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RECEITA ILEGÍVEL: ERRO DE DISPENSAÇÃO

Foi enviado e-mail ao CRF-SP denunciando a dispensação de medicamento


em desacordo com a prescrição médica: “...estava com vermelhidão e coceira nos
olhos e decidi passar no pronto-socorro. Chegando lá, o médico me examinou e
receitou 2 remédios para eu aplicar nos olhos. Saí do pronto-socorro e fui direto para
a farmácia. Chegando lá, o atendente pegou a receita, ficou por alguns minutos
tentando entender o que o médico tinha escrito, me disse que a letra estava difícil de
decifrar e perguntou se eu lembrava dos nomes dos medicamentos. Como eu não
lembrava, ele então foi até o farmacêutico e, após alguns minutos, o farmacêutico
indicou na prateleira quais eram os remédios. O atendente pegou os remédios e me
entregou. Fui para casa e pinguei os colírios nos olhos, o que resultou em uma dor
insuportável, ardência e irritação. Ao ler os dizeres da embalagem do tal colírio e a
bula, notei que estava escrito “USO ORAL” ...Fui ao pronto-socorro novamente e o
médico me afirmou que a medicação que eu comprei e passei nos olhos estava
incorreta...” Conforme fotos da prescrição médica, do medicamento dispensado à
denunciante e do cupom fiscal eletrônico de compra, foi dispensado o medicamento
Profenid® gotas de uso oral mediante prescrição médica do colírio PredMild®.

Analisando o fato acima exposto, verifica-se que a conduta do

profissional está em desacordo com:

✓ Lei Federal nº 13.021/2014;

✓ RDC Anvisa nº 44/2009;

✓ Resolução CFF nº 357/2001.

Prescrições com escrita ilegível, ambíguas ou incompletas, contendo nomes de


medicamentos com grafia ou som semelhantes, utilização de zeros de forma
inadequada, pontos, decimais e abreviaturas estão frequentemente relacionadas a
erros de medicação.

A farmácia com base no disposto na Lei 13.021 de 2014, tem um papel


fundamental na promoção e recuperação da saúde, devendo assegurar à população
o acesso à assistência farmacêutica em período integral, com foco no uso racional e
seguro do medicamento.

A fiscalização do CRF-SP alerta que é atribuição do farmacêutico a


dispensação de medicamentos, bem como a análise e interpretação do receituário, na
qual se fará com base nos aspectos legais e terapêuticos (farmacêuticos e
farmacológicos).

Desta forma, é de fundamental importância que o farmacêutico se atente para:


o nome (comercial e da substância ativa) do medicamento, dosagem, concentração,
forma farmacêutica, posologia e duração do tratamento, devendo obrigatoriamente no
momento de a dispensação ser feita uma nova conferência, procedendo com a
inspeção visual para verificar, no mínimo, a identificação do medicamento separado
com o que consta prescrito no receituário, se um prazo de validade e a integridade
da sua embalagem.

O farmacêutico em hipótese alguma deverá efetuar a dispensação de


medicamentos caso as receitas estejam ilegíveis ou possam induzir a erros ou
confusão. Sempre que tiver dúvidas com relação à prescrição ou detecte eventuais
problemas na mesma, não deverá efetuar a dispensação, até que consiga realizar
contato com o prescritor para esclarecimentos e confirmação da receita por ele
emitida.

Erros de dispensação de medicamentos podem vir a configurar imperícia,


imprudência ou negligência do farmacêutico, podendo colocar em risco a saúde física
e/ou psicológica do paciente e gerar sérios danos, temporários ou até mesmo
permanentes, podendo o farmacêutico responder na esfera ética e administrativa sem
prejuízo das sanções de natureza civil ou penal cabíveis.

Desta forma, a fiscalização do CRF-SP orienta o farmacêutico a não delegar a


outros profissionais atos ou atribuições que lhe são exclusivos, sendo seu direito,
conforme disposto no Código de Ética Farmacêutica – Resolução CFF 596 de 2014,
exigir dos profissionais da saúde o cumprimento da legislação sanitária vigente, em
especial quanto à legibilidade da prescrição, podendo decidir, desde que de forma
justificada, sobre o aviamento ou não de qualquer prescrição.
(RDC 44/2009 e Resolução CFF 357/2001) descreve que não podem ser
dispensados medicamentos cujas receitas estiverem ilegíveis.

RDC Anvisa nº 44/2009;

Art. 44. O farmacêutico deverá avaliar as receitas observando os seguintes


itens:

I - Legibilidade e ausência de rasuras e emendas;

II - Identificação do usuário;

III - identificação do medicamento, concentração, dosagem, forma farmacêutica


e quantidade;

IV - Modo de usar ou posologia;

V - Duração do tratamento;

VI - Local e data da emissão; e

VII - assinatura e identificação do prescritor com o número de registro no


respectivo conselho profissional.

Parágrafo único. O prescritor deve ser contatado para esclarecer eventuais

problemas ou dúvidas detectadas no momento da avaliação da receita.

(RDC 44/2009 e Resolução CFF 357/2001) descreve que não podem ser
dispensados medicamentos cujas receitas estiverem ilegíveis.

interagir com o profissional prescritor, quando necessário, para garantir a


segurança e a eficácia da terapêutica, observado o uso racional de medicamentos;
(Art. 11, inciso II)

Direito do farmacêutico

- Exigir dos profissionais da saúde o cumprimento da legislação sanitária


vigente, em especial quanto à legibilidade da prescrição; (Art. 11, inciso III)

- Decidir, justificadamente, sobre o aviamento ou não de qualquer prescrição,


bem como fornecer as informações solicitadas pelo usuário. (Art. 11, inciso IX).
Além dos direitos citados acima, há relação das prerrogativas com outras
normas que fortalecem o exercício destes direitos:

Lei 5.991/1973, Artigo 35, alínea “a” - Somente será aviada a receita que estiver
escrita de modo legível;

Código de Ética Médica, Capítulo III, Artigo 11: É vedado ao médico “receitar,
atestar ou emitir laudos de forma secreta ou ilegível”.

Sendo assim, o farmacêutico deve ter a seguinte conduta:

- Contatar o prescritor, com o intuito de confirmar a prescrição;

- Caso não obtenha êxito, deve recusar-se a dispensar e orientar o


paciente/usuário a contatar o prescritor, para solicitar substituição da prescrição por
uma legível;

- Não obtendo êxito na substituição da prescrição por uma legível, orientar o


paciente/usuário a comunicar ao Conselho Regional de Farmácia e/ou ao Conselho
Regional de Medicina, para que adotem as medidas cabíveis.

Penalidade:

No âmbito penal, se do erro na dispensação do medicamento resultar em lesão


corporal ou morte do paciente, desde que devidamente comprovado o nexo causal,
ou seja, que a ingestão do medicamento errado provocou o dano, pode o farmacêutico
sofrer sanções de natureza penal, respondendo até com pena privativa de liberdade,
dependendo da conduta e consequências produzidas. Tais crimes são considerados
culposos, uma vez que o farmacêutico não quis produzir o resultado. É o que dispõe
o artigo 129, § 6º do Código Penal:

Lesão corporal culposa

§ 6º Se a lesão é culposa:

Pena – detenção, de 2 (dois) meses a 1 (um) ano.

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