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Meu pai, o homem que quase acabou com minha vida, causando um
estrago irreparável em minha mente e coração.
Se eu sentia remorso por ter ido embora há mais de vinte anos sem nem
mesmo olhar para trás? Não. Eu só queria distância e que o cara lá em cima
fizesse a parte dele em relação a justiça. E bem, ele não tinha me
decepcionado. Meu pai estava definhando há mais de seis anos, decaindo
aos poucos.
Mero engano. Após passados vinte e dois anos desde minha saída do
país, precisei voltar a pedido do meu avô, para assumir a empresa da
família, a Fuller Beauty, que se iniciou no mercado na década de 20, a
administração vinha passando de geração em geração, parando no meu pai,
que precisou interromper o trabalho por conta do câncer de próstata que o
estava matando aos poucos.
Dizer que ele odiou meu retorno era eufemismo. Ele havia me
considerado deserdada a partir do momento em que fui embora e virei o seu
próprio pai contra ele. Assim mesmo, sem ter muita alternativa, a não ser
acatar a ordem dada pelo patriarca, aceitou minha posição de CEO da
Fuller. Eu comandava a de Londres, já que meu avô me treinou desde o
começo para isso, me fazendo começar de baixo, desde assistente até chegar
à presidência aos trinta e cinco anos. Agora, com quarenta e dois, fazia
quatro anos que eu estava na poltrona da Fuller no Brasil, para o desgosto e
revolta da minha mãe, uma dondoca fútil e egoísta, e do Benício, meu
irmão mais jovem. Um babaca irresponsável e encrenqueiro.
E desde que voltei para o país, ainda não tinha visto meu pai
pessoalmente, pois só em pensar em vê-lo novamente, meu estômago
embrulhava e me causava nojo. Assim mesmo, cedi, pois o médico havia
dado a notícia de que ele não teria muito tempo.
— Veio aqui jogar a última pá de terra no seu pai, sua ingrata? — Magda
ralhou, inconformada com meu retorno. Ela mal falava comigo, exceto
pelas vezes que precisava que eu liberasse mais dinheiro. Afinal, eu cuidava
de todas as finanças.
— Seu pai está vivo. Não tem que pensar como se não estivesse.
Magda tentou rebater, mas meu pai a impediu, colocando a mão sobre a
dela e pedindo para ficar sozinho comigo. Inicialmente ela se negou, mas
ele repetiu e dessa vez sendo mais autoritário. Benício a acompanhou no
instante em que ela passou por mim como um furacão. Os olhos de águia
raivosa não desviaram dos meus até que ela sumisse pelo corredor.
— Deve estar feliz com meu fim. — Comentou fraco, a voz rouca e
baixa.
Podia ser cruel falar assim com alguém no leito de morte, mas eu tinha
tanto ódio guardado que não conseguia esconder meus sentimentos.
— Por que voltou, então? Por que tomar conta de algo que abriu mão há
anos?
— Porque meu avô quis assim. Ele me preparou para esse dia, um que eu
tomaria o que sempre mereci mais do que qualquer outra pessoa dessa
família.
— Não foi você quem construiu. Não esteve nas crises e momentos
ruins.
— Seja sincero, pai, nem mesmo você. Duas gerações da família Fuller
que fizeram isso, montando e deixando de mão beijada pra você. Pode ter
cuidado durante esse tempo, mas não esqueça que quase afundou a empresa
em dívidas nos últimos anos. E quando voltei, há quatro, o rombo era quase
irreversível. Então, o mérito por ela ainda existir, é meu. É graças a minha
competência.
— Não vai me perdoar nem mesmo sabendo que estou prestes a morrer?
— O máximo que vai ter de mim é um pedido para que ele, lá embaixo,
te receba bem, assim como merece.
— Nem tanto, pois se fosse tão parecida com você, sua esposa e o caçula
ficariam à mingua.
Ele tentou agarrar minha mão, mas recuei para impedir seu toque.
— Isso porque ele nem sabia da metade do que você tinha feito comigo.
Dei um passo para trás, tendo a certeza de que seria a última vez que o
veria, afinal, não tinha pretensão alguma de voltar. Foi uma exceção, uma
que não se repetiria.
— Fica mais um pouco. Quero ficar olhando esse seu rosto lindo, ouvir
sua voz. — nem permiti que ele prosseguisse.
— Agradeça por eu ter vindo até aqui. Fiz mais do que você merecia.
Tudo o que se arrastava com a imagem do meu pai e todo o mal que ele
me causou durante minha vida dentro daquela mansão.
E desprezo era a única coisa que ele ainda tinha de mim, e deveria
agradecer por isso.
Capítulo 1
Dois meses depois
Ele morreu três semanas após a minha única visita. Uma parada
respiratória, o que parecia ter sido causada por mais problemas de saúde que
ele tinha. Moroni, meu colega mais próximo no país e advogado pessoal, foi
quem me contou alguns detalhes. O necessário para que eu apenas me
mantivesse informada.
Assim como era esperado, fiquei com oitenta por cento da herança, que eu
sabia ter sido exigida pelo meu avô, como uma reparação e por ele saber que
eu seria a única capaz de cuidar dos negócios. Magda e Benício protestaram,
inconformados com o que havia no testamento. Fui acusada de fraude, de
influenciar meu pai a redigir aquilo.
Benício e minha mãe tinham os vinte por cento restantes, mas do jeito que
eram logo torrariam tudo. Além do mais, eles também tinham direito a uma
pequena parte das ações da empresa. O que sustentaria a casa, funcionários e
outras necessidades. Entretanto, logo mais daria o meu jeito para colocar o
caçula para trabalhar ou eu faria de tudo para dificultar sua vida.
Olhei meu reflexo mais uma vez no espelho retrovisor antes de sair do
carro, já estacionado na vaga exclusiva.
Fiz cortes, diminui gastos, parei de permitir que tanto Benício, como
minha mãe, tirassem dinheiro à vontade, como vinham fazendo há anos e fiz
empréstimos para quitar dívidas enquanto ia reerguendo a empresa.
A segunda versão da Fuller Beauty era minha. Se ela ainda estava de pé,
fazendo sucesso e vendendo como água, os colaboradores tinham que
agradecer a minha dedicação e responsabilidade financeira nesses quatro
anos. De resto, não me importava com os olhares tortos e as birras da minha
família por eu estar assumindo os negócios.
Cumprimentei alguns que passavam por mim e caminhei direto para meu
escritório, onde teria bastante coisa para resolver.
Um site.
Um para Sugar Baby. Onde jovens de ambos os sexos se inscreviam como
acompanhantes e, em troca, ganhariam dinheiro e outros privilégios. O que no
começo eu achei um absurdo, passei a gostar. Tinha privacidade, contratos e a
oportunidade de conseguir uma pessoa interessante para sair de vez em
quando.
E foi exatamente assim que consegui três deles nesse tempo. O primeiro
não foi tão atrativo quanto imaginei, mas os outros dois sim. E se eu desisti do
último foi por ele ter se apegado e exigido um relacionamento sério. O que
era proibido na minha cláusula do contrato. Eu já deixava claro que não
estava ali sentimentalmente.
E já fazia três semanas que eu não saía com mais ninguém. Estava
estressada, cansada e a cada vez que vasculhava o site a procura de novos
candidatos era sempre a mesma coisa. Os ratos de academia. Eu gostava de
homens fortes, com gominhos e todo o combo, mas algo dentro de mim já não
aceitava o mesmo padrão de playboy.
Não perdoei. Nunca iria com ele vivo, muito menos depois de morto. O
que ele me fez passar eu jamais esqueceria. Estava tudo trancafiado dentro da
mente e do coração.
Consegui deixar os problemas de lado quando me concentrei na reunião
com os fornecedores que durou mais de duas horas. E quando saí, achando
que poderia comer alguma coisa e descansar, encontrei minha mãe em minha
sala. Soltei um longo suspiro antes de enfrentar a fera.
Magda já estava com seus sessenta e cinco anos, mas permanecia elegante,
bonita e fútil. Nada mudou com o tempo. Nossa relação também era fria,
assim como eu aprendi a ser.
— Claro que é sobre dinheiro. Não esqueça que é o que está no testamento,
nada além disso.
— Esqueça esse maldito documento que seu pai deixou. Somos sua
família, por mais que tenha esquecido disso por anos.
— Você já tem quarenta e dois anos, Beatrice. Já teve tempo de sobra para
esquecer aquilo tudo.
— Sua resposta é o suficiente para deixar claro os motivos de eu ter me
afastado. — Inclinei meu corpo para frente, apoiando os cotovelos sobre a
mesa — Mas vamos voltar ao que realmente interessa, o desespero por
dinheiro. Bem, Benício até pode ter um pouco mais do que recebe, mas
precisa trabalhar.
— Nada feito, então. Agora, por favor, me deixe trabalhar. Ela se levantou
de uma vez, os olhos semicerrados e muito irritada.
— Isso não vai ficar assim, Beatrice. Vou mover o mundo para contestar
esse testamento. É humilhante demais ter que passar por isso.
Assisti sua ira quando ela saiu batendo a porta atrás de si, fazendo-me abrir
um pequeno sorriso.
Mais relaxada, sem ter muito o que resolver durante o momento, acessei o
site sugar baby e entrei na minha conta, sentindo a ansiedade me bater quando
comecei a buscar pelos perfis.
Ambas as partes eram interessadas em algo, por isso não me batia nenhum
peso na consciência.
O pior de tudo foi começar a ver Heloise, minha irmã que era cinco anos
mais velha, seguir o mesmo caminho da mãe. Drogas, farras e bebida.
Minha vida virou um verdadeiro inferno desde então. Passei a adolescência
inteira entrando em boca de fumo, lugares sujos e fétidos para encontrar
Heloise caída e chapada rodeada de outras pessoas no mesmo estado.
Minha irmã seguia se afundando, cada ano que passava sendo pior.
Tentei clínicas gratuitas, mas ela sempre encontrava uma maneira de fugir
de todas elas, perdendo a vaga logo em seguida. E eu me via perdido, sem
saber como fazer, pois era doloroso ver seus surtos na frente dos dois filhos,
duas crianças inocentes que não teriam o mesmo destino da mãe e eu faria
de tudo para evitar isso.
Elena e Igor teriam uma vida bem melhor do que a que eu tive, nem que
para isso eu chegasse ao fundo do poço.
Homens e mulheres que eram bancados por pessoas mais velhas e ricas
em troca de sexo.
Eu nem mesmo cheguei a namorar, pois nunca tinha tempo para isso.
Quando estava no auge da adolescência e todos começaram a descobrir a
primeira paixão, eu estava com dois bebês em casa. Ana, a irmã do meu
melhor amigo, foi quem sempre deixou claro seu interesse por mim. E
sinceramente, se minha vida fosse de outra forma, com toda certeza seria
com ela que eu teria um relacionamento, pois é uma boa garota, estudiosa e
dedicada. Seríamos perfeitos um para o outro se eu não a visse como uma
irmã.
Contudo, nesse caos em que vivia, jamais arrastaria Ana comigo, por
mais que ela sempre estivesse ao meu lado me apoiando e me ajudando com
os meus sobrinhos. Aquela garota merecia muito mais do que eu era capaz
de oferecer.
E, mais uma vez, foi ela quem acabou quebrando meu galho quando
recebi a proposta de encontro com uma das mulheres do site.
—Ainda não sei se essa é uma boa ideia. —Comentei com Fabiano.
— Hugo, por favor, você vai sair com uma coroa rica, vai ter um sexo
incrível e ainda vai ganhar por isso. O sonho de qualquer homem.
Ergui minha sobrancelha. Tinha ido no ponto certo, pois meu amigo
ficou desconcertado.
— Bem, dividir minha vida entre uma mulher e a pizzaria não dava
certo. Além do mais, sou do tipo que me apaixono fácil. Fabiano tinha sido
um dos bancados por essas dondocas, inclusive conseguindo dinheiro para
montar seu empreendimento, mas durou no site apenas três anos.
— Foda-se! Para de ser o bom garoto pelo menos uma vez na vida. Você
só se ferra com isso.
Assenti. O que não deixava de ser verdade, porém, meu lado mais
coerente ainda me recriminava.
— Certo. Se ela está lá é porque quer, então não devo me sentir mal.
Cheguei quase duas horas depois, pois o trânsito naquele horário não
ajudava em nada.
Meu coração estava batendo tão forte que retumbava através dos meus
ouvidos, além do estômago que revirava a cada segundo enquanto a mente
avisava o que eu estava prestes a fazer.
Pensei brevemente em desistir, mas não tinha andado aquilo tudo à toa.
O que uma mulher como ela estava fazendo em um site como aquele?
Ela nem mesmo precisava disso para conseguir um encontro.
— Hugo Bertolini. — Falou meu nome com a voz suave e uma pitada de
autoridade. — Sou Beatrice Campello.
Ana era linda, daquele jeito delicado e doce, mas essa mulher parecia
algo fora do comum. Assim como uma artista de cinema, cheia de brilho e
holofotes ao seu redor.
Atendi seu pedido quando ela me mandou sentar. Mesmo à sua frente,
pude sentir o aroma gostoso do seu perfume.
— Eu só... nunca...
— Não.
— Então terá que ler o contrato com calma, já que é sua primeira vez. A
parte que eu mais prezo de todas as cláusulas é a confidencialidade. A partir
do momento em que aceita e assina os documentos deixa claro que está
consciente do processo que levará caso me exponha a alguém.
— Eu sinto muito. Isso foi um erro. A inscrição, eu ter vindo aqui... não
sei o que estou fazendo.
— Tudo bem. Leve com você, leia com calma e, qualquer coisa, se sua
consciência permitir, pode me ligar.
Eu até iria do céu ao inferno por aqueles dois, mas ainda não sabia se
estava preparado para isso.
Capítulo 3
Não tinha dormido bem. Passei a noite inteira me revirando na cama de
um lado para o outro em uma batalha entre a razão e a emoção. Nem
mesmo tinha pegado no contrato, só jogado na gaveta e ido me deitar.
Por isso estava exausto enquanto vestia meus sobrinhos para irem à
escola. Era a parte que eu mais gostava, pois no meio de outras crianças, em
um ambiente pacífico e com alimentação no horário, eu não precisava me
preocupar.
Só havia sobrado dois pães dos que eu tinha comprado no dia anterior
com o trocado que recebi das entregas dos lanches. Conseguia me virar bem
com os bicos, mas se tivesse carteira assinada seria bem melhor. O
problema era conseguir um emprego onde meu horário batesse com os das
crianças, porque elas saíam da escola às dezesseis horas, e não havia
ninguém que ficasse com elas, já que Ana só chegava à noite. Além de tudo
isso era difícil conseguir um bom emprego quando eu não tinha concluído
os estudos.
— Ela nunca fica com a gente. As mamães das minhas amigas vão na
escola, moram com elas, menos a minha.
— Que história é essa, Igor? Não fale assim com sua irmã. Enquanto a
menina chorava baixinho, ele me encarava irritado. O gênio era muito
parecido com o da mãe.
Notei que se esforçou, mas pela expressão ele não estava convencido.
Era essa minha rotina diariamente, ainda conseguia tempo para dar uma
limpeza no lugar para eles dormirem em um ambiente limpo. A casa
precisava de alguns retoques, principalmente no telhado, algo que eu faria
em outro momento. Tinha que conseguir primeiro um trampo durante o dia
que me pagasse bem.
Ser monogâmico.
Nem esperei que ela terminasse, corri para casa às pressas para saber o
que diabos Heloise tinha aprontado dessa vez. Ela só aparecia para causar
um furacão e ia embora devastando tudo ao redor.
Com o coração prestes a sair pela boca, entrei em casa de uma vez,
vendo os meninos chorando acolhidos em um abraço protetor da Dulce,
uma senhora que morava há anos ao lado da minha casa.
— O titio está aqui. Calma, por favor. — Sussurrei e olhei para cima,
agradecendo a senhora por ter ajudado. O primeiro a reagir foi Igor, que
enxugou os olhos e me encarou de uma forma que partiu meu coração.
— A mamãe esteve aqui. Parecia com raiva, mexeu nas coisas e depois
levou a tv. — Puta merda! — A gente tava assistindo, titio. Ela nem se
importou.
— Eu odeio ela!
Recriminei o menino com um olhar. Por mais que ela fosse toda errada,
não queria que ele odiasse a própria mãe. E tudo bem se fosse, porque na
maioria das vezes, até eu a odiava, mas ele era apenas um garotinho de oito
anos.
Falei sem muita esperança, pois se ela tinha levado, era para comprar
drogas ou pagar dívidas. Recuperar o aparelho seria uma missão quase
impossível, tendo em vista com quem ela se envolvia.
Saí do quarto dando de cara com Ana, que estava de pé perto da janela
da sala. Braços cruzados contra o peito, o pé direito batendo no chão e um
olhar preocupado.
— Já dormiram, graças a Deus. Sinto muito, Aninha. Não sabia que ela
viria assim.
— Não tem que me pedir desculpas. Sua irmã é isso, Hugo, aparece e
sempre deixa esse rastro de destruição ao redor das crianças.
— Não sei mais o que fazer. Sinceramente, estou exausto de tudo isso,
essa dificuldade, as oscilações, incertezas...
— Prefere ficar assim, passando por isso todos os dias? Você não tem
vida. Abdicou dos estudos, de relacionamentos, não consegue um emprego
fixo... enquanto ela está lá vivendo como se nada estivesse ruindo ao redor
dos filhos que ela colocou no mundo.
— Nem você tem. Só está pagando pelos erros cometidos por sua mãe e
sua irmã.
— Faço isso porque gosto de você. Porque quero que seja feliz.
Sua mão pousou em meu braço e deixou uma carícia suave em seguida
de um aperto antes dela ir embora.
Meu estômago foi consumido por um tornado quando uma opção surgiu
na minha mente.
Eu ia aceitar o contrato.
Capítulo 4
Meu dia inteiro tinha sido estressante. Resolvi pendências com parceiros,
uma das máquinas apresentou defeito, atrasando assim uma parte do
trabalho e minha mãe não parou de me ligar, obrigando-me a recusar todas
suas chamadas. Não estava em condições de discutir sobre dinheiro no
momento.
Havia dois dias que eu tinha encontrado com Hugo, escutado sua recusa
em assinar o contrato e constatado de que ele parecia deslocado com a
proposta. O que não saia da minha cabeça era ele ter se inscrito sendo que
não estava preparado para ser um sugar baby.
Enviei seus dados para o Moroni, que não demorou para me mandar uma
ficha sobre sua vida, com pelo menos o básico. Morava em uma favela,
tinha dois sobrinhos inscritos em uma escola de tempo integral e uma irmã;
mas sobre ela não constava muita coisa. Também não tinha emprego fixo,
pelo menos o nome dele não estava cadastrado em empresa alguma.
Meu corpo ainda estava ansiando para experimentar. Hugo era bonito de
um jeito que me atiçava. Um magnetismo que me puxou ao vê-lo ali, sem
jeito, deslocado, como se estivesse se condenando por querer dinheiro em
troca de sexo.
“Se tivesse realmente lido o contrato saberia que sou eu quem dita as
regras.”
Cedi pela primeira vez, pois estava curiosa para saber o que ele tinha a
me oferecer. E bem, de qualquer forma, ele faturaria uma grana que ajudaria
em casa com as despesas. Levantei-me e peguei minhas coisas pronta para
ir embora e com um sorriso natural no rosto.
***
Bastou que eu entrasse no meu apartamento para ser tomada pela
solidão. Sempre fui sozinha, exceto pelas tentativas do meu pai de estar me
rondando, mas isso me deixava incomodada, então nunca contou. Amigos,
minha mãe, irmão... eram coisas apenas no nome, porque presença não
tinha.
Larguei minha bolsa, tirei o blazer e fui atrás de uma taça para me servir
com o vinho.
Marcus.
— Pois então siga sua vida e me deixe em paz. O que tivemos acabou,
Marcus.
Vi seu olhar vacilar, o transtorno por não ser correspondido. Senti uma
pitada de pena, mas ele sabia como seria desde o princípio. Foi um risco
que ele aceitou correr. Assim como eu também aceitava.
— Nunca acabou para mim, Beatrice. Você é tudo o que eu quero nesse
momento, não estou suportando ficar longe de você.
— Minha intenção nunca foi magoar ninguém, por isso deixei tudo
detalhado no contrato. Agora, por favor, esfrie sua cabeça e vá trabalhar ou
fazer qualquer coisa para esquecer isso que colocou na mente.
Não esperei por uma resposta. Entrei no carro e saí cantando pneu, para
longe dele e ansiando para encontrar com o outro que eu estava louca para
provar.
Só esperava que não fosse iludido demais. Se bem que Hugo não parecia
ter tempo para isso, tendo em vista a vida que levava. Seria bom para mim.
Aliás, para nós dois.
Cheguei primeiro do que ele.
Tive a noite inteira para pensar em como seria, o que eu iria fazer e em
como contaria tudo para ela. A tensão me corroía por dentro, deixando-me
tonto e com a garganta seca. Era a chance que eu tinha para dar um pouco
de conforto para meus dois sobrinhos e tentaria dar o meu melhor, por mais
que a maneira não me deixasse orgulhoso.
Pelo menos a única pessoa a quem eu estaria fazendo mal era a mim
mesmo. Ninguém mais.
Dessa vez algo nela brilhava, como uma aura angelical, por mais que no
sorriso não tivesse estampado boas intenções.
Demorei para entender, pois estava olhando seu corpo quando passou
por mim. O vestido ajustava perfeitamente nas suas curvas, acentuando a
cintura fina e quadris largos. Em seguida, a voz ecoou, falando novamente.
Pisquei algumas vezes, na certa com cara de bobo, pois ela sorriu se
divertindo com minha reação.
— Sim, mas é aqui onde vamos nos encontrar. Se vai morar ou não,
sobre isso quem decide é você.
— Hoje eu abri uma exceção, Hugo, não posso deixar o trabalho de lado.
— E eu não vou deixar meus sobrinhos sozinhos. No máximo, algumas
vezes na semana, posso deixar os dois com alguém e vir. Dormir também
está fora de cogitação.
Quando soltei as palavras foi que percebi o quão baixo eu estava com
minha dignidade.
— Acho que eu deveria fazer essa pergunta, Hugo. Por que aceitou isso,
se não parece se encaixar nessa situação?
— Minha vida é simples, vivo com meus dois sobrinhos, faço bicos e
luto diariamente para não deixar faltar nada pra eles. Isso quer dizer que eu
não tenho tempo para nada além disso, muito menos namorar.
— Então não temos uma mulher que vai ficar enciumada caso descubra
sobre nós dois?
Senti o rosto queimar quando percebi sua reação. Era como se eu tivesse
acabado de dizer que acreditava em papai Noel.
— Como assim?
— Sou virgem. Nunca transei com ninguém, se quer saber.
Desespero, talvez.
As únicas vezes que eu tinha contato com algo sexual era no banho,
quando eu precisava relaxar e batia uma punheta no chuveiro para
conseguir dormir melhor. Nada além.
— Se você quiser desistir, tudo bem, eu deveria ter dito antes, mas...
O cheiro do perfume.
— Que tal me dar uma amostra do que irei ter durante esse período?
Fazia muito tempo desde que eu tinha beijado uma garota. E foi Fabiano
que marcou um encontro para mim após o expediente na pizzaria. Era uma
mulher que sempre estava por lá, flertando de longe, até que nos beijamos
atrás das caixas de engradados, e se não fui além foi por ter a mente longe
demais, já que meus sobrinhos estavam em casa com a minha amiga.
Ela não esperou minha reação. Beatrice desceu uma das mãos e segurou
a minha, levando-a ao encontro da sua cintura, onde firmei meus dedos.
— Eu vou te beijar, Hugo. Se não quiser, fale de uma vez antes que se
arrependa depois.
Não sei o que deu em mim de imediato. A beleza dela, talvez a maneira
como me deixava intimidado, a sedução que emanava dos seus poros...
quando dei por mim estava com os lábios contra os dela, em um beijo
calmo, lento, apenas para conhecer o contato.
Ofeguei com o beijo que parecia sugar todo meu ar. Nesse momento, eu
esqueci todos meus problemas, os motivos de estar na sala de um loft
luxuoso, acompanhado por uma mulher que estava disposta a me pagar por
prazer.
Eu era virgem. Não tinha experiências sexuais, já que minha vida era
uma catástrofe, no entanto, ao sentir a mulher rebolando em cima de mim,
percebi que ela poderia nos conduzir muito bem sozinha.
Então ela foi diminuindo o ritmo, dando uma mordida no meu lábio
inferior antes de afastar o rosto do meu. Em seu rosto bonito estampava um
sorriso quase que diabólico.
— Você está vermelho. Meu Deus, eu não acredito que está corado por
olhar para minha calcinha.
— Não vamos transar hoje, Hugo. Eu tenho trabalho, você jogou uma
bomba em cima de mim, está tremendo... Vamos com calma, tudo bem?
Pretendo fazer isso devagar.
Abri a boca para responder, mas ela foi mais rápida quando caiu de
joelhos entre minhas pernas, abrindo-as para se encaixar melhor.
— O que...
Sua pergunta veio no momento em que ela tocou o botão da minha calça.
Engoli nervoso, assentindo em seguida, pois estava excitado demais para
negar o que ela parecia disposta a fazer.
— Si... sim...
Meu Deus, sim... eu não pude recusar a um pedido desse tipo. Isso me
tornava uma pessoa aproveitadora?
— Na... não.
Droga! Eu nem mesmo sabia usar palavras chulas com ela. Parecia tão
errado, estranho.
— Se quer gozar, Hugo, faça isso... na minha boca. Quero engolir tudo,
cada gota que tiver para me oferecer.
E mais uma vez ela havia me deixado sem fala, voltando a chupar com
mais velocidade, subindo e descendo a cabeça, sem nunca tirar os olhos de
mim.
O êxtase havia ido embora, agora voltando a dar espaço a minha moral,
se é que ainda restava alguma.
Ela voltou a explicar sobre o loft, que era para o meu uso, mesmo que
ela não estivesse. Obviamente recusei, pois tinha meu lugar para morar,
meus sobrinhos, jamais misturaria isso com a família.
— Fique com a chave. Logo vou entrar em contato para saber se está
preparado. Quero uma noite, deixando claro, pois o que eu pretendo fazer
requer bastante tempo.
E se foi.
Puta merda. Eu estava ficando maluca por aceitar isso. Por permitir levar
um garoto como ele para minha vida. O problema era que meu lado egoísta
não dava a mínima para isso, pois queria experimentar ainda mais, ter o
prazer de ensinar como o sexo funcionava de verdade.
O beijo foi bom, além do que eu esperava para alguém inexperiente, mas
me ajoelhar e dar o prazer que alguém nunca o deu, foi surreal e excitante. Só
me deixou com vontade de repetir a dose e tirar uma noite inteira para mostrar
tudo o que eu faria com ele quando tivesse a oportunidade.
Abri os dois primeiros botões da minha camisa social quando senti o calor
subir através do meu pescoço. O ar da sala estava ligado, ainda assim, meu
corpo estava em combustão.
Sacudi a cabeça quando ouvi meu nome, era a secretária avisando que
Moroni estava à minha espera. Ergui a mão e autorizei a entrada do advogado.
Passei cada detalhe do que queria que ele fizesse por Hugo, fornecendo
seus dados bancários para que o dinheiro fosse creditado em conta e a
disponibilização de um motorista particular para que o levasse ao apartamento
sempre que necessário.
— Como um homem que te admira, é seu amigo e se preocupa, às vezes
fico receoso com essa situação em que se submete. — Comentou enquanto
me observava com um vinco entre as sobrancelhas.
— Não tem com o que se preocupar, Moroni, eu sei o que estou fazendo.
— Tantos homens se ajoelhariam aos seus pés, de graça, poderia ser mais
fácil.
— Não, querida. Você quer poder. Quer ter como dizer que está acima
deles, de não dar o direito de controlarem o que acontece. Ama saber que
manda e desmanda e que os têm nas suas mãos.
— E se um dia se apaixonar?
Não esperei que ele respondesse, pois desviei o assunto para o profissional.
Moroni entendeu, guardando para si mesmo o que quer que estivesse pronto
para rebater.
Ele tinha total liberdade para palpitar sobre minha vida, eu tinha dado esse
direito desde sempre, no entanto, não estava disposta a ouvir seus medos
infundáveis logo cedo.
Minha determinação em ter Hugo era mais forte do que isso. Estava
ansiosa para ter um momento com ele novamente. E se ele precisava do meu
dinheiro, tudo bem, eu daria em troca de um pouco de diversão.
Meu sorriso se desfez assim que notei minha mãe chegando, aos prantos,
caminhando na minha direção. Moroni murmurou algo incompreensível.
— Seu irmão... ele foi preso. Vocês têm que fazer alguma coisa, ir lá e...
Não era a primeira vez que o Benício aprontava, virando quase uma rotina,
mas sem meu pai para dar um jeito, ela só tinha a mim a recorrer.
Sorrio sarcástica, recebendo um olhar nada agradável. Moroni, por sua vez,
tentou resolver no meu lugar.
—Ah, quer dizer que além de bêbado ainda provocou um acidente. Que
homem de futuro!
— Não vai, não. Quer saber? Benício vai ficar lá, pensando na merda que
fez e criando juízo.
— Vai ser capaz de deixar seu único irmão preso? Se seu pai estivesse vivo
jamais permitiria isso.
— Vou dar meu jeito, revirar essa cidade atrás de tirar o meu filho da
cadeia, e em breve vou lutar contra esse maldito testamento.
Ainda era capaz de fechar os olhos e sentir os lábios nos meus e a boca
ousada indo de encontro com minha ereção. Porra! O que estava acontecendo
na minha mente?
— Ela é mais velha sim, deve estar chegando aos quarenta, mas muito
bonita e elegante.
— Uau! A que eu pegava não era assim não. A velha era bonita, mas já
tinha sessenta e cinco. Se bem que houve outras também, cada uma mais
deliciosa do que a outra. Uma delas até gostava de apanhar, aquela vadia era a
melhor de todas.
Não tive tempo de responder, pois uma voz feminina soou atrás de mim.
Era Ana, que me observou com olhos curiosos.
— Deixei de ser criança há bastante tempo. Ou acha que não sei como
conseguiu montar sua pizzaria?
— Enxerida. Não devia ir atrás de saber coisas que não são da sua conta.
Os dois começaram a soltar farpas um para o outro, e percebi que não tinha
entrega para que eu fizesse, por isso tirei meu time de campo e voltei para
casa. Ao menos ia ficar de olho nas crianças que estavam dormindo.
— Não tenho motivos para vir em casa quando tudo o que faz é me receber
com esse olhar de desprezo.
— Por que será? Da última vez levou a televisão das crianças, causou uma
confusão e foi embora como se não tivesse dois filhos.
— São crianças, cacete! Não têm culpa de ter uma mãe tão irresponsável e
sem juízo.
Minha raiva estava aumentando. Cada encontro era assim. Eu estava muito
cansado disso tudo.
— Fica aí com sua vida de merda com os dois pirralhos, mas não esqueça
que essa casa também é minha. Posso ir e vir quando eu quiser.
Estava tão esgotado que não vi quando meu celular tocou com uma
mensagem dela.
Beatrice.
Capítulo 7
Acordei sentindo-me mais cansado do que quando tinha ido dormir.
Minha cabeça não parava de trabalhar nem mesmo enquanto eu arrumava as
crianças para a escola.
Assenti, não tendo muito o que dizer. Odiava quando eles presenciavam
qualquer coisa relacionada a mãe, principalmente a Elena que era mais
meiga e doce.
Heloise era tão bonita, tinha tudo para ser uma pessoa normal da sua
idade, mas a influência materna que teve não ajudou em nada. Éramos uma
família disfuncional, completamente fodida, não a condenava tanto por ser
assim.
Por isso eu faria de tudo pelos meus dois pirralhos. Qualquer coisa para
que nunca seguissem o mesmo caminho.
Hoje.
Assim que virei a esquina da rua onde morava vi o carro preto parado à
minha espera. Sabia que era ele porque tinha recebido uma mensagem com
a placa para que eu o identificasse. Cumprimentei o motorista e seguimos
viagem até o outro lado da cidade.
Meu coração batia cada vez mais forte à medida que eu ia caminhando
para o interior do prédio. Até o elevador pareceu roubar meu ar quando
fechou as portas.
E tudo piorou quando ouvi a porta abrir, quase meia hora depois, com o
aviso de que ela tinha chegado. A brisa leve acabou trazendo o cheiro até
mim, gelando meu estômago.
Não consegui controlar meu olhar que analisava cada centímetro dela,
indo dos pés adornados em uma sandália bege até as mechas perfeitas que
caíam sobre os ombros.
— Não imagina o quanto estou feliz por ter aceitado a minha proposta.
Suas palavras saíram acompanhadas de um olhar cheio de malícia, que
desceu por minha camisa de botões e a calça jeans surrada. Foi o melhor
que encontrei entre minhas roupas. Não era como se eu fizesse compras
com frequência. Minhas prioridades eram outras.
— Não precisa ficar com medo, eu não vou morder você. Não de uma
maneira ruim, se quer saber. — E sorriu.
Deus, ela conseguia ficar ainda mais bela com um sorriso leve
estampando o ar de arrogância e poder. Algo dentro de mim alertava o quão
perigosa essa mulher seria para minha vida.
— Você ter vindo já foi um bom começo. O resto eu vou ter o prazer de
te ensinar.
Tão direta que me deixava sem fala. O ar pesava entre nós dois, não de
uma maneira ruim. Era a tensão sexual que ela emanava com a presença
marcante. Isso me atiçava além do que deveria.
— Acho que podemos dançar um pouco. Talvez isso ajude com o seu
nervosismo.
Com atitude, ela me puxou contra seu corpo e fez com que eu envolvesse
sua cintura, enquanto seu braço apoiou sobre meu ombro.
Ficamos assim, dando leves passos de um lado para o outro, com ela me
conduzindo enquanto ocorria a troca da música.
Parei de dançar.
Só a puxei contra mim com mais força, apenas permitindo ser levado
pelo instinto do meu corpo que clamava por ela, em algo natural e
primitivo.
Não fui capaz de desviar o olhar das suas costas, das curvas perfeitas que
estavam escondidas sob o vestido e nem mesmo as mechas que foram
jogadas para o lado.
Deslizei até o fim, observando cada centímetro de pele que estava sendo
exposto, inclusive o sutiã vermelho que combinava com a calcinha que logo
apareceu como a visão do inferno perfeito.
Se o diabo tinha mesmo tanto poder assim, ele com certeza havia
mandado Beatrice para a minha vida.
Era a própria tentação e perdição. Não era como se minha vida não fosse
conturbada o suficiente para que eu me metesse em algo assim.
Ela não esperou que eu terminasse, pois arrancou a peça deixando-a cair
ao redor dos seus pés, chamando minha atenção para a calcinha de renda
que parecia ter sido feita sob medida.
E assim que ela me olhou por cima do ombro, eu vi que não tinha mais
saída. Ela estava com as melhores e piores intenções, e eu pronto para
mergulhar nelas.
— Você é perfeita.
Como ela conseguia dizer essas coisas com tanta naturalidade? Minha
vida nunca deu espaço para esse tipo de envolvimento, flerte ou
pensamentos, mas agora eu estava diante de uma mulher que não era só
experiente, como atrevida e ousada.
Seu olhar cravou no meu peitoral já exposto, com pelos ralos e sem
muitos músculos, apenas o natural de carregar pesos em bicos e o costume
de ter o peso de duas crianças nos braços durante os últimos oito anos.
— Vem comigo.
— Si.. sim.
— Não.
— A maneira como está olhando para eles me faz querer te foder agora
mesmo.
Eu era virgem, não havia tido contato sexual com outras pessoas antes
dela, mas obviamente sabia como as coisas funcionavam, em como os
homens tomavam suas parceiras e a maneira que podiam agradá-las. Os
filmes eróticos me mostraram isso na adolescência, o problema era que
depois de adulto eu não tinha chegado a praticar.
— Não vejo problema algum nisso. É sua primeira vez, normal que se
sinta assim. — Disse com a pele corada. — Quer que eu comande por
você?
Balancei a cabeça em confirmação. Por agora, queria isso. Até me soltar
eu precisava que ela me ajudasse.
Com a mão livre, ela agarrou a minha e levou para o centro das suas
pernas, bem em cima do tecido fino da renda que a cobria. Acariciei
devagar, sentindo a umidade sob o tecido, alertando-me o quanto ela estava
excitada também.
Seu ponto sensível estava inchado, duro sob minha mão à medida que eu
ia massageando.
— Olhe para mim. — Ordenou — Quero ver seu rosto, observar seu
olhar, ver como fica enquanto fode minha boceta com os dedos grandes e
calejados.
Fiz o que me foi pedido, ainda acanhado por estar sendo observado
minuciosamente, percebendo Beatrice aumentar os movimentos e
rebolando, enlouquecida, enquanto meus dedos iam mais fundo.
Quente e apertada, atendi quando ela exigiu que eu colocasse mais dois
dedos, dessa vez, estando com quatro sendo engolidos por sua entrada
encharcada.
— Cacete!
Quase resmunguei quando ela se afastou, fazendo com que meus dedos
saíssem de dentro dela.
Hugo tinha sido o mais novo entre eles, chegando próximo ao Marcus que
tinha vinte e oito. Contudo, diferentemente do outro, Marcus era experiente,
sabia como me dar orgasmos, um sexo bruto e, algumas vezes, com
selvageria.
O pau já estava semiereto, mostrando que não ia demorar para ele estar
pronto novamente.
Notei que ele ficava um pouco perdido quando eu soltava frases sexuais,
algumas vezes, até mesmo ficando com as bochechas coradas. Um homem
que se sentia tímido com o sexo era encantadoramente surreal. Eu não estava
habituada com isso.
— Pode me tocar de novo. Não se acanhe. Enquanto eu estiver aqui, entre
quatro paredes com você, pode fazer o que quiser. Contanto que seja bom
para os dois.
— Gosto de saber que vou tirar toda a sua pureza. Isso faz com que eu seja
uma bruxa má?
Gargalhei, inclinando meu corpo para deixar beijos por seu rosto e
pescoço, descendo devagar pelo peitoral, sentindo os pelos ralos contra meus
lábios.
Sabia que ele estava comigo pelo dinheiro, que sua decisão em aceitar
havia sido pelas condições precárias que se encontrava, que a consciência
talvez tivesse sussurrado diversas vezes, mas pela sua reação e modos,
enxergava a sua excitação e como estava gostando de tudo, por mais que
estivesse acanhado.
— Vou te chupar agora, Hugo, deixar seu cacete preparado para invadir
minha boceta que está ansiosa por isso desde o primeiro encontro.
Não precisei esperar respostas, porque sabia que ele não daria. Também
pudera, ao ouvir as palavras, ele ficava desnorteado. Meu lado selvagem não
sentia remorso algum por tirar sua inocência, de me aproveitar da necessidade
do dinheiro para exigir o sexo. Por isso me posicionei de quatro e levei minha
boca até a ereção, que estremeceu sob o contato da minha língua. Suguei o
gozo de poucos minutos atrás.
Ouvi Hugo xingar, assim como fez na primeira vez que o chupei,
agarrando meus cabelos enquanto eu apenas engolia até o final, quase
sentindo-o contra minha garganta.
Meu maxilar latejava um pouco pelo esforço, nem assim me fazendo parar
de devorá-lo como se fosse uma sobremesa saborosa. Subi e desci, suguei da
base até a ponta, circulando a língua, chupando as bolas e deixando leves
mordidas na virilha. Hugo não era depilado, mas claramente aparava os pelos.
Isso dava um ar mais rústico.
— Vou por cima, tudo bem? — Indaguei quase subindo pelas paredes.
— Por favor.
Enquanto ele assistia tudo com os olhos quase incendiando. A boca aberta
em busca de ar e o peito que estufava... nada passava da minha observação.
— Isso é tão bom! — Confessei. — Algo me diz que vou ficar muito
viciada nesse pau delicioso.
Agarrei sua mão e o trouxe para entre minhas pernas, onde segurei seu
polegar e encostei no clitóris inchado, ensinando-o a como fazer.
O toque do dedo calejado, o pau que inchava dentro de mim, o olhar em
um misto de inexperiência e excitação... tudo isso foi um combo para me
fazer explodir em um orgasmo.
Sabia que era a posição que a maioria dos homens mais amava, com ele
não seria diferente, principalmente por ser a primeira vez. Chupei seu pau,
engoli cada gota do seu gozo, cavalguei, fiquei por baixo... foi uma noite
movimentada e insana.
Ah, Hugo... talvez essa sua bagunça me deixasse ainda mais interessada.
Era uma prática que meu pai fazia com muita frequência, não era à toa que
meu irmão não deixava de ser um irresponsável.
Irritada, fechei o notebook e fui me arrumar para dar uma volta e
espairecer, quando tudo o que eu queria era exigir que Hugo voltasse e
alimentasse meu desejo que parecia jamais querer cessar.
E bem, pelo menos por enquanto era novidade. Não demoraria muito para
que eu cansasse e mudasse de brinquedo.
Capítulo 9
Eu não tinha palavras para descrever a noite que tive. Sabia que o sexo
era bom, que o prazer era viciante, mas não imaginava que fosse tanto
assim. Cada segundo que estive com aquela mulher foi como estar em um
sonho erótico, completamente surreal. Linda, livre e ousada, ela me fez
perder a voz e enlouquecer com sua dominação.
Foi intenso de uma forma, que minha consciência ficou esquecida do
lado de fora do quarto. Talvez a maneira sedutora que ela agia, a boca
depravada e o olhar selvagem que me fazia esquecer do mundo ao redor.
Apertei o aparelho gasto, tela trincada devido as quedas que aqueles dois
pestinhas davam quando queriam jogar, e lutei contra as lágrimas que
queriam sair.
Inferno!
Era por eles. Eu não podia fraquejar. Isso me daria um bom alívio por
mais de um mês se eu soubesse me organizar bem.
A irmã dele havia ficado com eles durante a noite, para quebrar meu
galho, e quando fui buscá-los agradeci pela força, atento ao olhar
desconfiado que ela me lançou.
Só esperava que o Fabiano não contasse a ela. Ana era doce demais para
a vida que eu tinha me enfiado em troca de dinheiro. Ela sabia sobre o que o
irmão havia feito no passado, mas eu não queria que soubesse sobre mim.
Numa tentativa barata de ficar sozinho comigo, Fabiano entregou o
próprio aparelho celular para meus sobrinhos, mandando-os para a sala.
— Como foi?
— Meu melhor amigo perdeu o cabaço com uma madame, ganhou uma
nota preta e está se fazendo de puritano? Vai logo, conta aí!
— Foi como tinha que ser. Ela é uma bela mulher, experiente e gentil.
Nada além disso.
Meia hora depois ele foi embora, resmungando derrotado, por eu não ser
grato pela ajuda que me deu, já que foi o próprio que me inscreveu no site.
A impressão que dava era que ele realmente não me conhecia, pois eu
jamais falaria dos detalhes de algo tão íntimo. Era algo entre mim e
Beatrice e não exporia a mulher nem mesmo para o meu melhor amigo.
Minha atitude não era em função do acordo, nem pela confidencialidade
exigida no contrato, mas pelo respeito que eu tinha pelas pessoas, inclusive
pela mulher. Eu até podia ser amigo do Fabiano, ter intimidade e tudo mais,
mas sempre fui o oposto dele. Odiava a forma como ele falava das
mulheres, comentando como se fossem troféus. Esse não era o meu estilo.
O problema era que, no fundo, eu tinha gostado não só por eles, mas por
ter sido com ela. Deus, isso era tão errado e perturbador que acabei
condenando-me por causa do pensamento.
Eu não podia seguir por esse caminho. Era algo profissional e pensar
nela além das quatro paredes que iriam nos cercar por um tempo, burlava as
regras das suas intenções.
Sexo.
Prazer.
Nada mais.
— Claro, meu amor. Mas me contem como estão na escola, quero saber
de tudo.
Com a barriga cheia, não demorou para que eles dormissem enquanto
estavam vendo desenhos pelo meu celular. Ambos eram loucos por animes,
passavam horas na frente da TV se pudessem e se ainda tivessem uma.
— Por mais que eu não goste daquela mulher, precisava vir aqui te
contar. Ela está desmaiada na esquina, suja de vômito e descabelada. Não
deixe que as crianças saibam disso, as pessoas comentam e acaba chegando
aos ouvidos delas.
Xinguei baixinho, irritado por ver que Heloise sempre dava um jeito de
acabar com minha paz.
Agradeci quando notei que Dulce havia levado os meninos para casa.
Entrei e caminhei até o banheiro. Apoiei Heloise sentada sobre o vaso
sanitário e comecei a sacudi-la.
Comecei a tirar sua roupa, assustado com a magreza que ela exibia. Os
ossos estavam visíveis sob a pele acabada. Algumas marcas chamaram
minha atenção. Chupões, queimaduras, hematomas mais fortes... eu tinha
costume de ver minha irmã pelada, já que desde a adolescência fui
acostumado a dar banhos nela, então nada me deixava incomodado mais,
exceto dessa vez, quando vi o estado em que ela se encontrava.
Liguei o chuveiro e a coloquei de pé, ouvindo um grito quando ela sentiu
a água gelada. Acabei sendo surpreendido quando ela começou a me atacar,
batendo no meu peito e arranhando minha pele com as unhas.
— Para com isso, porra! — tentei contê-la. — Seus filhos não podem te
ver nesse estado.
— Estou tentando te ajudar. Você estava largada numa esquina. Que tipo
de vida você está querendo?
Cedi, grato por ao menos ela ter acordado o suficiente para ficar de pé e
se limpar.
Minutos depois Heloise saiu do banheiro e foi atrás de uma roupa para
vestir. Aproveitei para colocar um pouco de comida no prato na tentativa de
fazê-la comer.
— Tô sem fome. — Seu olhar curioso foi até o prato feito — Anda bem
de grana, hein? Vai ter um trocado aí pra mim?
— Vai me prender dentro de casa? Eu não sou esses pirralhos que você
decidiu criar.
Respirei fundo, tão exausto de discutir, por mais que ela merecesse ouvir
meus sermões.
— Até quando vai ser assim? Tenho medo de acordar com alguém
batendo na porta para me dizer que você está morta. Não posso viver dessa
forma, Heloise.
— Não se preocupe com isso, pelo menos deixarei de ser o seu fardo.
Minha mãe estava sentada à mesa da sala de jantar, ao seu lado esquerdo
estava Benício e do outro uma garota bonita, que provavelmente era uma
das vítimas do playboy.
— Ou você é muito corajosa ou tão maluca quanto ele. Não sei qual a
pior alterativa das duas.
— Beatrice!
— Não, Benício. Você vai sentar e ouvir o que eu tenho para falar.
Afinal, dinheiro é um assunto que muito interessa aos dois, não é verdade?
Com a ordem da minha mãe, ele voltou a sentar e a garota quis nos dar
privacidade, saindo em direção a escada que dava para o andar superior.
— Isso é abuso. Se ela quiser fazer uma denúncia você leva um baita de
um processo.
— Tudo o que deseja é me ver na lama, não é? Uma filha que teve tudo
se voltar contra a mãe e o irmão é inadmissível.
— Diga logo o que veio fazer aqui, porque com certeza não é por sentir
saudades.
— Estava dando uma olhada nas finanças dos dois, uma que parece estar
sendo desperdiçada rápido demais.
As contas da casa não eram, já que as ações que eles tinham pagavam
todo o serviço. Eu tinha uma pessoa que resolvia essa parte, para que não
atrasasse os pagamentos.
— Os meios não são a pauta dessa conversa, e sim como iremos resolver
a situação do dois. Soube que gastou um bom valor para subornar
autoridades. Se orgulha disso?
— Foi uma bobagem. Papai sempre me tirava dessas, achei que pelo
menos a queridinha dele seguisse o legado.
— Aí que você se engana. Não sou ele, nunca serei. Pelo contrário, estou
começando a corrigir os erros que ele cometeu durante todos esses anos. E
isso vai começar com você.
— Não preciso das suas migalhas. Meu pai deixou uma herança para que
eu não precisasse disso.
— Uma que você vai torrar em poucos meses, pelo que reparei. Dinheiro
é algo que vai embora rápido se não souber cuidar e investir, o que
claramente não é caso de vocês.
Sorri em resposta.
“Isso ainda é pouco para tudo o que sinto por você e o que desejo para o
nosso futuro. Do seu, para sempre, Marcus.”
Joguei o papel dentro da gaveta enquanto xingava Marcus por ser tão
insistente.
— Estou indo para a sala de reuniões, peça que alguém se livre dessas
rosas.
— Você só esqueceu que eu não sou de desistir fácil. Que tudo o que
vivemos nesses últimos meses nunca vai sair da minha cabeça, que vou
fazer de tudo para que entenda isso de uma vez por todas.
— Não vou repetir a mesma coisa que falei das outras vezes que nos
encontramos, mas preciso que pare de me procurar ou fazer esse tipo de
demonstração. Não estamos mais juntos, não quero relacionamentos e não
estou apaixonada por você.
— Se continuar agindo dessa forma vou ter que entrar com uma medida
contra você.
De toda forma ele estava certo, mas eu também não ia ceder quando não
estava mais à vontade com o que tínhamos.
— Sinto muito que esteja se sentindo assim, mas sigo deixando o aviso.
Pare de me importunar ou vou tomar medidas mais sérias e que,
provavelmente, não irá gostar.
— Faça o que quiser, mas não vou parar até ter você novamente.
Ouvi o bip no momento em que ele desligou, sentindo a dor de cabeça
me atingir. Esse seria outro problema para mim, um que eu tinha que
resolver antes que a merda explodisse.
Eu não precisava ser exposta.
Os meus funcionários eram eficientes, eu devia isso ao meu pai, pois ele
sempre foi muito cauteloso em escolher a equipe que faria parte do negócio
da família. Uma pena que ele não foi tão bom com a parte pessoal.
Quando estava saindo para o almoço meu celular tocou com um alerta de
mensagem, para minha surpresa, com o nome do Hugo estampado na tela.
Ele queria me encontrar no loft.
Digitei uma resposta quase que imediatamente.
“Apesar de ficar surpresa com o contato, não esqueça que quem escolhe
os encontros sou eu.”
O pior de tudo era que eu queria ir até ele. Meu corpo inteiro acendeu
com isso.
“É um assunto sério, por favor. Não faria isso se não fosse urgente.”
Puta merda! Será que ele estava querendo romper o que mal havia
começado?
Olhei para a hora e murmurei o quanto eu estava sendo fraca por ceder.
Não podia esquecer que eu era quem mandava na relação, que tinha o total
controle disso tudo.
Ele tinha precisava entender que eu o tinha nas mãos, não o contrário.
Capítulo 11
Minha cabeça doía desde sábado. Tudo por mérito da catástrofe que era a
Heloise.
Ela havia levado algumas coisas, incluindo duas latas de leite das
crianças, claramente para trocar por drogas, pois eram itens com um valor
alto e as pessoas aceitavam. Isso me deixou revoltado e angustiado, pois eu
necessitaria ter atenção redobrada com as visitas esporádicas dela, e
precisava reconhecer a minha culpa por ter confiado que ela ficaria bem,
que comeria e atenderia ao meu pedido.
Ela nunca obedecia, fui um tolo por esperar o contrário.
Não deixei que os meninos soubessem da breve visita, por isso esbanjei
meu melhor sorriso e animação no sábado à noite quando deixei que eles
brincassem um pouco na rua sob minha supervisão, e no domingo quando
os levei para uma volta na praça e um pequeno piquenique, coisa que a
gente nunca havia feito. Eles amaram o programa diferente e se divertiram
bastante. Durante nosso retorno para casa, eles agradeceram inúmeras vezes
pelo inédito passeio.
Isso deixou meu coração quente, cheio de amor por aqueles dois. Nada
se comprava a felicidade deles, o brilho no olhar e o sorriso estampado. E
eu faria tudo novamente se fosse preciso, por mais que algo dentro de mim
soubesse que não só tinha gostado do resultado com as crianças, mas da
noite que estive com Beatrice. Eu estava de volta ao loft, sentado no sofá
enquanto a aguardava. Nem mesmo almocei, pois não conseguiria até
resolver o que tinha planejado. Minha cabeça não tinha parado um só
instante durante a noite, resultando assim em horas mal dormidas.
Ainda não conseguia acreditar que eu tinha dormido com essa mulher.
Que ela havia sido minha primeira.
Esfreguei o rosto numa tentativa de reordenar meus pensamentos.
— Como sabe, eu tenho uma irmã. Heloise é mais velha do que eu, e
desde a adolescência se envolveu com diversos tipos drogas, tornando-a
assim uma viciada e chegando agora ao fundo do poço.
Com o sexo.
— Preciso que consiga uma clínica particular para minha irmã, que a
levem a força se for necessário, que façam com que ela largue essa desgraça
em que se meteu. E, caso necessário, os gastos forem muito altos, eu não
me importo que dê bem menos da próxima vez.
Beatrice ficou em silêncio por alguns segundos, apenas me observando,
assimilando meu pedido. Sim, havia sido exagerado, caro demais, mas eu
não tinha a quem recorrer além dela.
— Muito obrigado, Beatrice. Não sabe o quanto isso vai me dar apoio
emocional e um pouco de sossego não apenas para mim, mas as crianças
também.
— Você precisa colocar na sua cabeça que esse contrato foi oferecido
por mim, e isso significa que eu estou no comando dessa relação, entendeu?
— Assenti — Quando eu disser que quero te ver, você vem. Não
questiona, não desmarca e nem dificulta.
Abri a boca para protestar, dar a minha justificativa, mas ela não deixou.
Sua mão erguida deixou claro que ela continuaria.
— Me desculpe sobre ter ido embora, mas eu não sabia como agir. Foi a
primeira vez, estava um pouco confuso e perturbado, além de ter deixado as
crianças com uma amiga.
— Não sei nem como agradecer por isso, por ter me dado a oportunidade
de ter esperanças, por mais que tudo ainda seja novo demais para assimilar.
Ela tocou meu queixo, se aproximou ainda mais e dessa vez eu senti até
mesmo seu hálito.
— Nesse caso você sabe muito bem como vai me agradecer. Assim que
estiver com um tempo livre entrarei em contato.
— Não esqueça de tudo o que foi dito aqui, Hugo. Minhas condições
precisam ser seguidas para que isso continue funcionando. Até mais.
— Sim, eu mesmo.
Peguei meu celular com as mãos trêmulas e digitei uma mensagem para
a única pessoa que poderia ter feito isso.
“Foi você?”
“Um presente para seus sobrinhos. Nada com nosso contrato, apenas
um agrado.”
Meu ego até tentou ficar incomodado com a atitude dela, mas meu
coração se desmanchou inteiro ao ver a felicidade dos meus sobrinhos.
Beatrice havia mandado uma tv de 65 polegadas para os dois, para que
eles tivessem de volta o que a mãe tinha tomado.
Voltei a realidade quando fui abraçado nas pernas, pelos dois, de uma só
vez, ouvindo repetidos agradecimentos.
Ora estava irritada ditando suas regras, outra estava agradando sem
segundas intenções.
— Eu vou primeiro!
Gargalhei com a disputa dos dois para ver quem entraria no banheiro
primeiro, vendo a garota vencer por ser mais esperta e perspicaz. Usou o
argumento de ser uma dama e ter direito de ir na frente, deixando o irmão
sem alternativa.
— Olha, Ana, sou eternamente grato por tudo o que fez e faz por mim e
pelas crianças, mas não estou entendendo suas intenções com o
interrogatório.
Notei suas bochechas corarem. Ela era linda, doce e pura, o oposto da
outra, mas ainda assim era bela de uma maneira delicada.
Intimamente desejei dizer que ela não tinha direito de dar palpite na
minha vida, mas seria indelicadeza da minha parte por causa de toda a ajuda
que ela oferecia. Por isso optei por ser gentil.
— Não sei o que está se passando na sua cabeça, porém prefiro que
guarde para si, Ana. Eu fiz, faço e farei tudo, dentro da legalidade, para
proporcionar uma melhor qualidade de vida para meus sobrinhos.
— Pode ter certeza que sim. Eu nunca fui a minha prioridade, e você
sabe bem disso.
— Você está acabando com sua vida, Hugo. Destruindo as chances de
ser alguém, de estudar, conseguir um trabalho digno por causa de
responsabilidades que não são suas.
Vi seus olhos lacrimejando e me senti mal por ser rude com ela, Ana não
merecia.
— Ana, eu...
Sempre desconfiei dos seus sentimentos, mas ouvir a confissão tão crua
e sincera me deixou abalado, triste e nervoso. Eu não tinha como retribuir a
isso, pois nunca havia gostado da Ana dessa maneira, por mais que devesse.
— Confusa, Hugo? É isso que acha? É assim que trata a maneira como
eu estou me sentindo?
— Não, mas você sabe como minha vida é, as dificuldades, além de ser
praticamente como uma irmã para mim. Você é linda, doce e uma garota
incrível, mas merece alguém muito melhor do que eu.
Não me espantei pela maneira como que ela se referiu a Heloise, pois
não era a primeira vez, mesmo assim, doeu ouvir isso.
— Vai lá, afunda sua vida com seja lá quem for essa mulher que está te
pagando, mas não conte comigo. Não vou mais ajudar a construir sua
própria desgraça.
Lutei para conter a risada que quis escapar, mas me mantive sério.
— Faz parte da vida. Até aí não tem problema, mas não esqueça que
criança não namora, nem mesmo de mentirinha. Compreensível, ele
assentiu e correu para tomar banho quando ouviu Elena sair do banheiro.
O lançamento do novo perfume que seria assinado por uma cantora pop
famosa havia nos custado um extenso investimento, mas com a legião de
fãs que ela carregava e a influência, sabia que o retorno seria satisfatório. E
esse mesmo produto que iríamos levar para a Espanha e Portugal, onde se
concentrava a maior parte dos admiradores da artista.
— Justo, contanto que isso passe por mim antes de começar a ser
divulgado.
— Assim que funciona uma empresa, mas que saibam que comigo tem
sido diferente desde quando comecei a assumir isto daqui. Assim, preciso
de um relatório detalhado dos últimos lançamentos, um balanço analítico do
que tem saído mais no mercado e que a equipe do RH lance um anúncio de
contratações temporárias para o final do ano, considerando que sempre
necessitamos de mais funcionários nesse período.
Dei mais algumas ordens exclusivas, vendo também Virna fazer
anotações no IPAD.
Dispensei os funcionários, que aos poucos iam saindo da sala. Uns ainda
não me engoliam com facilidade, nem se dando ao trabalho de disfarçar,
mas eu não estava aqui para fazer amizade, então todo o resto não me
importava contanto que estivessem fazendo um bom trabalho.
— Virna, estou indo a minha sala ter uma conversa com Moroni, anote
se alguém me procurar, mas não interrompa.
— Sim, senhora.
Eu tinha enviado o pedido para que ele conseguisse uma clínica para a
irmã do Hugo, já que Moroni conhecia tudo e todos, além de saber como
funcionava a parte burocrática.
Não era como se esse dinheiro fosse me fazer falta, mas também eu não
saía gastando à toa. A diferença era que seria para ajudar alguém que
precisava; mais o Hugo do que a irmã.
— Desculpa me intrometer, Beatrice, mas não acha que esse cara está te
dando despesa demais? Nem começaram direito e ele já te exige algo
assim? Não sei se gosto disso.
E ele nem sabia que eu tinha comprado a TV. Portanto, o presente foi
mais para as crianças, pois me senti mal quando ele contou o que a irmã fez
com os filhos.
A vida daquelas crianças era muito injusta. Ninguém merecia passar por
isso, e ainda bem que eles tinham um tio gentil e dedicado.
Crianças eram meu ponto fraco. Me quebrava inteira imaginar o que elas
passavam.
— Bom grado, é? Pelo que eu saiba você tem todas as intenções com ele,
mas nenhuma delas são tão boas assim.
— Como eu já disse antes, uma diversão que logo irá me cansar e fazer
com que eu parta para outra. Não é assim que vocês homens fazem e a
sociedade normaliza?
No final da reunião com Moroni, ele se foi com a promessa de que logo
me daria uma resposta sobre a clínica. Eu só esperava que fosse um
investimento que valesse realmente a pena.
Não era ingrata, já que o conforto que o dinheiro me dava era algo que
não tinha como comparar, mas ainda assim me peguei pensando em como
seria se minha mãe e Benício fossem diferentes, se fôssemos unidos e
pudéssemos contar um com o outro.
Amor.
Sem barreiras.
Dureza.
— Esses pestinhas são uma benção, meu bem. Não me dão trabalho,
além da Elena passar horas tagarelando ao pé do meu ouvido.
Sorri de volta, constatando que eu não era o único que achava a pequena
garota uma metralhadora de palavras.
— Não sei que horas vou estar livre, mas pode me ligar se acontecer
algo. Não hesite, por favor.
Engoli em seco, sabendo bem que ela nunca nem mesmo poderia
imaginar o que eu estava fazendo em troca de dinheiro.
— Titio, eu não gosto quando você sai. Sinto sua falta. — Elena
comentou agarrada ao meu pescoço.
— Oh, meu bem... não fique assim, pois estou indo trabalhar. Vai ser
bom para nós três, tudo bem?
— Pode deixar, tio. E sabe, eu gosto muito mais de ficar com a dona
Dulce do que com a Ana.
Fiquei surpreso com sua confissão, estranhando o fato dele ter contado
isso, pois quase sempre ficavam com minha amiga.
— Achei que gostasse de ficar com ela. Ana gosta muito de vocês.
E sem me dar chances para indagá-lo mais uma vez, ele correu para a
varanda da senhorinha e puxou a irmã consigo.
— Esses meninos estão cada vez mais espertos e crescendo a mente
rápido demais. Isso me assusta, hein? Velhos tempos em que os pirralhos do
mundo eram mais inocentes. — Dulce brincou acenando na minha direção.
Passei em casa, peguei minha mochila com meus itens pessoais, tais
como: uma muda de roupa, cueca e escova de dentes. Enviei uma
mensagem para o motorista, avisando que eu estava pronto. Caminhei até a
esquina para esperá-lo e me incomodei quando vi Fabiano vindo na minha
direção. Não queria voltar ao assunto Beatrice e os detalhes que ele
desejava saber.
— E perder a chance de te ver assim, todo bom-moço indo ter uma noite
de sexo com uma ricaça e ainda ganhar por isso?
Então ela tinha contado para o irmão. Algo que eu não esperava.
Fabiano virou para ficar de frente para mim, apoiando uma mão sobre
meu ombro.
— Sabe que é um irmão para mim também, que te respeito, admiro tudo
o que faz pelos sobrinhos, a determinação e coragem, mas convenhamos,
está longe de ser o que a Aninha merece. Toda essa bagunça na sua vida, a
Heloise, os dois... o combo de problemas que vem com você não é para
alguém como minha irmã.
Uma noite com Beatrice e precisava estar bem para fazer de tudo para
agradá-la.
Fora isso, meu corpo inteiro estava tenso, nervoso com o que se
aproximava, porque ela tinha um poder sobre mim que me assustava. Me
levava a gostar do que tínhamos feito e ainda iríamos fazer.
Capítulo 13
Cheguei primeiro do que ela.
Não sabia o que seria de mim sem as pessoas que construíam uma base
para que eu me mantivesse de pé.
Estava cansado, meu dia havia sido corrido, já que precisava deixar as
coisas no lugar antes de sair de casa. Eu acordava cedo, botava as crianças
para a escola, faxinava e parei para pensar que tantas outras pessoas faziam
isso no dia a dia e não eram valorizadas.
Ouvi o clique na porta, o alerta de que ela tinha chegado, então levantei,
percebendo as pernas bambas, a ansiedade que me tomava a cada segundo.
Não era surpresa que ela estivesse deslumbrante, dessa vez usando uma
calça social e a camisa por debaixo do blazer bege. E ao contrário das
outras vezes, seu cabelo estava preso com um rabo de cavalo.
— Sim, Hugo.
Tentando fugir um pouco dela, como se fosse adiantar, corri para pegar
os pratos e talheres e arrumar sobre a mesa. Não sabia como deixar da
maneira que ela era acostumada, mas pelo menos fiz de uma forma
organizada.
Minha sobrinha podia ter a vida conturbada, mas sempre fiz com que ela
tivesse uma infância decente. Comprava bonecas, mesmo que usadas, ela
ganhava de vizinhos e participava de eventos beneficentes quando os
comerciantes organizavam no Dia das Crianças. Já Igor preferia carros e
futebol, nunca perdendo os jogos do seu ídolo Cristiano Ronaldo sempre
que podia assistir.
Nos servimos em silêncio, ela sempre com a taça de vinho ao lado, como
se a usasse como uma fuga, e eu não gostava disso. Na verdade, me
incomodava ver que as pessoas sempre usavam o álcool para aliviar os
problemas, como se ele também não fosse um.
Provei a comida sob seu olhar atento, e realmente era uma delícia, algo
tão gostoso que me levou a imaginar o que os meninos achariam se
provassem algo assim, tão diferente.
— É divino. Nunca tinha comido algo tão delicioso, e olha que eu sou
bom na cozinha.
— Não precisa ficar acanhado, já fiz coisas muito mais ousadas do que
te chamar de gostoso.
Quase me engasguei.
— Não consigo me acostumar com seu jeito. Sempre toda desinibida e
sem pudor.
— Não farei isso, contanto que eu ganhe meu agrado também. Isso tudo
aqui é apenas uma troca de favores por diversão.
— Você vai ver o quanto é gostoso sentir o gelo do sorvete caindo sobre
seu corpo, atiçando seu pau e sendo lambido logo em seguida.
Estremeci.
Ajoelhada, sexy e linda, ela abriu e boca e pôs a língua para fora, sempre
me encarando, nunca tirando os olhos de mim enquanto me provocava. Eu
pegaria fogo, tinha certeza disso.
A maciez da sua língua roçou na minha pele, varrendo o sorvete que se
espalhava ao redor, porém, ela nunca deixava desperdiçar. Só assisti,
enlouquecido, à medida que ia sendo invadido pelo frenesi surreal que me
percorria.
Estar com uma mulher como ela, algum dia da minha vida, jamais tinha
passado por minha cabeça. Queria sim um dia encontrar alguém, em um
momento em que minha vida estivesse mais calma, mas viver isso, um sexo
pago e por uma mulher como Beatrice... uma loucura.
O pior de tudo era que eu estava gostando. Enquanto estava com ela,
toda e qualquer chance de ter o peso na consciência ia embora em um
estalar de dedos.
— Você já é uma delícia sem nada, gatinho, mas assim... Inferno, eu vou
ficar viciada.
Logo eu estava gozando na boca dela, pois ainda não tinha aprendido a
controlar as reações do meu corpo, ainda na dúvida se isso fosse, um dia,
capaz de acontecer.
Observei, com o olhar inervado, a mulher engolir tudo, os olhos em mim
enquanto bebia meu sêmen.
— Quero sentir seu gosto, Beatrice. Eu só... não... nunca fiz. Quero saber
como você gosta.
Meu subconsciente ficou surpreso com minha ousadia e com o que essa
mulher fazia comigo e no que me transformava.
— Você ser tão inexperiente soa incrivelmente sexy demais para mim.
Como recusar um pedido desses?
Agarrei sua perna, sem saber ao certo por onde começar, mas permitindo
que meu instinto me comandasse.
Agarrei a outra perna e continuei da mesma forma que fiz com a outra,
parando entre as coxas, onde ela estava despida e exibindo o caminho para
minha perdição.
O gosto era bom, assim como eu tinha experimentado quando ela me fez
chupar os dedos, mas assim, direto da fonte, era extraordinariamente mais
erótico e picante.
Beatrice agarrou meu cabelo e apertou entre os dedos, fazendo com que
eu sentisse a fisgada no couro cabeludo. Mas isso era bom, um sinal de que
ela estava gostando.
Continuei, assim como ela ensinou, assistindo Beatrice levar as mãos aos
seios e apertá-los, girando os quadris para me ajudar com os movimentos.
— Caralho!
Não esperei que ela comandasse, que me pedisse algo além do que eu já
estava fazendo, apenas a agarrei pela cintura e puxei contra mim.
Desabei com ela no chão, seu corpo farto debaixo do meu enquanto a
minha ereção, automaticamente, penetrava na sua boceta; receptiva e
calorosa.
Estoquei fundo, abafando seus gemidos com minha boca, a língua com o
gosto dela deslizando pela sua, os olhos encarando um ao outro, num
momento envolvente e enlouquecedor.
Testa com testa, olho no olho, lábios nos lábios, eu percebi que estava
indo por um caminho muito perigoso.
— Bom dia, Beatrice. — A voz rouca soou como música — Sei que não
deve comer qualquer coisa, mas decidi fazer uma surpresa. Espero que
coma pelo menos um pouco.
Foi fofo, eu tinha que confessar, apesar de parecer algo muito próximo
ao sentimental. Assim mesmo, aceitei e sentei-me na cadeira que ele puxou
para mim.
— Ah, um bolo. Espero que não fique chateada por eu ter usado as
coisas que tinha aqui.
— Gosto que seja esse homem prendado. Soa tão sexy! Um dia quero te
ver cozinhar apenas de avental, sem nada por debaixo.
Não contive a risada por ver seu rosto corar. Daquele jeito que ele
sempre ficava.
Hugo foi até a cozinha e logo voltou com um bolo pequeno, fofinho e
cheiroso. Ainda saía fumaça enquanto ele cortava e colocava no prato.
Apontei para que ele se sentasse também, então puxou a cadeira e ficou à
minha frente.
— Fico feliz por ter gostado. Meus sobrinhos amam também, só não
comem com muita frequência.
Vi seu rosto corar de novo, acompanhado com um sorriso tão lindo que
fez meu estômago sentir algo mexendo ali dentro.
— Que bobagem! Aqui tem muita coisa para duas pessoas. Pode levar,
sem problemas. E não falo apenas do bolo, sobre o que quiser, é sério.
— Pois é bom que abuse, pois eu faço isso com você sem remorso
algum.
Minha falta de sutileza o fez engasgar o café que ele tinha acabado de
virar um gole. Sorri, divertida por sua reação.
Minha vida sempre era corrida, além de fazer dietas que me proibiam de
comer demais, então sempre regrada, saladas, frutas... nunca fugia, exceto
hoje.
Dos antigos homens que tinham feito o acordo comigo, nenhum deles
tinha uma vida como a do Hugo. Sempre universitários, festeiros ou apenas
playboys querendo uma grana extra para esbanjar por aí; mas esse não.
Ele era trabalhador, corria atrás e tinha problemas de verdade, coisas que
eu nunca tinha enfrentado na vida por ter sido privilegiada de nascer em
berço de ouro.
— Não.
— E nem quer?
Eu não queria falar sobre isso. Não queria dar brechas para ele saber
sobre minha vida além do necessário. Não queria proximidade, a não ser a
sexual.
Soltei com sinceridade, vendo sua expressão mudar um pouco. Hugo não
teve argumentos para me dar.
Durante todos esses anos eu não tinha me apaixonado por ninguém, nem
pretendia. Os homens eram gentis, quentes, mas interesseiros.
Não havia magia.
Não seria diferente agora.
— Por que a gente não usa o tempo para cumprir o acordo, hein? —
Mudei para um sorriso enquanto agarrava seu pescoço. — E quando eu digo
isso, é sobre ter um sexo incrível que me deixe de pernas bambas.
Então o beijei.
A vista do meu quarto não era tão interessante quanto o homem que
consumia minha boceta com o cacete faminto e empolgado.
Sabia que minhas palavras só serviam como gatilho para o jovem, então
demorou apenas alguns segundos para que eu sentisse os jatos quentes
jorrarem dentro de mim.
Não deixei que ele protestasse mais uma vez, afastei-me e fui atrás do
robe de seda largado na poltrona. Enrolei meu corpo e desci a escada
resmungando e xingando inconformada por ser interrompida em um
momento como esse.
— Espero que seja algo muito grave, Magda. — Falei assim que atendi.
— Preciso da sua ajuda. — Pelo tom de voz era algo sério. Bem, pelo
menos para ela.
— O que a faz achar que vou parar o que estou fazendo para ir te
socorrer? Estou ocupada demais para suas futilidades.
— Não. Estou de folga, Magda. Não vai ser seu projeto de bandido que
vai interromper isso. Desejo sorte aos dois.
Por mais que eu tivesse tentado me afastar das notícias ruins durante o
final de semana, logo fui tomada por elas na segunda-feira quando cheguei
à empresa e vi Moroni me esperando.
— Não sei se gosto de te ver aqui logo cedo sem ser convocado. —
Comentei passando por ele e me sentando na minha poltrona.
— É assim que trata seus garotos? Por Deus, Beatrice, parece o próprio
diabo.
Sorri sarcasticamente.
— E quem disse que não sou parceira dele? Bem, é isso que minha mãe
adora cuspir aos quatro ventos desde que fui embora décadas atrás.
— Fala logo de uma vez, Moroni. Não tenho como começar o dia pior
do que tendo notícias da família.
— Benício foi preso novamente. Parece que uma garota que ele estava
saindo era menor de idade, filha de um empresário e agora ele está um
pouco furioso com seu irmão.
Pronto. Se eu achava que não tinha como passar mais raiva, Benício
provou que tinha como piorar sim. Não era apenas o nome da Fuller que
entrava no meio, mas a reputação. Por mais que o crime não tivesse sido
cometido por mim, o nome ia estar nos holofotes, mas eu contornaria
mostrando que não aceitava esse tipo de comportamento.
— Que porra você pensa que está fazendo? Quem autorizou essa
idiotice? E desde quando atende aos chamados da minha mãe?
Passei a mão pelo rosto, frustrada e com muita raiva de ter perdido o
controle dessa situação.
— Você devia ter me consultado. Sabe muito bem que Benício nunca vai
parar de aprontar se sempre tiver alguém para apaziguar os problemas dele.
— Desculpe, eu me vi sem saída. Sei que nosso trato não era agir sem
que você tivesse conhecimento, mas sua mãe é bastante insistente quando
quer livrar a bunda daquele vagabundo.
— Você não vai dar dinheiro algum a eles. Converse com o pai da garota
e encontre uma maneira legal, nem que signifique um processo nas costas
do meu irmão.
— Você pode ir, Moroni. Só volte quando tiver notícias sobre a clínica. E
caso a Magda o procure, não hesite em me consultar primeiro, por mais que
eu demore dias para responder.
Por mais que o dinheiro que ela me mandasse fosse suficiente para
manter o estômago dos meninos cheio, as contas pagas, eu precisava ocupar
a mente. Fiquei ajudando Fabiano com as contas nos finais de semana, além
de fazer entregas quando Dulce ficava com os dois vendo TV.
Não tinha como recusar, tendo em vista que ela tinha se prontificado em
ajudar Heloise. Precisava da Beatrice, do seu poder e dinheiro, por mais
sujo que isso parecesse.
Queria me justificar ao mesmo tempo que sabia que meu amigo não
estava de todo errado. Eu estava mesmo fodido com a situação em que
havia me metido.
— Espero que isso seja verdade, Hugo. Você não merece mais problemas
na vida. Quando te coloquei nisso foi apenas focando na grana, no bem-
estar dos pestinhas, não que arrumasse um problema para o coração.
Não contive o sorriso. Era fácil falar nisso quando ele tinha também se
apaixonado, ficado com outras mulheres e largado tudo por não conseguir
controlar os sentimentos.
Nem precisou que ele falasse mais alguma coisa, pois o acenar em
direção a cozinha foi suficiente para eu saber de quem se tratava. A garota
que ele tinha contratado.
Sacudi a cabeça e pedi que ele preparasse uma pizza brotinho para que
eu levasse para ela. Dois pedaços de frango com cheddar e dois de
chocolate. Não sabia se ela comeria, mas não custava nada tentar.
Afinal, no que isso mudaria, sendo que eu sequer tinha poder na relação?
Depois de deixar um beijo nos meninos e chamar o motorista particular,
cheguei ao loft quase uma hora depois. E ela já estava à minha espera,
parecendo nada contente.
— Um pedaço não vai fazer mal. Você não pode fazer essa desfeita
comigo.
— Vou abrir uma exceção pra você, gatinho, mas não se acostume.
Assisti seus movimentos quando ela foi atrás da garrafa de vinho e
voltou, rebolando os quadris, para perto de mim.
Sorri naturalmente. Era bom ver um lado assim dela, mais leve e solto,
sem aquela fortaleza ao seu redor.
Dei uma fatia da pizza salgada, que ela olhou com desconfiança antes de
dar a primeira mordida. Esperei ansioso para sua reação, que não demorou.
Passei o olhar pelo seu corpo delicioso, cheio de curvas marcantes, que
nada parecia fora do lugar.
—Trepei com muitos homens durante minha vida inteira, e desde que
voltei tive alguns jovens na cama, dividindo o mesmo sexo que tenho com
você. Então evite pensar demais, pois nossa relação aqui exige apenas
envolvimento sexual. Sei que é inexperiente nesses assuntos, que pode ser
um pouco mais difícil pra você, mas não esqueça o que somos, entendeu?
Era sexy, quente e muito surreal a maneira como ela conseguia conduzir
as coisas entre nós.
Com sua habilidade única, ela foi arrancando minha blusa, jogando em
um canto qualquer da varanda, em seguida arranhando meu peito nu com as
unhas bem-feitas.
De tudo que fazia parte do combo Beatrice, por mais louco que fosse. Só
não falei para ela.
— Ainda assim não faço ideia de como agir quando estamos assim. Você
me deixa assustado, nervoso e excitado demais.
— É. Deus, sim!
Ela era um maldito sonho erótico. Eu não fazia ideia de como dar conta
de tanto sem me desmanchar completamente. Estava prestes a gozar sem
nem mesmo fazer muito esforço.
— Vou te chupar, gatinho, mas enquanto faço isso, você fode minha
boceta com sua boca deliciosa.
A visão do paraíso.
O cheiro dela que alcançou meu nariz.
Não que eu fosse recusar, pois era tudo o que eu queria fazer, por mais
que ainda não fosse tão bom nisso.
Gemi quando senti seus lábios envolverem meu pau, duro como uma
pedra, prestes a entrar em combustão.
Afundei minha língua dentro dela, desejando dar o mesmo prazer que ela
estava me dando.
Eu amava meu trabalho, cada dia e hora que passava dentro do escritório,
comandando, buscando soluções para minimizar riscos e otimizar os
processos. Todo trabalho estava voltado para o desenvolvimento da empresa e
como não poderia deixar de ser, na satisfação e reconhecimento do nosso
pessoal. A missão do nosso RH era disponibilizar meios para que todos
tivessem oportunidades de crescimento através dos treinamentos e cursos
oferecidos. Desta forma, quando divulgávamos notícias sobre recrutamento de
pessoal, a procura era grande, pois poucas empresas investiam tanto quanto a
nossa. O único momento em que me sentia incomodada ocorria quando
precisava confraternizar com pessoas que esperavam que eu fosse igual ao
meu pai.
Por isso aceitei o convite para participar do jantar. Uma reunião com os
magnatas, políticos e magistrados mais importantes do estado. Moroni estaria
lá, me faria companhia com sua esposa e me manteria distraída para não ficar
entediada.
Marcus.
Como ele havia descoberto meu endereço? Nunca dei, nem mesmo cogitei
trazê-lo.
Desci já irritada por saber que Marcus estava prestes a torrar minha
paciência mais uma vez, pois era a única coisa que ele fazia.
E meu humor piorou ainda mais.
Caminhei até ele e puxei seu braço, afastando dos ouvidos do porteiro, que
parecia curioso. Além do motorista da limusine que estava à minha espera.
— Não, querido. A primeira vai ser um aviso para que se prepare, pois em
breve vai receber uma intimação da polícia. Se não tinha tomado uma atitude
ainda, foi por considerá-lo, porém você não me deu outra alternativa.
— Acha que estou brincando? Essa é minha vida, caralho. Te fiz assinar
aquela merda de documento antes de nos envolvermos, e agora virou um
obcecado que não me deixa em paz. O que quer? Dinheiro em troca de
sossego, é isso?
— Não tenho que te dar satisfações da minha vida. Você foi um caso
passageiro, um sexo divertido, caro, mas que anda me causando dor de
cabeça. E sabe o que eu faço com quem me incomoda? Esmago com meus
próprios pés.
— É, que bom que o lado mais consciente da sua mente ainda funcione.
Não queria ser tão dura, porém, era isso que ele estava me pedindo por sua
insistência descabida.
— Você agir como uma vadia só faz com que eu queira revidar tudo o que
está fazendo comigo.
Virei para sair, mas ainda escutei sua voz soando atrás enquanto entrei de
volta no prédio.
— Vou acabar com você, te ver sozinha e rir enquanto morre engasgada
com a merda do seu dinheiro.
Doeu mais do que deveria. Pois era exatamente como eu sabia que
terminaria minha vida.
Sozinha.
Cheia de dinheiro.
Sem ninguém.
Eu não tinha que me importar com isso, porém fiquei irritada e só existia
uma maneira de extravasar toda a raiva que estava sentindo.
Minha mãe.
Benício.
Marcus.
Problemas.
Era coisa demais para absorver ao mesmo tempo.
Por isso entrei no carro luxuoso e digitei uma mensagem para a única
pessoa, no momento, capaz de me livrar do ódio que eu estava sentindo.
Capítulo 16
Estava exausto. Havia sido um dia cansativo, pois, acordei com a chuva
ocorrida durante a madrugada passada e com goteiras em várias partes do
telhado, molhando a sala e o quarto dos meninos. Precisei fazer um
improviso da maneira que pude para evitar mais danos, usando panelas,
baldes e procurei secar tudo antes que os dois acordassem. O sofá estava
ensopado e precisaria ser colocado do lado de fora tão logo fizesse sol.
Para piorar tudo, ouvi quando alguém forçava a fechadura para abrir a
porta de entrada. Mal tive tempo de me preparar para pegar algo e me
defender, mas era óbvio de quem se tratava no final das contas. Heloise,
tremendo de frio e completamente chapada, tropeçou para o interior do
imóvel, descontrolada e surtando como sempre.
Agradeci sozinho por ter sido uma chuva leve, pois a área em que
morávamos era de risco, e em caso de uma chuva forte, mais intensa,
chegava a entrar água nas casas da parte onde eu morava.
Era triste, preocupante, mas não era como se eu tivesse outra alternativa.
Com o tempo eu ia me adaptando e tentando salvar os móveis que
restavam.
Até que o som do meu celular ressoou pela casa e levantei-me atrás dele.
Era o nome dela que estava na tela. Não me surpreendi por ser ela, mas pelo
horário.
Não tive tempo de responder mais, pois ela desligou não me deixando
alternativas.
Que porra! O que diabos Beatrice queria tão tarde e fora do loft?
—Tudo bem. Que Deus te proteja, meu rapaz, seja lá no que esteja
envolvido.
Desci do outro lado da avenida e busquei por sinal dela. Mal tinha
movimento, já que o shopping estava fechado e poucas pessoas ainda
estavam indo para casa.
Até que vi uma limusine parar ao meu lado. Nada discreta, luxuosa,
branca e que eu nunca tinha visto pessoalmente.
Dei um passo para trás, assustado com o exagero, mas então o vidro
desceu e ela estava sentada do lado de dentro com uma taça na mão.
Abri a boca quando a vi. Era como se ela tivesse o poder de arrancar o ar
dos meus pulmões.
Seu corpo estava sendo abraçado por um vestido preto com detalhes,
destacando ainda mais suas curvas e beleza. O batom contornava os lábios
carnudos, a maquiagem a deixava ainda mais sensual e fatal.
— Nós não vamos a lugar algum, eu vou. Bem, só depois que eu tiver o
que preciso.
E sem mais, ela me puxou para um beijo, subindo no meu colo sem
cerimônias.
Voltei para encará-la, semicerrando o olhar para seu estado. Ainda não a
tinha visto assim, tão estressada.
Era isso.
Sexo. Afinal, o que eu estava achando que ela queria comigo além disso?
Como fiquei paralisado, sem ter como reagir, ela tomou a frente e voltou
a montar em mim, levantando o vestido na altura da cintura, sem qualquer
calcinha.
Ela está indo para uma festa sem nada por debaixo do vestido?
Só não entendi os motivos disso me afetar tanto. Eu odiava a maneira
como ela mexia com minha cabeça.
Abri a boca no exato instante em que ela abocanhou meu lábio inferior,
mordendo e puxando com fome e desespero. Agarrei sua cintura, fincando
os dedos na pele macia e começando o beijo que foi intensificando à
medida que ela ia rebolando em cima de mim.
Não demorou para minha ereção dar sinal, chegando a doer dentro da
roupa apertada.
— Chupe-os.
A ordem veio seguida de um puxão que ela deu na minha nuca. Envolvi
seu mamilo com a boca, sugando do jeito que eu sabia, fechando os olhos e
me entregando ao que ela estava me oferecendo.
— Quero que olhe para mim. Sempre com os olhos nos meus, gatinho.
Fiz o que ela exigiu, vendo o momento em que ela gemeu descontrolada
dentro do carro, enquanto o motorista nos conduzia pela cidade.
Alternei para o outro seio, mamando excitado, enquanto ela abria minha
calça e libertava meu pau dolorido implorando por ela.
— Eu...
Lutei, tentei pensar em qualquer coisa que não fosse na sua boceta
apertada pressionando meu pau, mas foi em vão. Eu ainda era inexperiente
demais para o que ela precisava, então segundos depois dela pedir que eu
me segurasse, jorrei em jatos quentes dentro dela, estremecendo sob seu
corpo macio e cheiroso.
Ouvi um resmungo saído da sua boca quando ela saltou do meu colo e se
sentou ao meu lado, frustrada e muito irritada, pegando os guardanapos para
se limpar.
— Desculpe, eu...
— Se recomponha, Hugo.
— Beatrice.
O que eu ia falar?
Não era apenas por não ter sido suficiente para agradar da maneira como
ela queria, mas por ter sido chutado e descartado como se não significasse
nada.
Só consegui voltar para casa quando tive certeza que tinha chorado o
suficiente.
— Meu Deus, Hugo. Você está encharcado. Vai acabar pegando uma
pneumonia.
Eu tinha sido usado. Ainda mais do que ela fazia, de uma maneira crua e
descartável, como se eu fosse um objeto. Talvez fosse isso mesmo, afinal,
era um trato exatamente para o uso da Beatrice e seu bel prazer.
— Não tive filhos, minha vida sempre foi solitária, mas desde sempre
admirei você, menino. Tudo o que fez e faz por aqueles garotos, por sua
irmã, para manter esse lar de pé... é surreal que alguém tão jovem passe por
tanta coisa. Por isso estou preocupada, Hugo. Não venha me dizer que é da
chuva, porque chegou com os olhos vermelhos de choro.
— Dulce.
— Agora sente aí, tome o chá que eu estou fazendo e durma. Ficarei aqui
para verificar se seu trabalho com o telhado deu certo, qualquer coisa te
chamo.
Não tinha uma mãe para me dar colo, ou um pai para aconselhar, mas
tinha meus pirralhos e amigos que eram minha força para seguir em frente.
Porque eu não fazia ideia de como me adaptar com tudo o que Beatrice
me causava.
— Titio, você parece triste. — Elena comentou com sua pura inocência.
Dei um beijo em cada um, logo arrastando a cadeira e me juntando a
eles.
Forcei um sorriso para Dulce, devido a maneira que ela usou para
apaziguar e não preocupar os meninos.
— Quero ser criança para sempre. Brincar o tempo inteiro. — Foi a vez
do Igor, que estava mastigando o sanduiche.
— Meu tio é lindo mesmo. Ana gosta dele, mas eu não quero que ele
namore com ela.
Encarei Dulce, que apenas deu de ombros, nada surpresa pelo que ela
tinha escutado.
Porra! Não podia pensar nela, não com os meninos por perto, pois todo
meu humor se esvaía.
Entrei no prédio e optei por subir pelas escadas, dando mais tempo para
pensar e distrair a mente antes de precisar estar relaxado para atender a suas
ordens.
Diabos!
Assim como das outras vezes, abri as portas, deixei o ar fresco entrar e
dei uma olhada na cozinha para ver o que tinha para preparar, caso ela
quisesse comer alguma coisa. Cozinhar me deixava leve, distraído. No
entanto, antes que eu começasse a raciocinar, duas batidas na porta me
dispersaram.
Não tinha como ser ela, a não ser que tivesse esquecido as chaves.
— Ah, que bobagem! Esse loft só é seu enquanto trepa com ela.
— Ainda não consegui entender qual é a sua, cara. Seja mais específico.
Uma onda de gelo atingiu meu estômago, além do ciúme por conhecer
de perto alguém que tivera tanta intimidade com ela.
— Você não faz ideia do que ela é, do que faz com as pessoas, em como
as descarta como se não fossem nada. E pelo que estou vendo, parece que
está permitindo gostar demais dela. Beatrice não merece isso.
— Então por que está aqui? Sinceramente, não consigo entender sua
visita, sendo que é nítido o quanto a odeia.
— Eu precisava ver de perto quem era o da vez, quem estava caindo nas
garras daquela... — o encarei carrancudo, dando o sinal para que ele
tomasse cuidado com as palavras — mulher. Acha que ela gosta de você?
Que vai ser sempre assim?
Menti. Importava muito, pois estava sentindo coisas que não devia, por
mais que soubesse dos riscos.
Apesar de não demonstrar a ele, percebi que tinha razão. Era exatamente
como ela havia me tratado da última vez.
E então ele soltou uma risada, a do tipo que me fez querer socar seu
rosto de galã de novela. Não parecia ser o tipo de homem que Beatrice
gostaria de sair. Parecia um playboy, mauricinho e metido a besta.
— É, você está apaixonado por ela. Cego e burro. E quer saber? Vim
aqui como alguém que passou pelas garras dela.
— Não venha me dizer que está aqui para me aconselhar. Nem nos
conhecemos. Veio para soltar seu veneno, falar mal de alguém que
financiou sua mordomia por um bom tempo e que agora, depois que te
chutou, virou a vilã da história.
Com a calma indo embora, caminhei até a porta e abri, apontando para
que ele fosse embora. Eu não queria brigar, nunca fui disso, mas estava
prestes a despertar a fera dentro de mim.
— Sabe o que ela fez? Colocou uma medida restritiva para que eu não
chegue mais perto dela. Caso eu desobedeça, poderei ser preso. Anote bem
isso na mente antes de cair ainda mais nas garras dela.
— Então vá embora, pois deve saber que ela está chegando a qualquer
momento.
— Avise que tudo isso terá troco, que eu não irei mais permitir ser
humilhado dessa maneira. Vou expor todos os podres dela, e se você tiver
no meio, se prepare, pois não vou poupar ninguém.
Dando meu expediente por encerrado, peguei minhas coisas e saí da sala,
encontrando Virna fazendo suas últimas anotações do dia. Eu tinha um
encontro com Hugo, havia enviado mensagem para que ele me esperasse no
loft, então estava ansiosa para chegar e poder jogar todos os problemas para
o lado de fora.
—Você já pode ir, Virna. Amanhã continua o seu trabalho, só vá pra casa
e descanse. — Falei, sem esperar uma resposta.
Minha secretária sempre foi dedicada e discreta, não foi à toa que a
escolhi depois que tomei posse da cadeira de CEO da Fuller. Além de
cuidar da minha agenda profissional, também cuidava de uma parte da
pessoal, incluindo as burocráticas que não pertenciam ao Moroni resolver.
Não sabia muito sobre sua vida, além dela ser solteira, viver em seu
apartamento com a mãe, ter formação e falar fluentemente vários idiomas.
— Espero que essa distração não seja levada até a cama. — Comentei.
— Está com fome? Trouxe nosso jantar, apesar de estar faminta por
outra coisa.
— Não. Prefiro que comecemos logo o que viemos fazer aqui. Sem
rodeios, de preferências.
Fiquei surpresa, tinha de confessar. Ele estava estranho demais e isso não
me agradou. Principalmente quando ele deu as costas e caminhou para a
sala, onde mexeu na encomenda que eu havia trazido.
— Não gostei desse tom. Não esqueça de quem está no comando por
aqui.
Agarrei seu braço e o fiz virar de frente para mim, notando também sua
aparência abatida.
— Você está aqui para fazer o que eu desejar que faça, começando por
me contar o que diabos aconteceu para que esteja amargo como um
garotinho birrento.
— Que tipo de coisa? Uma pessoa magoada por ter sido usada e
descartada quando não foi boa o suficiente pra você?
— Esqueça isso por pelo menos uma maldita noite! — Ralhou irritado
—Sou um homem, porra! Alguém que tem sentimentos e que não consegue
manter o coração fechado como o seu.
— Já admiti que errei, peço desculpas por isso, mas está aqui para me
manter satisfeita. Não esqueça que isso entre nós dois custa muito caro.
Toquei seu rosto e acariciei devagar, sentindo a pele quente sobre meus
dedos. Cedendo, ele pôs a sua mão sobre a minha, devolvendo o carinho.
— Por que eu sinto que você vai ser minha ruína? — Indagou.
Hugo fixou o olhar no meu, numa intensidade que corroeu por minha
espinha e causando um rebuliço no meu estômago.
Eu adorava sua ingenuidade, a mente que não era em nada parecida com
a minha.
— Que você pode descontar toda sua raiva e mágoa em cima de mim, e
quando digo isso é na cama, com um sexo bruto que vai me deixar
vermelha e com a pele ardendo.
— Beatrice.
— Aqui somos nós dois, Hugo, ninguém mais. Se solte, deixe a fera sair
de dentro de você, faça o que quiser comigo.
Com um curto passo ele diminuiu ainda mais a distância, que já era de
centímetros. Sem me tocar com as mãos, o cheiro gostoso e sua respiração
já me excitavam de uma maneira descomunal.
— Quero que me foda com força, que se enterre fundo dentro de mim
depois de espancar minha bunda.
Levei a mão até seu pau, ereto sob a calça, massageando devagar.
Sorri mordiscando o lábio inferior, tão excitada que estava ficando tonta.
Precisou de mais duas tentativas para que ele obtivesse êxito, atirando do
outro lado da sala.
Ouvi seu resmungo, a mão subindo para meus ombros à medida que a
outra ainda apertava meu quadril.
Eu amava comandar, ser a dona da relação, mas nada era mais excitante
do que ser pressionada contra uma parede, levar tapas, ser sufocada no sexo
e chamada por nomes que eu jamais permitiria ouvir fora do quarto.
Rocei mais uma vez na sua ereção, tão dura e firme que já devia estar
prestes a explodir dentro da cueca.
Hugo começou a chupar minha pele, todo o caminho pela nuca, pescoço
e costas, cravando os dentes vez ou outra, me deixando loucamente
entorpecida ao modo que seus dedos apertavam ainda mais, impedindo
minha respiração.
Choraminguei quando ele soltou meu quadril, por um breve instante.
Abri a boca para reclamar, porém, o que veio em seguida, me levou do céu
ao inferno.
— Sim.
— Talvez não seja tão ingênuo assim, pois as coisas que estão se
passando na minha mente, são tudo, menos inocentes.
Eu já ficava louca com a versão doce e tímida dele, mas essa selvagem
se soltando aos poucos, me deixava desorientada.
Não consegui responder. Notando que o aperto estava firme demais, ele
afrouxou, beijando onde a mão estava segundos antes.
E, mais uma vez, sem que eu esperasse, outro tapa ecoou entre nós dois,
ainda mais forte do que o primeiro.
Eu ficaria marcada.
Hugo não era o primeiro a fazer isso comigo. Estava habituada com o
sexo mais intenso, só que, com ele, o gosto era mais especial.
Depois outro.
E outro.
Hugo começou a descer por minhas costas, beijando todo o caminho até
parar sobre minha bunda, onde ardia com o contato.
A língua passou por onde, com toda certeza, estava vermelho e com
marcas da sua mão.
Girei para ficar de frente para ele, que estava ajoelhado me encarando
com os olhos fervilhando de desejo.
— E se eu não quiser?
Uau! Ele estava realmente entrando no jogo. Isso me deixou ainda mais
excitada.
Levei a mão até seu rosto, acariciando e passando os dedos por seus
lábios lindos.
— É, isso eu mereço bem mais do que você. Por que não se ajoelha,
então?
Não esperei um segundo pedido quando caí aos seus pés, a boca quase
encostando na sua protuberância por debaixo da calça.
Assisti ansiosa quando ele abriu o zíper e se livrou da peça, seguida pela
cueca preta que foi parar ao meu lado. A ereção saltou na minha cara, tão
dura que eu conseguia ver as veias saltadas. A cabeça estava melada com o
pré-gozo.
Sem nunca tirar os olhos dos dele, deixei que ele tivesse o controle, indo
e vindo gemendo e apertando os lábios enquanto eu sabia que logo ele ia
despejar tudo dentro de mim.
O jato de gozo atingiu o fundo da minha garganta; mas não parou nela.
Hugo retirou o pau da minha boca e continuou a gozar por meu rosto, a
porra escorrendo pelo meu queixo, pescoço e parando entre os seios.
Observei sua reação depois do ápice. Era como se ele tivesse acabado de
despertar de uma alucinação erótica.
Sorri, maliciosamente, passando o dedo por parte do gozo no meu
queixo e trouxe até a boca, gostando de vê-lo perdido e o Hugo real e cru
voltando a realidade.
Ele se abaixou e caiu sobre mim, esmagando meu corpo com o seu
quando nos deitamos no meio da sala, minhas pernas se abrindo para que
ele se encaixasse entre elas.
Fui tomada por um beijo tão intenso, faminto e desvairado, que agarrei
sua nuca, apertando com as mãos firmes enquanto ele me consumia
ensandecido.
Nunca havia sequer levantado a mão para meus sobrinhos, mas em uma
ocasião diferente, eu tinha deixado marcas por toda a bunda da Beatrice,
assim como ela pediu, numa cena altamente erótica.
O sol já havia dado sinal através das brechas da cortina do quarto dela.
Seu corpo estava com a metade descoberto, assim, exibindo a bunda
carnuda e avermelhada. Ela estava esparramada no colchão depois de uma
noite intensa que tivemos, porém, como sempre fazia, me mandava de volta
para o sofá para que dormíssemos separados.
Eu não entendia, muito menos gostava, mas não tinha direito algum de
reclamar sobre isso.
Seu sorriso se abriu quando ela me notou com a bandeja na mão, logo se
sentando e puxando o lençol contra si.
— Gosto de alimentá-la.
— Deus, Hugo, você me deixou muito dolorida. Minha pele está ardendo
em chamas.
— Nada que uma roupa mais comportada não cubra. Não me peça
desculpas por algo que pedi que fizesse.
Algo dentro de mim gostava de saber que ela sempre perguntava por
eles, em qualquer oportunidade que surgia, por mais que deixasse claro que
não se importava com nada no quesito além do nosso envolvimento sexual.
— Não faço ideia de quem seja esse homem, só fiquei assustado com a
raiva que ele estava sentindo, e por ter facilidade de te encontrar vulnerável.
— Sim, fiz, ao que me parece ele está pouco se fodendo pra essa merda.
Fiquei parado apenas observando Beatrice andar de um lado para o outro
digitando algo no aparelho celular, os dedos rápidos e nervosos.
— Ele pode tentar algo contra você. Estava com muito ódio,
inconformado demais para deixar tudo isso passar.
Não. Eu tinha uma diferença gritante: duas crianças para cuidar, uma
irmã viciada, uma casa... tantas coisas que deixariam Beatrice para
escanteio.
Fiquei tão absorto com tudo que nem mesmo percebi que ela estava
parada me observando, só notei quando sua voz ecoou.
— Não estou habituado com isso tudo. Você parece devastar as pessoas
ao seu redor e eu não estou a fim de ser o próximo.
Apertei sua cintura, trazendo-a mais para perto, fazendo com que
Beatrice sentisse minha ereção já desperta por ela.
— Quer dizer que não teria coragem de me assumir para os outros, caso
nossa realidade fosse diferente?
— Eu não tenho relacionamentos, gatinho. Apenas pago pra foder.
— Por quê?
— Não perca seu tempo. Não vai servir para mudar isso daqui entre nós.
E me beijou, sem me dar chances para uma resposta. Não que eu tivesse
uma de imediato, mas estava tentando arrancar a casca dela, tirar essa
máscara que ela colocava para se proteger de sentimentos.
Desde que passei a tomar conta no lugar do meu pai, tudo evoluía ainda
mais. Os resultados eram sempre positivos. O que me deixava orgulhosa do
meu trabalho no final do dia.
Seria bom respirar novos ares, além de ajudar com os negócios, eu poderia
descansar, me divertir um pouco, fugir de todos os problemas que tinham ao
meu redor.
— Quer saber, Virna? Avise que meu quarto será para dois hóspedes.
Só esperava que Hugo não dificultasse as coisas para mim, pois eu tinha
ótimos planos para o nosso final de semana.
Capítulo 20
Eu não esquecia nada do que tinha acontecido durante os dois dias que
passei com Beatrice no loft. Desde o sexo, a sua entrega e os momentos em
que ela se recusava a deixar as barreiras de lado. Isso só me instigava a
querer saber ainda mais sobre a sua vida. Por isso, quando deixei os
meninos na escola e voltei para casa, não resisti a tentação e busquei pelo
seu nome na internet.
Beatrice Campello.
Ela era dona da Fuller Beauty, uma das empresas de cosméticos mais
famosas do país. Fiquei surpreso com a informação. Sabia que ela era
absurdamente rica, pelo loft, o carro, a elegância e todo o conjunto que a
acompanhava, mas não esperava que fosse tanto assim. Isso me deixou
assustado.
Vasculhei por suas fotos, cada uma mais bonita do que a outra, mesmo
que na maioria ela estivesse sempre séria, daquele jeito que fica quando está
fechada no seu mundo. Ninguém tinha acesso sobre a sua vida pessoal, nem
mesmo na internet, pois não existia qualquer menção sobre
relacionamentos, nem fotos dela acompanhada por outros homens ou
mesmo com a família.
Ela parecia sempre solitária, por mais que possuísse uma vida rodeada de
empregados e pessoas que a bajulariam para ter a chance de conseguir algo
na vida.
Acabei voltando para as fotos dela e baixei uma. Ela estava em uma festa
de gala, usando um vestido vermelho que se ajustava perfeitamente no
corpo dela. Linda, exuberante e surreal... eu conhecia cada detalhe e
centímetro de pele, o que me deixava ainda mais interessado.
Isso nunca acabaria bem, no entanto, eu teria que erguer a cabeça e fazer
tudo o que ela estava disposta a pedir e oferecer de volta, já que a vida dos
meus sobrinhos tinha melhorado bastante desde que aceitei o acordo.
Por que ela estava mandando o homem até minha casa tão cedo?
Sua voz estava rouca, como na maioria das vezes, por conta de todo tipo
de droga que consumia.
— Eu não vou à lugar algum! Podem ir embora, estou muito bem assim.
Apertei o maxilar, irritado por ela ter ajuda. Precisei engolir em seco
antes de continuar.
— Minha irmã, por favor, só tente. Pelos meninos, por você... para que
saia desse caos. Isso não é vida.
— Já falei inúmeras vezes que estou bem assim, não preciso de ajuda.
— Tem certeza disso? Pense em tudo o que já fez, no que pegou de casa,
no desespero ao ponto de levar a tv das crianças. Olhe seu estado!
Logo ouvi a van parando onde estávamos e mais dois saírem do interior
e irem ajudar os colegas, que tinham dificuldade em conter minha irmã.
Ouvir e ver seu ódio direcionado a mim me magoou, mas relevei por
causa do seu estado caótico.
Assim que a van virou a esquina e pegou seu caminho, eu fiz o mesmo,
voltando para minha casa enquanto sabia que estava sendo acompanhado
pelo advogado. Ignorei os olhares e abri a porta, indo em direção ao sofá e
me jogando sobre ele, abaixando a cabeça desnorteado, deixando de vez
que o choro saísse.
Não sabia que seria tão difícil ver minha irmã sendo levada daquela
forma, assim mesmo eu tinha que estar feliz. Seria uma preocupação a
menos.
Senti uma mão pousar sobre meu ombro antes de notar a pessoa se sentar
ao meu lado.
— Sinto muito, meu rapaz. Não deve ser fácil ter que passar por isso
sendo tão jovem.
— Não tem que me dar satisfações, estou aqui pelo trabalho e por ser um
grande amigo dela. Beatrice confia em mim, e isso não são todos que tem o
privilégio.
— Nunca serei grato o suficiente por tudo o que ela está fazendo por
mim.
—Seja solícito e não tente invadir demais, ela costuma ser fechada
quando se trata da vida pessoal. E, por favor, tente não se apaixonar
também.
Eu não queria me apaixonar por ela, pois tinha consciência dos riscos
que isso traria para o meu coração.
Olhei para Ana, que estava com os braços cruzados sobre o peito me
observando.
— Pode falar, Ana.
Não era como se eu não soubesse os motivos que a levaram a vir atrás de
mim de novo, mas imaginei que sua chateação duraria mais. Não estava
com cabeça para discutir novamente com ela. Gostava da Ana, era
incômodo ficar sem nos falarmos.
— Desculpe, eu só odeio saber que perdeu sua essência por causa disso.
— Tem sido difícil desde que brigamos. Sinto falta de te ver com mais
frequência, de pensar que um dia cederia e perceberia o quanto é especial
para mim.
— Ele não deixa de ter razão. Não agiria diferente se estivesse no lugar
dele.
— Você gosta dela?
— Hugo, eu...
Soltei outra risada, dessa vez direcionada a Igor que também mostrava a
sua. Não por comportamento, mas pelas notas.
— Mas fala aí, foi ela mesmo que conseguiu a internação da Helô?
Era bom desabafar, contar um pouco da minha vida ao meu amigo, ouvir
e saber que ele era alguém que entendia minha situação. Afinal, Fabiano
teve seu tempo com sugar mommy também.
— Fico aliviado por você, Hugo. Vejo o quanto se preocupa com sua
irmã, e eu, no seu lugar, não pensaria duas vezes.
—É difícil conseguir levar numa boa, evitar certos sentimentos, mas
estou indo bem. Eu acho.
Elena correu até nós dois e pulou no colo dele, deixando beijos
carinhosos na bochecha do homem que apenas sorria. Meus sobrinhos
pareciam amar mais o Fabiano do que a Ana, que sempre cuidou deles.
— Titio, hoje tem pizza? Sabe que amo as pizzas do tio Fabi.
Fazia meses que eu não comprava pizza para os meninos, uma vez não
faria mal substituir o jantar. Os dois mereciam, e eu também.
Uma viagem.
Saber que sua irmã tinha sido levada para a clínica onde iniciaria o
tratamento, me deixou tranquila, já que seria uma preocupação a menos
para ele, além de ser algo que faria com que Hugo não recusasse mais
minhas propostas. Tanto que nem mesmo demorou a confirmar a presença
no meu final de semana.
Organizei minhas coisas em duas malas. Uma com roupas sociais, outras
mais leves e biquínis, já que estava indo para um lugar ensolarado e com
belas praias. Aproveitei e pedi que Virna comprasse roupas de banho para
meu acompanhante, além de dois pares de roupas mais arrumadas.
Assim que recebi a bebida tomei um gole e olhei para o lado de fora
vendo um carro ser estacionado ao lado. Era o motorista que eu pagava para
que levasse e trouxesse Hugo sempre que precisasse.
— Não sabe o quanto estou animada por você fazer esse passeio ao meu
lado.
— É normal para empresários como meu pai e tantos outros, pois facilita
nossa vida.
Bebi mais um pouco e foquei atenta nele, que estava nervoso batendo os
dedos no tampo da mesa.
Ergui a taça e sorri, sentindo algo mexer com meu estômago ao ver sua
expressão.
Entrei acompanhada pelos dois, mas foi Hugo que ficou ao meu lado
enquanto Virna foi resolver a parte burocrática da nossa hospedagem. Não
demorou, logo ela apareceu com o cartão de acesso do quarto e seguimos
para o elevador.
— Estou satisfeita por ter vindo comigo. Não imagina o quanto isso é
maçante sem companhia.
— Posso te esperar?
Em seguida foi a calcinha, que ele acabou pegando no ar, a pequena peça
de renda.
Virei-me de costas, ainda sendo capaz de sentir seus olhos sobre meu
corpo despido e entrei no banheiro com um sorriso provocante e cheia de
excitação correndo pelas veias.
Liguei o chuveiro e deixei a água fria descer pelo meu corpo. Era
relaxante, revigorante. E não demorou para que Hugo entrasse também, se
livrando das peças de roupa do lado de fora do box.
E quando ele entrou, me vendo nua e molhada, seu pau já estava de pé,
firme e com as veias inchadas. Pronto para mim. Só que eu estava disposta
a torturá-lo.
— Por que não se masturba pra mim, Hugo? Eu adoraria ver você
batendo uma enquanto me observa.
— Beatrice, eu...
Seu rosto em chamas era o que mais me atraía.
— Nunca fez isso na frente de ninguém, eu imagino, por isso que é ainda
mais atraente do que pode imaginar. Sou privilegiada então.
Passei a mão pelo pescoço, seios, barriga, abrindo as pernas para dar
acesso a boceta molhada não apenas pela água... ele estava pegando fogo.
Eu sentia.
— Gosta que eu te chupe? Que minha boca te foda e te faça gozar dentro
dela?
Eu amava comandar, fazer com que implorassem por mim, que ficassem
sempre submissos, no entanto, era prazeroso reverter a situação, ser
dominada, permitir ser levada e usada. Era o que eu queria que Hugo
fizesse comigo.
Sem tirar os olhos dos meus, ele continuou segurando meus seios e
pressionando a ereção enquanto beliscava meus mamilos acesos.
Apertei seu quadril com as unhas, dando livre arbítrio para que ele
fizesse o que queria.
Fui puxada para cima, sem cerimônias, sendo tomada para outro beijo
arrebatado enquanto ele me arrastava para o lado de fora do box.
— Vai ser um inferno ficar aqui e imaginar o que fizemos mais cedo.
Senti o zíper ser fechado e virei para ele, vendo a brasa ferver em seus
olhos.
O sexo era incrível, a maneira como ela conduzia tudo e como tinha o
poder de me seduzir e me fazer querer sempre mais. O problema era eu
ficar mexido, não parar de pensar nela e até mesmo adorar o seu sorriso e a
forma como ficava quando não está na defensiva.
Cada coisa que eu via, inclusive o belo mar com a água gelada, me fazia
lembrar dos meus meninos, em como eu queria que eles estivessem comigo,
aproveitando e se divertindo com a pura inocência que ambos tinham.
Entretanto, não tinha que ser assim, mas um dia, quando eu pudesse fazer
tudo isso sem Beatrice no meio, sem trazê-los para o caos onde eu tinha me
enfiado.
Só voltei quando percebi que já estava muito quente, e minha pele tinha
começado a ficar bronzeada demais. Voltei da mesma maneira, caminhando
e observando tudo ao redor.
Assim que cheguei fui direto para o quarto, louco para tomar um banho e
descansar um pouco antes de pesquisar sobre os locais mais próximos que
eu poderia conhecer mais tarde quando Beatrice fosse para o jantar de gala.
Porém, não tive tempo de sequer entrar no banheiro, pois duas batidas na
porta me fizeram ir atender.
Era uma camareira que estava empurrando o carrinho de comida. Sorri,
dando passagem para ela, que se prontificou de deixar tudo arrumado sobre
a mesa antes de ir e me deixar sozinho novamente.
Beatrice estava sentada nos meus quadris, linda e sexy, ainda usando a
mesma roupa que estava mais cedo e um sorriso que, com toda certeza, era
minha perdição.
— Essa pele bronzeada me diz muito sobre o seu passeio. Ai, gatinho,
você está ainda mais bonito.
Ela sorriu de uma maneira linda e leve, inclinando a cabeça para trás.
Afastei do contato e levantei-me da cama para pegar o que eu tinha
comprado para ela.
— Padre Cícero?
— Espero que coloque no seu carro. Você sempre anda para todos os
lugares sem seguranças, sendo uma pessoa importante que é, corre riscos e
isso me apavora.
Beatrice tinha que andar protegida, nunca assim como fazia. Era um alvo
fácil para pessoas com má índole.
— Todos nós estamos sujeitos aos perigos, não sou a única. E eu nunca
gostei de ter alguém seguindo meus passos, além do mais, meu carro é
blindado, o prédio que moro é seguro e as pessoas conhecem mais meu
nome, do que meu rosto em si.
Eu estava ficando louco por ela, ainda mais quando ficava assim, sem se
proteger das pessoas ao redor.
— Não se preocupe, lindinho. Ele nada mais é do que uma maldita pedra
no meu sapato.
Não consegui controlar a língua, dessa vez falando mais do que devia.
Subi na cama e fui ao encontro dela, tomando seus lábios com os meus e
caindo por cima do seu corpo quente, um que me atraia, enfeitiçava e
bagunçava meu mundo inteiro.
Em meio a carícias, troca de beijos e toques, me perdi na sua pele, o
cheiro e o gosto que tanto me deixava apaixonado.
Perdido no momento, fui interrompido por ela, que apoiou as mãos sobre
meus ombros e me encarou com os olhos negros e intensos.
— Pra onde?
Meu coração bateu mais forte do que uma bateria de escola de samba e
sorri, feito um tolo, como se isso significasse mais do que eu estava
imaginando.
Era pelo sexo, a maneira como ele reagia quando estávamos juntos, nada
além disso. Eu sabia frear quando a coisa estava ficando séria, e faria isso
no momento certo.
A única parte ruim nisso tudo era que eu não estava disposta a terminar o
contrato com Hugo pelos próximos meses. Não estava, nem de longe,
saciada. Queria mais, era como se eu não me cansasse da sua maneira de
agir e me tratar.
Algo dentro de mim queria mostrar que ele não era igual aos demais.
Impressionantemente, ele estava ainda mais lindo. O terno encaixou
perfeitamente bem no seu corpo. Tanto que desejei continuar com o que
estávamos fazendo antes da minha secretária avisar que faltava pouco para
sairmos.
Desviei o olhar e dei uma última conferida no meu visual. Estava com
um vestido longo, a fenda aberta do lado direito e um decote generoso. O
cabelo estava preso de lado, em um penteado elegante que eu mesma havia
feito. Passei o batom vinho e espirrei o perfume que Hugo sempre elogiava.
— Você está linda demais, Beatrice. — Comentou com o olhar atento em
mim.
Fiquei satisfeita e puxei Hugo conosco até onde o carro estava do lado
de fora.
Cavalheiro como era, Hugo mandou que fôssemos atrás e, como da outra
vez, se sentou ao lado do motorista. A festa seria em um clube na praia
vizinha, onde nos reuniríamos com um seleto grupo de empresários.
Bebida, jantar e possíveis contatos.
Não demoramos a chegar. Um garoto bem-vestido se prontificou a abrir
a porta do carro e nos ajudar a descer. O cumprimentei e dei uma gorjeta,
logo indo em direção a entrada.
Hugo ficou ao meu lado, assim como Virna. O local estava lotado de
uma maneira que eu não gostava. Participava de vários eventos, mas ter que
frequentar quando estava cheio demais eu arrumava desculpas para ir
embora cedo. E era o que eu provavelmente faria essa noite.
Lancei um sorriso para Hugo, pois ele estava deslocado. Não bebia,
estava apenas pegando um coquetel sem álcool e mexia no celular trocando
mensagens com a vizinha sobre os sobrinhos. Era a parte que eu mais
admirava na personalidade dele, a maneira como era paternal.
— Que você é incrível, eu já sabia. Não foi uma surpresa, por mais que
eu não seja um bom entendedor desse meio.
Sem jeito, ele olhou para os lados para ter certeza de que ninguém tinha
escutado. Como se eu fosse louca o suficiente para deixar os outros
saberem.
— Eu não sei dançar. Acho que o máximo que faço é quando Elena me
faz rodopiar com ela na sala quando está vendo os filmes de princesa.
E com isso caminhei com ele ao meu lado, segurando sua mão e indo até
onde várias pessoas estavam.
Envolvi meus braços em seus ombros; ele agarrou minha cintura. E
começamos a dançar, devagar, um preso no olhar do outro. A partir daí não
vi mais nada ao redor, era como se estivéssemos sozinhos.
O corpo em chamas.
Ah, Virna!
Isso encheu meu coração. Não eram muitas pessoas que gostavam de
mim, a maioria me aturava. Tinha conhecimento que eu não era a melhor e
mais solícita pessoa, também não sabia me enturmar, acabava me isolando e
ficando sozinha. Ouvir que alguém gostava de mim, agradava meu orgulho.
— Nunca vou saber agradecer por tudo o que faz por mim, pela minha
irmã e os meninos.
Me perdi com seu aperto na minha cintura, no cheiro que exalava dele, o
contato dos olhos... tudo me deixava inebriada.
— E é exibida.
— Fiz aulas para aprender, já que gosto do mar, de passear sozinha, ficar
longe da vida real. Não é à toa que moro de frente para a praia.
Sua mordida no lábio inferior foi suficiente para que eu obtivesse minha
resposta.
Eu amava esse lado dela mais solto, sem aquela carcaça de durona.
Virei para olhar o mar escuro à frente. O que víamos era o pouco que a
lua iluminava. A cidade estava ficando um pouco para trás, mas era
possível ouvir um pouco do barulho que as pessoas emitiam.
Eu já estava duro dentro da cueca. Era o efeito que ela causava em mim.
Bastava sentir seu cheiro ou apenas me aproximar, para que tudo
esquentasse no meu corpo.
Era impossível não se sentir atraído por uma mulher como ela.
Totalmente compreensível tantos homens a admirarem, entretanto, meu lado
possessivo odiava isso, mesmo que ela jamais fosse ser minha de verdade.
— Vou beijar seu corpo inteiro, minha coisa linda, cada centímetro dele,
contemplar da maneira como merece.
Foi a deixa que precisei para voltar a beijá-la, dessa vez, mais forte, com
línguas e dentes, bruto e sexual. Meu pau doía dentro da cueca.
Desci por seu pescoço, mordendo levemente, deixando rastros por sua
pele enquanto caminhava a boca até os seios.
Soltei suas mãos e retirei o vestido que estava amontoado nos quadris.
Puxei a calcinha também, a deixando completamente despida, deitada e se
exibindo para mim como uma verdadeira obra de arte.
Delicada e instigante.
Beijei sua barriga, cintura, virilha, coxas, pés... um de cada vez, devagar,
curtindo o momento e suas reações. Até minha boca ir de encontro com a
boceta que estava inundada. O grelo duro demonstrava o quanto ela estava
realmente excitada.
Meus olhos mergulharam nos dela, assim como minha língua estava
fazendo na sua entrada deliciosa, onde eu saboreava como uma sobremesa
saborosa e viciante.
Com isso voltei para a boceta novamente, ouvindo o aviso de que ela
estava chegando ao ápice.
Engatinhei para cima, deixando que ela abrisse o zíper da minha calça e
libertasse meu pau sem ao menos esperar que eu tirasse a roupa
completamente.
Minha camisa foi arrancada, fazendo com que alguns botões pulassem
longe.
Guiei meu pau até ela, mergulhando fundo, estocando devagar à medida
que minha boca ia de encontro com a sua.
Foi bem ali, meu corpo contra o dela, o vai e vem dos movimentos, a
intensidade em que nos encarávamos, que me vi loucamente apaixonado.
***
— Farei isso. É algo que estava nos meus planos, porém longe da
realidade.
Fui pego de surpresa com sua pergunta. Nunca tinha parado para pensar
nisso, não era como se eu tivesse como pensar em mim quando eu tinha
duas crianças para me preocupar. Era o futuro delas que me importava.
— Devo confessar que nunca fiz esse tipo de planos. Quando criança
queria jogar futebol, depois parei de pensar em mim.
— Não tem algo que se identifique? Algo que seja muito bom e que
possa usar como uma carreira?
— Não sabemos o que pode acontecer, mas a certeza é de que isso aqui,
entre nós dois, é apenas um contrato.
— O problema sou eu, Hugo. Pode ter certeza de uma coisa, sou incapaz
de ser alguém que mereça na sua vida.
Assim mesmo, eu não me senti culpado, já que era algo que saia
naturalmente.
— Não quero que fuja de mim assim. Prefiro que seja sincera. Isso não
combina com você.
— Está indo longe demais. Pare com isso, não me faça cancelar nosso
trato.
Me embebedei do seu beijo, ali na cozinha, pele contra pele, pronto para
tomá-la novamente.
Ao notar minha presença, ele sorriu, vindo ao meu encontro para deixar
o beijo casto e suave, bem diferente do que tivemos durante a madrugada.
— Será que pegaria mal ficar uma semana nesse barco esquecendo que
eu tenho trabalho e você duas crianças para criar?
Gargalhei com seu nítido ciúme. Ele era apegado demais aos pestinhas,
amava como filhos. Era lindo de acompanhar.
— Ela deve cuidar muito bem deles, e que bom que você tem pessoas
que o ajudam.
— É, tenho sim.
—Você ainda acha que foi uma boa aceitar nosso trato?
E lá estavam as bochechas coradas que eu tanto amava. Ele era uma fera
quando estávamos transando, mas fora da cama Hugo ficava tímido, como
se não conseguisse falar sobre sexo sem ficar sem jeito.
Apaixonado.
Meu dinheiro era capaz de comprar muitas coisas que eu quisesse, mas
infelizmente, ainda não tinha sido suficiente para parar o tempo.
O olhar que eu estava recebendo do meu irmão não era nada agradável.
— Ora, se está com essa pressa é porque os resultados são positivos para
mim. O que aconteceu?
O tal Loretti devia ser amigo do meu irmão, pois era bem jovem, sem a
marra e confiança que Moroni tinha, provavelmente não queria nem mesmo
lutar por eles. Eu insistiria, nem que perdesse tudo no final, jamais daria o
braço a torcer.
— Ah, Beatrice! Essa ceninha não combina com você. Sem rodeios,
porque sabe bem do que eu estou falando.
Troquei um olhar com Moroni, que deu de ombros tão surpreso quanto
eu.
— Pois é, eu sei. Assim como eu sei também que tem um caso com um
pobretão que te fode em troca de dinheiro.
— Dê o fora daqui!
O homem não teve alternativas a não ser ceder, nos deixando sozinhos.
— Olha bem pra mim, seu moribundo. Acha que eu vou cair em
chantagem vinda de você?
— Não me importo. Você tem duas escolhas: faz o que eu sugeri ou sua
vida vai ser exposta para a sociedade que você tanto finge ser perfeita.
— Aí que você mostra que não me conhece tão bem. Quem gostava de
passar uma imagem de quem nunca foi era o nosso pai e essa dondoca que
está ao seu lado enchendo sua cabeça oca de bobagens. Eu mesma não dou
a mínima se vão falar de mim, já que sou a única que paga minhas contas.
Não era mentira, eu realmente não ligava. O problema era Hugo ser
exposto, as pessoas saberem o que ele fazia em troca de dinheiro. Isso sim
estava me deixando apavorada.
E sim, no fundo eu sabia que seria julgada por sair com um cara bem
mais novo, um que tinha idade para ser meu filho. Era sempre mais difícil
para a mulher.
— Então não vai se incomodar se eu abrir a caixa de pandora dele, não
é? Sinceramente, Beatrice, você tem uns gostos bem peculiares para
homens.
— Um que, por final, poderia ser o filho que você não teve. Que doentio,
querida.
Dei a volta pela mesa e parei de frente ao Benício, apoiando as mãos nos
braços da cadeira, abaixando para quase encostar meu nariz no dele.
— Minha resposta é não. Não vou cair no seu joguinho sujo, seja lá o
que esteja tramando. E tem mais, caso eu saiba que andou importunando o
Hugo ou qualquer pessoa da família dele, vou dar um jeito de te jogar atrás
das grades ao ponto de sua querida mãe não conseguir te tirar de lá nem
mesmo se ela vender a alma para o diabo.
Agarrei seu rosto, apertando com força de uma maneira que o fez
arregalar os olhos.
— Você ainda não me conhece, Benício, mas vou te dar um spoiler:
tenho o sangue ruim do nosso pai, então espere qualquer coisa de mim.
Com isso saiu batendo a porta, logo sendo acompanhado pela Magda,
que estava furiosa também.
Eu sabia que tinha que ceder, abrir mão pelo silêncio e manter a vida do
Hugo tranquila longe da atenção daqueles dois. Mas conhecendo minha
mãe e meu irmão, se eles quisessem me infernizar, fariam isso mesmo com
a fortuna nas mãos.
Peguei o primeiro objeto que vi pela frente e atirei contra a parede. Nem
isso amansou a fera que estava entranhada na minha pele.
Tentei pensar em todas as pessoas que sabiam sobre mim, o site, tanta
informação ao ponto de chegar em uma parte tão privada da minha vida.
Tinha que ser ele. A raiva, a ameaça, o ódio que sentia de mim por não
ter reatado nosso envolvimento.
— Faz sentido. Ainda assim não entendo como ele sabe sobre a irmã do
Hugo.
— Vou acabar com a raça desse desgraçado, nem que para isso eu faça
com minhas próprias mãos.
Levantei meu olhar na sua direção, chocada com o que ele havia falado.
Hugo nem mesmo sabia do meu aniversário, nem diria nada. Ficaria
sozinha com uma garrafa de vinho ao lado, apenas apreciando minha própria
companhia.
— Só não esqueça do que sua mãe e Benício sabem, que tudo pode piorar
com sua vida amorosa não sendo mais tão oculta. Aquele rapaz não merece
sua bagunça.
— Que deem o jeito deles, pois vão arrancar uma grande quantia por mês
para ajudar na recuperação dela. Não escolhi a melhor à toa.
— Essa bagunça pode vir a ser um problema pra vocês, Beatrice. Magda e
Benício já sabem, para outros saberem não está longe demais.
— Se você vasculhar um pouco mais vai descobrir que é apenas sobre isso.
Meus dois familiares são um belo exemplo disso.
Inferno! Alguma coisa tinha acontecido para que ele estivesse desesperado
assim.
Depois disso, seria o fim. Até que meu irmão e minha mãe me deixassem
em paz.
Eu nem sabia o que dizer, só que meu coração tinha aprovado o gesto.
Algo que ninguém, em todos meus anos de vida, havia feito para mim. Era
cafona, mas ainda assim lindo.
Olhei para ele, que estava com um sorriso estampando ainda mais a beleza
rústica.
— Quando soube que ficaria sozinha, não pude deixar de preparar tudo
isso, apenas para que eu pudesse ser sua companhia.
— Não vamos falar sobre isso. Não hoje, pelo menos. Só aproveite o
jantar, o bolo e tudo o que preparei para sua noite.
Sorri, cedendo mais uma vez. Entraria na brincadeira, era como nossa
despedida, afinal.
— Pra quem nunca foi do tipo de ter relacionamentos, você está me saindo
um romântico.
— Bem, não é tão fácil como nos filmes e nem como vemos na internet,
mas deu para fazer algo decente. Para chegar perto do que merece.
Ergui a mão para tocar seu rosto lindo, onde demorei acariciando. Jamais
esqueceria o que ele significava para mim. Hugo era meu lado bom. Tudo o
que eu jamais seria.
— Isso é além do que estou para merecer. No entanto, estou ansiosa para
que me mostre o que fez de especial.
Sorrindo satisfeito ele se levantou e foi até a cozinha, logo trazendo o prato
com penne e o molho branco. O cheiro estava sensacional também.
— Não é nada como tem costume de comer, além de não ter feito a entrada
e toda aquela pompa que as pessoas te servem, mas o gosto eu posso te
garantir.
Esperei que ele pegasse o dele e se sentasse à minha frente com o seu prato
também. Hugo estava tão empolgado e feliz, que mal sabia ele que, mais
tarde, eu partiria seu coração.
Lá estava o lado romântico novamente. Isso era perigoso demais, por isso
eu tinha que dar o basta mais cedo do que planejava. Isso doía em mim,
porque eu não queria.
Na verdade, eu já era louca por ele. Eu precisava admitir isso pelo menos a
mim mesma.
Fui pega desprevenida com seu comentário, mostrando que Hugo reparava
mais do que demonstrava.
— São tantas coisas, dilemas e medos, que eu só queria que meu mundo
fosse resumindo a isso daqui.
— E não pode? Bem, pelo menos por hoje. É sua noite, Beatrice, uma que
merece ter.
— E o que propõe para o desfecho? Porque você já me alimentou o
suficiente, agora me resta saber o que tem em mente para depois.
— Quero que dance comigo, que lembre dessa música. Ouvi e só lembrei
da gente, da intensidade de tudo que estou sentindo. É do Jão, um cantor
nacional que eu gosto bastante de ouvir de vez em quando.
— A melhor escolha eu fiz quando vi você naquele site, seu rosto lindo e
sua decência quando nos encontramos no restaurante.
Gargalhei, feliz, como há tempos não me sentia, deixando ser levada pela
dança, sacudindo de um lado para o outro com ele.
Seu rosto.
O olhar intenso.
Já era fato que ele havia se tornado o mais especial entre todos eles,
durante toda a minha vida. De homens mais jovens à mais velhos, ninguém
conseguiria superar o que Hugo estava sendo para mim.
Parei o beijo para sorrir, algo natural, exibindo minha intensa felicidade,
por mais momentânea que fosse.
Depois foi a vez do sutiã ser largado de lado, expondo meus seios com os
bicos arrepiados.
— Peça, Beatrice. Diga o que quer, com seus modos nada elegantes
quando estamos na cama, que eu faça com você.
Passei os dedos entre os fios macios dos cabelos negros, excitada demais
para pensar direito.
Minha ordem foi acatada quase que imediatamente, pois Hugo puxou o
tecido, dessa vez obtendo êxito na primeira tentativa, largando de lado o trapo
que havia se tornado minha calcinha.
Precisei morder o lábio para conter a vontade de gritar quando ele lambeu
minha entrada, mergulhando a língua nas dobras encharcadas por causa dele.
Não demoraria para gozar, pois nem mesmo precisava de muito contato
para que Hugo tivesse esse efeito sobre mim.
Em resposta, ele enterrou os dedos dentro de mim, nada gentil dessa vez.
Não seria difícil. Ele já tinha roubado boa parte de mim. Só não precisava
saber.
Rebolei contra sua língua e queixo, os dedos se movimentando dentro de
mim, quase atingindo o ponto exato que me faria desmaiar de excitação.
E vi estrelas.
Contudo, ele foi rápido ao me segurar, me pôr nos braços e levar escada
acima, deitando-me sobre a cama macia que já tinha o cheiro, a marca e cada
lembrança dele.
Desesperada, abri o zíper da sua calça e livrei sua ereção, que saltou dura
entre minhas pernas.
Ele sorriu.
Eu também.
Arqueei as costas, pronta para ter mais dele enquanto nossas bocas
começaram a se devorar, ensandecidas, descontroladas e... apaixonadas.
Assim, nos seus braços, fui tomada por uma onda de prazer e paixão que
nunca havia sentido antes. Fez com que eu me sentisse normal, longe de ser
alguém que pagava por sexo. Apenas uma mulher se entregando ao amado.
Envolvi minhas pernas em sua cintura e apertei, puxando ainda mais para
perto de mim.
Pelo tom que usou, a maneira como estava me encarando, já sabia que
não seria o tipo de conversa que me deixaria feliz. Por isso me sentei na
ponta da cama e esperei, já aflito com o que viria a seguir.
— Não apenas a noite de ontem foi incrível, como todos os dias em que
passamos juntos, pois você encheu de cor minha vida tão corrida e solitária.
Assim mesmo, com tudo o que representou para mim durante essas
semanas, tenho que encerrar por aqui o nosso contrato.
Uma onda de gelo atingiu minha coluna, causando calafrios por todo
meu corpo, seguido por uma sensação angustiante na boca do estômago e
coração.
Abri a boca algumas vezes, fechando logo em seguida, sem consegui
pronunciar uma palavra sequer.
— Não sou um monstro também. Sei que precisa, que merece um pouco
de paz na vida.
— Não, pelo contrário, pois sei que quanto mais longe de mim estiver,
mais feliz será. Não sou uma boa pessoa pra você, Hugo. Nunca serei.
— Pra que possa tentar, é preciso ter a certeza de que o lado de cá está
querendo ceder, mas eu não estou. Não gaste suas energias, Hugo. Apenas
arrume suas coisas e vá embora de vez.
***
Ela nem mesmo quis mais conversar. Apenas jogou toda sua sinceridade
crua e nua, e se foi.
Já sobre Heloise, eu ainda tinha que agradecer por ela manter a ajuda.
Bem, até que ela se recuperasse e, finalmente, meus laços com Beatrice se
rompessem de vez.
Capítulo 27
Meus dias estavam horríveis. O humor do cão, mal me alimentava e
lutava contra a necessidade de ligar para ela e pedir que me desse mais uma
chance. Tolo, idiota e frouxo, era isso que eu tinha me tornado.
A viagem longa, durou uma hora, já que a clínica ficava em uma cidade
ao lado, na área mais aberta e com a natureza ao redor, longe de toda a
confusão que era a cidade grande.
Desci do carro admirando o lugar, que tinha verde por todo lado, o vento
fresco, sons dos pássaros e o cheiro de planta que dava uma calmaria
surreal. Nem por toda a minha vida eu conseguiria colocar Heloise em um
lugar desse com o dinheiro que eu ganhava antes da Beatrice.
Porra! Além disso tudo, eu tinha que ser grato por ela continuar
honrando os pagamentos da clínica onde Heloise estava internada.
Caminhei até ela, sem chamar muita atenção, até ser notado.
Seus olhos escuros me analisaram com cautela, e pude ver as feridas que
estampavam no seu o rosto, oriundas do tempo em que esteve exposta ao
sol, as drogas e a todo sofrimento que ela vivenciava durante anos.
— Às vezes acho que fez isso para se livrar de mim. Sabe, sua vida se
torna mais fácil sem um peso de uma drogada.
— Não te pedi, em momento algum, pra ficar com elas. Sabe que não
tenho amor pelas crianças. Foram um acidente, algo que eu nem queria
seguir em frente. Se você tivesse entregado os dois em um abrigo eles
seriam mais felizes e não teriam a vida miserável que nós dois temos.
— Porque tem esse lado de bom samaritano. Só não esqueça que somos
fodidos, não temos onde cair mortos, é injusto deixar os dois nisso.
— Sim, não está mentindo. Mas não acha que posso mudar essa
realidade? Fazer de tudo para que eles tenham uma vida melhor?
— A que preço está lutando por eles? De onde vem o dinheiro? Essa
clínica não é barata, você sequer tem um emprego fixo.
— Isso não vem ao caso.
— Meu Deus, Hugo. Sinceramente? Vai viver sua vida e esqueça das
responsabilidades que não são suas. Nossa mãe era uma drogada como eu,
nosso pai, um vagabundo qualquer. Vai querer se rebaixar também?
Ela parecia saber no que eu tinha me metido, por mais que eu não fosse
confirmar.
— Tem esperanças de que eu saia bem daqui? Não. Estou melhor sim,
sem as drogas, apenas com a abstinência, noites com pesadelos terríveis e
suores frios, só pensando em dar um fim nisso tudo. Não faz ideia do que
passei durante esses anos. Então, tudo o que está fazendo é em vão. É
momentâneo. Não aguento viver lúcida por muito tempo.
— Não se iluda, Hugo. Você precisa romper esse cordão que nos liga.
Não me importo com você, com as crianças e com nada do que minha vida
miserável tem a oferecer. Só siga em frente.
Eu só queria que ela se tornasse outra pessoa, uma melhor. Por ela, pelos
meninos... por tudo que a vida poderia oferecer se ela ao menos tentasse.
Alguns dias haviam se passado desde o ocorrido. Eu não conseguia
esquecer seu olhar magoado, a insistência, o tanto que ele havia
argumentado para que eu desistisse da decisão. E sim, por pouco ele não
tinha conseguido, pois me deixou destruída ver o que eu estava fazendo
com ele.
Era necessário. Foi o que eu sussurrei para mim mesma durante esses
dias depois do rompimento. Hugo não precisava da loucura da minha vida,
nem da falsa esperança de que poderíamos ficar juntos no final, como uma
história clichê de romance.
Queria que Hugo fosse meu, de mais ninguém, porém, sabia que isso não
era possível. Mundos diferentes, a idade, as pessoas que fariam de tudo para
acabar com a paz de uma família que já passava por tanto.
Doía em mim, mas com toda certeza, estava sendo pior para ele, já que
tudo era novo demais. No entanto, o rompimento era melhor do que pessoas
ambiciosas dispostas a tudo para infernizarem a vida dele e dos sobrinhos.
Temia tanto por Hugo, queria saber como ele estava, se me odiava ao
ponto de achar que eu não me importava com ele.
Soquei o volante várias vezes. Estava tão perdida no meu ódio, que
demorei a perceber que estava sendo seguida por um carro preto com vidros
fumê.
Uma batida.
Por mais que estivesse com raiva dela, todas as noites eu esperava
chegar em casa e ter alguma mensagem no meu celular me convidando para
o loft. O que não aconteceu. Nem mesmo uma ligação. Isso fez com que eu
murchasse, sentisse o coração ser partido aos poucos, como nunca tinha
acontecido. Magoado, tentei seguir minha vida normalmente, apesar de
chegar à noite, na hora de dormir, e só conseguir pensar nela e em como se
entregou a mim naquele barco, em um final de semana que eu quis, mais do
que nunca, que parasse no tempo.
Foi um dos melhores dias que passei com ela. Nós dois, o mar, o sexo, as
risadas, até mesmo seu jeito retrancado para se abrir sobre a vida pessoal.
Eu não me importava, contanto que estivesse com ela.
Agora só restavam as lembranças.
O único sinal que ela deu de ter lembrado de mim foi quando enviou um
pacote por um entregador.
Eram kits da sua marca com produtos infantis para os meninos. Perfume,
sabonetes, shampoos... um kit para cada, personalizado com o nome deles.
Recebi o meu também, só não fiquei feliz como os dois pestinhas, que
enlouqueceram com o presente mesmo sem saber quem os tinha enviado.
Cada vez que a lembrança dela surgia na mente, minha garganta fechava.
Assim também era com Heloise, que me deixava com frio na barriga só de
pensar que, a qualquer momento, eu receberia uma notícia ruim.
Ainda me confortava saber que ela estava na clínica. Trancada e segura.
Beatrice Campello.
Vários disparos haviam sidos feitos em direção ao carro que, por sorte,
era blindado e evitou que uma tragédia acontecesse.
Chamou até a ligação cair. Tentei por cerca de dez vezes mais, as mãos
tremendo e o suor frio descendo pela minha testa.
Cacete! Por que diabos ela não estava me atendendo? Eu só queria saber
como ela estava.
Vasculhei por minhas coisas, tão nervoso que parecia prestes a surtar de
agonia. Tudo conspirava contra, pois nem mesmo o maldito cartão estava
aparecendo.
— Eu vi o que aconteceu.
— Foi um susto enorme. Beatrice está em choque com o ocorrido. Estive
com ela mais cedo, no momento está descansando.
— Melhor ficar por aí mesmo, Hugo. Acabou, meu jovem. Siga sua
vida.
— Ninguém pode ter acesso ao endereço dela. Não é à toa que existe o
loft.
— Olha, eu sei que passarei dos limites depois de ir ao seu refúgio, que
ela ficará muito brava, muito provavelmente me destratará e me colocará
para correr por não atender seu desejo de me afastar, porém prefiro correr o
risco a ficar aqui às cegas, sem notícias dela.
— Hugo, por favor, fique longe dela. Beatrice não faz bem a você.
— Jesus! Você não faz ideia de onde está se metendo. — Bufou — Pode
deixar, vou passar por mensagem. Só não esqueça que, mesmo com o
endereço, vai precisar da autorização dela para entrar no prédio.
Com a ligação encerrada, esperei longos segundos até que o bip soou e
vi o endereço, que ficava localizado do outro lado da cidade, no litoral.
Local de refúgio da minha deusa cabeça dura.
Deixei os meninos jantando e saí para bater na porta da Dulce, que não
demorou a me atender.
Claro que ela faria isso. Sempre fechada, reclusa, se protegendo de tudo
e de todos, jamais cederia assim.
Ao menos ela estava viva, isso que importava. Assim mesmo, eu queria
ver de perto.
— Venha, ela liberou sua entrada. Parece que é importante demais para a
senhorita Campello.
Dei de cara com outra mulher quando ela abriu a porta. Uma diferente do
que eu estava habituado.
Esperei ser chamado atenção por ter invadido seu espaço pessoal, por ter
burlado suas fodidas regras, porém, me surpreendi quando ela veio na
minha direção e me abraçou.
Apertei seu corpo contra o meu e desejei poder tirar tudo o que ela
estava sentindo.
Quando eu via reportagens, relatos sobre uma quase morte, achava uma
bobagem além do susto, mas depois do que vivi na noite anterior me deixou
em choque, completamente inerte e perdida nos pensamentos de que, por
pouco, eu não amanheci dentro de um caixão.
Por um fio.
E bem, era isso que eu achava, até descobrir que o Hugo estava na
portaria do meu prédio. Minha mente pediu que o mandasse ir embora, que
ele nem tinha que saber meu endereço, mas meu lado frágil, que precisava
de alguém, especialmente um homem que tinha tanta importância na minha
vida, avisou que eu cedesse. Que eu precisava do Hugo.
Nem mesmo esperei que ele entrasse, foi automático, me joguei em seus
braços, desabando em um choro esmagador que parecia estar preso desde
ontem.
— Shi, linda, estou aqui. E vou ficar com você por quanto tempo
precisar.
Agarrei a camisa fina que cobria seu corpo, prendendo-me a ele como se
já não estivéssemos colados o suficiente.
— Achei que eu fosse morrer.
Hugo subiu a mão e agarrou meu rosto, fazendo com que eu o encarasse.
Nesse momento não me importei em estar fragilizada e mostrar isso, em ser
fraca quando eu sempre mantinha a postura na frente de todas as pessoas.
— Graças ao bom Deus que está aqui e vai permanecer por muito tempo,
Beatrice. Não me assuste mais dessa forma. Por um momento, eu juro,
pensei que perderia você.
Virei meu corpo e me pus sentada em seu colo, uma perna de cada lado,
as mãos apoiadas sobre seus ombros e cara a cara, vendo seus olhos
apavorados me observando.
— Você não tinha que estar aqui, droga. — Comentei sem desejar que
ele fosse embora. — Acabou, gatinho. Não existe mais nós dois.
— Eu sei, eu sei. Meu pai sempre saía com seguranças, a diferença era
ele ser mais conhecido, o rosto estampado em todos os lugares, mas eu...
nunca pensei que chegaria a esse ponto.
Pensei em todas as pessoas, cada uma desde o dia em que eu voltei para
o Brasil e tomei posse da empresa, no entanto, não foi difícil ter uma
suspeita maior: Marcus ou meu irmão. Os dois me odiavam e tinham me
ameaçado recentemente.
Mais uma vez a discussão calorosa com Benício e minha mãe apareceu
como uma enxurrada. Estavam sabendo do Hugo e isso teria consequências.
— No sangue, sim.
Ele ainda tinha esperanças. Se ele soubesse que tinha tomado meu
coração, jamais me deixaria ir, contudo, eu precisava que ele não nutrisse
tais sentimentos.
— Antecipei o rompimento por causa disso. Não quero que corra riscos,
que seus sobrinhos sejam atingidos, nem mesmo Heloise. Pessoas
ambiciosas são capazes de tudo por dinheiro.
— Como acha que conseguiram tantas informações? Alguém do seu
ciclo, provavelmente.
— Marcus, meu irmão, minha mãe... não sei. Só não acredito que minha
genitora tenha feito isso comigo.
— E suas amigas?
— Não é possível que não tenha alguém com quem desabafe seus
problemas, uma pessoa que faça companhia e sente para conversar ou
beber.
— Acredite em mim quando eu digo que não tenho, exceto pelo Moroni.
Voltei para o Brasil há poucos anos, não falava com ninguém além dele e
não confio nas pessoas, pois a maioria só se aproxima com interesses
próprios.
— Quem é você, Beatrice? Por que a cada vez que te encontro vejo algo
novo surgir? Preciso que se dispa para mim, não apenas fisicamente.
— Você é mais esperta do que isso, sabe muito bem que eu não
enlouqueceria atrás do seu endereço, deixaria meus sobrinhos com a vizinha
e viria até aqui se eu não estivesse gostando de você.
— Mas não devia, Hugo.
Nem eu, por mais errado que fosse, porque mesmo negando eu tinha
noção do que se passava dentro de mim. Que eu também havia me apegado,
só não deixaria que ele soubesse disso.
— Fui moldada para ser assim, fria e focada no que realmente importa.
Senti seus dedos tocando meus lábios, um toque carinhoso e doce que
atingiu exatamente no coração.
— Então precisa de mim para que mude isso. Ninguém pode ser feliz
dessa forma.
— Eu sou.
Minha resposta me fez refletir, pois eu nem mesmo sabia se isso era
verdade. O que era a felicidade realmente?
— Acredita se eu disser que te conheço bem o suficiente para saber
quando está mentindo para mim?
Eu já estava bem sendo da maneira que era, durante todos esses anos.
Me surpreendi comigo mesma quando afastei os pensamentos e erguia as
mãos para apoiá-las nos seus ombros. Era meu lado sentimental
despertando.
— E nunca funcionaria.
Ele não sabia de nada, não fazia ideia. Hugo tinha tanto de mim, ao
ponto de eu nunca ter coragem de dizer e fazer com que ele soubesse.
— Posso substituir o que está na sua mente por uma boa lembrança que
terá dessa cozinha. Esquecerá até mesmo que outra pessoa além de mim já
esteve aqui.
— Na verdade, ninguém esteve.
Hugo roçou os lábios nos meus, mas parou quando revelei o segredo.
— Não namoro, Hugo. Eu fodo, faço acordos por sexo, tudo no loft e
acompanhado de privilégios que evitam esse tipo de situação que está
acontecendo aqui.
Então ele sorriu. Não um riso contido, mas quase como uma gargalhada
satisfeita, onde ele se empolgou ainda mais, me puxando contra ele numa
provável tentativa de nos fundir.
Ele não respondeu com palavras, e sim com um beijo que me fez perder
o fôlego.
O Hugo calmo tinha ido embora quando seus lábios começaram a sugar
os meus com força, paixão e desejo. Foi como uma tempestade chegando
para causar devastação, nesse caso, no meu coração.
Permiti que Hugo não apenas deixasse marcas no meu apartamento com
sua presença forte, mas também no coração, que a cada encontro parecia ser
um maldito traidor e sempre se entregar um pouco mais a um homem que
eu não deveria nem mesmo ter permitido que chegasse perto.
Afastei os pensamentos que estavam querendo se apossar do momento.
Não era hora para pensar demais.
Não quando tudo que eu queria era me perder nos seus braços.
Capítulo 30
Não havia mais saída.
Pensar em ficar longe dela doía como jamais deveria doer. Era sexo, para
ambos, pelo menos no começo. Beatrice também se entregava a mim como
se fosse além daquele contrato, apesar de perceber que ela era mais firme,
convicta e dura. Se seria capaz de se apaixonar, eu não fazia ideia, mas era
o que eu desejava.
Eu amava ainda mais seu jeito leve e sorridente, por mais que ficasse de
joelhos quando ela era aquela à qual me apaixonei desde a primeira vez.
Beatrice estava linda com seu cabelo preso de modo bagunçado no topo
da cabeça, umas mechas soltas, o rosto sem maquiagem e uma camisa longa
que cobria seu corpo perfeito.
Eu me acostumaria acordar todos os dias com ela. Seria um sonho, um
que jamais se realizaria. Porém, deixei os pensamentos de lado, porque só
ela me importava nesse momento.
— Isso tá bom demais, Hugo. Nem sabia que eu estava tão faminta
assim.
Sorri, satisfeito por ver que ela tinha deixado a tensão de lado. Eu ainda
estava preocupado com o que tinha acontecido, não me sentia bem ao
imaginar os riscos que ela corria.
Meu peito encheu de alegria por ver que ela se interessava pelos meus
dois bens mais preciosos.
— Elena é doce, calma, uma menina tão meiga e carinhosa que eu nem
sei como mereço tanto. Além de tudo é estudiosa e dedicada, cuida de mim
e do irmão como se fosse a mais velha da casa. Já Igor é um pouco
temperamental, por mais que também seja gentil e carinhoso, porém do seu
modo mais peculiar. Tenho sorte por estar criando bem aqueles dois
pirralhos.
— Fico feliz em saber que ajudei e ajudo, de toda forma. Que esse
contrato foi importante pra você.
— Não é apenas por isso, Beatrice. Nós dois sabemos que o contrato
ultrapassou todas as barreiras que se podia esperar.
— Hugo.
— Não, linda. Não fale nada, não precisa mentir para mim. Posso ser
inexperiente, emocionado demais, talvez, mas sei que aqui dentro — apoiei
a mão sobre seu peito — existe algo por mim, nem que seja um pouco do
que sinto também.
— Você é especial para mim também, Hugo. De todos eles, o único que
eu realmente me importo.
— Você me magoou demais, me fez ter dias terríveis com tudo o que me
falou, e assim mesmo eu não te odeio. Sou um idiota? Talvez.
Ela tocou minha mão que ainda estava sobre o seu rosto.
Parei quando estávamos indo longe demais. Não queria o sexo agora,
queria apenas ser sua companhia.
Puxei seu corpo para que ela se apoiasse no meu, passando as pernas por
cima das minhas.
Quis pedir que desabafasse, me contasse o que estava passando por sua
cabeça, mas era melhor deixá-la desabar um pouco. Ela precisava disso.
Até que, minutos depois, ela resolveu contar algo que eu não esperava.
Ouvi um soluço que saiu dos seus lábios, como se ela estivesse
começando a chorar.
— Não consigo lembrar de tudo. Antes eu achava que era por causa do
trauma, mas depois comecei a ligar os pontos e recordar que ele sempre me
oferecia doces, chocolate quente...
— Ele te dopava?
Nem todas as palavras eram suficientes para descrever o que eu estava
sentindo no momento. Porém, o sentimento mais forte era o ódio, que com
toda certeza, se ele fosse vivo, eu o faria pagar pelo que fez.
— Ele ficava ao meu lado, beijava meu rosto, acariciava meu corpo,
impondo um certo limite, mas depois, no outro dia, restava apenas
lembranças dele comigo, de palavras que ele dizia ao pé do meu ouvido, o
cheiro forte dele que era marcante e me causava calafrios.
— Nós ficamos juntos por longos meses, até eu descobrir que estava
grávida. — Cacete! — Meu pai ia nos matar se soubesse, então escondi,
pelo menos por um tempo, já que não sabia o que fazer. Contei para Pietro,
desesperada, e ele disse que daria um jeito. Que casaria comigo, faria o que
fosse preciso, mas precisava pensar em uma maneira de contar isso ao meu
pai. Então o dia chegou, eu estava com três meses, usando roupas folgadas
para esconder a barriga inchando, pois não conseguia enxergar que meu
namorado estava apenas me enrolando, buscando uma solução para esse
problema em sua vida.
Deus, eu não fazia ideia de que tanta coisa havia acontecido com ela.
—Até que um dia, quando eu menos esperava, meu pai entrou no meu
quarto e me ofendeu de palavras tão horríveis, baixas e humilhantes...
fazendo questão de esfregar na minha cara que Pietro tinha me trocado por
alguns milhões.
— Infeliz!
— Sim, meu pai ofereceu dinheiro para que ele sumisse do mapa, e ele
não pensou duas vezes. Não me ligou, nem enviou bilhetes ou pediu
desculpas... só se foi, me deixando em pedaços, sozinha e desamparada.
Notei que estava chorando também, assim como Beatrice, então a acolhi
em um abraço ainda mais apertado enquanto ela se desmanchava de novo, e
de novo, derrubando toda a fortaleza que ela fazia questão de colocar a sua
volta.
— Meu bebê foi tirado de mim. Eu tinha feito um ultrassom, visto que
estava saudável..., mas daí eles roubaram o meu direito de ser mãe.
Tudo era tão assustador, parecia surreal demais para qualquer pessoa.
Pior ainda para uma garota de dezesseis anos, que só cometeu o erro de se
apaixonar por um canalha.
Era compreensível que ela fosse tão fechada, silenciosa e não tivesse
ninguém. Uma maneira de se isolar de sentimentos que pudessem ter o
mesmo fim, e isso acabou levando a nunca mais se envolver
romanticamente com outras pessoas.
— Mas jamais a abandonaria, não é? Porque eu faria isso com ele sem
pensar duas vezes.
Mudei nossas posições para que eu ficasse por cima dela novamente,
unindo nossas testas e mantendo o olhar conectado.
— E você gentil demais por estar dizendo todas essas coisas. Invejo seu
caráter e determinação, Hugo. As garotas devem ser loucas por você.
— Vai me dizer que não existe uma garota que seja apaixonada por
você? Que nenhuma daquele bairro já correu atrás do Hugo e tenha ficado
encantada com a maneira como cuida dos sobrinhos?
— É, tem razão.
— Por que não deu certo?
Alma.
E coração.
Capítulo 31
Eu não falava da minha vida para ninguém. Apenas meu avô e minha
mãe sabiam do que tinha acontecido, mas me abri com ele de uma maneira
que jamais imaginei fazer com outra pessoa. Foi como tirar um peso de
dentro de mim, da angústia que me dominava há tantos anos. Eu confiava
em Hugo com os olhos fechados, de uma forma que me assustava. Sabia
que não tinha que ter permitido isso, apesar de ser tarde demais.
Era um absurdo não ter um sinal de quem havia tentado me matar, apesar
de eu ter minhas suspeitas, por mais que não quisesse acreditar que tivesse
dedo da família no meio. Sendo assim, passei a andar escoltada por um
motorista e um segurança, ambos formados em artes marciais e
especialistas na área de segurança pessoal.
Meus encontros com Hugo haviam voltado, dessa vez com menos
frequência, e no meu apartamento. Assim ele se sentia mais próximo,
especial, exclusivo. Era óbvio que ele era isso tudo, só não acreditava tão
facilmente nisso. Um rapaz inexperiente, cheio de inseguranças, até mesmo
com razão depois da maneira como o descartei da minha vida
anteriormente. Agora, mais cuidadosa, eu estava me entregando sem
receios, exceto pela parte da exposição da sua vida que eu fazia de tudo
para evitar.
Por isso eu tinha que começar a amarrar as pontas soltas antes que tudo
se tornasse uma catástrofe.
Não encontrei dificuldades para entrar, até então eles não tinham banido
minha entrada, o que me surpreendeu, levando em conta o ódio que
estavam sentindo de mim. O segurança abriu a porta e verificou os
arredores antes de permitir que eu descesse. Eu estava incomodada com
esse zelo e proteção, mas sabia que era necessário.
Entrei na mansão e fui recebida pelo som de rock pesado que soava da
sala de estar. Não demorei a ver Benício sentado no sofá, com uma garrafa
de uísque na mão e uma garota diferente da que encontrei na última vez em
que estive no local, sentada em seu colo, parecendo completamente bêbada
ou drogada ou provavelmente os dois.
Como ele não notou minha presença, já que estava perdido entre os seios
da morena, caminhei até a caixa de som e desliguei, chamando assim sua
atenção, que soltou um xingamento quando me viu.
A garota que estava no seu colo pulou para o lado, arrumando a blusa às
pressas.
Sentei-me sob o olhar atento dos dois, enquanto a garota foi dispensada
com um aceno para que se dirigisse ao andar superior. Ela obedeceu de
imediato como uma cadela adestrada.
— Jamais faríamos isso com você. Pode ser essa maldita pedra no nosso
sapato, ambiciosa e arrogante, mas assassinato não é o tipo que me encanta.
— Posso não ter o direito, ainda, mas farei de tudo para tê-lo. Não me
subestime, mamãe.
— Seu pai me deu tudo. Ele me trouxe até aqui, por mais que nossa
relação fosse um fiasco.
— Vai saber o que você fazia para que ele agisse como um homem cego
e burro.
— Isso soa baixo até mesmo para você, Benício. Não conhece nada do
que passei, do que enfrentei de verdade, então não fale bobagens.
— Você não pode chegar aqui, como a dona do mundo que acha que é, e
nos acusar de tentativa de homicídio.
— Tenho meus motivos. E só irei descartá-los quando tiver uma prova
concreta. Por enquanto, estão na minha mira.
Levantei-me e fui até ele, assim como da outra vez, não demonstrando
sentimento algum além da raiva.
— Isso serve pra você também, mãe. Espero que não esteja apoiando
essas sandices do seu filho, ou irei esquecer que já é uma senhora de idade e
fazê-la pagar pelos erros dele.
Peguei minha bolsa para sair, não dando mais direito de resposta. Não
queria ouvir mais nada, principalmente se fosse em relação ao meu passado
que ela nunca acreditou, ou se fazia de cega.
Soltei ao andar para o lado de fora, sem nem ao menos olhar para trás.
Meu refúgio.
***
— O que aconteceu?
Tudo doía.
Depois de tudo, cada maldita surpresa negativa que eu havia tido nas
últimas semanas, essa caiu como uma bomba sobre minha cabeça.
Escândalo.
— Nem eles, muito menos eu deixarei entrar no quarto do jeito que está.
— A culpa é sua! Desde que apareceu a nossa vida se tornou uma merda.
— Se tivesse dado dinheiro ela não teria aberto as pernas para aquele
playboy. Mas parece que as duas são mais parecidas do que pensam. Duas
vadias desgraçadas.
Não pensei duas vezes antes de acertar um tapa forte no seu rosto,
fazendo com que meu irmão arregalasse os olhos surpreso, pois eu
duvidava que algum dia ele tivesse apanhado de alguém da família.
Moroni sorriu, logo sendo recriminado por mim com apenas um olhar.
Não era momento para brincadeiras quando o meu sobrenome estava no
meio. E eu poderia ser exposta também.
Afinal, não era só eu que corria riscos, mas ele também. Hugo não
precisava desse tumulto.
— Então achou que deixando minha mãe chupar seu pau enquanto você
dirigia foi uma ideia extraordinária?
— Desde quando?
Minha paciência estava indo embora. Pelo menos o que restava dela.
— Desde quando?
— Não. Eu não fiz isso, juro, Beatrice. Estava te odiando, mas nunca
faria nada desse nível contra você.
— Ela tem trato com detetive, ouvi algumas vezes ela conversando com
ele por telefone. Só me tira daqui, por favor. Não posso ir em cana, não
quando já não tenho mais dinheiro pra sair da merda.
— Tenho uma lista dos crimes que cometeu enquanto estava no carro
com ela, mas isso não é da minha alçada, e sim da polícia. O acidente
poderia ter sido pior, Marcus, então agradeça. Só não conte comigo para
livrar sua bunda imprestável dessa.
— Faça isso e vai se arrepender pelo resto da sua existência. Vou fazer
questão de tornar a sua vida um inferno.
— É, mas a nossa diferença é que eu tenho mais poder. Vou dar um basta
nela de uma vez por todas.
Peguei minha bolsa e saí do hospital, a cabeça à mil e com planos para
pôr um fim nessa palhaçada por causa de dinheiro.
— Ah, Hugo. Respeitei sua privacidade, seus momentos, mas não minta
para mim. Não quando venho notando sua mudança nos últimos meses. E
eu vejo que não para de assistir os noticiários que falam dessa família.
— Como isso aconteceu, meu rapaz? Ela é quem tem te dado dinheiro,
né?
— Eu sei. E por um momento, apenas um, desejei que fosse egoísta, que
agisse por você. Que pensasse na sua felicidade, pois merece um descanso,
um pouco de normalidade em meio ao caos.
— Mas fala aí sobre ela. Deve ser uma mulher e tanto pra ter te deixado
assim.
— Ela é bonita, gentil, me oferece bons momentos, mas sei que não é
mulher pra mim. Talvez a Ana combinasse mais, se eu conseguisse me
apaixonar.
Assim como fez com Marcus. Não que eu fosse igual a ele, porém, era o
amante atual.
— Ana que não merece você. É sim uma garota bonita, determinada,
estudiosa, mas sequer gosta dos seus sobrinhos. Só você nunca notou que os
interesses dela eram apenas focados em você, Hugo. Ela os suportava pra te
agradar.
Gargalhei. Uma reação que deixou meu corpo mais leve, o coração
doendo menos por ter uma conversa com minha vizinha e amiga, uma
senhora tão gentil que poderia ser minha mãe. Uma que eu também não
tive.
Confiava em Dulce, e desabafar com alguém que era uma boa ouvinte,
deixou meu peito mais leve.
Dois dias depois do acidente, ela acordou. E dez dias depois, voltou para
casa. Contratei uma enfermeira para que a ajudasse com as atividades
rotineiras, pois ela ainda estava vulnerável.
Senti um pouco de remorso por ter levado um jovem como ele às últimas
consequências. Apesar de saber sobre o contrato, ninguém conseguia
controlar sentimentos, foi o que aprendi estando com Hugo. E pensar nele
me fez ter compaixão pelo outro. Eu tinha permitido me apaixonar por ele.
Foi uma constatação que tive em uma das noites em que me vi sozinha no
apartamento, apenas na companhia da minha garrafa de vinho caro.
Só me restava dar o último nó nessa bagunça que minha mãe havia feito.
Ela sorriu, quase como se não estivesse toda quebrada em cima de uma
cama.
— Não, Magda. Na verdade, vai abrir o bico e contar tudo o que andou
fazendo contra mim.
— E se eu me negar?
— Aí seu protegido vai parar atrás das grades. Ainda rola um processo
por sedução de uma menor de idade, e sabe o que fazem com pedófilos e
abusadores quando eles chegam ao presídio?
Ver seu rosto empalidecer só provou que ela realmente o amava e não
desejava o mal ao caçula. Era impressionante como o amor que faltava por
mim, sobrava para Benício.
— Que você é ruim, nós já sabemos, mas não faria isso com seu próprio
irmão.
— Acha que não? Tenho mais a ganhar do que a perder. Mostrar que eu
não apoio os atos criminosos dele vai ser como um bônus para o nome da
empresa. Uma que ainda sustenta a vida miserável que ele leva.
Pude notar a veia saltada na testa da Magda, o nervosismo e o quanto ela
estava se controlando para não falar ou fazer algo contra mim. Porém, o
lado coerente, ainda estava funcionando.
— Era pra você ter ficado na Inglaterra, continuado longe da nossa vida
e nos dado paz. O problema foi que o cretino do seu avô teve bastante
influência na decisão que o seu pai tomou com o testamento.
— Nós duas sabemos que sou a única capaz de manter a Fuller de pé. Só
que não vim até aqui para falar sobre meu talento em comandar os
negócios, mas por causa da sua tentativa de acabar com minha vida.
— Quer saber? É isso mesmo. Encomendei sua morte sim, gastei uma
boa grana pra estourarem seus miolos e acabar de vez com essa palhaçada.
Engoli o amargor que tomou conta da minha boca, lutando para manter
minha postura na defensiva.
Meu coração acelerou, batendo tão forte que eu o sentia por todo o
corpo. Recordar o passado e o quanto as cenas me faziam mal, não era o
que eu pretendia.
— E faria pior se fosse possível. Uma pena aquela clínica ser segura,
porque a drogada seria meu próximo alvo.
— Não faça essa cara de espanto, Beatrice. Não foi difícil saber onde o
pobretão morava, onde ela estava e que o Moroni estava ajudando. Aquele
desgraçado é um cachorrinho nas suas mãos. Sabe lá o que você faz em
troca de tanta lealdade.
— Farei isso pelo Beni, mas também exijo que dê uma mesada gorda,
mantenha a casa e os empregados, o deixe em paz.
Não esperei que ela respondesse. Saí do quarto o mais rápido que pude.
Manter a pose, não demonstrar o quanto ela me afetava, era mais difícil do
que eu pensava. Sugava toda minha energia.
Fui até o lado de fora, onde o imprestável ainda estava do mesmo jeito
de quando cheguei.
— Semana que vem você começa a trabalhar. Quero te ver cedo, batendo
o ponto, assim como os outros funcionários.
— Sua mãe não tem vez, voz e muito menos grana pra te sustentar. E
você vai, já que dinheiro é algo que precisa, pois sem ele essas garotas nem
estariam aqui.
— E minha mãe?
Não desejava mal a ele. Era o único que restava do meu sangue mais
próximo, e eu esperava que ele melhorasse, tomasse juízo e virasse um
homem de verdade.
Eu até podia estar depositando fé demais, mas eu não tinha nada a perder
e torcia para dar certo.
Capítulo 34
A notícia sobre a prisão da minha mãe caiu como uma bomba na
imprensa. Ela teria advogados e pessoas que a defenderiam, por mais que a
ficha de crimes fosse grande o suficiente para dar um tempo na cadeia.
Magda havia encomendado minha morte e além do seu depoimento,
existiam provas obtidas através das trocas de mensagens e ligações com os
dois suspeitos, bem como das transações bancárias realizadas. Após a
prisão foi descoberto que ela desviava dinheiro dos eventos de caridade que
organizava uma vez por mês.
— Sabe que não estou aqui por vontade própria. Pode engolir o veneno.
Peguei meu celular e li mais uma vez as inúmeras mensagens que Hugo
havia me mandado e eu ignorado. Não era o momento para encontros, pois
tudo estava uma bagunça. Agora tudo o que eu sentia era saudade dele.
“Que tal ir ao meu apartamento mais tarde? Estou sentindo sua falta.”
Não demorou para que ele enviasse a resposta. Uma que não foi a que eu
esperava.
Não estava habituada a ser rejeitada, muito menos por ele, só que
entendi. Era compreensível que ele estivesse magoado comigo, já que não
fui capaz de dividir meus problemas com quem realmente se importava
comigo.
Porém, assim como começou, teve que terminar. Bom, pelo menos por
um tempo, talvez para sempre, eu não sabia. Só estava magoado por ter sido
ignorado por tantos dias. Sim, entendia que ela havia enfrentado momentos
difíceis por conta do acidente, a prisão da mãe e toda a chuva de
informações que eram negativas para o sobrenome que ela tanto lutava para
preservar.
O problema para mim foi ser excluído quando eu poderia ser o apoio. Ao
me deixar de fora, Beatrice só mostrava que eu continuava sendo útil
apenas para a diversão, nunca para mergulhar na sua vida de verdade. Isso
me destruía por dentro, pois eu sabia que ela gostava de mim, que aquele
coração de pedra guardava um terço da paixão que eu também sentia e era
mais intensa.
Não demorou para que Dulce aparecesse e se reunisse conosco para uma
pequena oração, já que passava das dez da noite e os meninos precisavam
comer.
Agradeci em silêncio pelos últimos meses, por tudo o que enfrentei e
vivi para que tivesse com essa mordomia que eu nunca tive. Que eu podia
proporcionar alimento e moradia aos meus dois bens. Pedi também pela
minha irmã, que se recuperasse e seguisse em frente de uma maneira digna
e honesta.
Era ela. Beatrice. Entrando na minha casa, em uma vila, usando uma
roupa discreta, sem maquiagem e o cabelo preso em um rabo de cavalo. O
cheiro, como sempre, inconfundível.
Olhei para o seu rosto lindo, os lábios carnudos, o queixo fino, pescoço
sem colar, os seios apertados sob a blusa de alças e as pernas cobertas com
uma calça jeans. Perfeita, da cabeça aos pés. O efeito que ela tinha sobre
mim era esmagador.
— Sim, é.
Eu estava ficando louco por anunciar isso assim, do nada, na frente das
crianças e da Dulce, mas foi isso que fiz, porque era o que eu queria.
Beatrice minha namorada, por mais absurdo que fosse.
— Ora, parece mesmo. Venha, senhora, senta com a gente. Chegou bem
na hora da maravilhosa ceia que Hugo preparou.
Agradeci por Dulce ser bem animada e ter puxado Beatrice com ela,
onde ofereceu uma cadeira e entregou o prato para que ela se servisse. Eu
nem sabia se ela comeria, mas só de vê-la dentro da minha casa eu já estava
feliz ao ponto de explodir.
— Come, você vai gostar. — Elena falou, ficando ao lado dela. — Meu
tio que fez tudo isso, sabia? Ele que compra a comida, faz, cuida da gente e
é muito bonito também. Não acha?
Sorri, mesmo sabendo que ela comia coisa muito melhor, mais
requintada e cheia de pompa.
Mais solta, ela caminhou até a porta e pegou as sacolas que havia
colocado no canto da parede, lendo o nome em cada cartão e entregando de
um por um. Um para Dulce. Um terço dourado, lindo e delicado,
comentando que eu havia dito que minha vizinha era religiosa.
Um para Igor. Um videogame de última geração, que fez o menino gritar
empolgado de alegria. Ele até a abraçou, agradecendo pelo presente.
Dulce falou, puxando os dois para a rua, que sequer protestaram com o
pedido.
Fiquei sozinho com ela, na minha sala, ainda em estado de choque com
sua presença.
Senti alívio por ver que ela tinha vindo precavida. Que não corria riscos,
apesar do maior perigo ser sua mãe, que já estava presa.
— Estou em uma nova fase da minha vida, e pode ter certeza de uma
coisa, Hugo: você faz parte dela. Não quero mais ficar longe, por mais
insano que seja isso e vá contra tudo o que eu planejei para nós dois.
— Tem seus sobrinhos, não quero que algo respingue neles. Vou fazer o
possível para proteger os dois.
Rocei os lábios nos dela, lentamente, provando o sabor que apenas ela
tinha. As chamas foram acendendo aos poucos, pronto para me consumirem
de vez, esquecer que estávamos na minha casa, longe do que ela estava
acostumada. Eu sequer tinha um quarto só meu, não podia ir além, quando a
qualquer momento os meninos estariam de volta. Eram dois curiosos, não
aguentariam por muito tempo ficar sem encherem Beatrice de mais
perguntas.
— Você já faz.
— Mais. Muito mais. Depois de tudo que enfrentei nas últimas semanas,
minha certeza é não querer mais desperdiçar nosso tempo. Seja lá como for
funcionar, darei um jeito.
Abri a boca para responder, mas fui impedido por uma pequena tagarela
que entrou pulando de felicidade e chamando Beatrice para se sentar do
lado de fora.
Beatrice sorriu e deu de ombros, mais linda do que nunca enquanto era
puxada para a calçada.
Olhei para minha vizinha, confuso e sem entender muito, mas sorrindo
por ver a animação de todos os pirralhos da rua, que não eram poucos.
— Não sei quem foi a alma generosa por lembrar dessa rua, mas fico
feliz por ter feito isso pelas crianças. — Comentei — Acho que eu nunca
tive isso na minha vida.
— É tão ingênuo a esse ponto, Hugo? Não sabe mesmo quem foi?
Voltei meu olhar para Beatrice, que estava mordendo o lábio inferior,
numa assumida expressão de culpa.
Era inacreditável que ela tivesse feito tudo isso por pessoas que sequer
conhecia. Sim, eu sabia que ela tinha um coração bom, mole e doce, mas
ainda era surreal.
E porra, isso mexeu demais com meu coração.
Olhei para os meninos felizes com o velhinho que tentava dar atenção a
todos. E voltei a fitá-la, ainda embasbacado.
Segurei sua mão e dei um beijo suave, carinhoso. Cheio de gratidão e
amor.
— Obrigado por fazer isso pelas crianças. Por ter dado um pouco de
felicidade para pessoas tão inocentes e puras.
— Devia ser segredo, Hugo, mas acho que na próxima consigo ser mais
discreta.
Era final da tarde quando Moroni entrou na minha sala, aquele sorriso
malicioso cheio de perguntas e intenções provocativas em relação ao Hugo
e a mim. Desde que soube que eu, enfim, tinha baixado a guarda, ele não
parava de me importunar.
— Ainda fico um pouco receosa com as atitudes dele. Beni tem aceitado
fácil demais.
Sim, ainda estava desconfiada, por mais que tivesse meu irmão nas
mãos. Ofereci a cadeira ao meu advogado e amigo, me sentando em
seguida.
— Fácil? Você permitiu que a protetora dele fosse presa, ameaçou tirar a
herança, empregados, mesada, fazer com que ele pagasse as contas... bem,
não imagino o quanto isso seja uma decisão difícil para o Benício.
Soltei uma risada, assentindo a tudo o que Moroni tinha falado. O que
era, de fato, verdade, ainda assim eu temia um ato rebelde a qualquer
momento. Não seria fácil educar meu irmão depois de trinta anos agindo
como um babaca de cabeça oca e mente vazia.
Certo, ele não se comportava cem por cento. Além dos flertes com
funcionárias, fugia um pouco para dormir no vestiário, reclamava da
comida e duas vezes saiu mais cedo do que o combinado. Precisei ser firme
nas ameaças para que não repetisse. E bem, se estava fazendo, era
escondido, pois eu tinha colocado pessoas para vigiar os passos dele.
Já em relação a Marcus, ele finalmente tinha me dado paz, pois foi isso
em troca de um emprego longe daqui e um pequeno apartamento para que
tivesse um teto.
— Hugo queria fazer uma visita com os meninos, mas ela não aceitou.
Acho que em relação a maternidade não veremos avanço algum.
Cheguei em casa pronta para passar a noite com Hugo. Eu tinha dado o
cartão de acesso ao condomínio e a chave do apartamento, para que ele não
precisasse de convite para aparecer.
Não era algo que eu esperava ter para minha vida. Não apenas por ser
um homem bonito, generoso, trabalhador, responsável e que tomasse conta
do meu corpo e coração. Mas por eu ter confiança, conseguir conversar, me
abrir por inteira, mostrar meu lado vulnerável. Nossa diferença de idade se
tornava um mero detalhe.
Desde a noite da véspera de Natal nós estávamos indo bem. Foi diferente
passar uma data especial cheia de pessoas de verdade, sem falsidade ou
prontas para me apunhalarem pelas costas. E as crianças, eu fiquei
completamente apaixonada. Entendi os motivos do Hugo ser tão louco por
elas.
Caminhei até ele, as coxas roçando e a calcinha molhada por estar assim
com ele.
Posicionei-me atrás dele e deixei beijos nas suas costas, traçando o
caminho pela pele nua e perfumada com o cheiro único que apenas ele
possuía.
— Não se acanhe por isso, mas prefiro que continue enquanto eu vou te
agradecendo da minha maneira.
Minhas unhas foram caminhando por todo o seu corpo, um terreno tão
conhecido que eu sabia os detalhes até mesmo se fechasse os olhos.
Beijei devagar sua pele, descendo a mão até encontrar o cacete duro
debaixo do avental, que agarrei e acariciei a ponta, sentindo as veias
estremecerem sob meu toque.
Busquei seu olhar, que estava fixo em mim e nos meus movimentos,
enquanto ele ainda tentava dividir a atenção entre mim e o jantar.
— Sua porra vai ser a entrada do meu jantar, Hugo. Quero que empurre
tudo na minha garganta.
Ele estremeceu com minhas palavras. Ainda me deixava louca ver suas
reações com minha ousadia.
Foi o impulso que eu precisava para envolver tudo com a boca, sentindo
encostar na minha garganta, a espessura me fazendo forçar um pouco mais
a mandíbula. Chupei com todo o desejo que me consumia, sentindo os
dedos dele agarrarem os fios dos meus cabelos, em um ato selvagem e que
eu amava quando era despertado.
Afastei os lábios e ele me puxou para cima, a boca rente com a minha.
— Não, mas estou curiosa para saber. Pelo olhar, duvido que sejam boas
intenções.
— Quero comer sua bunda, Beatrice. Sabe o quanto fico louco quando
você fica de quatro pra mim? Isso tem me feito imaginar inúmeras formas
de me enterrar dentro de você por trás.
Me arrepiei inteira por ouvir seu desejo. Hugo ainda era acanhado,
apesar de deixar a fera escapar em certos momentos.
— Nesse caso, você terá. Eu já tive a minha, que foi muito saborosa, por
sinal.
— Inteiramente sua.
— Sim, quero que você coma meu cu, gatinho. Que enterre bem fundo
dentro de mim e deixe sua marca.
Outra mordida acompanhada pela lambida. Fui do céu ao inferno.
Estava desesperada para que ele fosse logo. Queria sentir como seria ter
Hugo dentro da minha bunda, tomando o único lugar que ele ainda não
tinha se apossado.
O pedido era uma ordem que obedeci de imediato, levando a mão entre
minhas pernas, acariciando o clitóris inchado.
Para sempre.
Capítulo 37
Nossa última noite do ano. Beatrice havia alugado uma casa em uma
praia mais isolada, segura e com uma área extensa. Os meninos amaram
quando ela os trouxe, principalmente pela piscina e uma brinquedoteca para
que se distraíssem. Uma equipe foi contratada para cuidar do nosso jantar, o
que eu faria sem problema algum, já que cozinhar acabava sendo uma
diversão para mim, mas ela foi decidida ao negar o pedido.
Olhei mais uma vez os meninos correndo pelo gramado, cada um mais
bronzeado do que o outro, pois haviam passado o dia inteiro da piscina para
o mar, com uma energia que eu não teria nem se nascesse novamente.
Precisei insistir algumas vezes até que entrassem, tomasse um banho e
trocassem de roupa antes que pegassem uma gripe.
Antes de vir até a casa, passei na clínica para visitar minha irmã, que
apresentava melhora, mesmo que aos poucos, estando certa de que jamais
seria outra pessoa, mas eu sabia que em um determinado momento ela
acordaria para a realidade e aceitasse que a vida estava dando mais uma
oportunidade.
Ela não tinha previsão para sair de lá, pois o tratamento seria longo,
incluindo com terapias para que ela pudesse lidar com todos os traumas que
passou durante a vida. Me dava um peso a menos no peito por saber que ela
estava bem e protegida.
Caminhei até a mesa e peguei alguns petiscos, beliscando de um por um,
estranhando os com gostos mais peculiares, algo que era tão comum para
Beatrice, que se sentia em casa em meio a tanto luxo e elegância.
— Se você continuar babando na minha mulher, vou ter que te chutar pra
fora daqui.
Não achava que meu amigo fosse investir em Beatrice, sabendo que eu a
amava, mas sentia aquele bichinho do ciúme corroendo quando outros
homens notavam sua beleza.
— Não esqueça que me deve gratidão eterna por ter insistido que você se
inscrevesse no site.
— Isso não te dá direito de ficar olhando pra ela. Sua namorada vai te
matar.
— Não se preocupe com isso. Apesar da sua mulher ser uma beldade,
sou apaixonado por outra.
Sorri, balancei a cabeça e tomei um gole de coquetel sem álcool.
Recebi dois tapinhas nas costas e logo ele me deixou sozinho quando viu
que Beatrice se aproximava.
Era surreal pensar que ela sempre ficava sozinha, sem amigos ou família.
Moroni era o único, e quase sempre estava com a família.
— Fico lisonjeado por saber que está gostando de conhecer meu combo
completo.
— Será que Benício vai mudar algum dia? Ser responsável, ter família,
estudos... não viver como um playboy delinquente.
— Se não mudar, a culpa não será sua. Você está fazendo sua parte.
— Bom, não quero mais falar sobre isso. Vamos passar a virada na beira
da praia. Vem!
E então chegou a hora e todos gritaram, sendo banhados pelo líquido que
meu amigo espirrava na direção de todos.
Abracei e fui abraçado pelos meus pequenos, que estavam tão felizes que
eu sequer lembrava de já tê-los visto assim.
Quase parei de respirar quando ela tirou uma caixa que estava nas mãos
de Elena e que nos encarava com os olhinhos lindos.
— Quem diria que eu teria um ano tão louco e intenso quanto esse?
Acariciei seu rosto, sentindo a maciez da sua pele brilhar sob as estrelas.
— Você mudou meu mundo por inteiro. Bagunçou tudo, mas de uma
forma boa. Nem sei se mereço tudo isso.
— Jesus! Isso...
— Não precisa surtar. Quero sim que case comigo, seja meu de vez,
oficialmente, essa é a certeza que tenho depois de tudo o que vivemos nos
últimos meses. Caso não queira ir tão longe agora, aceite como um
compromisso. Algo para selar nosso relacionamento.
— Eu devia fazer isso, caralho! — Ofeguei em um misto de emoções.
Agarrei sua cintura e a coloquei nos braços, girando com ela pela areia,
ouvindo gritos e aplausos animados, todos felizes com o pedido que ela
havia feito.
Beijei seus lábios, rosto, queixo, pescoço... até tropeçarmos e cairmos na
areia, ela por cima de mim, gargalhando com as bochechas vermelhas e o
cabelo bagunçado.
Tentando se ajeitar sobre mim, ela pegou o anel e pôs no meu dedo, em
seguida deixando um beijo que me acendeu em um momento totalmente
inadequado. Mas além do fogo, tinha amor, paixão, um sentimento que me
enlouquecia e acalmava.
Peguei o outro anel e segurei sua mão, deslizando a joia por seu dedo e
repetindo o beijo que ela havia dado também.
— Nunca pensei que falaria isso para um homem, que entregaria tanto
de mim a uma pessoa que não fosse eu mesma. Você me faz ser melhor.
Altruísta, amorosa e desejando ter uma família imensa. Amo você, gatinho.
Amo para sempre.
Um beijo intenso.
Apaixonado.
Feliz.
Lábios perfeitamente encaixados como se fôssemos feitos um para o
outro.
Beatrice foi meu ponto de apoio e incentivo durante todo esse tempo,
pois me fez estudar, ajudou em matérias que eu estava com dificuldades, me
deu um emprego em meio período como estagiário na empresa, além de ter
oferecido os estudos para meus sobrinhos. Elena e Igor estudavam em uma
das melhores escolas do país, bilíngue e que oferecia uma educação que
eles jamais teriam se dependessem apenas de mim.
Porém, nem tudo eram flores. Magda, por exemplo, tinha saído da cadeia
e estava tentando retomar a vida. Apesar de tudo o que ela havia feito
contra a filha, ainda receberia uma parte das ações, mantendo o suficiente
para bancar uma vida adequada, contanto que andasse na linha. Assim era
com Benício, que ainda trabalhava para a irmã e tinha sido instruído a
cursar faculdade para ampliar as oportunidades. O cara era um malandro de
primeira, entretanto, se aprontava, era de uma forma que ninguém
descobria.
Já Heloise tinha arrumado um emprego na cidade ao lado, vivia sozinha
em um apartamento e tentava se manter lúcida com as terapias e
tratamentos rotineiros. Ainda não havia se aproximado dos filhos, esse era o
defeito.
Minha.
De mais ninguém.
Minha mulher estava ainda mais linda do que antes, como se isto fosse
possível e estava grávida de um filho meu. Um garotinho que crescia em
seu ventre há seis meses, depois de um longo tratamento e após ela superar
o trauma vivenciado no passado e decidir transformar o sonho da
maternidade em realidade. E bem, já era algo que eu sonhava. Um filho
nosso, para selar e perpetuar o nosso amor.
Era a festa de oitenta anos da marca Fuller, que agora teria o nome
Beauty and B. Um plano que ela traçava desde que começou a perceber que
o nome só remetia as lembranças do pai, o empresário cruel e um pedófilo
abusivo que quase destruiu uma pessoa incrível. Eu tinha muito orgulho do
que ela era, da fortaleza que possuía e do quanto ainda melhorava a cada
dia.
— Boa noite. — Falou a voz sensual no microfone. — Primeiro quero
agradecer a todos que vieram até aqui prestigiar essa nova fase da Beauty.
A maioria dos homens no salão parou o que estava fazendo para assistir
a minha esposa falar em público, fazer um pequeno discurso antes do jantar.
Ofereci minha mão a ela, sorrindo feliz com as coisas que caminhavam
conforme ela tinha planejado. E Deus, ela era uma mulher detalhista e
exigente.
Enfrentaria tudo o que fosse preciso para ficar com ela novamente, tudo
do começo, para que chegássemos a esse ponto.
Uma bela deusa ao meu dispor, com toda sua beleza, sedução e
arrogância.
Fim.
Agradecimentos
Minha gratidão à todas que me leem, apoiam e incentivam desde 2014,
além das outras que foram aparecendo e ainda aparecem no decorrer dos
anos. Em especial a que me ajudou a construir esse livro, desde o
comecinho, quando era apenas um rascunho: Dani, minha amiga, obrigada
pelas broncas e incentivos. Mara, que foi uma bela surpresa no ano passado,
que apareceu como leitora e, de repente, se dispôs a me ajudar tanto com
dedicação e carinho. Além da Deby, que sempre faz minhas capas e me
aguenta até hoje. Shirley, Paula Faria, Tami, Fran, Carol e Raquel que
sempre dão um jeitinho de me prestigiar e até mesmo puxar a orelha, se
necessário, as meninas dos outros blogs literários e grupos do WhatsApp.
Emile Medeiros, que me apresentou a equipe do Safadas, que me deu um
enorme suporte para esse lançamento, deixando meu insta bonitinho e o
marketing incrível delas.
E por último e muito importante, minha família e minha filha, que são
meu apoio principal, sempre dando a força necessária para que eu nunca
desista.
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