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HERDEIRO DE MANHATTAN
NACIONAIS-ACHERON
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ERIKA RHYS
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Traduzido por
OLIVER SIMÕES
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Aviso Legal:
Esta é uma obra de ficção. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas (a menos que seja
explicitamente declarada) é mera coincidência. Copyright © 2017 Erika Rhys. Todos os direitos
reservados no mundo inteiro.
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HERDEIRO DE MANHATTAN
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
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Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Posfácio
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RONAN
— Por que você simplesmente não se casa? — perguntou minha irmã Carol.
— Você não pode estar falando sério. Peguei o meu copo de água e virei
metade dele, esperando que seu conteúdo gelado estimulasse o meu cérebro a
produzir uma nova ideia. No rescaldo da minha última rejeição de
empréstimo pelo Bank of America, eu precisava de um novo plano para
salvar a minha empresa, Kingsley Technologies, e eu precisava disso rápido.
Ou isso, ou seria forçado a demitir a maioria dos meus empregados, o que
seria uma traição que eu não estava disposto a contemplar.
Não que eu esperava que Carol fosse resolver os meus problemas durante
o almoço no Bar Seis, um bistrô no bairro de West Village que eu
frequentava regularmente pelos seus saborosos sanduíches de misto quente.
Eu adorava minha irmã mais nova com toda sua franqueza, mas o seu
diploma em arte e sua carreira de pintora aspirante não lhe deram a mínima
noção de negócios. Mesmo assim, ela era a única da família que estava
sempre do meu lado, e por isso eu tinha acabado de lhe contar o meu dilema
financeiro. O apoio inabalável de Carol me deu força, que era exatamente do
que eu estava precisando neste momento.
Carol afastou seu longo cabelo louro e liso do rosto e me fitou com seus
olhos azuis claros.
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Carol. — Ela teria que parecer convincente ao papai e à Verônica. Ela teria
que ser confiável e inteligente.
— Convencer nosso pai e nossa madrasta seria somente a primeira cena
da farsa que você está propondo — eu disse. — Essa mulher imaginária teria
que morar comigo dois anos, posar como minha esposa em público e não se
apaixonar por mim.
Carol fez cara feia para mim. — Nossa! Eu não acredito no que acabei de
ouvir.
Eu dei de ombros. — As mulheres gostam de mim, sempre gostaram.
Era nada menos que a verdade. A loteria genética tinha me dotado de um
rosto bonito e um corpo musculoso de quase um metro e noventa, que eu
mantinha sarado com exercícios regulares. E enquanto nenhuma mulher
jamais tivesse me tentado a considerar um relacionamento de longo prazo, eu
era mestre na arte do curto prazo. Ser um cara legal, fazer a mulher com
quem eu estava se sentir linda e ser solícito ao seu prazer tanto quanto ao
meu. Eu não assumia compromissos, não fazia promessas, e três noites eram
o meu limite autoimposto; embora na prática, eu raramente fosse além da
primeira. Manhattan era repleta de lindas mulheres solteiras, o que fazia dela
o playground perfeito para um cara como eu.
Carol suspirou. — Eu te amo, Ronan, mas você é um porco chauvinista.
Dei-lhe um sorrisinho. — Talvez eu seja, mas pelo menos eu sei quem
sou. Nem todo homem foi feito para o casamento, e aqueles de nós que não
são devem ser honestos com relação a isso. Essa é a minha filosofia.
— Filosofia não vai salvar o seu negócio.
— Uma esposa falsa também não. Verônica é uma megera, mas não é
estúpida. Ela descobriria a farsa em um minuto, e quando o fizesse,
convenceria o papai a bloquear o meu acesso aos bens.
— Ele ainda pode controlar o seu acesso à herança? — perguntou Carol.
— Mesmo que você se casasse?
Encostei-me em minha cadeira, olhei para a minha irmã e uma onda de
afeição por ela invadiu o meu ser. Enquanto a sua ideia de um casamento
falso era loucura, o seu desejo de ajudar significava tudo para mim. A vida
não tinha sido fácil para Carol, mas ela tinha o coração maior que o de
qualquer pessoa que eu conhecia.
Aos 27 anos, minha irmãzinha tinha se transformado numa linda mulher,
muito parecida com a nossa mãe, que havia morrido quando Carol nasceu.
Pelo menos eu tive a minha mãe nos primeiros seis anos de vida. Tudo que
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AVA
Brooklyn, Nova York
Uma semana depois
negócio era o meu sonho, desde que completei o meu curso de arte e
encontrei por acaso o meu primeiro trabalho com arranjos florais. As flores
eram bonitas, e além do prazer que eu sentia em arranjá-las, eu adorava o
trabalho de criar algo que engrandecia os momentos significativos da vida
dos meus clientes.
Então, a porta no final da loja se abriu, e o rosto alegre e a cabeleira ruiva
encaracolada da minha vizinha Mimi assomaram à porta.
— Você tem tempo para uma pausa? — ela perguntou, levantando uma
sacola de papel branca. — Eu trouxe café e rolinhos de canela recém-cozidos.
Eu me recompus, fechei meu laptop e sorri de volta para ela. — Me
parece uma boa ideia — eu disse. Mimi era dona do negócio de joias feitas
sob encomenda, que ficava ao lado do meu local de trabalho. Quando eu me
mudei para o prédio, nós rapidamente nos tornamos amigas, e tomar café
juntas tornou-se quase um ritual diário.
Mimi cruzou a sala em direção à minha mesa, entregou-me uma xícara de
café e sentou-se na minipoltrona que ficava de frente para a minha mesa, um
lugar que ela considerava seu há muito tempo. Em seguida, colocou a xícara
de café sobre a mesa, enfiou a mão na sacola com cheiro de canela e tirou um
rolinho, antes de me entregar a sacola.
— Nada no mundo é mais fabuloso que um doce quente e fresco — disse
ela enquanto cortava um pequeno pedaço do rolinho e o deslizava boca
adentro. Ela piscou para mim. — Com exceção talvez de um homem quente e
gostoso.
Aos 47 anos, Mimi era vinte anos mais velha que eu, mas ninguém lhe
daria um dia a mais que trinta e cinco. Sua personalidade singular e seu amor
pela vida faziam que ela aparentasse ser sempre jovem, e as sessões diárias de
ioga mantinham o seu corpo curvilíneo em excelente forma. Embora ela
nunca tivesse se casado, era uma mulher que amava os homens e os atraía
com facilidade, e sua vida sexual ativa era um dos seus temas favoritos.
— Eu aceito o doce — eu disse. — É tão bom quanto, e muito menos
complicado.
— O sexo não é complicado — respondeu Mimi. — Embora os
relacionamentos possam ser. Veja o meu relacionamento com o doce. Eu o
adoro. Sinto tesão por ele. Às vezes até sonho com ele. Mas ele vai direto
para a cintura, criando um número sem fim de complicações.
Eu ri. — Você não é gorda.
— Eu poderia ser — disse ela. — Você precisa ver meus irmãos. Minha
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AVA
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mulher e que não acredita em fazer promessas que não pode cumprir.
— Pelo menos o Ronan é honesto sobre quem ele é — eu disse. — Ele
parece um pouco com a Mimi. A vida dela é uma porta giratória de homens,
mas ela é muito franca quando diz que tudo que ela quer é uma ou duas
noites de farra. Sexo sem compromisso não faz meu gênero, mas julgar como
os outros vivem suas vidas também não, desde que sejam abertos com relação
a isso.
— Tanto você quanto o Ronan são da maior confiança e é por isso que
esse casamento arranjado pode dar certo — disse Carol. — Todos ganham e
ninguém sai machucado. O Ronan recebe o dinheiro da herança que pertence
a ele de qualquer maneira. Seus funcionários continuam empregados. Assim
que vocês estiverem legalmente casados e Ronan tiver acesso à herança, ele
preenche um cheque, que te permite manter a Oásis, e como bônus adicional,
vamos ser praticamente irmãs por dois anos.
— No meu coração, você já é minha irmã — eu disse. — Mas me casar
com seu irmão, mesmo que resolva uma série de problemas, simplesmente
não faz sentido. Significaria mentir para todos por dois anos. E você sabe
como eu me sinto sobre mentir.
— Você e o Ronan não estariam mentindo para todos — disse Carol. —
Já que a parte legal seria verdadeira, você simplesmente diz às pessoas a
verdade: que vocês dois são casados. — Ela deu de ombros. — Entende?
Tipo versão Facebook do seu relacionamento, que é tudo que a maioria das
pessoas precisam saber, afinal de contas.
— Entendo o seu ponto, mas mentir para os amigos é diferente.
— Quantos amigos sabem as razões completas para o seu rompimento
com Brian?
— Só você e a Mimi.
— Então você quer ser honesta com a Mimi — disse ela. — Isso pode ser
negociado.
— E quanto aos seus amigos, e aos amigos do Ronan?
— Além de mim, o único amigo próximo do Ronan é o Jack, seu parceiro
de negócios. E além do Ronan, a única pessoa com quem eu realmente falo é
você.
— E a sua família? Sei que você não é próxima de nenhum deles, menos
o Ronan, mas mentir para eles por dois anos ainda é um grande problema.
— O resto da minha família são mentirosos crônicos — disse Carol. —
Papai mente à Verônica sobre os seus casos constantes. Verônica mente ao
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papai para fazer o meu meio-irmão Aiden parecer bom ou para fazer eu e o
Ronan parecermos merda. E Aiden acredita nas mentiras mais cabeludas que
saem da boca da sua mãezinha com cara de Botox.
Não houve discussão com Carol. Ela estava totalmente convencida de que
um casamento entre mim e o irmão dela era a melhor solução para os nossos
problemas financeiros. Em sua mente, o único obstáculo entre mim, Ronan e
a data do casamento era a negociação do que ela claramente considerava
pequenos detalhes.
No entanto, o próprio Ronan deveria nos encontrar aqui mais tarde esta
noite, o que me permitiria encerrar essa ideia maluca de uma vez por todas.
Quando Carol me disse que tinha combinado com ele de nos encontrar, eu só
concordei em ficar por dois motivos: por respeito à nossa amizade e porque
depois de anos de ouvi-la falar do seu irmão mais velho, uma oportunidade
de finalmente conhecê-lo era intrigante demais para deixar passar.
— A que horas Ronan deve chegar? perguntei.
— Às oito. Carol checou seu relógio de pulso e então sorriu para mim. —
Ele estará aqui em 15 minutos.
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AVA
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RONAN
— Onde está sua cabeça hoje? — meu sócio comercial Jack me perguntou,
sentado do lado oposto da minha mesa. — Preciso que você se concentre
nesse contrato, que tem que sair em poucas horas.
— Desculpe — eu disse. — Pensamentos demais zumbindo em minha
cabeça para eu me concentrar.
— Fale comigo — disse Jack. — Me diz o que você está pensando.
Levantei-me da minha mesa, caminhei até a parede de vidro do meu
escritório de canto espaçoso e olhei sobre os telhados de Manhattan. Embora
eu possuísse a maior parte da Kingsley Technologies, Jack era um acionista
significativo também. Nós éramos melhores amigos desde a equipe de remo
na faculdade, e desde o dia em que ele se juntou a mim na Kingsley Tech,
dois anos depois que eu comecei, passamos a administrar a empresa juntos.
Desde então, ao longo dos anos, ele se tornou meu amigo mais próximo.
Como eu, ele era um solteirão convicto com boa aparência, uma cabeça cheia
de cabelo e um porte físico que chamava a atenção das mulheres.
Frequentemente a gente começava a noite juntos, indo de bar em bar, e se
separava quando um de nós avistava uma mulher que quisesse conquistar.
— Lembra aquela ideia maluca da minha irmã Carol? — eu disse.
— Como eu poderia me esquecer? — disse Jack com uma risada. — A
sua irmã te adora e cortaria o braço direito por você, mas Ronan Kingsley
casado? Eu tenho uma imaginação muito boa, mas ela não vai tão longe.
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verdade. Ava precisaria morar com você. Você teria que morar com ela por
dois anos.
— Meu condomínio é grande o suficiente para dar a nós dois muita
privacidade — eu disse. — E eu não acho que a Ava seria uma companheira
de quarto difícil.
— Isso é um ponto positivo — disse Jack. — E a sua vida sexual?
— Eu sempre uso quartos de hotel, afinal de contas.
— E a vida sexual dela?
— Boa pergunta — eu disse. — Nós dois teríamos que concordar em não
trazer ninguém para casa.
— Suponho que ela não esteja tendo nada sério com ninguém no
momento — disse Jack. — Mas estamos falando de dois anos. E se ela
encontrar alguém?
— De acordo com Carol, Ava não está procurando um relacionamento.
Ela rompeu o noivado com um cafajeste chamado Brian há dois anos e, desde
então, ela está focada no seu trabalho.
— Qual seria a motivação dela para se casar com você?
— Um cheque gordo o suficiente para impedir que sua floricultura se
afunde — eu disse. — A floricultura fica no Dumbo, e é só ela. Ela também
não me pareceu ser do tipo ganancioso. Duvido que ela pediria mais de cem
mil ou algo assim, mas eu lhe ofereceria um milhão.
— Isso é generoso — disse Jack.
— Eu estaria pedindo dois anos da sua vida. Se ela der conta de um
casamento falso por tanto tempo, ela receberá o que merece.
O semblante de Jack ficou sério. — Não quero pressionar você a nada,
mas eu odeio a ideia de demitir metade da nossa força de trabalho. Passamos
anos recrutando as melhores pessoas, e perdê-las não ajuda em nada, só nos
faz regredir.
— Então você acha que eu deveria fazer isso?
— A decisão é sua, e eu vou apoiar qualquer decisão que você tomar.
Mas se você se casar com a Ava e pegar o dinheiro da herança dentro dos
próximos 60 dias, isso nos daria o dinheiro para tirar a empresa do vermelho,
e o negócio poderia pagar-lhe de volta quando os contratos com a Ásia
começarem a dar lucro no próximo ano.
— Preciso pensar mais sobre isso — eu disse. — Mas se eu decidir ir em
frente com a Ava, eu vou precisar da sua ajuda na elaboração de um contrato
para nós dois assinarmos.
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AVA
Dois dias depois da minha noite bizarra com Carol e seu irmão, sentei-me à
minha mesa na Oásis, escaneando anúncios de emprego no FlexJobs.com.
Minha última ideia foi que, dados os meus compromissos existentes, talvez
eu tivesse mais sorte se me candidatasse a empregos flexíveis ou de curto
prazo.
Eu estava rolando o cursor numa descrição de trabalho de meio período
para editor de fotos, me perguntando se minhas habilidades no Photoshop
eram decentes o bastante para me candidatar, quando o meu aplicativo de e-
mail emitiu um alerta sonoro e uma notificação apareceu na tela, anunciando
a chegada de um e-mail do meu contador. Com um suspiro, minimizei o meu
navegador e abri o e-mail. Não que receber minha conta de imposto fosse
uma surpresa; eu estava esperando por ela fazia uma semana. Mas dadas as
minhas circunstâncias financeiras, o fato de saber o que estava por vir não
faria a emissão daquele cheque para a Receita Federal ser menos dolorosa.
Quando eu vi o valor, meu coração congelou. Oito mil dólares? Como
isso era possível? Meu contador, um homem bem-educado e de meia-idade
chamado Barry, tinha me acostumado a esperar uma conta com menos da
metade daquele valor. Por um longo momento, eu fiquei só olhando para o
valor na tela do meu celular, e à medida que o fazia, minha raiva aumentava.
Ou Barry tinha fodido com a estimativa, ou tinha fodido com minha
declaração de imposto de renda. Isso era ultrajante, e depois da semana que
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tive, eu não estava prestes a deixar esse burro incompetente ficar sem falar
comigo pelo telefone.
Peguei meu telefone e disquei o número de Barry.
— Preciso falar com o Barry — eu disse, quando sua recepcionista
atendeu. — Não, não é uma pergunta que você possa responder. Diga ao
Barry que é a Ava Walker da Oásis Floral, e coloque-o ao telefone.
Quando ele atendeu, eu parti para o ataque. — Que diabos, Barry? Essa
conta de imposto é mais que o dobro do seu orçamento.
Ele gaguejou e me deu uma explicação esfarrapada que só fez aumentar a
minha raiva, e quando ele começou a tagarelar sobre deduções e amortização,
minha última gota de paciência explodiu.
— Pare de falar merda, Barry. Isso só faz você parecer ainda menos
profissional do que você já é! A verdade é que você errou em algum lugar, e
como a declaração tem que ser enviada até o final da semana, eu não vou ter
tempo de encontrar o erro. Entre com um pedido de prorrogação de seis
meses, e faça isso hoje. Vou esperar uma cópia por e-mail amanhã.
E com isso, terminei a chamada.
Com a adrenalina correndo nas veias, eu me levantei de sobressalto e
caminhei de um lado para o outro em frente à minha mesa. O orçamento
inicial de Barry parecia baixo, mas eu não era especialista em impostos, e,
verdade seja dita, eu queria acreditar. Entrar com o pedido de prorrogação
adiaria a conta de imposto por seis meses, mas em outubro eu teria que fazer
um cheque de $8.000 à Receita, $5.000 a mais que o orçamento inicial de
Barry.
Como eu poderia salvar a Oásis, quando tudo estava conspirando contra
mim? Não pela primeira vez, a ironia do nome do meu negócio me
surpreendeu. Quando encontrei um nome para a floricultura, eu imaginava o
meu pequeno negócio como um paraíso repleto de criatividade e trabalho
gratificante, mas no que se tornou? Um pântano financeiro que se tornava
mais profundo a cada dia que passava.
Lágrimas de frustração brotaram dos meus olhos, as quais sequei com
raiva. Ficar emotiva não salvaria meu negócio. A única coisa que salvaria era
encontrar uma maneira de ganhar dinheiro sério, e se eu não a encontrasse
logo, meu sonho de administrar meu próprio negócio morreria, juntamente
com um pedaço do meu coração, que estava apegado a ele.
Então, uma batida soou contra a porta.
— Entre — eu disse, à medida que corri em direção à porta. Embora
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determinados.
Olhei para baixo por um momento para me recompor, antes de olhar para
cima e encará-lo. — Dois dias atrás, desfrutamos juntos de um jantar
agradável, durante o qual concordamos que a ideia de Carol é ridícula. Por
que diabos você mudaria de ideia? Você não pode estar falando sério.
— Eu não poderia ser mais sério — disse ele. — Você sabe o que está em
jogo.
Ele não estava brincando. Ronan Kingsley queria que eu me casasse com
ele.
— Lamento a sua situação — eu disse. — Você sabe que eu lamento.
Mas eu não sou uma atriz, e eu seria uma péssima esposa de mentirinha.
— Eu discordo — disse ele. — Carol estava certa. Você é perfeita para o
trabalho.
A ironia de suas palavras não me escapou. Perfeita para o trabalho.
Palavras que eu ansiava ouvir, depois das rejeições educadas que haviam
preenchido meus últimos meses. Palavras que teriam levantado o meu astral à
estratosfera, se o trabalho em questão não envolvesse um compromisso de
dois anos e uma licença de casamento.
— Você está falando de dois anos de nossas vidas, Ronan — eu disse. —
Dois anos.
Ele se reclinou para trás em sua cadeira e olhou para mim. — O que você
está planejando fazer nesses dois anos, Ava? Encontrar o príncipe encantado?
Formar uma família?
— Não, pelo menos por enquanto. Eu realmente quero essas coisas algum
dia, mas primeiro quero transformar meu negócio em algo sustentável. Quero
me sustentar fazendo o trabalho que eu amo.
— Então você deveria considerar a minha oferta — disse ele. — Com o
que estou preparado para lhe pagar, você não só será capaz de manter as luzes
acesas, mas também vai ter dinheiro extra para investir no seu negócio. No
seu futuro. Para adoçar o acordo, se você se casar comigo, eu vou usar meus
contatos para ajudá-la. Por exemplo, o que alguns anúncios de revista bem
colocados poderiam fazer para a Oásis?
Atordoada em silêncio, eu só olhava para ele. A visibilidade de um único
artigo de revista sobre a Oásis poderia mudar tudo para mim, e ele sabia
disso.
— Estou sendo claro? — disse ele.
Ele estava, mas eu não estava prestes a dar-lhe a satisfação de admitir que
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AVA
Depois que Ronan partiu, abri o contrato e comecei a ler. Quando cheguei à
seção que detalhava a minha compensação, minha cabeça girou.
Um milhão de dólares?
Eu olhava fixamente para os números. Cinquenta mil no ato da assinatura.
Duzentos mil no casamento. Duzentos e cinquenta mil em parcelas mensais,
divididos ao longo de dois anos. E um montante fixo de meio milhão de
dólares no final do contrato de dois anos.
Sacudi a cabeça para clarear a mente. No espaço de uma hora, eu tinha
ido de um estado de estresse com uma continha de $8.000 dólares de imposto
para outro em que havia a oportunidade de me tornar uma milionária.
Com o pagamento inicial, eu poderia manter a Oásis e investir na
construção e publicidade do meu negócio. Com o segundo pagamento, eu
poderia considerar mudar o negócio para uma localização de alto perfil em
Manhattan, uma mudança que me deixaria mais perto da minha clientela-
alvo. Em combinação com a exposição de mídia que Ronan havia prometido,
o dinheiro que ele estava oferecendo poderia garantir o meu negócio, e o meu
futuro.
Não havia nenhuma dúvida sobre isso: um milhão de dólares poderia
mudar a minha vida. Para sempre. Se fosse possível, ainda que remotamente,
tirar dois anos da minha vida para ser a falsa esposa do Ronan, eu precisava
encontrar uma maneira de fazer isso funcionar.
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AVA
pelo avô, sendo que o pai é o administrador. Eles terão acesso ao dinheiro
quando se casarem ou completarem 35, o que acontecer primeiro.
— Espere aí — disse Mimi. — Eu não sou especialista em fundos de
herança, mas por que o Ronan não pode simplesmente tomar emprestado
contra o fundo? Por que ele tem que se casar?
— É complicado — eu disse. — A mãe de Ronan e Carol morreu quando
Carol nasceu. Mais ou menos um ano depois, Carter se casou com uma
socialite de Manhattan chamada Verônica, que é mãe do Aiden, o filho mais
novo. Verônica sempre odiou Ronan e Carol, mas principalmente o Ronan.
Ela o vê como concorrente do seu próprio filho. Devido à manipulação de
Verônica, Carter e Ronan também não se dão bem, e Carter há muito tempo
se recusou a permitir, por qualquer motivo, que Ronan peça emprestado
contra o fundo.
— Mas o dinheiro não é do Ronan?
— Sim, mas até Ronan se casar ou completar 35, Carter é quem controla
o fundo, e como administrador, ele teria que assinar qualquer empréstimo
contra o fundo. A Carol suspeita que o objetivo final de Verônica seja
convencer Carter a deixar tudo ou a maior parte da fortuna para seu filho
Aiden, e negar aos enteados o máximo possível da sua herança.
— Fundos, heranças e uma madrasta malvada — disse Mimi. — Quão
ricas são essas pessoas?
— Carter Kingsley está na lista da Forbes — eu disse.
Os olhos de Mimi se arregalaram. — O pai da Carol é um bilionário?
— É.
— Quando conheci Carol, ela não me pareceu uma garota rica mimada —
disse Mimi. — Dá para ver que ela vem de uma família rica, mas eu nunca
teria imaginado que o seu pai é um bilionário.
— Carol tomaria isso como um elogio. Ela não é nada senão alguém que
tem os pés no chão, e é uma das pessoas mais altruístas que eu já conheci.
— Bem, com 50 milhões vindo em sua direção, Ronan pode te pagar um
milhão de dólares para você se casar com ele. — Mimi apagou sua bituca de
maconha na pequena tigela de barro que mantinha em sua mesa de trabalho
para tal finalidade. — E dois anos não é tanto tempo como você pensa. Se
você conseguir fazer isso dar certo, você deve aceitar.
— Estou tentada. Essa quantia de dinheiro mudaria a minha vida. Mas
tenho que considerar as implicações em longo prazo. Se eu for em frente com
esse casamento falso, no final serei uma divorciada, ainda procurando o
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No dia seguinte, Carol, Mimi e eu nos sentamos em volta de uma das mesas
de trabalho que eu havia preparado com os nossos sanduíches e o café.
— Você já teve a chance de olhar o acordo? — perguntei à Carol.
Quando liguei para ela na noite anterior, ela não atendeu, então lhe enviei um
e-mail com o contrato anexado. Quando ela me mandou um e-mail de volta
hoje de manhã para confirmar o almoço, ela escreveu que havia ido a uma
campanha beneficente na noite anterior, o que explicava o fato de ela não ter
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atendido ao telefone, mas o seu e-mail não dizia uma palavra sobre o
contrato.
— Eu o li hoje de manhã antes de te mandar o e-mail — disse ela. — E
quando li, vi problemas que precisariam ser discutidos cara a cara. Não faz
sentido ir em frente com o contrato como está.
— Por que não? disse Mimi.
— Meu irmão está delirando — disse Carol. — Nesse contrato, está
claríssimo que o Ronan espera continuar o seu estilo de vida atual.
— O acordo estipula que nenhum de nós pode levar parceiros sexuais ao
apartamento do Ronan, o que parece bastante justo — eu disse. — Eu não
planejo sair com ninguém, mas por que eu deveria me importar se ele o fizer?
Carol olhou para mim e depois para a Mimi. — Nenhuma de vocês
conhece minha madrasta Verônica — disse ela. — Vocês não sabem do que
ela é capaz.
— Diga-nos — disse Mimi.
— Quando Ronan anunciar sua intenção de se casar com Ava, Verônica
vai ficar desconfiadíssima. E ela não é nada se não um antro de fofocas.
Embora ela passe a maior parte do tempo na propriedade de Southampton, ela
tem uma tonelada de amigas fofoqueiras em Manhanttan. Se Ronan estiver
fodendo por aí, Verônica vai saber.
— Baseada em tudo que você já me falou sobre Verônica, eu sei que ela
vai ficar desconfiada desde o primeiro dia — eu disse. — O que eu não sei é
o que ela vai fazer com relação às suas suspeitas.
Carol franziu os lábios em pensamento. — Inicialmente, ela vai implantar
suas táticas habituais. Ela pode convidar você para um almoço ou chá e
interrogá-la sobre o seu relacionamento com Ronan. Ou pode fazer uma
visita surpresa a você e ao Ronan no apartamento, que precisa parecer que
vocês compartilham uma cama, mas isso é controlável. Conheço o
apartamento do Ronan, sei o que Verônica vai procurar, e já descobri como
encenar tudo.
— Então, almoço, interrogatórios e uma ou duas visitas surpresas — eu
disse. — Com a sua ajuda, acho que posso sobreviver a isso.
— Mas se o comportamento do Ronan der à Verônica qualquer motivo
para acreditar que o casamento é falso, ela vai fazer tudo o que for preciso
para encontrar provas — disse Carol. — Eu não me surpreenderia se a bruxa
da minha madrasta contratasse detetives particulares para seguir você e o
Ronan por aí com câmeras. E no momento em que ela colocar as mãos em
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— Não vai acontecer — eu disse. — Sexo casual não faz o meu gênero.
Se fazer isso direito significa jurar abstenção sexual por dois anos, eu posso
lidar com isso muito bem. Eu não saio com nenhum homem desde o meu ex-
noivo, e embora eu realmente sinta falta de sexo, sou capaz de viver sem ele.
A questão é se o Ronan está disposto a fazer o mesmo.
— Isso precisa constar do acordo — disse Carol. — Nada de sexo casual.
De ambos os lados. Se o Ronan se recusar a assumir esse compromisso, caia
fora. Eu quero ajudar o meu irmão, mas não há razão para criar uma situação
que pode explodir na cara de todo mundo.
Fiz uma anotação no meu bloco de notas. — Sem sexo casual, então.
— Não é forte o suficiente — disse Mimi. — Esse acordo precisa ser
sólido como uma rocha, o que significa algum tipo de penalidade se um de
vocês rompê-lo. Ela me fez um sinal de reprovação. — Nenhuma mulher
deve apostar um centavo sequer num pinto descontrolado, muito menos um
milhão.
— É uma ótima ideia — disse Carol. — Precisamos proteger o Ronan
contra ele mesmo.
— Que tal se eu editar a cláusula de encerramento? — perguntei. — Ela
já afirma que romper o acordo resultará em separação imediata, seguida de
um divórcio rápido e sem brigas. Posso apenas adicionar sanções financeiras
para quem rompê-lo.
— Isso deve resolver o problema — disse Mimi.
— Há mais uma coisa que me preocupa — eu disse. — Até agora,
encontrei Ronan duas vezes, e sinto como se tivesse visto dois homens
diferentes. No Blacktail, ele estava relaxado e conversador. Ele era alguém
com quem eu poderia viver. Ontem, quando ele veio aqui para me oferecer
esse acordo, era outra pessoa. Não que ele fosse rude ou algo assim, ele foi
mais abrupto e agressivo.
— Essa é a sua persona de negócios — disse Carol. — Em se tratando de
homens, meu irmão é um cara bacana. Ele é gentil e generoso. Dentro dos
limites do seu cérebro abastecido de testosterona, ele pode até ser atencioso.
Mas ele é um negociador implacável e gosta de ganhar.
— Se eu for em frente com isso, com qual Ronan estarei vivendo? —
perguntei. — O Sr. Bacana ou o Sr. Negociador?
— O Sr. Bacana — respondeu Carol prontamente. — Com flashes
ocasionais do Sr. Negociador, se você tentar compartilhar o controle remoto
da TV ou jogar um videogame. O Ronan tem uma tendência competitiva
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fortíssima. Quando ele decide que quer alguma coisa, ele se prepara para
consegui-la, e não há como detê-lo.
— Felizmente, Ava não é nenhuma flor que se cheire — disse Mimi com
uma risada de deboche. — Se ela e Ronan entrarem numa batalha pelo
controle remoto, eu aposto na Ava.
— Eu tenho minha própria televisão, que vou colocar no meu quarto —
eu disse. — Nenhum conflito relacionado à TV vai perturbar nossa harmonia
conjugal.
Carol riu. — Boa decisão. Porque quando se trata de determinação, você
e meu irmão poderiam muito bem ser gêmeos. Basta pensar nisso como viver
com a versão masculina de você.
Revirei os meus olhos. — Exceto que não sou uma prostituta.
Os lábios de Carol se separaram num largo sorriso. — Se o Ronan assinar
o contrato revisado, nos próximos dois anos, ele também não vai ser.
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RONAN
Ava.
— Depois que Ava assinar o contrato, vamos sair para tomar um drinque?
— disse Jack. — Vamos brindar ao futuro da Kingsley Tech e ver o que as
mulheres gostosas de Manhattan têm para nós.
Fiz-lhe um sinal positivo com o polegar. — Combinado.
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10
RONAN
Quando Ava entrou no meu escritório às 4h, ela estava vestida para negócios,
trajando um elegante terno cinza-claro que realçava sua figura esbelta. Sua
saia terminava logo acima dos joelhos, e seus saltos acentuavam um belo par
de pernas tonificadas. Uma bolsa-sacola de couro preta estava pendurada no
seu ombro direito. Embora eu gostasse de mulheres louras e peitudas, Ava
era mais que atraente o bastante para fazer qualquer homem dar uma segunda
olhada.
— Obrigado por atravessar o rio e ter vindo até aqui — eu disse.
— Não se preocupe — disse ela. — Você fez a viagem da última vez,
então desta vez fui eu quem fiz.
Havia um quê de nervosismo na voz dela? Eu não tinha certeza, por isso
tentei deixá-la à vontade. A última coisa que eu queria é que ela voltasse atrás
agora.
— Sinta-se à vontade — eu disse, apontando para a cadeira em frente à
minha mesa. — Você aceita um café ou um copo d'água?
— Obrigada, mas eu estou bem — disse ela enquanto se sentava em
minha frente. — Eu gostaria de discutir sobre dois ajustes no contrato antes
de assinar.
A sua disposição de assinar foi recebida com alívio, e eu me reclinei para
trás em minha cadeira e a considerei.
— Quais ajustes você gostaria de fazer?
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madrasta vai ficar desconfiada, não importa o que a gente faça, e que ela pode
muito bem contratar detetives para nos seguir. Se Verônica conseguir uma ou
duas fotos de você com alguma piriguete aleatória e usar essas fotos para
instigar os advogados do seu pai para cima de nós, é impossível prever onde
isso vai parar.
— Isso não vai acontecer — eu disse.
— Não se você mantiver o seu bilau nas calças, mas aparentemente, essa
não é uma opção. Estou preparada para desistir de dois anos da minha vida,
mas não estou disposta a ser arrastada para um processo.
— Isso não vai acontecer — eu disse.
— Você não pode negar que poderia.
— Não vai.
Ava se levantou. — Você tem razão, Ronan. Isso não vai acontecer,
porque cheguei a um ponto final aqui. Ela enfiou a mão em sua bolsa-sacola,
retirou uma pasta que eu lhe havia dado dois dias antes e a jogou sobre a
mesa. — Aqui estão as cópias do acordo que você me deu. Desejo-lhe toda
sorte em resolver os seus problemas financeiros. Mas preciso encontrar uma
maneira diferente de resolver os meus.
E com isso, ela se virou e caminhou em direção à porta. Senti um aperto
no peito e a sensação de que minhas esperanças estavam partindo com ela.
— Espere um minuto, Ava — eu disse.
Ela parou e se virou para mim. — Para quê diabos?
— Me dê um minuto para pensar — eu disse.
Eu poderia assinar, desistindo da minha vida por dois anos? Se não o
fizesse, estaria de volta a um pântano de problemas financeiros, duas horas
depois que eu havia dito ao Jack que tudo estava sob controle.
Eu não tinha tempo de procurar outra falsa esposa, e mesmo que tivesse,
seria quase impossível encontrar uma que fosse tão ideal quanto Ava. E se as
coisas desmoronassem com ela, eu não poderia mais confiar na ajuda da
minha irmã para encontrar outra mulher para me casar. Carol me culparia por
estragar as coisas com Ava, e ficaria furiosa comigo.
Muita coisa estava em jogo, e com o tempo se esgotando, estava na hora
de agir como homem.
Então eu me fiz de aço para aceitar o negócio mais indesejado da minha
vida.
— Volte e sente-se, Ava — eu disse. — Vamos conversar sobre os
ajustes do contrato.
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11
AVA
tudo.
Depois que Carol partiu, voltei ao vestiário para pegar algumas peças de
roupa das quais eu precisaria hoje à noite e amanhã de manhã. Com a partida
de Carol e terminada a pressa em camuflar o apartamento, tomei consciência
da realidade do meu compromisso. Embora eu tivesse passado a maior parte
dos últimos três dias no apartamento de Ronan, hoje seria a primeira noite
que eu ia dormir aqui, e a percepção de quanto a minha vida estava prestes a
mudar não era algo fácil de entender.
Não mais fácil que entender o próprio Ronan. Nos últimos três dias, em
sua maior parte, ele havia ignorado nós duas (Carol e eu) até ontem à noite.
Quando estávamos dando os retoques finais na última camada de tinta em
meu quarto, Ronan apareceu com sacolas de comida tailandesa picante e
saborosa, que nós três comemos juntos enquanto conversávamos animados
sobre a probabilidade de os Yankees ganharem a Série Mundial este ano.
Ontem à noite, eu tinha sentido o calor da sua atenção e percebi porque
tantas mulheres caíam aos seus pés, e em sua cama. Além de sua boa
aparência, de fazer Henry Cavill entrar na corrida pelo dinheiro, o homem
conseguia encantar até mesmo uma serpente. Quando ele chegou com a
comida, eu estava exausta e coberta de tinta, mas em questão de minutos ele
me fez rir e relaxar.
Mas esta manhã quando cheguei ao apartamento para me encontrar com
os homens que iam fazer a entrega dos móveis, ele foi áspero a ponto de ser
rude e saiu do apartamento antes mesmo de a entrega ser concluída.
O homem era um enigma. Uma contradição viva e ambulante. E eu tinha
me inscrito para viver com ele e fazer o papel de falsa esposa por dois anos.
Naquele exato momento, ele apareceu na entrada do vestiário. Foi a
primeira vez que eu o via sem camisa, e a cena disparou uma seta inesperada
de lascívia em minha virilha.
Vestido num moletom azul-marinho que pendia baixo em sua cintura
sarada, o suor em sua testa e a umidade do seu cabelo escuro testemunhavam
o quão extenuante seu treino havia sido. O calor e um cheirinho almiscarado
de homem atingiram as minhas narinas, e meus lábios se separaram à medida
que eu vislumbrava os músculos grossos e bem definidos dos seus ombros e
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vestiário. Um segundo depois, uma porta fechou com força e a água foi
ligada.
Agarrei minha pilha de roupas, deixei a suíte principal, voltei ao meu
quarto e fechei a porta em seguida, antes de jogar a roupa sobre o otomano e
cair na minha cama, minha "cama de pregos" como Roman chamou.
Cama de pregos realmente. Quando assinei o contrato com ele, eu
acreditava que havia contraído um acordo de casamento com um cara legal,
por quem eu me sentia levemente atraída. Nada especial, apenas o cheiro de
lascívia que qualquer mulher cheia de vida sentiria por um homem tão bonito.
A última coisa que eu precisava era um caso de tesão pelo meu futuro
marido falso. Além do seu histórico como prostituto convicto, nós dois
simplesmente não nos dávamos bem. Embora Ronan fosse mais que capaz de
encantar com seu charme, ele também podia ser abrasivo e difícil.
O que eu havia sentido no vestiário não seria nada mais que a
consequência de anos de celibato e um confronto súbito e inesperado com um
homem seminu mais quente que o inferno?
Com todo o meu coração, eu esperava que fosse.
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12
RONAN
olham uns para os outros o tempo todo, e eu não tinha visto nada de mais no
olhar de Ava, mas não pude resistir à tentação de importuná-la com isso, não
depois de flagrar seu meio-olhar.
Não que eu não tivesse olhado para ela também, claro que tinha. Eu
simplesmente era melhor em não me deixar ser pego. Apesar de sua figura
esbelta, Ava tinha um corpaço. Se tivéssemos nos conhecido em
circunstâncias diferentes, eu já a teria seduzido, mas já que estávamos
morando no mesmo apartamento, o sexo sujaria as águas já turvas em que eu
havia me metido com o nosso acordo de casamento falso. Não importa o
quanto minhas bolas estivessem doloridas nos próximos dois anos, sexo com
minha futura esposa não era uma opção.
Conforme o elevador foi parando, enfiei a mão no bolso do paletó, toquei
na caixa do anel de noivado que eu havia escolhido na Harry Winston e
foquei no meu plano para a noite.
Eu abriria a conversa presenteando Ava com o anel, o que deveria agradá-
la, dado o seu comentário irritante sobre não ser mão de vaca quando
assinamos nosso contrato. Não que o seu comentário tivesse algo a ver com
os mais de cem mil dólares que gastei no anel; era um investimento no
lançamento bem-sucedido do nosso falso casamento.
Depois de crescer em torno da minha madrasta e do seu círculo de víboras
com cara de Botox, eu sabia muito bem que quando Verônica e suas
amiguinhas pusessem os olhos naquele anel, o número de quilates e o nome
do designer guiariam sua impressão inicial sobre Ava. Não havia como
proteger Ava completamente da manopla que ela estava prestes a encontrar,
mas eu pretendia dar-lhe tanta armadura quanto pudesse. Hoje à noite, isso
significava dar-lhe o anel e repassar os preparativos do casamento que eu
planejei para nós.
Quando o elevador se abriu, saí, caminhei até a porta, abri-a e entrei na
antessala escura. A luz brilhava para além da sala de estar, e quando cheguei,
Ava estava na cozinha, pegando um copo de água. Seu suéter verde com
zíper frontal marcava suas curvas; as calças de ioga escuras e justas exibiam
suas longas pernas delgadas; e com as costas viradas para mim, a sua bunda
empinada estava em plena vista.
— Oi, Ronan — disse ela, voltando-se para mim. — Como foi o seu dia?
— Rotina em sua maior parte — eu disse. — Você tem tempo para
conversar, talvez enquanto tomamos uma taça de vinho?
— Claro — disse ela.
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— Não tem que ser piegas — disse ela. — Os detalhes que fazem a nossa
história parecer real podem ser engraçados ou pessoais. O que você se lembra
dos momentos decisivos da sua vida, como o dia em que se formou na
faculdade, ou o dia em que começou o seu negócio?
Eu dei de ombros. — Não muito. Não sou um homem de detalhes.
— Que tal assim? — ela perguntou. — A gente se conheceu na festa da
Carol. Conversamos sobre nossos filmes favoritos, e apesar de termos
acabado de nos conhecer, sentimos como se nos conhecêssemos fazia um
século. No final da noite, quando chegou a hora de eu ir embora, você me
pediu para jantar com você no Blacktail na noite seguinte, e eu concordei.
— Claro que concordou — eu disse. — De acordo com a sua história, eu
tinha acabado de passar a noite encantando a sua calcinha.
Ela me deu um olhar exasperado. — Coloque o seu ego de lado e me
deixe terminar. No dia seguinte, Ano Novo, sentimos que era o dia mais
longo das nossas vidas, porque eu e você estávamos contando os minutos que
faltavam para as 8h da noite, quando iríamos nos ver de novo. Quando nos
conhecemos no Blacktail, nós dois pedimos lombo e dividimos um prato de
batatas fritas. Você tomou um uísque escocês, e eu, um martíni.
— Entendo aonde você está querendo chegar — eu disse. — Você está
baseando a história em nosso jantar de verdade.
— É mais fácil de lembrar se nos mantivermos próximos da verdade —
disse ela. — Durante o jantar, as horas voaram. Conversamos sobre tudo a
que tínhamos direito, nenhum de nós queria que a noite terminasse, até que o
restaurante estava prestes a fechar no final da noite. Depois que saímos do
Blacktail, você me acompanhou até o metrô. Era uma noite tranquila, e
alguns flocos de neve dispersos dançavam no ar ao nosso redor quando você
me beijou pela primeira vez fora da estação Broad Street.
— Acabou?
— Acabei — disse ela. — O que você acha da minha história?
— Soa como um filme meloso.
Ela revirou os olhos. — Soa romântica e mais crível que a sua versão
apressada de como nós supostamente nos apaixonamos.
— Tudo bem — eu disse. — Vamos com a sua versão. Agora que
resolvemos isso, vamos aos planos do casamento. Casar na propriedade de
Southampton significa que não teremos que procurar um local, e o meu pai
ficará contente por querermos nos casar lá. No entanto, Southampton também
significa que vamos ter que lidar com Verônica.
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Ava acenou com a cabeça. — Carol me contou como sua madrasta pode
ser difícil. Definitivamente precisamos ter certeza que estamos na mesma
página antes de falar sobre planos de casamento com ela.
— Já pensei nisso — eu disse. — Devemos manter a cerimônia simples.
— Concordo. Carol vai ser a minha dama de honra, e presumo que Jack
vá ser o seu padrinho. Podemos aceitar quem quer que sua família prefira
como reverendo ou padre; não precisamos de uma festa nupcial completa, e
eu não preciso que ninguém me acompanhe até o altar.
Peguei minha taça de vinho, relaxei-me contra a cadeira e provei o
Barolo. Até agora, a nossa conversa estava indo bem. Além dos enfeites em
nossa história, Ava tinha concordado com tudo que eu havia sugerido.
— De volta à Verônica — eu disse. — A melhor maneira de lidar com a
minha madrasta é deixá-la fazer as coisas do seu jeito desde que não interfira
no que nós queremos.
Os olhos de Ava brilharam de humor. — Uma boa receita para lidar com
qualquer um.
— Imagino que Verônica vá insistir numa grande festa nupcial — eu
disse.
— Então vamos insistir no contrário.
— Ela vai querer supervisionar a lista de convidados e a recepção — eu
disse. — O jeito mais fácil nisso tudo é deixá-la assumir o comando.
— Esse pode ser o jeito mais fácil — disse Ava. — Mas não é o melhor.
— Por que não?
Ela franziu o rosto para mim. — Aparências, é claro.
— Minha madrasta é a rainha das aparências. Ela vai convidar seus
amigos socialites; vai aproveitar a oportunidade para impressioná-los, e para
esse fim, ela vai assegurar que a recepção seja deslumbrante e a comida,
excelente.
— Não é isso que eu quis dizer com aparências — disse Ava.
— Então o que diabos você quis dizer?
Ela me corrigiu com um olhar. — Pense como uma mulher, Ronan; você
certamente dormiu com um número suficiente delas. Considere o simbolismo
do que você acabou de propor.
— O que eu propus faz perfeito sentido — eu disse. — Um casamento
simples que não vai exigir tempo demais para ser organizado.
O que você propôs é uma via de mão única para o desastre. Precisamos
nos envolver.
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13
RONAN
com cílios longos e escuros, Ava era uma das poucas que conseguiam.
Quando ela me viu, pegou o controle remoto e zerou o volume da
televisão. — Bom dia — disse ela. — Há café fresco se você quiser.
— Obrigado — eu disse. — Aceito.
Entrei na cozinha, enchi uma xícara de café para mim e adicionei um
pouquinho de leite antes de voltar para a sala para conversar com Ava. O café
da manhã podia esperar até que eu a atualizasse com relação à conversa de
ontem à noite com o meu pai.
— Papai finalmente me ligou de volta ontem à noite — eu disse.
— Como foi? — ela perguntou.
Sentei-me na minha poltrona. — Conforme o esperado. Contei a ele sobre
o nosso noivado e que queremos nos casar em Southampton em 7 de maio.
Ele aceitou tudo.
— Sem interrogatório? — perguntou Ava.
— Papai não faz esse tipo de coisa. Ele está sempre tão concentrado em
seu trabalho que não demonstra muito interesse em nenhum dos seus três
filhos, a menos que algum de nós apronte ou o envergonhe de alguma
maneira.
Ava acenou com a cabeça. — Carol me disse uma vez que o seu pai
nunca foi a uma exposição dos seus quadros, o que me chocou um pouco. Eu
não tenho muitas lembranças dos meus pais, mas os meus avós estiveram
sempre presentes em minha vida.
Eu quase disse a ela como ela era sortuda, mas então me detive. Embora
os seus avós soassem muito melhores que papai e Verônica, a vida de Ava
não tinha sido fácil, e eu não queria parecer um babaca chorão.
— Em nossa família, Verônica é a interrogadora — eu disse. — Embora
meu pai realmente tenha feito algumas perguntas sobre o seu passado.
Os lábios de Ava franziram rapidamente. — Meu pedigree inexistente,
você quer dizer.
Bebi o meu café. — É verdade que papai é um esnobe. Mas o seu
diploma de Harvard causou-lhe uma boa impressão, como o fato de você ter
o seu próprio negócio.
— Quando ele e Verônica esperam me conhecer?
— Ele sugeriu um jantar em família na semana que vem — eu disse. —
Verônica vai ligar para marcar uma data.
— Quão formal devo esperar que seja esse jantar? — perguntou Ava.
Eu dei de ombros. — Costumo usar um paletó sem a gravata. Tenho
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AVA
Quando Ronan abriu a porta e Verônica entrou, eu fiquei admirada com a sua
beleza, mas também com algo que as fotos de família de Carol não tinham
revelado: a arrogância sutil que emanava dela como um veneno invisível aos
olhos, porém palpável em sua presença.
Alta e escultural, com olhos escuros, feitios clássicos e cabelo preto
varrido para trás num elegante coque, Verônica estava elegantemente vestida
num terninho de seda bege que valorizava a sua figura bem mantida.
Diamantes brilhavam em suas orelhas, um cachecol Hermès parecia
frouxamente atado em volta do pescoço e uma Birkin marrom clara
pendurada no ombro. Embora eu soubesse que Verônica estava bem acima
dos cinquenta anos, ela não aparentava um dia a mais que quarenta, e
conforme caminhei para o lado de Ronan para cumprimentá-la, eu me senti
suja e desgrenhada com minha blusa e meus jeans casuais, e desejei que
tivesse tido tempo para aplicar um toque de maquiagem.
— Você deve ser Ava — disse ela, dando um sorriso reluzente conforme
me olhou de cima embaixo.
— Permita-me — disse Ronan. — Verônica, eu gostaria de apresentar
minha noiva Ava Walker. Ava, esta é minha madrasta Verônica Kingsley.
Verônica suspirou. — Ronan, Ronan. Sempre tão formal. Você jamais
saberia que eu fui mãe dele desde que ele tinha sete anos de idade. Ela
colocou sua mão com unhas bem cuidadas no meu braço. — Desde que
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15
AVA
Verônica lançou uma risada frágil. — Estou bem ciente da sua falta de
interesse em fazer as coisas corretamente, querido, mas talvez eu tenha
mimado você ao cuidar de assuntos que te pertencem. De qualquer maneira,
uma convenção que será observada é a festa de noivado em Southampton
para você e Ava.
— Muito bem — disse Ronan. — Que data você e meu pai escolheram?
— Daqui a duas semanas.
— Vamos adicioná-la ao nosso calendário — disse ele. — O que você
precisa de nós?
— Apenas a sua presença e os nomes das pessoas que você e Ava
quiserem convidar — disse Verônica. — Eu vou me encarregar do resto.
— Há algo que eu possa fazer para ajudar? — perguntei. — Tenho muita
experiência em planejar eventos.
— Duvido que a sua experiência se estenda a esse tipo de evento — disse
Verônica. Tendo colocado o copo meio vazio sobre a mesa de café, ela olhou
para o seu relógio de pulso. — Agora que isso está resolvido, eu preciso
correr — disse ela enquanto se levantava e pendurava sua Birkin no ombro.
— Prefiro não me atrasar para a minha consulta na Bergdorf.
Ronan e eu continuamos olhando para ela, e à medida que ela caminhava
em direção à antessala, senti o mesmo alívio que ele com a sua partida.
Mas de repente ela parou e se virou para nós. — Eu quase me esqueci —
disse ela. — Antes que eu vá, Ronan, me mostre o que você fez com as
pinturas da Carol. Ela disse que você comprou meia dúzia de quadros na sua
última exposição.
Lá vamos nós de novo.
Tal como Carol havia previsto, Verônica estava muito empenhada em
bisbilhotar o nosso apartamento, e tinha encontrado um pretexto impecável.
Felizmente, graças à Carol, eu estava preparada.
— As pinturas menores estão aqui — eu disse, abrindo caminho para o
meu quarto. — Este cômodo costumava ser o quarto de hóspedes do Ronan,
mas eu o transformei em escritório e sala de TV para mim.
Verônica me acompanhou até o quarto, com Ronan atrás dela.
— As pinturas da Carol ficaram maravilhosas sobre o verde que você
escolheu para as paredes — disse ela. — Embora ela não tenha tido muito
sucesso como pintora, acho que ela é muito talentosa.
— Concordo — eu disse. — As pinturas da Carol são únicas e originais, e
eu só sei que um dia ela vai ser famosa.
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alguns rounds com Verônica, mas, eventualmente, ela vai ser obrigada a
desistir e aceitar que o nosso falso casamento é verdadeiro.
— Você bota mais fé nas minhas habilidades teatrais que eu mesma — eu
disse. — Mas espero que você esteja certo.
— Eu sei que estou — disse ele.
E então, pela segunda vez na última meia hora, ele me surpreendeu ao
dizer a última coisa que eu esperava ouvir.
— Nós dois formamos uma ótima equipe.
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AVA
— Não posso acreditar que a festa de noivado vai ser amanhã — eu disse à
Mimi. — Estou totalmente apreensiva.
Minha amiga colocou o garfo sobre a mesa e olhou para mim. — Você e
o Ronan vão ficar bem — disse ela. — Você não acabou de dizer que as
coisas estão indo melhor entre vocês dois?
Convidei-a para almoçar comigo no Veselka, um restaurante localizado
na East Village, que servia uma combinação de comida clássica com
especialidades ucranianas, porque com a festa pesando sobre mim, eu
precisava fortalecer o meu ânimo e acalmar os meus nervos, e a presença de
Mimi normalmente fazia ambos para mim.
— Na maior parte, elas estão — eu disse. — Não temos discutido, bem,
pelo menos não sobre qualquer coisa importante.
Mimi afastou uma gavinha de cabelo ruivo encaracolado do seu rosto. —
Tanto você quanto o Ronan têm personalidades fortes — disse ela. — Você
não pode esperar concordar em tudo. O importante é estabelecer amizade,
convivência e acordo sobre as coisas importantes. Isso é o que vai fazê-los
atravessar os próximos dois anos.
— Eu realmente sinto que estamos nos tornando amigos — eu disse. —
Quando me mudei para o apartamento dele, ele passava tanto tempo no
trabalho que eu sentia como se estivesse vivendo sozinha. Mas nas duas
últimas semanas desde que anunciamos o noivado, ele tem passado mais
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RONAN
Vamos?
Ela pegou no meu braço. — Vamos em frente.
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AVA
num daqueles filmes românticos que eu adorava. Hoje era tão diferente da
minha vida cotidiana, era quase uma experiência fora do corpo.
— Está quente para início de abril — disse ele. — Você gostaria de ver a
praia antes de entrarmos?
— Eu adoraria — eu disse. — Mas com os saltos que estou usando, não
me atrevo a pisar na praia. Se eu aparecer na festa com os pés cobertos de
areia, Verônica vai matar nós dois.
— Tenho uma solução — disse ele. — Segura no meu braço.
Cuidadosamente, ele me guiou pelo gramado bem cuidado à direita da
casa à medida que a brisa do mar salgado enchia os meus pulmões. No canto
da casa, viramos à esquerda e subimos vários degraus até uma ampla varanda
que ficava de frente para a água do mar. Quando me virei para o mar, uma
brisa leve agitou o meu cabelo, e o som das ondas que quebravam na praia
chegou aos meus ouvidos. Diante de nós, uma larga faixa do gramado dava
lugar às dunas atapetadas com uma infinidade de arbustos de rosa-rugosa,
que se estendiam a uma área intocada de areia e para o mar além.
— É lindo — eu disse. — Não é por menos que seu pai e Verônica
preferem passar a maior parte do tempo aqui.
— Eu passava os verões aqui quando era criança — disse ele.
— Como era? — perguntei. Ele raramente falava sobre sua infância, mas
fiquei sabendo através de Carol que desde que ela e Ronan chegaram à
adolescência, eles evitavam passar muito tempo com seu pai e sua madrasta.
— Entre a agenda ocupada do papai e a quantidade de entretenimento que
ele e Verônica costumam fazer, podia ser monótono para uma criança —
disse ele. — Mas os Morton eram bons para mim. Evelyn nunca se importava
quando eu a seguia pela casa ou ficava na cozinha. Ela sempre mantinha
meus cookies favoritos de manteiga de amendoim por perto. E Alfred me
ensinou a montar na minha primeira bicicleta.
— Vou ter a chance de conhecê-los hoje à noite?
Pelas conversas com Carol e Ronan, eu sabia que Alfred Morton e sua
esposa Evelyn eram o mordomo e a governanta; juntos, eles administravam a
propriedade e os empregados há décadas. Sem filhos, em alguns aspectos, os
Morton haviam cuidado de Carol e Ronan mais que seu pai e sua madrasta.
— Vamos encontrar uma oportunidade — disse Ronan. — Penso em
Alfred e Evelyn como família, e nunca venho aqui sem encontrar um
tempinho para vê-los. Ele olhou para o mar. — Além de passar tempo com
eles, a outra coisa que eu gostava dos verões aqui era estar fora. Eu gostava
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Você não me disse como a sua noiva é bonita, Ronan. Agora que a vi com
meus próprios olhos, entendo porque os seus dias de solteiro chegaram ao
fim.
— Ava é única — disse Ronan, conforme acompanhávamos Carter para
dentro. — Desde o dia em que nos conhecemos, eu sabia que ela era a mulher
com quem eu queria me casar.
Carter nos levou para um corredor amplo e bem iluminado, com paredes
forradas de pinturas a óleo. Através de uma porta aberta, vislumbrei uma sala
movimentada com entregadores e empregados, que parecia ser a cozinha da
propriedade, e uma segunda sala na qual dois floristas davam os toques finais
em vários arranjos florais. Depois de nos levar por um lance de escadas até
um segundo corredor, Carter pausou e apontou para a entrada de uma sala do
tamanho de um salão de baile à sua direita.
— A festa vai ser aqui, no Salão Oceano — ele me disse, antes de virar à
esquerda e nos conduzir a uma sala de estar menor.
Antes de segui-lo, eu pausei para olhar o espaço por dentro, onde a festa
seria realizada, e vislumbrei janelas altas e arqueadas com vista para o mar.
Verônica estava diante das janelas, falando com um grupo de entregadores
vestidos de terno preto, sem dúvida dando-lhes suas instruções para a noite.
Quando entrei na sala de estar, descobri que era uma prima menor e mais
íntima do Salão Oceano, com tetos altos e uma única janela arqueada com
vista para o mar.
— Sentem-se aqui — disse Carter a Ronan e a mim, apontando para o
sofá que ficava em frente à janela. — Posso servir uma bebida a cada um
vocês?
— Eu não recusaria um uísque escocês — disse Ronan. — Você ainda
toma Laphroaig?
— O de dezoito anos? — perguntou Carter. — É minha bebida noturna.
Alfred faz os pedidos para mim em caixas.
— Vou tomar uma taça dele — disse Ronan, enquanto nos sentávamos no
sofá.
Carter apertou um botão na parede antes de se sentar numa poltrona em
nossa frente.
— O que você gostaria de tomar, Ava? — disse ele.
— Apenas um copo de água, obrigada — eu disse. Para sobreviver a essa
festa, eu precisaria manter minha cabeça no lugar.
Carter me deu um olhar de paquera. — Não deveríamos fazer um brinde
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ao noivado de vocês?
Ronan pegou na minha mão e a apertou. — Experimenta uma taça de
Laphroaig — disse ele. — Confia em mim, você vai gostar.
Talvez um gole de coragem líquida me ajudasse a relaxar. Até agora, o
pai de Ronan tinha sido agradável o suficiente, mas a maneira como ele me
olhava tinha um tom distintamente sexual, o que me embrulhava o estômago.
Como ele podia olhar para a noiva do seu filho daquele jeito?
— Tudo bem — eu disse. — Vou experimentar.
Naquele momento, um jovem trajando um terno escuro entrou na sala.
— O que posso lhe servir, Sr. Kingsley? — perguntou ele.
— Três taças de Laphroaig com cubos de gelo — disse Carter. —
Obrigado, Jaime. O jovem acenou com a cabeça em reconhecimento antes de
sair da sala.
Olhei para o espaço em volta, vislumbrando os painéis da janela arqueada
e o molde elaborado que traçava a linha entre as paredes e o teto. Ambos
confirmaram minha impressão inicial, baseada no exterior tradicional da casa,
de que ela havia sido construída no início do século 20. Mas o interior tinha
sido completamente reformado num estilo modernista, com paredes e móveis
brancos, pisos de madeira de lei, e cortinas brancas flutuantes e transparentes.
A única cor da sala vinha de alguns vasos de flor que pareciam ter pertencido
a um museu. De uma forma mínima e antisséptica, a sala era bonita, mas era
mais parecida com um hotel de luxo que com uma residência. Passos e vozes
ecoavam do corredor externo, lembrando-me que a festa de noivado que eu
tanto temia estava a poucos minutos de se realizar.
— Então, Ava, — disse Carter, — antes dos nossos convidados
chegarem, me fale um pouco sobre você. Ronan e Carol me disseram que
você foi colega de quarto da Carol em Harvard, mas não me lembro de tê-la
conhecido.
— É porque o senhor não me conheceu, Sr. Kingsley — eu disse. — Hoje
é a primeira vez que nos conhecemos.
— Me chame de Carter — disse ele suavemente. — E nós devemos ter
nos conhecido, porque eu conheci todas as colegas de quarto da Carol durante
a semana da sua formatura em Harvard.
— Eu não participei da maioria dos eventos de formatura — eu disse. —
Meus avós, os últimos da minha família, morreram durante meus anos de
faculdade, e formaturas são coisas de família.
— Isso explica — disse Carter com um ar de satisfação. — Eu nunca
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RONAN
aposentar, Porcina havia gerenciado uma das galerias de arte mais bem-
sucedidas de Manhattan e, apesar da sua idade (ela devia ter pelo menos
oitenta), ela permanecia vibrante e ativa. Bem respeitada no mundo da arte de
Nova York, ela se esforçou para ajudar Carol em sua carreira de pintora. Mas
Porcina também era uma das pessoas mais perceptivas que eu conhecia, e se
alguém pudesse sacar que Ava e eu não éramos um casal de verdade, Porcina
seria essa pessoa.
Eu me fiz de aço e pus um sorriso no rosto conforme a mulher pequena,
com porte de pássaro, cumprimentou Carol com dois beijinhos no rosto, antes
de se virar para mim. Trajando um vestido branco de inverno, com várias
voltas de pérola no pescoço, Porcina manteve o estilo e a forma da beleza
clássica que tivera em sua juventude. Eu me senti mal em mentir para ela,
mas não pude evitar. Além de Carol, Jack e Mimi, eu havia decidido não
ampliar o círculo de amigos que sabiam a verdade sobre o nosso acordo de
casamento falso. Simplesmente era arriscado demais.
— Bem, bem — disse Porcina com um sorriso exuberante que
aprofundou a rede de minúsculas rugas que cruzavam o seu rosto. — A
notícia do noivado me pegou de surpresa, mas agora que estou vendo sua
adorável noiva, entendo tudo.
Apresentei Ava, a quem Porcina estendeu a sua mão delgada e venosa. —
Encantada em conhecê-la — disse ela à Ava. — Eu estava começando a
temer que Ronan nunca fosse encontrar sua parceira. Ele sempre foi um
jovem decidido e, como o seu pai, trabalha muito duro para o seu próprio
bem.
— Como Ronan pode lhe dizer, eu mesma sou um pouco viciada em
trabalho — disse Ava, pegando no meu braço. — Mas ao conhecê-lo, minhas
prioridades mudaram. Atualmente, tento encontrar um equilíbrio entre passar
um tempo com ele e cuidar do meu negócio, e ele faz o mesmo por mim.
— Ronan e Ava são ótimos juntos — disse Carol com um sorriso. — Eu
levo todo o crédito por apresentá-los.
— Ser cupido é um negócio arriscado — disse Porcina. — Mas a julgar
pela forma que esses dois olham um para o outro, tenho que parabenizá-la
pelo seu sucesso.
Minha avaliação da capacidade de atuação de Ava subiu alguns pontos, e
eu me relaxei um pouco. Até Porcina havia caído em nossa encenação.
— Somos muito felizes juntos — disse Ava. — Eu me sinto afortunada.
— Então somos dois — eu disse, sorrindo para minha noiva à medida que
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AVA
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RONAN
Depois de nos despedir de Alfred e Evelyn, levei Ava para fora da cozinha
em direção à escadaria dos fundos, a rota que nos dava a melhor chance de
nos esquivar de Verônica e desaparecer de volta na festa sem que ninguém
soubesse que tínhamos nos ausentado. Eu não queria que Ava sofresse o
desprazer de dar de cara com Verônica por minha culpa.
— Foi mais difícil do que eu esperava — sussurrei para Ava conforme
entramos na escadaria. — Mentir para Alfred e Evelyn parece tão errado.
— Eu me sinto horrível com isso também — disse Ava em silêncio. —
Eles foram tão gentis e acolhedores. Você tem certeza que não podemos lhes
dizer a verdade?
Sacudi minha cabeça. — Não posso causar mais estresse para eles quando
já estão trabalhando horas extras devido a essa festa e depois ao nosso
casamento. Desde o seu ataque cardíaco, Alfred deve tomar mais cuidado,
mas ele nunca toma. Não é da natureza dele.
— E depois do casamento, quando as coisas se acalmarem? Não
poderíamos lhes dizer a verdade, então?
— Alguns segredos são melhores se mantidos. Acho que eu não poderia
suportar ver sua decepção comigo por ter mentido a eles; pensam que eu sou
melhor que isso. Mas não posso retirar a mentira agora; o que está feito está
feito.
Saímos da escadaria, emergimos no segundo andar e caminhamos pelo
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conversa civilizada com ele em vez de tentar causar problemas? Você é quem
está se enganando, Larissa. Você diz que seguiu em frente, mas você é quem
está presa ao passado, tentando dar o troco ao Ronan por algo que aconteceu
há mais de uma década. Cresça e pare de viver no passado.
— Tudo bem — surtou Larissa. — Se você é teimosa demais para ouvir a
verdade, não há nada que eu possa fazer para livrá-la da sua própria
estupidez. Um dia, ele vai trair você, e quando esse dia chegar, estou ansiosa
para vê-la sofrer, assim como eu sofri.
E com isso, ela se virou e foi embora.
— Desculpe por isso — eu disse. — E obrigado. Você lidou com ela
muito melhor do que eu já consegui.
— Você não tem nada que se desculpar — disse Ava. — Aquela mulher
precisa de terapia ou algo assim. Sério. Todos nós não tivemos um ou dois
romances problemáticos?
— Eu tive muito mais que isso — eu disse. — Só depois dos meus 25 é
que melhorei em definir as expectativas das mulheres que eu namorei.
— Isso é normal — disse Ava. — Quando olho para trás e me vejo com
meus 19 anos, eu também me arrepio. Havia tanta coisa que eu não sabia.
— Minha madrasta vai fazer qualquer coisa para me fazer parecer mau —
eu disse. — Larissa é apenas uma arma conveniente.
— Eu sei — disse Ava. — De certa forma, eu me sinto mal por ela. Ela
parece emocionalmente instável, e foi cruel da parte de Verônica convidá-la
essa noite e usá-la dessa forma.
— Estou plenamente de acordo — eu disse. — Uma vez que o casamento
tenha se realizado, estou ansioso para evitar minha madrasta por um longo
tempo.
Ava apertou o meu braço. — Somos dois.
Sorri para Ava, sentindo-me afortunado por tê-la ao meu lado. Na última
meia hora, ela confrontou não só Verônica, mas Larissa também, e detonou
as duas. Ava era rápida, não se abalava facilmente e tinha sempre o meu
apoio. Eu não podia ter tido uma parceira melhor.
Naquele exato momento, um garçom apareceu com uma bandeja de
champanhe. Peguei duas taças e entreguei uma à Ava.
— Saúde — eu disse, tilintando meu copo contra o dela, conforme vi
Aiden vindo em nossa direção. — E beba tudo, porque você vai precisar.
Ela sorveu o seu champanhe. — Algum motivo em particular?
Baixei a minha voz. — Meu irmão malcriado.
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AVA
— Claro que sei — rosnou Ronan. — Quem você pensa que eu sou?
Aiden ergueu as mãos. — Sem ofensa, OK? — Baseado no que ouvi, eu
estava preocupado.
Ele havia aceitado a explicação de Ronan? Eu não tinha certeza. Aiden
podia ser jovem e inexperiente, mas também era formado, a nível de
mestrado, pela Wharton em administração de empresas, e os boatos que ele
tinha ouvido eram perigosamente próximos à verdade.
Percebendo a irritação de Ronan e esperando mudar a conversa para um
terreno mais seguro, sorri para Aiden. — Sei que você trabalha na Kingsley
Capital com Carter, mas em que consiste o seu trabalho? Que tipo de trabalho
você faz?
Uma expressão de orgulho tomou conta do rosto bonito e magro de
Aiden. — Nos últimos meses, eu mudei para divisas. Papai me colocou no
comando de uma equipe que está desenvolvendo uma nova linha de fundos
especulativos.
— Sei o que é um fundo especulativo — eu disse. — Mas o que quer
dizer "divisas"?
— É o mesmo que área de câmbio — explicou Aiden. — Decidi me
especializar no trabalho com moedas estrangeiras.
— Por que você iria querer fazer isso? — perguntou Ronan.
Aiden demonstrou-se na defensiva. — É um trabalho interessante.
— Talvez para você — disse Ronan. — Cada um na sua, suponho, mas
não posso pensar em nada mais maçante que ficar olhando para cifras
cambiais o dia todo.
O semblante de Aiden mudou, e ele inclinou-se para Ronan. — Eu vim
aqui para fazer um esforço de ter uma conversa decente com meu irmão, e
tudo que consigo é essa atitude? Foda-se. A mãe sempre diz que tentar se dar
bem com você é inútil, e quer saber de uma coisa? Talvez ela esteja certa.
E com isso, ele foi embora.
Eu não tive a sorte de ter irmãos e não suportava ver Ronan jogar fora
qualquer possibilidade de uma relação positiva com o seu irmão. Aiden podia
ser um moleque, mas também ele claramente ansiava pela aprovação do seu
irmão mais velho, o que significava que ainda havia esperança de que
pudessem formar um vínculo.
Se pelo menos Ronan estivesse disposto a ser o irmão mais velho maduro
que eu sabia que ele poderia ser. Se ele estivesse disposto a se elevar e ser
uma pessoa maior.
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RONAN
Quando Ava me pediu que a beijasse, eu não poderia ter ficado mais
surpreso. Mas apesar da discussão que estávamos tendo, eu confiava no seu
julgamento de que beijá-la era necessário para manter a ilusão do nosso
relacionamento. Nada mal para quem esteve fantasiando em pôr as mãos nela
a noite toda, desde que ela saiu do seu quarto tão gostosa de perder a cabeça,
e meu corpo respondeu de maneiras que me lembravam dos meus tempos de
adolescência!
Dei um passo à frente, prendi os seus ombros contra a moldura da janela
atrás dela e a beijei com todo o meu ardor. Eu poderia nunca mais ter outra
oportunidade de fazer isso e pretendia tirar o máximo proveito da situação.
Quando a minha boca tocou na dela, produziu uma faísca entre nós. Seus
lábios se partiram embaixo dos meus, e um pequeno gemido que escapou dos
seus lábios me deixou de pau duro. Eu a beijei lenta e profundamente,
deixando minha língua roçar vagarosamente, em círculos, em volta da sua,
antes de mover minhas mãos para pegar nos seus peitos, delineando os seus
contornos antes de procurar os seus mamilos endurecidos, que eu apertei
levemente com meus dedos.
Ela suspirou de prazer, e suas mãos se estenderam para mim, explorando
o meu peito e viajando para baixo antes de agarrar minha cintura e me puxar
para mais perto, à medida que minha ereção se intensificava contra o seu
corpo.
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pela expressão no rosto de Ava, eu sabia que ela queria conversar sobre o que
acontecera antes: o beijo que havia desvendado qualquer pretensão de que
não queríamos foder um com o cérebro do outro.
Aquela pretensão estava morta.
Mas durante a última hora da festa, não tivemos a oportunidade de
conversar em particular, e não podíamos arriscar ter uma conversa aberta ao
lado do motorista do meu pai. Portanto, durante toda a viagem para casa,
olhei para fora da janela, observando a paisagem, escurecida pela noite, que
passava, enquanto Ava fazia o mesmo na janela oposta.
Quando finalmente chegamos ao meu prédio, eram pouco depois das 11h
da noite. Sob o brilho das luzes da rua, ajudei Ava a sair do carro e a
acompanhei para dentro de casa. Na viagem do elevador até o meu andar,
nossos olhares se encontraram. O que vi no seu olhar foi um desejo igual ao
meu, mas conhecendo Ava, ela provavelmente tentaria fazer com que nós
dois desistíssemos. Ela insistiria que, tendo em vista o nosso acordo de
casamento falso, fazer sexo não seria uma boa ideia.
Mas aquela conversa não estava na minha agenda.
O que estava em minha agenda era um novo acordo. Um que
reconhecesse a química escaldante entre nós. Um que validasse a nossa
atração e nos permitisse curti-la. Nossa vida em comum podia não ser o que
nenhum de nós dois escolhemos, mas não tinha que ser assexuada. Não se eu
conseguisse convencer Ava a ver as coisas como elas realmente eram. Até o
beijo dessa noite, eu havia me contido porque sexo era tudo que eu tinha para
oferecer, e nada no comportamento dela sugeria qualquer atração por mim.
Mas o beijo dessa noite mudou tudo, revelando uma química que foi fora de
série.
Assim que entramos e a porta do apartamento se fechou, Ava me encarou.
— Precisamos conversar.
— Precisamos, e vamos conversar — eu disse. — Mas antes, precisamos
fazer isso.
E com isso, eu a tomei rapidamente em meus braços e a beijei com toda a
paixão que estava reprimida dentro de mim. Seus lábios se partiram, e seu
corpo derreteu contra o meu, entregando-se a mim de uma maneira que
reafirmava tudo que eu já sabia. Ela queria cada pedaço tanto quanto eu
queria; ela só não estava tão pronta para admiti-lo.
Felizmente, fui o homem que a levou a fazer isso. Uma coisa era dizer
não à possibilidade, mas depois que eu tivesse trepado com ela do jeito que
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eu quisesse, ela teria que dizer não à realidade, o que não seria tão fácil. Não
depois que eu tivesse abalado o seu mundo do jeito que eu sabia que seria
capaz.
— Não devemos — ela engasgou quando voltamos a tomar fôlego. —
Não que eu não queira, você sabe que sim, mas é uma má ideia.
Beijei-a novamente, antes de levantá-la em meus braços e carregá-la para
o quarto. O sofá estava mais próximo, mas para o que eu tinha em mente,
precisaríamos da minha cama king size.
— Essa não é uma boa ideia — disse ela à medida que levantava sua
cabeça para me beijar de novo.
— Não — eu disse. — Essa é a melhor ideia que qualquer um de nós teve
desde que você se mudou para cá.
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AVA
Com um fogo de desejo, Ronan e eu nos beijamos até a sua suíte, onde ele
pôs a luz em baixa intensidade antes de me colocar de pé no chão e abrir o
zíper do meu vestido, que caiu aos meus pés numa pilha cintilante de tecido
vermelho, deixando-me em minhas roupas íntimas de renda preta e saltos de
dez centímetros.
— Puta merda, Ava — disse ele à medida que o seu olhar acalorado
varria o meu corpo, me consumindo com sua intensidade exclusiva, antes de
me agarrar em seus braços e me beijar quase a ponto de me matar. Suas mãos
fortes vagavam sobre o meu corpo, provocando e explorando, e quando ele
enfiou a mão em minha calcinha e correu um dedo sobre as dobras inchadas,
tremi de excitação, molhada e carente por ele e pelo que ele estava prestes a
fazer.
Ele levantou a mão em direção aos seus lábios, lambeu o meu gosto em
seu dedo e olhou nos meus olhos. — Você tem gosto de céu, Ava. Mais doce
do que eu tinha imaginado. Não vejo a hora de meter minha língua entre as
suas pernas.
Eu nunca desejara algo tanto quanto o desejava naquele momento, e
conforme minha última gota de resistência evaporou em esquecimento regado
com lascívia, nós rapidamente perdemos o resto das roupas que sobravam.
Nada existia além de nós dois e a nossa necessidade irresistível de satisfazer
o nosso desejo um pelo outro.
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AVA
Quando acordei na manhã seguinte na cama king size de Ronan, levei vários
segundos para lembrar onde eu estava e como fui parar lá. Depois da nossa
farra até tarde da noite, finalmente desmaiamos num emaranhado de lençóis
torcidos, pernas e braços trançados, e caímos no sono juntos.
Cautelosa para não acordá-lo, eu me desembaracei dele, me levantei e
voltei ao meu quarto, onde fui diretamente ao banheiro adjacente para tomar
uma ducha. Sentia a minha cabeça difusa, confusa pelo sono e o sexo, e eu
precisava acordar a todo custo.
Fiz sexo com meu futuro marido falso, e foi uma experiência de tremer a
terra. Impressionante. E quando ele acordasse, eu tinha uma sensação de que
ele iria querer fazer tudo de novo.
Diabos, eu gostaria de fazer tudo de novo.
O que devo fazer? Ou não fazer?
Eu nem mesmo imaginava, mas esperava que um banho e um copaço de
café colocariam o meu cérebro em marcha. Tinham que colocá-lo, porque
antes de encarar Ronan, eu tinha que pensar seriamente, e não tinha muito
tempo antes de ele acordar.
Conforme eu me ensaboava e enxaguava o corpo sob a ducha quente do
banheiro, momentos da noite anterior se passaram de relance pela minha
mente. O nosso beijo inesperado e o desejo reprimido que ele desencadeou.
Os olhos do Ronan, ofuscados de tesão, fitando os meus. O meu corpo
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Não que houvesse qualquer perigo disso acontecer, pelo menos da parte
de Ronan. Ele tinha saído com centenas de mulheres e não se apaixonou por
nenhuma delas. A sua vida tinha um padrão, e não havia razão para esperar
que ele mudasse.
Mas a minha vida também tinha um padrão. Para mim, o sexo sempre
esteve profundamente entrelaçado com o amor e, finalmente, eu esperava
encontrar um homem que queria as mesmas coisas que eu: compromisso de
vida e construir uma família juntos.
Por outro lado, não importa o que eu decidisse, encontrar um amor não
estava nas cartas para mim a qualquer momento nos próximos dois anos. Eu
tinha assinado um contrato e estava disposta a cumpri-lo. Já que encontrar o
príncipe encantado não era uma opção, qual seria o mal em continuar a ter
relações sexuais com Ronan, ou pelo menos me permitir mais algumas noites
de prazer antes de dar um basta?
Eu estaria enganando a mim mesma? Poderia romper o meu próprio
padrão e ter uma amizade colorida, sem me apaixonar loucamente? Poderia
curtir nossa química sexual ardente sem desejar mais? Poderia manter uma
distância emocional suficiente do Ronan para salvaguardar meu coração?
E então eu me detive. Eu era uma mulher forte, inteligente, e meus olhos
estavam bem abertos. Ronan jamais se apaixonaria por mim, mas eu não
tinha que me deixar apaixonar por ele tampouco. Em vez de lutar contra a
realidade, eu poderia escolher aceitá-la, definir alguns limites razoáveis e
curtir a nossa ligação sexual elétrica pelo que ela era.
E era exatamente isso que eu planejava fazer.
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RONAN
— Como uma pedra — disse ela. — Mas assim que tiver tomado o seu
café e acordado, precisamos conversar.
Despejei uma xícara de café para mim, adicionei um pouco de leite,
caminhei até a sala e me sentei em minha poltrona.
— Fale comigo — eu disse. — Mas antes de você começar, há uma coisa
que eu preciso dizer.
Ela pegou o controle remoto e desligou a TV. — O que é?
— Obrigado por ontem à noite. Você é incrível na cama, e eu preciso ser
direto com você. Tudo que eu pensei desde que acordei é o quanto quero
fazer amor com você outra vez.
Ela me deu um meio-sorriso hesitante. — Você é que é incrível, e eu
estaria mentindo se dissesse que não quero fazer sexo com você novamente.
Mas não é tão simples assim. Temos que considerar o nosso contrato, porque
ele nos amarra pelos próximos dois anos, e há tanta coisa em jogo para foder
tudo com... bem, com foda.
— De acordo — eu disse. — O que você proporia?
Ela olhou em meus olhos. — Algumas regras básicas. Elas não têm que
fazer parte do nosso contrato escrito, mas se formos fazer essa coisa de
amigos coloridos, precisamos ter certeza que estamos em sintonia.
Uma sensação de alívio me lavou por dentro. O foco de Ava em definir
regras confirmava que ela estava pendendo para o meu lado. Tudo que eu
precisava fazer agora era evitar estragar os nossos planos.
— Que regras você sugeriria? — perguntei.
Ela mudou de posição no sofá, mas não falou, e senti um certo mal-estar.
— Você parece nervosa — eu disse. — Se há algo que você quer dizer,
simplesmente diga.
— É que esse tipo de relacionamento é novo para mim — disse ela.
— É novo para mim também.
— Suponho que eu ainda esteja tentando descobrir como funciona.
Dei-lhe um olhar tranquilo. — Não se preocupe; vamos descobrir isso
juntos.
Quando ela abriu a boca, entendi a sua hesitação. — Segurança, em
primeiro lugar. Estou tomando anticoncepcional, e sei que não estou grávida,
mas...
Para poupar-lhe o estresse de procurar uma forma educada de fazer
aquela pergunta, eu a interrompi. — Não se preocupe por conta disso: eu sou
o tipo de cara que sempre pratica sexo seguro.
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receptiva.
Os lábios de Ava franziram rapidamente. — Uma gratificação. É uma
descrição do cão para o que fizemos ontem à noite.
Fiz um sinal de reprovação para ela. — Você ainda não viu nada!
— Estou bem ciente disso, e você é um bom vendedor.
Já que o clima parecia estar descontraindo, dei-lhe um olhar sugestivo. —
Devo tomar isso como mercadoria vendida?
A voz dela voltou a provocar. — Digamos que eu esteja considerando a
sua oferta. Mas antes de fecharmos o negócio, eu gostaria de uma lista
completa das características e dos benefícios.
— Vamos ver — eu disse, fazendo o seu jogo. — Ofereço honestidade,
um bom senso de humor, liberdade de expectativas e um pau grande.
— Características bacanas — disse ela. — Quais os benefícios?
— A menos que o que estou lembrando tenha sido um sonho
verdadeiramente alucinante, nós dois experimentamos os benefícios ontem à
noite.
Ela me deu um olhar irônico. — Você podia dizer isso de novo.
Eu sorri para ela. — Quer outro teste de durabilidade antes de tomar uma
decisão? Porque se você quiser, eu estou pronto.
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AVA
Ao longo das próximas semanas, a minha vida foi uma agitação contínua de
atividades. Entre planejar o nosso casamento e administrar os nossos
respectivos negócios, Ronan e eu estávamos ocupados praticamente sem
parar.
Mas apesar da nossa agenda lotada, encontrávamos tempo para o sexo.
Muito sexo.
E entre os momentos que passávamos um com o outro, conversávamos,
às vezes, até tarde da noite. Conversávamos principalmente sobre as coisas
do dia a dia, mas, aos poucos, Ronan foi se abrindo comigo. À medida que o
fazia, eu o entendia melhor.
Uma noite, quando estávamos estirados em sua cama, relaxados e
repletos de orgasmo mútuo que tínhamos apenas desfrutado, ele falou de sua
mãe.
— Eu gostaria que você a tivesse conhecido — disse ele, aconchegando o
seu corpo atrás de mim e me envolvendo com um braço forte. — Ela era o
oposto da minha madrasta: gentil, de fala mansa e generosa. Todos a
adoravam, inclusive eu. Quando eu tinha 5 ou 6 anos de idade, costumava
colher flores nos jardins da propriedade e levá-las para ela.
— Eu me lembro de fazer algo parecido quando era criança — eu disse.
— Como morávamos ao lado de uma fazenda, eu costumava colher flores
silvestres para a minha mãe nos campos. Talvez seja daí que surgiu o meu
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fazem desconfiar do amor, com medo da dor que ele possa trazer?
No rescaldo da descoberta da traição do meu ex-noivo e do rompimento
do nosso noivado, visitei uma psicóloga por vários meses, uma mulher sábia
e gentil que me ajudou a enxergar minhas próprias cicatrizes. Meses antes da
separação, havia sinais de aviso de que Brian estava me traindo, mas devido à
força do meu desejo de compromisso e da minha vontade de formar uma
família, um desejo que a minha psicóloga associou à perda da minha própria
família, eu ignorei e descartei esses sinais. Passei por cima deles com
explicações.
Eu queria acreditar em Brian, então enganei a mim mesma, até que a
realidade me deu um tapa na cara.
No meu relacionamento com Ronan, consegui me desviar do antigo
padrão, pelo menos de alguma forma. Ao contrário do meu ex-noivo, eu não
esperava que Ronan realizasse os meus sonhos de lar e família. Eu sabia que
não devia me comprazer nessa fantasia. Ainda assim, nenhuma quantidade de
autodisciplina podia me impedir de desejar que ele retribuísse os meus
sentimentos.
Padrões são difíceis de romper, e tenho que admitir que eu não havia
rompido totalmente com os meus.
Mas ao voltar para casa todas as noites, Ronan também estava rompendo
com seu padrão. Além do que, ele estava começando a compartilhar partes do
seu passado, revelando mais de si para mim. Eu sentia que nossa intimidade
não era unilateral.
A nossa proximidade crescente seria tão mútua como eu sentia, ou eu
estaria me enganando como fiz com o meu ex? Eu estaria projetando meus
próprios desejos em Ronan?
Ou a nossa falsa relação estaria, aos poucos, se tornando real?
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RONAN
planos, eu gostaria de sair com ela para fazer algo divertido amanhã. Ela teve
que aturar a minha madrasta durante todos os preparativos do casamento, por
isso quero fazer algo para agradecê-la, mas não consegui pensar em nada
interessante.
Jack me fez um sinal de reprovação. — O nome disso é encontro
romântico, brother. Você está falando de um encontro romântico com a Ava.
— Pode chamar do que você quiser. Eu só quero fazer alguma coisa legal
para ela.
— A Ava gosta do quê? Que tipo de coisas ela curte?
— Filmes. Arte. Flores. Boa comida e vinho.
— Você poderia convidá-la para jantar e ver um filme — disse Jack. —
Ou vocês dois poderiam visitar o Museu Metropolitano de Arte. Aquele lugar
é enorme, sempre tem algo para todos. Quanto a flores, agora que a
primavera chegou, você poderia até mesmo incluir uma caminhada pelo
Central Park nos seus planos.
Quando Jack mencionou o parque, uma ideia me ocorreu. — Ava gosta
de minigolfe. Não tem um campo de minigolfe no Parque do Rio Hudson?
Uma evidente surpresa estampou-se no rosto de Jack. — Tem. Acho que
é no Píer 25.
Abri o meu laptop, digitei "Píer 25" no Google e passei os olhos por cima
das informações na tela. — O campo parece ser bem mantido e acabou de
abrir para a temporada. Tem também um restaurante próximo que parece um
tanto bom. Podemos dar uma volta, jogar minigolfe e depois jantar.
— Qual é o nome do restaurante?
— City Vineyard.
— Já estive lá — disse Jack. — É um lugar agradável, com boa comida e
uma ótima vista do rio. Ele acenou positivamente com seu polegar. — Parece
que você tem isso sob controle.
— Obrigado pelas ideias — eu disse. — Acho que sim.
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Felizmente, para o meu passeio da tarde de sábado com Ava, o dia revelou-se
maravilhoso. Conforme passeávamos de mãos dadas numa das calçadas que
davam para o Parque do Rio Hudson, uma larga faixa de vegetação que corria
ao longo do Rio Hudson, senti o calor do sol agradavelmente sobre a minha
pele, e uma brisa do rio desmanchou o meu cabelo.
Não éramos absolutamente os únicos nova-iorquinos que estavam
aproveitando o bom tempo. Conforme nos movimentamos pelo parque,
passamos corredores, pais jovens empurrando carrinhos de bebê e casais de
todas as idades. Ouviam-se gritos de crianças nas áreas de lazer, e quando
passamos pela grande pista de skate do parque, uma dúzia de adolescentes
sobre skates zuniam pelas rampas, polindo e aperfeiçoando as suas manobras
acrobáticas.
Quando chegamos ao Píer 25, um longo píer que se estendia Rio Hudson
adentro, Ava olhou de relance para o playground à nossa esquerda e, em
seguida, para a locadora de barcos à nossa direita.
— Nunca estive aqui — disse ela. — A sua surpresa misteriosa é passear
de barco?
— Não — eu disse. — A água ainda está fria nessa época do ano. Mas
definitivamente vamos velejar nesse verão.
Viramos à esquerda, passamos o playground e, conforme nos
aproximamos do campo de minigolfe, observei Ava de perto, antecipando o
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Intrigado, porém nervoso, com o que estava por vir, comecei a tirar as minhas
roupas, enquanto Ava desapareceu em seu vestiário. Quando terminei de me
despir, deitei na cama e esperei ela voltar.
Quando ela voltou, estava pelada como eu, com exceção de algumas
echarpes esvoaçantes coloridas, drapeadas em volta do pescoço. Apesar do
meu nervosismo, meu pau endureceu quando a vi.
Ava subiu na cama, montou em mim, e demos um longo beijo
apaixonado antes de ela amarrar a ponta de uma echarpe vermelha
transparente em volta do meu pulso esquerdo.
— Isso não causa tanta restrição — eu disse, olhando para o tecido
delicado. — Eu poderia facilmente rasgá-lo pela metade.
— Talvez você pudesse — disse ela, com seus olhos brilhando de humor
à medida que enlaçava a outra ponta da echarpe em volta do estrado da cama,
dando-lhe um nó firme. — Mas nesse caso, você perderia totalmente o
sentido de fazer isso juntos.
— Que é...?
— Confiança — disse ela, mudando para um expressão séria. — E uma
espécie de igualdade.
— O que você quer dizer?
— Fisicamente você é muito mais forte que eu — disse ela, conforme
terminava de amarrar meu outro braço. — Por causa da sua força, quando
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fazemos amor, confio em você de maneiras que você não tem que confiar em
mim.
— Nunca pensei nisso dessa forma — eu disse.
— Abrir mão do controle significa confiar em mim com o seu prazer —
disse ela, percorrendo a cama até os meus pés. — Pode ser profundamente
erótico.
Dei-lhe um olhar cético. — Veremos isso depois.
Ela deu o último nó e, em seguida, trepou na cama e entre as minhas
pernas.
— Olhe para isso — disse ela, de olho em minha ereção e disparando-me
um olhar malicioso. — Tanto por conta da ansiedade de performance.
Ela estava dizendo a verdade. Meu cérebro poderia não estar totalmente
em sintonia, mas o resto do meu corpo estava pronto e, quando ela mergulhou
sua cabeça em direção à minha virilha, antecipei o calor aveludado da sua
boca em volta do meu pau. Em vez disso, ela provocou minhas bolas com
seus lábios e sua língua de maneiras que me deixaram louco de tesão, o
tempo todo acariciando meu membro com suas mãos.
Conforme o calor corria pelas minhas veias, soltei um gemido baixo e
sucumbi ao prazer do momento. Quando ela deslizou sua língua para cima e
para baixo no meu pau e então chupou levemente a sua base, minha visão
escureceu por um segundo. Esquecendo os meus limites, tentei alcançar Ava,
mas a seda que prendia os meus pulsos mantinha os meus braços
imobilizados contra o colchão.
— Monta em mim — eu disse. — Me põe dentro de você.
— Logo — disse ela, com sua voz rouca de desejo. — Mas ainda não.
Ela continuou a me provocar com seus lábios e sua língua, levando-me à
beira do orgasmo, levando-me a patamares de excitação que não me lembro
de ter experimentado antes.
Em seguida, ela abriu minhas pernas e esfregou a ponta do meu pau na
sua entrada, antes de se inclinar para frente e deslizar as pontas dos dedos
pelo meu cabelo, ao lado do meu pescoço e sobre o meu peito, explorando os
músculos do meu torso. O seu toque suave eletrizou a minha pele, e seus
peitos, empinados com os mamilos rosados e gostosos, com os quais eu
adorava brincar, balançaram tentadoramente perto do meu rosto. Relutei
contra os meus limites, levantando a cabeça e os ombros o quanto pude,
tentando pegar um mamilo entre meus lábios.
Com ambas as mãos, Ava gentilmente empurrou meus ombros contra os
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AVA
— O casamento já vai ser daqui a oito dias — disse Mimi. Ela sorveu o seu
café, me olhando por cima da xícara. — Como você está lidando com isso, e
como vai o seu novo acordo com Ronan?
— Tudo está bem, suponho. É tudo muito confuso.
Era sexta-feira de manhã e estávamos sentadas no ateliê de joias de Mimi,
tomando café na mesa de trabalho surrada onde ela dava vida às suas
criações. Com os preparativos do casamento completos, finalmente consegui
respirar, mas ter tempo para pensar também me forçava a reconhecer que os
meus sentimentos por Ronan estavam se aprofundando.
— O que você quer dizer? — perguntou Mimi. — Confuso de que
maneira?
— O Ronan me dando sinais contraditórios. Suas palavras me dizem que
ele vê a gente como amigos coloridos, mas suas ações comunicam uma
mensagem diferente.
— Me dê alguns exemplos — disse Mimi.
— Quando fizemos o nosso novo acordo, concordamos em manter
quartos separados.
— Eu me lembro — disse Mimi. — Dormir separado dele era uma das
maneiras que você esperava para manter algum distanciamento emocional.
— Era, e, inicialmente, Ronan aceitou a ideia. Ele não parecia se
preocupar. Mas agora, depois que fizemos amor em sua cama, se eu tento
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Ela sorriu para mim. — Nunca é fácil dar o primeiro passo. Mas alguém
tem que fazê-lo.
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AVA
antiquada dele em favorecer o seu filho mais velho também não é justo com
Carol.
— A Carol não conta. Carter jamais deixaria o seu negócio para uma
mulher.
— Isso é ultrajante.
Ela deu de ombros. — Não discordo, mas é assim mesmo. Um dos dois
filhos do Carter vai herdar a Kingsley Capital, e eu pretendo assegurar que
esse filho seja o Aiden. Se o negócio do Ronan falhar, Carter vai ficar
envergonhado com isso, e serei capaz de convencê-lo a mudar o seu
testamento a favor do Aiden. Carter não vai se arriscar em deixar a Kingsley
Capital para um filho com pobre discernimento comercial, um filho que
poderia destruir o seu legado.
Pela primeira vez, compreendi completamente não apenas o objetivo de
Verônica, mas também o seu modo de pensar. De uma maneira deturpada, ela
sem dúvida se via como uma mãe lutando pelo seu filho. Mas em sua busca
desenfreada para conseguir dinheiro e poder para o seu filho, a ganância a
levou a jogar irmão contra irmão, e a dividir a família Kingsley no processo.
— Esse tem sido o seu plano o tempo todo, não é mesmo? — perguntei.
— É por isso que você coloca o Ronan para baixo a cada oportunidade,
sempre tentando fazê-lo parecer mau para o Carter.
— E se eu fiz isso? — perguntou ela. — Quando Aiden herdar a fortuna
dos Kingsley e o lugar na sociedade que vem com isso, o seu sucesso vai
valer tudo que fiz para assegurá-lo.
As suas palavras me enojaram. Depois de crescerem cercados pelo
preconceito de Carter e as maquinações de Verônica, era um milagre que
Ronan e Carol tivessem se transformado nas pessoas decentes e generosas
que eram.
— Guarde o seu talão de cheques — eu disse. — Entendo que você ama
Aiden e quer o melhor para ele, mas eu amo Ronan e jamais faria qualquer
coisa para machucá-lo. O testamento do Carter pode não ser justo, mas em
última análise é seu direito deixar a Kingsley Capital para quem ele quiser, e
independentemente de quem ele escolher, cada um dos seus filhos vai herdar
uma fortuna.
Verônica inclinou-se para frente na poltrona. — Você está cometendo um
erro, Ava. Estou preparada para lhe oferecer dois milhões de dólares para
acabar com essa farsa do casamento. Ela apontou para o meu espaço de
trabalho, que era menos que impressionante. — Com esse dinheiro, você
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RONAN
Depois do jantar, nos acomodamos no sofá para assistir ao filme que Ava
escolhera, Levada da Breca.
— Isso parece vagamente familiar — eu disse quando Cary Grant
apareceu na tela da televisão. — Cary parece até mesmo mais palerma do que
de costume com aqueles óculos ridículos.
— Nem mesmo os óculos antiquados podem tocar na virilidade do Cary
— disse Ava. — Além disso, ele é supostamente um paleontólogo
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convencional.
— Suponho que isso explique os óculos.
— E Katherine Hepburn é uma socialite inconsequente que tem um
leopardo de estimação. Se você já viu esse filme, podemos ver outra coisa.
Empertiguei minha cabeça para ela. — Já que a sua descrição não me faz
lembrar do filme, o meu senso de familiaridade deve ser por conta das
frequentes aparições do Cary na tela da minha televisão.
Ava revirou os olhos. — Desde quando eu neguei a minha obsessão pelo
Cary? Prepare-se para rir pra dedéu. Levada da Breca é a melhor comédia
maluca até hoje.
Com Ava enroscada junto a mim e uma taça de uísque escocês em minha
mão, uma sensação de contentamento se apoderou de mim à medida que,
juntos, passamos a próxima hora e meia assistindo e rindo de uma das
comédias românticas mais ridículas produzidas até hoje. Quando a tela ficou
escura depois do abraço final entre Grant e Hepburn, Ava virou-se para mim,
com o rosto brilhando de felicidade.
— Obrigada por me satisfazer — disse ela. — Depois do pega com
aquela fulana que não ouso dizer o nome, eu estava precisando disso.
Virei o restante do meu uísque e coloquei a taça sobre a mesa de café,
antecipando a próxima etapa da noite. A gente conversaria, relaxaria e
transaria no sofá um pouco, antes de ir para o conforto da minha cama para
fazer o que quisesse um com o outro.
— O prazer é meu — eu disse. — Uma vez que o casamento fique para
trás, espero que a gente possa curtir noites como essa com mais frequência.
— Eu gostaria muito — disse ela. — Por falar no nosso casamento, há
algo que eu queria conversar com você.
— O que você está pensando?
— Nós — disse ela. — Como você acha que estamos indo?
Depois do encontro com Verônica, Ava sem dúvida precisava de um
pouco de reconforto, e depois de recusar três milhões de dólares por mim, ela
merecia todo o apoio que eu poderia lhe dar.
— Pelo que me consta, as coisas não poderiam estar melhores. Quando
assinamos o nosso contrato de casamento, eu estava cético se ele poderia
realmente dar certo, mas a essa altura, eu me sinto incrivelmente sortudo.
— Com relação a que você estava cético antes?
— Compartilhar um apartamento e abrir mão do sexo. — Dei-lhe um
olhar sugestivo. — Embora, como aconteceu, não tenha levado muito tempo
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paz.
E com isso, ela virou as costas, entrou no seu quarto e fechou a porta
firmemente.
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AVA
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RONAN
Sei que não estou sendo uma amiga muito boa no momento, mas estou
fazendo o melhor que posso.
— Não podemos continuar assim — eu disse. — Vivendo no mesmo
apartamento e raramente se falando.
— As coisas entre nós mudaram.
— Não estou fingindo que não. Mas não podemos continuar não nos
sentindo à vontade um com o outro.
Ela olhou para mim pensativamente. — Você tem razão nisso. Não estou
a fim de conversar, mas que tal assistir ao noticiário da manhã juntos?
— Vamos em frente.
Ela entrou na sala de estar, caminhou até a mesa de café, pegou o controle
remoto e sintonizou na CNN. Depois de me sentar em minha poltrona
favorita, ela se sentou na ponta do sofá o mais longe de mim e fixou sua
atenção na tela da televisão.
Conforme Wolf Blitzer falava monotonamente sobre a Coreia do Norte,
eu observava Ava de rabo de olho, desejando juntar-me a ela no sofá como
fazíamos antes. Claro, eu queria comê-la, meu desejo por ela era mais forte
que nunca, mas nesse momento, eu me daria por feliz em segurar a sua mão
ou sentir a sua cabeça encostada no meu ombro.
Mas por ser honesto sobre quem eu era, eu tinha me excedido e sofrido as
consequências como um homem. Antes, quando convenci Ava a dormir
comigo, o pensamento de que ela pudesse acabar tendo sentimentos por mim
não passou pela minha mente. Eu sempre tinha atraído debutantes e garotas
festeiras como moscas, mas nunca uma mulher como Ava, que merecia um
homem melhor que eu poderia ser.
A minha imprudência estragou o nosso relacionamento, mas eu não
deixaria isso acontecer de novo. Com o tempo, ela entenderia que fiz a coisa
certa para nós dois e me agradeceria por isso.
Mas por enquanto, assistir ao noticiário juntos era um progresso.
E neste momento, eu aceitaria o que quer que eu conseguisse.
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AVA
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RONAN
era. Tentei encontrar uma maneira de ser eu mesmo sem machucar ninguém.
E o que consegui com meus esforços? Magoei Ava e contei uma tonelada
de mentiras para sustentar o casamento falso que estava para se realizar. Um
homem melhor teria encontrado outra maneira de salvar o seu negócio. Uma
melhor maneira. Uma que não envolvesse mentir e magoar as pessoas.
Mas eu não era esse homem e não havia descoberto uma melhor maneira.
O que significava que eu tinha um casamento pela frente. Então, me
desprezando por fazê-lo, coloquei um sorriso no rosto e dei alguns tapinhas
nas costas do meu irmão, fingindo uma leveza que eu gostaria de estar
sentindo. — Obrigado, Aiden, vou me lembrar do que você disse. Agora,
acho melhor levar o meu traseiro lá para baixo.
— Antes que você se atrase para o seu próprio casamento? — ele
brincou.
— Você acertou — eu disse, piscando para ele. — Deixar a minha linda
noiva esperando não é uma opção.
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AVA
deixar de amá-lo, mesmo que eu quisesse. Mas agora, estou com raiva. Estou
furiosa comigo mesma por entrar nessa confusão e frustrada com a recusa do
Ronan em nos dar uma chance. Toda essa coisa de dizer "não sou capaz de
amar" não passa de uma pose dele, que eu chamo de babaquice.
— Não é uma pose — disse Carol, conforme começava a pincelar a base
no meu rosto. — Pode ser babaquice, mas é no que ele realmente acredita.
— Entendo, e não estou pedindo que você tome partido entre mim e seu
irmão. Você sabe o quanto eu o amo.
Ela suspirou. — Eu amo vocês dois. E me mata ver você sofrendo assim,
mas ainda acredito que o Ronan te ama. Ele é louco por você, Ava. Ele só
precisa de mais tempo para chegar a admiti-lo.
— Eu gostaria de concordar, mas não concordo.
— Você não conhece o Ronan tanto quanto eu — disse ela. — Ele não
pode ser apressado, e é por isso que aconselhei você a dar um tempo antes de
dizer a ele como você se sentia.
— Eu não podia entrar nesse casamento e pronunciar meus votos sem
saber o que significam.
— Eu entendo — disse ela. — Você é assim, e no seu lugar, eu
provavelmente me sentiria da mesma forma. Mas o Ronan é um homem. Ele
é diferente de você e de mim. Ele não analisa as suas emoções da maneira
que nós fazemos, e não entende seus sentimentos verdadeiros até que eles lhe
deem um soco no estômago. Quando isso acontece, como inevitavelmente
acontece, ele é forçado a reconhecer como realmente se sente, o que também
leva tempo. Ele leva um tempo para organizar os seus sentimentos, mas
durante os próximos dois anos, ele vai descobri-los.
— Duvido.
— Não desista dele, Ava. Muita coisa pode mudar em dois anos.
— Não isso — eu disse. — Para melhor ou pior, Ronan tomou a sua
decisão. E não espere que ele mude de ideia.
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RONAN
Em pé, entre um pastor anglicano e o meu melhor amigo Jack, sob o arco
cerimonial enfeitado com flores que havia sido erguido no gramado
expansivo da propriedade, fiquei tenso conforme o quarteto começou a tocar
partes da Ave Maria, indicando que dentro de minutos, eu seria um homem
casado.
Um corredor adornado de flores dividia os mais de cem convidados em
dois grupos de pessoas sorridentes e ricamente bem vestidas, que se
levantaram quando Carol, primeiro, e Ava, depois, caminharam no corredor.
Quando Ava se aproximou de mim, e o violino cantarolou uma melodia
de Schubert a grande altura, senti um arrepio da cabeça aos pés. Em seu
vestido simples, porém elegante, segurando um buquê de cores vivas que
complementavam o tom marfim do vestido, ela era a noiva mais
deslumbrante que eu já tinha visto e, por um segundo, as palavras do meu
irmão sobre tentar ser digno dela ecoaram pela minha mente.
Ela era a primeira mulher que eu conhecia que me fez querer ser um
homem melhor. E durante a semana passada, eu tentara esquecê-la, algo em
que sempre fui bom. Mas desta vez era diferente. No íntimo, eu não estava
preparado para esquecê-la. Eu estava com síndrome de abstinência por
desistir do sexo mais ardente da minha vida, ou havia algo mais? Eu não
tinha certeza, mas, independentemente, eu me sentia um filho da puta de
primeira por magoá-la.
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Mas o que quer que eu sentisse por Ava, uma parte de mim não podia
evitar sentir um contentamento egoísta de que a cerimônia a se realizar estava
prestes a torná-la minha e a ganhar tempo para entender as coisas.
Conforme prometi amar, honrar e confiar em Ava, e ela fez as mesmas
promessas a mim, tudo menos a palavra amor me soou verdadeiro. Eu podia
não ser o cara romântico que dá flores e bombons de presente, mas eu
realmente honrei e confiei nela. E quando prometi protegê-la e abrigá-la por
todos os dias da sua vida, eu não poderia ter sido mais significativo com essas
palavras.
Quando deslizamos as nossas alianças um no dedo do outro, e eu
reivindiquei os seus lábios com o nosso primeiro beijo conjugal, tive um
novo sentimento de determinação.
Eu a protegeria, não importaria como.
Mesmo que no final isso significasse protegê-la de mim mesmo.
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RONAN
Nos dias que se seguiram, Ava mostrou-se firme como uma rocha. Durante
toda a busca fútil pelo corpo do meu pai, o eventual abandono dessa busca e
o funeral, ela permaneceu ao meu lado. Quando eu precisava conversar, ela
me ouvia, e quando eu me sentia perdido e sobrecarregado, ela passava horas
a fio comigo, segurando a minha mão em apoio silencioso.
Eu não era próximo do meu pai, mas ele havia sido uma força poderosa
em minha vida, uma força que continuava além da sua morte na forma da
firma de investimentos que ele construíra como a maior de Wall Street, e que
agora era parte do seu legado para mim.
Por toda a minha vida, não importava como as coisas estivessem mal
entre mim e o meu pai, eu sempre mantinha acesa uma centelha de esperança
de que algum dia a nossa relação melhorasse. Eu não estava ciente do quanto
essa esperança significava para mim, até que a morte a roubou.
Nos dias depois do funeral, enquanto eu me debatia com a realidade do
testamento do meu pai, que era um dos homens mais ricos do mundo, Ava
era a minha melhor conselheira.
— Seja honesto com você mesmo — ela me disse. — Você não
necessariamente tem que fazer o que o seu pai teria feito. Dê um tempo a si
mesmo para refletir sobre cada decisão, e não deixe ninguém apressá-lo a
fazer nada.
Foi por essa razão que, duas semanas depois do funeral, quando voltei do
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trabalho para casa numa noite de sexta-feira, fiquei consternado ao ver uma
grande mala na antessala do meu apartamento. Embora a morte do meu pai
tornasse o nosso contrato original nulo e sem efeito, ainda éramos legalmente
casados, e deduzi que Ava discutiria qualquer decisão importante comigo.
Quando cheguei à sala de estar, a porta do seu quarto estava aberta, e
quando entrei, ela estava debruçada sobre uma segunda mala, colocando um
monte de roupas dentro dela.
— Aonde você vai? — perguntei.
— Aluguei um lugar para férias no Brooklyn para o próximo mês —
disse ela. — Isso deve me dar tempo suficiente para encontrar algo mais
permanente.
— Então você está se mudando.
— Só fiquei até agora para dar uma força a você por conta da morte do
seu pai — disse ela. — Agora que o nosso acordo terminou, está na hora de
seguirmos em frente com nossas vidas. O que significa eu me mudar do seu
apartamento e nós dois assinarmos o divórcio amigável a que nos
comprometemos. Já que não há nenhum motivo para continuarmos casados
por dois anos completos, não espero que você me pague mais do que já
pagou.
— Espere aí — eu disse. — Não quero o divórcio... pelo menos, por
enquanto. E definitivamente não quero que você se mude.
Ela levantou-se, cruzou os braços sobre o peito e me deu um olhar de
reprovação. — Por que não? O seu negócio está salvo, você tem mais
dinheiro do que vai precisar e ninguém pode tirá-lo de você. Não há mais
nenhum motivo para a gente viver juntos, muito menos permanecer casados.
Dei dois passos em sua direção, quando algo em seu semblante me deteve
e me disse que eu precisava arriscar tudo o que tinha.
Então arrisquei. — Antes do nosso casamento, eu disse que não estava
apaixonado por você, que não era capaz de amar ninguém daquela maneira.
Mas agora não tenho tanta certeza.
Ela franziu a testa. — O que você está querendo dizer?
— Você é diferente de qualquer mulher que eu já conheci, e não consigo
parar de pensar em você... em nós. Nunca me apaixonei, por isso não sei se
estou apaixonado por você, mas tenho certeza de uma coisa: quero um tempo
para descobrir.
Ela balançou a cabeça. — Se você tivesse me dito isso há algumas
semanas, eu teria te dado esse tempo com muito prazer. Mas quando você me
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disse que nunca poderia retribuir o meu amor, não foi fácil engolir aquela
pílula amarga. E quando engoli, ela me obrigou a encarar a magnitude do que
quero com você e a aceitar o fato de que você não quer as mesmas coisas.
— Tudo que estou pedindo é mais tempo.
Ela suspirou. — Então me dê um bom motivo para desfazer minhas
malas.
— Eu acho que acabei de dar.
— Não é o suficiente.
— Entendo que te magoei — eu disse. — Não tive essa intenção, mas
acabei magoando. Essa é a razão verdadeira de você não querer ficar comigo.
— Não deixa de ser verdade, mas é uma simplificação totalmente
exagerada.
— Então complique ela para mim, raios. Me diga aonde você quer
chegar.
Sua voz demonstrou irritação. — Eu te amo, embora, neste momento,
gostaria muito, muito de não amar. Mas o fato de você me enlouquecer não
me faz parar de te querer. Quero fazer amor com você todas as noites e ser
sua esposa de verdade. Quero ser a mãe dos seus filhos e passar o resto da
minha vida com você.
— Então por que você está indo embora? — Por que...
Ela me interrompeu. — Porque amar você me fez perceber o que
realmente quero, Ronan. E não estou mais disposta a me contentar com nada
menos. Ela fechou a sua mala com força, virou-a sobre as rodinhas e a puxou,
dando a volta em mim e para fora do quarto.
Eu a segui conforme ela puxava a sua mala através da sala de estar até a
antessala e a juntou à outra mala que já estava lá.
— Não vá — eu disse. — Precisamos resolver isso juntos.
— Não há mais nada para resolver — disse ela, com a mão em direção à
maçaneta da porta do apartamento. — Tentei transformar você em alguém
que você não é, e sinto muito por isso. Mas o que está feito, está feito.
E com isso, ela abriu a porta e rolou suas malas através dela. Quando a
porta começou a se fechar, estendi o meu braço para mantê-la aberta, com
convulsões no estômago, conforme Ava caminhava para dentro do elevador.
Antes que as portas se fechassem, ela olhou para mim. — Eu te amo,
Ronan. Te amo mais do que você imagina. Mas isso é o que você precisa
entender: Eu também me amo.
E com isso, as portas se fecharam, e ela desapareceu da minha vida.
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RONAN
Durante toda a semana seguinte, fiz o meu melhor para me distrair do vazio
enorme que a ausência de Ava deixou em minha vida e me absorver no
trabalho. Na noite de quarta-feira, fui até um bar com Jack, mas, embora as
mulheres de Manhattan fossem tão bonitas e variadas como sempre, eu estava
ocupado demais com os meus pensamentos em Ava para ter interesse em
qualquer uma delas e, depois de dois drinques, quando Jack começou a flertar
com uma ruiva animada de rostinho pequeno, inventei uma desculpa, dei a
noite por encerrada e tomei um táxi para casa.
Na noite de sexta-feira, quando voltei ao meu apartamento, minha
correspondência incluía um envelope pardo contendo os papéis do divórcio,
que meti numa gaveta, antes de pedir uma pizza e me acomodar em minha
poltrona para jogar Destiny, o meu videogame favorito. Por fim, eu lidaria
com o divórcio e tudo relacionado a ele, mas estive com um humor de cão a
semana inteira e, no momento, só queria comer pizza e atirar em alguma
coisa.
Quando o interfone tocou, eu havia atirado em várias centenas de
guerreiros ciborgues e comido metade da minha pizza. Quando levantei meu
traseiro da poltrona e atendi, era minha irmã Carol.
— Suba — eu disse. — Se você ainda não comeu, eu tenho pizza.
Quando Carol chegou e entrou no apartamento, ela inspecionou a coleção
de caixas de pizza descartadas no balcão da cozinha e olhou para os vasos de
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— Em primeiro lugar, toda vez que você olha para ela, está estampado
em todo o seu rosto — disse ela. — Que diabos você acha que é estar
apaixonado, afinal de contas?
— Não tenho nenhuma merda de definição. Como eu saberia se nunca me
apaixonei?
— Me diga uma coisa — disse Carol. — Do que você mais sente falta em
passar tempo com Ava?
— Nós costumávamos rir muito juntos — eu disse, lembrando-me do dia
que levei Ava para jogar minigolfe. — Sinto falta de tomar café juntos todas
as manhãs e sinto falta das nossas noites de filme. A gente pedia comida pelo
telefone, via filmes juntos, transava no sofá, coisas assim.
— Como você se sente desde que ela foi embora?
— Uma merda, e meio vazio por dentro — admiti. — Não consigo tirá-la
da minha cabeça, e não consigo me concentrar no trabalho.
— Como é a aparência de Ava quando ela está de moletom e camiseta às
7h da manhã, com cabelo desarrumado e sem maquiagem?
— Que tipo de pergunta é essa?
— Só me responda — disse Carol.
— Ela é sempre bonita, com ou sem a maldita maquiagem.
Os lábios de Carol se separaram num largo sorriso. — Parabéns, Ronan.
Quer você queira admitir ou não, você está apaixonado.
Eu parei de andar de um lado para o outro. A minha irmã estava certa?
Tive a sensação de que talvez estivesse. Isso era o amor? Porque se fosse, eu
tinha amado Ava o tempo inteiro. A verdade estava bem na frente dos meus
olhos, mas como nunca estive apaixonado antes, eu não reconhecia os meus
sentimentos pelo que eles eram. E em não reconhecer a profundidade dos
meus sentimentos por Ava, eu havia estragado tudo completamente.
— Merda — eu disse, virando-me para Carol. — Você tem razão. Se o
amor significa tudo que sinto desde que Ava partiu por aquela porta, então
estou apaixonado por ela. Mas isso é suficiente? Você sabe que não sou
exatamente objeto ideal para casamento.
— Por causa do histórico do papai com as mulheres ou do seu próprio?
— Os dois.
— Não deixe os seus temores tomarem conta — disse Carol. — Ninguém
é perfeito, e todos temos nossa parcela de autodúvidas. Mas nesse momento,
você tem uma decisão a tomar. Ou você pode ouvir a voz dos seus temores e
deixar a mulher que você ama ir embora, ou pode ouvir a voz do seu coração,
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AVA
juntos e, muito antes do dia do nosso casamento, o meu coração já era seu.
Sei que cometi mais que a minha cota de erros, mas te amo do fundo do meu
coração, e se você estiver disposta a me dar uma segunda chance, quero
passar o resto da minha vida com você.
Por um momento, só fiquei olhando para ele, sem palavras. Por que ele
estava dizendo que me amava? Ele tinha que saber que eu não podia acreditar
nele. Mas daí a explicação ficou clara para mim e, quando isso aconteceu,
minha raiva aumentou. Para ele, dizer que me amava era apenas mais uma
maneira de ganhar tempo, e eu não ia aceitar isso de mão beijada.
— De onde, diabos, está vindo isso?
— Ontem à noite, Carol me ajudou a enxergar a verdade — disse ele. —
Estou apaixonado por você, assim como você está apaixonada por mim.
— Estava apaixonada por você. Caso você não tenha notado, eu segui em
frente com a minha vida.
— Acho que você não seguiu.
Indignada, levantei-de num pulo e olhei com raiva para o homem que
primeiro partiu meu coração e depois o esmagou até o pó. Se a minha
intenção era seguir em frente com a minha vida e deixar esse casamento falso
para trás, eu precisava colocar Ronan em seu devido lugar de uma vez por
todas. O que significava convencê-lo de que eu não sentia mais nada por ele,
embora, no meu íntimo, eu sabia que sentia.
Então, num esforço de proteger meu coração, revidei o mais forte que
pude. — Você não sabe merda nenhuma como eu me sinto, portanto nem
tente ir nessa. Isso é só mais uma maneira de você ganhar tempo, e quer saber
de uma coisa? Depois de tudo que você disse e fez, tentar me manipular dessa
maneira é realmente uma puta baixeza. Até ontem, eu teria dito que a minha
opinião sobre você não podia ter baixado mais que isso... mas parabéns. Você
se superou.
Ele levantou-se e estendeu os braços em minha direção, como se fosse
pegar nos meus ombros, mas quando recuei, tentando me esquivar dele, ele
baixou os braços de lado, com frustração estampada em seu rosto. — Por que
você não acredita em mim?
A minha raiva ferveu e derramou. — Olha só quem diz. Falando sério,
preciso soletrar?
O seu olhar fixo se escureceu. — Por toda a nossa relação, eu nunca fui
senão honesto com você. Na semana antes do nosso casamento, quando eu
disse que não te amava, eu estava enganado, mas estava te dizendo o que
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acreditava ser verdadeiro. Nunca menti para você, Ava. Nem uma vez... e é
por isso que você devia acreditar em mim agora.
Por que ele estava dificultando tanto as coisas? Eu detestava falar com ele
tão duramente, mas que escolha eu tinha, já que ele se recusava a entender a
mensagem?
Mais que frustrada, atirei tudo que eu tinha nele. — Depois dos últimos
dois meses, por que diabos eu acreditaria em você? Quando fiquei ao seu
lado durante todo o nosso casamento e depois durante o funeral do seu pai,
você nunca disse uma palavra, nenhuma, que mostrasse que qualquer coisa
havia mudado. E na semana passada, quando me mudei, você me deixou sair
por aquela porta. Você só está dizendo que me ama porque quer mais tempo,
e a sua conversinha com Carol te convenceu que essa é a única maneira de
conseguir o que quer.
Seus olhos cuspiram fogo. — Não foi uma conversinha, Ava. Carol me
ajudou a enxergar que estou apaixonado por você, e sou grato a ela por isso.
— Tanto faz — eu disse. — Estou cansada de discutir com você. Tudo
que quero de você é a sua assinatura nos papéis do divórcio para eu deixar
para trás esse capítulo ridículo da minha vida.
Seu semblante mostrava-se resoluto; seus lábios, numa linha firme. —
Você precisa aceitar que os meus sentimentos são verdadeiros, Ava. Cem por
cento verdadeiros, e todos meus. Ele levantou sua mão esquerda, revelando a
aliança de platina em seu dedo. — Está vendo essa aliança? Eu não a tirei,
porque não quis. Ainda não quero.
Ver a aliança em seu dedo quase me matou, e minhas emoções
ameaçaram dominar o meu frágil autocontrole. Eu estava a segundos de me
derreter diante dele, que era a última coisa que eu queria fazer. Partir o meu
coração não era suficiente para ele? Ele tinha que destruir minha última ponta
de dignidade e autorrespeito, só para ganhar tempo? Porque era exatamente
isso: ele só estava tentando me convencer a lhe dar mais tempo.
— Não preciso aceitar nada. Você é quem precisa melhorar o seu
relacionamento com a realidade. Apontei para os papéis do divórcio sobre a
minha mesa de trabalho. — Está vendo esses papéis? É a realidade que você
escolheu, e me recuso a continuar discutindo com você. Se você não está
disposto a fazer a coisa certa e assinar esses papéis, então você precisa sair
daqui agora. Se você não é homem o suficiente para cumprir o nosso acordo
original, que inclui um divórcio amigável, então vou ter que fazer isso da pior
maneira, com a assistência do meu advogado.
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Ele deu um passo em minha direção. — Olhe para mim, Ava. Olhe nos
meus olhos e diga que você não me ama. Se você me convencer, juro que
assino o divórcio e deixo você em paz.
Olhei fixamente para ele e medi as palavras que precisava dizer, embora
cada palavra fosse uma punhalada em meu peito. — Está bem. Não amo
você. Agora, assine o maldito divórcio.
Os seus olhos diminuíram. — Não foi muito convincente.
Joguei as minhas mãos para o alto. — Só porque você é o homem mais
teimoso e cabeça dura que existe, e ninguém consegue te convencer de nada.
Se você não vai assinar o divórcio, então caia fora do meu escritório.
Ele caminhou para frente, agarrou os meus ombros e me prensou contra a
parede, um instante antes que os seus lábios batessem contra os meus.
Coloquei minhas mãos contra o seu peito e o empurrei com toda a minha
força, mas ele estava inflexível e, conforme o meu corpo me traiu ao reagir ao
seu toque, reuni minhas forças para resistir a ele. Eu tinha que resistir. Mas,
apesar da minha raiva, apesar da minha determinação em empurrá-lo para
longe, algo em seu beijo começou a penetrar as barreiras que eu erguera para
me proteger. Apaixonado e possessivo, esse beijo transmitia uma
profundidade de sentimento que eu nunca havia sentido nele e, conforme seus
lábios e sua língua provaram, acariciaram e roçaram a minha, as paredes que
eu construíra contra ele começaram a rachar e, com elas, a minha certeza.
Ele estava me dizendo a verdade? Ele poderia estar realmente apaixonado
por mim? Porque, se estivesse, minha própria verdade era que, apesar de
haver tentado as coisas mais incríveis para conter o meu coração e afastá-lo
de mim, eu realmente nunca deixei de amá-lo. Talvez nunca o deixasse.
Pouco antes de ele me soltar do seu abraço, senti uma umidade no meu
rosto. E conforme ele deu um passo para trás, uma lágrima caiu do seu olho
esquerdo e correu pela sua face.
— Por que você está chorando? — perguntei.
Ele olhou para mim, com os olhos escurecidos de dor. — Acho que
pensei que nunca fosse te beijar de novo.
Isso realmente estava acontecendo? Ele sempre tinha sido uma pedra, e
nunca o vi dessa maneira. Ele nunca tinha se mostrado vulnerável assim, e
pelo seu rosto vi que ele não estava mentindo para mim. Tampouco as
lágrimas que brilhavam em seus olhos azuis.
Dei uma respiração profunda antes de falar. — Ronan, você tem certeza
disso?
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— O que é?
Ele olhou em meus olhos fixamente. — Quando pronunciamos os nossos
votos de casamento, sei que você falou sério, mas eu estava confuso sobre as
partes do meu, e é por isso que quero dizê-los outra vez a você agora.
Quando ele disse isso, não pude deixar de chorar novamente à medida
que ele começava os votos simples, porém profundos, que havíamos
escolhido para a nossa cerimônia de casamento.
— Eu, Ronan, me prometo a você, Ava. Prometo amar, honrar e confiar
em você, proteger e abrigar você. Prometo ser um marido amoroso a você e
um pai dedicado aos nossos filhos. Prometo estar ao seu lado e apoiar você
durante cada desafio que enfrentemos juntos e ser o seu parceiro leal e
verdadeiro, amante e amigo por todos os dias das nossas vidas.
Ao terminar, ele levantou-se e puxou-me para um beijo ardente, um beijo
como nenhum outro que já tivemos. Terno e possessivo, o beijo transmitia
amor, com uma profunda corrente subterrânea das promessas que ele acabara
de fazer e, quando ele me segurou em seus braços e beijou-me com todo o
seu ardor, eu sabia, sem sombra de dúvidas, que pertencíamos um ao outro.
Ele podia ser o homem mais teimoso na face da Terra, e ele tinha um
temperamento que rivalizava o meu, mas ele era o meu homem teimoso e
temperamental... e hoje, ele tornara os meus sonhos realidade.
— Vamos fazer de hoje à noite a nossa verdadeira noite de núpcias —
disse ele quando voltamos para tomar fôlego. — Com tempo e espaço para
que aprendamos a lidar um com o outro, como um casal recém-casado
deveria.
Reclinei-me para trás e afaguei o seu belo rosto com minhas mãos. —
Sabe de uma coisa? Essa é uma ideia genial.
Os seus lábios se contraíram, antes de se separarem num sorriso. — Há
uma primeira vez para tudo. — Sem me soltar, ele estendeu uma das mãos,
pegou os papéis do divórcio da minha mesa de trabalho e os amassou em uma
bola. — Mas antes de voltar para casa, há uma lata de lixo metálica ou uma
pia por aqui? Eu gostaria de queimar esses malditos papéis.
Ele não poderia ter sugerido um gesto mais significativo para marcar o
nosso recomeço.
— Vamos usar a pia utilitária — eu disse, estendendo a minha mão em
busca da sua. — Vamos queimá-los juntos.
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