Você está na página 1de 5

AOS ILUSTRES SRS.

REPRESENTANTES DA SECRETARIA MUNICIPAL DE


SAÚDE E PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO JOSÉ DO ALEGRE/MG

Ref. NOTIFICAÇÃO EXTRAJUDICIAL - Ata de


Registro de Preços nº XX/2020 - Processo nº
XX/2020

Xxxxxxxxxxxxxxxx xxxxxxxxxxxx E ACESSÓRIOS LTDA - ME, vem, por seu


representante legal, muito respeitosamente, em resposta à NOTIFICAÇÃO
EXTRAJUDICIAL encaminhada, expor e requerer o que segue:

I - BREVE SÍNTESE.

A Notificada foi vencedora do Pregão Presencial nº XX/2020 futura e eventual aquisição de


medicamentos da tabela CMED/ANVISA para atender as demandas do Município.

Em 03 de maio de 2021 a empresa foi Notificada acerca de suposta irregularidade no


fornecimento de produtos solicitados no âmbito da Ata de Registros. Consta da Notificação
referência a lista de medicamentos apontados como faltosos na Farmácia Municipal.

Aduz a Notificação que a situação se enquadraria em descumprimento de obrigação


contratual constante em Cláusula Décima Segunda, que dispõe acerca do prazo máximo de 10
(dez) dias corridos para efetuar entrega de medicamentos a partir da Autorização de
Fornecimento emitida pelo Setor de Compras. Acrescenta que a Cláusula Oitava prevê
aplicação de penalidades da Lei 8.666/93 pelo descumprimento contratual.
Diante disso, determinou imediato fornecimento dos medicamentos no prazo de 72 (setenta e
duas) horas, sob pena de abertura de procedimento administrativo.

Cabe destacar que a Notificação foi encaminhada por e-mail e também via Correios, tendo
sido incluídos como anexos Planilhas de Orçamentos de medicamentos.

Ante o teor da Notificação, passa a apresentar os necessários esclarecimentos.

II - DOS NECESSÁRIOS ESCLARECIMENTOS INICIAIS. DA IMPOSSIBILIDADE


DE CUMPRIR PRAZO DE RESPOSTA DA NOTIFICAÇÃO. MOTIVO DE FORÇA
MAIOR.

Inicialmente, a empresa destaca que ante o envio de mensagem eletrônica em 05 de abril de


2021 encaminhou mensagem relatando que o representante legal, responsável pela atuação
empresarial, se encontrava hospitalizado desde o dia 27/04/2021 com COVID-19.

Pois bem, nesse sentido, reitera que o Sr. xxxxxxx, representante legal da empresa, esteve
internado no Hospital São Camilo, em Belo Horizonte/MG, desde o final de abril,
permanecendo em estado grave até a segunda quinzena de maio.

Em razão de tal fato, a empresa restou impossibilitada de tomar qualquer providência


relacionada à Notificação Extrajudicial dentro do prazo estipulado. Ressalta que se trata de
situação excepcional, de nenhuma forma caracterizada por desídia ou atraso deliberado da
empresa, mas certamente causada por motivo de força maior, que tornou simplesmente
impossível o envio de resposta imediata.

Diante disso, requer seja a situação ponderada em vista do contexto fático narrado e
devidamente comprovado pelos Atestados médicos em anexo.

Nesse sentido, roga seja reconsiderado o prazo estabelecido em Notificação, tendo em vista a
grave situação de saúde que acometeu o representante legal da empresa e deu causa à
paralisação/redução de suas atividades.
Por consequência, requer seja a presente resposta recebida como tempestiva, deixando-se
de aplicar qualquer sanção por ausência de atenção à Notificação, e, por fim, acatando as
razões aqui articuladas.

III - DA NECESSÁRIA CONTEXTUALIZAÇÃO. INOCORRÊNCIA DE ATRASO


OU DE FORNECIMENTO DE MEDICAMENTOS EM DESCONFORMIDADE COM
O SOLICITADO. INOCORRÊNCIA DE DESCUMPRIMENTO CONTRATUAL.
AUSÊNCIA DE RESPONSABILIDADE DA EMPRESA.

Consta da Notificação que a empresa Notificada teria deixado de fornecer medicamentos em


conformidade com as solicitações encaminhadas pela Administração.

Nesse ponto, cabe esclarecer que a empresa encaminhou orçamentos constando listas de
preços dos medicamentos, e marcando com “Falta” aqueles que se encontram ou se
encontravam indisponíveis no mercado.

Lado outro, ressalta que sequer foram emitidas Notas de Empenho relacionadas aos
medicamentos faltosos, de forma que não há que se falar em atraso ou ausência de
cumprimento de obrigação por parte da empresa.

Como é de conhecimento notório, as mudanças estruturais e econômicas relacionadas ao


COVID-19 tem afetado os mais diversos setores, desenhando mudanças bruscas para os
âmbitos público e privado. No presente caso, em que a Ata de Registros de Preços tem como
objetivo o fornecimento de medicamentos inscritos na tabela CMED/ANVISA para pessoas
carentes do Município de São José do Alegre/MG, conforme demanda, a situação não é
diferente.

Sem dúvidas, o contexto fático produzido pela pandemia do COVID-19 afetou a


disponibilidade de diversos medicamentos no mercado, cabendo esclarecer que inúmeros
insumos e produtos da tabela CMED/ANVISA se encontram em falta.

Nesse sentido, as planilhas de orçamento encaminhadas simplesmente retratam a situação em


que inúmeros medicamentos encontram-se em falta no mercado, ou, quando não, são
encontrados a preços extremamente onerosos.
Diante disso, em primeiro lugar, é certo que não houve descumprimento contratual por parte
da empresa, que jamais deixou de fornecer medicamentos e produtos referenciados em notas
de empenho. Em segundo, a falta de certos medicamentos no mercado não pode ser atribuída
à Notificada, ante a situação de grave crise e escassez nacional, sendo certo que a ausência
desses medicamentos nas Farmácias Municipais não pode ser imputada à Notificada haja
vista o cenário de imprevisibilidade da crise.

Nesse sentido, não há qualquer dúvida que as faltas tratam-se de fortuitos externos, cujos
efeitos são incontornáveis. Assim, vejamos a legislação pertinente. Dispõe o art. 78, da Lei
8.666/93:

Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:


[...]
XVII - a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmente comprovada,
impeditiva da execução do contrato.

Trata-se, como é sabido, de hipótese de rescisão amigável, firmada de comum acordo diante
da contingência dos fatos. Tal ponderação e remissão ao dispositivo legal se faz necessária e
pertinente ante o apontamento de sanções aplicáveis em razão do descumprimento contratual.

Nesse contexto, cabe trazer à tona trecho do documento “Soluções Jurídicas Para o
Enfrentamento dos Efeitos da Pandemia”, referenciado abaixo:

Uma última alternativa jurídica, a ser adotada nos casos mais extremos, é a rescisão amigável
do contrato administrativo, com fundamento no XVII do artigo 78 da Lei nº 8.666/93.
Esta possibilidade deve ser aventada quando as dificuldades encontradas pelo particular, ou
até mesmo pela Administração Pública, sejam tamanhas, que nem mesmo o reequilíbrio
econômico-financeiro contratual, o ajuste do cronograma de execução da obra ou a suspensão
do contrato, sejam suficientes para garantir a continuidade, ainda que futura, da execução da
obra.
Nestes casos, a empresa contratada fará jus ao direito de rescisão do contrato, sem a
aplicação de qualquer penalidade.1

No presente caso, conforme lição, fica evidente que a falta de medicamentos no mercado não
autoriza a aplicação de sanções em face da empresa notificada que, na hipótese mais grave,
poderia, no máximo justificar a rescisão amigável sem a aplicação de penalidades.

1 Ainda que escassos os exemplos em razão da novidade da questão, cabe citar o Parecer nº
1/2020/PTCE/GAB/PGE-PI/GAB/PGE-PI da PROCURADORIA GERAL DO ESTADO DO PIAUÍ;. bem como o material
“Soluções Jurídicas Para o Enfrentamento dos Efeitos da Pandemia”, produzido por Vernalha Guimarães e Pereira
Advogados, e disponível em https://www.inovecapacitacao.com.br/wp-content/uploads/2020/04/Covid19-solu
%C3%A7%C3%B5es-jur%C3%ADdicas-para-o-enfrentamento-dos-efeitos-da-pandemia.pdf.
Diante disso, requer sejam acatadas as razões aqui expostas para que sejam afastadas
quaisquer sanções, ante a inocorrência de descumprimento contratual atribuível à empresa.

Por fim, destaca a empresa que deixou de participar do Pregão Eletrônico nº 014/2021, com
sessão de abertura prevista para 11/05/2021, justamente em razão dos motivos aqui expostos.

Nesse sentido, optou a empresa por não apresentar proposta na nova licitação, tendo em
vistas as dificuldades crescentes no fornecimento de medicamentos, que, como destacado,
encontram-se em falta ou extremamente encarecidos, o que vem causando grandes prejuízos
a sua atuação.

Destaca, assim, que sempre prezou pelo regular e eficaz cumprimento de suas obrigações em
atenção ao interesse público, acreditando ser de ciência da Administração os notórios efeitos
da pandemia na disponibilidade de inúmeros insumos, acrescentando que jamais orçou ou se
comprometeu a fornecer produtos que não estivessem disponíveis.

CONCLUSÃO.

Ante o exposto, requer seja a presente resposta recebida, processada e analisada


regularmente.

No mérito, requer sejam recebidos os esclarecimentos, afastando-se 1) a abertura de processo


administrativo, ante a ausência de suficiente justificativa para sua abertura, e 2) a aplicação
de qualquer sanção em desfavor da empresa Notificada, ante os motivos delineados.

Requer a juntada dos documentos em anexo.

Nestes termos, pede deferimento.

Belo Horizonte, 18 de maio de 2021.

___________________________________________________
XXXXXX XXXXXX E ACESSÓRIOS LTDA - ME

Você também pode gostar