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Componente: Desenvolvimento do Ciclo de Vida V

Docente: Iago
Discente: Ana Luiza Cerqueira Beraldo Figueira

Resenha crítica

HAN, Byung-Chul. Sociedade da transparência. Tradução de Enio

Giachini. Petrópolis: Vozes, 2017.

O livro Sociedade da transparência foi escrito pelo filósofo sul-coreano Byung-

Hul Han e foi publicado em 2012 na Alemanha. A obra é dividida em noves pequenos

capítulos, quais sejam, (1) Sociedade positiva, (2) Sociedade da Exposição, (3) Sociedade

da evidência, (4) Sociedade Pornográfica, (5) Sociedade da Aceleração, (6) Sociedade da

Intimidade, (7) Sociedade da Informação, (8) Sociedade do Descobrimento e, por fim, (9)

Sociedade do Controle. Em tais capítulos, o autor provoca a reflexão acerca de diferentes

dimensões sociais que têm sido afetadas pelo uso excessivo das redes sociais.

Nesse sentindo, uma das reflexões trazidas pelo autor é no sentido de que,

atualmente e com ajuda das redes sociais, as relações foram trocadas pelas conexões, nas

quais os sujeitos encontram o próprio reflexo de si (narcisismo), já que – a tecnologia das

redes - permite que o sujeito exclua aquilo que não gosta ou que o frusta (a lógica, ainda

que inconsciente, é: o que se gosta, não frusta). Consequentemente, o autor conclui que

tal dinâmica (o sujeito apenas se conectar com o que curte) tem homogeneizado as

relações sociais, que, para Han, seria uma nova forma – própria da Sociedade da

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transparência – de vigiar seus habitantes, moldando-os através da transparência e vigia

mútua nas redes.

De fato, é possível perceber que, as redes sociais mostram um recorte do mundo,

mostram as partes que agradam e cativam e, assim, as conexões que os sujeitos fazem

através das redes não os aproximam dos outros. Em verdade, seguindo essa lógica do

recorte, as redes sociais aproximam indivíduos que pensam igual e afastam ainda mais

aqueles que pensam de maneira diferente. Tal dinâmica admite que as relações e os

comportamentos dos indivíduos se tornem cada vez mais previsíveis e homogeneizados.

Ainda, o uso das redes sociais – curtidas no facebook e instagram, páginas

seguidas, buscas no google, etc – revelam informações pessoais do sujeito que,

consequentemente, permitem que o sistema das redes preveja o seu comportamento.

Nesse contexto, Han questiona como a apropriação de tais dados, por determinadas

empresas, podem causar impactos direto no modo de agir das pessoas, principalmente no

tocante à vigilância, o consumo e o descarte. O autor pontua que, atualmente, os

indivíduos descartam na mesma intensidade e velocidade com a qual consumem, vez que

os produtos divulgados nas redes se tornam efêmeros e supérfluos muito rapidamente,

resultando em um consumo exacerbado.

Ainda no tocante a homogeneização, o autor questiona sobre a forma pela qual

as pessoas se relacionam na contemporaneidade e até que ponto tais conexões são

fundamentadas nos moldes funcionais da internet, onde compartilhamos o desejo

recíproco de vigiar a vida um dos outros. A dinâmica nas redes acaba por submeter os

indivíduos a se adequarem a um comportamento padronizado, a fim de saciar a vontade

de expor partes – cuidadosamente selecionadas – de sua vida pessoal. Nesse contexto,

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apesar de desejarem se mostrar diferentes, acabam se comportando de maneira igual, a

fim de produzir a si mesmos.

Ademais, ao tratar do aspecto da vigilância nas redes sociais, Han pontua que os

próprios indivíduos fornecem voluntariamente dados pessoais - com o objetivo de

compartilhar suas vidas belas e positivas, sendo que é nesse momento que se concorda

em ser supervisionado, sem que de fato tenham dado permissão para tal. Em síntese, é

possível concluir que nas redes sociais os sujeitos ficam sob o olhar de todos os demais,

sendo todos vigiados reciprocamente e, ainda, há a sensação de que o que não está na

rede, não existe, o que faz com que as pessoas fiquem nesse looping de expor e vigiar.

Além disso, o autor provoca a reflexão sobre o hábito atual que os indivíduos

possuem de organizar a sua vida em torno das notificações dos celulares, em que é

solicitado dos sujeitos um imediatismo e uma relação constante e acelerada nas respostas,

afastando os momentos vazios e/ou espontâneos. Aqui há um novo padrão (ou, um padrão

contemporâneo), qual seja, o de ser rápido nas respostas, sendo estranho aquele que

demora ou que se ausenta dessa relação por meio e/ou com o tecnológico.

Com efeito, Han chama atenção para o fato de que a demora para contemplar as

coisas se tornou algo negativo em uma sociedade onde é valorizado o imediatismo

(atualmente, tudo se torna velho e ultrapassado muito rapidamente), em outras palavras,

a sociedade está mais rápida e, consequentemente, o desejo é alcançado sem qualquer

contemplação e de maneira líquida, pois os sujeitos já não têm mais paciência. O sujeito

perdeu a noção do que significa esperar e ser paciente, tudo acontece de maneira precoce

e não é para menos, já que na sociedade da transparência o segredo e o suspense são vistos

negativamente pelos indivíduos que a compõem, já que esses anseiam pela exposição e

não suportam esperar para ver algo.

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Nessa linha de raciocínio, o imediatismo, próprio da Sociedade da transparência

gera, também, um desassossego no sujeito, que fica a todo momento em estado de

vigilância sobre o que está sendo exposto nas redes, para não perder nada e, por isso, se

mantem muito tempo conectado. De fato, atualmente, de forma majoritária, as diferentes

dimensões da vida do sujeito pressupõem algum tipo de conexão às redes, seja para saber

o que vai acontecer nas aulas na universidade (uso de whatssap e plataforma digital da

instituição), seja para pagar uma conta (uso de aplicativos de banco), seja para se informar

sobre eventos acadêmicos (instagram) e sociais (sites de teatros, etc). Ou seja, na

contemporaneidade, aquele que não se rende – em parte – às redes, fica, de fato, excluído

do fluxo de informações que, muitas vezes, se faz necessário para tocar a sua vida no dia

a dia.

Por exemplo, o estudante que não usa o whatssap (e não participa dos grupos

direcionados aos temas da sua turma) fica desinformado sobre as eventuais mudanças nas

aulas, trabalhos, etc. Logo, aquele aluno engajado no seu curso se sentirá obrigado a

utilizar as redes como forma de se manter atualizado e em dia com as suas obrigações

(como se vê, há um estado permanente de vigilância). Contudo, é importante pontuar que,

o estado de vigilância no qual o sujeito é colocado – a fim de se manter informado no dia

a dia – pode gerar impactos negativos na sua saúde mental (ocasionado pela ansiedade,

etc) e, ainda, tal obrigatoriedade de uso das redes expõe – cada vez mais – o sujeito a esta.

Ademais, no tocante a exposição, Han traz a reflexão sobre o que leva os

indivíduos a desejarem expor as suas particularidades e, conclui que, isso ocorre pois eles

pretendem gerar uma publicidade sobre si próprios. É nesse contexto que, nas lições do

autor, a fotografia assume o caráter de mercadoria – “capital da atenção”. Aqui, cada

pessoa se torna seu próprio objeto de publicidade bem como passa a pensar em si e,

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especialmente, no que os outros vão pensar e como vão reagir sobre suas ações. Logo, os

indivíduos pautam suas ações, na rede, de acordo com a vigia que será exercida sobre

aquilo que irá expor. Nesse sentido, Han afirma em seu livro que “o excesso de exposição

faz de tudo uma mercadoria, na qual tudo é entregue, nu, sem segredo, à devoração

imediata”.

De fato, o autor entende que a sociedade do controle – atual, se consuma onde o

indivíduo se despe não por coação externa, mas sim por conta de uma necessidade criada

em si próprio, isto é, “quando o medo de ter de renunciar à sua esfera privada e íntima

cede à necessidade de se exibir sem vergonha”.

Ao final, o autor afirma que uma forma de driblar o contexto da sociedade da

transparência seria contemplar os momentos vazios, e não auto explorar a partir das redes

sociais, lembrando sempre que o uso das redes é apenas um meio e não um fim em si

mesmo. De fato, o uso consciente das redes sociais bem como uma reflexão crítica sobre

o tema se faz necessária na sociedade contemporânea, a fim de evitar impactos negativos

na saúde mental dos indivíduos que a compõem.

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