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D. A.

LEMOYNE
Copyright © 2022
Sumário
Copyright © 2022
NOTA DA AUTORA :
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Capítulo 38
Capítulo 39
Capítulo 40
Capítulo 41
Capítulo 42
Capítulo 43
Capítulo 44
Capítulo 45
Capítulo 46
Capítulo 47
Capítulo 48
Capítulo 49
Capítulo 50
Capítulo 51
Capítulo 52
Capítulo 53
Capítulo 54
Capítulo 55
Capítulo 56
Noite de núpcias
Epílogo 1
Epílogo 2
Não deixem de ler, nas próximas páginas, o bônus da segunda geração
dos Gray, assim como o de uma nova série.
Bônus 1
Bônus 2
PAPO COM A AUTORA
Obras da autora
SOBRE A AUTORA
D. A. LEMOYNE
dalemoynewriter@gmail.com
Copyright © 2022 por D. A. Lemoyne

Título Original: Senador Gray – Meu Cowboy Protetor


Primeira Edição 2022
Carolina do Norte - EUA

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta publicação


pode ser reproduzida, distribuída ou transmitida por qualquer forma
ou por qualquer meio, incluindo fotocópia, gravação ou outros
métodos eletrônicos ou mecânicos, sem a prévia autorização por
escrito da autora, exceto no caso de breves citações incluídas em
revisões críticas e alguns outros usos não-comerciais permitidos
pela lei de direitos autorais.

Nome do Autor: D. A. Lemoyne


Revisão: Dani Smith Books
Capa: D. A. Lemoyne
ISBN: 978-65-00-46854-0

Esse é um trabalho de ficção. Nomes, personagens, lugares,


negócios, eventos e incidentes são ou produtos da imaginação da
autora ou usados de forma fictícia. Qualquer semelhança com
pessoas reais, vivas ou mortas ou eventos reais é mera
coincidência.
Atenção: pode conter gatilhos.

Aviso: Senador Gray – Meu Cowboy Protetor, livro 5 da série


Alma de Cowboy, é um volume único. Por ser com casais diferentes,
cada livro da saga pode ser lido separadamente, mas é provável

que o posterior contenha spoilers do anterior.

Para Bryce Gray, ser um bilionário cuja família domina o estado

do Texas não é o bastante.

Ocupando uma cadeira no Senado americano, o cowboy sonha


com a Casa Branca e é a aposta do partido republicano para as
próximas eleições para presidente.

Dono de uma fama de mulherengo, fora sua inconstância com


parceiras sexuais, não há mais nada em seu passado que o

desabone. A caminhada para o que será a coroação de sua carreira

política parece garantida.


Louise Whitlock é uma jornalista contratada para ser assessora

de imprensa do senador texano e tem uma história conturbada que

envolve a morte de seu pai.


Ele quer a glória que somente a ascensão ao cargo mais alto do

país poderá lhe conceder.

Ela quer vingança.


Quando a forte atração física que sentem um pelo outro se

transforma em um amor irrefreável, o magnata se vê obrigado a


escolher entre o poder ou proteger a mulher que se transformou no

centro de sua vida.


A todos os que estavam esperando a história de Bryce Gray.

A Deus, porque Ele nunca me desampara.

Carolina do Norte, junho de 2022.


NOTA DA AUTORA:

Senador Gray – Meu Cowboy Protetor, livro 5 da série Alma de

Cowboy, contará a história do Bryce Gray, o caçula dessa família


que tanto amamos e também um cowboy ambicioso e que nós já

conhecemos de outros livros da série, e Louise, que fará sua estreia

na presente obra.
Ele, um Senador poderoso, que almeja chegar à Casa Branca;

ela, uma jornalista em início de carreira, em busca de vingança

contra aqueles que mataram seu pai e que não medirá esforços
para limpar o nome dele.

Reparem que nesse livro há uma grande passagem de tempo


depois de Proibida para o Cowboy, livro 4 da série. No livro O

Devasso e a Viúva Virgem , spin-off da série Alma de Cowboy,

Bryce começa a história ainda querendo entrar para a política

(Hudson está no último terço do mandato como governador e não

pretende disputar as reeleições). Já no epílogo desse referido livro,

muitos anos se passaram e Bryce acaba de ganhar as eleições para


o Senado depois de ter cumprido o mandato como governador.

Eu amei escrever sobre esse casal tão diferente e ao mesmo

tempo, complementar e espero que vocês apreciem também.


Um beijo carinhoso e boa leitura.

D.A. Lemoyne
Prólogo

Aos onze anos

Branco por todos os lados.


O branco, assim como o preto, não é cor, é o resultado da
presença de luz — parece que ouço a voz da minha professora

dizer.
Bipe. Bipe. Bipe.

O aparelho irritante não para de avisar para o mundo inteiro que

está tomando conta de mim para que eu não morra.

Tento erguer o braço, mas há uma agulha nele.


Ao contrário da maioria das crianças, não tenho problema com

agulhas. Quando tomamos vacinas, mesmo ainda pequenas, minha


irmã chorava e esperneava. Eu só ficava olhando.

Papai dizia que eu sou muito determinada e que, por isso, eu

poderia ser qualquer coisa que eu quisesse, até mesmo, corajosa.


Bipe. Bipe. Bipe.

Meu pai está morto. É por isso que fui trazida para cá.

Eu deveria estar morta, também.


— Ela vai sobreviver? — Ouço a voz da minha mãe perguntar.

Ela vai sobreviver. — digo, dessa vez, afirmando. — Porque ela

é determinada e pode ser qualquer coisa, até mesmo, uma


sobrevivente.

Ou uma assassina.
Pré-adolescentes podem ser chamadas de assassinas? Eu acho

que sim.

Matar é pecado, o padre sempre disse.

Bipe. Bipe. Bipe.

Eu não me arrependo de ter matado aquele homem. Eu tentei

salvar o meu pai e faria tudo de novo porque sou determinada.


Ela vai sobreviver — repito a frase como se fosse uma oração e

querendo convencer a mim mesma, mas também a Deus, disso.


Eu não quero morrer porque preciso descobrir por que roubaram
o papai de nós. Preciso entender as palavras daquele homem. Ele

sim, é um verdadeiro assassino. Eu sou apenas determinada.

Naquele dia, minha determinação era proteger meu pai. Hoje, é

viver para vingá-lo.


Capítulo 1

Texas

Doze anos depois

— Eles estão dizendo que assim que concluir esse primeiro


mandato, o senhor será a indicação para disputar a Presidência pelo

nosso partido, senador — meu assistente fala.

— Ainda faltam quatro anos[1], Alfred. Muita água pode rolar

debaixo da ponte. Além disso, tem o fato de que não me encaixo tão

bem nos moldes republicanos como Hudson[2] fazia. Meu irmão era

o candidato que eles queriam para presidente.


— Sim, o senhor talvez tenha ideias muito arrojadas para

uma parcela mais conservadora do partido, mas agrada os mais


jovens, que são a maioria.

Levanto-me da minha cadeira, pensando que seria a

coroação de uma carreira que há alguns anos, eu nem sequer sabia


que desejava.

Sempre vivi em um limbo entre o campo e a cidade, mas de

repente, a vida na minha fazenda já não parecia o suficiente.

Não que eu estivesse disposto a abrir mão de tudo o que


conquistei em Grayland.

Uma vez cowboy, sempre cowboy.

O ponto era outro. Uma fome insaciável por tudo. Um apetite

por conquistar, dominar, que nunca se aplacava.

Eu seria um mentiroso se dissesse que é uma surpresa ouvir

que mesmo sendo meu primeiro mandato como senador, eles já

pensam em mim como futuro candidato à presidência.

Fiz um bom trabalho como governador do Texas, sucedendo

meu irmão.
Não deixo nada pela metade e sabia exatamente onde queria
chegar quando entrei para a política.

— Há uma questão, no entanto, que ainda incomoda mesmo

os republicanos mais liberais.

Reviro os olhos, irritado por antecipação.

— Ninguém vai me dizer quando devo me casar, Alfred.

— É o único Gray da parte do Texas ainda solteiro, senhor —

diz e depois um sorriso discreto se desenha em seu rosto. — Até

mesmo seu primo do Wyoming, que tinha uma péssima reputação,

encontrou a alma gêmea.

Foi uma surpresa quando, há alguns anos, Wyatt[3], que

herdou meu apelido de cowboy devasso e fez bom uso dele, apenas
poucos meses após sua chegada em Grayland casou-se com a

garota que a cidade conhecia como “a viúva virgem”[4].

— Meu primo se apaixonou por Maribelle, é diferente de se

casar por uma questão de manobra política.

— Posso falar abertamente?

— E desde quando me pede licença para isso?


Estamos no fim do expediente e observo-o sair do modo robô

com que se reveste durante todo o dia e afrouxar a gravata.

— Consegue imaginar-se casando por qualquer outra razão

que não seja a conveniência de ter uma esposa para atender às


demandas da política? — pergunta à queima-roupa.

Eu o encaro por alguns segundos, enquanto mentalmente


catalogo a quantidade de mulheres com que me relacionei nos

últimos anos.

O fato de ter me tornado senador não diminuiu em nada meu


apetite sexual. Só me fez ser mais discreto.

Até achei que minha reputação de mulherengo me

prejudicaria de algum modo, mas apesar das inúmeras parceiras, o


partido concluiu que não havia nada de desabonador em meu

passado.

A fama de solteiro convicto me acompanhou para o Senado e


às vezes é mais difícil fazer manobras para fugir das senhoras

casadas com outros políticos, que tentam me seduzir para


escaparem de suas vidas entediantes, do que formar alianças para

os meus projetos.
Lembro-me de uma conversa com Hudson, meu irmão mais

velho, assim que ganhei as eleições para o Senado.

— Tem certeza de que quer mesmo isso? Sabe a quantidade

de restrições que uma vida como senador envolve?

Ele veio me parabenizar antes dos outros, assim que soube

da minha vitória.

— Agora não tem mais jeito. Eu venci. Além do mais, era o

caminho natural, Hudson. Não me vejo fazendo outra coisa — falei.

Meu irmão olhou-me com seriedade.

— Já sabia disso quando assumiu o governo do Texas e


mesmo que até agora tenha se saído muito bem mantendo-se

solteiro, se visa mesmo ser presidente um dia, terá que se casar. É


praticamente uma exigência por parte dos eleitores. Não acredite

que o mundo mudou, Bryce. Esposa e filhos passam uma imagem


de confiabilidade ao eleitorado. Terá que parar com seus
relacionamentos de no máximo dois meses.

Sorri.

— Eu melhorei muito em relação ao passado. Antes não


duravam uma semana.
— E deu muita sorte de não ter deixado vários Gray pelo
caminho.

— Posso ter sido um safado quando mais novo, mas nunca

fui irresponsável. Jamais viraria as costas para um filho.

— Tudo bem, irmão. Estou feliz que seja o nosso novo


senador. Muito orgulhoso de sua trajetória, também, mas se quer
mesmo que a Casa Branca se transforme em sua residência um dia,

terá que fazer alguns ajustes. Casar-se é o maior deles.

— Já tenho alguém em mente — disse, mesmo que a ideia

de me casar fizesse meu estômago contrair.

— O quê? Está apaixonado?

— Claro que não. Será uma união de conveniência. Estou


velho demais para me apaixonar. Se não aconteceu até agora, qual

é a chance?

Ele dá outro sorriso.

— Eu também pensava assim e agora tenho esposa e três


filhos.

— Fico satisfeito só com a parte da esposa, obrigado. Não


preciso de filhos. Vocês não param de trazer crianças para a família.
Já está de bom tamanho.

— Continue se iludindo — disse, me dando um abraço. — Se


quer um conselho, esqueça isso de casamento de conveniência. Já

estive em um antes de conhecer Antonella[5] e foi uma experiência


infernal. Procure uma boa mulher e faça dela seu lar.

Depois que ele saiu, fui até a janela do meu gabinete.

Sim, eu pretendia encontrar uma boa mulher e já tinha um

nome, inclusive. Uma garota dócil e calma como uma enseada.

Mas, infelizmente, não foi o rosto da candidata perfeita que

surgiu na minha mente, e sim, o de uma ruiva inquieta e atrevida

que me fazia ter vontade de pegá-la contra uma parede, fodendo-a

duro desde a primeira vez em que a vi:

Louise, a irmã mais velha dela, orgulhosa e sexy como o

inferno.

— O senador Stonebraker tem uma filha — Alfred fala, como

se pudesse ler meus pensamentos, se referindo ao homem que


junto com Hudson, é o meu mentor na política.

— Na verdade, ele tem duas — corrijo-o, pensando na

mulher que faz meu sangue ferver como nenhuma outra.


Já a candidata “ideal” nunca me deu uma ereção.

A quem estou querendo enganar? Emory Stonebraker não


me despertou sequer a vontade de beijá-la.

Acredito que haja homens que apreciem as tímidas, mas não

eu. Gosto das que revidam.

Tanto que já se passaram dois anos desde que tive a


conversa com Hudson e mesmo sabendo que bastaria um gesto

meu para que eu e Emory estivéssemos a caminho do altar, não fiz

qualquer movimento para que isso acontecesse.

Ela é como uma massa de modelar nas mãos do pai e tanto


quanto gosto de Cassius Stonebraker, não me agrada a ideia de que

minha futura esposa não consiga se impor.

— Deixe que eu me corrija, então: ele tem uma filha


“adequada” para o papel de primeira-dama. A outra é meio irascível.

— Boa noite, Alfred. — Dispenso-o, encerrando a conversa.

Adequada não me parece nada atraente.

Ele suspira, mas antes de se levantar, diz:

— Tem um jantar na casa de Cassius na próxima semana.


Seria um bom momento para começar a pensar em construir uma
ponte para o coração de Emory Stonebraker.

Ignoro-o e não me despeço novamente quando ele se vai.

A ponte está construída há anos. Agora, se estou disposto a

atravessá-la, já é outra história.


Capítulo 2

“O falecido ex-governador Emment Whitlock, que foi assassinado


pelo que se supõe, um de seus comparsas, segundo a apuração da

polícia após três anos de investigação, perdeu o direito de ter seu


nome batizando a biblioteca estadual.

Citando um senador texano, “seria uma vergonha que um homem


que utilizou os recursos públicos para benefício próprio ainda receba

qualquer tipo de aclamação do povo do nosso amado estado.”


O papel do jornal já está amarelado. A notícia é de nove anos

atrás, mas eu ainda o guardo como uma lembrança de quando


quase destruíram minha vida pela segunda vez.

Eles não se contentaram em matar meu pai, mancharam sua

reputação no mundo inteiro e por um tempo, me fizeram odiá-lo.

As minhas mãos tremem enquanto guardo o papel de volta


na pasta que rotulo como: nunca se esqueça.

É um aviso para mim mesma.

Nunca se esqueça. Não o decepcione. Você é determinada.

Olho para a mochila com meu material de trabalho de


jornalista freelancer que joguei displicentemente em cima do sofá

quando cheguei mais cedo e em seguida, para o vestido que minha

mãe mandou entregar aqui pela manhã.

Deus, outro jantar onde terei que manter um sorriso grudado

por toda a refeição para que ela e meu padrasto possam fazer a

representação perfeita de família feliz.

Imediatamente após o pensamento, sinto-me culpada.

Cassius não tem sido nada além de maravilhoso para mim

desde que se casou com nossa mãe. Até mesmo nos momentos
mais difíceis, ele me apoiou.

Era ela quem sempre me colocava para baixo.

Precisei de poucos dias após sair do hospital, depois do tiro

que levei, para perceber que ter matado um homem, ainda que em

legítima defesa minha e do meu pai, mudou para sempre a maneira


como minha mãe me via.

De repente, passei de filha perfeita, esportista, garotinha do

papai, para alguém “contaminada”.

Toda a atenção dela se voltou para Emory, minha irmã

caçula, o que de certa forma, foi um alívio. Eu não queria que


alguém me enxergasse. Só queria crescer para poder me vingar.

Menos de dois anos depois, mamãe se casou novamente e o

abismo entre nós aumentou ao ponto de que nunca mais

conseguiríamos alcançar uma à outra.

Eu não poderia perdoá-la por ter escolhido como novo marido

o melhor amigo do meu pai.

O engraçado é que não foi dele que senti raiva. Estava na

cara para mim que tio Cassius — eu às vezes ainda o chamo assim
na minha cabeça — se apaixonou por ela. Quem não se

apaixonaria?

Eu não o culpei, e sim, a ela, por substituir meu pai tão

rápido.

A minha irmã aceitou bem depressa, talvez por não ter sido

ela a ver nosso pai morrer. Logo, os três formaram a perfeita família
feliz.

A mim, só restou me manter determinada.

Eu não era uma adolescente rebelde, e sim, apática. Pouco

tempo depois, no entanto, tudo mudou quando a investigação sobre


a morte do meu pai foi encerrada, concluindo que ele havia sido

morto por cúmplices em um esquema de corrupção.

O mundo que eu conhecia desapareceu sob meus pés e eu

enlouqueci.

Passei de menina introspectiva para a desvairada da família.

Não tinha mais um objetivo ou uma razão para viver. Não


adiantava mais ser determinada.

Ele me traíra.

Meu pai, meu mundo, meu melhor amigo, era um corrupto.


Tentei fazer tudo o que o envergonharia.

Dirigi bêbada uma vez e até fui levada a juízo por conta
disso.

Entrei em brigas na escola e desrespeitei professores.

Pintava meu cabelo com uma cor diferente por dia para

mostrar o quanto eu não dava a mínima para o mundo.

Minha mãe precisou de menos de um ano para desistir de


mim. Cassius, não.

Amava papai e tanto quanto pôde, o defendeu e lutou para

limpar o nome dele.

Também lutou por mim, tentando me resgatar da


descendente de autodestruição.

Não obteve êxito. Ninguém ajuda quem não quer ser


ajudado, então não lhe restou alternativa a não ser me internar em
um colégio suíço só para moças.

Mamãe não queria que eu voltasse para casa nem nas festas

de fim de ano ou férias. Eu não me encaixava mais.

Por todo o tempo em que estive internada lá, fingia não dar a
mínima para o fato dela ter se esquecido de mim, mas a verdade é
que só não mergulhei na depressão de vez porque Cassius sempre
esteve presente.

Ele aparecia com livros, mimos e dizendo que eu seria bem-

vinda se quisesse ir para casa nos feriados, mas mesmo muito


nova, podia ver em seus olhos que ele tinha receio que, caso eu

aceitasse o convite, acabasse me magoando.

Nada jamais seria como antes. Para minha mãe, eu estragara

tudo. Duas vezes.

Quando enfim me formei, por fora eu era a perfeita imagem

da filha de milionários, por dentro, meu corpo inteiro continuava


vibrando de revolta.

Eu não queria ir para casa. Não tinha casa.

Nem mesmo lembranças, porque tudo o que meu pai fez de

ruim, roubando e enganando, apagou os melhores anos de nossas


vidas.

Ele se tornou esquecível para mamãe e Emory.

Eu nunca consegui tal feito e por isso, o odiava.

A tristeza de tudo é que não importava o quanto me


esforçasse, eu o amava, também.
Eu o amava ainda. A minha determinação em odiá-lo não
funcionou.

De volta ao Texas, já com dezoito e sendo pressionada pela

família a escolher uma faculdade, comecei a sufocar lentamente.

Não duvido de que em pouco tempo, eu estaria de volta aos


antigos hábitos autodestrutivos.

E então, inesperadamente, ele[6] veio até mim com provas de

que tudo o que me contaram sobre meu pai era uma mentira.

Papai foi assassinado não porque era corrupto, mas porque

não era. Porque não aceitou nadar naquele mar de lama.

Ele me fez prometer voltar para o meu caminho. Ele me deu

sua palavra de que não desistiria até que descobríssemos e


provássemos toda a verdade.

Ele precisava de mim determinada, então, eu me reinventei.

Matriculei-me na faculdade de jornalismo, porque isso fazia

parte do nosso plano. Eu precisava estar perto do poder para


conseguir provas. Era um bom disfarce, já que meu padrasto vivia

rodeado de pessoas que talvez tenham conhecido e até mesmo

trabalhado com papai.


Nem mesmo ele conseguiria ir tão longe, assim, formamos

uma equipe secreta.

De uma hora para outra, recuperei minha imagem de garota

boa e educada a qual fui criada para ser.

A minha mãe sorria para mim novamente. Eu era outra vez

perfeita porque Cassius providenciou para que o meu passado fosse


mantido em sigilo. Processos arquivados — inclusive o de

assassinato em legítima defesa, porque eu ainda era menor.

Disse então ao meu padrasto que queria trabalhar com


política quando me formasse. Queria estar perto do poder porque

sentia muito orgulho dele.

Não senti vergonha alguma em enganá-lo. Não o

prejudicaria, claro, mas precisava cumprir o plano que ele


determinou para mim.

Há um ano eu me formei e agora, estou exatamente onde

quero estar: no caminho que preciso percorrer para esfregar na cara

da população desse país que meu pai foi morto por ser bom demais
para o mundo.

Sei que essa obsessão não é saudável. Eu não tenho vida

fora do trabalho.
Quando estou com a minha família, deveria ganhar um Oscar

de melhor atriz.

Finjo sorrisos e sentimentos.

Finjo que gosto de ser beijada e tocada.

Finjo que me importo.

A verdade é que na maior parte do tempo, eu não sinto nada.

Posso me desligar de tudo na hora em que eu quiser.

A solidão é perigosa.

Não estou falando na que você se isola fisicamente, mas


daquela para a qual você se muda de forma voluntária. A de dentro

de nós mesmos.

Uma vez que decida não deixar alguém entrar, que entende

que se basta, você se torna inalcançável.

Nada de ruim mais pode te acontecer quando você já sofreu

o suficiente.

A grande verdade, no entanto, é que às vezes, mesmo que

você tente sair desse casulo, não consegue.


As estradas que te levariam de volta para perto daqueles com

os quais você deveria estar ligado emocionalmente foram destruídas


e chega um momento em que ninguém mais se importa em tentar

pavimentá-las outra vez.

Há uma cratera. Escura, profunda.

E ninguém quer pular no vazio.


Capítulo 3

— Eu sabia que o vestido ficaria lindo em você, Louise —


minha mãe diz, embora seus olhos demonstrem surpresa, como se
ainda visse em mim a adolescente disfuncional.

Estamos no hall da casa dela, em frente ao espelho de corpo

inteiro que arrematou em um leilão de algum nobre europeu falido e


eu aproveito para fazer o que não fiz antes de vir: observar com

olhos críticos minha aparência.

Eu não tenho o hábito de ficar em frente a espelhos. A mulher

que está lá não me interessa porque ela não é a verdadeira Louise,

e sim, a que a sociedade deseja ver.


Controlada, adequada. Eles queriam que eu me encaixasse,

então me transformei nisso.

Entretanto, os anos em que enlouqueci, revoltada com os

supostos crimes do meu pai, cobraram seu preço e dentro de mim

haverá para sempre uma rebelde que gosta de fazer apenas o que
tem vontade.

Eu não posso ser assim nem mesmo dentro da minha própria

casa. Cassius, Emory e mamãe eventualmente me visitam e se

vissem no que eu gostaria de transformar o meu lar, perceberiam a


bagunça que ainda sou por dentro.

Sem poder extravasar minha verdadeira personalidade, criei um

refúgio secreto, um lugar que ninguém tem conhecimento.

Não, isso não é verdade. Talvez ele saiba, porque o homem

parece saber de tudo.

— Não gostou da roupa? — mamãe pergunta, soando


desapontada e só então percebo que eu estava franzindo a testa

enquanto me observava.

Claro que ela imaginou que seria por causa do vestido longo,

rosa pálido e de um ombro só.


Escolher a roupa adequada é a coisa mais importante do
mundo — penso com ironia.

Visto minha máscara de boa moça.

— Eu adorei — minto.

— Mesmo?

— Com certeza — falo, me forçando a dar um quase beijo na

bochecha dela, como me ensinou desde criança. Mamãe nunca foi

fã de abraços ou beijos e me disse que uma dama de verdade não

toca a pele uma da outra.

Beijos no ar são aceitáveis, no entanto, porque basta mostrar a


intenção de fazê-lo, sem executar o ato de fato.

Meu pai era outra história. Ele era um homem de contato.

Abraços sem medidas e beijos estalados faziam parte do menu e

não pela primeira vez me pergunto como puderam ficar casados por
tanto tempo.

— Fico feliz que tenha gostado — diz. — Você está uma

perfeita Stonebraker.

Sinto meu maxilar trincar e analiso o rosto dela para ver se fez
de propósito. Eu continuarei sendo uma Whitlock até o dia da minha
morte. Ao contrário de mamãe, que mudou de sobrenome após o

casamento e Emory, que aceitou ser perfilhada[7] por Cassius, eu

não. Mesmo no auge da minha revolta contra meu pai, ele era meu

pai. Nada mudaria aquilo.

Deus, eu mal cheguei na festa e já quero ir embora.

— Vou circular para falar com alguns conhecidos, mamãe.

— Ah, claro. Esqueci que a minha garotinha agora é uma

importante jornalista — diz, soando orgulhosa, mas as palavras


caem como ácido no meu estômago.

Sua garotinha? Deve ser conveniente lembrar que é minha


mãe, agora que já estou adulta e tenho uma vida “normal”.

Afasto-me dela antes que não consiga controlar meu


temperamento e depois de desviar de algumas pessoas pelo

caminho, fujo para o único lugar em que sei que ninguém estará: a
biblioteca que era do meu pai e a qual Cassius preservou.

Lá dentro, eu consigo voltar a respirar.

Sei que não deveria estar aqui e sim, ir cumprimentar meu

padrasto e minha irmã, mas preciso de um tempo antes de voltar


para a selva.
O aposento está na penumbra. Nenhuma luz acesa, mas eu o

conheço como a palma da minha mão e não preciso ser guiada.

Caminho até a janela que vai dar para o jardim, a única fonte de

iluminação no momento e observo os manobristas estacionarem os


carros.

Apoio as mãos no parapeito, reconhecendo alguns dos


convidados.

Senadores, juízes, CEOs e claro, atrizes e atores famosos para


“entreterem” a seleta plateia.

Modelos, entretanto, estão fora da lista porque não são


aceitáveis, de acordo com os preceitos de mamãe.

Moças seminuas, que ganham a vida usando biquínis nas


revistas não são o tipo de convidados que desejo em nosso lar,

Louise — ela me disse uma vez, quando fiz amizade com Zoe

Lykaios[8], uma ex-top model que encontrei por acaso em uma loja

de lingerie em Nova Iorque.

Caí na besteira de sugerir à minha mãe que convidasse a ela e

o marido, Christos[9] para uma das festas que ela ofereceria e obtive
essa resposta.
Mamãe não se importa com quem você é, mas com seu
sobrenome. Gregos novos ricos, que é o caso do marido de Zoe,
não a agradam.

Como alguém consegue viver a própria vida em função do que


pensam a seu respeito, nunca conseguirei entender.

E não é exatamente assim que vive a sua? — uma voz


debocha.

Não. Essa é a falsa Louise. Um dia, eu vou embora. Quando


finalmente o nome do meu pai estiver limpo, escolherei um lugar na

Europa e viverei do jeito que eu quero.

Passo o dedo na estrutura antiga da janela, internamente

agradecida por Cassius ter mantido a biblioteca como era na época


do meu pai. Eu ainda consigo senti-lo aqui dentro. O cheiro do

charuto que adorava. A voz.

Passo os braços em volta de mim mesma e fecho os olhos


pensando em quantos anos mais terei que viver essa farsa antes de

finalmente poder virar as costas aos passado.

Como se fosse um aviso de que preciso me manter firme, um


comichão se espalha em minha coxa direita. Passo a mão pelo
local. O crepe do vestido faz minha pele formigar, e não de uma
maneira agradável. Eu queria poder tirá-lo. Arremessar longe.

Dou uma risada ao imaginar o que a alta sociedade texana

pensaria se de repente eu aparecesse só de calcinha no salão.

A coceira aumenta e apoiando uma perna na bancada da janela


de uma maneira nem um pouco elegante, levanto o vestido para ver

o dano que o tecido causou contra minha pele clara.

Mesmo na semi escuridão, consigo perceber a vermelhidão na

parte interna da coxa, próxima à minha calcinha.

Ouço um som às minhas costas e assustada, desço a perna

rapidamente e deixo o tecido cair solto aos meus pés.

Viro-me para ver quem é e só então percebo que a porta não se

abriu. Havia alguém me observando na escuridão esse tempo todo.

Eu não vejo seu rosto, mas o contorno de um corpo sólido,

ombros largos. Um homem alto, com a constituição física de um

quarterback[10].

Não é o tipo de corpo que se costuma encontrar em

empresários ou políticos. Geralmente os homens de nosso meio


comem mal, bebem muito e não se exercitam, o que acaba por

deixá-los com uma aparência de mais velhos do que realmente são.

Mas não esse. Ele se cuida. Cada centímetro é trabalhado,

delineado por músculos e nem mesmo os ternos caros que usa

conseguem esconder o fato de que foi um atleta durante a faculdade


— além de um cowboy que ama o campo, segundo as revistas de

celebridades que adoram destacá-lo como o sonho de dez em cada

dez mulheres.

Não o meu.

Para mim, Bryce Gray, o outro senador texano além de

Cassius, não é nada além de um bastardo arrogante.

Não foi algo que ele me tenha feito. Mesmo que depois de ter

assumido o senado se tornou próximo ao meu padrasto, não nos


vimos mais do que meia dúzia de vezes e trocamos poucas

palavras.

É a maneira como me encara que me irrita.

Como se pudesse ver além dos outros. Como se não


comprasse minha imagem tão cuidadosamente trabalhada de

mulher perfeita.
Há sempre um brilho no fundo dos olhos azuis que me faz

pensar que internamente ele está rindo de mim. Eu nunca nem

sequer considerei a possibilidade de que fosse para mim porque


suponho que homens como Bryce não apreciam pessoas

antissociais e com opinião, como eu.

Não, acho que eles preferem as doces, como Emory. Aquelas

que nunca levantarão a cabeça para enfrentá-lo porque foram


moldadas para dizerem sim a tudo.

Apesar de não conseguir ver nada além do contorno de seu

corpo ainda, sei que me enxerga perfeitamente. Eu me sinto como

uma atriz em um palco, mostrando-me para uma plateia de um


homem só.

Ansiosa com o silêncio, tento me mover, mas nesse instante, a

bainha do vestido se enrosca no meu sapato, me fazendo tropeçar.

Ele age rápido e em segundos, sinto braços fortes me


envolverem, impedindo a queda.

— É arriscado fazer manobras não calculadas nesses saltos.

Sua voz profunda me causa um arrepio na coluna, e eu

estremeço mesmo contra a vontade, com as mãos agarradas em


seus antebraços.
Meu corpo responde de maneira inesperada à proximidade dele

e assustada, tento me soltar, mas não permite, atuando com uma


muralha que, ainda não me decidi, se é protetora ou uma prisão.

Eu queria poder vê-lo, mas tudo o que consigo notar é o brilho

de seus olhos. Há também um cheiro discreto de perfume gostoso.


Eu não preciso de luz para que seu rosto se desenhe em minha

memória.

Pele bronzeada pelo sol, de um dourado que não desaparece

nem mesmo no inverno, cabelo negro e cheio, bem cortado, como o


cargo exige e olhos azuis inquisitivos, como se escondessem um

segredo que o mundo desconhece.

Também há o maxilar quadrado, oculto por uma barba aparada.

A imagem do homem bonito e bem-sucedido.

E então, eu me recordo dos lábios.

Uma boca de lábios cheios e que sempre disfarçam um sorriso

irônico.

— Eu nunca faço manobras não calculadas — respondo,


devolvendo o comentário.
Não sei o que há no homem que mesmo nas poucas interações

que tivemos, faz com que eu mostre uma parte de mim que escondo

do resto do mundo.

Com ele, minha agressividade vem à tona, embora


disfarçadamente.

— Um “muito obrigada, senador” seria bem-vindo. Não é uma

menina bem educada, Louise?

Louise.

Outro arrepio me atinge ao ouvi-lo dizer meu nome. Até então,

ele só havia me chamado de senhorita Whitlock.

Engraçado que apenas agora me dou conta de que Bryce Gray

nunca cometeu o mesmo erro da maioria — assumir que assim


como a minha irmã, eu mudei meu sobrenome. Ele sempre me

chamou de Whitlock.

— É um senador vinte e quatro por sete[11], senhor Gray? —

falo, tentando quebrar a sensação agradavelmente esquisita de ser


segurada por ele.

— Sou um Gray vinte e quatro por sete, Louise: arrogante e

exigente. Não abro mão de nada. Eu quero e posso tudo.


Algo quente e desconhecido se espalha em minha barriga e eu

não desejo sentir aquilo.

Solto-me dos braços dele e começo a caminhar em direção à

porta.

Toco a maçaneta, mas antes de abri-la, viro-me para trás. Os

papéis se inverteram e agora consigo vê-lo, mas ele não me vê.

A sensação é boa e me excita.

— Obrigada por me salvar de uma manobra arriscada, senador

Gray. Por hoje, foi o meu herói, embora eu nunca vá precisar de um.
Capítulo 4

Enquanto a vejo sair da biblioteca, um desejo violento de

trazê-la de volta e fazê-la pagar por ser tão sedutora mesmo sem se
esforçar, me domina com uma intensidade perigosa.

Luxúria.

Ela não precisa vir acompanhada de simpatia ou admiração.

Tesão puro, nada nem perto do racional. É coisa de pele,


despertada quando nosso corpo descobre no outro, um parceiro

para se acasalar.

Acredito piamente nisso.


Somos animais por essência e sexo não tem nada a ver com

um desejo permanente.

Eu não tive muito contato com ela, mas em todas as vezes,

as reações do meu corpo foram as mesmas.

Entretanto, hoje eu cruzei uma linha ao segurá-la. Agora eu

sei qual é a sensação de ter a ruiva respirando tão próximo à minha


boca ao ponto de seu cheiro invadir meus sentidos.

Sei que não foi educado da minha parte deixar que ela

pensasse que estava sozinha, mas não pude evitar ficar admirando
o corpo delicioso, delineado pela luz da lua.

Relembro das palavras atrevidas.

Obrigada por me salvar de uma manobra arriscada, senador

Gray. Por hoje, foi o meu herói, embora eu nunca vá precisar de um.

Eu não sei se acredito nisso. Louise não parece vulnerável a

qualquer coisa, mas há algo no fundo de seus olhos, que ela tenta

disfarçar muito bem, que me diz que o que mostra para o mundo e o

que ela é são coisas diferentes.

Sacudo a cabeça, como se assim pudesse apagá-la da

memória. Não devo ter esse tipo de pensamento sobre a ruiva.


Não por ser irmã de Emory Stonebraker.

Mesmo que, no passado, tenha considerado fazê-la minha

esposa de conveniência, hoje sei que seria impossível. A caçula

nada mais é do que um fantoche nas mãos dos pais. Ainda que um

casamento que eu venha a fazer não envolva amor, não quero um

brinquedo e sim, uma companheira de verdade.

A menina é tão apática que acho que nem deve saber o que

é sentir tesão, pelo amor de Deus!

Já Louise, é puro fogo. Contida, mas sem conseguir esconder

o calor, o olhar desafiador e a boca inteligente.

Ela nunca teve um namorado que eu saiba, ou talvez, seja

tão discreta quanto eu com meus casos.

Vou em direção à porta, conformado de que a meia hora que

tirei para me esconder dos outros convidados — e até mesmo do

meu anfitrião — chegou ao fim. Não posso ficar nessa biblioteca

para sempre.

No corredor, olho para o relógio, tentado a pedir que meu

assessor me ligue fingindo uma emergência, mas sei que preciso

ficar.
Para forjar laços que me levarão à presidência no futuro,

devo ampliar meu círculo de apoiadores, principalmente entre a ala


mais tradicional do partido, que acha que sou jovem demais para

uma função tão importante.

Se o que Alfred falou for verdade sobre a intenção de me


escolherem como candidato à presidência pelo partido republicano,

e não tenho porque duvidar disso, se chegar à Casa Branca, serei o


mais jovem presidente da história dos Estados Unidos, ganhando

por alguns meses de Kennedy e Roosevelt.

— Bryce, por onde andou? Estava procurando-o — Cassius

diz, assim que piso no corredor.

Por mais que eu o considere um mentor na política, só

perdendo em importância para Hudson, ele é também meu


adversário antes de qualquer coisa. Assim, falar a inteira verdade

está fora de cogitação.

Nunca acredite em um advogado — era a piada recorrente na

faculdade de direito — e Cassius, assim como eu, é um.

O que diriam então sobre um advogado que é, também,

político?
— Senador, tomei a liberdade de verificar a biblioteca — digo,

optando por uma meia-verdade. — Da última vez em que estive aqui


fiquei impressionado com sua aquisição de El Ingenioso Hidalgo

Don Quixote de la Mancha[12].

Na verdade, fiquei impressionado mesmo em como ele pagou

quase três milhões de dólares pelo exemplar.

Não me levem a mal. Eu amo livros, mas não ao ponto de dar

três milhões por um.

— Sua pronúncia em espanhol é boa — elogia, focando no

que lhe interessa, como sempre. — Vai ajudar muito quando


começar a campanha para a presidência.

Ele solta aquilo casualmente, como se não fosse importante,


mas sei que não houve nada de casual na informação. Cassius está

há tempo demais na estrada para simplesmente “deixar escapar”


algo assim.

Não respondo e mantenho minha melhor expressão de


jogador de pôquer, que acho que é uma característica dos Gray. Só
mostramos o que queremos que saibam sobre nós.

— Não parece surpreso.


— Porque não estou, mesmo. Eu já havia sido informado e
também sempre foi minha intenção. Não cheguei até aqui para ser
um senador de carreira. Sem ofensa.

— Não me sinto ofendido. Foi por isso que escolhi apadrinhá-


lo, em primeiro lugar. Eu gosto da arrogância da sua família. Seu pai

e tio também eram assim, que Deus os tenha em bom lugar.

— Disse que estava me procurando — mudo de assunto

porque desde que descobri que Callum é nosso irmão[13], falar do


meu pai e tio em uma mesma sentença me faz um mal fodido.

— Sim. Eu tenho um pedido a lhe fazer. — Estamos andando


para o salão principal e a primeira pessoa com quem eu me deparo

é a linda Louise, em seu vestido rosa, que não parece combinar


com a personalidade dela.

Vermelho combinaria. Ou roxo.

Rosa, nunca.

— Desde que não seja para desistir da ambição pela Casa


Branca — aviso.

Ele joga a cabeça para trás e ri, atraindo a atenção de alguns


convidados. Da ruiva tentadora, inclusive.
Quando ela olha para onde estamos, o padrasto lhe faz um
gesto com a mão, chamando-a.

Em um primeiro momento, parece que se recusará a vir, mas

no último minuto, caminha para nós, cabeça erguida, orgulhosa e


combativa. Um tesão.

— Já se falaram hoje? — Cassius pergunta, como se

estivesse lidando com duas crianças.

— Já, sim — ela responde. — Mas boa educação nunca é

demais. Como vai, senador Gray?

— Tem certeza de que não quer entrar para a política,

querida? — Cassius pergunta, orgulhoso do jeito encantador e


diplomático da filha.

Eu não compro aquela doçura. Vejo algo passar rapidamente

por seus olhos.

Tensão? Não saberia dizer. Foi muito rápido para que eu


pudesse analisar. Segundos depois ela já está com aquele sorriso

impassível de boa menina, nada parecida com a mulher que tinha

um pé sobre o parapeito da janela há alguns minutos, deixando a

coxa nua completamente à mostra.


— É tentador, Cassius, mas não, obrigada. Prefiro bisbilhotar

a vida de vocês — diz.

Ele ri novamente.

— Por falar em bisbilhotar, tenho a solução perfeita para o

que me pediu no mês passado e que ao mesmo tempo, vai ser um

bálsamo em minha paz de espírito porque não a quero metida em


encrenca.

Essa última parte faz a expressão dela cair e eu me pergunto

porquê. Ainda que seja atrevida, Louise é a imagem da filha perfeita,


ao menos na frente dos pais.

— Eu pensei que era a menina dos olhos de vocês — diz, e

eu detecto a ironia em sua voz, mas ele, aparentemente, não.

— E é — responde, acariciando a bochecha dela. — Estou


brincando. Enfim, o que estou tentando dizer é que você me pediu

para ficar mais próxima do meu trabalho. Tanto quanto adoraria

mantê-la por perto, não quero que me acusem de nepotismo[14],

então tenho a solução ideal: descobri que Bryce está procurando


uma assessora de imprensa. Problema resolvido.
Sim, estou mesmo procurando uma nova assessora de

imprensa porque a minha, depois da licença-maternidade que tirou

há dois meses, avisou que não quer mais voltar porque deseja se
dedicar exclusivamente ao filho.

Apesar disso, não estava esperando por essa bomba. A

reação de Louise, entretanto, desperta meu interesse.

Ela dá um passo para trás como se tivesse sido picada por

uma cobra e aquilo mexe com meu orgulho — ou talvez não seja
orgulho, mas não quero analisar no momento.

O fato é que mesmo sabendo que vou me arrepender, um

desejo de mantê-la sob o meu controle vence a costumeira


prudência.

— A ideia é boa — começo, sem parecer muito entusiasmado

porque a garota parece uma onça presa em uma armadilha, pronta

para atacar quem chegar muito perto.

Eu não me importaria com uma mordida ou duas, mas tenho

consciência de que estamos sendo observados não apenas pelo pai

dela, como também por outros convidados.

— Mas? — Cassius me estimula.


Quase sorrio com o que vou dizer porque meio que adivinho

a reação dela.

— Não sei se sua filha poderia lidar com meus horários. Não

sou exatamente um trabalhador de nove às cinco. Costumo

inclusive usar os fins de semana e feriados dos meus funcionários.

Eu vejo o brilho de desafio em seus olhos antes mesmo que


ela abra a boca.

— Posso lidar com qualquer coisa — diz, como se tivesse

esquecida do pai, o queixinho orgulhoso erguido.

Não lhe dou tempo de tomar a próxima respiração.

Peguei você, Louise Whitlock. Agora você é minha, mesmo

que todo o universo esteja berrando nesse instante que não é uma

boa ideia.

— Nesse caso, está contratada.


Capítulo 5

Maldita impulsividade.
Depois de dar um sorriso amarelo e acenar com a cabeça, eu
me afasto do grupo ainda sentindo os olhos do senador Gray em

mim.
Eu sei que o convite — ou seria melhor dizer intimação? — dele,

é mais do que eu poderia sonhar.


Justamente o que nós estávamos esperando.

Apesar de ser enteada de Cassius, eu não posso me aproximar

tanto do trabalho do meu padrasto sem levantar suspeitas, assim,


me tornar assessora de imprensa de um senador seria o ideal.
Então, por que tudo dentro de mim reluta em se conformar com

esse presente inesperado?


Porque ele enxerga você — uma voz avisa — e isso pode ser

muito perigoso.

Depois de cumprimentar algumas pessoas pelo caminho, sigo


para o lugar que papai chamava quando eu era criança de “jardim

secreto”. Ele o batizou assim depois que, uma vez, cansada das mil

atividades que minha mãe me obrigava a participar todos os dias


para satisfazer a demanda da imprensa, sempre atenta à nossa

perfeita família não apenas porque papai era um ex-governador

como também um “dinheiro antigo”, como se chama no sul, eu me


escondi aqui.

Ele mandou até mesmo cercar o espaço de arbustos e disse que


uma vez que eu pisasse no jardim, me tornaria invisível.

Sorrio com a lembrança, ao mesmo tempo em que meu coração

se contrai de saudade.

Dessa vez, entretanto, não é para pensar no meu pai que vim

para cá, mas para falar com ele.

O celular chama algumas vezes antes que finalmente atenda.


— Desculpe-me por ligar a essa hora. De antemão, peça perdão

à sua família por mim.


— Louise, aconteceu alguma coisa? Não se preocupe com isso.
Eles já estão mais do que acostumados a chamadas tarde da noite.

Diga-me o que há de errado.

Sei que ele tem mais irmãos que são agentes do FBI, então

telefonemas em horários não convencionais devem ser uma espécie

de rotina.

— Nós ganhamos um presente. — começo.


— Mesmo? E se é uma coisa boa, por que sua voz está tensa?

Pela primeira vez na noite eu sorrio.

— Você me conhece bem demais. Não sei se gosto disso.

— Conte-me.

— Meu padrasto conseguiu um emprego para mim como

assessora de imprensa de um senador.

— O quê? Isso é fantástico! Quase como ganhar um prêmio de


loteria. Quem é seu novo empregador?

— Como sabe que eu aceitei?

— Porque não desperdiçaria uma chance como essa. Não

chegamos tão longe para recuarmos agora. Para qual senador

trabalhará?

— Outro texano, Bryce Gray.


— Corrigindo, a surpresa foi boa… em parte.
— O que isso significa?

— Será um ótimo disfarce para você…


— Mas? — estimulo porque ficou claro que ele não disse tudo o

que estava pensando.


— Mas tinha que ser assessora justo do senador mais honesto
dos Estados Unidos? O cara não tem um deslize sequer na ficha

dele.
Sorrio, porque agrada-me o que está dizendo. Tanto quanto

antipatizo com Bryce Gray, ficaria muito desapontada se fosse


corrupto.

— É o que temos no menu hoje, senhor. Acha que qualquer


senador me contrataria? Eu mal me formei.
— Sim, eu sei. E nesse caso, por que acha que Gray a chamou?

— Ele não me chamou, para ser franca. Cassius meio que disse:
toma aqui uma assessora de imprensa para você.

— E está bem com isso? Sei que acabou se apaixonando pelo


jornalismo, mas também sei que odeia se expor e se tem algo a ser

dito sobre ser assessora de imprensa, é que você será aquela a


tomar as pedradas antes dele.
— O que eu gosto ou deixo de gostar não vem ao caso. Eu

esperei mais de quatro anos para chegar até aqui, Drake. Está na
hora de começar a trabalhar efetivamente para limpar o nome do

meu pai.
— Nós faremos isso, Louise. Eu lhe dei minha palavra. Não

vamos parar até que os verdadeiros culpados sejam punidos. Fique


bem. E pode me ligar quando quiser, você sabe.

— Eu sei. Boa noite.


Depois que desligo, me pergunto não pela primeira vez porque
ele está me ajudando, mas então me lembro das nossas conversas

ao longo dos últimos anos.


Não há uma explicação mirabolante. Drake é bom porque é bom.

Lidamos com tantas maldades no mundo no dia a dia que às


vezes nos esquecemos que existem seres humanos assim.
Os heróis disfarçados de pessoas comuns; os incorruptíveis.

— Estou começando a crer que você tem um fetiche por lugares


escuros, Louise.

Um estremecimento de excitação atravessa meu corpo ao ouvir


a voz poderosa.

Eu deveria ficar com raiva por ele possivelmente estar me


espreitando pela segunda vez na mesma noite, mas meu corpo
pensa diferente.
Estou quase me virando para encará-lo quando de repente, algo
me vem à mente.
Ele escutou minha conversa com Drake?

Sinto um suor frio escorrer pela minha coluna e volto-me


devagar, tentando acalmar as batidas do meu coração.

No momento, não é por conta da furiosa resposta hormonal do


meu corpo a ele, mas porque se Bryce Gray tiver a mais vaga ideia
de que farei uso da função que ele me ofereceu para tentar

desvendar os mistérios que envolvem a morte do meu pai, estou


perdida.

Desde a primeira vez em que nos vimos, sempre houve uma


espécie de embate silencioso entre nós, como se um adorasse

provocar o outro. Nesse instante, no entanto, temendo ter sido


flagrada, visto a mesma imagem que uso para o resto do mundo: a
de mulher perfeita, inabalável e comportada. Quase uma versão

mais velha de Emory.


Se vou trabalhar com Bryce Gray, devo esconder as reações do

meu corpo a ele e usá-lo como um meio para atingir um fim.


Assim, ao invés de provocá-lo com uma resposta impertinente,
uso um tom doce.

— Veio conhecer meu jardim secreto, senador?


Um “v” se forma entre suas sobrancelhas e juro por Deus que
isso faz com que fique ainda mais sexy.
Eu só não tenho certeza se a confusão que demonstra é sobre

minha falta de combatividade com relação à sua provocação ou pela


menção do meu jardim.

Ele me estuda por uns segundos e preciso me esforçar para não


me mexer de uma perna de apoio para a outra.
Instantes depois, no entanto, parece se decidir.

— Fale-me sobre esse jardim.

Escondo um suspiro de alívio.


Ele não ouviu meu telefonema. Se fosse o caso, não conversaria

tão calmamente.

Ou conversaria?

— Não está na hora do jantar? — Olho no relógio de ouro em


meu pulso, presente de Cassius no último aniversário. — Não.

Ainda temos dez minutos.

— Está com fome? — Ele me devolve.


— Não.

— Então eu prefiro falar sobre o seu jardim antes de entramos.

Começo a caminhar e ele me acompanha. Mesmo apenas ao


meu lado, consigo sentir o calor do corpo dele emitindo ondas.
É estranho ficar tão perto de Bryce sem enfrentá-lo, mas então

lembro-me de que será meu chefe e que terei que exercitar o


controle do meu mau gênio a todo custo.

— Não há muito a ser dito — começo, disposta a lhe dar uma

parcela da verdade sobre a minha vida. — Eu costumava fugir da


minha mãe.

— Ela a agredia?

Seu tom protetor faz algo se aquecer em meu peito, mas

empurro a sensação para longe.


— Não. Ela me sufocava de atividades. Nossa casa também

sempre vivia cheia, então eu fugia para cá. Meu pai mandou cercá-

lo para que ficasse como um labirinto quando descobriu que era


meu esconderijo. Dizia que eu podia me tornar invisível aqui dentro.

Um nó tranca minha garganta. Não falo do meu pai com

qualquer um, então por que diabos, de todas as pessoas, fui fazê-lo
justo com Bryce?

— Sente falta dele?

Chegamos na frente da mansão e várias pessoas estão entrando

nesse momento, provavelmente por causa do jantar.


— Só sentimos falta de alguém quando pensamos nele. Eu sei

fechar portas — minto. — Meu superpoder é o esquecimento.


Subo os quatro degraus para o hall, mas antes, não resisto em

olhar para trás.

— Qual é o seu, senador?


Um canto de sua boca se ergue em um fantasma de sorriso

irônico.

— A persistência. Eu nunca desisto, Louise.

Aquilo soa como um flerte, mas também uma ameaça.


Bryce Gray não é alguém para se ter como adversário e ao invés

disso me amedrontar, me excita.

Ando depressa para o salão, fugindo dele, mas também do meu


corpo traiçoeiro.
Capítulo 6

Eu não gosto de obsessões. Elas nos tiram o foco, afastando a

mente do planejamento.

Planejar é algo que levo a sério e raramente, fora os momentos

em família, relaxo o suficiente para me esquecer dos meus planos.

Hoje, entretanto, sinto-me como um obcecado. Ao invés de

estar atento às conversas dos líderes do meu partido, me pego

hipnotizado por Louise Whitlock.

Claro, eu já a observei outras vezes, mas essa noite, estou

absolutamente concentrado nela.


Em um mundo apático, na maior parte do tempo, a mulher
queima, brilha com seu próprio calor.

Não é nada na aparência de dama da alta sociedade. Se você

não for um observador atento, pode deixar escapar o brilho que, vez

ou outra, atravessa os olhos dela.

Eu não sou um observador comum.

Estudo as pessoas cuidadosamente. Analiso o que elas não

gostam de deixar vir à superfície. Máscaras não me interessam.

E, se eu estiver certo, Louise usa uma quase que como uma

segunda pele.

— Seria bom trazer ao público ao menos uma namorada a

sério, meu rapaz — um senador idoso diz ao meu lado.

O jantar já dura mais de duas horas e se não fosse pela beleza

ruiva sentada à minha frente, eu já teria dado um jeito de fugir.

— Sim, os eleitores gostam de relacionamentos estáveis — um

ex-governador texano completa.

Eles seriam fortes aliados, se eu estivesse procurando algum,

mas se há algo que aprendi durante os anos governando o Texas, é


que alianças políticas, assim como o uísque, devem ser apreciados
com moderação. Caso contrário, chegará um ponto em que sua

plataforma de governo estará engessada. Você deverá favores a


tantas pessoas, que não poderá executar os planos que definiu para

se eleger, só para não desagradar aliados.

Eu não cheguei até aqui por acaso, ao contrário do que alguns


candidatos da oposição dizem.

Não foi o meu dinheiro que me trouxe ao poder ou o fato de ser

um Gray que me transformou no candidato dos sonhos do partido


republicano para a Casa Branca, e sim porque cada passo que dou
é calculado.

— Estamos trabalhando nisso, senhores — respondo, sem me


comprometer.

Ouço uma risada suave e minha atenção é voltada outra vez

para a enteada de Cassius.

Seu riso é sonoro, mas contido, o que não combina com a


mulher combativa que demonstra ser sempre que estamos a sós.

Eu a encaro sem disfarçar e como se pressentisse isso, o rosto

lindo volta-se para mim.

Eu vejo você, Louise — digo em silêncio.


Algo parecido com temor passa pelo rosto dela, mas disfarça

rápido, em seguida erguendo o canto da boca em um sorriso irônico,


como em um desafio.

Levanto meu copo fingindo um brinde e ela retribui.

A partir desse momento, volta e meia interrompe a conversa

com as pessoas sentadas ao lado dela e os olhos azuis voltam-se


para mim.

Selvagens, inquisitivos, acompanhados de um pulsar quase


imperceptível no pescoço delicado.

Meia hora depois, eu já acenei tantas vezes com a cabeça


fingindo estar interessado na conversa dos meus companheiros de

partido que terei sorte se não terminar a noite com um torcicolo.

Estou me preparando para me despedir quando observo-a

chegar a cadeira para trás. É a desculpa perfeita que eu precisava


para ir embora.

— Senhores, foi um prazer jantar com vocês, mas tenho que


trocar uma palavra com minha nova assessora de imprensa.

Eles seguem meu olhar para Louise.

— A filha de Cassius?
— Sim. Com licença. — Encerro a conversa para evitar
quaisquer outras perguntas.

Caminho rapidamente até meu anfitrião e vejo-a se despedir do

padrasto.

— Eu a deixarei em casa — aviso, me aproximando.

Ela olha para trás, parecendo surpresa.

— Como sabe que não vim de carro, senador?

— Eu adivinhei, Louise. Não parece do tipo que bebe e dirige.

Ela e o padrasto trocam olhares antes que me responda.

— Eu não dirijo mais. Deixe-me só me despedir de Cassius.

Eu esperava que fosse se negar a vir comigo. A antiga Louise

teria feito isso.

— Ótimo — Cassius diz. — Assim vocês poderão tratar sobre a


contratação.

Ele se levantou para falar conosco e sei que boa parte da mesa

presta atenção em nós, mas não dou a mínima.

— Precisa dar adeus à sua família? — pergunto.


— Não — o padrasto responde no lugar dela. — Eu avisarei a
Emory e Tabitha.

Fico com a sensação de que ele a está protegendo das duas e

olho de um para outro, intrigado.

— Nesse caso, vamos. Precisamos acertar os detalhes de seu


contrato de trabalho, Louise. Quero que comece o mais rápido

possível.

Ela dá um beijo na bochecha de Cassius e depois sai em

direção às portas sem olhar para trás.

Com um tapa nas costas do senador, sigo em seu encalço,

balançando a cabeça pela ousadia dela. Ela tem certeza de que a


seguirei.

— Por que aceitou o emprego? — pergunto à queima-roupa

quando chegamos do lado de fora.

— Não me deu muita alternativa, senador Gray.

— Bryce, quando estivermos sozinhos.

Por mim, poderia ser o tempo todo. Acho pedante falarem

comigo usando meu cargo precedendo o nome, mas há certos


protocolos e regras de etiqueta na política que não se tem como

escapar.

— O que tivemos não foi exatamente uma entrevista de

emprego, senador Gray — repete e agora tenho certeza de que me

chama assim para me provocar.

— Poderia ter dito não.

Chegamos ao meu carro onde o motorista já aguarda em pé,

com a porta aberta.

— Eu quero o emprego.

— Então, qual é o problema?

— A minha intuição diz que nossos temperamentos não

combinam — revela.

A minha intuição diz que eles combinam até demais e talvez

seja exatamente esse o problema. Ambos gostamos de desafios.

— Demita-se, então. — Jogo, para ver o quanto ela quer a

função.

— Nós nem temos um contrato ainda, senador. Não seria

demissão, seria desistência. E essa palavra não existe no meu


vocabulário.
— Mesmo sendo algo que te faz mal?

— O quê?

— Não jogue comigo, Louise. Sou um bom observador. Está

com medo de ficar próxima a mim e vou descobrir a razão.

Dou espaço para que entre no banco traseiro da minha limusine

e me acomodo em seguida.

Observo-a atentamente, mas não há nada em sua expressão

que denuncie o que está pensando.

— Disse-me que seu superpoder é a persistência, senador.

Temos isso em comum. Eu quero trabalhar com política, o senhor

está me dando uma oportunidade. Não me verá correndo para

longe.
Capítulo 7

— Por que quer trabalhar com política, Louise?

Ela termina de fechar o cinto de segurança e leva um tempo até

levantar o rosto para me encarar.


— Talvez eu goste do poder.

— Não, você despreza o poder.

Observo fascinado seus lindos olhos se arregalarem. Ela é tão


petulante comigo, que às vezes me esqueço do quanto é jovem.

O rosto dela se fecha depois que lhe jogo a verdade na cara, mas

não parece disposta a ceder tão fácil.


— Eu não poderia odiar o poder. Cresci no meio dele. — Ela está

sentada rígida, as mãos entrelaçadas no colo. Mantém o rosto


impassível, mas continuo a encará-la sem piscar e depois de um

tempo, suspira, finalmente cedendo. — Eu não tenho nada contra a

política enquanto instituição, mas com o que o poder faz com as


pessoas.

— Não admira os políticos.

— Todos, não.
— E ainda assim, quer trabalhar nesse meio.

— Fiz jornalismo por uma razão: sou curiosa.

— A função de assessora de imprensa não é exatamente algo


que vá saciar sua curiosidade. Na verdade, seu papel será me

blindar para que eu não fale bobagens.


— Você é advogado antes de ser político. Nunca fala sem pensar.

Esse papel é reservado aos tolos.

Não posso deixar de sorrir.

— Já assistiu alguma entrevista minha?

— Várias — confessa, me surpreendendo. — Em todas, você

estava sempre um passo à frente do repórter.


— É muito analítica, Louise. E perspicaz também, para sua idade.
Depois que pedi o endereço dela, o motorista arrancou com o
carro, começando a percorrer as ruas vazias de Dallas.

Ela se volta para mim.

— Perguntou-me porque quero trabalhar com política, senador, e

lhe dei meus motivos. Por que me contratou? Poderia ter

conseguido um assessor de imprensa muito mais experiente.

— Talvez eu não queira alguém cheio de vícios. Talvez me


agrade a ideia de ensiná-la.

A boca sexy se abre levemente e o lábio cheio inferior me faz ter

vontade de mordê-lo.

Obrigo-me a olhar para frente. Não é um bom começo de relação

de trabalho.

A verdade é que também não sou capaz de dar uma resposta a

ela sobre a razão de tê-la escolhido.


— Ou talvez não tenha conseguido dizer não a um pedido de

Cassius.

Volto a encará-la.

— Vai aprender algo sobre mim, Louise: só faço o que quero.

Ninguém pode me forçar se eu estiver convicto.

— Não diria forçar, mas e quanto a convencer?


Dou um sorriso irônico.
— Como você bem apontou, sou advogado. Precisa ser um

excelente orador para me convencer de algo.


Ela me estuda em silêncio por uns segundos, como se tentasse

adivinhar se estou falando sério, mas não consegue sustentar meu


olhar por muito tempo.
— Qual será minha função?

— Como todo o resto da equipe, será minha sombra, até o


momento em que eu disser que não preciso de você. O contrato é

feito por fora. Não tem nada a ver com o dinheiro público. Não
preciso que paguem minhas contas pessoais.

— Pessoais?
— Sim. Precisa saber que ao trabalhar para mim, Bryce Gray e
não para o estado do Texas, exigirei sua total lealdade. Em

contrapartida, sou um tirano. Feriados e fins de semana são


conceitos fluidos no meu mundo.

— Eu não me importo com isso — diz, me deixando intrigado.


— Não sai para se divertir?

Ela desvia o olhar.


— Huh… claro que sim, mas levarei a carreira mais a sério do
que a vida pessoal.
Ergo uma sobrancelha, parcialmente surpreso. Não consigo

imaginá-la se perdendo na noite sem se preocupar com as


consequências, mas ao mesmo tempo, com vinte e três anos

somente, na teoria deveria estar vivenciando o auge da vida.


— Não sei se entendeu, Louise. Minhas jornadas de trabalho por

vezes varam a madrugada. Eu posso avisá-la que viajaremos


apenas uma hora antes e constantemente trabalho da minha
fazenda em Grayland.

— Contanto que não seja montada em um cavalo, por mim, tudo


bem.

Olho-a, horrorizado.
— Não sabe montar?
Ela dá de ombros.

— Uso táxi.
— Espera. Não dirige e não sabe montar? Tem certeza de que

nasceu no Texas?
Recebo uma revirada de olhos em resposta e uma sensação boa

para caralho se espalha pelo meu peito. Se eu pudesse chutar, é a


primeira vez que ela está relaxada na minha frente.
— Eu sei dirigir, só não gosto. Tenho um celular, senador Gray.

Posso conseguir um meio de transporte através de aplicativo.


Quanto aos cavalos, vou ficar devendo. Só estive em uma fazenda
meia dúzia de vezes e mamãe nos deixou trancadas o tempo todo
para que não nos sujássemos. Vida no campo não é para mim.

Entretanto, prometo que não desmaiarei se ao trabalharmos em


suas terras, eu cruzar com uma vaca.

Sinto-me quase que pessoalmente ofendido.


Como no inferno alguém pode não amar a vida no campo?
Ela parece ler minha mente, porque sorri.

— A minha mãe tem verdadeiro horror a sujeira ou qualquer fio


de cabelo fora do lugar. Quando íamos às fazendas era tão

estressante que passei a pedir ao meu pai que não nos levasse
mais. Ele chegou a considerar a possibilidade de comprar uma

propriedade rural, mas implorei que não o fizesse.


O motorista estaciona no que suponho seja o edifício dela.

— Nos reuniremos para um brunch[15] amanhã, Louise.


Discutiremos seu salário e também assinará o contrato de trabalho.
Ela acena com a cabeça e eu desço do carro para abrir sua

porta.
Quando ficamos frente a frente, mesmo sendo mais alta do que a

média das mulheres, é ainda uns bons vinte centímetros menor do


que eu.
— Tem certeza sobre a minha contratação, senador? Quero dizer,
não sei se sou o que procura.
Concentro-me nela, tentando adivinhar se está fazendo algum

tipo de jogo, mas tudo o que percebo é uma ponta de


vulnerabilidade.

— Só saberemos se tentarmos, Louise. Está com medo?


Ela nem pisca.
— A idade de sentir medo já passou. Sou uma adulta, agora.

De algum modo, algo se contrai dentro de mim ao ouvir aquilo

porque sim, ela parece assustada.


Quem é você realmente, Louise Whitlock?

Acompanho com o olhar enquanto entra na portaria. Ela não olha

para trás nem uma vez e tenho o pressentimento de que é a

maneira como leva a vida: quando decide partir, não há


arrependimentos.
Capítulo 8

Mais tarde

— Como foi o jantar?

— Não deveria estar dormindo? Pensei que uma esposa e três

filhos fossem o suficiente para não lhe sobrar tempo para nada.
— Você me conhece, Bryce. Eu nunca me desligo

completamente.
— É, essa talvez seja uma maldição que nós Gray carregamos: a

mania por controle. Quanto ao jantar, consegui contratar uma nova

assessora de imprensa.
— Quem?

— Louise Whitlock, a enteada de Cassius.


— Eu já sabia. Só queria ouvir de você — diz, sem qualquer

constrangimento. — Não acho que deva ficar com um parente de

um adversário tão perto.


— Cassius não é meu adversário. Está exercendo o último

mandato e me disse que se aposentará da vida pública em seguida.

— Não existe essa história de ex-político, Bryce. Na ativa ou não,


qualquer um que já provou o gostinho do poder é um adversário.

— Até mesmo você?

— Eu não preciso desse tipo de poder. Sou o dono do Texas —


fala, em um raro momento em que faz piada com o apelido que

detesta.
— Qual era sua preocupação em relação ao jantar dessa noite?

Não foi diferente de dezenas que já frequentei desde que entrei para

a política.

— Não acredite nisso. O cerco está se fechando. Cada

respiração que você der daqui por diante, estará sob avaliação.

— Não tenho nada a esconder.


— Todos nós temos segredos.

— Os meus não são algo de que eu me envergonhe.


— Eu sei, mas de qualquer modo, não confie totalmente em
alguém além da família. Sabe que cada um de nós daríamos a vida

por você. Jamais o trairíamos. Quanto a estranhos, alianças são

forjadas e depois desfeitas. Amizades acabam e traições

acontecem. Família será sempre família.

— Por que me ligou? Não foi a troco de nada. Conheço você.

Ele suspira, antes de me dizer:


— Alguém que estava no jantar ouviu que tinha contratado a filha

de Cassius como assessora de imprensa.

Então foi Louise a razão.

Não importa quantos anos eu tenha, acho que para Hudson, serei

sempre o caçula.

— E o que tem isso de mais?

— Por que ela?


Boa pergunta.

— Por que não? Estou precisando de uma assessora. Falar com

a imprensa não está entre as minhas três coisas preferidas. Louise

é jovem, está recém-formada, mas sei que fez pequenos trabalhos

temporários nessa função. Foi muito elogiada.

— Já sabia disso tudo antes de hoje? — ele pausa e eu adivinho


o que dirá em seguida. — Sabe que se envolver com ela seria
estupidez, né?

— Jesus, homem! Você está pensando dez passos na frente. Eu


e ela ainda teremos uma reunião amanhã para acertar detalhes.

— Ela tem um arquivo fechado.


— O quê?
— Achei que gostaria de saber. Há um arquivo fechado sobre ela

na justiça. O evento aconteceu na adolescência e por isso está


indisponível ao público.

Sento-me em minha poltrona favorita, mais atento à conversa


agora.

— Como sabe disso?


— Porque a verifiquei.
— Hoje?

— Não, irmão. Assim que Cassius se aproximou de você.


Verifiquei a família inteira. Principalmente depois que me disse uma

vez que talvez se casaria com Emory Stonebraker.


— Eu devia estar louco na época. A garota não desperta

qualquer emoção em mim. Sequer o desejo de conversar. Por que


não me falou nada sobre essa história da Louise antes?
— Porque até agora não era relevante.

— Algo do que descobriu prejudicará minha carreira?


— Não. Se eu pudesse chutar, diria que trancaram o arquivo para

livrá-la da imprensa.
Luto uma guerra interna. Eu não quero saber o que é. De algum

modo, parece errado invadir a privacidade de Louise.


— Ela matou o assassino do pai. Eles acobertaram tudo para que

a menina não ficasse estigmatizada. — Ele solta antes que eu


possa encerrar a conversa.
— O quê? Quando o ex-governador Emment Whitlock morreu ela

ainda era uma garotinha!


— Sim, mas uma garotinha texana e que sabia atirar.

— Eu havia me esquecido completamente de que ela também


estava presente durante o ataque.
— Não só presente, como conseguiu matar o agressor. A menina

é uma heroína.
— O pai dela era um corrupto sujo. Nesse caso, os crimes dele

quase custaram a vida da filha, Hudson.


— Sim, eu sei de toda aquela imundície. Desvio de verbas

públicas para paraísos fiscais, lavagem de dinheiro, fora tantos


outros crimes que não foram noticiados.
— Mas você tem conhecimento?
— Sim. O problema é que agora, Louise estará próxima a você. E
se as pessoas que mataram o pai dela tentarem eliminá-la mais
uma vez? No fim das contas, ela é uma testemunha.

— Está ficando paranoico, irmão. Não faz o menor sentido.


Emment Whitlock morreu há mais de dez anos. Se quisessem matá-

la, já teriam feito.


— De qualquer modo, quero que tome cuidado.
— Eu tomarei.

Desligo o telefone e olho sem enxergar a parede à minha frente.


As informações que Hudson acaba de me entregar ficam girando

sem parar em meu cérebro.


Tiro o blazer do terno, solto a gravata e pego meu notebook.

Quando volto a olhar no relógio horas depois, já passam de três


da manhã, mas sei muito mais sobre minha nova assessora de
imprensa do que quando cheguei em casa mais cedo, embora não

tenha encontrado qualquer referência sobre ter sido ela quem matou
o assassino do pai.

Após as informações que descobri em minhas pesquisas,


percebo que a intuição sobre ela estava certa o tempo todo.
O que Louise mostra ao mundo e o que ela é são coisas

completamente diferentes.
Ninguém passa por uma experiência daquelas e sai disso
incólume. Eu não tenho dúvida de que deve haver uma cicatriz
emocional gigantesca na garota.

É por isso que é assim, tão arredia? Sim, porque a falsa


sociabilidade não me convence de jeito algum. Nenhum dos sorrisos

que deu hoje foram sinceros, se eu pudesse apostar.


Por que representar? Para agradar a mãe? Para não destoar da
irmã? Percebi que elas mal se falaram. A única pessoa perto da

qual Louise parece se sentir confortável é Cassius.

Desligo o computador, questionando pela primeira vez na noite se


foi uma boa ideia manter a mulher perto de mim.

Além da atração física poderosa, há toda essa carga sobre o

passado dela.

Eu poderia, ao nos reunirmos amanhã, lhe dizer que mudei a


decisão de contratá-la, mas sei que não farei. Se antes do que

Hudson me contou, Louise já despertava minha curiosidade pelo

jeito arisco, agora transmutou-se em admiração.


Apesar disso, gosto de saber onde estou pisando, então uma

ideia surge: ao invés de encontrá-la em um ambiente formal, um

restaurante, vou tentar pegá-la desprevenida, fora da zona de


conforto.
Digito no celular.

“Mudança de planos, senhorita Whitlock. Eu enviarei meu

motorista para buscá-la. Esteja pronta às oito. Traga roupa para

academia.”

Não espero que vá me responder porque já é madrugada, então

fico surpreso quando a tela do meu smartphone acende.

Louise: “Não dorme, senador Gray? Estarei a postos, mas devo

avisar que sou meio viciada em exercícios físicos. Não respondo por

mim dentro de uma academia. Faz parte da minha função ter um


bom fôlego?”

Sorrio, vários pensamentos de como eu poderia lhe roubar o ar,


passando como um filme pela minha mente.

Ah, Louise, por que tem que ser tão deliciosamente impertinente?

“Foi avisada de que não sou um chefe regular, senhorita


Whitlock. Ter um bom fôlego vai ajudá-la a acompanhar o meu ritmo,

mas isso é o mínimo esperado. Sou exigente.”


Louise: “E eu, compulsiva. Não sei se é uma boa combinação. Boa

noite, senador.”
Capítulo 9

Qualquer outra pessoa estranharia ou se sentiria


desconfortável ao ter o novo chefe marcando a primeira reunião em

um sábado, em uma academia de ginástica.

Não eu.

Sou muito agitada. Ficar parada me dá nos nervos,


principalmente perto de alguém como Bryce Gray, que parece

estudar o interlocutor como se tentasse lhe desvendar a alma.

Eu treino regularmente, mas apesar de ser sócia[16] de um

clube fitness, na maior parte das vezes, prefiro fazer minhas


atividades físicas em casa. Moro em um apartamento duplex de

quatro quartos e não recebo amigos — eu não tenho amigos —


então, fiz da sala do segundo piso minha academia privada.

Quando passo pela recepção e dou o nome do senador Gray,

como ele me instruiu, fico impressionada com o tamanho do lugar,


que está cheio a essa hora. Apesar disso, ou talvez por isso, as

pessoas se mantêm isoladas com os personal trainers, sem que um

incomode o outro.

Olho ao redor tentando encontrá-lo e um arrepio atravessa


meu corpo quando escuto a voz poderosa atrás de mim.

— Bom dia, senhorita Whitlock.

Volto-me devagar, preparando-me para enfrentá-lo e perco o

fôlego quando o vejo vestido em uma calça de moletom de cintura

baixa e uma camiseta que não deixa sequer um músculo para

imaginação.

Ele tem quadris estreitos e um tronco forte, o peito inchado

sem exagero e braços enormes.

O rosto de Bryce é lindo. Sou obrigada a admitir que até a

arrogância dele é charmosa, então será que não podia ao menos ter
uma barriguinha? Tinha que ter esse corpo de deus grego?
Ele retribui meu exame, verificando-me da cabeça aos pés.
Apesar de estar vestida com uma calça de yoga e camiseta preta

assim como a dele, mas sem manga e com sutiã de ginástica por

baixo — muito coberta para os padrões de uma academia —, sinto

seus olhos me queimarem.

— Bom dia, senador.

— Vamos continuar com esse jogo, Louise?

Suspiro fundo, desejando não ceder, mas é meio ridículo ficar

chamando-o de “senador” quando ele já me disse para não fazê-lo

se estivermos sozinhos.

— Bom dia, Bryce. — Tento outra vez.

— Assim está melhor.

Maldito homem arrogante! Ele está acostumado a que façam

tudo o que quer.

Entretanto, preciso me lembrar da razão pela qual estou aqui.

Se eu perder essa oportunidade de me tornar assessora de Bryce

Gray, pode ser que nunca mais tenha a chance de chegar tão perto

do poder.

— Prefere treinar ou conversar? — ele pergunta.


— Chegou agora?

— Há quinze minutos.

— Se não se importa, prefiro treinar primeiro.

— Para ganhar tempo antes de me enfrentar?

Contra meu melhor esforço, não consigo conter um sorriso.

— Ou talvez para cansá-lo e depois lhe pedir um salário

exorbitante, Bryce.

Uma hora e quarenta e cinco minutos depois de uma corrida


na esteira e alguns exercícios com peso, sinto meu corpo

deliciosamente exausto.

Bryce nem sequer respira mais pesado, o que me dá vontade

de bater nele.

A culpa de estar morta é minha, claro. O homem foi um

atleta, pelo amor de Deus! Essa minha competitividade ainda vai me


meter em apuros.

Por que no céu achei que poderia vencê-lo no treino?

Enquanto estávamos na esteira, de vez em quando sentia o


olhar dele em mim, mas mantive-me firme, focada no painel do
aparelho, que simulava uma corrida na floresta.

Já na hora dos exercícios com pesos, não pude evitar


admirar o corpo másculo, mesmo que disfarçadamente.

Foi recíproco.

Ele não fez qualquer piada ou insinuação, apesar disso, a

energia que existe entre nós é palpável. Eu me senti, o tempo todo


em que nos exercitamos, como se houvesse um elo invisível unindo

nossas peles, como se nossas respirações estivessem


sincronizadas.

Deus, que loucura!

Meu corpo jamais foi despertado assim por homem algum.

Tinha que acontecer justo com Bryce Gray?

Ele parece ter o poder de causar uma revolução nos meus


hormônios sexuais somente com um olhar.

— Com fome? — pergunta.


Fico entre fazer a mulher que não precisa de alimentos ou ser
honesta, mas nesse exato minuto, meu estômago escolhe me
denunciar, fazendo um barulho nada discreto.

Bryce joga a cabeça para trás e ri.

— Já tenho minha resposta. Vem comigo, Louise.

Jesus, uma frase dita pelo homem e a sensação que se tem


é que vai completar: vem comigo… para uma noite de prazer.

Coitadas das mulheres que se envolvem com ele! Não têm a

menor chance!

Entramos em um elevador e depois de subir cinco andares,


chegamos em uma espécie de restaurante onde há cabines

privadas.

Assim como na academia, os lugares são distantes um do


outro. Eu só não me sinto mal vestida porque está todo mundo com
roupa de treino.

A hostess[17] vem cumprimentá-lo.

— Senador Gray, é um prazer revê-lo.

Ela não esconde o fascínio por ele enquanto nos guia para

uma mesa e eu preciso me segurar para não revirar os olhos.


Antes de nos sentarmos, entretanto, cada um de nós vai ao
toalete. Quando volto, ele já se acomodou, mas levanta-se quando
me vê e só torna a se sentar depois que ocupo meu lugar.

— Eles têm o café da manhã tradicional, Louise, mas podem


preparar qualquer coisa que pedir.

Aceno com a cabeça, concordando.

— Que lugar é esse, Bryce? Eu me considero uma pessoa


bem informada, mas nunca ouvi falar daqui. Do lado de fora do

prédio, ninguém adivinharia que é um clube de ginástica.

— Não é um clube regular, é exclusivo. Você só pode se

tornar sócio com convite. As pessoas que vêm aqui desejam ou


precisam de privacidade. Nem mesmo os paparazzi têm

conhecimento desse estabelecimento.

— É único ou uma rede?

— Rede, mas só quem é sócio sabe onde fica cada um.

Sorrio, abrindo o guardanapo em meu colo enquanto o

garçom toma nossos pedidos.

— Isso soa um tanto pretensioso, senador — implico, assim

que o homem se afasta da nossa mesa.


— No meu caso, é necessário. A privacidade, quero dizer —

diz, dando um gole no café que o garçom acabou de nos servir. —


Na verdade, acho que todos que vêm aqui precisam de um tempo

para se cuidar em paz.

— Como é ter a vida vigiada o tempo todo?

— Estamos no século vinte e um, Louise. Políticos ou não,


todos nós somos vigiados.
Capítulo 10

— Eu não gosto de pensar assim. Que tem alguém vigiando

minha vida o tempo todo, quero dizer.

— Seria uma frase que eu esperaria ouvir da minha avó. Sua


geração nasceu dentro da tecnologia.

— Você fala “sua geração” como se nossa diferença de idade

fosse enorme.

— E é. São quinze anos.

— Sou adulta.
Pedimos um café da manhã completo, embora eu não

costume comer a essa hora, por conta de todos os anos em que


morei em Grayland e acordava muito cedo para trabalhar. Bilionário

ou não, o dia no campo começa com o nascer do sol.

Ela não estava brincando quando disse que estava faminta e


fico meio hipnotizado enquanto a observo levar um morango

suculento à boca.

Sim, você é. Uma adulta deliciosa e que no momento tem o

sumo do morango escorrendo pelo lábio inferior.

Merda.

Tranco as mãos no colo, me obrigando a não ceder ao desejo

de recolher com o polegar a calda de seus lábios e prová-la.

— Disse que seria uma frase que esperaria ouvir de sua avó.

É avessa à tecnologia? Acho que vou gostar dela — fala, mudando

de assunto. — Não precisa responder se achar que é pessoal


demais. É que fora os estágios, esse é meu primeiro emprego

oficial, então não sei dosar o que perguntar e o que calar.

Assim que termina de falar, as bochechas ficam vermelhas.


— Não precisa dosar nada comigo. Não sou um cara
sensível.

— E se eu for indiscreta?

Ela tenta disfarçar, mas consigo ver um sorriso de canto de

boca.

— Haverá o risco de ficar sem resposta, Louise. Eu só faço o

que quero.

— Então temos isso em comum.

Seu tom de rebeldia me excita para caralho. Talvez eu tenha

subestimado o poder da atração entre nós.

— Vai estar sob minhas ordens. Não poderá me esconder

nada.

Era para ter sido uma provocação, mas algo passa em seus

olhos, pondo-me em alerta.

— Durante o expediente, apenas.

— O conceito de “expediente” é bem fluido, no meu caso.

— Tudo bem. Só preciso da metade de um dia, uma vez por

semana.
— Por quê?

— Estou sendo razoável, Bryce.

— Eu não disse que não estava, só quero saber a razão.

— Já ouviu falar em privacidade?

— Não. É uma palavra em desuso na minha família.

— Eu não sou sua família.

— Mas será minha assessora de imprensa. O pronome


possessivo antes da sua função deixa bem claro que enquanto

trabalhar para mim, você me pertencerá, Louise.

Sim, eu sei que a afirmativa é errada por qualquer ângulo que

se olhe, mas provocá-la é uma delícia.

— Não tenho problema com esse conceito de posse saído

direto da Idade Média. No fim das contas, não pode entrar na minha
mente, Bryce. — De novo o sorriso malicioso aparece e me

pergunto quantos segredos esconde. — Não vai comer? Apenas


café não dá conta de alimentar um homem com sua estrutura.

— Não tenho hábito de fazer a primeira refeição.

Ela estava levando um mirtilo à boca e para.


— Deveria. O café da manhã é importante. Cassius também

não come nada até a hora do almoço e o cardiologista não fica nada
feliz com isso.

— Respeita regras, Louise?

Ela acena com a cabeça, mas desvia o olhar.

— Não mude de assunto. Deveria se alimentar pela manhã.


Meu padrasto já teve dois infartos.

— Não há problemas cardíacos na minha família. Os Gray


são quase imortais.

Recebo uma revirada de olhos merecida.

— Todos nós sangramos, senador Gray.

— Falou sobre a saúde de Cassius. São próximos?

— Sim, como não poderia ser? Ele é meu padrasto.

— Não é exatamente uma resposta. O fato de ter se casado

com a sua mãe não a obriga a gostar dele.

— Cassius é um bom homem — ela diz e decido não

empurrar.

— E sua irmã?
Evito falar sobre a mãe porque Tabitha Stonebraker é uma
das pessoas mais irritantes que eu já conheci. Superficial e pedante.

— O que tem ela?

— São amigas?

— Não. A minha irmã vive para agradar minha mãe, mesmo


depois de ter se tornado adulta.

Fico surpreso com a honestidade, apesar de meio que já


adivinhar a resposta. A apatia de Emory não tem correspondência

em Louise.

— E você, não?

— Eu agrado a mim mesma.

— Então por que estava usando um vestido na festa ontem

que não combinava com você?

— Percebeu?

— Aham. Estava linda — começo, mas em seguida, me


corrijo. — Você é linda, mas não uma mulher para usar cor-de-rosa.

Estou atravessando a linha imaginária do profissional para o


pessoal, mas nunca fui conhecido pela moderação.
— Só um homem que está muito familiarizado com o
universo feminino saberia dizer quais cores valorizam uma mulher.

Não nego porque não há razão para mentir.

— Você é ruiva, tem a pele clara. Deveria sempre usar preto.

O contraste com sua pele é… — Paro na metade da frase, me


perguntando onde diabos estou com a cabeça. Ela não é um

encontro. Uma mulher que sairei daqui direto para um dos meus
apartamentos reservados especialmente para uma foda rápida, ela

é minha funcionária, porra.

— Continue, por favor. Estou curiosa com sua análise.

Há uma ponta de desafio em sua voz e quando foco nos


olhos lindos, percebo que sabe exatamente a razão pela qual eu

parei.

Ela espera que eu coloque minha cabeça no lugar, que me

lembre de quem somos um para o outro, mas o que Louise não faz
ideia é que nunca deixo passar uma provocação.

— O preto contra a sua pele cria um contraste fascinante —

digo, apontando a camiseta que usa e observo satisfeito quando

engole em seco. — Todas as vezes em que a encontrei em


recepções, entretanto, estava vestida em tons pastel. Não são cores

certas para você.

— Eu sei, mas não ligo. Não sou realmente festeira. Quem

escolhe os vestidos é a minha mãe.

Franzo a testa, surpreso.

— Por quê?

— Por que não?

— Mora sozinha e é adulta.

— Eu não ligo para o que estou vestindo, Bryce, desde que

não me notem. A melhor maneira de passar despercebida na alta


sociedade é me adequando.
Capítulo 11

Droga, o homem é perigoso com essa investigação discreta.


Acabei entregando muito mais do que pretendia.

— Como um camaleão?

— O quê? — pergunto, sentindo minha pulsação acelerar.

Bryce acaba de descrever exatamente quem sou quando finjo

me adequar ao que minha família espera.

— Disse que deseja que não a notem, então se camufla com

o que eles considerariam aceitável.


Tento uma rota de fuga porque a conversa está se tornando

pessoal demais.

— Eles? Não se inclui nesse meio, Bryce?

— Não, porque não dou a mínima para o que pensam de

mim, caso contrário, já teria me casado para satisfazer os eleitores.

— Terá que fazê-lo, se realmente deseja chegar à Casa


Branca.

— Todos me dizem o mesmo. — Ele ergue a xícara de

porcelana e dá outro gole no café antes de continuar. — Vamos

falar sobre suas funções, afinal, foi para isso que nos reunimos hoje.

Ele parece irritado agora e eu me pergunto a razão, já que foi

quem começou a direcionar as perguntas para o campo pessoal.

Quarenta minutos depois, olho-o admirada.

Eu sei que a rotina de um senador é pesada, mas Bryce vai

um passo além.

— Agora entendo porque me mandou mensagem de

madrugada. Realmente não dorme.

— Preciso de poucas horas de sono para me recuperar.


— Posso perguntar algo?

— Fique à vontade.

— E se o partido não o escolher como candidato? O plano “b”

será se candidatar novamente ao senado?

— Eu não tenho um plano “b”, nesse caso. Vou vencer, tanto


à indicação do partido quanto às eleições para presidente.

Sinto um arrepio percorrer meu corpo porque a autoconfiança

dele é contagiante.

— Sabe que não é porque vou trabalhar para você que terá

meu voto, certo? Terá que me convencer de que sua plataforma


política será boa para o país. Há vários setores que precisam de

atenção nos Estados Unidos, a saúde, principalmente.

— Não espero qualquer tipo de benefício por parte dos meus

funcionários, Louise — ele retruca com o mesmo distanciamento


que está começando a me incomodar.

Sim, estou agindo como uma louca, afinal, deveria dar graças

aos céus por nos concentrarmos somente no aspecto profissional,

mas não é isso o que acontece dentro de mim nesse momento.


Eu não costumo me sentir ligada a alguém e desde a noite de

ontem, é como se um elo invisível nos unisse.

Não estou pronta para rompê-lo ainda.

— E quanto às viagens? Com quanto tempo de antecedência


me avisará que as faremos?

Ele me olha, sério.

— Tem namorado?

É novamente uma pergunta pessoal, mas não há nada no


rosto dele que demonstre um interesse real.

— Não. Tenho uma planta.

Pela primeira vez depois de vários minutos, ele me olha


parecendo mais relaxado. Depois, sacode a cabeça de um lado para
o outro e em seguida, ri.

— Uma planta a impediria de viajar, Louise?

— Não disse que me impediria, senador — respondo, irritada


—, mas que quero me certificar de que ela ficará bem. Já é a
terceira que eu assassino. Pretendo comprar um cachorro um dia e

estou começando com seres menos complexos, mas até agora,


falhei — confesso, frustrada.
— Converse com a minha avó. Ela tem mão verde[18]. Vou
lhe enviar o número dela por mensagem.

— Obrigada, mas não precisa. Não sou boa em interagir com

estranhos.

— Acredite, dona Mary Grace nunca será uma “estranha”


para qualquer um. Minha avó é ótima para fazer plantas crescerem.
Disse que quer comprar um cachorro. Talvez ele seja um problema

em nossas viagens — fala, mudando de assunto.

— Não é algo que farei agora e sim, um plano para o futuro

— respondo vagamente porque não quero dizer a Bryce que só


comprarei meu cachorro quando for embora do Texas em definitivo.

Assim que toda a verdade sobre a morte do meu pai vier à tona e os
culpados por mancharem o nome dele, punidos.

— Tudo bem, mesmo que queira comprá-lo agora, há


diversos hotéis para animais se precisarmos viajar. — O garçom se

aproxima para saber se estamos satisfeitos. Bryce olha para mim e


sacudo a cabeça fazendo que sim.

Quando o homem se afasta, ele me pergunta.

— Há algo mais que queira saber, Louise?


— Acho que memorizei tudo. Quando chegar em casa, vou
começar a me organizar. Disse-me que tem um assistente pessoal
chamado Alfred?

— Sim. Qualquer coisa que não tenha certeza, se eu estiver


incomunicável, deve perguntar a ele.

— Eu me reportarei a quem?

— Sempre a mim. Alfred é minha blindagem contra situações

inconvenientes, você, meu filtro contra a imprensa.

— Além disso, também analisarei seus discursos, certo? —


pauso, em dúvida. — Aliás, é você quem os escreve?

— Sim. O que ia perguntar antes?

— Além dos discursos e dar declarações à imprensa, o que

mais espera de mim, Bryce?

— Eu não aceitei a indicação de Cassius para contratá-la à


toa, e sim, porque conviveu desde sempre dentro da política. Quero

ser avisado se estiver me excedendo em algum comportamento.

— Até hoje, que eu tenha visto, sua postura foi impecável.

— E ainda diz que não é um voto garantido? — Há ironia na


pergunta, mas ainda assim, tenho necessidade de me defender.
— Sou uma jornalista. Preciso me manter informada. —
Começo, mas até aos meus próprios ouvidos aquilo soa falso. —
Certo, digamos que sou uma eleitora em potencial.

— Não precisa ficar encabulada, Louise.

— Não estou — minto. — De qualquer modo, o que eu


estava tentando dizer é que não achei nada de errado em seus

discursos.

— Porque muitos deles foram filtrados pela minha ex-

assessora.

— Tudo bem. Acho que entendi.

— Por que não comprar um cachorro agora?

— Hein? — pergunto, surpresa que tenha voltado àquele


assunto.

— Sobre o cão. Por que não comprá-lo de uma vez?

— Preciso planejar tudo cuidadosamente. Não sou impulsiva.

— Seguir alguns impulsos às vezes faz parte do jogo.

— Não do meu. Além do mais, é muita responsabilidade


cuidar de um animal. Eu não estou pronta ainda.
— E se nunca se sentir pronta?

— Então é porque não era para ser.

— É uma boa defesa para não correr riscos. Você

simplesmente se nega o prazer, então nada pode te machucar.

— Escolher me machucar voluntariamente seria estupidez.

Se eu comprar o cãozinho e algo acontecer a ele…

— Mas pode ser que nada aconteça, Louise. Pode ser que a

cada dia ele a receba em casa com lambidas e carinho. O risco

nunca deixará de existir, mas há o outro lado, também. O pote de

ouro no fim do arco-íris.

— Eu tenho ouro de sobra. Não é disso que estou atrás.

— Está atrás do que, então?

— Do sentimento real: ser incondicionalmente amada.


Capítulo 12

No d ia s e g u in t e

Grayland

Enquanto o helicóptero sobrevoa as terras da minha avó,

lembro-me do encontro com Louise.

Ontem, ela baixou um pouco a guarda. Não muito, mas o

suficiente para me deixar intrigado.

Agora tenho certeza de que há um mundo oculto na mulher

que ronda meu pensamento sem cessar desde o jantar na casa de


Cassius.

O helicóptero pousa e Mary Grace já está me esperando.

— Vó, deveria ter ficado em casa. Está muito quente hoje.

— Bryce Gray, sou uma texana raiz! Além do mais, gosto de

receber meus meninos.

Puxo-a para um abraço apertado e beijo a testa da minha

guerreira. A mulher que se tornou nossa referência materna desde

que éramos crianças e nossos pais morreram em um acidente[19].

— Vai continuar me chamando de menino mesmo que um dia


eu vire presidente?

— Você vai ser, meu filho. Não existe isso de “se”. Hudson
não nasceu para a vida pública. Ele queria o poder pelo poder, mas

é essencialmente um homem do campo. Você tem a peculiar

habilidade de conseguir viver com um pé em cada mundo sem

perder as raízes.

— A diferença também, é que quando Hudson se tornou

candidato, ele não era pai e não tinha esposa esperando-o em casa.

Era livre como eu sou hoje. Acho que se casar com Antonella[20] e

em seguida, o nascimento de Dante mudou as perspectivas dele.


Ela me encara em silêncio e sei o que está pensando.

— Não vamos ter essa conversa novamente, dona Mary. Não

encontrei alguém ainda com quem queira passar o resto dos meus

dias.

— Bryce, eu te amo. Você é meu neto querido, mas ouça


bem o que vou dizer: enquanto continuar com essa vida de

devassidão, não terá qualquer chance de encontrar uma boa moça

para dividir sua caminhada. Talvez já a tenha achado no passado e

nem se deu conta.

— Acredite em mim quando eu digo que não aconteceu, vó.

Nunca estive com alguém que fizesse meu coração disparar.

Ela me dá uma palmada no traseiro.

— Sei bem qual parte de vocês dispara com essas

companhias temporárias que arrumam. Até Wyatt se casou e é pai,

meu filho. Se ambiciona mesmo chegar à Casa Branca e eu sei que

sim, tenha em mente que precisará ter uma esposa a tiracolo.

— Vó…

— Não me venha com essa de “vó”, o que estou falando não

é nada mais do que a verdade, Bryce. O mundo pode ter evoluído.


Há computadores por todos os lados e até mesmo namoro virtual,

mas família será sempre família, ainda mais para o partido


republicano.

— Qual é a razão da bronca nele hoje, vó? — Antonella


pergunta, andando até nós na varanda da casa da sede da Império
Gray. — De que coração partido estamos falando, cunhado? Já está

na hora de sossegar.

— Vão ficar no meu pé?

— Sempre — ela diz, dando risada. — E por falar no seu pé,


soube que contratou uma nova assessora de imprensa.

— Hudson não sabe guardar segredos?

— Ele não falou nada. Ouvi parte da conversa ontem. Mas


por que tanto mistério? Ela é bonita?

— É solteira? Será que minhas preces serão ouvidas,


Senhor? — minha vó pergunta, olhando dramaticamente para o céu.

— Jesus Cristo! Vamos almoçar antes que eu desista e volte


para Dallas.

— Ah, não, tio Bryce! Você prometeu que ia jogar futebol

comigo — Noah, o filho mais velho de Callum e Mackenzie[21], diz,


se agarrando às minhas pernas.

— Nesse calor, menino? — a mãe dele reclama, saindo de


dentro da casa.

— Não está quente, mamãe! Sou um Gray! Papai falou que


somos resistentes a qualquer coisa.

Dante, meu sobrinho mais velho e filho de Hudson, revira os


olhos.

— Somos de carne e osso, Noah. Ficamos com insolação


igual qualquer mortal.

— Eu, não — Blaire fala, desafiando-o.

Já percebi que ela tem prazer em implicar com ele. O


engraçado é que Dante é um “Hudson em miniatura” com todo

mundo, mas com ela, sempre contorna a situação.

— Porque você é uma princesa com superpoderes, Blaire.

— Meu Deus do céu! — Dominika[22], que chega naquele


instante, esconde uma risada. — O menino é um Gray legítimo.

Nesse ritmo, na adolescência já vai partir muitos corações.

— Bem, se vocês querem mesmo jogar futebol, precisam

convencer a bisa a atrasar o almoço um pouquinho. Estou velho. Se


eu comer, vou precisar de uns dois dias para me recuperar antes de
ir a campo — exagero.

Uma hora e meia depois, estamos Wyatt, eu e meus quatro

irmãos desmaiados no campo de futebol americano que mandamos


construir na Império Gray.

As crianças já entraram para tomar banho, mas nós mal

conseguimos respirar.

— Porra, estou fora de forma. Na época da faculdade uma


partida dessas não me deixaria sem ar — falo.

— Seu treino naquela época era surreal. Sinto muito, irmão,

mas fôlego de atleta, nunca mais. — Reed[23] dá risada.

— Eu sou o mais velho — Hudson reclama. — Preciso de


uma maca.
— Para de frescura! Temos uma diferença de idade de

poucos meses, apenas — Callum[24] diz.

No passado, meu primo nunca faria graça com esse fato,


porque isso nos lembraria que o pai de nós cinco foi um trapaceiro
que enganou minha mãe. Porém, não há nada que o tempo não

cure. Guardar mágoa de alguém que já morreu por tantos anos não

faz o menor sentido.

Levantamo-nos, cada um reclamando mais do que o outro.

— Não há a menor chance de que Mary Grace nos deixe

sentar à mesa imundos assim — Jaxson[25] fala.

— Não mesmo — Wyatt diz, mostrando o celular. — Ela

acabou de mandar mensagem e disse que sem banho, não


passaremos nem da porta.

— Eu quero falar com você depois do almoço — Hudson

avisa.

— Sobre?

— Política, claro. Somos Gray, Bryce. Nunca entramos em

algo para perder. Se quer ser presidente, organizaremos tudo para

que isso aconteça.


— Antonella veio me falar de Louise.

Eu estava andando um pouco distante dos outros, ao lado


dele, mas quando ouvem o nome de minha nova assessora, todos

olham para trás.

— Quem é Louise? — Reed pergunta, rindo. — Teremos o

último guerreiro abatido?

— Minha nova assessora de imprensa — respondo irritado.

— Ela é enteada de Cassius. Não é uma relação romântica.

— Ela é feia? — Callum pergunta com seu jeito direto.

Eu não posso mentir.

— Não, é linda para caralho.

Todos riem, inclusive Hudson.

— O quê? — pergunto, porque sei que sou o alvo da piada

secreta.

— Nada — Jaxson finalmente responde. — O tempo nos dirá.


Capítulo 13

Duas semanas depois

Abro a porta do meu lugar secreto, me sentindo mais agitada do


que nunca.

Não por conta do meu dia em si, mas porque minha consciência
vem me atormentando por ter aceitado o emprego que Bryce

ofereceu, sendo que a única coisa que passa pela minha cabeça é

desvendar de uma vez por todas quem foram os responsáveis pela


morte do meu pai.
Drake me ligou duas vezes dizendo que está seguindo algumas

pistas e embora não tenha detalhado nada, confio nele o suficiente


para saber que se me avisou é porque acha que temos algo

promissor em nosso caminho.

No domingo seguinte em que tomamos café da manhã, Bryce


me mandou uma mensagem falando que eu começaria a trabalhar

na segunda.

Fiquei empolgada e apavorada ao mesmo tempo porque não lido


muito bem com imprevistos. Achei que teria mais tempo antes de

me tornar oficialmente assessora de imprensa dele porque a ideia

de passar o dia inteiro ao lado do senador me deixa agitada.


Foi um medo infundado.

Ele viajou e não estivemos mais juntos pessoalmente. Segundo


Alfred, não seria necessário que eu fosse dessa vez.

O assistente de Bryce falou que estaria com ele, então, que eu

usasse esse tempo como dias de imersão, para estudar não só a

rotina, como o trabalho de Bryce como senador e os projetos em

que está envolvido.

Vou até o closet e troco minha saia lápis cinza e camisa de seda
branca por um shorts jeans velho e uma camiseta que já viu dias

melhores.
Tranço o cabelo e finalmente me sinto livre. Aqui, não preciso ser
nada além de mim mesma.

Ligo meu celular com a playlist dos anos oitenta que costumo

ouvir quando estou pintando. Já antecipando as horas em que

minha mente poderá correr sem amarras, sorrio feliz por poder fazer

minha terapia semanal.

Algumas pessoas contratam profissionais para trabalhar seus


traumas. Com a bagagem que carrego, achei que talvez fosse uma

boa ideia, mas não funcionou para mim.

Tentei por um ano e a cada sessão eu voltava pior.

Dizem que terapia leva tempo para surtir efeito, mas aquilo

estava me machucando ao invés de me fazer bem.

Falar do passado era como reabrir a ferida a cada sessão e

finalmente após doze meses sem qualquer evolução, eu desisti.


Foi então que assisti a uma entrevista de uma mulher que

venceu a depressão. A cada palavra que dizia, eu me identificava

mais e mais.

Revelou como a terapia formal não funcionou para ela, também

e que então descobriu que não precisava conversar a respeito do

que a machucou no passado, apenas libertar a mente por algumas


horas. A cura viria com o tempo.
No meu caso, sei que a cura virá quando for feita a justiça para o

meu pai.
Ela contou que se voluntariou em um abrigo de animais, uma vez

por semana. Eu escolhi a pintura, algo que sempre amei fazer, mas
que deixei de lado nos anos de revolta na adolescência.
Uma hora e meia depois, eu me sinto leve, olhando os traços

aleatórios — que alguns chamariam de pintura abstrata, mas que


prefiro não conceituar — na tela à minha frente.

Até pensei em montar um estúdio no apartamento em que moro,


mas duas coisas me impediram: minha mãe ia perceber, quando

fosse lá, só de olhar para a minha pintura, que ainda há muito de


inconformismo dentro de mim com relação ao passado. A outra
razão é que vir aqui apenas uma vez por semana, faz desse lugar

especial. É o meu momento. Horas em que me desligo


completamente de tudo, até mesmo da ideia de vingança.

A música é interrompida pelo toque do celular e tomo um susto


quando percebo que é o que escolhi para Bryce.

Merda.
Até agora, desde que ele viajou, só havíamos nos falado por
mensagem. O que será que aconteceu?
— Louise? — pergunta com aquela voz quente como o inferno

quando eu atendo.
— Huh… senador, quero dizer, Bryce, como vai?

— Está sem fôlego?


— Corri para atender. Estava ocupada.

— Fazendo o quê?
— Já encerrei meu expediente, senador. Não tenho que
responder a isso.

— E acho que já lhe disse que meu conceito de expediente é


fluido.

Reviro os olhos e antes que possa me conter, digo.


— Eu estava pintando. Estou toda suja de tinta. Lembra de
quando lhe disse que precisava de ao menos metade de um dia por

semana, não importando se fosse domingo ou não?


— Lembro, sim.

— Então, é para isso. Eu pinto uma vez por semana.


Porque no céu estou lhe abrindo sobre algo que não contei nem

para Drake, não faço a menor ideia.


— Onde fica esse lugar?
— Já que estamos fora do expediente, vou lhe dar um conselho,

senador: deveria buscar tratamento para essa sua mania de


controle.
— Eu posso precisar de você e estar imersa na sua pinta. Como
a encontrarei?

— Pelo amor de Deus, nem sabia que eu pintava até cinco


segundos atrás. Faça de conta que estarei no cabeleireiro. Ou

fazendo as unhas. — Eu deveria parar por aqui, mas não resisto e


talvez mais tarde colocarei a culpa na insanidade temporária,
porque não é algo que se deve dizer ao chefe. — Ou que estou

fazendo depilação à brasileira[26].


— Você faz?

Ele sabe o que é uma depilação à brasileira?


Eu devo ser muito louca mesmo, porque fico com ciúme ao

constatar aquilo.
— Essa é uma pergunta inapropriada, senador.

— Infelizmente eu não posso lhe dar uma resposta à altura,


senhorita. Não estou sozinho. De qualquer modo, tenho uma
imaginação fértil.

Ele desliga em seguida e eu gostaria de dizer que me sinto


arrependida por abrir aquela porta de provocação sexual, mas seria

mentira.
Bryce consegue mexer com a minha libido só de respirar e por
mais que eu saiba o quanto é impossível haver qualquer coisa entre
nós dois agora que trabalho para ele, brincar não tira pedaço.
Capítulo 14

Desligo o telefone, tentando esconder um sorriso porque dois


membros do meu partido acabam de entrar em meu gabinete em

D.C.
Minha conversa com Louise seria um prato cheio para um
escândalo, mas trabalhar com ela, embora até essa ligação só

tenhamos trocado mensagens, é como receber uma injeção de

adrenalina na veia.
Até mesmo quando responde meus e-mails, por vezes posso

imaginá-la revirando os olhos ao digitar.


Louise é impertinente e provocadora não porque jogue, mas

porque é da natureza dela.


Totalmente compatível comigo.

Em um outro contexto, eu não pensaria duas vezes antes de

investir pesado até conseguir o que quero: suas coxas em cima dos
meus ombros, enquanto a como. Bater naquela bunda, metendo por

trás, segurando um punhado daquele cabelo vermelho nas mãos.

Merda.
A reunião mal começou e já está perdida.

Não há a menor chance de conseguir me concentrar, porque

tudo o que posso pensar é nela toda suja de tinta e que por baixo da
roupa — um vestido curtinho? Um shorts? — há uma boceta quase

sem pelos, esperando pela minha boca.


Porra!

— Está de acordo então com esse projeto sobre as creches para

mães que trabalham no turno da noite, senador? — os homens que

estão na minha sala perguntam, meia hora depois.

Limpo a garganta.

— Sim, claro — digo, me obrigando a focar no trabalho.


A proposta deles é realmente interessante. Há muitas mães solo

trabalhando no turno da noite e que não têm com quem deixar os


filhos.
— Contamos com seu apoio?

— Eu preciso de tudo detalhado. Enviem-me e lhes darei uma

resposta essa semana ainda.

Os dois homens se despedem e em seguida, Alfred entra.

— Tenho que dar meu braço a torcer — diz.

— Por que acho que está sendo irônico?


— Dessa vez, não. O que estou dizendo é que tinha uma má

impressão da filha mais velha de Cassius, mas Louise parece ser

uma boa moça.

Não é a primeira vez que ele fala dela desde que a contratei. Na

verdade, parece meio obcecado.

— Por que má impressão?

Ele parece desconfortável.


— Há rumores sobre ela durante a adolescência.

Levanto-me, me sentindo protetor com relação a Louise.

— Ela viu o pai ser morto aos doze anos incompletos, Alfred,

então qualquer que sejam os pecados dela na adolescência, tenho

certeza de que foi absolvida.

Ele não perde tempo.


— Isso significa que ela poderia ser uma candidata a esposa?
— Jesus, está parecendo minha avó, com ideia fixa em

casamento.
Ele esconde um sorriso.

Como pode ter adivinhado que Louise estava dominando meus


pensamentos?
Juro por Deus que o homem parece saber de tudo como um

maldito oráculo.
— O avião está esperando, senador. Hora de voltar para casa.

Estamos viajando de estado em estado há cerca de quinze dias,


em parte, já como estratégia de campanha visando a presidência,

mas também para ver se consigo votos para alguns dos meus
projetos.
— Mal posso esperar — digo.

— Algum motivo especial para querer voltar para o Texas?


— Estamos fora do expediente, né?

Ele dá risada, já antecipando o que virá, antes de acenar com a


cabeça.

— Nesse caso, vá para o inferno, Alfred.


Eu o conheço há tempo demais para saber que está atento em
tudo à minha volta e agora o foco dele passou a ser minha interação

com Louise.
Maldito homem enxerido.

Quarenta e cinco minutos depois, tiro o blazer do terno quando


entro em meu avião particular e aceito de bom grado a dose de

uísque que o comissário de bordo vem me oferecer.


Depois de dar um gole, seguro meu celular com força, lutando

uma guerra interna.


Talvez tudo o que deva fazer seja sair com uma mulher. Desde o
jantar em que contratei Louise, nunca mais estive com alguém.

Não faltaram ofertas. Com o meu currículo de devassidão, como


Mary Grace chama, recebo várias mensagens por dia de ex-

parceiras de sexo.
Entretanto, não quero outra que não seja a ruiva atrevida.
Eu me senti um adolescente ao ter ereções à noite no meu

quarto, lembrando a maneira como a calça de yoga que vestia no


dia em que treinamos se agarrava à bunda redonda.

A memória é o bastante para me convencer de que preciso ouvi-


la. O desejo mandando a prudência para o inferno.

O celular toca algumas vezes antes que ela atenda.


— Repita o que falou sobre sua depilação.
Louise ofega do outro lado da linha.

— Não me lembro — diz.


Eu poderia empurrá-la mais, mas resolvo deixar passar porque
estamos caminhando sobre areia movediça.
— Vai me deixar conhecer esse espaço que usa para pintar? É

um galpão?
— Não, um apartamento que comprei só para isso.

— Por que não o faz onde mora?


— Porque se tornaria algo comum. Vir aqui é especial.
— Me deixará conhecê-lo? — repito.

Não costumo pedir duas vezes. Na verdade, é raro quando


preciso pedir algo a uma mulher, elas geralmente se antecipam.

Com Louise, é como um jogo de caçador e presa.


— Por que quer conhecê-lo? Eu nunca trouxe alguém aqui.

— Agora minha vontade de ir em seu esconderijo aumentou.


Gosto dessa coisa de exclusividade.
— Você é tão mimado, senador. Está acostumado a ter tudo o

que quer.
— Não posso negar.

Eu não posso ter você e nunca quis tanto uma mulher na minha
vida.
— Eu vou pensar sobre isso. Não sou uma artista, se é o que

está pensando. Não vai encontrar pinturas dignas de Picasso. Esse


é o espaço que uso para me libertar.
— De quê?
— Não é de quê, Bryce, é de quem: de mim mesma.
Capítulo 15

No dia seguinte

Desperto assustada com o celular tocando e ao mesmo


tempo, sem saber direito onde estou, porque custo um pouco a

acordar.

Sento-me na cama em alerta e tateio a mesinha de


cabeceira, ainda de olhos fechados.

— Senhorita Whitlock?
Eu reconheço a voz do outro lado da linha, acho que é do

assistente de Bryce.

— Sim, sou eu.


— Aqui quem fala é Alfred Johnson. — Ele confirma minhas

suspeitas. — Precisamos que venha imediatamente para o


gabinete do senador Gray. Ah, e traga uma mala pronta. Iremos

para D. C.[27] ainda hoje. Um motorista estará esperando-a na


portaria do seu prédio.

Ele desliga sem falar mais nada e é toda informação que

preciso para ter certeza de que há algo muito errado.


Eu rompi a velocidade da luz no momento em que pulei da

cama, tomei banho e me vesti.

Como ele avisara, há um motorista à minha espera.


— Bom dia, senhorita Whitlock. Tomei a liberdade de lhe

trazer café. Há três tipos diferentes. O do copo bege é

descafeinado.

— Obrigada.

Nesse instante, eu poderia beijar o homem em


agradecimento.

Sou movida a cafeína e ainda é muito cedo para que meus

neurônios entrem em pleno funcionamento sem um estímulo extra.

Olho as inscrições no copo e escolho o café puro.

Dou um gole e quando o líquido quente desce pela minha

garganta, preciso conter um gemido de prazer.


Uma vez eu li, e claro que não levei a sério, que pessoas
capazes de tomar café sem açúcar tem tendência à sociopatia. Se

for verdade, sou uma. É como gosto do meu.

Segundos depois, já me sentindo um pouco melhor, coloco o

copo no suporte e abro meu celular para ver o que pode ter

acontecido envolvendo o nome de Bryce.

Ao invés de ir para sites oficiais do partido republicano, abro


o da emissora de tv que apadrinha o partido democrata.

Só de passar os olhos na manchete, um suor frio escorre

pela minha coluna e meu coração dispara.

Jesus Cristo!

Leio toda a matéria, sentindo meu estômago revirar e eu

nem sei identificar o motivo direito — se é por meu novo

empregador estar no olho do furacão ou porque...


Claro que é pelo prejuízo à carreira dele que está se

sentindo mal, Louise. Não seja tola.

Enquanto o motorista se aproxima do destino, tento fazer um

esboço mental de uma estratégia para contermos os danos, mas

por todos os ângulos que analiso a questão, o cenário parece

péssimo.
O que eles noticiaram pode encerrar de uma vez por todas

as chances de que Bryce alcance a Casa Branca.

Sinto-me tão agitada que quando o motorista finalmente

estaciona, eu nem o espero abrir a porta, seguindo apressada para


o gabinete do senador Gray.

No domingo anterior ao meu primeiro dia de emprego, ele


mandou entregar na minha portaria um envelope com crachás de
identificação para que o recepcionista me deixasse passar.

Também havia números dos telefones fixos de seus diversos


imóveis pelo país — em D.C. e Grayland, inclusive.

Enviou uma pasta com outras informações, tais como o ano


em que se formou na faculdade, seu desempenho como jogador de
futebol americano enquanto cursava direito — os eleitores amam

um político atleta — e também sobre o acidente que vitimou os pais


dele, levando-o a ser criado pela avó, Mary Grace Gray.

Talvez eu conseguisse tudo aquilo através de pesquisas na


internet, mas facilitou muito a minha vida receber o dossiê.
O pequeno gesto, de me dar suporte antes mesmo que eu

pisasse no gabinete pela primeira vez, me mostrou o quanto Bryce


pensa em tudo.

A secretária se levanta assim que eu entro. Deve ter sido


instruída para me levar até Bryce, já que é a primeira vez que

venho a esse andar. Sem o senador aqui, não haveria razão para
isso.
Após me cumprimentar rapidamente, abre a porta da sala

dele.
Eu estava esperando que no máximo Alfred estivesse

presente, então não consigo conter o espanto quando me deparo


com todos os irmãos do senador, assim como o primo, Wyatt.
Nos últimos quinze dias eu fiquei acordada até tarde

memorizando rostos e nomes dos parentes próximos de Bryce:


irmãos, primos, assim como as respectivas esposas.

Desisti da segunda geração, por ora, porque há muitas


crianças.

— Bom dia — falo.


Jesus Cristo, é muita testosterona envolvida.
Passo os olhos pelo grupo de cowboys sexies, todos de

expressão fechada.
Estão vestidos casualmente — jeans, botas, camisas com a
manga dobrada e os inseparáveis chapéus que os homens do
Texas não abrem mão de usar. Todos, sem exceção, poderiam

passar por modelos fotográficos tranquilamente.


Eu já os tinha visto em sites, mas cara a cara são muito mais

impressionantes.
Não sou muito de me prender à beleza, mas não se pode
negar que a família Gray foi abençoada pela genética.

Eles acenam com a cabeça apenas para mim, e


constrangida, foco naquele que me interessa.

Bryce tem o cabelo cheio desalinhado, como se tivesse


passado a mão por ele diversas vezes, mas apesar disso, veste o

terno de três peças, como sempre.


Os outros Gray são inegavelmente bonitos, mas há algo no
meu chefe que me atrai como nenhum outro homem já conseguiu.

Com as pernas trêmulas, mas fazendo meu melhor para


demonstrar segurança, ando até onde está.

Seus olhos estão focados em mim e uma sensação gostosa


se espalha pela barriga, mas me obrigo a manter a expressão
neutra.
— É verdade? — pergunto porque não há razão para dourar
a pílula. Se vamos formar uma equipe, Bryce precisará confiar em
mim.

Ele não responde, estudando meu rosto como se estivesse


em busca de uma resposta, não o contrário.

Eu o encaro de volta, sem conseguir entender a razão.


Claro que sei que ele está louco. Qualquer um no lugar dele
estaria, mas está me olhando como se esperasse que eu lhe desse

uma solução.

— O quanto está disposta a ajudar seu novo empregador,


Louise?

Não é Bryce quem fala comigo, mas o ex-governador,

Hudson, o irmão mais velho.

Volto-me para onde está.


— Eu não faço nada pela metade, senhor. A partir do

momento em que o senador Gray me contratou, me considero

parte do time.
— É bom ouvir isso. Então podemos anunciar o noivado de

vocês dentro de algumas horas.


Capítulo 16

— O quê? — ela pergunta com os olhos arregalados.

— Jesus, Hudson! — falo, dando um passo à frente porque


Louise parece prestes a desmaiar.

— A situação é grave, Bryce. Não há como mandar

mensagens subliminares. Não temos muito tempo para tentar conter

os danos.

Louise me encara e ao invés de me perguntar que porra de

ideia louca é aquela de noivado, questiona novamente:

— É verdade?
Sei que está se referindo ao maldito vídeo, que é o motivo de

estarmos todos reunidos hoje.

— Não. — Ela ainda me olha incrédula, então, mesmo

odiando oferecer informações porque não aceito me justificar para

quem quer que seja, continuo. — Eu não sou um santo, Louise. Se


dissessem que a filmagem fora feita em um quarto de hotel com

uma mulher com quem saí, poderia ser verdade. Entretanto, nunca

contratei prostitutas e mais certo do que o inferno é quente, nunca


estive com três mulheres ao mesmo tempo.

Ela não parece chocada, e sim, olha-me como se analisasse

meu rosto à procura da verdade. Eu nem pisco, então, segundos

depois, diz:

— Eu entendo a seriedade da situação. — Começa e para

quem teve um noivado jogado no colo há cerca de dois minutos,

parece relativamente calma. — Mas sua reputação já diz por si só,

Bryce.

— A reputação dele — Hudson acrescenta, se aproximando

de nós —, é péssima no que diz respeito às mulheres.

— Assim como a de vocês quando eram solteiros. —

Defendo-me, estranhamente sem jeito por eles me mostrarem como


um safado para ela, o que não é nada mais do que a pura verdade.

— É fácil provar que não é ele naquele vídeo. Há diversos

aplicativos hoje em dia de manipulação de imagens móveis

inclusive, mas um especialista conseguiria expor a fraude. — Minha

assessora pondera.

— Já entrei em contato com Odin Lykaios[28] — Jaxson

informa. — Ele é considerado o imperador da tecnologia da

informação. Já está trabalhando nisso e não duvido que em breve


conseguirá provar a verdade.

Na mesma hora em que a notícia saiu hoje pela manhã na

emissora de tv que apoia o partido democrata, meus irmãos e Wyatt

vieram me encontrar.

Jaxson foi o primeiro a tomar providências e procurar Odin.

— Sim, sabemos disso, mas sempre haverá aqueles que

acreditarão que sou eu no vídeo.

Sinto meu maxilar trincar de tensão e prometo a mim mesmo


que quem quer que tenha armado para mim, vai pagar.

— Bryce, essa história de noivado… é uma loucura. Nós mal

nos conhecemos.
— Já nos conhecemos há anos, Louise.

— Sim, mas pouquíssimo nos falamos nesse período.


Ninguém vai acreditar.

— Como jornalista — Alfred intervém —, deveria saber que


aquela frase de que uma mentira repetida mil vezes vira verdade

serve tanto para o mal quanto para o bem, senhorita Whitlock. O


bom povo do Texas está ansioso para que o senador Gray lhes

mostre sua escolhida.

— Sim, eu sei como isso funciona, senhor Johnson. O que


estou tentando dizer é que ninguém vai acreditar que com tantas

mulheres à disposição, Bryce escolheria justo a mim.

Faz-se um silêncio sepulcral na sala, todos os homens


presentes olhando espantados para ela.

— O que isso significa? — pergunto.

— Eu sou comum. — Ela pausa. — Além do mais, tem o meu

passado… meu pai…

— Você não tem nada de “comum”. Quanto ao resto, sei tudo

sobre seu passado, Louise e você não pode ser condenada pelos
pecados do seu pai.
Achei que aquilo fosse acalmá-la, mas ao invés disso, ela me

olha com raiva.

— Eu não me envergonho do meu pai, senador Gray. Não me

importo com o que falam dele. Eu sempre o amarei.

— Louise…

— Não, Bryce, escute-me. Definitivamente não sou a melhor


candidata. Sou combativa por essência, não uma boneca que sorri e

acena. Mesmo que eu fosse levar esse plano louco adiante, os


eleitores me odiarão.

— Senhorita Whitlock... — Hudson tenta novamente, mas eu


o interrompo.

— Não, ela já tomou uma decisão. Vou encontrar outra saída.


Está dispensada por ora, Louise.

— Não.

— Como assim, não?

— Você me contratou para ser sua assessora de imprensa.

São em momentos como esse que preciso auxiliá-lo.

A porta se abre novamente e a última pessoa que eu

esperava encontrar ali, surge: Dominika[29], a ex-assistente de


Hudson e esposa do meu irmão, Reed.

— Oi, boneca. Como soube que viemos para cá? — o marido


pergunta.

— Deixei o trabalho como assistente, mas continuo bem

informada, cowboy — diz, beijando Reed e depois dando um oi com


a mão para todos. — O que está acontecendo aqui?

— Hudson estava tentando convencer a senhorita Whitlock a

aceitar ser a noiva de mentira de Bryce, mas ela acaba de dizer não
— Alfred explica.

Dominika se volta para Louise.

— Muito prazer, Louise. Já nos vimos em algumas festas,

mas talvez não esteja lembrada de mim.

— O prazer é meu, Dominika. — Louise oferece a mão. —


Sim, estou lembrada.

— Agora que já ultrapassamos a formalidade, quer me

explicar a razão de não aceitar fazer parte desse noivado falso com
seu chefe?

— Ninguém vai acreditar. Não faço o tipo dele.


— Isso é besteira. Você é linda e faz o tipo de qualquer
homem com sangue correndo nas veias — ela diz o que todos nós
estávamos pensando. — O que mais?

— A história do meu pai é um empecilho. Ele é visto como


um vilão — diz. Reparo que ela usa é visto, como se não

acreditasse naquilo, o que me intriga. — Eu nunca vou renegá-lo.

— E nem Bryce esperaria que o fizesse, Louise. Família é um


conceito importante para nós. Respeitamos a lealdade. Ao vir

trabalhar para o meu cunhado, você é nossa agregada. Faz parte do

todo e é por isso que estou pedindo que reconsidere sua decisão.

Acho que ela vai dizer não novamente, então fico surpreso
quando pergunta:

— No que consistiria esse falso noivado?

— No óbvio: uma declaração em todos os meios de

comunicação hoje, assim como aparições públicas em eventos e


discursos de Bryce, o que não será um problema, já que você é

assessora de imprensa dele.

— Por quanto tempo?


— Até a poeira baixar — Dominika diz e depois de uns

segundos emenda. — Espera, você está em um relacionamento?

As bochechas de Louise ficam vermelhas.

— Não. Sou livre.

— Nossa, que alívio.

— Mas ainda não me sinto segura em concordar.

— Por quê? Não acredita na palavra de Bryce de que não é

ele naquele vídeo?

Louise volta a me encarar.

— Acredito, sim.

— Então aceite, pelo bem do país. Deus sabe que os


Estados Unidos estão precisando de políticos honestos. Quem fez

isso queria tirá-lo do páreo, Louise, porque sabe que se Bryce sair

como candidato, vencerá as eleições.


Capítulo 17

Antes que eu tenha a chance de responder, uma batida na porta


antecede a entrada da secretária.

— Senador Gray, o senador Cassius Stonebraker acaba de

chegar.
— Mande-o entrar — Bryce diz.

Quando a secretária lhe dá passagem, meu padrasto parece

surpreso de me ver aqui.


— Louise, filha — fala, vindo me abraçar e beijar antes de falar

com qualquer um — Não sabia que já havia começado a trabalhar


para Bryce.

— Oi, Cassius. Sim, nós nos encontramos para acertar os

detalhes no dia seguinte do jantar que você e mamãe ofereceram.


Já estou como assessora dele há duas semanas, mas como deve

saber, o senador estava viajando. Como vai?

Cassius faz uma cara de desgosto e acho que é porque agora


todos estão cientes de que não falo com frequência com meus

parentes.

— Melhor agora que vi você, amor. — Ele olha em volta. — Bom


dia, rapazes.

Caminha até onde Bryce está.


— Descobriremos de onde partiu isso. — fala, quando para em

frente a ele.

— Já está sendo providenciado, senador — Bryce responde,

estendendo a mão.

— Sim, eu imaginei que seu irmão o orientaria.

De algum modo, o que ele diz me irrita. Sei que Hudson é mais
velho e os Gray se protegem entre si. Ficou claro, por virem tão

cedo de Grayland para apoiarem Bryce, o quanto são unidos, mas


em momento algum o trataram com condescendência como Cassius
está fazendo agora.

Fico constrangida pelo comportamento do meu padrasto.

— De qualquer modo, vim trazer uma solução. Claro que

conseguiremos contornar a situação, mas como sabe, após anos na

política, a opinião pública é muito volátil. O eleitor muda de ideia em

um piscar de olhos.
Ele faz uma pausa como se quisesse que Bryce absorvesse as

palavras.

Ao invés de focar em Cassius, presto atenção no homem que

agora é meu chefe e, caso eu concorde com a ideia maluca, se

transformará em meu noivo de mentira. Ele não demonstra qualquer

emoção.

— Continue. — Bryce diz.


— O ideal para que sua reputação não seja manchada, será dar

a crer que está em um relacionamento estável. De modo que, o

melhor a ser feito é fingir um namoro de mentira com a minha

Emory. Ela é perfeita em todos os sentidos e também está acima de

qualquer suspeita. Linda, excelente filha e aluna exemplar do curso

de Belas Artes. Não precisa me agradecer.


Ele olha de Bryce para mim e sorri com aquele ar de

autoconfiança tão peculiar, mas eu não consigo devolver o sorriso.


O silêncio na sala é tão denso que daria para ser cortado à faca

e sei que todos os olhos estão em mim.


Sem pegar a dica do clima estranho, Cassius continua.
— Louise, sendo sua assessora de imprensa, poderá lhe dizer

que a escolha da irmã dela para fazer o papel de namorada não


poderia ser mais perfeita.

Agora eu finalmente o encaro. Cassius, ao contrário de todos os


Gray, incluindo o próprio Bryce, sequer me considerou como

alternativa. Por que o faria? Para ele e mamãe, apesar de tudo,


sempre serei a esquisita da família.
Eles sabem todos os meus segredos.

Olho para Bryce e ele cruza os braços no peito. Sei que espera
que eu tome uma decisão.

— Por que não pensou nela? — pergunto ao senador Gray,


ignorando todos à minha volta.

Ele não titubeia.


— Desde o primeiro momento, você foi a única alternativa.
Sei que é bobagem porque ele está apenas sendo prático, mas o

que diz mexe comigo.


Finalmente, crio coragem para falar.

— Não será necessário envolver Emory, Cassius. Bryce me


pediu para ser a noiva dele por um tempo e eu aceitei.

— O quê? — meu padrasto pergunta sem esconder o espanto.


— Foi para isso que a chamei tão cedo. — Bryce diz, como se

minha decisão não tivesse sido tomada naquele segundo. — Louise


é a melhor opção. Linda, inteligente e estará sempre ao meu lado,
de qualquer modo. Ninguém duvidará que nos apaixonamos.

O silêncio do meu padrasto se torna desconfortável porque está


claro até para o mais desatento dos observadores que ele pensa

diferente.
Entretanto, Cassius é, antes de tudo, um político, o que significa
que sabe a hora de recuar.

— Ah, nesse caso, estamos com mais de meio caminho andado


para a solução dessa questão desagradável. Bom, sabe que tem em

mim um amigo. — Ele me olha — Não considerei você porque


achei que não aceitaria, meu bem.

Nós dois sabemos que está mentindo.


Não importa o quanto eu tenha me revestido de camadas e
camadas de boa moça, para minha família, sempre serei aquela que

passou por um período de loucura.


— Eu prezo a lealdade, Cassius. Os Gray disseram que agora
faço parte da família e família, a gente defende não importa a razão.
— Claro que sim, meu bem. Bryce tem uma família incrível. —

Ele me dá um sorriso amarelo. — Virá para o almoço de domingo?


Você sabe que eu nunca vou ao almoço de domingo.

Eu o adoro, mas essa necessidade que tem de manter as


aparências realmente me irrita.
— Eu não sei ao certo ainda. O senador Gray voltou de viagem

ontem. Estarei à disposição dos horários dele.


Ele se aproxima e segura meu rosto.

— Eu às vezes esqueço que a minha garotinha cresceu. Perdoe


seu velho por ainda tratá-la como uma criança.

Beija-me a testa e então se volta para Bryce.


— Telefone-me a qualquer momento se precisar de alguma
coisa. — diz, puxando-o para um abraço. — E se descobrir a origem

do vídeo, não deixe de me avisar, embora eu tenha quase certeza


de que partiu dos democratas. Eles sabem que você está se

aproximando e que se for a escolha do nosso partido, nada o


deterá. A única arma é tentar destruir sua reputação.
— Já estou investigando. Obrigado por vir tão rápido. É bom ter

em você um rival e um aliado ao mesmo tempo — meu chefe


responde.
— Não sou um rival. Estou lhe dando passagem, Bryce. Eu servi
ao nosso país por muitos anos, mas estou cansado. Sonho com o

momento em que a coisa mais difícil que eu tenha que fazer será
optar entre pescar ou jogar golfe.

Depois que ele sai, Dominika para na minha frente.


— Boa decisão, Louise. Agora precisamos conversar sobre tudo
o que precisará para que se torne uma futura primeira-dama perfeita

aos olhos do público.

— Pensei que havia se aposentado do mundo da política,


Dominika — Hudson diz e detecto uma ponta de ironia na voz dele.

— Não ligue para ele — a cunhada de Bryce fala. — Não se

conforma de eu ter trocado meu emprego para me casar com Reed.

Rio do clima de camaradagem ao qual não estou acostumada,


mas ao mesmo tempo fico pensando se não fui muito impulsiva em

me oferecer para o papel de noiva fictícia.

Dominika não me deixa puxar outra respiração, porque já coloca


ordem na casa.

— Não estou querendo seu emprego, Alfred, mas temos que agir

rápido. Providencie a medida do dedo de Louise e compre o mais


exclusivo e chamativo anel de noivado que você encontrar. Em

seguida, temos que voltar para Grayland.


— Mas hoje é dia de semana. Pensei em irmos para D.C. para

fazermos o anúncio do noivado — o assistente do senador diz.

— Não. Os eleitores sabem que Bryce trabalha da fazenda às


vezes. Desmarque todos os compromissos dele. Quando o noivado

for anunciado, estaremos em família. Se a ideia é passar

credibilidade à imagem do nosso futuro presidente, nada melhor do

que estarmos todos reunidos, com Grayland como plano de fundo.


Capítulo 18

— O quanto está nervosa? — Dominika, a cunhada de Bryce,


me pergunta, assim que entramos na sala em anexo, onde ela me

chamou para uma conversa privada.

— De zero a dez? Onze.

Ela dá risada.

— Eu também estaria apavorada — diz, quando nos

sentamos em poltronas de couro. — Por que aceitou fazer parte

disso, Louise?
— Vocês me pediram… — começo, mas ela faz um gesto

com a mão, me interrompendo.

— Não parece do tipo que se deixa ser persuadida a fazer

algo que não deseja.

— E não sou, mesmo. — Suspiro. — Talvez eu tenha uma

veia justiceira em mim. Tentativas de difamação me incomodam


muito, para dizer o mínimo.

— Por causa do seu pai?

Hesito antes de responder. Primeiro, penso em negar, mas

desisto.

— Sim.

— Eu não acho que seu passado, até onde conheço, será um

problema. Se deseja mesmo ajudar Bryce, é a candidata ideal.

— Por quê?

— Além de vir de uma família tradicionalmente formada por

políticos, você é jornalista. Vai saber exatamente o que dizer e

quando calar, o que poupará muito o meu trabalho e o de Alfred.

— Vai tomar a frente nisso? Achei que havia dito que largou o

emprego em definitivo.
— Não tem nada a ver com o emprego, Louise e sim, em não
permitir que manchem o nome do meu cunhado. Não importa que

ele ainda não tenha assentado com uma mulher só, Bryce é honesto

e tem bom caráter. As pessoas que estão fazendo isso, têm

interesses escusos por trás. Eu falei sério lá dentro: somos unidos

ao ponto da obsessão e protegemos uns aos outros. Apesar disso,

se Bryce estivesse errado, eu lhe diria. Um Gray nunca mente. Eles


são brutalmente honestos.

— Eu acredito, mas preciso confessar que estou nervosa.

Além do fato de que nunca tive um namorado e não faço ideia de

como uma mulher apaixonada se comporta…

— O quê?

— Eu não sei como uma mulher…

— Não, estou dizendo sobre a parte de não ter tido um

namorado.

Sinto o rosto esquentar.

— Quis dizer namorado sério. Já beijei alguns rapazes, mas

tenho outras prioridades na vida.

— Hey, eu não quis ofendê-la.


— Não me ofendi, apenas me sinto… inadequada.

— Não é. Acredite em mim. Foi essa a razão, no entanto, que


eu quis que o anúncio do noivado de vocês fosse feito em Grayland.

Ficará muito mais à vontade em meio aos Gray.

— Acho difícil que um dia eu relaxe perto de outro ser

humano, Dominika.

Ela me estuda o rosto por um tempo.

— Você me lembra a mim mesma no passado, Louise. Não


sei qual é o seu problema com sua família, mas ficou claro hoje pela

interação com seu padrasto que eles favorecem sua irmã. — Abro a
boca, mas ela faz um gesto com a mão, me pedindo que a escute.

— Não quis ser indiscreta, apenas lhe dizer que não importa o que
tenham lhe feito, nós, seres humanos, somos capazes de nos

reinventar quantas vezes forem preciso.

— Eu sei disso.

— Não estou falando de fingir estar bem…

— Como sabe que eu finjo?

— Amor, você é mais tensa do que uma corda de violão. Eu


já tive sua idade e também vim de uma família tóxica.
— Oh!

— Perdoe-me se estou sendo enxerida, Louise. Hudson


sempre diz que fiquei com esse “defeito” da época em que era chefe

de campanha dele e precisava saber de tudo, mas o que estou


tentando dizer é que se precisar de alguém para conversar, estarei

aqui.

— Certo, então preciso lhe contar que tem algo me

incomodando: eu nunca fui vista com Bryce. Não vão acreditar que
estamos juntos há um tempo ao ponto de decidirmos ficar noivos.

Até porque, o senador não é exatamente um monge.

— Já pensei nisso. Vamos plantar a história de que estavam


se encontrando secretamente e que o relacionamento não era

exclusivo até que ele descobriu que não podia mais viver sem você.
Um verdadeiro conto de fadas: mulherengo mais velho domado pela

novinha.

— Jesus! — Eu rio tanto, que as lágrimas escorrem e ela

acaba rindo junto. — Você é engraçada, Dominika Gray.

— Agora, porque já estou há muito tempo casada com o

amor da minha vida e tenho filhos lindos, mas se tivesse me


conhecido no passado, não ia pensar assim. O que tem que manter
em mente, Louise, é que não importa o que lhe fizeram, o futuro, é
você quem decide como será escrito.

— Eu não posso demorar no telefone — falo, assim que

Drake atende.

— O que houve?

— Tem acompanhado as notícias? — pergunto e cinco


segundos depois, me sinto uma idiota. — É claro que tem.

— Sim, assisti ao vídeo. O mundo inteiro assistiu, aliás. Há


alguém querendo derrubar seu chefe.

— Como está certo de que não é Bryce na filmagem?

— Você acha que é?

— Não.

— Por quê?
— Ele me disse que não e eu acredito.

— Não é uma boa razão, Louise. Precisa manter a mente


sempre em alerta.

— Eu sei e não foi por isso que liguei, mas para contar que

hoje sairá a notícia de nosso noivado nos noticiários.

— O quê?

A voz dele denota tanto choque que se eu não estivesse

nervosa, seria capaz de sorrir.

— Bryce me pediu que fingisse ser noiva dele por um tempo,

para acalmar a opinião pública.

— Jesus, Louise! Isso pode complicar tudo. O plano era

mantermos em uma relação profissional.

— Se eu fosse você, estudaria melhor o resto da família,

Drake. Acabei de me encontrar com seis membros… sete, se contar

com Dominika, a esposa de Reed e acredite-me, não há como


separar profissional de pessoal quando se trata deles.

— Não acho que vá lhe fazer bem, Louise. Misturar as

coisas, quero dizer. Pode criar uma confusão na sua cabeça.

— Não acho que entendi.


— Não caia no erro de se apaixonar por ele. Bryce é um meio

para atingirmos um fim.

— Eu não vou usá-lo para estar próxima ao poder, Drake, e

sim, o cargo que ele me ofereceu.

— Nem eu insinuaria algo assim. Só não quero que fique de

coração partido no fim. Sabe da fama do senador Gray, Louise?

— Eu sei. Não vai acontecer. Agora preciso ir.

Depois que desligamos, fico satisfeita por Drake não me

perguntar as providências que Bryce pretende tomar em relação ao

vídeo. É por isso que o respeito tanto. Ele sabe que


independentemente do motivo que fez com que eu aceitasse o

cargo de assessora de imprensa, jamais compartilharei os segredos

do meu chefe.
Capítulo 19

Preparo-me mentalmente para fazer o telefonema mais difícil


de todos: para minha mãe.

O aparelho chama algumas vezes antes que ela finalmente

atenda.

— Mãe?

— Louise, que loucura é essa em que você se meteu dessa

vez?
Meu coração afunda. Mesmo que eu me sinta uma idiota por

não já contar com aquilo, ainda assim não consigo represar a


tristeza pelo tom que ela usa.

— Assumo que Cassius já falou com você.

— Por que insiste em chamar seu pai desse jeito?

Aperto o celular com tanta força que temo que parta em


minhas mãos.

— Ele não é meu pai, é seu marido. Eu tive um pai durante

onze anos.

— Teve sim, porque eu cometi um erro ao me casar com


aquele homem. Como pode defendê-lo, Louise? Além de quase ter

morrido por causa dele, ainda destruiu sua adolescência. A

transformou em uma desvairada.

Por dentro, estou gritando por ouvi-la falar do meu pai desse

jeito, mas se quero manter meu disfarce, não posso desmenti-la.

— Eu não liguei para brigar, mamãe.

— Não, ligou para dizer que ficará noiva do senador Gray.


Cassius também falou que, para ele, a candidata ideal para essa
jogada de marketing seria Emory. Linda como é, não duvido que
Bryce acabaria se encantando por ela de verdade.

Engulo tudo o que tenho vontade de dizer e respiro fundo.

— Tudo bem, mãe, deve estar certa. Infelizmente para vocês,

é a mim que Bryce quer para o papel de noiva fictícia. Eu nem


preciso dizer que a senhora não deve comentar nada com suas

amigas. Para todos os efeitos, estávamos nos encontrando

secretamente há um tempo, já. É provável que você e Cassius terão

que dar uma declaração.

— Não comecei na vida de esposa de político ontem, Louise.

Eu sei o que preciso fazer. Apesar de considerar a decisão do

senador de usá-la equivocada, não desmentirei a história. Sorrirei


para as câmeras e farei o papel de sogra feliz.

— Ótimo! Era apenas isso mesmo que eu queria falar. — Me

despeço, mas no último segundo antes de desligar, meu mau gênio

emerge. — Quanto a Emory ter perdido a oportunidade de bancar a


futura esposa perfeita, não se preocupe, mamãe. Há muitos

políticos solteiros e inseguros pelo país que preferem uma noiva

cuja única opinião é dizer se o papel de parede fúcsia ou o rosa-

claro fica mais bonito.


Desligo antes que ela continue falando, prometendo a mim

mesma que um dia, deixarei tudo isso para trás.

Eu sei que me excedi e que para cumprir meus planos e

limpar o nome do meu pai, não posso tornar esse tipo de


comportamento de hoje recorrente, mas não tenho sangue de
barata.

Mamãe é do tipo que diz coisas que machucam

profundamente enquanto mantém um sorriso doce no rosto e o dia


de hoje está sendo louco demais para ainda ter que tolerar as
maldades disfarçadas dela.

Duas batidas na porta me trazem de volta à realidade.

Eu meio que me escondi no banheiro privado do gabinete de


Bryce para telefonar para Drake e minha mãe, mas agora chegou o

momento de enfrentar meu novo chefe outra vez.

— Oi — falo para Dominika assim que abro. — Onde estão


todos?

— No corredor. Vamos para Grayland e você também. Bryce

está lhe esperando. A entrevista que darão será na casa de Mary


Grace, a avó dele, mas vamos aguardar para fazê-la ao fim do
expediente. Acho que vocês deveriam passar alguns dias na
fazenda. Mandei que um fotógrafo da minha confiança, que

trabalhou na campanha de Hudson, fique hospedado em Grayland.


Ele fará diversas imagens de vocês dois para retratá-los como um

casal feliz.

— Meu Deus, é realmente necessário isso tudo?

— É, sim. Uma reputação, como bem sabe sendo jornalista,


pode ser desfeita em um piscar de olhos, Louise. No mundo em que

vivemos, em que as pessoas julgam para somente depois irem atrás


da verdade, precisamos estar vários passos na frente.

— Você… huh… assistiu ao vídeo?

— Não, mas Reed me disse que em uma parte dão um close

no rosto e parece ser Bryce. Provavelmente o tal aplicativo que você


falou.

— Sim, é impressionante. Eu assisti uma entrevista em que a


pessoa mudava o rosto do entrevistado em segundos, por várias
vezes. É perigoso e assustador, também.

— Perigoso para ambos os lados porque se eu conheço

Bryce, ele não vai parar até pegar quem tentou prejudicá-lo. O que
acontece no mundo moderno é que às vezes as pessoas, para não
se aborrecerem, deixam para lá, não vão atrás dos direitos. Porque
se um imbecil fizesse algo assim e fosse punido, obrigado a pagar
uma indenização milionária por danos morais, aprenderia.

— Pode ser também porque a pessoa não queira se expor.

Nem todos lidam bem com holofotes. Eu odeio tecnologia e tudo o


que deriva dela. Se o que aconteceu com Bryce fosse comigo, eu

morreria de vergonha.

— E como lidou com o escândalo da morte do seu pai? — ela

pergunta, sem rodeios.

Penso se devo manter a máscara que uso para o mundo,

mas Dominika me deixa à vontade. Talvez pelo que me contou, que


já sofreu muito também, o fato é que eu me sinto suficientemente
segura para me abrir.

— Eu não lidei bem. Enlouqueci por um tempo.

— Não parece do tipo que enlouquece.

Dou um sorriso sem humor.

— Aprendemos a esconder bem quem somos.

Ela me olha, preocupada.

— Há algo que queira me contar, Louise?


Penso muito antes de falar, mas meu medo de prejudicar
Bryce acaba levando a melhor.

— Há um segredo. Algo sério.

— O momento de me dizer é esse. Se tivermos que lidar com

outro escândalo, melhor nos prepararmos, antes que a imprensa


descubra.

— Lembra-se da morte do meu pai?

— Lembro, sim — diz, constrangida.

— Não foi um segurança quem atirou no homem que o

matou. Fui eu.

— Como? Não há qualquer alusão a isso nas notícias do

assassinato dele.

— Meu arquivo está trancado. Eu só tinha onze anos.

— Eu sinto muito que tenha passado por isso. Deve ter sido

traumático, mas não é algo desabonador.

— Não?

Ela sacode a cabeça de um lado para o outro.


— Legítima defesa de terceiro. Seu pai. Foi uma atitude

corajosa e louvável, Louise.

— Minha família não viu desse jeito.

Não conto que não foi só em legítima defesa de terceiro, mas

da minha própria. Também não revelo que fiquei quase um mês

internada e na primeira semana, entre a vida e a morte.

— O que mais?

— Algumas besteiras que fiz na adolescência.

— Tipo o quê?

— Um dia eu bebi um copo de uísque e saí de carro. Cheguei


só até a esquina de casa e a polícia me parou.

— Não são crimes, são infrações de adolescente. No seu

caso, depois do que passou, é compreensível, até. São esses os

seus pecados?

— São, sim.

Ela sorri.

— Eu te absolvo, Louise. Você é praticamente uma santa

perto das pessoas com quem convivi. Minha família, inclusive. Um


dia, eu te contarei a história da minha vida.
Capítulo 20

A caminho de Grayland

Ela tenta agir com naturalidade no espaço restrito do helicóptero,

mas desde o momento em que entrou, seguida por mim e fechou o

cinto de segurança, aperta as mãos no colo para conter o

nervosismo.
— O que há de errado? — pergunto, quando o silêncio se torna

mais do que posso lidar.

Fui acordado por Alfred às quatro horas da manhã avisando-me

que esse maldito vídeo foi jogado na internet de madrugada e que


uma reportagem completa sairia na emissora de tv rival em poucas
horas.

Irritação nem começa a explicar o que estou sentindo. Se a

intenção deles era me fazer recuar ao me exporem, mexeram com a

pessoa errada. Um Gray, quando provocado, se prepara e ataca

com o dobro das forças.

Eu irei até o inferno, mas vou descobrir quem está por trás dessa
armação.

— Tudo. Estou apavorada, Bryce — ela finalmente responde. —

Como expliquei a Dominika, acho difícil que as pessoas acreditem

que estávamos juntos. Nunca saímos.

— Desde que entrei para a vida pública, jamais fui visto com

mulher alguma em eventos, Louise. Esse argumento, então, não

procede.
Ela me olha, parecendo surpresa.

— Por que não? Digo, por que não fez aparições públicas com

mulheres? Não seria nada de mais, já que é solteiro.

— Eu já não fazia isso antes, para início de conversa. Quando

era bem mais jovem, até posso ter sido fotografado com uma das

minhas namoradas, mas jamais as levei para dentro da família ou


dei a entender que nosso relacionamento era algo permanente.
— Para não se comprometer?

— Para não iludir, Louise. Eu não tenho uma reputação muito


louvável. Aos trinta e oito anos, sou um cara normal, com uma vida

sexual ativa — falo e observo seu rosto corar. — Entretanto, jamais


menti para minhas parceiras.
— Parceiras soa tão… frio.

— Não há outro nome para designar. Namoro talvez seja mais


bonito, mas totalmente inadequado, também.

— Por quê?
— Não acho que você queira saber disso.

— Eu não sou um cristal. Fale-me.


— As minhas saídas com mulheres, não envolvem conversas
profundas. Ambos sabemos o que queremos. Nos divertir e fazer

sexo. Não tem nada a ver com conhecer o outro, mas satisfazer
uma necessidade física.

— Você é um colecionador de corações quebrados, Bryce?


Não há condenação na pergunta. É como se estivesse exigindo

que eu fosse honesto, então é o que faço.


— Se me transformei em um, não foi de propósito. Sempre fui
sincero em minhas intenções. Não vejo qualquer satisfação em

magoar uma mulher.


— Não ache que estou querendo me meter na sua vida. Apenas

tentando entender o contexto porque, em algum momento, os


repórteres ficarão atrás de mim para saber detalhes tanto do nosso

relacionamento quanto do passado.


Suspiro, sabendo que ela tem razão, mas ao mesmo tempo,

estou exausto mentalmente.


— Não os alimente com respostas muito elaboradas. Deixe que
especulem. Mentiras são difíceis de serem mantidas porque

precisam ser memorizadas. Quanto menos você falar, melhor.


— Eu conversei com Dominika.

— Sim, eu sei.
— Eu revelei a ela fatos do meu passado porque não quero
prejudicá-lo.

— Sobre seu pai?


— Envolvendo meu pai, sim, mas especificamente sobre mim.

— Quer me contar?
— Não — diz. — Mas acho que devo. Não quero que seja pego

de surpresa por minha causa.


— O que é?
Não me sinto tenso sobre aquilo porque desconfio que seja sobre

o que Hudson revelou: o dia da morte do pai dela.


Imagino o quanto seja difícil para Louise relembrar algo assim e
saber que tem a intenção de fazê-lo apenas para evitar que me
peguem de surpresa, mexe para caralho comigo.

— O assassino do meu pai não foi morto por um segurança, mas


por mim. Fui eu quem atirou no homem que matou papai.

Eu poderia fingir desconhecimento, mas ela está sendo honesta,


então, merece o mesmo de volta.
— Eu sei.

Volta-se no assento para me encarar.


— Como é possível?

Não respondo, apenas a olho e depois de um tempo, algo como


decepção atravessa seu rosto.

— Você me investigou.
— Minha família o fez — falo, sem entrar em detalhes de que foi
Hudson. — Desde o momento em que Cassius se aproximou de

mim, eles investigaram todos os que estavam relacionados a ele. Eu


poderia me desculpar por essa atitude, Louise, mas não vou. No

lugar deles, teria feito o mesmo.


— É invasão de privacidade.
— Em algum nível, é sim, mas também é sobre tomarmos conta

uns dos outros.


— Pode usar o argumento que quiser, Bryce, ainda assim, vocês
investigaram minha vida como se eu fosse uma criminosa.
— Eu não vou me desculpar, Louise — repito. — Não teria feito a

pesquisa eu mesmo, mas entendo a preocupação deles. Quando


meus pais morreram, nos tornamos ainda mais unidos. Só tínhamos

como família uns aos outros e minha avó.


Ela olha para fora da janela do helicóptero.
— Se vamos conviver, agora mais próximos do que imaginei a

princípio, tem que saber que sou sempre honesto — continuo. — Eu

poderia ter fingido que não sabia que foi você quem matou o
assassino do seu pai, mas não é assim que as coisas funcionam

comigo. Prefiro a franqueza, mesmo que traga dor.

Ela me encara com os olhos magoados.

— Dor aos outros, né? Porque você, aparentemente, é


inatingível.

Ignoro o rancor em sua voz.

— Essa discussão não tem o menor sentido. Você começou com


esse assunto por uma razão — falo, me forçando a relevar o quanto

parece chateada e me apegar aos aspectos práticos.

Vejo-a respirar fundo para se acalmar e intuo que tenta controlar


o mau gênio.
— O quanto sabe de suas pesquisas sobre mim?

— Não são minhas pesquisas, como lhe falei. Ao menos, as


buscas profundas, não fui eu quem fez. Entretanto, joguei seu nome

na internet no dia em que a contratei. Não encontrei nada de mais.

O que sei a seu respeito é muito pouco. Na verdade, apenas que


matou um homem em legítima defesa do seu pai.

— Há mais — diz e seus olhos se tornam vazios, como se

estivesse a milhas de distância. — Como contei a Dominika, eu

enlouqueci por um tempo na adolescência. Não usei drogas ou fiz


sexo em público. Não se preocupe, senador. Apenas fui pega uma

vez dirigindo alcoolizada. Na teoria, todos os arquivos estão

trancados, mas depois do que acaba de me contar, acho que o


conceito de “segredo de justiça” não é mais correto.

Deixo passar a raiva em sua voz, embora saiba que tem razão

em se sentir chateada. O que Hudson fez foi mesmo invasão de


privacidade.

— Sobre o que me contou em relação a dirigir embriagada, se

não machucou alguém, são acontecimentos da adolescência. Todos

nós temos esqueletos no armário. No que diz respeito à morte do


seu pai, ter atirado no homem que o matou só faz de você uma

heroína.
Ela não fala mais nada até o instante em que o helicóptero pousa

na minha fazenda. Desço primeiro e vou ajudá-la.

Apesar de ainda parecer indiferente a mim, aceita minha mão.

— Bem-vinda a Rio em Chamas[30], Louise.


Pela primeira vez, a fachada de frieza cai.

— Oh, achei que estávamos indo para a Império Gray, a casa da

sua avó.
— Não. Vamos para lá mais tarde. Preciso dar uns telefonemas

antes.

— Eu também vou dormir aqui?

— Sim, você está comigo.


Assim que as palavras saem da minha boca, percebo que gosto

de como aquilo soa.

Devo estar ficando louco, porra!


Observo, sem entender, seu rosto desanuviar.

— Obrigada.

— Pelo quê? Achei que estava com raiva de mim.

— Sim, não passou ainda, mas obrigada por me trazer para cá.
Não sou boa em conviver com estranhos em um primeiro momento.

Não pego intimidade com facilidade.

Ela está me agradecendo por mantê-la ao meu lado?


A mulher definitivamente é um quebra-cabeça.

— Pareceu se dar bem com Dominika.


— Sim, para uso externo sou a pessoa mais sociável do mundo,

mas eu estava falando sobre ficar dentro de uma mesma casa.

— Eu sou um estranho também, Louise.


Ela me encara por uns segundos antes de dizer:

— Acredite, pela nossa interação nos últimos dias, é uma das

pessoas mais próximas a mim nesse instante. Minha família

incluída.
E assim, depois de me jogar aquilo em cima sem elaborar mais a

respeito, ela vira as costas e se afasta.


Capítulo 21

Eu não sei definir o que me causou ouvir Louise confessar,


mesmo ainda zangada comigo, que prefere estar aqui porque me

tornei mais próximo dela nos últimos dias do que sua própria família.

Acostumado a lidar com meus parentes, que são muitos e cujo


número aumenta cada vez mais, tenho certa dificuldade em

entender como a pouca interação que tivemos, no mundo dela, faz


com que sinta segura comigo.

Pegando a dica de que não se sente confortável em ambientes

desconhecidos, ao invés de deixar que minha governanta a leve até


o quarto em que ocupará enquanto estiver como minha hóspede,

resolvo eu mesma fazê-lo.


— Pode escolher qualquer uma das suítes — aviso, quando

chegamos ao corredor. — Mas se quer um conselho, fique com a do

lado da minha, há uma vista incrível para o rio.


Ela acena com a cabeça, concordando e abro a porta do quarto.

Não diz se gostou, mas vai até a janela e fica alguns segundos

olhando a paisagem lá fora.


— É esse, então? — pergunto.

— Sim… Isso aqui é — ela volta a me encarar —, bonito.

— Espetacular descreveria melhor essa vista, Louise.


Sei que a estou empurrando. O rosto dela está fechado e um

cara menos autoconfiante recuaria, mas não eu.


Ela suspira.

— O quarto é espetacular. Você, não. Eu ainda estou chateada.

— Sei disso, mas a não ser que tenha mudado de ideia sobre o

nosso acordo, teremos que superar esse desentendimento. Os

repórteres não são bobos. Eles prestarão atenção em nós, à

expressão corporal, inclusive, e se quando anunciarmos o noivado


mais tarde ainda parecer aborrecida, vão notar.
— Não vou trair você. Dei minha palavra de que o ajudaria e vou
até o fim com isso.

— Por quê? Esse seria o momento de me mandar para o inferno

e se vingar por minha família ter invadido sua privacidade.

— Eu não vou te trair — repete.

— Lealdade é importante para você, Louise?

— Lealdade é o meu norte, Bryce. Mesmo que eu esteja muito


zangada por você ter descoberto sobre a morte do meu pai antes

que eu tivesse a oportunidade de lhe contar, não vou virar as costas

para você agora.

Alguns minutos depois, sigo para meu escritório na fazenda


porque tenho uma chamada de vídeo com o único homem em quem

confio para provar que armaram contra mim: Odin Lykaios.

Apesar de não sermos próximos, ele é primo de um amigo de

Beau LeBlanc[31], o homem em quem meu irmão Jaxson confia. Só

isso para mim já seria o suficiente, mas tem também o fato de que
Odin é o maior especialista em tecnologia da informação do mundo.

A empresa dele, inclusive, presta serviços para o Pentágono[32].

Claro, há também alguns boatos sobre o passado obscuro dele,

mas já estou velho demais para acreditar em mocinhos. Cada um de


nós carrega dentro de si uma parcela de vilão.

— Odin — falo, assim que ele surge na tela.


— Bryce, como vai?
— Como você estaria no meu lugar?

— Puto. Mas vamos resolver essa merda.


— É um eleitor republicano, Odin?

— Não é um pouco tarde para me perguntar sobre isso?


— Talvez, mas só estou curioso.

— Sou apartidário[33]. Não dou a mínima para qual bandeira você


levanta. Sempre vou atrás de fazer com que a justiça seja cumprida.

— Pelos métodos convencionais?


— Acredite quando eu digo que não quer ouvir essa resposta,
senador. Vamos nos concentrar somente em limpar seu nome.

— Continue.
— Eu levei menos de uma hora para descobrir como o vídeo foi

feito. Já tenho o original, inclusive e vou soltá-lo na internet a


qualquer momento.
— Você? Não seria eu quem deveria fazer isso?

— Não estou muito inteirado do mundo da política, Bryce, mas da


mídia, sim. Se quer um conselho, mantenha-se distante e deixe que

façamos o trabalho sujo. — Ele pausa. — Soube que vai ficar noivo.
— Como pode…

Ele dá de ombros, parecendo nem um pouco constrangido.


— Gosto de saber onde estou pisando.
— Foi alguém da minha equipe?

— Não. Sua equipe é absolutamente leal. Eu já chequei todos.


— Por checar, quer dizer cavar a vida dos meus funcionários por

métodos não ortodoxos?


— Isso mesmo. Quanto a Louise, sua futura noiva…
— Eu não quero saber. Ela me contou tudo hoje mais cedo.

Cometi o erro de permitir que a investigassem antes. Não farei isso


outra vez.

— Não é nada desabonador. Ela está limpa.


— Então não temos porque falar dela.

— Certo, vamos voltar ao vídeo. Não foi feito por alguém que
estava interessado em te envergonhar, apenas. Foi coisa de
profissional.

— Como assim?
— Muitas vezes, em caso de tentativa de difamação, um imbecil
pega um vídeo na internet e troca o rosto do original por o daquele a
quem quer destruir.

— Mas isso seria muito fácil de provar.


— Sim, seria, mas as pessoas atualmente não se incomodam em

verificar a verdade, senador. Elas vão repassando o que assistem


sem se preocuparem com quem estão prejudicando. O ser humano,
em sua maioria, é mesquinho e se regozija em ver alguém ter a

reputação destruída, principalmente se essa pessoa for bem


sucedida.

— Certo, você me convenceu. O fodido mundo é um lugar lindo


de se viver.

— Não é? Enfim, o que estou tentando explicar é que no seu


caso, o esquema foi planejado e feito por um profissional. Não foi
um vídeo qualquer, partiu de alguém que se deu o trabalho de criar

cenas com atores reais, em um quarto de hotel.


— O quê?

— O que assistiu não era um vídeo verdadeiro de um cara


fodendo três mulheres, mas quatro atores atuando a mando de
alguém. Eu já consegui identificar um por um. O único problema, é

que eles sumiram do mapa. Estou tentando descobrir quando o


vídeo original foi gravado, mas se quer um palpite, não é de agora.
Alguém estava guardando essa carta na manga para te pegar.
Sugiro então, que olhe à sua volta.

— Já estou fazendo isso. Não tem como descobrir de onde


partiu?

— Sim, eventualmente descobrirei, mas como disse antes, foi um


esquema profissional e ainda não consegui rastrear a fonte porque o

vídeo foi postado inicialmente na dark web[34]. Identifiquei um

servidor[35] na Rússia, mas até agora não obtive confirmação se foi

um dos grupos de hackers que já enfrentei no passado.

— Uma guerra entre hackers, você quer dizer — falo, porque sei
que, bilionário ou não, ele se diverte brincando de ser Deus com as

informações que obtém.

Não tenho dúvidas de que Odin atravessaria a linha do legal em


um piscar de olhos se fosse de seu interesse, embora não seja o

que eu quero. A única coisa que preciso é descobrir quem tentou

me destruir. Quando eu der o troco, será usando os métodos da

justiça.
Ele dá um de seus raros sorrisos.

— O mundo está em guerra o tempo todo, Bryce. Algumas

pessoas é que são moralmente maleáveis e mudam de lado quando


lhes convêm.

Nós estamos falando por um telefone seguro, assim como a rede.


Há muitos anos, Odin cuida da parte de tecnologia tanto de nossas

empresas, como pessoais.

Assim, eu me sinto confortável para perguntar.


— E de que lado está?

— Do meu. Sigo sempre minha própria mente, Bryce. Vivo de

acordo com minhas regras. Eu nunca troco de lado, se é isso o que

o preocupa.
— Não é. Se fosse o caso, não estaríamos tendo essa conversa.
Capítulo 22

Estou subindo a escadaria que leva ao andar dos quartos, para

avisar a Louise que devemos ir para a casa da minha avó, quando,


antes mesmo de pisar no primeiro degrau, a vejo parada no alto.

Tento não demonstrar espanto enquanto observo-a em um

vestido preto, de saia rodada, na altura dos joelhos e sem mangas.

Os cabelos estão soltos e parecem selvagens, combinando muito

mais com a personalidade dela do que os penteados elaborados

nos quais já a vi.


Hoje pela manhã ela estava de terninho, com um coque preso na
nuca e linda como sempre, mas essa Louise aqui é ainda mais

irresistível.

Ela parece jovem e livre.

— Alguém mandou entregar — diz, apontando para a própria

roupa. — Foi Dominika quem providenciou. Também disse que eu

deveria usar o cabelo assim. Ela pensa em tudo.


Parece inquieta e sem jeito e aquilo me deixa ligado.

Louise é insegura em relação à própria aparência? Como é

possível? É uma das mulheres mais bonitas que já vi.

— Você está linda — digo quando estou dois degraus abaixo

dela, nossos rostos, dada à diferença de altura, alinhados.

— Não precisa me elogiar.

— Preciso sim e vou fazer isso muitas vezes. Você será minha
noiva.

— De mentirinha — diz, baixinho.

— Ainda está brava?

Ela dá de ombros.

— Estou sempre zangada com alguma coisa. A raiva é um

motivador.
— E por que precisa de um?
— Todos nós precisamos de um objetivo.

— Não estava falando sobre objetivos, e sim, sobre um


motivador. O que a motiva, Louise?

— O medo de esquecer.
— Esquecer do quê?
— Não do quê, é de quem: meu pai. Eu não quero esquecê-lo.

Todos já o fizeram. Ele só tem a mim agora.


Jesus Cristo, a mulher tem a capacidade, com meia dúzia de

palavras, de me fazer querer protegê-la do mundo. Nesse instante,


Louise não parece a ruiva atrevida que sempre me deu respostas

atravessadas, e sim, uma garota solitária e vulnerável.


— Quer falar a respeito?
Ela balança a cabeça de um lado para o outro, fazendo que não.

— Eu não sei se consigo fazer isso, Bryce.


— O quê?

— Fingir estar apaixonada. Eu não sei qual é a sensação.


— Nunca se envolveu com alguém a sério?

Ela hesita antes de responder, desviando os olhos dos meus.


— Não.
— Então somos ambos estreantes no papel.

Subo mais um degrau e agora uma distância mínima nos separa.


— Tenho medo de fazer tudo errado — diz.

Diabos, há algo na mulher que rouba todo pensamento racional


do meu cérebro. A proximidade com Louise me transforma em um

ser primitivo e todos os meus instintos de macho entram em ação.


Eu adoro sexo e o faço com frequência, mas jamais tive uma

reação tão visceral a uma mulher.


Sempre me senti assim em torno dela, mas a vulnerabilidade que
está deixando vir à tona mexe com algo mais que eu não sei

identificar.
Sem pensar no que estou fazendo, seguro sua mão. A intenção

era fazê-la entender que só por ter aceitado participar do plano já


me ajudará muito, mas do mesmo modo que aconteceu na
biblioteca da casa de Cassius, no segundo em que as peles

encostam, nossos olhos se buscam e eu sinto como se o sangue


em minhas veias estivesse em ebulição.

Eu deveria soltá-la, mas não o faço. Ao contrário, sobreponho a


outra mão.

— Do que tem medo?


— De que eles notem.
— Notem o quê, Louise?
— Como posso estar apaixonada se não sou do tipo que abraça?
Se me custa até mesmo estar próxima a alguém?
— Estamos próximos. Sente vontade de se afastar?

Olho o movimento da garganta dela quando engole em seco. Eu


não sei se ela percebe que está olhando para a minha boca, mas

sou experiente demais para deixar passar algo assim.


A Louise segura, aquela que eu desconfio ser uma espécie de
capa protetora que usa contra o mundo, desapareceu. Ela está se

mostrando, descascando as camadas como uma doce tentação,


justamente em um dos momentos mais conturbados da minha vida.

Em um dia em que eu deveria estar absolutamente concentrado


na declaração que daremos daqui a pouco — na verdade um

pequeno vídeo para ser solto nas redes sociais —, tudo o que penso
é em puxá-la para os meus braços e provar sua boca.
— Não, eu não sinto vontade de me afastar de você — responde,

depois do que parece uma vida.


A voz soa rouca, como se lhe custasse admitir aquilo.

Subo o último degrau e agora, estamos com nossos corpos


quase colados. A respiração dela encurta, o esforço para puxar o ar
fazendo os seios subirem e descerem contra o tecido do vestido.

— Mas isso é… — começa — estarmos tão perto é inapropriado.


— Eu sei. Mas não foi isso que perguntei, Louise, e sim se minha
proximidade a incomoda.
Sei que estou invadindo seu espaço pessoal. Nunca me impus a

uma mulher, mas por outro lado, ela poderia me mandar parar a
qualquer momento. Ao invés disso, o corpo inclina para a frente,

como se não pudesse se controlar.


Somos dois.
Cada músculo meu reage à quentura dos dela. A mulher emite

ondas, como em um chamado silencioso, me seduzindo mesmo

sem qualquer esforço.


— Sua proximidade não me incomoda e mesmo que o fizesse,

preciso me acostumar com isso.

— Disse que não tem hábito de abraçar. Precisamos treinar

porque devemos fazê-lo em público, eventualmente.


— Eu sei — responde quase que em sussurro.

Trago sua mão, que ainda seguro, para o meu peito.

— Toque-me, Louise.
Ela me olha através dos cílios, mas ainda não se move.

Eu a puxo de leve, trazendo-a para mais perto, mas ainda deixo

espaço para que recue se desejar.


— Faça. — Minha voz soa dura, como em um comando, porque o

desejo causa um latejar doloroso em meu corpo.


Eu poderia facilitar sua vida, mas minha intuição diz que ela é

como um animalzinho arisco, e que se eu der o primeiro passo,

fugirá.
Ela se aproxima lentamente e o corpo pressiona de leve no meu.

Uma espécie de corrente elétrica nos atravessa. Quando nos

encaramos, ela tenta recuar, mas sou mais rápido e passo o braço

em volta da cintura fina.


— Bryce…

— Não estamos fazendo nada de errado. Encare como um treino.

Os repórteres estarão prestando atenção em nossa linguagem


corporal.

— Sou tensa.

— Deixa eu melhorar isso, então.


Eu moldo meus músculos contra as curvas dela.

Não há qualquer espaço entre nossos corpos e a vibração entre

nós dois é quase violenta.

As bocas pairam bem perto e eu sei que o momento de pensar


com clareza se perdeu. Eu preciso prová-la.

— Senador, cheguei! — Ouço a voz de Alfred.


Louise se solta de mim como se tivesse sido picada por um

escorpião, fugindo para longe.

Desce as escadas quase correndo e sem olhar para trás.


Acho que não faz a menor ideia de para onde está indo, mas o

choque pelo que ambos sabemos que iria acontecer a deixou em

pânico.

Eu queria ser um homem melhor e dizer que me arrependo por


ter deixado as coisas entre nós irem tão longe, mas não sou

mentiroso.

Não foi a última vez que tive Louise em meus braços.


Eu a desejo e a terei.
Capítulo 23

— Os abutres estão sentados na arquibancada, guardanapos no

colo, esperando de garfo e faca para devorá-lo — Alfred diz para

Bryce.
Estamos do lado de fora do veículo que nos levará até a fazenda

Império Gray. Depois que Alfred chegou, Bryce pediu licença e foi
trocar o terno por algo mais casual.

Quando voltou, eu precisei conter um suspiro.

Eu nunca o tinha visto de jeans e fiquei meio que hipnotizada

pela maneira como o tecido delineia as coxas grossas e a camisa


xadrez se estica nos braços fortes.

Ele também está de chapéu e gostaria de saber se foi por


orientação de Alfred e Dominika ou se em Grayland ele se veste

assim mesmo.

— Não vai acontecer — Bryce responde com total segurança. —


Além do anúncio do noivado, daqui a pouco o vídeo que forjaram

contra mim será jogado na internet, mas dessa vez, com os

protagonistas reais daquele pornô de quinta.


— Descobriu quem são as pessoas, então? — pergunto.

— Sim.

— Deveria ter me falado, Bryce. Como sua assessora de


imprensa, preciso estar a par desse tipo de coisa.

— Eu planejei te contar, mas acabei me distraindo quando nos


encontramos — diz, os olhos intensos brilhando para mim, me

fazendo lembrar que se não fosse a interrupção de Alfred,

provavelmente teríamos nos beijado.

Jesus, onde estou com a cabeça?

Faz apenas algumas horas que cheguei em Grayland e já não me

reconheço mais. Esqueci-me completamente do que havia


prometido a Drake: não misturar meus objetivos, não esquecer a

razão de ter vindo trabalhar para Bryce Gray.


— Se o vídeo real será revelado hoje, por que precisamos
continuar com essa história de noivado? — pergunto.

É Alfred quem responde:

— Porque sempre haverá aqueles que não acreditarão que era

um vídeo manipulado. Bryce se manter em um relacionamento sério

por um tempo, principalmente um noivado, dará validação a essa

ideia de que armaram um complô para prejudicá-lo.


Penso no que está dizendo.

— Acho que faz sentido — falo. — Na verdade, podemos usar a

própria tentativa de difamação como uma arma contra eles. Se

plantarmos a ideia de que eu e Bryce estamos juntos para valer,

com intenção de casamento inclusive, isso pode consolidar a

escolha dos republicanos para que ele seja o candidato. Pelo que

acompanho do partido, não duvido que já haja nesse instante um


grupo pensando em varrer o nome dele de uma possível disputa.

Não podemos deixar acontecer.

— Por que se importa? — Bryce pergunta, parecendo tenso.

— Porque somos um time — digo sem titubear e antes que

consiga me parar, completo. — E porque não me agrada a ideia de

que meu futuro marido seja acusado injustamente.


Era para ser uma piada, mas ele me olha sério, sem sorrir.
Não costumo me expor, então, sem jeito, desvio o olhar e me

despeço de Alfred.
Segundos depois, Bryce toma assento ao meu lado. Fecha o

cinto de segurança e após arrancar com o carro, diz:


— Eu ia te beijar lá dentro.
Mordo o lábio sem saber o que responder e quando falo, peso as

palavras com cuidado.


— Ainda bem que ele chegou, então. Nos envolvermos seria um

erro.
— Eu sei. Não disse que seria uma decisão racional, e sim, que

eu ia te beijar.
— Por quê?
Ele não desvia os olhos da estrada quando responde.

— Porque eu te desejo. Sempre te desejei.


Meu coração dispara.

— Eu…
O telefone do veículo toca, interrompendo-me. Ele atende no

viva-voz.
É um membro do partido, se solidarizando com a situação e
oferecendo apoio.
Bryce agradece, mas não demonstra qualquer entusiasmo pela

oferta.
Enquanto conversa, tento focar na paisagem lá fora, mas dentro

de mim, há uma revolução acontecendo.


Como vou sobreviver meses ao lado dele se nossos corpos

reagem de forma enlouquecida um ao outro?


Ele não deveria ter esse poder sobre mim. Bryce é um
mulherengo arrogante e nenhuma dessas características me

encanta em um homem, então, por que quando estamos perto, não


consigo parar de tremer?

Por que minha pele esquenta como se estivesse febril?


Por que o centro das minhas coxas pulsa, em uma necessidade
desconhecida?

Não, isso é uma mentira. Eu sei o significado de cada reação que


ele me provoca: desejo carnal.

Foco, Louise. Concentre-se no que Drake falou.


Assim que essa questão do vídeo for resolvida, manterei nosso

noivado falso exatamente no lugar em que ele deve ficar: apenas


para uso externo, alimentando a necessidade da imprensa e
acalmando o clamor público.
Se tudo sair como eu e Drake esperamos, em poucos meses
conseguirei saber os nomes de quem ordenou a morte do meu pai.
Ele já tem uma pista, mas disse que não me revelaria nada até ter

certeza.
Quando os verdadeiros culpados forem punidos, finalmente

estarei livre para viver minha vida.


Recomeçar — ou começar, dependendo do ponto de vista —
minha história longe da família e dessa capa de perfeição que fui

obrigada a usar nos últimos cinco anos.


— Está calada — diz, me olhando.

Eu não havia reparado que já encerrara a ligação.


Olho para as mãos enormes segurando o volante, os braços

musculosos e depois para o rosto perfeito.


— Estou pensando.
Meu estômago contorce em agonia com o que vou dizer, mas

devo ser honesta ou quem estiver nos observando descobrirá essa


farsa em tempo recorde.

— Em quê?
— No que aconteceu na sua casa. Não devemos deixar as coisas
irem longe demais, mas como bem apontou, seremos observados.
Eventualmente, terá que me tocar e eu não posso pular cada vez
que isso acontecer.
— Você não “pulou” quando eu te toquei.

Sinto meu rosto esquentar porque ele não está dizendo nada
além da verdade.

— Está me provocando?
— No momento, não. Continue o que estava dizendo, Louise.
— Precisamos criar uma espécie de código quando for fazer isso

para que eu possa… huh… me preparar.

Para minha surpresa, ele dá seta e em seguida, para no


acostamento.

— O que está fazendo?

Vejo que os guarda-costas que nos seguem nos dois carros

pararam também.
— Bryce? — insisto.

Ele solta o próprio cinto e meu coração quase sai pela boca

quando se inclina sobre mim.


Sinto o calor de sua respiração e também seu cheiro delicioso.

Fecho os olhos por um segundo, para tentar me acalmar, mas

quando torno a abri-los, o que vejo nos dele só piora minha


necessidade.
As pontas dos meus seios incham e uma pressão se constrói em

meu baixo ventre.


— O que está fazendo? — repito a pergunta.

— Dando continuidade ao que começamos lá em casa.

Ele vai me beijar?


— O que isso significa?

— Vamos gravar um vídeo dentro de pouco tempo, Louise. Eu

vou ter que te abraçar em frente às câmeras. Precisa estar pronta

para o meu toque.


— O que tem em mente?

Ao invés de me responder, ele solta meu cinto e coloca meus

dois braços em volta de seu pescoço.


Os rostos estão colados e por mais que eu saiba que é errado,

contraditoriamente, também não é o bastante. Assim, ao invés de

afastá-lo, deixo meus dedos correrem pelos cabelos grossos.


Um som como um grunhido sai do fundo de sua garganta e tento

recuar.

— Não. Continue.

— Só para me acostumar. — Minto.


— Sim, eu sei. Estamos treinando.
Roço a bochecha contra a barba dele e preciso morder o canto

interno da boca para não gemer, porque é gostoso demais.

— Tem que chegar mais perto, Louise.


— Como?

Antes que eu possa adivinhar o que pretende, ele me puxa para o

colo, me fazendo montá-lo de frente.


Capítulo 24

Não há espaço entre o volante e as minhas costas. Eu fico imóvel

porque consigo sentir a rigidez de seu sexo embaixo de mim e o


ardor no vértice entre as minhas coxas intensifica.

— Acho que é o bastante — digo, morrendo de medo de que meu

corpo me denuncie.
— Ainda não. Se em público, eu fizer isso — fala, passando a

mão aberta em minha coluna, me fazendo estremecer —, vai se


afastar?
Minhas pálpebras se fecham instintivamente, tentando aproveitar

melhor a carícia.
— Olhos em mim, Louise.

— Não gosto que me deem ordens — reclamo, tentando cavar

qualquer resquício de racionalidade.


— Eu sei e por isso mesmo é tão delicioso fazê-lo.

— Não pode me tocar assim em público.

Toque-me assim o tempo todo — meu corpo implora.


— Por que não? É minha noiva. Mostrará ao mundo o quanto

estamos apaixonados. Vem cá.

Ele me encaixou tão bem em seu sexo que agora consigo sentir a
espessura grossa e o comprimento.

Deus, o homem deve estar tentando me matar.


— Estamos em plena luz do dia. O objetivo é conter um

escândalo, não criar outro — pondero, embora a última coisa que eu

deseje seja me afastar.

As mãos dele escorregaram para meus quadris e o apertam, me

puxando contra seu corpo. Em resposta, cravo as unhas em seus

ombros.
Ele ergue a cabeça para me olhar e o azul de seus olhos me

queima.
— Já acha que pode ser tocada e me tocar sem sentir medo?
Aquilo me faz voltar à realidade e saio de seus braços, sentando-

me outra vez no banco do passageiro.

Olho para a frente.

— Eu não sinto medo de nada.

— Nem de mim?

— Você não me assustou. Sentiu desejo porque tinha uma


mulher no seu colo.

Ele se inclina para fechar meu cinto.

— Vou assumir que estamos falando livremente, e não no papel

de senador e assessora de imprensa.

— Agora você se lembra de quem somos?

— Você lembrou quem era quando estava fincando as unhas nos

meus ombros? Quando seu corpo estava pulsando sobre o meu?


Sinto falta de ar de tanta vergonha.

— Percebeu?

— Sou homem e adoro sexo, Louise. Seu corpo estava me

enviando uma mensagem. Uma tão antiga quanto o Universo. Nós

nos desejamos.

— E não foi exatamente isso o que eu disse? Você ficou… huh…


excitado porque tinha uma mulher atraente no seu colo.
— Errado. Fiquei louco de tesão porque era você no meu colo.

— Não acredito nisso.


— Eu tenho uma camada polida, Louise. Um verniz de

refinamento porque sou um advogado e também senador, mas


embaixo, sou um animal guiado por instinto.
— O que isso significa?

— Não está pronta para me ouvir em meu modo cowboy, menina.


Acredite em mim.

— Eu não sou tão imatura assim.


Ele me encara antes de começar a dizer:

— Eu já estive com várias mulheres na mesma posição em que


se encontrava agora no meu colo, mas não sou um garoto, sou um
homem. Sei me controlar. Por nenhuma vez no passado, senti

vontade de rasgar a roupa delas, e trazê-las para sentar com força


no meu pau.

Perco o fôlego com a crueza das palavras, mas também sinto


minha calcinha encharcar na mesma hora.

— Se não fôssemos quem somos, eu teria dado meia volta com o


carro e te levaria novamente para minhas terras. Eu te comeria a
noite inteira, fazendo você gritar meu nome cada vez que gozasse.
Sinto a boca seca, a cena se desenhando em minha mente como

em um filme, o corpo implorando para que ele cumpra a promessa.


— Não podemos.

Ele parece surpreso.


— O que foi? — pergunto.

— Não negou que me quer — diz.


— Não sou uma mentirosa, Bryce.
Não no que diz respeito ao que ele me faz sentir, ao menos,

porque não posso me esquecer de que em algum nível, estou


enganando-o sim.

— Não, você é… — começa, mas o telefone toca outra vez no


viva-voz.
— Oi, cunhado. — Ouço a voz de Dominika dizer assim que ele o

toca para atender. — Está dirigindo, vindo para cá com Louise, né?

Então, peça para ela acessar o site do Washington News[36] assim

que desligarmos. Vai gostar da surpresa. Esse Lykaios não brinca


em serviço. Beijos, vejo vocês em breve.

Sei que a Washington News é a emissora que apoia o partido


republicano, então, pego meu próprio celular e acesso o site.

Clico no botão das notícias da última hora e o nome de Bryce


aparece lá no alto.
“Após o vídeo bombástico que foi amplamente divulgado hoje
cedo de forma irresponsável por uma emissora e vários sites da

internet, na qual aparentemente o senador Bryce Gray encontrava-


se em uma situação íntima com mais três mulheres, que nas

filmagens referiam a si mesmas como acompanhantes de luxo,


temos agora não só a confirmação de que se tratava de uma fraude
com o rosto do senador sendo modificado através do aplicativo My

fake face[37], como também a real identidade dos participantes.


Todos são atores, sendo que duas das mulheres, inclusive, já

protagonizaram filmes adultos.


Nós da Washington News, jamais acreditamos que o senador

Gray, que provém de uma família texana tradicional e segundo se


fala nos bastidores é a aposta dos republicanos para disputar as

próximas eleições para presidente, estivesse envolvido em algo


tão…”

— Pode parar de assistir. Já temos o suficiente — ele pede, antes


de ligar o carro.

— Não parece satisfeito.


— E não estou. Isso aí — diz, apontando para o meu celular —, é
somente para acalmar a opinião pública. Entretanto, não muda o
fato de que acabam de me chamar para a briga. Sei que a maioria

dos políticos, uma vez provado a fraude, deixaria para lá. Eu não
sou a maioria dos políticos. Quem tentou me expor, será exposto.

Eu não vou parar até pegar um por um.


Capítulo 25

— Olá, minha filha. Você deve ser Louise — minha avó


cumprimenta-a com seu jeito informal assim que estaciono.

Não nos falamos ainda depois que o vídeo foi lançado na

internet, mas pela expressão em seu rosto, sei que está com raiva.
Vovó, apesar de ser a pessoa mais acolhedora e generosa que

eu conheço, como todos nós Gray, tem um gênio infernal e não


admite que pisem em seus calos.

Mexer com qualquer um de nós é como declarar guerra à nossa

matriarca.
— Oi, senhora Gray. É um prazer conhecê-la.

Percebo o quanto Louise está se sentindo deslocada e isso me


faz querer protegê-la ainda mais. Em contrapartida, não vou tratá-la

como um bebê. É uma mulher de vinte e três anos, então deixarei

que caminhe sozinha.


— Nada de “senhora Gray”. Chame-me de vó ou Mary Grace, fica

a seu critério.

Ela acena com a cabeça e não faz nada para se afastar quando
vovó vem para perto e a abraça.

Depois de soltar Louise, vira-se para mim e também me puxa

para um abraço.
Mary tem uma estrutura frágil e é baixinha, mas quando abraça

alguém, você se sente protegido contra o mundo.


Eu posso ter cem anos e ainda assim mexerá para cacete o

modo como ela diz, sem precisar de palavras, que ficará tudo bem.

— Não vamos deixar isso passar, Bryce — diz, não tenho dúvida

de que se referindo ao vídeo.

— Eu sei, vó.

— Ninguém mexe com um Gray e sai impune. Não me importaria


se você fosse às urnas e perdesse em uma eleição legítima, mas

tentar prejudicá-lo de maneira tão vil é imperdoável.


Aceno com a cabeça, concordando, porque já esperava essa
reação por parte dela.

— O menino Lykaios é meu novo herói — fala.

— Já está sabendo de tudo, então?

— Já, sim. Dominika me explicou. Inclusive sobre o noivado de

mentira de vocês. Se quer minha opinião, para tornar tudo mais

crível, devemos chamar a família de Louise para almoçar aqui no


próximo domingo. Traga os fotógrafos novamente e nenhum eleitor

duvidará de que esse relacionamento é para valer.

— Acha mesmo necessário? — Louise pergunta, parecendo

incomodada.

Minha avó franze a testa.

— O que há de errado? Não se dá bem com eles?

Jesus Cristo, vovó não conhece o significado da palavra sutileza.


— Não. — Louise me surpreende respondendo a verdade porque

está óbvio pela interação dela com Cassius hoje cedo que até

mesmo o padrasto, com quem achei que se entendia melhor, tem

preferência por Emory. — E nem somos próximos.

— Eu entendo, minha filha, mas acho que precisaremos inseri-los

no contexto.
— O fotógrafo já chegou? — pergunto, tentando aliviar a tensão

de Louise. Podemos falar sobre a família dela mais tarde.


— Já, sim e também o repórter que filmará a declaração que

darão. Porém, pelo que Dominika me contou, nenhum de vocês dois


comeu ainda. O rapaz pode esperar. Vou alimentá-los antes.
Merda, com a correria fodida que foi nosso dia, eu havia me

esquecido completamente de perguntar se Louise estava com fome.


Mary sai andando na frente e seguro minha futura noiva fictícia

pelo braço.
— Sou o pior anfitrião do mundo. Não como em horas

predeterminadas, então vamos fazer o seguinte. Enquanto estiver


em minhas casas, qualquer uma delas, fique à vontade para mexer
no que quiser. Não estou acostumado a receber hóspedes.

— Eu estou bem.
— Não, deve estar morrendo de fome.

Ela parecia tensa desde que encontramos Mary, mas finalmente


me dá um quase sorriso.

— Tudo bem. Estou faminta.


Coloco uma mecha de cabelo que escapou, para trás de sua
orelha.
— Assim está melhor. Vamos manter essa coisa de falarmos a

verdade daqui por diante, okay? Comeremos e depois então, vou


lhe dar o anel que Alfred providenciou.

Como se adivinhasse que estamos falando dele, meu assistente


estaciona onde os guarda-costas pararam também há alguns

minutos.
Faço um gesto para ele de que é para nos seguir para dentro.
Depois, com a mão na parte baixa das costas de Louise, guio-a para

a casa da minha avó.


Provavelmente não deveria tocá-la assim, mas também não

deveria desejar ter suas coxas em volta da minha cintura enquanto


a fodo duro e no entanto, não tenho qualquer controle quando se
trata da atração que sinto por ela.

— Satisfeita, Louise?

— Sim, Mary. Estava uma delícia. Amanhã vou ter que correr dez
quilômetros para queimar todas essas calorias.
No decorrer do almoço, minha avó conseguiu, à sua maneira
peculiar, fazer com que ela relaxasse. Apesar de não se mostrar
completamente à vontade, porque intuo que levará um tempo para

isso acontecer se for me guiar pelo que me disse — que não fica
bem ao redor de estranhos — Louise sorriu, respondeu às

perguntas de Mary e até falou que queria a receita dela do frango

frito[38].

— Podemos fazer isso depois de amanhã, antes de voarmos de


volta para Dallas — digo.
Sinto que a minha avó olha de um para o outro, curiosa.

— Vocês se exercitam juntos? Achei que não conviviam antes de


ser contratada como assessora de imprensa dele.

Com o rosto corado, Louise responde.


— Minha entrevista de emprego foi na academia que seu neto

frequenta. Acho que Bryce tentou me cansar para que eu não


pedisse um salário tão alto.
Mary gargalha.

— Não duvide, minha filha. Se há algo que meus netos, sem


exceção, são bons, é em negociar.

Ela pede licença e sai da cozinha. Quando minha avó nos deu a
opção de comermos na mesa em que serve o café da manhã ou na
sala de jantar, Louise preferiu a primeira.
— Iremos depois de amanhã mesmo para Dallas? Eu tinha
entendido, pelo que Dominika falou, que passaríamos uns dias em

Grayland — fala, assim que estamos a sós.


— Sim, iremos. Não posso ficar aqui por mais do que quarenta e

oito horas. Daremos uma passada rápida em Dallas, mas preciso ir


para D.C. em seguida. Tenho assuntos para resolver lá.
— Mas voltou da capital ontem.

— Com toda essa questão do vídeo, precisarei fazer reuniões

presenciais. Em algumas situações, somente um cara a cara


resolve.

Ela concorda com a cabeça.

— Terá que passar em casa para pegar algo? Mais roupas?

— Eu não sei. Acho que vou conversar com Dominika sobre


como devo me vestir depois que nós… huh… anunciarmos o

noivado.

Lembro-me de que ainda não lhe entreguei o anel.


Pego a caixinha que Alfred deixou em cima da mesa, antes de se

retirar para tomar um banho.

Brinco com ela em minha mão direita, girando-a e Louise


acompanha o movimento.
— Acho que precisamos colocar isso em você.

— Okay — diz, parecendo sem jeito.


Abro a caixa e mostro para ela. Louise olha o interior sem

qualquer reação.

Merda, eu deveria ter lhe consultado sobre o modelo, tipo e


tamanho de pedra, mas deixei tudo nas mãos de Dominika e Alfred.

Afinal, o que sei sobre anéis de noivado?

— Podemos trocar se…

Ela tira a caixa da minha mão, observando o solitário dentro dela.


— É muito bonito — diz, mas a voz está vazia de emoção. É

como se estivesse me perguntando as horas.

— É algo que escolheria para si?


— Isso importa? É apenas para enganar a imprensa.

Sua resposta me irrita porque ela se esconde atrás de evasivas.

Avanço o braço para pegar a caixa dela, mas o afasta.


— Não, é meu — diz.

— Achei que não havia gostado — falo, agora sorrindo porque

estou começando a entendê-la. Louise se acostumou a disfarçar o

que sente.
— Eu não disse que não gostei.

— Você não disse nada.


— Eu gostei, mas posso fazer isso sozinha — diz, tirando o

solitário da caixa.

— Eu sei, mas seria… estranho.


Ela ergue os olhos para me olhar.

— Mais do que toda essa situação?

— Bom ponto. Talvez no fundo exista um neandertal dentro de

mim que quer marcá-la como minha mulher.


Ela estava concentrada na minha mão, que segura a dela,

começando a lhe vestir o anel, mas depois do que falo, para e me

encara.
— Não sou sua mulher.

Há um desafio nas palavras e por mais que eu saiba que está

certa, sinto vontade de deitá-la em cima da mesa e montar seu

corpo, beijando-a até que se renda ao meu domínio e a essa


atração incontrolável entre nós dois.

Lentamente, deslizo o anel em seu dedo, cada pedaço de pele

nosso em contato, queimando como se estivéssemos com febre.


Quando termino de colocá-lo, ela respira irregularmente.

Sem qualquer planejamento, aproximo meu braço, segurando-a

pela nuca. Não tenta fugir, ao invés disso, inclina a cabeça, me

deixando acariciar os fios de seda de seu cabelo.


— Ah, estão oficialmente noivos, pelo que vejo — Mary entra na

cozinha e brinca. Louise se afasta, parecendo constrangida.


Não sei se minha avó percebeu o que estava acontecendo, mas

se o fez, disfarçou bem.

Louise lhe mostra a mão.


— Então agora já tem seu anel? É lindo, embora a pedra tenha

ficado enorme para uma mão tão delicada. Mas se a ideia era

chamar a atenção, acertou em cheio, Bryce.

— Foi Alfred quem escolheu — Louise diz, se levantando. — Se


me derem licença, gostaria de ir ao toalete antes de começarmos a

gravação do vídeo e a sessão de fotos.


Capítulo 26

— Vocês têm que se aproximar mais, casal — o fotógrafo pede,

sem ter a menor ideia de que o dia de hoje foi o primeiro em que eu

e meu “noivo” estivemos realmente próximos.


Olho para Bryce, que está atrás de mim, com a mão em meu

ombro e percebo que o rosto dele está tenso. Eu também me sinto


assim, apenas acho que disfarço melhor.

Antes das imagens que estamos fazendo agora, gravamos um

pequeno vídeo e demos uma declaração a um repórter escolhido a


dedo. Foi rápido, por cerca de cinco minutos, mas nunca fiquei tão

envergonhada na vida.
Dominika e Alfred decidiram que deveríamos fazer o anúncio do

noivado pelo Twitter de Bryce e em um horário em que o

engajamento é maior. O vídeo também será “solto” na internet


simultaneamente.

Agora, aqui estamos, há cerca de duas horas fotografando em

vários cenários da fazenda.


Quando Bryce fizer o anúncio, imagens de nós dois juntos e um

comunicado oficial serão enviados para a Washington News.

Graças a Deus só estamos nós e o fotógrafo. Eu morreria de


vergonha se a família dele estivesse nos assistindo.

— E então? — Ouço a voz rouca do meu chefe perguntar no meu


ouvido e levo um tempo para entender que ele quer saber se vou

atender ao pedido do fotógrafo para que fiquemos mais próximos.

— Faça o que for preciso — respondo rápido.

Ele cola nossos corpos, passando os braços em volta da minha

cintura.

Sinto a rigidez do corpo forte contra as minhas costas e seguro


um gemido. Ele parece pressentir que o clima mudou porque diz

perto da minha orelha:


— Seu cheiro está me deixando louco. Você inteira, Louise.
— Ótimo! Agora sim vejo um casal apaixonado — o fotógrafo diz.

— Sobreponha os braços nos dele, senhorita Whitlock.

Faço o que o homem pede, mas não resisto em passar as unhas

de leve no antebraço grosso.

Ouço um rosnado baixo, profundo, perto do meu lóbulo direito.

— Não comece o que não tem intenção de levar adiante — Bryce


avisa.

Eu não estou pensando direito, porque ao invés de tomar a

advertência com prudência, chego o corpo ainda mais para trás e

cravo as unhas em sua carne.

— Quanto tempo mais precisaremos fotografar? — Bryce

pergunta ao homem e estou tão excitada que nem me importo com

o significado daquilo.
— Cinco minutos e teremos o suficiente.

Depois de decorridos alguns minutos, o homem diz:

— Virem-se de frente um para o outro. Fiquem de lado para mim.

— Bryce me gira em seus braços. — Segure o rosto de sua futura

esposa, senador. Olhem-se nos olhos.

Sinto as mãos enormes erguendo meu rosto e estremeço quando


vejo desejo nos dele.
Eu não tenho experiência com homens ou qualquer tipo de

relacionamento, mas há tantas promessas escondidas na maneira


como me observa, que minha pulsação enlouquece.

— Seria demais se eu pedisse que se beijassem? — o homem


continua.
É o momento em que eu deveria mandar Bryce se afastar porque

já tivemos o suficiente, mas eu não o faço. Ao invés disso, sem


desviar de seus olhos, aceno com a cabeça porque preciso sentir

aqueles lábios nos meus.


Ele se inclina sem pressa e o calor da respiração deixa meus

joelhos fracos.
— É o que quer? — pergunta e sei que aquilo não tem nada a ver
com o pedido do fotógrafo. Bryce está me dando espaço para fugir

se for o que desejo.


A essa altura, a necessidade de prová-lo mandou o bom senso

para o inferno. Eu aceno com a cabeça outra vez, completamente


concentrada nos lábios dele.

— Não me olhe desse jeito, Louise. Estou louco para te comer.


Quero você nua, nenhuma peça de roupa entre nós enquanto eu te
provo todinha.
— Beije-me — peço, a vontade de senti-lo roubando

completamente meu juízo.


Ele se abaixa, as mãos apertando um pouco mais meu rosto,

mas ao invés de me dar o beijo com o qual estou sonhando, apenas


roça nossos lábios.

É um toque sutil, ligeiro, quase imperceptível e que não combina


em nada com a intensidade dele.
Fico chocada e também desapontada quando Bryce se afasta e

dá um passo para trás.


— Perfeito — o fotógrafo diz, a voz demonstrando satisfação. —

Encerramos. Vocês foram o casal mais fácil de fotografar da minha


carreira.
— Por quê? — Bryce pergunta, parecendo totalmente recuperado

e aquilo me deixa zangada.


Como posso ter me perdido tanto nele, no clima entre nós dois,

no seu cheiro e calor e o homem parecer absolutamente calmo,


inatingível?

Cruzo os braços na frente do meu peito, trazendo de volta minha


expressão de indiferença usual.
— Porque, com todo respeito, senador, a química entre vocês é

perfeita.
Ouço a risada do homem, mas é em Bryce que estou
concentrada. Apesar de ter se afastado, ele me olha como se
quisesse me devorar inteira.

— Acabamos? — ele pergunta ao fotógrafo.


— Sim. Vou lhes enviar os arquivos com as imagens por e-mail,

mas ficarei para o jantar, já que o senhor Johnson me pediu que


registrasse a reunião em família. Assim que voltar para Dallas, vou
revelar as imagens que fizemos hoje e enviá-las impressas para seu

gabinete. Foi um prazer trabalhar com os senhores.


Ele se retira, mas eu apenas registro o movimento pela minha

visão periférica porque no momento, o que me mantém cativa é o


olhar predatório de Bryce em mim.

Sem dizer uma palavra, ele me pega pela mão e sai andando em
direção ao que presumo ser um celeiro.
Meu coração martela dentro do peito e chego à conclusão de que

é inútil tentar conter minhas reações a ele. Além do fato de ser muito
experiente, eu duvido que seja tão habilidosa ao ponto de esconder

o quanto estou excitada.


Dentro do galpão, ele fecha a porta e se recosta nela.
O lugar é imenso e rústico e minhas roupas parecem

absolutamente inadequadas para estar aqui.


Já o cowboy sexy à minha frente está em seu elemento. Bryce,
agora percebo, não importa quanto dinheiro tenha ou que cargo
ocupe, é essencialmente um homem do campo.

— Peça outra vez — ele diz e a voz soa como um desafio.


Eu nem tento fingir que não entendi, porque pelo seu olhar, sei o

que ele quer.


Há uma revolução acontecendo dentro do meu corpo.
Expectativa mesclada com desejo.

Eu não quero pensar com clareza. Não quero que ele me permita

raciocinar. Tudo o que preciso é senti-lo junto a mim. Eu anseio pelo


domínio de Bryce.

— Beije-me. — Rendo-me.
Capítulo 27

Ouvi-la pedir para ser beijada acaba com qualquer chance de


pensamento racional.

Dou um passo até onde está e a puxo contra meu corpo.

— Eu não vou parar no beijo, então pense no que está pedindo.


Não será aqui, porque você merece mais do que o celeiro da minha

avó, mas uma vez que eu começar, vou te devorar gostoso, Louise.
— Por favor, Bryce…

— Eu sou racional quando não se trata de você, mulher, mas

desde a primeira vez em que te vi, eu sabia que seria minha.


Ela está agitada. A respiração, saindo em puxadas profundas e

quando inclino-me para capturar seu lábio inferior entre meus


dentes e ela geme, sei que passamos do ponto de recuar.

Eu a suspendo em meus braços, agarrando-lhe a parte de baixo

das coxas. Estou duro e quando sinto, como no carro, a seda da


calcinha recobrindo sua boceta, esfrego-me nela faminto,

precisando de qualquer parte do corpo delicioso em mim.

Seus lábios são quentes e molhados, mas ainda não a beijo;


sugo e lambo a carne macia, provocando, fazendo-a vir atrás do que

quer.

As mãos dela adentram meu cabelo, agarrando, puxando com


força, e então eu sei que finalmente a tenho como desejo:

despudorada, ansiosa.
— Isso mesmo, pegue tudo, Louise. Não quero a socialite, quero

a fêmea louca de tesão. Sei que essa bocetinha está molhada para

mim. Entregue-se.

Quando as bocas finalmente colidem, não é beijo puro, é um

chupar sem regras. São mordidas, línguas dançando em sincronia,

os quadris balançando, querendo o atrito de pau e boceta que as


roupas impedem.
Precisando de mais, sento-me em um fardo de feno com ela
montada em mim. As mãos passeiam na carne firme da bunda dela,

onde a minúscula calcinha se perde entre as bochechas redondas.

Beijar Louise é como mergulhar profundamente sem a certeza de

que há oxigênio suficiente, sem me importar com a próxima

respiração, a necessidade do corpo suplantando ar e comida.

Os gemidos que me entrega são como os de uma gata manhosa,


mas exigente. Carente pelo meu toque, mas senhora do próprio

desejo.

Agarro um punhado de seus cabelos e deslizo a boca para o

pescoço, a curva do ombro. Planto uma mordida ali e em seguida

sugo a carne doce.

Ela choraminga e rebola, buscando satisfação, esfregando-se

contra minha ereção grossa.


— É disso que você gosta? Quer me deixar louco com esse

corpo sexy?

Ela me surpreende, me mordendo por cima da camisa mesmo, as

unhas arranhando meu peito e em seguida, abrindo os botões.

— Gata selvagem. Eu sabia que seria assim, Louise. Eu sempre

soube que seria assim.


— Nunca gostamos um do outro — ela diz, talvez para convencer

a si mesma.
— Não tem nada a ver com gostar, e sim, com desejo.

— Eu quero tocar você.


— Termine de abrir minha camisa.
Eu não solto a mão que agarra seu cabelo, fazendo com que me

encare enquanto desabotoa os botões.


Assim que há uma parte do meu peito de fora, ela mergulha a

cabeça e me morde.
— Caralho — rosno. — Lamba. Sugue. Sempre olhando para

mim. Nunca pare de me olhar.


Há tempestade naquelas piscinas azuis. Irrequietos, nublados de
paixão, seus olhos me dizem tudo o que preciso saber: que a

loucura que estou sentindo é recíproca.


Acaricio sua bunda, os dedos brincando com o tecido da lingerie

e ela se remexe.
— Você é tão quente, mulher. Eu quero tirar sua roupa e te

lamber inteira.
Ela tranca as coxas nas minhas costas e se mexe, escorregando
para cima e para baixo no meu pau.

— Ahhhhh…
— Gostosa.

Beijo-lhe a boca novamente porque preciso invadi-la de alguma


maneira, mesmo que seja com a língua.

— Chupe minha língua, pequena. Aprenda como eu gosto.


Não há mais a vaga noção de onde estamos. Não somos um

senador e assessora, somos homem e mulher, controlados por um


desejo avassalador.
— Eu quero te ver gozar — falo, deslizando a mão dentro da

calcinha dela.
Meus dedos ficam melados com o mel e eu gemo em meio ao

beijo.
Naquele fodido instante, onde não me lembro nem mesmo do
próprio nome, ouvimos a voz de Alfred:

— Bryce, senhorita Whitlock?


Louise quase pula do meu colo, tentando escapar, mas não

permito.
— Shhhhh… ele não vai entrar, baby.

— Meu Deus, eu devo estar louca…


— Espere-me na sede, Alfred! — grito.
— Solte-me — pede baixinho, provavelmente com medo de ser

ouvida.
Eu me levanto com ela em meus braços e a ponho de pé
devagar.
— Isso não deveria ter acontecido — fala com o rosto corado.

— Era inevitável… — digo e depois me corrijo. — É inevitável.


Desde a primeira vez em que nos vimos, sabíamos como isso entre

nós acabaria.
— Não tenho ideia do que está falando — diz, dando um passo
para trás.

— Mentirosa. Se não fôssemos interrompidos, você estaria nesse


instante montando minha mão.

— Eu não deixaria ir tão longe.


— Não tem tanto controle sobre seu corpo quanto pensa, Louise.

Eu mal te toquei e você já estava completamente entregue.


Ela alisa o vestido e ergue o queixo.
— É muito convencido se pensa que eu perderia minha

virgindade em um celeiro, Bryce Gray.


Ela sai sem olhar para trás. Eu, por outro lado, estou congelado

no lugar.
Virgem?
Não é possível!
No entanto, sei de imediato que ela está falando a verdade.
Louise é orgulhosa demais para mentir sobre algo assim.
Foda-me! Eu achei que estávamos na mesma sintonia: uma

mulher e um cara experientes, que sabiam o que queriam.


A descoberta, entretanto, muda totalmente o jogo.

Se antes já seria uma estupidez me envolver com Louise, agora


então, que descobri que é intocada, sei que deveria me afastar.
Ao mesmo tempo que meu lado racional tenta vir à tona, sinto

meus dedos ainda molhados com a excitação dela e meu pau reage

ao relembrar do quanto estava quente e pronta para mim.


Inocente e selvagem, Louise é uma combinação explosiva,

seduzindo-me com a relutância em se entregar.

Eu nunca desejei tanto uma mulher em minha vida, mas agora

que ela se afastou e consigo puxar algumas respirações, preciso


pensar em tudo o mais que há envolvido em vez de horas — ou até

mesmo dias — de satisfação sexual.

Louise não é uma mulher que eu possa me esquecer na manhã


seguinte. Mesmo que deixe de ser minha assessora, continuará na

minha vida através de Cassius.

Essas são todas as desculpas lógicas que tento encontrar para


recuar, mas nenhuma delas funciona.
No momento em que nossas bocas se encostaram, o martelo já

estava batido.
Capítulo 28

— É como assistir a um reality show em que sou o ator principal


— falo com desgosto, uma hora depois de soltar a notícia do nosso
noivado no Twitter e vê-la viralizar como o assunto mais comentado.

— Desculpe-me por estourar sua bolha, cunhado — Antonella, a

esposa de Hudson e que até o terceiro filho deles, Orazio, nascer,


trabalhava com marketing de redes sociais, diz —, mas desde o

momento em que você entrou para a política, já estava dentro de

um reality show.
Enquanto finjo prestar atenção ao que a minha família diz,

observo Louise conversando com Mackenzie, Becca e Maribelle. No


começo, ela parecia tensa. As mãos rigidamente apertadas no colo,

mas as mulheres da minha família têm o dom de fazer todo mundo


se sentir em casa e não fiquei surpreso quando ouvi a risada da

minha noiva de mentira minutos depois de chegarmos na casa da

minha avó.
De vez em quando, talvez inconscientemente, seus olhos me

buscam e quando isso acontece, é como ter uma corrente elétrica

atravessando meu corpo.


— Está na hora — Dominika diz, antes de ligar a televisão na

Washington News.

— Como sabe que será a primeira notícia? — vovó pergunta.


— Porque Bryce está no olho do furacão — a mulher de Reed

fala. — Eles sabem que um anúncio do noivado em horário nobre


entre o senador mais cobiçado dos Estados e uma herdeira de

sobrenome tradicional elevará o número da audiência ao céu.

— Não é porque o tio Bryce saiu pelado no vídeo, então? —

Dante pergunta e Hudson se levanta.

— Dante, peça desculpas ao seu tio!

— O que, papai? Foi o filho do capataz quem disse que meu tio
estava pelado no filme. Eu nem assisti!
Porra! Será que quando esses filhos da puta soltam algo assim
têm ideia de que estão atingindo famílias inteiras e não apenas o

alvo? Pensam que as pessoas têm pai, mãe, avós, filhos? Mas eu já

sei a resposta. Nesse mundo de merda em que vivemos atualmente,

cinco minutos de fama em uma rede social é mais importante do

que o estrago que se pode causar na vida do outro.

Olho para meu sobrinho.


Dante está naquela idade estranha em que quase deixou de ser

uma criança, mas ainda não é um adolescente.

— Mesmo que fosse verdade, e não é, não se deve dizer esse

tipo de coisa, Dante, porque faz parte da intimidade do seu tio.

— Eu sei, pai. A professora me explicou que ficar pelado só em

casa e mesmo assim até encontrar a roupa depois do banho.

— Deixa que eu falo com ele, Hudson — minha cunhada diz. —


Você só está piorando.

— Não. Deixa comigo — peço, batendo no assento ao meu lado.

Parecendo louco para fugir da bronca dos pais, meu sobrinho não

hesita.

— Desculpa, tio Bryce — fala, ao se aproximar.

— Não tenho pelo que te desculpar. E não foi por seu amigo ter
dito que eu estava pelado no vídeo que seu pai brigou com você.
— Não?

— Tenho certeza que não e sim, porque, em primeiro lugar, não é


o tipo de assunto que alguém da sua idade deva discutir: quem está

ou não pelado.
— Okay.
— Em segundo lugar, não era eu naquele vídeo. Você sabe qual

é o meu trabalho?
— Sim, você é senador. Manda em todo mundo!

Bagunço o cabelo dele.


— Não preciso ser um senador para mandar em todo mundo.

Sou um Gray, certo? O que estou tentando explicar é que no


trabalho que faço, que é servir o bom povo do Texas, acabo
ganhando muitos inimigos. Essas pessoas que não gostam de mim

fizeram um vídeo falso para me prejudicar.


— Quem foi, tio?

— Eu ainda não sei, amigo.


— Temos que punir esse cara! — diz, revoltado e eu sorrio.

— Não temos coisa alguma — Antonella interfere. — O que


temos que fazer é, quando descobrirmos quem foi, deixar que a
justiça o puna. Lembra do que seu pai explicou sobre os tribunais

naquela excursão que você fez no colégio?


— Sim.

— Então, quando seu tio Bryce conseguir encontrar o culpado,


nós o levaremos à justiça.

— Eu acho que já entendi. Nada de falar do meu tio Bryce pelado


porque não era ele. Pegar os inimigos e levar para à justiça.

— Isso mesmo. E o que mais? Qual é a outra razão pela qual não
devemos alimentar fofocas de nossos parentes? — a mãe o
incentiva.

— Porque os Gray defendem uns aos outros, mesmo que vovó


Mary puxe a orelha de todo mundo depois.

Todos riem e depois que Antonella se afasta, Dante se aproxima


de mim de novo.
— Mesmo que fosse você, eu não ligaria, tio Bryce. Eu também já

fiquei pelado sem querer no corredor de casa, no dia que Rafaello


escondeu minha toalha enquanto eu tomava banho.

O irmão do meio se aproxima ao ouvir o próprio nome.


— Foi tãooooo legal!

— Rafaello Gray! — Antonella olha para o menino, séria.


— Oh-oh! — o malandro diz, se afastando.
Para meu espanto, Louise se aproxima de nós.
— Hey, tudo bem? Eu sou a Louise — ela fala, estendendo a mão
para Dante.
Acho que ninguém explicou às crianças que nosso noivado é de

mentira e talvez seja melhor não fazê-lo.


Meu sobrinho, sendo um Gray, não só aceita a mão dela para o

cumprimento, como leva aos lábios.


— Muito prazer, senhorita Louise. Eu sei quem você é: a noiva do
tio Bryce. Agora que vão casar, não vai ter mais problema ele ficar

pelado com você. Meu pai fica com a minha mãe.


— Doce Senhor Jesus, Hudson! — Vovó se escandaliza, meu

irmão cora e todos gargalham.


— Sua família é maravilhosa — Louise diz, acomodando-se ao

meu lado, quando eles se acalmam para assistirem ao noticiário.


Olho à nossa volta.
— Sim, ela é.

Apesar do que falou, ela parece inquieta.


— O que há de errado? — pergunto.

— Estou ansiosa com as notícias. Se eles vão acreditar mesmo


que estamos noivos, quero dizer. Mexe muito comigo essa coisa de
injustiça.

— Por causa do seu pai?


Ela balança a cabeça, concordando.
— Acha que ele não era culpado?
— O que eu acho, não importa. O mundo inteiro pensa que ele

era corrupto.
— Importa, sim. Se dentro de você, tem certeza de que não, isso

conta.
Ela me observa por muito tempo e acredito que o assunto esteja
encerrado quando enfim, diz:

— Eu tenho certeza que não.

Pego a mão dela e entrelaço na minha.


— Você está gelada.

— Como eu disse antes, estou ansiosa. Quero que tudo dê certo

para você.

— Por que, se me odeia?


— Eu não te odeio. Odeio o que me faz sentir. Não gosto de não

ter domínio sobre mim mesma.

Eu me abaixo para sussurrar em sua orelha:


— Me deixa louco a maneira como você reage a mim, Louise.

Gosto quando perde o controle.

A respiração dela fica mais curta, mas antes que possa


responder, o noticiário começa.
Capítulo 29

“E agora, uma revelação que os eleitores estavam esperando

desde que ele se tornou governador do Texas: o senador Bryce


Gray acaba de anunciar pelo Twitter que ficou noivo da jornalista

Louise Whitlock. A senhorita Whitlock, que é enteada de outro

senador republicano do estado do Texas, Cassius Stonebraker,


segundo a notícia de hoje mais cedo, é também assessora de

imprensa do senador Gray e os dois já se relacionavam

secretamente há um tempo. Nós da Washington News estamos


vibrando com a novidade e esperamos que em breve o jovem casal

anuncie a data do enlace.”

— Eles acreditaram — Louise diz baixinho, somente para mim,

com um sorriso satisfeito.


— Por que não acreditariam? Você é linda e inteligente. A esposa

dos sonhos de qualquer homem.

— Não precisa exagerar…


Eu a puxo pela mão e sem dar a mínima para o fato de que

minha família talvez esteja nos observando, a trago para o meio das

minhas pernas.
— Eu nem comecei a exagerar ainda em relação a você.

Ela me olha com as bochechas vermelhas, mas o que me fascina


é que mesmo claramente embaraçada, não tenta se soltar.

— Por isso parte tantos corações.

— É disso que tem medo? Acha que posso partir o seu?

— Eu precisaria ter um para que conseguisse fazê-lo, senador

Gray. — Ela tenta soar irônica, mas tudo o que vejo é tristeza, como

se realmente acreditasse naquilo.


Eu, não.
Sim, Louise tem um autocontrole surpreendente sobre si mesma
e quem a olha de fora pode até enxergar uma mulher fria, mas

agora eu sei que há muito de fogo a apenas dois centímetros da

superfície.

Eu quero esse calor todo para mim. Quero me perder e queimar-

me nele.

Ela parece ler meus pensamentos porque as pupilas dilatam e


engole em seco.

— Será que já podemos comer, vovó Mary? — Blaire, a

irmãzinha de Mackenzie, diz. — Estou com um buraco na barriga.

— Mãe, Blaire está com fome — Dante avisa, como se a sala

inteira não tivesse escutado.

Eu tenho um palpite de que apesar da relação gato e rato dos

dois, teremos um casal no futuro.


— Vamos jantar, meninos — Mary diz. — Dante tem razão. Já

alimentamos os fofoqueiros do país, chegou a vez de recarregar o

corpo.
— Suponho que agora vai vir mais vezes para Grayland, Louise?

— Becca pergunta.
Ela me olha antes de responder:
— Vamos trabalhar muitas vezes daqui, segundo Bryce me

disse.
— Então mesmo que acabe o que tem que fazer na sexta,

precisa ficar para o almoço de domingo. É nossa tradição — vovó


fala.

— Obrigada pelo convite — ela responde de maneira polida.


Terminamos de jantar há cerca de duas horas e as babás já
levaram as crianças para brincar, mas nenhum de nós fez menção

de se levantar porque o assunto do falso vídeo irritou a família


inteira.

— Estou assumindo que todas as crianças faltarão ao colégio


amanhã, né? Já são quase dez e eles não dão nem sinal de que
querem dormir — Jaxson diz.
— Hoje foi um dia atípico — Reed fala. — Todos nós

precisávamos desse tempo juntos.


— Sim, uma reunião para nos prepararmos para a guerra — vovó

diz com o rosto fechado.


— Vão para D. C. amanhã? — Hudson pergunta.

— Depois de amanhã, mas antes passaremos em Dallas para


prepararmos uma mala maior. É provável que fiquemos ao menos
até o próximo fim de semana por lá.

— E por falar nisso — vovó continua —, telefonei para sua mãe,


convidando-os para o almoço do próximo domingo, Louise.

— Oh!
Todos olham para ela, que sem jeito, parece se concentrar na
comida.

— Sei que me falou que não se dão bem, minha filha, mas como
lhe disse antes, para tornar tudo mais verdadeiro para o público,

vamos precisar fazer essa reunião.


— Vó…

— Louise está na família agora, Bryce, então, ela precisa saber


que, primeiro, não temos segredos uns com os outros. Segundo,
falamos o que precisamos falar sem dourar a pílula.
— Não tem problema, Mary. Não disse nada além da verdade —
Louise fala. — Dizer que eu e minha família não somos próximos é
resumir bem a situação, apesar disso, não nos odiamos.

Convivemos até com uma certa frequência.


Quando meus parentes se distraem novamente com outros

assuntos, eu me volto para ela.


— Se não passa seu tempo livre com a família, o que faz, então?
Vai a encontros?

— Eu não preciso responder a isso.


— Não precisa, mas não é uma covarde. Diga-me.

Ela me encara.
— Eu planejo. Determino na minha mente o caminho que será

necessário para chegar onde quero.


Em seguida, ela se cala, apenas prestando atenção nas
conversas em torno da mesa.

Já a minha concentração é cem por cento em minha noiva de


mentira.

Louise tem o poder de me fascinar e fazer com que todas as


outras pessoas ao nosso redor desapareçam.
Ela é como um complexo quebra-cabeça. Cada vez que acho que

seguro a peça certa, que estou conseguindo ajustá-la, o jogo vira,


mostrando-me que ainda há um longo caminho a ser percorrido.

Eu não durmo por muitas horas. Meu corpo se recupera

rapidamente seja do que for, até mesmo de um dia fodido como o de

ontem, entretanto, quando deito-me na cama, costumo apagar em


questão de minutos.

Agora, são duas da manhã, quase três desde que chegamos da

Império Gray e eu não consigo pregar o olho.


Louise pediu licença assim que voltamos e literalmente subiu as

escadas correndo em direção ao quarto.

Fuga.
Eu a entendo. Ela está fugindo de nós dois e isso deveria me

deixar aliviado. Facilitaria meu caminho.

Infelizmente, não é o que acontece. Meu desejo por ela só

aumenta.
Estico a mão para apagar a luz do abajur, determinado a dormir

porque o dia amanhã será ainda mais longo do que o de hoje,


quando um grito arrepia os cabelos da minha nuca.

Primeiro, penso que é uma coruja ou outro animal, mas quando


eles começam a se suceder, levanto-me, pego minha arma e vou

para o corredor.

Não demoro a entender que vem do quarto de Louise e meu


coração bate tão rápido que consigo senti-lo no ouvido.

Abro a porta, sem saber o que esperar, mas quando acendo a

luz, não há alguém além dela.

Louise está tendo um pesadelo.


Capítulo 30

Travo minha arma e a coloco em cima da cômoda.

— Louise?
Ela está sentada, segurando o estômago e seu rosto é puro

terror, enquanto chama pelo pai.

Jesus!
Aproximo-me devagar. Não quero que fique ainda mais

apavorada.

— Louise, sou eu, Bryce.


— Papai!

Não é mais um grito, é algo parecido com um lamento de dor,


como um animalzinho preso em uma armadilha, pedindo por ajuda.

Eu nunca lidei com nada assim, então nem tento adivinhar o que

fazer. Ajo por instinto.


Vou até onde está e a pego no colo, mantendo-a segura,

apertando-a contra meu corpo.

No início, ela se debate, tentando fugir, mas eu não a solto, fico


repetindo seu nome baixinho, acariciando-lhe o cabelo, até que

finalmente o pânico dá lugar ao choro.

O que acontece em seguida, quase me divide em dois porque eu


sei o que ela está sentindo. Eu vivi o mesmo quando ainda era uma

criança e nossa avó nos acordou de madrugada, para nos dizer que
papai e mamãe nunca mais voltariam para casa porque foram morar

com Deus.

Não há palavras que lhe trarão consolo. Não há carinho que

aplaque a dor porque o caso dela ainda foi pior: ela tentou salvar o

pai matando o assassino dele, e embora tenha tido êxito nisso, não

mudou o fato de que perdeu seu herói.


Sei que não importa o quanto o mundo inteiro diga que Emment

Whitlock era um vilão e não o mocinho. O mesmo se passou comigo


quando descobri que meu pai era um trapaceiro que havia

enganado nossa mãe a vida inteira[39]. A verdade é que quando

perdemos alguém que amamos, só conseguimos nos lembrar dos


bons momentos.

Recosto-me na cama, ainda acariciando seus cabelos e aos

poucos, as lágrimas se transformam em soluços sentidos.

Quando suas mãos vêm para o meu pescoço, olho para baixo.

Ela me observa, resquícios do choro recente ainda marcando seu

rosto.

— Não percebi que havia acordado.


— Eu estava com vergonha. Não estou acostumada a precisar de

ajuda.

— Ou de pedir?

— Tem diferença? — pergunta.

— Tem, sim. Eu não sei pedir, também.

Ela não me pede para soltá-la e graças a Deus por isso, porque é
a última coisa que quero fazer no momento.

— Acontece com frequência?

Ela dá de ombros.

— Só quando estou estressada ou vivendo alguma situação fora

da minha rotina.
— A definição do dia de ontem, né?

— Não foi culpa sua, Bryce. Eu tenho muita bagagem dentro de


mim.

— Quer compartilhar?
— Não. Você ou é meu chefe ou meu noivo de mentira. Nos dois
casos, seria inapropriado compartilhar lembranças ruins.

— Por quê?
— Como meu chefe, eu estaria cruzando uma fronteira, além de

demonstrar fraqueza. Como meu noivo, eu poderia fazê-lo correr.


— Acha que se tivéssemos noivos de verdade, eu correria por

conta do seu passado?


Ela finalmente tenta se soltar.
— Não — digo, prendendo-a junto a mim.

— Quando menciona meu passado, não faz ideia do que está


falando.

— Conte-me.
— Para quê? Por quê? Mal nos conhecemos.

— Você é minha mulher aos olhos do mundo.


— Não estamos na frente de uma plateia.
— Não, somos só nós dois, Louise, e estou pedindo que

compartilhe comigo.
Ela retira meus braços de volta do seu corpo e dessa vez, eu a

deixo ir.
— Eu não posso fazer isso sentada no seu colo — diz, se

levantando. — Quando me lembro daquele dia, me sinto sufocar.


— Quer apagar a luz? — pergunto, intuindo que ela se sente

exposta.
— Totalmente, não. Pode ligar o abajur?
Faço o que me pediu, depois desligo a luz que acendi ao entrar

no quarto, mas ao invés de voltar para a cama, sento-me na


poltrona.

— Sabe o que aconteceu? — pergunta.


— Apenas o que os jornais noticiaram na época: que ele estava
na quadra de tênis, terminando um jogo, quando foi alvejado. Até

pouco tempo, eu nem me lembrava que você estava junto.


— Eu e meu pai sempre jogávamos tênis aos fins de semana.

Mesmo naquela época, minha mãe e Emory preferiam fazer


compras ou se refrescar na piscina. Eu gostava de esportes.

— Quantos anos você tinha?


— Onze e meio.
Jesus Cristo!

— Continue.
Ela anda de um lado para o outro, agitada, os braços novamente
segurando o estômago.
— Passamos a manhã na quadra e eu estava feliz de não ter que

dividir meu pai com ninguém mais. Já não era governador, mas
mesmo assim, tinha muitos compromissos com as empresas dele.

Combinamos de dispensar os empregados e preparar nós mesmos


o almoço, hambúrgueres, já que minha mãe fora visitar uma amiga e
levara Emory junto.

Ela parece distante, como se estivesse vendo o dia que está


relatando.

— Gosta de cozinhar?
— Sim — diz e não dá mais explicações. — Não costumávamos

ligar os alarmes durante o dia e se ficávamos em casa, deixávamos


tudo destrancado. Como deve ter visto, nossa casa era uma
fortaleza.

— É a mesma que sua mãe ainda mora com Cassius?


— Aham.

Porra! O quão doloroso deve ser para ela ver outro homem no
lugar que era do pai?
— Conte-me o resto de sua história, Louise.
— Meu pai era peculiar. Inteligente e engraçado de um jeito meio
geek. Ele dizia que cada pessoa poderia ser definida por uma única
palavra. Chato. Interessante. Inteligente. Bonito. Insuportável.

— Qual era a sua?


— Determinada. — Ela sorri. — Ele sempre dizia que nada

poderia me parar porque eu era determinada.


— E você é?
— Sim. Você nunca vai conhecer alguém mais determinada do

que eu, Bryce. — Ela para e se corrige. — Talvez você mesmo, né?

Aceno com a cabeça, concordando.


— Eu estava tirando a carne da geladeira e ouvi um barulho.

Quando olhei para trás, meu pai não estava mais lá. Eu não sei

porque, mas prendi o fôlego. Chame de intuição, mas um suor

gelado começou a escorrer pela minha coluna.


Ela não olha para mim. O que quer que tenha acontecido naquele

dia, Louise ainda está presa lá.

— Lembro-me de que comecei a contar os segundos na minha


cabeça e prometi que se chegasse a trinta e meu pai não tivesse

voltado, eu iria lá encontrá-lo. Eu nem cheguei ao quinze e então, eu

ouvi.
— O quê?
— Tiros.
Capítulo 31

Belisco meus braços com minhas unhas afiadas, mantendo-os


trancados em volta do meu corpo. A dor física é mais fácil de se

lidar do que a emocional.

Nem mesmo a Drake eu contei em detalhes o que aconteceu.


Somente à polícia, quando tomou meu depoimento, mesmo assim

só quando fiquei bem o suficiente para falar. No entanto, para eles,


eu pulei algumas partes, me concentrando no momento em que ouvi

os tiros, como o detetive pediu.


Bryce, por outro lado, me fez lembrar não dos fatos, como os

homens da lei chamaram na época, mas de partes daquele dia que


estavam trancados no meu coração.

A risada do meu pai quando, tenho certeza, me deixou ganhar a

partida de tênis. Como andamos de mãos dadas de volta para casa,


sorrindo, sem precisar dizer em voz alta como preferíamos quando

éramos só nós dois e a mamãe não estava lá com julgamentos de

como deveríamos nos comportar.


Regras, sempre tivemos um monte delas em nossa casa, mas

quando éramos só eu e meu pai, fazíamos coisas proibidas, como

abrir um pote de sorvete enquanto preparávamos nosso


hambúrguer.

— Você está sorrindo — Bryce diz, me trazendo de volta ao


presente.

— Porque você me fez lembrar dos bons momentos. Eu me

apeguei ao pesadelo apenas, mas contar a você, trouxe de volta as

memórias felizes. O antes, mesmo que não tenha durado, existiu.

Obrigada.

— A duração não é tão importante. A intensidade, sim. O que


prefere: uma tempestade de cinco minutos que a renovaria ou uma

chuva fina por dias?


A intuição me diz que não estamos falando de fenômenos da
natureza, e sim, de nós dois.

— A tempestade — respondo sem hesitar. — Embora haja o risco

de me viciar, de sofrer quando passar de vez e tudo o que restar

sejam meses de sol inclemente.

Sacudo a cabeça, tentando limpar a mente e me concentrar no

que preciso.
— Como eu lhe falei, eu ouvi tiros. Meu pai sempre foi um

homem importante, mesmo antes de ser político. Sendo um texano

também, apreciava armas. Crescemos para entendermos a vida

real, não dentro de uma bolha, embora minha irmã…

— Prefira o mundo cor-de-rosa?

— Isso. Enfim, eu sabia perfeitamente como era o som de tiros.

Estava acostumada a treinar com meu pai em estandes[40] e quando

os ouvi naquele dia, peguei a arma que sabia que ficava na

dispensa.
— Tinham armas pela casa?

— Sim, mas como meu pai sabia que nem Emory ou mesmo

mamãe seriam capazes de atirar se fosse preciso, era um segredo

nosso.

— E o que fez?
— Eu estava apavorada, tremendo muito, mas o instinto me dizia

para não chamar pelo meu pai. Quando cheguei na sala, ele estava
caído no chão, coberto de sangue. Um homem tinha uma arma

apontada para a cabeça dele.


— Porra!
— Eu não pensei duas vezes. Gritei para chamar a atenção para

mim e no segundo seguinte, puxei o gatilho. Ele cambaleou no


primeiro tiro, mas eu não poderia recontar a sequência exata do que

aconteceu. Só sei que ele continuou de pé e vindo em minha


direção, a arma em riste. Acho que eu estava em choque, pois não

senti medo. De algum modo, sabia que precisava esvaziar o


revólver nele ou aquele homem voltaria e mataria meu pai. Eu não
sabia que já era tarde demais.

Bryce se levanta e minha primeira reação é mantê-lo longe, mas


ele não parece disposto a aceitar aquilo e me puxa para seus

braços.
Não diz nada para me consolar, mas me mantém segura em um

abraço de urso.
— Termine.
— Eu o matei. Mas antes de cair morto ele me disse que eu não

deveria morrer. Falou que não sabia que eu estaria na casa e que o
serviço só tinha sido contratado para o meu pai.

— Ele usou essas palavras?


— Sim. Eu nunca vou me esquecer. Na hora, não entendi muito

bem o que aquilo significava. — Encosto a testa no peito dele. —


Quando ele caiu no chão, chutei a arma dele para longe e fui para o

meu pai. Tentei me abaixar para falar com ele, mas naquela hora,
senti uma dor intensa no abdômen. Ele havia me atingido. Quando
olhei meu uniforme branco manchado de sangue, comecei a perder

os sentidos. As pernas fraquejando. Foi então que meu pai abriu os


olhos. Ele viu meu sangue e uma lágrima escorreu pelo rosto dele.

E então me disse: não morra. Você é determinada. Vá pegá-los.


— Quem te salvou?
A voz dele sai rouca de tensão, raivosa. Os braços me prendendo

com força.
— Eu mesma. Arrastei-me até o telefone e chamei a polícia. Eu

só acordei muito tempo depois. Segundo minha mãe me contou,


eles me puseram em coma induzido. O tiro foi perto do coração. O

homem errou por muito pouco. Não foi um ferimento de aviso. Eu


deveria ter morrido naquele dia.
Estou tremendo, agarrada a Bryce como se ele fosse uma parte

de mim. Como se nunca mais fosse soltá-lo.


Nesse instante, não sinto vergonha da minha necessidade.
Depois de relembrar tudo, eu não quero mandá-lo me deixar livre.
— Vamos sair daqui — diz.

— Para onde?
— Confie em mim. Nós dois precisamos de ar puro.

— Devo me trocar?
— Não. Basta vir.
— Tudo bem.

Sem prever seu próximo movimento, tomo um susto quando ele


me pega no colo e desce as escadas. Depois, me leva para a

picape.
Ainda é noite, mas está enluarada.

Ele me senta no banco do carona, prende meu cinto e dirige em


silêncio até chegar no alto de uma colina. Não é muito íngrime, mas
conseguimos ver luzes distantes na cidade.

— Espere aqui.
Observo-o sair do carro e abrir a carroceria. Depois, novamente

me pega no colo e me deita no cobertor que forrou na parte de trás.


— Vamos dormir aqui? — Tento brincar, mas falho, ainda muito
abalada com as revelações que acabei de fazer.
— Sou um cara de ar livre. Um bicho selvagem, Louise. Eu não
estava conseguindo respirar lá dentro.
— E por que me trouxe?

— Porque nada nesse mundo me afastaria de você hoje.


Ele se deita do meu lado e por um tempo, não dizemos nada,

apenas olhando para o céu.


— Eu poderia dormir assim todas as noites. Lugares fechados me
dão claustrofobia.

— Já acampou? — pergunta.

— Não.
— Podemos fazer isso um dia, mas por agora, relaxe.

Ele passa um braço por baixo da minha cabeça e me puxa para

perto.

Estou só de pijama — shorts e camiseta — mas a noite está


abafada, perfeita para ficar sob as estrelas.

— Você é a mulher mais corajosa que eu conheço — ele diz,

depois de um tempo. — E isso não é pouca coisa. Você viu as


representantes da minha família, elas são todas duronas.

— Corajosa não é minha palavra, se esqueceu? Sou

determinada.
— Sim, você é, mas esse foi o rótulo que seu pai lhe deu. Quero

escolher um.
— Vai ser corajosa, então?

— Não me decidi ainda. Eu lhe direi quando descobrir.


Capítulo 32

Ela adormeceu em meus braços e mesmo sabendo que


deveríamos entrar, eu não quero me mexer.

Enquanto observo o céu estrelado, penso em tudo o que me


contou.

Criei uma imagem de Louise dentro da minha cabeça, talvez

fruto do desejo que sempre senti por ela, mas foi necessário pouco
tempo de convivência apenas, para que eu percebesse que ela usa

uma armadura contra o mundo.

— Eu não gosto de me mostrar vulnerável — diz.


— Achei que estava dormindo.

— Cochilei, mas eu custo muito a relaxar completamente.


Ouviu o que eu disse?

— Sim. Ninguém gosta de se sentir vulnerável, Louise.

— Acho que não entendeu. Eu não confio com facilidade.

— Então por que comigo?

Ela se vira para me olhar, a cabeça ainda apoiada no meu


braço e espelho seu movimento.

— O dia de ontem foi uma loucura. Eu não pensei que

dormiria na sua casa ou que teria pesadelos. Meu descontrole não

foi planejado. Desculpe-me por ter lhe acordado.

— Eu não estava dormindo.

— Não?

— Não.

— Por quê?

— Não devemos entrar nesse assunto, Louise. Não quero

tirar vantagem de você. Não foi para isso que a trouxe aqui.

— Foi para quê, então?


— Eu costumava vir a esse lugar para pensar quando era
mais jovem. Às vezes dormia na caçamba da caminhonete, mesmo.

Ela olha para o céu.

— Melhor cenário da vida. Eu amo esse lugar.

— E o que mais você ama?

— Hein?

— Tenho a sensação de que esconde tanta coisa dentro de

si, que ocasionalmente se perde em quem realmente é.

Ela tenta se levantar, mas ponho a mão em sua bochecha,

mantendo-a deitada em meu braço.

— Está dizendo que finjo.

— Estou, sim.

Ela abre a boca como se fosse negar, mas depois suspira.

— Não com você. Desde sempre, sou cem por cento eu

quando estou com você.

— Por quê?

— Porque você não me julga, em primeiro lugar. Eu não sinto

como se esperasse determinado comportamento de mim. Você me


provoca, mas não de uma maneira ruim. É como se me puxasse

para fora de mim mesma. E eu gosto disso.

— Gosta?

Ela acena com a cabeça, concordando.

Sorrio.

— Tenho a sensação de que quer atirar algo em minha

direção, às vezes — digo.

— E quero, mesmo, mas por outro lado, adoro a maneira


como parece se importar em conhecer meu eu verdadeiro.

— Quantos “eus” existem dentro de você?

— Lembra do que eu falei do meu apartamento ao qual vou


para pintar?

— Aham.

— Aquela sou eu.

— Fale-me sobre isso.

— Quando meu pai morreu pelas mãos daquele homem,

assim que saí do hospital, decidi que o vingaria. Então, tudo mudou
quando a investigação concluiu que ele era culpado. Eu ainda era
uma adolescente, mas pelo que entendi, havia muitas provas contra

ele. Isso aliado ao fato de que minha mãe falava todos os dias que
ele era um corrupto, ferrou a minha cabeça.

— Ela já estava casada com Cassius?

— Já, sim. Ele, entretanto, foi maravilhoso comigo e com

Emory. Era minha mãe que parecia trabalhar incansavelmente para


me infernizar.

— Por quê?

— Na verdade, não sei se ela fazia aquilo para me machucar

ou se apenas queria que eu esquecesse meu pai. Ela ficou


envergonhada pelo que ele supostamente fez e queria riscá-lo de

nossas vidas.

— E não foi o que aconteceu?

— Comigo, não. Você não ama alguém a vida inteira e depois


simplesmente deixa de amar quando acorda um dia. Eu vivia em

conflito. Chorava muito porque os noticiários diziam que ele foi um


corrupto sujo, alguém responsável pela morte de diversas pessoas,

porque desviara verbas para a construção de hospitais.

— Como conseguiu sair desse pesadelo?


— Não consegui. Enlouqueci totalmente por um tempo e sem
saber o que fazer comigo, eles me puseram em um colégio interno

suíço. Agora, eu sou isso aqui, tipo Dr. Hyde and Mr. Jekyll[41] — diz,
tentando brincar.

Tenho a sensação de que ela não está me falando tudo, que

há muito além do que me contou, como por exemplo, de que


maneira conseguiu realinhar a mente e passar de adolescente

rebelde para “boa moça” outra vez, mas não empurro mais.

— Mas há um eu verdadeiro: a pintora.

— Há, sim. É minha válvula de escape. O lugar onde não sou


julgada. Eu nem ligo para o que eu pinto, realmente. Não penso em

expor e nem nada do tipo. Só preciso me soltar.

— E como acontece?

— Não vou te dar armas contra mim, senador — diz,


escondendo um sorriso.

— Fale-me.

— Eu tenho uma espécie de “uniforme” rebelde. Shorts,

camiseta velha da faculdade, cabelo trançado e música dos anos


oitenta — diz, rindo e escondendo o rosto nas minhas costelas.
Eu consigo visualizar a cena e aquilo me deixa louco.

A verdadeira Louise. Não a boneca criada para ser perfeita.

Talvez estranhando meu silêncio, ela ergue a cabeça para me


olhar.

O clima mudou e nós dois sabemos disso. A atmosfera não é


mais de carinho ou camaradagem de quando nos deitamos aqui, é

de puro desejo.

— Por que não conseguiu dormir hoje, Bryce?

— Porque tudo o que eu conseguia pensar era que você

estava no quarto ao lado e em como eu quero te provar.

Ela toma a iniciativa de subir o braço e agarrar um punhado

do meu cabelo. Não é uma pegada que chega a ser dolorosa, e sim,
urgente. Meu pau reage, tornando-se ainda mais duro.

— Sabe o que está me pedindo com esse olhar faminto,

mulher?

— Não tenho certeza, mas quero mais do que tivemos hoje


cedo.

Estou louco de desejo e não espero que me peça outra vez.

Baixo a cabeça e devoro os lábios dela. Ao contrário de mais cedo,


que mesmo com todo o tesão, peguei leve para meus padrões,

agora eu ataco sua boca de maneira despudorada, em um convite


sexual explícito.

Invertendo nossas posições, eu a deito sob mim e me

encaixo entre suas pernas.

Mordo-lhe a boca, a língua metendo gostoso em seu calor


molhado, enquanto minhas mãos sobem por dentro da camisetinha

do pijama. Paro antes de alcançar os seios e a olho.

— Mande-me parar.

— Por que eu faria isso?

Eu não espero que diga outra vez, tirando-a por cima de sua

cabeça.

Afasto-me para observar melhor a carne branquinha dos

peitos que despontam em mamilos rosados.

A luz da lua traz um contraste fascinante contra a pele dela,

transformando Louise em uma espécie de deusa.

Mergulho a cabeça e passo a língua em um dos seios,

somente um toque sutil e ela começa a tremer.

— Porra, você é muito sensível. Me deixa louco, ruiva.


Ela morde o lábio.

— Não — falo, soltando-o com os dedos. — Estamos só nós

dois aqui. Vai gemer para mim enquanto te faço gozar.

Volto a devorar seu peito, agora sem qualquer sutileza,


mamando de boca aberta, girando a língua no cume ereto.

Ela se agarra aos meus ombros e choraminga.

Desço a mão para a frente dos seus shorts e preciso de

apenas um toque para perceber que não há calcinha por baixo.

— Toda molhadinha. Minha garota safada não usa lingerie

para dormir.

— Não uso nada. Só o fiz porque estava na sua casa. — A

declaração termina em um gemido longo porque eu esfrego o clitóris


por cima do tecido.

Não é o suficiente, então enfio a mão por dentro do shorts e

urro contra seu peito quando sinto como está encharcada.

Deslizo o dedo no botão durinho e suas pernas tentam se


fechar.

— Não. Deixe eu te fazer gozar, gostosa. Você quer tanto

isso… Sua boceta está implorando, Louise.


Capítulo 33

Ela segura meu rosto e me beija, enquanto desço seu shorts.

Ajoelho-me para devorar o corpo nu com os olhos.

— Linda para caralho, Louise. Você é uma pintura.

— Eu tenho uma cicatriz — diz, puxando minha mão para

acima das costelas, perto do coração.

Há um pequeno relevo de pele, muito leve.

— Nada seria capaz de atrapalhar sua perfeição, mulher. —

Eu me abaixo e beijo o interior de suas coxas. — Vou comer essa


boceta aqui mesmo porque não posso esperar, mas da próxima vez,

quero luz. Quero te ver pingando para mim.

Ela mal respira e eu só sei o quanto está ansiosa porque

pequenos espasmos fazem suas coxas tremerem quando a coloco

sobre meus ombros.

Baixo a cabeça e aspiro o cheiro de sua excitação, o nariz


roçando no clitóris.

Ela geme alto e eu separo os lábios de seu sexo com ambos

os polegares.

— Você me enlouquece, menina.

Abocanho seu ponto de prazer, mamando com força,

mordiscando-o, sugando e o corpo dela ondula, se oferecendo para

mais.

A carne está febril e ela já não esconde o desejo, abrindo-se

para mim.

Rosno ao vê-la tão safada, pedindo pela minha boca.

Uma das minhas mãos agarra o mamilo duro, entre o


polegar e o indicador. Ela grita, se contorcendo, implorando com

palavras incompreensíveis.
Sugo o mel de suas dobras.

— Caralho, tão molhada. Seu cheiro é uma delícia.

Baixo a cabeça e prendo o nó duro de carne entre os dentes.

— Você quer muito que eu mame essa bocetinha virgem, né?

É uma pergunta retórica, porque eu teria que ser um menino

inexperiente para não perceber o quanto está louca de tesão.

Beijo o sexo encharcado com a boca aberta.

Ela enrosca os dedos no meu cabelo com rudeza, com a


mesma fome na qual devoro-a.

Não paro de chupá-la enquanto insiro um dedo em seu canal.

Ela se contrai em um primeiro momento, mas depois começa um

suave rebolado, gemendo.

Entro e saio e ela ergue os quadris, exigente.

Nunca senti tanto tesão apenas chupando uma mulher.

Louise é uma delícia.

A respiração sai curta e quando levanto a cabeça para


observá-la, noto que o rosto lindo adquiriu uma coloração rosada.
Ela está com vergonha, mas com tanto tesão também, que

não consegue recusar o prazer que estou oferecendo.

Ela engole meu dedo por dentro de sua passagem apertada e

sei pelas contrações que está à beira do orgasmo.

— Vai gozar na minha língua, Louise.

— Bryce…

Esfrego o clitóris, estimulando o botão rígido e com a outra


mão, fodo-a com meu dedo médio.

Abaixo a cabeça para lamber seu mel, como um gato à

procura de leite, mas minha fome não diminui.

— Diga o que quer, Louise.

— Eu não sei! — Ainda resiste.

— Sabe, sim. Quero ouvi-la implorando por minha língua


dentro de sua boceta. Me peça para comê-la.

Sei que os lábios de seu sexo estão sensibilizados, porque


quando mordisco-os de leve, ela grita de tesão.

Louise é perfeita quando se entrega.

A mulher mais responsiva com quem já estive.


— Eu quero… — Começa.

— Fale.

— Eu quero gozar na sua boca.

Caralho!

Aquilo é o meu gatilho e passo a comê-la sem me refrear,


metendo a língua profundamente na abertura estreita, mamando o

clitóris, mantendo os quadris dela onde eu quero, impedindo-a de se


mover até que me entregue tudo.

Quando ela goza, solta um grito sexy, de fêmea saciada, mas

eu não paro de chupá-la até que não sobre uma gota.

Quando seus tremores diminuem, eu me ergo para olhá-la.

Os olhos dela ainda estão nublados pelo prazer e eu poderia

ficar muito tempo só observando-a.

— Hey — chamo.

— O que vem depois? — pergunta e não posso deixar de


sorrir, satisfeito.

— Precisaríamos de muito tempo para eu te mostrar tudo,


baby.
— Eu quero.

Encaro-a para ter certeza de que quis mesmo dizer aquilo,


mas ela não desvia nossos olhos.

— O que você quer, Louise?

— Tudo entre nós dois. Mais. — Começa. — Entretanto, não


podemos confundir as coisas.

Aquela seria uma frase que eu diria para uma das mulheres
com quem saio e estar do outro lado da mesa é desagradável para

caralho.

Mantenho a expressão impassível, enquanto visto-lhe o


shorts. Ela se senta, sem camisa, não parecendo preocupada em se

mostrar para mim, o que me põe louco outra vez.

Essa é a verdadeira Louise?

A garota pintora que se liberta das amarras da sociedade,


enquanto trabalha em sua arte ouvindo rock da década de oitenta?

Porque se for, seu efeito sobre mim é ainda mais devastador

do que a que eu conheci até aqui.

— Ouviu o que eu falei, Bryce?


Eu lhe entrego a camisetinha do pijama e ela a veste.

A voz dela agora soa um pouco insegura e pela primeira vez,


ao invés de encará-la, sento-me de frente para a noite, com a

paisagem abaixo de nós.

Ela vem e se acomoda ao meu lado.

— O que eu disse de errado? — pergunta.

— Quando falou sobre não confundirmos as coisas, quis

dizer mais do que já estão? Porque se ainda não percebeu, Louise,


nós cruzamos todas as linhas imaginárias que havíamos imposto.

— Eu sei…

— O que quer de mim?

— Eu gosto de definições, então aqui vai minha proposta:


serei sua funcionária e noiva de mentira durante o dia. À noite,

podemos tudo. Mas nunca em outro horário que não seja ao fim do

expediente.

Levanto-me e desço da carroceria da picape. Antes que ela


possa protestar eu a pego no colo, porque está descalça e a sento

no banco do carona.

Fecho seu cinto, tranco a carroceria e vou para o meu lugar.


— Está me deixando insegura.

— Deixa eu ver se entendi: quer foder todo dia depois do


expediente?

Parece meio hipócrita da minha parte jogar isso na cara dela,

porque até então foi exatamente meu modus operandi. Porém, eu

nunca havia encontrado alguém que mexesse comigo como ela faz.

— Por que soa zangado? O que falei de mais? Achei que era

a maneira como você levava a vida. Estou tentando me ajustar.

— Eu não tenho uma receita de bolo que sigo à risca em

meus relacionamentos.

— Disse que não iludia as mulheres, que jogava limpo.

— E acha que não estou jogando limpo com você?

— Quer saber? Esqueça o que eu falei. Eu devo ter ficado

louca.

— Por que precisamos nos esconder, se ambos somos

solteiros?

Minha voz soa fria. Eu nunca recebi uma proposta daquela de

uma mulher.
— Porque quando terminarmos, ninguém vai comentar.

— Quem? A imprensa?

— Também, mas principalmente, as famílias. Com essa

história de noivado falso, podem acabar confundindo as coisas.


Pensando que o que temos é para valer.

— Já ficou com alguém a sério?

— Sabe que não.

— Então como pode ter certeza de que o que temos não é


para valer?

— Porque você é…. você.

Eu a encaro por um tempo, sabendo que o que disse é

parcialmente verdade, mas me sentindo incomodado para caralho


também.

Ela está me rotulando como “homem para foder, mas não

para mostrar em público” e o que deveria me deixar tranquilo porque

seria a proposta dos sonhos para um mulherengo como eu, faz com
que eu me sinta descartável.

Ligo o carro e não falo nada até chegarmos à fazenda.


Quando estaciono, outra vez a pego no colo e não a solto até

chegarmos em frente ao quarto dela.

— Boa noite, Louise.

Saio sem olhar para trás.

Estou confuso para cacete. De repente, meu mundo de

regras bem definidas virou uma bagunça e a responsável por isso é


a mulher que, além de me matar de desejo, é aquela com quem

terei que conviver por meses.

Minha noiva de mentira.


Capítulo 34

Eu acordei mais tarde do que o normal, por volta das nove e

com uma mensagem de Alfred dizendo que o senador Gray tinha


decidido ir para Washington sem mim.

Parece que a repercussão do anúncio do noivado foi tão boa

que não seria necessário um tour do casal pela capital, como eles

inicialmente pensaram.
Alfred também me mandou um cronograma com as tarefas

diárias daqui para frente.

Passarei a monitorar as redes sociais de Bryce, inclusive

alimentando notícias de nosso relacionamento, como se fosse ele.

Não foi um choque descobrir que meu noivo de mentira tinha

ido viajar sem mim, porque quando voltamos para casa ontem, ele
parecia zangado.

Eu não entendi nada.

Depois do que vivemos, da maneira como ele conseguiu me

tocar não só o corpo como algo mais profundo dentro de mim, tive
certeza de que não queria que aquilo acabasse ontem, então,

tentando lhe facilitar a vida e mostrar que eu não tinha qualquer

ilusão de um relacionamento romântico, fiz minha proposta.

Eu estava com medo de que ele risse de mim ou que me

dissesse que obtivera tudo o que desejava porque o que aconteceu


não foi tão especial.

Ainda assim, resolvi me arriscar porque pela primeira vez na

vida, senti que valia a pena sair da minha zona de conforto. Não

esperava a reação dele. Foi como se eu o tivesse magoado, o que


sei que seria impossível.
Qual a chance de um homem experiente ficar chateado por
uma mulher lhe oferecer sexo sem compromisso? E ainda mais,

sexo sem compromisso e sem que alguém saiba?

Após ler a mensagem de Alfred, telefonei para ele e avisei

que queria voltar para Dallas. Qual o sentido de continuar em

Grayland se o meu chefe está viajando?

Liguei para Mary Grace avisando que estava indo embora e

agradecendo a hospitalidade.

Assim que encerrei o telefonema, meu celular tocou outra

vez. Era Dominika.

— O que aconteceu que Bryce viajou sem você? — ela

pergunta sem titubear.

— Acho que foi porque a farsa do noivado deu certo.

— Não, não foi. Tente novamente, Louise.

— Não sei como responder a isso.

— Tudo bem, não estou querendo ser invasiva, apenas

entender, mesmo.

— Nós meio que ficamos juntos ontem. — Suspiro, me


rendendo à verdade. Ela não fala nada, então continuo. — Eu
propus que mantivéssemos tudo em segredo para não confundirmos

as coisas, mas acho que ele não gostou.

Para minha surpresa, ela dá risada.

— Eu te amo, Louise.

— O que eu falei de mais? Ele parecia chateado.

— Porque assim como os irmãos e primos, Bryce não gosta

de outra pessoa, que não seja ele, ditando as regras. E foi


exatamente o que você fez.

— Não foi intencional. Só não quero me machucar.

— Está certa, Louise. Cuide sempre do seu coração. Não

espere que outra pessoa o faça. Priorize-se.

— Esse é o plano. Estou voltando para Dallas.

— Tudo bem. Mantenha o celular por perto se precisarmos


nos falar sobre o falso noivado.

— Okay.

— E se precisar conversar sobre qualquer outra coisa, estarei

aqui.

— Obrigada.
Meia hora depois, olho pela janela do helicóptero, tentando

entender o modo de pensar dele, mas desisto.

Quando disse que iria embora, Alfred falou que o helicóptero

estaria à minha disposição, mas nesse instante, eu gostaria de ter


voltado a dirigir.

Passar duas horas pela estrada, sozinha, me ajudaria a


pensar, mas desde que fui pega pela polícia na adolescência,

depois que minha carteira provisória[42] havia sido obtida


recentemente, nunca mais tentei.

Uma hora e meia depois, estou chegando ao meu


apartamento em um táxi, já que fui liberada do serviço hoje.

Assim que o motorista faz a curva para entrar na minha rua,


no entanto, eu vejo uma multidão de repórteres cercando meu

prédio.

Não preciso pensar muito para saber do que se trata.

— Siga adiante — falo para o homem e depois, dou o


endereço do apartamento que uso para pintar.

Meu coração bate loucamente dentro do peito.


Eu sabia que aquilo poderia acontecer. Transformei-me em
uma espécie de celebridade de uma hora para outra ao anunciar
meu noivado com Bryce, mas nada me preparou para essa invasão

em massa da minha privacidade.

Minutos depois, quando finalmente chego ao meu segundo

apartamento, meu telefone volta a tocar.

Suspiro aliviada quando vejo a letra “D” na tela.

— Como você está? — ele pergunta.

— Tive que fugir do meu apartamento. Nem consegui entrar,


para dizer a verdade.

— Já esperava por algo assim. A notícia boa é que os

eleitores estão revoltados com o vídeo falso e exultantes com o


noivado igualmente falso — ele diz, com seu senso de humor ácido.

— Eu só quero que tudo isso acabe. Quando eu finalmente


conseguir provar que meu pai era um homem honesto, deixarei tudo

para trás e começarei do zero.

— Ninguém começa do zero depois de carregar o tipo de

bagagem que você tem, Louise, mas pode “recomeçar”, o que já


seria excelente.
— É o que pretendo.

— Disse que não conseguiu entrar em casa. Onde está


agora, no gabinete? Não é seguro falar daí.

— Não. No meu outro apartamento. Não finja que não sabe

que ele existe.

Ele ri.

— Eu não ia fingir. Sei que vai aí uma vez por semana.

Pretende se mudar de vez?

— Não, só darei um tempo até as coisas se acalmarem.

— Eu já tenho um nome — diz.

Minha pulsação acelera porque sei do que ele está falando.

— Quem?

— Não posso dizer por telefone, Louise. Temos que dar um

jeito de nos encontrarmos.

— Talvez eu possa ir à Atlanta, mas preciso voltar no mesmo

dia. Amanhã seria possível para você?

— Perfeito.

— A pista é quente?
— É. E envolve não apenas nomes de peso na política

nacional, como algo mais perigoso.

— E esse homem de quem está falando, tem certeza de que

está envolvido na morte do meu pai, também?

— Não tenho provas concretas, mas muitos indícios.

— Eu confio em você, mesmo que até hoje não entenda


porquê decidiu me ajudar.

— Não se preocupe com isso e sim com o fato de que em

breve, pegaremos um por um dos monstros que destruíram sua

vida.

— É uma promessa? — pergunto.

Até hoje, não lhe cobrei nada. Como poderia, se sem ele

nunca teria sequer descoberto que meu pai era inocente? Deixei

que me guiasse até aqui, mas agora sinto necessidade de uma


garantia.

— Sim, Louise. É uma promessa.


Capítulo 35

Já se passaram oito dias desde que eu voltei da fazenda e


Bryce ainda não retornou para Dallas.

Falamo-nos algumas vezes por telefone e como continuo

morando no apartamento que uso para pintar, passei o endereço


daqui para Alfred, caso ele precise falar comigo.

Minhas conversas com o senador Gray se resumem a


boletins diários de monitoramento de suas redes sociais e anúncios
para a imprensa e embora às vezes eu sinta que ele quer falar algo

mais, não lhe dou oportunidade.

Alguns membros da família Gray, como Mary, de vez em

quando me telefonam. A primeira vez que ela o fez, foi para avisar

que o almoço com a minha família na Império Gray teria que ser
remarcado porque Bryce não voltaria para o Texas a tempo.

Eu dei graças a Deus em silêncio. Nunca serei aquela

ansiosa por uma reunião com meus parentes.

Mamãe não me ligou mais, o que não me causou qualquer


estranheza. Desconfio de que ainda esteja chateada por Emory não

ter sido a escolhida para noiva de mentira de Bryce.

Dois dias depois que falei com Drake, fui a Atlanta em um

voo de bate e volta. Não avisei a qualquer um que sairia do Texas,

apenas mandei uma mensagem para Bryce e seu assistente,

dizendo que precisava do dia livre.

Quando meu amigo me entregou o dossiê com o nome do

senador corrupto do estado de Massachusetts, cujo nome, Aston

Barlowe[43], eu nunca ouvi antes, não foi tanto o fato dele ocupar um

alto cargo o que me chocou, mas o que havia envolvido por trás.
Eu sabia, baseada nas acusações que fizeram contra meu
pai, que tratava-se de um esquema, principalmente, de lavagem de

dinheiro[44], mas nunca passou pela minha cabeça que a máfia

irlandesa[45] estivesse envolvida.

Drake me disse, porém, que não acha que o assassinato do


meu pai e o esquema de corrupção, em sua opinião, são situações

que correm paralelamente.

Ele não acredita nem por um segundo que os mafiosos se

envolveriam na morte de um ex-governador, porque isso atrairia a

atenção do FBI sobre eles. Não fazia sentido.

Drake acha que o que fizeram com meu pai foi usá-lo como

uma espécie de sacrifício, criando uma cortina de fumaça para

encobrir os verdadeiros culpados. Uma vez que calassem papai,

matando-o e em seguida, espalhassem aquelas mentiras sobre ele,

quem o defenderia? Qualquer investigação que estivesse sendo

feita seria encerrada e o verdadeiro criminoso ou criminosos, sairia


livre.

Deito a cabeça sobre meus braços no tampo da mesa da sala

em anexo a de Bryce, me sentindo exausta tanto física quanto

mentalmente.
Eu tenho empurrado a falta que sinto do meu chefe para o

fundo do meu coração, tentando não pensar no que aconteceu


naquela noite enluarada no Texas, mas tenho falhado dia após dia.

Fora meu pai, eu nunca me senti tão emocionalmente ligada


a alguém, o que diz muito a meu respeito.

Estou me apaixonando não só por um homem que


desconhece qualquer conexão com o sexo feminino que não seja a

sexual, mas também aquele que é cobiçado por dez entre cada dez
solteiras.

Penso pela milésima vez em nossa última conversa íntima,

naquela noite na fazenda.

Dominika me aplaudiu quando lhe contei, mas agi mesmo


certo? Ou fui apenas covarde, me protegendo antes que ele

pudesse me machucar?

Meu telefone soa o alarme, avisando que são seis. Um bom


momento para ir embora, já que a essa hora a chance de ainda ter

algum paparazzi lá fora é mínima.

Ainda assim, sinto-me sem coragem de levantar.


Pegaria muito mal dormir aqui mesmo? — me pergunto,

brincando.

— Dia ruim?

Tomo um susto quando ouço a voz do homem que faz meu


coração disparar sem qualquer esforço e levo alguns segundos

antes de erguer a cabeça para encará-lo.

Quando o faço, vejo que ele parece cansado. Está sem o

blazer do terno e o cabelo bagunçado. Nem assim o bendito


consegue ficar menos lindo.

Faço meu melhor esforço para disfarçar o desejo de correr


para os braços dele.

— Estava me preparando para sair, senador. Precisa de


mim?

Ele me encara, acompanhando meu movimento quando me


ponho de pé e é um esforço sobre-humano não demonstrar o

quanto, somente com sua presença, ele me põe trêmula.

— Não como assessora — diz, de maneira enigmática. —

Por que não me contou que havia se mudado?


— Não me mudei. Estou passando uns dias no meu
apartamento que uso para pintar. Contei a Alfred. Achei que ele
havia lhe avisado.

— Ele só me disse hoje. Por que resolveu ir para lá?

— Isso importa?

— Por que tudo com você é uma batalha?

— Talvez prefira aquelas que concordam com tudo, certo?


Deixe-me esclarecer algo, senador: minha vida fora do gabinete não

é da conta de qualquer um.

Pego a pasta de couro que passei a usar para trabalhar, a


conselho de Dominika, que disse que a mochila que era minha

companheira inseparável na época em que atuava como freelancer


não servia mais.

Quando tento passar por ele, segura meu braço.

— Temos que conversar.

— Algo sobre o trabalho?

Desconfio que não seja, mas quero ouvi-lo dizer.

— Não.
— Sobre o noivado falso?

— Sobre nós dois, Louise.

Dou um sorriso sem humor.

— Não existe nós dois, Bryce. Deixou isso bem claro quando

foi embora de Grayland sem me dar qualquer explicação, no dia


seguinte em que me abri com você.

Ele passa as mãos pelo cabelo, parecendo atormentado.

— Eu não sou um homem comum. Qualquer decisão sobre a


minha vida, tem que ser pensada e pesada com calma.

— Eu não lhe cobrei nada. Apenas propus o que você

costuma oferecer a todas as mulheres. Sinto muito que não tenha

gostado, mas não vai me tratar como fez com as outras.

— Está obcecada com o meu passado. Nunca disse que era

um monge.

— Não estou julgando-o, mas fui rejeitada a vida inteira pela

minha mãe. Não permito que alguém mais faça isso. Nós dois
sabemos que chegará o momento em que se cansará de mim e

então, o quê? Me desejará “boa sorte” e terei que me conformar que

você simplesmente seguiu adiante? Eu sou um caos por dentro,


Bryce, mas consegui sobreviver em meio a minha bagunça interna

me protegendo. Conhecendo meus limites.

— Sendo uma covarde, você quer dizer. Não há qualquer

mérito em viver no meio da segurança, Louise e é assim que leva

sua vida. Nem o cãozinho quer comprar, pelo amor de Deus! Como
eu poderia esperar que se entregasse a algo real?

— Exatamente. Não espere nada de mim. Eu não esperarei

de você.
Capítulo 36

Oito dias.

Cento e noventa e duas horas sem vê-la até que eu

finalmente me rendesse.

Fui embora de Grayland porque não sabia como lidar com

Louise. Levei trinta e oito anos da minha vida para finalmente me

deparar com uma mulher a quem não consigo rotular.


Eu sei o que Louise me desperta: um tesão louco. Tanto com
o corpo delicioso quanto com a boca inteligente.

Ela conseguiu o que nenhuma antes foi capaz — preencher

meus pensamentos mesmo durante o expediente e isso não tem

nada a ver com o fato de que trabalha para mim. No gabinete

mesmo, até agora, passamos pouco tempo juntos. E sim porque eu

me pego lembrando das nossas conversas, das ironias, e o jeito


como me enfrenta.

Pausa.

Isso foi até o dia em que a fiz gozar na minha boca porque a

partir de então, se fechar os olhos, ouço seus gemidos pedindo por

mais. A doçura do gozo em minha língua.

Não sei o que me fez perder o controle hoje.

Não, na verdade, eu sei, sim.

Eu não pretendia voltar para o Texas ainda, mas tudo mudou

no momento em que Alfred me disse que ela estava morando em

outro lugar. Eu me senti enciumado por Louise ter compartilhado

com mais alguém, além de mim, sobre seu espaço secreto.


Voei de volta para Dallas, disposto a ir a qualquer lugar atrás

dela se não a encontrasse no gabinete, mesmo sem saber direito o


que aconteceria quando estivéssemos frente a frente.

Há uma parte minha que ainda reluta em aceitar que se eu a


quiser, terei que colocar de lado todas as minhas regras anteriores e
começar o que quer que seja entre nós dois como em uma folha em

branco.

Eu não sei ao certo o que esperava quando me visse.

Talvez que demonstrasse saudade? Ou que se jogasse nos


meus braços como certamente as mulheres do meu passado fariam,

confessando que o que me falou na fazenda foi um erro?

Sim, sou um cretino mimado.

Não contava em vê-la linda como sempre e apesar de

parecer um pouco cansada, totalmente senhora de si.

Por nenhuma vez desde que nos afastamos, ela tentou

insinuar que precisávamos conversar. É como se para ela, tanto


fizesse.

E então, quando tomei a iniciativa e ela manteve a mesma


linha de nos tornarmos amantes noturnos, o que restava do meu
controle se rompeu.

Ela se foi há cerca de meia hora e pela primeira vez desde


que assumi como senador, sirvo-me de uma dose de uísque dentro

do meu gabinete.

A bebida, ao invés de me relaxar, desce como ácido, mesmo

sendo de uma excelente safra, como são todos os produzidos pela

destilaria do duque Rodrick MacQuoid[46].

Desisto no primeiro gole, agarrando meu celular e apertando-


o na mão.

Corro o nome dela até encontrar o novo endereço.

Nossa conversa ainda não terminou, Louise. Não vai virar as

costas como faz com tudo na vida.

Não dessa vez. Não comigo.


Cerca de trinta minutos depois, estou em frente ao edifício
dela. Eu poderia pedir ao porteiro para me anunciar, mas não farei.
Não vou lhe dar a chance de se recusar a me ver. Se ela não quiser,

terá que me dizer com todas as letras.

Pressiono o dedo em seu nome para completar a ligação,

ainda de dentro do carro.

Chama algumas vezes antes que atenda e juro que posso vê-

la segurando o aparelho, em dúvida sobre o que fazer.

No quinto toque, ouço sua voz.

— Já terminamos por hoje, senador.

— Vou subir.

— Não.

— Covarde.

— Vá para o inferno. Não sabe nada de mim.

— Ninguém sabe nada de você e sabe por quê? É medrosa


demais para se mostrar.

— Eu não tenho medo de você. Não tenho medo de qualquer


um.
— Prove-me. Deixe-me subir.

— Para quê? Vá procurar uma de suas mulheres. Não gostou


do que eu disse na fazenda porque foi a verdade: quer ficar comigo

até seu corpo se satisfazer. Pois bem, eu quero o mesmo. Quero


mais de tudo o que tivemos, mas sem me iludir.

— Eu quero você, porra! Eu não estou colocando um prazo

nisso, Louise!

— É ridículo termos essa conversa por telefone.

— Então deixe de ser covarde e abra a porta.

— Venha.

Não espero que diga outra vez. Desligo o telefone e saio do

carro antes que ela volte atrás.

Não dou chance ao motorista ou aos guarda-costas de me

seguirem, fazendo um gesto com a mão que me esperem.

Assim que chego à entrada do prédio, o porteiro destranca a

porta.

Cumprimento-o com um gesto de cabeça e em seguida, subo

os seis andares pela escada. Estou acelerado demais para entrar

em uma caixa de metal.


Já no andar de Louise, olho para a placa que indica os

apartamentos pares — os dois da direita.

Eu não chego a tocar a campainha porque ela já está me

esperando.

Por um momento, eu congelo.

Não veste mais a roupa de há pouco, aquele quase uniforme,


que embora seja um pouco mais sexy do que o que vestia

anteriormente, já que foi escolhido por Dominika para que se

encaixasse no novo papel de noiva de senador, não me mostra a


verdadeira gata selvagem que Louise é.

Meu corpo superaquece enquanto passeio os olhos pelas

pernas nuas, vestidas com um shorts sujo de tinta e uma camiseta

que deixa o umbigo do lado de fora, caída em um dos ombros.

Os cabelos vermelhos que me fascinam estão soltos e só a

suave maquiagem que usa durante o dia relembra um pouco da

mulher que a sociedade conhece como minha noiva.

— Você — falo, dando um passo para dentro. — Nunca mais


fuja de mim como fez hoje.

Ela não recua.


— Fugirei quantas vezes forem necessárias se isso significar

me proteger.

— Eu vou te perseguir. Não vou parar até te alcançar.

— Por quê? O que quer de mim?

— Tudo. Foda-se essa merda de ficarmos escondidos. Eu

quero tudo. Quero você na minha vida.

— Não brinque comigo, Bryce. Não sou forte como pareço.

— Não estou brincando. Eu quero tudo. Fuja o quanto quiser.


Eu não vou desistir.

Ela me encara como se estivesse tentada a fechar a porta.

Eu não me movo. Apesar de tudo o que eu disse ser verdade — que

agora que sei o que quero não vou desistir — Louise precisa
aprender a assumir as próprias escolhas.

— Eu não quero que desista — diz, me surpreendendo. — Eu

quero tudo, também.


Capítulo 37

Entre ela terminar de falar e eu a ter erguida com as coxas

em volta da minha cintura não se passam mais do que poucos


segundos.

Não acho que qualquer um de nós tenha consciência do

mundo à nossa volta no momento. Cada gota de sangue e respirar


está concentrado no outro.

As mãos de ambos são desajeitadas, mexendo-se sem


qualquer coordenação. Eu tenho um braço sob a bunda dela,

sustentando-a e com a outra, tento tirar-lhe a camiseta.


Ela abre minha gravata e arrebenta vários botões da minha

camisa, tentando me deixar nu, mas sem aceitar o menor espaço


entre nossas bocas.

— Eu não vou mais fugir — avisa. — E se você o fizer, sou

eu quem vai te perseguir.

Mesmo louco de tesão, sorrio contra sua boca, quando ela


finalmente me entrega sua rendição.

— Não vou a lugar algum — digo. — Agora, aponte o quarto

ou vou te foder em pé.

— Terceira porta.

Quando chegamos lá, ela já está apenas de sutiã.

Desço-a do meu colo o suficiente para terminar de me despir

e Louise faz o mesmo, mas quando me vê nu, para com as mãos


nas laterais da calcinha.

Meu pau está duro, tocando o abdômen, pré-gozo vazando

da cabeça e ela lambe os lábios.

— Vem cá. Eu preciso te ajudar a se livrar dessas roupas —


digo.
Viro-a de frente para a porta porque se ela continuar me
olhando desse jeito, perderei o controle.

Eu me abaixo por trás dela e rasgo a lingerie de seu corpo.

— Incline para frente. Quero chupar essa boceta.

Quando faz o que eu mando, separo seus lábios por trás,


correndo a língua por toda sua abertura.

Ela rebola no meu rosto e eu estapeio sua bunda por ser tão

provocadora, embora eu saiba que não faz de propósito. Louise é

naturalmente sexy.

Ela geme cada vez que meto a língua em seu canal e quando
sinto que está preparada para me receber, volto a me levantar.

— Vai gozar no meu pau, Louise. Quando eu estiver todo

enterrado dentro de você.

Eu ainda não permito que se vire, pegando-a por trás,


roçando minha extensão entre os lábios de sua boceta.

Ela está muito molhada e eu fecho os olhos quando sinto

nossa umidade se misturando.

Eu nunca me permiti tocar uma mulher sem preservativo e


por ser com ela, estou fora de órbita.
Louise fica na ponta dos pés e como estou inclinado, sua

abertura alcança o cume do meu pau. A sensação é deliciosa e


agarro seus quadris, todo meu corpo implorando para meter fundo.

— Deveria ser suave — sussurro na orelha dela.

— Nós dois nunca fomos suaves um com o outro. Por que

aconteceria agora?

— Bom ponto. — Continuo empurrando de leve — Não force

para trás. Só quero que me sinta mais um pouco.

Ela rebola e eu preciso fechar os olhos.

— Mais — pede.

— Vou te foder gostoso a noite inteira. Não vou sair dessa


boceta hoje.

Ela move a mão para trás, me segurando pelo pescoço.

Eu continuo enfiando suavemente, uma mão em seu clitóris e

outra puxando os mamilos durinhos.

As bocas não se desgrudam e meto a língua no mesmo ritmo


em que meu pau invade sua boceta.

— Só mais um pouquinho — prometo a mim mesmo.


— Sim. Mais um pouquinho.

— Eu estou limpo. Nunca fiz sem proteção.

Espero que ela vá protestar porque sei que é uma loucura,


mas me diz:

— Não pode gozar dentro de mim. Não tomo pílula.

É como abrir uma comporta, o desejo invadindo todos os

espaços do meu cérebro, me transformando em um animal faminto


pela fêmea.

Eu a viro de frente para mim, pegando-a no colo e levando-a

até a cama.

Depois que a deito, prendo um mamilo entre os dentes,


revezando com chupadas. Minha mão desliza até o centro das

coxas dela, dedos e palma encharcados pelo mel.

— Eu adoro seu cheiro — diz.

Estou ficando viciado em tudo em você.

Escorrego um dedo dentro e fora de seu sexo virgem para

dilatá-la e repito em pensamento todas as orações que conheço,


porque Louise é apertada como um torno, pulsando contra minha
carne, me sugando para dentro.
Ela prende os lábios entre os dentes.

— Não. Eu sempre vou querer seus gritos e gemidos. Aqui,


com nós dois nus, você nunca vai se esconder, Louise.

Junto um segundo dedo ao primeiro, movimentando-os mais

rápido até encontrar a barreira do hímen e ela urra baixinho.

Ela está com vergonha, eu vejo, mas mesmo assim se doa


inteirinha, o que me deixa ainda mais louco.

Gira os quadris, ansiosa, indo ao encontro da minha mão.

— Eu adoro a maneira como você é comigo. Como você não


se contenta com a superfície.

— Eu quero tudo.

— Me mostra, Bryce. Me faz dar tudo.

Escorrego outra vez por suas coxas e me encaixo em sua


entrada. Só de sentir a cabeça do meu pau, sua boceta se aperta,

contraindo em espasmos que estão me fazendo perder o controle.

Puta merda!

Empurro nela até a metade, minha carne quente, dura e


grossa contra o canal intocado.
Louise geme e quando aumento o ritmo, implora por mais.

Ao mesmo tempo, o rosto dela está tenso, então abocanho


um peito inteiro, mamando.

Agarro-a por baixo e suspendo sua bunda para angulá-la

como eu quero. A outra mão vai para seu cabelo, agarrando um


punhado para mantê-la olhando para mim.

Ela me puxa para um beijo, acariciando meu lábio inferior


com a língua.

— Vou tentar não te machucar além do necessário.

— Eu quero você. Faça-me sua. Não estou com medo.

As unhas afiadas como garras vêm para o meu peito, me

arrancando gemidos, mas é quando ela separa ainda mais as


coxas, que eu desisto de resistir.

Saio quase todo e quando volto, empurro profundamente,

batendo nossos quadris, atento às suas reações.

Ela fica tensa, apertando-me, os olhos cheios de lágrimas.

— Ai…

— Shhh… vai ficar tudo bem.


Eu não me mexo. Acaricio os mamilos com a língua e

escorrego uma mão entre nossos corpos.

Louise rebola sob mim e deixo escapar um som rouco.

Saio quase inteiro e empurro outra vez, forçando caminho

entre a carne macia, ensinando-a a me aceitar.

Ela choraminga e arranha minha bunda e costas, muito tensa


ainda.

Começo um vai e vem leve, metendo sem parar até que ela

começa a me acompanhar, ganhando ritmo, recebendo cada

centímetro meu.

Meus dentes estão cerrados, enquanto tento me controlar

para não machucá-la, mas quando sussurra que precisa de mais, eu

dou o que ela quer.

Bato com força, martelando a bocetinha apertada sem


descanso.

Louise é fogo puro embaixo de mim, choramingando o tesão,

em um pedir que também é comando.

— Porra de boceta gostosa, mulher!


Saio e entro profundo, ambos os corpos consumidos em

chamas que aumentam e aumentam.

Ela planta os pés na cama e começa a impulsionar.

— Passou a dor?

— Não totalmente, mas eu preciso de tudo.

— Não me provoque, Louise. Eu quero que seja gostoso para

você.

— Mais, Bryce. Eu não me importo se doer um pouquinho.


Você dentro de mim é tão perfeito.

Abaixo-me para morder e lamber seu pescoço e ela geme.

— Só por hoje, mostre-me como é ser sua mulher. Ensine-me

a dar tudo o que você precisa.

Eu não gosto daquelas palavras. Elas soam como um fim.


Nossa separação está muito recente ainda e me sinto volátil.

Mordo seu queixo.

— Vai ter muito tempo para saber como é ser minha mulher.

Ela fecha os olhos, como se tentasse deixar minhas palavras


do lado de fora e precisando atingir qualquer parte dela, começo a
meter sem contenção, batendo duro.

— É isso o que quer?

— Ahhhh…

Foco no desejo. É somente o que há entre nós dois.

Cru, áspero, insaciável, mas apenas desejo.

Ouço o bater de nossas peles molhadas e o cheiro de sexo


dominando o ar.

A porra do melhor perfume do mundo.

Colo meus lábios em sua orelha.

— Quer ser minha mulher? Vamos ver o quanto aguenta. Vou

te viciar em mim, Louise.


Capítulo 38

Eu giro na cama, trazendo-a comigo, mas a mantenho


suspensa em meus braços.

— Senta no meu pau. Quero sentir essa boceta me

engolindo.

Começo a abaixá-la e fico louco quando ela geme ao olhar


para baixo.

— Gosta disso? Gosta de me ver entrando em você, safada?

Ela se apoia em meus ombros e geme assim que meu pau

começa a abri-la novamente.


— Porra! — rosno quando estou inteiro nela.

Faço com que suba e desça e trinco os dentes para


conseguir segurar meu gozo.

— Coloque dois de seus dedos na minha boca. — Ela

obedece e eu os chupo. — Agora toque sua boceta.

A mão delicada alcança o clitóris e ela se contrai à minha


volta.

Eu aumento o ritmo, penetrando-a muito fundo.

Os primeiros gemidos são lamentos que misturam dor e

prazer, mas aos poucos, ela consegue se ajustar à minha


espessura, sentando gostoso.

Ela une nossas bocas, a língua me seduzindo assim como a

boceta o faz.

Eu urro cada vez que as paredes internas se estendem para

me acomodar, meu sexo grosso abrindo-a, fazendo-a pulsar contra

minha invasão.

Por todo o tempo em que a possuo, nos olhamos e talvez


para escapar da intimidade, ela começa a lamber o suor do meu

peito, meus ombros, chupar meu pescoço.


Aquilo me irrita. Eu não quero que ela fuja, estou entregando
tudo.

Meto mais forte e rápido e ela volta a me olhar, incapaz de se

concentrar em qualquer coisa agora que não seja meu pau tomando

sua boceta uma vez e mais outra.

— Muito? — pergunto, porque por mais louco que esteja, não

quero que sinta dor.

— Não. Eu nunca vou me cansar disso. De nós dois.

Não acho que ela saiba que está me confessando aquilo.

Talvez sua proteção esteja baixa por conta do tesão, mas não
importa, vou memorizar essas palavras e usá-las ao meu favor no

futuro.

A maneira como eu a tomo agora é selvagem, demandando

sua entrega.

Sou um cara grande em todos os aspectos e a diferença

física entre nós é impressionante, mas Louise não recua, sempre

pedindo por mais.

Eu me sinto pulsando dentro dela, meu próprio orgasmo se

construindo com a força de um tsunami.


— Bryce.

— Goze.

Ela me aperta e solta, enquanto sinto seus fluidos se

espalhando em minha espessura.

Xingo, puxo seu cabelo mordendo-lhe o pescoço,

completamente perdido em nós dois.

Lambo e chupo sua boca e ombro. Ela está suada e sinto o


gosto salgado da pele em minha língua.

Louise morde meu mamilo e parece faminta, perdida em

prazer, o que termina por romper meu autocontrole.

Ela me recebe dentro do corpo, deixando que eu pegue o que


quiser.

Minha para caralho.

Quando se acalma, eu a deito novamente e monto-a,

cavalgando sua boceta.

Meu corpo fica tenso, em um aviso de que vou gozar.

Imprimo um ritmo ininterrupto, movimentando os quadris,


estocando-a fundo.
Agarro sua bunda quase levantando-a da cama, aproveitando

até o último segundo antes de sair.

— Eu vou gozar muito, minha delícia.

Ajoelho e me masturbo em cima dela.

— Segure esses peitos para mim, Louise.

Ela ainda está meio grogue, mas obedece. O rostinho safado,

de fêmea saciada, é o meu gatilho.

Gozo por tanto tempo que quando termino, preciso sentar


nos calcanhares.

Ela não para de me olhar e então, com as duas mãos,

espalha meu esperma em seu peito, como uma pintura.

— Está tentando me matar, mulher?

Eu acabei de gozar e meu pau já está reagindo outra vez.

— Não, aprendendo o que você gosta.

Eu gosto de tudo em você.

Ao invés de falar, eu a puxo de volta para o meu colo.

— Banho? — pergunto.

Ela cora.
— Juntos? Eu nunca fiz isso.

— Ficaria muito desapontado se tivesse feito.

Ela me dá uma mordida no ombro.

— Não vamos entrar nessa questão. Não gosto de pensar na

sua lista infinita de amantes. Concentre-se nessa aqui, em seus


braços.

— Você não é minha amante.

— Mas nós…

— Eu lhe avisei, Louise: não tente fugir porque eu vou caçá-


la. Nada de encontros fortuitos. Você é minha namorada.

— Vamos fazer uma confusão na cabeça das nossas


famílias: namoro de verdade, noivado de mentira.

— Você pensa demais, ruiva. Um dia de cada vez. Agora,


mostre-me onde fica o banheiro. Depois do banho, vou nos

alimentar.
— Eu não posso compartilhar refeições com você — diz,

sorrindo, depois de raspar o prato da massa que eu fiz. — Você


cozinha muito bem, mas nem um pouco saudável.

— Me dê uma chance. Foi a primeira vez que lhe preparei

comida.

— Eu comi uma tonelada de lasanha!

— Precisa de carboidrato. Não terminei com você por hoje.

— Não estou reclamando por receber mais lições — diz, com

uma carinha safada e ao mesmo tempo, corando.

— Você é uma contradição, Louise Whitlock.

— Todas nós mulheres somos. É tipo uma habilidade

especial. A dualidade é sexy.

— Você é sexy só de respirar.

Eu afasto meu prato da mesa e a sento na minha frente, me


encaixando entre suas pernas.
— Minha mãe vai ficar louca quando souber que estamos

namorando para valer.

— E quem se importa com isso?

— Ela falou que Emory seria uma melhor escolha para noiva

de mentira, provavelmente porque você acabaria se encantando por

ela.

— Não iria acontecer.

— Como pode ter tanta certeza?

Penso se devo dourar a pílula ou responder a verdade, mas

opto pela honestidade.

— Porque cheguei a considerá-la para ser minha esposa de

conveniência, mas sua irmã nunca me atraiu.

Ela me olha como se achasse que eu ia dizer que era uma

piada, mas não vou começar nosso relacionamento ocultando-lhe


qualquer coisa.

— Nunca passou de uma ideia, Louise. Emory e eu somos

incompatíveis.

De repente, toda a alegria que ela estava demonstrando,


desaparece.
— Não é da minha conta — diz, saindo da mesa e levando os

pratos para a pia.


Capítulo 39

Ele não fala nada enquanto me observa guardar a louça na


máquina. Tentou me ajudar, mas eu disse que não precisava, então

está parado na minha cozinha, recostado no balcão, sem camisa e


lindo como sempre, enquanto tento dizer a mim mesma que sou

uma idiota por sentir ciúmes.

Não foi só Cassius quem nunca pensou em mim como uma

possível candidata a esposa, Bryce também.

Ele pensou em Emory, claro.


A garota perfeita.

— Louise.

— Eu sei que estou sendo idiota. Nem sei o que me deu. Isso
é passado. Eu não me importo. Além do mais, minha irmã mais

nova é mesmo a esposa de candidato perfeita.

As palavras saem atropeladas, corridas, porque estou


nervosa.

Não. Estou morta de ciúmes e magoada, também.

Um Gray nunca mente — Dominika disse.

Nesse instante, gostaria que ele tivesse feito exatamente

isso.

— Vem cá — chama.

— Se não se importa, vou pintar.

— Eu me importo — diz e me puxa para seus braços, me

sentando no balcão. — Você ouviu o que eu falei? Pensei em uma

possibilidade de um casamento de conveniência. Eu nunca me senti

atraído por ela.

— Não é problema meu.


— É sim, se está morrendo de ciúmes. Mas eu quero que
saiba que não há razão para isso.

— Okay.

— Okay uma ova. Ainda está zangada comigo, então

desembucha. Não sou sua família. Não quero a garota perfeita.


Quero a mulher que faz meu sangue ferver. Minha ruiva atrevida.

— Quer o quê, Bryce, que eu diga que estou louca de

ciúmes?

— Você está? — pergunta com um sorriso pretensioso, o que

me deixa completamente insana.

Eu desço da bancada.

— Vamos fazer o seguinte. — Começo, com a voz mais doce

do mundo. — Sua avó me disse que tem primos solteiros no

Wyoming.

Seus olhos adquirem um brilho perigoso na mesma hora e

uma satisfação mesquinha se espalha dentro de mim.

— Onde está querendo chegar com essa conversa?

— Calma. Já vai saber. Digamos que eu tenha me


interessado por um deles no passado, que cheguei a pensar em
fazer de um dos rapazes meu marido de conveniência. Como se

sentiria?

Seu maxilar endurece e eu já tenho minha resposta.

— Oh, mas não é nada demais, baby — provoco —, seria


apenas um casamento de conveniência.

— Eu entendi seu ponto. Havia uma razão para eu pensar em


Emory.

— Eu não quero saber.

— Mas vou falar do mesmo jeito: ela é como uma enseada

calma. Eu poderia continuar me dedicando à política sem que uma


esposa passional me aguardasse em casa.

— Como eu?

Ele não responde e sei que é exatamente esse o ponto.

— O que importa é que foi somente uma ideia. Eu nunca fiz

qualquer movimento sobre ela.

— Me dê sua palavra.

— Você a tem. Eu nunca nem mesmo tive uma conversa a


sós com sua irmã.
Eu o encaro, tentando cavar a verdade, mas ele nem pisca e

sei que está sendo sincero. Aquilo me acalma o suficiente, embora o


ciúme não tenha passado.

— Por que não queria um relacionamento passional?

— Meu histórico familiar não é bom. Meu pai era um galinha.

Traía minha mãe com tudo que usasse saia.

— E teme ser igual?

Ele desvia nossos olhos.

— Não. Eu nunca me envolvi a sério, justamente por me

sentir incapaz de ser fiel.

Meu sangue ferve outra vez.

— E depois ainda tem coragem de me fazer aquele discurso

quando chegou, Bryce Gray? De me chamar de namorada?

— Você é minha namorada. Eu não disse que serei infiel,

mas que antes não estava interessado em monogamia.

— E de repente está?

— Você está tripudiando?

Esconde um sorriso.
— Nunca — respondo e agora é ainda mais difícil fingir que
não estou feliz. — Só gostei de ouvir que mudei sua maneira de
pensar. Sou irresistível, então?

Dou um passo para trás e vejo suas pupilas dilatarem


enquanto levo a mão ao pescoço e solto o vestido. Ele cai aos meus

pés e não estou usando nada por baixo.

— O quão irresistível, senador? — pergunto, me

aproximando e me ajoelhando à sua frente.

— O que está fazendo?

— Sendo uma boa aluna. Vai me ensinar a enlouquecê-lo,


Bryce? — pergunto, os dedos brincando com o fecho de sua calça.

Não desvio nossos olhos quando abro o botão e começo a


deslizar o zíper para baixo. Sei que está sem cueca porque eu o vi

se vestir.

Ele não me impede quando desço a calça e tiro-a por suas

pernas.

— Eu preciso que se incline, senador. É grande demais para

mim.
O chão da cozinha está gelado e eu não me importo. Mas
Bryce pensa em tudo, então, se abaixando, ele pega a calça e põe
sob meus joelhos. Depois, se recosta no balcão, deixando o sexo

grosso na altura exata da minha boca.

— Vai me orientar?

— O que sabe sobre sexo oral?

— Só o que assisti em vídeos.

— Minha safada…

Ele enrola a mão em meu cabelo.

— Lamba a ponta, limpe todo o pré-gozo.

Eu o obedeço, mas antes que possa engolir, ele diz:

— Mostre-me sua língua.

Não hesito e ele geme quando faço o que pediu.

— Chupe, Louise. Disse que assistiu vídeos, então tudo o

que fizer, vai me dar prazer. Só não use os dentes.

Escondo outro sorriso.

— Sim, senhor.
Entretanto, a primeira vez que deixo minha boca deslizar por

sua extensão, arrasto os dentes de leve na carne dura como aço.

— Caralho, Louise! Porra!

— Achei que tinha dito para não usar os dentes, senador.

— Onde aprendeu isso?

Ele parece ciumento.

— Vídeos.

Ele aumenta o aperto no meu cabelo, me fazendo inclinar a

cabeça para trás.

— Abra a boca, minha gostosa. Deixa eu te foder.

Bryce começa a entrar em mim e eu estremeço.

— Quero que toque seu peito com uma mão e com a outra,

enfie dois dedos na boceta. Você vai se comer enquanto meto na

sua boca.

Ele é o bilionário de boca mais suja do estado do Texas, mas


cada coisa que diz só me deixa mais insana.

Sei que está se contendo e eu tento me concentrar para fazer

tudo direito porque quero que sinta prazer. Arrasto a língua em seu
comprimento e quando ele rosna, sei que está gostando.

— Abra mais a boca. Eu quero ir mais fundo. Me deixe entrar.

Faço meu melhor, mas engasgo, lágrimas escorrendo dos

meus olhos. Ele acaricia minha bochecha, o olhar nunca me


deixando e aquilo me estimula a tentar novamente.

Criamos um ritmo e eu consigo relaxar a boca para deixá-lo

entrar cada vez mais.

— Assim mesmo, menina linda. Sua boca é uma delícia,


Louise.

Suas palavras me põem louca e eu o puxo para mim,

querendo mais.

Uma de suas mãos vem para minha mandíbula e a outra


segura firme o cabelo. Estabelecemos uma sincronia e aos poucos,

eu me solto, deixando Bryce fazer o que quiser.

Seus rosnados de tesão me fazem correr atrás do meu

próprio prazer e eu deixo dois dos meus dedos invadirem meu sexo.

Gemo em torno dele e quando percebe o que está

acontecendo, ele fica mais voraz.

Estou quase lá e acho que nota.


— Vai gozar?

Aceno com a cabeça e ele tenta sair.

— Fiz algo errado?

Bryce fecha os olhos.

— Você é muito inocente, amor. Está me deixando louco. Vou

gozar, também.

— Quero tudo.

Não lhe dou tempo de dizer não, tomando-o outra vez na

minha boca. Continuo me tocando e observo fascinada a respiração

dele acelerar quando as duas mãos agora seguram meu rosto. Os

quadris impulsionam com urgência e seu descontrole é a minha


ruína.

Tremo e intensifico a força com que o tomo em minha boca e

ao mesmo tempo, me entrego ao meu próprio prazer.

— Engula tudo — manda e no instante seguinte, sinto o gosto


salgado do sêmen me enchendo.

Bebo, sedenta e morrendo de desejo. Mesmo quando não

resta nada, eu não paro.


Bryce se abaixa, me pega no colo e senta no balcão,

reclinando para alinhar nossos rostos.

— Só você me deixa louco assim. Não tem do que sentir

ciúmes. Tudo o que estamos vivendo é uma experiência única para


mim.

Meu coração fica leve e eu acredito no que me diz.

Eu nunca me senti tão feliz desde que o meu pai morreu.

Pensar naquilo, entretanto, me faz lembrar que estou


guardando um segredo de Bryce.

Devo contar a verdade? Ele vai entender?

Não tenho certeza.

Posso arriscar pôr tudo a perder se ele contar a alguém.

Mas mentir não é uma boa maneira de começar um


relacionamento.

Eu o puxo para os meus braços, enterrando a cabeça em seu

peito e pedindo orientação a Deus sobre o que fazer.

Eu não quero perdê-lo, mas não posso desapontar meu pai.

Não morra — ele disse. — Você é determinada. Vá pegá-los.


Capítulo 40

Grayland

Dez dias depois

— Ah, minha filha, estou há tempo demais percorrendo a

estrada da vida para não ter antecipado o que iria acontecer — Mary
Grace diz, quando lhe conto que meu relacionamento com Bryce se

tornou real.

— Não estamos noivos, Mary. É um namoro.


Ela me encara, sorrindo, sem falar nada.

— O que foi? — pergunto.

— Meu amor, eu tenho cinco netos. Nove, se contar Wyatt e


os três do Wyoming. Já vi vários deles renegarem até o último

segundo antes de admitirem que estão apaixonados, mas quando o

bendito cupido acerta, não tem jeito.

— Quem foi flechado dessa vez? Vamos ter um casamento

real, então, Louise? — Becca, a mulher que tem o estranho papel

de ser cunhada, mas que Bryce também considera uma irmã, entra
na cozinha, sorrindo.

Agora eu entendo o que Dominika e Mary me disseram

quando falaram que eu fazia parte da família mesmo antes de

namorar Bryce. Eles são gregários. Gostam de ficar juntos e se

defendem com unhas e dentes.

Também cuidam uns dos outros com amor e atenção.

Desde que estive aqui, ao menos uma das mulheres Gray me

liga religiosamente todos os dias, o que acabou por me fazer menos

solitária e também mais aberta.

— Bryce e Louise estão namorando.


— Nossa, esse meu cunhado é um visionário! — Antonella se
aproxima. — Pediu em noivado, amarrou a menina e só depois

conquistou o coração dela.

— Vocês estão deixando Louise sem jeito — Dominika diz.

Agradeço em silêncio o clima de camaradagem porque


enquanto estávamos vindo para cá hoje, eu me senti tensa como a

corda de um violão.

Finalmente chegou o momento de unir minha família aos

Gray.

Se antes era uma questão prática, para validar nosso falso


noivado, agora faz mais sentido do que nunca.

Eu jamais tive um namorado, então, obviamente, não levei

alguém para conhecer a família. O fato de ser Bryce, o homem que

minha mãe e Cassius cobiçavam para Emory, me deixa ainda mais

desconfortável.

— Meu padrasto e minha mãe achavam que minha irmã

deveria ter sido a escolhida para noiva de mentira — digo e sabe

Deus porquê fui confessar aquilo.


— Ela e Bryce são totalmente incompatíveis, Louise. Mesmo

em um relacionamento fake. — Dominika fala.

— Por quê? — pergunto, ainda insegura.

— Bryce é combativo, assim como os irmãos e primos — é


Mackenzie quem explica. — Olhe para nós, as esposas. Nenhuma é

uma florzinha do campo que se deixa levar ao sabor da brisa.

— Ah, não são mesmo e é assim que tem que ser. Meus

netos fariam massa de modelar de uma mulher que se casassem se


ela não tivesse personalidade forte. Porém, isso não é o mais
importante, Louise.

— Não? — pergunto.

A matriarca Gray balança a cabeça, negando.

— Só o fato de Bryce tê-la escolhido para noiva de mentira já

diz muito. Por que você? Não estou dizendo que estava passando
inconscientemente na cabeça dele que ficassem noivos, afinal, mal

se conheciam, mas tenho certeza de que sempre mexeu com o meu


neto de uma maneira que nenhuma outra foi capaz.

— Como pode saber disso? — insisto.


— Nenhum dos meus meninos jamais se envolveu com

alguém que trabalhasse para eles. Bryce sabia o que implicaria


fazer de você uma falsa noiva. Se quer minha opinião, o escândalo

daquele vídeo serviu como uma desculpa perfeita para ele mantê-la
ainda mais perto.

— Por que acho que estão falando de mim? — O homem


que, sem saber, tem meu coração nas mãos, chega nesse instante
e me abraça por trás.

— Porque estamos, mesmo — a vó dele diz.

Sobreponho meus braços aos dele, mas Bryce me gira para


ficarmos frente a frente.

— Tudo bem?

Desde o dia em que foi ao meu apartamento, temos dormido

juntos, ou na minha casa — já que agora voltei para minha


residência oficial — ou na dele.

A convivência diária, não só no gabinete, mas também em


casa, gerou uma intimidade inesperada, como se estivéssemos

fazendo um curso intensivo de nós dois.


Com isso, passamos a reconhecer nuances que talvez alguns
casais levem meses para aprender um do outro.

— Estou nervosa — confesso baixinho, para que só ele

escute.

— Por causa da sua família?

— Sim. Já estava antes de ficarmos juntos para valer, agora


tenho que confessar que minha ansiedade triplicou.

— Não dê tanto poder a eles, Louise. Eu considero família

fundamental, mas o amor e dedicação têm que ser recíproco.

— É culpa minha também, Bryce. Depois que meu pai


morreu, nunca dei espaço para que se aproximassem.

— Isso não é verdade. Cassius jamais a deixou sozinha, pelo

que me contou.

— Talvez por pena.

— Ou talvez por amor — ele diz. — O fato é que você era


apenas uma garotinha. Era papel da sua mãe protegê-la, orientá-la.

Ajudá-la a atravessar aquele pesadelo.

— Ela queria que eu me ajustasse.


— Sozinha? Mal entrada na adolescência? Isso é ridículo,
Louise. Muitos adultos não sobreviveriam ao que você atravessou,
quanto mais uma menina.

— Já tem meu voto para presidente, senhor senador. Não


precisa ser tão incrível.

Ele me dá uma palmada na bunda.

— Quero muito mais do que seu voto, atrevida.

— O que mais poderia querer? Até um anel no meu dedo


colocou. Estamos comprometidos até que a morte nos separe.

Era uma brincadeira, mas ele me olha sério.

Borboletas começam a brincar no meu estômago, então eu

me lembro de uma conversa que o ouvi ter com Alfred no outro dia.

O assistente do meu namorado estava falando sobre a

conveniência de um candidato a presidente ter uma esposa.

Estou louca por Bryce, mas de jeito nenhum aceitarei menos

do que eu mereço. Nunca vou me casar só porque me encaixo bem


no papel.

Além do que, você não se encaixa — uma voz, no fundo da

minha mente, lembra porque ainda não lhe contei a verdade sobre
meus planos com Drake.

— Achei que tinha dito que faria uma reunião com seus
irmãos antes do almoço.

Ele não se move.

— O que está me escondendo, Louise?

Sinto um calafrio atravessar meu corpo.

— Não sei do que está falando.

— Vi seu rosto mudar de alegria, para dúvida e depois medo.

— Está imaginando coisas.

Ele segura meu queixo quando desvio nossos olhares.

— Jure que não está mentindo para mim.

Engulo em seco.

— Eu não estou.

Ele ainda me encara antes de beijar meus lábios e sair.

Tecnicamente estou omitindo, mas isso não faz com que eu

me sinta um pouco melhor.


Capítulo 41

— E então é isso? — Hudson pergunta, irritado. — Nunca

teremos certeza quem encomendou aquele vídeo?

— Não foi o que eu falei e sim que Odin está cavando —


respondo.

— Se Lykaios não conseguir, ninguém mais consegue —

Jaxson fala.

— Não parece preocupado. Ou ao menos, não com isso. Sua


cabeça está a milhas de distância, Bryce — meu irmão mais velho
diz.

Estamos reunidos no celeiro de Mary Grace. Não sei ao certo


a razão, mas de alguma maneira, estabelecemos esse lugar para

tratarmos de assuntos importantes. Foi onde descobri que Callum

era nosso irmão e não primo, como pensávamos e desde então,


sempre que precisamos tratar de temas desagradáveis, nos

encontramos aqui.

Dessa vez, somente Wyatt e Maribelle estão fora do almoço

de domingo porque foram ao Wyoming para o aniversário de

Montgomery[47], nosso tio e pai dele.

— Não estou preocupado, mesmo. Continuo em alta como o

nome a ser escolhido para se tornar o próximo candidato à

presidência pelo partido republicano e também as intenções de voto


pelo país, caso seja eu a disputar as eleições, também são

positivas, passando dos sessenta por cento. A não ser que os

democratas tirem o candidato dos sonhos da cartola, meu caminho

já está pavimentado.

— Eu concordo — Reed diz. — Ainda assim, precisamos

apanhar quem fez isso ou poderá tentar novamente.


— Esse assunto está resolvido, vamos para o próximo tópico
— Callum diz, com ironia e antes que fale, já sei do que se trata. —

Eu deveria ter fechado uma aposta em umas cabeças de gado

naquela primeira conversa que tivemos sobre sua assessora. Eu

nem conhecia a moça e aquilo já me cheirava a compromisso.

— Vocês são loucos — rosno, balançando a cabeça.

— Não, somos domados — Hudson corrige. —

Reconhecemos quando alguém está caído.

— É sério, então? — Reed pergunta. — Está pensando fazer

de Louise sua primeira-dama?

— Vocês estão muito adiantados. Começamos a namorar há

pouco tempo, mas sim, eu preciso confessar que nunca conheci

alguém como ela. Mais cedo ou mais tarde vou ter que me assentar,

então mentiria se não dissesse que já considero fazer do falso

noivado um real.

— Ai — Callum geme.

— O que foi agora?

— Ouviu a si mesmo? Mulheres nunca vão se casar por

conveniência, a não ser que estejam de olho no seu dinheiro, o que


não parece ser o caso de Louise porque ela mesma é rica. Mulheres

querem romance, Bryce. Ou ao menos, as que valem a pena


querem. Eu caí nesse mesmo erro com Mackenzie, tentando

racionalizar o que sentia e quase a perdi. Quer um conselho? Se


não tem certeza de que ela é sua “única”, não faça qualquer
movimento, não a peça em casamento como se estivesse fechando

um contrato para uma de suas empresas.

— Ele está certo, irmão — Jaxson diz. — Louise parece uma

boa moça e se não está apaixonado, deixe-a livre. Ela não vai
aceitar ser um troféu para calar a boca dos eleitores.

Eles três saem na frente, me deixando a sós com Hudson.

— E então? — pergunta.

— Então, o quê?

Ele sacode a cabeça de um lado para o outro.

— Eu poderia lhe mostrar o caminho das pedras, Bryce. O

que observo quando olho para vocês dois, mas não vou. Deixarei
que descubra sozinho. Sabe que já estive em um casamento sem

amor e fui abençoado com uma segunda chance. Encontrei minha


Antonella, a mulher da minha vida, que me deu três filhos lindos.
Não se esbarra com a “única” mais de uma vez. Sei que é avesso a
compromisso como eu era no passado, mas não a perca por pura

teimosia. Jaxson está certo. Louise é especial. Entre nisso de


cabeça ou a deixe livre.

— Então, quanto tempo vai durar essa jogada de marketing?


— Tabitha Stonebraker, a mãe de Louise, pergunta com a voz

falsamente doce e irritante para cacete.

Olho para minha namorada, sentada ao meu lado. Sei que

ela não contou a verdade sobre nós dois porque combinamos de


fazer isso juntos.

De maneira calculada, levo a mão de Louise aos lábios e


beijo o dorso.

— Por muito tempo, espero — digo.

Olho um por um os membros da família Stonebraker. Cassius

parece surpreso, mas entende depressa o que está acontecendo.


Tabitha, entretanto, me dá um sorriso como se eu tivesse contado

uma grande piada.


Eu a encaro de volta, sem piscar.

—Vocês estão juntos? — pergunta.

A última palavra sai estrangulada, como se lhe custasse fazer


a pergunta.

— Sim, mamãe. Eu e Bryce estamos namorando — Louise


responde.

Pela primeira vez desde que chegou, Emory ergue a cabeça


do prato. Ela não olha para mim, mas para a irmã.

— Como isso é possível? — indaga.

A ira em sua voz me confunde. Eu nunca achei que a garota

fosse sequer capaz de ter sentimentos mais profundos.

— Como é possível o quê? — pergunto e ela olha para mim,

o rosto ficando instantaneamente vermelho.

Não parece ser de vergonha, mas de raiva.

— Minha mãe disse que era uma mentira, senador. Eu nunca


imaginei que se interessaria por ela. Minha irmã é totalmente

inadequada para ser esposa de um político!

Há desprezo em sua voz e aquilo faz meu sangue ferver.


A mão de Louise está gelada, presa na minha ainda.

— Retire o que disse, senhorita Stonebraker — exijo.

— Bryce… — Minha namorada tenta, mas não estou disposto


a ceder.

— Ninguém vai te desrespeitar na minha frente, Louise.

— Emory, peça desculpa a toda família Gray — Cassius

comanda.

Sua expressão transmuta-se em arrependimento na mesma


hora. Passa de fúria para uma timidez, que agora eu vejo, é

ensaiada.

— Perdoem-me todos, eu me descontrolei — diz.

— Não — Mary Grace é quem fala. — Não é a nós que tem


que pedir perdão, é à sua irmã. Desculpe-se com ela pela grosseria

ou não será mais bem-vinda em nossa família. Louise é a namorada

do meu neto, senhorita Stonebraker, e desrespeitá-la é como


destratar um membro da família Gray: imperdoável.
Capítulo 42

Depois do que Mary fala, minha irmã me encara com ódio.

O que será que deu nela? É certo que nunca fomos melhores
amigas, mas Emory jamais foi agressiva.

Na verdade, a passividade dela sempre me irritou.

Nem mesmo minha mãe, que é quem estava fazendo planos

para tornar a caçula a futura senhora Bryce Gray, reagiu assim.


— Eu pedirei, mas antes quero saber algo: é apenas um

namoro ou esse anel está selando um compromisso real?

— Não é da sua conta — Bryce responde, ao mesmo tempo

em que Cassius diz, se levantando:

— Já chega, Emory. Senhores, eu peço desculpas por

encerrar esse almoço mais cedo. Não sei o que deu nela.

Até mamãe parece constrangida.

A situação seria cômica se não fosse tão patética. Emory é

uma mulher de vinte e um anos e não uma adolescente mimada,

pelo amor de Deus.

— Com licença — minha irmã diz, jogando o guardanapo na

mesa e se levantando em seguida.

Vejo a cor se esvair do rosto da minha mãe, provavelmente


mortificada. Se há algo importante na vida de Tabitha Stonebraker, é

manter as aparências.

— Deixem que eu vou falar com ela — ofereço.

Cassius e mamãe voltam a se sentar.

Vou até o lado de fora e não demoro a ver minha irmã

caminhando com seu look completamente impróprio para uma


fazenda: vestido branco florido, muito mais de acordo para um dia
em uma casa de praia do que no interior do Texas e sapatos de

salto altíssimo combinando.

Ando até onde está.

Ela só pode ter batido a cabeça, não é possível. Seria a única


explicação para aquele comportamento. Emory foi rigidamente

educada para nunca elevar a voz. Desrespeitar uma família inteira,

então, nem pensar.

— O que foi aquilo lá dentro, Emory? Enlouqueceu? Os Gray

não merecem sua grosseria!

— A única louca da família é você — diz com deboche e há

tanto veneno em seu tom que dou um passo para trás.

— O que há de errado com você? — pergunto, realmente

preocupada agora.

— Comigo? Nada. Só cansada de mesmo você fazendo tudo

errado, ainda continuar sendo o centro das atenções.

— Centro das atenções? Está louca? Só porque tenho um

namorado não significa que quero chamar a atenção!


— Não é um namorado qualquer. Um senador. O homem que

está sendo cotado para ocupar a Casa Branca.

— Então é isso? Está com ciúmes porque eu e Bryce

estamos juntos?

— Ciúmes? Porque eu me sentiria assim? Não vai durar, de

qualquer modo.

— Eu não estou te reconhecendo, Emory. Volte lá e se

desculpe com a família de Bryce. Tem noção de que pode estar


destratando os parentes do futuro presidente?

— Ah, você adoraria que ele ganhasse as eleições, né?


Agora imagina o que os jornais diriam de uma primeira-dama louca?

Alguém que ficou tão descontrolada ao ponto de precisar ser


internada em um colégio suíço porque papai e mamãe não a

suportavam?

Aquilo não deveria me machucar porque eu já sabia que, no


fundo, é o que pensavam de mim, mas ainda assim, dói para

caramba.

— Você está doente, Emory. Precisa de ajuda.

Ela gargalha.
— Doente, eu? Acho que não, irmã mais velha.

— Não volte a falar comigo enquanto não colocar sua cabeça


no lugar. Ao menos eu tive razão para agir daquele jeito nos anos

em que enlouqueci. Você, não. É só uma menina má e mimada que


não aceita perder.

— Eu não perdi ainda. Vamos ver quanto tempo vai levar até
que ele se canse de você.

— Entre, Louise. Não acha que já causou estrago o


bastante? — Ouço a voz da minha mãe perguntar.

Sinto meu queixo tremer. Meu corpo inteiro, na verdade.

Olho por sobre o ombro dela, para Cassius, mas até mesmo

ele caminha sem me encarar.

Entro correndo na casa, mas ao invés de voltar para a sala

de jantar, me escondo no armário de casacos[48].

A porta se abre dois segundos depois.

— Louise. — A voz de Bryce me chama e em seguida, ele

acende a luz.

— Bryce, eu sinto tanto. Eu nunca imaginei…


Ele me puxa para seus braços e acaricia meu cabelo.

— Sente muito pelo quê? Não tem culpa da sua irmã ser uma
pirralha mimada.

— Ela é apenas dois anos mais nova do que eu.

— Sei disso, mas a atitude não condiz com a idade. O que


ela lhe disse lá fora?

— Que você vai se cansar de mim.

— Aquela megera em formação não sabe de porra nenhuma,

Louise. Ela tem inveja de você, o sentimento mais vil do mundo, até
mesmo entre estranhos, mas muito pior quando se trata de alguém
do próprio sangue.

— Estou morrendo de vergonha da sua família. Nem em

meus piores pesadelos imaginei que esse almoço acabaria assim.


Até mesmo Cassius parece chateado.

— Não temos culpa que as pessoas tenham criado

expectativas em cima de um possível relacionamento meu com ela,


Louise. É você quem eu quero. Agora, vamos voltar lá para dentro

porque Mary está esperando para servir a sobremesa.

— O que eles vão pensar sobre esse incidente?


— Saberá dentro de alguns instantes. Não empurramos o lixo
para debaixo do tapete em nossa família. Discutimos tudo
abertamente.

— Eu não sei se consigo comer.

— Não precisa. Basta sentar conosco. Além do mais, mesmo


que não coma agora, provará o doce mais tarde. Em mim.

— Senhor, só você para pensar em sexo depois de um


almoço como esse.

— Eu não estava. Só queria vê-la sorrir como fez agora, mas

como nunca perco uma chance real, realmente não posso esperar

para usar o chantilly da torta de noz pecã de Mary Grace nesse seu
corpo delicioso.

Respiro fundo porque sei o que ele está fazendo: tentando

me distrair para que eu me esqueça do vexame que a minha família

causou.

— Eu te adoro, Bryce Gray. Talvez eu leve muito tempo antes

de repetir isso porque não sou muito de me declarar, mas eu adoro

você, cowboy.
Capítulo 43

Washington, D.C.

Um mês e meio depois

— Os números estão cada vez melhores. As intenções de


voto sobem todo dia — Alfred diz, entrando no gabinete de Bryce.

— E isso é uma boa coisa? Ainda não falta muito tempo para

as eleições? Esse clima de euforia antecipada me deixa um pouco


tensa.
Ele me olha e nem precisa dizer o que está pensando para

que eu adivinhe.

— Certo, bom ponto. Eu sou tensa, Alfred.

Com a convivência, um clima de camaradagem se formou

entre nós, não apenas porque ambos temos objetivos em comum —

levar Bryce à Casa Branca — como admiramos o homem para


quem trabalhamos.

— É sim, com todo o respeito. Quanto às pesquisas, é normal

que especulem. Bryce é como um astro de tv: bonito, rico, jovem,


honesto e agora em um relacionamento com sua assessora de

imprensa que, ao que tudo indica, vai terminar no altar.

Reviro os olhos porque não é a primeira vez que ele insinua

coisas assim, mas internamente, uma ponta de esperança preenche

meu coração.

Não porque ambiciono me tornar a primeira-dama, mas


porque não me vejo, em um futuro próximo, terminando nosso

relacionamento.

A atração sexual intensa entre nós dois, aos poucos vem se

transformando em algo mais.


Não é nada específico, um dia certo que eu possa pontuar
onde começaram as mudanças, mas detalhes diários que me dizem

que estamos apaixonados.

Nós nunca dormimos sozinhos desde nossa primeira vez, por

exemplo. Eu tentei, no começo, porque tinha medo de me

acostumar com ele e quando terminássemos, sofrer. Bryce tinha

razão quando jogou na minha cara que eu vivia minha vida de


maneira a me proteger da dor.

Ele, claro, sendo quem é, não aceitou qualquer distância

entre nós e eu finalmente me rendi ao fato de que mantê-lo afastado

não oferecerá proteção contra a dor, porque Bryce já está dentro de

mim.

O pensamento me faz lembrar que o relógio da vida está

correndo e que tenho uma tarefa a fazer para que possa, de uma

vez por todas, fechar a porta do meu passado.

Algo que Drake determinou: que eu preciso tentar encontrar


provas contra Aston Barlowe, o senador que ele acredita ser o chefe

de todo o esquema.

Assim que tivermos certeza de quem foi o mandante da

morte do meu pai, eu contarei tudo a Bryce, antes mesmo que


sejam presos.

— Alfred, o que sabe sobre o senador Barlowe? — pergunto


casualmente porque o assistente do meu namorado é muito

perspicaz.

— Aston Barlowe, de Massachusetts?

— Isso.

— O que todo mundo sabe: republicano, político de carreira,


sobrenome tradicional. Nunca foi um destaque no partido, mas
sempre constante, já ocupou diversos cargos. Dinheiro antigo, a

riqueza da família dele vem de gerações. — Ele me olha com a


testa franzida. — Mas por que a curiosidade?

— Eu assisti a uma entrevista dele outro dia — minto —, e


me passou uma sensação de que o homem é tão falso quanto uma

nota de três dólares.

— Ele é um político, Louise. Mentir se torna tão fácil quanto

respirar.

— Bryce não mente.

— Porque é um Gray, antes de tudo. O que estou tentando


dizer, é que encontrar alguém nesse mundo da política que seja
verdadeiramente honesto é como achar um diamante nas

profundezas do oceano.

— Meu pai era honesto — falo, antes que consiga me parar.

Ele me observa em silêncio e vejo algo como pena passar


por seu rosto.

— Não estou aqui para julgar os mortos, Louise, mas houve


uma investigação e foi comprovado…

— É fácil provar algo contra um homem que não está mais


vivo para se defender — eu o interrompo.

Ele me encara, parecendo preocupado.

— Você é uma mulher muito inteligente. Sabe que essa linha


de pensamento é perigosa, principalmente sendo não somente a

assessora de imprensa como também a namorada de um senador


que é o nome cotado para a Casa Branca. Há algo que queira me
contar?

— Não — respondo com a expressão impassível.

— Olha, sou totalmente solidário à sua dor. Eu não faço ideia


de como deve ser perder o pai na situação em que você viveu e
além de tudo, depois, ainda ter que ouvir o mundo inteiro chamá-lo
de corrupto, mas o segredo para sobreviver a algo assim, é aceitar a
verdade, Louise.

Sinto meus dentes trincarem.

Por dentro, estou gritando, mas por fora, sou a imagem da

serenidade.

Coloco meu sorriso mais doce.

— Eu sei. É exatamente o que tenho feito desde então:


aceitar a verdade.

E a verdade é que meu pai foi usado como um cordeiro em


um sacrifício. E enquanto eu não pegar os culpados, não
descansarei.

— Eu não descobri nada ainda, Drake — falo com ele, horas

mais tarde.
— Mas eu, sim. O nosso homem — diz, se referindo a Aston
Barlowe —, está nisso até a alma.

— E quem mais? Porque é impossível armar um esquema

desses sozinho.

— Sabe que não podemos conversar por telefone, Louise.


Vamos nos encontrar amanhã.

— Está em D.C.?

— Sim. Tive que vir.

— Vou embora amanhã à noite — aviso.

— Eu também, mas o que quero lhe contar precisa ser

pessoalmente.

— Tudo bem. Mande-me uma mensagem me informando a


hora.

Fecho a sala que ocupo quando estamos na capital,

sentindo-me dividida. Um lado meu, o egoísta, gostaria apenas de

aproveitar a vida como namorada de Bryce. É a primeira vez que me


sinto feliz, sem ficar o tempo todo focada na vingança. Entretanto, a

consciência não me deixa esquecer da promessa que fiz ao meu

pai.
Estamos quase lá, papai. Eu vou limpar seu nome.

Termino de desligar as luzes, pensando no compromisso de


hoje à noite.

Tenho um jantar com Bryce e mais dois membros do partido e

suas esposas. Embora eu preferisse ficar com meu namorado em

uma banheira de água quente relaxante e depois fazer amor a noite


inteira, há certas obrigações que não temos como escapar.

O celular toca no exato momento em que pego minha pasta e

meu estômago embrulha quando vejo quem é.

— Oi, mamãe — atendo.

— Louise, temos que conversar sobre o vestido que usará no

aniversário de vinte e dois anos da sua irmã.

— Eu estou bem, obrigada — respondo com ironia porque

desde o fatídico almoço na casa dos Gray, o único membro da


minha família com quem falei foi Cassius. Ele marcou um jantar

comigo e Bryce e pareceu realmente constrangido pelo

comportamento de Emory.

— Não seja debochada. Não estamos bem e sabe disso.


— Nesse caso, por que eu deveria ir no jantar de aniversário

de Emory?

— Não é óbvio? Para prestigiá-la, claro. Seria uma desfeita


se você, sendo namorada de alguém tão importante, faltasse. As

pessoas comentariam.

— Mãe, depois do que aconteceu na Império Gray, eu duvido

muito que Bryce queira qualquer proximidade com minha irmã.

— Poderia convencê-lo a vir.

— Talvez pudesse, sim, mas não vou. Por que faria isso se

não tenho qualquer intenção de comparecer?

— O quê? Está louca?

— Sabe de uma coisa, vocês duas precisam variar a maneira


como se dirigem a mim. Chamar-me de louca está ficando repetitivo.

E em resposta ao que falou: não, eu não estou louca. Há muito

tempo não me sinto tão lúcida.


Capítulo 44

— Eu adorei esse vestido, Louise! Posso chamá-la assim,

não é? — a esposa de um dos membros mais rígidos do partido,


pergunta.

— Claro, senhora Silverny.

— Basta Penelope, meu bem.

Louise acena com a cabeça e eu sorrio internamente.


Eu amo o contraste entre a mulher refinada, educada que ela

mostra ao mundo, e a garota rebelde e selvagem que se transforma


assim que fechamos a porta da nossa casa.

Casa.

Esse tem sido um conceito fluido desde que nos assumimos

como casal. Nunca mais nos afastamos e me conhecendo como me


conheço, achei que em um par de semanas, talvez essa coisa de

relacionamento a dois em uma base permanente acabasse me

entediando, mas não foi o que aconteceu, muito pelo contrário.

Parece que eu nunca consigo obter o suficiente dela. Não

importa que eu a tenha em minha cama toda noite, que eu lhe

arranque cada peça de roupa do corpo tão logo entremos em casa,


estou sempre querendo mais.

— Devemos esperar que marquem o casamento para breve?

— A mulher continua, provavelmente agora se sentindo mais


confortável, uma vez vencida as barreiras do sobrenome.

Vejo minha namorada corar, buscando ajuda em mim.

— Não estamos com pressa — falo, sem realmente

responder coisa alguma e vejo o desapontamento transparecer no


rosto da senhora.
— Por favor, conte mais sobre o jantar beneficente que
pretende oferecer, Penelope. Eu realmente fiquei interessada pela

causa. — Louise desvia do assunto e na mesma hora o rosto da

senhora se torna radiante.

— Ah, sim! É por uma causa nobre, como lhe falei e…

O resto da refeição ocorre sem incidentes, mas eu conto os

segundos para podermos escapar.

Quando finalmente nos despedimos, mal o motorista arranca

com a limusine, ergo o vidro que nos separa dele e a puxo para o

meu colo.

Não será a primeira vez que foderemos no carro. É raro que

cheguemos em casa sem ao menos uma preliminar no banco de

trás, como dois malditos adolescentes descobrindo o sexo.

Subo o vestido dela e puxo a calcinha para o lado, tocando a

boceta já pronta para mim.

— Com fome, senador? — a descarada pergunta, descendo

o zíper da minha calça e libertando meu pau já muito duro.

Mordo-lhe a boca.

— Faminto.
Os olhos azuis soltam chamas, me convidando.

As mãos me puxando com urgência para um beijo


apaixonado.

Ela treme de tesão, assim como eu.

Sempre que fodemos, parece a primeira vez. A mesma ânsia,

desejo irrefreável.

Chupo a carne macia do seu pescoço e a seguro pelos


quadris, afundando no corpo quente e apertado.

— Preciso forte — aviso.

— Me dê tudo.

Ela me beija e eu meto profundamente em sua boceta,


fazendo com que me cavalgue.

Safada, rebola no meu colo, me provocando e desço as alças


de seu vestido para lamber os peitos deliciosos.

— Ahhhhh….

Sei que não vamos durar muito. Não é um sexo carinhoso, é

necessitado.
Minutos se passam e o suor escorre de nossos corpos,

ambos perdidos no desejo.

— Goze em mim — comando. — Vou encher essa boceta

com meu sêmen.

Louise enlouquece, me mordendo, lambendo e a cada

descida o som dos nossos corpos batendo é erótico para um


caralho.

Belisco o clitóris de leve e então, sem conseguir se controlar,


ela se entrega, gozando no meu pau.

— Vou te encher inteirinha.

Faço com que desça uma e outra vez, mantendo-a sentada

no meu colo. Quando torno a erguê-la, subo os quadris, indo ao seu


encontro repetidas vezes até gozar gemendo seu nome.

— Minha — digo.

— Sua.
Mais tarde

— Está participando de alguma sociedade secreta?

— O quê? — ela pergunta sonolenta, quando volto ao nosso

quarto.

Mostro-lhe o celular, cuja tela tem uma ligação perdida de um

“D.”.

— Eu chamava meus amigos pela primeira letra do nome

quando era adolescente — falo —, mas fora isso, a única outra


razão que vejo para se registar um nome assim no telefone é se a

pessoa fizer parte de algum tipo sinistro de sociedade secreta.

Era para ser uma piada, mas a reação dela me põe em

alerta.

Em segundos, está sentada na cama e estica a mão, pedindo

o aparelho.
Eu ainda não o entrego.

— Esteve me espionando? — pergunta.

Aperto os olhos, atento às reações dela.

— Haveria algo que eu precisaria espionar, Louise?

Ela se levanta e tira o aparelho da minha mão.

— Claro que não. Apenas segredos femininos. Não sabe que

nós mulheres somos cheias dele?

— Eu não tenho problemas com segredos, Louise. Todos nós


temos, mas eu tenho muitos problemas com mentiras.

Ela solta o telefone na mesinha de cabeceira.

— Defina mentira. Não sei se consigo entender a diferença

entre isso e um segredo.

Ela está tentando brincar, mas consigo sentir o nervosismo.

Seguro-lhe o rosto.

— Uma mentira seria algo que poderia nos afastar para

sempre. Prejudicial ao nosso relacionamento.

Ela engole em seco.

— E um segredo?
— Algo que não está pronta para me contar ainda.

— Não estou mentindo, mas tenho segredos.

— Mas vai me contar, eventualmente?

— Vou, sim. Muito em breve.

Beijo sua testa querendo empurrar para longe a sensação

desagradável para caralho de que estou sendo enganado, mas, por


ora, decido aceitar o que me falou.

Louise não me deu motivos para acreditar que foi outra coisa

além de honesta comigo, me contando inclusive, com detalhes,

sobre a morte do pai. Assim, lhe darei o benefício da dúvida até que
me prove o contrário.

No dia seguinte, pela manhã

— Alguma vez já falou com Louise sobre a morte do pai

dela? — Alfred questiona quando voltamos de uma reunião.


— Que tipo de pergunta é essa?

— Não estou tentando me meter em sua vida, Bryce, mas

mantendo os olhos bem abertos a tudo à nossa volta, como sempre.

— Sim, já conversamos sobre a morte do pai dela.

Sei que se ele está me fazendo essa pergunta, há algo por

trás. Alfred não dá ponto sem nó.

— E como acha que ela encara o assassinato de Emment

Whitlock?

— Como você encararia? O pai era o herói dela e Louise o

viu morrer.

— Ela não acredita que o pai era corrupto.

— Eu sei e também consigo entender isso. Eu custei a


aceitar que meu pai traía minha mãe, mas Callum é a prova viva do

quanto eu estive enganado.

— O que estou tentando dizer, Bryce, é: mantenha os olhos

abertos. Sei que o relacionamento de vocês está cada vez mais


sério, mas também sei o quanto trabalhou para alcançar seu

objetivo maior: chegar à Casa Branca. Talvez, em algum momento

do futuro, tenha que escolher o que é mais importante.


— Não gosto de conversas por enigmas, Alfred. Se tem que

me dizer algo, fale de uma vez.

Ele para na entrada do edifício e passa as duas mãos pelo

rosto.

— Nós tivemos uma conversa sobre o pai dela ontem e

aquilo não teria sido nada demais se anteriormente já tivesse


ocorrido um incidente.

— Incidente? Que tipo de incidente? E por que diabos só

estou sabendo disso agora?

— Porque eu não trabalho com nada além de certezas.

— Certeza sobre o quê?

— Meu telefone e o de Louise são idênticos, inclusive a capa,

sabe disso?

— Sei, sim. Ela fez piada com isso outro dia.

— Semana passada eu peguei o dela sem querer. Havia uma


mensagem de um tal “D.”.

Sinto meu sangue gelar, mas não revelo que foi o mesmo

nome que constava como ligação perdida no telefone dela ontem.


— Um amante? — pergunto.

— Se eu pudesse apostar, diria que não.

— O quê, então?

— Primeiro quero te dizer que só li a mensagem porque achei


que era meu aparelho. Não estava espionando sua mulher.

— Fale.

— Dizia apenas que “o cerco está se fechando. Teremos

nossa conclusão em breve”.

— Quem acha que é?

— Eu não faço a menor ideia, mas depois da conversa que

tive com ela, penso se Louise não está secretamente investigando a

morte do pai.

— Ela não faria isso pelas minhas costas. Minha namorada


sabe o quanto tenho a perder se algo assim vier à tona.

E então eu me lembro do que me disse de madrugada:

Não estou mentindo, mas tenho segredos.

— Vamos torcer para que não, mas somente por uma


questão de esclarecimento, talvez devêssemos segui-la hoje. Louise
pediu a tarde livre e não deu qualquer explicação para onde iria. Eu

tenho uma desconfiança de que…

— Eu já entendi. Recue. Isso não é problema seu. Vou

resolver tudo sozinho.


Capítulo 45

— Hey, almoço? — Ouço a voz de Bryce perguntar atrás de


mim e quase infarto.

Viro-me lentamente, a pulsação enlouquecida e dessa vez

não tem nada a ver com o fato de ser completamente apaixonada


pelo meu cowboy e sim, porque cada vez mais me sinto sufocar

com o que estou lhe escondendo.

Na madrugada passada eu morri por alguns segundos


quando ele encontrou meu celular com uma chamada perdida de

Drake. O que me fez mal realmente, no entanto, foi a conversa

sobre segredos e mentiras.


Eu chorei sozinha no chuveiro hoje pela manhã. Sinto-me

dividida em duas. Vingar meu pai é muito importante, mas ser


honesta com Bryce, também.

A despeito do que conversamos ontem, não acredito que haja

mesmo tanta diferença entre segredos e mentiras porque, no fim


das contas, os dois significam falta de confiança.

Assim, decidi que hoje avisarei a Drake que abrirei tudo sobre

nossas investigações para Bryce. Não entregarei o nome do agente

do FBI, claro. Seria desleal da minha parte revelar a identidade dele.

Não é a primeira vez que peço para que me autorize a contar

toda a verdade ao meu namorado, mas hoje eu não vou recuar.

Assim que terminar nosso encontro e quando eu estiver a caminho


de casa Bryce, vou contar tudo.

— Hum… eu não posso. Tenho um compromisso.

— Devo ficar preocupado?

Meu coração volta a acelerar.

— Preocupado com o quê?

— Não sei. Você me diz. Tenho um concorrente, Louise?


Consigo voltar a respirar e me aproximo dele, fazendo o meu
melhor para sorrir.

Fico na ponta dos pés e lhe beijo o pescoço.

— Em todos os sentidos, você é o único para mim, Bryce

Gray.

Ele segura meu rosto, me fazendo encará-lo.

— Eu confio em você, Louise. Sabe o que isso significa no

meu mundo?

Sinto minha garganta trancar e abaixo a cabeça, as lágrimas

que seguro fazendo meus olhos doerem.

— Sei, sim. Obrigada por isso.

— Não quero um agradecimento, quero sua lealdade.

— Você a tem, Bryce — prometo e me afasto ou começarei a

chorar.
Entro no restaurante, tremendo tanto que temo que minhas

pernas falharão.

Eu vim o caminho inteiro dentro do táxi sentindo as lágrimas

a ponto de caírem. Não sou muito chorona, mas ultimamente, há


cerca de duas semanas para ser mais exata, tenho me sentido
muito sensível.

Unindo o que aconteceu ontem quando Bryce me confrontou

sobre a chamada perdida do meu amigo, com a conversa que


tivemos há pouco, fiquei com os nervos em frangalhos.

Lealdade, ele disse.

Os Gray são essencialmente leais. Tenho medo de como

Bryce reagirá quando eu lhe disser tudo, mas continuar mantendo-o


no escuro está fora de questão.

— Eu não posso mais fazer isso, Drake — falo, dez minutos


depois, quando ele já me passou o nome da maioria dos que acha
que estão envolvidos no esquema de corrupção. Sei, no entanto,

que além de Aston Barlowe, há alguém que ele considera o chefão


também. Sobre esse, não quis me contar nada, ainda.

— Do que está falando, Louise?


Ele escolheu um restaurante discreto, mesmo que nunca

conversemos mais do que vinte, trinta minutos.

— Ocultar o que estamos fazendo de Bryce.

Ele não parece surpreso como pensei que ficaria.

— Está apaixonada.

— Estou, sim. Eu me sinto um ser humano horrível. O que

nós temos é especial. Ainda não sei se é recíproco, mas Bryce é o


homem com quem quero dividir a minha vida.

— Eu imaginei que isso fosse acontecer. O que quer fazer?

— Contar sobre a investigação que fazemos em relação à

morte do meu pai. Vou manter seu nome de fora, no entanto.

— E se ele mandar que pare com o que estamos fazendo?

— Então eu terei que tomar uma decisão. Já pensei a


respeito.

— E qual seria?

— Vou me demitir do cargo de assessora de imprensa e ser

apenas a namorada.

Ele me olha, parecendo preocupado.


— Está certa de que ele aceitará o que você tem feito?

— Na verdade, não. Estou apavorada. Porém, ficar sem


Bryce não é uma opção. Vou lutar por nós dois.

— Você mudou nesses pouco mais de dois meses em que

estão convivendo.

— Mudei como?

— Está mais segura.

Aceno com a cabeça, concordando.

— Tenho visto muito pouco minha família. Pode ter


contribuído, também. Ficar perto deles é como ser espiritualmente

sugada.

— Mesmo Cassius?

— Não. Apesar de não considerá-lo meu pai, eu o adoro. Ele


não é perfeito, mas quem é?

— Tudo bem. Estou de acordo que conte tudo ao seu


homem.

— Está? — pergunto, espantada.


— Louise, eu a conheci completamente quebrada. Vi seu pior
momento e está claro para mim o quanto esse relacionamento com
o senador lhe faz bem. Diga a verdade a ele, mas mantenha meu

nome fora disso. Não sou o único a trabalhar nessa investigação.

— Como assim?

— Não se inicia uma operação dessa magnitude sem que os

superiores saibam.

— Drake, há mais gente envolvida?

— Muito mais.

— Meu Deus! — Custo um nada para entender. — Você se

aproximou de mim porque eu seria a parte mais interessada a limpar


o nome do meu pai! — acuso, magoada.

Pela primeira vez desde que nos conhecemos, ele segura

minha mão por cima da mesa.

— Não, Louise. Eu não precisava envolvê-la. Me aproximei


de você porque acompanhei todo o inferno que atravessou. Eu

queria lhe dar um objetivo, algo pelo que lutar. Não sei o que seria

de você se continuasse da forma como estava.


Antes que eu possa responder, ouço a voz de Bryce dizer

atrás de mim:

— Acho que não vão se importar se eu me juntar a vocês.

Todo o sangue se esvai do meu corpo.

Eu me sinto morta, como quando acordamos no meio de um

pesadelo.

— Bryce? — pergunto, virando-me para trás. — Eu posso

explicar…

— Ah, claro que pode, mas não aqui, Louise. Ou prefere

conversar na frente do seu amigo?

— Não é o que está pensando.

Um canto de sua boca se ergue, mas os olhos não sorriem

junto.

Tudo o que vejo ali é uma frieza assustadora.

— Não faz a menor ideia do que estou pensando, namorada.

— Vamos sair daqui — peço, já me levantando.

— Louise — Drake chama.

— Eu vou ficar bem.


— Quero que me ligue mais tarde — diz, com seu jeito

protetor característico.

Ele está falando comigo, mas segue focado em Bryce.

Sei que talvez meu namorado tenha entendido tudo errado


porque no momento em que chegou, Drake segurava minha mão,

mas quando eu lhe contar a verdade, vai entender que ciúmes é o

menor dos nossos problemas.

— Tudo bem. Eu entro em contato — falo, me aproximando

de Bryce. — Vamos sair daqui.


Capítulo 46

Embora eu já estivesse esperando pegá-la em uma mentira,

baseando-me nos indícios da chamada perdida de ontem, na


conversa com Alfred hoje cedo e em seguida, quando a encontrei
assim que cheguei no gabinete, nada me preparou para flagrá-la

com um homem lhe segurando a mão.

Sim, chame-me de neandertal, mas meu corpo não reage de


maneira civilizada com relação a Louise pois cada gota do meu

sangue, sabe que ela é minha.


— Quem é ele? — pergunto, assim que entramos no banco

traseiro da limusine.

— Eu não posso lhe dar um nome.

Aquilo só piora minha loucura.

— Estamos indo para casa, Ronald — digo ao motorista.

— Temos que pegar o avião de volta para o Texas em no

máximo uma hora — ela diz.

Sinto meu maxilar contrair.

— Não vamos a lugar algum antes de resolvermos nossas

merdas, Louise.

— Bryce…

— Aqui, não. Acredite quando eu digo que não é uma

conversa que você quer ter antes de estarmos a sós.

Passamos o resto do caminho em silêncio e assim que o

motorista estaciona, ela não me espera abrir a porta. Sai correndo

para dentro da casa que possuo em D.C.

Vou em seu encalço.


O sangue bombeia meu corpo com tanta força que se não
tivesse certeza de que não sofro de qualquer condição cardíaca,

acharia que estou infartando.

— Não vai me dar o nome dele? — pergunto, assim que

entro e a encontro de pé no hall.

— Não. Eu não posso.

— O que ele é, então? Um namorado?

— Você não quer dizer isso. Sabe que eu nunca o trairia.

— Sei?

— Como se atreve?

— Não tente bancar a inocente, Louise. Seja qual for o papel

daquele homem em sua vida, você mentiu para mim. Por nenhuma

vez desde que estamos juntos, mencionou a existência dele.

— Não tem nada a ver com traição. Como pode pensar algo

assim? Sou louca por você!

Como sempre acontece, a paixão que ela demonstra por mim

me abala, mas nós não vamos resolver nossos problemas com

sexo. Por mais tentador que seja tomá-la contra a parede e mostrar-
lhe que é minha, eu sinto como se houvesse um buraco no meu

peito.

— Ele é alguém que estava me ajudando a investigar a morte

do meu pai.

— Um detetive?

Ela balança a cabeça, fazendo que não.

— Prometi que não revelaria sua identidade.

— Continue, Louise.

Minha voz soa como adagas geladas e sei que ela percebe,
porque os olhos se arregalam.

— Eu o conheço há muitos anos. Ele estava investigando a


morte do meu pai e me prometeu que provaria a verdade.

— Que verdade?

— Meu pai foi envolvido em um esquema. Foi uma vítima

inocente de pessoas inescrupulosas.

Olho para ela, uma parte de mim sentindo pena porque vejo

que realmente acredita naquilo.

— Há quanto tempo planeja descobrir essa “verdade”?


— Como eu disse antes, há muitos anos. Nós estamos

investigando outros políticos que acreditamos estar envolvidos em


um enorme esquema de corrupção. Já temos um nome de peso: o

senador Aston Barlowe, de Massachusetts.

— Não pode sair por aí fuçando a vida das pessoas, Louise.

Barlowe não teve nada que o desabonasse no decorrer da carreira


política. O que estava passando pela sua cabeça?

— Limpar o nome do meu pai.

Eu não quero fazer a pergunta seguinte, mas sei que preciso.

— Foi o que a fez aceitar minha proposta de trabalho?

Ela hesita, mas finalmente cede.

— No começo, sim.

A resposta me corrói por dentro.

— Ou seja, você me usou.

— Bryce.

— Sabia que sua função envolvia um relacionamento de

confiança e me usou. Tem ideia do quanto eu seria prejudicado se


vazasse para a imprensa que minha assessora está investigando
um senador? Parou para pensar que qualquer chance que eu
pudesse ter de me tornar presidente desapareceria se um
escândalo desses estourasse?

A despeito do que falo, não é a possiblidade de não chegar à


Casa Branca o que está me matando, e sim, a decepção por ter sido

enganado.

Entretanto, é mais fácil lidar com o assunto como se fosse

apenas o risco de destruir minha carreira o que importa, do que


aceitar que a mulher por quem estou apaixonado me enganou

desde o começo e mesmo depois de tudo o que vivemos, continuou


mentindo para mim.

— Eu nunca te prejudicaria. Encontrei-me com ele hoje

para…

— Com ele? Quem é ele? Sequer revela quem o maldito é,


Louise!

— Eu não posso. Ele confiou em mim.

— E eu não? Compartilho minha vida com você há dois

meses. Eu te levei para dentro da minha família. Eu tinha planos


para nós dois.
— Nada precisa mudar — diz.

— Tarde demais. Tudo mudou. Está demitida, senhorita


Whitlock. Quero que tire suas coisas do meu gabinete o mais

depressa possível.

— Eu já havia pensado sobre isso e chegado à conclusão de


que era melhor entregar o cargo mesmo, dado o conflito de

interesse…

— Conflito de interesse? É assim que você chama trair e

enganar o homem que te fode todos os dias? Aquele com o qual

compartilha a cama e a vida?

— Bryce, eu sei que errei e entendo que esteja nervoso, mas


posso explicar.

— Não há mais nada para ser explicado.

— Eu já entendi. Não confia mais em mim para ser sua

assessora.

— Não, eu acho que não entendeu. Não confio mais em você

para ser minha mulher, também. Não está demitida só do emprego,

Louise, mas da minha vida. Estamos acabados.


Ela dá um passo para trás como se eu a tivesse agredido

fisicamente e a dor no meu peito é tão intensa que eu me sinto


rasgado. A merda de se amar alguém é que fazê-lo sofrer nos mata,

também.

Um mesmo punhal para dois corpos.

No entanto, não existe amor sem confiança. Louise me traiu e


isso eu não posso perdoar.

— Acabou? — repete, como se não pudesse acreditar, as

lágrimas escorrendo por suas bochechas.

Aperto os punhos ao lado do corpo, a dor dentro de mim se


tornando insuportável.

— Acabou — confirmo.
Capítulo 47

Dallas

Quatro meses depois

“O FBI acaba de deflagrar uma operação envolvendo o alto escalão

na capital do país. Dentre outros crimes apurados, sabemos que há


lavagem de dinheiro, que ocorre quando agentes criminosos

procuram alterar a origem de ganhos conseguidos de maneira ilícita,

mascarando-o de forma que pareça ter sido obtido por meios legais
para enganar a Receita Federal.
Também se fala em prostituição, envolvimento com a máfia

irlandesa e até mesmo o abominável tráfico humano.

O corpo do senador Aston Barlowe, apontado como um dos

cabeças do esquema, foi encontrado ao norte da capital do estado

em que atuava, Massachusetts, na tarde de ontem. Há rumores de


que vários outros nomes importantes estão envolvidos, mas a

agência mantém sigilo absoluto, prometendo, no entanto, várias

prisões para os próximos dias. Com a descoberta da organização


criminosa dentro do coração do país, malfeitores disfarçados de

homens de bem, foi reaberta a investigação envolvendo a morte do

ex-governador Emment Whitlock. Inicialmente, acreditava-se que o


político, que vem de uma tradicional família texana, era o cabeça do

esquema, mas parece que novos fatos foram apurados, podendo


trazer redenção ao homem que foi assassinado na frente da filha, a

ex-noiva do senador Bryce Gray, Louise Whitlock…”

Fecho o notebook, sentindo a mesma dor ao ouvir o nome

dela me atingir como no dia em que nos separamos.


Sempre me considerei um cara centrado e que nunca dá
margem para áreas cinzentas, mas ainda que eu saiba que o que

Louise fez — mentir para mim — foi indesculpável, meu coração

pensa diferente.

— Você está morrendo em vida, Bryce — Hudson diz,

sentado à minha frente.

Balanço a cabeça, fazendo que não, mas nem eu mesmo sei

o que estou negando.

— Por que queria que eu assistisse a isso?

— Porque você a ama e essa separação está te matando.

— Não há amor sem confiança, Hudson. Ela me enganou.

— No lugar dela, teria feito diferente?

— Talvez, se não estivesse envolvido com meu chefe, faria

igual. Mas ela teve meses para me contar e escolheu continuar


mentindo.

Essa é a minha parte racional argumentando. A menor parte

que existe em mim, aparentemente, porque o amor que sinto por

Louise se espalhou em meu sistema como um vírus.


Ela foi embora do país, embora eu saiba que o celular

continua ativo e também onde está — França.

Claro que verifiquei-a. O fato de não estarmos mais juntos

não diminuiu o amor que sinto.

— Orgulho tem mais peso do que amor?

— Não é orgulho. É a sensação de ter sido traído. Ela não


confiou em mim, confiou em um estranho.

— Vá atrás dela, Bryce antes que a perca. Chega um ponto


em que a saudade se transforma em mágoa, matando o amor. Eu

sou apaixonado por Antonella e sei reconhecer o amor verdadeiro.


Você é louco por ela.

— Eu… tentei ligar uma vez. Ela não me atendeu. Quando


enviei uma mensagem, pediu que eu parasse.

— Que tipo de mensagem?

— Queria saber como ela estava.

— Depois da maneira como se separaram? O que ela


respondeu?

— Me mandou para o inferno.


Ele ri.

— Eu gosto da sua mulher — diz.

— Ela tem que reconhecer que errou.

— Achei que já o havia feito no dia em que terminaram.

— Não lhe dei tempo… eu…

Porra!

— Eu vou atrás dela — decido, me levantando, mas naquele


instante, a porta se abre.

— Bryce, tem alguém que deseja vê-lo — Alfred diz, entrando


no gabinete.

— Não quero ver qualquer um. Por que diabos veio me


avisar? Desde quando recebo visitas sem marcar? Como esse

infeliz conseguiu passar pela segurança?

— Porque eu autorizei. Ele disse que se chama Drake, é um

amigo da senhorita Whitlock.

Eu fico de pé em um segundo.

Drake.
O “D.” da agenda telefônica dela. O mesmo bastardo em
quem minha mulher confiou ao invés de mim.

— Mande-o entrar.

Dois minutos depois, como eu desconfiava, o mesmo homem

que vi com Louise no restaurante surge.

— Senador Gray — cumprimenta e depois faz um aceno de


cabeça para Hudson. — Podemos falar a sós?

— Não tenho segredos com a minha família.

Ele não parece se abalar com a raiva mal contida em minha


voz.

— O que tenho para dizer não vai demorar. Sei que você e
Louise terminaram.

— Foi ela quem pediu que viesse? — interrompo-o.

— Você a conhece bem. O que acha?

Sei que não. Ela é orgulhosa demais para isso.

— Sente-se — peço, apontando para uma cadeira ao lado da


do meu irmão.

Depois que ele se acomoda, diz:


— Eu não vou entrar no mérito do rompimento de vocês, mas
me senti na obrigação de vir lhe explicar como Louise foi envolvida
nessa operação. Ela não sabe, mas acompanho o crescimento dela

desde o dia em que o pai foi assassinado.

— Emment Whitlock era culpado?

— Não — responde sem titubear. — Ele foi vítima de alguém

próximo, mas eu vou chegar lá. Louise, como deve saber, passou
por uma adolescência conturbada. Ela viu o pai morrer. Ela tentou

salvá-lo, matando o assassino e acha que falhou. Porém, quem lhe

roubou o pai não estava satisfeito. Para sair da mira das

investigações…

— Investigações?

— Sim. Naquela época, o verdadeiro culpado já estava sendo

investigado.

— Continue.

— Ele não precisava apenas de Emment Whitlock morto, ele

tinha que fazer com que todos pensassem que o assassinato fora

sido a mando dos cúmplices.

— Mas não havia cúmplice algum.


— Exato. Isso tudo será esclarecido nos próximos dias. O

ponto é que aquilo destruiu Louise. Ela me contou que nos primeiros
dois anos após a morte do pai, se agarrou com unhas e dentes à

sua vingança, mas quando todas as mentiras vieram à tona,

acusando Emment de corrupção, ela ficou sem rumo, era apenas


uma garotinha. Eu acompanhei tudo de longe, sem poder fazer nada

e vi quando a enviaram para o colégio suíço. Quando voltou, achei

que estava bem, mas começou a se transformar novamente na

garota-problema então, fiz o que achei que deveria para salvá-la: eu


lhe dei um objetivo.

— Como?

— A convenci a se matricular na faculdade de jornalismo e

disse que precisava dela ao meu lado.

— E era verdade?

— Parcialmente.

— Por que se dar ao trabalho, então?

— A Louise que vê agora, não foi a mesma que eu conheci.


Eu pesquisei o passado dela. Antes da morte do pai, era uma

garotinha feliz, excelente aluna, esportista. Depois, principalmente

quando achou que o pai era culpado, passou a respirar, apenas.


Como se estivesse morta em vida. — Ele apoia os cotovelos nos

joelhos e solta um longo suspiro enquanto esfrega o rosto. Não

posso deixar de notar que puxa de dentro da camiseta o distintivo


do FBI, comprovando minhas suspeitas. — Eles não só mataram um

homem honesto, e sim, destruíram a vida dela também. Ajudar

Louise era uma questão de honra.

Nem eu ou o meu irmão o interrompemos, atentos a cada


palavra.

— Quando eu jurei a ela que o pai era inocente, Louise

passou a ter uma razão para querer viver novamente. Dizia-me que

quando tudo acabasse, recomeçaria a vida sabendo que o pai


estava em paz. Posso imaginar como se sentiu, também me coloco

em seu lugar, mas Louise quis lhe contar diversas vezes e eu não

permiti. Estávamos próximos demais para colocar tudo a perder.

— Por que veio hoje?

— Ela está voltando para os Estados Unidos.

— Quando?

Ele olha o relógio.


— Deve desembarcar dentro de algumas horas. Eu pedi que

voltasse, apesar de não ter contado a razão.

Estou de pé novamente.

— Que razão?

Algo no tom dele me põe em alerta.

— Prenderemos o verdadeiro chefe do esquema de

corrupção amanhã pela manhã. Até agora, não havíamos deixado


que ele soubesse que estava em nossa mira, mas quando o dia

amanhecer, o mundo inteiro saberá.

— Louise é uma testemunha. — Entendo rapidamente.

Nesse segundo, qualquer dúvida desaparece porque tudo o


que consigo pensar é em mantê-la protegida.

— Espera, volte um pouco — Hudson diz. — Por que, se

esse homem a deixou viver até agora, faria alguma coisa para feri-
la?

— Se eu pudesse chutar — Drake diz —, apostaria em culpa.

Foi essa a razão que não o fez matá-la durante todos esses anos. O

atirador estava morto, de qualquer modo. Louise nunca deveria ter


sido atingida no dia em que Emment Whitlock morreu. Foi um dano

colateral.

— É uma explicação muito sentimental, Drake, mas não faz

qualquer sentido. Honra entre bandidos não existe. Se o mandante


queria apagar rastros não hesitaria em matá-la, também.

— Não se ele tivesse uma ligação com ela.

— O que isso significa?

— O mandante do assassinato do pai de Louise e também


chefe do esquema de corrupção é o senador Cassius Stonebraker, o

padrasto dela. Eu acredito realmente que Louise ser ferida não

estava nos planos. De uma maneira distorcida, ele a considerava,

mesmo quando Emment era vivo, como uma filha. Mas Louise viu o
assassino do pai e o atacou.

— Então não restou alternativa ao homem a não ser tentar

matá-la, também.

Ele concorda com a cabeça.

— Mas não sob as ordens de Stonebraker? — Hudson

pergunta.

— Acredito que não.


Meu coração acelera.

— Mas esse cenário mudou agora, não é?

Drake novamente acena, fazendo que sim.

— Ele está acompanhando as notícias. Apesar da teia que o

blindava ser espessa e de que precisamos de muitos anos para

juntar provas para incriminá-lo, Stonebraker sabe que se estávamos


prestes a prender Aston Barlowe antes do bastardo ter sido

assassinado, estamos chegando perto dele. Eu não posso permitir

que machuque Louise. — Ele se levanta. — Tem uma decisão a

tomar, senador: proteja-a ou eu mesmo o farei, inserindo-a em um


programa de proteção à testemunha. Se for o caso, ela

desaparecerá para sempre.

— Louise é minha mulher. Eu cuidarei dela.


Capítulo 48

Só preciso dar dois passos para dentro da ala vip do saguão


do aeroporto para saber que há algo de muito errado.

Eu fretei um avião particular, a conselho de Drake, que me

disse que a morte de Aston Barlowe, linkando o nome do meu pai


ainda que para absolvê-lo, poderia trazer uma atenção indesejada

por parte da imprensa.

Ainda assim, tendo me preparado para voltar para o olho do

furacão, o que vejo à minha frente é surreal.


Somente então noto que não há qualquer pessoa no saguão

— funcionários ou passageiros, que não sejam duas dúzias de


guarda-costas.

Sim, eu vivi a minha vida inteira cercada por eles para não

reconhecê-los com facilidade.

Encaro os homens sem entender nada e pego o celular para


ligar para Drake e perguntar por que diabos mandou tantos homens

para me proteger, quando eles se afastam e a última pessoa que eu

esperava ver, aparece.

Meu corpo começa a tremer, não somente pelo encontro

inesperado, mas porque os olhos de Bryce, após estudarem meu

rosto, caem rapidamente para minha barriga de gravidez de cinco


meses.

Não foi assim que planejei contar a ele. Claro que

eventualmente eu lhe diria, mas ainda não estava pronta.

Segundos depois, ele anda em linha reta em minha direção, o

rosto em um misto de raiva e surpresa.

Há algo mais, também, mas prefiro ignorar.

Eu não acredito que Drake me traiu!


Ele era a única pessoa que sabia que eu estava voltando.
Como pôde?

Para meu espanto, quando para à minha frente, ele não fala

sobre a gravidez, mas ordena:

— Vamos sair daqui.

— Não vou a lugar algum com você.

— Vai sim, Louise. Posso te dar uma escolha: sobre as

próprias pernas ou no meu colo, mas de jeito nenhum vou permitir

que coloque a própria vida ou a do meu filho em risco por pura

teimosia.

— Do que está falando?

— Não vou te explicar aqui, Louise. Terá que confiar em mim.

— Por que eu deveria? — pergunto, a mágoa sufocada por

meses emergindo.

— Porque não importa o inferno que atravessamos, nada

muda o fato de que sou louco por você.

Eu não esperava que ele me dissesse algo assim. Não

depois do que aconteceu na última vez em que nos vimos, então,


ainda em choque, não protesto quando ele me leva para o lado de

fora.

Assim como dentro do aeroporto, há um forte esquema

armado para nos proteger e sei que o carro que estamos é blindado,
como todos os que os Gray andam.

Eu me acomodo no banco de trás da limusine e ao invés de


sentar ao meu lado, ele toma o assento à minha frente.

— Explique-me o que está acontecendo — exijo, fingindo


que sou senhora de mim, disfarçando o quanto estou morrendo de
saudade, apesar de toda a mágoa.

Eu saí do gabinete dele naquele dia completamente perdida e

depois de ligar para Drake e explicar o que aconteceu, segui direto


para Dallas, fiz as malas e tomei um avião para Paris.

Tenho um apartamento lá que, assim como o que eu uso para


pintar, minha família não tem conhecimento que adquiri.

Nesse período, depois de quase um mês chorando sem


parar, finalmente percebi que sobreviveria, como sobrevivi a tantas

outras coisas na minha vida.


Pouco falei com a minha família porque as únicas vezes em

que Emory e mamãe ligaram, foi para tripudiar sobre minha


separação e contar fofocas, inclusive insinuando que Bryce havia

seguido em frente.

Para não sofrer, me desliguei de tudo. Ignorei noticiários e

política, sendo Drake meu único canal de comunicação com o


mundo.

Pintei tantos quadros que acho que daria para concorrer


facilmente em quantidade com o acervo do Museu do Louvre e

então, um dia pela manhã, o cheiro da tinta começou a me causar


enjoo.

Depois do terceiro dia seguido com os mesmo sintomas,

resolvi procurar um médico e foi então que eu descobri, há um mês,


que estava grávida.

— Quando pretendia me contar?

Percebo pelo tom que está com raiva, mas sinto-me exausta

da viagem e não quero brigar.

— Eu iria contar, eventualmente.


— Nos falamos por mensagem no mês passado, Louise.Teve
a chance de me dizer.

— Eu não sabia ainda, Bryce — falo, sem encará-lo. — Sei

que não confia em mim, mas eu não pretendia lhe privar do direito
de ser pai. Isso não tem nada a ver com nós dois, mas com o bebê.

Vejo seus punhos fecharem no colo e sei que está se


controlando.

Depois do luto inicial pelo fim do relacionamento, eu me


alimentei de raiva porque ela já era minha conhecida e mais fácil de

trabalhar.

Assim, quando finalmente se dignou a me procurar, eu usei

dela e do que sobrou da minha força de vontade para mandá-lo para


o inferno. Não porque não o amasse mais, ao contrário, porque

ainda o amava muito e não queria passar pela situação de ser


rejeitada outra vez.

— Conte-me porque preciso ir com você.

— Não há uma maneira fácil de lhe dizer isso, Louise.

Dou um sorriso sem humor.


— Essa palavra não existe na minha vida, senador. O “fácil” e
eu nunca fomos bons companheiros.

— Louise…

— Não, Bryce. Sei que precisamos conversar, principalmente

sobre nosso filho, mas por ora, quero saber por que Drake lhe
contou que eu estava voltando.

— Amanhã será feita a prisão do cabeça do esquema de


corrupção.

— Já? Quero dizer, eu esperava que acontecesse, mas

depois da morte de Barlowe, pensei que dariam um tempo.

— Não, pelo que Drake me falou, será em sequência.

— Sabe quem ele é, agora?

— Ele não colocou com todas as letras, mas ficou óbvio que

seu amigo trabalha para o FBI.

— Quem é o chefão, Bryce? Quem ordenou a morte do meu

pai?

— Cassius.

— Meu padrasto? Não é possível!


— Ele sempre esteve por trás de tudo, Louise. Agora faz todo

sentido o que me contou que o homem lhe disse: que não era para
você morrer. Não era mesmo. Ninguém esperava que você visse o

assassino ou que fosse revidar.

— Eu estou enjoada — falo, segurando meu abdômen.

— Merda! — diz, soltando o próprio cinto e vindo para o meu


lado, ao mesmo tempo em que pega o celular. — Hudson, mande

um médico para minha casa. Louise está passando mal. Ela está

grávida.

Ele desliga rápido.

— O que posso fazer para ajudar?

— Se não quiser que eu vomite no seu carro, me dê um saco

plástico.

Vejo-o abrir um compartimento e pegar uma pequena bolsa


de papel.

— Eu chamei o médico — diz, parecendo ansioso.

— Eu ouvi. Acalme-se.

— Está de quantos meses?


— Quase cinco.

— Jesus Cristo! Eu te mandei embora grávida!

Aquilo é como uma injeção de adrenalina nas minhas veias.

— Não se atreva a se arrepender pelo modo que me tratou


só porque eu estava grávida ou eu juro por Deus, vou te odiar. Esse

bebê é nosso, mas ele nunca vai servir como ponte para ficarmos

juntos. Você me mandou embora porque não confiava mais em mim.


Mantenha esse pensamento. O fato de termos que conviver daqui

para frente porque vamos ter um filho não tem nada a ver com nós

dois.

— Você está pálida e enjoada. Não vamos brigar agora.

— Vamos brigar depois?

— Nós sempre brigamos, Louise. Não acho que isso vá

mudar algum dia.

— O enjoo passou. Pode voltar para o seu lugar.

Por favor, porque meu corpo traidor não quer saber de todas
as lágrimas que eu chorei nos últimos meses. Ele quer você.

Graças a Deus ele atende ao meu pedido e aproveito para

fechar os olhos até chegarmos em casa.


Casa.

Aquela não é a minha casa. É a do pai do meu filho.


Capítulo 49

— Não teme que com esse escândalo reavivado sobre o


assassinato do meu pai, isso lhe custe a candidatura? — pergunto,
quando ele me ajuda a sair do carro, tentando focar em qualquer

coisa que não seja o fato de que cresci ao lado, beijei e abracei o

homem que foi o mandante da morte do meu pai.

Caminho devagar, dando pequenos passos, mas

aparentemente não sou tão forte como imagino porque, do nada,

meus joelhos se dobram.


Bryce, que já estava com um braço atrás de mim, me pega

no colo.

— Assim que o médico chegar, mandem-no subir para minha

suíte — avisa ao chefe dos seguranças. — Teimosa. Por que não

me disse que estava se sentindo mal ainda?

— Porque não quero precisar de você — falo, mordendo o


lábio inferior para impedi-lo de tremer.

O que eu disse é verdade. Levei meses para entender que

posso sim sobreviver sem ele, mesmo que houvesse uma grande
chance de permanecer infeliz para sempre. Não quero que, só

porque as circunstâncias me trouxeram aqui, todo o aprendizado

adquirido se perca.

Nada mudará o fato de que nos machucamos mutuamente.

— Perdoe-me — digo, porque até agora eu realmente não

me desculpei por tê-lo enganado.

— Não sou sensível, Louise. Pode dizer o quanto quiser que

não precisa de mim. Não sairei do seu lado de qualquer jeito.

— Estou pedindo perdão por ter ocultado a verdade no

passado — digo e logo me corrijo. — Por ter mentido. Eu deveria ter


lhe contado tudo, independentemente da proibição de Drake. Teve
razão em ficar zangado.

— Eu errei, também. Não deixei que se explicasse.

— Errou, sim. Não me entenda mal. O meu pedido de

desculpas não significa que estou querendo uma segunda chance.


Já passamos desse ponto. Só preciso que saiba que eu sinto muito,

Bryce.

— Temos muito o que conversar, pequena, mas não agora.

Não enquanto se sente mal e acaba de receber essa bomba.

— Como ele pôde, Bryce? Como Cassius teve coragem de


não só mandar matar meu pai, como usurpar sua vida, casando-se

com a esposa dele?

— Há muito mais por trás que você não sabe, Louise, mas

não acho que seja a hora.

— Em relação ao quê?

— Sua família.

Ele chega no quarto que compartilhamos tantas vezes e me

deita na cama. Em seguida, tira meus sapatos.

— Conte-me tudo.
— Lembra do vídeo que soltaram sobre mim? Aquele com as

supostas garotas de programa?

— Sim.

— Há cerca de dez dias, Odin conseguiu finalmente descobrir


a origem. Ou melhor, quem o encomendou. Havia uma troca de

mensagens da residência da sua família com um hacker na dark


web.

— Cassius?

— Acreditamos que sim.

— Por que não o entregou?

— Estávamos juntando provas. Eu o cozinhei em banho-


maria, fingindo que não sabia de nada.

— Por que ele faria algo assim?

— Nosso palpite é que ele queria me unir com Emory, para

me manipular. Na hora, pensamos que ele estava interessado


apenas em casar a enteada com o futuro presidente, mas depois do
que descobrimos agora, é possível que ele já estivesse vendo lá

adiante.

— Como assim?
— Pense bem. Se no futuro, eu me tornasse presidente, e

depois viesse a descobrir todas as podridões que o envolvem, eu


estaria de mãos atadas. Entregando-o, sempre haveria aqueles que

acreditariam que eu participei das fraudes.

— Meu Deus do céu! Isso é diabólico. Mas ele o amarraria do

mesmo jeito se você se casasse comigo. Quero dizer, aos olhos do


público, Cassius é meu pai também.

— Não. Você não aceitou ser perfilhada. Todo mundo que a


conhece sabe que nunca renegou o nome do seu pai.

— Então deu tudo errado quando você começou a namorar


comigo — falo.

— Sim, depois que foi embora, ele e sua mãe me


telefonaram, insistindo que eu fosse no aniversário de vinte e dois

anos da sua irmã.

— Um dia antes de terminarmos, minha mãe me ligou para


me pedir que o convencesse a ir.

— Eu me recusei, claro, mas acho que acreditavam que uma

vez que você estivesse fora, eu acabaria aceitando uma troca.


Fecho as mãos com raiva e ele finge que não percebe, mas
sei que viu.

— Eu entendo que Cassius estava tentando se proteger de

todas as maneiras porque está mergulhado em lama até o pescoço,


mas ele não o conhece bem se acreditou que, casado com Emory

ou não, se calaria caso descobrisse sobre a corrupção.

— Tem muita fé em mim, ruiva.

Desvio nossos olhos.

— É o homem que eu amo. O pai do meu filho. Conheço seu


caráter.

— Ainda ama?

— Amo, sim, mas não gosto de você no momento. Eu não

perdoei sua rejeição. A desconfiança, sim. A mágoa, também, mas


eu nunca me senti tão infeliz desde a morte do meu pai como no dia
em que me mandou embora. Usando suas palavras, no dia em que

você me demitiu da sua vida.

Ele olha para mim e há tanta emoção em seu rosto que sinto

vontade de chorar.

Droga, por que o amor tem que doer tanto?


Ele vai até a janela e olha para fora. Desconfio que seja
porque se sente vulnerável como eu me sinto.

— Não terminei. Há mais a ser dito sobre Cassius.

— O que pode ser pior do que o que já me contou?

— Emory não é filha do seu pai. Sua mãe e Stonebraker


tinham um caso há anos. Praticamente desde que ela e Emment se

casaram.

— Eu não consigo lidar com tudo isso.

Deito-me na cama, fechando os olhos.

É como acordar em um pesadelo.

Sinto o colchão afundar e abro os olhos para mandá-lo

embora.

— Não… — digo.

— Shhhh… Vamos recapitular: você me ama, mas não gosta

de mim porque eu te magoei. Eu te amo e também não gosto de

mim por tê-la magoado. Temos isso em comum. Mas você é melhor
pessoa do que eu, Louise. Deixe-me cuidar de você. Odeie-me

novamente amanhã, se quiser, mas o que eu te disse uma vez ainda

está valendo. Vou te perseguir para sempre porque você é minha.


Cedo ao seu abraço, deixando que ele me puxe contra o

peito.

— Você não veio atrás de mim.

— Eu iria. Já estava decidido. Não sou perfeito, Louise, mas

sou louco por você. Mesmo lutando uma guerra com o meu orgulho,

eu nunca abriria mão de nós dois.

Eu quero muito acreditar, mas sinto medo. Por ora, no

entanto, me permito relaxar nos braços dele.

Estou quase cochilando quando o celular começa a tocar.

— Quer atender? — ele pergunta.

— É o toque de Cassius. O que eu digo?

— Não fale que voltou para os Estados Unidos. Dê-lhe seu

endereço em Paris.

— Como sabe que eu estava em Paris? Nem minha família


sabia ao certo para qual país eu fui.

— Porque eu nunca a deixaria desprotegida, Louise.

Quero sentir raiva dele, mas não consigo.

— E o que mais devo dizer?


— Apenas que está na Europa e lhe dê o endereço. Eu quero

uma confirmação.

— De quê?

— Confie em mim, linda.

Pego o celular com a mão trêmula. O estômago revirando

apenas de pensar em falar com aquele homem.

— Alô?

— Filha, como vão as coisas?

— Oi, Cassius. Eu estou bem e você?

— Maravilha — fala, como se não tivesse qualquer

preocupação na vida. — Mas sinto saudade. Onde você está, que

sumiu? Em algum país em particular?

Meu coração comprime, de repente entendendo onde Bryce


está querendo chegar. Ele está jogando uma isca para Cassius.

— Estou na França. Em Paris, para ser mais específica. Por

que não vem me visitar qualquer dia desses? Como nos velhos
tempos, quando vinha me ver no colégio interno.
Eu não sei como tive sangue frio para dizer algo assim, mas

ele parece não ter percebido o tremor na minha voz.

— Claro! Vou ainda essa semana. Não viaje antes que eu

chegue. — Ele faz uma pausa. — Não é muito cedo para já estar

acordada?

Sinto suor escorrer pela minha coluna. São quase meia-noite


no Texas, o que significa que são sete da manhã em Paris.

— Você me conhece. Continuo com os mesmos hábitos de

acordar cedo para correr.

Ele não faz ideia de que estou grávida e propositadamente,


todo o tempo que saí na Europa, usei disfarces para que nenhum

paparazzi noticiasse meu estado.

— Ah, claro. Minha menina é uma atleta.

— Quando você virá?

— O mais rápido possível. Eu a avisarei.

Desligo e solto o telefone, como se fosse um bicho

peçonhento.

— Ele… vai tentar me matar — falo e é a última coisa que


lembro antes de desmaiar.
Capítulo 50

— Por que diabos ele não sai de lá de dentro? — pergunto,


me sentindo como um leão enjaulado.

— Bryce, Louise está grávida e passou por um dia infernal. O

corpo dela desligou, mas não significa que seja algo grave. O

obstetra que está com ela é o mesmo que fez meus três partos,
assim como trouxe ao mundo todas as crianças da família. Ele sabe

o que está fazendo — Antonella diz.


Todo o autocontrole que eu estava me obrigando a manter

desde que a vi — não, muito antes — desde o momento em que


Drake me disse que Louise corria perigo, se foi.

Nada mais tem qualquer importância.

Cargos políticos ou mesmo a possibilidade de me tornar o

homem mais poderoso do país. Eu só quero a garantia de que a


minha mulher e filho estão bem.

Sento-me em uma poltrona no corredor da minha casa, mais

afastado de Hudson e da esposa, os cotovelos apoiados nos joelhos


e a cabeça caída entre as mãos.

Nunca senti tanto desespero em minha vida do que quando

assisti, impotente, Louise perder os sentidos.

Culpa nem começa a explicar o que tenho dentro de mim,

corroendo-me como ácido.

— Hey. — Becca, que chegou há pouco com Jaxson, se

abaixa à minha frente.

Não duvido que o resto da família já esteja a caminho,

também.
— Eu a mandei embora, Becca. Ela estava grávida e eu a
mandei embora.

— Você estava ferido, Bryce. Não estou dizendo que o que

fez foi certo. Deveria tê-la deixado falar, mas estava machucado,

também. As pessoas agem de maneira irracional quando se sentem

feridas. Veja eu e Jaxson. Passamos anos nos machucando

mutuamente antes de nos rendermos ao sentimento.

— Obrigado pelas palavras, mas não sei se vou ser capaz de

me perdoar.

— Acho que é aí que está a raiz do problema. Vocês, homens

Gray, são muito inflexíveis, tanto com si mesmos, quanto com os

outros. Relacionamentos não são operações matemáticas, com


resultados exatos. Há muito de amor, mas a dor também está

envolvida. Brigas, desacordos e as pazes depois. Está óbvio que é

louco por ela. Faça sua parte, conserte o que quebrou, cuide das

feridas de vocês dois. Se há amor, sempre vale a pena recomeçar.

— E se ela não quiser mais nos dar uma segunda chance?

— Não desista até que Louise diga de vez que não o ama. É

a única hora em que o jogo está realmente finalizado: quando o

amor acaba.
Meu celular toca e quando vejo é Drake, fico satisfeito porque

falar com ele vai distrair minha mente e me fazer focar na raiva que
sinto daquele filho da puta do Cassius.

Eu sei o que ele quer: saber se tudo correu como


planejamos.

— Falou com ela para dizer a Cassius que estava em Paris?

— Sim. Na verdade, Louise nem precisou ligar. Stonebraker

quem fez a chamada.

— Isso só mostra o quanto ele está desesperado, se

expondo. Ele já percebeu que o cerco está se fechando, embora eu


não acredite que saiba que o mandado de prisão acontecerá tão

depressa. Como Louise está reagindo à descoberta sobre Cassius?

Ao invés de lhe responder, faço outra pergunta:

— Você sabia que ela estava grávida?

— O quê? Não! Porra!

— Louise está com quase cinco meses e desmaiou depois


que conversamos.

— Merda! Eu sinto muito, cara. Ela está bem?


— O médico a está examinando.

— Me dê notícias do estado dela.

—Tudo bem. Vai mandar alguém a Paris para vigiar o


apartamento?

— Já tenho homens a postos no caso de invasão ou... algo

mais.

— Acha que ele teria coragem de atentar contra a vida dela?

— Para se proteger? Acho, sim. De qualquer modo, Louise


agora está segura ao seu lado, o que me deixa mais tranquilo.

— Reporte-me tudo o que acontecer em Paris.

— Certo. Fique ligado nos noticiários pela manhã, também.


Estamos esperando o pedido de prisão de Stonebraker a qualquer

momento.

Dez minutos depois, o médico finalmente sai do quarto.

— Como ela está?

— Gostaria que a senhorita Whitlock fosse ao meu

consultório. Assumo que o filho seja seu, senador, e se for seguir a


tradição de sua família, serei aquele que acompanhará a gestação.
Concordo com a cabeça.

— Mas não pode me adiantar nada?

— A pressão está normal e pelo tempo de gravidez, parece


que ganhou o peso necessário, também. Disse-me que se alimenta

direito e faz exercícios. A senhorita Whitlock é jovem e saudável.


Tem tudo para levar os próximos meses de forma tranquila. Pelo
que me explicou, o desmaio foi fruto do cansaço da viagem,

estresse ou os dois. Se quer um conselho, tire-a da cidade e leve-a


para a sua fazenda.

— Farei isso, mas caso precise, posso chamá-lo a qualquer


momento? Claro, terá um helicóptero à sua disposição.

— Sou obstetra, senador Gray, o que significa que não tenho


um expediente regular. Pode me chamar a qualquer hora. Será um

prazer servir à futura primeira-dama.

Congelo diante de suas palavras e mal percebo que se


despede, porque de repente, sei que aquele é o único caminho para

nós dois.

Não importa que eu seja ou não o candidato dos republicanos


ou se vencerei as eleições. Becca tem razão. Louise é minha e eu

não vou parar até colocar meu anel em seu dedo esquerdo.
— O resto da família está chegando — Jaxson diz.

— Tudo bem. Fiquem à vontade. Vou ficar com a minha


mulher.

Bato na porta, mas ela não responde, então eu entro. Está

com um roupão, agora. Deve ter trocado quando voltou a si, para o
médico poder examiná-la.

Aproximo-me da cama e ela abre os olhos.

— Hey. Nosso filho está bem — diz. — Seu rosto está tenso.

— Sou eu quem deveria consolá-la, baby. Estou me saindo

muito mal nisso de namorado.

— Não é meu namorado mais, é o pai do meu filho.

— De onde eu vejo, parece um status melhor.

— Não seja arrogante.

Sento-me na beira da cama.

— Eu nunca vou sair da sua vida, Louise. Sei que te

machuquei, mas mesmo que eu tenha que passar o resto dos meus

dias tentando consertar as coisas entre nós, nunca vou sair da sua
vida.
— Por causa do bebê?

— Nosso filho é um bom motivo, mas eu não tinha


conhecimento dele até há algumas horas e mesmo assim, tinha

certeza de que a quero para sempre.

— Não diga isso.

— Por que não, se é a verdade?

— Na primeira vez que ficamos juntos, Bryce, eu me

entreguei sem medo porque não sabia o que era ter você e depois

perder. Agora eu sei. Dói muito. É quase insuportável. Terá que me

provar com ações, não com palavras, que me ama e pode ser o que
eu preciso. Se alguma vez me mandar embora de novo, eu nunca

mais volto.

— Não vai acontecer. Não cometo o mesmo erro duas vezes.


Você é minha, Louise. Sempre foi minha.
Capítulo 51

Acordei e Bryce não estava mais na cama comigo. Senti falta

do seu corpo junto ao meu, o que é uma loucura, se formos

considerar que passei os últimos meses sozinha.

Durante a madrugada inteira, ele não me soltou.

Ainda que me custe muito admitir, depois de tudo o que sofri


com a nossa separação, estar novamente nos braços dele é a melhor

sensação do mundo.
Senti-o acariciando minha barriga e em uma determinada hora,

deitou-se com a cabeça perto dela, sussurrando para o bebê.

Não entendi tudo o que disse, mas sei que algumas frases
eram promessas de que cuidaria dele e da mãe — eu.

Achei que após passados tanto tempo separados, eu estava

mais forte sobre o que sinto por ele, mas foi uma ilusão. Meu amor por
Bryce não mudou em nada.

Com base no que aconteceu em nosso último dia juntos, eu


esperava que ele fosse mais frio em um possível reencontro, mais
resistente a ter-me outra vez em sua vida, mas ele parece tão

quebrado quanto eu e só agora entendo que sofreu também.

Levanto-me e tomo um banho rápido tentando não pensar em


tudo o que descobri ontem sobre Cassius.

Agora, à luz da manhã, não parece tão impossível que tenha


feito o que fez, mesmo que eu a razão eu nunca vá saber ao certo.

Inveja, ganância, um pouco dos dois? Quem pode ter certeza?

O fato é que ele traiu seu melhor amigo. Para esconder seus
esquemas criminosos, não hesitou em tirar a vida de um bom homem.

E minha mãe? Como ela pôde enganar papai por anos,


justamente com o homem que era como um irmão para ele? Será que
contou a verdade para Emory e por isso minha irmã estava tão

revoltada da última vez em que nos encontramos? Talvez. Ou talvez


aquela seja apenas a verdadeira natureza dela, que manteve oculta

do mundo a vida inteira.

Não foi exatamente o que seu pai biológico fez, fingindo ser um
bom homem, amigo, padrasto, quando na verdade era um canalha

traidor?

Abro minha mala, que Bryce deve ter trazido agora pela manhã
e escolho um dos meus vestidos de lã, na altura dos joelhos. Estou

perdendo todas as minhas roupas e comprei meia dúzia desses na

Europa porque são práticos e protegem do frio, já que estamos quase


no inverno.

Deixo o cabelo solto e calço botas baixas, que quase alcançam


os joelhos. Provavelmente não sairemos de casa hoje. Aguardaremos

o desenrolar dos acontecimentos tanto em Paris, quanto sobre as

prisões que Drake mencionou que aconteceriam nos próximos dias.

Respirando fundo, preparo-me mentalmente para enfrentar

Bryce à luz da manhã.

Sei que estará em casa porque é sábado, o dia em que

costuma voltar para Grayland.


Mal piso no corredor, no entanto, e escuto vozes se
sobrepondo.

A despeito de todo o nervosismo, sorrio.

A família dele veio.

Claro, que vieram. Onde no céu que os Gray não estariam


presentes ao lado de Bryce em uma situação como essa?

Desço a escada quase correndo e quando chego na sala


principal, estão todos, como sempre, falando para caramba, mesmo

que não seja o tom alegre habitual.

Congelo no lugar, observando toda a família.

Como se alguém os tivesse pausado com um controle remoto,

eles se calam e me olham de volta.

E então, a coisa mais imprevisível do mundo acontece: eu

começo a chorar.

Malditos hormônios.

Cubro o rosto, constrangida, mas quanto mais tento me

acalmar, mais as lágrimas descem.

Mary Grace é a primeira a se aproximar, me abraçando.

— Minha menina.
— Eu senti tanta saudade, Mary.

Estou morrendo de vergonha, mas não posso me parar. As

emoções represadas por toda a vida, quando fingia ser alguém que eu
não era desde que meu pai morreu, transbordam de dentro de mim.

De repente, sinto dois braços fortes à minha volta, por trás.

Bryce.

— Perdoe-me. Eu não tinha ideia do quanto te machuquei,

Louise.

— Eu me acostumei com eles — digo, sem jeito, voltando-me

para encará-lo.

— Precisamos de um minuto a sós, pessoal — ele avisa aos


parentes e me pega no colo.

— Onde estamos indo?

— Vamos fazer uma pausa até você se acalmar. O médico

disse que não pode se estressar.

— Não estou estressada, estou emocionada.

Ele não me ouve. Entra na biblioteca, fecha a porta e se senta

em uma poltrona comigo no colo.

— Eu nunca quis te machucar — diz.


— Nós nos machucamos mutuamente. Eu só percebi ontem o
quanto sofreu, também, mas não quero falar sobre isso, Bryce. Talvez,
ao invés de racionalizarmos, precisemos viver. Eu não tenho

experiência em relacionamentos fora a nossa história, mas se


pudesse dar um palpite, diria que ficarmos conversando nesse
momento sobre o que aconteceu só vai trazer mais dor. Eu estou

apavorada. Não quero me decepcionar de novo. A outra alternativa,


porém, que seria ficar sem você, é ainda mais assustadora.

— O que você quer, Louise?

— Eu quero tentar, mas não porque estou grávida. Sei que é


isso o que seus parentes esperam: um casamento para que eu, você
e nosso filho formemos uma família. Se eu aceitar ficar com você

novamente, será por nós dois, então, seja honesto comigo: é a mim
que quer ou sou um acessório aceitável por causa do bebê?

— Sempre foi você, Louise. O fato de estar esperando meu


filho é um bônus, como se eu tivesse acabado de ganhar na loteria,
mas tê-la como minha mulher é o meu maior desejo. Mesmo quando

nos separamos, eu sabia que você seria para sempre a minha única.

— Não esteve com mais alguém?


— Não. Como poderia, se meu coração já estava
completamente tomado? Eu não fiz outra coisa a não ser trabalhar e

pensar em você, tentando racionalizar o que se passava dentro de


mim. Falhei todas as vezes.

Aperto seus braços musculosos, meu corpo recebendo uma


descarga de energia. A intensidade com o que ele diz aquilo, não
tanto as palavras, mexe profundamente comigo.

Bryce nunca se soltou muito em relação a emoções, a não ser

na hora do sexo, mas eu havia me esquecido, talvez em uma tentativa


de me proteger, o quanto tudo nele é verdadeiro.

— Por isso os eleitores te amam. É um excelente orador,


senador. Você convenceria um esquimó a comprar gelo a preço de

ouro — tento brincar.

— A única que quero convencer é você, ruiva. A mulher da

minha vida. Meu ar.

— Não diga coisas assim. Suave, lembra?

— Sabe que não tem a menor chance disso acontecer. Não há


nada de suave em mim, mulher, mas tem minha palavra de que

esperarei até que esteja pronta.

— Pronta para o quê?


— Para o todo.

— Eu não estou entendendo.

— Não quero apenas um namoro mais, Louise, quero você em

minha vida em definitivo. Nós dois... — ele pausa e passa a mão na

minha barriga — nós três, para sempre.

— Bryce... — gemo, incapaz de resistir àquela sedução. Talvez

se ele tivesse tentado apostar na atração física, que foi no que nosso
relacionamento se baseou, em primeiro lugar, fosse mais fácil

conseguir me proteger, mas ele está me mostrando um lado que

nunca vi antes: deixando-me entrar em seu coração, trazendo à tona


sua necessidade por mim.

Ele olha para minha boca quando me ouve gemer seu nome.

— Sei que prometi não forçar nosso relacionamento, mas estou

louco para te beijar, ruiva.

Meu corpo estremece em antecipação. Aceno com a cabeça e


quando ele se aproxima, somente o calor de sua respiração já faz

minha pulsação acelerar.

— Sou louco por você. Isso nunca vai mudar — diz.

Ele agarra meu cabelo e no momento em que nossos lábios se

encostam, eu sei que estou de volta em casa.


Eu não tenho ideia de quanto tempo dura o beijo.

O devorar das línguas, as mordidas na boca.

A fome não mudou, só intensificou com a distância.

Eu me agarro a seus cabelos, puxando forte, querendo mais.

— Porra, Louise!

As mãos enormes entram embaixo do meu vestido. Sei que

deveria mandá-lo parar, mas não consigo.

No instante em que as coisas estão fugindo do controle, porém,


alguém bate na porta, me salvando. Eu não sei se agradeço ou se

brigo com a pessoa.

Quando separamos as bocas, a respiração de ambos está

instável e nossos olhos não se desgrudam.

— Essa boca — diz, tocando meu lábio inferior —, cada parte

de você, é tudo meu.

Meu peito sobe e desce. Respirar é quase impossível.

Deus, como pude acreditar que poderia viver sem ele? Não se

experimenta esse tipo de amor e depois segue em frente.

— Bryce, ela está bem? — Mary pergunta.


— Sim, vó, já vamos sair — avisa e em seguida, ouvimos os

passos dela se afastando.

— Não podemos ficar aqui.

Ele fecha os olhos por um instante.

— Não, não podemos, mesmo que seja o que eu quero. Não


estou pronto para dividir você com quem quer que seja.

— Eles vieram para nos apoiar. Teremos tempo a sós, depois.

Ele acena com a cabeça e beija minha testa.

— Não é só porque meus parentes estão aqui que não

podemos nos esconder do mundo.

Fico tensa porque seu rosto me diz que algo sério aconteceu.

— O que houve? — pergunto, assustada. — Drake?

Deus, não permita que algo tenha acontecido ao meu amigo.

Racionalmente, sei que ele é um agente do FBI treinado, mas


depois do que descobrimos sobre o esquema de corrupção, do que

essas pessoas foram capazes de fazer com meu pai, não duvido de

mais nada.

— Não. É sobre Cassius. Lembra-se do telefonema ontem?


— Sim — respondo, sentindo um calafrio na nuca.

— Alguém tentou incendiar seu apartamento em Paris menos

de uma hora depois que desligaram.

— Ai, meu Deus!

— Quando vi você chorando agora há pouco, me esqueci

completamente de lhe avisar.

— Alguém saiu ferido?

— Não. Um vizinho percebeu a fumaça e acionou o alarme de


incêndio. Além disso, Drake manteve pessoas de plantão vigiando, o

que fez com que o fogo pudesse ser contido a tempo. Não causou

grande estrago.

— Jesus Cristo! Cassius queria mesmo me matar.

Noto seu maxilar endurecer, enquanto concorda com a cabeça.

— Ele não tem ideia de que o FBI está tão perto de apanhá-lo,

então, tentou apagar qualquer rastro.

— Como ele pode ter se escondido por todos esses anos,

Bryce? Aparentava ser um homem de bem. Nem mesmo meu pai

desconfiou de algo. Houve investigações sobre o assassinato de


papai e, no entanto, nunca chegaram até Cassius.
— Ele era o cabeça de um esquema gigantesco, que já

operava há anos, Louise. Além do mais, não sabemos até onde se


alastrava a cadeia de corruptos. Talvez, inclusive, alguns agentes do

FBI, os mesmos que investigaram a morte de Emment, estivessem

envolvidos. O que temos certeza, segundo se noticiou, é que havia


um acordo de lavagem de dinheiro com a máfia irlandesa.

— Acha que pode ter sido esses homens, essa tal máfia, quem

matou o senador Aston Barlowe?

— É provável. Esse tipo de organização criminosa não gosta

de atrair atenção. Suas operações funcionam no anonimato, que é a


razão do sucesso: eles atuam em silêncio. Tanto é que até agora só

falaram sobre prisões de políticos. Oficialmente, nenhum mafioso foi

apanhado.

— Acha que foram os mafiosos que mataram meu pai?

— Não. Por que fariam isso? Seu pai não era alguém que lhe
interessasse. As mortes ordenadas pela máfia, pelo que estudei na

faculdade de direito e ao contrário do que os filmes romantizam, tem a

ver com negócios. O pessoal está fora da mesa. Acho que seu pai foi
morto a mando de Cassius.
— E agora ele tentou me matar também. — Eu me levanto,
mas não estou com medo e sim, com muita raiva. — Pela segunda

vez, depois da destruição que causou na minha vida. Depois de

roubar meu pai de mim, de manchar a reputação dele, aquele


desgraçado tentou me matar, Bryce.

Sei que estou um pouco histérica, mas pensar que Cassius foi

capaz de ordenar minha morte depois de todos os anos que vivemos

juntos, depois de ter me criado desde a adolescência, me põe insana.

— O que vai acontecer agora?

— Segundo Drake, ele será preso a qualquer momento. — Ele

também se levanta e me abraça. — Venha comer alguma coisa.


Converse um pouco com meus parentes. É a melhor distração que

poderá encontrar.

Ele me olha como se quisesse dizer algo mais, mas não


soubesse como.

— O que foi?

— Quero que vá para Grayland comigo. Eventualmente terei


que vir a Dallas e a D.C., mas quero que se mude para lá até isso

tudo passar. Quando eu estiver viajando, fique com a minha avó.


Pode fazer isso por mim?
— Por que Grayland?

— O médico disse que precisa relaxar, evitar estresse. Não


consigo pensar em um lugar melhor. Além do mais, estará protegida
porque minhas terras são uma fortaleza. — Ele se inclina e cola

nossas testas. — Sei que não estou entre suas dez pessoas favoritas
no mundo nesse instante, Louise, mas deixe-me cuidar de você. De
vocês dois. Eu nunca vou me recuperar se algo lhe acontecer.

— Não fale isso.

— É a verdade. Eu preciso saber que está segura.

— Tudo bem. Eu irei.


Capítulo 52

Grayland

No dia seguinte

— Acham que ele foi para longe? — Dominika pergunta, na


mesa do almoço de domingo, na casa da minha avó.

Nós praticamente passamos a noite em claro. Todos viemos


para a Império Gray, como nos velhos tempos, aguardando juntos o

desenrolar dos acontecimentos.


O obstetra telefonou para saber como Louise estava e

aconselhou-a a descansar, então, quando o relógio bateu onze, eu a


levei para meu antigo quarto na casa da minha avó e a abracei até

que dormisse.

Saí em seguida porque não confio em mim mesmo perto da


minha mulher. Quatro meses de separação é tempo demais e

Louise está tentadora como nunca com a suave barriguinha de

quase cinco meses, que por ter uma estrutura delicada, já se


destaca.

O mandado de prisão contra Cassius foi expedido ontem

mesmo, segundo Drake me avisou, mas o bastardo se antecipou e

fugiu. Provavelmente porque sua tentativa de incêndio em Paris


falhou.

Tanto Tabitha como Emory ligaram para mim histéricas,

pedindo orientação depois de tentarem falar com Louise e não

conseguirem. O quanto eu puder, blindarei minha mulher do veneno

daquelas duas víboras.

Todos os jornais noticiam sem cessar que um senador eleito

não é apenas o cabeça do esquema de corrupção, como

provavelmente está envolvido na morte do melhor amigo. As


mulheres Stonebraker, claro, estão sofrendo assédio por parte dos
repórteres.

Não havia nada que eu pudesse — ou quisesse fazer, para

ser franco — e as aconselhei a procurarem um advogado. Nenhuma

das duas é problema meu.

Eu, como a maioria das pessoas, ainda não tenho a menor

ideia do tamanho do esquema que foi descoberto, mas o que

sabemos até agora, é que já vem correndo há mais de quinze anos,

pouco antes do pai de Louise ser morto.

— Se ele for inteligente, sim — é Hudson quem responde. —

Dentro dos Estados Unidos, não há a menor chance de que Cassius

não vá para a cadeia e se eu puder chutar, por uns bons anos.


Talvez, para sempre.

As crianças já comeram e estão brincando agora sob os

olhos vigilantes das babás — um verdadeiro exército — então, nos

sentimos à vontade para falarmos livremente do que está nos


preocupando.

— Todos os jornais falam sem parar sobre a investigação do

FBI — Antonella diz.


— Posso dar um conselho sem que me considerem um

péssimo ser humano? — Dominika pergunta, mas está olhando para


Louise.

— Pode, sim — minha mulher responde, mas percebo sua


tensão.

— Em primeiro lugar, não pense que estou me aproveitando


da situação, Louise, estou pensando em seu benefício: acho que

deveriam jogar na mídia a verdade sobre o dia da morte do seu pai.


Dê uma entrevista, com um repórter escolhido a dedo e conte tudo o
que aconteceu, inclusive que foi ferida também e que foi quem

matou o homem em legítima defesa, sua e de seu pai.

— Eu não acho que… — Começo, mas Louise faz um gesto

com a mão, me interrompendo.

— Por quê? — pergunta à esposa de Reed.

— Eles vão acabar descobrindo de qualquer forma, não


tenho a menor dúvida. Se a verdade partir de você, pode ser um

fator importante para incentivar o empenho da polícia em limpar o


nome do seu pai, que acho que é seu objetivo maior. O que você

viveu foi um pesadelo, Louise. Emment merece justiça, mas a filha


dele, você, também. Se não tivesse sido tão corajosa, poderia não
estar nessa mesa agora. Nada do que fez é motivo para sentir

vergonha.

— Eu nunca vi por esse ângulo.

— Porque foi criada por um psicopata e uma egocêntrica, me


perdoe a honestidade — Becca diz. — Por muito menos, algumas

pessoas nunca mais se recuperariam. Você é uma heroína.


Concordo com Dominika: ao declarar para o mundo como foi o

último dia ao lado do seu pai, fará com que muitos fiquem do seu
lado em busca de justiça.

— O que você acha? — ela pergunta para mim.

— Concordo com a minha cunhada, mas a decisão final é

sua. Não vai ser fácil relembrar todo aquele dia.

— Eu vou pensar a respeito.

— Tudo bem. Não estou pressionando-a — a mulher de Reed


responde. — Se quiser, nós faremos com repórteres de confiança.

Caso contrário, se preferir se calar, a apoiaremos e pressionaremos


as autoridades da mesma forma, para que a investigação para

limpar o nome de seu pai não seja arquivada.


— Eu tenho uma dúvida — minha avó diz. — Por que seu
pai? Quero dizer, eu entendi que ele era um homem honesto
nadando em um mar de lama e com péssimo gosto para amigos, a

julgar pelo infeliz do Cassius, mas por que ele e não qualquer outro
para servir de sacrifício?

Louise cora, mas responde:

— Acho que em primeiro lugar, pelo que a senhora falou: ele

era honesto, então deveria ser uma aresta a ser “aparada”. A outra
razão que eu acho que contribuiu foi que Cassius e minha mãe

eram amantes — ela revela, me surpreendendo. Mesmo que tenha


sido eu a descobrir aquilo através de Odin, não contei para mais
ninguém a não para Louise. — Emory é filha dele.

— Oh! Então está explicado como saiu aquela peste e você


essa menina maravilhosa — minha vó diz, sem papas na língua.

Louise ri, apesar do assunto tenso.

Depois, a expressão volta a cair.

— Meu pai foi traído por todos em quem confiava. No fim, ele

só tinha a mim. A única que foi leal até o fim.

Seguro sua mão e beijo a palma.


— Determinada.

Ela se vira para mim sorrindo e depois explica a teoria do pai,


de que cada pessoa tinha uma palavra para ser classificada e que a

dela era “determinada”.

— Escolheu a minha? — pergunta, enquanto minha família


brinca, cada um tentando classificar o outro.

— Talvez, mas não vou te contar agora.

— Onde, então?

— Lembra da nossa primeira noite na fazenda, quando

ficamos na carroceria da caminhonete?

— Lembro, sim.

— Hoje não podemos ficar ao ar livre, porque está muito frio,


mas quero voltar lá. Quando chegarmos, eu te conto.

Naquela noite
Estaciono o carro — não mais a picape, porque tenho planos
para essa noite — no alto da mesma colina.

Louise não disse nada durante o caminho, mas eu podia

sentir a ansiedade dela.

Lá fora, a noite está fria, mas o aquecedor ligado nos mantém


protegidos.

— Por que viemos? — pergunta.

— Porque foi naquela noite que você se abriu comigo pela

primeira vez. — Chego o banco do carro todo para trás, solto seu
cinto de segurança e a puxo para o meu colo, fazendo-a sentar

sobre mim. — Porque foi naquela noite que eu enxerguei pela

primeira vez a verdadeira Louise. — Coloco uma mecha de seu


cabelo atrás da orelha. — Porque foi naquela noite que eu me

apaixonei por você, embora ainda não admitisse.

— Bryce…

Subo a mão por dentro do vestido de lã que usa, muito


parecido com o de ontem. Dessa vez, no entanto, ao menos por ora,

não é a calcinha meu objetivo, e sim o ventre onde abriga meu filho.
Acaricio-a ali e ela estremece.

— Senti falta dessas mãos enormes em mim — diz. — Eu

sonhava com elas, com você, o tempo todo.

— Eu te amo. Ficarmos longe foi um pesadelo. Em minha


arrogância, eu me considerava autossuficiente, mas me senti

incompleto durante todo o tempo em que ficamos separados. Eu

não posso encontrar uma única palavra para você, minha Louise. Eu

não seria capaz de defini-la em apenas uma palavra.

Ela desabotoa minha camisa e começa a beijar meu peito.

Em seguida, as mãos ansiosas abrem minha calça.

Meu coração bate acelerado. Estou louco de desejo,

precisando estar nela mais do que da próxima respiração.

Toco sua boceta, espalhando a umidade até o clitóris,

massageando-o. Ela geme, se ergue e assim que consegue me tirar

fora da calça, afunda em mim.

Congelamos por alguns segundos, testas coladas, os corpos


febris.

— Eu te amo — repito.

Ela se ergue e volta a descer.


— Nunca mais me mande embora.

Agarro seus quadris.

— Eu nunca te mandei embora realmente. Você jamais saiu

de dentro de mim.

Ao contrário das outras vezes e a despeito da fome que beira

o desespero, o ato é lento, porque queremos aproveitar cada


segundo.

— Eu morri a cada dia em que estive longe — diz.

— E eu morri a cada dia em que você esteve longe. Perdoe-

me.

— Não quero ouvir isso. Chega de pedir perdão. Diga-me as


palavras.

— Palavras?

— Falou que não havia uma só para me classificar. Diga-me

o que sou.

Mordo seu pescoço.

— Linda.

Tiro seu vestido por cima da cabeça.


— Corajosa.

Capturo um mamilo entre os dentes.

— Sexy.

Eu a fodo mais duro agora, o orgasmo de ambos se


construindo com a violência de um maremoto.

— Minha. Seja minha, Louise. Eu prometi não te forçar, mas

não posso fugir da minha natureza. Não quero que seja minha

namorada, quero que seja minha mulher. Para sempre. Case-se


comigo. Você já é o meu mundo. Vamos tornar isso oficial.

Ela não responde, me arranha e morde, rebolando, gemendo

e pegando o que quer até se perder no próprio orgasmo. Eu a sigo,

mas mesmo quando a encho, não deixo que se afaste. Mantenho-


me dentro, inundando-a, preenchendo-a completamente.

— Eu sempre fui sua mulher. Eu não poderia deixar de ser

sua mulher. Nunca existiu outro, jamais existirá. Eu aceito.

Estico a mão para o console do carro e pego uma caixinha


que escondi ali hoje mais cedo.

Quando a abro, depois de olhá-la, ela sorri.

— Autoconfiante, não é, senador? Meu sim era uma certeza?


— Eu não aceitaria um não. Iria persegui-la até que se

rendesse, mas com relação ao anel, eu já o tinha há meses, antes


que você partisse.

Ela abre e fecha a boca, como se não acreditasse.

— Sempre soube que me amava ou estava seguindo o

conselho de Alfred para conseguir uma esposa de conveniência?

— Jamais tive dúvida de que era você quem eu queria. Se

fosse uma esposa de conveniência o que eu buscava, poderia ter

conseguido antes. Desde a primeira vez em que viemos aqui,

quando você se despiu de qualquer proteção e se entregou, eu


sabia que não haveria outra.
Capítulo 53

Dez dias depois

— Louise, eu não acredito que teve coragem de dar aquela


entrevista — minha mãe fala, do outro lado da linha e não me

surpreendo que apesar de tudo o que vem acontecendo, ela ainda


se agarre com unhas e dentes às aparências.

Não importa que o cônjuge dela seja um político corrupto que


destruiu milhares de vidas ou que provavelmente esteve envolvido

na morte de seu primeiro marido — meu pai — e sim, o fato de eu

ter tornado meu pesadelo público.


No dia seguinte em que aceitei me casar com Bryce, fizemos

um comunicado oficial à imprensa avisando que não só havíamos


reatado o noivado, como o casamento seria em breve.

Não quero parecer grande demais no vestido de noiva.

A repercussão do anúncio pelo país foi muito positiva, com as

redes sociais de Bryce explodindo de mensagens de felicitações.

Como ele previra, os eleitores não associam meu nome ao de

Cassius, que continua foragido, e sim, sou conhecida como a filha

do ex-governador assassinado.

Depois, naquela mesma noite, conversando com Mary, tomei


a decisão de conceder a entrevista que Dominika sugeriu.

Ela foi feita há quatro dias, com apenas um repórter da

Washington News e um fotógrafo. Durou cerca de uma hora e não

foi fácil.

No começo, as palavras saíam arranhando minha garganta,

mas aos poucos, eu consegui colocar para fora.

Sou introspectiva em minha essência e essa superexposição

me deixa apavorada, mas se para impedir que arquivem a


investigação sobre a morte do meu pai eu tiver que dançar nua em
cima de um palco, eu farei.

Bryce ficou nos bastidores o tempo todo, acompanhando,

sendo minha fortaleza com seu apoio silencioso e quando

finalmente acabou, apesar de me sentir esgotada, foi um alívio,

também. Agora, todos sabem que Emment Whitlock não era o

monstro corrupto como lhe pintaram, e sim um pai amoroso, marido


dedicado, que não merecia a traição que sofreu.

Mal posso esperar pelo dia em que todos reconhecerão que

erraram com ele.

Drake me telefonou para me congratular pela coragem e

também para dizer que devo ficar atenta à minha segurança, porque
ainda não sabemos ao certo todos os nomes envolvidos no

esquema.

Ele disse que estava feliz pelo bebê e mais ainda que eu e

Bryce tenhamos nos acertado. Sei que será um amigo que


carregarei para o resto da vida. Ele esteve comigo e por mim,

quando ninguém mais me enxergava.

— Mãe, você assistiu à entrevista? — é uma pergunta

retórica, caso contrário, ela não estaria me telefonando.


— Sabe que sim.

— Então viu que estou grávida, não é? Não me perguntou,


mas eu e seu neto, apesar de tudo, passamos bem, obrigada.

Também fico feliz pelos parabéns que me deu com relação ao meu
noivado.

— Não seja irônica. Há coisas mais importantes no momento.

— Para a senhora, talvez, para mim, não. O que me importa

agora, além da expectativa de que mais cedo ou mais tarde a polícia


apanhe aquele canalha que você colocou para morar na casa que
pertencia ao meu pai, é levar uma gravidez saudável, ao lado do

homem que eu amo.

— Você é tão egoísta, Louise.

— Não vamos entrar nessa questão de egoísmo, mãe. Se

fosse o caso, eu teria todo o direito de sê-lo, porque é a primeira vez


que priorizo minha felicidade.

— Sua irmã está com o coração partido!

— Por que descobriram que o pai dela é um criminoso? —

pergunto, com rancor.

— O quê?
— Ouviu perfeitamente. Sei de tudo, mamãe. Não foi só

Cassius quem traiu meu pai, ordenando a morte dele…

— Não há provas com relação a isso.

— Mas não tenho dúvidas de que haverá em breve — falo. —


Não mude de assunto, sei que você e aquele bandido enganaram

meu pai.

Pela primeira vez desde que o telefonema começou, ela fica

muda.

— Como pôde, mãe? Por que simplesmente não se separou

dele? Teria sido mais honesto.

— Seria um escândalo. A gravidez de Emory foi um acidente.

— Ela sabe?

— Sim.

— O que significa que eu era a única enganada na história —

digo, sentindo a mágoa preencher meu peito, mas logo combato a


emoção. — Quer saber? Esqueça o que eu falei. Não importa.

Cheguei à conclusão de que vocês três se merecem.

Ela, como sempre, ignora a dor que causa aos outros e foca
apenas na própria, se é que é capaz de sentir alguma coisa.
— O que vai acontecer conosco, Louise?

— Em que sentido? A senhora é rica. Não precisa do dinheiro


de Cassius. Mesmo que a justiça tire todos os bens dele, você e

Emory ficarão bem.

— Nunca ficaremos bem. A sociedade nos considerará


párias, para sempre.

— Quanto a isso, não há nada a ser feito, mãe. A senhora se

casou com um bom homem, mas escolheu enganá-lo, tendo um


amante e muito além, impingiu-lhe a filha de outro. Se um dia esse

fato vier à tona, não estará recebendo nada além do que plantou.

— Você mudou.

— Mudei, sim. Estou cansada de fingir que pessoas como


você e Emory não me machucam. Outro dia li uma frase que me

marcou: não deseje aos outros um bom dia, mas sim, o dia que eles
merecem ter e permita que o carma cuide do resto. Acho que o
mesmo se passa em relação à vida. Não lhe desejo mal, mamãe,

mas não sofrerei por um segundo por saber que não pode mais
frequentar a alta sociedade ou desfilar sua beleza pelas festas

texanas. Por tudo o que fez, é um castigo bem suave.


— Poderíamos tentar nos reaproximar — diz, ignorando
minha declaração.

— Não vai acontecer. Não pense que fará de mim uma

escada. Não permitirei que se aproxime do meu relacionamento


com Bryce para nos envenenar.

Depois que desligo, sinto como se tivesse tirado um peso

imensurável do peito. É incrível como pude sufocar por tantos anos


o que precisava ser dito.

— Está tudo bem? — Bryce pergunta, entrando no escritório

da nossa casa sede da Rio em Chamas.

Ele está em casa para o recesso de dezembro e também


porque nos casaremos entre o Natal e o Ano-Novo.

Decidimos por uma cerimônia discreta, para poucos amigos,

na capela local, apenas permitindo que o mesmo fotógrafo e

repórter que me entrevistaram estejam presentes.

Para mim, o que conta é me unir ao homem que eu amo,

dando início a nossa vida a dois. O casamento em si, é mais para

alegrar os parentes dele.

— Ouviu a chamada?
— Sim. Você foi incrível.

— Estou me sentindo esvaziada, mas de uma maneira


positiva.

Ele vem para perto e me puxa para seus braços.

— Aliviada?

— Sim, como quando nos livramos de um veneno que está


contaminando nosso organismo.

— E de uma certa forma, foi isso o que aconteceu, mesmo —

diz.

— Eu não a odeio. Talvez devesse, mas não consigo odiá-la.

— Ama?

— Também não. Acho que fiquei indiferente a ela muito mais

do que a Emory, na verdade. Eu e minha irmã nunca fomos

melhores amigas, mas parando para pensar, quanto da


personalidade que mostrou naquele dia que almoçou com sua

família não foi formada pela minha mãe? Elas sempre foram

próximas.

— Não temos como saber. De qualquer modo, acho que as


duas são tóxicas, Louise. Jamais serei aquele que direi para que
não se reaproxime da sua família, mas peço que o faça com

cuidado.

Dias depois

— Emory, o que você quer? — pergunto, ao ser acordada

pelo telefone e ouvir a voz da minha irmã em seguida.

Falar com mamãe e ela em um intervalo tão curto de dias é

mais do que minha sanidade pode aguentar.

— Louise, não desligue, por favor.

Mesmo me sentindo meio idiota por me comover, o tom da


voz dela me impede de encerrar o telefonema.

Parece chorosa, angustiada.

— O que aconteceu?
— Estão dizendo que encontraram o corpo de Cassius…de

papai… — ela se corrige — do mesmo modo que o daquele outro


senador. Ele foi assassinado, Louise.

Jesus! Ainda que eu esperasse que algo assim fosse

possível, baseado no que Bryce me contou — que os mafiosos não


gostam de chamar a atenção sobre suas operações —, é um

choque. Parece coisa de filme.

— Tem certeza?

— A televisão não para de noticiar isso sem parar. Não


assistiu?

— Estou grávida. Tenho dormido até tarde.

Bryce saiu cedo para ir a Dallas, porque apesar do recesso,

os compromissos de trabalho não param, apenas diminuem. Ele


deve voltar a qualquer momento, já que hoje vamos ao médico

juntos, para saber o sexo do bebê.

— Eu sei. Assisti à entrevista. — Ela pausa. — Louise, você

tem todos os motivos para me odiar, mas mesmo assim, quero te


pedir perdão. Eu sinto tanto. Eles dois me enganaram. Tanto

Cassius quanto minha mãe me traíram, assim como fizeram com


seu pai. Com o nosso pai. Estou tão confusa. Nem sei mais como

chamá-lo.

— O título não importa, Emory, e sim, se o guarda na

memória e no coração.

— Morro de vergonha pelo vexame que dei naquele dia na

Império Gray. Eu fui horrível com você. Com toda sua nova família,

mas estava confusa e revoltada.

— Talvez devesse procurar terapia.

— Você fez?

— Ainda não, mas pretendo começar um dia.

— Estou sozinha, Louise. Mamãe está trancada dentro de si

mesma, em seu egoísmo. E Cassius, que era quem me


proporcionava um pouco de equilíbrio, se foi.

— Eu vou ligar a tv para ver o que dizem, mas se for verdade,

Emory, ele não teve nada além do que mereceu.

— Eu sei… e também que ainda é muito cedo para falar


sobre isso, mas acha que um dia nós duas… huh… é possível que

nos aproximemos? Eu gostaria muito. Ter uma relação de verdade

com você, começar do zero.


— Alguém de quem eu gosto muito me disse uma vez que

não podemos começar do zero, Emory. Nós duas temos bagagem.


Anos de mágoa. Talvez sentar e conversar, sim, mas esquecer ou

ao menos conseguir lidar com tudo o que passou, leva tempo.

— Não precisa ser agora. Perdoe-me por tê-la acordado.

Telefonei mesmo para desabafar. Vai passar o Natal aqui em Dallas,


mesmo?

— Eu não estou em Dallas, estou na fazenda de Bryce.

— Gostaria de visitá-la um dia.

— Eu não sei se é uma boa ideia.

— Muito cedo? — pergunta e em seguida, tomo um susto

quando a porta do meu quarto se abre. — Acho que não, irmã. Acho

que já passou da hora de nos encontrarmos.

Instintivamente, sento-me e cubro meu abdômen com os


braços, porque na minha frente, Emory aponta uma arma para mim.
Capítulo 54

Eu sou um cara racional até o último fio de cabelo. Intuição,


sexto sentido, não é algo que tem espaço no meu mundo. Acredito

na ciência. Na lógica.

Porém, há algo — ou melhor, alguém — em que eu creio


também acima de tudo: na minha avó.

Mary Grace tem pressentimentos. Eu não sei se isso é um

dom especial, ou fruto da sensibilidade dela, o fato é que, às vezes,

ela “adivinha” algumas coisas.

Assim, quando há pouco eu estava no meu escritório, aqui na

sede da fazenda e ela me pediu que verificasse Louise, não hesitei.


Era para eu estar em Dallas a essa hora, mas alguns

telefonemas acabaram me prendendo por mais tempo do que o


planejado, então decidi esperar minha mulher acordar para me

despedir.

E no instante em que entrei no quarto e vi Emory com uma


arma na mão, apontada para a irmã, dei graças a Deus por não só

ter ficado em casa, como por seguir imediatamente o alerta da

minha avó.

A mulher me vê imediatamente e reveza entre apontar para


mim e para Louise.

— Como entrou aqui? — minha noiva pergunta a ela.

— Fácil. Seu cowboy superprotetor não avisou aos

seguranças que eu representava perigo. Quando disse que tinha

vindo para visitar minha irmã e lhes mostrei minha identidade, não

hesitaram. Quem desconfiaria de uma garota com um ursinho de


pelúcia nos braços? Agora, preciso lhe perguntar uma coisa, Bryce:

por que mandou construir tantos quartos? Eu perdi quase cinco

minutos verificando porta por porta até acertar. E como devem

saber, o tempo não estava a meu favor. Foi então que tive a

brilhante ideia de ligar para minha irmãzinha e quando ouvi sua voz,
finalmente a encontrei. Buh! — exclama, como se estivesse me
dando um susto.

Doida para caralho.

— Como sabia que eu não estaria com ela?

— Eu não sabia, senador. Vim disposta a tudo. O que tenho a


perder no momento?

— Eu não tinha noção de que você tinha aprendido a atirar.

— Louise continua, provavelmente tentando distrair a criatura.

— Ah, mas você não sabe tanta coisa sobre mim, irmã! Não

tem a mais fodida ideia do quanto não me conhece — diz, brincando


com a trava da arma.

— Não faça isso, Emory — Louise pede, com as mãos

segurando o abdômen. — Eu sei que está triste e confusa, mas não

destrua sua vida.

— Confusa? — pergunta, mas olhando para mim.

Nós formamos um triângulo perfeito no quarto, com a

pequena filha da puta entre os dois. Por mais raiva que eu sinta, me

obrigo a manter a calma, porque confio que Louise saiba lidar


melhor com a irmã louca.
— Sim, confusa e triste porque eles a enganaram. Não foi o

que me disse ao telefone? — minha noiva segue com o plano.

Emory gargalha e o som é de uma pessoa que perdeu a

cabeça, desequilibrada.

— Nada do que eu disse era verdade, Louise. Como pode ser

tão burra? Desde que se casou com mamãe, nosso “padrasto” me


contou de quem eu era filha realmente. Não do fracassado do seu

pai, mas dele, um senador poderoso. Um homem inteligente e


ambicioso. Ele pediu que confiasse nele porque tinha grandes
planos para mim, mas então, como sempre, você tinha que aparecer

e estragar tudo.

— Que tipo de planos? — Louise estimula-a, sem me olhar

por um instante sequer.

— Ele. — A maluca faz um gesto de cabeça para mim. — Eu


seria a primeira-dama. Era só uma questão de tempo. Fui doce,
inocente… ops, talvez não tão inocente assim porque você demorou

muito a agir, senador e eu queria saber como era ser fodida. Enfim,
eu esperei e esperei. Quando não aconteceu, eu e papai tomamos

uma atitude.

— O vídeo — falo, entendendo tudo.


— Sim, gênio. — Ela sorri. — Aquilo não foi ideia dele, foi

minha. Papai era um homem inteligente, mas muito antiquado. Eu


disse a ele que uma má propaganda na mídia poderia fazer

milagres. O plano era simples: senador safado se compromete com


a menina pura para provar que não é tão safado assim. A princesa

salva o príncipe. Fim da história.

Seu tom de voz se eleva, a raiva transparecendo em cada


palavra, a arma agora apontada para Louise apenas, apesar dos

olhos estarem mim.

Um suor gelado escorre pela minha coluna e sei que preciso


tomar uma atitude. Morrerei antes de permitir que ela machuque
minha mulher ou meu filho.

— Mas eu não escolhi você — falo, chamando sua atenção.

Como eu esperava, seu rosto se contorce em uma expressão


de raiva.

Pela minha visão periférica, vejo Louise se mover, mas

continuo encarando Emory.

— Não, você não me escolheu! Por que, senador?


Penso bem antes de dizer as próximas palavras. Se eu
revelar que sou apaixonado por Louise, as chances de que a
machuque aumentam, então faço com que concentre a raiva toda

em mim.

— Porque você não me atrai. Suas roupas não são sexies e

também sempre te achei estúpida, com todo esse jeito de viver de


cabeça baixa, incapaz de formular uma resposta inteligente.

— Seu filho da puta!

Eu sei o que vai acontecer segundos antes que ela o faça e

me preparo para avançar porque se tiver que morrer hoje, vou levá-
la comigo. De jeito nenhum ela vai matar minha Louise.

Eu me movimento para frente, em zigue-zague e Emory atira


ao mesmo tempo em que minha mulher avança nela.

Sinto uma dor aguda na coxa, mas não me permito cair.

Com o ataque inesperado de Louise, Emory solta a arma. Eu

a chuto para longe e ouço o movimento dos meus homens no


corredor.

Não posso dizer cada coisa que aconteceu, mas quando


finalmente minhas pernas perdem a força, antes de fechar os olhos,
vejo Emory ser dominada pelos seguranças.

— Me ajudem a levá-lo para um hospital! — Louise grita,


chorando. — Bryce, não se atreva a me deixar. Eu não posso viver

sem você, cowboy.

— Hey, eu vou ficar bem. Você me salvou — digo, já sentindo


o torpor tomar conta do meu corpo. — Seu pai estava certo, amor.

Sua palavra perfeita é determinada.

Um dia depois

— Não deveríamos entrar todos ao mesmo tempo. — Ouço


Mary dizer.

— Ele não corre mais riscos, vó. — Hudson responde. —

Estão todos ansiosos para conferir pessoalmente como anda o

quadro do futuro presidente.


— Vai beijar minha mão quando eu for o rei da porra toda,

irmão mais velho? — tento brincar, mas a fisgada na coxa, onde


tomei o tiro, dói para caralho.

— Beije minha bunda antes, pirralho — ele brinca, como

fazíamos quando crianças.

— Meninos, olhem essas bocas sujas! — Mary ralha.

Um por um, meus irmãos e primos se aproximam da cama.

— Nunca mais faça uma merda dessas, Bryce. Todos nós

morremos um pouco durante o tempo em que foi operado — Jaxson

diz.

— Eu não me arrependo. Farei quantas vezes forem

necessárias se o que estiver em jogo for a vida de qualquer um de

vocês.

— Nós te amamos, caçula. Presidente ou não, sempre nos


sentiremos responsáveis por você. — Reed mexe no meu cabelo e

faço uma carranca.

— Fodam-me, vocês nunca vão me respeitar? Não podem


me chamar de caçula! Não ouviram falar em hierarquia?
Todos riem e meu coração se expande, silenciosamente

agradecendo a Deus pela família com a qual Ele me presenteou.

— Onde está Louise? — pergunto.

Meus parentes se afastam, abrindo passagem.

— Aqui — ela diz e vejo o quanto está abatida.

— Vem cá, amor.

Nossa família sai, nos dando privacidade.

— Deita aqui um pouquinho comigo?

— Não sei se devemos… sua perna.

— Eu estou bem, minha ruiva, mas preciso senti-la nos meus

braços por alguns minutos.

Ela se acomoda ao meu lado.

— Eu achei que o pior dia da minha vida foi quando meu pai
morreu, mas quando eu cheguei na sala naquela tarde, o homem já

havia atirado nele. Ver Emory apontando a arma para você e em

seguida, puxando o gatilho, roubou um pedaço da minha alma.

— Acabou, Louise. Nós vamos ficar bem. Sei que sentiu


medo. Eu também senti, mas não permita que o que aconteceu a
torne refém da sua mente outra vez. Nós vencemos, linda. Juntos,

nós sempre venceremos.


Capítulo 55

— Por que nossos casamentos têm que ser sempre essa

loucura? — Antonella pergunta, às gargalhadas e eu sacudo a


cabeça porque não posso deixar de lhe dar razão: o movimento

dentro da suíte de Mary Grace é incessante, com maquiadores,


estilistas e cabelereiros andando de um lado para o outro, além da

ala feminina Gray, claro.

Fora os Gray do Texas, vieram os do Wyoming e também

Luna[49], a irmã de Antonella, que vive na região da Florença e é


casada com Ricco Moretti, um CEO italiano.
Eles nos convidaram para uma visita e fiquei entusiasmada

com a ideia de uma lua de mel tardia, já que agora, devido ao meu
estado — mais de seis meses de gravidez — será impossível

aproveitar uma viagem.

Quando formos, será com nosso filho, que decidimos chamar


de Hector.

Depois do que aconteceu, acabamos resolvendo adiar a

cerimônia por um mês, até que Bryce estivesse completamente

curado do tiro.

As repercussões do atentado contra nossas vidas foram

enormes e agora parece que realmente estamos dentro de um

reality show. É como se as pessoas estivessem assistindo a uma


novela, aguardando ansiosas pelos próximos capítulos.

Rezo pelo dia em que nos deixarão sossegados, embora não

acredite que acontecerá tão cedo. Se antes de ser atingido por


Emory os números de Bryce nas pesquisas de intenção de votos

eram altos, agora, alcançam as estrelas.

O partido republicano, muito convenientemente, anunciou

que meu senador é o único candidato que pensam em indicar dentro

do partido para disputar as próximas eleições para presidente. Meu


homem arrogante apenas sorriu quando as manchetes começaram
a pipocar pelo país, me dizendo que nunca duvidou de que

aconteceria.

— Muitas mulheres reunidas — Vovó Mary finalmente

responde à pergunta de Antonella. Depois, olha para mim. — Está

bem com o fato de sua mãe não comparecer, minha filha?

Balanço a cabeça, acenando em concordância.

Emory foi presa e o juiz não lhe concedeu fiança,

impossibilitando que respondesse o processo em liberdade. Com

isso, minha mãe, que já havia voluntariamente se escondido do

mundo, mergulhou no ostracismo de vez.

Ela ligou para Bryce, acusando-o de destruir sua família.

Perguntei-lhe por que a atendeu e ele me disse que por

respeito a mim, mas que foi a última vez. Agora, Tabitha

Stonebraker está definitivamente fora de nossas vidas. Eu nunca

confiaria minha família perto dela depois do que Emory fez.

Quanto a Cassius, era mesmo o corpo dele o que a polícia

encontrou. Segundo se noticiou, foi uma morte estilo execução, o

que vai ao encontro do que Bryce havia dito: a máfia não manda

recado.
Várias outras prisões foram feitas pelo país, de políticos a

empresários envolvidos no esquema, mas o que me importa


mesmo, ainda não se realizou: ter o nome do meu pai limpo de toda

aquela sujeira.

Bryce me disse que ainda pode levar anos para acontecer.

— Deem-me as botas — peço.

— Você também? — a irmã de Antonella sorri. — Acho que

eu e Dominika fomos as únicas a quebrar a “tradição”.

— Você, porque não se casou com um Gray. — Mackenzie

dá risada.

— Ah, não mesmo. Com todo o respeito, mas sou louca pelo

meu italiano.

— Sabemos disso, querida — Mary fala. — Elas estão

implicando, apenas.

— E Dominika — Maribelle, a esposa de Wyatt, continua —,

porque é a princesa colorida.

— Não serei aquela a quebrar os costumes, mas assim que

formos dançar, vou colocar uma sapatilha baixa. Meus pés estão
inchando horrores por conta da gravidez.
Todas elas olham para mim e acenam com a cabeça,

solidárias.

— Gente, o Bryce vai acabar tendo um infarto. Juro por Deus

que o homem rosna e bufa a cada dois segundos — Becca diz.

— Meu cowboy impaciente. Vamos lá, pessoal — falo, após

calçar as botas e me olhar pela última vez no espelho. — Estou


pronta.

Minutos depois, enquanto caminho pela nave da pequena


capela da Império Gray, minha garganta está trancada pela emoção.

Lembro-me do meu pai. Do sorriso dele e de todo o amor que


me dedicou. Acho que de onde estiver, sente-se feliz por ver onde

cheguei.

Não, eu não cheguei ainda.

Quase lá, papai — falo, em pensamento — Hoje, vou realizar


um dos meus sonhos porque sou uma sortuda. Vou me casar com o

amor da minha vida e pai do meu filho, mas ainda falta você. Eu não
vou desistir até que todos saibam o homem maravilhoso que você

foi.
Sempre tive uma relação próxima com a arte de uma maneira
geral, mas a música conseguia arrancar emoção de mim, mesmo
quando eu tentava ocultá-las.

Essa é a razão pela qual eu pinto ao som de rock.

Hoje, enquanto os acordes da canção instrumental ecoam, no


entanto, não é a música o que me enleva, mas a certeza de que
dentro de poucos minutos, estarei me unindo ao homem com quem

quero passar o resto dos meus dias.

Os Gray se ofereceram para entrar comigo. Eu agradeci, mas

disse que precisava fazer isto sozinha porque sei que meu pai está
me olhando do céu. Quero que ele veja que escolheu a palavra
certa para mim.

Determinada.

— Determinada, também — Bryce diz, parando à minha


frente.

— Eu falei em voz alta?

Ele me dá um beijo lento antes de responder.

— Sim.
Virou uma espécie de brincadeira para nós escolher palavras
para classificar um ao outro em certos dias.

Doce, briguenta, linda, minha, são as que ele geralmente

escolhe.

No caso dele, arrogante, sexy, orgulhoso, meu.

Não somos muito originais, mas nos amamos com loucura,

então, quem se importa?

— O que sou hoje?

— Ainda não é. Me dê alguns minutos e vou te dar a palavra

pela qual estou ansioso: esposa. Eu te amo, Louise. Vou te amar

para sempre.
Capítulo 56
Noite de núpcias

— Eu tinha planejado lhe dar tudo. Se o casamento tivesse

sido há um mês, poderíamos viajar — digo, enquanto a carrego em

meus braços, para a nossa suíte na fazenda.

— Eu não me importo, cowboy. Temos uma vida inteira pela


frente. O lugar é o de menos. Eu quero você.

Olho para o rosto corado de excitação. Eu já conheço cada

pequena nuance da minha mulher e sei quando está prestes a


arrancar minha roupa.

A boca está inchada dos beijos que lhe dei pelo caminho.

Louise anda mais safada do que nunca e não quis esperar chegar

em casa. Enquanto acontecia a recepção do casamento, chupou

meu pau até que eu gozasse em sua língua, dentro da biblioteca da

Império Gray.

Quando tentei devolver o orgasmo, no entanto, não permitiu,

o que me diz que está guardando o melhor para agora.


— Tire a roupa para mim. Estou com desejo de grávida,
Bryce.

Livro-me do blazer do terno, sacudindo a cabeça.

— Vai ser a primeira-dama mais safada da história do país,

ruiva.

Ela parece ansiosa pelo meu striptease e quando lambe os

lábios carnudos, eu acabo de me despir em tempo recorde.

— Sua vez.

— Achei que queria fazer isso você mesmo.

Sei que está insegura com o próprio corpo, mas o que Louise

não tem ideia é que quanto mais sua barriga e os peitos crescem,

meu tesão aumenta.

— Não, eu quero que se mostre para mim, enquanto me

masturbo.

Suas pupilas se dilatam e ela leva a mão à lateral do vestido,

que em um instante, cai aos seus pés.

Não usa sutiã e também já tirou a sapatilha, então, apenas o

que resta é uma minúscula calcinha branca.


Ela faz menção de tocar a peça, mas para.

— Acho que vai querer desembrulhar esse presente, cowboy.

Eu me aproximo e a agarro pela nuca. Como sempre, nosso

desejo gera descontrole e as línguas se devoram ferozmente.

A fome que despertamos um no outro jamais é saciada, ela

só aumenta.

— Quero sua boca em mim, Bryce.

— Tem ideia do quanto me deixa louco quando exige ser


chupada? — Eu me abaixo, segurando as laterais da lingerie. —

Quando me implora para ser comida?

Quando exponho seu sexo, prendo o fôlego.

Louise se depilou completamente e a boceta gostosa tem os


lábios lisinhos.

Eu a levo para a beira da cama porque me sinto instável, a

luxúria dominando a mente e eu não quero machucá-la.

Assim que a sento, puxo-a pela bunda, erguendo suas


pernas para os meus ombros.
Nenhuma mulher, das inúmeras parceiras que tive, conseguiu

me enlouquecer como ela faz.

Seu cheiro único, de fêmea feita para mim, a bocetinha

sempre pronta para me receber, os gemidos de tesão. Tudo em


Louise me rouba o juízo.

Quando meu dedo toca o clitóris, ela choraminga,


oferecendo-se.

Separo os grandes lábios e lambo seu mel.

Meu pau, muito duro, pulsa, ansioso para penetrar o abrigo

molhado.

Eu a fodo de leve, com meu dedo médio. Acrescento um

segundo com a pressão exata para deixá-la ansiosa por mais e a


chupo sem descanso, faminto porque ela é a minha comida favorita.

Sugo o clitóris, ora lambendo, ora mamando o botão durinho


e suas coxas tremem, me apertam, enquanto ela se esfrega inteira

no meu rosto.

Quando arranho os dentes no ponto de prazer, ela goza forte,

gritando meu nome.

— Por favor, Bryce. Eu quero você dentro de mim.


Eu a suspendo nos braços e deito-a no meio da cama, de
lado, posicionando-me por trás. Com a gravidez avançada, sei que é
assim que posso fodê-la sem correr o risco de feri-la. Sou muito

maior do que a média.

Passo um braço por baixo do seu corpo e viro seu rosto para

me beijar. Ergo uma das pernas para ter acesso à boceta molhada.

Empurro lentamente para dentro e trinco os dentes porque

cada maldita vez parece a primeira.

Ela geme e me morde a boca.

Rebola, me encaixando, sugando-me para seu interior.

Movo-me devagar, entrando e saindo, abrindo caminho no

canal estreito, mas logo o que começou como um fazer amor se


transforma em uma foda cheia de tesão.

Sentir os lábios lisos de sua boceta me envolvendo me


enlouquece e desço a mão para tocar o clitóris porque quero que ela

goze comigo.

Belisco os mamilos porque esse tem sido seu gatilho para o

orgasmo desde que engravidou.


A combinação da martelada ininterrupta, o ataque aos peitos
e massagem no clitóris a fazem explodir pouco depois, mas ela
continua empurrando para trás, safada e insaciável, seus músculos

internos me envolvendo, a boceta apertada me ordenhando. O


corpo devolvendo cada investida.

Gozo mordendo seu ombro e a intensidade do clímax me faz

tremer.

— Eu sou louco por você, Louise — sussurro em seu ouvido.

— Minha única.

— Eu sou louca por você, marido. — Ela devolve. — Você é

meu.

Grayland

Dois meses depois


— Já terminou? — pergunto, quando ela lambe a colher da

sobremesa, depois do nosso almoço semanal em família.

É uma distração perigosa ver Louise lambendo o que quer

que seja na minha frente, porque só me faz pensar sacanagem.

Além do mais, estou ansioso para dar a “surpresa” a ela.

Hoje é o aniversário de vinte e quatro anos da minha mulher


e daqui a pouco menos de um mês, nosso primeiro filho nascerá.

— O que há com você hoje? Parece ansioso, senador. — O

cretino do Alfred implica porque sabe perfeitamente qual é o


presente dela.

O humor dele anda bem melhor agora que começou a

namorar Adele[50], uma divorciada, amiga da esposa de Wyatt. Ela

tem dois filhos e eu nunca pensei que meu assistente fosse um


homem que soubesse lidar com crianças, mas ele parece outra

pessoa desde que ganhou uma “família” de presente.

— É mesmo, por que tanta ansiedade, irmão? — Hudson

implica e nesse instante, Blaire entra correndo na sala, aos gritos.

— Eu quero um também!
Louise franze a testa e olha para mim, apenas então

parecendo perceber que todos estão prestando atenção nela.

— Quer um o quê? — pergunta.

— Blaire está falando de seu presente de aniversário — digo.


— Acabou de comer?

— Agora, mesmo que não tivesse terminado, diria que sim.

Sabe como sou ansiosa, cowboy.

Eu me levanto e ofereço a mão.

— O que aprontou?

Puxo-a para mim.

— Tem algo que precisa saber a meu respeito, Louise: eu me

lembro de tudo o que me falou. Cada vírgula. E não há nada que


você tenha sonhado que eu não realizarei.

Ela passa a mão pelo abdômen.

— Alguns diriam que tenho tudo o que preciso para ser feliz.

— Não existe isso. Felicidade e amor não têm medida,

esposa.

— Mostre-me. Estou louca para ver. Adoro presentes.


Pego-a no colo e ela grita.

— Solte-me! Estou uma bola! Muito pesada!

— Leve como uma pluma. Uma deusa sedutora e deliciosa.

— Jesus, cowboy, você é irresistível.

— Calma, posso fazer ainda melhor. Feche os olhos.

Quando chegamos do lado de fora, eu a coloco no chão.

— Agora, pode abrir.

Ela congela no lugar. Depois, olha para mim até finalmente

andar em direção ao labrador caramelo que comprei.

Minha mulher balança a cabeça, chorando.

— Você lembrou — diz, enquanto me abaixo para pegar


nosso filho de quatro patas.

— Eu lhe avisei, Louise. Sonhe e vou realizar.


Epílogo 1

Nascimento de Hector: mais um cowboy para abalar os

corações!

— Eu nunca vou poder ser agradecido a Deus o suficiente —

meu cowboy lindo diz, beijando a cabecinha do nosso filho.

— Ele é tão perfeito, Bryce.

— Sim. Como a mãe — diz, bajulador e com aquele jeito sexy


que sempre fez minhas pernas tremerem.
— Ele não se parece comigo. — Finjo zanga.

Meu marido senta-se na beirada da cama com nosso filho no


colo.

— Fisicamente, né? Porque com esses pulmões, não nega

que é seu.

Dou risada.

— Está me chamando de reclamona?

— Não. Exigente — desvia, com a lábia de político —, mas

não tenho problema com isso, minha ruiva. Exija tudo, estou aqui

para servi-la.

— Jesus, se continuar me jogando charme desse jeito vamos

ter um time de futebol. Eu acabei de ter bebê e mal posso esperar

para senti-lo dentro de mim.

Ele deita Hector em meus braços para que o amamente, mas

antes de se afastar, me morde a boca, acariciando-a com a língua

em seguida.

— Quanto tempo vou ter que ficar longe de você?

— Longe, não. Quero carinho, mas se está falando de sexo,

de trinta a quarenta dias, como o médico explicou.


Ele pega o celular e eu preciso segurar uma gargalhada
quando vejo que está programando o alarme no calendário.

— Você é louco.

— Não, apenas pensando no bem do nosso filho. Vamos dar

logo um irmãozinho a ele.

Depois que Hector acaba de mamar e Bryce o devolve para o

berço, digo:

— Poderíamos treinar sem precisar do produto final

imediatamente.

Ele congela.

— Não quer mais bebês?

— Quero, sim. Um monte deles, mas também quero me

aproveitar desse corpo gostoso que Deus lhe deu.

— Sou seu, mulher. Escravo sexual, amigo, amante. Use-me.

— Estou começando a acreditar que fiz um bem para a

humanidade tirando-o do mercado, senador. Os outros mortais

solteiros não teriam a menor chance com você por perto. É um bico

doce[51], como sua avó disse no outro dia.


Ouvimos uma batida na porta e, sem mais aviso, aparecem

Grays de diversos gêneros e idades por todos os lados.

— A vantagem de sermos os donos do hospital — Reed diz,

rindo. — Podemos entrar todos juntos.

Eu observo meus parentes adquiridos por afinidade.

Nunca planejei ter tanta gente em minha vida, mas agora vejo
como fui abençoada.

Sorrio, passando os olhos por cada um. Todos tão diferentes


entre si, mas com algo em comum: amor e a mais absoluta lealdade

uns com os outros.

É desse modo que quero criar meus filhos. Com os mesmos

valores e sentimento de união.

Família. É isso o que somos.

Todos imperfeitos, barulhentos, enxeridos, mas acima de


tudo, uma família.
Um ano e meio depois

— De algum modo, eu sabia que a encontraria aqui — meu


marido diz, abrindo a porta atrás de mim, ao entrar no “apartamento
para pintar”, que ainda mantenho.

Eu mergulhei de vez na carreira de pintora e em algumas


obras sociais, também. Jornalismo nunca foi a minha escolha, mas

uma necessidade para atingir um fim. Eu não tenho estrutura para


lidar com a descoberta de como o mundo é podre.

E há algo mais, que mexe profundamente comigo. Se por um


lado, sabemos o mal que os corruptos causam ao país, por outro, há

as famílias deles que na maioria das vezes não têm culpa alguma.
Eu já estive do outro lado da moeda. Sei como é ouvir falar do seu

pai sem ter como se defender.

Não quero ser a responsável por trazer sofrimento. Deixo isso


nas mãos de pessoas como Drake. Os heróis, justiceiros.

Eu prefiro minha arte.

Largo o pincel, olhando o resultado na tela.


Meus traços foram furiosos, demonstrando toda a minha
ansiedade.

— Estou sobrecarregada. Não consigo lidar com isso, Bryce.

Esperei por tanto tempo que agora que acabou, não estou
conseguindo processar dentro de mim.

Ele se abaixa e me pega no colo.

— Shhhh…. Não exija tanto de si, pequena. Não existe um

manual de como agir diante da tristeza, ou no seu caso, alegria.

— Acabou, mesmo?

— Acabou, sim. A justiça reviu todos os processos


envolvendo o nome do seu pai. Ele finalmente pode descansar em

paz, Louise.

— É como um sonho. Mal posso acreditar!

— Acredite, esposa. Você está livre. Vocês dois estão.

Escondo o rosto em seu peito, chorando forte.

Acabou, papai. Eu consegui. Provei para o senhor que tinha

razão. Sou determinada.


Epílogo 2

Ma i s d e q u a t ro a n o s d e p o is

— Eu não sei se meu coração aguenta, meu filho. Estou

muito velha para essas emoções — minha avó diz, na primeira visita
da família inteira à Casa Branca. — É como assistir a um filme, meu

menino. Eu lembro de você tão pequeno ainda! Sem seus pais, só

tendo a mim e aos seus irmãos com quem contar. Agora, meu bebê

é o presidente.
Estamos apenas nós dois no Salão Oval[52], porque ela pediu
para conversar comigo a sós. Dou graças a Deus por isso, porque

enquanto Mary Grace fala, eu sinto minha garganta trancar.

— Eu consegui, vó.

— Sim, você conseguiu, mas quem ganhou foi nosso país tão
amado. Essa pátria jamais verá um presidente mais dedicado ou

honesto.

— Vó…

— Não estou dizendo isso porque é meu neto, Bryce, e sim

porque é o que acredito. Eles escolheram bem. Escolheram o


melhor.

Eu a puxo para um abraço

— Obrigado por nos criar, Mary. Eu acho que nunca

realmente a agradeci por ter tomado conta de nós. Eu te amo, vó.

Muito do que sou devo a você.

Ela me faz abaixar para beijar minha bochecha.

— Principalmente a teimosia — diz.

— Esse é o charme dos Gray.


— Agora vamos voltar para o resto da família. Tenho certeza
de que eles querem ficar com você, também.

Eu não tenho podido comparecer aos almoços de domingo.

Quando tiro um dia livre no mês, é uma sorte, porque os

compromissos são infinitos. Isso me faz sentir culpado com relação

à minha avó. Há um ano, ela esteve internada com pneumonia e me

rasga por dentro pensar que chegará o momento em que nossa


guerreira não estará mais conosco.

— Hey, por que essa cara triste?

— Quem está triste?

— Eu criei você, menino e o conheço bem. Aquilo que eu

disse sobre meu coração não aguentar é bobagem. Sabe que não

temos doenças cardíacas na família.

— Eu queria mais tempo ao seu lado, vó.

— Realizar sonhos exige sacrifícios, Bryce e o seu, foi o mais

nobre que alguém pode ter: abrir mão de quatro anos da sua vida

para servir o seu país.

— O papel de Louise é importante.


— Tenho certeza de que sim. Como eu lhe disse há alguns

anos, família é tudo.

Ela vai em direção à porta e como se tivessem combinado,

quando a abre, Louise está chegando com nossos dois meninos,


Hector e Quentin, segurando um em cada mão e carregando minha
princesa Carolyn dentro na barriga.

— Viemos em boa hora? — ela pergunta. — Eles queriam lhe

dar um beijo antes do banho. Depois, nós temos que nos trocar para
o jantar. Mal acredito que nossa família está aqui — minha esposa
diz, radiante.

Abro os braços para os meus dois filhos, que vêm correndo.


Quentin ainda meio desajeitado, com passos trôpegos.

— Deem boa noite ao papai, rapazes — Louise diz e pela

minha visão periférica, percebo as babás a postos na porta.

Depois que ganho beijos e abraços, eles se agarram nas


pernas da mãe.

Ela se abaixa o quanto pode, por conta do abdômen cheio.

— Amo vocês. Sejam bons meninos.

Depois que saem, eu a puxo para mim, beijando seu cabelo.


Quando ela me olha, está sorrindo.

— O que foi?

— Isso que você fez agora, Bryce, mexe muito comigo.


Abraçar nossos dois filhos de uma vez; a mim e a nossa garotinha
que ainda nem nasceu também, é a imagem que tenho gravada

sempre que penso no homem que eu amo. Você é o ídolo do país,


ocupando o cargo mais importante, mas é além de tudo, o melhor

pai e marido com o qual eu poderia sonhar. Meu amor. Meu cowboy
protetor.

— Aceito qualquer rótulo que queira me dar, Louise, mas


sempre e para sempre, seu.
Não deixem de ler, nas próximas páginas, o bônus da
segunda geração dos Gray, assim como o de uma nova
série.
Bônus 1

Nós crescemos juntos e as brigas não eram raras.

A quem estou querendo enganar? Blaire Donovan sempre foi

uma coisinha provocante que me empurrava até o limite.

Estou longe de ser um santo. Sou um Gray, antes de tudo.

Um bastardo orgulhoso e controlador.

Ela nunca se submeteu e nós sabíamos aonde aquilo estava

indo.

Caça e caçador, uma hora, eu me cansaria de cercá-la e a

atacaria.
E então, ela mudou o jogo. Foi embora e se transformou em

uma top model, viajando o mundo inteiro, deixando a família para


trás.

Deixando-me para trás.

Eu poderia tê-la trazido de volta, mas se não lembra, leia

novamente o que escrevi lá em cima: sou um bastardo orgulhoso e


queria que viesse por vontade própria.

No entanto, acabo de receber uma notícia que vai mudar

tudo.

Chega de brincar, está na hora de ir atrás do que me


pertence.
Bônus 2

Praticamente a vi crescer e a tinha como uma protegida.

Gabriel Lambertucci[53] e eu sempre fomos amigos, então,

nada mais natural que eu vigiasse a filha mais velha dele, cuidando
para que nenhum mal lhe acontecesse.

Eu mantinha distância, em uma espécie de obsessão


pecaminosa, mas nunca me afastava completamente.

Ela era meu segredo.


Eu me culpava por isso e evitava-a a todo custo, mas Allegra

não estava disposta a facilitar o meu caminho.

E então, em uma noite, num baile de máscaras, quando já

era uma adulta e fingimos não reconhecer um ao outro, o desejo

que sempre esteve na superfície, não pôde mais ser contido.


PAPO COM A AUTORA

Espero que tenham curtido acompanhar a história de amor de


Bryce Gray, nosso Senador lindo e sua adorada e sofrida Louise.

Com a presente obra, encerro a série Alma de Cowboy, mas


lembrando que antes de publicar esse livro, lancei um spin-off (O
Devasso e a Viúva Virgem).

Não é o fim dos Gray porque haverá a série sobre os Gray do


Wyoming, além da segunda geração de cowboys.
Um grande beijo e até a próxima aventura.

D. A. Lemoyne
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Obras da autora
Seduzida - Muito Além da Luxúria (Livro 1 da Série
Corações Intensos)
Cativo - Segunda Chance (Livro 2 da Série Corações
Intensos)

Apaixonada - Meu Para Sempre (Livro 3 da Série Corações


Intensos)
Fora dos Limites (Livro 1 da Duologia Seduza-me)
Sedução no Natal - Conto (Spin-off de Seduzida e Cativo)
Imperfeita - O Segredo de Isabela (Livro 4 da Série
Corações Intensos)

Isolados - Depois que Eu Acordei (Livro 5 da Série


Corações Intensos)
Nascido Para Ser Seu (Livro Único)

168 Horas Para Amar Você (Livro Único)


Sobre Amor e Vingança (Livro 2 da Duologia Primos
Lykaios)
168 Horas Para o Natal (Conto de Natal - Spin-off de 168
Horas Para Amar Você)

Uma Mãe para a Filha do CEO (Livro 1 da Série Irmãos


Oviedo)
A Protegida do Mafioso
O Dono do Texas (Livro 1 da Série Alma de Cowboy)
Um Bebê Por Contrato (Livro 2 da Série Irmãos Oviedo)
A Obsessão do Mafioso (Livro 1 da Série Alfas da Máfia)
Uma Família Para o Cowboy (Livro 2 da Série Alma de
Cowboy)

A Esposa Contratada do Sheik (Livro 1 da Quadrilogia

Casamentos de Conveniência)

Como Domar um Mulherengo (Livro 3 da Série Irmãos


Oviedo)

Um Anjo Para o Mafioso ( Livro 2 da série Alfas da Máfia)

O Herdeiro do Cowboy (Livro 3 da Série Alma de Cowboy)

Um Bebê Para o Italiano (Livro 1 da Série Bebês


Inesperados)
Sob a Proteção do Bilionário(Livro 2 da Duologia Seduza-
me)
Bastardo Apaixonado (Livro 4 dos Irmãos Oviedo)

Proibida Para o Cowboy (Livro 4 da Série Alma de Cowboy)

A Eleita do Grego (Livro 1 da Duologia Primos Lykaios)


Destinada ao CEO (Spin-off Irmãos Oviedo – A História de
Isabel e Stewart)

A Princesa Seduzida pelo Magnata (Livro 3 da Quadrilogia


Casamentos de Conveniência)

A Esposa Inocente do Mafioso (Livro 3 – Série Alfas da


Máfia)

A Mãe da Minha Menina (Irmãos Oviedo – Livro 5)


Seduzida Por Contrato (Irmãos Kostanidis – Livro 1)

Sob o Domínio do Mafioso (Série Honra Irlandesa - Livro 1)

Deliciosa Armadilha (Livro 1 da série Feitiço Italiano


Como Encantar seu Príncipe (Livro 3 da série Bebês
Inesperados)

Um Herdeiro para o Sheik (Spin-off de A Eleita do Grego)

O Devasso e a Viúva Virgem (Livro spin-off da série Alma


de Cowboy)

Senador Gray – Meu Cowboy Protetor(Livro 5 da série Alma


de Cowboy)
SOBRE A AUTORA

D. A. Lemoyne iniciou como escritora em agosto de 2019


com o livro Seduzida, o primeiro da saga Corações Intensos. De lá
para cá, foram várias séries de sucesso como Alma de Cowboy,
Irmãos Oviedo, Irmãos Kostanidis entre outros.
Sua paixão por livros começou aos oito anos de idade
quando a avó, que morava em outra cidade, a levou para conhecer
sua “biblioteca” particular, que ficava em um quarto dos fundos do
seu apartamento. Ao ver o amor instantâneo da neta pelos livros, a
senhora, que era professora de Letras, presenteou-a com seu
acervo.
Brasileira, mas vivendo atualmente na Carolina do Norte,
EUA, a escritora adora um bom papo e cozinhar para os amigos.
Seus romances são intensos, e os heróis apaixonados. As
heroínas surpreendem pela força.
Acredita no amor, e ler e escrever são suas maiores paixões.

Contato: dalemoynewriter@gmail.com
[1] O mandato para senador nos Estados Unidos é de seis anos.
[2] Hudson Gray, protagonista do livro 1 da série Alma de Cowboy, cujo título é

O Dono do Texas.
[3] Protagonista de O Devasso e a Viúva Virgem.
[4] Maribelle Ann, protagonista de O Devasso e a Viúva Virgem.
[5] Protagonista de O Dono do Texas.
[6] Quem será? Novo personagem?
[7] Reconhecida legalmente como filha.
[8] Protagonista de A Eleita do Grego.
[9] Christos Lykaios, protagonista de A Eleita do Grego.
[10] Uma das posições do futebol americano.
[11] Vinte e quatro horas por dia, sete dias na semana.
[12] Aqui ele se refere a um dos exemplares originais de “Dom Quixote”. Pelas

minhas pesquisas, houve um que foi vendido por quase três milhões de
dólares.
[13] É um spoiler porque essa revelação acontece no segundo livro da série

Alma de Cowboy. Como avisei antes da sinopse, vários outros poderão


ocorrer.
[14] O Nepotismo ocorre quando um agente público usa de sua posição de

poder para nomear, contratar ou favorecer um ou mais parentes. Para fins de


nepotismo, considera-se como familiar o cônjuge, companheiro ou parente em
linha reta ou colateral, por consanguinidade ou afinidade, até o terceiro grau.
[15] Uma refeição tipicamente americana, geralmente servida aos domingos,

que é uma mistura de café da manhã com almoço.


[16] É a maneira como chamam academias mais exclusivas nos Estados

Unidos: “clubes”.
[17] Termo para recepcionistas de restaurantes e boates.
[18] Expressão utilizada para se referir pessoas que têm jeito com plantas.
[19] O evento é citado em todos os livros anteriores da série e não será

explicado aqui para não dar spoilers.


[20] Protagonista de O Dono do Texas.
[21] Protagonista de Uma Família para o Cowboy.
[22] Protagonista de O Herdeiro do Cowboy.
[23] Protagonista de O Herdeiro do Cowboy.
[24] Protagonista de Uma Família para o Cowboy.
[25] Protagonista de Proibida para o Cowboy.
[26] Nos EUA se chama depilação à brasileira, a depilação de virilha bem mais

“cavada”.
[27] Washington “Distrito de Colúmbia”(D.C.) e não o estado de Washington,

na costa oeste.
[28] Protagonista de Sobre Amor e Vingança.
[29] Protagonista de O Herdeiro do Cowboy.
[30] Nome fictício da fazenda de Bryce Gray.
[31] Protagonista de Sob a Proteção do Bilionário.
[32] O Pentágono é a sede do Departamento de Defesa dos Estados Unidos,

localizado no condado de Arlington, Virgínia, através do rio Potomac, em


Washington, DC. Fonte: Wikipédia.
[33] Aquele que não apoia nenhum Partido.
[34] A Dark Web é o conjunto oculto de sites da Internet que só podem ser

acessados com um navegador de Internet especializado. Ela é usada para


manter atividades anônimas e privadas na Internet. Documentos falsos como
passaportes e diplomas, drogas, até escravos humanos e serviços de quem
pratica crimes podem ser encomendados nessa parte da internet.
[35] Diz-se de um sistema que permite o acesso a informação por parte de

outros sistemas ou computadores dispostos em rede.


[36] Jornal fictício criado para o livro.
[37] Aplicativo fictício criado para o livro.
[38] Prato típico do sul dos Estados Unidos.
[39] Spoiler dos 4 primeiros livros da saga Alma de Cowboy: o pai deles traía a

mãe.
[40] Crianças a partir do 6 anos podem treinar tiro ao alvo em estandes de tiros

no Texas.
[41] Ela faz uma piada em relação ao filme antigo, querendo dizer que tem

dupla personalidade.
[42] Ela deveria ter dezesseis quando foi pega. A carteira definitiva só é obtida

aos dezoito anos nos EUA.


[43] Quem se lembra dele? Esse homem foi citado no livro Sob o Domínio do

Mafioso e era um dos políticos corruptos para quem Cillian lavava dinheiro.
[44] A lavagem de dinheiro acontece quando agentes criminosos procuram

alterar a origem de um dinheiro conseguido de maneira ilícita. O que se tenta


fazer é mascarar a origem do dinheiro de forma a que pareça ter sido de
origem lícita.
[45] No livro 1 da série Honra Irlandesa, Sob o Domínio do Mafioso, Cillian, o

boss, comenta que lava dinheiro para diversos políticos.


[46] Protagonista de A Princesa Seduzida pelo Magnata.
[47] Esse personagem aparece em O Devasso e a Viúva Virgem.
[48] É uma espécie de quartinho e não um armário de fato.
[49] Protagonista de Um Bebê para o Italiano.
[50] Essa personagem aparece em O Devasso e a Viúva Virgem.
[51] Homem com lábia.
[52] É o gabinete e local de trabalho do presidente dos Estados Unidos.
[53] Protagonista de Seduzida e Cativo, livros 1 e 2 da Série Corações

Intensos.

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