Você está na página 1de 303

A presente tradução foi efetuada pelo grupo WL, de modo

a proporcionar ao leitor o acesso à obra. Incentivando à


posterior aquisição.

O objetivo do grupo é selecionar livros sem previsão de


publicação no Brasil, traduzindo-os e disponibilizando-os ao
leitor, sem qualquer forma de obter lucro, seja ele direto ou
indireto. Levamos como objetivo sério, o incentivo para o leitor
adquirir as obras, dando a conhecer os autores que, de outro
original, modo, não poderiam, idioma não ser no a
impossibilitando conhecimento de muitos autores
desconhecidos no Brasil. A fim de preservar os direitos
autorais e contratuais de autores e editoras, o grupo WL
poderá, sem aviso prévio e quando entender necessário,
suspender o acesso aos livros e retirar o link de
disponibilização dos mesmos, daqueles que foram lançados
por editoras brasileiras. Todo aquele que tiver acesso à
presente tradução fica ciente de que o download se destina
exclusivamente ao uso pessoal e privado, abstendo-se de o
divulgar nas redes sociais bem como tornar público o trabalho
de tradução do grupo, sem que exista uma prévia autorização
expressa do mesmo.

O leitor e usuário, ao acessar o livro disponibilizado


responderá pelo uso incorreto e ilícito do mesmo, eximindo o
de qualquer WL parceria, coautoria grupo ou coparticipação
em eventual delito cometido por presente obra literária para
obtenção de lucro direto ou indireto, nos termos do art. 184 do
código penal e lei 9.610/1998.
Eu tenho três meses antes de ser coroado rei de Elleston –
tudo porque nasci dois minutos antes do meu irmão
gêmeo. Achei que teria mais tempo, mas com a recente morte
de meu pai e cinquenta milhões de pessoas me esperando
para liderar, é hora de deixar de lado minhas aspirações
pessoais e assumir a coroa.

Dever. Honra. Realeza.

O amor é um luxo que não tenho – não com um noivado real


que nossas leis exigem que eu cumpra.

As linhas que definem minhas escolhas são em preto e


branco.

Mas quando colido com uma deusa americana de cabelos


cor-de-rosa que traz meu mundo de volta a cores
surpreendentes, sei que não posso pegar a coroa sem provar
ela primeiro. Willa é tudo que eu sempre quis – inteligente,
sexy, engraçada e perversamente independente. Ela aceita as
apostas, sabe que nosso relacionamento tem uma data de
validade, mas estou preparado para enfrentar o Parlamento e
os outros membros da realeza para fazê-la oficialmente
minha.

Isto é, até eu descobrir que ela está escondendo seus próprios


segredos. Segredos que poderiam arruinar tudo o que fiz para
nos manter juntos.
Para quem tem uma paixão que não pode ser contida.
Como diabos isso estava acontecendo?

Seis meses atrás eu estava em Nova York, discutindo um


caso de direitos humanos perante as Nações Unidas. Então
veio a ligação e toda a minha vida virou de cabeça para baixo.

Respirei fundo enquanto deslizavam a tampa de mármore


no lugar, selando efetivamente o caixão de meu pai na
tumba. Era como se meus pulmões simplesmente tivessem
esquecido como funcionar desde que ele morreu quase duas
semanas atrás... como se eu não soubesse respirar em um
mundo onde ele não podia mais fazê-lo.

Eu tinha 28 anos e estava me afogando em um mar de


arrependimentos. Eu aprendi o suficiente com ele? Escutei
quando ele perguntou? Fiz como ele queria? Por que eu não
havia passado mais tempo aqui nos últimos anos? O câncer
tinha sido rápido – igualmente uma piedade e o pior cenário
possível, e, embora ele tivesse me dito que sua alma estava
pronta para deixar essa vida, a minha estava tudo, menos
pronta para deixá-lo ir.
— Sua Alteza, — disse um dos trabalhadores, inclinando
o chapéu enquanto passava. Seu colega de trabalho repetiu o
gesto. Eu balancei a cabeça em reconhecimento, mas meus
poderes de fala aparentemente haviam desaparecido com meu
suprimento de oxigênio.

Eles finalmente foram embora. A imprensa, a aristocracia,


os membros do parlamento, e até minha mãe e irmãs haviam
saído com a procissão formal. Mas eu precisava ver isso,
precisava ficar até que ele estivesse realmente em repouso.

— Parece muito Game of Thrones aqui embaixo, — disse


Jameson, tomando um gole de seu frasco enquanto se
aproximava de mim. Em idade, meu irmão gêmeo era apenas
dois minutos mais novo. Na maturidade, havia pelo menos
uma década entre nós.

— É uma catacumba. Como você gostaria que fosse? — Eu


perguntei, pegando o frasco.

— Menos como a Idade Média. Tenha cuidado aí. É uísque


puro.

Tomei um gole e gostei da doce queimadura que deslizou


pela minha garganta, aquecendo a dormência gelada que era o
meu peito. — Foi construído na Idade Média, imbecil.

Ele pegou o frasco e tomou outro gole. — E um dia seremos


enterrados aqui, Xander. Você, eu, mamãe, Sophie, Brie e até
sua preciosa Charlotte. Este é o nosso futuro. — Ele estendeu
os braços e girou lentamente, como se eu precisasse de um
tour pelas gerações de Wyndhams enterradas aqui. — Você se
casará com Charlotte, será o líder do nosso povo, e eu
continuarei a vida de libertinagem que apenas o reserva do
herdeiro pode ter.
Ele estava certo. Não importa como lutei contra esse
destino, o quanto eu não o desejava, este era o meu – cada
momento frio, sombrio, praticado e ensaiado. Até
Charlotte. Por mais que eu a amasse como uma irmã, eu nunca
quis mais – mesmo que nossos pais nos comprometessem
quando crianças. Como se as palavras de Jameson tivessem
uma linha direta na minha garganta, ela se apertou e eu
afrouxei o nó da minha gravata.

Eu deveria ter mais uma década de liberdade. Uma década


para seguir minhas paixões depois que terminei a faculdade de
direito e os dois anos seguintes nas forças armadas de Elleston
– uma carreira conquistada com muito esforço como advogado
internacional em direitos humanos. Anos para aprender com
meu pai depois que eu atingi meus próprios objetivos, para me
tornar o tipo de líder que ele era naturalmente. Mas a morte
não funciona na linha do tempo de ninguém, além da sua.

— Precisamos ir ao nível acima com os membros da nossa


família que ainda respiram, — disse Jameson, passando a mão
pelos cabelos desarrumados. Ele deu dois passos à frente e
colocou a mão sobre o túmulo de nosso pai. — Fique tranquilo,
pai. Xander consegue isso.

Ele se virou e me deu um tapa no ombro enquanto


passava. Um momento depois, ouvi seus passos pesados nas
escadas da catacumba para a catedral acima de nós.

Fui até o local de descanso de meu pai e passei a mão


sobre o mármore liso, meus dedos traçando as linhas do
brasão da nossa família.
Um por um, apaguei os itens da minha lista de últimos
desejos1 e os guardei no canto mais distante da minha
mente. Minhas esperanças de uma carreira, uma família que
não estivesse aos olhos do público, uma esposa que desejasse
meu coração e não o título por trás do meu nome, ou porque
lhe disseram que era sua obrigação legal. Juntei todos os
pensamentos egoístas que pude encontrar e os enterrei lá com
meu pai.

A partir de agora, meus desejos e necessidades pessoais


não importavam.

— Vou te fazer orgulhoso. — Minha voz ecoou pelas


estruturas de pedra.

Então abri os olhos, fiquei em pé e ajeitei a gravata antes


de me virar para abraçar o futuro no qual não queria
participar.

Eu era Alexander Gabriel Edward Wyndham IV, e, no


próximo ano, seria coroado o próximo rei de Elleston e seus
sessenta milhões de pessoas.

Fodeu. Minha. Vida.

1 Termo bucket list em inglês, e que quer dizer “lista de coisas para fazer
antes de morrer”.
Seis meses mais tarde

— Alexander, eu preciso falar com você, — minha mãe


sussurrou em meu ouvido com um sorriso enquanto acenava
para o dignitário da França. Nossa suíte no palácio estava
cheia de dignitários estrangeiros. O coquetel foi ideia dela, uma
maneira de ver todo mundo em Nova York em um evento.

— Claro, — eu disse, espelhando o sorriso dela. — Você


viu que Nicolai está aqui? — Eu balancei a cabeça em direção
ao primeiro-ministro de Dronovia. Ele enfrentou Damian,
nosso primeiro-ministro, mais de uma vez. Claro, Damian não
tinha cedido uma polegada. Aquele homem não tinha
flexibilidade moral.

— Não deixe esse smoking te enganar. Ele é um tubarão


embaixo daquele Armani. — Sua voz era suave e ainda nítida,
o que praticamente descreveu mamãe com perfeição. — Vamos
encontrar um lugar privado.

Eu me encolhi, mas a acompanhei até o escritório


particular. Ela estava tentando me encontrar sozinho o dia
todo depois de ouvir meu discurso nas Nações Unidas esta
manhã. Talvez ter falado sobre o status de refugiado e o
tratamento humano das nações da Europa... talvez tivesse sido
demais... ou insuficiente.

Abri a porta do escritório e conduzi minha mãe pelas


costas. Ela era mais do que uma cabeça mais baixa do que os
meus um metro e noventa e três, mas caramba, se ela não se
elevava sobre mim quando estava chateada. E agora... a
mulher estava lívida.

Olhei para a multidão e vi Charlotte levantar a mão com


um pequeno sorriso. É claro que mamãe se certificara de que
Charlotte e seu pai tivessem sido convidados para a
festa. Como um duque em nosso país, ele tinha todo o direito
de estar aqui, mas eu sabia que o propósito dela em Nova York
era para mim, não para a ONU.

Dei um pequeno sorriso a Charlotte e assenti, depois


revirei os olhos para meu irmão, que estava ao seu lado, me
dando a cara senhor-tenha-misericórdia-da-sua-alma, quando
mamãe entrou no escritório à minha frente.

O sorriso da mamãe permaneceu no lugar até eu fechar a


porta e logo caiu em uma careta de desaprovação. —
Alexander, — ela suspirou. Seus dedos esfregaram o pequeno
trecho de pele entre os olhos.

— Mãe, — eu respondi, me inclinando contra a porta. —


Você está gostando da nossa viagem? Eu pensei que duas
semanas aqui poderiam ser um pouco demais, mas é uma
pausa bem-vinda da monotonia de Elleston, não é? —
Qualquer tópico de conversa era preferível ao que ela ia jogar
em mim.
Seus afiados olhos azuis poderiam ter aberto um buraco
na minha cabeça. Eu sentia falta do sorriso dela. O que ela
tinha antes do papai morrer. O que ela compartilhava com
Jameson, sempre o rebelde com seu cabelo escuro
constantemente bagunçado. O meu sempre foi
respeitosamente domesticado. Embora fôssemos idênticos, era
como se nossos estilos tivessem assumido aspectos de nossa
personalidade – a minha sempre dentro dos limites do decoro,
e a de Jameson tão selvagem quanto ele. E embora nossa mãe
esperasse que eu fosse o epítome de todas as aulas de etiqueta,
ela amava Jameson mais pela selvageria que ele tinha
permissão de manter.

— É o suficiente. Alexander, já faz quase seis meses desde


que seu pai faleceu...

— Estou bem ciente.

— E embora eu não me importe em ser a rainha regente,


você não pode ser coroado até que esteja casado. Isso está claro
em nossa Constituição.

— A qual está claramente desatualizada.

— Isso não está em debate. As mulheres devem


parar. Charlotte sabe o que se espera dela, e não é como se
vocês dois não se dessem muito bem.

— Como amigos, — eu disse suavemente. — E não é como


se eu tivesse mulheres dentro e fora do palácio, como Jameson.
— Eu gostava de mulheres. Inferno, eu amava mulheres. Eu
apenas tinha mais respeito por elas para não permitir que
qualquer pessoa com quem eu passasse a noite fosse objeto de
especulação nos tabloides. Havia algo como discrição.
— Jameson não é o herdeiro.

— E aí está.

— Alexander, o que você tem com Charlotte é real. A


amizade pode ser a base para um casamento incrível. — Ela
respondeu, seus olhos implorando. — Se você apenas anunciar
que está noivo, isso agradará o Parlamento por enquanto. Um
breve compromisso, e depois coroaremos você no dia seguinte
ao casamento, se necessário. Não é como se os planos ainda
não estivessem em andamento.

— E se eu quiser amor? Ou pelo menos paixão?

— Você ama Charlotte, eu vi como vocês se importam um


com o outro.

— Como uma irmã, — eu respondi um pouco bravo. — Nós


nunca namoramos. Nós dois concordamos em namorar outras
pessoas como queríamos até a hora chegar.

— Bem, chegou a hora e os casamentos reais foram feitos


por menos. Você a ama e será apaixonado pelo seu país. Isso
é muito mais do que alguns já tiveram.

— Muito mais do que você tinha?

Ela piscou, depois afagou uma mecha imaginária de seu


cabelo grisalho. — Tive sorte de amar seu pai. É minha
esperança mais profunda que você encontre a mesma
felicidade em seu casamento. Mas se não... então o dever antes
de tudo.
— Tenho vinte e oito anos e ainda estou aprendendo tudo
o que preciso para governar o país. Agora não é o melhor
momento para colocar um casamento na mistura.

O barulho da festa atrás de nós deixou nosso silêncio


ainda mais comovente.

Mamãe alisou o vestido de grife e depois olhou para mim


com uma determinação calma. — Dou três meses para você
anunciar seu noivado, ou farei isso por você. É o máximo que
podemos esperar antes de impactar o prazo constitucional. Já
existem gritos para dissolver a monarquia, e devemos mostrar
que você está pronto para o papel de rei, que de acordo com
nossas leis, significa casamento. O tempo para... Diversão já
passou e, embora eu saiba que esse nunca foi o caminho que
você queria, esse é o caminho que seguirá.

Eu me afastei e ela passou pela porta como a rainha que


era, majestosa e composta. Eu sabia que ela sofria sob aquela
máscara cuidadosamente colocada, sabia o quanto sentia falta
de meu pai, mas nunca demonstrou sua dor ao mundo
exterior.

Antes que eu pudesse fechar a porta, Charlotte deslizou


para dentro, seu vestido rosa elegante contra sua pele pálida e
cabelo castanho escuro. Ela era uma beleza clássica, mas o
que a deixava ainda mais deslumbrante era o coração que
tinha para corresponder.

— Ei, — ela disse suavemente, fechando a porta atrás. —


Você está bem?

— Sim, — eu disse, fazendo o meu caminho para um bar


no canto. Coloquei um dedo no que estava no recipiente de cor
âmbar e cheirei. Conhaque. Um pouco pretensioso para o meu
gosto, mas não havia uma cerveja à vista.

— O que está acontecendo, Xan? — Charlotte apoiou o


quadril nas costas da poltrona que ficava de frente para uma
mesa.

— Devemos anunciar nosso noivado em três meses. — Eu


disse isso com toda a empolgação de uma viagem à guilhotina.

— Oh, — ela sussurrou, ficando em pé. — Você está pronto


para isso?

— Você quer isso? — Eu atirei de volta.

Ela desviou o olhar, depois trouxe seus olhos verdes de


volta para encontrar os meus. — Eu quero o que você precisar.

— Jesus, Charlotte. Você merece mais do que isso. De um


homem que te vê como uma irmã. Você não quer mais? — Ela
tinha que querer mais, porque eu com certeza queria.

Ela mordeu o lábio inferior. — Me disseram desde os cinco


anos que nos casaríamos. Que eu o ajudaria a governar nosso
país. Eu desisti do amor romântico anos atrás.

— Isso é triste. Eu amo o nosso país também. Estou pronto


para ser rei, mas esta é uma lei estúpida. — Eu levei o copo
aos lábios, mas fui interrompido quando Jameson entrou.

— Então é pra cá que a festa veio. — Seus olhos brilharam


para Charlotte, que revirou os dela. — O que há de errado,
Charlie? Interrompi algo importante?

— Não me chame assim, — ela fervia.


Eu tentei esconder meu sorriso e falhei. Jameson era o
único que irritava Charlotte. Na verdade, eu tinha certeza de
que ele a cutucava apenas para ver a maior reação que poderia
obter. Os dois estavam na garganta um do outro desde que
éramos crianças.

— Parece que você precisa sair daqui, — disse Jameson,


estreitando os olhos em minha direção.

— Eu o faria num piscar de olhos. — Um batimento


cardíaco. É assim a sensação de um prazo de três meses.

Jameson mostrou um conjunto de chaves. — Leve.

— Pelo amor de Deus, você comprou outro carro? — Eu


perguntei, examinando a chave do Maserati.

— Sim.

— Como se você precisasse de um aqui em Nova York?

— É verde, — ele disse com um encolher de ombros, como


se esse fosse o único raciocínio que precisava.

— Vá, — disse Charlotte calmamente. — Nós cobriremos


você. Apenas saia daqui e respire um pouco, Xander. — Ela se
aproximou e se inclinou para sussurrar. — E seja feliz. Não
importa o que esperam de nós, quero que você seja feliz e, se
isso significa que abalamos os planos que outros fizeram para
nós, que assim seja.

— Charlotte... — eu sussurrei, ciente de que ela estava me


dizendo que estava disposta a se afastar do acordo de nossos
pais.
— Você está certo. Eu te amo como um irmão, e há um
futuro chegando para nós que é... bem, estúpido. Vá encontrar
um pouco de felicidade.

Eu a beijei na testa e sai da sala, meus passos devorando


a distância rapidamente. Jameson correu na minha frente,
derrubando uma bandeja inteira de taças de champanhe, e eu
saí enquanto a segurança corria para ajudá-lo. Eles estavam
preocupados em manter as pessoas fora, não dentro.

Uma rápida viagem ao manobrista e eu estava ao volante


do novo Maserati de Jameson, que notei ser da mesma cor dos
olhos de Charlotte. Consegui sair da cidade rapidamente e
segui para o norte.

Para onde diabos eu estava indo? Ao contrário da minha


vida perfeitamente planejada, eu não tinha destino em
mente. Abaixei a janela e fui atingido por uma rajada do ar
gelado de janeiro. Arrancando minha gravata, aumentei a
música e me acomodei no couro macio. Eu tinha um tanque
cheio de gasolina, então importava se eu não tinha um
destino? Eu não tinha obrigações pelos próximos
dias. Deixando minha mente vagar, deixei o carro colocar o
máximo de milhas possível entre mim e meu destino.

Governar Elleston era algo que eu poderia fazer. Fui criado


para o cargo, treinado, educado e preparado de todas as
maneiras possíveis. Mas me casar com
Charlotte? Compartilhar minha vida – minha cama – com
alguém que eu não conseguia pensar sexualmente?

Como diabos eu ia fazer isso?

Eu gosto de sexo. Risca isso. Eu amo sexo, porra. Cada


nuance disso, desde os sabores, os sons, o prazer consumido
– tudo isso era fenomenal. Eu nunca trairia Charlotte uma vez
que estivéssemos casados – inferno, uma vez que estivéssemos
realmente juntos – noivos. Mas eu também não tinha certeza
se poderia transar com ela.

Eu dirigi por horas, e então os primeiros flocos de neve


atingiram o para-brisa.

Diminuindo a velocidade, observei fascinado o céu passar


de cristalino a branco ofuscante. Eu tinha ouvido sobre
tempestades chegando rapidamente nesta parte do país,
mas caramba.

Mais vinte minutos ao norte e as estradas estavam


cobertas. A neve subia alto em ambos os lados da rodovia –
essa região não era estranha ao material branco e fofo.

— Merda, — eu murmurei para mim mesmo. Era hora de


voltar, ou pelo menos encontrar um hotel para passar a
noite. Saí da estrada na saída mais próxima e voltei para entrar
no lado sul... mas não havia nada.

— Você realmente pegou a porra da única saída do norte


do estado de Nova York que não tem retorno? — Eu me
perguntei. Mexendo no meu telefone, eu amaldiçoei quando vi
que estava com apenas um por cento da bateria.

Eu dirigi o tanto que consegui me situar pelo caminho e


passei o Maserati pelas curvas montanhosas e arborizadas de
Catskills. Deslizei algumas vezes, mas não era nada que eu
não pudesse controlar. Mas se isso continuasse, a
profundidade seria um problema.
Olhei para a placa da estrada avisando que a próxima
saída seria em uma milha. Quando olhei de volta para a pista
um cervo saltou da floresta na minha frente.

— Merda! — Eu gritei, batendo nos freios. O carro deslizou


e eu reduzi a marcha, tentando me afastar do animal. Eu
desviei do enorme cervo por apenas alguns metros, deslizando
para fora da estrada e entrando em um monte de neve.

O carro parou, e o cinto de segurança interrompeu meu


impulso para a frente com um estalo, mas não antes de minha
cabeça bater em algo quando o airbag disparou.

Um pó fino do airbag encheu o carro e eu abri a porta,


tossindo quando entrei na noite. Senti uma gota quente e puxei
meus dedos da testa para encontrar um leve fluxo de
sangue. Ótimo.

Me recostando no carro, peguei meu telefone.

A porra da coisa estava morta.

— Isso é o que a impulsividade faz com você, — murmurei.

O carro foi enterrado na margem passando o primeiro


conjunto de pneus, e a traseira não tinha tração no chão
coberto de neve. Não havia chance de eu sair dali.

— Não foi possível comprar um utilitário, não é? —


Amaldiçoei meu irmão em vez de minha própria estupidez. Eu
estava usando apenas um smoking e sapatos sociais, prestes
a caminhar um quilômetro em temperaturas abaixo de zero até
a estrada e rezar para que alguém parasse.

Pelo menos, seria uma história interessante.


Coloquei as mãos nos bolsos e comecei a andar pela beira
da rodovia, ignorando o frio que escorria pelas minhas roupas
e sapatos. Ao passar por uma estrada menor, olhei para o alto
da colina e vi luzes através da neve. Essa era a minha melhor
aposta se eu não quisesse congelar até a morte.

Subi a colina, agradecendo a Deus por não ter caído de


bunda.

A casa era branca, com luzes saindo do envoltório


envidraçado ao redor da varanda. Mais do que a aparência, eu
me importava com a fumaça subindo da chaminé. Eles tinham
calor.

Correção. Ela tinha calor.

Fiz uma pausa, a neve até meus joelhos no que eu assumi


ser sua calçada. Ela era bonita. Seus grandes olhos azuis se
estreitaram quando olhou por cima da neve através da
janela. Ela era pequena, mas perfeitamente com curvas – pelo
que eu podia ver – seus cabelos loiros caindo ao redor dos
ombros. Quando ela o afastou, peguei a cor por baixo. Rosa.
Era rosa. Não... roxo. Puta merda, a camada inferior de seus
cabelos estava tingida como um unicórnio. Mais do que bonita,
ela era extraordinária. Talvez eu estivesse ficando com
hipotermia porque ela tinha que ser uma alucinação.

Mas eu precisava desesperadamente que ela fosse real.

Eu tropecei nos degraus, tendo perdido a maior parte da


sensibilidade nos pés, e toquei a campainha.

— Por favor, seja real.


Eu joguei outra madeira na lareira, apertando um pouco
mais minha mão em meu suéter de tricô. Tinha manchas de
tinta respingadas permanentemente na manga direita de um
trágico incidente com caneta-tinteiro, mas era a minha peça
favorita de roupa aconchegante.

Um arrepio percorreu minha pele e eu me encolhi


enquanto caminhava para o aquecedor, ligando o termostato.

Como diabos ainda pode ser tão frio?

Eu tinha um aquecedor e uma lareira.

Você comprou uma cabana no norte de Nova York.

Oh, isso mesmo.

Eu havia comprado este pedaço de propriedade isolada há


três anos por seu apelo de ninguém ouvir você gritar. Não
porque eu estava fazendo as pessoas gritarem – ou vice-versa
– pelo menos não em meses.
Eu a escolhi por ser quente e rica em madeira, e pelo fato
de não ter outra casa por quilômetros. Era o lugar perfeito para
escrever meus romances – tanto inocentes quanto
travessos. Um lugar onde eu não precisava me preocupar com
vendedores ou com os sons barulhentos da cidade me
distraindo de colocar palavras na página.

Quieto. Pitoresco. Tudo meu.

Eu o comprei diretamente com os royalties do meu


último livro da série Ally's Alligator – esta cobrindo a
necessidade de aventuras de menina em vez de casas de
boneca. Foi uma grande virada na minha vida, comprar minha
própria casa, e fiquei bastante satisfeita comigo mesma.

Isso, e minha capacidade de escolher um lugar que


certamente não me incomodaria, foram duas recompensas que
me dei depois de vender minha segunda série.

Meus dentes batiam com outro tremor, e eu esfreguei


meus braços para tentar trazer um pouco de vida de volta para
eles. Virei com os pés escorregadios, deslizando pela madeira
até a minha mesa como uma patinadora de gelo, pronta para
trabalhar.

As exibições noturnas de Shayla Scotch não iam se


escrever sozinhas, afinal.

Puxei minha cadeira da escrivaninha, as cenas sexys já


tomando forma na minha cabeça. Eu precisava de um capítulo
com uma faísca perigosa, algo em um elevador, talvez, ou uma
varanda de cobertura.

Knock! Knock! Knock!


As batidas fortes contra a minha porta me assustaram
tanto que eu me empurrei contra a cadeira e rolei um metro e
meio para trás.

Knock! Knock!

Meu coração pulou na minha garganta quando corri para


fora da cadeira e abri a gaveta superior direita da mesa ao lado
do meu hall de entrada. Em segundos, eu tinha o pequeno
taser que peguei logo após assinar os papéis deste lugar. Lugar
de não-conseguir-me-ouvir-gritar e tudo mais.

O taser era rosa, cabia na minha mão como uma pequena


arma, e era facilmente escondida nas minhas costas quando
me aproximei timidamente da porta da frente. Meu coração
bateu tão forte contra o meu peito que jurei que iria
quebrar. Esse era o tipo de coisa que um amigo autor, Steve,
escreveria. Eu seria sequestrada e mantida refém em
segundos, se esse fosse um livro dele.

— Olá? — Uma voz profunda e rouca chamou do outro lado


da minha porta. — Por favor, está congelando aqui.

Isso era um sotaque?

Quem diabos está fora a essa hora da noite?

Ok, era apenas um pouco depois das nove, mas


sinceramente, quem estaria aqui a essa hora da noite?

— Eu bati em um monte de neve na curva e meu celular


está descarregado. — A voz fantasma continuou falando como
se eu tivesse perguntado o que tinha acontecido. Movimento
total de serial killer.
Cheguei na ponta dos pés e espiei pelo olho mágico.

Uma bagunça de cabelos castanhos claros e um conjunto


de olhos castanhos escuros com o tom exato de café me
encararam.

Meu coração deu outro baque, mas não por medo.

Eu limpei minha garganta. — O que você quer?

— Ah, então você não era uma invenção da minha


imaginação congelada?

Esse sotaque. Britânico? Escocês?

Era algo entre esses e absolutamente delicioso.

— Não. Completamente real, e completamente me


perguntando por que você está na minha porta no meio da
noite.

— Desculpa, — o homem disse e levantou as mãos como


se soubesse que eu estava olhando. Ele rapidamente as
colocou sob as axilas, o tecido caro do traje se amontoando em
torno de seus músculos que ameaçava estourar as costuras.
Espera... esse cara estava de smoking? — Está congelando
aqui fora.

E ele não estava de casaco. Quem era esse cara que estava
tão mal preparado para o clima do norte de Nova York em
janeiro? Laura estava brincando comigo? Minha agente
repetidamente me disse que eu precisava sair mais, mas não
havia como ela enviar um stripper ou algo assim, certo?

— Posso usar seu telefone?


— Essa é geralmente a conversa que leva o homem para
dentro da casa antes que ele mate a mulher inocente.

Um sorriso de megawatt esticou seus lábios, e eu tive que


recuperar o fôlego.

— Eu não sou assassino, — disse ele, aquele leve sotaque


enviando ondas de calor indesejado sobre minha pele gelada. O
hall de entrada era dez graus mais frio que o interior da casa,
mas não era tão ruim quanto o frio negativo lá fora. — Mas
você será se me deixar aqui para morrer de frio. — Ele riu
baixinho, sua respiração saindo em sopros de ar branco.

Uma guerra começou dentro da minha cabeça. Eu não


queria que o homem congelasse se ele fosse decente, mas e se
fosse um sociopata?

Ele é incrivelmente bonito, com sotaque.

Às vezes, esses são os melhores disfarces para serial


killers.

Por que ele iria bater se queria me matar?

Talvez ele quisesse brincar comigo primeiro, me fazer


confiar nele e deixá-lo entrar antes de atacar.

Imaginação de escritora hiperativa ao resgate.

Talvez ele tenha se acidentado, seu celular está


descarregado e precise ligar para a esposa para pedir carona.

Ugh. — Espere.

Corri de volta para dentro, peguei meu celular e o coloquei


gentilmente no meio do chão do hall. Mais rápido que um
piscar de olhos, destranquei a porta da frente, corri de volta
para trás da porta e prendi a corrente, apenas me permitindo
uma lasca de abertura para falar com ele.

— Está aberta!

O homem entrou, trancando rapidamente a porta atrás de


si enquanto pisava seus sapatos cobertos de neve. Estavam
ensopados e sem dúvida ele não conseguia mais sentir os
dedos dos pés.

Não é o assassino mais inteligente, não é?

— O celular está no chão. E apenas para você saber, eu


tenho um taser se você tentar entrar por essa porta.

Algo brilhante apareceu por trás de seus olhos quando ele


travou nos meus, mas ele levantou as mãos
lentamente. Abrindo caminho para o paletó, ele o abriu e deu
uma volta de corpo inteiro. — Veja, eu estou desarmado.

— E mal preparado, — eu disse. — Esses sapatos não são


realmente feitos para neve, são?

Ele riu de novo, e meus lábios traíram um sorriso.

— Muito bem, — disse ele, se ajoelhando para pegar o


celular do chão.

Foi nesse instante que percebi duas coisas: uma, agora eu


não tinha como ligar para a polícia se necessário, e duas, eu
tinha uma foto terrivelmente embaraçosa como papel de
parede, uma foto da minha agente e eu tomando doses de
tequila depois de assinar o contrato em Vegas. Estamos
falando de uma foto fazendo cara de pato.
Eu resisti à vontade de me esconder quando um sorriso
lento moldou seus lábios quando ele clicou no celular. Ele
levantou uma sobrancelha para mim, e meu corpo inteiro ficou
vermelho, fazendo com que meu suéter, que antes era um
refúgio, parecesse sufocante.

— Fofa. — Ele bateu no celular e digitou alguns números


antes de colocá-lo no ouvido.

Fofa? Olhos vermelhos e cabelos bagunçados na frente do


Bellagio... fofa?

Quem era esse cara?

— Certo, — disse ele para quem atendeu do outro lado. —


Sim, eu sei. Olha, eu peguei emprestado o celular de
alguém. — Ele me olhou antes de dar um sorriso. — Sim, uma
mulher altamente capaz que mora a cerca de 1,6 km de onde
eu... — ele fechou os olhos e, por um breve momento, foi como
se todo o peso do mundo estivesse sobre seus ombros. Quando
os abriu novamente, esse peso se foi. — A neve. Não estou
acostumado a dirigir assim. Não, de manhã? Mesmo? Não, é
claro, eu entendo... — ele se deteve, seus olhos nos meus
enquanto eu o observava através da fresta da porta. — Muito
bem então. Vamos torcer para que eu possa implorar alguma
hospitalidade a minha anfitriã graciosa, ou você pegará um
picolé amanhã de manhã em vez de um princ... — Ele desligou
o celular, encerrando a ligação antes de terminar.

— Isso foi interessante, — eu soltei.

— Sim, — disse ele, se endireitando para descansar as


mãos atrás das costas. — Sim, foi.

A postura era tão formal que não pude deixar de rir.


— O que? — Ele perguntou, inclinando a cabeça.

— Você é policial?

— Não.

— Militar?

Ele moveu a cabeça de um lado para o outro. — Eu estive


envolvido em atividades militares de todos os ângulos.

Franzi minha testa. — Essa é uma maneira estranha de


responder.

— É habitual no meu país servir dois anos. Você sempre


faz a todo homem que aparece à sua porta essas perguntas?

— Nenhum homem aparece na minha porta. — Dei de


ombros. — Não ultimamente.

Ele deu um pequeno passo mais perto, e eu agarrei o taser


atrás de mim um pouco mais apertado. — Acho isso difícil de
acreditar.

Nossos olhos se encararam, e senti algo correr através de


mim, uma daquelas conexões tangíveis sobre as quais eu
escrevia, mas que ainda tinha que experimentar. Merda. Eu
não estava atraída por esse cara. Não. De modo nenhum.

Mentirosa.

Engoli em seco, repentinamente consciente da minha


aparência – suéter esticado e manchado, coque bagunçado e
legging preta enfiada nas minhas botas de camurça. Bem, se
eu estivesse atraída por esse estranho alto e moreno – o que
eu não estava, porque seria clichê – eu ficaria mortificada.
— Então, — disse ele, chamando minha atenção de volta
para aqueles olhos castanhos lindos demais para palavras. —
Está brutalmente frio, e eu não tenho carona até de manhã.

— Eu ouvi.

Um leve sorriso apareceu em seus lábios. Algo me disse


que esse cara não estava acostumado a pedir o que
queria. Provavelmente era entregue a ele automaticamente.

— Você consideraria me deixar entrar? Em algum lugar


que eu não perca um pé? — Seus olhos flertaram
descaradamente, mas o resto dele foi mantido rígido...
adequado, mesmo.

Meus olhos caíram para seus sapatos ensopados e eu


bufei.

— De onde você veio vestido assim?

Um músculo pulsou em sua mandíbula forte. — Uma


festa.

Eu levantei minhas sobrancelhas. — Chique.

Deus, eu poderia parecer mais uma perdedora?

Outro rubor aqueceu minhas bochechas, mas engoli o


embaraço e levantei meu queixo. — Você lembra que eu tenho
um taser, certo?

— Sim, — disse ele, aquele sorriso de lobo nos lábios. — E


eu tenho certeza de que você é capaz de manejar isso.

— Manejar isso? — Eu ri. — De onde você é?


Ele olhou por cima do ombro antes de voltar sua atenção
para mim. — Agora eu sou do frio devastador da estrada, onde
meu carro está enterrado em um monte de neve, e te devo
minha vida se me deixar entrar. — Ele se endireitou,
levantando a mão em uma pose de juramento. — Juro a você
que nunca fiz, nem planejo matar nenhuma alma viva neste
planeta. E não tenho intenções assassinas ou... outras, além
de não morrer como um bloco de gelo congelado.

— Ufa, — assobiei, incapaz de cobrir o choque em minhas


feições. Ninguém nunca tinha falado comigo assim, e pelas
borboletas quentes que as palavras criaram no meu estômago,
fiz uma anotação mental para usar as frases em um futuro
manuscrito. Histórico, é claro, porque ninguém nunca falou
assim. — Tudo bem, — eu disse, fechando a porta
momentaneamente para destrancar a corrente. — Eu não
quero que você congele até a morte, mas juro que, se você
tentar alguma coisa, eu vou acabar com você.

Um canto da boca se inclinou para cima e seus olhos


dançaram. Ele estava rindo de mim? Eu esperava que ele
percebesse que eu quis dizer cada palavra sobre o meu taser. O
homem era um estranho – o mais bonito e magnético que já
conheci, mas ainda assim. Eu não devia a ele nada além de
um lugar quente para ficar até que sua ajuda chegasse.

O que eu não pude deixar de me perguntar era se a ajuda


seria uma esposa ou namorada.

Eu olhei para suas mãos enquanto ele as aquecia sobre o


fogo, odiando que uma emoção corresse por mim quando
faltava um anel em um determinado dedo. Seus dedos
pareciam fortes, capazes.
Eu segurei meu taser com firmeza e decidi me sentar
empoleirada na beira da minha mesa, em frente ao fogo, e
observá-lo.

— Ahh, — ele gemeu quando se virou na frente das


chamas. O som era como veludo líquido sobre a minha pele, e
tentei desesperadamente não mostrar a respiração profunda
que tomei. — Isso é maravilhoso, — continuou ele. —
Obrigado.

Fiz um gesto para os sapatos dele. — Você provavelmente


deveria tirar os sapatos e colocar na frente do fogo. Não tenho
meias que caibam em você. — falei, caminhando até o armário
de roupas no corredor ao lado da minha mesa, — mas você
pode jogar isso sobre os pés, se ajudar. — Joguei a ele uma
manta grossa que minha avó me fez quando eu tinha doze
anos. Era laranja brilhante, marrom e verde limão – horrível
da maneira mais perfeita, mas também o cobertor mais quente
que eu possuía. Uma pontada aguda no meu peito me fez sentir
falta dela como não sentia em anos, mas limpei a garganta e
me concentrei no assunto em questão. Senhor alto e moreno
tirando seus sapatos incrivelmente grandes na minha sala de
estar.

— Isso é maravilhoso, — disse ele, sorrindo para o cobertor


enquanto o segurava para examiná-lo. — Você fez isso?

— Não, — eu disse, rindo. — Foi um presente.

Ele afundou no tapete grosso em frente ao fogo e enrolou


o cobertor em volta das pernas. — Minha irmã Sophie está
sempre tentando fazer isso e adoraria saber como foi feito. Mais
uma vez, obrigado. — Ele tirou o paletó e colocou perto do fogo
para secar.
Eu balancei a cabeça porque tinha perdido a minha voz. O
homem era magnífico, mesmo sentado de pernas cruzadas na
frente dos troncos crepitantes, meio coberto pelo manto da
minha avó. Quem na Terra poderia parecer tão bonito? Ele
tinha totalmente essa vibração desarrumada de playboy com
aquela gravata desfeita pendurada no pescoço, e não da
variedade de gravata com prendedor. O negócio real.

Tudo nele gritava opulência e sexo. Realmente bom, sexo


arrepiante.

Não que você se lembre de como é isso.

— Então, — eu disse, colocando minhas pernas debaixo


de mim no canto da minha mesa. — De onde você é realmente?

— O sotaque revela isso?

— Um pouco, — eu admiti. — Mas não consigo descobrir


de onde. — Soava britânico com um leve tom de sotaque, mas
eu sabia que havia vários países cujos sotaques eram
semelhantes e não queria adivinhar errado e ofendê-lo.

— É um pequeno lugar chamado Elleston.

— Oh, — eu disse. Elleston não era exatamente pequeno –


mais ou menos do tamanho do Reino Unido. — E você está
visitando?

Ele limpou a garganta, segurando as mãos diante do fogo


mais uma vez. — Sim. Viagem de negócios. Eu precisava sair
da cidade. Foi assim que acabei aqui. — Ele deixou cair as
mãos e recuou para se encostar à mesa de café.
— Elleston tem rei e rainha? — Eu perguntei. — Como o
Reino Unido?

Ele assentiu. — Nós temos, de fato. — Havia uma nitidez


em seu tom que eu não entendi e decidi instantaneamente não
comparar seu país com o Reino Unido novamente. Talvez eles
fossem países em guerra, ou algo parecido. Política não era
realmente o meu forte.

Depois de alguns momentos de silêncio, ele seguiu seu


olhar pela minha sala de estar, olhando minhas estantes de
livros que ladeavam as paredes. Ele apontou para uma
prateleira em particular. — Você tem várias cópias dos mesmos
livros lá em cima.

Eu apertei os olhos antes de me concentrar nele. Essa era


a minha prateleira de estoque. — Esses são meus, — eu disse.

As sobrancelhas dele se ergueram. — Você é uma autora?

Eu assenti.

— Livros infantis? — Ele afiou o olhar no lado esquerdo da


minha prateleira de estoque, que continha todos os meus livros
infantis, mas ignorou totalmente os pequenos livros de bolso
pressionados à direita da prateleira. Aqueles com meu
pseudônimo na lateral.

— Sim, — eu respondi, me perguntando se ele faria a


conexão com os outros.

— Como você começou a fazer isso? — Ele perguntou,


aquele mesmo sorriso aparecendo em seu rosto como se fosse
o conceito mais fascinante do mundo.
Um sorriso lento se formou meus lábios, e olhei para o
taser em minhas mãos, brincando enquanto falava. — Eu
cresci amando livros. Todos eles. Qualquer coisa em que podia
colocar minhas mãos. Eu sabia que queria ser autora quando
tinha dez anos. Claro, demorou muito mais do que isso para
realmente divulgar minhas histórias... — Eu respirei fundo. —
Mas aconteceu.

— Isso é absolutamente fascinante. — Ele se levantou e se


aproximou da prateleira. — Posso? — Ele perguntou,
apontando para os livros de figuras.

— Continue. — Acenei para ele, mas interiormente me


encolhi. Era difícil alguém olhar para o meu livro bem na
minha frente – ter um homem vestido de smoking
devastadoramente bonito e totalmente apropriado virar as
páginas com os dedos? Era absolutamente enervante.

Ele andou com o livro e parou em frente ao fogo,


aquecendo as costas enquanto sorria e via o meu trabalho.

As ilustrações fizeram o trabalho. Eu sabia que minhas


palavras não seriam nada sem o artista que ajudou a criar o
mundo para mim, e eu tinha certeza de que era isso que ele
estava concluindo enquanto o examinava. Também não me
incomodou – sabendo que a obra de arte era o que vendia os
livros – porque eu tinha minha outra linha de histórias que
consistia em apenas palavras. Os que escrevi exclusivamente
para mim, que satisfaziam todos os meus desejos de
sustento. Tive muita sorte de poder fazer o que amava, de
maneiras diferentes.

Ele riu de novo e eu balancei minha cabeça, girando o taser


na minha mão nervosamente. Uma risada por uma frase, uma
que eu escrevi, sempre enchia meu coração quando era tirada
naturalmente de um leitor.

— Isso é brilhante, — disse ele, apontando para uma


página aberta. — Essa linha aqui sobre as semelhanças entre
meninos e matilhas de lobos. Eu amo isso. Essa garota Alley é
demais.

Eu sorri e dei de ombros, e esperava que ele não pudesse


ver o rubor nas minhas bochechas. — Obrigada, — eu disse.

Ele fechou o livro. — Você deve amar o que faz.

Eu assenti. — Sou uma das poucas sortudas que diz que


acorda animada para fazer o trabalho todos os dias.

— Eu me pergunto como é isso, — disse ele, olhando para


baixo por um momento e o mesmo peso que eu tinha visto
antes em seus ombros, situou lá novamente. Eu não podia
imaginar em que negócio ele estava, mas pela aparência de
suas roupas e pela maneira como falava, eu apostaria meu
dinheiro em um negócio de vários bilhões de dólares. O tipo de
pressão resultante dessa posição deve ser astronômica.

— Bem, — eu disse, girando a arma novamente, meus


nervos se apertando a cada elogio que ele me dava. — O meu
é um trabalho executado com café e ideias. — Meus dedos
escorregaram na última rodada no taser e antes que eu
pudesse piscar, as pontas dispararam e pousaram logo abaixo
do peito dele.

Todo o seu corpo se endireitou, seus músculos tremendo


como se ele tentasse combater os milhares de volts atingindo
seu corpo de uma só vez. Um gemido alto ecoou por sua
mandíbula cerrada, e eu pulei da mesa. — Sinto muito! Oh
meu Deus, sinto muito! — Apertei instantaneamente o
interruptor, o cartucho disparando e desligando os volts.

Ele caiu como uma árvore bruscamente cortada, a cabeça


batendo na quina da minha mesa de centro de carvalho.

Eu cobri um suspiro com as mãos, meus olhos se


arregalando enquanto eu esperava segundos para ele se
levantar. Quando não o fez, eu caí de joelhos ao lado dele,
puxando com força seu corpo enorme para jogá-lo de costas.

Oh inferno, eu o matei!

Não.

Ele estava respirando. Suavemente. Fortemente. Seus


olhos estavam fechados e havia um pequeno corte no topo de
sua cabeça, mas ele estava respirando.

Nocauteado.

Brilhante.

Eu cuidei do seu corte, meio que esperando que o cotonete


o despertasse. Quando isso se mostrou ineficaz, eu bati na
bochecha dele algumas vezes.

Depois de uns bons vinte minutos tentando acordá-lo, sua


respiração se transformou em roncos estrondosos, e eu
desisti. Não havia chance de poder mover seu peso. Joguei o
manto sobre o peito largo, enfiando debaixo dos pés no
final. Apoiei sua cabeça em um travesseiro, meio tentada a
tentar beijá-lo para o acordar como em todos aqueles contos
de fadas, mas rapidamente pensei melhor na ideia.
Ainda assim, havia algo incrivelmente atraente em sua
boca...

Não! Não.

Recuei para o sofá, puxei minha blusa com mais força, e


esperei.

Deixe comigo para tropeçar no homem mais atraente do


norte de Nova York e depois o deixar inconsciente com um
taser.
O som crepitante do fogo me acordou. Pisquei para afastar
a névoa dos meus olhos e balancei a cabeça enquanto me
sentava. Onde... o que?

Um rápido olhar ao meu redor trouxe tudo de volta. Norte


do estado de Nova York. A cabana da mulher unicórnio. A
autora. Eu me virei e a encontrei me encarando, seus olhos
azuis impossivelmente, maravilhosamente arregalados, e seu
lábio inferior puxado entre dentes brancos e uniformes.

— Você me deu um choque. — Minha voz estava atada com


surpresa, mesmo considerando os eventos da noite.

Ela estremeceu. — Em minha defesa, foi um completo e


total acidente.

— Você me deu um choque, — repeti ainda chocado.

— Foi apenas um pouquinho. — Ela levantou o polegar e


o indicador separados por meia polegada.

Eu lutei contra o desejo de sorrir através da minha


perplexidade.
— Certo. Que horas são? — As cores suaves do amanhecer
entravam pela janela. Eu me movi para ficar de pé e minha
cabeça palpitava com a batida do meu coração.

— Oh, eu não faria isso ainda. Você bateu com a cabeça


quando caiu. — Disse ela, pulando da cadeira.

Meus olhos caíram para suas mãos, e ela as estendeu


vazias. — Estou desarmada, — disse com um sorriso de
desculpas.

Minha equipe de segurança teria tido um dia de campo


com ela. Eu nunca deixaria isso pra trás, quando viessem me
buscar pela manhã.

Sentei-me, meus dedos cuidadosamente sentindo o ovo de


ganso na minha cabeça. — Você é letal. Sabe disso, não é?

Seus dedos eram leves quando afastou os meus e


inspecionou o local. Porra, ela cheirava bem. Maçã, canela e
baunilha. — Eu o limpei e o sangramento parou.

— E meu peito? — Eu perguntei, sentindo mais do que


uma pontada nas minhas costelas. Havia duas pequenas
marcas na minha camisa.

— Bem, eu não tirei suas roupas, se é isso que você está


perguntando. — Ela se sentou sobre os calcanhares,
observando enquanto eu desabotoava minha camisa.

Eu não conseguia parar o sorriso que torceu meus


lábios. Eu deveria estar irritado, inferno, até com raiva que ela
literalmente me eletrocutou, mas eu não pude deixar de
encontrar algum humor na situação, mesmo que sua mesa de
centro tivesse me agredido.
Eu a ouvi assobiar antes de ver a marca por mim
mesmo. — Bem, se isso não dói para cacete, — eu disse,
encontrando as marcas de queimadura correspondentes na
minha pele no mesmo formato e tamanho exato de seu taser.

— Oh meu Deus, Oh meu Deus. Eu sinto muito.

Afastei o óbvio você não precisa me chamar de Deus, piada


e, em vez disso, balancei minha cabeça. — Está tudo bem. Não
estou morto.

Ela estendeu a mão para tocar as marcas, mas depois


pensou melhor, empurrando a mão para trás. — O que eu
estou pensando? Você é um estranho, e te dei um choque, bati
em você e quase te toquei. Meu Deus, é como a Miséria2
reversa, mas eu que sou Kathy Bates.

— Como? — Eu perguntei, a olhando com fascinação


enquanto ela passava as mãos pelos cabelos, expondo mais da
cor. Eu queria sentir os fios, observar o modo como mudavam
de cor em direção às camadas inferiores.

— Você sabe, Miséria? Stephen King?

— Entendi, e é o oposto, porque você é a escritora, e eu


sou o ferido.

— Exatamente! — ela disse, apontando para mim. Então a


testa dela enrugou. — Espere, você viu Miséria?

2
Miséria (br: Louca obsessão) é um filme estadunidense de 1990 do gênero suspense e
baseado no livro homônimo de Stephen King. O filme é sobre uma fã psicótica, representada
pela atriz Kathy Bates, que mantém um escritor cativo e o obriga a escrever suas histórias.
— Eu moro em Elleston, não em Marte. Temos filmes lá e
tudo. Estamos pensando em fazer o encanamento interno no
próximo ano.

Ela esfregou a testa. — Certo. Desculpa. Esta foi a noite


mais estranha da minha vida.

— Eu acho que eu poderia ganhar de você nisso. O que


você estava fazendo antes de eu chegar aqui?

Ela olhou de volta para a mesa no canto. — Eu estava


escrevendo. Tenho um prazo e meu cérebro sempre parece
funcionar melhor à noite.

— Sinto muito por ter te interrompido. Fique a vontade


para trabalhar. Prometo ficar bem aqui se você prometer não
me eletrocutar novamente.

Ela sorriu e meu coração parou. Meu Deus, ela era


perfeição.

— O que? — ela perguntou, percebendo meu olhar. Eu não


parei, em vez disso, observei todos os seus traços, desde o rosto
em forma de coração, nariz empinado e pele cremosa até o azul
elétrico dos olhos e cílios longos e grossos.

Eu estava atraído por ela, e não apenas pela aparência


dela. Oh não, havia algo aqui... uma eletricidade palpável que
me fazia pensar em como seriam as cores do cabelo dela em
minhas mãos. Como seus suspiros e gemidos soariam quando
eu a levasse.

— Apenas estou imaginando se os americanos escondem


todas as suas belas mulheres na floresta.
Ela piscou, depois quebrou nosso contato visual. — Eu
não saberia, pois meio que me escondi aqui.

— Do que você estava se escondendo? — Não diga seu


marido.

— Pessoas em geral. Não me dou bem em cidades lotadas


ou em qualquer lugar que não consigo encontrar um pouco de
silêncio. Meu cérebro está sempre ocupado em uma história e,
às vezes, isso nem sempre combina com o que está
acontecendo ao meu redor. Este lugar é minha pequena fatia
de silêncio maravilhoso.

— Me desculpe por ter invadido. — Eu entendi a


necessidade de paz e sossego.

— Se você não tivesse feito isso, estaria morto. Além disso,


o que você faria se não tivesse fugido da estrada?

— Eu provavelmente estaria de volta ao meu hotel em Nova


York, ouvindo minha mãe catalogar as várias maneiras pelas
quais a decepcionei enquanto meu irmão tentava encantar
qualquer mulher não aparentada que estivesse mais próxima.
— A verdade era que eu me sentia mais feliz onde estava. Ela
não sabia quem eu era. O que eu era.

— Você tem um irmão?

Eu assenti. — Sim, e duas irmãs. Todos mais jovens.

— Ah, o mais velho. Eu conheço o seu tipo. — Ela estendeu


a mão e puxou o cobertor do pequeno sofá, o envolvendo nos
ombros.
— Por favor, me ilumine, — eu disse, me mexendo para
poder me recostar no sofá.

— Você é responsável, ético, sujeito ao dever. Você carrega


mais do que deveria, porque sente as expectativas de todos em
relação a você e fica com ciúmes de seus irmãos mais novos
porque eles não têm as mesmas regras de merda que você tem,
e geralmente recebem um passe livre.

Bingo.

Minha cabeça inclinou quando ela sorriu lentamente. —


Eu acertei, não foi? — ela perguntou.

— Assustadoramente preciso. E você?

— Oh, eu sou uma criatura mais perigosa... a única filha.

— Mimada? — Imaginei.

— Estragada, — ela concordou com um sorriso. — Sou


vaidosa, teimosa, acostumada a seguir meu próprio
caminho. Não compartilho bem e nem consigo fazer o que
todos pensam que eu deveria. Daí minha cabana na floresta,
aqui.

— Uau. É isso que você usa para o seu perfil de namoro


online? Eu posso ver por que você está solteira aqui em cima
— eu provoquei.

— Ha! — ela jogou uma almofada em mim.

Desviei do projétil facilmente e ri. O som me pegou


desprevenido. Não era o riso praticado e educado que eu
esperava dar em público, nem era o tipo que minha família
provocava a portas fechadas. Era despreocupado e barulhento.
— Como você sabe que eu sou solteira? — ela perguntou.

— Você me deu um choque. — Apontei para as marcas no


meu peito. — Não ligou para um namorado, residente ou
não. Você fez isso sozinha como se estivesse acostumada a
estar sozinha.

Ela olhou para minha pele nua e ficou com o tom mais
bonito de rosa. — Eu fiz. Eu sou.

Era como se estivéssemos em nosso próprio planeta,


apenas nós dois cercados na neve. Quase como se o mundo
exterior não existisse. Se eu a conhecesse melhor, teria me
movido para beijá-la. Teria tomado seu rosto em minhas mãos
e beijado a boca que dizia coisas tão inapropriadas e
maravilhosas. Eu a teria provado, saboreado cada suspiro. Eu
teria roubado cada momento que pudesse.

Mas eu não a conhecia, e isso não era remotamente justo


porque ela não me conhecia.

Inferno, talvez seja por isso que eu gostei tanto dela. Eu


não conseguia me lembrar de uma época em que todos na sala
não sabiam quem eu era, não me atendiam, se curvavam a
cada maldito desejo. Colégio, faculdade de direito,
especialmente meu tempo de exército, eu sempre fui um
Wyndham – temido ou desejado por causa do meu título.
Mesmo Charlotte, por mais que eu a adorasse, nunca
pressionou.

— E sobre você? — ela perguntou calmamente como se


estivesse passando na ponta dos pés por uma placa de
invasão.
— Estou acostumado a cuidar de mim mesmo, mas nunca
estou sozinho.

— Namorada? — ela puxou as bordas do cobertor para


mais perto.

Pensei em Charlotte por um segundo e depois balancei a


cabeça. — Não. Sou solteiro, mas é complicado. — Talvez fosse
o fogo fraco, ou o suave amanhecer iluminando seu rosto, ou
o fato de que ela literalmente salvou minha vida na noite
passada, mas eu estava dizendo a ela coisas pelas quais a
maioria dos repórteres salivaria.

— Complicado como uma ex? Ou complicado como três


outras esposas em Utah?

Eu ri novamente, sentindo a tensão diminuir do meu


corpo.

— Complicado como se houvesse uma mulher com a qual


minha família gostaria muito que eu ficasse, mas somos mais
como irmãos.

— Bem, você conhece essas famílias poderosas, elas


gostam de se alinhar. Pelo menos nos livros que gosto de ler.
— ela disse com um encolher de ombros.

Meu estômago apertou. — E você sabe sobre a minha


família?

— Não, — ela respondeu, com os olhos abertos e


honestos. — Mas você apareceu na minha casa em um
smoking que custa mais do que o meu carro, então tenho
certeza de que o negócio da sua família envolve um pouco mais
do que a loja de bordados da minha mãe no Kansas. Por que,
você conhece minha família?

— Touché, — eu respondi com a cabeça baixa.

— A neve parou, — disse ela, olhando por cima da minha


cabeça para a mesma janela em que a vi na noite passada. Nós
dois paramos ao som de um carro subindo a estrada.

— E parece que sua carona está aqui, — disse ela, seu


sorriso torcido de tristeza quando avistamos o SUV preto
estacionando em frente à casa.

Com certeza, Oliver, meu segurança pessoal, saiu do


Escalade e caminhou até a porta, a neve até os joelhos. Então
ele se virou e acenou, e outro guarda apareceu e começou a
abrir caminho até a porta.

Eu balancei minha cabeça e me virei em direção ao fogo,


puxando meus sapatos ainda úmidos e os amarrando quando
ela abriu a porta.

— Senhor, — disse Oliver, uma nota sutil de piada em seu


tom quando ele arqueou uma sobrancelha para mim. — Teve
uma boa noite?

— Eu tive, obrigado, — eu disse a ele, deslizando meus


braços pelo meu paletó.

— Precisava de um pouco de ar fresco?

— Eu precisava. — Meus olhos brilharam para minha


salvadora unicórnio. Ela tinha sido a lufada de ar fresco que
eu estava procurando. Eu simplesmente não tinha percebido
isso. — Aproveitou sua noite de folga?
Os olhos dele se estreitaram. — É a última vez que tiro
uma noite de folga e deixo você nas mãos menos capazes da
equipe de segurança. Precisamos te levar de volta à cidade,
sua...

— Absolutamente, — eu disse alto, o interrompendo antes


que pudesse falar meu título e estragar o que eu tinha com
essa mulher.

Oliver revirou os olhos, mas entendeu. — Eu vou estar lá


fora, senhor.

— Obrigado, Oliver.

Ele balançou a cabeça, mas saiu.

— Oliver, hein? Puta merda. Todos os homens em Elleston


são tão lindos quanto vocês dois? Porque... droga. — Ela
balançou a cabeça lentamente.

Eu pisquei.

Ela pegou meu olhar e corou em vermelho brilhante. —


Posso oferecer um café para viagem? — ela perguntou.

— Não. Eu não poderia pedir nada mais do que você já me


deu. — Eu me aproximei dela o máximo que ousei, sem cruzar
nenhuma linha, e peguei a mão dela. Ela ofereceu, olhando
para mim sob aqueles cílios impossivelmente longos. —
Obrigado, — eu sussurrei enquanto levava a mão dela aos
meus lábios e beijava as costas. Extravagante, mas era
realmente apenas uma desculpa para sentir sua pele contra a
minha boca. Ignorando o protocolo, virei seu delicado pulso e
coloquei outro beijo na palma da mão, amando o pequeno
suspiro que ela soltou.
— O prazer foi meu.

Eu, relutantemente, soltei sua mão antes que ela


acidentalmente me desse um choque novamente. Ficamos
calados até chegarmos à porta da frente. — Estou em Nova
York por mais algumas semanas, e eu realmente gostaria de te
ver novamente, se pudesse, — disse a ela antes de pensar.

Pensar nas coisas gerava expectativas e


responsabilidades.

Suas sobrancelhas se ergueram e seu sorriso roubou


minha respiração. Deus, essa mulher era uma beleza, e não de
estufa, como as mulheres do meu círculo. Não, ela era uma flor
silvestre, vibrante ao sol, sem desculpas, crescendo apenas
para si mesma.

— Eu nem sei o seu nome, — disse ela, puxando o cobertor


para mais perto.

— Xander. — Eu devia a ela um sobrenome, e sabia disso,


mas a cada segundo que eu podia ficar com ela antes que
soubesse quem eu sou, tinha um gosto precioso.

— Willa, — ela respondeu.

— Willa, — eu repeti, apenas para experimentar. Até soava


como uma flor silvestre.

— Xander.

— Frio, — Oliver gritou do outro lado da porta.

Suspirei. — Isso é um sim? Eu posso ver você?

— Sem a hipotermia?
— Ou o taser.

Ela riu, e era mais bonito que sinos, harpas ou qualquer


porcaria que eu deveria amar. Tudo nela era genuíno e
inebriante.

— Eu vou pensar sobre isso, — ela desafiou.

— Você não tem ideia de quão convincente posso ser, —


respondi, meu sorriso instantâneo.

— Sim, sim. Te vejo se acabar em outra nevasca. — Ela


brincou quando saí.

Olhei para trás e a vi encostada no batente da porta, ainda


enrolada no cobertor, com um sorriso mais brilhante que o
próprio sol. — Vejo você amanhã à noite, Willa.

— Eu não concordei!

— Você irá!

Meu sorriso ainda estava firme quando entrei no SUV ao


lado de um Jameson que esperava.

— Prazer em te ver, irmão, — disse ele, sem rodeios.

— Alguém mais sabe onde eu estava? — Eu perguntei


quando saímos da garagem dela, a neve passando pelos pneus.

— Não, eu guardei seu segredo.

Suspirei. — E apenas uma equipe de segurança? Estou


impressionado com a sua restrição. — O SUV balançava para
frente e para trás enquanto descíamos a colina íngreme em
direção à estrada pavimentada e arada.
— Bem, a outra era necessária para desenterrar o meu
carro. — Ele me lançou um olhar sério.

— Desculpe por isso. Consegui dirigir bem até aquela


curva.

— Sim, tudo bem. E eu ouvi você fazer planos com a garota


americana antes de entrar? — ele questionou, deslizando seus
óculos de sol para que eu pudesse ver seus olhos, tão parecidos
com os meus, mas menos sobrecarregados.

— Eu fiz. Amanhã à noite.

— Amanhã à noite é o show no Carnegie Hall. O que? Por


que você está olhando assim para mim?

— Você sabe a melhor parte de ter um irmão gêmeo?

— Ser o mais bonito? — ele atirou de volta.

— Ter um substituto conveniente.

— Oh, porra, não.

— Vamos. Vá por mim. Charlotte quer ir, e eu odiaria


desapontá-la, mas eu estou indo ver Willa amanhã à noite. —
Eu queria mais dos seus sorrisos, honestidade, senso de
humor. Eu precisava dela como oxigênio para um homem
sufocando, comida para os famintos... qualquer clichê que eu
pudesse pensar, bem, era ela.

Jameson me estudou e depois suspirou, deslizando os


óculos por cima dos olhos e murchando contra o assento. —
Bem. Eu vou fazer isso. Mas apenas Charlotte pode saber.

— Ela saberia?
— Xander, ela consegue dizer a diferença entre nós desde
os seis anos de idade.

Eu balancei a cabeça, já pensando no presente que


arranjaria para enviar a Willa esta tarde. — Sim, tudo bem
então, mas apenas Charlotte.

— Concordo, e Charlie tem que manter suas garras


escondidas.

— Um, você sabe que ela odeia quando a chama assim, e


dois, ela não tem garras.

— Sim, isso você viu. — Ele suspirou. — Isso é perigoso,


irmão mais velho. Ela é americana, plebeia, e você não sabe
nada sobre ela.

Olhei pela janela quando o mundo varrido pela neve


passou rapidamente. — Sim, bem, ela não sabe nada sobre
mim, o que a torna ainda mais perfeita.
O aroma floral do buquê extravagante encheu a cabana, e
aquele maldito sorriso voltou aos meus lábios enquanto eu
relia o cartão.

Por favor me ligue.

- Xander

O número do celular dele estava listado abaixo do nome,


eu tracei o 'X', amando o jeito masculino que se inclinava para
baixo e feroz como se a mão dele não pudesse evitar de
pressionar com força o papel. Fiquei tocada por ter assinado o
cartão pessoalmente, e interrompeu meus pensamentos de
supor que empregados fazem tudo por ele, desde vestir ao café
da manhã, e até cartões de agradecimento.

Ele é bilionário. Seu terno caro e as menções aos negócios


da família me disseram isso. Juntamente com isso, ele era
poderoso. Ele saiu direto de um dos meus romances.

Eu não tinha parado de pensar nisso, desde que ele saiu


ontem de manhã. Eu até sonhei com ele – aqueles olhos
castanhos profundos, a linha de seus músculos, a tensão em
seus ombros enormes. Eu não poderia ter escrito um espécime
melhor.

Como foi que um bilionário acabou preso no frio na minha


porta? Essa foi a parte mais louca. Foi mais um ponto de virada
do que qualquer coisa que eu experimentaria normalmente, e
todo o encontro me fez questionar minha sanidade.

E agora ele queria que eu ligasse? Para quê? Havia alguma


questão legal, algum documento que eu tinha que assinar que
equivalia a um pedido de desculpas formal por quase ter
matado o solteiro bilionário mais cobiçado de Elleston? Ou
talvez fosse um buquê de silêncio, um suborno para me manter
calada sobre o nosso encontro inocente. Ele disse que havia
uma mulher com a qual sua família queria que se casasse.
Talvez ele não quisesse que saísse que passou a noite com uma
autora infantil, muito menos uma que atualmente tinha dois
livros entre os cem melhores da categoria erótica.

O pensamento enviou um aperto nervoso através do meu


peito, e enterrei meu nariz no lindo buquê de lilases, as pétalas
de lavanda suaves nas minhas bochechas.

Não, ele não teria enviado um arranjo tão lindo se sua


família estivesse prestes a me processar. Quando ele falou dos
negócios da família, poder irradiou através de seus olhos e
enviou um arrepio na minha espinha. Um lampejo de calor se
acumulou na minha barriga com a ideia de que o homem que
eu salvei ontem à noite do frio intenso poderia possuir tanta
autoridade flagrante, e ainda permanecer aberto e tranquilo,
nossa conversa não foi forçada.

Eu andei pela minha sala para aliviar a tensão entre as


minhas coxas e finalmente decidi colocar as flores na minha
mesa. Afundando na minha cadeira, enfiei um joelho embaixo
do queixo e olhei para os números no cartão. A curiosidade era
mais do que eu podia suportar. De qualquer forma, qualquer
interação adicional que o bilionário quisesse comigo seria pelo
menos um ótimo material para escrever.

A respiração nos meus pulmões vibrou depois que eu


digitei os números.

Ele respondeu após um toque, sua voz dominante


aquecendo minhas bochechas. — Willa, — disse ele, de alguma
forma sabendo que era eu.

Bem, eu não poderia aceitar isso.

Alterei minha voz um pouco, adaptando para o melhor


sotaque do sul que pude. — É o Sr. Xander, senhor?

Ele limpou a garganta e ouvi arranhar de tecido do outro


lado da linha, como se mudasse de posição. — Sim.

— Bom. Senhor, estou ligando da Daisy's and Pine para


falar do arranjo que você comprou esta manhã para ser
entregue a senhora Willa Collins.

— Sim, e? — O tom da voz dele apenas fez o calor da minha


barriga aumentar, e eu mordi meu lábio para parar de rir.
Pobre Xander. Ninguém deve ousar fazer uma piada com o filho
mais velho na empresa de sua família. Um rápido lampejo de
dúvida ameaçou congelar meu humor, mas eu continuei, já
comprometida.

— Não há nenhuma Willa Collins neste endereço,


senhor. A cabana está completamente vazia. Exceto que
encontramos um item na varanda dela.
— O que? — Sua voz era rouca, e lágrimas picaram as
bordas dos meus olhos por conter minha risada. — Que diabos
foi?

— Um taser. Cor de Rosa. Parece que foi usado


recentemente. Talvez tenha feito as malas com medo de ser
processada por quem ela machucou. — Engoli minha risada,
ainda segurando a voz. — Você quer que essas flores sejam
enviadas para alguém mais... elegante?

Um suspiro profundo e a risada mais sexy e completa que


já ouvi ecoou direto no telefone e ressoou profundamente no
meu peito. Eu me juntei a ele, não mais capaz de silenciar a
hilaridade que explodia dentro de mim.

Levou um minuto inteiro para ele respirar fundo e suspirar


meu nome novamente. — Willa. Diga que você pelo menos
gosta de lilases.

Um sorriso machucou minhas bochechas de tão largo. —


Depende, — eu disse, sorrindo para as lindas flores como se
eu estivesse olhando diretamente para ele. — Elas são uma
oferta de paz antes que alguém venha me prender? Ou antes
que eu receba papéis do tribunal? Algum aviso legal da sua
empresa ameaçando me processar?

— Não, — ele disse. — Claro que não. — Outra risada.


Respirei fundo, profundamente. — Mas, — disse ele, e eu parei
minha inclinação casual contra o assento, me sentando
completamente em linha reta. — Eu os enviei com um motivo
oculto.

— Oh, sério?
— Sim, — ele disse. — Eu não estava brincando. Quero ver
você de novo.

Meu coração pulou dentro do meu peito, um pequeno salto


que mergulhou até a minha barriga antes de encontrar seu lar
novamente. — Por quê? — Eu não pude segurar a pergunta, o
choque de seu interesse matando meu cérebro e filtro da boca.

— O que posso dizer? — ele riu. — Talvez eu goste de ser


espancado por você.

Meu corpo inteiro corou. A alegria em seus olhos ontem à


noite, quando conversamos depois que ele acordou, era
brilhante e selvagem, e quase parecia chocá-lo. Sabendo o
quão rico e poderoso ele era, eu entendi completamente sua
reação às brincadeiras fáceis que tivemos. Como a piada que
acabei de fazer, duvidava que alguém tivesse tido a ousadia de
falar com ele do jeito que eu falava, ou dar um choque nele,
mesmo que fosse um acidente.

O peso em seus ombros agora fazia sentido também, e o


meu próprio afundou, meu coração pesado pelas restrições
que ele deve viver todos os dias. Eu não conseguia imaginar
administrar uma empresa familiar, com tantos irmãos e
responsabilidades, sem falar em jogar toneladas de dinheiro na
mistura.

— Willa? — Ele perguntou depois que eu fiquei em silêncio


por algumas respirações por muito tempo. — Eu estava apenas
brincando.

Eu pisquei para longe do meu olhar, meus olhos ainda nas


flores. Brinquei com uma pétala, a passando pelos lábios. Eu
sabia que ele era rico, elegante e totalmente fora da minha liga,
e que apenas estaria aqui por algumas semanas em uma
viagem de negócios, mas uma parte de mim não resistiu à
chance de mostrar a ele um bom tempo. Um que não estava
roteirizado ou diretamente relacionado ao mundo formal dos
bilionários a que estava acostumado. Eu já deixei o homem
inconsciente e o fiz sangrar, e sem repercussões legais sobre o
evento, quanto mais dano eu poderia causar?

Seu coração.

A voz na minha cabeça sibilou um aviso, mas eu disse a


ela para relaxar. Eu não estava prestes a me apaixonar pelo
bilionário que poderia ser meu próprio príncipe encantado com
a maneira como fez meu coração disparar. Não. Eu apenas
queria vê-lo novamente. Talvez mostrar a ele um bom
momento. Fazê-lo rir um pouco mais antes de voltar a
administrar um pequeno império familiar.

— Você está livre hoje à noite? — Eu perguntei, sabendo


que ele provavelmente não estaria, mas sem querer esperar.

— Estou agora, — disse ele, com um sorriso em sua voz.

Bem, se isso não me derreteu.

— Perfeito. Estarei pronta às sete.

— Eu vou te buscar, — disse ele.

— Talvez eu deva dirigir, — eu provoquei.

— As estradas estão limpas. Minha equipe me pegou


ontem de manhã e não nevou desde então.

A imagem dos seguranças armados brilhou na minha


cabeça.
— Certo, — eu disse, torcendo a pétala nos meus dedos. —
Eles vão se juntar a nós hoje à noite também? — Eu sabia que
ele era poderoso o suficiente para merecer proteção, mas ele
estava sozinho na noite passada quando me procurou por
ajuda, e meus planos não se encaixavam realmente com uma
equipe de homens de terno com armas sob as jaquetas.

— Não. Vou me certificar disso.

— Perfeito, — eu disse. — Vejo você então.

Desliguei antes que eu pudesse perder a coragem e


cancelar a coisa toda. Meu coração disparou como se eu tivesse
corrido oito quilômetros em vez de concordar com um
encontro. Um conto de fadas como a noite passou pela minha
mente – vestidos de baile, luz das estrelas e champanhe – e
enquanto essa imagem parecia linda e divertida e algo que eu
nunca tinha conseguido fazer, eu a afastei.

Isso era algo que ele provavelmente fazia semanalmente.

Não, hoje à noite eu garantiria que Xander se divertisse.


Muita diversão. E se eu falhasse, bem, ele nunca iria ficar por
aqui, e eu saberia que tentei mostrar a ele algo diferente
enquanto estivesse aqui.

A fina camada de neve na minha entrada de carros


triturava sob as enormes rodas do Escalade preto exatamente
às 18h58. Espiei através das cortinas, minha respiração
saindo dos meus pulmões em um uivo completo ao ver Xander
abrindo a porta do lado do motorista.

Minha pele esquentou do topo da minha cabeça até a parte


inferior dos meus dedos dos pés, que estavam confortáveis em
um par quente de botas de moto. Ele estava sozinho e parecia
absolutamente delicioso em um suéter azul royal, calça preta
e botas. Eu sorri para os sapatos, feliz por ele ter usado algo
mais apropriado para o clima, em oposição aos ridículos
sapatos de noite passada.

O homem parecia bem de smoking e também em roupas


casuais de inverno. Ele tinha um braço escondendo algo atrás
das costas, e eu ficaria satisfeita em vê-lo envolver a mão livre
contra a minha porta, os bíceps flexionando sob o suéter, mas
ele me pegou olhando pela janela e puxei a cortina na frente
do meu rosto.

— Droga, — eu assobiei, e corri meus dedos pelos meus


cabelos. Eu tinha trançado metade dele, o enrolando no topo
da minha cabeça, permitindo que minha variedade de cores
por baixo aparecesse. — Olá, — eu disse enquanto abria a
porta.

Seu sorriso era meio lupino e meio sensual, mas cem por
cento de tirar o fôlego. Tudo sobre o homem era enorme. Sua
estrutura, as linhas angulares afiadas de seu belo rosto, até
suas mãos eram enormes. Eu apenas o tinha visto ontem, e,
no entanto, parecia que meus músculos estavam relaxados e
tensos só de vê-lo. — Para você, — disse ele, revelando a mão
que havia escondido atrás das costas.

Eu ofeguei uma risada. — É um mini! E rosa! — Peguei o


taser oferecido, a coisa que cabia facilmente na palma da
minha mão como um bebê do tipo que acidentalmente usei
contra ele na noite passada.

Ele riu. — Desde que eu já tinha enviado flores, — disse,


apontando para a pequena arma. — Imaginei que você poderia
ter outro. Um com menos voltagem, mas ainda tão eficaz.

Apertei meus lábios para conter o meu sorriso. — É como


se você me conhecesse, — eu disse, colocando o taser na minha
pequena bolsa preta e saindo para a varanda.

— Eu gostaria, — disse ele, com a mão nas minhas costas


enquanto me guiava para o lado do passageiro do SUV. O toque
era inocente, mas me aqueceu, apesar do frio do inverno no ar.

— Eu devo ter abalado seu cérebro, — provoquei,


afivelando meu cinto de segurança quando ele deu a volta para
o outro lado.

Ele levantou uma sobrancelha para mim, aqueles


profundos olhos castanhos se fixando nos meus com uma
força que me fez prender a respiração. — Por que você diria
isso? — Ele perguntou enquanto ligava o carro e colocava a ré.

Eu sorri. — Eu não sou aristocrata.

Quando ele freou para voltar à estrada, fechou os olhos


por um momento, e eu imediatamente me arrependi da piada.
Quando os abriu novamente, abriu os lábios para dizer algo,
mas eu o interrompi.

— Xander, — eu disse o nome dele, o testando na minha


língua, esperando que ele não se importasse. A tensão em seus
ombros relaxou um pouco, e continuei. — Você vai querer virar
à esquerda no final da estrada.
— O que? — Ele franziu a testa. — Consegui uma mesa
para nós no Trinity.

Foi a minha vez de ficar chocada. — Esse lugar precisa ser


reservado meses antes, — eu disse, sabendo que minha agente
já havia tentado nos conseguir uma mesa lá para um jantar
comemorativo de lançamento. Acabamos comprando pizza em
fatias em uma loja de tortas nas proximidades. Muito mais
meu estilo de qualquer maneira.

— Eu sei, — disse ele, um sorriso satisfeito nos lábios.

— Bem, eu aprecio o gesto, Xander, — disse o nome dele,


apenas para observar o modo como o pomo de adão dele
balançava em sua garganta. — Mas tenho outros planos para
você.

— Realmente?

Eu balancei a cabeça, cruzando os braços sobre o peito


para mostrar que eu não iria me mover.

Um estrondo baixo emanou de seu peito. O homem apenas


rosnou para mim?

— Vamos lá, vai ser divertido, — eu disse com um beicinho


exagerado.

— Eu realmente não me divirto.

— Não está acostumado a renunciar ao controle, está? —


Eu perguntei.

Ele balançou a cabeça lentamente, os lábios achatados.


— Mas vai desta vez, certo? Porque fazer do seu jeito seria
chato, e você não voltou aqui para ser chato.

Depois de um intenso olhar que me fez sentir como se ele


pudesse olhar diretamente através de mim, ele sorriu. — Fazer
do meu jeito nunca é chato, te garanto, Willa.

Olá, estômago vibrando.

Depois de uma viagem de vinte minutos de carro – ele


seguindo instruções como um campeão sem qualquer
frustração – estacionamos em um lote cercado por pinheiros
grossos. A neve brilhava à luz do sol, o branco e o verde
cintilante pareciam majestosos com as montanhas no
horizonte.

— O que é isso? — Xander perguntou enquanto corria pelo


SUV como se quisesse abrir minha porta. Eu já estava lá fora
esperando por ele quando chegou.

— Você nunca foi patinar no gelo antes? — Eu o olhei, meu


pescoço arqueando um pouco por causa do quão
extremamente alto ele era.

— Não, — ele admitiu. — Mas o que são todos os


caminhões ao redor?

— Ah, — eu disse, olhando os caminhões de comida


prateados e pretos ao redor da pista de patinação ao ar livre. —
Essa é a melhor parte deste lugar. — Coloquei um par de luvas
roxas antes de oferecer minha mão. — Confie em mim?

Ele colocou seu par de luvas pretas e sorriu. — Você é letal,


lembra? — ele brincou antes de pegar minha mão. — Eu devo
estar louco.
Apertei seus dedos, tão fortes e grandes se sobrepondo aos
meus. — Essa é a melhor maneira de viver, — eu disse, e o
puxei em direção à entrada.

Alguns momentos depois, amarramos nossos patins


alugados e fomos para o gelo. Ofereci a Xander minhas duas
mãos enquanto patinava para trás na superfície lisa, incapaz
de conter o meu sorriso enquanto o homem enorme lutava
diante de mim. Suas pernas eram longas e musculosas, e eu
tinha certeza de que se precisava superar alguém em uma
corrida, ele poderia totalmente, mas aqui no gelo, estava tão
rígido quanto uma árvore.

— Aqui, — eu disse, o puxando para mais perto de mim. —


Você tem que relaxar. Dobre seus joelhos. — Ele rosnou, o som
vibrando no meu núcleo, mas fez o que eu disse. — Agora
empurre o calcanhar do seu pé direito, lentamente. — Ele
olhou para baixo e para trás, seus olhos disparando para mim
e os patins uma e outra vez. — Bom, — eu disse enquanto nos
movíamos uma polegada. — Agora o outro. — Sorri quando ele
finalmente se acostumou com os patins, o gelo escorregadio e
os movimentos. — Veja, — eu disse, — você está perfeito.

Seu sorriso com certeza foi perfeito.

— Isso não é tão difícil, — ele finalmente disse, facilitando


os movimentos até que eu estivesse confiante o suficiente de
que ele poderia lidar com isso sem que eu o segurasse. Não é
como se eu pudesse parar seu corpo incrivelmente grande se
começasse a cair, mas eu poderia pelo menos diminuir a
velocidade.

Eu me virei para andar de patins ao lado dele, liberando


suas mãos. Ele balançou por um momento enquanto mantinha
os olhos em mim, mas imediatamente se endireitou. O sorriso
em seu rosto era genuíno, e eu não pude deixar de me
perguntar se o homem era bom em tudo que alguém pedia para
ele tentar.

— Quem te ensinou a andar de patins? — Ele perguntou,


escorregando um pouco e agarrando minha mão.

O calor subiu pelo meu braço como se eu pudesse sentir a


queimadura de sua pele através das luvas. Eu respirei fundo,
permitindo que ele entrelaçasse nossos dedos. — Minha vó.
Quando eu era pequena. Era algo que fazíamos juntas. Apenas
nós duas. — Engoli o pequeno nó na garganta, permitindo que
as lembranças moldassem um sorriso no meu rosto.

— Isso é legal, — disse ele. — Estou imaginando uma


mulher mais velha com sua ferocidade natural.

— É ela, — eu disse. — Ela me ensinou a nunca ficar à


margem da minha própria vida. Não colocar tanto peso no que
as outras pessoas pensavam e apenas seguir o que eu
queria. Foi por isso que me tornei autora, mesmo que todos ao
meu redor me dissessem que era suicídio financeiro.

— Essa deve ser uma maneira incrível de viver, — disse


ele.

Eu olhei para ele enquanto franzia as sobrancelhas,


imaginando o que era ser um bilionário que o fazia parecer
como se o mundo inteiro estivesse em seus ombros. Os outros
patinadores – adolescentes, casais e idosos – passaram por nós
em um ritmo mais rápido, embora eu não me importasse com
a facilidade com que nos movíamos. — Você obviamente
provou que eles estavam errados, — disse ele depois de um
momento.
Eu sorri porque o fiz. Os livros infantis eram as histórias
do meu coração e me serviram bem, mas os livros com
pseudônimos são o que me ofereceram a segurança que todos
duvidaram que eu teria. Além disso, o erotismo era para mim
– uma maneira de domar a paixão selvagem que
constantemente pulsava dentro de mim. Eu sorri para Xander,
sabendo que ele tinha visto os títulos na minha prateleira, mas
não tinha perguntado sobre isso.

— Você faz muito isso, não faz? — Ele perguntou quando


eu apenas sorri para ele.

— O que?

— Prova que as pessoas estão erradas.

— Tenho certeza de que ninguém nunca faz isso com você,


— eu disse em vez de responder.

Aquele sorriso de lobo apareceu no canto de sua boca


quando olhou para mim. — É difícil de fazer quando estou
sempre certo.

Eu ri, boquiaberta quando nos aproximamos de uma curva


para outra pista. — Talvez as pessoas tenham medo de dizer
que você está errado. Já pensou nisso?

— O tempo todo, — disse ele, a leve provocação deixando


sua voz.

— Bem, — eu disse, apertando sua mão para forçá-lo a


olhar para mim. — Eu não tenho medo de você.
— E por que você teria? — Sua risada voltou. — Sou
apenas um estranho no meio da noite, a quem você ficou feliz
em eletrocutar.

— Pela milionésima vez, sinto muito... — minhas


desculpas pararam na minha garganta quando viramos a
esquina, os olhos de Xander ainda estavam nos meus e nem
um pouco focados na curva. Eu fui para um lado e ele foi para
o outro. Bati em seu peito, o fazendo voar para baixo.

— Sinto muito! — Eu gritei novamente, meu corpo corando


em cima dele, com as costas contra o gelo.

Ele estremeceu mas abriu os olhos para me olhar. Engoli


em seco, acalmando meus movimentos frenéticos enquanto
suas mãos seguravam meus quadris. Um flash selvagem de
calor coloriu seus profundos olhos castanhos, e minha
respiração ficou presa.

— Eu entendi, — disse ele, sem fazer nenhum movimento


para se mover enquanto os outros patinadores passavam por
nós como um atropelamento.

— O que? — Eu perguntei, preocupada que ele tivesse


batido a cabeça com muita força.

— Você foi colocada nesta terra para me humilhar.

Eu ri, suspirando quando um sorriso sincero moldou seus


lábios carnudos.

Lábios dos quais eu não conseguia tirar os olhos.

Lábios dos quais eu estava muito perto.


Com o coração na garganta, balancei a cabeça. Abri minha
boca para me desculpar, mais uma vez, mas quando ele se
mexeu o suficiente para levantar a cabeça do gelo para me
olhar melhor, isso o trouxe tão perto que minhas desculpas se
transformaram em um beijo.

Uma carícia suave dos meus lábios aos dele. Um toque


faiscante, quente e formigante que fez meu corpo inteiro
zumbir. Ele mal teve tempo de fechar os olhos antes que eu
recuasse, subindo rapidamente e oferecendo a ele uma mão
para sair do gelo. O beijo não passou de um toque rápido, mas
foi o suficiente para provar que seríamos elétricos. — Eu
prometo que não estou tentando fazer isso, — eu disse quando
ele agarrou minha mão.

— O que? — ele inclinou a cabeça como se tivesse


esquecido tudo sobre a coisa da humilhação.

Estiquei o pescoço para olhar para ele – nos patins, ele


devia ter mais de um metro e oitenta e oito – e sorri. —
Humilhar você? Não é de propósito.

— Não? — Ele piscou algumas vezes, rindo. — Apenas para


me tentar então, — disse ele, embora foi tão baixinho que eu
poderia ter imaginado.

Demos mais algumas voltas em um silêncio que me


surpreendeu por se tão fácil. Em encontros passados, me senti
pressionada a continuar conversando porque não tinha
toneladas de histórias de festas, clubes ou eventos
corporativos. Sem sobrinhas ou sobrinhos para se apaixonar.
Nada realmente emocionante além das páginas em que eu
joguei minha alma. Muitas vezes eu me sentia obrigada a
compensar isso, mas com Xander, não tinha pressão. Eu
duvidava que ele quisesse falar sobre sua família ou os
negócios que claramente administrava – tenho certeza de que
ele tinha que fazer isso com muita frequência –, então, em vez
disso, encontramos esse ritmo agradável e suave que me
acalmava como um banho quente.

Essa imagem imediatamente se transformou em uma dele


no banho comigo, seu peito largo e musculoso brilhando com
bolhas, a luz das velas piscando sobre sua pele
bronzeada. Minhas pernas escorregando contra as dele
enquanto me movia sobre ele.

Fechei os olhos com força. Fazia muito tempo desde que


eu estive com um homem. Queria um homem. Ou até
considerei deixar alguém entrar novamente.

Eu nem o conhecia há mais de dois dias.

Eu estou perdendo a cabeça.

— Vamos comer, — eu soltei, assim me ajudaria a me


distrair das chamas lambendo o interior da minha pele com o
pensamento dele nu e molhado. Guiei ele para fora do gelo
antes que pudesse responder, mas ele suspirou de alívio
quando tirou os patins. — Fica mais fácil toda vez que você faz
isso, — eu disse, e corei com o quão sujo soou. Meus
pensamentos estavam em uma via rápida, e eu rezei para que
ele não soubesse. Eu culpei seu corpo alto, os músculos que
pareciam bons mesmo sob o suéter, e a maneira como seu
sorriso fez meu coração revirar. E aqueles olhos.

— Tenho certeza de que você poderia me colocar em forma


rapidamente, — disse ele, me colocando de pé depois que calcei
as botas. Andamos em direção à fila de caminhões de comida,
e eu gostei do olhar animado em seus olhos. Eu não podia
acreditar que ele nunca tinha comido em um caminhão de
comida antes ou que estava tão animado com isso, mas
mentalmente me dei um tapinha nas costas por escolher as
atividades de hoje à noite corretamente. — Por onde
começamos? — ele perguntou.

— Eles são todos incríveis, — eu disse.

— Você já experimentou todos?

— Sim, — eu disse com naturalidade. Ampliei meu olhar


para ele. — Às vezes, todos em uma noite.

Seus lábios se abriram antes que se transformassem em


um sorriso, seus olhos arrastando pelo comprimento do meu
corpo. Eu tinha curvas suaves das quais me orgulhava, e seus
olhos em mim só me fizeram querer mostrar mais. Ele
umedeceu os lábios. — Então vamos começar do início.

Quatro caminhões de comida depois, voltamos ao seu


Escalade, cheios e bêbados de boa comida local.

Ele abriu minha porta, me oferecendo sua mão para entrar


no carro. Hesitei, olhando o pouco de molho de churrasco no
queixo dele. Sorri, estendi a mão na ponta dos pés, e limpei
com a ponta do polegar antes de sugar a delícia.

Observar ele comer o sanduíche de carne de porco em toda


a sua glória desarrumada, foi uma experiência quase erótica –
ele estava tão hesitante no começo como se não soubesse como
lidar com a bagunça, mas depois se soltou e mergulhou, se
entregando completamente para a experiência completamente
divertida e frívola que eu tinha certeza de que ele estava
desesperado. Era algo sobre o peso em seus ombros que
diminuía a cada minuto que passava, e a maneira como seus
olhos brilhavam com cada novo item que pegávamos. Meu
coração amoleceu com o pensamento de hoje à noite ser a
primeira vez que ele se divertia de verdade em um tempo.

Uma brisa forte soprou em nós dois com ar frio, mas não
fizemos nenhum movimento para entrar no carro. Em vez
disso, cheguei mais perto dele, meus olhos nunca deixando os
dele. — Obrigada, — eu disse.

Ele franziu a testa. — Pelo quê?

— Por me deixar te levar para sair.

Ele sorriu e moveu a mão livre para o meu ombro,


descendo pelo meu braço e pela minha cintura. — Eu não me
divertia tanto assim... — Seus profundos olhos castanhos
ficaram distantes enquanto olhava para o lado, e quando essa
tensão enrolou em seu peito, fazendo os músculos rígidos
flexionarem, eu sofri com a luta em sua mente. Eu queria
acalmá-lo, embora soubesse que não tinha o direito.

Porém, isso nunca me impediu de ir atrás do que eu


queria.

Estendi a mão, envolvi meus dedos em seu pescoço e o


puxei para minha boca. Eu o beijei forte, feroz e com
fome. Nada como o beijo suave do gelo. Não, isso era real e cru,
e eu praticamente ronronei quando ele abriu a boca e me
deixou entrar. Sua língua passou sobre a minha, e o calor
enrolou no meu núcleo. Ofeguei entre os lábios dele, inalando
o ar frio que só fez seu toque muito mais quente.

Ele agarrou meus quadris, um estrondo saindo de seu


peito enquanto aproximou nossos corpos corados sem
interromper o beijo, e eu não pude deixar de saborear a
sensação dos seus músculos contra mim, o leve aperto de seus
dedos quando assumiu o controle do beijo.

Puta merda. Agora eu sabia por que o homem gostava de


estar no controle. Ele era bom nisso.

Um suspiro de corpo inteiro.

Uma faísca de formigamento no meu sangue.

Uma dor que se contraiu mais forte do que qualquer coisa


que já conheci.

E foi apenas um beijo. Aparentemente inocente com a


quantidade de camadas de roupa que ambos usávamos. Mas
sua boca estava quente, insistente, e tão carnal quanto nos
livros que escrevi.

Muito cedo, ele se afastou, segurando meu rosto, seus


olhos olhando profundamente nos meus. Eu sorri para os
flashes selvagens de ouro em seus marrons em
turbilhão. Nesse momento, não importava que ele fosse um
bilionário estrangeiro com a partida prevista para menos de
duas semanas. Não importava que eu fosse uma escritora com
cinco cores diferentes no meu cabelo. Tudo o que importava
era aquela tensão em turbilhão no meu peito, e aquela
explosão de desejo em seus olhos que gritava que ele sentira
isso também.

Dane-se o taser. Nós já éramos elétricos.

Eu me enrolei em torno da sensação, a guardando para


mais tarde.

— Como eu disse. — Entrei no carro. — Obrigada.


— Eu estou feliz por termos chegado a um acordo. — O
Secretário de Estado apertou minha mão e eu forcei um
sorriso. Eu amava americanos, mas lidar com esse em
particular me fez sentir que precisava de um banho.

— Assim como eu. — Fiz um gesto em direção à porta e


inclinei a cabeça. Ele saiu comigo e, com um aceno de cabeça,
desapareceu com seu segurança no elevador.

Eu odiava fazer negócios na suíte, mas meu pai sempre me


dizia que as salas de estar eram as melhores salas de
conferência. Como sempre, ele estava certo.

Os americanos não queriam ceder, mas eu também não.


No final, nós dois cedemos coisas que queríamos para
conseguir as coisas que precisávamos.

A porta se fechou e eu me recostei na parede, parando um


momento.

— Isso demorou uma eternidade, — eu disse a Jameson,


de onde ele estava sentado no sofá, lendo o New York Times.
— Pesada é a cabeça que usa a coroa, — ele respondeu
sem olhar para cima.

— Alexander, — mamãe retrucou enquanto saía do seu


quarto.

Lá se foi o momento para mim.

— Mãe? — Forçar um sorriso estava se tornando cada vez


mais fácil, e eu estava começando a me odiar por isso. Os
sorrisos, o relacionamento que ela queria me forçar a ter com
Charlotte – falso estava se tornando meu novo real.

Mas Willa é real.

— Você quer que eu tenha suas coisas embaladas para a


viagem a Los Angeles?

— Não tenho intenção de ir para Los Angeles, — disse a


ela. Tenho toda a intenção de ver Willa.

— Bobagem, — ela me dispensou quando sua secretária


apareceu com Charlotte, e com a agenda na mão. — Temos
dois jantares e um evento de caridade para participar.

Charlotte levantou uma sobrancelha para mim e soltei um


suspiro que provavelmente foi ouvido na Quinta Avenida.

— Estamos saindo em algumas horas, Alexander. Vou


providenciar para que seja feito as suas malas. — Mamãe saiu
com sua secretária.

— Eu não estou indo para LA, porra — eu rosnei.

Jameson olhou para mim por cima do jornal. — Certo.


Charlotte pegou um travesseiro no sofá e bateu na parte
de trás da cabeça dele.

— Ai! Por que diabos foi isso?

— Por ser um idiota. — Ela voltou sua atenção para


mim. — Claro que você não vai. Jameson assumirá seu lugar,
e você terá alguns dias aqui em Nova York para si mesmo.

— Eu nunca disse -

Ela bateu nele com o travesseiro novamente.

— Pelo amor de Deus, mulher!

— Faça algo de bom para ele! — ela gritou.

— Você não acha que se formos por três dias nossa mãe
saberá que sou eu?

Charlotte inclinou a cabeça de uma maneira que apenas


ela podia. — Altamente improvável. Ela mal olha para Xander
quando estão nesses eventos. Além disso, conseguimos isso na
noite de anteontem.

— Para um compromisso! Não foi um fim de semana


inteiro.

— E daí? Se ela descobrir, não é como se fosse nos


delatar. Ela quer muito que o RP3 diga publicamente que o
príncipe herdeiro de Elleston andou por toda a costa oeste.

3
Sigla para Relações Públicas.
— E você acha que pode fingir, Charlie? Ser legal comigo
por um fim de semana inteiro como você é com Xander?

— Não. Me. Chame. De. Charlie. — Os olhos dela se


estreitaram por um momento. — Se você pode lidar com isso,
eu também posso.

Jameson gemeu, mas algumas horas depois, eu estava


sozinho na suíte do hotel... bem, o mais sozinho que pude ficar
com um segurança do lado de fora.

A porta se abriu e Oliver entrou.

Merda.

— Bem, senhor. Como você gostaria de passar a noite? —


Oliver perguntou.

— Você não deveria estar no voo para LA? — Eu perguntei,


imitando meu melhor rosto de Jameson.

— Bem, visto que não sou designado para Jameson, não.


Acho que vou ficar bem aqui.

— Porra.

Ele riu. — Não se preocupe. Eles enganaram sua


mãe. Agora, sobre a sua noite?

Willa. Eram sete da noite, cedo o suficiente para... bem...


qualquer coisa.

— Eu tenho algumas ideias.


Parei no saguão do palácio duas horas depois, meus
polegares nos bolsos, olhando a porta como um falcão.

— Muito nervoso? — Oliver perguntou de onde estava logo


atrás de mim.

— Cale-se.

— Você está arriscando muito trazendo ela aqui, — ele


disse suavemente. Se fosse qualquer outra pessoa, eu teria
surtado, mas Oliver tem sido meu segurança pessoal por anos.
Ele era apenas um ano mais velho do que eu, e foi por isso que
eu o solicitei, e porque ele não exalava a vibração
paterna. Claro, ele era meu guarda, mas também era uma das
poucas pessoas em quem eu confiava como meu amigo.

— Algumas coisas valem o risco. Eu apenas tenho mais


dez dias aqui antes de voltarmos para casa, e então tenho uma
vida inteira de... — Balancei minha cabeça, incapaz de
completar a frase. A reunião de hoje com o Secretário de
Estado me ensinou que eu era bom em minha profissão
iminente, que tinha a cabeça certa, o coração certo e a
capacidade de ser o que meu povo precisava.

Eu seria um bom rei.

Eu também fui um bom advogado de direitos


humanos. Melhor da minha turma. Mas eu poderia deixar isso
ir. Afinal, eu poderia fazer muito mais como rei do que como
um simples advogado. Eu poderia influenciar o Parlamento
nas leis de refugiados ou pressionar diretamente a ONU
novamente. Eu poderia fazer um bom uso da coroa.

Mas nos últimos dias, quando imaginei quem usaria a


coroa ao meu lado, não era o cabelo castanho de Charlotte que
eu via. Era uma loira com cores de unicórnio e a boca mais
afiada que já ouvi... e a mais doce que já provei.

Aquele beijo me nocauteou e aparentemente confundiu


meu cérebro um pouco. Eu sabia muito bem que apenas
podíamos ser temporários – que eu precisaria contar a ela
sobre mim. Ela poderia tomar a decisão depois de conhecer os
fatos.

Em menos de duas semanas, eu voltaria a Elleston.

Em menos de três meses, eu estaria noivo.

Antes que eu pudesse pegar o trem da autocomiseração,


Willa entrou. Suas bochechas e nariz estavam rosados, e a
neve ainda pontilhava o chapéu que ela usava e pendia nas
costas. Ela parecia do mesmo jeito que eu pensava que seria o
Natal em Nova York.

Seu sorriso era radiante enquanto ela caminhava em


minha direção, puxando uma pequena bagagem atrás
dela. Naquele instante, eu pude respirar novamente. Todo peso
que me segurava desapareceu e meu peito se expandiu com o
ar que cheirava muito a esperança.

Eu não questionei, apenas aceitei o fato de que ela tinha o


efeito mais destruidor em mim, e eu gostei.

Ela não parou, apenas caminhou até mim, soltou sua mala
e me beijou, com os dois braços em volta do meu pescoço. Os
meus foram ao seu redor em reflexo, puxando seu corpo gelado
contra o meu mais quente.

Seus lábios estavam frios e macios, e eu mal me contive de


implorar para entrar em sua boca. Ela tinha um gosto feliz,
igualmente ao meu. Eu não tinha percebido o quanto senti sua
falta até que ela estivesse em meus braços novamente.

— Senhor, — a voz de Oliver rompeu através da minha


névoa.

Foi um lembrete gentil de que estávamos em um local


muito público – independentemente do fato de que se presumia
que eu era Jameson. Eu até baguncei meu cabelo o máximo
que pude suportar. Eu quebrei nosso beijo, prometendo a mim
mesmo que a beijaria mais forte, mais longo, depois.

Havia algo a ser dito sobre antecipação.

— Ei, você, — ela disse com um sorriso quando se afastou.

— Ei, você, — respondi.

— Não tenha ideias. — Ela levantou uma sobrancelha. —


Você me prometeu meu próprio quarto.

Eu lutei contra o meu sorriso – e falhei. — Eu não faço


suposições.

— Bom. E estou faminta.

— Eu tenho o jantar esperando lá em cima, — prometi


enquanto a levava ao nosso elevador privado.

— Você está comendo conosco, Oliver? — ela perguntou.


Eu adorava isso nela – que se lembrava do nome
dele. Como ela falava com todo mundo, sem fazer suposições
sobre posição.

— Não, senhora, — disse ele enquanto apertava o botão da


cobertura. — Eu apenas peguei o suficiente para vocês dois. Na
verdade, tenho um encontro com Clementine hoje à noite.

— Ooh, ela é bonita? — Willa perguntou enquanto o


elevador nos levava para cima.

— Bem, ela é minha 9mm, então eu a acho linda, — disse


ele com uma piscadela. — Ela precisa de uma boa limpeza.

— Oh, — disse Willa. — Divirta=se?

— Oh, ele vai. — Eu ri.

O elevador parou no nosso andar e as portas se abriram


diretamente em nossa suíte. Oliver saiu primeiro, puxando a
mala de Willa com ele. Deixando a mala ao lado do sofá e, em
seguida, continuou com seus negócios, verificando os quartos
como de costume. Como se houvesse algum assassino disposto
a me pegar por algum motivo aleatório. Afinal, o movimento
antimonarquista era uma ameaça política, não física.

— Puta merda, — Willa disse suavemente, se virando


lentamente para absorver a suíte. — O que exatamente você
faz? Administra uma corporação de bilhões de dólares? Um
pequeno país?

Não muito longe da verdade.

— Algo parecido.
— Tudo limpo, senhor, — disse Oliver. — Eu estarei no
meu quarto, se precisar de mim.

— Obrigado, — eu disse a ele quando saiu.

— Onde fica meu quarto? — Willa perguntou, ainda


estudando nosso ambiente.

— Ali. — Apontei para a porta mais distante que levava a


uma sala adjacente. — Jantar ou quarto? — Perguntei.

— Jantar, — ela respondeu, já indo para a sala de jantar,


onde a mesa formal esperava com pratos de prata servidos. Ela
colocou o casaco sobre a cadeira, revelando um vestido roxo
que eu queria tirar do corpo dela. Acariciava suas curvas de
maneiras que eu estava desesperado para fazer, a tentação de
suas coxas que minha língua estava ansiosa para provar.

— Está servida, minha senhora, — eu disse, retirando a


tampa do prato enquanto ela se sentava.

O riso dela foi a melhor coisa que ouvi o dia todo.

— Você comprou cachorros-quentes?

— Alguém me disse que a comida local era a melhor. Eu


mandei Oliver rastrear o melhor carrinho de cachorro-quente
da cidade. — Me sentei em frente a ela depois de nos servir um
copo de vinho.

— Ohmeudeus, — ela murmurou, devorando o cachorro-


quente.

— Que bom que ele nos trouxe cerca de uma dúzia, então.
— Eu sorri antes de comer o meu. Eu amei o quanto ela amava
comida. Que ela nunca era autoconsciente, nunca se
preocupou com o que as pessoas ao seu redor pensavam. De
certa forma, ela estava muito mais confortável consigo mesma
do que eu.

— Por que você não quer administrar os negócios da


família? — ela perguntou depois de comer o suficiente, se
recostando na cadeira. — Especialmente quando isso o
mantém em suítes de cobertura e cachorros-quentes.

— Acho que para realmente querer algo é preciso ter uma


escolha – uma oportunidade de saber o que você deseja. A
escolha nunca foi minha. — Torci a haste do copo de vinho nos
dedos, observando a luz suave tocar sobre sua pele macia e
dançar em seus olhos.

— O dinheiro? As regalias? O Oliver? — ela perguntou. Não


havia ganância em seus olhos, nenhum cálculo, apenas
interesse genuíno.

— Nunca deixaria de ter dinheiro, mas sei que poderia ser


feliz com muito menos. As vantagens podem ser fantásticas,
mas têm um preço. E às vezes Oliver é esse preço. Você
renuncia a sua privacidade pela segurança e das suas escolhas
para o bem da... família. E eu tinha uma carreira que amava
antes de ser chamado para casa.

— E o que era isso? Batman?

— Sou advogado de direitos humanos por profissão.

Os olhos dela se arregalaram. — Então, Batman. Você é


basicamente o Batman. Você poderia ser mais perfeito?

— Eu não sou perfeito. E você? Seus pais têm orgulho de


você ser autora?
Ela corou lindamente, seu olhar se afastando do meu. —
Sim, eles estão orgulhosos. Mamãe gosta de levar meus livros
para as escolas primárias locais. Eu sei que eles desejam que
eu me aproxime, mas uma vez que você tem esse gosto de
liberdade, de estar por conta própria, é difícil voltar. Mesmo
quando vou para casa nas férias, apenas consigo ficar por uma
semana antes de estar desesperada para sair de lá e voltar para
onde as únicas expectativas que tenho são minhas. Eu não
aceito muito bem as regras de outras pessoas.

Ela me estudou por um momento antes de se afastar da


mesa e dar a volta para o meu lado. Com esses movimentos
simples, o ar entre nós aumentou para um nível palpável de
eletricidade.

Eu a observei a cada movimento, meus olhos atraídos pelo


movimento de seus quadris, o balanço de seus seios sob seu
decote. Ela fez um gesto e eu recuei minha cadeira bem a
tempo dela me montar.

Minhas mãos voaram para seus quadris, meus dedos


cavando a carne macia. Deus, ela se sentiu bem. Suas curvas
eram perfeitamente proporcionais, e eu sabia sem dúvida que
ela se sentiria como o céu debaixo de mim, me cercando.

Seus braços envolveram meu pescoço, seus olhos fixos nos


meus com um olhar mais íntimo do que a nossa posição atual
– que estava prestes a ficar muito mais desconfortável muito
em breve se ela não tirasse essa bunda perfeita do meu colo.

— Willa? — Eu perguntei suavemente. Eu não a trouxe


aqui para transar com ela. Não que eu fosse me opor se fosse
assim que a noite passasse. Eu não era Jameson. Não usava
meu título para transar, mas também nunca levei uma mulher
para a cama que não sabia quem eu era.
— Xander, — ela sussurrou. As mãos dela passaram pelo
meu cabelo. — Isso é melhor.

— O que é melhor? — Suas coxas se mexeram, seu vestido


subiu, e definitivamente não era melhor. Eu estava ficando
mais duro a cada segundo.

— Você sempre parece estar carregando o peso do mundo.


— Ela beijou minha bochecha. O gesto terno me atingiu bem
no peito. — Especialmente quando pergunto sobre sua família,
como agora.

— Talvez não o mundo -

Ela colocou o dedo sobre os meus lábios e eu me acalmei.

— Mas quando você me beijou, senti o peso diminuir, sua


concentração mudar.

Um canto da minha boca subiu. — Você tende a consumir


minha atenção. — Era impossível tê-la por perto, muito menos
perto, e não se distrair com ela.

— Bom, — ela disse suavemente.

Sua boca encontrou a minha com um frenesi que eu


respondi por completo. Dei-lhe o controle por alguns segundos
até sentir sua língua deslizar ao longo da minha. Então a
brincadeira acabou.

Enrosquei meus dedos em seus cabelos e inclinei sua


cabeça para que eu pudesse beijá-la mais profundamente. Ela
gemeu na minha boca, e a ereção nas minhas calças não era
mais um pensamento, estava em atenção total. O beijo foi
quente, abertamente carnal, uma combinação de dentes e
língua, lábios e suspiros.

Seus quadris balançaram sobre os meus, e então eu era o


único que gemia, uma das minhas mãos deslizando por suas
curvas até que eu tivesse um aperto firme em sua bunda. Movi
minha boca ao longo de sua mandíbula para a pele macia de
seu pescoço. Ela choramingou quando chupei o local que
encontrava sua clavícula, e suas mãos se apertaram no meu
cabelo.

Não havia lógica aqui. Sem motivo. Havia apenas Willa e a


química insana que tínhamos juntos.

E ela não tem ideia de com quem realmente está lidando.

Me agarrei ao pensamento enquanto me recostava,


colocando uma pequena distância entre nós. — Willa, pare, —
me forcei a sair, mesmo que fosse a última coisa que eu queria
fazer.

— O que está errado? — ela perguntou. Seus olhos


estavam enevoados, seus lábios inchados pelo meu beijo, e eu
nunca a tinha visto mais bonita ou mais fodível.

— Nada. Apenas acho que há coisas que você deve saber


sobre mim...

Ela puxou o lábio inferior entre os dentes e sorriu de uma


maneira que a aterrissaria na minha cama antes que eu
pudesse dizer outra palavra maldita.

— Willa.
— Você é um mafioso? — ela perguntou, abrindo o
primeiro botão da minha camisa.

— Não. — Mas eu administro uma economia inteira.

— Você é um criminoso?

— Não. — A menos que você ouça os antimonarquistas em


Elleston.

— Um assassino?

— Não. — Eles me mantiveram longe da linha de frente.

Ela pegou minhas mãos e as colocou na cintura. — Então


toque agora. Fale mais tarde.

Sem quebrar o olhar, me levantei, erguendo-a contra mim.


Equilibrei seu peso com uma mão debaixo da sua bunda,
enquanto a outra varreu a louça ao longo da mesa. Eu a
coloquei na mesa de madeira e gemi ao ver suas coxas macias
enquanto a barra de seu vestido desistia da batalha e se dirigia
para sua cintura.

Eu a beijei, fundindo nossas bocas até que nós dois


estávamos ofegantes. Então abri o zíper de seu vestido,
enquanto meus lábios beijavam um caminho até o decote e,
em seguida nas taças rendadas do sutiã quando o vestido se
abriu.

— Porra, você é perfeita, — eu disse com reverência


enquanto segurava os globos redondos de seus seios.

— Mais, — ela instruiu, arqueando em minhas mãos.


Em um mundo onde eu dava todas as ordens, me vi
disposto a fazer qualquer coisa que ela pedisse – apenas para
agradá-la. Mas tocá-la, caramba, se isso não me agradou mais.

Baixei um lado do sutiã rendado para revelar a ponta


rosada do mamilo e quase gemi. Claro que ela seria
requintada. Tudo sobre essa mulher foi projetado para me
tentar e me provocar, quase como se eu a tivesse conjurado de
uma fantasia.

Eu tinha que prová-la.

Minha mão deslizou por sua coxa enquanto meus lábios


cercavam seu mamilo e lambiam a carne enrugada. Minha
língua lambeu e chupou enquanto suas mãos me seguravam,
seus gemidos me incentivando. Sua coxa era tão macia, flexível
e eu quase me empurrei contra a mesa quando meu polegar
varreu para cima e sobre uma calcinha fio dental rendada,
muito molhada e muito pequena.

— Porra, Willa.

— Sim, por favor. — Sua respiração ficou presa na última


palavra quando seu corpo se balançou contra mim.

Isso era insano. Fora de controle. Imprudente. E


fodidamente impecável.

Batida. Batida. Batida.

— Ignore, — ela implora.

— Eu não posso, — eu disse, amaldiçoando cada grama de


sangue real que corria em minhas veias. Poderia ser apenas
uma pessoa, e Oliver só estaria aqui se fosse urgente. Levantei
as alças do vestido e fechei o zíper nas costas. — Entre, — eu
gritei.

Oliver entrou e imediatamente se virou para encarar a


porta.

Não que eu o culpo. Se eu entrasse para encontrar um


homem com um pau duro desse tamanho, daria a ele um
pouco de privacidade também.

— O que é isso?

— Sinto muito te incomodar, senhor, mas há uma situação


em que você precisa ser informado.

— Minha família? — Eu perguntei, minha garganta se


fechando um pouco. Ainda não haviam chegado de Los
Angeles, e Brie e Sophie ainda estavam na Europa.

— Não, senhor, eles ainda estão a caminho de Los


Angeles. Foi em casa. Antimonarquistas.

— Porra. — Eu fervi. — Sophie?

— Segura.

Alívio tomou conta de mim. Brie ainda estava em Mônaco


com o modelo que ela escolhera para a semana.

— Se eu pudesse ligar a televisão, senhor?

— Continue.

Enquanto Oliver se dirigia para a sala – sem dúvida para


trazer a notícia –, peguei o rosto chocado de Willa em minhas
mãos.
— Por que você precisaria saber sobre antimonarquistas?

— Era isso que eu queria te contar. Meu nome completo é


Alexander Wyndham.

— Wyndham... — seus olhos se arregalaram. — Como


em…

— Como o príncipe herdeiro Alexander Gabriel Edward


Wyndham, o quarto de Elleston.

— Você é um príncipe. — Se seus olhos ficarem maiores,


como se pudessem cair. Mas não havia cálculo lá, nenhuma
avaliação ou especulação imediata. Apenas puro choque.

— Eu sou um príncipe.

— Como um príncipe real.

— Existe algum outro tipo?

— Eu consigo pensar em músicos4, piercings


anatômicos5...

Acariciei meus polegares sobre sua bochecha, saboreando


o rubor que eu havia trazido para suas bochechas há alguns
minutos. — Eu sou o tipo real de príncipe.

4
A personagem se refere ao cantor Prince, que significa Princípe.

5
Referência ao piercing íntimo masculino de nome Prince Albert.
Ela engoliu em seco, os olhos correndo para onde Oliver
mudou o canal para as notícias do mundo. — Você é um
príncipe. E eu sou... sou uma camponesa.

Eu ri antes de ver o quão mortalmente séria ela


estava. Então, eu rapidamente fiquei sério. — Não chamamos
mais as pessoas de camponeses, Willa. Não o fazemos há
algumas centenas de anos. O sistema feudal está fora.

Ela arqueou uma sobrancelha para mim, graças a


Deus. Minha americana ardente estava saindo de seu
choque. — Tudo bem então. Uma plebeia.

Inclinei para a frente e a beijei suavemente, deixando meus


lábios permanecerem sem pressão. — Você é tudo menos
comum.

Ela suspirou contra a minha boca e eu quase deu outro


beijo antes de Oliver me chamar. — Encontrei.

— Ótimo, — murmurei. Eu olhei nos olhos mais azuis que


já vi e sorri. — Vou responder todas as perguntas que você
possa ter, mas agora preciso ver o que estão tentando destruir
desta vez.

Provavelmente eu, como sempre.

— Posso ir assistir também? — ela perguntou. — Ou você


precisa fazer isso sozinho?

Era apenas notícia, nada que ela não pudesse ver se


pesquisasse no Google. Os comunicados que inevitavelmente
começariam em poucas horas eram uma história diferente.
— Por favor, — eu disse, a ajudando a sair da mesa. Ela
estendeu a mão e, com o contato, meus ombros caíram um
pouco, apenas a mínima sugestão de relaxamento, mas foi o
suficiente.

Até eu ver o que tinha acontecido. Houve manifestações


antimonarquistas em nossa capital, a cidade de Rhyston e,
dado o que as notícias estavam mostrando, os
antimonarquistas não eram mais apenas uma ameaça
política. Eram físicos.

— Xander, — Willa sussurrou.

— Vai ficar tudo bem, — eu disse a ela, pressionando um


beijo em sua têmpora antes de pegar um telefone.

Pela primeira vez, fui para uma situação que eu precisaria


lidar sozinho, mas não me senti sozinho. Eu tinha Willa.
Ele é um príncipe.

Não um bilionário, um príncipe.

Espere, ele era os dois, eu imaginei.

Sentei-me ao lado dele na sala de estar da suíte da


cobertura, apenas uma pequena parte de mim assistindo a
reportagem na tela plana. O resto de mim, como se meu
coração também tivesse olhos, observou Xander. Príncipe
Alexander de Elleston, enquanto absorvia os conhecimentos
vindos da televisão.

O som de seu nome formal e adequado soou através dos


alto-falantes, e algo torceu no centro do meu peito enquanto
eu observava a tensão em seus ombros
retornar. Suspirei. Meus movimentos anteriores para aliviar
essa tensão nele haviam desaparecido.

E agora, sabendo quem ele era... eu entendi melhor o peso


que o mantinha em pé como se estivesse sempre se preparando
para o impacto. Mas também, agora que eu sabia quem ele
era... eu não entendi, não conseguia nem começar a entender
o estresse que ele suportava diariamente. Não era mais o tipo
CEO bilionário que eu imaginava, ele realmente tinha pessoas.
Pessoas que dependiam dele, precisavam dele, precisavam de
sua família e seu governo, e...

Minha cabeça girou, os pensamentos tecendo uma história


mais perto de um conto fictício que eu escreveria do que a
realidade. E ao lado da fantasia, o medo alimentava cada
batida do meu coração.

Eu não sou princesa.

E eu nunca seria.

Ele está aqui apenas por algumas semanas.

Eu sabia disso e me comprometi com a diversão de


qualquer maneira.

Quem eu seria se abandonasse minha missão original de


mostrar a ele um bom momento, para ajudá-lo a relaxar das
tensões de sua posição – que agora eu sabia que eram mais
severas do que nunca. Eu seria uma vadia total. Seria pior do
que ficar com ele na esperança de viver uma fantasia de conto
de fadas que a maioria apenas sonha.

Não. Gostei de Xander. Ele me fez rir, e eu adorava chocá-


lo, surpreendê-lo. E seu beijo... bem, não havia nada para
comparar. O homem beijou como se comandasse legiões,
exércitos. Ele definitivamente me comandou. Foi direto ao meu
coração, meu núcleo, e depois viajou entre minhas coxas,
repetindo o ciclo até que eu quisesse levá-lo à mesa, embora
houvesse cachorros-quentes presentes. A lembrança de seu
comprimento duro pressionado contra mim causou arrepios
na espinha, mas a visão dele esfriou a lembrança.

O pomo-de-adão dele balançava para cima e para baixo,


os olhos castanho-café ricos, profundos e estreitos na tela.

A tensão pulsou em seu corpo e atingiu o meu – batida


após batida de uma responsabilidade tão grande que eu
poderia passar a vida inteira tentando entender e nunca
chegar perto.

Inferno, lamentei quando minha editora colocou meus


prazos muito próximos. Como ele podia ser tão divertido,
sedutor e fantástico quando um país inteiro confiava nele? E a
família dele também?

— Alguns moradores não têm certeza de que o príncipe


herdeiro será capaz de preencher o lugar que seu pai deixou
para trás...

Eu cortei meus olhos para a tela por apenas um momento


para encarar o repórter sem rosto que disse essas coisas. Não
que eu soubesse alguma coisa sobre ser da realeza, mas eu
conhecia Xander. Bem, eu sabia quem ele tinha sido comigo
nos últimos dias, e ele era mais do que suficiente.

A escuridão brilhou nas manchas douradas em seus olhos,


e um músculo pulsou em sua mandíbula. Eu queria e não
queria o distrair das notícias, mas críticas ruins eram
péssimas e, enquanto as minhas não eram nem de longe tão
importantes quanto as dele, eu queria acalmar a sua dor.
Estendi a mão, arrastando meus dedos sobre sua bochecha,
aproveitando as cócegas da barba por fazer ali. Uma respiração
liberou de seu peito largo como se ele estivesse segurando, e
piscou antes de acenar para Oliver, que rapidamente desligou
a televisão.

— Você precisa que eu entre em contato com sua mãe? —


Oliver perguntou, com as mãos atrás das costas.

Xander balançou a cabeça. — Todas as ligações que eu


precisava fazer estão feitas. A polícia tem tudo sob controle –
essas notícias foram de horas atrás. Eu ligo para ela de manhã.

Oliver assentiu e pegou sua deixa para sair novamente. O


som que a porta fez quando trancou era muito mais pesado do
que tinha sido a primeira vez que entrei, nem uma hora atrás.

Tudo havia mudado e, no entanto, nada havia mudado.

Eu ainda era Willa, e ele ainda era Xander.

Príncipe.

Isso não importava. Eu entrei nisso sabendo que ele iria


embora. Sabendo que eu não seria capaz de segurar um
homem como Xander – ele era muito importante, queimando
mais do que uma estrela cuja cauda relampejava no céu
escuro. Eu teria sorte de ter um gostinho desse brilho, quanto
mais de mostrar a ele uma coisa ou duas sobre minha
selvageria também. Algo que eu tenho certeza de que ele
desejava e estava precisando desesperadamente antes de
voltar a uma vida de... privilégio obrigatório.

— Não é de admirar, — eu disse, a realização batendo forte


e verdadeiramente em minha mente.
— O que? — Ele disse, com os olhos tensos, todo o corpo
enrolado como se esperasse que eu saísse pela porta,
concordando com o lixo que o repórter vomitou.

Meus lábios se formaram em um sorriso lento e perverso,


e eu apreciei a curiosidade em seus olhos que entraram em
pânico. — Não é à toa que você veio me procurar.

Uma risada estridente saiu dele e acalmou o nó entre meus


ombros que se formara desde que ele pronunciara a
palavra príncipe.

Eu posso fazer isso.

Eu poderia ser eu mesma e tratá-lo como faria se nunca


descobrisse quem ele era – não que eu acreditasse por um
segundo que ele fosse levar isso adiante sem me dizer. Ele era
um homem bom demais para isso, e de repente me perguntei
se ele sabia o quão bom era. Com a maneira como ele deixava
cada golpe da TV acertá-lo, eu duvidava disso.

A profundidade de seus olhos se iluminou com sua risada,


mas não foi suficiente. O peso ainda estava lá, e mesmo
sabendo que uma técnica seria uma maneira infalível de fazê-
lo relaxar, eu sabia que hoje à noite não era a noite para
desencadear a paixão pulsando no meu sangue. Ele não
precisava de um bom rolar nos lençóis agora – embora as
imagens de tal coisa me deixassem escorregadia entre as
coxas. Não, ele precisava de uma amiga. Ele precisava de
diversão. Ele precisava de distração.

— Willa, — disse ele, se virando para me encarar, seu


joelho roçando o meu. Deliciosas ondas de calor enrolaram
meu coração quando ele disse meu nome, e isso me fez
repensar o plano amigável que inventei. — Eu quero que você
saiba que eu ia te contar antes de nós... — ele engoliu em
seco. — Antes que algo mais acontecesse entre nós.

Eu sorri, bufando. — Sei disso.

Ele levantou uma sobrancelha para mim. — Você sabe?

Eu assenti. — Você é um bom homem, Xander. Além disso,


eu estava te beijando sem exigir conhecer seus segredos mais
profundos e sombrios. Você não está com problemas.

Outro suspiro profundo, um longo e forte o suficiente para


abaixar um pouco os ombros rígidos.

— Bem, — disse ele, colocando a mão no meu joelho, e


embora o toque fosse inocente, enviou faíscas disparando pela
minha pele. — Então eu preciso ser honesto com você...

Minha garganta se fechou, engasgando com o ar fácil entre


nós. Ele ia me dispensar antes que eu tivesse a chance de
ajudá-lo. Antes que eu tivesse a chance de desvendá-lo. Ele
nem me daria essas duas semanas – ou o tempo que ele tenha
nos Estados Unidos.

— Nós conversamos antes sobre a mulher com a qual


minha família quer que eu case.

— Ah, — eu disse, um pouco aliviada e irritada ao mesmo


tempo. Eu disse a mim mesma para acalmar a merda, como
eu tinha acabado de me educar sobre a arremessar isso
seria. Nada mais. — Você disse que ela o via mais como um
irmão do que um amante. E vice-versa.

— Isso é verdade. — Ele assentiu. — Porém, eu mudei um


pouco as palavras.
— Oh? — Foi a minha vez de arquear uma sobrancelha
para ele. — Eu faço isso o tempo todo. Liberdades artísticas e
tudo mais.

Ele riu, e o sorriso foi suficiente para fazer meu coração


disparar. Sim, disparar. Resisti à vontade de revirar os olhos
com o meu jeito ridículo. — Noivo.

Eu assobiei apesar de mim mesma. — Essa é uma palavra


que eu poderia viver sem. — Olhei para a mão dele na minha
coxa, balançando a cabeça. Eu não sabia que ele estava noivo,
não sabia que o que quer que acontecesse entre nós refletiria
muito sobre ele. Levantei-me, incapaz de lidar com o calor do
seu toque por mais um momento, e me banhei com baldes
mentais de água gelada. — Eu não sabia que já estava nessa
fase, — eu disse. — Sinto muito. Sobre os beijos... — Eu
apalpei minha testa. Eu o beijei abertamente no saguão, do
lado de fora da pista de patinação, qualquer um poderia ter
visto.

— Pelo que você poderia pedir desculpas, — ele perguntou,


diante de mim. — Você não fez nada errado. Fui eu quem quis
ser um homem normal por alguns momentos felizes antes que
a realidade me revelasse quem eu sou.

— Um príncipe, — eu disse, com um tom provocativo. — O


Batman.

Ele pegou minha mão, traçando círculos nas costas com o


dedo. Calafrios irromperam sobre minha pele e minha
respiração engatou. — Sim, mas também sou um homem.
Alguém que está completamente admirado por tudo o que você
é. E queria que você soubesse sobre o noivado, mas também
quero que saiba que ainda não é oficial para o público. Foi uma
promessa feita entre nossos pais quando éramos crianças e
nada mais. Em três meses, não será mais o caso. Será público,
oficial e não serei mais solteiro.

Meus olhos encontraram os dele, a esperança brotando no


meu peito. — Então, — eu disse, meus olhos voltando para a
mão dele na minha. — Você está dizendo que temos... meses?

Um assobio baixo deixou seus lábios e vi a dor cintilar em


seus olhos. O peso de seu dever, de sua posição, fazia com que
parecessem quase sólidos. — Sim. E eu sei que não é muito, e
isso não é nem um pouco justo, mas não consigo ficar longe de
você agora. Você... — seu rosto ficou tenso enquanto lutava
para encontrar as palavras.

— Me enfeitiçou? Corpo e alma? — Eu provoquei, dizendo


as falas do meu romance favorito de Austen.

Sua risada me envolveu como um abraço caloroso e eu


respirei fundo, inalando seu perfume, e tentando pra caralho
também não sentir o poder nele. — É claro, — ele disse assim
que parou de rir. — Estou namorando uma escritora.

Minhas sobrancelhas se ergueram na etiqueta que ele


colocou em nós. — Estamos namorando?

— Se você me quiser. Um príncipe com data de


partida. Estou encantado com você, Willa, mas não vou mentir
para conseguir o que quero. Você tem que saber o
resultado. Eu tenho três meses, e são seus, se você quiser, mas
não posso lhe dar mais, por mais que eu queira.

Uma pequena fatia de dor cortou o centro do meu peito. Eu


o conhecia há apenas alguns dias, e já estava com medo de
sua partida. Mas, honestamente, isso não poderia ir além do
que eu pretendia de qualquer maneira.
Eu não sou princesa. Pensei novamente, embora nunca me
desculpasse por esse fato. Eu amava quem eu era, e levei uma
boa quantidade de anos para ser tão confortável em minha
própria pele. Nada, nem mesmo um homem lindo da realeza
que tinha uma linha direta para o meu botão de
vibração poderia mudar isso. Mas isso? Eu poderia ter meu
momento com ele e ainda ser eu mesma.

— É uma coisa boa que você destruiu o carro do seu irmão,


— eu disse, entrando no seu espaço mais um
centímetro. Estiquei meu pescoço para encontrar seus olhos,
estendendo a ponta dos pés para envolver meus braços em
volta de seu pescoço. — Eu posso lidar com uma aventura
divertida, se você puder.

Uma faísca de eletricidade transformou aqueles sólidos


olhos castanhos em chocolate derretido. — Verdadeiramente?

Eu balancei a cabeça, provocando a borda de sua


mandíbula forte com o nariz. Suas mãos se moveram para
agarrar minha cintura, e um arrepio quente ondulou através
de mim com sua força.

— Willa, — disse ele, meu nome uma respiração entre nós


quando seus lábios avançaram em direção aos meus.

Eu debati por alguns instantes de tempo e apressadas


batidas do meu coração. Eu poderia me submeter agora, me
permitir o fim da tortura da química entre nós, na dor com o
nome dele entre minhas coxas. Mas eu nunca fui capaz de me
submeter facilmente, não importa o quanto eu soubesse que
ele poderia exigir algo de mim naquela voz grossa dele e eu
ficaria de joelhos em um segundo. A imagem dele nu diante de
mim no nível do joelho, toda a sua glória para contemplar, fez
minha boca ficar com água.
Não.

Eu abaixei meus dedos, voltando ao meu nível normal,


sorrindo enquanto me afastava de seu avanço.

Seu sorriso era astuto, mas questionador, e eu vi a batalha


em seus olhos enquanto debatia o que eu tinha – se ele
quisesse insistir no assunto, me convencer a mudar de ideia.

— Tenho uma ideia, — eu soltei antes que ele pudesse


abrir a boca e dizer algum tipo de palavra mágica que faria meu
vestido desaparecer... você sabe, algo incrivelmente complexo
como... Willa.

— O que é isso? — Ele colocou as mãos atrás das costas,


a tensão de seus músculos amolecendo uma fração.

Olhei em volta dele, olhando para a varanda. — Primeiro,


— eu disse, voltando meus olhos para ele. — Precisamos de
mais junk food.

— Mais? — ele teve a coragem de parecer chocado.

Eu balancei a cabeça, recuando em direção à porta.

— Eu posso enviar Oliver -

— Não, — eu disse, balançando a cabeça. — Ele é seu


guarda-costas, não seu estagiário.

Ele levantou uma sobrancelha para mim e o pomo de Adão


balançou novamente. Eu sorri, minha mão na maçaneta. —
Você não está acostumado com pessoas dizendo não, está?

Ele balançou sua cabeça.


— Isto será muito divertido.

Vinte minutos e dois sacos de barras de chocolate, pretzels


e refrigerante depois, Xander estava segurando seu estômago
cheio, acenando com as mãos sobre a variedade de embalagens
entre nós.

— Não mais, mulher. Não aguento mais.

— Mas você ainda nem experimentou os Snickers!

Ele ficou de pé, andando como se tivesse ganho cinco


quilos, e abriu uma garrafa de água. — Eu não sei como seu
povo faz isso, — disse ele, tomando goles rápidos antes de
lamber as gotas de água dos lábios. Tive dificuldade para
desviar os olhos da língua que fazia o trabalho.

— Meu povo? — Eu perguntei.

— Americanos. — Ele largou a garrafa, suspirando. —


Sinto que posso explodir com o aumento do açúcar, ou
desmaiar. Não tenho certeza do que seria mais bem-vindo
agora.

— Peso leve, — eu provoquei, colocando outro M&M na


minha boca antes de me levantar do sofá também.

Ele olhou para mim de sobrancelhas abaixadas. — Você


não diria isso se fosse uma garrafa de uísque entre nós, em vez
de embalagens de doces.

Outra onda de desejo fluiu sob a minha pele com o olhar


poderoso que ele fixou em mim. — Eu não tenho dúvida, —
disse. — Gosto do meu uísque com um pouco de refrigerante.
Ele zombou. — Não diga isso quando for a Elleston. É
motivo para prisão.

Eu não poderia dizer se ele estava brincando, porque meu


coração gaguejou com o termo quando, ao invés de se.

Ele limpou a garganta, parecendo notar a mudança na


sala. — O que agora? — Ele perguntou, seu sorriso suave, fácil
e cativante.

— Fase dois do plano. — Olhei para o meu celular. —


Perfeito, — eu disse. — Já passa da meia-noite. — Coloquei
meu casaco e caminhei até a varanda com os pés com meia,
destrancando a porta de vidro deslizante. Eu a tinha aberto e
um pé no concreto frio quando acenei para ele com uma curva
do meu dedo.

E ele veio.

Tentei não rir com a noção de que um príncipe estava


atendendo minha chamada.

Tentei pra caralho não deixar isso me excitar também, mas


eu era apenas humana.

— O que acontece depois da meia-noite? — Ele perguntou


quando se juntou a mim onde eu me inclinei contra a grade. Os
sopros de ar escapavam de nossas bocas por causa do frio,
mas nossos casacos grossos tornavam isso suportável.

— Tudo, — eu disse, acenando com o braço para a cidade


abaixo de nós.

Nova York ganhava vida à noite; é uma série de edifícios


brilhando a partir de sua própria fonte de luz das estrelas, já
que não havia nenhuma para ser vista. E enquanto meu
pequeno chalé me oferecia a reclusão que eu precisava
diariamente, a cidade era maravilhosa para pequenos pedaços
de aventura roubada, quando desejada.

As pessoas se apressavam e passeavam, algumas


sozinhas, outras em grupos ou casais, mas tudo estava vivo e
pulsante. O barulho mal chegou até nós na varanda do
vigésimo andar, mas os ecos da noite zumbiam em nossos
corpos, alimentando o calor crescente entre os centímetros que
nos separavam.

— Ali, — eu disse, apontando para uma garota andando


na esquina da rua onde parecia estar esperando por alguém. O
jeito que ela pisava as botas a cada passagem no pequeno
canto um pouco cheio de gente me fez rir. — Você vê a morena
com o celular na mão?

Xander estreitou os olhos, parecendo um falcão enquanto


usava todo o corpo para se deslocar para onde eu apontei. —
Sim?

— O namorado dela deveria buscá-la uma hora atrás, mas


Todd nunca foi de chegar a tempo. E ela está pensando em
retribuir ao ir para o clube ali. — Apontei um quarteirão abaixo
da rua onde se ouvíssemos com atenção, poderíamos ouvir
a batida ecoando pelas portas do clube. — Ela conhece um
barman lá... Jake. Ele ajudaria a afogar sua raiva em tônicos
de vodca o resto da noite. De graça, é claro.

Xander olhou para mim, com uma inclinação na cabeça. —


Você é amiga deles?

Eu ri, balançando a cabeça. — Não.


— Mas você os conhece.

Eu bufei. — Não. Este é um dos meus jogos favoritos para


jogar quando fico na cidade.

Ele me examinou por alguns segundos, provavelmente


determinando se eu era tão louca quanto as cores do meu
cabelo. Olhando para a rua, ele apontou para dois rapazes em
idade universitária que pararam na frente de uma bodega. Um
estava ajudando o outro a segurar uma grossa corrente de ouro
em volta do pescoço.

— E eles? — ele desafiou.

— Eles são melhores amigos desde a terceira série, e estão


prestes a pegar uma refeição para levar para a avó do que está
com o colar, Brad. Com quem vivem para economizar dinheiro
enquanto estudam.

Ele riu, apontando para um homem fumando um cigarro


enquanto se inclinava contra a parede de tijolos de outro
prédio. — Ele está em um intervalo.

Xander zombou. — Não é o seu melhor.

Eu estreitei meu olhar para ele. — Em seu intervalo, antes


de voltar ao clube de strip na esquina. Ele está apaixonado por
sua dançarina mais lucrativa, Cherrypop.

Minhas bochechas doíam por tentar manter meu rosto


sem expressão quando Xander se dobrou de tanto rir. — Muito
melhor, — ele conseguiu dizer através de suas risadas. As
rugas ao redor de seus olhos pareciam quase estranhas, como
se ele não risse o suficiente.
Isso deixou meu coração cheio, sabendo que eu poderia
oferecer a ele essa libertação.

— Sua vez. — Apontei para um grupo de garotas de


minivestido, apesar da noite fria. Elas usavam saltos altos e
seguravam bolsas brilhantes enquanto passeavam pela
calçada que ladeava os prédios enormes, nenhum destino claro
em mente.

— Oh, — disse ele, inclinando os cotovelos ainda mais


sobre o parapeito, o movimento tão casual e relaxado que fez
meu estômago derreter. — As irmãs Giavati? Elas estão a
caminho do restaurante do noivo da irmã mais velha. Elas
jantam de graça, naturalmente, e bebem várias garrafas de
vinho da casa antes de irem para a bodega onde Brad e seu
amigo voltaram para pegar a sobremesa que esqueceram para
a avó. A mais jovem Giavati se apaixonará loucamente por
Brad e viverá feliz para sempre.

Eu ri com tanta força que as lágrimas se juntaram nos


cantos dos meus olhos. — Nada mal, — eu disse. — Você é
romântico.

— Por que você diz isso? — Ele perguntou, voltando toda


a sua atenção para mim.

— Porque você lhes deu um final feliz.

— Como autora, pensei que apreciaria. — Ele sorriu. —


Você está me dizendo que o dono do clube de strip e Cherrypop
não têm um final feliz? — O nome da stripper soou hilário com
seu sotaque, e as lágrimas agora rolavam pelo meu rosto, que
doíam. Limpei as lágrimas, respirando fundo o ar noturno da
cidade.
Jogamos o jogo de observação de pessoas por mais uma
hora, até que nossas barrigas doíam tanto que voltamos para
dentro. No banheiro, vesti um pijama de algodão macio e uma
blusa justa com decote em V, e ignorei totalmente o sofá
enquanto me dirigia para a cama king-size em seu quarto, as
portas duplas abertas e convidativas. Bati contra a porta, a
exaustão se instalando profundamente em meus ossos devido
a noite.

Ele saiu de seu próprio banheiro vestido com uma calça de


pijama de seda preta e uma camiseta branca de algodão que
se esticava contra seu peito largo e musculoso. Engoli em
seco. — Você certamente leva as roupas casuais a um nível
totalmente novo.

Ele lambeu os lábios, olhando minhas pernas nuas. — Eu


poderia dizer o mesmo sobre você. Esqueceu que é inverno?

— Eu tenho um sono quente.

Ele engoliu em seco, afundando na beira da cama. — Nós


vamos dormir?

— Eu não quero ir para o meu quarto ainda, — admiti. —


Podemos conversar um pouco mais?

Ele sorriu, de alguma forma satisfeito com o meu desejo


de ficar. — Mais histórias inventadas?

Eu balancei minha cabeça, rolando para o meu lado para


enfiar alguns travesseiros embaixo da minha cabeça. Ele
imitou minha posição do outro lado, e algo carregado e quente
subiu pelas minhas costas. O conforto, a facilidade que me
deitei ao lado dele na cama, como se tivéssemos feito milhares
de vezes antes, era quase tão acolhedor quanto a alegria que
seu perfume nos lençóis quentes agitava dentro de mim.

— Me diga algo real, — disse ele, sua voz quase um


sussurro, apesar de ser apenas nós dois.

Eu podia ver a sonolência se enroscar em torno de seus


olhos escuros também, enquanto ele respirava fundo, solto e
livre. — Eu amo o som da sua risada, — disse, meu tom tão
suave. — E odeio que isso te surpreenda, essa risada. Como se
você tivesse esquecido como rir.

Ele suspirou, fechando os olhos.

— Sua vez, — eu disse.

— Estou com medo, — ele respondeu sem abrir os olhos,


e vi o grande e musculoso antebraço se fechar embaixo do
travesseiro, como se ele estivesse apertando a mão em um
punho. — Que eu não vou ser suficiente. — As palavras eram
tão calmas que eu poderia ter imaginado.

Eu arrastei a ponta do meu dedo sobre os músculos


tensos, saboreando a maneira como relaxaram sob o meu
toque. — Não fique, — eu disse, fechando os olhos porque ele
não tinha aberto os dele. O peso de todas as verdades
colocadas entre nós hoje à noite, e o riso que soltamos lá fora
me deixou mais cansada do que eu imaginava. — Você é um
homem incrível, Xander. E não precisa ser mais ninguém
do que isso. Não para Elleston. E especialmente não comigo.

Algumas batidas longas e silenciosas passaram entre nós,


mas eu não conseguia abrir os olhos.
— Willa — ele disse meu nome em um sussurro, mas os
braços doces do sono já estavam enrolados ao meu redor.
O sol iluminou o quarto com o brilho suave do amanhecer,
as cores me lembrando os cabelos de Willa. Por outro lado,
tudo nos últimos dias me lembrava Willa. Como era possível
para alguém que eu mal conhecia ter um lugar dentro do meu
coração? Estendi a mão sobre o travesseiro e levantei
cuidadosamente uma mecha roxa de onde estava em sua
bochecha. Era tão macio quanto a seda que deslizava entre
meus dedos. Tudo nela era suave em todos os lugares
perfeitos.

Exceto a língua dela. Isso era afiado... a menos que


estivesse na minha boca.

Meus dedos percorreram suas costas, nua entre as tiras


da blusa em que ela dormia. Em breve ela não usaria nada.

Meu pau pulou com o pensamento.

Alguns meses foram tudo o que tive para lhe dar, mas
nossas cartas estavam sobre a mesa – areia correndo pela
ampulheta e toda essa besteira. Nós dois sabíamos as
apostas. Alguns meses para rir, para provar a alegria que
constantemente emanava dela. Ela estava iluminada pelo sol
em um quarto escuro, e eu estava desesperado para aproveitar
o calor dela o maior tempo possível.

Deitado ao lado dela, seu perfume invadindo meus


sentidos, eu não tinha certeza de que alguns meses seriam
suficientes. Inferno, nós já passamos quase uma semana aqui
em Nova York.

Três batidas superficiais soaram na minha porta antes que


se abrisse.

— Que porra é essa– mãe? — Sentei-me, o lençol caindo


do meu peito nu enquanto minha mãe estava na minha porta,
seus olhos piscando entre Willa e eu. — Sai. Fora.

Seus olhos se arregalaram e sua boca se abriu e fechou


como um peixe fora d'água.

— Agora, — eu ordenei quando Willa se mexia ao meu lado.

Minha mãe empalideceu, mas recuou e fechou a porta ao


sair.

— Xander? — Willa perguntou, sua voz suave e seus olhos


nebulosos quando piscou para mim. — Tudo certo?

— Está tudo bem, — prometi, dando um beijo em sua


têmpora. — Apenas uma família inesperada. Fique aqui, e eu
cuidarei disso.

Meus pés caíram no chão e vesti uma camisa, grato por ter
passado a noite com calças de dormir. Eu precisava do máximo
de camadas possível entre nós.

— Você quer que eu saia? — Willa perguntou suavemente.


Eu me virei para vê-la sentada na cama, o lençol agarrado
ao peito como se estivesse nua. Eu queria que ela estivesse
nua. — Por favor não. Fique. Me deixe resolver isso, e já
volto. Não mexa um músculo.

Ela assentiu, mas havia uma pontada de medo em seus


olhos que eu precisava aliviar. Atravessei a sala e a beijei, meus
lábios se agarrando aos dela por um momento muito longo e
soltando muito cedo. — Eu gosto de você na minha cama, —
sussurrei contra seus lábios.

Então eu saí em busca da minha mãe.

Eu não tive que ir longe. Ela, Jameson e Charlotte estavam


sentados à mesa da sala de jantar. Bem, Charlotte e Jameson
estavam sentados. Mamãe estava andando.

— Jameson, Charlotte. Que bom ver vocês. — falei, me


sentando à cabeceira da mesa.

O café apareceu nas mãos de uma empregada nervosa que


ficava olhando nervosamente para onde mamãe estava
passando pelo tapete. — Obrigado, — eu disse a ela
gentilmente e peguei o pote antes que caísse no meu colo. —
Ao que se deve seu retorno antecipado?

— Ao que... PARA QUÊ? — Mãe estalou.

— As notícias do tumulto antimonarquista chegaram até


nós quando desembarcamos em Los Angeles, — disse
Charlotte calmamente. Ela tomou um gole de café e levantou
as sobrancelhas para mãe.

— Achamos que precisávamos interromper toda a viagem,


— acrescentou Jameson, se recostando na cadeira com as
mãos atrás da cabeça. — Quer nos dizer o que colocou a
mamãe em estado de surto?

— O que me deixou? — A mãe gritou. Os olhos dela se


arregalaram e ela limpou a garganta, se recompondo
visualmente. — Primeiro, você não vai para Los Angeles e envia
Jaime em seu lugar, e agora você tem uma americana em sua
cama.

— A americana? — Jameson perguntou, se inclinando


para a frente.

— Sim, eu fiz, — eu disse à minha mãe.

Charlotte me deu um sinal de positivo, até que a mãe


zombou em sua direção. — Jaime, que tal deixarmos esses dois
discutirem? — ela perguntou.

— Você não acha que isso envolve você? — A mãe


perguntou a ela. — Ele é seu noivo.

Charlotte inclinou a cabeça de uma maneira majestosa


que falava mais de seu treinamento e criação do que qualquer
gesto poderia. — Nossos pais assinaram um pedaço de papel,
sim. Mas nem Xander nem eu indicamos que gostaríamos de
ser mais do que somos – amigos próximos. Se ele conseguir
encontrar sua felicidade, eu serei a primeira a defendê-lo. —
Ela se levantou da mesa, tão real quanto uma duquesa, e saiu
com a cabeça erguida.

— Agora, minha família, é assim que você sai. — Jameson


se afastou da mesa e a seguiu, me deixando com minha mãe.

— Alexander.
— Mãe.

Ela esfregou a pele entre as sobrancelhas e se sentou na


cadeira mais próxima de mim. — Você não pode continuar com
esta mulher.

— Por que diabos não? — Perguntei, minha voz uniforme


e calma. — Por que deveria importar com quem decido
dormir? Para passar meu tempo? Não tem influência na minha
capacidade de governar.

— É uma questão de percepção pública! Neste momento,


há tumultos em -

— Um protesto – que é legal, devo acrescentar – não é


motivo de tumulto, mãe. O movimento antimonarquista está
crescendo, e eu vou lidar com isso, mas o pânico não ajuda
ninguém. E não é como se Willa tivesse causado nada disso.

— Willa. Esse é o nome dela. — Os olhos da mãe se


estreitaram. — Willa sabe quanto dinheiro você vale?

— Ela não está atrás do meu dinheiro, — eu disse com um


suspiro. Deus, foi bom dizer isso. Willa me queria antes que
soubesse quem eu era ou o que eu valia.

— Oh, então o que exatamente ela poderia querer de


você? Não é como se você pudesse se casar com ela ou torná-
la a próxima rainha. — Ela cruzou os braços na frente do peito.

— Meu tempo. Ela quer meu tempo, mãe, e eu vou dar a


ela. Cada segundo até que eu seja fisicamente incapaz de fazer.

— Isso é impossível. Precisamos voltar a Elleston e lidar


com o Parlamento e os antimonarquistas.
Eu não disse uma palavra. Eu já tinha tirado minhas
conclusões e chegado à mesma que ela, mas com certeza não
iria deixá-la ditar isso para mim. — Nós iremos. E não tenho
intenção de voltar sozinho.

— Você está dizendo... — seus olhos se estreitaram.

— Estou dizendo que mereço este momento. Vou passar


minha vida a serviço do país que amo, das pessoas que amo,
mas até esse momento chegar, vou colocar felicidade suficiente
em minha memória para durar.

— Você está sendo melodramático, Alexander. — Ela me


dispensou. — Você será feliz o suficiente como rei.

— Eu serei realizado. Há uma grande diferença, e se você


não sabe disso até agora, não posso te ajudar, mãe. Isto é
minha vida. — Me afastei da mesa e a deixei sem me desculpar.

Percorrendo o corredor rapidamente, contei as razões


pelas quais essa aventura foi uma má decisão e ainda não
consegui me importar. Eu queria Willa em meus braços, minha
cama e minha vida até que eu não pudesse mais mantê-la ou
ela não me quisesse mais.

A coisa de nascer um príncipe? Nunca me negaram nada


do que eu queria e não tinha intenção de ter decepção agora.

Abri a porta do meu quarto e parei. Willa se foi, nada além


de um cartão no travesseiro. Porra. Até sua bolsa se foi.

Passando as mãos pelos cabelos, cruzei a distância até a


cama e li a nota.
Quarto 539.

Venha sozinho.

Nu, de preferência, máscara do Batman aceitável.

Eu não conseguia parar o sorriso que se espalhou pelo


meu rosto. Quem tiver a sorte de passar a vida amando Willa
nunca ficaria entediado.

Uma sensação amarga atingiu meu estômago. Essa pessoa


nunca seria eu. Afastei esse pensamento, não havia sentido em
focar no que eu não poderia ter.

Vesti jeans e uma camiseta, determinado a estar o mais


distante possível do príncipe Alexander, e, assim que calcei
meus sapatos, atravessei a suíte silenciosa em direção a porta.
Abri para encontrar Oliver lá, um olhar entediado e resignado
em seu rosto.

— Indo a algum lugar, Alteza?

— Pare com isso, Oliver. Você sabe aonde ela foi.

— Quarto 539. — Ele apertou o botão no elevador.

— Você não poderia mantê-la aqui? — Eu perguntei


enquanto esperávamos.

— O que você queria que eu fizesse? Jogasse ela por cima


do meu ombro? A amarrasse na sua cama?

— Qualquer uma dessas opções teria sido aceitável.


Ele arqueou uma sobrancelha para mim quando as portas
se abriram na nossa frente.

Depois que entramos, Oliver apertou o botão e descemos


para o quinto andar.

— Precisamos sair para Elleston, — disse a ele em voz


baixa, expressando o que sabia desde a noite passada.

— Hoje? — Ele perguntou.

— Amanhã. — Eu odiei a palavra no momento em que


saiu.

— Eu vou fazer os arranjos. — Ele disse quando as portas


se abriram no quinto andar.

Ele saiu primeiro, e então eu assumi a liderança uma vez


que seu aceno de cabeça sutil me deu permissão. — Eu juro
Oliver, você está agindo como se houvesse assassinos em todos
os andares, esperando a chance de eu decidir andar.

Ele me lançou um pequeno olhar lateral, mas essa foi a


única reação que eu tive dele.

Chegamos à porta dela e levantei minha mão para bater,


mas não fiz contato.

— Senhor? — Oliver perguntou.

— Verifique o passaporte dela, verifique se é válido ou puxe


as cordas necessárias para torná-lo válido. Não a deixarei aqui
se tiver algo a dizer sobre isso.

— Senhorita Willa? — ele perguntou, seu rosto sem


expressão.
— Sim.

Ele me deu um único aceno de cabeça, e eu bati na porta


com movimentos seguros e firmes. Meu caminho estava se
abrindo diante de mim. Eu tinha apenas alguns meses com ela
e pretendia aproveitar ao máximo.

Willa abriu a porta vestindo um roupão de banho do


hotel. O ar úmido de um banho recente cheirava exatamente
ao seu cabelo ainda úmido. Ela sorriu para mim, depois olhou
para Oliver. — Sai fora.

Ele bufou uma risada baixinho. — Eu vou ficar no


elevador, Sua Alteza. — Balançando a cabeça, ele se virou e
nos deixou.

— Ainda não estou acostumada com isso, — disse ela,


recuando para que eu pudesse entrar.

— O que? Oliver? — Eu perguntei, observando o


quarto. Era menor que a suíte, é claro, mas eu pensava apenas
nessa cama king-size no meio.

— Não. — Ela fechou a porta com um clique suave. —


A coisa de Sua Alteza.

— Sim, apenas sempre... esteve lá. — Esfreguei minha mão


sobre minha cabeça quando ela se encostou na porta. As
lapelas do roupão se abriram para que eu pudesse ver a
extensão suave da pele entre seus seios.

— Mas não aqui, entre nós, — disse ela suavemente, os


olhos amplos e expressivos. — Se você quisesse aqui teria me
dito antes.
— Eu não quero nada entre nós. Especialmente roupas. —
Acrescentei com um sorriso, tentando aliviar o momento. Tudo
com Willa parecia cru, intenso, muito rápido e ainda não o
suficiente.

Ela desamarrou o cinto na cintura e meu sangue


engrossou, bombeando nas veias. — Permita-me deixar isso
claro, — disse ela, fazendo uma pausa enquanto o roupão se
abria no umbigo, os seios ainda cobertos.

Ela era como um presente de Natal parcialmente


desembrulhado, e porra se eu não estivesse morrendo de
vontade de arrancar o resto de sua embalagem.

— Sim? — Eu perguntei, minha garganta seca.

— Eu não estou aqui pelo príncipe Alexander. Eu nem o


conheço. Estou aqui por você, Xander. Quando somos apenas
nós dois – mesmo que seja pelo pouco tempo que temos – é o
que eu espero. Você pode pendurar a coroa do príncipe na
porta, porque apenas há espaço para nós dois. Eu não o
quero. Eu quero você.

Suas palavras me tocaram como nada mais poderia, e eu


estava do outro lado da sala antes mesmo de fazer uma escolha
consciente. Parecia ser assim com Willa –
instintivamente. Primitivo.

Minha boca encontrou a dela em uma fúria de lábios e


língua.

Ela choramingou quando eu abri os lados do seu roupão,


a deixando deliciosamente nua na minha frente. Metros de pele
lisa, apenas esperando para serem degustadas. Tomado.
Minhas mãos exploraram suas curvas enquanto minha língua
acariciava a dela, saboreando cada suspiro e gemido. Esta
mulher era fogo no meu sangue e seda nas minhas mãos.

— Eu preciso de você, — rosnei contra sua boca.

— Sim.

Meu pau quase pulou de alegria. Agarrando os globos de


sua bunda em minhas mãos, eu a levantei contra a porta, suas
pernas envolvendo minha cintura.

Deslizei minha boca pelo pescoço dela, beliscando


gentilmente sua clavícula até alcançar seus seios. Porra, eu os
amava. Perfeitos. Redondos. Tão sensíveis.

Suas mãos se apertaram no meu cabelo quando peguei


seu mamilo na minha boca, lavando o broto com a minha
língua.

— Xander, — ela gemeu.

Recuei até meus joelhos baterem na cama e depois me


sentei. Ela se levantou, os joelhos em ambos os lados das
minhas coxas, e deixou o roupão cair. Ela era toda fantasia
que eu nunca soube que tinha.

Ela procurou meus olhos enquanto um pequeno sorriso se


espalhava por seu rosto, e por mais que eu quisesse negar,
sabia que isso era mais que sexo. Mais do que coçar uma
coceira ou uma conquista. Ela se sentiu como um novo
começo, mesmo sabendo que já tínhamos uma data de
validade.

Eu precisava dela debaixo de mim agora.


Agarrando seus quadris, eu a virei e a deitei na cama, cada
centímetro delicioso dela aberto e pronto para mim. Peguei
minha camisa atrás da cabeça e a tirei. Porra, eu amei aquele
pequeno suspiro que ela fez.

— Sério? Você tem um corpo de um Deus grego e


literalmente governa um país. Não tenho certeza se isso é justo
com o resto da população masculina. — disse ela com um
sorriso enquanto seus dedos corriam pelos sulcos dos meus
abdominais.

— Eu realmente não me importo com o que é justo, desde


que isso me leve a você, — respondi depois que tirei meus
sapatos e meias, depois deslizei sobre ela. O contato da nossa
pele enviou uma corrente através dos meus nervos que senti
através das minhas extremidades.

— Você me tem, — ela disse suavemente, quase um


sussurro.

Nossas bocas se encontraram e as palavras


terminaram. Eu a beijei até que suas unhas cravaram nas
minhas costas, persuadindo todas as respostas que pude
antes de passar para seus seios. Suas coxas se moviam
inquietamente ao longo dos meus quadris quando me
acomodei no berço de seus quadris. Ela era intoxicante, de
alguma forma capaz de bloquear o mundo inteiro até se tornar
o centro de tudo.

Meus lábios roçaram a pele de seu estômago, adorando as


curvas com reverência. Ela torceu sob minhas mãos,
arqueando quando me aproximei do ápice de suas coxas.
— Xander, — ela gemeu quando varri minha língua através
de sua fenda, seu gosto explodindo na minha língua. Deus, ela
era mais doce que o mel, um sabor tão viciante quanto ela.

Suas mãos puxaram meu cabelo enquanto eu trabalhava


seu clitóris, a empurrando implacavelmente em direção à
borda. Com cada gemido de seus lábios, meu pau ficava mais
duro, até meu jeans ser dolorosamente constritivo. Eu nunca
quis – risque isso – precisei tanto de uma mulher na minha
vida. Apenas Willa.

Seus quadris se contraíram, enquanto ela montava minha


boca, e eu deslizei mais baixo, usando meu polegar naquele
feixe de nervos enquanto a fodia com minha língua. Seus
músculos ficaram rígidos quando pressionei ambos, e então
ela arqueou, gritando meu nome.

Ela estremeceu quando lhe dei uma longa lambida,


cuidadoso com a carne hipersensível.

— Eu poderia assistir você fazer isso o dia todo.

Seus olhos estavam maravilhosamente encobertos, o olhar


de uma mulher que estava bem satisfeita. Ela teria esse olhar
mais quatro ou cinco vezes hoje, se fosse do meu jeito.

— Parece um plano, — ela concordou quando eu me


ajoelhei entre suas coxas. Ela se sentou e apertou o botão no
meu jeans. — Mas não antes que eu possa assistir você.

Levantei por um momento e descartei meu jeans e cueca


boxer antes de deslizar de volta entre suas doces coxas. Porra,
sua pele era tão macia.
Meu pulso batia violentamente em meus ouvidos, meu
corpo exigindo o que eu queria prolongar. Deslizei minhas
mãos por suas curvas, segurando seus quadris, moldando sua
cintura minúscula, adorando seus seios.

— Xander. Agora. — Ela exigiu, me puxando para um beijo


abertamente carnal.

Sua língua tirou todos os pensamentos da minha cabeça


enquanto seus quadris balançavam contra os meus, o atrito
entre nós quase demais para suportar. Isso não era
química. Essa não era uma palavra forte o suficiente.

Isso era primordial.

Necessário.

Destino ou alguma merda.

A cabeça do meu pau cutucou sua abertura, e lutei contra


todos os instintos para empurrar para dentro. — Porra, preciso
de camisinha. Aguente.

Ela trancou as pernas em volta dos meus quadris. — Estou


limpa, estou no controle da natalidade e confio em
você. Preservativo na próxima vez, mas se eu não o conseguir
dentro de mim agora vou entrar em combustão.

Minha cabeça se rebelou. Eu nunca tinha fodido uma


mulher sem proteção.

Mas Willa não era qualquer mulher, e meu coração gritava


mais alto que minha cabeça. Meu corpo dominou tudo e eu
empurrei dentro dela em um deslize suave. Eu assisti os olhos
dela se arregalarem enquanto eu empurrava para casa.
Meus pensamentos explodiram, destruídos por ela.

— Porra, você é apertada. Calorosa. Perfeita.

Seu gemido foi minha única resposta, mas essas unhas


cravaram docemente em minha bunda quando seus joelhos se
levantaram para me levar mais fundo.

Naquele momento, um pensamento disparou em meu


cérebro – eu nunca encontraria alguém que se encaixasse
comigo tão perfeitamente de novo. Não havia nada melhor que
Willa.

Nós nos olhamos quando comecei um ritmo lento e


constante. Eu assisti com fascinação os olhos dela, a paixão
tomando conta dela de novo, e eu me concentrei inteiramente
em seu prazer.

Cada impulso foi medido, minha mão alcançando entre


nós para que meu polegar pudesse acariciar seu clitóris
levemente. Sua vagina apertou em torno de mim, seu corpo
sem palavras me dizendo o quanto ela gostou.

Meu mundo se estreitou para Willa, e eu me perdi em seus


olhos, seu corpo, seus braços. Eu não era nada além de
Xander, porque ela tirou todas as besteiras desnecessárias e
me deixou em um estado bruto.

Meus impulsos aumentaram, meu corpo gritando por


conclusão. Ela encontrou meus impulsos, devolvendo o melhor
que eu pude dar. Quando ela se apertou ao meu redor como
um torno, eu gemi e a vi gozar. O arco de sua garganta era
elegante, meu nome escapando de seus lábios.
Então eu me perdi. Meus quadris balançaram livremente,
a levando como eu queria desde que a vi pela primeira
vez. Desinibido, empurrei para casa uma e outra vez até que
meu corpo explodiu em um orgasmo que consumia tudo,
derramando nela.

Meu coração trovejou nos meus ouvidos quando desabei


ao lado de Willa, a puxando comigo para que eu pudesse
segurá-la por mais alguns minutos. — Puta. Merda.

— Sim. Isso. Define. Bem. — Ela disse entre respirações,


ainda se recuperando.

— Você está bem? — Eu perguntei, segurando seu rosto e


beijando seus lábios inchados suavemente.

— Mais do que bem. Estou perfeita. Maravilhosa. Quase


morta.

Eu ri, a abraçando para mim. Era tudo o que eu queria


fazer pelo resto do dia. O resto dos meus meses, meu... Pare
aí. Minha mente já estava tentando fazer planos que minhas
obrigações não deixariam vir a ser concretizados.

Mas eu tinha o agora.

— Willa.

— Xander, — disse ela, sarcasticamente, séria enquanto


se mexia para dobrar as mãos sobre o meu peito e descansar
o queixo.

— Há inquietação em casa.

— Eu sei, — disse ela, todas as provocações


desaparecendo de seus olhos.
Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha dela. — Eu
tenho que ir.

— Oh. — Seu rosto caiu e levou meu coração junto.

— Eu sei que concordamos com esses meses -

— Está bem. — Ela endureceu e forçou o sorriso mais falso


que já vi.

Eu a beijei em silêncio, usando minha língua para a


derreter o tempo suficiente para ouvir minhas palavras. Porra,
a mulher era cabeça-dura e tinha mais do que sua cota de
teimosia.

Me afastando, acariciei meus polegares sobre suas


bochechas quando seus olhos se abriram lentamente. Havia
muita preocupação lá, mas eu sabia que estava refletindo os
meus olhos.

Não havia como entrar suavemente nessa água, então


mergulhei de cabeça, olhos fechados.

— Willa, eu quero que você venha comigo.

Os olhos dela voaram impossivelmente arregalados. —


Como? Você quer que eu vá aonde? Almoço? Jantar? O
chuveiro, talvez?

— Não, eu quero que você venha comigo para Elleston.


— Você gostaria de algo para beber, Srta. Collins? — A
aeromoça impecavelmente vestida perguntou quando parou na
frente do meu assento. A família de Xander naturalmente tinha
um jato particular e, embora eu não pudesse negar o luxo de
ter um assento inteiro para mim, eu odiava que ele estivesse a
um corredor de distância.

— Eu adoraria uísque com gengibre, — soltei, esfregando


as palmas das mãos no meu jeans. Eu pensei que escolher
jeans em vez de calças de ioga me faria parecer mais arrumada,
mas mesmo a saia e a blusa de linho da comissária de bordo
me envergonhavam. O cabelo da mulher era um lindo e sedoso
castanho, e eu queria muito saber como ela fazia parecer
absolutamente cintilante.

Jameson, irmão de Xander – que estava sentado em frente


a ele e em um assento duplo, a belíssima Charlotte
deslumbrante e igualmente intimidadora ao lado dele – riu ao
mesmo tempo em que a mãe de Xander limpou a garganta.
Xander disse que Jameson passava por mulheres como eu
fazia com M&Ms, mas ele parecia bem contente ao lado de
Charlotte. Eu me perguntei se havia algo acontecendo entre ele
e a amiga da família que parecia mais elegante que a própria
rainha.

A rainha estava sentada em frente a mim, uma mesa


elegante a única coisa que nos separava. Ela selecionou seu
assento antes que Xander pudesse se sentar na minha frente,
e provavelmente fez a escolha em um esforço para avaliar cada
coisa que eu fazia – ou pelo menos era o que parecia sob seu
olhar de falcão. Me mover não tinha sido uma opção, a menos
que eu quisesse tornar óbvio o meu desconforto.

Agora, ela me olhava com algo parecido com nojo, mas


nada severo cruzou seus traços delicados. Pude ver na maneira
que ela mantinha o queixo levantando, a maneira como as
pernas estavam perfeitamente cruzadas e os ombros na
posição correta. Ela nunca me aprovaria – eu me curvava, um
péssimo hábito de passar horas na frente da tela do
computador ou debruçada sobre um notebook. Eu tinha cores
no meu cabelo, e não o havia lavado esta manhã, feliz em
trançar metade do cabelo e deixar o perfume de Xander em
todo o meu corpo.

Uma onda quente voou pela minha espinha ao pensar nele


me devorando como tinha feito na noite anterior, e eu me mexi
no meu lugar. Sua mãe, ainda me encarando, torceu os lábios
em algo como vitória, e foi o suficiente para me fazer questionar
por que concordei com essa viagem.

— Pensando bem, — eu disse, voltando meu foco para a


doce atendente que esperou pacientemente durante a troca
silenciosa entre sua mãe e eu. — Um duplo, por favor.

Jameson bufou, e Charlotte deu um tapa divertido no peito


dele, com um sorriso genuíno nos lábios. Ela era além de
linda... a mulher era da realeza, mas a faísca em seus olhos
quando se sentou ao lado de Jameson a fez praticamente
brilhar.

Fale sobre ser o patinho desajeitado em uma sala em...


hummm... avião cheio de cisnes.

A comissária de bordo se afastou para pegar o resto dos


pedidos de bebida da família, e finalmente pude ver Xander. Eu
meio que esperava que ele estivesse dando uma risada como
Jameson – afinal, eles eram gêmeos idênticos, mas Xander era
pura força e linhas duras, onde Jameson era cem por cento
selvagem e solto. Aqueles dois eram yin e yang.

Xander não estava rindo.

Ele nem estava sorrindo.

Aqueles olhos castanhos escuros estavam fixos em sua


mãe, mas estavam distantes. Um músculo em sua mandíbula
ficou tenso como se estivesse em outro lugar, perdido em sua
cabeça.

Provavelmente reconsiderando por quê me pediu para vir


com ele.

Eu levei algumas horas antes de concordar, embora meus


instintos tivessem gritado que sim.

Quero dizer... por que não?

Por que eu não me precipitaria em uma aventura com esse


homem lindo do qual não me canso? Por que eu não iria querer
mais tempo com um homem que tinha um link direto para o
meu botão de rir... entre outros?

Porque ele é um príncipe e você é apenas... você.


Meu coração venceu no final, meu cérebro aceitando a
racionalização de que eu poderia pelo menos usar a viagem
como inspiração para um livro no futuro.

Eu olhei para ele agora, seus músculos tensos como cabos


de aço presos nele, algum mestre de marionetes não
permitindo que ele relaxasse. Eu desejei que ele tivesse me
deixado comprar minha própria passagem e o encontrado lá
como eu sugeri originalmente, mas ele me queria por
perto. Segura. Sua família lidaria com isso, ele disse.

Quando percebi que ele não ia ceder e olhar para mim


como eu silenciosamente implorei, suspirei, afundando ainda
mais no couro flexível da cadeira.

Charlotte me lançou um olhar compreensivo, e se a rainha


não estivesse sentada do meu lado como uma leoa
estrategicamente posicionada entre seus filhotes, eu poderia
ter me aventurado e perguntado o que ela achava de tudo
isso. A resposta dela, se alguma coisa, poderia me ajudar a
entender melhor o que estava reservado para mim quando
chegássemos a Elleston. Charlotte conhecia a família desde
sempre, e talvez ela me ajudasse a navegar nas águas durante
a minha curta estadia, ou talvez ela me jogasse para os
tubarões... embora não tenha recebido essa vibração
dela. Além disso, desde que ela estava na família há anos,
provavelmente sabia quem era a noiva de Xander – talvez
pudesse me dar uma dica sobre ela também.

Eu sabia que tinha um aliado em Jameson, pois ele


constantemente tentava me trazer para a conversa ou brincar
comigo quando eu cometia um erro grave – o que era frequente
– mas não bastava para convencer a rainha de que eu não era
uma ameaça.
Eu deveria ter ficado em casa.

Mas não pude.

Eu não podia deixar Xander sair. Não depois da noite


passada. Não depois que ele se ajoelhou diante de mim,
o homem, não o príncipe, e me levou para si. Foi a experiência
mais alucinante da minha vida, e não foram apenas os
orgasmos. Nós nos conectamos em outro nível. Em algum
lugar que excedia títulos, posições e propósitos e era
simplesmente, primorosamente nós.

Mas chegaria o momento em que eu teria que sair. Voltar


para um avião e retornar ao mundo real. Por enquanto, como
havíamos concordado, eu levaria o tempo que tivéssemos e
aproveitaria a fantasia um pouco mais.

— Aqui está, Srta. Collins. — A comissária de bordo


colocou o copo pesado de uísque em cima da mesa na minha
frente.

— Obrigada, — eu disse, pegando instantaneamente.

Agitei a única esfera de gelo no líquido âmbar, levando ao


nariz para inalar as notas ricas. Um gole revelou que este não
era o tipo de uísque de um voo comercial, e eu sorri. Claro que
não seria. Nada em torno desta família seria normal, e eu
voluntariamente me inscrevi para fazer um papel
inesquecível. Um daqueles personagens peculiares que faria a
plateia dar algumas risadas antes de nunca mais ser
visto. Talvez fosse assim que os paparazzi me pintariam se me
fotografassem. Seria melhor do que a versão da vadia má –
sempre parecia ser uma ou outra com eles.
Tomei um longo gole, permitindo que a queimação na
minha garganta afugentasse os pensamentos sombrios que
nublavam minha mente. Nada disso importava. Olhei para
Xander que agora estava focado em um jornal.

Ele importava.

— Medo de voar? — Sua mãe perguntou. Seu tom era


suave como seda, mas havia uma mordida embaixo da
superfície.

— Não. — Lambi algumas gotas perdidas dos meus lábios,


saboreando. — Você tem? — Eu olhei para o copo intocado de
Chardonnay.

Ela riu, mas o som foi cortado como se também não


pudesse liberar as restrições. Se ela não estivesse olhando para
mim como se eu estivesse tentando arruinar a sua vida, eu
poderia ter sentido pena dela. — Você está ciente de que a
família real é obrigada a viajar bastante, não é?

— Seu primeiro carro foi um G-6. — Eu assenti. —


Entendi. — Me recusei a engolir a bebida totalmente, então
tomei um gole. E então tomei outro. — Você tem um lugar
favorito? Eu amo a Irlanda. Apenas estive lá uma vez, mas
pretendo voltar.

O olhar de Xander finalmente se fixou no meu, e eu tive


dificuldade em lê-lo. Algo como orgulho e pena misturados. Eu
não sabia se não deveria estar conversando com a rainha, ou
se eu deveria me incomodar, mas... o que mais eu deveria
fazer?

Talvez eu deva abrir meu laptop e continuar editando o


último livro da Shayla Scotch.
Eu bufei com o pensamento, rindo atrás da minha bebida.

— Minha casa é tão divertida para você? — Sua mãe


perguntou, e eu respirei fundo.

— Como?

— Elleston é o meu lugar favorito, — disse ela, e seu tom


agudo implicava que já havia dito isso.

— Imagino que voltar para casa seja a melhor sensação do


mundo. — Tentei me recuperar. Senhor, eu provavelmente
gastaria cada segundo na presença dessa mulher tentando me
recuperar.

— Sim, — disse ela, tomando um gole rápido de vinho


antes de colocar de volta na mesa. — Isto é. Especialmente
quando tantas pessoas dependem de nós. — Ela olhou para
Xander, que não prestou atenção nela, porque seu foco estava
em mim. Intensamente.

— Eu não consigo imaginar como é isso, — eu disse,


esperando que ela soubesse o quanto eu respeitava a posição
dela e de sua família. Eu não estava aqui para balançar esse
barco real. Eu apenas estava aqui por Xander. Porque ele me
queria aqui. Porque precisava de mim. Por enquanto. — Ter
tantas pessoas dependendo de você, — continuei.

— Não, — disse ela, cruzando as mãos no colo. — Você não


pode. — As palavras tiveram uma finalidade que apertaram
meu peito mais do que a nossa altitude. — Como é escrever
livros para crianças? Você acha esse tipo de trabalho
desafiador?
— Ela ganhou prêmios, — disse Xander antes que eu
pudesse abrir minha boca. Eu me encolhi com a maneira
rápida que ele precisou validar minha profissão. Deus sabe o
que sua mãe teria pensado se percebesse o que realmente
pagou minha hipoteca.

— Prêmios? — Sua mãe riu, nem um pouco


impressionada. — De quem? Dr. Seuss?

Arregacei mentalmente minhas mangas. Uma coisa era


não gostar de mim pelas cores do meu cabelo, ou pela maneira
como eu comia pizza no café da manhã, mas ninguém... nem
mesmo uma rainha, iria derrubar meu emprego dos sonhos.

— Isso me deu uma estrela dourada, — eu disse, o sorriso


perfeito nos meus lábios. Eu rolei a esfera no meu copo, nunca
quebrando o olhar dela. — Mas, apesar de incríveis, os prêmios
não são o motivo de fazer o que faço.

— É por que você se achou incapaz para um trabalho de


verdade?

— Tenho certeza de que você se lembra de um livro de sua


infância, — eu disse, a ignorando. — Lembro da primeira vez
em que minha mãe me entregou uma cópia impressa de The
Complete Tales of Beatrix Potter. — Um sorriso verdadeiro
tomou conta do meu falso. — Lembro de como cheirava, como
o senti em minhas mãos e a alegria que encontrei entre as
páginas. Lembro do poder que as palavras me deram, do fato
de poder lê-las independentemente, e alimentar minha mente
de uma fonte externa aos meus pais. Lembro de como era me
relacionar com os personagens, encontrar pedaços de mim em
todos eles e em suas lutas. Era uma conexão com outro mundo
e, no entanto, me fundamentou na realidade. Algumas de
minhas lembranças mais favoritas quando criança vêm das
aventuras que tive nos livros e posso revisitar esses amigos
sempre que quiser. Essas primeiras obras moldaram minha
mente, me prepararam para as demandas da vida adulta e
fazer parte disso... oferecendo às crianças uma experiência
semelhante... — Suspirei. — Bem, é um sonho que eu tive
desde que li os contos de animais de Potter.

Os olhos ricos e profundos de Xander estavam arregalados


e agitados, e isso agitou em minha pele. Eu me empolguei.

Ela começou.

— Fui criada com os clássicos, — ela finalmente disse, e


meus ombros afundaram. — Não me lembro de nada com
fotos.

Seria um longo voo.

Três horas depois, quando a rainha perdeu a batalha


consigo mesma e adormeceu, soltei o cinto e me espreguicei.
Xander estava focado em seu iPad, trabalhando duro. Ele me
disse que ainda estava tentando ajudar com alguns casos que
deixou com seu escritório de advocacia, então, em vez de
interrompê-lo diretamente, coloquei um bilhete em seu colo e
sorri para ele enquanto me dirigia para o banheiro.

A caminhada foi ótima depois de estar sentada por tanto


tempo, e borboletas bateram no meu estômago. A emoção foi
pela sensação dos olhos de Xander em mim e pelas palavras
que eu tinha deixado no bilhete. Parecia uma forma antiga de
comunicação entre nós, mas era nossa. E era um jogo perigoso
que jogamos – especialmente com a mãe dele afiando suas
presas para mim – mas eu não conseguia parar agora.
Foram necessários apenas alguns movimentos até a porta
se abrir e Xander entrar. Sua estrutura maciça ocupava a
maior parte do espaço, seu peito largo roçando o meu. O calor
brilhou em minha pele quando ele passou os braços em volta
de mim, o movimento tão natural em comparação com a versão
tensa de si mesmo que ele tinha sido o voo inteiro.

— Você é incrível, — disse ele. — Peço desculpas por te


sujeitar a minha mãe dessa maneira. Eu não estava pensando.
Eu deveria ter fretado nosso próprio jato.

Eu levantei minhas sobrancelhas, pensando no que


poderíamos ter feito sem uma audiência e horas de tempo para
matar.

Ele traçou meu lábio inferior, se inclinando para baixo. —


Para onde você foi?

Eu sorri, deslocando meus quadris para roçar nos dele. —


Você. Eu. Um sofá no céu? As possibilidades seriam infinitas.

Ele tocou os fios soltos do meu cabelo, a trança deslizando


do topo da minha cabeça. — Eu amo o jeito que sua mente
funciona. — Ele pressionou sua testa contra a minha. — Sinto
muito pela minha mãe.

— Não sinta, — eu disse. — Ela está tentando proteger


você e seu país.

— Ela está sendo maldosa e não está ouvindo meus


desejos. — Um suspiro profundo sacudiu de seus lábios, e eu
passei minhas mãos sobre seus músculos enrolados. Eu
empurrei, o forçando a girar até que sua coluna estivesse
contra a parede. — Elleston é mais importante para ela do que
ouvir a razão.
— Xander, — eu disse, enrolando o nome dele na minha
língua. — Eu não te chamei aqui para falar sobre política
real. Ou para falar sobre sua mãe.

Ele levantou uma sobrancelha, passando as mãos pelos


meus lados. — Não?

Eu balancei minha cabeça e mordi seu lábio inferior antes


de cair de joelhos. — Agora, — eu disse, descompactando
lentamente sua calça. — Não estou de joelhos porque você é o
príncipe de Elleston. — Ele sibilou quando eu o libertei de sua
cueca preta. Deus, ele era glorioso, seu comprimento
preenchendo minha mão. — Eu... — Passei minha língua sobre
a ponta do seu pau, e ele rosnou. — Estou aqui... — Girei
minha língua ao redor dele como se fosse o sorvete mais
delicioso do mundo. — Porque você precisa relaxar. — Eu o
chupei na minha boca antes de puxá-lo de volta. Eu olhei para
ele, jogando meu cabelo por cima do ombro. — E porque senti
seu cheiro em mim o dia todo, e eu simplesmente não posso
esperar mais um segundo.

Algo primitivo brilhou em seus olhos, e ele abriu a boca


para falar, mas eu o peguei entre meus lábios, e tudo o que
saiu dele foi um doce assobio. Ele inclinou a cabeça para trás
por um momento, mas logo seus olhos estavam em mim
novamente, me assistindo.

Meu coração disparou enquanto eu olhava para aqueles


olhos escuros e agitados, o tempo todo bombeando, chupando
e o saboreando. Este homem era poder, e não por causa de seu
título. Ele me possuía com um olhar, com um sorriso, com a
maneira frenética de agarrar meu cabelo enquanto deslizava
minha língua em torno dele. Eu o queria tanto dentro de mim
que me ajoelhei. Mas isso era sobre ele, e eu queria que ele
soubesse que eu não estava aqui por nada mais do que isso.
Somente. Ele.

Não por um país. Não por um trono. Não por nada mais do
que o calor elétrico entre nós e
nossa necessidade incansável um do outro.

Passei levemente a ponta dos dentes sobre a ponta dele,


lambendo o sabor salgado, antes de mergulhar.

— Willa. — Ele suspirou meu nome, enviando um arrepio


no meu centro. Deus, eu queria me abaixar e me tocar, aliviar
a dor entre minhas coxas, mas eu precisava das duas mãos
para segurar esse homem. — Willa, eu -

— Sim, — eu gemia em torno dele, dando-lhe total


consentimento para ter sua libertação.

— Porra. — Ele assobiou, endurecendo até o enésimo grau


entre os meus lábios enquanto derramava dentro da minha
boca. Engoli em seco, o devorando do jeito que ele me devorou
ontem à noite. Levando-o para dentro e gostando tanto que eu
tremi.

Depois de alguns segundos, o coloquei de volta dentro de


sua cueca, fechei sua calça com cuidado e me levantei. Seus
olhos eram selvagens, mas seus músculos estavam soltos.

— Willa, — ele disse novamente, me puxando contra ele.

— Xander, — eu disse, um pouco sem fôlego.

Ele estendeu a mão para baixo, entre os nossos corpos


corados. Eu o parei. — Não, — disse. — Isso era sobre
você. Não eu. Eu não... — Ele cortou minhas palavras com um
beijo, acariciando minha boca com sua língua com tanta
paixão que fez meus joelhos fracos.

— Se você não quer isso, — disse ele, pressionando os


dedos sobre o meu jeans. — Então é uma coisa. — Ele
suspirou. — Mas se você acha que vou te deixar sair daqui,
depois disso... você é mais louca do que eu pensava.

Eu ofeguei, liberando sua mão. — Eu nunca quis nada


tanto quanto quero você, Xander. Mas não fiz isso por nada
além de querer que você soubesse que eu estava aqui. Que vejo
a pressão que você está sofrendo e que quero te ajudar. — Eu
apertei meus lábios, segurando um gemido quando ele beijou
a dobra do meu pescoço. — Eu sei que as coisas vão mudar
assim que pousarmos. Sei que vão ficar mais... difíceis. Eu
apenas queria te dar uma coisa antes da loucura.

Ele riu contra mim. — Você é minha loucura, Willa.

Ele flexionou os dedos nas minhas mãos e eu o soltei. Em


um movimento suave, ele capturou minha boca com a dele e
enfiou a mão sob o cós do meu jeans.

— Você está encharcada, — disse ele.

Eu arqueei em sua mão. — Você faz isso comigo.

— Droga. — Ele rolou os dedos contra mim e eu


estremeci. — Se eu pudesse, afundaria dentro de você agora,
até que não houvesse um pingo de espaço entre nós. — Ele
deslizou os dedos pela minha umidade, traçando a linha da
minha boceta, me torturando.

— Meio... difícil, — eu disse entre respirações. — Espaço.


Insuficiente. — Ele me reduziu a respostas quase incoerentes
enquanto continuava movendo a mão contra mim. Eu
avidamente me movi, implorando para que ele me preenchesse.

— Quando estivermos em casa, usaremos todos os espaços


do meu quarto.

Eu tremi quando ele disse em casa e deslizou um dedo


dentro de mim ao mesmo tempo. Minhas mãos voaram para
seus ombros, o segurando enquanto eu tremia. Ele deslizou
outro dedo para dentro, a palma da mão pressionando
levemente contra o meu clitóris. Me provocando.

— Isso? — Ele disse entre beijos. — Aqui? — Ele exigiu


uma resposta enquanto me acariciava, mas eu estava além das
palavras. Eu me apertei em volta dele, me contorcendo contra
a mão dele enquanto fazia amor comigo com os dedos. — Deus,
você está tão molhada. Tão apertada. Perfeita. — Ele aumentou
o ritmo, mas moveu levemente a palma da mão sobre o feixe
hipersensível de nervos, me levando a um frenesi de tensão
dolorida.

— Xander. — Eu disse, tentando pra caralho ficar quieta


quando tudo que eu queria fazer era gritar.

— Sim. — Ele sorriu e empurrou a palma da mão contra o


meu clitóris, me dando a pressão que eu precisava enquanto
descaradamente montava em sua mão. Meu orgasmo ondulou
através de mim, sacudindo e derretendo meus músculos ao
mesmo tempo. Graças a Deus ele tinha um braço em volta de
mim, me segurando, ou eu estaria no chão.

— Oh. Meu. Deu... — Ele engoliu meus gemidos, sua


língua acariciando minha boca em sincronia com os
dedos. Estremeci ao redor dele, voando distante, apesar de
segurá-lo com tudo o que tinha.
— Willa, — disse ele, depois que eu recuperei o fôlego.

Quase não havia espaço entre nós quando ele saiu de mim,
cuidadoso com minha carne sensível. Ele chupou as pontas
dos dedos e eu juro que a ação quase me fez gozar pela segunda
vez.

— Deliciosa, — disse ele, a palavra tão crua, tão real, tão


desenfreada. Este era o meu Xander. Aquele que tinha a
capacidade de me desvendar de uma maneira que eu nunca
soube que existia.

— Boa noite, — a voz do capitão soou pelo alto-falante, e


eu me sacudi contra Xander. — Estamos a cerca de vinte
minutos de Rhyston. Certifiquem-se de apertar os cintos de
segurança. Comissários de bordo, por favor, prepare a cabine
para sua descida inicial.

Nós compartilhamos um olhar carregado – que era partes


iguais de antecipação e medo. Rhyston era a capital de
Elleston, de acordo com minha rápida educação no Google.

— Eu posso sair primeiro, — eu disse, esperando que sua


mãe tivesse dormido durante o anúncio.

— Não há necessidade. — Ele correu para abrir a porta,


seus dedos quentes entrelaçados com os meus quando nos
puxou para fora do banheiro.

Voltamos aos nossos lugares.

Felizmente, Charlotte estava dormindo no ombro de


Jameson, e o gêmeo tinha força suficiente para não olhar na
minha direção enquanto eu afundava no meu lugar.
Infelizmente, os olhos da rainha estavam brilhando
enquanto observava cada movimento que eu fazia.

Eu tinha duas opções: me encolher de vergonha sob o


olhar dela ou possuir quem eu era... como sempre tive.

Endireitei minha coluna e sorri. — Mal posso esperar para


ver o castelo.

Naquele momento, Xander e Jameson riram.

A rainha... não.
Encolhi os ombros no meu paletó Armani e endireitei
minha gravata, aperfeiçoando o nó. Eu sempre evitava ter
alguém me vestindo. Eu não tinha cinco anos, pelo amor de
Deus. Fechando o relógio, saí do closet para o meu quarto.

Passava um pouco das nove da manhã e eu deveria me


encontrar com o primeiro-ministro em vinte
minutos. Estávamos em Elleston há menos de doze horas e
estava na hora de começar a trabalhar.

A beirada da minha cama king size abaixou um pouco


quando me sentei na beira da cama e observei Willa dormir por
um segundo. Eu a mantive acordada por horas depois de
pousarmos, me certificando de que não havia uma polegada
quadrada de seu corpo que eu não tinha adorado. Talvez
estivesse sabendo que apenas tínhamos um tempo limitado
juntos, ou talvez fosse simplesmente a própria Willa, mas eu
não conseguia ter o suficiente dela.

Ela era todos aqueles ditos banais estúpidos. Água no


deserto do Saara, sol depois da chuva, comida depois de passar
fome. Mas ela era mais do que isso. Ela fez tudo desaparecer
até que meu próprio universo se centrasse nela. Para alguém
que geralmente tinha o mundo em mente, ela era capaz do
impossível: acalmar minha alma.

— Bom dia, — eu disse gentilmente, passando o dedo pela


pele macia de sua bochecha. Fiquei longe do resto de seu corpo
nu e aquecido pelo sono, sabendo que perderia a reunião se
não o fizesse.

Seus cílios tremeram quando ela acordou, ainda sonolenta


e incrivelmente sexy. — Olá.

— Eu tenho que ir a uma reunião, mas voltarei em cerca


de uma hora.

— Que horas são?

— Um pouco depois das nove. Durma para sair do jet lag,


e eu te acordo quando voltar. — Pressionei um beijo suave na
testa dela e me afastei. Se eu estava saindo, seria agora.

— Eu te adoro, Xander, — ela murmurou quando seus


olhos se fecharam. Ela tinha acordado completamente?

Sua confissão me atingiu no coração. Ela não disse que me


queria, precisava de mim, até me desejava. Ela me adorava.

— Não tanto quanto eu te adoro, Willa, — sussurrei para


sua forma já adormecida.

Saí do meu quarto o mais silenciosamente possível,


fechando a porta de mogno do século XVII com o máximo
cuidado. O palácio fora construído ao mesmo tempo que
Versalhes, e alguns diziam que era ainda mais bonito. Para
mim, era simplesmente o lar.
— Parecendo bem descansado, Alteza, — disse Oliver,
mantendo o ritmo enquanto eu descia o corredor que conduzia
para fora da ala residencial.

— Cale a boca, Oliver.

— Sim, senhor.

Não perdi o seu sorriso.

Atravessamos a sala de estar e fui recebido com todos os


cinquenta e quatro quilos da minha irmãzinha.

— Xander! — Sophie gritou, seus braços apertados em


volta do meu pescoço.

— Sophie, — eu suspirei e a abracei mais apertado. — Você


está bem? — Esperei até que ela afrouxasse o aperto e depois
a coloquei de volta na ponta dos pés.

Ela escovou os cabelos ruivos atrás das orelhas e piscou


aqueles olhos verdes para mim. Claro, ela tinha 22 anos, mas
sempre seria um bebê para mim. — Nós estamos bem. Bem,
eu estou bem. Brie está bem, é claro, porque ela não está aqui...

— Onde diabos está Gabriella? — E por que diabos minha


irmã mais nova não fica parada? Não que Brie fizesse o que
deveria. Havia ovelhas negras e Brie.

— Mônaco, eu acho? — Sophie deu de ombros.

— Ainda? Ótimo. Temos um tumulto próximo em nossas


mãos e Brie está apostando. Fantástico. Mal posso esperar
para explicar isso ao Primeiro Ministro em quinze minutos.

— Dez, — Oliver corrigiu atrás de mim.


— Porra. — Eu me encolhi quando Sophie torceu o
nariz. Se algum de nós deveria viver o conto de fadas real, era
Sophie. Ela era gentil, inteligente, educada, de fala mansa e
amada por nosso povo. Eu meio que esperava que as criaturas
da floresta guardassem suas roupas para ela. — Desculpe, —
pedi desculpas por xingar.

Ela esfregou meu braço. — Está tudo bem. Não tenho mais
dez anos.

— Nove minutos, — disse Oliver.

Eu joguei um olhar para ele. — Entendi. Eu tenho uma


secretária, você sabe.

— Na verdade você não tem. Ela saiu pouco antes de


partirmos para a América. — Oliver me corrigiu.

Droga. — Salário? — Eu perguntei.

— Jameson, — Sophie respondeu calmamente.

O filho da mãe não consegue manter o pau dele nas calças.

— Entendi. Sophie, odeio encurtar isso, mas tenho uma


reunião.

— Vamos lá, — ela ordenou com um sorriso. Então se virou


e acenou para Oliver. — Oliver, — sua voz suavizou.

— Sua Alteza Real, — disse ele com um breve aceno de


cabeça.

— Sophia, — ela o corrigiu, — ou mesmo Sophie, Oliver.


— Sim, Alteza Real, — ele concordou, me deixando com
uma sobrancelha arqueada enquanto caminhávamos para a
sala de conferências onde o Primeiro Ministro estava
esperando. Eu conheci Damian McAllister quando estava
concorrendo ao cargo e sempre fiquei impressionado com ele.

Belo currículo também. Melhores universidades e


programas de pós-graduação em Elleston, estágios
estrangeiros na Inglaterra e nos Estados Unidos, uma bússola
moral que não se afastava muito do centro, e era bastante
comum se as fofocas tivessem razão. Ele também se inclinava
para a esquerda, em território antimonarquista, o que o
tornava uma ameaça, não importava qual fosse seu título.

— Sua Alteza Real, príncipe Alexander -

Entrei pelas portas da sala de conferências, interrompendo


o resto da introdução do criado. Jesus, não é como se o homem
não soubesse quem eu era.

— Sr. Primeiro Ministro. — falei, apertando sua mão com


um aperto firme.

Ele levantou uma sobrancelha e encontrou meu aperto


com um dos seus. — Sua Alteza Real.

Entendi, você tem um pau grande. Mas o meu é maior.

— Por favor, me chame de Alexander. Nós vamos trabalhar


juntos por algum tempo. — Disse, me sentando em frente a
ele.

— Ou pelo menos até a próxima eleição, — disse ele com


um sorriso.
Um canto da minha boca se levantou. Isso poderia
significar uma votação para um novo primeiro-ministro ou
uma votação para expulsar a monarquia. Eu não sou idiota. —
Ou até então.

— E por favor, me chame de Damian. — Seus olhos eram


claros e azuis, seus cabelos eram de um tom nórdico de
loiro. Com apenas trinta anos de idade, a idade mínima para
primeiro-ministro, ele parecia muito mais adequado a um
anúncio da Abercrombie do que como primeiro-ministro, mas
provavelmente era por isso que ele era o número três de
solteiros mais elegíveis de Elleston.

Eu era o número um.

— Diga, — eu disse quando ele se sentou. — O que


exatamente é esse alvoroço?

— Você quer dizer o tumulto enquanto estava na América?

— Deixe-nos, — eu falei a todos os empregados e


secretárias na sala. Eles correram para atender. — Protestos,
— eu corrigi Damian. — Motim é uma palavra que eu usaria
com muito cuidado. E sim, além de querer a dissolução da
monarquia, sobre o que eles estão chateados?

— Além da família real gastar milhões de dólares em


impostos sem nenhum benefício direto, eles gostariam de uma
democracia. — Ele falou diretamente.

Este homem não se continha.

— Isso não vai acontecer.


— Então eles se reuniram. Nossa resposta foi medida,
nenhum civil foi ferido e, além de atrair a atenção mundial, seu
país é o mesmo de como você o deixou.

— Eles marcharam na Ópera, — abaixei minha voz. —


Onde minha irmãzinha estava presente.

— Eles fizeram. Eu também estava lá, e a princesa Sophia


não foi ferida. Seus guardas a removeram – a nós –
rapidamente. A força policial monitorou o tu- protesto e depois
de algumas prisões por destruição de propriedade -

— Você quer dizer o carro da polícia que eles atearam fogo?

— - eles se dissolveram depois da meia-noite.

— Então o que você está dizendo é que, além de incendiar


um carro e praticamente exigir que minha família não seja a
Família Real de Elleston, não há nada com que possamos
ajudá-los? Nenhuma sugestão ou exigência de política?

— Eles têm apenas uma demanda, e isso é dissolver a


monarquia. Em sua declaração à imprensa, eles veem esse
período de transição entre a morte do rei, que Deus descanse
sua alma, e sua ascensão ao trono, como uma oportunidade
histórica de mudar nosso governo para uma democracia.

Naquele momento, senti falta do meu pai mais do que


nunca. Ele saberia o que dizer, o que fazer para apaziguar um
grupo de pessoas que simplesmente não poderiam estar
satisfeitas com menos do que o impossível.

— E você está do lado deles?


Damian engoliu em seco, seu primeiro sinal de fraqueza
desde que entrei. — Sua Alteza, como primeiro-ministro, estou
do lado deste governo e tudo o que implica.

— Eu fiz minha pesquisa, McAllister. Não sou surdo nem


cego. Você sempre se inclinou contra a monarquia.

Ele abriu a boca, mas eu o parei com um único dedo


erguido.

— Agora, se julgássemos a todos pelo que fizeram na


Universidade, nosso mundo pareceria um pouco diferente, não
é?

Ele acenou com a cabeça uma vez. Havia pouco a dar a


este homem. Foi como ele cresceu politicamente tão rápido e,
por mais que eu o admirasse, também sabia o quão perigoso
era a juventude e a inexperiência. Eu estava andando na
prova.

— A menos que você me tenha trazido algo que eu possa


fazer por você, primeiro-ministro, acredito que esta reunião
acabou. Vou dar uma olhada nos relatórios. — Eu me levantei,
como ele.

— O que você gostaria que eu dissesse que é a posição


oficial? — Ele perguntou, seu olhar inabalável.

Olhei à minha direita, onde estava o retrato de nossa


família. Tradição. Honra. Dever. Lealdade ao nosso povo e ao
nosso nome. Meu pai incorporou todas essas qualidades, e
agora era a minha vez.

— Primeiro-ministro, Elleston é governado pelos


Wyndhams há mil anos, e é uma monarquia constitucional
desde 1692. Você forma esse governo em nosso nome e
somente com a nossa permissão. Da última vez que verifiquei,
temos o poder de vetar leis, aconselhar novas e, quando
absolutamente necessário, dissolver o parlamento a nosso
critério –inclusive a posição de primeiro-ministro. Nós somos
quase autossustentáveis de nossas vastas propriedades e os
impostos que arrecadamos financiam milhões de obras de
caridade. Parece que estou disposto a jogar séculos de tradição
no ralo porque um grupo de estudantes universitários acha
que seria melhor votar em sua representação? Oh, espere. Eles
já podem fazer isso.

— Príncipe Alexander...

— A menos que você tenha uma lista de demandas com as


quais eu possa ajudar ou de que maneira nosso governo falhou
com esses antimonarquistas, nossa discussão está concluída.

Seus olhos brilharam, mas ele assentiu. — Sim, sua


Majestade.

Suspirei e esfreguei a parte de trás do meu pescoço. —


Damian, se eles tiverem uma queixa legítima, eu ouvirei. Caso
contrário, eles estão agindo como crianças petulantes.

Sua postura suavizou. — Verei o que posso fazer.

— Ok. Me dê algo para trabalhar.

Cheguei do outro lado da mesa e apertei sua mão, nunca


para respeitar a regra das mãos fora da monarquia.

— Sua Alteza, à luz desses... protestos, me pergunto se


seria prudente... — Seus lábios se contraíram.
— Cuspa, Damian. Não há espaço para imprecisão entre
nós.

— Eu me pergunto se a princesa Gabriella pode... mostrar


um pouco de temperança.

Meus olhos se arregalariam se eu não tivesse sido


ensinado a controlar minhas expressões faciais. — Você quer
dizer a viagem dela para Mônaco?

Ele enfiou a mão na maleta e colocou quatro tabloides


diferentes, todos datados de ontem, todos mostrando uma
imagem diferente de Brie e de qualquer bar em que ela
estivesse dançando.

Foda-se. Minha. Vida.

As manchetes variavam de “Brincando enquanto Roma


Queima” a “Princesa Ga'bar'ella.

Respirei fundo e sorri. — Vou levar seu conselho em


consideração.

Sem outra palavra, saí da sala de conferências. A porta se


fechou atrás de mim e Oliver foi rapidamente atrás de mim
enquanto caminhávamos pela multidão que eu havia
dispensado da sala de conferências.

— Encontre minha mãe. Então coloque Brie na porra do


telefone. — falei assim que estávamos fora do alcance da
comitiva do primeiro-ministro.

— Ou eu poderia conseguir uma secretária para você, —


Oliver murmurou.

— Hoje não, Oliver.


Tudo o que eu queria era voltar para a cama ao lado de
Willa, para provar a paz que ela me traz. Transar com ela sem
sentido e me encontrar no processo. Então mostrar a ela esse
país que tanto amei. Em vez disso, eu já tinha apagado um
incêndio, e outro havia aparecido em seu rastro.

Eu mantive a calma até chegar à ala residencial, e isso foi


por pura força de vontade.

— Xander? — Sophie perguntou, a preocupação evidente


em sua voz quando se levantou do sofá e colocou o café na
mesa de apoio.

A secretária dela se levantou. Obviamente, eu entrei em


uma reunião.

— Onde está a mamãe?

— Ela está se vestindo, — respondeu Sophie. — O que


aconteceu?

— Eu preciso de Brie no telefone agora.

— Então use seu telefone celular. Eu não sou sua maldita


secretária. — Ela cuspiu para mim, de pé.

Merda. Suspirei. Meu telefone estava no meu quarto, e se


eu fosse lá, onde Willa estava esperando nua, havia zero
chance no inferno de voltar a esse circo.

— Aqui, está tocando, — disse Jameson, se levantando de


uma cadeira de canto onde eu não o tinha visto.

Peguei o telefone e assenti meus agradecimentos ao meu


irmão gêmeo.
— Jaime, o que você quer? — A voz embaçada do sono de
Brie perguntou através do telefone.

— Não é Jameson, é Xander, e o que eu quero é que você


traga sua bunda para casa, — retruquei. Se Sophie era a irmã
que mais se assemelhava a mim em seu senso de dever, então
Brie claramente herdou suas tendências de Jameson.

— Bem, eu não dou a mínima para o que você quer,


Xander. Vou voltar a dormir.

— Gabriella, você está em todas as páginas de todos os


principais tabloides dançando em um bar em Mônaco, durante
os momentos exatos em que tivemos demonstrações que
beiravam a tumultos na capital. Traga. Sua. Bunda. Para.
Casa.

Eu ouvi suas duas respirações lentas.

— Eu estarei aí em oito horas.

— Quatro, Brie. Quatro horas.

Apertei o botão de desligar e joguei o telefone para


Jameson.

— Olhe, pelos próximos meses enquanto controlamos o


movimento antimonarquista e a coroação, você acha que talvez
não pudéssemos agir como idiotas? Talvez?

Mãe limpou a garganta atrás de mim e eu me virei


lentamente para encará-la. Tempo impecável, como sempre.

— Mãe. Bom Dia.


— Xander. — Ela estava impecavelmente vestida com um
terninho Chanel, sem dúvida. — Se por idiotas, você quer dizer
não trazer meninas americanas e instalá-las em nossas camas
como as últimas concubinas estrangeiras, eu não poderia
concordar mais.

Os olhos de Sophie se arregalaram e piscaram entre os


meus e os de Oliver, como se ele fosse contar a verdade a
ela. Eu quase ri quando o vi balançar a cabeça para ela, mas
estava sem paciência nesse dia.

— Ela não é uma concubina, mãe, porque não é minha


amante. Ela é minha... — bem, merda. — Ela é minha
namorada. E até você colocar as algemas matrimoniais reais
em mim, ela ficará na minha cama.

— E quando o público descobrir que você tem uma


americana de classe baixa e cabelos de arco-íris em sua cama,
em vez de sua noiva? — Ela olhou para mim com emoção
contida, como sempre.

— E isso, senhoras, é a nossa deixa, — disse


Jameson. Dentro de algumas respirações, a sala estava limpa,
exceto por mim e minha mãe. Até Oliver fugiu para vigiar a
porta de Willa.

— Ela não é de classe baixa, e eu não preciso defender


nosso relacionamento para você. E meu noivado não é de
conhecimento público, mãe. Apenas um boato.

— Um boato de décadas que nunca foi refutado nesta


casa. É tão bom quanto um fato. Você pensa que é um homem
normal, não é? Capaz de transar com quem quiser. Tendo um
caso. Um caso.
— Capaz de namorar? Sim, eu sou. E pretendo continuar
até a lei dizer que não posso. Essa maldita lei.

— E como a sua americana se sente sobre isso?

Meus olhos voltaram a olhar para o corredor onde Willa


dormia. — Ela conhece o resultado. Nós dois sabemos. Mas
tenho um tempo limitado para estar com ela, e vou fazer
exatamente isso. Eu não me importaria se o público soubesse
que estamos namorando -

— Isso seria um desastre! — Mamãe estalou. — Estamos


no meio de uma crise. Você ainda não está coroado, e com
Gabriella sendo... Gabriella, a opinião pública pode se voltar
contra nós. Eles vão se espelhar em você para seguir as regras,
fazer o que seu dever exigir.

— E o que dizer do amor?

Amor.

— Oh, isso não é amor, — a mãe riu. — Você querido


garoto. Isso é luxúria, uma paixão. E estou tolerando isso
apenas porque sei que você fará isso de qualquer maneira, mas
ela deve ser removida do seu quarto.

— Não.

— Como?

Eu olhei fixamente para minha mãe. — Não. Eu disse


não. E se você insistir, eu a levarei para o hotel mais próximo,
onde ela e eu compartilharemos uma suíte pelo tempo que
escolhermos. Tenho 28 anos e você não tem mais controle
sobre o maldito acordo de noivado que assinou.
A mão dela voou para o peito. — Xander.

— Não. Ela é a única coisa que você não vai tirar de


mim. Seremos discretos porque entendo meu dever, mas não
vou desistir dela.

— O que você vai fazer, Alexander? Se apaixonar por esta


mulher? Amar essa mulher? Será duas vezes mais doloroso
deixá-la ir se você continuar, do que seria terminar
agora. Poupe seu coração da dor, poupe a monarquia do
escândalo.

O pensamento de deixar Willa ir me cortou


rapidamente. Para nunca mais vê-la, nunca a tocar, nunca
ouvi-la rir ou vê-la devorar junk food. Nunca sentir seu corpo
debaixo do meu ou beijar sua doce boca... era insondável.

Ela. Era. Minha.

— Eu não vou deixá-la ir, — eu disse em um sussurro.

Seus olhos caíram de tristeza antes que sua indiferença


habitual assumisse.

Balançando a cabeça, eu a deixei em pé na sala de estar.

Passando por Oliver, abri a porta do meu quarto, sem me


importar que se fechou atrás de mim. Os aposentos eram como
sempre foram, um suntuoso quarto com cama, uma pequena
área de estar, uma enorme entrada no armário, todos
decorados em vários tons de mogno e azul.

Mas não Willa.

Um leve respingo veio do banheiro, e eu tirei minhas


roupas, deixando um rastro até as portas francesas do
banheiro. Largando minha cueca boxer no chão de mármore,
encontrei Willa na minha enorme banheira de hidromassagem,
bolhas cobrindo tudo o que eu precisava reivindicar. As ondas
suaves de seus seios flutuaram na água, e meu corpo
endureceu.

— Xander? — Sua voz era suave quando se sentou. — Está


tudo bem?

Não respondi, simplesmente entrei na banheira e me


joguei na água. Então eu a alcancei, segurando as curvas
suaves de sua cintura e a puxando para me montar. Eu a beijei
com força, minha boca quase punindo – ela, eu, nós dois pelo
que havíamos feito, nos oferecendo o gosto do outro,
sabendo que não éramos uma possibilidade.

Ela amoleceu imediatamente, e minha boca


também. Minha língua emaranhada com a dela, rolando,
chupando, reivindicando o recesso. Eu beijei a pele sob sua
orelha quando meu pau subiu entre nós contra sua barriga.

— Eu preciso de você, — rosnei em seu pescoço.

— Eu sou sua, — disse ela. Sem perguntas, sem


demandas. Ela simplesmente aceitou o que eu poderia dar a
ela sem pedir mais. Isso me humilhou e me irritou. Ela valia
muito mais, e eu era o idiota que ia levar tudo.

Meu polegar encontrou seu clitóris, e eu pressionei e rolei,


meus dedos encontrando seu corpo liso com mais do que
apenas água. — Por favor, esteja pronta, porque eu mal posso
esperar, — eu disse e a posicionei sobre mim.

— Estou pronta no minuto em que você entra em um


quarto vestido, quanto mais nu, — ela ofegou com a testa
apoiada na minha. Seus braços envolveram meu pescoço
enquanto seu corpo ondulava contra o meu, sua vagina
montando minha mão.

Movi minha mão e empurrei suas dobras apertadas,


saboreando seu suspiro na minha boca enquanto a
beijava. Era disso que eu precisava, para me enterrar em
Willa. Marcá-la como minha pelo maior tempo possível, porque
ela já deixou sua marca em mim.

A água espirrou pelas laterais da banheira enquanto ela


me cavalgava, sua boceta apertando meu pau como um torno
ardente. Ela me empurrou de volta contra a banheira e me
beijou com força enquanto me pegava repetidamente, nossos
corpos escorregadios e molhados.

Eu trabalhei seu clitóris com os dedos até que ela se


arqueou contra mim em ondas pulsantes quando seu orgasmo
a levou. Porra, a mulher era perfeita. Linda, sexy, engraçada,
inteligente e minha. Tão minha.

Rosnei esse sentimento em seu pescoço quando gozei,


derramando nela em impulsos rítmicos enquanto o prazer
nublava meu cérebro e o limpava ao mesmo tempo.

— Sua, — ela concordou com um beijo suave na minha


têmpora.

Nossa respiração diminuiu quando a temperatura da água


esfriou, Willa esparramada no meu peito. — Oh meu Deus.
Willa, me desculpe. Isso foi animalesco.

— Isso foi fenomenal pra caralho. — Ela sorriu para


mim. — Eu não sei o que aconteceu, e você não precisa me
dizer. Apenas saiba que pretendo usá-lo da mesma maneira
exata quando eu precisar.

Eu segurei seu rosto e a beijei gentilmente, o completo


oposto do jeito que acabei de levá-la. Ou deixei ela me
levar. Tanto faz.

Uma batida na porta soou.

— Porra, — eu murmurei.

— O dever chama, — ela cantou alegremente, pulando


para fora da banheira e envolvendo seu corpo delicioso em uma
das minhas toalhas. Eu amava a visão dela em minhas
coisas. Aparentemente, alguns dias com Willa e eu estava me
tornando um homem das cavernas.

Levantei e fiz o mesmo, enrolando uma toalha em volta da


minha cintura enquanto as batidas passavam de persistentes
a exigentes.

Abri a porta para encontrar Oliver no meio da batida.

— Jesus, o que poderia ser tão importante? Estamos


pegando fogo, porra?

O olhar solene em seu rosto era mais severo do que


qualquer palavra poderia ter sido.

— Oliver?

Ele levantou uma pilha de tabloides – datados de hoje – e


balançou a cabeça. — Sinto muito, Xander.

Olhei para baixo e vi uma foto de página inteira de mim


beijando Willa no saguão do nosso hotel em Nova York. Nossos
rostos estavam nítidos, assim como as outras fotos de nós
andando de mãos dadas. “Amante americana do príncipe
Alexander” era a primeira manchete.

A raiva fervia em minhas veias. Eu estava acostumado a


ter minha privacidade violada, mas Willa? Isso era
besteira. Besteira absoluta.

— Fica pior, — disse Oliver.

— Quanto? — Eu quebrei.

Ele apontou para a legenda abaixo da foto.

Eles tinham o nome dela.

— Tanta coisa para ser discreto.


Xander deslizou seus braços por uma camisa branca de
botão, seus movimentos frenéticos, mas seus traços sólidos
como pedra.

— Sinto muito, Willa, — ele disse pela décima terceira vez.

Coloquei meu joelho embaixo do queixo e afundei na


cadeira de couro em frente à mesa em seu quarto. Eu
rapidamente vesti uma calça de pijama de seda e uma blusa,
não querendo perder completamente a sensação luxuosa de
que o banho e o sexo alucinante me ofereceram. — Você não
tem nada para se desculpar. Sou eu quem deveria estar me
desculpando. Estou comprometendo tudo -

— Pare, — ele me interrompeu, e uma onda quente


ondulou sobre minha pele quando ele caiu de joelhos diante de
mim. Ele deslizou suas mãos fortes sobre as minhas, olhando
para mim com aqueles olhos escuros deslumbrantes. — Estou
acostumado com esse estilo de vida. Isso não é algo que eu
queria para você. E eu sin...
— Não. — Foi a minha vez de interrompê-lo. Fiz um sinal
para onde eu sabia que Oliver estava do lado de fora da porta,
esperando. Fazia dez minutos desde que Oliver lhe mostrou o
tabloide. — Vá.

Ele me lançou outro olhar de desculpas. — Eu não


pretendia sair correndo depois...

Eu sorri. — Depois que você me fodeu sem sentido?

Sua boca caiu, uma agitação naqueles profundos olhos


castanhos. Pressionei a ponta do meu dedo sob o queixo para
fechar a boca.

— Sim, — ele finalmente disse, de pé. Estiquei o pescoço,


seguindo o comprimento alto de seu corpo quando se elevou
sobre mim. Porra, o homem era requintado quando estava nu,
vestido, molhado ou seco. Não importava o que ele vestia, que
humor estava ou onde estávamos – eu o queria. — Volto assim
que puder, — disse ele.

— Não se preocupe comigo. — Eu dei o meu melhor


sorriso, não mostrando a ele o quanto eu estava preocupada
por estar ferrando totalmente com sua vida real. — Eu tenho
meu laptop e um adaptador internacional. Preciso trabalhar.

Após um beijo rápido na minha testa, ele saiu pela


porta. Depois que ouvi os passos dele e de Oliver
desaparecerem, deixei meus ombros caírem.

Droga.

Xander e eu pensamos que estávamos sendo tão


inteligentes. Cuidadosos. Não indo a público, mantendo o que
éramos escondido... entendendo que havia um limite de tempo
para o que tínhamos.

Algo afiado retorceu no meu estômago, um sabor amargo


enchendo minha boca.

Eu era ruim para sua imagem, e agora havia provas disso


na primeira página do tabloide mais vendido nos Estados
Unidos, e aqui, aparentemente.

A mãe dele me odiando era uma coisa – ela tinha algum


instinto de leoa para proteger seus filhotes e sua terra de
orgulho – mas o resto do mundo? Eles não me conheciam. Não
sabiam o que Xander e eu tínhamos concordado. Eles
provavelmente pensaram que eu estava atrás de uma coroa
incrustada de joias com um título que combinasse.

Revirei os olhos com a ideia, correndo pela sala para pegar


minha bolsa do laptop. Eu não queria o tipo de
responsabilidade com a qual Xander nasceu, e certamente não
queria o dinheiro dele. Eu já tinha o suficiente, não que o
público estivesse ciente do meu patrimônio, mas ainda
assim. Eu era uma autora... não uma prostituta maldita.

Desfiz as malas e me conectei, pronta para deixar Elleston


e suas visões de mim para trás por algumas horas e focar no
meu trabalho. Ao levantar a tela, meu último trabalho em
andamento apareceu e reli o último parágrafo que havia escrito
para me reorientar.

— Shayla, por favor, — Brandon implorou. — Deixe-me tê-


lo.

Chupei meus dentes, apertando-o quando prendi o punho


de couro em torno de seu pulso. — Paciência, — eu disse, meus
estiletes clicando contra o piso de madeira do quarto dele
enquanto eu me empolava para o outro lado para segurar seu
pulso oposto.

Ele rosnou, puxando suas restrições, as correntes batendo


contra a estrutura da cama de ferro forjado. O suor escorria
pelos cumes duros de seu abdômen, a trilha lisa e doce
enquanto passava por seus ossos do quadril perfeitos. Eu já o
torturei por uma hora, quase sugando-o antes de acorrentá-lo à
cama.

Situando meus joelhos em ambos os lados daqueles quadris


gloriosos, eu olhei para ele. — Diga novamente o quanto você me
quer...

O zumbido agudo do meu celular vibrando na mesa me


tirou da cena, e eu gemi quando vi o número.

A única pessoa que eu nunca poderia ignorar.

— Estou trabalhando. Prometo. — Eu disse como uma


saudação enquanto atendia a ligação.

— Fico feliz em ouvir isso. — Laura, minha agente há seis


anos, tinha dois tons – negócios e negócios urgentes. Este tom
era o último.

— Quão ruim é isso? — Eu perguntei, suspirando


enquanto encarava as palavras na tela na minha frente. Eu
prefiro mergulhar em cena a lidar com a realidade no
momento.

— Você me diz, — disse ela. — Eles já a extraditaram?


Eu ri, a piada em sua voz sacudindo um pouco da minha
tensão. — Ainda não. Sempre há o amanhã.

Ela riu. — Os repórteres receberam seu nome de um fã


excessivamente zeloso que falou sobre as fotos no Instagram.

— Ahh, — eu disse, assentindo, embora ela não pudesse


me ver. Passei meus dedos sobre a madeira de cerejeira da
mesa de Xander.

— Sim, — ela disse. — Pelo menos eles não sabem sobre


as aventuras de Shayla.

Fiquei em silêncio, o pensamento me chocou como um


raio. Olhei para as palavras na minha tela – elas não eram de
forma alguma desonestas... eram perfeitas para o gênero, para
os leitores que as devoravam – mas se a rainha as encontrasse?
Porra, ela poderia me decapitar por princípio.

— Willa? — Laura me trouxe de volta da visão horrível. —


Eles não sabem, certo?

— Não, — eu disparei, depois respirei. — Deus não. Quero


dizer, acho que Xander sabe. Ele nunca comentou, mas viu os
livros nas minhas prateleiras em casa.

Eu imaginei que ele estava adaptando uma política de “não


pergunte, não diga” sobre o assunto, e como já tínhamos
tantas coisas contra nós e tão pouco tempo juntos, não pensei
em ter uma discussão aberta sobre isso. Agora que os tabloides
me haviam pintado como uma ianque faminta pela coroa...

— Bom, — ela disse. — Nós trabalhamos duro


– especialmente eu – para enterrar essa parte da sua vida, a
fim de impedir que se conecte à outra. Shayla deve ficar bem
escondida, mas não posso prometer nada, Willa. Eu nunca fui
contra a maldita realeza antes.

Eu ri novamente. — Você quase parece empolgada com a


perspectiva de um desafio. — Laura era uma das dez principais
agentes literárias dos Estados Unidos e havia levado minha
marca a um nível que eu nunca sonhei. Ela estava com a
garganta cortada, mas cuidando – como uma mãe bulldog – e
eu a amava.

— Eu não estou, — disse ela, e eu pude detectar a mentira


em sua voz como se estivesse dando um sorriso digno de
Grinch. — Enfim, — ela continuou. — Você transar com o rei
de Elleston foi apenas metade da razão pela qual liguei.

— Príncipe, — eu a corrigi.

— Realeza. Tanto faz. — Eu podia imaginá-la revirando os


olhos. — Foi aberta uma vaga para autógrafos no San
Francisco Bookish Dreams. Eles querem que você a preencha.

Eu me levantei da cadeira. — Sério?

A Bookish Dreams era uma das maiores e mais


prestigiadas conferências de livros dos Estados Unidos. Suas
contratações eram como danças bem sincronizadas,
perfeitamente coreografadas, e todos os principais autores
assinaram em seus eventos. Eles tinham listas de espera no
segundo em que anunciavam os autógrafos.

— Falando sério, — disse ela. — E não pareça tão


chocada. Você pode facilmente assinar como uma de suas
personalidades. Os livros infantis estão voltando
imensamente, porque todas as mães estão lendo coisas para
adultos e comprando livros para os filhos ao mesmo tempo.
A ideia de assinar como meu pseudônimo secreto me fez
tremer. Eu gostei dessa parte da minha vida em
particular. Minha. Ninguém poderia me tocar lá – críticas
ruins, fãs zelosos, nada disso. Era a minha identidade secreta
e, embora eu adorasse autografar livros para meus leitores
pessoalmente, por enquanto estava contente em enviá-los
assinados do conforto da minha casa.

— Quando é?

— Este fim de semana, — disse ela. — Eu já verifiquei


voos. Estou passando o mouse sobre o botão comprar agora.

Eu assobiei, meus olhos disparando para a porta gigante


fechada do outro lado da sala. O Bookish Dreams era incrível
mas Xander... eu não teria outra chance com ele. Depois que
se tornasse rei, eu teria que ir para casa, completamente ciente
de que o que tínhamos era algo que ambos precisávamos,
embora não fosse permitido manter.

— Willa? — Ela repreendeu.

— Eu não posso. — Eu soltei as palavras, minha decisão


final e rápida. — Não tenho certeza de quanto tempo ficarei
aqui, mas não vou sair um segundo antes que eu precise.

— Bookish. Dreams.

— Eu sei. Confie em mim, entendi. É um sonho autografar


lá, e em qualquer outra ocasião eu teria deixado tudo para
estar...

— Mas você não consegue largar o príncipe?

Suspirei.
— Eu não posso, — disse novamente.

Esfreguei a palma da mão sobre o rosto, odiando o quão


viciada eu já estava.

Ainda tínhamos semanas. E era isso. E eu estava


recusando um sonho de autografar apenas pela chance de
estar com ele por mais alguns dias. Algumas risadas extras,
algumas chances extras de deixá-lo ser Xander em vez
do Príncipe Alexander, alguns suspiros extras quando ele
entrava em mim e me empurrava para além de tantos níveis de
êxtase que eu não me lembrava mais do meu nome.

— Uau. — Laura assobiou. — Eu sei que ele é lindo, mas


deve ser mais do que isso para fazer você recusar.

— Ele realmente é, — eu disse, incapaz de parar o sorriso


nos meus lábios.

— Ter um castelo no bolso e um país disposto a se ajoelhar


para você tem suas vantagens, — ela brincou.

— Realmente não é assim, — eu disse. — Quando ele está


comigo... Deus, Laura, é como se eu o tivesse escrito. Ele é
engraçado, afiado e perspicaz. E eu não posso nem descrever
o quão bom ele é em outras... áreas. — Um rubor varreu meu
corpo com apenas o pensamento de sua boca em mim, da
maneira animalesca que me levou na banheira. Do jeito que
ele precisava de mim em um nível primitivo, fiquei mais do que
feliz em apaziguar. — Mas, — eu disse, voltando. — Ele
também é o príncipe. Existem dois lados dessa moeda, e estou
apenas aprendendo a jogar. Eu preciso estar aqui. Para ele.

— E o que você precisa? — Ela perguntou, e eu apertei


meus lábios. Ela sempre cuidou de mim. Sempre me obrigou a
cuidar de mim mesma para que eu pudesse cuidar da minha
carreira. Ela até me impediu de escrever por duas semanas
para que eu pudesse dormir quando escrevi livros consecutivos
de Shayla Scotch para um empurrão de marketing.

— Xander é o que eu preciso, — admiti. — Eu nunca


experimentei algo assim antes, e mesmo sabendo que é
limitado... não posso parar agora.

— Uau. Bem. — Ela disse. — Apenas fique segura, ok? Sei


que você é inteligente pra caralho, Willa, mas não quero que
volte para casa como uma poça. Entendeu?

— Sim, senhora, — eu disse, tentando rir, mas incapaz. Eu


não poderia prometer nada a ela. Do jeito que eu ansiava por
Xander, eu não tinha certeza de como sobreviveria quando
tivéssemos que cortar as coisas permanentemente. Queria
descrevê-lo como este grande capítulo da minha vida – um que
encheria meu tanque de inspiração para os próximos anos –
mas nunca se transformaria em um livro real. Algo fácil de
dizer adeus e olhar para trás com carinho. Não algo que eu
lamentaria ou tentaria desesperadamente reescrever.

— Vou deixar a Bookish Dreams saber que você está triste


por não conseguir participar.

— Obrigada, Laura. Eu realmente sinto muito. Você sabe


disso.

— Eu sei. — Ela riu. — O homem tem que ser algo especial


para perder isso. Espero que ele saiba que você também é uma
mulher infernal.

— Ele sabe. Confie em mim. — Eu disse. Xander me


tratava como algo precioso, mas reconhecia que meu lado feroz
e independente era uma das razões pelas quais ele era atraído
por mim.

— Bom. Te amo, senhora. Eu falo com você em


breve. Tente produzir mais quarenta mil palavras enquanto
estiver aí. Talvez comece um novo livro sobre príncipes
sensuais.

— Ha, ha. — Eu balancei minha cabeça. — Te amo.

Desligamos e eu fiquei lá, olhando silenciosamente as


palavras na tela. Eu não estava mais com vontade de escrever
sobre sexo. Eu não queria mergulhar na conquista mais
recente de Shayla e explorar todas as maneiras pelas quais ele
poderia deixá-la selvagem. Eu estava muito preocupada com o
homem de quem ainda sentia o cheiro na minha pele. Cuja
astúcia eu ainda podia sentir entre minhas coxas.

Xander me possuiu naquela banheira, mas ele me deixou


montá-lo como se eu estivesse no controle. Era o equilíbrio
perfeito entre nós – um desejo ardente, apaixonado e
consumidor, que estávamos prontos para satisfazer no
segundo em que estávamos a três metros um do outro.

Meu coração disparou ao pensar no que faríamos quando


ele voltasse – não importava se envolvia roupas ou não –
enquanto estivéssemos juntos. Eu ficaria tão feliz sentada ao
lado dele em uma sala abafada, aprendendo qual o garfo
adequado para usar na salada, como ficaria montando em seu
rosto até que eu gozasse em cima dele.

Ok, talvez quase tão feliz quanto isso, mas a realização foi
suficiente para tirar o fôlego de mim.
Xander estava se transformando de uma diversão e muito
necessária aventura com uma data de validade, em algo que
afundou seus dentes em minha alma, a mordida que beirava
prazer e dor e estrelas explodindo sobre meus olhos.

Mas eu não era nada além da amante americana para o


seu povo... para o seu país. E eu não tinha permissão para ver
estrelas com Xander.

Eu apenas consegui segurar sua cauda de fogo enquanto


ele disparava por toda a minha vida, um brilho brilhante de luz
que era poderoso o suficiente para se marcar no meu coração
para sempre.

Lágrimas cobriram meus olhos, e eu os pisquei para longe.

Eu estava fodida.

Absolutamente fodida pela realeza. Trocadilho


absolutamente intencionada.
— Eles estão todos lá. — Oliver apontou para a sala de
estar.

— Quem são todos? — Eu perguntei enquanto


caminhávamos pelo corredor da residência do palácio.

— Todos.

Balancei a cabeça e saboreei os últimos quinze passos que


tinha antes que meu mundo tentar implodir. Tentar era a
palavra-chave. Eu não deixaria nada explodir na cara de
Willa. Eu tinha duas opções aqui. Eu poderia confirmar ou
negar, e não havia chance de negar qualquer parte de Willa.

— Quer que eu ande na sua frente? Sua mãe pode estar


armada.

— Ha. Muito engraçado.

Entramos na sala de estar, e Oliver ocupou seu lugar na


porta com os outros membros da equipe de segurança real. Eu
estava sozinho.
Todos se levantaram, exceto minha mãe. Jameson,
Charlotte, Sophie, a secretária da minha mãe e -

— Sério? Você pensou que precisávamos trazer a RP do


palácio? — Eu perguntei, apontando para Georgia
Kenderickson.

A loira tensa limpou a garganta quando minha mãe fez um


gesto para o sofá vazio. Afundei nas almofadas, muito mais
relaxado do que eu jamais poderia compreender, dada a
situação. Charlotte me deu um sorriso tenso da poltrona.

— Discreto. Essas foram suas palavras. — Minha mãe


riu. — Nem meia hora depois, eles foram jogados na porta. —
Ela apontou para a propagação de tabloides na mesa de café.

— Eu acho que eles não jogaram nada. Provavelmente


foram entregues e nunca tiveram a chance de chegar à nossa
porta de verdade.

— Você sabe o que eu quero dizer! — Ela estalou. — E


então você nos deixou sentados aqui por quase quatro horas
esperando por você para quê? Consultar assuntos de interesse
nacional com a sua americana?

Eu ignorei seu deboche.

— Jameson, onde está a minha secretária? — Perguntei ao


meu irmão, que estava deitado no canto do sofá, com a cabeça
apoiada na mão como se estivesse entediado.

— Como eu iria saber? — ele respondeu com um encolher


de ombros.
— Visto que vocês dormiram juntos e ela deixou o
emprego, eu esperava que você pudesse localizá-la.

— Sim, eu não peguei exatamente o número dela.

— Pelo amor de Deus, — Charlotte murmurou, cruzando


as mãos no colo. — É possível você se manter em suas calças?

Jameson sorriu. — Por que eu deveria?

— Qual é o sentido disso... — Mamãe começou.

Inclinei para a frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. —


A questão é que uma pessoa da realeza tendo um caso sexual
não é novidade e nada digno de notícia. Você está chateada
pelo motivo totalmente errado.

— Você é o herdeiro do trono, a apenas alguns meses da


sua coroação e acha que isso é aceitável? Toda a população de
Elleston espera te ver com Charlotte, e você é visto
grosseiramente lidando com uma garota americana no meio de
um hotel!

— Nós podemos mudar isso... — Georgia começou pegando


um tabloide.

— Não estamos mudando nada, — eu disse. — Você está


com raiva porque a reputação da monarquia está em risco.
Onde está sua compaixão?

— Compaixão? — A cabeça de mamãe sacudiu como se


tivesse levado um tapa.

— Willa acabou de ser exposta. Sua privacidade violada.


— Sophie disse suavemente, desenrolando as pernas debaixo
dela no lado oposto do sofá. — Podemos ter algumas
consequências políticas, mas a dela é muito pessoal.

— Obrigado. — Eu balancei a cabeça em direção a minha


irmã mais nova.

— Eu não dou a mínima para as consequências dela. Ela


não é responsável por manter uma monarquia em
funcionamento enquanto seus filhos fazem o que diabos
querem! — A voz da mãe se elevou antes que ela respirasse
calmamente. — Georgia, o que fazemos?

— Acho que negamos o relacionamento e tornamos público


o noivado com Lady Charlotte. Podemos marcar uma data,
garantir que a imprensa esteja lá e varrer isso
imediatamente. Se anunciarmos que um noivado está próximo,
isso se tornará viral, e eu quero dizer viral. O público não será
capaz de ter o suficiente depois que confirmarmos esses
rumores.

— Sim. Isso não vai acontecer. — falei.

— Alexander! Imagine como Charlotte se sente! — Mamãe


estava ficando vermelha.

— Charlotte se sente muito bem, Majestade, — respondeu


Charlotte por si mesma. Ela encontrou o olhar da minha mãe
sem vacilar. Charlotte nasceu e foi criada para ser da realeza,
uma verdadeira rainha. Ela simplesmente não se sentia como
a minha. — Xander e eu conversamos. Concordamos em dar
um ao outro o máximo de tempo possível antes de sermos
obrigados a nos comprometer. Você sabe disso. Se qualquer
coisa. — Ela se virou e sorriu para mim. — Estou feliz que ele
esteja feliz, mesmo que apenas por este momento.
Antes que eu pudesse agradecer a Charlotte, minha mãe
se levantou.

— Estou farta disso. A posição oficial é que Alexander e


Charlotte estão explorando alegremente suas possibilidades, e
esta é realmente uma foto de Jameson. Ninguém vai piscar ao
ver você se divertindo... um pouco.

Jameson riu de uma maneira triste e depreciativa. —


Porra, agora estou sendo responsabilizado até pelas mulheres
que nem consigo foder.

— Jameson!

— Desculpe, mãe.

Eu me levantei, tendo o suficiente dessa besteira. — A


declaração oficial será como sempre foi. O palácio não comenta
a vida amorosa da família real, seja ela factual ou insinuada.
Eu nunca mordi a isca e não irei agora. Não vou jogar Willa
para os lobos porque ela teve a infelicidade de me acolher
durante uma tempestade de neve. Eu entrei na vida dela –
realmente assumi o controle – e não há chance de a deixar
colocá-la em qualquer posição comprometedora.

— Parece que você fez tudo isso sozinho, irmão, — uma


voz chamou do batente da porta.

— Brie! — Sophie pulou de seu assento e correu para a


porta para abraçar nossa irmã.

Brie passou os braços em volta de Sophie e a abraçou


antes que se separassem. — Parece que eu não sou a única a
fazer manchetes por aqui, — disse ela, sorrindo para mim. Sua
maquiagem era pesada, jeans skinny, blusa decotada e a
jaqueta de couro tão negra quanto os cabelos lisos que caíam
quase até a cintura.

Ela era Brie.

Eu cruzei a distância entre nós e a abracei, feliz por ter


todos os meus irmãos juntos. — Sim, bem, eu vou lidar com
isto. Você fica fora dos bares até estabilizarmos a monarquia,
certo?

— Ei, — ela encolheu os ombros. — Eu sou a mesma


pessoa que sempre fui. É você quem está confundindo todo
mundo.

Eu balancei minha cabeça e caminhei em direção ao meu


quarto, Oliver já estava do lado de fora da porta.

— Xander. — A voz da minha mãe me parou com sua


suavidade.

— Mãe? — Virei do lado de fora da porta para encontrá-la


nos meus calcanhares.

— Eu te amo tanto quanto amo este país, mas o que você


espera? — O rosto dela caiu em uma tristeza que eu não via
desde a morte do pai.

— Como?

— Essa garota. Você sabe que nada pode resultar disso. O


Parlamento nunca permitiria que você se casasse com uma
plebeia, muito menos com uma americana. O que você está
fazendo... é imprudente e diferente de você. Eu já pedi antes,
mas agora eu imploro. Deixe a garota ir para casa e lamber
suas feridas antes que você a assuste de uma maneira que ela
nunca se recuperará.

Pela primeira vez desde que eu era menino, minha mãe me


deixou sem palavras.

— Oh. Meu. Deus. — Willa girou lentamente em um


círculo, a luz dos vitrais capturando seus cabelos e lhes dando
ainda mais cor. — O que é este lugar?

— São os Arquivos Nacionais de Elleston, — respondi,


amando a maneira como ela examinava todos os detalhes da
cúpula.

— Livros e livros por dias, — disse ela. — É algum tipo de


momento da Bela e a Fera? — ela perguntou, arqueando uma
sobrancelha em minha direção.

— Se você está perguntando se estou lhe dando essa


biblioteca, a resposta é não. Isso seria um pouco ilegal.

Ela riu, o som ecoando nas grandes paredes de


mármore. Eu esvaziei o lugar esta tarde para que pudéssemos
visitar sem olhares indiscretos. Havia vantagens em ser um
Wyndham. Além disso, depois de tudo que eu a fiz passar
ontem com os tabloides, ela merecia algo espetacular.

— Essas são... — ela passou a mão pelas prateleiras, sem


perturbar as delicadas lombadas dos livros antigos. — Essas
são todas as primeiras edições?
— Em sua maioria, — assenti. — Sempre que não estou
tentando fazer meu trabalho diário -

— Você quer dizer administrar um país? — ela lançou um


sorriso por cima do ombro. Deus, esse vestido de verão
destacava todas as suas curvas nos lugares certos. Tão fora do
lugar quanto suas botas estavam nos arquivos, elas eram
perfeitamente Willa. Ela enrolou seu cardigã na altura do
quadril.

— Ultimamente parece ser isso. Mas enquanto eu


praticava direito, fiz questão de caçar todas as primeiras
edições que estavam perdidas. Era um tipo de hobby, uma
maneira de fazer meu pai sorrir.

Ela fez uma pausa, se voltando para mim. — Você fez


questão? Pretérito?

Enfiei as mãos nos bolsos da calça e dei de ombros. —


Parece que não vou ter muito tempo livre assim que assumir o
trono. Várias coisas terão que ser abandonadas quando o
príncipe se tornar o rei.

Como nós.

Ela voltou em minha direção até que sua mão descansou


acima do meu coração. Eu senti seu calor através do linho da
minha camisa de botão. Pelo menos eu tinha negligenciado a
gravata e arregaçado as mangas depois da minha reunião com
Damian esta manhã.

— Apenas porque você assume os deveres de rei, não


significa que perde quem você é, — ela disse suavemente,
olhando para mim com olhos que viam demais. — É quem você
é, não o que você é que o torna excepcional, Xander. Não deixe
isso para trás por causa de uma joia brilhante. Você é capaz
de coisas tão incríveis, mas no final do dia, você tem que ser
você. Prometa que não vai mudar.

— Willa...

— Não. Me prometa. — Ela implorou, suas mãos


agarrando o tecido da minha camisa. — Porque eu não vou
estar aqui para ter certeza. Não estarei aqui para ver se você
encontra seus livros e sorri nos dias sombrios. Não estarei aqui
para ver quem você se torna...

Meu coração se partiu em dois, o pensamento de perdê-la


simplesmente inimaginável. Coloquei seu rosto em minhas
mãos e a beijei. Ela tinha gosto de desespero, medo e uma
emoção que eu estava com muito medo de nomear. Movi minha
língua ao longo da dela, prometendo a ela sem palavras tudo o
que pude neste momento.

Isso era quem eu queria ser. O homem que levava essa


mulher às bibliotecas e a beijava nas estantes.

Ela se inclinou na ponta dos pés, colocou os braços em


volta do meu pescoço e me beijou de volta com tudo o que ela
valia. Minha mão deslizou por sua coxa, sob o vestido, para
cobrir a perfeição de sua bunda.

Uma garganta limpou atrás de mim e, por um momento,


considerei um decreto real de morte ao responsável.

— É melhor alguém estar morto, Oliver, — eu disse sem


olhar. No entanto, tirei minha mão do vestido de Willa. A
última coisa que eu queria era compartilhar qualquer parte
dela com mais alguém.
— Você vai querer ver isso, senhor.

Os braços de Willa escorregaram do meu pescoço e


andamos a pequena distância até onde ele estava na entrada
da sala.

— O que é isso?

— Conferência de imprensa.

Meus olhos se estreitaram quando peguei seu telefone


celular e apertei play no vídeo que ele tinha colocado na
ENN.com.

Georgia apareceu, parada nos degraus do Palácio Real.

— Vou responder uma pergunta, — disse ela com um


sorriso.

— Você pode nos contar sobre a americana vista com o


príncipe Alexander em Nova York? Estávamos presumindo que
ele estivesse saindo com Lady Charlotte Carlisle?

Meu estômago apertou, e Willa deitou a cabeça no meu


braço para assistir.

O sorriso de Georgia se parecia com o gato de Chesire. —


Agora, são duas perguntas.

A multidão de repórteres riu.

— Posso dizer que não há absolutamente nenhum


problema com o príncipe Alexander. Nosso casal favorito está
se fortalecendo e, neste momento, discutindo planos para selar
esse... compromisso. — Ela balançou o dedo anelar com uma
piscadela.
Eu estava ficando furioso, porra.

— Mas essa foto... — Um repórter chamou.

— Oh, vamos lá, pessoal. Vocês não conseguem dizer a


diferença entre Alexander e Jameson? Vocês, em um milhão
de anos, já acharam que seu príncipe herdeiro mostraria uma
afeição tão pública? Marca registrada de Jameson. Está tudo
no cabelo, pessoal.

Todos os músculos do meu corpo travaram. Meu cabelo


não tinha sido domado. Tinha estado alto e rebelde como o
dele, porque eu deveria ser ele. Ele estava no avião para Los
Angeles.

Porra. Porra. PORRA.

— Está tudo bem, — disse Willa, apertando meu braço


enquanto devolvia o telefone a Oliver.

— Está tudo, menos bem. Você ouviu o que ela disse?

— Ela realmente não disse nada que não fosse verdade, —


disse Willa enquanto Oliver se afastava. O homem sempre foi
bom em saber quando precisava se afastar. — Você ainda está
noivo, o público sabendo ou não. Ficar com uma americana em
público é o MO6 de Jameson, não o seu. Ela não mentiu.

— Talvez seja o motivo que odeio isso! — Eu surtei. —


Deus, Willa, me desculpe.

6
Abreviação de Modus Operandis (latim) que descreve um característico modo de agir de
uma pessoa.
Ela não recuou, não se encolheu, apenas me deu o mesmo
sorriso de aceitação. — Você não pode odiar o que é sua vida,
Xander.

— Eles acham que ele tocou em você. — Um ciúme


irracional irrompeu em meu peito, azedando meu estômago e
aquecendo meu sangue. Willa era minha. Minha e apenas
minha. Não de Jameson. Eu não a compartilharia, mesmo que
apenas em insinuações e boatos.

— Olha, isso está bem. Todo mundo sabe que eu sou a


pessoa nessa foto, mas isso o exime. Nós dois sabemos que
Jameson nem sequer respirou em mim. Não importa o que
mais alguém pense.

Acariciei a pele macia de suas bochechas. — Isso importa


para mim. Você é minha. Eu não me importo com o quão
machista isso pareça, ou totalmente ridículo. Não posso te
manter. Deus, eu sei disso. Está me matando saber que temos
apenas menos de três meses – que eu já sou louco por
você. Mas você é como um furacão. Você veio do nada e me
deixou de joelhos. Eu posso não ser capaz de te manter na
minha vida para sempre, mas você está aqui agora. Você é
minha. Não dele. Não vou deixar que você seja um boato sujo
que é varrido como o lixo.

— Xander, nunca me importei com o que as outras pessoas


pensam de mim. Eu apenas me importo com o que você pensa.

Engoli em seco, um pensamento irracional surgindo na


minha cabeça. Eu não podia..., mas podia. Nós poderíamos. —
Você confia em mim?
— Eu voei meio mundo com um homem que conheço há
cerca de uma semana, então sim, eu confio em você, — disse
ela com um sorriso.

Meu coração bateu forte no meu peito quando a peguei


pela mão e a conduzi em direção à porta da frente do Arquivo
Nacional. As enormes portas duplas eram guardadas por
Oliver e sua equipe, que ficaram atentos quando me aproximei.

— Dada a situação, acho que a porta dos fundos pode ser


a melhor, — disse Oliver calmamente. — Uma multidão se
reuniu para esperar na entrada desde que você fechou o local
temporariamente.

— Abra a porta, — eu pedi, a mão de Willa segura


firmemente na minha.

— O quê? — Oliver perguntou.

Olhei para Willa, seus olhos confiantes e tão cheios de


aceitação e honestidade que não pude deixar de beijá-la
suavemente. — Dê um salto de fé comigo?

— Mesmo que isso queime você? — ela perguntou, seus


olhos arregalados de preocupação.

— Deixe que me preocupe com as ramificações. Apenas...


Por favor, Willa.

Ela mordeu o lábio inferior com os dentes, mas acabou


assentindo.

— Abra a porra da porta, Oliver. Ninguém sabe que


estamos aqui. Não há nenhum assassino à espreita na chance
de eu estar no prédio.
— Você vai ser a porra da minha morte, sabia disso? — Ele
perdeu a cabeça.

— Abra. A. Porta. Essa é uma ordem do seu príncipe.

Ele olhou abertamente para mim, mas se virou para seus


homens. — Abram as portas. Saia primeiro, Littleton, você
toma o lado esquerdo da multidão, Roan, você toma o
direito. Varredura padrão o mais rápido possível. — Ele
levantou o pulso e falou no microfone. — Traga a limusine para
a frente. Agora. Sim, foi o que eu disse. Agora.

As portas se abriram e a luz do sol entrou. Era um dia frio,


em torno dos quatros graus, mas eu a colocaria no carro em
questão de segundos.

Andamos de mãos dadas pelas portas e chegamos aos


degraus de mármore onde a multidão havia se alinhado para
ganhar acesso aos arquivos. Havia duas filas de cada lado de
nós – para as cabines de entrada, sem dúvida – e um caminho
perfeito no centro.

Ouvi suspiros na multidão e o clique revelador das


câmeras. Uma rápida olhada mostrou pessoas mexendo em
seus telefones, sem dúvida tentando fazer uma foto ou um
vídeo.

Willa engoliu em seco, mas depois sorriu para mim. —


Qual é o seu plano, garotão?

— Olá, — Chamei a multidão com um aceno. — Sou o


príncipe Alexander e lamento muito ter mantido vocês aqui
esperando no frio.
Pelo canto do olho, vi a limusine parar na rua à nossa
frente. Oliver teria minha cabeça se eu não me mexesse logo.

— Príncipe Alexander, com quem você está? — uma


mulher com um telefone celular perguntou.

— Estou feliz que você perguntou. Esta é Willa Collins. —


Olhei para Willa e, por um milésimo de segundo, éramos
apenas nós. Tive a sensação de que sempre seria assim com
ela. Se estivéssemos em Nova York, Elleston, Sibéria... ou
separados, ela sempre faria o mundo desaparecer para mim. —
Ela é minha namorada.

Centenas de flashes dispararam enquanto eu roçava meus


lábios nos de Willa.

Agora é assim que você se torna viral.


— Ela é impressionante. — Soltei as palavras, parando
Xander enquanto ele nos conduzia em direção a um conjunto
de amplas portas duplas. Ele seguiu minha linha de visão,
seus traços suaves e ilegíveis.

— Charlotte? — Ele disse o nome dela como uma pergunta.

— Sim, — eu disse, olhando para ele. — Olhe para


ela. Ela parece uma rainha, apenas menos cruel que a sua
mãe... — Eu me interrompi, girando minha cabeça para ter
certeza de que a rainha não estava atrás de nós, então
rapidamente olhei para cima, caso ela decidisse fazer rapel do
teto.

Xander riu, balançando a cabeça. — Você está nervosa?

— Não. — Isso era mentira. Meu pulso disparou, minhas


mãos estavam suando dentro das luvas de seda que me deram
para combinar com o vestido, e meu cabelo não estava como
eu normalmente o usaria. As duas senhoras que vieram ao
meu quarto com opções de vestido se certificaram de pentear
meu cabelo de uma maneira que não mostrasse as minhas
cores. Eu teria gostado do processo se elas não estivessem
tentando me transformar em algo que eu não era – Xander
pode ter anunciado ao mundo que eu era sua namorada na
semana passada, mas isso não me transformou magicamente
em uma princesa.

Meus joelhos tremeram com a lembrança de sua


declaração, e o calor aumentou entre minhas coxas. Ele estava
totalmente envolvido – mesmo que pelos poucos meses que
teríamos – e eu realmente não podia pedir mais do que isso. Ele
já tinha me dado tanto.

— Você é impressionante, — disse ele, segurando meu


braço um pouco mais apertado. — Embora, — disse ele,
suspirando. — Eu gostaria que suas cores estivessem em seus
ombros, em vez de escondidas embaixo desse... nó. — Ele
passou um dedo na minha bochecha e eu sorri em seu
toque. Pelo menos estávamos na mesma página. Como sempre.
Seria mil vezes mais difícil deixá-lo quando eu precisasse.

— Obrigada. — Passei a mão livre sobre o peito largo,


apreciando a sensação do tecido luxuoso de seu terno. — Você
é o suficiente para me deixar louca com esse terno.

Ele levantou uma sobrancelha para mim. — E aqui eu


pensei que você gostava de mim nu e molhado.

Memórias do nosso tempo gasto em sua banheira enorme


enviaram ondas de calor pelo meu centro. Minha pele ficou
vermelha e eu me forcei a me concentrar.

— Você tem certeza de que quer que eu faça isso? — Mordi


meu lábio entre os dentes. — Sinceramente, não tenho
nenhum problema em ficar no seu quarto. — Escondida como
uma covarde. Não era eu, mas este era o meu primeiro evento
real público, e eu não estava exatamente na lista de favoritos
de todos.

— É claro, — ele disse. — Quero você comigo. — Um


músculo em sua mandíbula flexionou. — Pelo tempo eu puder
ter você.

Eu olhei para ele, me perguntando como as palavras


estavam entupidas na minha garganta quando eu era paga
para escrevê-las.

— Alexander. — A voz de Charlotte era tão delicada quanto


o vestido de seda que ela usava. Era branco, imaculado, e com
um brilho sutil como se alguma luz interior irradiasse em cada
movimento dela. — Posso ter um momento com Willa antes de
entrarmos?

Xander inclinou seu olhar por apenas um momento, a


estudando, mas eu deslizei meu braço dele sem esperar uma
resposta.

— Nós não precisamos da permissão dele. — Eu provoquei,


sorrindo para ele por cima do ombro enquanto cliquei até
Charlotte. Esses saltos provavelmente resultariam comigo
caindo de cara até o final deste evento de caridade. Suponho
que essa seria a menor de todas as situações horríveis que
poderiam surgir.

Charlotte riu, mas o som era mais como um sino tilintante


do que minha própria risada alta e impetuosa. Quando
estávamos a uns seis metros de distância de Xander, deixando-
o cumprimentar as pessoas enquanto atravessavam as amplas
portas duplas e iam para o salão de baile, Charlotte se virou
para mim.
— Você parece absolutamente radiante, Willa, — disse ela,
com um sorriso genuíno. Eu não tive a chance de falar muito
com ela – ela geralmente estava com Jameson ou Sophie – mas
não havia nenhum sinal de ironia em seu tom como o da mãe
de Xander.

— Eu? — Fiquei boquiaberta, apontando para seu vestido


elegante. — Eu estava apenas dizendo a Xander que você está
deslumbrante. Eu gostaria de ter uma grama da sua...
graça. — Eu ri, mas atenuei. — Nem que seja apenas por uma
noite como esta.

Seus olhos se arrastaram para as portas, depois de volta


para mim. — Essas atividades de caridade podem ser um
pouco intimidadoras, por causa de todas as pessoas
importantes que trazem. Mas você se sairá bem. Alexander
nunca faz nada sem pensar bem. — Ela olhou para ele por
cima do meu ombro. — E eu queria que você soubesse que está
perfeita no braço dele.

— Obrigada, — eu disse, suspirando. — Não quero causar


nenhum problema, — admiti, desejando deixar isso claro, de
alguma forma. Eu estava aqui por Xander, não pela família
real, e, felizmente, não tinha encontrado sua noiva. Eu quase
perguntei se ela estava acompanhando as notícias em seu país
e como estava levando tudo, mas eu não consegui arruinar o
pouco tempo que me restava. — Embora, — continuei. — Eu
tenho medo de dizer algo lá que derrubará todo o castelo.

Charlotte sorriu novamente, seus lábios perfeitamente


rosados elegante e equilibrados, mas um flash de travessura
cruzou seus olhos quando se inclinou para mais perto de
mim. — Nós poderíamos usar uma reconstrução de qualquer
maneira.
A piada aliviou minha tensão, mas também me fez pensar
se ela morava no castelo. Eu nunca pensei em perguntar, mas
ela parecia bastante ligada à família – especialmente Jameson.

Xander se juntou a mim nem dez segundos depois,


retomando meu braço. — Então? — Ele perguntou quando eu
não disse nada.

— Acho que estou apaixonada.

Ele parou o nosso progresso para a sala, empurrando a tal


ponto que eu quase escorreguei nos malditos saltos. Seu rosto
estava paralisado, os olhos arregalados e agitados. Uma risada
rasgou dos meus lábios com a realização, e um bufar completo
seguiu.

Ops.

— Por Charlotte, — eu disse através das minhas


risadas. De brincadeira, bati em seu peito. — Respire.

Ele forçou um sorriso, algo que eu só o via fazer quando


entrava no modo príncipe completo e sacudiu os músculos
travados.

— Ela é maravilhosa, — disse ele, enquanto


continuávamos nossa caminhada.

— Você está sempre cercado por pessoas maravilhosas, ao


que parece, — eu disse, ofegando um pouco quando finalmente
entramos no grande salão de baile.

Um silêncio aquietou os arredores, como se todos na sala


tivessem um sexto sentido sobre quando o príncipe estava a
uma distância de audição. Talvez eles estivessem acostumados
a encontrar a realeza. Tentei não me contorcer quando
centenas de pessoas lançaram olhares para mim – julgando,
apreciando, rindo – tudo silenciosamente, é claro.

Eu já havia sofrido uma sessão de autógrafos antes – salas


cheias de estranhos morrendo de vontade de fazer com que
você assinasse seus livros –, mas eles nunca usavam vestidos
de baile, ternos e joias. E nunca agiram como se eu fosse uma
mancha em alguma pintura intocada.

Xander nos levou até uma mesa circular na frente da sala,


as lindas toalhas de mesa azuis royal quase brilhando sob as
velas que repousavam em seus centros. Um quarteto de cordas
tocava clássicos suaves em um palco no canto da sala, ao lado
de um espaço aberto para dançar, embora ninguém estivesse.

Nós nos sentamos e sorri para Charlotte, depois Jameson,


depois Sophie, e tentei sorrir para a mãe dele, mas ela não me
olhou nos olhos. No segundo em que me sentei, ela pediu
licença, alegando ter alguém importante para conversar. Ela
provavelmente tinha, mas eu duvidava que fosse por isso que
partiu como se alguém tivesse acendido um fogo debaixo dela.

Meus ombros caíram momentaneamente, mas eu os forcei


a se endireitarem quando convidados após convidados se
aproximaram da mesa aos pares para elogiar o príncipe por
um evento tão maravilhoso. Depois de vinte minutos, minhas
bochechas doíam por manter o sorriso no lugar por tanto
tempo. Não sei como Charlotte e Sophie conseguiam. Se
Xander me levasse a mais eventos públicos como esse, teria
que pedir algumas dicas.

Quando uma pausa apareceu nas aparições dos


convidados à mesa, a mão de Xander encontrou minha coxa
embaixo da mesa. O toque era inocente e encorajador, mas
chamas lambiam minha pele, e eu instintivamente me
aproximei dele. Ele sorriu para mim, retirando a mão para
apertar a mão de outra pessoa. Eu senti falta do seu toque,
meu sangue bombeando quente e rápido com a pequena
provocação.

Examinando os rostos ao meu redor, me certifiquei de que


ninguém visse enquanto deslizava meus dedos sobre sua
coxa. Ele ficou rígido, mas apenas por um momento, antes de
retomar a conversa. Eu me aventurei mais alto, apalpando o
vinco ao lado de sua masculinidade, escovando a área com um
leve toque de pena. Um músculo em sua mandíbula vibrou
quando eu fiquei mais ousada, arrastando as pontas dos meus
dedos sobre o contorno de seu pênis que crescia
rapidamente. Eu arqueei uma sobrancelha para ele, chocada
que alguns toques simples pudessem ganhar essa reação.
Apenas o pensamento me deixou escorregadia entre as coxas,
e de repente me esqueci porque estávamos participando desse
evento em primeiro lugar.

— É um prazer conhecê-la, Srta. Collins, — disse um


homem, seus claros olhos azuis presos nos meus. Eu sacudi
com o som do meu nome e discretamente removi minha mão
do pau duro de Xander.

— E a você, — eu disse, sem ter ideia de quem era o


homem. Ele parecia um modelo, seus cabelos loiros caindo
perfeitamente sobre a testa.

— Willa, — disse Xander, uma voz rouca que prometeu


prazer mais tarde. — Este é o primeiro-ministro Damian
McAllister.

— Prazer em conhecê-lo. — Apertei a mão dele quando se


sentou à nossa frente. Santa vibração de Alexander
Skarsgård. O que diabos eles colocavam na água por aqui? Eu
sabia porque havia uma escassez de homens gostosos no norte
do estado de Nova York. Eles estavam todos em Elleston.

— Ouvi um boato de que a princesa Brie havia retornado,


mas não a vejo, — disse ele, olhando em volta antes de focar
em Xander novamente.

— Ela não está se sentindo bem, — respondeu Sophie.

— Eu preciso de uma bebida. — Jameson se levantou da


mesa, desaparecendo na multidão, apesar dos garçons
pairando em volta da mesa prontos para servir.

Estranho. Afiei o olhar no primeiro-ministro, imaginando


que poder ele tinha para irritar tanto a realeza.

— Isso é uma pena, — disse Damian. — Eu adoraria ouvir


a opinião dela sobre os antimonarquistas e seus recentes...
protestos.

Xander se mexeu em seu assento, mas seus traços eram


tranquilos. — Eu vou ter certeza de dizer a ela que você
gostaria de uma reunião.

Damian sorriu, e o sorriso era absolutamente lupino. Ele


moveu os olhos para mim enquanto girava o líquido
transparente em seu copo. — Qual é a sua opinião, Willa?

— Desculpe? — Eu disse, olhando para Xander antes de


me endireitar para olhar para Damian novamente.

— Sobre os tu... protestos? Estou interessado em ouvir a


opinião de uma americana sobre as ações contra a família real.
Eu me mexi levemente no meu lugar. Xander falou
brevemente dos monarquistas, mas nada tangível o suficiente
para eu formar uma opinião além do todo... Eu sou da Equipe
Xander. Ele disse que não era nada para se preocupar.

— Eu não sei o suficiente sobre o movimento para fazer


uma declaração, — eu disse.

Ele franziu a testa. — Esta não é uma conferência de


imprensa.

Não, mas ele era o primeiro-ministro, e o poder irradiava


dele quase tanto quanto Xander.

— Aonde você quer chegar? — Xander perguntou, o tom


em sua voz aguda.

Damian levantou seu copo inocentemente. —


Americanos. Eu os acho fascinantes. — Ele assobiou. — A
curiosidade não é um crime.

A tensão na mesa estava fortemente tecendo em torno de


meus pulmões, perigosamente perto de me fazer perder a
diversão, a provocação em que estive com Xander segundos
antes.

— O que você acha tão divertido nos americanos? — Eu


perguntei, um sorriso nos meus lábios. Talvez eu pudesse levar
a conversa a algo mais fácil, como livros ou música ou minha
propensão a frituras.

— Oh, muitas coisas, — disse ele, sua voz se curvando em


cada palavra de uma maneira quase sedutora. Corpos estavam
começando a se reunir em torno de nossa mesa, mas eu não
tinha certeza se era simplesmente porque era a mesa real ou
se era porque o primeiro-ministro estava lá. Eu odiava me
sentir mal em meu próprio corpo. Não era algo que eu estava
acostumada. Eu operava com uma política sem filtro e, no
entanto, aqui estava com medo de cada palavra que falava. —
Como você se sente ao escolher seus próprios líderes?

— O voto? — Perguntei, desejando que ele tivesse ido com


a categoria de frituras. Eu poderia falar sobre isso por horas.
Dei de ombros quando ele assentiu. — É bom ter o direito.

A boca de Sophie caiu antes de fechar rapidamente, e


Charlotte se encolheu antes de suavizar suas feições. Xander
endureceu ao meu lado, mas seu olhar letal estava em
Damian. Um suspiro coletivo ecoou atrás de mim, e finalmente
olhei por cima do ombro para ver que metade da festa estava
em sintonia com a nossa conversa, a rainha era uma delas.
Algo como vitória e derrota absoluta brilhou em seus olhos, e
foi nesse momento que percebi que todos os meus piores
medos sobre esta noite se tornaram realidade.

O que quer que eu tenha feito, era irreversível.

— Quero dizer, — eu disse, tentando terrivelmente me


recuperar. — É assim que acontece desde que nasci. Eu não
conheceria outra maneira...

— Sim, mas você apoia o direito de escolha das pessoas.


— Damian me cortou. — Algumas pessoas aqui chamariam
isso -

— Senhorita Collins apoia o que mantém seu país de


acordo com a Constituição desde antes dela nascer, — disse
Charlotte, falando sobre ele. Sua voz se projetava de uma
maneira poderosa que não podia ser ignorada, mas era suave,
calmante e reconfortante. Ela olhou para a multidão atrás de
nós antes de se concentrar em Damian. — Nos dois aspectos,
a América e Elleston estão operando da mesma forma que seus
ancestrais fizeram por gerações. Todos trabalhando para
melhorar seu povo. De certa forma, a eleição americana de um
presidente é igual à eleição de um primeiro-ministro. Todos
nós votamos em quem nos liderará.

Um murmúrio ecoou pela multidão, junto com uma grande


quantidade de acenos de cabeça. As conversas foram
retomadas e eu lhe dei um olhar agradecido por me salvar. Eu
estaria para sempre em dívida com ela. Depois de alguns
minutos, me afastei da mesa, me desculpando.

Corri o mais rápido que pude nos saltos, porta afora e


depois por outro conjunto, desesperada pelo ar fresco do lado
de fora. O salão de baile podia ser enorme mas estava abafado
pra caralho. E não era minha cena. De forma alguma.

Parei na calçada, vagamente consciente de um guarda me


seguindo. Eu o ignorei, minhas respirações ficando cada vez
mais rápidas enquanto eu andava, o tecido preto do meu
vestido fluindo pela brisa que criei.

Xander valia a pena. Eu sabia disso com certeza, mas


nunca me encaixaria aqui. Não que eu estivesse esperando por
um milagre, e de alguma forma de mantê-lo para mim – como
meu coração constantemente gostava de me provocar com a
fantasia – mas isso simplesmente não podia acontecer. Eu não
fui criada para esta vida e quase afirmei que apoiava os
antimonarquistas pela forma como respondi à pergunta de
Damian lá atrás.

Droga. Ele me provocou, mas não seria a última vez. Não


apenas para ele, mas para quem me via como um alvo
fácil. Uma maneira de machucar Xander, fazê-lo parecer mal
aos olhos do público.

Porra. Eu estava arruinando a vida dele.

Continuei andando, sem um destino claro em mente,


apenas a necessidade de mais ar. Como se eu não conseguisse
o suficiente lá fora. Eu precisava sair. Eu apenas estava
prejudicando a imagem dele...

Algo estremeceu nos meus calcanhares, me puxando para


uma parada abrupta.

Eu gemi, batendo minhas mãos contra minhas coxas.

— É por isso que eu não uso saltos altos! — Eu gritei para


ninguém, a raiva irracional por ficar presa em uma grade era
a saída perfeita para o conflito dentro de mim. Puxei meu
tornozelo, mas a coisa maldita não se mexia.

Me movi para desamarrar a bomba, imaginando quanto


isso custaria à coroa.

— Em uma situação difícil? — A voz de Xander suavizou


sobre mim como mel líquido, e eu quase queria chorar, o alívio
era tão doce.

— Parece um hábito meu, — eu disse enquanto ele se


aproximava para ficar na minha frente. Engoli de volta as
lágrimas que subiam pela minha garganta. Eu era um desastre
emocional, a batalha entre querer estar com ele e não querer
arruinar sua vida, travando uma guerra dentro da minha
alma.
— Eu não sou um cavaleiro, — disse ele, lentamente se
ajoelhando, suas mãos quentes e gentis em torno do meu
tornozelo. — Mas eu gostaria dessa oportunidade para te
salvar pelo menos uma vez.

Eu ri, meus olhos brilhando enquanto o olhava. Ele estava


constantemente se ajoelhando por mim, e eu não conseguia o
suficiente. Ele mexeu o calcanhar na grade, gentil com a minha
perna até que finalmente se soltou. Ele estendeu a mão para
pegar a minha mão, me estabilizando com a liberação rápida.

— Melhor?

Eu sorri para ele. — Você é meu herói.

Um flash disparou, iluminando a cena que pensávamos


que era privada.

Xander ficou de pé em segundos, me envolvendo em seus


braços enquanto nos levava de volta para o prédio.

Eu não conseguia escapar dos abutres de dentro ou de


fora, e estava devastadoramente consciente do fato de que
enquanto eu estivesse ao lado de Xander... ele também não
iria.
A batida na porta do meu quarto era suficiente para
acordar os mortos.

— Pelo amor de Deus, — eu murmurei, beijando a testa de


Willa antes de me desembaraçar de seus membros
esguios. Coloquei os lençóis sobre ela, a cor azul escura um
contraste surpreendente contra sua pele cremosa e vesti uma
calça esportiva da minha cômoda.

A batida se tornou quase um insulto.

— É melhor alguém estar morto, — eu fervi quando abri a


porta.

Minha mãe estava lá, de roupão, com os cabelos em um


nó despenteado e a fúria de Deus nos olhos. — Provavelmente
a monarquia, — ela respondeu.

— Bom dia? — Olhei por cima do ombro para ver que o


relógio marcava seis e quarenta e cinco da manhã. O mundo
devia estar pegando fogo se minha mãe estava na residência
parecendo algo menos do que perfeitamente penteada.
— Espero te ver na sala de guerra em exatamente quinze
minutos, Alexander.

— O que está acontecendo?

Ela empurrou um jornal para mim, me acertando no


peito. Sim, isso era ruim. Antes que eu pudesse recuar para ver
as manchetes, mamãe deu um passo para o lado para olhar
meu quarto. — É melhor você vestir algumas roupas e vir
também, — disse ela a Willa.

Willa puxou o lençol ainda mais alto para o pescoço e


assentiu, os olhos arregalados e solenes.

— Mãe…

Seu olhar se voltou para o meu. — Quinze minutos,


Alexander, ou eu mesma te carrego até lá.

Ela girou em uma fúria de roupas, sua guarda correndo


atrás.

Olhei para o outro lado do corredor e vi Jackson parado na


minha porta. — Traga Oliver aqui. Agora. — Ordenei.

Então eu fechei a porta, acendendo o interruptor de luz.

A primeira página era uma impressão completa de mim de


joelho, segurando a mão de Willa enquanto sorríamos um para
o outro com adoração. A manchete dizia: “Sua futura rainha:
o solteirão mais elegível de Elleston não está mais disponível”.

— Porra, — eu assobiei.

— O que é isso? — Willa perguntou, pulando em um pé


enquanto tentava calçar sua sapatilha. Ela já tinha vestido
jeans e uma blusa esvoaçante. Três minutos fora da cama, e a
mulher parecia pronta para enfrentar o mundo.

Ela estava prestes a ter que fazer.

Joguei o jornal na minha cama e tentei desacelerar as


batidas do meu coração. — Bem, o mundo tem certeza de que
eu pedi para você se casar comigo ontem à noite.

— O que? Oomph! — Ela tropeçou e caiu no final da nossa


cama, uma vítima de seus sapatos favoritos.

Eu a ajudei a levantar, coloquei suas bochechas em


minhas mãos e a beijei levemente. — Tudo vai dar certo. Não
importa o que alguém diga nesta reunião, tudo ficará
bem. Você me entende? Vou deixar tudo bem.

Ela assentiu.

Quando terminei de me vestir, optando por jeans e uma


camisa de botão com a manga enrolada, ela escovou os dentes
e começou a ler o jornal.

— Puta merda. Oh. Não. Espere, não foi isso que


aconteceu. Espera. O que? — ela gritou a última parte, me
tirando do banheiro. Pelo menos eu tinha escovado meus
dentes.

— O que está errado?

— Isso diz que se casar comigo violaria os termos de sua


constituição e, portanto, anularia seu governo. Oh meu Deus.
Você acabou de entregar a vitória aos antimonarquistas. — A
mão dela voou para a boca. — Xander, eu sinto muito.
Sentei-me ao lado dela na cama e inclinei seu queixo para
encontrar meus olhos. — Antes de tudo, é apenas uma foto, e
eu lhe entreguei um sapato e nada mais. Segundo, podemos
esclarecer isso com tanta facilidade quanto emitir uma
declaração. Terceiro, deixe eu me preocupar com a nossa
Constituição.

Ela assentiu e pegou minha mão.

Saímos da sala exatamente doze minutos depois que


minha mãe emitiu sua convocação, e Oliver estava na porta.

— Jesus, cara, você dorme com esse traje?

— Parece que sim nesses dias, senhor, — ele respondeu


secamente, nos seguindo enquanto caminhávamos pelo
corredor. — Talvez você deva considerar uma armadura
hoje? Ou devemos começar com o uísque?

— Eu concordo com o uísque, — disse Willa, sua voz


estranhamente suave.

— Está tudo bem, — eu respondi com um aperto de mão.

Ela assentiu, mas não respondeu.

Nossa caminhada pelos corredores do palácio foi


silenciosa, nossos passos o único som. Os criados desviavam
os olhos, mas vi mais do que alguns olhares para Willa – em
particular, para a mão dela.

Pelo amor de Deus, se eu fosse propor a ela teria sido melhor


do que na varanda de um evento.

Quando chegamos ao corredor onde ficava a sala de


guerra, Jameson estava encostado na parede, sem se importar
que estivesse estragando a pintura de mil dólares. Mas
Jameson tinha esse luxo. Ele poderia fazer o que quisesse,
quando quisesse. Por um momento, imaginei como seria minha
vida se ele tivesse nascido alguns minutos antes.
Se o calcanhar dele fosse aquele com a marca de cicatriz que
me indicava como o primogênito.

Que tipo de rei Jameson teria sido?

Ele teria sido decisivo, e provavelmente um pouco divisivo


também – entre a velha e nova geração. Ele manteria em mente
o melhor interesse de nosso povo e mudaria a monarquia para
algo mais moderno do que eu. Não, eu fui criado com a tradição
em mente, uma visão para manter a monarquia forte.

E era isso que eu tinha que fazer agora.

— Os parabéns estão em ordem? — Jameson perguntou


com um levantar preguiçoso da sobrancelha.

— Oh, não, não, — Willa gaguejou. — Veja bem, meu


sapato estava preso e ele estava me ajudando, e foi apenas uma
merda gigante. Quero dizer, só estamos juntos há duas
semanas e meia!

Jameson abriu um sorriso. — Oh, mamãe vai adorar isso.

Parei um pouco antes da porta e beijei suavemente Willa,


indiferente ao fato de Oliver e Jameson estarem perto. — Isso
vai ficar bem. Diga isto.

— Isto. — Ela olhou para mim com a expressão mais séria


que já vi. Seus olhos estavam arregalados de apreensão, o lábio
inferior puxado entre os dentes.
— Muito engraçado. — Usei meu polegar para libertar seu
lábio inferior e beijei sua testa. — Isso. Vai. Ficar. Bem.

— Isso vai ficar bem, — ela sussurrou.

— A cova dos leões aguarda, — disse Jameson, abrindo a


porta da sala de guerra.

Com a mão de Willa na minha, passamos pela porta,


Jameson a fechando atrás de nós. A sala de guerra estava
quase cheia ao limite, a enorme mesa de conferências com
apenas quatro assentos livres. Mamãe, o secretário de
imprensa, nossa RP, nossos advogados... o comitê consultivo
inteiro aqui?

Guiei Willa até o fim da mesa, onde estava meu assento,


puxando a cadeira à minha direita que havia ficado vazia.

— Esse é o assento de Jameson, — mamãe retrucou do


outro lado da mesa.

Os olhos de Willa voaram para os meus, e eu sutilmente


balancei minha cabeça, a sentando de qualquer maneira. Eu a
queria à minha direita, ao meu lado.

— Agora é da Willa, — eu disse para a sala.

Houve mais de um suspiro audível.

Jameson sorriu largamente e se sentou no assento vazio


algumas cadeiras no meio da mesa.

— Estamos todos aqui? — Eu perguntei.

— Estamos esperando mais um, mas temos alguns


minutos para resolver isso antes que ele chegue aqui, —
respondeu minha mãe. Ela se colocou em uma aparência de
ordem – não usava mais o roupão, mas estava tudo, menos
polida. Até suas maneiras pareciam cruas, quase desgastadas.

— Vamos limpar o ar. — Minha voz estava mais forte do


que eu jamais pensei ser capaz, e um sentimento de calma
tomou conta de mim como se minha alma se acomodasse no
papel que nasci para preencher. — Eu seria o rei de Elleston
em pouco menos de dez semanas.

— Bom. Vamos...

— Nós não estamos noivos! — Willa deixou escapar.

Todos os olhos na sala se voltaram para ela, incluindo os


meus.

— Foi absolutamente um mal-entendido. Veja bem, meu


sapato ficou preso nessa grade e o salto não se mexia. E deixe-
me dizer, eu balancei aquele otário por um bom tempo!

— Willa, — eu disse suavemente.

— Então Xander se inclinou para me ajudar. Ele é um


cavalheiro, quero dizer... um príncipe. Claro que vocês sabem
que ele é um cavalheiro. De qualquer forma, ele soltou meu
sapato e depois estendeu a mão para me firmar, e foi aí que a
foto foi tirada. Nós não estamos noivos.

— Willa. — Eu disse mais alto.

Ela piscou para mim. — Desculpa.

Me inclinei e peguei uma de suas mãos de onde ela as


torcia, a trazendo para a mesa de conferência e segurando
descaradamente.
— Claro que vocês não estão noivos! — Mamãe sibilou.

Ela sempre foi tão inflexível sobre suas vontades?

— Precisamos mudar isso. — A voz de Georgia soou. —


Libere uma declaração exatamente do que aconteceu... sem
tagarelar, e verifique se o público entende que não é assim que
parece. Willa, você estaria disposta a...

— Absolutamente não. — Minha voz era suave, mas


malditamente se propagou através da sala. — Eu já a coloquei
indesculpavelmente aos olhos do público, e não a sujeitarei a
isso.

— Eu não me importo, — disse Willa, nossos olhos se


fixando. — Xander, se isso te ajudar, eu farei. Me deixe te
ajudar.

— Você admitiria não estar noiva do meu filho?

Willa desviou os olhos dos meus e confrontou a mãe. —


Claro. Eu não estou noiva de Xander. Esta não é uma grande
conspiração para frustrar sua monarquia ou obter uma coroa.
Estou bem ciente do que sou para Xander.

Puta merda, isso foi um soco no estômago.

— Isso não é ser a sua futura rainha. — Mamãe cavou.

A mão de Willa apertou a minha. Meu estômago


embrulhou e meu coração se partiu, literalmente sendo
dividido em dois – o rei e o homem.

O rei não poderia ter Willa. Não podia precisar da


Willa. Não podia ter meninas lindas e temperamentais, ou
meninos teimosos. O rei não podia reivindicá-la como sua
legalmente, nem lhe dar seu nome. O rei não podia amar Willa.

Mas o homem já amava.

Eu estava tão fodido.

— Eu não sou uma ameaça, — respondeu Willa.

Como se fosse uma sugestão, a porta se abriu e o primeiro-


ministro entrou.

— Bom dia, Vossa Majestade, — disse ele à mãe. — Sua


Alteza Real. Sua Alteza Real. — ele cumprimentou Jameson,
depois a mim. Então Damian pegou a única cadeira vazia –
aquela em frente a Jameson – e a sala ficou em silêncio.

— Como estávamos dizendo, — começou mamãe. — É


claro que isso é um gigantesco mal-entendido.

— Foi?

— Alexander não tem intenção de se casar com uma


plebeia, muito menos com uma americana.

Mas e se eu quiser?

— Ele está bem ciente de seu dever para com o país e


divulgaremos uma declaração informando ao público também.

Como diabos amar Willa poderia ser traição ao meu


país? Eu não era capaz de liderar, independentemente da
mulher que eu tinha na minha cama? Inferno, Willa me fez
melhor. Ela me fez ver as coisas de um ponto de vista diferente,
abriu meus olhos, me deu uma caixa de ressonância.
— Então, isso é tudo fofoca? — Damian me perguntou.

Nossos olhares travaram sobre a mesa, o dele curioso e o


meu determinado.

— Claro que é! Nunca, nos mil anos do reinado de


Wyndham, uma realeza se casou com um plebeu, e certamente
não estamos começando essa tendência agora. Isso foi tudo...

— Eu quero a sala, — eu interrompi.

Mãe inclinou a cabeça. — Desculpe?

— O primeiro-ministro e eu precisamos da sala. Agora.

— Alexander...

— Mãe, você pode sair com sua comitiva, ou eu posso levar


Damian para outra sala, mas eu vou falar com ele sozinho.

A sala ficou em silêncio, e não de uma maneira


reconfortante. Foi como o momento antes da guilhotina cair,
onde a multidão estava esperando, antecipando o
derramamento de sangue.

Finalmente, Jameson pigarreou e se afastou da mesa. Ele


cruzou a distância até nossa mãe e estendeu o braço. — Posso
acompanhá-la para o café da manhã, mãe?

A boca da mamãe se abriu e fechou, seus olhos voando


com um grande pânico. Tremendo, ela se levantou do assento,
a mesa inteira levantando-se com ela. Até Willa percebeu e se
levantou.

Todos nós permanecemos em pé até Jameson a levar para


fora.
— Isso vale para todos vocês, — eu disse à equipe
consultiva.

Quando eles saíram, eu me virei para Willa. — Eu preciso


de alguns minutos. Você consegue encontrar o caminho de
volta para o nosso quarto?

Ela assentiu.

— Vá, — eu sussurrei. — Estarei lá em breve.

— Não deixe que eles levem nosso tempo, — ela implorou


em um sussurro.

Isso quase me quebrou. Não havia nada que a levasse de


mim antes que nosso tempo acabasse.

— Eu não vou, — prometi.

Ela assentiu, se virou e me deixou sozinho com Damian.

— Se fosse mais tarde, eu sugeriria um bom uísque, —


disse Damian, descendo a mesa para o assento à minha
esquerda.

Tomamos nossos assentos, e eu fui direto ao assunto.

— Eu poderia me casar com ela? Não estou te perguntando


moralmente, estou te perguntando legalmente.

Ele se recostou na cadeira, afrouxando a gravata. — Você


está falando sério?

— Absolutamente. Essa lei está desatualizada. Se você


realmente deseja trazer a monarquia para a era moderna, não
seria esse o caminho?
— Sua Alteza Real -

— Alexander, — eu o corrigi.

— Alexander, — ele disse com um breve arco de cabeça. —


A lei é clara. Você precisa ser casado para subir ao trono, e
deve ser uma noiva de nascimento nobre.

— Isso é absurdo.

— Essa é a lei.

— E se eu não me casar? Se eu recusar?

— Você jogaria o país em tumulto político e entregaria ao


movimento antimonarquista a tocha com a qual eles poderiam
queimar sua dinastia ao chão.

Porra.

— Não há nada que possa ser feito? Eu... eu a amo.

Os ombros dele caíram. — Eu posso ver isso. O mundo


inteiro pode ver, e não tenho prazer em dizer isso. Seria
necessária uma ratificação radical de nossa constituição. Você
teria que garantir os votos do parlamento, e posso lhe dizer que
você não tem chance de obter uma maioria. Nenhuma. Há
muitos que estão esperando e querendo ver você falhar. Seus
inimigos não estão apenas nas linhas de protesto, estão na
Câmara dos Comuns e dos Lordes.

Olhei para a minha mão esquerda, ciente do dedo anelar


que parecia vazio pela primeira vez. Porque eu sabia o que
queria. Eu sabia o que pertencia lá.
— Você está dizendo que legalmente é a minha coroa ou a
mulher que amo.

— Não é inédito para um rei manter uma amante.

— Eu nunca a desonraria dessa maneira. Ou Charlotte.

— Motivo pelo qual eu te admiro. Pelo que você deve fazer...


eu não te invejo.

— Eu não sou um homem que aceita a derrota tão


facilmente.

— Sua Alteza Real? — Ele se inclinou para frente, as


sobrancelhas franzidas.

— Pergunte por aí. Discretamente. Apenas você.

Ele suspirou, passando a mão pelos cabelos. Eu nunca o


tinha visto mostrar um único sinal de estresse e assisti sua
campanha com cuidado, sabendo o que sua eleição significaria
para nós. O primeiro-ministro mais jovem da história de nosso
país. Um sinal dos tempos – de mudança. — Você quer votos.

— Eu quero votos. — Eu queria ficar com Willa.

Eu tinha que tentar. Eu nunca seria capaz de viver comigo


mesmo se não o fizesse.

— Eu farei o que puder.

— Mesmo que você não queira nada além de abolir a


monarquia? — Eu desafiei.
— A monarquia, como existe atualmente, está
desatualizada. Se você quiser começar com essa mudança,
verei o que posso fazer, mas não prometo.

— Eu posso viver com isso.

Eu o deixei e encontrei Georgia esperando no corredor. —


Faça a declaração, — pedi a ela. — Não embeleze, não dê
detalhes. Apenas diga a eles que é que aconteceu quando
tiraram fotografias indesejadas e formaram suas próprias
conclusões.

Eu não esperei que ela respondesse, simplesmente voltei


para o meu quarto em uma névoa, ignorando todas as vozes
que me chamavam. Como eu poderia amar uma mulher e me
casar com outra?

Como deixei isso acontecer?

Willa esperou no nosso quarto, fazendo um buraco no


chão. — Xander! — ela chorou quando me viu, jogando seu
pequeno corpo em meus braços. Eu a peguei facilmente, a
segurando contra o meu peito e saboreando tudo nela, desde
o perfume de seus cabelos até a sensação de suas curvas.

— Vê? Eu disse que tudo ficaria bem.

— Eles levaram o nosso tempo?

— Claro que não. Cada segundo que tenho com você é


precioso, e eles não estão tirando nada.

Mas eles tiraram anos de nós. O potencial para qualquer


tipo de futuro. Tínhamos que viver o suficiente nos próximos
meses por toda a vida que nos foi negada.
Eu faria cada momento valer a pena.

Valer o nosso inevitável desgosto.


O cheiro de bolinhos de mirtilo recém-assados, chá verde
quente e creme batido à mão penetrou pela porta fechada do
banheiro onde eu estava escovando os dentes. Me apressando
para terminar, abri a porta, minha metade superior coberta
por uma das camisas de botão e mangas compridas de Xander,
todo o resto descoberto.

— Café da manhã. — Xander levantou a bandeja de prata


que segurava alguns centímetros mais alto, e eu mordi meu
sorriso.

Depois que o pânico inicial sobre a suposta foto da


proposta se acalmou, tivemos três semanas de pura
felicidade. Dias cheios de Xander e seu país sem paparazzi, e
noites cheias com ele e sua... equipe real.

Tentei não rir da minha própria piada, afinal eu era


escritora.

— Acho que nunca vou me acostumar com isso, — eu


disse, caminhando descalça até onde ele colocou a bandeja
sobre a mesa em seu quarto.
O espaço havia se tornado nosso pedaço do céu, o lugar
mais seguro e privado para duas pessoas normais, sem
paparazzi ou exigências do público. Na maior parte, de
qualquer maneira. Xander sempre tinha assuntos da realeza
para cuidar e ainda estava ajudando seu escritório de
advocacia, mas nunca me senti negligenciada. Ele se esforçava
para garantir isso.

— O que? — Ele brincou. — Ser servida por um príncipe


ou a maneira como os mirtilos têm um sabor muito melhor
aqui?

— Ha, ha. — Revirei os olhos de brincadeira. Me sentando,


mordisquei a borda do bolinho e gemi. — Você não está
errado. A comida é melhor aqui. — Tomei um gole de chá. —
Ou, — eu disse, sorrindo maliciosamente para ele. — Eu posso
simplesmente amar qualquer coisa que você coloque na minha
boca.

Os olhos de Xander brilharam, aquele doce toque de


choque se transformando em algo mais profundo, porém
primitivo. Eu absolutamente vivi para esses momentos em que
minha ousadia o deixou desprevenido. Era incrível ver um
príncipe cuidadosamente calmo e controlado ficar abalado.

Ele estendeu a mão sobre a mesa, passando a ponta do


polegar sobre o meu lábio inferior. O toque enviou um sinal
direto para o meu botão me foder agora, e me mexi no meu
assento. — O que eu vou fazer sem essa sua boca? — Ele
pronunciou as palavras em voz alta, mas eram mais suaves
como se não as pretendesse falar.

Meus ombros caíram um centímetro, o calor subindo em


meu núcleo encharcado de água fria. Enquanto eu saboreava
cada segundo com Xander nas últimas seis semanas, isso
significava que nosso tempo estava se esgotando rapidamente.
A torção no meu estômago ameaçou roubar meu apetite, então
enrijeci minha coluna e dei a ele meu melhor sorriso.

— Você, sem dúvida, ficará absolutamente entediado, —


eu finalmente disse, empurrando outro pedaço de bolinho na
minha boca para me impedir de dizer algo mais absurdo –
como um grande pedaço do meu coração desejava que o nosso
tempo nunca terminasse, embora eu soubesse desde o início
que tinha que acabar.

O nó em sua garganta balançou, ele engoliu em seco. —


Isso é uma certeza.

Algo escuro brilhou em seus olhos, e eu senti em meus


ossos. Nas últimas semanas, fiquei hipersensível a todas as
coisas de Xander. Eu podia lê-lo quase melhor que seu próprio
irmão gêmeo, embora não quisesse desafiar Jameson em
nenhum tipo de jogo. Eu podia sentir quando Xander queria
recuar para dentro de si, se afastar e permitir que se tornasse
a estátua de pedra que a família real queria que ele fosse.

— Ei, — eu disse, atraindo seu olhar. Demorou alguns


instantes, mas lentamente, ele se voltou para mim. Ele sempre
voltava para mim quando eu chamava.

Ele se recostou na cadeira, passando os dedos pelos


cabelos, a pressão saindo de seus músculos tensos como uma
colônia pesada no ar. Peguei a bandeja e mergulhei meu dedo
no creme chantilly destinado ao bolinho, e pulei da
cadeira. Apenas dois passos e me coloquei no colo dele,
montando nele.

Esses olhos profundos e escuros dele me observavam com


tanta intensidade que era quase um desafio se
afastar. Esfreguei o creme doce em seus lábios antes de lamber
rapidamente, fazendo um show em como eu limpava a bagunça
com a ponta da minha língua. Inclinei minha cabeça de um
lado para o outro antes de assentir. — Sim, — eu disse,
envolvendo meus braços em volta do pescoço dele,
pressionando meu peito macio contra os duros dele.

— Sim o que? — Ele finalmente perguntou, olhando para


mim quando suas mãos agarraram meus quadris.

— Eu irei amar qualquer coisa que você coloque na minha


boca.

Um sorriso irônico apareceu em seus lábios e um grunhido


retumbou de seu peito.

Quebrei ele. A vitória brilhou em mim, a poderosa pressa


de saber que eu poderia fazê-lo sorrir quando ele afundava
dentro de si, era absolutamente emocionante. O jeito que ele
se movimentava debaixo de mim? Apenas o suficiente para eu
sentir a dureza do seu pau? Isso era melhor do que qualquer
pressa jamais poderia ser.

— Eu acho melhor você provar novamente, — disse ele,


seus dedos subindo pelos meus lados. — Apenas para ter
certeza.

Eu provoquei a ponta da minha língua sobre o creme


restante no canto de sua boca, minhas coxas aquecendo com
o tremor perceptível que o percorreu como resultado. Balancei
meus quadris para frente, mordiscando seu lábio
inferior. Suas mãos flexionaram nos meus lados, me
prendendo a ele como se eu fosse decidir voar para longe a
qualquer momento.
— Mmmmhmmm, — eu gemi contra sua boca. — Tenho
certeza. — Empurrei meus quadris para a frente antes de
levantar alguns centímetros acima dele. Ele aumentou seu
aperto.

— Onde você pensa que está indo?

Eu corei com o desejo primitivo em sua voz. — Estou nua,


— eu disse, olhando sua calça de pijama. — E você não está.

Um sorriso travesso moldou seus lábios. — Bem, — ele


disse. — Essa é uma solução fácil. — Em duas piscadas, ele
estava livre da calça de algodão macio e me puxou para baixo.

Eu choraminguei um pouco ao sentir ele, todo quente,


duro e ansioso. Não pude deixar de me mover contra ele, meu
centro escorregadio permitindo um deslize fácil. Ele capturou
minha boca, deslizando sua língua sobre as bordas dos meus
dentes antes de sacudi-la, o movimento chocante e exigente o
suficiente para me fazer ofegar.

— Willa. — Ele suspirou, olhando para baixo. Com uma


mão, ele lentamente, torturantemente desfez os botões da
camisa que eu usava, até que finalmente empurrou o tecido
para os lados. Ele olhou para o meu corpo como se eu fosse
um grande banquete e ele não sabia por onde começar.

Deslizando as duas mãos dentro da camisa, ele alisou os


dedos sobre a minha pele, provocando meus mamilos antes de
tomar meus seios cheios e pesados em suas mãos. Ele plantou
beijos em cada centímetro que podia alcançar, e eu gentilmente
balancei contra ele o tempo todo, morrendo por ele enquanto
ajustava o ritmo lento.
Ele tinha me fodido de todas as maneiras possíveis nas
últimas semanas. Tivemos sexo violento, sexo molhado e sexo
na parede, e, no entanto, nunca foi suficiente. Eu sempre
queria mais, e ele parecia mais do que feliz em obedecer. Mas
agora, ele provocou meus nervos com uma gentileza sutil que
falava palavras em pedaços mais profundos dentro de mim,
partes de mim que eu estava falhando miseravelmente em
proteger.

— Xander, — eu gemi quando ele deu um beijo no meu


pescoço. Eu arqueei contra ele, precisando que me
preenchesse mais do que nunca.

Ele me envolveu, passou os braços em volta de mim e me


pressionou contra o peito, me segurando o mais perto possível
enquanto beijava o inferno fora de mim. Eu não conseguia
respirar, e ainda assim nunca tinha respirado mais fundo. Eu
ansiava por ele, mas nunca me senti mais em paz. Bom Deus,
o homem estava me segurando, corpo e alma, tirando suspiros
dos meus lábios que eu nunca deixaria ir.

Uma simples mudança de seus quadris e ele afundou


dentro de mim. Me afastei da sua boca, ofegando no fogo
instantâneo que lambeu minha pele quando ele entrou em
mim. Porra, o homem preencheu cada centímetro meu,
apertando todos os botões que eu possuía. Eu o montei,
lentamente no começo, depois cada vez mais forte.

— Deus, Willa, — disse ele, segurando meus quadris


enquanto eu me deixava enlouquecer com ele. — Você é linda.

Joguei meu cabelo para trás, agarrando seus ombros


largos como alavanca, enquanto eu me inclinava para trás o
suficiente, girando meus quadris no ângulo perfeito para
atingir meu pequeno feixe de nervos que estava desesperado
por atenção.

Xander colocou um braço forte em volta das minhas


costas, liberando a outra mão para explorar meus seios, no
centro da minha barriga e depois no meu clitóris. Ele rolou os
dedos sobre o feixe hipersensível e eu
acendi. Queimada. Estremecendo ao seu redor.

Antes que eu tivesse um segundo para respirar, antes que


tivesse um segundo para me acalmar, ele me levantou com um
braço e jogou a bandeja de comida no chão com o outro. Me
colocando na mesa, ele me espalhou como se eu fosse a única
coisa que ele precisaria para o café da manhã. Inclinei para
trás, me abaixando até minha coluna ficar contra a superfície
fria e me abri para ele um pouco mais.

Ele empurrou para casa, o homem glorioso usando meus


joelhos para firmar as mãos enquanto fazia um lar dentro de
mim. Uma e outra vez, afundava cada vez mais fundo, até que
eu tinha certeza de que não podia aguentar mais um
centímetro.

— Xander, — eu gritei, o suspiro em partes iguais de


prazer e dor requintada.

— Sim. — Ele rosnou, deslizando um braço embaixo da


minha parte inferior das costas, me levantando, de alguma
forma indo mais fundo... tão profundo. — Você sente isso,
Willa? — Suas palavras eram ásperas, quase animalescas em
sua natureza, e zumbiam em meus sentidos já exagerados.

— Sim, Xander, — eu disse. — Deus, sim.


— Goze comigo, — ele exigiu, e meus olhos se voltaram
para os dele.

Eu já gozei duas vezes. Não tinha certeza se poderia lidar


com outro. — Demais, — ofeguei, perdida entre as ondas de
prazer e em sua determinação inabalável de me levar para a
porra da lua.

— Você pode, — disse ele, nossos olhares bloqueados. —


Quero tudo, Willa. Tudo o que você tem.

Suas palavras ondularam sobre minha pele como mel


quente e seda. Estendi a mão, enroscando meus dedos em seus
cabelos para atraí-lo para mais perto. — Você me tem, — eu
disse. — Sou sua. — O ângulo que ele pressionou contra mim
enviou tremores chocantes por todos os meus músculos, e eu
apertei firmemente em torno dele. Eu o senti endurecer dentro
de mim, sua própria libertação trabalhando seu caminho do
mesmo jeito que a minha. — Eu sempre serei sua, — eu ofeguei
quando explodi em torno dele, minha cabeça caindo para trás
em um grito que eu não poderia conter, mesmo que tivesse
tentado.

Xander estremeceu, os músculos das costas tensos antes


de relaxar completamente. Nós ofegamos, nossos peitos
escorregadios pressionando um contra o outro a cada
respiração que dávamos. Ele afastou um pouco dos meus
cabelos do meu rosto e encostou a testa na minha.

— Eu também sou seu, — ele sussurrou. — Você sabe


disso.

— Eu sei, — disse, e uma lágrima escorreu pela minha


bochecha. Eu sabia. Sabia que não havia como ficar melhor do
que o que tínhamos.
Eu apenas queria que pudéssemos continuar um pouco
mais.

— Tem certeza de que é isso que devo vestir para um jantar


de Estado? — Eu perguntei, passando minhas mãos sobre o
elegante vestido vermelho.

O decote era modesto o suficiente para não mostrar um


pingo de decote, mas havia uma fenda na minha coxa que eu
tinha certeza de que a mãe de Xander franziria a testa. Na
verdade, eu poderia aparecer com um macacão completo sem
uma polegada de pele à vista e ela iria franzir a testa para
mim. Eu esperava que, depois de ter passado seis semanas
com Xander, e ficando fora das câmeras dos paparazzi por três
semanas seguidas, ela teria vindo a me aceitar. Talvez até
gostar de mim. Mas essa era uma fantasia maior do que aquela
que eu abrigava que Xander e eu teríamos magicamente mais
tempo.

— Você parece divina, — disse ele, vestindo o paletó. Nós


quase caímos na rotina de nos vestirmos para a noite juntos,
algo que era tão natural e ao mesmo tempo revigorante. Eu
odiava os flashes que estouravam atrás dos meus olhos – uma
vida inteira se preparando para eventos juntos ou vestindo
moletons para ver Netflix e relaxar. — Quase comestível, —
disse ele, dando um beijo na minha bochecha, já que eu tinha
acabado de passar meu batom para combinar com o vestido.
Um rubor correu sobre minha pele com a proximidade
dele, seu perfume me envolvendo – algo que agora era uma
mistura de nós dois desde que estávamos constantemente
juntos.

— Lamento termos que fazer isso, — disse ele. — Prefiro


ficar aqui.

— Tivemos vários dias de negação pacífica, — eu disse. —


É hora de o príncipe sair em público novamente. — Ajustei a
gravata dele antes de colocar minha mão sobre o centro do
peito. — Eu não me importo.

— Como eu tive tanta sorte?

— Você quase morreu em uma tempestade de neve. —


Ri. — Eu não chamaria isso de sorte.

— Eu chamaria, — disse ele com tanta seriedade que a


respiração saiu dos meus pulmões. Afastando todos os
pensamentos sobre a data de validade em neon gigante se
aproximando rapidamente de nós, forcei um sorriso e passei
meu braço no dele, sinalizando para ele liderar o caminho,
porque minhas palavras haviam falhado comigo. Percebi que
seus passos agora eram um pouco mais leves do haviam sido
antes.

— Você está de bom humor hoje à noite.

— Eu tenho trabalhado em algo com o primeiro-ministro,


— ele admitiu, sorrindo para mim enquanto caminhávamos
pelo corredor. — Ele me disse que acha que podemos estar
próximos do nosso objetivo, e espero receber as boas notícias
esta noite.
— Tão secreto, — eu provoquei.

— Você será a primeira a saber se funcionar, eu prometo.

Trinta minutos depois, uma limusine nos deixou em um


lindo edifício antigo que parecia saído dos tempos ancestrais. A
arquitetura era rica em design, com pedras largas e flores de
videira. O interior era tão luxuosamente decorado, o salão de
baile primorosamente organizado, como o evento de
caridade. Todo o luxo, sem despesas poupadas e tão
intimidante. A sala estava de parede a parede com pessoas
importantes – membros do parlamento, o tão-atrevido
primeiro-ministro, a rainha e o resto da família real e todos os
outros funcionários cujas posições de poder eu nunca seria
capaz de compreender.

Quanto mais fundo Xander me levava pela sala, menor eu


me sentia. Cada conjunto de olhos que me avaliavam como a
ladra de coroas que pensavam que eu era, cada olhar de
escárnio ou pena, me fazia querer encolher no tapete e nunca
olhar para trás.

Endireitei minha coluna, não permitindo que eles vissem


o medo que ameaçava me paralisar. Eu estava aqui pelo
homem incrível que segurava meu braço, e mais ninguém.

Duas taças de champanhe ajudaram a acalmar meus


nervos, e depois de uma hora sem fazer papel de boba, me
sentia positivamente tonta.

Um grupo de homens cercou Xander, enquanto eu estava


obedientemente ao seu lado, e conversavam em tom acalorados
sobre as últimas ações dos monarquistas. Eu mantive minha
mandíbula travada, e tentei controlar aquele sorriso e graça
sem esforço que Charlotte e Sophie constantemente
mostravam. Um homem em um terno verde Lincoln7 vibrante
mudou a conversa para a economia, e eu rezei para que eles
não pudessem ver meus olhos vidrados.

— O que você acha, Srta. Collins? — o homem perguntou


enquanto eu delicadamente peguei outra taça do garçom que
me ofereceu.

— Hmm? — Eu me virei ao som do meu nome,


encontrando todos os olhos dos homens em mim. — Oh. —
Levantei meu copo. — O champanhe é fantástico. — Tomei um
gole rápido.

Ninguém riu.

Bem, então, olá estranheza.

Eu ergui meus ombros, dando-lhes toda a atenção. —


Sinto muito, o que eu penso sobre... — Deixei a frase no ar por
um momento, o deixando saber que eu não tinha ouvido o que
quer que eles estivessem falando.

— Sobre o déficit criado pelos protestos contra a


propriedade pública pelos antimonarquistas? — Ele se
movimentou quando eu pisquei para ele algumas vezes. —
Apenas a porcentagem causada pela destruição de certos
setores privados irá usar do banco da Coroa por pelo menos
dois anos – eu diria que bons vinte por cento se os atos não
forem interrompidos em breve.

7
Verde Lincoln é a cor do tecido de lã tingido originário de Lincoln, Inglaterra, uma
importante cidade de tecidos durante a alta Idade Média.
Lambi meus lábios, de repente desejando que eles não
tivessem gosto de champanhe. Risque isso, mesmo sóbria, eu
era um pesadelo com números. Mas isso? Ele poderia muito
bem estar falando japonês. Separei meus lábios, pronta para
dar uma resposta peculiar que poderia salvar minha clara
ignorância, mas ele balançou a cabeça, rindo.

— Perdoe-me, — disse ele, apontando para Xander. — Eu


esqueci. Ele disse que você era escritora.

Eu me irritei com a maneira como ele disse a palavra como


se fosse uma profissão risível. Olhei para Xander, que tomou
um gole de uísque, claramente irritado com o homem, mas
optando por não dizer nada.

— Isso tudo deve parecer bobagem para você, — continuou


o homem. — Totalmente absurdo, suponho.

Abri minha boca e depois a fechei. Eu não seria enganada,


não de novo, e definitivamente não quando não houvesse
alguém como Sophie ou Charlotte para me salvar como da
última vez. Eu me recompus com uma respiração lenta e
sorri. — Com licença, — eu disse, me retirando da equação.

Eu tinha um maldito mestrado em escrita criativa e ganhei


mais de seis dígitos nos últimos cinco anos consecutivos – não
que fosse da sua conta – mas ele agia como se eu não pudesse
dizer a diferença entre arte infantil e Monnet. Eu bufei, meio
chocada quando Xander não me seguiu imediatamente.

Então eu não sabia nada sobre o estado da economia de


Elleston, ou a forma como os protestos antimonarquistas
estavam afetando isso, que não me fez uma idiota.

Não, isso faz de você uma não rainha.


Eu deveria ter perguntado a Xander mais sobre o estado
do país, mas ele sempre estava tão estressado e quieto, e
quando perguntava, ele imediatamente mudava de
assunto. Não que ele pensasse que eu era idiota – eu sabia
disso... mais como se eu fosse sua pausa dessa vida. Como se
ele pudesse tirar a coroa do Príncipe Alexander na porta e ser
apenas Xander comigo.

Eu deveria ter pressionado.

Inclinei contra a parede, me virando com a esperança de


que Xander estivesse vindo na minha direção, pronto para me
ajudar a esquecer o quão estúpida eu me sentia sem me dar
mérito.

Ele não estava vindo. Ele ficou em seu lugar,


obedientemente, embora me desse um olhar de desculpas.
Charlotte ficou ao lado dele, tendo se juntado ao círculo depois
que saí e parecendo elegante pra caralho em seu vestido azul
bebê. Nenhuma quantidade de tensão crivou seus ombros,
nem reviravoltas de medo em seus olhos. Ela pertencia ali. Ela
nunca seria prejudicada por conversas políticas, no entanto,
não parecia que alguém estava tentando desequilibrá-la como
fazia comigo.

Ou talvez você esteja simplesmente desequilibrada aqui.

A verdade da situação me atingiu como um martelo no


peito. Eu não me sentia tão mal comigo desde a escola
primária. Depois de ter sido intimidada por gostar mais de
livros do que de festas, eu jurei que nunca daria a mínima para
o que as pessoas pensavam. E aqui estava eu, de mau humor
no canto, e tentando me espelhar em uma mulher que não
poderia ser mais diferente de mim. Eu não me encaixava aqui
e não queria. Não queria fazer parte de um círculo social que
criticava as pessoas das artes – escritores, criadores e qualquer
pessoa fora da agenda política.

Foda-se isso.

Suspirei, raiva fervendo em meu sangue.

Eu queria Xander, não o príncipe Alexander, e esse tinha


sido o nosso problema desde o início. Nosso único problema,
se eu realmente pensasse sobre isso.

— Estranho, não é? — Sophie veio para ficar ao meu lado,


seu vestido azul claro quase combinando com a sombra do de
Charlotte.

— O que? — Eu perguntei depois de esfriar meu discurso


interno. Sophie era a pessoa mais doce que eu conheci no
palácio – nem uma gota de malícia em seu corpo, e ela não
merecia o meu humor.

Ela acenou na direção de onde Jameson se juntara ao


círculo de Xander, deslizando ao lado de Charlotte. Sophie
passou o dedo pela borda da taça de champanhe, parecendo
completamente entediada. Isso fez duas de nós. Pelo menos eu
não estava sozinha nisso. — Quão mais feliz ela parece com
Jameson. Quero dizer, eu sei que eles brigam como cães e
gatos, mas sempre houve algo lá.

Eu sorri, tendo visto o par junto muitas vezes. Eu conhecia


a reputação de Jameson, mas não pude deixar de notar
exatamente o que Sophie falou – que o sorriso de Charlotte era
menos contido quando ele aparecia.

— Você pensaria que seria com ele que ela estaria


comprometida, mas não, tinha que ser Xander. E sabendo que
eles precisam se casar apenas algumas semanas depois de
anunciarem seu noivado... ugh. — Sophie balançou a cabeça
e tomou outro gole. — Ela seria melhor para Jaime. Talvez o
faça tirar da cabeça... — ela parou abruptamente, olhando
para mim. — Você está bem?

Meu estômago caiu no chão, meu coração apertou como


se a vida estivesse sendo espremida fora dele. — Charlotte? —
Eu sussurrei. — Ela é a única?

Eu pensava que ela era uma amiga da família, uma


importante ligação da linha real, mas não... ah, eu realmente
era uma idiota. A mulher perfeita. Sua graça, elegância e
história. Claro que ela seria a única. Quem mais poderia ser?

— Eu pensei que Xander disse...

— Sophie! — A voz excitada de Brie a interrompeu, seu


tom agudo alertando todos na sala para sua aparição
repentina. — Oh, meu Deus, você tem que conhecer Marco. Eu
o peguei em Mônaco, e ele é mais gostoso que xarope de
framboesa em waffles.

— Brie, — Sophie sussurrou. — Fale baixo.

— Oh, calma, mamãe nem está perto de nós.

— Eu sei, mas -

— Willa, — disse Brie, me cutucando. Pisquei várias vezes,


meu cérebro ainda tentando calcular como eu não sabia que a
linda e perfeita Charlotte era aquela que se casaria com meu
namorado – Xander. Ela foi tão gentil comigo, tão gentil, e eu
fui... cega. — Você pode apreciar isso, tenho certeza, — Brie
continuou e se virou, sua mão levantada em direção a um
homem alto esculpido em músculos com os cabelos mais
negros que já vi e olhos azuis que reconheci. Inferno, havia
milhares de leitoras que o reconheceriam.

— Marco, — eu disse, chocada ao ver um rosto familiar em


uma função que senti que era a coisa mais distante da minha
vida real.

— Você o conhece? — Brie perguntou, me olhando. Vi


Xander finalmente se aproximando com a testa franzida.

— Shayla! — Marco entregou para Brie as duas taças que


carregava e instantaneamente me pegou em seus braços, nos
girando com mais espetáculo do que se Brie tivesse decidido
sair com ele no palco.

Ele teve o mesmo entusiasmo contagiante e amigável na


sessão de fotos. — Como você está? — Eu perguntei uma vez
que ele me colocou no chão. — Deus, já faz o que, dois anos?

E mais quatro livros de Shayla Scotch? Eu tinha perdido a


conta. Sua foto da capa ainda era meu livro mais vendido da
Shayla, e por boas razões. Ele era a fantasia de toda mulher,
sombrio o suficiente para ser assustador, mas charmoso o
suficiente para se apaixonar.

— Faz tanto tempo? — Ele perguntou, seu sorriso largo.

Xander parou ao meu lado, seu braço serpenteando ao


redor do meu quadril, estendendo a mão livre para apertar a
de Marco. Olá, homem das cavernas.

— Você é irmão de Brie, — disse ele, sacudindo a mão


rapidamente antes de soltar. — Ela me contou tudo sobre
você. Obrigado por me convidar para a festa.
— Eu não convidei. — A voz de Xander era rouca quando
olhou para Brie, que simplesmente sorriu. Eu tinha a sensação
de que alguma regra havia sido quebrada, mas diabos, eu
tecnicamente não deveria estar aqui também.

Charlotte sim. O fogo fervendo no meu sangue voltou, mas


tentei esfriá-lo com uma respiração. Agora não era a hora.

Marco riu com um toque de constrangimento misturado


antes de gesticular para a mão no meu quadril. — Como você
conheceu Shayla?

Eu me encolhi, apenas agora percebendo que ele estava


me chamando pelo meu pseudônimo em vez de Willa.

— Você quer dizer Willa? — Xander perguntou, como se os


dois nomes estivessem próximos o suficiente para Marco
confundir.

Marco balançou as sobrancelhas, terrivelmente alheio à


tensão crescente em nosso pequeno círculo. — Oh, está certo.
— Ele balançou sua cabeça. — Estou tão acostumado com os
e-mails, e usando Shayla.

— Não se preocupe com isso, — eu disse, tentando


encolher os ombros.

— E-mails? — Brie perguntou, arqueando uma


sobrancelha. — Onde vocês se conheceram?

— Em uma sessão de fotos. — Seus olhos dispararam de


Brie para mim e ele deu um passo mais perto dela. — Para o
livro dela? — Ele disse quando ninguém respondeu com nada
além de olhares vazios.
Uma risada rasgou o peito de Xander, me sacudindo. —
Certo. Você foi modelo das ilustrações dos
seus livros de Annie's Alligator?

Agora Marco estava rindo de novo, ousando o suficiente


para bater de brincadeira no ombro de Xander. — Eu pensei
que você tivesse dito que Jameson era engraçado, certo? — Ele
balançou a cabeça para Brie. — Você não é fã de sua namorada
escrever erotismo? Não há vergonha nisso. Shayla Scotch é
uma campeã de vendas.

Fechei os olhos com força, nunca gostei quando meu


pseudônimo era divulgado abertamente, e muito menos seu
número de vendas.

Um silêncio frio gelou nosso círculo, e eu jurei que Xander


se transformara em pedra ao meu lado.

Uma voz masculina limpou sua garganta atrás de nós, e


me virei lentamente para ver o homem de terno verde. — Eu
ouvi isso corretamente? — ele perguntou.

Um músculo na mandíbula de Xander se flexionou.

— Deus, vocês agem como se escrever sobre sexo fosse um


crime. Vocês precisam transar. — disse Marco, passando o
braço em torno de Brie. Seus olhos dispararam entre todos
nós, um flash de desculpas em seus olhos quando
encontraram os meus.

— Certo, — disse o homem, sua voz arrastando


lentamente.

— Senador Lambert, — disse Xander, com uma pergunta


em sua voz.
Oh, meu Deus. O homem era senador. Todas as perguntas
que ele estava fazendo... eram claramente um teste. Um que
eu falhei miseravelmente. Duas vezes.

— Alteza, você pode dizer ao primeiro-ministro McAllister


que, embora sua proposta tenha um certo nível de mérito, eu
simplesmente não posso votar nisso em sã consciência.
Lamento decepcionar vocês dois. — Com uma reverência rígida
em direção a todos os três membros da realeza que estavam
conosco, o senador Lambert foi em direção à multidão mais
próxima de convidados vestindo smoking.

Suas cabeças viraram em nossa direção, seus olhos tão


arregalados quanto pires.

Não há necessidade de adivinhar o que aconteceu lá.

— Xander? — Eu perguntei, minha voz tão trêmula quanto


minha mão em seu braço. Ele se afastou do meu toque, um
entendimento estalando em seus olhos quando ele percebia
algo.

Minha mão pairou onde o braço dele estava e, quando ele


deu dois passos para longe de mim, seu rosto era uma mistura
de vergonha, arrependimento e choque, eu jurei que meu
coração se partiu.
Fechei a porta do nosso quarto com cuidado, ignorando
todos os instintos que tive para bater isso. Deus, quando isso
se tornou nosso quarto? Willa não teve o mesmo cuidado com
a porta do banheiro. Tenho certeza de que o palácio inteiro
ouviu o estrondo da madeira.

Tirei minha jaqueta, jogando na poltrona e afrouxando a


gravata borboleta em volta do meu pescoço. Eu deixei as
pontas caírem e me recostei na porta, minha cabeça batendo
nela com um baque. Eu estive tão perto. Tão fodidamente
perto.

Mas não realmente. Eu estava a dez mil quilômetros de


distância do meu objetivo – eu simplesmente não sabia disso.
Estávamos condenados desde o início, quando pulei os títulos
eróticos naquela estante de livros, erguendo uma sobrancelha
para o material de leitura dela, enquanto silenciosamente me
perguntava se a excitavam. Inferno, eu tinha ficado excitado só
de pensar que ela os lia, mas eu os havia ignorado e visto os
livros de Allie the Alligator – aqueles com o nome dela.
A porta do banheiro se abriu na mesma velocidade com
que bateu. — Eu não consigo desfazer essa merda! — ela
estalou e me apresentou suas costas.

Deus, eu tinha planejado tirar o zíper com os dentes,


arrebatar seu corpo e lhe contar as boas novas. Em vez disso,
fomos atingidos pelo furacão Marco. Brie pediu desculpas
profusamente, não que fosse culpa dela. Ela conheceu um
modelo e o trouxe para casa, como sempre. Esse modelo
simplesmente tirou a roupa para os livros da minha
namorada... seus livros não muito infantis.

Suspirei enquanto cruzava a sala e abri o zíper do vestido


de Willa. Ela não disse obrigada, simplesmente entrou no
banheiro e bateu a porta na minha cara.

Alguns momentos depois, ela estava fora do banheiro


vestindo seu roupão macio e felpudo. — Você sabe o que eu
não entendo? — ela perguntou, seu tom mais do que acusador.

— Por favor, me esclareça, — eu disse, cruzando os braços


sobre o peito.

— Como você pode me deixar me fazer de idiota o tempo


todo!

Meus olhos dispararam para o céu. — Você... uma idiota?


Como? Você não percebe o que aconteceu lá? Como isso se
tornou o jantar de Estado mais notório desde os mil anos de
história de Elleston? Tenho certeza de que as negociações de
paz durante a grande guerra de 1583 foram menos
complicadas. — Levou todo o meu autocontrole para manter
minha voz nivelada, mas consegui.
— Ela é perfeita! — Willa gritou. — Você me deixou chegar
perto dela. Me tornar amiga dela, invejar sua classe, sua beleza
e sua porra de graça, e o tempo todo você sabia. Sabia e nunca
me contou. Como você nunca me contou?

Eu pisquei. — Por que diabos você está chateada? — Eu


nunca a tinha visto perder a paciência, especialmente em uma
noite em que eu tinha todo o direito de perder a minha.

— Charlotte! — ela gritou. — É com ela que você vai se


casar! E não daqui a um ano, mas em algumas semanas depois
que eu for embora!

— Bem, eu meio que esperava não me casar com ela até


seu segredo nos atirar na água hoje à noite. — A raiva fervia
de todos os meus poros, mas eu não perderia a calma. Por mais
furioso que estivesse com Willa, eu tinha que ficar no controle,
porque ela claramente não estava.

— O que diabos isso significa? Você sabe como é fazer


amizade com alguém que vai foder com o homem que você... —
ela balançou a cabeça e piscou furiosamente.

Ama, diga! Um de nós precisa.

— Ela é perfeita, — ela repetiu. — Perfeita para você, a


coroa, sua mãe, em tudo. Fodidamente perfeita. E você vai se
casar com ela e fazer perfeitos bebezinhos reais com ela. Eu
sou apenas uma... aventura. Essa americana idiota que
escreve livros de sexo e veio aqui para te ajudar, a o
quê? Semear sua semente real?

— Você já terminou? — Eu fervi.

— Não, — ela atirou de volta em um tom petulante.


— Sim, eu estou noivo de Charlotte. Nunca me ocorreu que
você não sabia. Que eu não te contei, ou que você queria
saber. Você nunca perguntou, e é absolutamente minha culpa
que eu nunca esclareci. Não tenho nenhum problema em
aceitar os erros que cometi. Mas você honestamente acha que
eu a quero?

— Como não?

— Como eu posso, quando tenho você? — Eu


disparei. Tanta coisa para manter a calma. — Você tem alguma
ideia do que nos custou hoje à noite? O que seu segredo
fez? Pelo amor de Deus, passei as últimas três semanas
movendo o céu e a terra, barganhando politicamente, cobrando
cada favor para que eu pudesse aprovar uma resolução para
não precisar me casar com Charlotte e você jogou isso fora!

Seu olhar se voltou para o meu e sua boca se abriu


ligeiramente.

— Isso mesmo. Eu estava tentando aprovar uma lei que


tornaria legal eu me casar com uma plebeia. Não Charlotte. Eu
tinha todos os votos que precisava, exceto um.

— Senador Lambert, — ela adivinhou, sua voz suave.

— Senador Lambert, — eu concordei. — E poderíamos ter


superado o tropeço inicial -

— Tropeço inicial? Você quer dizer onde não fala sobre a


política do seu país, e eu não busco detalhes, então ajo como
uma completa idiota? Você quer dizer esse tropeço?

Eu flexionei minha mandíbula. Eu deveria tê-la ensinado,


ela tinha todo o direito de me cobrar por isso, mas eu estava
tão preocupado tentando prolongar nosso tempo juntos que
passei todos os nossos momentos extras simplesmente
saboreando o tempo que tínhamos – apenas por garantia.

— Como eu disse, poderíamos ter nos recuperado, mas


você está escrevendo erotismo?

Os ombros dela se endireitaram e o queixo se ergueu


alguns centímetros. — O que tem isso?

— Você mentiu para mim!

— Eu nunca disse que não era uma escritora erótica, —


ela retrucou. — Apontei para a estante onde você viu meus
livros e disse que eram os que escrevi.

— Você nunca esclareceu. Você me deixou entrar nessa


armadilha pública.

Sua pele ficou vermelha. — Ok, eu nunca esclareci, você


está certo. Mas uma armadilha? Não tenho nada para me
envergonhar, e vamos encarar, você acha que tenho. O que há
de tão errado comigo escrevendo eróticos? Com uma mulher
explorando sua sexualidade?

— Eu sou o príncipe herdeiro de Elleston, a apenas a


alguns meses de ser coroado rei! — Eu gritei, indiferente se os
guardas, ou inferno, até o Parlamento me ouvia. — Eu não
posso estar com uma escritora erótica!

— Quem disse? — ela perguntou, com as mãos nos


quadris.

— Todo o Parlamento!
— É a isso que sempre se resume, Xander. Você é um
príncipe. Um príncipe da vida real, e eu escrevo sobre
sexo. Sou uma americana comum, com cabelos inadequados,
maneiras horríveis e nenhum conhecimento geral de sua
história porque nunca gostei de história na faculdade – isso
mesmo, fui para a faculdade – e sou horrível para você em
todos os aspectos. Deus, mesmo sem os livros de Shayla,
vivemos em universos separados.

Meus punhos cerraram para não a tocar, puxá-la para


mim e abraçá-la. Estávamos perto do nosso felizes para
sempre, para o que os contos de fadas descreviam em todos os
livros em que o príncipe se apaixona pela donzela.

Mas Willa não era donzela.

— Eu apenas... eu não entendo, — ela sussurrou,


envolvendo os braços em volta do estômago.

— Não entende o que?

— Por que você lutaria com o parlamento? Por que você


não quer alguém como Charlotte no seu braço? Por que
importa o que eu faço?

— Charlotte é uma irmã para mim. Nós nunca fomos


atraídos um pelo outro. Acredite, tudo isso seria muito mais
fácil se estivéssemos. Em vez disso, quero você. Preciso de você.
Elaborei um projeto de lei para casar com uma plebeia – casar
com você!

Sua boca caiu aberta, seus olhos arregalados com


lágrimas não derramadas. — Mas por quê?
— Porque eu amo você! Porque em algum lugar entre
'vamos dormir juntos por alguns meses' e o que quer que
sejamos agora, eu me apaixonei por você. Pelo seu sorriso, sua
risada, a maneira como você olha o mundo. Eu me apaixonei
pelas cores do seu cabelo e sua bravura, a maneira como você
pega tudo o que foi jogado em você e mantém sua cabeça
erguida. Eu amo que você me faça olhar as coisas de um
ângulo diferente, que não fica satisfeita com o que apenas é
bom o suficiente. Inferno, eu amo que você seja forte o
suficiente para não dar a mínima para o que alguém pensa,
para amar o que você faz, incluindo o que escreve.

Ela baixou o olhar e eu cedi, atravessando a sala para


levantar seu queixo suavemente.

— Você acha que eu me importo com isso?

— Você obviamente faz?

— Willa, eu não me importo se você escreve livros infantis,


horror, eróticos ou livros de autoajuda sobre tecelagem de
cestas subaquáticas. Eu amo você, e isso inclui tudo o que se
passa na sua mente.

— Mas acabei de nos custar tudo.

Puxei ela em meus braços, sentindo minha camisa


encharcar com suas lágrimas. — Eles nunca vão me deixar
casar com você. Agora não. Seria um escândalo que a
monarquia nunca sobreviveria, — admiti. — Eu sabia no
minuto em que Lambert ouviu.

— Você se afastou de mim.


— Doeu tocar em você, — eu sussurrei. — Saber que o que
temos é algo que nunca compartilharei com ninguém
mais. Que não vou querer mais ninguém. Que você irá embora
em questão de semanas.

Seis para ser exato. Seis semanas até que anunciarei meu
noivado e outro mês depois, quando me casarei com a mulher
que não amo antes da coroação.

Ela tremeu enquanto respirava fundo. — O que nós vamos


fazer?

Eu peguei seu rosto e o levantei, beijando gentilmente seus


lábios. Tinham gosto do sal das suas lágrimas. Deus, ela era
linda. Era minha em todos os aspectos, exceto aquele que
acabaria importando – aquele que nos separaria.

Nós éramos inevitáveis e impossíveis desde o momento em


que ela salvou minha vida.

— Nós vamos dormir. Amanhã, vamos fazer um plano.

— Xander?

Eu a encarei e me apaixonei ainda mais por ela. Como isso


era possível?

— Sinto muito por não ter lhe contado.

Forcei um sorriso e enxuguei as duas lágrimas que


deslizaram por suas bochechas. — Eu não sinto. Se você
tivesse me dito, nunca teríamos chegado tão longe. Não
saberíamos pelo que lutar. Nunca peça desculpas pelo que
você trouxe para minha vida.
Caminhei pelos jardins do palácio a noite toda depois que
Willa adormeceu. Oliver nos meus calcanhares, nunca
reclamando enquanto caminhávamos pelos jardins. Ele me
deixou em minha meditação silenciosa enquanto minha mente
corria, tentando encontrar qualquer solução para o que
havíamos nos metido.

Às sete da manhã, eu já tinha esgotado todas as opções,


menos uma.

— Sua Alteza, você tem uma reunião com o primeiro-


ministro em exatamente meia hora, — Oliver me lembrou
enquanto eu caminhava de volta para o nosso quarto.

— Eu preciso ver Willa primeiro. Então vou lidar com as


consequências.

Ele assentiu e virou as costas, guardando a porta. Não


deixei de perceber o bocejo dele ou o jeito que seus olhos
caíram. — Oliver, obrigado.

— Pelo quê? — ele perguntou.

— Pelos últimos dez anos.

Um sorriso apareceu em seu rosto. — Sempre foi um


prazer. Exceto o ano em que você tinha 21 anos. Você foi um
pé no saco nesse ano.

Rindo, entrei no quarto e vi Willa na cama, completamente


vestida. — Aí está você! — ela disse, dando um suspiro enorme.
— Eu estava andando, — disse enquanto me sentava ao
lado dela na cama.

— Eu pensei... isso não importa. O que você descobriu em


sua caminhada?

Peguei a mão dela, acariciando a pele macia da sua palma.


Deus, eu não queria isso. Mas eu precisava dela. Eu não
poderia deixá-la ir. Não suportava nunca mais vê-la, nunca
mais tocá-la. Eu tinha que tentar de tudo para mantê-la a todo
custo.

— Não posso me casar com você. O primeiro-ministro está


me esperando agora para dizer exatamente a mesma coisa. Já
está nos jornais, e tem rumores de que eu estava tentando
mudar a Constituição para me casar com você.

Não deixei de perceber o lampejo de dor nos olhos dela


antes de forçar um sorriso. — Bem, isso não é algo que não
sabíamos. Certo? Acho que mantemos o plano. Voltarei aos
Estados...

Era agora ou nunca.

— Ou talvez você fique, — sugeri.

— O que? Como? — Suas sobrancelhas franziram.

— Eu não posso me casar com você, mas também não


posso te perder. Vou ter que me casar com Charlotte para
garantir o trono. Isso não pode mais ser alterado, não com o
que aconteceu.

— Certo…
Minha boca ficou tensa, tentando manter as palavras
dentro. Como eu poderia perguntar isso a ela? Eu concordaria
se a situação fosse inversa? Vê-la se casar com outro
homem? Ter o filho dele? Mas como poderia não dar a ela a
opção? A escolha?

— Fique assim mesmo.

— O que? — Ela se sentou ereta, se afastando de mim.

— Fique comigo. Eu não amo Charlotte. Ela não me


ama. Muitos casamentos reais funcionam dessa maneira, com
uma parceria no casamento, e o amor... em outros lugares.

— Ficar como sua amante? — ela sussurrou, seu rosto


horrorizado.

Engoli em seco e, nesse momento, ser um dos homens


mais poderosos do mundo não fez nada por mim. Eu não
poderia fazê-la me escolher. Eu não poderia fazê-la ficar.

Ela possuía todo o poder.

— Sim. — A palavra era condenatória.

— Xander... — ela balançou a cabeça.

— Eu sei. Sei que é pedir demais. Sei que é impossível. Eu


sei que não é o que qualquer um de nós quer, e que isso
lentamente partirá nossos corações quando pudermos superar
a grande ruptura agora. Mas Willa, não sei respirar sem você,
e sei que você me ama. Você pode não dizer, mas eu sei que
sim. Não quero te perder. Você pode escrever aqui, trabalhar
daqui, ser feliz aqui.

— Com você casado com outra mulher!


— Sim, — eu sussurrei. — Não existe outro caminho para
nós, não importa o quanto eu deseje que isso não seja
verdade. Eu não quero você como minha amante. Eu quero
você como minha esposa. Mas vou levar tudo o que você me
der. Os restos da sua mesa. Eu imploro. Tudo o que você
estiver disposta a fazer, direi que sim. Eu sei que é…

— Desprezível, — ela sugeriu.

— Sim. Mas isso nos dá um ao outro, e uma coisa que sei


sobre você é que nunca se importou com o que as outras
pessoas pensam. Por favor, não comece agora. Por favor, fique
comigo. Deixe-me te amar. Vou te dar tudo...

— Exceto seu nome. — A voz dela era suave. Quebrada, e


eu me odiei instantaneamente pelo que havia proposto. Mas o
que mais eu poderia fazer? Deixá-la ir? Deixá-la ir embora sem
lhe dar a opção de ficar? Deixá-la sair sem saber o quanto eu
a amava?

— Exceto meu nome.

— E se tivéssemos filhos?

Meu coração inchou quase explodindo com o


pensamento. Um bebê contra o peito de Willa... nosso
bebê. Com os olhos dela e meu temperamento. Seu cérebro e
minha capacidade de discutir. Deus, eu queria isso mais do
que tudo, ver uma parte de nós em uma criança que
poderíamos criar, que nunca saberia o que significava estar
vinculado ao dever desde o momento do nascimento.

Meus olhos se fecharam quando a realidade caiu ao meu


redor.
— Nós nunca poderíamos ter um filho. Isso confundiria a
linha de sucessão. Uma coisa é ter um caso de amor e outra é
trazer uma criança ao mundo que não entenderia por que ela
era um segredo, ou por que ele não podia reivindicar o nome
de seu pai.

— Seus filhos seriam com Charlotte.

Filhos com Charlotte. Não com Willa. Meu corpo inteiro se


rebelou com o pensamento.

Levantei-me, incapaz de me conter por mais tempo. —


Deixa pra lá. É muito. Não posso pedir isso a você. Porra, não
posso pedir isso de mim. Para abraçar você, amar você, adorar
seu corpo todas as noites e depois ter que voltar para
ela. Imaginar que ela é você. Isso iria te destruir, e eu não
poderia assistir você se esvair. Eu te amo demais por isso.

Eu estava a meio caminho da porta quando Willa me


alcançou. Seus braços envolveram minha cintura e sua
bochecha descansou nas minhas costas.

— Você não decide o que eu posso aguentar, — ela


sussurrou. — Essa é a minha escolha. E se eu optar por ficar
aqui sabendo quais são as regras, isso é por minha conta. O
mesmo de quando escolhi vir aqui, sabendo que teríamos
apenas alguns meses. Não peça desculpas por me dar a única
opção que me permite tê-lo... mesmo que apenas em pedaços.

Eu me virei e a beijei, nossas línguas entrelaçadas, nossa


tristeza derrotada pelo calor de nossas bocas, o amor que
derramava entre nós, ela falando ou não as palavras. Nosso
beijo ficou desesperado quando suas mãos percorreram meu
cabelo. Era isso que eu queria. Eu queria Willa. Eu queria
paixão, luxúria e amor. Eu queria que ela me dissesse quando
eu era um idiota. Queria que ela me fizesse rir, fizesse com que
a sociedade arrogante percebesse o quanto estava fora de
alcance.

Uma batida soou na porta.

— Sua Alteza, o primeiro-ministro chegou. — A voz de


Oliver flutuou através das portas.

Nós nos separamos, nossas respirações difíceis.

— Willa... — eu questionei. O que isso significa? Sim? Não?

— Eu preciso de tempo, — ela implorou. — Apenas preciso


pensar porque desde o início tudo foi tão rápido, tão surreal, e
uma decisão como essa...

Eu a beijei de novo suavemente até que ela choramingou


em um som como dor. — Willa, querida.

— Não. Você me beija, e tudo fica confuso. Apenas...


apenas me dê algumas horas para pensar, ok?

Eu balancei a cabeça e escovei uma mecha de cabelo de


sua bochecha. — Posso fazer isso. Eu te amo. — Eu disse a ela
enquanto me afastava com relutância.

— Eu sei, — disse ela com um sorriso.

— Guerra nas Estrelas, — eu quase ri.

Ela deu de ombros com um sorriso choroso.

Saí, deixando meu coração em suas mãos. A decisão era


dela. Igual era minha vida – eu poderia viver, mas não podia
fazer escolhas quanto ao meu próprio destino.
Ela era o meu destino.

Eu apenas espero que ela esteja disposta a lutar por isso.


Eu aperto as bordas da pia de mármore no banheiro de
Xander tentando desacelerar meu coração acelerado.

Eu poderia fazer isso? Desempenhar esse papel pelo resto


da minha vida? A mulher que o amava com cem por cento de
seu coração, mas não tinha permissão para mostrar isso? Um
pequeno segredo sujo? Eu poderia vê-lo com Charlotte? Saber
que ele estava dormindo com ela nas noites em que não dormia
comigo?

Jogando água fria no meu rosto, afundei no assento


fechado do vaso sanitário, com a cabeça nas mãos. Eu já
estava aqui... há seis semanas? E houve mais momentos felizes
do que ruins. Por ele, talvez eu pudesse ficar em uma casa
silenciosa, secretamente escrevendo meus livros enquanto
esperava a visita do rei. Eu poderia fingir que os sussurros
sobre a minha presença não me incomodavam. Poderia fingir
que não ser reconhecida como o amor da sua vida não era
grande coisa. Eu podia esquecer que seria rejeitada, por ser
quem eu era, por amá-lo como eu o amava. Eu poderia ser uma
eremita aqui tão facilmente quanto em Nova York.
O pensamento rodou no meu estômago, uma onda de
náusea rolando no meu interior como uma corrente
oceânica. Eu me virei, levantando a tampa do vaso sanitário e
vomitando até não ter mais nada.

Lavando minha boca, segurei meu estômago com uma


mão, alisando meus dedos sobre a superfície como se isso
ajudasse a acalmar as ondas. Eu não conseguia me lembrar
da última vez que vomitei, a menos que contasse o tempo em
Vegas com Laura há quatro anos, o que não conto. Aquilo foi
Vegas, e isso foi...

Estou aqui há seis semanas.

Meus joelhos tremeram e afundei na borda da banheira


rebuscada, a segurando como se eu fosse desmaiar a qualquer
momento.

Não. Não é possível.

Olhei para baixo, subitamente consciente da minha mão,


ainda protetora sobre minha barriga... como um
maldito instinto.

Não. Controle de natalidade. Sem chance.

Outro rugido estremeceu e meus joelhos bateram no chão


enquanto eu vomitava novamente.

Xander saiu para me dar espaço. Tempo para limpar


minha cabeça. Agora eu queria que ele estivesse aqui, para
falar sobre a possibilidade... de enviar alguém para conseguir
um teste.
Mas não. Eu não podia fazer isso. Então
eles saberiam. Eles fariam um espetáculo disso. Eles
rotulariam meu filho por nascer – se houvesse um – de
bastardo. Um herdeiro ilegítimo do trono.

Foda-se. Isso.

Talvez a imaginação de escritora estivesse fugindo. Talvez


eu tenha contado mal o meu último período.

Sim, e talvez você tenha menstruado enquanto esteve aqui


e esqueceu a semana.

Merda.

Nós nunca poderíamos ter um filho. Isso confundiria a linha


de sucessão. Uma coisa é ter um caso de amor e outra é trazer
uma criança ao mundo que não entenderia por que ela era um
segredo, ou por que ele não podia reivindicar o nome de seu
pai. As palavras de Xander ecoaram na minha cabeça.

Nós nunca poderíamos ter um filho. Mas e se já tivéssemos


feito?

Eu precisava saber com certeza, mas não havia nenhum


lugar para onde eu pudesse ir que fosse seguro. Em nenhum
lugar eu poderia ficar sem alguém assistindo – um guarda, um
paparazzi, um membro da família real, inferno, talvez até o
maldito primeiro-ministro.

Eu arrumei a mala em uma onda frenética de movimentos,


eu agora muito ciente. Eu nunca tive um susto de gravidez
antes, mas isso... isso era uma mistura de terror, esperança e
pesar. Pesar pela solidez em meus ossos, a certeza em meu
coração... se eu estivesse grávida do filho de Xander, ela ou ele
nunca seria aceito. Seria pior do que ser eu... seria...

Não. Coloquei minha bolsa por cima do ombro, meu


coração quebrando apenas mais alguns graus. Talvez, se eu
estivesse errada, pudesse voltar aqui e explorar nossas opções.
Seríamos mais cuidadosos. Meu amor pelo homem era tão
forte. E embora eu pudesse me condenar, não deixaria um
bebê inocente sofrer a vida inteira por uma escolha que seu pai
e eu fizemos.

Segurei a maçaneta da porta por um momento antes de


encontrar coragem para girar.

Mas eu fiz.

— Eu preciso ir, — eu disse, conjurando toda a autoridade


que pude em minha voz quando abri a porta e olhei para Oliver.

— Onde você gostaria de ir? — Ele perguntou, apesar de


olhar minha bolsa e as lágrimas nos meus olhos.

— Aeroporto.

— Eu não posso fazer isso sem discutir com -

Xander me pararia. Ele pode não ser capaz de me manter


da maneira que queria, mas um olhar naqueles olhos e eu
ficaria.

— Se você não me levar agora, eu vou embora. Você não


pode me parar. — Ele arqueou as sobrancelhas, desafiador,
mas eu mantive minha coluna ereta. — Tudo bem, — eu disse,
passando por ele. — Se algo acontecer comigo enquanto vou
de táxi para o aeroporto, boa sorte ao lidar com Xander -
O aperto gentil de Oliver parou meus passos rápidos. —
Droga. — Ele limpou a garganta, me liberando. — Desculpa.

— Apenas me tire daqui.

— Isso vai destruí-lo, — ele sussurrou.

— Eu já estou matando seu reinado e ele nem assumiu o


trono. Estou fazendo isso com ou sem você.

Ele me deu um aceno quase solene.

Três horas depois eu estava em um voo.

Nove horas – e dois litros de lágrimas depois – Laura me


cumprimentou de braços abertos da porta de sua casa de
praia.

A casa azul pálida sempre atuou como um refúgio para


mim quando eu precisava escapar do mundo real, me calar e
escrever. Bem, eu não estaria escrevendo, mas estava
fugindo. Ninguém me procuraria aqui. Nem Xander sabia onde
Laura morava, e a casa era um lugar que não aparecia em seu
nome, seu tio-avô lhe deixou há alguns anos e ainda estava
registrada como dele. Seria impossível me encontrar, e era
exatamente isso que eu precisava agora.

— Tudo o que você pediu está lá, — disse ela, me


libertando de um abraço e apontando para o quarto de
hóspedes. Ela apontou o polegar para a sala de estar, uma
pilha de papéis, um iPad e um laptop espalhados na poltrona
em frente ao sofá. — Eu estarei aqui. Venha me encontrar
quando precisar de mim.
— Obrigada, — eu disse, minha voz rouca de tanto chorar
e do ar seco no avião.

Fechei a porta atrás de mim, sem desperdiçar mais


respirações.

Laura tinha três pilhas de caixas no balcão do banheiro de


hóspedes. Uma era alegremente rosa, a outra azul bebê, e a
terceira era de um tipo digital de alta tecnologia. Minha agente
não era apenas uma mãe bulldog, ela era insanamente
completa. Peguei uma de alta tecnologia com a leitura digital,
não querendo ter mais um pingo de dúvida.

Quatro minutos depois, eu ainda não tinha tido coragem


de olhar para os resultados. Eu gemi, mordendo meu lábio. —
Laura!

A porta se abriu como se ela estivesse do outro lado. Se eu


não estivesse confusa, poderia ter rido.

— Sim? — Ela perguntou, fingindo ignorância.

— Eu sou uma covarde.

— Não, você não é. Você é uma vadia feroz. Sempre foi. —


Ela sorriu, sua preocupação clara em seus olhos. — O que eu
posso fazer?

Eu respirei fundo.

— É como quando a Random House me enviou a proposta


de Crocodile Cole, e você precisava que eu a lesse em voz alta
por telefone, por que você não podia abrir o e-mail?

Eu balancei a cabeça rapidamente, abraçando meus


braços.
Ela soltou um suspiro e se aproximou do balcão do
banheiro como se pudesse explodir a qualquer momento.

— Espere, — eu disse, e ela congelou com a mão a alguns


centímetros do teste. — Laura...

— Vai ficar tudo bem. Aconteça o que acontecer. Assim


como a Random House. Você tem um
adicional... projeto importando ou não.

Eu ri, lágrimas brilhando nos meus olhos. — Está bem,


está bem. Faça. — Fechei os olhos com força.

— Bem, porra, — disse ela, e eu olhei para ela, a respiração


parando em meus pulmões.

O teste estava apertado entre seus dedos, o rosto ilegível.

— O que? — Eu sussurrei, a palavra espremida de mim.

— Estou imaginando um pequeno príncipe com cabelos


cor de arco-íris correndo por aí com uma máquina de escrever
de brinquedo.

Caí de joelhos, Laura me seguiu, ainda segurando o


teste. Eu podia o ler agora enquanto ela me abraçava.

Grávida.

Sem linhas. Sem dúvidas.

Eu estava chorando em seu ombro e segurando meu


estômago ao mesmo tempo.
Depois de alguns minutos, ela segurou meu rosto em suas
mãos. — Vamos lá, vamos comer alguma coisa. — Ela me
levantou.

Eu a abracei novamente, a agarrando como se fosse minha


própria mãe. Eu teria que ligar para minha mãe em algumas
semanas, quando ela e papai voltassem do cruzeiro.

— Obrigada, — eu disse, e quis dizer isso do fundo da


minha alma. Ela tinha sido uma força na minha vida, levando
minha carreira para o próximo nível, sendo uma amiga que
entendeu meus hábitos sem questionar, e agora... ela leu a
palavra que eu não podia.

Grávida.

Com o bebê de Xander.

Comi, incapaz de parar as lágrimas que rolavam


aleatoriamente pelas minhas bochechas toda vez que pensava
na vida dentro de mim. Eram partes iguais dele e de mim. E,
no entanto, eu estava sozinha. E o bebê... eu nunca deixaria
alguém chamá-lo de herdeiro ilegítimo.

Xander merecia saber, mas o que ele poderia fazer? Talvez


fosse melhor para ele, por sua qualidade de vida, se eu
simplesmente desaparecesse em sua memória como uma
aventura selvagem antes que ele se tornasse rei.

Olhei para o meu estômago, mas de alguma forma olhei


internamente ao mesmo tempo. Eu não tive as respostas. Não
sabia o que fazer... mas sabia uma coisa.

Eu te amo. Cuidarei de você.


Era poderosa a onda de certeza e proteção primitiva que
eu sentia por esse ser na minha barriga. Eu faria qualquer
coisa para protegê-lo... mesmo que isso significasse partir meu
próprio coração no processo.

Cinco semanas, seis pacotes de snickers fun-sized, trinta


pacotes de mini M&M, sessenta mil palavras em um novo
romance erótico com o tema de príncipe, e muitas noites sem
dormir e cochilos para contar. Era seguro dizer que eu parecia
um figurante de The Walking Dead. Eu sabia o que queria,
sabia o que precisava para me trazer de volta à vida...

Xander. Eu queria conversar com ele, mesmo sabendo que


não poderia tê-lo. Queria contar a ele sobre seu bebê. Contar
a ele como eu já conseguia imaginar um menino, como Laura
imaginou, mas sem os cabelos coloridos. Eu queria que ele me
abraçasse e consertasse as coisas, mas, novamente, eu sabia
que era uma fantasia. E absolutamente egoísta. Ele não podia
mudar quem era, quem nasceu para ser. Isso não era culpa
dele. Eu sabia no que estava me metendo.

É claro, eu não sabia que meu controle de natalidade


falharia após um pequeno caso de jet lag que resultou no meu
esquecimento em tomar o comprimido a tempo. Não que eu me
arrependesse agora.

Eu me mexi no sofá de Laura, embalando minha barriga


ainda plana, consciente de cada movimento que eu fazia. Cada
sensação no meu corpo, agora mais clara do que nunca. Era
algum tipo de força cósmica com a qual eu não podia fazer
nada além de lutar, e embora estivesse em pedaços por perder
Xander, senti um verdadeiro amor lavando meu coração todos
os dias.

A campainha tocou e Laura saiu de seu escritório,


parecendo mais uma vampira do que nunca. A mulher nunca
dormia.

— Se você pediu pizza, eu vou te amar mais do que a lua!


— O pensamento foi suficiente para me animar até uma
posição completamente sentada.

— Um... — Laura virou o corredor, os olhos saltando da


cabeça.

— Quem é? — Eu perguntei.

— Seu príncipe.

Meu coração parou e recomeçou quando pulei do sofá. Eu


parei bruscamente quando o homem dobrou o corredor,
parecendo tão devastadoramente bonito como sempre.

Um suspiro me deixou em uma corrida rápida, meus


ombros caíram.

— Ai, — ele assobiou. — Geralmente são as calcinhas que


caem, não as atitudes.

Laura hesitou.

— Esse não é meu príncipe, — eu disse, cruzando os


braços sobre o peito. — Esse é Jameson.
Um mês, sete dias, nove horas e trinta e sete minutos.

De alguma forma eu ainda estava respirando, ainda


vivendo... se era assim que se chamava. Existir era uma
definição muito melhor.

Ela cancelou o número de telefone e sua casa em Nova


York ainda estava fechada. Ela não tinha voltado, até onde eu
sabia... ou podia pagar as pessoas para me dizerem.

Depois da primeira semana, eu ainda estava determinado.

Na segunda semana, eu estava bêbado.

Na terceira semana, eu sabia que nunca a teria de volta se


ela não quisesse voltar. Tudo com Willa era sua escolha, e
mesmo como um dos homens mais poderosos do mundo – ela
me possuía.

Na quarta semana, o desespero tomou conta.

Na quinta semana, eu tinha um plano.


O que me levou a esta noite.

Prendi minha última abotoadura e fiz uma rápida


varredura no espelho. Meu uniforme da realeza estava
perfeitamente ajustado, portando as medalhas dos anos de
serviço que eu havia passado como advogado nas forças
armadas de Elleston. Esse era o meu futuro. Este
uniforme. Esse palácio. Essa cama vazia.

Sempre pareceu um tamanho adequado, mas parecia


enorme sem o corpo de Willa apertado contra mim. Os lençóis
foram trocados, o quarto foi cuidadosamente limpo pela equipe
de limpeza no último mês, mas eu jurei que ainda podia sentir
o cheiro dela quando entrei.

Ou talvez o cheiro dela estivesse simplesmente impresso


na minha alma.

Eu saí do meu quarto, Oliver me seguindo.

— Eles estão aqui?

— Eles estão todos reunidos, — respondeu ele, puxando a


gola do smoking.

— Desconfortável? — Eu perguntei quando saíamos da


residência para a ala da administração.

— Eu odeio essas coisas.

— Você e eu.

Nós viramos a esquina e encontramos Damian esperando


ao lado da porta do teatro. Seus ombros se endireitaram e ele
me deu um sorriso tenso. — Sua Alteza Real, — se dirigiu a
mim com um aceno de cabeça.
— Damian. Eles estão todos aí?

— Todos os quatrocentos e cinquenta deles. — Ele apontou


atrás de mim para um bando de guardas. — E eles estão na
posse de quatrocentos e cinquenta telefones celulares. Tudo o
que você precisar dizer, será privado.

— Obrigado, — eu disse a ele, minha voz baixa. — Não


importa o que aconteça, eu lhe devo uma dívida de gratidão e
não vou me esquecer.

— Nós dois estamos apenas fazendo nossas partes para


levar essa monarquia adiante. Pronto?

— Para fazer o discurso mais importante da minha vida


em um teatro particular? — Eu brinquei.

— Bem. Sim.

— Vamos fazer isso.

O criado abriu a porta e nos anunciou. — Sua Alteza Real,


o príncipe Alexander e o primeiro-ministro!

Houve uma comoção quando os membros do parlamento


se levantaram de seus assentos. O teatro foi construído para
abrigar quatrocentas pessoas, e os membros não sentados,
estavam nos corredores, nos degraus e em todos os espaços
vazios.

Subi os degraus para o pequeno palco, onde um pódio


havia sido colocado.

— Membros do Parlamento, obrigado por concordar em se


reunirem. Meu pai me disse uma vez que as salas de estar são
as melhores salas de diretoria, mas, como não posso encaixar
todos vocês na minha sala, o teatro terá que servir. Por favor,
sentem... se tiverem um assento. — Risos suaves vieram dos
membros. — Estou ciente de que iremos ao salão de baile em
uma hora para um anúncio muito importante, então vou
manter isso o mais breve possível. — Coloquei minhas mãos
nas laterais do pódio e lutei contra o desejo de mexer com a
minha gola. — Estou ciente de que a lei atual declara que não
apenas um membro da realeza deve ser casado para ascender
ao trono, mas que sua noiva deve ser de nascimento nobre.

Um estrondo atravessou a multidão.

— Senhoras e senhores, nossas leis estão desatualizadas


de três maneiras. A primeira é que não deveria haver
preocupação em com quem um rei escolhe se casar. Não
evoluímos o suficiente para respeitar o apego emocional do
amor? Nenhum de nós se tornou melhor por outros entes
queridos, independentemente do status de seu nascimento?

Outro estrondo soou.

— A segunda questão é a necessidade de se casar. Forçar


o casamento é bárbaro e proibido a todos neste país, exceto
seu Soberano. Não seria do interesse deste país permitir que
seu rei servisse no melhor interesse e, em seguida, encontrasse
o parceiro de sua vida que melhor se adequaria a ele e a este
país? Por que a coroa deve ser amarrada a um anel de
casamento? Mostrar responsabilidade? Não é mais
irresponsável casar-se às pressas com alguém com quem não
há chance de um casamento feliz?

O senador Lambert estava a dez fileiras da frente.

— Senador? — Eu o chamei.
— Não teria pressa em mudar nossas leis, quando o
assunto da discussão é uma estrangeira? Esqueça que ela é
uma romancista erótica, por mais desagradável que seja,
Alteza. Poderíamos, em sã consciência, fazer uma mudança tão
drástica que abriria o caminho para uma rainha americana?
Nunca permitimos ninguém além daqueles com nascimento
ellestoniano no trono. Essa é uma questão de tradição – de lei
– que não deve ser tomada de ânimo leve. — Um resmungo de
assentimento passou pela plateia, com mais do que algumas
cabeças assentindo.

Eu queria agarrá-lo pela gravata fina e esmurrar seu rosto


até que se desculpasse com Willa. Maldito puritano.

— O assunto em questão não é o meu apego à senhorita


Collins. E sim na própria tradição. Estou preparado para
assumir o trono. Fui criado em profunda tradição ellestoniana,
nas leis e costumes desta terra que amo mais do que meu
próprio fôlego. Posso dizer que me casar com uma mulher
ellestoniana não aprofundaria meu amor ou compromisso com
este país. A lei está desatualizada.

Algumas cabeças assentiram, e eu fiquei animado. Talvez


alguns deles pudessem ser convencidos logicamente.

— Precisamos mudar nossa monarquia para uma era


moderna. Para mudar, como nosso país mudou. Manter
nossas tradições sem permanecer na Idade Média. Esta lei não
mudou em mil anos. Você sabe o que mudou? Nossa
sociedade. Nossa guerra. Nossa tecnologia. Os direitos das
mulheres – o que me leva à terceira questão. Esta lei também
afirma: “Antes que um rei assuma o trono...” porque as
mulheres não podem herdar por direito. Ainda estamos na era
da primogenitura, e isso precisa mudar. Uma princesa
primogênita deve ter todo o direito de herdar.
Um silêncio caiu sobre a multidão.

— Senhoras, vocês não concordam?

Um coro feminino de “sim” soou.

— Senhores, vocês poderiam ficar aqui e me dizer que suas


filhas são menos capazes que seus filhos? Elas não merecem
as mesmas chances? Elas não têm a mesma capacidade
intelectual? Isso não é tanto uma questão de direito, quanto
simples direitos humanos. Porque não se enganem, os direitos
das mulheres são direitos humanos, e fomos muito negligentes
nisso. Não peço seu apoio nesse assunto, eu espero isso.

Uma emocionante salva de palmas soou quando os


membros do parlamento se levantaram.

— A legislação oficial foi elaborada pelo primeiro-ministro


McAllister. — Fiz um gesto para Damian, que assentiu de seu
lugar ao meu lado.

Então me movi para que ele pudesse subir ao pódio.

— Eu ouvi muitos de vocês clamando por mudanças, —


disse ele, e a multidão silenciou. — Muitos de vocês declaram
que esta monarquia está desatualizada. Muitos de vocês
sussurram que não deveria existir.

O auditório ficou tenso. Eu não tinha dúvidas de que


muitos dos meus inimigos estavam nesta sala. Muitos deles
eram antimonarquistas, e eu sabia que em algum lugar nesta
sala havia um homem ou mulher que os liderava.

— Estou aqui para concordar com vocês. Para dizer que


está desatualizada, mas que juntos podemos mudar para os
dias modernos que precisamos. Essas medidas são os
primeiros passos. Por mais heterodoxo que seja, — ele apontou
para o teatro, — este pode ser o local de mudanças. Podemos
ser a mudança que Elleston precisa. Ele... — fez um gesto para
mim, — o príncipe Alexander está pronto para abraçar a
mudança que precisamos, se vocês apenas a derem a ele.

Entre as palmas, agradeci e saí para o corredor, Oliver


fechando a porta atrás de mim. A votação mais rápida da
história de Elleston estava prestes a ocorrer.

Atravessei o corredor para esperar na pequena sala de


conferências, mas não consegui me sentar. Andei pela mesa
enquanto Oliver observava, quieto, mas ansioso. Eu olhei para
o relógio.

Eu podia vetar qualquer medida que eles decidissem – mas


não uma que tinha sido aprovada mil anos atrás. Eu poderia
dar-lhes meu conselho e introduzir uma nova legislação, como
fiz hoje à noite, mas não poderia fazê-los aprovar.

Eu não conseguia controlar meu próprio destino.

Vinte minutos de inferno depois, Damian entrou na sala


sem aviso prévio.

Oliver se afastou uma vez que percebeu quem era.

— Sua Alteza Real, — disse ele, com a boca tensa.

— Fodam-se as formalidades e me diga, — eu ladrei.

— Eles concordaram que as mulheres deveriam poder


herdar. Isso vai entrar em lei.
Soltei o fôlego que estava segurando. Agora, mulheres
como minhas irmãs teriam a capacidade de decidir sobre sua
própria linhagem, em vez da de seus maridos. Elas seriam
valorizadas tanto quanto eu.

— E os outros?

Seu rosto caiu e ele entregou a notícia que eu sempre


soube que viria.

Nenhuma das outras duas medidas haviam sido


aprovadas.

Charlotte teria que ser minha rainha.


— É lindo. — falei, passando as mãos sobre o tecido do
requintado vestido de baile que poderia ter saído direto de um
set de filme de época.

— Você decidiu? — Jameson perguntou, passando os


dedos pelos cabelos selvagens.

Mordi meu lábio entre os dentes, olhando pela janela da


suíte que ele tinha reservado apenas para mim. — Eu ainda
não acredito que você me encontrou.

Ele suspirou. — Não foi fácil. Xander esgotou todos os


recursos possíveis até perceber que você não queria ser
encontrada.

— E você? — Eu perguntei, a culpa, a dor e a esperança


roendo meus nervos desgastados.

Os olhos de Jameson brilharam com aquela pitada de


malícia que parecia sempre presente. — Eu tenho recursos que
Xander não tem. — Um sorriso deu forma a seus lábios
carnudos, e eu balancei minha cabeça.
— Uma secretária, sem dúvida, — eu disse, uma risada na
minha voz. — Na agência da Laura.

— Eu nunca vou contar. — Ele piscou e enfiou as mãos


nos bolsos da calça quando chegou ao meu lado. — Você veio
até aqui, — disse ele. — E você não vai me dizer se vai ou não
ao baile.

— Eu não quero machucá-lo. — Eu alisei minha mão sobre


minha barriga, mas rapidamente a deixei cair quando o olhar
de Jameson permaneceu lá. Ele arqueou uma sobrancelha,
mas eu virei as costas para me recompor.

— Vocês estão se machucando, — disse ele, e eu afundei


na cadeira no canto da suíte. Eu voara pelo país novamente –
depois que Laura pesquisou massivamente que não
machucaria o bebê de forma alguma. Mas não tinha certeza se
conseguiria vê-lo. O que eu carregava dentro de mim... poderia
arruiná-lo.

— Eu sei que esta é uma situação de merda, — continuou


ele. — Mas... porra, você pode me culpar, Willa? Ele é meu
irmão, meu melhor amigo. Inferno, somos gêmeos. Ele está
infeliz e isso está me deixando infeliz ao lado dele.

— Eu arruinei a vida dele.

Jameson se ajoelhou na minha frente para pegar meu


olhar. — Você a explodiu, — ele disse, sorrindo. — Estou com
ele desde o nascimento e nunca o vi tão feliz, contente ou tão
forte quanto como estava com você. Você o mudou, Willa. É
por isso que estou aqui. Foi por isso que te localizei e te
implorei para entrar em um avião. Ele precisa ver você. — Ele
levantou meu queixo, me forçando a encontrar seus olhos. —
Mesmo que seja apenas para conseguir um encerramento. A
maneira como vocês deixaram as coisas... está corroendo os
dois.

Eu assenti, limpando as lágrimas debaixo dos meus


olhos. — Eu sei. Me desculpe... eu tinha que sair...

— Eu não preciso dos seus motivos. Fugi de mais


problemas na minha vida do que qualquer um. Ele merece
saber. Se nada mais. — Jameson se levantou e olhou para o
relógio. — Eles devem estar se perguntando onde estou e por
que não estou vestido. — Ele me deu um sorriso suave. —
Coloquei seu nome na lista... sem Xander saber, — ele
acrescentou rapidamente. — Eu sei que é egoísta da minha
parte colocar isso em você... mas ele precisa de sua força,
Willa. Este será o anúncio mais difícil que ele já teve de fazer e
o está matando.

Mais lágrimas caíram em meus olhos quando Jameson se


dirigiu para a porta.

— Jaime, — eu disse, e o uso do apelido de sua família o


deteve com a mão na maçaneta. — Obrigada, — eu disse. —
Por... amá-lo do jeito que ama. Você é um bom homem. E um
irmão ainda melhor.

Ele me deu um leve aceno de cabeça antes de sair pela


porta.

Depois de uma hora de banho e alguns trabalhos mágicos


sérios com os dedos, eu estava com um vestido que era oitenta
por cento saia e vinte por cento corpete. Coloquei os malditos
saltos e pedi ao manobrista que me chamasse um táxi.

Não acredito que estamos fazendo isso. Esfreguei minha


mão sobre minha barriga, falando internamente como havia
feito no mês passado. Eu já amava essa criança com todo o
meu coração, e agora estávamos indo em direção ao pai sem
saber o que fazer, dizer ou como falar a ele.

Um pai que meu bebê talvez nunca conheceria.

Mais uma vez me ocorreu o pensamento de apenas nos dar


um encerramento e deixá-lo com seu povo, seu reino. Meu
coração ficou gelado, mas eu queria fazer o que era melhor
para ele.

Jameson disse que ele está infeliz.

Mas ele não estaria mais infeliz sabendo que me tinha,


mas não totalmente? Eu estaria na vida dele, estaríamos na
vida dele, mas apenas nas sombras. Em segredo. Sempre
vivendo com medo de que nos descobrissem e a verdadeira
herança de nosso filho.

Quando os guardas do palácio me acenaram para entrar,


eu ainda não tinha ideia do que fazer.

Meus saltos batiam contra o chão de mármore enquanto


eu seguia a multidão de pessoas em direção ao salão principal,
minha garganta se fechando a cada passo que dava. Meu
coração disparou, ameaçando explodir do meu peito com a
simples antecipação de colocar os olhos em Xander
novamente. Apenas de vê-lo... Deus, isso me esmagaria e me
revitalizaria.

O salão de baile estava cheio de pessoas vestidas com suas


melhores roupas, algo que nunca parecia fora de lugar no
palácio. Eu, por outro lado...
Eu fiquei na parte de trás, meus olhos procurando por
Xander na multidão, mas não encontrando. Jameson estava
perto da frente da sala, onde uma plataforma foi colocada em
um palco. Ele encontrou meu olhar, o alívio se acumulando em
seus olhos enquanto sorria para mim.

Dei de ombros, segurando as dobras do meu vestido em


busca de apoio.

Encontrei um lugar para me encostar na parede dos


fundos, determinada a não ser vista. Eu não causaria uma
cena. Aqui não. Não com tanto em jogo para Xander.

Um suspiro agudo que eu conhecia muito bem sacudiu


meu corpo inteiro.

— O que você está fazendo aqui? — A mãe de Xander


sussurrou enquanto andava até mim, seu próprio vestido
bonito e elegante, e todas as coisas que eu não era.

Abri meus lábios, mas rapidamente os


fechei. Compostura. Não faça uma cena.

— Você está determinada a destruí-lo? — Ela manteve seu


tom um sussurro, agora tão perto de mim que eu podia sentir
seu hálito mentolado.

— Não, — eu disse, e abaixei minha voz quando um


homem em traje militar completo olhou para nós duas. — Não,
claro que não.

A rainha estreitou o olhar para mim e, por um segundo,


juro que vi tristeza neles. Foi embora tão rapidamente quanto
veio. — O que é preciso para você deixar meu filho em paz?
Uma forte explosão de dor cortou meu peito e lágrimas se
acumularam nos meus olhos. Malditos hormônios. Afastei a
umidade, respirando fundo.

— Dinheiro? — ela continuou. — Qual é o seu preço?

Eu fiquei boquiaberta com ela. — Você ainda acha que


estou atrás de uma coroa e um título? — O fogo correu por
minhas veias, mas eu mantive um controle na minha raiva.

— Um milhão? — Ela perguntou. — Isso resolveria? Dois?

Revirei os olhos. — Desculpe, Majestade, mas você está


falando sério?

Ela endireitou os ombros, inclinando o queixo


levemente. — Cinco milhões.

Eu balancei minha cabeça. — Eu não preciso e nem quero


seu dinheiro. Nenhuma quantia, nem cinco milhões, nem cem
milhões, poderia me impedir de amar seu filho. Eu aceitaria
Xander de qualquer maneira que pudesse: se estivesse pobre
e morando em uma caixa debaixo de uma ponte, ou rico e
morando em um palácio... mesmo que eu não seja bem-
vinda. — Suspirei. — Mesmo sabendo que não tenho
permissão para manter o coração dele como meu, mesmo
depois de toda a dor que essa situação nos causou, ainda estou
aqui. Eu ainda estou aqui. Todos os golpes que você deu, ou
os paparazzi, ou a porra do parlamento e o primeiro-ministro...
estou bem aqui. — Eu respirei fundo, a realização da minha
decisão cristalina na minha cabeça e no meu coração. — Eu
adoro seu filho. Eu o amo mais do que sabia que era possível
para uma pessoa amar outra, e não tenho intenção de deixá-
lo quando precisa de mim. Não lhe custarei sua coroa, não
arriscarei seu reino, mas estarei aqui pelo homem que ele é. Eu
serei o que ele precisa que eu seja... mesmo que isso signifique
ser um fantasma em sua vida. Porque meu amor por ele é tão
forte. — Eu pressionei meus lábios juntos. — Mas é decisão
dele o que quer. Não a sua, nem do conselho, nem da família.
É dele. E eu apoiarei o que ele decidir.

Uma lágrima solitária desceu pela bochecha da rainha, e


a visão da emoção me surpreendeu.

Ela limpou a lágrima, um pequeno sorriso nos lábios. —


Bem, — disse, cruzando as mãos na frente dela. — Estou feliz
em ouvir isso.

— O que? — Eu olhei para ela, pasma.

Ela apertou os lábios, uma ligeira elevação nos ombros. —


Eu não gostaria de nada menos para o meu filho. Eu sei que
pode ser difícil de acreditar, mas você pode me culpar? Eu
tinha que saber.

— Tinha que saber o que?

Ela suspirou, olhando para o estrado antes de voltar o foco


para mim. — Saber que você valia o que quer que possa vir a
seguir. — Ela assentiu e girou sobre os calcanhares,
graciosamente andando em direção ao palco.

Meu coração inchou com a troca, mas foi rapidamente


substituído por puro terror e emoção.

Xander.

Ele subiu no palco, com o peso do mundo em seus


ombros. Tudo em minha alma gritou para correr para ele,
aliviar esse estresse, o deixando saber que encontraríamos
uma maneira de fazer isso funcionar, mas eu mantive meus
pés firmemente plantados.

Eu não poderia causar uma cena.

Eu não poderia estragar mais uma coisa para ele.

Agarrei as dobras das saias do meu vestido, precisando de


algo para me agarrar, e silenciosamente enviei uma
mensagem.

Estou aqui. Estamos aqui. Nós estamos com você. Sempre.


A festa estava a todo vapor, o enorme salão de baile lotado
com membros do parlamento, seus cônjuges, dignitários
estrangeiros e membros selecionados da imprensa.

Era para ser uma das melhores noites da minha vida – o


anúncio do meu noivado oficial e o início do meu reinado não
oficial.

Em vez disso, eu estava com o coração partido. Recostando


na parede do corredor que levava ao salão de baile, bebi um
uísque e ignorei todas as tentativas de minha mãe de falar
comigo.

Oliver me observava à distância, me dando o espaço que


eu precisava.

Sophie se aproximou, e não deixei de perceber a maneira


como os olhos de Oliver a seguiam pela quantidade exata de
tempo socialmente aceitável antes de olhar para frente
novamente.
Seu vestido de seda azul claro era lindo, gracioso e perfeito
para sua posição. Eu sabia que em algum lugar Brie
provavelmente estava tentando entrar sorrateiramente na festa
usando calças de couro.

— Xander, — ela disse suavemente, se encostando na


parede ao meu lado.

— Soph, — eu disse antes de tomar outro gole.

— Eles estão perguntando se você está pronto para o


anúncio.

— Pronto para dizer ao mundo que vou me casar com uma


mulher que amo como uma irmã? Que não importa o que
aconteça, eu sempre vou imaginar que é Willa na minha cama?
Certo. Por que não? — Me afastei da parede e ela apertou
minha mão.

— Xander. Pare.

Encontrei seus olhos suaves e tristes. Eu odiava ver minha


irmã sofrendo, muito menos por minha causa.

— Você sempre foi o mais responsável de nós. Sempre faz


a coisa certa, sacrifica muito por nós. Eu sabia que partia seu
coração deixar a advocacia quando papai morreu. Sei quais
eram seus planos. Mas Xander, há algo a ser dito sobre ser
feliz. Pensar em si mesmo por um momento. — Ela terminou
em um sussurro.

— Eu te amo Soph. Você é tudo o que é certo e bom em


nossa monarquia, nosso país, nosso mundo. Mas não há como
escapar disso. Eu tenho que me casar com Charlotte. Eu sou
o herdeiro. É o meu dever.
Ela puxou minha manga, mais forte do que já tinha feito
antes. — Vou dizer isso uma vez e nunca mais falarei sobre
isso novamente.

Minhas sobrancelhas se ergueram, mais pelo tom dela do


que qualquer coisa. — Sim?

— Você não é o único herdeiro.

Seus olhos encontraram os meus até eu entender o que ela


estava sugerindo.

Eu beijei sua testa e caminhei em direção ao salão de baile,


pronto para encontrar o meu destino, suas palavras ecoando
dentro da minha cabeça. Meus irmãos enfrentariam essa
escolha? Não importava com quem Jameson se casaria, mas
eu tinha certeza de que Sophie e Brie podiam fazer suas
próprias escolhas. Sem casamentos arranjados. Sem tratados.
Foda-se isso. Eu era o último Wyndham com quem isso
aconteceria.

— Xander? — Charlotte perguntou, esperando por mim ao


lado da porta. O vestido dela era creme, sofisticado e elegante,
exatamente como ela era. Seu cabelo estava penteado para
cima. Ela parecia a princesa que se tornaria.

Deus, eu gostaria de poder a amar ela como merecia.

— Sinto muito, Charlotte, — eu disse a ela, pressionando


um beijo em sua mão.

Ela me presenteou com um sorriso triste. — Está tudo


bem. Nós dois sabíamos que esse dia chegaria.
— E então eles vencem. Os antimonarquistas esperando
que eu coloque a monarquia de joelhos, os tradicionalistas
mantendo suas regras rígidas. Todo mundo ganha, exceto nós.

— Talvez não sejamos importantes no esquema das coisas.


É a natureza dos nossos nascimentos, certo? Servir ao povo?
Sempre os políticos relutantes.

— Como você pode se resignar a um casamento sem amor?


— Eu me fiz essa mesma pergunta centenas de vezes.

Seu rosto caiu, um olhar de pura angústia cruzando suas


feições antes que as suavizasse. Então seu queixo se levantou
quando ela encontrou meu olhar.

— Eu digo a mim mesma que vou me casar com um dos


meus melhores amigos. Há tantos com menos.

— Quando poderíamos ter tudo isso?

— Vamos fazer o melhor possível, — ela deu de ombros


como se estivesse se convencendo, mas não me enganou. Ela
estava tão infeliz quanto eu. — E Xander, eu sinto muito. Sei
o quão profundamente você ama Willa.

Engoli em seco e forcei um aceno, incapaz de dizer mais


alguma coisa. Coloquei a mão dela no meu cotovelo e caminhei
para a frente enquanto os criados abriam as portas do salão.

A música morreu imediatamente.

— Sua Alteza Real, o príncipe Alexander e a duquesa de


Corbin, lady Charlotte Carlisle.

Eu a acompanhei até o salão de baile, meu futuro piscando


diante dos meus olhos. Jantares de estado. Assuntos do
parlamento. Charlotte impecável com um eu destruído. Meus
olhos percorreram a multidão rapidamente, como eu sabia que
sempre fariam. Eu sempre procurava por Willa. Eu procuraria
por ela em toda multidão, todo sonho, toda fantasia na cama
que compartilhamos. Ao fazer isso, eu não estava apenas me
condenando a uma farsa de casamento, mas a Charlotte
também.

Nós dois sabíamos disso.

Deixei Charlotte ao lado de seus pais, que vieram do norte


de Elleston por isso. Então peguei o braço da minha mãe e subi
com ela as escadas até o estrado, onde ficaríamos juntos para
fazer o anúncio.

Em uma quebra de protocolo, ela agarrou meus dois


braços e beijou minha bochecha. — Eu te amo. Você pode
duvidar de qualquer coisa em sua vida, mas não essa verdade.
Mas Xander, seja feliz. Não importa o que isso signifique.

A confusão enrugou minha testa, mas ela simplesmente


acariciou meu rosto quando eu me afastei, um sorriso gracioso
no rosto e lágrimas nos olhos. Isso era tudo o que ela planejou
para mim, para o nosso país. Ela estava realmente dizendo...

— Vá, — ela insistiu em direção ao microfone.

Coloquei minhas mãos no pódio, meus dedos flexionando


as bordas do mogno polido e olhei para os participantes de
gravata preta. As testemunhas da minha execução.

— Obrigado por se juntarem a nós hoje à noite, — eu disse,


minha voz forte e segura. — Como todos sabem, as leis do
nosso país me forçam a casar.
Um murmúrio percorreu a multidão.

— E embora eu tivesse dito anteriormente ao Parlamento


que era um costume bárbaro, bem, a lei ainda declara que devo
me casar com uma noiva de nascimento nobre para subir ao
trono de Elleston. — Virei para Charlotte, que me enviou um
sorriso trêmulo.

Como eu poderia fazer isso com ela? Para um dos meus


amigos mais próximos? Ela não merecia amor? A mesma
paixão que compartilhei com Willa?

Inferno, como eu poderia fazer isso com Willa? Ela apenas


foi embora porque não havia esperança para um futuro entre
nós, eu sabia disso. Mas e se houvesse? E se eu pudesse
oferecer a ela meu coração, minha mão e meu nome? Não
valeria a pena a chance?

Um silêncio constrangedor tomou conta enquanto eu


refletia sobre minhas próximas palavras.

— Eu amo meu país. Nossa terra, nossas tradições, nosso


povo são verdadeiramente uma parte da minha alma. Mas de
que serve uma alma sem coração? Não estaria vazia?

Uma alegria indescritível encheu meu peito como se meu


coração estivesse torcendo pelo reconhecimento. Sim. Isso
estava certo. Essa era a única maneira.

Eu sorri largamente pela primeira vez em um mês, me


sentindo mais leve do que nunca.

— Um rei que lidera sem o coração dificilmente vale o


título. E seu rei será digno, eu juro.
Uma alegria atravessou a multidão.

Meu olhar voltou para onde meus irmãos estavam. Sophie,


pequena, mas graciosa ao lado de Brie, que usava um vestido
preto sem alças e se recostava na parede... e Jameson.

Meu irmão. Meu melhor amigo. Meu gêmeo.

Sua atenção estava em algo na parte de trás da sala, mas


sentindo minha pausa, ele se virou e nós trancamos os olhos.

— Sinto muito, — eu disse suavemente, mas o microfone


carregou minhas palavras.

Ele descruzou os braços e inclinou a cabeça em questão,


sem saber que seu destino já estava selado.

Me sentindo com dois metros de altura, olhei para o


enorme salão de baile.

— Senhoras e senhores, membros da aristocracia e


parlamento, amigos e família. Eu, príncipe Alexander, príncipe
herdeiro de Elleston, informo por meio deste anúncio o meu
compromisso com a única mulher que já amei – ou sempre
amarei – a Srta. Willa Collins.

Um suspiro coletivo percorreu pelo salão de baile. Cabeças


balançaram quando todos se entreolharam, e eu vi mais de um
telefone celular aparecer. Os poucos repórteres que
permitimos estavam quase dando cotoveladas para chegar à
frente da sala.

— Naturalmente, terei que descobrir exatamente aonde ela


foi quando vocês a expulsaram de nosso país, mas espero que
assim que vir isso explodir em toda a internet, ela apareça.
— Xander! — A voz mais doce que já ouvi gritou da parte
de trás do salão.

— Willa? — Eu quase gritei.

Como se fosse um filme de merda, a multidão começou a


se separar, todo mundo tentando dar uma olhada nela.

Lá estava ela. Um vestido de baile do tom mais profundo


de azul que abraçava seus seios perfeitos antes de acariciar
sua cintura curva e cair no chão. Seu cabelo estava para cima,
sem dúvida um arco-íris nas costas, e seu sorriso hesitante,
mas de tirar o fôlego.

Ela era requintada.

Ela estava aqui.

Ela era minha.

Pulei do estrado, aterrissando como um herói de ação e


corri através do espaço que a multidão me deu. Membros do
parlamento, duques, senhores – passei por todos eles sem um
segundo olhar enquanto corria para ela.

Parando apenas o tempo suficiente para garantir que eu


não a atropelaria, a peguei em meus braços e a levantei contra
mim. Deus, ela se sentia tão bem em meus braços. Nessa
respiração, meu coração voltou à vida, inteiro novamente.

— Você está aqui, — eu sussurrei em seu ouvido.

— Estou aqui, — prometeu.


Nós nos afastamos, perdidos nos olhos um do outro da
melhor maneira possível. Todo o meu futuro estava aqui, nessa
mulher que eu segurava nos meus braços.

Uma garganta pigarreou ao nosso lado, e nós dois olhamos


para o lado. Puta merda, todo mundo estava olhando.

— Xander? Podemos ter um minuto? — Willa sussurrou.

— Absolutamente, — eu respondi.

Tão calmamente quanto pude, eu a levei de volta ao


estrado – desta vez subindo as escadas. Eu mantive sua mão
firmemente na minha como se fosse desaparecer se eu
afrouxasse meu aperto.

Observamos o mar de espectadores chocados.

— Nós... uh... precisamos de um minuto, — eu disse.

Suave.

Não parei para olhar para ninguém. Suas opiniões não


eram necessárias. Não mais. Guiei Willa pela porta até o
corredor, onde Oliver logo a seguiu. Ele passou por nós, depois
limpou a pequena sala de conferências do outro lado do
corredor.

— Está tudo limpo, — disse ele, mantendo a porta aberta


para nós.

— Obrigado. Por tudo.

— Você mantém isso interessante, não é? — Ele sorriu. —


Vá pegá-la.
A porta se fechou atrás de mim com um clique suave.

— Willa, — eu disse, o nome dela é a melhor oração de


todas. Alcançando-a, nossas bocas se encontraram em uma
fúria de lábios e língua, como se toda a necessidade que
construímos no último mês tivesse subitamente desencadeado
nesse único beijo.

Seus braços alcançaram meu pescoço enquanto eu


segurava seu rosto com uma das minhas mãos e sua cintura
com a outra. A luxúria correu através de mim, uma
necessidade desesperada de não apenas reivindicar seu corpo,
mas seu coração. Saber que nunca mais nos separaríamos.

— Espera! — Ela ofegou, empurrando e dando um passo


para trás.

— Quanto tempo? Outro mês? — Eu perguntei, me


aproximando.

— Eu saí por uma razão. — Ela me afastou com a mão


estendida.

— Porque eu não poderia me casar com você.

— Sim. Não. Porque eu não podia assistir você tocar em


outra pessoa, casar-se com outra pessoa... — ela recuou
contra a parede.

— Nenhum outro lugar para correr, — eu disse com um


sorriso.

— Eu tive minhas razões.

— Razões para ficar escondida? Para não atender uma


ligação?
— Eu sabia que não podia ficar longe ou dizer não se você
me encontrasse. Inferno, Jameson me encontrou, e aqui estou
eu. No momento em que o vi, soube que era inútil.

Eu trouxe nossos corpos para perto, a pressionando


contra a parede. Suas saias de seda balançavam em volta das
minhas pernas. — Você voltou. Você é minha e não pode negar
isso. Nunca mais. Você voltou para mim e nunca mais vai sair.

Eu a beijei, empurrando minha língua dentro de sua boca


quente. Nossas línguas duelaram até que nós dois gememos,
nos perdendo rapidamente para a química que imediatamente
acendeu o momento em que estávamos na mesma sala.

Minhas mãos procuraram ao longo de seu vestido, mas seu


corpete estava muito apertado para encaixar minha mão em
seus seios e sua saia era muito longa para colocar minhas
mãos.

— Essa porra de vestido, — murmurei.

— Você quis dizer isso? — Ela perguntou, ofegando


quando eu afastei minha boca da dela.

— O que?

— O noivado.

— Eu vou me casar com você agora mesmo, se você não se


importa de se casar de azul, Willa. Tenho certeza de que há um
padre na multidão em algum lugar. Inferno sim, eu quis dizer
isso. — Eu colocaria um anel no dedo dela o mais rápido
possível.

— Bom, porque estou grávida.


Minhas mãos questionadoras pararam e dei um único
passo para trás, meus olhos voando para sua barriga plana.
Ou pelo menos eu pensei que estava plana. O vestido dela era
um maldito vestido de baile. — Grávida? — Eu perguntei
baixinho, minha mão reverentemente cobrindo seu abdômen.

Ela puxou o lábio entre os dentes e assentiu. — Eu estou


com apenas três meses.

— Três meses? — Eu repeti como um papagaio.

— Acho que sim. — Ela pegou minha mão, puxando-a para


seu coração e seus olhos lacrimejaram. — Eu não podia ficar
sabendo que essa criança seria uma herdeira oculta e
ilegítima. Eu poderia ficar por você, poderia ser seu pequeno
segredo sujo, mas nunca deixaria isso acontecer com o nosso
bebê.

Um bebê. Uma família minha. Uma chance de construir


algo que não era baseado em tradições milenares. Um novo
começo com o amor da minha vida.

— Xander, diga alguma coisa.

Eu a puxei em meus braços, colocando sua cabeça no meu


peito e a abracei.

— Você é um milagre. Vocês dois são.

Felicidade pura e irrestrita correu através de mim... até


que uma batida soou na porta.

— Senhor, eles estão ficando inquietos, — Oliver disse


através da porta.

— Certo. Venha comigo? — Eu perguntei a Willa.


— Qualquer lugar. — Ela estendeu a mão e eu a peguei.

Dentro de alguns momentos, estávamos de volta ao salão


de baile, que havia aquietado num tenso silêncio. Charlotte
sorriu e me deu um sinal de positivo enquanto subíamos as
escadas para o estrado. Então ela puxou Willa de volta e a
abraçou.

Eu fui tão abençoado.

Willa e eu subimos ao pódio, e a sala ficou ainda mais


silenciosa, se isso fosse possível.

— Gostaria de apresentar minha noiva, Willa Collins.

Flashes dispararam na nossa frente, mas Willa se manteve


forte, com a cabeça erguida. Ela não precisava de um país para
ser rainha – ela simplesmente era uma. Sorrimos um para o
outro, apaixonados como idiotas.

— E as leis? — Uma voz chamou.

Com a mão de Willa na minha, me inclinei para o


microfone.

— Oh, sim. Essa. — Sorri para Willa e depois olhei de volta


para a multidão. — Eu, príncipe Alexander, yada-yada, por
este meio abdico do meu trono. Ou meu direito ao trono. O que
quer que seja. — Acenei para a multidão e, em seguida,
levantei Willa em meus braços e saí.

O único som foi a porta se fechando atrás de nós.

Então um rugido atravessou o salão, mas eu não dei a


mínima.
— Você desistiu? Por mim?

— Por nós, — eu a corrigi. — Eu quis dizer o que falei. Um


rei não é bom com meio coração, e você tem toda a minha alma,
Willa. Nada disso importa sem você e todo o resto importa com
você. Você se incomoda? — Eu perguntei a ela, me
concentrando apenas em seus olhos incríveis enquanto ela
olhava para mim. Ela nunca me quis pela minha coroa, mas
uma pequena insegurança tomou conta.

— Me importo com o que?

— Que nosso filho não terá o trono? Quero dizer, estou


bem investido, desde que você esteja bem com apenas três ou
quatro casas em vez do palácio, estamos bem financeiramente,
mas ele ou ela não herdará a coroa.

Ela acariciou minha bochecha amorosamente e


pressionou um beijo suave nos meus lábios.

— Eles herdarão algo ainda mais precioso... nosso felizes


para sempre.

Felizes para sempre. Parecia perfeito.

E era exatamente o que eu daria a ela.


— Tem certeza de que está pronto para isso? — Eu
perguntei, olhando a camiseta preta lisa que Xander tinha
deslizado sobre o peito musculoso. A camisa o abraçou nos
lugares certos, assim como o jeans escuro, mas ele ainda
parecia... real. Algo que duvido que ele tenha se livrado, pelo
que eu estava secretamente grata. A família, a vida, tudo fazia
parte de quem ele era. Sempre seria... Mas agora, ele era meu.

Nosso.

— Nasci pronto, — disse ele, e eu comecei a rir. — O que?


— Ele inclinou a cabeça, passando os braços em volta de
mim. — Clichê demais?

— Um pouco, — eu disse, derretendo em seu abraço.

— Quanto tempo nós temos? — Ele perguntou, e eu olhei


o relógio na parede da pequena sala de descanso que o gerente
da livraria havia liberado para nós.

— Vinte minutos. — Uma vibração percorreu meu coração,


antecipação fazendo meu sangue disparar. O fato de já haver
uma fila do lado de fora da porta era incrível, mas o homem
atuando como meu assistente? Isso foi estonteante.

— Mmmm, — ele murmurou contra o meu pescoço,


beijando meu pulso acelerado. — Eu posso fazer muito em
vinte minutos.

— Xander, — tentei repreendê-lo, mas minha voz saiu


levemente sem fôlego.

— O que? — Ele mordeu meu pescoço, me abraçando


contra seu peito enquanto me levantava. — Sem paparazzi, não
para mim de qualquer maneira. Nada a esconder daqui. — Ele
gentilmente colocou minhas costas contra a porta fechada,
uma escolha estratégica.

— E os leitores? E se um deles entrar? Isso não


incomodaria você?

Ele riu, enganchando minhas pernas em torno de seus


quadris, me prendendo a ele sem eu ter que fazer nada. — Você
poderia usar isso para o seu próximo... livro da Shayla. — A
maneira como ele sussurrou o nome do meu alter ego enviou
um arrepio de fogo no meu centro.

Eu balancei suavemente contra o que eu podia sentir


através de seu jeans.

Um sorriso deu forma nos lábios dele quando percebeu


que tinha vencido. Ele alcançou uma mão entre nós, seus
dedos trabalhando meu clitóris sobre o tecido da minha
calcinha. Suspirei, arqueando contra sua mão enquanto
capturava sua boca.
Insaciável. O homem me segurou com uma mão e me fez
perder a cabeça com a outra.

— Porra, Willa, — ele sussurrou, quebrando o nosso


beijo. — Você está encharcando sua calcinha.

— Você pode me culpar? — Eu o olhei, meus olhos


encapuzados, meus seios pesados, cada centímetro de mim
doendo por ele.

Um grunhido retumbou de seu peito, enviando arrepios


sobre a minha pele.

O clique da fechadura também pode ter sido um botão de


desintegração para minha calcinha. Ele me virou e me deitou
na mesa de plástico vazia no centro da sala.

Beijando o caminho pelo meu pescoço, ele abaixou minha


calça preta apenas o suficiente para me tocar. Ele pairava
sobre minha barriga, ainda plana, mas ainda assim perceptível
na forma como prestava atenção a essa área, beijando
suavemente a pele sob o umbigo, dizendo olá para o nosso bebê
antes de voltar aos meus lábios. — Eu realmente te adoro,
Willa, — ele sussurrou antes de reivindicar minha boca.

— Eu te amo totalmente, Xander. — Eu arqueei para ele,


suspirando feliz quando rapidamente abriu meu zíper e não
demorou muito para me preencher. Ele se moveu com um
ritmo cuidadoso, como sempre fez desde que contei sobre o
nosso bebê, mas era tão alucinante como quando se tornava o
homem das cavernas.

Apenas nos restavam quinze minutos, mas ele não


precisaria da metade desse tempo para me fazer voar alto.
O homem era um rei na cama.

Dezoito minutos depois, Xander me deu o polegar para


cima quando abriu a porta para mim. Eu meio que esperava
que Oliver estivesse de guarda do outro lado, mas é claro que
não estava. Ele estava de volta a Elleston.

Fazia duas semanas desde que Xander tomou a decisão de


mudar de vida e de país para se casar comigo e deixar o trono
para Jameson.

Deus ajude esse país. Charlotte não o deixaria transformá-


lo em sua própria ilha de prazer pessoal, o que me fez sentir
um pouco melhor com a situação. Era difícil me sentir culpada
quando eu tinha o amor de um homem tão incrível. Meu futuro
marido.

Sentei-me à mesa coberta de linho preto, Xander em pé


atrás de mim enquanto o gerente da livraria conduzia a
primeira onda de leitores para a mesa.

Pegando minha caneta favorita, sorri para o anel na minha


mão esquerda. Eu ainda estava me acostumando com a visão,
com o peso, mas não podia estar mais feliz. Às vezes eu tinha
que me beliscar para ver se não havia caído em um dos meus
sonhos mais absurdos.

A vida com Xander, o amando, acabara sendo mais


aventureira, apaixonada e real do que qualquer coisa que eu
pudesse escrever em um dos meus livros.

E a nossa história estava apenas começando.


As batidas na porta do meu quarto eram tão implacáveis
quanto a dor de cabeça que atualmente fazia da minha vida
um inferno.

— Vá embora, porra! — Eu gritei, rolando e enroscando


meu corpo nu nos lençóis.

A porta se abriu e eu virei para ver quem tinha a audácia


de desobedecer descaradamente.

— Eu certamente não vou! — Charlotte gritou da minha


porta.

Segurei o lençol na minha cintura.

— O que diabos você quer, Charlie? — Eu estalei.

Ela entrou, a personificação da graça, beleza,


inteligência... realeza. Ela se esquivou das roupas que deixei
no chão na noite passada com pequenos passos e – porra – o
par de salto mais sexy que já vi em seus pés.
— Você ainda está bêbado? — ela acusou, seus lábios
beijáveis franzidos.

— Talvez. — Dei de ombros. As últimas duas semanas


desde que Xander decidiu abdicar foram um borrão de erros e
as piores ideias. Seriamente. Quem diabos queria que eu os
liderasse? Xander estava certo. Ele quem foi treinado por nosso
pai para governar nossa nação. Claro, eu poderia fazer uma
garota gozar algumas dezenas de maneiras diferentes, mas
isso não iria me ajudar a conquistar os corações do
parlamento... pelo menos, não dos homens.

— Pelo amor de Deus, Jaime. Faz duas semanas. Junte


sua merda.

Eu pisquei.

— Você acabou de xingar?

— Eu fiz. — Ela se virou, entrou no meu armário e voltou


um momento depois com uma camisa de botão e uma calça.

— Sim, eu não sou Xander. Você não pode escolher


minhas roupas e assumir que eu farei o que você quiser,
Charlie.

— Não me chame assim! — Ela fervia. Porra, eu adorava


irritá-la. — Agora escute. Nenhum de nós quer
isso. Entendo. Mas, a menos que você queira tumultos nas
ruas – o que é uma possibilidade real, se você não der notícias
– é melhor se levantar e liderar. A coroação está marcada para
seis semanas a partir de amanhã e o casamento é daqui a
quatro semanas.
— Qual casamento? Não tenho certeza se você notou, mas
Xander fugiu com Willa. — Eu sabia exatamente do que ela
estava falando, mas não ia lhe dar o prazer.

Ela arqueou uma sobrancelha para mim. — E eu estou


feliz por eles. Realmente, eu estou. Como diabos eu fiquei presa
com você?

— Comigo? — Eu perguntei, flexionando. Seu olhar vagou


para o meu bíceps, depois para baixo do meu peito e
abdômen. — Continue olhando, Charlie, e nós vamos tirar
suas roupas em vez de colocar as minhas.

— Você é nojento. — Ela cruzou os braços sob os seios


incríveis.

— Então você não me quer? — Inclinei minha cabeça. Ela


sempre foi a única mulher que eu não consegui despertar, não
consegui tentar. Ela era a única mulher que sempre pertencera
ao meu irmão gêmeo.

— Vamos, Jaime. Você dormiu com metade do país, e eu


sou... como me chamou no ano passado? Frígida?

— Ok, você tirou isso totalmente do contexto. E


considerando o fato de sermos amigos desde que nascemos, se
você começar a considerar coisas de anos atrás, ficaremos aqui
por muito tempo. — Porra, minha cabeça estava latejando e ela
não estava ajudando. Agora meu pau estava latejando
também. Era sempre assim com Charlotte, e considerando que
eu estava nu e ela estava a um metro da minha cama, isso só
poderia terminar mal. — Olha, nós sempre nos demos bem -
— Que é a única razão pela qual estou disposta a ficar
pelas próximas quatro semanas e te ajudar a encontrar uma
esposa.

Meu coração caiu. — Você o que?

— Eu vou te ajudar a encontrar uma esposa, — ela repetiu.

Eu pisquei. — Então você não será a única...

— Inferno não, não vou me casar com você! Nós nunca


poderíamos ser nada mais do que amigos! — ela gritou,
perdendo sua marca registrada. — Estou ciente de que você
pensa em mim como uma irmã. Que você não quer isso ou a
mim. Inferno, depois de Xander, estou acostumada, e terminei
com isso.

— Você terminou com isso.

— Terminei com isso de não ser desejada. De ser a


segunda escolha. Terminei de me entregar a uma vida sem
amor. Sim, eu terminei.

— Charlotte, eu realmente acho que você precisa sair.

— Então o quê? Então você pode voltar para a garrafa de


uísque na sua mesa de cabeceira? — Ela apontou para o licor
ofensivo.

— Charlotte. Sai. Fora.

— Não. Eu sou tudo o que restou do seu lado. O público


pode te amar como o playboy residente, mas não como o líder
de Elleston. Estou disposta a te ajudar a encontrar sua esposa,
mas serei condenada se estiver presa em algum tipo de acordo
como eu estava com Alexander.
Meu irmão. Seu ex-noivo. O homem a quem ela fora
destinada a vida inteira. Ele era o herdeiro. Eu era o reserva. A
porra da reposição que sempre gostou de fazer o que quisesse
e com quem quisesse.

Mas agora eu era o príncipe herdeiro de Elleston.

E a única mulher com quem pensei que teria que me casar


nas últimas duas semanas estava me rejeitando... porque ela
se recusava a ficar com alguém que não a queria.

— Charlotte, saia antes que eu te tire dessas suas roupas,


a arraste para esta cama e mostre exatamente o quanto quero
você, exatamente em quais fantasias depravadas você estrelou
desde que cresceu com essas pernas.

— O quê? — ela perguntou, dando um passo para trás. O


sangue escorreu de seu rosto, e sua mão voou para o coração
como se pudesse guardar sua modéstia ou algo assim, quando
ela ainda estava completamente coberta por Alexander
McQueen.

Eu me inclinei para frente, pressionando a vantagem. —


Eu disse, saia ou entre na minha cama. Eu sei exatamente
como remover essa sua atitude, e isso não tem a ver com a
minha língua contra o seu clitóris.

Sua boca se abriu, e a surpresa rapidamente se


transformou em raiva.

— Ok, você sabe o que? Seja um idiota. Tanto faz. Mentir


para mim – tentar falar sujo comigo como se eu fosse uma
das... prostitutas que você traz aqui noite após noite não vai
me tirar da sua cara. Eu vou ficar até a nossa monarquia estar
segura. Você tem que escolher uma noiva, Jameson. Depois
que tiver um herdeiro, você pode foder quem quiser atrás de
portas fechadas. Então eu posso voltar para casa e fazer o
mesmo com quem eu escolher pela primeira vez. Você tem que
se recompor, ou seu país vai se despedaçar. — Ela balançou a
cabeça para mim. — Agora, se vista para que possamos
encontrar o maldito planejador do casamento e começar a
analisar o dossiê de todas as aristocratas disponíveis que são
estúpidas o suficiente para se casar com você. — Ela virou sua
bunda sexy e marchou para fora do meu quarto, batendo a
porta atrás dela.

Recostei na cabeceira da cama e acariciei preguiçosamente


minha ereção.

O único homem que ela estaria fodendo seria eu.

Me ajudar a escolher minha noiva? Foda-se isso. Eu tinha


quatro semanas até que eu devesse estar casado, e estaria
condenado se fosse alguém além de Charlotte Carlisle. A
mulher que tinha sido do meu irmão. A mulher que eu passei
anos afastando com comentários maliciosos e casos que exibi
abertamente, na esperança de colocar ainda mais espaço entre
nós, apenas para odiar que eu tinha conseguido. A mulher que
me amava como um irmão, e não se importava com minhas
palhaçadas, desde que não a envolvessem.

Sim, essa Charlotte Carlisle.

Eu deveria aceitar sua oferta para encontrar outra


aristocrata para ser minha noiva. Dar a ela a liberdade que
mais do que merecia depois da situação que acabou de
passar. Mas não podia. Porque eu era um idiota egoísta e
arrogante, e enquanto sabia que ela simplesmente me tolerava
pelo bem do meu irmão, e geralmente desprezava tudo em
mim, eu não podia deixá-la ir.
Eu estava apaixonado por ela desde que éramos crianças.

Agora eu apenas tinha que fazê-la se apaixonar por mim.

Em quatro semanas.

Eu estava tão realmente fodido.


Samantha Whisky é uma esposa, mãe, amante de seus
cães e romances. Não estranha ao hóquei, machos alfa quentes
e uma alta dose de constrangimento, ela se esconde para
escrever livros sobre os quais seu PTA nunca conhecerá.

Você também pode gostar