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Pontifica Universidade Católica de São Paulo

Mariana Luccisano Coelho


(RA002994040)

A LIQUIDEZ DAS RELAÇÕES NA ERA DIGITAL PROMOVIDA PELAS


REDES SOCIAIS

Professor Jose Salvador Faro


Sistemas de Comunicação

São Paulo - SP
Maio de 2021
RESUMO:
Este ensaio tem como objetivo dissertar sobre a liquidez das relações humanas
promovidas pelas redes sociais baseando-se nos pensamentos de Zygmunt
Bauman a respeito da modernidade líquida, destacando pontos como a falsa
sensação de pertencimento na era digital, a fragilidade das conexões
interpessoais e a fugacidade do tempo nas mídias digitais.
INTRODUÇÃO:
A modernidade líquida e, consequentemente, a liquidez das relações humanas,
são alguns dos temas centrais do pensamento e obras do filosofo Zygmunt
Bauman (1925 - 2017). O conceito de modernidade líquida criado por ele trata-
se da definição do momento presente, que se inicia com o fim da Segunda
Guerra Mundial, ficando mais evidente a partir dos anos 1960 e se
intensificando em 1989, com a queda do Muro de Berlin, onde as relações
econômicas se sobrepuseram as relações sociais, ocasionando uma fragilidade
eminente nos laços das pessoas entre si e nos laços das pessoas entre as
instituições. As relações líquidas então se referem a crescente superficialidade
nos relacionamentos humanos, a fragilidade dessas relações e do contato cada
vez mais escasso entre as pessoas, “as relações escorrem entre os dedos”,
voláteis e maleáveis como água. Este ensaio relacionara tais conceitos com a
superficialidade das relações humanas promovidas pelas redes sociais.
ENSAIO:
O homem é um animal social. É intrínseca a nós a necessidade de se
relacionar e de conviver com outros indivíduos, o que nos proporcionou a
evolução e reprodução da espécie e a formação do mundo como temos hoje.
Essa relação de contato sofreu mudanças ao longo dos séculos, onde os
conceitos de intimidade e laços se modificaram, se intensificando e se
adaptando conforme as normas e éticas sociais das épocas, mas algo sempre
se manteve em todas as comunidades e culturas: o homem precisa se sentir
inserido e pertencente a um ou mais grupos sociais.
Na era da tecnologia, os laços humanos e as comunidades foram substituídos
pelas redes. Bauman nos traz uma fala que elucida a diferença entre esses
conceitos em uma entrevista sobre O mundo pós-moderno e O mal-estar da
civilização: “A comunidade precede você. Você nasce numa comunidade. Por
outro lado, temos a rede. O que é uma rede? Ao contrário da comunidade, a
rede é feita e mantida viva por duas atividades diferentes. Uma é conectar e a
outra é desconectar. E eu acho que a atratividade do novo tipo de amizade, o
tipo de amizade do Facebook, como eu a chamo, está exatamente aí. Que é
tão fácil de se desconectar.” As relações se tornam cada vez mais
descartáveis, superficiais e mutáveis.
Podemos então usar o Facebook como exemplo e nos aprofundar ainda mais
no que é dito pelo filósofo. A rede social possui funções denominadas “fazer e
desfazer amizade” e algoritmos que te sugerem pessoas que você talvez
conheça, baseado nas amizades de seus outros amigos. A forma intuitiva e
simples com que o aplicativo funciona te induz a visitar e adicionar inúmeros
perfis em um curto período de tempo. Assim, você tem a possibilidade de fazer
dezenas de amizades diariamente, encontrar pessoas próximas a você ou
simplesmente se identificar de alguma forma com um completo desconhecido.
Dessa maneira, uma rede é criada e você se vê ligado com centenas de
pessoas as quais você de fato nem conhece, mas que na internet, são seus
amigos. O bônus, sem dúvidas é a aproximação e possibilidade se conectar
com outros ao redor do mundo, trocar experiencias e conversar com facilidade,
sem precisar se deslocar, otimizando seu tempo, mas a questão é que é
ingenuidade acreditar que os contatos através das telas substituem na mesma
profundidade o contato de relações reais, cara a cara.
As relações criadas e cultivadas nas redes sociais te permitem moldar sua
própria personalidade para transparecer aos outros apenas o que você quer
mostrar ou até mesmo criar uma persona completamente diferente da sua para
se sentir mais aceito e pertencente em determinado grupo. Você pode postar
frases e compartilhar fotos felizes depois de um dia repleto de desventuras
enquanto curte frases e fotos de pessoas que fazem o mesmo. Nada é 100%
real e ninguém é 100% transparente, é tentador poder criar sua própria
realidade com apenas alguns toques. Mostrar momentos tristes não é atrativo e
não gera curtidas, o que leva os usuários, buscando aprovação de conhecidos
e desconhecidos, a compartilharem apenas seus melhores momentos. E caso
você não esteja passando por uma boa fase, é só criar uma, como dito acima.
É simples.
Deste modo, cria-se uma padronização estética, linguística, ideológica e
cultural que se soma com toda a irrealidade e superficialidade construída.
Viramos massa, e como é reconfortante pertencer as massas. Nos vemos
imersos na busca por engajamento e afinidade, falsos, se conectando com
outros igualmente irreais. Se no seu feed de notícias aparecer algo que você
não queira ver, em menos de 5 segundos você pode bloquear e aquilo nunca
mais será mostrado pra você. Se alguém compartilha uma opinião diferente da
sua, ao invés de debater, por que não deixar de seguir? De maneira rápida e
eficiente, adicionamos, excluímos, selecionamos e moldamos exatamente a
(ir)realidade perfeita para nós, mas esquecemos que ao desligar as telas, o
mundo ainda é outro, ainda é o mesmo de sempre e nos exige ações sem
planejamento prévio, ações humanas.
No plano real de existência, relações são construídas através da conversa
frente a frente, do toque, da escuta, do tempo. E talvez seja o tempo uma das
principais questões que norteiam esse debate. Tudo nos parece urgente. Tudo
nos é jogado, imposto, exigido. É tudo fugaz, ligeiro, fast. Estamos sempre
consumindo na esperança de otimizar o tempo, cada vez mais inseridos em
tecnologias que nos auxiliam a fazer mil e uma coisas de uma única vez,
presos numa engrenagem que nos condiciona a poupar o tempo para gastar o
que sobre fazendo ela girar, trabalhando e consumindo. Logo, tudo se torna
líquido. Nós, nossas relações, nossa realidade e o tempo.
CONCLUSÃO:
Desse modo, concluímos que vivemos, de fato, uma modernidade cada vez
mais liquida, a qual fomos condicionados sutilmente com o passar das
décadas. Está cada vez mais difícil estreitar os laços com a realidade e
parecemos nos distanciar cada vez mais um dos outros, mesmo com a
sensação de estarmos tão próximos através das telas. Somos movidos pela
padronização e massificação do comportamento e sentimos a necessidade de
viver buscando aprovação e identificação com pessoas próximas e
desconhecidos. Tem se tornado cada vez mais distante a ideia de se cultivar
relações reais, que demandam atenção e tempo, algo fugaz e igualmente
líquido.
BIBLIOGRAFIA:
ZYGMUNT, Bauman. O mundo pôs moderno e o mal-estar da civilização. São
Paulo: Café Filosófico, 2015.
ZYGMUNT, Bauman. Entrevista Exclusiva. São Paulo: Café filosófico, 2015.
MACHADO, Ricardo; COSTA, Andriolli. “A pós-modernidade é um
Renascimento ressignificado”. São Paulo: IHU on-line, 2014.

VITOR SANTOS, João. Os desafios de uma tecnologia que sirva ao humano e


não que se sirva dele. Entrevista especial com Carlos Augusto Grabois
Gadelha. São Paulo: IHU, 2019.

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