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EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO

DA ____VARA CÍVEL BRASÍLIA - DISTRITO FEDERAL.


URGENTE!
ASSOCIAÇÃO NACIONAL DAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO. DEFESA DE DIREITOS INDIVIDUAIS
HOMOGÊNEOS DOS ASSOCIADOS. TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA ANTECEDENTE/MEDIDA
CAUTELAR NO ÂMBITO DE AÇÃO COLETIVA. ASSOCIADAS. USO DO APLICATIVO “WHATASAPP”
[“FACEBOOK”] PARA RECEBIMENTO DE PEDIDOS DE ORÇAMENTOS, ORIENTAÇÃO E SANEAMENTO DE
DÚVIDAS DE PACIENTES E INÍCIO DO PROCESSO DE ATENDIMENTO. ARBITRÁRIO, SUMÁRIO E MASSIVO
BANIMENTO DE CENTENAS DE NÚMEROS DE TELEFONES ATRELADOS AOS PERFIS DAS ASSOCIADAS.
AUSÊNCIA DE JUSTIFICATIVA CONCRETA DA RÉ. MERA INVOCAÇÃO GENÉRICA DE SUPOSTA VIOLAÇÃO
DE “TERMOS DE USO” SEM QUALQUER IDENTIFICAÇÃO DO ITEM HIPOTETICAMENTE VIOLADO.
BANIMENTO DE PERFIL QUE OCORREU E VEM OCORRENDO SEM PRÉVIA COMUNICAÇÃO, SEM
CONTRADITÓRIO, SEM ASSEGURAR AMPLA DEFESA E SEM QUALQUER EXPLICAÇÃO RAZOÁVEL.
AFRONTA À BOA-FÉ OBJETIVA, DEVER DE PROBIDADE, DE INFORMAR, DE TRANSPARÊNCIA E DO “DUTY
TO MITIGATE THE LOSS”, DENTRE OUTROS. GRAVE ILEGALIDADE E RISCO DE DANOS IRREPARÁVEIS.
USO DO CANAL COMO APOIO ESSENCIAL ÀS ATIVIDADES DAS FARMÁCIAS DE MANIPULAÇÃO. RISCO
À SAÚDE DE PACIENTES PRIVADOS DO CONTATO RÁPIDO COM A FARMÁCIA DE MANIPULAÇÃO.
PRESENÇA DE DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS VIOLADOS. PERDAS ECONÔMICAS E
INTERFERÊNCIA NO MERCADO, CARACTERIZANDO PRÁTICA ANTICONCORRENCIAL. PREJUÍZO À
SAÚDE DE PACIENTES, QUE FICAM DESASISTIDOS. URGÊNCIA CONTEMPORÂNEA À PROPOSITURA DA
AÇÃO. NECESSIDADE DE LIMINAR URGENTE PARA RESTABELECER O NÚMERO DE TELEFONE DO
PERFIL DE “WHATSAPP” DAS ASSOCIADAS E IMPEDIR NOVOS BLOQUEIOS.

ASSOCIAÇÃO NACIONAL DE FARMACÊUTICOS MAGISTRAIS -


ANFARMAG, sociedade sem fins lucrativos, devidamente constituída, (doc. anexo), inscrita no
CNPJ/MF sob o n. 56.268.048/0001-30, com sede na Rua Vergueiro, 1855 - 12º andar V. Mariana,
CEP: 04101-000, São Paulo/SP, representada por seu Diretor, o Sr. Marco Antônio Fiaschetti,
brasileiro, casado, farmacêutico, portador do RG n. 13980831-0 SSP/SP e inscrito no CPF/MF
sob o n. 064676698-86, domiciliado na Rua Vergueiro, 1855 - 12º andar V. Mariana, CEP: 04101-
000, São Paulo/SP, por meio de seus Advogados (procuração em anexo), e na qualidade de legítima
representante do farmacêutico e das farmácias magistrais, por meio de seus advogados [procuração
em anexo], com fulcro no art. 303 e ss do NCPC c/c art. 1º, IV e V, e 5º da Lei 7.347/85 e art. 81,
par. único, III, e art. 82, IV, da Lei 8.078/90, requerer

TUTELA ANTECIPADA EM CARÁTER ANTECEDENTE/MEDIDA CAUTELAR


com pedido de Liminar inaudita altera pars

em face de FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA,


sociedade limitada, inscrita no CNPJ sob nº 13.347.016/0001-17, com sede na Cidade de São
Paulo, Estado de São Paulo, na Rua Leopoldo Couto de Magalhães Júnior, 700, 5º andar
(“FACEBOOK BRASIL”), em razão dos seguintes fundamentos fático-jurídicos:
I – OBJETO DESTA AÇÃO E SÍNTESE DOS FATOS

O presente pedido de tutela de urgência antecipada antecedente [antecedente à


Ação Coletiva para proteger direitos individuais homogêneos] objetiva o imediato
restabelecimento dos perfis de “WhatsApp” vinculado aos números de celulares de titularidade das
Farmácias de Manipulação e Farmacêuticos Associados da Requerente, as quais utilizam do canal

do aplicativo “WhatsApp” para manter perene contato individualizado com pacientes adquirentes
de seus serviços e pacientes interessados em obter orçamento de seus serviços.

Embora as normas de regência autorizem [ANVISA, etc], as Associadas


representadas não realizam venda online, mas apenas utilizam do canal do aplicativo “WhatsApp”
como ferramenta de apoio e de interlocução e aproximação dos pacientes que com ela entram em
contato, seja para obter orientação sobre os serviços de manipulação, seja para obter orientação
sobre o uso do serviço, seja, ainda, para recepção de pedidos de orçamento, o que inicia um
processo de atendimento que, contudo, é impulsionado e finalizado pessoalmente na sede da
farmácia de manipulação.

Foi com esse propósito que as Associadas da Autora obtiveram perfil de


aplicativo “WhatsApp” vinculado aos seus respectivos números de celular, para que pudessem
desempenhar tais atividades [receber e enviar documentos entre a empresa e colaboradores, tratando-se de
documentos administrativos, financeiros; receber e enviar documentos a clientes, receber pedidos de

orçamentos, responder questionamentos e enviar orientações solicitadas sobre medicamentos], e assim


têmm exercitado a liberdade econômica inerente ao seu mister empresarial e efetivado serviços em
prol da saúde de pacientes/clientes.

Entretanto, desde o inicio de outubro de 2019, com maior ênfase a partir de


07/10/2019, as Farmácias de Manipulação Associadas têm sido surpreendidas com o sumário e

arbitrário banimento de seu perfil no aplicativo “WhatsApp”, o que interrompeu seus contatos
corporativos interna corporis e com seus pacientes, e isto sem qualquer aviso prévio, sem
notificação e sem qualquer justificativa para legitimar ato violador de direitos individuais
homogêneos de modo tão grave e tão prejudicial às Associadas e aos seus pacientes.

Eis o teor do comunicado de banimento, que segue um mesmo padrão em todos


os casos, como se depreende da extensa lista demonstrativa em anexo e aqui exemplificada:
Essencial Farmácia de Manipulação e NatuPharma Manipulação, CNPJ Farmácia Alfenense [Deyvison e Souza
Drogaria Ltda, CNPJ: n. 05.571.947/0001- 12.054.228/0001-43, representante legal Flavio comércio de farmácia]: CNPJ 06.014.517/0001-
76, representante legal Conceição de Maria Ferreira Borges, Cuiabá-MT, Perfil WhatsApp 16, representante legal: Lilian Mara Silva Souza,
Maciel Asevedo, Taguatinga, Brasília-DF, banido fone n. +55 65 992062378 Perfil WhatsApp banido fone n. +55 3598720 2064:
Perfil WhatsApp banido fone n. +55 61

99143-5352:

Bulla Boulevard Crismafar Farmacia Ltda, Manipulação de Medicamentos Biorgânica Pharma Pura farmácia ltda, CNPJ
CNPJ 10 691 206 0001 69, Porto Alegre/RS, Ltda, CNPJ 01165329/0001-75, Representante 94925690/0001-33, representante legal: Paulo
representante legal: Cristiana Irala Paes de Legal: José Elizaine Borges, Perfil WhatsApp Miguel Lemos Vasques, Perfil WhatsApp banido
Barros Morim, Perfil WhatsApp banido fone banido fone n. +55 62 98596-6686: fone n. +55 54 8449-6944:
n. +55 51 99403-1414:

Excelência, estes são apenas alguns exemplos. A lista de Farmácias de


Manipulação Associadas que tiveram seu perfil de WhatsApp bloqueado é muito maior, e aumenta
a cada hora. A ANFARMAG já recebeu dezenas e dezenas de comunicados de Associados que
tiveram ilegalmente seu perfil banido.
Ao receber tal comunicado, as Associadas entram em contato e são orientadas
pela ANFARMAG para que revejam os termos de uso do WhatsApp [lista genérica com diversos
itens proibidos] e se não esbarrarem no rol de práticas vedadas [nenhuma até agora esbarrou], são
orientadas que façam uma notificação pelo próprio canal do aplicativo.

Em alguns casos, o perfil foi restabelecido para, logo em seguida, ser novamente
banido. Em outros casos, o Réu insiste em argumentar que houve violação dos “termos de uso” e
que “recebeu reclamações”, sem, contudo, indicar exatamente qual teria sido a conduta vedada que
fora supostamente praticada.

Eis um exemplo do ocorrido com a Associada ArthPharma: [Doc. 04]

Resposta do WhatsApp

Como se observa, a arbitrariedade é tão intensa que o WhastApp afirma


categoricamente que “respostas a este email não serão lidas”, ou seja, as Farmácias de Manipulação,
consumidoras do produto WhatsApp, ficam totalmente à mercê dos restritos canais que oferece.
Na prática, impede o uso do aplicativo e impõe uma série de impedimentos para o próprio contato
com o Réu, o que é uma arbitrariedade inaceitável.

Veja-se, ainda, a resposta que o WhtasApp apresentou à Pharma Pura


Farmácia ltda, cujo perfil de WhatsApp banido foi o fone n. +55 54 8449-6944:

Assim, ao receberam respostas genéricas, as Associadas valem-se do canal


disponível – único – que é no próprio aplicativo. Contudo, recebem respostas extremamente
genéricas, inespecíficas e vazias, que nada comunicam, e mais, respostas padrões que se repetem
em todos os casos.

Sem ter seus pedidos atendidos, as Associadas foram alijadas abruptamente do


acesso aos documentos trocados interna corporis, entre a empresa e colaboradores, bem como
privadas do acesso de documentos trocados com seus pacientes, tratando-se de documentos
administrativos, financeiros e de orientação; bem como restaram privadas de receber e enviar
documentos de clientes, receber pedidos de orçamentos, responder questionamentos e enviar
orientações solicitadas sobre medicamentos, o que tem lhes causado não só prejuízos econômicos,
mas, mais grave ainda, tem impedido de prosseguir na disseminação rápida e ágil de instruções e
orientações a seus pacientes.

Assim, diante do banimento de contas, sem ter sido oferecido direito ao


contraditório e a ampla defesa, direitos previstos constitucionalmente e aplicáveis nas relações
entre particulares, conforme entendimento do STF, é objeto deste pedido de tutela de urgência
antecipada antecedente a urgente reabilitação integral da conta dos perfis de “WhatsApp” de
titularidade das Associadas, bem como a determinação para que o Réu se abstenha de proceder
novos bloqueios, assegurando-se o restabelecimento e acesso a todos os documentos, mensagens
e informações administrativas e financeiras nos casos de bloqueios já efetivados.

II – DO DIREITO

II.1 – DA LEGITIMIDADE DA ANFARMAG E VIABILIDADE DA FUTURA AÇÃO COLETIVA

POR VIOLAÇÃO À DIREITOS INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS

Exsurge inconteste a legitimidade da ANFARMAG para instaurar o presente


processo, a fim de postular solução o mais consentânea possível com a realidade de seus associados
e passível de eliminar riscos de inviabilizar a atividade das farmácias do ponto de vista econômico,
já que o bloqueio de perfil de WhatsApp das Farmácias de Manipulação Associadas se caracteriza
um indescritível arbítrio, sem qualquer justificativa idônea, sem contraditório e sem ampla defesa,
causando prejuízos econômicos às Farmácias de Manipulação e risco de prejuízo à saúde dos
pacientes clientes das Farmácias, vez que privados do contato via WhatsApp.

Além de a ANFARMAG ser uma associação sem fins lucrativos, políticos ou


religiosos, ela é integrada por pessoas, empresas e entidades relacionadas à atividade
farmacêutica, congregando 6.037 associados, tendo por finalidade o cumprimento dos seguintes

objetivos (vide art. 3º do Estatuto Social em anexo):

“Art. 3 - A ANFARMAG tem por finalidade:


a – promover, desenvolver e defender o segmento de medicamento, de produto
magistral e oficinal e produtos de interesse a saúde, bem como as atividades a eles
relacionadas;
[...]
c – promover e defender seus interesses próprios e os de seus associados,
representando-os judicial ou extrajudicialmente, ativa ou passivamente;
[...]
g – desenvolver, promover, colaborar ou coordenar a realização de estudos técnicos
e a elaboração de normas, padrões e trabalhos de interesse do segmento de
medicamento, de produto magistral e oficinal e produtos de interesse a saúde, bem
como as atividades a eles relacionadas;
[...]
i – prestar serviços de assessoria e consultoria técnico-científica para instituições de
natureza pública e privada [...];
[...]
k – promover, incentivar ou implementar medidas que visem o crescimento,
fortalecimento e o desenvolvimento técnico e econômico de seus associados e do
segmento de medicamento, de produto magistral e oficinal e produtos de interesse
a saúde, bem como as atividades a eles relacionadas, ou que contribuam com o
aumento da qualidade e produtividade de seus associados;” (grifamos)
No caso, as Associadas têm direito de ver respeitado o contraditório, a ampla
defesa, o direito de informação adequada, interpretação favorável ao aderente de contrato [a relação
das Associadas com o WhatsApp é contratual, mesmo que gratuito], “livre iniciativa, a livre concorrência e

a defesa do consumidor” [art. 2º, V, do Marco Civil da Internet, LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE

2014, gozar da boa-fé objetiva que deve permear a relação contratual, incluindo o “duty to mitigate

the loss” [dever de mitigar o prejuízo], previsto nos arts. 113 e 422 do CC/02, e, assim, manter o

consumidor ou aderente dos “termos de uso” devidamente informado, “LIBERDADE DOS


MODELOS DE NEGÓCIOS PROMOVIDOS NA INTERNET” [art. 3º, VIII, do Marco Civil da

Internet, LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL DE 2014, bem como os direitos “a autodeterminação


informativa;”, prevista no art. 2º, II, da Lei n. LEI Nº 13.709, DE 14 DE AGOSTO DE 2018, o

direito ao “desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;” previsto no art. 2º, V, da Lei n. LEI
Nº 13.709, DE 14 DE AGOSTO DE 2018, e tantos outros adiante expostos e que se adequam
ao conceito de direitos individuais homogêneos tuteláveis pela futura Ação Civil Coletiva.

No que diz respeito a legitimidade ativa, o artigo 5º, da Lei n.º 7.347/85, que
disciplina a ação civil pública, traz o seguinte rol, vejamos:

“Art. 5º - Têm legitimidade para propor a ação principal e a ação cautelar:


I. Ministério Público;
II. Defensoria Pública;
III. A União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios;
IV. Autarquias, empresas públicas e sociedades de economia mista; e
V. Associação, que concomitantemente:
a) esteja constituída há pelo menos um ano, nos termos da lei civil;
b) inclua entre as suas finalidades institucionais a proteção dos seguintes direitos
difusos e coletivos: o patrimônio público e social, meio ambiente, consumidor, à ordem
econômica, à livre concorrência, aos direitos de grupos raciais, étnicos ou religiosos ou
ao patrimônio artístico, estético, histórico, turístico e paisagístico.

Considerando o número total de associados, que ultrapassa a casa dos 6 mil,


entende-se que a Ação Coletiva é a que confere eficácia e rapidez, e, do mesmo modo, evita a
litigiosidade galopante que toma conta dos tribunais.

No Brasil, a defesa dos interesses coletivos tem fundamento na lei 7.347/85 –


lei da ação civil pública, destinada à proteção dos interesses difusos e coletivos ligados ao meio
ambiente, ao consumidor, a bens e direitos de valor artístico, estético, histórico, turístico e
paisagístico, dentre outros bens e direitos elencados no seu artigo 1º.
Posteriormente, a referida lei foi ratificada e reforçada pela CRFB de 1988 que
dispôs sobre a legitimidade ativa das associações (art. 5º, XXI) e dos sindicatos (art. 8º, III), criou
o mandado de segurança coletivo (art. 5º, LXX ), ampliou a legitimação para a propositura de ação
direta de inconstitucionalidade (art. 103), atribuiu status constitucional à ação civil pública para a
defesa de qualquer interesse difuso e coletivo, conferindo legitimidade ao Ministério Público [art;
129, III], sem prejuízo da legitimidade concorrente de terceiros [art. 129, §1º].

O CDC [Lei 8.078/90], por sua vez, desenvolveu consideravelmente a matéria,


introduzindo importantes modificações à lei 7.347/85 (lei de ação civil pública), ampliando a
abrangência da ação civil pública para "qualquer outro interesse difuso e COLETIVO".

Além disso, estipulou expressamente a aplicação do Título III do CDC às ações


civis públicas da lei 7.347/85 (no que for cabível), ESTENDENDO A PROTEÇÃO COLETIVA
AOS INTERESSES INDIVIDUAIS HOMOGÊNEOS [art. 117º do CDC]. Criou-se, assim, o
denominado microssistema das ações coletivas.

Daí que a utilização da tutela coletiva para proteção dos interesses individuais
homogêneos é de extrema relevância, como destaca Sérgio Cruz Arenhart:

"A defesa coletiva de direitos individuais atende aos ditames da economia


processual; representa medida necessária para desafogar o Poder Judiciário, para que
possa cumprir com qualidade e em tempo hábil as suas funções; permite e amplia o
acesso à justiça, principalmente para os conflitos em que o valor diminuto do benefício
pretendido significa manifesto desestímulo para a formulação da demanda; e
salvaguarda o princípio da igualdade da lei, ao resolver molecularmente as causas
denominadas repetitivas, que estariam fadadas a julgamentos de teor variado, se
apreciadas de modo singular" [ARENHART, Sérgio Cruz. A tutela de direitos
individuais homogêneos e as demandas ressarcitórias em pecúnia. Direito processual
coletivo e o anteprojeto de Código Brasileiro de Processos Coletivos. São Paulo: Editora
Revista dos Tribunais, 2007, p.216]

Portanto, conforme exposto, a lei da ação civil pública remete a aplicação, no


que couber, dos dispositivos do CDC que, por sua vez, prevê a tutela coletiva dos direitos
individuais homogêneos, assim entendidos como aqueles que decorrem de origem comum.

Nesse sentido: "A ação civil pública é instrumento processual de ordem constitucional,
destinado à defesa de interesses transindividuais, difusos, coletivos ou individuais homogêneos [...]”
[REsp 1279586/PR, Rel. Ministro LUIS FELIPE SALOMÃO, QUARTA TURMA, julgado em
03/10/2017, DJe 17/11/2017] - grifamos
Por outro lado, é sabido que os direitos individuais homogêneos são divisíveis
e disponíveis, logo, por conclusão lógica, se o próprio dispositivo legal que dispõe sobre a ação
civil pública prevê a aplicação da hipótese prevista no art. 81, III, do CDC, não se pode admitir

restrições para tutela coletiva desses interesses em sede da via processual prevista na lei 7.347/85.

Logo, como consta do Estatuto Social da ANFARMAG, ela está autorizada a


defender os direitos das Farmácias de Manipulação e Farmacêuticos Associados, a bem do
equilíbrio concorrencial e “medidas que visem o crescimento, fortalecimento e o desenvolvimento
técnico e econômico de seus associados” [art. 3º, “k”], bem como para “promover, desenvolver e

defender o segmento de medicamento, de produto magistral e oficinal e produtos de interesse a saúde,

bem como as atividades a eles relacionadas” [art. 3º, “a”], dentre outros direitos que se amoldam
com integral fidelidade ao conceito de direitos individuais homogêneos tuteláveis em ação civil
pública [e bem assim em pedido preliminar de tutela de urgência antecipada antecedente], nos
termos do art. 1º, IV e V, e 5º da Lei 7.347/85 e art. 81, par. único, III, e art. 82, IV, da Lei
8.078/90.

Sob outro vértice, destaca-se que apesar de o col. Superior Tribunal de Justiça
ter pacificado a desnecessidade de autorização assemblear em casos como o presente1, a
Requerente apresenta neste ato dezenas de declarações de Associados que, dada a sensibilidaide e
urgência do tema, enviaram à Requerente, e, ainda, informa-se que a Requerente já convocou
assembleia para deliberar sobre o tema, a qual será realizada no dia 23/10/2019. Até lá, não podem
as Associadas ficar desprotegidas por conta de uma formalidade dispensável, segundo
entendimento do col. STJ.

À vista do exposto, patente a legitimidade da ANFARMAG e o cabimento do


presente pedido de tutela de urgência antecipada antecedente [ou medida cautelar] preparatório de
Ação Coletiva para combater as ilegalidades perpetradas pelo Réu “WhatsApp” [“Facebook Serviços
Online do Brasil”].

II.2 – DA RELAÇÃO DE CONSUMO

1
“As associações têm legitimidade para figurar no pólo ativo das ações coletivas, independentemente da existência de autorização
expressa de seus associados para tanto. […] Assim, não se verifica entre os requisitos a necessidade de autorização assemblear
ou de seus associados, haja vista a própria essência da ação coletiva e da associação.” [AgInt no REsp 1719820/MG, Rel. Ministro
MARCO AURÉLIO BELLIZZE, TERCEIRA TURMA, julgado em 15/04/2019, DJe 23/04/2019] - grifamos
Inicialmente, no caso concreto, incide relação de consumo entre o Réu
“WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil”] e as Associadas, uma vez que estas se qualificam
como consumidoras de um serviço oferecido pelo Réu, qual seja o “WhatsApp”, de acordo com
o conceito previsto no art. 2º do CDC, e a Empresa Ré, que oferta seus serviços no mercado de
consumo, é prestadora de serviços e, portanto, fornecedora nos termos do art. 3º do mesmo
diploma.

Assim descrevem os artigos acima mencionados:

Lei. 8.078/90 - CDC


Art. 2o. Consumidor é toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto
ou serviço como destinatário final.
Art.3o. Fornecedor é toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada, nacional ou
estrangeira, bem como os entes despersonalizados, que desenvolvem atividades de
produção, montagem, criação, construção, transformação, importação, exportação,
distribuição ou comercialização de produtos ou prestação de serviços.
§ 2° Serviço é qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante
remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e securitária,
salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista.

Há que se salientar que, o fato de o serviço ser prestado, em tese, de forma
gratuita, não descaracteriza a relação de consumo. Senão vejamos precedente do STJ:

CIVIL E CONSUMIDOR. INTERNET. RELAÇÃO DE CONSUMO. INCIDÊNCIA


DO CDC. GRATUIDADE DO SERVIÇO. INDIFERENÇA. PROVEDOR DE PESQUISA
VOLTADA AO COMÉRCIO ELETRÔNICO. INTERMEDIAÇÃO. AUSÊNCIA.
FORNECEDOR. NÃO CONFIGURADO. 1. Ação ajuizada em 17/09/2007. Recurso
especial interposto em 28/10/2013 e distribuído a este Gabinete em 26/08/2016.
2. A exploração comercial da Internet sujeita as relações de consumo daí advindas à Lei
no 8.078/90. 3. O fato de o serviço prestado pelo provedor de serviço de Internet ser
gratuito não desvirtua a relação de consumo.
4. Existência de múltiplas formas de atuação no comércio eletrônico. 5. O provedor de
buscas de produtos que não realiza qualquer intermediação entre consumidor e
vendedor não pode ser responsabilizado por qualquer vício da mercadoria ou
inadimplemento contratual. 6. Recurso especial provido.
(REsp 1444008/RS, Rel. Ministra NANCY ANDRIGHI, TERCEIRA TURMA, julgado
em 25/10/2016, DJe 09/11/2016) - grifamos

Ante ao exposto, inegável a incidência à hipótese dos dispositivos da Lei n.


8.078/90, com todo seu sistema protetivo dos consumidores, dentre os quais, a inversão do ônus
da prova, dentre outros.
II.3 – DA INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA

No contexto do presente pedido de tutela de urgência antecedente, em se


tratando de uma autêntica relação de consumo, há possibilidade de inversão do ônus da prova ante
a verossimilhança das alegações, conforme disposto no artigo 6º, inc. VIII, do Código de Defesa
do Consumidor. Vejamos:

Art. 6º São direitos básicos do consumidor:


VIII – a facilitação da defesa de seus direitos, inclusive com a inversão do ônus da
prova, a seu favor, no processo civil, quando a critério do juiz, for verossímil a alegação
ou quando for ele hipossuficiente, seguindo as regras ordinárias de expectativas.

Não fosse isso, tem-se que a empresa Ré é uma gigante tecnológica e que, por
força do Marco Regulatório da Internet [Lei n. 12.965/2014] e LGPD, é captadora de dados e tem
o dever de armazená-los de modo indelével. É pois, uma empresa hegemônica e com capilaridade
mundial, de modo que ostenta todas as condições para exibição de documentos e dados
digitais/eletrônicos, sendo razoável que, à luz do art. 357, III, do NCPC, incida a distribuição
dinâmica do ônus probandi, para que ao Réu seja desde logo imputado o ônus de produção de
provas.

Logo, seja pela ótica do art. 6º, VIII, da Lei n. 8.078/90, seja pela ótica do art.
357, III, do NCPC, viável e necessária a inversão do ônus da prova.

II.4 – DA INCIDÊNCIA DA TEORIA DA APARÊNCIA

Em casos envolvendo o banimento de perfil de “WhatsApp” é comum que o


Réu venha aos autos e sustente não ser parte legítima para responder ao processo, ao argumento
de existência de distinção entre as pessoas jurídicas “WhatsApp Inc” e “Facebook Serviços Online do
Brasil Ltda”.

Entretanto, incide no caso a teoria da aparência, sobretudo porque ambas as


citadas empresas “WhatsApp Inc” e “Facebook Serviços Online do Brasil Ltda” integram o mesmo
grupo econômico.

Consta do sítio eletrônico do aplicativo WhatsApp a seguinte informação [acesso


em 08/10/2019 – cópia anexo]:
Observa-se, portanto, que as empresas Facebook e WhatsApp compõem o
mesmo grupo econômico, de atuação mundial. Ademais, constata-se que ambas as empresas atuam
em parceria, compartilhando dados e informações uma da outra, em ajuda mútua para a
operacionalização de ambos os aplicativos, de modo que mesmo que se venha a alegar a empresa
ré́ no sentido de que não possui ingerência sobre os atos e os dados do aplicativo WhatsApp, o
próprio texto veiculado no website da ré não deixa dúvida de que integram o mesmo grupo
econômico.

Sob outro vértice, considerando que somente a empresa Facebook possui


representação no país, compete a esta o dever fixado no art. 13 da lei 12.965/14 de guardar e
manter os registros respectivos, propiciando meios para identificação dos usuários, do teor de
conversas ali inseridas e de quaisquer outras informações de interesse jurídico das autoridades
brasileiras, como o são os documentos aqui referidos.

Em face do exposto, conclui-se que a empresa Facebook do Brasil, na condição


de sucursal/filial da proprietária em âmbito mundial do aplicativo WhatsApp, é parte legítima para
responder pelos litígios envolvendo o referido sistema de comunicação de dados, sobretudo em
relação jurídica submetida ao Código de Defesa do Consumidor.
II.5 – DA INCIDÊNCIA DA TEORIA DA EFICÁCIA HORIZONTAL DOS
DIREITOS FUNDAMENTAIS

No caso especifico, deve incidir a teoria da eficácia horizontal dos direitos


fundamentais, eis que a partir do momento em que o Réu, através de aplicativo para comunicação
via internet, permite a possibilidade de envio e recebimento de mensagens, ou seja, estabelece
comunicação, não pode banir a conta registrada, com possível perda dos registros ali constantes,
sem permitir ao usuário o direito de ampla defesa e contraditório.

Isso porque, a teoria da eficácia horizontal traz a obrigatoriedade de observância


dos direitos fundamentais entre os particulares, os quais, mesmo tendo isonomia entre si, sempre
se subordinam aos comandos constitucionais.

Seguindo este entendimento, o STF reconheceu a aplicação direta das garantias


do devido processo legal [art. 5º da CF] no tocante ao processo de exclusão de associado de uma
entidade de direito privado, a qual deveria observar o contraditório e a ampla defesa como critérios
para a legítima retirada do associado. Senão vejamos:

EMENTA: SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. UNIÃO BRASILEIRA


DE COMPOSITORES. EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DA AMPLA DEFESA
E DO CONTRADITÓRIO. EFICÁCIA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS NAS
RELAÇÕES PRIVADAS. RECURSO DESPROVIDO. I. EFICÁCIA DOS DIREITOS
FUNDAMENTAIS NAS RELAÇÕES PRIVADAS. As violações a direitos
fundamentais não ocorrem somente no âmbito das relações entre o cidadão e o
Estado, mas igualmente nas relações travadas entre pessoas físicas e jurídicas de
direito privado. Assim, os direitos fundamentais assegurados pela Constituição
vinculam diretamente não apenas os poderes públicos, estando direcionados
também à proteção dos particulares em face dos poderes privados. II. OS
PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS COMO LIMITES À AUTONOMIA PRIVADA DAS
ASSOCIAÇÕES. A ordem jurídico-constitucional brasileira não conferiu a qualquer
associação civil a possibilidade de agir à revelia dos princípios inscritos nas leis e, em
especial, dos postulados que têm por fundamento direto o próprio texto da
Constituição da República, notadamente em tema de proteção às liberdades e garantias
fundamentais. O espaço de autonomia privada garantido pela Constituição às
associações não está imune à incidência dos princípios constitucionais que
asseguram o respeito aos direitos fundamentais de seus associados. A
AUTONOMIA PRIVADA, QUE ENCONTRA CLARAS LIMITAÇÕES DE ORDEM
JURÍDICA, NÃO PODE SER EXERCIDA EM DETRIMENTO OU COM
DESRESPEITO AOS DIREITOS E GARANTIAS DE TERCEIROS,
ESPECIALMENTE AQUELES POSITIVADOS EM SEDE CONSTITUCIONAL,
POIS A AUTONOMIA DA VONTADE NÃO CONFERE AOS PARTICULARES,
NO DOMÍNIO DE SUA INCIDÊNCIA E ATUAÇÃO, O PODER DE
TRANSGREDIR OU DE IGNORAR AS RESTRIÇÕES POSTAS E DEFINIDAS
PELA PRÓPRIA CONSTITUIÇÃO, CUJA EFICÁCIA E FORÇA NORMATIVA
TAMBÉM SE IMPÕEM, AOS PARTICULARES, NO ÂMBITO DE SUAS
RELAÇÕES PRIVADAS, EM TEMA DE LIBERDADES FUNDAMENTAIS. III.
SOCIEDADE CIVIL SEM FINS LUCRATIVOS. ENTIDADE QUE INTEGRA ESPAÇO
PÚBLICO, AINDA QUE NÃO-ESTATAL. ATIVIDADE DE CARÁTER PÚBLICO.
EXCLUSÃO DE SÓCIO SEM GARANTIA DO DEVIDO PROCESSO
LEGAL.APLICAÇÃO DIRETA DOS DIREITOS FUNDAMENTAIS À AMPLA
DEFESA E AO CONTRADITÓRIO. As associações privadas que exercem função
predominante em determinado âmbito econômico e/ou social, mantendo seus
associados em relações de dependência econômica e/ou social, integram o que se pode
denominar de espaço público, ainda que não-estatal. A União Brasileira de
Compositores - UBC, sociedade civil sem fins lucrativos, integra a estrutura do ECAD
e, portanto, assume posição privilegiada para determinar a extensão do gozo e fruição
dos direitos autorais de seus associados. A exclusão de sócio do quadro social da UBC,
sem qualquer garantia de ampla defesa, do contraditório, ou do devido processo
constitucional, onera consideravelmente o recorrido, o qual fica impossibilitado de
perceber os direitos autorais relativos à execução de suas obras. A vedação das
garantias constitucionais do devido processo legal acaba por restringir a própria
liberdade de exercício profissional do sócio. O caráter público da atividade exercida
pela sociedade e a dependência do vínculo associativo para o exercício profissional de
seus sócios legitimam, no caso concreto, a aplicação direta dos direitos fundamentais
concernentes ao devido processo legal, ao contraditório e à ampla defesa (art. 5º, LIV e
LV, CF/88). IV. RECURSO EXTRAORDINÁRIO DESPROVIDO.
(RE 201819, Relator(a): Min. ELLEN GRACIE, Relator(a) p/ Acórdão: Min. GILMAR
MENDES, Segunda Turma, julgado em 11/10/2005, DJ 27-10-2006 PP-00064 EMENT
VOL-02253-04 PP-00577 RTJ VOL-00209-02 PP-00821) - grifamos

No caso, o Réu fulminou o direito das Associadas ao contraditório, porquanto


não consignou as razões para sua exclusão, o que se vê primo icto oculi do e-mail encaminhado pelo
Réu [doc. anexo].

Tolerar tal postura do $éu é permitir que aja com arbitrariedade, pois se fosse
admitido o banimento de usuários unicamente com base na afirmação vaga de "descumprimento dos
termos de uso" ou de "reclamações por outros usuários", sem a possibilidade de divulgação do
conteúdos de tais reclamações, poderia o Réu simplesmente excluir qualquer usuário, a seu bel
prazer, utilizando-se desses frágeis subterfúgios, em patente afronta às regras que protegem o outro
contratante que adere ao contrato de serviços de comunicação por aplicativo.

Não se olvida da redação do art. 20, da Lei n. 12.965/2014, que positiva que
“sempre que tiver informações de contato do usuário diretamente responsável pelo conteúdo a que
se refere o art. 19, CABERÁ AO PROVEDOR DE APLICAÇÕES DE INTERNET COMUNICAR-

LHE OS MOTIVOS E INFORMAÇÕES RELATIVOS À INDISPONIBILIZAÇÃO DE

CONTEÚDO, com INFORMAÇÕES QUE PERMITAM O CONTRADITÓRIO E A AMPLA


DEFESA em juízo, salvo expressa previsão legal ou expressa determinação judicial fundamentada

em contrário”.

Portanto, o sigilo das informações prestadas por usuários do aplicativo não pode
se opor ao direito das Associadas de conhecer das supostas e hipotéticas “acusações” [acredita-se
ser desculpa esfarrapada do Réu] que pesam sobre as Associadas, para então poder se defenderem,
mesmo porque o Poder Judiciário diuturnamente lida com informações sigilosas e sabe adotar
posturas para assegurar a garantia do sigilo das informações recebidas e a preservação da
intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do usuário, podendo determinar segredo de
justiça, inclusive quanto aos pedidos de guarda de registro, conforme garante o art. 23 da mesma
lei.

Em caso análogo, a Justiça Bandeirante repudiou veementemente a postura do


Réu Facebook de banir perfil de usuário com base em alegações genéricas, além de deferir liminar,
julgou procedente ação que visava o restabelecimento do perfil de “WhatsApp” em prol de
empresa:

“Admitir tal postura da ré é dar margem à arbitrariedade, pois caso fosse


permitida a exclusão de usuários apenas com base na alegação genérica de
"descumprimento dos termos de uso" ou de "reclamações por outros usuários", sem
a possibilidade de divulgação do conteúdos de tais reclamações, poderia ela
simplesmente excluir qualquer usuário, a seu bel prazer, utilizando-se desses frágeis
subterfúgios.
Nesse sentido, prevê o art. 20, da Lei n. 12.965/2014, que “sempre que tiver
informações de contato do usuário diretamente responsável pelo conteúdo a que se
refere o art. 19, caberá ao provedor de aplicações de internet comunicar-lhe os motivos
e informações relativos à indisponibilização de conteúdo, com informações que
permitam o contraditório e a ampla defesa em juízo, salvo expressa previsão legal ou
expressa determinação judicial fundamentada em contrário”.
Logo, o sigilo das informações prestadas por usuários do aplicativo não pode se
opor ao direito do autor de se defender das acusações que pesam sobre ele, até porque
cabe ao juiz tomar as providências necessárias à garantia do sigilo das informações
recebidas e à preservação da intimidade, da vida privada, da honra e da imagem do
usuário, podendo determinar segredo de justiça, inclusive quanto aos pedidos de
guarda de registro, conforme garante o art. 23 da mesma lei.
Desse modo, era ônus do réu a prova de que o autor praticou ato ou fato que se
subsume a uma das hipóteses que permitiriam sua exclusão, não só porque a relação
é de consumo, sendo o autor hipossuficiente, do ponto de vista técnico, para produzir
prova a respeito, mas também porque impossível exigir do autor a prova de que não
praticou ato do qual sequer tem conhecimento específico.
Lembre-se que, nos termos do artigo 39, do Código de Defesa do Consumidor, é
vedado ao fornecedor de produtos ou serviços recusar atendimento às demandas dos
consumidores, na exata medida de suas disponibilidades de estoque, e, ainda, de
conformidade com os usos e costumes. Ainda que o réu nada cobre pela utilização do
aplicativo, não se duvida que a remuneração é indireta, bastando para caracterizar a
relação de consumo e a vedação de fornecer o serviço àquele disposto a consumi-lo,
MOTIVO PELO QUAL O AUTOR TEM DIREITO AO SEU RESTABELECIMENTO.
[...]
Ante o exposto, JULGO PARCIALMENTE PROCEDENTE o pedido formulado por
[************] em face de FACEBOOK SERVIÇOS ONLINE DO BRASIL LTDA, para
condenar a ré à obrigação de restabelecer o acesso ao aplicativo Whatsapp, por meio
da linha de telefone indicada na inicial, no prazo de 5 dias, sob pena de multa diária
no valor de R$500,00, limitada a R$ 5.000,00, sem prejuízo de futura majoração ou
imposição de outras medidas para garantir o resultado prático equivalente.” [TJSP,
Ação n. 1021901-97.2016.8.26.0405, Juíza Dra. MARIANA HORTA GREENHALGH –
doc anexo]

Essa conclusão, que veda ao Réu “WhatsApp” [“Facebook”] a possibilidade de


excluir sumariamente o perfil de usuário sem concessão de contraditório e ampla defesa, além de
lógica, encontra eco em decisões no âmbito do Poder Judiciário do Tribunal de Justiça dos Distrito
Federal e Territórios:

“Nos termos do art. 300 do CPC, “a tutela de urgencia será concedida quando houver
elementos que evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado
útil do processo”.
No presente caso, SALTA AOS OLHOS QUE A INTERRUPÇÃO DO SERVIÇO
DE COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DE DADOS DENOMINADO WHATSAPP É
CAPAZ DE CAUSAR PREJUÍZOS À PARTE AUTORA, notadamente porque O USO
DO REFERIDO APLICATIVO NO MEIO CORPORATIVO TEM SE TORNADO
ESSENCIAL PARA A COMUNICAÇÃO COM CLIENTES E FORNECEDORES E,
CONFORME ALEGADO, FORAM APAGADAS TODAS AS MENSAGENS E
DOCUMENTOS ARQUIVADOS NO APLICATIVO, DENTRE ELES
DOCUMENTOS FINANCEIROS E ADMINISTRATIVOS E DOCUMENTOS DE
SEUS CLIENTES.
Além disso, a parte autora alega que teve sua conta de Whatsapp excluída sem
que lhe fosse apresentada qualquer informação sobre o motivo de tal medida e sem
que lhe fosse oportunizado o contraditório e a ampla defesa, direitos fundamentais
que também se aplicam às relações privadas.
[...]
Portanto, defiro a tutela provisória, vez que preenchidos os pressupostos para sua
concessão, e DETERMINO À PARTE RÉ QUE RESTABELEÇA O SERVIÇO DE
COMUNICAÇÃO ELETRÔNICA DE DADOS DA CONTA DE WHATSAPP
REGISTRADA SOB O NO +55 (61) 9-9112-7667, COM TODOS OS DOCUMENTOS
E INFORMAÇÕES NELA CONSTANTES, NO PRAZO DE 2 DIAS, SOB AS
SANÇÕES PREVISTAS NA LEI DE REGÊNCIA E MULTA DIÁRIA DE R$ 2.000,00
(DOIS MIL REAIS), ATÉ O LIMITE MÁXIMO DE R$ 50.000,00 (CINQÜENTA MIL
REAIS), SEM PREJUÍZO DE SUA MAJORAÇÃO, CASO SE REVELE
INSUFICIENTE PARA OS FINS A QUE SE DESTINA.” [TJDFT, Ação n. 0703666-
32.2019.8.07.0001, Juíza Bruna de Abreu Färber, de 19/03/2019 – doc. anexo]
No mesmo sentido, foi a decisão de 07/10/2019, nos autos da ação n.
1099804-51.2019.8.26.0100, da 25ª Vara Cível do Foro Central da Comarca de São Paulo/SP:

A probabilidade do direito da parte autora se conclui do conteúdo dos documentos


das fls.27/36, que, em tese, demonstram que a autora utiliza o aplicativo de mensagens
“Whatsapp” para receber ordens de pedidos de medicamentos manipulados de seus
clientes, bem como que ela entrou em contato com a parte requerida, questionando
o motivo do bloqueio da conta e solicitando a reativação.
3. Em análise superficial do feito, não consta dos documentos juntados aos autos
qualquer elemento que indique que a autora tenha praticado alguma irregularidade
que justifique o bloqueio de sua conta no aplicativo. Ao contrário, afirma a autora que
seu acesso ao aplicativo foi excluído pelo requerido sem que tenha tido prévia
ciência dos motivos e sem a concessão de oportunidade para apresentação de defesa.
O PERIGO DE DANO IRREPARÁVEL OU DE DIFÍCIL REPARAÇÃO, POR SEU
TURNO, DECORRE DA POSSIBILIDADE REAL DE A AUTORA SE VER
PRIVADA DE MEIO DE COMUNICAÇÃO ESSENCIAL PARA RECEBIMENTO
DE PEDIDOS DE SEUS CLIENTES, COM A CONSEQUENTE REDUÇÃO DE SEU
FATURAMENTO.
4. Por outro lado, a concessão da tutela aqui pleiteada não é irreversível. Consigno,
desde logo, que os motivos que ensejam a concessão da tutela para reativação da conta
da autora no aplicativo do requerido serão reapreciados após a vinda aos autos de
contestação.
Posto isso, DEFIRO A TUTELA PROVISÓRIA DE URGÊNCIA, para determinar
que, no prazo de 48 horas, o requerido proceda à reativação da conta de “WhatsApp”
da autora, registrada sob o nº +55 ********, sob pena de incidir no pagamento de
multa cominatória diária de R$ 500,00, limitado seu montante a R$ 20.000,00.
6. Servirá essa decisão com a assinatura eletrônica do Magistrado como OFÍCIO,
que deverá ser impresso pela autora e protocolado junto ao Facebook Serviços Online
do Brasil Ltda., com comprovação nos autos no prazo de cinco dias.” [grifamos]

Diante disso, resta evidente que o Réu deveria ter concedido às Associadas a
oportunidade de exercer seu direito constitucional ao contraditório e à ampla defesa, antes que
tivesse sua conta banida do serviço, com possível perda dos registros e documentos nela
constantes.

Assim, pugna pela concessão de liminar inaudita altera pars para determinar a
imediata reativação das contas com a preservação de todos os documentos e mensagens ali
constantes, das Associadas da ANFARMAG, e bem assim determinar se abstenha o Réu de realizar
novos bloqueios, relativos aos seus dados administrativos e financeiros, orçamentos e orientações
solicitadas por pacientes e instruções e orçamentos encaminhados aos mesmos.

II. 7 – DOS DEMAIS FUNDAMENTOS A SEREM ABORDADOS NA AÇÃO PRINCIPAL A SER


AJUIZADA EM 15 DIAS APÓS O EXAME DA LIMINAR
A despeito da justificativa apresentada pela Equipe de Suporte do WhatsApp, qual
seja, suposta violação da “política de uso do aplicativo”, entendemos que tal fundamento não atende
aos critérios legais mínimos estabelecidos no Brasil [e de resto, aos critérios de países signatários do
Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos, como EUA, Canadá, Reino Unido, etc] para o
implemento de tão grave e drástica restrição de uso de um canal de comunicação que se incorporou
no dia-a-dia dos brasileiros, inclusive das Associadas, sendo inegável plataforma de tratativas
iniciais e sequenciamento dos mais variados negócios no Brasil.

Dificilmente uma corporação instalada no Brasil e no mundo não tem em seu


“website” um botão de ativação do WhatsApp para contato imediato com a empresa, seja do ramo
comercial, seja “ONG”, instituição financeira, enfim, para “startar” a troca de informações que
culminam em diversas negociações lícitas e benéficas para a produção brasileira.

E no caso das Associadas, o uso do aplicativo sempre se deu no contexto da


legalidade e passividade, isto é, utilizando-se do canal apenas em resposta ao acionamento feito
por consumidores e isto sempre de modo individualizado. As Associadas são acionadas por
interessados em seus serviços e é a partir daí que se inicia o procedimento de atendimento na
plataforma “WhatsApp” e se evolui para ulterior prestação de serviço presencial.

A abrupta, infundada, desproporcional e desarrazoada interrupção/banimento


do uso do perfil das Associadas no “WhatsApp”, com base no fundamento apresentado pela Equipe
de Suporte do WhatsApp é de todo ilegal e inconstitucional.

Primeiro, porque é absolutamente inespecífico, impreciso, indeterminado, e


serviria para justificar o banimento de qualquer pessoa que tenha perfil de “WhatsApp”, uma vez
que é genérico.

Ora, segundo o princípio da boa-fé objetiva [art. 113 e 422 do CC/02], que deve
ser observado durante a execução do contrato [e a “Facebook Serviços Online do Brasil Ltda” tem sim
contrato com seus usuários], é dever das partes agirem com probidade, com coerência, com
proporcionalidade e respeitando as normas constitucionais e federais, e nada disso é respeitado
pelo “WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] ao banir as Associadas sem prévia
notificação e oportunidade de correção de eventual desvio [temos convicção de que se trata, em
verdade, de resposta padrão do Réu e sem embasamento fático].
No caso, ao agir de modo indistinto, inespecífico, e com argumentos vazios e
genéricos para sustentar o banimento do perfil das Associadas, o “WhatsApp” [“Facebook Serviços
Online do Brasil Ltda”] viola às seguintes normas brasileiras e internacionais:

[a] Se o próprio aplicativo permite o envio de mensagens em rede online, não


pode simplesmente deliberar sem ouvir a outra parte envolvida. Isso viola o contraditório e a ampla
defesa positivados no art. 5º, LV, da CF/88, além de violar a proporcionalidade. Se efetivamente
existe “alto volume de reclamação” do perfil de alguma Associada, era imprescindível que o
“WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”], antes de sumariamente banir o perfil,
estabelecesse uma interlocução com o usuário para que ele conhecesse a natureza do suposto uso
irregular, para que lhe fosse assegurada a oportunidade de eventualmente corrigir ou ajustar o
ponto hipoteticamente violado, ou mesmo criar um bloqueio nas atividades que efetivamente
ferissem suas permissões de uso; e não incidir em bloqueio amplo e irrestrito, sem qualquer
fundamentação concreta.

[b] A relação jurídica que se desenvolve com o “WhatsApp” [“Facebook Serviços

Online do Brasil Ltda”] é uma relação de contrato de consumo, regido pela Lei n. 8.078/90, cujo
art. 39, XII, prevê a obrigatoriedade de concessão de prazo para correções/ajustes eventualmente
constatados, o que revela a impossibilidade de interrupção abruta dos serviços de comunicação; o
art. 47 veicula prevalecer interpretação favorável ao consumidor acerca das cláusulas do “termo de
uso”, ou seja, mesmo que eventualmente algum item da lista de “políticas de uso” enviada pelo Réu
“WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] que de alguma forma restrinja que pacientes
enviem pedidos de orçamentos para farmácias de manipulação acerca da elaboração de
medicamentos lícitos [e a Autora é farmácia de manipulação], ainda assim eventual dispositivo
contratual redigido de tal modo é nulo de pleno direito, por restringir à liberdade econômica do
dos usuários e frustrar seu desenvolvimento, e, naturalmente, por impedir possam consumidores
obter acesso rápido a orçamento sobre serviços de fornecimento de medicamento preparado por
farmácia de manipulação.

É possível concluir pela natureza contínua e que há uma relação de


essencialidade pela mantença dos serviços de comunicação prestados pelo réu
“WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”], tal qual a prestação de serviços de
fornecimento de água, energia elétrica, saúde, etc, nos quais a interrupção sem fundamento e arbitrária
gera graves consequências; pois é o caso, uma vez que o banimento impede que pacientes obtenham

o orçamento rápido que pode ser encaminhado pele ferramenta do Réu “WhatsApp” [“Facebook
Serviços Online do Brasil Ltda”], bem como impede que os pacientes obtenham informações e
orientações sobre os medicamentos e seu uso e que são prestadas pelas Associadas;

[c] O Réu “WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] criou uma
dependência e pôs um universo inteiro de usuários na condição de cativos dos serviços, e agora
pretende ditar os rumos e intervir na vida comercial e privada das empresas, banindo seus perfis
genericamente, sem aviso prévio, sem justificativa idônea, e, ainda, em violação ao art. 51, IX, da
Lei n. 8.078/90, que considera nula cláusula de “contrato/termo de uso” que “deixem ao fornecedor a
opção de concluir ou não o contrato, embora obrigando o consumidor”, ou seja, não podem as Associadas
ficar ao talante da vontade e ao arbítrio do réu;

[d] O Réu “WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] deve agir

segundo o “duty to mitigate the loss” [dever de mitigar o prejuízo], previsto nos arts. 113 e 422 do
CC/02, e, assim, manter o consumidor ou aderente dos “termos de uso” devidamente informado,
inclusive para que possa se ajustar à política de uso eventualmente violada, o que, naturalmente,
exige prévia notificação e indicação concreta sobre o que teria sido violado, hipótese inocorrente
no caso, vez que o réu baniu o perfil/número de telefone das Associadas sem qualquer aviso
prévio, sem informação concreta e sem oportunizar a realização de ajustes;

[e] Viola o art. 2º, V, do Marco Civil da Internet [LEI Nº 12.965, DE 23 DE ABRIL

DE 2014], que elenca ser dever dos prestadores de serviços na rede mundial respeitar a “livre

iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor”;

[f] Viola o art. 3º, VIII, do Marco Civil da Internet [LEI Nº 12.965, DE 23 DE

ABRIL DE 2014], que assenta que uso da internet no Brasil deve respeitar o princípio da

“LIBERDADE DOS MODELOS DE NEGÓCIOS PROMOVIDOS NA INTERNET”;

[g] Viola o art. 9º, §2º, inciso III, do Marco Civil da Internet [LEI Nº 12.965, DE

23 DE ABRIL DE 2014], que impõe ao “WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] o

dever de “informar previamente de modo transparente, CLARO E SUFICIENTEMENTE


DESCRITIVO AOS SEUS USUÁRIOS SOBRE AS PRÁTICAS DE GERENCIAMENTO E

MITIGAÇÃO DE TRÁFEGO ADOTADAS, INCLUSIVE AS RELACIONADAS À SEGURANÇA


DA REDE”; e, como visto, ao banir perfil sem aviso prévio e sem contato preliminar ou
oportunização de ajustes, o usuário fica ao talante do arbítrio da Notificada;
[h] Viola o art. 9º, §2º, inciso II, do Marco Civil da Internet [LEI Nº 12.965, DE

23 DE ABRIL DE 2014], que assevera ser dever do Réu “agir com PROPORCIONALIDADE,

TRANSPARÊNCIA e isonomia”; proporcional seria dizer concretamente o que foi efetivamente


violado, e não lançar para o usuário do “WhatsApp” um extenso rol de condutas vedadas e
consignar “houve violação de nossa política de uso”, sem apontar qual exatamente foi a suposta
violação; o usuário tem que realizar exercício de adivinhação para descobrir o que pode ter
“violado”, o que revela comportamento absolutamente ilícito do Réu;

[i] Viola o art. 9º, §2º, inciso IV, do Marco Civil da Internet [LEI Nº 12.965, DE

23 DE ABRIL DE 2014], que obriga o Réu a “oferecer serviços em condições comerciais não

discriminatórias e abster-se de praticar condutas anticoncorrenciais”; ora, ao banir sumariamente


o perfil das Associadas, está o Réu incorrendo em exclusão das mesmas do mercado de
consumo e interrompendo seu contato com clientes [para fins de orientá-los quanto ao uso de
medicamentos] e de interessados e que solicitam diuturnamente a emissão de orçamento sobre
serviços de manipulação de medicamentos, que são prestados depois presencialmente e no balcão;

[j] Viola a “a autodeterminação informativa;”, prevista no art. 2º, II, da Lei n. LEI
Nº 13.709, DE 14 DE AGOSTO DE 2018.

[l] Viola o direito ao “desenvolvimento econômico e tecnológico e a inovação;”


previsto no art. 2º, V, da Lei n. LEI Nº 13.709, DE 14 DE AGOSTO DE 2018;

[m] Viola o direito à “a livre iniciativa, a livre concorrência e a defesa do consumidor”,


previstos no art. 170, caput, e incisos IV e V, da CF/88 e art. 2º, VI, da Lei n. LEI Nº 13.709, DE
14 DE AGOSTO DE 2018;

[n] viola o art. 5.1, do Pacto Internacional sobre Direitos Civis e Políticos:
impossibilidade de interpretação restritiva dos direitos previstos no Pacto, e aqui incidem os
direitos de autodeterminação e desenvolvimento econômico previstos no art. 1.1 do Pacto;

[o] Incorre em multiviolação ao art. 422 do CC/02: exige-se boa-fé dos

contratantes na execução do contrato, e ao o “Facebook Serviços Online do Brasil Ltda” banir perfil
de “WhatsApp” sem qualquer aviso prévio e sem justificar concretamente a razão para tão drástica
medida, age arbitrariamente e em prejuízo das Associadas, que utiliza-se do canal do “WhatsApp”
para receber pedidos de orçamento e “startar” o processo de prestação de serviços para quem a
procura “online” [processo este que se desenvolve e se encerra fisicamente/presencialmente]; banir o perfil
de “WhatsApp” significa interromper o contato e prestação de serviços para parcela da sociedade
que busca orçamento de serviços de manipulação de medicamentos [segundo a legislação brasileira,
passível de realização por qualquer meio];

[p] além disso, conforme já exposto, o réu “WhatsApp” [“Facebook Serviços


Online do Brasil Ltda”] tornou-se ferramenta de prestação de serviço de saúde, mediante a
disponibilização ao mercado de consumo de ferramenta eficiente na superação dos fatores tempo,
distância e registro indelével das informações que trafegam [dados ficam registrados e podem ser
extraídos para fins de prova técnica administrativa ou judicial], sendo utilizado para orientar pacientes,
colher informações com dúvidas dos mesmos e recepcionar orçamento por eles enviados;

[q] o risco do bloqueio de perfis de WhatsApp é que pacientes estão ficando


desassistidos e sem a continuidade do tratamento individualizado.

[r] se por um lado a equipe do WhatsApp deve respeitar a privacidade do

usuário que eventualmente tenha realizado tais supostas e imaginárias “reclamações” do perfil das
Associadas, privacidade esta que deve ser resguardada nos termos da Lei n. 12.965/2014 em seu
artigo 7º, de outro lado, com base no art. 9º, §2º, II e III da mesma Lei n. 12.965/2014, deve agir
com TRANSPARÊNCIA e identificar qual foi supostamente o erro cometido e quando ele se
perfectibilizou, para que as Associadas possam tomar as medidas cabíveis, caso tenha havido
qualquer ação desconhecida, por parte de seu corpo administrativo.

Como se vê, da leitura dos dispositivos legais e fundamentos jurídicos acima


expostos, não resta dúvida de que a justificativa genérica para banimento apresentada pelo Réu
“WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] não atende a legislação brasileira e a
internacional.

Por fim, destaca-se que à decisão a ser proferida na presente demanda perante,
aforada no Juízo de uma das Varas Cíveis da Circunscrição Especial Judiciária de Brasília/DF,
deve ser conferido eficácia “erga omnes” e NACIONAL, conforme pacificado no col. Superior
Tribunal de Justiça2.

Logo, diante desse quadro, REQUER IMEDIATAMENTE A


CONCESSÃO DE LIMINAR INAUDITA ALTERA PARS, determinando o PRONTO

2
AgInt no REsp 1787020/SC, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/09/2019, DJe 25/09/2019.
RESTABELECIMENTO DO PERFIL DE “WHATSAPP” DAS FARMÁCIAS
ASSOCIADAS, para que seja desbloqueado o aplicativo, com a urgente liberação do
funcionamento integral e completa do WhatsApp” vinculado ao número de seus celulares, bem
como para se determinar que o Réu se abstenha de proceder novos bloqueios das Farmácias
Associadas à ANFARMAG, sob pena de multa cominatória.

III – DOS PEDIDOS E REQUERIMETNOS FINAIS

À vista do exposto, respeitosamente requer se digne Vossa Excelência:

[i] nos termos do art. 303 do NCPC, dada a contemporaneidade da urgência


com a propositura da ação, e diante dos evidentes riscos de danos às Associadas Autora,
CONCEDER, com eficácia “erga omnes” e NACIONAL, conforme pacificado no col. Superior
Tribunal de Justiça3, TUTELA DE URGÊNCIA ANTECIPADA LIMINARMENTE, a fim
de determinar ao Réu que realize o PRONTO RESTABELECIMENTO DO PERFIL DE
“WHATSAPP” DAS FARMÁCIAS ASSOCIADAS, para que seja desbloqueado o aplicativo,
com a urgente liberação do funcionamento integral e completa do WhatsApp” vinculado ao
número de seus celulares, em até 12 [doze horas], sob pena de multa cominatória de R$5.000,00
[cinco mil reais] por dia, bem como para se determinar que o Réu se abstenha de proceder novos
bloqueios das Farmácias Associadas à ANFARMAG, igualmente sob pena de multa cominatória”;
devendo-se autorizar, dada a urgência, possa ser comunicada a decisão com a assinatura eletrônica
do Magistrado como OFÍCIO, autorizando-se a impressão da mesma pela autora e protocolado
junto ao Facebook Serviços Online do Brasil Ltda., com comprovação nos autos no prazo de
cinco dias.

[ii] a determinação ao Réu para que, em prazo razoável, identifique

concretamente em que consistiu a suposta violação dos termos de uso do Réu “WhatsApp”
[“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] que ensejou os banimentos e quando ocorreu a hipotética
violação;

[iii] após o exame da tutela de urgência antecipada, a intimação da Requerente para


aditar a petição inicial a tempo e modo, ocasião em que aprofundará as teses aqui sumariadas,
informando-se desde logo e para fins do art. 303, §5º, do NCPC, que a ação principal será Ação
Coletiva de conhecimento, cumulada com cominatória e declaratória, a fim de que seja

3
AgInt no REsp 1787020/SC, Rel. Ministro GURGEL DE FARIA, PRIMEIRA TURMA, julgado em 23/09/2019, DJe 25/09/2019.
definitivamente assegurado às Associadas o direito subjetivo ao RESTABELECIMENTO DO
PERFIL DE “WHATSAPP”, com desbloqueio e liberação do funcionamento integral e completo
do WhatsApp” vinculado ao número de seus celulares, bem como para se determinar que o Réu se
abstenha de proceder novos bloqueios das Farmácias Associadas à ANFARMAG;

[iv] a após os tramites estilares, determinar a citação da parte adversa para,


querendo, contestar o feito;

[v] inverter o ônus da prova, nos termos do art. 6º, VIII, do CDC, ou do art.

375, III, do NCPC, impondo ao Réu “WhatsApp” [“Facebook Serviços Online do Brasil Ltda”] a
obrigação de comprovar documentalmente e pericialmente em que consistiu a suposta violação de
sua política de uso da ferramenta da comunicação e identificar quem foram os supostos
“reclamantes”;

[vi] após os procedimentos de praxe, a procedência da futura demanda

principal, com eficácia “erga omnes” e NACIONAL, a fim de se reconhecer a nulidade e


ilegalidade do procedimento e condutas perpetradas pelo Réu “WhatsApp” [“Facebook Serviços
Online do Brasil Ltda”], reconhecendo-se o direito das Associadas ao restabelecimento de seu perfil

de “WhatsApp” vinculado aos números de celulares; com a condenação do Réu nas custas e
honorários advocatícios;

[vii] a intimação dos advogados subscritores acerca de todos os atos


processuais, sob pena de nulidade;

Desde já protesta provar o alegado por todos os meios legais, sobretudo a prova
documental, pericial e testemunhal.

Atribuir-se à causa o valor de R$1.000,00 [um mil reais] para fins fiscais.

Pede deferimento.

De São Paulo/SP para Brasília/DF, 10 de outubro de 2019.

[assinado eletronicamente] [assinado eletronicamente]


Marlon Charles Bertol Wilson Knoner Campos
OAB-SC n. 10.693 OAB-SC n. 37.240
OAB-SP n. 326.082 OAB-SP n. 415.224

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