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ATIVIDADE DE DEONTOLOGIA E LEGISLAÇÃO FARMACÊUTICA

Docente: Lorena Ulhôa Araújo


Discentes: Allana Ferreira Lemos,Julliana de Souza Soares e Lívia Maria Dos Santos
Aranha

Caso 1: F.B.P, um senhor de 75 anos, diabético, hipertenso e com insuficiência


cardíaca congestiva, recebeu uma propaganda impressa de determinada farmácia da
sua cidade sobre o “kit covid-19”. Em virtude do interesse de se prevenir contra essa
doença, F.B.P se desloca até a farmácia e pergunta ao atendente sobre o kit. O
atendente oferece ao senhor F.B.P as duas opções de kit, o de prevenção e o de
tratamento. O “kit covid-19” para prevenção inclui azitromicina, hidroxicloroquina,
ivermectina, zinco quelato e vitaminas C e D. Já o kit de tratamento contém
azitromicina, hidroxicloroquina, zinco quelato, dexametasona e enoxaparina sódica.
Senhor F.B.P comprou o kit prevenção sem apresentação de receita médica e não
recebeu nenhuma orientação sobre as formas de uso.

As irregularidades sanitárias e éticas ocorridas no caso descrito acima são


preocupantes, visto que ferem a Resolução CFF nº 711, de 30 julho de 2021, onde discorre
sobre a o Código de Ética Farmacêutica, o Código de Processo Ético e estabelece as
infrações e as regras de aplicação das sanções disciplinares. A problemática do caso em
questão caracteriza a disseminação indevida e equivocada de informações sobre o
Covis-19, onde claramente a farmácia quer lucrar de forma ilegal em meio a uma situação
grave de saúde pública mundial. Dessa forma o Art. 8º informa que a profissão farmacêutica
deve ser exercida com vistas à promoção, prevenção e recuperação da saúde, e sem fins
meramente mercantilistas. Aliás, nesse caso o farmacêutico deve, segundo o Art. 12 IV
negar-se a realizar atos farmacêuticos que sejam contrários aos ditames da ciência, da
ética e da técnica, comunicando o fato, quando for o caso, ao usuário, a outros profissionais
envolvidos e ao respectivo CRF. Ademais, a farmácia em questão descumpre o Art. 18
XXXI, que proíbe produzir e/ou divulgar, por qualquer meio, informação sobre temas
farmacêuticos ou de saúde em geral de conteúdo inverídico, sensacionalista, promocional
que não possua a devida comprovação ou que contrarie a legislação vigente.
No que diz respeito à RDC nº 96, de 17 de dezembro de 2008, esta regula as
disposições sobre a propaganda, publicidade, informação e outras práticas cujo objetivo
seja a divulgação ou promoção comercial de medicamentos. A divulgação do “kit covid” de
prevenção e tratamento pela farmácia fere os princípios definidos por essa RDC, onde o Art.
4º não permite a propaganda ou publicidade enganosa, abusiva e/ou indireta. Define-se
como propaganda/publicidade enganosa qualquer modalidade de informação ou
comunicação de caráter publicitário, inteira ou parcialmente falsa, ou que, por qualquer
outro modo, mesmo por omissão de dado essencial do produto, seja capaz de induzir o
consumidor a erro, a respeito da natureza, características, qualidade, quantidade,
propriedades, origem, preço e quaisquer outros dados sobre produtos e serviços. Ademais,
a divulgação desses kit desumpre o Art. 7º, que consiste na necessidade de comprovação
científica sobre as informações de medicamentos. O uso dos termos kit covid de tratamento
e prevenção, não são permitidos pelo Art. 8º XI, onde foi feito o uso de expressões ou
imagens que possam sugerir que a saúde de uma pessoa poderá ser afetada por não usar
o medicamento. Não obstante, alguns medicamentos citados no estudo de caso necessitam
de prescrição, e o Art. 28 diz que na propaganda ou publicidade de medicamentos de venda
sob prescrição, quando forem destacados os benefícios do medicamento no texto da peça
publicitária, devem ser destacadas, pelo menos, uma contra-indicação e uma interação
medicamentosa mais freqüente, causando impacto visual ao leitor e obedecendo à
proporcionalidade de 20% do tamanho da maior fonte utilizada.
No que diz respeito a Resolução CFF nº 357, de 20 de abril de 2001, esta aprova o
regulamento técnico das Boas Práticas de Farmácia. A atuação da farmácia, bem como do
atendente é errada e perigosa indo contra o Art. 6º 6.20, que define Assistência
Farmacêutica como o conjunto de ações e serviços que visam assegurar a assistência
integral, a promoção, a proteção e a recuperação da saúde nos estabelecimentos públicos
ou privados, desempenhados pelo farmacêutico ou sob sua supervisão. Além disso, é
necessária a Assistência Técnica de um farmacêutico na dispensação de medicamentos,
onde o Art. 6º 6.21 classifica como o conjunto de atividades profissionais que requer
obrigatoriamente a presença física do farmacêutico nos serviços inerentes ao âmbito da
profissão farmacêutica efetuando a assistência e atenção farmacêutica. Complementado a
atividade profissional do farmacêutico, este, segundo o Art. 7º, determinar que toda a
farmácia ou drogaria deverá contará obrigatoriamente, com profissional farmacêutico
responsável, que efetiva e permanentemente assuma e exerça a sua direção técnica, sem
prejuízo de mantença de farmacêutico substituto, para atendimento às exigências de lei.
Isso não ocorreu no caso descrito, pois a dispensação de medicamentos que necessitam de
prescrição ocorreu por um atendente, profissional este não capacitado para o exercício da
profissão em questão, não indo de encontro ao Art. 17, que objetiva a responsabilidade
profissional e a assistência técnica indelegável do(s) farmacêutico(s) e obriga a
participação efetiva e pessoal nos trabalhos de seu cargo, e também do Art. 19 XIV. em que
o farmacêutico deve realizar treinamento aos auxiliares onde constem por escrito suas
atividades, direitos e deveres compatíveis com a hierarquia técnica. Paralelamente, o
farmacêutico deve ter uma atenção especial no atendimento às faixas etárias mais
vulneráveis, como os idosos e pacientes psiquiátricos, que segundo o Art. 67 IV. recebem
um grande número de medicamentos e que com elevada frequência apresentam problemas
relacionados com a medicação. Tal fato corrobora ainda mais para a não disseminação de
fake news sobre medicamentos, que podem afetar negativamente e de maneira grave estes
grupos, que geralmente, carecem de informações, necessitando de um maior auxílio na
farmacoterapia.
No que diz respeito à RDC nº 44, de 17 de agosto de 2009, esta dispõe sobre Boas
Práticas Farmacêuticas para o controle sanitário do funcionamento, da dispensação e da
comercialização de produtos e da prestação de serviços farmacêuticos em farmácias e
drogarias e dá outras providências. A atuação do farmacêutico e suas atribuições, como dito
anteriormente, são indelegáveis. Assim, em conformidade com o Art. 3º as farmácias e as
drogarias devem ter, obrigatoriamente, a assistência de farmacêutico responsável técnico
ou de seu substituto, durante todo o horário de funcionamento do estabelecimento, nos
termos da legislação vigente. Outrossim, é muito comum a automedicação, principalmente
no Brasil, onde esta prática pode levar a danos graves e até mesmo irreversíveis. A fim de
lembrar os pacientes dessa problemática, que ganhou força com o advento da pandemia do
Covid-19, o Art. 41 infere que na área destinada aos medicamentos deve estar exposto
cartaz, em local visível ao público, contendo a seguinte orientação, de forma legível e
ostensiva que permita a fácil leitura a partir da área de circulação comum:
“MEDICAMENTOS PODEM CAUSAR EFEITOS INDESEJADOS. EVITE A
AUTOMEDICAÇÃO: INFORME-SE COM O FARMACÊUTICO”, e também o Art. 42, onde o
estabelecimento farmacêutico deve assegurar ao usuário o direito à informação e
orientação quanto ao uso de medicamentos, principalmente a dispensação dos
medicamentos que estão sujeitos à prescrição como indicado no Art. 43.
No que diz respeito à Resolução RDC nº 44, de 26 de outubro de 2010, esta dispõe
sobre o controle de medicamentos à base de substâncias classificadas como
antimicrobianos, de uso sob prescrição médica, isoladas ou em associação e dá outras
providências. No estudo de caso citado há a declaração do uso de azitromicina de forma
indiscriminada para uma suposta ação de prevenção e tratamento da Covid-19. Tal fato
necessita seguir a proposição do Art. 2º, onde a dispensação de medicamentos a base de
antimicrobianos deve ser feito sob prescrição e somente poderá ser efetuada mediante
receita de controle especial, sendo a 1ª via - Retida no estabelecimento farmacêutico e a 2ª
via - Devolvida ao Paciente, atestada, como comprovante do atendimento.
No que diz respeito à Lei nº 13.021, de 08 de agosto de 2014, esta dispõe sobre o
exercício e a fiscalização das atividades farmacêuticas. O uso de medicamentos não
eficazes para tratar uma determinada doença, por exemplo a Covid-19, é criminosa e
incorreta. Por isso o Art. 13 VI determina a prestação de orientação farmacêutica, com
vistas a esclarecer ao paciente a relação benefício e risco, a conservação e a utilização de
fármacos e medicamentos inerentes à terapia, bem como as suas interacções
medicamentosas e a importância do seu correto manuseio. Com relação à interação
medicamentosa descrita, sabe-se que as doenças do paciente em questão (diabetes,
hipertensão e insuficiência cardíaca) podem ser agravadas pelo uso dos medicamentos
descritos no enunciado, podendo até mesmo levar à morte.
No que diz respeito à RDC nº 405, de 22 de julho de 2020, esta estabelece as
medidas de controle para os medicamentos que contenham substâncias constantes do
Anexo I desta Resolução, isoladas ou em associação, em virtude da Emergência de Saúde
Pública de Importância Internacional (ESPII) relacionada ao novo Coronavírus
(SARS-CoV-2). O Anexo I consta medicamentos como a hidroxicloroquina e a ivermectina,
descritas neste caso 1, onde o Art. 4º contempla que a prescrição desses medicamentos ser
realizada em receituário privativo do prescritor ou do estabelecimento de saúde, sem a
necessidade de modelo de receita específico.

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