por completo.
O beijo continuou, mas nossos corpos ficaram imóveis, esperando que
ela se acostumasse ao meu tamanho.
Quando se sentiu segura, Liz começou a se mexer, mas eu permaneci
parado, permitindo que ela fizesse tudo a seu tempo. A última coisa que
queria era machucá-la ou assustá-la em nossas primeiras vezes. Todavia,
quando a sentisse mais confiante, faria amor com minha menina do meu jeito.
E alguma coisa me dizia que ela não iria se importar.
— Isso é tão bom, Harry, quero fazer sempre — falou baixinho
enquanto subia e descia, quase estrangulando meu pau com aquela boceta
apertada.
Nossa, que delícia de mulher!
Ela tinha acabado de perder a virgindade, mas era fogosa, dengosa,
exatamente como eu gostava.
— Quantas vezes e quando você quiser — respondi.
— Vou querer para sempre — afirmou e voltou a me beijar.
Vendo que ela estava mais relaxada, comecei a subir os quadris um
pouco mais rápido, tendo uma vaga noção da água que se derramava pelas
laterais da banheira, mas sem me importar o bastante.
Liz começou a ofegar, balbuciando palavras inteligíveis, e percebi que
estava chegando ao ápice. No minuto seguinte, quando o orgasmo a atingiu,
ela se agarrou ao meu corpo e começou a se mover com mais rapidez, quase
me tirando o juízo.
Quase.
Eu ainda estava ciente de que não poderia gozar dentro dela, já
estávamos sendo imprudentes demais por fazer sexo sem preservativo.
Por isso, mesmo morrendo de tesão e louco para me afundar com tudo,
tentei me acalmar, e quando Liz caiu, quase desfalecida contra o meu peito,
deixei que ficasse assim por um bom tempo, lavando seu corpo com cuidado,
meus dedos decorando todas as suas formas.
Tão logo me senti controlado o suficiente, levantei-me, com ela ainda
preenchida por mim, e a levei para o quarto.
Sentei-a na cama e voltei ao banheiro para pegar uma toalha. Quando
terminei de enxugá-la, Liz já estava mais recuperada, pois me olhava
novamente com desejo. Parecia uma ninfa insaciável.
— Você é todo grande — falou enquanto eu me secava.
Morto de tesão devido ao gozo reprimido, deixei a toalha de lado e
parei bem a sua frente, a cabeça dela quase na mesma altura do meu pau, seu
olhar de cobiça diretamente nele.
Sem falar nada, Liz deslizou os dedos sobre seu comprimento, fazendo-
o ficar ainda maior, ainda mais duro... Era incrível como meu corpo reagia a
cada olhar e toque daquela garota.
Silenciosamente ela aproximou a boca da glande e passou a língua
quente e molhada por toda a cabeça, como se estivesse me provando.
— Humm — gemi e fechei os olhos.
Ato contínuo, a boca deliciosa tomou meu membro por completo e todo
meu corpo se tensionou.
Liz não tinha a mesma experiência das mulheres com quem eu
costumava sair e, mesmo assim, nunca senti tanto prazer ao ser ordenhado
daquele jeito.
Voltei a abrir os olhos e infiltrei os dedos em seus cabelos a fim de
guiar seus movimentos.
Nessa hora os lindos olhos azul-esverdeados alcançaram os meus, e vê-
la chupando meu pau enquanto me fitava, fez com que eu chegasse muito
próximo ao limite.
À medida que o prazer aumentava, mais vontade eu tinha de foder sua
boca gostosa, mas refreei meus instintos e continuei guiando-a gentilmente,
não queria assustá-la fazendo movimentos bruscos ou grosseiros, ainda não
era o momento de saber até que ponto ela seria capaz de ir.
Quando estava à beira do precipício, tentei me retirar, mas ela fez que
não com a cabeça e segurou minhas coxas com firmeza, sugando cada vez
mais rápido, tornando cada segundo mais prazeroso que o outro, até que
gozei, ainda segurando seus cabelos entre os dedos e trincando os dentes para
permanecer calado.
Ao me afastar, puxei Liz para que ficasse de pé e ela me deu um beijo
casto nos lábios.
— Você é maravilhosa — declarei.
— Sim, eu sei, mas espera um pouquinho porque preciso escovar os
dentes.
Dei uma gargalhada e deixei que ela fosse ao banheiro.
Aproveitei esse tempo para tomar um banho rápido e quando passei
atrás dela, dei um tapinha em sua bunda gostosa, fazendo-a pular.
Ri mais uma vez e entrei embaixo do chuveiro.
Assim que voltei ao quarto, ela estava dormindo, completamente nua.
Sua visão me deixou extasiado, parecia um anjo com sua pele de
porcelana e os cabelos tom de avelã espalhados sobre os meus travesseiros.
Fechei as cortinas automáticas e ajustei o aquecedor para que ela não
sentisse frio.
Estava entrando no closet quando me lembrei de que tinha ouvido um
toque no celular, indicando que havia recebido uma mensagem.
Peguei o aparelho, abri o aplicativo para ler e vi que era de Zed,
avisando que Lexy tinha chegado e estava me esperando no escritório.
Respirei fundo. Já sabia que isso aconteceria, ela devia estar louca atrás
de mim.
Mas não era para menos. Nunca faltei a nenhum compromisso sem
avisar com dias de antecedência, então, o fato de ter feito isso para ficar com
Liz, deve ter diminuído ainda mais a pouca afeição que ela nutria por minha
garota.
Troquei de roupa e me dirigi ao escritório, encontrando Lexy sentada
no sofá, digitando algo em seu notebook.
— Espero que tenha valido a pena cancelar tantos compromissos
importantes em cima da hora — soltou, sem olhar em minha direção.
Como na maioria das vezes, estava toda de preto e com a cara fechada,
pronta para brigar. Mas depois do dia maravilhoso que eu tive, nem ela iria
tirar a minha paz.
— Acho que um homem na minha posição pode se dar o direito de tirar
um dia de folga — falei, despreocupado, e me acomodei em minha poltrona.
Lexy fechou o notebook, colocou-o de lado e se sentou na cadeira à
minha frente.
— Desde que conheceu essa garota, você não é mais o mesmo, Harry,
será que não enxerga que ela está te fazendo perder a cabeça.
— Isso não está acontecendo.
— Está, sim e todos nós percebemos, menos você.
— Ah. Então você foi a escolhida para vir aqui falar todas essas
bobagens.
— Bobagens? Meu Deus, só você não vê que Elizabeth Reagan não
tem condições de estar ao seu lado durante esta disputa... E quando ela ferrar
com a sua eleição, você irá odiá-la. É isso que você quer? Será que vale a
pena perder tudo por um rabo-de-saia?!
— Chega, Lexy! — vociferei, irritado.
Eu sabia que muito do que ela estava falando era verdade, mas não
queria pensar nisso agora; não quando estava me sentindo tão feliz.
Lexy se levantou e começou a juntar suas coisas.
Quando estava com tudo pronto, aproximou-se novamente de minha
mesa.
— Sei que vocês estão se dando bem, e se não houvesse tanto em jogo,
tenho certeza de que também gostaria dela, mas as coisas não são tão simples.
Você batalhou tanto por isso, Harry, não sei quantas vezes, em nossa
infância, te ouvi dizer que um dia seria presidente e não tenho ideia de
quantas coisas deixou de fazer, porque nada poderia manchar sua reputação,
uma vez que tudo poderia ser usado contra você futuramente... — Ela
balançou a cabeça e mordeu o lábio e eu sabia que estava tentando refrear a
emoção. — Quero muito que seja feliz, que encontre o que seus pais e avós
tiveram, mas ao mesmo tempo, quero que consiga realizar esse sonho que
está tão arraigado em você desde sempre, só que, infelizmente, não acredito
que conseguirá ter tudo.
Eu poderia simplesmente mandá-la calar a boca, nós tínhamos
intimidade para tal, mas se agisse assim, a antipatia que ela nutria por Liz
aumentaria ainda mais. Por isso, disse apenas:
— Por hoje é só, Lexy, nos veremos amanhã nas Indústrias Stone.
Ela suspirou pesadamente e, mesmo recebendo um olhar duro que
costumava intimidar qualquer pessoa que o recebia, prosseguiu:
— Pelo que Zed me falou, Liz é bem diferente das mulheres com quem
você costuma sair e, talvez por isso, esteja tão encantado. Mas,
independentemente do que sinta, você precisará colocá-la na balança junto
com seu sonho e ver qual dos dois pesa mais. — Ela se dirigiu à porta,
porém, assim que sua mão tocou a maçaneta, voltou-se para mim. — Só uma
última coisa. Essa vontade de ser presidente está com você há quase 30 anos,
já Elizabeth, há menos de dois meses.... Considere essas informações antes de
tomar uma decisão.
Depois que Lexy saiu, meus pensamentos perturbadores.
Ela estava certa em tantas coisas, talvez na maioria delas, mas me
recusava a deixar que suas críticas nublassem meus pensamentos. Ainda tinha
vários dias para ficar com Liz e aproveitaria cada segundo que pudesse,
depois disso, eu pensaria em tudo o que ouvi.
Colocando os problemas de lado, liguei meu computador e respondi
alguns e-mails mais urgentes, depois telefonei para minha secretária e pedi
que me passasse a agenda do dia seguinte.
Quando voltei ao quarto, Liz continuava dormindo de lado, como a
deixei, e completamente nua.
A cena me deixou excitado, louco para estar dentro dela mais uma vez.
Sem pensar duas vezes, tirei a roupa, peguei um preservativo e me
deitei ao seu lado.
Passando um braço por baixo do seu corpo, puxei-a para mais perto e
espalmei um dos seios. Com a mão livre, alisei a lateral de seu corpo, desde o
ombro, até o quadril e depois para o meio de suas pernas.
Liz gemeu e empinou a bunda, roçando-a em meu pau que já estava
pronto.
Após circular o clitóris por alguns segundos, afundei dois dedos em sua
pequena boceta, fazendo-a gemer, toda manhosa.
Enquanto a masturbava, Liz soltava balbucios incoerentes intercalados
com gemidos sôfregos.
— Isso é tão bom — sussurrou quando juntei um terceiro dedo aos
outros dois e os afundei dentro dela.
Quando senti que estava pronta, peguei o preservativo e o coloquei.
— Não, continue de lado — pedi quando ela fez menção de se virar e
me posicionei logo atrás novamente.
Sem qualquer esforço, meu pau começou a deslizar por aquele canal
apertado.
Liz virou um pouco o rosto e encontrou minha boca, o que deixou
nossa posição ainda mais perfeita.
Conforme a intensidade das penetrações aumentava, mais ela rebolava,
indo de encontro a mim e me levando ao limite.
Voltei a espalmar um dos seios e capturei o bico entre os dedos que,
poucos minutos atrás, estavam em sua boceta.
Tomei a boca dela novamente, dessa vez com muito mais ímpeto e
apertei o bico túrgido. Isso a fez gemer mais alto o que me deixou
completamente louco.
Aumentei o ritmo mais uma vez e meus golpes se tornaram ainda mais
severos.
O som emitido pelo impacto do meu corpo com o dela, junto com seus
choramingos, tornava tudo ainda mais excitante.
Pouco tempo depois, sua boceta começou a apertar meu pau com mais
força e eu soube que ela estava prestes a gozar.
Aumentei minhas investidas e quando Liz se desmanchou em meus
braços, mordiscando minha boca, eu me derramei dentro dela, apertando seu
corpo gostoso contra o meu.
Enquanto nos recuperávamos, cheguei à conclusão de que precisaria
definir algumas coisas. Eu e Liz morávamos em cidades diferentes e essa
distância se tornaria um grande problema, pois algo me dizia que não
conseguiria ficar longe dela por muito tempo.
A terça-feira chegou e Harry teve que ir trabalhar, deixando-me sozinha
na cobertura.
Antes, contudo, me presenteou com um delicioso sexo matinal que me
deixou tão mole, que eu voltei a dormir.
Quando acordei novamente, por volta das 11h, tomei um banho
revigorante e vaguei pela casa, me sentindo a própria dona de tudo aquilo ali.
Ok. Isso não era verdade. Eu estava louca para bisbilhotar cada canto,
mas não me atreveria, por isso fui direto para cozinha.
No dia anterior Harry já havia me falado, mais ou menos, onde ficava
tudo, porém, deixou claro que se eu precisasse de qualquer coisa, podia ligar
em seu celular.
Mas isso era algo que eu não planejava fazer, não depois de ele ter
largado tudo na segunda-feira por minha causa. Harry tinha me falado que a
cuidadora dos portões do inferno, também conhecida como Lexy, estava
louca da vida, e não pretendia lhe dar mais munição para encher o saco dele.
Também me abstive de fazer qualquer comentário a seu respeito, meu
namorado era bem grandinho e deveria saber com quem estava lidando.
Abri a geladeira de portas duplas e, como Harry havia garantido, estava
completamente abastecida. Mesmo sabendo disso, ele deixou claro que se eu
quisesse algo diferente, era só ligar na sala dos seguranças, que eles
providenciariam o que eu pedisse.
Só que, mais uma vez, não pretendia fazê-lo. A não ser que tivesse
alguma emergência, não perturbaria ninguém.
Percorri as prateleiras, assim como as portas, e achei inúmeras coisas
gostosas e principalmente saudáveis.
Peguei os ingredientes para uma omelete e enquanto ela cozinhava, fui
preparar um café.
Harry tinha uma Nespresso, um pouco mais moderna que a que
tínhamos em casa, e preparei um expresso para mim — duvidava que ali
tivesse o tipo de café que eu gostava, então nem perdi meu tempo
procurando.
Depois de comer meu brunch, fui até a enorme varanda da sala e fiquei
admirando aquela vista que deveria valer alguns milhões de dólares.
Estava ali há vários minutos, quando senti a presença de alguém atrás
de mim.
Ao me virar, dei de cara com Lexy e Cathy atravessando a sala.
Encostei-me no guarda-corpo e fiquei observando.
Elas não poderiam ser mais diferentes uma da outra. Ambas eram
relativamente altas e lindas, mas as semelhanças acabavam por aí.
Enquanto Lexy possuía cabelos loiros, longos e lisos, olhos verdes e
corpo voluptuoso, Cathy era o completo oposto. Os cabelos castanhos e
levemente ondulados, chegavam à base do pescoço, seus olhos grandes eram
muito escuros e seu corpo se igualava aos das modelos de passarela, além
disso, tinha a pele naturalmente morena, como Stella.
Fiquei imaginando se ela teria ascendência latina.
Quem visse as duas assim, lado a lado, diria que elas se davam muito
bem. Mas eu me lembrava de Zara ter dito que elas se detestavam, porém se
aturavam em prol de um bem maior.
Pelo visto, minha presença ali havia unido as duas e eu estava curiosa
para saber que bomba seria jogada em meu colo.
— Precisamos conversar. — Lexy, como sempre, dispensou as
formalidades.
— Como vai, Elizabeth? — perguntou Cathy, tentando ser simpática.
Sinceramente, não sabia qual das duas era a pior. A cascavel que
mostrava as presas antes mesmo de ser atacada ou a doninha, simpática e
saltitante, apenas esperando uma distração para te dar um abraço de morte.
— Estou ótima, Cathy. E, sim, Lexy, nós podemos conversar.
Dizendo isso, passei pelas duas e me sentei no sofá.
Enquanto elas se acomodavam, fiquei analisando suas roupas. Ambas
pareciam mulheres muito bem-sucedidas, Lexy em um terninho esportivo
preto e Cathy em um vestido clássico e bege, que destacava sua pele. Os
Scarpins vermelhos davam um charme a parte.
Belas e elegantes.
— Viemos trazer seu contrato — disse Lexy.
Contrato?
— Não sei do que você está falando — expliquei, olhando de uma para
outra.
Cathy abriu sua bolsa e entregou um envelope branco para Lexy.
— O Contrato de Confidencialidade que Harry faz com todas as
mulheres com quem sai.
Arregalei os olhos, sentindo-me imediatamente enjoada.
Será que eu estava ouvindo bem? Harry mantinha relacionamentos à
base de contrato?
— Eu... não entendi — afirmei, querendo confirmar meus
pensamentos.
Lexy revirou os olhos.
— Nós sabemos que estão... se relacionando, então você precisa assinar
o termo. Harry tem um grande futuro na política e sua imagem tem que ser
preservada. Nada pessoal — disse, dando de ombros —, só fazendo nosso
trabalho — completou, deixando-me ainda mais desconfortável.
— Eu jamais falaria qualquer coisa a respeito dele — expliquei,
sincera.
As duas se olharam, mas logo Lexy estava me encarando novamente.
— Mesmo assim terá que assinar — insistiu, deixando-me irritada e,
lentamente, deslizou o contrato sobre a mesa de centro e colocando uma
caneta por cima.
Segui seus movimentos com os olhos, me questionando se fora Harry
quem mandara suas funcionárias fazerem aquela visita inesperada e
extremamente constrangedora.
Tudo em mim dizia que quando eu lhe contasse, ele ficaria tão surpreso
quanto eu estava naquele momento.
Foi pensando nisso que falei, com o máximo de calma que consegui:
— Tudo bem, eu assino. — As duas estavam prestes a abrir um sorriso,
quando eu completei: — Mas só depois que conversar com Harry. Se ele faz
tanta questão de confidencialidade, terá que me pedir.
O sorriso de Lexy se transformou em uma careta de impaciência.
— Você é muito egoísta, Elizabeth! Harry batalhou a vida toda por
isso, e por causa de um capricho seu, pode perder tudo.
— Eu não sei por quê. Se você tivesse tirado um pouquinho do seu
tempo para me conhecer, saberia que eu seria incapaz de fazer algo assim. Eu
jamais o prejudicaria.
— Fala isso agora, quando estão bem, mas e se daqui a um mês ou dois
ele reavaliar esse namoro e terminar com você, será que ainda vai pensar do
mesmo jeito?
Ouvi-la dizer que ele poderia se arrepender, fez meu peito se apertar.
Antes que eu pudesse esboçar alguma resposta, Lexy se levantou e
arrumou a bolsa no ombro.
— Se Harry perder as eleições por causa de você, ele jamais a perdoará.
Depois não diga que não foi avisada.
Com isso, ela pegou o contrato, bem como sua caneta chic, e saiu,
batendo os saltos de seus Louboutin no piso de mármore.
Senti meus olhos queimando e não consegui deter as lágrimas.
Quem ela pensava que era para falar daquele jeito comigo?
De repente, alguns lenços de papel foram estendidos em minha direção.
Estava me sentindo tão miserável, que nem me lembrei que Cathy
havia permanecido ali.
— Obrigada — falei, tentando enxugar as lágrimas que teimavam em
cair.
— Sinto muito pelo comportamento de Lexy, ela se excedeu, mas é
que... — Cathy se calou e franziu a testa, como se estivesse escolhendo as
palavras. — A verdade é que todos nós estamos preocupados com o futuro
político de Harry — ponderou.
— Eu jamais faria qualquer coisa para prejudicá-lo — afirmei,
categórica.
— Acredito em você, querida.
— Então, por quê? Por que ela não gosta de mim? Por que me trata
assim desde o início? E o mais importante, o que há de tão ruim em mim, ao
ponto de ser um risco tão grande? — exigi.
Eu tinha minhas próprias restrições, tanto que tentei fugir dele no
início, mas precisava saber o que havia de tão grave contra mim.
— Eu serei sincera, tudo bem? — Quando afirmei com a cabeça, ela
suspirou e começou a falar: — O problema é que você não tem o perfil de
uma primeira-dama.
Levantei as sobrancelhas, sem entender, mas ela continuou:
— Harry já será o candidato mais jovem dessas eleições, e tudo indica
que ele tem ótimas chances de ganhar. Mas para isso, ele precisa de alguém
que o complemente em tudo, para que seus opositores não tenham como
atacá-lo, ao menos nesse sentido.
— E eu não me encaixo.
— Infelizmente não. Primeiro, você é muito nova, segundo a pesquisa
que fizemos, o eleitor leva isso muito em consideração, ou seja, eles não
verão com bons olhos um candidato de 34 anos, com uma esposa de 23. Em
segundo lugar, você tem uma dezena de cursos em seu currículo, porém, não
tem nível superior. Mesmo uma pessoa sem muita escolaridade, quer que
seus líderes estejam em patamares muito mais altos que os seus, incluindo
seus companheiros. Existem outras coisas, mas essas são as principais, as que
mais chamariam a atenção de maneira negativa.
— Entendo — murmurei, pensativa.
— Não leve isso para o lado pessoal. Todos nós somos pagos para
cuidar dos interesses políticos dele. E levando estritamente para esse lado,
posso afirmar que você não seria uma boa escolha... Sei que parece frio de
minha parte dizer essas coisas, mas a verdade é que estou sendo apenas
prática. — Ela balançou a cabeça, parecendo realmente chateada. — Eu
percebi que Harry está muito afeiçoado e acharia ótimo se você preenchesse
os outros requisitos, assim, ele teria os dois: você e a presidência. Mas temo
que se ele escolher um, ficará sem o outro.
Meu Deus, que vida de merda é essa onde a pessoa só consegue ser
feliz pela metade?
— Em resumo: nós temos que renegar nossos sentimentos, só porque
uma pesquisa idiota diz que eu não sou a primeira-dama ideal — concluí,
aborrecida.
— Como eu disse, estou apenas explicando os motivos de termos vindo
até aqui.
— Eu não acredito que Harry vai aceitar isso — falei, com mais
convicção do que sentia.
— Liz, Harry cresceu com a meta de se tornar presidente dos Estados
Unidos e colocou na cabeça que quer isso agora. E, tal qual eu mencionei,
suas chances são ótimas, as pessoas querem mudança e ele oferece tudo o que
o americano deseja no momento.
Nessa hora seu telefone apitou, indicando uma mensagem e ela pediu
licença para ler. Após uma leve careta, guardou o aparelho na bolsa e voltou a
falar:
— Eu não quero te magoar, mas me sinto na obrigação de alertar que
entre todos nós, Harry é o mais prático e centrado, sempre agindo com a
razão e temo que quando ele tiver que decidir, a presidência virá em primeiro
lugar. Isso significa que o relacionamento de vocês e, consequentemente,
você, ficarão em segundo plano.
Foi então que eu comecei a entender tudo.
Elas tinham ido ali para tentar me convencer a terminar com ele.
Parecendo ter percebido meu insight, ela soltou o verbo:
— Pense bem, Elizabeth. Viver ao lado de Harry Stone significa estar
sempre rodeada de assessores, seguranças e jornalistas, imersa em
compromissos, sem tempo para nada. Se ele for eleito, isso só vai piorar.
Você consegue se imaginar vigiada 24h por dia, tendo que falar apenas o que
seu assessor mandar, avaliando todos os seus movimentos... Não pode ficar
triste, porque vão inventar uma crise no casamento, não pode ficar alegre,
porque vão dar mil e um motivos para isso, cada um mais indecoroso que o
outro. Fora o tanto que é perigoso. É como se houvesse um alvo nas costas o
tempo todo...
Cathy franziu o cenho e balançou a cabeça, como se estivesse
considerando aquilo mais profundamente pela primeira vez. Mas logo se
recompôs e voltou a me fitar.
— Você é tão jovem ainda, querida, por que quer se meter nesse mundo
quando pode arrumar um homem da sua idade, com uma vida comum e
tempo disponível para vocês.
Engoli em seco.
Infelizmente tudo o que ela falou fazia muito sentido. Harry não era um
simples mortal, era herdeiro de uma das famílias mais ricas e tradicionais dos
Estados Unidos e estava prestes a se tornar presidente da nação mais
importante do mundo. Não dava para se envolver com um cara desses e achar
que a vida seria um grande mar de rosas.
O que ela não sabia era que quando resolvi ceder aos seus avanços e
iniciar um relacionamento, pensei em tudo isso. E contanto que eu não
prejudicasse ninguém, ficaria com ele. Até o fim.
Tive vontade de falar umas boas verdades para a Srta. Catherine
Becker, mas preferi respirar fundo e apenas dispensá-la. Estava cansada de
tudo aquilo.
Coloquei-me de pé, esbocei um sorriso educado e falei:
— Vou pensar em tudo que me disse, mas se não se importar, gostaria
de ficar sozinha, essa conversa me deu dor de cabeça.
Cathy assentiu, meio ressabiada com a minha postura, mas fez o que
pedi.
Assim que ela saiu, pensei em ligar para Harry, mas no minuto seguinte
desisti.
O que eu precisava naquele momento era de um pouco de ar fresco para
me ajudar a pensar na vida e em tudo que escutei daquelas duas. Se não
fizesse isso, iria explodir com Harry por ter escolhido seu staff tão mal.
Além do mais, eu precisava analisar todos os pontos para não tomar
nenhuma decisão precipitada.
Decidida, fui até o quarto, peguei minha bolsa, celular, um pouco de
dinheiro e saí em direção ao elevador.
O Central Park ficava bem pertinho do edifício onde Harry morava e, a
despeito do calor que fazia àquela hora do dia, todo o verde existente ali
ajudou a dissipar um pouco da minha raiva.
Eu odiava sentir esse tipo de coisa pelas pessoas, mas desde que
comecei a ficar com Harry, esse sentimento vinha aparecendo vez ou outra e
isso estava me fazendo mal.
O fato de estar completamente apaixonada, não me cegou para o que
acontecia ao meu redor.
Desde o início, eu senti que estava entrando em um mundo repleto de
tramas e falsidade, entretanto, por saber o quanto Harry era correto, pensei
que isso não me afetaria, mas não tinha levado em consideração as pessoas
que o rodeavam.
Todos eles estavam preparados para ir às últimas consequências, se isso
significasse chegar à presidência. E depois do que escutei, não tinha certeza
se ele não pensava exatamente igual.
Todas as vezes que parava para refletir acerca do nosso relacionamento,
essas mesmas dúvidas surgiam, e ainda que nos déssemos bem e eu quisesse
ignorar tudo aquilo, o que elas falaram fazia muito sentido.
Ser esposa do presidente dos Estados Unidos era uma coisa séria, algo
que não combinava comigo e com a leveza com que tentava levar minha
vida.
Além disso, eu não era cega. Podia não entender nada de política, mas
sabia que havia uma grande diferença entre mim e as outras mulheres que
ocuparam esse “cargo”. Se fosse sincera, diria que era simplória e inábil
demais para algo tão importante e com uma visibilidade tão grande.
Detive minha atenção em um casal de namorados que estava sentado na
grama. Eles conversavam e riam de alguma coisa que viram no celular da
garota e isso me encheu de tristeza.
Seria utopia demais desejar um relacionamento assim?
Eu nunca tinha namorado de verdade e ter estreado isso com um
homem tão importante quanto Harry, estava fazendo uma reviravolta em
minha cabeça e após tudo o que ouvi, minha insegurança resolveu dar as
caras novamente. Os medos que eu tinha no início, estavam voltando com
tudo e me fazendo repensar diversas coisas.
E não apenas por mim, por Harry também.
E se elas estivessem certas?
E se por causa de mim, Harry fosse impedido de realizar seu sonho?
Eu não me perdoaria se isso acontecesse.
No entanto, não fugiria sem mais nem menos, sem lhe dar o direito de
opinar, apenas por causa das minhas conjecturas. Nós estávamos em um
relacionamento e era conversando que iríamos nos entender.
Depois de quase duas horas andando pelo parque, um saco de pipocas e
dois sorvetes, voltei para cobertura, bem mais feliz do que quando saí.
Ao entrar, Harry estava lá, falando com alguém ao telefone.
— Oi — cumprimentei quando ele finalizou a ligação.
— Olá — devolveu e me beijou com intensidade. — Como foi o
passeio? — inquiriu quando nossas bocas se separaram, envolvendo-me em
um abraço carinhoso.
Eu tinha lhe mandado uma mensagem falando que estava no Central
Park, mas a forma como respondeu, me disse que ele já estava sabendo, o que
me fez supor que um de seus seguranças devia estar me seguindo, apesar de
não ter visto ninguém.
— Foi ótimo — respondi. — E seu dia, como foi? — perguntei,
afastando-me um pouco para tentar captar suas emoções.
— Cheio, como sempre. Mas minha última reunião foi cancelada e
resolvi sair mais cedo para ficar com você.
Ele parecia tranquilo e o tom sereno que usou me deu a certeza de que
ele não estava sabendo da visita que recebi no início da tarde.
— Isso é ótimo, já posso te arrastar para o quarto? — brinquei, mas
falando de verdade, e ele sorriu.
— Deve, só que antes preciso te falar uma coisa.
Soltei-me de seus braços e esperei o que viria a seguir.
— Meu irmão comentou com meus pais que você está na cidade e
mamãe planejou um jantar para que eu a apresentasse à família. Mas antes de
aceitar, disse que falaria com você. Se não quiser, nós não iremos.
Meu coração palpitou de animação e ansiedade só de me imaginar em
meio ao clã Stone, mas então me lembrei do que aquelas bruxas haviam
falado e fiquei dividida entre ter uma conversa clara com ele sobre o Contrato
de Confidencialidade e tudo o mais ou ter uma noite agradável ao lado do
homem que eu amava.
Resolvi que teria as duas coisas, iria ao jantar e depois lhe perguntaria a
respeito do tal contrato.
— Por mim tudo bem, será um prazer conhecê-los.
Harry sorriu aliviado e me beijou apaixonadamente. Sem desgrudar
nossas bocas, ele me conduziu pelo corredor, indo em direção ao quarto.
Mas antes que nos livrássemos de nossas roupas, seu celular tocou e ele
teve que atender. Aproveitei então para ir tomar um banho. Quando terminei,
minutos depois, Harry havia saído e resolvi escolher a roupa que usaria para
conhecer sua família.
Eu estava nervosa, mas acreditava que todos seriam gentis como ele.
Abri minha mala e comecei a fuçar. Não queria usar preto novamente,
por isso fui direto nas peças coloridas. Optei por um modelo rose ajustado na
cintura e saia fluida, com comprimento midi, que o deixava muito elegante.
Eu nunca o tinha usado, mas quando o provei, após o ajuste que Consuelo
teve que fazer, senti-me linda.
Para compor, escolhi uma sandália nude de salto alto e coloquei tudo
em cima da poltrona que havia ao lado.
Voltei ao banheiro e soltei os cabelos que ficaram cacheados devido ao
coque que fiz enquanto ainda estavam molhados, antes de ir passear.
Depois de ajeitá-los, fiz minha maquiagem clássica, ressaltando um
pouco mais os olhos com lápis.
Estava prestes a passar o batom quando Harry apareceu à porta.
Fiquei olhando-o através do espelho.
Ele ainda estava todo vestido com seu terno de três peças,
completamente composto e absolutamente lindo.
Seu semblante, contudo, estava cansado e eu podia apostar que era
Lexy naquela ligação e que ela havia enchido a cabeça dele contra mim.
Para não chateá-lo ainda mais, achei melhor não tocar no assunto, pelo
menos por enquanto. Mas quando ele continuou apenas me encarando, virei-
me e perguntei:
— Tudo bem?
Harry não respondeu, somente me olhou, por vários segundos,
deixando-me desconfortável.
Comecei a morder o lábio de nervoso, preparando-me para falar alguma
coisa, mas então ele se mexeu e começou a caminhar em minha direção.
Sem abrir a boca, desfez o laço do meu roupão com delicadeza e
deslizou as mãos pela minha cintura, puxando-me para perto de si.
Como estava nua, pude senti a magnitude de seu corpo poderoso
mesmo através de suas roupas.
Mantive meu olhar fixo no dele, que parecia atormentado, dividido, e
isso me causou um leve arrepio, que logo se transformou em medo de que
aquelas víboras tivessem conseguido fazê-lo acreditar que eu não era boa o
suficiente.
Por fim, sua cabeça desceu e nossos lábios se encontraram num beijo
que me deixou quente e pronta para ele.
Enquanto sua boca explorava a minha, sem pressa, comecei a
desabotoar seu colete, em seguida, afrouxei a gravata e logo me pus a abrir os
botões da camisa; estava louca para sentir sua pele junto à minha.
Harry sorriu, sem se desgrudar, quando me atrapalhei com o cinto e me
ajudou a retirá-lo.
Assim que consegui deixá-lo nu, deslizei as mãos pelos ombros largos
e as descansei em seu peito forte.
— Você é perfeito — elogiei e dei um beijo do lado esquerdo, bem em
cima de seu coração.
De modo gentil, ele levantou meu queixo, tomou minha boca
novamente e colou ainda mais nossos corpos.
Quando me colocou sentada sobre a bancada da pia, toda minha pele se
arrepiou em expectativa ao que iria acontecer.
Daquela vez, entretanto, parecia que ambos estávamos tentando fugir,
ao menos por um tempo, dos fantasmas que nos rodeavam, assim como da
realidade que que nos atingiria muito em breve, e senti que era exatamente o
que eu precisava.
Quem nos recebeu à porta da luxuosa cobertura onde Harry foi criado
foram seus pais.
Julie Collins era linda com seus cabelos castanhos e olhos esverdeados,
além disso, era muito elegante e extremamente simpática. O pai dele também
era belíssimo e deu para ver a quem o filho tinha puxado, eles eram muito
parecidos. Olhando Romeo Stone, pude ver nitidamente como Harry estaria
quando fosse mais velho.
Os dois pareciam muito felizes em me receber e eu comecei a relaxar,
até perceber que havia mais membros da família ali. Isso me deixou um tanto
insegura.
Seguimos para a sala principal onde os outros se encontravam e Harry
foi me apresentando a cada um. A linda mulher de olhos azuis e cabelos
escuros era Louise Stone, tia dele, o homem bonito e de sorriso aberto ao
lado dela era Tony Osborne, seu marido.
Ambos se levantaram e me cumprimentaram educadamente, mas de
soslaio consegui perceber a piscadela que Louise endereçou a Julie, assim
como o sorriso largo que havia em seu rosto.
No outro sofá estava Alexander, filho deles e gêmeo de Eva, a prima de
quem Harry me falou. O rapaz era tão alto e bonito quanto os outros homens,
mas seus cabelos eram bem mais claros, já os olhos, eram inegavelmente dos
Stone. Ele foi educado ao me cumprimentar, mas parecia mega entediado por
estar ali.
Por último cumprimentei Dominic. Como da outra vez em que o vi, ele
estava vestido como um típico bad boy, nessa noite, porém, havia dispensado
a jaqueta de couro e sua barba estava bem mais cerrada, o que não diminuiu
em nada o magnetismo de seu sorriso safado.
Meu Deus, que gene essa família tinha! Faltou pouco para começar a
me abanar.
Dom e Alexander se levantaram para que eu e Harry nos sentássemos
juntos e ocuparam duas das poltronas ao lado.
— Você deve estar apavorada — Dom falou baixinho e o irmão lhe
lançou um olhar de advertência.
— Não, está tudo bem — garanti e ele apenas sorriu.
— Estamos bebendo vinho, mas se quiserem outra coisa, posso
providenciar — Julie assinalou, o olhar ansioso.
Quase ri. Ela era a legítima mãe casamenteira, louca para desencalhar o
filho.
A única diferença aqui, era que Harry continuava solteiro por opção.
— Vinho está ótimo — falei e ele me acompanhou.
Quando Julie se foi, fiquei muito sem graça por ver que todos os
olhares estavam em mim.
Ao perceberem meu embaraço, eles iniciaram uma conversa aleatória,
com o intuito de me acalmar. O único que continuava se divertindo com
minha situação era Dominic, que lançava sorrisinhos tortos para o irmão ou
para mim o tempo todo.
Em certo momento, eu revirei os olhos e ele gargalhou, me fazendo rir
também e isso acabou me relaxando um pouco. Percebi que era isso que ele
queria, pois logo após virou-se para o primo e eles deram início a uma
conversa.
Graças a Deus a tia de Harry era bem falante e nos guiou para assuntos
engraçados, que incluíram histórias sobre a infância das “crianças”. Ao falar
da filha, seus olhos se entristeceram um pouco, dava para ver que ela estava
louca para a garota voltar de Londres.
A forma carinhosa com que falava da amizade deles, especialmente de
Harry e Eva, me deixou ainda mais curiosa para conhecê-la. Alguma coisa
me dizia que ela seria uma ótima aliada.
— Você se importa de ficar sozinha por alguns minutos? — Harry
perguntou e na hora entrei em pânico.
Mas o que eu poderia dizer? “Não me deixe aqui sozinha com eles?”
Minha vontade era essa, mas apenas assenti e ele garantiu que não
demoraria.
— E então Liz, está gostando de Nova York? — Julie quis saber e eu
me perguntei se havia chegado a hora das típicas perguntas que os ricos
faziam para avaliar se a pessoa à sua frente deveria ser aceita em seu meio ou
colocada para fora feito um cão sarnento.
— Estou sim, a cidade é incrível.
Ela sorriu gentil então houve outra troca de olhares com Louise.
Eu não tinha a menor ideia do porquê disso, mas como não adiantava
perguntar, apenas dei de ombros.
A conversa continuou e elas estavam curiosas para me conhecer
melhor, mas para minha surpresa, não houve perguntas desagradáveis ou
constrangedoras. Elas também não insistiram quando, ao me perguntarem a
respeito de minha mãe, eu dei uma resposta suscinta. Isso me agradou
imensamente.
Depois, fiquei pensando se Harry não havia dito alguma coisa relativa a
minha relação com Eleanor, mas logo descartei a ideia, ele não faria isso.
Quando retornou, eu estava explicando meu trabalho voluntário no
orfanato. Era nítido o quanto a filantropia estava entranhada na família Stone,
pois seus olhos brilhavam em aprovação.
— O jantar está servido — uma governanta uniformizada anunciou e
todos seguimos para a mesa, com lugares marcados e toda a produção que um
jantar na casa de uma família como aquela tinha direito.
A comida estava maravilhosa e fiquei feliz ao ver que não haveria
silêncios constrangedores durante a refeição.
Longe disso, houve conversas aleatórias o tempo todo, o que me deixou
bem confortável para rir de Dominic, que tentava provocar o irmão a todo
custo.
Após o jantar, os homens foram para a área externa, pois Tony e
Romeo iriam degustar um charuto, o que me deixou com Julie e Louise, que
pareciam ansiosas para conversar comigo sem a presença dos rapazes.
— Estou tão feliz por vocês terem aceitado o convite, Harry mora aqui
do lado, mas fica semanas sem nos visitar — Julie reclamou.
— Ele realmente é muito ocupado. Recebe telefonemas a toda hora —
falei, lembrando-me da ligação que o deixou tão estranho.
Ainda bem que ele tinha voltado ao normal.
— É igual ao pai — disse ela;
— E o tio — continuou Louise e as duas balançaram a cabeça em
reprovação, mas dava para ver quanto carinho havia em suas palavras. — E
como estão as coisas entre vocês? — ela perguntou, direta. — Espero que
Lexy não esteja sendo um problema.
Arregalei os olhos e isso fez com que as duas trocassem olhares
cúmplices.
— Bom, ela, sei lá... eu... prefiro não falar — declarei por fim, não
achei elegante falar mal da assistente pessoal que, além de tudo, era sua
amiga de infância e conhecida por todos.
— Tudo bem, Liz, nós já conhecemos o sentimento de posse que ela
tem por Harry e isso me irrita um pouco também. No entanto, Lexy não é
mal, o problema foi que Harry lhe deu muita ousadia e isso, junto ao seu
espírito impetuoso, a tornaram mandona e intransigente — Julie comentou.
Bom, parecia que elas não gostavam muito de Lexy. Por outro lado,
aquilo poderia ser um teste, então, preferi me manter neutra.
— Ela cuida dos interesses dele com muito cuidado, é normal que se
preocupe com quem ele se relaciona.
— Besteira. Se quer um conselho, não a deixe comandar o
relacionamento de vocês. Acho que os últimos acabaram porque nenhuma
das garotas foi corajosa o suficiente para colocá-la em seu lugar — Louise
falou, desgostosa.
Ali estavam duas pessoas preocupadas com o Harry ser humano e não
com o candidato à presidência. Isso queria dizer que elas estavam cientes de
quem o rodeava, o que me deixou aliviada.
— Vou me lembrar do seu conselho — afirmei com um olhar
agradecido.
Nós continuamos conversando, dessa vez acerca das obras sociais que a
ONG da família desenvolvia e eu fiquei impressionada com tudo o que eles já
haviam realizado.
Vários minutos depois os homens voltaram à sala e os assuntos se
diversificaram. A família de Harry era divertida e, no fim, até Alexander
estava menos carrancudo.
Mas com um palhaço como Dominic do lado, ninguém conseguia ficar
impassível por muito tempo.
Quando nos despedimos, passava da meia-noite e eu estava feliz por ter
ido.
Harry foi carinhoso e atencioso o tempo todo, sempre tomando cuidado
para não me deixar muito tempo sozinha e eu achei isso perfeito.
Ao chegarmos em casa, achei que fôssemos apenas tirar as roupas e
dormir, mas meu homem estava bem-disposto e fez amor comigo por vários
minutos antes de me abraçar e cair no sono.
Apenas quando estava prestes a fazer o mesmo, foi que me lembrei de
que não havia falado do contrato, mas prometi a mim mesma que não
deixaria de lhe contar.
— Já terminei de arrumar minhas coisas — falou Liz, encostada no
portal do meu escritório.
Eu já havia me acostumado a vê-la daquele jeito, pois ela adorava me
observar quando eu estava distraído com o trabalho, algo que aconteceu
bastante naquela semana, já que cancelei alguns compromissos para ficar
com ela e isso me obrigou a trabalhar no escritório da cobertura.
Alguns diriam que, uma vez que eu teria que trabalhar, era melhor estar
na empresa, com minha secretária e assistente a postos para ajudar no que
precisasse. Mas era totalmente diferente. Saber que minha garota estava a
poucas portas de mim, me distraía, mas também fazia as coisas fluírem com
mais facilidade e eu me estressava menos.
A verdade era que passar esses dias com Liz estava sendo maravilhoso,
ela me deixava tão leve e bem-humorado.
Toda essa mudança em minha rotina despertou a insatisfação, não só de
Lexy, mas dos que trabalhavam em prol da minha campanha. Cathy e Allen,
por exemplo, não falavam muito, mas sempre que me procuravam e não me
achavam no escritório, ficavam visivelmente irritados.
Tinha certeza de que todos estavam rezando para a semana acabar, já
que Liz iria embora e eu voltaria ao normal.
Ao menos foi o que Zed os escutou dizendo.
Todos achavam uma loucura estar me relacionando com uma garota tão
nova e tão diferente do tipo que haviam idealizado para mim.
Eu, no entanto, não enxergava as coisas por esse lado. Acreditava que
com uma boa conversa com o setor estrategista, as coisas poderiam virar a
nosso favor. Afinal, Liz era educada e doce, sem contar o trabalho voluntário
que fazia junto ao orfanato muito antes de me conhecer...
Os americanos adoravam esse tipo de história meio ‘conto de fadas’ e
estava certo que com boas jogadas de marketing, conseguiríamos fazê-los
enxergá-la da mesma forma que eu.
— Venha aqui — pedi.
Saber que o dia de sua partida havia chegado, deixava-me triste,
desconfortável. Especialmente porque eu não poderia acompanhá-la ao
aeroporto e ela não poderia ir no dia seguinte, já que coincidiria com a
chegada de sua mãe, que voltaria das Maldivas.
Liz fez como pedi e caminhou em minha direção. Encontrava-se
descalça, com os cabelos úmidos do banho e, se estivesse com sorte, nua por
baixo daquele roupão.
Ela se sentou no meu colo, como fazia todas as vez e me beijou com
extremo carinho. Mas antes que as coisas avançassem, levantou-se e falou:
— Precisamos conversar.
Franzi o cenho. Liz não era o tipo de mulher chata que ficava cobrando
tempo ou explicações, então imaginei que deveria ser algo importante.
— Claro, estou ouvindo — garanti enquanto ela se sentava em uma das
cadeiras em frente à minha mesa.
— Você está sabendo da visita que Lexy e Cathy me fizeram essa
semana?
— Como é?
— Pelo visto, não. Bom, elas apareceram aqui na terça à tarde querendo
que eu assinasse um Contrato de Confidencialidade.
Fechei os olhos e torci a boca em desprezo.
— Eu não tinha ideia — afirmei, já morto de raiva.
— Pois é, elas insistiram que eu assinasse os papéis, pois era assim que
você fazia com todas as mulheres com quem ficava. Quando me recusei, as
duas tentaram me convencer de que se perdesse as eleições, seria por minha
causa e você jamais me perdoaria caso isso acontecesse.
Fiquei imaginando a cena de Lexy e Cathy falando esse tipo de coisa
para Liz e meu sangue borbulhou.
Dessa vez Lexy foi longe demais.
Levantei-me e dei a volta na mesa, depois me abaixei entre suas pernas
e peguei suas mãos.
— Não dê ouvidos a nada do que elas falaram. Eu não nego que já usei
esse contrato com outras mulheres antes, mas seria incapaz de fazer algo do
tipo com você.
Ela sorriu, um pouco tristonha, e encostou a testa na minha.
— Eu senti, no fundo do meu coração, que você não sabia, mas não
queria estragar nossa semana, por isso não falei nada antes.
— Vou falar com elas, não irei mais admitir esse comportamento, por
parte de ninguém.
— Não precisa brigar por minha causa, já estou feliz em saber que você
não está por de trás disso.
Olhei para ela e me senti imediatamente hipnotizado, a beleza de
Elizabeth Reagan era uma das poucas coisas que me deixava impressionado;
mesmo tendo acabado de sair do banho, sem nenhuma maquiagem, ela era a
coisa mais linda que eu já tinha visto na vida.
— Jamais faria isso com você. E não deixarei de conversar com elas.
Existe uma delimitação entre o trabalho e minha vida pessoal. E embora Lexy
tenha bastante liberdade comigo, eu ainda sou o chefe e ela não pode fazer as
coisas pelas minhas costas.
Lexy sempre foi abelhuda com tudo que se referia a mim, mas meu
relacionamento com Liz a estava tirando do sério.
Obviamente eu a entendia. Faltava um ano para as eleições
presidenciais e estava mais do que na hora de confirmar os diversos rumores
espalhados tanto pelos meus assessores quanto pelos de Sullivan e,
finalmente, anunciar minha candidatura.
Era por isso que ele viajaria para Nova York naquele dia. À noite nós
dois teríamos uma reunião com os organizadores da campanha, bem como
com o pessoal do marketing para decidir que dia e de que forma se daria o
anúncio.
Depois que isso acontecesse, as especulações sobre minha vida
amorosa começariam e por essa razão, meu pessoal estava em polvorosa. Eles
sabiam que quando chegasse a hora, era Liz quem eu apresentaria como
futura primeira-dama.
— Para ser sincera, no início eu achei que ela tinha algum interesse
romântico, sabe — ela continuou —, mas depois percebi que, sim, Lexy
gosta muito de você, mas seu interesse é apenas profissional. Ela quer que
você vença as eleições e já falou com todas as letras que eu não sirvo para o
papel de primeira-dama.
— E você está certa. Digo, no que se refere aos interesses dela. Nós
sempre nos demos muito bem, mas apenas como amigos e ela sente o mesmo.
— Sim, mas não acredito que com Cathy seja a mesma coisa. Ela quer
você, Harry, eu sinto isso no jeito como te olha. Eu só não sei se ela almeja
apenas o homem ou poder que esse homem pode adquirir daqui a alguns
meses, caso seja eleito.
— Besteira, todos ali só querem me ver na presidência e garantir bons
cargos no meu governo.
Liz se afastou visivelmente chateada e me levantei, mas permaneci à
sua frente.
— Eu raramente me engano com as pessoas e nas poucas vezes que
interagi com Cathy, senti que ela tem interesse em um cargo, sim, mas de
primeira-dama. Eu não a julgo, claro. Que mulher nesse mundo não gostaria
de ser sua, seja lá o que for?
Soltei uma risada para amenizar o clima daquela conversa.
Poucas vezes vi Liz demonstrar ciúmes ou insegurança, e quando o fez,
conseguiu se sair muito bem. Mas eu ainda achava que ela estava enganada
em relação a Cathy, nunca a vi me olhando do jeito que ela estava falando.
— Bom, eu não acredito que haja esse tipo de interesse por parte dela,
mas posso te garantir que não misturo negócios com prazer, além disso, ela
não faz muito o meu tipo, é montada demais, prefiro mulheres mais naturais
— assegurei de forma que entendesse minha insinuação.
Ela revirou os olhos. Já tinha me ouvido falar vezes demais o quanto eu
gostava que fosse naturalmente bonita e sem tanta sofisticação.
— Você é quem sabe, mas fica de olho, depois de tudo o que ouvi dela,
não acho que Cathy seja tão sincera assim e odiaria vê-lo enganado.
— Isso não vai acontecer, eu te garanto.
Liz assentiu e curvei-me para beijá-la.
Ela não entendia que eu não me imaginava com uma mulher que não
fosse ela. Nossa relação se tornou tão profunda nesse pouco mais de um mês
em que nos conhecíamos, que às vezes me pegava pensando em que
momento eu a deixei entrar e dominar o meu coração.
— Tem mais uma coisa que preciso te contar — ela disse ao se afastar.
— Deixou tudo para o último dia? — brinquei, escorando-me na mesa
outra vez para escutá-la, mas ela continuou séria.
— Eu já falei como a cabeça da minha mãe funciona, certo?
Assenti, já ficando em alerta.
— Desde que ela descobriu que você estava à procura de uma possível
primeira-dama, achou que eu poderia ser essa pessoa — falou, revirando os
olhos como se não acreditasse naquela possibilidade —, mas quando você
não deu sinal de vida após o baile, ela começou a procurar outras formas de
ganhar dinheiro fácil.
Eleanor Reagan era realmente uma parasita da pior espécie, eu sentia
uma enorme aversão a ela e muita pena de Liz por ter que conviver com
aquela mulher.
— O que foi que ela aprontou dessa vez?
— Muito antes de te conhecer, ela já havia me apresentado aos filhos
de amigos dela, tipo, querendo me arranjar um bom partido, mas eu sempre
fui contra e como nunca senti interesse por nenhum deles e nem eles por
mim, consegui me safar. Depois disso, ela começou a ir atrás de viúvos ricos,
chegou até mesmo a me apresentar um que estava tão caquético, que morreu
logo depois. Foi nessa época que eu parei de acompanhá-la aos diversos
eventos de que participava, jamais me envolveria com alguém por dinheiro.
Senti meu corpo ficar tenso, o ódio aumentando só de imaginar o que
viria a seguir.
— Alguns dias antes de você aparecer no orfanato e me trazer para cá,
Eleanor me levou a uma mansão como a nossa e me apresentou ao novo
namorado. Achei que ela finalmente tinha arrumado um partido rico para si,
mas, na verdade, ele era apenas um vigarista.
— Como assim — perguntei, já impaciente com aquela história.
— Na hora do jantar, apareceu um senhorzinho que me foi apresentado
como tio do namorado dela. Ele devia ter uns oitenta anos e andava com a
ajuda do mordomo. Quando finalizamos a refeição, o namorado de minha
mãe anunciou o noivado deles e eu achei que seria tudo, mas, então, veio a
bomba: Eleanor anunciou que havia dado minha mão em casamento àquele
ancião. Segundo disse, ele já estava com o pé na cova, de forma que em
breve morreria e eu ficaria com tudo.
Fiquei tão perplexo, que por vários segundos não consegui esboçar
nenhuma reação.
Eleanor tinha vendido a própria filha para um homem de oitenta anos!
— Liz... — comecei, mas estava tão irritado que parei.
— Calma, Harry. Deixa eu terminar. Depois que ela me contou isso,
falou que ele queria conversar comigo a sós e eu fui, pronta para colocá-lo
em seu devido lugar, mas para minha surpresa, o homem disse que achava
um absurdo o que Eleanor estava fazendo comigo e pediu minha ajuda para
pregar uma peça naqueles dois, fazê-los provar um pouco do próprio veneno.
Cocei a cabeça e andei pelo escritório, sentindo-me como um touro
bravo.
Aquela mulher era mesmo um monstro, que audácia a dela usar a filha
como moeda de troca!
— Eles fizeram alguma coisa com você ou te obrigaram a algo?
— Não, claro que não, só insinuaram que teria de me casar, mas eu
jamais faria isso ou não estaria contando a você.
Aproximei-me dela, puxei-a bruscamente para meus braços e a apertei
com força.
— Você confia em mim, Liz?
— Com todo o meu coração.
Sua confiança era tão confortadora. Eu sabia que, diferente dos outros,
Liz não precisava de nada além de mim
— Então acredite quando digo que isso nunca vai acontecer, você
jamais será obrigada a se casar com ninguém — prometi, fitando-a nos olhos.
— No próximo fim de semana vou falar com sua mãe. Ela precisa saber que
estamos juntos para não inventar mais nada desse tipo.
Liz arregalou os olhos, completamente atônita, como achei que ficaria.
— Isso é sério?
— Seriíssimo. Eu não vou permitir que ela sequer pense em vendê-la
novamente.
— Você tem certeza, Harry, aquela mulher...
— Eu já lidei com gente muito pior que Eleanor Reagan, Liz, então,
não se preocupe, O.K? — inquiri, precisava aplacar seu receio com relação a
isso.
Ela assentiu e em seguida me beijou com paixão e um toque de
esperança.
Meu Deus, a sensação de estar apaixonado era mesmo como uma droga
potente; eu me sentia invencível, capaz de tudo para protegê-la.
Necessitando de mais contato, desatei o laço de seu robe e deslizei as
mãos por seu corpo que ficava cada vez mais arrepiado sob meu toque.
Precisando disso tanto quanto eu, ela desceu a mão para o botão da
minha calça e abriu o zíper para alcançar meu pau, fazendo com que um
rugido saísse de minha garganta.
Desde o dia em que tirei sua virgindade, Liz tinha se tornado uma
devassa. Ela adorava sexo e não podia me ver pela casa que já começava a
me seduzir, muitas vezes sem querer, já que eu ficava duro só de vê-la,
especialmente quando saía do banho, enrolada apenas com uma toalha ou
vestindo esse mesmo roupão de banho.
Apenas imaginar seu corpo delicado e curvilíneo já me enlouquecia,
conforme acontecia naquele momento.
À medida que o desejo entre nós foi aumentando, as coisas que estavam
sobre minha mesa foram caindo no chão.
Deslizei as mangas por seus braços e me deliciei com a sensação de seu
corpo nu em contato com o meu.
— Eu quero aqui, Harry — disse ela, toda manhosa, apontando para a
mesa onde me mantive encostado.
— Você manda.
Desgrudei nossas bocas, alucinado de tesão, e tirei mais algumas coisas
do caminho.
Depois a virei de costas para mim e a coloquei inclinada contra o tampo
da mesa, para completar, ergui uma de suas pernas e apoiei o joelho no
tampo, mantendo a outra no chão.
Essa posição a deixou completamente à minha mercê.
Lambi sua coluna de cima a baixo, enquanto tirava a camisa e libertava
meu pau, que já estava louco para invadi-la.
Quando a glande parou em sua entrada já completamente molhada, Liz
empurrou a bunda para trás, fazendo-me entrar até a metade.
Que mulher gostosa, pensei, sentindo o calor e a pressão daquele canal
apertado.
— Acho que você já está bem treinada — murmurei, mordiscando a
pele de suas costas com um pouco mais de força que o normal, fazendo-a
gemer de prazer.
— Acho que você ainda tem muito a me ensinar — falou rebolando no
meu pau, deixando-me ainda mais duro.
Eu sempre me controlei em nossas transas anteriores, pois não queria
assustá-la com um sexo mais selvagem, mas naquele momento, com sua
partida iminente, eu sentia que Liz queria um pouco mais do que tivera nos
últimos dias.
A forma como rebolava e empinava a bunda, dando-me total acesso ao
seu interior, deixou-me completamente descontrolado e quando dei por mim,
já estava segurando seus cabelos pela nuca e bombeando dentro dela com
força, como um aríete, cada vez mais rápido.
Liz, por sua vez, em nenhum momento reclamou, pelo contrário, ela me
acompanhava a cada investida, gemendo de uma forma que me enlouquecia,
agarrando a borda da mesa com força.
— Mais — pediu e eu obedeci, mas isso me fez chegar cada vez mais
perto da borda, um prazer abissal tomando conta de mim.
Quando ela gozou, jogando a bunda para trás e ordenhando meu pau
com seus espasmos, massageei seu clitóris, numa tentativa de segurar minha
liberação por alguns segundos.
Ao ver Liz praticamente desfalecer sobre a mesa, tomei o controle e
voltei a me enterrar, uma e outra vez. Quando cheguei ao limite, saí de dentro
dela e gozei na curva de suas costas, gemendo alto, a respiração acelerada e o
coração a ponto de explodir.
— Espera um pouco — pedi quando ela fez menção de se levantar e fui
ao banheiro do escritório.
Depois de limpá-la, agarrei-a pela cintura e a beijei apaixonadamente
por vários minutos. Minha vontade era de nunca mais soltá-la.
Mas isso não era possível. Por isso peguei o roupão e a ajudei a vestir,
antes de pegar minhas próprias roupas.
— Espero que não sejam coisas importantes — Liz falou ao ver toda
aquela bagunça de papéis no chão.
Olhei para ela que estava linda como nunca com o rosto todo vermelho
e os olhos brilhantes de satisfação.
— Nada é mais importante que você — declarei.
Liz me brindou com um de seus sorrisos lindos e pegou a mão que eu
ofereci.
Levei-a de volta para o chuveiro, onde fizemos amor novamente, dessa
vez com calma, aproveitando cada segundo que ainda tínhamos juntos.
Quando chegou a hora de ela ir embora, vi-me tentado a desmarcar meu
compromisso, mas eu não era irresponsável, estava há meses negociando essa
conta pessoalmente e não poderia deixar que outra pessoa concluísse o
negócio.
Mas isso não me acalmou, e saber que só conseguiria voltar a vê-la no
outro fim de semana me deixava ainda mais irritado.
Quando nos despedimos, prometi que tentaria ligar para ela todos os
dias e ela me disse que esperaria ansiosa por isso.
Após outro beijo arrebatador, ela foi para o aeroporto e eu fui para o
escritório, já contando os dias para vê-la novamente.
Era difícil voltar para a realidade depois de ter vivido um sonho com
Harry em Nova York. Ele prometeu que iria para Washington no sábado e eu
já estava contando os dias para ficarmos juntos novamente.
Nossa despedida foi triste e até um pouco dramática, uma vez que eu
me negava a deixá-lo e ele também parecia bastante insatisfeito com a nossa
despedida.
Mesmo não podendo me acompanhar, disponibilizou seu jato, cujo
serviço de bordo foi muito atencioso, mas eu sentia um vazio enorme e uma
saudade que já começava apertar.
Quando o taxi que peguei no aeroporto parou em frente à mansão, senti
um arrepio perpassar meu corpo. A única coisa que me consolava por estar
ali novamente era saber que Stella, Consuelo e Benito estavam à minha
espera.
— Pode começar a me contar tudo — exigiu Stella quando passei pela
porta.
— Deixe-a respirar, menina! — Consuelo pediu quando Stella
continuou grudada a mim em um abraço apertado.
— Eu também morri de saudades — falei, abraçando todos eles.
Benito pegou minha mala e a levou para o meu quarto, já eu e as
mulheres nos dirigimos à cozinha. Consuelo havia feito um bolo para me
receber e iria passar um café fresquinho para tomarmos enquanto eu contava
as novidades.
E foi o que fiz, contei com detalhes como tinha sido minha semana,
omitindo, obviamente, o fato de ter perdido a virgindade com Harry, isso eu
contaria apenas a Stella quando estivéssemos sozinhas.
Após meu relato, deixaram-me a par de tudo que aconteceu durante a
semana. Segundo elas, Eleanor não ligou nenhuma vez, ao que eu agradeci
imensamente, não queria nem imaginar o que ela faria se soubesse onde eu
me encontrava.
Infelizmente para todos nós, ela chegaria no dia seguinte, de forma que
iria aproveitar meus últimos momentos de paz.
Quando subi para o meu quarto com a intenção de desfazer minha
mala, Stella me seguiu.
— Vai falando, Liz, quero todos os detalhes — pediu, jogando-se em
minha cama.
Eu conhecia muito bem a minha amiga e sabia que não adiantava
esconder nada, e nem pretendia, afinal, Stella era minha única amiga.
— Bom, nós transamos — soltei e ela arregalou os olhos, mas eu
continuei tirando as coisas de dentro da mala e as organizando no guarda-
roupa.
— Ai, meu Deus, me conta tudo. Doeu? Você gozou? Ele é grande?
Tive uma crise de riso que era uma mistura de divertimento e vergonha,
evidenciada pelo calor que sentia em meu rosto.
— Sim para todas as perguntas — respondi e separei as roupas que
precisavam ser lavadas.
— Detalhes, por favor — pediu ela, sentando-se.
— A primeira vez foi esquisito, doeu no começo, mas depois foi bom,
ele foi cuidadoso, maravilhoso, na verdade, e acabou sendo como eu sonhei.
— Fala sério, você é muito sortuda.
Isso era verdade, Harry Stone poderia namorar com qualquer mulher do
mundo e eu fui a escolhida, quer mais sorte que isso?
Após contar mais detalhes, tais como: o tamanho dele, quantas vezes
fizemos e coisas do gênero, ela quis saber como eu tinha sido tratada.
— Entre nós foi incrível, o problema são as pessoas que trabalham com
ele, principalmente a coordenadora da campanha e a assistente pessoal. Elas
fizeram de tudo pra melar nosso lance. Sorte que eu sou bem observadora,
isso me ajudou a não cair na armadilha delas — afirmei.
Depois falei do passeio de iate, as fotos que tiramos juntos, dentre
outras coisas.
— Fez bem em não chatear Harry com isso — concluiu ela no fim —,
só ia causar mais atrito. Sem contar que é normal um homem poderoso como
ele ter um monte de abutres por perto.
— Eu sei, Stella, mas elas me falaram tanta coisa: que eu não tenho
perfil de primeira-dama, que sou muito nova, que não tenho curso superior...
Isso mexe com a cabeça de qualquer um.
Deus sabia que eu não tinha pretensão de ser primeira-dama, na
verdade, preferia muito mais que meu relacionamento com Harry fosse
normal, mas aquilo era impossível, a não ser quando estávamos apenas nós
dois, nessas horas eu conseguia fingir que aquele homem não era tão
importante.
— Não dê ouvidos a elas, o que importa é que você transou com aquele
deus e que ele te trata como você merece.
Soltei uma risada gostosa. Só Stella para me animar.
Conversamos por mais de uma hora sobre Harry e Nova York e Stella
só saiu do meu quarto quando estava satisfeita com o que ouviu.
Depois de tudo arrumado, de forma que Eleanor sequer desconfiasse de
algo, fui tomar um banho relaxante.
Quando peguei meu celular para ver se tinha algum recado de Harry,
achei apenas duas chamadas não atendidas de Zara Sullivan.
Isso fez um sorriso surgir em meu rosto.
Zara era tão diferente de Lexy e Cathy, tão agradável. Além disso,
mesmo sem saber, era um elo que eu tinha com Harry, por isso, retornei
imediatamente.
— Oi, Liz, que bom que você retornou — disse ela animada ao atender.
— Desculpe não ter atendido antes. Como você está?
— Ótima, obrigada. Blake está em Nova York e Harry comentou com
ele que você havia voltado para casa, então resolvi convidá-la para jantar
comigo esta noite, se não tiver outro compromisso, é claro
Ouvir o nome de Harry fez aquele famoso frio na barriga surgir e me
peguei sorrindo feito uma boba, tanto, que quando dei por mim, Zara estava
falando novamente e eu não tinha escutado nada.
— ...ela disse que fará um prato que você adorava.
Imaginei que ela estivesse falando de Gemma e fiquei ainda mais
animada, estava morrendo de saudades da minha ex-babá.
— Será um prazer — afirmei, dando graças a Deus por Eleanor não
estar em casa ou eu teria de declinar.
Combinamos o horário e, cinco segundos depois que desliguei, chegou
uma mensagem com seu endereço.
Na hora pensei em levar a Stella, ela também conhecia a Gemma e
sempre falava dela, porém, logo desisti, não seria apropriado levar mais
pessoas em minha primeira visita, mas na próxima, quem sabe.
Aproveitei as horas que teria antes do jantar para descansar e tentar
abrandar minha ansiedade, uma vez que a animação que estava sentindo por
fazer amizade com a esposa do vice de Harry tinha ido às alturas.
Nos três dias que se seguiram, fiz como havia combinado, mas foi um
tormento. Cada careta de dor que Stella fazia durante os curativos, era uma
pontada em meu coração.
— Pare de se torturar, Liz.
— Não consigo, amiga, é muita crueldade.
— Eu sei, mas já estou melhorando e queria saber se você já decidiu
alguma coisa.
Com toda essa confusão, não percebi que minha amiga estava
preocupada e curiosa sobre como lidaria com tudo isso, afinal, a segurança de
sua família dependia do que eu iria fazer.
— Eu já conversei com alguém que está me ajudando a pensar com
mais clareza, entre outras coisas... Ainda não decidi nada, mas posso te
garantir que jamais deixarei que algo de ruim aconteça a vocês de novo —
afirmei.
Stella me abraçou, aliviada. Ela jamais me pediria para desistir de
Harry, sabia que isso iria partir meu coração em milhões de pedaços, mas
confiava que eu daria um jeito.
Após fazer seus curativos, voltei para a mansão, tomei um café e fui
para o meu ateliê. Nos últimos dias ele tinha sido visitado mais do que nunca,
já que pintar me ajudava a pensar.
Peguei uma tela em branco, separei algumas tintas e pincéis e fiquei
parada por alguns minutos, esperando para ver que tipo de inspiração minhas
emoções iriam externar naquele momento.
Comecei os primeiros traços e fui deixando a imaginação me levar.
Quando estava na metade do trabalho, me dei conta de que minhas mãos
retrataram exatamente o que meu coração estava sentindo.
Demorei algumas horas para finalizar a tela e quando pincelei o último
traço, senti vontade de chorar, era, de longe, a tela mais linda e especial que
eu já tinha feito.
Ainda fiquei vários minutos apreciando meu trabalho antes de sair dali
e me dirigir à cozinha para almoçar com Consuelo.
Quando lhe perguntei por Stella, ela me disse que a filha estava
dormindo. Também me informou que Eleanor tinha aparecido há poucos
minutos pedindo que Benito a levasse a algum lugar. Disse que ela parecia
nervosa e eufórica e eu só podia imaginar o que estaria aprontando agora.
Depois de comer, prometi a Consuelo que tentaria dormir um pouco. A
doce mulher estava preocupada comigo por não estar dormindo direito. Em
sua cabeça, minha insônia tinha a ver com o que ocorreu à Stella.
Mal sabia ela que nossos problemas eram muito maiores.
Após um banho relaxante, peguei meu celular e, exatamente como
acontecia todos os dias, Harry havia mandado uma mensagem de bom-dia e
outra avisando que ligaria assim que tivesse uma brecha em seus
compromissos.
Ele era tão atencioso comigo e não tinha ideia do inferno que eu estava
vivendo. A cada vez que nos falávamos, a vontade que sentia de contar o que
estava acontecendo era maior, mas eu sempre me refreava. Aquilo não dizia
respeito apenas a mim, e nesse caso especificamente, eu não podia
simplesmente seguir meu coração; para lidar com esse tipo de gente, era a
razão que devia predominar.
E foi exatamente por estar racionalizando demais, que mil coisas
surgiam em minha cabeça a toda hora.
E se meu telefone estivesse grampeado?
E se eles estivessem nos vigiando?
Como se fosse uma confirmação, o celular começou a tocar em minha
mão indicando o mesmo número bloqueado de três dias atrás.
Cogitei não atender, mas logo desisti dessa ideia, era melhor saber o
que eles queriam a ficar imaginando o que poderia acontecer.
— O que você quer?
— Achou mesmo que conseguindo o Green Card da família Molina,
você iria nos deter, mocinha?
Engoli em seco. Como eles sabiam disso, será que...
— Eu tenho olhos e ouvidos em todos os lugares, Elizabeth, e sei de
absolutamente tudo — afirmou, como se tivesse escutado as dúvidas que
surgiram em minha cabeça. — No entanto, parece que você não está me
levando a sério. Então, resolvi dar mais uma amostra do que sou capaz de
fazer.
Meu Jesus, o que ele tinha feito agora?
— Do que está falando? — Minha voz saiu num sussurro desesperado.
— Por que não dá uma passada naquele orfanato de que tanto gosta.
Tenho a impressão de que aquelas crianças inocentes estão precisando de
todo apoio que conseguirem nesse momento.
Completamente petrificada, nem percebi quando o celular deslizou de
minha mão e caiu sobre o carpete macio do quarto.
Deus, não!
Saindo de meu estado catatônico, entrei em meu closet, troquei o shorts
que tinha acabado de colocar por uma calça jeans e calcei um tênis. Também
abri a gaveta onde guardava meu dinheiro e retirei algumas notas.
Eleanor tinha saído com Benito, então eu teria que ir de metrô.
Quando voltei ao quarto, coloquei minha bolsa no ombro, peguei o
celular do chão e saí correndo de casa.
No caminho, mandei uma mensagem a Consuelo avisando que haviam
me ligado do orfanato e que eu estava indo para lá.
Quase que imediatamente ela me respondeu dizendo que tinha acabado
de ver no jornal algo relativo ao orfanato e uma explosão.
Então era mesmo verdade.
— Canalhas — murmurei baixinho enquanto lágrimas lavavam meu
rosto.
Quando cheguei à minha estação, já estava mais controlada, mas não
menos desolada.
E essa desolação apenas aumentou quando virei a esquina e me deparei
com uma quantidade enorme de policiais, bombeiros e ambulâncias, além de
um aglomerado de pessoas atrás de uma faixa de contenção.
Corri até lá, louca para conseguir informações.
Por sorte, logo depois, a Madre Mary atravessou os portões ao lado de
um homem fardado.
Eles se despediram e antes que ela voltasse a entrar, chamei seu nome.
Madre Mary olhou para trás e na mesma hora me reconheceu. Então,
falou alguma coisa com um dos policiais que estavam guardando a área e ele
me autorizou a entrar.
— Ah, Liz, que bom que veio.
— Assim que vi o noticiário, corri para cá — menti. — Mas o que
houve? Eles falaram de explosão. Tinha uma... bomba? — perguntei, ansiosa.
Apesar do visível abatimento, ela sorriu.
— Não, querida, quem iria colocar uma bomba em um orfanato? —
disse, convicta de que algo assim seria impossível.
— O que foi, então?
— Houve um curto-circuito lá onde era a antiga cozinha, lembra? —
perguntou e eu apenas assenti. — Os bombeiros disseram que teve uma
sobrecarga no circuito daquela ala, o problema foi que havia e restos de tinta
e solvente lá dentro. A sorte é que a quantidade de querosene era baixíssima e
as tintas eram a base de água, ou poderia ter sido pior.
— Quer dizer que estão todos bem?
— Graças a Deus, sim. Duas funcionárias que estavam por perto foram
atingidas por estilhaços, mas não houve nada de mais, apenas alguns
arranhões. De qualquer forma nós tivemos que enviar as crianças a um abrigo
aqui perto, elas só poderão voltar quando o Corpo de Bombeiros verificar
toda a fiação e se certificar de que não há perigo.
Suspirei e anuí, saber que estavam todos bem tirou um peso das minhas
costas.
Nós conversamos por mais alguns minutos e quando perguntei pelo
padre Norton, ela disse que ele estava com as crianças.
Como não poderia ajudar em nada, despedi-me dela e fiz o caminho de
volta à estação. Dessa vez, entretanto, andei bem devagar para poder pensar.
Claro que não havia sido um simples curto-circuito, eles fizeram tudo
de forma que parecesse um acidente e eu sabia que ninguém iria descobrir.
Quando meu celular voltou a tocar e o número bloqueado apareceu
novamente, eu apenas atendi, apática.
— Alô
— Acredito que agora você vai me levar a sério, não vai?
Todo meu corpo estremeceu.
— Vocês são todos uns desgraçados.
— Não perca seu tempo, mocinha, nada do que você disser irá fazer
diferença. O bem-estar dessas crianças, bem como dos Molina, depende de
você.
— Você mataria mesmo todas aquelas crianças?
— Sem pestanejar — afirmou e eu percebi que era verdade. — Mas
para provar que não sou tão mal assim e que confio que você não vai
arriscar a vida de tantos inocentes contando o nosso segredo, vou deixar que
se encontre com Stone quando ele estiver em Washington, neste fim de
semana. Use essas últimas horas para convencê-lo de que não o quer mais e
depois desapareça do mapa, ou da próxima vez, o curto-circuito acontecerá
nos alojamentos das crianças e eu não vou parar por aí.
Mais uma vez comecei a chorar no meio da rua, parecia que eu estava
vivendo em um pesadelo.
— E só para você saber, este é meu último aviso. Desapareça ou
aguente as consequências. Tique-taque — disse e desligou.
Tentei controlar meu choro e minha respiração, mas os batimentos do
meu coração estavam descompassados e o pânico que eu estava sentindo
fazia um suor gelado escorrer pelas minhas costas.
Eles tinham acabado de provar que para conseguir o que queriam,
seriam capazes de tudo, sem arrependimentos e sem o menor receio de serem
pegos.
Eu já sabia a coisa certa a fazer, mas, mesmo assim, meu peito se
apertou como nunca, só de imaginar que para salvar a vida das pessoas que
eu amava, teria que sacrificar meu coração.
Após uma semana cheia de compromissos e reuniões intermináveis, eu
finalmente estava em Washington.
Havia combinado de me encontrar com Liz no sábado, mas como
ficaria ocupado quase o dia todo com o pessoal do partido, trabalhei até mais
tarde todos os dias para que pudesse ir ainda na sexta-feira e tinha dado certo.
Para que pudesse se programar, mandei uma mensagem para ela logo
cedo falando da mudança de planos e mais tarde, antes de sair das Indústrias
Stone, avisei a hora da minha chegada.
Mal podia esperar para vê-la novamente.
Para meu desgosto, Liz não deixou que fôssemos buscá-la, disse que
preferia ir com seu motorista. Não entendi todo esse cuidado, uma vez que no
dia seguinte sua mãe ficaria sabendo do nosso relacionamento, mas respeitei.
Depois de instalado na suíte que possuía no Trump Internacional, tomei
um banho demorado e liguei para minha mãe para avisar que não estaria em
Nova York no fim de semana.
Ainda estava falando com ela quando bateram à porta.
Despedi-me rapidamente e fui abrir, sentindo-me pateticamente
ansioso. Sentimento que só piorou quando vi Liz do outro lado, tão linda
quanto eu me lembrava.
O vestido que usava tinha uma delicada estampa de lírios e os longos
cabelos que eu adorava estavam soltos. Como sempre, estava perfeita, mas
aquele brilho travesso que fazia parte de seu olhar não estava presente.
Analisando-a melhor, percebi que parecia um pouco abatida e só pude
associar ao estado de saúde de Stella que, pelo que Liz falara, ainda não
estava bem.
— Oi — ela disse com sua voz doce.
— Oi — respondi.
Minha vontade era de agarrá-la ali mesmo, na frente de Zed, mas em
vez disso, peguei sua mão e a levei para dentro.
Foi quando vi que ela tinha um tubo na mão.
— O que é isso?
— Ah, um presente para você — falou estendendo-o a mim.
Curioso, abri o tubo e tirei de lá uma tela, que eu imaginei ser dela.
Com cuidado, estendi-a sobre a mesa e tomei meu tempo analisando. A
imagem retratava um casal sentado à sombra de uma arvore e a forma como
foram posicionados, assim como a paisagem ao redor, me fizeram lembrar o
dia em que estivemos no Central Park.
— Somos nós? — perguntei.
Liz deu um leve sorriso e balançou a cabeça em concordância.
Voltei a olhar para a tela. Por mais comum que a imagem fosse, os
traços delicados, a simetria entre as cores primaveris das árvores, da grama e
do céu límpido, junto à maneira difusa como foram distribuídas e o contraste
perfeito entre sombra e luz, deixaram a paisagem romântica, embora um
pouco melancólica, nostálgica.
Quando dei por mim estava sorrindo, lembrando-me de um momento
extremamente feliz que passei ao lado da mulher por quem estava
apaixonado.
— É lindo, você é muito talentosa, Liz — falei com sinceridade,
realmente impressionado. — Muito obrigado.
— Fico feliz que tenha gostado, mas agora venha me dar um beijo,
estou morrendo de saudade.
— Não precisa pedir duas vezes.
Deixei a tela onde estava e puxei a linda mulher à minha frente para os
meus braços.
Quando nossas bocas se tocaram, foi simplesmente incrível. Depois de
Liz, eu notei a diferença que fazia estar com quem se gostava. Não havia
comparação e não dava sequer para explicar todas as sensações que ela me
causava.
Mas se alguém me pedisse para traduzir em apenas uma palavra, eu
diria que estava feliz. Realizado também poderia me definir. Assim como
agradecido, por tê-la encontrado.
— Senti tanto a sua falta... — ela sussurrou.
— Eu também. Não sei se vou conseguir continuar com essa rotina. Por
isso, tenho pressa em resolver esse assunto com a sua mãe.
Liz pegou minha mão e mordeu o lábio.
— Podemos falar de coisas desagradáveis depois? Hoje eu preciso de
você, de nós...
Concordei imediatamente. Também queria matar uma semana de
saudade antes de tratar de assuntos indesejados.
Ela me abraçou apertado e depois ficou olhando para o meu rosto por
longos segundos.
— O que foi?
— Eu acho você maravilhoso, Harry.
Estranhamente, seus olhos ficaram marejados.
— Ei, está tudo bem?
— Sim, tudo. É que fico meio boba quando estou perto de você.
Sem que eu esperasse, Liz ficou nas pontas dos pés e mordeu meu lábio
inferior. Então, arrastou a boca por meu maxilar até chegar à minha orelha.
— Faça amor comigo — sussurrou.
Meu corpo correspondeu no mesmo instante, ainda assim, alguma coisa
no tom de sua voz me deixou em alerta, todavia, com Liz me beijando, foi
impossível pensar com coerência. Naquele momento, tudo o que eu queria
era amá-la.
Enquanto me beijava, ela foi desfazendo o nó da minha gravata e
desabotoando os botões da minha camisa.
Segui seu exemplo e desci o zíper de seu vestido. Antes que ela
chegasse ao meu cinto, o tecido deslizou por seu corpo, deixando-a apenas de
calcinha.
Conforme ela me livrava das roupas restantes, senti-me orgulhoso por
finalmente ter deixado alguém derrubar minhas barreiras, não uma pessoa
qualquer, mas uma mulher como Liz, tão parecida com as mulheres da minha
família em vários aspectos, cheia de valores elevados que me deixavam mais
apaixonado a cada dia.
Quando ficamos completamente nus, Liz passou os olhos pelo meu
corpo e, pela primeira vez naquela noite, seu olhar travesso apareceu, pouco
antes de ela cair de joelhos à minha frente.
Eu já sabia o que faria, mas quando meu pau deslizou para dentro
daquela boca quente e macia, eu fui à loucura.
Gentilmente guiei seus movimentos enquanto ela me ordenhava,
engolindo um pouquinho mais a cada sugada, o que fez com que, em poucos
segundos, eu já estivesse a ponto de explodir.
Só que eu não faria isso, não por enquanto, queria aproveitar cada
momento com ela. Puxei-a para que ficasse de pé.
— Você é perfeita — falei e a beijei com voracidade.
Deslizei as mãos por suas costas e me deliciei com a maciez de sua pele
e os arrepios que acompanhavam o caminho percorrido pelos meus dedos.
Nosso nível de conexão era fortíssimo, eu adorava o jeito como ela
reagia quando estava em meus braços e ainda me espantava com a rapidez e
força com que o meu reagia a ela.
— Hum, assim — balbuciou quando deslizei os dedos para seu centro,
já completamente pronto para mim.
Antes, porém, eu queria prová-la.
Peguei-a no colo, depositei-a na cama, afastei suas coxas e me agachei.
Usei dois dedos para entreabrir suas dobras e no momento em que minha
língua tocou seu ponto mais sensível, Liz arfou e ergueu o quadril, me
obrigando a segurá-lo no lugar.
— Quietinha — pedi e ela gemeu, já sabendo o quanto isso seria difícil.
Voltei ao meu intento, mas dessa vez com voracidade, a língua
entrando em seu canal apertado enquanto ela se contorcia sob meu jugo.
Foram necessários poucos segundos para estar estremecendo e gritando.
Quando seus espasmos acabaram, comecei tudo de novo. Sentir o gosto
de seu prazer quase me enlouqueceu. Ao perceber que estava chegando ao
orgasmo novamente, ouvi-a chamar meu nome.
— Entra em mim. Quero que esteja dentro de mim na próxima vez que
eu gozar.
Ouvir aquilo fez um rugido meio selvagem sair de minha garganta.
Levantei-me e a ajustei de bruços no centro da cama, de modo que ela
pudesse me sentir com mais intensidade.
Vê-la naquela posição me deixou ainda mais excitado, não só por seu
corpo magnífico, mas também por saber que apenas eu a tinha visto daquele
jeito, que apenas por mim ela gemeu de prazer e que apenas para mim ela se
entregou sem reservas.
Tudo o que eu estava sentindo piorou quando Liz abriu um pouco mais
as pernas. Com outro rugido e uma arremetida, eu estava completamente
enterrado, arrancando arquejos de ambos.
Comecei a investir dentro dela, mas a minha garota já estava em seu
limite e segundos depois gozava mais uma vez, pulsando em torno do meu
pau, o que requereu de mim todas as minhas forças para não acompanhá-la.
Quando ela se acalmou, voltei a entrar e sair, deleitando-me com sua
maciez. Cobri seu corpo com o meu e, tomado pelo deleite de estar dentro
dela, falei em seu ouvido:
— Você foi feita para mim, Liz, para me dar prazer, olha como deslizo
fácil dentro de você.
— Eu sonhei com isso a semana toda — disse ela, manhosa, a voz
entrecortada.
Sabendo que não duraria muito mais tempo, saí rapidamente de dentro
dela e a virei de barriga para cima, queria ver seu rosto quando estivesse
gozando.
Liz gemeu quando voltei a penetrá-la e logo suas mãos estavam em
minhas costas, as unhas arranhando minha pele e me deixando
completamente alucinado.
Aumentei as incursões, movendo-me cada vez mais rápido, fazendo-a
se agarrar ainda mais a mim.
— Ah, Harry... — sussurrou, elevando os quadris para conseguir mais
contato.
O movimento me possibilitou ir mais fundo e também fez com que seu
clitóris fosse atingido a cada vez que entrava nela.
Então, pela terceira vez, Liz gozou.
Com muito custo me segurei até que ela se acalmasse, mas antes
mesmo de seus espasmos terminarem, saí de dentro dela e esporrei, dessa vez
sobre sua barriga lisa, travando os dentes enquanto meu corpo chegava ao
ápice.
Era ótimo gozar de maneira natural, sem interrupções, mas ao mesmo
tempo, ver a prova do prazer que ela me fazia sentir sobre sua pele, era
indescritível, primitivo, como se a estivesse marcando como minha.
Quando consegui controlar a respiração, saí do meio de suas pernas e
me levantei.
— Deixe-me pegar alguma coisa para dar um jeito na bagunça que fiz.
Liz sorriu e continuou parada.
Após limpar tudo, peguei-a no colo e a levei para o chuveiro, onde
tomamos um delicioso banho quente.
— Como será seu dia amanhã? — perguntou, já deitada contra meu
peito.
— Cheio de reuniões com os caciques do meu partido, nada muito
interessante.
— Para você, é, sei o quanto ama esse universo — afirmou, girando a
cabeça para me fitar.
— Sim, você está certa — confirmei. — Queria que dormisse comigo
— falei após alguns minutos.
— Eu sei, mas prefiro não atropelar as coisas.
Eu apenas assenti. Depois que conversasse com Eleanor, tudo mudaria.
E já estava na hora. Minha candidatura seria oficialmente anunciada e
esperava fazer o mesmo com nosso noivado em seguida. Mas só faria o
pedido oficial a Liz quando tudo estivesse acertado, tanto com sua mãe
quanto com o partido.
Havia tensão para todos os lados, de forma que achei melhor tratar de
cada assunto em seu devido tempo.
Continuamos deitados, mas eu estava muito cansado e por mais que
quisesse aproveitar nosso tempo juntos, as horas que passei trabalhando a
mais naquela semana começaram a cobrar seu preço e acabei dormindo e
despertando várias vezes.
Numa delas, lembrei-me de que acabei não perguntando o que a estava
incomodando, mas sabia que no estado em que me encontrava, não
conseguiria falar sobre nada sério e desisti, perguntaria depois.
Então, a certa altura, senti-a acariciando meu rosto e falando, com sua
voz doce: nunca se esqueça do quanto eu te amo.
Eu queria corresponder, mas, novamente, fui engolido pelo sono.
Harry,
Não sei a que horas você achou esta carta. Se foi antes de ir até
minha casa, peço desculpas, mas não me encontrará lá. Se foi depois de
já ter falado com Eleanor, peço perdão, pois, provavelmente, já deve
estar louco, sem saber o que realmente aconteceu.
Eu sei que devia ter conversado com você pessoalmente, mas sou
covarde, se estivesse olhando para seu rosto bonito, jamais teria
coragem de dizer tudo o que precisava, por isso, resolvi escrever.
Após a semana fantástica que passei com você em Nova York, eu
refleti muito a respeito de minha vida.
Eu sempre me senti como um pássaro, presa em uma gaiola, ou
como um cão adestrado, sempre recebendo ordens. Especialmente
depois da a morte do meu pai. Grande parte da minha infância, toda a
minha adolescência e o início da minha vida adulta, eu passei sendo
dominada pela mulher que deveria ter me amado, mas que, em vez
disso, sempre me tratou como um objeto.
Como você sabe, eu nunca tinha viajado, na verdade, mal saí de
casa, a não ser para lugares predeterminados, então, a semana que
passei longe de Washington e, principalmente, longe da minha mãe, me
fez perceber que eu não poderia voltar àquela vida. Que eu precisava
dar ouvidos ao sentimento que vem me inquietando há muitos e muitos
anos.
É embaraçoso para uma mulher de 23 anos admitir, mas eu nunca
tive liberdade para fazer escolhas, sempre fui tolhida em cada desejo
que tive, tudo isso por medo de que minha mãe cumprisse suas ameaças.
Uma pessoa de fora pode dizer que eu estou exagerando, que se a
tivesse confrontado, não teria sofrido por tantos anos, mas somente
quem conhece Eleanor Reagan sabe que ela não blefa. Além disso, ao
menos na infância e início da adolescência, eu quis cumprir a promessa
que fiz ao meu pai, um homem bom que não tinha ideia da mulher com
quem se deitava todos os dias.
Só que após tantos anos de sofrimento, alguma coisa mudou em
minha cabeça, e isso apenas piorou depois que o conheci. Conviver com
você despertou algo dentro de mim e me fez perceber que ser sua
primeira-dama deve ser o desejo de metade das mulheres desse planeta,
mas não o meu.
Eu preciso de liberdade, Harry, o tipo de liberdade que sempre
sonhei, de conhecer pessoas e culturas diferentes, mas sem estar sendo
observada pelo mundo inteiro.
Não me entenda mal. Meus sentimentos por você são reais e só de
escrever estas palavras, sinto como se meu coração sangrasse, mas eu
jamais conseguiria viver sob tantas regras, eu me sentiria sufocada e,
cedo ou tarde, isso acabaria com o nosso relacionamento.
Por outro lado, eu jamais pediria que renunciasse ao seu sonho
para ficar comigo, seria injusto e mesquinho de minha parte.
Saiba que não foi fácil tomar essa decisão, na verdade, talvez
tenha sido a mais difícil da minha vida, pois você foi a melhor coisa que
já me aconteceu, só que eu quero mais. Eu preciso ter experiências reais
e não vou conseguir isso se estiver sob vigilância 24h por dia e muito
menos trancada na Casa Branca.
Esse é o seu sonho, não o meu.
Por isso, peço que, por favor, não me procure, nossas expectativas
são totalmente diferentes e por mais que gostemos um do outro, em
algum ponto de nossas vidas, nossas diferenças iriam nos separar.
Eu amo você com todo o meu coração, mas, nesse momento,
preciso amar a mim mesma e, ao menos uma vez na vida, fazer minhas
próprias vontades. E o que meu eu mais quero neste momento é
liberdade de fazer o que sempre desejei.
Sei que o que vivemos foi intenso, porém, foram apenas dois
meses, meses esses que para uma garota inexperiente como eu, nunca
serão esquecidos, mas que para um homem vivido como você,
certamente não farão diferença.
Eu desejo boa sorte na sua campanha e espero que encontre
alguém que o complete em todos os sentidos e o faça feliz, como você me
fez nesses dias em que estivemos juntos.
Sempre sua,
Liz.
A carta de Liz me deixou completamente desestruturado, simplesmente
porque não fazia sentido, ela jamais me deixaria daquela forma, ainda mais
depois da noite que tivermos.
Em um primeiro momento eu liguei, queria entender o porquê de uma
pessoa que sempre foi tão verdadeira comigo, ter ido embora assim.
Quando caiu na caixa postal todas as vezes, resolvi ir à sua casa. Se ela
não estivesse lá, talvez conseguisse alguma informação com Eleanor.
— Está tudo bem, senhor? — Zed perguntou quando me encontrou no
saguão do hotel.
— A que horas Elizabeth saiu daqui ontem à noite?
— Por volta de duas da manhã.
— E você viu com quem ela foi embora?
— O motorista dela. Vai me dizer o que está acontecendo?
— Eu ainda não sei, mas pretendo descobrir.
Ele franziu o cenho, porém, permaneceu calado.
O caminho até a casa de Elizabeth nunca pareceu tão longo e minha
ansiedade por respostas era tanta, que mal o carro parou, já estava saltando.
Subi os degraus da escada correndo e apertei a campainha repetidas
vezes.
Para meu espanto, quem abriu a porta foi a própria Eleanor, que não
pareceu nem um pouco surpresa com a minha presença.
— Boa tarde, Sr. Stone.
— Preciso falar com a Liz.
— Ela não está.
— E para onde ela foi?
— Eu não sei, acordei esta manhã e não havia ninguém e seu closet
estava vazio.
— E isso quer dizer...
— Que ela foi embora.
— Liz não pode ter meramente ido embora — afirmei, ciente de que
estava tentando enganar a mim mesmo.
Eleanor me encarou com seus olhos de águia e deu um sorriso
maléfico.
— Meu Deus, Elizabeth conseguiu enganá-lo direitinho, não é, Sr.
Stone. Bom, odeio ser a portadora de más notícias, mas o senhor não era o
único no radar dela.
— Não estou entendendo.
— Você não era o único cara rico com quem minha filha estava saindo.
Então, só posso supor que tenha ido embora com quem ofereceu mais, pois
levou os mortos de fome que trabalhavam aqui junto com ela.
— Eu não acredito nisso. Liz não é como você, diga-me o que fez com
ela! — Eu praticamente gritei, perdendo a paciência.
Eleanor não se importou com meu destempero e soltou uma risada.
— Você acredita mesmo que ela passou a vida toda comigo e não
aprendeu nada, bobinho? Elizabeth Reagan é uma caça tesouros, que para sua
sorte, ou azar, odeia política. Isso quer dizer que você nunca seria a escolha
ideal, a não ser que ela não tivesse outras opções.
Aquela história parecia tão absurda que quando dei por mim, estava
chamando por Liz.
— Pode berrar, revistar, fazer o que quiser, mas não a encontrará —
afirmou com calma. — Quer saber o que é mais irônico? Eu dei um jeito para
ela conhecer todos esses homens, exatamente como fiz com você e, no final,
acabei ficando com uma mão na frente e outra atrás.
Isso me chamou a atenção.
— Se o que diz é verdade, você sabe com quem ela está.
À minha declaração, outra gargalhada meio enlouquecida soou dela.
— Se não fosse por uma amiga, que os viu juntos, acho que nunca teria
sabido a respeito do senhor, então, como poderia saber dos outros. Já
apresentei Elizabeth a dezenas de homens, seria impossível saber com quem
ela manteve contato e muito menos com quantos estaria saindo ao mesmo
tempo.
— Liz seria incapaz de fazer uma coisa tão sórdida.
Ela bufou e balançou a cabeça, lançando-me um olhar falsamente
piedoso.
— Por mais raiva que eu esteja sentindo de minha filha agora, preciso
admitir que ela saiu melhor que a encomenda. Sem eu perceber aquela sem
sal se tornou uma vigarista de primeira, do tipo que consegue enganar o mais
esperto dos homens — escarneceu.
Não, não, não!
Aquilo não estava certo.
— Lion! — falei, de repente, sentindo um fio de esperança.
— O quê?
— Lion, o cachorro — expliquei e Eleanor deu uma fungada de
desdém.
— Você acha mesmo que ela iria embora e deixaria aquele pulguento
aqui sabendo que eu descontaria toda a minha raiva nele?
Liz não mentiu quando disse que a mãe não aprovaria o cachorro, vi
isso na forma como a mulher o olhou naquele dia, então, seria impossível que
ela o deixasse para trás.
E ele não estava ali, e sua dona também não.
Por mais que me negasse a deixar Eleanor me enganar com suas
palavras venenosas, cada vez mais, uma sensação horrível tomava conta do
meu corpo.
Meio desesperado, saquei o celular do bolso e, mais uma vez, liguei
para Liz.
— Siga o meu conselho e não perca seu tempo, querido. Elizabeth já
queria se livrar do meu domínio há muito tempo, tudo o que precisava era de
alguém com grana o suficiente para bancar tanto a ela quanto aos imigrantes
que a ingrata chama de família. A partir do momento em que saiu daqui, ela
fez uma escolha que não incluía nem você e nem a Casa Branca. Minha filha
jamais trocaria uma prisão por outra, a não ser que não encontrasse nada
melhor. E, pelo que estamos vendo, encontrou.
Esse argumento me fez pensar.
Era terrível imaginar a garota que conheci como uma interesseira, mas
o veneno de Eleanor era potente e me peguei lembrando do tempo em que
estivemos juntos.
Liz gostava de mim, era nítido, ninguém conseguiria fingir daquele
jeito, mas se fosse muito sincero comigo mesmo, assumiria que nunca houve
empolgação de sua parte no que se referia a ser minha primeira-dama. Pelo
contrário, a possibilidade sempre a assustou muito.
E, mesmo concluindo tudo isso, eu me negava a acreditar que fora tão
ingênuo assim. Preferia crer que tudo não passava de uma armadilha de
Eleanor, na qual eu me recusava a cair.
— A Liz que eu conheço jamais faria isso comigo — afirmei,
aproximando-me da mulher odiosa à minha frente. — Então, escute bem, se
por acaso eu descobrir que você tem alguma coisa a ver com seu sumiço, é
bom que esteja preparada, pois vou usar todo o meu poder e influência para
acabar com a sua raça.
Eleanor estremeceu, mas logo voltou a me lançar seu sorriso
pernicioso.
— Eu já disse que desconheço seu paradeiro, então, se conseguir entrar
em contato com ela, faça o favor de lhe dizer para devolver meus serviçais.
Antes que fizesse algo de que me arrependeria, virei as costas e
comecei a me afastar.
— Harry.
Parei ao ouvir meu nome, mas não me voltei para ela novamente.
— A Liz que você conhece não existe. Nunca existiu — completou.
Senti um nó se formar em minha garganta e tive que respirar fundo
algumas vezes antes de prosseguir em direção à porta e para o mais distante
que pudesse daquela casa.
Os primeiros minutos do trajeto até o hotel foram feitos em total
silêncio, comigo olhando para além da janela, mas sem enxergar nada, pois
minha cabeça estava a mil, tentando definir o que fazer e no que acreditar.
Quando, por fim, tomei uma decisão, olhei para cima e me deparei com
os olhos preocupados de Zed através do retrovisor.
Sem perda de tempo, liguei para Rurick Czar e expliquei a situação.
Estava determinado a tirar essa história a limpo, para o bem ou para o mal, e
ele era a minha melhor aposta. Se sua agência não conseguisse encontrá-la,
ninguém conseguiria.
Balancei a cabeça, ainda atordoado, e voltei a olhar para fora.
Liz não pode ter me enganado dessa forma, pensei, porque me negava
a acreditar que ela tivesse ido embora com outro homem... Não fazia sentido.
Mas, então, nada fazia sentido. Por isso mesmo minha mente não
parava de bolar conjecturas, das mais simples às mais descabidas.
Em minha ânsia de encontrar razões plausíveis para tudo aquilo,
convenci a mim mesmo de que Eleanor tinha vendido a própria filha, afinal
de contas, se tudo o que Liz me contou fosse verdade, isso era bem possível.
Mas e se Eleanor estivesse certa e nada do que aconteceu entre mim
Elizabeth Reagan naqueles dois meses tivesse sido real?
Essa dúvida me acompanhou pelo restante do sábado, enquanto
aguardava, esperançosamente, que Liz entrasse em contato e me explicasse o
que estava acontecendo.
Minha melancolia aumentava na mesma proporção em que a garrafa de
uísque que abri assim que cheguei ia secando. Especialmente quando me
lembrava o quanto ela estava feliz em meus braços, apenas um dia atrás,
naquela mesma suíte.
Seus olhares, seus sorrisos... Essas lembranças deixavam meu coração
cada vez mais apertado.
Tinha certeza de que nunca me sentira tão triste, preocupado, ansioso.
Para a tortura ser maior, perdi a conta de quantas vezes li aquele pedaço
de papel tentando achar algum erro, algum deslize, alguma coisa que me
fizesse perceber que tudo aquilo era um grande mal-entendido.
Mas, então, começava a lembrar de todas as vezes em que falei da Casa
Branca, da necessidade de uma esposa e tantas outras coisas referentes à
política.
Liz sempre me escutava e torcia por mim, por meu sonho, mas nunca se
mostrou animada com seu potencial papel ao meu lado. E eu, entusiasmado
com ela, não quis ver o que estava bem na minha frente.
Essa mistura de sentimentos me instigou a continuar bebendo.
Em algum momento o álcool me venceu, pois, quando acordei, tinha
uma dor aguda e latejante em cada têmpora, intensificada pelo estrondo que
reverberava dentro da minha cabeça.
Quando consegui abrir os olhos e me situar, percebi que já era dia e que
não havia estrondo algum, apenas alguém batendo à porta com muita
insistência.
— Harry, sou eu, abre — disse Lexy.
Suspirei, não me espantava que ela estivesse ali, uma vez que toda a
equipe de Nova York havia me acompanhado para que pudéssemos acertar os
últimos detalhes sobre o anúncio.
O que estranhava era que só tivesse aparecido naquele momento,
quando o normal seria estar no meu pé desde que voltei, na noite anterior.
Levantei-me e fui abrir a porta.
— Entre — falei.
Não queria receber ninguém, mas estava louco para ter com quem
brigar, a quem culpar.
Lexy foi ao frigobar, pegou uma garrafa de água e a entregou a mim
juntamente com dois comprimidos.
Resmunguei alguma coisa que se pareceu muito com um ‘obrigado’ e
tomei o remédio, junto com todo o conteúdo da garrafa.
Quando nossos olhares se encontraram, percebi que ela já sabia.
— Harry, eu...
Dispensei seu comentário e fui para o banheiro. Precisava de alguma
normalidade e começaria seguindo minha rotina diária.
Após um banho relaxante e, ao mesmo tempo, torturante, já que via Liz
em todo lugar, retornei ao quarto, apenas para encontrar Lexy sentada na
cama, lendo a carta que, àquela altura, estava toda amassada.
— Não sei o que dizer.
— Diga que está feliz por ter conseguido o que queria — falei,
amargurado.
Eu estava louco de ódio e não seria condescendente com ela.
— Nunca escondi que não achava Liz boa o bastante, mas se ela fosse
mesmo o que você queria, eu teria ajudado a transformá-la em uma primeira-
dama perfeita.
— Vai para o inferno! — berrei, alto o bastante para Zed ouvir e entrar.
— Agora que Liz me deixou, é muito fácil falar que me apoiaria. Por que não
pensou nisso quando foi lhe mostrar aquele maldito contrato! — gritei
novamente e a vi estremecer.
Fechei os olhos e respirei fundo, tentando manter o controle, mas as
circunstâncias não estavam ajudando.
Peguei a garrafa de uísque que jazia no chão, ao lado da minha cama,
servi uma dose em um copo e me posicionei em frente à janela. Não queria
olhar para ela.
— Veja bem, Harry, eu sei que é meu chefe. Sei também o quanto é
difícil levar um fora, mas, porra, você está prestes a entrar numa disputa
ferrenha por algo que sempre foi sua meta de vida, não vá começar a surtar
por uma mulher que conheceu outro dia, é hora de focar no que realmente
vale a pena.
— E quem te disse que ela não vale?
Lexy torceu a boca em desgosto.
— Você enlouqueceu! — exclamou, irritada.
— Lexy, volte para Nova York e cuide de tudo por lá — pedi com mais
educação do que ela merecia, já que na minha cabeça, minha amiga de
infância era uma das responsáveis pela decisão que Elizabeth tomou.
— Como é? Quer dizer que você não vai voltar com a gente? —
Quando não respondi, ela continuou: — A garota deixou mais que explicado
naquela carta que não quer essa vida! Pelo amor de Deus, Harry, você tem
que seguir em frente.
Suas palavras me fizeram lembrar da época em que eu não costumava
pensar duas vezes nas mulheres que passavam por minha vida.
O que ela não entendia era que eu estava completamente apaixonado
por Elizabeth Reagan e não conseguiria, simplesmente, seguir em frente.
— Apenas faça o que estou mandando — pedi, cansado.
— Mas...
— Lexy, pelo menos uma vez na vida, siga uma ordem! — a voz de
barítono de Zed fez minha assessora arregalar os olhos e abrir a boca de
espanto.
Se não estivesse tão chateado, teria rido de sua cara. Era a primeira vez
que Zed falava com ela dessa forma e eu podia imaginar o quanto estava
absorta.
Lexy ainda olhou para mim em busca de apoio, mas meu olhar duro lhe
tirou qualquer esperança e, no instante seguinte, ela tinha ido embora.
Olhei para meu guarda-costas e amigo e meneei levemente a cabeça,
como agradecimento. Ele espelhou meu gesto com a mesma sutileza de
movimentos e me deixou sozinho.
Como ainda estava apenas com a toalha de banho na cintura, fui ao
guarda-roupas e vesti uma boxer e uma calça.
Depois, peguei meu celular e liguei para Czar, precisava saber se ele
tinha alguma novidade.
Infelizmente as notícias não eram otimistas.
Ele prometeu que estava fazendo o impossível, mas que ainda não tinha
achado nada, nem referente a ela e nem a nenhum membro da família
Medina. Mas ele estava confiante. O sistema que a RC-2 utilizava era de
última geração, e conseguiria detectar seu rosto, mesmo que ela estivesse
disfarçada. Se Liz pegasse um avião, ônibus ou até mesmo metrô, ele
conseguiria localizá-la, pois sua agência estava conectada com o sistema de
monitoramento interno de todos os aeroportos, rodoviárias e estações.
Sei que deveria me incomodar com isso, mas, nesse caso, eu não
poderia estar mais contente por tê-lo ao meu lado.
Olhei ao redor da suíte, e após encontrar a garrafa de uísque e o copo
que ainda continha uma boa quantidade do líquido âmbar, peguei os dois e
fui para a cama, onde me encostei à cabeceira, pensativo.
Quando fui encher o copo novamente, meus olhos se desviaram para a
carta que estava dobrada sobre a mesa de cabeceira.
Tive vontade de lê-la outra vez, mas minha cabeça voltou a me
bombardear com as palavras de Eleanor.
Quem estava falando a verdade?
Não sei quanto tempo fiquei ali, pensando mil coisas e entorpecendo
meus sentidos com álcool, até que, enfim, a garrafa estava vazia.
Minha vontade era pegar outra, mas não tinha ânimo nem para isso.
Algum tempo depois, voltaram a bater na porta e, antes que eu
dispensasse quem quer que fosse, ela foi aberta e soube que só poderia ser
Zed.
Ele começou a se aproximar, porém, não olhei em sua direção.
— Senhor? — Sua voz era baixa, cautelosa, mas continuei como
estava. — Harry! — falou, e isso atraiu minha atenção. Zed raramente me
chamava pelo nome.
Quando me virei, sua expressão estava séria. Na mesma hora senti o
coração acelerar. Alguma coisa havia acontecido.
— O que houve — quis saber, saindo de minha posição quase deitada.
— É a Srta. Reagan.
— Liz? — perguntei, pondo-me de pé imediatamente. — Ela voltou? O
que...
— Não, ela não voltou — disse ele, enfatizando as palavras, de modo
que eu prestasse atenção —, mas me deixou uma mensagem de voz —
explicou, mostrando seu celular.
Achei estranho o fato de ela entrar em contato com Zed após ter ido
embora, mas assenti, mesmo intuindo que ouvir aquilo não me faria bem.
“Eu não sei porque, mas senti que precisava te falar que sempre fui
verdadeira com Harry. Se... se apenas gostar resolvesse todos os problemas,
eu teria ficado, mas, infelizmente, as coisas não são tão simples.”
Havia um tom melancólico em sua voz... Sua tristeza era tão parecida
com a minha, que senti os olhos arderem e a garganta se fechar, mas respirei
fundo, engoli o nó que se formou e me controlei para escutar o resto.
“Estou falando tudo isso porque preciso te pedir uma coisa. Por favor,
cuide dele para mim. Sei que isso é meio ridículo, afinal, Harry já é um
homem feito e em pouco tempo nem se lembrará que eu existo, mas não
conseguiria ficar em paz sem saber que ele terá alguém nesses primeiros
dias.”
“Bom, é isso. Espero, de coração, que ele realize seu grande sonho,
estou torcendo muito. Também desejo que encontre alguém que o faça feliz.
Harry merece ser feliz.”
“Ah, eu sei que isso vai se parecer muito com alguns filmes clichês,
mas vamos lá: Não procurem por mim, eu não vou voltar. Também não
tentem me ligar, porque após esta mensagem, irei destruir o chip do
celular.”
Ela riu novamente e, mais uma vez, meu coração faltou saltar do peito.
“Gostei muito de te conhecer e fico agradecida por saber que ele tem
alguém como você para apoiá-lo. Adeus, Zed.”
Meu telefone tocou e eu dei graças a Deus por ter ido dormir cedo ou
estaria muito chateada por estar sendo acordada antes da hora. Quando
peguei o telefone para ver quem era, fiquei surpresa ao ler o nome de Zed.
— Ele está se arrumando para ir trabalhar — foi logo falando assim que
atendi.
Aquilo fez com que qualquer sono que eu estivesse sentindo se
esvaísse.
— Tem certeza? — perguntei, eufórica, mas ainda descrente.
— Tenho, pediu inclusive que eu marcasse uma reunião com o pessoal
esta tarde.
— Certo, então é sério.
— Sim.
— Tudo bem. Obrigada, Zed.
— Tchau — falou e desligou.
Apesar do que ouvi, só acreditaria que estava tudo bem de novo quando
o encontrasse.
Na noite anterior, quando fui lá, não consegui passar da portaria,
provavelmente por instrução daquele babaca. Por causa disso, eu não sabia
qual era seu real estado.
Por outro lado, já devia imaginar que uma semana era tempo suficiente
para alguém chafurdar na própria desgraça, antes de cair na real.
Apesar de achar que não era apenas isso.
Sim, Harry estava sofrendo, isso era nítido, mas alguma coisa me dizia
que, na verdade, ele tinha esperanças de conseguir alguma notícia dela e
quando isso não aconteceu, desistiu e resolveu voltar à realidade.
Restava saber como agiria agora.
Quando entrei no banheiro para tomar banho, rezei para que as coisas
não estivessem tão ruins quanto eu imaginava. Tudo o que eu queria era que
meu amigo voltasse a ser o cara de sempre, porém, sentia em meu coração
que as coisas nunca mais seriam iguais.
Cheguei à empresa um pouco mais cedo que o normal e cuidei eu
mesma de vários assuntos para que tudo estivesse perfeito.
Quando ele finalmente apareceu, vestido em um de seus ternos caros,
os cabelos bem penteados e a barba feita, um alívio enorme tomou conta de
mim.
No entanto, assim que olhei para ele — olhei de verdade —, notei o
quanto ainda estava mal. Harry podia estar em seu modo CEO, todo elegante
e arrogante, mas as olheiras profundas abaixo de seus olhos provavam que a
realidade era outra.
Senti-me mal, mas logo me lembrei de que, no final, tinha conseguido o
que queria. Ele poderia estar sofrendo agora, mas logo se recuperaria.
Parecendo ler meus pensamentos, Harry fixou os olhos em mim.
Eu não era uma pessoa covarde, mas confesso que me retraí um pouco
com a hostilidade que exalava dali.
O.K., parecia que para o meu lado, as coisas continuavam iguais.
Reunindo todo o orgulho que possuía, entrei em sua sala atrás dele e
lhe passei sua agenda.
Enquanto eu falava, Harry olhava os documentos que estavam sobre
sua mesa, mas sabia que ele estava me ouvindo, por isso continuei. Quando
finalizei, achei que ele fosse perguntar algo ou me mandar fazer alguma
coisa, mas ele apenas ligou seu notebook e agiu como se eu não estivesse ali.
Incomodada, virei-me para Zed, que estava posicionado em seu lugar
habitual, à frente da porta, e ele deu de ombros, mas a cara que fez dizia:
“tudo isso é consequência dos seus atos”.
Engoli em seco e fui me sentar no sofá, não imploraria por atenção.
Isso, entretanto, não queria dizer que não estivesse preocupada. Harry
ainda estava magoado e os vários cortes superficiais em suas mãos não me
passaram despercebido. Minha imaginação era muito boa e eu conseguia
adivinhar o que causara aquilo, mas ficava magoada por saber que,
provavelmente, nem ele e nem Zed me diriam o que havia acontecido de
verdade.
Às 15 horas, Allen, Cathy e os principais estrategistas da campanha
chegaram, assim como o senador George McNolan, uma raposa velha do
partido Republicano, por quem eu tinha especial aversão.
Diferente do que acontecia nas reuniões passadas, não houve muito
burburinho, todos nos sentamos e ficamos esperando, inquietos, a chegada de
Harry, já que após quase uma semana de ausência, ninguém tinha certeza do
que aconteceria.
Quando ele entrou na sala de reuniões, acompanhado por Blake e Zara
Sullivan, estava sério como nunca e foi quase possível sentir a ansiedade que
emanava da maioria das pessoas ali. Nem todos estavam cientes do motivo de
sua reclusão, mas os que sabiam estavam receosos a respeito das próximas
decisões que ele iria tomar.
— Boa tarde a todos. Em princípio gostaria de pedir desculpas pela
minha ausência nos últimos dias. Eu estava precisando colocar algumas
coisas em ordem e agora que está tudo resolvido, estou pronto para
continuarmos nossa caminhada rumo à Casa Branca.
Comemorações tímidas e suspiros de alívio foram ouvidos pelo recinto
após estas palavras, inclusive de mim, que senti um peso enorme ser retirado
dos meus ombros.
Mesmo com esse clima festivo que se formou, Harry continuou estoico,
recebendo todas as congratulações com um frio aceno de cabeça.
Quando os ânimos arrefeceram, ele se sentou à cabeceira da mesa e deu
início à reunião.
Devido ao encontro que eu, Allen e Cathy tivemos no dia anterior,
vários pontos já estavam acertados e foram apenas expostos, tanto a Harry
quanto aos demais para que pudéssemos discutir e definir as próximas ações.
Depois disso, tratamos da data do anúncio da candidatura. Todos
concordaram que as coisas seriam feitas conforme fora decidido na reunião
realizada com a cúpula do partido, ou seja, no dia seguinte, durante a
entrevista que ele daria no Fox & Friends[3].
Quando os assuntos gerais acabaram, restou o tema primeira-dama.
Os que sabiam de Elizabeth, na mesma hora ficaram apreensivos, mas
todos os que estavam alheios aos últimos acontecimentos, sequer perceberam
a tensão que se instalou de repente.
Então, um desses desavisados caiu na besteira de perguntar:
— E quando o noivado com a Srta. Reagan será anunciado.
— NÃO. DIGAM. ESSE. NOME!
O grito de Harry reverberou pela sala assustando a todos e sendo
seguido por um silêncio mortal.
Tentando se recompor, ele respirou fundo e passou a mão no cabelo,
uma mania que tinha quando estava nervoso.
Pelo visto, meu amigo havia encontrado uma forma de seguir em
frente. Eu o entendia, seria muito mais fácil odiar Elizabeth a continuar
alimentando um amor que jamais seria correspondido e, pior, a esperança de
que ela um dia voltaria.
Quando o silêncio se prolongou a um nível meio opressor, pensei em
falar alguma coisa, mas o próprio Harry se encarregou de desanuviar o clima:
— Desculpem-me por isso. Imagino que devem estar curiosos, mas
esse assunto realmente não interessa a ninguém. O que interessa é que tudo
vai se resolver, o cronograma inicial será seguido e no momento oportuno
faremos um pronunciamento oficial. Obrigado por terem vindo.
Todos assentiram e começaram a juntar suas coisas para irem embora,
exceto eu, Allen, Cathy, McNolan e os Sullivan.
Outro silêncio se seguiu. Dessa vez, entretanto, havia expectativa pelo
que ele iria falar, pelo que pretendia fazer.
Harry se postou na frente de uma das grandes janelas e lá permaneceu
por vários minutos.
— Parece que, no final, vocês estavam certos — declarou, sem
qualquer inflexão na voz. — Eu deveria ter procurado por uma mulher que se
encaixasse no papel de primeira-dama e apenas isso.
Quem o ouvisse, diria que aquele era um homem prático apenas
constatando um fato, mas eu, que o conhecia muito bem, podia sentir a dor
por trás de suas palavras.
Olhei para Zed.
Ele também havia percebido, pois o olhar que lançava para o amigo era
permeado de pesar. Pesar por seu sofrimento e pelas mudanças que aquele
abandono causara.
Ambos conseguíamos ver que o homem à nossa frente era apenas a
sombra daquele com quem crescemos. E isso era desolador.
Tudo por causa daquela garota, pensei, mais uma vez, ressentida com
ela.
Respirei fundo e resolvi me pronunciar.
— Harry... — comecei, mas ele me interrompeu.
— Eu preciso de alguém que possua todas as características necessárias
para me ajudar a chegar à presidência, porque agora, meus amigos, isso é a
única coisa que me interessa.
A dureza e convicção com que falou, fez todo meu corpo se arrepiar.
Toda a mágoa e raiva que Harry estava sentindo naquele momento, seria
direcionada em prol da corrida presidencial. Dessa vez, ele não se desviaria
de seu foco.
— E se for bonita e gostosa, será um ótimo bônus, já que terei que ficar
com ela, por, no mínimo, quatro anos — adicionou ele com um cinismo que
eu nunca tinha visto.
Voltei a olhar para Zed que, dessa vez, me olhou de volta com ar de
preocupação.
Zara e Blake emanavam o mesmo sentimento.
Allen, por outro lado, mal conseguia se conter de tanto contentamento.
— Eu sei exatamente do que você precisa — falou, com um sorriso que
esfriou meu estômago.
Pela primeira vez desde que essa jornada começou, senti
arrependimento por ter afastado Elizabeth e receio pelo que aconteceria dali
para frente.
— “...com o melhor de minha capacidade, protegerei e defenderei a
Constituição dos Estados Unidos. Que Deus me ajude.”
E após estas palavras, Harry Arthur Stone era, oficialmente, o novo
Presidente dos Estados Unidos.
Durante esses doze meses, desde que fui embora de Washington, raras
vezes assisti TV simplesmente porque, em virtude da corrida presidencial,
toda vez que eu via um aparelho ligado, o rosto dele estava lá. Parecia até que
havia um tipo de complô astral para me lembrar, dia após dia, de tudo que fui
obrigada a deixar para trás.
Claro que eu não culpava as emissoras por lhe dar tanta notoriedade.
Harry tinha boas propostas e exalava sinceridade sempre que falava, além
disso, era lindo sem ser metido, carismático sem ser forçado e educado sem
ser pedante, de forma que até mesmo os homens se sentiam atraídos pela aura
de poder que emanava dele.
No entanto, depois que ele venceu as eleições primárias e se tornara o
candidato republicano, não consegui deixar de ver os debates e após a
votação, fiquei grudada na tela, louca para saber o resultado.
Quando vi que ele tinha ganhado, derramei rios de lágrimas. Tudo o
que não me permiti chorar durante quase um ano longe dele, eu extravasei
naquele dia, o coração pesado num misto de alegria e tristeza.
E ali estava eu mais uma vez, dois meses depois, em frente à grande
TV que havia na sala familiar. Ver a emoção que emanava do rosto de Harry
enquanto ele fazia seu juramento, também me emocionou e precisei me
segurar para não chorar de novo.
Especialmente porque pela primeira vez, em meses, consegui enxergar
o meu Harry e não o homem frio que ele se tornara.
Pensar nisso me entristecia. Embora ainda tivesse todas as qualidades
que enxerguei nele assim que o conheci, não havia mais suavidade em seu
olhar. Mesmo quando sorria, a dureza estava lá e doía demais saber que a
culpada daquela mudança era eu.
Esse era um dos motivos para não querer assisti-lo. Sempre que via os
olhos que uma vez me fitaram com extrema ternura, sentia a culpa me
corroer.
Meu desconsolo apenas aumentava por saber que eu não deveria me
sentir daquele jeito, afinal, não fui embora porque quis e sim por uma questão
de sobrevivência.
E só eu sabia o quanto sofri por ter sido obrigada a deixar o amor da
minha vida.
Parecia clichê, mas era verdade, eu e Harry nos conectamos quase que
instantaneamente. O que tivemos naqueles dois meses foi puro, intenso, mas
também carnal e arrebatador. Aquele homem possuía meu coração e mesmo
depois de todo esse tempo, eu ainda estava aprendendo a sobreviver sem ele.
Nos primeiros meses eu agia no automático. Comendo porque
precisava e saindo da cama porque me obrigavam.
Com o passar dos dias, meu martírio foi diminuindo, até que acordei
em uma manhã e disse a mim mesma que ficar daquele jeito não faria
nenhum bem, nem a mim e nem à minha família, que sofria junto comigo.
Não sabia se um dia conseguiria ser completamente feliz, mas esperava
que sim, pois depois de tudo, achava que merecia.
Infelizmente os dias sombrios que foram embora, não levaram consigo
as lembranças de tudo o que ocorreu e que culminou na nossa fuga.
Zara estava certa, o mundo político era sujo, havia coisa demais em
jogo e, para eles, eu era apenas um peão que não servia nem para avançar
algumas casas. Pelo contrário, com muita facilidade me descartaram, sem se
importarem com nada.
Não sabia dizer quantas vezes desejei que eles tivessem feito isso mais
cedo, antes de eu me apaixonar, mas nem nisso eu tive escolha e precisava
ficar feliz por não ter acontecido coisa pior conosco.
Mesmo assim, passei muitas noites acordada me lembrando de como
Stella havia ficado. Também me recordava, com exatidão, do medo que senti
quando ele me mandou ir até o orfanato e do colapso nervoso que tive depois
que saí de lá.
O maldito, além de canalha, era, definitivamente, sádico.
Lembrava-me que eu chorava tanto no trajeto até minha casa, que uma
senhora se sentou ao meu lado e me abraçou.
Seu gesto me confortou na mesma medida em que amargurou. Foi
ótimo sentir seu carinho e ouvir suas palavras de consolo, mas também serviu
para me fazer perceber que eu nunca havia recebido um abraço como aquele
da minha mãe e isso me feriu tanto. Eu nem sabia que ela ainda tinha aquele
poder sobre mim.
Quando desci do metrô, já estava bem mais calma e agradeci muito à
senhora que me amparou e me ajudou a colocar os pensamentos no lugar.
Devastada, fui para a casa de hóspedes assim que cheguei e chorei
outro tanto agarrada à minha melhor amiga que, mesmo machucada como
estava, me acolheu e chorou junto comigo.
Depois que me recompus, sentei-me com Consuelo e Benito e abri o
jogo com eles. Graças a Deus os dois entenderam que eu também estava
sendo uma vítima e apenas me apoiaram. Isso foi primordial, sem aqueles
três ao meu lado, eu não conseguiria fazer o que era preciso.
Foi também por causa deles que me despi de qualquer orgulho e fui
falar com a única pessoa que poderia me ajudar. Joseph Holmes.
Lembrava-me que no início da semana, antes de tomar essa decisão,
andei pelo que pareceu quilômetros dentro do meu quarto, tentando achar
uma saída que me permitisse continuar ali e manter todos em segurança.
A princípio pensei em falar com Harry, mas logo descartei essa ideia, a
ameaça que ouvi foi clara e, por mais poder que ele tivesse, aqueles monstros
já haviam mostrado do que eram capazes, por isso, antes de falar qualquer
coisa, eu precisava tirar minha família dali.
Foi então que, subitamente, o rosto do velho senhor surgiu em minha
cabeça. Eu sabia que era um tiro no escuro, entretanto, se explicasse toda a
situação, ele talvez entendesse e me ajudasse.
Mas e se ele não acreditasse?
Foi com essa ambiguidade de pensamentos que segui para sua mansão,
dois dias depois do ataque à Stella.
Joseph ficou surpreso ao me ver, mas também feliz.
Contudo, em poucos minutos de conversa percebeu que havia algo
errado.
— Posso saber o que a está afligindo, Liz? — perguntou, bebericando
seu chá.
Parei de torcer os dedos e dei um longo suspiro antes de narrar tudo o
que estava acontecendo em minha vida. Iniciei meu relato pelo baile onde
conheci Harry, passando pela forma assustadoramente rápida como nos
apaixonamos, até contar o que havia acontecido com Stella e a ameaça que se
seguiu.
— Eu sei que parece uma grande armação para conseguir arrancar
dinheiro do senhor, mas juro que é verdade. Nunca viria aqui se não estivesse
desesperada... Eu não sei o que fazer — finalizei, chorando, as mãos
tremendo de nervoso.
— Acalme-se, querida — pediu, entregando-me alguns lenços de papel.
— Bom, vamos começar pela parte mais fácil. Eu já sabia que você estava
namorando Harry Stone, tenho amigos na cúpula conservadora que estão
apostando todas as fichas na eleição dele.
Arregalei os olhos sem acreditar que Joseph era mais antenado do que
eu podia imaginar.
— Desculpe por não ter dito nada, mas eu, sei lá... nunca me senti à
vontade para falar desse assunto.
— Não se preocupe com isso. Quanto ao que me contou, posso garantir
que o que está acontecendo com você é mais normal do que imagina.
Washington é um verdadeiro ninho de cobras todas loucas para dar o
primeiro bote, então, seguramente, há gente poderosa por trás dessa sujeira
que estão fazendo.
— Quer dizer que acredita em mim?
Ele assentiu, com um sorriso tranquilo no rosto, e o alívio tomou o meu
corpo.
— Agora preciso saber o que você pretende fazer — perguntou.
Naquele dia eu ainda estava muito confusa, mas de uma coisa eu tinha
certeza, precisava tirar os Medina dali.
— Queria saber se conseguiria três Green Cards para mim. Essa família
é ilegal e trabalha em minha casa desde que chegaram aqui, fugidos de um
cartel do México. Com pena da situação deles, meu pai os contratou, mas
desde que ele morreu, Eleanor praticamente os explora e todos os dias
ameaça ligar para a imigração — expliquei, com pesar. — Por causa disso
nunca fui embora daquela casa, eles seriam mortos assim que pisassem no
México novamente e eu não poderia deixá-la fazer algo tão grotesco.
— Considere feito — garantiu, convicto.
— Isso é sério?
Joseph assentiu novamente.
— Puxa, você é mais poderoso do que eu imaginava — declarei,
espantada.
Ele riu do meu comentário e explicou:
— Um homem com o dinheiro que eu tenho, conhece gente em muitos
lugares, Liz.
Não consegui disfarçar minha alegria ao saber que eles finalmente
conseguiriam ser livres.
Havia mais coisas a fazer, claro, mas isso era o mais importante, o
dinheiro que precisariam viria das joias que ainda tinha em meu poder,
venderia todas elas para que pudessem recomeçar em outro lugar.
— Então é isso? Esse é o seu plano, tirá-los daqui? — perguntou, a
sobrancelha grisalha erguida com descrença.
— Bom, eu...
— Estou com a impressão de que você ainda não entendeu com quem
está lidando, querida. Posso até estar enganado, mas não acredito que isso irá
solucionar seu problema. Na verdade, eu tenho certeza de que não irá.
Suas palavras me fizeram desinflar como um balão.
— Eu preciso tentar. — Minha fala soou mais como uma súplica e ele
apenas balançou a cabeça, condescendente.
Mas, bem no fundo, eu sabia que as coisas não seriam tão fáceis assim.
E isso se provou correto quando, dois dias depois, aconteceu o incêndio
no orfanato.
O fato de não terem ferido ninguém não significava nada. Eles me
queriam longe dali e estavam dispostos a tudo para garantir isso.
Com esses acontecimentos tirando qualquer esperança que eu ainda
pudesse ter, lá estava eu, mais uma vez, na casa de Joseph.
Depois de contar o que havia acontecido, pedi seu conselho:
— Me ajude a decidir o que fazer, por favor. Será que devo dizer ao
Harry?
Ele ficou pensativo por vários minutos e depois meneou a cabeça.
— Se achasse que falar com ele resolveria, era o que eu iria lhe
aconselhar a fazer, mas eu não acho que adiantará. Quando se trata de
dinheiro e poder, a maioria das pessoas é capaz de tudo e, nesse caso, se trata
dos dois. Quem está te ameaçando, não tem nada a perder, simplesmente
porque ninguém sabe quem são. Se você os desobedecer e contar a Harry, o
máximo que ele poderá fazer é proteger vocês com guarda-costas. O
problema é que essa gente é muito organizada, eu tenho certeza de que há
pessoas infiltradas em todo lugar, inclusive entre os seguranças. Será que vale
a pena desafiá-los?
Suas palavras fizeram meu medo triplicar. Eles já mostraram que não
tinham limites e para estarem tão seguros, era porque mantinham tudo sob
controle. Não me ameaçariam se não soubessem que iriam vencer de uma
forma ou de outra.
Depois de pensar, e chorar, bastante, decidi:
— Eu vou fazer o que eles mandaram. Não tenho força para combatê-
los e não vou arriscar a vida de ninguém.
Joseph deu uns tapinhas na minha mão, parecendo comovido com meu
sofrimento.
— Eu sinto muito, querida. Queria poder ajudá-la, mas estou à margem
desse tipo de coisa.
— Tudo bem. Minha vida nunca foi fácil, eu deveria saber que ela não
mudaria assim, de uma hora para outra. Essa é só mais uma das barreiras que
eu terei de enfrentar.
— Você é muito corajosa, menina, e eu vou fazer de tudo para diminuir
esse fardo que você carrega nas costas.
Eu sorri tristemente para ele.
— Obrigada, Joseph — falei e respirei fundo, para me recompor. —
Que tal começar a me ajudar dando ideias de como sumir do mapa? — pedi.
Para minha surpresa, ele já havia planejado tudo.
— Se este rapaz estiver tão apaixonado quanto eu acho que está, vocês
não poderão viajar de avião ou mesmo de ônibus. Se quiser guardar a vida de
todos, vai precisar fazer como ele mandou: sumir do mapa. Inexoravelmente,
sem deixar pistas.
Ouvir aquilo fez meu coração disparar. Era real, nós iríamos embora de
Washington, talvez para sempre.
Fechei os olhos e respirei fundo para conseguir digerir tudo aquilo e
reorganizar minhas ideias.
— Muito bem, o que sugere? — perguntei a Joseph depois de algum
tempo. — Farei como você achar melhor — afirmei.
Com isso, passei a hora seguinte ouvindo atenciosamente o plano
simples, mas eficiente, que ele traçara.
Era tudo perfeito e preciso. A única coisa que me incomodava era saber
que também precisaria de ajuda financeira durante esse processo de transição.
Eu não gostava disso, mas não estava em condição de recusar. Além do mais,
como ele mesmo disse, o que mais possuía era dinheiro e usá-lo para ajudar
pessoas de bem era muito melhor do que deixar qualquer migalha para o
aproveitador do sobrinho e sua noiva maligna.
O último conselho que me deu foi o de não sumir simplesmente.
Segundo ele, se não o convencesse de que estava indo porque queria, Harry
jamais pararia de me procurar.
Eu sabia que era verdade, mas só de pensar em fazê-lo acreditar que eu
não o queria mais, me embrulhava o estômago. Contudo, se não fizesse isso,
ele daria dezenas de desculpas, procuraria por culpados e sofreria a cada
busca infrutífera.
E eu não queria que Harry sofresse, não demais, pelo menos. Para sua
paz de espírito, era melhor que ele me odiasse, sua raiva lhe daria força para
chegar onde tanto almejava.
E foi com esse pensamento que, ao voltar para a mansão, tranquei-me
em meu estúdio. Eu sabia que se o confrontasse pessoalmente, não
conseguiria ir embora, por isso, comecei a colocar no papel as palavras mais
mentirosas da minha vida, quando minha vontade era derramar ali todo o
amor e gratidão que sentia por tudo que vivemos juntos e confessar o quanto
estava sendo difícil partir e deixá-lo, depois dessa paixão arrebatadora que
pegou a nós dois.
Mas em vez disso, segui as instruções de Joseph e coloquei
justificativas suficientes para que ele entendesse porque eu estava indo
embora. Infelizmente não consegui ser tão dura quanto precisava, uma parte
de mim queria que ele não me desprezasse tanto. Era egoísta, mas foi o
melhor que consegui fazer.
A próxima coisa que fiz foi pegar a tela que havia feito no início da
semana. Esperava não estar sendo cruel ao lhe presentear com uma pintura de
nós dois em um dia tão especial, mas assim que a terminei, sabia que devia
ficar com ele.
Já passava da hora do almoço quando saí dali e fui ao meu quarto para
guardar a tela e a carta. Coloquei ambos em um tubo para carregar telas sem
moldura, deixei sobre a minha cama e desci para a cozinha, onde detalhei o
plano de Joseph.
Apesar de saber que o homem não estava mancomunado com Eleanor
para se casar comigo, Benito ficou apreensivo. Achava temerário confiarmos
nossas vidas a um homem que mal conhecíamos. Mas a minha intuição me
dizia que podia acreditar nele e era a ela que eu seguiria. Só esperava que
estivesse certa.
Após a refeição, subi para meu quarto a fim de arrumar minhas coisas.
Não conseguiria levar tudo, mas daria um jeito de carregar o máximo
possível. Mesmo que Joseph estivesse ajudando, não queria ter que gastar
dinheiro com o que eu já possuía.
Ao chegar lá, fui conferir meu celular e achei uma mensagem de Harry
confirmando o horário em que chegaria.
Meu coração disparou, não apenas por saber que em poucas horas o
veria, mas por ter uma percepção de que tudo estava se encaixando para que
pudéssemos sair dali o mais rápido possível.
Senti meus olhos arderem, mas me recusei a chorar, tinha muita coisa
para fazer e não perderia meu tempo lamentando pelo que não poderia ser
mudado.
Já havia guardado quase tudo quando a hora de me arrumar chegou.
Pronta, coloquei-me em frente ao espelho de corpo inteiro que havia
em meu quarto, para me avaliar pela última vez antes de sair. Eu estava
exatamente como sabia que ele gostava, com um vestido bem feminino,
pouca maquiagem e cabelos soltos. Era nossa despedida e eu queria que fosse
inesquecível.
No entanto, ao fitar meus olhos, mal me reconheci. A tristeza era quase
palpável e eu tinha certeza de que se não melhorasse aquilo, ele perceberia.
Usei o trajeto até seu hotel para me recompor, sabendo que Benito me
examinava através do espelho retrovisor.
Assim que chegamos ao nosso destino, avisei que ligaria quando
estivesse pronta para ir embora e ele apenas assentiu, preocupado.
Respirei fundo, dei meu nome à atendente e minutos depois estava em
frente à porta de seu quarto.
E foi só vê-lo novamente para meu coração pular, como se estivesse
solto dentro do peito. Havia euforia, por estar com ele de novo, mas o que
predominava era a tristeza de saber que aquela seria a última vez.
Acho que só consegui segurar a vontade de chorar, por que sabia que
havia muito em jogo, e se Harry desconfiasse de algo, todos nós estaríamos
perdidos. Então fiz meu melhor para que ele não percebesse.
E quando nos amamos, foi absolutamente perfeito. Exatamente como
uma despedida deveria ser.
Ao deitar a cabeça em seu ombro, tentei deixar todos os problemas de
lado e focar apenas no que estava sentindo naquele momento.
Continuei ali por vários minutos, completamente desperta, a mão sobre
seu peito que subia e descia, tranquilamente, embalado pelo sono.
Sabendo que não podia mais adiar minha partida, saí dos braços de
Harry com cuidado para não acordá-lo e arrumei-me do jeito que pude.
Fui à mesa onde a tela ficara e a admirei por alguns segundos, depois a
enrolei e guardei. Antes de fechar, tirei a carta de dentro da bolsa e a coloquei
junto. Deixei o tubo em pé, sobre uma cadeira, esperando que ele tivesse a
curiosidade de abri-lo antes de ir à minha casa conversar com minha mãe.
Quando estava quase chegando à porta, rendi-me à saudade que já
sentia dele e voltei à cama.
Passei alguns segundos acariciando seu rosto divino. Então, aproximei
a boca de seu ouvido e disse:
— Me perdoe por isso, meu amor, eu juro que se tivesse um outro
jeito... — Engoli o choro com medo de acordá-lo e sussurrei: — Nunca se
esqueça do quanto eu te amo — concluí e toquei seus lábios bem de leve.
Antes de sair, limpei o rosto e tentei me recompor o máximo possível.
Ao passar por Zed, ele acenou de leve, mas nada falou. Exceto para seu
comunicador, avisando a alguém que eu estava descendo.
Enquanto íamos embora, Benito disse que tinha deixado Eleanor em
casa cerca de uma hora antes. Também falou que todas as nossas coisas já
haviam sido colocadas nos carros que Joseph disponibilizara para nos levar.
— Espero que ela já esteja dormindo.
— Ela voltou mais cedo porque estava com dor de cabeça, então, deve
tomar um de seus remédios e só acordar amanhã — informou e eu sorri,
agradecida por isso.
Assim que chegamos, fui ao meu quarto apenas para trocar de roupa.
Quando desci, todos já estavam acomodados em um dos carros.
Juntei-me a Consuelo, Stella e Lion no banco de trás de um SUV,
enquanto Benito foi na frente com o motorista.
Parecendo entender que precisava se comportar, Lion se deitou sobre os
meus pés e ficou quietinho.
Por fim, o carro se pôs em movimento, sendo seguido pelo utilitário
onde estavam as nossas coisas.
À medida que deixávamos Washington para trás, sentia que deixava
meu coração também, ciente de que Harry iria me odiar por tê-lo abandonado
de forma tão repentina e sem consideração.
Reprimi a vontade de chorar e tentei me convencer de que estava
fazendo o que era preciso para nos manter seguros. Era nisso que eu tinha que
me apegar para seguir em frente.
Quando chegamos à casa que Joseph nos cedera, no estado de Nova
Jersey, já havia amanhecido.
Como era de se esperar, a propriedade era enorme, repleta de árvores,
um lago particular e um pequeno deck.
Não tinha ideia de quantas horas passei ali nos primeiros meses após a
fuga. No início mantive-me apenas enterrada na tristeza que me dominava,
imaginando como Harry havia reagido à todas as coisas que aconteceram.
Depois, quando já estava melhor, comecei a levar meus apetrechos de
pintura e produzi belos quadros. Foi isso e Stella, que sempre estava ao meu
lado, que me ajudaram a passar pela fase mais difícil.
Benito e Consuelo também foram primordiais, ela com carinho de mãe,
e ele, sempre fazendo uma piada ou contando histórias para nos entreter.
E não podia me esquecer de Joseph. Aquele senhor que em tão pouco
tempo se tornou tão importante para mim, já era considerado da família.
Generoso, ele tinha feito de tudo para que tivéssemos todo o conforto
possível e desde o primeiro dia providenciou muito mais do que
necessitávamos.
Além disso, ligava toda semana para saber como estávamos indo e para
garantir que continuava à disposição para qualquer coisa.
Aquilo era tão reconfortante.
E por mais difícil que fosse estar diante da TV, olhando para o homem
que eu amava, tudo teria sido muito pior se não tivesse minha família torta ao
meu lado.
Foram eles que me guiaram nos momentos mais difíceis, quando a dor
parecia me sufocar e o sofrimento se tornou uma sombra que me seguia por
todos os lados.
Mas não apenas eles.
Saber que estava carregando um pedacinho do homem que eu amava
dentro de mim, fora primordial para que eu saísse da depressão. Agora que eu
tinha pelo que viver, era mais fácil enxergar um belo futuro.
Desviei os olhos da tela e encarei os pezinhos envoltos em meias
estampadas, o largo sorriso desdentado e os lindos olhos azuis que fitavam,
curiosos, a imagem de Harry.
— Aquele é o seu pai, meu amor.
O som da porta sendo batida após a saída de Harry Stone, aumentou
ainda mais a raiva que estava sentindo desde que soube que ele e Elizabeth
estavam se encontrando às escondidas.
Meu Deus, onde eu estava que não vi isso acontecendo?
Quando foi que aquela sonsa ficou mais esperta do que eu?
Não, ela não ficou mais esperta, porque se isso tivesse acontecido, eu
não teria perdido a chance de realizar o sonho de casar minha filha com um
bilionário.
Não um simples bilionário, mas alguém que era considerado quase um
rei, devido ao poder que detinha no mundo empresarial.
Um homem que, a não ser que algo muito grave acontecesse, seria
eleito o próximo Presidente dos Estados Unidos.
Um verdadeiro deus, que estava apaixonado por Elizabeth, uma garota
idiota que simplesmente o largou por causa de algumas ameaças.
— Ah, que ódio! — gritei, sentindo todo meu corpo estremecer.
Eu estava com muita raiva, mas ela era direcionada, principalmente, às
pessoas por trás da partida de Elizabeth e dos subalternos.
Se aquela inútil tivesse aberto o jogo desde o início, eu poderia tê-la
ajudado e todos sairiam ganhando. O casalzinho apaixonado teria seu final
feliz, e eu, como mãe da primeira-dama, seria a pessoa mais influente do
nosso meio.
Só que minha querida filha era boba demais para entender como aquele
tipo de jogo funcionava. Por mais que eu tenha ensinado, ela não adquiriu
nenhuma malícia. Ainda estava iludida com sua crença de um mundo
perfeito, com pessoas boas e honestas, algo que não existia, especialmente
ali, no centro do poder.
Burra e ingênua, essa era Elizabeth.
Não duvidava que ainda fosse virgem.
Estaquei, cessando as voltas que estava dando pela sala.
Era isso! Era essa a razão de Harry Stone estar tão ligado a ela, tão
chateado por tê-la perdido, tão apaixonado... O bobinho tinha sido agarrado
pelas coxas.
Balancei a cabeça, inconformada.
Eles agora estavam separados e quem quer que tenha feito isso, possuía
coragem o bastante para mexer com a poderosa família Stone e transformar
todos nós em marionetes.
Foi por isso que, entre o certo e o duvidoso, eu preferi ficar do lado que
havia deixado claro que não mediria esforços para separar Harry de
Elizabeth.
Sem contar que eu não tinha mais um tostão furado no bolso e ajudar a
separá-los me rendeu um bom dinheiro, o suficiente para eu voltar a ter a vida
que sempre sonhei.
E pensar que a própria Elizabeth me ajudou ao escrever aquela carta
dramática, a qual deixou junto com aquela pintura de mal gosto. Eu ainda
estava em dúvida com relação ao que falar para convencer aquele bobo, mas
as palavras dela me ajudaram a montar a mentira perfeita.
E deu certo. O coitadinho foi embora desnorteado.
Peguei o celular descartável que foi entregue a mim dois dias atrás,
quando me fizeram aquela “proposta”, e liguei para o único número existente
ali.
— Está feito, como vocês pediram, agora eu quero o restante do meu
dinheiro — informei assim que atenderam.
Sem uma palavra, a ligação foi encerrada e fiquei esperando pelo que
iria acontecer a seguir.
Quando concordei com aquilo, eu sabia que só haveria duas situações
possíveis: ou eles depositariam o dinheiro, como foi combinado, ou logo
depois que eu fizesse minha parte, mandariam alguém para me apagar e
sumir com meu corpo.
Dramático, eu sei, mas conhecia a realidade e sabia que ela não era tão
diferente da ficção contada por Hollywood.
Foi por isso que quando ouvi o toque de mensagem no celular e vi a
confirmação da transferência bancária, senti um alívio tão grande, que até me
sentei num degrau da escada e respirei fundo várias vezes para diminuir
minha tensão.
Mais calma, passei os olhos pela velha mansão onde morava há tantos
anos e decidi que estava na hora de fazer as malas e dar o fora de
Washington.
VOLUME I I
ELE REALIZOU O SONHO DE SER O HOMEM MAIS PODEROSO DO MUNDO, MAS PERDEU O GRANDE
AMOR DE SUA VIDA.
Harry Stone conquistou a Casa Branca e achou que todo aquele poder preencheria o vazio que
carregava em seu peito, que os muros daquela fortaleza o protegeriam de seus próprios
sentimentos. Pensou que se sufocasse seu amor e focasse em sua carreira política, seria mais fácil
seguir em frente, por isso, ele decidiu odiá-la.
Elizabeth Reagan foi obrigada a deixar Washington abandonando todos os seus planos e o
homem que amava. Ela sofreu, chorou e viveu os piores momentos de sua vida, até decidir que não
precisava mais carregar aquele fardo sozinha e decidiu que precisava voltar e revelar a verdade
sobre sua fuga.
Falar era fácil, mas na prática, as coisas eram muito diferentes. Eu fui o
mais forte possível por todos esses anos, mas vê-lo me deixou fragilizada e
em vez de fazer o que prometera, tranquei-me em meu quarto, saindo apenas
para satisfazer as vontades do meu filho que não precisava sofrer porque a
mãe dele estava triste.
Nesse período, Consuelo tentou falar comigo e explicar seus motivos,
mas eu disse que estava tudo bem, pois jamais brigaria com ela.
Stella também fez seu papel de melhor amiga, tentando me colocar pra
cima, no entanto, eu sabia que aqueles dias serviriam como mais uma das
metamorfoses pelas quais passei desde que saí de Washington.
Parecia que desde aquele dia, o universo resolveu testar todas as
minhas forças e capacidade para saber até onde eu conseguiria ir.
E era assim que eu me sentia, testada.
Primeiro com a dolorosa separação, depois com a culpa por tê-lo
deixado, junto com a covardia de não ter aberto o jogo...
Após uma boa quantidade de auto repreensão, vinha o porquê de ter
agido daquela forma: a agressão de Stella, o incêndio no orfanato e todas as
ameaças que ouvi. Isso acabava me convencendo de que tinha feito a coisa
certa.
A gravidez foi outro grande baque que me atingiu em minha fase mais
triste e, mesmo assim, eu aguentei firme os longos nove meses, vendo um
pedacinho do homem que eu amava crescer a cada dia dentro de mim.
Foi dele que veio toda a minha força, e ainda que em muitas ocasiões
eu me sentisse prestes a desmoronar, saber que Colin existia mudava tudo. Às
vezes sentia como se o universo tivesse entendido que eu precisava de uma
trégua, por isso me concedeu aquela preciosidade que, embora fosse um elo
eterno com Harry, também era o motivo da minha alegria.
Esse elo inquebrável me dava a certeza de que, mesmo que ele não me
amasse mais, ainda nos daria a chance de conviver novamente.
Foi basicamente nisso que eu pensei nesses dias de semi confinamento,
tentando adivinhar como seria quando eu contasse a respeito de Colin para
Harry. Eu sabia que seria alvo de sua ira, mas e quanto a nosso filho, será que
o aceitaria? E se isso acontecesse, será que eu teria forças para vê-lo com
Catherine?
Eram tantas dúvidas e receios, que em certos momentos eu tinha
vontade de fugir de mim mesma.
Mas como não seria possível, resolvi seguir meu próprio conselho e, no
terceiro dia de reclusão, decidi que estava na hora de parar de pensar em
Harry, no discurso que ele fez, em sua beleza e masculinidade incontestáveis
ou no que poderia acontecer no futuro, e encarar a vida de frente.
Quando saí do quarto, maquiada e penteada, até meu filho pareceu
estranhar, pois tinha o mesmo ar surpreso de Consuelo, que tomavam o café
da manhã juntas.
— Bom ter você de volta, amiga — disse Stella sem se abalar e eu sorri
levemente.
Fui até Colin, que estava em sua cadeirinha, e o beijei várias vezes.
— Bom dia, meu amor.
— Bo dia, mamã — respondeu ele com seu vocabulário infantil.
Voltei a encher seu rostinho de beijos apenas para ouvi-lo rir. Eu
adorava o som gostoso da sua risada.
— Promete que não vai crescer, que vai ficar pequeninho pra sempre?
— brinquei, fazendo cócegas em sua axila e ele gargalhou de novo.
— Pometo — falou quando a risada cessou e eu fiquei vários segundos
olhando para o rosto inocente do meu filho.
Depois de colocar mais um biscoito em sua mão, sentei-me ao lado de
Consuelo e servi uma xícara de café.
— Vou até a cidade, preciso falar com John — comuniquei antes de
tomar um gole.
— Vai pegar mais alguma encomenda de quadros? — perguntou
Consuelo receosa, ainda achando que eu estava brava com ela.
— Não, vou até lá para conversar sobre a exposição de quadros em
Nova York, decidi aceitar.
Talvez a decepção de que Harry nem se lembrava mais da minha
existência tenha sido crucial para que eu tomasse a decisão que protelei por
tanto tempo.
As duas arregalaram os olhos, mas logo se recuperaram e começaram a
comemorar.
Eu não sabia se estava fazendo a coisa certa, mas sabia que não
aguentava mais continuar daquele jeito, eu precisava aproveitar a vida em seu
estado máximo e isso incluía poder viajar e expandir meus negócios sem
receio do que pudesse acontecer.
Os dias de reflexão me fizeram enxergar que, pior do que morrer pelas
mãos daqueles bandidos, era continuar vivendo de forma pacata, sem
emoção, numa espera sem fim por algo que talvez nunca fosse acontecer.
Eu precisava de uma injeção de ânimo e talvez essa exposição fosse o
pontapé inicial para uma nova vida, cheia de possibilidades.
— Nossa, você está com uma cara péssima — comentou Lexy ao entrar
na Sala da Crise.
Eu tinha acabado de finalizar uma reunião e decisões importantes
haviam sido tomadas.
Toda vez que eu tinha que lidar com algo que poderia causar a morte de
soldados americanos ou de civis inocentes, meu coração se apertava. Nunca
iria me acostumar com a ideia de que precisava decidir quem vivia ou morria
em determinadas partes do mundo.
— Autorizei um bombardeio à base aliada de um dos terroristas mais
procurados.
— Fez a coisa certa — rebateu, sem um pingo de emoção, como se já
estivesse acostumada com nossa nova realidade.
Ela continuava tão competente quanto na época das Indústrias Stone,
mas tinha que admitir que a dimensão dos problemas da Casa Branca a
tornaram ainda mais dura do que já era. Lexy não media esforços para
resolver e abafar todos os problemas que aconteciam nos bastidores. De certa
forma, minha amiga havia se especializado em apagar incêndios.
— Eu sei, mas o problema é que pode haver civis nessas áreas também.
— Infelizmente é verdade, só que você deve pensar que estamos
fazendo isso por um bem maior — comentou.
— Sim, você tem razão.
— Mudando de assunto. Sua ida a Nova Jersey teve uma ótima
repercussão na imprensa, acho que deveria fazer isso mais a partir de agora.
Passaram-se alguns dias desde a minha visita a Watchung, no condado
de Somerset, e quase o mesmo tempo para que meu humor voltasse ao
normal. Todavia, eu já estava acostumado, sempre que a lembrança dela
surgia, meus pensamentos saíam dos trilhos.
— É uma boa ideia, mas estou cheio de compromissos para as
próximas semanas e ainda prometi aos meus pais que faria uma visita a eles
no fim do mês.
— É, e dessa vez você tem que ir ou sua mãe terá um ataque histérico.
Não tenho ideia das vezes que tia Julie já me ligou para confirmar se você iria
mesmo ao evento que ela está promovendo.
— Posso imaginar — falei com um sorriso. Mamãe era terrível.
Quando eu era CEO das Indústrias Stone, meu contato com meus pais
já era bem distante, agora, com a presidência e vivendo em outra cidade, as
coisas ficaram muito piores.
Mesmo falando com eles toda semana, eu sentia que deveria me
aproximar mais de minha família, no entanto, eles conheciam as
circunstâncias do meu casamento com Cathy e isso não agradava nada a
minha mãe, que sempre sonhou que eu tivesse um relacionamento como o
dela.
Não que eu vivesse me lamuriando pela decisão que tomei, afinal,
minha esposa cumpria seu papel com perfeição, mas os mais íntimos viam
que éramos dois estranhos, eu não sentia um pingo de atração por ela e se ela
um dia já sentiu qualquer coisa por mim, hoje em dia já não existia mais.
— Pode confirmar com ela.
— Já confirmei, mas se ela ligar novamente eu aviso que você mesmo
disse que iria.
Assenti. Iria aproveitar o fim de semana em Nova York para fazer
alguma coisa com Dominic. Também queria ver Eva, que havia chegado de
viagem e, se tivesse sorte, encontraria Alexander também.
Pensar em meus primos me deixou um pouco triste. Nós sempre fomos
muito ligados, mas a vida adulta se encarregou de nos afastar, colocando cada
um em seu próprio caminho.
— Sua próxima reunião será com o senador Levy Reynolds, depois
disso estará liberado.
Arregalei um pouco os olhos. Eram poucos os dias em que eu tinha
uma agenda com a noite liberada. Comecei a traçar planos e na mesma hora
Lexy soube o que se passava em minha cabeça.
— Não acredito que você vai se encontrar com ela, se soubesse, teria
incluído mais um compromisso na sua noite.
Quase dei risada, mas me contive.
— Vou fazer isso, sim, mas será para terminar nosso caso, quero focar
na minha reeleição.
— Até que enfim um pouco de juízo nessa cabeça.
Saí da sala de comando e fui para o salão oval esperar o próximo
compromisso do dia. O senador Reynolds queria falar sobre um projeto que
beneficiaria muitas pessoas necessitadas da Carolina do Norte, seu Estado.
Eu gostei bastante do que ele me apresentou e achava que, além de ajudar
muita gente, conseguiria muitos votos para mim, por isso, pedi que Lexy
marcasse um horário para que o senador pudesse se encontrar com o restante
do pessoal, seriam eles que tornariam sua ideia possível.
Eu estava me preparando para sair, quando o diretor da ASN apareceu
para contar as novidades referentes aos dois terroristas que estávamos
vigiando. Eles eram responsáveis por ataques a escolas e pontos turísticos, de
forma que sua captura mostraria aos americanos que estávamos atentos a tudo
e dispostos a acabar com qualquer um que aparecesse para nos atingir.
Assim que ele se foi, dirigi-me à sala que separei exclusivamente para
mim. Era para lá que eu ia sempre que queria um pouco de paz, mas ela
também servia para fins bem menos inocentes.
Eu sabia que ter um caso com uma funcionária da Casa Branca era uma
atitude bastante irresponsável, no entanto, Justine Hanson era exatamente o
que eu precisava, fogosa na cama e discreta fora dela.
Oriunda de uma família super tradicional, a última coisa que ela queria
era ser conhecida como a amante do presidente. Exatamente por causa disso,
eu não teria qualquer problema em continuar com Justine por mais um tempo,
mas a pressão de Lexy e Allen em torno desse assunto estava me deixando
louco.
Obviamente eles não estavam completamente errados, se eu queria
tentar a reeleição, não poderia me dar o luxo de continuar vendo minha
amante.
— Mandou me chamar, senhor? — perguntou ela ao entrar.
Eu estava no bar, servindo uma dose de uísque e sorri quando a vi.
— Bebe alguma coisa?
— O mesmo que você — falou, aproximando-se.
Servi outra dose, coloquei duas pedras de gelo, como sabia que ela
gostava, e lhe ofereci o copo.
Enquanto bebíamos, fiquei admirando seus traços delicados e seu corpo
tentador.
Naquele fim de tarde ela estava usando um vestido preto acinturado e
seus cabelos, loiros e lisos, estavam soltos. Linda e sedutora.
— Vamos nos acomodar — pedi após um profundo suspiro.
Justine se sentou no sofá e eu escolhi a poltrona que ficava de frente
para ele.
— Eu a chamei aqui para falar de nós.
— Estou ouvindo — disse ela, ansiosa, e logo depois mordeu o lábio,
como fazia quando estava com tesão.
Antes que fizesse uma besteira, entrei no assunto.
— Decidi que vou concorrer à reeleição, isso significa que a imprensa e
a oposição irão revirar minha vida de ponta cabeça mais uma vez.
— Sim, eu sei — respondeu um tanto contrariada.
— Por causa disso não podemos continuar nos encontrando. Além de
precisar de tempo para focar na campanha que se aproxima, ainda há o risco
de sermos descobertos, e isso não pode acontecer.
— Mas, Harry, eu... — ela começou a discutir, mas logo se calou.
Justine costumava ser muito obediente e participativa, nossos encontros
eram sempre cheios de sexo e pouca conversa, então, estranhei sua réplica.
— O que foi?
Ela se levantou do sofá e parou a minha frente.
— Eu entendo que você precise se afastar, nem nos meus melhores
sonhos imaginei que um dia teria qualquer coisa com você, mas...
— Mas?
— Tenho vontade de chorar só de saber que não vamos mais nos
encontrar. Acho que nenhum homem me tratou da forma como fui tratada por
você...
Mesmo tendo apenas sexo casual com ela, sempre fiz questão de tratá-
la com respeito, assim como fiz com todas as mulheres com quem já saí, a
única que não teve muita sorte comigo foi Catherine, mas isso porque ela
forçou demais a barra.
Mesmo ciente de que nossa união visava apenas um interesse comum,
ela agiu como se tivéssemos nos casado por amor e que todos aqueles votos
de honra e fidelidade proferidos no dia da cerimônia valessem para nós.
Eu ainda não sabia se agira assim porque sentia algo por mim ou se era
seu orgulho falando mais alto, mas apostaria na segunda opção, Catherine era
extremamente ambiciosa, de modo que não conseguia acreditar que sua
implicância tenha sido motivada por ciúme.
— Não precisa ficar assim, a gente nunca sabe o que o futuro nos
reserva.
Eu sabia, por experiencia própria, que seria burrice tirar todas as
esperanças de uma mulher apaixonada. Justine precisava entender que meus
motivos não tinham nada a ver com ela, somente assim não ficaria contra
mim. Se ela acreditasse que algum dia poderíamos voltar a ter alguma coisa,
conseguiria uma aliada.
— Não me iluda, homens como você não assumem mulheres como eu
— falou segurando as lágrimas.
Ali estava uma versão dela que eu jamais tive acesso. Minha amante
sempre se mostrou dona de si e muito independente em relação a
sentimentos.
— Você não é qualquer mulher e desejo que encontre alguém que a
mereça.
— Obrigada, Harry.
— Não precisa agradecer, é sincero — garanti. — Mas não vamos mais
pensar nisso, quero saber se posso contar com sua discrição — perguntei,
lançando-lhe um olhar cheio de carinho e cumplicidade.
— Óbvio que sim, jamais faria qualquer coisa para prejudicá-lo, sem
contar que não tenho de onde tirar os milhões daquele Contrato de
Confidencialidade. Além do mais, eu sei muito bem o que acontece quando
esse tipo de coisa vaza, não quero ser a próxima Monica, então, sim, conte
com a minha inteira discrição.
Assenti e ficamos nos olhando por alguns segundos.
— Posso te dar um abraço?
Eu sabia que deveria negar, mas sentia que devia isso a ela.
Levantei-me e Justine se aproximou, abraçando-me apertado.
— Eu amei cada segundo que passei com você — falou com a cabeça
encostada em meu peito.
— Sim, foram ótimos momentos.
Para mim, tinha sido apenas sexo, mas um sexo de ótima qualidade, por
isso, poderia concordar com ela sem fingimento.
— Até mais — disse ela ao se afastar.
— Adeus, Justine.
Quando ela saiu, servi outra dose de uísque e caminhei até as janelas
para contemplar o jardim da Casa Branca.
Há poucos minutos eu estava com uma mulher linda e inteligente que
conseguia prender minha atenção na cama, mesmo assim, não passava disso.
Meu corpo estava lá, mas meu coração sempre se negava a participar.
Eu sabia que deveria estar feliz por isso, se eu me apaixonasse, acabaria
colocando tudo a perder. Por outro lado, tinha um enorme receio de nunca
mais conseguir gostar de ninguém de verdade. A dor que sentira quando fui
abandonado estava escondida, mas não esquecida, e de vez em quando
aparecia para me lembrar que ainda possuía um coração.
Só que eu aprendi da forma mais dolorosa que seguir a razão era o
caminho mais seguro. Um homem como eu nunca se lembrava dos ‘sins’ que
recebeu na vida, mas com certeza jamais esqueceria das que lhe deram um
‘não’.
Divaguei por esses pensamentos e cheguei à conclusão de que, mesmo
quando me negava a tocar naquele nome, de uma maneira ou de outra, de
forma consciente ou não, meus pensamentos estavam nela.
Maldita seja!
Independentemente de ainda me lembrar de tudo o que tivemos, resolvi
que era mais fácil viver sem muita emoção, ao menos no que se referia a
relacionamentos. Não queria mais pensar numa pessoa 24h por dia, muito
menos sentir frio na barriga sempre que a visse. Isso me enfraquecera e
depois matara um pouquinho de mim.
Era por isso que, quando os sentimentos que eu mantinha guardados há
tanto tempo começavam a espreitar, eu juntava todas as minhas forças para
mantê-los no lugar; negava-me a deixar que meu coração tomasse as rédeas
da minha vida mais uma vez.
Exatamente para não me ver naquela situação novamente, meus casos
eram passageiros, as mulheres, escolhidas a dedo, com perfis que, eu sabia,
não me causariam qualquer perigo.
Eu não me atreveria a mentir dizendo que era um homem
verdadeiramente feliz. Realizado profissionalmente, sim, feliz, de forma
alguma, mas foi assim que escolhi viver.
Tomei o restante do meu uísque de uma só vez e resolvi ligar para
Duncan Allen, talvez um pouco mais de trabalho fosse o suficiente para que
minha mente parasse de ansiar por alguém que não fazia mais parte da minha
vida.
Depois de muitos dias pensando e me organizando, eu finalmente
estava desembarcando em Nova York.
A sensação de estar naquela cidade mais uma vez causou uma mistura
de sentimentos que me tirou completamente do eixo.
Eu havia passado horas intermináveis pesando cada situação que minha
viagem poderia desencadear, e sempre que eu levantava uma dúvida, aparecia
alguém para me fazer enxergar que já tinha passado da hora de eu parar de
sentir medo.
Joseph foi um dos meus maiores apoiadores. Tanto ele quanto Stella
achavam que, desde que eu me mantivesse longe de Harry Stone, nada de mal
poderia me acontecer.
Só que, mesmo sabendo disso tudo e consciente de que seria um baque
voltar àquela cidade, ainda me assustei um pouco e precisei segurar a
emoção, John Kent estava comigo e eu não queria que ele desconfiasse de
nada.
Olhei para a rua através das janelas para me distrair e constatei que
continuavam tão lindas e luminosas quanto eu lembrava.
— Já esteve em Nova York antes, Lizzie? — meu acompanhante
perguntou.
— Uma vez, mas faz bastante tempo.
Embora Joseph tivesse insistido para que eu ficasse em um hotel de
luxo na ilha de Manhattan, John Kent não era rico como ele e, de forma
alguma, eu me hospedaria no centro de Nova York, com todo o conforto que
o dinheiro poderia me proporcionar, e o deixaria sozinho no Brooklyn, por
isso, fui com ele.
— Então vamos visitar alguns pontos turísticos antes de voltarmos —
falou enquanto ajudava o taxista a tirar nossas malas do carro.
— Eu vou adorar — afirmei, animada.
O hotel no qual nos hospedaríamos era simples, mas fomos muito bem
recebidos e acomodados em quartos vizinhos.
Coloquei minha mala sobre a cama e fui à janela. De lá, eu tinha uma
boa visão da ponte do Brooklyn, mas foi impossível não pensar que mais à
frente estava a nobreza de Nova York e a cobertura de Harry Stone, onde eu
tinha sido tão feliz e amada.
Engoli a vontade de chorar e liguei para Stella, queria avisar que já
estava instalada e perguntar de Colin; mal tinha chegado e já estava morta de
saudades do meu filho.
Infelizmente ele estava dormindo, então, conversei brevemente com
minha amiga e depois tomei um banho demorado para tentar tirar o cansaço
causado pela viagem. Quando finalmente me deitei, uma enxurrada de
pensamentos foi surgindo em minha mente.
Eu estava tão cansada de me culpar, criticar e fazer questionamentos
sobre como teriam sido nossas vidas se eu não tivesse sido tão covarde.
Alguém cumpriria aquelas ameaças?
Se sim, Harry poderia ter me protegido?
Eu realmente não sabia.
Tinha a impressão de que essa dúvida aumentava ainda mais a culpa
que eu sentia por ter escondido Colin de Harry, por ter fugido e por ter me
apaixonado por um homem que, definitivamente, era impossível para alguém
como eu.
“Pare de se lamentar”, uma voz me repreendeu.
Eu já tinha decidido seguir em frente, sem alimentar esperanças com
relação a Harry, então, não podia deixar que as lembranças me envenenassem
e enfraquecessem. Essa viagem era o primeiro passo para que eu pudesse
expandir meus negócios, além de espalhar minha arte, e eu precisava focar
nisso.
Uma batida na porta chamou minha atenção.
Imaginei que fosse John, mas achei estranho quando o vi todo
arrumado e perfumado.
— Vim fazer um convite e não aceito não como resposta.
Eu estava de roupão e com uma toalha na cabeça, mas fiquei curiosa
para saber o que ele tinha em mente.
— Estou ouvindo.
— Tenho um conhecido que é amigo do dono de um bar-restaurante
que está em alta. Quando lhe falei que estava em Nova York, ele me
convidou para ir até lá e achei que você gostaria de me acompanhar.
O bairro em que eu morava era pacato demais, lá só havia mansões
com dezenas de hectares, de modo a deixá-las bem distantes uma da outra. E
embora fosse exatamente disso que eu precisava quando lá cheguei, tinha que
confessar que às vezes sentia falta de um pouco de animação.
Por isso gostei do convite e decidi aceitar, uma boa comida e alguns
drinks me ajudariam a relaxar e me distrairiam um pouco.
— Fico pronta em vinte minutos — falei.
— Ótimo, avise quando terminar.
Assenti e fechei a porta, subitamente animada para fazer alguma coisa
legal, ainda mais em Nova York.
Sequei meu cabelo rapidamente, depois me maquiei com as poucas
coisas que havia levado, ainda não era fã de muita maquiagem.
Na mala, havia apenas um vestido preto que poderia ser usado em um
restaurante requintado, os outros eram sérios ou despojados demais.
As sandálias e a bolsa eram da mesma cor do vestido e quando terminei
minha produção, senti-me linda, como há muito tempo não me sentia.
Antes de sair do quarto, borrifei meu perfume de sempre e fui ao
encontro do meu sócio.
— Você está linda, Lizzie — elogiou.
— Obrigada, John. Vamos?
O taxi nos levou até um dos arranha céus localizados no centro de
Manhattan, o restaurante ficava na cobertura. Olhei ao redor, realmente
impactada. Todas aquelas pessoas bonitas, a decoração mirabolante, a
música, fizeram com que eu entrasse em outro universo.
— Gostou? — John perguntou assim que voltou do bar com um drink
para mim.
— Muito — afirmei, tomando um gole da bebida e me deliciando com
o sabor.
Nos jantares que Consuelo fazia, nós geralmente tomávamos vinho,
mas aquele drink feito à base de champagne suscitava tantas lembranças, que
rapidamente tentei mudar o rumo dos meus pensamentos.
— Nunca tinha visto nada assim — falei e ele começou a citar alguns
dos lugares que eu deveria conhecer.
Enquanto conversávamos, vi alguns rapazes lançando olhares para
mim.
Era tão estranho receber aquele tipo de atenção, mas logo percebi que
isso se dava ao estilo de vida ao qual me acostumei tão rapidamente. Parecia
que desde que meu filho nasceu, eu tinha encarnado o papel de mãe e parado
de me ver como mulher.
Agora, as preocupações que me afligiram por tantos anos, e que eram
referentes apenas à intransigência de Eleanor e minha vontade de me livrar
dela, pareciam um monte de bobagem.
Ser mãe solteira, mesmo tendo a ajuda de pessoas maravilhosas, era um
peso para mim, especialmente por saber o que meu filho estava perdendo. Por
causa disso era estranho estar me sentindo tão leve. Não sabia se a culpa era
da bebida ou do ambiente, só o que sabia era que estava gostando de poder
fugir da minha rotina.
— Vou ao banheiro — avisou John em certo momento.
Nós havíamos nos acomodado nas banquetas altas que ficavam em
volta do bar, enquanto esperávamos por uma mesa.
Assim que ele sumiu entre as pessoas, peguei meu celular para
responder algumas mensagens de Stella.
— Liz?
Virei-me ao escutar aquela voz conhecida e quase caí da banqueta
quando dei de cara com a última pessoa que sonhei em encontrar.
— Dominic?
Ele parecia estar de frente para um fantasma e eu tinha a impressão de
que estava da mesma forma.
Como pude me esquecer de que a vida de meu ex-cunhado era regada a
festas e libertinagem?
Talvez por ele ter se tornado o CEO das Indústrias Stone?, quis saber
meu lado racional.
Mas desde quando um CEO não podia se divertir? E mais importante,
quem disse que ele está de libertinagem?, meu lado mais temperamental
questionou.
E estava certo. Eu também estava ali e nem por isso alguém poderia me
acusar de nada.
— Achei que não caminhasse mais por essa terra — ele falou, voltando
minha atenção para si.
O tom que usou era irreverente, mas seu rosto continuava sério.
— Ah, hum, então... — Eu não sabia o que falar e ficava cada vez mais
nervosa com a forma que ele me olhava.
— Ele quase enlouqueceu quando você foi embora.
Tinha a impressão de que um soco no estômago não teria doído tanto.
Mas, masoquista como era, aquela parte de mim que ainda amava
Harry desesperadamente, se alimentou daquela informação feito um campo
árido que precisava de chuva.
— Bom, é complicado.
Ele pareceu cético, mas antes que pudesse perguntar mais, soltei:
— O importante é que ele parece feliz com a Catherine.
— Nem tudo é o que parece, meu irmão nunca mais foi o mesmo.
Um nó se instalou em minha garganta, mas antes que eu desabasse,
coloquei meu melhor sorriso no rosto e tentei não transparecer o quanto suas
palavras tinham mexido comigo.
Suspirei fundo.
— Eu nunca quis magoar seu irmão, Dom, só achei que comigo ao seu
lado não haveria chances de ele ganhar as eleições, então resolvi ir embora...
foi melhor para todos.
Ele soltou o ar com força, parecendo impaciente.
— Quem foi que a fez acreditar nessas bobagens? Catherine? Lexy? Ou
isso é apenas uma desculpa porque simplesmente não o amava o suficiente?
— perguntou, a voz alterada, demonstrando toda a sua amargura.
Não o condenei. Ele e Harry tinham uma ligação muito próxima, então,
era normal que estivesse tomando as dores do irmão.
— Aconteceu muita coisa. Coisas que você não sabe e que eu não
posso revelar... Olha, já foi, então não adianta falar desse assunto, mas saiba
que eu também sofri, mais do que ele, talvez, mas ambos estamos seguindo
em frente, isso é o importante.
Dom estava prestes a replicar, mas se interrompeu quando seu celular
acendeu.
Ele leu o que havia na tela, fez uma careta e depois tirou algo de dentro
do bolso do paletó.
— Eu preciso ir, tem uma pessoa me esperando lá embaixo, mas
gostaria de continuar nossa conversa. Você pode me ligar em qualquer um
desses números — garantiu, estendendo-me um cartão preto com letras
prateadas.
Quando hesitei, ele pegou minha mão e a fechou sobre o cartão.
— Pense nisso — pediu.
— Ah, tudo bem, vou pensar — menti, já sabia que não iria ligar.
Dominic sorriu de leve e se foi tão rápido quanto apareceu, deixando-
me ali, ao lado daquele bar, tentando decifrar como as engrenagens do
destino funcionavam.
Afinal, qual a probabilidade de eu sair de Nova Jersey, ir para Nova
York e dar de cara justamente com Dominic Stone em minha primeira noite?
Balancei a cabeça e tomei um grande gole do meu drink.
E agora, o que vai acontecer se Dom contar a Harry que nos
encontramos?
Esse questionamento nublou minha mente pelo resto da noite.
— Mal posso acreditar que você está aqui com a gente — disse mamãe
ao me entregar uma xicara de café.
Tínhamos acabado de almoçar e agora estávamos acomodados na sala
de estar.
Eu havia me programado para chegar pouco antes do evento, mas como
Lexy tinha limpado minha agenda, preferi ir para Nova York mais cedo.
Fazia alguns meses que não encontrava minha família e sabia que conseguiria
relaxar quando estivesse na presença deles, afinal, ali eu era apenas Harry e
era muito bom poder me desligar do cargo que ocupava por algumas horas.
— Sei que tenho andado distante de vocês, mas as coisas em
Washington são frenéticas, alguns dias eu mal tenho tempo para respirar —
comentei.
— Quem diria que o garotinho que vivia correndo atrás da amiguinha
do colégio, feito um bobo apaixonado, iria se tornar nosso presidente um dia
— Eva comentou.
Décadas se passaram e minha prima ainda não gostava muito de Lexy e
jamais perderia a chance de me infernizar por causa disso.
— E como estão as coisas aqui em Nova York?
— Sofríveis — disse ela fazendo uma expressão dramática.
Mesmo tendo herdado os olhos verdes do pai, era impossível não
perceber de imediato que Eva era uma Stone. Na verdade, se não fosse pela
cor de suas íris, ela seria a cópia exata da tia Lou, com a pele dourada e os
cabelos castanhos, mesmo estes sendo um pouco mais rebeldes que o da mãe,
característica que combinava muito com sua personalidade extrovertida.
— Seja mais clara — pedi e ela lançou um olhar gelado para o meu
irmão.
— Dominic pega e despreza tanta mulher nessa cidade, que está difícil
ser um membro do clã Stone. Se ele se limitasse apenas a estranhas, tudo
bem, mas o safado já pegou todas as minhas amigas e as amigas delas... —
Ela balançou a cabeça. — Está até difícil andar pela rua; as menos íntimas me
bajulam, achando que conseguirão alguma coisa com ele se nos tornarmos
BFF[6], e as que um dia já foram minhas amigas, hoje me olham com o ódio
que deveriam dedicar a ele.
Todos gargalhamos.
— Bom, se elas preferem trocar uma mulher inteligente e bem
humorada feito você por esse libertino aqui, garanto que está melhor sem elas
— garanti e ela se agarrou a mim.
Puxei-a para perto, como fazia quando éramos pequenos.
Tendo se tornado uma mulher muito bem resolvida, Eva estava longe
de ser aquela garotinha espevitada que nos provocava o tempo todo, mas nós
ainda a tratávamos como tal. Para mim, Dominic e Alexander, ela sempre
seria nossa garotinha e, mesmo sendo totalmente independente, Eva adorava
isso.
Tia Lou às vezes reclamava de nossa super proteção, mas era da boca
para fora, uma vez que ela e Tony agiam da mesma forma.
Lembrar deles me fez perceber que estava com muita saudade dos dois,
só que, infelizmente, não seria dessa vez que os veria. Esse evento de mamãe
foi resolvido quase de uma hora para outra e era para toda a família lhe dar
suporte, mas eles já estavam com uma viagem programada para a Europa,
com mais dois casais de amigos e foi impossível desmarcar.
Esse foi um dos motivos que me fez aceitar seu convite, mamãe já se
sentiria triste por não ter a presença da melhor amiga, mas ficaria arrasada se
eu também não aparecesse.
E eu estava feliz, o projeto era bom e se tivesse meu endosso seria
muito mais aceito pelos patrocinadores em potencial, pois sua meta era
promovê-lo todos os anos e em várias cidades.
O outro motivo era bem mais egoísta. Cathy havia iniciado um projeto
de construção de uma creche cuja inauguração seria naquela tarde, seguida de
um jantar com os empresários que fizeram parte da idealização e construção
do lugar.
Obviamente que, diferente de mim, que estava aliviado por poder ficar
longe de tudo aquilo por algum tempo, ela não ficou nada feliz por estarmos
separados em dois eventos tão importantes, e quando lhe disse que Lexy a
acompanharia, sua irritação foi às alturas.
Claro que nada disso faria diferença na hora em que fôssemos fazer
nossos discursos. Cada um sabia desempenhar muito bem seu papel e não
deixaria transparecer qualquer problema.
Enquanto eu pensava nessas complicações, Dom e Eva continuaram
discutindo como se ainda tivessem doze anos.
Para piorar, mamãe começou a falar de coisas embaraçosas de nossa
infância, o que arrancou muitas gargalhadas dos que não estavam envolvidos.
Dei graças a Deus por Alexander, nosso General, não estar lá. Com seu
mau humor, não demoraria muito para ele estar apelando, o que faria todos
rirem ainda mais, deixando-o irritado de verdade, a ponto de sair batendo a
porta.
O bom era que sua raiva não durava, Alex podia ser chato, mas tinha
um coração enorme e vivia de olho em todos nós, tanto que, mesmo sabendo
de toda a zoação, não deixava de comparecer aos eventos de família, exceto
quando tinha outro compromisso, como naquele dia.
Olhei para a minha bela família e percebi que não lembrava da última
vez em que tinha rido tanto.
— O problema é que eles só queriam te levar pra cama, mais nada —
disse Dom, se referindo aos namoradinhos que Eva teve no passado.
— Mas era isso mesmo que eu queria.
— Eva! — mamãe repreendeu tentando não gargalhar.
Sorte que papai estava no escritório, pois essa conversa seria
embaraçosa para ele.
Eu, em contrapartida, me senti muito mais leve ao ouvir toda aquela
troca de farpas.
— Catherine tinha outro compromisso mesmo ou não quis comparecer?
— mamãe perguntou quando Eva foi embora. Minha prima tinha um horário
marcado no salão de beleza e já estava quase atrasada.
Aproveitando a saída dela, Dom também pediu licença e foi fazer uma
ligação.
— Ela realmente tinha um compromisso agendado há meses. Como
estou cogitando uma possível reeleição, é importante que a Casa Branca seja
representada tanto por mim quanto por ela.
— Você sabe o que eu penso em relação a essa reeleição, não é, filho?
Mamãe morria de orgulho por eu ter conseguido realizar meu sonho,
mas achava que eu deveria encerrar minha carreira política e aproveitar um
pouco a vida.
Toda vez que essa ideia de aproveitar a vida surgia em minha mente,
tudo em que conseguia pensar era na época em que realmente fui feliz, nos
dias em que deixei minhas responsabilidades de lado. Mas com isso, vinham
todas as coisas que passei em consequência desses atos e então eu voltava a
pensar com a cabeça e não com o coração.
— Eu gosto do que eu faço, estou satisfeito com os rumos da minha
vida.
— Estar satisfeito não é o mesmo que estar feliz, sou sua mãe, não
tente me enganar.
Eu realmente não era a criatura mais feliz da terra, no entanto, as coisas
estavam em ordem e, para o momento, era o que eu precisava.
— Mamãe, eu estou bem, por favor, não se preocupe comigo.
— Eu sei, mas o que eu mais desejo é vê-lo feliz novamente, como na
época em que...
— Melhor não entrarmos nesse assunto.
— Tudo bem, você tem razão — falou, dando o assunto por encerrado.
— Mandei fazer aquela sobremesa que você adora, vou pegar um pouco para
nós e depois você pode descansar.
Assenti, aliviado.
Algum tempo depois de ela sair, Dom voltou para sala. Desde que nos
encontramos aquele dia, senti-o estranho. Ser seu irmão mais velho me dava
essa vantagem, eu tinha um feeling aguçado quando se tratava dele.
— Algum problema?
Ele me encarou por longos segundos, como se estivesse decidindo se
abria o jogo ou inventava alguma desculpa para me enrolar, o que era
estranho. Dom sempre me contava tudo, mesmo depois de eu ter me tornado
presidente, ele nunca deixou de ligar para falar como estava sua vida ou para
se gabar da modelo ou socialite com quem estava saindo.
— Na verdade, tem uma coisa — disse ele, coçando a nuca.
Era típico de nossa família coçar a cabeça quando estávamos nervosos.
— Fala logo, Dom.
— Talvez você não goste do que vou dizer, mas eu seria um filho da
puta se não te contasse.
Na mesma hora meu corpo se retesou.
— Se for a respeito dela, prefiro não saber.
Dominic suspirou, fazendo uma careta, e depois me encarou.
— Eu a vi ontem, em um restaurante aqui de Nova York... Falei com
ela.
Fiquei paralisado por algum tempo, absorvendo o impacto que aquela
notícia teve sobre mim.
Escutar o nome dela me fez viajar no tempo, àqueles dias em que
fomos felizes, quando acreditei que aquela garota ingênua poderia ser minha
para sempre e, de repente, sem que eu pudesse evitar, as lembranças que
estavam guardadas a sete chaves começaram a sair dos confins da minha
alma e se fazer presentes, como um filme que rodava exclusivamente para
mim.
Quantas vezes desejei que alguém me desse alguma notícia dela, que
me falasse o seu paradeiro. Agora, todavia, saber que ela andava livremente
por Nova York fez meu sangue ferver, mas não de amor ou desejo, e sim por
constatar que se ela estava por aí, era porque tudo o que escreveu naquela
carta era mesmo verdade.
— Li... Elizabeth pertence ao meu passado — falei e desviei o olhar.
— Ah, não me venha com essa, você não está falando com a mamãe.
Suspirei, segurando-me para não me irritar com ele.
— Dom, eu sou um homem casado agora, não quero falar de nenhuma
namorada do passado.
— Liz não foi qualquer namorada e você sabe disso.
Minha família ainda endeusava Elizabeth Reagan como se ela fosse
uma santa, todos acreditavam que aquela semana em Nova York a tinha
assustado de alguma maneira e a feito fugir.
Já eu, preferia acreditar que Eleanor tinha razão em tudo que falou.
Estava certo de que se Liz realmente me amasse, teria confiado que eu
colocaria Lexy e Cathy em seus devidos lugares e ficado ao meu lado.
Mas ela preferiu o mundo e a liberdade que uma vida sem mim poderia
lhe proporcionar.
— Todos vocês sabem o que aconteceu, e também sabem que esse não
é o meu assunto preferido, então, por favor, vamos parar por aqui.
— Ficar desconfortável assim só por ouvir o nome dela, é o primeiro
indício de que ainda a ama.
Que Deus me desse paciência, porque o Dominic conseguia me tirar do
sério com sua inconveniência.
— E o que você sugere que eu faça? — perguntei com os dentes
cerrados.
— O óbvio: que vá atrás dela, pergunte o que aconteceu, que pare de se
esconder atrás do cargo de presidente e volte a viver um pouco.
Soltei uma risada desgostosa.
Mamãe tinha conseguido convencer toda a nossa família de que eu
realmente não era feliz sendo presidente dos Estados Unidos e que minha
reeleição era apenas uma forma de continuar fugindo do que Elizabeth havia
feito.
— Se a encontrou em um restaurante, viva e bem, não há o que
perguntar, ela está aproveitando a liberdade que tanto queria.
— Não sei, Harry, ainda acho tudo isso muito estranho e penso que
deveria ir atrás.
Fechei os olhos e suspirei.
— Se está tão curioso, por que não perguntou?
— Se eu achasse que ela me contaria, teria perguntado. De qualquer
forma, deixei um cartão contendo todos os meus telefones com ela.
— Espero que não ligue — falei, convicto.
— Eu não sou bom em ler as pessoas como você, mas quando toquei no
seu nome, os olhos dela se encheram de lágrimas. Tem alguma coisa aí,
Harry.
Aquela conversa estava indo longe demais.
— Não tenho nada para falar com ela — adverti, tentando encerrar o
assunto.
Ele deu de ombros.
— Bom, eu fiz minha parte, mas não acho que ela vai ligar, então, se
mudar de ideia, terá que mexer os seus pauzinhos.
— Não vou mudar de ideia e nem perder meu tempo com ela.
Dom balançou a cabeça e mais uma vez deu de ombros antes de sair,
deixando-me sozinho com a bagunça que ele mesmo criou.
Meu encontro com Dominic acabou me deixando completamente
abalada e depois que ele saiu do restaurante, tive que me esforçar para não
deixar transparecer a enxurrada de emoções que vibrava em meu corpo.
De todas as coincidências que o destino poderia preparar nessa viagem,
essa, certamente, era a mais improvável. Quais as chances de encontrar meu
ex-cunhado em uma cidade daquele tamanho?
Mas eu deveria ter imaginado. Agora que era o CEO das Indústrias
Stone, seria natural que aproveitasse desse prestígio frequentando os lugares
mais badalados do mundo. Sem contar que ele estava em seu habitat natural,
a intrusa ali, com certeza, era eu.
Naquela noite eu não consegui dormir, fiquei rolando de um lado para
outro, imaginando se Dominic contaria a Harry que me viu ou se ele iria
poupar o irmão, com o intuito de evitar problemas...
Havia tantas dúvidas, mas o que mais me angustiava era o que ouvi
sobre Harry.
“Ele quase enlouqueceu quando você foi embora.”
Escutar isso foi doloroso. Eu já imaginava que não tinha sido fácil, mas
era diferente escutar a comprovação de alguém que viu como ele ficou. Mais
do que nunca senti que precisava explicar tudo o que aconteceu comigo.
Quem sabe, quando isso acontecesse, meu coração conseguisse se curar
e, em contrapartida, Harry me odiasse um pouco menos. Queria que aquela
máscara fria que assumiu amenizasse para que ambos pudéssemos ter um
pouco de paz e eu conseguisse tocar minha vida adiante de verdade.
Foi com esse desejo que, finalmente, consegui dormir, faltando poucas
horas para o amanhecer.
No dia seguinte eu estava um caco, mas acabei indo com John a duas galerias
de arte que ele queria me mostrar e aproveitamos o sábado ensolarado para ir
a alguns pontos turísticos.
Assim como na noite anterior, eu tentei ao máximo não deixar
transparecer o emaranhado de coisas que se formavam em minha cabeça, meu
amigo estava animado com o evento, então fiz o meu melhor para parecer tão
feliz quanto ele.
Por volta das 17h, retornamos ao hotel e cada um foi para seu quarto.
Depois de um banho demorado, comecei a me arrumar. A primeira
coisa que fiz foi pegar o vestido azul marinho que havia escolhido para usar
no evento. O modelo justo, com saia até abaixo dos joelhos, desenhava meu
corpo e evidenciava as curvas adquiridas após a gravidez e potencializadas
pela yoga e os exercícios que eu me acostumara a fazer todos os dias.
Dentro daquela roupa chique, com cabelos soltos e maquiada, eu me
achei bonita e sexy, mas por dentro, era como se tivesse uma pedra de gelo
no estômago.
Ter visto Dominic me deixou com uma enorme sensação de
expectativa. Sentia como se o destino tivesse todas as peças da minha vida
nas mãos e que, dali em diante, eu estaria fazendo apenas o que já estava
traçado.
Como se estivesse confirmando meus pensamentos, um forte arrepio
atravessou meu corpo.
Respirei fundo, peguei minha bolsa e deixei a suíte.
Encontrei-me com John no hall do hotel e, assim como na noite
anterior, me olhou com admiração, mas não fez qualquer insinuação. Ele
entendia que não havia qualquer interesse de minha parte. Na verdade, não
sentia um interesse maior de sua parte, a expectativa de um possível romance
entre nós estava apenas na cabeça de Consuelo e eu não a alimentaria.
Oferecendo-me o braço, como um verdadeiro cavalheiro, guiou-me até
o taxi que nos levou à ilha de Manhattan, onde seria o evento.
Quando taxista estacionou em uma rua lateral, eu mal pude acreditar
que estávamos no Museu de Arte Moderna de Nova York.
— Meu Deus, John, por que você não me falou?
— Eu queria fazer uma surpresa. Gostou?
— É surreal!
— Quando os patrocinadores têm mais dinheiro do que podem gastar, é
assim que as coisas funcionam.
— Nem em meus sonhos mais delirantes eu imaginei ver um quadro
meu no MoMA. Não agora, pelo menos.
— Então, que esta seja a primeira de muitas vezes — desejou ele
quando nos aproximávamos da entrada.
— Nossa, isso aqui é sempre assim ou o Bono[7] vai estar presente e
ninguém nos avisou? — brinquei com John quando vi a enorme quantidade
de seguranças, policiais e até mesmo ambulâncias presentes no local.
— Não sei, mas é provável que haja algumas celebridades aqui esta
noite.
Como não éramos ricos e muito menos famosos, passamos direto pelos
fotógrafos e jornalistas que cobriam o evento e entramos de forma discreta.
Ainda assim, estar naquele lugar, vestida daquele jeito, fez uma emoção
bem egocêntrica tomar conta de mim e eu ergui a cabeça, orgulhosa do que
havia conquistado.
Continuamos avançando e imediatamente percebi que os convidados
refletiam a elite da cidade. Todos eles lembravam bastante algumas pessoas
com quem convivi no passado, a diferença era que os ricos de Nova York
pareciam um pouco mais afetados que os de Washington.
Aquilo me agradava e assustava ao mesmo tempo, seria hipocrisia dizer
que não me sentia deslumbrada com todo aquele glamour, mas isso não
interessava, eu estava ali para mostrar meu trabalho e, com um pouco de
sorte, ganhar notoriedade.
Segui John pelo enorme corredor e chegamos ao andar onde as obras
estavam sendo exibidas. Os organizadores haviam montado diversos espaços,
cada um com três trabalhos do expositor em questão.
Enquanto me dirigia à minha estação, fui apresentada a algumas
pessoas, a maioria delas artistas. Eu já usava o pseudônimo Lizzie Nichols há
muitos anos, mas ainda era estranho ser chamada assim por tantos
desconhecidos.
Uma hora se passou e muita gente apareceu. Minhas obras já tinham
sido apreciadas em nossa galeria, uma vez que existia uma seção separada
para elas, mas ali era totalmente diferente. A maioria daquelas pessoas
entendia de arte e saber disso me fez sentir como se estivesse desnuda,
especialmente porque muitos críticos foram convidados e John já havia me
falado que eles, certamente, escreveriam matérias ou colunas a respeito do
que tinham visto naquela noite e isso me fez voltar ao início, quando era
completamente insegura com meu trabalho.
Em certo momento pedi licença ao meu sócio, que conversava
animadamente com um conhecido e saí a procura do toalete. O lugar era
enorme e com aquela quantidade de pessoas, foi demorado chegar ao
corredor que me indicaram.
Enquanto caminhava, fiquei pensando em como a vida era engraçada.
Ali estava eu, inserida naquele universo do qual sempre fugi, mas disposta a
não deixar meus preconceitos suplantarem a razão novamente. Estar em Nova
York era o primeiro passo para seguir meus planos de construir uma vida
nova e cheia de possibilidades e eu teria que me acostumar.
Assim que dobrei a esquina no fim do corredor, acabei esbarrando com
quase uma dezena de seguranças. Fiquei tentando entender o que estaria
acontecendo, mas somente quando reconheci Zed entre eles foi que me dei
conta e na mesma hora senti a bile subir até minha garganta.
Se eu havia achado que meu encontro com Dom tinha sido o máximo
da coincidência, o que dizer do que estava prestes a acontecer?
Porque ainda que aquele evento estivesse lotado de estrelas de vários
segmentos, eu jamais poderia conceber aquilo.
Sem que eu percebesse, dois daqueles seguranças entraram na minha
frente e mandaram que eu me afastasse.
Imediatamente fiz como pediram e logo me vi encostada à parede, mas
eles continuaram onde estavam, fazendo uma espécie de escudo.
Meu coração, que já saltava descontrolado dentro do peito, quase saiu
pela boca quando Harry surgiu, imponente como nunca, em um terno escuro,
os cabelos bem alinhados e um olhar determinado.
Ao vê-lo, meu estômago se apertou, minhas mãos começaram a suar e
quando nossos olhares se cruzaram, minhas pernas ficaram bambas e tive que
respirar fundo, pois senti que poderia desmaiar ali mesmo.
Harry também arregalou um pouco os olhos, mas na hora em que sua
surpresa se desfez, continuou andando e fez questão de me ignorar quando
sua comitiva passou por mim.
Aquilo doeu tanto, que foi difícil respirar.
Após todo aquele tempo escondida, criando nosso filho sozinha para
que ele pudesse reinar como sempre sonhou, não podia acreditar que estava
sendo ignorada daquela forma.
Sua atitude me fez sentir humilhada, pequena, invisível...
Sim, muitos anos tinham se passado, ele agora era o presidente dos
Estados Unidos, um homem casado e totalmente diferente daquele que
conheci, mas eu jamais imaginei que ele agiria como se me considerasse
menos que nada.
Permaneci encostada naquela parede, ainda sentindo seu olhar gélido
sobre mim, como se ele tivesse me congelado. Isso me deu tempo de colocar
as ideias no lugar.
Eu já sabia que não seria bem recebida. Estranho seria se ele me
tratasse de forma cordial, depois de tudo o que aconteceu, mas nunca pensei
que me trataria daquela forma.
De repente senti a garganta queimar de mágoa, mas também de
ressentimento e uma boa dose de determinação.
Eu vivi, ano após ano, esperando por aquele reencontro, fantasiando
como seria, que palavras eu usaria para abrandar o ódio que ele devia sentir
por mim e fazê-lo entender as escolhas que fiz e nada disso valeria se Harry
não soubesse o que tive que renunciar por ele.
Decidi erguer a cabeça e, mesmo ferida, lembrei-me do meu filho e
senti uma força desconhecida tomar conta de mim.
Não estava preparada para ter aquela conversa naquela noite, no
entanto, não fugiria. Por isso, engoli o choro, sequei as lágrimas e fiz o
caminho de volta.
Prestes a entrar no salão, escutei uma voz suave anunciando a presença
do Presidente dos Estados Unidos.
Caminhei por entre as pessoas tentando chegar o mais perto possível do
palco, pensando que, no final, aquele encontro acabou se tornando
providencial. Falar com o presidente era mais difícil que ganhar na loteria e
depois de ter sido ignorada daquela forma, senti necessidade de antecipar
meus planos e ver sua cara quando soubesse de Colin.
Se Harry queria lutar pela reeleição, que o fizesse ciente de que tinha
um filho, pois eu não iria mais carregar toda aquela responsabilidade sozinha.
Parei a poucos metros do palco e não pude deixar de me impressionar
com a magnitude do que ele havia se tornado, no quanto parecia à vontade
ali, com a atenção de todos sobre si.
Logo nos primeiros minutos de discurso, nossos olhares se cruzaram de
novo, mas Harry não vacilou, falou cada palavra olhando dentro dos meus
olhos e eu fiz o mesmo, queria que enxergasse em meu olhar o quanto estava
decidida a falar com ele.
Mas, então, como se não me conhecesse, desviou o olhar.
Voltei a ficar paralisada diante da frieza daquele homem que em nada
lembrava aquele que me destinava olhares cheios de amor e devoção.
Mais uma vez tive vontade de chorar, mas continuei encarando, cheia
de saudade, sentindo-me sozinha em meio a todas aquelas pessoas. Enquanto
eu só sabia amá-lo cada dia mais, Harry me mostrou do jeito mais cruel que
não estava nem aí para mim.
Pela milésima vez tive vontade de ser menos apaixonada, de poder
expulsá-lo do meu coração, mas era inútil tentar, aquele homem sempre seria
o amor da minha vida, mas isso não queria dizer que eu voltaria a poupá-lo.
Eu talvez não significasse mais nada para ele, mas um filho não poderia
ser ignorado, e se antes já queria falar a verdade, agora não pensava em outra
coisa.
Assim que finalizou o discurso, sua mãe tomou a palavra e apenas
naquele momento eu percebi que ela estava entre os convidados, junto com
seu marido, admirando o discurso do filho.
Enquanto Julie Stone falava do quanto eventos como aqueles eram
importantes para ela, Harry se juntou a Romeo e ambos se encaminharam a
uma mesa ocupada por alguns senhores.
Patrocinadores ou apoiadores, imaginei.
Olhei ao redor e notei que ninguém ousou se aproximar. As pessoas da
alta sociedade podiam até ficar eufóricas com a presença ilustre, mas estavam
acostumadas a participarem de eventos cheios de políticos e celebridades,
então, era normal que mantivessem a cara de paisagem diante do presidente.
Mesmo um lindo como este.
Além disso, ninguém ali gostaria de se indispor com os homens do
Serviço Secreto. A única que parecia ansiosa para confrontá-los, era eu.
A fim de disfarçar, peguei uma taça de champanhe e me misturei às
pessoas que estavam próximas ao palco, enquanto Harry continuava
concentrado na conversa, parecia que ele não tinha acabado de voltar a ver a
mulher com quem pensou em se casar poucos anos atrás.
Todas as suas atitudes me feriam de forma inexplicável e me faziam
pensar que não se tratava apenas de mágoa, mas tão somente do fato de que
ele estava feliz com a Catherine e simplesmente não queria arrumar confusão.
Virei a taça de champanhe para abrandar o fogo que subiu por minha
garganta e marchei em direção a Harry, sem calcular o perigo que estava
correndo em me expor tanto, tudo o que queria era tirar aquele ar de
presunção do rosto dele.
Quando estava quase chegando, Zed entrou na minha frente e tive que
me segurar para não trombar nele.
— Desculpe, Srta. Reagan, mas ele proibiu que a senhorita se
aproximasse.
— Eu não quero criar problema, Zed, só preciso falar com ele, é muito
importante — falei, encarando Harry que me olhou de relance e voltou a
conversar com seu pai, como se eu fosse um inseto.
— Sinto muito, estou apenas seguindo ordens.
Assenti e engoli a vontade de berrar para todas aquelas pessoas que eu
era mãe do filho daquele homem e tinha o direito de falar com ele. Só que
não era o momento de perder a cabeça, então respirei fundo e me afastei,
sentindo-me tola e morrendo de vontade de sumir dali.
Saí caminhando meio sem rumo e acabei esbarrando em uma mulher.
— Ah! — ela arquejou, baixinho, mas antes que eu pudesse me
desculpar, seus olhos se arregalaram em surpresa ao me reconhecer. — Meu
Deus, Liz, é mesmo você! — disse Zara Sullivan e no instante seguinte
estava me abraçando.
Eu também fiquei surpresa, mas não consegui demonstrar a mesma
emoção. Sentia-me destruída pela forma como Harry tinha me tratado e não
estava nem um pouco a fim de interação, entretanto, não podia ser mal
educada.
— Oi, como vai? — perguntei, sem graça.
— Não sabe o quanto procurei por você. Ainda estou sem acreditar que
estamos frente a frente — falou, dando-me mais um abraço.
Ao se afastar, pegou minha mão e me levou até um canto mais
tranquilo.
— Eu sei que devo muitas explicações, mas quero que saiba que não
fui embora sem mais nem menos, simplesmente não dava para ficar com
Harry — resolvi falar em minha defesa.
— Liz, antes de me casar com Blake, tive um trabalho, digamos, não
muito ortodoxo, e sei bem como funciona o tabuleiro de xadrez de
Washington, por isso, tenho certeza que sua fuga não aconteceu por vontade
própria — falou, cheia de convicção, deixando-me atordoada. — Mas seja o
que for, Harry pode te proteger, só que você precisa se abrir, dizer o que
aconteceu.
Se ela soubesse como fui tratada por ele...
— Não acho que vai ser fácil assim, além disso, ele está casado agora,
tem outras prioridades — falei para encerrar o assunto e poder ir embora.
— Não me diga que você acredita nessa farsa de casamento? —
perguntou ela, me fazendo enrubescer. — Se Catherine já era uma intragável
antes, depois que conseguiu o que queria se tornou insuportável. Ela ainda
tenta disfarçar quando Harry está junto, mas quem convive com a megera
sabe que é tudo um teatro. Não sei se há algo de verdadeiro naquela mulher.
— Achei que vocês se dessem bem — rebati, lembrando-me de como
se trataram no almoço de inauguração do comitê.
— Naquela época estávamos todos no mesmo barco, todos em busca da
vitória. Depois que você sumiu, nós ficamos sem chão por alguns dias, sem
saber o que iria acontecer e o jeito foi nos unirmos a fim de lutar pelo bem
maior e, infelizmente, ela era a melhor opção. Mas quando Harry ganhou,
muitas máscaras caíram e a dela foi a primeira.
A mim ela nunca tinha enganado e alguma parte do meu ser se
orgulhava de ter percebido que Cathy não era aquele doce de pessoa que
demonstrava ser.
— Eu fico triste por Harry ter precisado se casar apenas para conseguir
ganhar as eleições, mas não há mais nada que eu possa fazer.
— Por que não fala com ele? Vocês devem essa conversa um ao outro.
— Eu tentei, Zara, ele já sabe que estou aqui e me ignorou
completamente.
Ela segurou minha mão, que estava gelada, e depois sorriu.
— Se tiver um motivo plausível, e eu sei que tem, Harry irá te perdoar,
não hoje, talvez, mas ele precisa saber por que você foi embora.
— Foi exatamente para dizer isso que tentei me aproximar, mas fui
impedida por Zed, que foi bem claro ao dizer que me barrou por ordens de
seu chefe
— Esse é mais um sinal de que ele ainda não a superou ou jamais faria
isso. Harry é conhecido por sua simpatia, independentemente de quem tenta
se aproximar.
— Bom, eu não vou insistir, não agora, pelo menos, será melhor para
todos que eu vá embora — falei, ansiosa para sair dali, sem nenhuma vontade
de continuar me humilhando.
— Nem pensar, vou dar um jeito de você falar com ele, não saia daqui.
E antes que eu pudesse impedir, Zara se afastou.
Peguei mais uma taça de champanhe e alguns minutos depois ela voltou
com ar desanimado.
— Infelizmente Harry já foi embora e isso apenas mostrou o quanto
você mexe com ele, pois em todos esses anos nunca o vi ficar tão pouco em
um evento, ainda mais um que fora organizado e patrocinado por sua família.
— Deixa pra lá, tudo isso me desgastou muito e eu preciso ir embora.
Mas não vou desistir de falar com ele, uma hora eu consigo.
Zara me encarou com olhar de pena e depois pediu meu aparelho
celular.
— Estou gravando meu número — disse enquanto digitava —, e o dele
também. Ligue amanhã e tente marcar um encontro.
Arregalei os olhos em surpresa. Não podia acreditar que Zara facilitaria
tanto as coisas para mim.
— Obrigada por isso — falei, emocionada por ter alguém ao meu lado.
— Não precisa agradecer. Foi muito bom te ver e espero que dê certo
— disse, dando um beijo em meu rosto e, antes de se afastar, pediu que eu
ligasse para ela depois.
Apenas naquele momento eu percebi uma protuberância em sua barriga
e notei que ela estava grávida. Isso mostrava o grau de perturbação que
tomava conta da minha cabeça.
Caminhei o mais rápido que pude em direção a saída, aquele lugar
estava me sufocando e eu precisava respirar.
Do lado de fora, parei na calçada e fechei os olhos para sentir o vento
gelado da noite em meu rosto.
Abri-os novamente, bem na hora em que os batedores e o carro
presidencial passavam na rua em frente ao museu.
Ver aquilo fez a vontade de chorar voltar com tudo. Doía saber que
minha presença o incomodava a ponto de fazê-lo ir embora daquela forma.
Ergui meu celular, fui até os contatos e procurei pelo nome dele.
Quando o vi, senti meu coração acelerar novamente, numa mistura de
amor, ansiedade e esperança. Agora que tinha seu número, não iria sossegar
até que Harry Stone soubesse de toda a verdade.
Eu sabia que no dia em que reencontrasse Elizabeth, todo sentimento
que estava represado dentro de mim daria um jeito de se soltar, mas nunca
imaginei que fosse ser tão intenso.
A primeira imagem que tive dela naquele corredor, colada à parede,
com olhar assustado, mas atento, à procura do meu, me deixou atordoado e
foi impossível não vacilar. Após todo aquele tempo, ali estava ela, tão linda
quanto eu me lembrava e bem ao alcance dos meus olhos, das minhas mãos...
Todavia, junto com aquela emoção veio a raiva, a mágoa por ter sido
abandonado, além de todos os problemas que isso me causou na época e que
repercutiam em minha vida até hoje.
Por esta razão, toda a nostalgia que tomava meu coração se foi e eu
desviei o olhar ao passar por ela.
Queria que Liz sentisse o mesmo desprezo que eu senti quando ela me
abandonou.
Com o coração aos pulos, deixei-me ser guiado até o palco onde fiz
meu discurso de modo automático, já que a maldita fez questão de ficar bem
à minha frente, olhando diretamente para mim, como se quisesse ser vista a
qualquer custo.
Tive que fazer o meu melhor para tentar controlar a miríade de
emoções que me assolou por saber que ela estava no mesmo espaço que eu.
De repente, algo me ocorreu e comecei a desconfiar que sua aparição
em um restaurante que meu irmão frequentava não havia sido aleatória, o que
significava que sua presença no evento de minha mãe também não era
coincidência.
Perceber isso fez minha raiva voltar, mas ao mesmo tempo me deixou
curioso para saber o porquê de ter aparecido naquele momento. Será que
tinha a ver com minha reeleição?
Apesar de todos esses questionamentos, consegui me manter focado
enquanto fazia meu discurso. Ao terminar, juntei-me ao meu pai e ambos
fomos conversar com alguns empresários.
Embora não olhasse diretamente para Elizabeth, mantive-me atento aos
seus movimentos, por isso percebi quando tentou se aproximar.
Mesmo tendo dado ordens de a manterem longe de mim, fiquei ansioso
e excitado com sua injunção. Ela parecia diferente, mais determinada, mais
séria, sem aquela jovialidade que lhe era tão peculiar, e isso não tinha nada a
ver com o fato de já estar com 27 anos, estava mais para o tipo de maturidade
que a pessoa era obrigada a adquirir, querendo ou não.
Fiquei imensamente curioso para saber o que havia acontecido para
deixá-la assim, mas não podia permitir que se aproximasse. Eu estava prestes
a concorrer à reeleição e de forma alguma deixaria que uma ex-namorada
atrapalhasse meus planos, mesmo que se tratasse de Elizabeth Reagan.
Sem conseguir me conter, olhei para ela e a expressão destemida
impressa em seu rosto enquanto falava com Zed, me fez questionar o que
haveria de tão importante para falar comigo.
No mesmo instante desviei o olhar para não fraquejar. Aquela mulher
me perturbava e não seria justo deixar que ela se aproximasse depois de todo
trabalho que tive para reconstruir minha vida.
Continuei minha conversa, mas logo Zed se aproximou para informar
que Liz tinha desistido e essa foi minha deixa. Após uma mentira bem
elaborada, consegui ir embora sem que meus pais ficassem chateados; ambos
sabiam da responsabilidade que carregava nas costas e tinham certeza de que
eu não os deixaria se não fosse algo urgente.
Em questão de minutos eu estava no carro, sentindo alívio enorme por
estar me afastando daquele lugar. Dela.
Antes de terminar meu pensamento, visualizei-a parada em frente ao
MoMA, observando minha comitiva passar.
Os vidros escuros impediam que ela me visse, mas eu consegui
capturar cada detalhe da mulher parada no tapete vermelho que dava acesso
ao interior do Museu.
Mesmo após todo o sofrimento que me infringiu, Liz ainda tinha um
efeito devastador sobre minha mente e meu corpo. Foi por isso que, como o
maior dos covardes, eu fugi, se continuasse olhando para ela, as coisas
poderiam sair dos trilhos e eu estaria mais perdido do que nunca.
Quando cheguei ao hangar, o Força Aérea Um já estava pronto para
partir, mas apenas quando pisei na Casa Branca foi que senti um pouco de
alívio.
Fui à minha sala particular para tomar um drink, mas mesmo depois de
me desfazer do paletó, da gravata e dos sapatos, e após ter bebido duas doses
do meu uísque preferido, eu não tinha conseguido relaxar.
Preparei uma terceira dose e dei graças a Deus pelo fato de o dia
seguinte ser domingo, eu não teria cabeça para trabalhar.
Sentei-me no sofá e tentei não pensar nela. Foi difícil, mas no fim do
meu drink, a adrenalina que tomou conta do meu corpo desde que a vi
diminuiu e logo estava sendo vencido pelo sono.
Para meu espanto, acabei dormindo como nunca mais havia acontecido
desde... Bom, há pelo menos quatro anos e isso me surpreendeu e preocupou
na mesma medida.
Para não ficar criando conjecturas, resolvi trabalhar, mesmo sabendo
que não conseguiria me concentrar o bastante.
Foi difícil, mas acabei terminando de ler algumas propostas
parlamentares e à noite, quando me deitei, mais uma vez consegui dormi feito
um bebê.
Na segunda-feira, sentindo-me mais descansado que o normal, saí da
área privativa meia hora mais cedo, precisava ocupar a minha mente e nada
melhor que cuidar dos problemas de um país para isso.
— Já estou sabendo da boa nova — disse Lexy quando entrou no Salão
Oval, no final da tarde. Ela estivera fora o dia todo, resolvendo alguns
assuntos, por isso ainda não havia me abordado sobre aquilo.
— Imaginei que Zed fosse lhe contar.
— E como se sente?
Mesmo estando casado e após milhares de discussões, Lexy e Zed
ainda eram as pessoas com que eu mais me sentia confortável para falar de
minha vida pessoal. Naquele momento, entretanto, eu precisava de alguém
que me desse razão, por isso fui sincero.
— Com raiva, mas não vou deixar que esse sentimento me domine
outra vez.
— Na verdade, ele nunca te deixou, você só aprendeu a controlá-lo.
Ela estava completamente certa, foi a raiva por Elizabeth que me levou
tão longe, foi de mãos dadas com o ódio que sentia por essa mulher que
consegui a Casa Branca. E por mais que tenha discordado na época, se ela
estivesse ao meu lado, talvez eu não tivesse vencido.
— Mas eu estou em Washington e ela em Nova York; as coisas estão
voltando ao normal.
— Por que será que eu sinto que agora é que as coisas vão sair dos
trilhos?
— Não fale besteira! — rebati e fui me servir de uma dose de uísque.
— Não vai demorar para você pedir ao seu pessoal que faça um
relatório completo acerca da vida dela, isso se já não o fez.
— Isso não vai acontecer — garanti.
— Eu te conheço, Harry, todas as dúvidas que o afligiram quando ela
foi embora ainda estão em sua cabeça e você só vai se aquietar quando ouvir
da boca dela o real motivo de ter feito aquilo.
Lexy realmente me conhecia como a palma da mão, mas dessa vez ela
estava enganada quanto a minha conduta.
— Eu vou entrar em outra corrida presidencial, a última coisa que
quero é ir atrás de Elizabeth Reagan.
— Você foi feliz com ela. Sinto falta de você naquela época.
— Que porra você está fazendo? Se for para agir como o Zed, é melhor
ir embora.
— Eu só me preocupo com você.
— Mas não precisa. Eu estou feliz e ficarei muito mais quando
conseguir me reeleger — afirmei, peremptório, tomando um grande gole da
minha bebida.
Lexy assentiu, havia percebido que não conseguiria mais nada de mim.
— Vou subir para tomar um banho e me arrumar para sair — falei para
encerrar o assunto e caminhei até a porta.
Nesse momento meu celular tocou em cima da mesa. Estava prestes a
voltar quando Lexy se adiantou:
— Deixa que eu atendo — falou, pegando o aparelho e eu aguardei.
Ela disse alô algumas vezes, mas ao não obter resposta, desligou.
— Número desconhecido. Vou pedir para investigarem.
— Ok, enquanto isso estarei com o reserva.
Lexy concordou e ambos saímos da sala, cada um para um lado.
Assim que passei pelo corredor, Snyder, o chefe de segurança da minha
equipe, explicou a rota que faríamos naquela noite.
Depois de combinarmos o horário da minha saída, fui para a área
privativa, que se tornara meu lar nos últimos três anos, mas onde eu só ia para
tomar banho e dormir.
— Harry, que surpresa você por aqui tão cedo — Cathy falou quando
me viu entrar.
— Tenho um jantar importante para ir esta noite — falei.
Ela assentiu, como sempre fazia, e voltou sua atenção para os vestidos
em seu closet.
Permaneci parado, olhando para ela, e as palavras de Lexy a respeito de
sentir falta do antigo Harry voltaram à minha mente.
Eu podia não ser completamente feliz, mas apenas o fato de ter
conseguido realizar meu sonho, de certa forma, me completava.
Agora me perguntava se aquela era a vida que minha esposa sonhou
para si também.
— Você é feliz? — perguntei, sem estar consciente de que o fazia.
Ela se voltou, a testa franzida em confusão, mas respondeu.
— Óbvio que sim, nós conquistamos a Casa Branca e tudo indica que
ficaremos aqui por mais quatro anos, não tem como as coisas ficarem melhor.
Mas por que está me perguntando isso?
Catherine era uma mulher estudada e muito inteligente, mas a ambição
que demonstrava pela Casa Branca a fazia parecer meio fútil. Eu entendia de
ambição, achava válido e necessário a qualquer pessoa, mas quando sua vida
se pautava unicamente naquilo, tornava-se vazia, era como se a pessoa tivesse
apenas um objetivo e não visse nada além daquilo. Eu achava esse tipo de
comportamento meio doentio e foi por isso que, mesmo tornando tudo mais
pesado, só deixei de trabalhar nas empresas de minha família depois que
ganhei. Eu queria ter algo a mais em que focar para não transformar meu
sonho em uma obsessão.
— Curiosidade — respondi, pois sabia que não adiantaria argumentar.
— Vou me arrumar, nos vemos mais tarde.
Ela assentiu e voltou às suas roupas.
Ainda a olhei por alguns segundos e depois me dirigi ao banheiro.
Já embaixo do chuveiro, deixei a água morna escorrer sobre meu corpo
por vários minutos, em uma tentativa de relaxar meus músculos que àquela
hora já estavam fatigados.
Esperava que aquele tempo ali também me ajudasse a desanuviar a
cabeça.
Infelizmente, ainda que eu tentasse empurrar as lembranças de volta
para o fundo do armário, havia uma parte minha que gostava de relembrar o
quanto eu me transformara por causa daquela mulher.
Liz me fazia bem e isso acabou deixando minha vida mais leve. Com
ela eu não sentia necessidade de me esconder e somente quando estive com
ela novamente, foi que eu percebi o quanto as máscaras que usamos todos os
dias podiam se tornar um peso após algum tempo.
Enquanto estivemos juntos, esse peso foi aliviado e uma parte de mim
sentia vontade de ter aquilo de volta. Talvez por isso eu mantivesse todas
essas lembranças guardadas tão vivamente em minha memória. Elas me
feriam, mas ao mesmo tempo me transmitiam paz.
Fechei os olhos e dei um soco no mármore gelado.
Elizabeth tinha acabado de voltar e já estava dominando meus
pensamentos, era como uma erva daninha preenchendo os espaços vazios
deixados por sua partida.
Eu podia mentir para Zed e Lexy, mas nunca fui bom em mentir para
mim mesmo, e meu coração, melhor que ninguém, sabia o efeito que ela
tinha sobre mim.
No entanto, eu não estava disposto a lhe dar essa abertura, não havia
qualquer chance de ela fazer tudo de novo, pois além das lembranças boas, eu
também guardava tudo de ruim que senti quando a perdi tão repentinamente e
isso deixava um gosto amargo que sobrepujava qualquer momento doce.
Algumas feridas levavam uma vida inteira para cicatrizar, era o caso
das minhas. Elas não sangravam há um bom tempo, mas não estavam
saradas, bastava um movimento errado para que se abrissem novamente.
Era por isso que eu precisava manter minhas barreiras erguidas, se
Elizabeth voltasse à rondar minha vida, eu jamais me recuperaria.
O evento daquela noite aconteceria em um renomado clube, exclusivo
para cavalheiros, e estava repleto de empresários e aliados que dariam a vida
por mim.
Assim que cheguei, fui muito aplaudido e o mesmo aconteceu após
meu breve discurso.
Blake, meu vice-presidente e amigo, estava entre os convidados,
fazendo o que melhor sabia: fechar boas alianças. Eu tinha muita fé de que
ele seria meu sucessor após meu segundo mandato, pois não conseguia
pensar em ninguém melhor para me substituir e cuidar do país.
Juntei-me a Blake que estava em uma mesa próxima com alguns
senadores.
— Zara comentou comigo sobre Elizabeth Reagan — falou quando
fomos deixados a sós.
Blake precisara ficar em Washington por causa de um importante jantar
que já estava marcado, por isso Zara havia ido sozinha.
— Sim, ela está de volta — admiti antes de beber um gole do meu
uísque —, teve o descaramento de ir até lá atrás de mim.
— Tem certeza de que ela sabia que a exposição estava sendo
patrocinada pelas Indústrias Stone?
— Por que outro motivo ela estaria no museu, para uma simples visita?
Não. Especialmente porque no dia anterior já havia, “coincidentemente”,
esbarrado com Dom em seu restaurante favorito.
Blake franziu o cenho.
— O que Zara me disse foi que enquanto conversavam, Liz não lhe
contou porque estava ali. Ela só ficou sabendo a razão depois que um tal de
John viu as duas conversando e foi perguntar para onde Liz tinha ido. Após
responder o que ele perguntou, aproveitou para investigar, você sabe o quanto
ela é boa para conseguir o que quer — falou, a voz demonstrando todo o
amor e admiração que nutria pela esposa.
— E? — perguntei, curioso para saber quem era esse John e que
desculpa foi dada a Zara.
— Liz era uma das artistas, com três de seus quadros expostos.
Na mesma hora a lembrança da tela que ela me presenteou me veio à
cabeça.
— E quem é esse John?
— Ele é marchand e sócio de Liz em uma galeria.
Quer dizer que, além de continuar pintando, ela tinha uma galeria,
pensei, mas sem estar completamente convencido do que ouvia.
— Bom, Zara pode ter acreditado nessa ladainha, mas eu, não. Ela
estava determinada demais a falar comigo para alguém que apareceu ali sem
segundas intenções.
— Acho que se ela tivesse segundas intenções, ali era o melhor lugar
para te expor ou algo assim.
Dei de ombros, não sabia o que pensar.
Vendo meu silêncio, Blake falou:
— Eu sei que talvez nunca consiga perdoá-la, mas agora que ela voltou,
acho que deveria procurá-la para poder tirar essa história a limpo. Para ser
sincero, depois de tudo que passei com Zara, não acredito em meias palavras.
— O que quer dizer com isso?
— Washington DC não foi apelidado de covil à toa. Nós estamos
cercados por pessoas altamente gananciosas que seriam capazes de tudo para
conseguirem o que desejam.
Eu sabia que Blake estava certo, mas o que ele me falava não fazia
sentido.
— Se tinha algo além do que contou naquela carta, por que ela não
falou comigo? Antes de ser presidente eu era o CEO de uma das maiores
corporações do mundo e poderia ter ajudado, só que o que foi que ela fez?
Sinto muito, mas não vou cair nessa.
— Harry, eu não quero entrar em conflito com você, muito menos por
uma mulher do passado, ainda mais agora que estamos prestes a enfrentar
outra campanha, mas não se deixe cegar pelo ódio. Os homens,
especialmente em nosso meio, tendem a ser práticos e analíticos, mas muitas
vezes o que precisamos é escutar o coração.
Após derramar essas palavras, ele se afastou, deixando-me sentado
onde estava, sentindo um estranho desconforto que me fez lembrar alguns
detalhes do meu encontro com Elizabeth.
Apesar da brevidade do nosso contato, não pude deixar de ignorar o
quanto seu olhar era triste e ao mesmo tempo ansioso. Vários anos
transcorreram, mas eu ainda conseguia decifrar o que se passava em sua
cabeça apenas observando seus olhos. Foi dessa forma que descobri que seus
sentimentos por mim eram tão verdadeiros quanto os meus e por causa disso
foi tão difícil aceitar o que aconteceu.
Ainda assim não podia ignorar o que vira. Elizabeth parecia infeliz,
todavia, assim como eu, demonstrava estar conformada com o que a vida lhe
dera.
Mas essa era a interpretação do homem que ainda acreditava naquela
menina doce e cheia de vida e não a do homem que me tornei.
Virei a dose de uísque e acenei para meus seguranças, era hora de ir
embora. Com alguma sorte, conseguiria dormir tão bem quanto nos últimos
dois dias e as palavras de Blake, que ainda martelavam em minha cabeça,
perderiam sua força.
Arrependida, era assim que eu me sentia por ter sucumbido e ligado
para Harry. Já fazia cinco dias, mas eu ainda me repreendia. Estava tão
ansiosa para falar com ele, que não pensei direito, apenas liguei, as mãos
trêmulas a ponto de quase não conseguirem segurar o celular.
Eu estava nervosa, mas ao mesmo tempo decidida a lhe explicar tudo, a
respeito das ameaças, de Colin... Nunca me senti tão perto de revelar a
verdade, mas quem atendeu foi Lexy, e isso foi um grande balde de água fria,
por isso desliguei.
Os dias seguintes foram cheios de frustração e dúvida, sem saber se
ligava novamente ou não. Mas foi apenas no terceiro dia que algo surgiu em
minha mente. Eram poucas as pessoas que possuíam o telefone do presidente
e nenhuma delas desligaria quando fossem atendidas, de modo que, o fato de
eu ter feito exatamente isso, poderia soar suspeito, mesmo que ninguém
tivesse retornado a ligação.
Desde então estou no meu limite, a frustração sendo substituída pelo
medo de não saber o que poderia acontecer.
Ainda assim consegui disfarçar para que ninguém desconfiasse. A
única que sabia era Stella, mas logo me arrependi de ter contado, já que ela
não parou de tocar no assunto desde então.
— Eu ainda não acredito que você o viu — disse ela baixinho enquanto
eu aproveitava o sono de Colin para cortar suas unhas, ele odiava o
barulhinho do cortador e se não fosse assim, seria impossível.
— Nem eu, mas a forma fria como me tratou foi prova suficiente de
que aquilo que tivemos um dia não existe mais.
— Bom, não dava para esperar outra coisa depois da forma como você
foi embora.
Sim, mas era difícil de acreditar que não existia mais nada entre nós, a
ponto de nos olharmos como dois estranhos.
Isso me machucava. Bem lá no fundo, eu ainda desejava viver aquele
conto de fadas.
— Eu sei que ele tem motivos para agir com indiferença, mas não é
fácil aceitar.
— E o John, nada? — Ela mudou de assunto tão subitamente que até
parei o que estava fazendo.
— Se antes de reencontrar Harry eu não sentia qualquer atração por ele,
imagine agora.
Apesar de extremamente bonito e charmoso, eu só via John como um
bom amigo.
Isso não queria dizer que eu havia tido uma vida de freira por todo esse
tempo. Após os dois primeiros anos, quando me dediquei exclusivamente à
gravidez e a aprender a ser mãe, eu comecei a sair e pensar em outras coisas
que não estavam ligadas ao meu filho.
Nessa época eu tomei meu primeiro grande porre e acabei beijando um
rapaz. Eu sequer me lembrava seu nome, mas nunca me esqueci do quanto
aquela experiência foi horrível. Mesmo pouco consciente do meu ato, senti-
me péssima por ficar comparando o pobre coitado com Harry.
Depois desse dia nunca mais beijei alguém influenciada pelo torpor do
álcool.
Mas minhas decepções não pararam por aí. Quando Colin fez dois
anos, saí com Stella e acabei ficando com um rapaz supergato e com uma boa
conversa.
Houve comparações também, é claro, achava que esse tipo de coisa era
normal, mas não foi tão ruim quanto da primeira vez, tanto que após três
encontros deixei o clima esquentar e transei com ele.
Foi estranho, eu me senti esquisita ao fazer aquilo com outra pessoa e
aprendi que não era o tipo de garota que conseguia separar as coisas. Foi
então que jurei a mim mesma que nunca mais faria sexo por sexo, que
enquanto não encontrasse alguém que chegasse ao menos um pouquinho
perto do meu coração, me contentaria com o vibrador que ganhei de Stella no
meu aniversário de vinte e cinco anos.
— Imagino que seja difícil esquecer um homem como nosso
presidente. — Stella suspirou de forma dramática, me fazendo rir e concordar
ao mesmo tempo.
— É, tenho que admitir que ele parece mais lindo do que nunca.
Foi minha vez de suspirar. Coisa que vinha fazendo muito nos últimos
sete dias.
Ter estado tão próxima a Harry, fez várias caixinhas que estavam bem
guardadas em minha memória se abrirem. Era como entrar num looping de
nostalgia que levava meus pensamentos ao passado.
Nosso primeiro encontro foi tão improvável, com Lion se tornando
nosso elo de ligação, Eleanor sendo Eleanor... Analisando friamente, eu me
apaixonei um pouco por ele naquela noite, por sua simplicidade, pela beleza
arrebatadora, mas, principalmente, pelo modo como ele pareceu me
compreender, enxergar que eu precisava de ajuda. Começou por aquela
mentira com relação a Lion, mas naqueles dois meses de convivência, ele me
ajudou de várias outras maneiras que nem eu mesma sabia precisar.
Harry era muito sensível e eu pedia a Deus que Colin herdasse essas e
outras qualidades dele, como o foco, a responsabilidade e o respeito com que
tratava as pessoas.
Nós podíamos estar separados, mas a minha admiração por ele não
havia mudado.
Terminei de cortar as unhas de Colin e cerquei a cama com mais
travesseiros, pois o danadinho amava dormir ali, mas rolava muito de um
lado para o outro e vivia enroscando as pernas em qualquer coisa.
Stella e eu descemos e fomos até a varanda, o lugar preferido de nossa
família.
— E como vão as coisas com Dan? — perguntei enquanto esticava as
pernas sobre o assento de uma cadeira.
— Bem, mas ele já viajou outra vez, disse que precisava comprar umas
peças para loja — respondeu sem olhar para mim.
— E qual é a desconfiança? — perguntei, sabendo que tinha algo mais.
Stella me olhou de rabo de olho e depois mordeu o lábio.
— A cidade não é tão grande assim, mas praticamente toda semana ele
se ausenta por uns dois dias com a desculpa de ir comprar peças ou outras
coisas para a loja, isso não faz sentido.
Realmente a loja de computadores de Dan era um ovo, mas eu também
conhecia minha amiga como a palma da mão.
— Você tem que parar de ser tão ciumenta, os homens odeiam isso —
falei e ela revirou os olhos.
— Ele não tem ideia do quanto essas coisas me incomodam, eu só falo
para você e sempre me arrependo depois.
Stella reclamava que eu sempre ficava do lado do Dan, mas ela era
muito insegura e eu não achava saudável alimentar isso.
— Amiga, se eu enxergar qualquer coisa estranha nas atitudes do seu
namorado, serei a primeira a falar, tudo bem?
Ela sorriu e encostou seu ombro no meu, mostrando que estávamos
bem.
Voltamos a conversar amenidades, mas alguns minutos depois três
carros pretos apontaram no início da alameda que levava à frente da mansão.
Eram duas SUV e entre eles estava um sedã preto, muito parecido com o que
tinha visto na comitiva de Harry.
Fiquei completamente gelada, muda, sem saber o que fazer ou pensar.
— Ah, meu Deus! — disse Stella quando viu os carros estacionando
em frente a casa.
Benito, que estava no jardim, mostrava-se nitidamente apreensivo. No
mínimo, tinha chegado a mesma conclusão que eu.
— Eu acho que é ele — admiti com um fio de voz.
— Será que tem alguma coisa a ver com aquela ligação? — perguntou
minha amiga, enquanto víamos dois homens, que imaginei serem do Serviço
Secreto, saírem do carro da frente, sendo imitados pelos que se encontravam
no carro de trás.
Dois dos agentes se separaram do grupo, indo cada um para uma das
laterais da casa para, muito possivelmente, verificarem a propriedade.
Enquanto isso, fiquei em expectativa esperando a porta do sedã preto
ser aberta para revelar Harry Stone.
Minutos depois vi os dois agentes que ficaram falarem algo em suas
escutas e, em seguida, abrirem a porta de trás do sedã.
Para minha surpresa, não foram pernas masculinas em calças feitas sob
medida e sapatos italianos que saíram de lá e sim um par de pernas longas,
cobertas por meias de seda e apoiadas em Louboutins pretos.
— Uau, mas essa não é a...
— Lexy — completei, ainda incrédula.
Ela ficou parada ao lado carro, olhando ao redor. Estava muito elegante
em um tailleur preto que se moldava perfeitamente ao seu corpo curvilíneo.
Parecendo satisfeita em olhar tudo que a cercava, voltou-se para a
varanda e nos fitou de forma incisiva.
— Será que ele está dentro do carro? — Stella perguntou baixinho e eu
dei de ombros, não sabia de nada.
Após falar com seus seguranças, Lexy seguiu Benito, que havia se
aproximado. De repente, o sorriso do homem se expandiu e imaginei que ela
havia elogiado alguma coisa.
Enquanto a bela mulher subia os degraus que levavam à varanda, Stella
permaneceu ao meu lado e dava para sentir que estava tão tensa quanto eu,
provavelmente se lembrando das inúmeras vezes que cogitamos a
possibilidade de Lexy estar por trás das ameaças.
Agora, trabalhando na Casa Branca, ela teria muito mais poder para me
destruir, se é que fosse mesmo a culpada.
O interessante era que, apesar da tensão, eu não estava com medo.
Tudo o que queria era saber se ela estava ali por si mesma ou a mando de
Harry.
Assim que parou à minha frente, Lexy me olhou de cima a baixo e
sorriu com afetação.
— Elizabeth Reagan — disse, pausadamente, como se tivesse ansiosa
por aquele momento.
— Lexy. Como vai?
— Não tão bem quanto você — revidou olhando além das portas
duplas para o lindo hall de entrada da casa de Joseph.
— Obrigada — falei, sem me deixar abalar. — Vamos entrar? — pedi
em seguida, educadamente, e ela nos seguiu até a sala íntima que eu
costumava usar como sala de leitura no inverno, já que possuía uma porta que
me isolava do restante da casa.
— É realmente uma bela propriedade — elogiou observando a
decoração de bom gosto.
— Não acredito que tenha vindo aqui para elogiar o lugar onde moro.
— Pelo visto continua tão esperta quanto antes.
E você, tão insuportável quanto sempre, pensei comigo mesma,
começando a me irritar com seus joguinhos.
— Na verdade, estou mais esperta e menos paciente, então, se não for
falar logo o motivo da sua visita, é melhor ir embora.
Ela deu um leve sorriso, mas assentiu.
Olhou para Stella, Benito e dois dos seguranças que a tinham seguido
para dentro e ordenou:
— Deixem-nos a sós.
No instante seguinte os homens se foram. Benito e Stella, por outro
lado, permaneceram no mesmo lugar, eles só sairiam dali se eu os
dispensasse.
— Está tudo bem, podem ir — garanti.
— Lizzie — Stella começou, mas eu a interrompi.
— É sério, Stella, eu vou ficar bem. Por que você não sobe? — sugeri,
lançando um olhar significativo para ela que na mesma hora entendeu e saiu
de lá, levando o pai junto e fechando a porta atrás de si.
Lexy caminhou pelo ambiente aconchegante, olhando todos os detalhes
e eu dei graças a Deus por não termos colocado fotos nossa nas áreas
comuns, não queria que ela tomasse conhecimento de Colin antes de Harry.
Fiquei observando seu desfile. Como sempre, parecia totalmente
confiante e aquela presunção que exalava dela me enervava.
— Como me encontrou aqui? — perguntei, queria acabar logo com
aquilo.
Ela parou próximo às portas que davam para a varanda lateral e depois
me fitou.
— Devia saber que ligar para o Presidente dos Estados Unidos e
desligar sem falar nada, além de não ser educado, é bastante suspeito.
Bom, eu não devia nem ter me surpreendido com sua visita depois do
que fiz. Como não pretendia mentir, dei de ombros e disse:
— Eu precisava falar com ele, aliás, preciso.
— Pode falar comigo, tudo passa por mim antes de chegar a ele.
Foi a vez de ela dar de ombros, demonstrando normalidade, como se
casos como aquele apenas fizessem parte do seu trabalho.
Fiquei com raiva de ela me tratar como uma questão qualquer.
— É um assunto pessoal que só diz respeito a nós dois — falei,
erguendo um pouco o queixo e a encarando.
Lexy suspirou.
— Ele não vai te receber, se quiser mesmo que a ouça, é melhor abrir o
jogo comigo. Dependendo do que me contar, eu a coloco no salão oval.
Soltei uma risada debochada.
— Eu fiquei bem quietinha por todo esse tempo, escondida para não o
atrapalhar, mas três anos se passaram, não dá mais para esperar. E lhe garanto
que, de um jeito ou de outro, Harry irá falar comigo.
Ela me avaliou com seus olhos astutos e ambas permanecemos em
silêncio por alguns segundos.
— Olha, Liz, eu sei que vocês estavam apaixonados, mas ele agora está
casado e prestes a tentar uma reeleição... Não acha injusto de sua parte sumir
por todos esses anos e agora, num momento decisivo, reaparecer? Eu,
sinceramente, acharia muito mais digno se o deixasse em paz, pelo menos
pelos próximos quatro anos.
Então era isso? Lexy tinha ido me procurar para se certificar de que eu
não iria atrapalhar a reeleição de Harry?
— Lexy, Lexy, não tente me enganar. Uma fonte segura me garantiu
que ele não é feliz no casamento. Só que isso realmente não me interessa,
meu assunto com ele não diz respeito a sua vida pessoal.
— Se não é para reconquistá-lo, não consigo imaginar que outro
motivo você teria para querer esse encontro; a não ser... — Ela parou, a
expressão indignada. — Não me diga que está pensando em extorqui-lo?! —
perguntou e havia um tom de decepção em sua voz que eu não entendi.
— Já disse que não é da sua conta, mas é do interesse dele.
Lexy me avaliou em silêncio, pesando cada uma de minhas palavras.
— Se fosse tão urgente assim, você me falaria. Se não o faz é porque o
assunto não é tão importante. Só que ao contrário de você, nós temos dezenas
de problemas com que nos preocupar todos os dias... Harry não pode perder
tempo com coisas inúteis.
Sorri de forma irônica.
— Pois é, você é tão ocupada que se deslocou de Washington até aqui
na primeira oportunidade. Acho que isso quer dizer alguma coisa, não acha
isso também?
Lexy estreitou os olhos e me olhou de cima a baixo novamente.
— Meu Deus, o que aconteceu com aquela Elizabeth doce que eu
conheci?
— Aquela garota simplesmente acordou e descobriu que não haveria
nenhum conto de fadas para ela e decidiu ser menos princesa e mais bruxa.
Lexy ficou muito séria, então, virou-se de costas e caminhou,
calmamente, até a porta. Antes de abri-la, voltou-se novamente para mim e
falou:
— Eu só espero que essa bruxa que há em você não volte a magoar
aquele homem de novo. Harry demorou muitos meses para se recuperar do
que você fez e, mesmo assim, nunca mais foi o mesmo. Não é justo de sua
parte voltar para infernizar a vida dele novamente.
Eu queria contestá-la, mas o que poderia falar? Ela, assim como
Dominic, viu como Harry ficou e falava com propriedade.
Só que ouvir mais uma vez sobre o quanto ele sofreu, abriu aquela
ferida latente que existia no meu coração e eu tive vontade de esquecer
aquele assunto e fingir que um dia tínhamos nos conhecido.
Mas isso era impossível quando em meio a toda essa confusão, havia
uma criança. Por isso, juntei-me o máximo que consegui e falei da maneira
mais indiferente que pude:
— Adeus, Lexy. Ah, e se ele decidir me ouvir, por favor, passe meu
endereço.
Àquela resposta, a assistente de Harry perdeu o rebolado por alguns
segundos, mas logo se empertigou, colocou os óculos escuros no rosto e saiu
sem falar uma palavra.
Quando a vi atravessar o hall e sair pelas portas principais, dei meia
volta e me sentei no sofá que tantas vezes me acolheu ali.
Eu sabia que estava brincando com fogo, mas não podia recuar. Em vez
disso, decidi que ligaria para Joseph a fim de deixá-lo a par de tudo o que
ocorreu nos últimos dias. Ele sempre sabia o que dizer e seus conselhos
seriam mais que bem vindos antes do confronto minente.
Fechei a porta de entrada da magnífica mansão e tirei meus óculos para
voltar a admirar o lugar onde me encontrava.
Quando eu poderia imaginar que aquele número desconhecido me
traria aqui?, pensei, realmente admirada, não pelo o local em si, mas por
quem morava nele.
No dia em que o celular de Harry tocou, eu achei que fosse engano,
afinal, discagem errada não era algo incomum. Entretanto, como era de
praxe, pedi à ANS que pesquisasse.
Essa primeira pesquisa nos levou a Joseph Holmes, um bilionário
aposentado de Washington.
Até aí tudo bem, um senhor de idade poderia facilmente ligar por
engano. Só que a agência não trabalhava com suposições e não deixava
pesquisas pela metade, por isso continuaram investigando até descobrirem
que a pessoa que usava aquele número se chamava Elizabeth Nichols e, isso,
sim, foi intrigante.
Não podia ser coincidência que Elizabeth Reagan tivesse reaparecido
em um dia e, dois dias depois, outra Elizabeth tivesse ligado no celular
particular de Harry.
Pedi então que eles tentassem encontrar outros dados dessa mulher,
mas não foi fácil, ela não tinha cartões de crédito, nem conta em banco e isso
só podia significar que não queria ser encontrada.
Esse fato me deixou ainda mais curiosa e bastante cautelosa também.
Havia uma razão para aquilo e não seria eu a denunciá-la. Por isso, pedi
discrição e não falei das minhas suspeitas; ninguém da ANS ou Serviço
Secreto tinha conhecimento do namoro de Harry com Liz, e preferi que
continuasse assim.
Enquanto eles procuravam pelo endereço, eu fui atrás do arquivo
pessoal da Srta. Reagan, juntado na época da campanha, que continha
absolutamente tudo relativo a ela. E, lá estava o Nichols como nome de
solteira de sua avó paterna.
Para mim, não havia mais dúvidas e após pensar por dois dias, decidi ir
atrás dela; queria saber como tinha conseguido aquele número e, o mais
importante, quais eram suas intenções. Precisava me certificar de que essa
volta repentina não causaria problemas a Harry.
E eu nem me referia ao lado político e sim ao pessoal.
Há muito tempo ele tinha decidido tirar Elizabeth de sua vida, nos
proibindo inclusive de tocar em seu nome, e se agarrou ao trabalho para não
pensar nela e não era justo que ela voltasse do nada, apenas para fazê-lo
sofrer novamente.
Harry sempre fora muito assediado, não apenas por ser quem era, mas
porque possuía o charme típico dos homens da família Stone que deixava as
mulheres aos seus pés, o que lhe rendeu vários casos, lindas mulheres do
mundo inteiro se renderam aos seus encantos, mas foi Elizabeth, com seu
jeito peculiar, quem conseguiu as chaves de seu coração.
Mas isso também teve um alto custo. Por causa de sua fuga, meu amigo
se tornou outra pessoa. O homem afetuoso dera lugar a um protótipo de robô,
que não se afeiçoava a ninguém. Harry agora vivia para trabalhar, bebia
muito e tinha casos extraconjugais, coisa que jamais imaginei que ele pudesse
fazer.
Claro que isso só acontecia porque sua esposa era Catherine. Ela podia
se vangloriar por ter casado com Harry, mas não por ter conquistado seu
coração.
Eu ainda me repreendia por ter permitido tal loucura, mas na época ele
estava com raiva de mim, me culpando pela fuga de Elizabeth e pouco pude
opinar.
Óbvio que eu não podia negar que Cathy era a melhor opção para o
cargo de primeira-dama, mas todo aquele teatro que eles faziam em frente às
câmeras me incomodava e eu sabia que o mesmo acontecia com Harry.
Ele não era feliz, só que após aquela desilusão, focou em seu sonho e
sua sede por poder o fazia se contentar com um casamento frio e mecânico.
Eu me culpava por isso.
Não tinha certeza se as atitudes de Elizabeth se deram por causa da
pressão que eu e Cathy fizemos em cima dela, mas era bem possível.
Contudo, eu não estava muito convencida disso. A Liz que nos recebeu
aquele dia na cobertura não parecia o tipo que usava de subterfúgios. Mas
toda vez que eu tentava levantar alguma hipótese, Harry me cortava. Ele
quase foi à loucura tentando encontrar outra razão para aquela fuga
intempestiva, mas, por fim, acabou se apegando aos motivos descritos na
carta e acreditando neles.
Eu, por outro lado, me negava a crer que uma mulher que tinha Harry
Stone nas mãos, o deixaria por um motivo tão banal.
Foi por isso que resolvi ficar cara a cara com ela, para tentar descobrir
o que queria e, quem sabe, poupar meu amigo de mais sofrimento.
Porque Harry poderia enganar a todos, menos a mim, que o conhecia
desde criança. Esse reencontro balançou suas estruturas, ele andava arredio e
quando não sabia que estava sendo observado, deixava alguns muros caírem
e nessas horas era possível ver que por trás da raiva que usou como escudo
por todos esses anos, havia muita fragilidade.
Ele estava dividido entre mantê-la longe e a confrontar, e isso estava
sendo exaustivo. Eu queria ajudá-lo, mas também, de certa forma, me
redimir. Queria escutar que Elizabeth não tinha ido embora por causa de
mim, queria saber que não fui eu quem causou todo aquele sofrimento em
Harry e, quem sabe, ajudá-lo.
Então, ali estava eu.
Não poderia dizer que havia sido malsucedida, mas o encontro também
não foi uma maravilha e nem esperava que fosse. Já sabia que não seria bem
recebida, mas aquela Liz não se parecia em nada com a que conheci quatro
anos atrás.
Deu para ver que ela estava tensa, mas eu era esperta o bastante para
notar que ali não havia apenas ansiedade, mas uma boa quantidade de temor
também.
Ainda assim, ela não abaixou a cabeça, pelo contrário, me desafiou,
demonstrando que realmente não era mais a mesma.
A mulher que me recebeu era bem mais decidida, cínica, com respostas
afiadas e sarcásticas, muito parecida com o novo Harry.
Isso me fez questionar: por que uma garota que largou tudo para viver a
vida que sempre sonhou, se tornou tão dura?
Nessa hora eu percebi que estava certa. Havia mais nessa história e eu
sentia muito por saber que ela não confiaria em mim.
Mas não a culpava, se estivesse em seu lugar, eu sequer me receberia.
Por isso insisti até certo limite, especialmente quando percebi em seu
tom que ela estava determinada a se encontrar com Harry e algo me dizia que
ela realmente não queria desenterrar assuntos passados — embora isso tenha
acontecido a partir do momento em que reapareceu. Também não parecia
estar blefando quanto a importância da conversa, havia muita seriedade em
sua atitude.
Isso me deixou preocupada e para que ela não notasse, resolvi dar
aquele encontro por encerrado.
Voltei a colocar os óculos de sol e me encaminhei ao carro, mas
estaquei quando ouvi um latido seguido de uma risada infantil.
Minha curiosidade foi às alturas.
Acenei para os homens do Serviço Secreto pedindo que esperassem e
dei a volta na casa a fim de investigar. Era uma atitude bem típica de gente
enxerida, mas quem se importava? Elizabeth me deixara com uma pulga atrás
da orelha e se eu não conseguiria informações dela, teria que ir atrás por mim
mesma.
Caminhei calmamente, passando por incontáveis janelas, até chegar à
parte de trás da propriedade. De onde estava, vi uma senhora brincando com
um cachorro caramelo enorme e um menino que devia ter entre três e quatro
anos, com cabelos escuros e vestindo jardineira jeans com camiseta branca.
Como estava de costas, não pude ver seu rosto, mas imaginei que fosse
filho da amiga de Elizabeth e isso era algo que não me interessava.
Estava prestes a me virar para ir embora quando a senhora arremessou
a bolinha na direção de onde eu estava e tanto o menino quanto o cachorro
foram atrás dela.
Assim que vi seu rosto, meus olhos se arregalaram, minhas pernas
ficaram moles e foi com muito custo que segurei o arquejo que me subiu pela
garganta.
Continuei olhando para o garoto, para a forma como os cabelos
castanhos destacavam a pele clara, as bochechas rosadas e os olhos azuis que
encaravam a bolinha de forma decidida.
Foi impossível não me lembrar do garotinho que corria atrás de mim
aos quatro anos de idade e naquela hora ou soube: Harry tinha um filho!
Então era esse o assunto que Elizabeth tinha para tratar com ele.
— Meu Deus! — sussurrei, quando outra ideia surgiu.
Será que foi por isso que ela desapareceu? Porque estava grávida?
Mais uma vez a culpa começou a tomar conta de mim. Eu não queria
acreditar que tinha fugido por causa das coisas que falei, mas se tivesse sido
por causa disso, Harry iria querer me matar novamente.
Eu estou muito ferrada.
Só que não podia pensar apenas em mim. Se essa criança fosse mesmo
filho de Harry, e eu apostava todas as minhas fichas nisso, como seria o
impacto dessa notícia na vida dele? De todos eles.
Cathy tinha um problema hormonal e não havia conseguido dar filhos a
Harry. Por causa disso, vinha insistindo na ideia de eles adotarem uma
criança.
Já Harry, deixou mais do que claro que não queria filhos.
Mas com essa novidade, as coisas mudavam completamente.
Qual seria a reação de ambos ao saber que Harry teve um filho com
Elizabeth, a única mulher a quem amou?
Foi impossível não imaginar a dor que ele sentiria pelos anos de
convivência que foram roubados dele e também da criança.
Elizabeth teria muito a explicar e do jeito que se mostrava agora, eu
tinha certeza de que seria uma briga digna de ingressos, porque Harry não
deixaria por menos e ela não se intimidaria.
Antes que fosse pega espionando, voltei para o carro e ordenei que
fôssemos embora. Mas minha cabeça continuou lá, e quanto mais eu pensava,
mais coisas deixavam de fazer sentido.
Eu sabia bem o que tinha feito, em contrapartida, mesmo sendo nova e
em muitas coisas, ingênua, Elizabeth jamais fugiria sem ter uma grande
motivação.
Na época em que eles namoraram, a garota estava visivelmente
apaixonada e determinada a enfrentar quem quer que fosse para poder ficar
com Harry e eu não conseguia ver essa mulher indo embora porque estava
grávida.
Não, tinha mais coisas nisso aí e estar no escuro me deixava irritada.
Cheguei ali com o intuito de descobrir o porquê de Elizabeth ter ligado
para Harry, achando que estava interessada em se reaproximar por motivos
românticos. Mas era muito pior.
A reeleição dependia dela e do que ela faria com essa informação.
Por outro lado, se seu desejo fosse prejudicá-lo, não precisaria ter
esperado todo esse tempo e muito menos ter entrado em contato com ele. E,
pela forma como estava vivendo, não achava que tinha a ver com dinheiro.
Então, que diabos Elizabeth Reagan almejava ganhar com isso?!
A única coisa que eu sabia era que se ela jogasse essa notícia na
imprensa, seria o fim da vida política de Harry Stone.
Meu dia tinha começado intenso, com várias especulações a respeito da
minha reeleição. Tudo isso devido a uma nota que saiu no Washington Post,
citando que uma fonte anônima, porém, confiável, havia garantido que ainda
naquela semana eu anunciaria minha candidatura.
E por mais que eu quisesse desmentir essa fonte, a verdade era que,
faltando apenas dez meses para as eleições, isso precisava ser corrigido,
afinal, todos queriam saber minha posição.
A sala de imprensa estava lotada, nosso porta-voz, a postos,
aguardando instruções e eu sentia que havia chegado a hora.
Por isso, comuniquei a todos que eu mesmo faria o pronunciamento.
Allen não ficou muito feliz, estava segurando a notícia por todo esse
tempo como parte de uma estratégia, mas eu não aguentava mais dizer meias
verdades.
Procurei por Lexy, mas minha secretária informou que ela ficaria fora o
dia todo, o que foi estranho, ela normalmente me informava esse tipo de
coisa.
Bom, com ou sem ela, eu resolveria aquele assunto.
Encontrei-me com Blake e ambos nos dirigimos à sala de imprensa,
que ficou em polvorosa.
Meu pronunciamento foi breve. Apenas confirmei os rumores e afirmei
que como tinha muito trabalho a fazer, deixaria que Blake respondesse às
perguntas.
Voltei ao Salão Oval e fui ler alguns pontos do documento que tratava
de uma parceria entre Estados Unidos e Brasil, cujo embaixador estava
prestes a chegar.
Assim que consegui me concentrar, Cathy entrou em minha sala. Era a
única que podia fazer isso sem ser anunciada — um pedido dela para,
obviamente, fazer as coisas parecerem mais reais.
Respirei fundo, odiava ser interrompido daquela forma.
— Quer dizer que estamos, oficialmente, em campanha — disse ela, já
a par do pronunciamento.
— Sim, estamos em campanha — confirmei, levantando-me de minha
cadeira e me acomodando no sofá.
— Ótimo, porque eu queria tratar de um assunto — disse ela, sentando-
se elegantemente a minha frente.
— Pode falar, mas seja breve, tenho uma reunião importante em alguns
minutos.
Ela assentiu e se ajeitou no assento, parecendo nervosa.
— Eu sei que Duncan já conversou sobre isso com você, mas agora que
sua candidatura está confirmada, resolvi falar eu mesma do assunto.
Levantei uma sobrancelha, encorajando-a a continuar.
— Harry, nós precisamos de um filho.
Suspirei, sabia que em algum momento ela tomaria coragem e iria tocar
nesse assunto.
— Não — falei, impassível.
Ela crispou os lábios, mas logo voltou a argumentar.
— Seu maior oponente tem uma família de comercial de margarina.
Não consegue perceber o quanto pode ser problemático?
— Cathy, contra todas as probabilidades, eu ganhei uma eleição aos 35
anos, sem ter uma vida política pregressa e muito menos filhos e, ainda
assim, tenho feito um ótimo governo, acredito que podemos repetir a dose.
Minha esposa me encarou com dureza e até um pouco de raiva e eu não
soube se aquilo estava dirigido a mim ou a si mesma.
Não poder gerar os próprios filhos era algo que a incomodava muito,
mas ela nunca falava do assunto. Apenas uma vez, no início do nosso
casamento, perguntou se eu cogitaria adotar uma criança e quando eu disse
não, ela não tocou mais no assunto.
Por isso, o fato de ela insistir nesse assunto me chateava. Catherine não
fazia o tipo maternal e, quando estávamos sozinhos, reclamava das crianças
que sujavam seus vestidos de grife.
Então, por mais que eu simpatizasse com a ideia da adoção por parte de
casais que não podiam ter filhos, não achava que isso deveria ser feito por
pessoas inaptas como nós no que se referia a crianças, que não se amavam, e,
pior, que só se casaram para conseguir um propósito.
— Então você não quer mesmo? — perguntou, encarando meus olhos.
— Não, eu não quero. E gostaria que não tocasse mais nesse assunto.
Ela engoliu a vontade de replicar e se levantou, saindo em seguida, tão
silenciosamente quanto entrou.
Balancei a cabeça.
Cathy às vezes parecia uma criança mimada e enfezada por não ter
conseguido um brinquedo novo.
Ela se preocupava tanto com sua imagem que seria mesmo capaz de
adotar uma criança apenas para ficar bem como nosso eleitorado. Ela sabia
que algo assim poderia angariar muitos votos. Todavia, eu jamais permitiria
que uma criança inocente fosse usada para esse fim.
Deixei meus problemas com Cathy de lado e fui terminar de ler o
documento, antes que o embaixador chegasse.
Por volta das 16h30, quando voltava da última reunião do dia, minha
secretária informou que Lexy estava me esperando.
Ao entrar no Salão Oval, vi-a em frente a uma das janelas, observando
o imenso jardim.
— Espero que tenha um bom motivo para ter me deixado na mão em
um dia tão atribulado — falei sem qualquer cerimônia.
Lexy se virou lentamente e ficou me observando, mas não como de
costume.
Ela sempre estreitava os olhos antes de me dar uma boa resposta ou se
empertigava dentro de suas roupas elegantes, mas naquele momento sua
postura era completamente diferente. Meio apática, triste.
— Eu tinha um assunto pessoal para resolver, não dava para cancelar.
Mesmo antes de irmos para a Casa Branca, não me lembrava de Lexy
já ter se ausentado para ir resolver assuntos pessoais. Ela era muito
responsável, especialmente com o cargo de confiança que lhe dei. Por causa
disso, imaginei que deveria ser algo muito importante.
— Posso ajudar em alguma coisa? — perguntei, intrigado com seu
jeito.
— Não — respondeu apenas.
Vendo que ela não me daria pistas, falei:
— Espero que tenha resolvido tudo.
— Ainda não, mas vai dar tudo certo — disse vagamente.
— Ótimo. — Se ela não queria me contar, eu não insistiria. — Imagino
que já esteja sabendo da novidade — falei para mudar de assunto.
Ela franziu o cenho antes de balançar a cabeça.
— Eu ouvi no rádio. Allen me disse que isso aqui está uma loucura
hoje.
— Sim. Parece que o dia não vai acabar mais.
— Há algo que eu possa fazer para amenizar as coisas?
— Eu dou conta — garanti e fui me sentar em minha poltrona.
Lexy assentiu e caminhou em direção à porta, mas então parou e se
voltou para mim de novo.
— Você realmente não tem mais curiosidade de saber o que levou
Elizabeth a fazer o que fez?
A pergunta repentina me deixou sem palavras por alguns segundos,
mas logo me recuperei e tive que me segurar para não explodir.
— De novo esse assunto? Achei que tivesse deixado as coisas bem
claras na última vez que conversamos.
— Eu sei, mas desde que ela reapareceu estou curiosa para saber o que
houve de verdade. Você não quer mesmo tirar essa história a limpo?
— Eu coloquei o mundo aos pés daquela mulher e mesmo assim ela foi
embora, acho que isso responde sua pergunta.
Eu não sabia por que estava me dando ao trabalho de responder, só
poderia supor que havia uma parte masoquista em mim que precisava
relembrar aquela dor de vez em quando.
Ainda bem que eu era guiado pela razão e não havia qualquer outra
parte que se sobressaía a isso.
— Pois eu acho que é aí que está sua pergunta — ela retrucou,
deixando-me confuso.
— Como assim?
— Que mulher tem o mundo aos seus pés e o coração de Harry Stone
nas mãos e, mesmo assim, vai embora?
Desviei o olhar e mexi em alguns papeis que estavam sobre a mesa,
tentando me acalmar para não ser grosseiro.
— Uma mulher que preferia sua liberdade a qualquer outra coisa.
Lexy abriu a boca para continuar o assunto, mas meu olhar a calou.
— Tudo bem, Harry, vou te dizer só mais uma coisa e te deixo em paz.
Eu acho que antes de embarcar em mais uma corrida presidencial, deveria ir
atrás dela e ter uma conversa sincera. Você já realizou seu maior sonho e,
mesmo assim, não foi o suficiente. Ainda que ganhe as eleições outra vez,
sempre vai ficar faltando algo. O poder do seu cargo não vai alimentar sua
alma para sempre, você precisa de muito mais do que isso, sempre precisou e
eu queria muito ter enxergado antes.
— O que é, Lexy, está querendo aliviar a culpa que carrega?
— Também. Só que o mais importante é que, embora não queira
admitir, você sabe que pode ter conquistado muita coisa, mas não conseguiu
ser feliz — afirmou com propriedade e eu não pude contestar. — Não deixe a
raiva continuar te cegando, você tem a oportunidade de mudar as coisas ou,
pelo menos, tirar as dúvidas que ainda estão em seu coração. Talvez assim
consiga seguir em frente de verdade.
Após despejar todas essas palavras, ela saiu, me deixando sem saber o
que pensar.
Mesmo que Lexy tivesse alguma razão no que estava falando, meu
orgulho ainda estava ali, mais forte do que nunca, sempre me lembrando do
que aconteceu e não me deixando fraquejar.
Além disso, tinha meu coração, ainda magoado, que sabia exatamente o
que poderia acontecer caso ela voltasse para a minha vida.
Estar à frente dos Estados Unidos e casado com Cathy era, de certa
forma, um escudo, uma barreira que impus a mim mesmo para ficar longe de
algo que poderia me machucar outra vez.
Elizabeth foi a única mulher que me teve por inteiro e, mesmo assim,
me descartou sem dó nem piedade. E por mais vontade que tivesse de
confrontá-la, não lhe daria a oportunidade de me quebrar novamente.
Uma semana se passou e nada de Harry entrar em contato.
Eu só podia supor que, ou Lexy não lhe dera meu recado, ou ele
preferiu ignorar, e ambas as opções me deixaram chateada.
Claro que também havia a possibilidade de Lexy estar achando que
tinha conseguido me intimidar com sua visita, mas não estaria mais longe da
verdade, eu continuava decidida a seguir em frente.
Terminei o esboço de uma tela e resolvi ligar para Zara, pelo visto, ela
seria minha única aliada naquela história toda.
— Zara Sullivan — ela atendeu, altiva.
— Oi, Zara, é a Liz.
— Olá, querida.
— Desculpe o incômodo, mas queria conversar com você, se não
estiver ocupada.
— Não estou e não há incômodo algum. Agora me diz, como estão as
coisas?
Respirei fundo, pronta para contar tudo o que aconteceu.
— Eu liguei para ele na segunda-feira, mas quem atendeu foi a Lexy.
Zara suspirou.
— Ela continua sendo a sombra dele, é quase impossível ver Harry
sozinho. Mas você falou com ela?
— Não, fiquei nervosa e desliguei.
— Entendo. Bom, devo te alertar que é bem provável que estejam atrás
de você, todos os números que ligam para nós, especialmente os
desconhecidos, são rastreados. O Serviço Secreto faz isso por questões de
segurança, estão sempre em busca de possíveis ameaças, essas coisas.
— Foi exatamente isso que aconteceu — confessei. — Ela apareceu em
minha casa alguns dias depois.
— Hum e o que ela queria?
— Bisbilhotar e se certificar de que eu não iria melar a campanha de
Harry.
— Bem típico de Lexy bancar o cão de guarda.
— Mas eu não baixei a bola para ela. Falei que precisava conversar
com Harry e por mais insistente que tenha sido, deixei claro que o assunto era
entre mim e ele.
— Ela não deve ter gostado nada disso.
— Certamente que não. Mas já tem uma semana e nada, ele não
telefonou ou apareceu. É por isso que estou te ligando, Zara, preciso de sua
ajuda.
— Eu estou aqui, Liz, sempre estive.
Era tão bom saber que eu ainda podia contar com ela. Zara foi uma das
poucas pessoas em quem confiei logo de cara e mesmo após minha fuga, ela
continuava me apoiando.
— Por enquanto eu não posso te contar tudo o que aconteceu, mas
quero que saiba que você tinha razão quando disse que houve um motivo para
eu ir embora. Foi algo muito sério e agora, quatro anos depois, decidi contar
tudo a Harry.
— Não sabe como fico aliviada em saber que não te defendi em vão —
ela brincou e nós duas rimos.
— Obrigada, Zara, acho que você foi a única que não me julgou...
— Há muito tempo eu aprendi a olhar os dois lados de uma situação
antes de fazer julgamentos. Mas estou curiosa com relação a uma coisa. Por
que agora?
— Na época, eu quis falar para ele, mas aconteceram tantas coisas, que
perdi a coragem e fugi. Desde então eu sofri muito, devido a culpa por tê-lo
deixado daquele jeito e à saudade, que acabou me levando a uma depressão,
enfim, tudo isso me fez amadurecer e apesar de ainda ter medo, sinto-me
forte o suficiente para expor as razões que me levaram a largar tudo e esperar
que ele resolva a situação. E isso só será possível com a sua ajuda.
— Entendi. Isso quer dizer que você não espera que tudo volte ao que
era antes?
Fiquei calada, sem saber o que responder.
Eu ainda o amava? Com certeza. Nada do que ocorreu mudou meus
sentimentos. Mas esperar que ele largasse tudo por causa de mim, de nós,
seria pedir demais, mesmo que esse fosse o meu desejo.
— Eu não vou mentir e dizer que o esqueci, Zara, porque acho que isso
nunca vai acontecer. Mas não quero me iludir pensando que Harry vai relevar
o que eu o fiz passar e recomeçar de onde paramos. Há coisas demais em
jogo e seria ingenuidade minha acreditar nisso.
— Eu te entendo, de verdade, mas preciso que saiba de uma coisa.
Harry pode até estar realizando o sonho de sua vida, mas feliz ele não está.
Quem é de fora não percebe, porque em Washington você é obrigado a atuar
de acordo com a cartilha, ou faz isso ou é engolido pela oposição. Mas quem
está por perto sabe que muito daquilo é fingimento e, infelizmente, estamos
todos no mesmo teatro.
— Eu realmente sinto muito por tudo isso, mas não vou me impor. Ele
teve tempo e recursos para me encontrar e não o fez. Mesmo agora, quando
eu quis conversar, agiu como se não me conhecesse. Então,
independentemente de quais sejam nossos sentimentos, vou me limitar a
contar o que sei e Harry vai decidir o que fazer — falei com sinceridade.
— Você está certa. E, fique tranquila, vou pensar em um jeito de fazer
esse encontro acontecer.
Só de ouvi-la falar isso, já senti um enorme frio na barriga.
— Assim que conseguir esquematizar alguma coisa, eu ligo para avisar
— garantiu.
Agradeci novamente e finalizei a chamada. Fui até a parede de vidro
que dava para o jardim e respirei fundo tentando me acalmar. Sentia que as
coisas estavam prestes a mudar; com a ajuda de Zara esse encontro iria
acontecer e o jogo viraria de direção.
Restava saber o que Harry faria quando estivesse com o tabuleiro nas
mãos.
— Com quem estava falando todo esse tempo? — perguntou Stella,
entrando no ateliê.
— Com a Zara, ela vai tentar me conseguir um encontro com Harry.
— Ah, que notícia boa, acho que finalmente as coisas vão se ajeitar —
disse, otimista.
— Eu não consigo ter toda essa certeza, amiga. Tenho medo desse
novo Harry.
— O que você acha, que ele vai te dispensar?
— Isso eu tenho quase certeza de que vai acontecer e já estou
preparada. Meu medo é que despreze Colin. Se ele fizer isso, não sei o que
serei capaz de fazer.
— Se ele fizer isso, você vai continuar a sua vida, com todos nós ao seu
lado, mas sem a culpa de ter escondido Colin por todos esses anos.
— Mas isso é tão injusto...
— Olha, Liz, eu sei que resolveu fazer isso agora mais por causa do seu
filho do que por Harry e concordo com você, Colin merece conhecer o pai,
merece a chance de conviver com ele, de tê-lo como modelo, mas isso só será
bom se Harry o aceitar incondicionalmente, sem meios termos.
— Verdade, mas é tudo tão incerto, não sei o que esperar dele.
— Você deve esperar que ele assuma Colin e lide com as
consequências disso. Não sei se isso significa que vai desistir da reeleição ou
pagar para ver o que acontece, só sei que você vai fazer a sua parte. Caso
Harry resolva ignorar a existência do filho, você vai tocar sua vida pra frente
sem precisar se preocupar com quem nos ameaçou.
— E se ele o assumir, vamos ter que andar cercados de guarda-costas
— concluí.
— Sim, pelo menos até eles descobrirem o culpado.
Assenti e depois que ela se foi, voltei para o meu quadro, mas
permaneci atenta ao meu celular, esperando pelo telefonema de Zara.
Entre uma pincelada e outra, fiquei tentando adivinhar o que iria
acontecer dali para frente. Uma coisa era certa: o mundo de Harry Stone
viraria de cabeça para baixo com o que eu iria revelar. E embora tivesse
receio de sua reação, a decisão já estava mais que tomada, tudo o que me
restava era rezar para que não fosse tão ruim quanto eu supunha.
Mas não me animaria demais. Tinha certeza de que ele estava tão ferido
quanto eu e minha esperança era de que quando soubesse da existência do
filho, ao menos um pouco de sua raiva aplacasse e Harry me desse o
benefício da dúvida quanto às atitudes que tomei. Esperava que conseguisse
enxergar o quanto sofri, o quanto tive que renunciar e tudo pelo que passei
nos últimos anos para que pudesse estar no poder.
Ainda assim, tinha consciência de que seria doloroso e, no mínimo,
embaraçoso para todos nós, especialmente depois da forma como ele me
tratou.
Harry tinha uma nova vida, uma esposa, entre outras coisas, mas
preferia acreditar que sua essência não tinha mudado, que aquele homem
carinhoso ainda existia.
Pensar nisso me fez lembrar das vezes em que fizemos amor; foram
poucas, mas tão intensas, que se fechasse os olhos podia sentir seu corpo
sobre o meu. Eu tinha a impressão de que foi a lembrança dos seus beijos, ora
ternos, ora ardentes, que me ajudou a seguir em frente...
Ao mesmo tempo, doía demais relembrar uma época em que fui tão
amada, mas eu tive que me acostumar, afinal, era só olhar para Colin que a
imagem de seu pai surgia, sem pedir licença.
Será que Harry também destinara alguns de seus pensamentos a mim,
ou sua raiva sobrepujou qualquer lembrança boa? Isso era algo que me
questionava sempre que a saudade aumentava.
Também não foram poucas as vezes que imaginei como teria sido se eu
não tivesse fugido. A verdade era que mesmo depois de todos esses anos,
aquela vontade de ser primeira-dama não floresceu em meu coração. Eu
queria Harry e aceitaria o que tivesse no pacote, mas se pudesse escolher,
preferiria uma vida comum.
Quer dizer, o mais comum que a esposa de um dos homens da família
Stone poderia ter.
O dia acabou sem ter notícias de Zara, mas não me preocupei. Sabia
que ela não me deixaria na mão.
Quando fui me deitar, acabei deixando Colin dormir comigo, esperava
que seu cheirinho ajudasse a dissipar um pouco daqueles pensamentos.
Na manhã seguinte, fiz o de sempre: tomei o café da manhã com minha
família e fui pintar, entretanto, preferi ir para a beira do lago, algo que não
fazia há um bom tempo. Peguei uma maleta com todo o material que iria
precisar, assim como uma tela em branco e Benito levou o cavalete.
— Precisa de mais de algo mais? — perguntou ele.
— Não, mas qualquer coisa eu ligo — falei, mostrando meu celular.
— Tudo bem, quando terminar eu venho pegar as coisas.
— Obrigada.
Quando ele se afastou, caminhei até o deck e olhei para todos os lados,
procurando um ângulo que me inspirasse.
Assim que encontrei um, peguei o cavalete, montei no local apropriado
e após escolher as cores, comecei a pintar, sem esboço algum, apenas me
deixando levar.
Não percebi o tempo passar, mas sabia que a manhã já estava quase
acabando porque o sol ficava mais quente a cada minuto.
Não me importei, quando pintava eu não sentia fome ou sede, era como
se a criatividade me alimentasse. Além disso, sabia que em breve Consuelo
mandaria Benito levar algo para eu comer e beber, então, apenas continuei.
Estava tão envolvida em minha tarefa que levei um susto quando o
telefone começou a vibrar em meu bolso e senti um enorme frio na barriga
quando vi o nome de Zara piscando na tela.
Respirei fundo e atendi:
— Bom dia, Zara.
— Bom dia, Liz, desculpe por não ter ligado antes, mas só consegui
falar com Harry hoje e não tenho boas notícias.
— O que foi.
— Ele está irredutível, nem mesmo Blake conseguiu convencê-lo.
Ao ouvir isso, aquele frio na barriga se transformou em uma pedra de
gelo que pesou e esfriou tanto meu estômago, que chegou a queimar.
Eu sabia que seria difícil falar com ele, mas não imaginei que o teimoso
fosse me ignorar de forma tão dura.
— Você disse que eu quero explicar o motivo de ter ido embora
daquele jeito?
— Sim. Aproveitei que Blake tinha umas coisas para resolver com ele e
fui junto. Mas quando soube o teor do assunto, se alterou na hora, disse que
não tinha nada para falar com você e, no final, pediu a Blake que não tocasse
mais no seu nome.
Engoli o nó que se formou em minha garganta e continuei firme. Não
iria me desmanchar em lágrimas só porque Harry estava se fazendo de durão.
— Acho que seria esperar muito que ele aceitasse esse encontro com
tanta facilidade.
— Eu posso tentar fazer um jantar lá em casa. O problema é que
Catherine irá acompanhá-lo, então, não sei se seria uma boa opção.
— Não, com certeza não seria. Eu preciso conversar com ele a sós.
— Então temos que pensar em outra coisa.
— Obrigada, Zara, mas eu sei de uma forma que o fará vir até mim.
— Então por que não fez isso antes?
— Porque é algo que vai contra a minha índole, mas como ele quer dar
uma de ofendido mesmo após todos os meus esforços, acho que vou ter que
descer um pouco o nível.
— Está me assustando, Liz.
— O que tenho para falar pode destruir as chances de uma reeleição,
por isso, se ele não quiser conversar comigo, eu vou aos jornais, eles, decerto,
vão querer escutar minha história.
O silêncio que se estendeu me deixou preocupada, não queria que ela
pensasse que eu era uma vigarista qualquer, só estava fazendo aquilo porque
não havia outro jeito de chamar a atenção daquele homem.
— Uau, você deve ter uma bela carta na manga — comentou,
parecendo impressionada.
— Sim, eu tenho. Então, por favor, diga a ele que se não aceitar se
encontrar comigo, em poucos dias verá uma bela história na primeira página
do Washington Post — falei, irritada, e Zara deu uma gargalhada.
— Vou adorar dar essa notícia a ele, ligo quando tiver novidades.
— Meu Deus! — murmurei assim que desliguei o celular.
Apertei o aparelho contra o peito e estremeci ao me dar conta da
gravidade do meu ato.
Eu tinha acabado de fazer uma ameaça direta ao Presidente dos Estados
Unidos.
Fechei os olhos e respirei fundo.
Sorte a minha que eu era mãe do filho dele, ou as coisas poderiam se
complicar muito para o meu lado.
— A Sra. Sullivan está aqui para falar com o senhor — disse minha
secretária e não pude acreditar que um dia depois de lhe dizer que não queria
nem ouvir falar sobre aquele assunto, Zara estava ali novamente.
E eu a conhecia bem demais para me enganar achando que ela queria
tratar de outra coisa, então, não iria me iludir.
O problema era que eu ainda estava bem irritado pelo fato de ela e
Blake terem marcado um horário para tentar me convencer de encontrar
Elizabeth. Era um absurdo que meu vice-presidente estivesse compactuando
com aquilo, mesmo sabendo que estávamos prestes a brigar pela reeleição.
Por quase 20 minutos eles me falaram o quanto ela precisava falar
comigo e que eu deveria lhe dar uma chance para explicar os motivos pelos
quais foi embora.
Só que, mesmo não tendo um relacionamento dos sonhos com minha
esposa, eu não poderia dar brecha para que Elizabeth me enredasse outra vez.
Há alguns anos eu estaria ansioso para ouvi-la e ajudá-la no que fosse
preciso, mas agora, após tanto tempo, após tê-la visto, eu já sabia como meu
coração se comportaria em sua presença e seria burrice dar sorte ao azar.
Por isso, deixei claro para os dois que Elizabeth fazia parte do meu
passado e que era lá que ela deveria ficar, não havia nada que pudesse
justificar todo o sofrimento que me fez passar quando foi embora deixando-
me apenas uma carta como explicação.
Zara foi mais insistente e eu só não perdi a paciência porque ela era
uma pessoa da minha extrema confiança, sem contar que era mulher do meu
grande amigo. Contudo, sabia que não conseguiria ser tão polido como no dia
anterior. Essa história estava tirando a minha paciência.
Assim que ela passou pela porta e me encarou, percebi uma confiança
que não estava ali no dia anterior.
— Seja breve, Zara, tenho um compromisso em 10 minutos.
— Não se preocupe, antes de dez minutos eu termino o que vim falar.
Assenti e continuei sentado, fazendo o possível para me manter
impassível.
— Quando minha governanta me falou de Elizabeth pela primeira vez,
eu logo fiquei curiosa para saber quem era aquela garota especial que tinha
uma megera como mãe. E desde que a conheci, no baile providenciado por
mim, eu soube que ela era a mulher certa para você, então, por mais que
esteja com o coração cheio de ódio e mágoa, lembre-se de como Liz era, de
sua personalidade e valores, ela jamais iria embora sem ter um bom motivo, e
agora que está disposta a contar o que aconteceu, você deveria ouvir.
Mesmo não querendo, as palavras de Zara me fizeram voltar ao
passado, visitar lembranças, sorrisos e momentos que vivi com Liz, e se fosse
honesto comigo mesmo, teria que admitir que ela nunca me pareceu
hipócrita, pelo contrário, chegava a ser sincera e transparente demais, ao
menos até deixar uma carta que, pelo que Zara estava falando, não dizia a
verdade com relação aos motivos de sua fuga.
— Eu sei que você se deu bem com Elizabeth desde o início, mas
mesmo que ela tenha um motivo legítimo para ter feito o que fez, não
interessa mais. Eu sou um homem casado agora e as razões dela não vão
mudar os rumos da minha vida. Por favor, vamos deixar as coisas como
estão.
Zara levantou uma sobrancelha, bem na hora em que falei sobre ser
casado, pois, seguramente, estava a par das minhas puladas de cerca.
— Harry, querido, ninguém está pedindo para se separar de Catherine,
é apenas uma conversa.
— Sinto muito, mas não vai acontecer, se era esse o assunto, você já
tem minha resposta final.
Ela me encarou sério e balançou a cabeça, falsamente condoída.
— Bom, eu tentei do jeito fácil, mas você não colaborou.
— Do que está falando?
— Eu tentei te convencer com conversa e motivação, mas você prefere
ir pelo caminho mais difícil. — Quanto permaneci calado, Zara continuou: —
Harry, ela não está de brincadeira quando diz que precisa falar com você.
— Como assim, seja mais clara.
— Liz está determinada e me disse, com todas as letras, que se você
não aceitar se encontrar com ela, terá que jogar sujo.
— E isso significa? — questionei.
— Que seja lá o que tenha para falar, é importante, pois Liz está certa
de que a imprensa vai se interessar. E, Harry, ela disse que isso pode custar
sua reeleição.
Arregalei os olhos, sem acreditar no que estava ouvindo.
— Ela está me ameaçando?
— Acredito que a palavra certa seja desespero.
Nunca, em toda minha vida, imaginei que seria chantageado por
Elizabeth Reagan. Será que ela tinha noção do que estava fazendo? Com o
poder que eu tinha, seria fácil demais acusá-la de qualquer coisa que a fizesse
pagar por sua insolência.
— Eu sei o que está se passando por sua cabeça, mas antes que faça
alguma besteira, pense que ninguém ameaça o presidente dos Estados Unidos
sem ter uma boa história para contar.
Fiquei paralisado, sentindo ódio por imaginar que aquela mulher talvez
soubesse de algo que poderia me prejudicar.
Zara se aproximou de minha mesa e deixou um pedaço de papel sobre
ela.
— Aqui estão o telefone e o endereço de Liz. Quanto antes fizer isso,
mais cedo vai saber o que ela tem para falar e, assim, se livrar dela, como
tanto deseja.
E após me mandar um beijo, ela se foi deixando-me cheio de dúvidas e
com uma raiva que estava difícil de disfarçar.
Quem aquela garota achava que era para me ameaçar desse jeito?
Após pensar um pouco, pedi a presença de Lexy, precisava que ela
resolvesse isso para mim.
— Que bicho te mordeu? — perguntou ela ao entrar no Salão Oval e
ouvir a forma seca como falei com minha secretária, que saiu na mesma hora.
— Preciso falar com você — disse enquanto me servia de uma dose de
uísque.
— Então, fale — respondeu e se sentou em um dos sofás, esperando
que eu tomasse alguns goles.
— Zara esteve aqui pela segunda vez tentando me convencer a entrar
em contato com Elizabeth. Elas se encontraram no MoMA e após alguns
minutos de conversa, ela resolveu tomar partido de uma garota que mal
conhece.
— E o que você quer que eu faça?
— Elizabeth a convenceu de que sabe algo que pode acabar com a
minha reeleição, disse que se eu não a escutasse, ela iria à imprensa.
Só pensar nisso fazia minha raiva voltar. Era incrível que, mesmo
depois de tanto tempo, aquela mulher ainda conseguisse me afetar.
Minha assistente, por sua vez, tinha os olhos arregalados em descrédito.
— Quero que procure Elizabeth, descubra o que ela tem contra mim,
ofereça dinheiro e a mantenha de boca fechada.
Lexy ficou em silêncio por um longo momento antes de soltar:
— Eu já fiz isso.
— Como é que é? — perguntei sem ter certeza de que tinha escutado
direito.
— Aquele dia em que sumi dizendo que estava resolvendo um assunto
pessoal, na verdade fui atrás de Elizabeth. Foi ela quem ligou no seu celular e
eu precisava tentar descobrir o qual era o assunto.
— E? — perguntei, mais calmo do que me sentia.
— Bom, eu fiz de tudo para que ela falasse, e me refiro a tudo mesmo,
mas não consegui nada, ela quer falar diretamente com você.
Tomei o restante da bebida em um só gole e senti a garganta queimar.
O que foi bom, me deu tempo para questionar que diabos estava acontecendo
com as pessoas a minha volta? De uma hora para outra todos resolveram
fazer as coisas pelas minhas costas.
— Deveria ter me falado sobre isso.
— Eu tentei, Harry, mas você não escuta ninguém e veja onde
chegamos. Sinceramente, acho que será mais inteligente falar com ela do que
ler a merda toda em algum jornal.
— Não consigo imaginar o que essa mulher tem de tão importante que
possa prejudicar minha reeleição. Nós ficamos juntos por dois meses, essa
história não está me convencendo. Quer dizer, porque agora? — Servi outra
dose de uísque e tomei mais um gole antes de continuar. — Eu estou
percebendo que não a conheço mais. Se a mãe dela tiver falado a verdade, a
garota que conheci era uma interesseira que só queria alguém que a bancasse.
E se ela estiver armando alguma coisa?
Após chegar ao topo mais alto do poder, eu tinha bastante ciência do
que meus desafetos eram capazes. Só eu sabia quantos incêndios foram
apagados para que alguns escândalos não chegassem à imprensa, apenas para
alguém em que eu confiava fazer uma ameaça dessas.
— Você sabe muito bem o que eu sempre achei desse relacionamento e
entendo que não queira mais vê-la, mas eu também vi como ficou depois que
ela foi embora e por mais que negue, sei que sempre haverá um vazio em
você por não saber o que é verdade ou não. Por isso, acho que deveria ouvir o
que ela tem para falar, aproveitar para tirar suas dúvidas e seguir em frente.
Muitas vezes, cuidar de uma nação parecia mais fácil que enfrentar e
resolver os problemas que rondavam minha vida.
— Eu não sei. Há muito mais em jogo agora e eu não posso arriscar.
— Tenho certeza de que vai tomar a melhor decisão — Lexy falou e
desviou a atenção para o celular. — Até lá, já fique sabendo que Cathy vai
aproveitar o feriado para ir visitar os pais dela e só deverá voltar no domingo.
Quanto a você, até onde sei, iria aproveitar o dia de folga para ler algumas
emendas e assinar alguns documentos. Isso quer dizer que é só pedir que o
Serviço Secreto cuidará da sua ida. Caso resolva ir, é claro.
Estreitei os olhos, sem entender aquela conversa.
— Estou sonhando ou a mesma Lexy que briga comigo por causa dos
meus casos extraconjungais está me incentivando a ir atrás de uma ex-
namorada?
— Nós dois sabemos que ela não é qualquer ex-namorada, se fosse,
você não estaria se empenhando tanto em não a encontrar.
— Não acredito que estamos tendo essa conversa.
— Harry, eu posso ter sido um pé no saco com relação a você e a Liz,
mas nunca desejei sua infelicidade, porém, é isso que vem sendo nos últimos
quatro anos, infeliz.
— Você fala como se eu estivesse prestes a largar tudo e reatar com ela
e isso não vai acontecer.
— Eu sei que não, e sei também que será difícil ficar diante dela
novamente, mas é pior ainda ter Elizabeth nos rondando, além disso...
— Além disso?
— Nada, só acho que você deve ir.
Alguma coisa me dizia que minha amiga estava escondendo alguma
coisa.
— O que você está sabendo, Lexy?
Ela se levantou, juntou suas coisas e me olhou, séria.
— O suficiente para garantir que se você não for, cometerá o pior erro
da sua vida e vai perder muito mais que a sua adorada presidência, caso ela
decida mesmo ir aos jornais — falou deixando-me ainda mais intrigado.
Mas que diabos de tão importante essa mulher tinha para falar?
— Harry — chamou Lexy da porta. — Quero falar uma coisa com você
e te peço que não me interrompa.
Eu já sabia que não ia gostar, mas ainda assim assenti, queria terminar
aquilo.
— Se o desejo do seu coração for realmente tentar a reeleição, eu
estarei ao seu lado, como sempre estive. Contudo, se quando vir Elizabeth
frente a frente outra vez, sentir o desejo de reconquistá-la, serei a amiga que
sempre quis e farei de tudo para te ajudar. Mas se depois de vê-la, quiser
apenas uma desforra, te aconselho a ir em frente. Quem sabe uma transa bem
sacana com ela não o ajude a exorcizar seus demônios e fechar esse ciclo —
disse, imperturbável, e soltou uma gargalhada ao ver minha cara.
Com isso, ela saiu e me deixou com a cabeça mais cheia do que já
estava.
Não que estivesse pretendendo ter mais do que uma conversa com
Elizabeth. Não me deixaria ser enganado novamente.
No entanto, por mais que não quisesse dar o braço a torcer e ir procurá-
la depois do que ela fez, tinha que admitir que Lexy estava com a razão
quando disse que eu precisava exorcizar esses demônios, mas não seria com
sexo, isso eu poderia garantir.
Após uma noite péssima, onde mal dormi pensando em tudo que
escutei, decidi que a única coisa que me restava fazer era tirar essa história a
limpo o quanto antes.
Se Elizabeth queria ser ouvida, teria essa chance. E eu esperava que ela
tivesse um bom motivo para tudo isso, pois, caso contrário, eu a destruiria
sem dó nem piedade.
Graças a Deus Cathy tinha resolvido ir para a casa dos pais na noite
anterior e isso realmente veio a calhar, não queria mentir para ela e muito
menos ter que dar satisfação a respeito do que iria fazer.
Assim que cheguei ao Salão Oval para fazer o que havia me proposto,
liguei para Zed.
— Peça para prepararem o TangoStone3, nós iremos para Nova Jersey
logo após o almoço. E, Zed, envolva o mínimo de gente possível — ordenei e
sabia que ele tinha entendido que o que faríamos era algo pessoal. Ainda
assim, quando eu chegasse lá, já haveria dois carros oficiais esperando, cada
um com dois agentes, além da ambulância, as únicas coisas que meu pessoal
nunca abria mão.
Por volta das 12h30, eu e minha escolta nos dirigimos ao hangar
particular que minha família providenciou quando me tornei presidente.
Se nós já éramos visados, desde que fui eleito a atenção sobre todos nós
triplicou, por isso, meu pai teve a ideia de comprar um terreno e fazer uma
pista de pouso para que todos, inclusive eu, pudéssemos nos locomover com
discrição. Lá, sempre tinha um jato e um helicóptero a minha disposição, e
era ele que eu pretendia usar.
O condado de Monmouth ficava a menos de duas horas de Washington,
isso significava que durante todo esse tempo Elizabeth se escondeu bem
embaixo do meu nariz. Parecia até piada.
Quando estávamos nos aproximando do endereço que Zara me deu,
notei que se tratava de uma área nobre, com casas enormes e terrenos maiores
ainda; era um lugar muito bonito, com muito verde ao redor, bem condizente
com o estilo campestre.
Isso me intrigou, especialmente quando o motorista parou o carro em
frente a uma belíssima mansão.
Não quis conjecturar a respeito de onde ela arranjou dinheiro para viver
ali, mas foi impossível que as acusações de Eleanor não voltassem com tudo.
— Aguarde aqui, senhor, para que possamos verificar — disse Snyder
antes de sair do carro.
Assenti e permaneci no lugar, enquanto o Serviço Secreto fazer seu
trabalho.
Assim que fui autorizado a sair, parei para olhar ao redor e fiquei
impressionado com a beleza do lugar. O terreno era enorme, mas as árvores
que o cercavam e o belíssimo jardim, proporcionavam aconchego à
propriedade.
Subi os degraus que davam acesso à varanda e um dos meus homens
tocou a campainha. Vários segundos se passaram, mas ninguém foi atender, o
que já me deixou impaciente. Quando ele a tocou pela segunda vez, comecei
a me arrepender por ter aparecido sem avisar com o intuito de pegá-la
desprevenida.
Mas então a porta se abriu, e lá estava ela, de olhos arregalados, os
cabelos presos no alto da cabeça, vestindo uma regata branca toda manchada
de tinta, short jeans e descalça.
Foi impossível não me lembrar do dia em que a vi no orfanato dando
aula de pintura às crianças ou quando cheguei à sua casa na hora em que dava
faxina.
— Harry? — murmurou, ainda chocada.
— Precisamos fazer uma varredura na casa, senhora — disse meu chefe
de segurança de maneira categórica.
— Ah, tudo bem, podem entrar — ela abriu um pouco mais a porta e
mordeu o lábio em um gesto nervoso.
Dois deles entraram e enquanto eu a fitava em silêncio, ela prestava
atenção ao que aqueles desconhecidos faziam, franzindo o cenho ao ver um
deles verificando cada canto e objeto à procura de escutas.
— Tudo certo, senhor, agora precisamos revistá-la.
Aquela ideia me incomodou mais do que eu esperava ou desejava e isso
me aborreceu.
— Eles precisam revistá-la, Elizabeth? — perguntei e ela negou com a
cabeça, meio atônita.
— Desculpe, senhor, mas eu insisto.
Respirei fundo. Cinco minutos na presença daquela mulher e eu já
estava quebrando a porra do protocolo. Ainda assim, não a obrigaria a aceitar
que um estranho a tocasse.
— Deixem que Wolf faça isso — falei, citando a única agente feminina
que integrava minha equipe.
Após uma breve revista, Elizabeth foi liberada.
— Guardem a propriedade, quero conversar com a Srta. Reagan a sós
— falei e fui atendido prontamente.
Entrei na casa, que era tão impressionante por dentro quanto por fora e
fiquei curioso para saber a quem pertencia. Todavia, logo me lembrei de que
isso não me interessava, eu estava ali para tratar da ameaça dela, não para
saber com quem ela estava transando.
— Vou ser claro, Elizabeth, você pode ter enganado Zara, Blake e até
mesmo Lexy dizendo que tinha algo importante para falar, mas a mim você
não engana.
— Como é? — inquiriu ela.
— Pelo contrário — continuei como se ela não tivesse falado nada —,
o fato de ter sido obrigado a deixar de lado assuntos importantíssimos, apenas
piorou a irritação que eu estava sentindo desde que você foi até o MoMA
atrás de mim.
— Mas eu não...
— Só que também me deixou curioso para saber o que a fez pensar que
poderia ameaçar o presidente do país sem achar que haveria alguma punição?
— questionei em tom ríspido, mais exaltado do que pretendia.
Na mesma hora sua postura mudou. Aquele ar acanhado deu lugar a
uma atitude desafiadora. O olhar deslumbrado sumiu e ela ergueu a cabeça,
lançando-me um sorriso desprovido de humor.
— Se este mesmo presidente achava que eu merecia alguma punição,
por que veio aqui ao invés de mandar seus cães de guarda me pegarem e
levarem para alguma cela. Se é que prisão seria punição suficiente para a
minha impertinência — disse ela, deliberadamente sarcástica.
— Estou vendo que você não mudou nada, continua com o filtro entre a
cabeça e a boca completamente entupido.
— É aí que se engana, Sr. Presidente, eu mudei muito, não sou mais
aquela garota ingênua. Tanto que criei coragem suficiente para ir atrás de
você e fazer o que era certo.
— E é certo fazer ameaças?
— Se eu não estivesse tratando com uma mula empacada, não teria
precisado chegar a isso.
— Mula empacada? — falei entredentes. — Meu Deus, mas você não
tem nenhum respeito! — acusei.
Quando dei por mim, estávamos frente a frente, a irritação nos
envolvendo, as respirações erráticas e as emoções completamente instáveis.
De repente, o cheiro de seu perfume me invadiu e foi como voltar no
tempo. Porém, do mesmo jeito que fui levado ao passado, eu voltei ao
presente e dei um passo atrás.
Parecendo perceber o mesmo que eu, Elizabeth também andou para
longe, permanecendo de costas por vários minutos antes de se voltar para
mim novamente.
— Achei que tivesse vindo aqui para me escutar e não acusar, não sou
sua inimiga, Harry, muito pelo contrário...
— Não posso tratar como amiga uma pessoa que ameaça a minha
reeleição.
Ela fechou a cara e me encarou com desprezo.
— É só nisso que pensa, não é? No poder e naquela maldita Casa
Branca — cuspiu as palavras com tanto ódio que eu até me assustei.
— Era o meu sonho, e minha vontade apenas aumentou depois que
você foi embora, deixando apenas aquela carta sem pé nem cabeça. — Passei
os olhos pela sala luxuosamente decorada e completei: — Pelo visto, sua sede
por “aventura” deu certo, está muito bem instalada.
Quando entendeu minha afronta, Elizabeth arquejou e rapidamente
pegou a primeira coisa que viu na frente e atirou em mim.
Por sorte, eu me exercitava bastante e tinha bons reflexos, ou ela teria
me acertado.
Espantado com seu rompante, eu a encarei. Elizabeth bufava feito um
touro raivoso e seus olhos pareciam arder.
No instante seguinte os homens do Serviço Secreto invadiram a casa,
movidos pelo baque do objeto na parede, e a expressão raivosa se
transformou em surpresa.
— Oh, meu Deus, eu... — murmurou ela, dando-se conta do que tinha
feito.
— Algum problema, senhor? — Zed perguntou.
Diferente dos outros que olhavam para Elizabeth esperando que a
qualquer minuto ela sacasse uma arma, ele parecia calmo demais, afinal, era
o único que conhecia nossa história e já devia imaginar que aquela conversa
não seria muito amigável.
— Tudo certo, a Srta. Reagan só está um pouco desastrada.
Mais uma vez ela reagiu às minhas palavras e se empertigou.
— É verdade, Zed, por isso, não se assuste quando ouvir outras coisas
se quebrando, são apenas minhas mãos atrapalhadas — avisou com um
sorriso angelical e eu percebi que tanto ele quanto Wolf se seguraram para
não rir, enquanto os outros não sabiam o que pensar.
— Tudo bem — disse ele e saiu, seguido pelos outros.
— Vamos conversar ou você ainda pretende jogar algo em mim.
— Vontade não falta, mas vou me segurar, enquanto mantiver suas
suposições para si.
— Quer dizer então que estou errado? — perguntei com sarcasmo, mas
em meu íntimo eu queria saber se ela estava com alguém.
— É muita presunção de sua parte insinuar que fui embora por causa de
outro homem. Bem que eu queria ter tido a chance de conhecer uma pessoa
menos complicada que você.
Sua sinceridade me incomodou, mas não recuei, não permitiria que ela
percebesse o quanto me afetava.
— Isso não vai nos levar a nada, Elizabeth. Vamos acabar logo com
isso, diga o que você quer, fale seu preço, eu não tenho o dia todo.
Ela me olhou com ódio e fechou as mãos.
Eu sabia que estava sendo frio e mordaz, mas o que ela queria depois
de tudo o que me fez?
Após respirar fundo algumas vezes, numa tentativa de amainar seus
instintos, ela cedeu:
— Você está certo. Essa discussão é inútil e quanto antes eu falar o que
me propus, antes você vai poder ir embora. Vamos nos sentar.
Dizendo isso, começou a caminhar em direção à grande sala de estar e
fui obrigado a segui-la.
Ela indicou uma poltrona, sentou-se no sofá, e só então começou a
falar:
— Você se lembra de que logo depois que voltei de Nova York, eu te
disse que Stella estava doente?
Balancei a cabeça em concordância. Infelizmente, as memórias daquela
época ainda estavam bem vívidas.
— Bom, no sábado ela me convidou para sair, mas eu ainda estava
muito cansada da viagem e preferi ficar em casa. Algumas horas depois, um
amigo em comum a encontrou caída em um beco, ela tinha sido espancada.
Assenti, achando aquela história estranha, mas completamente
irrelevante para mim.
— Naquela noite, antes de dormir eu recebi a primeira ligação.
— Não estou entendendo. Que ligação?
— Até hoje eu não sei quem era, mas a voz do outro lado ligou para
avisar que havia pessoas poderosas apostando na sua eleição e que eu seria
um empecilho para você chegar à Casa Branca, por isso, queriam que eu
terminasse o nosso namoro.
— Desculpe, Elizabeth, mas ainda não estou entendendo. Você está
querendo dizer que foi embora porque alguém te pediu para fazer isso?
— Não, Harry. Eles não pediram apenas, foram eles que mandaram
espancar Stella. Ele mesmo confessou e depois ela confirmou, pois enquanto
a chutavam, falavam que aquilo estava acontecendo porque eu tinha me
metido com quem não devia.
Sem conseguir permanecer sentado, levantei-me e por vários minutos
circulei pela sala, sem saber o que pensar.
— Se é mesmo verdade, por que não falou comigo?
— Eu pretendia. Pedi ajuda a um amigo e ia dar um jeito de tirar Stella
e sua família da cidade para mantê-los a salvo, mas de alguma forma esse
homem descobriu o que eu estava fazendo e foi além.
“Não sei se você soube que houve um pequeno incêndio no orfanato do
padre Norton.
— Sim, Zara comentou comigo um tempo depois.
— Foram eles. E me disseram que se eu não terminasse com você de
maneira convincente e fosse embora de Washington, o próximo incêndio
seria nos dormitórios das crianças.
— Você devia ter me contado! — falei, mais alto do que queria, sem
poder acreditar que algo assim havia acontecido debaixo do meu nariz.
— Sério isso, Harry? Você podia até ficar em dúvida num primeiro
momento, mas logo um daqueles seus assessores o convenceria de que eu
estava inventando aquilo para fazê-lo desistir de tudo e como você sabia que
eu não estava lá muito animada com a possibilidade de ser sua primeira-
dama, seria bem fácil me desacreditar.
Ela não estava de tudo errada, ao menos no que se referia aos meus
assessores. Eles certamente tentariam desacreditá-la.
— Posso ter sido muito ingênua ao confiar piamente e feito o que ele
mandou, mas depois de pesar tudo, achei que não valeria a pena arriscar a
vida de tantos inocentes. Além disso, jamais me perdoaria se você perdesse
as eleições por minha causa. Eu já tinha ouvido isso de tanta gente, que só
pude acreditar.
— Eu não teria duvidado de você — falei categórico, pois me conhecia
o bastante para saber que esse tipo de coisa era possível. — Mas agora estou
morto de raiva por não ter confiado em mim. Ao invés disso, resolveu me
abandonar como se o que vivemos não significasse nada.
— Eu nunca teria te abandonado se não tivesse sido forçada — falou
com tanta sinceridade que senti meu coração falhar.
Mas não me deixaria abalar, não dava para esquecer o que sofri com
sua partida. E agora, sabendo que ela não confiou em mim, eu me sentia
duplamente traído.
— Por que agora, Elizabeth, quatro anos depois?
— Naquela época, embora não fosse uma adolescente, não conhecia
praticamente nada do mundo. Além disso, estava apaixonada por um cara que
era o completo oposto de mim e que, ainda por cima, concorreria à
presidência, um cara que estava rodeado por pessoas que claramente não me
achavam boa o suficiente para ele e, especialmente, para o cargo que eu teria
que assumir, caso nosso relacionamento progredisse. Tudo isso associado ao
medo do que a pessoa que me ameaçou poderia fazer comigo ou com pessoas
inocentes, não me deixou muitas opções, por isso fugi. Foi a forma mais fácil,
assumo, e muitas vezes me cobrei por ter sido tão covarde. Mas, como eu te
disse, nesses anos eu amadureci e percebi que não poderia mais ficar calada.
— Seu timing foi realmente perfeito — falei com ironia.
— Se está falando de sua recandidatura, devo dizer que quando vi que
você iria concorrer novamente, minha determinação apenas aumentou. Não
achei justo que essas pessoas continuassem usufruindo do seu poder,
enquanto eu tive que me esconder por todos esses anos.
— Do que está falando? Em sua carta você foi muito clara ao dizer que
queria liberdade — afirmei, querendo saber o quanto de veracidade havia
naquelas palavras.
— Meu Deus, Harry, praticamente nada do que escrevi naquela carta
foi verdadeiro. Naquela noite eu vim para Nova Jersey e nunca mais saí,
exceto quando fui à Nova York expor meus quadros. Acredito que se
soubesse que o evento era patrocinado por sua família, não teria aceitado,
porque meu maior medo era chegar perto de você e aquelas pessoas voltarem
a me ver como uma ameaça. Eu não quero mais viver assim — falou com
certo desespero. — Se pudesse voltar atrás, nunca teria ido àquele baile,
desde aquele dia minha vida nunca mais foi a mesma.
Ouvir aquilo foi um baque. Era a segunda vez que ela deixava claro que
se pudesse escolher, não teria me conhecido e isso machucou mais do que
imaginei ser possível.
— O que exatamente você quer de mim, Elizabeth?
— Quero ter uma vida completa, Harry, quero poder ter o direito de ir e
vir para onde e quando eu quiser. Só que mais do que isso, quero que use de
sua influência para descobrir quem são essas pessoas. Me revolta saber que
eles estão impunes, fazendo as coisas por debaixo do pano e às vezes na sua
cara, porque você simplesmente não sabe quem eles são. E com isso eu não
quero insinuar que você seja algum idiota que simplesmente não enxerga o
que está embaixo do seu nariz, pois sei que não é. O que estou dizendo é que
eu tenho certeza de que há pessoas de sua inteira confiança metidas nisso e
não acho justo que elas continuem tendo esse poder.
Eu sabia muito bem do que ela estava falando. Nesses três anos, tive
que brigar com muita gente por não seguir a velha política onde só se
consegue alguma coisa se tiver algo para oferecer. Conheci deputados e
senadores dos quais senti vergonha, ao ver que estavam interessados apenas
em si mesmos e fiz questão de me distanciar.
Desde o início, meu interesse estava em trabalhar para fazer o melhor e
por mais ingênuo e improvável que isso pudesse parecer, eu tinha conseguido
governar sem abrir mão dos meus princípios.
E estava feliz por isso.
Só que agora teria que lidar com mais essa complicação, afinal, várias
pessoas a minha volta poderiam ser consideradas suspeitas, já que muitos dos
que estavam comigo na Casa Branca, trabalharam na minha campanha e
praticamente todos eram contra meu relacionamento com ela.
Até então eu achava que se tratava apenas de ambição política, o que
era normal, mas saber que poderia ter pessoas do meu staff covardes o
suficiente para fazerem as atrocidades citadas por Elizabeth, me deixava
doente.
Passei as mãos pelo cabelo, sentindo-me perdido.
— Não sei o que pensar — confessei com amargura.
— Eu sei que é difícil descobrir todas essas coisas assim, de uma vez,
mas eu precisava falar, abrir seus olhos e...
— O que, não me diga que em sua cabeça, assim que me contasse, eu a
perdoaria por ter ido embora daquele jeito e nós voltaríamos às boas?
— Não, seu arrogante, desde o dia em que vi na TV que estava se
relacionando com Catherine, aquela cobra travestida de cordeiro, eu coloquei
nosso relacionamento no passado — disse, ríspida, mas havia um tom de
tristeza em sua voz.
— Eu fiquei arrasado quando você me deixou, foi Cathy quem me
ajudou a levantar outra vez.
— Ah, claro, tenho certeza de que ela estava mais que pronta para te
ajudar a levantar — acusou, o sarcasmo voltando com tudo.
— Não foi assim — vociferei —, e mesmo que fosse, ninguém poderia
me culpar, porra, afinal, você sumiu, sem mais nem menos — continuei no
mesmo tom.
— Não jogue toda a culpa em mim, você nunca me procurou, droga! —
ela explodiu.
— Eu procurei, no início, mas depois desisti, achei que não queria ser
encontrada.
— Não querer é diferente de não poder! — respondeu nervosa e
caminhou pela sala. — Se você tivesse vindo atrás de mim, tanta coisa teria
sido diferente... — ela arfou e começou a chorar. — Quando isso não
aconteceu, eu me convenci de que estava fazendo minha parte para que você
pudesse realizar seu sonho de ser Presidente dos Estados Unidos.
Ela parecia tão desolada, que me compadeci, e, num ato impensado,
aproximei-me dela e a abracei.
— Ei, acalme-se, já acabou.
Ela se permitiu ficar em meus braços enquanto chorava e eu me permiti
lembrar da época em que fomos felizes, época esta que não iria voltar,
simplesmente porque alguém se achou no direito de decidir a minha vida.
Isso era tão surreal que eu não sabia como me sentir a respeito.
Percebendo o quão próximos nós estávamos, Liz se afastou, sem graça,
e pigarreou antes de voltar a falar:
— Há mais uma coisa que eu preciso te contar. Talvez você queira se
sentar.
— Depois do que me contou, não consigo pensar em nada que vá me
abalar a ponto de ter que me sentar.
Liz me encarou por longos segundos, as mãos se contorcendo em sinal
de nervosismo. Ela respirou fundo e então soltou as palavras que mudariam
minha vida para sempre.
— Nós tivemos um filho.
A expressão de Harry ao ouvir aquilo tinha um misto de espanto e
incredulidade e eu o entendia, não dava para ouvir uma notícia dessas e ficar
impassível.
— Como é?
— Quando eu fui embora, não tinha ideia de que estava grávida, só
fiquei sabendo dois meses depois — expliquei antes que me acusasse de fugir
mesmo sabendo do meu estado.
Ele passou as mãos nos cabelos outra vez, bagunçando-os ainda mais, e
me encarou.
— Então é isso, você some, reaparece anos depois me contando uma
história louca, mas que na minha experiência faz sentido, para então me dizer
que teve um filho e que a criança em questão é minha.
Eu respirei fundo e tive que me segurar para não o atacar novamente,
afinal, já estava preparada, sabia que não seria fácil, que expor a verdade iria
demandar uma quantidade absurda de energia e paciência de minha parte.
— Sim, apesar de querer revelar tudo o que me motivou a ir embora, a
maior razão para te procurar foi essa, contar que você era pai — confessei e
vi o rosto de Harry ficar levemente sem cor.
Ele voltou a andar de um lado para outro, como se aquilo o ajudasse a
digerir tudo que ouvira.
— Você não percebe como isso é sem sentido? Nenhuma mulher que
estivesse grávida de um filho meu iria manter esse segredo por tanto tempo.
Se o que você quer é dinheiro, não precisa inventar uma mentira como esta.
Nós ficamos juntos por pouco tempo, mas eu nunca iria negar se estivesse
precisando de ajuda.
Senti uma fisgada no peito ao escutar essas palavras. Então ele ainda
achava que eu estava ali por interesse?
— Para seu governo, nunca faltou nada a nenhum de nós. Eu só resolvi
abrir o jogo agora, por três razões: primeiro porque tinha medo de que
aquelas pessoas o ferissem — admiti e estremeci só de pensar. — Segundo,
porque queria manter sua reputação intacta e terceiro porque em alguns
meses Colin fará quatro anos e logo começará a fazer perguntas. Além disso,
após tudo que vivemos, achei que você tinha o direito de saber que gerou
uma criança.
Harry ficou em silêncio me olhando como se tentasse avaliar se o que
eu dizia era verdade ou não. Isso me magoou, achei que ele tivesse me
conhecido o bastante para saber que eu não mentiria a respeito de algo tão
grave.
— Quero um teste de DNA — falou ríspido, mas havia um certo tremor
em sua voz.
— Não esperava menos do senhor.
— Você joga uma bomba dessas no meu colo e acha que vou aceitar
assim, sem mais nem menos?
— Harry, ser questionada sobre a veracidade de algo tão importante, é
uma grande ofensa para mim. Mas já esperava por isso. Faça quantos exames
quiser, o resultado será sempre o mesmo — garanti, sem emoção, não o
deixaria perceber o quanto fiquei sentida.
Ele continuou me olhando por um bom tempo, depois balançou a
cabeça.
— Santo Deus, um filho... — disse para si mesmo e voltou a andar. —
Colin, você disse? — perguntou baixinho virando-se para mim.
— Sim, Colin, a criança mais linda e esperta que já vi em toda a minha
vida.
Mal terminei e o celular dele tocou e eu agradeci, aquela interrupção foi
muito bem-vinda. Deixei-o falando com quem quer que fosse, corri até o
banheiro de Colin e peguei a escova que usávamos para pentear o cabelo
dele.
De lá, fui à cozinha e a coloquei dentro de um saquinho plástico.
Eu poderia colocar apenas os fios, mas queria que ele olhasse para
aquele objeto, tão caracteristicamente infantil, e o associasse a Colin.
— Ok, Cathy, assim que fizer isso eu te aviso — ouvi Harry falar,
quando voltei para a sala, e logo depois ele desligou.
— Pode usar isso aqui para fazer o exame de DNA — falei, oferecendo
o saquinho.
Ele o pegou e ficou observando a escova por vários segundos e eu quis
muito saber o que se passava por sua cabeça.
— Hum... Ele... Quer dizer, onde ele está?
— Foi à praia com os avós, está aprendendo a surfar.
— Avós? — questionou, parecendo confuso, e me perguntei se ele
achou que eu estava me referindo a Eleanor.
— Sim, Consuelo e Benito, eles são os únicos avós que Colin conhece.
Vi seu rosto se crispar e percebi que não deveria ter falado isso.
— Por culpa de quem? — acusou.
— Harry...
— Não, Elizabeth, vamos deixar isso para depois que o resultado sair.
Se esse menino for realmente meu filho...
— Ele é — falei convicta.
— Se ele for realmente meu, você cometeu um grande erro ao não me
contar.
O tom que usou, tão frio e pausado nos momentos certos, fez um
arrepio atravessar minha espinha.
— Eu fiz o que achei melhor para todos.
— Vou pedir esse teste com o máximo de urgência e somente após o
resultado é que vamos conversar. Até lá, peço que não comente isso com
ninguém.
Soltei uma risada debochada.
— Nosso filho tem três anos e eu nunca abri a boca para qualquer
pessoa, não faria isso agora.
Ele fez mais um de seus silêncios incômodos, depois virou as costas e
andou em direção a saída.
— Alguém entrará em contato quando o exame ficar pronto.
Com essas palavras impessoais ele abriu a porta e saiu.
Assim que me vi sozinha, joguei-me no sofá onde ele estivera sentado,
para dar um pouco de alívio às minhas pernas que estavam moles feito
gelatina.
Harry não ficou nem uma hora ali e, ainda assim, conseguiu me
desestruturar.
Graças a Deus tinha acabado. Relatar tudo a ele foi tão difícil quanto
achei que seria, mas não poderia censurá-lo por duvidar ou achar que estava
atrás dele por interesse, afinal, eu sumi deixando apenas uma carta como
explicação e, mais de três anos depois, apareço falando que ele era pai do
filho que tive nesse período.
Agora Harry teria muito em que pensar, já eu, nunca senti um alívio tão
grande. Embora soubesse que aquela era apenas a primeira etapa, o pior já
tinha sido feito e só me restava ficar na expectativa do que iria acontecer.
Isso, com certeza, faria minha ansiedade ir às alturas.
Minhas divagações foram interrompidas pelo toque do celular.
Era Stella.
— E aí, como está o passeio? — quis saber assim que atendi.
— Liz — disse ela aos prantos e meu coração gelou no peito.
Colin.
— O que aconteceu?
— Nós sofremos um acidente na Garden State[8] quando estávamos
voltando.
— E o meu filho?
— Colin e Dan bateram a cabeça... Eles estão inconscientes, Liz —
confessou e voltou a chorar.
Na mesma hora fechei os olhos sentindo náusea e tontura, as lágrimas
descendo como torrentes.
Mesmo tendo deixado o celular cair no assento ao lado, conseguia
ouvir a voz de Stella ao longe e me forcei a reagir.
Segurando o grito de desespero que estava represado em minha
garganta, peguei o aparelho e o recoloquei na orelha. Não tinha tempo para
surtar.
— Onde vocês estão? — perguntei.
— Eu e mamãe estamos com Colin no Hospital Infantil Unterberg e
papai foi com Dan para o Centro Médico de Monmouth, que fica do lado.
— Tudo bem. Eu vou me vestir e sair. Fica com o telefone na mão pra
eu poder te encontrar — pedi, já correndo para o quarto.
— Vou ficar te esperando.
— Tudo bem, já estou indo.
Assim que ela desligou, abri o aplicativo e pedi um carro. Como ele iria
demorar cinco minutos para chegar, resolvi tomar um banho. Vesti-me em
tempo recorde, com tênis, jeans e camiseta, então peguei um casaco e depois
minha bolsa, verifiquei o dinheiro, e saí; iria esperar no portão.
No caminho, falei com Stella novamente, e fiquei sabendo que elas
estavam na sala de espera da cirurgia. Quase desmaiei quando ouvi aquilo e
me dei o direito de me desesperar, preocupando o coitado do motorista.
Graças a Deus o hospital era razoavelmente perto da minha casa e com
as ruas vazias devido ao feriado, em menos de quinze minutos eu estava
atravessando a porta.
Assim que pisei no andar da cirurgia, avistei Consuelo e Stella. Elas
estavam bem juntas, com os olhos fechados.
Percebendo minha aproximação, elas olharam para cima:
— Ah, minha filha que bom que você chegou — disse Consuelo, me
abraçando e mais uma vez eu desabei.
— Como ele está? — perguntei quando me recompus um pouco.
— Não sabemos — foi Stella quem respondeu —, a única coisa que o
médico falou foi que ele precisava ser operado, mas não disseram porquê —
explicou limpando novas lágrimas que deslizavam por seu rosto.
— Esperem aqui — pedi e fui até o posto de enfermagem, contudo,
ninguém sabia de nada. Quando viu que eu não aceitaria ficar ali sem ter
notícias do meu filho, uma das enfermeiras se disponibilizou a ir ao centro
cirúrgico para tentar obter informações para mim.
— Ela foi ver se conseguia saber alguma coisa — expliquei. — Agora,
me digam o que aconteceu — exigi, olhando para Stella.
— Nós estávamos a caminho de casa, o Dan na frente com papai,
conversando sobre futebol, enquanto eu e mamãe fomos atrás com o Colin.
Então, esse carro surgiu do nada pelo acostamento, querendo entrar de
qualquer jeito na pista... — ela parou e balançou a cabeça. — Eu não sei o
que aconteceu, mas, de repente, estávamos indo de encontro a uma
caminhonete que vinha na pista contrária. Papai ainda tentou desviar, mas o
carro rodou e não teve jeito, todo lado direito bateu na pick-up e como a
cadeirinha do Colin fica atrás do banco do carona, ele e o Dan foram os mais
atingidos.
— Mas se ele estava na cadeirinha, não pode ter machucado tanto, não
é? — argumentei.
— Você conhece o Colin. Um pouco antes do acidente eu tinha
encaixado o cinto pela terceira vez desde que saímos da praia. Depois que o
carro bateu, o cinto ainda estava no lugar, mas ele já tinha soltado os braços.
Nos perdoe, filha — pediu Consuelo.
— Não foi culpa de vocês — falei para tranquilizá-las. — O importante
é que ele fique bem.
— Vai ficar. Nós estávamos muito perto daqui e chegamos bem rápido,
gracias a Dios — disse ela.
— E o outro motorista? — perguntei.
— O que nos tirou da pista deve ter fugido, porque depois de tudo não
havia nem sinal dele, mas o que colidiu com a gente, está bem, o carro era
enorme e ficou amassado, mas o rapaz não teve nem um arranhão —
explicou Stella. — Foi uma sorte ele estar dirigindo devagar ou o estrago
teria sido maior — completou, na mesma hora em que as portas se abriram e
a enfermeira voltou com outra mulher.
— A senhora é a mãe de Colin Nichols? — quis saber e eu me apressei
para encontrá-la.
— Sim.
— Eu sou a Dra. Abbott, pediatra.
— O que aconteceu com meu filho, doutora? Por que ele está na sala de
cirurgia?
— Seu filho chegou apresentando um pouco de letargia[9] e náusea,
também havia um corte próximo à têmpora direita e uma equimose[10] no
quadrante superior direito do abdômen, compatível com laceração esplênica,
o que foi confirmado após a tomografia, ou seja, o baço de Colin se rompeu
durante a batida, o que causou uma hemorragia.
— Meu Deus! — nós três arfamos.
— É muito grave? — questionei.
— A esplenectomia é uma das cirurgias mais comuns após um trauma,
pois o baço é muito sensível e pode se romper até mesmo depois de uma
queda da própria altura. No caso do seu filho, apenas o polo inferior do órgão
foi lesionado, por isso optamos por uma abordagem mais conservadora e
decidimos fazer uma esplenectomia[11] parcial, retirando apenas a parte
afetada. Por ele ainda ser uma criança, essa é a melhor opção.
— Quanto tempo vai demorar?
— Isso vai depender de como o órgão vai reagir. Se após a excisão, a
sutura e a cauterização não houver sangramento, nós iremos selar o local e
levá-lo para a sala de observação até o efeito da anestesia passar. Porém, se
após fazermos isso, ainda houver hemorragia, o jeito será retirar o órgão
completamente e nós teremos que começar tudo de novo. Mas não se
preocupe, retirar o baço inteiro é mais fácil do que a primeira opção.
— E o corte da cabeça?
— Como eu disse, Colin chegou bastante sonolento e nauseado. Isso
podia ser tanto pelo trauma na cabeça quanto em virtude da hemorragia,
contudo, a Tomografia do crânio não indicou nenhum problema, mas só
poderemos fazer uma avaliação completa quando ele acordar.
Eu só percebi que estava chorando novamente quando a enfermeira me
entregou alguns lenços de papel.
— É a senhora quem vai operar o meu pequeno?
— Não, é o Dr. Tennant, um excelente cirurgião pediátrico, mas eu
estarei lá o tempo todo, não se preocupe — garantiu com um sorriso
carinhoso.
— Muito obrigada, doutora — falei, abraçando a médica que deu uns
tapinhas tranquilizadores em minhas costas.
— Vai ficar tudo bem — afirmou e eu me obriguei a acreditar.
— Vamos nos sentar, não vai adiantar nada ficarmos em pé aqui —
aconselhou Consuelo quando a médica se foi.
— Não posso, mamá — disse Stella —, tenho que ir ver como o Dan
está.
— Então vai, filha.
— Sim, amiga, é bom que atualiza Benito a respeito de Colin.
— É verdade, ele deve estar aflito — concluiu, já indo em direção ao
elevador.
— E nos mantenha informadas — falei um pouco mais alto para que
ela pudesse ouvir.
Stella assentiu e se foi quando as portas se abriram.
Três horas e vários copos de café depois, um homem alto e de
aparência cansada saiu pelas portas duplas do centro cirúrgico.
Imediatamente eu e Consuelo nos levantamos e corremos em sua
direção.
— Foi o senhor quem operou meu filho? Como ele está?
— A cirurgia de Colin correu bem. Nós conseguimos fazer a excisão[12]
parcial do baço, o que é bom, pois vai ajudar quando ele tiver alguma
infecção futuramente.
— E ele já acordou?
— Ainda não, mas não se preocupe, primeiro porque a sensibilidade ao
anestésico é muito variável e cada pessoa acorda a seu tempo. Segundo
porque ele passou por um grande estresse, é possível que seu corpo esteja
precisando de descanso.
— Só que ele bateu a cabeça — lembrei.
— Mas sua Tomografia estava limpa e ele, apesar de sonolento, estava
lúcido e respondeu a todas as perguntas que o neurologista fez, então, não
acredito que esse sono esteja associado ao trauma.
— E quando eu poderei vê-lo?
— Agora. Colin vai estar nervoso e confuso ao despertar, por isso, o
ideal é que ele a veja, assim, se ficar agitado, a senhora poderá acalmá-lo.
— Tudo bem — falei e me virei para Consuelo. — Talvez seja melhor
você se juntar aos outros, não dá para saber a que horas ele vai acordar.
— Tem certeza, filha? Eu posso esperar.
— Não, Stella deve estar precisando de você.
— Está certo — concordou e me abraçou. — Qualquer coisa, me liga.
— Pode deixar — garanti e me voltei para o médico.
O Dr. Tennant me levou até um vestiário e pediu que eu colocasse uma
roupa privativa, como ele nomeou, além de máscara, gorro e uma sapatilha.
Confesso que tremi dos pés à cabeça quando entrei naquela sala e me
deparei com seis camas dispostas lado a lado. Olhei para todas elas,
percebendo que três estavam ocupadas, mas na mesma hora soube onde
estava Colin e praticamente corri até lá.
Assim que o vi, tão pequenininho, no meio daquela cama, com um
curativo na cabeça, eu desabei. Com medo de que ele acordasse e me visse
aos prantos, virei-me de costas e fiquei ali por vários segundos. Quando me
acalmei, aproximei-me novamente e peguei sua mão, que estava gelada, e
morri de dó por ele estar passando por isso.
— Oi, filho, é a mamãe. Quando você quiser acordar, eu estarei aqui,
viu? — falei e comecei a acariciar seus cabelos.
Alguns minutos depois, uma enfermeira me ofereceu uma cadeira, ao
que eu agradeci muito, estava me sentindo um pouco mole após toda aquela
adrenalina.
Não sei quanto tempo se passou até eu sentir sua mão se mexer dentro
da minha.
— Colin? Acorda, bebê — pedi, tentando segurar as lágrimas.
Obedecendo, ele se mexeu e balbuciou algumas coisas. Seus olhos se
abriram e fecharam diversas vezes até que, por fim, se fixaram em mim, mas,
como o médico falou, parecia bastante confuso.
— Mamã.
— Oi, filho, sou eu.
— Dói — ele reclamou, colocando a mãozinha sobre a barriga.
— A mamãe já vai chamar o médico.
Virando-me para trás, acenei para a enfermeira que se encontrava
sentada atrás de uma bancada.
— Ele acordou — murmurei e a moça assentiu.
Um minuto depois a Dra. Abbott e o Dr. Tennant apareceram. Eu me
afastei enquanto eles o examinavam.
Quando disse que ele havia reclamado de dor, o médico chamou a
enfermeira que aplicou algo no cateter que estava em sua mão e quando o
exame terminou, Colin já dormia novamente.
— Ele está bem. Vai continuar sonolento por um bom tempo, mas
levando-se em conta a hora, isso é bom — disse o Dr. Tennant e começou a
anotar alguma coisa em um tablet.
Quando ele falou isso tive a curiosidade de olhar meu telefone e vi que
o médico tinha razão, já eram quase 19h.
— E agora? — perguntei.
— Vamos transferi-lo para um apartamento — foi a Dra. Abbott quem
respondeu.
— Eu vou poder ficar com ele, certo?
— Claro — garantiu.
Eu assenti e dez minutos depois estávamos instalados em um quarto.
Como Colin continuava dormindo, peguei meu celular e saí para o corredor a
fim de atualizar os outros.
Infelizmente, Dan ainda não havia acordado, mas o bom era que, a
princípio, ele não precisaria de nenhuma cirurgia e isso era um alívio.
Retornei ao quarto, sentei-me em uma cadeira e voltei a pegar sua mão.
Só soube que tinha cochilado porque acordei assustada com o
pensamento que me ocorreu.
Foram eles! Eu não sabia por que tinha tanta certeza disso, exceto pelo
fato de que não havia outra explicação. Bastou Harry vir atrás de mim para
esse acidente acontecer. Era coincidência demais.
Na hora comecei a tremer.
Soltei a mão de Colin, com medo de acordá-lo, e me levantei. Em
pânico, andei de um lado para outro, procurando uma solução.
Pensei em ligar para Joseph, tinha certeza de que ele me ajudaria, mas
logo desisti. Meu filho tinha um pai e, com ou sem teste de DNA, estava na
hora de ele assumir esse papel.
Peguei o celular em cima da mesinha lateral e liguei para Harry, mas a
chamada caiu na caixa postal. Tentei mais duas vezes e nada.
Estava quase voltando à minha ideia original quando me lembrei de
outra pessoa e fui procurar seu nome nos meus contatos. Quando achei o
número que tinha gravado, fiz a ligação e no segundo toque ele atendeu.
— Dominic, é Elizabeth... Reagan.
Eu estava em choque.
Tanto que não consegui pronunciar uma palavra sequer desde que
entrei no carro.
Os seguranças estavam acostumados com meu silêncio, mas Zed me
conhecia há anos e percebeu o quanto estava abalado quando saí daquela
casa.
Abalado, sufocado, perdido, completamente sem rumo e ainda
incrédulo...
Um filho.
Pela primeira vez em anos, Elizabeth realmente conseguiu me tirar dos
trilhos, por que de todas as coisas que me preparei para ouvir de sua boca,
essa nunca chegou a ser cogitada.
Mas não deveria estar tão surpreso. Eu realmente fui imprudente na
época em que namoramos.
Depois da primeira vez, ela tomou gosto pelo sexo e me provocava o
tempo todo com aquele jeito doce, inocente e ao mesmo tempo sedutor, que
me fazia desejá-la a qualquer hora e em qualquer lugar.
Mesmo assim, nunca me passou pela cabeça que isso resultaria em um
filho.
Que grande idiota, como se eu não soubesse como as crianças eram
feitas.
Parecia um castigo de Deus por ter jogado na cara de Catherine que não
desejava ter filhos...
Minha nossa, um filho. Um garoto de quase quatro anos!
Eu estava muito confuso. Ao mesmo tempo em que preferia achar que
tudo isso era uma grande armação, sentia que no fundo ela não seria louca a
ponto de inventar uma história absurda dessas e depois ainda me dar uma
escova de cabelo infantil com alguns fios pertencentes ao menino.
Fios escuros como os meus.
Minha mente girava lembrando de tudo o que havia escutado naquele
dia e tentando encaixar as peças daquele quebra-cabeça.
Quem teria coragem de armar um plano tão nefasto para afastar
Elizabeth de mim?
Inferno!
Balancei a cabeça, olhei para fora e vi que já estávamos entrando no
hangar.
Sentindo-me estranhamente sufocado, afrouxei o nó da gravata e
respirei profundamente, mas ainda assim não parecia entrar ar suficiente.
De repente, uma angústia inexplicável tomou conta de mim e pedi que
parassem o carro.
Mesmo achando estranho, o motorista obedeceu e imediatamente eu
desci.
Sem dizer uma palavra, caminhei para longe dos meus seguranças
precisando me distanciar, esperando que o ar puro me ajudasse a conseguir
um pouco de clareza. Mas a única coisa que consegui foi que a voz de
Elizabeth soasse com mais nitidez, suas palavras dançando em minha cabeça,
como um castigo por eu ter cedido e ido atrás dela.
Ligações, atentados, ameaças... Um filho.
Eu sabia que devia estar preocupado com tudo que ela me contou, mas
naquele momento só conseguia focar na ideia de que eu poderia ter um filho.
Um filho de três anos a quem eu nunca vi e que, provavelmente nunca me
viu.
O que será que ele pensava sobre mim? Que eu não o queria ou que
tinha coisas mais importantes a fazer do que vê-lo nascer, crescer...?
Meu peito apertou e o ar voltou a ficar escasso.
Eu, sinceramente, sentia que estava vivendo em um mundo paralelo.
Elizabeth tinha voltado e trazido consigo o apocalipse.
Eu já podia até ver as notícias nos jornais. De um lado, meus eleitores,
implorando para que eu e Catherine aumentássemos a família, e do outro, a
imprensa sensacionalista, se esbaldando com a notícia de que eu tinha um
filho fora do casamento.
Que merda estava acontecendo em minha vida?
Bastou ela aparecer para as coisas saírem de controle.
— Senhor? — ouvi Zed chamar, mas deu para perceber que não estava
muito próximo. — Está precisando de alguma coisa?
Para ele fazer essa pergunta, eu podia imaginar que minha aparência
devia estar tão ruim quanto me sentia.
— Apenas de mais um tempo sozinho antes de partirmos — respondi e
voltei a caminhar.
Enquanto me distanciava, comecei a pensar em como seria minha vida
dali para frente. Porque era certo que essa confusão não acabaria bem.
Antes de ela aparecer, tudo estava muito certo em minha cabeça. Eu
governaria por mais quatro anos, concluiria os projetos ainda pendentes e
somente depois pensaria nos rumos que minha vida iria tomar.
Uma coisa era certa: eu me separaria de Catherine e torceria para que
ela encontrasse alguém que quisesse formar uma família com ela. Depois
disso eu aproveitaria um pouco a vida, talvez até namorasse uma socialite ou
outra.
Mas havia três coisas que não entrariam nos meus planos: uma era
casar, a outra, ir atrás de Elizabeth, e a última, ter um filho.
Não que eu não gostasse de crianças, a questão era que eu tive uma
infância perfeita, com pais amorosos e me recusava a dar menos do que isso
para qualquer criança.
Todavia, agora, depois de tudo que fiquei sabendo, já não conseguia
enxergar um futuro muito brilhante para este ex-presidente dos Estados
Unidos.
Tudo que eu havia construído iria se desmanchar na lama que
envolveria o meu nome, nem hospitais e escolas novas teriam tanto impacto
quanto o fato de, repentinamente, eu ter um filho com uma mulher que não
era minha esposa.
Puxei o ar com força para me acalmar, decidido a regressar ao meu
habitat natural ou, ao menos, àquele ao qual me acostumei nos últimos três
anos.
Fiz o caminho de volta, indo direto para o helicóptero e seguimos para
a Casa Branca.
Quando entrei na ala privativa, notei que Catherine ainda não havia
chegado e dei graças a Deus. Apesar de não termos muita intimidade, ela
tinha aprendido a me conhecer e assim que me visse, começaria a fazer
perguntas às quais eu não responderia, nem se quisesse, uma vez que não
poderia confiar em ninguém.
Fui para minha sala particular, peguei uma garrafa de uísque no bar e
segui para o escritório que mantinha ali.
Precisava relaxar para conseguir pensar direito e um pouco de álcool
me ajudaria.
Caminhei até o aparador, peguei um copo e o enchi. Bebi esta primeira
dose em três goles, sentindo o líquido queimar a garganta ao ponto de fazer
meus olhos marejarem, devido a intensidade da bebida.
Isso me fez lembrar do choro desesperado de Elizabeth.
Se tudo o que me falou era mesmo verdade, ela também sofrera com a
separação. Talvez mais do que eu, e isso estava me deixando doente.
Até aquele momento tinha vivido com a falsa ilusão de que ela era uma
interesseira que havia achado um partido menos complicado e ido embora.
Mas pelo que estava vendo, a realidade era diferente e muito cruel,
pensei enquanto servia uma segunda dose.
Apertei o copo entre as mãos e caminhei até o cofre, abri-o rapidamente
e de lá tirei a tela que ela havia me presenteado no dia em que me deixou.
Coloquei-a sobre a mesa e a inclinei com a ajuda de alguns livros,
depois me sentei e fiquei admirando a peça enquanto avaliava os sentimentos
que me provocava.
Vários anos haviam se passado e ainda era doloroso olhar para aquela
pintura. Mas, como um maldito masoquista, eu não tinha conseguido me
desfazer dela. Todavia, sequer me lembrava da última vez em que a vi. Se o
nome Elizabeth era um assunto proibido, imagina algo físico e tão particular.
Mas de que adiantou me proteger? Agora tudo tinha voltado, com força
total, como uma avalanche que esperou tempo demais para rolar a montanha
e quando finalmente cedeu, foi levando tudo o que tinha pela frente.
Todas as barreiras que construí para que minhas lembranças ficassem
guardadas no fundo da alma, já não valiam de nada. Os inúmeros pecados
que imputei a ela, estavam caindo por terra, porque Elizabeth tinha sido tão
manipulada quanto eu.
E tudo isso para quê?!
Lexy tinha razão quando disse que o poder adquirido com meu cargo
não iria me satisfazer para sempre. Pior era mensurar o que perdi para estar
naquela posição. Saber de tudo isso me irritava e deprimia na mesma medida.
Levantei-me e andei pelo escritório, sorvendo o conteúdo do copo e
sentindo um ódio descomunal tomar conta de mim.
Voltei para junto da mesa e, num rompante, varri tudo o que estava em
cima dela. Livros, papeis, canetas, a tela de Liz; tudo voou longe, mas não me
importei, eu precisava exorcizar a dor que essa nova realidade me trouxe.
Liz era uma vítima, eu tinha um filho e estava cercado por cobras.
Como pude ser tão burro? Tão cego?
Tomei o restante da bebida e procurei pelo uísque, encontrando-o sobre
o aparador. Em vez de encher o copo novamente, peguei a garrafa e bebi
direto dela. Se bebesse o suficiente, talvez conseguisse amortecer aquela
revolta, talvez conseguisse esquecer, pelo menos por aquele dia, o tormento e
a sensação de culpa que estava sentindo por não ter continuado procurando,
por ter deixado meu orgulho me dominar.
Não sei em que momento perdi a consciência, só sei que quando
acordei, algumas horas depois, estava deitado no sofá, com a pintura de
Elizabeth no colo e um gosto horrível na boca. Além disso, sentia que minha
cabeça poderia explodir a qualquer momento.
Tinha acabado de escovar os dentes e tomar um remédio para dor,
quando ouvi o toque do meu celular. Achei-o em cima do aparador e vi que
havia quatro chamadas perdidas de Dom.
Na mesma hora senti meu coração parar, apenas para voltar a bater
descompassadamente. Se meu irmão estava ligando com tanta insistência, era
porque havia acontecido algo grave com alguém da família e isso me
apavorou.
Respirando fundo, liguei de volta e na mesma hora ele atendeu:
— Harry!
— O que aconteceu, Dom? — perguntei e levei um susto quando olhei
ao redor e vi o tamanho do estrago que tinha feito no escritório.
— Por favor, me diz que você não sabia que tinha um filho.
— Como é?
— É sério, eu não quero estar na sua pele quando o pai e a mãe
souberem que você escondeu um neto deles.
— Dom, dá pra falar coisa com coisa, porra? Eu não estou entendendo
nada.
— Ah, meu Deus, então você não sabia?
Respirei fundo, às vezes era preciso ter muita paciência com meu
irmãozinho.
— Como foi que você descobriu isso?
— Ah, merda, você já sabia. Os velhos vão arrancar seu couro,
irmão...
— Dominic! — gritei e me arrependi na hora em que uma pontada
lancinante atravessou minha têmpora.
— Ok, calma. A Liz me ligou e contou.
Eu não podia acreditar que ela tinha feito isso quando, poucas horas
atrás, prometeu que manteria essa história em segredo.
— Por que ela fez isso? — murmurei para mim mesmo, mas Dom
respondeu.
— Ela falou que o filho de vocês sofreu um acidente.
Congelei ao ouvir aquilo e o celular quase caiu da minha mão.
Eu tinha acabado de ganhar um filho e Deus já o estava tirando de mim.
Só podia ser castigo.
— Ela disse como o garoto está? — perguntei um tanto desconsertado.
— Parece que está bem, mas acho melhor você retornar. Ela parecia
preocupada com alguma coisa. Disse que te ligou várias vezes, mas só caía
na caixa postal, por isso telefonou para mim.
Caixa postal?
Nessa hora me lembrei de Lexy ter me falado que o número
desconhecido que havia ligado no meu celular pertencia a Elizabeth. Desde
aquele dia eu estava usando o aparelho reserva.
— Ela ligou no outro número — expliquei —, mas eu vou retornar.
— Então é verdade mesmo? Vocês tiveram um filho?
Eu não poderia confirmar aquilo, uma vez que ainda não tinha o
resultado do DNA, então desconversei:
— Depois a gente fala disso, Dom, preciso ligar para ela e descobrir o
que aconteceu.
— Tudo bem, mas me mantenha informado.
— Ok. Obrigado.
Assim que ele desligou, fui atrás do meu paletó para pegar o papel que
Zara me dera com os dados de Elizabeth e fiz a ligação.
— Alô — disse ela, baixinho e imaginei que devia estar no hospital.
— Elizabeth.
— Ah, Harry, graças a Deus você ligou!
— Dom acabou de falar comigo. O que houve?
— O carro onde Colin estava bateu e ele precisou ser operado.
Na mesma hora vi a imagem de um menininho entre as ferragens de um
carro e senti um embrulho no estômago. Se bem que isso também podia ser
por causa de todo o uísque que tomei.
— E ele... — pigarreei. — Ele está bem?
— Sim, graças a Deus correu tudo bem na cirurgia e ele já foi
transferido para o quarto.
Senti um alívio tão grande ao ouvir isso que até me recostei no sofá.
— Que bom. Mas então o que posso fazer para te ajudar?
— Talvez você considere loucura, mas pela forma como as coisas
aconteceram, eu desconfio que não tenha sido um acidente.
— Do que você está falando?
— Stella me disse que um carro apareceu do nada pelo acostamento e
praticamente os jogou para fora da pista. Eu acho que aquelas pessoas já
sabem sobre a existência do meu filho, não pode ter sido coincidência que
isso tivesse acontecido logo depois de eu voltar para a sua vida. Quer dizer,
não que eu esteja voltando... — ela parou e suspirou. — Você entendeu o que
eu quis dizer.
Quando não falei nada, ela respirou fundo e continuou:
— Eu sei que não acredita que ele é seu filho e não vou culpá-lo. Você
quer uma prova e acho que merece isso, mas, por favor, cuide da segurança
dele. Colin é só um bebê, não é justo que seja afetado por algo que eu e você
provocamos no passado.
A forma desesperada como me pediu aquilo fez meu peito se apertar.
Mesmo ainda não tendo certeza de que o menino era mesmo meu, eu não
teria coragem de lhe virar as costas.
— Eu vou providenciar tudo, não se preocupe.
— Obrigada, Harry, muito obrigada — falou, e percebi que estava
chorando.
— Onde vocês estão?
Elizabeth me passou todos os dados, mas em nenhum momento me
pediu que fosse ao hospital. Sua preocupação era com o filho e embora
achasse que ela pudesse estar vendo coisas onde não havia, preferi acreditar.
Não me perdoaria se algo acontecesse com ele por minha causa.
Verifiquei as horas quando ela desligou e constatei que faltava pouco
para as 21h.
Estava tarde, mas isso era urgente. Se Elizabeth estivesse certa, nós
estávamos lidando com verdadeiros psicopatas que não se importavam de
matar uma criança apenas para alcançar seus objetivos.
Imediatamente comecei a agir. Como só podia confiar cegamente em
duas pessoas, eram eles que iriam me ajudar.
Começando por Lexy, pensei e liguei para ela.
— Oi, Harry, aconteceu alguma coisa?
— O filho de Elizabeth sofreu um acidente e está internado... —
comecei, mas falar o que havia acontecido me fez perceber a grandiosidade
daquilo e uma queimação estranha se instalou em minha garganta, por isso,
tive que fazer uma pausa.
— Harry?
Tossi um pouco para liberar o nó e voltei a falar:
— Preciso de uma equipe de segurança completa no hospital onde ele
está internado. Com a maior urgência e discrição possível — pedi e repeti os
dados que Elizabeth me fornecera.
— Irei providenciar agora, não se preocupe
— Obrigado.
— Fico feliz que tenha dado certo, achei que não fosse aceitar muito
bem.
Passei as mãos nos cabelos e depois pelo rosto.
— Eu só estou fazendo isso porque ela está preocupada, não porque
acredite que ele é meu.
— Então você não o viu. — Foi uma constatação, não uma pergunta.
— Não, ele estava na praia. Mas por que diz isso?
— Porque eu vi, e ele é uma cópia sua andando pela terra. Há vários
traços de Elizabeth nele, mas é inegável que seja um Stone.
Aquelas palavras foram como lanças entrando em meu peito e na
mesma hora me arrependi de não ter pedido para ver uma foto dele.
Quando senti aquela queimação na garganta novamente, permaneci
calado e Lexy, provavelmente entendendo o que se passava, continuou:
— Eu sei que é coisa demais para assimilar, mas acho que você
deveria ir ao hospital. Se não fizer isso, irá se arrepender.
Voltei a passar a mão pelo cabelo e comecei a andar pelo escritório,
desviando das coisas que estavam no chão, tentando decifrar a agonia que
estava sentindo.
Desde o nosso encontro, tive um pressentimento de que Elizabeth não
estava mentindo quanto a paternidade daquela criança, ainda assim, preferi
não acreditar, apenas porque era mais fácil duvidar do que descobrir que um
filho meu estava sendo criado longe de mim.
Se ao menos Lexy tivesse me contado...
— Por que não me falou isso antes, porra? — Eu odiava quando
pessoas próximas a mim, pessoas em quem eu confiava, agiam pelas minhas
costas.
— Levando em consideração tudo que está acontecendo, você tem todo
o direito de me odiar, mas vamos deixar esse embate para depois. Elizabeth
está precisando de apoio agora, então, pare de pensar no passado e assuma
seu papel de pai.
Pai. Engoli em seco ao ouvir aquilo.
— Tudo bem. Vou ligar para Zed, quero que ele escolha homens de sua
inteira confiança para fazerem parte da equipe.
— Hum... Se quiser, eu falo com ele.
Franzi o cenho, sem ter certeza de que ouvira direito.
— Você vai falar com Zed sem eu precisar obrigar? — perguntei,
desacreditado.
— Você já tem coisa demais na cabeça. Vá tomar um banho enquanto
eu cuido de tudo.
Ainda confuso, desliguei o telefone e fiz o que ela sugeriu.
Embaixo do chuveiro, enquanto a água quente queimava a pele das
minhas costas, senti o peito apertar, como acontecia sempre que eu estava
prestes a fazer algo importante.
E, pelo visto, o que faria naquela noite, seria a coisa mais importante
que já tinha feito na vida.
Mas para isso eu precisava varrer todas essas emoções para debaixo do
tapete e assumir o controle da situação. Segundo Lexy, Colin era meu filho, e
eu não poderia deixar que nada de mal lhe acontecesse.
— E, contra todas as minhas expectativas, ele disse que iria ajudar —
expliquei a Stella, que abriu um amplo sorriso.
Como não tinha podido ficar com Dan, que fora transferido para a UTI,
ela e seus pais já estavam em nossa casa.
Claro que sua vontade era ficar ali, conosco, mas o hospital não
permitiria que ninguém recebesse visitas às 10h30 da noite, por causa disso,
minha amiga teve que se contentar com uma chamada de vídeo.
E já estávamos nisso há quarenta minutos, eu na poltrona do quarto,
ela, em sua cama, querendo saber absolutamente tudo o que eu e Harry
conversamos, desde o nosso encontro naquela tarde, até o telefonema que eu
recebera dele duas horas atrás.
Devo confessar que ainda estava um pouco comovida com isso.
Quando liguei para Dominic, tinha esperanças de que ele conseguisse
falar com o irmão, mas minha fé acabava aí.
Pelo fato de o teste de DNA ainda não estar pronto, achei que Harry
ficaria relutante. Mas não, apenas aceitou o que eu disse e ofereceu ajuda. E,
para mim, ele não poderia ter feito nada melhor, pois somente quem era mãe
conseguia entender a dor que eu estava sentindo por saber que tudo o que
meu filho sofreu, pode ter sido por causa da ambição de pessoas
inescrupulosas e que ainda havia o risco de esses desalmados tentarem de
novo. Tudo isso me deixava desesperada.
— Tá, mas e aí? — Stella perguntou, interrompendo minhas
divagações.
— E aí, nada. Ele vai garantir a segurança de Colin, mas não acho que
irá se aproximar até que esteja com a comprovação da paternidade na mão —
respondi e a ouvir reclamar do outro lado.
— Bastaria olhar para Colin que ele veria as semelhanças. Mas só de
estar disposto a proteger nosso menino, já basta. Por enquanto —
acrescentou ela, após bocejar pela terceira vez, o que me fez obrigá-la a
encerrar a chamada.
Todos estávamos passando por um grande estresse, então, seria bom se
conseguíssemos descansar um pouco.
Deixando o celular de lado, voltei minha atenção ao meu filho e senti
uma vontade enorme de chorar, colocar para fora a dor que afligia sempre
que olhava para ele.
Ele estava pálido, com olheiras e mesmo por baixo do curativo, dava
para ver um hematoma se formando em sua testa.
Não consegui segurar as lágrimas ao pensar que ele poderia ter
morrido, por isso, apesar de estar penalizada, eu agradeci a Deus por não ter
me tirado a única coisa de valor que eu tinha naquela vida.
Com medo que Colin acordasse de repente e me visse daquele jeito,
obriguei-me a me recompor, não deixaria aquela energia melancólica tomar
conta de mim. Aquele garotinho inocente tinha que sentir que a mãe dele era
forte, que ela sempre estaria ali por ele.
Fui até o banheiro para lavar o rosto e quando estava saindo, vi a porta
se abrir.
— Srta. Nichols, nós recebemos ordem de liberar os corredores do
andar e preciso que permaneça dentro do quarto pela próxima meia hora, tudo
bem? — pediu Diane, a enfermeira da noite, uma moça muito simpática e
prestativa.
— Não pretendo sair — afirmei.
Ela assentiu com um sorriso e fechou a porta.
Voltei a me sentar perto de Colin e peguei o celular, apenas para ver
que havia duas chamadas não atendidas de Dominic.
Embora parecesse chocado e curioso quando lhe fiz um resumo do que
aconteceu, ele não fez perguntas, apenas disse que daria um jeito de falar com
o irmão. Mas eu devia ter adivinhado que não se contentaria apenas com as
parcas informações que lhe dei.
O problema é que eu não sabia o que falar. Preferia que Harry tratasse,
ele mesmo, de informar sua família. Decidida, resolvi mandar uma
mensagem de texto avisando que já tinha falado com o irmão dele e que
estava tudo bem.
Peguei a mão de Colin e fiquei velando seu sono até que um burburinho
do lado de fora chamou minha atenção e a recomendação de Diane me voltou
à mente.
Curiosa, levantei-me da poltrona e fui até a janela que dava para o
corredor. Afastei um pouco as persianas e levei um susto ao avistar uma
quantidade considerável de homens de preto se espalhando pelo andar.
Sabendo o que aquilo significava, meu coração começou a acelerar
dentro do peito para logo em seguida galopar feito um cavalo selvagem.
Ali estava ele, Harry Stone, o presidente dos Estados Unidos,
avançando pelo corredor com toda a imponência e elegância que lhe era
inerente.
E mesmo tendo estado com ele por vários minutos ainda naquela tarde,
não consegui tirar os olhos de sua figura magnética.
Conforme ele passava, os seguranças iam se posicionando e dando
ordens aos poucos funcionários do andar.
Próximo ao posto de enfermagem, Harry parou e cumprimentou um
homem engravatado. Os dois trocaram algumas palavras e começaram a
caminhar em minha direção.
Eu não sabia explicar o que estava sentindo por vê-lo ali, mesmo sem
ter certeza de que Colin era seu filho. Só sabia que precisava refrear as
esperanças que começaram a brotar em meu ser por essa atitude tão
significativa.
Mas deixaria para fazer isso depois que ele fosse embora, porque nem
se quisesse eu conseguiria minar a alegria que sentia naquele momento.
Soltei a persiana, aproximei-me da cama e respirei fundo para aguardar
sua chegada. Quando a porta se abriu, ergui a cabeça para encará-lo, afinal,
não sabia qual seria sua reação quando visse o filho pela primeira vez.
Ele acenou rapidamente para mim, mas logo sua atenção se voltou para
a cama e a única coisa que vi em seus olhos foi preocupação.
E por alguns segundos tive um vislumbre do homem terno e
compassivo que conheci anos atrás.
Estava tão ligada nele, que pude perceber a hora em que Harry se deu
conta de que Colin era mesmo seu filho, pois a compaixão se transformou em
amor.
Isso tocou tão forte em mim, que fez uma emoção diferente me invadir.
Era como se eu soubesse que não precisava mais carregar aquela carga
sozinha e, pela primeira vez em anos, eu me dei o direito de ser fraca.
De repente, minhas pernas amoleceram, minhas vistas escureceram e a
última coisa que vi foi o olhar alarmado de Harry sobre mim.
— Está tudo pronto. — Ouvi alguém dizer ao longe, mas não reconheci a
voz.
— Ótimo. Assim que Elizabeth acordar, nós iremos.
Já essa voz eu conhecia.
Percebendo o que havia acontecido, sentei-me em um pulo que fez
Harry tirar os olhos do celular e olhar para mim.
— Bom dia. Conseguiu descansar? — perguntou.
— Você não deveria ter me deixado dormir tanto — reclamei.
— Por quê? Você estava exausta.
— Mas eu tinha que ficar com Colin.
— Eu fiquei com ele, não se preocupe.
— A noite toda?
Ele concordou com a cabeça como se não fosse nada de mais e falou:
— Se estiver tudo bem para você, nós já podemos ir.
— Assim que eu usar o banheiro nós podemos ir
Depois de fazer a higiene com os itens que comprei na drogaria que
encontrei no térreo, dei um jeito no cabelo e saí.
— Não era para ele já ter acordado? — perguntei quando me aproximei
da cama e vi que Colin ainda dormia.
— Ele acordou por volta das 6h da manhã, um pouco agitado por causa
da dor, e o Dr. Michaels resolveu dar logo um sedativo para que durma
durante a viagem.
— E o que é aquilo? — Apontei para uma bolsa que não estava
conectada ao seu braço na noite anterior.
— O Dr. Michaels chamou de Nutrição Parenteral[13]. Como Colin está
sem comer desde ontem e vai dormir bastante por causa do novo sedativo, ele
achou por bem prescrever, para que seu corpo fosse alimentado durante o
sono.
— Mas ele estava bem?
— Sim. Um pouco assustado, mas bem.
Eu ia perguntar se eles tinham se visto, mas alguém bateu à porta e
Harry foi abrir para receber o médico que assistiria Colin no helicóptero.
Depois de examiná-lo e anotar seus sinais vitais, ele autorizou que dois
homens entrassem e transferissem meu filho para uma maca.
Quando eles saíram, eu e Harry fomos atrás, lado a lado, e embora
tenha preferido manter a cabeça baixa, estava ciente dos olhares curiosos que
recebíamos.
As pessoas deveriam estar se perguntando que diabos o presidente do
país estava fazendo naquele hospital em pleno sábado com aquela plebeia ao
lado.
— Colin viu você? — perguntei assim que saímos do elevador no
heliponto do hospital.
— Não, na hora em que ele acordou eu tinha saído para autorizar o
translado e quem estava aqui era o Zed.
— Entendi. Bom, não vão faltar oportunidades — falei e comecei a ir
em direção ao helicóptero onde Colin seria transportado.
— Você não poderá acompanhá-lo, a equipe médica não precisa de
uma mãe enquanto estiverem cuidando de uma criança.
— Eu não vou deixar meu filho sozinho — falei, um pouco mais
alterada do que pretendia.
— Liz, ali só tem médicos e enfermeiros.
— Você pode achar que eu estou paranoica por não confiar em
ninguém, mas isso não vai mudar o que eu penso. Meu filho não vai naquele
helicóptero sozinho.
Ele suspirou e imaginei que já estivesse arrependido, mas eu não iria
ceder.
— Você confia em Zed? — perguntou e na mesma hora olhei para o
gigante sério, mas que sempre me tratou com muita cortesia. Ele foi o único,
além de Zara, que não me considerou inferior.
— Sim, confio.
— Ótimo. Zed — chamou e o segurança se aproximou. — Quero que
você vá no helicóptero com Colin.
Sem fazer perguntas, ele assentiu e correu para a aeronave.
Cinco minutos depois que eles se foram, outro helicóptero pousou.
— É a nossa carona.
Respirando fundo, eu o segui.
— Como foi o acidente? — perguntei quando o jato já estava no ar.
Eu ia voltar de helicóptero também, mas acabei desistindo quando vi o
quanto Elizabeth estava cansada, por isso, fomos até uma pista particular
onde embarcamos em meu jato e seguimos para a capital.
— Quer falar sobre isso agora?
— Por que não? Temos uma hora de voo até Washington e seria uma
ótima forma de aproveitar nosso tempo.
— Tudo bem.
Tirei o paletó, afrouxei a gravata, depois dobrei as mangas da camisa,
sob seu olhar atento, e me preparei para escutá-la.
Pelos minutos seguintes Elizabeth contou todos os detalhes que
conhecia.
— Chame de intuição ou de instinto materno, mas eu tenho certeza de
que não foi um acidente, Harry.
— Eu acredito em você.
Depois de tudo o que ela me falou, seria ingenuidade minha pensar que
era coisa da sua cabeça. E foi por isso que eu entrei em contato com Rurick
Czar e contei o que aconteceu. Se ele e sua agência não descobrissem quem
estava por trás disso, ninguém descobriria.
— Por isso fechei a área VIP do hospital, ela ficará à nossa disposição.
Ninguém entrará lá sem ser autorizado — garanti.
Imediatamente seu semblante se tranquilizou e vi seus olhos
marejarem.
Desviei o olhar, mas não pude deixar de pensar no que ela passou para
estar tão fragilizada assim.
— Como foi? — perguntei de repente.
— Como foi o quê?
— Tudo, eu quero saber tudo o que aconteceu desde que recebeu
aquele telefonema — enfatizei, olhando para ela.
Liz mordeu o lábio e após um pesado suspiro, começou a falar
basicamente o que havia me contado na tarde anterior, mas, dessa vez, com
mais detalhes.
— Eu não consigo entender porque não confiou em mim — falei ao fim
do relato, inconformado.
— Harry, você não viu como Stella ficou, não viu o orfanato cheio de
policiais e bombeiros, as freiras retirando as crianças... Testemunhar aquilo
foi desesperador, me fez perceber que eu não estava lidando com amadores e
isso me deixou muito vulnerável. Tudo o que tinha dado por certo desde que
te conheci parecia errado, eu me senti errada e comecei a acreditar no que
Lexy e Cathy me falaram... Aquele era seu sonho e se perdesse as eleições
por causa de mim, você me culparia e eu não aguentaria. Por favor, não me
julgue, naquela época era isso que eu pensava.
Todos os seus argumentos eram válidos, ainda assim, era frustrante
saber que ela me achava tão volúvel a ponto de mudar meus sentimentos
assim.
— Você deveria ter me dado a chance de escolher.
— Eu sei que deveria, mas não quis arriscar que me odiasse. — Liz
suspirou pesadamente e parecia tão frustrada quanto eu: — Não adianta
discutirmos. Eu fiz o que achei que era certo para manter as pessoas que
amava em segurança e para que você realizasse seu sonho. Não pense que foi
fácil, todas as decisões que tomei foram dolorosas e deixaram cicatrizes que
guardo até hoje.
Bom, éramos dois.
— Só para você ter ideia, eu fiquei em depressão por meses e acho que
não teria conseguido me reerguer se não tivesse descoberto que estava
grávida. Colin foi minha salvação.
Engoli em seco ao ouvi-la falar daquela forma a respeito do nosso filho.
Ele foi uma benção para ela e eu sentia que seria a mesma coisa para mim.
— Por que escolheu Nova Jersey? — perguntei, mudando um pouco o
foco.
— Por causa de um amigo.
— Amigo?
— Sim. Na época em que Eleanor vivia tentando me arrumar um
casamento milionário, ela me apresentou a um senhor bem idoso. Em um
primeiro momento eu achei que ele também compactuasse com aquela
loucura, mas depois descobri que só queria dar uma lição no sobrinho que
estava interessado em sua herança.
— Acho que me lembro dessa história, se não me engano, até pedi que
se afastasse dele.
— Eu sei, mas ele era um homem muito gentil e solitário, que me dava
bons conselhos. Além disso, ambos tínhamos dois interesseiros sob o teto e
acabamos nos tornando amigos.
— E onde ele entra nessa história?
— Quando eu percebi que estava lidando com pessoas perigosas, minha
primeira ideia foi tirar Stella e sua família da cidade. Em minha ingenuidade,
achei que quando eles estivessem longe, eu poderia lhe contar o que estava
havendo e aguentar as consequências, mas, como eu disse, foi ingenuidade
minha.
— Ainda não entendi o que ele tem a ver com tudo isso.
— Depois que Stella foi atacada, eu quis tirá-los dali, mas como eram
ilegais, não conseguiriam ir muito longe, sem contar que sempre haveria a
possibilidade de Eleanor denunciá-los. Então, eu fui à casa dele, contei tudo o
que havia acontecido e, para minha surpresa, ele acreditou. Com isso,
perguntei se seria possível conseguir o Green Card para eles e na mesma
hora ele concordou. Por dois dias eu fiquei aliviada, até que o homem me
ligou outra vez dizendo saber o que eu pretendia e para provar que não estava
brincando, contou sobre o que havia feito no orfanato. Depois disso eu perdi
qualquer esperança e fui pedir ajuda a Joseph mais uma vez. Ele planejou
nossa fuga, conseguiu documentos novos e ofereceu sua propriedade. É nela
que vivemos nos últimos anos.
— Quantos anos esse homem tem? — perguntei curioso, mais curioso
do que deveria.
— Deve estar com uns 85, eu acho. Por quê?
A idade era bem avançada, mesmo assim eu não entendi por que razão
ele ajudaria Elizabeth e mais três pessoas a quem mal conhecia sem mais nem
menos.
— Curiosidade — respondi dando de ombros.
Mas ela não engoliu e estreitou os olhos, claramente irritada.
— Ah, pelo amor de Deus, Harry, não acredito que está pensando que
tive alguma coisa com esse senhor, que fiz algum tipo de troca de favores.
— Não coloque palavras em minha boca — falei, sério.
Embora fosse uma coisa natural de se pensar, eu não achava que Liz
fosse esse tipo de pessoa. Já ele, eu não poderia afirmar.
— Acho bom mesmo — bufou, ainda indignada. — Se eu fosse essa
interesseira aí, teria continuado com você sem pensar no que aconteceria com
os outros. Pior, poderia ter chantageado você ou sua família quando descobri
que estava grávida. Mas, não, a única coisa que fiz foi me sacrificar para que
você pudesse reinar, então, por favor, não insinue esse tipo de coisa, para que
eu não me arrependa do que fiz.
A forma majestosa como retorquiu me deixou um tanto quanto
orgulhoso. Esta Elizabeth em nada lembrava aquela garota que aceitava os
desmandos da mãe. Pelo visto, tudo o que passou fez aflorar uma força que
eu desconhecia.
— Desculpe se o que eu falei a ofendeu, não foi minha intenção.
— Tudo bem. Mas não quero que pense mal dele também. Joseph, com
sua ajuda e bons conselhos, foi primordial para que eu desse a volta por cima;
jamais poderei pagar por tudo que ele fez por nós.
Ainda estava curioso, mas resolvi que ele estaria entre as pessoas a
quem Rurick pesquisaria.
— Se for possível gostaria de conhecê-lo um dia, quero agradecer
pessoalmente pelo que fez por você e, consequentemente, pelo meu filho.
Elizabeth assentiu e eu pedi que falasse de Nova Jersey.
Ela foi contando, etapa por etapa, indo da depressão à descoberta da
gravidez e chegando ao parto. Em cada um desses momentos foi possível
sentir um pouco do que ela havia passado, pois mesmo após esses anos, suas
emoções ainda estavam patentes em cada sorriso que dava ao narrar ocasiões
alegres ou nos momentos de introspecção, muitos deles regados a lágrimas...
Eu conseguia sentir verdade em tudo que falava, e fiquei
particularmente emocionado quando descreveu os primeiros anos de Colin;
seus primeiros passos, o primeiro dente, a primeira palavra que disse e várias
outras coisas que somente uma mãe dedicada se lembraria.
— Você falou algo a respeito de uma galeria lá no hospital — perguntei
quando ela terminou seu relato, como se Blake já não tivesse comentado
comigo.
— Ah, claro. Eu me empolguei com Colin e acabei me esquecendo.
Mas não tem nada de mais. Stella começou a trabalhar lá como secretária e
falou ao dono, John Kent, sobre minhas pinturas. Ele ficou curioso e foi lá em
casa a fim de vê-las. Para minha alegria John gostou e no mesmo dia levou
três telas, duas semanas depois, encomendou mais duas, e três meses depois,
me perguntou se eu não queria ser sua sócia. Após verificar que estava tudo
bem, eu aceitei e estamos juntos até hoje.
— Mas continua pintando — falei entredentes pela forma como ela se
referiu ao sócio. Mesmo com tudo o que aconteceu, ainda me sentia um tanto
possessivo quando o assunto era ela.
— Claro que sim. Era por causa delas que estava no evento da sua mãe.
Havia três dos meus quadros expostos.
Acenei, para ela saber que havia escutado, mas minha cabeça estava
longe.
Pelo visto, a lista de nomes que entregaria ao pai de Zara seria maior do
que imaginava, mas precisava saber o grau de importância que esse cara tinha
na vida dela.
Prestes a pousar em Washington, enviei uma mensagem a Rurick Czar
pedindo que ele investigasse todas as pessoas com quem Elizabeth se
relacionou.
Como o jato pousara em minha pista particular, não foi possível encontrar
Colin imediatamente.
Eu sabia que, assim como eu, Elizabeth só se tranquilizara porque Zed
o estava acompanhando. Da noite para o dia, aquele garotinho se tornou
minha prioridade e saber que podia contar com meu melhor amigo para
cuidar dele, estava sendo primordial.
Foi por isso que resolvi que ele comandaria a equipe de segurança
responsável por Colin, sabia que Zed o protegeria com sua vida.
Voltei a me lembrar do momento em que eu apreendi que ele era meu.
Foi só colocar os olhos naquele garotinho e eu soube. Simples assim.
Eu sabia que parecia precipitado afirmar uma coisa tão séria sem as
devidas provas, mas eu me reconheci em cada traço do rosto daquele
garotinho e depois que Liz me mostrou suas fotos, as coisas ficaram ainda
mais óbvias em minha cabeça.
Ele era assustadoramente parecido comigo e ao constatar esse fato,
diversos sentimentos contraditórios tomaram conta de mim, tanto que achei
que meu peito fosse explodir.
E por mais que quisesse continuar furioso com Elizabeth por ter
mentido e escondido meu filho por tanto tempo, era só me lembrar dos
motivos que a fizeram ir embora, e tudo se dissipava. Eu não podia exigir que
uma garota de 23 anos, que vivera sua vida praticamente dentro de casa,
tivesse coragem para enfrentar o desconhecido.
Mesmo eu, com a idade que tinha, sentia-me temeroso por saber que
havia uma grande possibilidade de que as suspeitas dela se concretizassem e
só de pensar que eles poderiam voltar a atentar contra a vida do meu filho
novamente, sentia vontade de entregar meu cargo e fugir com ele.
Mas isso era algo que não poderia fazer. Eu precisava encontrar essas
pessoas e fazê-las pagar por todo mal que fizeram e tudo seria mais fácil de
dentro do Salão Oval.
Quando chegamos no andar privativo, os seguranças que contratei já se
encontravam por todos os lugares.
Atravessei o amplo corredor com Elizabeth ao meu lado e fomos
interceptados pelo diretor do hospital que estava acompanhado pelos médicos
que cuidariam de Colin.
Durante meia hora, os especialistas nos explicaram as fases de sua
recuperação e tudo o que era esperado nos próximos dias.
Fiquei bem satisfeito com as respostas que recebi e percebi que
Elizabeth se sentiu da mesma forma.
Quando saímos da pequena sala de reuniões existente ali, Lexy
esperava por nós.
Fiquei um pouco apreensivo quanto aquele encontro, mas as duas se
cumprimentaram cordialmente e logo depois Elizabeth pediu licença para ir
ver o filho.
Eu queria ir junto, mas a expressão nos rostos de Lexy e Zed não
deixavam dúvidas de que algo importante havia acontecido.
— O que houve? — perguntei a Zed.
— As imagens que o senhor pediu da rodovia foram analisadas e nós
concluímos que a Srta. Reagan estava certa, foi mesmo um atentado.
Fechei as mãos em punho, sentindo uma revolta enorme tomar conta de
mim.
— O que você viu?
— A SUV saiu de um determinado ponto e claramente tentou empurrar
o utilitário deles para a pista oposta. A sorte é que ambas as pistas estavam
vazias, ou teria sido muito pior.
— Conseguiram a identificação do veículo?
— Sim, mas é uma placa fria, não dá para rastrearmos.
— O que você sugere?
— Eu tenho um amigo no FBI. Pensei em passar todas as informações
a ele e pedir o máximo de sigilo, uma vez que não sabemos em quem confiar.
— Tudo bem, faça isso. Eu também vou falar com Rurick, tenho
certeza de que ele vai descobrir alguma coisa.
Ambos assentiram e eu continuei:
— Enquanto isso, mantenha o andar sob vigilância 24h por dia, com
funcionários devidamente cadastrados, ninguém entra na ala sem autorização.
Além disso, quero você e mais um agente da sua inteira confiança cuidando
diretamente de Colin.
— Sim, senhor.
Zed se afastou e eu permaneci com Lexy.
— Bem que dizem que toda mãe é meio bruxa — comentou ela,
fazendo alusão às suspeitas de Liz.
— Resta saber se são as mesmas pessoas que a ameaçaram quatro anos
atrás, para garantir que eu seja reeleito, ou se é a oposição tentando me fazer
desistir.
— Nesses três anos dentro da Casa Branca, já vi muitos aliados que
seriam capazes de tudo para se manterem no poder, assim como conheci
pessoas que estavam com os Democratas e mudaram de lado por não
concordar com alguns dos métodos utilizados por parte dos caciques do
partido. Então, meu amigo, ambas as suposições são igualmente plausíveis.
Quando se envolve poder, dinheiro e pessoas ambiciosas, não há ética que se
sustente, independentemente do lado em que você está.
— Eu não sei o que fazer — falei e comecei a rir, sem qualquer humor.
— Eu já tive que tomar decisões que afetavam as vidas de milhares de
pessoas e agora, quando meu filho está envolvido, eu não sei o que fazer.
— Ei, não fique assim. Mantenha sua rotina para que ninguém perceba
e deixe que Rurick cuide disso. Se existir mesmo uma conspiração eles vão
descobrir.
Assenti, mas não conseguia ficar tão confiante.
— Como estão as coisas entre vocês? — Lexy perguntou mudando de
assunto.
— Confusas. Descobrir que sou pai de um menino de quase 4 anos foi
um baque, mas saber, horas depois, que esse menino estava em um hospital e
que, provavelmente, seu acidente não havia sido um acidente, foi quase
insuportável.
Lexy tocou meu ombro em um gesto de consolo e disse:
— Então curta seu filho. Enquanto isso, vou voltar para a Casa Branca
e ver o que consigo fazer para amenizar sua agenda.
— Fique de olho na imprensa — pedi.
— Já distribuí contratos de confidencialidade por esse hospital inteiro.
Todos aqui estão mais que acostumados com pessoas “famosas”, então,
acredito que não vai haver vazamento de informações. Mas caso aconteça, já
bolei uma nota para soltar aos urubus.
— Obrigado, Lex.
Ela se afastou e no instante seguinte Elizabeth saiu do quarto de Colin,
falando com alguém ao celular.
Analisei seu corpo esbelto, o cabelo, a forma como gesticulava... O
tempo não tinha passado para ela.
Quando desligou, Liz me encarou e franziu o cenho, provavelmente
percebendo que algo havia acontecido.
Fui até ela, estava na hora de lhe contar que suas suspeitas estavam
corretas.
Mi amor.
Desde que cheguei àquele hotel, estive a procura de uma bela
mulher com quem pudesse passar meus últimos anos de vida, alguém
que gostasse tanto de sexo quanto eu. Confesso que tentei com muitas
camareiras, mas a única interesseira o bastante foi você.
Sinto muito por enganá-la com relação às propriedades e
dinheiro, mas não havia outro jeito para fazê-la se casar comigo.
Todavia, acredito que, no fim, foi um negócio bom para nós dois, não é?
Eu paguei sua dívida e você me proporcionou bons momentos.
Então, obrigado pelos melhores meses que já tive na vida.
Fiquei paralisada por alguns segundos, sem acreditar que aquele velho
filho da mãe tinha me passado a perna.
O que eu vou fazer agora?
Saí daquele escritório sentindo o sangue ferver de ódio.
Foi impossível não me lembrar de quantas vezes beijei e transei com
aquele cretino, pensando em sua herança, apenas para descobrir que ele não
tinha nada além de uma pensão que ganhava do filho.
Bem que eu estranhei a ausência da família na leitura do testamento,
obviamente, todos já sabiam que o velho estava falido, menos eu.
Infernoooooo!
AVISO 1:
Como conheço minhas leitoras, resolvi avisar para aquelas que já estão ansiosas pelo livro
do Dominic, que, sim, ele virá, mas apenas quando eu finalizar os livros que já estavam na
fila, de forma que não tenho nem previsão.
AVISO 2:
Eu sei que sentiram falta de Harvey, mas não o coloquei “fisicamente” na estória porque,
pela cronologia, ele está bastante idoso e preferi preservar a memória que vocês têm dele.
Harvey foi o meu primeiro Stone e, talvez, o mais importante, por isso, resolvi que era
melhor fazer dessa forma.
AVISO 3:
Ainda pode haver alguns erros no texto, que já estão sendo corrigidos. Então, peço que
deixem a opção de Atualização Automática — existente na sua página Dispositivos e
Conteúdo, no site da Amazon —, LIGADA, ou deem uma olhada lá de vez em quando para
terem sempre a versão atualizada do livro.
OBRIGADA POR TEREM EMBARCADO EM MAIS UMA ESTÓRIA COMIGO E, POR FAVOR, NÃO SE
ESQUEÇAM DE AVALIAR COMO FIZERAM COM O VOLUME 1, É SUPER IMPORTANTE PARA MIM .
BEIJOS, CLEO.
CONHEÇA A ESTÓRI A DE ZARA E BLAKE
GAROTA VIP
(Lançamento 2019)
Zara Maxwell é uma agente secreta treinada para se infiltrar entre os figurões de Washington e
descobrir tudo o que puder sobre eles. Esta esperta espiã usa de sua beleza, habilidade e inteligência
fora do normal, para conseguir cumprir todas as suas missões e segue apenas uma regra: jamais se
envolver emocionalmente.
Blake Sullivan vem de uma família de políticos influentes. Sua expertise e magnetismo tornaram-no
mundialmente conhecido e o fizeram ganhar as últimas eleições para deputado, com uma vantagem
assustadora, despertando a fúria de seus inimigos e a inveja de seus concorrentes.
Blake será a próxima missão de Zara, uma das mais importantes de que já participou, e talvez, a
última.
DISPONÍVEL NA AMAZON
TRECHO DE GAROTA VI P
CAPÍTULO UM
Zara Maxwell
Paris, França
Ida Adams
Washington DC
Duas semanas após meu primeiro encontro com Taylor Fulls, eu estava
em Paris novamente.
Desde aquela noite, ele me ligava praticamente todos os dias. Era um
saco, mas eu não podia reclamar, pois significava que aquela etapa do plano
estava dando certo. Também fui praticamente convocada a ir encontrá-lo por
duas vezes. A diferença entre as últimas vezes e a primeira, foi que ele fez
questão de que jantássemos juntos. Por causa disso, consegui conhecer um
pouco mais de sua personalidade.
Taylor, era um homem atraente, inteligente e carismático, entretanto,
apesar de se mostrar aberto e interessado, havia algo de misterioso em seus
olhos. Claro que aquilo podia ser apenas uma das facetas inerentes aos
políticos. Nenhum deles mostrava sua real personalidade a ninguém, sempre
havia os sorrisos ensaiados, as palavras agradáveis que todos queriam ouvir,
o tom enérgico ao defender ou criticar um projeto que interessava aos
eleitores alvos e o deputado Taylor Fulls não era diferente.
Ainda assim, devido ao tipo de trabalho que fazia, conseguia identificar
certas nuances que passariam despercebidas à maioria das pessoas, e alguma
coisa me dizia que eu deveria estar sempre alerta perto dele, mesmo que fosse
nítido em seu olhar, o quanto ele me desejava.
— Era ele de novo? — Caleb perguntou quando fiz uma careta para o
celular. Tínhamos encerrado a aula de tiro e estávamos a caminho do flat que
dividíamos durante a estada em Paris.
Assenti antes de perguntar, curiosa:
— Você também fica bobo desse jeito quando está interessado em uma
mulher?
Ele gargalhou e me lançou um olhar sedutor.
— Não, Zara, contudo, posso entendê-lo perfeitamente — confessou,
mas, quando levantei uma sobrancelha de forma interrogativa, ele explicou:
— Olhe para você, qualquer cara ficaria louco.
Minha vez de sorrir, porque sabia que não era bem assim.
— E será que o peixe grande também ficará? — questionei, curiosa
para saber a opinião do meu amigo.
Eu estava receosa. Blake Sullivan tinha o sangue de seus ancestrais
políticos correndo nas veias e era um articulador de primeira. Moe já havia
me alertado sobre o perigo de me envolver com um homem como ele. O
deputado não era do tipo que mantinha uma amante por muito tempo; ele
mudava de mulher com muita facilidade e aquilo mostrava que o cara era
bom, pois, apesar daquela rotatividade, nunca soube de nenhum escândalo ou
fofoca que envolvesse seu nome.
— Vamos descobrir em poucos dias.
Concordei e permanecemos em silêncio enquanto Caleb guiava o carro
pelas ruas de Paris. Aproveitei a quietude para repassar mais uma parte do
plano em minha cabeça.
Naquela noite, vários políticos americanos se reuniriam com o primeiro
ministro da França e graças ao meu envolvimento com Taylor Fulls, eu
estaria presente, não no encontro, mas no hotel onde aconteceria o evento.
Ele havia pedido que eu o aguardasse em um dos quartos e é óbvio que eu
obedeceria, mas antes, daria um jeito de ser vista por Blake Sullivan, que
daquela vez, estaria presente.
Depois de duas horas de um sono relaxante, levantei-me e comecei a
me preparar para a longa noite que teria pela frente.
— Ei, Barbie, seu cabeleireiro chegou — Caleb anunciou quando saí do
banho.
Coloquei um roupão e segui para a sala. Não demorou para Billy passar
pela porta principal. Era o único em quem Moe confiava, então a agência o
carregava para todos os lados.
— Zara, que cabelo é esse? — perguntou, exagerado.
Billy sempre cuidava das minhas transformações, entretanto, não fora
ele o responsável pela minha última coloração. Estava tão desesperada para
voltar a ser loira, que acabei indo a um salão de Berlim.
— Arrasei, não acha?
— E como! — Ele sorriu e me abraçou, depois começou a trabalhar e
tagarelar.
— Estou de cara com a vítima da vez! — ele começou, mesmo sabendo
que era proibido comentar sobre as missões.
— Billy… — tentei pestanejar, mas ele revirou os olhos.
— Eu sei, eu sei, mas o babado é grande demais para não falar nada.
Balancei a cabeça. Billy era um artista e há vários anos trabalhava
unicamente para a agência, fazendo verdadeiras transformações, então, apesar
de não estar diretamente ligado a nenhuma missão, ele geralmente sabia
quem era a “vítima” da vez.
— Tudo bem, você tem razão — confirmei e ele sorriu, agradado.
— Daria a minha vida para passar uma noite com Blake Sullivan.
Seu suspiro dramático me fez revirar os olhos.
— Menos, Billy.
— Zara, aquilo sim é um homão. Imagine cavalgar um cavalão
daquele! Você é muito sortuda.
Ao ouvir aquilo, meus pensamentos me traíram e quando dei por mim,
estava em uma cama com Blake, seus olhos me fitando com luxúria,
enquanto meu corpo tomava vida própria. Achei aquilo bastante estranho,
afinal nunca o tinha visto pessoalmente.
— Zaaraaaa?
Encarei Billy pelo espelho e nós dois gargalhamos, ele sabia
exatamente o que eu estava pensando.
— Pode ser que você tenha razão — concluí depois que meu ataque de
riso cessou. Aquele homem realmente era um pedaço de mal caminho, no
entanto, era só mais uma de minhas missões, e se Deus quisesse, a última.
Billy escovou meu cabelo e fez uma maquiagem bem natural
destacando meus olhos.
— Uau. — Caleb disse, soltando um assobio, quando me viu
completamente pronta. Eu usava um vestido clássico, preto, que ia quase até
os joelhos. O decote canoa não revelava muito, mas o tecido era tão colado
ao corpo que não deixava muita coisa para imaginação. Era comportado e
sexy ao mesmo tempo e fora escolhido a dedo para agradar a Blake.
— Não começa — brinquei, pois sabia que ele ia começar com suas
cantadas baratas.
Caleb era louco por sua ex noiva e eu temia que jamais amaria outra
mulher, mas aquilo não o impedia de fazer gracinhas o tempo todo.
— Vamos logo, não vejo a hora dessa noite terminar — comentei,
desanimada.
Saímos do flat e fomos direto para o estacionamento subterrâneo onde
um motorista nos aguardava.
Em menos de dez minutos, nosso carro já estava estacionando a poucos
metros do hotel. Mal paramos e Jack informou pela escuta que Blake estava
chegando. Na mesma hora olhei para frente.
De onde estávamos, foi fácil visualizar a movimentação que tomou
conta da frente do hotel, com a chegada do deputado. Dois carros
estacionaram rente ao meio fio e alguns seguranças desceram. Blake saiu
logo depois usando um terno preto, com os cabelos escuros muito bem
penteados para trás e exalando todo o charme de um político no auge de sua
carreira. Estava acompanhado de seu assistente, Ryan Barnes e, sem
hesitação, os dois seguiram para dentro.
Conferi a escuta e dei uma última olhada no visual, antes de descer do
carro e seguir para o bar do restaurante do hotel. Moe havia marcado uma
entrevista com o olheiro de uma agência de modelos, pois eu precisava da
desculpa perfeita para estar ali. Tudo aquilo demandou meses de
programação, por isso, quando esbarrasse “casualmente” com Blake Sullivan,
teria que sair perfeito.
Passei pelo saguão principal sob muitos olhares, mas não desviei meu
foco, apenas segui em frente.
— Por aqui, senhorita — a simpática hostess falou quando informei o
nome de quem estava me esperando.
Assim que coloquei meus pés no restaurante, fiquei surpresa com a
quantidade de homens engravatados que havia no local. Enquanto seguia a
moça, localizei a mesa de Blake, mas não olhei diretamente para ele. Eu
precisava ser vista, mas não deveria haver nenhuma troca de olhares naquele
primeiro momento.
Para chegar à mesa, que fora estrategicamente escolhida para a
entrevista, tive que passar ao lado da que Blake Sullivan ocupava. Como era
de esperar, tanto ele quanto seus amigos políticos, ficaram olhando
descaradamente para mim.
Assim que me viu, Ronald Neville, da Papillon Models, se levantou
para me cumprimentar. Logo depois eu me acomodei.
Blake estava bem na minha frente e se eu desviasse o olhar do rosto de
Ronald, daria de cara com ele, mas ainda não estava na hora, então, continuei
mostrando o meu portfólio de fotos e falando sobre os trabalhos que já fizera.
Quando vi Moe pela primeira vez, eu tinha dezoito anos, havia saído do
orfanato há poucos meses e ainda parecia uma criança assustada olhando tudo
ao meu redor. Apesar de ter me preparado intelectualmente, a minha idade e
falta de experiência, me impossibilitaram de conseguir o bom emprego que
eu imaginei que arrumaria. Por causa disso, alguns dias depois, estava
trabalhando como garçonete, precisava de dinheiro e aceitaria qualquer
trabalho que me ajudasse a pagar o aluguel.
Numa tarde, estava saindo do restaurante onde trabalhava, quando fui
abordada por Moe e mais dois homens. Na hora, fiquei morrendo de medo,
mas logo aquela japonesa séria e circunspecta conseguiu me acalmar e disse
que queria me oferecer um emprego.
Claro que achei estranho, mas como ela se dispôs a falar comigo em
uma praça bastante movimentada próxima de onde estávamos, eu aceitei.
Moe me dissera que havia conseguido informações minhas em uma das
agências de emprego onde eu havia deixado currículo e que meu perfil se
encaixava perfeitamente com o trabalho que queria me oferecer.
Ao ouvir aquilo, fiquei interessadíssima, e sem nem mesmo saber do
que se tratava, falei que topava. Foi então que ela me explicou o que esperava
de mim e na mesma hora pensei em voltar atrás, não porque tivesse ficado
com medo, já tinha lido tantos livros de espionagem, que aquela ideia me
excitou, no entanto, não achei que seria capaz de desempenhar aquele tipo de
trabalho.
Vendo minha hesitação, Moe explicou que eu seria treinada e, se ainda
assim não quisesse, poderia ir embora, então aceitei. Desde esse dia, tive
aulas de direção, defesa pessoal, computação, além de inúmeras outras
coisas. Como já tinha feito algumas aulas de artes marciais no orfanato,
aprendia as coisas com facilidade, o que deixou meus treinadores
impressionados e satisfeitos. Enquanto isso, Moe deu um jeito para que eu
fosse contratada por uma agência de modelos, disse que aquilo me ajudaria
futuramente, em vários disfarces.
Por isso, enquanto aprendia tudo o que era necessário para ser uma
agente secreta, também trabalhava fazendo fotos com inúmeras marcas. Eu
poderia ter desistido daquela história de ser agente, afinal, estava em um
emprego que me rendia uma boa grana. Mas já tinha sido conquistada por
aquele universo, a adrenalina que senti nas primeiras missões, já tinha me
viciado, então, cerca de dois anos depois, larguei a vida de modelo e me
dediquei totalmente à RC-2.
Infelizmente, aquilo me fez quebrar a promessa que havia feito a Marie,
de que daríamos um jeito de nos encontrarmos quando ela saísse do orfanato,
seis meses após a minha saída. Eu não poderia lhe contar o que fazia, por isso
preferi me afastar, a ter que mentir.
— Estou impressionado; seu portfólio é incrível, tenho certeza de que
nosso cliente vai adorar — Ronald elogiou, com seu tom afeminado, me
tirando do meu devaneio. Eu abri um belo sorriso, ciente de que os olhos
azuis de Blake continuavam em mim. Sabia que ele queria ser notado, queria
uma troca de olhares, mas não daria aquilo a ele, não naquele momento.
Conversei com Ronald por uns quarenta minutos, o tempo todo em
francês, e assim que pagamos a conta, meu acompanhante se levantou, mas
permaneci sentada.
— Vou falar com nosso cliente e retorno. — Seu tom era amigável e
ele me estendeu a mão apertando-a suavemente.
Quando o homem se afastou, comecei a vasculhar minha bolsa,
esperando que se distanciasse, para só então me levantar. Conforme o
combinado, assim que pendurei a alça no ombro, meu celular começou a
tocar.
— Oi, Anne — respondi, desta vez em inglês.
— O cara não para de olhar pra você — ouvi Caleb dizer do outro
lado da linha. Ele devia ter hackeado alguma câmera dentro do restaurante.
— Sim, deu tudo certo. — Fingi que escutava alguma coisa e continuei:
— Não, vou passar a noite aqui no hotel, te ligo mais tarde — falei em tom
normal, mas tendo a certeza de que Blake escutaria.
Guardei o celular na bolsa, caminhei calmamente para fora do
restaurante e segui até os elevadores com o coração a mil. Aquele homem era
realmente intenso.
Tinha chegado à minha suíte há poucos minutos, quando recebi uma
ligação de Jordy Bales, informando que logo após o encontro, haveria um
coquetel em um dos salões do hotel e que eu estava convidada a comparecer.
Achei estranho. Taylor sabia que não poderia ficar de papo comigo, então
não entendi muito bem o motivo de me querer ali. Entretanto, não iria
reclamar, aquilo ia bem de acordo com o que queríamos, afinal, seria mais
uma oportunidade para Blake me ver.
Falei rapidamente com a minha equipe e cerca de quarenta minutos
depois, um vestido muito parecido com o que eu havia usado naquele
primeiro baile, foi entregue. Como já estava pronta, apenas troquei o batom
nude por um vermelho e coloquei o vestido longo, dez minutos antes do
horário de sair.
Assim que me posicionei em frente aos elevadores, uma leve ansiedade
cresceu dentro de mim. Eu teria que ser perfeita para conseguir chamar a
atenção de Blake Sullivan, sem causar desconfiança, nem a ele e nem a
Taylor.
Quando cheguei em frente ao salão onde estava acontecendo o
coquetel, só tive o trabalho de passar meu nome falso e uma moça liberou
minha entrada.
Caminhei entre os convidados reconhecendo os rostos de muitos
figurões importantes. Parei no bar e, prontamente, um garçom me serviu uma
taça de champanhe. Assim que dei o primeiro gole, avistei Taylor Fulls a uma
boa distância de mim. Para minha sorte, ou azar, ele estava ao lado de Blake e
os dois conversavam como se fossem velhos amigos.
Blake estava alheio a minha presença e só olhou na direção de onde eu
me encontrava quando percebeu que o foco de Taylor havia mudado. Por
alguns segundos tive a inteira atenção dos dois homens mais bonitos do salão.
Taylor, provavelmente se dando conta de que estava dando bandeira,
desviou o olhar, mas ao perceber o interesse de Blake sobre mim, uma
expressão de descontentamento tomou conta de suas feições.
Logo os dois voltaram a conversar normalmente e eu quis muito ser
uma mosquinha para descobrir o teor do assunto.
Se Blake havia sacado que ali estava a nova aposta de Taylor Fulls, eu
não sabia, mas que a atitude de seu concorrente o tinha deixado intrigado,
isso eu tinha certeza.
Depois de mais alguns minutos de conversa, Blake se misturou aos
demais convidados e Taylor fez um gesto sutil para que o seguisse e se
dirigiu a um conjunto de portas localizado no fundo do salão.
Esperei alguns segundos, para não levantar suspeitas e, de forma
indolente, comecei a me dirigir às portas que, eu já sabia de antemão, davam
em uma área externa.
Vi quando Taylor parou no limite entre o salão de festas e o amplo e
bem cuidado jardim que cercava o hotel. Apesar das lindas flores, plantas
ornamentais e até mesmo uma bela fonte, o lugar estava vazio, pois a grande
maioria dos convidados se concentrava no coquetel, afinal, era lá que eles
fariam contatos e fechariam negócios.
Taylor colocou as duas mãos nos bolsos e ficou encarando a fonte
iluminada, a poucos metros de onde estava. Parei dois passos atrás dele e
fiquei olhando para o outro lado.
— Sullivan percebeu nossa troca de olhares — disse ele, ainda sem se
virar.
— Pois é.
O deputado fez silêncio, mas logo depois virou o rosto levemente para
o lado, e nossos olhares se encontraram.
— Nem pense em se envolver com ele. — Seu tom era ameaçador e
quando não respondi, ele segurou meu braço. — Você me entendeu?
Naquele momento, enxerguei um Taylor Fulls que até então me era
desconhecido. Na névoa escura que envolvia seu olhar, consegui perceber
que era aquele homem que deixava meu sexto sentido em alerta.
Todo aquele charme que ele costumava exalar, deixou de existir com a
possibilidade de que pudesse me perder para seu adversário. Aquilo me fez
perceber que a briga deles era muito mais ferrenha do que os relatórios da
agência mostravam.
— Entendi — limitei-me a dizer, já que não poderia cumprir sua
demanda, mesmo assim, senti seus dedos aliviando o aperto.
— Espere por mim no quarto, devo subir em alguns minutos.
Anuí e me afastei dele sentindo uma repulsa enorme.
Quando estava chegando perto das portas que davam para o salão, vi
Blake Sullivan. Ele tinha um cigarro entre os dedos e sua expressão era
impassível, não dava para saber se ele tinha visto a cena patética de seu
adversário, mas esperava que sim, seria mais um ponto a nosso favor.
Não me dei ao trabalho de olhar para trás, a fim de conferir se Taylor
estava nos observando; pela primeira vez, estava sentindo um certo receio de
ter que entrar no meio daquela guerra cruzada.
CAPÍTULO TRÊS
Blake Sullivan
Zara Maxwell
Blake Sullivan
Alexia Carter, com certeza, ficara afetada pela minha presença. Seu
nervosismo era patente e eu sabia que, se estivesse com ânimo para provocar
Fulls e pagar na mesma moeda o que ele fizera meses atrás, ao roubar minha
amante, não teria muito trabalho.
Minutos depois que ela entrou em seu quarto, eu fui para a minha suíte,
tinha que me preparar para voltar a Washington.
Durante o banho, lembrei-me das incontáveis histórias contadas por
meus ex colegas de universidade. A grande maioria já estava casada e exibia,
com orgulho, fotos da família na tela do celular. Eu não sabia até que ponto
aquela felicidade era autêntica, mas ver aquilo, me fez perceber que minha
vida andava bastante monótona.
Mais uma vez Alexia voltou à minha mente. Tentar conquistá-la e,
principalmente, ter algumas noites com ela, melhoraria e muito a minha
rotina. Mas se fizesse aquilo, minha disputa tácita com Fulls poderia se tornar
mais inflamada. Eu percebi a forma como ele a olhava e tinha certeza de que
meu rival não aceitaria minha atitude muito bem.
Quando saí do banho, Barnes estava à minha espera com uma cara
péssima.
— O que foi agora? — perguntei e ele estendeu um celular para mim.
— Ele quer falar com você.
Soltei uma lufada de ar e peguei o telefone, já sabendo que receberia
péssimas notícias.
Zara Maxwell
Zara Maxwell
DISPONÍVEL NA AMAZON
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
DI SPONÍ VEI S NA AMAZON
WARD
(Lançamento 2020)
Lacey Smith conheceu seu príncipe encantado, iniciou o curso dos seus sonhos e estava passando
pela melhor fase de sua vida.
Aqueles momentos de dor e desequilíbrio haviam ficado para trás e tudo o que lhe restava era viver
como qualquer outra garota de sua idade.
No entanto, as coisas começam a se complicar quando ela percebe que o mundo cheio de glamour
no qual Thomas Ward está inserido, não é tão excitante assim. E é aí que começam suas dúvidas:
será que ela conseguirá lidar com o peso de namorar um homem tão poderoso?
Além disso, logo cedo ela descobre que a universidade não é para os fracos, que nem todas as
famílias querem o bem de seus pares, que o universo corporativo não é tão excitante assim e que
basta vacilar um pouco, para que problemas do passado voltem para te atormentar.
No segundo volume de WARD, Lacey e Tom terão que aprender a conviver com o ciúme,
armações e inimigos que farão de tudo para destruir seu conto de fadas.
Estas foram algumas das perguntas que recebi ao longo dos anos, tanto de minhas leitoras como de aspirantes a
escritoras.
Como não dava para responder todas que chegavam a mim forma individual, resolvi desenvolver este e-book,
especialmente para quem quer escrever romances e publicá-los na Amazon, mas acredito que as noções básicas
contidas aqui poderão ajudar na criação de qualquer gênero literário.
Espero muito que gostem, desejo que minha experiência sirva de incentivo para futuras escritoras e que minhas
dicas sejam de real ajuda na hora de compor suas estórias.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
LOUISE STONE – A DEUSA DO AMOR
(CLÃ STONE 03 – Lançamento 2019)
Após uma desilusão amorosa, Louise Stone se fechou para o amor e decidiu estudar com afinco para entender o
universo masculino e, assim, não cometer os mesmos erros do passado.
Todos esses anos de pesquisa foram úteis para sua estabilidade emocional e contribuíram para a ascensão de sua
carreira, tornando-a uma psicóloga renomada e constantemente presente nos talk shows mais famosos dos
Estados Unidos.
Aquela estava sendo a melhor fase de sua vida, pois havia, finalmente, conseguido o equilíbrio entre vida pessoal
e profissional, devido a isso, envolvimentos sentimentais não estavam em seus planos.
Considerado por todos como um prodígio dos negócios, Tony Osborne era extremamente atraente e quando não
estava comandando o Grupo Osborne, os interesses desse CEO giravam em torno de festas, mulheres e tudo de
melhor que o dinheiro poderia pagar.
Na vida desse belíssimo libertino não havia lugar para relacionamentos sérios, a não ser que a candidata fosse a
aparentemente inacessível Srta. Stone, a mulher que vinha tirando seu sono nos últimos tempos.
A Deusa do Amor é um delicioso romance que vai te ajudar a refletir sobre o universo que envolve as
relações amorosas de um jeito apaixonante e divertido.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
LOUCO POR ELA
(Lançamento 2019 – Livro completo)
Ainda adolescente, Julia Albernaz se apaixonou por Leonel Brandão, que além de sócio, também era o melhor
amigo de seu pai. Desde então, ela nunca poupou esforços para chamar a atenção de seu amor platônico.
Leonel, por sua vez, achava graça dessa paixonite de Julia, para ele, suas declarações não passavam de brincadeiras
de criança, sem qualquer fundamento.
Depois de muita desilusão, Julia decidiu estudar fora do Brasil, com a esperança de esquecê-lo. Infelizmente,
quando retorna para casa, após cinco anos, descobre que seus sentimentos por Leo não mudaram.
Entretanto, ela não é mais aquela adolescente boba, que vivia implorando por atenção. Julia se tornara uma mulher
madura e confiante, e agora sabia muito bem como lidar com o único homem, que virava seu mundo de ponta
cabeça.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
GAROTA VIP
(Lançamento 2019)
Zara Maxwell é uma agente secreta treinada para se infiltrar entre os figurões de Washington e descobrir tudo o
que puder sobre eles. Esta esperta espiã usa de sua beleza, habilidade e inteligência fora do normal, para conseguir
cumprir todas as suas missões e segue apenas uma regra: jamais se envolver emocionalmente.
Blake Sullivan, vem de uma família de políticos influentes. Sua expertise e magnetismo tornaram-no
mundialmente conhecido e o fizeram ganhar as últimas eleições para deputado, com uma vantagem assustadora,
despertando a fúria de seus inimigos e a inveja de seus concorrentes.
Blake será a próxima missão de Zara, uma das mais importantes de que já participou, e talvez, a última.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
O DIABO VESTE ARMANI
O DIABO VESTE ARMANI TEVE MAIS DE 3 MILHÕES DE LEITURAS NA INTERNET E CHEGA À AMAZON COM
NOVA VERSÃO, REVISÃO E CENAS EXTRAS.
Mesmo achando difícil jogar de igual para igual, com um oponente que fazia seu mundo balançar com apenas um
olhar, ela passa a acreditar que sua inteligência é a principal arma para vencer aquele intenso jogo de sedução.
Julie Collins sempre foi muito racional e nunca se rendeu diante de um rosto bonito e um corpo musculoso,
até conhecer Romeo Stone, um playboy lindo e charmoso que está disposto a quebrar sua mais importante
regra só para tê-la em sua cama.
“Mudar para Nova York não era apenas uma promessa de vida independente, eu sentia uma grande necessidade de
descobrir outros mundos e sabores; sair da redoma de vidro onde passei os últimos anos e sentir o verdadeiro gosto
da liberdade.
Eu estava certa dos meus propósitos e bastante animada com a promessa de uma vida nova, mas o destino adora
zombar das pessoas e eis que surge Romeo Stone, a personificação de tudo que eu mais odiava em um homem.
Claro que eu não era imune à beleza dele, porém, um rostinho bonito nunca foi o suficiente para me manter
interessada. Sempre fui muito crítica e racional em relação aos homens e jamais ficaria com um tipo como ele. Pelo
menos até ser rejeitada.
Romeo fez meu ego inflamar, se tornou uma espécie de desafio e eu usaria todos os recursos que tivesse à mão, para
conquistar o homem mais cobiçado de Nova York.”
O segundo do Clã Stone, é um delicioso romance que você devorará em pequenas doses para que não acabe tão
cedo.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
HARVEY STONE - O CEO DOS MEUS SONHOS
(CLÃ STONE 01)
Alyssa Finger sempre teve como meta, estudar em Harvard e tornar-se uma executiva de sucesso. Por isso ela
nunca se importou com as zombarias que recebia devido às suas roupas largas e coloridas e aos enormes óculos
que adotou como uma espécie de escudo.
Mas um dia, literalmente, esbarra com o homem mais lindo que seus olhos já viram e se apaixona
instantaneamente. Sabendo que nunca será notada, ela se conforma em observá-lo de longe.
Agora, anos depois, ela trabalhará com o homem dos seus sonhos e após uma mudança radical, feita com a ajuda
de seu melhor amigo, Alyssa está pronta para tentar conquistar o coração do bilionário mais cobiçado de Nova
York.
Harvey Stone é o CEO das Indústrias Stone, um dos maiores conglomerados do mundo. Ele é implacável nos
negócios e desde que assumiu a liderança do grupo, praticamente triplicou seu faturamento.
Rodeado por belas mulheres e frequentando os melhores lugares que o dinheiro pode pagar, este sedutor
encontrará em sua nova assistente um grande desafio.
Totalmente seduzido, ele está a ponto de quebrar sua regra número um: jamais se envolver com uma de suas
funcionárias.
Esse é um romance sensual que te fará amar nossos protagonistas, mas também os odiar em vários momentos.
Descubra o porquê após ler o primeiro livro do Clã Stone.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
O REI DOS DIAMANTES
(SÉRIE MILIONÁRIOS DE CHICAGO 01)
Andrew Petrov é um russo de temperamento difícil. Lindo, sério, irascível e inegavelmente misterioso, ele vive
para cuidar de seu império construído através da exploração e venda de pedras preciosas. No mundo corporativo é
temido e conhecido como O Rei dos Diamantes, mas intimamente, é um homem atormentado em busca de algo
que imagina nunca poder ter.
Leticia Garcia é uma jovem doce e inocente que foi entregue, contra a própria vontade, a um homem rude e
violento. Durante o dia, sem que ele saiba, Leticia aceita encomendas e cria os mais variados e deliciosos bolos de
Chicago. No entanto, se sente muito infeliz e mesmo não admitindo a si mesma, sonha com o dia em que aquele
homem cruel a libertará e ela finalmente poderá encontrar o amor.
E o que O Rei dos Diamantes tem a ver com uma jovem e sofrida dona de casa?
Venha descobrir nesse delicioso e moderno conto de fadas.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
A GRANDE VIRADA
(SÉRIE MILIONÁRIOS DE CHICAGO 02)
– em processo de revisão –
Durante muitos anos, Milena Soares achou que sua jornada na terra, era apenas uma forma de ser castigada por
erros cometidos em alguma vida passada. Ilegal nos Estados Unidos, ela trabalha em uma empresa que presta
serviços de limpeza para grandes corporações e condomínios de luxo.
É através desse trabalho que ela conhece Ross Mayaf, um homem rico e solitário, que tem como único parente, um
neto que não se preocupa nem em saber se o avô está vivo ou morto. Quando Ross fica doente e contrata Milena
como sua dama de companhia, ela vê a oportunidade de realizar o sonho de seu amigo idoso e trazer o neto de volta
para casa.
E a partir daí as coisas começam a mudar drasticamente. Zen Mayaf é o pecado em forma de homem e deixa uma
legião de mulheres apaixonadas por onde passa. É um libertino incorrigível e herdeiro de uma das maiores fortunas
dos Estados Unidos.
Mas nem tudo é um mar de rosas na vida desse garanhão indomável, seu tempo está se esgotando e para assumir o
império dos Mayaf, ele terá que subir ao altar. Milena está mais do que disposta a aceitar esse delicioso desafio, até
se ver frente a frente com uma ex que não medirá esforços para se tornar a nova senhora Mayaf.
Das fantásticas galerias ladeadas pelas melhores grifes do mundo, aos cafés do centro do
Golden Triagle, Beverly Hills faz jus a sua brilhante fama e será palco desse delicioso romance.
Ava Shoe é a típica caipira bonita e malvestida, e só precisou de alguns minutos em Berverly Hills
para sentir-se fascinada e patética na mesma medida. Chegou ali movida pelo sonho de ser famosa,
mas como, se só havia em sua mala meia dúzia de vestidos floridos e algumas sapatilhas bastante
usadas?
Uma garota de língua afiada, um bonitão endinheirado e uma amiga “fada madrinha”. Esta é a
receita perfeita para um romance inesquecível.
– DISPONÍVEL NA AMAZON –
CONTATOS DA AUTORA
[1]
Ponte de ferro fundido, com linhas românticas, projetada em meados do século XIX, que
cruza o The Lake, lago existente no Central Park.
[2]
É uma reserva natural, composta por uma grande quantidade de árvores. É muito
frequentada por apreciadores de pássaros, uma vez que há uma enorme diversidade de
espécies.
[3]
Programa da Fox News.
[4]
Agência Nacional de Segurança (NSA, em inglês).
[5]
Loja onde se encontra praticamente tudo, de comida a roupas e artigos para casa e
escritório.
[6]
Sigla para Best Friends Forever, que em tradução livre significa melhores amigas para
sempre.
[7]
Vocalista da banda de rock irlandesa U2.
[8]
Rodovia que corta Nova Jersey
[9]
Sonolência, moleza.
[10]
Mancha roxa, também conhecida como hematoma.
[11]
Retirada do baço que pode ser total ou parcial.
[12]
Retirada
[13]
Nutrição Parenteral é a administração de nutrientes por via endovenosa, com a
finalidade de proporcionar ao organismo as calorias e os aminoácidos necessários para sua
manutenção quando a pessoa não pode se alimentar. É composta por glicose, proteínas,
eletrólitos, vitaminas, sais minerais e água.
[14]
A Blair House é a casa de hóspedes do presidente dos Estados Unidos. É lá que ele
recebe chefes de estado e visitantes importantes. O complexo é formado por 4 casas,
somando mais de 120 cômodos, além de contar com toda uma equipe para servir quem
estiver hospedado.
[15]
Para saber, leia a estória de Zara e Blake em Garota VIP, disponível pelo Kindle
Unlimited.
[16]
Forma como as ruivas são chamadas nos EUA.