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Universidade Federal do Vale do Jequitinhonha

Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde

Departamento de Farmácia

Parasitologia Clínica

Seminário de Toxicologia - Mefedrona

Toxicodinâmica e Fase Clínica

Discentes: Kryslene Vitória da Costa

Lara Lima Machado

Lívia Maria Dos Santos Aranha

Natália Silva Malveira

Diamantina

Agosto de 2022
Toxicodinâmica

A farmacodinâmica da mefedrona foi avaliada em um estudo, em que o efeito


psicoestimulante foi medido com base no aumento da atividade locomotora em
ratos.
Nesse estudo concluiu-se que o efeito farmacodinâmico máximo foi
observado imediatamente após administração da mefedrona e que esse efeito é
dose-dependente. Visto que, a administração intravenosa da mefedrona provocou
um aumento significativo da atividade locomotora, que durou 120 minutos. O mesmo
ocorreu com a administração oral, pois quando administrado uma dose de 30 mg/kg
o efeito psicoestimulante perdurou por 60 min, e quando administrado a dose de 60
mg/kg, a duração foi de 90 min.

Mecanismo de ação

Quando presente, a mefedrona provoca abertura do transportador


dopaminérgico, induz uma corrente de despolarização, estimula a fusão da vesícula
e provoca a libertação de dopamina. Assim, a mefedrona provoca uma
despolarização dos neurônios dopaminérgicos. Existem estudos que demonstram
que as catinonas sintéticas podem apresentar uma seletividade variável para os
diferentes neurotransmissores. A mefedrona demonstrou ter capacidade para inibir
a recaptação de serotonina (5-HT) ao nível do córtex e de dopamina no núcleo
estriado, atuando também de forma preferencial nos neurónios serotoninérgicos.

Reações a nível celular do uso de Mefedrona

Semelhante às substâncias psicoativas mais conhecidas, como a anfetamina


e seus derivados, a mefedrona parece atuar nas mesmas vias de neurotransmissão,
estimulando principalmente o sistema límbico, tendo alto poder de permeação pela
barreira hematoencefálica (German et al., 2014; Simmler et al., 2013). Baumann et
al. (2012) mostraram, em ratos machos da linhagem Sprague-Dawley, que a injeção
de 1 mg/kg de mefedrona, através de microdiálise no nucleus accumbens, aumenta
três vezes os níveis de dopamina e, até sete vezes os níveis de serotonina (5-HT)
(Martínez-Clemente et al., 2012; Simmler et al., 2013).

Efeitos de acordo com o local de ação

Entretanto, por causa de sua ação marcante sobre o nucleus accumbens, é


destacado o grande risco dessa substância para dependência (Robinson et al.,
2012). Esses dados, a respeito da ação nos terminais dopaminérgicos,
noradrenérgicos e serotoninérgicos, estão de acordo com relatos em usuários
intoxicados, uma vez que apresentaram efeitos simpatomiméticos, como, por
exemplo, taquicardia, hipertensão e agitação, com quadro clínico semelhante ao de
outras substâncias psicoativas simpatomiméticas, tais como o MDMA e a cocaína
(Wood et al., 2012).

Neurotoxicidade

Em relação à neurotoxicidade, a monoaminoxidase (MAO) degrada a DA e a


5-HT, gerando o peróxido de hidrogênio, que por sua vez forma o radical hidroxila
(OH•). Como a mefedrona aumenta os níveis desses neurotransmissores no meio
extracelular, sugere-se que esta substância psicoativa teria efeito neurotóxico
(Colleen et al., 2008; Green et al., 2012; Gudelsky et al., 1994).
Como o mecanismo de ação da mefedrona ainda não é completamente
elucidado, alguns autores ainda citam que a mefedrona pode ser mais seletiva que
o MDMA, direcionando a neurotoxicidade exclusivamente para 5-HT. De modo geral,
pode-se dizer que a mefedrona causa alterações agudas, mas não persistentes das
concentrações de DA e 5-HT (Motbey et al., 2012). Entretanto, uma vez que há
grande associação de SPA pelos usuários junto com a mefedrona, consciente ou
não, um estudo realizado em 2013 (Angoa-Pérez et al., 2013) demonstrou que a
mistura da mefedrona com metanfetamina, anfetamina e MDMA desencadeia danos
nos terminais dopaminérgicos mais acentuados do que essas três últimas
substâncias isoladas, potencializando sua neurotoxicidade.

Doses tóxicas

Doses tóxicas para as catinonas sintéticas mais recentes ainda não foram
estabelecidas; Os usuários iniciantes podem desenvolver toxicidade com dose de 1
mg/kg, mas usuários crônicos podem tolerar doses muito mais elevadas.

Tratamento por intoxicação de mefedrona

A mefedrona desencadeia no organismo um conjunto de sintomas


semelhantes aos da cocaína e do ecstasy: euforia, aumento do estado de alerta,
empatia, desinibição social, aumento moderado da libido e intensificação da
percepção musical. Agitação, taquicardia, ansiedade, hipertensão, convulsões, dor
pré-cordial e confusão são efeitos adversos frequentes.
Até o momento não existe nenhum tratamento específico das intoxicações
por mefedrona. Este deve ser, por isso, orientado em função dos sintomas que o
doente apresenta. Para repor o déficit de volume é importante administrar fluidos
endovenosos e, se necessário, controlar os vómitos com antieméticos. A ansiedade
e agitação são tratadas com benzodiazepinas. Se o doente apresentar alterações
do estado de consciência, deve ser entubado para proteção da via aérea.

Fase Clínica - Manifestações Clínicas

As características clínicas da intoxicação por catinonas sintéticas são sinais


de Síndrome adrenérgica aguda e agitação intensa de longa duração que incluem:
Taquicardia, hipertensão, hipertermia, sudorese, midríase, precordialgia, Isquemia,
miocárdica, ansiedade, agitação, comportamento violento, convulsões, lesões
autoinfligidas/tentativas de suicídio,mioclonias, tremores, rabdomiólise, insuficiência
renal, dor abdominal, infarto mesentérico.
A característica mais marcante da overdose por catinonas é a duração dos
efeitos prolongados. Muitos relatos descrevem características psicóticas com
duração de dias a até semanas; As causas mais comuns de morte relacionadas
com a toxicidade
das catinonas sintéticas são:
● Arritmia cardíaca;
● Hipertermia;
● Hemorragia intracerebral.

Diagnóstico
● Clínico
A suspeita deve ser feita em todo o paciente com sinais de síndrome adrenérgica e
história de uso da droga.

● Complementar
1. Laboratorial específico
As catinonas sintéticas e compostos semelhantes "legal highs" (por exemplo, os
canabinóides sintéticos - K2, Spice) não são detectados pelos testes de drogas de
rotina.
Laboratórios selecionados identificaram com sucesso a catinona sintética e
compostos utilizando cromatografia gasosa e espectrofotometria de massa, mas tais
testes não estão rotineiramente disponíveis, e geralmente são solicitados por razões
médico-legais.
2. Laboratorial geral
Atua-se com medidas que visam monitorar a glicemia, eletrólitos, gasometria, CPK,
função hepática e renal, enzimas cardíacas (suspeita de IAM), mioglobinúria
(suspeita de rabdomiólise), ECG, exames de imagem se necessários

Tratamento

1. Medidas de suporte
● Desobstruir vias aéreas e administrar oxigênio; suplementar quando
necessário;
● Monitorizar sinais vitais;
● Manter acesso venoso calibroso;
● Hidratação adequada;
● Correção de distúrbios eletrolíticos;
● Medidas de resfriamento corporal quando indicadas.

2. Descontaminação
● Realizar lavagem gástrica e posterior administração de carvão ativado
apenas quando o paciente se apresenta precocemente e em ingestão de
grandes doses.

3. Antídoto
● Não há.

4. Medidas de eliminação
● Não estão indicadas.

Pacientes Sintomáticos

● Os benzodiazepínicos são os medicamentos de primeira linha para o controle


da agitação, evitar o uso de haloperidol. A sedação adequada pode evitar o
desenvolvimento de rabdomiólise, hipertermia, hipertensão e convulsões.
Nos casos graves, podem ser necessárias paralisia neuromuscular, intubação
orotraqueal e medidas de resfriamento corporal;
● Utilizar 10 mg de diazepam IV até o controle das manifestações; podem ser
utilizadas doses cumulativas de até 100 mg. Na impossibilidade de obtenção
de acesso venoso, pode-se utilizar midazolam IM;
● Para o controle das convulsões, sugere-se a utilização de benzodiazepínicos
e, em casos refratários, fenobarbital;
● Os antipsicóticos não estão indicados para o tratamento da agitação pois
podem baixar o limiar de convulsão, alterar a regulação da temperatura,
causar distonia aguda e precipitar arritmias cardíacas;
● Em hipertensão arterial grave não responsiva à sedação com
benzodiazepínicos, utilizar nitroprussiato;
● Evitar antagonistas beta-adrenérgicos, especialmente quando há coingestão
de cocaína.

Índices de moralidade da Mefedrona

Existem até alegações de que as NSP, nomeadamente a mefedrona,


estariam envolvidas em mortes no Reino Unido. No início de outubro de 2010 a
mefedrona era suspeita de ser a causa de 45 mortes em Inglaterra, 12 na Escócia, 1
no País de Gales, 1 na Irlanda do Norte e 1 em Guernsey. Análise de casos de
morte súbita ocorridos na Irlanda do Norte entre o final de 2009 e final de 2010
revelou a presença de mefedrona nas amostras de sangue de 12 mortos (11
homens e 1 mulher), 4 mortes resultaram de suicídio por enforcamento. No entanto
em apenas dois casos, a morte foi atribuída apenas à intoxicação por mefedrona

Triagem de identificação de contrabando de mefedrona.

Apesar do desenvolvimento da tecnologia instrumental, as reações


colorimétricas continuam a ser uma ferramenta importante para a triagem de drogas
lícitas e ilícitas. A sua aplicabilidade é geralmente simples e rápida, podendo ser
utilizadas por pessoas sem grande formação química. A desvantagem deste método
baseia-se na sua baixa sensibilidade, interferências e vários falsos positivos. No
entanto, as catinonas sintéticas não têm uma reação colorimétrica adequada e
específica, para serem regularmente utilizadas em análise presuntiva. Foi
demonstrado que o reagente de Marquis é adequado para a identificação preliminar
de derivados da catinona metilenodioxi substituídos, enquanto que o reagente de
Liebermann é apropriado para identificação da catinona, metcatinona e mefedrona.
Ambos os testes dão origem a produtos de cor amarela intensa.
A espectrometria de mobilidade iônica (IMS) é considerada uma técnica
analítica de escolha para detectar substâncias ilícitas em pontos de segurança em
aeroportos, fronteiras e alfândegas. A vantagem desta técnica prende-se com a sua
sensibilidade às diferenças de tamanho e formas estruturais, bem como com a sua
capacidade de analisar uma amostra em segundos. A IMS opera em dois modos:
positivo e negativo; as drogas de abuso têm geralmente alta afinidade por prótons,
formam iões positivos e, por conseguinte, são detectadas em modo positivo. O
desempenho da técnica de IMS foi avaliado por Joshi et al. (2014) para a triagem e
identificação de catinonas sintéticas e compostos psicoativos associados. Os
resultados mostraram que o IMS é uma ferramenta de triagem rápida e eficiente,
detectando pelo menos uma catinona em 77% das amostras testadas.

Referências

Rech, N. B., D’Agostini, F. P., & DeMarco, T. T. (2017). DROGAS ESTIMULANTES:


KROKODIL, ICE E MEFEDRONA. Anuário Pesquisa E Extensão Unoesc Videira, 2,
e14177. Recuperado de https://periodicos.unoesc.edu.br/apeuv/article/view/14177.

BARANYUK, Kateryna. Novas substâncias psicoativas: catinonas sintéticas. Mestrado


Integrado em Ciências Farmacêuticas 2021. [S.l: s.n.], [S.d.]. Disponível em:
<https://repositorio.ul.pt/bitstream/10451/53113/1/MICF_Kateryna_Baranyuk.pdf>.
Acesso em: 10 ago. 2022.


PAIL, Priscilla Batista. Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul
Programa de Pós-Graduação em Biologia Celular e Molecular. Comparação Dos
Efeitos Dos Derivados da Catinona, Metedrona e Mefedrona em Camundongos:
Determinação dos Efeitos Comportamentais e Bioquímicos. [S.l: s.n.], 2014.
Disponível em: <https://tede2.pucrs.br/tede2/bitstream/tede/5506/1/462085.pdf>.
Acesso em: 10 ago. 2022.

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