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HERDEIRO DE MANHATTAN

NACIONAIS-ACHERON
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ERIKA RHYS

NACIONAIS-ACHERON
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Traduzido por
OLIVER SIMÕES

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HERDEIRO DE MANHATTAN

Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
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Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Posfácio

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RONAN

Cidade de Nova York

— Por que você simplesmente não se casa? — perguntou minha irmã Carol.
— Você não pode estar falando sério. Peguei o meu copo de água e virei
metade dele, esperando que seu conteúdo gelado estimulasse o meu cérebro a
produzir uma nova ideia. No rescaldo da minha última rejeição de
empréstimo pelo Bank of America, eu precisava de um novo plano para
salvar a minha empresa, Kingsley Technologies, e eu precisava disso rápido.
Ou isso, ou seria forçado a demitir a maioria dos meus empregados, o que
seria uma traição que eu não estava disposto a contemplar.
Não que eu esperava que Carol fosse resolver os meus problemas durante
o almoço no Bar Seis, um bistrô no bairro de West Village que eu
frequentava regularmente pelos seus saborosos sanduíches de misto quente.
Eu adorava minha irmã mais nova com toda sua franqueza, mas o seu
diploma em arte e sua carreira de pintora aspirante não lhe deram a mínima
noção de negócios. Mesmo assim, ela era a única da família que estava
sempre do meu lado, e por isso eu tinha acabado de lhe contar o meu dilema
financeiro. O apoio inabalável de Carol me deu força, que era exatamente do
que eu estava precisando neste momento.
Carol afastou seu longo cabelo louro e liso do rosto e me fitou com seus
olhos azuis claros.
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— A sua parte na herança do vovô é aproximadamente 50 milhões de


dólares — disse ela. — Isso não é o suficiente para resolver os seus
problemas?
— É mais que suficiente — respondi. — Mas não há como tocar nesse
dinheiro até eu completar 35.
— Pense criativamente — disse ela. — Pelos termos da herança, temos
acesso irrestrito ao nosso dinheiro quando a gente completar 35 anos, ou
quando o nosso pai morrer, ou quando a gente se casar, aconteça o que
acontecer primeiro.
— Faltam dois anos para os meus 35, nosso pai goza de perfeita saúde e
casamento está fora de cogitação — eu disse. — Quando se trata de
monogamia, eu sou filho do meu pai. Você sabe que eu sou assim.
— Você não é nada parecido com nosso pai — disse ela, mergulhando o
garfo na salada de rúcula e parmesão. — Ele é um mentiroso e mulherengo
crônico; você não é nenhum dos dois.
— Eu sei quem eu sou — respondi. — Como nosso pai, não sou homem
de uma só mulher. Ao contrário dele, não faço promessas que não posso
cumprir.
— Você não precisaria — disse Carol. — Não se o seu casamento for
simplesmente um acordo financeiro.
Eu olhei fixamente para ela. — O quê?
Ela revirou os olhos. — Ah não, Ronan. Eu não acredito que você ainda
não pensou nisso. Você já saiu com a metade das mulheres de Nova York;
deve ter uma delas que estaria disposta a receber um cheque bem gordo para
se casar com você.
— Isso jamais daria certo — eu disse.
— Por que não?
— Por muitos motivos.
— Como assim?
— Não adianta nem discutir isso — eu disse.
— Então considere isso uma discussão teórica — disse Carol. — Estou
curiosa. Por que você está tão seguro de que a minha ideia não daria certo?
— Duas palavras — resumi. — Qualificações profissionais. Nenhuma
mulher no seu perfeito juízo se habilitaria a ser minha falsa esposa. Qualquer
mulher louca o bastante para entrar nessa não teria inteligência suficiente
para fazer toda a encenação necessária.
— Entendo que a sua falsa esposa não poderia ser qualquer uma — disse
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Carol. — Ela teria que parecer convincente ao papai e à Verônica. Ela teria
que ser confiável e inteligente.
— Convencer nosso pai e nossa madrasta seria somente a primeira cena
da farsa que você está propondo — eu disse. — Essa mulher imaginária teria
que morar comigo dois anos, posar como minha esposa em público e não se
apaixonar por mim.
Carol fez cara feia para mim. — Nossa! Eu não acredito no que acabei de
ouvir.
Eu dei de ombros. — As mulheres gostam de mim, sempre gostaram.
Era nada menos que a verdade. A loteria genética tinha me dotado de um
rosto bonito e um corpo musculoso de quase um metro e noventa, que eu
mantinha sarado com exercícios regulares. E enquanto nenhuma mulher
jamais tivesse me tentado a considerar um relacionamento de longo prazo, eu
era mestre na arte do curto prazo. Ser um cara legal, fazer a mulher com
quem eu estava se sentir linda e ser solícito ao seu prazer tanto quanto ao
meu. Eu não assumia compromissos, não fazia promessas, e três noites eram
o meu limite autoimposto; embora na prática, eu raramente fosse além da
primeira. Manhattan era repleta de lindas mulheres solteiras, o que fazia dela
o playground perfeito para um cara como eu.
Carol suspirou. — Eu te amo, Ronan, mas você é um porco chauvinista.
Dei-lhe um sorrisinho. — Talvez eu seja, mas pelo menos eu sei quem
sou. Nem todo homem foi feito para o casamento, e aqueles de nós que não
são devem ser honestos com relação a isso. Essa é a minha filosofia.
— Filosofia não vai salvar o seu negócio.
— Uma esposa falsa também não. Verônica é uma megera, mas não é
estúpida. Ela descobriria a farsa em um minuto, e quando o fizesse,
convenceria o papai a bloquear o meu acesso aos bens.
— Ele ainda pode controlar o seu acesso à herança? — perguntou Carol.
— Mesmo que você se casasse?
Encostei-me em minha cadeira, olhei para a minha irmã e uma onda de
afeição por ela invadiu o meu ser. Enquanto a sua ideia de um casamento
falso era loucura, o seu desejo de ajudar significava tudo para mim. A vida
não tinha sido fácil para Carol, mas ela tinha o coração maior que o de
qualquer pessoa que eu conhecia.
Aos 27 anos, minha irmãzinha tinha se transformado numa linda mulher,
muito parecida com a nossa mãe, que havia morrido quando Carol nasceu.
Pelo menos eu tive a minha mãe nos primeiros seis anos de vida. Tudo que
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Carol teve foi o seu nome, Caroline, e um álbum de fotografias.


— O papai é o administrador principal da herança — eu disse. — Se ele
entrasse com uma ação alegando que eu falsifiquei o casamento para ter
acesso à herança, o dinheiro ficaria bloqueado até que o caso fosse resolvido
na Justiça. E se eu tivesse colocado algum dinheiro da herança na Kingsley
Tech, minha empresa poderia ser arrastada para o tribunal também.
— Para recuperar o dinheiro? — perguntou Carol.
— Exatamente.
— Acho que faz sentido — disse ela. — E ações na Justiça podem
demorar uma eternidade.
— Agora você está enxergando a situação completa — eu disse. — Até
não completarmos trinta e cinco, o nosso pai é quem controla a herança.
Nenhum de nós pode tocar nela ou tomar emprestado sem o aval dele, que,
graças à Verônica, nunca vamos conseguir. Lembra quando eu quis pedir um
empréstimo contra a minha parte na herança para começar a Kingsley Tech?
— Como eu poderia me esquecer? — perguntou Carol. — A Verônica
detonou seu plano num piscar de olhos.
— Ela traz papai no cabresto em todas as áreas, menos uma.
— Não me faça lembrar — disse Carol com um estremecimento. —
Tenho quase certeza que ele está saindo com a nova secretária, que é muito
mais nova que eu. Se Verônica não fosse uma megera, eu me sentiria mal por
ela.
— Não se sinta — eu disse. — Ela se casou com nosso pai somente pelo
seu dinheiro e estilo de vida. A propriedade nos Hamptons. A casa em Aspen.
A mansão em Sutton Place.
Carol me censurou com um olhar. — Verdade, mas chega de falar da
Verônica. Além do casamento, você tem alguma outra ideia que poderia
poupá-lo de demitir seus empregados?
— Ainda não — respondi. — Mas vou encontrar uma solução. Sempre
encontro.

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AVA
Brooklyn, Nova York
Uma semana depois

Não havia como ignorar a feia realidade que me espreitava da planilha do


Excel na tela do meu laptop. A menos que eu ganhasse na loteria nos
próximos dois meses, encontrasse um parceiro comercial ou conseguisse a
mãe de todos os clientes, eu teria que fechar a Oásis Floral Design.
Eu me afundei na minha cadeira de escritório e olhei para além do laptop
o espaço de 75 metros quadrados que havia alugado há pouco mais de um
ano com tanta esperança e tantos sonhos. Quando pisei neste espaço pela
primeira vez, eu estava fora de mim de tanta empolgação. As paredes de
tijolo e os pisos de madeira riscados estavam empoeirados; as janelas de
painel amplo, encardidas; e o teto de estanho, coberto de teias de aranha, mas
o potencial de beleza estava lá. E a localização, no andar térreo de um
armazém de tijolos no coração do bairro artístico Dumbo no Brooklyn, era
ideal para uma florista novata e entusiasmada como eu.
A dura verdade é que não importa o quanto eu queria estar entusiasmada,
neste exato momento, a descrição mais precisa era: para baixo e quase fora.
Enquanto eu contemplava o espaço de trabalho que em breve eu seria forçada
a abandonar, o ar-condicionado da câmara fria ligou, emitindo um zumbido
monótono que ecoou o meu estado de espírito abatido.
Meu peito contraiu, e um nó subiu à garganta. Administrar o meu próprio
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negócio era o meu sonho, desde que completei o meu curso de arte e
encontrei por acaso o meu primeiro trabalho com arranjos florais. As flores
eram bonitas, e além do prazer que eu sentia em arranjá-las, eu adorava o
trabalho de criar algo que engrandecia os momentos significativos da vida
dos meus clientes.
Então, a porta no final da loja se abriu, e o rosto alegre e a cabeleira ruiva
encaracolada da minha vizinha Mimi assomaram à porta.
— Você tem tempo para uma pausa? — ela perguntou, levantando uma
sacola de papel branca. — Eu trouxe café e rolinhos de canela recém-cozidos.
Eu me recompus, fechei meu laptop e sorri de volta para ela. — Me
parece uma boa ideia — eu disse. Mimi era dona do negócio de joias feitas
sob encomenda, que ficava ao lado do meu local de trabalho. Quando eu me
mudei para o prédio, nós rapidamente nos tornamos amigas, e tomar café
juntas tornou-se quase um ritual diário.
Mimi cruzou a sala em direção à minha mesa, entregou-me uma xícara de
café e sentou-se na minipoltrona que ficava de frente para a minha mesa, um
lugar que ela considerava seu há muito tempo. Em seguida, colocou a xícara
de café sobre a mesa, enfiou a mão na sacola com cheiro de canela e tirou um
rolinho, antes de me entregar a sacola.
— Nada no mundo é mais fabuloso que um doce quente e fresco — disse
ela enquanto cortava um pequeno pedaço do rolinho e o deslizava boca
adentro. Ela piscou para mim. — Com exceção talvez de um homem quente e
gostoso.
Aos 47 anos, Mimi era vinte anos mais velha que eu, mas ninguém lhe
daria um dia a mais que trinta e cinco. Sua personalidade singular e seu amor
pela vida faziam que ela aparentasse ser sempre jovem, e as sessões diárias de
ioga mantinham o seu corpo curvilíneo em excelente forma. Embora ela
nunca tivesse se casado, era uma mulher que amava os homens e os atraía
com facilidade, e sua vida sexual ativa era um dos seus temas favoritos.
— Eu aceito o doce — eu disse. — É tão bom quanto, e muito menos
complicado.
— O sexo não é complicado — respondeu Mimi. — Embora os
relacionamentos possam ser. Veja o meu relacionamento com o doce. Eu o
adoro. Sinto tesão por ele. Às vezes até sonho com ele. Mas ele vai direto
para a cintura, criando um número sem fim de complicações.
Eu ri. — Você não é gorda.
— Eu poderia ser — disse ela. — Você precisa ver meus irmãos. Minha
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família é uma trifecta de obsessão alimentar, talento culinário e genes gordos.


Para além desse legado infeliz, fumar maconha pode me manter calma, mas
também me dá larica. E enquanto a ioga me faz bem, os seus superpoderes
têm limites. Atualmente eu estou bem com minha aparência, mas e quando eu
era adolescente? Meu maior sonho era acordar um dia, me olhar no espelho e
descobrir que de repente eu era alta, morena e esbelta, como você. Mas chega
de falar de mim e da minha vida de fantasia adolescente. Como vão as
coisas? Conseguiu novos clientes?
— Acabei de assinar um contrato para outro evento corporativo, mas não
acontecerá antes do outono.
Nossos olhares se encontraram. — Então a questão é como sobreviver aos
meses de verão.
— É — eu disse. — Falei com todos os floristas que conheço sobre pegar
trabalho meio período, mas tenho suficientes eventos agendados que fazem
de mim uma candidata nada interessante.
— Muitas datas agendadas? — ela perguntou.
— Exatamente. Numa emergência, eles podem me oferecer um ou dois
dias de trabalho, mas meia dúzia de bicos de última hora não vão pagar as
contas.
Mimi franziu a testa. — Você não pode perder esse espaço — disse ela.
— Não depois de todo o trabalho e dinheiro que você investiu nele. Era um
buraco quando você se mudou, mas você transformou ele num espaço de
trabalho adorável. Você montou até mesmo uma câmara fria, o que me
surpreende.
— A maior parte da reforma era esfregar e pintar — eu disse. — As
prateleiras e as mesas de trabalho eram coisas de segunda mão, e a câmara é
apenas um cômodo isolado com prateleiras e um ar-condicionado barato.
Montar aquele cômodo foi muito mais barato que comprar geladeiras
expositoras de flores. A coisa frustrante é que com as reservas e os
casamentos que eu tenho agendados para a próxima primavera e verão, a
Oásis pode chegar lá, isto é, se eu conseguir atravessar o verão.
— Você se inscreveu para o empréstimo para pequena empresa sobre o
qual conversamos?— Mimi perguntou.
— Me inscrevi, mas o banco me recusou porque eu não tenho bens.
— E você não tem ninguém na família que possa ajudar?
Eu sacudi minha cabeça. — Não, desde que os meus avós morreram.
— Se você estiver livre na primeira semana de agosto, eu posso te pagar
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para trabalhar comigo na minha barraca na exposição de artesanatos — disse


Mimi. — Eu sei que não é muito.
Estendi meus braços sobre a mesa e coloquei minha mão sobre as suas.
— Eu adoraria trabalhar na sua barraca. E o seu apoio significa o mundo para
mim.
Ela apertou minha mão antes de soltá-la para pegar o café. — É para isso
que são os amigos, Ava. Eu só queria poder fazer mais.
Então, recebi uma notificação sonora no meu iPhone, anunciando a
chegada de um texto. Peguei o telefone da minha mesa e olhei para sua tela
trincada, que na minha atual situação financeira, eu não podia me dar o luxo
de substituir.
— É da Carol — eu disse, escaneando a mensagem. — Ela quer se
encontrar comigo no Blacktail às 7h para conversar sobre um possível
trabalho.
O semblante de Mimi iluminou-se. — Isso é fabuloso! — disse ela. —
Carol é aquela jovem loira que eu conheci quando ela veio aqui para te ver,
correto? Ela não é a garota rica que você conheceu em Harvard, aquela que
conseguiu alguns dos seus shows de casamento?
— Ela mesma — eu disse. — Nós duas fazíamos o curso de arte, e foi
assim que a gente se conheceu no primeiro ano. Ela é minha melhor amiga da
faculdade — fomos colegas de quarto do segundo ano até a formatura — e
ela também é a pessoa mais gentil e generosa do planeta. A maioria dos
alunos ricos em Harvard saíam uns com os outros, mas a Carol é diferente.
Ter vindo de família rica facilitou o seu trajeto de algumas maneiras, mas não
de outras. A madrasta a odeia, e o pai praticamente a ignora.
— O dinheiro não é tudo — disse Mimi. Ela olhou para o relógio e
levantou-se. — Mas isso é um assunto para outro dia. Eu preciso dar o fora
daqui porque você tem somente três horas para fechar esse lugar, ficar linda e
levar esse traseiro para o outro lado do rio até o Blacktail, onde — cruze os
dedos — um enorme casamento te aguarda. O tipo de casamento que requer
montanhas de flores.
— Tomara — eu disse. — Tomara.

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AVA

Quando cheguei ao Blacktail e notei o traje chique da clientela que ocupava


suas mesas, fiquei feliz por ter tirado um tempo para aplicar maquiagem
fresca e mudar para o meu vestidinho preto favorito. Localizado no Píer A,
onde o Battery Park se encontrava com o Rio Hudson, o bar, com suas
paredes escuras, seus painéis de madeira, tetos de vitral e luminárias retrôs,
tinha uma atmosfera dos anos 20. Às sete horas, a noite estava indo a todo
vapor, e à medida que eu olhava em volta em busca de Carol, um barulho
alegre de conversa e copos tintilando enchiam meus ouvidos.
Em questão de segundos, avistei o cabelo louro e brilhante da minha
amiga. Sentada à mesa no canto à esquerda do bar, ela trajava um vestido
azul-marinho sem mangas que expunha a sua figura impecável e os seus
braços tonificados. Uma taça cheia de martíni aguardava na frente da cadeira
oposta à sua, e sua taça de martíni estava meio vazia.
— Você deve ter tido um dia difícil — eu disse quando cheguei a ela. —
Você não costuma começar a beber sem mim.
Ela se levantou para me abraçar, mas o seu sorriso parecia forçado. — Foi
uma semana infernal — disse ela.
— Me conta como foi — eu disse à medida que terminamos de nos
abraçar e nos sentamos.
— Vou contar — disse ela. — Mas primeiro quero saber como as coisas
estão indo com a Oásis.
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— Não mudou nada desde a última vez que conversamos — eu disse,


pegando minha taça de martíni. — Mas você e outros amigos estão fazendo o
melhor para me ajudar a encontrar trabalho, o que me dá esperança.
— Um brinde à esperança — disse ela, tintilando a sua taça contra a
minha.
Conforme provei o meu martíni, senti um nervosismo incomum em
minha amiga, mas resisti a vontade de fazê-la me confidenciar o que era.
Embora Carol apresentasse um rosto alegre para o mundo, ela também tinha
um lado profundamente privado. Algo a incomodava, mas seja lá o que se
passasse em sua cabeça, ela me diria somente quando estivesse pronta para
fazê-lo.
Ela colocou a taça sobre a mesa, olhou para cima, e nossos olhos se
encontraram. — A última vez que conversamos, você disse que faria
qualquer coisa para manter a Oásis funcionando. Você ainda pensa assim?
— Claro que penso — eu disse. — Estou pronta para trabalhar que nem
uma louca em qualquer emprego que não conflite com os compromissos
assumidos com meus clientes.
— O trabalho que eu tenho em mente não conflitaria — disse ela. — Mas
não é um trabalho comum. Não é o que você está esperando.
— Estou aberta a tudo — eu disse. — Qualquer coisa. Só quero salvar o
meu negócio.
— Antes de dizer mais, preciso que você me prometa uma coisa.
— O que é? perguntei.
— Aceitando ou não esse trabalho, você não pode dizer uma palavra
sobre isso a ninguém.
Perplexa, olhei fixamente para a minha amiga. Ela me parecia estranha,
mas eu confiava em suas boas intenções.
— Prometo — eu disse. — Não vou dizer absolutamente nada a ninguém.
Agora, você pode por favor me dizer o que é realmente esse trabalho
misterioso?
Ela inclinou-se para frente e baixou a voz. — Casar com meu irmão.

Após vários minutos de choque profundo, seguidos de uma segunda rodada


de martíni e uma explicação das dificuldades financeiras do irmão de Carol,

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eu tinha uma imagem completa. Mas embora eu compreendesse


perfeitamente a situação de Ronan Kingsley, que tinha paralelos com a
minha, eu não podia imaginar ser esposa de mentirinha de ninguém por dois
anos, muito menos de um playboy de sociedade como era o irmão de Carol.
Mas a vodka e o alívio de conversar sobre o seu plano levantaram o astral
de Carol, e ela estava certa de que havia encontrado a solução perfeita para o
problema de todos.
— Meu irmão é um ótimo cara — disse ela. Mas ele também é um
prostituto, com péssimo gosto por mulheres, e é por isso que eu tenho que
encontrar a falsa esposa perfeita para ele. Com o seu passado, você é a pessoa
perfeita.
— O que você quer dizer? eu disse. — Meu passado não poderia ser mais
diferente do seu e do Ronan.
— Você estudou em Harvard.
— Com bolsa de estudos. Como parte da cota para alunos pobres.
— Não importa — disse ela. — Você pode não ter crescido com dinheiro,
mas depois de Harvard, a riqueza não te incomoda.
— Na verdade, meio que incomoda. Eu só aprendi a ocultar minhas
reações.
— Isso é tudo o que importa — disse ela. — Você é inteligente e bonita.
Sabe como se vestir, falar e se misturar. E eu confio em você com a minha
vida.
— Eu nunca conheci ninguém na sua família — eu disse.
— Você sabe que eu evito submeter alguém que eu considero ao meu pai
e à Verônica — disse ela. — Mas por causa da nossa amizade, você sabe
muito sobre eles. E também por causa da nossa amizade, é plausível que você
e Ronan se conhecessem através de mim e se apaixonassem loucamente.
— Na superfície, suponho que seja crível o suficiente — eu disse. — Pelo
menos para quem acredita em "felizes para sempre", que eu não acredito,
como você sabe, pelo menos não desde Brian.
— O seu ex-noivo era um monte de merda que vivia mentindo e te
traindo.
— Ele era — eu disse. — Mas já se passaram dois anos desde que eu
larguei Brian, e hoje fico agradecida por ter descoberto quem ele era a tempo
e evitado o erro de me casar com ele. Alguns homens simplesmente não
foram feitos para o casamento.
— É o que o Ronan diz. Ele diz que nunca poderia se limitar a uma
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mulher e que não acredita em fazer promessas que não pode cumprir.
— Pelo menos o Ronan é honesto sobre quem ele é — eu disse. — Ele
parece um pouco com a Mimi. A vida dela é uma porta giratória de homens,
mas ela é muito franca quando diz que tudo que ela quer é uma ou duas
noites de farra. Sexo sem compromisso não faz meu gênero, mas julgar como
os outros vivem suas vidas também não, desde que sejam abertos com relação
a isso.
— Tanto você quanto o Ronan são da maior confiança e é por isso que
esse casamento arranjado pode dar certo — disse Carol. — Todos ganham e
ninguém sai machucado. O Ronan recebe o dinheiro da herança que pertence
a ele de qualquer maneira. Seus funcionários continuam empregados. Assim
que vocês estiverem legalmente casados e Ronan tiver acesso à herança, ele
preenche um cheque, que te permite manter a Oásis, e como bônus adicional,
vamos ser praticamente irmãs por dois anos.
— No meu coração, você já é minha irmã — eu disse. — Mas me casar
com seu irmão, mesmo que resolva uma série de problemas, simplesmente
não faz sentido. Significaria mentir para todos por dois anos. E você sabe
como eu me sinto sobre mentir.
— Você e o Ronan não estariam mentindo para todos — disse Carol. —
Já que a parte legal seria verdadeira, você simplesmente diz às pessoas a
verdade: que vocês dois são casados. — Ela deu de ombros. — Entende?
Tipo versão Facebook do seu relacionamento, que é tudo que a maioria das
pessoas precisam saber, afinal de contas.
— Entendo o seu ponto, mas mentir para os amigos é diferente.
— Quantos amigos sabem as razões completas para o seu rompimento
com Brian?
— Só você e a Mimi.
— Então você quer ser honesta com a Mimi — disse ela. — Isso pode ser
negociado.
— E quanto aos seus amigos, e aos amigos do Ronan?
— Além de mim, o único amigo próximo do Ronan é o Jack, seu parceiro
de negócios. E além do Ronan, a única pessoa com quem eu realmente falo é
você.
— E a sua família? Sei que você não é próxima de nenhum deles, menos
o Ronan, mas mentir para eles por dois anos ainda é um grande problema.
— O resto da minha família são mentirosos crônicos — disse Carol. —
Papai mente à Verônica sobre os seus casos constantes. Verônica mente ao
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papai para fazer o meu meio-irmão Aiden parecer bom ou para fazer eu e o
Ronan parecermos merda. E Aiden acredita nas mentiras mais cabeludas que
saem da boca da sua mãezinha com cara de Botox.
Não houve discussão com Carol. Ela estava totalmente convencida de que
um casamento entre mim e o irmão dela era a melhor solução para os nossos
problemas financeiros. Em sua mente, o único obstáculo entre mim, Ronan e
a data do casamento era a negociação do que ela claramente considerava
pequenos detalhes.
No entanto, o próprio Ronan deveria nos encontrar aqui mais tarde esta
noite, o que me permitiria encerrar essa ideia maluca de uma vez por todas.
Quando Carol me disse que tinha combinado com ele de nos encontrar, eu só
concordei em ficar por dois motivos: por respeito à nossa amizade e porque
depois de anos de ouvi-la falar do seu irmão mais velho, uma oportunidade
de finalmente conhecê-lo era intrigante demais para deixar passar.
— A que horas Ronan deve chegar? perguntei.
— Às oito. Carol checou seu relógio de pulso e então sorriu para mim. —
Ele estará aqui em 15 minutos.

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AVA

Às oito horas em ponto, Ronan Kingsley chegou à nossa mesa. Embora eu


soubesse que ele era um homem bonito pelas fotos que Carol havia me
mostrado, ele era ainda mais bonito pessoalmente. Com cabelo escuro
cortado, barba de três dias e um terno cinza escuro perfeitamente talhado, que
só realçava o seu corpo alto e musculoso, o irmão de Carol parecia ter saído
da capa da GQ.
Ele sentou-se ao lado de Carol e beijou o seu rosto antes de me dar um
sorriso vencedor e estender a mão sobre a mesa.
— Eu sou o Ronan — disse ele. — E você deve ser a Ava. Ouvi falar
muito de você.
— Igualmente — eu disse, à medida que estendi o braço e apertei a sua
mão. Seus olhos azuis intensos encontraram o meu olhar, e uma centelha de
atração inesperada me sacudiu por dentro. Desestabilizada pela minha reação,
retirei minha mão o mais rápido possível sem parecer rude.
Foi então, pela segunda vez naquela noite, que Carol me surpreendeu.
— Eu disse tudo que tenho a dizer — concluiu ela. — E vocês têm o meu
apoio se decidirem ir em frente com a ideia do casamento. Mas a única
maneira de saber se isso pode funcionar é se vocês dois se conhecerem. —
Ela pendurou a bolsa sobre o ombro, levantou-se e olhou para nós. — É por
isso que estou indo agora. Conversem um com o outro, peçam comida e
passem uma ou duas horas juntos. É tudo que eu peço.
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— Sem promessas — disse Ronan calmamente. — Mas eu queria


conhecer a Ava há muito tempo, e esta noite é a oportunidade perfeita. — Ele
olhou para mim. — Ava, você jantaria comigo?
Algo em sua voz grossa e seu abrandamento acalmaram os meus nervos.
Enquanto seu magnetismo masculino natural e intenso tinha me pegado
desprevenida, não era surpreendente que eu precisasse de um momento para
me adaptar, pois me encontrava perto de um homem tão atraente. Afinal, eu
tinha sido praticamente uma eremita nos últimos dois anos. Depois de romper
meu noivado com Brian, eu não sentia vontade de socializar, e enquanto me
recuperava da dor e raiva causada pela traição do meu ex-noivo, eu
trabalhava dia e noite para fazer a Oásis deslanchar.
— Claro — eu disse. — Eu ficaria mais que feliz em jantar com você.
Carol nos deu um sorriso enorme. — Ótimo. Encontro vocês amanhã.
E com isso, ela se virou e foi embora. Por um momento, nem Ronan nem
eu falamos, e como o silêncio construiu-se entre nós, eu me esforcei para
pensar no que dizer. Eu precisava lhe dizer que embora eu lamentasse suas
dificuldades financeiras, não estava prestes a me casar com ele, mas por onde
começar?
— Isso é estranho — disse Ronan.
— Meio que surreal — concordei.
— Vamos esclarecer uma coisa — disse ele. — Eu vim aqui para acalmar
minha irmã, mas apesar de ter certeza que você é uma ótima pessoa, não sou
fã dessa ideia de casamento falso inventada pela minha irmã.
— Eu sinto o mesmo — eu disse. — Eu faria quase tudo para salvar o
meu negócio, mas a ideia de casamento é impensável.
— Excelente — disse ele. — Agora que colocamos esse assunto para
descansar, que tal pedir a comida?
— Me parece uma boa ideia — eu disse. — Eu costumo comer um pouco
mais cedo, por isso estou meio faminta.
Ele fez sinal para um garçom próximo, que se apressou, anotou o pedido
de uma taça de uísque escocês para Ronan e uma garrafa de água mineral
para mim, entregando um cardápio para cada um de nós.
— Quer dividir uma porção de batatas fritas? — perguntou Ronan.
— Absolutamente — eu disse. — Quem não adora batatas fritas? Como
prato principal, vou pedir lombo.
— Boa escolha — disse ele, me dando um sorriso. — Vou pedir o
mesmo.
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Fechei o cardápio e sorri para o garçom. Agora que pusemos os pingos


nos is, eu me sentia livre para relaxar e desfrutar do que prometia ser uma
refeição deliciosa, sem outras expectativas de ambos os lados.
Depois que o garçom serviu o uísque ao Ronan e anotou o nosso pedido,
nós tivemos uma conversa amena, que continuou durante toda a refeição.
Durante o jantar, trocamos histórias sobre nossas vidas e nosso trabalho, e
Ronan me fez rir com algumas anedotas humorísticas sobre si mesmo e
Carol. Durante a sobremesa, descobrimos um interesse comum em cinema
clássico americano e discutimos se Janela Indiscreta ou Intriga Internacional
era o melhor filme de Hitchcock. No momento em que nos separamos do
lado de fora da estação de metrô Bowling Green, até onde Ronan insistiu em
me acompanhar, eram quase onze horas.
— Obrigado por jantar comigo — disse ele. — Estou feliz que finalmente
nos conhecemos, embora eu preferisse que nosso primeiro encontro tivesse
acontecido em circunstâncias diferentes.
— O prazer é todo meu — eu disse. — Desde que comecei a Oásis, eu
não saio muito, e quando saio, é raro encontrar um fã de Hitchcock como eu.
O seu rosto estampou um largo sorriso. — Se eu estivesse disponível no
mercado para uma esposa, ela teria que ser fã de Hitchcock.
Eu ri e fiz um sinal positivo com o polegar. — Bom gosto em filmes
também está na minha lista top 10.
— Agora que nos conhecemos, tenho certeza que vamos nos encontrar
novamente — disse ele.
— Tenho certeza que vamos — eu disse. — Boa noite, e muito boa sorte
com o seu negócio.
— Obrigado — disse ele. — Desejo o mesmo a você.
E com isso, ele se virou e foi embora. Conforme eu descia as escadas em
direção à plataforma do metrô, um brilho de satisfação me preencheu.
Embora a noite não tivesse terminado da maneira que eu esperava, com um
novo cliente de casamento para a Oásis, ela havia levantado o meu astral. O
desejo de Carol em ajudar significava o mundo para mim, e como se revelou,
eu não tive que decepcionar Ronan tampouco. Sua reação à ideia maluca de
casamento proposta por Carol era parecida com a minha.
Com um apito de estourar os ouvidos, o trem de Manhattan ao Brooklyn
freou e parou em minha frente, e à medida que embarquei e tomei o meu
assento, uma sensação de bem-estar permaneceu comigo. Enquanto minha
situação financeira estava à beira de se tornar terrível, eu poderia ir levando
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por mais um ou dois meses. Amanhã de manhã, em vez de olhar para as


planilhas deprimentes e me afundar em desespero, eu me concentraria em
gerar ideias criativas e encontrar trabalho.
E de alguma forma, eu encontraria um jeito de salvar o meu negócio.

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RONAN

— Onde está sua cabeça hoje? — meu sócio comercial Jack me perguntou,
sentado do lado oposto da minha mesa. — Preciso que você se concentre
nesse contrato, que tem que sair em poucas horas.
— Desculpe — eu disse. — Pensamentos demais zumbindo em minha
cabeça para eu me concentrar.
— Fale comigo — disse Jack. — Me diz o que você está pensando.
Levantei-me da minha mesa, caminhei até a parede de vidro do meu
escritório de canto espaçoso e olhei sobre os telhados de Manhattan. Embora
eu possuísse a maior parte da Kingsley Technologies, Jack era um acionista
significativo também. Nós éramos melhores amigos desde a equipe de remo
na faculdade, e desde o dia em que ele se juntou a mim na Kingsley Tech,
dois anos depois que eu comecei, passamos a administrar a empresa juntos.
Desde então, ao longo dos anos, ele se tornou meu amigo mais próximo.
Como eu, ele era um solteirão convicto com boa aparência, uma cabeça cheia
de cabelo e um porte físico que chamava a atenção das mulheres.
Frequentemente a gente começava a noite juntos, indo de bar em bar, e se
separava quando um de nós avistava uma mulher que quisesse conquistar.
— Lembra aquela ideia maluca da minha irmã Carol? — eu disse.
— Como eu poderia me esquecer? — disse Jack com uma risada. — A
sua irmã te adora e cortaria o braço direito por você, mas Ronan Kingsley
casado? Eu tenho uma imaginação muito boa, mas ela não vai tão longe.
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Eu me virei para encará-lo. — Ontem à noite Carol me arrastou para o


Blacktail para conhecer a esposa que ela escolheu para mim, a sua melhor
amiga de faculdade, Ava Walker.
— Isso soa estranho.
— Foi mesmo, nos primeiros minutos. Mas então a Carol nos deixou, e
eu disse à Ava que eu não estava considerando seriamente a ideia do
casamento; ela disse que se sentia da mesma maneira, e acabamos
conversando sobre filmes durante o jantar com bife e batatas fritas. Ela foi
uma boa companhia, e eu gostei de ter jantado com ela.
— Parece que você se esquivou de uma bala — disse Jack.
— Foi também o que eu pensei — eu disse, enquanto me sentava à minha
mesa. — Mas depois, na corrida de táxi para casa, eu comecei a pensar se a
ideia da Carol poderia realmente funcionar.
Jack me deu um olhar conhecido. — Essa garota Ava deve ser mesmo
atraente.
— Não é isso — eu disse. — Quer dizer, ela é uma mulher bonita, tipo
versão jovem da Demi Moore. Alta, morena, esbelta e da mesma idade da
minha irmã. Mas a aparência de Ava não foi o que me impressionou nela.
— Entendido — disse Jack. Seus olhos verdes brilharam, divertindo-se.
— Você gosta de mulheres loiras e com peitões. Mas se não foi a aparência
dela que prendeu sua atenção, o que foi?
— Não sei como explicar isso — eu disse. — Ela era tão normal. Falar
com ela foi fácil: ela é inteligente e tem um bom senso de humor. E ela é uma
mulher de classe: articulada, sabe se vestir e é formada em Harvard.
Jack riu. — Ava parece o tipo de garota que seu pai e sua madrasta
escolheriam para você.
— Eles preferem uma herdeira, mas em todos os outros aspectos, Ava se
encaixa no perfil. E uma princesa mimada da sociedade está fora de
cogitação. Manutenção cara demais.
— Mas você acha que Ava passaria na inspeção da Verônica?
— Essa é a grande pergunta — eu disse. — Eu acho que ela passaria. Se
concordarmos em viver vidas separadas e entrar com pedido de divórcio
quando eu fizer 35, o casamento poderia realmente funcionar.
— Tempo esgotado — disse Jack. — Se você está falando sério sobre
isso, precisamos analisar os prós e os contras. Há uma enorme vantagem, 50
milhões de dólares, e uma pilha infernal de desvantagens. Você e Ava teriam
que enganar Verônica, o que significa que o casamento teria que parecer de
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verdade. Ava precisaria morar com você. Você teria que morar com ela por
dois anos.
— Meu condomínio é grande o suficiente para dar a nós dois muita
privacidade — eu disse. — E eu não acho que a Ava seria uma companheira
de quarto difícil.
— Isso é um ponto positivo — disse Jack. — E a sua vida sexual?
— Eu sempre uso quartos de hotel, afinal de contas.
— E a vida sexual dela?
— Boa pergunta — eu disse. — Nós dois teríamos que concordar em não
trazer ninguém para casa.
— Suponho que ela não esteja tendo nada sério com ninguém no
momento — disse Jack. — Mas estamos falando de dois anos. E se ela
encontrar alguém?
— De acordo com Carol, Ava não está procurando um relacionamento.
Ela rompeu o noivado com um cafajeste chamado Brian há dois anos e, desde
então, ela está focada no seu trabalho.
— Qual seria a motivação dela para se casar com você?
— Um cheque gordo o suficiente para impedir que sua floricultura se
afunde — eu disse. — A floricultura fica no Dumbo, e é só ela. Ela também
não me pareceu ser do tipo ganancioso. Duvido que ela pediria mais de cem
mil ou algo assim, mas eu lhe ofereceria um milhão.
— Isso é generoso — disse Jack.
— Eu estaria pedindo dois anos da sua vida. Se ela der conta de um
casamento falso por tanto tempo, ela receberá o que merece.
O semblante de Jack ficou sério. — Não quero pressionar você a nada,
mas eu odeio a ideia de demitir metade da nossa força de trabalho. Passamos
anos recrutando as melhores pessoas, e perdê-las não ajuda em nada, só nos
faz regredir.
— Então você acha que eu deveria fazer isso?
— A decisão é sua, e eu vou apoiar qualquer decisão que você tomar.
Mas se você se casar com a Ava e pegar o dinheiro da herança dentro dos
próximos 60 dias, isso nos daria o dinheiro para tirar a empresa do vermelho,
e o negócio poderia pagar-lhe de volta quando os contratos com a Ásia
começarem a dar lucro no próximo ano.
— Preciso pensar mais sobre isso — eu disse. — Mas se eu decidir ir em
frente com a Ava, eu vou precisar da sua ajuda na elaboração de um contrato
para nós dois assinarmos.
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— Você também vai precisar convencer a Ava — disse Jack. — Você


não disse que ela também achou que era uma ideia maluca?
— Ela achou — eu disse. — É mais que provável que ela vá me recusar,
pelo menos inicialmente. Mas não vejo outra maneira de botar as mãos na
quantia de dinheiro que precisamos. E Ava é fiável: Carol a conhece há dez
anos. Seu eu convencer Ava a se casar comigo, e assinarmos um contrato, ela
vai cumprir a sua parte do acordo.
Jack se levantou da cadeira. — Quando você chegar a uma decisão, me
avise. Ele apontou para o contrato esparramado sobre a minha mesa. — E me
devolva isso o mais tardar às 2h com as mudanças que você quiser. Está
bem?
— Não há problema — eu disse, enquanto Jack se dirigia para a porta do
meu escritório. — Pode deixar que eu faço.
Depois que ele saiu, retomei meu trabalho no contrato, mas conforme eu
marcava as páginas com edições e correções, um único pensamento
continuava circulando pela minha mente.
Como eu poderia convencer Ava a se casar comigo?

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AVA

Dois dias depois da minha noite bizarra com Carol e seu irmão, sentei-me à
minha mesa na Oásis, escaneando anúncios de emprego no FlexJobs.com.
Minha última ideia foi que, dados os meus compromissos existentes, talvez
eu tivesse mais sorte se me candidatasse a empregos flexíveis ou de curto
prazo.
Eu estava rolando o cursor numa descrição de trabalho de meio período
para editor de fotos, me perguntando se minhas habilidades no Photoshop
eram decentes o bastante para me candidatar, quando o meu aplicativo de e-
mail emitiu um alerta sonoro e uma notificação apareceu na tela, anunciando
a chegada de um e-mail do meu contador. Com um suspiro, minimizei o meu
navegador e abri o e-mail. Não que receber minha conta de imposto fosse
uma surpresa; eu estava esperando por ela fazia uma semana. Mas dadas as
minhas circunstâncias financeiras, o fato de saber o que estava por vir não
faria a emissão daquele cheque para a Receita Federal ser menos dolorosa.
Quando eu vi o valor, meu coração congelou. Oito mil dólares? Como
isso era possível? Meu contador, um homem bem-educado e de meia-idade
chamado Barry, tinha me acostumado a esperar uma conta com menos da
metade daquele valor. Por um longo momento, eu fiquei só olhando para o
valor na tela do meu celular, e à medida que o fazia, minha raiva aumentava.
Ou Barry tinha fodido com a estimativa, ou tinha fodido com minha
declaração de imposto de renda. Isso era ultrajante, e depois da semana que
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tive, eu não estava prestes a deixar esse burro incompetente ficar sem falar
comigo pelo telefone.
Peguei meu telefone e disquei o número de Barry.
— Preciso falar com o Barry — eu disse, quando sua recepcionista
atendeu. — Não, não é uma pergunta que você possa responder. Diga ao
Barry que é a Ava Walker da Oásis Floral, e coloque-o ao telefone.
Quando ele atendeu, eu parti para o ataque. — Que diabos, Barry? Essa
conta de imposto é mais que o dobro do seu orçamento.
Ele gaguejou e me deu uma explicação esfarrapada que só fez aumentar a
minha raiva, e quando ele começou a tagarelar sobre deduções e amortização,
minha última gota de paciência explodiu.
— Pare de falar merda, Barry. Isso só faz você parecer ainda menos
profissional do que você já é! A verdade é que você errou em algum lugar, e
como a declaração tem que ser enviada até o final da semana, eu não vou ter
tempo de encontrar o erro. Entre com um pedido de prorrogação de seis
meses, e faça isso hoje. Vou esperar uma cópia por e-mail amanhã.
E com isso, terminei a chamada.
Com a adrenalina correndo nas veias, eu me levantei de sobressalto e
caminhei de um lado para o outro em frente à minha mesa. O orçamento
inicial de Barry parecia baixo, mas eu não era especialista em impostos, e,
verdade seja dita, eu queria acreditar. Entrar com o pedido de prorrogação
adiaria a conta de imposto por seis meses, mas em outubro eu teria que fazer
um cheque de $8.000 à Receita, $5.000 a mais que o orçamento inicial de
Barry.
Como eu poderia salvar a Oásis, quando tudo estava conspirando contra
mim? Não pela primeira vez, a ironia do nome do meu negócio me
surpreendeu. Quando encontrei um nome para a floricultura, eu imaginava o
meu pequeno negócio como um paraíso repleto de criatividade e trabalho
gratificante, mas no que se tornou? Um pântano financeiro que se tornava
mais profundo a cada dia que passava.
Lágrimas de frustração brotaram dos meus olhos, as quais sequei com
raiva. Ficar emotiva não salvaria meu negócio. A única coisa que salvaria era
encontrar uma maneira de ganhar dinheiro sério, e se eu não a encontrasse
logo, meu sonho de administrar meu próprio negócio morreria, juntamente
com um pedaço do meu coração, que estava apegado a ele.
Então, uma batida soou contra a porta.
— Entre — eu disse, à medida que corri em direção à porta. Embora
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provavelmente fosse o síndico do prédio ou um dos meus vizinhos, poderia


ser também um possível cliente. Já que o meu negócio se concentrava em
eventos, e muitos clientes não entravam na loja, principalmente a esta hora do
dia, mas havia sempre uma possibilidade.
A porta se abriu e Ronan Kingsley entrou. Como na noite em que o
conheci, ele usava um terno escuro lindamente talhado e carregava uma pasta
de couro, aparentemente cara, em uma das mãos. Apesar da emoção que
ainda fervia dentro de mim com a má notícia que eu tinha acabado de
receber, eu não podia deixar de ficar impressionada com o quão bonito ele
estava. Seus ombros largos e seu peito forte, afilado a uma cintura em forma,
combinavam com sua altura e boa aparência escura, dando-lhe uma presença
imponente. Conforme ele olhou ao redor, entrando em meu espaço reformado
com móveis de segunda mão repintados, eu percebi como devo ter
aparentado pobre e suja para ele.
— Oi, Ava — disse ele. — Posso ter alguns minutos do seu tempo?
— Claro — eu disse. Gesticulei, apontando para a minipoltrona vermelha
em frente à minha mesa. — Vamos nos sentar.
Enquanto eu caminhava em direção à mesa, perguntas inundavam a
minha mente. Por que ele veio aqui? Não podia ser sobre um trabalho floral,
ou podia? Eu costumo lidar com coordenadores de eventos, não com
executivos como Ronan, mas talvez o fato de que tínhamos nos conhecido
através de Carol fez com que ele sentisse que deveria falar comigo
pessoalmente. Mas mesmo assim, por que ele não ligou, em vez de atravessar
o rio de Manhattan ao Brooklyn?
Quando estávamos sentados, fechei meu laptop, empurrei-o de lado e
encarei Ronan. — Como posso ajudá-lo?
Ele limpou a garganta e olhou em meus olhos. — Quando jantamos, você
me impressionou como alguém em quem posso confiar. Com isso em mente,
estou aqui para propor um acordo.
Uma suspeita entrou em minha mente, mas eu a dispensei. Quando eu
jantei com ele, a sua rejeição à ideia de casamento proposta por Carol tinha
sido muito clara, não menos que a minha.
— Que tipo de acordo você está querendo? — perguntei.
— Preciso de uma esposa dentro de 60 dias — disse ele. — E quero que
seja você.
— Meu queixo caiu. Isso era algum tipo de piada? Mas a expressão no
rosto de Ronan era séria e sisuda. Seu olhar era direto e seus lábios, firmes e
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determinados.
Olhei para baixo por um momento para me recompor, antes de olhar para
cima e encará-lo. — Dois dias atrás, desfrutamos juntos de um jantar
agradável, durante o qual concordamos que a ideia de Carol é ridícula. Por
que diabos você mudaria de ideia? Você não pode estar falando sério.
— Eu não poderia ser mais sério — disse ele. — Você sabe o que está em
jogo.
Ele não estava brincando. Ronan Kingsley queria que eu me casasse com
ele.
— Lamento a sua situação — eu disse. — Você sabe que eu lamento.
Mas eu não sou uma atriz, e eu seria uma péssima esposa de mentirinha.
— Eu discordo — disse ele. — Carol estava certa. Você é perfeita para o
trabalho.
A ironia de suas palavras não me escapou. Perfeita para o trabalho.
Palavras que eu ansiava ouvir, depois das rejeições educadas que haviam
preenchido meus últimos meses. Palavras que teriam levantado o meu astral à
estratosfera, se o trabalho em questão não envolvesse um compromisso de
dois anos e uma licença de casamento.
— Você está falando de dois anos de nossas vidas, Ronan — eu disse. —
Dois anos.
Ele se reclinou para trás em sua cadeira e olhou para mim. — O que você
está planejando fazer nesses dois anos, Ava? Encontrar o príncipe encantado?
Formar uma família?
— Não, pelo menos por enquanto. Eu realmente quero essas coisas algum
dia, mas primeiro quero transformar meu negócio em algo sustentável. Quero
me sustentar fazendo o trabalho que eu amo.
— Então você deveria considerar a minha oferta — disse ele. — Com o
que estou preparado para lhe pagar, você não só será capaz de manter as luzes
acesas, mas também vai ter dinheiro extra para investir no seu negócio. No
seu futuro. Para adoçar o acordo, se você se casar comigo, eu vou usar meus
contatos para ajudá-la. Por exemplo, o que alguns anúncios de revista bem
colocados poderiam fazer para a Oásis?
Atordoada em silêncio, eu só olhava para ele. A visibilidade de um único
artigo de revista sobre a Oásis poderia mudar tudo para mim, e ele sabia
disso.
— Estou sendo claro? — disse ele.
Ele estava, mas eu não estava prestes a dar-lhe a satisfação de admitir que
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sim. Depois de entrar no meu escritório e jogar essa bomba enorme em


minhas mãos, ele não merecia saber todos os meus pensamentos.
— Estou mais que surpresa com tudo isso — eu disse. — Preciso de
tempo para pensar.
Seu rosto relaxou. — Eu entendo. Mas o que você precisa entender é que
o tempo está acabando. — Ele enfiou a mão na maleta, retirou uma pasta
grossa e a colocou sobre a mesa. — Hoje é um dia atarefado, e eu preciso
correr, mas o documento dentro desta pasta contém as especificidades do
acordo que estou propondo. Minhas informações de contato estão dentro, e
também incluí uma cópia digital que você pode enviar por e-mail para o seu
advogado. Por razões óbvias, além de falar com seu advogado ou com minha
irmã Carol, eu preciso que você mantenha essa conversa e o acordo em sigilo.
— Tudo bem — eu disse. — Vou considerar a sua oferta. Eu não tenho
um advogado, mas em vez de um advogado, quero discutir a sua oferta com
Carol e uma outra amiga próxima, Mimi, que também é completamente
confiável.
— Isso é razoável — disse ele. — A coisa mais importante é que você
leia o acordo cuidadosamente e considere todas as cláusulas.
Eu concordei. — Vou fazer isso.
Ele se levantou. — Preciso voltar ao meu escritório antes das cinco. Me
avise quando você tiver chegado a uma decisão. Ele se afastou e caminhou a
passos largos em direção à saída. Quando chegou à porta, voltou-se para
mim.
— Pense rápido, Ava. A oferta é válida por 48 horas.
E com isso, ele foi embora.

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AVA

Depois que Ronan partiu, abri o contrato e comecei a ler. Quando cheguei à
seção que detalhava a minha compensação, minha cabeça girou.
Um milhão de dólares?
Eu olhava fixamente para os números. Cinquenta mil no ato da assinatura.
Duzentos mil no casamento. Duzentos e cinquenta mil em parcelas mensais,
divididos ao longo de dois anos. E um montante fixo de meio milhão de
dólares no final do contrato de dois anos.
Sacudi a cabeça para clarear a mente. No espaço de uma hora, eu tinha
ido de um estado de estresse com uma continha de $8.000 dólares de imposto
para outro em que havia a oportunidade de me tornar uma milionária.
Com o pagamento inicial, eu poderia manter a Oásis e investir na
construção e publicidade do meu negócio. Com o segundo pagamento, eu
poderia considerar mudar o negócio para uma localização de alto perfil em
Manhattan, uma mudança que me deixaria mais perto da minha clientela-
alvo. Em combinação com a exposição de mídia que Ronan havia prometido,
o dinheiro que ele estava oferecendo poderia garantir o meu negócio, e o meu
futuro.
Não havia nenhuma dúvida sobre isso: um milhão de dólares poderia
mudar a minha vida. Para sempre. Se fosse possível, ainda que remotamente,
tirar dois anos da minha vida para ser a falsa esposa do Ronan, eu precisava
encontrar uma maneira de fazer isso funcionar.
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Virei as páginas do contrato até a seção que listava minhas obrigações e


as li novamente. Embora eu precisasse sair do meu apartamento estúdio no
bairro de Bushwick e me mudar para o condomínio East Village do Ronan,
eu teria meu próprio quarto e banheiro. Eu teria que comparecer
ocasionalmente a algum evento social como sua esposa, mas o contrato dizia
que ele seria responsável por todas as despesas relacionadas. Nós
anunciaríamos o nosso noivado imediatamente e nos casaríamos no início de
maio, daqui a dois meses. Embora eu tivesse que desempenhar um papel nos
preparativos do casamento, depois do casamento, a maior parte do meu
tempo seria para mim. Além de dividir um apartamento com ele, casar-me
com ele e comparecer a algum evento ocasional de braços dados, nossas
vidas permaneceriam separadas.
A lista de requisitos do Ronan deixaram suas intenções de uma forma
muito clara. Ele não esperava nada mais que o mínimo necessário para criar a
aparência de um casamento verdadeiro, e ele estava preparado para me
compensar generosamente pelo tempo e esforço envolvidos. Mas a sua
proposta também me deixou com um monte infernal de perguntas. Poderia o
seu acordo proposto realmente enganar seu pai e sua madrasta? Quais eram
os riscos envolvidos? E como seria viver com ele?
Eu nem sequer imaginava como responder a essas perguntas. Mas Carol
saberia. Peguei o telefone para ligar para ela, mas então hesitei. Essa tinha
sido ideia da Carol desde o início, e o seu entusiasmo por ela era nítido.
Antes de elevar suas esperanças, eu precisava pôr os pés no chão e entender a
realidade do compromisso que eu estava considerando.
Com isso em mente, levantei-me da minha mesa e fui falar com a minha
vizinha Mimi. Quando entrei no seu ateliê de joias, ela estava sentada numa
banqueta em sua mesa de trabalho, debruçada sobre vários pedacinhos de
prata com um ferro de soldar em sua mão direita.
— Você tem um minuto? — perguntei. — Há algo que eu gostaria de
discutir com você.
Ela colocou o ferro de soldar sobre o suporte, enxugou as mãos em seu
avental de couro e empurrou uma gavinha solta do seu cabelo ruivo
encaracolado do rosto à medida que se virou para mim.
— Eu tenho alguns minutos — disse ela, apontando para uma banqueta
próxima. — Sente-se.
Sentei-me de frente para ela. — Não sei por onde começar.
O seu rosto iluminou-se. — Você conheceu um homem, não é?
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— De certa forma, acho que sim.


Ela me deu um largo sorriso. — Estou tão feliz por você, Ava. Você é
uma mulher linda, está sozinha há tanto tempo e merece toda a felicidade do
mundo.
— Não é isso — eu disse. — É complicado.
— Como? Ela franziu a testa. — Não me diga que ele é casado.
— Não, ele é solteiro.
— Se ele é solteiro, então qual é o problema? — perguntou. — Quem é
ele?
— O nome dele é Ronan.
— Ronan — disse ela. — Eu gosto. Me diga uma coisa, o Ronan é tão
sexy quanto o seu nome?
— Ele é muito bonito, mas...
— Garota, você não sai com ninguém há dois anos. Se ele é solteiro e
bonito, o que te impede? Eu sei que você está estressada por causa de
dinheiro, mas só se vive uma vez na vida. Sério. Mesmo que você e o Ronan
não estejam destinados a se casar e viver felizes para sempre, qual o
problema? Viva um pouco. Divirta-se.
— Não se trata de diversão — eu disse. — Trata-se de negócio.
— Então essa é a complicação — disse ela. — Você conheceu o Ronan
através do trabalho, e você está preocupada que um relacionamento poderia
fazer vocês dois parecerem não profissionais.
Respirei fundo e pus tudo em pratos limpos. — Não. Ronan é o irmão
mais velho da minha amiga Carol. E ele me ofereceu um milhão de dólares
para ser sua falsa esposa.

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AVA

Depois que Mimi se recuperou do choque com a minha revelação e leu o


contrato de Ronan, ela abriu a latinha de maconha que sempre ficava na parte
traseira da sua mesa de trabalho, enrolou um baseado grosso e o acendeu.
— Tem certeza que você não quer dar uma tragada? — perguntou. —
Nunca vi você tão estressada.
Sacudi minha cabeça. — Você sabe que eu nunca fumo nada. Eu tentei
maconha uma vez na faculdade, mas não senti nada.
— Você não sabe o que está perdendo — disse ela, inclinando-se para
trás e expelindo um fluxo de fumaça em direção ao teto. — Essa é uma
variedade do Alasca chamada Manatuska Thunderfuck, e é tão calmante
quanto uma boa transa. Sem mencionar que é perfeitamente legal, graças às
maravilhas da maconha medicinal.
— Obrigada, mas eu vou passar.
Ela colocou o baseado nos lábios e deu outro tapinha. — Então esse
casamento é tudo sobre Ronan ter acesso à sua herança de 50 milhões de
dólares — resumiu. — Quem são os Kingsley, a propósito?
— Eu nunca conheci o resto da família — eu disse. — Mas isso é o que
eu sei através da Carol. O seu avô fundou uma firma em Wall Street, a
Kingsley Capital, que é a fonte da fortuna da família. O pai dela, Carter
Kingsley, é dono da firma e controla o dinheiro. Os três filhos de Carter,
Ronan, Carol e Aiden, têm partes iguais na herança que foi deixada para eles
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pelo avô, sendo que o pai é o administrador. Eles terão acesso ao dinheiro
quando se casarem ou completarem 35, o que acontecer primeiro.
— Espere aí — disse Mimi. — Eu não sou especialista em fundos de
herança, mas por que o Ronan não pode simplesmente tomar emprestado
contra o fundo? Por que ele tem que se casar?
— É complicado — eu disse. — A mãe de Ronan e Carol morreu quando
Carol nasceu. Mais ou menos um ano depois, Carter se casou com uma
socialite de Manhattan chamada Verônica, que é mãe do Aiden, o filho mais
novo. Verônica sempre odiou Ronan e Carol, mas principalmente o Ronan.
Ela o vê como concorrente do seu próprio filho. Devido à manipulação de
Verônica, Carter e Ronan também não se dão bem, e Carter há muito tempo
se recusou a permitir, por qualquer motivo, que Ronan peça emprestado
contra o fundo.
— Mas o dinheiro não é do Ronan?
— Sim, mas até Ronan se casar ou completar 35, Carter é quem controla
o fundo, e como administrador, ele teria que assinar qualquer empréstimo
contra o fundo. A Carol suspeita que o objetivo final de Verônica seja
convencer Carter a deixar tudo ou a maior parte da fortuna para seu filho
Aiden, e negar aos enteados o máximo possível da sua herança.
— Fundos, heranças e uma madrasta malvada — disse Mimi. — Quão
ricas são essas pessoas?
— Carter Kingsley está na lista da Forbes — eu disse.
Os olhos de Mimi se arregalaram. — O pai da Carol é um bilionário?
— É.
— Quando conheci Carol, ela não me pareceu uma garota rica mimada —
disse Mimi. — Dá para ver que ela vem de uma família rica, mas eu nunca
teria imaginado que o seu pai é um bilionário.
— Carol tomaria isso como um elogio. Ela não é nada senão alguém que
tem os pés no chão, e é uma das pessoas mais altruístas que eu já conheci.
— Bem, com 50 milhões vindo em sua direção, Ronan pode te pagar um
milhão de dólares para você se casar com ele. — Mimi apagou sua bituca de
maconha na pequena tigela de barro que mantinha em sua mesa de trabalho
para tal finalidade. — E dois anos não é tanto tempo como você pensa. Se
você conseguir fazer isso dar certo, você deve aceitar.
— Estou tentada. Essa quantia de dinheiro mudaria a minha vida. Mas
tenho que considerar as implicações em longo prazo. Se eu for em frente com
esse casamento falso, no final serei uma divorciada, ainda procurando o
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príncipe encantado. E embora eu não tenha pressa, realmente quero um


casamento de verdade e filhos algum dia. Será que um divórcio no meu
passado vai fazer os homens me verem como um bem danificado?
— Alguns sim — disse Mimi. — Mas o contrato do Ronan especifica um
divórcio amigável e sem brigas. Qualquer um que te julgue por isso não
merece ficar com você, e com toda certeza você não quer ficar com ele.
— Eu não tinha pensado nisso dessa forma, mas você tem razão. E me
casar com Ronan certamente resolveria meus problemas financeiros.
— Resolveria. Estou feliz que você esteja levando essa oportunidade a
sério, porque é difícil para os criativos como nós ganhar a vida. Eu estava
beirando os 40 antes de o meu negócio com joias se tornar bem sucedido o
bastante para eu parar de servir mesas à noite. A oferta do Ronan parece
sólida, e você poderia garantir o seu futuro financeiro.
— Concordo. Mas tenho dúvidas quanto aos riscos envolvidos, e tenho só
dois dias para tomar uma decisão. Quando eu entrar em contato com Ronan,
preciso estar preparada para solicitar quaisquer adições ou mudanças que eu
queira no contrato.
Mimi inclinou a cabeça para trás e olhou pensativa. — Por que você não
manda uma cópia do contrato para Carol e marca um almoço de trabalho
amanhã com nós três?
— É uma ótima ideia — eu disse. — Posso apanhar sanduíches e café na
lanchonete da rua, e podemos comer à 1h em nossas mesas de trabalho.
— Já que Carol conhece todos os envolvidos, seu apoio será inestimável
— disse Mimi. — Se nós três colocarmos nossas cabeças para pensarem
juntas, devemos ser capazes de descobrir que mudanças são necessárias no
contrato.

No dia seguinte, Carol, Mimi e eu nos sentamos em volta de uma das mesas
de trabalho que eu havia preparado com os nossos sanduíches e o café.
— Você já teve a chance de olhar o acordo? — perguntei à Carol.
Quando liguei para ela na noite anterior, ela não atendeu, então lhe enviei um
e-mail com o contrato anexado. Quando ela me mandou um e-mail de volta
hoje de manhã para confirmar o almoço, ela escreveu que havia ido a uma
campanha beneficente na noite anterior, o que explicava o fato de ela não ter

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atendido ao telefone, mas o seu e-mail não dizia uma palavra sobre o
contrato.
— Eu o li hoje de manhã antes de te mandar o e-mail — disse ela. — E
quando li, vi problemas que precisariam ser discutidos cara a cara. Não faz
sentido ir em frente com o contrato como está.
— Por que não? disse Mimi.
— Meu irmão está delirando — disse Carol. — Nesse contrato, está
claríssimo que o Ronan espera continuar o seu estilo de vida atual.
— O acordo estipula que nenhum de nós pode levar parceiros sexuais ao
apartamento do Ronan, o que parece bastante justo — eu disse. — Eu não
planejo sair com ninguém, mas por que eu deveria me importar se ele o fizer?
Carol olhou para mim e depois para a Mimi. — Nenhuma de vocês
conhece minha madrasta Verônica — disse ela. — Vocês não sabem do que
ela é capaz.
— Diga-nos — disse Mimi.
— Quando Ronan anunciar sua intenção de se casar com Ava, Verônica
vai ficar desconfiadíssima. E ela não é nada se não um antro de fofocas.
Embora ela passe a maior parte do tempo na propriedade de Southampton, ela
tem uma tonelada de amigas fofoqueiras em Manhanttan. Se Ronan estiver
fodendo por aí, Verônica vai saber.
— Baseada em tudo que você já me falou sobre Verônica, eu sei que ela
vai ficar desconfiada desde o primeiro dia — eu disse. — O que eu não sei é
o que ela vai fazer com relação às suas suspeitas.
Carol franziu os lábios em pensamento. — Inicialmente, ela vai implantar
suas táticas habituais. Ela pode convidar você para um almoço ou chá e
interrogá-la sobre o seu relacionamento com Ronan. Ou pode fazer uma
visita surpresa a você e ao Ronan no apartamento, que precisa parecer que
vocês compartilham uma cama, mas isso é controlável. Conheço o
apartamento do Ronan, sei o que Verônica vai procurar, e já descobri como
encenar tudo.
— Então, almoço, interrogatórios e uma ou duas visitas surpresas — eu
disse. — Com a sua ajuda, acho que posso sobreviver a isso.
— Mas se o comportamento do Ronan der à Verônica qualquer motivo
para acreditar que o casamento é falso, ela vai fazer tudo o que for preciso
para encontrar provas — disse Carol. — Eu não me surpreenderia se a bruxa
da minha madrasta contratasse detetives particulares para seguir você e o
Ronan por aí com câmeras. E no momento em que ela colocar as mãos em
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alguma evidência que sugira que o casamento não é verdadeiro, "adeus,


herança". Ela vai levar as provas ao meu pai, convencê-lo a processar o
Ronan, e no dia em que ele entrar com o processo, Ronan vai perder o acesso
à herança.
— O que significa "perder o acesso"? — perguntei. — O Ronan fica com
o dinheiro que ele já retirou?
— Não necessariamente — disse Carol. — Meu pai tem um exército de
advogados à sua disposição, e se ele soltar aqueles tubarões, as coisas podem
ficar feias. Bloquear o acesso do Ronan à herança seria apenas o começo.
Eles poderiam também lançar um processo destinado a reaver qualquer
dinheiro que Ronan já tenha retirado do fundo.
— Qual é o objetivo de um processo? — disse Mimi. — Afinal de contas,
o Ronan não vai receber o dinheiro quando completar 35?
— Ele vai — disse Carol. — Mas entre agora e depois, um processo
poderia colocá-lo numa situação financeira mais difícil do que na que ele já
se encontra. E destruir o negócio do Ronan seria um sonho tornado realidade
para Verônica.
— Não podemos deixar isso acontecer — eu disse. — Você me disse o
quanto Ronan trabalhou arduamente para construir a Kingsley Tech.
— E a Ava também poderia ser processada? — perguntou Mimi.
— Ronan seria o alvo principal — disse Carol. — Mas é possível que os
advogados do meu pai processem Ava pela devolução de qualquer dinheiro
que ela tenha recebido do Ronan.
— Porque esse dinheiro pode ser visto como vindo da herança? —
perguntei.
— Exatamente — disse Carol. — É por isso que se você e o Ronan
continuarem com esse plano de casamento, vocês precisam se comprometer
com ele cem por cento.
— Um processo poderia destruir tanto o Ronan quanto eu — eu disse. —
Você tem razão, Carol. Embora eu não tenha nenhuma intenção de controlar
a vida pessoal do Ronan, é arriscado demais para qualquer um de nós ter
casos.
Mimi provou o seu café e acenou com a cabeça, concordando. — É
lamentável que você e o Ronan tenham que restringir a sua liberdade — disse
ela. — Mas com a Verônica de olho em qualquer oportunidade para derrubá-
los, não há como contornar isso. Vocês dois têm que colocar suas vidas
sexuais no gelo, a menos, claro, que vocês decidam fazer sexo um com outro.
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— Não vai acontecer — eu disse. — Sexo casual não faz o meu gênero.
Se fazer isso direito significa jurar abstenção sexual por dois anos, eu posso
lidar com isso muito bem. Eu não saio com nenhum homem desde o meu ex-
noivo, e embora eu realmente sinta falta de sexo, sou capaz de viver sem ele.
A questão é se o Ronan está disposto a fazer o mesmo.
— Isso precisa constar do acordo — disse Carol. — Nada de sexo casual.
De ambos os lados. Se o Ronan se recusar a assumir esse compromisso, caia
fora. Eu quero ajudar o meu irmão, mas não há razão para criar uma situação
que pode explodir na cara de todo mundo.
Fiz uma anotação no meu bloco de notas. — Sem sexo casual, então.
— Não é forte o suficiente — disse Mimi. — Esse acordo precisa ser
sólido como uma rocha, o que significa algum tipo de penalidade se um de
vocês rompê-lo. Ela me fez um sinal de reprovação. — Nenhuma mulher
deve apostar um centavo sequer num pinto descontrolado, muito menos um
milhão.
— É uma ótima ideia — disse Carol. — Precisamos proteger o Ronan
contra ele mesmo.
— Que tal se eu editar a cláusula de encerramento? — perguntei. — Ela
já afirma que romper o acordo resultará em separação imediata, seguida de
um divórcio rápido e sem brigas. Posso apenas adicionar sanções financeiras
para quem rompê-lo.
— Isso deve resolver o problema — disse Mimi.
— Há mais uma coisa que me preocupa — eu disse. — Até agora,
encontrei Ronan duas vezes, e sinto como se tivesse visto dois homens
diferentes. No Blacktail, ele estava relaxado e conversador. Ele era alguém
com quem eu poderia viver. Ontem, quando ele veio aqui para me oferecer
esse acordo, era outra pessoa. Não que ele fosse rude ou algo assim, ele foi
mais abrupto e agressivo.
— Essa é a sua persona de negócios — disse Carol. — Em se tratando de
homens, meu irmão é um cara bacana. Ele é gentil e generoso. Dentro dos
limites do seu cérebro abastecido de testosterona, ele pode até ser atencioso.
Mas ele é um negociador implacável e gosta de ganhar.
— Se eu for em frente com isso, com qual Ronan estarei vivendo? —
perguntei. — O Sr. Bacana ou o Sr. Negociador?
— O Sr. Bacana — respondeu Carol prontamente. — Com flashes
ocasionais do Sr. Negociador, se você tentar compartilhar o controle remoto
da TV ou jogar um videogame. O Ronan tem uma tendência competitiva
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fortíssima. Quando ele decide que quer alguma coisa, ele se prepara para
consegui-la, e não há como detê-lo.
— Felizmente, Ava não é nenhuma flor que se cheire — disse Mimi com
uma risada de deboche. — Se ela e Ronan entrarem numa batalha pelo
controle remoto, eu aposto na Ava.
— Eu tenho minha própria televisão, que vou colocar no meu quarto —
eu disse. — Nenhum conflito relacionado à TV vai perturbar nossa harmonia
conjugal.
Carol riu. — Boa decisão. Porque quando se trata de determinação, você
e meu irmão poderiam muito bem ser gêmeos. Basta pensar nisso como viver
com a versão masculina de você.
Revirei os meus olhos. — Exceto que não sou uma prostituta.
Os lábios de Carol se separaram num largo sorriso. — Se o Ronan assinar
o contrato revisado, nos próximos dois anos, ele também não vai ser.

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RONAN

Várias horas antes do prazo de 48 horas, Ava me enviou um e-mail dizendo


que havia considerado a minha proposta e que queria discutir alguns detalhes
antes de assiná-la, o que ela sugeria que ocorresse em meu escritório às 4h da
tarde.
Aliviado, disparei-lhe um e-mail de volta, confirmando a nossa reunião, e
então me dirigi ao escritório do lado para contar ao Jack.
— Boas notícias — eu disse, após entrar no escritório de Jack e fechar a
porta em seguida. — Fechei o negócio com Ava. Ela está vindo aqui às 4h
para rever alguns detalhes e assinar.
— Você é o cara — disse Jack. Ele se reclinou para trás em sua cadeira e
sorriu para mim. — Quantos caras podem dizer que conseguiram um cortejo
em 48 horas?
— Não posso levar todo o crédito por isso — eu disse enquanto me
sentava na cadeira em frente a ele. — Carol encontrou Ava, e você me ajudou
a redigir o contrato.
— Era o mínimo que eu podia fazer — disse Jack. — Graças a vocês, os
nossos problemas estão resolvidos.
— O próximo ano certamente parece muito mais fácil — concordei. —
Nos próximos dois meses, os preparativos do casamento vão consumir um
pouco do meu tempo, mas eu inventei um plano para minimizar isso.
— Qual é o seu plano? — perguntou Jack.
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— Vamos nos casar na propriedade do meu pai em Southampton — eu


disse. — Assim, Ava e eu não teremos que perder tempo procurando um
local. Vou dizer à Verônica que estamos bem com seus prestadores de
serviço e que ela e meu pai podem convidar quem lhes der na telha. Em geral,
pretendo deixar Verônica planejar esse casamento como ela bem entender e
aconselho Ava a fazer o mesmo.
— Ava vai querer escolher o seu próprio vestido — disse Jack. — Sem
mencionar as damas de honra e seus vestidos. As mulheres começam a
planejar essa merda assim que elas têm idade suficiente para virar as páginas
da Vogue.
Eu dei de ombros. — Por mim, tudo bem. A Ava tem bom gosto.
— E se você deixar Verônica lidar com a lista de convidados, você
precisa ter certeza que os convites vão para a família da Ava ou quem ela
quiser convidar — disse Jack. — Lembra como a Verônica "se esqueceu" de
me convidar para a sua festa de formatura na faculdade?
— Bem lembrado — eu disse. — Tenho que proteger a Ava da Verônica
a todo custo. Mas não tenho que me preocupar com a Verônica fodendo com
a família da Ava, porque ela não tem família. Carol me deu um resumo
quando ela estava passando a Ava para mim como minha falsa esposa.
— Não tem família? — disse Jack. — Qual é a história dela?
— Os seus pais morreram num acidente de avião quando ela era criança.
Ela era filha única, e seus avós maternos a criaram, mas sua avó morreu no
ano em que ela começou a faculdade, e seu avô, mais ou menos um ano
depois.
— Droga — disse Jack. — Isso é duro.
— É — concordei. — Posso não me dar bem com a maior parte da minha
família, mas o relacionamento com minha irmã significa o mundo para mim.
— Carol é uma ótima garota, e seu relacionamento com Aiden pode
melhorar com o tempo — disse Jack.
— Meu meio-irmão é um banana — eu disse. — Aos 25, ele ainda é um
joguete nas mãos da Verônica.
— Que feio! — disse Jack, balançando a cabeça. — Mas 25 ainda é
jovem. Não seja tão duro com o seu irmão mais novo. Ainda há tempo para
ele crescer.
— Eu não tenho expectativas — eu disse, enquanto me levantava e me
preparava para sair. — Estarei no meu escritório trabalhando na proposta da
IBM. Devo ter tempo de analisar as finanças antes da minha reunião com a
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Ava.
— Depois que Ava assinar o contrato, vamos sair para tomar um drinque?
— disse Jack. — Vamos brindar ao futuro da Kingsley Tech e ver o que as
mulheres gostosas de Manhattan têm para nós.
Fiz-lhe um sinal positivo com o polegar. — Combinado.

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10

RONAN

Quando Ava entrou no meu escritório às 4h, ela estava vestida para negócios,
trajando um elegante terno cinza-claro que realçava sua figura esbelta. Sua
saia terminava logo acima dos joelhos, e seus saltos acentuavam um belo par
de pernas tonificadas. Uma bolsa-sacola de couro preta estava pendurada no
seu ombro direito. Embora eu gostasse de mulheres louras e peitudas, Ava
era mais que atraente o bastante para fazer qualquer homem dar uma segunda
olhada.
— Obrigado por atravessar o rio e ter vindo até aqui — eu disse.
— Não se preocupe — disse ela. — Você fez a viagem da última vez,
então desta vez fui eu quem fiz.
Havia um quê de nervosismo na voz dela? Eu não tinha certeza, por isso
tentei deixá-la à vontade. A última coisa que eu queria é que ela voltasse atrás
agora.
— Sinta-se à vontade — eu disse, apontando para a cadeira em frente à
minha mesa. — Você aceita um café ou um copo d'água?
— Obrigada, mas eu estou bem — disse ela enquanto se sentava em
minha frente. — Eu gostaria de discutir sobre dois ajustes no contrato antes
de assinar.
A sua disposição de assinar foi recebida com alívio, e eu me reclinei para
trás em minha cadeira e a considerei.
— Quais ajustes você gostaria de fazer?
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— Uma exigência de nenhum sexo extraconjugal para qualquer um de


nós e sanções financeiras caso um de nós rompa o acordo.
Um aborrecimento me bateu por dentro, mas mantive minha voz calma.
— De onde vem isso, Ava? Por que você se importaria com quem eu
transo?
— Eu não me importo — ela disse friamente. — Isso não é nada pessoal.
— Nesse caso, vou repetir a minha pergunta. — De onde vem isso?
— Antes de contatá-lo para essa reunião, eu conversei com a Carol —
disse ela. — Sua irmã fez uma defesa muito convincente de que, se qualquer
um de nós fornicar por aí, principalmente você, Verônica vai acabar
descobrindo através de fofocas e vai tomar medidas para confirmar suas
suspeitas. Eu não quero que o nosso casamento falso acabe virando um
pesadelo litigioso.
Considerei a questão por um momento antes de chegar a uma decisão. —
Carol está certa quando diz que precisamos ser discretos por causa da
Verônica. Eu concordo com as sanções financeiras se qualquer um de nós for
pego com alguém. Mas isso é o máximo a que me disponho.
Ela balançou a cabeça. — Não é o suficiente.
Meu sangue esquentou. — Você não pode esperar que eu viva como um
monge por dois anos.
— Dado o que está em jogo para nós dois, não vejo outra alternativa.
— Você não está sendo razoável — eu disse. — Os homens têm
necessidades.
Seus olhos brilharam. — As mulheres também, mas ao contrário de você,
estou preparada para fazer os sacrifícios necessários para que isso funcione.
— Você perdeu o juízo — eu disse. — Eu sou um cara saudável e
excitado. Como você espera que eu viva sem sexo por dois malditos anos?
Ela olhou para mim furiosamente. — Pornografia? Uma boneca inflável?
A merda dessa mão direita talvez?
Ava não estava vendo o nosso acordo da maneira que deveria, o que me
irritou. Mas, que droga, a mulher sabia como lutar.
— Por que não simplesmente concordar em manter nossas vidas pessoais
discretas? — perguntei. — Já concordei em adicionar sanções financeiras ao
contrato, o que daria a nós dois um incentivo adicional para agirmos com
cautela.
— Arriscado demais — disse ela com desdém. — Você ouviu alguma
palavra do conselho da sua irmã? Carol tem sido mais que clara de que a sua
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madrasta vai ficar desconfiada, não importa o que a gente faça, e que ela pode
muito bem contratar detetives para nos seguir. Se Verônica conseguir uma ou
duas fotos de você com alguma piriguete aleatória e usar essas fotos para
instigar os advogados do seu pai para cima de nós, é impossível prever onde
isso vai parar.
— Isso não vai acontecer — eu disse.
— Não se você mantiver o seu bilau nas calças, mas aparentemente, essa
não é uma opção. Estou preparada para desistir de dois anos da minha vida,
mas não estou disposta a ser arrastada para um processo.
— Isso não vai acontecer — eu disse.
— Você não pode negar que poderia.
— Não vai.
Ava se levantou. — Você tem razão, Ronan. Isso não vai acontecer,
porque cheguei a um ponto final aqui. Ela enfiou a mão em sua bolsa-sacola,
retirou uma pasta que eu lhe havia dado dois dias antes e a jogou sobre a
mesa. — Aqui estão as cópias do acordo que você me deu. Desejo-lhe toda
sorte em resolver os seus problemas financeiros. Mas preciso encontrar uma
maneira diferente de resolver os meus.
E com isso, ela se virou e caminhou em direção à porta. Senti um aperto
no peito e a sensação de que minhas esperanças estavam partindo com ela.
— Espere um minuto, Ava — eu disse.
Ela parou e se virou para mim. — Para quê diabos?
— Me dê um minuto para pensar — eu disse.
Eu poderia assinar, desistindo da minha vida por dois anos? Se não o
fizesse, estaria de volta a um pântano de problemas financeiros, duas horas
depois que eu havia dito ao Jack que tudo estava sob controle.
Eu não tinha tempo de procurar outra falsa esposa, e mesmo que tivesse,
seria quase impossível encontrar uma que fosse tão ideal quanto Ava. E se as
coisas desmoronassem com ela, eu não poderia mais confiar na ajuda da
minha irmã para encontrar outra mulher para me casar. Carol me culparia por
estragar as coisas com Ava, e ficaria furiosa comigo.
Muita coisa estava em jogo, e com o tempo se esgotando, estava na hora
de agir como homem.
Então eu me fiz de aço para aceitar o negócio mais indesejado da minha
vida.
— Volte e sente-se, Ava — eu disse. — Vamos conversar sobre os
ajustes do contrato.
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— Meus ajustes não são negociáveis — disse ela.


— Você tem um rascunho do contrato com você?
— Tenho.
— Posso ver?
Ela caminhou de volta para a minha mesa, tirou uma pasta da bolsa e a
entregou para mim. — Incluí duas cópias, uma para cada um de nós. O
requisito de não ter sexo casual está na página 4, e as sanções financeiras
foram adicionadas à cláusula de encerramento no final do contrato.
— Sente-se — eu disse. — Vai levar um minuto para ler isso.
Ava se empoleirou na cadeira em minha frente, e à medida que eu lia as
mudanças no contrato, senti um aborrecimento saindo dela em ondas.
Quando jantamos juntos, suspeitei que ela poderia ter um lado agressivo, mas
eu não esperava que uma mulher que vivia de arranjar flores negociasse tão
agressivamente. Aparentemente, eu estava lidando com uma magnólia de aço
da vida real. Ela provavelmente era dessas que poderia maltratar um punhado
de rosas sem sentir as picadas dos seus espinhos.
Sua exigência de não ter sexo casual era direta, mas quando eu li as
revisões na cláusula de encerramento, caí de costa. Além de atribuir sanções
financeiras pesadas para qualquer um que viesse a romper o acordo, ela
adicionou um parágrafo exigindo que eu a isentasse de qualquer
responsabilidade no caso de quaisquer processos decorrentes de um
rompimento da minha parte. Eu não só teria que retribuir qualquer parte do
dinheiro que tivesse sido retirado dela, mas também pagar seus honorários
com advogado e compensá-la por qualquer tempo perdido no trabalho.
A bruxinha tinha pensado em tudo, e eu olhei para ela com renovado
respeito.
— O parágrafo abordando possíveis processos é desnecessário — eu
disse. — Sou um homem de palavra, e se eu me comprometer a renunciar às
mulheres de Manhattan nos próximos dois anos, você pode confiar em mim,
pois é exatamente isso que eu vou fazer.
— Besteira — disse ela. — O seu histórico indica o contrário.
— Eu nunca deixei de cumprir uma promessa em toda a minha vida — eu
disse.
— Ela me deu um olhar delicado. — Talvez não, mas você nunca
prometeu manter as suas calças no corpo, prometeu?
Mais uma vez, ela venceu, e como eu já havia me comprometido a assinar
o contrato, abrindo mão da minha vida, eu me resignei ao inevitável.
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— Muito bem — eu disse. — Vou concordar em deixá-lo, porque é um


ponto discutível, afinal de contas. — Vou cumprir minha palavra, e não
haverá nenhum processo judicial.
— Espero que não — disse ela. — Mas se o seu bilau nos arrastar para o
tribunal, você é quem vai bancar a conta.
Graças a ela, o meu pau estava prestes a ficar trancado por dois anos, o
que era uma situação inimaginável para mim. Mas eu precisava salvar a
Kingsley Tech, e se isso significava reavivar minha relação com a mão
direita, então era isso que eu tinha que fazer.
Peguei uma caneta e assinei as duas cópias do contrato revisado, antes de
entregar a caneta e os contratos para ela. — Pronta para assinar?
Por um longo momento, ela ficou só olhando para mim.
— O que é agora? — perguntei. — Tendo dúvidas se vai assinar o seu
contrato revisado?
Os olhos dela diminuíram. — De modo algum — disse ela, antes de se
inclinar para a frente, assinar ambas as cópias e deslizar uma sobre a mesa
para mim, colocando a outra em sua bolsa.
Aliviado que o negócio foi feito, eu me reclinei para trás em minha
cadeira. — Então — eu disse — temos um acordo, que exige que você se
mude para o meu apartamento dentro de uma semana. Assim que você se
mudar, vou anunciar o nosso noivado a meu pai e minha madrasta.
Ela me corrigiu com um olhar. — Antes de me mudar, você tem mais um
pedaço de papel para assinar — disse ela. — Meu cheque de 50 mil dólares.
E mais uma coisa, Ronan.
— O que é?
— Não seja mão de vaca na hora de comprar as alianças.

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11

AVA

Uma semana depois

— Isso deve funcionar — disse Carol com um ar de satisfação ao ajustar a


posição de uma lâmpada numa mesinha de sofá. — Transformamos o quarto
de hóspedes monótono do Ronan num espaço legal e atraente onde você pode
relaxar, e embora o banheiro não seja tão agradável quanto o do quarto
principal, ele é adequado.
— É mais agradável que qualquer lugar em que eu morei — eu disse,
enquanto recuei e fiz uma lista mental das mudanças que tínhamos feito nos
últimos dias. Por insistência de Carol, eu havia escolhido um verde musgo
suave para as paredes, nas quais penduramos várias de suas pinturas abstratas
com cores muito vivas. Tínhamos trocado o jogo de quarto original por um
sofá Chesterfield bege de couro rodeado de mesinhas de sofá branco antigo,
cujos acabamentos eram quase uma combinação perfeita para a peça de
mobília que eu havia trazido do meu apartamento, a escrivaninha xerife que
tinha pertencido à minha avó. Além da escrivaninha, da minha televisão e de
alguns dos meus livros favoritos, praticamente todo o resto tinha sido doado à
Godwill, uma vez que nenhum deles valia a pena o que custaria para
armazenar por dois anos.
— O seu conceito foi preciso — eu disse. — Apesar de parecer um sofá,
o sofá-cama é superconfortável, e com o sofá-cama e um otomano
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combinando em frente à televisão, o quarto dá a impressão de ser um espaço


para onde eu posso me retirar quando Ronan tomar conta da sala de visitas
para assistir futebol.
— E atirar em zumbis com o volume no máximo — disse Carol. — Ele
diz que jogar videogames o relaxa, o que é um mistério para mim. O que
poderia ser relaxante em ficar atirando em três monstros e fugindo de seis
mais?
— Eu meio que entendo — eu disse. — Videogames não fazem o meu
gênero, mas são uma forma de liberar o estresse.
— Suponho que sim — disse Carol. — Agora que terminamos aqui,
vamos rever nossa camuflagem do resto do apartamento antes de eu voltar
para casa à noite. Temos que ter certeza que não nos esquecemos de nada.
Eu a segui pelo corredor que dava para a sala principal do amplo loft de
Ronan. Quando passamos pela sua sala de treino, que estava fechada, o
zumbido ritmado que vinha através de trás da porta me dizia que ele estava se
exercitando em seu equipamento de remo.
— Os vasos de flores frescas foram um toque de gênio — disse Carol ao
entrarmos na área de estar. — Eles dão um toque de cor e mostram que há
uma mulher morando aqui.
— Eu queria contribuir com algo — eu disse. — A conta desse
casamento falso só continua aumentando, e Ronan ainda tem que colocar
uma pedra no meu dedo.
— Uma pedra grande — disse Carol. — Não há como fazer isso pela
metade.
— Eu disse o mesmo ao Ronan quando assinamos a papelada —
concordei.
Ela riu. — Você não disse!
— Disse. Dados os problemas financeiros do Ronan, quero manter o
nosso casamento o mais barato possível, mas aquele diamante é um
investimento em convencer Verônica que o Ronan está apaixonado por mim.
Ele pode vender a aliança e reaver o seu dinheiro quando eu devolvê-la daqui
a dois anos.
— Fazer o mínimo não é uma boa ideia — disse Carol. — Já que estamos
falando de um casamento falso, não há melhor disfarce que um grande
casamento de branco.
— Você já prometeu ser minha dama de honra, e imagino que o Ronan
vai pedir ao Jack para ser seu padrinho — eu disse. — Não há necessidade
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alguma de um séquito de padrinhos e damas de honra.


— É bom manter a cerimônia breve e simples — disse Carol. — Todo
mundo odeia longas cerimônias, afinal de contas. Mas a recepção e o jantar
precisam ser épicos. Se você e o Ronan derem uma festa que impressione os
amigos de sociedade da Verônica, isso contribuiria muito para convencê-la
que o casamento é verdadeiro. Se vocês conseguirem usar o casamento para
levá-la a essa conclusão, os próximos dois anos vão ser muito mais fáceis
para você e o Ronan.
— Então vou dar o melhor de mim para chegar lá — eu disse. — Se tem
algo que eu sei, é como dar uma boa festa. Entre minha carreira como florista
e os serviços de bufê que fiz durante a faculdade, participei de centenas de
casamentos.
— Verdade — disse ela. — É por isso que eu sei que você manja disso.
— Pelo menos a parte do casamento — eu disse. — Graças a dez anos
suando sobre flores murchas, bandejas de comida morna e testemunhando
momentos de noiva exigente.
— É melhor você mesma planejar alguns deles — disse Carol. — Você
não tem que ser um noiva totalmente exigente, mas realmente tem que
colocar o seu carimbo nesse casamento, principalmente porque casamentos
são parte do seu trabalho. Se não, as suspeitas da minha madrasta vão atingir
o auge.
— Você tem razão — eu disse. — Vou dar um jeito de colocar o meu
carimbo no casamento. Embora eu tenha certeza que não vai ser fácil.
— Não pense demais — disse Carol. — Dê um passo de cada vez,
concentre-se no objetivo e lembre que você tem o meu apoio.
— Agradeço a Deus por isso — eu disse, ao entrarmos na suíte de Ronan.
Mobiliado com uma cama de casal king em estilo trenó, mesinhas de sofá
combinando e várias pinturas abstratas grandes que eram obras de Carol, o
quarto principal ficava no final de um corredor curto que ligava áreas
separadas com vestiários duplos, armários e banheiros. Hoje cedo, Carol e eu
tínhamos comprado duplicatas de muitos dos meus artigos de higiene e
maquiagem, que nós usamos para camuflar o banheiro, que agora era
supostamente meu, e a maior parte do meu guarda-roupa agora ocupava o
vestiário adjacente.
Carol entrou no vestiário, que continha uma alcova com um balcão, uma
cadeira e um espelho bem iluminado para aplicar maquiagem.
— Esse cômodo precisa de alguns retoques finais — disse ela, enquanto
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olhava ao redor. — Precisamos que pareça que você o esteja usando.


Entrei no banheiro, abri a gaveta onde havia guardado minha maquiagem
e agarrei dois punhados de objetos, antes de voltar ao vestiário, onde os
arrumei sobre o balcão abaixo do espelho.
— Que tal? — perguntei.
— Ótimo — disse ela. — Mas eu tenho uma outra ideia que vai torná-lo
ainda mais convincente.
Ela abriu uma das gavetas, vasculhou o seu conteúdo e tirou um roupão
de banho de seda e um sutiã preto rendado. Drapejou o roupão sobre a parte
traseira da cadeira e, em seguida, jogou o sutiã sobre o assento.
— Pronto — disse ela. — Sempre deixe algo para a empregada pegar.
Empregados sabem de tudo, mas você não pode necessariamente confiar
neles.
— Eu não sabia que Ronan tinha empregada — eu disse.
— Só uma por meio período — disse Carol. — Josefina vem duas vezes
por semana por algumas horas, e a única vez que a vi, ela me pareceu ser uma
pessoa muito legal. Não que eu ache que ela não seja digna de confiança ou
algo assim, eu só não a conheço bem o suficiente para ter certeza como ela
reagiria se Verônica a questionasse e oferecesse um punhado de dinheiro em
troca de informações.
— Nós falamos principalmente da sua madrasta — eu disse. — Embora
ela provavelmente seja a que mais causa problemas, que tal o seu pai e seu
meio-irmão Aiden? Que tipo de recepção devo esperar deles?
— Meu pai é um homem muito ocupado — disse Carol. — No início, ele
simplesmente vai aceitar o seu noivado sem pestanejar. Aiden é um pirralho,
mas devido à sua existência mimada, ele é um jovem de 25 e não tão
experiente como ele pensa que é.
— Então o seu pai provavelmente não é o problema — eu disse. — Pelo
menos não inicialmente. E Aiden não parece muito difícil de lidar.
— Além do comentário ocasional inoportuno, ele não é — disse Carol. —
Dito isso, tudo que Aiden vê ou ouve chega aos ouvidos da Verônica à
velocidade da luz, por isso você precisa ficar de anteninha ligada quando ele
estiver por perto. — Ela olhou para o seu relógio de pulso. — São quase 8
horas e eu preciso ir para casa, mas me ligue de manhã. Eu sei que você está
planejando trabalhar na Oásis amanhã, mas pelo menos a gente pode se falar
por telefone.
— Ligo, sim — eu disse, dando-lhe um forte abraço. — Obrigada por
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tudo.

Depois que Carol partiu, voltei ao vestiário para pegar algumas peças de
roupa das quais eu precisaria hoje à noite e amanhã de manhã. Com a partida
de Carol e terminada a pressa em camuflar o apartamento, tomei consciência
da realidade do meu compromisso. Embora eu tivesse passado a maior parte
dos últimos três dias no apartamento de Ronan, hoje seria a primeira noite
que eu ia dormir aqui, e a percepção de quanto a minha vida estava prestes a
mudar não era algo fácil de entender.
Não mais fácil que entender o próprio Ronan. Nos últimos três dias, em
sua maior parte, ele havia ignorado nós duas (Carol e eu) até ontem à noite.
Quando estávamos dando os retoques finais na última camada de tinta em
meu quarto, Ronan apareceu com sacolas de comida tailandesa picante e
saborosa, que nós três comemos juntos enquanto conversávamos animados
sobre a probabilidade de os Yankees ganharem a Série Mundial este ano.
Ontem à noite, eu tinha sentido o calor da sua atenção e percebi porque
tantas mulheres caíam aos seus pés, e em sua cama. Além de sua boa
aparência, de fazer Henry Cavill entrar na corrida pelo dinheiro, o homem
conseguia encantar até mesmo uma serpente. Quando ele chegou com a
comida, eu estava exausta e coberta de tinta, mas em questão de minutos ele
me fez rir e relaxar.
Mas esta manhã quando cheguei ao apartamento para me encontrar com
os homens que iam fazer a entrega dos móveis, ele foi áspero a ponto de ser
rude e saiu do apartamento antes mesmo de a entrega ser concluída.
O homem era um enigma. Uma contradição viva e ambulante. E eu tinha
me inscrito para viver com ele e fazer o papel de falsa esposa por dois anos.
Naquele exato momento, ele apareceu na entrada do vestiário. Foi a
primeira vez que eu o via sem camisa, e a cena disparou uma seta inesperada
de lascívia em minha virilha.
Vestido num moletom azul-marinho que pendia baixo em sua cintura
sarada, o suor em sua testa e a umidade do seu cabelo escuro testemunhavam
o quão extenuante seu treino havia sido. O calor e um cheirinho almiscarado
de homem atingiram as minhas narinas, e meus lábios se separaram à medida
que eu vislumbrava os músculos grossos e bem definidos dos seus ombros e

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do seu peito, que estampavam um brilho claro de suor. Os meus olhos


baixaram, seguindo as ondulações do seu abdômen trincado e o rastro de pelo
que ia para baixo, quando me dei conta e desviei o olhar da mala
generosamente distribuída que o seu moletom fazia pouco para ocultar.
Com as mãos instáveis, retomei o trabalho de empilhar as roupas que eu
tinha vindo aqui para pegar, esperando que ele não tivesse me visto olhando
para si boquiaberta.
— Gostou do que você está vendo? — perguntou.
Irritada por ele haver me flagrado, fui obrigada a olhar para os seus olhos.
— Parece que você malhou até suar.
Sua expressão me dizia que ele não havia se convencido com o meu
pretexto. — Não é esse o motivo de malhar?
Torci o meu nariz para ele. — Você poderia seriamente tomar um banho.
— É para onde estou indo agora — disse ele. — Antes que eu vá, o meu
apartamento já é bonito o suficiente para você? Você e minha irmã estão
nisso há três dias.
Meu aborrecimento aumentou. Eu e Carol tínhamos trabalhado feito
loucas para camuflar o apartamento, e ele nem sequer levantou um dedo para
ajudar. Pelo contrário, além da noite em que ele se dignou a aparecer com a
comida, o homem estava vivendo a vida como se nada fora do comum
estivesse acontecendo ao seu redor.
— Eu e Carol terminamos — eu disse. — Se você terminou de malhar
sua tensão sexual, talvez gostaria de olhar o que nós fizemos no quarto de
hóspedes.
Ele se encostou na moldura da porta e olhou para mim. — Aquele com a
cama de pregos que eu comprei para você?
Algo estalou dentro de mim. — É esso mesmo, Ronan — eu disse
docemente. — O próprio. E obrigado pela janela que você colocou no
banheiro. Muito gentil da sua parte.
Um sorriso lento se espalhou pelo seu rosto, e ele lançou uma risada. —
Você é rápida.
— Infelizmente, quando se trata da sua reputação, ouvi dizer o mesmo
sobre você.
Seus olhos se estreitaram e seu sorriso desapareceu. — Infelizmente para
você, Ava, descobrir a verdade não faz parte do nosso contrato.
— Se fizesse, eu não teria assinado.
— A perda é sua — disse ele, antes de virar as costas e desaparecer no
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vestiário. Um segundo depois, uma porta fechou com força e a água foi
ligada.
Agarrei minha pilha de roupas, deixei a suíte principal, voltei ao meu
quarto e fechei a porta em seguida, antes de jogar a roupa sobre o otomano e
cair na minha cama, minha "cama de pregos" como Roman chamou.
Cama de pregos realmente. Quando assinei o contrato com ele, eu
acreditava que havia contraído um acordo de casamento com um cara legal,
por quem eu me sentia levemente atraída. Nada especial, apenas o cheiro de
lascívia que qualquer mulher cheia de vida sentiria por um homem tão bonito.
A última coisa que eu precisava era um caso de tesão pelo meu futuro
marido falso. Além do seu histórico como prostituto convicto, nós dois
simplesmente não nos dávamos bem. Embora Ronan fosse mais que capaz de
encantar com seu charme, ele também podia ser abrasivo e difícil.
O que eu havia sentido no vestiário não seria nada mais que a
consequência de anos de celibato e um confronto súbito e inesperado com um
homem seminu mais quente que o inferno?
Com todo o meu coração, eu esperava que fosse.

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12

RONAN

Depois de entrar no elevador do prédio em que eu morava, apertei o botão


para o décimo segundo andar e me preparei para a noite que estava por vir.
Estava na hora de seguir em frente com o anúncio do noivado ao meu pai, e
antes de fazer aquele telefonema, eu precisava ensaiar esse próximo passo
com Ava.
Na semana passada, o tempo que passei com ela me levou a algumas
novas conclusões. Por um lado, eu tinha escolhido a falsa esposa perfeita. Ela
era inteligente; aparentava bem e se vestia para o papel; e para uma mulher,
não era de alta manutenção. Ela e Carol fizeram um alarido em relação a
preparar o quarto de Ava, mas elas mesmas acabaram fazendo o trabalho,
sem tentarem me arrastar para ele. Quando terminaram, o quarto realmente
parecia melhor, e desde a mudança de Ava há quatro dias, ela havia passado a
maior parte do tempo na sua floricultura ou no seu quarto. Eu não era louco
pelo seu hábito de posicionar vasos de flores pelo apartamento, mas as flores
eram sua praia, e eu não estava prestes a entrar numa briga por algo tão
trivial.
Principalmente quando tantas de nossas interações não haviam terminado
bem. Minha primeira impressão do temperamento impetuoso de Ava provou
ser verdadeira, e uma vez que o seu temperamento estivesse alterado, o céu
era o limite. Meus lábios se curvaram quando me lembrei de como ela havia
reagido quando a flagrei olhando para a minha mala. Homens e mulheres
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olham uns para os outros o tempo todo, e eu não tinha visto nada de mais no
olhar de Ava, mas não pude resistir à tentação de importuná-la com isso, não
depois de flagrar seu meio-olhar.
Não que eu não tivesse olhado para ela também, claro que tinha. Eu
simplesmente era melhor em não me deixar ser pego. Apesar de sua figura
esbelta, Ava tinha um corpaço. Se tivéssemos nos conhecido em
circunstâncias diferentes, eu já a teria seduzido, mas já que estávamos
morando no mesmo apartamento, o sexo sujaria as águas já turvas em que eu
havia me metido com o nosso acordo de casamento falso. Não importa o
quanto minhas bolas estivessem doloridas nos próximos dois anos, sexo com
minha futura esposa não era uma opção.
Conforme o elevador foi parando, enfiei a mão no bolso do paletó, toquei
na caixa do anel de noivado que eu havia escolhido na Harry Winston e
foquei no meu plano para a noite.
Eu abriria a conversa presenteando Ava com o anel, o que deveria agradá-
la, dado o seu comentário irritante sobre não ser mão de vaca quando
assinamos nosso contrato. Não que o seu comentário tivesse algo a ver com
os mais de cem mil dólares que gastei no anel; era um investimento no
lançamento bem-sucedido do nosso falso casamento.
Depois de crescer em torno da minha madrasta e do seu círculo de víboras
com cara de Botox, eu sabia muito bem que quando Verônica e suas
amiguinhas pusessem os olhos naquele anel, o número de quilates e o nome
do designer guiariam sua impressão inicial sobre Ava. Não havia como
proteger Ava completamente da manopla que ela estava prestes a encontrar,
mas eu pretendia dar-lhe tanta armadura quanto pudesse. Hoje à noite, isso
significava dar-lhe o anel e repassar os preparativos do casamento que eu
planejei para nós.
Quando o elevador se abriu, saí, caminhei até a porta, abri-a e entrei na
antessala escura. A luz brilhava para além da sala de estar, e quando cheguei,
Ava estava na cozinha, pegando um copo de água. Seu suéter verde com
zíper frontal marcava suas curvas; as calças de ioga escuras e justas exibiam
suas longas pernas delgadas; e com as costas viradas para mim, a sua bunda
empinada estava em plena vista.
— Oi, Ronan — disse ela, voltando-se para mim. — Como foi o seu dia?
— Rotina em sua maior parte — eu disse. — Você tem tempo para
conversar, talvez enquanto tomamos uma taça de vinho?
— Claro — disse ela.
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Larguei minha maleta e afrouxei a gravata, antes de atravessar a cozinha


em direção ao rack de vinho e tirar uma garrafa de Barolo, que abri, enquanto
Ava pegava duas taças. Depois de encher as taças e entregar uma a ela, nos
dirigimos à sala de visitas, onde me sentei em minha poltrona favorita.
Ava sentou-se no sofá em minha frente e enfiou os pés descalços debaixo
das coxas. — Imagino que precisamos falar sobre o anúncio do nosso
noivado — disse ela.
— Precisamos — eu disse, levantando a minha taça em sua direção. —
Mas antes de entrar no assunto, saúde!
— Saúde! — disse ela, antes de provar o vinho. — Mmmm ... que
gostoso.
— Barolo é um dos meus vinhos favoritos — eu disse. Enfiei a mão que
estava livre no bolso do paletó, retirei a caixa do anel e a entreguei para ela.
— Comprei um anel de noivado hoje.
Ela pôs a taça sobre a mesa e pegou a caixa azul escura da minha mão. —
Harry Winston — disse ela. — Eu sei que eu disse para você não ser mão de
vaca, mas não precisava ir tão longe.
— Abra a caixa e dê uma olhada — eu disse.
Quando ela abriu, seus olhos se arregalaram. — É deslumbrante, Ronan.
É o anel mais lindo que eu já vi! Mas você deveria devolvê-lo. Algo metade
do seu tamanho seria impressionante o suficiente, e deve ter sido supercaro.
Eu sorri para ela. — Foi, mas também envia a mensagem certa.
— Suponho — disse ela. — Mas você não pode pagar isso agora. Não
com seus desafios financeiros, sem falar no dinheiro que você está me
pagando.
A preocupação de Ava me surpreendeu. Ela não tinha sido nada senão
durona quanto aos aspectos financeiros do nosso acordo, e eu não estava
acostumado com ninguém, além de Carol e Jack, se preocupando comigo. —
Não se preocupe com o dinheiro — eu disse. — Quando estivermos casados
e eu tiver acesso à minha herança, terei mais do que eu preciso. Agora,
experimente o anel.
Ela balançou a cabeça. — Eu vou usá-lo quando você me apresentar ao
seu pai e à sua madrasta, é claro. Mas é valioso demais para usar em casa.
Pus a taça de vinho sobre a mesa, inclinei-me para a frente e tomei a sua
mão esquerda. Como ela, suas mãos eram elegantes, com dedos longos e
finos. Por um segundo imaginei como aquelas mãos se sentiriam envoltas em
meu pau, até que um censor interno ligou-se e pintou um enorme X vermelho
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sobre aquela imagem.


— Está no seguro — eu disse, enquanto tirei o anel da caixa e o deslizei
no seu dedo anelar. — Você precisa se acostumar a usá-lo.
Ava levantou a mão e a virou de um lado para o outro por alguns
momentos, admirando os brilhantes. Em seguida, ela pegou a sua taça e olhou
para mim. — Me diz quais são os seus planos para anunciar o nosso noivado.
— Vou ligar para o meu pai amanhã — eu disse. — Vou contar a ele
sobre o nosso noivado. Também direi a ele que queremos nos casar na
propriedade de Southampton no início de maio. Assim que eu soltar essa
bomba, você e eu precisamos estar preparados para responder a perguntas
sobre os nossos planos de casamento.
— A primeira pergunta que todos vão fazer é como nos conhecemos —
disse Ava. — Felizmente, a nossa história não precisa se desviar tanto da
verdade.
— Concordo. Você é a antiga colega de quarto de faculdade da Carol, e
ela nos apresentou. Só precisamos pré-datar essa apresentação em alguns
meses.
— Estamos em março, então por que não dizemos que nos conhecemos
na festa de Ano Novo da Carol? — Ava sugeriu. — Eu estava naquela festa,
e bem mais de cem pessoas devem ter entrado e saído ao longo da noite;
quem pode dizer que você não era uma delas?
Eu sorri para ela. — Na verdade, eu estava. Cheguei lá muito tarde,
quando quase todos tinham ido para casa.
— Eu mesma fiquei até muito tarde — disse ela. — Por pouco não nos
encontramos.
— É melhor manter a história simples e fácil de lembrar — eu disse. — A
gente se conheceu na véspera de Ano Novo, se apaixonou rápido e
loucamente, eu propus o casamento na semana passada e você aceitou.
— Simples demais — disse Ava. — Nossa história precisa soar como um
romance turbilhão, não um resumo de negócios. Devemos fazer um
brainstorm dos detalhes juntos.
— Que tipo de detalhes? — perguntei.
— O tipo de coisas que as pessoas se lembram quando encontram o amor
da sua vida.
Fiz um sinal de reprovação para ela. — Você está me pedindo para
inventar uma merda sentimental? Porque se estiver, você está falando com o
cara errado.
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— Não tem que ser piegas — disse ela. — Os detalhes que fazem a nossa
história parecer real podem ser engraçados ou pessoais. O que você se lembra
dos momentos decisivos da sua vida, como o dia em que se formou na
faculdade, ou o dia em que começou o seu negócio?
Eu dei de ombros. — Não muito. Não sou um homem de detalhes.
— Que tal assim? — ela perguntou. — A gente se conheceu na festa da
Carol. Conversamos sobre nossos filmes favoritos, e apesar de termos
acabado de nos conhecer, sentimos como se nos conhecêssemos fazia um
século. No final da noite, quando chegou a hora de eu ir embora, você me
pediu para jantar com você no Blacktail na noite seguinte, e eu concordei.
— Claro que concordou — eu disse. — De acordo com a sua história, eu
tinha acabado de passar a noite encantando a sua calcinha.
Ela me deu um olhar exasperado. — Coloque o seu ego de lado e me
deixe terminar. No dia seguinte, Ano Novo, sentimos que era o dia mais
longo das nossas vidas, porque eu e você estávamos contando os minutos que
faltavam para as 8h da noite, quando iríamos nos ver de novo. Quando nos
conhecemos no Blacktail, nós dois pedimos lombo e dividimos um prato de
batatas fritas. Você tomou um uísque escocês, e eu, um martíni.
— Entendo aonde você está querendo chegar — eu disse. — Você está
baseando a história em nosso jantar de verdade.
— É mais fácil de lembrar se nos mantivermos próximos da verdade —
disse ela. — Durante o jantar, as horas voaram. Conversamos sobre tudo a
que tínhamos direito, nenhum de nós queria que a noite terminasse, até que o
restaurante estava prestes a fechar no final da noite. Depois que saímos do
Blacktail, você me acompanhou até o metrô. Era uma noite tranquila, e
alguns flocos de neve dispersos dançavam no ar ao nosso redor quando você
me beijou pela primeira vez fora da estação Broad Street.
— Acabou?
— Acabei — disse ela. — O que você acha da minha história?
— Soa como um filme meloso.
Ela revirou os olhos. — Soa romântica e mais crível que a sua versão
apressada de como nós supostamente nos apaixonamos.
— Tudo bem — eu disse. — Vamos com a sua versão. Agora que
resolvemos isso, vamos aos planos do casamento. Casar na propriedade de
Southampton significa que não teremos que procurar um local, e o meu pai
ficará contente por querermos nos casar lá. No entanto, Southampton também
significa que vamos ter que lidar com Verônica.
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Ava acenou com a cabeça. — Carol me contou como sua madrasta pode
ser difícil. Definitivamente precisamos ter certeza que estamos na mesma
página antes de falar sobre planos de casamento com ela.
— Já pensei nisso — eu disse. — Devemos manter a cerimônia simples.
— Concordo. Carol vai ser a minha dama de honra, e presumo que Jack
vá ser o seu padrinho. Podemos aceitar quem quer que sua família prefira
como reverendo ou padre; não precisamos de uma festa nupcial completa, e
eu não preciso que ninguém me acompanhe até o altar.
Peguei minha taça de vinho, relaxei-me contra a cadeira e provei o
Barolo. Até agora, a nossa conversa estava indo bem. Além dos enfeites em
nossa história, Ava tinha concordado com tudo que eu havia sugerido.
— De volta à Verônica — eu disse. — A melhor maneira de lidar com a
minha madrasta é deixá-la fazer as coisas do seu jeito desde que não interfira
no que nós queremos.
Os olhos de Ava brilharam de humor. — Uma boa receita para lidar com
qualquer um.
— Imagino que Verônica vá insistir numa grande festa nupcial — eu
disse.
— Então vamos insistir no contrário.
— Ela vai querer supervisionar a lista de convidados e a recepção — eu
disse. — O jeito mais fácil nisso tudo é deixá-la assumir o comando.
— Esse pode ser o jeito mais fácil — disse Ava. — Mas não é o melhor.
— Por que não?
Ela franziu o rosto para mim. — Aparências, é claro.
— Minha madrasta é a rainha das aparências. Ela vai convidar seus
amigos socialites; vai aproveitar a oportunidade para impressioná-los, e para
esse fim, ela vai assegurar que a recepção seja deslumbrante e a comida,
excelente.
— Não é isso que eu quis dizer com aparências — disse Ava.
— Então o que diabos você quis dizer?
Ela me corrigiu com um olhar. — Pense como uma mulher, Ronan; você
certamente dormiu com um número suficiente delas. Considere o simbolismo
do que você acabou de propor.
— O que eu propus faz perfeito sentido — eu disse. — Um casamento
simples que não vai exigir tempo demais para ser organizado.
O que você propôs é uma via de mão única para o desastre. Precisamos
nos envolver.
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Irritado com sua resistência, eu a interrompi. — Eu tenho um negócio


multimilionário para administrar. Talvez a sua agenda ocupada permita
provar vinte tipos de bolo, mas a minha não.
Suas narinas delicadas cuspiram fogo. — Então você vai ter que
encontrar tempo.
— Me dê um bom motivo.
— Eu ia dar, mas você me interrompeu.
— Vá em frente — eu disse. — Me ilumine.
— Vou tentar — disse ela. — Embora eu duvide que jogar luz na pedra
cheia de testosterona que você chama de cérebro possa produzir qualquer
coisa semelhante a iluminação.
Minha irritação aumentou. — Tente a lógica. Embora ela seja claramente
um conceito alienígena a você e a toda mulher do planeta.
Ela olhou para mim furiosamente. — As mulheres são tão lógicas quanto
os homens, em todos os aspectos.
— Discordo.
— Claro. Porque você é um porco chauvinista. Uma espécie que só sabe
pensar em linha reta. As mulheres conseguem fazer malabarismos com
pensamentos múltiplos ao mesmo tempo. Pensamos de uma forma holística.
— Isso é besteira da nova era.
— Na verdade, é ciência. Procure no Google.
Com esforço, contive o meu temperamento. — Tenho coisas melhores
para fazer com o meu tempo. Me diz por que você não quer deixar a
Verônica fazer a recepção do jeito dela.
— Deixar a sua madrasta assumir o controle só vai aumentar suas
suspeitas — disse Ava. — Se não demonstrarmos interesse e envolvimento
em planejar cada detalhe do que se supõe ser o nosso grande dia, é melhor
escrever "casamento falso" em nossas testas.
Meu estômago embrulhou. Como eu poderia não ter enxergado isso
antes? Eu estava tão focado na logística de realizar um casamento juntos em
seis semanas que eu não tinha parado para pensar como minhas tentativas de
racionalizar esse processo pudessem aparentar para os outros, principalmente
Verônica, que iria se aproveitar de qualquer oportunidade para questionar os
meus motivos. Por mais que eu odiasse admitir, Ava estava certa.
— Entendo o seu ponto — eu disse.
Ava sorveu o seu vinho. — Espero que sim. Permitir que Verônica
gerencie o nosso casamento é como acenar uma grande bandeira vermelha a
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um touro que já plantou seus chifres na sua bunda.


Nessa eu me fodi.
Caí de volta em minha cadeira e me resignei a passar as próximas seis
semanas provando bolos, fingindo interesse em arranjos florais e lidando com
a megera da minha madrasta. O que importa? Para salvar a minha empresa,
eu já tinha assinado a renúncia à minha vida sexual e me comprometido a
viver com uma mulher que eu mal conhecia. A essa altura, a minha vida não
podia piorar.
— Manda ver na merda do casamento — eu disse. — Vou fazer o meu
melhor para desempenhar o papel.
Uma evidente surpresa estampou-se no rosto de Ava. — Você está
concordando comigo?
— Estou. Eu esperava poupá-la de lutar contra Verônica sobre os arranjos
do casamento, mas depois das questões que você levantou, não vejo como
evitar essa luta. Há muita coisa em jogo para colocarmos tudo a perder.
A expressão de Ava suavizou. — Agradeço por você estar tentando
facilitar as coisas para mim.
— É o mínimo que posso fazer — eu disse. — Dependendo do dia, aturar
minha madrasta pode ser qualquer coisa entre infernal e suicida.
— Não se preocupe comigo — disse ela. — Eu já lidei com minha quota
de pessoas difíceis. Se trabalharmos juntos, podemos superar isso. Em
qualquer caso, não há como evitar Verônica.
— Não — eu disse. — Infelizmente, não há.

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13

RONAN

Naquele fim de semana, acordei às 10h da manhã do sábado com uma


sensação de bem-estar que estivera ausente da minha vida nos últimos meses.
Na noite anterior, eu havia contado ao meu pai sobre o meu noivado e
garantido sua permissão para realizar o casamento na propriedade de
Southampton, e depois que a conversa terminou, decidi tirar um dia de folga
para mim. Com meus planos de casamento em dia e minhas finanças nos
trilhos rumo a uma resolução bem-sucedida, eu merecia uma folga.
Eu me sentei na cama, balancei os pés até o chão e fui para o banheiro.
Tendo esvaziado a bexiga, jogado água no rosto e escovado os dentes,
antecipei que teria um dia descontraído pela frente.
Eu prepararia um café da manhã gigante e assistiria às notícias. Então
jogaria meu videogame favorito por uma ou duas horas. À tarde, malharia ou
talvez ligaria para o Jack para ver se ele queria se encontrar para alguns
drinques à noite. Eu podia ter assinado a renúncia à minha vida sexual, mas
ainda podia olhar, e beber um ou dois uísques com o meu melhor amigo.
Depois de sair do banheiro, vesti um moletom e uma camiseta e me dirigi
para a cozinha. Quando cheguei à sala de estar, Ava estava sentada no sofá
com uma xícara de café na mão, assistindo à CNN. Vestida casualmente de
jeans escuros e uma blusa branca, o seu rosto estava sem maquiagem, mas ela
ainda tinha uma boa aparência. A maioria das mulheres não conseguiriam
aparecer de cara lavada, mas com seus lábios cheios, feitios delicados e olhos
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com cílios longos e escuros, Ava era uma das poucas que conseguiam.
Quando ela me viu, pegou o controle remoto e zerou o volume da
televisão. — Bom dia — disse ela. — Há café fresco se você quiser.
— Obrigado — eu disse. — Aceito.
Entrei na cozinha, enchi uma xícara de café para mim e adicionei um
pouquinho de leite antes de voltar para a sala para conversar com Ava. O café
da manhã podia esperar até que eu a atualizasse com relação à conversa de
ontem à noite com o meu pai.
— Papai finalmente me ligou de volta ontem à noite — eu disse.
— Como foi? — ela perguntou.
Sentei-me na minha poltrona. — Conforme o esperado. Contei a ele sobre
o nosso noivado e que queremos nos casar em Southampton em 7 de maio.
Ele aceitou tudo.
— Sem interrogatório? — perguntou Ava.
— Papai não faz esse tipo de coisa. Ele está sempre tão concentrado em
seu trabalho que não demonstra muito interesse em nenhum dos seus três
filhos, a menos que algum de nós apronte ou o envergonhe de alguma
maneira.
Ava acenou com a cabeça. — Carol me disse uma vez que o seu pai
nunca foi a uma exposição dos seus quadros, o que me chocou um pouco. Eu
não tenho muitas lembranças dos meus pais, mas os meus avós estiveram
sempre presentes em minha vida.
Eu quase disse a ela como ela era sortuda, mas então me detive. Embora
os seus avós soassem muito melhores que papai e Verônica, a vida de Ava
não tinha sido fácil, e eu não queria parecer um babaca chorão.
— Em nossa família, Verônica é a interrogadora — eu disse. — Embora
meu pai realmente tenha feito algumas perguntas sobre o seu passado.
Os lábios de Ava franziram rapidamente. — Meu pedigree inexistente,
você quer dizer.
Bebi o meu café. — É verdade que papai é um esnobe. Mas o seu
diploma de Harvard causou-lhe uma boa impressão, como o fato de você ter
o seu próprio negócio.
— Quando ele e Verônica esperam me conhecer?
— Ele sugeriu um jantar em família na semana que vem — eu disse. —
Verônica vai ligar para marcar uma data.
— Quão formal devo esperar que seja esse jantar? — perguntou Ava.
Eu dei de ombros. — Costumo usar um paletó sem a gravata. Tenho
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certeza que o que você quiser usar vai ficar bem.


Ela pareceu se divertir. — Homens. Quando se trata de conselhos de
moda, vocês são tão úteis como um telefone sem sinal.
Dei-lhe um olhar sugestivo. — Eu sou um perito em roupas íntimas, mas
suponho que você não queira a minha ajuda para escolher calcinhas.
— Porco — disse ela suavemente. — Embora neste momento você se
pareça mais com um ouriço sonolento.
Esfreguei minha mandíbula, que realmente precisava de uma aparada. —
Ouriço?
— Não é a sua barba — disse ela. — É o seu cabelo, que tem um ponta
de um lado e uma onda esquisita do outro. Se você o pintasse na cor de
lavanda, poderia passar por Kelly Osbourne numa festa de Halloween.
Eu ri. — Essa eu pago para ver.
Então, o interfone tocou.
— Deve ser a Carol — disse Ava. — Combinamos de almoçar juntas,
embora eu não a esperasse tão cedo.
Coloquei minha xícara sobre a mesa de café, levantei-me da cadeira, fui
até a antessala e peguei o interfone para dizer ao porteiro que deixasse minha
irmã entrar.
Mas quando fiz isso, o interfone emitiu uma descarga eletrostática,
seguida de uma voz familiar que me arrepiou da cabeça aos pés.
— Bom dia, querido. Passei para uma visita rápida. Vejo você em um
minuto.
Com dificuldade, contive o meu impulso de mandar Verônica ir para a
puta que pariu. Em vez disso, quando ela devolveu o interfone ao porteiro, eu
disse a ele que a deixasse subir. Que escolha eu tinha? Como de costume,
minha madrasta tinha tomado o controle com sucesso.
Desliguei o interfone e corri de volta para a sala de estar para avisar Ava.
— Não é a Carol. É a Verônica, e ela estará aqui em segundos.
Calmamente, Ava colocou sua xícara sobre a mesa de café e se levantou.
— A Carol previu que Verônica iria cair em cima de nós — disse ela. — Ela
apareceu mais cedo do que esperávamos, mas vamos nos sair bem. Atenda à
porta quando ela chegar e a enrole por um minuto mais ou menos enquanto
verifico os quartos para ter certeza que está tudo em ordem.
E com isso, ela desapareceu na suíte principal.
Corri para o lavabo na antessala e olhei para o meu reflexo no espelho,
que confirmava que o meu cabelo estava fodido como Ava tinha dito. Depois
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de jogar água no cabelo e no rosto, peguei uma toalha de mão e enxuguei o


excesso, antes de ajeitar o cabelo para trás com os dedos.
Uma batida na porta anunciou a chegada da minha madrasta.
— Já vou! — gritei, à medida que caminhava a passos largos até a sala de
estar e olhava em volta, procurando Ava. Onde ela estaria, e que diabos
estaria fazendo? Estávamos sem tempo.
Naquele momento, ela surgiu do seu quarto.
— Tudo bem? — perguntei.
Ela acenou positivamente com seu dedo polegar. — Solta a fera.

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14

AVA

Quando Ronan abriu a porta e Verônica entrou, eu fiquei admirada com a sua
beleza, mas também com algo que as fotos de família de Carol não tinham
revelado: a arrogância sutil que emanava dela como um veneno invisível aos
olhos, porém palpável em sua presença.
Alta e escultural, com olhos escuros, feitios clássicos e cabelo preto
varrido para trás num elegante coque, Verônica estava elegantemente vestida
num terninho de seda bege que valorizava a sua figura bem mantida.
Diamantes brilhavam em suas orelhas, um cachecol Hermès parecia
frouxamente atado em volta do pescoço e uma Birkin marrom clara
pendurada no ombro. Embora eu soubesse que Verônica estava bem acima
dos cinquenta anos, ela não aparentava um dia a mais que quarenta, e
conforme caminhei para o lado de Ronan para cumprimentá-la, eu me senti
suja e desgrenhada com minha blusa e meus jeans casuais, e desejei que
tivesse tido tempo para aplicar um toque de maquiagem.
— Você deve ser Ava — disse ela, dando um sorriso reluzente conforme
me olhou de cima embaixo.
— Permita-me — disse Ronan. — Verônica, eu gostaria de apresentar
minha noiva Ava Walker. Ava, esta é minha madrasta Verônica Kingsley.
Verônica suspirou. — Ronan, Ronan. Sempre tão formal. Você jamais
saberia que eu fui mãe dele desde que ele tinha sete anos de idade. Ela
colocou sua mão com unhas bem cuidadas no meu braço. — Desde que
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Carter me deu as boas novas ontem à noite, eu estava morrendo de vontade


de conhecê-la. E então me ocorreu que eu precisava parar na Bergsdorf para
pegar o vestido que escolhi para o Met Gala. Então aqui estou, matando dois
coelhos com uma cajadada só. Ela riu dissimuladamente do seu comentário,
antes de se virar para Ronan. — Ela é adorável, Ronan. Onde você a
conheceu? Não em um dos seus antros de uísque habituais, imagino.
Senti Ronan se empertigar ao meu lado. — Ronan e eu nos conhecemos
na festa de Ano Novo da Carol — eu disse, dando à Verônica o meu melhor
sorriso falso. — Mas você não vai entrar e se sentar? Deixe-me servir-lhe um
café, ou alguma outra coisa para beber, se você preferir.
— Talvez um copo de água mineral — disse Verônica.
— Vou buscá-la — disse Ronan, apontando para a sala de estar. — Vá
em frente e sente-se, eu volto em um minuto.
Quando Verônica entrou na sala de estar, ela olhou para os arranjos
coloridos de rosas e lírios peruanos que eu havia colocado sobre uma das
mesinhas que ficava ao lado do sofá.
— Vejo que você já fez algumas mudanças no apartamento do Ronan —
disse ela enquanto se sentava na poltrona favorita dele. — O que é tanto
melhor. Como seu pai, meu enteado não tem nenhum interesse em decoração.
Era sua terceira provocação contra Ronan em pouco menos de três
minutos. Não é por menos que o meu futuro marido evitava sua madrasta
como uma doença contagiosa. Dado o seu pavio curto, as pequenas farpas
abusivas de Verônica provavelmente o desarmavam como um foguete.
— Ronan pode não ligar para decoração, mas ele tem um gosto fabuloso
— eu disse, enquanto levantava minha mão esquerda para mostrar o meu
anel. Ela havia disparado alguns olhares para ele desde que entrou no
apartamento, e eu queria que ela desse uma boa olhada. — Ele não poderia
ter escolhido um anel de noivado mais lindo.
Ela franziu os lábios. — Harry Winston nunca decepciona. A forma oval
combina com sua mão, e a armação e a banda micropavê são
impressionantes. Mas você não o escolheu sozinha?
— Ronan me surpreendeu com o anel — eu disse, enquanto me sentei no
sofá. — Foi o momento mais romântico da nossa vida.
— Que doce — disse Verônica levemente. — Mas vamos falar sobre
você. A mulher que finalmente convenceu meu enteado playboy a sossegar.
Estou simplesmente consumida de curiosidade, e embora o meu marido seja
uma autoridade financeira, o homem é inútil quando se trata de passar
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qualquer informação que não caiba em sua planilha. Depois da conversa de


Carter com Ronan ontem à noite, tudo que o homem pôde me dizer é que
você foi colega de quarto de Carol em Harvard, e que você administra sua
própria floricultura no Brooklyn.
— Carol e eu fomos amigas durante o primeiro ano — eu disse. —
Fomos colegas de quarto pelo resto da faculdade, e já que nós duas
morávamos em Nova York, tivemos a sorte de continuar mantendo a nova
amizade.
— E você e Ronan se conheceram no Ano Novo?
Naquele instante, Ronan voltou da cozinha com um copo de água mineral
e o entregou à Verônica.
— Nos conhecemos — disse ele, conforme se sentou no sofá ao meu
lado. — E quando percebi o tesouro em que eu havia tropeçado, aproveitei o
momento. Quando a festa de Carol terminou, acompanhei Ava até o metrô e
pedi que ela jantasse comigo na noite seguinte.
Dei um olhar apreciativo para Ronan e coloquei minha mão sobre a sua,
sentindo-me grata por ele estar seguindo a história que tínhamos combinado.
Desde que mantivéssemos nossa história coerente, estaríamos bem. Graças ao
trabalho que Carol e eu tínhamos feito no apartamento, nada além de nossas
palavras ou ações poderiam nos denunciar.
— Uma história tão romântica — disse Verônica levianamente. — Amor
à primeira vista. Mas agora que vocês dois definiram a data, há algumas
coisas que precisamos discutir.
— Prefiro revisar nossos planos de casamento quando a família toda
estiver presente — disse Ronan. Sua voz estava calma, mas eu senti sua
tensão. — Papai sugeriu que todos nos reunamos para jantar na próxima
semana. Podemos lidar com o casamento então.
Verônica tomou água antes de soltar sua bomba. — Não estou falando do
seu casamento, querido.
— Então do que você está falando?
Ela suspirou. — Você vai me acusar de intromissão — disse ela. — Você
sempre acusa.
Ronan a censurou com um olhar. — Desde quando isso a impediu?
Ela me deu um olhar exasperado. — Vê com o que eu tenho que lidar?
Mesmo quando criança, ele sempre foi difícil.
— Chega de falar da minha infância — disse Ronan. — O que você quer
discutir?
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A voz dela respingou de falsa doçura. — A festa do seu noivado, querido.


Planejo cuidar disso sozinha.

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15

AVA

— Festa de noivado? — disse Ronan. — Que festa de noivado?


— A festa de noivado que seu pai e eu estamos organizando para você e
Ava, que é a razão pela qual eu passei por aqui hoje.
Embora o semblante de Ronan fosse impassível, eu podia sentir que ele
estava tremendo de aborrecimento. Evidentemente, o anúncio de Verônica o
pegou de surpresa. E nas duas últimas semanas, descobri que o meu futuro
marido não era um homem que reagia bem a surpresas, principalmente
surpresas que roubavam tempo do seu trabalho.
Então, antes que Ronan desse com a língua nos dentes, eu fiz o que
precisava ser feito, a única coisa que podia ser feita.
— É muito generoso da sua parte e do Carter — eu disse, forçando um
sorriso nos lábios conforme apertei a mão de Ronan num sinal desesperado
que eu esperava que ele entendesse. — E nós adoraríamos comemorar o
nosso noivado com vocês. Mas tem certeza que vocês querem ter tanto
trabalho conosco? Ao recepcionar a festa do casamento, vocês já estão
fazendo mais que o suficiente.
— Considerem isso um presente de casamento antecipado — disse
Verônica. Sua voz demonstrou irritação. — Você não entenderia isso, Ava,
mas a família Kingsley tem uma reputação a zelar. O seu casamento pode ser
apressado, sem dúvida por motivos de praxe, mas isso não é desculpa para o
Ronan ignorar suas obrigações sociais.
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Enquanto eu processava o que acabara de ouvir, meu sangue esquentou.


Eu tinha dado o meu melhor para pensar em tudo. Tinha me preparado para
enfrentar suspeita, e até mesmo hostilidade. Mas eu tinha falhado
completamente em considerar a possibilidade de que Verônica fosse pensar
que Ronan e eu estávamos correndo para o altar porque eu estava grávida ou
que eu tinha engravidado deliberadamente para forçar Ronan a se casar.
Furiosa, abri a boca para me defender.
Mas antes que eu pudesse falar, meu senso comum se reafirmou. Apesar
dos meus sentimentos, eu precisava me sacrificar pelo bem comum. Verônica
estava procurando uma explicação do porquê Ronan e eu estávamos
acelerando o nosso casamento, e acreditar que eu estava grávida era
preferível a outras direções que sua imaginação pudesse tomar, como a
verdade, por exemplo.
Então apertei os meus lábios, suprimi a minha raiva e engoli o meu
orgulho ferido.
A megera deu outro dos seus sorrisos Colgate para mim. — O seu rosto
está vermelho — disse ela, provocante. — Eu adivinhei, não é mesmo?
Foi então que Ronan me surpreendeu. — Ava não está grávida — disse
ele resolutamente.
Verônica elevou uma sobrancelha em arco. — Sério?
Ronan olhou firmemente para ela. — Sério. Então pare de sugerir que
minha noiva e futura esposa está dando o golpe do baú. É um insulto, para
não dizer uma mentira.
— Como de costume, você está exagerando — disse Verônica. — Eu não
sugeri nada disso. Eu apenas expressei o que todos pensariam, devido à
natureza abrupta do seu noivado e casamento.
Os lábios de Ronan contraíram-se. — Estou pouco me lixando para o que
as pessoas pensam. Aqui está a realidade. Ava e eu somos adultos, sabemos o
que queremos, e uma vez que decidimos construir uma vida juntos, nenhum
de nós viu nenhum motivo para retardar o casamento.
A sua proteção me comoveu, e não pude resistir em adicionar minha
própria versão. — Mas não se preocupe, Verônica, você vai ser vovó em
breve. Depois que Ronan e eu passarmos um ou dois anos como recém-
casados, esperamos formar uma família.
A mão de Ronan estremeceu por baixo da minha, mas sua voz
permaneceu firme. — Noivados longos estão fora de moda. Você sabe que eu
nunca fui uma pessoa que se preocupa com convenções tolas.
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Verônica lançou uma risada frágil. — Estou bem ciente da sua falta de
interesse em fazer as coisas corretamente, querido, mas talvez eu tenha
mimado você ao cuidar de assuntos que te pertencem. De qualquer maneira,
uma convenção que será observada é a festa de noivado em Southampton
para você e Ava.
— Muito bem — disse Ronan. — Que data você e meu pai escolheram?
— Daqui a duas semanas.
— Vamos adicioná-la ao nosso calendário — disse ele. — O que você
precisa de nós?
— Apenas a sua presença e os nomes das pessoas que você e Ava
quiserem convidar — disse Verônica. — Eu vou me encarregar do resto.
— Há algo que eu possa fazer para ajudar? — perguntei. — Tenho muita
experiência em planejar eventos.
— Duvido que a sua experiência se estenda a esse tipo de evento — disse
Verônica. Tendo colocado o copo meio vazio sobre a mesa de café, ela olhou
para o seu relógio de pulso. — Agora que isso está resolvido, eu preciso
correr — disse ela enquanto se levantava e pendurava sua Birkin no ombro.
— Prefiro não me atrasar para a minha consulta na Bergdorf.
Ronan e eu continuamos olhando para ela, e à medida que ela caminhava
em direção à antessala, senti o mesmo alívio que ele com a sua partida.
Mas de repente ela parou e se virou para nós. — Eu quase me esqueci —
disse ela. — Antes que eu vá, Ronan, me mostre o que você fez com as
pinturas da Carol. Ela disse que você comprou meia dúzia de quadros na sua
última exposição.
Lá vamos nós de novo.
Tal como Carol havia previsto, Verônica estava muito empenhada em
bisbilhotar o nosso apartamento, e tinha encontrado um pretexto impecável.
Felizmente, graças à Carol, eu estava preparada.
— As pinturas menores estão aqui — eu disse, abrindo caminho para o
meu quarto. — Este cômodo costumava ser o quarto de hóspedes do Ronan,
mas eu o transformei em escritório e sala de TV para mim.
Verônica me acompanhou até o quarto, com Ronan atrás dela.
— As pinturas da Carol ficaram maravilhosas sobre o verde que você
escolheu para as paredes — disse ela. — Embora ela não tenha tido muito
sucesso como pintora, acho que ela é muito talentosa.
— Concordo — eu disse. — As pinturas da Carol são únicas e originais, e
eu só sei que um dia ela vai ser famosa.
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O olhar de Verônica flutuou sobre o mobiliário da sala e parou na


escrivaninha da minha avó. — Você devia se livrar dessa escrivaninha velha.
Parece barata e não combina com o tom da sala.
— Pode não ser a combinação ideal com outros móveis — eu disse,
sentindo-me indignada com o seu desdém pelo objeto mais precioso que eu
possuía. — Mas ela pertenceu à minha avó, e eu a adoro.
— É dificilmente uma herança — disse Verônica, franzindo o nariz. —
Se você não consegue jogá-la fora, por que não guardá-la? Mas então, onde
está o resto das pinturas?
— Na minha suíte — disse Ronan. — Siga-me.
Verônica e eu o seguimos até a suíte, onde ela admirou as pinturas de
Carol, enquanto Ronan vislumbrava os ajustes de última hora que eu havia
feito antes da chegada da sua madrasta. Um sutiã preto rendado espiava por
baixo dos lençóis amarrotados da sua cama desfeita, e calcinhas combinando
estavam caídas no chão ao lado da cama.
Como eu havia suspeitado, Verônica pediu licença para ir ao banheiro,
que eu tinha certeza que era uma desculpa para vasculhar o seu conteúdo.
Quando ela entrou e fechou a porta, Ronan deu alguns passos e ficou
atrás de mim.
— Bom toque com a roupa íntima — disse ele em voz baixa em meu
ouvido. — Minha cama parece que viu alguma ação séria.
— Essa é a ideia — sussurrei de volta, tentando permanecer calma. Com
Ronan de pé tão perto de mim que sua respiração acariciava o meu pescoço, e
Verônica no banheiro ao lado, sem dúvida inspecionando minha maquiagem
e meus absorventes, eu nunca me senti tão desconfortável.
O que havia de errado comigo? Como é que eu tinha imaginado ser capaz
de lidar com essa situação? Talvez eu tivesse escapado dos meus problemas
financeiros, mas ao fazê-lo, criei uma série de novos problemas com os quais
eu nem imaginava como lidar.
Uma festa de noivado elegante com a elite de Southampton, o tipo de
gente para quem eu estava acostumada a trabalhar, e não me socializar.
Uma "monstrogra" hostil.
E um futuro marido falso que, por mais que eu me esforçasse, eu achava
cada vez mais atraente. Eu só esperava que minha blusa folgada ocultasse o
fato de que a sua proximidade deixou os meus mamilos arrepiados. Como eu
podia ficar tão excitada com um homem com quem eu não me dava bem a
metade do tempo e que também era um prostituto de carteirinha? Eu estava
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tão faminta por sexo?


Era completamente irracional, mas eu não podia negar que sempre que
Ronan acidentalmente me tocava ou chegava perto de mim, o meu corpo se
acendia de desejo.
A única salvação é que ele não tinha interesse por mim, o que tornava
minha atração por ele irrelevante. Espero que, com o tempo, eu supere isso.
Afastei-me dele e forcei a me concentrar, no momento exato em que o som
da descarga no banheiro anunciou a volta iminente de Verônica. Momentos
depois, ela emergiu do vestiário e do banheiro que supostamente eram meus.
— Obrigada, queridos — disse ela despreocupadamente. — Agora eu
realmente tenho que continuar com o meu dia. Em todo caso, os dois
pombinhos certamente têm os seus próprios planos, que eu interrompi por
mais tempo que devia.
Acompanhamos Verônica da suíte até a sala de estar, onde ela se virou
em direção à antessala e à porta.
— Vou estar em contato — disse, enquanto Ronan abria a porta para ela.
— E Ava, antes da festa, faça algo com essas mãos. Não podemos ver a noiva
do Ronan aparecendo na festa como uma lavradora.
Resisti à vontade de esbofeteá-la. — Claro — eu disse. — Como o meu
trabalho torna impossível manter as unhas feitas, eu sempre as faço antes dos
eventos.
— Perfeito — disse ela. Tchauzinho, queridos, e não se preocupem com
nada. Só me mandem os nomes das pessoas que vocês quiserem convidar até
amanhã à noite, e eu vou fazer com que elas recebam um convite.
— Pode deixar — disse Ronan.
— Então estou fora — disse ela. Com um aceno e um último lampejo de
dentes, Verônica desapareceu no elevador.
Depois que ela saiu e Ronan fechou a porta, ele se virou e olhou para
mim.
— Obrigado por isso — disse ele. — Você lidou com ela lindamente.
— Não tenho tanta certeza. Mas fiz o melhor que pude.
— Minha madrasta é osso duro de roer. Ninguém poderia ter feito
melhor.
Animada com o seu elogio, sorri para ele. — Você também foi
surpreendente.
Ele me deu um sorriso maroto. — O que eu sou é sortudo. Depois da sua
performance hoje, eu sei que podemos fazer isso. Vamos ter que encarar mais
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alguns rounds com Verônica, mas, eventualmente, ela vai ser obrigada a
desistir e aceitar que o nosso falso casamento é verdadeiro.
— Você bota mais fé nas minhas habilidades teatrais que eu mesma — eu
disse. — Mas espero que você esteja certo.
— Eu sei que estou — disse ele.
E então, pela segunda vez na última meia hora, ele me surpreendeu ao
dizer a última coisa que eu esperava ouvir.
— Nós dois formamos uma ótima equipe.

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16

AVA

— Não posso acreditar que a festa de noivado vai ser amanhã — eu disse à
Mimi. — Estou totalmente apreensiva.
Minha amiga colocou o garfo sobre a mesa e olhou para mim. — Você e
o Ronan vão ficar bem — disse ela. — Você não acabou de dizer que as
coisas estão indo melhor entre vocês dois?
Convidei-a para almoçar comigo no Veselka, um restaurante localizado
na East Village, que servia uma combinação de comida clássica com
especialidades ucranianas, porque com a festa pesando sobre mim, eu
precisava fortalecer o meu ânimo e acalmar os meus nervos, e a presença de
Mimi normalmente fazia ambos para mim.
— Na maior parte, elas estão — eu disse. — Não temos discutido, bem,
pelo menos não sobre qualquer coisa importante.
Mimi afastou uma gavinha de cabelo ruivo encaracolado do seu rosto. —
Tanto você quanto o Ronan têm personalidades fortes — disse ela. — Você
não pode esperar concordar em tudo. O importante é estabelecer amizade,
convivência e acordo sobre as coisas importantes. Isso é o que vai fazê-los
atravessar os próximos dois anos.
— Eu realmente sinto que estamos nos tornando amigos — eu disse. —
Quando me mudei para o apartamento dele, ele passava tanto tempo no
trabalho que eu sentia como se estivesse vivendo sozinha. Mas nas duas
últimas semanas desde que anunciamos o noivado, ele tem passado mais
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tempo no apartamento. Às vezes ele malha ou passa a noite em seu escritório,


mas às vezes fazemos o jantar juntos e assistimos algum filme. Como eu, ele
adora filmes clássicos de Hollywood, embora na outra noite, quando
assistimos Interlúdio, ele pegou no meu pé por babar pelo Cary Grant.
Mimi suspirou. — Que mulher não babou pelo Cary Grant? Ele é apenas
o homem mais sexy, mais lindo que já andou sobre a face da terra.
— Quando eu disse isso, Ronan o chamou de dândi superestimado — eu
disse. — Apesar de que no final eu o tenha forçado a reconhecer que o Cary
tinha muito talento para a dramaturgia.
— Típica inveja masculina — disse Mimi, com seus olhos piscando. —
Embora o seu futuro marido falso não tenha nenhuma necessidade de ter
inveja de nenhum homem. Ele é bem gato.
— Ele é tudo isso e um pouco mais, o que está se tornando um problema.
Mimi franziu a testa. — O que você quer dizer? O Ronan rompeu o
acordo de alguma forma?
— Não, de maneira alguma — eu disse. — Ele tem sido ótimo. Como eu
disse, estamos nos tornando amigos. O problema sou eu.
Ela me deu um olhar longo e penetrante antes de falar. — Você está
atraída por ele, não é?
— Estou — confessei. — Eu não deveria estar, e sei muito bem disso.
Mas nada disso muda o fato de que quando ele me toca acidentalmente, ou
fica perto de mim quando estamos fazendo o jantar juntos, eu quero rasgar as
suas roupas completamente.
— Então por que você não rasga? — disse Mimi. — Não é como se você
estivesse rompendo o seu acordo. Nenhum de vocês pode fazer sexo com
outras pessoas, mas não há nada no seu contrato que impeça de transar um
com o outro.
— Arriscado demais. Além disso, ele não está interessado em mim nesse
sentido. Eu não sou o tipo de mulher por quem ele sente atração. Carol me
disse uma vez que o Ronan gosta de louras com tetas grandes, que é
praticamente o polo oposto de mim.
— Você é uma mulher bonita — disse Mimi. — Se você der em cima do
Ronan, ele não vai te recusar.
— Talvez não. Mas isso só iria criar uma encrenca ainda maior.
— Como assim?
— Borrando os limites do nosso acordo. Ter relações sexuais com Ronan
iria confundir tudo.
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— Poderia. Mas não precisa.


— Discordo.
Ela me corrigiu com um olhar. — A comunicação é tudo, Ava. Você e o
Ronan são livres para mudar o acordo do jeito que vocês quiserem, desde que
vocês sejam honestos um com o outro. Eu posso não ser fã de compromisso,
mas a comunicação aberta é a chave de todos os relacionamentos bem-
sucedidos, sejam eles longos ou curtos.
— Talvez você tenha razão, mas eu nunca experimentei algo assim. Você
sabe que eu sempre fui uma garota de relacionamento.
— Você sabe o que eu penso sobre isso — disse Mimi. — O sexo é uma
simples necessidade humana, por que complicá-lo?
— Não sei. Talvez porque o sexo nunca foi simples para mim. Talvez
porque o meu sonho seja encontrar meu príncipe encantado e construir uma
vida e uma família juntos.
— Uma coisa é certa — disse Mimi. — O Ronan não é nenhum príncipe
encantado. Ele é um príncipe por uma noite.
— Exatamente — eu disse. — E se eu realmente fizesse sexo com ele e
isso me levasse a ter sentimentos? E se eu começasse a me apaixonar por ele?
Não é como se eu pudesse apenas correr para o outro lado, não quando
assumimos um compromisso de dois anos um com o outro.
Mimi vasculhou em sua bolsa, tirou um cigarro eletrônico longo e
prateado que, sem dúvida, continha algum tipo de maconha, e deu uma longa
tragada nele antes de responder.
— Entendo a sua hesitação — disse ela. — Você está dividida entre medo
e atração.
— É só isso. O que você acha que eu deveria fazer?
— O que eu acho não importa — disse ela, antes de dar mais uma tragada
no seu cigarro eletrônico. — Você tem que fazer o que é certo para você, e
também precisa relaxar e gozar. Você está praticamente trêmula nesse
momento. Você não deveria se estressar pensando tanto nisso.
Eu suspirei. — Definitivamente sou culpada por pensar demais nisso.
— Você não tem que tomar uma decisão hoje. Só lembra que você e o
Ronan são adultos livres. O que quer que vocês façam, ou deixem de fazer, é
entre vocês dois. Mas o sexo não tem que se transformar num
relacionamento. Às vezes, o sexo pode ser apenas sexo.
— Não sei — eu disse. — Sexo com o Ronan me parece arriscado. E com
alguma sorte, minha atração insana por ele vai passar com o tempo.
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— Ou não — disse Mimi, dando-me um olhar maroto. — A maneira mais


eficaz de aliviar uma coceira é coçando, você sabe disso.
Revirei os meus olhos. — Você é demais. Mas talvez eu considere seguir
o seu conselho... daqui a dois anos.

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17

RONAN

Quando o dia da festa de noivado chegou, Ava passou a manhã fazendo as


mãos e os pés em um salão de beleza, enquanto eu tentava ao máximo me
relaxar, malhando e então jogando meu videogame favorito.
Depois que Ava voltou, fiz um almoço leve para nós antes de nos
separarmos para nos aprontar. Com perfeição característica, Verônica tinha
mandado o motorista do meu pai nos pegar em sua limusine, o que
simplificou nossa ida e volta de Southampton. Felizmente, minha madrasta
não nos pressionou para passar a noite.
Enquanto eu olhava as minhas gravatas para escolher uma que
complementasse o meu terno cinza-escuro, eu me lembrei que Ava me
dissera que ela usaria um vestido vermelho. Eu deveria usar uma gravata
vermelha, ou ficaria "combinando demais" como diria Carol? Depois de
alguma deliberação, selecionei uma gravata Brioni prateada com uma textura
geométrica sutil. Depois de atá-la em volta do pescoço, ajustei meu colarinho,
fiquei em frente ao espelho e decidi que havia feito a escolha certa. O brilho
da gravata combinava com minha camisa branca e meu terno cinza, e com
Ava de vermelho, formaríamos um casal bonito.
Depois de terminar meus preparativos, fui à cozinha para buscar um copo
de água. Conforme enchi um copo com Evian, ouvi a porta se abrir. Eu só
estava tomando o meu primeiro gole de água quando Ava entrou na cozinha.
— Uau! — eu disse à medida que ela caminhava em minha direção e
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dava uma pequena volta. — Você está deslumbrante.


Não era nada menos que a verdade. O tecido escarlate do seu vestido
longo sem manga brilhava contra suas curvas. O decote do vestido mostrava
seu ombro delgado, e uma racha à altura da coxa do lado esquerdo revelava
flashes de uma perna longa e bem torneada. O anel que eu lhe dera brilhava
em sua mão esquerda e os solitários de diamante reluziam em suas orelhas. O
seu cabelo escuro e ondulado foi puxado para trás, formando um coque
elegante, mas ela deixou que algumas gavinhas caíssem em volta do seu rosto
de maneiras que eram sexy como o inferno. Em sua mão direita, ela carregava
uma bolsa-carteira em forma de estrela, coberta de pérolas e cristais
cintilantes que combinavam com o escarlate do seu vestido. O que ela estaria
usando por baixo dele? Em resposta a esse pensamento, meu pau endureceu.
Forcei minha mente a ter pensamentos broxantes, visualizando as mulheres
menos atraentes que eu podia imaginar nuas.
O que não era tarefa fácil com Ava de pé bem na minha frente, não
quando eu queria agarrá-la e tirar aquele vestido centímetro por centímetro.
Mas hoje à noite não era uma questão de prazer. Eu tinha um trabalho a
fazer. Ao pensar no que o fracasso do meu falso casamento significaria para o
meu negócio, a pressão no meu pau começou a regredir.
— Obrigada — disse Ava. Ela me deu um meio-sorriso não característico
e tímido. — Me montar assim não foi nada menos que uma produção épica,
mas eu adoro o vestido, a bolsa e os saltos que Carol e eu escolhemos juntas,
sem falar nos brincos.
— Minha irmã sabe das coisas — eu disse, mudando o lado esquerdo do
paletó para ocultar o resto do meu problema não tão pequeno. — Você está
incrível.
— Estou aliviada que você gostou — disse ela. — Você pagou por isso,
afinal de contas.
— Quanto?
— Todo o conjunto, incluindo os brincos? Quase vinte mil.
— Vale cada centavo — eu disse, e eu estava falando sério. — Você
parece uma princesa do fogo.
Ela riu. — Estou mais para Cinderela, mas obrigada. Entre o vestido, os
saltos de dez centímetros e os diamantes, eu me sinto como uma princesa.
Com o meu pau agora sob controle, joguei o resto da água na pia e
coloquei o copo no balcão antes de estender meu braço para Ava. — O
motorista do meu pai estará lá fora a qualquer momento, se já não estiver.
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Vamos?
Ela pegou no meu braço. — Vamos em frente.

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18

AVA

Já que o início de abril estava fora de temporada para os Hamptons, a nossa


viagem a Southampton levou apenas duas horas, menos da metade do tempo
que levaria durante os meses de verão. Quando a limusine virou em direção à
larga entrada de cascalhos da propriedade, passou pelo portão de segurança e
prosseguiu pelo longo caminho arborizado que levava à garagem da mansão
de telha de quatro andares, eram cinco e meia, e o sol da tarde lançava um
brilho morno sobre a paisagem.
Não pude deixar de olhar. Os bens imobiliários de Southampton estavam
entre os mais caros nos Estados Unidos, e a julgar pela vista das janelas do
carro, a família de Ronan possuía um pedaço significativo da cidade.
Ronan apontou para a direita. — A quadra de tênis e a casa de hóspedes
ficam lá — disse ele, apontando para um segundo prédio de telha que parecia
outra mansão. — A praia é logo depois da casa principal.
A entrada de automóveis alargava-se num pátio para estacionamento,
onde notei vários veículos de entrega, sua presença, sem dúvida, relacionada
com a festa de hoje à noite. O motorista parou em frente à casa, antes de sair
e abrir a porta. Ronan saiu primeiro e, em seguida, me ajudou a sair do carro.
Em seu terno perfeitamente talhado, ele estava impossivelmente bonito, e
conforme me ajudava a descer do carro para pôr os meus pés no chão, uma
pontada de excitação me atravessou. Entre o passeio de limusine, a beleza de
conto de fadas do cenário e a atenção de Ronan, senti como se tivesse entrado
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num daqueles filmes românticos que eu adorava. Hoje era tão diferente da
minha vida cotidiana, era quase uma experiência fora do corpo.
— Está quente para início de abril — disse ele. — Você gostaria de ver a
praia antes de entrarmos?
— Eu adoraria — eu disse. — Mas com os saltos que estou usando, não
me atrevo a pisar na praia. Se eu aparecer na festa com os pés cobertos de
areia, Verônica vai matar nós dois.
— Tenho uma solução — disse ele. — Segura no meu braço.
Cuidadosamente, ele me guiou pelo gramado bem cuidado à direita da
casa à medida que a brisa do mar salgado enchia os meus pulmões. No canto
da casa, viramos à esquerda e subimos vários degraus até uma ampla varanda
que ficava de frente para a água do mar. Quando me virei para o mar, uma
brisa leve agitou o meu cabelo, e o som das ondas que quebravam na praia
chegou aos meus ouvidos. Diante de nós, uma larga faixa do gramado dava
lugar às dunas atapetadas com uma infinidade de arbustos de rosa-rugosa,
que se estendiam a uma área intocada de areia e para o mar além.
— É lindo — eu disse. — Não é por menos que seu pai e Verônica
preferem passar a maior parte do tempo aqui.
— Eu passava os verões aqui quando era criança — disse ele.
— Como era? — perguntei. Ele raramente falava sobre sua infância, mas
fiquei sabendo através de Carol que desde que ela e Ronan chegaram à
adolescência, eles evitavam passar muito tempo com seu pai e sua madrasta.
— Entre a agenda ocupada do papai e a quantidade de entretenimento que
ele e Verônica costumam fazer, podia ser monótono para uma criança —
disse ele. — Mas os Morton eram bons para mim. Evelyn nunca se importava
quando eu a seguia pela casa ou ficava na cozinha. Ela sempre mantinha
meus cookies favoritos de manteiga de amendoim por perto. E Alfred me
ensinou a montar na minha primeira bicicleta.
— Vou ter a chance de conhecê-los hoje à noite?
Pelas conversas com Carol e Ronan, eu sabia que Alfred Morton e sua
esposa Evelyn eram o mordomo e a governanta; juntos, eles administravam a
propriedade e os empregados há décadas. Sem filhos, em alguns aspectos, os
Morton haviam cuidado de Carol e Ronan mais que seu pai e sua madrasta.
— Vamos encontrar uma oportunidade — disse Ronan. — Penso em
Alfred e Evelyn como família, e nunca venho aqui sem encontrar um
tempinho para vê-los. Ele olhou para o mar. — Além de passar tempo com
eles, a outra coisa que eu gostava dos verões aqui era estar fora. Eu gostava
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das minhas aulas de tênis e vela, principalmente vela.


— Eu realmente não sei velejar — eu disse. — Mas durante a faculdade,
velejei algumas vezes com uma amiga cujos pais tinham uma casa em Woods
Hole.
— Você gostou? — perguntou ele.
— Eu adorei estar na água, embora não tivesse a mínima noção de como
pilotar o barco. Eu só puxava qualquer corda que minha amiga me dizia para
puxar.
— Então vamos tirar um tempo para velejar nesse verão — disse ele. —
Podemos pegar o barco do meu pai, ou posso alugar um.
Surpresa e satisfeita com sua oferta, apertei o seu braço. — Eu adoraria.
Naquele exato momento, a porta se abriu e Verônica apareceu, com uma
aparência impecável, usando um longo vestido tubinho cor de creme e saltos
combinando. Um homem alto de aparência distinta, usando um paletó azul-
marinho e calça marrom-clara, a acompanhava, e eu imediatamente o
reconheci como Carter Kingsley, o pai de Ronan e Carol. Com exceção dos
olhos escuros de Carter, seu cabelo salpicado de grisalho e as rugas ao redor
dos olhos e da boca, Ronan se parecia muito com seu pai.
— Pelo amor de Deus, Ronan — disse Verônica. — O que você estava
pensando, arrastando Ava para cá? Ela vai morrer de frio.
A madrasta de Ronan alguma vez tinha perdido a oportunidade de colocá-
lo para baixo? Se tivesse, eu nunca vi.
— Estou bem — eu disse. — É uma noite quente, e é minha culpa que
estamos do lado de fora. Viemos aqui porque eu pedi ao Ronan para me
mostrar a vista.
Verônica balançou a cabeça em sinal de reprovação antes de se virar para
o seu marido. — Carter, querido, por que você não leva Ava e Ronan para a
sala de estar no segundo andar? Preciso ficar de olho nos empregados e nos
entregadores.
— Vou fazer isso — disse Carter, com uma voz que me lembrou a de
Ronan. Conforme Verônica desapareceu na casa, ele estendeu a sua mão para
mim. — Bem-vinda à nossa casa, Ava. Estou encantado por finalmente
conhecê-la.
Apertei a mão dele. — É muito bom conhecê-lo também.
Depois de soltar a minha mão, Carter apertou a mão de Ronan, bateu nas
costas do seu filho e me deu um sorriso charmoso à medida que seu olhar
viajava pelo meu corpo de uma forma que me deixou desconfortável. —
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Você não me disse como a sua noiva é bonita, Ronan. Agora que a vi com
meus próprios olhos, entendo porque os seus dias de solteiro chegaram ao
fim.
— Ava é única — disse Ronan, conforme acompanhávamos Carter para
dentro. — Desde o dia em que nos conhecemos, eu sabia que ela era a mulher
com quem eu queria me casar.
Carter nos levou para um corredor amplo e bem iluminado, com paredes
forradas de pinturas a óleo. Através de uma porta aberta, vislumbrei uma sala
movimentada com entregadores e empregados, que parecia ser a cozinha da
propriedade, e uma segunda sala na qual dois floristas davam os toques finais
em vários arranjos florais. Depois de nos levar por um lance de escadas até
um segundo corredor, Carter pausou e apontou para a entrada de uma sala do
tamanho de um salão de baile à sua direita.
— A festa vai ser aqui, no Salão Oceano — ele me disse, antes de virar à
esquerda e nos conduzir a uma sala de estar menor.
Antes de segui-lo, eu pausei para olhar o espaço por dentro, onde a festa
seria realizada, e vislumbrei janelas altas e arqueadas com vista para o mar.
Verônica estava diante das janelas, falando com um grupo de entregadores
vestidos de terno preto, sem dúvida dando-lhes suas instruções para a noite.
Quando entrei na sala de estar, descobri que era uma prima menor e mais
íntima do Salão Oceano, com tetos altos e uma única janela arqueada com
vista para o mar.
— Sentem-se aqui — disse Carter a Ronan e a mim, apontando para o
sofá que ficava em frente à janela. — Posso servir uma bebida a cada um
vocês?
— Eu não recusaria um uísque escocês — disse Ronan. — Você ainda
toma Laphroaig?
— O de dezoito anos? — perguntou Carter. — É minha bebida noturna.
Alfred faz os pedidos para mim em caixas.
— Vou tomar uma taça dele — disse Ronan, enquanto nos sentávamos no
sofá.
Carter apertou um botão na parede antes de se sentar numa poltrona em
nossa frente.
— O que você gostaria de tomar, Ava? — disse ele.
— Apenas um copo de água, obrigada — eu disse. Para sobreviver a essa
festa, eu precisaria manter minha cabeça no lugar.
Carter me deu um olhar de paquera. — Não deveríamos fazer um brinde
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ao noivado de vocês?
Ronan pegou na minha mão e a apertou. — Experimenta uma taça de
Laphroaig — disse ele. — Confia em mim, você vai gostar.
Talvez um gole de coragem líquida me ajudasse a relaxar. Até agora, o
pai de Ronan tinha sido agradável o suficiente, mas a maneira como ele me
olhava tinha um tom distintamente sexual, o que me embrulhava o estômago.
Como ele podia olhar para a noiva do seu filho daquele jeito?
— Tudo bem — eu disse. — Vou experimentar.
Naquele momento, um jovem trajando um terno escuro entrou na sala.
— O que posso lhe servir, Sr. Kingsley? — perguntou ele.
— Três taças de Laphroaig com cubos de gelo — disse Carter. —
Obrigado, Jaime. O jovem acenou com a cabeça em reconhecimento antes de
sair da sala.
Olhei para o espaço em volta, vislumbrando os painéis da janela arqueada
e o molde elaborado que traçava a linha entre as paredes e o teto. Ambos
confirmaram minha impressão inicial, baseada no exterior tradicional da casa,
de que ela havia sido construída no início do século 20. Mas o interior tinha
sido completamente reformado num estilo modernista, com paredes e móveis
brancos, pisos de madeira de lei, e cortinas brancas flutuantes e transparentes.
A única cor da sala vinha de alguns vasos de flor que pareciam ter pertencido
a um museu. De uma forma mínima e antisséptica, a sala era bonita, mas era
mais parecida com um hotel de luxo que com uma residência. Passos e vozes
ecoavam do corredor externo, lembrando-me que a festa de noivado que eu
tanto temia estava a poucos minutos de se realizar.
— Então, Ava, — disse Carter, — antes dos nossos convidados
chegarem, me fale um pouco sobre você. Ronan e Carol me disseram que
você foi colega de quarto da Carol em Harvard, mas não me lembro de tê-la
conhecido.
— É porque o senhor não me conheceu, Sr. Kingsley — eu disse. — Hoje
é a primeira vez que nos conhecemos.
— Me chame de Carter — disse ele suavemente. — E nós devemos ter
nos conhecido, porque eu conheci todas as colegas de quarto da Carol durante
a semana da sua formatura em Harvard.
— Eu não participei da maioria dos eventos de formatura — eu disse. —
Meus avós, os últimos da minha família, morreram durante meus anos de
faculdade, e formaturas são coisas de família.
— Isso explica — disse Carter com um ar de satisfação. — Eu nunca
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esqueço um rosto bonito, e eu certamente me lembraria do seu. Mas peço


desculpas por tocar acidentalmente num tema triste. Essa noite é para ser uma
noite de comemoração.
— E será — eu disse. — Posso não ter nenhum familiar próximo, mas
Carol é como uma irmã para mim. — Estendi minha mão para Ronan. —
Com o nosso casamento próximo, estou ansiosa para ter uma família
novamente.
Ronan me deu um olhar encorajador, antes de seguir em frente com o
nosso roteiro. — Planejamos desfrutar de um ou dois anos como recém-
casados — disse ele. — Mas depois disso, queremos filhos.
— Um bom plano — disse Carter. — Está na hora de uma nova geração
dos Kingsley, e espero que Ava em breve te dê um filho e herdeiro.
Naquele momento, eu entendi que tipo de homem o pai de Ronan era e
lutei para esconder minha aversão. Para Carter Kingsley, as mulheres eram
objetos. Por baixo do seu sorriso charmoso e de sua maneira educada, ele era
um chauvinista da velha escola, um homem egoísta que acreditava que as
mulheres existiam apenas para satisfazer às necessidades sexuais dos homens
e gerar filhos, que, por sua vez, esperava-se que andassem na linha e
cumprissem ordens. Conforme olhei para Carter, eu me senti triste por
Ronan, que havia crescido com uma madrasta que se aproveitava de todas as
oportunidades para colocá-lo para baixo e um pai que demonstrava pouco
interesse nele, além de exigir que ele fizesse o papel de filho e herdeiro
obediente. Minha família podia não ter tido muito dinheiro, mas pelo menos
cresci rodeada de afeto.
Naquele momento, Jaime voltou com uma bandeja de prata carregando
nossas bebidas. Depois que ele nos serviu e saiu da sala, Carter levantou sua
taça.
— Ao seu casamento — disse ele. — E à próxima geração.
Enquanto tomava o meu uísque escocês, olhei para Ronan. O seu olhar
azul penetrante estava fixado em Carter e, conforme ele levantou a taça até
seus lábios, um músculo se contorceu em seu maxilar. No entanto, quando se
tratava da sua porta giratória de mulheres, Ronan tinha seguido os passos do
pai; o último comentário de Carter claramente o irritou.
Mais uma vez, eu me perguntei algo que estava rapidamente se tornando
minha obsessão. Como eu poderia conciliar a história do meu futuro marido
como playboy de Manhattan com momentos como esse, quando suas reações
não eram nada senão defensivas?
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Quem era Ronan Kingsley?

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19

RONAN

Quando Verônica reapareceu e nos ordenou que fôssemos ao Salão Oceano


que ela e meu pai usaram para entretenimento, o meu humor tinha escurecido.
Ver o meu pai comer Ava com os olhos por meia hora tinha me irritado de tal
forma que quando ele a insultou dizendo que o seu único propósito em se
casar comigo era proporcionar o próximo herdeiro para a família Kingsley, eu
mal consegui conter a minha fúria.
Não que o comportamento do meu pai estivesse fora do padrão. No
passado, quando meu pai me intimava a comparecer a um ou outro dos
eventos de Verônica, ele me irritava e se divertia flertando com minhas
garotas, mas desta vez era diferente.
Porque Ava era diferente.
Ela não era nada parecida com as mulheres que eu costumava trazer para
os eventos do meu pai, e merecia melhor tratamento do que ser despida pelo
seu olhar, sem mencionar quando eu tive que ouvi-lo falar nela como se fosse
uma égua parideira.
À medida que atravessamos o que parecia ser uma série infindável de
apresentações aos convidados de papai e Verônica, meu maxilar doía de tanto
esforço para manter um sorriso no rosto. Mas para levar adiante o nosso falso
casamento, essa noite era apenas o primeiro ato da manopla que Ava e eu
precisaríamos enfrentar. Eu não podia me dar o luxo de pôr tudo a perder
perdendo a paciência.
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No segundo andar da casa, repleto de janelas altas e arqueadas com vista


para o mar, havia um espaço que originalmente tinha sido o salão de baile da
propriedade e podia comportar confortavelmente mais de duzentas pessoas.
Lá pelas seis e meia, a festa estava a pleno vapor. Hamptonitas bem
vestidos encheram o Salão Oceano. Num canto do salão, uma banda de dez
pessoas tocava músicas tradicionais de jazz, enquanto garçons de terno preto
circulavam entre grupos de convidados sorridentes que conversavam,
oferecendo bandejas de champanhe e canapés. Apesar de a festa estar
ocorrendo em curto prazo, a elite de Southampton apareceu em peso para
testemunhar o noivado do filho mais velho de Carter Kingsley.
Mas fazia quase vinte anos que eu tinha passado mais que um fim de
semana ocasional em Southampton, e evitado ao máximo o cenário de
Manhattan da minha madrasta, o que significava que eu não conhecia muitos
dos convidados de papai e Verônica. Convidei o Jack, mas ele tinha um
compromisso anterior, e Mimi, amiga de Ava, estava fora do estado
participando de uma exposição de joias, portanto ela também não pôde
comparecer à festa de hoje à noite.
Por essa razão, quando vi minha irmã Carol caminhando em nossa
direção, fiquei grato por ver uma cara amiga. O vestido azul-turquesa sem
manga de Carol realçava os seus olhos azuis-claros, e seu cabelo louro
brilhava e balançava em volta dos ombros à medida que ela se aproximou.
— Desculpem o atraso — disse ela, enquanto abraçou Ava e em seguida
a mim. — Eu e o motorista do Uber ficamos parados na rodovia quase trinta
minutos.
— Algum acidente? — perguntou Ava.
— Um acidente com um caminhão de peixe — disse Carol, franzindo o
nariz. — Quando finalmente conseguimos sair de lá e passar lentamente pelo
local do acidente, havia pilhas de peixe morto ao longo do acostamento e
limo de peixe por toda a pista. Felizmente, parecia que ninguém estava
ferido, mas aquele trecho da estrada nunca mais vai ter o mesmo cheiro.
Um garçom se aproximou com uma bandeja de taças de champanhe, e
Carol pegou uma. — Ao seu noivado — disse ela, com os olhos cintilando de
alegria. — Vocês dois não podiam parecer mais fabulosos juntos. O casal
perfeito dos Hamptons.
Dei à minha irmã um olhar de advertência, assim que vi Porcina
Hammersley se aproximando. Uma das poucas hamptonitas de quem eu
realmente gostava, Porcina tinha sido amiga da nossa mãe. Antes de se
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aposentar, Porcina havia gerenciado uma das galerias de arte mais bem-
sucedidas de Manhattan e, apesar da sua idade (ela devia ter pelo menos
oitenta), ela permanecia vibrante e ativa. Bem respeitada no mundo da arte de
Nova York, ela se esforçou para ajudar Carol em sua carreira de pintora. Mas
Porcina também era uma das pessoas mais perceptivas que eu conhecia, e se
alguém pudesse sacar que Ava e eu não éramos um casal de verdade, Porcina
seria essa pessoa.
Eu me fiz de aço e pus um sorriso no rosto conforme a mulher pequena,
com porte de pássaro, cumprimentou Carol com dois beijinhos no rosto, antes
de se virar para mim. Trajando um vestido branco de inverno, com várias
voltas de pérola no pescoço, Porcina manteve o estilo e a forma da beleza
clássica que tivera em sua juventude. Eu me senti mal em mentir para ela,
mas não pude evitar. Além de Carol, Jack e Mimi, eu havia decidido não
ampliar o círculo de amigos que sabiam a verdade sobre o nosso acordo de
casamento falso. Simplesmente era arriscado demais.
— Bem, bem — disse Porcina com um sorriso exuberante que
aprofundou a rede de minúsculas rugas que cruzavam o seu rosto. — A
notícia do noivado me pegou de surpresa, mas agora que estou vendo sua
adorável noiva, entendo tudo.
Apresentei Ava, a quem Porcina estendeu a sua mão delgada e venosa. —
Encantada em conhecê-la — disse ela à Ava. — Eu estava começando a
temer que Ronan nunca fosse encontrar sua parceira. Ele sempre foi um
jovem decidido e, como o seu pai, trabalha muito duro para o seu próprio
bem.
— Como Ronan pode lhe dizer, eu mesma sou um pouco viciada em
trabalho — disse Ava, pegando no meu braço. — Mas ao conhecê-lo, minhas
prioridades mudaram. Atualmente, tento encontrar um equilíbrio entre passar
um tempo com ele e cuidar do meu negócio, e ele faz o mesmo por mim.
— Ronan e Ava são ótimos juntos — disse Carol com um sorriso. — Eu
levo todo o crédito por apresentá-los.
— Ser cupido é um negócio arriscado — disse Porcina. — Mas a julgar
pela forma que esses dois olham um para o outro, tenho que parabenizá-la
pelo seu sucesso.
Minha avaliação da capacidade de atuação de Ava subiu alguns pontos, e
eu me relaxei um pouco. Até Porcina havia caído em nossa encenação.
— Somos muito felizes juntos — disse Ava. — Eu me sinto afortunada.
— Então somos dois — eu disse, sorrindo para minha noiva à medida que
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nossos olhares se encontraram. Eu nunca fui feito para o casamento, e não


poderia ter tido sorte da maneira convencional, mas Ava estava fazendo o seu
papel perfeitamente, e o nosso acordo estava me salvando do lugar mais
difícil em que tive o infortúnio de me encontrar até hoje. Meu único
arrependimento é que a nossa parceria não podia se estender até a cama. Pela
primeira vez na vida, eu estava lutando contra minha atração por uma bela
mulher em vez de lutar por ela.
Mas isso provavelmente era para o melhor. Como meu pai, eu não era o
tipo que queria relacionamento. Sexo era o que eu tinha a oferecer, e Ava não
tinha demonstrado nenhum sinal de interesse sexual em mim. Dadas as
circunstâncias, tive a sorte de ter a sua amizade e lealdade, que me
permitiriam salvar o meu negócio.
E foi por isso que, quando eu falei, eu realmente queria dizer o que disse.
— Sou o homem mais sortudo do mundo.

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20

AVA

Durante a calmaria nas apresentações e felicitações que ocuparam a primeira


hora da festa, Ronan aproveitou a oportunidade para sugerir que déssemos
uma saída de modo que ele pudesse me apresentar aos Morton. Sabendo o
quão próximo Ronan era de Alfred e Evelyn Morton, sugeri que talvez ele
lhes dissesse a verdade sobre o nosso relacionamento, mas ele se recusou,
dizendo que embora confiasse neles completamente, dada a sua posição como
empregados do seu pai, seria estressante e injusto sobrecarregá-los com esse
conhecimento e a preocupação para ele por conta disso.
Mas conforme tomamos um lance de escada abaixo até o andar térreo,
Ronan estava em silêncio, e eu senti que ele estava se fazendo de aço para o
que devia ter sido difícil para ele.
Ao pé da escada, viramos à direita antes de entrar numa cozinha
espaçosa, que era completamente moderna, com fogões de aço inoxidável de
última geração e um monte de geladeiras combinando.
— Aquela é Evelyn — disse Ronan, apontando para uma mulher pequena
de aparência eficiente em seus sessenta com cabelo grisalho atraentemente
aparado, que estava no extremo da cozinha, dando instruções a vários garçons
vestidos de preto.
Quando Evelyn nos viu, ela acenou, e com uma palavra final aos garçons,
correu em nossa direção. Ronan deu um largo sorriso para ela, antes de fazê-
la se apaixonar por ele com um abraço entusiasmado.
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— Me põe no chão, seu brutamontes — disse ela, rindo. — Me apresenta


à sua noiva.
Quando Evelyn se referiu a mim como sua noiva, Ronan pausou por um
momento, e a sombra fugaz no seu olhar me disse como deve ter sido difícil
para ele mentir para ela. Depois que ele a pôs no chão e ela recuperou o apoio
dos pés, ela apertou a minha mão com firmeza. — Encantada em conhecê-la
— disse ela com um sotaque britânico. — Esse aqui sempre me dizia que
nunca se casaria, mas ele só precisava encontrar a mulher certa, uma que
pudesse enfrentá-lo.
— Ava é tudo isso — disse Ronan, sorrindo. — Ela me enfrenta
diariamente.
— Para o seu próprio bem, tenho certeza — disse Evelyn. — Ava, você
escolheu um homem teimoso, mas bom. Mantenha isso em mente quando ele
te deixar nervosa, o que ele certamente faz com regularidade.
Ronan pareceu se divertir. — Realmente sou assim tão mau?
— O pior dos maus — disse ela, disparando-me um olhar malandro. —
Mas eu te amo de qualquer maneira, e como prova, fiz uma batelada dos seus
cookies de manteiga de amendoim favoritos. Ela caminhou até um armário
próximo, retirou uma jarra de vidro com os cookies e a entregou para ele.
Ronan deu um largo sorriso para ela à medida que abriu o recipiente e o
estendeu para mim. — Você tem que provar um. Eles são viciantes.
Eu peguei um, provei-o e tive que concordar. — Você poderia me dar a
sua receita? — perguntei à Evelyn. — Eu não sou muito de cozinhar, mas
gosto de assar.
— Vou copiá-la e mandar a você por e-mail — disse ela, parecendo
satisfeita.
— Onde está o Alfred? — perguntou Ronan, olhando ao redor conforme
mordia o seu cookie. — Eu quero que Ava o conheça.
— No andar de cima — disse ela. — Trabalhando mais do que devia,
depois do seu ataque cardíaco no ano passado. Mas você conhece o Alfred.
Ele se recusa a admitir que não é mais um jovem.
Os olhares de Ronan e Evelyn se encontraram. — Ele tem padrões —
disseram ao mesmo tempo, antes de soltarem uma gargalhada.
— É uma das linhas do Alfred — explicou Ronan. — Sempre que alguém
sugere algo que possa tornar sua vida mais fácil, ele sempre diz que tem
padrões.
— Isso ele tem — disse Evelyn, com seus olhos castanho-claros
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cintilando. — Mas ele também é o homem mais bondoso do mundo, e é por


isso que ele geralmente me deixa fazer as coisas à minha maneira no final.
Um homem robusto de cabelos grisalhos com traços bruscos emergiu de
trás de um aglomerado de fornecedores. — Conspirando contra mim, amor?
— disse ele, piscando para mim e Ronan. Assim como sua mulher, ele tinha
um sotaque britânico.
— Depois de 40 anos de casamento, eu não tenho nenhuma necessidade
de conspirar — disse ela, dando ao seu marido um olhar afetuoso. —
Conheço você tão bem quanto me conheço.
Alfred avançou e abraçou Ronan, antes de estender uma mão larga para
mim. — Eu estava ansioso para conhecê-la — disse ele com um sorriso tão
genuíno que fez o seu rosto liso e sólido ficar bonito.
Apertei a mão dele. — Igualmente. Ronan e Carol me falaram tanto sobre
você e Evelyn; sinto como se já os conhecesse.
— Para onde foram os anos? — Alfred perguntou à Evelyn. — Parece
que foi ontem que o nosso Ronan era um menino, e aqui ele está hoje, noivo
para se casar.
— Eu sei — disse ela, olhando para Ronan com orgulho. — Parece
mentira. Mas quanto mais velha eu fico, mais rápido o tempo voa.
Conforme eu observava Ronan interagir com Alfred e Evelyn, eu o
compreendi melhor. Com sua maneira profissional e pavio curto, Ronan
mantinha a maioria das pessoas à distância, mas por baixo daquela fachada,
ele tinha um grande coração. Crescer com um pai indiferente e uma madrasta
hostil pode ter feito dele alguém frio e indiferente, mas o homem diante de
mim, agora indagando sobre a saúde de Alfred não era senão caloroso e
carinhoso.
Naquele momento, o jovem que havia nos servido uísque anteriormente
apareceu por trás do ombro direito de Alfred e falou com ele em voz baixa
antes de se afastar.
Alfred olhou para Ronan. — É melhor você e Ava irem lá para cima —
disse ele. — A Sra. Kingsley está procurando vocês dois e, segundo o Jaime,
ela está em pé de guerra.

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21

RONAN

Depois de nos despedir de Alfred e Evelyn, levei Ava para fora da cozinha
em direção à escadaria dos fundos, a rota que nos dava a melhor chance de
nos esquivar de Verônica e desaparecer de volta na festa sem que ninguém
soubesse que tínhamos nos ausentado. Eu não queria que Ava sofresse o
desprazer de dar de cara com Verônica por minha culpa.
— Foi mais difícil do que eu esperava — sussurrei para Ava conforme
entramos na escadaria. — Mentir para Alfred e Evelyn parece tão errado.
— Eu me sinto horrível com isso também — disse Ava em silêncio. —
Eles foram tão gentis e acolhedores. Você tem certeza que não podemos lhes
dizer a verdade?
Sacudi minha cabeça. — Não posso causar mais estresse para eles quando
já estão trabalhando horas extras devido a essa festa e depois ao nosso
casamento. Desde o seu ataque cardíaco, Alfred deve tomar mais cuidado,
mas ele nunca toma. Não é da natureza dele.
— E depois do casamento, quando as coisas se acalmarem? Não
poderíamos lhes dizer a verdade, então?
— Alguns segredos são melhores se mantidos. Acho que eu não poderia
suportar ver sua decepção comigo por ter mentido a eles; pensam que eu sou
melhor que isso. Mas não posso retirar a mentira agora; o que está feito está
feito.
Saímos da escadaria, emergimos no segundo andar e caminhamos pelo
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corredor que levava à frente da casa. Conforme nos aproximamos da entrada


do Salão Oceano e da festa, Verônica emergiu da multidão com meu meio-
irmão Aiden, que eu não via desde o Natal. Aiden estava usando um dos
ternos bem modernos que ele preferia atualmente, que, ao meu ver, dava-lhe
uma aparência de mauricinho. Não que Aiden estivesse cagando para a minha
opinião desde o seu décimo primeiro aniversário mais ou menos, quando ele
sacou como sua mãe se sentia a meu respeito e aprendeu a usar isso em
benefício próprio.
Verônica marchou em nossa direção com uma expressão sombria em seu
rosto, com Aiden logo atrás dela.
— Obrigada por nada — disse ela em voz baixa, com os lábios apertados
de raiva. — Qual é a sua desculpa para abandonar a sua festa de noivado e se
meter com aquela gentalha na cozinha?
Olhei para ela e, em consideração aos convidados próximos, mantive
minha voz calada. — Você sabe perfeitamente bem que eu sempre encontro
um tempo para ver os Morton.
— Todos estão cientes do seu apego a nosso mordomo e nossa
governanta — disse Aiden. — Mas você não poderia ter esperado para ir lá
embaixo depois que a festa terminasse? Os Andresson queriam conhecer
você e Ava, mas não conseguíamos encontrar vocês. Você colocou a mãe
numa posição embaraçosa. O seu comportamento foi desrespeitoso e rude.
— Obrigada, Aiden — disse Verônica, olhando para mim com raiva. —
Ronan, não perca o seu fôlego com explicações, porque não há desculpa para
a sua falta de consideração. Quando você vai crescer e levar as suas
responsabilidades a sério?
Antes que eu pudesse responder, Ava confrontou minha madrasta,
ignorando Aiden completamente. — Agora não é hora para isso — disse ela
silenciosamente. — Em vez de discutir sobre responsabilidades, devemos
assumi-las. Ronan e eu estamos de volta agora, e ficaríamos encantados de
conhecê-los, ou qualquer outra pessoa que queira nos conhecer.
A voz de Ava foi educada, porém firme, e antes que Verônica pudesse
responder, Ava virou-se para mim. — Vamos voltar para a festa e para os
nossos convidados? — disse ela. — Eu gostaria de uma taça de champanhe.
Estendi o meu braço para ela. — Vamos.
Ela pegou no meu braço, e passamos por Verônica e Aiden em direção ao
Salão Oceano, onde a festa parecia exatamente como a tínhamos deixado,
com um barulho alegre de vozes, música e copos tilintando, e uma multidão
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apertada de hamptonitas fofocando e bebendo a birita do meu pai. Conforme


entramos no salão e caminhamos para a multidão, Ava sussurrou no meu
ouvido. — O Aiden é sempre um moleque puxa-saco?
— Na maioria das vezes — eu disse. — Mas ele é pior quando sua mãe
está por perto.
— Suponho que ela seja seu público — disse Ava. — Ele até se parece
um pouco com uma versão masculina dela, embora seja muito bonito.
— Quando criança, Aiden não era tão ruim — eu disse. — Como eu
naquela idade, ele era obcecado por Guerra nas Estrelas, que costumava ser
um elo entre nós. Mas daí ele cresceu e virou um adolescente malcriado, e
desde que terminou o seu mestrado em administração de empresas na
Wharton no ano passado, ele tem sido insuportável. Os mimos de Verônica
só fazem inflar o seu ego enorme.
— Gente que se forma em administração na Ivy League tende a sair da
escola assim — disse Ava. — Mas nos próximos anos, uma exposição à vida
real deve fazer com que o seu irmão ponha os pés no chão.
— Eu não contaria com isso — eu disse, procurando um garçom na
multidão. Mas então avistei um rosto indesejado. — Droga. Minha madrasta
realmente exagerou na dose dessa vez.
— O que ela aprontou?
— Ela convidou Larissa Storrow, uma mulher com quem tive um caso
num verão durante a faculdade. Está vendo a loura alta de vestido cor de
champanhe? É ela.
— A sua paixão da faculdade é uma mulher atraente — disse Ava. —
Gosto do vestido dela; olha, acho que ela nos viu. Ela está vindo em nossa
direção.
Depois de confirmar que Ava estava certa, eu me virei para ela. Antes que
Larissa chegasse até nós, eu precisava preparar Ava para o que estava por vir.
— Você precisa saber que desde aquele verão, Larissa me despreza e
raramente perde uma oportunidade de me humilhar em público. Verônica
sabe disso; por isso a convidou.
Ava me censurou com um olhar. — Rápido, me dá um resumo do que
aconteceu entre você e Larissa.
Com relutância, confessei a verdade embaraçosa. — Uma aventura de
duas semanas quando eu tinha 19 anos. Eu segui em frente; ela não. Lidei
mal com isso; feri seus sentimentos e, apesar de ter me desculpado mais de
uma vez, ela nunca me perdoou.
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— Não se preocupe com isso — disse Ava, enlaçando o seu braço no


meu. — Se ela tocar no assunto, vamos lidar com isso juntos.
Ava tinha boas intenções, mas não sabia do que Larissa era capaz, e eu
me fiz de aço à medida que ela se aproximou, com um brilho nos olhos que
me dizia que tudo que eu mais temia estava por acontecer.
— Oi, Ronan — disse ela brilhantemente, antes de se virar para Ava. —
E você deve ser a noiva dele.
Apresentei Ava, que estendeu a mão para Larissa. — Prazer em conhecê-
la — disse Ava. — Obrigada por celebrar conosco o nosso noivado.
— Eu não o teria perdido por nada — disse Larissa. Ela apontou para a
multidão. — Como prova o número de convidados dessa noite, toda a
Southampton está curiosa para conhecer a mulher que laçou um dos nossos
solteirões mais esquivos. Ela deu à Ava um olhar de interrogação. — Ronan e
eu éramos um casal a uma certa altura, mas suponho que você já ouviu tudo
sobre isso.
— Ouvi — disse Ava. — Antes de nos conhecermos, Ronan e eu
namoramos outras pessoas, portanto havia história romântica a ser
compartilhada de ambos os lados.
Larissa inclinou-se para Ava, baixando sua voz. — Receio que romântica
é a palavra errada para a história do seu noivo. A menos que a sua ideia de
romance seja um homem seduzi-la, dar-lhe um pontapé e, em seguida, cantar
a sua melhor amiga.
Como era de praxe, ela foi direto à minha veia jugular. — Isso foi há
muitos anos, e nós dois éramos jovens — eu disse calmamente. — Não
podemos ir além do passado?
— Eu fui além há muito tempo — disse Larissa levianamente. — Mas
considero meu dever advertir Ava sobre a encrenca em que ela está se
metendo.
— Então o considere como dever cumprido — disse Ava friamente. —
Como todos nós, Ronan teve a sua parcela de erros na juventude, mas ele tem
sido honesto comigo sobre esses erros, e eu confio nele completamente.
O rosto de Larissa corou e, embora mantivesse a voz baixa, o seu tom
demonstrou irritação. — Não seja ridícula. A única pessoa que você está
enganando é você mesma. Ronan Kingsley é a última pessoa do mundo que
merece confiança.
— Sério? — disse Ava calmamente, olhando-a para baixo. — Quem te
fez especialista no meu noivo? Quando foi a última vez que você teve uma
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conversa civilizada com ele em vez de tentar causar problemas? Você é quem
está se enganando, Larissa. Você diz que seguiu em frente, mas você é quem
está presa ao passado, tentando dar o troco ao Ronan por algo que aconteceu
há mais de uma década. Cresça e pare de viver no passado.
— Tudo bem — surtou Larissa. — Se você é teimosa demais para ouvir a
verdade, não há nada que eu possa fazer para livrá-la da sua própria
estupidez. Um dia, ele vai trair você, e quando esse dia chegar, estou ansiosa
para vê-la sofrer, assim como eu sofri.
E com isso, ela se virou e foi embora.
— Desculpe por isso — eu disse. — E obrigado. Você lidou com ela
muito melhor do que eu já consegui.
— Você não tem nada que se desculpar — disse Ava. — Aquela mulher
precisa de terapia ou algo assim. Sério. Todos nós não tivemos um ou dois
romances problemáticos?
— Eu tive muito mais que isso — eu disse. — Só depois dos meus 25 é
que melhorei em definir as expectativas das mulheres que eu namorei.
— Isso é normal — disse Ava. — Quando olho para trás e me vejo com
meus 19 anos, eu também me arrepio. Havia tanta coisa que eu não sabia.
— Minha madrasta vai fazer qualquer coisa para me fazer parecer mau —
eu disse. — Larissa é apenas uma arma conveniente.
— Eu sei — disse Ava. — De certa forma, eu me sinto mal por ela. Ela
parece emocionalmente instável, e foi cruel da parte de Verônica convidá-la
essa noite e usá-la dessa forma.
— Estou plenamente de acordo — eu disse. — Uma vez que o casamento
tenha se realizado, estou ansioso para evitar minha madrasta por um longo
tempo.
Ava apertou o meu braço. — Somos dois.
Sorri para Ava, sentindo-me afortunado por tê-la ao meu lado. Na última
meia hora, ela confrontou não só Verônica, mas Larissa também, e detonou
as duas. Ava era rápida, não se abalava facilmente e tinha sempre o meu
apoio. Eu não podia ter tido uma parceira melhor.
Naquele exato momento, um garçom apareceu com uma bandeja de
champanhe. Peguei duas taças e entreguei uma à Ava.
— Saúde — eu disse, tilintando meu copo contra o dela, conforme vi
Aiden vindo em nossa direção. — E beba tudo, porque você vai precisar.
Ela sorveu o seu champanhe. — Algum motivo em particular?
Baixei a minha voz. — Meu irmão malcriado.
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22

AVA

Conforme Aiden se aproximou de nós, resolvi dar-lhe uma segunda chance.


Ele podia ser mimado e egoísta, mas também era um menino rico de 25 anos,
que tinha passado sua vida enclausurado em tipo de escolas exclusivas que
constantemente diziam aos seus alunos como eles eram brilhantes. E Ronan
havia dito que seu meio-irmão era pior quando Verônica estava por perto, o
que sugeria que Aiden podia ser menos desagradável sozinho.
— A mãe deu uma festa e tanto a vocês — disse-nos Aiden. — Gosto da
banda que ela escolheu.
— Eles são excelentes — eu disse. — Gosto principalmente do pianista.
Aiden arrastou os pés nervosamente antes de olhar para Ronan e depois
para mim. — Quando nos encontramos no salão, não tive a chance de
parabenizar vocês dois pelo seu noivado. Então... parabéns.
O desconforto de Aiden era evidente, mas talvez ele estivesse tentando
fazer algum gesto de conciliação, por isso tentei deixá-lo à vontade.
— Obrigada — eu disse com um sorriso. — Estamos muito felizes.
— Como estão indo os preparativos para o casamento? — perguntou
Aiden.
— Bem — disse Ronan friamente, fitando para o seu irmão mais novo de
uma forma que me dizia que ele não havia se esquecido do apoio de Aiden à
crítica de Verônica a nós no início da noite.
Passados vários segundos de silêncio, tentei aliviar o clima. — Planejar
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um casamento é um grande projeto, e ainda temos muito a fazer. Mas como


disse o Ronan, está indo bem; Carol e Verônica estão nos ajudando a
trabalhar os detalhes, e tudo está correndo bem.
— Fico feliz em ouvir isso — disse Aiden. — Eu jamais imaginaria como
planejar um casamento, mas, novamente, nunca vou ter que fazê-lo. — Ele
me deu um olhar bem-humorado. — Se algum dia eu me casar, minha mãe
sem dúvida vai insistir em planejar todo o evento.
— A sua mãe tem uma tonelada de experiência em planejar eventos — eu
disse. — Provavelmente seja natural para ela assumir a liderança.
— Os Kingsley são uma turma com temperamento forte — disse-me
Aiden. — À medida que você for nos conhecendo, vai descobrir que todos
tendemos a assumir a liderança.
— Há alguma verdade nisso — disse Ronan.
Ele estava cedendo um pouco? Eu esperava que sim. — Eu posso ser um
pouco assim — eu disse. — Acho que é por isso que prefiro ter meu próprio
negócio a trabalhar para os outros.
— O negócio da Ava é fazer arranjos florais para eventos — disse Ronan
com evidente orgulho. — Ela começou tudo por conta própria, assim como
eu fiz com a Kingsley Tech.
— Isso é impressionante — disse Aiden, sorrindo para mim.
— Ava é impressionante — disse Ronan, segurando a minha mão. — Sou
um homem de sorte.
A tensão entre os irmãos parecia ter dissipado, até Aiden falar outra vez.
— Por falar na Kingsley Tech, correm boatos por aí que você está tendo
sérios problemas financeiros.
Ronan empertigou-se ao meu lado e apertou-me a mão com mais força.
— O que você ouviu é um exagero — disse ele secamente. — A Kingsley
Tech está expandindo e assinando novos contratos. Mas não é nada com o
qual eu não possa lidar.
— Espero que você esteja certo — disse Aiden. — Mas você deve saber
que a fábrica de boatos de Manhattan está apostando contra você. As pessoas
estão dizendo que ao assinar contratos com a Ásia, você se sobrecarregou
significativamente.
— As pessoas podem dizer o que lhes der na telha — disse Ronan
secamente. — Elas estão equivocadas.
— Para o seu próprio bem, espero que você saiba o que está fazendo —
disse Aiden.
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— Claro que sei — rosnou Ronan. — Quem você pensa que eu sou?
Aiden ergueu as mãos. — Sem ofensa, OK? — Baseado no que ouvi, eu
estava preocupado.
Ele havia aceitado a explicação de Ronan? Eu não tinha certeza. Aiden
podia ser jovem e inexperiente, mas também era formado, a nível de
mestrado, pela Wharton em administração de empresas, e os boatos que ele
tinha ouvido eram perigosamente próximos à verdade.
Percebendo a irritação de Ronan e esperando mudar a conversa para um
terreno mais seguro, sorri para Aiden. — Sei que você trabalha na Kingsley
Capital com Carter, mas em que consiste o seu trabalho? Que tipo de trabalho
você faz?
Uma expressão de orgulho tomou conta do rosto bonito e magro de
Aiden. — Nos últimos meses, eu mudei para divisas. Papai me colocou no
comando de uma equipe que está desenvolvendo uma nova linha de fundos
especulativos.
— Sei o que é um fundo especulativo — eu disse. — Mas o que quer
dizer "divisas"?
— É o mesmo que área de câmbio — explicou Aiden. — Decidi me
especializar no trabalho com moedas estrangeiras.
— Por que você iria querer fazer isso? — perguntou Ronan.
Aiden demonstrou-se na defensiva. — É um trabalho interessante.
— Talvez para você — disse Ronan. — Cada um na sua, suponho, mas
não posso pensar em nada mais maçante que ficar olhando para cifras
cambiais o dia todo.
O semblante de Aiden mudou, e ele inclinou-se para Ronan. — Eu vim
aqui para fazer um esforço de ter uma conversa decente com meu irmão, e
tudo que consigo é essa atitude? Foda-se. A mãe sempre diz que tentar se dar
bem com você é inútil, e quer saber de uma coisa? Talvez ela esteja certa.
E com isso, ele foi embora.
Eu não tive a sorte de ter irmãos e não suportava ver Ronan jogar fora
qualquer possibilidade de uma relação positiva com o seu irmão. Aiden podia
ser um moleque, mas também ele claramente ansiava pela aprovação do seu
irmão mais velho, o que significava que ainda havia esperança de que
pudessem formar um vínculo.
Se pelo menos Ronan estivesse disposto a ser o irmão mais velho maduro
que eu sabia que ele poderia ser. Se ele estivesse disposto a se elevar e ser
uma pessoa maior.
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Olhei para Ronan, que estava calmamente sorvendo o seu champanhe. —


Há algum lugar aqui perto onde possamos ter alguns minutos de privacidade?
— Podemos ir para a sala de estar do outro lado do salão — disse ele. —
Do que se trata?
— Vou te contar assim que estivermos sozinhos.
Quando chegamos à sala de estar, fechei a porta, atravessamos a sala que
dava para a janela de arco único e olhei para fora para ver o mar antes de me
virar para encará-lo. — Por que você tinha que ser tão duro com o seu irmão
bem agora?
Ele pareceu surpreso. — Por que diabos eu iria desperdiçar energia sendo
legal com Aiden? Ele é um merdinha inútil. Posso ter terminado o que
acabou de acontecer, mas Aiden foi quem começou. A única razão pela qual
ele se preocupou em falar com a gente foi para entregar a pílula venenosa dos
boatos maliciosos. O que eu disse a ele não foi nada mais do que ele merecia.
— Discordo. Ele é jovem e socialmente desastrado, mas não acho que
tenha sido mal-intencionado. Há uma parte dele que quer a sua atenção e
aprovação.
— Não me importo com o que ele quer — disse Ronan, erguendo a voz.
— Enquanto ele continuar sendo o maldito joguete da sua mãe, ele não vai
receber nada de mim.
— Você já pensou em tentar separar a sua relação com Aiden da relação
com sua madrasta? Se você desse uma pausa e parasse de deduzir o pior dele,
quem sabe vocês dois pudessem construir um relacionamento melhor.
Ronan se aproximou de mim, tão perto que eu podia sentir o calor
emanando do seu corpo forte. — Você não sabe do que está falando.
Verônica destruiu qualquer possibilidade de eu e Aiden nos darmos bem há
anos.
— Posso não saber tudo sobre a sua família, mas você não deve esquecer
que Aiden está apenas começando sua vida adulta. Ele está na fase em que as
pessoas se tornam mais independentes e começam a pensar por si próprias.
Ronan bufou com desdém. — Aiden? Pensar por si próprio? Essa eu pago
para ver.
— Se essa é a sua atitude, então você pode muito bem esquecer que tem
um irmão.
Ele olhou para mim. — Acredite em mim, eu já esqueci.
Foi então que eu notei que a porta que eu havia fechado para nos dar
privacidade estava agora aberta. Quem a teria aberto, ou ela não estaria
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fechada com segurança? Na porta, estava Verônica com uma expressão


curiosa em seu rosto. Ela teria ouvido nossas vozes exaltadas? E se tivesse,
quanto teria ouvido?
Ronan estava apenas em minha frente, de costas para a sua madrasta, com
o rosto vermelho de raiva. Sem dúvida, o meu rosto também traiu a minha
emoção. Se Verônica entrasse e nos visse assim, o que pensaria? Suas
suspeitas sobre o nosso relacionamento aumentariam a um novo patamar? E
se aumentassem, o que isso significaria para o nosso acordo de casamento
falso?
Desesperada para recuperar a situação, fiz a única coisa em que eu podia
pensar.
— Verônica está atrás de você — eu disse em voz baixa. — Me beija
agora.

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23

RONAN

Quando Ava me pediu que a beijasse, eu não poderia ter ficado mais
surpreso. Mas apesar da discussão que estávamos tendo, eu confiava no seu
julgamento de que beijá-la era necessário para manter a ilusão do nosso
relacionamento. Nada mal para quem esteve fantasiando em pôr as mãos nela
a noite toda, desde que ela saiu do seu quarto tão gostosa de perder a cabeça,
e meu corpo respondeu de maneiras que me lembravam dos meus tempos de
adolescência!
Dei um passo à frente, prendi os seus ombros contra a moldura da janela
atrás dela e a beijei com todo o meu ardor. Eu poderia nunca mais ter outra
oportunidade de fazer isso e pretendia tirar o máximo proveito da situação.
Quando a minha boca tocou na dela, produziu uma faísca entre nós. Seus
lábios se partiram embaixo dos meus, e um pequeno gemido que escapou dos
seus lábios me deixou de pau duro. Eu a beijei lenta e profundamente,
deixando minha língua roçar vagarosamente, em círculos, em volta da sua,
antes de mover minhas mãos para pegar nos seus peitos, delineando os seus
contornos antes de procurar os seus mamilos endurecidos, que eu apertei
levemente com meus dedos.
Ela suspirou de prazer, e suas mãos se estenderam para mim, explorando
o meu peito e viajando para baixo antes de agarrar minha cintura e me puxar
para mais perto, à medida que minha ereção se intensificava contra o seu
corpo.
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O momento em que eu tinha flagrado Ava me observando passou de


relance pela minha cabeça. O que significava esse beijo? Ela sentia atração
por mim também? Nós dois estaríamos relutando contra a atração um pelo
outro?
Conforme o seu corpo se moldava ao meu, eu bebi do seu aroma floral e
delicado, e provei do sabor sutil de champanhe em sua boca. Sua língua
roçava contra a minha, ensaiando uma dança sensual e acalorada que
inflamava o meu tesão por ela e apagava qualquer dúvida restante.
Independentemente do nosso acordo e do que levou Ava a pedir esse beijo,
ela estava totalmente entregue a ele assim como eu também estava.
Uma porta se fechou, saltos fizeram toc-toc, e a voz da minha madrasta
falou por trás de mim.
— Me poupem — disse ela. — O que vocês dois vão aprontar em
seguida? Antes se escondendo na cozinha e agora no cio como adolescentes?
Relutantemente, soltei Ava e nos viramos em direção ao rosto carrancudo de
Verônica.
— Desculpe — disse Ava, disparando-me um olhar que dizia que ela
estava no comando. — Nós dois nos empolgamos; espero que você possa
entender. Não pretendíamos ser desrespeitosos de modo algum, seguramente
você se lembra como é estar apaixonada e achar o seu amante irresistível.
Os lábios de Verônica se contraíram. — Isso é uma festa de noivado, não
um bordel. É realmente pedir demais que vocês se comportem de acordo com
a idade por algumas horas? Ou, se isso for impossível, pelo menos tenham a
decência de se trancarem num banheiro? Há somente quatorze deles à sua
escolha.
À medida que minha madrasta continuava o seu sermão, eu fingia escutá-
la enquanto, de rabo de olho, observava Ava. Ruborizada de excitação e
constrangimento, ela estava mais atraente que nunca, e dois pensamentos se
formaram em minha mente.
O primeiro foi admiração pelo fato de eu ter conseguido manter minhas
mãos longe dela desde que ela foi morar comigo.
O segundo foi que eu não tinha mais qualquer intenção de fazer isso.

Depois que a festa acabou, a viagem de volta a Manhattan pareceu infinita, e

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pela expressão no rosto de Ava, eu sabia que ela queria conversar sobre o que
acontecera antes: o beijo que havia desvendado qualquer pretensão de que
não queríamos foder um com o cérebro do outro.
Aquela pretensão estava morta.
Mas durante a última hora da festa, não tivemos a oportunidade de
conversar em particular, e não podíamos arriscar ter uma conversa aberta ao
lado do motorista do meu pai. Portanto, durante toda a viagem para casa,
olhei para fora da janela, observando a paisagem, escurecida pela noite, que
passava, enquanto Ava fazia o mesmo na janela oposta.
Quando finalmente chegamos ao meu prédio, eram pouco depois das 11h
da noite. Sob o brilho das luzes da rua, ajudei Ava a sair do carro e a
acompanhei para dentro de casa. Na viagem do elevador até o meu andar,
nossos olhares se encontraram. O que vi no seu olhar foi um desejo igual ao
meu, mas conhecendo Ava, ela provavelmente tentaria fazer com que nós
dois desistíssemos. Ela insistiria que, tendo em vista o nosso acordo de
casamento falso, fazer sexo não seria uma boa ideia.
Mas aquela conversa não estava na minha agenda.
O que estava em minha agenda era um novo acordo. Um que
reconhecesse a química escaldante entre nós. Um que validasse a nossa
atração e nos permitisse curti-la. Nossa vida em comum podia não ser o que
nenhum de nós dois escolhemos, mas não tinha que ser assexuada. Não se eu
conseguisse convencer Ava a ver as coisas como elas realmente eram. Até o
beijo dessa noite, eu havia me contido porque sexo era tudo que eu tinha para
oferecer, e nada no comportamento dela sugeria qualquer atração por mim.
Mas o beijo dessa noite mudou tudo, revelando uma química que foi fora de
série.
Assim que entramos e a porta do apartamento se fechou, Ava me encarou.
— Precisamos conversar.
— Precisamos, e vamos conversar — eu disse. — Mas antes, precisamos
fazer isso.
E com isso, eu a tomei rapidamente em meus braços e a beijei com toda a
paixão que estava reprimida dentro de mim. Seus lábios se partiram, e seu
corpo derreteu contra o meu, entregando-se a mim de uma maneira que
reafirmava tudo que eu já sabia. Ela queria cada pedaço tanto quanto eu
queria; ela só não estava tão pronta para admiti-lo.
Felizmente, fui o homem que a levou a fazer isso. Uma coisa era dizer
não à possibilidade, mas depois que eu tivesse trepado com ela do jeito que
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eu quisesse, ela teria que dizer não à realidade, o que não seria tão fácil. Não
depois que eu tivesse abalado o seu mundo do jeito que eu sabia que seria
capaz.
— Não devemos — ela engasgou quando voltamos a tomar fôlego. —
Não que eu não queira, você sabe que sim, mas é uma má ideia.
Beijei-a novamente, antes de levantá-la em meus braços e carregá-la para
o quarto. O sofá estava mais próximo, mas para o que eu tinha em mente,
precisaríamos da minha cama king size.
— Essa não é uma boa ideia — disse ela à medida que levantava sua
cabeça para me beijar de novo.
— Não — eu disse. — Essa é a melhor ideia que qualquer um de nós teve
desde que você se mudou para cá.

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24

AVA

Com um fogo de desejo, Ronan e eu nos beijamos até a sua suíte, onde ele
pôs a luz em baixa intensidade antes de me colocar de pé no chão e abrir o
zíper do meu vestido, que caiu aos meus pés numa pilha cintilante de tecido
vermelho, deixando-me em minhas roupas íntimas de renda preta e saltos de
dez centímetros.
— Puta merda, Ava — disse ele à medida que o seu olhar acalorado
varria o meu corpo, me consumindo com sua intensidade exclusiva, antes de
me agarrar em seus braços e me beijar quase a ponto de me matar. Suas mãos
fortes vagavam sobre o meu corpo, provocando e explorando, e quando ele
enfiou a mão em minha calcinha e correu um dedo sobre as dobras inchadas,
tremi de excitação, molhada e carente por ele e pelo que ele estava prestes a
fazer.
Ele levantou a mão em direção aos seus lábios, lambeu o meu gosto em
seu dedo e olhou nos meus olhos. — Você tem gosto de céu, Ava. Mais doce
do que eu tinha imaginado. Não vejo a hora de meter minha língua entre as
suas pernas.
Eu nunca desejara algo tanto quanto o desejava naquele momento, e
conforme minha última gota de resistência evaporou em esquecimento regado
com lascívia, nós rapidamente perdemos o resto das roupas que sobravam.
Nada existia além de nós dois e a nossa necessidade irresistível de satisfazer
o nosso desejo um pelo outro.
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Pelados, caímos na cama juntos e nos beijamos profundamente. Quando


voltamos para tomar fôlego, Ronan me puxou de volta e me deu um olhar
escaldante, antes de mordiscar o meu torso de cima embaixo, afundando sua
cabeça escura entre minhas coxas e rastreando o meu sexo pulsante com a sua
língua.
Soltei um pequeno gemido, minha respiração estava ofegante, e meu
universo se eletrizou. Com a boca de Ronan, cada nervo do meu corpo estava
em chamas, cada centímetro do meu corpo carregado de desejo. À medida
que a sua língua alternava entre movimentos longos e lentos, e carícias
provocantes e delicadas em meu clitóris, ondas de excitação se formavam
dentro de mim, beirando um orgasmo com a inevitabilidade de um tsunâmi
que se aproximava.
Quando o orgasmo veio para valer, sua intensidade me arrasou. Meu
corpo encheu-se de prazer, e gritei quando um branco preencheu minha visão,
cegando-me. Aos 27, eu não era novata em matéria de sexo, mas eu nunca
tinha gozado tanto em minha vida. Eu não sabia que era possível.
— Ai, meu Deus — eu disse, agarrando os ombros de Ronan contra o
meu corpo, que ainda tremia. — Isso foi maravilhoso. Você é maravilhoso.
— Você não viu nada ainda — disse ele, com um quê de satisfação em
sua voz grossa. — Isso foi apenas o tira-gosto.
Ele me beijou, e quando eu senti o meu gosto nos seus lábios, uma nova
fome se acendeu dentro de mim. Eu queria tocá-lo, prová-lo, explorar cada
sabor do seu corpo como ele havia feito comigo.
Mas Ronan tinha outras ideias. Ele se moveu para o meu lado, e ouvi o
som de um pacotinho de folha de prata sendo rasgado. Quando ele se virou
para mim, sua grossa ereção estava envolta numa camisinha.
— Pronta para o próximo prato? — perguntou, franzindo rapidamente
uma sobrancelha para mim.
Deslizei minha mão sobre o seu peito largo, explorando seus músculos
bem definidos. — Mmmm. Não vejo a hora.
— Então somos dois — disse ele. — Estou fantasiando com isso há dias.
Envolvi meu braço em volta da sua cintura. — Sério?
— Tenho pensado muito sobre exatamente o que quero fazer com você
— disse ele com um sorriso maroto. — Isso está me mantendo acordado à
noite.
Eu ri. — Sério?
— Sério — disse ele. — Mas essa noite, aquele beijo me fez perceber que
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nós dois queremos a mesma coisa.


Deslizei meus dedos pelo seu cabelo grosso e escuro. — Então aqui
estamos, mantendo você acordado à noite outra vez.
— O sono pode esperar — disse ele, mergulhando sua cabeça para
morder meu mamilo esquerdo e, em seguida, o direito, antes de esfregar o
pau nas minhas dobras, provocando a minha carne umedecida e sensível com
sua ponta. Então seus dedos me preencheram, deslizando para dentro e para
fora, enquanto ele circulava o meu clitóris com seu polegar, reacendendo o
meu desejo.
Tremendo de desejo, meus olhos encontraram o seu olhar azul intenso,
agora escurecido por um tesão igual ao meu. — Quero você agora. Quero
você dentro de mim.
Eu estava tão molhada, tão pronta, que quando ele me penetrou, eu quase
gozei novamente. Por um longo momento, ele não se mexeu, apenas olhava
para mim com uma fome inconfundível que apagou quaisquer dúvidas
remanescentes sobre o meu desejo por ele. Ele me desejava tanto quanto eu o
desejava.
Mas quando Ronan começou a se mexer, não havia nada de provisório
nisso. Ele era tão dominador, tão magistral com o meu corpo quanto era com
tudo mais na vida. Com impulsos lentos e deliberados, ele enviou ondas de
sensação através do meu corpo, e eu me juntei ao seu ritmo com meus
próprios impulsos, com meu sangue tamborilando em meus ouvidos e minha
pele formigando, sobrecarregada, à medida que minha excitação aumentava.
Quando os seus impulsos se aceleraram, eu já estava próxima. Meu
mundo se reduziu a um ponto e, em seguida, explodiu, com foguetórios de
sensação espalhando por todo o meu ser. Meu corpo se inclinou contra o dele
enquanto gozávamos juntos, gritando de prazer no quarto pouco iluminado.
Com o coração batendo em meus ouvidos, desabei na cama e soltei um
suspiro à medida que o meu mundo lentamente voltava ao normal.
Ronan se virou rapidamente para descartar a camisinha, antes de estender
o braço ao meu lado e procurar a minha mão.
Era a primeira vez que eu dava uma longa olhada para ele sem roupa, mas
eu não tinha me equivocado com relação ao corpo debaixo dos seus ternos
caros. Os seus ombros eram largos; os seus braços, definidos com músculos
fortes. O seu peito forte era levemente coberto de pelos escuros, que desciam
para a sua barriga tanquinho. O seu torso, afilado em quadris estreitos e coxas
longas, lindamente musculosas. O seu pau, agora a meio-mastro, era grosso e
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tão belamente formado quanto o resto de si.


E a seu bumbum? Se eu fosse do tipo que escrevesse poesia, que eu não
era, eu teria escrito um poema sobre este tema. Muitos caras só trabalham na
parte superior do corpo, mas Ronan claramente não era um deles. Ele tinha
um bumbum firme e arredondado que era digno de um calendário pornô.
— Você tem o bumbum mais bonito — eu disse, deslizando minha mão
sobre suas nádegas com apreço.
Ele olhou em meus olhos fixamente. — E você está escondendo um
corpaço por baixo das blusas e jeans folgados que geralmente usa.
— Roupas de trabalho não são supostamente sexy? — perguntei. —
Embora eu sempre tenha tido uma queda por um homem de terno e gravata.
Ele me deu um olhar bem-humorado. — Quer que eu coloque o meu de
volta? Eu o coloco, se você pedir com jeito, e oferecer uma gorjeta adequada.
Eu ri. — Acontece que eu gosto de você pelado ainda mais, embora ainda
não tenha certeza se é prudente da nossa parte estar fazendo isso. Por mais
que eu curta estar com você nesse momento, está totalmente fora do nosso
acordo.
— Vamos agendar essa conversa para amanhã de manhã — disse ele. —
Nesse momento, prefiro fazer amor com você novamente.
E quando eu sorri positivamente, ele partiu para a próxima.

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25

AVA

Quando acordei na manhã seguinte na cama king size de Ronan, levei vários
segundos para lembrar onde eu estava e como fui parar lá. Depois da nossa
farra até tarde da noite, finalmente desmaiamos num emaranhado de lençóis
torcidos, pernas e braços trançados, e caímos no sono juntos.
Cautelosa para não acordá-lo, eu me desembaracei dele, me levantei e
voltei ao meu quarto, onde fui diretamente ao banheiro adjacente para tomar
uma ducha. Sentia a minha cabeça difusa, confusa pelo sono e o sexo, e eu
precisava acordar a todo custo.
Fiz sexo com meu futuro marido falso, e foi uma experiência de tremer a
terra. Impressionante. E quando ele acordasse, eu tinha uma sensação de que
ele iria querer fazer tudo de novo.
Diabos, eu gostaria de fazer tudo de novo.
O que devo fazer? Ou não fazer?
Eu nem mesmo imaginava, mas esperava que um banho e um copaço de
café colocariam o meu cérebro em marcha. Tinham que colocá-lo, porque
antes de encarar Ronan, eu tinha que pensar seriamente, e não tinha muito
tempo antes de ele acordar.
Conforme eu me ensaboava e enxaguava o corpo sob a ducha quente do
banheiro, momentos da noite anterior se passaram de relance pela minha
mente. O nosso beijo inesperado e o desejo reprimido que ele desencadeou.
Os olhos do Ronan, ofuscados de tesão, fitando os meus. O meu corpo
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arqueando contra o dele à medida que eu gritava ao gozar. A lembrança das


suas mãos fortes sobre a minha pele e a dor agradável que ainda reverberava
em todo o meu corpo.
Eu tive um namorado na faculdade e um noivo por volta dos 25, e tinha
curtido uma vida sexual ativa com cada um deles. Mas o que eu experimentei
na noite passada estava em um nível totalmente diferente.
Até a noite passada, eu não tinha tido sexo por dois anos. Eu poderia
explicar o meu desejo por Ronan, e a reação do meu corpo ao seu toque,
como mera privação sexual?
Conforme desliguei o chuveiro, saí do banheiro e comecei a me enxugar,
eu sabia que não podia. Eu tinha passado ainda mais tempo entre terminar
com meu namorado de faculdade e ficar com meu ex-noivo Brian, e embora
Brian e eu trepássemos como coelhos quando começamos a dormir juntos,
nunca foi como na noite passada.
Ao longo das últimas semanas, Ronan e eu tínhamos nos tornado amigos,
e a essa altura, o que me atraía nele era muito além que a sua aparência. Sua
inteligência, sua atenção, sua capacidade de me fazer rir; de tantas maneiras,
ele era um homem por quem eu poderia seriamente me apaixonar.
E havia o meu dilema.
Eu deveria dar as costas ao sexo mais ardente da minha vida numa
tentativa de pôr um freio nos meus sentimentos, que se aprofundavam, por
Ronan, ou deveria correr o risco de um desgosto e me permitir fazer o que
cada célula do meu corpo ansiava? Além do que, dormir juntos fortaleceria o
nosso acordo de casamento falso ou criaria conflitos que eu não sabia como
antecipar?
Conforme vestia meu jeans, minha camiseta e um suéter leve, eu tinha
certeza do que Ronan iria dizer. Ele me diria o quanto me desejava e insistiria
que dormir juntos não afetaria o nosso acordo de nenhuma forma negativa.
Não era difícil imaginar o que minhas duas amigas mais próximas
também diriam. Mimi diria para eu ir em frente. Ela diria que se eu sentisse
que nossa relação estava ficando desequilibrada demais, eu poderia muito
bem acabar com o sexo e reverter ao acordo original do casamento falso. Ela
diria que, desde que Ronan e eu fôssemos abertos e honestos um com o outro,
tudo ficaria bem.
A atitude de Carol seria diferente. Ela ficaria dividida entre me advertir
que o seu irmão era um prostituto convicto e aguardar com a esperança de
que ele e eu nos apaixonássemos.
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Não que houvesse qualquer perigo disso acontecer, pelo menos da parte
de Ronan. Ele tinha saído com centenas de mulheres e não se apaixonou por
nenhuma delas. A sua vida tinha um padrão, e não havia razão para esperar
que ele mudasse.
Mas a minha vida também tinha um padrão. Para mim, o sexo sempre
esteve profundamente entrelaçado com o amor e, finalmente, eu esperava
encontrar um homem que queria as mesmas coisas que eu: compromisso de
vida e construir uma família juntos.
Por outro lado, não importa o que eu decidisse, encontrar um amor não
estava nas cartas para mim a qualquer momento nos próximos dois anos. Eu
tinha assinado um contrato e estava disposta a cumpri-lo. Já que encontrar o
príncipe encantado não era uma opção, qual seria o mal em continuar a ter
relações sexuais com Ronan, ou pelo menos me permitir mais algumas noites
de prazer antes de dar um basta?
Eu estaria enganando a mim mesma? Poderia romper o meu próprio
padrão e ter uma amizade colorida, sem me apaixonar loucamente? Poderia
curtir nossa química sexual ardente sem desejar mais? Poderia manter uma
distância emocional suficiente do Ronan para salvaguardar meu coração?
E então eu me detive. Eu era uma mulher forte, inteligente, e meus olhos
estavam bem abertos. Ronan jamais se apaixonaria por mim, mas eu não
tinha que me deixar apaixonar por ele tampouco. Em vez de lutar contra a
realidade, eu poderia escolher aceitá-la, definir alguns limites razoáveis e
curtir a nossa ligação sexual elétrica pelo que ela era.
E era exatamente isso que eu planejava fazer.

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26

RONAN

Quando acordei, Ava já havia saído. Conforme me levantei e me dirigi ao


banheiro, uma sensação de desapontamento pairou sobre mim. Apesar da
ótima experiência de ontem à noite para nós dois, ela provavelmente encerrou
as coisas entre nós por causa do maldito acordo de casamento.
O acordo do qual eu ainda precisava para tirar o meu da reta.
Mas conforme segui os meus rituais matutinos, meu humor se recuperou.
Embora o temperamento de Ava fosse mais cauteloso que o meu, ela também
era uma mulher que corria atrás das coisas que queria. E a noite passada
deixou claro que ela me queria.
Só precisávamos negociar um novo acordo, um que incluísse sexo.
E eu pretendia ganhar nessa negociação.
Conforme eu colocava uma camiseta e uma calça jeans, foquei em minha
estratégia. Eu escutaria Ava, descobriria o que ela quer e proporia um novo
acordo que satisfizesse às necessidades de ambas as partes.
Com isso em mente, me dirigi à cozinha e encontrei uma xícara de café
que Ava sem dúvida já havia preparado, pois ela havia acordado antes de
mim.
Quando cheguei à cozinha, Ava estava sentada no sofá na sala de estar,
tomando café e assistindo ao noticiário da manhã.
— Bom dia — gritei, conforme levava a mão para pegar a cafeteira. —
Como você dormiu?
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— Como uma pedra — disse ela. — Mas assim que tiver tomado o seu
café e acordado, precisamos conversar.
Despejei uma xícara de café para mim, adicionei um pouco de leite,
caminhei até a sala e me sentei em minha poltrona.
— Fale comigo — eu disse. — Mas antes de você começar, há uma coisa
que eu preciso dizer.
Ela pegou o controle remoto e desligou a TV. — O que é?
— Obrigado por ontem à noite. Você é incrível na cama, e eu preciso ser
direto com você. Tudo que eu pensei desde que acordei é o quanto quero
fazer amor com você outra vez.
Ela me deu um meio-sorriso hesitante. — Você é que é incrível, e eu
estaria mentindo se dissesse que não quero fazer sexo com você novamente.
Mas não é tão simples assim. Temos que considerar o nosso contrato, porque
ele nos amarra pelos próximos dois anos, e há tanta coisa em jogo para foder
tudo com... bem, com foda.
— De acordo — eu disse. — O que você proporia?
Ela olhou em meus olhos. — Algumas regras básicas. Elas não têm que
fazer parte do nosso contrato escrito, mas se formos fazer essa coisa de
amigos coloridos, precisamos ter certeza que estamos em sintonia.
Uma sensação de alívio me lavou por dentro. O foco de Ava em definir
regras confirmava que ela estava pendendo para o meu lado. Tudo que eu
precisava fazer agora era evitar estragar os nossos planos.
— Que regras você sugeriria? — perguntei.
Ela mudou de posição no sofá, mas não falou, e senti um certo mal-estar.
— Você parece nervosa — eu disse. — Se há algo que você quer dizer,
simplesmente diga.
— É que esse tipo de relacionamento é novo para mim — disse ela.
— É novo para mim também.
— Suponho que eu ainda esteja tentando descobrir como funciona.
Dei-lhe um olhar tranquilo. — Não se preocupe; vamos descobrir isso
juntos.
Quando ela abriu a boca, entendi a sua hesitação. — Segurança, em
primeiro lugar. Estou tomando anticoncepcional, e sei que não estou grávida,
mas...
Para poupar-lhe o estresse de procurar uma forma educada de fazer
aquela pergunta, eu a interrompi. — Não se preocupe por conta disso: eu sou
o tipo de cara que sempre pratica sexo seguro.
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— Quando foi o seu último teste?


— Quando tive o meu check-up anual no mês passado. Você é a única
pessoa com quem transei desde então. Se quiser ver meus resultados, não me
importo de mostrá-los a você.
— Não será necessário — disse ela. — Confio em sua palavra, mas ainda
precisamos discutir mais algumas coisas.
— Me diz o que você está pensando.
— Eu gostaria de manter quartos separados e continuar a dormir em
minha própria cama.
— Sem problema — eu disse. — Durma onde você se sentir mais
confortável.
— Estou apenas tentando ser clara — disse Ava. — Para isso funcionar,
precisamos estar em sintonia sobre o que esperar um do outro.
— Faz sentido — concordei.
— Se vamos adicionar sexo ao nosso acordo, precisa ser algo do tipo "um
dia de cada vez" — disse ela. — Se qualquer um de nós quiser interromper
esse aspecto do nosso relacionamento, ou dar um tempo, tudo que precisamos
fazer é dizer ao outro.
— É justo — eu disse. Depois de ontem à noite, ela não iria querer que eu
parasse tão cedo. Se ela mudasse de ideia ao longo do caminho, eu encararia
isso quando acontecesse. — Algo mais?
— Só que realmente não podemos nos dar o luxo de deixar a nossa
relação sexual interferir no nosso acordo matrimonial. Há coisas demais em
jogo.
— De acordo — eu disse. Baseado em tudo que Ava já havia me dito,
tive um bom sentido do que ela precisava ouvir de mim, portanto dei o meu
melhor para tranquilizá-la. — O nosso acordo matrimonial é um negócio, e
nada no contrato que assinamos precisa ser mudado. Basta pensar em sexo
como uma gratificação. A qualquer momento que você não estiver a fim de
ficar comigo, tudo que tem que fazer é me dizer. Sempre vou respeitar os
seus desejos, e se você quiser parar de ter relações sexuais a qualquer
momento no futuro, essa decisão não vai mudar o resto do nosso
relacionamento.
Não tive qualquer problema em dizer essas palavras porque eu estava
falando sério. À minha maneira, eu era um cavalheiro. Ao contrário de alguns
caras que eu conhecia, nas raras ocasiões em que uma mulher me deu um
fora, eu não insisti. Simplesmente segui em frente para uma plateia mais
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receptiva.
Os lábios de Ava franziram rapidamente. — Uma gratificação. É uma
descrição do cão para o que fizemos ontem à noite.
Fiz um sinal de reprovação para ela. — Você ainda não viu nada!
— Estou bem ciente disso, e você é um bom vendedor.
Já que o clima parecia estar descontraindo, dei-lhe um olhar sugestivo. —
Devo tomar isso como mercadoria vendida?
A voz dela voltou a provocar. — Digamos que eu esteja considerando a
sua oferta. Mas antes de fecharmos o negócio, eu gostaria de uma lista
completa das características e dos benefícios.
— Vamos ver — eu disse, fazendo o seu jogo. — Ofereço honestidade,
um bom senso de humor, liberdade de expectativas e um pau grande.
— Características bacanas — disse ela. — Quais os benefícios?
— A menos que o que estou lembrando tenha sido um sonho
verdadeiramente alucinante, nós dois experimentamos os benefícios ontem à
noite.
Ela me deu um olhar irônico. — Você podia dizer isso de novo.
Eu sorri para ela. — Quer outro teste de durabilidade antes de tomar uma
decisão? Porque se você quiser, eu estou pronto.

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27

AVA

Ao longo das próximas semanas, a minha vida foi uma agitação contínua de
atividades. Entre planejar o nosso casamento e administrar os nossos
respectivos negócios, Ronan e eu estávamos ocupados praticamente sem
parar.
Mas apesar da nossa agenda lotada, encontrávamos tempo para o sexo.
Muito sexo.
E entre os momentos que passávamos um com o outro, conversávamos,
às vezes, até tarde da noite. Conversávamos principalmente sobre as coisas
do dia a dia, mas, aos poucos, Ronan foi se abrindo comigo. À medida que o
fazia, eu o entendia melhor.
Uma noite, quando estávamos estirados em sua cama, relaxados e
repletos de orgasmo mútuo que tínhamos apenas desfrutado, ele falou de sua
mãe.
— Eu gostaria que você a tivesse conhecido — disse ele, aconchegando o
seu corpo atrás de mim e me envolvendo com um braço forte. — Ela era o
oposto da minha madrasta: gentil, de fala mansa e generosa. Todos a
adoravam, inclusive eu. Quando eu tinha 5 ou 6 anos de idade, costumava
colher flores nos jardins da propriedade e levá-las para ela.
— Eu me lembro de fazer algo parecido quando era criança — eu disse.
— Como morávamos ao lado de uma fazenda, eu costumava colher flores
silvestres para a minha mãe nos campos. Talvez seja daí que surgiu o meu
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interesse em arranjar flores.


— Não me lembro de me preocupar em arranjar as flores que eu colhia —
disse Ronan. — Mas uma das coisas ótimas da minha mãe é que quando eu
lhe entregava algum buquê torto ou algum desenho feito nas coxas, ela
sempre agia como se eu tivesse lhe dado o melhor presente do mundo.
Peguei a sua mão e a apertei, lembrando-me da minha própria mãe. —
Minha mãe era do mesmo jeito. Ela entendia que rabiscos e punhados de
flores são dádivas de amor.
— E o seu pai? — perguntou Ronan. — Como ele era?
— O seu trabalho como engenheiro o mantinha muito na estrada — eu
disse. — Mas ele ligava para mim e minha mãe todas as noites, e quando ele
estava em casa, ele se esforçava para planejar passeios especiais com a gente,
como ir à praia ou ao zoológico. Meu favorito era jogar minigolfe num dos
parques perto de onde morávamos. Sou imprestável na maioria dos esportes,
mas adoro badminton e minigolfe.
— Parece que os seus pais se davam bem — disse ele.
— Pelo que eu saiba, sim. Eles eram afetuosos um com o outro, e não me
lembro de eles brigarem.
— Os meus também não brigavam — disse ele. — Pelo menos não na
minha frente. Mas mamãe muitas vezes parecia triste, e muitas vezes a vi
chorando. Só anos depois de sua morte, quando peguei papai traindo a
Verônica, é que comecei a entender o desgosto da minha mãe.
Naquele momento, comecei a entender o paradoxo que era Ronan
Kingsley. O mistério da razão pela qual um homem atencioso e bondoso
havia escolhido a vida de playboy de Manhattan.
Quando criança, ele havia testemunhado o desgosto da mãe devido à
infidelidade do pai e, em seguida, visto o pai tratar a madrasta da mesma
forma. Depois dessa experiência, não era de surpreender que, como homem,
ele evitasse relacionamentos e compromissos decorrentes. Talvez ele não
acreditasse no amor, ou talvez temesse magoar alguém da mesma maneira
que o seu pai tinha magoado a sua mãe.
Conforme o ritmo da respiração de Ronan começou a mudar,
demonstrando que ele estava pegando no sono, permaneci acordada,
imaginando o menino de 5 ou 6 anos que ele teria sido quando esteve às
voltas com o rompimento do casamento dos pais e considerando como a
exposição ao sofrimento da mãe deve ter sido para ele.
Todos foram afetados de alguma forma? Todos temos cicatrizes que nos
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fazem desconfiar do amor, com medo da dor que ele possa trazer?
No rescaldo da descoberta da traição do meu ex-noivo e do rompimento
do nosso noivado, visitei uma psicóloga por vários meses, uma mulher sábia
e gentil que me ajudou a enxergar minhas próprias cicatrizes. Meses antes da
separação, havia sinais de aviso de que Brian estava me traindo, mas devido à
força do meu desejo de compromisso e da minha vontade de formar uma
família, um desejo que a minha psicóloga associou à perda da minha própria
família, eu ignorei e descartei esses sinais. Passei por cima deles com
explicações.
Eu queria acreditar em Brian, então enganei a mim mesma, até que a
realidade me deu um tapa na cara.
No meu relacionamento com Ronan, consegui me desviar do antigo
padrão, pelo menos de alguma forma. Ao contrário do meu ex-noivo, eu não
esperava que Ronan realizasse os meus sonhos de lar e família. Eu sabia que
não devia me comprazer nessa fantasia. Ainda assim, nenhuma quantidade de
autodisciplina podia me impedir de desejar que ele retribuísse os meus
sentimentos.
Padrões são difíceis de romper, e tenho que admitir que eu não havia
rompido totalmente com os meus.
Mas ao voltar para casa todas as noites, Ronan também estava rompendo
com seu padrão. Além do que, ele estava começando a compartilhar partes do
seu passado, revelando mais de si para mim. Eu sentia que nossa intimidade
não era unilateral.
A nossa proximidade crescente seria tão mútua como eu sentia, ou eu
estaria me enganando como fiz com o meu ex? Eu estaria projetando meus
próprios desejos em Ronan?
Ou a nossa falsa relação estaria, aos poucos, se tornando real?

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28

RONAN

— Acabei de voltar de onde provei meu terno de macaco para padrinho de


casamento — disse Jack. — É difícil acreditar, mas em duas semanas você
será um homem casado.
Reclinei para trás em minha cadeira de escritório, fechei meu laptop sobre
a mesa e olhei para o meu parceiro comercial conforme ele entrou e fechou a
porta do meu escritório, atravessou a sala e instalou o seu corpo alto na
cadeira em minha frente.
— Também era difícil para eu acreditar no início — eu disse. — Mas a
essa altura, estou acostumado com a ideia. É um alívio saber que em breve
vamos poder deixar os nossos problemas financeiros para trás. Depois do
casamento, os advogados vão precisar de alguns dias para fazer o seu
trabalho, mas uma vez aprovada a documentação, terei acesso irrestrito ao
meu dinheiro da herança.
Jack me deu um olhar maroto. — Nada mal que Ava tenha concordado
em adoçar o negócio.
Eu sorri para ele. — Acredite em mim, não estou sentindo nenhuma dor.
— Cachorro sortudo — disse Jack, balançando a cabeça. — Que diabo é
esse de você conseguir uma falsa esposa que não apenas atende a todos os
requisitos, mas também assina embaixo desse filme pornô que você chama de
sua vida? Ela tem até mesmo aquele brilho nos olhos, o olhar de uma mulher
que sabe dar ao cara o passeio de uma vida inteira.
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— Desvia essa mente suja da minha noiva — eu disse suavemente. — Ela


é minha.
Ele olhou para mim com uma expressão pensativa. — Ava é diferente,
não é?
— Claro que ela é diferente. Para começar, ela é empresária e é formada
pela Harvard, não uma garota festeira. Além disso, ela e eu temos um acordo
de negócios, aquele que você me ajudou a redigir.
— Pode ser — disse Jack. — Ou talvez você realmente goste dela.
— Eu realmente gosto dela, não só do jeito que você quis dizer. Você
sabe que eu não sou de relacionamentos.
— Você nunca foi. Mas há sempre a primeira vez para tudo.
— Você sabe que não sou esse tipo de cara — eu disse. — Mulheres
como Ava e minha irmã merecem mais que homens como você e eu. Não
consigo me imaginar limitado a uma mulher pelo resto da vida.
— Então somos dois — disse Jack. — Embora o meu irmão mais velho
seja a prova de que encontrar a mulher certa pode mudar a maneira de pensar
do cara. Desde que Marc conheceu Júlia, ele não tem olhado tanto para outra
mulher.
— Talvez isso possa acontecer com alguns — eu disse. — Mas sou
parecido demais com meu velho. Fico simplesmente grato que Ava e eu
estamos nos dando bem e que o nosso acordo de casamento falso esteja
dando mais certo do que a gente imaginava. Felizmente, ela é melhor em
dramaturgia que eu. Ela salvou minha pele da Verônica mais de uma vez.
— Como está a sua madrasta ultimamente? — perguntou Jack.
Eu dei de ombros. — Chata. Irritante. Difícil. Em outras palavras, a
pessoa de sempre. Mas Ava é ótima em lidar com ela. Sempre que Verônica
tenta enfiar um punhal nela, Ava se esquiva com maestria.
— Então as coisas estão correndo bem — disse Jack.
— Bem na medida do possível, já que entre o lance do casamento e o
trabalho, as últimas semanas têm sido uma loucura. Mas as coisas estão
acalmando, e estou quase em dia com o trabalho. Hoje é sexta-feira, e se nada
estourar entre agora e o final do dia, espero tirar o fim de semana de folga.
— É o penúltimo fim de semana antes do seu casamento — observou
Jack. — Como seu parceiro comercial, ordeno que você tire essa folga. Se
tiver alguma coisa que não possa esperar até segunda, despeje na minha
mesa. Pode deixar que eu cuido dela.
— Obrigado — eu disse. — Agradeço. A menos que Ava tenha outros
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planos, eu gostaria de sair com ela para fazer algo divertido amanhã. Ela teve
que aturar a minha madrasta durante todos os preparativos do casamento, por
isso quero fazer algo para agradecê-la, mas não consegui pensar em nada
interessante.
Jack me fez um sinal de reprovação. — O nome disso é encontro
romântico, brother. Você está falando de um encontro romântico com a Ava.
— Pode chamar do que você quiser. Eu só quero fazer alguma coisa legal
para ela.
— A Ava gosta do quê? Que tipo de coisas ela curte?
— Filmes. Arte. Flores. Boa comida e vinho.
— Você poderia convidá-la para jantar e ver um filme — disse Jack. —
Ou vocês dois poderiam visitar o Museu Metropolitano de Arte. Aquele lugar
é enorme, sempre tem algo para todos. Quanto a flores, agora que a
primavera chegou, você poderia até mesmo incluir uma caminhada pelo
Central Park nos seus planos.
Quando Jack mencionou o parque, uma ideia me ocorreu. — Ava gosta
de minigolfe. Não tem um campo de minigolfe no Parque do Rio Hudson?
Uma evidente surpresa estampou-se no rosto de Jack. — Tem. Acho que
é no Píer 25.
Abri o meu laptop, digitei "Píer 25" no Google e passei os olhos por cima
das informações na tela. — O campo parece ser bem mantido e acabou de
abrir para a temporada. Tem também um restaurante próximo que parece um
tanto bom. Podemos dar uma volta, jogar minigolfe e depois jantar.
— Qual é o nome do restaurante?
— City Vineyard.
— Já estive lá — disse Jack. — É um lugar agradável, com boa comida e
uma ótima vista do rio. Ele acenou positivamente com seu polegar. — Parece
que você tem isso sob controle.
— Obrigado pelas ideias — eu disse. — Acho que sim.

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29

RONAN

Felizmente, para o meu passeio da tarde de sábado com Ava, o dia revelou-se
maravilhoso. Conforme passeávamos de mãos dadas numa das calçadas que
davam para o Parque do Rio Hudson, uma larga faixa de vegetação que corria
ao longo do Rio Hudson, senti o calor do sol agradavelmente sobre a minha
pele, e uma brisa do rio desmanchou o meu cabelo.
Não éramos absolutamente os únicos nova-iorquinos que estavam
aproveitando o bom tempo. Conforme nos movimentamos pelo parque,
passamos corredores, pais jovens empurrando carrinhos de bebê e casais de
todas as idades. Ouviam-se gritos de crianças nas áreas de lazer, e quando
passamos pela grande pista de skate do parque, uma dúzia de adolescentes
sobre skates zuniam pelas rampas, polindo e aperfeiçoando as suas manobras
acrobáticas.
Quando chegamos ao Píer 25, um longo píer que se estendia Rio Hudson
adentro, Ava olhou de relance para o playground à nossa esquerda e, em
seguida, para a locadora de barcos à nossa direita.
— Nunca estive aqui — disse ela. — A sua surpresa misteriosa é passear
de barco?
— Não — eu disse. — A água ainda está fria nessa época do ano. Mas
definitivamente vamos velejar nesse verão.
Viramos à esquerda, passamos o playground e, conforme nos
aproximamos do campo de minigolfe, observei Ava de perto, antecipando o
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momento em que ela fosse descobrir o que era. Quando avistamos um


quiosque angular com uma placa GOLFE em letras grandes, o seu semblante
iluminou-se.
— Só pode ser isso — disse ela.
Eu sorri para ela. — É.
Quando nos aproximamos do campo e vimos os primeiros greens, ela se
virou para mim com uma empolgação visível que confirmava que eu havia
feito a escolha certa.
— Esse campo é totalmente diferente — disse ela. — Nunca vi nada
igual. A maioria dos campos de minigolfe só têm a ver com obstáculos como
moinhos de vento e cascatas, mas esse se parece com um campo de golfe de
verdade, só que muito menor.
— Estou vendo colinas, pedras e obstáculos de areia — eu disse. — Mas
em geral, parece que os projetistas do campo optaram por um visual de
parque. Quer jogar uma partida?
— Você sabe que eu quero — disse ela, envolvendo um braço em volta
da minha cintura. — Obrigada por pensar nisso e me trazer aqui.
— O prazer é meu — eu disse, caminhando até o quiosque para pagar o
atendente.
Depois que paguei e recebi nossas bolas e nossos tacos de golfe, entreguei
um de cada à Ava e nos dirigimos ao primeiro buraco. Quando chegamos lá,
uma família de quatro ocupavam o green, e enquanto esperávamos eles
terminarem, um pensamento me ocorreu.
Virei-me para Ava. — Você gostaria de apostar no resultado do nosso
jogo?
— O perdedor paga o jantar? — ela sugeriu.
— Ah, não. Podemos sugerir algo melhor.
Ela me deu um olhar maroto, antes de se apoiar em mim e sussurrar em
meu ouvido. — O vencedor escolhe o que fazer primeiro quando chegarmos
em casa à noite.
— Agora sim — eu disse em voz baixa. — Mas vamos aumentar as
apostas. O vencedor amarra a perdedora à cama e faz o que quiser com ela.
Ela fez uma careta para mim. — Você quer dizer: ela faz o que quiser
com ele? Porque esse é um jogo no qual realmente sou boa, e vou te dar uma
surra.
Por um minuto, não acreditei no que ouvi. Eu jogava golfe desde criança
e, embora não fosse nenhum Tiger Woods, eu era relativamente bom, para
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não dizer motivado. Conforme me imaginei amarrando Ava à minha cama,


meu pau reagiu com uma contração.
— Sério? — eu disse. — Você é boa assim?
— Considere-se avisado. Agora, você está preparado para colocar a sua
liberdade em jogo, ou vai amarelar?
Eu sorri para ela. — Eu, amarelar? Nunca.
Os quatro à nossa frente foram para o próximo buraco, e Ava apontou
para o green. — Vai em frente. Vamos ver o que você tem para mostrar.
— Primeiro as damas — eu disse. — Fique à vontade.
Ela posicionou sua bola de golfe no suporte antes de ficar à esquerda
deste e agarrar seu taco com demasiada rigidez.
— Você está segurando o taco errado — eu disse. — E você precisa
relaxar os quadris.
Ela me deu um olhar como quem diz "não se meta com o meu charme".
— É assim que funciona para mim.
Com uma tacada canhestra e hesitante que teria feito um golfista
profissional estremecer, ela acertou a bola, que pingou no green e parou a
vários centímetros do buraco.
— Boa tacada — eu disse com apreço.
— Estou sem prática — disse ela, caminhando até a bola e colocando-a
no buraco. — Eu deveria ter acertado com essa tacada.
Minha primeira tacada ultrapassou o buraco, mas minha segunda foi
dentro. — Estou só me aquecendo — eu disse, esticando os braços e torcendo
os quadris de um lado para outro.
— Eu também — disse ela, lançando-me um olhar confiante. — Se
prepare para perder, Kingsley, porque você vai levar uma surra.
— Você é quem vai levar uma surra, Walker. Eu me aproximei dela
enquanto caminhávamos para o segundo buraco e eu baixava a minha voz. —
Levar uma surra na minha cama, com suas mãos e seus pés amarrados ao
estrado.
Ava riu enquanto colocava sua bola no suporte do segundo buraco. —
Veremos isso depois.
Quando terminamos de jogar os primeiros nove buracos, eu tinha menos
certeza do resultado. Por mais estranha que fosse a técnica de tacada leve de
Ava, ela estava funcionando, e minha contagem era apenas um ponto abaixo
da sua. E no décimo primeiro buraco, que apresentava uma pequena colina
que canalizava a bola para baixo em direção a um buraco que a descarregava
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para perto do buraco verdadeiro, eu me atrapalhei o suficiente para que Ava


assumisse a liderança, que ela manteve até o décimo quinto buraco, quando a
sua bola perdeu uma ponte estreita e caiu na água embaixo.
Quando chegamos ao décimo oitavo e último buraco, estávamos
empatados, e daí Ava embocou a bola na primeira tacada! Conforme a bola
rolava para dentro do buraco, Ava disparou um olhar brilhante e vitorioso
para mim, mas não disse nada quando posicionei minha bola no suporte,
olhei o buraco e me preparei para arremessar.
Acertei a bola e a vi rolar em direção ao buraco, torcendo para ela entrar.
Se não entrasse, eu seria amarrado à minha própria cama, uma possibilidade
com a qual eu não estava inteiramente à vontade. Eu nunca tinha deixado
uma mulher me amarrar antes, e quando propus a aposta com Ava, jamais me
ocorreu que ela pudesse ganhar.
Quando a bola se aproximou do buraco, ela foi devagar mas não o
suficiente e, em vez de cair no buraco, ela tiniu contra a beirada e girou para
longe, parando a vários centímetros de distância.
Droga. — Parabéns — eu disse, forçando um sorriso que eu não sentia.
— Você venceu.
— Tive sorte — disse ela. — Quase nunca acerto de uma só tacada, e nós
estávamos tão equilibrados que qualquer um de nós poderia muito bem ter
vencido.
— Não há necessidade de modéstia — eu disse, resolvendo aceitar a
minha derrota como um homem. — Você jogou muito bem e venceu de
forma justa.
Ela caminhou em minha direção, enlaçou o seu braço no meu, e saímos
do campo juntos.
— Você tem espírito esportivo — ela me elogiou. — E já que ganhei, há
algo que preciso confessar.
— O que é?
Ela me deu um olhar provocante. — Realmente estou ansiosa para
reclamar o meu prêmio.

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30

AVA

Depois de deixar o campo de minigolfe do Píer 25, Ronan me levou a um


restaurante próximo, o City Vineyard, onde desfrutamos de uma refeição
tranquila com vinho delicioso e frutos do mar frescos. Entre a decoração
rústica porém elegante em estilo wine-country do restaurante e suas vistas
espetaculares do sol poente, que pintava as águas do Rio Hudson e os
arranha-céus de Manhattan com um calor dourado, o cenário não poderia ter
sido mais romântico.
O cuidado que ele havia posto no planejamento do nosso passeio me
tocou e elevou-me a percepção de que, a cada dia que passava, eu estava me
apaixonando mais por ele, uma descoberta que periodicamente me dava um
soco no estômago e me aterrorizava. Se deixar Ronan entrar em meu coração
foi um erro, isso era algo que eu não podia corrigir, porque quando se tratava
dos meus sentimentos por ele, eu havia passado do ponto de não retorno.
Mas neste momento, deleitando no resplendor do que parecia ser nosso
primeiro encontro romântico de verdade, parecia certo que Ronan estava se
apaixonando por mim também. Por que outra razão ele se daria o trabalho de
planejar uma tarde e uma noite de forma tão clara com a intenção de me
agradar?
Foi por isso que quando voltamos para casa, entramos na privacidade do
nosso apartamento, e Ronan fechou a porta, afaguei o seu rosto em minhas
mãos e o envolvi num beijo terno.
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— Obrigada por hoje — eu disse, passando os meus dedos sobre a linha


do seu maxilar com a barba por fazer. — Você me surpreendeu
completamente, e tudo estava além de perfeito.
Seu sorriso de volta reforçou a minha convicção de que ele retribuiu meus
sentimentos.
— Estou feliz que você tenha curtido o nosso passeio — disse ele. —
Depois da mania de casamento das últimas semanas, você merece uma pausa.
— Você também — eu disse, beijando-o novamente, antes de tomar a sua
mão e puxá-lo em direção ao quarto principal. — Mas primeiro, você precisa
perder suas roupas.
Ele me levantou no ar e me pôs em seus braços. — E deixar você me
amarrar à cama?
Eu sorri para ele. — Fizemos uma aposta e eu ganhei.
— Você ganhou — disse ele, carregando-me em direção ao quarto. — E
sou um homem de palavra. Mas antes de fazer isso, preciso te dizer que
deixar você me amarrar vai ser uma nova experiência para mim. Ele me
colocou em pé no meio do quarto. — Estou na chuva para me molhar, só não
posso prometer que vou curtir.
A admissão de Ronan pegou-me de surpresa, e dei-lhe um olhar fixo. —
Você nunca esperava que eu fosse ganhar, não é? Você esperava ser o que ia
me amarrar, e não o contrário.
— É verdade — ele admitiu. — E com a anatomia masculina sendo o que
é, estou preocupado que eu possa não ser capaz de...
Completei a sua oração. — Levantar à altura?
— Algo assim.
Quando tomei consciência da confissão de Ronan, uma sensação de poder
misturada com travessura me veio de repente. Essa noite era a minha vez de
assumir o comando e eu sabia exatamente o que queria fazer com ele.
Cruzei minhas mãos atrás do seu pescoço e olhei em seus olhos.
— Fique pelado — eu disse. — E confie em mim, quando eu tiver
terminado, você definitivamente vai levantar a essa altura.

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31

RONAN

Intrigado, porém nervoso, com o que estava por vir, comecei a tirar as minhas
roupas, enquanto Ava desapareceu em seu vestiário. Quando terminei de me
despir, deitei na cama e esperei ela voltar.
Quando ela voltou, estava pelada como eu, com exceção de algumas
echarpes esvoaçantes coloridas, drapeadas em volta do pescoço. Apesar do
meu nervosismo, meu pau endureceu quando a vi.
Ava subiu na cama, montou em mim, e demos um longo beijo
apaixonado antes de ela amarrar a ponta de uma echarpe vermelha
transparente em volta do meu pulso esquerdo.
— Isso não causa tanta restrição — eu disse, olhando para o tecido
delicado. — Eu poderia facilmente rasgá-lo pela metade.
— Talvez você pudesse — disse ela, com seus olhos brilhando de humor
à medida que enlaçava a outra ponta da echarpe em volta do estrado da cama,
dando-lhe um nó firme. — Mas nesse caso, você perderia totalmente o
sentido de fazer isso juntos.
— Que é...?
— Confiança — disse ela, mudando para um expressão séria. — E uma
espécie de igualdade.
— O que você quer dizer?
— Fisicamente você é muito mais forte que eu — disse ela, conforme
terminava de amarrar meu outro braço. — Por causa da sua força, quando
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fazemos amor, confio em você de maneiras que você não tem que confiar em
mim.
— Nunca pensei nisso dessa forma — eu disse.
— Abrir mão do controle significa confiar em mim com o seu prazer —
disse ela, percorrendo a cama até os meus pés. — Pode ser profundamente
erótico.
Dei-lhe um olhar cético. — Veremos isso depois.
Ela deu o último nó e, em seguida, trepou na cama e entre as minhas
pernas.
— Olhe para isso — disse ela, de olho em minha ereção e disparando-me
um olhar malicioso. — Tanto por conta da ansiedade de performance.
Ela estava dizendo a verdade. Meu cérebro poderia não estar totalmente
em sintonia, mas o resto do meu corpo estava pronto e, quando ela mergulhou
sua cabeça em direção à minha virilha, antecipei o calor aveludado da sua
boca em volta do meu pau. Em vez disso, ela provocou minhas bolas com
seus lábios e sua língua de maneiras que me deixaram louco de tesão, o
tempo todo acariciando meu membro com suas mãos.
Conforme o calor corria pelas minhas veias, soltei um gemido baixo e
sucumbi ao prazer do momento. Quando ela deslizou sua língua para cima e
para baixo no meu pau e então chupou levemente a sua base, minha visão
escureceu por um segundo. Esquecendo os meus limites, tentei alcançar Ava,
mas a seda que prendia os meus pulsos mantinha os meus braços
imobilizados contra o colchão.
— Monta em mim — eu disse. — Me põe dentro de você.
— Logo — disse ela, com sua voz rouca de desejo. — Mas ainda não.
Ela continuou a me provocar com seus lábios e sua língua, levando-me à
beira do orgasmo, levando-me a patamares de excitação que não me lembro
de ter experimentado antes.
Em seguida, ela abriu minhas pernas e esfregou a ponta do meu pau na
sua entrada, antes de se inclinar para frente e deslizar as pontas dos dedos
pelo meu cabelo, ao lado do meu pescoço e sobre o meu peito, explorando os
músculos do meu torso. O seu toque suave eletrizou a minha pele, e seus
peitos, empinados com os mamilos rosados e gostosos, com os quais eu
adorava brincar, balançaram tentadoramente perto do meu rosto. Relutei
contra os meus limites, levantando a cabeça e os ombros o quanto pude,
tentando pegar um mamilo entre meus lábios.
Com ambas as mãos, Ava gentilmente empurrou meus ombros contra os
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travesseiros. — Relaxe — disse suavemente, com seus olhos escuros e


intensos. — Confie em mim. Me deixe curtir o seu corpo do mesmo jeito que
eu deixo você curtir o meu.
— Você é quem manda — eu disse. — Desde que eu tenha a minha vez
de te amarrar mais tarde.
Seus lábios se curvaram num sorriso. — Você alguma vez para de
negociar?
— Não. É parte do meu charme.
Ela me deu vários beijos no pescoço antes de dar uma mordida no meu
mamilo direito, que desencadeou uma sensação gostosa diretamente no meu
pau. — Vamos ver — disse ela entre beijos. — Mas só depois que eu fizer
tudo que quero com você.
Ela continuou a me provocar com beijos, mordiscos e carícias que me
mantiveram duro como uma pedra e desejando mais. Embora uma parte de
mim quisesse se libertar das minhas ataduras, agarrar Ava e me enterrar
dentro dela, ser o seu brinquedo sexual era excitante pra caralho.
As suas mãos e a sua boca percorriam o meu corpo, tocando e degustando
cada parte de mim, enquanto ela usava seu próprio corpo para me provocar,
em determinado momento dando-me um beijo apaixonado, no próximo me
oferecendo um leve toque dos seus mamilos endurecidos contra os meus
lábios, ou um gosto das suas dobras lisas.
Quando ela finalmente se posicionou em cima de mim e guiou o meu pau
para dentro dela, eu gemi de êxtase à medida que, com deliberada lentidão,
ela me recebeu dentro dela, controlando o momento e o prolongando.
Conforme o meu pau deslizava para dentro da sua perfeição molhada e
excitante, um milímetro por vez, suspirei, dominado pelas sensações que
disparavam por todo o meu corpo.
Eu havia sentido algo tão incrível na vida?
Não havia.
E então ela começou a se mexer. A visão dela montada em mim, com o
seu cabelo escuro esvoaçante em volta dos peitos, teria desmontado qualquer
homem, e eu não era nenhuma exceção. Por um instante, ela literalmente me
tirou o fôlego, à medida que a sua beleza e a intensidade do momento
sugaram o oxigênio do quarto.
Quando ela acelerou o ritmo, eu arqueei contra o colchão, lutando contra
os meus limites à medida que a minha excitação aumentava e o meu pulso
entrava em sobrecarga.
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— Meu Deus, Ava — eu gemi. — Vou gozar.


Ela me disparou um olhar cheio de significado e acelerou ainda mais.
O meu corpo explodiu de sensação e um som impetuoso encheu os meus
ouvidos. Ava gritou, dizendo o meu nome, pouco antes de o meu mundo
explodir, despedaçado pelo orgasmo de uma vida. Fogos de artifício
preencheram a minha visão e, quando o quarto parou de girar ao meu redor, o
meu corpo zumbiu com os tremores do gozo. Com o coração ainda
martelando contra o peito, dei várias golfadas de ar conforme Ava soltava
minhas mãos e meus pés, antes de se estirar na cama ao meu lado.
— Uau — eu disse, atordoado demais para formular qualquer fala
articulada. — Uau.
Ava me deu um olhar satisfeito. — Apesar do seu ceticismo, parece que
você gosta de bondage leve.
Eu a puxei para os meus braços. — O que eu gosto é ter o pau dentro de
você. Estar amarrado não teve nada a ver com isso.
Ela imprimiu um beijo na ponta do meu nariz. — Você está certo disso?
— Claro que estou certo... bem, quase certo. Em qualquer caso, você
merece todo o crédito.
Ela deslizou a palma da mão para baixo do meu abdômen e então sobre o
meu pau, antes de sorrir para mim. — Vamos dizer apenas que você me
inspira.
Enquanto eu olhava em seus olhos, algo me deu uma pontada por dentro.
Ava era uma mulher fantástica, uma amiga leal e uma amante incrível. Por
um momento, desejei que eu fosse um homem melhor. O tipo de homem que
merecia uma mulher como ela ao meu lado, o tipo de homem que poderia
confiar em si mesmo para tratá-la como o tesouro que ela era.
Mas, em seguida, deixei esse pensamento de lado. Eu era quem eu era e,
nesse exato momento, eu estava bem comigo. Eu estava exatamente onde
queria estar.
Afaguei os peitos de Ava e provoquei os seus mamilos. — Tempo de
retorno — eu disse, dando-lhe um olhar sugestivo. — Agora é a minha vez de
amarrar você à cama.
Ela sorriu e estendeu seus pulsos finos para mim. — Vá em frente —
disse ela. — Sou toda sua.
— Está certo — eu disse, conforme estendia a mão para pegar uma das
echarpes de seda que estavam espalhadas ao pé da cama. — Hoje, você é
toda minha.
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32

AVA

— O casamento já vai ser daqui a oito dias — disse Mimi. Ela sorveu o seu
café, me olhando por cima da xícara. — Como você está lidando com isso, e
como vai o seu novo acordo com Ronan?
— Tudo está bem, suponho. É tudo muito confuso.
Era sexta-feira de manhã e estávamos sentadas no ateliê de joias de Mimi,
tomando café na mesa de trabalho surrada onde ela dava vida às suas
criações. Com os preparativos do casamento completos, finalmente consegui
respirar, mas ter tempo para pensar também me forçava a reconhecer que os
meus sentimentos por Ronan estavam se aprofundando.
— O que você quer dizer? — perguntou Mimi. — Confuso de que
maneira?
— O Ronan me dando sinais contraditórios. Suas palavras me dizem que
ele vê a gente como amigos coloridos, mas suas ações comunicam uma
mensagem diferente.
— Me dê alguns exemplos — disse Mimi.
— Quando fizemos o nosso novo acordo, concordamos em manter
quartos separados.
— Eu me lembro — disse Mimi. — Dormir separado dele era uma das
maneiras que você esperava para manter algum distanciamento emocional.
— Era, e, inicialmente, Ronan aceitou a ideia. Ele não parecia se
preocupar. Mas agora, depois que fizemos amor em sua cama, se eu tento
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voltar ao meu quarto, ele acha um jeito de eu ficar. E quando acordo de


manhã, ele está abraçado em mim.
— Então não é mais apenas sexo.
— Certamente não é essa a sensação. Não me esqueci da sua história de
sair com a metade de Manhattan, mas o que temos juntos parece real.
— As pessoas podem mudar — disse Mimi. — Até mesmo playboys
como Ronan Kingsley.
— No sábado passado, ele me surpreendeu me levando para um passeio,
seguido de uma noite de sexo incrível.
O semblante dela iluminou-se, conforme estendia o braço para pegar a
latinha vintage onde mantinha o seu suprimento de maconha e as sedas. —
Você tem que me contar tudo, mas antes de começar, vou bolar um puta
baseado para mim, que só vai intensificar o meu prazer vicário.
— Como é que você faz isso? — perguntei, conforme ela mergulhava os
seus dedos na latinha e esfarelava uma linha grossa de erva na seda. — Como
você fuma desse jeito sem nunca parecer que está chapada? Isso para mim é
um mistério.
Ela piscou para mim. — Trinta anos de prática. Sou uma garota hippie
bem ajustada.
Seus dedos hábeis enrolaram o baseado rapidinho, que ela pôs entre os
lábios antes de usar o seu isqueiro rosa-escuro para acender a ponta. Ela
inalou profundamente antes de soprar a fumaça em direção ao teto e olhar
para mim fixamente. — Agora, me conta tudo. E não ouse deixar de fora as
partes picantes.
Contei a ela, e quando falei da aposta que resultou em Ronan me deixar
amarrá-lo à cama, ela riu alto.
— Ronan tem espírito esportivo — disse ela, dando uma tragada no seu
baseado. — Gosto disso num homem. E as ações falam mais alto que as
palavras. Você acha que ele está se apaixonando por você?
— Talvez eu esteja vendo coisas demais, mas a nossa relação não parece
amizade colorida. Parece algo mais.
— Você quer que ela seja algo mais? — perguntou Mimi.
Depois de uma longa pausa, olhei em seus olhos e disse a verdade. —
Quero. Tentei manter meu distanciamento emocional, mas meus sentimentos
só ficam mais fortes, e preciso saber se ele sente o mesmo. Baseada no
comportamento dele, acredito que sim, mas se ele não sente, preciso dar um
grande passo para trás.
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— Com relação ao sexo?


— E tudo que vem com ele: as conversas íntimas, os toques constantes e
todos os gestos que me fazem sentir que ele está se apaixonando por mim,
assim como eu por ele.
— Você conversou com ele sobre isso?
— Ainda não — respondi. — Mas pretendo fazê-lo.
— Quando?
— Logo. Ou essa semana, antes do casamento, ou na semana depois,
quando Ronan tiver acesso ao dinheiro da herança e as coisas estiverem
tranquilas.
— O que a Carol pensa sobre tudo isso? — perguntou Mimi.
— Carol tem certeza que Ronan está apaixonado por mim, e não poderia
estar mais entusiasmada. Ela tem expectativas do nosso falso casamento se
tornar uma realidade. Mas ela também disse que ele precisa de tempo para
reconhecer seus sentimentos e me aconselhou a não apressar as coisas entre
nós, e é por isso que estou considerando esperar para conversar com ele só
depois do casamento, quando nós dois estivermos menos estressados.
— Discordo — disse Mimi. — Você e o Ronan precisam colocar tudo em
pratos limpos um com o outro antes do casamento. Quando vocês dois
pronunciarem os seus votos, vocês merecem saber o que as palavras que
saírem das suas bocas significam, ou não significam.
— Eu não pensei nisso dessa forma — eu disse. — Mas você tem razão.
— Você não pode adiar isso — disse ela. — Quando vocês dois
contraírem núpcias, os dois precisam ter claro exatamente o que estão
fazendo e por quê.
— Não vou adiá-lo — reassegurei-lhe. — A qualquer hora nos próximos
dias, vou encontrar o momento certo.
Mimi me censurou com um olhar. — Não há momento perfeito, Ava. Não
pense demais.
Revirei os meus olhos. — Você me conhece. Penso demais em tudo, não
posso evitar.
— Basta manter uma coisa em mente — disse ela.
— O que é?
— Ronan poderia estar na mesma posição que você. E se os sentimentos
dele por você se aprofundaram, mas ele não tem certeza de como você se
sente em relação a ele?
— Suponho que seja possível.
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Ela sorriu para mim. — Nunca é fácil dar o primeiro passo. Mas alguém
tem que fazê-lo.

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33

AVA

No final daquela tarde, eu estava sentada à minha mesa na Oásis, dando os


retoques finais em minha apresentação para um possível cliente que Ronan
havia recomendado. Ele mantivera sua palavra em me ajudar com meu
negócio, outra forma em que havíamos nos tornado uma equipe.
Uma equipe incrível.
Sorri para mim mesma, lembrando-me do difícil começo, quando parecia
que brigávamos sobre uma coisa aqui, outra ali. Devido a nossas fortes
personalidades, ainda batíamos de frente de vez em quando, mas quando se
tratava das coisas importantes, geralmente estávamos de acordo.
Ronan era um pensador linear e, apesar de que às vezes ele parecia
simplificar tudo, ele era fabuloso em ignorar o ruído para atingir o cerne da
questão. E uma vez que ele tivesse compreendido que minha visão de mundo
não era totalmente alheia à sua (ela só tinha muito mais tons de cinza),
podíamos conversar facilmente sobre todas as coisas debaixo do sol.
Bem, quase tudo. Ainda não havíamos conversado sobre os nossos
sentimentos um pelo outro, mas eu estava me preparando para essa conversa.
A qualquer hora dentro de um ou dois dias, eu encontraria o momento certo
para dizer a Ronan o quão profundamente eu passei a gostar dele.
Naquele exato momento, a porta se abriu, e fiquei atordoada ao ver
Verônica Kingsley entrar no salão. Seus saltos faziam toc-toc contra o piso de
madeira de lei à medida que ela caminhava a passos largos em direção à
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minha mesa. Vestida num terninho azul-marinho de seda esvoaçante com


acessórios de pérolas, ela parecia mais fina que nunca contra as paredes
surradas e a mobília usada do meu local de trabalho alugado.
— Olá, Ava — disse ela. — Precisamos conversar.
Por que ela estava aqui? Ela estava para jogar alguma nova bomba
relacionada ao casamento, e, se estivesse, por que teria se preocupado em vir
ao meu local de trabalho, em vez de telefonar ou passar no apartamento?
Levantei-me para cumprimentá-la. — Boa tarde, Verônica. Posso lhe
servir uma xícara de café ou de chá?
— Não será necessário — disse ela. — O que tenho a dizer não vai tomar
muito tempo.
Com uma expressão de desagrado, ela se empoleirou na velha
minipoltrona vermelha que eu pensava ser da Mimi e colocou sua bolsa sobre
os joelhos.
Sentei-me de volta à minha mesa, fechei meu laptop e dei-lhe toda a
atenção.
— O que precisamos discutir? — perguntei.
— O seu casamento iminente com o meu enteado — disse ela. — É uma
farsa, um ardil para ter acesso ao dinheiro da herança dele, e nós duas
sabemos disso.
Por um momento, só fiquei olhando para ela à medida que a minha mente
se acelerava. Será que ela sabia a verdade sobre o meu acordo com Ronan?
Isso não parecia possível. Além de Ronan e de mim, apenas Carol, Mimi e
Jack sabiam a verdade, e nenhum deles nos entregaria.
O que significava que Verônica devia estar blefando. Nenhuma outra
explicação fazia sentido.
— De onde está vindo isso? — perguntei. — Eu e Ronan nos amamos.
Ela me fez um sinal de reprovação. — Corta essa encenação de garotinha
perfeita. Ela não me engana nem por um minuto. O seu noivado foi suspeito
desde o primeiro dia, e agora, graças ao Aiden, eu sei tudo sobre os
problemas financeiros do Ronan.
— Seja o que você ouviu, são fofocas maliciosas — eu disse. — O
negócio do Ronan está prosperando.
Ela revirou os olhos. — Me poupe as mentiras.
Eu não sabia o que mais fazer, então atirei tudo que tinha nela. —
Acredite o que você quiser, Verônica. Não preciso convencer você de nada.
Ronan e eu nos amamos, e daqui a oito dias, estaremos casados. Nada que
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você diga ou faça pode nos deter.


Ela olhou para mim com respeito relutante. — Então é assim que você
quer jogar? Ela estendeu a mão para pegar sua bolsa. — Quanto você quer?
Eu olhei fixamente para ela. — O quê?
Ela puxou um talão de cheques e o acenou para mim. — Dinheiro.
Quanto Ronan está te pagando? Um ou dois milhões? Seja qual for a quantia,
estou preparada para oferecer mais.
Uma fúria assassina correu por dentro de mim. Quem ela pensava que
era? Como podia simplesmente sacar o seu talão de cheques e dar uma de
toda-poderosa com a vida do Ronan?
Quando recuperei o meu autocontrole, olhei para a megera com desdém e
lhe fiz a pergunta que estava me atormentando desde o primeiro dia em que a
conheci.
— Por que você odeia tanto o Ronan?
— O que isso tem a ver?
— Então é isso, você o odeia. Você acabou de admitir.
— Não admiti nada. Você ouviu o que quis.
— Ouvi a verdade da sua própria boca, e espero uma explicação.
— Muito bem — disse Verônica. — Não gosto particularmente de
nenhum dos meus dois enteados, mas também não os odeio. Estou apenas
fazendo o que é necessário para assegurar que Aiden receba a herança que ele
merece.
Sua afirmação estava alinhada com a suspeita de Carol de que o objetivo
de Verônica era assegurar que Aiden recebesse a maior parte da fortuna de
Carter Kingsley às custas de Ronan e Carol.
— Carter é bilionário — eu disse. — Ele tem uma esposa e três filhos.
Um quarto da sua fortuna não é suficiente para cada um de vocês? Por que
você está tão determinada em deserdar o Ronan?
— Não é simples assim — disse ela. — Carter não vai dividir a firma. Ele
vai deixar a Kingsley Capital para um dos seus dois filhos, assim como o seu
pai a deixou para ele.
— E você quer que Aiden herde a Kingsley Capital.
— Claro que quero — disse Verônica. — A firma vale mais que o valor
total dos outros bens do Carter e, agora, Carter pretende deixá-la para Ronan,
seu filho mais velho. Comparado com o que Ronan vai herdar, meu filho vai
ficar com uma miséria.
— Um quarto dos outros bens do Carter não é uma miséria, e a atitude
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antiquada dele em favorecer o seu filho mais velho também não é justo com
Carol.
— A Carol não conta. Carter jamais deixaria o seu negócio para uma
mulher.
— Isso é ultrajante.
Ela deu de ombros. — Não discordo, mas é assim mesmo. Um dos dois
filhos do Carter vai herdar a Kingsley Capital, e eu pretendo assegurar que
esse filho seja o Aiden. Se o negócio do Ronan falhar, Carter vai ficar
envergonhado com isso, e serei capaz de convencê-lo a mudar o seu
testamento a favor do Aiden. Carter não vai se arriscar em deixar a Kingsley
Capital para um filho com pobre discernimento comercial, um filho que
poderia destruir o seu legado.
Pela primeira vez, compreendi completamente não apenas o objetivo de
Verônica, mas também o seu modo de pensar. De uma maneira deturpada, ela
sem dúvida se via como uma mãe lutando pelo seu filho. Mas em sua busca
desenfreada para conseguir dinheiro e poder para o seu filho, a ganância a
levou a jogar irmão contra irmão, e a dividir a família Kingsley no processo.
— Esse tem sido o seu plano o tempo todo, não é mesmo? — perguntei.
— É por isso que você coloca o Ronan para baixo a cada oportunidade,
sempre tentando fazê-lo parecer mau para o Carter.
— E se eu fiz isso? — perguntou ela. — Quando Aiden herdar a fortuna
dos Kingsley e o lugar na sociedade que vem com isso, o seu sucesso vai
valer tudo que fiz para assegurá-lo.
As suas palavras me enojaram. Depois de crescerem cercados pelo
preconceito de Carter e as maquinações de Verônica, era um milagre que
Ronan e Carol tivessem se transformado nas pessoas decentes e generosas
que eram.
— Guarde o seu talão de cheques — eu disse. — Entendo que você ama
Aiden e quer o melhor para ele, mas eu amo Ronan e jamais faria qualquer
coisa para machucá-lo. O testamento do Carter pode não ser justo, mas em
última análise é seu direito deixar a Kingsley Capital para quem ele quiser, e
independentemente de quem ele escolher, cada um dos seus filhos vai herdar
uma fortuna.
Verônica inclinou-se para frente na poltrona. — Você está cometendo um
erro, Ava. Estou preparada para lhe oferecer dois milhões de dólares para
acabar com essa farsa do casamento. Ela apontou para o meu espaço de
trabalho, que era menos que impressionante. — Com esse dinheiro, você
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poderia alugar um espaço em Manhattan e montar um negócio de verdade


para você.
O meu sangue ferveu. — O meu negócio pode não valer milhões, mas há
algumas coisas que o dinheiro não compra, e uma delas é o meu coração. Eu
jamais trairia o homem que eu amo.
Os olhos dela diminuíram. — Três milhões, com isso você é uma
alpinista social caçadora de fortunas.
Relutando para conter minha raiva crescente, dei-lhe um olhar de
reprovação. — Por que é tão difícil para você aceitar a verdade? Ronan e eu
estamos nos casando porque estamos apaixonados, e não há dinheiro que faça
mudar essa realidade.
Ela me examinou por alguns segundos antes de emitir uma risada frágil.
— Garota boba. Você caiu por ele, não é mesmo?
— Verônica, estamos apaixonados. Está na hora de você aceitar esse fato.
— Se você está pensando que Ronan te ama, você é uma tola. Ele é
igualzinho ao pai dele.
Olhei para ela furiosamente, resistindo a vontade de pular sobre a mesa e
dar-lhe um bofetão naquela cara perfeitamente maquiada. — Ronan não é
nada parecido com o pai dele.
Ela olhou para mim com desdém. — Não seja estúpida. Ronan é um
mulherengo, assim como Carter. Nenhum deles ama ninguém ou nada além
do seu próprio prazer.
Com aquilo, algo estalou dentro de mim, e me levantei da cadeira. —
Você precisa ir embora, e ir já. Você fez a sua oferta nojenta e já ouviu a
minha resposta. Não há nada mais para conversamos uma com a outra.
Verônica levantou-se, atirou sua bolsa sobre o ombro e caminhou
arrogantemente em direção à porta. Mas na saída, parou e virou-se para mim.
— Me telefona se você mudar de ideia — disse ela secamente. — A
minha oferta vale até a véspera do casamento.
— Seja o que for. Não vou telefonar.
— Você vai se arrepender pelo resto da vida.
— Nunca vou me arrepender de ter recusado o seu suborno imundo.
Foi então que Verônica deu o seu tiro mais rancoroso.
— Um dia você vai — disse ela. — E não vai ser o seu único
arrependimento, porque você está apostando o seu futuro no homem errado.
Ronan não ama você, e nunca vai amar.

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34

RONAN

Quando voltei do trabalho para casa e entrei em meu apartamento, eu não


poderia estar mais animado. Com o casamento a oito dias e os preparativos
completos, eu estava ansioso por um fim de semana tranquilo com Ava. Hoje
à noite, eu pretendia sugerir que a gente pedisse comida e então assistíssemos
a um filme juntos, uma atividade que inevitavelmente nos levaria a transar no
sofá, um prelúdio perfeito para levar Ava à minha cama e fazer tudo que
quisesse com ela.
— Olá, princesa — eu disse de brincadeira ao fechar a porta. — Cheguei.
— Estou na cozinha — Ava gritou de volta.
Conforme deixei a antessala, atravessei a sala de estar e entrei na cozinha,
um aroma de canela chegou às minhas narinas. Uma assadeira do que parecia
cookies de melado estava no fogão, e Ava estava retirando uma segunda
assadeira do forno.
Depois de fechar e desligar o forno, ela me encarou.
— Você não vai acreditar no que aconteceu hoje — disse ela. — Ainda
estou atordoada com isso.
— Me conta — eu disse, conforme estendi o braço para pegar um cookie.
— Verônica parou em meu escritório.
A minha madrasta não era nada se não estive continuamente interferindo,
portanto embora a notícia de que ela interrompera o trabalho de Ava fosse
mal-vinda, não era exatamente uma surpresa. Mas com os convites do
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casamento enviados e os contratos com os entregadores e os floristas


assinados, não era como se Verônica pudesse fazer qualquer mudança maior,
embora ela sem dúvida continuasse sendo a megera habitual de sempre.
— Sinto muito que o seu dia foi interrompido — eu disse, dando uma
mordida no meu cookie, que estava delicioso. — Espero que a visita dela não
tenha sido horrível demais.
— Ela me ofereceu três milhões de dólares para romper com você.
Quase engasguei e engoli fundo para me recompor. — Que diabo é isso?
— Recusei a proposta dela, claro — disse Ava.
Quando o meu pulso, que havia subido ao teto, voltou ao normal, tomei
consciência da rejeição categórica de Ava à oferta de Verônica.
— Não há "claro" em recusar essa quantia de dinheiro — eu disse.
Ela franziu a testa. — Para mim há. Eu jamais trairia você.
Talvez ela tomasse esse tipo de lealdade como garantida, mas eu não.
Não depois de crescer com o distanciamento do meu pai e as mentiras da
minha madrasta.
Eu a puxei para os meus braços. — Desde o primeiro dia, você sempre
me apoiou, o que significa mais do que você possa saber. Mas já que
Verônica não pode interromper o nosso casamento, não há necessidade de se
preocupar.
Ela envolveu os seus braços em volta da minha cintura e encostou a sua
cabeça em meu peito. — Como você pode estar tão calmo quando a sua
madrasta está tentando te arruinar?
— Prática — eu disse, dando um beijo em sua fronte. — Há anos que ela
tenta me arruinar.
Ava inclinou-se para trás e virou o rosto na direção do meu, com um
olhar intenso de preocupação. — Então você sabe que é só uma questão de
tempo antes de ela tentar novamente. Ela está decidida em que Aiden fique
com a Kingsley Capital e a maior parte da fortuna do seu pai.
Eu a soltei. — As ambições da Verônica para o Aiden não são novidade
nenhuma, e eu não me importo se ela conseguir conquistá-las, desde que não
interfiram com o sucesso do meu próprio negócio.
Ava pareceu surpresa. — Você não se importa de não herdar a firma do
seu pai?
— Não. Por que você acha que eu comecei a Kingsley Tech em vez de ir
trabalhar para o meu pai?
— Pelos mesmos motivos que eu comecei a Oásis — disse ela. —
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Independência e o prazer de fazer o que você gosta.


— Esses fatores tiveram o seu papel, mas este foi o motivo principal:
anos atrás, eu tomei a decisão de não basear a minha vida em especulações
sobre o futuro do dinheiro do meu pai. O que quer que ele deixe, ou não
deixe, para mim é decisão dele, e é inútil ficar pensando nisso, muito menos
se preocupando com isso. Está fora do meu controle.
— A maioria das pessoas esperam herdar o que quer que seja que elas
consideram sua parte justa do dinheiro dos pais, mesmo quando não há muito
para ser dividido.
Dei de ombros e peguei um segundo cookie. — Não sou a maioria das
pessoas, e ficar obcecado com as intenções do meu pai é um desperdício de
energia. Prefiro focar em meus próprios planos, que, nesse exato momento,
significam pedir comida pelo telefone, em vez de comer a assadeira inteira
desses cookies, que estão deliciosos.
— A receita da minha avó nunca falha — disse Ava com um sorriso. —
O que você está a fim de comer?
— Que tal Saigon Shack? Eu poderia pedir um pho de carne.
— Concordo — disse ela. — Adoro os rolinhos-primavera deles.
— E já que eu escolhi a comida...
— Eu escolho o filme. Enquanto você faz o pedido pelo telefone, vou
procurar algo bom na Netflix.
Eu me inclinei para frente e a beijei nos lábios. — Vamos esquecer a
minha madrasta, OK? Ela não vai atrapalhar a nossa noite de filme nem
fodendo.
Ela me beijou de volta. — De acordo. Nossas noites de filme são
sagradas.

Depois do jantar, nos acomodamos no sofá para assistir ao filme que Ava
escolhera, Levada da Breca.
— Isso parece vagamente familiar — eu disse quando Cary Grant
apareceu na tela da televisão. — Cary parece até mesmo mais palerma do que
de costume com aqueles óculos ridículos.
— Nem mesmo os óculos antiquados podem tocar na virilidade do Cary
— disse Ava. — Além disso, ele é supostamente um paleontólogo

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convencional.
— Suponho que isso explique os óculos.
— E Katherine Hepburn é uma socialite inconsequente que tem um
leopardo de estimação. Se você já viu esse filme, podemos ver outra coisa.
Empertiguei minha cabeça para ela. — Já que a sua descrição não me faz
lembrar do filme, o meu senso de familiaridade deve ser por conta das
frequentes aparições do Cary na tela da minha televisão.
Ava revirou os olhos. — Desde quando eu neguei a minha obsessão pelo
Cary? Prepare-se para rir pra dedéu. Levada da Breca é a melhor comédia
maluca até hoje.
Com Ava enroscada junto a mim e uma taça de uísque escocês em minha
mão, uma sensação de contentamento se apoderou de mim à medida que,
juntos, passamos a próxima hora e meia assistindo e rindo de uma das
comédias românticas mais ridículas produzidas até hoje. Quando a tela ficou
escura depois do abraço final entre Grant e Hepburn, Ava virou-se para mim,
com o rosto brilhando de felicidade.
— Obrigada por me satisfazer — disse ela. — Depois do pega com
aquela fulana que não ouso dizer o nome, eu estava precisando disso.
Virei o restante do meu uísque e coloquei a taça sobre a mesa de café,
antecipando a próxima etapa da noite. A gente conversaria, relaxaria e
transaria no sofá um pouco, antes de ir para o conforto da minha cama para
fazer o que quisesse um com o outro.
— O prazer é meu — eu disse. — Uma vez que o casamento fique para
trás, espero que a gente possa curtir noites como essa com mais frequência.
— Eu gostaria muito — disse ela. — Por falar no nosso casamento, há
algo que eu queria conversar com você.
— O que você está pensando?
— Nós — disse ela. — Como você acha que estamos indo?
Depois do encontro com Verônica, Ava sem dúvida precisava de um
pouco de reconforto, e depois de recusar três milhões de dólares por mim, ela
merecia todo o apoio que eu poderia lhe dar.
— Pelo que me consta, as coisas não poderiam estar melhores. Quando
assinamos o nosso contrato de casamento, eu estava cético se ele poderia
realmente dar certo, mas a essa altura, eu me sinto incrivelmente sortudo.
— Com relação a que você estava cético antes?
— Compartilhar um apartamento e abrir mão do sexo. — Dei-lhe um
olhar sugestivo. — Embora, como aconteceu, não tenha levado muito tempo
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para você dar em cima de mim.


Ela riu. — Pelo que eu me lembro, foi você quem me seduziu.
— Não é minha culpa. — Peguei a mão dela, levantei-a até os meus
lábios e a beijei. — Você é irresistível.
Quando o olhar dela encontrou o meu, o riso desapareceu do seu rosto e o
seu semblante ficou sério. Sombrio, mesmo. Eu havia dito algo errado? Ou a
tentativa de suborno de Verônica a teria abalado mais do que eu percebi?
— Eu me sinto da mesma maneira com relação a você — disse ela. —
Por isso é que precisamos conversar. Quando concordamos com o nosso
acordo de casamento, era tudo sobre como salvar as nossas respectivas
empresas. A gente mal se conhecia e nem mesmo tinha certeza se iria se dar
bem como companheiros de quarto.
— Eu me lembro de ter me perguntado o mesmo também — eu disse,
sem ter certeza aonde ela queria chegar. — Mas aqueles dias ficaram para
trás.
— Primeiro, ficamos amigos — disse ela. — Então, na noite da nossa
festa de noivado, nos tornamos amantes.
Eu apertei-lhe a mão. — A melhor decisão que já tomamos.
— Espero que sim — disse ela. — Porque fazer amor com você, chegar
mais perto de você, isso me mostrou quem você realmente é e o que a nossa
vida juntos poderia ser. Sei que você sente algo por mim, a maneira que você
reage me diz muito, mas antes de continuarmos com esse casamento, preciso
te dizer que estou apaixonada por você. Com cada gosto de você, eu quero
mais, e a cada dia que passa, os meus sentimentos por você se aprofundam.
Quando tomei consciência das palavras de Ava, o meu cérebro congelou.
Ela não podia realmente estar apaixonada por mim, ou podia? A última coisa
que eu queria era magoá-la, mas dizer-lhe o que ela queria ouvir não era uma
opção. Porque embora eu gostasse de Ava tremendamente e a desejasse
constantemente, eu não estava apaixonado por ela.
E não podia mentir para ela tampouco.
— Eu me preocupo com você, Ava. Você sabe que sim. Não há nada
falso em nossa amizade e no quanto eu gosto de estar com você.
A mão dela estremeceu contra a minha, antes de ela retirá-la rapidamente
e se levantar. Quando ela falou, sua voz era fraca. — Não há nenhuma
necessidade de continuar. Entendi a mensagem.
— Isso não tem nada a ver com você — eu disse. — Você é uma pessoa
maravilhosa. Mas eu nunca me apaixonei por ninguém, e não espero jamais
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me apaixonar. Simplesmente não está no meu DNA.


Os seus lábios se contraíram, e percebi que ela estava relutando para não
chorar. — Não se incomode em me deixar para baixo facilmente, Ronan. Os
meus sentimentos são o que são. E os seus também.
— Nunca tive a intenção de magoar você, e sinto muito por ter magoado.
— Incapaz de suportar a dor estampada em seu rosto, eu me levantei,
caminhei até a janela da sala de estar e olhei para o céu noturno. — Isso é
minha culpa, e nem faço ideia por onde começar para corrigi-la.
— Nem tudo pode ser corrigido — disse Ava calmamente. — E é mais
minha culpa do que sua. Mas cancelar o casamento só iria piorar para nós
dois, portanto se você estiver preocupado que eu faça isso, não se preocupe.
Estou decepcionada e triste, mas não sou estúpida.
Alívio e culpa se digladiaram dentro de mim. Alívio por ela ainda estar
disposta a continuar com o casamento, e culpa porque, apesar de ela recusar o
dinheiro de Verônica, que teria sido três vezes mais do que eu estava lhe
pagando, eu não podia ser o homem que ela queria que eu fosse.
— Obrigado por ficar ao meu lado — eu disse. — Embora, neste exato
momento, eu não sinta que mereço esse tipo de lealdade.
— Você merece manter o negócio que você trabalhou duro para construir.
Mas sejamos claros. A nossa intimidade física acabou. Precisamos voltar ao
nosso acordo original.
Eu esperava por essa, mas não deixava de ser um corte profundo. —
Entendido. Embora eu espere que ainda possamos ser amigos.
— Talvez um dia. Agora, preciso de tempo para espairecer. Vou fazer o
meu melhor para chegar lá, mas você provavelmente vai ter que esperar.
Eu me virei para encará-la. — No fundo, você sabe que eu não sou o cara
certo. Um dia, depois que o nosso falso casamento tiver acabado, você vai
encontrar um homem que vai te amar do jeito que você merece ser amada, e
quando você o encontrar, ninguém vai ficar mais feliz por você que eu. Mas
os próximos dois anos vão ser mais fáceis para nós dois se a gente encontrar
uma maneira de se dar bem.
— Você já deu a sua opinião sobre tentar continuar sendo amigos, e eu
concordo com você. Mas isso não muda o fato de que agora eu quero muito
mais que a sua amizade. E por mais que eu queira, simplesmente não posso
apagar esses sentimentos.
— Há algo que eu possa fazer para ajudar?
— Sim, Ronan. Entre agora e o casamento, me dê espaço e me deixe em
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paz.
E com isso, ela virou as costas, entrou no seu quarto e fechou a porta
firmemente.

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35

AVA

Depois de fechar a porta do meu quarto, me encostei nela, tremendo de


esforço para conter a tempestade de emoções que assolavam dentro de mim.
Como eu podia ter sido tão estúpida? Por que eu fui tão ridiculamente
tola?
Eu havia me enganado com Ronan totalmente. Claro, ele gostava de mim
o bastante, principalmente na cama, mas as palavras cruéis de Verônica
acabaram sendo verdadeiras. Ele não me amava e nunca amaria.
Conforme caminhei para o sofá-cama e me joguei nele, lágrimas cálidas
corriam dos meus olhos e desciam pelas minhas faces. Um nó formou-se em
minha garganta e, conforme a dor em meu peito queimava e expandia, agarrei
uma grande almofada e esmaguei o rosto nela, abafando meus suspiros
irregulares e os suscetíveis soluços rompidos que escapavam dos meus lábios.
Talvez eu não pudesse evitar chorar pela perda do meu sonho inútil e
equivocado de construir uma vida com Ronan, porém não sofri uma crise
nervosa na frente dele, e a última coisa que eu queria era que ele me ouvisse
lamentando de tristeza.
Eu ainda tinha o meu orgulho.
Ele era tudo que me restara, por isso agarrei-me a ele como o salva-vidas
que ele era e superei a tempestade.
Quando ela finalmente passou, permaneci no sofá-cama com o rosto
enterrado no travesseiro. Mas depois de alguns minutos, me sentei, enxuguei
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as lágrimas e tomei uma decisão. Antes de tentar dormir, eu tomaria um


banho.
Eu não podia lavar Ronan do meu coração, mas podia lavar o seu toque
da minha pele.
Levantei-me e lentamente me despi, antes de ir ao banheiro e ligar a água
quente a uma temperatura quase escaldante. Depois de entrar no chuveiro, me
lavei e enxaguei o cabelo, antes de esfregar cada centímetro do meu corpo.
Conforme eu me lavava, minhas lágrimas se misturavam com a água quente
do chuveiro, e o meu coração pulsava de dor.
Mas depois de me enxugar com a toalha, encontrar uma camiseta enorme
para dormir, e arrumar o sofá-cama com lençóis e um edredom, as minhas
emoções mudaram de agonia para descrença.
Como eu poderia haver me enganado com Ronan tão completamente?
Eu havia focado demais na poderosa química que nos uniu e não
suficientemente em quem ele realmente era? Ou eu tinha me iludido e visto
apenas o que queria ver nele, o mesmo erro que havia cometido com o meu
ex-noivo?
Em qualquer caso, se eu fosse honesta comigo mesma, chegaria à
conclusão de que esse desastre foi culpa minha. Eu não poderia culpar
Ronan, e ele não merecia pagar o preço pela minha estupidez. Ao dizer-lhe
que me deixasse em paz, terminei a conversa dessa noite de uma maneira
mais dura que eu queria, mas talvez tivesse sido melhor assim. Com o
casamento a uma semana, eu precisava desesperadamente de tempo e espaço
para me ajustar à minha nova realidade.
Como vim parar aqui? Onde eu tinha errado?
Eu tinha concordado em me casar com Ronan para salvar o meu negócio,
mas a essa altura, não era mais sobre a Oásis. Nenhuma quantidade de
dinheiro poderia valer a pena gastar nos próximos dois anos da minha vida
nesse tipo de sofrimento. Mas se existia uma fuga de me casar com Ronan e
viver com ele pelos próximos dois anos, eu não a enxergava, porque mesmo
que eu estivesse pronta para sacrificar o meu próprio negócio, sem o nosso
casamento, ele perderia o seu negócio também.
E eu não podia fazer isso com ele. Eu tinha que manter o meu
compromisso, o que significava que, de alguma forma, eu precisava abrir
mão do meu sonho tolo de construir uma vida com Ronan, recolher os cacos
do meu coração partido e seguir em frente.
Mas como era para eu seguir em frente quando eu tinha que viver com ele
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pelos malditos próximos dois anos?


Deslizei-me entre os lençóis, desliguei a luz e puxei o cobertor até os
meus ouvidos. A escuridão e o silêncio me cercaram e, conforme eu
descansava minha cabeça agora dolorida no travesseiro, minhas opções
limitadas me prendiam como um torno.
Tudo que eu podia fazer era manter-me o mais distante possível de Ronan
e fazer o meu melhor para viver um dia de cada vez.
O que me trouxe de volta à pergunta mais imediata.
Como eu iria sobreviver ao bendito casamento?

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36

RONAN

Durante os próximos dias, Ava passou a maior parte do tempo trancada em


seu quarto. Toda vez que ela aparecia, eu fazia o meu melhor para agir
normalmente, e ela respondia educadamente a qualquer coisa que eu dissesse,
mas era como se houvesse uma muralha de vidro entre nós.
Depois de vários dias de quase silêncio, uma manhã em que ela estava
fazendo um bule de café, eu me juntei a ela na cozinha e fiz uma tentativa de
romper a barreira.
— Esse café está com um cheiro bom — eu disse.
Ela estendeu o braço até o armário, tirou uma xícara, encheu-a e colocou-
a sobre o balcão ao meu lado. — Aqui está.
— Obrigado.
— De nada. Ela encheu uma segunda xícara para si e caminhou em
direção à sala.
— Podemos conversar por um minuto? — eu disse.
Ela se virou de volta para mim. — Claro. Sobre o que você quer
conversar?
— Você. Eu. Essa... situação em que estamos. Antes, parecia que
estávamos nela juntos, e agora, parece que somos cada um por si. Sinto falta
da nossa amizade.
Uma sombra de dor cruzou o seu rosto. — Sinto muito — disse ela
calmamente. — Mas você vai ter que conversar com outra pessoa sobre isso.
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Sei que não estou sendo uma amiga muito boa no momento, mas estou
fazendo o melhor que posso.
— Não podemos continuar assim — eu disse. — Vivendo no mesmo
apartamento e raramente se falando.
— As coisas entre nós mudaram.
— Não estou fingindo que não. Mas não podemos continuar não nos
sentindo à vontade um com o outro.
Ela olhou para mim pensativamente. — Você tem razão nisso. Não estou
a fim de conversar, mas que tal assistir ao noticiário da manhã juntos?
— Vamos em frente.
Ela entrou na sala de estar, caminhou até a mesa de café, pegou o controle
remoto e sintonizou na CNN. Depois de me sentar em minha poltrona
favorita, ela se sentou na ponta do sofá o mais longe de mim e fixou sua
atenção na tela da televisão.
Conforme Wolf Blitzer falava monotonamente sobre a Coreia do Norte,
eu observava Ava de rabo de olho, desejando juntar-me a ela no sofá como
fazíamos antes. Claro, eu queria comê-la, meu desejo por ela era mais forte
que nunca, mas nesse momento, eu me daria por feliz em segurar a sua mão
ou sentir a sua cabeça encostada no meu ombro.
Mas por ser honesto sobre quem eu era, eu tinha me excedido e sofrido as
consequências como um homem. Antes, quando convenci Ava a dormir
comigo, o pensamento de que ela pudesse acabar tendo sentimentos por mim
não passou pela minha mente. Eu sempre tinha atraído debutantes e garotas
festeiras como moscas, mas nunca uma mulher como Ava, que merecia um
homem melhor que eu poderia ser.
A minha imprudência estragou o nosso relacionamento, mas eu não
deixaria isso acontecer de novo. Com o tempo, ela entenderia que fiz a coisa
certa para nós dois e me agradeceria por isso.
Mas por enquanto, assistir ao noticiário juntos era um progresso.
E neste momento, eu aceitaria o que quer que eu conseguisse.

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37

AVA

Chegada a manhã do dia do casamento, eu havia me resignado a uma


aceitação entorpecida do que precisava fazer.
Eu colocaria o vestido de casamento que havia escolhido com tanta
esperança e o usaria com um sorriso no rosto, embora a rejeição de Ronan
tivesse queimado o meu coração a ponto de cinzas. Eu ficaria diante da elite
de Southampton e pronunciaria votos falsos, embora eu ainda quisesse
acreditar nas palavras que brotariam dos meus lábios. E sorriria pelo meu
trajeto até chegar a uma recepção e jantar elaborados, embora meu desejo
fosse estar sozinha.
Durante a semana passada, eu tinha feito o máximo para evitar Ronan,
rastejar sob o equivalente emocional de uma rocha e lamber minhas feridas,
mas nada podia aliviar a dor no peito, uma dor que só fez piorar com os
esforços bem-intencionados de Ronan em fazer as pazes comigo.
O que, no momento, incluía tomar o helicóptero e o piloto do seu pai
emprestados para nos levar do heliporto no centro de Manhattan a
Southampton, um gesto que teria me emocionado uma semana atrás, mas
agora só me doeu pelo que teria sido.
Por que ele não podia voltar a ser o babaca arrogante com quem eu havia
assinado esse contrato de casamento falso e maluco? Ele não podia entender
que cada ato de gentileza simplesmente era mais uma punhalada no meu
coração?
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Quando Ronan me ajudou a entrar no helicóptero, antes de me entregar as


caixas contendo nossas roupas de núpcias, eu chequei minha onda de
autopiedade.
Eu havia me permitido entrar nessa confusão. Eu havia entrado nela de
olhos abertos. Concordar com um falso casamento tinha sido um jogo, e me
entregar ao meu desejo por Ronan tinha sido outro.
Eu havia jogado conscientemente, e havia perdido.
Agora, eu tinha que pagar o preço dessa derrota, e através dos sete
círculos do inferno que se estendiam diante de mim, eu precisava manter o
máximo de dignidade que eu podia reunir. O que, hoje, significava estampar
um grande sorriso falso no rosto e dar o melhor de mim para parecer e agir
como a mulher mais feliz na face da Terra.
Conforme me acomodei num dos luxuosos assentos de couro envolventes
do helicóptero, Ronan me entregou um fone de ouvido com almofadas
auriculares grandes e um microfone preso. Quando ele fez isso, os nossos
dedos se tocaram por um milésimo de segundo, e a faísca que disparou dentro
de mim me mostrou, como se eu precisasse de algum lembrete, o quanto eu
ainda desejava todo o seu olhar e o seu contato.
Nessa eu me fodi.
Forçando o meu semblante numa expressão neutra, deslizei o fone sobre
os ouvidos, antecipando o descanso que o voo de quarenta minutos para
Southampton provavelmente iria proporcionar. Embora os nossos fones de
ouvido cancelassem a maior parte do barulho do motor, estar no mesmo canal
de comunicação que o piloto limitava a nossa habilidade de conversar
livremente, uma limitação pela qual eu era muito grata. Para conseguir
atravessar o dia de hoje, eu precisaria aproveitar cada segundo de sossego que
pudesse.
O piloto deu partida nos motores, que roncaram, zuniram e chiaram
conforme as hélices começavam a girar. Conforme a rotação aumentava, o
som de vap-vap-vap que eu associava com helicópteros emergiu do barulho.
A voz do piloto chegou aos meus fones de ouvido. — Preparem-se para
decolar.
Segundos depois, o helicóptero levantou voo e guinou em direção ao mar.
Conforme pegamos velocidade, os arranha-céus iminentes da cidade
encolheram com a distância para além da minha janela.
Conforme Manhattan recuava à distância, arrisquei uma olhada de soslaio
em Ronan, que estava sentado do lado oposto ao meu, olhando pela janela.
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Vestido para o voo de jeans, uma jaqueta de bombardeiro de couro e óculos


de sol estilo aviador, ele estava impossivelmente bonito, e eu não podia evitar
o desejo de que as coisas tivessem tomado um rumo diferente entre nós.
Afastando a tristeza que ameaçava me dominar, virei-me para a janela,
fixei o olhar no horizonte e forcei-me para respirar profundamente. Eu não
podia me dar o luxo de ceder aos meus sentimentos, e ficar presa ao que
poderia ter sido não me ajudaria a atravessar o dia que eu tinha pela frente.
Naquele momento, o helicóptero emitiu um som tússico e deu um tranco
para a esquerda, me atirando contra o braço direito do meu assento. Por um
instante, uma sensação de terror correu pelas minhas veias, antes de o som do
motor voltar ao normal e a aeronave endireitar.
— Desculpem — disse o piloto. — Um dos motores falhou por um
segundo, mas está bem agora. De qualquer maneira, esse pássaro é bimotor,
portanto não há nada a temer.
Ronan inclinou-se para frente em seu assento e falou no microfone do seu
fone de ouvido. — Ava, tudo bem com você?
— Estou bem — respondi, conforme reajustava meu fone de ouvido, que
tinha saído de uma das orelhas.
— Não há nada com que se preocupar — disse ele. — Mesmo se
tivéssemos perdido um dos dois motores, que não perdemos, esse helicóptero
voa perfeitamente bem apenas com um.
— Obrigada — eu disse, e eu estava falando sério. — Isso me faz sentir
mais segura.
— Nós dois: você e eu — disse ele com um sorriso tranquilizador. —
Embora, por alguns segundos, desejei que tivesse pedido a limusine do papai
em vez disso.
Aliviada com o fato de o helicóptero estar bem, sorri de volta. — Você e
eu desejamos, mas se você tivesse, ainda estaríamos presos no trânsito, em
vez de estarmos a meio caminho de Southampton.
— Verdade — disse ele. — Agora que a primavera chegou, tenho certeza
que o trânsito está entupido na maior parte do percurso.
Por todo o resto do voo, que passou sem incidente, Ronan e eu
permanecemos num silêncio agradável, e quando nos aproximamos de
Southampton, eu me senti mais confiante em minha habilidade de lidar com o
dia pela frente.
Eu não era completamente eu mesma, e não podia ter expectativas de
estar voando alto a qualquer momento. Mas como uma aeronave que se vira
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com um motor em vez de dois, eu estava sobrevivendo. Eu estava fazendo o


que havia me comprometido a fazer e o que precisava ser feito para salvar o
negócio de Ronan.
E um passo por vez, eu sobreviveria a esse casamento.

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38

RONAN

Quando o helicóptero pousou na propriedade de Southampton, Verônica fez


com que Ava e eu fôssemos às pressas para os quartos do terceiro andar, onde
trocaríamos de roupa e nos aprontaríamos para o casamento. Como Ava e eu
tínhamos optado por um casamento à tarde, eu escolhi usar um fraque cinza-
carvão e uma camisa branca, juntamente com um colete e uma gravata
prateados.
Eu havia quase acabado de me vestir e estava arrumando as minhas
abotoaduras quando alguém bateu à porta.
— Entre — gritei, esperando Jack, que ia ser o meu padrinho.
Mas quando a porta se abriu, meu irmão Aiden entrou, usando um terno
escuro justo e uma expressão estranha.
— Você tem alguns minutos? — perguntou. — Precisamos conversar.
— Alguns — eu disse, colocando a segunda abotoadura no lugar. — Mas
você vai precisar ser rápido, porque Verônica estará me esperando lá embaixo
em meia hora, e você sabe como ela é.
Aiden fechou a porta antes de se virar para mim. — Eu costumava achar
que entendia a minha mãe melhor que ninguém. Agora, não tenho tanta
certeza.
Terminei de fechar a abotoadura e comecei a colocar a gravata. — O que
você quer dizer?
— Eu a ouvi conversando com sua amiga Mariane sobre seus planos de
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separar você e Ava e, depois, a questionei sobre o que eu tinha ouvido.


Parei o que eu estava fazendo e olhei nos olhos do meu irmão. — Então
você deve saber que Verônica ofereceu três milhões de dólares à Ava para
romper comigo.
O rosto de Aiden corou. — Eu sei, e quero que você saiba que não tive
nada a ver com isso. Você e eu podemos não nos dar bem, mas eu jamais
foderia com a sua vida pessoal.
Ele parecia sincero, e minha intuição me dizia que ele estava sendo
honesto comigo.
— Não se preocupe com isso — eu disse. — O casamento ainda está de
pé e, de qualquer maneira, você não é responsável pelas ações da sua mãe.
Aiden pareceu aliviado. — Obrigado por dizer isso.
— É um simples fato — eu disse suavemente. — Assim como é a
realidade de que a sua mãe quer desesperadamente que você herde a Kingsley
Capital.
O olhar fixo de Aiden se escureceu. — Não preciso da ajuda de ninguém
para ter sucesso, e eu disse à minha mãe que pare de interferir nos meus
planos.
O meu semblante deve ter revelado a minha surpresa, posto que Aiden
soltou uma risada seca. — Parece que eu te choquei.
— Francamente, chocou sim. Você está considerando deixar a firma?
— Não no momento, mas dentro de um ano mais ou menos. A abordagem
do papai é mais conservadora que a minha, e uma vez que eu tenha adquirido
um pouco mais de experiência, pretendo começar meu próprio negócio, assim
como você. Quando eu tiver a idade do papai, pretendo administrar uma das
mais bem-sucedidas firmas de investimentos de Wall Street, e quando eu
chegar lá, ninguém vai poder dizer que consegui isso roubando o legado do
meu irmão.
Olhei para o meu irmão com renovado respeito. A sua afirmação trouxe
de volta memórias da minha própria rebeldia e ambição juvenis, assim como
a firmeza na sua voz. Aiden finalmente estava crescendo e se transformando
em sua própria pessoa em vez de ser o joguete da sua mãe?
— O papai é osso duro de roer — eu disse. — Pelo que me consta, ele
pode deixar a Kingsley Capital para quem ele quiser. Tenho meu próprio
negócio e me recuso a participar de jogos psicológicos que colocam membros
da família uns contra os outros.
— Eu sinto o mesmo — disse Aiden. — De qualquer maneira, você não
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tem que se preocupar com a interferência da minha mãe de agora em diante.


— Eu resolvi esse problema para sempre.
Era possível que ele tivesse resolvido? Sem questioná-lo, eu não fazia a
mínima ideia, mas ao peitar Verônica, Aiden tinha me defendido, e eu
precisava tratá-lo como o homem que ele estava tentando ser.
O que significava não interrogá-lo. O que significava mostrar-lhe
respeito... e confiança.
Então, estendi a mão para ele. — Obrigado por conversar com Verônica.
Aiden apertou a minha mão com firmeza. — Eu só queria ter descoberto
os planos dela a tempo de não deixá-la arrastar Ava para esse drama familiar
fodido. Seus lábios franziram rapidamente num meio-sorriso irônico. — Mas
suponho que o lado positivo é saber do que é feita a sua futura esposa.
— Sou um homem de sorte — eu disse, desejando pela primeira vez que
eu não tivesse que mentir ao meu irmão sobre o meu casamento, que eu
pudesse retribuir a honestidade com a qual ele acabava de conversar comigo.
Mas eu não podia. Pelo menos não agora e definitivamente sem conversar
primeiro com Ava.
— Você é mais que sortudo — disse Aiden. — Puta merda, ela recusou
um suborno de três milhões de dólares por você. Ele balançou a cabeça. —
Ela realmente deve te amar.
— Ela me ama — eu disse, sendo o mais verdadeiro que podia ser. — E
vá por mim, é uma lição de humildade.
Meu irmão franziu a testa para mim. — O que você quer dizer?
— Ser amado desse jeito. Possivelmente eu não mereça.
— Talvez você não mereça Ava, talvez sim — disse Aiden. Eu
certamente não estou em condições de julgar ou dar conselhos, além do que
aprendi ao crescer em nossa família desestruturada.
Quando ele hesitou, eu olhei para ele. — Continue.
— Você não pode mudar o passado. Mas o seu futuro depende de você.
Se Ava merece um homem melhor, talvez você deveria simplesmente dar o
seu melhor para ser esse cara.
Por um longo momento, eu fiquei olhando para o rosto de Aiden, que
irradiava boas intenções. Com o tempo, o meu irmão mais novo aprenderia
uma das lições mais difíceis da vida, que era descobrir que as pessoas não
mudam. Nas pequenas coisas, claro, mas não quando se trata das coisas que
realmente importam. No final das contas, eu sempre soube que eu era um
Kingsley e o filho do meu pai. Claro, tentei ser mais honesto sobre quem eu
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era. Tentei encontrar uma maneira de ser eu mesmo sem machucar ninguém.
E o que consegui com meus esforços? Magoei Ava e contei uma tonelada
de mentiras para sustentar o casamento falso que estava para se realizar. Um
homem melhor teria encontrado outra maneira de salvar o seu negócio. Uma
melhor maneira. Uma que não envolvesse mentir e magoar as pessoas.
Mas eu não era esse homem e não havia descoberto uma melhor maneira.
O que significava que eu tinha um casamento pela frente. Então, me
desprezando por fazê-lo, coloquei um sorriso no rosto e dei alguns tapinhas
nas costas do meu irmão, fingindo uma leveza que eu gostaria de estar
sentindo. — Obrigado, Aiden, vou me lembrar do que você disse. Agora,
acho melhor levar o meu traseiro lá para baixo.
— Antes que você se atrase para o seu próprio casamento? — ele
brincou.
— Você acertou — eu disse, piscando para ele. — Deixar a minha linda
noiva esperando não é uma opção.

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39

AVA

Depois que Carol me ajudou a colocar o vestido de noiva e fechar o zíper


atrás, olhei fixamente no espelho da penteadeira da suíte que havia sido
preparada como vestiário, uma parte de mim ainda não acreditando no reflexo
que olhava de volta para mim. O vestido Vera Wang que havíamos escolhido
para mim era um adorável equilíbrio entre moderno e clássico. Da cor de
marfim e sem mangas, com um profundo decote em V, o vestido revelava
uma clivagem modesta; a sua saia se espalhava graciosamente a partir da
cintura, e apliques delicados de fio trançado davam um toque brilhante à sua
silhueta clássica. Eu havia prendido o cabelo num penteado liso, que
complementava as linhas simples do meu vestido, e solitários de diamante
brilhavam em minhas orelhas, completando o visual.
Além do traço de sombras abaixo dos olhos, eu aparentava ser, em cada
detalhe, a perfeita noiva dos Hamptons, e além de Carol e Mimi, que sabiam
que eu havia desnudado o meu coração para Ronan e sido rejeitada, ninguém
veria a verdade por trás da ilusão, muito menos o que estava me custando
para mantê-la.
— Definitivamente escolhemos o vestido certo — disse Carol, recuando
para me inspecionar. — Você está linda, e você vai ficar mais impressionante
quando eu terminar a sua maquiagem. Ela olhou em volta. — Droga. Devo
ter deixado a bolsa de maquiagem no meu quarto.
— Não podemos usar a minha? Confie em mim, está totalmente
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abastecida com tudo que possamos precisar.


— Meus pincéis são melhores que os seus pincéis.
Revirei os meus olhos. — Isso é uma questão de opinião.
— De volta em dois minutos — disse ela, caminhando para a porta.
Quando a porta se fechou, caminhei de um lado para o outro
nervosamente, pois tomei consciência, como nunca antes, da realidade do que
eu iria enfrentar.
Eu estava prestes a me casar com o homem que eu amava. Dentro de uma
hora, eu iria ficar ao lado dele e prometer amar, honrar e confiar nele. E no
meu íntimo, eu ainda esperava que aqueles votos pudessem ser verdadeiros.
Mas não eram.
A rejeição de Ronan me despertara daquele sonho como se através de um
choque, e agora, conforme eu me preparava para pagar o preço de todos os
riscos que eu correra, emoções cruas fervilhavam em minhas entranhas.
Concordar com um falso casamento tinha sido estúpido, e me apaixonar
pelo meu falso futuro marido fazia de mim a maior idiota de todos os tempos.
Mas essa situação não recaía apenas sobre mim.
Durante a semana passada, fiz um exame de consciência. Questionei e
analisei cada memória dos meus momentos com Ronan. E embora ele nunca
tivesse falado de amor, de todas as outras maneiras, ele tinha se comportado
como se me amasse. Ele havia compartilhado coisas do seu passado comigo,
feito amor terno e apaixonado com cada centímetro do meu corpo e feito com
que eu me sentisse valorizada de maneiras que nenhum outro homem fizera.
Ele havia me dado esperança de que a nossa história pudesse ter um final
feliz.
E, em seguida, destruiu essa esperança e despedaçou meu coração.
Quando Carol voltou, nos sentamos na frente da penteadeira, e ela
começou a aplicar corretivo às sombras abaixo dos meus olhos.
Conforme ela trabalhava, contive a minha emoção até não poder mais. —
Devo ser a mulher mais idiota do mundo — eu disse. — Ou isso, ou estou
perdendo a cabeça. Uma parte de mim ainda não pode acreditar em tudo isso.
Apontei para mim mesma. — Eu. Esse vestido. Esse casamento, que parece
uma mistura insana de falso com verdadeiro.
Carol me censurou com um olhar. — Você está tendo dúvidas se deve ir
em frente?
— Não. Dei a minha palavra e, além disso, eu não poderia viver em paz
com a minha consciência se magoasse Ronan dessa maneira. Não posso
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deixar de amá-lo, mesmo que eu quisesse. Mas agora, estou com raiva. Estou
furiosa comigo mesma por entrar nessa confusão e frustrada com a recusa do
Ronan em nos dar uma chance. Toda essa coisa de dizer "não sou capaz de
amar" não passa de uma pose dele, que eu chamo de babaquice.
— Não é uma pose — disse Carol, conforme começava a pincelar a base
no meu rosto. — Pode ser babaquice, mas é no que ele realmente acredita.
— Entendo, e não estou pedindo que você tome partido entre mim e seu
irmão. Você sabe o quanto eu o amo.
Ela suspirou. — Eu amo vocês dois. E me mata ver você sofrendo assim,
mas ainda acredito que o Ronan te ama. Ele é louco por você, Ava. Ele só
precisa de mais tempo para chegar a admiti-lo.
— Eu gostaria de concordar, mas não concordo.
— Você não conhece o Ronan tanto quanto eu — disse ela. — Ele não
pode ser apressado, e é por isso que aconselhei você a dar um tempo antes de
dizer a ele como você se sentia.
— Eu não podia entrar nesse casamento e pronunciar meus votos sem
saber o que significam.
— Eu entendo — disse ela. — Você é assim, e no seu lugar, eu
provavelmente me sentiria da mesma forma. Mas o Ronan é um homem. Ele
é diferente de você e de mim. Ele não analisa as suas emoções da maneira
que nós fazemos, e não entende seus sentimentos verdadeiros até que eles lhe
deem um soco no estômago. Quando isso acontece, como inevitavelmente
acontece, ele é forçado a reconhecer como realmente se sente, o que também
leva tempo. Ele leva um tempo para organizar os seus sentimentos, mas
durante os próximos dois anos, ele vai descobri-los.
— Duvido.
— Não desista dele, Ava. Muita coisa pode mudar em dois anos.
— Não isso — eu disse. — Para melhor ou pior, Ronan tomou a sua
decisão. E não espere que ele mude de ideia.

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40

RONAN

Em pé, entre um pastor anglicano e o meu melhor amigo Jack, sob o arco
cerimonial enfeitado com flores que havia sido erguido no gramado
expansivo da propriedade, fiquei tenso conforme o quarteto começou a tocar
partes da Ave Maria, indicando que dentro de minutos, eu seria um homem
casado.
Um corredor adornado de flores dividia os mais de cem convidados em
dois grupos de pessoas sorridentes e ricamente bem vestidas, que se
levantaram quando Carol, primeiro, e Ava, depois, caminharam no corredor.
Quando Ava se aproximou de mim, e o violino cantarolou uma melodia
de Schubert a grande altura, senti um arrepio da cabeça aos pés. Em seu
vestido simples, porém elegante, segurando um buquê de cores vivas que
complementavam o tom marfim do vestido, ela era a noiva mais
deslumbrante que eu já tinha visto e, por um segundo, as palavras do meu
irmão sobre tentar ser digno dela ecoaram pela minha mente.
Ela era a primeira mulher que eu conhecia que me fez querer ser um
homem melhor. E durante a semana passada, eu tentara esquecê-la, algo em
que sempre fui bom. Mas desta vez era diferente. No íntimo, eu não estava
preparado para esquecê-la. Eu estava com síndrome de abstinência por
desistir do sexo mais ardente da minha vida, ou havia algo mais? Eu não
tinha certeza, mas, independentemente, eu me sentia um filho da puta de
primeira por magoá-la.
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Mas o que quer que eu sentisse por Ava, uma parte de mim não podia
evitar sentir um contentamento egoísta de que a cerimônia a se realizar estava
prestes a torná-la minha e a ganhar tempo para entender as coisas.
Conforme prometi amar, honrar e confiar em Ava, e ela fez as mesmas
promessas a mim, tudo menos a palavra amor me soou verdadeiro. Eu podia
não ser o cara romântico que dá flores e bombons de presente, mas eu
realmente honrei e confiei nela. E quando prometi protegê-la e abrigá-la por
todos os dias da sua vida, eu não poderia ter sido mais significativo com essas
palavras.
Quando deslizamos as nossas alianças um no dedo do outro, e eu
reivindiquei os seus lábios com o nosso primeiro beijo conjugal, tive um
novo sentimento de determinação.
Eu a protegeria, não importaria como.
Mesmo que no final isso significasse protegê-la de mim mesmo.

Conforme Ava e eu caminhamos de mãos dadas em direção ao altar, ao som


de uma versão animada de Marry You, de Bruno Mars, executada por um
quarteto de cordas, resultado de um acordo musical duramente ganho com
Verônica, os nossos convidados nos deram uma chuva de pétalas de rosa, que
haviam sido fornecidas para essa finalidade.
— Conseguimos — eu disse no ouvido de Ava.
— Ainda não terminou — ela sussurrou.
— Não, mas dentro de uma hora mais ou menos, todos vão estar trêbados.
É só baixaria a partir daí.
Quando chegamos ao final do corredor e começamos a receber os
parabéns dos convidados, fiz o meu melhor para nos deslocar em direção ao
pátio grande com teto de pérgola da propriedade, onde o coquetel e o jantar
se realizariam. Embora Ava estivesse, mais uma vez, fazendo o seu papel
magistralmente, tínhamos uma noite longa pela frente, e achei por bem
poupar as nossas energias.
A progressão era lenta, mas gradualmente atravessamos os aglomerados
de convidados, que agora se dirigiam em direção ao pátio, e quando
chegamos ao nosso destino, ajudei Ava a se sentar à mesa reservada para nós
dois, que estava erguida sobre uma pequena plataforma de modo que os

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nossos convidados pudessem nos ver.


Perto, mesas maiores, drapeadas com toalhas imaculadas cor de marfim e
postas com talheres reluzentes e elegantes arranjos florais de centro,
formavam um círculo ao redor de uma área central que havia sido deixada
aberta para a dança depois do jantar. Globos de flores em cores vivas e
lanternas de papel em tom de marfim estavam pendurados nos postes de
madeira da pérgola. O quarteto de cordas fora substituído por uma banda de
jazz de doze pessoas, que estava tocando uma mistura de músicas tradicionais
e favoritas contemporâneas que havíamos solicitado para a noite. A maioria
dos nossos convidados já estavam sentados e, quando tomei o meu assento ao
lado de Ava, uma fraca salva de palmas preencheu o ambiente.
Conforme Ava e eu sorríamos e acenávamos, e Ava mandava um beijo
em direção à sua amiga Mimi, que estava sentada com uma mistura de
hamptonitas numa mesa próxima, o líder da banda nos anunciou como "o Sr.
e a Sra. Kingsley", e um garçom com terno escuro apressadamente nos trouxe
duas taças de champanhe. Peguei as taças e entreguei uma à Ava, antes de
tilintar a minha na dela.
— A você — eu disse, mantendo minha voz baixa o suficiente para que
só ela ouvisse. — Obrigado por se casar comigo, por ser uma amiga
verdadeira e por sempre me apoiar.
Ela olhou em meus olhos e falou calmamente. — Fiz o meu melhor. E
você também. E o casamento está transcorrendo melhor que o esperado, pelo
menos até agora. Até mesmo Verônica não tem sido a megera habitual de
sempre.
— Graças a uma conversa do Aiden com ela — eu disse. — Mais tarde
eu te conto, quando estivermos sós.
— Independentemente do porquê, sou grata — disse Ava.
— Assim como eu. Jamais vou esquecer o que você fez por mim.
Seus lábios se contraíram num meio-sorriso irônico e, pela primeira vez
em uma semana, vislumbrei uma centelha de humor em seus olhos. — Confie
em mim; eu também não.

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41

AVA

Conforme a noite prosseguia, me senti cada vez mais claustrofóbica. Embora


Ronan não pudesse ter sido mais solidário, conforme passamos pelos rituais
de um casal recentemente casado para uma plateia cada vez mais barulhenta e
embriagada, cada momento era outra punhalada em meu coração destroçado.
O anúncio de nós como "o Sr. e a Sra. Kingsley". Nossa primeira dança, e
então a dança com o pai do Ronan, que não tirava os olhos do meu decote
enquanto me segurava perto demais para o seu conforto, enquanto Ronan
rodopiava Verônica na pista com uma expressão estoica em seu rosto à
medida que ela exibia o seu sorriso perfeito e radiante à fina nata da
sociedade dos Hamptons. O discurso de Jack, no qual ele fez as típicas piadas
obscenas de padrinho sobre Ronan finalmente ter encontrado a sua parceira.
Mesmo assim, eu me mantive firme até que começou o tilintar
interminável de talheres contra os copos, exigindo que nos beijássemos e,
minutos depois, que nos beijássemos novamente. No passado, eu achava essa
convenção divertida, mas na minha atual situação, não era nada menos que
uma tortura.
Quando finalmente o jantar terminou, meu rosto doía de tanto sorrir, e
cada beijo acelerava meu derretimento interior. A única frágil ponta de
esperança que me mantinha firme era saber que depois desta noite, o pior
teria terminado.
Com o casamento realizado, eu só teria que bancar a esposa dedicada de
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vez em quando, em algum evento ocasional da família Kingsley ou alguma


festa de gala beneficente. E a partir de amanhã de manhã, eu focaria o meu
objetivo em me distanciar de Ronan. Uma vez que a distância desse ao meu
coração tempo e espaço para se recuperar, talvez pudéssemos tentar
reconstruir algum tipo de convivência. Não uma amizade íntima, que
arriscasse fortalecer os meus sentimentos por ele, mas um nível básico que
tornasse mais fácil compartilhar um apartamento pelos próximos dois anos.
Eu também focaria novamente em meu negócio e minha paixão por
arranjos florais. Atolar-me no trabalho que eu adorava tinha me salvado após
o rompimento com o meu ex-noivo Brian e espero que, com o tempo, me
salve do desgosto e da decepção que eu sentia agora.
Ronan estaria sentindo a minha agonia? Se estivesse, ele o fez
impecavelmente, porque, aos meus olhos, ele parecia relaxado, e até mesmo
feliz. Mas se formos analisar, ele conseguiu tudo que queria, ou não? Eu fui
para a cama com ele, me casei com ele e, dentro de alguns dias, ele teria
acesso à sua herança de $50 milhões.
Verifiquei os meus pensamentos amargos e me lembrei de que, embora
Ronan não fosse isento de culpa nessa situação, eu também não era. Desde o
dia em que o conheci, cometi um erro atrás do outro. Concordando em ter um
casamento falso com ele. Cedendo à minha atração por ele. E o pior de todos,
me apaixonando por ele.
Essa noite, a conta desses erros venceu.
Quando o tilintar das taças começou novamente, inclinei-me
resignadamente em direção a Ronan para mais um beijo por encomenda. Se
eu tivesse sorte, esse seria o último da noite. Embora eu duvidasse. Ainda
faltava mais meia hora para cortarmos o bolo e teríamos que ficar por, pelo
menos, mais uma hora depois disso.
E quando os lábios carnudos e sensuais de Ronan pressionaram contra os
meus no que parecia ser a milionésima vez, o meu corpo traiçoeiro não queria
que esse fosse o nosso último beijo. Não podia querer que fosse o último.
Apesar de tudo que acontecera entre nós, eu o amava mais que nunca, e não
saber se essa seria a última vez que ele me tomava em seus braços e clamava
os meus lábios como seus era mais que devastador, e isso estava me
arrasando.
Essa noite não podia terminar cedo o suficiente.

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42

RONAN

Durante a semana seguinte ao casamento, eu estava preocupado com a


legalidade de ganhar acesso à minha herança, tomar um empréstimo de dez
milhões de dólares dela para o meu negócio e fazer um cheque à Ava dos
$200.000 que eu havia concordado em pagar no ato do nosso casamento. Foi
só no final da semana, quando a poeira assentou, que eu senti que ela estava
me evitando. Ela ia para o trabalho mais cedo, vinha para casa mais tarde e,
desde o dia do nosso casamento, mal tínhamos trocado meia dúzia de
palavras.
Não que eu a culpasse. Eu a havia magoado e dado a ela todos os motivos
para se afastar de mim. Mas quando acordei na manhã de sábado, um dia
antes de completar uma semana do nosso casamento, uma insatisfação me
corroeu por dentro.
Com o casamento consumado e meu negócio financeiramente saudável,
eu deveria ser o homem mais feliz da vida, mas não era. Ontem, quando fiz o
cheque, e Jack me deu uns tapinhas nas costas e me parabenizou por salvar a
Kingsley Tech, senti uma sensação de alívio, mas não a empolgação que eu
esperava sentir.
E quando Jack e eu saímos para um drinque comemorativo depois do
trabalho, embora eu fizesse o meu melhor para compartilhar do entusiasmo
do meu amigo, eu não estava sentindo o mesmo. Para uma vitória tão
duramente conquistada, ela parecia surpreendentemente oca para mim e, em
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vista de tudo que acontecera, atribuí a minha falta de empolgação à minha


culpa por ter magoado Ava.
Culpa. Talvez fosse por isso que eu não conseguia tirá-la da minha mente.
Não era só sexo, porque, embora eu sentisse a falta desse componente da
nossa relação, eu sentia a falta da fácil convivência que tivemos juntos ainda
mais. Eu sentia a falta de ver o seu sorriso e ouvir a sua risada, mesmo
quando era às minhas custas. E se algum dia eu conseguisse entender os
sentimentos complicados que eu tinha por ela, só o tempo juntos ajudaria a
me entender.
Então, depois de tomar banho, me vestir e pegar uma xícara de café que
Ava já havia preparado, juntei-me a ela na sala de estar, onde ela estava
tomando o seu café e assistindo ao noticiário da manhã.
— Tem sido uma semana agitada para nós dois — eu disse.
O seu olhar não se desviou da tela da televisão. — É mesmo.
— Mas agora que minha papelada está em ordem, estou livre o fim de
semana inteiro. Quer ver um filme hoje à tarde ou sair para jantar à noite?
— Ãhn ãhn — disse ela. — Tenho uma proposta de um grande evento
que preciso entregar na segunda, portanto vou trabalhar hoje e amanhã.
— Droga. Apesar disso, que ótimo que o seu negócio está indo tão bem.
Ela tomou um gole do seu café. — Sim, desde que você arranjou aquele
artigo de revista, o telefone está tocando sem parar.
— Me liga quando você voltar para casa hoje à noite. Posso colocar
algumas carnes na grelha ou pedir comida pelo telefone.
— Obrigada por se oferecer em cuidar do jantar — disse ela. — É muita
gentileza. Mas estou seriamente atrasada com a proposta. Como preciso
trabalhar até mais tarde, provavelmente vou pegar uma salada ou um
sanduíche perto do meu escritório.
— Talvez amanhã à noite, então.
Quando ela olhou para mim, a sua expressão era ilegível. — Claro —
disse ela. — Amanhã talvez.

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43

AVA

A primeira semana depois do casamento foi um inferno. A segunda, não


muito melhor. Ronan continuou me pressionando para passar um tempo com
ele, o que eu não podia deixar que acontecesse.
Não quando olhar para ele era como um punhal atravessando meu peito, e
ouvir sua voz me doía pelo que poderia ter sido. Minha dor era recente
demais; minhas emoções, intensas demais.
Mas chegada a terceira semana depois do nosso casamento, a dieta Ronan
que eu havia me autoimposto começou a surtir efeitos positivos. Embora eu
ainda o amasse, senti que eu estava avançando ao aceitar a realidade de que
não éramos a pessoa certa um para o outro. Estar com ele havia me mostrado
a força do meu desejo por compromisso, casamento e filhos, e, embora
Ronan fosse um homem bom e um amante fabuloso, ele não estava preparado
para esse tipo de compromisso. Talvez jamais estivesse.
Mergulhar-me no trabalho ajudou, e às 8h da noite de quarta-feira,
quando me sentei à minha mesa na Oásis, me atualizando na contabilidade do
mês passado, me consolei com a constatação de que o meu negócio incipiente
estava finalmente prosperando. Talvez eu ainda não tivesse esquecido Ronan,
mas um dia eu chegaria lá. Por ora, eu só precisava manter o meu curso atual
de evitá-lo o máximo possível.
Foi por isso que quando o telefone tocou e vi o número de Ronan na tela
do meu celular, expirei agudamente, antecipando que fosse outro dos seus
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convites para jantar ou assistir a um filme juntos.


Não adiantava deixar que fosse para a caixa de mensagens. Se eu
deixasse, ele continuaria ligando. Ou apareceria na Oásis, como fez na última
quinta-feira, e eu me vi obrigada a aturar uma noite com ele, o que só
atrasaria a minha recuperação.
Então atendi ao telefone. — Oi, Ronan, o que há?
— Más notícias — disse ele. — Eu não quis que você descobrisse on-line
ou pela TV.
A sua voz não era a sua, e uma preocupação se apoderou de mim. —
Você está bem? O que está acontecendo?
— Não é comigo — disse ele. — É com o meu pai. O helicóptero dele
caiu perto de Long Island há duas horas.
— Oh, meu Deus, Ronan, sinto muito.
— Não acredito que isso está acontecendo — disse ele, com uma
aspereza em sua voz que me dizia como ele realmente estava atordoado. — A
guarda costeira está procurando papai e o seu piloto, mas é uma longa tarefa.
Mesmo que eles tenham sobrevivido ao acidente, a água está fria demais para
qualquer pessoa continuar viva por mais de uma ou duas horas.
— Você está no apartamento?
— Estou.
— Estou saindo da Oásis agora para tomar um táxi. Estarei aí o mais
rápido possível.

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44

RONAN

Nos dias que se seguiram, Ava mostrou-se firme como uma rocha. Durante
toda a busca fútil pelo corpo do meu pai, o eventual abandono dessa busca e
o funeral, ela permaneceu ao meu lado. Quando eu precisava conversar, ela
me ouvia, e quando eu me sentia perdido e sobrecarregado, ela passava horas
a fio comigo, segurando a minha mão em apoio silencioso.
Eu não era próximo do meu pai, mas ele havia sido uma força poderosa
em minha vida, uma força que continuava além da sua morte na forma da
firma de investimentos que ele construíra como a maior de Wall Street, e que
agora era parte do seu legado para mim.
Por toda a minha vida, não importava como as coisas estivessem mal
entre mim e o meu pai, eu sempre mantinha acesa uma centelha de esperança
de que algum dia a nossa relação melhorasse. Eu não estava ciente do quanto
essa esperança significava para mim, até que a morte a roubou.
Nos dias depois do funeral, enquanto eu me debatia com a realidade do
testamento do meu pai, que era um dos homens mais ricos do mundo, Ava
era a minha melhor conselheira.
— Seja honesto com você mesmo — ela me disse. — Você não
necessariamente tem que fazer o que o seu pai teria feito. Dê um tempo a si
mesmo para refletir sobre cada decisão, e não deixe ninguém apressá-lo a
fazer nada.
Foi por essa razão que, duas semanas depois do funeral, quando voltei do
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trabalho para casa numa noite de sexta-feira, fiquei consternado ao ver uma
grande mala na antessala do meu apartamento. Embora a morte do meu pai
tornasse o nosso contrato original nulo e sem efeito, ainda éramos legalmente
casados, e deduzi que Ava discutiria qualquer decisão importante comigo.
Quando cheguei à sala de estar, a porta do seu quarto estava aberta, e
quando entrei, ela estava debruçada sobre uma segunda mala, colocando um
monte de roupas dentro dela.
— Aonde você vai? — perguntei.
— Aluguei um lugar para férias no Brooklyn para o próximo mês —
disse ela. — Isso deve me dar tempo suficiente para encontrar algo mais
permanente.
— Então você está se mudando.
— Só fiquei até agora para dar uma força a você por conta da morte do
seu pai — disse ela. — Agora que o nosso acordo terminou, está na hora de
seguirmos em frente com nossas vidas. O que significa eu me mudar do seu
apartamento e nós dois assinarmos o divórcio amigável a que nos
comprometemos. Já que não há nenhum motivo para continuarmos casados
por dois anos completos, não espero que você me pague mais do que já
pagou.
— Espere aí — eu disse. — Não quero o divórcio... pelo menos, por
enquanto. E definitivamente não quero que você se mude.
Ela levantou-se, cruzou os braços sobre o peito e me deu um olhar de
reprovação. — Por que não? O seu negócio está salvo, você tem mais
dinheiro do que vai precisar e ninguém pode tirá-lo de você. Não há mais
nenhum motivo para a gente viver juntos, muito menos permanecer casados.
Dei dois passos em sua direção, quando algo em seu semblante me deteve
e me disse que eu precisava arriscar tudo o que tinha.
Então arrisquei. — Antes do nosso casamento, eu disse que não estava
apaixonado por você, que não era capaz de amar ninguém daquela maneira.
Mas agora não tenho tanta certeza.
Ela franziu a testa. — O que você está querendo dizer?
— Você é diferente de qualquer mulher que eu já conheci, e não consigo
parar de pensar em você... em nós. Nunca me apaixonei, por isso não sei se
estou apaixonado por você, mas tenho certeza de uma coisa: quero um tempo
para descobrir.
Ela balançou a cabeça. — Se você tivesse me dito isso há algumas
semanas, eu teria te dado esse tempo com muito prazer. Mas quando você me
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disse que nunca poderia retribuir o meu amor, não foi fácil engolir aquela
pílula amarga. E quando engoli, ela me obrigou a encarar a magnitude do que
quero com você e a aceitar o fato de que você não quer as mesmas coisas.
— Tudo que estou pedindo é mais tempo.
Ela suspirou. — Então me dê um bom motivo para desfazer minhas
malas.
— Eu acho que acabei de dar.
— Não é o suficiente.
— Entendo que te magoei — eu disse. — Não tive essa intenção, mas
acabei magoando. Essa é a razão verdadeira de você não querer ficar comigo.
— Não deixa de ser verdade, mas é uma simplificação totalmente
exagerada.
— Então complique ela para mim, raios. Me diga aonde você quer
chegar.
Sua voz demonstrou irritação. — Eu te amo, embora, neste momento,
gostaria muito, muito de não amar. Mas o fato de você me enlouquecer não
me faz parar de te querer. Quero fazer amor com você todas as noites e ser
sua esposa de verdade. Quero ser a mãe dos seus filhos e passar o resto da
minha vida com você.
— Então por que você está indo embora? — Por que...
Ela me interrompeu. — Porque amar você me fez perceber o que
realmente quero, Ronan. E não estou mais disposta a me contentar com nada
menos. Ela fechou a sua mala com força, virou-a sobre as rodinhas e a puxou,
dando a volta em mim e para fora do quarto.
Eu a segui conforme ela puxava a sua mala através da sala de estar até a
antessala e a juntou à outra mala que já estava lá.
— Não vá — eu disse. — Precisamos resolver isso juntos.
— Não há mais nada para resolver — disse ela, com a mão em direção à
maçaneta da porta do apartamento. — Tentei transformar você em alguém
que você não é, e sinto muito por isso. Mas o que está feito, está feito.
E com isso, ela abriu a porta e rolou suas malas através dela. Quando a
porta começou a se fechar, estendi o meu braço para mantê-la aberta, com
convulsões no estômago, conforme Ava caminhava para dentro do elevador.
Antes que as portas se fechassem, ela olhou para mim. — Eu te amo,
Ronan. Te amo mais do que você imagina. Mas isso é o que você precisa
entender: Eu também me amo.
E com isso, as portas se fecharam, e ela desapareceu da minha vida.
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45

RONAN

Durante toda a semana seguinte, fiz o meu melhor para me distrair do vazio
enorme que a ausência de Ava deixou em minha vida e me absorver no
trabalho. Na noite de quarta-feira, fui até um bar com Jack, mas, embora as
mulheres de Manhattan fossem tão bonitas e variadas como sempre, eu estava
ocupado demais com os meus pensamentos em Ava para ter interesse em
qualquer uma delas e, depois de dois drinques, quando Jack começou a flertar
com uma ruiva animada de rostinho pequeno, inventei uma desculpa, dei a
noite por encerrada e tomei um táxi para casa.
Na noite de sexta-feira, quando voltei ao meu apartamento, minha
correspondência incluía um envelope pardo contendo os papéis do divórcio,
que meti numa gaveta, antes de pedir uma pizza e me acomodar em minha
poltrona para jogar Destiny, o meu videogame favorito. Por fim, eu lidaria
com o divórcio e tudo relacionado a ele, mas estive com um humor de cão a
semana inteira e, no momento, só queria comer pizza e atirar em alguma
coisa.
Quando o interfone tocou, eu havia atirado em várias centenas de
guerreiros ciborgues e comido metade da minha pizza. Quando levantei meu
traseiro da poltrona e atendi, era minha irmã Carol.
— Suba — eu disse. — Se você ainda não comeu, eu tenho pizza.
Quando Carol chegou e entrou no apartamento, ela inspecionou a coleção
de caixas de pizza descartadas no balcão da cozinha e olhou para os vasos de
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flores murchas na sala de estar.


— Uau. Parece que alguém voltou à vida de solteirão. A sua empregada
pediu as contas ou algo assim?
— Não, Josefina está fora da cidade essa semana visitando a família.
Quer um pedaço de pizza ou alguma coisa para beber?
Minha irmã balançou a sua cabeça loura e apontou em direção à sala de
estar. — Sente-se, Ronan. Há algo que preciso dizer a você.
Sentei-me em minha poltrona e, quando Carol sentou-se no sofá em
minha frente e fixou os seus olhos azuis claros em mim, eu me preparei para
o sermão que senti que estava a caminho.
— Hoje cedo, Ava me disse que ela te mandou os papéis do divórcio —
disse ela.
Um aborrecimento me bateu por dentro. — Eu os recebi hoje. Ava enviou
você aqui para assegurar que eu os assine dentro de vinte e quatro horas?
Os olhos da minha irmã diminuíram à medida que ela olhava com
irritação para mim. — Que bicho te mordeu? Não ouse descontar as suas
frustrações com a Ava em mim. Não estou aqui para forçar você a nada,
como se eu pudesse, dado o quanto ridiculamente teimoso você é. Vim aqui
para fazer uma última tentativa de salvá-lo da sua própria estupidez.
— Se você está falando sobre Ava e mim, é tarde demais — eu disse. —
Uma semana atrás, eu cheguei em casa e a encontrei fazendo as malas. Pedi
que ela ficasse, mas ela se recusou e deixou claro que não quer nada comigo.
Ela deixou até mesmo tudo que dei a ela em seu quarto: anéis, vestidos,
sapatos, os brincos de diamante que você ajudou escolher... tudo.
— Isso faz todo o sentido — disse Carol. — Ava é uma mulher forte, e
ela te mandou uma mensagem forte.
— Me dizendo que ela quer ser minha esposa e mãe dos meus filhos logo
antes de sair do apartamento e me mandar os papéis do divórcio? —
Levantei-me da poltrona e comecei a andar de um lado para o outro. — Que
tipo de mensagem de merda é essa?
— Uma que qualquer mulher entenderia. Você está apaixonado por ela,
não está?
— Eu me preocupo com Ava. Realmente me preocupo. Mas isso não
necessariamente significa que estou apaixonado por ela.
Carol fez cara feia para mim. — Você está falando sério? Você está
completamente apaixonado por ela.
— Como você pode estar tão certa disso?
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— Em primeiro lugar, toda vez que você olha para ela, está estampado
em todo o seu rosto — disse ela. — Que diabos você acha que é estar
apaixonado, afinal de contas?
— Não tenho nenhuma merda de definição. Como eu saberia se nunca me
apaixonei?
— Me diga uma coisa — disse Carol. — Do que você mais sente falta em
passar tempo com Ava?
— Nós costumávamos rir muito juntos — eu disse, lembrando-me do dia
que levei Ava para jogar minigolfe. — Sinto falta de tomar café juntos todas
as manhãs e sinto falta das nossas noites de filme. A gente pedia comida pelo
telefone, via filmes juntos, transava no sofá, coisas assim.
— Como você se sente desde que ela foi embora?
— Uma merda, e meio vazio por dentro — admiti. — Não consigo tirá-la
da minha cabeça, e não consigo me concentrar no trabalho.
— Como é a aparência de Ava quando ela está de moletom e camiseta às
7h da manhã, com cabelo desarrumado e sem maquiagem?
— Que tipo de pergunta é essa?
— Só me responda — disse Carol.
— Ela é sempre bonita, com ou sem a maldita maquiagem.
Os lábios de Carol se separaram num largo sorriso. — Parabéns, Ronan.
Quer você queira admitir ou não, você está apaixonado.
Eu parei de andar de um lado para o outro. A minha irmã estava certa?
Tive a sensação de que talvez estivesse. Isso era o amor? Porque se fosse, eu
tinha amado Ava o tempo inteiro. A verdade estava bem na frente dos meus
olhos, mas como nunca estive apaixonado antes, eu não reconhecia os meus
sentimentos pelo que eles eram. E em não reconhecer a profundidade dos
meus sentimentos por Ava, eu havia estragado tudo completamente.
— Merda — eu disse, virando-me para Carol. — Você tem razão. Se o
amor significa tudo que sinto desde que Ava partiu por aquela porta, então
estou apaixonado por ela. Mas isso é suficiente? Você sabe que não sou
exatamente objeto ideal para casamento.
— Por causa do histórico do papai com as mulheres ou do seu próprio?
— Os dois.
— Não deixe os seus temores tomarem conta — disse Carol. — Ninguém
é perfeito, e todos temos nossa parcela de autodúvidas. Mas nesse momento,
você tem uma decisão a tomar. Ou você pode ouvir a voz dos seus temores e
deixar a mulher que você ama ir embora, ou pode ouvir a voz do seu coração,
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assumir um compromisso com Ava e manter uma absoluta determinação


dentro de você para honrar esse compromisso e fazê-lo funcionar.
— Não é simples assim — eu disse. — Já tentei e falhei em convencê-la a
ficar.
— Besteira — disse Carol. — Quando Ava disse que te ama e que queria
viver pelo resto da vida com você, como você respondeu? Quando ela
arriscou entregar o seu coração, você disse a ela como se sentia... ou cobriu
as suas apostas e ficou enrolando?
Minha mente inundou-se de entendimento. — Ela tentou chegar até mim,
mas deixei as minhas dúvidas me conterem... e agora, é tarde demais.
— Não necessariamente — disse Carol. — Se Ava te desse uma segunda
chance, você a aceitaria?
Olhei nos olhos da minha irmã. — Eu a agarraria com as duas mãos.
— Você está pronto para dar o máximo de si para ser o homem que ela
merece?
— Estou.
— Então vou te ajudar — disse ela, olhando pensativa. — Mas você vai
ter que colocar o seu ego masculino de lado se quiser ter qualquer esperança
de conseguir algo. Depois de todas as suas cagadas, convencer Ava a te dar
uma segunda chance vai requerer um sério rastejamento.
— Você quer dizer me ajoelhar como nos filmes?
— Isso é só o começo.
— Me inscreva — eu disse. — Farei qualquer coisa.

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46

AVA

Na tardezinha de sábado, eu estava sentada à minha mesa de trabalho na


Oásis, trabalhando num arranjo floral de centro que eu pretendia propor a
uma das minhas clientes para a recepção do seu casamento. Vasos de rosas e
cravos cor-de-rosa, rosas maiores de cor creme e limônios delicados rosa-
pálidos me cercavam, e talos e folhas descartados cobriam a minha área de
trabalho.
Eu estava me debatendo se devia acrescentar mais limônios ao arranjo de
centro quando alguém bateu à minha porta. — Entre — gritei, estendendo o
braço para pegar um pano e enxugar as mãos. — Está aberta.
Quando a porta se abriu e Ronan apareceu, eu me surpreendi
completamente. Ele não era nada senão persistente em lutar pelas coisas que
queria, e quando me mudei do seu apartamento, ele havia deixado claro que
não queria que eu fosse embora.
Em sua jaqueta de couro tipo bombardeiro e uma calça jeans, ele estava
mais devastadoramente bonito que nunca, e eu me fiz de aço para resistir a
uma tentativa de ser levada no bico para o tipo de relação que ele queria o
tempo todo. Sem promessas reais, sem chances de compromissos duradouros.
Nada como isso. Conhecendo Ronan, eu sabia que, sem dúvida, ele me
pediria um tempo.
Que eu já havia lhe dado. Diabos, continuei morando com ele por quase
um mês inteiro depois da morte do seu pai até ter certeza de que o pior do
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choque e do luto havia passado. Eu nunca amara um homem tão


profundamente quanto o amei; sua rejeição esmagou-me mais que tudo na
vida, e até o momento em que saí pela porta do apartamento que havíamos
compartilhado nos últimos meses, uma parte de mim esperava que ele fosse
me impedir, tomar-me em seus braços e dizer que me amava.
Mas aquela fantasia romântica estava morta. Ao me despertar dela, eu
estava determinada a seguir em frente com a minha vida, e o próximo passo
nesse processo era terminar o meu casamento com ele.
— Oi, Ava — disse ele, antes de fechar a porta e me encarar. —
Precisamos conversar.
— Precisamos — eu disse. — Você recebeu os papéis do divórcio que eu
mandei?
Ele enfiou a mão por dentro de sua jaqueta, tirou um calhamaço de papel
dobrado e o jogou sobre a mesa em minha frente. — Aqui está a minha cópia.
Mas antes de assiná-la, há coisas que preciso dizer a você.
Lá vamos nós de novo.
Escovei várias folhas soltas que estavam no assento da cadeira próxima à
minha, antes de empurrá-la na direção dele. — Sente-se e diga o que você
tem para dizer. Só não espere que eu mude de ideia.
Ele deslizou uma das mãos pelo cabelo antes de agarrar a cadeira,
posicioná-la para me olhar de frente e sentar-se nela. — Antes de começar,
preciso que você prometa que vai me ouvir.
Franzi a minha testa para ele. — Somos dois adultos razoáveis.
Ele me deu um olhar irônico. — Adultos razoáveis com temperamento
quente e um histórico de interromper um ao outro.
— Tudo bem — eu disse. Quanto mais cedo ele terminasse o discurso
que pretendia fazer, mais cedo eu poderia calar-lhe a boca, fazê-lo assinar os
papéis do divórcio e terminar de engolir a parcela de miséria cotidiana que eu
trouxera sobre mim mesma ao me apaixonar por ele. — Não vou te
interromper.
Por um longo momento, ele ficou só olhando para mim. — Eu sou um
idiota, Ava. Por toda a nossa relação, estraguei tudo a cada esquina. Antes de
conhecer você, eu nunca tinha me apaixonado. Eu achava que não fosse nem
mesmo capaz desse tipo de amor, o tipo de amor que você merece. Mas
ontem à noite, finalmente entendi o que é estar apaixonado e percebi o que
significa tudo que venho sentindo nos últimos meses. Eu te amo, Ava.
Comecei a me apaixonar por você logo depois que começamos a morar
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juntos e, muito antes do dia do nosso casamento, o meu coração já era seu.
Sei que cometi mais que a minha cota de erros, mas te amo do fundo do meu
coração, e se você estiver disposta a me dar uma segunda chance, quero
passar o resto da minha vida com você.
Por um momento, só fiquei olhando para ele, sem palavras. Por que ele
estava dizendo que me amava? Ele tinha que saber que eu não podia acreditar
nele. Mas daí a explicação ficou clara para mim e, quando isso aconteceu,
minha raiva aumentou. Para ele, dizer que me amava era apenas mais uma
maneira de ganhar tempo, e eu não ia aceitar isso de mão beijada.
— De onde, diabos, está vindo isso?
— Ontem à noite, Carol me ajudou a enxergar a verdade — disse ele. —
Estou apaixonado por você, assim como você está apaixonada por mim.
— Estava apaixonada por você. Caso você não tenha notado, eu segui em
frente com a minha vida.
— Acho que você não seguiu.
Indignada, levantei-de num pulo e olhei com raiva para o homem que
primeiro partiu meu coração e depois o esmagou até o pó. Se a minha
intenção era seguir em frente com a minha vida e deixar esse casamento falso
para trás, eu precisava colocar Ronan em seu devido lugar de uma vez por
todas. O que significava convencê-lo de que eu não sentia mais nada por ele,
embora, no meu íntimo, eu sabia que sentia.
Então, num esforço de proteger meu coração, revidei o mais forte que
pude. — Você não sabe merda nenhuma como eu me sinto, portanto nem
tente ir nessa. Isso é só mais uma maneira de você ganhar tempo, e quer saber
de uma coisa? Depois de tudo que você disse e fez, tentar me manipular dessa
maneira é realmente uma puta baixeza. Até ontem, eu teria dito que a minha
opinião sobre você não podia ter baixado mais que isso... mas parabéns. Você
se superou.
Ele levantou-se e estendeu os braços em minha direção, como se fosse
pegar nos meus ombros, mas quando recuei, tentando me esquivar dele, ele
baixou os braços de lado, com frustração estampada em seu rosto. — Por que
você não acredita em mim?
A minha raiva ferveu e derramou. — Olha só quem diz. Falando sério,
preciso soletrar?
O seu olhar fixo se escureceu. — Por toda a nossa relação, eu nunca fui
senão honesto com você. Na semana antes do nosso casamento, quando eu
disse que não te amava, eu estava enganado, mas estava te dizendo o que
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acreditava ser verdadeiro. Nunca menti para você, Ava. Nem uma vez... e é
por isso que você devia acreditar em mim agora.
Por que ele estava dificultando tanto as coisas? Eu detestava falar com ele
tão duramente, mas que escolha eu tinha, já que ele se recusava a entender a
mensagem?
Mais que frustrada, atirei tudo que eu tinha nele. — Depois dos últimos
dois meses, por que diabos eu acreditaria em você? Quando fiquei ao seu
lado durante todo o nosso casamento e depois durante o funeral do seu pai,
você nunca disse uma palavra, nenhuma, que mostrasse que qualquer coisa
havia mudado. E na semana passada, quando me mudei, você me deixou sair
por aquela porta. Você só está dizendo que me ama porque quer mais tempo,
e a sua conversinha com Carol te convenceu que essa é a única maneira de
conseguir o que quer.
Seus olhos cuspiram fogo. — Não foi uma conversinha, Ava. Carol me
ajudou a enxergar que estou apaixonado por você, e sou grato a ela por isso.
— Tanto faz — eu disse. — Estou cansada de discutir com você. Tudo
que quero de você é a sua assinatura nos papéis do divórcio para eu deixar
para trás esse capítulo ridículo da minha vida.
Seu semblante mostrava-se resoluto; seus lábios, numa linha firme. —
Você precisa aceitar que os meus sentimentos são verdadeiros, Ava. Cem por
cento verdadeiros, e todos meus. Ele levantou sua mão esquerda, revelando a
aliança de platina em seu dedo. — Está vendo essa aliança? Eu não a tirei,
porque não quis. Ainda não quero.
Ver a aliança em seu dedo quase me matou, e minhas emoções
ameaçaram dominar o meu frágil autocontrole. Eu estava a segundos de me
derreter diante dele, que era a última coisa que eu queria fazer. Partir o meu
coração não era suficiente para ele? Ele tinha que destruir minha última ponta
de dignidade e autorrespeito, só para ganhar tempo? Porque era exatamente
isso: ele só estava tentando me convencer a lhe dar mais tempo.
— Não preciso aceitar nada. Você é quem precisa melhorar o seu
relacionamento com a realidade. Apontei para os papéis do divórcio sobre a
minha mesa de trabalho. — Está vendo esses papéis? É a realidade que você
escolheu, e me recuso a continuar discutindo com você. Se você não está
disposto a fazer a coisa certa e assinar esses papéis, então você precisa sair
daqui agora. Se você não é homem o suficiente para cumprir o nosso acordo
original, que inclui um divórcio amigável, então vou ter que fazer isso da pior
maneira, com a assistência do meu advogado.
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Ele deu um passo em minha direção. — Olhe para mim, Ava. Olhe nos
meus olhos e diga que você não me ama. Se você me convencer, juro que
assino o divórcio e deixo você em paz.
Olhei fixamente para ele e medi as palavras que precisava dizer, embora
cada palavra fosse uma punhalada em meu peito. — Está bem. Não amo
você. Agora, assine o maldito divórcio.
Os seus olhos diminuíram. — Não foi muito convincente.
Joguei as minhas mãos para o alto. — Só porque você é o homem mais
teimoso e cabeça dura que existe, e ninguém consegue te convencer de nada.
Se você não vai assinar o divórcio, então caia fora do meu escritório.
Ele caminhou para frente, agarrou os meus ombros e me prensou contra a
parede, um instante antes que os seus lábios batessem contra os meus.
Coloquei minhas mãos contra o seu peito e o empurrei com toda a minha
força, mas ele estava inflexível e, conforme o meu corpo me traiu ao reagir ao
seu toque, reuni minhas forças para resistir a ele. Eu tinha que resistir. Mas,
apesar da minha raiva, apesar da minha determinação em empurrá-lo para
longe, algo em seu beijo começou a penetrar as barreiras que eu erguera para
me proteger. Apaixonado e possessivo, esse beijo transmitia uma
profundidade de sentimento que eu nunca havia sentido nele e, conforme seus
lábios e sua língua provaram, acariciaram e roçaram a minha, as paredes que
eu construíra contra ele começaram a rachar e, com elas, a minha certeza.
Ele estava me dizendo a verdade? Ele poderia estar realmente apaixonado
por mim? Porque, se estivesse, minha própria verdade era que, apesar de
haver tentado as coisas mais incríveis para conter o meu coração e afastá-lo
de mim, eu realmente nunca deixei de amá-lo. Talvez nunca o deixasse.
Pouco antes de ele me soltar do seu abraço, senti uma umidade no meu
rosto. E conforme ele deu um passo para trás, uma lágrima caiu do seu olho
esquerdo e correu pela sua face.
— Por que você está chorando? — perguntei.
Ele olhou para mim, com os olhos escurecidos de dor. — Acho que
pensei que nunca fosse te beijar de novo.
Isso realmente estava acontecendo? Ele sempre tinha sido uma pedra, e
nunca o vi dessa maneira. Ele nunca tinha se mostrado vulnerável assim, e
pelo seu rosto vi que ele não estava mentindo para mim. Tampouco as
lágrimas que brilhavam em seus olhos azuis.
Dei uma respiração profunda antes de falar. — Ronan, você tem certeza
disso?
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Nada em seu semblante vacilou. — Nunca tive tanta certeza em minha


vida.
Naquele momento, a última barreira desmoronou, e finalmente acreditei
nele. Ele me amava. Ele estava apaixonado por mim. Caminhei em sua
direção, envolvi os meus braços em volta do seu torso e pousei minha cabeça
no seu peito largo enquanto os meus olhos se encheram de lágrimas; e a
minha alma, de alegria.
— Me desculpa — eu disse. — Me desculpa por tudo que acabei de te
dizer. Pensei que você só estava tentando ganhar tempo, mas agora vejo que
não.
— A culpa não é sua — disse ele. — É minha.
— Não posso acreditar que estamos aqui... mas estou tão feliz com isso.
Por um longo tempo, só ficamos abraçados um ao outro, absorvendo a
beleza do momento. Quando finalmente nos soltamos, Ronan limpou a
garganta, antes de cair sobre um joelho em minha frente.
— Desta vez, estou fazendo a coisa certa — disse ele.
Pela segunda vez hoje, ele me surpreendia, e os meus lábios curvaram-se
num sorriso. — Eu nunca notei que você era supersticioso.
— Quando se trata de você, não estou preparado para empurrar a minha
sorte para mais longe do que já fiz. — Ele enfiou a mão no bolso da jaqueta e
tirou dois anéis familiares, meu anel de noivado e minha aliança, antes de
olhar para mim. — Fique casada comigo, Ava. Seja minha esposa e mãe dos
meus filhos. Não mereço você, e sem dúvida nunca vou merecer, mas se você
continuar casada comigo, juro passar o resto da minha vida te amando e
fazendo o meu melhor para ser digno de você.
Sorrindo e com lágrimas nos olhos, estendi minha mão esquerda para ele.
— Sim. Um milhão de vezes sim. Eu te amo, e não há nada que eu mais
queria.
Seu rosto, que me olhava para cima, se encheu de alegria, quando ele
tomou a minha mão, levantou-a até os seus lábios e a beijou, antes de deslizar
os dois anéis no meu dedo e correr o seu polegar sobre as pedras brilhantes.
Coloquei minha outra mão sobre a sua, tencionando puxá-lo para se levantar
e selar o nosso casamento renovado com um beijo.
— Me leva para casa, Ronan — eu disse. — Vamos recomeçar nossa vida
juntos.
— Levo — disse ele. — Mas antes de ir para casa, há mais uma coisa que
preciso fazer.
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— O que é?
Ele olhou em meus olhos fixamente. — Quando pronunciamos os nossos
votos de casamento, sei que você falou sério, mas eu estava confuso sobre as
partes do meu, e é por isso que quero dizê-los outra vez a você agora.
Quando ele disse isso, não pude deixar de chorar novamente à medida
que ele começava os votos simples, porém profundos, que havíamos
escolhido para a nossa cerimônia de casamento.
— Eu, Ronan, me prometo a você, Ava. Prometo amar, honrar e confiar
em você, proteger e abrigar você. Prometo ser um marido amoroso a você e
um pai dedicado aos nossos filhos. Prometo estar ao seu lado e apoiar você
durante cada desafio que enfrentemos juntos e ser o seu parceiro leal e
verdadeiro, amante e amigo por todos os dias das nossas vidas.
Ao terminar, ele levantou-se e puxou-me para um beijo ardente, um beijo
como nenhum outro que já tivemos. Terno e possessivo, o beijo transmitia
amor, com uma profunda corrente subterrânea das promessas que ele acabara
de fazer e, quando ele me segurou em seus braços e beijou-me com todo o
seu ardor, eu sabia, sem sombra de dúvidas, que pertencíamos um ao outro.
Ele podia ser o homem mais teimoso na face da Terra, e ele tinha um
temperamento que rivalizava o meu, mas ele era o meu homem teimoso e
temperamental... e hoje, ele tornara os meus sonhos realidade.
— Vamos fazer de hoje à noite a nossa verdadeira noite de núpcias —
disse ele quando voltamos para tomar fôlego. — Com tempo e espaço para
que aprendamos a lidar um com o outro, como um casal recém-casado
deveria.
Reclinei-me para trás e afaguei o seu belo rosto com minhas mãos. —
Sabe de uma coisa? Essa é uma ideia genial.
Os seus lábios se contraíram, antes de se separarem num sorriso. — Há
uma primeira vez para tudo. — Sem me soltar, ele estendeu uma das mãos,
pegou os papéis do divórcio da minha mesa de trabalho e os amassou em uma
bola. — Mas antes de voltar para casa, há uma lata de lixo metálica ou uma
pia por aqui? Eu gostaria de queimar esses malditos papéis.
Ele não poderia ter sugerido um gesto mais significativo para marcar o
nosso recomeço.
— Vamos usar a pia utilitária — eu disse, estendendo a minha mão em
busca da sua. — Vamos queimá-los juntos.

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POSFÁCIO

Obrigada por ler Herdeiro de Manhattan! A história de Carol continuará em


Park Avenue Player, que será lançado no início de 2018.

Sei que o seu tempo é valioso e agradeço sinceramente por ter terminado de
ler este livro. Se você puder tirar um tempinho e voltar ao site onde comprou
o livro para deixar um comentário, ficarei imensamente grata. Os comentários
fornecem um valioso feedback para mim como escritora e ajudam outros
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