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Copyright © 2023 Rafaelly Monike

Esta é uma obra de ficção.


Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos, são produtos de imaginação do autor.
Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.

Capa: Débora Santos


Diagramação digital: Emile Medeiros

Esta obra segue as regras do Novo Acordo Ortográfico.


Todos os direitos reservados.

São proibidos o armazenamento e/ou a


reprodução de qualquer parte dessa obra, através de
quaisquer meios — tangível ou intangível — sem o
consentimento escrito da autora.
A violação dos direitos autorais é crime
estabelecido pela lei nº. 9.610./98 e punido pelo
artigo 184 do Código Penal.

Edição digital | Criado no Brasil


Sumario
Sumario
Dedicatória
Prólogo
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Capítulo 32
Capítulo 33
Capítulo 34
Capítulo 35
Capítulo 36
Capítulo 37
Epílogo
Agradecimentos
Sobre a autora
Outras Obras
Onde me encontrar
Dedicatória
À todas as leitoras que vivem esse sonho comigo, por mais ousados,
lindos e insanos que eles sejam. Obrigada por me darem o apoio para que
eu continue voando na minha carreira literária.

Esse livro é para quem ama mulheres poderosas, independentes e que


adoram o sexo sem tabus e a liberdade feminina.
Prólogo
Ele estava morrendo.

Meu pai, o homem que quase acabou com minha vida, causando um
estrago irreparável em minha mente e coração.

Se eu sentia remorso por ter ido embora há mais de vinte anos sem nem
mesmo olhar para trás? Não. Eu só queria distância e que o cara lá em cima
fizesse a parte dele em relação a justiça. E bem, ele não tinha me
decepcionado. Meu pai estava definhando há mais de seis anos, decaindo
aos poucos.

Desde o ocorrido, quando eu tinha meus dezesseis anos, que eu o odiava


e o olhava como se fosse um verme maldito. Não sei o que teria sido de
mim, se não tivesse recorrido ao meu avô paterno, que além de acreditar na
minha história, me apoiou e enfrentou o filho, quando o comunicou sobre
minha mudança em definitivo para a Inglaterra. Na época, prometi que
jamais voltaria a me encontrar com qualquer membro da família tóxica que
eu tinha.

Mero engano. Após passados vinte e dois anos desde minha saída do
país, precisei voltar a pedido do meu avô, para assumir a empresa da
família, a Fuller Beauty, que se iniciou no mercado na década de 20, a
administração vinha passando de geração em geração, parando no meu pai,
que precisou interromper o trabalho por conta do câncer de próstata que o
estava matando aos poucos.

Dizer que ele odiou meu retorno era eufemismo. Ele havia me
considerado deserdada a partir do momento em que fui embora e virei o seu
próprio pai contra ele. Assim mesmo, sem ter muita alternativa, a não ser
acatar a ordem dada pelo patriarca, aceitou minha posição de CEO da
Fuller. Eu comandava a de Londres, já que meu avô me treinou desde o
começo para isso, me fazendo começar de baixo, desde assistente até chegar
à presidência aos trinta e cinco anos. Agora, com quarenta e dois, fazia
quatro anos que eu estava na poltrona da Fuller no Brasil, para o desgosto e
revolta da minha mãe, uma dondoca fútil e egoísta, e do Benício, meu
irmão mais jovem. Um babaca irresponsável e encrenqueiro.

E desde que voltei para o país, ainda não tinha visto meu pai
pessoalmente, pois só em pensar em vê-lo novamente, meu estômago
embrulhava e me causava nojo. Assim mesmo, cedi, pois o médico havia
dado a notícia de que ele não teria muito tempo.

Entrei no quarto do hospital onde ele estava internado há algumas


semanas e o vi, prostrado, magro, mais velho do que antes e com a pele
pálida. Seus olhos esbugalhados fitaram em mim no momento em que ele
notou minha presença.

De um lado estava Magda, minha mãe, chorosa e encolhida na poltrona.


Do outro, o playboy do Benício, parecendo chapado. O que não era
nenhuma surpresa, tendo em vista a vida insana que levava.

— Veio aqui jogar a última pá de terra no seu pai, sua ingrata? — Magda
ralhou, inconformada com meu retorno. Ela mal falava comigo, exceto
pelas vezes que precisava que eu liberasse mais dinheiro. Afinal, eu cuidava
de todas as finanças.

— Não, mamãe. — Usei um tom sarcástico na voz. — Vim a pedido do


seu querido marido.

— Não precisamos de você. Saia, suma do mapa e esqueça da nossa


existência.

Sorri de lado, ainda de queixo erguido e tentando manter a postura ereta.


As palavras frias e sem qualquer bom sentimento ainda me afetavam, só
não permitia demonstrar isso.
— Infelizmente, devo confessar, que passarei um longo tempo por aqui.
Não esqueça que sou a única responsável por ainda manter a fortuna da
família de pé.

— Seu pai está vivo. Não tem que pensar como se não estivesse.

— O que não vai durar muito.

Magda tentou rebater, mas meu pai a impediu, colocando a mão sobre a
dela e pedindo para ficar sozinho comigo. Inicialmente ela se negou, mas
ele repetiu e dessa vez sendo mais autoritário. Benício a acompanhou no
instante em que ela passou por mim como um furacão. Os olhos de águia
raivosa não desviaram dos meus até que ela sumisse pelo corredor.

Aproximei-me da cama, ficando a poucos centímetros de distância dele,


do homem que eu mais odiava em toda a minha vida. Quem deveria me
proteger, amar, cuidar ... não acabar com qualquer chance de ser um
exemplo masculino. Ele era o pior dos seres humanos que eu conhecia.

— Deve estar feliz com meu fim. — Comentou fraco, a voz rouca e
baixa.

— Feliz é forte demais, mas satisfeita, provavelmente. Acho que não


sofreu o suficiente.

Podia ser cruel falar assim com alguém no leito de morte, mas eu tinha
tanto ódio guardado que não conseguia esconder meus sentimentos.

— Por que voltou, então? Por que tomar conta de algo que abriu mão há
anos?

— Porque meu avô quis assim. Ele me preparou para esse dia, um que eu
tomaria o que sempre mereci mais do que qualquer outra pessoa dessa
família.
— Não foi você quem construiu. Não esteve nas crises e momentos
ruins.

— Seja sincero, pai, nem mesmo você. Duas gerações da família Fuller
que fizeram isso, montando e deixando de mão beijada pra você. Pode ter
cuidado durante esse tempo, mas não esqueça que quase afundou a empresa
em dívidas nos últimos anos. E quando voltei, há quatro, o rombo era quase
irreversível. Então, o mérito por ela ainda existir, é meu. É graças a minha
competência.

Não estava mentindo. A Fuller devia milhões a fornecedores por conta


da irresponsabilidade dele, das faltas e de ter colocado a presidência nas
mãos de incompetentes e corruptos. Todos que eu fiz questão de fazer uma
limpeza nos últimos meses.

— Sua mãe jamais irá permitir que fique com a herança.

— Isso não é da responsabilidade dela, não se preocupe.

Ele suspirou, forte e pesado, quase como se estivesse acabado de correr


um pouco.

— Eu sempre te amei demais. Mais do que sou capaz de explicar, você


nunca compreendeu.

— Você desconhece o que é amar uma filha paternalmente. Talvez até


saiba com o Benício, mas tenho minhas dúvidas em relação a isso, já que o
criou muito mal. Agora sobre mim, não, Charlie, era doentio, asqueroso.

— Não vai me perdoar nem mesmo sabendo que estou prestes a morrer?

— O máximo que vai ter de mim é um pedido para que ele, lá embaixo,
te receba bem, assim como merece.

Vi seu olhar vacilar, as lágrimas encherem os olhos, e nem assim me


convenci. Só eu sabia o que tinha passado nas mãos dele, ninguém mais
poderia me julgar.

— Você é perversa, egoísta e cruel. Uma pessoa incapaz de ter bons


sentimentos por alguém que te deu tudo.

— Nem tanto, pois se fosse tão parecida com você, sua esposa e o caçula
ficariam à mingua.

Ele tentou agarrar minha mão, mas recuei para impedir seu toque.

— Você sempre vai ser minha preferida, Beatrice. Apesar de tudo, do


ódio e da repulsa, eu te amo demais, sofri durante todo o tempo que esteve
longe de mim e que fez meu pai me odiar.

— Isso porque ele nem sabia da metade do que você tinha feito comigo.

— Esqueça as dores do passado, do que aconteceu, viva e continue


sendo essa mulher inteligente que é.

— Não vai me convencer com esse discurso patético de frases


motivacionais, Charlie. Além do mais, tenho que ir, há trabalho o que fazer
e sou a única da família que sabe o que isso significa.

Dei um passo para trás, tendo a certeza de que seria a última vez que o
veria, afinal, não tinha pretensão alguma de voltar. Foi uma exceção, uma
que não se repetiria.

— Fica mais um pouco. Quero ficar olhando esse seu rosto lindo, ouvir
sua voz. — nem permiti que ele prosseguisse.

— Agradeça por eu ter vindo até aqui. Fiz mais do que você merecia.

Não dei mais oportunidades, apenas me afastei e caminhei para a saída,


indo para longe dele e da dor que esmagava meu peito. Eram lembranças
duras.
Lágrimas sofridas.
Cenas angustiantes.

Tudo o que se arrastava com a imagem do meu pai e todo o mal que ele
me causou durante minha vida dentro daquela mansão.

Fui moldada por todos os acontecimentos para ser exatamente assim,


fria, cruel e sem remorso algum.

E desprezo era a única coisa que ele ainda tinha de mim, e deveria
agradecer por isso.
Capítulo 1
Dois meses depois

Ele morreu três semanas após a minha única visita. Uma parada
respiratória, o que parecia ter sido causada por mais problemas de saúde que
ele tinha. Moroni, meu colega mais próximo no país e advogado pessoal, foi
quem me contou alguns detalhes. O necessário para que eu apenas me
mantivesse informada.

Assim como era esperado, fiquei com oitenta por cento da herança, que eu
sabia ter sido exigida pelo meu avô, como uma reparação e por ele saber que
eu seria a única capaz de cuidar dos negócios. Magda e Benício protestaram,
inconformados com o que havia no testamento. Fui acusada de fraude, de
influenciar meu pai a redigir aquilo.

Benício e minha mãe tinham os vinte por cento restantes, mas do jeito que
eram logo torrariam tudo. Além do mais, eles também tinham direito a uma
pequena parte das ações da empresa. O que sustentaria a casa, funcionários e
outras necessidades. Entretanto, logo mais daria o meu jeito para colocar o
caçula para trabalhar ou eu faria de tudo para dificultar sua vida.

Olhei meu reflexo mais uma vez no espelho retrovisor antes de sair do
carro, já estacionado na vaga exclusiva.

A Fuller Beauty, que herdava o sobrenome da família paterna, ficava


localizada em uma área industrial. Contava com o escritório que englobava
toda a parte administrativa, o galpão onde se produziam os cosméticos, o
refeitório, área de lazer e descanso e uma clínica médica. Tinha que admitir
que a Fuller era uma das melhores empresas do país, tanto com os seus
produtos, como para empregar. Não só pagávamos bem, como também
disponibilizávamos o melhor para os funcionários.
Eu não podia renunciar a isso. Aprendi a gostar de comandar com o tempo,
apesar de, no começo, ter sido mais complicado com os que não gostavam da
minha presença. Peguei a Fuller com contas absurdas, cobradores no
calcanhar e dívidas que se acumulavam por causa da falta de responsabilidade
do meu pai nos últimos tempos.

Fiz cortes, diminui gastos, parei de permitir que tanto Benício, como
minha mãe, tirassem dinheiro à vontade, como vinham fazendo há anos e fiz
empréstimos para quitar dívidas enquanto ia reerguendo a empresa.

A segunda versão da Fuller Beauty era minha. Se ela ainda estava de pé,
fazendo sucesso e vendendo como água, os colaboradores tinham que
agradecer a minha dedicação e responsabilidade financeira nesses quatro
anos. De resto, não me importava com os olhares tortos e as birras da minha
família por eu estar assumindo os negócios.

Cumprimentei alguns que passavam por mim e caminhei direto para meu
escritório, onde teria bastante coisa para resolver.

Minha vida se resumia a isso. E fora da empresa, onde eu tinha minha


diversão, apreciava o sexo sem compromisso, de preferência com homens
mais jovens. Eles eram meus preferidos por unanimidade.

Não só a disposição que eles tinham que me atraía, mas também o


desapego. A maioria não se importava em ser usado e descartado, coisa que
um mais velho dificilmente aceitaria.

Desde o baque que passei na adolescência, seguido por um relacionamento


terrível com Pietro, o ex-amigo da família, que estraçalhou meu coração,
prometi que nunca mais me entregaria romanticamente a alguém. E durante
mais de vinte anos saí com todos os tipos de homens. Até eu voltar para o país
e descobrir uma maneira mais fácil e conseguir uma pessoa que não me
cobrasse além do que eu estava disposta a dar.

Um site.
Um para Sugar Baby. Onde jovens de ambos os sexos se inscreviam como
acompanhantes e, em troca, ganhariam dinheiro e outros privilégios. O que no
começo eu achei um absurdo, passei a gostar. Tinha privacidade, contratos e a
oportunidade de conseguir uma pessoa interessante para sair de vez em
quando.

E foi exatamente assim que consegui três deles nesse tempo. O primeiro
não foi tão atrativo quanto imaginei, mas os outros dois sim. E se eu desisti do
último foi por ele ter se apegado e exigido um relacionamento sério. O que
era proibido na minha cláusula do contrato. Eu já deixava claro que não
estava ali sentimentalmente.

Marcus começou a me perseguir, tentava controlar meus passos e aos


poucos, foi me deixando sufocada. Até eu falar com meu advogado, o
Moroni, que era o único que sabia das minhas preferências. Outro que era
muito bem pago para preservar minha vida pessoal.

E já fazia três semanas que eu não saía com mais ninguém. Estava
estressada, cansada e a cada vez que vasculhava o site a procura de novos
candidatos era sempre a mesma coisa. Os ratos de academia. Eu gostava de
homens fortes, com gominhos e todo o combo, mas algo dentro de mim já não
aceitava o mesmo padrão de playboy.

Afastei meus pensamentos quando liguei o notebook para verificar meus e-


mails enquanto Virna, minha secretária, passava a agenda do dia. Reuniões
online, contratos e projetos publicitários que passavam por mim depois da
área de marketing, apenas para que eu desse a minha aprovação.

Mergulhei no trabalho o dia inteiro, numa tentativa de deixar de lado toda


a ansiedade que eu sentia quando precisava de distração. Os últimos dias do
meu pai foram cansativos, a ladainha da minha mãe, o desespero dele para
pedir meu perdão.

Não perdoei. Nunca iria com ele vivo, muito menos depois de morto. O
que ele me fez passar eu jamais esqueceria. Estava tudo trancafiado dentro da
mente e do coração.
Consegui deixar os problemas de lado quando me concentrei na reunião
com os fornecedores que durou mais de duas horas. E quando saí, achando
que poderia comer alguma coisa e descansar, encontrei minha mãe em minha
sala. Soltei um longo suspiro antes de enfrentar a fera.

Magda já estava com seus sessenta e cinco anos, mas permanecia elegante,
bonita e fútil. Nada mudou com o tempo. Nossa relação também era fria,
assim como eu aprendi a ser.

E ela me odiava, colocando a culpa em mim por tudo o que aconteceu no


passado.

— A que devo a honra da sua visita, mamãe? — Perguntei sentando-me do


outro lado.

— Benício precisa de uma mesada maior. A porcentagem que vai receber


não é suficiente para o que ele precisa. A minha muito menos.
Sempre preservando o caçula. Afinal, era o único que ela considerava filho
de verdade.

— Claro que é sobre dinheiro. Não esqueça que é o que está no testamento,
nada além disso.

— Esqueça esse maldito documento que seu pai deixou. Somos sua
família, por mais que tenha esquecido disso por anos.

— Engraçado lembrar nesse momento, não é? Porque quando mais


precisei, você não deu a mínima.

Vi seu rosto oscilar, uma expressão que não soube decifrar.

— Você já tem quarenta e dois anos, Beatrice. Já teve tempo de sobra para
esquecer aquilo tudo.
— Sua resposta é o suficiente para deixar claro os motivos de eu ter me
afastado. — Inclinei meu corpo para frente, apoiando os cotovelos sobre a
mesa — Mas vamos voltar ao que realmente interessa, o desespero por
dinheiro. Bem, Benício até pode ter um pouco mais do que recebe, mas
precisa trabalhar.

— E ser seu subordinado? Ele jamais aceitará isso.

— Nada feito, então. Agora, por favor, me deixe trabalhar. Ela se levantou
de uma vez, os olhos semicerrados e muito irritada.

— Isso não vai ficar assim, Beatrice. Vou mover o mundo para contestar
esse testamento. É humilhante demais ter que passar por isso.

— Faça o que quiser.

Assisti sua ira quando ela saiu batendo a porta atrás de si, fazendo-me abrir
um pequeno sorriso.

Deus, os dois eram mal-acostumados demais. Cabia a mim começar a


cortar isso pela raiz.

Mais relaxada, sem ter muito o que resolver durante o momento, acessei o
site sugar baby e entrei na minha conta, sentindo a ansiedade me bater quando
comecei a buscar pelos perfis.

Era disso que eu estava precisando. Um pouco de diversão.

Cliquei na opção de novos usuários cadastrados, vendo tanto homens e


mulheres belos, jovens e atraentes. A maioria dos inscritos era formada por
universitários que precisavam pagar suas mensalidades e as despesas básicas
de um estudante.

Rolei o cursor mais um pouco, até ver um candidato que me chamou


atenção. Arrastei a cadeira para mais próximo da mesa, podendo assim,
analisá-lo mais detalhadamente.
Bertolini, Hugo. 24 anos.

Senti um formigamento na espinha quando observei mais atentamente o


moreno estampado na foto.

Se o visse assim, de cara, não daria a idade anunciada. Parecia um pouco


mais velho do que isso, mas ainda assim era belo de uma maneira instigante.
Talvez o cabelo negro com os olhos escuros misteriosos, a boca em linha reta,
os ombros fortes marcados sob a camisa, mas sem aqueles músculos
exagerados. Parecia natural.

Me peguei nervosa antes de clicar no perfil e selecionar, para assim fazer a


proposta. Um encontro, jantar discreto para deixar nítidas as minhas intenções
e poder fechar o acordo. Isso me mantinha segura.

Todos que eu saía assinavam contratos, faziam exames, seguiam


exigências para o nosso bem-estar. Eu pagava pelo sexo e companhia, eles
recebiam um agrado muito generoso por isso.

Ambas as partes eram interessadas em algo, por isso não me batia nenhum
peso na consciência.

Depois de enviar a mensagem, fechei a tampa do notebook e recostei-me


na cadeira.

Bastava ele aceitar e partir para mais uma aventura.


Capítulo 2
Minha vida era uma luta constante. Resumia-se basicamente a ir e vir de
casa para o trabalho e cuidar dos meus sobrinhos. Não me sobrava tempo
para muita coisa. Desde os dez anos de idade aprendi a me virar sozinho
quando a minha mãe, quem deveria ter cuidado, se afundou em drogas e
morreu de overdose, deixando dois filhos para trás.

O pior de tudo foi começar a ver Heloise, minha irmã que era cinco anos
mais velha, seguir o mesmo caminho da mãe. Drogas, farras e bebida.
Minha vida virou um verdadeiro inferno desde então. Passei a adolescência
inteira entrando em boca de fumo, lugares sujos e fétidos para encontrar
Heloise caída e chapada rodeada de outras pessoas no mesmo estado.

Se o conselho tutelar não me pegou foi por nunca se importarem de


verdade, já que os vizinhos fizeram várias denúncias. Cheguei até a passar
fome e muitas vezes recebi ajuda do meu melhor amigo, Fabiano, ou da
vizinha Dulce, que passaram a me dar algo para forrar o estômago.

No entanto, como se fosse pouca toda a desgraça em que eu vivia, anos


depois, Heloise apareceu grávida. Ninguém fazia ideia de quem era, nem
ela mesma sabia, mas me vi aos quinze anos tendo que largar a escola para
cuidar dos meus sobrinhos. Um casal de gêmeos.

Foi Deus quem os protegeu durante o tempo em que passaram no ventre


da irresponsável da mãe. Nasceram prematuros, mas sem nenhuma doença
ou complicação por causa do que ela consumia, pois durante a gestação,
Heloise continuou fazendo uso de entorpecentes.

De repente éramos quatro em uma casa de três cômodos, num bairro


periférico e sem a atenção de governantes. E na verdade, eu nem queria, até
porque isso significaria perder a guarda dos meus sobrinhos. Tinha
consciência de que seria melhor se eles fossem adotados, criados por outras
famílias, mas eu não conseguia renunciar aos dois. Eram minha vida inteira,
os motivos para eu não desistir.

Durante esses oito anos com os dois, trabalhei em todos os lugares


possíveis, fazendo bicos e correndo atrás de escolas em tempo integral. Ao
menos eles tinham o que comer e outras crianças para interagirem. À noite,
quando eu conseguia deixar os dois com alguém, ficava com as entregas de
lanches na pizzaria do Fabiano, um estabelecimento pequeno, mas com
bastante movimentação. Por fora, como eu sempre fui bom em contas,
ajudava meu amigo com a contabilidade do comércio.

Minha irmã seguia se afundando, cada ano que passava sendo pior.
Tentei clínicas gratuitas, mas ela sempre encontrava uma maneira de fugir
de todas elas, perdendo a vaga logo em seguida. E eu me via perdido, sem
saber como fazer, pois era doloroso ver seus surtos na frente dos dois filhos,
duas crianças inocentes que não teriam o mesmo destino da mãe e eu faria
de tudo para evitar isso.

Elena e Igor teriam uma vida bem melhor do que a que eu tive, nem que
para isso eu chegasse ao fundo do poço.

Por isso aceitei quando Fabiano me inscreveu em um site para garotos de


programa de luxo. Sugar baby, como ele dizia, mas quem se importava com
nomes bonitos quando sabíamos bem do que se tratava?

Homens e mulheres que eram bancados por pessoas mais velhas e ricas
em troca de sexo.

Eu nem mesmo cheguei a namorar, pois nunca tinha tempo para isso.
Quando estava no auge da adolescência e todos começaram a descobrir a
primeira paixão, eu estava com dois bebês em casa. Ana, a irmã do meu
melhor amigo, foi quem sempre deixou claro seu interesse por mim. E
sinceramente, se minha vida fosse de outra forma, com toda certeza seria
com ela que eu teria um relacionamento, pois é uma boa garota, estudiosa e
dedicada. Seríamos perfeitos um para o outro se eu não a visse como uma
irmã.

Contudo, nesse caos em que vivia, jamais arrastaria Ana comigo, por
mais que ela sempre estivesse ao meu lado me apoiando e me ajudando com
os meus sobrinhos. Aquela garota merecia muito mais do que eu era capaz
de oferecer.

E, mais uma vez, foi ela quem acabou quebrando meu galho quando
recebi a proposta de encontro com uma das mulheres do site.

—Ainda não sei se essa é uma boa ideia. —Comentei com Fabiano.

Estava nervoso, o colarinho da camisa estava me sufocando e as mãos


tremiam demais.

— Hugo, por favor, você vai sair com uma coroa rica, vai ter um sexo
incrível e ainda vai ganhar por isso. O sonho de qualquer homem.

— Então por que você deixou de sair com elas?

Ergui minha sobrancelha. Tinha ido no ponto certo, pois meu amigo
ficou desconcertado.

— Bem, dividir minha vida entre uma mulher e a pizzaria não dava
certo. Além do mais, sou do tipo que me apaixono fácil. Fabiano tinha sido
um dos bancados por essas dondocas, inclusive conseguindo dinheiro para
montar seu empreendimento, mas durou no site apenas três anos.

— Sobre isso eu não tenho que me preocupar, só com minha


consciência.

— Foda-se! Para de ser o bom garoto pelo menos uma vez na vida. Você
só se ferra com isso.
Assenti. O que não deixava de ser verdade, porém, meu lado mais
coerente ainda me recriminava.

— Certo. Se ela está lá é porque quer, então não devo me sentir mal.

— Assim que se fala.

Sorri enquanto saía do estabelecimento, entendendo que eu tinha falado


mais para mim mesmo do que para meu amigo.

Como morávamos em um bairro mais afastado, esquecido pelas


autoridades, precisei sair mais cedo, pois teria que pegar duas conduções até
o local marcado.

Cheguei quase duas horas depois, pois o trânsito naquele horário não
ajudava em nada.

Deslocado, senti-me estranho quando entrei no restaurante chique onde


fui recebido por uma garota simpática que continha o crachá de
recepcionista.

Dei meu nome quando ela me cumprimentou, em seguida sendo levado


até a parte mais discreta, onde as mesas eram separadas por paredes de
madeira com plantas adornando.

O lugar era silencioso, exceto pela música suave de um violino.


Organizado e com pessoas bem-vestidas, parecia que eu estava em outro
planeta, mas era apenas a realidade chocando com a minha.

Meu coração estava batendo tão forte que retumbava através dos meus
ouvidos, além do estômago que revirava a cada segundo enquanto a mente
avisava o que eu estava prestes a fazer.

Era pelos meus sobrinhos. Por eles.


A recepcionista me deixou a poucos metros da mesa indicada, onde ela
apontou e avisou que eu seguisse, pois, minha companhia já estava
esperando.

Pensei brevemente em desistir, mas não tinha andado aquilo tudo à toa.

Sacudi a cabeça e caminhei até a mesa, onde meu coração me mostrou


ser capaz de acelerar mais do que já estava.

Vi quando a mulher levantou e me analisou dos pés à cabeça, abrindo um


pequeno sorriso ao constatar que eu era mesmo o cara da foto. Porra!

Ela era linda!

Do tipo de mulher que pararia qualquer homem. Sua pele delicada


contrastando com o vestido amarelo claro, as mechas soltas caídas nos
ombros, olhos levemente puxados e os lábios cheios eram o combo perfeito
de beleza.

O que uma mulher como ela estava fazendo em um site como aquele?
Ela nem mesmo precisava disso para conseguir um encontro.

— Hugo Bertolini. — Falou meu nome com a voz suave e uma pitada de
autoridade. — Sou Beatrice Campello.

Ergui a mão e a cumprimentei sem jeito.

Ana era linda, daquele jeito delicado e doce, mas essa mulher parecia
algo fora do comum. Assim como uma artista de cinema, cheia de brilho e
holofotes ao seu redor.

Atendi seu pedido quando ela me mandou sentar. Mesmo à sua frente,
pude sentir o aroma gostoso do seu perfume.

—Tomei a liberdade de pedir um vinho branco.


— Eu não bebo.

Tinha prometido a mim mesmo nunca consumir álcool ou qualquer


entorpecente. Já bastava Heloise e minha mãe. O vício parecia estar no
sangue e eu não queria correr riscos. Em um gesto elegante, ela acenou para
o garçom que não demorou a vir ao nosso encontro.

— Um drink de amora com gelo e sem álcool, por favor.

Observei a naturalidade em que ela se encaixava no lugar e mil


perguntas sobre sua vida surgiram na minha cabeça. Não conseguia
compreender os motivos de ela precisar bancar alguém em troca de sexo.
Sexo.

Ao lembrar que era isso que teríamos em breve, comecei a hiperventilar.

— Pode ficar tranquilo, Hugo. Não vamos fazer nada hoje.

Arregalei os olhos, notando que ela tinha lido meus pensamentos.

— Eu só... nunca...

— Isso o deixa ainda mais interessante, se quer saber. —comentou com


um meio sorriso — Quer comer primeiro antes de ver o contrato?

— Não estou com fome, obrigado.

Mal deixei o garçom colocar a taça sobre a mesa, já peguei e virei um


longo gole para molhar a garganta que arranhava de tão seca.

Beatrice mexeu na bolsa e retirou alguns papéis que estavam


organizados e presos com um grampo.

— Você nunca foi Sugar Baby?

— Não.
— Então terá que ler o contrato com calma, já que é sua primeira vez. A
parte que eu mais prezo de todas as cláusulas é a confidencialidade. A partir
do momento em que aceita e assina os documentos deixa claro que está
consciente do processo que levará caso me exponha a alguém.

Como se eu realmente fosse contar para qualquer pessoa a situação a


qual eu estava me submetendo.

E que merda! O que eu estava fazendo? Essa mulher... a realidade dela, a


forma que se portava, o poder que emanava. Eu jamais daria conta disso
tudo. Tinha problemas demais para me envolver com alguém assim.

Quando a realidade me bateu com força, levantei-me da cadeira,


arrastando sem querer, para a surpresa da mulher.

— Eu sinto muito. Isso foi um erro. A inscrição, eu ter vindo aqui... não
sei o que estou fazendo.

— Calma, Hugo. É só um pouco de diversão em troca de dinheiro.


Ninguém vai saber de nada.

— Minha consciência vai.

Ela abriu um sorriso, quase que desacreditada na minha justificativa, e


pegou o restante da papelada para me entregar.

— Tudo bem. Leve com você, leia com calma e, qualquer coisa, se sua
consciência permitir, pode me ligar.

Murmurei um adeus e caminhei o mais rápido possível para fora do


restaurante. Eu estava sem ar e com a cabeça latejando.

Eu até iria do céu ao inferno por aqueles dois, mas ainda não sabia se
estava preparado para isso.
Capítulo 3
Não tinha dormido bem. Passei a noite inteira me revirando na cama de
um lado para o outro em uma batalha entre a razão e a emoção. Nem
mesmo tinha pegado no contrato, só jogado na gaveta e ido me deitar.

Por isso estava exausto enquanto vestia meus sobrinhos para irem à
escola. Era a parte que eu mais gostava, pois no meio de outras crianças, em
um ambiente pacífico e com alimentação no horário, eu não precisava me
preocupar.

Só havia sobrado dois pães dos que eu tinha comprado no dia anterior
com o trocado que recebi das entregas dos lanches. Conseguia me virar bem
com os bicos, mas se tivesse carteira assinada seria bem melhor. O
problema era conseguir um emprego onde meu horário batesse com os das
crianças, porque elas saíam da escola às dezesseis horas, e não havia
ninguém que ficasse com elas, já que Ana só chegava à noite. Além de tudo
isso era difícil conseguir um bom emprego quando eu não tinha concluído
os estudos.

— Cadê a mamãe, titio? — Elena perguntou manhosa.

Soltei um longo suspiro antes de responder. Já tinha quatro dias que eu


não recebia notícias dela. Antigamente eu corria atrás, só que não podia
mais fazer isso quando as duas crianças dependiam de mim.

— Deve estar com as amigas.

— Ela nunca fica com a gente. As mamães das minhas amigas vão na
escola, moram com elas, menos a minha.

— Mamãe é uma drogada, sua garota chata!


Parei de arrumar o cabelo da garotinha no momento em que Igor
respondeu com hostilidade. E não foi apenas isso, mas as palavras que usou.

— Que história é essa, Igor? Não fale assim com sua irmã. Enquanto a
menina chorava baixinho, ele me encarava irritado. O gênio era muito
parecido com o da mãe.

— É o que todos dizem. Eu nem gosto dela, se quer saber. Você é o


único que cuida da gente mesmo.

Terminei o coque da Elena e encarei meu sobrinho. Ele só tinha oito


anos, era um assunto pesado e muita carga. Nem devia saber disso. Não no
momento.

— Olha, pare de ouvir o que as pessoas falam da sua mãe ou de qualquer


outra pessoa. Ninguém sabe o que o outro passa. Além do mais, não quero
você usando esse tipo de linguajar nem aqui, nem em qualquer outro lugar.
Muito menos com sua irmã.

— Certo. Desculpa, Elena.

Notei que se esforçou, mas pela expressão ele não estava convencido.

— Agora vão comer antes que se atrasem.

Observei os dois indo para a mesa e devorando o pão com margarina e o


café com leite enquanto o assunto anterior parecia ter sido esquecido.

Fiquei sentado, absorto em pensamentos, esperando que eles


terminassem.

Era essa minha rotina diariamente, ainda conseguia tempo para dar uma
limpeza no lugar para eles dormirem em um ambiente limpo. A casa
precisava de alguns retoques, principalmente no telhado, algo que eu faria
em outro momento. Tinha que conseguir primeiro um trampo durante o dia
que me pagasse bem.

E ela me veio no pensamento, a mulher que passou a noite inteira


habitando minha mente. Uma que, provavelmente, tinha dinheiro de sobra e
gastava com sexo, enquanto eu passava perrengue com duas crianças.
Quem disse que a vida era justa, estava mentindo.

Deixei os dois na escola e voltei para casa com a cabeça fervilhando.


Vencido pelo cansaço, acabei pegando a papelada e me jogando no sofá
para ler do que se tratava suas exigências.

Fazer exames de sangue.

Ser monogâmico.

Estar disponível para qualquer hora do dia e finais de semana.

Eram tantas coisas que eu me vi percebendo que jamais daria certo


fechar qualquer contrato com ela. Minha vida não era assim, não para
quando ela precisasse.

Li mais um pouco, atento a quebra do contrato e a multa caso ocorresse


alguma exposição do nome dela. Desejei buscar por ela na internet, saber
sobre sua vida, no entanto não era necessário.

Eu jamais aceitaria essa coisa toda.

Empurrei os papéis de volta na gaveta e saí de casa atrás de serviço.


Quando surgia alguma coisa, não importava onde, eu sempre aceitava.
Qualquer trocado era bem-vindo.
Não havia conseguido nada durante o dia, então deixei as crianças sob os
cuidados da Ana quando fui ajudar o irmão dela na pizzaria. Como eu não
tinha habilitação, fazia todas as entregas com a bicicleta. Cansativo, mas era
o que dava para ganhar meu pão do outro dia.

Nos dias em que eu estava com sorte ganhava algumas moedas de


gorjeta, outros eram os cinquenta reais diário.

Nunca reclamava, pois ajudava bastante a manter o estômago dos


meninos cheio. Essa era minha prioridade.

Já era quase dez da noite quando vi Ana nervosa, encostada no balcão,


trêmula e chorosa falando com o irmão. Larguei as coisas e corri até ela.

— Cadê os meninos? — Perguntei sentindo um nó na garganta.

— Estão com a Dulce. Sua irmã, Hugo, ela apareceu e...

Nem esperei que ela terminasse, corri para casa às pressas para saber o
que diabos Heloise tinha aprontado dessa vez. Ela só aparecia para causar
um furacão e ia embora devastando tudo ao redor.

Com o coração prestes a sair pela boca, entrei em casa de uma vez,
vendo os meninos chorando acolhidos em um abraço protetor da Dulce,
uma senhora que morava há anos ao lado da minha casa.

Assim que notaram minha presença os dois correram ao meu encontro,


enroscando os bracinhos nas minhas pernas.

Soltei o ar de alívio, pelo menos eles estavam bem, fisicamente falando.


Desabei de joelhos, puxando um para cada ombro meu, em uma maneira de
tranquilizá-los.

— O titio está aqui. Calma, por favor. — Sussurrei e olhei para cima,
agradecendo a senhora por ter ajudado. O primeiro a reagir foi Igor, que
enxugou os olhos e me encarou de uma forma que partiu meu coração.

— A mamãe esteve aqui. Parecia com raiva, mexeu nas coisas e depois
levou a tv. — Puta merda! — A gente tava assistindo, titio. Ela nem se
importou.

— Por que ela é assim?

A pergunta da Elena saiu em uma voz embargada. Eu mesmo já estava


segurando a vontade de chorar com aquela situação.

— Não sei, meu amor. Não sei.

— Eu odeio ela!

Recriminei o menino com um olhar. Por mais que ela fosse toda errada,
não queria que ele odiasse a própria mãe. E tudo bem se fosse, porque na
maioria das vezes, até eu a odiava, mas ele era apenas um garotinho de oito
anos.

— Odiar não faz bem a ninguém. Só vai machucar seu coração. —


Levantei pegando a menina em meus braços. — Vamos deitar, dormir e
amanhã a gente vê o que pode ser feito para recuperar a televisão.

Falei sem muita esperança, pois se ela tinha levado, era para comprar
drogas ou pagar dívidas. Recuperar o aparelho seria uma missão quase
impossível, tendo em vista com quem ela se envolvia.

Acomodei-me na cama com os dois, uma de casal antiga que ficava no


único quarto. Era onde eles dormiam, dividindo entre si enquanto eu ficava
em uma rede na sala, sempre alerta para o caso da Heloise chegar de uma
vez.

Não sei quanto tempo passou enquanto eu cantava um pouco e ninava


ambos em meu peito, mas apagaram por completo me dando um alívio
quando percebi a respiração tranquila. Eles não mereciam passar por isso.
Criança nenhuma merecia.

Saí do quarto dando de cara com Ana, que estava de pé perto da janela
da sala. Braços cruzados contra o peito, o pé direito batendo no chão e um
olhar preocupado.

— Já dormiram, graças a Deus. Sinto muito, Aninha. Não sabia que ela
viria assim.

— Não tem que me pedir desculpas. Sua irmã é isso, Hugo, aparece e
sempre deixa esse rastro de destruição ao redor das crianças.

Caminhei até o sofá e sentei-me, abaixando a cabeça pesada em um


turbilhão de pensamentos.

— Não sei mais o que fazer. Sinceramente, estou exausto de tudo isso,
essa dificuldade, as oscilações, incertezas...

— Adoro os meninos, Hugo, de verdade, mas você deveria colocá-los


em um abrigo. Sempre tem alguém que quer adotar.

Um amargor tomou conta da minha boca, quase como se eu tivesse


acabado de vomitar.

— Ficou maluca? Eu nunca vou abrir mão dos meus sobrinhos.

— Prefere ficar assim, passando por isso todos os dias? Você não tem
vida. Abdicou dos estudos, de relacionamentos, não consegue um emprego
fixo... enquanto ela está lá vivendo como se nada estivesse ruindo ao redor
dos filhos que ela colocou no mundo.

— As crianças não têm culpa disso.

Estava começando a ficar irritado com o rumo da conversa. Ana e


Fabiano eram os meus amigos, mas sempre tocavam no mesmo ponto,
como se eu fosse capaz de largar minha única família.

— Nem você tem. Só está pagando pelos erros cometidos por sua mãe e
sua irmã.

— Certo. — Fiquei de pé e fui até a porta — Pode ir. Muito obrigado


pela força que me deu hoje.

— Faço isso porque gosto de você. Porque quero que seja feliz.

Sua mão pousou em meu braço e deixou uma carícia suave em seguida
de um aperto antes dela ir embora.

Bati a porta e olhei ao redor, sentindo falta da TV em cima do rack


pequeno. Era antiga, eu havia comprado usada em um aplicativo, assim
tendo algo para as crianças se distraírem quando estivessem em casa.

E então ela levou, sem ao menos se importar com os filhos. E foi no


exato momento que percebi que eu não tinha mais saída. Iria jogar com as
armas que a vida estava me oferecendo.

Meu estômago foi consumido por um tornado quando uma opção surgiu
na minha mente.

Eu ia aceitar o contrato.
Capítulo 4
Meu dia inteiro tinha sido estressante. Resolvi pendências com parceiros,
uma das máquinas apresentou defeito, atrasando assim uma parte do
trabalho e minha mãe não parou de me ligar, obrigando-me a recusar todas
suas chamadas. Não estava em condições de discutir sobre dinheiro no
momento.

Havia dois dias que eu tinha encontrado com Hugo, escutado sua recusa
em assinar o contrato e constatado de que ele parecia deslocado com a
proposta. O que não saia da minha cabeça era ele ter se inscrito sendo que
não estava preparado para ser um sugar baby.

Enviei seus dados para o Moroni, que não demorou para me mandar uma
ficha sobre sua vida, com pelo menos o básico. Morava em uma favela,
tinha dois sobrinhos inscritos em uma escola de tempo integral e uma irmã;
mas sobre ela não constava muita coisa. Também não tinha emprego fixo,
pelo menos o nome dele não estava cadastrado em empresa alguma.

Mesmo com todas as informações, me vi curiosa, pois eram vagas


demais. Hugo era uma incógnita para mim.

Meu corpo ainda estava ansiando para experimentar. Hugo era bonito de
um jeito que me atiçava. Um magnetismo que me puxou ao vê-lo ali, sem
jeito, deslocado, como se estivesse se condenando por querer dinheiro em
troca de sexo.

Durante o tempo em que eu paguei por companhia, nenhum deles era


tímido ou se fazia de rogado, apenas aproveitava a oportunidade. Porém, ele
chamou minha atenção não só pela maneira como agiu, mas a forma como
me encarou. Como se eu fosse uma deusa, algo fora da realidade em que ele
vivia.
Isso me deixou querendo que ele aceitasse. Foi exatamente por isso que
não fui atrás de outro, pois tinha esperanças de que ele voltasse atrás.

Despertei dos devaneios quando ouvi o bip da mensagem no meu celular.


Peguei rapidamente, e quase não acreditei quando vi o nome dele no final
do texto.

“Aceito me encontrar com você pra gente conversar. Amanhã, durante o


dia. Hugo B.”
E lá estavam as chamas no meu corpo novamente, correndo como brasas
pelas minhas veias. Eu precisava ter aquele homem na cama nem que fosse
apenas uma vez.

Respondi sua mensagem alguns minutos depois.

“Se tivesse realmente lido o contrato saberia que sou eu quem dita as
regras.”

Não demorou muito para que ele retornasse com a resposta.

“Não posso sair nesse horário, sinto muito.”

Cacete! Provavelmente por causa dos sobrinhos. Hugo seria o mais


difícil entre todos eles, pelo visto só restava torcer para que valesse a pena.

“Tudo bem. Amanhã ao meio-dia.”

Cedi pela primeira vez, pois estava curiosa para saber o que ele tinha a
me oferecer. E bem, de qualquer forma, ele faturaria uma grana que ajudaria
em casa com as despesas. Levantei-me e peguei minhas coisas pronta para
ir embora e com um sorriso natural no rosto.
***
Bastou que eu entrasse no meu apartamento para ser tomada pela
solidão. Sempre fui sozinha, exceto pelas tentativas do meu pai de estar me
rondando, mas isso me deixava incomodada, então nunca contou. Amigos,
minha mãe, irmão... eram coisas apenas no nome, porque presença não
tinha.

Larguei minha bolsa, tirei o blazer e fui atrás de uma taça para me servir
com o vinho.

A cada momento em que eu passava sozinha, pensava em como seria a


minha vida se tivesse me dado a oportunidade de ter me tornado mãe, em
como estaria meu filho, se seria menino ou menina, se minha vida teria
mais cor e eu não vivesse constantemente em busca de divertimento sem
compromisso e sempre com homens mais jovens.
No entanto, eu confessava a mim mesma, que foi melhor ter me fechado
para sentimentos, nunca deixado ninguém se aproximar tanto, já que assim,
eu evitava sofrer desnecessariamente. Os homens com quem eu saía eram
vazios, ocos, sem muito o que oferecer além do corpo.

Isso acabava ajudando a nunca me apegar.

— A senhora quer comer alguma coisa?

Tomei um susto ao ouvir a voz feminina me chamar. Por quanto tempo


ela estava ali?

— Desculpa, Tereza, não tinha escutado me chamar.

— Parecia perdida em pensamentos.

Sorri, recebendo um olhar acolhedor da mulher que estava comigo desde


quando eu tinha voltado de vez.

— Pode esquentar. Vou tomar um banho rápido e logo em seguida,


venho jantar. Caminhei para o meu quarto, ansiosa para que o outro dia
chegasse e eu pudesse me encontrar com Hugo e poder tirar o estresse que
estava se acumulando sobre minhas costas. Nada como um bom sexo para
me deixar leve e satisfeita.
Minha manhã passou lentamente. A cada instante em que eu olhava para
o relógio, era como uma tortura, onde os ponteiros pouco se moviam.
Estava começando a ficar irritada com qualquer coisa que ousasse me
atrapalhar, por isso deixei claro para Virna, a secretária, que eu precisava da
minha agenda vaga durante, no mínimo, duas horas no almoço.
Agradeci quando a manutenção consertou o maquinário e saí em cima da
hora, enviando o endereço do outro apartamento para o Hugo, o que eu
usava exclusivamente para os encontros.
Era um pequeno e luxuoso loft, que ficava com quem estivesse comigo
no momento.
E seria do Hugo, caso ele aceitasse.

Entrei em minha BMW e buzinei para o porteiro, que abriu a cancela


para que eu passasse. Contudo, a visão que eu tive, me fez frear de uma vez.

Marcus.

Que porra ele estava fazendo no meu local de trabalho?

Bufei irritada, sendo obrigada a estacionar e descer do carro.

— O que você pensa que está fazendo aqui? — Indaguei insatisfeita.

— Parece ser a única maneira de conseguir falar com você.

Marcus era bonito, um porte atlético e os cabelos acobreados davam um


ar de surfista. Quando saí com ele achei que por ser mais novo, vinte e oito
anos, não iria se apegar, pois vivia em farra e era um solteirão convicto pela
investigação que fiz com Moroni. Porém, para minha decepção, ele se
apegou mais do que eu poderia imaginar.
— Esqueceu que assinou um contrato?

— Não, já que você me faz lembrar disso sempre que me vê.

— Pois então siga sua vida e me deixe em paz. O que tivemos acabou,
Marcus.

Vi seu olhar vacilar, o transtorno por não ser correspondido. Senti uma
pitada de pena, mas ele sabia como seria desde o princípio. Foi um risco
que ele aceitou correr. Assim como eu também aceitava.

— Nunca acabou para mim, Beatrice. Você é tudo o que eu quero nesse
momento, não estou suportando ficar longe de você.

— Olha, sinto muito se isso aconteceu com você, mas se continuar me


perseguindo vou mandar meu advogado resolver os trâmites pessoalmente.

Tentei me afastar, entretanto fui contida quando ele agarrou me braço.


Encarei onde ele estava apertando e desviei para seu olhar, sendo o
suficiente para que me soltasse.

— Por que você é assim? Fria, sem sentimentos, sempre me


machucando.

— Minha intenção nunca foi magoar ninguém, por isso deixei tudo
detalhado no contrato. Agora, por favor, esfrie sua cabeça e vá trabalhar ou
fazer qualquer coisa para esquecer isso que colocou na mente.

Não esperei por uma resposta. Entrei no carro e saí cantando pneu, para
longe dele e ansiando para encontrar com o outro que eu estava louca para
provar.

Só esperava que não fosse iludido demais. Se bem que Hugo não parecia
ter tempo para isso, tendo em vista a vida que levava. Seria bom para mim.
Aliás, para nós dois.
Cheguei primeiro do que ele.

Abri a porta de correr que dava para a varanda e verifiquei se a geladeira


estava abastecida. Eu mal havia conseguido comer, no máximo belisquei
um pouco da salada de frutas pela manhã.

Nunca conseguia comer bem quando estava nervosa.

Queria beber um pouco, tomar uma ou duas taças de vinho, no entanto ia


dirigir e não cairia bem pegar na direção estando alcoolizada. De
irresponsável já bastava meu irmão.

O interfone tocou. Era o porteiro avisando que eu tinha visita. Autorizei


quando ele falou o nome do homem que estava na entrada.

Meu coração estava batendo a mil enquanto esperava.

Olhei mais uma vez meu reflexo no espelho, confirmando o que eu já


esperava. Minha roupa estava bonita, o cabelo no lugar e a maquiagem
ainda recente.

Eu tinha que conseguir convencê-lo a aceitar a proposta. Hugo tinha que


ser meu.
Capítulo 5
As crianças não saíam da minha mente enquanto eu subia até o sexto
andar. O elevador estava começando a me deixar sufocado, mas agradeci
em silêncio quando ele parou e abriu as portas, me deixando livre.

Tive a noite inteira para pensar em como seria, o que eu iria fazer e em
como contaria tudo para ela. A tensão me corroía por dentro, deixando-me
tonto e com a garganta seca. Era a chance que eu tinha para dar um pouco
de conforto para meus dois sobrinhos e tentaria dar o meu melhor, por mais
que a maneira não me deixasse orgulhoso.

Pelo menos a única pessoa a quem eu estaria fazendo mal era a mim
mesmo. Ninguém mais.

Toquei a campainha quando parei em frente a porta com o número


indicado na mensagem. Meu corpo inteiro tremia.

E Deus, meu ar quase foi completamente arrancado dos pulmões quando


ela abriu a porta e apareceu à minha frente. Linda.

Um fato que eu tinha constatado na primeira vez que a vi.

Sexy. Isso era óbvio. Ela esbanjava sensualidade e poder.

Dessa vez algo nela brilhava, como uma aura angelical, por mais que no
sorriso não tivesse estampado boas intenções.

— Seja bem-vindo, Hugo.

Sua voz soava incrivelmente sedutora.


Passei por ela sentindo o mesmo cheiro da outra vez. Não conseguia
identificar ao certo o aroma, não era como se eu conhecesse sobre isso. Só
sabia que era gostoso de se sentir.

Escondi as mãos nos bolsos da calça jeans enquanto observava ao redor.


Era um apartamento luxuoso, por mais que fosse pequeno. A decoração era
requintada e uma escada de madeira conduzia até o quarto, já que, sem a
existência das paredes, eu conseguia ver a cama grande. A varanda possuía
uma bela vista para o jardim botânico à frente e eu tinha certeza de que se
juntasse tudo aquilo, pagaria minhas contas e ainda sobraria dinheiro para
um pé de meia.

— Gostou do apartamento? — Quebrou o silêncio enquanto caminhava


em direção ao sofá. — É seu, pelo menos enquanto estivermos juntos.

Demorei para entender, pois estava olhando seu corpo quando passou
por mim. O vestido ajustava perfeitamente nas suas curvas, acentuando a
cintura fina e quadris largos. Em seguida, a voz ecoou, falando novamente.

Pisquei algumas vezes, na certa com cara de bobo, pois ela sorriu se
divertindo com minha reação.

— Eu não posso. Tenho um lugar para morar.

— Sim, mas é aqui onde vamos nos encontrar. Se vai morar ou não,
sobre isso quem decide é você.

Assenti e continuei de pé, precisava relaxar mais, soltar meu nervosismo.

— Não posso me encontrar com você sempre. — Falei, já deixando claro


as minhas prioridades. — Pode descontar no dinheiro, como quiser, mas
tenho meus sobrinhos.

— Hoje eu abri uma exceção, Hugo, não posso deixar o trabalho de lado.
— E eu não vou deixar meus sobrinhos sozinhos. No máximo, algumas
vezes na semana, posso deixar os dois com alguém e vir. Dormir também
está fora de cogitação.

Eu emitia todas as justificativas intimamente com a intenção de que ela


não aceitasse. Tinha medo no que isso resultaria.

— Você é muito difícil. Não deveria ter se inscrito então.

— Fiz porque preciso desse dinheiro.

Quando soltei as palavras foi que percebi o quão baixo eu estava com
minha dignidade.

Ela ficou em silêncio, apenas parecendo absorver a informação. Tinha


quase certeza de que iria desistir mesmo, pois uma mulher como ela não era
do tipo que aceitava que ditassem as regras, já que era ela quem as fazia.

— Podemos fazer um período de experiência, ver se conseguimos nos


entender melhor na cama do que fora dela. Se fizer valer a pena, aí deixo
que escolha nossos encontros.

— E por que eu? — Questionei confuso — Entre tantos que devem


querer ficar com você, por que está me querendo?

— Acho que eu deveria fazer essa pergunta, Hugo. Por que aceitou isso,
se não parece se encaixar nessa situação?

O arquear das sobrancelhas me intimidou um pouco. Engoli em seco,


numa luta entre desviar o olhar e continuar encarando-a.

Nenhuma mulher tinha me deixado acuado dessa forma. Não que eu


tivesse vivência para poder comparar.

— Minha vida é simples, vivo com meus dois sobrinhos, faço bicos e
luto diariamente para não deixar faltar nada pra eles. Isso quer dizer que eu
não tenho tempo para nada além disso, muito menos namorar.

— Então não temos uma mulher que vai ficar enciumada caso descubra
sobre nós dois?

Pensei na Ana, na sua pureza e inocência, que ficaria chocada ao ver o


quão longe eu havia ido.

— Com isso não precisa se preocupar.

Entreguei os papéis a ela, onde eu já tinha assinado cada folha, dando


total consentimento a tudo o que estávamos prestes a começar a fazer;
Beatrice conferiu uma por uma, em seguida deixou de lado e voltou a me
encarar.

— Vou precisar que faça exames médicos. De sangue, de preferência,


pois não quero correr o risco com doenças sexualmente transmissíveis. Tem
uma clínica discreta no centro da cidade que você pode ir lá e dar meu
nome.

— Estou limpo. Completamente.

— Prefiro ter garantias concretas, Hugo. Sou uma mulher sexualmente


ativa, algumas vezes vou querer sem proteção, então é melhor que traga os
exames comprovando.

Raspei a garganta, percebendo que eu ainda não tinha contado o fato


mais importante de todos. Contudo, ela precisava saber.

— Eu nunca estive com uma mulher.

Senti o rosto queimar quando percebi sua reação. Era como se eu tivesse
acabado de dizer que acreditava em papai Noel.

— Como assim?
— Sou virgem. Nunca transei com ninguém, se quer saber.

Beatrice levantou-se de uma vez, abismada com a confissão, tentando


controlar uma risada.

— Isso eu entendi, cacete! — Resmungou — Como assim você é virgem


e se inscreveu em um site para acompanhantes?

Desespero, talvez.

Dei de ombros, já que estava humilhado o suficiente ao perceber que eu


jamais daria conta de uma mulher como ela.

As únicas vezes que eu tinha contato com algo sexual era no banho,
quando eu precisava relaxar e batia uma punheta no chuveiro para
conseguir dormir melhor. Nada além.

— Se você quiser desistir, tudo bem, eu deveria ter dito antes, mas...

— Não. Eu não quero desistir. — Vi quando ela se aproximou, parando


poucos centímetros de mim. — Mas percebi que vou precisar ir mais
devagar com você, Hugo. Não quero parecer mais predadora do que já sou.

Senti seu hálito de hortelã.

O cheiro do perfume.

Ouvi sua respiração.

Ela estava perto demais.

— Que tal me dar uma amostra do que irei ter durante esse período?

— Não tenho experiências, não faço ideia por onde começar.


Beatrice soltou uma risada, inclinando levemente a cabeça para trás. De
repente, ela parou para me encarar, as mãos apoiadas sobre meus ombros
em um toque quente e territorialista.

— Por que você não começa me beijando? Ou também nunca


experimentou beijar alguém? — Não respondi. — Quero saber se sua boca
é tão gostosa quanto me parece ser. Se vai ser habilidosa para tudo o que eu
tenho planejado pra fazer com ela.

Fazia muito tempo desde que eu tinha beijado uma garota. E foi Fabiano
que marcou um encontro para mim após o expediente na pizzaria. Era uma
mulher que sempre estava por lá, flertando de longe, até que nos beijamos
atrás das caixas de engradados, e se não fui além foi por ter a mente longe
demais, já que meus sobrinhos estavam em casa com a minha amiga.

Ela não esperou minha reação. Beatrice desceu uma das mãos e segurou
a minha, levando-a ao encontro da sua cintura, onde firmei meus dedos.

Meu corpo estava começando a entrar em combustão com a


proximidade, o cheiro e o olhar que ela me lançava a cada segundo.

— Eu vou te beijar, Hugo. Se não quiser, fale de uma vez antes que se
arrependa depois.

Não sei o que deu em mim de imediato. A beleza dela, talvez a maneira
como me deixava intimidado, a sedução que emanava dos seus poros...
quando dei por mim estava com os lábios contra os dela, em um beijo
calmo, lento, apenas para conhecer o contato.

E Deus, o gosto era bom. Me levava a um lugar desconhecido enquanto


contorcia meu estômago de uma forma estranha, fazia com que minhas
mãos suassem.

Os lábios carnudos roçavam nos meus, em seguida abrindo espaço para a


língua que invadiu de vez, deslizando contra a minha, sentindo o gosto dela,
o calor que emanava entre nós dois. Meu coração começou a tamborilar
mais rápido, a ansiedade me corroendo, minha cueca ficando apertada
demais e a pélvis dela encostando na minha não ajudava em nada com
minha situação.

E, de repente, a calmaria se transformou em tropeços até eu cair sentado


no sofá e ela por cima de mim. Minhas mãos apertando sua cintura com
força, como se eu fosse conseguir trazê-la ainda mais para perto.

Ofeguei com o beijo que parecia sugar todo meu ar. Nesse momento, eu
esqueci todos meus problemas, os motivos de estar na sala de um loft
luxuoso, acompanhado por uma mulher que estava disposta a me pagar por
prazer.

Eu era virgem. Não tinha experiências sexuais, já que minha vida era
uma catástrofe, no entanto, ao sentir a mulher rebolando em cima de mim,
percebi que ela poderia nos conduzir muito bem sozinha.

Então ela foi diminuindo o ritmo, dando uma mordida no meu lábio
inferior antes de afastar o rosto do meu. Em seu rosto bonito estampava um
sorriso quase que diabólico.

— Isso foi intenso, Hugo. — Comentou raspando as unhas por cima da


minha camisa.

Tentei reordenar minha respiração e pensamentos. Eu tremia inteiro.


Olhei para suas coxas ao redor do meu quadril, a brecha que estava
mostrando sua calcinha por debaixo... quis tocar, mas me contive. Voltei a
encarar seu rosto em chamas.

— Você está vermelho. Meu Deus, eu não acredito que está corado por
olhar para minha calcinha.

Dei de ombros, sem graça com a constatação.

Por que mesmo eu estava me submetendo a isso?


Ela tocou meu queixo com a ponta do dedo e me fez manter os olhos
sobre ela.

— Não vamos transar hoje, Hugo. Eu tenho trabalho, você jogou uma
bomba em cima de mim, está tremendo... Vamos com calma, tudo bem?
Pretendo fazer isso devagar.

Abri a boca para responder, mas ela foi mais rápida quando caiu de
joelhos entre minhas pernas, abrindo-as para se encaixar melhor.

— O que...

— Vou chupar seu pau, gatinho. Quero te mostrar um pouco do que te


espera. Se não quiser que eu o faça, me impeça antes que eu o devore até o
fundo da minha garganta.

Sua pergunta veio no momento em que ela tocou o botão da minha calça.
Engoli nervoso, assentindo em seguida, pois estava excitado demais para
negar o que ela parecia disposta a fazer.

— Você quer isso?

Liguei o foda-se para minha consciência.

— Si... sim...

Meu Deus, sim... eu não pude recusar a um pedido desse tipo. Isso me
tornava uma pessoa aproveitadora?

Beatrice abriu minha calça, deslizando um pouco para baixo, assim


como a cueca, livrando minha ereção do aperto. Estava com o corpo quente
demais, suando, o ar fugindo aos poucos, o que piorou quando ela o
segurou entre os dedos e me encarou com olhos felinos, selvagens...
experientes.

— Alguém já fez isso com você, Hugo?


E passou a língua por toda a extensão, fazendo com que eu me
contorcesse.

— Na... não.

— Bom saber que serei a primeira, então.

Vi tudo borrado no minuto em que ela o envolveu com a boca, cobrindo


minha ereção com os lábios grossos e pintados de um vinho nada discreto.
Tentei pensar em alguma coisa que não me fizesse urrar como um animal
feroz, mas era incapaz de levar minha mente a qualquer lugar que não fosse
à mulher de joelhos chupando meu pau.

— Porra! — gemi entredentes.

Ela subia e descia com a boca molhada, raspando os dentes devagar e


dando leves chupadas na cabeça inchada. Eu não ia durar muito, sabia
disso, pois era a primeira vez que eu recebia um sexo oral, nunca tinha
transado, nem mesmo conhecia as manhas para manter o controle.

Como se fosse possível, pois a imagem dela era perfeita. Linda,


desinibida e sensual, eu tinha plena consciência que ficaria guardada na
minha mente.

Apertei o encosto do sofá com os dedos, lutando contra a sensação que


começava a invadir meu corpo, percorrendo pelas veias como um vulcão
prestes a entrar em erupção.

— Eu vou... — tentei avisar — eu...

Droga! Eu nem mesmo sabia usar palavras chulas com ela. Parecia tão
errado, estranho.

Beatrice parou abruptamente, ainda com a mão acariciando minha


ereção, então me lançou mais uma vez aquele sorriso que, provavelmente,
era a perdição de todos que se envolviam com ela.

— Se quer gozar, Hugo, faça isso... na minha boca. Quero engolir tudo,
cada gota que tiver para me oferecer.

E mais uma vez ela havia me deixado sem fala, voltando a chupar com
mais velocidade, subindo e descendo a cabeça, sem nunca tirar os olhos de
mim.

A sensação era gostosa e implorei para meu corpo não se apressar.


Queria que fosse devagar.

— Cacete! — Xinguei agarrando sua cabeça involuntariamente, quando


sentir que ia vir.

Enxerguei tudo turvo à minha frente, minha boca secou e as pernas


sacudiram quando não fui mais capaz de resistir. Gozei descontroladamente.

Como nunca tinha feito em toda a minha vida.

Quando voltei a encará-la, ela se afastou, sorrindo e limpando os cantos


dos lábios.

— Preciso ir ao banheiro e me recompor. Infelizmente, ainda tenho


muito trabalho a fazer.

E saiu, indo em direção ao banheiro, com toda a tranquilidade do mundo,


como se não tivesse acabado de me fazer gozar dentro da sua boca.

Levantei-me de uma vez, fechando minha calça e esfregando o rosto.


Era loucura. Loucura demais.

Eu tentava agir com a razão, mas o corpo inteiro dizia o contrário. Na


verdade, queria continuar. O maldito traidor havia ligado o foda-se para as
condições que essa nossa relação exigia.
Beatrice retornou alguns minutos depois, impecável e ainda mais bonita,
como se fosse possível.

— Me envie seus dados para as transferências bancárias. Ah, e posso


conseguir um carro para que use por enquanto, assim evita perder muito
tempo.

Ela falava com uma naturalidade de uma negociadora no comércio.

— Eu não tenho habilitação.

— Tudo bem. Você vem com um motorista contratado.

— Não precisa disso.

O êxtase havia ido embora, agora voltando a dar espaço a minha moral,
se é que ainda restava alguma.

— Claro que precisa. Isso não está em negociação. E tem mais.

Ela voltou a explicar sobre o loft, que era para o meu uso, mesmo que
ela não estivesse. Obviamente recusei, pois tinha meu lugar para morar,
meus sobrinhos, jamais misturaria isso com a família.

Até mesmo os suprimentos ela traria para o loft.

— Fique com a chave. Logo vou entrar em contato para saber se está
preparado. Quero uma noite, deixando claro, pois o que eu pretendo fazer
requer bastante tempo.

E se foi.

Simplesmente me deu as costas e saiu do apartamento sem sequer olhar


por cima do ombro.
Desabei no sofá novamente, em estado de choque e tentando absorver os
últimos acontecimentos.
Capítulo 6
Um virgem.

Puta merda. Eu estava ficando maluca por aceitar isso. Por permitir levar
um garoto como ele para minha vida. O problema era que meu lado egoísta
não dava a mínima para isso, pois queria experimentar ainda mais, ter o
prazer de ensinar como o sexo funcionava de verdade.

O beijo foi bom, além do que eu esperava para alguém inexperiente, mas
me ajoelhar e dar o prazer que alguém nunca o deu, foi surreal e excitante. Só
me deixou com vontade de repetir a dose e tirar uma noite inteira para mostrar
tudo o que eu faria com ele quando tivesse a oportunidade.

Abri os dois primeiros botões da minha camisa social quando senti o calor
subir através do meu pescoço. O ar da sala estava ligado, ainda assim, meu
corpo estava em combustão.

Sacudi a cabeça quando ouvi meu nome, era a secretária avisando que
Moroni estava à minha espera. Ergui a mão e autorizei a entrada do advogado.

Levantei quando o vi entrar, esticando o braço para apertar sua mão.


Moroni era conhecido da família, estava na casa dos sessenta, sabia muito
sobre minha vida, e há quatro anos tinha virado meu advogado particular. Eu
confiava nele, até porque nosso contrato envolvia bastante dinheiro.

Sentei-me e ele fez o mesmo, mexendo na pasta enquanto comentava


trivialidades.

Passei cada detalhe do que queria que ele fizesse por Hugo, fornecendo
seus dados bancários para que o dinheiro fosse creditado em conta e a
disponibilização de um motorista particular para que o levasse ao apartamento
sempre que necessário.
— Como um homem que te admira, é seu amigo e se preocupa, às vezes
fico receoso com essa situação em que se submete. — Comentou enquanto
me observava com um vinco entre as sobrancelhas.

— Não tem com o que se preocupar, Moroni, eu sei o que estou fazendo.

— Tantos homens se ajoelhariam aos seus pés, de graça, poderia ser mais
fácil.

— Prefiro colocar limites.

Ele sacudiu a cabeça abrindo um pequeno sorriso.

— Não, querida. Você quer poder. Quer ter como dizer que está acima
deles, de não dar o direito de controlarem o que acontece. Ama saber que
manda e desmanda e que os têm nas suas mãos.

— É, vendo por esse lado, não é de todo ruim.

— E se um dia se apaixonar?

— Me apaixonar por um cara que está comigo pelo dinheiro? Impossível.

Essa era uma das maiores vantagens do contrato. Os homens no dinheiro e


eu no sexo.

Não esperei que ele respondesse, pois desviei o assunto para o profissional.
Moroni entendeu, guardando para si mesmo o que quer que estivesse pronto
para rebater.

Ele tinha total liberdade para palpitar sobre minha vida, eu tinha dado esse
direito desde sempre, no entanto, não estava disposta a ouvir seus medos
infundáveis logo cedo.
Minha determinação em ter Hugo era mais forte do que isso. Estava
ansiosa para ter um momento com ele novamente. E se ele precisava do meu
dinheiro, tudo bem, eu daria em troca de um pouco de diversão.

Assim que terminamos nossa pequena reunião, o acompanhei até a porta.


Tinha muito o que fazer durante o dia, mas tudo o que eu estava desejando era
o oposto de trabalhar.

Meu sorriso se desfez assim que notei minha mãe chegando, aos prantos,
caminhando na minha direção. Moroni murmurou algo incompreensível.

— Beatrice, eu preciso da sua ajuda.

Cruzei os braços e a encarei já esperando o pior.

— Claro que precisa, mãe. Ou não estaria aqui.

— Seu irmão... ele foi preso. Vocês têm que fazer alguma coisa, ir lá e...

Ergui a mão interrompendo sua fala.

Não era a primeira vez que o Benício aprontava, virando quase uma rotina,
mas sem meu pai para dar um jeito, ela só tinha a mim a recorrer.

— O que ele fez?

— Nada de grave. Uma bobagem, mas aquele delegado de quinta não


aceita negociação.

— Você tentou negociar com o delegado? Por que eu ainda me surpreendo


com o que faz?

Sorrio sarcástica, recebendo um olhar nada agradável. Moroni, por sua vez,
tentou resolver no meu lugar.

— Conte o que ele fez, Magda. Ninguém é preso por bobagem.


— Só porque ele tomou uma ou duas doses de vodca e bateu em um
motociclista. Isso não é motivo para ficar preso. Esses motoqueiros andam
como se fossem os donos do mundo.

—Ah, quer dizer que além de bêbado ainda provocou um acidente. Que
homem de futuro!

— Vai ou não ajudar? Moroni é um dos melhores e responde a tudo o que


manda, como um cachorro fiel.

— Não vai, não. Quer saber? Benício vai ficar lá, pensando na merda que
fez e criando juízo.

— Vai ser capaz de deixar seu único irmão preso? Se seu pai estivesse vivo
jamais permitiria isso.

Eu tinha certeza de que faltava pouco para ela ter um colapso.

— Justamente. Vocês dois criaram um monstro, mas eu não vou alimentar


isso. Por mim, ele fica lá e paga pelo erro que cometeu. Moroni está proibido
de ir.

— Se acha a pessoa mais correta e perfeita, não é? Deus sabe o quanto eu


não faço ideia de onde saiu um sangue tão ruim. Um dia isso acaba e não vai
restar ninguém ao seu lado.

Não era como se eu tivesse muitas pessoas ao meu redor.

— Se acabou, mãe, pode ir. Tenho mais o que fazer.

— Vou dar meu jeito, revirar essa cidade atrás de tirar o meu filho da
cadeia, e em breve vou lutar contra esse maldito testamento.

E assim como chegou, foi embora de vez, caminhando em passos rápidos


em direção ao elevador.
Moroni virou para mim com um sorriso debochado.

— Você é má, Beatrice.

Dei de ombros e assenti, despedindo-me e voltando para minha sala.


Meu dia já havia começado daquele jeito. Mergulhar em trabalho era
minha única opção no momento.
Eu não conseguia esquecer o que ela havia feito.

Ainda era capaz de fechar os olhos e sentir os lábios nos meus e a boca
ousada indo de encontro com minha ereção. Porra! O que estava acontecendo
na minha mente?

Foquei o dia inteiro em limpar a casa, preparar algo para as crianças no


jantar e ir de encontro com Fabiano enquanto os dois dormiam sob a
vigilância da Dulce, que estava sentada na calçada do lado de fora.

— E então, como foi com a coroa?

Ele mal esperou que eu encostasse no balcão, já foi me metralhando com a


pergunta e o olhar malicioso. Talvez não fosse uma boa compartilhar tanto
com ele, por mais que fosse meu amigo.

— Ela não é uma coroa.

— Não? Geralmente são mulheres assim, solteironas, coroas carentes, que


nos procuram.

— Ela é mais velha sim, deve estar chegando aos quarenta, mas muito
bonita e elegante.

— Uau! A que eu pegava não era assim não. A velha era bonita, mas já
tinha sessenta e cinco. Se bem que houve outras também, cada uma mais
deliciosa do que a outra. Uma delas até gostava de apanhar, aquela vadia era a
melhor de todas.

Fiquei incomodado com a maneira em que ele se referiu a ex amante.

— O que tem aí pra mim hoje? — Perguntei tentando mudar de assunto.

— Me conta mais sobre ela. Quero saber os detalhes.


— Não vou te falar nada. Já sabe o suficiente.

— Filho da mãe! Eu te coloquei nessa, esqueceu?

Dei de ombros, soltando uma risada em seguida.

Não tive tempo de responder, pois uma voz feminina soou atrás de mim.
Era Ana, que me observou com olhos curiosos.

— Se eu não conhecesse o Hugo diria que estão falando sobre mulheres,


mas isso é mais típico do meu irmão.

— Esse assunto aqui não é para crianças. — Fabiano rebateu.

— Deixei de ser criança há bastante tempo. Ou acha que não sei como
conseguiu montar sua pizzaria?

Tossi em uma gargalhada ao ver a reação do meu amigo. Em choque,


Fabiano arregalou os olhos para a irmã, que apenas o encarava de volta.

— Enxerida. Não devia ir atrás de saber coisas que não são da sua conta.

Os dois começaram a soltar farpas um para o outro, e percebi que não tinha
entrega para que eu fizesse, por isso tirei meu time de campo e voltei para
casa. Ao menos ia ficar de olho nas crianças que estavam dormindo.

A paz que eu estava sentindo ao sair de casa evaporou no instante em que


entrei e fui acompanhado por Heloise, que estava descabelada, fedendo a suor
e mais magra do que da última vez que a vi.

— Quem é vivo sempre aparece, não é? — Comentei enquanto a


observava mexer na geladeira.

— Não tenho motivos para vir em casa quando tudo o que faz é me receber
com esse olhar de desprezo.
— Por que será? Da última vez levou a televisão das crianças, causou uma
confusão e foi embora como se não tivesse dois filhos.

Heloise revirou os olhos enquanto se jogava sobre o sofá.

— Já disse para entregar os pirralhos em um abrigo. Vão ser adotados e


mais bem criados do que nesse casebre. Você se faz de bom samaritano e
sofre porque quer. Eles não são sua responsabilidade.

— Não sei como eu ainda me espanto com isso, sinceramente.

— Aqueles dois foram um acidente, sabe disso.

— São crianças, cacete! Não têm culpa de ter uma mãe tão irresponsável e
sem juízo.

Minha raiva estava aumentando. Cada encontro era assim. Eu estava muito
cansado disso tudo.

Heloise levantou de uma vez e abriu a porta.

— Fica aí com sua vida de merda com os dois pirralhos, mas não esqueça
que essa casa também é minha. Posso ir e vir quando eu quiser.

E saiu batendo a porta, deixando a devastação de sempre. Encostei a


cabeça no sofá e fechei os olhos, cansado e com a têmpora latejando.

Estava tão esgotado que não vi quando meu celular tocou com uma
mensagem dela.

Beatrice.
Capítulo 7
Acordei sentindo-me mais cansado do que quando tinha ido dormir.
Minha cabeça não parava de trabalhar nem mesmo enquanto eu arrumava as
crianças para a escola.

— Mamãe veio aqui ontem, não foi? — Elena perguntou cabisbaixa. —


Acordei ouvindo a voz dela.

Assenti, não tendo muito o que dizer. Odiava quando eles presenciavam
qualquer coisa relacionada a mãe, principalmente a Elena que era mais
meiga e doce.

— Ainda bem que eu não acordei. Odeio quando ela aparece.

— Igor! — Chamei sua atenção de imediato.

O menino continuava alimentando a raiva.

— Ela um dia vai mudar?

— Vamos torcer por isso.

Heloise estava agindo exatamente como nossa mãe, quando se afundou


nas drogas e terminou destruindo a própria família.

Heloise era tão bonita, tinha tudo para ser uma pessoa normal da sua
idade, mas a influência materna que teve não ajudou em nada. Éramos uma
família disfuncional, completamente fodida, não a condenava tanto por ser
assim.
Por isso eu faria de tudo pelos meus dois pirralhos. Qualquer coisa para
que nunca seguissem o mesmo caminho.

Esperei que os dois terminassem de comer e peguei o meu celular. Foi


quando notei a mensagem da Beatrice enviada na noite anterior. Ela queria
um encontro.

Hoje.

Senti o nervosismo crescer dentro de mim a medida em que eu pensava


na possibilidade de ir ao seu loft. Não era como se eu tivesse escolha.
Tinha que dar meu jeito.

Meu corpo inteiro estava consumido pela ansiedade quando deixei as


crianças na casa da Ana. Pedi que ficasse com elas com a justificativa que
tinha conseguido um bico para fazer na área nobre. Com a gentileza que
sempre tinha, ela aceitou e colocou os meninos para verem filme no sofá.

Precisava comprar algo para Ana, em forma de gratidão, já que ela


sempre deixava claro que não aceitaria dinheiro. De qualquer forma, nada
pagaria por tudo o que ela fazia por mim e pelas crianças.

Assim que virei a esquina da rua onde morava vi o carro preto parado à
minha espera. Sabia que era ele porque tinha recebido uma mensagem com
a placa para que eu o identificasse. Cumprimentei o motorista e seguimos
viagem até o outro lado da cidade.

Sentia-me incomodado com o fato dela mandar alguém para me pegar


em casa, mas de todo modo, era bom não precisar demorar tanto pegando
dois ônibus e perder tempo.
Durante todo o percurso meu estômago revirava. Ansiedade, receio e
excitação do que estava prestes a acontecer. Não seria hipócrita, pois transar
com alguém como Beatrice era um privilégio, contudo seria melhor se fosse
algo natural, não com a consciência gritando que eu estava vendendo meu
corpo. Precisava focar que o objetivo era proporcionar uma melhor
qualidade de vida para os sobrinhos.

Agradeci quando chegamos ao destino, então parei um pouco e observei


o prédio luxuoso antes de entrar de vez. O porteiro acenou quando abri o
portão e entrei.

Meu coração batia cada vez mais forte à medida que eu ia caminhando
para o interior do prédio. Até o elevador pareceu roubar meu ar quando
fechou as portas.

Com as mãos trêmulas, girei a chave na fechadura e entrei, atento para


saber se ela já havia chegado. Não, ainda não. Eu estava sozinho no
apartamento. Faltava o cheiro marcante dela, apesar de todo aquele luxo ser
exatamente uma lembrança do que ela era.

Abri a porta de correr e sentei-me na cadeira acolchoada. Mil


pensamentos me invadiram de vez, mas nenhum deles me tranquilizou. Eu
estava quase tendo um colapso nervoso.

E tudo piorou quando ouvi a porta abrir, quase meia hora depois, com o
aviso de que ela tinha chegado. A brisa leve acabou trazendo o cheiro até
mim, gelando meu estômago.

Engoli em seco e levantei-me, caminhando até onde ela estava. Foi um


golpe quase fatal, pois Beatrice estava tão bonita e sexy que senti as pernas
amolecerem.

Diabos! Eu tinha perdido o total controle do meu corpo.

Não consegui controlar meu olhar que analisava cada centímetro dela,
indo dos pés adornados em uma sandália bege até as mechas perfeitas que
caíam sobre os ombros.

— Não imagina o quanto estou feliz por ter aceitado a minha proposta.
Suas palavras saíram acompanhadas de um olhar cheio de malícia, que
desceu por minha camisa de botões e a calça jeans surrada. Foi o melhor
que encontrei entre minhas roupas. Não era como se eu fizesse compras
com frequência. Minhas prioridades eram outras.

Esfreguei as mãos suadas na calça, ainda incapaz de reagir. Nunca tive


encontros, jantares, sexo casual... eu nem mesmo sabia como agir em uma
situação como essa.

— Não precisa ficar com medo, eu não vou morder você. Não de uma
maneira ruim, se quer saber. — E sorriu.

Deus, ela conseguia ficar ainda mais bela com um sorriso leve
estampando o ar de arrogância e poder. Algo dentro de mim alertava o quão
perigosa essa mulher seria para minha vida.

— Eu só nunca estive em algo parecido. Não faço ideia do que fazer


para agradá-la.

— Você ter vindo já foi um bom começo. O resto eu vou ter o prazer de
te ensinar.

Tão direta que me deixava sem fala. O ar pesava entre nós dois, não de
uma maneira ruim. Era a tensão sexual que ela emanava com a presença
marcante. Isso me atiçava além do que deveria.

— Senta e relaxa. Temos longas horas pela frente.

Atendi ao seu pedido enquanto ela deixou a bolsa


sobre a mesa. Observei quando se serviu com uma taça de vinho tinto e
ligou o sistema de som do apartamento, que não demorou a ecoar através
dos alto-falantes do teto.
A música suave era agradável, mas nem assim me acalmei. Estava tenso
com o que precisava fazer. Beatrice era experiente, sabia como conduzir as
coisas, provavelmente esperava que os parceiros fizessem também, mas eu
sequer sabia como começar. Meus pensamentos foram ofuscados quando
ela parou na minha frente e ofereceu a mão para que eu a acompanhasse.

— Acho que podemos dançar um pouco. Talvez isso ajude com o seu
nervosismo.

Com atitude, ela me puxou contra seu corpo e fez com que eu envolvesse
sua cintura, enquanto seu braço apoiou sobre meu ombro.

Os olhos negros e intensos me encararam sem pudores, sempre


alternando entre meus olhos e minha boca, que estava entreaberta em busca
de respirar melhor.

— Você é transparente e ao mesmo tempo um mistério. Como posso


explicar isso, Hugo?

— Sou apenas o que está vendo. Não há mistérios sobre mim.

— Consigo ver suas feições e reações, ler sua mente fervilhando


imaginando como vai transar comigo e me agradar, já que é virgem. Já o
resto, profundamente, não consigo desvendar. E talvez isso seja bom,
porque meus interesses são sexuais, e quando menos eu souber, melhor.

Assenti, apenas com um aceno.

Minha mente estava focada na reação do meu corpo. Os dedos que


apertavam sua cintura, o cheiro que emanava dela, a voz tão cheia de
confiança... era dona de si e sabia o poder que tinha.

— Gosto do seu cheiro. — Deixei que meus pensamentos ganhassem


voz.
Beatrice sorriu, aproximando o rosto para esfregar o nariz na minha
bochecha.

— Também gosto do seu. Natural, apenas sabonete e alguma colônia


barata que cai muito bem em você.

Ficamos assim, dando leves passos de um lado para o outro, com ela me
conduzindo enquanto ocorria a troca da música.

Não me dei conta de quem começou, só percebi que nossos lábios


estavam se devorando lentamente, ao ritmo da canção, e me peguei
envolvido pelo gosto que sua língua tinha, os lábios carnudos que
deslizavam contra os meus.

Parei de dançar.

Só a puxei contra mim com mais força, apenas permitindo ser levado
pelo instinto do meu corpo que clamava por ela, em algo natural e
primitivo.

Era insano que meu beijo encaixasse perfeitamente no dela, como se as


bocas fossem acostumadas uma com a outra. O sangue chegava a borbulhar
de desejo.

Quando ela interrompeu, encarando-me sem fôlego, outro sorriso


apareceu.

Beatrice virou de costas e colocou a taça sobre a mesa, parando a poucos


centímetros de mim, da minha ereção que despontava da calça e o tremor
que dominava meu corpo.

Não fui capaz de desviar o olhar das suas costas, das curvas perfeitas que
estavam escondidas sob o vestido e nem mesmo as mechas que foram
jogadas para o lado.

— Abra meu vestido, Hugo. — Ordenou.


Passei a língua entre os lábios antes de erguer a mão e tocar no zíper que
começava próximo a nuca e terminava no final da sua coluna. Eu estava
nervoso demais, sem saber como reagir ou controlar tudo isso.

Deslizei até o fim, observando cada centímetro de pele que estava sendo
exposto, inclusive o sutiã vermelho que combinava com a calcinha que logo
apareceu como a visão do inferno perfeito.
Se o diabo tinha mesmo tanto poder assim, ele com certeza havia
mandado Beatrice para a minha vida.

Era a própria tentação e perdição. Não era como se minha vida não fosse
conturbada o suficiente para que eu me metesse em algo assim.

Ela não esperou que eu terminasse, pois arrancou a peça deixando-a cair
ao redor dos seus pés, chamando minha atenção para a calcinha de renda
que parecia ter sido feita sob medida.

E assim que ela me olhou por cima do ombro, eu vi que não tinha mais
saída. Ela estava com as melhores e piores intenções, e eu pronto para
mergulhar nelas.

— Gosta do que vê? — Indagou virando-se de frente.

— Você é perfeita.

Tanto de costas como de frente.

Eu não conseguia tirar os olhos dela. Meu pau já estava começando a


doer de tanta excitação.

— Já sobre você eu só posso dizer quando ver o pacote completo.

Como ela conseguia dizer essas coisas com tanta naturalidade? Minha
vida nunca deu espaço para esse tipo de envolvimento, flerte ou
pensamentos, mas agora eu estava diante de uma mulher que não era só
experiente, como atrevida e ousada.

Engoli nervoso quando ela começou a abrir os botões da minha camisa


sem nunca tirar os olhos de mim.

Gostava da sua confiança, da maneira de agir para que eu não precisasse


fazer tudo.

E eu tinha certeza de que mais um pouco e gozaria nas calças antes


mesmo de chegar ao ato em si.

Seu olhar cravou no meu peitoral já exposto, com pelos ralos e sem
muitos músculos, apenas o natural de carregar pesos em bicos e o costume
de ter o peso de duas crianças nos braços durante os últimos oito anos.

Era um corpo normal. Nem muito magro, nem musculoso; mas eu


gostava do meu físico, e meu ego gostou de saber que ela aprovava
também.

— Gosta do que vê? — repeti sua pergunta.

Ela sorriu, maliciosamente, jogando a cabeça para trás em uma risada


gostosa de ouvir.

Agarrando o cós da minha calça, ela me puxou na direção do quarto.

— Vem comigo.

Se meu coração já estava batendo forte, passou a tamborilar como a


bateria de uma escola de samba quando eu vi a cama arrumada e o ambiente
que emanava sexo.

Não consegui mais pensar em nada quando ela me empurrou sentado na


ponta do colchão e começou a me livrar da calça, deixando-me apenas de
cueca e com a ereção esticando o tecido. Ninguém mais havia me visto
assim. Apenas ela.

Senti meu rosto queimar, como se restasse alguma coisa para me


envergonhar. Ter aceitado a proposta, ter sido chupado por ela, já havia sido
o suficiente.

Ainda assim, me senti tomado pela timidez.

—Você quer me tocar, Hugo?

Esfreguei as mãos no edredom macio da cama enquanto assenti nervoso.

— Si.. sim.

Sem esperar minha reação ela desabotoou o sutiã, expondo os seios


medianos e belos, com mamilos escuros e acesos. Conseguia enxergar até
os pelinhos arrepiados ao redor deles.

Segurando minhas mãos, Beatrice as levou até os montes inchados,


pousando na pele macia que estava quente sob meu toque.
Apertei levemente, sentindo e comprovando que cada parte dela era tão
macia e perfeita que eu nem mesmo conseguia descrever.

— Nunca fez isso, não é?

— Não.

Será que eu gozaria assim mesmo? Cacete! Meu corpo estava


começando a me deixar assustado.

— A maneira como está olhando para eles me faz querer te foder agora
mesmo.

Puxei o ar dos pulmões, desnorteado com sua sinceridade.


— Eles são tão bonitos quanto você.

— Faça o que quiser, então.

Eu era virgem, não havia tido contato sexual com outras pessoas antes
dela, mas obviamente sabia como as coisas funcionavam, em como os
homens tomavam suas parceiras e a maneira que podiam agradá-las. Os
filmes eróticos me mostraram isso na adolescência, o problema era que
depois de adulto eu não tinha chegado a praticar.

Não até agora.

Fiz o que meu instinto induziu. Abocanhei um dos seios, envolvendo


meus lábios em volta do bico rijo, sugando com inexperiência, mas ouvindo
os gemidos de prazer saiam da boca de Beatrice.

Enquanto minha boca trabalhava em um, a mão ia no outro,


massageando e apalpando na medida que eu ia me fartando dela. E para
minha surpresa, Beatrice sentou-se sobre minhas pernas e começou a se
esfregar contra minha ereção já dolorida.

Ofeguei ao passo que ia alternando entre um seio e outro e ela roçava


loucamente em cima de mim.

Parei de uma vez, interrompendo os seus gemidos.

— Preciso... eu... — tentei falar, mas não conseguia ter a naturalidade


dela.

— Está querendo me dizer que vai gozar?

— Não quero fazer isso agora.

— Não vejo problema algum nisso. É sua primeira vez, normal que se
sinta assim. — Disse com a pele corada. — Quer que eu comande por
você?
Balancei a cabeça em confirmação. Por agora, queria isso. Até me soltar
eu precisava que ela me ajudasse.

Assisti quando ela se levantou, saindo de cima de mim à medida que ia


tirando a minha cueca, libertando o monstro que estava me comandando.

Ela agarrou minha ereção e começou a movimentar a mão de cima a


baixo, lentamente, quase como uma tortura enquanto eu apenas sentia e
observava.

— Pode me tocar, Hugo. E quando eu digo isso, estou dizendo na minha


boceta.

Quase me engasguei. Não sabia quando ia me acostumar com ela, com o


jeito direto e ousado, mas precisava ser logo ou pareceria um adolescente.

Com a mão livre, ela agarrou a minha e levou para o centro das suas
pernas, bem em cima do tecido fino da renda que a cobria. Acariciei
devagar, sentindo a umidade sob o tecido, alertando-me o quanto ela estava
excitada também.

Ainda me masturbando, ela apenas colocou o pedaço de pano de lado,


expondo a sua pele lisa e totalmente depilada, macia e quente como o
inferno devia ser.

Deixei tudo de lado quando mergulhei meus dedos pelas dobras


encharcadas, sentindo-a vibrar com meu toque. E eu só estava na parte
externa, não tinha ido além.

Seu ponto sensível estava inchado, duro sob minha mão à medida que eu
ia massageando.

— Que delícia! — Murmurou ensandecida. — Enfie seus dedos dentro


de mim, Hugo.
Atendi ao seu pedido desesperado, indo com receio de machucá-la,
colocando apenas dois, devagar, sentindo o interior quente e molhado em
volta dos meus dedos.

Em resposta aos meus toques, ela aumentou a velocidade da mão,


esfregando o polegar na ponta já melada com o pré-gozo. Eu estava perto
demais.

Beatrice rebolou contra meus dedos, esfregando também na palma da


minha mão. Seus olhos me encaravam como se eu fosse uma presa na frente
do caçador.

Eu também não conseguia manter os olhos longe dela. Só o fiz quando


seus seios voltaram a roçar no meu rosto e, automaticamente, abocanhei um
deles novamente.

Os sons de gemidos preencheram o quarto. Não sabia quem estava


ofegando mais, se era eu ou ela. Só deixei me envolver pelo contato, a
língua rodeando o mamilo e os dedos mergulhando profundamente entre
suas pernas... e a mão que me acariciava cada vez mais forte.
Até que eu vi meu corpo começar a sentir o ápice chegando, a corrente
percorrer minha coluna e se concentrar inteiramente no meu pau.

Gozei em jatos quentes em sua mão, estremecendo e assistindo enquanto


ela cavalgava em meus dedos.

— Continue assim, gatinho. Isso é bom... uma delícia.

Sua voz rouca e sexy me deixava inebriado, perdido e zonzo.

— Olhe para mim. — Ordenou — Quero ver seu rosto, observar seu
olhar, ver como fica enquanto fode minha boceta com os dedos grandes e
calejados.

Fiz o que me foi pedido, ainda acanhado por estar sendo observado
minuciosamente, percebendo Beatrice aumentar os movimentos e
rebolando, enlouquecida, enquanto meus dedos iam mais fundo.
Quente e apertada, atendi quando ela exigiu que eu colocasse mais dois
dedos, dessa vez, estando com quatro sendo engolidos por sua entrada
encharcada.

Meus pelos arrepiaram, a boca secou, eu estava ficando duro novamente.


Não era como se eu tivesse acabado de gozar na sua mão há poucos
minutos.

— Vou gozar, gatinho. — Sussurrou entre gemidos — Continue assim,


Hugo.

Beatrice apertou meus ombros, cravando as unhas com força, jogando a


cabeça para trás em um movimento tão sexy que eu jamais esqueceria, nem
mesmo com os anos se passando.

— Cacete!

Então ela agarrou meu rosto e empurrou os lábios contra os meus, em


um beijo ainda mais feroz e descontrolado enquanto eu sentia seu interior
contrair e apertar ainda mais os dedos que ainda a fodiam.

A mulher simplesmente começou a estremecer sobre meu colo, soltando


gemidos sensuais e descontrolados, praticamente convulsionando de prazer.
Nunca tinha visto nada igual.

Tão abruptamente como começou, ela parou, saindo do meu colo


devagar. Lábios inchados, bicos acesos e úmidos. Era como uma deusa
saída de uma revista.

Quase resmunguei quando ela se afastou, fazendo com que meus dedos
saíssem de dentro dela.

— Quero que sinta meu gosto, Hugo.


Não consegui reagir antes dela agarrar minha mão e trazer até minha
boca, onde chupei os próprios dedos melados que tinha não só o cheiro, mas
o gosto dela também.

E assim, submisso, lambendo os dedos enquanto ela me observava,


percebi algo que me deixou temeroso.

Beatrice seria minha perdição.


Capítulo 8
Tive muitos homens na minha cama. Entre idas e vindas, pagos ou não, o
sexo havia sido uma maneira de me distrair e como uma diversão em que eu
buscava nas horas vagas. E em todas as vezes eram com homens
experimentes, por mais jovens que fossem.

Hugo tinha sido o mais novo entre eles, chegando próximo ao Marcus que
tinha vinte e oito. Contudo, diferentemente do outro, Marcus era experiente,
sabia como me dar orgasmos, um sexo bruto e, algumas vezes, com
selvageria.

Assim como eu gostava.

Agora, meses depois, eu estava com um virgem. Tímido, quente e muito


sexy que não sabia ao certo o que fazer, mas se permitia envolver e atendia
aos meus comandos com um olhar curioso e intenso. E vê-lo chupar os dedos,
degustando o sabor do meu gozo, deixou-me ainda mais excitada, fazendo
com que eu o empurrasse contra a cama, escalando sobre seu corpo másculo e
natural.

— Você me deixou ainda mais excitada, gatinho. Sabe disso, não é? —


Comentei, me sentando sobre seu ventre.

O pau já estava semiereto, mostrando que não ia demorar para ele estar
pronto novamente.

Notei que ele ficava um pouco perdido quando eu soltava frases sexuais,
algumas vezes, até mesmo ficando com as bochechas coradas. Um homem
que se sentia tímido com o sexo era encantadoramente surreal. Eu não estava
habituada com isso.
— Pode me tocar de novo. Não se acanhe. Enquanto eu estiver aqui, entre
quatro paredes com você, pode fazer o que quiser. Contanto que seja bom
para os dois.

— Isso tudo é novo demais para mim.

Vi seu pomo de adão subir e descer, demonstrando seu nervosismo. Por


que isso era tão sexy?

— Gosto de saber que vou tirar toda a sua pureza. Isso faz com que eu seja
uma bruxa má?

— Você é qualquer coisa, menos uma bruxa.

Gargalhei, inclinando meu corpo para deixar beijos por seu rosto e
pescoço, descendo devagar pelo peitoral, sentindo os pelos ralos contra meus
lábios.

— Está pronto para me foder ou prefere que eu vá mais devagar?

E mais uma vez lá estavam as bochechas coradas.

Sabia que ele estava comigo pelo dinheiro, que sua decisão em aceitar
havia sido pelas condições precárias que se encontrava, que a consciência
talvez tivesse sussurrado diversas vezes, mas pela sua reação e modos,
enxergava a sua excitação e como estava gostando de tudo, por mais que
estivesse acanhado.

Deslizei a bunda mais para baixo, me sentando em suas coxas enquanto


agarrei seu cacete duro. E era lindo. Grosso, envolvido pelos meus dedos, as
veias saltadas e a cabeça inchada, vermelha e ainda melada.

— Talvez eu me sinta um pouco lisonjeada por ser a primeira a tocar no


seu pau, em sentir assim... tão duro, pronto para me foder e me deixar
dolorida durante dias com a lembrança do que fizemos.
Mordi o lábio para conter a risada com sua reação.

— Vou te chupar agora, Hugo, deixar seu cacete preparado para invadir
minha boceta que está ansiosa por isso desde o primeiro encontro.

Não precisei esperar respostas, porque sabia que ele não daria. Também
pudera, ao ouvir as palavras, ele ficava desnorteado. Meu lado selvagem não
sentia remorso algum por tirar sua inocência, de me aproveitar da necessidade
do dinheiro para exigir o sexo. Por isso me posicionei de quatro e levei minha
boca até a ereção, que estremeceu sob o contato da minha língua. Suguei o
gozo de poucos minutos atrás.

Ouvi Hugo xingar, assim como fez na primeira vez que o chupei,
agarrando meus cabelos enquanto eu apenas engolia até o final, quase
sentindo-o contra minha garganta.

Meu maxilar latejava um pouco pelo esforço, nem assim me fazendo parar
de devorá-lo como se fosse uma sobremesa saborosa. Subi e desci, suguei da
base até a ponta, circulando a língua, chupando as bolas e deixando leves
mordidas na virilha. Hugo não era depilado, mas claramente aparava os pelos.
Isso dava um ar mais rústico.

Quando comecei a sentir o pré-gozo chegando, parei. Precisava sentir


aquilo tudo dentro de mim antes que ele gozasse novamente e, dessa vez,
queria que ele fizesse quando estivesse enterrado na minha boceta.

— Vou por cima, tudo bem? — Indaguei quase subindo pelas paredes.

— Por favor.

Sua resposta foi praticamente uma súplica. Apesar de eu amar comandar,


ter os homens submissos, esperava que, em algum momento, Hugo tivesse seu
lado dominador despertado. Entretanto, isso levaria um bom tempo até que
ele se soltasse.

E teríamos isso de sobra.


Posicionei-me por cima novamente, encaixando a ereção entre minhas
pernas, tudo sob o olhar atento dele, que parecia prestes a entrar em
combustão.

Devagar, fui me sentando, deixando que deslizasse naturalmente. Ofeguei


constatando o que eu já tinha imaginado: ele era o mais largo de todos o que
eu tinha conhecido.

Minha boceta o recebeu apertada, sentindo as veias vibrarem contra as


paredes encharcadas. O êxtase que o contato me dava era de arrepiar a
espinha.

Ouvi seu gemido recatado, quase imperceptível, conforme eu ia deixando-


o inteiramente acomodado. Hugo, por sua vez, agarrou meus quadris,
apertando a carne com os dedos.

Subi e desci devagar.

Rebolei girando os quadris.

Enquanto ele assistia tudo com os olhos quase incendiando. A boca aberta
em busca de ar e o peito que estufava... nada passava da minha observação.

Latejei com um desejo devastador à medida que eu ia aumentando a


velocidade. Era um encaixe perfeito, por mais apertado que fosse.
Uma onda de luxúria me atravessou, fazendo com que eu jogasse a cabeça
para trás, cavalgando, unhas cravadas no peitoral firme.

— Isso é tão bom! — Confessei. — Algo me diz que vou ficar muito
viciada nesse pau delicioso.

Era como ir ao paraíso. Me sentia livre, sexy e muito poderosa. O prazer


que o sexo me dava era indiscutivelmente deleitoso.
Voltei a encarar o homem que estava sob mim, um olhar intenso e de
admiração, além de todos os outros efeitos que estavam tomando conta do seu
corpo.
Sorri, maliciosa, vendo o estado que eu o estava deixando.

Eu estava muito perto de gozar de novo. Minha boceta latejava demais,


enlouquecida enquanto fodia o cacete vibrando dentro dela. Hugo também
não demoraria a gozar.
Aproveitei para descer meus dedos entre as pernas e acariciar meu clitóris,
sob o olhar atento dele, que parecia em choque por me assistir me dando
prazer.

— Gosta do que vê? — Indaguei risonha.

— Sim. Jesus! — Gemeu mordendo o lábio — Você é linda.

Agarrei sua mão e o trouxe para entre minhas pernas, onde segurei seu
polegar e encostei no clitóris inchado, ensinando-o a como fazer.
O toque do dedo calejado, o pau que inchava dentro de mim, o olhar em
um misto de inexperiência e excitação... tudo isso foi um combo para me
fazer explodir em um orgasmo.

— Vou gozar, Hugo! — Avisei, começando a me contorcer de prazer.

Agarrei meus seios, beliscando os mamilos enquanto permitia que a onda


de prazer me banhasse com a sensação devastadora.
E soube quando ele já estava prestes a despejar tudo dentro de mim, já que
seus dedos fincaram na minha pele, com força, o polegar pressionando ainda
mais meu ponto sensível. Então os jatos começaram.

Senti o líquido quente jorrar dentro de mim enquanto ele arqueava as


costas.

Ouvi um uivo de prazer saído dos seus lábios.


Com isso desabei sobre seu corpo e tomei os lábios contra os meus, ávida
por mais contato, por sentir seu gosto e a língua deslizando juntamente com a
minha.

O beijo foi intenso, quase desesperado, conforme íamos permitindo que os


gozos se misturassem.

Fiquei zonza, cansada; porém, nem estava perto de terminar o que eu


queria.

Hugo seria meu por horas.


E eu faria cada minuto valer a pena.

Despertei com o sol invadindo a fresta da cortina. O ar ainda estava frio e


eu de bruços estava aquecida com o edredom. Alonguei meu corpo sentido o
cansaço me consumir.

A dormência nos mamilos, entre as pernas e os lábios inchados foram


como uma enxurrada de lembranças da noite que tivemos. Fiz com que Hugo
me fodesse no divã, comigo de quatro, assistindo pelo espelho da parede do
quarto o quanto ele tinha ficado desnorteado com a minha posição. A cena foi
mais excitante do que o próprio sexo em si.

Sabia que era a posição que a maioria dos homens mais amava, com ele
não seria diferente, principalmente por ser a primeira vez. Chupei seu pau,
engoli cada gota do seu gozo, cavalguei, fiquei por baixo... foi uma noite
movimentada e insana.

Sorrindo satisfeita, levantei-me vestindo o roupão que estava na poltrona e


desci atrás dele.
Eu não dormia com ninguém. Não gostava desse tipo de contato do pós-
sexo. Com todos os outros havia sido assim; sexo, banho, e eles seguiam para
o sofá que virava uma cama confortável na sala.
Quando olhei ao redor, não tinha ninguém.

Eu estava sozinha no apartamento. E no meu celular havia apenas uma


mensagem avisando que ele tinha ido embora cedo por causa dos sobrinhos.

Meu bom humor foi levemente afetado com isso.


Ninguém ia embora sem que eu mandasse. Eles ficavam, me agradavam,
logo depois eu os mandava embora. Inferno!

Isso me incomodou mais do que deveria. Assim mesmo, caminhei até a


cozinha e fiz um expresso forte e sem açúcar para despertar de vez. Era
sábado e eu tinha o dia de folga, mas não aproveitaria como desejava.

Ah, Hugo... talvez essa sua bagunça me deixasse ainda mais interessada.

Aproveitei que estava sozinha para responder alguns e-mails importantes,


ainda com a mente na noite passada. Transferi uma quantia generosa, mais do
que ele havia dito que precisava, e voltei ao trabalho para distrair a mente.

Estava imersa no trabalho quando Moroni me avisou que Benício havia


sido solto, pois minha mãe tinha conseguido subornar alguém poderoso.
Como sempre, nada ia mudar.

Era uma prática que meu pai fazia com muita frequência, não era à toa que
meu irmão não deixava de ser um irresponsável.
Irritada, fechei o notebook e fui me arrumar para dar uma volta e
espairecer, quando tudo o que eu queria era exigir que Hugo voltasse e
alimentasse meu desejo que parecia jamais querer cessar.

Algo me dizia que eu ficaria viciada naquele homem.

E bem, pelo menos por enquanto era novidade. Não demoraria muito para
que eu cansasse e mudasse de brinquedo.
Capítulo 9
Eu não tinha palavras para descrever a noite que tive. Sabia que o sexo
era bom, que o prazer era viciante, mas não imaginava que fosse tanto
assim. Cada segundo que estive com aquela mulher foi como estar em um
sonho erótico, completamente surreal. Linda, livre e ousada, ela me fez
perder a voz e enlouquecer com sua dominação.
Foi intenso de uma forma, que minha consciência ficou esquecida do
lado de fora do quarto. Talvez a maneira sedutora que ela agia, a boca
depravada e o olhar selvagem que me fazia esquecer do mundo ao redor.

E uma das melhores partes da noite foi quando ela se posicionou de


quatro no divã, nua, implorando para que eu a fodesse com força. A visão
da bunda para cima, a cintura esbelta e o olhar que ela me dava através do
reflexo no espelho, fizeram com que meu instinto agisse por si só.

A partir do momento em que me enterrei dentro dela tudo aconteceu de


forma natural. Agarrei seus quadris e estoquei com força tomado pelo
prazer avassalador que estava me comandando. Eu só não conseguia ser
como ela; ousado ou pervertido, porque isso ainda me deixava acanhado.
Na verdade, ela me deixava assim.

Fui surpreendido depois do banho, quando decidida, ela me encarou e


avisou que eu dormiria na sala, pois ela não era do tipo que dividia cama
para dormir. Uma tolice, sendo que tínhamos feito coisas piores sobre seus
lençóis caros.

Estando sozinho, me levantei antes dela quando o dia começava a


amanhecer, tomei um banho e vim embora. Não estava preparado para
encará-la depois de tudo o que fizemos durante a noite.
Preferi não ligar para o motorista que Beatrice havia contratado. Ao
invés disso, peguei um ônibus e fui para casa. Precisava de tempo para
pensar em toda situação, não deixar que minha consciência gritasse, até
porque eu tinha feito tudo em prol dos meus sobrinhos, para garantir uma
vida com menos sacrifício, uma alimentação de melhor qualidade e assim,
atendê-los nas suas mínimas necessidades. Contudo, não seria hipócrita,
pois tinha gostado.
No entanto, quando senti o celular vibrar dentro do meu bolso e o peguei
para ver do que se tratava a notificação, foi como tomar um banho de água
gelada.

Era o aplicativo do banco, um que eu tinha para sempre receber


pagamentos dos bicos que eu fazia, por isso o deixava ali. Beatrice até
tentou oferecer um outro banco, porém eu já tinha uma conta e facilitava a
parte burocrática.

Quatro mil reais haviam sido creditados na minha conta e a remetente


tinha sido ela.

Senti a humilhação me tomar repentinamente, percebendo o valor alto,


além do que eu precisava, sendo enviado em troca do sexo que fizemos
durante horas.

Apertei o aparelho gasto, tela trincada devido as quedas que aqueles dois
pestinhas davam quando queriam jogar, e lutei contra as lágrimas que
queriam sair.

Inferno!

Era por eles. Eu não podia fraquejar. Isso me daria um bom alívio por
mais de um mês se eu soubesse me organizar bem.

Engoli meu orgulho quando cheguei ao meu bairro e fui até o


supermercado para comprar os mantimentos do mês. Faria uma surpresa
para os dois pirralhos quando chegasse em casa.
Mal podia esperar para ver a alegria naqueles olhinhos.
Assim como imaginei, os dois ficaram eufóricos quando viram a
mercadoria chegar. Até me dei ao luxo de comprar algumas bobagens como
biscoitos, bolo e refrigerante.

Ambos me ajudaram enquanto eu ia guardando os mantimentos, ouvindo


o papo animado dos dois.

— Titio, com certeza hoje é o melhor dia da minha vida.

Quase chorei ao ouvir a confissão da Elena, que me encarava sorridente,


com a inocência que eu jamais teria. Igor também agradeceu, mas com seu
jeito mais contido. Toda a animação parecia ter sido concentrada apenas na
garota.

Ouvi a porta da frente se abrir, não demorando a ver o Fabiano passando


o olhar em todas as coisas que os meninos estavam guardando. Sua primeira
reação foi soltar um assobio.

— Viu só como vale a pena? — Provocou encostando na parede


enquanto apenas me observava.

— Aqui não, Fabiano. Não na frente das crianças.

Em rendição, ele ergueu os braços e começou a puxar conversa com


Elena, que o amava.

A irmã dele havia ficado com eles durante a noite, para quebrar meu
galho, e quando fui buscá-los agradeci pela força, atento ao olhar
desconfiado que ela me lançou.
Só esperava que o Fabiano não contasse a ela. Ana era doce demais para
a vida que eu tinha me enfiado em troca de dinheiro. Ela sabia sobre o que o
irmão havia feito no passado, mas eu não queria que soubesse sobre mim.
Numa tentativa barata de ficar sozinho comigo, Fabiano entregou o
próprio aparelho celular para meus sobrinhos, mandando-os para a sala.

Entendendo a intenção do amigo e decidido a não entrar na jogada dele,


continuei meu serviço, temperando a carne moída que eu serviria com uma
macarronada especial no almoço, porém nem assim me livrei da rajada de
perguntas.

— Como foi?

— Fabiano, francamente, você está parecendo um adolescente.

— Meu melhor amigo perdeu o cabaço com uma madame, ganhou uma
nota preta e está se fazendo de puritano? Vai logo, conta aí!

Soltei um longo suspiro vendo que eu não teria muita alternativa.

— Foi como tinha que ser. Ela é uma bela mulher, experiente e gentil.
Nada além disso.

— Sempre sendo um careta, como pode? Será que a madame vai


conseguir tirar essa sua aura de bom moço?

Como não respondi, ele continuou a fazer comentários indiscretos,


inclusive numa tentativa de me ensinar algo para agradar a Beatrice. Só
deixei que ele falasse, pois assim eu ficaria na minha.

Meia hora depois ele foi embora, resmungando derrotado, por eu não ser
grato pela ajuda que me deu, já que foi o próprio que me inscreveu no site.
A impressão que dava era que ele realmente não me conhecia, pois eu
jamais falaria dos detalhes de algo tão íntimo. Era algo entre mim e
Beatrice e não exporia a mulher nem mesmo para o meu melhor amigo.
Minha atitude não era em função do acordo, nem pela confidencialidade
exigida no contrato, mas pelo respeito que eu tinha pelas pessoas, inclusive
pela mulher. Eu até podia ser amigo do Fabiano, ter intimidade e tudo mais,
mas sempre fui o oposto dele. Odiava a forma como ele falava das
mulheres, comentando como se fossem troféus. Esse não era o meu estilo.

Aproveitei para lavar a roupa das crianças na pia da cozinha, enquanto o


almoço não ficava pronto. Tinha comprado amaciante, já que era algo que
eu não comprava com tanta frequência. Na parte de trás da casa tinha um
quintal, pequeno, quase do tamanho do banheiro, mas dava para estender as
roupas em um varal improvisado.

Meio-dia nos sentamos para comer. Os meninos estavam eufóricos e


repetiram a refeição duas vezes. Isso acabou comigo, mostrando-me que
havia valido a pena ir tão longe para ver a alegria das duas pessoas que eu
mais amava.

O problema era que, no fundo, eu tinha gostado não só por eles, mas por
ter sido com ela. Deus, isso era tão errado e perturbador que acabei
condenando-me por causa do pensamento.

Eu não podia seguir por esse caminho. Era algo profissional e pensar
nela além das quatro paredes que iriam nos cercar por um tempo, burlava as
regras das suas intenções.

Sexo.

Prazer.

Nada mais.

Voltei a realidade quando ouvi a voz suave da Elena elogiando a


macarronada, e fiquei feliz por tirar Beatrice da mente por um tempo.

— Titio, e a nossa tv? Minha mãe levou e não trouxe mais. —


Questionou.
— Ainda estou vendo como resolver, mas por enquanto ficam assistindo
pelo meu celular, certo?

Os dois balançaram a cabeça em compreensão. Eu era grato demais


pelos dois, pois apesar de tudo, a carga e dificuldade, eram crianças
comportadas e me ajudavam muito a levar tudo nas costas. Claro, tinham
pequenos conflitos, teimosias, mas nada que ultrapassasse os limites.

Ao menos eu parecia ser suficiente para educá-los. Isso já me dava um


alívio, por mais que o medo do futuro me assombrasse.

— Hoje eu posso escolher o desenho? —perguntou Igor —Sempre deixo


Elena fazer isso, agora é minha vez.

— Claro, meu amor. Mas me contem como estão na escola, quero saber
de tudo.

Os dois começaram a tagarelar de uma vez, precisei pedir que fossem


devagar para conseguir entender alguma coisa. Com isso fiquei concentrado
no que me contavam, animados. Eles amavam a escola, o que já era bom
demais.

Com a barriga cheia, não demorou para que eles dormissem enquanto
estavam vendo desenhos pelo meu celular. Ambos eram loucos por animes,
passavam horas na frente da TV se pudessem e se ainda tivessem uma.

Lavei a louça, organizei algumas coisas, até ouvir um chamado do lado


de fora. Era Dulce, a senhorinha minha vizinha, que estava nervosa do lado
de fora.

— Por mais que eu não goste daquela mulher, precisava vir aqui te
contar. Ela está desmaiada na esquina, suja de vômito e descabelada. Não
deixe que as crianças saibam disso, as pessoas comentam e acaba chegando
aos ouvidos delas.
Xinguei baixinho, irritado por ver que Heloise sempre dava um jeito de
acabar com minha paz.

— Fica de olho neles, por favor.

Não precisei pedir duas vezes. Meus vizinhos sempre me apoiaram e


ajudaram dentro de suas limitações. Alguns, mais sinceros, aconselhavam
que eu deveria colocar as crianças para adoção por considerarem que eu não
tinha obrigação com eles. O que era uma mentira. Eu tinha sim, eram meu
sangue, minha família, chegaria ao fundo do poço para dar uma vida melhor
e longe de tudo o que vivenciei.

Corri até a esquina da rua, o local indicado por Dulce, e encontrei


Heloise deitada de barriga para cima, braços abertos, apagada e fedendo. As
roupas estavam imundas, o cabelo desgrenhado e a mancha de vômito
descia pelo colarinho da blusa. Tentei não me importar com os olhares
curiosos quando agarrei seu corpo magro e a coloquei nos braços. Ela
estava pesando quase a mesma coisa das crianças.

Agradeci quando notei que Dulce havia levado os meninos para casa.
Entrei e caminhei até o banheiro. Apoiei Heloise sentada sobre o vaso
sanitário e comecei a sacudi-la.

Aos poucos ela foi abrindo os olhos e balbuciando coisas


incompreensíveis.

— Que merda aconteceu com você? — Perguntei transtornado.

— O que eu tô fazendo aqui?

— Vai tomar um banho, que é o que está precisando nesse momento.

Comecei a tirar sua roupa, assustado com a magreza que ela exibia. Os
ossos estavam visíveis sob a pele acabada. Algumas marcas chamaram
minha atenção. Chupões, queimaduras, hematomas mais fortes... eu tinha
costume de ver minha irmã pelada, já que desde a adolescência fui
acostumado a dar banhos nela, então nada me deixava incomodado mais,
exceto dessa vez, quando vi o estado em que ela se encontrava.
Liguei o chuveiro e a coloquei de pé, ouvindo um grito quando ela sentiu
a água gelada. Acabei sendo surpreendido quando ela começou a me atacar,
batendo no meu peito e arranhando minha pele com as unhas.

— Para com isso, porra! — tentei contê-la. — Seus filhos não podem te
ver nesse estado.

Joguei shampoo na sua cabeça e tentei esfregar, mas continuei levando


tapas e arranhões, ouvindo xingamentos.

— O que pensa que está fazendo? Me deixa em paz, Hugo!

— Estou tentando te ajudar. Você estava largada numa esquina. Que tipo
de vida você está querendo?

— Uma que ninguém meta a droga do nariz!

Apertei os lábios na tentativa de me controlar. Não adiantava discutir


com ela, não quando ainda estava sob efeito da droga. Heloise era usuária
de crack e cheirava cola, o que tinha de mais acessível. Em uma fase de
amizades mais fartas, era a cocaína. Minha irmã tinha ido ao fundo do poço
por causa dessas porcarias e eu odiava minha mãe por ter apresentado esse
mundo a ela.

— Me deixe sozinha. Ainda sei tomar um banho.

Cedi, grato por ao menos ela ter acordado o suficiente para ficar de pé e
se limpar.

Minutos depois Heloise saiu do banheiro e foi atrás de uma roupa para
vestir. Aproveitei para colocar um pouco de comida no prato na tentativa de
fazê-la comer.

Desabei no sofá com a mente cansada.


Quando ela apareceu já vestida com uma roupa minha, os cabelos
molhados e descalça, levantei-me para mostrar o almoço.

— Come um pouco. Você parece não se alimentar há dias.

— Tô sem fome. — Seu olhar curioso foi até o prato feito — Anda bem
de grana, hein? Vai ter um trocado aí pra mim?

Gargalhei nervoso, inacreditavelmente surpreso.

— Você só pode estar de brincadeira comigo.

— Qual é? Só pra comprar um bagulho aí.

— Não vou te dar um centavo sequer, Heloise. Você vai comer e se


deitar um pouco.

— Vai me prender dentro de casa? Eu não sou esses pirralhos que você
decidiu criar.

Respirei fundo, tão exausto de discutir, por mais que ela merecesse ouvir
meus sermões.

— Até quando vai ser assim? Tenho medo de acordar com alguém
batendo na porta para me dizer que você está morta. Não posso viver dessa
forma, Heloise.

— Não se preocupe com isso, pelo menos deixarei de ser o seu fardo.

— Apesar de tudo o que faz, ainda é minha irmã, minha família, eu


nunca vou querer que algo de ruim aconteça. Pelo contrário, quero que
fique limpa, que mude pelos seus filhos.

Vi quando ela revirou os olhos, entediada. Era a mesma reação de


sempre. Isso me deixava angustiado. Triste demais.
— Só coma um pouco antes de sair, por favor.

Então ela foi até a mesa e se sentou, começando a mexer na comida


enquanto eu ia até o banheiro. Estava prestes a surtar. Toda a leveza que as
crianças me deram na hora do almoço ela tinha expurgado da minha alma.

Joguei água sobre o rosto para disfarçar as lágrimas que escorriam.


Pensamentos me assolaram, levando a apenas uma solução. Era necessário
o meu grito de socorro, pois realmente temia pelo futuro da Heloise.

Eu evitava saber as coisas sobre ela, ouvir o que as pessoas contavam,


mas era impossível. Os comentários circulavam o tempo inteiro. Heloise
drogada, brigando na rua, vomitando, tendo surtos com os efeitos das
drogas, sendo estuprada por outros usuários, apanhando de outras pessoas...
informações que me faziam ter pesadelos e vomitar durante a madrugada.

Mais calmo, saí do banheiro e encontrei a cadeira vazia, o prato quase da


mesma forma quando deixei. Olhei para a cozinha e vi o armário com as
portas abertas e fui tomado pela raiva.

Heloise tinha acabado de roubar alguns mantimentos. Tudo para trocar


por drogas.

Lutei contra a vontade de chutar a cadeira, extravasar minha revolta, mas


me contive pelas crianças.

A vontade era de esganar a minha própria irmã.


Capítulo 10
Com a minha agenda desocupada, já que era domingo e Hugo não podia
me encontrar, decidi fazer uma visita à casa da minha mãe. Uma mansão
localizada em um condomínio luxuoso onde fui criada, onde cada
centímetro do lar me levava até as memórias do passado que açoitavam
meu coração.

Como esperado, fui recebida com hostilidade, sempre sorrindo para


manter minha compostura e não descer do salto.

Minha mãe estava sentada à mesa da sala de jantar, ao seu lado esquerdo
estava Benício e do outro uma garota bonita, que provavelmente era uma
das vítimas do playboy.

— E não é que cheguei em uma ótima hora? — Comentei puxando a


cadeira ao lado da ruivinha, que me encarou curiosa.

— Essa é a Beatrice, minha irmã. — ele voltou a me encarar com uma


carranca — E essa é minha namorada, Joana.

Arqueei as sobrancelhas e sorri para a garota, apoiando a mão sobre seu


ombro.

— Ou você é muito corajosa ou tão maluca quanto ele. Não sei qual a
pior alterativa das duas.

— Beatrice!

Magda me recriminou numa tentativa de proteger o caçula, que se


levantou no mesmo instante, demonstrando a insatisfação por causa do meu
comentário.
— Não vou ficar aqui e aceitar que me ofenda dentro da minha casa.

— Não, Benício. Você vai sentar e ouvir o que eu tenho para falar.
Afinal, dinheiro é um assunto que muito interessa aos dois, não é verdade?

Quase pude ouvir os xingamentos que sua mente sussurrava na minha


direção. Sua transparência me mostrava o quanto ele era previsível e oco.

Com a ordem da minha mãe, ele voltou a sentar e a garota quis nos dar
privacidade, saindo em direção a escada que dava para o andar superior.

A matriarca esperou que a garota se distanciasse para abrir a boca. Para


ela e meu pai sempre foi assim, a família perfeita na frente de outras
pessoas, já que a aparência sempre importava mais do que qualquer outra
coisa.

— O que você quer? Está tentando nos humilhar?

— Claro que não, mãe.

Lucila, a cozinheira, logo me entregou um prato para que eu me servisse.


Agradeci a mulher simpática e acolhedora.

— Qual o cardápio de hoje, querida? — Perguntei, recebendo um sorriso


de volta.

— Risoto de alho-poró com filé ao molho de mostarda. Tem também um


suflê de chocolate para a sobremesa.

Agradeci e despejei um pouco do conteúdo no prato.

— Hoje é domingo, Lucila, não tinha que estar trabalhando.

Obviamente, ela não respondeu. Pelo contrário, correu de volta para a


cozinha.
— Não se meta no funcionamento da casa, Beatrice. Sua prepotência
está indo longe demais.

— Isso é abuso. Se ela quiser fazer uma denúncia você leva um baita de
um processo.

— Tudo o que deseja é me ver na lama, não é? Uma filha que teve tudo
se voltar contra a mãe e o irmão é inadmissível.

— Pelo contrário, estou alertando sobre possíveis problemas que podem


enfrentar por não acatarem as leis. Inclusive é algo que meu querido irmão
faz com bastante frequência.

Benício se mexeu na cadeira, ainda mais irritado comigo.

— Diga logo o que veio fazer aqui, porque com certeza não é por sentir
saudades.

Belisquei um pouco da comida, constatando o talento que a mulher


tinha. Não era novidade, já que desde o meu retorno eu havia almoçado
algumas vezes na mansão, apenas para saber como andava o funcionamento
da casa com meu pai adoentado. Magda e Benício não sabiam administrar
nada além de gastar dinheiro.

— Estava dando uma olhada nas finanças dos dois, uma que parece estar
sendo desperdiçada rápido demais.

— O que diabos você quer invadindo algo pessoal?

Eu tinha meus contatos, conseguia saber sobre tudo de quem eu quisesse,


inclusive o quanto os dois andavam gastando com uma rapidez assustadora.

As contas da casa não eram, já que as ações que eles tinham pagavam
todo o serviço. Eu tinha uma pessoa que resolvia essa parte, para que não
atrasasse os pagamentos.
— Os meios não são a pauta dessa conversa, e sim como iremos resolver
a situação do dois. Soube que gastou um bom valor para subornar
autoridades. Se orgulha disso?

— O que eu podia fazer se você negou ajuda?

— Fiquei dois dias na prisão, compartilhando a cela com delinquentes de


todos os tipos. Tudo isso por causa da sua recusa em me tirar da enrascada.

Gargalhei para a cara de pau de Benício. Nada mudava mesmo.

— Você esteve preso por sua causa, graças a falta de responsabilidade.

— Foi uma bobagem. Papai sempre me tirava dessas, achei que pelo
menos a queridinha dele seguisse o legado.

— Aí que você se engana. Não sou ele, nunca serei. Pelo contrário, estou
começando a corrigir os erros que ele cometeu durante todos esses anos. E
isso vai começar com você.

Observei que ele estava prestes a estourar. Benício tinha um histórico de


ser briguento e intolerante. Uma das várias coisas que ele tinha feito era a
agressão a uma antiga namorada. Um assunto que foi abafado com muito
dinheiro. A família da garota preferiu ficar quieta enquanto meu pai enchia
os bolsos deles.

— Tenho uma vaga de assistente administrativo na empresa. Para ajudar


o pessoal do RH. Como não tem formação, ainda é um cargo privilegiado.

— Você só pode estar de brincadeira. — Magda rebateu.

— E por que estaria? É um emprego digno que vai dar responsabilidade


e fazer com que ele aprenda a administrar o dinheiro.

— Eu não vou ser seu empregado.


— Claro que não. Vai ser parte da equipe que faz aquilo tudo funcionar.
Sabe, a mesma empresa que te dá essa mordomia que tem.

Ele levantou-se de uma vez, arrastando a cadeira para trás.

— Não preciso das suas migalhas. Meu pai deixou uma herança para que
eu não precisasse disso.

— Uma que você vai torrar em poucos meses, pelo que reparei. Dinheiro
é algo que vai embora rápido se não souber cuidar e investir, o que
claramente não é caso de vocês.

— Não se preocupe, irmãzinha, vou fazer de tudo para contestar o


testamento, pegar a minha verdadeira parte, uma que você nos roubou sabe-
se lá como.

Sorri em resposta.

— Vá em frente. Faça o que quiser.

Benício se aproximou, poucos centímetros do meu rosto, em uma


tentativa de me intimidar.

— Vou acabar com você, sua filha da puta!

Voltei a comer normalmente, não deixando transparecer que tinha


recebido sua ameaça, enquanto ele subia e eu era fuzilada por minha mãe,
que parecia estar tremendo e louca para voar no meu pescoço.
Cheguei à empresa com o humor renovado. Sabia que não seria fácil
convencer Benício de trabalhar, pois ele recusaria por um longo tempo até
lá. No entanto, eu não daria o braço a torcer. Continuaria firme em minha
decisão.

Virna me acompanhou enquanto avisava sobre minha reunião com o


grupo de funcionários que apresentariam a nova fragrância de perfume que
lançaríamos em breve. Porém, toda a minha animação se esvaiu quando
entrei na minha sala e a vi repleta de buquês vermelhos ao redor.

— Então, era isso que eu queria falar também. — Virna comentou


baixinho.

— O que aconteceu aqui? — Um carro da floricultura apareceu e o


segurança permitiu a entrada, já que era um presente para a senhora. Sinto
muito, foi antes que eu chegasse.

Suspirei irritada, caminhando até a mesa onde estava um pequeno cartão


que quase se perdia entre tantas rosas.

“Isso ainda é pouco para tudo o que sinto por você e o que desejo para o
nosso futuro. Do seu, para sempre, Marcus.”

Meu Deus, que inferno!

Joguei o papel dentro da gaveta enquanto xingava Marcus por ser tão
insistente.

— Estou indo para a sala de reuniões, peça que alguém se livre dessas
rosas.

Caminhei para fora do escritório. Precisava falar com Marcus longe do


olhar curioso da minha secretária.

Desabei na poltrona quando cheguei ao cômodo mais reservado e disquei


o número dele, que atendeu logo no segundo toque.
— Beatrice, eu estava esperando que me ligasse.

— O que eu já falei pra você, Marcus?

— Você só esqueceu que eu não sou de desistir fácil. Que tudo o que
vivemos nesses últimos meses nunca vai sair da minha cabeça, que vou
fazer de tudo para que entenda isso de uma vez por todas.

— Não vou repetir a mesma coisa que falei das outras vezes que nos
encontramos, mas preciso que pare de me procurar ou fazer esse tipo de
demonstração. Não estamos mais juntos, não quero relacionamentos e não
estou apaixonada por você.

Ouvi um suspiro do outro lado da linha, um que me deu um leve remorso


por ser tão dura. Entretanto, se não fosse assim, ele não entenderia.

— Se continuar agindo dessa forma vou ter que entrar com uma medida
contra você.

— Você nem mesmo se sente mal por ferir meus sentimentos?

— Sempre fui clara desde o começo.

— Mas eu me apaixonei, caralho! Acha que escolhi sentir isso por


alguém tão cruel e egoísta?

De toda forma ele estava certo, mas eu também não ia ceder quando não
estava mais à vontade com o que tínhamos.

— Sinto muito que esteja se sentindo assim, mas sigo deixando o aviso.
Pare de me importunar ou vou tomar medidas mais sérias e que,
provavelmente, não irá gostar.

— Faça o que quiser, mas não vou parar até ter você novamente.
Ouvi o bip no momento em que ele desligou, sentindo a dor de cabeça
me atingir. Esse seria outro problema para mim, um que eu tinha que
resolver antes que a merda explodisse.
Eu não precisava ser exposta.

Nas horas seguintes me distraí com a reunião em que me apresentaram o


novo perfume. Era um misto de cítrico com canela, algo que me deixou
desconfiada no começo, mas me provou estar enganada quando senti o
aroma gostoso.

Os meus funcionários eram eficientes, eu devia isso ao meu pai, pois ele
sempre foi muito cauteloso em escolher a equipe que faria parte do negócio
da família. Uma pena que ele não foi tão bom com a parte pessoal.

Quando estava saindo para o almoço meu celular tocou com um alerta de
mensagem, para minha surpresa, com o nome do Hugo estampado na tela.
Ele queria me encontrar no loft.
Digitei uma resposta quase que imediatamente.

“Apesar de ficar surpresa com o contato, não esqueça que quem escolhe
os encontros sou eu.”

O pior de tudo era que eu queria ir até ele. Meu corpo inteiro acendeu
com isso.

“É um assunto sério, por favor. Não faria isso se não fosse urgente.”

Puta merda! Será que ele estava querendo romper o que mal havia
começado?

Derrotada, enviei uma resposta.

“Tudo bem. Tenho uma hora de intervalo. Te encontro lá.”

Olhei para a hora e murmurei o quanto eu estava sendo fraca por ceder.
Não podia esquecer que eu era quem mandava na relação, que tinha o total
controle disso tudo.

Mesmo me recriminando por ceder tão facilmente, decidi atender ao


chamado. Avisei a Virna que iria dar uma rápida saída, mas que logo estaria
de volta.
Eu precisava deixar as coisas mais claras com o Hugo, ou teria
problemas para conduzir o que tínhamos.

Ele tinha precisava entender que eu o tinha nas mãos, não o contrário.
Capítulo 11
Minha cabeça doía desde sábado. Tudo por mérito da catástrofe que era a
Heloise.

Ela havia levado algumas coisas, incluindo duas latas de leite das
crianças, claramente para trocar por drogas, pois eram itens com um valor
alto e as pessoas aceitavam. Isso me deixou revoltado e angustiado, pois eu
necessitaria ter atenção redobrada com as visitas esporádicas dela, e
precisava reconhecer a minha culpa por ter confiado que ela ficaria bem,
que comeria e atenderia ao meu pedido.
Ela nunca obedecia, fui um tolo por esperar o contrário.

Não deixei que os meninos soubessem da breve visita, por isso esbanjei
meu melhor sorriso e animação no sábado à noite quando deixei que eles
brincassem um pouco na rua sob minha supervisão, e no domingo quando
os levei para uma volta na praça e um pequeno piquenique, coisa que a
gente nunca havia feito. Eles amaram o programa diferente e se divertiram
bastante. Durante nosso retorno para casa, eles agradeceram inúmeras vezes
pelo inédito passeio.

Isso deixou meu coração quente, cheio de amor por aqueles dois. Nada
se comprava a felicidade deles, o brilho no olhar e o sorriso estampado. E
eu faria tudo novamente se fosse preciso, por mais que algo dentro de mim
soubesse que não só tinha gostado do resultado com as crianças, mas da
noite que estive com Beatrice. Eu estava de volta ao loft, sentado no sofá
enquanto a aguardava. Nem mesmo almocei, pois não conseguiria até
resolver o que tinha planejado. Minha cabeça não tinha parado um só
instante durante a noite, resultando assim em horas mal dormidas.

Soube quando ela chegou ao ouvir os passos ecoando no corredor do


prédio, e segundos depois ela entrou.
Minha certeza era de que eu nunca me acostumaria com a beleza que a
mulher esbanjava. Além da elegância que tinha, o poder e todo o resto que
rastejava atrás dela. Beatrice era uma incógnita para mim e eu preferia
manter assim, pois saber sobre sua vida me dizia que eu ficaria ainda mais
interessado.

Sempre usando vestidos justos, na altura dos joelhos, saltos finos e


cabelos arrumados, ela trouxe o cheiro até mim enquanto me observava
com aquele olhar que mexia dentro do meu peito. Isso sim me incomodava,
os efeitos que ela causava.

— Aconteceu alguma coisa? — Indagou enquanto se sentava na poltrona


à minha frente.

Bastou vê-la cruzar as pernas para que meus olhos me traíssem e me


fizessem desviar a atenção por um breve instante.

Ainda não conseguia acreditar que eu tinha dormido com essa mulher.
Que ela havia sido minha primeira.
Esfreguei o rosto numa tentativa de reordenar meus pensamentos.

— Desculpe, é que surgiram alguns problemas e não tinha outra pessoa a


quem recorrer e que pudesse me ajudar além de você.

— Pode falar, sou toda ouvidos.

— Como sabe, eu tenho uma irmã. Heloise é mais velha do que eu, e
desde a adolescência se envolveu com diversos tipos drogas, tornando-a
assim uma viciada e chegando agora ao fundo do poço.

Então contei tudo. Cada mínimo detalhe, desde o começo, os gêmeos e


todo o transtorno que ela causava não só na minha vida, mas dos filhos
também.

— E por que não a mandou para uma clínica de reabilitação?


— Mandei. O problema é que todas as vezes ela fugiu e por ser algo
público que sempre requer vagas, eles acabavam colocando outras pessoas e
ela perdia a chance. Com isso Heloise acabava sempre voltando para a rua e
continuando da mesma forma, ou pior. Ela já levou eletrodomésticos,
mantimentos, até mesmo a tv das crianças ela pegou quando os dois
estavam assistindo dias atrás. Tudo para trocar por pedra e qualquer outra
coisa que ela esteja usando.

Desabafar tinha sido um alívio, era como se uma carreta de entulhos


tivesse sido arrancada das minhas costas.

— E onde eu entro nessa história?

— Nós acertamos um contrato, onde você ofereceu ajuda em troca de


companhia. Eu agradeço pelo valor depositado, pois assim terei
tranquilidade de que, com o recurso, as crianças terão como comer bem nas
próximas semanas.

Um pequeno sorriso apareceu na sua expressão fechada.

— Bom saber disso, Hugo. De verdade, se precisar de mais, pode me


dizer. Como não definimos um valor específico, conte comigo para o que
quiser. Claro, contanto que esteja ao meu alcance e eu seja bem
recompensada depois.

Com o sexo.

E só em pensar nisso meu corpo sentiu um calor que atravessou minha


espinha.

— Preciso que consiga uma clínica particular para minha irmã, que a
levem a força se for necessário, que façam com que ela largue essa desgraça
em que se meteu. E, caso necessário, os gastos forem muito altos, eu não
me importo que dê bem menos da próxima vez.
Beatrice ficou em silêncio por alguns segundos, apenas me observando,
assimilando meu pedido. Sim, havia sido exagerado, caro demais, mas eu
não tinha a quem recorrer além dela.

Era minha última chance para consertar as coisas.

— Bem, acredito que a internação forçada deva ser um pouco mais


complicada, mas vou falar com meu advogado, pedir que se informe e
resolva os trâmites por mim.

— Assim, tão fácil? — Fiquei surpreso com a atitude.

— Ué, você me pediu ajuda e eu estou disposta a cooperar.

Um alívio imenso se apossou do meu corpo, e eu sorri em resposta,


quase emocionado com o pedido atendido.

— Muito obrigado, Beatrice. Não sabe o quanto isso vai me dar apoio
emocional e um pouco de sossego não apenas para mim, mas as crianças
também.

— No entanto, eu tenho algumas condições, Hugo.

— Eu faço o que quiser.

— Você precisa colocar na sua cabeça que esse contrato foi oferecido
por mim, e isso significa que eu estou no comando dessa relação, entendeu?
— Assenti — Quando eu disser que quero te ver, você vem. Não
questiona, não desmarca e nem dificulta.

Abri a boca para protestar, dar a minha justificativa, mas ela não deixou.
Sua mão erguida deixou claro que ela continuaria.

— Quando passarmos a noite juntos, você não vai embora e me deixa


sozinha como fez no outro dia. Ninguém sai sem que eu diga que é para ir.
Estamos com um contrato que deveria ter lido com mais cautela, pois eu
deixei essa parte e todas as outras bem claras.

— Me desculpe sobre ter ido embora, mas eu não sabia como agir. Foi a
primeira vez, estava um pouco confuso e perturbado, além de ter deixado as
crianças com uma amiga.

— Entendo que tenha suas responsabilidades e que não pode deixá-los


sozinhos, mas quando precisar, consiga alguém para ficar com eles, nem
que para isso precise pagar. Não se acanhe ao me pedir qualquer coisa,
como eu também não vou me fazer de rogada ao ter minhas exigências.

Fiquei envergonhado. Não só pelo puxão de orelha, mas pela condição


que eu tinha me colocado. Assim mesmo, eu gostava da maneira como ela
falava, da segurança, autoridade e naturalidade. Até a arrogância parecia
sexy... ou eu realmente estava começando a enlouquecer.

Beatrice se levantou de uma vez, ainda com o olhar fixo em mim.

— Por mais que eu queira muito deixar o trabalho de lado e passar a


tarde aqui com você, tenho muita coisa para resolver.

Fiquei de pé, poucos centímetros dela, o perfume forte me atingindo em


cheio. Eu adorava o cheiro dessa mulher.

— Não sei nem como agradecer por isso, por ter me dado a oportunidade
de ter esperanças, por mais que tudo ainda seja novo demais para assimilar.

Ela tocou meu queixo, se aproximou ainda mais e dessa vez eu senti até
mesmo seu hálito.

— Nesse caso você sabe muito bem como vai me agradecer. Assim que
estiver com um tempo livre entrarei em contato.

E me beijou, raspando os lábios carnudos nos meus, fazendo com que


meu corpo começasse a esquentar com o contato. Correspondi, surpreso por
me pegar desejando mais, de agarrar seu corpo contra o meu e não deixar
sair de perto.

Ela parou e a proporção que foi se afastando, continuou me fitando com


um olhar cheio de astúcia. Um que me desmontava.

— Não esqueça de tudo o que foi dito aqui, Hugo. Minhas condições
precisam ser seguidas para que isso continue funcionando. Até mais.

Assim como entrou, ela saiu de vez, deixando um rastro de desejo e


tensão sexual que me deixava desnorteado.

Eu sentia que estava pisando em terreno minado. Eu tinha mais o que


perder nisso tudo, não apenas pelo dinheiro e o que ela me dava, mas por
perceber que algo dentro de mim estava sendo dominado por ela.
Não tinha como acabar bem.

No caminho de volta precisei passar no supermercado para repor o leite


dos gêmeos que Heloise havia levado. Evitei passar pela pizzaria do meu
amigo que, por sinal, não tinha me deixado em paz desde sábado. Ele queria
saber os detalhes, como se eu realmente fosse contar sobre minha
intimidade com Beatrice ou qualquer outra mulher. Eu não era como ele.
Não gostava de sair falando sobre minha vida, e não seria diferente com as
namoradas, caso eu tivesse tido alguma. A única mulher era Beatrice,
ninguém além dela, e ainda era por causa de dinheiro, uma troca de favores
que eu tinha aceitado e teria que levar mais adiante, principalmente se ela
conseguisse ajuda para minha irmã.

Como eu ficava sozinho em casa durante o dia, não precisava fazer


almoço. Fritei ovos e comi com pão e o café de mais cedo. Organizei
minhas coisas, dei uma limpeza na casa e comecei a preparar o jantar. Uma
sopa de feijão que os meninos amavam, ainda mais se estivesse
acompanhada por pão. E isso eu tinha em casa.

Agradecia pelos dois serem bons de boca, nunca exigirem ou negarem


algo por frescuras. Comiam qualquer coisa que eu fizesse, sempre quietos e
satisfeitos.

No final da tarde estava voltando com os dois da escola e assim como de


costume, os ouvindo tagarelarem sobre como havia sido o dia. Eles
adoravam frequentar o colégio e interagir com os amigos que fizeram no
local, o quão longe da realidade eles ficavam.

Assim que cheguei no começo da rua vi um carro parado em frente à


minha casa, deixando-me curioso. Não tinha como ser da clínica, pois não
seria tão rápido assim.

Acelerei os passos e vi o homem esperando na entrada. Ele me olhou,


fez o mesmo com as crianças e sorriu gentilmente.

— Você é o Hugo Bertolini? — Perguntou conferindo no papel.

— Sim, eu mesmo.

— Ah, muito bem. Tenho uma encomenda.

Não só as crianças e as vizinhas que estavam na calçada observando,


mas eu também estava curioso sem entender nada. Abri o cadeado do
portão e, em seguida, a porta, ainda atento ao homem que abria a parte de
trás do carro de entrega.

E quando ele pegou o objeto em mãos, os gêmeos gritaram eufóricos, e


eu não soube nem como reagir.

— Só preciso que assine para confirmar a entrega.


Ainda em choque, peguei o documento e assinei enquanto o homem
guardava a caixa na minha sala sob a animação das crianças.
Agradeci e fiquei observando até ele sair, sentindo os olhares das
pessoas sobre mim. Tentei ignorar, voltando para dentro de casa e fechando
a porta para evitar os comentários.

Peguei meu celular com as mãos trêmulas e digitei uma mensagem para
a única pessoa que poderia ter feito isso.

“Foi você?”

Demorou menos de um minuto para que eu obtivesse a resposta.

“Um presente para seus sobrinhos. Nada com nosso contrato, apenas
um agrado.”

Meu ego até tentou ficar incomodado com a atitude dela, mas meu
coração se desmanchou inteiro ao ver a felicidade dos meus sobrinhos.
Beatrice havia mandado uma tv de 65 polegadas para os dois, para que
eles tivessem de volta o que a mãe tinha tomado.

Voltei a realidade quando fui abraçado nas pernas, pelos dois, de uma só
vez, ouvindo repetidos agradecimentos.

— Você é o melhor tio do mundo! — Igor gritou saltitante.

Sorri, feliz por eles, mas um pouco desesperado por mim.

Aquela mulher era uma caixa de surpresas.

Ora estava irritada ditando suas regras, outra estava agradando sem
segundas intenções.

— Quem é você, Beatrice? — Murmurei a mim mesmo.


Com a ajuda das crianças, comecei a organizar as coisas para colocar a
tv no lugar. O rack era pequeno, mas os pés da TV eram centrais e coube
perfeitamente sobre ele.

Liguei e conectei na internet que Dulce cedia mais para os meninos do


que para mim, mas agora eu teria que dar uma parte para ajudar na despesa.
A senhorinha fazia de bom grado por eu não trabalhar.

— Antes da tv vão tomar um banho para jantar.

— Ah não, titio! — Elena resmungou.

— É isso ou nada de desenhos. O que preferem?

— Eu vou primeiro!

Gargalhei com a disputa dos dois para ver quem entraria no banheiro
primeiro, vendo a garota vencer por ser mais esperta e perspicaz. Usou o
argumento de ser uma dama e ter direito de ir na frente, deixando o irmão
sem alternativa.

Quando pensei em me sentar e parar um pouco a porta abriu e Ana


apareceu, invadindo a casa que ela conhecia bem e tinha total liberdade para
ir e vir na hora que quisesse.

— Oi, Hugo. Eu estava chegando da faculdade quando vi você entrar.


Sentei-me e ofereci o lugar vazio para ela, que atendeu, parecendo
estranha ao me encarar.

— Você está bem?

— Eu sim, já você, não sei se sou capaz de acreditar.

Suas palavras me pegaram de surpresa.

— Aconteceu alguma coisa que não estou sabendo?


— Onde você está trabalhando?

Ah, entendi tudo. Era um interrogatório.

— Consegui um bico de zelador em um prédio.

— Não sabia que isso pagava tão bem assim.

— Olha, Ana, sou eternamente grato por tudo o que fez e faz por mim e
pelas crianças, mas não estou entendendo suas intenções com o
interrogatório.

Notei suas bochechas corarem. Ela era linda, doce e pura, o oposto da
outra, mas ainda assim era bela de uma maneira delicada.

— Desculpa, mas você passou a noite fora, voltou, fez compras e de


repente compra uma TV para os meninos. Sabe que não é barato. O que me
leva a desconfiar que está fazendo algo que eu jamais esperaria de você.

Intimamente desejei dizer que ela não tinha direito de dar palpite na
minha vida, mas seria indelicadeza da minha parte por causa de toda a ajuda
que ela oferecia. Por isso optei por ser gentil.

— Não sei o que está se passando na sua cabeça, porém prefiro que
guarde para si, Ana. Eu fiz, faço e farei tudo, dentro da legalidade, para
proporcionar uma melhor qualidade de vida para meus sobrinhos.

— Mesmo que signifique perder sua dignidade?

Senti o impacto das palavras e a mágoa que saía delas.

— Pode ter certeza que sim. Eu nunca fui a minha prioridade, e você
sabe bem disso.
— Você está acabando com sua vida, Hugo. Destruindo as chances de
ser alguém, de estudar, conseguir um trabalho digno por causa de
responsabilidades que não são suas.

— Nem comece com isso novamente. Da última vez eu já a alertei sobre


o assunto e não posso aceitar que continue agindo assim.

Vi seus olhos lacrimejando e me senti mal por ser rude com ela, Ana não
merecia.

Antes que eu pedisse desculpas, ela se levantou nervosa.

— Eu gosto de você, droga! — confessou chorosa. — Gosto desde que


me entendo por gente. Faço isso tudo apenas para te agradar, te ver bem,
mas não aguento assistir você se afundar por causa de terceiros.

— Ana, eu...

— Não, Hugo. Estou cansada de esconder isso, de ocultar meus


sentimentos por medo da rejeição, só que isso está me matando. Não quero
que tenha outras pessoas, que conheça uma mulher que vai te encher de
dinheiro e presentes em troca de sexo. Quero que seja meu. Só meu.

Sempre desconfiei dos seus sentimentos, mas ouvir a confissão tão crua
e sincera me deixou abalado, triste e nervoso. Eu não tinha como retribuir a
isso, pois nunca havia gostado da Ana dessa maneira, por mais que devesse.

— Eu sinto muito se um dia cheguei a alimentar isso, Aninha. Sinto que


esteja assim por minha causa, que espere por algo que não sou capaz de te
oferecer. Só que não vai dar certo, eu não estou disponível para pensar em
sentimentos quando minha vida inteira é a bagunça que você conhece.

— Meu irmão te colocou nisso, não foi?

— É melhor você ir para casa, colocar a cabeça no lugar, só está confusa.


Tentei me aproximar para consolar a garota que estava em prantos, mas o
que recebi em troca foi um empurrão forte que me fez cambalear para trás.

— Confusa, Hugo? É isso que acha? É assim que trata a maneira como
eu estou me sentindo?

— Não, mas você sabe como minha vida é, as dificuldades, além de ser
praticamente como uma irmã para mim. Você é linda, doce e uma garota
incrível, mas merece alguém muito melhor do que eu.

— Irmã? — Soltou uma risada inconformada — Sou uma irmã? Não,


Hugo, sua irmã é aquela irresponsável que jogou duas crianças no seu colo
e te fez abrir mão da própria vida. Eu sou alguém que te ama, que não
suporta mais fingir que está tudo bem quando meu coração está estilhaçado
ao ver no que está se transformando.

Não me espantei pela maneira como que ela se referiu a Heloise, pois
não era a primeira vez, mesmo assim, doeu ouvir isso.

— Vai lá, afunda sua vida com seja lá quem for essa mulher que está te
pagando, mas não conte comigo. Não vou mais ajudar a construir sua
própria desgraça.

E sem me dar um direito de resposta, ela saiu batendo a porta e me


deixando sem chão. Tudo que eu queria evitar tinha acontecido: outra
pessoa descobrir sobre Beatrice.

Desabei no sofá, abalado pela discussão e por ter decepcionado alguém


que sempre gostou de mim. Queria que minha vida fosse apenas mais fácil.

— A Ana está brava com você, titio.

Ergui o olhar para ver Igor me encarando desconfiado.

— É, nós tivemos uma pequena discussão.


— Ela quer ser sua namorada. Eu sabia e a Elena também.

— E quem disse que isso é assunto para dois pirralhos? — Questionei


com um sorriso.

— Você não quer namorar com ela? Gosta de outra garota?

— Não. Só não quero pensar em namorar, pelo menos, não no momento.

— Pois eu quero. Gosto de uma garota na escola, mas a professora disse


que eu não tenho idade pra falar nisso.

Lutei para conter a risada que quis escapar, mas me mantive sério.

— E sua professora tem razão. Ainda é uma criança, precisa estudar e


brincar, viver a infância. Lá na frente você pensa nisso, certo?

— Mas isso não faz com que eu deixe de gostar da garota.

— Faz parte da vida. Até aí não tem problema, mas não esqueça que
criança não namora, nem mesmo de mentirinha. Compreensível, ele
assentiu e correu para tomar banho quando ouviu Elena sair do banheiro.

Voltei a pensar no meu desentendimento com Ana e na forma como ela


saiu magoada comigo. Apesar de querer muito ir atrás, ficar de boa com ela,
decidi que o melhor seria lhe era dar espaço.

Possivelmente, manter a distância era necessário para que ela não se


machucasse ainda mais, já que eu não tinha como me afastar da Beatrice,
pelo menos, não por enquanto.
Capítulo 12
Sentada na cadeira da presidência, na sala de reuniões, ouvi as propostas
que os sócios e outros funcionários da parte administrativas discutiam.
Estávamos prestes a expandir nossos produtos para a Europa, um mercado
concorrido, mas que eu arriscaria tentar. Não saberia se funcionaria até
apostar as cartas que eu tinha.

O lançamento do novo perfume que seria assinado por uma cantora pop
famosa havia nos custado um extenso investimento, mas com a legião de
fãs que ela carregava e a influência, sabia que o retorno seria satisfatório. E
esse mesmo produto que iríamos levar para a Espanha e Portugal, onde se
concentrava a maior parte dos admiradores da artista.

— A equipe de marketing dela está no comando das propostas de


divulgação, foi uma das exigências. — Lucca, um dos diretores comentou.

— Justo, contanto que isso passe por mim antes de começar a ser
divulgado.

— Claro, era assim que seu pai trabalhava também.

Engoli em seco ao ouvir a menção aquele homem, um que eu nunca


tinha perdoado, nem mesmo no leito de morte.

— Assim que funciona uma empresa, mas que saibam que comigo tem
sido diferente desde quando comecei a assumir isto daqui. Assim, preciso
de um relatório detalhado dos últimos lançamentos, um balanço analítico do
que tem saído mais no mercado e que a equipe do RH lance um anúncio de
contratações temporárias para o final do ano, considerando que sempre
necessitamos de mais funcionários nesse período.
Dei mais algumas ordens exclusivas, vendo também Virna fazer
anotações no IPAD.

Enquanto a reunião seguia com discussões sobre assuntos


administrativos, ouvi o bip do meu celular com uma mensagem do Moroni.
Ele estava à minha espera.

— Por enquanto é só isso mesmo. Podem voltar ao trabalho. Esses


últimos dois meses serão movimentados e precisamos fechar o ano com
tudo positivo.

Dispensei os funcionários, que aos poucos iam saindo da sala. Uns ainda
não me engoliam com facilidade, nem se dando ao trabalho de disfarçar,
mas eu não estava aqui para fazer amizade, então todo o resto não me
importava contanto que estivessem fazendo um bom trabalho.

— Virna, estou indo a minha sala ter uma conversa com Moroni, anote
se alguém me procurar, mas não interrompa.

— Sim, senhora.

Peguei meu celular e caminhei para onde o meu amigo me esperava.


O cumprimentei amigável e abri a porta para que ele entrasse e se
sentasse no lugar de sempre enquanto eu ia para a minha cadeira.

— Você parece prestes a matar um. — provocou.

— Só muita coisa para resolver. Mas então, me fala as novidades.

Eu tinha enviado o pedido para que ele conseguisse uma clínica para a
irmã do Hugo, já que Moroni conhecia tudo e todos, além de saber como
funcionava a parte burocrática.

— Tenho nomes das duas melhores do estado, só não é um investimento


barato. Eles pegam a pessoa, por mais que ela não aceite o tratamento,
contanto que tenha um documento assinado alegando que a paciente não
tenha condições psicológicas de responder por si própria.

Peguei o papel da sua mão e li, cautelosamente, o que tinha escrito. As


duas eram em torno de três a cinco mil mensais, com todo o auxílio médico,
alimentação e bem-estar.

Não era como se esse dinheiro fosse me fazer falta, mas também eu não
saía gastando à toa. A diferença era que seria para ajudar alguém que
precisava; mais o Hugo do que a irmã.

— Desculpa me intrometer, Beatrice, mas não acha que esse cara está te
dando despesa demais? Nem começaram direito e ele já te exige algo
assim? Não sei se gosto disso.

E ele nem sabia que eu tinha comprado a TV. Portanto, o presente foi
mais para as crianças, pois me senti mal quando ele contou o que a irmã fez
com os filhos.

A vida daquelas crianças era muito injusta. Ninguém merecia passar por
isso, e ainda bem que eles tinham um tio gentil e dedicado.

Crianças eram meu ponto fraco. Me quebrava inteira imaginar o que elas
passavam.

— É complicado, Moroni. A vida dele, dos sobrinhos, tudo parece um


caos e eu quero ajudar de bom grado.

Sua resposta foi uma risada inundada de sarcasmo. Ergui a sobrancelha


assistindo sua reação.

— Bom grado, é? Pelo que eu saiba você tem todas as intenções com ele,
mas nenhuma delas são tão boas assim.

— Quando eu passei a te dar tanta liberdade?


— Quando percebeu que sou o único homem na sua vida.

— Espero que sua esposa esteja sabendo disso. — Provoquei.

— Brincadeiras à parte, você sabe que é uma amiga além do trato


profissional que temos. Por isso meto o bedelho, me preocupo com o que
está fazendo da vida.

— Como eu já disse antes, uma diversão que logo irá me cansar e fazer
com que eu parta para outra. Não é assim que vocês homens fazem e a
sociedade normaliza?

Ele deu de ombros, sabendo que não tinha mais argumentos.

Eu não estava mentindo, infelizmente. As pessoas sempre achavam


normal homens pegadores, que saiam com uma e outra, desapegados e
livres, enquanto com a mulher a história sempre era diferente.

No final da reunião com Moroni, ele se foi com a promessa de que logo
me daria uma resposta sobre a clínica. Eu só esperava que fosse um
investimento que valesse realmente a pena.

Deixei a vida pessoal de lado e voltei ao trabalho, afinal, era o que me


deixava fora do mundo real.

À noite, quando cheguei ao apartamento, me vi sozinha, apenas abraçada


com minha solidão rotineira. Por mais que eu soubesse que era suficiente
para mim mesma, algumas vezes desejava ter mais pessoas ao meu redor,
amigos, bichos, bagunça... todo o combo de uma família de verdade, sem
farsas ou interesses financeiros. Eu até poderia ter tido boa parte disso, caso
meu pai não tivesse destruído tudo.
Maldito! Eu ainda o odiava tanto, mas tanto, que seria capaz de matá-lo
com minhas próprias mãos.

Peguei meu prato que estava no micro-ondas, a taça e uma garrafa de


vinho tinto. Sentei-me na varanda com uma das melhores vistas da cidade, a
praia. Isso só me fez ficar ainda mais solitária, pois do lado de fora todos
pareciam ter algo e alguém.

Não era ingrata, já que o conforto que o dinheiro me dava era algo que
não tinha como comparar, mas ainda assim me peguei pensando em como
seria se minha mãe e Benício fossem diferentes, se fôssemos unidos e
pudéssemos contar um com o outro.

O pensamento acabou me levando ao Hugo, em uma comparação que foi


impossível de não fazer. Um jovem de vinte e quatro anos, pobre, com dois
sobrinhos para sustentar e dar amor, mas arregaçava as mangas e não tinha
medo de se arriscar por eles; enquanto meu irmão que tinha tudo, incluindo
a melhor educação, alimentação digna, moradia decente e sem
preocupações com contas para pagar, era um mimado irresponsável que só
sabia enxergar o próprio umbigo e não respeitava outras pessoas.

Sorvi um gole do vinho, o amargor da solidão descendo rasgando por


minha garganta.

Pela primeira vez, em muito tempo, deixei que a dor me abraçasse


trazendo com ela as lembranças de tudo o que tinha me machucado, de cada
vez que precisei engolir o choro e seguir em frente quando lembrava que eu
tinha perdido a chance de ser mãe do filho do desgraçado do Pietro. De ter
alguém para chamar de meu. Um ser que teria meu sangue e eu daria tudo o
que eu não tinha recebido.

Amor.

Encolhi as pernas na cadeira e as abracei, permitindo que o choro me


desmoronasse. Afinal, eu estava sozinha, nem todo o dinheiro do mundo
mudaria isso.

Pelo menos aqui, dentro do meu ninho, eu podia ser eu mesma.

Sem barreiras.

Dureza.

Eu sendo apenas uma mulher solitária e querendo um abraço.


Era sexta à noite e eu tinha acabado de receber uma mensagem da
Beatrice avisando que ela estava me aguardando no loft, que precisava de
mim. E eu sabia que não tinha como negar, principalmente depois dela ter
deixado claro que estava insatisfeita com minha atitude. Agora, mais do que
nunca, eu precisava atender a todos seus chamados, pois ela prometeu
ajudar com minha irmã e isso me daria um conforto como eu nunca havia
sentido.

Como Ana estava chateada comigo, eu jamais teria coragem de pedir


ajuda novamente, então conversei com Dulce, pedi que ficasse com os
meninos durante as horas que eu passaria fora, mas que daria um agrado, se
fosse preciso. Ela apenas sorriu de um jeito doce. A senhorinha podia até
ser uma fofoqueira de primeira, mas era muito solícita, assim como grande
parte da vizinhança.

— Esses pestinhas são uma benção, meu bem. Não me dão trabalho,
além da Elena passar horas tagarelando ao pé do meu ouvido.

Sorri de volta, constatando que eu não era o único que achava a pequena
garota uma metralhadora de palavras.

— Não sei que horas vou estar livre, mas pode me ligar se acontecer
algo. Não hesite, por favor.

— Onde está trabalhando, querido? Parece ser um bom emprego.

Engoli em seco, sabendo bem que ela nunca nem mesmo poderia
imaginar o que eu estava fazendo em troca de dinheiro.

— Estou cuidando de um prédio, cobrindo a folga de outros


funcionários. Dá pra manter a alimentação dos meninos.

Pelo olhar desconfiado que me lançou, um semicerrado atento, percebi


que ela me conhecia o suficiente para saber que eu estava mentindo. Isso
também não era algo que eu queria me preocupar no momento.
Só tinha que ser grato por ela quebrar meu galho.

— Titio, eu não gosto quando você sai. Sinto sua falta. — Elena
comentou agarrada ao meu pescoço.

— Oh, meu bem... não fique assim, pois estou indo trabalhar. Vai ser
bom para nós três, tudo bem?

Apesar de tristonha, ela assentiu compreensiva, deixando um beijo


demorado na minha bochecha.

Coloquei a menina no chão. Ela já estava ficando pesada, grande, daqui


a pouco não caberia mais no meu colo, e isso me deixou nostálgico,
lembrando de uma época em que eles eram minúsculos e chorões.
Abracei Igor também, mas como um garoto que estava começando a
ficar rabugento e se achava um adulto, não queria ir para meus braços.

Dei um beijo no topo da sua cabeça, em seguida bagunçando o cabelo


que tinha acabado de ser penteado.

— Cuide da sua irmã, certo?

— Pode deixar, tio. E sabe, eu gosto muito mais de ficar com a dona
Dulce do que com a Ana.

Fiquei surpreso com sua confissão, estranhando o fato dele ter contado
isso, pois quase sempre ficavam com minha amiga.

— Achei que gostasse de ficar com ela. Ana gosta muito de vocês.

— Não. Ana gosta de você, tio Hugo.

E sem me dar chances para indagá-lo mais uma vez, ele correu para a
varanda da senhorinha e puxou a irmã consigo.
— Esses meninos estão cada vez mais espertos e crescendo a mente
rápido demais. Isso me assusta, hein? Velhos tempos em que os pirralhos do
mundo eram mais inocentes. — Dulce brincou acenando na minha direção.

Esperei que ela entrasse e fechasse o portão, se mantendo segura com os


dois meninos que eram a minha vida, os motivos dos meus propósitos e que
eu viraria o mundo do avesso para ver a felicidade.

Passei em casa, peguei minha mochila com meus itens pessoais, tais
como: uma muda de roupa, cueca e escova de dentes. Enviei uma
mensagem para o motorista, avisando que eu estava pronto. Caminhei até a
esquina para esperá-lo e me incomodei quando vi Fabiano vindo na minha
direção. Não queria voltar ao assunto Beatrice e os detalhes que ele
desejava saber.

— Outro encontro com a coroa? — Perguntou batendo no meu braço.

— Sexta-feira, o movimento crescendo e você quer mesmo saber da


minha vida? Não acha que o trabalho é mais importante? — Provoquei
ouvindo sua risada.

— E perder a chance de te ver assim, todo bom-moço indo ter uma noite
de sexo com uma ricaça e ainda ganhar por isso?

— Por que você sempre faz ser pior do que já é?

Eu não estava exagerando.

— Soube que teve uma discussão com a Ana.

Então ela tinha contado para o irmão. Algo que eu não esperava.

— É, eu não imaginava que ela estava se sentindo daquela forma, se


soubesse nunca tinha me aproximado demais.
— Só você nunca viu o quanto ela sempre foi louca por você. Mas que
bom que deu um basta nisso. Não quero que namore com ela.

— Ana é como uma irmã para mim, Fabiano. Jamais a vi de outra


maneira.

Fabiano virou para ficar de frente para mim, apoiando uma mão sobre
meu ombro.

— Sabe que é um irmão para mim também, que te respeito, admiro tudo
o que faz pelos sobrinhos, a determinação e coragem, mas convenhamos,
está longe de ser o que a Aninha merece. Toda essa bagunça na sua vida, a
Heloise, os dois... o combo de problemas que vem com você não é para
alguém como minha irmã.

— Não discordo de você.

E assim mesmo doeu.

Eu tinha consciência de todo o caos que me acompanhava, e não era à


toa que eu tinha evitado ter a possibilidade de viver uma relação amorosa.
Isso era algo impossível de acontecer.

Agradeci quando o carro chegou e eu pude me despedir do meu amigo,


dando um basta na nossa conversa desconfortável. Agora eu tinha um
encontro.

Uma noite com Beatrice e precisava estar bem para fazer de tudo para
agradá-la.

Fora isso, meu corpo inteiro estava tenso, nervoso com o que se
aproximava, porque ela tinha um poder sobre mim que me assustava. Me
levava a gostar do que tínhamos feito e ainda iríamos fazer.
Capítulo 13
Cheguei primeiro do que ela.

Aproveitei que estava sozinho e abri a porta de correr da minha parte


preferida do loft: a varanda. O vento frio que soprava, o aroma das plantas
do jardim botânico e a paz que o lugar me trazia era reconfortante.

Sentei-me na cadeira e fiquei pensativo, os flashes dos últimos


acontecimentos ainda na minha mente. Fabiano, Heloise, Ana... eu tinha
muitas pessoas na minha vida, rodeado de amigos e intrigas, de qualquer
forma, tinha que agradecer por nunca ser sozinho.

Não sabia o que seria de mim sem as pessoas que construíam uma base
para que eu me mantivesse de pé.

Estava cansado, meu dia havia sido corrido, já que precisava deixar as
coisas no lugar antes de sair de casa. Eu acordava cedo, botava as crianças
para a escola, faxinava e parei para pensar que tantas outras pessoas faziam
isso no dia a dia e não eram valorizadas.

Ouvi o clique na porta, o alerta de que ela tinha chegado, então levantei,
percebendo as pernas bambas, a ansiedade que me tomava a cada segundo.

Não era surpresa que ela estivesse deslumbrante, dessa vez usando uma
calça social e a camisa por debaixo do blazer bege. E ao contrário das
outras vezes, seu cabelo estava preso com um rabo de cavalo.

Ainda assim era linda, ao ponto de quase de tirar meu fôlego.

— Espero que esteja com fome, pois passei em um italiano e trouxe


ravioli de ricota com um rosé argentino para acompanhar.
Parecia que ela estava falando coisas de outro mundo. O que não deixava
de ser, já que não eram coisas que faziam parte da minha realidade.

— Já escutei falar do ravioli, mas nunca o comi. E o rosé é vinho?

— Sim, Hugo.

— Eu não bebo, como já tinha falado da outra vez.

— Deve ter algum refrigerante dentro da geladeira. Pedi que minha


empregada abastecesse.

Então mais alguém sabia do que fazíamos. Isso além do motorista e o


advogado que resolvia suas burocracias.

Tentando fugir um pouco dela, como se fosse adiantar, corri para pegar
os pratos e talheres e arrumar sobre a mesa. Não sabia como deixar da
maneira que ela era acostumada, mas pelo menos fiz de uma forma
organizada.

Peguei sua taça, guardanapos e puxei a cadeira, recebendo um sorriso


antes que ela se sentasse.

— Um homem completo, pelo que estou vendo.

— Eu tenho uma garotinha que ama conto de fadas e príncipes, então


algumas vezes preciso agir como um em brincadeiras com ela.

Elena sempre me fazia brincar por horas, fosse servindo chás de


mentirinha ou ajudando com as histórias que ela montava com suas
bonecas.

Minha sobrinha podia ter a vida conturbada, mas sempre fiz com que ela
tivesse uma infância decente. Comprava bonecas, mesmo que usadas, ela
ganhava de vizinhos e participava de eventos beneficentes quando os
comerciantes organizavam no Dia das Crianças. Já Igor preferia carros e
futebol, nunca perdendo os jogos do seu ídolo Cristiano Ronaldo sempre
que podia assistir.

— Ela deve ser louca por você.

Fiquei surpreso com o seu comentário, que veio acompanhado por um


sorriso lindo e que me desmontaria qualquer dia desses.

Nos servimos em silêncio, ela sempre com a taça de vinho ao lado, como
se a usasse como uma fuga, e eu não gostava disso. Na verdade, me
incomodava ver que as pessoas sempre usavam o álcool para aliviar os
problemas, como se ele também não fosse um.

Provei a comida sob seu olhar atento, e realmente era uma delícia, algo
tão gostoso que me levou a imaginar o que os meninos achariam se
provassem algo assim, tão diferente.

— Pela sua expressão, acredito que o prato esteja aprovado.

— É divino. Nunca tinha comido algo tão delicioso, e olha que eu sou
bom na cozinha.

— Bom tio, gostoso, lindo e prendado. As garotas devem ficar loucas


atrás de você.

Nem consegui encontrar palavras para responder, apenas voltei a comer,


em silêncio, enquanto era analisado como se ela estivesse me revirando
pelo avesso.

— Não precisa ficar acanhado, já fiz coisas muito mais ousadas do que
te chamar de gostoso.

Quase me engasguei.
— Não consigo me acostumar com seu jeito. Sempre toda desinibida e
sem pudor.

— Estamos sozinhos, e eu louca para partir para a sobremesa, não vou


me acanhar quando sabemos os motivos de estarmos aqui.

Senti meu rosto esquentar com suas palavras.

Beatrice era um verdadeiro furacão, não um como minha irmã, mas de


uma maneira que devastava, que conseguia arrastar tudo para si mesma.

— Mudando de assunto, — disse — falei com meu advogado e ele vai


buscar mais informações sobre as clínicas, em breve terá um retorno.

— Muito obrigado, Beatrice. Se quiser descontar, tirar mais outras


regalias, não tem problema.

— Não farei isso, contanto que eu ganhe meu agrado também. Isso tudo
aqui é apenas uma troca de favores por diversão.

Assenti, tentando não deixar que suas palavras me afetassem.

Finalizamos a refeição quase ao mesmo tempo, então fiquei de pé e


peguei a louça para colocar na pia enquanto ela me acompanhava até a
cozinha. Observei de canto de olho quando Beatrice pegou um pote do que
deveria ser sorvete.

— Agora eu quero degustar da sobremesa, nesse caso, em você.

Arregalei os olhos, vendo o quanto ela mudava para um lado mais


selvagem quando falava assim. Era excitante demais, perturbador e mexia
comigo de uma maneira inacreditável.

Ela se aproximou e alcançou meus lábios, esfregando-se em mim como


uma gata no cio. Em resposta, agarrei sua cintura permitindo ser levado
pelo clima que ela comandava.
Não demorou muito para que eu estivesse duro como uma pedra, a
ereção roçando no seu ventre conforme o beijo se intensificava.

— Tire sua roupa, Hugo. — Ordenou no instante em que se afastou de


mim e caminhou de volta para a sala.

Enquanto eu me livrava da minha roupa, ainda acanhado, ela tirava a


calça, ficando apenas com a camisa fina de alças e a calcinha minúscula que
parecia ter sido feita sob medida. Quase babei ao vê-la assim.

Olhei para minha ereção que puxava o tecido da cueca, alargando e


marcando sob a peça. Eu sabia que era grande, grosso, em uma medida
satisfatória, só que a forma como ela o olhava e elogiava, aumentava ainda
mais o meu ego masculino.

— Tire tudo. Quero você completamente despido.

Atendi ao seu pedido, largando a cueca de lado e caindo no sofá quando


ela me empurrou com aquele jeito felino que apenas ela tinha.
Meu coração espancava o peito em um ritmo descompassado, conforme
ela foi se ajoelhando entre minhas pernas com o pote e uma colher na mão.

— Você vai ver o quanto é gostoso sentir o gelo do sorvete caindo sobre
seu corpo, atiçando seu pau e sendo lambido logo em seguida.

Fiquei sem entender o motivo que me levou a ficar incomodado ao


imaginar que ela havia feito o mesmo com outros homens. Portanto, meus
pensamentos foram expulsos quando senti o creme gelado ser colocado na
minha barriga.

Estremeci.

Ajoelhada, sexy e linda, ela abriu e boca e pôs a língua para fora, sempre
me encarando, nunca tirando os olhos de mim enquanto me provocava. Eu
pegaria fogo, tinha certeza disso.
A maciez da sua língua roçou na minha pele, varrendo o sorvete que se
espalhava ao redor, porém, ela nunca deixava desperdiçar. Só assisti,
enlouquecido, à medida que ia sendo invadido pelo frenesi surreal que me
percorria.

Estar com uma mulher como ela, algum dia da minha vida, jamais tinha
passado por minha cabeça. Queria sim um dia encontrar alguém, em um
momento em que minha vida estivesse mais calma, mas viver isso, um sexo
pago e por uma mulher como Beatrice... uma loucura.

O pior de tudo era que eu estava gostando. Enquanto estava com ela,
toda e qualquer chance de ter o peso na consciência ia embora em um
estalar de dedos.

Arfei apoiando a cabeça no encosto do sofá quando ela derramou o


creme no meu pau, logo usando a língua para limpar onde estava melado.
Me perdi, incapaz de pensar em algo além do momento.

— Você já é uma delícia sem nada, gatinho, mas assim... Inferno, eu vou
ficar viciada.

Abri a boca em busca de ar conforme ela ia me chupando, de cima a


baixo, lento e provocante, massageando minhas bolas enquanto a língua e
os lábios me devoravam quase que inteiramente.

Meu rosto queimou no mesmo instante em que comecei a sentir o gozo


vir.

— Beatrice... — tentei avisar antes, mas não deu.

Logo eu estava gozando na boca dela, pois ainda não tinha aprendido a
controlar as reações do meu corpo, ainda na dúvida se isso fosse, um dia,
capaz de acontecer.
Observei, com o olhar inervado, a mulher engolir tudo, os olhos em mim
enquanto bebia meu sêmen.

Meu corpo aliviou quando despejou por completo, deixando meu ar


falho.

Limpando o canto dos lábios, ela se levantou e se colocou no meu colo,


pernas abertas e encaixadas ao lado de cada coxa.

— Quer provar um pouco também? — Indagou naturalmente, ainda com


meu gosto na boca.

Sem nem ao menos esperar a minha resposta, ela se livrou da blusa e do


sutiã, despejando uma porção sobre o seio com o bico arrepiado, pronto
para mim.

Abocanhei sem cerimônias, o sabor de creme do sorvete sendo anulado


pelo gosto e cheiro da pele dela, um que era único e sofisticado.
Agarrei sua cintura, puxando-a mais para perto conforme ela ia se
esfregando na minha ereção. Um movimento e eu já estaria dentro dela.
Só que eu queria ir mais devagar. Aproveitar cada segundo dessa loucura
que eu havia me enfiado; e gostado.

Envolvido pelo prazer incontrolável, a fera dentro de mim parecia


despertar aos poucos, mostrando um lado meu que eu jamais imaginei
existir.

Dei uma leve mordida no mamilo e soltei, encarando-a desesperado.

— Quero sentir seu gosto, Beatrice. Eu só... não... nunca fiz. Quero saber
como você gosta.

Meu subconsciente ficou surpreso com minha ousadia e com o que essa
mulher fazia comigo e no que me transformava.
— Você ser tão inexperiente soa incrivelmente sexy demais para mim.
Como recusar um pedido desses?

Saindo de cima de mim, ela se sentou ao lado e apontou para a calcinha


que ainda estava cobrindo toda sua parte de baixo. Levantei-me apenas para
cair de joelhos aos seus pés, as mãos trêmulas que alcançaram as tiras da
peça de roupa, ansioso para me livrar dela.

Completamente despida, ela colocou o pote de sorvete na mesa ao lado e


me encarou de onde estava, um olhar felino e malicioso enquanto abria
ainda mais as pernas, me dando a bela visão da sua boceta depilada e tão
linda que desejei cair de boca antes mesmo de ter ideia de como fazer.

— Fique à vontade, gatinho. Me devore! — Ordenou excitada.

Agarrei sua perna, sem saber ao certo por onde começar, mas permitindo
que meu instinto me comandasse.

Comecei deixando beijos na sua pele macia, o pé com a unha pintada de


uma cor suave, o calcanhar... ela era como uma deusa, merecia ser
contemplada.

Rastejei os lábios até a parte superior da coxa, sentindo o aroma gostoso


do hidratante.

Tudo nela era requintado, esbanjava luxo e sedução.

Agarrei a outra perna e continuei da mesma forma que fiz com a outra,
parando entre as coxas, onde ela estava despida e exibindo o caminho para
minha perdição.

Cada centímetro nela era perfeito.

Encostei os lábios na virilha, no ventre, notando-a se contorcer sob o


toque dos meus lábios.
— Abra minhas dobras e me lamba, gatinho.

Assenti, obedecendo ao seu comando, sentindo meu nervosismo ao


passo que eu ia tocando seus grandes lábios e expondo a pele molhada.

Lambi os lábios antes de ir até ela e encostar a boca na sua boceta,


deixando beijos curtos e leves.

O gosto era bom, assim como eu tinha experimentado quando ela me fez
chupar os dedos, mas assim, direto da fonte, era extraordinariamente mais
erótico e picante.

— Meta os dedos em mim. Quero senti-los me fodendo também.

Minha ereção latejava enquanto eu ia beijando cada centímetro, levando


os dedos para dentro dela, sendo recebido por seu interior apertado e
encharcado também.

— Ah, Hugo! — Ofegou arqueando as costas — Assim, isso... porra,


garoto!

Beatrice agarrou meu cabelo e apertou entre os dedos, fazendo com que
eu sentisse a fisgada no couro cabeludo. Mas isso era bom, um sinal de que
ela estava gostando.

— Chupe meu clitóris!

Atendi ao pedido, abrindo-a ainda mais, passando a língua pela


protuberância que estava inchada. Notei que ela arfou ainda mais ali,
quando fui ao ponto exato da sua excitação.

Aumentei a velocidade da língua e dos dedos, sentindo o mel que


escorria para minha boca, constatando que eu ficaria além de viciado no
gosto dela. De estar assim, de joelhos, contemplando-a e dando prazer
quando tudo o que ela fazia era me enlouquecer.
— Estou tão perto de gozar na sua boca.

Ergui o olhar, cometendo o erro de encará-la, pois estava ainda mais


linda, uma luz que rodeava seu corpo, dando ainda mais brilho do que ela já
tinha.

— Quer que eu goze na sua língua?

Assenti, ansioso para saber se eu iria dar prazer ao ponto dela se


contorcer na minha boca.

Continuei, assim como ela ensinou, assistindo Beatrice levar as mãos aos
seios e apertá-los, girando os quadris para me ajudar com os movimentos.

— Caralho!

E em seguida começou a convulsionar no sofá, a cabeça para trás e a


boca aberta enquanto eu tomava seu gozo, sentindo a boceta contrair ao
redor dos meus dedos; ela colocou as pernas em volta dos meus ombros e
me puxou ainda mais para perto.

Não resisti a onda que me atingiu, um pico de eletricidade


descontrolado.

Não esperei que ela comandasse, que me pedisse algo além do que eu já
estava fazendo, apenas a agarrei pela cintura e puxei contra mim.
Desabei com ela no chão, seu corpo farto debaixo do meu enquanto a
minha ereção, automaticamente, penetrava na sua boceta; receptiva e
calorosa.

Estoquei fundo, abafando seus gemidos com minha boca, a língua com o
gosto dela deslizando pela sua, os olhos encarando um ao outro, num
momento envolvente e enlouquecedor.
Testa com testa, olho no olho, lábios nos lábios, eu percebi que estava
indo por um caminho muito perigoso.

Não me importei com mais nada.

Só mergulhei fundo, entrando e saindo, com força e um desejo


escandaloso enquanto trocávamos beijos tórridos e violentos.

Ela me mordia os lábios.

Eu afundava dentro dela.

Ela arranhava minhas costas.

Eu me perdia no brilho dos seus olhos.

Loucura ou não, eu só queria que o tempo parasse exatamente no chão


dessa sala, em cima do tapete e com ela debaixo de mim.
Capítulo 14
Acordei com as cortinas fechadas, o escuro agradável e um frio delicioso
que abraçava meu corpo. Esfreguei os olhos, me sentei e estiquei o pescoço
para olhar em direção ao sofá lá embaixo, não vendo ninguém ali. Busquei
pelo meu robe antes de sair do quarto, já sentido uma leve irritação por
achar que ele tinha ido embora, mas ao começar a descer a escada ouvi sons
de alguém na cozinha, além de um cheiro delicioso de café da manhã.

Encostei no balcão e o observei organizando a mesa, perdido em


pensamento e... lindo. Deus, ele era perfeito. Tudo na medida certa, ainda
mais dessa forma, sem camisa e usando apenas uma calça de flanela. Eu
queria poder dar um banho de loja nele, ver roupas de grifes cobrindo o
corpo que tanto me atraía, mas sabia que Hugo não aceitaria tanto assim,
pois, apesar de tudo, ele ainda ficava um pouco receoso do nosso trato.

Ao notar minha presença ele parou e sorriu, os lábios repuxados e duas


covinhas que apareceram de imediato.

— Bom dia, Beatrice. — A voz rouca soou como música — Sei que não
deve comer qualquer coisa, mas decidi fazer uma surpresa. Espero que
coma pelo menos um pouco.

Foi fofo, eu tinha que confessar, apesar de parecer algo muito próximo
ao sentimental. Assim mesmo, aceitei e sentei-me na cadeira que ele puxou
para mim.

— O café eu demorei um pouco, a máquina é moderna demais.

— E como faz o seu?


— Coador. O gosto fica bem melhor, mais apurado, mas esse daqui não é
de todo ruim.

Agradeci e observei o que ele havia feito.

Um pão torrado com queijo, a tapioca com margarina, suco de laranja, o


café, ovos e um cheiro que estava me atraindo além de todas as gostosuras.

— E esse cheiro? — Perguntei curiosa.

— Ah, um bolo. Espero que não fique chateada por eu ter usado as
coisas que tinha aqui.

— Por que ficaria? Enquanto estivermos juntos, esse lugar também é


seu. Não se acanhe com isso. E bolo? Você não dormiu?

— Estou acostumado a acordar às cinco da manhã, então pensei que


podia fazer algo diferente para te agradecer por tudo.

— Gosto que seja esse homem prendado. Soa tão sexy! Um dia quero te
ver cozinhar apenas de avental, sem nada por debaixo.

Não contive a risada por ver seu rosto corar. Daquele jeito que ele
sempre ficava.

Hugo foi até a cozinha e logo voltou com um bolo pequeno, fofinho e
cheiroso. Ainda saía fumaça enquanto ele cortava e colocava no prato.
Apontei para que ele se sentasse também, então puxou a cadeira e ficou à
minha frente.

Dei uma garfada, instigada a experimentar os dotes do homem, que


parecia atento esperando minha reação.

Eu não tinha costume de comer bolo, o máximo uma ou duas fatias de


pão, uma fruta e o café, mas o sabor que atingiu meu paladar me fez
perceber que eu comeria isso todos os dias se fosse possível.
— Jesus! Isso aqui está muito bom. — Comentei cobrindo a boca que
ainda estava cheia — Fofinho, o gosto da margarina... amei!

— Fico feliz por ter gostado. Meus sobrinhos amam também, só não
comem com muita frequência.

— Então leve pra eles antes que eu coma tudo.

Vi seu rosto corar de novo, acompanhado com um sorriso tão lindo que
fez meu estômago sentir algo mexendo ali dentro.

— Fiz pra você, Beatrice. Dos meninos posso fazer depois.

— Que bobagem! Aqui tem muita coisa para duas pessoas. Pode levar,
sem problemas. E não falo apenas do bolo, sobre o que quiser, é sério.

— Não quero abusar.

Revirei os olhos ainda comendo sem parar.

— Pois é bom que abuse, pois eu faço isso com você sem remorso
algum.

Minha falta de sutileza o fez engasgar o café que ele tinha acabado de
virar um gole. Sorri, divertida por sua reação.

Deixei o bolo de lado para comer da tapioca e mordiscar os ovos. Comi


que fiquei empanzinada, como há tempos eu não ficava.

Minha vida sempre era corrida, além de fazer dietas que me proibiam de
comer demais, então sempre regrada, saladas, frutas... nunca fugia, exceto
hoje.

E se ele me acostumasse assim, viraria rotina.


— Eu preciso ligar pra eles, saber como estão, se não se incomodar.

Sacudi a cabeça. Era óbvio que não me incomodaria.

Eu não conhecia o Hugo, sabia o básico sobre sua vida, e o pouco de


informação que eu tinha era suficiente para admirar sua determinação, garra
e o carinho que tinha pelos sobrinhos.

Dos antigos homens que tinham feito o acordo comigo, nenhum deles
tinha uma vida como a do Hugo. Sempre universitários, festeiros ou apenas
playboys querendo uma grana extra para esbanjar por aí; mas esse não.

Ele era trabalhador, corria atrás e tinha problemas de verdade, coisas que
eu nunca tinha enfrentado na vida por ter sido privilegiada de nascer em
berço de ouro.

Levantei-me e fui até a varanda, onde ele tinha acabado de desligar o


celular. Cruzei os braços e encostei na soleira da porta.

— Tudo bem com eles?

— Sim, eles ainda estão dormindo. A Dulce, minha vizinha, mora


sozinha e curte a companhia dos dois.

— Seus sobrinhos não podiam ter um tio melhor, Hugo.

Ele me encarou, apoiando o corpo no parapeito de alumínio e vidro.

— Eu os amo demais. De uma maneira que eu não consigo explicar. São


como filhos, como se tivessem vindo de mim também.

— É muita responsabilidade para alguém como você. Jovem, tendo um


futuro que está pausado... não é justo.

— Mas eu jamais abandonaria os dois, se é isso que está querendo dizer.


É o que quase todo mundo fala, sempre achando que serei capaz de
descartar duas crianças como se fossem estorvos na minha vida; mas elas
não são. Nunca foram e nem serão.

Aproximei-me dele, apoiando ao lado, sem nunca tirar os olhos do seu


rosto.

— Eu nunca falaria isso pra você. Me espanta perceber que as pessoas


pensem assim.

— Você não tem filhos?

A pergunta me atingiu em um ponto sensível, onde eu não esperava e


que me trazia lembranças ruins, um amargor na boca e um revirar no
estômago.

Soltei um longo suspiro, apertando meus braços com força.

— Não.

— E nem quer?

— Acho que nossa conversa já atingiu um limite proibido.

Eu não queria falar sobre isso. Não queria dar brechas para ele saber
sobre minha vida além do necessário. Não queria proximidade, a não ser a
sexual.

Hugo já me deixava diferente do que eu era com os demais, abrir minha


vida seria como alimentar algo que tinha evitado por muitos anos.

— Estamos tendo uma conversa, Beatrice, é normal que acabe levando


para o lado pessoal. Isso não significa nada.

— Para mim, sim. Não costumo derrubar minhas barreiras para


ninguém.
— E é feliz assim?

Nem eu mesma sabia a resposta correta. O vazio existia, mas


infelicidade... ainda não sabia compreender o que realmente se passava
dentro de mim.

— Sou feliz do meu modo, assim, livre, independente e sem riscos de me


apaixonar e sofrer futuramente.

Foi a vez dele de sorrir, como se debochasse das minhas palavras.

— Alguém consegue controlar o que sente? Se isso existisse a vida seria


fácil demais.

— Há um contrato entre duas pessoas adultas, ambas com interesses


nítidos, então as chances de ocorrer sentimentos são praticamente nulas.

Soltei com sinceridade, vendo sua expressão mudar um pouco. Hugo não
teve argumentos para me dar.

Durante todos esses anos eu não tinha me apaixonado por ninguém, nem
pretendia. Os homens eram gentis, quentes, mas interesseiros.
Não havia magia.
Não seria diferente agora.

— Por que a gente não usa o tempo para cumprir o acordo, hein? —
Mudei para um sorriso enquanto agarrava seu pescoço. — E quando eu digo
isso, é sobre ter um sexo incrível que me deixe de pernas bambas.

Então o beijei.

Com força, desejo, muita necessidade de prazer, e de fugir do assunto.


Eu só queria me perder nos seus braços e aproveitar enquanto tínhamos a
química abrasiva entre nós dois.
Apoiei minhas mãos na parede de vidro à minha frente enquanto Hugo
metia forte dentro de mim. Assim, ao mesmo tempo que era fodida, via a
rua do lado de fora, lá embaixo, apenas manchas de poucos carros indo de
um lado para o outro.

A vista do meu quarto não era tão interessante quanto o homem que
consumia minha boceta com o cacete faminto e empolgado.

Gemi, tentando controlar a louca vontade de gritar o quanto suas


estocadas estavam me enlouquecendo, as mãos apertando meus quadris e o
gemido rouco ao pé do meu ouvido... era tudo bom demais para alguém
como ele.

— Continue assim, gatinho, eu estou perto de gozar.

Dei uma leve rebolada, apenas para impulsionar os movimentos.


Mordi o lábio inferior, apoiando não só as mãos, mas a testa suada no
vidro, sendo empurrada com força à medida que a excitação dele
aumentava.

— Eu estou indo, Beatrice. — Avisou.

— Goze em mim, me deixe marcada pela sua porra, Hugo.

Sabia que minhas palavras só serviam como gatilho para o jovem, então
demorou apenas alguns segundos para que eu sentisse os jatos quentes
jorrarem dentro de mim.

Desci minha mão entre as pernas e acariciei meu clitóris, aliviando o


tesão que borbulhava através das minhas veias.
Estremeci, saciada, deixando o orgasmo tomar conta de mim enquanto
era beijava por toda as costas. Os lábios suaves e molhados fazendo carícia
na minha pele suada.

Até ter o momento interrompido por um ressoar conhecido do meu


aparelho celular que tocava em algum lugar do apartamento.

— Não, por favor. — Hugo pediu.

Eu gostava de saber que ele se soltava mais quando estávamos assim do


que normalmente.

— Se alguém está me ligando no final de semana, é porque tenho algum


problema a minha espera.

Não deixei que ele protestasse mais uma vez, afastei-me e fui atrás do
robe de seda largado na poltrona. Enrolei meu corpo e desci a escada
resmungando e xingando inconformada por ser interrompida em um
momento como esse.

Encontrei o aparelho em cima da mesa de centro. Era minha mãe, como


sempre, atraindo problemas e estresse. Eu tinha certeza disso, e nem
precisava atender para saber.

— Espero que seja algo muito grave, Magda. — Falei assim que atendi.

— Preciso da sua ajuda. — Pelo tom de voz era algo sério. Bem, pelo
menos para ela.

— O que a faz achar que vou parar o que estou fazendo para ir te
socorrer? Estou ocupada demais para suas futilidades.

— Não é futilidade, é seu irmão.

—Claro que é. Como não pensei nisso antes? — Sorri desgostosa —


Deixa ver se eu adivinho: ele está na delegacia?
Durante esses últimos anos que eu tinha voltado, meu irmão se mostrou
um frequentador assíduo da delegacia, sempre se metendo em problemas e
tendo a cabeça acariciada pelos pais tão irresponsáveis quanto.

— Você vem ou não, cacete?

— Não. Estou de folga, Magda. Não vai ser seu projeto de bandido que
vai interromper isso. Desejo sorte aos dois.

— Você não vai...

Desliguei, cortando-a no começo da frase. Soltei um longo suspiro,


cansada desses problemas mesquinhos que os dois atraíam para minha vida.

— Algum problema? — A voz do Hugo ressoou atrás.

Abri um pequeno sorriso e dei de ombros, ignorando a vida do lado de


fora.

— Nada que você não me ajude a resolver.

Nesse momento esqueci Magda, Benício e todo o combo de estresse que


acompanhava os dois.

Por mais que eu tivesse tentado me afastar das notícias ruins durante o
final de semana, logo fui tomada por elas na segunda-feira quando cheguei
à empresa e vi Moroni me esperando.

— Não sei se gosto de te ver aqui logo cedo sem ser convocado. —
Comentei passando por ele e me sentando na minha poltrona.
— É assim que trata seus garotos? Por Deus, Beatrice, parece o próprio
diabo.

Sorri sarcasticamente.

— E quem disse que não sou parceira dele? Bem, é isso que minha mãe
adora cuspir aos quatro ventos desde que fui embora décadas atrás.

— É sobre ela que vim falar. Aliás, os dois.

— Fala logo de uma vez, Moroni. Não tenho como começar o dia pior
do que tendo notícias da família.

Apoiei minhas costas no encosto da poltrona e esperei, já pronta para


ouvir o que o caçula aprontou, tendo em vista que minha mãe ligou atrás de
ajuda no sábado.

— Benício foi preso novamente. Parece que uma garota que ele estava
saindo era menor de idade, filha de um empresário e agora ele está um
pouco furioso com seu irmão.

— Uma menor de idade? Além de tudo, ainda comete um crime desse


nível? Que ele não conte comigo pra nada, pois não vou manchar o nome da
empresa com as coisas que ele se envolve. Que responda da maneira que
qualquer um faz.

Pronto. Se eu achava que não tinha como passar mais raiva, Benício
provou que tinha como piorar sim. Não era apenas o nome da Fuller que
entrava no meio, mas a reputação. Por mais que o crime não tivesse sido
cometido por mim, o nome ia estar nos holofotes, mas eu contornaria
mostrando que não aceitava esse tipo de comportamento.

Vi quando Moroni coçou a cabeça, um pouco sem jeito, evitando me


encarar.
— Então, Beatrice, como você não atendeu a Magda, eu tive que dar
uma força.

— Que tipo de força você está se referindo?

— Marquei um encontro com o pai da garota. Uma maneira de dialogar


sem que um escândalo envolva o nome da família novamente. O cara e o
delegado querem uma boa quantia para cancelarem a denúncia.

Levantei-me de uma vez, prestes a agarrar o pescoço do meu advogado.

— Que porra você pensa que está fazendo? Quem autorizou essa
idiotice? E desde quando atende aos chamados da minha mãe?

— Eu sou um advogado, não posso simplesmente recusar ajudar quando


se trata de trabalho. Além do mais, ela foi bater à minha porta como uma
louca, implorando, chamando a atenção dos vizinhos e minha esposa me
mandou dar um jeito.

Passei a mão pelo rosto, frustrada e com muita raiva de ter perdido o
controle dessa situação.

— Você devia ter me consultado. Sabe muito bem que Benício nunca vai
parar de aprontar se sempre tiver alguém para apaziguar os problemas dele.

— Desculpe, eu me vi sem saída. Sei que nosso trato não era agir sem
que você tivesse conhecimento, mas sua mãe é bastante insistente quando
quer livrar a bunda daquele vagabundo.

— Você não vai dar dinheiro algum a eles. Converse com o pai da garota
e encontre uma maneira legal, nem que signifique um processo nas costas
do meu irmão.

— Sua mãe vai ficar uma fera.


— Que fique. Não vou mais permitir esse tipo de sujeira sendo encoberta
com dinheiro. Ou Benício toma jeito, ou simplesmente vai viver levando
pancada da vida.

Que envolvesse o nome da Fuller, porém, eu usaria isso a meu favor,


principalmente ao mostrar que não apoiava esse tipo de comportamento do
caçula da família.

— Você pode ir, Moroni. Só volte quando tiver notícias sobre a clínica. E
caso a Magda o procure, não hesite em me consultar primeiro, por mais que
eu demore dias para responder.

Assentindo, ele se despediu e saiu da sala.

E eu fiquei com a fúria, querendo esganar o pescoço daquele


irresponsável.
Capítulo 15
Eu não tinha deixado de trabalhar além da Beatrice.

Por mais que o dinheiro que ela me mandasse fosse suficiente para
manter o estômago dos meninos cheio, as contas pagas, eu precisava ocupar
a mente. Fiquei ajudando Fabiano com as contas nos finais de semana, além
de fazer entregas quando Dulce ficava com os dois vendo TV.

Meu amigo tinha uma pequena equipe de funcionários. O cozinheiro, um


entregador a mais, e uma garota que cuidava da limpeza. Com isso ele
precisava sempre se manter organizado com o pagamento e a parte
burocrática. Eu tinha orgulho da determinação do Fabiano em manter o
empreendimento, mesmo que o começo tenha sido com a venda do corpo
para uma mulher mais velha, assim como eu estava fazendo.

Depois de fazer os cálculos que ele precisava do fechamento do mês,


contando com os salários, impostos e despesas, notei que o saldo de lucro
estava indo bem. Fabiano era organizado, isso o deixava mais confortável.

Entreguei as anotações e sentei-me na banqueta próximo ao balcão


enquanto esperava alguma entrega extra, para que eu pudesse me distrair e
não pensar tanto naquela mulher que parecia ter tomado conta de todo meu
juízo.

E como se o destino estivesse brincando comigo, minha paz não durou


muito, já que o apito do meu celular soou seguido com o nome dela na
caixa de mensagens.

“Estou encerrando meu expediente, preciso me livrar do estresse e só vc


é capaz de conseguir isso no momento.”
Com todo o poder que ela já possuía sobre mim, meu corpo inteiro
afetou com a simples mensagem. Era como se eu pudesse ouvi-la usando
aquela voz provocante e despudorada que ela tinha.

“Ok, logo mais estarei lá.”

Não tinha como recusar, tendo em vista que ela tinha se prontificado em
ajudar Heloise. Precisava da Beatrice, do seu poder e dinheiro, por mais
sujo que isso parecesse.

— Esses olhos brilhando me dizem que você está muito fodido. —


Fabiano comentou em um tom sarcástico.

— Não é como você está pensando.

— Ah, não? Talvez seja pior ainda.

Queria me justificar ao mesmo tempo que sabia que meu amigo não
estava de todo errado. Eu estava mesmo fodido com a situação em que
havia me metido.

— É complicado de explicar. Não é que eu goste dela assim, só é bom.

— Na primeira trepada tu se deixa levar uma chave de boceta, Hugo.


Maior erro que está cometendo. Tem que saber separar as coisas. Sexo e
amor são coisas distintas, cara.

— Ela é a primeira, é novidade, algo que eu nunca tinha experimentado.


Não significa que estou apaixonado.

— Espero que isso seja verdade, Hugo. Você não merece mais problemas
na vida. Quando te coloquei nisso foi apenas focando na grana, no bem-
estar dos pestinhas, não que arrumasse um problema para o coração.

Não contive o sorriso. Era fácil falar nisso quando ele tinha também se
apaixonado, ficado com outras mulheres e largado tudo por não conseguir
controlar os sentimentos.

— Você é a última pessoa que pode me julgar, também se apaixonou por


uma Sugar Mommy.

— É, mas soube sair na hora certa. Além do mais, estou gostando de


outra pessoa.

Nem precisou que ele falasse mais alguma coisa, pois o acenar em
direção a cozinha foi suficiente para eu saber de quem se tratava. A garota
que ele tinha contratado.

— Você não tem jeito nunca. — comentei divertido.

— Ela sim é a mulher que eu preciso. E você, camarada, logo vai


conhecer alguém especial que vai colocar essa coroa no chinelo.

Alguém que superasse a Beatrice?

Isso parecia algo impossível.

Sacudi a cabeça e pedi que ele preparasse uma pizza brotinho para que
eu levasse para ela. Dois pedaços de frango com cheddar e dois de
chocolate. Não sabia se ela comeria, mas não custava nada tentar.

— Até levando comidinha está... o negócio é realmente bom. Por isso


não tem coragem de me contar os detalhes. — Provocou, logo entrando
para a cozinha e me deixando sozinho com os pensamentos.

E eu não gostei do rumo que tomaram.

Se Fabiano tivesse sido um dos amantes da Beatrice?

Afinal, no que isso mudaria, sendo que eu sequer tinha poder na relação?
Depois de deixar um beijo nos meninos e chamar o motorista particular,
cheguei ao loft quase uma hora depois. E ela já estava à minha espera,
parecendo nada contente.

— Achei que tivéssemos começado a nos entender sobre os horários e


meus chamados, Hugo.

A voz me atingiu primeiro, mas depois veio sua beleza estonteante e o


brilho que emanava dela. Beatrice conseguia ficar mais bonita a cada
encontro. Por mais brava que aparentasse.

— Desculpe. Eu estava na pizzaria do meu amigo, aproveitei para fazer


uma encomenda e trazer pra você.

Ela se aproximou, um andar sensual e o olhar felino que poderia me


desmontar facilmente.

Beatrice conferiu o conteúdo da caixa e em seguida fechou. Um pequeno


sorriso apareceu.

— Muito gentil da sua parte, mas eu não como pizza.

— Um pedaço não vai fazer mal. Você não pode fazer essa desfeita
comigo.

Pedi com carinho, um nó no estômago de desânimo por ela nem mesmo


ter tentado, contudo não durou muito, já que logo Beatrice me pediu para
que arrumasse a mesa para que nós dois comêssemos juntos.

— Vou abrir uma exceção pra você, gatinho, mas não se acostume.
Assisti seus movimentos quando ela foi atrás da garrafa de vinho e
voltou, rebolando os quadris, para perto de mim.

— Então vamos aproveitar esse seu momento e comer na varanda, no


chão, vendo o movimento do lado de fora.

— Me parece uma ideia desconfortável, no entanto, acho que posso


tentar uma primeira vez, já que você me entregou algumas das suas.

Sorri naturalmente. Era bom ver um lado assim dela, mais leve e solto,
sem aquela fortaleza ao seu redor.

Peguei a caixa, guardanapos e levei até a varanda, onde sentei e arrumei


para que ela fizesse o mesmo, oferecendo a almofada para que se
acomodasse melhor.

Dei uma fatia da pizza salgada, que ela olhou com desconfiança antes de
dar a primeira mordida. Esperei ansioso para sua reação, que não demorou.

— Isso aqui tá muito bom! — Comentou cobrindo a boca — Deus sabe


há quanto tempo eu não como uma pizza.

— Qual o sentido ter tanto dinheiro e não poder usufruir?

— Não é que eu não aproveite dele, mas preciso me manter em forma.


Não sou mais uma adolescente que pode usar e abusar da comida.

Passei o olhar pelo seu corpo delicioso, cheio de curvas marcantes, que
nada parecia fora do lugar.

— Está me olhando como se quisesse me devorar. Acho que gosto de


saber que serei sua sobremesa.

O comentário que ela soltou me fez tornar a realidade.


Beatrice estava sorrindo divertida com minha reação.
— Gostou? — perguntei para desviar do assunto.

— Uma delícia. Tanto que vou provar um pedacinho da de chocolate.


Você não vai me dizer que faz pizza também, né?

— Não. É do meu amigo, o Fabiano. Ele quem me inscreveu no site.


Bem, ele já participou e conseguiu montar o próprio empreendimento para
garantir o sustento antes que o contrato acabasse.

As minhas palavras começaram a fazer efeito e só então que passei a


pensar novamente na Beatrice com outros homens, em especial meu amigo,
fazendo as mesmas coisas, rindo, o sexo, dinheiro, os beijos... isso me
deixou perturbado.

— Será que... — não. Não podia ser. — vocês dois...

O pensamento era absurdo, me fazia mal de uma maneira inesperada.

— Se está querendo saber se eu fui Sugar Mommy do seu amigo, não.


Nunca saí com ninguém com esse nome. Assim mesmo, gatinho, não se
anime, porque faz muito tempo que deixei de ser virgem e pura.

— É só que, por um momento, pensei que pudesse ser você.

— Está com ciúmes?

Estava? Esse desconforto no peito era o maldito ciúme?

— Não! — respondi mais para mim do que para ela.

Beatrice deixou as coisas de lado e se aproximou, montando no meu


colo, se posicionando com uma perna de cada lado do meu quadril.
As mãos macias tocaram meu rosto, agarrando e levando para perto dela.

—Trepei com muitos homens durante minha vida inteira, e desde que
voltei tive alguns jovens na cama, dividindo o mesmo sexo que tenho com
você. Então evite pensar demais, pois nossa relação aqui exige apenas
envolvimento sexual. Sei que é inexperiente nesses assuntos, que pode ser
um pouco mais difícil pra você, mas não esqueça o que somos, entendeu?

— Sim, não se preocupe com isso.

Eu estava bastante preocupado. Não queria sentir nada além do desejo e


isso era apenas o começo de tudo. Me assustava demais.

— Por que não começa me beijando e me dando o que quero? Não


marquei nosso encontro pra ficar com papo furado.

Me senti um pouco incomodado por ela deixar bastante clara as


intenções, por mais que eu já soubesse delas. Era como se meu peito
esperasse mais.

Então ela empurrou a boca contra a minha.

Entreguei-me ao beijo faminto que ela começou devorando minha língua


e sugando os lábios que envolviam os dela.

Era sexy, quente e muito surreal a maneira como ela conseguia conduzir
as coisas entre nós.

Apertei sua cintura com força, sentindo o roçar da virilha na minha


ereção, dura e apertada dentro da cueca, louca para ser liberta e consumi-la
por inteiro. Meu corpo parecia completamente rendido a Beatrice. Como se
não tivesse vida própria.

Com sua habilidade única, ela foi arrancando minha blusa, jogando em
um canto qualquer da varanda, em seguida arranhando meu peito nu com as
unhas bem-feitas.

Ofeguei, envolvido com o beijo e as carícias que ela fazia.


— Como eu senti falta desse corpo delicioso. — Sussurrou sem tirar a
boca da minha.

E eu havia sentido do dela.

De tudo que fazia parte do combo Beatrice, por mais louco que fosse. Só
não falei para ela.

Deixei que meu instinto me conduzisse quando abri o zíper do seu


vestido, livrando-a da peça também, expondo os seios que estavam rijos de
excitação.

Eu nunca deixava de admirá-los, como se fosse a primeira vez que eu os


visse.

— Adoro como você me olha, gatinho.

Ela me pegou no flagra e eu pude sentir o rosto esquentar com a


constatação.

— Você é tão linda que parece de mentira.

— Pois sou de verdade, além de estar totalmente ao seu dispor.

— Ainda assim não faço ideia de como agir quando estamos assim. Você
me deixa assustado, nervoso e excitado demais.

Um meio sorriso, daquele tipo de lado, quase que provocante, preencheu


seu rosto bonito.

— Que parte do meu corpo você gosta mais?

Engoli em seco e sorri também, dando uma leve mordida no lábio.

— Sua boca. — Confessei com sinceridade. — Ela é carnuda, bem


desenhada, e quando está assim, pintada, me faz pensar tantas coisas.
— Como seu pau fodendo-a?

Porra! Eu gostaria de ter essa facilidade de soltar palavras depravadas


como Beatrice fazia.

— É. Deus, sim!

— Por que não fode, então?

Ela era um maldito sonho erótico. Eu não fazia ideia de como dar conta
de tanto sem me desmanchar completamente. Estava prestes a gozar sem
nem mesmo fazer muito esforço.

— Vem comigo, Hugo.

E se levantou, oferecendo a mão e me conduzindo até a escada que


levava ao quarto, empurrando-me contra a cama macia.

— Tire a calça e a cueca. Quero você despido.

Não hesitei em obedecer enquanto assistia Beatrice fazer o mesmo.


Quase me arrancou o ar vê-la nua, a pele depilada, morena e perfeita. Como
uma felina, ela subiu na cama, vindo ao meu encontro, mas me surpreendeu
quando virou ao contrário ao invés de encostar a boca na minha.

— Vou te chupar, gatinho, mas enquanto faço isso, você fode minha
boceta com sua boca deliciosa.

Cacete! Só a menção já me fez estremecer loucamente.

Vi quando ela se posicionou por cima, os joelhos rentes a minha cabeça,


me dando a bela visão da sua boceta e bunda farta ao passo que ela ia
deslizando pelo meu corpo, se deitando de bruços sobre mim.

A visão do paraíso.
O cheiro dela que alcançou meu nariz.

Agarrei as bochechas da bunda, abrindo quando ela sentou em meu


rosto, não me dando outra escolha a não ser mergulhar a boca em suas
dobras.

Não que eu fosse recusar, pois era tudo o que eu queria fazer, por mais
que ainda não fosse tão bom nisso.

Gemi quando senti seus lábios envolverem meu pau, duro como uma
pedra, prestes a entrar em combustão.

Afundei minha língua dentro dela, desejando dar o mesmo prazer que ela
estava me dando.

Chupei e era chupado.

Suguei e era sugado.

Lambi e era lambido.

No entanto, diferente de Beatrice, que era experiente e sabia como


comandar o próprio corpo, não demorei para gozar em sua boca, ouvindo
pedidos para que eu não parasse de chupar.

Atendi aos seus comandos.

Como um escravo dos seus desejos.

E eu não me importava com isso.


Não demorou para que a notícia do que Benício havia feito tomasse
algumas páginas de fofoca. Afinal, a Fuller era bastante conhecida e tudo o
que o caçula aprontava acabava sendo de conhecimento das pessoas ao redor.

Magda me enviou algumas mensagens ofensivas, indignada com o rumo


que a imagem do filho estava tomando. Não era como se ele já não possuísse
a ficha suja, então não fazia tanta diferença. O que piorou mais foi o fato de
eu ter pedido a assessoria de imprensa da Fuller para emitir uma nota de
repúdio, da minha parte, sobre o comportamento do Benício e que estaria de
prontidão para apoiar a garota que havia sido prejudicada.

“Avisei que não apoiaria seu marginal de estimação. Ou você coloca


rédeas, ou sempre darei o meu jeito para resolver.”

Fui direta com a ameaça, desativando as mensagens para não ser


importunada no momento. Tinha me enchido de trabalho nos últimos dias,
evitando deixar que os problemas pessoais me interrompessem. Agora, tinha
um momento fora do escritório, então aproveitaria.

Eu amava meu trabalho, cada dia e hora que passava dentro do escritório,
comandando, buscando soluções para minimizar riscos e otimizar os
processos. Todo trabalho estava voltado para o desenvolvimento da empresa e
como não poderia deixar de ser, na satisfação e reconhecimento do nosso
pessoal. A missão do nosso RH era disponibilizar meios para que todos
tivessem oportunidades de crescimento através dos treinamentos e cursos
oferecidos. Desta forma, quando divulgávamos notícias sobre recrutamento de
pessoal, a procura era grande, pois poucas empresas investiam tanto quanto a
nossa. O único momento em que me sentia incomodada ocorria quando
precisava confraternizar com pessoas que esperavam que eu fosse igual ao
meu pai.

Precisei que Virna me lembrasse do jantar beneficente que o governador


tinha organizado para angariar fundos para seu instituto que abrigava
adolescentes vítimas de abusos sexuais. Era uma boa causa, que ajudava
muitas garotas.
Muitos deles faziam isso para desviar dinheiro, encher a conta pessoal,
porém, ao que me parecia, Getúlio Fonseca, era honrado. Não se fazia de bom
samaritano, nem usava religião ou qualquer golpe apelativo para se eleger, só
fazia e as pessoas reconheciam. Se ele desviava o dinheiro, era muito bem
orquestrado, pois nunca foi pego em nenhuma situação que colocasse sua
honestidade a prova.

Por isso aceitei o convite para participar do jantar. Uma reunião com os
magnatas, políticos e magistrados mais importantes do estado. Moroni estaria
lá, me faria companhia com sua esposa e me manteria distraída para não ficar
entediada.

Estava usando um vestido longo, preto com detalhes dourados de frente


única e as costas nua exibindo minha pele. Botei um colar discreto, brincos e
pulseira, completando com a maquiagem e o cabelo preso na lateral.

Sorri ao me ver no espelho, satisfeita com o resultado. Até me animei um


pouco, principalmente por saber que beberia e teria uma breve diversão em
meio a toda loucura que era minha vida.

O organizador do evento mandaria uma limusine para me buscar, um luxo


que eu gostava de usufruir, não tinha como negar. Era um mimo que ele me
oferecia numa tentativa de me levar para a cama, como se eu realmente fosse
ter algo com ele. Minhas preferências eram outras, ele só não precisava saber
disso. Entretanto, toda minha animação foi esmagada quando atendi o
interfone que tocou no momento em que apareci na sala. Era o porteiro
avisando que eu tinha visita lá embaixo.

Marcus.

Como ele havia descoberto meu endereço? Nunca dei, nem mesmo cogitei
trazê-lo.

Avisei que me esperasse, não permiti sua entrada, obviamente.


Uma das maiores vantagens de se viver em um prédio como o meu era a
discrição e as regras que eram seguidas corretamente. Odiava receber
qualquer tipo de visitas, meu recanto era privado, ninguém tinha acesso a não
ser eu e minhas funcionárias.

Desci já irritada por saber que Marcus estava prestes a torrar minha
paciência mais uma vez, pois era a única coisa que ele fazia.
E meu humor piorou ainda mais.

Caminhei até ele e puxei seu braço, afastando dos ouvidos do porteiro, que
parecia curioso. Além do motorista da limusine que estava à minha espera.

— Como descobriu meu endereço? — Questionei puta da vida.

— Essa é a primeira coisa que vai me perguntar?

— Não, querido. A primeira vai ser um aviso para que se prepare, pois em
breve vai receber uma intimação da polícia. Se não tinha tomado uma atitude
ainda, foi por considerá-lo, porém você não me deu outra alternativa.

Vi seu olhar oscilar brevemente, assustado com minhas palavras. Se eu não


tinha denunciado sua perseguição, era por ter o mínimo de estima, mas já
tinha ultrapassado todos os limites, e isso tinha que acabar antes que piorasse.

— Tem coragem mesmo de fazer isso?

— Acha que estou brincando? Essa é minha vida, caralho. Te fiz assinar
aquela merda de documento antes de nos envolvermos, e agora virou um
obcecado que não me deixa em paz. O que quer? Dinheiro em troca de
sossego, é isso?

— Nem tudo se trata disso.

— Não me venha falar de sentimentos, Marcus.

— Já tem outro, não é? Quem é a vítima da vez?


Sorri desacreditada no que estava escutando. Era para evitar cenas assim
que eu fazia com que todos assinassem a confidencialidade.

— Não tenho que te dar satisfações da minha vida. Você foi um caso
passageiro, um sexo divertido, caro, mas que anda me causando dor de
cabeça. E sabe o que eu faço com quem me incomoda? Esmago com meus
próprios pés.

— Resumindo, eu não significo nada pra você.

— É, que bom que o lado mais consciente da sua mente ainda funcione.

Não queria ser tão dura, porém, era isso que ele estava me pedindo por sua
insistência descabida.

— Parece que eu cometi um crime ao me apaixonar por você. A maneira


como me trata, como despreza o que sinto.

— Sabe o que eu vejo de verdade? Alguém que está sentindo falta de


dinheiro, da mordomia que recebia, o desespero por não ter mais aquilo que
eu proporcionava. Paixão? Sabe, Marcus, tenho minhas dúvidas ao te ver
aqui, dessa forma, agindo da maneira contrária do que exigi.

Sua expressão vibrou, por pouco me provando que eu estava certa.

Recordou-me de que quando estávamos juntos, Marcus apresentava


momentos excessivamente carinhosos, pegajosos, bajulando e pegando no
meu pé, mas ainda assim, eu não conseguia ver sinceridade nas suas atitudes.
Conhecia muitas pessoas para saber quando os interesses eram outros.

— Você agir como uma vadia só faz com que eu queira revidar tudo o que
está fazendo comigo.

— Isso, é assim que eu gosto, a máscara de bom moço caindo. E Marcus,


você não é o único tentando destruir minha vida, estou rodeada de pessoas
querendo meu pescoço.

— Bom saber que não sou o primeiro a descobrir a megera que é.

— Então comece a pensar duas vezes antes de me perseguir, de seguir com


esse teatro patético de homem apaixonado, pois não combina com você.
Agora, se me der licença, tenho que ir.

Virei para sair, mas ainda escutei sua voz soando atrás enquanto entrei de
volta no prédio.

— Vou acabar com você, te ver sozinha e rir enquanto morre engasgada
com a merda do seu dinheiro.

Doeu mais do que deveria. Pois era exatamente como eu sabia que
terminaria minha vida.

Sozinha.

Cheia de dinheiro.

Sem ninguém.

Eu não tinha que me importar com isso, porém fiquei irritada e só existia
uma maneira de extravasar toda a raiva que estava sentindo.

Precisava de sexo para relaxar um pouco antes de ir ao evento e assim, não


tentar matar um.

Minha mãe.

Benício.

Marcus.

Problemas.
Era coisa demais para absorver ao mesmo tempo.

Por isso entrei no carro luxuoso e digitei uma mensagem para a única
pessoa, no momento, capaz de me livrar do ódio que eu estava sentindo.
Capítulo 16
Estava exausto. Havia sido um dia cansativo, pois, acordei com a chuva
ocorrida durante a madrugada passada e com goteiras em várias partes do
telhado, molhando a sala e o quarto dos meninos. Precisei fazer um
improviso da maneira que pude para evitar mais danos, usando panelas,
baldes e procurei secar tudo antes que os dois acordassem. O sofá estava
ensopado e precisaria ser colocado do lado de fora tão logo fizesse sol.

Para piorar tudo, ouvi quando alguém forçava a fechadura para abrir a
porta de entrada. Mal tive tempo de me preparar para pegar algo e me
defender, mas era óbvio de quem se tratava no final das contas. Heloise,
tremendo de frio e completamente chapada, tropeçou para o interior do
imóvel, descontrolada e surtando como sempre.

Tivemos uma discussão quando ela me pediu dinheiro, assobiando para a


TV quando a viu no rack. O aparelho chamou sua atenção, o que me
mostrou que eu precisaria ter mais cautela. Em meio ao caos, ela vasculhou
por algo de valor enquanto eu tentava impedi-la, e quando não obteve
sucesso com o que queria, foi embora debaixo da chuva e me xingando.

Durante o dia, quando deixei os meninos na escola, tive que ir atrás de


alguém que trocasse a fechadura, pois a qualquer momento sabia que minha
irmã voltaria e pegaria o aparelho, pois ela tinha uma cópia da chave.
Aproveitei para fazer a limpeza da casa, arrastei o sofá até a calçada assim
que o sol apareceu mais forte e subi no telhado para fazer os reparos
possíveis. Não seria cem por cento eficaz, mas ajudaria a amenizar um
pouco.

Agradeci sozinho por ter sido uma chuva leve, pois a área em que
morávamos era de risco, e em caso de uma chuva forte, mais intensa,
chegava a entrar água nas casas da parte onde eu morava.
Era triste, preocupante, mas não era como se eu tivesse outra alternativa.
Com o tempo eu ia me adaptando e tentando salvar os móveis que
restavam.

Já passava das vinte e duas horas quando os meninos caíram no sono e


eu consegui me sentar na frente da tv para assistir o telejornal. O sono
estava me abatendo, mas eu precisava ficar acordado, pois a chuva estava
dando sinal de que cairia a qualquer momento e eu tinha que ficar de olho
para comprovar se meu trabalho com o telhado havia funcionado.

Até que o som do meu celular ressoou pela casa e levantei-me atrás dele.
Era o nome dela que estava na tela. Não me surpreendi por ser ela, mas pelo
horário.

Quase nunca ela ligava, era sempre por mensagem.

— Oi, Beatrice. — Atendi preocupado.

— Estou esperando você na rua do shopping mais próximo daí.

Direta e sem rodeios, ela ordenou, como se estivesse com pressa.

— Eu... bem... agora? Por quê?

— Você não faz perguntas, Hugo. Só venha de uma vez.

Não tive tempo de responder mais, pois ela desligou não me deixando
alternativas.

Que porra! O que diabos Beatrice queria tão tarde e fora do loft?

Com a promessa para viabilizar a clínica para Heloise, eu não tinha


escolhas a não ser ir ao seu encontro. Já tinha levado um puxão de orelha,
não queria levar outro. Eram as condições dela, eu tinha aceitado tudo em
troca de dinheiro e conforto.
Peguei minha carteira, as chaves, deixei um beijo nos meninos e saí,
indo até a casa da Dulce, que ainda estava acordada vendo TV. A
vizinhança dificilmente dormia quando a noite dava indícios de chuva.

A senhora caminhou até o portão, me analisando preocupada.

— Houve um imprevisto, Dulce. Preciso sair, os meninos estão


dormindo. A senhora pode ficar com eles até eu voltar?

— Claro, querido. Vou aproveitar para assistir o restinho da novela na


sua tv nova e imensa.

Não consegui evitar a risada com sua sinceridade. A senhorinha logo


trancou tudo em casa e caminhou até a minha.

— Se precisar comer alguma coisa não hesite, Dulce. —Avisei —E não


pense duas vezes se precisar me ligar, volto na hora.

—Tudo bem. Que Deus te proteja, meu rapaz, seja lá no que esteja
envolvido.

Engoli em seco e assenti, sentindo que ela tinha começado a perceber


realmente o que eu estava fazendo. Só não tive tempo demais para pensar
nisso, pois Beatrice me esperava e não parecia com paciência.

O shopping era no bairro vizinho ao meu. Me surpreendeu saber que ela


estava pelas redondezas, ao mesmo tempo que me deixou preocupado.
Consegui entrar em uma van que estava na esquina. Podia ir andando,
mas como a distância era de algumas quadras até lá, demoraria e poderia
atrasar, por isso escolhi o transporte que levaria menos de cinco minutos,
pois não havia trânsito.

Desci do outro lado da avenida e busquei por sinal dela. Mal tinha
movimento, já que o shopping estava fechado e poucas pessoas ainda
estavam indo para casa.
Até que vi uma limusine parar ao meu lado. Nada discreta, luxuosa,
branca e que eu nunca tinha visto pessoalmente.

Dei um passo para trás, assustado com o exagero, mas então o vidro
desceu e ela estava sentada do lado de dentro com uma taça na mão.

— Entre. — Direta como sempre.

Olhei para os lados, sem jeito, torcendo para que ninguém me


reconhecesse e entrei rápido, deslizando no banco de couro bege.

Abri a boca quando a vi. Era como se ela tivesse o poder de arrancar o ar
dos meus pulmões.

Seu corpo estava sendo abraçado por um vestido preto com detalhes,
destacando ainda mais suas curvas e beleza. O batom contornava os lábios
carnudos, a maquiagem a deixava ainda mais sensual e fatal.

Vi quando ela virou todo o conteúdo da taça de uma vez, parecendo


nervosa e alterada. Isso me incomodou um pouco, mas obviamente, eu não
tinha o direito de falar.

— Pra onde estamos indo? — Questionei deslocado.

Ela sorriu, de lado, quase como irônica.

— Nós não vamos a lugar algum, eu vou. Bem, só depois que eu tiver o
que preciso.

E sem mais, ela me puxou para um beijo, subindo no meu colo sem
cerimônias.

Tentei impedir o beijo, afastando o rosto, apesar de estar sendo contido


por suas mãos que estavam fixas em minhas bochechas.
— O motorista. Nós estamos na rua, e...

— Não se preocupe. Os vidros são fumês, o homem à frente não dá a


mínima para o que estamos fazendo aqui.

— Beatrice, se ele vir ou alguém nos pegar aqui?

Irritada, ela saltou de cima de mim, desabando novamente ao meu lado e


apertando um botão que ficava ao lado. Ouvi a voz de um homem que devia
ser o motorista.

— Pode seguir o caminho do clube, mas fique dirigindo pelas


redondezas até que eu mande parar.

O homem nem respondeu, já que ela desativou o comando logo em


seguida. A portinhola que dava acesso ao banco da frente estava fechada.

Reparei nos outros assentos de couro, o balde de gelo com champanhe,


aperitivos, guardanapos, a bolsa pequena e as luzes neon que davam um
clima mais agradável.

Voltei para encará-la, semicerrando o olhar para seu estado. Ainda não a
tinha visto assim, tão estressada.

— Você está bem?

— Estou precisando de uma trepada, Hugo. Quero que me deixe leve e


satisfeita antes que eu tenha de enfrentar um bando de gente insuportável
com esse meu humor dos infernos. Só preciso que fique calado e me foda
de vez.

Era isso.

Sexo. Afinal, o que eu estava achando que ela queria comigo além disso?
Como fiquei paralisado, sem ter como reagir, ela tomou a frente e voltou
a montar em mim, levantando o vestido na altura da cintura, sem qualquer
calcinha.

Ela está indo para uma festa sem nada por debaixo do vestido?
Só não entendi os motivos disso me afetar tanto. Eu odiava a maneira
como ela mexia com minha cabeça.

— Preciso que esteja comigo, gatinho. —Resmungou — Que foque no


momento e pare de pensar demais.

Abri a boca no exato instante em que ela abocanhou meu lábio inferior,
mordendo e puxando com fome e desespero. Agarrei sua cintura, fincando
os dedos na pele macia e começando o beijo que foi intensificando à
medida que ela ia rebolando em cima de mim.

Não demorou para minha ereção dar sinal, chegando a doer dentro da
roupa apertada.

— Eu poderia gozar apenas assim, montada no seu cacete por cima da


roupa.

Eu não tinha o que responder, só deixar ser levado pelo momento. Já


Beatrice, sempre mais cheia de atitude, desabotoou o vestido, fazendo a
frente cair e exibir seus seios.

— Chupe-os.

A ordem veio seguida de um puxão que ela deu na minha nuca. Envolvi
seu mamilo com a boca, sugando do jeito que eu sabia, fechando os olhos e
me entregando ao que ela estava me oferecendo.

— Quero que olhe para mim. Sempre com os olhos nos meus, gatinho.

Fiz o que ela exigiu, vendo o momento em que ela gemeu descontrolada
dentro do carro, enquanto o motorista nos conduzia pela cidade.
Alternei para o outro seio, mamando excitado, enquanto ela abria minha
calça e libertava meu pau dolorido implorando por ela.

— Adoro como sempre está pronto para mim.

O seu polegar esfregou na cabeça inchada, melada, suplicando por mais.


Ofeguei, lutando para não desviar os olhos dos dela, enquanto mamava e
era acariciado.

Rosnei como um animal quando o encaixou em seu interior, deslizando


de vez, apressada e necessitada, me pegando desprevenido.

Apesar de sempre ser mais solta e ousada, ela estava diferente;


selvagem, talvez, bruta também. Não era a mesma que se importava antes
de qualquer coisa. Ela só queria prazer.

Cravando os dedos em meus ombros, ela subiu e desceu em movimentos


rápidos, ofegante e desesperada, enquanto eu ainda estava com seu mamilo
na boca.

Em uma posição de comando e poder, ela jogou a cabeça para trás,


esfregando ainda mais os seios em meu rosto, murmurando palavras
incompreensíveis.

— Beatrice. — Sussurrei prestes a explodir — Eu estou quase gozando.

Ainda não tinha aprendido a me segurar, se é que um dia eu seria capaz


de conseguir isso.

— Ainda não, Hugo. Eu preciso de mais.

— Eu...
Lutei, tentei pensar em qualquer coisa que não fosse na sua boceta
apertada pressionando meu pau, mas foi em vão. Eu ainda era inexperiente
demais para o que ela precisava, então segundos depois dela pedir que eu
me segurasse, jorrei em jatos quentes dentro dela, estremecendo sob seu
corpo macio e cheiroso.

Ouvi um resmungo saído da sua boca quando ela saltou do meu colo e se
sentou ao meu lado, frustrada e muito irritada, pegando os guardanapos para
se limpar.

— Desculpe, eu...

— Se recomponha, Hugo.

Pronto. Ela estava decepcionada comigo. Além do mais, o que ela


esperava de um cara que nunca tinha transado na vida?

Fechei a calça me sentindo envergonhado, magoado e com um nó na


garganta. Observei quando ela apertou o botão novamente e pediu que o
motorista parasse o carro.

— Pode ir. — Ordenou sem nem ao menos me encarar.

— Beatrice.

O que eu ia falar?

— Só vá pra sua casa, eu tenho um jantar para ir.

Recolhendo um pouco da minha dignidade, assenti e saí do carro


desejando dar um basta nisso tudo. Não era como se eu tivesse opção.
Agora sim, provavelmente, eu estava conhecendo a verdadeira Beatrice.

Era como se ela tivesse cravado um punhal no meu peito.


Parei na calçada e observei o carro se afastando enquanto a chuva
começava a cair.

Eu não tinha a mínima condição e voltar para casa no momento.


Estava transtornado.

Não era apenas por não ter sido suficiente para agradar da maneira como
ela queria, mas por ter sido chutado e descartado como se não significasse
nada.

Na verdade, quando eu tinha acreditado achar que significava qualquer


coisa para Beatrice além do sexo que ela queria e precisava?
Capítulo 17
Não sabia por quanto tempo eu havia ficado na chuva, apenas andando
pelo bairro, molhado, banhado pela humilhação e a dor que se apossava do
meu corpo.

Minha dignidade estava jogada no lixo, descartada como se não valesse


nada. E não valia mesmo, já que tinha descido tanto por causa de dinheiro.
Era pelos meninos, sim, apenas por eles, pelo tratamento da Heloise, por
tudo o que eu desejava para manter as coisas no lugar. Ainda assim doía.
Meu coração estava estilhaçado por causa dela. Algo que jamais deveria me
afetar.

Era sexo em troca de dinheiro. Beatrice já estava adaptada com essa


vida, os homens que recebiam mordomia para agradá-la e serem chutados
depois, assim como fui.

Por que isso estava me machucando tanto?

Só consegui voltar para casa quando tive certeza que tinha chorado o
suficiente.

Abri a porta e fui recebido por um olhar preocupado da Dulce, que


observou meu estado caótico.

— Meu Deus, Hugo. Você está encharcado. Vai acabar pegando uma
pneumonia.

— Está tudo bem, só esqueci de levar um guarda-chuva.

Nem ela acreditava em mim.


— Vá tirar essa roupa, vestir algo seco que faço um chá para que
esquente o corpo.

— Não precisa. A senhora já fez demais.

— Isso não está em discussão.

Ela caminhou até a cozinha e eu entrei no quarto atrás de uma calça de


moletom e a camisa de mangas. O frio era o de menos quando, por dentro,
eu sentia uma dor que jamais havia experimentado.

Eu tinha sido usado. Ainda mais do que ela fazia, de uma maneira crua e
descartável, como se eu fosse um objeto. Talvez fosse isso mesmo, afinal,
era um trato exatamente para o uso da Beatrice e seu bel prazer.

Suas palavras ainda estavam ecoando na mente, como um maldito


lembrete do momento em que estive com ela no carro.

Afastei meus pensamentos, ou tentei pelo menos, ao entrar na cozinha e


ver Dulce esperando a água ferver.

— Não tive filhos, minha vida sempre foi solitária, mas desde sempre
admirei você, menino. Tudo o que fez e faz por aqueles garotos, por sua
irmã, para manter esse lar de pé... é surreal que alguém tão jovem passe por
tanta coisa. Por isso estou preocupada, Hugo. Não venha me dizer que é da
chuva, porque chegou com os olhos vermelhos de choro.

— Dulce.

— Não estou pedindo que se justifique. Não me deve satisfações só


porque cuido dos meninos. É maior de idade, sabe o que faz, apesar de ser
ingênuo e de bom coração. Assim mesmo, só peço que tome cuidado, meu
filho, o mundo do lado de fora é cruel com pessoas como a gente. Não
valemos nada para eles, a não ser quando estamos servindo. De resto,
somos apenas a escória que suja a cidade.
O nó voltou a apertar minha garganta com a constatação da senhorinha.

Não era uma mentira. Eu estava vivendo na pele a realidade.

— Agora sente aí, tome o chá que eu estou fazendo e durma. Ficarei aqui
para verificar se seu trabalho com o telhado deu certo, qualquer coisa te
chamo.

Sorri, quase forçado, em uma maneira de agradecer a mulher sempre tão


prestativa.

Não tinha uma mãe para me dar colo, ou um pai para aconselhar, mas
tinha meus pirralhos e amigos que eram minha força para seguir em frente.

Porque eu não fazia ideia de como me adaptar com tudo o que Beatrice
me causava.

Era tudo novo e intenso demais.

Amanheci com a cabeça latejando. Foi difícil ter que me levantar da


cama e começar meu dia, por mais que a única coisa que eu quisesse fosse
ficar deitado, esperando o incômodo no peito passar, mas era inevitável, eu
tinha uma rotina, pessoas que dependiam de mim, não me dava o direito de
ignorar o restante por sentimentos que nem deveriam estar aparecendo.

Encontrei as crianças tomando café na cozinha, acompanhados por


Dulce, que tinha dormido com eles na cama, se recusando a ir embora e me
deixar sozinho.

— Titio, você parece triste. — Elena comentou com sua pura inocência.
Dei um beijo em cada um, logo arrastando a cadeira e me juntando a
eles.

— Só estou cansado, meu amor.

— A vida de adulto não é fácil.

Forcei um sorriso para Dulce, devido a maneira que ela usou para
apaziguar e não preocupar os meninos.

— Quero ser criança para sempre. Brincar o tempo inteiro. — Foi a vez
do Igor, que estava mastigando o sanduiche.

— É, uma pena que a vida corre e a gente nem mesmo percebe. Eu


mesma vi Hugo do tamanho de vocês dois, agora ele está aí, um homão e
todo bonito fazendo sucesso por aí.

— Meu tio é lindo mesmo. Ana gosta dele, mas eu não quero que ele
namore com ela.

Franzi o cenho, surpreso com o que Elena tinha falado.

—Ana é uma irmã pra mim, linda.

— Ela sempre chamou a mamãe de drogada. É uma chata que só sorri


pra você.

Encarei Dulce, que apenas deu de ombros, nada surpresa pelo que ela
tinha escutado.

— Não é mentira. — Igor rebateu.

— Independente de qualquer coisa que as pessoas falem, Heloise não


deixa de ser mãe dos dois. Então, por favor, não deixem que isso interfira
em nada. Entenderam?
Os dois assentiram e voltaram a comer.

As palavras da Elena ainda martelavam na minha mente, pois eu nunca


imaginei que Ana, com toda aquela doçura, fosse capaz de falar esse tipo de
coisa para duas crianças.

Isso acabou me levando a Beatrice que, com toda a educação e


elegância, me tratou como um objeto na noite anterior, demonstrando que
eu não significava nada além do sexo e que eu a tinha decepcionado por não
ter sido nem mesmo capaz de oferecer o que ela desejava.

Porra! Não podia pensar nela, não com os meninos por perto, pois todo
meu humor se esvaía.

Os dias se passaram sem nenhuma notícia da parte dela, o que eu


agradeci, pois não estava disposto a enfrentar Beatrice depois do que
aconteceu no nosso último encontro que me rendeu olhos inchados, um
coração partido pela primeira vez e um resfriado por ter passado tempo
demais na chuva.

No entanto, meus dias de alívio cessaram quando meu celular recebeu


uma mensagem dela, avisando que queria me ver depois do expediente, no
meio da semana. Por isso, mais uma vez, pedi que Dulce ficasse com os
meninos e fui ao seu encontro, no loft do outro lado da cidade.

O motorista estava me esperando na esquina e me recebeu com um


cumprimento amigável, logo dirigindo até o local de encontro. O mesmo
que ela levara tantos outros e que eu nem mesmo deveria pensar nisso e
permitir ficar mal.
Inferno! Era minha inexperiência com a incapacidade de controlar o que
eu sentia. Tudo estava transformando minha vida. Beatrice estava fodendo
os meus miolos aos poucos.

Entrei no prédio e optei por subir pelas escadas, dando mais tempo para
pensar e distrair a mente antes de precisar estar relaxado para atender a suas
ordens.

Eu tinha virado um michê de uma dondoca arrogante, egocêntrica e que


não pensava em nada além de si mesma. Uma que estava tomando meu
juízo e perturbando a mente de uma maneira única e perversa, entretanto, eu
não podia me afastar, precisava dela... e gostava também.

Diabos!

Assim como das outras vezes, abri as portas, deixei o ar fresco entrar e
dei uma olhada na cozinha para ver o que tinha para preparar, caso ela
quisesse comer alguma coisa. Cozinhar me deixava leve, distraído. No
entanto, antes que eu começasse a raciocinar, duas batidas na porta me
dispersaram.

Não tinha como ser ela, a não ser que tivesse esquecido as chaves.

Conferi através do olho mágico e vi um homem, não muito mais velho


do que eu, esperando do lado de fora. Abri a porta desconfiado. O estranho
me observou cauteloso, como se estivesse fazendo uma análise mental em
um misto de curiosidade e repúdio.

— Pois não? — Indaguei desconfiado.

Ele entrou sem esperar que eu desse passagem e isso me irritou.

— Uau! Ela não muda nunca. Sempre a mesma coisa.

Seu comentário me deixou confuso. Encostei a porta e virei para encará-


lo.
— Eu não permiti sua entrada.

— Ah, que bobagem! Esse loft só é seu enquanto trepa com ela.

Apertei o maxilar, incomodado por ele saber demais sobre o que


acontecia entre Beatrice e eu.

— Ainda não consegui entender qual é a sua, cara. Seja mais específico.

— Sou Marcus, uma das vítimas daquela desgraçada.

Uma onda de gelo atingiu meu estômago, além do ciúme por conhecer
de perto alguém que tivera tanta intimidade com ela.

Mesmo com o nítido incômodo, ergui o queixo e o encarei sem medo


algum da sua pose de valentão. Já tinha enfrentado muita coisa para ter
medo de um homem com o ego ferido.

— Não vou permitir que fale assim dela.

— Precisa defender mesmo, pelo menos enquanto ela banca toda a


mordomia.

— A mesma que você perdeu, pelo visto, e não se conformou. —


Percebi que minhas palavras o abalaram, vendo a sua expressão oscilar
brevemente.

— Você não faz ideia do que ela é, do que faz com as pessoas, em como
as descarta como se não fossem nada. E pelo que estou vendo, parece que
está permitindo gostar demais dela. Beatrice não merece isso.

— Então por que está aqui? Sinceramente, não consigo entender sua
visita, sendo que é nítido o quanto a odeia.
— Eu precisava ver de perto quem era o da vez, quem estava caindo nas
garras daquela... — o encarei carrancudo, dando o sinal para que ele
tomasse cuidado com as palavras — mulher. Acha que ela gosta de você?
Que vai ser sempre assim?

— Isso não me importa.

Menti. Importava muito, pois estava sentindo coisas que não devia, por
mais que soubesse dos riscos.

— Já estive no seu lugar por longos meses. Os presentes, o loft, o


dinheiro na conta, o sexo incrível... Beatrice não ama ninguém além de si
mesma, e depois que cansa, nos joga no lixo como se não tivéssemos
sentimentos.

Apesar de não demonstrar a ele, percebi que tinha razão. Era exatamente
como ela havia me tratado da última vez.

— Ela gosta de sexo, do poder, de comandar, mas a partir do momento


que não temos tanta eficácia, viramos apenas um brinquedo usado por uma
criança mimada.

Todas suas palavras me atingiram em cheio, ferindo meu ego, mas eu


jamais deixaria que ele notasse isso.

— Entendo que esteja magoado, com raiva até, só não compreendo os


motivos de ter vindo até aqui e despejar tudo em cima de mim.
Sinceramente, eu não me importo se ela está me usando, afinal, estamos
quites nessa. E mais, não vou permitir que chegue aqui e a ofenda, pois sou
homem suficiente para defender uma mulher que não está por perto para
fazer o mesmo.

E então ele soltou uma risada, a do tipo que me fez querer socar seu
rosto de galã de novela. Não parecia ser o tipo de homem que Beatrice
gostaria de sair. Parecia um playboy, mauricinho e metido a besta.
— É, você está apaixonado por ela. Cego e burro. E quer saber? Vim
aqui como alguém que passou pelas garras dela.

Ergui a mão, não permitindo que ele prosseguisse com a mesma


ladainha.

— Não venha me dizer que está aqui para me aconselhar. Nem nos
conhecemos. Veio para soltar seu veneno, falar mal de alguém que
financiou sua mordomia por um bom tempo e que agora, depois que te
chutou, virou a vilã da história.

Com a calma indo embora, caminhei até a porta e abri, apontando para
que ele fosse embora. Eu não queria brigar, nunca fui disso, mas estava
prestes a despertar a fera dentro de mim.

— Só dê o fora daqui. Minha paciência esgotou.

Mantive a postura firme, observando sua expressão de ódio intensificar,


como se eu fosse temer a carranca e falsa valentia.

— Sabe o que ela fez? Colocou uma medida restritiva para que eu não
chegue mais perto dela. Caso eu desobedeça, poderei ser preso. Anote bem
isso na mente antes de cair ainda mais nas garras dela.

— Então vá embora, pois deve saber que ela está chegando a qualquer
momento.

— Avise que tudo isso terá troco, que eu não irei mais permitir ser
humilhado dessa maneira. Vou expor todos os podres dela, e se você tiver
no meio, se prepare, pois não vou poupar ninguém.

O homem acabou passando por mim como um furacão, toda a energia


ruim indo embora com ele. Bati a porta e me deixei sentir de verdade os
efeitos de tudo o que ele havia contado.
Não queria que tivesse me abalado, mas estaria mentindo para mim
mesmo se dissesse o contrário. Eu estava magoado, o coração doendo e o
medo de imaginar o quão ruim isso acabaria para mim.

Eu ficaria assim como ele?

Engoli em seco e desabei no sofá enquanto sentia as lágrimas queimando


meus olhos.

Que porra estava acontecendo comigo?


Capítulo 18
Depois do fiasco que foi minha noite daquele encontro com o Hugo,
precisar suportar as pessoas bajuladoras no jantar, decidi descarregar toda a
energia e tesão acumulados no trabalho durante os dias subsequentes.

Pedi que Moroni entrasse com a denúncia contra Marcus, que me


garantiu a segurança da restrição para que ele não chegasse perto de mim.
Já me dava um alívio por não correr o risco de esbarrar com ele em
qualquer lugar e não expusesse Hugo também.

Me sentia culpada por tê-lo tratado daquela forma, com frieza e


arrogância, mas estava alterada, estressada e necessitando de um bom sexo,
mas ele falhou em não me oferecer isso. Também pudera, inexperiente, nem
mesmo conseguia se controlar, gozando minutos depois.

Pelo menos a minha vida profissional estava fluindo satisfatoriamente,


onde podia acompanhar o crescimento da Fuller e observava que meus
esforços estavam valendo a pena ao vê-la ocupar um lugar privilegiado no
mercado, com aumento de parcerias, negócios e colaboradores. Sorri de
lado, sozinha no escritório, feliz por estar dando o meu melhor, ainda mais
do que meu pai era capaz de fazer.

Dando meu expediente por encerrado, peguei minhas coisas e saí da sala,
encontrando Virna fazendo suas últimas anotações do dia. Eu tinha um
encontro com Hugo, havia enviado mensagem para que ele me esperasse no
loft, então estava ansiosa para chegar e poder jogar todos os problemas para
o lado de fora.

— Ah, senhora, eu encomendei o jantar. — Avisou.

— Obrigada. Passarei para pegar.


Tinha pedido que ela fizesse uma encomenda do jantar para dois que eu
levaria para comer com Hugo. Eu precisaria de boas energias para gastá-las
durante a noite.

—Você já pode ir, Virna. Amanhã continua o seu trabalho, só vá pra casa
e descanse. — Falei, sem esperar uma resposta.

Minha secretária sempre foi dedicada e discreta, não foi à toa que a
escolhi depois que tomei posse da cadeira de CEO da Fuller. Além de
cuidar da minha agenda profissional, também cuidava de uma parte da
pessoal, incluindo as burocráticas que não pertenciam ao Moroni resolver.

Não sabia muito sobre sua vida, além dela ser solteira, viver em seu
apartamento com a mãe, ter formação e falar fluentemente vários idiomas.

Minutos depois eu já estava em minha BMW dirigindo para o loft,


encontrando a avenida movimentada e pegando um trânsito que me faria
atrasar. Só esperava que valesse a pena.

Levei mais tempo do que o necessário para chegar ao restaurante e pegar


a comida, além de mais meia hora para conseguir chegar ao loft.

Assim que parei na vaga do estacionamento, desliguei o celular para


deixar os problemas longe do que eu tinha planejado para fazer. Não queria
que ninguém me interrompesse.

Entrei no loft e não demorei a ver Hugo de costas, na varanda,


observando a vista do parque botânico. Seu corpo forte na medida certa, a
calça que vestia bem no seu quadril e o cheiro que exalava era único,
inigualável. Gostava dele ser natural, isso o tornava especial.
Deixei as sacolas sobre a mesa e caminhei até onde ele estava,
aproximando o corpo e encostando os lábios na sua nuca, fazendo com que
Hugo pulasse com o susto.

Sorri, percebendo que ele estava perdido em pensamentos e não havia


notado minha chegada.

— Espero que essa distração não seja levada até a cama. — Comentei.

— Sinto muito. Só estava pensando demais enquanto você não chegava.

Algo nele estava diferente. Sério, quieto... irritado?

— Está com fome? Trouxe nosso jantar, apesar de estar faminta por
outra coisa.

— Não. Prefiro que comecemos logo o que viemos fazer aqui. Sem
rodeios, de preferências.

Fiquei surpresa, tinha de confessar. Ele estava estranho demais e isso não
me agradou. Principalmente quando ele deu as costas e caminhou para a
sala, onde mexeu na encomenda que eu havia trazido.

O segui, curiosa para saber o que estava havendo com ele.

— Não gostei desse tom. Não esqueça de quem está no comando por
aqui.

— Impossível esquecer quando sempre faz questão de deixar claro.

Agarrei seu braço e o fiz virar de frente para mim, notando também sua
aparência abatida.

— Fale logo qual o seu problema, porque eu não gosto de indiretas.


— Se estou aqui para transar com você, vamos fazer isso. Não entendo
por que isso a deixa irritada.

— Você está aqui para fazer o que eu desejar que faça, começando por
me contar o que diabos aconteceu para que esteja amargo como um
garotinho birrento.

Toda a minha animação estava se esvaindo. Alguma coisa estava


começando a sair do meu controle.

Hugo demorou a responder. Ficou me encarando com a testa franzida, os


lábios em linha reta e um aspecto que me dizia que ele queria dar um fim
em nós dois, por mais que não pudesse.

Eu ainda o tinha sob controle, principalmente se ele estava disposto a


fazer de tudo para manter sua irmã em um lugar decente, que era o que
Moroni estava buscando.

— Se tem algo que eu prezo é a sinceridade, Hugo. Odeio que escondam


algo de mim, que me enrolem ou fiquem com insinuações quando sou uma
mulher adulta e não tem paciência para esse tipo de coisa.

— Que tipo de coisa? Uma pessoa magoada por ter sido usada e
descartada quando não foi boa o suficiente pra você?

Uau! Bem, não era exatamente o que eu estava esperando ouvir.

— Qual a parte do contrato que você não entendeu?

— Esqueça isso por pelo menos uma maldita noite! — Ralhou irritado
—Sou um homem, porra! Alguém que tem sentimentos e que não consegue
manter o coração fechado como o seu.

— Mas deveria. A vida sempre é melhor assim.


— Você acha que todos a sua volta precisam ser assim, como é, mas não
é dessa maneira que as coisas funcionam. Sempre soube que eu era
inexperiente e me tratou como um lixo quando eu não dei o que queria.
Como acha que eu fiquei depois de ser deixado na rua, largado e me
sentindo um inútil, um ser insuficiente, por não satisfazer suas vontades?

Então era sobre aquela noite.

Soltei um longo suspiro antes de responder. Eu tinha errado, precisava


admitir, por mais que isso custasse um pouco.

— Certo, eu errei. Estava alterada, descontei os meus problemas e


frustrações em cima de quem não tinha culpa. No entanto, essa sou eu,
Hugo, precisa se acostumar com minha inconstância. Tem que aprender a
controlar seus sentimentos mais frágeis, porque aqui dentro, entre nós dois,
isso não pode haver.

— Ego, orgulho, dignidade... não são sentimentos frágeis.

— Já admiti que errei, peço desculpas por isso, mas está aqui para me
manter satisfeita. Não esqueça que isso entre nós dois custa muito caro.

Falei e me arrependi no mesmo instante. Não queria ter colocado


dinheiro no meio, até porque ele não me fazia falta, mas ainda assim
coloquei na pauta como se importasse realmente.

— E a partir daí voltamos ao que eu tinha falado, o contrato. Por que


precisa estar sempre ditando isso? Não é como se eu pudesse esquecer.

— Estou agindo como uma babaca egoísta. — Apertei os olhos


envergonhada.

Ele assentiu, fazendo com que eu me sentisse pior do que já estava.


— Esqueça aquela noite no carro. Foi um péssimo momento, além do
mais, sou sua primeira mulher, é normal que não consiga ter controle do seu
corpo, e isso é o que o torna ainda mais especial e diferente de todos os
outros.

Toquei seu rosto e acariciei devagar, sentindo a pele quente sobre meus
dedos. Cedendo, ele pôs a sua mão sobre a minha, devolvendo o carinho.

— Por que eu sinto que você vai ser minha ruína? — Indagou.

— Não vamos por esse caminho. Só tem que aproveitar os momentos,


aprender tudo o que estou disposta a te ensinar e proporcionar. E nenhuma
delas é algo ruim, pode ter certeza disso.

Hugo fixou o olhar no meu, numa intensidade que corroeu por minha
espinha e causando um rebuliço no meu estômago.

— Você me humilhou, Beatrice. Nunca havia me sentido tão mal durante


esses dias em que ficamos juntos.

— Por que não me pune, então? — provoquei, raspando as unhas na sua


pele.

—O que você quer dizer com isso?

Eu adorava sua ingenuidade, a mente que não era em nada parecida com
a minha.

— Que você pode descontar toda sua raiva e mágoa em cima de mim, e
quando digo isso é na cama, com um sexo bruto que vai me deixar
vermelha e com a pele ardendo.

Seus olhos arregalaram surpresos com meu pedido. Em seguida as


bochechas coraram intensamente, o deixando ainda mais sexy do que
sempre foi.
Estiquei o pescoço, ficando na ponta dos pés para encostar a boca ao pé
do seu ouvido.

— Quero que me bata, gatinho. Deixe marcas da sua mão na minha


bunda, que me faça lembrar disso durante toda a semana quando eu for me
sentar. Você acha que consegue fazer isso?

— Jesus Cristo! — Arfou rouco e nervoso — Você não quer isso.

— Ah, eu quero sim. Comece tirando a minha roupa.

— Beatrice.

Eu sabia que ele queria, só estava acanhado demais para fazer.

— Aqui somos nós dois, Hugo, ninguém mais. Se solte, deixe a fera sair
de dentro de você, faça o que quiser comigo.

— E se eu não for bom o suficiente?

— Aí teremos que ir mais devagar, voltando para a parte que eu


comando. Isso não é um problema para mim.

Com um curto passo ele diminuiu ainda mais a distância, que já era de
centímetros. Sem me tocar com as mãos, o cheiro gostoso e sua respiração
já me excitavam de uma maneira descomunal.

— Quero que me foda com força, que se enterre fundo dentro de mim
depois de espancar minha bunda.

Levei a mão até seu pau, ereto sob a calça, massageando devagar.

Hugo arfou, envolvido pelo momento.

E então fui pega de surpresa quando ele agarrou minha cintura em um


puxão selvagem e possessivo, deixando a tranquilidade de lado quando me
virou de costas, roçando a ereção na minha bunda.

Ofeguei quando seus lábios esfregaram na minha nuca, em sincronia


com as mãos que apertavam meus quadris com uma força bruta, exatamente
da maneira como eu queria que ele fizesse.

— Mostre pra mim o quanto está irritado comigo. O quanto quer me


fazer pagar pelo que fiz com você naquela noite.

— Ah, Beatrice... — sussurrou — Eu quis desistir de tudo, nunca mais


voltar aqui, contudo... como eu vou evitar isso?

Hugo abriu meu vestido, e eu não pude evitar de soltar um gritinho


quando ele puxou, brutalmente a peça para baixo, fazendo com que o som
de rasgo ecoasse entre nós dois.

— Acabei de destruir seu vestido caro, e sabe, eu não me importo com


isso.

Sorri mordiscando o lábio inferior, tão excitada que estava ficando tonta.

— Faça o que quiser, eu não me importo com a maldita peça de roupa.

Arqueei as costas quando seus dedos deslizaram pelo tecido fino da


calcinha de renda, bem delicado que seria facilmente destruído se ele...

— Inferno! — Vociferei quando ele tentou arrancar a peça, que raspou


na minha pele.

Precisou de mais duas tentativas para que ele obtivesse êxito, atirando do
outro lado da sala.

— Vai me fazer ir na calça mesmo?

— Gozar? Fale a palavra, gatinho. Quero ouvir sacanagens saindo da sua


boca inocente.
Senti a respiração no meu pescoço, a luta que ele travava para se soltar.
Por mais que estivesse nitidamente excitado, gostando do nosso jogo, eu
sabia que ele ainda ficava recatado em certos momentos.

— Sim, Beatrice. Eu estou quase... gozando. Na calça. Sem nem ao


menos você me tocar.

— Eu quero te ver fazer isso. — Instiguei rebolando a bunda na


protuberância que me cutucava atrás.

Ouvi seu resmungo, a mão subindo para meus ombros à medida que a
outra ainda apertava meu quadril.

O clima esquentando ainda mais, tentei controlar a ansiedade, a vontade


de me tocar e gozar antes que enlouquecesse de prazer.

— Aperte meu pescoço. — Ordenei zonza e descontrolada. — Quero


que me domine por completo, me faça sua, apenas sendo usada para
descontar sua frustração.

Eu amava comandar, ser a dona da relação, mas nada era mais excitante
do que ser pressionada contra uma parede, levar tapas, ser sufocada no sexo
e chamada por nomes que eu jamais permitiria ouvir fora do quarto.

Rocei mais uma vez na sua ereção, tão dura e firme que já devia estar
prestes a explodir dentro da cueca.

Meu movimento o fez reagir, envolvendo os dedos grossos no meu


pescoço, apertando levemente, seguido por uma mordida no meu ombro.

Hugo começou a chupar minha pele, todo o caminho pela nuca, pescoço
e costas, cravando os dentes vez ou outra, me deixando loucamente
entorpecida ao modo que seus dedos apertavam ainda mais, impedindo
minha respiração.
Choraminguei quando ele soltou meu quadril, por um breve instante.
Abri a boca para reclamar, porém, o que veio em seguida, me levou do céu
ao inferno.

Sua mão acertou um tapa forte, em cheio na minha bunda, fazendo-a


queimar de uma forma gostosa e prazerosa.

— É isso que você quer? — Perguntou acariciando o local.

— Sim.

— Talvez não seja tão ingênuo assim, pois as coisas que estão se
passando na minha mente, são tudo, menos inocentes.

Eu já ficava louca com a versão doce e tímida dele, mas essa selvagem
se soltando aos poucos, me deixava desorientada.

Não consegui responder. Notando que o aperto estava firme demais, ele
afrouxou, beijando onde a mão estava segundos antes.

E, mais uma vez, sem que eu esperasse, outro tapa ecoou entre nós dois,
ainda mais forte do que o primeiro.

Eu ficaria marcada.

Esperava que as paredes do loft fossem grossas o suficiente para que o


vizinho não escutasse meus gritos. A sorte era que o prédio era composto
por apenas dois apartamentos em cada andar ou teríamos ainda mais
ouvintes.

Hugo não era o primeiro a fazer isso comigo. Estava habituada com o
sexo mais intenso, só que, com ele, o gosto era mais especial.

— Caralho! — Bradei dolorida quando veio mais um tapa.

Depois outro.
E outro.

Até sentir ele aliviando e massageando, ainda com os lábios na minha


pele.

Hugo começou a descer por minhas costas, beijando todo o caminho até
parar sobre minha bunda, onde ardia com o contato.

A língua passou por onde, com toda certeza, estava vermelho e com
marcas da sua mão.

— Quero gozar, gatinho. Me faça isso, por favor!

Pensei em levar os dedos até minha boceta e aliviar a tensão que me


atingia entre as pernas, mas queria que ele fizesse isso.

Girei para ficar de frente para ele, que estava ajoelhado me encarando
com os olhos fervilhando de desejo.

— E se eu não quiser?

Uau! Ele estava realmente entrando no jogo. Isso me deixou ainda mais
excitada.

Levei a mão até seu rosto, acariciando e passando os dedos por seus
lábios lindos.

— O que você quer? — Ergui o pé e esfreguei na sua ereção — Talvez


precise gozar também, o que acha?

Minhas palavras o fizeram se levantar de uma vez, puxando minha nuca


e roçando os lábios nos meus, insanamente descontrolado.

— É, isso eu mereço bem mais do que você. Por que não se ajoelha,
então?
Não esperei um segundo pedido quando caí aos seus pés, a boca quase
encostando na sua protuberância por debaixo da calça.

Assisti ansiosa quando ele abriu o zíper e se livrou da peça, seguida pela
cueca preta que foi parar ao meu lado. A ereção saltou na minha cara, tão
dura que eu conseguia ver as veias saltadas. A cabeça estava melada com o
pré-gozo.

— Abra a boca e me chupe.

Botei a língua para fora, deslizando por todo o comprimento, instigando


a deixá-lo ainda mais louco. Porém, ele estava mais desesperado do que
imaginei, pois fui agarrada pela cabeça e tive a boca preenchida pelo pau
que mergulhou fundo até a garganta, fazendo com que eu regurgitasse.

Satisfeita, envolvi o cacete com a língua molhada, chupando assim como


ele queria, deixando que conduzisse, segurando minha cabeça e fodendo
minha boca com força.

Sem nunca tirar os olhos dos dele, deixei que ele tivesse o controle, indo
e vindo gemendo e apertando os lábios enquanto eu sabia que logo ele ia
despejar tudo dentro de mim.

E foi o que aconteceu.

O jato de gozo atingiu o fundo da minha garganta; mas não parou nela.
Hugo retirou o pau da minha boca e continuou a gozar por meu rosto, a
porra escorrendo pelo meu queixo, pescoço e parando entre os seios.

Isso quase me fez gozar também.

Observei sua reação depois do ápice. Era como se ele tivesse acabado de
despertar de uma alucinação erótica.
Sorri, maliciosamente, passando o dedo por parte do gozo no meu
queixo e trouxe até a boca, gostando de vê-lo perdido e o Hugo real e cru
voltando a realidade.

— Cacete! — Xingou. — Deus, Beatrice.

Ele se abaixou e caiu sobre mim, esmagando meu corpo com o seu
quando nos deitamos no meio da sala, minhas pernas se abrindo para que
ele se encaixasse entre elas.

Fui tomada por um beijo tão intenso, faminto e desvairado, que agarrei
sua nuca, apertando com as mãos firmes enquanto ele me consumia
ensandecido.

— Isso, você... foi incrível. — Murmurei entre o beijo feroz.

Ele não parou.

Só imergiu no beijo e nos toques, que em seguida se tornaram em seu


pau, afundando dentro de mim semiereto.

Cheguei à conclusão que talvez desejasse fazer com que Hugo me


odiasse mais vezes do que eu fosse capaz de pensar.
Capítulo 19
Eu estava sem acreditar no sexo que havíamos feito.

Nunca havia sequer levantado a mão para meus sobrinhos, mas em uma
ocasião diferente, eu tinha deixado marcas por toda a bunda da Beatrice,
assim como ela pediu, numa cena altamente erótica.

O sol já havia dado sinal através das brechas da cortina do quarto dela.
Seu corpo estava com a metade descoberto, assim, exibindo a bunda
carnuda e avermelhada. Ela estava esparramada no colchão depois de uma
noite intensa que tivemos, porém, como sempre fazia, me mandava de volta
para o sofá para que dormíssemos separados.
Eu não entendia, muito menos gostava, mas não tinha direito algum de
reclamar sobre isso.

Como de costume, acordei primeiro e preparei o café da manhã, dessa


vez arrumando em uma bandeja de prata e levando até ela. Eu não apenas
agradava a Beatrice por tudo o que ela estava me proporcionando, mas por
gostar de fazer isso.

Não me importava em mimá-la. Sendo trouxa ou não, não dava a


mínima.

No momento em que afundei o joelho no colchão ela se mexeu, virando


para me encarar com os olhos inchados de sono e descabelada de uma
maneira sensual.

Seu sorriso se abriu quando ela me notou com a bandeja na mão, logo se
sentando e puxando o lençol contra si.

— Uau! Nunca fui do tipo de receber café na cama, mas posso me


acostumar facilmente.

Inclinei o corpo apenas para deixar um beijo suave em seus lábios


carnudos para em seguida lhe entregar seu café.
Eu ficava satisfeito por saber que eu era exclusivo em algo na vida dela.
Por mais que Beatrice pagasse por todos os homens da sua cama, nenhum
fazia assim como eu; e provavelmente, estava sendo maluco demais por
demonstrar tanto do que sentia.

— Gosto de alimentá-la.

— Contanto que me devore depois.

Gargalhei, me sentindo mais leve, totalmente o oposto de como eu tinha


ficado depois da visita daquele homem.

Observei enquanto ela comia a tapioca, mordiscava os morangos e bebia


o café. Tinha comprado pão de queijo na padaria ao lado do prédio logo
cedo.

Notei quando ela se remexeu, parecendo incomodada com algo.

— Deus, Hugo, você me deixou muito dolorida. Minha pele está ardendo
em chamas.

Sua bunda, assim como imaginei que estaria.

— Você me pediu por isso.

— Isso só me faz desejar ter bem mais do que aquilo.

— Seus ombros também estão marcados dos chupões. Sinto muito se


deixei rastros do que fizemos.

— Nada que uma roupa mais comportada não cubra. Não me peça
desculpas por algo que pedi que fizesse.

Assenti, levantando-me para abrir as cortinas e deixar que a luz natural


entrasse. As janelas de vidro iam do chão até o teto. Tudo luxuoso e
exagerado demais, contudo, deixava o ambiente mais agradável e
acolhedor.

— Preciso te contar algo. — Falei quando me sentei à sua frente.

— Está tudo bem com seus sobrinhos?

Algo dentro de mim gostava de saber que ela sempre perguntava por
eles, em qualquer oportunidade que surgia, por mais que deixasse claro que
não se importava com nada no quesito além do nosso envolvimento sexual.

— Estão sim, não é sobre eles. Conheci o seu ex ontem.

Beatrice largou a xícara no mesmo segundo.

— De quem você está falando?

— Não recordo se ele me falou o nome, também pouco me importa. Só


disse algumas palavras cheias de ódio e que estava aqui para me aconselhar
a não passar pelo mesmo. Mencionou que havia sido determinada uma
medida restritiva contra ele.

— Filho da puta! — Xingou irritada — Ele ainda tem acesso ao prédio.

— Não faço ideia de quem seja esse homem, só fiquei assustado com a
raiva que ele estava sentindo, e por ter facilidade de te encontrar vulnerável.

Ela deixou a bandeja de lado e se levantou da cama nua, buscando pelo


robe que estava largado em cima do divã.

— Eu já tinha avisado àquele desgraçado pra parar de me perseguir, mas


parece que nem mesmo a justiça vai ser capaz de conseguir isso.

— E o contrato? Você não fez pra ele também?

— Sim, fiz, ao que me parece ele está pouco se fodendo pra essa merda.
Fiquei parado apenas observando Beatrice andar de um lado para o outro
digitando algo no aparelho celular, os dedos rápidos e nervosos.

— Ele pode tentar algo contra você. Estava com muito ódio,
inconformado demais para deixar tudo isso passar.

— Se eu for me importar com todas as pessoas que me odeiam, eu não


viveria, Hugo. Vou conseguir lidar com aquele bostinha, não se preocupe.

Levantei-me para recolher a bandeja e descer, com vários pensamentos


na mente que me deixavam perturbado.

E se um dia eu ficasse como ele?

Não. Eu tinha uma diferença gritante: duas crianças para cuidar, uma
irmã viciada, uma casa... tantas coisas que deixariam Beatrice para
escanteio.

Aproveitei que ela estava ocupada e me ocupei lavando a louça, lutando


contra meus pensamentos conflitantes.

Beatrice era um verdadeiro furacão e eu tinha medo da devastação que


ela faria na minha vida quando isso tudo acabasse.

Meu peito apertou juntamente com a garganta, trazendo uma sensação de


sufoco e desconforto. Deus, eu estava completamente perdido nas teias
dela. Tinha permitido me envolver além do necessário.

Fiquei tão absorto com tudo que nem mesmo percebi que ela estava
parada me observando, só notei quando sua voz ecoou.

— Consigo ouvir as engrenagens na sua cabeça funcionando


descontroladamente. Pare com isso agora.
Desliguei a torneira, peguei o pano para secar as mãos e virei-me para
ela, que estava com as mãos apoiadas sobre o balcão e os olhos
semicerrados para mim.

— Não estou habituado com isso tudo. Você parece devastar as pessoas
ao seu redor e eu não estou a fim de ser o próximo.

— Marcus foi o único que me causou problemas. Todos eles sabiam no


que estavam se metendo, inclusive você.

— Como eu já falei anteriormente, ninguém tem controle sobre


sentimentos.

Ela deu a volta no balcão e se sentou na ponta, erguendo a mão para me


convidar a ficar entre suas pernas, que logo me envolveram em um aperto
forte e possessivo.

— Sinta o que quiser por mim, só não se apaixone. Temos química na


cama, em um sexo incrível, mas fora do quarto não fomos feitos um para o
outro.

Doeu. E eu sabia bem os motivos.

— Nossa realidade é diferente, eu sei disso. Não é algo que se esquece


com facilidade.

— O dinheiro é o menor dos percalços.

Apertei sua cintura, trazendo-a mais para perto, fazendo com que
Beatrice sentisse minha ereção já desperta por ela.

Encostei a testa na sua, a boca quase raspando na dela.

— Quer dizer que não teria coragem de me assumir para os outros, caso
nossa realidade fosse diferente?
— Eu não tenho relacionamentos, gatinho. Apenas pago pra foder.

Inferno! Ela não dava o braço a torcer nunca.

— Por quê?

— Simplesmente porque eu posso. — Suas mãos fincaram os dedos


envolta do meu pescoço.

— E se eu quiser saber mais sobre você?

— Não perca seu tempo. Não vai servir para mudar isso daqui entre nós.

— Alguém já disse que você tem o coração de gelo?

— Já me chamaram de coisas bem piores, então vou levar como um


elogio. — Sorriu despreocupada. — Agora, vamos deixar de conversa fiada
que não irá nos levar a lugar algum, e continuar a fazer o que te trouxe até
aqui.

E me beijou, sem me dar chances para uma resposta. Não que eu tivesse
uma de imediato, mas estava tentando arrancar a casca dela, tirar essa
máscara que ela colocava para se proteger de sentimentos.

Como alguém podia ser assim e conseguia ser feliz?

Eu nunca iria entender. Talvez nem mesmo devesse.


Eu poderia dizer que minha vida estava nos trilhos, com os encontros
frequentes com Hugo, os negócios fluindo e minha conta bancária
engordando a cada dia. O problema era que eu ainda tinha algumas pedras no
meu sapato. Começando pelo irresponsável do Benício, que estava
respondendo processo por sedução de menor e que tinha feito com que a
polêmica respingasse na Fuller.

Precisei fazer uma reunião de emergência com a assessoria de imprensa


para emitir uma outra nota, em meu nome, me desvinculando das coisas que
meu irmão fazia, dando meu apoio a vítima e repudiando os atos criminosos
do caçula. Isso despertou a fúria da matriarca da família, que logo deu um
jeito de mexer os pauzinhos para me ferrar também.

Dois dias depois da nota à imprensa, recebi uma mensagem do Moroni


avisando o que eu já imaginava que aconteceria: Benício e minha mãe tinham
entrado com um processo para contestar o testamento. Demorou até, para
falar a verdade. Os dois não aceitavam o que meu pai tinha determinado por
exigência do meu avô, e se quisessem lutar na justiça que o fizessem, eu não
iria esquentar a cabeça com isso. De todo modo, ambos perderiam, sendo
ganhando a causa; ou não. Dois irresponsáveis jamais saberiam dar conta de
tanto dinheiro.

Eu pagaria para ver como isso sairia no final.

Em relação ao Marcus, precisei deixar avisado no prédio que ele estava


proibido de acessar as dependências. Não me dei ao trabalho de entrar em
contato com ele, pois sabia que era exatamente o que queria, que eu fosse
atrás e ouvisse suas bobagens sentimentais. Tinha certeza de que ele queria
apenas dinheiro e, agora, depois de toda a palhaçada, era que eu não daria
mesmo.

Minha manhã inteira passei dentro do escritório em uma conferência com


colaboradores que fechariam comigo uma nova linha de maquiagem assinada
por um influenciador digital, algo que nos daria muito marketing.
Almocei em menos de meia hora e já estava de volta à sala de reuniões,
onde me reuni com a equipe para fechar mais campanhas e publicidade, além
de novos produtos que estavam em fase de planejamento. Nunca parávamos,
o que era bom, assim garantia empregos e lucros exorbitantes que nos dariam
um ótimo fechamento de ano.

Desde que passei a tomar conta no lugar do meu pai, tudo evoluía ainda
mais. Os resultados eram sempre positivos. O que me deixava orgulhosa do
meu trabalho no final do dia.

Virna esperou que todos saíssem e me entregou a papelada burocrática para


que eu desse uma lida novamente antes de assinar.

— Mais alguma coisa para hoje? — Perguntei e ela negou.

— O restante da semana tem algumas conferências por chamada de vídeo,


além de uma reunião com um investidor argentino. No mais, no final de
semana, a senhora tem o evento para grandes empresas em Fortaleza.

Encostei na cadeira e a encarei, largando o que estava fazendo.

— Não me recordava dessa viagem.

— Se quiser que eu cancele a sua participação, farei, entretanto, sua


presença é importante para negociar futuras parcerias. Trata-se do mesmo
evento que o ocorrido no ano passado, porém o anterior foi em Salvador, na
Bahia.

Seria bom respirar novos ares, além de ajudar com os negócios, eu poderia
descansar, me divertir um pouco, fugir de todos os problemas que tinham ao
meu redor.

— Assim que a senhora confirmar sua presença, informarei imediatamente


ao hangar para o pessoal deixar tudo preparado para a decolagem do jatinho,
bem como solicitarei a reserva da sua suíte no hotel definido para o evento.
Virna sempre ia comigo, pois era minha secretária, quase meu braço direito
na empresa, então seria minha companhia por todo o final de semana.

— Quer saber, Virna? Avise que meu quarto será para dois hóspedes.

— Quem será a terceira pessoa?

— Te darei os dados completos por e-mail, não se preocupe.

Eu já estava contando com a presença dele, apesar de não ter certeza se


daria certo. Nunca havia levado companhia para esses lugares, nem viagens
ou qualquer coisa fora do loft, mas iria abrir uma exceção para que ele
conhecesse novos lugares e vivesse uma experiência inédita longe de
preocupações. Ele merecia isso.

Só esperava que Hugo não dificultasse as coisas para mim, pois eu tinha
ótimos planos para o nosso final de semana.
Capítulo 20
Eu não esquecia nada do que tinha acontecido durante os dois dias que
passei com Beatrice no loft. Desde o sexo, a sua entrega e os momentos em
que ela se recusava a deixar as barreiras de lado. Isso só me instigava a
querer saber ainda mais sobre a sua vida. Por isso, quando deixei os
meninos na escola e voltei para casa, não resisti a tentação e busquei pelo
seu nome na internet.

Beatrice Campello.

Uma enxurrada de informações sobre ela aparecerem na tela. A grande


herdeira de família milionária, quarenta e dois anos, formada na Inglaterra,
premiada nos últimos anos por seu trabalho... tantas coisas que eu mal
conseguia acompanhar tudo.

Ela era dona da Fuller Beauty, uma das empresas de cosméticos mais
famosas do país. Fiquei surpreso com a informação. Sabia que ela era
absurdamente rica, pelo loft, o carro, a elegância e todo o conjunto que a
acompanhava, mas não esperava que fosse tanto assim. Isso me deixou
assustado.

Beatrice era milionária. Ainda assim precisava me pagar por companhia.

Vasculhei por suas fotos, cada uma mais bonita do que a outra, mesmo
que na maioria ela estivesse sempre séria, daquele jeito que fica quando está
fechada no seu mundo. Ninguém tinha acesso sobre a sua vida pessoal, nem
mesmo na internet, pois não existia qualquer menção sobre
relacionamentos, nem fotos dela acompanhada por outros homens ou
mesmo com a família.
Ela parecia sempre solitária, por mais que possuísse uma vida rodeada de
empregados e pessoas que a bajulariam para ter a chance de conseguir algo
na vida.

Vi uma matéria falando sobre seu pai, falecido recentemente, um


britânico que veio para o Brasil na juventude e abriu uma filial da empresa
dos pais no lugar onde firmou moradia e conheceu o amor da sua vida,
Magda Campello, uma socialite filha de magnatas da indústria brasileira. O
casal tinha dois filhos; Beatrice e Benício. Digitei o nome dele e vi a
quantidade de matérias que não eram tão generosas quanto as da irmã. Ele
era um verdadeiro problema, pois seu nome estava estampado em diversas
páginas policiais. Desde prisões por dirigir alcoolizado a brigas em boates.
E a notícia mais recente de todas era de que ele havia seduzido uma garota
de dezesseis anos, por isso estava sendo processado.

Então, cheguei à conclusão de que após a morte do pai, Beatrice havia


assumido toda a responsabilidade pela empresa, visto que não havia
nenhum registro ou menção que relacionasse outro membro da família
como executivo da Fuller.

Acabei voltando para as fotos dela e baixei uma. Ela estava em uma festa
de gala, usando um vestido vermelho que se ajustava perfeitamente no
corpo dela. Linda, exuberante e surreal... eu conhecia cada detalhe e
centímetro de pele, o que me deixava ainda mais interessado.

Isso nunca acabaria bem, no entanto, eu teria que erguer a cabeça e fazer
tudo o que ela estava disposta a pedir e oferecer de volta, já que a vida dos
meus sobrinhos tinha melhorado bastante desde que aceitei o acordo.

Meu momento stalker foi interrompido quando ouvi as batidas na porta.


Larguei o aparelho e levantei-me para saber quem estava chamando..

Assim que abri um homem de terno elegante, de meia idade, estava na


calçada e me lançou um olhar que parecia me analisar rapidamente antes de
sorrir.
— Sou Wallace Moroni, advogado da Srta. Campello.

Abri o portão e apertei sua mão ainda desconfiado.

Por que ela estava mandando o homem até minha casa tão cedo?

— Você deve ser o Hugo Bertolini, pelo que imagino.

— Sim, sou eu. Aconteceu alguma coisa?

— Estou com o pessoal da clínica. Vieram buscar a sua irmã.

Ele apontou para a esquina, onde uma van estava estacionada. O


advogado acenou e duas pessoas saíram vestidas de branco com a logo da
clínica.

Eu não estava acreditando que ela realmente havia atendido ao meu


pedido. Uma onda de satisfação me atingiu em cheio. Nem estava
conseguindo abrir a boca.

Os dois se apresentaram como enfermeiros, perguntaram por Heloise, e


informaram que já estavam ali para buscá-la.

— Eu... eu... — estava gaguejando — Tenho uma noção de onde ela


possa estar.

Tranquei minha porta e pedi que me seguissem. O advogado também me


acompanhou, fato este que terminou por chamar a atenção dos moradores
que estavam de olho na movimentação peculiar.

Caminhamos cerca de dois quarteirões até os barracos que ficavam


debaixo da ponte. Normalmente esse era o ponto onde se concentrava a
maior parte dos viciados do bairro. E fui certeiro, pois Heloise estava
fumando enquanto conversava com uma mulher ainda mais acabada do que
ela.
Ela ergueu a cabeça assim que me viu, soltando uma baforada. Sua
fisionomia era cadavérica e sua pele ressecada e com marcas do sol. O
cabelo sujo e embaraçado, dava a impressão que o último banho tomado
tinha sido quando a resgatei no meio da rua, pois estava com a mesma
roupa.

—O que está fazendo aqui com esse figurão?

Sua voz estava rouca, como na maioria das vezes, por conta de todo tipo
de droga que consumia.

— Nós viemos te convidar para um passeio, querida. — O advogado


falou — Meus amigos aqui vão te ajudar com a locomoção.

Em um pulo ela se levantou, cambaleando até a parede e arregalando os


olhos assustada.

— O que você fez, Hugo?

— Estou tentando te manter viva.

Heloise começou a sacudir a cabeça, nervosa, se negando a ceder.

— Eu não vou à lugar algum! Podem ir embora, estou muito bem assim.

— Vão te levar em cana, Helô! — grogue, a outra mulher comentou —


Vão te prender lá, amiga.

Apertei o maxilar, irritado por ela ter ajuda. Precisei engolir em seco
antes de continuar.

— Minha irmã, por favor, só tente. Pelos meninos, por você... para que
saia desse caos. Isso não é vida.

— Já falei inúmeras vezes que estou bem assim, não preciso de ajuda.
— Tem certeza disso? Pense em tudo o que já fez, no que pegou de casa,
no desespero ao ponto de levar a tv das crianças. Olhe seu estado!

Minha voz já estava embargada. Não demoraria muito para que as


lágrimas quisessem aparecer.

— Fodam-se aqueles dois! — berrou — Eu só quero viver minha vida


em paz.

Olhei para os homens, que estavam de prontidão e acenei, dando a


ordem que eles precisavam. Se fazia bem, ou não a levar à força, eu pagaria
para ver. Só queria que minha irmã ficasse livre desse inferno.

No momento em que os enfermeiros deram um passo na sua direção, ela


tentou correr, mas conseguiram pegá-la pelo braço enquanto Heloise se
debatia descontrolada.

Logo ouvi a van parando onde estávamos e mais dois saírem do interior
e irem ajudar os colegas, que tinham dificuldade em conter minha irmã.

Heloise gritava, se debatia, me xingava, enquanto a amiga avançava nos


enfermeiros com unhas e tapas. Precisei ficar no meio para que ela não
atrapalhasse.

— Seu filho da puta! — desferiu na minha direção enraivecida — Eu


vou fugir e vou infernizar sua vida de merda, otário!

Ouvir e ver seu ódio direcionado a mim me magoou, mas relevei por
causa do seu estado caótico.

Uma pequena multidão de curiosos se reuniu na rua para assistir ao


espetáculo deprimente que minha irmã oferecia. Sempre falavam dela, não
era novidade, pelo menos teria um assunto melhor: Heloise estava indo para
um tratamento sério.
Lutei contra as lágrimas que se acumulavam enquanto eu via minha irmã
em gritos desesperados, jogando todo o ódio em cima de mim e ameaças de
que aquilo não duraria, pois ela fugiria.

Fiquei parado no mesmo lugar, apenas observando, até que eles


entrassem na van e fechassem a porta de correr. O advogado mandou que
fossem que ele resolveria o restante.

Assim que a van virou a esquina e pegou seu caminho, eu fiz o mesmo,
voltando para minha casa enquanto sabia que estava sendo acompanhado
pelo advogado. Ignorei os olhares e abri a porta, indo em direção ao sofá e
me jogando sobre ele, abaixando a cabeça desnorteado, deixando de vez
que o choro saísse.

Não sabia que seria tão difícil ver minha irmã sendo levada daquela
forma, assim mesmo eu tinha que estar feliz. Seria uma preocupação a
menos.

Senti uma mão pousar sobre meu ombro antes de notar a pessoa se sentar
ao meu lado.

— Sinto muito, meu rapaz. Não deve ser fácil ter que passar por isso
sendo tão jovem.

Enxuguei as lágrimas e virei para encará-lo. O homem estava tirando


alguns papéis da pasta preta.

— O que está faltando?

— Sua assinatura autorizando a internação dela. Eles não podem internar


ninguém dessa maneira sem a autorização de um responsável. Já acertei
todas as outras partes burocráticas para que não precise ir até a clínica
agora. Porém, a assinatura, só você pode.
Peguei a papelada e dei uma lida rápida antes de assinar. Só queria que
desse tudo certo. A minha sorte era que as crianças estavam na escola e não
tinham que ver a mãe sendo levada.

— Beatrice investiu bastante nessa internação, a clínica fará de tudo para


que sua irmã saia uma outra pessoa.

Beatrice. Não mais senhorita.

O advogado parecia ter muita intimidade com ela. E sabia sobre o


contrato, isso fez com que meu rosto esquentasse com o orgulho ferido.

— É, eu sei sobre vocês.

— Eu precisava. Na verdade, preciso muito.

— Não tem que me dar satisfações, estou aqui pelo trabalho e por ser um
grande amigo dela. Beatrice confia em mim, e isso não são todos que tem o
privilégio.

— Nunca serei grato o suficiente por tudo o que ela está fazendo por
mim.

Não entendia os motivos de estar me abrindo com alguém que eu nem


mesmo conhecia, mas deixei que as palavras saíssem sem ao menos
perceber.

—Seja solícito e não tente invadir demais, ela costuma ser fechada
quando se trata da vida pessoal. E, por favor, tente não se apaixonar
também.

Ele guardou os documentos já assinados, entregou-me um cartão com


seu contato, se levantou e ofereceu a mão para um aperto amigável. Cedi o
acompanhando até a porta.

— Não se preocupe, isso é profissional.


— Desculpe ser sincero assim, mas vejo que sua realidade é o oposto da
dela, é jovem, parece ser um bom rapaz... só aviso para que não se
machuque. Sua vida já exige demais de você.

Agradeci e observei enquanto ele ia caminhando até o carro luxuoso


parado do outro lado da rua. As vizinhas ainda estavam do lado de fora e
não demorariam para iniciarem as fofocas de como eu tinha conseguido
melhorar nossa condição e ter contatos com pessoas importantes como o tal
advogado.

De tudo o que tinha ocorrido, a única coisa que permaneceu martelando


na minha mente foram as palavras do Moroni, as que ele pedia para que eu
não me apaixonasse por Beatrice.

Como se eu realmente tivesse controle sobre isso.

Eu não queria me apaixonar por ela, pois tinha consciência dos riscos
que isso traria para o meu coração.

E se eu não conseguisse evitar?

Passei o dia inteiro tentando evitar qualquer contato com a vizinhança,


porém, quando ia voltando com as crianças da escola, fui interceptado por
Ana, que nos acompanhou até em casa, ainda na minha cola.

— Vão tomar um banho, guardar o material que logo vou preparar o


jantar dos dois. — pedi e eles correram para o quarto.

Olhei para Ana, que estava com os braços cruzados sobre o peito me
observando.
— Pode falar, Ana.

Não era como se eu não soubesse os motivos que a levaram a vir atrás de
mim de novo, mas imaginei que sua chateação duraria mais. Não estava
com cabeça para discutir novamente com ela. Gostava da Ana, era
incômodo ficar sem nos falarmos.

— Soube do que aconteceu com a Heloise. Vim saber se está bem.

— Estou aliviado. Imaginar que vou dormir sem me preocupar com o


fato dela estar na rua, vulnerável as maldades do mundo, já me deixa feliz.

— Foi a sua... sua... cliente quem fez isso?

— Não precisamos falar sobre esse assunto.

— Desculpe, eu só odeio saber que perdeu sua essência por causa disso.

— Faço e farei sempre de tudo por eles.

Notei quando os lábios dela tremeram, fazendo com que eu me sentisse


mal por ela. Não queria que Ana ficasse assim por mim, não quando eu nem
tivera intenções.

— Tem sido difícil desde que brigamos. Sinto falta de te ver com mais
frequência, de pensar que um dia cederia e perceberia o quanto é especial
para mim.

— Sinto muito, Ana.

— Sei que meu irmão falou com você, disse bobagens.

— Ele não deixa de ter razão. Não agiria diferente se estivesse no lugar
dele.
— Você gosta dela?

Fui pego de surpresa com sua pergunta indiscreta.

— Não como imagina.

— Hugo, eu...

— Titio! Titio! — A voz da Elena a interrompeu. — Olha só a estrela


que ganhei na escola.

Sorri na direção da garotinha saltitante que exibia a agenda com uma


estrela dourada colada na página do dia. Elena era o destaque do mês, por
comportamento e notas.

Peguei a menina nos braços e a enchi de beijos enquanto ela gargalhava


por sentir o roçar da minha barba no pescoço.

— Titio está muito orgulhoso de você.

— Eu também ganhei, sabia? Não é só você que é inteligente.

Soltei outra risada, dessa vez direcionada a Igor que também mostrava a
sua. Não por comportamento, mas pelas notas.

Deixei Elena no chão e o beijei também, orgulhoso dos meus pequenos.


Foi quando olhei para onde Ana estava e não a vi mais. Ela tinha ido
embora, talvez ainda chateada.

Em outro momento nós conversaríamos, ela precisava esquecer esse


sentimento que existia por mim. E mais, esquecer o que estava acontecendo
entre Beatrice e eu.
No meio da semana eu já estava leve, despreocupado com Heloise, com
mantimentos no armário, contas começando a ficar em dia e as crianças
recebendo elogios na escola. Então decidi tirar o começo da noite para que
os dois brincassem um pouco na praça próxima a nossa casa.

Sentei-me no banco de madeira enquanto observava os dois brincando


animados com as outras crianças. Riam, pulavam, subiam e desciam nos
brinquedos, aproveitando a melhor fase da vida.

Vi quando alguém acenou na minha direção e começou a se aproximar.


Era Fabiano que saía da pizzaria. Tinha dias que eu não falava com ele, pois
minha rotina estava corrida demais.

— E aí, cara! A coroa anda tomando mesmo teu tempo, hein?

Ele deu duas batidas no meu ombro e sentou-se.

— Mas fala aí, foi ela mesmo que conseguiu a internação da Helô?

Assenti e contei um pouco sobre o meu pedido, a prioridade da


internação e em como Beatrice foi solícita em me ajudar. Não citei nomes,
por mais que meu amigo parecesse curioso com isso.

Era bom desabafar, contar um pouco da minha vida ao meu amigo, ouvir
e saber que ele era alguém que entendia minha situação. Afinal, Fabiano
teve seu tempo com sugar mommy também.

— Fico aliviado por você, Hugo. Vejo o quanto se preocupa com sua
irmã, e eu, no seu lugar, não pensaria duas vezes.
—É difícil conseguir levar numa boa, evitar certos sentimentos, mas
estou indo bem. Eu acho.

— Se apaixonar por esse tipo de mulher é furada. Tenta focar só no


quanto é bom ganhar dinheiro e manter as crianças enquanto se diverte.
E lá estava o jeito brincalhão novamente.

Escutei enquanto meu amigo falava de uma nova conquista, a sua


funcionária. Ele merecia encontrar alguém bacana, porque apesar de ser
inconveniente na maioria das vezes, Fabiano sempre foi batalhador e cuidou
bem da irmã.

Elena correu até nós dois e pulou no colo dele, deixando beijos
carinhosos na bochecha do homem que apenas sorria. Meus sobrinhos
pareciam amar mais o Fabiano do que a Ana, que sempre cuidou deles.

— Como você está linda, princesa! — Comentou.

Era verdade. Os dois estavam mais corados, fortes e animados, pois


tinham boas refeições todos os dias e dormiam satisfeitos.

— Titio, hoje tem pizza? Sabe que amo as pizzas do tio Fabi.

— É, titio, tem? —ele provocou.

— Bem, levando em conta que essa semana os dois me deram muito


orgulho, pode ser que eu mande fazer uma para o jantar.

A menina começou a gritar, dando pulinhos pela praça e correndo para


avisar ao irmão.

Olhei para ele, trocando um olhar cheio de cumplicidade.

— Já sabe, metade muçarela para o Igor, metade frango para a Elena.


Daqui a pouco vou lá buscar.
— Tudo bem. Fica em paz, meu amigo. Tudo está dando certo e a
tendência é melhorar.

Recebi um aperto de mão, antes dele se levantar e voltar para o


estabelecimento.

Fazia meses que eu não comprava pizza para os meninos, uma vez não
faria mal substituir o jantar. Os dois mereciam, e eu também.

Meu celular vibrou dentro do bolso da calça e nem precisei verificar de


imediato para saber quem tinha mandado, pois ela era a única que entrava
em contato comigo.

"Temos uma viagem no final de semana. Sairemos sexta à noite. Consiga


uma pessoa para ficar com as crianças, você recusar não está em
cogitação. Até mais.”

Uma viagem.

Não era o apartamento, onde ficávamos escondidos.

Ela queria me levar para outro lugar.

Isso me encheu de preocupação, excitação e ânimo de uma vez só,


fazendo com que meu coração acelerasse de expectativa.
Capítulo 21
A ideia de viajar e passar o final de semana longe de toda a bagunça era
reconfortante, ainda mais com uma companhia ao lado. Não qualquer uma,
mas Hugo, que estava na minha vida há algumas semanas e tinha começado
a se soltar mais, ser um pouco menos travado e inibido em relação ao sexo.

Saber que sua irmã tinha sido levada para a clínica onde iniciaria o
tratamento, me deixou tranquila, já que seria uma preocupação a menos
para ele, além de ser algo que faria com que Hugo não recusasse mais
minhas propostas. Tanto que nem mesmo demorou a confirmar a presença
no meu final de semana.

Organizei minhas coisas em duas malas. Uma com roupas sociais, outras
mais leves e biquínis, já que estava indo para um lugar ensolarado e com
belas praias. Aproveitei e pedi que Virna comprasse roupas de banho para
meu acompanhante, além de dois pares de roupas mais arrumadas.

Cheguei ao hangar primeiro, quase nove da noite, cumprimentando as


pessoas e entrando no jatinho particular, uma das coisas que a minha família
fez questão de manter para facilitar a locomoção e privacidade.

— Boa noite, Srta. Campello, deseja alguma coisa antes de decolarmos?


— A aeromoça perguntou, simpática e conhecida, já que sempre estava nos
nossos voos.

— Um champanhe, por favor, e castanhas para eu ir beliscando durante o


caminho.

Ela assentiu e se afastou.


O jatinho era confortável, grande e comportava cerca de vinte pessoas,
além de ter um banheiro, poltronas confortáveis que reclinavam e um
pequeno bar com variados tipos de bebidas.

Assim que recebi a bebida tomei um gole e olhei para o lado de fora
vendo um carro ser estacionado ao lado. Era o motorista que eu pagava para
que levasse e trouxesse Hugo sempre que precisasse.

Senti a excitação percorrer minhas veias quando ele subiu a escada e


entrou, um olhar surpreso e um pouco deslocado. Estava com uma mala e
usando a habitual calça jeans e camisa gola polo. Era lindo de toda forma.

— Beatrice. — Meu nome soava bem demais vindo dele.

Ergui a taça e sorri, apontando para a poltrona à minha frente.

— Não sabe o quanto estou animada por você fazer esse passeio ao meu
lado.

— Um jatinho? Essa sua vida me assusta demais.

— É normal para empresários como meu pai e tantos outros, pois facilita
nossa vida.

Era um gasto exorbitante, tinha que admitir, mas também chegávamos


logo e não enfrentávamos tanta burocracia e voos com outras pessoas.

Virna entrou em seguida e deu um olhar de relance para minha


companhia, como se não estivesse acostumada com isso. Ela sempre
marcava os encontros, comprava presentes e tudo mais. Não era novidade.

— Essa é minha secretária, — apontei para ela — Virna. Não se


preocupe, ela é discreta.

Mesmo sem jeito ele ofereceu a mão em um aperto e logo voltou a me


encarar enquanto Virna se sentava do outro lado com seu notebook na mão.
— Quer beber alguma coisa?

— Não agora. Estou um pouco enjoado de ansiedade.

— Imagino que nunca tenha viajado de avião. — Comentei e ele


confirmou — A pior parte é a decolagem, depois se acostuma e nem sente.

Bebi mais um pouco e foquei atenta nele, que estava nervoso batendo os
dedos no tampo da mesa.

— E seus sobrinhos? — Decidi conversar para desviar sua atenção.

— Ficaram com a Dulce, a senhora que mora ao meu lado.

— Que bom, assim ficará tranquilo e aproveitará mais a viagem.

Hugo perguntou do que se tratava e contei os detalhes, até mesmo por


todos esses últimos anos que participei dos eventos.

— Estou surpreso por estar saindo da bolha e me levando para a viagem.


Tinha me dito que não passava do loft.

— Sinta-se privilegiado por ser o primeiro, mas apenas como um bônus


por estar sendo um bom investimento.

Ergui a taça e sorri, sentindo algo mexer com meu estômago ao ver sua
expressão.

Virei mais um gole da bebida e continuei puxando conversa quando o


avião decolou, vendo meu acompanhante dar um solavanco com o susto, o
rosto pálido e assustado. Ele era tudo o que eu não conhecia antes, mas que
estava adorando acompanhar de perto.

Hugo era um jovem que me instigava, deixava curiosa e excitada, um


combo que poderia atrapalhar meus planos de nunca me apegar, ao mesmo
tempo que eu sabia ser forte o suficiente para evitar sentimentos que
confundissem nosso trato.

Bastava focar no sexo.

Era isso, ou eu precisaria me preparar para um desfecho antes que fosse


tarde demais.

Chegamos à Fortaleza na madrugada.

Um carro já estava nos esperando na pista de pouso, o motorista


particular que Virna contatou antes da viagem para que ele ficasse à minha
disposição.

Entrei com minha secretária na parte de trás, enquanto Hugo se ofereceu


para ficar ao lado do motorista. Aproveitei para pedir que Virna passasse
minha agenda do final de semana ao mesmo tempo que meu foco estava
inteiramente no homem sentado à frente.

— Mais tarde terá um almoço com um grupo seleto de empresários e a


senhora está incluída. Na parte da noite terá um evento de gala para
homenagear as empresas que mais se destacaram no mercado do último
ano, além de dar mais visibilidade, as chances de fechar contatos se
ampliam.

— Pelo visto meu sábado será bastante movimentado. Algo mais?

— No domingo pela manhã, no centro de eventos, acontecerá algumas


palestras para estudantes de áreas administrativas e coletiva com a
imprensa.
Eu amava meu trabalho, toda a rotina, mas não seria nada mal ficar
apenas no quarto do hotel aproveitando minha companhia.

A cidade estava calma, assim como o trânsito, já que passava da meia-


noite e isso acabou fazendo com que o percurso durasse menos do que o
habitual. Logo estávamos em frente ao hotel cinco estrelas onde se
concentrava boa parte dos convidados do evento.

— Aqui é tão bonito! — Hugo comentou admirando a paisagem.

O mar silencioso, iluminado pela lua e alguns postes de luz, a areia


macia e a brisa que batia no nosso rosto... um conjunto perfeito.

— É mais ainda durante o dia. Quente, mas uma vista espetacular. —


Comentei — As praias são lindas e tenho certeza de que irá gostar.

Entrei acompanhada pelos dois, mas foi Hugo que ficou ao meu lado
enquanto Virna foi resolver a parte burocrática da nossa hospedagem. Não
demorou, logo ela apareceu com o cartão de acesso do quarto e seguimos
para o elevador.

Um quarto com vista panorâmica para a beira mar de Fortaleza. Eu


amava o lugar, ainda mais quando amanhecia o dia.

Virna ficou no quarto ao lado do meu, como de costume, e eu observei


minha companhia parar na sacada para continuar admirando a beleza do
local.

Aproximei-me, apoiando o queixo sobre seu ombro e sentindo o aroma


masculino que vinha dele. Como estava de salto, consegui alcançar sua
altura.

— Estou satisfeita por ter vindo comigo. Não imagina o quanto isso é
maçante sem companhia.

Ele virou para me encarar, o pomo de adão se movendo.


— Estou muito feliz por ter vindo com você.

—Talvez devesse me agradecer vindo tomar um banho comigo, o que


acha? — Provoquei ficando apenas de calcinha e sutiã.

Hugo não conseguiu se controlar, deixou que os olhos me analisassem da


cabeça aos pés, lambendo os lábios em seguida.

Livrei-me do sutiã, expondo meus seios e jogando a peça na sua direção


enquanto eu caminhava pelo quarto.

— Posso te esperar?

Em seguida foi a calcinha, que ele acabou pegando no ar, a pequena peça
de renda.

Virei-me de costas, ainda sendo capaz de sentir seus olhos sobre meu
corpo despido e entrei no banheiro com um sorriso provocante e cheia de
excitação correndo pelas veias.

Estava cansada, suada, precisando de um descanso pela rotina corrida,


mas ainda queria um bom sexo antes de dormir.

Liguei o chuveiro e deixei a água fria descer pelo meu corpo. Era
relaxante, revigorante. E não demorou para que Hugo entrasse também, se
livrando das peças de roupa do lado de fora do box.

E quando ele entrou, me vendo nua e molhada, seu pau já estava de pé,
firme e com as veias inchadas. Pronto para mim. Só que eu estava disposta
a torturá-lo.

— Por que não se masturba pra mim, Hugo? Eu adoraria ver você
batendo uma enquanto me observa.

— Beatrice, eu...
Seu rosto em chamas era o que mais me atraía.

— Nunca fez isso na frente de ninguém, eu imagino, por isso que é ainda
mais atraente do que pode imaginar. Sou privilegiada então.

Desliguei o chuveiro e despejei um pouco de sabonete líquido na mão,


devagar, começando a espalhar pelo corpo enquanto era assistida por ele.

Passei a mão pelo pescoço, seios, barriga, abrindo as pernas para dar
acesso a boceta molhada não apenas pela água... ele estava pegando fogo.
Eu sentia.

— Toque seu cacete, gatinho. Faça isso enquanto me observa. Eu estou


louca de tesão só de te ver assim.

Obedecendo ao meu pedido, ele começou a massagear a ereção,


bombeando devagar à medida que os olhos não paravam de acompanhar os
movimentos da minha mão.

Acariciei meu seio.

A outra mão ia no clitóris.

Desejei mais do que nunca me esfregar inteiramente nele, como uma


gata no cio, mas precisava ir mais devagar. Era bom provocar, assistir sua
reação em um misto de timidez e safadeza.

Um vinco se formou em sua testa, a boca soltava o ar pesado do prazer


que o estava consumindo.

— Diga o que está pensando, compartilhe comigo. — Pedi, rouca e


excitada.

Sua mão trabalhava firme, aumentando a velocidade, era sensual e


selvagem ao mesmo tempo.
— Que sua boca seria bem melhor do que minha mão.

Sorri mordendo o lábio.

— Gosta que eu te chupe? Que minha boca te foda e te faça gozar dentro
dela?

Belisquei meu clitóris buscando um breve alívio para o que estava


sentindo.

— Sim... Oh! Sim...

— E se eu me sentar na borda da banheira e deixar que foda meus seios?

Descontrolado, Hugo não esperou que eu continuasse. Em um ato bruto,


ele me puxou contra seu corpo e empurrou a boca contra a minha, as duas
mãos apertando minha cintura com tanta força que deixaria marcas.

Só me entreguei ao beijo, envolvida e inebriada pelo gosto, o cheiro, a


química.

As línguas batalhavam entre si, uma dança desesperada e ansiosa,


tentando mostrar quem era mais habilidosa. Dei-me por vencida, pois o
beijo dele era único, perfeito e especial demais para alguém que não tinha
tantas experiências.

Além da pegada esmagadora que ele tinha.

Empurrei seu peito, afastando os nossos lábios, ouvindo sua respiração


entrecortada.

Então, sem que ele esperasse, sentei-me na ponta da banheira e agarrei a


ereção que estava com a cabeça inchada, vermelha e brilhando com o pré-
sêmen que saía.
Passei a língua por toda a extensão, devagar, a outra mão massageando
suas bolas com a ponta dos dedos.

Eu amava comandar, fazer com que implorassem por mim, que ficassem
sempre submissos, no entanto, era prazeroso reverter a situação, ser
dominada, permitir ser levada e usada. Era o que eu queria que Hugo
fizesse comigo.

Posicionei seu pau entre os seios, que eu apertava firme, enquanto


observava cada reação do seu rosto.

— Se mova, Hugo. Gire os quadris e foda meus peitos.

Obedecendo ao comando, ele começou devagar, indo e vindo, a cabeça


encostando no meu queixo. Aproveitei para passar a língua para instigá-lo.

Sem tirar os olhos dos meus, ele continuou segurando meus seios e
pressionando a ereção enquanto beliscava meus mamilos acesos.

— Que gostoso! — Sussurrou.

— Quero que foda todas as partes possíveis do meu corpo.

A fricção foi aumentando, minha mão indo de encontro à suas bolas


inchadas. Massageei, deixando os dedos irem além até a zona erógena,
vendo Hugo oscilar um pouco, mas respeitei os limites.

Não sabia o quanto ele aceitava... ainda.

— Quero gozar na sua boca. Me deixe fazer isso, por favor!

A súplica me fez sorrir mordendo o lábio inferior, satisfeita por vê-lo


mais solto.

Afastei-me brevemente para ficar de joelhos, logo abocanhando o cacete


com a boca faminta por ele.
E então Hugo começou a foder minha boca, da maneira dele, pura e
doce, enquanto agarrava meu cabelo e empurrava fundo na minha garganta.

— Sua boca... ela... —murmurou ofegante — É a coisa mais gostosa que


já provei na vida.

Soltei apenas para responder rapidamente.

— Achei que minha boceta seria ainda mais.

— Ela é minha segunda opção.

Sorri em chamas, deixando que ele empurrasse além, bruto e selvagem,


fazendo com que eu me engasgasse por alguns instantes.

Gostava desse lado do Hugo. Um atrevido, quente e sem pudores. As


estocadas eram firmes, meu nome balbuciado de maneira sexy e o cabelo
sendo puxado só dava ainda mais um ar de neandertal.

— Beatrice! — Socou a parede à sua frente, tremendo de prazer. — Eu


vou gozar. Não estou aguentando.

Apertei seu quadril com as unhas, dando livre arbítrio para que ele
fizesse o que queria.

Foram poucos segundos entre minha boca o engolindo, os lábios dando


leves chupadas na cabeça e a língua contornando a ereção para que ele
começasse a jorrar, descontrolado, no fundo da minha garganta.

Fui puxada para cima, sem cerimônias, sendo tomada para outro beijo
arrebatado enquanto ele me arrastava para o lado de fora do box.

Hugo me colocou nos braços, me pondo sentada sobre a pia de granito,


abrindo minhas pernas e tendo livre acesso a minha boceta encharcada.
Gemi enlouquecida quando ele penetrou de uma vez, colando nossos
corpos e sem nunca largar da minha boca.

Era seu gosto.

Seu gozo na minha língua.

Seu pau me fodendo.

E os olhos escuros e intensos me observando enquanto nossas testas


apoiavam-se uma na outra.

Foi um momento de puro prazer misturado com o deleite, coração


acelerado, o suor que descia juntamente com a água do banho e algo que me
envolveu de uma maneira assustadora e irreal.

Como se alguma coisa tivesse estalado dentro da minha mente.

Apenas ignorei, curtindo o momento, o sexo e a bela companhia que


estava comigo.

Passei a manhã inteira dentro do quarto, apenas me entregando ao sexo e


a química que estávamos compartilhando. Os outros sempre me cansavam
um pouco, entravam na rotina, mas com ele eu não queria parar, por isso
pedi que Virna não me interrompesse antes do almoço.
Por mim nem iria, mas tinha que cumprir a agenda, infelizmente.

Escolhi um vestido tubinho acima dos joelhos, leve e confortável. Deixei


o cabelo solto e botei um par de brincos pequenos e minha pulseira que
combinava com a outra joia.
— Você pode fechar meu vestido? — Pedi a Hugo, que estava me
observando no canto do quarto.

Virei-me de costas, encarando meu reflexo no espelho. Meu rosto tinha


um brilho diferente, estava mais corado e feliz.

Hugo se aproximou e encostou os dedos no zíper enquanto me encarava


através do reflexo.

— E se eu disser que prefiro tirar?

— Eu adoro quando esse seu lado pervertido está aflorado.

— Estou falando sério, Beatrice. Quero te deixar trancada aqui comigo,


te proibir que vá a esse almoço.

Sorri excitada novamente, como se não tivesse tido várias rodadas de


sexo com ele há poucas horas.

— Apesar de ser bastante tentador, não posso fazer isso.

— Vai ser um inferno ficar aqui e imaginar o que fizemos mais cedo.

— Você pode passear, peça um guia do hotel ou apenas um táxi


recomendado por eles, que te leva para onde quiser. É uma bela cidade,
Hugo, vale a pena conhecer.

Senti o zíper ser fechado e virei para ele, vendo a brasa ferver em seus
olhos.

Ele tocou minha cintura carinhosamente, acariciando no local.

—Só não é tão bela quanto você.

— Galanteador dessa maneira vai me fazer realmente sair daqui de


pernas bambas e desejando voltar o mais rápido possível.
— Por que não vamos juntos? Posso te esperar e você me mostra a
cidade.

— Não, lindo. Nosso relacionamento se resume ao quarto em trepadas


constantes e sem exposição.

Vi seu peito mover em um suspiro pesado, mas ignorei. Melhor assim.


Hugo precisava conhecer limites.

Deixei um beijo suave nos seus lábios e me afastei antes de perder o


controle. Hugo estava começando a ficar intenso demais, e por mais que
isso apimentasse nossa relação, ainda me deixava receosa de onde isso o
levaria.

Poderia levá-lo comigo, entretanto, não era um relacionamento sério,


nem mesmo um namorado ou ficante assumido, não apareceria com ele
assim no meio de tantas pessoas que me conheciam. Era melhor manter isso
entre nós dois, dentro do quarto, sem perguntas curiosas ou julgamentos.

Mesmo me sentindo mal por deixá-lo sozinho, despedi-me e saí do


quarto pronta para começar a maratona do dia.
Capítulo 22
Fiz o que Beatrice me aconselhou, por mais que minha vontade fosse
ficar com ela. Primeiro tive que fazer uma ligação para Dulce, conversar
um pouco com os meninos e saber se estava realmente tudo bem com eles.
Só depois de tranquilo, a mente sossegada, foi que decidi sair.
Parecia estranho ter que curtir tudo sozinho, sem ela ao meu lado com a
presença marcante. Além do mais, fazer um turismo sozinho não era tão
empolgante assim. Pensei nos meninos, que amariam passear comigo pela
cidade, conhecer as praias e correr na areia.

Não precisei de táxi ou de guia. Coloquei o endereço do hotel, o mapa e


todos os outros apps que eu precisaria para não me perder. Só ia dar uma
volta pela beira-mar, a mesma avenida onde se localizava o hotel.
Caminhei à beira da praia, sentindo o calor do sol queimar minha pele
enquanto molhava os pés na areia. Aproveitei para pensar nos últimos
acontecimentos e em como minha vida havia mudado. Na maioria das
coisas, para melhor; no entanto, eu estava bem sem sentir nada por outra
pessoa, por não ter uma mulher que me tirasse dos eixos. Isso me
perturbava e me deixava confuso.

O sexo era incrível, a maneira como ela conduzia tudo e como tinha o
poder de me seduzir e me fazer querer sempre mais. O problema era eu
ficar mexido, não parar de pensar nela e até mesmo adorar o seu sorriso e a
forma como ficava quando não está na defensiva.

Deixei os pensamentos nela de lado quando encontrei uma feirinha


organizada, com vários boxes e vendedores simpáticos me oferecendo
produtos de todos os tipos. Acabei comprando uma boneca de pano para
Elena, pois ela sempre amou; as que tinha sempre eram dadas por alguém.
Agora eu tinha como comprar também, apesar de ser dinheiro de uma fonte
que ela jamais saberia. Já para Igor, acabei comprando uma camisa da
seleção que estava disposta em um box de itens masculinos. Peguei uma
escultura de gesso de Nossa Senhora para Dulce, a bolsa de palha para Ana
e uma garrafa de cachaça para o Fabiano. Já Beatrice, eu não sabia o que
dar, já que ela tinha tudo o que queria, assim mesmo continuei buscando por
algo que poderia agradá-la, por mais que fosse simples para a vida que
levava.
Demorei para escolher seu presente, mas consegui escolher um que me
peguei desejando que ela guardasse com carinho.

Andei bastante, inclusive indo até o mercado dos peixes e tirando


algumas fotos da vista que eu tinha para o mar. O cheiro de comida era
atrativo demais, porém eu não estava com fome, já que tínhamos tomado
um farto café da manhã ainda no quarto. Acabei ficando com a água de
coco quando parei para me sentar na areia.

Cada coisa que eu via, inclusive o belo mar com a água gelada, me fazia
lembrar dos meus meninos, em como eu queria que eles estivessem comigo,
aproveitando e se divertindo com a pura inocência que ambos tinham.
Entretanto, não tinha que ser assim, mas um dia, quando eu pudesse fazer
tudo isso sem Beatrice no meio, sem trazê-los para o caos onde eu tinha me
enfiado.

Deixei minha roupa de lado e fui tomar um rápido banho de mar,


apreciando um pouco antes de voltar para o hotel.

Só voltei quando percebi que já estava muito quente, e minha pele tinha
começado a ficar bronzeada demais. Voltei da mesma maneira, caminhando
e observando tudo ao redor.

Assim que cheguei fui direto para o quarto, louco para tomar um banho e
descansar um pouco antes de pesquisar sobre os locais mais próximos que
eu poderia conhecer mais tarde quando Beatrice fosse para o jantar de gala.
Porém, não tive tempo de sequer entrar no banheiro, pois duas batidas na
porta me fizeram ir atender.
Era uma camareira que estava empurrando o carrinho de comida. Sorri,
dando passagem para ela, que se prontificou de deixar tudo arrumado sobre
a mesa antes de ir e me deixar sozinho novamente.

Olhei para a comida e tirei a tampa de cobre sentindo o aroma delicioso


da comida. Logo vi um bilhete no canto.

“Conheça o baião-de-dois com queijo e nata, a carne do sol e macaxeira


frita, que é um dos pratos regionais que mais amo comer quando venho
para o Ceará. Também há o suco de caju e o sorvete de tapioca. Espero que
aproveite bem sua refeição. Beatrice.”

Meu peito esquentou. O coração não seria capaz de controlar


sentimentos quando ela era assim, doce e gentil, atingindo exatamente onde
jamais deveria.

Despertei com um peso sobre mim, o cheiro inconfundível e a maciez


dos lábios que percorriam minha pele do pescoço. Arrepiei, percebendo
minha ereção reagir antes mesmo de eu abrir os olhos.

Beatrice estava sentada nos meus quadris, linda e sexy, ainda usando a
mesma roupa que estava mais cedo e um sorriso que, com toda certeza, era
minha perdição.

Ergui as mãos para agarrar sua cintura.

— Essa pele bronzeada me diz muito sobre o seu passeio. Ai, gatinho,
você está ainda mais bonito.

— Queria que tivesse ido comigo.


— Ah, sabe que isso é um pouco mais complicado. Me fala, gostou do
presentinho?

— Comi tão bem que não parei de pensar nas crianças.

— Quem sabe um dia você possa proporcionar isso a elas?

— Até parece. Mas vou ficar feliz se conseguir reproduzir as receitas.

Ela sorriu de uma maneira linda e leve, inclinando a cabeça para trás.
Afastei do contato e levantei-me da cama para pegar o que eu tinha
comprado para ela.

Peguei a pequena embalagem e a entreguei, observando enquanto ela


abria e se surpreendia.

— Padre Cícero?

— É, uma representação dele para que coloque pendurado no retrovisor


do carro para que te proteja onde quer que esteja indo.

— Não sabia que era religioso assim.

Sentei-me de frente para ela.

— Acredito em Deus, no poder da fé, em como ela nos salva. Dulce me


ensinou desde quando eu era pequeno. Ela tem coleção de imagens, o que a
maioria das pessoas vê como uma adoração, mas não é. Só uma
representação, para lembrar que eles estão ali conosco.

— Que lindo, Hugo.

— Espero que coloque no seu carro. Você sempre anda para todos os
lugares sem seguranças, sendo uma pessoa importante que é, corre riscos e
isso me apavora.
Beatrice tinha que andar protegida, nunca assim como fazia. Era um alvo
fácil para pessoas com má índole.

— Todos nós estamos sujeitos aos perigos, não sou a única. E eu nunca
gostei de ter alguém seguindo meus passos, além do mais, meu carro é
blindado, o prédio que moro é seguro e as pessoas conhecem mais meu
nome, do que meu rosto em si.

— Espero que isso seja o suficiente.

— Mas se não for, tenho o padre Cicero de olho em mim, não é? —


Sorriu novamente.

Eu estava ficando louco por ela, ainda mais quando ficava assim, sem se
proteger das pessoas ao redor.

— Por falar em proteção, me diga que resolveu o problema com o cara


que estava indo atrás de você.

— Não se preocupe, lindinho. Ele nada mais é do que uma maldita pedra
no meu sapato.

— Será que um dia serei uma pra você também?

Não consegui controlar a língua, dessa vez falando mais do que devia.

— Isso só vai depender de você mesmo. E pelo que percebo, não me


parece ser o tipo de homem que tem tempo para correr atrás de mulher.

— Se for você? Nesse caso, tenho minhas dúvidas. — brinquei com um


fundo de verdade.

Subi na cama e fui ao encontro dela, tomando seus lábios com os meus e
caindo por cima do seu corpo quente, um que me atraia, enfeitiçava e
bagunçava meu mundo inteiro.
Em meio a carícias, troca de beijos e toques, me perdi na sua pele, o
cheiro e o gosto que tanto me deixava apaixonado.

Perdido no momento, fui interrompido por ela, que apoiou as mãos sobre
meus ombros e me encarou com os olhos negros e intensos.

— Você vai comigo.

— Pra onde?

— Para o jantar. Quero que seja minha companhia durante a noite


inteira.

Meu coração bateu mais forte do que uma bateria de escola de samba e
sorri, feito um tolo, como se isso significasse mais do que eu estava
imaginando.

— Horas atrás você disse algo sobre ficarmos apenas no quarto.

— Não questione demais, Hugo. Ou prefere que eu mude de ideia?

Empolgado e feliz, voltei a mergulhar não apenas nos lábios, mas no


corpo inteiro.

Beatrice já tinha tomado meu corpo, minha mente e coração.

Logo mais estaria roubando a minha paz.

E parecia que eu não estava me importando com isso.


Capítulo 23
Tentei fazer de tudo para que minha redoma não estragasse o que eu
estava vivenciando durante a minha viagem. Era de negócios, sobre a
empresa e meu nome, mas tinha trazido Hugo comigo para me divertir,
aproveitar o tempo em que estávamos longe da vida real que me
preocupava e sugava minha energia.

Gostava da sua companhia, doçura e gentileza em me tratar apesar dos


meus momentos mais distantes e quando precisava impor limites. Só que,
de repente, me vi querendo deixar as imposições de lado para não atrapalhar
a leveza que tinha se tornado as últimas horas.

Era pelo sexo, a maneira como ele reagia quando estávamos juntos, nada
além disso. Eu sabia frear quando a coisa estava ficando séria, e faria isso
no momento certo.

A única parte ruim nisso tudo era que eu não estava disposta a terminar o
contrato com Hugo pelos próximos meses. Não estava, nem de longe,
saciada. Queria mais, era como se eu não me cansasse da sua maneira de
agir e me tratar.

Observei enquanto ele terminava de se arrumar. Havia pedido a Virna


que conseguisse um terno sob medida e o par de sapato social. Era um erro
levá-lo comigo, eu sabia, mas também reconhecia que ele merecia um
tratamento diferenciado.

Algo dentro de mim queria mostrar que ele não era igual aos demais.
Impressionantemente, ele estava ainda mais lindo. O terno encaixou
perfeitamente bem no seu corpo. Tanto que desejei continuar com o que
estávamos fazendo antes da minha secretária avisar que faltava pouco para
sairmos.

Desviei o olhar e dei uma última conferida no meu visual. Estava com
um vestido longo, a fenda aberta do lado direito e um decote generoso. O
cabelo estava preso de lado, em um penteado elegante que eu mesma havia
feito. Passei o batom vinho e espirrei o perfume que Hugo sempre elogiava.
— Você está linda demais, Beatrice. — Comentou com o olhar atento em
mim.

Sorri, peguei minha bolsa e o encarei sobre o ombro.

— Posso dizer o mesmo de você, mas se eu parar e observar demais irei


desistir desse maldito evento.

Saí do quarto com ele me acompanhando logo atrás. Hugo ficou um


pouco receoso, afinal, não era o tipo de lugar que ele frequentava, porém,
exigi que viesse comigo.

Virna estava nos esperando na recepção. Sempre elegante, abriu um


sorriso quando nos viu. Ela parecia gostar do Hugo, em aprovação, como se
isso fosse sério demais e ele meu namorado.

— O motorista já está nos esperando, Beatrice.

— Então vamos logo de vez. Já reservou o que te pedi para amanhã?

— Claro que sim.

Fiquei satisfeita e puxei Hugo conosco até onde o carro estava do lado
de fora.

Como estaria mais livre durante o dia de amanhã, já que cancelei


qualquer participação, pedi que Virna reservasse meu dia com Hugo, que
tinha uma surpresa para que passássemos o último dia de viagem em um
lugar mais privado e reservado.

Cavalheiro como era, Hugo mandou que fôssemos atrás e, como da outra
vez, se sentou ao lado do motorista. A festa seria em um clube na praia
vizinha, onde nos reuniríamos com um seleto grupo de empresários.
Bebida, jantar e possíveis contatos.
Não demoramos a chegar. Um garoto bem-vestido se prontificou a abrir
a porta do carro e nos ajudar a descer. O cumprimentei e dei uma gorjeta,
logo indo em direção a entrada.

Hugo ficou ao meu lado, assim como Virna. O local estava lotado de
uma maneira que eu não gostava. Participava de vários eventos, mas ter que
frequentar quando estava cheio demais eu arrumava desculpas para ir
embora cedo. E era o que eu provavelmente faria essa noite.

A recepcionista nos encaminhou até onde estava a minha mesa, quase na


parte da frente, com mais dois empresários que eu conhecia. Um do ramo
de telecomunicações, outro de motocicletas. Ambos me cumprimentaram e
apresentei ao Hugo. Virna já os conhecia, pois sempre estava comigo.

Agradeci por não puxarem papo demais.

Lancei um sorriso para Hugo, pois ele estava deslocado. Não bebia,
estava apenas pegando um coquetel sem álcool e mexia no celular trocando
mensagens com a vizinha sobre os sobrinhos. Era a parte que eu mais
admirava na personalidade dele, a maneira como era paternal.

Quando as homenagens começaram tive que me levantar, ir ao palco e


receber um prêmio por ter sido o destaque do ano, desbancando todos os
outros nomes importantes. Fiz um pequeno discurso agradecendo aos meus
colaboradores e aos meus dois convidados, Virna e Hugo, sem dar mais
detalhes do que o homem era para mim, apenas o citando como amigo.

Fui parada por alguns, que beijavam minha mão, parabenizavam e


faziam o que eu mais detestava: falavam do meu pai, todo o papo de
sempre, que ele era um bom homem, que poderia estar aqui e etc. Sim, eu
tinha ganho o posto por ser filha dele, mas era a minha eficiência nos
últimos anos que manteve o legado de pé, ou até melhor do que ele havia
deixado quando decidiu se afastar para cuidar da doença.

— Eu sabia! — Virna falou animada — Sabia que seria você. Ninguém


mais merecia o prêmio de destaque.
Apesar de eu nunca dar brechas para uma amizade, Virna era o que eu
tinha mais próxima de amiga depois do Moroni, então ela era íntima para
me tratar sem formalidades fora do trabalho. Por isso me abraçou,
comemorando já animada por causa do álcool.

Assim que ela se afastou, foi a vez do Hugo me abraçar discretamente,


deixando um beijo no meu pescoço e fazendo com que meu corpo inteiro se
acendesse.

— Que você é incrível, eu já sabia. Não foi uma surpresa, por mais que
eu não seja um bom entendedor desse meio.

— Obrigada. Espero que saiba como me parabenizar mais tarde.

Sem jeito, ele olhou para os lados para ter certeza de que ninguém tinha
escutado. Como se eu fosse louca o suficiente para deixar os outros
saberem.

A música suave tocava e algumas pessoas se reuniam no centro do salão


para dançar. Segurei a mão dele, deixei o champanhe de lado e ergui as
sobrancelhas.

— Vem dançar comigo.

— Eu não sei dançar. Acho que o máximo que faço é quando Elena me
faz rodopiar com ela na sala quando está vendo os filmes de princesa.

Gargalhei com a imagem dele na mente. Um homem lindo, fofo e gentil


dançando com a pequena nos braços. A cada descoberta eu me surpreendia
ainda mais.

— Já é um bom começo, gatinho.

E com isso caminhei com ele ao meu lado, segurando sua mão e indo até
onde várias pessoas estavam.
Envolvi meus braços em seus ombros; ele agarrou minha cintura. E
começamos a dançar, devagar, um preso no olhar do outro. A partir daí não
vi mais nada ao redor, era como se estivéssemos sozinhos.

Meu coração estava em paz.

O corpo em chamas.

A mente só ele habitava.

— Estou feliz por estar aqui. — Comentei sincera.


—É, fiquei sabendo que sou o primeiro homem a ser trazido a um evento
com você. Isso me deixou um pouco mais feliz.

Ah, Virna!

— Talvez eu deva redigir uma carta de demissão para a minha secretária


enxerida.

— Ela te admira demais. Percebi que é além do profissional.

Isso encheu meu coração. Não eram muitas pessoas que gostavam de
mim, a maioria me aturava. Tinha conhecimento que eu não era a melhor e
mais solícita pessoa, também não sabia me enturmar, acabava me isolando e
ficando sozinha. Ouvir que alguém gostava de mim, agradava meu orgulho.

— Te trouxe até aqui porque gosto da sua companhia, Hugo. Me traz um


pouco de leveza nessa minha vida caótica.

— Nunca vou saber agradecer por tudo o que faz por mim, pela minha
irmã e os meninos.

Algo me atingiu com suas palavras, me trazendo de volta a uma


realidade que eu não queria no momento. Queria experimentar ser diferente.
Ao menos por uma noite.
— Não quero que pense nisso agora. No nosso trato, em tudo o que
fizemos para estarmos aqui, por favor. Me deixa ser normal por hoje.

— Se é assim que quer, assim será. Vamos só aproveitar que estamos


juntos no meio dessas pessoas metidas a besta.

Gargalhei novamente. Hugo arrancava sempre o melhor de mim, até


mesmo com bobagens.

Continuamos dançando, a cada música nos conectando um pouco mais, e


eu me controlando para não beijar os lábios que estavam tão perto dos
meus.

Me perdi com seu aperto na minha cintura, no cheiro que exalava dele, o
contato dos olhos... tudo me deixava inebriada.

Algo me dizia que eu estava quase perdendo o controle.

Eu não era assim.


Capítulo 24
— Ela nunca traz ninguém. Você é especial, hein?

As palavras da Virna ainda ecoavam na minha mente mesmo horas


depois, quando estávamos dentro de um barco que Beatrice reservou para
que passássemos a noite.

Depois de sairmos do jantar ela foi até o hotel e juntou as coisas, me


pedindo o mesmo, e logo estávamos em um iate pequeno, bonito e
confortável, que Virna reservou por ordens da chefe.

Fiquei afastado enquanto um senhor de idade dava as instruções a


Beatrice em relação ao mar, como proceder e onde deveria ficar para ter
privacidade ao mesmo tempo não se afastar demais. Esperei até ele ir
desamarrar o barco e nos deixar sozinhos.

Fui até onde ela estava comandando, conduzindo o barco sozinha.


Encostei-me por trás e deixei um beijo no seu pescoço.

— Além de tudo o que faz, ainda sabe dirigir um barco. — Comentei


risonho.

— Claro que sei.

— E é exibida.

— Fiz aulas para aprender, já que gosto do mar, de passear sozinha, ficar
longe da vida real. Não é à toa que moro de frente para a praia.

Afastei-me apenas para me posicionar ao seu lado, para poder ficar


observando-a enquanto estava conduzindo a embarcação.
Conseguia ficar ainda mais sensual e bela com todo aquele poder e
confiança.

— Está vendo? Exibida. — Provoquei. — Só falta me dizer que também


tem um iate na coleção luxuosa de itens adquiridos por Beatrice Campello.

Sua mordida no lábio inferior foi suficiente para que eu obtivesse minha
resposta.

Eu amava esse lado dela mais solto, sem aquela carcaça de durona.
Virei para olhar o mar escuro à frente. O que víamos era o pouco que a
lua iluminava. A cidade estava ficando um pouco para trás, mas era
possível ouvir um pouco do barulho que as pessoas emitiam.

Beatrice desligou o motor e se aproximou ainda mais, colando o corpo


ao meu. Era bom estar assim com ela, sozinhos e livres de olhares curiosos.

— Quer conhecer um pouco do iate? — Convidou cheia de segundas


intenções.

No entanto, eu também estava.

— Temos tempo de sobra pra isso.

— E o que você quer?

— Ter você sob as estrelas, na proa, apenas a lua nos observando.

Eu já estava duro dentro da cueca. Era o efeito que ela causava em mim.
Bastava sentir seu cheiro ou apenas me aproximar, para que tudo
esquentasse no meu corpo.

— O que está esperando, então?


Sorri, surpreendendo-a quando a coloquei nos braços e caminhei pelo
barco em direção a proa, onde a deixei deitada, ainda usando aquele maldito
vestido lindo que cobria seu corpo delicioso e fez quase todos os homens no
jantar olharem na sua direção.

Era impossível não se sentir atraído por uma mulher como ela.
Totalmente compreensível tantos homens a admirarem, entretanto, meu lado
possessivo odiava isso, mesmo que ela jamais fosse ser minha de verdade.

Afastei os pensamentos incômodos quando me acomodei entre suas


pernas abertas, deslizando a mão pela lateral do seu corpo.

— Você me deixa louco, Beatrice. — Confessei sem esperar que


respondesse.

Levei meus lábios aos dela, em um beijo calmo, suave, apenas


aproveitando o sabor e o lugar onde ela me levava.

Esqueci tudo ao redor à medida que fomos aumentando a intensidade do


contato das bocas sedentas, quase como se tivéssemos apaixonados,
perdidos um no outro com tanta veemência que não me importei com fato
de ser algo que poderia acabar a qualquer momento.
Só me doei o quanto pude.

— É tão linda, — pontuei sincero — perfeita, e assim nos meus braços...

Beatrice arfou, arqueando as costas quando busquei pelo zíper do


vestido, abrindo-o com uma habilidade que eu sequer sabia que tinha.
Lentamente fui deslizando o tecido pelo seu corpo, expondo a pele macia
que eu tanto adorava.

Sorri ao notar os mamilos rijos, arrepiados da excitação que nos


envolvia.

— Quero guardar essa imagem para sempre.


Em alguns momentos parecia ser mentira alguém ser tão linda desse
jeito. Todo conjunto era perfeito, pele, rosto, cabelos e lábios.

Beatrice era única.

— E eu a sua, dessa forma, tão selvagem que está me deixando louca.


— respondeu, acariciando minha nuca com as unhas.

— Vou beijar seu corpo inteiro, minha coisa linda, cada centímetro dele,
contemplar da maneira como merece.

— Faça isso, Hugo. Faça o que quiser comigo.

Foi a deixa que precisei para voltar a beijá-la, dessa vez, mais forte, com
línguas e dentes, bruto e sexual. Meu pau doía dentro da cueca.
Desci por seu pescoço, mordendo levemente, deixando rastros por sua
pele enquanto caminhava a boca até os seios.

Olhei antes de abocanhar, circulando a língua pelo bico intumescido,


ouvindo o seu gemido quando mordi. Repeti o processo com o outro, ao
passo que eu esfregava minha ereção na sua virilha.

— Eu estou quase gozando, gatinho. Como faz isso comigo?

Agarrei suas mãos, erguendo-as acima da sua cabeça, assistindo Beatrice


se contorcer sob meu corpo. Abri um sorriso intensificando o roçar dos
meus quadris.

— E por que não faz isso na minha boca?

— Deus, Hugo, no que eu te transformei? — Brincou excitada.

Eu não fazia ideia, só sabia que gostava do que estava acontecendo.

Soltei suas mãos e retirei o vestido que estava amontoado nos quadris.
Puxei a calcinha também, a deixando completamente despida, deitada e se
exibindo para mim como uma verdadeira obra de arte.

Delicada e instigante.

Beijei sua barriga, cintura, virilha, coxas, pés... um de cada vez, devagar,
curtindo o momento e suas reações. Até minha boca ir de encontro com a
boceta que estava inundada. O grelo duro demonstrava o quanto ela estava
realmente excitada.

Meus olhos mergulharam nos dela, assim como minha língua estava
fazendo na sua entrada deliciosa, onde eu saboreava como uma sobremesa
saborosa e viciante.

Beatrice era a minha primeira mulher, eu totalmente inexperiente, não


tinha pudores para experimentar, querer agradar e saciar suas vontades...
tudo acontecia automaticamente, como se eu fosse expert no assunto.

E seus gemidos, ensandecidos, só mostravam que ela estava aprovando.

Afundei três dedos dentro dela, apertada e receptiva, indo e vindo da


mesma forma que minha língua fazia no ponto sensível.

— Caralho! — Gritou, quase descontrolada — Isso... delícia!

Lambi ainda mais, descendo para as dobras da sua bunda, raspando


também no seu buraco apertado que contraiu com o contato. Era um lugar
que eu queria muito experimentar também, só teria que ir com calma, nem
mesmo sabia como fazer sem que fosse ruim para ela.

Com isso voltei para a boceta novamente, ouvindo o aviso de que ela
estava chegando ao ápice.

— Vou gozar na sua boca, gatinho.

Substitui os dedos por minha língua e levei o polegar para o clitóris,


atiçando e esperando que ela viesse na minha boca.
Segundos depois, Beatrice estava se contorcendo, gozando
descontrolada, gemendo meu nome enquanto despejava o mel na minha
língua.

— Me fode, Hugo! — Exigiu desesperada — Vem aqui, vem!

Engatinhei para cima, deixando que ela abrisse o zíper da minha calça e
libertasse meu pau sem ao menos esperar que eu tirasse a roupa
completamente.

Minha camisa foi arrancada, fazendo com que alguns botões pulassem
longe.

Guiei meu pau até ela, mergulhando fundo, estocando devagar à medida
que minha boca ia de encontro com a sua.

Foi bem ali, meu corpo contra o dela, o vai e vem dos movimentos, a
intensidade em que nos encarávamos, que me vi loucamente apaixonado.

Não queria perder Beatrice.

Perder o que tínhamos.

Eu estava completamente fodido.

***

Ainda estávamos deitados na proa. A diferença era que eu tinha pegado


um cobertor macio para que ela se deitasse em cima e outro para cobri-la.
Acomodei-me ao seu lado, sua cabeça apoiada sobre meu peito nu. Meu
corpo tinha começado a acalmar depois do sexo incrível e estávamos apenas
aproveitando a noite, o sossego e a companhia um do outro.

Seus dedos deslizavam pelo meu abdome.


— Quero que volte a estudar, Hugo. — Ela quebrou o silêncio. — Sei
que abandonou por causa das crianças, mas agora tem tempo livre durante o
dia. Faça sua matrícula em um supletivo, se dedique e lute para crescer na
vida.

— Farei isso. É algo que estava nos meus planos, porém longe da
realidade.

Beatrice virou-se para ficar de bruços e me encarar. Os cabelos


bagunçados estavam deixando-a ainda mais linda!

— Tem alguma carreira em mente?

Fui pego de surpresa com sua pergunta. Nunca tinha parado para pensar
nisso, não era como se eu tivesse como pensar em mim quando eu tinha
duas crianças para me preocupar. Era o futuro delas que me importava.

— Devo confessar que nunca fiz esse tipo de planos. Quando criança
queria jogar futebol, depois parei de pensar em mim.

— Não tem algo que se identifique? Algo que seja muito bom e que
possa usar como uma carreira?

— Eu ajudo o Fabiano com as contas da pizzaria, o fechamento do mês,


os lucros... sou bom com números, por mais que não tenha concluído os
estudos.

— Contabilidade. É um bom caminho. Até mesmo ensinar, apesar de


acabar sendo um professor que distrairia as alunas. — Soltei uma risada
animada — Estude, veja as opções, nem que seja um curso técnico, algo
com que se identifique. Não quero que volte a mesma situação de antes.

— É uma maneira de dizer que está prestes a me dar um pé na bunda?

Doeu pensar na possibilidade dela estar planejando isso.


Beatrice era uma caixinha de surpresas, pois eu esperava qualquer coisa
vindo dela. Por isso meu estômago revirou quando pensei no momento que
isso teria um fim.

Eu não queria me ver longe dela.

— Não sabemos o que pode acontecer, mas a certeza é de que isso aqui,
entre nós dois, é apenas um contrato.

— É só isso que sou pra você, Beatrice?

Vi sua expressão oscilar um pouco, como se ela relutasse em responder a


verdade.

— É o que somos um para o outro.

— Não é apenas isso para mim.

— Devia ser. Sabe que é o melhor.

— E daí? A gente não pode simplesmente deixar acontecer sem pensar


demais? Por que tem tanto medo? Eu jamais machucaria você.

— O problema sou eu, Hugo. Pode ter certeza de uma coisa, sou incapaz
de ser alguém que mereça na sua vida.

Senti o aperto na garganta, e lutei para afastá-lo.

— Não estou te pedindo em namoro ou casamento, só que se permita


sentir quando estiver comigo.

Ela desvencilhou do meu corpo, se levantando de uma vez, pegando o


cobertor para se cobrir.

— Você me deixou faminta. Vamos procurar algo pra comer.


E se afastou, fugindo do meu pedido. Era assim que ela fazia cada vez
que eu ficava mais intenso e me recriminei por isso, pois desde o início eu
sabia como seria.

Assim mesmo, eu não me senti culpado, já que era algo que saia
naturalmente.

Encontrei Beatrice na pequena cozinha do barco. Ela estava beliscando


um pedaço do queijo que tirou do frigobar. Tinha uma garrafa de vinho,
torradas e outras coisas que ela havia pedido que Virna encomendasse.

— Não quero que fuja de mim assim. Prefiro que seja sincera. Isso não
combina com você.

Ela encheu a taça da bebida e virou em um gole rápido.

— Só não quero te magoar. É o primeiro homem, em todos esses anos,


que sinto esse receio. Você é tão bom, gentil, lindo e doce... seria cruel te
quebrar em meio ao caos que a vida sempre te colocou.

— Você é um mistério pra mim. Algumas vezes te vejo durona, fechada;


outras você se entrega intensamente. Ainda assim, com tudo isso, queria
saber mais sobre sua vida, o que fizeram com você, porque é assim.

— Por que meu passado importa tanto?

Aproximei-me e colei nossos corpos um no outro, enquanto sua bunda


estava sendo pressionada pelo armário.

— Tudo o que envolve você me importa. Não faz ideia do quanto.

— Está indo longe demais. Pare com isso, não me faça cancelar nosso
trato.

— Por que sempre menciona isso? Não consegue esquecer um pouco?


— Porque é exatamente o que somos. Não vou permitir que leve para o
lado sentimental. Caso continue, vou ser obrigada a cortar o mal pela raiz.

Doeu sua frieza e arrogância. Ela mudava facilmente de humor, eu


detestava isso.

— Você me machuca, esmaga, ao mesmo tempo em que me enlouquece.

— Só me beija, Hugo. Só me faz esquecer todo o mundo lá fora e me


perder em seus braços. Não quero conversar sobre sentimentalismos, não
quando o momento implora por outra coisa.

Atendi ao seu pedido, deixando de lado a conversa que teríamos mais


tarde, pois dessa vez, eu não permitiria que ela continuasse fazendo isso.

Me embebedei do seu beijo, ali na cozinha, pele contra pele, pronto para
tomá-la novamente.

Eu nunca me cansaria disso.


Capítulo 25
Um lado meu gostava de perceber a intensidade do Hugo em relação ao
nosso envolvimento. O outro, mais coerente, se preocupava. Ele era jovem,
inexperiente, se apaixonar por alguém como eu seria um desastre para sua
vida inundada de problemas.

Uma vozinha dentro da minha cabeça sussurrou que estávamos


caminhando por um terreno muito perigoso e nem assim desejei encerrar o
que tínhamos. Eu me sentia viva, desejada e querida além do dinheiro e do
contrato. Hugo me mostrava a vida de outra forma, sem interesses além do
pessoal entre um casal.

Levantei-me da cama, ainda dolorida, buscando por ele. O sol já dava


boas-vindas do lado de fora, além da brisa do mar. Subi a escada e acabei
encontrando Hugo organizando o café da manhã.

— Você está me deixando mal-acostumada.

Ao notar minha presença, ele sorriu, vindo ao meu encontro para deixar
o beijo casto e suave, bem diferente do que tivemos durante a madrugada.

— É sempre um prazer servir você, Beatrice. E eu digo isso em todos os


aspectos.

— Será que pegaria mal ficar uma semana nesse barco esquecendo que
eu tenho trabalho e você duas crianças para criar?

— Deus sabe que eu faria de tudo por isso.

Sentei-me feliz, o coração em paz, por mais que os conflitos internos me


corroessem a cada vez que eu pensava em como isso chegaria ao fim.
Porque sim, teríamos um fim. Eu só não sabia dizer quando. Só não queria
machucar o Hugo, deixá-lo mal quando isso terminasse. Gostava desse
homem, apreciava sua companhia, a forma carinhosa de me tratar... só
nunca daríamos certo. Além da diferença gritante de idade.

Tomei café e comi a tapioca amanteigada que ele preparou. Deixei as


frutas para depois, pois o sol estava uma delícia e eu queria aproveitar as
poucas horas que nos restavam antes de voltar para a dura realidade.

— Você teve notícias das crianças? — Perguntei.

— Falei com a Dulce. Eles estão dormindo, tranquilos, nem mesmo


parecem sentir minha falta, aqueles ingratos.

Gargalhei com seu nítido ciúme. Ele era apegado demais aos pestinhas,
amava como filhos. Era lindo de acompanhar.

— Ela deve cuidar muito bem deles, e que bom que você tem pessoas
que o ajudam.

— É, tenho sim.

Parei para observá-lo, questionando silenciosamente sobre sua vida. Eu


sabia muitas coisas importantes, principalmente o pessoal, só que Hugo
ainda era um mistério em outros aspectos.

—Você ainda acha que foi uma boa aceitar nosso trato?

Eu me sentia felizarda por ter sido a primeira, mas um incômodo se


alojou no meu peito quando pensei na possibilidade dele ter ido para outras
ao invés de mim.

E se ele continuasse depois do desfecho?

Afastei os pensamentos. Eram incoerentes e absurdos. A vida dele não


seria mais da minha conta a partir do momento em que terminássemos.
Machucou, por mais louco que fosse.

— Eu precisava de dinheiro, algo que não exigisse tanto tempo e eu


pudesse cuidar dos meninos. Por um momento, quando te vi naquele
restaurante, quis desistir.

— Ficou com medo de mim? — Sorri provocante.

— Sim, apavorado. Jamais daria conta de alguém desse tipo.

— Devo admitir que está indo muito bem, se quer saber.

E lá estavam as bochechas coradas que eu tanto amava. Ele era uma fera
quando estávamos transando, mas fora da cama Hugo ficava tímido, como
se não conseguisse falar sobre sexo sem ficar sem jeito.

— Minha vida se transformou depois de te conhecer, Beatrice. E não


apenas financeiramente falando.

A intensidade que vi no escuro dos seus olhos me fez acordar para a


realidade. Estávamos caminhando novamente para o lado sentimental, o que
tanto me deixava apavorada.

Era insanidade pensar que isso funcionaria.

Levantei-me de uma vez, sendo observada por ele.

— Vou colocar uma roupa de banho. Quero pegar um bronze e dar um


mergulho.

Caminhei de volta para o quarto.

Precisava de espaço para respirar e reordenar os pensamentos.


Escolhi o biquíni dourado, pequeno e de tiras laterais, que eu nunca tinha
usado, mas que combinava comigo.

Soube que estava bonita, além do que eu já tinha visto no espelho,


quando o olhar no Hugo me admirou dos pés à cabeça. Tive a certeza de
que havia trazido o biquíni certo, pois ele estava praticamente babando em
mim, por mais que conhecesse cada centímetro do meu corpo.

— Graças a Deus estamos em um barco, Beatrice, porque meu lado


homem das cavernas não ia gostar de ver outros olhando pra você dessa
forma.

Fiquei realmente surpresa com a confissão. Hugo tinha desses momentos


que falava mais do que devia, e eu gostava, ao mesmo tempo que ficava
preocupada.

E eu ficava no conflito de querer que ele continuasse, pois era excitante


vê-lo dessa forma, tão rendido e apaixonado.

Apaixonado.

Deus, era isso.

Sacudi meus pensamentos. Não ia pensar demais novamente. Não aqui,


não no momento em que estávamos. Meu lado egoísta só queria aproveitar.

— Você vem comigo, gatinho? — Convidei instigando-o quando virei de


costas.

Andei até a ponta, sendo acompanhada por ele.


— Eu não sei nadar, Beatrice. — Confessou envergonhado — O máximo
é um banho rápido, mas assim, em alto mar, não sou capaz de entrar.

— Tudo bem, eu fico aqui sentada com você. Ou em você, no caso.

— Apesar da proposta ser tentadora, podemos deixar pra depois.


Mergulhe, quero te ver daqui e depois vou dar um jeito de te secar.

Sorrindo excitada, caí no mar, percebendo que nem mesmo a água


gelada estava esfriando o calor que Hugo causava no meu corpo.

Meu dinheiro era capaz de comprar muitas coisas que eu quisesse, mas
infelizmente, ainda não tinha sido suficiente para parar o tempo.

Era exatamente o que eu mais queria.

A dura realidade voltou com tudo na segunda-feira. O cheiro do mar, o


bronze, os momentos, tudo estava guardado na minha mente e não sairia
fácil. E foram apenas as lembranças que me mantiveram de bom-humor,
pois meu dia havia começado com uma reunião marcada pelo Moroni e
com a presença de Benicio, Magda e do advogado da minha mãe. Todos
estavam na sala me esperando, inclusive Benício, que parecia de ressaca.
Era surpreendente que estivesse acordado tão cedo.

— É sempre uma honra começar a semana com a visita ilustre de vocês.


— Comentei sarcástica.

O olhar que eu estava recebendo do meu irmão não era nada agradável.

Sentei-me em minha cadeira depois de trocar cumprimentos com


Moroni, que era o único ali que eu realmente tinha um carinho recíproco.
— Vamos resolver isso de uma vez por todas, Beatrice. — Magda disse,
claramente irritada.

— Ora, se está com essa pressa é porque os resultados são positivos para
mim. O que aconteceu?

Moroni havia me enviado uma mensagem contando por alto o motivo da


reunião. Não aprofundou o assunto, entretanto, deu a entender o motivo da
irritação da minha mãe. Não seria fácil lutar contra o testamento.

Meu amigo e advogado tomou a frente, não dando alternativas para os


outros a não ser o silêncio.

— Tivemos um encontro nesse final de semana, no caso, eu e o Loretti,


— apontou para o outro advogado — e ele chegou à conclusão que a
batalha para a contestação vai custar mais do que seus clientes estão
dispostos a investir, fora os riscos de perderem na justiça, então ele fez a
proposta de entrar em um acordo amigável com você, Beatrice, para que
ceda, por livre e espontânea vontade, uma parte maior do que foi dado aos
dois.

O tal Loretti devia ser amigo do meu irmão, pois era bem jovem, sem a
marra e confiança que Moroni tinha, provavelmente não queria nem mesmo
lutar por eles. Eu insistiria, nem que perdesse tudo no final, jamais daria o
braço a torcer.

Não consegui manter a compostura. Soltei uma risada, divertindo-me às


custas de duas pessoas que eu deveria ter mais empatia e amor, apesar de
nunca ter recebido o mesmo de ambos.

Notei a raiva emanando deles e retornei com minha postura de


profissional.

— Sem chances. — Avisei convicta — Qualquer centavo a mais, vão ter


que lutar na justiça. Ou, como eu disse antes, Benício pode trabalhar,
mostrar ser diferente, só daí poderei ver se ele merece realmente a minha
confiança.

— Manter uma drogada qualquer numa clínica você consegue, não é?

Eu estava girando a cadeira de um lado para o outro, portanto, parei


bruscamente quando ele proferiu as palavras.

Arregalei os olhos, sem acreditar no que Benício tinha acabado de falar.


Foi a vez da minha mãe sorrir sabendo que eu tinha sido pega desprevenida.

— Do que você está falando?

— Ah, Beatrice! Essa ceninha não combina com você. Sem rodeios,
porque sabe bem do que eu estou falando.

Troquei um olhar com Moroni, que deu de ombros tão surpreso quanto
eu.

— O que eu faço da minha vida não é problema seu.

— Pois é, eu sei. Assim como eu sei também que tem um caso com um
pobretão que te fode em troca de dinheiro.

Levantei-me da cadeira, a que foi empurrada para trás com o movimento


brusco. Encarei meu irmão furiosa.

Inferno! Eles sabiam sobre o Hugo. Como? Puta que pariu!

Olhei para o advogado dos dois e apontei para a porta.

— Dê o fora daqui!

— Não, querida. Ele fica. É nosso advogado. — Minha mãe tentou


protestar.
— Que seja! Mas a sala ainda é minha. Saia!

O homem não teve alternativas a não ser ceder, nos deixando sozinhos.

Inclinei meu corpo, apoiando as mãos sobre o tampo da mesa de vidro.


Meu corpo inteiro estava tremendo como se eu estivesse prestes a ter um
colapso nervoso.

— Que merda você pensa que está fazendo, Benício?

— Um acordo, irmãzinha. Nós dividimos essa herança de uma forma


mais justa, e eu fico com meu silêncio.

— Olha bem pra mim, seu moribundo. Acha que eu vou cair em
chantagem vinda de você?

— Não me importo. Você tem duas escolhas: faz o que eu sugeri ou sua
vida vai ser exposta para a sociedade que você tanto finge ser perfeita.

Passei a língua sobre os lábios secos. A garganta estava arranhando.


Tudo que eu queria era esganar esse playboy mimado.

— Aí que você mostra que não me conhece tão bem. Quem gostava de
passar uma imagem de quem nunca foi era o nosso pai e essa dondoca que
está ao seu lado enchendo sua cabeça oca de bobagens. Eu mesma não dou
a mínima se vão falar de mim, já que sou a única que paga minhas contas.

Não era mentira, eu realmente não ligava. O problema era Hugo ser
exposto, as pessoas saberem o que ele fazia em troca de dinheiro. Isso sim
estava me deixando apavorada.

E sim, no fundo eu sabia que seria julgada por sair com um cara bem
mais novo, um que tinha idade para ser meu filho. Era sempre mais difícil
para a mulher.
— Então não vai se incomodar se eu abrir a caixa de pandora dele, não
é? Sinceramente, Beatrice, você tem uns gostos bem peculiares para
homens.

— Um que, por final, poderia ser o filho que você não teve. Que doentio,
querida.

Eles já estavam me deixando puta ao ponto de querer chutar os dois


daqui. Meu final de semana tinha sido bom demais para ser verdade.

Precisei de alguns segundos para conseguir respirar, manter a calma,


antes de voltar a reagir. Um turbilhão estava em conflito na minha mente.

— Saiam os dois daqui antes que eu faça uma besteira. — Avisei.

— Não sairei até que dê sua resposta.

Dei a volta pela mesa e parei de frente ao Benício, apoiando as mãos nos
braços da cadeira, abaixando para quase encostar meu nariz no dele.

— Minha resposta é não. Não vou cair no seu joguinho sujo, seja lá o
que esteja tramando. E tem mais, caso eu saiba que andou importunando o
Hugo ou qualquer pessoa da família dele, vou dar um jeito de te jogar atrás
das grades ao ponto de sua querida mãe não conseguir te tirar de lá nem
mesmo se ela vender a alma para o diabo.

— Tem muito culhões se acha que isso vai ficar assim.

— Se forem inteligentes o suficiente, vão esquecer essa história e


agradecerem por ainda terem de onde tirar o sustento da vida infeliz que
têm.

Agarrei seu rosto, apertando com força de uma maneira que o fez
arregalar os olhos.
— Você ainda não me conhece, Benício, mas vou te dar um spoiler:
tenho o sangue ruim do nosso pai, então espere qualquer coisa de mim.

Com um supetão, ele afastou minha mão e se levantou da cadeira. O


dedo apontando na minha direção.

— Não esqueça que temos o mesmo sangue.

Com isso saiu batendo a porta, logo sendo acompanhado pela Magda,
que estava furiosa também.

Eu sabia que tinha que ceder, abrir mão pelo silêncio e manter a vida do
Hugo tranquila longe da atenção daqueles dois. Mas conhecendo minha
mãe e meu irmão, se eles quisessem me infernizar, fariam isso mesmo com
a fortuna nas mãos.

Desabei na cadeira quando saíram, ainda perplexa com o fato deles


saberem de tudo. Desde o Hugo até a internação da Heloise. Caralho!

Peguei o primeiro objeto que vi pela frente e atirei contra a parede. Nem
isso amansou a fera que estava entranhada na minha pele.

— Que porra foi essa, Moroni?

— Eu não faço ideia. Juro, estou tão surpreso quanto você.

Tentei pensar em todas as pessoas que sabiam sobre mim, o site, tanta
informação ao ponto de chegar em uma parte tão privada da minha vida.

— O filho da puta do Marcus.

Tinha que ser ele. A raiva, a ameaça, o ódio que sentia de mim por não
ter reatado nosso envolvimento.

— Faz sentido. Ainda assim não entendo como ele sabe sobre a irmã do
Hugo.
— Vou acabar com a raça desse desgraçado, nem que para isso eu faça
com minhas próprias mãos.

— Mantenha a calma, Beatrice. Agir por impulsividade só vai fazer com


que se arrependa depois. Acho melhor que deixe Hugo em paz por um
tempo, se afaste dele, mostre para o Marcus que não estão juntos, que...

Ergui a mão para interrompê-lo.

— Não vou fazer isso. Não é o momento.

— Isso realmente está acontecendo?

— Seja mais claro, Moroni.

— Você está apaixonada pelo Hugo.

Levantei meu olhar na sua direção, chocada com o que ele havia falado.

Moroni tinha surtado, só tinha essa explicação.

— Saia você também. Me deixe trabalhar em paz.

— Acho que eu atingi o lugar certo. — Falou em tom sarcástico que


acompanhava o sorriso provocador.

— Vá procurar o que fazer, quando eu precisar da sua ajuda, o chamo.

Estava sendo grossa demais, no entanto, ele já estava acostumado com


isso. E ferir os sentimentos do Moroni era a última coisa que me importava
no momento.

Minha vida tinha acabado de virar de cabeça para baixo e eu precisava


começar a reverter a situação antes que o caos se instalasse de vez.
Capítulo 26
Era meu aniversário. Estava completando quarenta e três. O tempo passava
e eu nunca tive a mínima empolgação para comemorar essa data. Não fazia
sentido quando eu era sozinha. Quando estava na Inglaterra, algumas pessoas
que trabalhavam comigo organizavam um jantar discreto e bebíamos até a
noite virar. Já no Brasil, quem não deixava a data passar em branco era Virna
e Moroni, que durante os quatro anos que voltei, eles montavam um café da
manhã no escritório com todo o pessoal do administrativo.

Eu sorria, escondendo o quanto não estava muito empolgada com a


comemoração, mas as pessoas envolvidas se importavam comigo, eu não
podia ser ingrata.

Comemos, brindamos e cada um voltou ao trabalho. Moroni ainda me


convidou para jantar na sua casa, com sua família, pois ele sabia que não faria
nada durante a noite. Então precisei mentir para que ele não insistisse.

Hugo nem mesmo sabia do meu aniversário, nem diria nada. Ficaria
sozinha com uma garrafa de vinho ao lado, apenas apreciando minha própria
companhia.

— Só não esqueça do que sua mãe e Benício sabem, que tudo pode piorar
com sua vida amorosa não sendo mais tão oculta. Aquele rapaz não merece
sua bagunça.

Revirei os olhos oferecendo o lugar à minha frente.

— Vamos mudar de assunto. Você me disse que tinha novidades, o que


era?

— A irmã dele tem causado alguns problemas na clínica. É rebelde, está


em fase de negação, então eles estão tendo um pouco de dificuldade em lidar
com a mulher.

— Que deem o jeito deles, pois vão arrancar uma grande quantia por mês
para ajudar na recuperação dela. Não escolhi a melhor à toa.

— Essa bagunça pode vir a ser um problema pra vocês, Beatrice. Magda e
Benício já sabem, para outros saberem não está longe demais.

— Então dê um jeito. Sonde os dois, interrompa atos irresponsáveis e


encha os bolsos das enfermeiras se for preciso.

Vi Moroni sacudir a cabeça, como se me reprovasse.

— Nem tudo se trata de dinheiro.

— Se você vasculhar um pouco mais vai descobrir que é apenas sobre isso.
Meus dois familiares são um belo exemplo disso.

— Sim, eu sei. Só que a Magda parece relutante em impedir que continue


com a herança, que comande a empresa, mesmo depois desses meses. Temo
pelo que pode acontecer num futuro próximo. Conheço bem a sua mãe e
aquele vagabundo do Benício. Eles não têm nada a perder, só você.

— Posso até perder, ir ao fundo do poço, mas não irei sozinha.

— Às vezes eu me assusto com sua frieza.

— Aprendi com o pior de todos. Agora pode ir, Moroni.

Ele assentiu e se foi deixando-me sozinha atolada em problemas e com


vontade de matar meu irmão. Ele estava trazendo problemas demais e eu
precisava dar um basta nisso.

Voltei ao trabalho e tentei me concentrar em toda a papelada que eu tinha


que ler e contratos para assinar com cautela que custaria longas horas.
No final do dia estava ansiando por um pouco de álcool no sangue, pedir
algo decente para jantar e dormir longe de qualquer problema que estivesse
existindo na minha vida. Queria o Hugo, sua companhia leve e agradável, me
levando para longe do mundo real, mas Moroni tinha razão. Havia chegado a
hora do basta.

No entanto, como se estivesse lendo meus pensamentos, ele me enviou


uma mensagem no momento em que entrei no carro.

“Precisa vir até o loft.”

Balancei a cabeça, colocando a tentação para escanteio.

“Não posso, Hugo. Além do mais, eu escolho os encontros, gatinho.”

Não demorou para que ele digitasse novamente.

“É urgente, por favor!”

Inferno! Alguma coisa tinha acontecido para que ele estivesse desesperado
assim.

“Daqui a vinte minutos estarei aí.”

E cedi mais uma vez, demonstrando a fraqueza que Hugo me causava.


Toda minha promessa de me afastar precisou ficar de lado, até que ele
dissesse o que estava precisando.

Depois disso, seria o fim. Até que meu irmão e minha mãe me deixassem
em paz.

Dirigi ansiosa, apertando o volante com força enquanto a enxurrada de


pensamentos me atingia. Ensaiei as palavras que diria a ele, o encerramento
dos encontros que eu queria que fosse temporário, porém não tinha como dar
certeza a ele quando tudo estava uma bagunça. Eu não podia permitir que sua
vida ficasse ainda mais caótica.
Estacionei o carro e entrei no elevador com o coração batendo forte e
fechando minha garganta com um sufocamento estranho, doloroso, como há
tempos eu não sentia.

Permiti me apegar ao Hugo, que ele entrasse na minha mente além do


necessário. Havia falhado em me manter firme, o que era péssimo.

Girei a chave na fechadura e entrei, estranhando tudo escuro, entretanto,


não demorei a perceber o que estava acontecendo.

Velas espalhadas pelo lugar.

Balões vermelhos pendurados no teto.

Pétalas trilhando o caminho até a varanda.

O cheiro de comida boa.

E então Hugo, encostado na porta de correr, segurando um bolo mediano


com cobertura dourada e uma placa com meu nome do mesmo tom.

Abri a boca para falar algo, só não consegui.

Ele havia feito uma surpresa para mim.

— Feliz aniversário, linda. — Sussurrou por cima da vela que estava


faiscando e iluminando seu rosto lindo.

Eu nem sabia o que dizer, só que meu coração tinha aprovado o gesto.
Algo que ninguém, em todos meus anos de vida, havia feito para mim. Era
cafona, mas ainda assim lindo.

Entoando a canção, ele foi se aproximando, até parar à minha frente e


exigir que eu fizesse um pedido antes de soprar a vela. Apertei meus olhos,
sabendo bem o que eu queria, mas que jamais poderia ter.
Soprei, o coração saltitando no peito.

Olhei para ele, que estava com um sorriso estampando ainda mais a beleza
rústica.

— O que você fez? — Foi a primeira coisa que consegui pronunciar.

— Apesar de ter escondido essa informação de mim, consegui descobrir


por acaso, então não podia deixar passar em branco.

— Você é uma caixinha de surpresas.

Tirando o bolo do nosso caminho, ele me beijou suavemente, logo


colocando em cima da mesa e me convidando para me sentar à mesa da
varanda.

— Quando soube que ficaria sozinha, não pude deixar de preparar tudo
isso, apenas para que eu pudesse ser sua companhia.

— Ah, Hugo... sabe que isso daqui é...

Ele pousou os dedos sobre meus lábios, impedindo-me de prosseguir com


as desculpas que nem eu mesma acreditava mais.

— Não vamos falar sobre isso. Não hoje, pelo menos. Só aproveite o
jantar, o bolo e tudo o que preparei para sua noite.

Sorri, cedendo mais uma vez. Entraria na brincadeira, era como nossa
despedida, afinal.

— Pra quem nunca foi do tipo de ter relacionamentos, você está me saindo
um romântico.

— Bem, não é tão fácil como nos filmes e nem como vemos na internet,
mas deu para fazer algo decente. Para chegar perto do que merece.
Ergui a mão para tocar seu rosto lindo, onde demorei acariciando. Jamais
esqueceria o que ele significava para mim. Hugo era meu lado bom. Tudo o
que eu jamais seria.

— Isso é além do que estou para merecer. No entanto, estou ansiosa para
que me mostre o que fez de especial.

Sorrindo satisfeito ele se levantou e foi até a cozinha, logo trazendo o prato
com penne e o molho branco. O cheiro estava sensacional também.

— Não é nada como tem costume de comer, além de não ter feito a entrada
e toda aquela pompa que as pessoas te servem, mas o gosto eu posso te
garantir.

— Isso é o que importa.

Esperei que ele pegasse o dele e se sentasse à minha frente com o seu prato
também. Hugo estava tão empolgado e feliz, que mal sabia ele que, mais
tarde, eu partiria seu coração.

Dei a primeira garfada e trouxe até a boca, sentindo o gosto do molho,


levemente apimentado, misturado com queijo, orégano e algo defumado.
Realmente não era o que eu estava habituada.

Estava bom. Na verdade, uma delícia. Minhas dietas restritas me impediam


de experimentar esse tipo de cardápio, mas eu estava adorando sair da rotina.

— Espaguete à carbonara. — falou — Simples, mas é delicioso assim,


quentinho e molhado com o queijo derretido.

— Eu não lembro de já ter comido, de qualquer forma, devo concordar


com você.

— Os gêmeos amaram quando eu fiz. Vi a receita num programa de TV


semanas atrás, então resolvi experimentar e foi impossível não querer fazer
pra você também.

Lá estava o lado romântico novamente. Isso era perigoso demais, por isso
eu tinha que dar o basta mais cedo do que planejava. Isso doía em mim,
porque eu não queria.

Tentei disfarçar o incômodo no peito, a fim de evitar que ele percebesse


algo.

Comi, sem pausa, para evitar conversar. Entre as garfadas eu bebia um


pouco do vinho, torcendo para que a noite passasse devagar, que eu pudesse
aproveitar antes de ir embora sem olhar para atrás.

— Não fiz sobremesa, já que tem o bolo. — Comentou repartindo um


pedaço fino — Eu fiz. Talvez tenha mais chocolate do que você seja capaz de
ter comido por toda a vida.

Sorri da sua doçura, a maneira de me tratar. Se minha vida fosse diferente,


se estivéssemos no mesmo momento, eu certamente ficaria louca por esse
homem, faria de tudo para nunca o perder.

Na verdade, eu já era louca por ele. Eu precisava admitir isso pelo menos a
mim mesma.

— Daria qualquer coisa pelos seus pensamentos.

Fui pega desprevenida com seu comentário, mostrando que Hugo reparava
mais do que demonstrava.

— São tantas coisas, dilemas e medos, que eu só queria que meu mundo
fosse resumindo a isso daqui.

— E não pode? Bem, pelo menos por hoje. É sua noite, Beatrice, uma que
merece ter.
— E o que propõe para o desfecho? Porque você já me alimentou o
suficiente, agora me resta saber o que tem em mente para depois.

Um largo sorriso se ampliou quando ele se levantou, mexeu no celular


conectando no sistema de som e ligou, deixando a música suave ecoar através
dos alto-falantes do loft.

Hugo, com toda sua gentileza, ofereceu a mão para que eu o


acompanhasse, e o fiz, logo tendo meu corpo colado ao seu enquanto nossos
olhos apenas se devoravam.

— Quero que dance comigo, que lembre dessa música. Ouvi e só lembrei
da gente, da intensidade de tudo que estou sentindo. É do Jão, um cantor
nacional que eu gosto bastante de ouvir de vez em quando.

— A melhor escolha eu fiz quando vi você naquele site, seu rosto lindo e
sua decência quando nos encontramos no restaurante.

A letra da música preencheu meus ouvidos e coração à medida que Hugo


roçava os lábios nos meus, mas como a melodia era mais animada, ele me
surpreendeu quando me fez rodopiar.

Gargalhei, feliz, como há tempos não me sentia, deixando ser levada pela
dança, sacudindo de um lado para o outro com ele.

Seu rosto.

O olhar intenso.

A leveza no sorriso lindo com covinhas.

Eu apenas me soltei com o som e a presença do Hugo.

— Eu vou te amar como um idiota ama. — Hugo cantou, em alto e bom


tom.
Porém, sabendo que a letra me afetava, me impediu de abrir a boca ou
pensar em uma resposta, empurrando os lábios contra os meus em um beijo
intenso que roubou meu ar e juízo.

Tentei ignorar os efeitos que o momento e a canção estavam causando em


mim, decidindo apenas aproveitar enquanto eu o tinha assim, em meus braços,
me adorando.

Já era fato que ele havia se tornado o mais especial entre todos eles,
durante toda a minha vida. De homens mais jovens à mais velhos, ninguém
conseguiria superar o que Hugo estava sendo para mim.

A ingenuidade, simplicidade, a forma doce e gentil de me tratar e em como


ele havia trazido mais luz e cor para meus dias tenebrosos.

Parei o beijo para sorrir, algo natural, exibindo minha intensa felicidade,
por mais momentânea que fosse.

— Me tome pra você, Hugo. A noite toda.

— Seu pedido é uma ordem.

Seus dedos, já nas minhas costas, apenas deslizaram para o zíper do


vestido, descendo lentamente até que minha pele estivesse despida e pronta
para os seus toques macios.

Dedos calejados moveram-se em círculos conforme a peça de roupa ia


caindo aos meus pés. Ele me encarava enquanto isso, como se a vida dele
dependesse de nós dois assim, juntos.

Depois foi a vez do sutiã ser largado de lado, expondo meus seios com os
bicos arrepiados.

E abandonando minha boca, ele começou a descer a dele, trilhando o


caminho por meu queixo, pescoço, entre os seios, barriga... até perceber que
ele já estava de joelhos, as mãos apoiadas nos meus quadris.
Arfei, zonza, enquanto seus lábios acariciavam minha virilha, deixando
beijos molhados e suaves, mas capazes de incendiarem meu corpo por
completo.

— Peça, Beatrice. Diga o que quer, com seus modos nada elegantes
quando estamos na cama, que eu faça com você.

Passei os dedos entre os fios macios dos cabelos negros, excitada demais
para pensar direito.

— Arranque minha calcinha e me foda com sua boca.

Minha ordem foi acatada quase que imediatamente, pois Hugo puxou o
tecido, dessa vez obtendo êxito na primeira tentativa, largando de lado o trapo
que havia se tornado minha calcinha.

Precisei morder o lábio para conter a vontade de gritar quando ele lambeu
minha entrada, mergulhando a língua nas dobras encharcadas por causa dele.

Não demoraria para gozar, pois nem mesmo precisava de muito contato
para que Hugo tivesse esse efeito sobre mim.

Estremeci e deixei que ele continuasse esfregando a língua no clitóris e o


queixo com a barba que fazia cócegas na minha pele.

— Oh, Hugo... eu estou tão perto de gozar.

Em resposta, ele enterrou os dedos dentro de mim, nada gentil dessa vez.

— Venha na minha boca, linda. Quero ter tudo de você comigo.

Não seria difícil. Ele já tinha roubado boa parte de mim. Só não precisava
saber.
Rebolei contra sua língua e queixo, os dedos se movimentando dentro de
mim, quase atingindo o ponto exato que me faria desmaiar de excitação.

Meu ventre contraiu em contragolpe, levando-me a tontear quando sua


mão mergulhou ainda mais, quase levando a palma junto, me arregaçando
devagar.

E vi estrelas.

Debati-me descontrolada com o orgasmo que me atingiu em cheio, quase


me fazendo cair para trás por mal conseguir me manter de pé com as pernas
bambas.

Contudo, ele foi rápido ao me segurar, me pôr nos braços e levar escada
acima, deitando-me sobre a cama macia que já tinha o cheiro, a marca e cada
lembrança dele.

Desesperada, abri o zíper da sua calça e livrei sua ereção, que saltou dura
entre minhas pernas.

Ele sorriu.

Eu também.

Efeitos que ambos causavam um no outro.

Arranquei sua camisa ao mesmo tempo em que ele ia deslizando para


dentro de mim novamente, dessa vez, substituindo os dedos por seu cacete
inchado, pronto para me foder da maneira como Hugo já estava fazendo há
tempos.

Não consegui controlar o gemido quando ele me tomou por completo,


apertando meu rosto com as mãos suadas.

— Eu poderia parar o tempo aqui, exatamente dessa forma.


Meu coração bateu tão forte que poderia facilmente rasgar meu peito com
a pressão.

Arqueei as costas, pronta para ter mais dele enquanto nossas bocas
começaram a se devorar, ensandecidas, descontroladas e... apaixonadas.

Assim, nos seus braços, fui tomada por uma onda de prazer e paixão que
nunca havia sentido antes. Fez com que eu me sentisse normal, longe de ser
alguém que pagava por sexo. Apenas uma mulher se entregando ao amado.

O beijo foi de caloroso a lento, um leve roçar suave, nossos olhares se


cruzando e arrancando todo o ar do meu peito.

Isso teria fim.

Nossa última noite.

Afastei a dor e deixei que outro sentimento substituísse. Nada estragaria


nossas últimas horas juntos.

Envolvi minhas pernas em sua cintura e apertei, puxando ainda mais para
perto de mim.

Eu também queria que o tempo parasse.


Amanheci já passando a mão ao meu lado da cama que, estranhamente,
já estava vazio. Resmunguei chateado por não ter tido a oportunidade de vê-
la logo cedo depois do sexo incrível que tivemos durante a madrugada.
Ao longo do tempo em que estávamos juntos no contrato nunca
havíamos dormidos juntos, exceto agora, e com a viagem por Fortaleza,
uma que eu jamais esqueceria. Tínhamos compartilhado a cama do hotel
para dormir, também a do barco, o que me deixava ainda mais próximo da
mulher que sempre estava disposta a vestir uma armadura contra o que
poderia vir a sentir por mim.

Espreguicei-me para despertar e ir à sua procura, mas não demorei ao


ver Beatrice sentada na cadeira de frente à cama, já arrumada, uma xícara
de café na mão e um olhar que me deu um nó no estômago.

— Bom dia? — Quebrei o silêncio — Algum motivo para estar acordada


tão cedo?

— Precisamos conversar, Hugo.

Pelo tom que usou, a maneira como estava me encarando, já sabia que
não seria o tipo de conversa que me deixaria feliz. Por isso me sentei na
ponta da cama e esperei, já aflito com o que viria a seguir.

— Fale de vez, por favor.

— Não apenas a noite de ontem foi incrível, como todos os dias em que
passamos juntos, pois você encheu de cor minha vida tão corrida e solitária.
Assim mesmo, com tudo o que representou para mim durante essas
semanas, tenho que encerrar por aqui o nosso contrato.

Uma onda de gelo atingiu minha coluna, causando calafrios por todo
meu corpo, seguido por uma sensação angustiante na boca do estômago e
coração.
Abri a boca algumas vezes, fechando logo em seguida, sem consegui
pronunciar uma palavra sequer.

Ela estava me deixando.

Acabei lembrando da nossa dança, as risadas, em como tínhamos dado


uma leveza única para o nosso momento ontem. Achei, por um instante, que
ela mudaria, que acordaria de uma maneira diferente das outras vezes.

— Não se preocupe com sua irmã, pois continuarei pagando pela


internação até que ela se recupere. Também vou mandar cesta básica e
algum dinheiro para que pague as contas necessárias enquanto estuda e
consegue um emprego, e...

Não permiti que ela continuasse logo ficando de pé e soltando um


xingamento enquanto rodava pelo quarto em busca de uma bermuda. Ainda
estava pelado. Tinha apenas feito um asseio e dormido logo após o sexo.

Quando encontrei, me vesti e parei do outro lado, alguns centímetros de


distância dela, que parecia uma estátua, parada e sem expressão enquanto
me dava um pé na bunda.

— Por quê? — Indaguei frustrado.

— Já passou da hora. Você está apegado demais, indo exatamente contra


o que pedi desde o começo.

Soltei uma risada, quase que desacreditado no que tinha acabado de


ouvir.

— Você só pode estar de brincadeira comigo.

— Pareço mesmo estar brincando?

Não. Não mesmo.


— Que porra! Ontem mesmo você estava aqui comigo. Estávamos bem,
em algo natural, se entregou quando a merda do mundo estava lá fora... e
agora simplesmente me diz que acabou?

— Sempre soube que esse momento chegaria.

E lá estava a Beatrice durona, arrogante e fria, que não demonstrava


estar machucada como eu. Pelo contrário, sua aparência continuava a
mesma de sempre, o nariz empinado e o queixo em pé.

— Fala a verdade, Beatrice. O que está acontecendo pra que tenha


mudado tanto assim? Algo não se encaixa nessa sua desculpa.

—Aconteceu que eu preciso respirar um pouco, mudar de ares e focar no


meu trabalho.

Deus, ela não sentia nem mesmo remorso?

—Eu não significo nada pra você, então?

Doeu perguntar. Minha garganta estava fechada e a boca seca.

— O que você esperava? Que eu te pedisse em casamento?

— Caralho! — gritei mais do que esperava — Eu nunca quis dar razão


para aquele merdinha que você pagava antes de mim, no entanto, vejo que
ele falou exatamente o que está me mostrando.

— Essa sou eu de verdade. Uma pessoa que machuca os outros, que se


coloca sempre em primeiro lugar. Então precisa entender de uma vez por
todas que não quero mais me envolver com você.

Sacudi a cabeça, machucado, magoado e decepcionado. Porém, algo


ainda dizia que ela estava falando isso tudo da boca para fora. Não tinha
como alguém mudar da água para o vinho tão rapidamente.
— Não te conheço tanto assim, já que não me deu brechas para isso,
ainda assim sei que não quer de verdade. Ou não se preocuparia em manter
Heloise na clínica.

— Não sou um monstro também. Sei que precisa, que merece um pouco
de paz na vida.

— E acha que me machucando assim está me oferecendo isso?

— Não, pelo contrário, pois sei que quanto mais longe de mim estiver,
mais feliz será. Não sou uma boa pessoa pra você, Hugo. Nunca serei.

— Isso quem decide sou eu.

E eu escolhia a Beatrice, independente de qualquer coisa.

— É inexperiente, nunca teve namoradas, relacionamentos, está longe de


saber como funciona de verdade. O que tivemos foi o sexo, a química, mas
era algo que já estava fadado ao fim.

— E se eu estiver disposto a tentar?

Tinha jogado o último resquício de dignidade no lixo com esse


argumento. Uma tentativa de mudar sua decisão.

Ela ficou de pé, ainda mantendo a distância de mim, como se eu fosse


fazer algo para impedi-la. E sim, estava prestes a fazer isso antes dela falar.

— Pra que possa tentar, é preciso ter a certeza de que o lado de cá está
querendo ceder, mas eu não estou. Não gaste suas energias, Hugo. Apenas
arrume suas coisas e vá embora de vez.

E saiu, simplesmente me dando as costas como se não tivesse jogado


uma bomba sobre minha cabeça.
Com o baque, eu me sentei de volta na ponta do colchão e abaixei a
cabeça, apoiando-a nas mãos trêmulas.

Senti a primeira lágrima cair, depois vindo acompanhada de mais e mais,


que se tornaram intensas como uma maldita tempestade.

Coloquei tudo para fora, pois minha alma necessitava disso.

Meu coração estava partido.

Minha cabeça doía, assim como o coração.

Eu não conseguia acreditar que ela havia mesmo me deixado.

***

Foram as piores horas que passei depois de conhecer a Beatrice. De tudo


de bom que ela tinha representado na minha vida, só restava dor e mágoa,
porque meu peito estava com um buraco enorme deixado por seu abandono
e frieza.

Ela nem mesmo quis mais conversar. Apenas jogou toda sua sinceridade
crua e nua, e se foi.

Se eu tivesse escutado aquele filho da puta do Marcus, talvez não


estivesse assim. Quem me garantiu que eu era especial?

Na tentativa de recolher os cacos que sobrara do meu coração, soltei um


longo suspiro ao observar uma última vez o loft, que me dava lindas
lembranças dos nossos momentos. Apressei para sair o mais rápido
possível, sem mesmo olhar para trás novamente.

Se era o que ela queria, não me restava nada a fazer.

A partir desse momento, eu só precisava me recuperar e conseguir uma


maneira de me sustentar e não permitir que ela mandasse dinheiro para mim
ou as crianças.

Já sobre Heloise, eu ainda tinha que agradecer por ela manter a ajuda.
Bem, até que ela se recuperasse e, finalmente, meus laços com Beatrice se
rompessem de vez.
Capítulo 27
Meus dias estavam horríveis. O humor do cão, mal me alimentava e
lutava contra a necessidade de ligar para ela e pedir que me desse mais uma
chance. Tolo, idiota e frouxo, era isso que eu tinha me tornado.

Dulce havia tentado conversar comigo, aconselhar, mas em todas as


vezes deixei claro que não estava pronto para uma conversa, pois não queria
mais me permitir desabar ao lembrar das duras palavras e toda a frieza que
acompanhou Beatrice naquele dia.

Durante as semanas que ficamos juntos consegui economizar um pouco,


mas nada que durasse muito, pois eu tinha dívidas com a companhia de
água e luz que precisei quitar, além das telhas extras que comprei e alguns
serviços pequenos. Nunca imaginei que duraria apenas alguns meses, que
logo ela cansaria de mim.

Afastei o desconforto quando saí de casa para ir fazer a primeira visita a


Heloise. Eu sabia que ela não queria contato comigo, pois havia recusado as
ligações quando tentei entrar em contato, mas precisava ao menos vê-la
pessoalmente para ter certeza da sua situação.

O Sr. Moroni, advogado e amigo da Beatrice, estava me esperando no


carro a alguns metros da minha casa. Ele que me levaria até ela, por mais
que eu tivesse dito que não havia necessidade.

Abri a porta ao lado do motorista e sentei-me, quieto, sentindo meu


corpo inteiro rígido. Tudo era uma lembrança dela, mesmo que eu lutasse
para manter longe dos meus pensamentos.

— Foi melhor assim. — O comentário dele quebrou o silêncio.


Coloquei o cinto e passei as mãos suadas na calça jeans.

— Não quero falar sobre ela.

— Certo. Vou respeitar sua decisão, principalmente por ser a melhor


opção. Logo vai ficar bem e seguir sua vida.

Assenti com a vista borrada. As malditas lágrimas estavam querendo


sair.

Durante o percurso fiquei da mesma forma de antes, exceto quando


precisava responder as instruções do advogado sobre a Heloise, que eu
tinha que ser compreensível, dar o espaço que ela necessitava, pois ainda
estava começando com o tratamento.

A viagem longa, durou uma hora, já que a clínica ficava em uma cidade
ao lado, na área mais aberta e com a natureza ao redor, longe de toda a
confusão que era a cidade grande.

Desci do carro admirando o lugar, que tinha verde por todo lado, o vento
fresco, sons dos pássaros e o cheiro de planta que dava uma calmaria
surreal. Nem por toda a minha vida eu conseguiria colocar Heloise em um
lugar desse com o dinheiro que eu ganhava antes da Beatrice.

Porra! Além disso tudo, eu tinha que ser grato por ela continuar
honrando os pagamentos da clínica onde Heloise estava internada.

Ainda restava algo naquele coração de pedra?

O lugar era realmente muito bonito. A entrada com caminho de pedras e


rodeado de árvores dava uma sensação de paz. Fomos recebidos por uma
mulher jovem e simpática, que nos cumprimentou e nos pediu para
acompanhá-la.

— Como minha irmã está? — perguntei enquanto andávamos para a


parte do jardim, onde alguns já estavam passeando.
— Ela tem sido uma paciente complicada como a maioria que vem.
Estar na reabilitação, aceitar que precisa de ajuda, é algo que demora a
penetrar na alma deles.

— Ela sabe que estou aqui?

— Sim. Jamais forçamos visitas, ela pareceu um pouco animada ao saber


disso.

Balancei a cabeça em concordância.

Senti a mão do advogado bater no meu ombro quando a mulher apontou


para onde ela estava. Meu coração bateu forte ao ver Heloise sentada em
um banco no jardim. As pernas dobradas, os pensamentos longe, o cabelo
preso em um rabo de cavalo e limpa. Coisa que há muito tempo eu não via.

Caminhei até ela, sem chamar muita atenção, até ser notado.

Seus olhos escuros me analisaram com cautela, e pude ver as feridas que
estampavam no seu o rosto, oriundas do tempo em que esteve exposta ao
sol, as drogas e a todo sofrimento que ela vivenciava durante anos.

— Posso me sentar com você? — Indaguei apontando para o espaço


vazio ao lado.

Não houve uma resposta verbal, apenas um aceno discreto.

Ficamos em silêncio por um tempo, aproveitando a vista da paisagem, o


vento natural e o cheiro de plantas. Não era como se eu não tivesse assunto
para conversar com ela, mas depois de tantos anos, brigas, mágoas,
problemas... não conseguia ser um irmão como qualquer outro.

Assim mesmo, tomei a iniciativa quando a encarei.

— Estou feliz por te ver bem.


Vi quando seu peito subiu e desceu em uma respiração pesada.

— É difícil estar em um lugar como esse, cheio de pessoas


desconhecidas, com outra realidade, ser obrigada a seguir regras. Eu sinto
falta da minha liberdade.

— Foi para o seu bem, minha irmã.

Ela sorriu em resposta. Um sorriso levemente sarcástico.

— Às vezes acho que fez isso para se livrar de mim. Sabe, sua vida se
torna mais fácil sem um peso de uma drogada.

Engoli em seco, sentindo o coração doer com as palavras dela.

— Fiz isso por você e as crianças.

— Não te pedi, em momento algum, pra ficar com elas. Sabe que não
tenho amor pelas crianças. Foram um acidente, algo que eu nem queria
seguir em frente. Se você tivesse entregado os dois em um abrigo eles
seriam mais felizes e não teriam a vida miserável que nós dois temos.

— São crianças, têm meu sangue, eu jamais os abandonaria.

— Porque tem esse lado de bom samaritano. Só não esqueça que somos
fodidos, não temos onde cair mortos, é injusto deixar os dois nisso.

— Sim, não está mentindo. Mas não acha que posso mudar essa
realidade? Fazer de tudo para que eles tenham uma vida melhor?

Heloise ficou de pé, poucos centímetros de mim e me encarou com o


olhar transtornado.

— A que preço está lutando por eles? De onde vem o dinheiro? Essa
clínica não é barata, você sequer tem um emprego fixo.
— Isso não vem ao caso.

— Meu Deus, Hugo. Sinceramente? Vai viver sua vida e esqueça das
responsabilidades que não são suas. Nossa mãe era uma drogada como eu,
nosso pai, um vagabundo qualquer. Vai querer se rebaixar também?

Ela parecia saber no que eu tinha me metido, por mais que eu não fosse
confirmar.

— Não importa a forma, mas não se preocupe, não é nada ilegal.

— Tem esperanças de que eu saia bem daqui? Não. Estou melhor sim,
sem as drogas, apenas com a abstinência, noites com pesadelos terríveis e
suores frios, só pensando em dar um fim nisso tudo. Não faz ideia do que
passei durante esses anos. Então, tudo o que está fazendo é em vão. É
momentâneo. Não aguento viver lúcida por muito tempo.

As palavras me deixaram preocupado, sabendo que eu poderia esperar o


pior dela.

Fiquei de pé, agarrei seus ombros e fixei os olhos nos dela.

— Se dê uma chance. Posso ajudar a enfrentar tudo, Heloise. Só não


desista do que estou fazendo apenas pra você ficar bem.

Em resposta, Heloise deu duas batidinhas na minha bochecha e abriu um


sorriso curto, quase forçado.

— Não se iluda, Hugo. Você precisa romper esse cordão que nos liga.
Não me importo com você, com as crianças e com nada do que minha vida
miserável tem a oferecer. Só siga em frente.

E simplesmente se afastou, caminhando para longe, em direção ao


interior da casa.
Desabei no banco, cansado e perturbado com tudo o que ela havia dito.

Minha irmã não tinha intenção de se recuperar.

Eu só queria que ela se tornasse outra pessoa, uma melhor. Por ela, pelos
meninos... por tudo que a vida poderia oferecer se ela ao menos tentasse.
Alguns dias haviam se passado desde o ocorrido. Eu não conseguia
esquecer seu olhar magoado, a insistência, o tanto que ele havia
argumentado para que eu desistisse da decisão. E sim, por pouco ele não
tinha conseguido, pois me deixou destruída ver o que eu estava fazendo
com ele.

Era necessário. Foi o que eu sussurrei para mim mesma durante esses
dias depois do rompimento. Hugo não precisava da loucura da minha vida,
nem da falsa esperança de que poderíamos ficar juntos no final, como uma
história clichê de romance.

Um bom rapaz, honesto, lindo e gentil, logo encontraria alguém que o


merecesse mais do que eu. E constatar isso me fez sentir uma dor
imensurável no coração. Não queria que ele se apaixonasse por outra
pessoa, nem que entregasse os beijos e o corpo, a ingenuidade e o calor que
emanava dos seus poros.

Queria que Hugo fosse meu, de mais ninguém, porém, sabia que isso não
era possível. Mundos diferentes, a idade, as pessoas que fariam de tudo para
acabar com a paz de uma família que já passava por tanto.

Minha mãe e Benício precisavam esquecer dele e focar apenas em mim e


na maldita contestação do testamento. Por isso o fim.

Doía em mim, mas com toda certeza, estava sendo pior para ele, já que
tudo era novo demais. No entanto, o rompimento era melhor do que pessoas
ambiciosas dispostas a tudo para infernizarem a vida dele e dos sobrinhos.

Isso me confortava um pouco.

Minha semana havia sido preenchida com trabalho e álcool durante as


noites solitárias, como a rotina costumeira.

E, estranhamente, minha mãe e Benício estavam quietos demais, ao


ponto de me deixar assustada, pronta para o ataque que viria de qualquer
lado.

Temia tanto por Hugo, queria saber como ele estava, se me odiava ao
ponto de achar que eu não me importava com ele.

Porque, porra, eu me importava pra cacete!

Voltei a me afogar nos relatórios que precisava aprovar para tentar


esquecer que minha vida tinha se transformado em uma confusão que eu
sempre fazia de tudo para evitar.

Fiquei na empresa até tarde da noite e, quando todos se foram; sobrando


apenas a segurança do lado de fora, peguei minhas coisas para ir embora.

Precisava ir para casa, abrir uma garrafa de vinho e dormir o máximo


que pudesse. Minha cabeça estava um caos.

Despedi-me do vigilante e saí, arrancando pneu, rumo ao meu


apartamento, ansiosa para chegar logo e me ver sozinha, presa na minha
redoma e poder ser eu mesma.

Estava com raiva do mundo, especialmente do Benício, minha mãe e


Marcus. Tudo parecia conspirar contra mim. Eu conseguia ver a satisfação
do meu pai assistindo minha derrocada, divertindo-se às minhas custas.

Soquei o volante várias vezes. Estava tão perdida no meu ódio, que
demorei a perceber que estava sendo seguida por um carro preto com vidros
fumê.

No primeiro momento, fiquei na dúvida. Podia estar confundindo, estar


cansada demais para ter reparado de onde ele saiu. Por isso desviei o
caminho, entrei em ruas que não tinha costume, mas ele permanecia atrás
de mim.

Acelerei, sentindo as mãos suando frio.


Olhei para a bolsa, meu celular que estava dentro dela. Eu sempre
deixava conectado no sistema do carro, então usei a voz em um tom claro
quando ordenei que ligasse para a polícia.

Demorou poucos segundos para o aparelho obedecer ao comando.


Um clarão ofuscou minha visão através do retrovisor, me fazendo,
brevemente, perder o controle. Botei o carro na pista novamente e ouvi a
mulher do outro lado.

A voz era apenas um sussurro, não conseguia prestar atenção, apenas


atentar ao carro que se aproximava cada vez mais, por mais que eu
acelerasse. Meu carro estava quase a cem por hora.

Uma batida.

— Estou sendo seguida. — Avisei aos gritos.

Não ouvi a resposta.

Mais uma pancada.

A mulher me chamou, perguntou meu nome e localização. Nada saía da


minha boca.

Desviei, tremendo, incapaz de responder e pedir ajuda urgente.

Até um estampido ecoar e me fazer quase saltar do banco.

Um tiro? Era a porra de um tiro!

Dois, três... gritei novamente.

Tentei identificar a avenida em que eu estava, não conseguia. Minha


visão estava borrada pelas lágrimas do medo, da tensão, da morte que
estava batendo à minha porta.
Fui fechada de repente, sendo obrigada a frear bruscamente.

Travei as portas, olhei para os lados, vendo os homens descendo do carro


e vindo na minha direção. Tudo se tornou um eco quando mais um disparo
foi dado no vidro.

Era blindado, tentei ficar mais calma.

Porém, até onde aguentava?

Fiquei tonta, o resto do mundo lá fora ficando em segundo plano quando


comecei a aceitar que era meu fim.

Eu tinha perdido a batalha.

De uma forma cruel, injusta e violenta.

A última coisa que vi foi a imagem do Padre Cícero que balançava


pendurada no retrovisor e me fazia lembrar do Hugo.
Capítulo 28
Trabalho. Foi isso que me salvou durante todos esses dias. Fabiano tinha
sido de grande ajuda em um momento em que eu queria apenas esquecer.

Por mais que estivesse com raiva dela, todas as noites eu esperava
chegar em casa e ter alguma mensagem no meu celular me convidando para
o loft. O que não aconteceu. Nem mesmo uma ligação. Isso fez com que eu
murchasse, sentisse o coração ser partido aos poucos, como nunca tinha
acontecido. Magoado, tentei seguir minha vida normalmente, apesar de
chegar à noite, na hora de dormir, e só conseguir pensar nela e em como se
entregou a mim naquele barco, em um final de semana que eu quis, mais do
que nunca, que parasse no tempo.

Foi um dos melhores dias que passei com ela. Nós dois, o mar, o sexo, as
risadas, até mesmo seu jeito retrancado para se abrir sobre a vida pessoal.
Eu não me importava, contanto que estivesse com ela.
Agora só restavam as lembranças.

O único sinal que ela deu de ter lembrado de mim foi quando enviou um
pacote por um entregador.

Eram kits da sua marca com produtos infantis para os meninos. Perfume,
sabonetes, shampoos... um kit para cada, personalizado com o nome deles.
Recebi o meu também, só não fiquei feliz como os dois pestinhas, que
enlouqueceram com o presente mesmo sem saber quem os tinha enviado.

— Uma amiga do titio. — Foi o que disse a eles.

Cada vez que a lembrança dela surgia na mente, minha garganta fechava.
Assim também era com Heloise, que me deixava com frio na barriga só de
pensar que, a qualquer momento, eu receberia uma notícia ruim.
Ainda me confortava saber que ela estava na clínica. Trancada e segura.

Desliguei por um tempo, entrando com os meninos em casa e indo para a


cozinha preparar a mesa enquanto eles lavavam as mãos.

Estava servindo o jantar quando Igor deixou a tv ligada no jornal local.


Ele se sentou ao lado da irmã e começaram a conversar animados sobre
algo que ocorreu na escola, e eu até tentei participar do papo, mas ao ouvir
o nome que a âncora do programa citou, meu coração bateu mais forte do
que deveria.

Beatrice Campello.

Larguei a colher, corri para frente do aparelho e aumentei o volume,


estarrecido e ansioso ao ler a manchete descrita na parte de baixo da tela.

“Empresária Beatrice Campello, herdeira da Fuller Beauty, é alvo


de emboscada e tentativa de homicídio.”

Senti meu coração amolecer, tanto que precisei me sentar no sofá e


buscar controlar a respiração. Ela quase havia sido assassinada, porra!

A repórter estava entrevistando o delegado, que contou sobre o ocorrido,


o atentado que quase ceifou a vida da mulher que não era apenas quem
tinha me ajudado a ter uma vida melhor, mas que era a dona do meu
coração.

Vários disparos haviam sidos feitos em direção ao carro que, por sorte,
era blindado e evitou que uma tragédia acontecesse.

— Você tá bem, titio? — Igor perguntou, me observando preocupado.

— Sim, é algo no trabalho, meu bem.


O que não era uma mentira. Contudo não era o fato dela ter sido minha
contratante que me deixava assim, era ela ter uma importância que jamais
deveria ter tido na minha vida.

Com o estômago embrulhado demais para comer, busquei pelo meu


telefone e cliquei no nome dela, esperando que começasse a chamar. Pelo
que anunciava no telejornal, o crime tinha ocorrido ontem, pela parte da
noite. Ela já devia estar em casa.

Chamou até a ligação cair. Tentei por cerca de dez vezes mais, as mãos
tremendo e o suor frio descendo pela minha testa.

Cacete! Por que diabos ela não estava me atendendo? Eu só queria saber
como ela estava.

Desesperado, recorri ao advogado, que tinha me dado um cartão com seu


número.

Vasculhei por minhas coisas, tão nervoso que parecia prestes a surtar de
agonia. Tudo conspirava contra, pois nem mesmo o maldito cartão estava
aparecendo.

Minutos intermináveis se passaram até que o encontrei dentro de um


livro antigo que ficava no rack. Minha vista embaçada me atrapalhou para
conseguir identificar os números.

Precisei de três tentativas até obter resposta do outro lado.

— Sr. Moroni, sou eu, o Hugo Bertolini.

— Eu sei, meu jovem.

Esfreguei o rosto, ainda tenso com o coração palpitando.

— Eu vi o que aconteceu.
— Foi um susto enorme. Beatrice está em choque com o ocorrido. Estive
com ela mais cedo, no momento está descansando.

— Preciso vê-la, sr. Moroni.

Ouvi seu suspiro forte.

— Melhor ficar por aí mesmo, Hugo. Acabou, meu jovem. Siga sua
vida.

— Que se foda! — Falei o mais baixo que pude — Não me importo se


ela não quer, mas só vou me sentir bem depois de vê-la pessoalmente.

— Ninguém pode ter acesso ao endereço dela. Não é à toa que existe o
loft.

— Olha, eu sei que passarei dos limites depois de ir ao seu refúgio, que
ela ficará muito brava, muito provavelmente me destratará e me colocará
para correr por não atender seu desejo de me afastar, porém prefiro correr o
risco a ficar aqui às cegas, sem notícias dela.

Meu peito estava estilhaçado de angústia. Quando me dei conta, já era


tarde demais e estava inequivocamente apaixonado e completamente
rendido pela mulher que tinha me largado há poucos dias.

— Hugo, por favor, fique longe dela. Beatrice não faz bem a você.

— Agradeço a preocupação, mas preciso do endereço dela. Não me


impeça de ir até lá, por favor!

— Jesus! Você não faz ideia de onde está se metendo. — Bufou — Pode
deixar, vou passar por mensagem. Só não esqueça que, mesmo com o
endereço, vai precisar da autorização dela para entrar no prédio.

Com isso eu me viraria depois. Uma coisa de cada vez.


—Não sei como agradecer.

— Sabe sim, cuide dela por mim.

Com a ligação encerrada, esperei longos segundos até que o bip soou e
vi o endereço, que ficava localizado do outro lado da cidade, no litoral.
Local de refúgio da minha deusa cabeça dura.

Deixei os meninos jantando e saí para bater na porta da Dulce, que não
demorou a me atender.

— Aconteceu alguma coisa, homem? Você está pálido! As crianças estão


bem?

— Sim, estão. Foi um problema grave no serviço, no prédio onde


trabalho. A senhora pode ficar com os meninos? Se quiser jantar, acabei de
fazer.

Com o olhar semicerrado ela aceitou, trancando o portão atrás de si e me


acompanhando.

— Vá resolver seus problemas, não se preocupe que ficarei vendo TV


com eles.

— Obrigado. Muito obrigado!

Dei um beijo em cada um deles, que gritaram animados quando viram a


vizinha e a puxaram até a mesa, oferecendo o jantar. Enquanto eu, corri
para pegar minha carteira e correr atrás de um moto Uber que me levasse
até o endereço indicado.

Quinze minutos depois eu já estava a caminho, ainda mais nervoso do


que antes.

Eu só queria ter certeza de que ela estava intacta.


Desci em frente ao prédio de luxo e paguei a corrida. Apesar de estar
acostumado com os exageros da vida dela, ainda me surpreendi ao ver o
local onde ela morava.

Um prédio com mais de dez andares, fachada de vidro espelhado e


cercado por paredes também de vidro e com um belo jardim do lado de
fora. O mar ficava logo à frente, com algumas pessoas caminhando no
calçadão e carros de luxo estacionados do lado de fora.

Caminhei até o portão de alumínio e cliquei no número do apartamento


dela, como esperado, ouvindo tocar até cair. Nenhuma resposta.

Acenei para o porteiro, que desceu da guarita e veio ao meu encontro.

— Preciso falar com a Beatrice Campello. Sou um amigo, estou


preocupado com ela.

— É, o que aconteceu deve ter sido um baita susto. Me desculpe, mas


não posso liberar sua entrada. Ninguém tem acesso livre ao apartamento
dela.

Claro que ela faria isso. Sempre fechada, reclusa, se protegendo de tudo
e de todos, jamais cederia assim.

Peguei o telefone e liguei mais algumas vezes, sempre da mesma forma.


Não desisti, segui apertando no botão do interfone, até ouvir sua voz do
outro lado.

— O que foi? — Perguntou ríspida.

— Sou eu, Beatrice, o Hugo.


Ouvi o xingamento que ela soltou.

— O que está fazendo aqui?

— Soube do que aconteceu, não teria paz até te ver pessoalmente.

— Não deveria estar aqui, nem mesmo ter meu endereço.

Minha humilhação era totalmente assistida pelo porteiro, que não


disfarçava a curiosidade.

— Tarde demais, Beatrice.

E então ela desligou, não me dando mais chances para rebater ou


implorar.

Ao menos ela estava viva, isso que importava. Assim mesmo, eu queria
ver de perto.

Agradeci ao porteiro e comecei a me afastar quando ouvi o toque do


telefone dele na cabine.

Quando eu estava prestes a atravessar a rua, o homem me chamou.

— Venha, ela liberou sua entrada. Parece que é importante demais para a
senhorita Campello.

Não contive o pequeno sorriso de satisfação.

Entrei no prédio o mais rápido que pude, já esperando que ela me


mandasse voltar antes mesmo de eu ter chance de me acalmar. Subi até o
décimo segundo andar e andei até o final do corredor, onde ficava a porta
do seu apartamento.
Nervoso, toquei a campainha e esperei até que ela viesse ao meu
encontro.

Dei de cara com outra mulher quando ela abriu a porta. Uma diferente do
que eu estava habituado.

Olhos, inchados, maquiagem borrada, a roupa amarrotada e o cabelo


preso em um coque no alto da cabeça.

Beatrice estava um caos. E quando seus olhos fitaram os meus, consegui


enxergar a dor que ela estava sentindo.

Esperei ser chamado atenção por ter invadido seu espaço pessoal, por ter
burlado suas fodidas regras, porém, me surpreendi quando ela veio na
minha direção e me abraçou.

Não apenas isso.

Beatrice desmoronou nos meus braços e começou a chorar


incansavelmente.

Apertei seu corpo contra o meu e desejei poder tirar tudo o que ela
estava sentindo.

Vê-la sofrer partia meu coração.


Capítulo 29
A sensação era de ter renascido.

Quando eu via reportagens, relatos sobre uma quase morte, achava uma
bobagem além do susto, mas depois do que vivi na noite anterior me deixou
em choque, completamente inerte e perdida nos pensamentos de que, por
pouco, eu não amanheci dentro de um caixão.

Passei a madrugada inteira na delegacia. Precisei tomar algumas gotas de


calmante para conseguir conversar e contar sobre o ocorrido. Nem me
lembrava bem como eu havia sido salva, quem tinha impedido, só depois
que o policial me falou sobre uma viatura estar perto e ter escutado os
disparos.

Por um fio.

Meu carro estava com marcas da violência, os suspeitos estavam


foragidos e a placa do carro estava coberta; não tinha como ser identificada.
Só restava esperar uma investigação mais aprofundada, buscar pelas
câmeras espalhadas na cidade e a esperança de que pagassem pelo crime.

Ninguém foi me visitar além do Moroni e a Virna, que estavam em casa


quando souberam do ocorrido. Ambos eram as pessoas mais próximas de
mim e ficaram comigo até eu chegar em segurança em casa e apagar devido
ao remédio e o chá que minha assistente fez.

Fiquei trancada o dia inteiro. Traumatizada, a cada cochilo que


conseguia ter, despertava agitada, revivendo os momentos de angústia
durante os disparos sofridos. Estava fora de mim, e terminei por misturar
calmante com vinho, que muito provavelmente devia potencializar o
inferno que sofria.
No começo da noite meu interfone começou a tocar insistentemente.
Pensei na teimosia do Moroni, de achar que eu precisava de companhia,
quando tudo que eu queria era ficar sozinha.

E bem, era isso que eu achava, até descobrir que o Hugo estava na
portaria do meu prédio. Minha mente pediu que o mandasse ir embora, que
ele nem tinha que saber meu endereço, mas meu lado frágil, que precisava
de alguém, especialmente um homem que tinha tanta importância na minha
vida, avisou que eu cedesse. Que eu precisava do Hugo.

Nem mesmo esperei que ele entrasse, foi automático, me joguei em seus
braços, desabando em um choro esmagador que parecia estar preso desde
ontem.

Seu abraço me acolheu, tranquilizou e trouxe um conforto que eu nunca


havia sentido.

Ele apenas ficou comigo, em silêncio, permitindo que eu ruísse me


apoiando no seu corpo que exalava paz e calmaria. Fui pega de surpresa
quando ele me pôs nos braços, fazendo com que minha cabeça ficasse em
seu peito quente, o coração acelerado que eu só não escutava como sentia as
batidas contra meu ouvido.

Senti quando ele se sentou no sofá, ainda comigo no colo, afagando


minha dor, medos e trauma.

— Shi, linda, estou aqui. E vou ficar com você por quanto tempo
precisar.

Apertei os olhos sentindo as lágrimas continuarem a descer. Seu carinho


ainda existia, por mais que eu tivesse partido seu coração dias atrás.

Agarrei a camisa fina que cobria seu corpo, prendendo-me a ele como se
já não estivéssemos colados o suficiente.
— Achei que eu fosse morrer.

As palavras saíram acompanhadas com o amargor na boca, causando a


bile que tinha sido minha companheira desde que cheguei em casa pela
manhã.

Hugo subiu a mão e agarrou meu rosto, fazendo com que eu o encarasse.
Nesse momento não me importei em estar fragilizada e mostrar isso, em ser
fraca quando eu sempre mantinha a postura na frente de todas as pessoas.

— Graças ao bom Deus que está aqui e vai permanecer por muito tempo,
Beatrice. Não me assuste mais dessa forma. Por um momento, eu juro,
pensei que perderia você.

Virei meu corpo e me pus sentada em seu colo, uma perna de cada lado,
as mãos apoiadas sobre seus ombros e cara a cara, vendo seus olhos
apavorados me observando.

— Eu tô com tanto medo, Hugo. Me sinto tão vulnerável, fraca...


derrotada.

— É compreensível que esteja assim depois do que passou. Não se


acanhe por minha causa, por mais que tenha desabado, eu ainda vejo a
mulher corajosa aqui na minha frente.

Fechei os olhos quando ele tocou minha bochecha, acariciando devagar,


com carinho.

— Você não tinha que estar aqui, droga. — Comentei sem desejar que
ele fosse embora. — Acabou, gatinho. Não existe mais nós dois.

— Eu sei. Isso não me impede de me preocupar com você, de querer


cuidar e te ver bem.

Seu rosto estava abalado, as olheiras profundas e eu não enxergava


aquela alegria que tinha visto quando estávamos em Fortaleza. Eu era a
culpada por tê-lo deixado assim.

Como eu poderia ser boa para alguém como o Hugo?

— Alguns dias atrás eu mencionei sobre a necessidade de contratar


seguranças. Você se deu conta do que poderia ter acontecido? Eu não me
perdoaria por não ter insistido até que cedesse. Olha sua vida, Beatrice, não
pode andar tão vulnerável.

— Eu sei, eu sei. Meu pai sempre saía com seguranças, a diferença era
ele ser mais conhecido, o rosto estampado em todos os lugares, mas eu...
nunca pensei que chegaria a esse ponto.

— Sua vida inteira é exposta, tem dinheiro, poder, pessoas ambiciosas.

As palavras do Hugo foram adentrando minha mente, sua voz sendo


apenas um eco enquanto eu pensava, pensava e pensava. Tinha a
possibilidade de ser apenas sequestradores, obviamente, mas eu não
colocava minhas fichas nisso. Era coisa de inimigo, alguém que queria me
derrubar.

Pensei em todas as pessoas, cada uma desde o dia em que eu voltei para
o Brasil e tomei posse da empresa, no entanto, não foi difícil ter uma
suspeita maior: Marcus ou meu irmão. Os dois me odiavam e tinham me
ameaçado recentemente.

— Filhos da puta! — Xinguei numa maneira de extravasar o ódio.

— Sabe quem foi?

— Tenho minhas suspeitas.

Mais uma vez a discussão calorosa com Benício e minha mãe apareceu
como uma enxurrada. Estavam sabendo do Hugo e isso teria consequências.

— Minha mãe e irmão sabem sobre você.


Soltei de vez, vendo Hugo demorar para absorver o que eu tinha acabado
de contar.

— Isso é problema pra você?

— Pra mim, Hugo? — fiquei estarrecida com a indiferença dele — Isso


é terrível na sua vida. Não faz ideia do que eles podem fazer em troca da
ambição.

Porque ambos queriam dinheiro, mais do que já tinham. Usariam


qualquer artifício, por mais baixo que fosse, para me convencer a dar mais
da maldita herança. Nem assim era garantido ter o silêncio dos dois
traiçoeiros.

— É sua família, Beatrice.

— No sangue, sim.

Ao ver sua confusão, as sobrancelhas juntas em um vinco e a expressão


de quem não estava entendendo nada, me vi obrigada a contar um pouco.

Falei sobre o que Benício havia descoberto, o quanto de informações


sobre ele e inclusive referente a internação da Heloise. Acrescentei que
temia pela exposição das crianças e por sua reputação.

Eu nem mesmo deveria me importar, nunca ligava além do sexo, mas me


vi preocupada com o caos que a vida dele se tornaria com essa confusão.

— E por que não cede o dinheiro que querem e simplesmente os obriga a


ficarem em silêncio? Tem poder pra isso.

— Não darei um centavo a mais do que está disposto no testamento. Se


já não dava antes, agora muito menos. São dois sanguessugas, que não
trabalham e arrumam confusão.
— Vale a pena perder a paz pelo dinheiro?

Ele deixou para que eu pensasse quando me pediu licença e levantou


perguntando se eu tinha algo para chá, e quando confirmei, ele buscou pela
cozinha, me deixando sozinha.

Levantei-me para ir atrás dele, o encontrando ao pé do fogão colocando


a chaleira no fogo.

— Não é apenas o dinheiro. — Comecei enquanto me sentava na ponta


do balcão. — É sobre dar um jeito nessa família, em fazer com que tomem
juízo e meu irmão se torne pelo menos alguém responsável.

— Quais as chances de isso respingar nos meus sobrinhos?

Notei a verdadeira preocupação dele. Era como se, só no momento, ele


tivesse se dado conta de tudo.

— Só posso te dizer que há muitas possibilidades, mas farei o que for


preciso para evitar.

— Por isso terminou comigo?

Ele ainda tinha esperanças. Se ele soubesse que tinha tomado meu
coração, jamais me deixaria ir, contudo, eu precisava que ele não nutrisse
tais sentimentos.

— Em um momento esse dia chegaria, Hugo. Não ficaríamos juntos para


sempre.

— Foi ou não? Só me dê uma resposta sincera.

— Antecipei o rompimento por causa disso. Não quero que corra riscos,
que seus sobrinhos sejam atingidos, nem mesmo Heloise. Pessoas
ambiciosas são capazes de tudo por dinheiro.
— Como acha que conseguiram tantas informações? Alguém do seu
ciclo, provavelmente.

— Marcus, meu irmão, minha mãe... não sei. Só não acredito que minha
genitora tenha feito isso comigo.

— E suas amigas?

Sorri, quase como se não tivesse acabado de sofrer um atentado.

— Eu não tenho amigas.

Hugo virou-se para me encarar, ainda com a expressão confusa e tensa.

— Não é possível que não tenha alguém com quem desabafe seus
problemas, uma pessoa que faça companhia e sente para conversar ou
beber.

— Acredite em mim quando eu digo que não tenho, exceto pelo Moroni.
Voltei para o Brasil há poucos anos, não falava com ninguém além dele e
não confio nas pessoas, pois a maioria só se aproxima com interesses
próprios.

— Quem é você, Beatrice? Por que a cada vez que te encontro vejo algo
novo surgir? Preciso que se dispa para mim, não apenas fisicamente.

— É melhor assim. Não quero que se aprofunde nos sentimentos.

Hugo deu alguns passos para se aproximar de mim, afastando minhas


pernas e ficando entre elas, se acomodando e apoiando as mãos na minha
cintura.

— Você é mais esperta do que isso, sabe muito bem que eu não
enlouqueceria atrás do seu endereço, deixaria meus sobrinhos com a vizinha
e viria até aqui se eu não estivesse gostando de você.
— Mas não devia, Hugo.

Nem eu, por mais errado que fosse, porque mesmo negando eu tinha
noção do que se passava dentro de mim. Que eu também havia me apegado,
só não deixaria que ele soubesse disso.

— Acha que escolhi isso?

— Não podemos evitar o que sentimos, mas podemos priorizar o que


realmente importa. Estava comigo pelo dinheiro, e eu pelo sexo.

— Nem você acredita mais nisso.

— É melhor ir embora. Vou ficar bem, sempre fico.

Meu corpo esquentou quando ele me apertou forte, colando em mim, o


rosto tão próximo que eu senti sua respiração soprando na minha boca.

— Nem tudo é sobre dinheiro, Beatrice. Não sou um robô sem


sentimentos, e acredito que nem você seja.

— Fui moldada para ser assim, fria e focada no que realmente importa.

A diversão é apenas um detalhe.

Senti seus dedos tocando meus lábios, um toque carinhoso e doce que
atingiu exatamente no coração.

— Então precisa de mim para que mude isso. Ninguém pode ser feliz
dessa forma.

— Eu sou.

Minha resposta me fez refletir, pois eu nem mesmo sabia se isso era
verdade. O que era a felicidade realmente?
— Acredita se eu disser que te conheço bem o suficiente para saber
quando está mentindo para mim?

— Hugo, por favor...

— Estamos sozinhos, longe de julgamentos, da reputação que você teme,


da sua família... por que não se permite ser você mesma uma única vez?

— Porque isso me torna vulnerável. Me torna alguém que eu não quero


ser.

Eu já estava bem sendo da maneira que era, durante todos esses anos.
Me surpreendi comigo mesma quando afastei os pensamentos e erguia as
mãos para apoiá-las nos seus ombros. Era meu lado sentimental
despertando.

— E nunca funcionaria.

— Você pensa demais, esse é o problema.

— E o que quer que eu faça?

— Viva, aproveite, se entregue... seja minha. Deixe que, além do corpo,


eu tome seu coração também.

Ele não sabia de nada, não fazia ideia. Hugo tinha tanto de mim, ao
ponto de eu nunca ter coragem de dizer e fazer com que ele soubesse.

Mordi o lábio contendo o desejo e o sentimento que começou a tomar


conta de mim. O coração batia acelerado, quase espancando meu peito.

— Por que não me faz esquecer tudo?

— Posso substituir o que está na sua mente por uma boa lembrança que
terá dessa cozinha. Esquecerá até mesmo que outra pessoa além de mim já
esteve aqui.
— Na verdade, ninguém esteve.

Hugo roçou os lábios nos meus, mas parou quando revelei o segredo.

— Como assim? Não traz seus namorados para o seu apartamento?

— Não namoro, Hugo. Eu fodo, faço acordos por sexo, tudo no loft e
acompanhado de privilégios que evitam esse tipo de situação que está
acontecendo aqui.

Então ele sorriu. Não um riso contido, mas quase como uma gargalhada
satisfeita, onde ele se empolgou ainda mais, me puxando contra ele numa
provável tentativa de nos fundir.

— Quer dizer que eu sou o primeiro a estar assim com você?

— É, sim. — Sorri também.

Ele não respondeu com palavras, e sim com um beijo que me fez perder
o fôlego.

O Hugo calmo tinha ido embora quando seus lábios começaram a sugar
os meus com força, paixão e desejo. Foi como uma tempestade chegando
para causar devastação, nesse caso, no meu coração.

Deixei qualquer pensamento coerente para trás e me entreguei.

Ser inexperiente, mais jovem, a vida completamente diferente da


minha... nada disso importou no momento.

Permiti que Hugo não apenas deixasse marcas no meu apartamento com
sua presença forte, mas também no coração, que a cada encontro parecia ser
um maldito traidor e sempre se entregar um pouco mais a um homem que
eu não deveria nem mesmo ter permitido que chegasse perto.
Afastei os pensamentos que estavam querendo se apossar do momento.
Não era hora para pensar demais.

Não quando tudo que eu queria era me perder nos seus braços.
Capítulo 30
Não havia mais saída.

Eu estava completamente rendido, apaixonado e entregue a única mulher


que tinha tomado posse do meu corpo, inexperiência e paixão. Não sabia se
minha entrega havia sido por nunca ter tido outra, de não ter vivenciado
nada disso na vida, assim mesmo eu não me importava, por mais que
devesse.

Sabia que tinha de estar furioso, magoado, depois de tudo o que


aconteceu, mas meu coração fraco não resistiu a ela. Jamais iria,
principalmente ao perceber que o rompimento havia sido por causa da
família dela, das ameaças que recebeu. E por mais que eu devesse acatar,
pois a paz dos meus sobrinhos estava em jogo, entreguei-me por uma noite
apenas, para que pudesse acalmar meu coração que estava em frangalhos.

Pensar em ficar longe dela doía como jamais deveria doer. Era sexo, para
ambos, pelo menos no começo. Beatrice também se entregava a mim como
se fosse além daquele contrato, apesar de perceber que ela era mais firme,
convicta e dura. Se seria capaz de se apaixonar, eu não fazia ideia, mas era
o que eu desejava.

Depois do sexo em cima do balcão da cozinha, que por sinal foi o


primeiro dela no apartamento, teve um gosto além de especial, fiz com que
ela tomasse um pouco de chá.

— Você se alimentou hoje, Beatrice? — Perguntei preocupado.

Ela me encarou sobre a xicara, logo me dando a resposta silenciosa.


Balancei a cabeça frustrado. Deus, ela não tinha ninguém que pudesse
cuidar dela.
— Vou fazer um caldo, algo que a mantenha de pé.

— Não, Hugo. Eu peço por delivery.

— Quero fazer, eu gosto de cozinhar. Ainda mais se for pra você.

Soltei uma piscadela e virei-me em busca de como começar a procurar


pelos ingredientes, já que a cozinha era desconhecida e eu não fazia ideia de
onde encontrar alguns itens.
Não foi surpresa perceber que ela também não fazia ideia, já que tinha
alguém que fazia os serviços domésticos, mas que havia recebido folga para
que Beatrice ficasse sozinha.

Então, em um momento raro, vi outra mulher enquanto procurávamos na


dispensa e armários. Envergonhada, ela se viu conhecendo a própria
cozinha, e eu rindo do seu jeito toda mandona e independente indo para o
ralo por ser zoada por mim.

Eu amava ainda mais seu jeito leve e sorridente, por mais que ficasse de
joelhos quando ela era aquela à qual me apaixonei desde a primeira vez.

Acabei preparando um caldo de carne, leve e com um pouco de aveia


para que engrossasse, ao invés da farinha branca, que era como meus
sobrinhos amavam tomar em dias mais frios.

Torrei algumas fatias de pão e dispus no balcão depois de ter servido o


caldo em tigelas pequenas.

Sentei-me à sua frente, observando enquanto ela provava.

Beatrice estava linda com seu cabelo preso de modo bagunçado no topo
da cabeça, umas mechas soltas, o rosto sem maquiagem e uma camisa longa
que cobria seu corpo perfeito.
Eu me acostumaria acordar todos os dias com ela. Seria um sonho, um
que jamais se realizaria. Porém, deixei os pensamentos de lado, porque só
ela me importava nesse momento.

— Isso tá bom demais, Hugo. Nem sabia que eu estava tão faminta
assim.

— Já disse que é um prazer alimentar você?

— Gosto de tudo o que faz, principalmente quando eu viro sua refeição e


sobremesa.

Sorri, satisfeito por ver que ela tinha deixado a tensão de lado. Eu ainda
estava preocupado com o que tinha acontecido, não me sentia bem ao
imaginar os riscos que ela corria.

— Seus sobrinhos devem ser loucos pela sua comida. — A mudança de


assunto foi drástica.

— É, eles amam. São bons de boca, o que eu devo ser grato.

— Me fala mais sobre eles, sei pouco.

Meu peito encheu de alegria por ver que ela se interessava pelos meus
dois bens mais preciosos.

— Elena é doce, calma, uma menina tão meiga e carinhosa que eu nem
sei como mereço tanto. Além de tudo é estudiosa e dedicada, cuida de mim
e do irmão como se fosse a mais velha da casa. Já Igor é um pouco
temperamental, por mais que também seja gentil e carinhoso, porém do seu
modo mais peculiar. Tenho sorte por estar criando bem aqueles dois
pirralhos.

— Deus, Hugo... a maneira como fala sobre os dois, os olhos brilhando,


o sorriso natural... nunca vi isso em toda a minha vida.
E ela estava emocionada, as lágrimas inundando seus olhos.

— Eu os amo mais do que sou capaz de imaginar. Tanto que aceitei o


contrato, Beatrice, apenas por eles. Não me importo mais com o que
pensam, com julgamentos ou minha consciência, quando o mais importante
é vê-los bem, de barriga cheia e sem a mãe tornar a vida deles um inferno.

— Fico feliz em saber que ajudei e ajudo, de toda forma. Que esse
contrato foi importante pra você.

Com isso me vi obrigado a levantar e me aproximar dela, vendo a tigela


já vazia e girando a banqueta para que ela ficasse de frente para mim. Passei
os dedos por seu rosto em um gesto carinhoso, acariciando sua pele macia
enquanto a encarava.

— Não é apenas por isso, Beatrice. Nós dois sabemos que o contrato
ultrapassou todas as barreiras que se podia esperar.

— Hugo.

— Não, linda. Não fale nada, não precisa mentir para mim. Posso ser
inexperiente, emocionado demais, talvez, mas sei que aqui dentro — apoiei
a mão sobre seu peito — existe algo por mim, nem que seja um pouco do
que sinto também.

Assisti sua língua molhar os lábios carnudos, o olhar no meu, a


respiração acelerada. Deus, eu amava demais essa mulher e estaria fodido
quando ela me dispensasse de vez.

Estava sendo intenso demais, quando nem mesmo devia ter me


apaixonado.

— Você é especial para mim também, Hugo. De todos eles, o único que
eu realmente me importo.
— Você me magoou demais, me fez ter dias terríveis com tudo o que me
falou, e assim mesmo eu não te odeio. Sou um idiota? Talvez.

Ela tocou minha mão que ainda estava sobre o seu rosto.

— Você é humano, tem um coração bom e puro, é um homem doce e...

Não permiti que continuasse, só encostei os lábios nos dela e a envolvi


com um beijo apaixonado, quente e carinhoso, empurrando para longe os
medos, objeções e o que poderia acontecer depois.

Eu só queria cuidar dela, queria seu corpo, mente e coração.

Estava viciado na Beatrice.

Necessitado do seu cheiro, toque e voz.

Coloquei-a em meus braços e a levei para o quarto, caindo sobre a cama


macia ainda com os lábios colados nos dela. Minha excitação implorava
para me afundar novamente em seu corpo, mergulhar entre suas pernas
torneadas.

Parei quando estávamos indo longe demais. Não queria o sexo agora,
queria apenas ser sua companhia.

— Quero que descanse um pouco. — Pedi, acomodando-me ao seu lado.

Puxei seu corpo para que ela se apoiasse no meu, passando as pernas por
cima das minhas.

Deixei um beijo no topo da sua cabeça, meus dedos acariciando o couro


cabeludo.
O quarto dela era luxuoso, confortável e tinha sua marca. Ainda assim,
parecia triste, solitário.
— Obrigada por ter vindo, por estar aqui comigo me dando o apoio que
eu jamais pediria a alguém.

— Estarei sempre aqui quando precisar. Pode chamar, Beatrice, quando


quiser, se estiver ao meu alcance e eu disponível, pode ter certeza de que
virei ao seu encontro.

Ela me apertou em um abraço afetuoso e deixou beijos no meu peitoral.

Ficamos um bom tempo na mesma posição, até eu ouvir um suspiro


acompanhado do choro baixinho, quase inaudível.

Quis pedir que desabafasse, me contasse o que estava passando por sua
cabeça, mas era melhor deixá-la desabar um pouco. Ela precisava disso.

Até que, minutos depois, ela resolveu contar algo que eu não esperava.

— Meu pai era completamente obcecado por mim. De uma maneira


doentia ao ponto dele me tocar demais, beijar como não se devia fazer.

— Jesus! — Foi um baque, tanto que me deixou com um nó entalado na


garganta.

— Ele me tratava de maneira diferente, me dava tudo o que eu queria,


mas quando comecei a me tornar uma adolescente, o corpo se formando, ele
passou a me fazer carinhos incômodos, chegando a me acompanhar até meu
quarto para me colocar na cama e a contar histórias antes de dormir.

Ouvi um soluço que saiu dos seus lábios, como se ela estivesse
começando a chorar.

— Não consigo lembrar de tudo. Antes eu achava que era por causa do
trauma, mas depois comecei a ligar os pontos e recordar que ele sempre me
oferecia doces, chocolate quente...

— Ele te dopava?
Nem todas as palavras eram suficientes para descrever o que eu estava
sentindo no momento. Porém, o sentimento mais forte era o ódio, que com
toda certeza, se ele fosse vivo, eu o faria pagar pelo que fez.

Porra! Eu tinha uma sobrinha de oito anos, protegia mais do que


qualquer coisa na vida. Já tinha um ano que eu sequer banhava a pequena
por ela estar crescendo e se tornando independente, e imaginar que um
homem se aproveitava de uma garotinha como Elena, e pior ainda, o
próprio pai, me deixava com uma raiva latente querendo explodir.

— Ele ficava ao meu lado, beijava meu rosto, acariciava meu corpo,
impondo um certo limite, mas depois, no outro dia, restava apenas
lembranças dele comigo, de palavras que ele dizia ao pé do meu ouvido, o
cheiro forte dele que era marcante e me causava calafrios.

— E sua mãe? Você nunca contou?

— Sim, duas vezes. Falei o que estava acontecendo, em como eu não


queria que meu pai ficasse no meu quarto, que não queria ficar perto dele,
pois ele tinha me tocado enquanto estava comigo. Contudo, ele desmentiu,
parecendo tão ofendido, que eu acabava me sentindo culpada,
principalmente por ela me ofender e chamar de perversa, ingrata e tantas
outras palavras chulas.

— Filho da puta desgraçado! — Rosnei como um animal furioso.

— Ele me protegia demais, sempre cercando, me proibindo de ter


amizades, de sair da sua redoma, mas o que meu pai não esperava era que
eu me apaixonasse por um dos seus sócios e melhor amigo. Pietro tinha
mais de trinta anos quando começamos a nos envolver e eu sequer me
importava se era apenas uma adolescente que estava prestes a completar
dezesseis anos. Na época, não imaginei qual seria a reação que meu pai
teria quando descobrisse. O que importava era me sentir protegida, amada e
desejada de uma forma diferente da que era pelo único exemplo de homem
que eu tinha dentro de casa.
Permaneci em silêncio enquanto ela narrava tudo, cada detalhe. Desde
suas fugas secretas com o tal de Pietro, os encontros dentro da própria casa
e quando ela gazeava aula para se encontrar com ele em um pequeno
apartamento.

Era compreensível que uma garota como ela se apaixonasse pelo


primeiro que a fizesse se sentir especial e que a tratasse de uma maneira
oposta ao seu pai, que era um pedófilo de merda.

— Nós ficamos juntos por longos meses, até eu descobrir que estava
grávida. — Cacete! — Meu pai ia nos matar se soubesse, então escondi,
pelo menos por um tempo, já que não sabia o que fazer. Contei para Pietro,
desesperada, e ele disse que daria um jeito. Que casaria comigo, faria o que
fosse preciso, mas precisava pensar em uma maneira de contar isso ao meu
pai. Então o dia chegou, eu estava com três meses, usando roupas folgadas
para esconder a barriga inchando, pois não conseguia enxergar que meu
namorado estava apenas me enrolando, buscando uma solução para esse
problema em sua vida.

Deus, eu não fazia ideia de que tanta coisa havia acontecido com ela.

Era doloroso só de imaginar.

Sem ninguém, um apoio ou família para amparar uma garota indefesa e


apaixonada.

—Até que um dia, quando eu menos esperava, meu pai entrou no meu
quarto e me ofendeu de palavras tão horríveis, baixas e humilhantes...
fazendo questão de esfregar na minha cara que Pietro tinha me trocado por
alguns milhões.

— Infeliz!

— Sim, meu pai ofereceu dinheiro para que ele sumisse do mapa, e ele
não pensou duas vezes. Não me ligou, nem enviou bilhetes ou pediu
desculpas... só se foi, me deixando em pedaços, sozinha e desamparada.

— Você perdeu o bebê?

— Depois de muita confusão na família, o sumiço do Pietro, meu pai me


levou até a clínica de um amigo para que ele tirasse o bebê de mim. Fui
dopada, Hugo! — Beatrice se alterou nervosa — Implorei, ajoelhei, prometi
que continuaria estudando, que a gravidez e o bebê não me atrapalhariam
em nada, considerando que meu futuro já estava traçado, roguei para que
me deixassem ter o bebê, porém ninguém me ouviu, nem defendeu.
Simplesmente arrancaram o meu bebê, por mais que ele estivesse vivo, o
coraçãozinho batendo dentro de mim.

Notei que estava chorando também, assim como Beatrice, então a acolhi
em um abraço ainda mais apertado enquanto ela se desmanchava de novo, e
de novo, derrubando toda a fortaleza que ela fazia questão de colocar a sua
volta.

Meu peito estava doendo só de imaginar seu desespero. Um que nem


mesmo o dinheiro foi capaz de apaziguar.

— Meu bebê foi tirado de mim. Eu tinha feito um ultrassom, visto que
estava saudável..., mas daí eles roubaram o meu direito de ser mãe.

— Sinto muito. Sinto de verdade, linda. — Murmurei.

— Não tinha mais ninguém a quem recorrer depois do choque. Quando


acordei, já estava no meu quarto e com a notícia de que meu filho estava
enterrado em uma cova para indigentes, com as marcas da violência que
cometeram. Nem um jazigo decente meu pai fez questão de oferecer, pois
isso daria motivos para a sociedade de merda comentar sobre o que tinha
acontecido, que a filha mais velha do magnata da Fuller tinha engravidado
adolescente. Sem ter a quem clamar no Brasil, acabei fazendo o que meu
pai mais temia, busquei pelo meu avô, um britânico durão, frio e que
morava sozinho em um apartamento em Londres. Quando contei o que
tinha acontecido, ele veio me buscar dois dias depois e ameaçou tirar tudo
dos meus pais. Eu só pedi para que ele me levasse para longe dali, me desse
um pouco de paz, do que eu não tinha na mansão que deveria ser meu
abrigo.

Tudo era tão assustador, parecia surreal demais para qualquer pessoa.
Pior ainda para uma garota de dezesseis anos, que só cometeu o erro de se
apaixonar por um canalha.

Beatrice contou mais alguns detalhes de quando chegou a Londres, dos


estudos e das promessas de nunca permitir que ninguém a machucasse e
enganasse outra vez.

— Seu avô não soube do que seu pai fazia?

— Não. Eu tinha vergonha e medo de contar e ele achar, assim como


minha mãe, que eu estava mentindo, inventando coisas para ferrar com a
vida dele. Assim mesmo ele me deu um pouco do sabor da vingança
quando obrigou meu pai a passar grande parte da herança para mim,
deixando um pouco para os outros integrantes, para que eles não tivessem
como contestar.

— Foi por isso que voltou?

— Sim. Meu avô já tinha falecido há um tempo, meus outros parentes


estavam cuidando da empresa por lá e eu precisei voltar para cuidar dos
negócios quando aquele traste adoeceu. Passei quatro anos à frente de tudo
enquanto ele definhava, e só o vi no leito de morte, quando implorou pelo
meu perdão.

— Que você não deu.

— Jamais. Nunca o perdoaria por todos os danos que ele me causou. E


espero, de verdade, que ele esteja queimando no inferno.

Era compreensível que ela fosse tão fechada, silenciosa e não tivesse
ninguém. Uma maneira de se isolar de sentimentos que pudessem ter o
mesmo fim, e isso acabou levando a nunca mais se envolver
romanticamente com outras pessoas.

— Na maioria das vezes, eu odeio minha irmã com todas as minhas


forças.

— Mas jamais a abandonaria, não é? Porque eu faria isso com ele sem
pensar duas vezes.

Mudei nossas posições para que eu ficasse por cima dela novamente,
unindo nossas testas e mantendo o olhar conectado.

— Isso só mostra que a maneira como ele te magoou é imperdoável. Não


te julgo por isso e sinceramente, a compreendo. Por tudo o que passou,
admiro a mulher forte em que se transformou.

— E você gentil demais por estar dizendo todas essas coisas. Invejo seu
caráter e determinação, Hugo. As garotas devem ser loucas por você.

— Acha que sou um galã? Gosto que pense assim.

Me deu um alívio imenso ao vê-la abrir um pequeno sorriso.

— Vai me dizer que não existe uma garota que seja apaixonada por
você? Que nenhuma daquele bairro já correu atrás do Hugo e tenha ficado
encantada com a maneira como cuida dos sobrinhos?

Lembrei imediatamente da Ana, de todas as amostras que ela deu por


estar apaixonada, o apoio e ombro amigo, mas que nunca foi correspondido,
não da maneira como ela queria.

— Sua expressão me deu a resposta que eu queria. — Comentou com as


sobrancelhas erguidas.

— É, tem razão.
— Por que não deu certo?

— Não me sinto da maneira como ela merece e precisa.

— Talvez, um dia, perceba que é quem sempre quis.

E lá estava ela novamente numa tentativa de me afastar, de deixar o que


sentia para longe. Como se fosse possível.

— Queira você ou não, a única que eu quero é a mulher mais arrogante,


teimosa, forte e linda que apareceu na minha vida. Que faz de tudo para me
manter afastado, distante, me trata friamente, mas que meu coração nem
mesmo se importa com isso. Perigoso? Com certeza, principalmente para
mim, no entanto, eu quero viver o agora, pelo menos uma vez na vida,
permitir ser um homem apaixonado que faria qualquer coisa pela mulher
que o enfeitiçou completamente.

Vi sua expressão empalidecer, os olhos arregalarem e a boca abrir em


uma tentativa de responder.

E ao invés de soltar qualquer uma das suas palavras firmes, ela me


beijou, puxou meu corpo contra o seu e permitiu que eu derretesse nos seus
braços. Seus lábios estavam salgados, ainda das lágrimas que havia
derramado minutos antes.

Apertei seus quadris, esfreguei minha ereção entre suas pernas e me


expus da maneira que ela lutava contra.

Dei meu corpo.

Alma.

E coração.
Capítulo 31
Eu não falava da minha vida para ninguém. Apenas meu avô e minha
mãe sabiam do que tinha acontecido, mas me abri com ele de uma maneira
que jamais imaginei fazer com outra pessoa. Foi como tirar um peso de
dentro de mim, da angústia que me dominava há tantos anos. Eu confiava
em Hugo com os olhos fechados, de uma forma que me assustava. Sabia
que não tinha que ter permitido isso, apesar de ser tarde demais.

Só estava deixando acontecer, por mais irresponsável que fosse. No


fundo, eu temia o golpe vindo da minha mãe ou do Benício.

As três últimas semanas estavam sendo uma loucura. Com a


proximidade do Natal, o número de funcionários havia aumentado, a rotina
correndo loucamente e, apesar do tempo ter passado, não tinha recebido
uma resposta decente da polícia em relação ao atentado que eu sofri.

Era um absurdo não ter um sinal de quem havia tentado me matar, apesar
de eu ter minhas suspeitas, por mais que não quisesse acreditar que tivesse
dedo da família no meio. Sendo assim, passei a andar escoltada por um
motorista e um segurança, ambos formados em artes marciais e
especialistas na área de segurança pessoal.

Meus encontros com Hugo haviam voltado, dessa vez com menos
frequência, e no meu apartamento. Assim ele se sentia mais próximo,
especial, exclusivo. Era óbvio que ele era isso tudo, só não acreditava tão
facilmente nisso. Um rapaz inexperiente, cheio de inseguranças, até mesmo
com razão depois da maneira como o descartei da minha vida
anteriormente. Agora, mais cuidadosa, eu estava me entregando sem
receios, exceto pela parte da exposição da sua vida que eu fazia de tudo
para evitar.
Por isso eu tinha que começar a amarrar as pontas soltas antes que tudo
se tornasse uma catástrofe.

Com minha teimosia e determinação, pedi que o motorista me levasse


até a casa da minha família. Eu tinha que confrontar os dois sanguessugas,
mesmo que Moroni tivesse pedido que eu não fizesse.

Não encontrei dificuldades para entrar, até então eles não tinham banido
minha entrada, o que me surpreendeu, levando em conta o ódio que
estavam sentindo de mim. O segurança abriu a porta e verificou os
arredores antes de permitir que eu descesse. Eu estava incomodada com
esse zelo e proteção, mas sabia que era necessário.

Entrei na mansão e fui recebida pelo som de rock pesado que soava da
sala de estar. Não demorei a ver Benício sentado no sofá, com uma garrafa
de uísque na mão e uma garota diferente da que encontrei na última vez em
que estive no local, sentada em seu colo, parecendo completamente bêbada
ou drogada ou provavelmente os dois.

Como ele não notou minha presença, já que estava perdido entre os seios
da morena, caminhei até a caixa de som e desliguei, chamando assim sua
atenção, que soltou um xingamento quando me viu.

— Que porra pensa que está fazendo? — Vociferou irritado.

A garota que estava no seu colo pulou para o lado, arrumando a blusa às
pressas.

— Espero que essa seja maior de idade.

— Não esqueça que os gostos por jovens acabei herdando de você.

Com sua resposta ríspida, ignorei e o encarei com repúdio.

— Onde está a Magda?


Ele gritou pela mãe logo em seguida, que veio minutos depois, arrumada
e elegante como se estivesse indo a algum lugar.

Sentei-me sob o olhar atento dos dois, enquanto a garota foi dispensada
com um aceno para que se dirigisse ao andar superior. Ela obedeceu de
imediato como uma cadela adestrada.

— Ora, veja bem, pra quem quase morreu me parece ótima. — A


matriarca comentou sarcástica.

— Não era bem o que esperavam, hein?

— O que está insinuando, querida?

— Você pode ser fútil, Magda, mas burra não.

Minha provocação a deixou vermelha, quase como um pimentão, a


fazendo sentar ao lado do caçula, que estava carrancudo.

— Acusação desse nível é crime.

— E encomendar a morte de uma pessoa também.

— Jamais faríamos isso com você. Pode ser essa maldita pedra no nosso
sapato, ambiciosa e arrogante, mas assassinato não é o tipo que me encanta.

Cruzei as pernas e apoiei o cotovelo no braço da poltrona, levando o


dedo ao queixo, analisando os dois com cautela e abrindo um pequeno
sorriso.

— Quem mais teria interesse em me ver morta além de vocês? Porque a


fortuna inteira cairia de bandeja no colo de dois sanguessugas encostados.

— Talvez um dos seus garotos pobres e, provavelmente, não tão


indefesos assim.
Pensei em Marcus sim, não era uma carta fora do baralho, mas seria
apenas por vingança. Nada além disso. O playboy queria dinheiro, conforto,
o que não teria sem alguém para dá-lo.

— Estão investigando, e espero que não estejam metidos nisso, porque


vou acabar com qualquer possibilidade de usufruírem do dinheiro que
receberam da herança.

— Não tem direito de mexer no que não é seu.

— Posso não ter o direito, ainda, mas farei de tudo para tê-lo. Não me
subestime, mamãe.

Vi o olhar furioso que Benício lançou na minha direção, os nós dos


dedos brancos por apertarem a garrafa e o controle da ira que emanava por
seus poros.

— Vadiazinha desgraçada. Por que diabos não ficou abrindo as pernas na


Inglaterra como a puta que é ao invés de voltar e infernizar nossa vida?

— Seu pai me deu tudo. Ele me trouxe até aqui, por mais que nossa
relação fosse um fiasco.

— Vai saber o que você fazia para que ele agisse como um homem cego
e burro.

Um arrepio se passou por minha espinha, me causando asco ao ouvir


suas palavras.

— Isso soa baixo até mesmo para você, Benício. Não conhece nada do
que passei, do que enfrentei de verdade, então não fale bobagens.

— Você não pode chegar aqui, como a dona do mundo que acha que é, e
nos acusar de tentativa de homicídio.
— Tenho meus motivos. E só irei descartá-los quando tiver uma prova
concreta. Por enquanto, estão na minha mira.

— E aquele pobretão na minha. Além da irmã drogada que está


enfurnada em uma clínica bancada por você. Não esqueci disso, irmãzinha.

— Não se meta com eles.

Foi a vez dele de sorrir, exalando a pura arrogância da família.

— Agora que descobri seu calcanhar de Aquiles, não vou desperdiçar a


chance. Então, Beatrice, seja coerente antes de agir por impulso. Você não é
a única aqui que pode comprar pessoas.

Levantei-me e fui até ele, assim como da outra vez, não demonstrando
sentimento algum além da raiva.

— Temos dinheiro, influências e algumas coisas a mais que a maioria


não tem ao seu dispor, mas há algo que nos diferencia, Benício e que você
não tem e nem terá enquanto for um inconsequente: inteligência. Não ajo
por impulso, não faço merdas que poderei me arrepender no futuro, muito
menos arriscar minha liberdade a troco de bobagens. Seja esperto, porque
eu não pensarei duas vezes antes de te colocar atrás das grades e te deixar
apodrecer lá dentro até que vire um homem de verdade.

— Já chega! — Magda me interrompeu. — Saia daqui!

Mantive minha postura ao virar para encará-la.

— Isso serve pra você também, mãe. Espero que não esteja apoiando
essas sandices do seu filho, ou irei esquecer que já é uma senhora de idade e
fazê-la pagar pelos erros dele.

— Como ousa me ameaçar? Já não bastaram as mentiras e intrigas


durante todos esses anos para se fazer de vítima?
— Que pena perceber que ainda pense assim, mesmo depois de tudo. E
que bom que eu tive o apoio do meu avô, porque se dependesse de você e
desse daí, eu estaria à míngua.

Peguei minha bolsa para sair, não dando mais direito de resposta. Não
queria ouvir mais nada, principalmente se fosse em relação ao meu passado
que ela nunca acreditou, ou se fazia de cega.

Eu preferia acreditar na primeira opção, pois era doloroso demais aceitar


que ela sabia e não se importava.

— Não esqueçam meu aviso. Não faço ameaças vazias.

Soltei ao andar para o lado de fora, sem nem ao menos olhar para trás.

Com o nó apertando minha garganta e as lágrimas ameaçando saírem,


entrei no carro e pedi que me levassem para casa.

Meu refúgio.

O lugar onde eu me sentia protegida.

Onde eu permitia desabar e deixar as marcas do passado me atingirem


com força.

E, nesse momento, eu só pensei no Hugo, nos seus braços que sabiam


como me acolher e abraçar.

No entanto, por hoje, eu precisava ficar sozinha.

***

Acordei sobressaltada com um pesadelo terrível. O suor estava


empapando meu pescoço, apesar do ar-condicionado ligado. Olhei ao redor,
o coração batendo forte e as mãos trêmulas, notando que já era seis da
manhã.
Com a respiração pesada, levantei-me para beber um pouco de água,
então vi que meu celular tinha algumas chamadas perdidas.

O pesadelo poderia ter sido um aviso, algo que realmente tinha


acontecido. Relutei para ver do que se tratava, pois me sentia covarde
demais para enfrentar a realidade. Eu ainda estava traumatizada com o
atentado, com o que havia ocorrido há poucos dias, então era compreensível
que eu estivesse assim, tão desnorteada e medrosa.

Peguei o aparelho minutos depois, desbloqueando e vendo que era


Moroni que havia me ligado mais de cinco vezes. Cinco e meia da manhã.
Que porra!

Sentei-me na ponta do colchão e cliquei para retornar a chamada, que


não demorou para obter uma resposta do outro lado.

— Beatrice, preciso que venha ao meu encontro. — A voz gélida me


confirmou que algo estava muito errado.

— O que aconteceu?

Perguntei, por mais que estivesse com medo da resposta.

— Acho melhor vir ao meu encontro.

— Que porra aconteceu, Wallace? Fale logo de uma vez, caralho!

Odiava enrolação, essa tensão que me perturbava. Se era uma notícia


ruim, que desse logo de uma vez por todas.

Ouvi sua respiração forte do outro lado da linha, seguida por um


suspense torturante.

— Eles sofreram um acidente. Estão no hospital internados.


Meus ouvidos começaram a zumbir com a bomba, afetando meu peito e
roubando o ar dos meus pulmões.

Tudo doía.

Levei a mão até o pescoço, onde parecia estar sendo sufocada.

Depois de tudo, cada maldita surpresa negativa que eu havia tido nas
últimas semanas, essa caiu como uma bomba sobre minha cabeça.

Desliguei o aparelho e corri para o banheiro, vomitando o pouco que


tinha comido na noite anterior.

Por que eu sentia que todas as coisas ruins pareciam me acompanhar?


Capítulo 32
Cheguei ao hospital quase uma hora depois da ligação do Moroni.
Desnorteada, com a imprensa em polvorosa na entrada do prédio esperando
uma notícia atual, meu advogado conseguiu que me dessem o acesso ao
interior pelo estacionamento dos médicos, assim podendo fugir dos
holofotes.

Encontrei Moroni na sala de espera, uma parte reservada do andar vip do


hospital onde eu teria um pouco de sossego de olhares curiosos.

— O que aconteceu? — Perguntei nervosa.

— As notícias que tenho são as mesmas que saíram na mídia. O


condutor estava alcoolizado quando colidiram com o meio-fio e capotaram
com o carro algumas vezes. O estado dela é mais crítico, pois estava sem
cinto de segurança. E bem, pelo estado que encontraram os dois, indica que
estavam em um momento bem constrangedor.

Escândalo.

Era realmente o que eu não precisava para manter a reputação do nome


da empresa. Não havia um momento em que eu tivesse paz desde meu
retorno, isso tinha que ter um fim.

— Minha mãe! — Um grito masculino bastante conhecido ecoou pelo


corredor — Quero ver minha mãe!

Benício tropeçava alterado enquanto vinha na nossa direção.

Parei à sua frente, interrompendo seus passos quando empurrei minha


mão sobre seu peito.
— Que merda pensa que está fazendo? — Questionei irritada por chamar
atenção de algumas pessoas.

— Quero ver minha mãe, mas eles não deixam.

Fedendo, o álcool saindo dos poros e do hálito, olhos vermelhos e a


camisa amarrotada, me deixou enjoada novamente ao vê-lo naquele estado.

— Nem eles, muito menos eu deixarei entrar no quarto do jeito que está.

— A culpa é sua! Desde que apareceu a nossa vida se tornou uma merda.

— Até parece que vocês dois precisam de ajuda pra se afundarem na


lama. Faça-me o favor.

Puxei Benício pela gola da camisa e o empurrei para que se sentasse na


cadeira e ficasse quieto.

— Vou pegar um café pra ele. — Moroni avisou.

— Isso já chegou a um limite inalcançável, Benício. Deixei que


brincassem de vilões, mas acabou. Essa foi a última gota d’água.

— Se tivesse dado dinheiro ela não teria aberto as pernas para aquele
playboy. Mas parece que as duas são mais parecidas do que pensam. Duas
vadias desgraçadas.

Não pensei duas vezes antes de acertar um tapa forte no seu rosto,
fazendo com que meu irmão arregalasse os olhos surpreso, pois eu
duvidava que algum dia ele tivesse apanhado de alguém da família.

— Primeiro, você me respeita. Segundo, não tem moral alguma pra


julgar qualquer pessoa. E terceiro, chegou a hora de virar homem, porra!
Cansei de você e dela.
Ele nem mesmo ousou em responder, parecendo grato quando Moroni o
entregou um copo de café.

Esfreguei o rosto e encarei meu amigo, que deu de ombros e lamentou,


começando a contar o que tinha, de fato, acontecido.

— Um caso. Só isso justifica como eles descobriram sobre você e o


Hugo, o que não deixa muito explicito é a maneira de como ela sabe sobre a
Heloise.

— Vindo da minha mãe eu realmente espero de tudo, só não imaginava


que estava saindo com o Marcus.

— Não só saindo, como se divertindo bastante.

Moroni sorriu, logo sendo recriminado por mim com apenas um olhar.
Não era momento para brincadeiras quando o meu sobrenome estava no
meio. E eu poderia ser exposta também.

— Se isso envolvesse apenas minha mãe e o Marcus, eu estaria me


divertindo, mas sabe o que isso significa. Hugo sendo atraído para a
confusão.

Afinal, não era só eu que corria riscos, mas ele também. Hugo não
precisava desse tumulto.

O médico responsável pelo atendimento dos dois apareceu, contando


sobre o estado de saúde de ambos. Marcus estava melhor, já que usava o
cinto, minha mãe sofreu sequelas maiores e estava em coma, por causa do
traumatismo craniano.

— Obrigada, doutor. Posso ir vê-lo?

— Sim. Ele já está no quarto. Sofreu algumas escoriações, já foi


medicado e está acordado.
Agradeci novamente e fui até o quarto indicado, onde encontrei Marcus
na cama, alguns curativos no rosto e braços e um olhar assustado quando
me viu.

— Beatrice. Se soubesse que ganharia sua atenção, teria causado um


acidente antes.

— Então achou que deixando minha mãe chupar seu pau enquanto você
dirigia foi uma ideia extraordinária?

— Ninguém recusa sexo e dinheiro. Você sabe bem, não é?

— Desde quando?

Minha paciência estava indo embora. Pelo menos o que restava dela.

— Está com ciúmes, meu amor?

Apoiei minha mão sobre o curativo no ombro direito, empurrando


enquanto ele gemia de dor.

— Acha que eu perco meu tempo tendo ciúmes de um pilantra feito


você? Me foi útil quando precisei, agora não serve de nada.

— Ai, caralho! — Tentou gritar por ajuda.

Apertei mais, e foi quando ele entendeu que eu não pararia.

— Desde quando?

— Desde o nosso rompimento. Ela sempre soube, veio atrás de mim e


nós ficamos juntos. Só isso.

— E aquele seu teatro sobre amor e paixão?


Não que eu me incomodasse com o relacionamento dele ou dos
sentimentos, mas precisava entender.

— Nunca foi mentira, mas ambos queríamos as mesmas coisas. Sexo e


vingança. Além do mais, eu tava sem grana.

— O atentado foi arranjado por vocês?

— Não. Eu não fiz isso, juro, Beatrice. Estava te odiando, mas nunca
faria nada desse nível contra você.

— Como ela soube de tanto?

— Ela tem trato com detetive, ouvi algumas vezes ela conversando com
ele por telefone. Só me tira daqui, por favor. Não posso ir em cana, não
quando já não tenho mais dinheiro pra sair da merda.

Afastei minha mão e sorri, assistindo seu desespero.

— Tenho uma lista dos crimes que cometeu enquanto estava no carro
com ela, mas isso não é da minha alçada, e sim da polícia. O acidente
poderia ter sido pior, Marcus, então agradeça. Só não conte comigo para
livrar sua bunda imprestável dessa.

— Talvez eu ganhe bastante dinheiro vendendo informações sobre a


maior herdeira da Fuller Beauty.

— Faça isso e vai se arrepender pelo resto da sua existência. Vou fazer
questão de tornar a sua vida um inferno.

Mesmo ouvindo seus protestos, saí do quarto e voltei a sala de espera,


onde meu irmão estava de cabeça baixa e Moroni o observava em silêncio.

Agarrei seu rosto e o fiz me encarar, os olhos transtornados de


desespero.
— Você vai pra casa tomar um banho, comer alguma coisa e dormir. Não
vai falar com a imprensa, entrar em rede social ou fazer qualquer barulho
para que atraia mais confusão. Vou limpar a sujeira que sua mãe fez.

— Eu não sou os seus prostitutos que te obedecem e seguem suas


malditas regras.

— Não é, mas precisa de mim, assim como eles. Se resta um pouco de


juízo nessa cabeça oca, vai fazer o que eu estou mandando.

Tremendo de raiva, ele se levantou e cambaleou para fora, murmurando


palavras nada gentis.

E eu me vi com uma dor de cabeça desgraçada, quase me levando a


loucura.

— E agora? — Moroni indagou.

— Vou enviar o comando para a assessoria de imprensa da Fuller e você


vai tentar achar o maldito detetive que minha mãe contratou para rastrear
sobre minha vida.

— Por essa eu não esperava. Magda estava disposta a te destruir mesmo.

— É, mas a nossa diferença é que eu tenho mais poder. Vou dar um basta
nela de uma vez por todas.

Peguei minha bolsa e saí do hospital, a cabeça à mil e com planos para
pôr um fim nessa palhaçada por causa de dinheiro.

Além do mais, ainda faltava ter certeza de quem havia encomendado


meu atentado. Porque eu já sabia quem tinha contratado, só não tinha como
provar.
Capítulo 33
Oito dias que eu não tinha notícia da Beatrice. Ela não atendia minhas
ligações, nem respondia minhas mensagens. Eu estava preocupado, e ela
apenas me ignorava. Compreensível, pois o que estava acontecendo devia
estar consumindo seu tempo e mente.

Um escândalo havia pairado sobre o nome da família Campello, e os


tabloides aproveitavam para diariamente divulgar fatos na mídia sobre o
relacionamento secreto entre a mãe dela e o Marcus, que apresentava sinais
de embriaguez no volante, sexo no veículo e o acidente. Isso estava me
deixando louco, porque precisava saber como ela estava. Tinha consciência
que toda a carga se acumulava sobre as costas dela.

— Uma Campello, hein? — Dulce quebrou o silêncio quando me sentei


para tomar um gole de café.

— Não sei do que está falando.

— Ah, Hugo. Respeitei sua privacidade, seus momentos, mas não minta
para mim. Não quando venho notando sua mudança nos últimos meses. E
eu vejo que não para de assistir os noticiários que falam dessa família.

Assenti, um pouco acanhado. Não tinha como negar, assim mesmo,


contar para alguém que me apoiava tanto não parecia errado.

— Como isso aconteceu, meu rapaz? Ela é quem tem te dado dinheiro,
né?

— Eu precisava, Dulce. Era um trato, mas eu me apaixonei. Deixei que o


sentimento falasse mais alto do que a razão.
Falei com um peso a menos. Nem vergonha sentia mais por ter sido um
gigolô.

— A sua vida sempre foi sofrida demais, injusta. Desde sempre te


admirei, meu rapaz, e não o julgo por ter ido atrás das últimas
consequências para melhorar de vida.

— Foi apenas por eles três, nunca por mim.

— Eu sei. E por um momento, apenas um, desejei que fosse egoísta, que
agisse por você. Que pensasse na sua felicidade, pois merece um descanso,
um pouco de normalidade em meio ao caos.

Dulce bateu o cotovelo no meu braço, sorrindo animada.

— Mas fala aí sobre ela. Deve ser uma mulher e tanto pra ter te deixado
assim.

— Ela é bonita, gentil, me oferece bons momentos, mas sei que não é
mulher pra mim. Talvez a Ana combinasse mais, se eu conseguisse me
apaixonar.

Amava Beatrice, apesar de ter a certeza de que em um momento ela se


cansaria.

Assim como fez com Marcus. Não que eu fosse igual a ele, porém, era o
amante atual.

— Ana que não merece você. É sim uma garota bonita, determinada,
estudiosa, mas sequer gosta dos seus sobrinhos. Só você nunca notou que os
interesses dela eram apenas focados em você, Hugo. Ela os suportava pra te
agradar.

— Talvez eu tenha demorado a enxergar.


— Pois é. E essa dondoca, se não valorizar o homão que você é,
certamente não o merece. Quem tiver um marido como você vai tirar a sorte
grande. Se eu fosse uns trinta anos mais nova investiria pesado.

Gargalhei. Uma reação que deixou meu corpo mais leve, o coração
doendo menos por ter uma conversa com minha vizinha e amiga, uma
senhora tão gentil que poderia ser minha mãe. Uma que eu também não
tive.

Então, confiando nela, abri o jogo sobre a Beatrice, os momentos mais


adequados, a viagem que fizemos juntos e o quanto eu era louco por ela.

Confiava em Dulce, e desabafar com alguém que era uma boa ouvinte,
deixou meu peito mais leve.
Dois dias depois do acidente, ela acordou. E dez dias depois, voltou para
casa. Contratei uma enfermeira para que a ajudasse com as atividades
rotineiras, pois ela ainda estava vulnerável.

Marcus iria responder em liberdade. Eu tinha colocado Moroni para agir


em sua defesa em troca de seu silêncio e distância. Não queria mais vê-lo na
minha frente, porque da mesma forma que eu tinha livrado sua bunda da
prisão, iria levá-lo à cadeia se fosse preciso.

Senti um pouco de remorso por ter levado um jovem como ele às últimas
consequências. Apesar de saber sobre o contrato, ninguém conseguia
controlar sentimentos, foi o que aprendi estando com Hugo. E pensar nele
me fez ter compaixão pelo outro. Eu tinha permitido me apaixonar por ele.
Foi uma constatação que tive em uma das noites em que me vi sozinha no
apartamento, apenas na companhia da minha garrafa de vinho caro.

Só me restava dar o último nó nessa bagunça que minha mãe havia feito.

Cheguei à mansão e encontrei meu irmão na piscina, bebendo e fumando


com duas garotas. Não falei nada, por enquanto, já que minha prioridade era
outra.
Falei com Lucila, a secretária dela, e subi para vê-la. Magda estava
deitada assistindo filme, a enfermeira sentada ao lado da cama e as cortinas
fechadas, deixando o quarto mais escuro.

Seus olhos arregalaram assim que ela notou minha presença.

— Boa tarde. É bom perceber que está melhorando. — Olhei para a


enfermeira — Nos dê licença, por favor.

Caminhei até a janela e abri todas ouvindo seus resmungos enquanto eu


clareava o quarto e arrastava a cadeira para ficar próxima a ela.

— O que você quer? — Perguntou ríspida. — Veio contestar seu


amante?
— Acha que eu me importo com quem você trepa? Porém, os motivos de
fazer isso me deixam bem curiosa.

— Preciso de motivos além de estar carente?

— É, provavelmente nessa parte esteja sendo sincera, só que não ficou


com o Marcus apenas por diversão. Quis me atingir, prejudicar, talvez até
matar. Aí, nesse caso, chegaremos a um sério problema, porque não vou
deixar isso passar.

Ela sorriu, quase como se não estivesse toda quebrada em cima de uma
cama.

— Você gosta de jogar acusações sem ter provas. Posso te processar.

— Não, Magda. Na verdade, vai abrir o bico e contar tudo o que andou
fazendo contra mim.

— E se eu me negar?

— Aí seu protegido vai parar atrás das grades. Ainda rola um processo
por sedução de uma menor de idade, e sabe o que fazem com pedófilos e
abusadores quando eles chegam ao presídio?

Ver seu rosto empalidecer só provou que ela realmente o amava e não
desejava o mal ao caçula. Era impressionante como o amor que faltava por
mim, sobrava para Benício.

— Que você é ruim, nós já sabemos, mas não faria isso com seu próprio
irmão.

— Acha que não? Tenho mais a ganhar do que a perder. Mostrar que eu
não apoio os atos criminosos dele vai ser como um bônus para o nome da
empresa. Uma que ainda sustenta a vida miserável que ele leva.
Pude notar a veia saltada na testa da Magda, o nervosismo e o quanto ela
estava se controlando para não falar ou fazer algo contra mim. Porém, o
lado coerente, ainda estava funcionando.

— Era pra você ter ficado na Inglaterra, continuado longe da nossa vida
e nos dado paz. O problema foi que o cretino do seu avô teve bastante
influência na decisão que o seu pai tomou com o testamento.

— Nós duas sabemos que sou a única capaz de manter a Fuller de pé. Só
que não vim até aqui para falar sobre meu talento em comandar os
negócios, mas por causa da sua tentativa de acabar com minha vida.

Outro sorriso, um mais maligno e cruel.

— Quer saber? É isso mesmo. Encomendei sua morte sim, gastei uma
boa grana pra estourarem seus miolos e acabar de vez com essa palhaçada.

Quase tombei da cadeira ao ouvir sua confissão fria e nada arrependida.


Doía, pois mesmo sabendo que eu nunca havia sido a filha que ela desejou,
ao menos esperava que restasse um mísero laço maternal.

Engoli o amargor que tomou conta da minha boca, lutando para manter
minha postura na defensiva.

— Como pode ser assim? O que eu fiz contra você?

— Tudo relacionado a você foi um erro. Gravidez acidental, era cedo


demais para ser mãe. A atenção que Charlie ofereceu desde o instante do
nascimento, o que piorou quando foi se tornando uma menina e
aproveitando do amor paternal para ter regalias. Quer que eu dite mais ou
prefere que eu oculte a parte em que você mentia sobre não permitir que ele
te fizesse companhia durante as noites em que dormiam sozinhos no
quarto?

Meu coração acelerou, batendo tão forte que eu o sentia por todo o
corpo. Recordar o passado e o quanto as cenas me faziam mal, não era o
que eu pretendia.

— Você é uma cretina, ordinária e maldosa. Teve um amor doentio por


aquele traste e me odiava ao ponto de achar que tudo aquilo era
manipulado. E sabe? Mesmo sendo minha mãe no sangue, não vou ter
compaixão ao te fazer pagar caro pelo que fez comigo.

— Se acha tão esperta, a rainha do mundo, perfeita e única, entretanto,


sempre precisou pagar por companhia, sexo e os playboys que leva para a
cama enchendo de mordomias.

— O que eu faço da minha vida deixou de ser um problema seu desde


que largou minha mão.

— E faria pior se fosse possível. Uma pena aquela clínica ser segura,
porque a drogada seria meu próximo alvo.

Heloise. Uma inocente no meio de tanta ganância e maldade.

— Não faça essa cara de espanto, Beatrice. Não foi difícil saber onde o
pobretão morava, onde ela estava e que o Moroni estava ajudando. Aquele
desgraçado é um cachorrinho nas suas mãos. Sabe lá o que você faz em
troca de tanta lealdade.

Levantei-me de uma vez, cansada de ouvir tanta besteira e crueldade.


Seu olhar me acompanhou.

— Espero que essa disposição de jogar veneno em cima de mim esteja


com tudo quando for conversar com o delegado. Ele vai gostar de ouvir sua
versão macabra de como ser uma péssima mãe.

— Farei isso pelo Beni, mas também exijo que dê uma mesada gorda,
mantenha a casa e os empregados, o deixe em paz.

Gargalhei, quase sem acreditar no que estava ouvindo.


— Ai, Magda, você sempre conseguindo me surpreender. Seu filho vai
se livrar da cadeia, mas não de mim. Só faça o que eu mando e deixe o resto
que vou cuidar da maneira correta, como eu deveria ter feito há bastante
tempo.

Não esperei que ela respondesse. Saí do quarto o mais rápido que pude.
Manter a pose, não demonstrar o quanto ela me afetava, era mais difícil do
que eu pensava. Sugava toda minha energia.

Fui até o lado de fora, onde o imprestável ainda estava do mesmo jeito
de quando cheguei.

— Sua preocupação com a Magda é bem emocionante. — Comentei.

Benício se assustou e saiu da piscina, deixando as garotas se divertindo.

— Veio atrás de pisar ainda mais em nós dois?

— Não. Vim fazer um acordo com ela.

— O que você está tramando?

— Semana que vem você começa a trabalhar. Quero te ver cedo, batendo
o ponto, assim como os outros funcionários.

— Nunca! Minha mãe jamais vai permitir isso.

— Sua mãe não tem vez, voz e muito menos grana pra te sustentar. E
você vai, já que dinheiro é algo que precisa, pois sem ele essas garotas nem
estariam aqui.

Com o maxilar cerrado, os punhos apertados e um autocontrole invisível,


ele me encarou raivoso.

— E se eu não quiser ir?


— Vai ter que se virar sozinho. Dispensarei os funcionários da casa,
cortarei as despesas e a única fonte de renda vai ser sua porcentagem
mensal, coisa que não vai render muito quando precisar lidar sozinho com
as contas.

— E minha mãe?

— Não se preocupe. O que é dela já está muito bem encaminhado.


Aconselho pensar com cautela antes de recusar a minha oferta. — Dei duas
batidinhas no seu rosto — Até mais, irmãozinho.

Por mais que eu estivesse desmoronando por dentro, me senti um pouco


aliviada por estar colocando as coisas no devido lugar. Benício ainda podia
ter salvação, longe da mãe, sem sua proteção e influência, ele não teria
alternativas a não ser me obedecer.

Não desejava mal a ele. Era o único que restava do meu sangue mais
próximo, e eu esperava que ele melhorasse, tomasse juízo e virasse um
homem de verdade.
Eu até podia estar depositando fé demais, mas eu não tinha nada a perder
e torcia para dar certo.
Capítulo 34
A notícia sobre a prisão da minha mãe caiu como uma bomba na
imprensa. Ela teria advogados e pessoas que a defenderiam, por mais que a
ficha de crimes fosse grande o suficiente para dar um tempo na cadeia.
Magda havia encomendado minha morte e além do seu depoimento,
existiam provas obtidas através das trocas de mensagens e ligações com os
dois suspeitos, bem como das transações bancárias realizadas. Após a
prisão foi descoberto que ela desviava dinheiro dos eventos de caridade que
organizava uma vez por mês.

Entretanto, isso não me deixou feliz como eu pensava. Chorei muito,


quase que a noite inteira, remoendo nossas brigas, as palavras que ela
sempre usava, me provando que eu não era tão durona quanto pensei.

Na segunda-feira de manhã cheguei ansiosa, curiosa para saber se


Benício cumpriria a ordem dada. Me surpreendi quando o vi na sala de
espera, próximo a Virna, que organizava meu dia.

— Bom dia, Benício. Seja bem-vindo à empresa.

— Sabe que não estou aqui por vontade própria. Pode engolir o veneno.

Sorri jogando a cabeça para trás. Meu humor estava levinho.

— Você precisa anotar mentalmente as regras da Fuller. Aqui dentro eu


não sou sua irmã, sou a CEO. No seu linguajar: a dona da porra toda, sabe?
Você é meu subalterno, isso significa que vai ter que moderar o tom, me
respeitar e obedecer.

— Você só pode estar de brincadeira comigo.


Olhei para minha assistente, que permanecia muda e quieta.

— Pareço estar brincando, Virna? — ela negou com um aceno — Pois é,


ela me conhece bem. Então, Benício, levante sua bunda daí que ela vai te
mostrar o seu posto e te dar orientações. Ah, outra coisa! Terá uma pessoa
inspecionando seu trabalho. Não tente dar uma de malandro. Boa sorte.

Acenei e entrei na sala, ligando o notebook e me sentando em seguida.


Benício tinha sorte de ser meu irmão e ganhar um cargo privilegiado. Iria
separar mercadorias antes de serem encaixotadas. Um trabalho mais pesado
para quem nunca moveu um fio de cabelo sem a ajuda da mãe. Logo mais,
se andasse na linha e provasse estar mudando, eu poderia colocar em um
escritório, afinal, a empresa também era dele.

Peguei meu celular e li mais uma vez as inúmeras mensagens que Hugo
havia me mandado e eu ignorado. Não era o momento para encontros, pois
tudo estava uma bagunça. Agora tudo o que eu sentia era saudade dele.

Estava quase chegando o Natal, menos de cinco dias e eu só queria ter


um pouco de paz, ficar bem, mas tudo indicava que não seria assim. Meu
ano tinha sido um tormento, passei por momentos extremos chegando até o
inferno, e apenas encontrava paz quando estava na companhia de Hugo.

“Que tal ir ao meu apartamento mais tarde? Estou sentindo sua falta.”

Não demorou para que ele enviasse a resposta. Uma que não foi a que eu
esperava.

“Agora lembra que eu existo? Passei dias preocupado com você,


Beatrice. Te telefonei, enviei várias mensagens e não obtive nenhum
retorno, nem notícia de como estava. Chega! Quero paz e isso é algo que
não tenho quando você aparece. Preciso de um tempo.”

Não estava habituada a ser rejeitada, muito menos por ele, só que
entendi. Era compreensível que ele estivesse magoado comigo, já que não
fui capaz de dividir meus problemas com quem realmente se importava
comigo.

Eu precisava fazer com que a emoção tomasse conta da razão pelo


menos uma vez na minha vida.
Capítulo 35
Era noite de véspera de Natal. As crianças não aparentavam sentir a
mínima falta da mãe, que já estava na clínica há quase dois meses. Também
pudera, com Heloise longe, eles ficavam bem, sem as invasões histéricas e
o estado deplorável que ela aparecia.

Os dois estavam de férias da escola. O que acabava por me deixar mais


tempo em casa durante o dia, já à noite eu continuava meus bicos com
Fabiano. Por outro lado, também tinha feito minha inscrição no supletivo do
ensino médio para, enfim, poder terminar meus estudos e ter as portas do
mercado mais disponíveis para mim.

Eu sempre tive a vontade de retomar meus estudos, mas Beatrice havia


sido minha incentivadora, insistindo na ideia de não abandonar meus
sonhos e melhorar de vida. E eu tinha muito o que realizar!

Pensava nela todos os dias. Impossível não lembrar do seu cheiro,


toques, sorrisos e até sua dureza quando tentava esconder os sentimentos
que estavam começando a aflorar.

Porém, assim como começou, teve que terminar. Bom, pelo menos por
um tempo, talvez para sempre, eu não sabia. Só estava magoado por ter sido
ignorado por tantos dias. Sim, entendia que ela havia enfrentado momentos
difíceis por conta do acidente, a prisão da mãe e toda a chuva de
informações que eram negativas para o sobrenome que ela tanto lutava para
preservar.

O problema para mim foi ser excluído quando eu poderia ser o apoio. Ao
me deixar de fora, Beatrice só mostrava que eu continuava sendo útil
apenas para a diversão, nunca para mergulhar na sua vida de verdade. Isso
me destruía por dentro, pois eu sabia que ela gostava de mim, que aquele
coração de pedra guardava um terço da paixão que eu também sentia e era
mais intensa.

Por isso voltei a mergulhar na minha vida, na minha realidade com as


duas crianças que sempre seriam minha prioridade. Dulce continuava me
ajudando muito e recebia o apoio do Fabiano. Já Ana, estava afastada e
pouco falava comigo.

— Uau, titio! Nós nunca tivemos um Natal assim. — Elena falou


animada.

A mesa pequena estava montada com um panetone de frutas, arroz,


farofa e um frango de padaria que tinha encomendado. Não era nada
luxuoso, mas eu tinha feito um esforço para mudar um pouco em relação
aos anos anteriores. Sempre comíamos o que Dulce ou meu amigo oferecia
para que não passássemos a noite em branco, já que eu não podia gastar
além das necessidades. Por isso os meninos estavam animados.

— Fico feliz por saber que gostou da nossa ceia.

— Por isso eu amo você, titio.

E com sua doçura que sempre teve, Elena me envolveu em um abraço


carinhoso.
Logo senti o aperto do outro lado, que era Igor, mais fechado, porém de
um jeito tão carinhoso quanto a irmã.

Meus olhos encheram de lágrimas com o amor que eu recebia em troca,


me fazendo perceber que era justo o que eu havia feito para melhorar a vida
deles.

Não demorou para que Dulce aparecesse e se reunisse conosco para uma
pequena oração, já que passava das dez da noite e os meninos precisavam
comer.
Agradeci em silêncio pelos últimos meses, por tudo o que enfrentei e
vivi para que tivesse com essa mordomia que eu nunca tive. Que eu podia
proporcionar alimento e moradia aos meus dois bens. Pedi também pela
minha irmã, que se recuperasse e seguisse em frente de uma maneira digna
e honesta.

Estávamos comendo quando batidas no portão chamaram minha atenção,


assim como a dos demais. Ergui o olhar e vi a figura feminina parada do
lado de fora, destoando completamente do lugar.

Meu coração quase saiu pela boca quando vi de quem se tratava. A


comida ficou presa na garganta.

— Jesus! — Murmurei, ignorando a reação da Dulce e dos meninos.

Deixei o prato de lado e levantei quase que imediatamente, correndo


para abrir o portão e dar passagem a ela.

— Será que tem espaço pra uma penetra?

Era ela. Beatrice. Entrando na minha casa, em uma vila, usando uma
roupa discreta, sem maquiagem e o cabelo preso em um rabo de cavalo. O
cheiro, como sempre, inconfundível.

Precisei puxar o ar e respirar profundamente para conseguir reagir.

— O que você tá fazendo aqui?

Olhei para o seu rosto lindo, os lábios carnudos, o queixo fino, pescoço
sem colar, os seios apertados sob a blusa de alças e as pernas cobertas com
uma calça jeans. Perfeita, da cabeça aos pés. O efeito que ela tinha sobre
mim era esmagador.

— Vim passar o Natal com quem realmente é importante para mim.


Antes que eu pudesse responder, os dois curiosos tomaram a frente, em
especial Elena, que rodeou a mulher, admirando e analisando com os
olhinhos interessados.

— Você é namorada do titio?

Fiquei surpreso com a pergunta da garota, que ficou ansiosa esperando


pela resposta.

— Bem, essa pergunta eu prefiro que seu tio responda. — Ela me


encarou — Sou sua namorada, Hugo?

— Sim, é.

Eu estava ficando louco por anunciar isso assim, do nada, na frente das
crianças e da Dulce, mas foi isso que fiz, porque era o que eu queria.
Beatrice minha namorada, por mais absurdo que fosse.

— Você é muito bonita. Parece aquelas mulheres de filme. — Igor


comentou menos espalhafatoso do que a irmã.

— Ora, parece mesmo. Venha, senhora, senta com a gente. Chegou bem
na hora da maravilhosa ceia que Hugo preparou.

Agradeci por Dulce ser bem animada e ter puxado Beatrice com ela,
onde ofereceu uma cadeira e entregou o prato para que ela se servisse. Eu
nem sabia se ela comeria, mas só de vê-la dentro da minha casa eu já estava
feliz ao ponto de explodir.

— Beatrice. Nada de senhora, pelo amor de Deus. — Comentou


enquanto se servia.

— Então me chame de Dulce, só isso. Sou uma senhora, mas prefiro


achar que ainda estou na flor da idade.
Gargalhei, juntamente com as duas, sendo observados pelas crianças que
não paravam de olhar para a mulher mais linda que eu já vi na vida.

— Come, você vai gostar. — Elena falou, ficando ao lado dela. — Meu
tio que fez tudo isso, sabia? Ele que compra a comida, faz, cuida da gente e
é muito bonito também. Não acha?

— Sim, ele é tudo isso e muito mais.

— Por isso você se apaixonou?

— Elena! — Tentei desacelerar a pequena intrometida.

— Não só por isso, querida.

A encarei, quase desabando de emoção ao ouvir suas palavras. Ela


estava admitindo estar apaixonada por mim. Fazendo isso na frente das
crianças, da minha vizinha... Não era brincadeira, não tinha como ter volta.

Beatrice comeu tranquilamente, como se estivesse em casa, à vontade e


respondendo todas as perguntas que meus sobrinhos faziam sobre ela,
dentre as quais, onde morava, como tinha me conhecido, se ela trabalhava...
Eram tantos questionamentos simultaneamente que eu não sabia como ela
estava aguentando ser verdadeiramente sabatinada.

— Nunca comi uma ceia tão gostosa como essa!

Sorri, mesmo sabendo que ela comia coisa muito melhor, mais
requintada e cheia de pompa.

Mais solta, ela caminhou até a porta e pegou as sacolas que havia
colocado no canto da parede, lendo o nome em cada cartão e entregando de
um por um. Um para Dulce. Um terço dourado, lindo e delicado,
comentando que eu havia dito que minha vizinha era religiosa.
Um para Igor. Um videogame de última geração, que fez o menino gritar
empolgado de alegria. Ele até a abraçou, agradecendo pelo presente.

O da Elena, foi uma boneca grande, réplica da Rapunzel, cabelos longos


e com tranças. Minha garotinha pulou de felicidade.

E o meu, um par de tênis moderno. Ela havia reparado que os meus


estavam gastos e antigos. Não que eu me importasse, mas agradeci com um
beijo rápido e casto.

— Fico feliz que tenham gostado.

— Nós amamos! E vamos, crianças. Bora lá pra fora brincar um pouco e


deixar o casal conversar.

Dulce falou, puxando os dois para a rua, que sequer protestaram com o
pedido.
Fiquei sozinho com ela, na minha sala, ainda em estado de choque com
sua presença.

— Você... aqui... sabe que é perigoso.

— Acha que alguém me reconheceria? De qualquer forma, vim em um


carro popular que aluguei, a roupa discreta, dois seguranças à alguns metros
de distância e uma saudade arrebatadora.

Senti alívio por ver que ela tinha vindo precavida. Que não corria riscos,
apesar do maior perigo ser sua mãe, que já estava presa.

— Você sumiu. Fiquei louco por ter sido ignorado.

— Sinto muito, Hugo. Precisava de um tempo, limpar a sujeira,


organizar a bagunça. Queria você longe disso.

— Quando eu digo que estou apaixonado, querendo fazer parte da sua


vida, tudo isso está incluso. Não quero ser apenas o cara que te satisfaz na
cama e vai embora em seguida. Quero ficar, ser além do sexo.

Ela se aproximou, devagar, erguendo as mãos e as apoiando sobre meu


rosto em uma carícia que me acendeu aos poucos.

— Estou em uma nova fase da minha vida, e pode ter certeza de uma
coisa, Hugo: você faz parte dela. Não quero mais ficar longe, por mais
insano que seja isso e vá contra tudo o que eu planejei para nós dois.

— Isso quer dizer que está disposta a me assumir?

Agarrei sua cintura e a puxei, diminuindo qualquer centímetro de


distância que havia entre nós.

— Está pronto para receber olhares julgadores? De ser taxado de coisas


que não merece por pessoas maldosas?

— A nossa verdade e o que sentimos é a única coisa que me importa.

— Tem seus sobrinhos, não quero que algo respingue neles. Vou fazer o
possível para proteger os dois.

Ver Beatrice assim, disposta a tentar, sem a redoma e a dureza, era de


encher meu coração de uma paixão que só crescia com o decorrer dos dias.

Rocei os lábios nos dela, lentamente, provando o sabor que apenas ela
tinha. As chamas foram acendendo aos poucos, pronto para me consumirem
de vez, esquecer que estávamos na minha casa, longe do que ela estava
acostumada. Eu sequer tinha um quarto só meu, não podia ir além, quando a
qualquer momento os meninos estariam de volta. Eram dois curiosos, não
aguentariam por muito tempo ficar sem encherem Beatrice de mais
perguntas.

Meus dedos cravaram em sua cintura, lutando por um controle que eu


não tinha quando ela estava por perto. Por isso, mesmo relutante, afastei um
pouco para encarar seu rosto lindo e ver que eu não estava sonhando.
— Você está aqui. Cacete! — Sorri apaixonado.

Não conhecia a sensação até encontrar Beatrice. Tudo o que eu ouvia


parecia insano demais, romantizado por filmes e novelas, mas agora... eu
sabia como era. Devastador, louco, intenso.

— Quero fazer parte da sua vida, Hugo.

— Você já faz.

— Mais. Muito mais. Depois de tudo que enfrentei nas últimas semanas,
minha certeza é não querer mais desperdiçar nosso tempo. Seja lá como for
funcionar, darei um jeito.

Abri a boca para responder, mas fui impedido por uma pequena tagarela
que entrou pulando de felicidade e chamando Beatrice para se sentar do
lado de fora.

— Elena, por favor, vá com calma.

— Quero que ela fique com a gente, veja a rua.

Beatrice sorriu e deu de ombros, mais linda do que nunca enquanto era
puxada para a calçada.

Fiquei preocupado com uma possível exposição, mas duvidava muito


que as pessoas fossem reconhecê-la. Então deixei tudo de lado e
acompanhei as duas.
Minutos depois a bagunça estava feita. Os dois de barriga cheia corriam
pela rua com outras crianças, enquanto eu me sentava ao lado da Dulce, que
tinha se tornado uma amiga muito especial, mais do que em todos os anos
que eu a conhecia e Beatrice, inacreditavelmente, sentada em uma cadeira
de plástico e um enorme sorriso estampando o rosto perfeito.
Foi quando notei uma movimentação diferente e estranhei. As crianças
foram a loucura quando viram um carro grande entrando na rua em que
morávamos. Parecia um carro alegórico com tantas luzes coloridas, a
música alta tema de algum desenho infantil e um senhorzinho de vermelho
acenando animado para as crianças.

— O papai Noel, titio! — Elena gritou eufórica, em seguida correndo na


direção do carro que parou na esquina.

Olhei para minha vizinha, confuso e sem entender muito, mas sorrindo
por ver a animação de todos os pirralhos da rua, que não eram poucos.

O velhinho estava distribuindo presentes, guloseimas e balões, sendo


rodeado pelas crianças.

— Não sei quem foi a alma generosa por lembrar dessa rua, mas fico
feliz por ter feito isso pelas crianças. — Comentei — Acho que eu nunca
tive isso na minha vida.

Dulce sorriu me dando uma cotovelada e um olhar malicioso.

— É tão ingênuo a esse ponto, Hugo? Não sabe mesmo quem foi?

— Não. Como saberia? — arregalei os olhos tendo uma constatação —


Como? Deus...

Voltei meu olhar para Beatrice, que estava mordendo o lábio inferior,
numa assumida expressão de culpa.

Era inacreditável que ela tivesse feito tudo isso por pessoas que sequer
conhecia. Sim, eu sabia que ela tinha um coração bom, mole e doce, mas
ainda era surreal.
E porra, isso mexeu demais com meu coração.

Olhei para os meninos felizes com o velhinho que tentava dar atenção a
todos. E voltei a fitá-la, ainda embasbacado.
Segurei sua mão e dei um beijo suave, carinhoso. Cheio de gratidão e
amor.

— Obrigado por fazer isso pelas crianças. Por ter dado um pouco de
felicidade para pessoas tão inocentes e puras.

— Devia ser segredo, Hugo, mas acho que na próxima consigo ser mais
discreta.

No meio da rua, exposto para olhares curiosos da vizinhança, eu apenas


desejei roubá-la para mim, levar até um lugar quieto e só nosso para poder
tomar seu corpo e mergulhar dentro dela para nunca mais sair.
Capítulo 36
A última semana do ano foi corrida. Encomendas, reuniões,
confraternização para os funcionários em um clube de campo, premiações e
fechamento de contratos. Eu não tive muito tempo para o Hugo, mas estava
feliz que nosso relacionamento caminhava bem, sem medo de assumir para
os outros que eu estava apaixonada.

Obviamente ainda restava o receio da exposição que ele teria, as pessoas


que o condenariam pela diferença social, de idade e outras coisas que a
sociedade, inclusive eu, gostava de impor. Agora, tendo uma mente mais
aberta e um coração cheio de amor, eu só o queria ainda mais, desejando
além de um namoro ou de encontros casuais.

Por enquanto, eu só precisava de tudo andando na linha.

Era final da tarde quando Moroni entrou na minha sala, aquele sorriso
malicioso cheio de perguntas e intenções provocativas em relação ao Hugo
e a mim. Desde que soube que eu, enfim, tinha baixado a guarda, ele não
parava de me importunar.

— Dei uma passada lá fora, vi o Benício trabalhando. — Comentou


animado — Olha, até me belisquei para ter certeza de que não estava em
um sonho.

— Ainda fico um pouco receosa com as atitudes dele. Beni tem aceitado
fácil demais.

Sim, ainda estava desconfiada, por mais que tivesse meu irmão nas
mãos. Ofereci a cadeira ao meu advogado e amigo, me sentando em
seguida.
— Fácil? Você permitiu que a protetora dele fosse presa, ameaçou tirar a
herança, empregados, mesada, fazer com que ele pagasse as contas... bem,
não imagino o quanto isso seja uma decisão difícil para o Benício.

Soltei uma risada, assentindo a tudo o que Moroni tinha falado. O que
era, de fato, verdade, ainda assim eu temia um ato rebelde a qualquer
momento. Não seria fácil educar meu irmão depois de trinta anos agindo
como um babaca de cabeça oca e mente vazia.

Certo, ele não se comportava cem por cento. Além dos flertes com
funcionárias, fugia um pouco para dormir no vestiário, reclamava da
comida e duas vezes saiu mais cedo do que o combinado. Precisei ser firme
nas ameaças para que não repetisse. E bem, se estava fazendo, era
escondido, pois eu tinha colocado pessoas para vigiar os passos dele.

Só me restava confiar e esperar, torcer para que ele tivesse jeito e


tomasse rumo na vida, porque Magda estava presa, não ficaria muito tempo,
apenas o suficiente para pagar uma parte do que cometeu e por causa da
idade. De qualquer forma, ainda era um começo.

Já em relação a Marcus, ele finalmente tinha me dado paz, pois foi isso
em troca de um emprego longe daqui e um pequeno apartamento para que
tivesse um teto.

— E como está a Heloise? — Indaguei.

— O tratamento anda bem, apesar de alguns momentos ela estar rebelde,


mas acredito que algum dia teremos boas notícias de verdade.

— Hugo queria fazer uma visita com os meninos, mas ela não aceitou.
Acho que em relação a maternidade não veremos avanço algum.

Isso me desanimava um pouco. Doía perceber que ela não dava a


mínima para os filhos e o irmão.

— Nem tudo pode ser como a gente quer, não é?


Dei de ombros e continuei a conversa, dando detalhes do que eu
pretendia fazer para a nossa última noite do ano.

Hugo, os meninos e Dulce, passariam comigo. De um jeito diferente,


especial e inesquecível.

Cheguei em casa pronta para passar a noite com Hugo. Eu tinha dado o
cartão de acesso ao condomínio e a chave do apartamento, para que ele não
precisasse de convite para aparecer.

Não era algo que eu esperava ter para minha vida. Não apenas por ser
um homem bonito, generoso, trabalhador, responsável e que tomasse conta
do meu corpo e coração. Mas por eu ter confiança, conseguir conversar, me
abrir por inteira, mostrar meu lado vulnerável. Nossa diferença de idade se
tornava um mero detalhe.

Desde a noite da véspera de Natal nós estávamos indo bem. Foi diferente
passar uma data especial cheia de pessoas de verdade, sem falsidade ou
prontas para me apunhalarem pelas costas. E as crianças, eu fiquei
completamente apaixonada. Entendi os motivos do Hugo ser tão louco por
elas.

Meu corpo inteiro esquentou quando o vi aparecer na minha sala, um


sorriso sacana e completamente nu, exceto pelo avental que cobria a frente
do seu corpo delicioso. Meu olhar foi por cada centímetro de pele exposta,
sendo acompanhado pela reação que meu corpo tinha com a proximidade
dele.

— Você me disse uma vez que queria me ver cozinhando apenas de


avental, então imaginei que essa seria uma boa oportunidade.
Gargalhei excitada e ansiosa para pular nos seus braços, como uma tola
apaixonada que eu havia me tornado. Todas as barreiras tinham desabado de
vez.

Hugo caminhou até mim e segurou minha mão, guiando-me até a


cozinha, onde o cheiro de comida estava preenchendo o ar.

— O que você está aprontando? — Perguntei apertando sua bunda.

— Aprendi na internet uma receita de filé de peixe ao molho com arroz e


salada. A Tereza quase não me deixava tocar nas panelas, então precisei
dispensá-la com a promessa de que não permitiria que você descontasse no
salário dela.

Eu nunca deixei que ninguém invadisse meu espaço pessoal, desse


palpites ou fosse além dos limites que eu colocava, mas com ele tudo era
diferente, eu gostava e até me excitava.

— Mal posso esperar para experimentar. E nem estou falando do prato.

Mordi o lábio e observei enquanto ele mexia na panela, concentrado,


lindo e sexy, atiçando todos os meus poros com sua beleza arrebatadora.

Enquanto o assistia, comecei a me livrar do vestido que eu estava


usando. E ri quando ele reagiu surpreso ao notar que a lingerie preta de
renda era a única coisa que cobria meu corpo.

Caminhei até ele, as coxas roçando e a calcinha molhada por estar assim
com ele.
Posicionei-me atrás dele e deixei beijos nas suas costas, traçando o
caminho pela pele nua e perfumada com o cheiro único que apenas ele
possuía.

— Vai me fazer desistir do jantar e fazer você se tornar o meu.


Amava quando Hugo era ousado, solto, desinibido e safado. Até sua voz
mudava de tom.

— Não se acanhe por isso, mas prefiro que continue enquanto eu vou te
agradecendo da minha maneira.

Minhas unhas foram caminhando por todo o seu corpo, um terreno tão
conhecido que eu sabia os detalhes até mesmo se fechasse os olhos.

Beijei devagar sua pele, descendo a mão até encontrar o cacete duro
debaixo do avental, que agarrei e acariciei a ponta, sentindo as veias
estremecerem sob meu toque.

— Beatrice. — suspirou excitado — Você vai me matar.

— Então será uma boa morte.

Provoquei em movimentos indo e vindo apertando o pau contra os


dedos, louca para ter dentro de mim, pois eu estava subindo pelas paredes.

A respiração ofegante dele alcançou meus ouvidos e isso apenas me


impulsionou a ir além.

Fiquei de joelhos, de frente para ele, a ereção à altura do meu rosto.


Rosada, cabeça vermelha, inchada, latejando e as veias saltadas. Lambi os
lábios de ansiedade.

Busquei seu olhar, que estava fixo em mim e nos meus movimentos,
enquanto ele ainda tentava dividir a atenção entre mim e o jantar.

— Consegue continuar enquanto te devoro com a boca? — Questionei.

— Inferno! Eu não faço ideia, mas estou louco para tentar.

Sorrindo provocante, beijei a coxa, a virilha e as bolas inchadas. Segurei


mais firme ainda a ereção, lambendo de baixo para cima, sentindo o pré-
gozo que estava brilhando na ponta.

— Sua porra vai ser a entrada do meu jantar, Hugo. Quero que empurre
tudo na minha garganta.

Ele estremeceu com minhas palavras. Ainda me deixava louca ver suas
reações com minha ousadia.

— Fique à vontade para se servir.

Foi o impulso que eu precisava para envolver tudo com a boca, sentindo
encostar na minha garganta, a espessura me fazendo forçar um pouco mais
a mandíbula. Chupei com todo o desejo que me consumia, sentindo os
dedos dele agarrarem os fios dos meus cabelos, em um ato selvagem e que
eu amava quando era despertado.

Ouvi seus grunhidos animalescos, assisti de baixo sua expressão ir de


calmaria à selvageria ao meter fundo na minha boca.

Minha língua ia avidamente, meus dedos acariciavam suas bolas e os


outros massageavam a zona erógena. Hugo gritou quando circulei o
indicador devagar em sua parte sensível, não demorando a perceber que ele
estava prestes a gozar.
Segundos depois do pensamento, ele veio. Jatos mornos jorraram na
minha garganta, o sabor que eu conhecia muito bem e era viciada.

Ele puxou a respiração, ainda com o cacete na minha boca e me encarou


de uma maneira tão quente que poderia explodir o prédio inteiro.

— Sabe o que eu quero agora?

Afastei os lábios e ele me puxou para cima, a boca rente com a minha.

— Não, mas estou curiosa para saber. Pelo olhar, duvido que sejam boas
intenções.
— Quero comer sua bunda, Beatrice. Sabe o quanto fico louco quando
você fica de quatro pra mim? Isso tem me feito imaginar inúmeras formas
de me enterrar dentro de você por trás.

Me arrepiei inteira por ouvir seu desejo. Hugo ainda era acanhado,
apesar de deixar a fera escapar em certos momentos.

— E por que não faz isso agora?

— Está mesmo tentando ter a sobremesa antes do jantar?

— Nesse caso, você terá. Eu já tive a minha, que foi muito saborosa, por
sinal.

Hugo cravou as unhas na minha cintura e me fez girar, colocando meu


corpo inclinado contra a pedra de mármore do balcão. Ouvi quando ele
desligou o fogo e arrancou o avental.

— Tão linda, perfeita e gostosa. — Sussurrou beijando minhas costas e


desabotoando o sutiã — Só minha.

— Inteiramente sua.

Tive a calcinha arrancada, tornando mais uma para a lista de descartadas.


Talvez eu usasse as de renda mais finas justamente para que acabassem
dessa forma.
Prendi o ar quando ele desceu e lambeu minha bunda, mordendo a popa
e abrindo as bandas e me deixando exposta para sua língua.

Ofeguei enlouquecida, abrindo ainda mais as pernas.

— Você gosta disso? — Perguntou.

— Sim, quero que você coma meu cu, gatinho. Que enterre bem fundo
dentro de mim e deixe sua marca.
Outra mordida acompanhada pela lambida. Fui do céu ao inferno.

— Sempre quis, sabia? Sempre desejei te ver assim, e agora eu só quero


deixar meu lado contido de lado e não ser gentil ao mergulhar dentro de
você. Só não quero te machucar.

— Você nunca me machuca.

Estava desesperada para que ele fosse logo. Queria sentir como seria ter
Hugo dentro da minha bunda, tomando o único lugar que ele ainda não
tinha se apossado.

Revirei os olhos ao sentir os dedos me penetrando, molhados da minha


boceta que ele havia tocado apenas com o propósito de lubrificar.

— Acha que vai caber tudo? Consegue me engolir inteiro?

— Claro que sim. Só vem logo de vez, estou pingando, Hugo.

— Por que não se toca, então?

O pedido era uma ordem que obedeci de imediato, levando a mão entre
minhas pernas, acariciando o clitóris inchado.

— Assim, linda... desse jeito.

Girando o dedo no meu buraco, ele começou a entrar e sair, deixando-me


pronta para o que viria em seguida.

E veio, arrancando de mim um grito descontrolado quando foi


afundando devagar, metendo cada centímetro com paciência até que eu me
acostumasse com a sensação.

De dor e ardência, logo senti o prazer do pau deslizando, inchado e


molhado dentro de mim.
— Caralho! — Ofegou rouco — Não vou mais querer sair daqui.

Logo as estocadas começaram, firmes e frenéticas, enquanto meus dedos


acompanhavam o ritmo.

Não consegui responder, pois estava tonta, excitada e com a garganta


seca.
Porém, mais satisfeita e faminta como nunca estive.

Hugo me deixava vulnerável, ousada e muito desesperada por ele. Não


havia mais como ignorar o poder que ele tinha sobre mim. E talvez fosse
melhor assim.

Ele seria meu.

Para sempre.
Capítulo 37
Nossa última noite do ano. Beatrice havia alugado uma casa em uma
praia mais isolada, segura e com uma área extensa. Os meninos amaram
quando ela os trouxe, principalmente pela piscina e uma brinquedoteca para
que se distraíssem. Uma equipe foi contratada para cuidar do nosso jantar, o
que eu faria sem problema algum, já que cozinhar acabava sendo uma
diversão para mim, mas ela foi decidida ao negar o pedido.

— Uma folga, gatinho. Não quero que trabalhe, apenas aproveite.

O seu aviso foi claro e não insisti.

Dulce veio conosco, animada e alcoviteira, feliz por conhecer melhor a


mulher que tinha tomado conta da minha vida.

Olhei mais uma vez os meninos correndo pelo gramado, cada um mais
bronzeado do que o outro, pois haviam passado o dia inteiro da piscina para
o mar, com uma energia que eu não teria nem se nascesse novamente.
Precisei insistir algumas vezes até que entrassem, tomasse um banho e
trocassem de roupa antes que pegassem uma gripe.

Antes de vir até a casa, passei na clínica para visitar minha irmã, que
apresentava melhora, mesmo que aos poucos, estando certa de que jamais
seria outra pessoa, mas eu sabia que em um determinado momento ela
acordaria para a realidade e aceitasse que a vida estava dando mais uma
oportunidade.

Ela não tinha previsão para sair de lá, pois o tratamento seria longo,
incluindo com terapias para que ela pudesse lidar com todos os traumas que
passou durante a vida. Me dava um peso a menos no peito por saber que ela
estava bem e protegida.
Caminhei até a mesa e peguei alguns petiscos, beliscando de um por um,
estranhando os com gostos mais peculiares, algo que era tão comum para
Beatrice, que se sentia em casa em meio a tanto luxo e elegância.

Fabiano também estava conosco, ela fez questão de pedir que eu o


convidasse, pois ele fazia parte da minha vida. Meu amigo nem pestanejou
ao aceitar, já que estava eufórico para saber mais sobre a mulher que eu
estava apaixonado.

Os dois se deram bem, apesar da Beatrice ser um pouco mais fechada


quando conhecia outras pessoas. Ela era desconfiada, acanhada, sempre
com um pé atrás, mas tinha feito o convite mais por mim do que por ela
mesma.

Já os meninos e Dulce, eram loucos por ela, principalmente Elena, que


era mais doce e amorosa do que o irmão.

— Agora eu consigo entender os motivos que te fizeram ficar assim,


todo cadelinha por ela. — Fabiano comentou, aparecendo logo ao meu lado.

— Se você continuar babando na minha mulher, vou ter que te chutar pra
fora daqui.

Não achava que meu amigo fosse investir em Beatrice, sabendo que eu a
amava, mas sentia aquele bichinho do ciúme corroendo quando outros
homens notavam sua beleza.

— Não esqueça que me deve gratidão eterna por ter insistido que você se
inscrevesse no site.

— Isso não te dá direito de ficar olhando pra ela. Sua namorada vai te
matar.

— Não se preocupe com isso. Apesar da sua mulher ser uma beldade,
sou apaixonado por outra.
Sorri, balancei a cabeça e tomei um gole de coquetel sem álcool.

— E a Ana, como ela está?

— Bem, ainda se acostumando com a ideia do desapego. Foram muitos


anos alimentando uma paixão platônica, mas logo vai passar.

— Ela merece ser feliz. Embora tenhamos nos desentendido algumas


vezes, Ana ainda é muito especial para mim.

Recebi dois tapinhas nas costas e logo ele me deixou sozinho quando viu
que Beatrice se aproximava.

Linda e de arrancar o fôlego, estava usando um vestido branco apertado


até a cintura e folgado dos quadris até os pés. O cabelo solto, o batom claro
e o rosto mais natural, a deixaram ainda mais bonita.

— Estou amando essa ideia de ter tantas pessoas nas comemorações


especiais.

Era surreal pensar que ela sempre ficava sozinha, sem amigos ou família.
Moroni era o único, e quase sempre estava com a família.

— Fico lisonjeado por saber que está gostando de conhecer meu combo
completo.

— Na verdade estou sentindo muita inveja.

— Agora, todos eles, fazem parte da sua vida também.

Segurei sua mão e entrelacei nossos dedos. Ainda não conseguia


acreditar que estávamos assim, bem e assumidos.

— Será que Benício vai mudar algum dia? Ser responsável, ter família,
estudos... não viver como um playboy delinquente.
— Se não mudar, a culpa não será sua. Você está fazendo sua parte.

O irmão dela já estava trabalhando há um pouco mais de uma semana,


tendo problemas, claro, mas tentava. Ainda se mostrava rebelde pela
situação da mãe, porém, não a amava o suficiente para fazer visitas a
genitora. A ideia de frequentar um presídio o deixava louco.

Vi os olhos de Beatrice ficarem marejados, exibindo a emoção que


estava consumindo sua alma. Ela tentava ser durona, fria, no final sempre
cedia e mostrava um lado frágil que era ocultado por sua casca.

— Bom, não quero mais falar sobre isso. Vamos passar a virada na beira
da praia. Vem!

E vestindo a carcaça inabalável, sorriu, puxando-me animada para onde


os convidados começaram a se reunir. As crianças correram também, ambas
ficando ao nosso lado.

Olhei para o céu enfeitado de estrelas, uma noite iluminada, diferente de


todas que já tinha visto, o mar escuro à frente, a areia branquinha e a brisa
do mar que batia no nosso rosto. Parecia mágico demais.

Agradeci, em silêncio, por tudo o que o ano havia me proporcionado.


Dores, alegrias, amor, paixão, esperança, fé, amizades... tanta coisa boa que
as ruins acabaram ficando de lado.

Fabiano pegou o champanhe e começou a sacudir à medida que a


passagem de ano ia chegando, vendo nosso grupo se reunir ao redor
gritando empolgado.

E então chegou a hora e todos gritaram, sendo banhados pelo líquido que
meu amigo espirrava na direção de todos.

Abracei e fui abraçado pelos meus pequenos, que estavam tão felizes que
eu sequer lembrava de já tê-los visto assim.
Quase parei de respirar quando ela tirou uma caixa que estava nas mãos
de Elena e que nos encarava com os olhinhos lindos.

— Feliz ano novo!

— Quem diria que eu teria um ano tão louco e intenso quanto esse?

— É, gatinho. Nós dois tivemos. Nunca imaginei que teria tanto ao te


conhecer naquele restaurante, porém, uma coisa eu sabia: você não era
como os outros e jamais seria.

Acariciei seu rosto, sentindo a maciez da sua pele brilhar sob as estrelas.

— Você mudou meu mundo por inteiro. Bagunçou tudo, mas de uma
forma boa. Nem sei se mereço tudo isso.

— Eu deveria falar isso, Hugo. Você merece muito mais, já eu sou


privilegiada por ter um homem tão incrível na minha vida.

Olhei para a caixa, sua mão mexendo e abrindo, em seguida me


deixando com as pernas moles.

— Jesus! Isso...

— Sei que ainda estamos no começo de um relacionamento,


principalmente em público, talvez minha idade e a necessidade de ter mais,
esteja me fazendo ser apressada, assim mesmo quero tentar, gatinho.

Abri e fechei a boca várias vezes em um curto intervalo de segundos.


Beatrice estava com uma aliança na mão, me oferecendo, como um
pedido que deveria ser feito por mim.

— Não precisa surtar. Quero sim que case comigo, seja meu de vez,
oficialmente, essa é a certeza que tenho depois de tudo o que vivemos nos
últimos meses. Caso não queira ir tão longe agora, aceite como um
compromisso. Algo para selar nosso relacionamento.
— Eu devia fazer isso, caralho! — Ofeguei em um misto de emoções.

— Bobagem! Sabe que sou um tipo único e especial de mulher, que


prefiro eu mesma tomar a iniciativa em tudo.

— Amo você, inferno! — Quase gritei — Amo você, Beatrice!

Agarrei sua cintura e a coloquei nos braços, girando com ela pela areia,
ouvindo gritos e aplausos animados, todos felizes com o pedido que ela
havia feito.
Beijei seus lábios, rosto, queixo, pescoço... até tropeçarmos e cairmos na
areia, ela por cima de mim, gargalhando com as bochechas vermelhas e o
cabelo bagunçado.

— Eu aceito, linda. Aceito tudo se for com você.

Tentando se ajeitar sobre mim, ela pegou o anel e pôs no meu dedo, em
seguida deixando um beijo que me acendeu em um momento totalmente
inadequado. Mas além do fogo, tinha amor, paixão, um sentimento que me
enlouquecia e acalmava.
Peguei o outro anel e segurei sua mão, deslizando a joia por seu dedo e
repetindo o beijo que ela havia dado também.

— Nunca pensei que falaria isso para um homem, que entregaria tanto
de mim a uma pessoa que não fosse eu mesma. Você me faz ser melhor.
Altruísta, amorosa e desejando ter uma família imensa. Amo você, gatinho.
Amo para sempre.

Puxei seu rosto e tomei seus lábios contra os meus.

Um beijo intenso.

Apaixonado.

Feliz.
Lábios perfeitamente encaixados como se fôssemos feitos um para o
outro.

E talvez fosse isso mesmo.

Ela sempre foi minha.

E eu me guardei especialmente para ela.

Não me arrependia de nada.


Epílogo
Se alguém pudesse voltar no tempo e contasse ao jovem Hugo de vinte e
quatro anos que ele conseguiria não apenas terminar os estudos, como
também ter pontuação no Enem para ingressar em uma faculdade no curso
de Ciências Contábeis, jamais acreditaria. Porém, aqui estava eu. Cursando
algo que eu gostava, entendia e pagando apenas uma parte, já que a bolsa
que consegui cobria boa parte.

Beatrice foi meu ponto de apoio e incentivo durante todo esse tempo,
pois me fez estudar, ajudou em matérias que eu estava com dificuldades, me
deu um emprego em meio período como estagiário na empresa, além de ter
oferecido os estudos para meus sobrinhos. Elena e Igor estudavam em uma
das melhores escolas do país, bilíngue e que oferecia uma educação que
eles jamais teriam se dependessem apenas de mim.

Estávamos juntos há três anos, casados há um, em uma cerimônia


simples e íntima, com convidados como meus sobrinhos, obviamente,
Dulce, Heloise, Virna, Moroni e família, Benício, meu amigo Fabiano e a
namorada. Ana já estava bem comigo, sem alfinetadas, mas sem a amizade
que tínhamos antigamente. Ela tinha conseguido passar em um mestrado em
outra cidade, o que ajudaria com a carreira que almejava.

Porém, nem tudo eram flores. Magda, por exemplo, tinha saído da cadeia
e estava tentando retomar a vida. Apesar de tudo o que ela havia feito
contra a filha, ainda receberia uma parte das ações, mantendo o suficiente
para bancar uma vida adequada, contanto que andasse na linha. Assim era
com Benício, que ainda trabalhava para a irmã e tinha sido instruído a
cursar faculdade para ampliar as oportunidades. O cara era um malandro de
primeira, entretanto, se aprontava, era de uma forma que ninguém
descobria.
Já Heloise tinha arrumado um emprego na cidade ao lado, vivia sozinha
em um apartamento e tentava se manter lúcida com as terapias e
tratamentos rotineiros. Ainda não havia se aproximado dos filhos, esse era o
defeito.

Beatrice, eu, Elena e Igor estávamos morando em uma casa em um


condomínio fechado, espaçosa, com jardim e uma área de lazer para os
meninos. Os dois eram mimados por ela de uma maneira extravagante,
sendo preciso eu várias vezes tentar frear um pouco as atitudes corujas da
minha mulher.

Minha.

De mais ninguém.

A instigante, sexy e poderosa Beatrice Campello agora também era uma


Bertolini e não carregava apenas o meu nome com ela, mas um fruto do que
vivíamos, do nosso amor e a paixão arrebatadora que surgiu no instante em
que a vi naquele restaurante.

Minha mulher estava ainda mais linda do que antes, como se isto fosse
possível e estava grávida de um filho meu. Um garotinho que crescia em
seu ventre há seis meses, depois de um longo tratamento e após ela superar
o trauma vivenciado no passado e decidir transformar o sonho da
maternidade em realidade. E bem, já era algo que eu sonhava. Um filho
nosso, para selar e perpetuar o nosso amor.

Sorri ao encará-la de onde estava. Imponente e bela de uma maneira que


deixava todos aos seus pés.

Era a festa de oitenta anos da marca Fuller, que agora teria o nome
Beauty and B. Um plano que ela traçava desde que começou a perceber que
o nome só remetia as lembranças do pai, o empresário cruel e um pedófilo
abusivo que quase destruiu uma pessoa incrível. Eu tinha muito orgulho do
que ela era, da fortaleza que possuía e do quanto ainda melhorava a cada
dia.
— Boa noite. — Falou a voz sensual no microfone. — Primeiro quero
agradecer a todos que vieram até aqui prestigiar essa nova fase da Beauty.

A maioria dos homens no salão parou o que estava fazendo para assistir
a minha esposa falar em público, fazer um pequeno discurso antes do jantar.

Sua barriga já estava grande, moldada dentro de um vestido vermelho


que ia até os pés, a fenda lateral exibindo a perna torneada e o decote
generoso que delineava os seios mais inchados ainda.

Eu não cansava dessa mulher. Da sua beleza e presença marcante. Do


cheiro e a voz decidida e sempre ousada. A primeira e única mulher da
minha vida.

— Há alguns anos voltei para o Brasil disposta a assumir os negócios da


família. Uma empresa famosa, respeitada e que, mal sabiam, estava prestes
a falir. Tudo bem, sou privilegiada por ter nascido em berço de ouro e ter
ganho uma herança milionária, mas nem tudo se trata de dinheiro. É sobre
amor, ter paixão pelo que faz, responsabilidade e ser fiel aos seus
princípios. Não sou perfeita, acredito que ninguém aqui seja, mas se tem
algo que jamais fui, em toda minha vida, foi hipócrita. Sou casada com um
homem dezenove anos mais jovem, como uma revista publicou e fez
questão de destacar detalhes que não importam a mais ninguém, nem
mesmo a mim. No entanto, aclamavam um homem como meu pai, que não
faziam ideia de quem era de verdade. E por isso, para apagar de vez a marca
de um passado doloroso, lembranças ruins e firmar um belo recomeço,
decidi mudar o nome da empresa e continuar a ter respeito pelos
funcionários, colaboradores e clientes. O nome mudou, a dona também,
mas jamais a essência. Espero que cada um que esteja aqui, continue sendo
parceiro, construindo comigo uma nova Beauty, uma com a cara do país, da
diversidade e do amor.

Ergui a taça e brindei, orgulhoso dela e de tudo o que tinha falado. Eu


nem mesmo bebia, mas havia pegado uma taça apenas para comemorar e
demonstrar meu apoio.
Caminhei até o palco, onde a banda voltava a se preparar para continuar
a apresentação, enquanto era observado por alguns mexeriqueiros.
Julgamentos já não me incomodavam mais, tinha me habituado, mas no
começo tinha sido difícil saber que as pessoas me consideravam um
golpista, interesseiro e que não queria nada além do dinheiro dela.

O dinheiro da Beatrice foi o que me ajudou no começo, o que fez com


que ficássemos juntos, contudo, não foi ele quem fez o amor despertar, a
paixão permanecer depois de anos. Era o que vivíamos quando ninguém
estava olhando. A nossa verdade.

Ofereci minha mão a ela, sorrindo feliz com as coisas que caminhavam
conforme ela tinha planejado. E Deus, ela era uma mulher detalhista e
exigente.

— Quase não me contive de tanto orgulho. — Comentei deixando um


beijo casto em seus lábios — Por pouco não fui até lá e te joguei em meus
ombros, para longe de olhares masculinos.

Acabei conhecendo um lado meu que, na maioria das vezes, eu não


gostava. Um neandertal que se corroía de ciúmes quando via alguém se
aproximar dela com segundas intenções. E não eram poucos.

— Seria excitante te ver tentar.

Acariciei sua barriga, não demorando a sentir o serzinho remexer em


resposta. Nosso garoto estava a cada dia mais esperto e eu mal podia
esperar para tê-lo em meus braços. Elena e Igor estavam enlouquecendo de
ansiedade também.

João. Nosso pequeno milagre depois de um tratamento complicado e que


quase me fez perder as esperanças.

— Acha que ainda consegue dançar um pouco? — Perguntei com uma


sobrancelha erguida.
— Diga você, se consegue ficar comportado em meio a essas pessoas,
dançando atrás de mim, já que na frente é uma missão impossível, a não ser
que dancemos à meio metro de distância.

— Prefiro sentindo seu cheiro, o nariz afundado no seu pescoço.

Puxei seu corpo e girei, contornando sua cintura e pousando o queixo


sobre seu ombro nu. O encostar da sua bunda na minha pélvis, o cheiro
delicioso, o contato com sua pele... era perigoso demais por estar em
público.

Nosso sexo tinha diminuído de ritmo por algumas complicações na


gravidez, mas isso não me impedia de apreciar e dar prazer a ela, beijando
seu corpo e fazendo com que ela gozasse sobre minha língua ou meus
dedos.

— Tudo o que eu quero nesse momento é fugir com você, Hugo. —


ronronou como uma gata no cio.

— Vamos dançar um pouco, tirar um tempo na festa e logo mais vou te


arrastar para o primeiro cômodo fechado nem que seja apenas para que eu
goze em seus peitos.

Mordi o lóbulo da sua orelha, ouvindo o gemido como resposta;

E ali continuamos, em um ritmo lento e provocante, curtindo o nosso


momento dentro da nossa bolha, por mais que estivéssemos rodeados de
pessoas.

— Eu te amo, Beatrice. — Sussurrei.

— Eu também, gatinho. Você foi a melhor escolha que fiz em toda a


minha vida. Obrigada por tudo que tem me proporcionado durante esses
anos.
— Estou ao seu dispor, minha sugar mommy.

Ela gargalhou e virou de frente para mim. Os olhos brilhando, lábios


fartos e uma expressão que me derretia inteiro.

Eu era louco demais por essa mulher.

Enfrentaria tudo o que fosse preciso para ficar com ela novamente, tudo
do começo, para que chegássemos a esse ponto.

Fui do inferno ao céu e, agora, apenas morava em um paraíso.

Uma bela deusa ao meu dispor, com toda sua beleza, sedução e
arrogância.

Fim.
Agradecimentos
Minha gratidão à todas que me leem, apoiam e incentivam desde 2014,
além das outras que foram aparecendo e ainda aparecem no decorrer dos
anos. Em especial a que me ajudou a construir esse livro, desde o
comecinho, quando era apenas um rascunho: Dani, minha amiga, obrigada
pelas broncas e incentivos. Mara, que foi uma bela surpresa no ano passado,
que apareceu como leitora e, de repente, se dispôs a me ajudar tanto com
dedicação e carinho. Além da Deby, que sempre faz minhas capas e me
aguenta até hoje. Shirley, Paula Faria, Tami, Fran, Carol e Raquel que
sempre dão um jeitinho de me prestigiar e até mesmo puxar a orelha, se
necessário, as meninas dos outros blogs literários e grupos do WhatsApp.
Emile Medeiros, que me apresentou a equipe do Safadas, que me deu um
enorme suporte para esse lançamento, deixando meu insta bonitinho e o
marketing incrível delas.

E por último e muito importante, minha família e minha filha, que são
meu apoio principal, sempre dando a força necessária para que eu nunca
desista.

Um abraço imenso em todos que chegaram até aqui depois de


mergulharem nessa história muito especial.
Sobre a autora
Cearense, mãe e sonhadora. Viaja em aventuras românticas, fantasias e
suspira por personagens tão malucos quanto a própria. A escrita seria uma
pequena fuga da ansiedade, mas acabou se tornando um trabalho e uma
aventura que dura bons e mágicos anos. Escrevo sempre sobre o amor em
suas diversas formas. Sobre o sexo sem tabu e personagens fortes e
determinadas.
Outras Obras
1. Proposta Irrecusável
2. Inesperado
(Spin OFF)

1. Indecentes (Conto)
2. Apaixonados

1. Compromisso Selado
2. Uma Chance Para o Amor
(Spin OFF)

1. Uma Doce Tentação


2. Segundo Tempo
3. Descobrindo o Amor
4. Recomeçando ao Seu Lado
5. Corrompida
6. Destinos Traçados

Duologia: Lancaster
1. As Mãos de Um Assassino
2. Perfeito Sedutor.
Onde me encontrar
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Obrigada.

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