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Caro R.J., Eu sinto muito que a nossa primeira entrevista não foi tão
boa como nós tanto esperávamos. Eu penso que o e-mail será uma
plataforma melhor para nós. Eu listei algumas perguntas. Por favor,
responda a seu critério.
Muito bem-sucedida, Kate Corbin Chicago Crier 1. Você pode me
dar quaisquer detalhes sobre sua vida pessoal? Você é solteiro? Você vive
sozinho? Quais são seus hobbies? Sua família está envolvida em seus
negócios?
2. Por que você decidiu comprar uma vinícola?
3. Por que você vendeu a J-Com Technologies?
Kate,
Eu realmente sinto muito sobre ontem. Eu não me comportei
profissionalmente e peço desculpas. Eu estou tentando desesperadamente
manter minha vida pessoal privada. Eu vou lhe dar algumas informações e,
em seguida, tentar responder às suas perguntas o mais eficientemente
possível. Eu estava no olho do público a partir dos treze anos, quando me
formei no ensino médio. Com dezesseis anos, eu tinha uma graduação no
MIT e uma nova empresa, J-Com Technologies. Depois de patentear uma
nova tecnologia de servidor, eu fui apelidado de “O garoto gênio” pela
mídia. Era um papel difícil de viver. Eu estava sob muita pressão, mesmo
com o apoio incondicional do meu pai, que essencialmente dirigia a
empresa.
Embora o meu amor por descobertas e ciência nunca morreu, meus
interesses e foco começaram a mudar naquela época. Houve uma noite em
que eu percebi que toda a glória do meu sucesso inicial se traduzia em
dinheiro, mas o dinheiro só me fez sentir vazio. Eu tinha que me ensinar a
olhar para ele de uma forma diferente, a olhar para o dinheiro como
representando algo mais básico: água potável, alimentos, vacinas, abrigo e
com muita sorte, educação. Foi a constatação de que um terço da população
do mundo é pobre, faminta e morrendo de doenças evitáveis que me fez
vender J-Com. Eu não queria perder meu tempo com o que eu sentia que
eram coisas fúteis, e é por isso que eu saí.
Peguei o dinheiro, comecei uma fundação, e fui para a África, onde
passei quase dez anos viajando ao redor, na construção de escolas e
infraestrutura. Minha fundação ainda fornece vacinas para milhares, e nós
trabalhamos incansavelmente para fornecer às pequenas aldeias, os recursos
adequados para obter saneamento e água limpa. Essa é a minha paixão. Eu
passo vários meses por ano lá.
A vinícola é minha fuga. Eu também a uso para testar teorias de
energia limpa, mas principalmente é uma casa para mim. Eu sou solteiro e
moro sozinho. Meus hobbies são típicos. Estou muito perto do meu pai, que
vive em Portland. Ele é um engenheiro aposentado da Boeing. Minha mãe
morreu em um acidente de trânsito há quatro anos. Ela foi atropelada por
uma menina enviando mensagens em seu telefone. Por causa disso, eu passo
pouco tempo em torno dos dispositivos tecnológicos que eu ajudei a inventar.
A morte da minha mãe me destruiu tanto que eu precisei encontrar algo para
concentrar minha energia, e é por isso que eu comprei a vinícola. Eu tenho
um irmão, uma irmã mais nova, em Boston. Nós não somos próximos. Eu
acho que é só isso, encerramos.
Mais uma vez, me desculpe por ontem. Espero que a experiência não
manche a sua visão da vinícola.
Atenciosamente, R. J.
***
A primeira coisa que notei quando acordei foi que minha cabeça
estava pulsando a partir do álcool. A segunda coisa que eu percebi foi que
não estávamos nos movendo. Eu ainda estava no colo de Jamie. Sua testa
estava descansando no volante e seu braço direito estava apoiada no painel na
frente dele. Minha suposição inicial era de que ele estava dormindo. Eu saí de
cima dele e vi que ele estava segurando um frasco de comprimidos de glicose
em sua mão esquerda. Nós estávamos do outro lado da ponte no
estacionamento do mirante da Golden Gate, de frente para a cidade. Olhei
atentamente para Jamie e vi que seus olhos estavam ligeiramente abertos.
— Jamie.
— Mm-humm.
— Jamie, você está bem? — Eu peguei o frasco de sua mão esquerda
e descobri que ele estava vazio. Eu fiquei frenética. Coloquei minha mão na
sua testa, e ele tentou me dar um sorriso fraco.
— O que é isso?
— Baixo — ele murmurou, apenas alto o suficiente para eu ouvir.
Ocorreu-me muito brutalmente, que Jamie tinha se aplicado muita
insulina. Eu comecei a procurar no carro, mas não consegui encontrar o kit de
glucagon. — Jamie! — Eu gritei, mas naquele momento seus olhos estavam
fechados e ele não respondeu. Ele começou a inclinar para a esquerda. Eu
gentilmente o coloquei contra a porta do lado do motorista e, em seguida,
olhei para fora para a ponte. O tráfego tinha parado; os pedestres estavam
congelados no espaço e no tempo. Eu me sentia frustrada e impotente, como
em um sonho. Gritei de novo: — Onde isso está? — E então eu orei e peguei
meu telefone, mas pouco antes de eu discar 911, vi a caixa laranja debaixo do
assento. Visualize para perceber. Quando olhei, isso estava lá. Eu o peguei e
o abri, meus movimentos eram fluidos e precisos, como se eu estivesse no
piloto automático. De alguma forma eu sabia exatamente como bombear o
líquido para dentro da seringa. Eu enchi a seringa e empurrei uma gota
através da agulha, para remover o ar. Eu soltei o seu cinto e puxei a sua calça
jeans para onde eu podia ver apenas o bastante de pele abaixo de seu quadril
para dar-lhe a aplicação, e então eu espetei a agulha em sua carne e empurrei
o líquido através. Eu estava chorando, em pânico. Por favor, fique bem. Por
favor, fique bem.
Eu ligo para o 911 do meu telefone, apenas no caso, mas bem antes de
eu apertar CHAMAR, ouvi Jamie falar: — Kate? — Ele murmurou.
— Sim? — Eu deslizo em direção a ele. Ele encostou-se contra o
assento, a cabeça caindo para trás, e respirando fundo duas vezes. Eu peguei
e segurei seu rosto, procurando seus olhos. Eles estavam dilatados e ele
estava frio, mas ele estava consciente e me observando.
— Oh meu Deus, Jamie! Meu Deus!
— Eu estou bem — ele murmurou.
Entre cada soluço alto, eu o beijei por todo o rosto e pescoço. Suas
mãos repousavam sobre minhas coxas. Ele me deixou sufocá-lo com beijos
enquanto minhas lágrimas derramaram por todo seu rosto. Eu queria o
embalar e balançar como um bebê. Eu queria acalmá-lo. Mas naquele
momento, eu era a única que precisava de calmante.
— Baby, pare de chorar, por favor. Eu sei que foi assustador para
você, mas eu estou bem. Eu estraguei tudo. Isso nunca aconteceu antes. —
Ele estava mais alerta. Ele levantou as mãos até meu rosto e enxugou as
minhas lágrimas. — Desculpe, eu não pude cuidar de você.
— Nós podemos cuidar um do outro — eu disse imediatamente, e, em
seguida, foi como se um novo portal em meu cérebro tivesse sido
desbloqueado, eu me lembrei do meu sonho. Os sussurros.
Esse foi um daqueles momentos, como tantos outros que eu tive antes,
aonde todo o dia não me lembraria do meu sonho da noite anterior e, de
repente, seria desencadeado por um cheiro ou uma música ou um comentário
feito por um colega e o sonho iria correr de volta para mim, como uma onda
de memórias. Foi o que aconteceu na caminhonete nessa noite. Eu me
lembrei do meu sonho. Eu estava lá novamente, pairando sobre o corpo de
Rose, o som dos batimentos cardíacos batendo alto, exceto que eu percebi
que havia dois conjuntos batendo. Inclinei-me sobre ela para ouvir, mas o
som não vinha dela. Era um som humano, um som vivo. Minha lembrança do
sonho ficou clara, finalmente. Quando ela falou, sua voz era suave e
melódica, mas suplicante.
Cuidem um do outro, disse ela, e então ela olhou para a figura de pé
ao meu lado. Era Jamie, e os batimentos cardíacos eram nossos. Seu e meu.
Na caminhonete, ainda sobre ele, coloquei minha mão sobre meu
coração.
— O que foi isso? — Perguntou.
— Nada. — Eu tremi.
— Acalme-se. Está tudo bem.
— Eu sei. — Eu coloquei minha cabeça no peito dele e ele me
segurou com força. Uma hora deve ter passado. A cada poucos minutos, eu
olhava para o rosto dele para vê-lo e ele sorria para mim a cada vez, mas
permanecemos quietos e ainda, apenas abraçados.
Finalmente, eu saí de seu colo. — Eu não deveria levá-lo para o
hospital?
Ele balançou a cabeça. — Estou bem. Eu só preciso comer alguma
coisa.
— Oh, sim. — Eu puxei a barra de cereais da minha bolsa,
desembrulhei rapidamente, e segurei diante da sua boca. Ele riu. Eu sabia que
ele ia ficar bem.
— Eu posso me alimentar. Obrigado, Kate. — Antes dele estender a
mão para a barra, ele engoliu em seco e, em seguida, olhou acentuadamente
nos meus olhos. — Eu quero dizer isso. Obrigado.
Eu balancei minha cabeça. — Eu sei, eu sei. Você não precisa me
agradecer. Aqui, coma isso, por favor. — Ele mordeu metade da barra e, em
seguida, ele a colocou no painel do carro. Eu olhei para o meu telefone. Eram
duas horas, ele puxou a calça jeans para onde eu lhe tinha dado a aplicação e
olhou para o local da injeção. Ele esfregou a área e estremeceu um pouco.
— Você vai ter um hematoma. Eu te espetei muito forte.
— Você fez — disse ele com uma pitada de diversão em sua voz. —
Você me faz bem, mocinha. — Ele afivelou o cinto e tirou seu medidor para
verificar o açúcar no seu sangue. — Você sempre leva comida em sua bolsa?
Eu corei. — Eu li sobre o kit de glucagon no outro dia, e que às vezes
você tem que dar a diabéticos comida imediatamente.
Ele olhou para cima beatificamente. — Deus, você é a coisa mais
doce.
Eu sorri, mas uma lágrima caiu dos meus olhos ao mesmo tempo. —
Como está o seu nível?
— Eu estou bem.
— Eu acho que devo dirigir Jamie.
— Querida, mesmo se eu estivesse meio inconsciente, nossas chances
de chegar em casa com segurança são muito mais elevados comigo ao
volante. — Ele sorriu, brincando. — Sem ofensa.
— Você provavelmente está certo.
— Você quis encostar aqui porque você se sentiu tonto?
— Sim. Eu deveria ter medido mais cedo. Às vezes, fica confuso,
especialmente se estou distraído, e então eu corri para os comprimidos de
glicose. Isso foi estúpido, eu realmente sinto muito.
— Pare de se desculpar, você fez a coisa certa ao estacionar. Da
próxima vez, me acorde.
— Eu prometo.
Era uma promessa por uma próxima vez. Isso era tudo que eu
conseguia pensar naquele momento. Não uma próxima vez que Jamie tiver
uma baixa, apenas uma próxima vez, um período.
Jamie nos levou de volta para a vinícola com sua janela toda aberta e
o aquecedor virado para cima para que ele pudesse manter-se alerta, sem me
congelar. Eu mantive meus olhos na estrada junto com ele. Ele puxou pela
longa entrada e depois continuou em uma estrada de terra até que estávamos
estacionados na frente do celeiro.
Ele olhou apreensivamente. — Você quer ficar comigo esta noite?
— Já é amanhã.
— Você quer ficar comigo de manhã?
— Mm-humm.
Ele segurou minha mão até que estivéssemos dentro do celeiro, e
então acendeu as luzes e me observou olhando tudo. Isso não era um celeiro
por dentro. Seja qual fosse o designer brilhante, ele deixou as vigas naturais
expostas, mas finalizou as paredes com madeira branca e ardósia. Os pisos
eram de madeira envelhecida e havia grandes lustres rústicos pendurados em
pontos mais altos do teto. Estavam pelo menos à doze metros de altura no
centro. Acima de um conjunto de vigas no espaço de duas águas haviam
prateleiras cheias de livros e uma pequena escada que leva até ela. Eu andei
ao redor, fascinada. A decoração era quente, rica e masculina. Isso era um
instantâneo imaculado de um catálogo de Hardware de Restauração. A
cozinha seguia o mesmo design vívido, com uma pia de canto e armários
embutidos. Jamie inclinou-se contra a parede com as mãos nos bolsos, apenas
me observando.
— É incrível. Quem fez isso?
— Eu fiz.
Eu ri para mim mesma. Claro que ele fez. — R.J. te deixa ter este
espaço? — Ele assentiu.
Toda a planta era aberta. Havia apenas paredes parciais que dividiam
os espaços, bem como um sótão, exceto o banheiro, que tinha uma porta
modestamente projetada em comparação com o resto do celeiro. Num canto,
havia uma mesa de desenho com todos os tipos de desenhos de máquinas.
Havia alguns desenhos emoldurados nas paredes acima da mesa que eu
reconheci quase que imediatamente como cópias de Da Vinci. Eu vi os
esboços para as máquinas de elevação de água e o homem Vitoriano no
círculo representando as proporções ideais de um corpo. Jamie era um
pensador, não havia dúvida. Eu percebi naquele momento que, mesmo que
ele pudesse ser social, quando precisava ser, ele era também um pouco
solitário. Como eu.
Eu andei em direção à extremidade oposta do celeiro, e, no processo,
tropecei em meus próprios malditos pés. Eu tropecei, mas rapidamente
recuperei o equilíbrio. Olhei para trás e peguei Jamie sorrindo. — Oh, limpe
esse sorriso do seu rosto. Eu sou desajeitada, ok?
— Você é adorável — ele disse.
No centro da parede oposta estava a cama. Eu andei em direção a ela
e senti Jamie me seguindo. As luzes atrás de mim apagaram uma a uma, até
que havia apenas uma pequena lâmpada de mesa, enchendo o espaço com um
calor fraco como uma brasa na noite mais escura. Nós caminhamos por
alguns minutos e depois ficamos frente a frente de lados opostos da cama. Ele
tirou sua camisa, eu tirei o meu casaco, e nós dois tiramos os sapatos.
— É lindo aqui.
Ele veio em minha direção sem hesitação e levantou meu vestido. Eu
levantei meus braços para ajudá-lo. Ele nunca tirou os olhos de mim
enquanto jogava o vestido na cadeira ao lado dele. — Agora é — disse ele.
Eu estava na minha calcinha e sutiã e não me sentia nada tímida. Eu
desabotoei sua camisa e a empurrei para fora de seus ombros, deixando as
mãos permanecerem lá. Seu cabelo tinha caído para baixo contra os lados de
seu rosto. Eu os empurrei de volta, lenta e sensualmente. Ele me beijou
enquanto desabotoou a calça jeans, apenas quebrando o beijo para sair dela.
— Você se sente bem? — Perguntei.
— Sim. No entanto, vamos descansar um pouco. — Ele puxou o
edredom para trás e deitou vestindo apenas sua cueca. — Venha aqui, Kate
— ele disse com um sorriso preguiçoso. Quem poderia dizer não a este
homem? Olhei para o relógio antiquado na mesa de cabeceira antes de
deslizar ao lado dele. Eram três e meia da manhã, estávamos deitados de lado,
de frente um para o outro, mas nossos corpos estavam nivelados. Eu me
encaixava perfeitamente no espaço do seu peito. Nós enrolamos as nossas
pernas, e então eu o senti beijar o topo da minha cabeça.
— Nós podemos ficar assim durante o dia todo. Nós não temos para
onde ir, apenas aqui. Dormindo, anjo. — E assim, eu apaguei.
Estava amanhecendo quando eu acordei. Havia um brilho que vinha
através das persianas. Nossos corpos começaram a se mover ao mesmo
tempo, ele também estava acordando. Nós estávamos hipersensíveis da
presença um do outro, de pele contra pele, do calor que irradiava de nossos
corpos. Nós começamos a nos mover mais intencionalmente. Ele me rolou
até que nós estávamos de conchinha. Ele beijou meu pescoço e atrás da
minha orelha e pressionou-se para frente, e eu o senti duro contra mim. Eu
gemi tão baixinho, que pensei que só eu podia ouvir, mas ele respondeu ao
empurrar contra mim novamente, mais e mais urgente. Ele tirou meu sutiã,
jogando-o.
Ele rolou em cima de mim e arrastou beijos lentos sobre os meus
seios e para baixo no meu estômago e ainda mais para baixo. Eu me fixei nos
músculos em seus braços enquanto ele se segurava acima de mim sem
esforço. Eu senti que ele arrancou sua cueca; ele era muito bom nisso. Ele
também era muito bom em me deixar louca. Ele estava me beijando através
da minha calcinha, ali naquele local perfeito. Eu me senti movendo em
direção a ele, contrariando um pouco e encorajando-o a continuar a
provocação. Ele rolou minha calcinha para baixo e ela também desapareceu
na galáxia. Havia mãos, lábios, dentes e línguas em todos os lugares, mas era
lento. Ele parou e pairou sobre mim, olhando nos meus olhos, mas ele não
disse nada.
— Você gosta de mim, Jamie?
— Sim. Muito.
— Que tipo de sangue você tem?
— O positivo. — Ele balançou a cabeça e riu.
— Você tem uma conta poupança?
— Sim.
— E seguro de saúde?
— Uh-huh — ele murmurou enquanto beijava seu caminho pelo meu
corpo e de volta novamente.
— E você já realizou um check-up recentemente? — Quando ele
olhou para cima, eu abri meus olhos bem, então ele sabia do que eu estava
falando.
— Sim, claro.
— Qual é o seu sobrenome?
— Chega de conversa. — E então seus lábios se chocaram contra os
meus e eu o senti entrar em mim, me enchendo até minhas costas arquearem.
Ele se moveu de forma fluida, como a perfeição misturada com apenas um
tom de dor da novidade. Ele beijou meus lábios como se eles fossem
preciosos, joias inestimáveis, e então ele beijou seu caminho até minha
orelha. Nós respirávamos com dificuldade, e me ajustei a ele, deixando-o no
mais profundo e íntimo. Isso parecia tão certo. Havia algo tão natural sobre a
forma como os nossos corpos se moviam juntos. Não houve confronto
estranho de dentes enquanto nos beijávamos, ou confusão atrapalhando os
movimentos. Era como se tivéssemos abandonado o controle de algum poder
mais forte do que nós. Ele agarrou minhas duas mãos, entrelaçando seus
dedos com os meus, e as estendeu acima da minha cabeça.
— Abra seus olhos. Quero que me veja quando você gozar.
Eu fiz, e os dedos dos pés pulsaram, lançando ondas de radiação pela
minha espinha até que eu senti esse ritmo zumbido entre minhas orelhas e na
parte de trás da minha garganta. Olhar em seus olhos tornava tão intenso.
Havia o familiar batimento cardíaco batendo entre as minhas pernas. Ele
empurrou e foi mais profundo, mas me observava atentamente, então ele
agarrou meu quadril. Isso foi quando nós dois nos desfizemos. Isso foi lento,
doce, sexy, sonolento, mas foi mais poderoso do que qualquer coisa que eu
tive antes. Eu pensei que talvez isso fosse como o fazer amor devesse
parecer.
Minhas mãos agarram o seu cabelo enquanto os últimos tremores
deixavam o meu corpo. Ele finalmente fechou os olhos e desabou, enterrando
seu rosto no meu pescoço. Nós caímos no sono novamente bem assim, com
ele ainda dentro de mim, mas eu não me importei, porque eu não me sentia
sozinha.
Havia algumas horas cheias de memórias nebulosas do sol explodindo
através das cortinas e Jamie levantando-se para fechá-las. Ele me trouxe água
e suco. Eu o ouvi falar com Susan no telefone antes de voltar para a cama e,
em seguida, na próxima vez que eu acordei, o ouvi mexendo na cozinha. Eu
senti o cheiro de bolo e fiquei convencida de que eu tinha morrido e ido para
o céu. Eu saí da cama e procurei ao redor pelas minhas roupas íntimas. As
pessoas apenas passeiam nuas no céu? Eu usei sua escova de dentes
secretamente e, em seguida, rapidamente me dei conta o quão estúpido era ser
sorrateira sobre isso depois do que tínhamos acabado de fazer.
Quando voltei para a cama, notei uma linha de visão da qual eu podia
assistir Jamie na cozinha, a cerca de seis metros de distância. Ele estava
usando calças de pijama de flanela. Não é justo. Quando ele me viu, eu
congelei. Ele caminhou para mim com um olhar intimidante em seu rosto. Eu
não podia me mover. Eu me senti afundando todo o caminho até meus dedos
dos pés. Meu coração pulou e gaguejou. O que aconteceu depois foi um
pouco de um borrão. Eu poderia ter sonhado, mas eu tenho certeza que assisti
Jamie parar no meio do caminho e deslizar facilmente para fora da calça de
flanela. Nós estávamos parados na luz brilhante, completamente nus e
olhando um para o outro. Eu podia ouvir nossas respirações superficiais e as
batidas fracas de nossos corações. Seu cabelo estava vagamente desgrenhado
e o rosto que ele usava quase barbeado estava mais grosso e mais escuro do
que tinha estado no dia anterior. Um gemido involuntário escapou dos meus
lábios. Ele olhou para mim por apenas por um segundo mais longo e, em
seguida, levou três passos largos e rápidos antes de me levantar pela parte de
trás das minhas pernas e me colocar enrolada nele. Ele me empurrou contra a
parede com força.
— Você é tão bonita. Deus, você é tão fodidamente bonita — disse
ele com um suspiro.
Nós provamos um ao outro por horas, movendo-nos de um espaço ao
espaço. Na cama de novo, ele me puxou para cima na posição montada sobre
ele e então empurrou meu peito para trás de modo que meu corpo inteiro
estivesse exposto acima dele. Eu me inclinei e o guiei para dentro de mim,
me enchendo ao máximo. Ele me empurrou de volta para que eu estivesse
sentada mais ereta em cima dele.
— Feche os olhos, Jamie.
— Não, eu quero ver você.
Eu me sentia autoconsciente, mas afastei parte disso quando vi o quão
adoravelmente ele olhava meu corpo. Suas pálpebras estavam pesadas; ele
parecia encantado quando comecei a me mover. Eu me movi para baixo
lentamente e senti um pequeno gemido escapar dos meus lábios. Já havia
uma dormência e pulsação por todo meu corpo, mas a posição e as mãos de
Jamie vagando tinha definido o ritmo muito mais rápido. Ele finalmente se
abaixou e me tocou onde estávamos conectados. Eu contorci e aumentei o
ritmo, joguei a cabeça para trás, e me perdi. Ele se sentou quase
imediatamente e enterrou o rosto no meu pescoço. Ficamos assim até os
minutos e segundos não significarem nada. O tempo foi medido apenas pelo
som de nossos corações batendo.
Quando finalmente rompemos o nosso abraço, caímos
preguiçosamente para cada lado da cama. Jamie se virou e apoiou em seu
cotovelo e me alimentou com pedaços de croissant de chocolate antes de
insistir que nós tirássemos outro cochilo. Ainda tenho certeza de que isso é o
céu.
— Onde está a Chelsea? — Eu perguntei em uma voz sonolenta.
— Com Susan.
— Isso é provavelmente uma coisa boa. — Com o canto do meu olho,
eu podia vê-lo sorrindo.
Estávamos deitados de costas, olhando para o teto alto, as vigas. Ele
pegou minha mão e beijou as costas dela. — Ei... vamos fazer isso para
sempre.
Meus olhos se arregalaram. — Fazer o que para sempre?
— Deitar assim, dormir, comer e foder.
— Oh.
Ele virou seu corpo em minha direção e procurou meus olhos. —
Sinto muito, isso não foi muito romântico.
— Tudo bem.
— Eu posso ser romântico... Mas primeiro vamos dormir. — Ele
beijou minha testa e me colocou em seu peito.
Quando eu finalmente acordei do sexo-dos-sonhos e festa-do-sono
que tivemos, percebi que Jamie tinha ido embora.
Havia um velho livro de capa dura na mesa de cabeceira e uma nota
dobrada posicionada em cima dela. Peguei-o e li:
Meu reino por mais um minuto com você. Por favor, fique aí. Deixar
você deitada aqui como um anjo em minha cama foi a coisa mais difícil de
fazer. Eu sinto muito. Eu tenho que ajudar Guillermo com algumas coisas.
Aqui está um dos meus livros favoritos para passar o tempo, para que você
não fique entediada e me deixe. Talvez você possa me dizer se você concorda
que os poetas têm razão.
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Eu me senti sozinha antes de saber que eu estava. Eu rolei para fora
da cama e abri as cortinas. Era madrugada e a luz era quase tão bonita como
ela tinha sido ao entardecer na noite anterior. Eu sabia que Jamie tinha ido
embora, mas antes de me virar para ter a confirmação visual, eu fiquei de pé
na porta, olhando para a vinha. Minha mente vagou de volta para a noite
anterior. Jamie parecia vulnerável e distante sentado na beira da cama e, de
repente implacável, com fome de conforto, e uma libertação. Eu olhei ao
redor do quarto com as evidências de nossa noite e me perguntei como, em
tão pouco tempo, eu podia me sentir tão ligada a ele. As roupas espalhadas
pelo chão, pratos de nossas sobremesas cobriam a mesa, e observei que os
folhetos informativos sobre a vinícola que eu tinha olhado estavam
espalhados. Eu imaginei que Jamie deve ter se levantado cedo e ido trabalhar
na vinha. Tomei um longo banho quente e esperei para ouvir dele.
Ao meio-dia, eu estava morrendo de fome e entediada, então decidi
pegar meu carro e ir até a cidade. Dirigir ainda era uma experiência terrível,
mas baixar a janela ajudou e me concentrei em respirar o ar limpo e
acolhedor. Era um dia perfeito para caminhar ao redor da pequena cidade. Eu
encontrei meu caminho em um sebo, onde eu descobri uma cópia de algumas
das revistas publicadas sobre Da Vinci. Eu as comprei para Jamie e, em
seguida, passeei pelas outras lojas na rua. Parecia que em todos os lugares
que eu olhava, eu me lembrava dele. Vendo um casal de mãos dadas, ou
comendo em uma cafeteria na calçada, me lembrava de Jamie. No caminho
de volta, visitei três outras vinícolas nas proximidades e descobri que todas
elas não tinham a mesma magia que encontrei no R.J. Lawson. Talvez Jamie
também fosse responsável por isso.
Quando voltei para a vinícola, notei que sua caminhonete não estava
estacionada em seu lugar de costume.
Eu fui para o meu quarto e descobri que o serviço de limpeza já havia
sido feito. Não havia registros de Jamie e eu na cama. A arrumação estava
feita com as dobras perfeitas do hotel.
Um sentimento começou a construir no meu peito. Olhei pela janela e
procurei Jamie entre as muitas fileiras de videiras. Então, começou a ocorrer-
me que ele não tinha ligado ou deixado uma mensagem. Sua caminhonete
tinha ido embora e estava ficando tarde. Peguei o telefone e liguei para a
recepção.
Uma voz de homem veio através do receptor. — Olá, Srta. Corbin.
Como posso ajudá-la?
— Eu estava pensando se você poderia me colocar em contato com
Jamie, uh... Jamie, o cara que trabalha aqui.
Oh meu deus, eu não sei seu sobrenome. Eu sou tão estúpida!
— Um momento. — Eu exalo, aliviada que o telefone estava tocando.
— Aqui é Susan, como posso ajudá-la?
— Susan, oi, é Kate.
— Olá, Kate. — Ela parecia estranhamente apreensiva.
— Estou à procura de Jamie.
— Oh... bem, Jamie teve que sair.
— Por quê?
— Eu não tenho certeza de que posso... — sua voz calma sumiu.
— Você pode me dar seu número de telefone?
— Kate, deixe-me retornar para você.
— Retornar para mim? — Eu queria dizer: Dê-me o seu maldito
número, eu só passei as últimas duas noites nua na cama com ele. — Não
importa. — Eu desliguei e caí sobre a cama e esperei que ele ligasse.
O que começou como uma tristeza cansada, eventualmente, se
transformou em raiva. Todos os meus sentimentos de insegurança vieram
correndo em minha direção ao mesmo tempo. As memórias de nossa última
conversa na banheira, Jamie agindo de forma estranha, a garota no
restaurante – todos esses pensamentos me bateram com toda velocidade. Eu
comecei a respirar forte, ansiedade correndo em minhas veias, meu coração
batendo forte no meu peito. Ele não ia voltar, eu me convenci. Quem iria me
querer? Eu era uma concha de uma pessoa, pura e simples, não valia a pena
voltar para casa. Em questão de poucos dias, tanto Stephen quanto Jamie
tinha provado isso para mim.
Eu não preciso aprender a ficar sozinha. Eu sabia como fazer isso,
mas eu estava com raiva de mim mesma por acreditar que Jamie e eu
tínhamos algo. Ele era bom demais para ser verdade, todas essas coisas
boas... blá blá blá. Quando eu o vi na beira da cama na noite anterior, eu
deveria ter percebido que ele estava pensando em algo que pesava sobre ele.
Não é fácil esmagar o coração de alguém, não importa quão covarde que você
possa ser. Eu me perguntava se ele tinha fugido apenas alguns momentos
depois que eu me entreguei a ele de uma maneira tão crua e emocional. Ele
descansou a cabeça no meu peito enquanto eu adormecia. Eu tinha pensado
que ele era meu. Então ele foi embora, e agora, eu estava sozinha novamente.
Em cerca de quatro dias, eu tinha ido de acreditar que deveria viver
uma vida solitária a ter fé no amor. Em cada polegada que me aproximava de
Jamie, eu ganhava uma maior sensação de paz. Eu não poderia explicar
quando ele tinha levado a dor de estar sozinha para longe, mas ele tinha. No
entanto, ele não tinha feito nenhuma promessa para mim. Eu acreditava que
tínhamos algo maior do que as palavras, que não havia necessidade de uma
conversa. Eu acreditei, como uma tola, que não era possível fugir do que
tínhamos. Eu acho que a atração que eu sentia era mais forte do que o que nós
realmente tínhamos, isso foi rapidamente se transformando em nada. Não é
assim que isso sempre é? As duas partes inevitavelmente compõem cem por
cento, mas isso não significa que as partes sejam iguais. Alguém está sempre
dando mais para compensar o déficit do outro. Isso foi o que me cegou,
minha própria fantasia boba, romântica sobre um cara cujo último nome eu
nem sabia. Eu tinha me entregado inteiramente a Jamie, e ele me deixou sem
sequer pedir o meu número de telefone. Eu fiquei no meio do quarto,
atordoada.
Eu vesti um jeans e uma camiseta e desci as escadas para o lobby da
pousada, onde George estava agora cuidando da recepção. — Oi, George.
Você já viu Jamie?
— Não, querida.
— Então, você não o viu fugir do meu quarto no meio da noite?
Com um olhar de pena em seu rosto, ele lentamente sugou o ar
através de seus dentes. — Eu só cheguei há meia hora, então não, eu não vi.
— Ok.
Eu marcho para o escritório de Susan. Como de costume, ela estava
escondida atrás de seu computador e já me olhando por cima dos óculos.
— Onde está Jamie? — Sem bater, eu abri a porta do escritório vazio
do R.J. e espiei enquanto esperava sua resposta.
— Eu não tenho certeza se sou a pessoa para responder isso.
— Por que isso?
— Porque não é o meu lugar discutir seus assuntos pessoais com
você.
Calor, raiva e embaraço inundando todos os meus sentidos. Eu mal
podia a ouvir porque o som do meu próprio batimento cardíaco rápido
pulsando em meus ouvidos.
— Você tem alguma ideia do colossal desperdício de tempo essa
coisa toda tem sido para mim? Eu vim aqui para obter uma história sobre
R.J., que nunca está aqui. — Eu comecei a levantar a minha voz, mas ela não
se acovardou. — Eu recebi cinco rudes minutos dele e um e-mail abrupto.
Vocês planejaram isso? Você usou Jamie para me distrair? Aliviar o golpe de
não receber o que foi prometido para mim? Seu ‘pau para toda obra' bem
isso não é mentira, não é? Ele está aqui para foder mulheres solitárias e
depois que se fodam? O pobre Jamie diabético que mora em um celeiro e
colhe a porra das uvas durante todo o dia pode fodê-la contra uma parede
como ninguém. — Ela nem sequer levantou as sobrancelhas para mim, então
eu continuei meu discurso. — O que é este lugar? Isso é algum tipo de
brincadeira? Como Jamie pode fazer isso comigo? Eu pensei que ele era um
dos bons. — As lágrimas que eu tinha forçado a segurar finalmente surgiram
nos meus olhos.
Em voz baixa, ela simplesmente disse: — Não é o que você pensa. Eu
sinto muito, Kate. — Em minha opinião, isso era o suficiente de uma
admissão para ambos.
— Eu também. Esta coisa com Jamie só fez tudo pior.
— Essa não foi a intenção. Eu não empurrei o Jamie ‘errado’ em
você. — Ela fez aspas no ar em torno da palavra ‘errado’.
— Bem, talvez não, Susan, mas eu ainda preciso escrever um artigo
sobre este lugar abandonado por Deus. Eu vou para Chicago esta noite. — Eu
não vou reclinar e aceitar isso. Eu tive o suficiente.
Ela não tentou me parar quando saí do prédio. Eu vi Chelsea deitada
em sua cama.
— Cadela — eu disse sob a minha respiração e, em seguida, continuei
andando, determinada a continuar o meu plano de vingança.
Deixei um bilhete para chef Mark que dizia: Obrigada pelo chantilly.
Tenho certeza de que não foi a primeira vez que você cumpriu um pedido
especial como este de Jamie.
Pobre Guillermo era a minha próxima vítima.
— Eu não sei nada, mija. Eu só trabalho aqui.
— Será que Jamie tem um monte de mulheres dentro e fora de seu
celeiro?
— Não. — Ele balançou a cabeça de forma convincente. — Talvez
sua curiosidade esteja obtendo o melhor de você — disse ele.
— Eu não sou a única com o problema.
Eu me virei para me afastar e atravessar a fileira de videiras onde
Jamie me beijou tão apaixonadamente. Eu parei e apertei meus dedos nos
meus lábios. Em meio às lágrimas, eu me perguntava como eu poderia ter
sido tão estúpida. Eu prometi a mim mesma que depois que eu escrevesse o
artigo, nunca pensaria nesse lugar novamente. Eu não pensaria em como ele
tirou a dor por um momento, como uma agulha no escuro.
Isso tudo aconteceu quando o sol nasceu naquela manhã na vinha. O
sonho estava errado. Eu queria acreditar que Rose orou por mim para
encontrar alguém para compartilhar minha vida. Eu queria acreditar que
havia uma força cósmica atraindo Jamie para mim, mas não é assim que as
coisas funcionam. Eu estremeci, mesmo com o sol da manhã tocando em
mim, porque eu me dei conta de que não havia espaço para a dor no amor. O
amor não é a mesma coisa como um casamento, uma relação ou ter filhos. O
amor não é trabalho. O amor é um sentimento, puro e simples. Esse é um
sentimento que você pode ter num momento no qual você acredita que pode
se jogar na frente de um trem em alta velocidade por alguém; e isso pode
desaparecer no próximo, quando ele rasgar seu coração e roubar todas as
últimas batidas por eles mesmos. Se eu tivesse qualquer amor por Jamie
dentro de mim, eu o arranquei do meu coração naquela manhã enquanto eu
estava ali entre o mar de vinhas. Até a última gota de esperança que eu tinha
para um relacionamento evaporou pela atmosfera como uma memória
esquecida.
Eu andei em direção à pousada pensando, eu sou tudo o que tenho. Eu
nunca deveria ter deixado ir o meu mantra.
Ninguém saberia o que Jamie e eu havíamos compartilhado. Os
momentos de proximidade, as coisas que ele me sussurrou, a maneira como
ele disse que eu era bonita com tanta convicção. Quem poderia provar ou
negar? De volta ao meu quarto, eu olhava para a cama, pensando que tinha
passado apenas algumas horas desde que tínhamos permanecido lá
embrulhados e emaranhados um no outro, da forma que fazem os amantes.
Eu senti como se tivéssemos crescido juntos como um casal de árvores
plantadas muito perto, nossos galhos misturados de modo que não sabíamos a
quem os membros pertenciam. Mas isso não importa agora porque Jamie se
tinha desarraigado. Eu pensei que havia uma chance de que pudéssemos
permanecer assim para sempre. Quão ingênua eu fui. Que triste. Que
patético.
A funcionária tinha colocado todos os meus pertences em uma pilha
arrumada na cômoda e mesa. Isso tornou simples fazer as malas. Eu liguei
para Jerry.
— Jerry Evans.
— Pode me colocar em um voo hoje à noite?
— O quê? Você e o cara da vinícola querem fugir para Cancun ou
algo assim?
— Não. — Não chore, não faça isso, Kate!
Eu comecei a chorar.
— Oh merda — disse ele, em voz baixa. — Vá para o aeroporto. Eu
vou enviar um texto com os detalhes em poucos minutos.
— Obrigada — disse entre soluços, e então eu desliguei.
Coloquei todos os meus pertences em minha pequena mala, incluindo
as inúmeras páginas de anotações e rabiscos. Eu dirigi todo o caminho para o
Aeroporto Internacional de San Francisco com uma nova confiança. Eu
buzinei para os motoristas de merda; até mesmo mostrei o dedo algumas
vezes. Foi só depois que eu comecei a gritar com uma mulher idosa em um
antigo Chevy Nova verde que decidi que eu tinha um caso legítimo de raiva
na estrada e provavelmente deveria me acalmar e esfriar antes que levasse um
tiro.
No balcão do aeroporto, eu atualizei para um bilhete da primeira
classe, pensando que seria mais fácil afogar minhas mágoas com a bebida
gratuita e ilimitada. Eu me reclinei em meu assento gigante. A aeromoça me
trouxe um cobertor e travesseiro. Eu pedi um cobertor extra e então eu
continuei a me enrolar em um casulo de lã. Eu consegui prender meus braços
contra o meu corpo por dentro dos cobertores, isso foi maravilhoso. Se ao
menos isso ligeiramente não se parecesse com uma camisa de força. Quando
levantamos do chão, eu puxei a mesa do encosto do banco com meus dentes e
pedi um uísque duplo com gelo. Eu nem sequer bebo uísque. Quando a minha
bebida chegou, eu me inclinei e chupei a coisa toda através do canudo em três
grandes goles. Só foi então que notei que havia um passageiro sentado ao
meu lado.
Ela estava olhando para mim com olhos azuis gigantes arregalados.
— Quantos anos você tem? — Perguntei.
— Doze — disse ela.
— Qual é seu nome? — Eu inclinei minha cabeça para o lado como
se estivesse a interrogando, sem me preocupar que eu devia parecer ridícula.
— Aurora. Você é uma pessoa louca ou algo assim?
— Só os iguais se reconhecem, garota. — Seus olhos se arregalaram
ainda mais. — Estou apenas brincando. Não, eu não sou louca... ainda. De
qualquer forma, as pessoas loucas não sabem que elas estão loucas, então isso
é uma pergunta boba. — Ela concordou com a cabeça, uma expressão
pensativa no rosto. Eu poderia dizer imediatamente que ela era uma daquelas
crianças que são mais sábias do que sua idade. — A verdade é que eu só tive
o meu coração quebrado. Eu tive um dia difícil. Você sabe que é isso? — Eu
arqueio as sobrancelhas para dar ênfase.
— Sim — ela disse e soltou um suspiro profundo. — Sei exatamente
o que você quer dizer. Este garoto na minha classe, Genesis, me disse que
gostava de mim e depois disse a todos que eu não o deixava em paz.
— Genesis? Esse é o nome dele? Hum, bandeira vermelha aí mesmo.
Que tipo de nome é Genesis? — Ela simplesmente encolheu os ombros. —
Bem, eu vou te contar. Isso é um grupo de rock inglês New Age dos anos
setenta e oitenta. Seus pais são ou muito velhos ou eles estão usando ácido
por muito tempo. Meu palpite é o último, daí, o comportamento bizarro de
Genesis. Não se preocupe. Alguém mais virá. A menos, claro, que você
perceba agora que estar sozinha é melhor do que ter seu coração partido outra
vez. Perceba isso agora, criança, e se salve do problema.
— Então, estar sozinha é melhor? — Ela estava me olhando direto no
olho. Eu realmente poderia mentir para ela?
— Seus pais se casaram?
— Sim, eles estão casados há vinte e dois anos — disse ela com um
sorriso.
— Bem, eu acho que é um caso básico de exceção. Não me escute.
Isso acontece para algumas pessoas. Talvez você seja essa pessoa.
— Talvez você também seja. Você simplesmente não pode deixar
toda essa besteira te tornar dura.
Isso vindo de uma garota de doze anos.
— Você provavelmente está certa. Ei, você quer me ajudar? Eu tenho
que escrever este artigo...
Capítulo 11
NUNCA COMECE uma frase com “Então”
****
Para: Kate Corbin De: Jerry Evens Assunto: Você ainda tem um
emprego!
Isso é brilhante, Kate. Eu não sei o que faremos com isso, mas é o
trabalho mais inspirado que eu recebi de você e isso é tudo que importa. R.J.
pode ter feito seu melhor para tomar os detalhes quase impossíveis, mas você
provou que, enquanto você pode capturar a essência de uma situação, uma
história nascerá a partir disso.
Eu concordo que é melhor você tirar uma semana de folga.
Aparentemente você deixou sua bagagem no aeroporto. Não havia nenhum
nome na etiqueta, apenas o endereço do jornal, de modo que a companhia
aérea entregou isso aqui. Eu abri a mala hoje quando chegou e rapidamente
percebi que era sua por todas as suas anotações e pertences. Eu vou trancá-
la na sala de armazenamento até você voltar, a menos que você precise dela
imediatamente. É só me avisar.
Eu estou preocupado com você, Kate, mas sei o quão forte você é, e
eu sei que nós vamos recuperá-la em breve. Beth tem algumas ideias.
Seu Leal Editor, Jerry
Não havia nada particularmente emotivo ou tocante no e-mail de
Jerry, mas por alguma razão, isso me fez chorar. A verdade era que eu não
queria que ninguém se preocupasse comigo ou sentisse pena de mim. Eu
queria parar de me sentir como se eu estivesse à procura de outra coisa ou
alguma resposta para o sentido de tudo isso. A expectativa de que a vida deve
ser mais do que acordar sozinha, subir no trem para o trabalho, e depois ir
para casa para adormecer sozinha tinha estado pesando sobre mim por tanto
tempo, mas eu sempre me via de volta ao meu apartamento... sozinha. Todo o
resto era só dor de cabeça.
Eu arrastei pelo meu pequeno corredor para a cozinha, onde eu fiz a
varredura da geladeira estéril. Olhando para o mesmo frasco de geleia durante
dez minutos, eu contemplei comê-lo com uma colher. Havia pouco nesse
ponto que eu estava disposta a fazer para me manter viva. Eu não tinha
tomado banho há dois dias, e além de um par de bolachas vencidas e uma
velha cerveja esquisita que esteve na minha geladeira por um ano, eu não
tinha consumido nada. A geleia me parecia apropriada, até que, finalmente,
permiti o meu instinto mais básico de sobrevivência me chutar. Eu coloquei
uma calça de ginástica, uma jaqueta e me dirigi para o mercado que ficava
virando a esquina. Havia um homem mais velho no balcão fazendo salsa
fresca caseira, então depois de pegar uma banana, alguns biscoitos recheados,
e um saco de pretzels, eu percebi: O que seria melhor com tudo isso do que a
salsa? Eu estou perdendo minha cabeça?
— Desculpe-me? — Perguntei. Ele olhou para cima através de seus
cílios escuros. Seus olhos eram quase idênticos aos meus. Cor de avelã que
parecia espetacularmente verde na luz, mas uma espécie de marrom maçante
na sombra.
— Sim, senhorita, o que posso ajudá-la?
— Você é meu pai?
Ele riu, mas parou imediatamente quando ele viu quão séria eu estava.
— Oh, hmm, não, querida. Eu fui casado por quase 40 anos e temos três
filhos. Eu sinto muito.
— Oh, bem, tiro no escuro, sabe? — Ele acenou com a cabeça, mas
seus olhos ainda mantinham a mesma expressão de compaixão que ele tinha
antes. — Vocês vendem cerveja aqui?
— Não, mas há uma loja de vinhos cerca de metade de um quarteirão
para baixo.
Eu balancei a cabeça freneticamente. — Estou em desintoxicação, eu
não posso beber vinho.
— Ok, bem, há uma loja de bebidas a cerca de três quadras daqui que
vende cerveja.
— Sim, eu sei onde é. Obrigada, senhor.
— Disponha.
A loja de bebidas estava a mais que cinco quadras, mas eu ignorei
isso, comendo minha banana e meus biscoitos recheados. Eu me sentia
extremamente irritada com o universo quando vi Stephen e uma garota cerca
de metade de uma quadra, andando em minha direção. Esperando que eles
não me vissem, eu escorreguei rapidamente em um beco. Enquanto eu
esperava que eles passassem, eu examinei meu traje. Eu estava usando um
par muito velho de calças de malha cinza que existe neste planeta, uma
camiseta amarela como a luz do sol com Ursinhos Carinhosos estampados
nela, e meu casaco de esqui azul claro, embora isso não fosse o pior. Eu
usava meias diferentes, uma preta e uma roxa-claro, e um velho par de All
Stars pretos com cadarços pretos. Eu era a personagem Punky Brewster com
vinte e seis anos. Eu rapidamente toquei o topo da minha cabeça. Ufa. Sem
tranças, mas estava coroada com um coque bagunçado. Por favor, não deixe
que eles me vejam.
— Kate?
Porra!
Enfiei o último biscoito na minha boca e murmurei: — Ei, Stephen.
— Esta é Monique. Eu trabalho com ela.
— Oi, Monique. — Ele nunca sai com colegas do sexo feminino do
trabalho.
Ela era uma beleza alta, loira vestindo uma saia lápis extremamente
apertada e estiletes. Houve um breve momento em que eu pensei o quão
perfeito ela e Stephen pareciam juntos, o epítome de profissionais que
trabalham em Chicago. Minha bunda miserável estava cheia de mau humor e
eu me deixei ir a um novo nível, e eu poderia dizer que Stephen percebeu
isto.
Ele apertou os olhos. — Você está bem, Kate?
— Sim, eu estou maravilhosamente bem, Stephen. Você?
— Bem. Onde você está indo? — Perguntou.
Olhei para Monique, que estava examinando as minhas roupas. Eu vi
tristeza e pena passar em seu rosto.
— Eu estou indo obter um litrão.
Ele franziu as sobrancelhas. — O que é um litrão?
— Litro de cerveja. — Ele ainda parecia aturdido. — É um litro de
cerveja em uma garrafa. Nem todos podem se dar ao luxo de consumir
produtos caros.
— Eu nunca vi você beber cerveja.
— Bem, acho que há muito que você não conhece sobre mim. Por que
você se importaria de qualquer maneira? Você nunca me amou, lembra?
Os olhos de Monique se abriram. A mandíbula de Stephen contraiu.
— Eu disse que não tinha certeza. Além disso, nós estávamos brigando
quando eu disse isso. Este não é o momento ou lugar para abrir velhas
feridas.
— Velhas feridas? Isso foi há seis malditos dias atrás. — Ele
balançou a cabeça num gesto de advertência. — Bem, vocês dois apreciem
um ao outro, — eu disse enquanto me afastava.
Ainda ao alcance da voz, ouvi Monique perguntar: — Quem era?
— Ninguém — disse Stephen.
Ouch.
Na loja de bebidas, eu comprei uma lata gigante da Budweiser, alguns
pacotes de batatas fritas, e um total de oitenta raspadinhas da loteria. Meu
pensamento era que em cada raspadinha, eu levaria cerca de trinta segundos
para completar. Isso significava que iria ocupar pelo menos quarenta minutos
do meu tempo. Quarenta minutos em que eu não teria que pensar sobre
Jamie. Eram dois mil e quatrocentos batimentos cardíacos que eu não estaria
ouvindo.
Voltei para meu apartamento, tomando a minha lata de Bud que
estava dentro de um saco de papel amassado. Quando entrei no meu
apartamento, eu podia ouvir meu celular tocando incessantemente do quarto,
mas eu não atendi. Eu terminei minha cerveja às 11h43min da manhã e, em
seguida, voltei a dormir. A campainha me acordando. Eu olhei para o relógio
na minha mesa de cabeceira. Eram seis e meia da tarde, enquanto eu
avançava lentamente até a porta, respirei na minha mão. Meu hálito estava
horrível. Eu escovei meus dentes em três dias? Provavelmente não. A
campainha tocou de novo.
— Estou indo. — Eu a abri uns centímetros e espiei pela fresta os
olhos espantosos de Beth.
— E aí, irmã? Você vai me deixar entrar?
Eu fechei a porta e removi a corrente e, em seguida, abri a porta para
Beth entrar. — Cristo, Kate, você parece a morte requentada.
— Obrigada, Beth.
— Querido Deus, o que é esse cheiro?
Eu levantei meus ombros até os meus ouvidos. — Eu não sei.
— Tem cheiro de cabelo queimado.
Então isso me bateu. — Oh sim, Dylan do 5B veio mais cedo e nós
fumamos alguns baseados. Você conhece Dylan, aquele garoto que toca
bateria com baldes na esquina? Ele mora no meu prédio.
— Ele não é um adolescente?
— Ele tem vinte.
— Desde quando você fuma maconha?
— Desde sempre, quando Dylan do 5B vem.
Beth sacudiu a cabeça em desaprovação. — Você quis fazer qualquer
outra coisa com Dylan do 5B?
— Jesus não, Beth, quem pensa que eu sou? Ele apenas me mostrou
algumas revistas em quadrinhos raras que ele comprou com o dinheiro que
ele fez na esquina, e, em seguida, ele puxou um pequeno cigarro do bolso. Eu
disse que inferno, porque não, e puxei um trago, mas eu realmente não sabia
o que estava fazendo com o isqueiro. — Eu apontei para a metade da minha
sobrancelha que foi completamente chamuscada.
— Oh merda, menina, você precisa de um lápis nisso.
— Poderia ter sido pior. Ele me perguntou se eu queria fazer sexo e
depois ir andar de patins. — Dei de ombros. — No entanto, ele é um garoto
legal.
Beth atravessou meu apartamento, examinando a desordem. Ela abriu
a geladeira. — Você não tem comida aqui. Vamos pegar um cachorro-quente.
— Há salsa, além disso, eu sou vegetariana. Na verdade, eu sou uma
pescetarista, mas isso é apenas semântica. — Então, eu sorri amplamente. —
Você sabe o quê? Foda-se! Vamos pegar um cachorro-quente.
Nós fomos a um antigo ponto de cachorros quentes chamado
Dogfather. Parecia algo saído de um episódio Família Soprano. A sala era
escura com cabines de couro vermelho. Eles serviam todos os tipos de
cachorro-quente que se possa imaginar. Você pedia no balcão, onde eles
tinham cerca de uma centena de diferentes recheios e trinta tipos diferentes de
cerveja. Eu escolhi o cachorro longo temperado chamado Hit do Sal. Beth
pediu um com salsicha polonesa chamado de Kill Mob Bossa. Nós entramos
em uma cabine e comemos em silêncio por alguns minutos. Após a
repugnância inicial que eu senti por mastigar carne envolta em intestinos de
porcos, eu decidi que era o maldito melhor alimento que eu já tive.
Eu mandei o Hit do Sal para baixo com três cervejas belgas, nenhuma
das quais eu poderia citar. Eu estava completamente bêbada. Beth me
chamou para ir em um bar gay com ela na noite de sexta-feira, e mantendo-
me fiel ao meu lema do dia, eu disse a ela: — O que diabos, por que não?
Então, você está fora do armário, eu aceito.
— Eu nunca estive no armário. Eu só não tenho relacionamentos. Eu
mantenho minha vida simples.
— Eu entendo totalmente isso — eu brinquei.
— Eu estou preocupada com você, Kate. — Eu nunca tinha visto Beth
tão séria.
— Do que você está falando?
— Eu só acho que você passa muito tempo sozinha.
— Isso não é por escolha, Beth. E de qualquer maneira, você também
faz isso. Você acabou de dizer que não tem relacionamentos.
— Mas eu saio, me divirto e me solto. Você costumava fazer, se
lembra? Costumávamos ir ao karaokê? Então, você ria muito.
— Todo mundo fica me dizendo que eu estou perdida, que minha
faísca se foi e eu estou louca, mas cada vez que tenho uma chance, toda vez
que vou e me solto, eu caio. Eu dormi com um cara que eu nem conhecia.
Quer dizer, eu realmente dormi com ele, Beth. — Eu abri muito meus olhos
para dar ênfase.
— Quer dizer, se apaixonou por ele?
— Sim, isso é o que quero dizer. Eu sou sempre a primeira a cair.
Ela parecia muito pensativa por alguns momentos. — Pelo menos
você apreciou a vista, mesmo que fosse breve. Eu não acho que arriscar seja
uma coisa tão ruim. Talvez você esteja mais forte agora. Eu só não quero que
você desista.
— Isto, vindo da garota que não tem relacionamentos.
Ela mordeu o lábio inferior e assentiu. — Eu poderia mudar isso e
verificar a vista em algum momento.
Beth me acompanhou até a porta do meu apartamento. Dei um passo
para dentro e depois o meu corpo me lembrou de que eu não tinha comido
carne vermelha em dez anos. Meu estômago roncou e revirou-se
violentamente. Eu honestamente não sabia por qual caminho isso iria sair, e,
em seguida, para meu horror absoluto, eu percebi que era por ambos. Sentada
no vaso sanitário, eu consegui vomitar na pia. Embora houvesse cerca de dez
centímetros entre a minha boca e a borda da porcelana, eu fui capaz de
projetar o vômito perfeitamente na cuba.
Beth ficou comigo parte da noite, trazendo-me panos limpos e água.
Meu corpo livrou-se completamente de Hit do Sal. Eu jurei: sem carne por
mais dez anos e, então, disse a Beth que ela estava livre para ir. Ela saiu, mas
voltou dez minutos mais tarde com picolés, Seven Up e Cream Craker.
— Você é uma boa amiga, — eu disse a ela.
— Eu só quero você na melhor forma para que eu possa levá-la no
Dedos de Mulher na sexta-feira.
— Você está brincando comigo? Esse é o nome do lugar?
— Você não vai se decepcionar. — Ela sorriu. Eu soluçava, arrotava e
me perguntava onde eu estava me metendo.
Depois que ela saiu, eu caí na minha cama e olhei para o teto,
pensando em Jamie. Pensei nele sussurrando: ‘Eu vou cuidar de você’, e
então, chorei até dormir.
Terça e quarta voaram. Dylan do 5B veio na quinta-feira. Eu não
fumei maconha, mas eu o deixei acender em meu apartamento e então fiquei
ainda mais chapada do que da vez anterior, só que desta vez, as sobrancelhas
permaneceram intactas. Nós assistimos três episódios de ‘Whose Line Is It
Anyway?’ e rimos muito. Dylan era realmente muito fofo. Ele era alto,
magro, pálido com cabelo bagunçado, mas ele tinha esses olhos muito azuis.
Naquela noite, ele me ajudou a levar a minha roupa para o porão.
— Ei Kate, você quer ir para o parque de skate comigo amanhã à
noite?
— Eu não posso, eu tenho um encontro com uma lésbica. — Seus
olhos se arregalaram.
— Oh, legal.
— Não é o que você está pensando.
Ele sorriu e deu de ombros. — É o seu negócio. Você não está mais
namorando aquele saco de merda do 9A?
— Stephen? Não, ele me deixou na semana passada. Ele já está
namorando alguém.
— Perda dele. — Ele disse isso tão rapidamente e com indiferença
que eu quase acreditei nele.
Nós chegamos à porta do porão. Dylan empurrou-a e entrou, mas
parou na minha frente. Debrucei-me em torno de seu corpo e vi Stephen
saindo com uma garota diferente da que tinha estado no início daquela
semana. No começo, eu não a reconheci, e então eu vi o elástico com lacinho
rosa balançando acima da cabeça. Era Bimbo{15} do sexto andar. Toda vez
que eu a via, ela estava com um cara diferente.
Stephen se virou e me viu. — Kate, eu pensei que você trazia a sua
roupa na segunda-feira? — Eu contemplei compartilhar meus pensamentos
sobre as mulheres na casa dos trinta que ainda usam lacinhos coloridos de
cabelo, mas eu escolhi pegar a estrada. De qualquer forma, um ou ambos,
sem dúvida, teriam uma doença venérea no final da semana, e esse foi o meu
lado bom.
— Não fale comigo, Stephen. — Eu tossi e murmurei: “Pau brocha”
ao mesmo tempo.
Dylan ficou perto da porta. Todos na sala me observaram enquanto eu
esvaziava meu saco de roupa em uma máquina de lavar. Eu adicionei sabão,
programei quinze minutos, fechei a tampa e virei-me para sair. Assim que eu
alcancei a porta, Dylan me empurrou contra o batente da porta e me beijou
como se ele tivesse acabado de voltar da guerra. Eu o deixei fazer um show
completo até que ele moveu a mão para cima e segurou meu peito. Eu muito
discretamente disse: — Uh-uh — através de nossas bocas, e ele tirou a mão e
diminuiu o beijo. Quando nos separamos, eu me virei para Stephen e a Bimbo
e atirei-lhes um enorme sorriso.
— Ei, Steve — eu nunca o chamei de Steve, — Será que você me
envia um texto quando a máquina de lavar terminar? Eu vou estar ocupada no
meu apartamento por um tempo.
Ele assentiu, ainda parecendo atordoado.
Agarrei a mão de Dylan e o puxei para dentro do elevador. Uma vez
que as portas estavam fechadas, nós dois caímos na gargalhada.
— Você não tinha que fazer isso — eu disse.
— Eu queria. Aquele idiota fez por merecer.
— Bem, obrigada. Você vive com sua mãe, certo?
— Sim.
— Por favor, não diga a ela sobre isso. Eu não posso imaginar o que
ela pensaria de mim.
— Eu não sou tão mais novo do que você, Kate. — Ele me cutucou
no braço de brincadeira e sorriu. — Você pode relaxar. De qualquer forma,
minha mãe estaria bem com isso.
— Bem, espero não ter te dado a ideia errada.
— Nahh. Nós somos amigos, eu entendo. Eu estou tipo apaixonado
por aquela garota Ashley do quarto andar. Eu só tenho que esperar até o
próximo mês, quando ela completa dezoito anos, sabe? — Ele balançou as
sobrancelhas.
Eu ri. — Vocês dois fariam um belo casal. — Se fosse assim tão
simples.
Capítulo 12
RETRATAR
Kate do L,
Eu me lembro de quando eu te conheci meses atrás. Você parecia
tão desconsolada e distante. Sei que não me conhecia bem, mas eu senti um
desejo de ajudar. Agora, temo que possa ter falhado com você. Você vê,
você me lembrou de alguém que eu conhecia. Seu nome era Lily e ela era
linda, jovem e vibrante, e ela era o amor da minha vida. Você se parece
com ela com os mesmos olhos quentes, e cabelos escuros. Eu costumava me
perder em seus olhos. Nem sempre fui um ogro solitário. Eu estava cheio
de vida, uma vez, mas eu perdi a minha Lily muito cedo, quando ela faleceu
logo após o nosso casamento. Eu vi você no mesmo tipo de dor que eu senti.
Eu não quero ver minha Lily com dor. Eu pensei que se eu fizesse você
acreditar que havia felicidade na solidão, você poderia e não deveria
depender de outro ser humano, talvez você iria parar de sentir essa dor. Eu
estava errado. O que eu realmente quero que você saiba é que eu teria
trocado uma vida com meus livros, sozinho no meu apartamento, por mais
um minuto com Lily, mesmo se isso significava que eu tinha que sentir essa
dor uma e outra vez. Não desista, Kate. Não pare de buscar. Encontre-o,
cuide de si, segure um ao outro, e nunca deixe ir.
Espero que isso a deixe bem e ainda esperançosa.
Seu amigo,
Bob
Dizer que eu estava uma bagunça chorando seria pegar leve. Até
mesmo Christina estava chorando apenas me vendo ler a nota.
Eu olhei para ela. — Uau, Bob era romântico.
— Você está brincando?
— Não, leia por si mesma. — Entreguei-lhe a nota.
Enquanto lia, eu abri a caixa e verifiquei os livros Bob tinha me
deixado. Havia alguns livros velhos de bolso que eu não conhecia e então,
reconheci a Possessão, O Paciente Inglês e Uma Janela para o Amor. Talvez
fosse um sussurro.
Quando Christina terminou a leitura, ela dobrou o papel e entregou-o
de volta para mim. — Eu não esperava isso.
— Certo?
Ela me puxou junto para dentro do prédio e disse: — Vamos, vamos
agradecê-lo e dar nossos respeitos. — Nós tomamos um caminho familiar.
— Para onde estamos indo? — Eu comecei a ter uma sensação muito
estranha.
— É exatamente neste canto. — Logo, estávamos de frente para o
local onde a placa de Rose finalmente havia sido colocada.
Olhei para cima para a parede. Brilhando duas linhas acima estava
uma placa com o nome ROBERT CONNOR e as datas de seu nascimento e
morte recente. Bob e Rose estavam na mesma parede. Outro sussurro. Era
uma coincidência, mas trouxe de volta tanta emoção. O sonho com Rose
passou pela minha mente, bem como as palavras de Bob. Essas duas almas
solitárias estavam vindo para mim da morte e me pedindo para abrir meu
coração. Eu coloquei minha mão sobre o nome de Rose e, em seguida,
estendi a outra mão e toquei a placa de Bob. — Cuidem um do outro — eu
disse com muita calma.
— Eu tenho que ir, Kate. — Christina tinha estado em silêncio
enquanto ficamos ali de frente para a parede.
Eu me virei para ela. — Muito obrigada por se apegar a isso. Significa
muito que ele queria compartilhar seus sentimentos comigo. Eu só queria
poder mostrar-lhe minha gratidão agora.
— Você pode, tome o seu conselho. — Ela apontou para o bilhete.
— Sim. — Eu sorri, sinceramente, mas tomar o seu conselho neste
momento iria abrir a ferida novamente.
Caminhando para o L, eu levantei minha cabeça e deixe o vento frio
queimar o meu rosto. Eu precisava mais que tudo, fazer um esforço
concentrado para deixar as coisas para trás e seguir em frente. Se eu me
deixasse abrir para outro relacionamento, eu tinha que superar Jamie
completamente. O primeiro passo nesse processo seria obter a minha mala.
Entrei pela porta aberta do escritório de Jerry no Chicago Crier. —
Ei, garota. — Ele tirou os óculos bifocais e levantou-se de trás da mesa. — O
que você acha de pedir sanduíches e ir até Millennium Park?
— Está congelando lá fora.
— Tudo bem. Aquário Shedd, então? — Claramente, Jerry precisava
de uma distração, o que não era geralmente difícil para ele. Talvez ele
soubesse que eu precisava de uma, também.
— Isso soa bem.
— Nós devemos pegar sushi e assustar todos os animais?
— Não, isso é terrível. — Ele era um homem de bom coração, ainda
que estranho, mas uma criança por completo. — Vamos de sanduíches de
queijo grelhado e sopa de tomate do Ma’s.
— É Comfort Food{17}.
Eu tomei a minha sopa no banco de frente ao aquário de golfinhos. —
Você sabia que os golfinhos têm sexo por prazer? — Disse Jerry através de
uma boca cheia de queijo grelhado.
— Sim, eu ouvi isso.
— Eles são os únicos animais, além das pessoas que fazem isso por
prazer. Você acha que eles são capazes de amar, também?
Eu bufei. — Nós temos que falar sobre isso?
— Eu só estava me perguntando o que você pensa.
— Bem, eu acho que você teria que definir o amor para eu responder
a essa pergunta.
Ele colocou o último pedaço de seu sanduíche na boca e olhou em
volta contemplativamente, enquanto mastigava. — O amor é uma coisa que
você não pode tirar de você. Uma vez lá, isso não vai embora, não importa o
quê. O amor pode se transformar em ódio e ressentimento, mas estará sempre
lá, enterrado sob os sentimentos ruins.
— Humm, muito poético, Jerry, mas eu acho que o amor é apenas um
sentimento.
— Isso é luxúria. É por isso que os golfinhos têm sexo.
Engasguei com a minha sopa. — Você é engraçado.
— Estou falando sério. O amor não é apenas um sentimento, caso
contrário, iria e viria muito mais fácil.
— Eu acho que o que eu tive com Jamie foi luxúria.
— Talvez. — Ele continuou olhando para frente, mas me deu uma
cotovelada no braço. — Eu acho que é por isso que foi tão fácil para você
deixá-lo ir, não é?
Eu o encarei com um olhar apurado. — Você acha que eu estou sendo
irracional?
— Sim, eu acho. Não apenas para Jamie, mas para si mesma, também.
— Ele mentiu para mim.
— Ele tentou dizer a você.
— Como você sabe?
— Bem, ele me ligou cerca de trezentas vezes desde sua pequena gafe
do artigo.
— Sobre o quê?
— Muitas coisas diferentes. Ele queria que eu soubesse que ele estava
arrependido por ferir você. Ele também queria ter certeza de que você estava
bem, desde que você não retornava nenhuma das suas ligações. — Dei de
ombros. — Sabe, Kate, eu o acho fascinante. Quem pensaria que o jovem
Ryan Lawson cresceria para ser esse tipo de pessoa? Ele era um garoto gênio.
Ele ainda é brilhante, não me interprete mal, mas ele é realmente o cara,
sabe?
— Talvez você deva sair com ele, Jerry.
— Estou surpreso, isso é tudo. Eu não acho que qualquer um de nós
teria suspeitado de Jamie. Eu devia ter-lhe dado mais tempo para pesquisar
antes de enviá-la para lá.
— Talvez. Provavelmente. Eles definitivamente não esperavam que
Jamie e eu fôssemos...
— Apaixonar-se?
Eu me inclino para frente. — Eu ia dizer nos envolver. Chega de
material do amor.
Ele se levantou e limpou as migalhas de suas roupas, aparentemente
afetado por meus dramas. — Você vai compreender isso, garota.
Jerry me acompanhou de volta ao escritório, onde eu resgatei a minha
mala. Eu a rolei até o L mais próximo, que estava fechado devido a obras. Eu
me deixei absorver o frio novamente. Olhei para o meu relógio. Eram quatro
e meia. Eu tinha um pouco de tempo para voltar para o meu apartamento
antes de ter que desaparecer novamente para Dylan e Ashley poderem ter seu
encontro. Eu estava completamente congelando quando cheguei à segunda
estação do L mais próxima. Eu esperei na plataforma com as pontas dos meus
sapatos espreitando sobre a linha amarela. Estava começando a escurecer. Eu
ouvi o trem vindo, então eu me inclinei para fora para olhar para baixo na
pista. Para minha alegria absoluta e maravilha, luzes cor de rosa estavam
refletindo sobre os trilhos brilhantes pouco antes de o trem entrar em
exibição. Mesmo que eu nunca tivesse visto isso antes, eu sabia, como se
fosse a verdade absoluta do mundo, que o trem de férias estava vindo em
minha direção.
Eu comecei a rir descontroladamente. Algum idiota ao meu lado em
um casaco bege disse: — Droga, o trem de férias de novo. Esta é a segunda
vez esta semana para mim. A maldita coisa é mais lenta do que melaço.
— Oh, baboseira, seu imbecil! — Eu passei com a minha mala sobre
seus sapatos polidos e comecei a correr ao longo do trem de onde eu podia
ver um vagão aberto. No lado de fora de cada vagão foram pintadas luzes
brilhantes e cenas de férias. O som de ‘(It Must’ve Been Ol’) Santa Claus’
por Harry Connick Jr. começou a bombar através dos alto-falantes. Eu estava
correndo passando as luzes, sorrindo exuberante, como se estivesse em um
filme de Natal, prestes a me reunir com o meu amor. Saudações da estação
piscavam em luzes brancas brilhantes sobre o último vagão antes de chegar o
trenó do Papai Noel.
Assim que eu cheguei ao fim, um trabalhador saltou do trem e as
luzes e música pararam. — O que está acontecendo?
— Ele está quebrado. Isso foi tudo para o trem de férias por hoje à
noite.
— O quê? — Minha voz estava em seu mais alto grau, perfurando o
silêncio. O resto dos passageiros do trem foram me passando indo para as
escadas para sair da plataforma.
— Você tem que estar brincando comigo! — Gritei.
— Sinto muito, querida, nós estamos tendo alguns problemas nos
trilhos. Você vai ter que pegá-lo da próxima vez. Talvez amanhã, quando ele
estará em funcionamento. Temos engenheiros trabalhando nisso agora, mas
temos de deixar Noel ter uma pausa.
Olhei de volta para o trenó do Papai Noel e ele já tinha ido embora.
— Eu não posso acreditar — eu dizia. — Eu esperei anos por isto,
anos! — Besteira do caralho.
Eu andei todo o caminho de volta para o meu apartamento,
amaldiçoando o céu e rolando minha mala atrás de mim. Eu vi uma grande
lixeira em um beco escuro perto do meu prédio. Para o inferno com isso.
Tirei a caixa que Apenas Bob tinha me dado para fora da minha mala. Ergui
quinhentos dólares de bagagem no ar e a soltei sobre a parede da caçamba
com surpreendente facilidade e, em seguida, me dirigi para o meu
apartamento sem olhar para trás. Eu me refresquei e sai com a cópia de
Apenas Bob de Uma janela para o amor.
Havia um café velho na esquina da minha rua chamado ‘Sala de
Estar’. Era um daqueles cafés com grandes poltronas confortáveis e o cheiro
de grãos torrados flutuando no ar. Antes de chegar à porta, eu podia ouvir
Miles Davis vindo do alto-falante ao ar livre. Era ‘Someday My Prince Will
Come.’{18}
Haha! Eu ri alto quando entrei no café. Várias pessoas olharam por
cima de seus jornais e laptops. Sorrindo muito amplamente, apontei para
cima e balancei o dedo para o alto-falante. — Amo isso! — Eu vi alguns
sorrisos antes de todo mundo voltar para os seus negócios. Eu me joguei em
uma poltrona roxo gigante com um divã e coloquei meus pés para cima.
— Quer um café? — Perguntou uma garçonete, pairando sobre mim.
— Um cappuccino, por favor.
— Você terá.
Minutos depois, ela trouxe meu pedido. Eu envolvi minhas mãos em
torno da caneca quente e tomei um gole. Estava divino. Fechando os olhos e
inalando, eu tomei outro gole e disse: — Mmm — muito calmamente.
— Você aprecia isso? — Uma voz de homem. Eu abri meus olhos
para ver um jovem em uma poltrona idêntica do outro lado da mesa.
Tossi, limpando a garganta. — Sim. — Ele tinha uma boa aparência
de uma maneira formal. Ele me lembrava de Kevin McDonald, meu primeiro
namorado na escola o que me ensinou a dirigir. Eu sorri.
— O que está lendo? — Ele perguntou, apontando para o livro no
meu colo.
— Uma janela para o amor.
— Que tipo de livro é esse? Eu não estou familiarizado.
— Bem, eu acho que depende de seu sistema de crenças. É uma
história de amor, então pode-se considerar que é uma ficção científica.
— Então, uma cética — ele disse, balançando a cabeça em decepção
fingida.
— Por exemplo. — Abri o livro folheando e notei que Bob havia
destacado citações nele. — Deixe-me ler para você um pouco. — Meus olhos
caíram sobre as palavras: — Desconfie de todas as empresas que necessitam
de roupas novas.
Eu ri para mim mesma. Bob estava certo em destacar essa citação.
Folheei o livro um pouco mais para encontrar uma seção maior para
compartilhar.
— Ok, aqui — eu disse. — 'Não é possível amar e deixar’. — Eu
parei quando senti meu coração começar a correr.
— Por favor, continue — disse ele.
— Não é possível amar e deixar. Você vai querer que fosse. Você
pode transmutar o amor, ignorá-lo, confundi-lo, mas você nunca pode tirá-lo
de você. Eu sei por experiência que os poetas estão certos: o amor é eterno.
— Um enorme nódulo começou a se formar na minha garganta. Isso foi
realmente doloroso.
Essa era a resposta do enigma de Jamie. Se eu soubesse naquela época
o que os poetas dizem, eu poderia ter concordado que eles estavam certos,
mas eu concordei enquanto estava sentada ali naquela loja de café? É por isso
que eu não poderia deixar a memória de alguns dias curtos com Jamie
escaparem do meu coração? Porque era impossível afastar o amor
verdadeiro?
— Tenho que ir. — Eu pulei e me dirigi para a porta.
— Espere um minuto. Posso obter o seu número?
— Desculpe! — Eu disse enquanto corria para a rua. Eu corri de volta
para o beco. Estava completamente escuro naquele momento, e eu tive que
passar por cima de um par de homens sem-teto. — Desculpe-me, eu sinto
muito. — Um deles resmungou alguma coisa antes de eu agarrar minha bolsa
em meu corpo, coloquei minhas mãos na borda repugnante da lixeira, e pulei
para dentro, caindo dramaticamente na altura do joelho no lixo.
Percebendo rapidamente que a minha mala tinha ido embora, eu pulei
para fora e limpei minhas mãos nos meus jeans. — Desculpe-me, rapazes?
Por acaso vocês viram alguém tirar minha mala da lixeira?
— Nah, não vimos nada — disse um homem desdentado. Sua barba
movia para cima e para baixo enquanto ele falava, como se ele fosse um
boneco. Era assustador no escuro, mas eu engoli meu medo e tirei dez
dólares. Ambos imediatamente jogaram os braços no ar, apontando atrás de
mim, e dizendo: — Ela foi por ali!
— Sim, é Darlene. Ela tem isso — disse o homem desdentado número
dois.
Eu larguei os dez dólares e virei na direção que eles apontaram. Eu
não vi ninguém, mas continuei em direção à luz de uma loja de discos mais
para baixo na quadra. No meio do caminho, uma mulher saiu correndo de
outro beco. Ela estava empurrando a minha mala, e de onde eu estava eu
poderia dizer que ela tinha o meu casaco. Quando cheguei mais perto, pude
ver que ela também estava usando meu vestido preto sobre uma calça suja de
moletom.
— Darlene! — eu gritei.
Ela virou-se rapidamente, caminhou até mim, e inclinou a cabeça para
o lado. — Como você sabe meu nome? — Ela soltou. Sua voz era profunda e
áspera.
— Essas são minhas coisas. — Ela estava com o colar Jamie tinha me
dado. Ela era obviamente desabrigada. Sua pele tinha aquela aparência
escura, desgastada, aparência suja mesmo, e seu cabelo estava pegajoso,
gorduroso, e cinza, pendendo nos ombros. Meu colar brilhava contra seu
pescoço.
— Não, estas são as minhas coisas! — Ela gritou alto.
— Olhe, há coisas aí com o meu nome nele. Eu posso provar isso para
você.
— Eu não me importo se você é Barack Obama. Eu tive isso a partir
do lixo. O lixo de um homem é o tesouro de outro. As pessoas não jogam
fora as coisas que eles querem.
— Ouça. Você pode ter tudo isso. Eu só preciso da papelada e do
colar. Por favor, é sentimental. — Eu tirei minha carteira e entreguei-lhe três
dos vinte dólares. Ela tirou o colar, o devolveu para mim, deitou a mala e
abriu o zíper. Peguei os papéis e percebi que uma das camisetas brancas de
Jamie estava na minha mala. Estendi a mão para ela.
— Uh-uh, eu não penso assim, garota.
Meus olhos se encheram de lágrimas. Eu deixei a camisa e dei um
passo para trás. As lágrimas caíram de meu rosto nas costas da mulher
quando ela começou a fechar a mala. Ela se virou e olhou para mim. Eu
estava de pé contra a luz de um poste, mas meu rosto deve ter estado
sombreado a partir de seu ponto de vista.
— Você está chorando? — Ela retrucou.
Eu balancei minha cabeça. Ela puxou a camiseta para fora e entregou-
a de volta para mim sem se virar.
— Obrigada — eu consegui dizer.
Quando ela se levantou, ela bufou: — Imagine isso, chorando por
causa de uma maldita camiseta.
Eu a segurei no meu rosto e inalei. Ela ainda cheirava a Jamie – como
a terra, mas quente e picante, também.
Eu andei três quadras fora do caminho antes de voltar para o meu
prédio. Não querendo surpreender Dylan e Ashley, eu levei meu livro,
camiseta, colar, e todos os papéis até o telhado e esperei que ele me enviasse
um texto. Eu estava congelando minha bunda por causa do amor adolescente
e sexo antes do casamento. Eu comecei a sentir um pouco de vergonha sobre
isso, então eu fiquei aliviada ao receber um texto de Dylan.
Dylan: Está tudo limpo. Nós não fizemos. Nós tivemos um bom jantar
e assistimos TV. Ela não está pronta para isso, nós vamos esperar. Eu tenho
um grande caso de bolas azuis.
Eu ri.
Eu: Não diga isso a ela.
Dylan: Eu não sou um idiota.
Eu: Eu sei. Falo com você depois.
Dylan: Até mais tarde, chica. Obrigado novamente.
Capítulo 14
É Ficção
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Sussurros, que é o que ela os chama. Eles são sinais, pequenos sons,
ou pequenos lembretes, permitindo que você saiba que há algo maior do que
nós lá fora. Que há uma força trabalhando duro para fazer as coisas direito no
universo. Isso é o que ela diz, de qualquer maneira. Os sussurros vieram a ela
em um sonho. Ela acreditava que seu destino estava pré-determinado e que
ela tinha que seguir esses sussurros ou ouvir o que Algo Maior podia lhe
dizer para fazer.
Eu nunca disse isso a ela, mas eu sei que o sonho era uma
manifestação de algo que estava vivo em Katy desde o início. Isso veio dela.
É o desejo que todos temos em nós de amar e ser amado. É o que nos permite
obter o nosso coração quebrado uma e outra vez. Talvez a força que ela fale
seja uma energia coletiva posta para fora por toda a humanidade que
simplesmente diz: amar uns aos outros, lutar pelo o outro, cuidar um do
outro. Eu sei que eu lutei com medo, assim como ela. Eu precisava sentir
uma força tão intensa que eu não poderia revidar. A atração por ela era como
se o nosso próprio mundo existia apenas em torno de nós, girando com tanta
força que a gravidade nos prendia no centro, um ao outro, nos braços um do
outro, nas almas um do outro.
Katy existe na minha alma agora, e ela não pode ser retirada. Se
houvesse sussurros na minha vida, eles seriam altos e claros. Os meus eram
gritos que vieram para mim de um pequeno Toyota alugado. Isso bateu em
mim com a força de mil sóis e nunca parou de bater, uma e outra vez. Ela
ainda não parou de bater em mim.
Eu sei disso agora, enquanto eu a vejo do outro lado de um campo de
vinhas. Ela me tira o fôlego. Ela está segurando a nossa menina, Charlotte,
olhando para o céu, imersas ao sol. Todos os dias, elas são ambas mais
bonitas do que o anterior. Eu fico aqui por algum tempo, observando-a em
seu vestido branco. Charlotte também está de branco, e eu percebo que o céu
existe na terra. O vento bate na parte de trás do meu pescoço, me empurrando
suavemente em sua direção. Ela me vê e sorri serenamente enquanto balança
a nossa menina. Quando eu chego a elas, eu tomo Charlotte em meus braços.
Ela murmura entre pequenas risadas que faço em sua barriga.
— Algum dia você vai quebrar meu coração, garotinha, você sabe
disso?— Seu pequeno sorriso, literalmente, faz meu coração pular uma
batida. — Tudo isso vai valer a pena.
Kate e eu sabemos que não há luz sem escuridão, não há alegria sem
dor, mas nos prometemos, através de tudo, que sempre escolheríamos estar
aqui, vivendo o momento, junto lado a lado. E eu acredito que isso é
realmente o que é o amor.
Susan alegremente pega Charlotte das minhas mãos para um pequeno
passeio. Eu sigo com Kate para nossa casa e pego-a pela mão. Ela se vira. Eu
sorrio descaradamente. — Eu ouvi um sussurro, Kate. Ele disse que eu
preciso levá-la para a cama neste instante.
Ela agarra o meu braço. — Você poderia parar com isso?
— Eu tenho que ouvir os sussurros. — Eu inclino e jogo-a sobre meu
ombro e, em seguida, coloco-a em pé ao lado de nossa cama, com ela rindo
todo o caminho.
FIM
{1} Metrô de Chicago é conhecido popularmente como 'L', ele ganhou seu apelido, porque
grandes partes do sistema são elevados (em inglês elevated).
{2} - MIT (Massachusetts Institute of Technology): Instituto de Tecnologia de Massachusetts é
uma universidade privada de pesquisa localizada em Cambridge, Massachusetts, Estados Unidos. MIT
adotou um modelo europeu de universidade politécnica e salientou a instrução laboratorial em ciência
aplicada e engenharia.
{3} Cadeia de restaurantes fast food dos Estados Unidos.
{4} - Someday My Prince Will Come: Um dia meu príncipe virá.
{5} - DDA (Distúrbio do Déficit de Atenção): é um transtorno neurobiológico, de causas
genéticas, que aparece na infância e frequentemente acompanha o indivíduo por toda a sua vida. Ele se
caracteriza por sintomas de desatenção, inquietude e impulsividade.
{6} - Chief Illiniwek: é o mascote oficial e o símbolo da Universidade de Illinois.
{7} Mija: deriva da língua espanhola (mi hija) significa minha filha.
{8} Um aparelho que parece uma caneta com uma agulha na ponta.
{9} - Heartbeats: batimento cardíaco.
{10} Fritatta é uma especialidade da culinária italiana como omeletes e que normalmente é
preenchida com diferentes ingredientes, como carne, legumes, queijos, cogumelos, etc.
{11} - PDA (Public Displays of Affection): Demonstração Pública de Afeto.
{12} - Shuffleboard é um esporte individual no qual os jogadores usam um taco para empurrar
os discos que deslizam sobre uma quadra e devem parar dentro da zona de pontuação triangular.
{13} Técnica de dinâmica de grupo, é uma atividade desenvolvida para explorar a potencialidade
criativa de um indivíduo ou de um grupo.
{14} - Kool-Aid (Ki-Suco no Brasil) é uma marca de suco em pó, disponível em uma variedade
de sabores.
- Don’t drink the Kool-Aid (Não beba o Kool-Aid) é um ditado que significa: ‘O que quer que
eles lhe digam, não acredite demais.’
{15} - Bimbo: uma garota que é estúpida, usa muita maquiagem e está obcecada com garotos e
roupas.
{16} - African Anteater Ritual: (Dança do Ritual do Tamanduá Africano) - Filme: Namorada de
Aluguel.
https://www.youtube.com/watch?v=VVWG0b2BbY4
{17} - Comfort Food (Comida Confortável), que desperta conforto e bem-estar ao ser
consumida. Isso justamente por nos fazer lembrar de momentos especiais, seja um almoço em família,
um jantar com os amigos, um piquenique ou o passeio em um parque.
{18} - Someday My Prince Will Come: Um dia meu príncipe virá.
{19} Stress pós traumático.
{20} - Sittin' on: Sentando-se
{21} - MARRY CHRISTMAS: trocadilho MERRY CHRISTMAS (Feliz Natal) com MARRY
ME (Case comigo)
{22} - Diamante de Sangue (no original em inglês, Blood Diamond): são diamantes extraídos em
zonas de guerra africanos e vendidos para financiar conflitos e, assim, gera o lucro dos senhores da
guerra e empresas de joias em todo o mundo.
Table of Contents
Capítulo 01
Capítulo 02
Capítulo 03
Capítulo 04
Capítulo 05
Capítulo 06
Capítulo 07
Capítulo 08
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Epílogo