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A Ú N I C A D O S U LT Ã O

RITA LOPES
Copyright © 2023 RITA DE CASSIA CAMPOS LOPES RODRIGUES

TODOS OS DIREITOS RESERVADOS

OS PERSONAGENS E EVENTOS RETRATADOS NESTE LIVRO SÃO FICTÍCIOS.


QUALQUER SEMELHANÇA COM PESSOAS REAIS, VIVAS OU MORTAS, É MERA
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SEM A PERMISSÃO EXPRESSA POR ESCRITO DO EDITOR.

REVISÃO: PATRÍCIA SUELLEN


CAPISTA: KG DESIGNER
Para todas as pessoas que ousam sonhar e que correm atrás
dos seus desejos.

É por sonhar que escrevi esse lindo romance de amor.

É por correr atrás das minhas aspirações que alcancei esse


objetivo.
CONTENTS

Title Page
Copyright
Dedication
PREFÁCIO
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
EPÍLOGO
O FUTURO
AGRADECIMENTO
About The Author
PREFÁCIO
Quando escrevi o conto no começo de 2023 e o lancei na
plataforma Amazon, não tinha a menor ideia de que ele teria tanta
repercussão e junto uma série de questionamentos. Para ser
sincera o questionamento eu já esperava, afinal foi um conto escrito
para libertar uma ideia da mente.

Tudo começou com Tayla, uma mulher árabe, cheia de sonhos, que
ficou martelando na minha cabeça para eu contar a sua história. Eu
não podia, estava com outro projeto em mente e não tinha tempo
para escrever um livro. Não sabia nada do mundo árabe e teria que
pesquisar muitas coisas. Fui colocando empecilhos, mas eu não
conseguia fazê-la se calar, então decidi escrever um conto pequeno
para ter sossego e continuar a série do Clube dos Ordinários. Eu
estava no primeiro livro da série e ainda tinha mais cinco histórias
para desenvolver. Só que o caminho que o conto tomou, acabou
não levando para um desfecho esperado nem para mim, que amo
finais felizes, e nem para os meus leitores, que me criticaram por
não ter acabado o conto de uma maneira efetiva e feliz.

Essa cobrança agiu mais na minha mente que a Tayla lá do início, e


eu precisava provar para mim mesma que conseguiria fazer esse
romance dar certo. Confesso que foi bem difícil chegar a um
desfecho que fosse aceitável e digno do tão sonhado amor
verdadeiro. A cultura deles ainda é muito engessada, principalmente
para os soberanos e como eu faria o sultão se apaixonar por ela, se
ele tem uma mulher para cada dia do mês?

Foi assim que surgiu esse romance, espero que vocês sintam em
cada página o amor, a entrega, os anseios, as dores e as
responsabilidades de viver o que a história ofereceu para os dois
protagonistas: Said e Tayla.

Boa leitura!
PRÓLOGO
Enquanto um serviçal me ajuda com minhas vestes reais, um
filme se passa na minha cabeça. Um filme curto, intenso e
inesperado. Vinte anos de uma vida dedicada a assumir um trono
que eu sabia que um dia seria meu, mas não tinha a menor ideia de
que esse dia estava tão próximo.
Meu pai partiu de uma maneira rápida, súbita e sem aviso
algum.
Um infarto fulminante enquanto dormia.
Como seu filho herdeiro, não tenho tempo de chorar a sua
morte porque a responsabilidade com o meu país é imperial, agora
sou Said Abdul Al-Maktoun, o sultão de Omã.
Me tornei o homem mais importante de Omã da noite para o dia
e na minha visão, não me parece ser fácil assumir o trono de um
país que precisa de algumas mudanças significativas. Não que eu
não concorde com o reinado do meu pai, ele conquistou ganhos
importantes e quero construir a partir deles, mas sempre ambicionei
mais para o meu país, melhorar o campo da diplomacia nacional e
internacional, ajudando o meu país a ser mais próspero e seu povo
ficar orgulhoso de pertencer a Omã.
Espero que tenha o apoio de todos os ministérios. Por
enquanto, manterei tudo igual, os mesmos membros das secretarias
e Yussef Shariq, o braço-direito de meu pai, será o meu conselheiro.
Nem consigo pensar sobre política nesse momento de dor.
Caminho pelos corredores do palácio, trajado com a túnica
negra e dourada, em direção ao ambiente montado para receber as
condolências dos chefes de estados de todo o mundo. Decerto eles
já estão de olho em mim e nas mudanças que os beneficiarão de
alguma forma.
Não ter a minha mãe ao meu lado, decisão machista do mundo
árabe, também me enfraquece, mas agora eu sei que serei um
homem de ações solitárias até que consiga atingir a excelência real.
Meu objetivo pessoal é colocar Omã no topo do mundo e acredito
muito que Allah não me escolheu tão jovem sem ter um desígnio
especial à minha espera.
Quando entro no anfiteatro, um frio percorre a minha coluna
dorsal e o medo tenta me dominar. Imediatamente, Yussef, meu
conselheiro, está ao meu lado direito, me reverencia e me conduz
até o meu lugar aqui dentro. Olho em seu rosto, calculando que ele
deva ter uns dez anos a mais do que eu e concluo que ele também
é jovem, apesar de saber tudo o que acontece no palácio, porque
era o braço-direito de meu falecido pai.
— Não sei muito bem como me portar, Yussef — confidencio
com sinceridade.
— É esperado isso, senhor. Tudo aconteceu muito
intempestivamente. Eu estarei aqui para tudo o que o senhor
precisar. Acredito que irá até se cansar da minha presença.
— O rei confiava muito em você.
— Ele também confiava muito no senhor. Sabia que faria desse
país o melhor.
— Ele dizia isso? — Procuro segurar as minhas emoções.
— Sempre que podia. Tinha orgulho da sua dedicação e de
quanto o senhor estudava para assumir esse país quando fosse
chegada a hora.
— Achei que demoraria. — Quando chego em meu lugar, o
trono que antes era do meu pai, sinto um aperto no coração e sei
que sentimentos de fraqueza e temor não poderão mais fazer parte
da minha vida.
Tenho que crescer e enfrentar a vida como um homem de pulso
forte e extrema valentia. Governar um país não é para pessoas
fracas e de coração mole.
Dobro meus joelhos, é chegada a hora de orar para o homem
que antes de ser o governante de Omã, era o meu querido e amado
pai.
CAPÍTULO 1
Desde jovem, sempre me questionei qual era o meu verdadeiro
propósito neste mundo. Mesmo sendo ainda muito nova, percebi
que homens e mulheres eram tratados de forma muito diferente na
sociedade árabe, e as mulheres pareciam apenas tolerar a vida que
levavam. Minha curiosidade incansável em relação ao mundo ao
meu redor me fez buscar respostas e tentar encontrar meu lugar e
sentido na vida, pois nunca entendia as atitudes da minha família
em relação a mim, menos ainda compreendia as regras que me
eram impostas por ter nascido em um país árabe. Não era rebeldia,
sempre fui obediente, mas ultimamente sentia que estava sendo
criada de forma diferente da maioria das meninas da minha idade,
sem ter a menor ideia do motivo pelo qual minha família me tratava
como uma verdadeira princesa.
Uma princesa para mim, moraria em um castelo, teria mil
empregados ao seu dispor, festas, bailes e um amor de contos de
fadas. Não tinha nada disso mesmo me sentindo privilegiada dentro
da minha casa.
Isso me fez ir em busca do meu eu verdadeiro, porque não
queria ser o que minha família me impôs, queria ser o que almejo,
alguém que faça a diferença na vida das pessoas. Nessa busca, já
ambicionei ser muitas coisas desde que me entendo por gente.
Lembro-me de que a primeira pessoa a me encantar de forma
gratuita foi a babá de Hassan, meu irmão mais novo. Eu a via
cuidando do meu irmão pequeno com tanto amor, com tanta
dedicação, que achava que a vida dela era do jeito que eu queria
ser, livre para ir e vir na hora que desejasse, ainda cuidando de
crianças que sempre foi uma paixão minha, afinal, amo bebês. Acho
que tinha nove anos no dia em que eu descobri que ser como ela
não me parecia tão agradável quanto pensei meses atrás. Vi
quando meu pai, Vermont Al-Rashidi, entrou no quarto de Hassan,
gritou com Malish, que ninava meu irmão nos braços, em um dialeto
que eu desconhecia. Ela colocou com carinho meu irmão no berço,
vi que o bem-estar dele era o mais importante, depois abaixou a
cabeça e tentou sair dali, mas meu pai agarrou o seu braço com
força e a encostou na parede duramente. Eu vi o medo estampado
em seu olhar antes de ele bater a porta do quarto com violência, me
deixando sem saber o que estava realmente acontecendo. Eu me
sentei no escuro, assustada, ouvindo sons que não conseguia
distinguir, e algum tempo depois ela saiu apressadamente do
quarto. Vi que estava sem o véu e em prantos. O que quer que
tivesse acontecido ali, não me parecia algo bom, eu não gostava de
chorar, mesmo que algumas vezes isso era inevitável. Entendia a
sua dor, meu pai também era bravo comigo.
Naquele instante de raiva, decidi que era muito nova para
buscar respostas e só pensei nisso de novo quando completei onze
anos. Deparei com uma exímia professora de literatura árabe e,
naquele momento, ela era tudo na minha educação. Hama mostrou
para mim uma janela de possibilidades com a inserção dos livros
que contavam a história do nosso povo. Estava ali um assunto que
me atraía, que me fazia sonhar, que me mostrava o quando
conhecer o mundo em que vivia era importante e o quanto eu ainda
tinha muito a conhecer. Esse fascínio pela literatura durou uns
quatro anos e mais uma vez me deparei com a ignorância
masculina, agora conhecida com maior profundidade. Hama
desapareceu da noite para o dia, e eu descobri, pois precisei
implorar para a professora de Geografia, o que tinha acontecido
com ela. Ela fugia do seu destino há algum tempo e ele a tinha
encontrado, não podendo ser feito mais nada para ajudá-la. Foi
nessa exata hora que descobri que todas nós, mulheres
muçulmanas, tínhamos um destino traçado, independentemente do
lugar onde estávamos naquele momento ou mesmo os nossos
desejos. Os homens eram quem dariam a nossa sentença, aos
quinze anos isso ficou claro para mim. O desapontamento passou a
me rodear nessa época, de nada adiantaria eu sonhar porque meu
sonho não teria êxito se não fosse ao encontro do que meu genitor
queria.
Foi com essa idade que passei a acompanhar e analisar a
minha rotina com atenção, em busca de entendimento quando meu
destino chegasse. Fiquei surpresa quando constatei que a minha
rotina diária era igual desde os dez anos, mas só depois do que
aconteceu com a Hama, é que me dei conta disso.
No período da manhã, eu estava na escola de educação
fundamental, depois tinha aula de canto, aula de dança, trabalhos
manuais e como se portar em público. Além disso, fazia aulas extras
do dialeto do país, que eram ministradas na própria escola onde
estudava. A residência onde vivia não era luxuosa, mas sempre
estava cheia de pessoas entrando e saindo que eu achava que
trabalhava para o meu pai, o que mostrava para mim que ele não
era um homem sem posses. Também não era um sultão, estudei na
escola quem eram os sultões e suas funções na política árabe. Após
anos de busca incansável, finalmente descobri o meu verdadeiro
destino, aquele que perseguia desde a infância. Foi só agora, ao
completar meus dezesseis anos, durante uma conversa a sós com
minha mãe, que, finalmente, obtive algumas respostas. Esses
momentos de diálogo eram raros, mas hoje, ela compartilha comigo
informações cruciais sobre o meu verdadeiro propósito na vida.
— Tayla? — Estou no quarto quando minha mãe me chama.
— Entra, mãe. Estou acabando de me trocar para o jantar. —
Todos os dias parecem importantes na nossa casa ultimamente. Os
trajes estão cada vez mais refinados e nós, mulheres, sofremos
para manter a pose solicitada à mesa em um simples jantar de
sexta-feira. As vestes de todas as noites são roupas longas e
cobertas com tecidos cheios de bordados. Hoje, em especial, visto
um traje diferente, um kaftan vermelho, que é uma túnica longa e
solta, com mangas largas, decoradas com bordados e detalhes em
ouro. Só mãos e rosto de fora são regras desde a minha primeira
menstruação e isso nunca me incomodou, o hijab faz parte da
minha identidade.
— Preciso conversar com você antes do seu pai. — Ela fecha a
porta e eu entendo que é algo sério. Ela me olha com orgulho, esse
sempre foi o seu olhar para mim. Talvez por ser a única mulher
dentre seus cinco filhos, ela sempre tem esse olhar terno quando
estamos sozinhas em um ambiente. — Você fica maravilhosa com
a roupa nesse tom.
— O que precisa dizer escondida do meu pai? — Sou direta e
ela me coloca sentada na cama, segurando na minha mão.
— Eu só quero dizer que eu te amo, Tayla. A maioria das vezes,
nós estivemos separadas nos últimos anos e pouquíssimas vezes
temos a chance de estar só nós duas. Você foi preparada para ser
uma mulher diferente entre todas as outras iguais. — Isso é algo
que ela sempre faz questão de frisar. Eu fui criada para ser diferente
e até hoje não vejo onde sou distinta de outras.
— Como se isso fizesse diferença, mãe. Nós, mulheres, aqui
nesse país, somos ignoradas e eu sei que se você está aqui, é
porque algo na minha vida vai mudar. Eu acho que nem me importo
mais com isso, cansei de buscar o meu destino, se eu tiver que
casar com alguém ou mesmo viver uma vida de mentiras, já
compreendi tudo isso. A escola me preparou para a vida real, sem o
hijab que cobre a minha cabeça. Muitos usam o véu para fechar os
olhos da maioria das mulheres. Fique tranquila, eu ficarei bem. —
Ela me abraça com tanto amor, sinto todos os seus desejos mais
verdadeiros penetrando a minha alma e alojando no meu peito.
— Eu não sei o que é que vai acontecer, Tayla. Nunca sabemos,
mas sei que nosso destino está traçado e eles não se encontrarão
tão cedo. Eu só quero que você busque a sua felicidade e se ela
estiver ao seu alcance, agarre-a, mas não faça nada que leve você
para o abismo ou para a vergonha. Uma mulher tem que se manter
íntegra e, mesmo assim, você sabe que seu valor é quase nulo. —
Deito a cabeça em seu colo, aproveitando o momento de
sinceridade entre nós duas, sem a interferência masculina.
Depois ela me ajeita mais uma vez e sai do meu quarto.
Eu presumo que será uma noite de revelações. Aos dezesseis
anos, descobrirei qual é o meu destino, afinal.
Fico estarrecida ao descobrir que eu fui preparada para fazer
parte do harém do sultão mais poderoso da Arábia Saudita, Said
Abdul Al-Maktoun, um homem que tomou posse ainda muito jovem,
quando seu pai morreu inesperadamente. Tenho conhecimento da
sua linhagem pelas aulas na escola e sei que nossas famílias não
são consideradas aliadas. Por que fui escolhida para compor o seu
harém, se nem mesmo há uma cumplicidade entre nossas famílias?
Como é comum, abaixo a cabeça, ouvindo seus poucos
comentários sobre o meu destino, achando tudo muito estranho,
tudo esquisito, sem pé e nem cabeça. Fui criada como uma princesa
para ser uma das mulheres do sultão inimigo. Chego à conclusão de
que todos esses anos eu já estava destinada a viver longe de casa
e fico cada vez mais decepcionada com a atitude do meu pai, me
sinto como se estivesse sendo jogada na cova dos leões, sem
qualquer chance de defesa.
Sentamos à mesa para o jantar após essa conversa com meu
pai, e eu faço o meu melhor para absorver cada palavra que ele diz.
No entanto, evito questionar exatamente o significado de suas
palavras, pois não posso interromper o fluxo da conversa.
Quando ele levanta a sua taça, fazendo um brinde aos meus
dezesseis anos, Hannum, meu irmão, se levanta e enche meu copo
de um líquido amarelado e tão docinho, que desce pela minha
garganta com facilidade.
Daquela noite eu não me lembro de mais nada.
Tudo virou um borrão na minha mente.
Ainda hoje, seis meses depois, por mais que eu me esforce, não
me lembro de quase nada daquele dia e dos próximos dias que se
passaram.
Só sei que foram dias sombrios, desconfio que intercalei entre a
lucidez e a loucura. Uma hora eu me sentia sendo levada para um
lado e quando parecia que estava melhorando, era arrastada para
outro, quase sem vida. Em um momento, estava com os olhos
abertos e em outro morava na escuridão. Parecia estar sob o efeito
de uma droga e uma droga poderosa, porque apagou um período da
minha mente.
Minha única lembrança foi do dia que acordei em um lugar
estranho, um quarto pequeno, sem janela e sem ninguém ao meu
lado. Quis me levantar, pois me sentia viva nesse dia, me levantei
cambaleando da cama, mas senti fraqueza nas pernas e voltei a me
sentar nela. Respirei algumas vezes, testando se já estava voltando
ao normal e assim que consegui me reerguer, caminhei até a porta
do lugar e a abri. Meus olhos foram se acostumando com a
claridade e minha boca se abriu em um sobressalto.
Não sabia como, mas estava dentro do maior palácio do Oriente
Médio e eu sabia qual era aquele lugar, por causa das aulas que
frequentei na escola.
O palácio do poderoso Sultão Said Abdul Al-Maktoun, em Omã.
Um lugar lindo, imenso e esplendoroso. O palácio era ainda mais
bonito do que nas fotografias.
Eu só não sabia o que tinha ido fazer ali, não fazia a mínima
ideia de como tinha entrado nesse lugar tão exclusivo. Sentia-me
estranha, minha mente estava vazia, eu nem me lembrava do meu
nome. Eu ainda não lembro qual é o meu sobrenome de família até
hoje.
— Tayla? — Uma mulher disse esse nome, eu tive um lapso de
memória e sabia que era o meu nome que ela chamava. Tayla, sim,
esse era o meu nome, mas Tayla do quê?
— Que bom que você acordou. — Olhei para a mulher e ela
estava sorrindo para mim. Não sabia quem era ela, e pior, não sabia
quem eu era e como tinha parado dentro desse lugar.
Uma coisa é certa, não cheguei aqui com as minhas próprias
pernas. Sei que se estou aqui, não tenho muita escolha e quanto
menos souber, será melhor para mim. Sorri para ela naquele dia,
deixando que o tempo e minhas lembranças fizessem o papel de me
explicar o que estava fazendo nesse lugar.
Apesar de me sentir bem aqui dentro hoje, mesmo que eu force
a minha mente, não consigo me lembrar por que estou aqui. Tenho
alguns lapsos de memória, lembro-me da minha mãe pedindo para
eu ser feliz, de brincar com um garotinho que acho que é um irmão,
de uma mulher que me ensinava literatura e que hoje eu agradeço o
que ela fez, porque não estou totalmente no escuro, sei exatamente
o lugar que hoje é minha moradia.
Apesar de não lembrar quase nada da minha vida anterior,
tenho plena consciência de como me portar à mesa, sei dançar, sei
falar mais de um idioma, enfim, tudo que preciso aqui dentro para
ser notada pelo sultão e isso já descobri que é o objetivo de todas
as mulheres desse lugar. Como todas as mulheres aqui nesse
palácio, também quero fazer bonito quando estiver na sua presença.
CAPÍTULO 2
Desde os dez anos de idade, fui convocado para estar à frente
da monarquia quando chegasse a hora.
Nunca imaginei que essa convocação aconteceria quando eu
completasse vinte anos e que hoje, aos trinta e dois anos, já estaria
no poder por tantos anos seguidos. Também nunca pensei que me
sentiria parte ativa de um país que estava à beira de um colapso e
que hoje é uma nação próspera, com boas relações internacionais,
uma fortuna em ascensão, tenho muito orgulho de ter conquistado
esse compromisso com meu povo.
Sei muito bem que o respeito à soberania de outros povos
manteve essa política de boa vizinhança bem estruturada e
reforçada pelos líderes dos países vizinhos. Também sei que a
minha maneira de conduzir esse país é que o tornou desenvolvido e
eficiente. Eu me orgulho da maneira como tenho conseguido atingir
o topo apenas com a minha capacidade de liderar e de enxergar o
país como sendo parte de mim.
Yussef, meu conselheiro direto, entra na minha sala, fazendo-
me deixar de lado o saudosismo. Gosto de lembrar de como tudo
aconteceu para mim, para que nunca me esqueça de que mesmo
sendo o monarca, tenho que pensar nos subalternos como parte de
um todo.
— Como está se sentindo hoje, senhor?
— Extremamente saudoso, acho que a data do aniversário
serve somente para duas coisas, sentir saudades do passado e de
quando eu tinha dezessete anos. — Yussef sorri, ele entende bem
as minhas lamúrias, está ao meu lado esses anos todos e sabe bem
como é assumir um país muito cedo. Temos por objetivo, manter a
nossa boa convivência, sem misturar nossas diferenças políticas
quando elas acontecem. Nossa amizade é bem mais valiosa que
todas as outras funções que fazemos juntos. Ele não é muito mais
velho que eu, completa quarenta anos no próximo mês, mas foi
treinado pelo meu pai desde muito novo e ter sua presença ao meu
lado me passa segurança. Ele senta à sua mesa, ao lado da minha.
— Eram outros tempos, senhor. Bons tempos que não voltam
mais.
— Você tem razão, temos sempre que olhar para frente. Quais
as minhas obrigações hoje? Seja generoso, é o meu aniversário.
— Não tem do que reclamar, senhor. Seus aniversários
costumam ser muito apropriados. Um jantar regado a boa comida e
boa bebida, suas mulheres dançando para o senhor, uma bela noite
banhada a sexo, acho perfeito esse arranjo. — Levanto-me e olho
pela janela, até onde a vista alcança. O palácio do meu país é
imenso, grande em demasia, não conheço todas as repartições que
existem nele. Foi bem difícil entender que aqui era o meu quartel
general e que até eu viver, não sairei dessas terras.
— Nem sempre estou completamente disposto a compactuar
com essa mudança diária de mulheres na minha vida e na minha
cama. — Yussef não me deixa desanimar e nem me lastimar.
— Sabe que isso é cultural, faz parte de quem você é, não é
algo discutível na reunião de poderes. — Volto a me sentar.
— Não é isso que eu quero, não sou o homem que vai modificar
isso tudo, só digo a você, meu amigo e conselheiro, que é prazeroso
conhecer várias mulheres, mas ainda não encontrei nas minhas
esposas e pretendentes, alguém que me faça ambicionar algo
maior.
— Senhor, isso é pura ficção. Todas as mulheres que estão aqui
nesse palácio estão para te servir e mesmo que você as blasfeme,
elas não vão deixar de abrir as pernas para o rei. É sua função
encontrar motivação para fazer filhos homens e como isso não
ocorreu, a cúpula não vai se apascentar até isso acontecer de fato.
Posso sair um pouco do contexto e lhe fazer uma pergunta pessoal?
— Mesmo estando lado a lado por todos esses anos de monarquia,
Yussef ainda não consegue conversar comigo de amigo para amigo.
— Naturalmente.
— Desculpe, senhor, mas anda despejando seu sêmen para
dentro delas? É que faz bem uns quatro meses que nenhuma delas
engravida e são quatro esposas, doze favoritas e as candidatas a
favorita que algumas o senhor já levou para a cama mais de uma
vez. Não está seguindo a dinâmica? — É uma merda ter um amigo
curioso ao lado ao invés de um conselheiro cortês. Ele sabe bem
das minhas artimanhas para manter o número de filhos estável. São
muitas mulheres para administrar, quatro esposas oficiais, que
receberam esse título porque possuem filhas mulheres comigo e
doze favoritas, que foram escolhidas por já frequentarem a minha
cama efetivamente. Além disso, tenho uma fila de candidatas a
favorita, esperando uma chance de me encantar de alguma maneira
e tudo isso para que nasçam filhos varões, fortes e perfeitos para
assumir o meu trono quando chegar a hora.
— Não quero filhos por enquanto. Faltam dois anos para a
minha nomeação estar assegurada e aí sim, depois de mais uma
graduação, estarei apto a encher esse palácio de crianças. — Ele
faz uma reverência, respeitando a minha decisão.
— Desde que elas não notem que estão sendo preteridas, você
sabe, uma rebelião de mulheres é algo terrível para um governo
monarquista como o nosso. — Balanço a cabeça em concordância.
— Eu não falharei, pode ficar despreocupado. Tenho mantido as
minhas frequências noturnas.
Depois de uma série de reuniões, vou até a ala dos serviçais do
palácio, resolver um problema de máxima urgência. Esse nem é o
meu departamento, normalmente tenho funcionários administrativos
para atender as demandas da criadagem, mas como vem da
senhora Mariam, a governanta mais velha daqui e que foi a minha
babá por muitos anos, tenho apreço por ela e por isso a minha
presença pessoal.
Obviamente, Yussef caminha ao meu lado.
Como data do meu aniversário, hoje visto uma túnica negra e
dourada, caprichei na higiene pessoal, como se eu não estivesse
alinhado todos os dias. A ala dos serviçais fica do outro lado do meu
gabinete e, então, caminho até lá, sério, apressado, sem deixar de
avaliar a beleza do palácio.
— Nem sei por que não venho mais vezes aqui, é realmente a
parte mais bela desse lugar. Olhe aquela fonte, que magnífica. —
Aponto para o lado leste, mostrando a beleza da água jorrando ali. É
reconfortante ter um lugar dentro de casa para relaxar. Gravo na
mente de passear por aqui mais vezes daqui para a frente.
O corredor que leva a sala da Mariam está úmido, uma serviçal
acaba de passar o pano no piso e, por isso, fico com pena de sujar
novamente, antes que ele seque. A mulher está abaixada, torcendo
o pano que acabou de usar no chão e ela me parece jovem para a
função. Normalmente as mais experientes é que fazem esse
serviço.
Assim que tomamos distância, pergunto ao meu conselheiro.
— Achei muito nova a mulher que estava passando pano no
chão.
— Aqui todas querem ter a chance de ser alguém para o
senhor. Se prestam a muitos tipos de trabalho, apenas para ganhar
um olhar seu. Aposto que você a deixou com o coração acelerado,
vai sonhar a noite toda com o senhor, que limpou o chão que o
senhor pisou e por aí vai... — Acho as palavras de Yussef de muito
mau gosto, não gosto de pensar que o mundo dentro desse palácio
gravita ao meu redor. Expresso meu desconforto.
— É assim que funciona e não tem o que fazer, senhor. — Não
tenho tempo de prolongar a conversa, porque Mariam já abre os
braços para mim. Ela me faz voltar em um tempo em que a minha
vida era apenas brincar de soldado e bandido.
Resolvido a questão e de volta à minha sala, giro a caneta nas
mãos, pensando no que Yussef me falou. É triste pensar que não
posso mudar o que me desgosta, mas sei que ele está certo, são
décadas de monarquia agindo dessa maneira e não serei eu a
mudar o mundo, não por causa de besteiras como essa de possuir
um harém de mulheres. Quem sabe o próximo monarca possa
começar a reinar de outra maneira, com uma visão diferente da que
vivemos. Cabe a mim, como rei absoluto hoje, ingressar meus
herdeiros em um pensamento mais moderno e mais coeso. Vivemos
em um mundo globalizado, onde países vivem em harmonia com o
direito adquirido de constituir o poder legislativo. Quem sabe isso dê
certo por aqui também, as leis já são mais brandas, há um pequeno
movimento caminhando para o lado da igualdade.
Creio eu, que poderei fazer com que meus filhos pensem
diferente. Por enquanto, ainda estou me sentindo em formação e
não quero um filho vivendo a minha tormenta.
A noite começa bem animada, com todas as minhas quatro
esposas na mesa e todas as minhas favoritas presentes. Ter um
harém parece algo incrível para quem vê de fora, mulheres
disponíveis em um estalar de dedos, sexo diário com várias delas,
sem enjoar da mesma intimidade. Para quem está dentro, é algo
bem difícil de administrar. Por Allah, eu tenho a minha mãe, a valide
Soraia, para fazer a sequência fluir de maneira mais leve. É ela
quem escolhe as mulheres que são candidatas a entrar na área
mais seleta, onde ficam as favoritas e onde tenho mais chance de
procriar. Falo que não quero filhos, mas tenho quatro meninas
encantadoras, uma com cada mulher e é exatamente isso que o
conselho quer, garantias que nasça um herdeiro saudável e com
condições de assumir a minha cadeira quando chegar a hora. Mais
de um para que a cadeira nunca corra o risco de ficar vazia. Tenho
certeza de que eles vão chegar quando for a hora.
Depois de muito vinho, fartura de comida e dança, minha mãe
escolhe uma das favoritas para comemorar comigo a noite do meu
aniversário. Sumaya é uma bela mulher, tem vinte e quatro anos, é
da família Azhari, do governo de Masqat e sei por que minha mãe a
escolheu, sabe que nossa relação com Masqat está estremecida por
causa das confusões ocorridas na fronteira com a Arábia. Soraia
sempre age assim, coloca na minha cama quem a importa
politicamente.
Dessa vez, mesmo podendo interferir em sua escolha, deixo
que a situação fora do palácio decida a circunstância aqui dentro do
harém. Saímos da festa juntos, decido que será assim, para que
não se criem expectativas e rancores pelas costas. Todas elas terão
o seu tempo comigo, não desejo que mais mulheres sejam
envenenadas em minhas terras. Não que isso seja comum, mas sei
que não é algo ignorável.
CAPÍTULO 3
Até hoje não sei como vim parar dentro do palácio do sultão de
Omã, sempre tento me lembrar daqueles últimos dias em casa, mas
a minha mente fica totalmente tumultuada, uma névoa aparece e
não consigo me recordar de uma palavra sequer. Tenho quase
certeza de que aquele líquido amarelo, que alguém me deu naquela
noite, único fato vivo na minha mente, apagou a minha memória
propositalmente. A única certeza de que tenho é de que não estou
aqui ao acaso, tenho uma missão que não sei ainda qual é, mas eu
descobrirei quando for a hora certa.
A primeira coisa que me aconteceu no palácio, logo que
cheguei, foi me apaixonar pelo sultão assim que coloquei os olhos
nele, ao vivo e em cores, ainda aos dezesseis anos de idade.
Aconteceu em uma inspeção de todos os serviçais do palácio, eles
estavam em busca de alguém em específico. Não fiquei em sua
mira, estava bem atrás nas filas, mas eu percorri os meus olhos por
todo o seu corpo, avaliando a beleza da sua musculatura dentro de
roupas ocidentais, incomum aos muçulmanos, seus olhos eram os
mais expressivos que eu já tinha visto. Aparentava um homem
seguro, bem vivido, ainda jovem, e que sabia exatamente o que
queria da vida, com uma aura de poder que resplandecia a
quilômetros de distância. Eu senti algo dentro do meu âmago, o
soberano do meu país era o homem mais atraente que eu já tinha
visto, é como se reencontrasse uma pessoa conhecida de longa
data, foi algo surreal. Eu senti que tinha encontrado a minha alma
gêmea e não tinha explicação alguma para esse meu sentimento
imediato e absurdamente intenso.
Sei que nem é tão difícil estar apaixonada, porque todas as
mulheres do palácio devem obediência a ele e pelo que aprendi no
tempo em que estou aqui, nossas famílias nos preparam para ser
uma mulher do seu harém, então, com sentimentos ou não, todas
buscamos o mesmo destino. Mesmo sabendo de tudo isso, sinto
que comigo foi diferente, fiquei encantada pelo homem, sem nem
saber o que ele carrega dentro de si, seu caráter, seus valores,
apenas por ele aparentar o homem das minhas aspirações. Sabia
que teria tempo para conhecê-lo melhor e fazer o meu próprio
julgamento.
Depois desse dia, não estive mais em sua presença, foram anos
de desencontro, e minha primeira oportunidade depois disso,
acontece justo hoje. Hoje é o mais próximo que estive dele em três
anos vivendo no palácio e por ironia do destino, estou esfregando o
chão, estou no pior degrau que uma mulher poderia estar aqui
dentro. O sultão, vestido com uma túnica de cor negra e dourada,
caminhando pelo corredor ainda molhado, prende-me a atenção
com a sua beleza impactante. Said Abdul Al-Maktoun, como é
chamado, é um homem extremamente másculo e belo para o
padrão dos homens daqui. Ele está sério, caminha apressado e sua
beleza rústica continua a me atrair de uma maneira inexplicável,
como se todo esse tempo nem tivesse passado. O sultão está com
a barba farta e seu rosto é marcado com um nariz grande que o
deixa mais agressivo. Ele tem uma presença marcante e faz jus ao
seu cargo soberano dentro da monarquia. Não tenho coragem de
erguer meus olhos quando ele passa bem ao meu lado, mas é
nesse instante, depois de alimentar esse amor à distância por quase
três anos, que descubro que o sentimento ainda resiste ao tempo.
Também é nessa hora que eu decido que sairei da minha posição
atual de serviçal para compor a ala das favoritas do sultão, mas não
faço a mínima ideia de como conseguirei isso.
Na mesma hora uma pessoa vem à minha mente e talvez ela
possa me ajudar. Não tenho grandes amigas aqui e para esse tipo
de conversa eu preciso escolher alguém que seja da minha
confiança, afinal, aqui no palácio todas as mulheres estão
interessadas em atingir o mesmo objetivo, ser a favorita do sheik.
Aisha é minha única amiga e companheira de quarto, ela já deixou
bem claro que não tem a mínima intenção de ser qualquer coisa do
sultão, que não uma mulher serviçal, principalmente porque sua
opção sexual é bem diferente da minha.
Descobri isso há pouco tempo, quando peguei Aisha trocando
carícias com Iasmim, essa sim uma das mulheres mais perigosas na
ala, por estar entre as candidatas a favorita do sultão. Como em
nossa ala o grupo é consideravelmente grande, são trinta e cinco
mulheres compondo esse grupo, divididas entre as candidatas a
favorita e as serviçais da ala, Iasmim exercita seu lado sexual com
minha amiga e desde que sejam discretas, não me importo com
isso.
Assim que Iasmim sai do quarto para dançar para os
convidados do sultão, puxo Aisha de canto.
— Você nem vai acreditar, hoje eu vi o sultão no corredor.
— Ainda bem que eu não estava lá, já pensou se ele me nota,
se pergunta algo para mim, não tenho a mínima intenção de ser
vista por ele.
— Seria muita sorte ser notada por ele — resmungo mais uma
vez.
— Ah... coitadinha, ele não te viu? — Empurro-a na direção da
cama e ela cai sentada, rindo da minha decepção. Aisha acha que o
que eu sinto por ele é modismo, porque estou presa no palácio e
não posso viver outras experiências, então fantasiei um amor
platônico.
— Como ele vai me notar, Aisha? Ninguém me dá uma chance
aqui, parece que eu não existo. — Essa é a sensação mais forte
que tenho aqui, de ser menos que as outras e não ser cogitada a
estar ao lado de sua alteza.
— Eu sei, Tayla. Estou apenas brincando com você, sabe que
todas que estão presas nesse palácio tem as mesmas chances de
tentar, mas tem que cair nas graças da valide, a mãe do sultão. É ali
que você precisa focar. — Jogo-me em minha cama.

— Eu quero cair nas graças dele, Aisha, só preciso de um


momento a sós e mais nada. Eu não quero ir pelo meio tradicional,
quero que ele tenha desejo por mim. — Aisha me olha pensativa.
— Para exercitar essa loucura, porque convenhamos, isso é um
devaneio de sua parte, você teria que estar na hora certa e no lugar
certo, mas como sabermos qual será esse momento?
— Eu tenho uma ideia e vou compartilhar com você, porque
confio no seu julgamento e na sua discrição. Você terá que fazer
uma escolha para me ajudar, nada perigoso, mas se formos pegas,
estamos fodidas. Estudei os movimentos das odaliscas e há uma
chance de eu estar cara a cara com o sultão. — Aisha senta na
minha cama e cruza as pernas, olhando-me entre apreensiva e
preocupada.
— Tayla, eu só não posso correr o risco de cair nas garras da
realeza. Quero continuar invisível para eles.
— Imagine, eu não vou te colocar vulnerável, mas você terá que
fazer uma coisa bem feia e acho que, no fim das contas, não será
tão ruim assim se funcionar. Escuta e me diga o que acha.
Aisha não se opõe a me ajudar quando conto o que terá que
fazer para me colocar de frente com o sultão.

Plano de ação
No dia combinado, logo pela manhã faço rapidamente a minha
tarefa diária. Assim que almoçamos, vou para o quarto, tomo um
banho e visto minha melhor roupa, um longo vestido em tom roxo
com um hijab branco na cabeça.
Ofereço ajuda na cozinha na hora do chá do sultão e fico
exultante quando faltam cinco minutos para o início do ritual e
Iasmim, responsável pelo serviço do dia, não aparece. Acho que
Aisha conseguiu distraí-la dos seus afazeres. Há um burburinho
entre as mulheres sobre a ausência da Iasmim e eu peço desculpas
mentalmente por isso. Mentir nunca foi o meu jeito de conseguir
algo, mas o desespero me fez agir assim hoje.
— Eu posso substitui-la se quiserem — digo para a supervisora
da cozinha. — Estou vestida adequadamente para fazer o serviço.
— Vejo-as me olhando, analisando se isso realmente procede e se
não há ninguém mais adequada que eu no recinto. Por Allah... sou a
única ali em condições de fazer o papel e, ainda assim, elas buscam
alguém mais qualificada. Esse não é um fato isolado, sempre que
eu me coloco em alguma situação dessa, a resposta é sempre não.
Desconfio que isso está relacionado com a minha chegada sombria
no palácio.
— Sem problemas, Tayla. Acredito que a Iasmim tenha uma boa
desculpa para não comparecer no seu serviço de mesa. — Sim,
sim... ela tem, ela está se divertindo, penso internamente.
— Talvez ela deva estar com cólicas. Vi que chegou as suas
regras.
É dessa maneira que terei a minha primeira chance com o
sultão Said.
Ao caminhar pelos corredores em direção a ala principal, me
deparo com a ideia de que eu não sei o que fazer para ser notada.
Não estarei sozinha com ele, afinal, o serviço é feito por quatro
mulheres e três delas já foram vistas por serem candidatas a
favorita dele. Isso pode ser positivo, já que ele não me conhece.
Talvez a minha mente criativa descubra algo quando eu estiver
dentro da suíte, não tenho a menor intenção de perder essa
oportunidade.
Quando entramos na suíte, um dos seus ajudantes arruma as
suas vestes, acho que ele deve ter acabado de acordar do sono da
beleza. O sultão é um homem alto, imponente, eu me sinto pequena
próxima dele e meu coração acelera quando ele pede o chá, sem
nem olhar quem o serve, apenas com os olhos pregados em um
periódico em suas mãos. Hanna, sem pensar na minha
inexperiência, enche a xícara e me entrega para que eu o sirva.
Eu nem sei como isso funciona, nunca participei do ritual e ela
sabe disso, acho que quer acabar com a minha única chance de ser
vista.
Nem preciso descobrir como funciona, visto que as minhas
mãos tremem tanto que o chá vai parar direto na roupa do sultão e
eu sei, está muito quente, minha mão fica vermelha na hora.
Nesse instante de indecisão de todos ao meu redor, não penso
duas vezes e simplesmente ajo. O grito de dor do sultão ecoa pelo
ar, e eu, desestruturada emocionalmente, reajo de maneira
impulsiva, sem sequer considerar as consequências.
Corro até uma pilha de toalhas, molho uma delas na bacia e
abro os botões da roupa dele com urgência, encostando a toalha
úmida na pele vermelha. Ele geme e eu não sei se é de alívio ou de
ódio do que acabei de fazer.
Sinto todos os olhos direcionados a mim, mas não me importo,
porque estou mergulhada em dois olhos negros como a noite, me
fitando como se não houvesse mais ninguém na sala. O monarca é
ainda mais bonito de perto e eu ouso tocar a sua pele queimada
com as mãos. Ele segura a minha mão pelo pulso na mesma hora e
assume o controle novamente.
— Desculpe-me, senhor, eu não tive a intenção de queimá-lo,
eu nunca tive a intenção de machucá-lo. — Ele se levanta do sofá e
retira a túnica. Eu não pisco, aliás, todas as mulheres da sala ficam
estáticas. Ele é maravilhoso... Seu ajudante repõe a túnica
imediatamente, e eu sei que dessa vez coloquei tudo a perder.
Afasto-me um pouco e me mantenho de cabeça baixa,
arrependida de ter escolhido algo que eu nem sabia fazer para
estabelecer o primeiro contato. Mas que merda... como eu saberia
que era tão difícil estar na presença dele...
— Quem é você? — ele pergunta e Hanna me cutuca. Agora
estou perdida.
— Meu nome é Tayla, senhor. — Faço uma reverência.
— Saiam todos, pois quero conversar a sós com a senhorita. —
Fecho os olhos, já prevendo uma punição por parte das minhas
superioras quando souberem o que aprontei. Todos fazem uma
reverência e saem, restando apenas seu ajudante.
— Você também, Yussef. — O homem olha para ele, faz uma
reverência e sai também.
Agora o negócio é comigo e eu tento me desculpar mais uma
vez, mas ele nem se abala, ignora meu pedido.
— Eu não a conheço, Tayla.
— Realmente, senhor. Eu nunca estive em seus domínios
particulares.
— Eu notei e senti na pele sua nula experiência em servir uma
xícara de chá para seu sultão. — Nem em sonhos eu pensei em
tomar uma reprimenda dele. Isso me desestabiliza.
— Não era assim que eu gostaria de estar em vossa presença
na minha primeira vez, senhor. — Por Allah... acho que isso está
ficando cada vez pior. Vejo seus olhos brilharem, porque não me
contenho e levanto o meu olhar, coisa proibida na minha situação.
— E como gostaria que fosse esse encontro? — Ele me
surpreende, perguntando o meu desejo. Digo a verdade, levada pela
abertura que ele me dá.
— Eu sonhei que o senhor se interessaria pela minha beleza,
pela minha conversa despretensiosa e meu impressionante
conhecimento geral. — Ele esboça um sorriso e eu relaxo um
pouco, afinal, ele não me parece um homem cruel.
— Eu não diria que você é despretensiosa.
— Desculpe mais uma vez, senhor. Eu não queria mesmo te
machucar e nem atrapalhar seu chá.
— Sirva-me novamente e veja se dessa vez não derrame nada.
— Sem os olhares dos outros e, também, sem a emoção do
primeiro contato, faço direito dessa vez e fico ali esperando-o se
alimentar. Enquanto isso, analiso o luxo em que ele vive e o
tamanho de sua cama. Será que é ali que ele dorme com suas
favoritas?
— Algum problema, senhorita? — Assusto-me com sua voz. Ele
me observa enquanto bebe o chá.
— Não, nenhum problema. Quer mais alguma coisa?
— Sim, tire o hijab. — Fito-o assustada, nunca tirei o véu na
frente de um homem desde que o coloquei ainda jovem, mas ele é o
superior hierárquico e eu faço o que ele manda.
Meus fartos cabelos negros caem como cascata sobre meus
ombros. Meus traços são comuns a maioria das mulheres
muçulmanas, rosto quadrado, nariz acentuado e pele amarronzada.
Sei que não sou uma beldade, mas não sou uma mulher feia.
O sultão se levanta, coloca a xícara na mesa e me rodeia por
alguns segundos, analisando as minhas vestes, mas sem me tocar.
Ele consegue ser intimidador e, pela primeira vez, estou com medo
dele e do que pode me acontecer.
— Como veio parar aqui no palácio, Tayla? — Ele volta a se
sentar.
— Eu me ofereci como odalisca assim que atingi a maioridade
— minto para ele, sei que a história foi um pouco diferente, mas
acho que isso é irrelevante agora.
— E hoje, veio até aqui na minha suíte com qual intuito? —
Essa é a pergunta que eu aguardo ansiosamente nesses três anos
que estou no palácio, responder ao sultão, e não tenho medo de
desferir as palavras que estão dentro de mim.
— Eu quero uma chance de mostrar que posso ser mais do que
sua serviçal nesse palácio. — Ele não parece surpreso com as
minhas palavras. Esse é um fato incontestável entre nós mulheres.
— Então mostre, essa é a sua chance. — Fico perdida com sua
fala direta e busco clareza, perguntando outra vez.
— Agora?
— É a sua chance, não era o que você queria? Estou lhe
concedendo um momento a sós comigo.
— É um momento íntimo? — Confusa, tento entender o que ele
realmente espera de mim. Ele me olha já sem muita paciência.
— E o que mais eu teria com você, Tayla? Vamos, não tenho a
tarde toda. — Tento colocar o hijab, atrapalhando-me com as mãos.
O nervosismo me consome.
— Eu quero que deixe o cabelo solto. — Bom, é só fazer o que
aprendi nos livros ditos proibidos da biblioteca, não deve ser difícil.
Aproximo-me dele, abro sua camisa, visualizando um vergão
vermelho em seu peito. Beijo-o ali, onde o vergão se espalha,
centímetro por centímetro.
— Desculpe-me, senhor. — Desço minhas mãos trêmulas para
sua calça e desamarro as fitas, afrouxando-as. Seu olhar
acompanha meus movimentos e eles são sutis ao arrancar seu
membro pulsante da roupa. Os livros não me prepararam para o que
eu vejo em minhas mãos. Mãos sim, porque enfiei minhas garras
nele e sabia que isso determinaria a minha frequência aqui. Eu
quero Said para mim, quantas vezes for possível.
Começo a me movimentar, lembrando das instruções. Para
frente e para trás de maneira cadenciada, tocando a glande e a
base dele. O corpo de Said é lindo e eu não me canso de olhá-lo,
aproveitando que seus olhos estão fechados. Lembro-me de ter lido
que isso é um sinal de apreciação, que eu poderia ser mais ousada
se não tivesse vergonha e eu não tenho nenhuma vergonha do
homem que escolhi para ser meu, mesmo que ele seja de tantas
outras mulheres.
Eu toco seu membro com a boca e ele abre os olhos, deixando-
me sem saber se é algo bom. Quando ele agarra os meus cabelos e
me mantém ali, empurrando a minha cabeça mais fundo, sei que
gosta da minha ousadia.
Eu gosto do seu sabor e do seu cheiro, também gosto do calor
que sinto no meio das minhas pernas. Said vai se movimentando de
uma maneira mais forte, mais vigoroso, e esse momento de êxtase
me surpreende, porque vi nos livros que o homem ejaculava, mas
nunca imaginei que poderia ser na minha boca ou que eu iria engolir
o líquido branco e pegajoso, como se estivesse sorvendo mel.
O sultão me olha surpreso e com uma expressão de satisfação,
enquanto tento me limpar em uma toalha e colocar meu véu
novamente. Não tenho coragem de falar absolutamente nada, nem
de olhar para seus olhos, pois não quero estragar o momento com
algo que possa dizer e acabar com as minhas chances.
Ele se arruma na medida do possível e me decepciona com
suas palavras frias.
— Acho que posso perdoar o seu deslize hoje, Tayla, mas se
mantenha distante do meu chá da tarde, aqui entram somente
pessoas autorizadas. Agora chame as outras e levem tudo daqui
que preciso tomar um banho, tenho uma reunião importante. — Ele
abaixa o olhar para seu membro e olha para mim com malícia. Fico
destruída por sair dali sem nenhuma perspectiva e penso que podia
ter sido pior, porque ele deixou claro para todos os presentes que
retornaram, que a valide, mãe dele, não deverá saber o que
aconteceu ali, sendo assim, todos o obedecerão, visto que ninguém
quer correr o risco de perder o que já conquistou.
CAPÍTULO 4
Assim que todos saem, peço para Yussef avisar que chegarei
atrasado na reunião agendada.
Entro no banheiro, despindo minhas roupas, ainda sentindo a
boca quente da mulher que acabara de me chupar com desejo.
Fiquei impactado com a maneira com que ela se fez presente no
chá e mesmo que ela não tivesse derrubado em mim o líquido
quente, eu já tinha colocado meus olhos nela.
Sua íris azul como o céu, tem algo especial que me fez
enxergá-la através deles. Pelos seus atos, não deve ter mais do que
vinte e poucos anos. Conhecendo a minha mãe, ela não deixaria
essa linda mulher de fora do meu harém, sendo apenas serviçal no
palácio, então deve ter um motivo para eu nunca ter visto essa
mulher.
A água cai em meu corpo, quase gelada, para apagar o
incêndio que a boca da Tayla provocou em minha pele. Eu não sei
exatamente o que deu em mim, felação não está no meu cardápio
diário. Apenas algumas mulheres possuem o dom de me fazer
gozar dessa maneira. Sempre achei que essa é uma conexão
poderosa, usar a língua para provocar prazer no parceiro é para
quem tem sentimentos além de sexo, como desejo e tesão no outro.
Nem sempre esse é o meu caso, o sexo para mim serve apenas
para procriação. Foi algo imposto e que acabou enraizado em mim,
monarca absoluto desse harém. Foram poucas as vezes que o
desejo suplantou o dever.
Mas a boca dela fez mais do que um sexo oral em mim, a boca
dela provocou sensações que há tempos eu não me permitia ter.
Um prazer genuíno de gozar, de ser sugado, devorado, de ver uma
mulher engolindo meu sêmen.
— Algum problema, senhor? — Estou tão absorto que nem noto
Yussef entrar no quarto de novo.
— Quem é a mulher que derramou chá em mim hoje?
— Apenas uma pessoa do serviço que cobriu umas das suas
candidatas a favorita que passou mal. Não se preocupe, já avisei
que não quero que isso se repita. — Não pergunto mais nada,
porque não quero que nem Yussef saiba o que aconteceu quando
todos saíram. Sou o soberano daqui, posso muito bem fazer uma
pesquisa sobre essa mulher, sem a interferência dele.
— Quer que eu a mande embora do palácio? — Olho para ele,
ainda sem acreditar que seria cruel a esse ponto, só por causa de
um incidente sem valor algum.
— Acho que você anda muito carrasco. A garota nunca tinha
servido um chá, ficou nervosa, é normal elas se apavorarem na
primeira vez que me vêm. Eu sou um cara muito bem-apessoado. —
Acabo de me arrumar e olho no espelho, apreciando o que vejo
nele. Não tenho do que me queixar, sou mesmo um belo espécime
de homem árabe. Levo a mão ao meu membro, por cima da túnica e
sinto-o ainda elétrico com os últimos acontecimentos.
— O senhor tem razão, é um homem bem-apessoado. O que
acha de você ir me falando o que acha de si mesmo, enquanto
caminhamos até a sala de reuniões. É uma boa caminhada até lá.
— Podemos ir no carro elétrico? — Ele me olha surpreso. —
Queimei o peito hoje, está ardendo.
Ele acena que tudo bem e usa o rádio para se comunicar com o
motorista.
Nem fodendo que eu vou falar para ele que meu pau lateja de
vontade de repetir a chupada de minutos atrás.

UMA SEMANA DEPOIS


O restante da semana eu passei fora do palácio. Precisei fazer
uma viagem internacional, discutir sobre o petróleo e suas
ramificações.
Só voltei a pensar naquele dia quando entrei em meus
aposentos e o chá tinha acabado de ser servido. Tiro a túnica, fico à
vontade e olho no espelho, vendo que a marca da queimadura já
tinha sumido.
Sento-me no sofá, coloco o chá na xícara, rodeando a borda
com os dedos, pensando em uma maneira de vê-la mais uma vez,
sem dar bandeira. Não que eu não possa falar, quero aquela mulher
e pronto. Só não quero que os olhares de minha mãe cheguem até
ela, afinal, posso comer qualquer mulher desse lugar e ela não
precisa ser alguém entre as esposas e favoritas. Ela pode estar
entre as candidatas a favorita, por que não uma completa estranha,
trabalhadora desse palácio. Todas elas estão à minha disposição.
Durante o jantar, a minha mãe me ajuda inconscientemente.
— Para a festa de sábado, Said, pretendo colocar para dançar
algumas mulheres que não tiveram ainda a oportunidade, o que
você acha? Não vejo você animado em fazer filhos em suas
esposas e favoritas.
— Sabe que tenho me dedicado ao máximo, dona Soraia. Não
tenho culpa se não tenho acertado o dia fértil das minhas esposas.
Sobre a sua ideia de novas peças, acho muito interessante, alguns
convidados de gala poderão gostar de mulheres mais jovens. Sabe
que dois deles poderão fazer a honra.
— Deixe isso comigo, não te decepcionarei. — Eu odeio ter que
oferecer mulheres para os convidados de gala. É um ritual arcaico e
completamente odiado por elas, algumas nem tiveram a chance de
estar em minha cama e são obrigadas a se deitarem com outros
homens. Mais uma coisa para cobrar mudanças para o novo
reinado.
A vida de um sultão é vista como uma maravilha. Um harém,
fortuna, festas e orgias. Quando era jovem eu também achei que
quando eu assumisse o lugar de meu pai seria assim. Foi uma
decepção atrás da outra. Tenho que lidar com situações que até
Allah duvida. Tenho inúmeras responsabilidades e diversas decisões
a tomar todos os dias. Quase sempre chego em casa e só quero
deitar na minha cama e não fazer nada, apenas fitar o céu
estrelado, sentir a brisa soprar e tomar uma bebida para relaxar.
Nessa hora, entra o meu fiel escudeiro. Yussef sempre me
mostra que é impossível ficar à toa com um harém de mulheres
precisando dos meus préstimos. É raro o dia em que nenhuma está
no tempo de procriar.
— Não pretendo sair desse quarto hoje, avise que eu não estou
me sentindo bem.
— É uma pena, senhor. Justamente hoje o seu dia está vago.
Ninguém irá reclamar a sua presença — Yussef me surpreende.
— Nossa... quanto tempo faz que isso não acontece? Sei lá,
bem uns dois meses. Sente-se aí, vamos beber juntos. — Saio da
cama e vamos até a varanda. A noite está quente e a lua está
iluminando fortemente. Mesmo ele virando meu amigo há alguns
anos, faz uma reverência, apanha um copo, enche o meu e depois o
dele. Pede licença para se sentar junto comigo.
— Como foi hoje, lá nas áreas inimigas? — Omã tem um lado
todo que está sempre contrário às decisões da monarquia. Sempre
tenho que fazer o possível e o impossível para manter essa parte da
população controlada. Muitos deles são corrompíveis, infelizmente o
dinheiro compra as pessoas. Não sou totalmente alheio, sei que a
pobreza existe em uma pequena parte do país, mas isso não vai
mudar do dia para a noite, há um enorme planejamento, mas
existem pessoas que se dizem do lado da monarquia e fazem de
tudo para os projetos não vingarem.
— O de sempre. Pessoas que fingem estar do nosso lado e
querem só desgraçar ainda mais aquele lado da cidade. Os líderes
deles, a família Al-Rashidi, ainda não se cansou de colocar o povo
contra o governo. Depois reclama quando uma guerra começa. Já vi
pequenos governos caírem por muito menos que isso que eles
provocam. Ali, eu sei que é diferente, não tenho total autonomia, por
mais que seja o soberano desse país. — Yussef acaba de beber,
levanta-se, pede licença e vai embora. Viver atrás de mim, cuidando
da minha agenda, também faz ele não ter vida fora do trabalho. A
começar pelas mulheres, pois todas dentro desse palácio estão sob
a minha proteção.
Eu nunca pensei nele como um homem que renunciou à sua
vida pessoal em detrimento a minha. Sua vida deve ser muito
desinteressante e talvez seja a hora de eu rever essa situação.
Quem sabe ele tenha algum interesse por alguma das mulheres
daqui e eu possa ceder a garota a ele. Quem sabe uma que ainda
não tenha sido apresentada a mim, afinal, ele é um homem
educado, refinado, sabe de tudo que acontece nesse país e no
mundo, além de ser um homem abastado financeiramente.
Sinto-me estranho pensando em alguém que não seja em mim
e meu mundo absurdamente caótico. Foi aquela garota que
despertou sentimentos peculiares na minha mente. Fico curioso por
saber como ela ativou esse ponto dentro de mim que estava
adormecido. Acredito piamente que seja a sua maneira de dizer que
queria estar aqui ao meu lado, de livre e espontânea vontade. Ela
não fez um número quando provocou um eretismo em mim, ela
gostou do que fez, independentemente de eu ser o soberano ou
não.
De todas as mulheres que passaram na minha vida e foram
muitas, nenhuma ganhou tantos minutos dos meus pensamentos
em um período tão curto de tempo e digo mais, com apenas uma
felação deliciosa.
Espero que a valide tenha acertado na escolha das odaliscas
para a festa de comemoração do renascimento de Omã.

TAYLA
Quando deitamos na cama, Aisha ainda me questiona sobre o
que aconteceu naquele dia.
— Eu não sei bem explicar isso, Aisha. O sultão é um homem
poderoso, tem tudo e todas aos seus pés, mesmo que ele tenha me
enxergado, nada é como queremos.
— Você quer o impossível, amiga. Você está apaixonada por um
homem que tem um harém de mulheres. Acha que ele está
querendo saber mais da mulher que o masturbou? — Tem horas
que eu odeio Aisha por ser tão realista e tão sincera. Ela implica até
com o meu sonho.
— Pode ser que não e, também, pode ser que ele se lembre de
mim. O que eu gostaria de saber é se ele tem sentimento por
alguma delas, afinal, ele tem as favoritas dele, deve ter algum
apreço por elas, não tem razão de ele escolher mulheres sem se
sentir atraído.
— Tayla, o sultão tem preferências sexuais e não conversas
românticas com elas. Se você quiser alguém só para ti, tem que
viver fora desse palácio, abrir mão da segurança que temos aqui de
alguma maneira. Sei que isso é difícil, mas acredito que não seria
impossível.
— Eu sei, amiga. Vamos dormir, essa semana eu vivi muitas
emoções, estou com os nervos à flor da pele. — Não consigo dormir
mesmo com o adiantar das horas, só em lembrar onde estive dias
atrás e o que fiz para ele, o homem que amo e que passei a amar
mais. Choro como a possibilidade de nunca mais chegar perto dele,
porque eu corro esse risco, por ter sido absurdamente desastrada e
depois abusada demais. Não tenho a mínima ideia do que ficou
mais marcado na memória dele. O erro infantil de derrubar chá em
seu peito ou minha boca engolindo com vontade seu membro
imenso.
Decido descansar porque amanhã tenho mais prata para polir.
Temos um final de semana regado a festas e convidados, o que me
resta é trabalhar na cozinha.
Passo os dias entre o sonho e a realidade. No contexto geral,
acho que mesmo tendo errado feio na frente dele, tive uma chance
real de estar diante do sultão, aproximar-me, viver um momento que
me ajude a sonhar com algo mais palpável e não ficar naquele
achismo dos últimos anos. Eu confio que ele tenha mesmo me
perdoado pela falha, mas, ao mesmo tempo, não sei como é a sua
relação com a mãe e o quanto de verdade tem na questão de ela
ser a última palavra nas escolhas das mulheres dele.
No final da quinta-feira, tenho a resposta quando recebemos a
visita da valide em nossos aposentos. Isso é algo natural quando se
tem festas no palácio, ela mesma pessoalmente escolhe as
odaliscas do salão de festas. Já estive em algumas como ajudante
de cozinha, preparando bebidas e comidas aos convidados,
enquanto muitas dançam para entretenimento dos presentes.
— Boa tarde para todas vocês. — A valide Soraia é uma mulher
enérgica, porém, não é uma carrasca, não nos trata mal, apenas é
dura em seus julgamentos e eu espero não ter que passar por um
desses tão cedo. — Como é de conhecimento, teremos convidados
esse final de semana e será um pouco diferente dos anteriores. Meu
filho sugeriu que sejam apresentadas novas odaliscas para sua
apreciação e de seus aliados políticos, e eu escolherei algumas de
vocês que ainda não tiveram a chance de serem candidatas a
compor o harém do Sultão. — Ela continua falando, mas o meu
coração bate tão alto que não entendo mais nada do que é dito. Só
volto a ouvir quando ela cita os nomes das felizardas e ouço o meu
nome e da Aisha. Eu tento manter a discrição, mas Aisha sabe que
é o meu maior sonho estar ali, dançando para ele. Também sei que
ela está odiando a sua convocação, do mesmo jeito que sei que ela
nem será vista, porque vou estar lá e não vou deixar que ninguém
seja lembrada, a não ser eu.
Depois disso, até o sábado à noite eu não caminhei, levitei.
Minha preocupação era somente a dança e a roupa que usaria. Os
passos foram ensaiados à exaustão. Estava indo para o tudo ou
nada, minha apresentação seria a minha chance de subir mais um
degrau para alcançar o meu objetivo.

FESTA DE COMEMORAÇÃO
Nunca fui deslumbrada com o luxo que eles vivem, mas não
estava preparada para o que vejo quando entro no salão. É uma
festa das mais luxuosas, com muita ostentação, muitos objetos de
ouro, quadros caríssimos, tudo de primeiríssima qualidade.
Agradeço que a minha roupa de dança na cor verde possua muitas
pedrarias, bordadas por mim mesma, me deixa valorizada e
misteriosa, apesar de ser a última da fila. Sei que não é por acaso
que fico nesse lugar, foram as candidatas que estavam naquele dia
do chá que me colocam ali, por último, por saberem que algo
aconteceu quando estive a sós com ele. Se ele não me rechaçou
depois do episódio, elas deduziram que ele me protegeu e por
algum motivo.
Elas se sentem ameaçadas e devem mesmo se sentir assim,
porque confio na minha beleza e torço para que uma mão me
chame para dançar exclusivamente.
Essa mão aparece, mas é do convidado que está à direita do
sultão, considerado o mais importante para o anfitrião e que pode
escolher qual quiser para dormir com ele. Qualquer uma, mesmo
aquela que ainda não foi iniciada pelo sultão.
Eu fico muito furiosa com essa intromissão e, talvez, tenha
colocado esse sentimento na dança, girando muitas vezes,
balançando a cintura com mais volúpia, oferecendo meus seios
quase saltando da roupa para apreciação. Minha dança deveria ser
apenas para o sultão e ensandecida, desvio os olhos para ele para
ter a certeza de que ele me notou.
Fico em êxtase, Said fixa sua atenção em mim, sinto seu olhar
cravado em meu corpo e passo a dançar com mais sensualidade,
explorando todos os pontos que hipnotizam os homens e que
passamos horas diárias ensaiando exaustivamente.
De repente, todos os homens presentes estão hipnotizados pela
minha dança sensual e eu me sinto vingada por ele ter deixado que
outro me olhe com desejo. Quando a música acaba, faço uma
reverência e me mantenho junto com as outras, enquanto uma nova
sessão de dança começa.
Tento ser discreta, mas não consigo desviar meus olhos da
conversa entre o sultão e seu convidado, tenho certeza de que
estão falando sobre mim. Os olhares dos dois pesam sobre os meus
ombros. Talvez eu esteja sendo disputada por eles, quero acreditar
que sim, que ele não queira me entregar de bandeja para o seu
convidado. Isso se concretiza quando seu braço-direito é chamado e
Said conversa com ele, que sai apressadamente dali.
Não passa cinco minutos e sou chamada pela nossa
supervisora, que pede para acompanhá-la. Fico morrendo de medo
e, completamente, insegura quando ela me manda entrar em um
quarto próximo ao salão de festas. O quarto possui apenas uma
cama de dossel e um biombo para se vestir, além de uma porta que
deduzo ser um banheiro privativo.
Ela sai e me deixa sozinha, e eu não acredito que o sultão tenha
me oferecido para o seu convidado. Justo eu, que estou me
guardando para ele por amor, que tenho sentimentos verdadeiros.
Isso é uma merda, porque ao mesmo tempo em que ficamos
expostas para ele, ficamos expostas para todos, e eu dancei com a
minha alma porque queria atingir a sua alma de alguma maneira.
Minha eterna mania de não pensar nas consequências dos meus
atos.
Estou em uma situação que não posso correr, totalmente de
mãos atadas, porque ele é o dono do meu destino de todas as
maneiras possíveis.
A porta se abre e eu quase desmaio quando ele, o sultão, entra
sozinho.
— Parece que você estará sempre devendo algo para mim,
Tayla. — Meu coração pulsa forte no peito, dever algo ao sultão me
parece incrível nesse momento.
— O que devo ao senhor exatamente? — questiono o homem
que é dono de tudo aqui, achando que é muito atrevimento mesmo
para mim.
— Meu convidado mais ilustre a quer em sua cama essa noite,
acho que você percebeu que deixou todos os homens naquele salão
cheios de desejo. Você dança extremamente bem, é jovem e tem
um corpo bonito.
— Obrigada pelo elogio, porém, deixar os homens com desejo
não era o meu intuito, senhor.
— E qual era? — ele especula, ainda sério.
— Seduzir apenas um, o mais poderoso da mesa. — Pisco para
ele com malícia e ele caminha até mim, tocando os meus cabelos.
Depois me puxa forte e apoia minhas costas no dossel da cama.
— Apoie uma perna na cama, Tayla. Agora... — Eu faço o que
ele manda, sem entender onde isso vai me levar. Meu amor por ele
é tão grande que se ele me pedir para pular no precipício, eu
pularei.
Quando ele se abaixa na minha frente, eu já sei o que ele vai
fazer. Aisha vive fazendo isso com Iasmim.
— Não faça nenhum barulho. — Não entendo o pedido, mas
compreendo imediatamente quando ele puxa minha calcinha de
lado e toca meu sexo com a língua. É algo novo e nunca
experimentado ou explorado. Sua língua é experiente e toca em
lugares bem íntimos. Nem os livros lido às escondidas me preparam
para o mix de sensações que começam no meu sexo e vai subindo
em direção ao coração.
Eu me seguro no dossel da cama, enquanto ele crava a língua
em mim, segurando firmemente nas minhas coxas, deixando-me
totalmente exposta às suas carícias. Minha perna de apoio bambeia
e eu uso a cabeça do sultão de escora. Algo toma forma dentro de
mim, algo forte e exponencial, e eu deixo explodir, tentando
controlar um tremor que percorre todo o meu corpo.
O que acontece comigo é inexplicável e, absurdamente, mágico.
Ele se levanta e vejo seu rosto molhado, e um sorriso gostoso
nele. Assim como eu, parece que o sultão gostou muito do que
acabou de proporcionar para mim.
— Agora volte para a festa e tente não seduzir ninguém. Seu
orgasmo, a partir de hoje, pertence a mim. Agora vá... — Saio
rapidamente dali e volto a festa sob os olhares desconfiados das
outras odaliscas, principalmente da Aisha, que acalmo dizendo que
está tudo bem. Vejo que o sultão voltou a seu lugar e seu convidado
não está ali, assim como uma de suas candidatas a favorita.
Compreendo que ele tenha salvado a minha virgindade e,
também, entendo que mais uma vez ele tenha cobrado um preço
por essa ajuda.
Isso me instiga, já penso em como estar em perigo novamente
para tê-lo como meu salvador. Sorrio sozinha, enquanto danço mais
comedida, quando encontro seus olhos sobre mim. Sinto um
formigamento onde sua língua percorreu em meu corpo e agora
que, enfim, fui notada, não quero ficar invisível outra vez.
Enquanto não conto para a Aisha que o sultão me protegeu
mais uma vez ela não sossega.
— Aisha, sabe por que não quero ficar falando isso por aqui. Se
isso cai em bocas erradas, posso até ser envenenada.
— Eu sei disso, Tayla, mas acho que todos viram que você
atraiu a atenção dos homens daquele salão. Se ele não fizer a
escolha, você estará desprotegida aqui.
— Eu acho estranho ele ainda não ter solicitado uma noite
comigo, já trocamos carícias consideradas altamente sexuais.
— Você sentiu algo quando ele te tocou?
— Senti tudo, um negócio inexplicável, um calor, um prazer,
magia pura.
— Você teve um orgasmo, Tayla, e isso é para poucas. Eu
mesmo, quando me relaciono com a Iasmim, nem sempre isso
acontece. Tem que ter uma conexão e tem que saber onde acariciar.
— Eu quero sentir isso de novo, preciso sentir aquele homem
me desejando.
— Cuidado, não se esqueça de que ele é um homem de muitas
mulheres. Se ele resolver dormir cada dia com uma, sua vez só
chegará daqui um mês. — Aisha vive pisoteando na minha dor.
— Puxa, Aisha. Você gosta de me desanimar.
— Não, pelo contrário, sou muito realista e não quero que seja
infeliz. Longe dessa ala você não terá a minha amizade.
— Isso é verdade, terei que perder você para tê-lo. — Abraço a
minha única amiga de verdade da vida.
Voltamos a arrumação, sem saber que o nosso destino está
mesmo nas mãos de Allah.
CAPÍTULO 5
Ainda sinto o cheiro da sua boceta intocada. Sinto o gosto e a
textura, impressionado com as sensações que ela conseguiu
provocar por toda a noite de ontem.
Não culpo Gopal de ficar extremamente encantado com a sua
desenvoltura. Eu me senti assim, exatamente como ele, querendo
que ela fosse a minha favorita da noite. A discussão que tive com
ele foi grave, nunca antes tive que negar a escolha de um convidado
importante.
— Eu quero essa mulher a noite toda — Gopal diz para mim,
enquanto ela dança sensual e agressivamente. Talvez seja isso que
tenha provocado o anseio. Ele imaginou todos esses sentimentos
aflorados quando ela estivesse de pernas abertas para ele. Eu
também senti essa vontade de ir mais a fundo.
— Infelizmente, essa odalisca não está disponível, Gopal.
Escolha outra. — Ele me fita bravo.
— Se não está disponível, por que está seduzindo a todos nós?
Se ela é somente para o seu entretenimento, deveria estar em sua
cama e não se oferecendo para os convidados. — Cerro os dentes,
querendo acabar com a festa e mostrar para ele quem é o monarca.
Ninguém vai encostar um dedo nela antes de mim.
— Ela está dançando para mim, meu caro. Minha mãe a
escolheu para o meu deleite esta noite. Desculpe, mas acho que
não deixei bem claro para você esse pormenor. Você pode escolher
qualquer uma delas, menos essa, porque ela vai para a minha cama
essa noite. — É a vez de ele cerrar os dentes, olhando mais uma
vez para Tayla. Meu sangue chega a borbulhar nas veias,
imensamente desgostoso com o seu comportamento indecoroso.
— Tudo bem, também não renunciaria a ela para o meu senhor.
É realmente talentosa e aparentemente deliciosa. Vá lá, pegue a
mulher, dê o que ela veio buscar. A noite toda apenas olhando para
ela será torturante. Eu ficarei com a de roupa lilás. — Respiro
aliviado, chamo Yussef e peço que leve a Tayla para o quarto um e
a Zhara para o quarto do convidado.
Minha intenção era só dizer a ela que por muito pouco ela não
perdeu a virgindade para um homem que não eu. Não resisti
quando ela levantou o nariz, parecendo perder o respeito pelo
homem que eu sou. Achei que a estava punindo, mas quando ela
saiu do quarto, o castigado era eu. Suguei a sua boceta desvairado,
como se ela fosse meu bote salva-vidas. Fico incrivelmente
espantado com o quão fácil eu pratiquei cunilíngua com uma
estranha. Esse é mais um hábito incomum para mim, depois que
passei dos vinte e cinco anos.
Eu desejo aquela mulher e tenho que saber exatamente quem é
ela, de qual família é descendente, em especial, o lugar que ela
tomará posse ao ser minha.
DIA DA DECEPÇÃO
Jogo o papel que queima as minhas mãos sobre a minha mesa.
Das inúmeras mulheres que habitam este suntuoso palácio,
justamente uma delas que desperta meu interesse, uma mulher que
aqui se encontra por conta de um erro imperdoável cometido pela
minha equipe de segurança. A jornada para descobrir sua
identidade foi exaustiva, dias inteiros seguindo seu rastro, enquanto
sua história permanecia um mistério para mim. Finalmente, através
de uma serva que trabalha há anos no palácio, encontramos seu
sobrenome. Foi uma descoberta obtida mediante a pressão cruel de
Yussef, que a ameaçou com a sua retirada das funções que exercia.
Ela não fazia parte da armadilha, ficou claro que só ouviu uma
conversa atrás da porta, mas, de qualquer forma, estará sob forte
vigilância depois da sua revelação.
Tayla Al-Rashidi nunca deveria ter entrado nesse palácio.
Existem dezenas de pessoas sob o meu comando que fazem
exatamente isso, protegem o meu reinado com a vida se for
necessário para que pessoas do clã inimigo não tenham a
oportunidade de infiltrar alguém que possa enfraquecer a minha
liderança.
Houve uma falha enorme e irreparável quando deixaram Tayla,
a filha do homem mais poderoso do leste, inimigo número um do
meu reinado, entrar e viver entre as mulheres do meu harém. É por
isso que nunca a vi em meus domínios, ela não podia ser vista pela
minha equipe de segurança antes do momento ideal. Essa mulher
foi plantada dentro desse palácio há três anos e ninguém constatou
isso antes de mim.
Eu fui o autor desse momento oportuno e, por isso, me sinto
como se tivesse caído na armadilha do meu inimigo de livre e
espontânea vontade. Ela só precisou estar no lugar certo e na hora
certa, nem precisou se esforçar muito, praticamente abri as asas
para ela, facilitei seu acesso a mim, impressionado com a sua
espontaneidade e sua dedicação em provar o quanto estava
preocupada em me agradar.
Yussef bate à porta e entra, olhando para mim com indiscrição.
Deixo-o à vontade para perguntar o que deseja.
— Leu sobre a solicitação que me pediu? — Aceno que sim,
disposto a prolongar nossa conversa ao máximo.
— O que pretende fazer? — Essa é exatamente a pergunta que
não tenho ainda a resposta. Sei o que devo fazer para o bem da
minha soberania, mas, ao mesmo tempo, não quero me precipitar e
errar no julgamento de uma mulher que, provavelmente, nem saiba
o que acontece à sua volta.
— Estou confuso, o que você sugere? — Ele faz uma
reverência e se senta na cadeira disposta na minha frente.
— Eu cortaria o mal pela raiz. Jogaria de volta para os leões. —
Olho surpreso para ele, nunca o vi sendo tão atroz e cruel com as
pessoas.
— É uma mulher, considerada o sexo frágil, não acha uma
atitude desumana?
— Tem o sangue do inimigo, foi plantada aqui por alguém de
sua confiança, conseguiu chegar em você trapaceando uma pessoa
considerada frágil, além do mais, está inacreditavelmente
provocando o seu interesse sobre ela. Preciso elencar mais
problemas em tê-la dentro do seu harém? — Yussef sempre é
meticuloso em suas explanações. Não tiro a razão dele.
— Esqueceu de dizer que ter o inimigo ao meu lado é melhor do
que longe dos olhos. — Ele ergue a sobrancelha, admirado com a
minha inteligência. Sorrio discretamente para ele.
— Já notei que nenhum argumento que eu disser será suficiente
para tirá-la de dentro desse palácio.
— Nenhum. Acho um preço justo por ter sido enganado
embaixo do meu próprio teto. Ainda não sei o que vou fazer, mas
convenhamos que seria muito conveniente devolver a pupila de Al-
Rashidi desonrada, ele teria que explicar essa situação para a sua
família. Não poderia me acusar, porque teria que esclarecer como
ela veio parar aqui dentro. — Sou sincero.
— Só não quero que o senhor sofra com essa situação. Acredito
que esse assunto ficará apenas entre nós. Quero que me dê
autonomia para manter os olhos bem abertos com relação a
senhorita Al-Rashidi.
— Em que momento você usará a sua autonomia?
— No momento em que seu reinado seja ameaçado. Se eu
sentir que ela está ganhando poder sobre os seus anseios, corto o
mal pela raiz, sem comiseração. — Inspiro fundo, oxigenando o
cérebro, achando que Yussef está extremista demais. Apanho o
relatório sobre ela em cima da mesa e faço picadinho dele,
encerrando esse assunto.
— Não será necessário usar desse poder que estou
concedendo a você, porém, saber que tenho um amigo leal ao meu
lado me deixa muito feliz. Nem uma palavra sobre isso com
ninguém, Yussef. Se isso chegar aos ouvidos de pessoas erradas
aqui dentro, ela sofrerá e nós não saberemos o tamanho real da sua
culpa. Quero que o inimigo pense que tudo está caminhando como
ele planejou. — Ele se levanta, reverencia-me e sai da sala,
deixando-me aqui, preocupado e curioso para entender como essa
mulher entrou na minha fortaleza e se manteve por mais de três
anos escondida de mim e de todos. Tayla me provoca indignação,
porque fica claro que ela nunca poderá ser minha, apesar de estar
entre as mulheres do meu harém e eu ter o poder de escolher
qualquer uma delas. Ao mesmo tempo, o que senti nela desde que
a conheci, é que estar comigo me parece um desejo genuíno de sua
parte.
Eu não sei exatamente por que, mas ela conseguiu atrair a
minha atenção.

TAYLA
No próximo final de semana, depois do nosso encontro na festa,
a valide Soraia veio escolher seis mulheres que seriam apreciadas e
escolhidas para uma noite com o sultão. Esse é um momento que
todas nós odiamos, porque uma coisa é ser submissa a um homem
e outra é ser analisada por ele, sendo avaliada se somos aptas para
o sexo e a procriação.
Mesmo sabendo que eu só faço parte do pelotão, nunca serei a
escolhida, não me agrada fazer parte dessa exposição. Nascer
mulher no mundo árabe, nos faz ser invisível e sem voz na
sociedade. Claro que sempre fico decepcionada por não ser a
escolhida, achei que ele poderia intervir de alguma forma, que
pudesse passar por cima das escolhas de sua mãe.
Na noite escolhida, Hadija volta nas nuvens. Ela tem quase
vinte e um anos como eu e já tinha sido iniciada por ele alguns
meses atrás. Segundo o que contou para todas, ele é perfeito, é
cheiroso e a tratou com carinho. É a primeira vez que eu tenho
curiosidade sobre o que acontece do outro lado do palácio.
— Vocês fizeram sexo oral? — pergunto alto no meio da
conversa e todas olham para mim espantadas.
— Por que está perguntando isso agora, Tayla?
— Sei lá, quero saber o que acontece entre quatro paredes com
ele, sabem que eu não tenho experiência nenhuma — desconverso
e fico ansiosa que alguma delas me responda. Hadija me conta,
ignorando os olhares de desprezo das mulheres ao seu lado.
Parece um campeonato de quem tem mais informações, tem mais
chances de chegar perto dele.
— Não, Tayla. Nós não podemos tocá-lo, nem mesmo beijá-lo.
Ele é atencioso, mas somos apenas usadas para procriação e eu
espero estar em meus dias férteis, seria um sonho se tornar a
favorita. Dizem que lá na ala delas, nós temos algumas regalias.
— Você o ama? — Todas riem da minha cara.
— Claro que não, que pergunta idiota é essa? Não estou em um
lugar para pensar em romantismo, estou fadada a um homem e
tenho que tentar me manter no melhor lugar do palácio, por isso o
melhor lugar é parindo um filho homem. — As garotas ficam
conversando e eu me afasto, pensando nas carícias que trocamos.
Então se isso não é frequente entre as mulheres do sultão, por que
ele me deixou fazer? Também deu para notar que não existem
sentimentos aqui nessa ala, que sou a única a amar aquele homem.
O dia de ter as respostas das minhas indagações chega,
quando sou enviada a ala das favoritas para levar um corte de
tecido para a confecção de roupas de inverno. Uma delas fez
questão de um tecido xadrez que é usado apenas na ala dos
serviçais e eu sou a encarregada de levar até lá. Não entro, não
tenho essa permissão, apenas entrego para as aias que ali
trabalham.
Na volta, ao passar pela fonte, intitulada por mim de fonte dos
amores, meu lugar preferido no palácio, paro um pouco para tomar
sol e contemplar a beleza do lugar. São poucas às vezes que me
sinto livre aqui nesse palácio e estar em contato com a natureza me
faz feliz de alguma maneira. Olho o céu azul e respiro o ar puro do
lugar tão pouco frequentado. As árvores que aqui rodeiam são
frondosas, é um cantinho pouco usado, não é caminho obrigatório
para nenhum espaço do palácio. Aproveito para tirar o véu,
deixando os meus cabelos longos receberem os raios solares. Eles
também gostam da liberdade.
— Espero que não esteja em apuros outra vez, Tayla — o sultão
diz bem próximo de mim, assustando-me de verdade. Fico tão
sobressaltada que não consigo me mexer, deitada na beirada da
fonte.
— Acho que dessa vez o senhor não tem do que se preocupar.
— Ele se senta ao meu lado na fonte e pede distanciamento do seu
conselheiro, Yussef. Consigo me sentar e ficar ao seu lado, apesar
das mãos estarem trêmulas e o coração estar acelerado.
— O senhor deseja algo?
— Não, estava apenas passando e a vi aqui.
— Já que está aqui, posso ser audaciosa e perguntar algo? —
Acredito que o único a me dar explicações reais nesse lugar é o
monarca dele.
— Naturalmente, já percebi que é uma mulher curiosa. — Pelo
tom das suas palavras, ele está relaxado e disposto a responder
minhas indagações.
— Por que não me escolhe como candidata se sabe que eu o
desejo e, também, sabe que nossas interações foram boas para
mim e para o senhor? — Ele mantém o olhar distante, pensando na
minha pergunta por algum tempo.
— Porque as candidatas não são escolhidas assim.
— Okay, eu entendo isso, estudei sobre o império e seu harém,
mas muitas mulheres estão aqui sem desejarem estar, enquanto
estou aqui porque quero ser sua, e aí eu não posso ser sua, porque
não estou dentro dos padrões estabelecidos pela cúpula central.
— E quem disse que você não está dentro dos padrões? — Ele
confunde ainda mais a minha cabeça.
— Você acabou de dizer isso.
— Não, eu não disse isso, falei que as candidatas e as favoritas
são escolhidas por outros motivos que não sejam só os sexuais. Há
uma somatória de vários quesitos e, infelizmente, você não se
enquadra nessa somatória. — Levo a cabeça nas minhas mãos,
querendo muito saber o que não tenho em relação às outras.
— Então, eu nunca terei a chance de estar em sua cama? —
Ele se levanta da fonte, deixando claro que o nosso tempo acabou.
— Eu não disse isso também.
— Por Allah, Said. Eu quero você, não enxerga isso? — Levo a
mão aos lábios, porque acredito que infringi muitas regras,
chamando-o pelo nome de nascimento e alterando o tom da voz.
— Desculpe, senhor. — Faço uma reverência, viro as costas
para ele e caminho em direção à minha ala. Não é possível que não
possa ficar com ele nenhuma noite sequer. Não sei o que eu tenho,
ou o que não tenho que atrapalhe esse encontro. Com certeza, devo
ser alguém bem inferior as outras, mas não sou uma idiota e quando
digo que me deitarei com ele, eu deitarei.
— Ou não me chamo Tayla Al-Rashidi, a determinada.
Al-Rashidi...
É a primeira vez que eu lembro do meu sobrenome desde
quando vim para cá, aos dezesseis anos. Tayla Al-Rashidi, é um
nome bonito e eu fico feliz por ter me lembrado de algo do passado.
É... do que adianta um sobrenome aqui dentro desse inferno? Isso
não fará diferença para conquistar o sultão.
CAPÍTULO 6
Desde aquele dia na fonte, não paro de pensar nas palavras do
sultão. Não sou uma mulher que possa ser escolhida por ele ou pela
sua mãe. Qual será o problema comigo? Talvez se ele me contar o
verdadeiro motivo eu possa encontrar uma saída. Sempre fui uma
mulher inteligente, só fico burra quando ele está perto e ando cada
vez mais impaciente com a lembrança da nossa interação homem e
mulher. Graças a Allah, tenho uma amiga de verdade aqui dentro,
sem a Aisha eu já teria enlouquecido.
— Tem certeza de que quer correr esse risco, Tayla? Você sabe
que ele tem mulheres todas as noites, se quiser. — Considero Aisha
uma amiga correta, ela nunca passará a mão na minha cabeça. O
seu posicionamento sempre é íntegro, ela fala o que eu preciso
ouvir, sem me enganar, fingindo que dará certo.
— Eu preciso arriscar, preciso saber o que não tenho que outras
têm e só assim eu terei respostas, Aisha.
— Então se arrisque, mas não vou me envolver dessa vez,
esquece. Não tenho a mínima intenção de viver do outro lado.
— Nem como minha aia?
— Ahh... Tayla, adoraria ser sua aia.
— Para isso, eu preciso dormir com ele... — Eu também não
minto para ela, apenas digo o que quer ouvir e ela sabe que ser aia
de uma favorita, a fará ficar longe de situações que ela não gostaria
de enfrentar.
— Que merda, garota. O que você tem em mente? — Aisha me
ouve com atenção e mais uma vez se coloca em perigo para me
ajudar.
Só vinte dias depois que consigo colocar meu plano em ação,
quando Jamile, candidata a favorita, foi a escolhida para dormir com
o sultão. A escolha não poderia ser mais perfeita, Jamile é daquelas
mulheres medrosas e inseguras, não gosta de servir o sultão,
apesar de ser a candidata mais experiente da ala.
Quando me ofereço para ajudá-la a se arrumar, ninguém
questiona. Elas adoram me usar como um serviçal. Escolho a roupa
da noite, um vestido negro cheio de pedrarias douradas e a
convenço a usar a burca, inventando que o sultão escolhe as
mulheres mais atiradas para serem as suas favoritas e que a burca
será algo recatado na visão dele. Ela nem pensa que assim, sua
chance de atravessar o palácio ficará ainda mais distante. Eu não
gosto de mentir, nunca precisei disso, mas o meu tempo está se
acabando e minhas chances ficam cada vez mais remotas.
Antes de ajudá-la a se preparar em meu quarto, vou até o
banheiro e, também, me preparo, afinal, Jamile dormirá com os
anjos a noite toda. Quando ela está pronta e as outras apreciam e
elogiam o seu traje, nos deixando sozinhas no quarto, Aisha entra
sorrateiramente.
— Você tem certeza de que ela não se lembrará de nada? —
Aisha cochicha no meu ouvido, sem ela notar. A garota parece
gostar da imagem que vê no espelho. Eu me empenhei mesmo.
— Tenho certeza, você só terá que fazê-la pensar que gozou,
mas acho que não terá nenhum problema para fingir isso.
— Cretina... — Ela me xinga, mas sabe que não será problema
algum deixar uma mulher satisfeita.
— Agora vamos brindar a noite, Jamile. — Entrego uma taça a
ela que toma o suco de uva de uma só vez. Está nervosa e isso me
ajuda. Só espero que a dose seja mesmo o suficiente.
Quando a supervisora chega, Jamile já está deitada em minha
cama e eu estou lindamente escondida dentro das suas vestes.
— Boa sorte, sua louca. — Beijo minha amiga e vou em busca
dos meus sonhos.
Enquanto me encaminho para o quarto dos prazeres, como é
conhecido o espaço, tento não pensar o que ele é capaz de fazer
comigo com apenas um comando. Estou desafiando o domínio de
um homem muito poderoso e posso não passar viva de hoje.
Também corro o risco de ser rejeitada e acho que isso ainda é muito
pior do que morrer violentamente. Eu tenho medo, muito temor, mas
tenho uma força que me impulsiona a seguir por esse caminho e,
talvez, eu não tenha a consciência da realidade que a vida
estabeleceu para mim.
Quando a supervisora me empurra para dentro, encontro um
ambiente na penumbra e agradeço aos céus que ele me deixe
seduzi-lo antes de ser pega em flagrante. Uma música sensual toca
no quarto e eu o vejo sentado na cama.
Viro-me de costas para ele e com o coração acelerado, quase
saindo pela boca, danço sensualmente, girando, e me aproximo
devagar, tentando envolvê-lo na magia da sedução. A cada giro e
balançada de cintura vejo seus olhos faiscarem e vou desfazendo o
laço da roupa, ficando na sua frente no exato momento que o
vestido escorrega no chão.
Seus olhos me devoram e ao encontrar os meus olhos ainda
escondidos com a burca, tenho medo do que vejo. Ódio puro e
gratuito... Suas mãos desfazem o amarrado da burca e ela é
retirada com força.
— Tayla, sua... — Sou corajosa, não abaixo a cabeça para ele.
— Só quero uma noite sua, apenas uma noite, Said, não posso
viver sem conhecer o amor. — Ele praticamente me joga na cama e
segura meus braços em cima da cabeça.
— O que você fez com a minha candidata a favorita? — A sua
preocupação é com a outra. Isso dói mais do que faca pontiaguda.
— Ela está dormindo em meu lugar, amanhã não lembrará de
nada, agora eu, eu terei lembranças para levar para o túmulo se
isso acontecer.
— Sim, com certeza você levará algumas lembranças. — Ele
morde e suga meus mamilos túrgidos pelo seu toque. Sua boca é
quente e eu sinto meu corpo queimar a cada lambida sua.
— Mantenha as mãos longe de mim, infeliz. — Odeio o jeito que
ele fala comigo, mas mantenho a posição inicial quando ele solta
minhas mãos e abre as minhas pernas, chupando-me intimamente
outra vez, só que dessa vez não sei definir se ele tem urgência ou
raiva. Deve estar me punindo por tê-lo desafiado, porque sua
invasão é descontrolada. Ele não me deixa alcançar o orgasmo, tira
a boca na hora exata. Emudeço quando vejo-o tirando a roupa e
ficando nu na minha frente, porque é a primeira vez que vejo um
homem assim, sem barreira nenhuma. O sultão é tão viril quanto
imaginei, seu pênis parece maior do que o dia que eu o tive na
boca, e toda a sua pele brilha intensamente. Ele se preparou para o
ato sexual.
— Esse foi um ato sem volta, Tayla. Não pense que viverá um
conto de fadas hoje e muito menos daqui para a frente. — Ele abre
minhas pernas e vai se encaixando em mim, pele contra pele. Sinto-
me nas nuvens até ele encontrar uma resistência, é nessa hora que
ele cobre a minha boca com sua mão e rompe essa resistência de
uma só vez, ficando estático depois. Se ele não tivesse fechado a
minha boca, com certeza eu teria gritado bem alto e,
instintivamente, isso fez com que as lágrimas escorressem em
minha face. Ele me fita nos olhos, frio e endurecido de raiva, em
seguida volta a se movimentar outra vez, outra vez, de maneira
cadenciada, e a cada investida vai mais fundo e cada vez mais
fundo.
A dor vai sendo substituída por prazer, um prazer de sentir o
meu homem finalmente me possuindo. O sultão não para os seus
movimentos e isso gera algo indescritível dentro de mim. Ele pinga
de suor, agarrado em minha cintura com uma mão e apertando firme
meu seio, enquanto o meu corpo se desfaz em sensações
desconhecidas e eu sinto seu momento chegar, jorrando um líquido
quente dentro de mim.
Finalmente, eu sou a mulher do sultão.
Ele sai de dentro de mim quase que instantaneamente, e eu
vejo a mancha de sangue nos lençóis. Parece se dar conta do que
fez apenas nessa hora, olhando com pesar o lençol sujo. Depois
olha para mim com um sentimento de ter perdido uma batalha.
— Satisfeita com a sua armação, Tayla? Não é assim que eu
gosto de comer uma virgem. — Ele me choca e eu me levanto da
cama, me sentindo ultrajada, nem sei bem por quê. Nem nessa hora
consigo ficar com a boca fechada.
— Eu estou satisfeita, Said, porque posso dizer que conheci o
verdadeiro sultão. Para mim, você não precisou fingir ser um
homem bom e educado, que, na verdade, não é. — Vejo em seu
rosto que eu o peguei de surpresa, ele não gosta do ataque. Sorri
com escárnio.
— Eu nunca preciso fingir, porque vocês, mulheres do palácio,
não têm mesmo muita saída. Com relação a primeira vez, eu sei
que é dolorido e aprecio tirar a virgindade com delicadeza, isso me
dá prazer. Agora você, limpe-se e vá para seu quarto. Eu vou
pensar no que fazer com sua desobediência. — Ouvir o sultão falar
assim de mim, dói na alma, em meus sonhos eu nunca imaginei que
seria dessa maneira. É, eu também nunca sonhei ter que mentir e
enganar para ter uma noite com ele, achei que assim que ele me
olhasse se apaixonaria por mim.
Olho o sultão colocando o roupão e mesmo sabendo que não
devo, aproximo-me mais uma vez dele.
— Eu sei que você me odeia depois dessa noite, senhor. Eu só
preciso sentir seus lábios, para saber que tudo foi real. — Ele me
fuzila com o olhar e me puxa ao encontro dele, explorando minha
boca quando meus lábios se abrem. Tem ódio, mas tem algo que eu
nunca vou esquecer nesse beijo. É uma entrega de duas pessoas
que sentem uma conexão legítima e não fingiram prazer na cama.
Ele se afasta de mim.
— É real, Tayla. — Mostra os lençóis sujos de sangue e sai do
quarto.
Não me deixo abalar, lavo-me no banheiro, visto minha roupa e
arrumo meu véu. Dobro o lençol sujo e escondo embaixo do vestido,
assim não deixo nenhum vestígio da minha mentira.
Só quando estou deitada em minha cama e com tudo que
baguncei já arrumado e restabelecido, permito-me chorar sem
nenhuma ressalva.
Tudo foi bom e ruim na mesma proporção. Por Allah, só espero
que Said seja condescendente comigo.

SAID
Passei duas semanas seguidas aceitando todas as tentativas de
minha mãe de intervir em minha cama, colocando novas mulheres
nela. Não é algo comum e acredito que a valide percebeu que há
alguma coisa errada acontecendo comigo, dado a sua insistência na
procriação.
Só eu sei exatamente quem está provocando essa inquietação
em mim. A única mulher proibida dentro desse palácio. Depois da
nossa conversa, mandei Yussef investigar se não havia mais
alguma traidora entre nós e, aparentemente, a única a me
atormentar é exclusiva.
Diante desses novos anseios, estou mais uma vez no quarto
das amantes aguardando mais uma das minhas candidatas a
favorita, exatamente para tentar encontrar uma mulher que possa
provocar o que ela suscitou em mim. Quem sabe esteja
sugestionado por causa da abordagem dela ter sido diferenciada
das outras, já que não estou acostumado a ser desacatado como
monarca desse país. Devo estar com o ego ferido.
Quando a porta do quarto abre e Jamile adentra vestida de
negro e dourado, dançando maravilhosamente bem, eu decido que
hoje será o dia de exorcizar o fantasma da Tayla. A garota que
dança, também parece decidida a me envolver em sua teia de
sedução, gira com sua roupa elegante, rebola, e me instiga com o
uso de uma burca, incomum dentro do palácio. Essa sensualidade e
esse desprendimento provocam em mim uma ereção surpreendente
e eu fico extasiado com o cheiro que invade os meus sentidos. Eu
estava certo, foi o desconhecido que me atraiu para aquela vadia.
Tenho certeza de que essa noite será um divisor de águas na minha
vida.
Estou ansioso pelo contato físico, louco para descarregar a
energia que se acumula desde que deixei me envolver pela mulher
errada. Estico o braço, esperando a roupa de Jamile cair ao chão
para tocá-la, mas encolho rapidamente quando o corpo nu que está
na minha frente é do demônio que preciso exorcizar da minha vida.
Ainda tenho a esperança de estar errado e arranco a burca dela,
vendo os seus cabelos longos, negros e brilhantes cair como
cascata em suas costas, desvendando a mulher linda que ela é.
Tayla Al-Rashidi, esse é o nome da infeliz que exibe seu corpo
quase nu, vestida apenas de uma minúscula calcinha. É por isso
que a suposta candidata a favorita me parecia tão apetitosa. Na
verdade, era ela o tempo todo, a mulher que eu desejo fazer
loucuras, a mulher que consegue fazer o meu pau parecer uma tora
de tão rijo.
— Só quero uma noite sua, apenas uma noite, Said, eu não
posso viver sem conhecer o amor. — Amor? Minha mente grita. Que
amor essa garota está dizendo? Amor é um sentimento que não
existe em um ambiente onde as pessoas se relacionam por dever.
Ela nem sabe o que é o amor, com certeza está usando um
sentimento tão nobre para me envolver cada vez mais em suas
mentiras. Odeio desejá-la dessa maneira tão grotesca.
O correto seria ignorar o meu desejo de possui-la, seria certo
enviar Tayla para os leões, como sugeriu Yussef, mas não sou
capaz de negar o fogo que me consome por inteiro. Depois de me
certificar de que a garota em quem ela passou a perna mais uma
vez está bem e não aconteceu mais um envenenamento em minhas
terras, decido que sim, vou desvirginar a filha do inimigo. Desde que
me relaciono sexualmente, é a primeira vez que uma mulher se
deita na minha cama por livre e espontânea vontade. Eu não
mandei buscá-la, nem mesmo a queria em minha cama. Não posso
ser crucificado por esse ato.
Mesmo sem nunca ter agido assim, só para deixar claro que
não existe nenhum tipo de sentimento essa noite, a ruptura do seu
hímen é feita de forma totalmente mecânica. Apesar de ela estar
altamente lubrificada e meu membro ter escorregado até o ponto
ainda virgem, o que parecia ser mecânico, acaba com todas as
minhas estruturas morais ainda intactas.
Eu uso o seu corpo como há muito tempo não acontecia nesse
palácio. É um misto de raiva, de desejo alucinado, de tesão
acumulado. Suas lágrimas de dor não me comovem e não sinto
remorso algum por tirar a sua virgindade dessa forma tão visceral.
Tento de todas as maneiras, mostrar o meu ódio e a minha
indignação a sua atitude leviana, mas ela não parece enxergar o
que fez de errado e mais, implora por um beijo para constatar que
tudo o que viveu nessa noite foi real.
Real ou surreal, não consigo negar o seu pedido, já louco e
desejoso para acabar com qualquer coisa que tenha acontecido
aqui. Tocar seus lábios e enroscar a minha língua na dela foi o ato
mais errado da noite, porque provoca em mim um êxtase ainda
maior do que estar dentro dela. Essa demonstração de afeto,
praticamente um ato que é sempre ignorado quando estou com as
outras mulheres, traz uma sensação de calor e de aconchego, algo
ainda desconhecido por mim. Eu me senti vivo beijando a sua boca,
provando da sua saliva.
— É real, Tayla. — Mostro os lençóis sujos de sangue e saio do
quarto.
Nunca abandono uma mulher que tenha se deitado em minha
cama pela primeira vez. Não dessa maneira intempestiva, e isso só
prova que Tayla é diferente de todas as outras. Entro em meu
quarto, virando a chave e me jogo em minha cama, ainda sentindo
todo o meu corpo em atividade. Eu quero muito acreditar que é
causal a sensação de desejar a filha do inimigo, mas agora que
estive com ela de fato, sei que o que vivemos foi mais do que isso.
Eu estou mesmo sentindo algo diferente por ela e isso se deve,
particularmente, a ela estar ali porque quer isso. Como não sei
mensurar as emoções, porque nasci e cresci em um mundo
totalmente capitalista, não entendo muito bem o que acontece
comigo quando ela está perto. Um ímpeto, um temor, um calor, algo
extremamente incontrolável.
Tenho certeza de que se fosse outra mulher que tivesse entrado
em meu quarto dessa maneira, teria dado meia-volta e levado a sua
virgindade de volta para seu quarto. Com Tayla, eu agi da pior
maneira possível. Eu tomei o que não era para ser meu, só pelo
simples fato de estar atraído por aquele corpo. Seu cheiro me
inebriou, a maneira como ela gemia quando eu fui mais fundo em
seu sexo me arrebatou. Mesmo agindo com brutalidade, ela não
fingiu estar gostando, ela gostou do ato de fato e isso me confunde,
não sei até que ponto isso é encenação.
Agora preciso pensar, tenho que tomar mil decisões, mesmo
ainda extasiado com o que vivi naquele quarto.
Caminho nervosamente pelo meu quarto, lembrando-me de que
eu não ejaculava dentro de uma mulher há pouco mais de dois
meses e me esqueci completamente de fazer isso justo com a única
que não devia fazer aqui dentro desse palácio. E se ela engravidar?
Jogo-me na poltrona, ensandecido por cogitar uma mulher
nascida do lado inimigo parindo meu filho homem, o primogênito do
meu reinado. Seria infortúnio demais. É muita especulação para um
homem só e eu sei que amanhã terei que conversar com meu
conselheiro, a fim de criarmos uma estratégia que atenderá
civilizadamente essa demanda. Bom, pelo menos Yussef não
poderá sumir com ela, até que venha as suas regras.
Era para eu estar enfurecido com isso, mas não, estou achando
um alívio ela ter algo em que se apoiar antes de ser expulsa desse
lugar. Se não por mim, pelo meu conselheiro, que tem todas as
cartas sensatas em suas mãos.
Durmo aflito, ainda sem saber o que exatamente fazer para
consertar essa merda toda.
Levanto-me antes do sol nascer, arrumo-me como sempre faço
e vou tomar um café da manhã com a minha mãe. Ela se espanta
quando chega e me vê à mesa tão cedo.
— Bom dia, Said. Muito me espanta encontrá-lo aqui tão cedo.
— Fiquei com vontade de começar a manhã diferente. — Ela se
senta em seu lugar, coloca o guardanapo no colo e me olha
estranhamente.
— Andas tão necessitado de fatos novos. Conte para sua mãe,
tem alguma coisa acontecendo que queira se abrir comigo? —
Como presumi, ela é vidente.
— A senhora está coberta de razão, estou me sentindo
sufocado com tantas atribuições. — Ela muda o olhar, passa a me
ver como um coitado infeliz.
— Eu sei, querido, que tudo aqui é muito estressante para você.
O que gostaria de fazer, talvez umas férias? Acho que seus súditos
entenderiam se você tirasse uns dias de folga. Quem sabe um
passeio com seus irmãos. — Analiso e mesmo sabendo que uns
dias longe de tudo seria perfeito, agora não seria a melhor hora de
me ausentar. Tenho oito irmãos, mas apenas dois deles são irmãos
por parte de mãe também e eles estão envolvidos com as
secretarias, então seriam três baixas ao mesmo tempo.
— Mais uma vez, a senhora está certa. Uns dias para
descansar não seriam nada mal. Porém, no próximo mês fica
inviável sair, por causa das reservas petrolíferas estarem na sua
capacidade máxima, demandando mais atenção, mas vou pensar
na sua sugestão com carinho. — Nessa hora, Yussef aparece quase
correndo e está preocupado comigo.
— Bom dia, senhora. — Ele faz uma reverência para minha mãe
e, depois, para mim. — Bom dia, senhor. Desculpe, não fui avisado
que estaria aqui.
— Fique calmo, vim apenas tomar o desjejum com a minha
mãe. — Eu me levanto da mesa. — Vamos, preciso que execute
algumas decisões que tomei.
Saímos de lá, direto para o meu escritório. Ele me olha todo
desconfiado, tudo que sai do contexto sempre deixa Yussef
apreensivo.
— Decidi dar uma chance para a senhorita Tayla, aquela... —
Seus olhos saltam do rosto, ele engole seco, louco para especular
por que cheguei a essa conclusão assim sem mais e sem menos.
— Só quero ter a certeza de que é certo o que está fazendo. —
Ele não pode mudar a minha opinião e sim me aconselhar, então
está fazendo o seu papel com louvor.
— Sim, eu estou certo do que estou fazendo. Além disso,
escolhi uma das minhas candidatas a favorita, a desempenhar a sua
função do outro lado do palácio.
— Entendi. — Pela sua cara, ele não entendeu merda alguma.
— Recapitulando, você quer que eu arrume um quarto novo na ala
das favoritas e quer que eu marque uma noite com a senhorita
Tayla, aquela... em sua cama. — Ele já foi mais discreto quando
algo não o agrada.
— Gosto da sua esperteza, Yussef. Pode mandar preparar o
quarto novo e pode pedir que mande a senhorita Tayla e a senhorita
Jamile Al-Haroom virem até aqui conversar comigo. — Ele sai
inconformado com a minha atitude. Amanhã talvez eu conte para ele
o que de fato aconteceu, não hoje. Não quero ser julgado pelo que
eu fiz sem pensar nas consequências.

TAYLA
Levanto-me muito cedo, sem conseguir relaxar a noite inteira,
preocupada com o meu destino. Sinto-me internamente tão plena e
por fora estou uma pilha de nervos, sem saber o que vai me
acontecer. Não conheço nenhuma mulher que tenha enfrentado o
sultão assim de frente e isso pode ser ruim, porque ela pode ter
sofrido consequências drásticas e por isso é desconhecida por
todos. Teve um fim trágico...
O sultão não decepciona e manda a supervisora até nossa ala
logo pela manhã. Eu sabia que ele não faria terrorismo com coisa
séria.
— Jamile e Tayla, o sultão quer vê-las em meia hora. — Jamile,
ainda sonolenta e sem entender muito o que aconteceu na noite
anterior, corre se arrumar. Eu também vou me arrumar sob os olhos
preocupados da Aisha.
Arrumo-me rapidamente, pois já sabia que isso aconteceria ao
longo do dia e vou ao encontro do meu destino. Não acredito que
ele possa me surpreender, ficou evidente que ele me odeia, ainda
mais agora. Meu medo é ser mandada embora desse lugar, ficar
sem poder vê-lo nem que seja de longe, ficar sem sonhar que um
dia eu terei a chance de ser sua outra vez.
Entramos juntas na sala de reunião, um lugar que eu nunca
tinha estado antes e vê-lo ali sentado em seu lugar de destaque me
traz lembranças que sempre sonhei em ter. O calor da sua pele, as
suas mãos deslizando pelo meu corpo, seu membro grande e
avantajado inteiro encaixado em mim. Só não achei que a dor
estaria associada a essas lembranças inesquecíveis.
— Bom dia — ele diz, secamente, e nós respondemos com uma
pequena reverência.
— O que tenho a dizer não tomará muito tempo. Jamile, para
você em particular, gostaria de agradecer imensamente a noite
passada, ela foi memorável — ele fala para ela, mas o seu olhar
alterna entre nós duas. — E como agradecimento por essa noite
inesquecível, você mudará para o alojamento das favoritas ainda
hoje e amanhã eu estarei lá para lhe dar as boas-vindas da maneira
que você merece. — Jamile não esperava por isso e de todas as
coisas que minha mente criativa imaginou a noite toda, isso também
me pegou de surpresa.
— Obrigada, senhor.
— Pode ir e fique magnífica para amanhã. — Ela sai feliz
porque sabe que a decisão dele é o melhor para ela, terá regalias e
liberdade, além de não ter mais que fazer trabalhos domésticos.
Assim que ela sai, ele se levanta da cadeira e fecha a porta. Sinto
que não serei poupada das suas crueldades.
— Está feliz pela sua amiga? — Ele já começa pisando em mim,
e eu não sei se ajo à minha maneira ou finjo ser quem eu não gosto
de ser.
— Sim, estou feliz por ela. Qualquer coisa é melhor do que ficar
em um lugar onde não nos querem, ou mesmo não sabemos o que
vai acontecer no próximo dia.
— Você está amarga hoje, habiba. — Mordo meus lábios para
conter meus arroubos de raiva. — Não fique assim, eu também
tenho boas notícias para você. Como Jamile será uma das minhas
favoritas, você ganhou um espaço na minha vida, será uma das
minhas candidatas. Não é isso que você buscava ao se deitar em
minha cama como uma oferecida ontem, passando por cima das
outras mulheres e até dos meus desejos? — Não consigo controlar
as lágrimas, impactadas com suas palavras duras e com o arranjo
que ele criou, que, de certa maneira, me protegeu da minha falha.
— Não era dessa maneira que eu gostaria de estar na sua lista
de desejáveis, mas eu agradeço que não tenha sido pior. — Ele
continua sentado em sua cadeira, sem expressar compaixão por
mim e pelo meu sofrimento.
— Porém... o seu lugar será temporário, Tayla. Durará apenas
até que suas regras venham ou não, depois disso você voltará a ser
uma simples serviçal. — Controlo-me para não dizer nada que
possa piorar a minha situação. Não aguento mais ouvir o tom jocoso
de sua voz.
— Acabou, senhor? Posso me retirar?
— Ainda não acabei. Prepare-se para essa noite, afinal, tenho
que manter a minha reputação intacta. Se você aparece grávida
ainda virgem, colocará a minha autoridade em risco. Agora sim,
você pode ir, está dispensada. — Saio dali sem forças para me
impor, mesmo porque uma gravidez nunca passou pela minha
cabeça, eu só queria ter o homem e nem pensei nas consequências
desse ato. Agora posso estar grávida, grávida de um homem que
me despreza e isso mexe comigo de uma maneira inexplicável.
As meninas, já sabendo que a Jamile foi promovida, me
abordam ansiosas para saberem o porquê da minha presença.
— Ele quer fazer um teste comigo e vai me manter por um mês
entre as candidatas as suas favoritas. — Todas estranham a nova
abordagem do sultão, mas preferi criar uma história estapafúrdia
para a minha incompetência feminina.
— Aisha, você me ajuda? Eu vou para o quarto dos prazeres
hoje. — Entro em meu quarto e me jogo na cama. Aisha entra logo
atrás.
— Que história é essa, Tayla?
— Isso foi o que ele fez comigo, se eu não estiver grávida, volto
a lavar banheiros. — Ela se senta ao meu lado e me acaricia com
pesar.
— Bom, você sabia que teriam consequências.
— Eu sabia, mas não pensei em todas elas, então agora tenho
que aceitar essa merda em que me meti e ainda terei que buscar
forças não sei de onde para passar a noite com ele. E pode apostar,
ele vai pisar em mim mais uma vez.
— Você sempre foi forte, amiga. Você vai estar maravilhosa ou
não me chamo Aisha Abdallah. Ele não vai resistir aos seus
encantos.
— Eu não quero ter esperança, o tombo será maior.
O período da tarde passa voando, é como se o tempo andasse
depressa justo quando eu não queria que ele acelerasse. Estar com
o sultão sempre foi o meu sonho, desde que o vi pela primeira vez,
mas tem momentos que sinto como se eu o conhecesse de longa
data e não de alguns anos para cá. É nesse momento que minha
mente fica difusa, porque não consigo me lembrar de muitas coisas
do meu passado. Lembro-me da minha mãe, que ela era uma
mulher doce e pacienciosa. Lembro-me de que tenho irmãos e amo
crianças, já sonhei que estava lecionando, mas tento forçar a mente
sobre meu pai e parece que é exatamente aí que minha cabeça dá
um nó e começa a latejar. Ter me lembrado do meu sobrenome é
uma boa pista, talvez se eu perguntar para Aisha, ela tenha alguma
informação que me ajude a desvendar esse mistério.
É chegada a hora de ir para o quarto dos prazeres a vista de
todos e não como uma invasora, enganando pessoas.
O espelho é imperial. Pareço uma outra mulher, mais bonita e
mais confiante do que os meus vinte anos.
Aisha me maquiou no mesmo tom esverdeado do meu vestido,
um verde em tom de folhas e feito com uma saia de várias
camadas. O decote é ousado e acaba na base dos seios. Enrolo o
hijab dessa vez, apenas para manter a tradição. Acho que sei o
gosto do sultão.
— A supervisora está aí, Tayla. — Saio e sou agraciada por um
elogio de sua parte pela minha aparência. Não sei o que me
aguarda, mas sei que não é algo que vá me fazer sentir melhor.
Entro no quarto, agora conhecendo o ritual e não encontro o
mesmo contexto do dia anterior. Fico bem surpresa.
— Obrigada, Latifa. — Ele agradece e ela fecha a porta,
enquanto fico olhando tudo com curiosidade. O sultão se levanta do
sofá, vestido com um traje de noite, simplesmente perfeito, que
valoriza todos os seus atributos. Ele tem um ar austero, que entendo
ser da sua posição social e, ao mesmo tempo, tem um magnetismo
que me faz sentar na cadeira da mesa de jantar que ele me oferece.
Vejo o seu olhar serpentear sobre o meu corpo e meu coração se
alegra com a sua aprovação. Antes de me sentar, retiro o véu e
deixo meus cabelos soltos.
— Aqui não precisamos disso. — Ele nada responde. Sinto que
hoje ele está controlado, nem parece o mesmo homem com quem
me deitei ontem.
— Você está com fome, Tayla? — Aceno que sim com a
cabeça, mas uso o meu olhar para demonstrar que tenho outros
tipos de necessidades. Ele ignora meu comportamento, abre a
cloche e embaixo dela há várias travessas individuais de homus,
babaganush e coalhada seca. Eu pego um pão sírio da cesta e
começo a comer, colocando pequenos pedaços de pão com cada
sabor na boca, enquanto ele apenas me lança um olhar avaliador.
— O senhor não vai comer? — Ele estica a mão e pega uma
esfiha, além de um kibe. Também enche duas taças de vinho.
— Está tudo maravilhoso, Said. — Ele me olha feio, abaixo o
olhar pedindo desculpas e recomeço. — Está tudo maravilhoso,
senhor. De onde vem essa comida, ela tem um tempero espetacular.
— Essa comida foi feita pela minha cozinheira particular. Todas
as mulheres que se deitam comigo pela primeira vez, são
preparadas para que a noite não seja tão ruim, como foi a sua
ontem. — É a primeira vez que ele tira a máscara de bom homem
do rosto.
— Eu já disse que não foi tão ruim, não precisa fazer isso,
senhor. Eu entendo que errei e vou pagar pelo meu erro em silêncio.
— Encho a boca de comida para tentar me conter.
— Eu não me importo com o que você esteja sentindo, apenas
estou cumprindo o meu papel, o protocolo adequado nessa
situação.
— De ser um homem extremamente correto, fodendo cada dia
uma mulher, querendo um herdeiro macho em cada cama que se
deita? — Mais uma vez eu me odeio por não ter controle sobre a
minha língua.
— Você tem a língua afiada, habiba. Não que eu deva
explicações a você, mas se tivesse nascido em uma família
diferente, talvez não existissem tantas mulheres em minha cama.
Vocês demandam muito trabalho e muita chateação, se quer saber
o que penso. — Como um charuto de folha de uva e seu sabor está
delicioso. Sei que não tenho direito de reclamar da sua postura.
— O que leva um homem a achar que ter muitas mulheres o faz
ser melhor que aquele que tem apenas uma?
— Essa guerra não é minha, Tayla. Acredito que sou a última
geração que viverá isso, os tempos estão mudando e quero que
meus filhos tenham outra postura quando chegar a hora deles
comandarem esse palácio.
— É uma pena que não viverei esses tempos. Quem sabe meus
filhos sejam abençoados por Allah — digo, limpando as mãos no
guardanapo e tomo um gole de vinho.
— Quem sabe nossos filhos, não é? — Levanto-me sem pedir
licença, nervosa com o que ele sugere, e vou até a janela. O céu
está estrelado, não há nenhuma nuvem no céu. Olho para ele.
— Qual é o próximo passo, meu senhor? — Sua seriedade me
arrepia e eu não gosto do homem à minha frente, tão seguro de si,
tão controlado.
— Vá até o banheiro, te esperarei na cama. — Entro no
banheiro e encontro um kit pessoal de higiene. Escovo os dentes,
passo mais uma vez um creme no corpo e abro uma caixa quadrada
que está ao lado da pia.
Mais uma surpresa do sultão: uma pulseira e um colar de
diamantes simplesmente maravilhosos e eu não me lembro de ter
visto outras candidatas recebendo joias.
De qualquer forma é o seu desejo que eu as use. Saio dali com
medo do que ele pretende, pressinto que ele vai me magoar em
algum momento. Está muito tranquilo, calculista demais.
Ele está encostado nos travesseiros e a cama dessa vez está
coberta por uma manta linda e colorida, muito usada na noite de
núpcias na Arábia. Sento-me aos seus pés, aguardando seu
comando.
— Obrigada pelas joias, são lindas.
— São suas, como uma compensação pela noite de ontem.
Você errou, mas sei que a virgindade de uma mulher é importante
para ela.
— Você quase me engana com suas palavras doces, senhor.
Mas tem razão, realmente estava me guardando para alguém que
fosse especial para mim e você era o homem especial, então está
tudo certo, me entreguei para o homem certo, só o momento é que
foi inoportuno. — Ele me fita com surpresa e eu gosto de
surpreendê-lo. Levanto-me da cama e desço o zíper do meu
vestido, fazendo-o cair aos meus pés.
— Você vai me foder ou é mais um daqueles seus joguinhos de
sedução? — Decido que Said não vai me fazer sofrer a noite toda.
Ele não diz nada, fica olhando o meu corpo nu, mas vejo um volume
crescer embaixo do seu traje. Desperto reações nele e isso é algo
que me dá coragem de arriscar mais um pouco. Ando até o outro
lado da cama e me deito em cima da colcha. Meu corpo arrepia em
contato com a seda.
Ele apenas acompanha os meus movimentos, não faz nenhum
comentário e nenhuma oscilação. Ter os seus olhos sobre mim, me
excita e nem sei bem como fazer isso em público, mas é mais forte
do que eu. Corro as mãos sobre o meu corpo, ativando uma
corrente elétrica por todo ele, toco meus mamilos túrgidos e aperto
os bicos nas mãos, provocando o eriçamento de todos os meus
pelos loiros. Vou descendo a mão até o meu sexo, disposta a me
permitir sentir prazer, mesmo que por mim mesma, mas o sultão é
mais rápido e eu assusto quando sua mão chega na frente.
— Tayla, abre essas pernas. — Eu as afasto apenas para ele
esfregar seus dedos no meu clitóris por cima da calcinha. — Você
não merece sentir prazer.
— Vai me punir por te amar até quando? — Sei que ele está
dividido entre o desejo e a fúria por tê-lo enganado.
— Você não merece sentir prazer, Tayla. — Fecho a perna na
mesma hora.
— Então me poupe de ficar aqui ao seu lado por mais tempo.
Ainda dá tempo para você foder uma das suas favoritas. — Ele
muda de posição e puxa minha calcinha para baixo.
— Eu vou foder você essa noite, Tayla. A hora que eu quiser, no
momento que eu desejar, você não tem voz aqui nesse quarto. —
Agarro o seu pênis duro por cima da roupa e aperto sua dureza
rudemente.
— Acho que a hora é agora, Said. — Ele lambe minha pele e
suga meus seios, enquanto arranca a roupa do seu corpo. Só
depois de vê-lo nu e pronto para me foder é que eu abro as pernas.
Ao contrário da noite anterior, ele entra devagar, preenchendo-
me lentamente, em uma tortura alucinante. O sultão mostra que ele
tem o poder e, também, o controle sobre si mesmo e sobre a
situação. Ele se movimenta delicadamente com toques sutis pelo
meu corpo e provocando inúmeras sensações em mim. Quando
atinjo um ponto sem volta, ele aumenta o ritmo e faz algo
inesperado, desce seu rosto em minha direção, mordisca meus
mamilos duros e sobe pelo meu pescoço, beijando a minha boca
com suavidade. Além disso, eu estico a minha mão e ele me deixa
tocar em seu corpo.
Eu aceito o beijo e estimulo todo o seu corpo, empurrando sua
bunda para que ele chegue até o fim. Gozo mais forte que na noite
anterior e recebo todo o seu ápice sem reclamar.
Fica bem nítido para mim, eu amo esse homem com todas as
minhas forças.
Assim que Said sai de cima do meu corpo, sinto medo e corro
para o banheiro, impactada com tudo que ele é capaz de provocar
em mim e, também, com a minha total submissão.
Quando volto para o quarto, ele já não está mais ali e acho
melhor que tenha sido assim. Seu último olhar para mim foi
completamente entregue ao prazer e eu durmo com essa visão,
sonhando que ele se importa de verdade comigo.
CAPÍTULO 7
É a segunda vez que Yussef chama a minha atenção para a
reunião na cúpula central. Sei que ele está apreensivo por não estar
focado no tema explanado, mas é como se uma coisa estivesse a
todo momento me puxando de volta para a noite passada.
Tento focar no assunto discutido, descobrindo que eles falam
sobre a educação do país e as mudanças nos currículos escolares.
Devo estar em surto porque eu nem mesmo me lembrava que o
assunto seria esse. Por Allah, Yussef está atento a tudo e responde
a pergunta direcionada a mim, enquanto finjo estar lendo o papel
que está posicionado à minha frente.
Dou graças pela reunião ter acabado e não ter ficado tão visível
a minha completa alienação. Assim que entramos no carro, peço
desculpas ao meu amigo e conselheiro.
— O senhor me deixou em uma saia justa, mas seus súditos
não notaram a sua ausência mental. Espero que leia com afinco
esses relatórios e demonstre mais interesse em resolver as
demandas solicitadas. — Quando ele me dirige com rudeza, é sinal
de que ele está bravo. Yussef nunca me deixa errar na condução do
reinado e, diga-se de passagem, ele é bem pago para fazer isso.
— Você está certo, eu confesso que estava um pouco disperso
na reunião e prometo que isso não irá acontecer uma próxima vez.
— Ele ajusta o ar-condicionado do veículo.
— Está prometendo algo que não vai cumprir, senhor. Quer me
contar como foi a sua noite, acredito que precisa colocar seus
sentimentos para fora.
— Mas que porra, você nunca falha? — esbravejo com ele,
impressionado de como ele me conhece melhor que eu mesmo.
— Tenho muitas falhas, senhor. Sou um homem pecador, mas
isso não deveria acontecer com você, é o soberano desse país. —
O veículo real está passando na praça do Golfo de Mascate. Abro a
janela de comunicação do motorista e peço para ele parar na praça.
— Senhor, está maluco? — Yussef me diz quando o carro
estaciona no meio-fio.
— Preciso de ar fresco, esse carro está sufocante.
— Mas a sua presença aqui não é segura, não estamos
preparados para fazer uma parada no meio do povo.
— Olhe para esse lugar, não tem mais do que alguns nativos e
alguns turistas. Não quero que você fique dizendo que não posso
ser um pecador porque sou um rei. Venha, senão vou sozinho. —
Noto que há um burburinho quando desço do carro, mas minha vida
se resumi a compromissos e mais compromissos, será que não
posso ser eu mesmo em algum momento? Até os meus
pensamentos, as pessoas à minha volta querem controlar.
Cumprimento as pessoas por onde passo, mas
inacreditavelmente, alguns olham e acenam, mas não se aproximam
e continuam a fazer o que estavam fazendo. Encosto na muralha e
fico acompanhando homens, mulheres e crianças alimentarem as
aves que vêm atrás dos petiscos.
— Estou confuso, meu amigo.
— Deu para notar. Olha o que está fazendo, deixando os
seguranças enlouquecidos com o seu passeio surpresa.
— Tem momentos que gostaria de ser livre, como agora, veja.
Sou quase como um qualquer aqui. — Um homem estica um pacote
de pão e eu autorizo Yussef a pegar para mim. Antes de me
entregar ele faz uma análise minuciosa para ver se não há alguma
coisa errada com a comida.
— É só pão, meu caro. — Estico a mão, feliz pelas aves virem
comer na minha mão. Não me lembro de ter feito isso em toda a
minha vida.
— Estou cheio de sentimentos novos e desconhecidos. Sei que
é a filha do inimigo que está provocando tudo isso em mim e que em
algum momento tudo terá que acabar. O reinado está acima de
tudo, o homem não tem lugar nessa equação, estou totalmente
ciente disso, mas ainda quero prosseguir com tudo. Quero viver
intensamente esse momento e não estou dizendo que não
continuarei a ser duro e enérgico com ela, ainda mais em relação às
suas ações abusivas. Só estou pedindo para o meu amigo e
conselheiro que me mantenha focado, porém, deixe uma parte de
mim se envolver nesse jogo de sedução. — Sorrio, agraciado com
esse momento. Várias aves à minha volta, querendo se alimentar.
Só isso, com fome e querendo matar essa fome, nada mais nas
entrelinhas.
— O senhor me deu carta-branca e eu vou sumir com ela se o
seu reinado estiver em perigo. Quando isso acontecer e sei que irá,
não quero nenhum questionamento.
— Temos um acordo. — Estico a mão para ele que aperta forte
a minha. — Agora vamos, não quero ser responsável pelo seu
ataque do coração.
Deixo que minha mente retome a noite anterior no trajeto até o
palácio. Não queria gostar de ter aquele corpo em meus braços,
menos ainda ter beijado seus lábios e não querer mais parar. Tayla
tem um misto de menina inocente e mulher experiente que confunde
a minha cabeça. É certo que ela sente uma espécie de fascinação
por mim e eu não sei distinguir se é apenas pelo homem ou pela
coroa que carrego. Sei que não posso esquecer que sou o monarca,
que um país depende da minha liderança para se assegurar
próspero e, por isso, errar em relação a essa mulher será a minha
perdição. Tenho irmãos, loucos para a assumir a minha cadeira se
eu fizer algo errado, além do mais, não posso entregar o meu reino
de mãos beijadas por causa de uma falha infantil quanto essa.
Ter meu conselheiro como meu escudo me faz mais forte para
viver essa sandice momentânea.
Depois do dia tumultuado, após o jantar, tenho ainda uma última
atribuição. Dormir com Jamile em seus novos aposentos e
justamente hoje eu não gostaria de ter que cumprir esse momento
conjugal. Não queria apagar o cheiro de Tayla do meu corpo.
Não tenho escolha.
Para as favoritas, são destinados espaços que são mais
parecidos com um apartamento. Elas estão dispostas em uma
mesma ala, porém, cada uma é dona do seu território e possui uma
aia particular para atendê-las como desejar. Vivem um mundo em
comum durante o dia e as noites vivem esperançosas com a chance
de receber a minha visita. São atribuições da minha mãe controlar
com equilíbrio essas aparições.
É a primeira vez que estou indo para uma dessas noites de
boas-vindas sem estímulo algum, normalmente quando uma mulher
passa a favorita, sempre tem alguma coisa interessante
acontecendo. Uma química sexual, uma expectativa de gravidez.
Dessa vez, nada, a não ser proteger uma mulher que talvez nem
mereça o meu pior olhar.
Quando entro em seu quarto, lembro-me imediatamente da
outra noite, quando achava que era ela dançando para mim.
— Dance para mim, Jamile. — Quem sabe ela consiga
despertar algum interesse. Sento-me na cama, encostando nas
almofadas e ela coloca uma música envolvente, dançando para
mim. Estou ali presente de corpo, mas a minha alma vaga por entre
as paredes dessa fortaleza, em busca de algum significado para
essa situação em que o homem muçulmano foi colocado para ter
uma sucessão e uma boa linhagem de reprodução.
Sei que isso se iniciou há muito tempo, por causa da busca do
herdeiro de sangue azul. Como as mulheres ditas perfeitas eram do
mesmo sangue do sultão, a incidência de nascerem filhos com
deficiência congênita era muito comum, por isso era usado a
procriação em sucessivas mulheres até que tivessem os filhos
perfeitos. Hoje isso não faz muito sentido, porque as mulheres que
vivem ao meu redor, não são fundamentalmente descendentes de
nobres. Como Jamile, elas vêm de famílias importantes e abastadas
no nosso reino.
— Vem, desamarre minha calça. — Ela para na beira da cama e
me olha assustada. Aceno, mostrando que eu desejo isso. — Tire o
véu.
Ela tira o véu, sobe na cama e tenta desamarrar a minha roupa.
Eu a ajudo. Apesar de não sentir atração física por ela nesse
momento, o seu estímulo é suficiente para meu membro ficar ereto.
— Você chuparia meu pau se eu te pedisse? — Ela balança a
cabeça em concordância, porém, sua expressão é suficiente para
responder a minha indagação. Faria porque é o seu rei que pede, é
evidente que tem nojo de mim. — Não pedirei isso ainda, tenha em
mente que para mim, estar disposta a tudo é muito importante aqui
nessa ala. Tire a roupa e se deite na cama.
Mais uma vez, eu cumpri o meu papel dentro desse palácio,
fodendo mais uma mulher apenas por dever, sem de fato querer. De
maneira discreta, derramo os meus espermas em cima da sua
barriga, deixando bem claro para mim que ainda não estou pronto
para ter mais um filho.
Não busco meu espaço dessa vez. Ali mesmo eu durmo,
exausto pelos últimos acontecimentos em minha vida. Volto para os
meus aposentos apenas no nascer do sol, preparando-me para
mais um dia de trabalho árduo e decisivo.

TAYLA
Quando minha menstruação aparece, depois de vinte dias,
sento-me no chão do banheiro e choro muito. Choro porque essa
era a esperança de que eu pudesse me tornar importante para ele.
Sei que perdi tudo com esse sangue, nunca mais terei aquele
homem outra vez.
Aviso a supervisora que não estou grávida e fico aguardando o
fim do tempo de experiência.
Enquanto isso não acontece, vou vivendo a vida de uma
candidata a favorita. Confesso que ainda não me acostumei a vida
de candidata. Não tenho muitas tarefas, apenas aulas e
aprendizados para me tornar digna da atenção do sultão, como se
ele um dia fosse me enxergar da maneira que desejo.
Acabo indo na fonte dos amores, lugar que me acalma, que
consigo relaxar e ser eu mesma. Molho as mãos na água, tiro o véu
e me deito na mureta, olhando o céu azul e o sol quente queimando
minha pele. Penso em sair do palácio agora que tudo deu errado e
não é a primeira vez que isso passa pela minha mente, talvez viver
uma vida diferente. Mas todas as vezes em que penso nisso
também me lembro de que não teria a chance de poder ser
importante para ele aqui dentro. Fecho os olhos por causa do sol me
cegando e mantenho meu corpo esticado ali, à toa, sonhando.
— Você gosta mesmo desse lugar. — Assusto-me com sua voz
bem próxima de mim e se não fosse seu braço a me segurar forte
na cintura, eu teria caído na fonte. Encontro seus olhos negros
sobre o meu corpo, preso sobre os seus braços.
— O senhor me assustou.
— Não era essa a minha intenção, habiba. — Ele afrouxa o
braço, traçando um caminho de fogo na minha pele coberta quando
o retira. Sento-me na mureta e arrumo meus trajes. — Eu fui até a
sua ala, preciso conversar com você.
— Eu já esperava por isso e, na verdade, acho que voltar a ser
apenas serviçal vai fazer os meus dias passarem mais rápidos.
— Eu não tenho a intenção de desfazer minha indicação, Tayla.
— Said consegue me surpreender dessa vez. Uma fagulha de
esperança reacende.
— Seria muito ousado perguntar por que você mudou de ideia?
— Ele sorri, fazendo o meu dia ficar menos cinza.
— Seria estranho se não o fizesse. Eu, na verdade, gosto do
seu jeito espontâneo, avaliei tudo o que me falou e resolvi lhe dar a
chance que me pediu. — Suspiro alto, bombeando sangue para o
coração, porque ele acelera com essa demonstração de atenção
pela minha pessoa. Não é muito, mas é algo, e eu prefiro ter algo a
não ter nada. — Espero que eu não me arrependa.
— Não vai, senhor. Eu não vou te decepcionar. — Ele se
levanta da mureta e se senta em um banco embaixo de uma
frondosa árvore.
— Agora seria a hora perfeita para você me agradecer por esse
gesto tão humano, habiba. — Olho para ele sem acreditar que está
novamente me cobrando pela minha obediência.
— Isso é bem típico de um homem sem caráter como você,
Said. — Ele me olha feio e depois faz uma cara de deboche. Eu me
levanto da mureta, enfio as mãos embaixo da saia e arranco minha
calcinha. Gosto quando seus olhos ficam ferozes.
Caminho até ele e coloco minha calcinha em suas mãos, mas
ao me virar ele é rápido, agarra meu pulso bem forte e me mantém
sua refém. Cheira minha calcinha e sinto um formigamento no meu
sexo, como se ele tivesse feito esse carinho íntimo diretamente
onde pinica. Coloca a minha lingerie no bolso da túnica, ergue-a e
abre sua calça com apenas uma mão, mostrando que está
extremamente excitado.
— Senta em mim, Tayla. — Não sinto vergonha, muito menos
medo. Sinto a adrenalina me possuindo.
— Você tem certeza, senhor? Alguém pode nos ver. — Minha
preocupação é apenas com o que os outros farão se nos ver aqui.
Nem penso em estar subjugada mais uma vez pelo sultão.
— Eu não me importo com isso, estamos protegidos. Senta
logo, Tayla. Você me deve obediência. — Apoio os joelhos no banco
e ele me ajuda com as roupas até encostar sua glande na minha
entrada. Depois ele me desce devagar e eu vou sentindo a minha
carne se abrir para recebê-lo. Quando me sinto preenchida por
completo, ele me manda para cima de novo e assim
sucessivamente. É uma experiência incrível porque estamos olhos
nos olhos, vejo todas as suas reações e elas são reais, não apenas
fruto da minha imaginação.
— Vamos, Tayla. Cavalga em mim. — É excitante cavalgar no
meu homem, no meio do dia, sob a luz do sol, em meu lugar
preferido do palácio. Dou tudo de mim para satisfazê-lo, jogando a
cabeça para trás quando sinto o orgasmo chegando. Said puxa os
meus cabelos e beija minha boca quando também atinge o clímax.
Quando tudo acaba, só escuto nossas respirações
entrecortadas e a brisa balançando as folhas das árvores. Estou
largada em seus braços, que me mantém firme neles. Ele me retira
do seu colo, me estica a calcinha e eu visto. Ele mostra o banco e
eu me sento ao seu lado.
— Foi bom isso, habiba.
— É... foi arrebatador. — Minha voz é um sussurro, estou ainda
sem ar, sentindo com exatidão tudo que acabamos de vivenciar.
— Mas o que fizemos é muito arriscado, imagine se a senhora
minha mãe resolve caminhar por esses lados. — Rimos juntos,
desanuviando a tensão.
— Seria um desastre total encontrar o seu magnífico filho
fodendo qualquer serviçal.
— Não seria muito correto, mas você não é mais qualquer
serviçal. Tem alguns direitos adquiridos sendo uma das minhas
candidatas. — Meus direitos não abrangem fazer sexo em plena luz
do dia e ao ar livre, apesar de ter amado a experiência.
— Acho melhor o senhor ir, não quero causar mais problemas
do que os que causei. — Ele se levanta e arruma suas roupas. Fico
ali sem forças para levantar.
— Procure se manter longe de encrenca, Tayla.
— Dessa maneira, seria outra pessoa, senhor. — Ele sorri com
escárnio para mim.
— Gosto do seu senso de humor. Ah... quase me esqueci,
quero que você ajude a Laila essa noite, deixe-a deslumbrante que
hoje ela vai perder sua pureza. E, dessa vez, sem artimanhas... —
Se eu tivesse algo ao alcance das mãos teria lançado sobre ele.
Acredito que ele faz isso de propósito, só para me manter oscilando
entre o amor e o ódio.
Depois da raiva, eu sorrio, porque sinto que, de algum jeito, ele
gosta da minha presença. Nunca ouvi falar que o sultão tenha se
esfregado com mulheres pelos corredores.
Nem quero sonhar demais, saio aos pulos de volta à minha ala.
Minhas chances de carregar um herdeiro estão crescendo e por
enquanto só nasceram mulheres nesse palácio.
CAPÍTULO 8
Saio da fonte e encontro Yussef me esperando, encostado em
uma árvore. Pelo seu olhar inquisidor, ele já sabe que eu a encontrei
e mais, sabe o que acabei de fazer. Ele precisa apressar os passos
para me acompanhar.
— Eu não acredito que o senhor trepou com ela em plena fonte.
— Fiz e faria novamente. Você não sabe como foi bom executar
algo proibido. Acho que eu não fazia isso desde os meus quinze
anos, talvez menos. — Ele apenas bufa e segura o meu braço,
mantendo a minha passada menos agressiva. Olho para ele e
compreendo na mesma hora sua agonia.
— Foi bom isso acontecer. Venha, sente-se aqui comigo.
Preciso me acalmar. — Sentamo-nos embaixo de uma árvore e eu
ainda estou com o coração acelerado. Espero um pouco, respirando
ar puro e tento controlar minha ansiedade. Foi tudo muito intenso e
muito inédito na minha vida. Transar com uma mulher dessa
maneira, como se fôssemos amantes apaixonados. Paro de levar os
meus pensamentos por esse caminho.
— Yussef, me perdoe por não enxergar a sua necessidade
masculina antes. Sei que as regras aqui são severas, todos os
homens que trabalham aqui dentro são atestados que não podem
procriar, mas sei que você não é, exatamente porque é o meu
homem de confiança. Eu quero lhe conceder uma dama, qualquer
uma menos aquela, para ser sua, só sua. Você deve ter alguma que
tenha chamado a sua atenção.
— Assim o senhor me envergonha.
— Estamos sozinhos aqui, eu sou seu amigo antes de ser seu
rei. Não ficarei ressentido por nenhuma delas que você escolher
porque nenhuma delas mora no meu coração de fato. Você sabe
muito bem o que elas representam para mim, um acordo comercial
necessário, apenas isso. Na verdade, achei que sempre seria assim
e hoje eu descobri que estou vivo como homem, como macho e não
sou apenas um reprodutor.
— Ela é sagaz, senhor. Tem sangue ruim correndo em suas
veias, não se entregue totalmente a essa loucura. Seja mais
prudente. — Concordo com ele que tudo está caminhando muito
rapidamente.
— Eu serei, te prometo que não farei mais nenhuma sandice
igual a de hoje. Também entendo que não tenha a resposta para a
minha pergunta hoje, é seu primeiro contato com o desconhecido e
isso transforma um homem. Pense, só quero que pense e me dê
sua resposta quando achar que está certo da sua escolha. — Ele
aceita minhas palavras. Voltamos a caminhar em direção ao meu
quarto.
— Só uma dúvida, Yussef. Essa mulher pode vir a ser a Laila
Kashif?
— Não, senhor. Eu não escolheria uma mulher que estivesse
entre as suas elegidas. — Sorrio internamente, certo de que ele tem
alguém em mente.
O restante da tarde foi estressante, reuniões com o exército de
Omã sempre me levam ao máximo da tensão psicológica. Às vezes
tenho a impressão de que comandos bárbaros e não homens de
família que querem manter a paz sob controle. Canso de tentar
mostrar que guerra só traz mais guerra e mais sofrimento. Eu tenho
certeza de que se as pessoas estivessem dispostas a dialogar, a se
ver no próximo e nas suas culturas, não haveria guerras.
Encontro minha mãe me esperando em meu quarto.
— A que devo a honra de uma visita tão ilustre? — Ela abre
seus braços e me envolve neles e eu me sinto como um menino de
nove ou dez anos. Gosto do amor que ela transmite através do
toque.
— Vim para te falar sobre a festa beneficente da próxima
semana. — Sento-me em meu sofá e ela pede meu pé,
desamarrando meus sapatos.
— Eu tinha até esquecido desse compromisso, estou farto de ir
sozinho, mãe. Vamos comigo, só dessa vez. — Ela sorri, puxando a
minha meia.
— Não sei o que está acontecendo com você, meu rei. Mas tem
alguma coisa acontecendo que foge aos meus olhos. Por isso, eu
me adiantei e escolhi uma companhia feminina para você não se
sentir assim tão tristinho, sem ter com quem conversar. Sabe que
mesmo que esteja acompanhado, o diálogo entre um homem e uma
mulher no meio da festa gerará desconforto, então, comporte-se
como um monarca e não me desaponte. — Ela beija meu rosto e vai
embora. Fico ali agradecido por mesmo que eu não possa ficar de
conversa com a minha acompanhante, não me sinta deslocado por
causa da coroa e esse medo infundado da sociedade achar que o
rei é intocável.
Antes do jantar com cinco dos membros do meu conselho, peço
encarecidamente para Yussef deixar o restante da minha noite livre
e ele me surpreende, dizendo que já fez isso. Diante da sua
antecipação, busco focar nas conversas centrais da mesa, sabendo
que depois disso eu terei um tempo só meu para pensar em tudo
que aconteceu nesse dia.
O jantar foi proveitoso, principalmente porque o assunto e suas
resoluções estavam a meu contento. Há uma enorme diferença
quando todos falam a mesma língua, entendem que pontos de vista
parecidos são mais aproveitados financeiramente.
Já deitado em minha cama, de banho tomado e com a mente
totalmente desprovida de pensamentos que não os sentidos com
Tayla, posso buscar entendimento sobre o que está de fato
acontecendo em meu âmago. Desde aquele acidente com o chá,
não paro de pensar nela. Depois disso eu menti, fiquei absorto em
reuniões em que eu era o comandante, aceitei e fiz vistas grossas
para infinitas atitudes que se fosse qualquer outro mortal estaria fora
das minhas terras de uma maneira ou de outra.
Aceitei sua petulância, sua arrogância e sua espontaneidade ao
me chamar pelo meu nome de batismo, a levantar o tom de voz
para mim e a me sugar como nenhuma outra ousou fazer. Isso sem
contar se deitar na cama que não era para ela, abrir as pernas e
gozar na minha língua, assim como cavalgar como uma amazona
no meu colo em plena natureza.
A única explicação para tudo isso é o amor. Já experimentei
uma infinidade de sentimentos e sei que isso só pode ser amor. Ele
me consome sem eu menos perceber. Eu só penso nela, só quero
estar com ela, anseio pelos nossos encontros que só podem ser
breves e alinhados com a minha agenda. Sou o dono do mundo,
mas não consigo dominar esse sentimento tão esplendoroso e
profundo que nasce dentro de mim e faz moradia. Estou
enlouquecidamente entregue a um amor reprimido pelo nosso
sobrenome.
Arranco as cobertas, levanto-me, abro a janela e busco o ar,
ainda incrédulo. Não posso estar apaixonado por Tayla Al-Rashidi,
uma mulher plantada aqui dentro do meu império para me
massacrar quando eu menos esperar. Deixei Tayla se afundar junto
comigo nessa areia movediça, porque ambos sabemos que um
herdeiro homem entre nossas famílias é o suficiente para tirar a
minha hegemonia e causar uma ruptura significativa nos poderes
desse país. Isso não pode mais correr o risco de acontecer.
Tenho que tomar uma decisão, uma resolução dura, difícil e
dolorida. Preciso matar esse amor antes que não tenha salvação
para nenhum de nós.
Acabou...
A minha obsessão por ela acaba hoje.
Arranco as minhas vestes e toco o meu corpo, lembrando-me
de cada ação que ela fez e o que provocou, tanto em minha pele
como em minha mente. Meu membro rijo é um sinal claro de que só
a imagem dela nua sobre a minha cama causa e, então, para
exorcizar todos os sentimentos que ela me fez sentir nos últimos
meses, eu me masturbo com violência, indo da glande
extremamente lubrificada pelos meus fluidos, que foram ativados
pela minha libido, até a base do pênis, altamente sensível por já ter
gozado mais cedo. Faço isso inúmeras vezes, extravasando tudo
que sinto por ela nesse ato masculino e solitário. Grito quando o
primeiro jorro rompe a membrana e a cada jato, lágrimas escorrem
dos meus olhos sem pedir permissão para cair.
Tayla Al-Rashidi morreu para mim exatamente nessa hora.
Largo meu membro, controlo outra vez a minha respiração, apago a
luz e cubro a cabeça com o travesseiro. Não quero que meus
fantasmas me perturbem mais.

A FESTA
Depois de uma semana fugindo das especulações de meu
conselheiro e amigo, enfim um momento de descontração. Gosto de
estar no meio das pessoas, de conversar, de aprender e ensinar,
mas fazer social apenas para aparecer não é a melhor maneira de
viver na minha concepção. Como existem alguns compromissos em
que não tenho o controle de me negar a comparecer, enquanto me
arrumo, fico confortável de estar na companhia de alguém essa
noite. Tirando a Jamile, que ainda está se adaptando ao lado mais
reservado das alas, todas as outras eu não teria nenhum problema
em ter ao meu lado, já sabem como se portarem, mesmo sem
nunca estarem em um evento desse porte. Estão treinadas, só
esperando o seu momento de brilhar.
Visto minha túnica branca, com um bishit preto e dourado por
cima. Na cabeça uma ghutra branca com um igal preto. Esse evento
em específico tem um significado maior em minha vida. Estou
deixando para trás, pessoas maléficas que estão no mundo para
infernizar a vida de homens de bem. Coloco meu mashaba no bolso,
para me proteger e saio do quarto, encontrando Yussef parado em
frente à porta.
— Vejo que já está pronto. Estava quase batendo na sua porta,
mas a demora foi por conta da elegância. Não sou de tecer elogios,
mas o senhor está perfeitamente alinhado. Deixará o evento em
polvorosa.
— Por que sinto uma leve ironia em seu comentário? —
Caminhamos para fora, onde o carro está me esperando e minha
companhia também.
— Está equivocado dessa vez, está realmente bem-vestido. Foi
um elogio de fato. — Estou me sentindo até mais leve depois do
desabafo de ontem e fico ansioso quando chego ao veículo real e
não encontro minha companhia.
— Não se preocupe, ela deve estar chegando — Yussef me
confidencia.
— Você sabe quem a valide escolheu dessa vez?
— Veja você mesmo. Ela está saindo.
CAPÍTULO 9
Ser apaixonada por um homem que tem quarenta mulheres à
disposição é frustrante, porque nunca se sabe a hora de estar com
ele novamente. Eu gostaria muito de ser sempre a escolhida da
noite, porque todas as nossas interações anteriores foram
motivadas por algum ato meu.
Agora é a hora de ele mostrar que tem interesse por mim e eu
acredito que isso de fato é real, ele nunca faria o que fez comigo na
fonte se não gostasse da minha presença.
Quando a valide entra na nossa aula de dança do ventre, não
espero que ela tenha vindo comunicar a minha vez. Ela nem
imagina o que acontece entre mim e o rei.
— Bom dia a todas e me desculpe atrapalhar vossos estudos.
Fico feliz que estejam se esforçando para agradar o meu filho,
nosso rei. Ando preocupada com o sultão ultimamente, ele me
parece aborrecido e contrariado, então tomei uma decisão sem o
consultar. Decidi escolher uma de vocês para acompanhá-lo em um
evento beneficente. — Há um burburinho no salão, porque sair do
palácio é apenas para as favoritas e esposas. É a primeira vez em
anos que alguém da ala das candidatas terá essa regalia. — Sim,
eu sei que vocês não têm esse privilégio, mas sei o que o sultão
precisa, de alguém que não esteja acomodada, achando que só por
estar do outro lado tem poderes. Alguém que queira mostrar o seu
valor, que queira dar o valor que ele merece receber. Então para ser
coerente com o que pensei e refleti a noite passada, escolho a
Tayla, que acabou de entrar nesse grupo e que ainda não teve
tempo de mostrar suas qualidades ao sultão. — Minhas pernas
viram gelatinas, nem acredito que ela disse meu nome, mas pelos
olhares de inveja que recebo, sou eu mesmo a candidata da vez.
Sair do palácio ao lado dele, frequentar uma festa, receber os
olhares de todos à nossa volta. É uma enorme responsabilidade.
Assim que acaba a aula, corro para contar para a Aisha. Para
variar, ela não consegue me deixar sonhar sem tirar o pé no chão.
— Isso é real, Tayla? Você não está inventando? Armando outra
cilada.
— Acha que eu iria inventar um negócio desse, amiga. Me
belisca que nem eu estou acreditando, sair desse lugar é um sonho.
Com ele, Aisha, com o monarca. — Deito-me em minha cama ainda
em êxtase. — Eu sairei do palácio com o sultão, o homem que eu
amo.
— Você tem três dias para ser a mulher perfeita, se você não
conquistar esse homem nessa noite, não terá outra chance melhor.
— Sento-me na cama e cruzo as pernas.
— Tem horas que eu acho que ele me odeia, Aisha. Depois ele
me deita na cama e parecemos um só, quando tudo acaba ele volta
a me hostilizar. Eu não sei o que acontece, na real.
— Ele não tem somente você, amiga. Ele tem várias mulheres e
de cada uma ele extrai o que mais gosta. Talvez ele goste do seu
jeito espontâneo e desafiador, além de saber que você tem
sentimentos por ele. Nem todas entregam o coração quando abrem
as pernas para ele, pode ser que ele queira te manter sempre
distante para não te machucar mais do que já o faz. Ele tem carinho
pelos seus sentimentos, não vá com tanta sede ao pote.
— É, talvez você tenha razão. De qualquer maneira, tenho uma
festa para comparecer e preciso estar maravilhosa, sabe que não
sou bela como muitas favoritas dele.
— Esse é o seu diferencial, amiga. Você é autêntica e eu vou te
ajudar. Eu brigo e xingo você, mas sempre estarei ao seu lado,
nunca se esqueça disso.
Aisha me ajuda a ficar deslumbrante para a festa e até algumas
meninas torcem para que a minha noite seja alegre. Antes de sair
com a supervisora, abraço minha amiga.
— Hoje eu conquistarei definitivamente o coração dele, ou não
me chamo Tayla Al-Rashidi. — Aisha desfaz do abraço e me olha
assustada.
— Você disse Al-Rashidi?
— Eu lembrei do meu sobrenome, foi há alguns dias, isso não é
maravilhoso? — Ela continua sorrindo para mim, mas os seus olhos
não seguem o mesmo caminho. Isso me perturba. Eu disse algo
errado?
— Isso é incrível. Vá, quando você voltar, quero saber mais das
suas lembranças.
Caminho até o carro muito nervosa, não tenho experiência
alguma, nem mesmo sei como uma mulher favorita age. Ao mesmo
tempo, leio muito e sei como me portar na teoria. Sei que não posso
olhar as pessoas e nem tocar no sultão. Estarei apenas ao seu lado,
como um bibelô, para que ele não se sinta sozinho. Acho que posso
olhar o que acontece no salão só quando estivermos a sós. Tenho
uma ânsia imensa de acertar tudo durante essa noite, sei que ela é
especial para mim. Serei vista como uma mulher de seu harém pela
primeira vez em anos.
Meu primeiro ato falho ocorre assim que eu atinjo a saída do
palácio. Encontro seus olhos fixados em mim. Se eu não tivesse
queimado a largada, não teria visto o seu olhar de surpresa ao
saber que sua companhia seria eu. Então foi mesmo uma escolha
da valide, sempre achei que ela pedisse opiniões para o sultão, mas
a última palavra fosse dele. Ele está lindo, diria perfeito e meu corpo
todo anseia pelo seu toque. Sei que hoje isso não vai acontecer,
então decido mudar o meu foco dessa noite.
Procuro não fazer feio e relaxo um pouco quando ele parece
estar feliz ao meu lado, apesar da tensão em seus ombros. O salão
é enorme e o sultão conversa com muitas pessoas. Eu me permito
acompanhar o movimento, as roupas e as pessoas. Ali sou só um
adereço e ajo como tal. Fico surpresa com o meu desprendimento
ao estar nessa posição, sinto que fui treinada a vida toda para estar
ali, ao lado dele, sendo apenas uma pessoa de sua confiança.
— Está se divertindo? — O monarca me questiona em um
momento em que estamos a sós. Achei que era expressamente
proibido esse diálogo. Mesmo sabendo que não deve ser algo
comum, mantenho meus olhos longe dele.
— Depende do que você chama de diversão. Se ser invisível é
diversão, então estou me divertindo.
— Esse é o papel da mulher na nossa sociedade — ele diz,
discretamente.
— É mesmo um choque de realidade, mas sair pela primeira
vez do palácio é algo significativo para mim.
— Agradeça à minha mãe que te escolheu. — Levanto os olhos
apenas um pouquinho, só para sonhar com a sua imagem
imponente no salão cheio de pessoas importantes.
— Você ficou decepcionado com a escolha dela? — Ele para e
pensa para responder.
— Se você continuar se comportando, prometo que lhe falo o
que achei da sua companhia quando voltarmos ao palácio. — Típico
dele, tentar me manter sob controle total.
— Tem medo de que eu faça um escândalo?
— Você não estragaria a oportunidade que ganhou hoje.
— Às vezes você me assusta com o quanto conhece de mim. —
Ele contraria as convenções e me olha nos olhos.
— Você nem imagina o quanto, Tayla. — Nessa hora é
anunciado o jantar, homens e mulheres são separados de sala.
Procuro me espelhar nas outras mulheres, mas o que elas fazem
me parece ser um ato comum em meu dia a dia. Alimento-me
corretamente, estranhando ter tanto conhecimento sobre o ritual da
noite. Quando tudo acaba, agradeço estar de volta a segurança do
automóvel, ser mulher não é fácil em um país extremamente
machista.
Quando chegamos ao palácio, o sultão avisa que vamos para o
quarto dos prazeres. Não achei que isso fosse acontecer e mais
estranho foi o que ele disse ao entrarmos no quarto.
— Hoje estou muito cansado, habiba. — Entendo isso como
uma recusa educada para um ato sexual, mas se ele não me
deseja, não quer transar comigo, por que pretende que eu fique?
Não entendo, mas dessa vez não questiono.
— Quer que eu prepare um banho para o senhor? — Ele
assente e eu tiro os sapatos, o véu e vou até o banheiro. Abro a
torneira e deixo a banheira encher enquanto escolho os sais.
Quando o banheiro fica perfumado e os aromas sobem, volto ao
quarto e o encontro com os olhos fechados.
— Said? — Fecho os olhos e levo a mão à boca, brava pelo
meu atrevimento. Estico a mão para ele que aceita e eu o ajudo a se
livrar das roupas. Said tem um corpo forte e robusto, e eu me
contenho para não meter as minhas mãos nele. Fica claro que ele
não quer contato comigo e eu tenho que respeitar o meu senhor,
mesmo não querendo o mesmo que ele.
Ele entra na banheira, pego a esponja e massageio as suas
costas.
— Está mesmo tenso.
— A culpa é sua. — Espanto com a sua resposta direta.
Continuo a especular.
— O que eu fiz dessa vez? Pensei que tinha me comportado
bem.
— E se comportou bem, espantosamente. — Então o motivo
não tem a ver com essa noite.
— Então não era para estar tão tenso.
— Tem razão. — Ele não consegue. É nítido, sinto os seus
músculos tensionados.
— Então relaxa. — Esfrego um pouco mais firme as costas e
vou com a escova até quase o seu umbigo.
— O seu perfume não deixa.
— Está forte? — Cheiro embaixo do braço, achando que as
colônias que passei não foram suficientes para manter o meu
frescor durante toda a noite.
— Insuportável.
— Por que não me disse antes que não gostava? Eu teria
escolhido outro. — Não sei escolher nem o perfume que o agrada.
Fico chateada com essa falha pessoal.
— Eu gosto, gosto muito, esse é o problema.
— Senhor, está me confundindo.
— Não, Tayla. Você que está me confundindo.
— Então isso está um caos só. Quer me explicar? — Afinal, ele
gosta do meu cheiro, ele não gosta, esse homem dá um nó na
minha cabeça.
— Agora não.
— Okay. — Continuo a esfregá-lo sem compreender esse
diálogo sem nexo.
— Hoje você está realmente me surpreendendo.
— Parece que hoje o senhor tirou a noite para ser enigmático.
— Não é comum você não me questionar.
— É que hoje você parece mesmo cansado e confuso. — Ele se
levanta da banheira e eu pego sua toalha, não sem antes gravar a
beleza da sua bunda firme. Ele se enrola nela.
— Você é bem bonito, senhor. Firme nos lugares certos.
— Obrigado pelo elogio. Pode me deixar sozinho um momento?
— Claro. — Pego uma toalha, seco os braços e um pouco da
roupa que molhou. Saio e me sento na cama sem saber se devo ir
para o meu quarto. Resolvo aguardar um comando.
Ele sai do banheiro com a toalha enrolada na cintura e dá a
volta na cama. Não aguento o seu silêncio.
— Estou dispensada?
— Não. — Ele puxa as cobertas da cama, tira a toalha e entra
embaixo delas.
— Tire a sua roupa e se deite aqui comigo. — Tiro minhas
roupas sob o seu olhar de desejo. É diferente, ele nunca me olhou
tão intensamente. Entro embaixo das cobertas e ele me cobre.
— Está tudo bem? — ele me pergunta.
— O senhor que me diz.
— Fecha os olhos, habiba, e tenta dormir.
— Eu não sei se funcionará. — Sou honesta nessa hora.
— Tenho até medo de perguntar o porquê.
— Quando quer, você até é engraçado. Dormir com você é algo
bem íntimo.
— É sim, normalmente eu faço sexo e vou dormir em meu
quarto, mas hoje estou cansado e... carente. — Ouvi-lo citar um ato
luxurioso esquenta a minha pele.
— Entendi... como sou a bola da vez você terá que se contentar
com o meu cheiro insuportável o resto da noite.
— Eu gosto quando você compreende rápido o que eu digo.
— Okay, seria abusado de minha parte mudar de posição?
— Durma como está acostumada. — Viro-me de costas para ele
e encosto meu corpo em seu corpo.
— Ruim para você, senhor?
— Vou sobreviver. — Ele encaixa o braço na minha cintura e me
puxa mais próximo dele, roçando seu membro nas minhas nádegas.
Respiro fundo, tentando abstrair minhas vontades.
Fico ali por um tempo acordada, até ouvir um ressonar
diferente. Said dormiu e só então me permito fazer o mesmo.

SAID
Quando vejo quem será a minha companhia para o evento,
minhas convicções caem por terra. Minha mãe sabe muito bem
quem é essa mulher, ela notou o meu interesse por ela, Soraia tem
olhos nas costas. Não consigo fingir indiferença nem para Tayla ou
para Yussef. Ele sabe muito bem o que isso está provocando em
mim.
Um terremoto sem precedentes. Um abalo atrás do outro, a
noite toda. Sua participação impecável ao meu lado, sua educação
refinada quando sua postura está em análise, seu caminhar
desembaraçado entre as pessoas mais influentes do país. Ela foi
mesmo preparada pela sua família para estar ao meu lado e agir da
melhor forma possível. A noite foi irrepreensível.
O único momento em que eu achei que algo aconteceria, foi a
aproximação do seu irmão mais velho para me reverenciar. Ele me
reverenciou e, imediatamente, colocou seus olhos nela e eu,
privilegiado, analisei as suas reações e as reações dela. Ele
arregalou os olhos, reconhecendo a sua irmã ao meu lado, mas ela
levantou o olhar bem discretamente, assim como vez a noite toda, e
não esboçou qualquer reação de reconhecimento.
Ou ela não se lembra do seu passado, ou ela é uma
dissimulada igual à família. Registro na minha memória que preciso
tocar nesse assunto em algum momento, sem causar sua
curiosidade sobre o seu passado.
Saio do evento disposto a dispensar Tayla assim que o carro
pare nos jardins do palácio, mas o furor que habita minhas
entranhas é mais forte que eu.
Consigo manter o monstro trancafiado por uma hora depois que
a obrigo a se deitar em minha cama e que finge dormir em meus
braços. A tensão é palpável e eu não conseguirei sentir o seu cheiro
afrodisíaco sem fazer tudo que a minha mente perversa sonha.
— Tayla...
— Estou acordada, o que precisa? — Ela sabe bem o que
preciso, esfrega sua bunda em meu membro rígido.
— Preciso que fique bem quieta, como se nada estivesse
acontecendo dentro desse quarto. Você não é voz ativa aqui,
consegue entender isso? Consegue se colocar no lugar de uma
puta, que está servindo o homem que está pagando por isso, sem
reclamar? — Ela mantém a roçada infernal, agora mais abrupta.
— Eu gosto de ser sua puta. — Ela não sabe o que diz, mas eu
sei exatamente o que necessito dela. A sua submissão ainda mais
presente.
Viro seu corpo na cama, arranco sua calcinha com um puxão
forte, abro suas pernas e cubro seus lábios vaginais com a minha
boca, descobrindo que a minha vadia gosta de estar nessa posição.
Ela prova que está de acordo, enrosca as duas mãos na grade da
cama, deixando claro que não vai me tocar se eu não implorar.
Abro mais suas pernas e me afogo com seus fluidos, sugando e
sorvendo tudo que ela me proporciona. Mordo sua vulva, seu clitóris
já inchado e passo a língua em seu ânus tão bem pregueado. Enfio
a minha língua ali, ajudando com os dedos a melhorar minha
invasão ainda lenta.
— Eu quero comer a sua bunda, mas se isso te deixa hesitante,
com medo, não tem por que fazermos isso. O prazer tem que ser
bilateral.
— Eu quero sentir o senhor arrombando a minha bunda. Já
sonhei com isso e gozei em sonho, com todo o seu membro atolado
em mim. Hoje eu sou a sua puta, senhor — ela me fala isso de
maneira pura, inocente, olhando dentro dos meus olhos e eu sei que
estou me perdendo de mim. Seus olhos azuis são límpidos, nessa
hora não existe mentira entre nós. Ela abaixa o olhar e rebola nos
meus dedos encostados no seu botão rosado. Então é isso, a
loucura de um homem apaixonado é irrefreável.
Tayla está receptiva a minha investida e antes de lamber sua
boceta e morder toda a sua intimidade, deixo nossos sobrenomes
para fora desse quarto. Quem está nessa cama hoje é Said e Tayla.
Deixo isso claro para ela.
— Tayla, quem vai tirar a sua virgindade mais uma vez é o
homem Said, esqueça que sou o seu sultão e você me deve
obediência. Você é a minha puta, estou pagando essa noite com a
moeda mais cara que um homem tem nessa vida, por isso quero
que você me refreie se o que eu fizer ultrapassar o seu limite como
mulher.
— Para mim isso beira à perfeição.
— Isso aqui não é um conto de fadas, eu vou foder a sua bunda
e vou foder forte, vou enfiar tudo e você só precisa dizer se é
demais. — Ela balança a cabeça, já em outro estágio de sensações.
Digo tudo isso a ela enquanto a masturbo com os dedos, Tayla dá
sinais claros de que está entrando em êxtase. Eu gosto de vê-la
arrebatada e não paro até que sua boceta jorre seu gozo feminino.
Nessa hora, o quarto ganha alguns pontinhos no termômetro,
mesmo com o ar-condicionado acionado. É que Tayla agarra meu
membro e começa a sua chupada maravilhosa, enquanto meus
dedos brincam na entrada do seu ânus, descobrindo que ela está
totalmente aberta a essa experiência. Minhas mãos tremem, quando
um dedo e depois outro alarga suas pregas. É tão lindo vê-la
despojada de qualquer vergonha, de medo e insegurança, com seus
seios arrepiados, sua pele extremamente convidativa e meus dedos
enterrados no lugar que desejo enfiar meu pau inteiro. Antes que ela
me leve à nocaute com sua boca gulosa e seus dentes afiados, abro
a gaveta lateral, tiro de lá um lubrificante, encaixo-me no meio das
suas pernas, com o seu olhar lânguido me acompanhando e
derramo uma generosa porção em cima dela.
Substituo meus dedos pela glande do meu pênis e enfio em seu
ânus lentamente, desmembrando prega por prega, atento às suas
pequenas atitudes. Ela me olha nos olhos, pedindo mais um pouco
de mim. Eu afundo um milímetro. Ela geme e acena que não doeu,
eu coloco mais um pouco para dentro.
— Tudo, Said. Eu quero tudo, quero você, quero sua alma.
Quero ser sua de corpo e alma. Mete tudo, agora, eu aguento. —
Escorrego o restante do meu pau até o talo, sem dó e nem piedade.
Sei que sou um homem robusto e receber essa paulada de uma vez
é difícil. Respiro junto com ela alguns segundos e toco seu clitóris,
me deliciando com o movimento de entra e sai cada vez mais
urgente.
Não é só ela que está desesperada por alívio, eu também quero
gozar dentro da sua bunda pela primeira vez. Gosto de tê-la
subjugada pela primeira vez desde que a conheci. Também adoro
ver o meu pau entrar e sair da sua bunda agora arrombada. Quando
seus espasmos acontecem, deixo que os meus encontrem os seus,
e jorro meu esperma dentro do lugar que nunca ousei tomar de
nenhuma mulher desse harém. Tiro devagar, porque apesar do
clímax, ele ainda não amoleceu completamente. Ela geme quando
eu faço esse movimento e desmorono ao seu lado.
— Me desculpe, habiba.
— Não peça desculpas, foi o melhor momento da minha vida
até hoje. Acredite, sentirei cada dobra do seu pau por dias seguidos,
e eu gosto de ter algo seu, assim tão único, habitando o meu corpo
terrestre. — Não quero ouvir suas doces palavras, não agora. O que
fizemos não tem nada de romântico.
— Vá tomar um banho. — Ela me olha sem entender e faz o
que eu mando sem reclamar.
Ganho um tempo para me reconectar com a terra de novo. Tudo
que aconteceu nesse quarto teve uma intensidade bem maior do
que foi exposto. Eu me tornei o seu homem de uma maneira tão
especial, que sinto todo o meu corpo esfuziante e eletrizado.
Levanto-me da cama, entro no banheiro e estendo uma toalha para
ela, que sorri envergonhada para mim e apanha a toalha das
minhas mãos. Sai e encosta a porta, deixando que eu tome o meu
banho calmamente. Não demoro, apesar de achar que ela não irá
fugir, mas não tenho certeza se ela gostou de tudo o que fizemos.
Tayla está sentada na cama, vestida com as suas roupas
íntimas, aguardando o meu comando.
— Deite e descanse. Amanhã bem cedo você irá para seu
quarto. — Ela se deita sem dizer uma palavra e eu também não
tenho muito o que falar. Ajusto o ar-condicionado, apago as luzes,
deito-me na cama e puxo seu corpo ao encontro do meu. Ela se
aconchega e não sei dizer quem dorme primeiro.
CAPÍTULO 10
Acordo lentamente e quando me mexo sinto um braço me
envolvendo. Estou na cama do sultão, dormi aqui e isso me
desestabiliza emocionalmente. Uma coisa é sexo, outra bem
diferente é dividir intimidades.
Foram realmente uma série enorme de intimidades. Uma festa
que foi um sonho de princesa, impecável e imaculável. Eu consegui
me portar como uma rainha e nem sabia que eu tinha toda essa
bagagem dentro de mim. Tive um fim de festa incrível, me senti
poderosa, podendo proporcionar o relaxamento do meu homem
dentro de uma banheira e, por fim, a explosão desse mesmo
homem quando quis mostrar para mim que atrás do sultão existe um
cara especialista em desvirginar uma mulher de todas as maneiras
possíveis. Eu não tinha a menor ideia de que a sodomia pudesse
ser tão erótica e prazerosa. E agora? O que o futuro me reserva?
— Você pensa demais, Tayla. — Assusto com sua voz altiva.
— Como sabe que eu estou pensando?
— Ficou tensa de repente.
— Não foi porque eu pensei, foi porque senti. — Ele sabe do
que estou falando, porque faz um movimento sensual esfregando
seu membro duro em mim.
— Eu te intimido, habiba? — Ele ergue minha perna e sua mão
procura meu sexo. — Você está molhada, passou a noite toda assim
ou isso aconteceu agora? — Viro-me na cama, ficando de frente
para ele. Levo suas mãos em meus seios e ele aperta meus
mamilos duros.
— Você está descansado agora? — Ele me faz ver estrelas
quando desce a mão para meu sexo enfiando dois dedos dentro de
mim.
— Eu nunca estive cansado, só queria um tempo para nós dois
que não fosse sexo. Queria me entender, entender a resposta do
meu corpo quando você está presente.
— Não durou muito esse seu tempo de entendimento, não é?
Ou entendeu errado o clamor do seu corpo. Said, é que agora eu
preciso de mais... assim, Said, assim... — Contorço-me em seus
dedos ágeis e ele investe no meu prazer.
— Goza para mim, goza, Tayla. — Eu não tenho como negar a
ele meu orgasmo, puro, intenso e avassalador. Ele faz mais, tira os
dedos e encaixa seu pênis no lugar, elevando o meu prazer. Said se
movimenta energicamente, mas não tem pressa para acabar e eu,
mais uma vez, estou inteira nessa relação que só existe na minha
cabeça.
É a primeira vez que ele me toma porque me deseja, é a
primeira vez que ele tem a iniciativa de me possuir sem cobrar nada
em troca e quando ele explode, digo isso porque sinto seu ápice
estourando dentro de mim, eu sei que terei que aguardar a minha
vez novamente, porque ele é dono de um harém.
Nem bem acaba, ele fica sério e me puxa para o banheiro.
Tomamos um banho juntos, calados, e isso é mais uma intimidade
que não nos cabe.
Quando saímos de lá, um café da manhã nos espera em uma
mesa arrumada lindamente na saleta anexa.
— É sempre assim que funciona?
— Se eu disser que é, ficará triste? — Sento-me na mesa e
pego um cacho de uvas.
— Acho que não existe nada inédito em sua vida.
— Engana-se, existe sim. Vivemos isso essa noite. — Ele pega
uma caixa no móvel da entrada e me entrega.
— Abre. — Eu abro e me deparo com uma pulseira maravilhosa
de pedrinhas vermelhas.
— Joias no café da manhã é inédito. — Ele brinca, mas não
gosto do seu tom jocoso.
— Acha que mereci? — Tudo para ele é como uma troca e eu
empino o nariz, desafiando a sua posição real.
— Sim, por tudo o que aconteceu, seu comportamento, sua
doação, o modo como agiu quando menti que estava cansado, a
aceitação imediata quando determinei que você era uma vadia, e
mesmo agora de manhã quando abriu as pernas para mim. — Olho
para a pulseira em minhas mãos.
— O senhor não faz nada impulsivamente? — Fecho a caixa e a
devolvo no mesmo lugar, sob o seu olhar contrariado.
— Impulsividade é para pessoas como você, que tem a ousadia
de ignorar um presente do sultão.
— Parece que fiz sexo em troca de algo.
— E não foi assim? — Levanto-me da mesa e me arrumo.
— A única coisa que eu quero de você, é o que você não pode
me dar.
— Pegue o seu presente — ele fala com a boca crispada, então
pego a caixa.
— Tudo bem, acho que mereci mesmo. Tenha um bom dia,
Said... — digo alto seu nome de batismo e saio em direção à minha
ala.
Vejo que todas ainda dormem, me troco e me deito na cama.
— Parece que a noite foi uma criança.
— Nem te conto, Aisha, nem te conto... agora preciso
descansar. — Fecho os olhos e durmo pesadamente.
Acordo após o meio-dia com uma ideia fixa na mente.
Pego um papel e uma caneta, faço uma planilha e na semana
que se segue fui colhendo informações entre as candidatas a
favorita do sultão. Ajo de maneira despretensiosa, entre uma
conversa aqui e ali, sem nenhuma delas aparentemente
descobrirem que estavam sendo estudadas.
Fico surpresa com o que a minha pesquisa me mostra.
Ele nunca beija, ele nunca faz cunilíngua, ele nunca faz
sodomia com suas mulheres. Joias são objetos raros nessa ala. Só
as escolhidas como esposas ganham joias frequentes. Eu não sei
por que ele me deu joias, não acho que comer minha bunda tenha
sido planejado, mas ela estava lá, eu estava lá, existe alguma coisa
nessa história que está muito malcontada.
Dez dias se passam quando Aisha me convida para fazer um
passeio até a fonte, o que para mim cai como uma luva, me sinto
tão mal ultimamente. Estou aflita, ansiosa, comendo de maneira
exagerada e depois colocando tudo para fora. Choro a todo
momento, sem nenhuma explicação plausível.
— Você está diferente depois da sua ida àquela festa. — Ela se
senta no banco ao lado da fonte e eu sento na mureta, tiro o hijab e
recebo o sol ainda suportável na pele.
— Eu me sinto diferente, estou angustiada, essa é a verdade.
Faz quinze dias que ele não requisita ninguém desse lado. — Aisha
balança a cabeça.
— Isso é realmente muito estranho, mas ele deve ter um motivo.
— Mostrar para mim naquela noite que sou uma vadia e esse
sempre será o meu lugar.
— Você não tem curiosidade de saber por que ele te trata
assim, bem em um momento e com um requinte de crueldade em
outro? — Aisha dá voz as minhas indagações.
— É tudo o que eu gostaria de saber nessa vida.
— Eu tenho uma teoria. — Sento-me na mureta, ansiosa pela
sua ideia, porque por mais que eu reflita, não consigo achar o fio
dessa meada.
— Você disse que se lembrou do seu sobrenome daquele dia da
festa.
— Sim, lembrei do nada. Tayla Al-Rashidi. Lembrei também que
tenho irmãos e uma mãe amorosa que vive aparecendo em meus
sonhos. Eu queria tanto lembrar a minha história, mas por mais que
eu me esforce, ela aparece anuviada em minha mente.
— Talvez você encontre nos livros da biblioteca, alguma pista
que te leve à sua raiz. — Olho para Aisha encantada. Como eu
ainda não tive essa ideia?
— Você é realmente uma gênia, amiga. Como não pensei nisso
antes? — Quando falo isso, sinto meu estômago embrulhar e dobro
a coluna, tentando diminuir o mal-estar. Aisha em um segundo está
ao meu lado.
— O que está sentindo?
— Acho que vou vomitar. — Corro até o pé de uma árvore e
coloco todo o meu café da manhã para fora. Só depois de vomitar
tudo o que tinha no estômago é que me sinto melhor.
— Está sentindo isso há quanto tempo?
— Começou há alguns dias. É nervoso.
— Não é, Tayla. Acho que você está esperando um filho do
sultão. — Sinto a cor sumir do meu rosto e me sento no banco para
não desmaiar.
— Não pode ser, Aisha. Eu não quero engravidar do sultão
agora, não posso estar grávida desse homem bem agora.
— Quando foram as suas últimas regras?
— Faz algum tempo. — Olho para a fonte e o improvável
aconteceu. Foi exatamente nesse lugar que ele colocou uma criança
dentro de mim.
Justo agora que eu tenho algumas desconfianças e quero tirar a
limpo com ele. Coloco Aisha sentada bem ao meu lado.
— Eu não quero que ninguém saiba disso, Aisha. Você tem que
me prometer.
— Eu realmente não te entendo. Essa é a sua chance de estar
ao lado dele mais tempo, de atravessar para o outro lado do palácio,
de ser a preferida dele com um filho homem nos braços, por que se
esconder?
— Antes eu preciso que ele explique algumas coisas para mim
e se esse filho atravessar o meu caminho, não terei certeza de
nada. — Aisha me olha inconformada.
— Você é mais maluca do que eu pensava, Tayla. Essa
obsessão por ele vai desgraçar a sua vida. — Ela se levanta e puxa
a minha mão.
— Venha, você precisa descansar, está parecendo um papel de
tão pálida.
Escuto minha amiga, volto para o quarto e alego uma
enxaqueca, por isso para a cama. Depois do almoço, que graças a
Allah, consegue ficar no estômago, vou até a biblioteca e sigo a
sugestão da minha amiga, tentando encontrar alguma pista que me
leve até o paradeiro da minha família.
Não tenho muito conhecimento de como começar essa busca,
visto que os livros que me interessam ali nunca foram os de história.
Porém, ao manusear alguns deles, um flash vem em minha mente,
fazendo-me lembrar que estudei todos esses volumes quando
estava na escola e mais, lembro-me da minha professora de
literatura, o nome dele era Hama. Sorrio, feliz por ter uma
recordação boa do passado.
Folheio alguns livros, no entanto, não chego a ponto algum.
Busco nos periódicos antigos, dispostos ali, assuntos sobre
educação e qual não é a minha surpresa, quando encontro um
artigo sobre uma escola e eu me lembro de que estudei nela, que foi
ali que conheci Hama, a professora, e que me formei nela com
louvores, afinal, sempre fui uma aluna aplicada. É uma escola boa,
de bons antecedentes, onde crianças da elite árabe estudam. Não é
para alunos de famílias sem nome, então deduzo que não venho de
uma família medíocre. Isso me assusta um pouco, Said disse uma
vez que para ser uma de suas favoritas é preciso mais do que um
filho no ventre. Levo a mão na minha barriga, certa de que esse
bebê não é garantia de entrada na ala principal.
Sinto que a chave para esse mistério se encontra na minha
árvore genealógica e na minha entrada nesse palácio ainda tão
obscura na minha mente. Não sei quem poderá me ajudar a
descobrir tudo isso. Guardo os livros e os periódicos, sentindo uma
dor ainda pequena se alojar no lado esquerdo do meu peito. Ela é o
sinal de que nem tudo que está escondido trará felicidade para mim
e para a minha criança.
Uma lágrima rola em minha face, depois outra e mais outra. Não
tenho razão alguma para comemorar a minha gravidez, pelo menos
não nesse momento.
CAPÍTULO 11
Depois daquela noite esclarecedora em todos os sentidos, me
permiti sair e respirar outros ares. Aceitei um convite oportuno para
uma reunião de líderes políticos na Ilha de Masirah, em um resort
magnífico.
Yussef ficou em meu lugar, como meu substituto e eu pude,
enfim, relaxar, conversar seriamente sobre o país, mas sem o peso
social em minhas costas.
Foram sete dias sem pensar em horário apertados, agendas
cheias, mulheres problemáticas. As noites foram regadas a uma
dose excessiva de álcool, eu me permiti rir e fazer piadas, mas
sempre mantendo um nível tolerado para o comandante dessa
nação.
Não posso mentir, dizendo que não pensei nela. Seria hipocrisia
de minha parte dizer que Tayla ficou esquecida na capital. Eu sei
que atravessei a linha tênue que separa a razão da emoção, ela se
tornou uma mulher a quem eu tenho sentimentos reais de amor e
afeição. Tudo que fiz com ela foi motivado por um sentimento
desconhecido e que foi se desabrochando desde o primeiro olhar
até entender que o amor tomou conta do meu ser e veio de um jeito
forte e intenso, capaz de ultrapassar as barreiras sociais que
existem entre nós.
Esse é o primeiro ponto que eu vou abordar quando retornar
para a capital. Preciso deixar claro que eu sei a sua verdadeira
identidade e o que ela tem a dizer sobre esse assunto.
Volto a mente para o resort, quando o sheik Salomão me chama
para caminhar nas areias da praia.
São quase 17h quando faço uma ligação para Yussef.
— Boa tarde, senhor. Pelo horário, devo entender que está
gostando de ficar à toa o dia todo.
— Boa tarde, meu amigo. Aí é que você se engana. Estou mais
ativo aqui do que no palácio. Os homens quando se unem não
querem saber de ficar de bobeira. Fiz uma corrida com Salomão
pela manhã e acabei de jogar umas partidas de xadrez com Al-
Abdallah. Só agora é que consegui um tempo para saber como
andam os negócios na minha ausência.
— Tudo está caminhando na mais perfeita ordem. Só não digo
que pode ficar por aí mais uma temporada, porque sua mesa está
cheia de papéis que demandam da sua assinatura e do seu
consentimento. Passei algumas coisas mais urgentes para seus
assessores.
— Minha mãe? — pergunto dela, mas ele sabe entender as
entrelinhas.
— Todas as suas mulheres estão bem. Fique tranquilo. Quando
volta?
— Em dois dias estarei aí.
— Temos um problema, mas ele pode esperar o seu retorno.
— Combinamos de não protelar nenhum problema citado. Diga-
me qual é e eu farei a análise sobre esperar ou não.
— Temos uma mulher esperando um filho seu. — Yussef
realmente sabe como deixar um homem aturdido.
— Uau... você nunca foi tão direto com esse assunto. — Pego a
minha bebida e tomo um gole generoso. — Não acho que isso seja
um problema que não possa esperar mais dois dias, afinal, a criança
demorará nove meses para nascer. Quem está grávida? Não me
lembro de ter ejaculado dentro de alguma delas nos últimos tempos.
— Meu coração chega a parar no peito, porque me lembro bem
quem recebeu o meu esperma várias vezes nos últimos tempos.
Pelo silêncio que se segue, nem preciso da confirmação dele.
— Eu digo que é um problema, senhor, porque ela está
escondendo a gravidez de todos. A supervisora foi quem me
confidenciou, pois controla as regras de todas elas mensalmente.
— Mande preparar o jatinho agora, Yussef. Essa criança corre
risco de vida se for descoberta por alguma delas e a mãe pode
perder a vida, envenenada por uma louca ciumenta. Me avise
quando tudo estiver pronto. — Desligo o telefone e aviso a recepção
que farei o checkout em meia hora. Peço ao meu acompanhante
que arrume as minhas malas apressadamente.
Entro no banho, tentando esfriar as minhas vertentes
assassinas. Eu sou capaz de pegar o seu lindo pescoço e enforcar
com as minhas próprias mãos. Como essa mulher não conhece
nada da vida e nem dos perigos que rondam naquele palácio. É
exatamente nessa hora que eu fico indeciso quanto a sua culpa de
estar em um lugar inimigo. Se ela fosse mais esperta, se estivesse
ali de caso pensando, estaria exultante por esperar um filho meu e
não escondendo sua gravidez.
Mais uma vez meus planos de relaxar fracassaram.
Definitivamente, não posso deixar a minha monarquia sem a minha
presença.
Enquanto o jatinho volta para Mascate, penso em uma maneira
de neutralizar as ações descabidas dessa mulher tão linda, tão
perfeita na cama e tão imperfeita fora dela. Eu só sei que a raiva me
cega e Said Abdul Al-Maktoun cheio de ira, não é uma boa pessoa.
Entro no palácio, chamando Yussef para uma reunião a portas
fechadas. Ele me segue sem dizer uma só palavra, porque me
conhece e sabe quando estou com sangue nos olhos.
Dou um murro na mesa e ele se assusta.
— Há quanto dias essa vadia esconde a criança?
— A supervisora veio me avisar apenas ontem, mas no
calendário dela, isso já está com essa falha uns quinze dias. Deve
ter sido naquele dia na fonte. — Sua voz denota que não está aqui
para passar a mão na minha cabeça.
— Eu sei que sou o único culpado, Yussef. Sente-se melhor
assim, com a minha confissão?
— Não, eu não me sinto melhor. Eu te disse que exterminaria
essa mulher se ela colocasse esse reino em risco. Temos um trato,
um acordo de cavalheiros, sendo assim, posso e vou fazer de tudo
para salvar a sua hegemonia. — Pelo seu olhar assassino, ele
realmente está comunicando a sua decisão. De repente, não
consigo mais esconder o que tenho dentro do peito.
— Eu a amo, conselheiro. Eu a amo como nunca amei ninguém
em toda a minha maldita vida. Nem pai, nem mãe, nem irmãos e
nem mesmo você, que é o mais próximo de um amor fraternal que
tenho. Sabe o significado dessa palavra, Yussef? — O silêncio
sepulcral se instala na sala. Só o barulho do relógio batendo é
escutado.
— Você é um otário — ele diz, entredentes, com as mãos
fechadas, louco para desferir um soco em meu rosto. Acho até que
mereço essa porrada.
— Sou um idiota, consegui deixar uma mulher destrutiva
dominar a minha sanidade mental.
— O amor é destrutivo. Nunca vi sair nada de bom desse
sentimento. — Olhos nos olhos, nós dois vivemos uma tormenta
momentânea.
— O filho foi feito com amor. Talvez ele venha construir algo
novo. — Tento amansar o seu ódio. Citar o fruto do nosso amor, de
alguma maneira surreal, abranda a minha raiva.
— Você terá que fazer a escolha mais difícil da sua vida quando
essa criança nascer, está ciente disso? — Pelo tom que usa em sua
fala, sei que ele já viveu um momento parecido com esse.
— Do que você abriu mão, Yussef? Seja honesto comigo.
— Do amor de uma mulher em detrimento ao meu amor pela
profissão e por você, senhor. — Deixo de lado a conveniência social
e abraço meu amigo, meu conselheiro e meu irmão de uma vida.
Pelo jeito, ambos precisamos de acalento.
— Nós vamos consertar todos os meus erros cometidos, eu
prometo. — Ele aceita o meu abraço e bate nas minhas costas com
firmeza. Sei que ele ainda está irado com a minha falha. Yussef está
certo, engravidando Tayla eu coloquei a minha coroa em risco.
— Mande a supervisora aprontar Tayla para o quarto dos
prazeres. Ela terá uma bela surpresa. Também mande preparar um
apartamento na ala das favoritas. Escolha um que fique mais
distante das demais, não quero correr mais riscos do que estou
correndo. — Ele bufa bem alto dessa vez. Não faz questão
nenhuma de esconder a sua indignação.
— Ainda bem que não tem cerca nesses alojamentos. Seria
bem constrangedor ver o sultão pulando a cerca constantemente. —
Ele faz uma reverência meia-boca e sai sem olhar para trás.
Só meu amigo para me fazer rir em um momento tenso como
esse.

TAYLA
Só fui requisitada pela primeira vez após vinte dias do atraso da
minha menstruação e das minhas descobertas. Sei bem o dia que
engravidei, foi naquela sentada na fonte, ela é mesmo a fonte dos
amores.
Olho-me no espelho e vejo mudanças em meu corpo, os seios
estão mais cheios e a cintura mais arredondada, fora os enjoos fora
de hora e uma fome absurda. Ainda bem que tenho Aisha para me
ajudar a disfarçar a minha indisposição, apesar de já ter visto alguns
olhares estranhos recaindo sobre mim nos últimos dias.
Coloco meu melhor vestido e Aisha faz uma maquiagem bem
marcante. Estou louca para vê-lo e apreensiva com o rumo que terei
que tomar de agora em diante.
Sigo a supervisora até o quarto dos prazeres e não acho que
esse devia ser o nome do lugar, porque para mim, até agora, ele
tem sido o quarto das punições. Dessa vez o sultão não está me
esperando e eu aproveito para revisar meus questionamentos.
Ele entra depois de uma hora que estou aqui, na expectativa e
me olha de uma maneira enigmática. Sua pele tem um dourado
novo, parece que andou tomando sol.
— Quanto tempo, Tayla. — Pela entonação da sua voz, eu
pressinto problemas.
— Fazer rodízio com quarenta mulheres demora a chegar a
minha vez. — Ele abre uma garrafa de vinho e enche apenas uma
taça.
— E estava ansiosa para chegar a sua vez? — Com essa
pergunta ele deixa claro que algo está errado. E eu que estava
sonhando que ele me tomaria em seus braços, louco de saudades
de mim, me deitaria em sua cama e me amaria com pressa.
— Sim, mas não pelos motivos que pensa. — Ele toma todo o
conteúdo e enche a taça mais uma vez.
— Poderia então me dizer por que da sua ansiedade, tem algo a
me contar? — Ao dizer isso, fecho meus olhos em sofrimento, ele já
sabe da minha gravidez. Está tenso e eu mais uma vez fujo das
convenções.
— Nem é preciso, não é mesmo? Nada aqui dentro desse
palácio passa despercebido aos olhos do sultão.
— Por que você é fora da curva, Tayla? Acha que tem mais
valor que as outras, por isso me afronta o tempo inteiro?
— Foi bom você tocar nesse assunto...
— Cale a boca, fedelha... — ele grita comigo e eu fico
assustada. Ele nunca agiu assim e eu me calo. Seu rosto está
desfigurado de ódio e eu levo a mão à barriga, protegendo a criança
que cresce em meu ventre porque ela não tem culpa de ter sido
gerada em um ambiente caótico.
— Eu não me importo com as suas considerações, Tayla, aliás,
isso é o que você faz de melhor, criticar, questionar, argumentar.
Agora, esconder uma gravidez nesse palácio, onde ter um filho
homem vai te levar ao topo, é muita burrice. Sabe quantas mulheres
foram envenenadas para que não tivessem os seus filhos aqui
dentro? Não, não sabe, não é mesmo. Algumas dezenas, só para
você saber e isso não é estatística, é real. Por isso, é de suma
importância avisar quando isso acontece, não é apenas machismo,
é proteção para essa criança que não tem culpa de nascer nesse
lugar. — Said me deixa sem chão e sem fala pela primeira vez em
meses, imaginei que meu bebê corria risco de vida aqui dentro, mas
não com essa magnitude. Ele continua desferindo as palavras
asperamente.
— Já mandei arrumar as suas coisas, agora mesmo você vai
para a sua nova moradia. Ficará entre as favoritas e assim que a
criança nascer, descobrirá se será uma das minhas esposas oficiais.
Quem você quer levar como sua aia?
— A Aisha — respondo sem pestanejar.
— Sei bem quem é a sua alcoviteira. Agora, tira a roupa que eu
quero te ver, e sem questionamentos, por favor. Estou muito irritado
nesse momento.
Respiro fundo e tiro a roupa com raiva, parando em sua frente
com os braços cruzados sobre os seios.
— Eu não vou te machucar, só quero ver o meu filho crescendo
dentro de você. — Ele desce os meus braços e segura os meus
seios.
— Eles estão bem maiores. — Sem avisar, meus seios
intumescem e ele suga um e depois outro. Isso é suficiente para
encharcar a minha calcinha.
Ele desce a boca e beija a minha barriga falando com ela, como
se a criança pudesse entendê-lo. Alisa a barriga por muitos minutos
e, depois, enfia a mão na minha calcinha e afunda os dedos dentro
de mim.
— Está sempre molhada, habiba. Ter um pedaço de mim dentro
de você te excita? — Sua voz agora tem uma nova entonação. Ele
está estimulado pela criança que cresce em meu ventre.
— Sim, isso me excita, senhor — respondo em um fio de voz.
— Gosto de sentir a sua excitação por mim.
— Você está sempre no poder.
— Gosto da sua língua ferina em outras partes de mim. — Ele
me empurra para o chão e eu ajoelho à sua frente. Abre a calça e
coloca seu pênis já melado para fora.
— Por que as outras candidatas não fazem cunilíngua e eu
tenho que fazer? — Ele apenas sorri, balançando seu instrumento
duro.
— Só você tem esse poder, Tayla. Gosta de ser a única a
desfrutar do meu sabor aqui nessa ala?
— Gosto, senhor...
— Então chupa, chupa forte e não para até eu gozar.
— Faço se você prometer me fazer gozar também. — Ele
respira fundo.
— Você é uma bruxinha, mas eu prometo, afinal, tenho que
tratar bem a minha favorita grávida. — Encho minha boca dele e
peço em silêncio que eu possa ser um dia a favorita dele, a favorita
de verdade.
A noite foi incrível, mesmo depois da raiva inicial, Said nunca
me tratou com tanta atenção e nunca me tratou com tanto carinho.
De alguma maneira, carregar seu filho em meu ventre, me levou a
experimentar algo novo.
Meu amor por ele está tomando outra forma, porque o sinto em
sintonia comigo. Ainda tenho um longo caminho a percorrer, mas
consegui galgar mais um degrau rumo ao meu lugar ao sol.
Logo pela manhã, vou até a minha ala para arrumar os meus
pertences pessoais. A notícia da minha gravidez se espalhou pelo
palácio todo e eu não gosto de ter todas as atenções voltadas para
mim. Só desejava que ele me notasse, mas a criança na minha
barriga é mais importante para a sociedade do que o amor que sinto
por ele.
Aisha entra no quarto igual a um foguete e enche meu rosto de
beijos, feliz por, finalmente, estar livre de ter que ir para o quarto dos
prazeres com seu sultão.
— Como foi a conversa entre vocês? — Ela também está
arrumando a sua mala.
— Foi bem complicada no início. Ele estava irado com a minha
tentativa frustrada de esconder a gravidez, além do mais, acabei
entendendo que uma mulher com um filho aqui é uma ameaça para
as outras. Depois que ele descarregou toda a raiva, eu desconhecia
o homem que fez sexo comigo. Foi gentil, foi carinhoso, me tratou
como eu sempre sonhei um dia ser tratada por ele. — Puxo o braço
dela e nos sentamos na cama. — Aisha, eu estou com medo. Não
sei te dizer por que me sinto assim, talvez você diga que são os
hormônios gestacionais, mas eu sei que tem algo ruim à minha volta
e que esse bebê que carrego trará sofrimento para mim.
— Eu não sei te aconselhar sobre isso, amiga. Mas ouça uma
coisa, confio em você e no seu discernimento. Se tudo isso que
você está sentindo acontecer, caberá a você decidir o que será
melhor para o seu filho. Ele se tornou a pessoinha mais importante
da sua vida agora. O sultão ficou em segundo lugar. As pessoas
aqui dentro estão o tempo todo julgando, todas aqui têm o mesmo
objetivo e você conseguiu atingir esse propósito por mérito próprio.
Errou, trapaceou, mas o filho que está na sua barriga não é
enganação, ele foi parar aí porque o sultão quis assim. Aproveite e
viva esse momento, porque ele será único na sua vida. — Lágrimas
escorrem nos dois rostos. Aisha é a mulher que eu quero ser um
dia. Tenho que caminhar muito para chegar nessa qualidade de
reflexão.
— Vamos, Aisha. Vamos encontrar nosso lugar ao sol. — Antes
de sair do meu quarto, escrevo uma carta de agradecimento para a
supervisora. Assino meu nome e sobrenome, deixando o bilhete
sobre a mesinha de cabeceira. Olho mais uma vez para o quarto e
fecho a porta definitivamente.
CAPÍTULO 12
Terceira vez no dia que abandono a caneta sobre a escrivaninha
pensando nela e no filho que ela carrega. Eu sempre ouvi falar que
era para deixar o coração fora desse lugar e nunca tinha entendido
por que meus ancestrais falavam assim. Aprendi da pior maneira
possível. Não consigo ter coragem de tocar em outro corpo feminino
que não seja o dela. Já se passaram quinze dias da minha volta de
Masirah e não consegui cumprir com as minhas obrigações sexuais.
Fico em dúvida se tenho mesmo que me prestar a esse papel
de fazer filhos em muitas mulheres. Nunca pensei que sexo para
mim fosse algo indesejável. Na verdade, estou louco para foder,
mas quero a Tayla e mais ninguém. Apoio a cabeça nas mãos
desesperado, sem saber o que exatamente fazer para tudo
continuar caminhando perfeitamente bem aqui nesse harém.
Yussef entra na sala e não dá tempo de disfarçar a minha
indignação.
— Problemas, senhor? — Ele me reverencia e se senta em sua
mesa.
— Tentando controlar os meus sentimentos e desejos. Preciso
estabelecer uma nova rotina e confesso que está complicado para
mim depois que conheci o amor.
— Terá que seguir o protocolo, senhor. Infelizmente não será
possível protelar mais uma semana. Sua mãe está desconfiada,
ainda mais agora que Tayla está gerando um filho seu. — Levanto-
me e vou até a janela, olhando para o pátio do palácio.
— Minha mãe sabe quem ela é. Está preocupada com a coroa e
não comigo. Não sou muito bom em adivinhações, mas o filho que
ela carrega será um homem, para que tudo seja ainda mais
comprometedor.
— Não tem por que o senhor ficar sofrendo durante os seis
meses restantes. Cumpra o protocolo, esteja com ela o máximo de
vezes possível e quando soubermos o sexo da criança, pensamos
juntos na solução.
— Você está certo, vamos fazer uma festa para dispersar
qualquer mal-entendido que possa estar à espreita. Esposas,
favoritas e as candidatas a favorita.
— Ótima ideia. Conversarei com a valide imediatamente. —
Yussef se levanta e caminha até a porta.
— Quero que Tayla seja a minha companhia da noite da festa.
— Ele para e olha para mim, acenando afirmativamente com a
cabeça. — Também quero que você se sente ao meu lado direito e
escolha uma delas para passar a noite. Será o meu convidado de
honra.
— Senhor... — Seus olhos estão arregalados.
— Não é um convite, Yussef. Providencie para que ela esteja
entre as mulheres da festa, é só o que te peço. — Ele se vira, faz
uma reverência e sai.
Enfim, vou conhecer a mulher por quem ele é apaixonado e por
quem ele abriu mão para ser o meu braço-direito.
Infelizmente, um problema grave do outro lado do país, fez os
meus planos mudarem. Yussef e eu viajamos às pressas para
conter uma rebelião de trabalhadores da área petrolífera. Precisei
de quatro dias para entender as reivindicações e conter os
baderneiros que se aproveitam de um momento legítimo para inflar
o povo contra o governo.
Graças a Allah e a união dos governantes, pudemos encerrar
mais um episódio positivamente. Sempre procuro entender o que é
solicitado nessas negociações. Muitas vezes, quem está na linha de
frente entende melhor do que nós que estamos no poder. Acho que
esse meu jeito apaziguador foi o motivador do país estar muito mais
estruturado. Sei que o meu reinado é bom politicamente falando e
sei que muitas pessoas estão contentes com tudo que conquistaram
nos últimos dez anos.
Não desejo perder o meu trono e por mais que eu tenha que
escolher que caminho tomar quando o filho que espero com a
inimiga nascer, não abrirei mão da minha ancestralidade em
detrimento ao amor. Dói imensamente ter que tomar essa postura,
mas não existe glória sem luta. Minha vida mudou depois que
conheci Tayla. Mesmo ela carregando um sobrenome que não me
agrada de nenhuma forma, descobri que a vida pode ser mais leve,
que posso exigir mais dela, que posso ter pensamentos positivos,
honestos com quem eu sou de fato. Não quero e não vou ficar
escondido atrás da coroa. Quero ser lembrado pelo homem bom e
honrado, alegre e sorridente, não pelo homem escuso e
desinteressado pelas necessidades da população.
Sorrio e aceno ao povo antes de entrar no jatinho e sei que
esses dias foram um divisor de água na minha vida. O amor
transforma o ser humano, sinto isso na pele.
— Foi muito boa essa negociação ou é impressão minha? —
Yussef me pergunta assim que o jato decola.
— Não é impressão sua, de fato o acordo com as empresas
petrolíferas foi muito produtivo.
— Parece que temos uma nova era começando.
— De repente, eu me sinto um homem melhor e isso está
refletindo na minha maneira de pensar. Antes eu era um homem que
pensava apenas na hegemonia do meu poder, hoje penso também
em quem está do outro lado da balança. — Ele concorda com as
minhas palavras.
— Acho que já está na hora de ter uma conversa esclarecedora
com a senhorita Al-Rashidi, senhor.
— Não quero que nada atrapalhe a sua gravidez. Antes de vir
para cá, eu a visitei e ela não me parecia feliz. Eu conversarei com
ela após o nascimento da criança, não quero que nada a faça
desistir dele. Essa é uma promessa, conselheiro. Conversarei com
ela tão logo o bebê nasça.
Yussef nada disse sobre o assunto e ele sabe que, no fundo,
estou protelando o máximo esse tema. Haverá dor e ranger de
dentes quando isso vir à tona, quero que ela tenha forças para se
defender se for necessário.
TAYLA
A ala das favoritas é muito diferente de tudo o que vi
anteriormente. Cada mulher tem o seu próprio espaço e é enorme,
parece uma casa. Chego nesse lugar muito insegura, eu sempre
quis estar desse lado, mas estar aqui de fato, mostra que as coisas
mudaram para mim dentro do harém. Agora sou uma das favoritas
do sultão. Mas até que ponto ele me deseja desse lado do palácio é
a pergunta que não quer calar no meu subconsciente. Até hoje, fiz o
esforço todo para chegar nessa ala e eu não queria estar aqui
porque fiquei grávida, queria que ele me visse como mulher, que ele
me escolhesse como favorita, sem a interferência da barriga.
— Agora entendo seu desejo de chegar aqui, amiga. Olha todo
esse luxo, quinze dias aqui e ainda estou extasiada com tamanho
esplendor. — Para Aisha estar desse lado significa a liberdade tão
sonhada. Ela não precisa mais se esconder porque uma aia não se
relaciona intimamente com o sultão.
— Aisha, não me importo com tudo isso aqui, eu quero o
homem, esse é o meu objetivo, sempre foi. Mas parece que não sou
importante para ele.
— Não diga isso, ele veio até aqui, perguntou sobre sua saúde,
seu pré-natal, ele não me parece ausente.
— Você não entende, eu falo de sentimento, sexo, qualquer
coisa que nos coloque em sintonia de novo. — Aisha me ajuda a
colocar um vestido que já está deixando entrever minha condição. A
criança está em pleno desenvolvimento dentro de mim.
— Às vezes você não quer enxergar que ele tem outras
mulheres, que não é só seu, que é um rei, tem mil obrigações como
tal. Fique feliz que não há nenhuma grávida nesse momento, então
você é especial de alguma forma.
— Você sempre sendo prática. Vem, vamos até a fonte, preciso
da energia dela. — Ao sair de casa e caminhar em direção à fonte,
Jamile e Laila estão conversando no corredor.
— Oi, Tayla. Oi, Aisha. Estão gostando da nova ala?
— É, aqui é bem legal e ser a aia da Tayla não está sendo tão
ruim. — Aisha toma à frente da conversa. Ela sabe que eu me sinto
diminuída diante delas, apesar de carregar um filho no ventre.
— Espere até o bebê nascer — Laila diz, instintivamente levo a
minha mão à barriga.
— Sim, será bem mais trabalhoso, choro, fraldas e,
principalmente, o distanciamento do sultão. Dizem que a vagina se
expande tanto para sair a criança que o sultão deixa de procurar a
mulher na cama — Jamile elucida o futuro.
— Com licença, vamos, Aisha. — Saio em direção à fonte,
puxando Aisha pelo braço. A fonte dos amores fica mais perto dessa
ala do que da anterior e eu preciso de ar nesse momento tenso.
— Você viu o olhar que a Laila deu para a minha barriga? Senti
um arrepio na coluna. Said me falou mesmo sobre a inveja. — Tento
esconder o quanto isso me desestabilizou. Eu preciso dele em
minha cama, em minha vida.
— Said, é? — Aisha me policia e eu relaxo um pouco.
— Desculpa de novo, é mais forte que eu. O sultão abriu meus
olhos sobre o pecado da inveja, mas minha única preocupação é o
pecado da gula em todos os sentidos possíveis.
— Acalme-se, Tayla. Tem que esperar sua vez. Tente ver o meu
lado, fiquei sem Iasmim e tenho até medo de perguntar se alguém
nessa ala gosta de brincar de aranha. — Sair, tomar um ar e falar
besteira com a Aisha me fez bem.
Até encontrar o sultão no corredor de entrada não foi tão mal
assim. Isso me fez lembrar daquele dia em que eu fui ignorada por
ele quando estava passando pano no chão. As coisas mudaram
mesmo para mim.
— Boa tarde, Tayla. — Aisha se afasta um pouco de mim, assim
como o seu fiel escudeiro.
— Olá, senhor.
— Você está se sentindo bem?
— Creio que não, senhor. — Ele fica alarmado e eu morro de dó
de fazer essa travessura. Agora que comecei irei até o fim.
— Precise que chame um médico, é algo grave? — Tudo para o
bebê e nada para a Tayla. Será que vai ser sempre assim daqui
para a frente?
— Não é o caso, o problema sou eu, é que estou com um
desejo enorme e ouvi falar que mulheres nesse estado não podem
sentir desejos que passa para o bebê. — Ele respira aliviado e me
diz ser algo bem frequente entre as mulheres grávidas, perguntando
qual é o meu desejo.
— Estou subindo pelas paredes, preciso de sexo duro e intenso,
acho que só assim esse desejo louco passará. Sei que você,
infelizmente, não pode fazer nada a respeito, anda muito ocupado,
viajando, atendendo todas as suas mulheres dessa ala e de outras.
Ou será que você pode fazer algo a respeito? Até mais, Said. —
Faço uma bela reverência, vou até a Aisha e a puxo pelo braço mais
uma vez.
— Você aprontou outra vez, amiga?
— Por quem me tomas, Aisha? — Rio e continuo andando até
nossa casa. A sorte está lançada, agora é só aguardar o próximo
passo do sultão.
Olho o relógio mais uma vez e ele marca 23h. Pelo visto o
sultão não pode mesmo fazer nada por mim. Escovo os dentes,
triste por não o ter quando quero, mas conformada que pelo menos
estou em um lugar mais protegida. Abro o armário para guardar a
escova e quando fecho a porta encontro seus olhos de lince sobre
mim no espelho.
— Said... — sussurro, ele me puxa e me encosta na parede.
— Por Allah, você é insaciável.
— Mas são muitos dias...
— Cale a boca, Tayla. — Ele me beija sofregamente enquanto
arranca a minha camisola e minha calcinha. Beija minha barriga
com carinho antes de se despir e mandar que eu enlace a sua
cintura com as pernas. Sua virilidade me excita e entro em êxtase
quando o tenho dentro de mim, apoiada na parede. Apoio as mãos
em seu ombro, enquanto ele faz um sexo duro comigo, exatamente
como pedi, jogando-me para cima e se enterrando dentro de mim na
descida, incontáveis vezes, até me deixar sem fôlego. Depois me
carrega para a cama, suga meus mamilos ávidos pelo seu contato e
me fode com vigor, mostrando o seu poder masculino, ao entrar e
sair do seu jeito grosso de ser, porém, respeitando a minha
gravidez. É a primeira vez que chegamos juntos ao clímax, fazendo
meu corpo estremecer em seus braços. Mais uma vez eu o beijo
com amor para que ele sinta tudo que eu tenho para oferecer a ele.
Gosto do roçar da sua barba na minha pele, da sua língua me
devorando, do gosto da sua saliva na minha boca. Fico em êxtase
quando ele se entrega dessa maneira, tão visceral.
— Você não tem a mínima noção do que faz comigo. — Estou
em seus braços, deitados em minha cama, quando ele reclama de
mim.
— Você sabe que não tenho mesmo, você é uma incógnita para
mim, senhor.
— Eu sou um livro aberto, todos sabem de tudo da minha vida.
Eu que não sei nada sobre você. Quero ouvir você, me conte, de
onde você vem, quem era você antes de entrar aqui. — Meu corpo
enrijece no mesmo instante. Não sei o que ele entenderá quando eu
contar as poucas coisas que sei sobre mim, mas ele também pode
me ajudar a descobrir quem eu sou de verdade.
— Parece mentira, mas nem mesmo sei como vim parar aqui.
Descobri recentemente que meu sobrenome é Al-Rashidi, já ouviu
falar desse sobrenome? — Ele para e pensa um pouco, negando
com a cabeça.
— Parece que fui drogada e essa droga apagou da minha
mente parte da minha vida. Lembro-me da minha mãe, que tenho
irmãos, que estudei em uma escola conceituada, por isso sei agir
em público como naquele dia do evento. Busco em livros os meus
ancestrais para saber se me encontro em algum lugar, me encaixo
em alguma família, mas está difícil, pois não tenho pista alguma.
— Você dividiu isso com mais alguém?
— Não, somente a Aisha sabe.
— Então não fale para mais ninguém, vou te ajudar a encontrar
a sua família, a saber as suas origens. — Meu coração bate mais
forte quando ele fala que vai me ajudar. Tomo a sua boca, beijando-
a com tanto amor e Said corresponde com o mesmo ardor. Só paro
o beijo porque fico sem fôlego.
— Você está me inviabilizando com as outras mulheres, Tayla.
Estou pulando etapas, não era para eu estar em sua cama agora,
enroscado com você nesses lençóis.
— Mas estou grávida, tenho desejos, é natural que você se
sinta na obrigação de me atender.
— Tara sexual por acaso é desejo de mulher grávida?
— A mulher em estado interessante tem a sua libido aumentada
em... nem sei quantas vezes. É sério, eu li isso em um livro. —
Sento-me na cama, falando com ele olhando dentro dos seus olhos
negros como a noite.
— Nunca foi segredo que eu te amo, Said. Nunca escondi isso e
sabe que agi errado para que você pudesse sentir todo o meu amor.
— Ele fica me olhando seriamente e diz para mim com a mesma
seriedade.
— De verdade, você exala isso quando estou com você, mas
não sou só seu e você tem que entender isso.
— Eu entendo, mas acho que você é que está tendo problemas
dentro de si, porque você me permitiu fazer coisas que nenhuma
das suas candidatas faziam. Eu planilhei isso, colhendo informações
aqui e ali. Você me beija, trocamos sexo oral, dormimos juntos. Você
me dá joias e nunca fez isso com nenhuma delas dessa maneira, e
pior, ainda não me substituiu na outra ala. — Respiro e continuo a
falar, já que ele não me interrompe.
— Eu não quero ser diferente, quer dizer, pensei não ser
diferente, mas você me tornou assim e só o que eu te dei de
diferente foi o meu amor, quer dizer, agora tem esse filho que estou
carregando, que, na real, foda-se o sexo, amarei-o da mesma forma
porque ele é fruto da relação com o homem que eu amo, seja ele só
meu ou de mais quarenta.
— Assim você me fode, Tayla. — Vejo em seu semblante que
Said sofre com essa minha exposição direta.
— Não... é assim que eu te amo, Said. Quem tem que foder
alguém aqui é você, porque até você voltar eu estarei com essa
criança em meus braços. — Jogo-me em cima dele e começamos
tudo de novo.
O sultão saiu da minha cama pela manhã e sei que ele nunca
fica até o café. Nem com as candidatas, muito menos com as
favoritas. De algum jeito o sultão sente algo especial por mim e bem
que poderia ser amor. Porque o amor pode derrubar muitas
barreiras, até as barreiras governamentais.
Quando Aisha se levanta, eu corro contar a ela sobre a nossa
conversa.
— Ele disse que vai te ajudar? — Ela nem percebe que me olha
apavorada. Isso me alarma.
— Sim, ele falou que eu não preciso mais especular ninguém,
que ele descobrirá onde vive e quem são a minha família. Algum
problema com isso?
— Não, não. É que eu me preocupo com você, só isso. Ele não
me parece ter tempo para esse tipo de assunto — ela desconversa,
mas cada vez mais eu sinto que ela sabe mais do que diz.
— Aisha? — Ela me puxa pelo braço.
— Vem, amiga. Vou fazer uma comidinha deliciosa para nós
comemorarmos a sua noite maravilhosa. Eu ouvi os gemidos lá do
meu quarto.
— Ele foi incrível. — Mais uma vez as minhas dúvidas foram
empurradas para debaixo do tapete.

SAID
Faz um tempo que eu não vivenciava uma festa tão animada.
Com as correrias diárias e com os últimos acontecimentos dentro do
meu harém, vinha negligenciando a minha família de sangue.
Toda a minha família reunida, minhas esposas oficiais, minhas
filhas, minhas favoritas e candidatas a favoritas, minha rainha,
carregando um filho em seu ventre, resplandecendo luz e encanto
por toda a sala.
Minha mãe está feliz e sorri para todos os seus filhos e filhos
das esposas de meu pai. Às vezes é estranho entender a dinâmica
que envolve uma família árabe, uma quantia enorme de pessoas
que são consideradas de uma mesma ascendência. Vendo assim,
todo mundo junto, bebendo, comendo e dançando na maior alegria,
nem parece que em algum momento, as coisas ficam feias e
perigosas.
— Disfarça, meu senhor. Não para de olhar uma de suas
favoritas com ardor. — Yussef brinda comigo, ele está alegre e
sorridente, porém, sempre atento às minhas ações.
— É impossível fingir que todas são iguais. Meu coração salta
no peito quando meus olhos recaem sobre ela.
— Mulheres são observadoras por natureza. Ela corre riscos se
o senhor exagerar na atenção. Vai levá-la para o quarto esta noite,
então contenha-se.
— Você está certo, meu amigo. É chegada a hora de fazer a
sua escolha, o quarto do anfitrião está preparado. — Vejo que suas
mãos tremem ao segurar os talheres.
— Eu não sei se é uma boa ideia, senhor. Talvez ela queira ser
sua.
— Isso não importa agora, ela será sua e se você a perdeu
quando renunciou ao seu amor, terá o seu tempo de reconquistá-la.
Diga logo, quem é a felizarda. Ela vai dançar para você agora.
— Malak Jalal, senhor. Ela é a mulher que mora em meus
pensamentos. — Olho para ele impressionado pelo seu bom gosto.
Apesar de Malak estar entre as minhas candidatas a favorita,
sempre a achei muito tímida e por ter a pele mais clara, saindo um
pouco das características das muçulmanas, acho que minha mãe
não a aprovou para conceber um filho meu.
— Gosto de imaginar vocês dois juntos. Sairão belos filhos
dessa união. — Yussef é o típico homem das arábias. Estatura
mediana, cabelos fartos e desarranjados, corpo musculoso e pele
amarronzada. É um belo homem, está sempre bem-vestido, nunca o
vi desarrumado. Tenho certeza de que ele irá conquistá-la à sua
maneira e com o casamento à vista, isso terá que acontecer mais
rápido do que ele pensa. Não sabe ainda, mas será um homem
casado antes do fim do ano.
Faço um sinal para a supervisora e peço que coloque Jamile e
Malak para dançar na nossa frente. Pelo rabo de olho, consigo ver
Tayla ficando vermelha de raiva e faço isso de propósito, quero vê-la
como uma leoa na cama mais tarde.
Quando a minha família começa a se retirar aos poucos, eu me
levanto e sem Yussef para guiar meus passos, a supervisora já sabe
que eu vou me retirar. Avisa Tayla, que faz uma reverência e se
posta como uma rainha na porta de saída. Quando me aproximo
dela, ela estica a mão para mim e eu seguro forte, enroscando meus
dedos nos seus. É reconfortante caminhar ao seu lado pelos
corredores do palácio.
— Posso pedir uma coisa, senhor?
— Naturalmente, apesar de ter visto raiva uma ou duas vezes
em seu rosto, posso dizer que você se comportou como uma rainha.
— Porque eu sou a sua rainha, nunca se esqueça disso.
Adoraria passear na fonte dos amores agora.
— Tayla... — Eu sei exatamente o que ela tem em mente e por
mais que tenha ciência de quanto isso é muito perigoso, pois não
tenho a retaguarda de Yussef, sinto todos os músculos do meu
corpo vibrando, só imaginado meu pau envolvendo sua boceta
quente e, provavelmente, melada.
Seu pedido é um tiro certeiro na minha libido.
— Apenas uma volta, meu senhor — ela insiste, mansamente.
— Vamos, terá que ser rápido, estou sem o meu conselheiro e
você sabe bem o quanto ele já nos beneficiou.
— Dependerá exclusivamente do senhor. Eu já estou quase
atingindo o orgasmo só de estar ao seu lado agora.
— Você está se tornando uma boa vadia, habiba. — Ela sorri
encantadoramente e sabe fazer isso como ninguém.
Assim que atingimos a fonte, Tayla me empurra para o mesmo
banco onde começamos a nossa história, agacha-se no meio das
minhas pernas, enfiando-se embaixo das minhas túnicas, apertando
meus testículos em suas mãos. Meu pau avisa que precisa
desesperadamente da sua boca gulosa e ela sabe, abaixa as
minhas vestes e me engole daquele seu jeito esfomeado. Fecho os
olhos e deixo que minha mente viaje, fazendo um retrocesso de
todas as nossas interações e de como nosso amor se solidificou
dentro das paredes desse palácio. Antes de gozar em sua boca,
louco de vontade de fazer, mas sem o devido tempo, ergo-a do
chão, ela mesma abaixa suas roupas íntimas, encaixa as pernas na
minha lateral e vai lentamente, com seus olhos azuis fixados nos
meus olhos, descendo dobra por dobra do meu pau, literalmente
engolindo tudo de mim. Só fica satisfeita quando estou inteiro
atolado na sua boceta. Dança em cima dele, consigo ouvir a música
que ela rebola, desnudo seus seios agora mais voluptuosos e sugo
seus mamilos sensíveis. Tayla gemendo no meu pau é a coisa mais
linda do mundo e eu não aguento mais a pressão. Aumento cada
vez mais o ritmo das estocadas, pensando no meu garoto ali dentro,
e entro em uma confusão mental, chegando ao clímax mais
poderoso da minha vida. Controlo o meu louco desejo de dizer que
a amo mais do que tudo nessa vida, porque isso provocaria uma
enxurrada de emoções e não é totalmente verdade, porque o
reinado e a monarquia estão acima desse amor bandido. Saio de
dentro dela e a coloco em meu colo, beijando a sua boca para inibir
os meus sentimentos mais obscenos. Nunca achei que a dor e o
amor caminhariam lado a lado em minha vida.
— Vamos, habiba. Precisamos de um banho agora.
— Um banho e mais uma rodada, você está disposto, não é?
— Para você, sua gulosa, estarei duro a noite toda. — Dessa
vez, caminhamos como manda as regras do palácio. Tayla apenas
ao meu lado, de cabeça baixa, toda recatada. Tão recatada ela me
parece, porém, sei muito bem que sua boceta nessa hora está
escorrendo meu sêmen. Sorrio mais uma vez, deixando que aquela
nuvem de receio e preocupação se desfaça pelo caminho.
CAPÍTULO 13
Depois daquela noite, o sultão criou uma rotina semanal
comigo. Não eram momentos oficiais, mas eram extremamente
prazerosos. Nós vivíamos em uma bolha, uma vida de casados
quando ele estava em casa. Sexo, comida, diversão e conversas ao
pé do ouvido. Ele saía ao amanhecer e todas sabiam o que vinha
acontecendo não tão distante dos seus olhos. Eu não me anulei,
disse que isso poderia ser perigoso para ele e, consequentemente,
para mim, também para a criança que eu carregava, mas o sultão
estava seguro de que tinha tudo sob controle.
Dessa maneira lúdica, os meses foram passando, mas eu sabia
que essa felicidade momentânea não duraria a vida inteira. As
noites que ele aparecia eram de extrema alegria, eu buscava
alcançar o céu quando ele estava aqui. No dia a dia, as outras
mulheres da ala nem olhavam no meu rosto, indignadas com o
excesso de atenção que ele me despendia. Eu nunca entendi essa
raiva toda direcionada a mim, eu sempre deixei claro que amava o
sultão, enquanto nenhuma delas sequer tinham apreço por ele. O
problema é o poder, elas sabem que eu tenho em meu ventre a
chave da ala oficial e isso é que as deixa incomodadas e temerosas.
Minha ruína começa quando eu completo sete meses de
gestação. Quase nunca saio do meu espaço pessoal, mas feliz com
os números do meu pré-natal, chamo Aisha para ir a área comum
das favoritas. É um ambiente grande, agradável e mesmo sentindo
os olhares me seguindo, decido ignorar a inveja e aproveitar o que
tem ali para entreter. Sentamo-nos na sala da televisão, onde duas
das favoritas assistem a novela.
Nossa, quanto tempo que não vejo nada na televisão. Via muito
quando era criança e quando minha mãe deixava meu irmão mais
novo ali, para fazer suas tarefas. São lembranças que vêm em
minha mente do nada, flashes de um passado feliz. A programação
é interrompida e na tela entra um repórter, falando sobre uma
rebelião aqui mesmo na capital. Uma das meninas aumenta o
volume e aparece na tela um monte de homens, gritando palavrões
e ofensas ao rei. Isso deve criar uma tensão em Said, ter que lidar
com esses bárbaros. O reinado dele é tão equilibrado, não acredito
que tem pessoas que são contra.
O repórter entrevista um homem que grita por justiça. Presto
atenção no que ele reivindica.
— Esse governo atual é um atentado contra essa nação. O líder
desse país é um verdadeiro mercenário, só pensa em encher os
bolsos de dinheiro e deixar o povo cada vez mais sem comida, sem
vestimenta, sem trabalho. — A voz do homem vai sumindo dos
meus ouvidos lentamente. Quando a câmera focaliza seu rosto bem
de perto, eu me reconheço nele. É o meu pai, o homem que cospe
no prato que come é o meu pai, Vermont Balil Al-Rashidi. Minha
barriga contrai na mesma hora, passa um filme na minha cabeça e
tudo que vivi a vida inteira volta com uma força descomunal. Levo a
mão à cabeça e Aisha já está com um copo de água em sua mão.
— Desliga essa televisão, Maryam, por favor. — Ela desliga e
chama Zurah para fora da sala.
— O que você está sentindo, Tayla?
— Aquele homem, aquele homem da reportagem. Eu lembrei
dele, Aisha. Aquele homem gritando aos quatro ventos que o
governo de Said é horrível, é o meu pai. Ohh... meu Deus. — Aisha
me faz beber a água, me abraça e me acalma dizendo que isso só
fará mal ao bebê.
— Eu preciso falar com o sultão, Aisha. Preciso falar agora. —
Saio em disparada, com Aisha atrás de mim, gritando para eu tomar
cuidado com a barriga. Paro em frente à porta de uma área
expressamente proibida para nós mulheres, mas já não consigo
mais pensar com frieza.
Lembrar de quem eu sou, de onde vim, provoca em mim, uma
espécie de loucura momentânea. Eu abro aquela porta e começo a
caminhar por um longo corredor, olhando ambiente por ambiente até
encontrar Yussef caminhando em minha direção, totalmente
assustado.
— Eu preciso falar com ele agora, senhor. É muito importante.
— Ele segura o meu braço suavemente.
— Calma, senhorita, respire pausadamente. Está sentindo
dores? Aconteceu alguma coisa com você?
— O bebê está bem, eu só preciso falar com o sultão. — Minha
respiração está acelerada, sinto que vou desmaiar a qualquer
momento.
— Venha, eu vou te levar até ele, mas precisa se acalmar. Ele
está cheio de problemas e não aguentará te ver assim. — É a
primeira vez que olho nos olhos dele e o conselheiro é um homem
muito gentil. Faço uma reverência para ele.
— Eu agradeço tudo que tem feito por nós, senhor. Está certo,
não posso chegar assim para conversar com ele. É que
aconteceram coisas. — Ele me interrompe.
— Fique tranquila, ele está aqui e eu vou te levar até ele,
enquanto espera se recomponha. Deve estar acabando uma
reunião. — Aceno que tudo bem e ele me leva para uma sala
reservada. Entrega-me um copo de água, certifica-se de que estou
melhor e sai para avisar o sultão de minha presença. Esse tempo
serve para eu me reconectar comigo mesma. Algumas coisas
começam a ter lógica diante do que eu presenciei hoje e do que
minha mente se lembrou. Minha família é oposição do monarca Al-
Maktoun. Um Al-Rashidi nunca deveria estar dentro do palácio do
inimigo político.
A porta abre e um sultão preocupado adentra a sala. Eu me
jogo em seus braços, pouco me importando com o protocolo social.
Seu conselheiro fecha a porta, nos dando privacidade. Minha boca
busca a dele e ele abre os lábios, envolvendo minha língua na sua.
De repente, ele se afasta de mim e limpa minhas lágrimas que mal
dei conta que deslizavam pelo meu rosto.
— O que aconteceu, habiba? Eu nunca te vi assim, Yussef falou
que não é com o bebê, então o que você está sentindo? Olha seu
coração, está muito acelerado. — Ele alisa meu peito, até eu ir me
acalmando vagarosamente. Só consigo falar depois de alguns
minutos.
— Eu lembrei muitas coisas sobre o meu passado. — Seu toque
congela, sinto o calor dele se esvaindo.
— O que exatamente você lembrou? — Ele retoma a posição
ereta e já está reativo. Diante dessa postura, calculo o que vou dizer
para que o impacto não seja ainda maior entre nós. A distância já foi
sentida.
— Eu vi um homem na televisão. Ele estava protestando contra
o seu governo e quando a câmera o focalizou, eu o reconheci. Era o
meu pai. — Ele perde um pouco da cor do rosto.
— Você tem certeza disso, Tayla? Existem muitos homens
parecidos nesse país.
— Era ele, eu tive a certeza quando a reportagem exibiu o seu
nome, Vermont Balil Al-Rashidi. Esse é o nome do meu pai. — Ele
segura na minha mão e, dessa vez, eu me afasto dele.
— Lembrou de mais alguma coisa?
— De toda a minha vida até o dia que eu completei dezesseis
anos. O período até eu estar aqui dentro ainda é uma incógnita.
— Não fique assim aflita, habiba. Juntos nós vamos investigar
suas lembranças e verificar se são reais.
— São reais, senhor. A minha família é inimiga da sua. Eu vi na
televisão. O meu pai xingando o seu governo.
— Isso não muda o que sentimos um pelo outro, pense no
nosso filho, ele sente tudo o que você sente.
— O senhor está com a razão. Foi o choque de ter me
reconectado com meu passado.
— Venha. — Ele estica a mão para mim, mas me levanto
sozinha. — Eu vou te acompanhar aos seus aposentos.
— Prefiro que Yussef me acompanhe, se o senhor permitir.
— Eu não permito. Eu disse que vou te acompanhar e isso é
fato. Vamos. — Na minha opinião caminhar ao seu lado é como
fazer o caminho da humilhação. Na minha cabeça, ver aquele
homem ofendendo o meu rei me faz tão pecadora quanto ele. Eu
nunca gostei de injustiça e sinto que não vou suportar toda essa
carga sobre a minha cabeça.
Agradeço o sultão, antes de entrar em casa.
— Não quer conversar mais um pouco?
— Não, preciso pensar, tomar um banho. Sei que tem muitos
problemas para lidar. Estava em uma reunião e eu atrapalhei com
as minhas sandices infantis.
— Não se martirize, você é uma mulher cheia de luz, não deixe
que a escuridão tome conta de você.
— Obrigada. — Faço uma reverência, provando para ele que,
acima de tudo, eu o respeito. Entro dentro de casa me trancando em
meu quarto, apesar dos gritos da Aisha pedindo para eu abrir.
Agora é comigo, eu preciso de espaço para recriar os anos que
se perderam em minha mente.

SAID
Volto para a minha sala, sentindo que o chão foi tirado debaixo
dos meus pés. Estou com os pés e mãos atadas nesse momento,
porque são os sentimentos e os desejos dela que tem força agora.
Não posso dizer que a amo, porque não posso assumir esse
amor em toda a sua plenitude e não posso cobrar nada dela, porque
eu sabia todo o tempo quem ela era.
Se eu tivesse escutado meu conselheiro, teria varrido essa
mulher daqui e nada disso estaria acontecendo. Eu sofro com o
sofrimento dela, dói em mim saber que nessa hora seu coração está
dilacerado.
Entro em minha sala e Yussef entra atrás de mim, fechando a
porta.
— É por causa do sobrenome?
— Ela viu o pai na rebelião e se lembrou de quase tudo.
— Droga, isso deve ser sido impactante.
— Está sofrendo e eu sou culpado por esse sofrimento, porque
fiz tudo que não devia ter feito.
— Desculpe-me, senhor. Não passarei a mão na sua cabeça,
para cada ato sempre terá uma consequência. Estava ciente que
isso aconteceria a qualquer hora.
— Agradeço a sua honestidade. Não é à toa que está no posto
mais alto depois do rei. O que eu quero agora é que ela se
tranquilize até o nosso filho nascer. Preciso que ela mantenha só a
ideia de que estamos lutando de lados contrários. Ela não pode
saber sobre as decisões que precisaremos tomar caso nasça um
filho homem. — Olho o calendário e faltam somente quarenta, no
máximo cinquenta dias para o nascimento. Não quero torcer para
que nasça uma menina, porque isso não é verdade. Eu quero um
macho saindo da mulher que amo, para que ele traga o amor para o
seu reinado quando chegar a sua hora.
Encerro minhas reuniões e ligo para o ministro do exército,
pedindo que intensifique as diligências nas áreas de conflito e mais,
prenda quem estiver fazendo estardalhaço, querendo denegrir a
imagem do governo. Cansei de deixar esses infames gritarem aos
quatro ventos o que desejam sem revidar. O mal que ele quis causar
dentro do palácio já está feito e foi como um tiro certeiro. Atingiu
quem ele queria atingir. Também sei ser maquiavélico quando
desejo, e hoje, eu mataria esses vermes com as minhas mãos para
que Tayla parasse de sofrer por uma atitude maligna da sua família.
Deixo que Tayla se recupere, mantendo uma distância segura,
porém, vigiando os seus passos diariamente. Sua barriga continua
crescendo lindamente, ela foi até a fonte, lugar que sei que ela se
sente bem e ouso dizer que sua mente foi colocada de volta em seu
lugar.
Mantive minhas visitas noturnas entre as mulheres que a minha
mãe determinou para que ninguém ficasse com mais raiva dela. Em
uma das camas que estive, descobri que todas já sabem quem ela
é, o que só mostra para mim que eu devia ter tido essa conversa
com ela há mais tempo.
Quarenta dias antes do parto, eu vou até o seu apartamento.
Aisha abre a porta assustada.
— Boa noite, senhor. — Ela faz a comumente reverência.
— Onde está Tayla?
— Ela está no banho, não me avisou que o senhor viria.
— Eu não avisei que viria. Pode nos deixar a sós, preciso ter
uma conversa com ela.
— Naturalmente. Com licença. — Ela vira as costas, mas a
chamo novamente.
— Você é a melhor amiga que minha favorita pode ter. Não a
abandone, ela precisa de você.
— Mesmo não concordando com a relação de vocês, eu nunca
sairei do seu lado. Ela tem a minha lealdade.
— Agradeço a sua discrição sobre os nossos sobrenomes.
— Não a magoe.
— Não posso te prometer isso, você sabe. — Ela sai e eu vou
até o banheiro.
Vislumbro minha deusa nua, ensaboando os cabelos longos,
lindos e negros. Sua barriga está imensa, é um homem, eu sinto.
Quando ela acaba de tirar o xampu, abre os olhos e me vê
observando sua nudez.
— Said... o que faz aqui? — Nesse momento, abro as cordas da
minha túnica.
— Vim tomar banho com você. Faz tempo que não fazemos
isso juntos. — Ela sorri deliciada. Amo o seu sorriso.
— Então entra, a água está do jeito que você gosta. — Fico nu
e não consigo controlar a minha ereção. Ela é uma beleza, parece
uma pintura.
— Mentirosa, essa água deve estar escaldante.
— Não está, eu ando cheia de calor com essa barriga enorme.
— Entro embaixo da água e tomo sua boca. Seus braços envolvem
meu pescoço e tudo parece estar novamente no lugar.
— Acha que posso foder você mais uma vez? — pergunto
enquanto mordo e sugo seus mamilos, sentindo seu leite jorrar na
minha boca. — Opa...
— É, já tem leite aí. Isso não te pertence mais, senhor. Sobre
transarmos, o médico não disse nada sobre isso, acho que se você
for gentil, não terá nenhum problema.
— Então vira para a parede e empina bem essa bunda gostosa.
— Said...
— Vai, sua vadia, vira essa bunda para mim. — Ela faz o que
peço, molho a sua boceta com a minha saliva antes de enfiar meu
pau em sua caverna extremamente quente e apertada. Meu filho
está roubando todo o meu espaço.
Empurro lentamente, degustando de cada enterrada, sentindo
cada movimento de sucção da sua vagina. Tayla sempre me
surpreende, com as suas técnicas de pompoarismo. Ela prende
minha glande e solta, prendendo outra vez, mas dessa vez ela
demora mais um tempo para soltar e isso vai enlouquecendo meus
testículos, porque eles ficam malucos, querendo esporrar dentro da
sua boceta artística. Porque essa sensação de ser engolido e
estrangulado é coisa de uma deusa do amor.
— Você não me dá outra alternativa, habiba.
— Goza, meu rei. Goza que eu gosto de sentir seu jorro
queimando minhas entranhas.
— Então solta a minha cabeça, você está estrangulando meu
pau.
— Gosta?
— Amo essa sensação. Sente como eu amo você me
engolindo? — Viro-a de frente para mim e bato uma punheta em
cima da sua barriga. Ela respira com dificuldade, sentindo todo o
meu amor escorrendo nela.
— Vou sentir saudades de você. — Ela diz, enquanto lavo sua
barriga, depois do nosso êxtase.
— Por que está dizendo isso?
— Sei como funciona, nos últimos dias não teremos interação.
São regras e eu entendo.
— Tudo retornará quando nosso filho nascer, tenha fé. —
Enxugo seu corpo, ajudo a colocar a roupa, enquanto ficamos ali,
apenas olhando nos olhos, apreciando nossa última intimidade
antes do parto.
Quando eu saio de lá, depois do jantar que Aisha preparou para
nós, meu coração está apertado como nunca esteve. Entro no meu
quarto, me jogo na cama e choro igual criança por longos minutos.
O nosso futuro agora está nas mãos de Allah. Ele determinará o
nosso destino.
CAPÍTULO 14
A ausência do sultão é sentida. Se fossemos um casal
tradicional, mesmo não havendo relações sexuais, teríamos outras
coisas a fazer juntos, mas aqui, dentro do seu harém, sou apenas
uma peça e tenho que me contentar com a espera. Também tenho
consciência de que já invadi demais o seu espaço masculino. Eu
sabia que isso aconteceria, eles são obrigados a cortar relações
sexuais para manter um risco menor de alguma intercorrência
acontecer próxima do parto. Doenças oportunistas podem
inviabilizar um filho de um sultão e eu não quero de forma alguma
que meu filho corra o risco de nascer com alguma doença
indesejada.
Aproveito os meus dias para viver minha vida como uma mulher
influente e rica. Estar grávida, me abre portas dentro da minha ala e
eu aproveito essa dádiva para montar um novo guarda-roupa para
mim e para o meu filho. Eu tenho certeza de que há um filho homem
dentro de mim, mas o destino nem sempre cumpre o seu papel,
então, por ora, as roupas da criança ainda têm cores indefinidas.
Claro que no fundo de uma gaveta o azul reina isolado, todos os
dias eu a abro e passo as mãos sobre elas, cheirando o delicioso
perfume infantil que ela exala. Depois eu me sento na cadeira de
balanço, olhando admirada cada espaço criado para receber nosso
bebê.
Não sei que sensação as outras mulheres que pariram filhos
dele tiveram, mas não deve nem chegar perto do que sinto dentro
do peito quando penso em tudo o que vivi até estar nesse lugar.
Desde que me recordei de muitas coisas da minha vida passada e
eu digo passada, porque nunca mais voltarei a ver a minha família,
afinal, fui moldada para estar ao lado de alguém importante. Pelas
imagens que vi naquele dia, que busquei secretamente em livros e
periódicos da biblioteca, meu pai me criou exatamente para estar
com esse homem em minhas mãos. Se eu parir um filho homem,
chegarei aonde eu almejei, desde o primeiro dia que coloquei meus
olhos nele e isso é que importará daqui para a frente. Ele irá para a
cama das outras mulheres, mas sempre voltará para a minha e isso
deve bastar.
— Está sorrindo. — Aisha entra no quarto e me entrega um
copo de água. Controla até o ar que eu respiro. — Não quero ver
sua pele desidratada. Levanta a túnica, vou passar óleo de
amêndoas na sua barriga. Que bom, você não ganhou nenhuma
estria.
— Pensava em Said, por isso sorria.
— Sabe que até eu estou com saudades do sorriso feliz dele
quando te via. Os olhos dele brilham quando te olha.
— Ele me ama, nunca disse, mas eu sinto nossa conexão.
— É certo, ele te ama. Tem sentido dores estranhas?
— Tenho sentido um peso na região genital, é normal, não é?
— Está chegando a hora, por isso esse desconforto. Deite-se de
lado, vou massagear as suas costas. — Viro-me e ela faz
massagem em mim.
— Está me mimando, Aisha.
— Devo minha vida a você e as suas loucuras. É pouco o que
faço.
— E a Iasmim? Tem visto?
— Encontrei-a na fonte por um acaso do destino.
— Aisha...
— Você pode e eu não posso? — ela brinca comigo.
— Eu estava com o monarca do palácio. Quem iria contra ele?
— Tivemos uma conversa e trocamos carícias. Não entrei
embaixo da saia dela para chupar sua boceta.
— Tome vergonha, Aisha.
— Deixo essas saliências para a rainha da sedução. — A tarde
vai embora e nem vemos o sol se pôr.
Depois jantamos, tomo um banho e me deito na cama,
dormindo imediatamente.
Minha bolsa gestacional rompe em exatos nove meses e é um
parto delicado porque a criança é grande, enquanto sou pequena
demais para colocá-la ao mundo. Tenho muito medo de não
suportar a dor e Aisha fica ao meu lado durante todo o meu trabalho
de parto.
Quando pergunto por ele, ela diz que o sultão está em seus
aposentos, ansioso, aguardando o nascimento do filho. Eu não fico
especulando muito, mas ele poderia estar ao meu lado, me
ajudando a enfrentar o medo e a dor. Mais uma vez me calo, ele não
é um homem como outro qualquer, ele é o monarca do país e terá
um monte de filhos até o fim do reinado. Mais uma contração forte e,
por Allah, o médico chega à minha casa e ajuda a parteira. Apesar
das contrações estarem fortes, a minha dilatação demora a chegar
no momento certo da expulsão do bebê. A última e derradeira
contração, parece que junto com a criança, tudo que existe dentro
de mim escorre pelas minhas entranhas.
Todas as dores são esquecidas quando ele coloca a criança em
meus braços e eu vejo que é um homem, que é lindo e perfeito. O
meu destino está traçado, eu serei a número um do seu harém, a
esposa favorita, a mãe do primogênito, e isso sempre foi o que eu
almejei. Assim que o médico termina seu trabalho e sai do quarto
com a parteira, fico ansiosa pela visita do sultão.
O sultão entra no quarto logo depois, imagino que tenha
conversado com o médico para saber se tudo correu bem. Ele olha
para mim com um ar preocupado e eu aceno que estou bem. Vai até
a Aisha que segura meu filho com carinho, pega nosso filho nos
braços. Uma lágrima solitária rola em sua face timidamente, mas
algo me chama a atenção. Ele não parece feliz, beija a testa dele e
o entrega de volta para a Aisha. Sinto como se ele estivesse apenas
cumprindo um ritual, de tantos outros que assisti nesses meses em
que estive ao seu lado de modo mais efetivo. Vem até mim, senta-
se ao meu lado e segura a minha mão.
— O médico disse que foi difícil para você, está bem?
— Tenho algumas dores, mas isso passará rápido. Ele é lindo,
não acha? Parece com você. — Tento arrancar alguma emoção,
mas ele está com o autocontrole em dia.
— Todos os bebês têm a mesma cara, habiba. É muito cedo
para fazermos conjecturas sobre quem ele puxou. Quero que
descanse agora, Aisha te ajudará e se precisar de uma babá,
mande me avisar que providencio uma.
— Não será necessário, eu mesma cuidarei do nosso filho.
— O nome dele será Mohammed Abdul Al-Maktoun, gosta? —
Mesmo a mãe sendo a pessoa que carrega em seu ventre por nove
meses, depois concebe de uma maneira totalmente dolorosa e
invasiva, a criança leva o nome do pai. Isso é muito injusto.
— É um nome lindo, senhor. — Ele acaricia meu rosto. Tira os
cabelos molhados da minha testa e a beija, levantando-se, olha
mais uma vez para Mohammed e sai com pressa do quarto.
Aisha se levanta e coloca Mohammed para mamar em meus
seios pela primeira vez, nesse momento até me esqueço da frieza
do pai, enlevada com a primeira refeição do meu filho. Nem eu,
muito menos ela busca explicação para o comportamento tão frio ao
nascimento do seu primeiro filho homem.

SAID
Saio do quarto de Tayla sentindo um peso mortal sobre as
minhas costas. Ando apressado, entro na área proibida por elas e
busco por ar, sem grande sucesso.
Escancaro a porta do meu quarto, quase arrebento a janela da
minha varanda e saio para fora, certo de que estou tento uma crise
de ansiedade. Sinto falta de ar, meu peito dói, o suor escorre pelo
meu pescoço, sento-me na cadeira com medo de desmaiar. Yussef
me encontra assim, sem forças para combater a crise.
— Está me escutando, Said? — Sua voz parece um sussurro.
— Sim, estou. — Tenho apenas um fio de voz.
— Tente controlar a respiração, você está bem, tudo que está
sentindo foi desencadeado pelo seu desapontamento. Pense só em
inspirar e expirar, devagar, esqueça tudo o resto. — Ele alisa meu
peito bem devagar, ajoelhado ao meu lado e eu tento seguir os seus
conselhos. Isso funciona, bloqueio os pensamentos ruins da mente,
focando em voltar a respirar e com a sua massagem em meu peito,
já não sinto tão forte as dores que estavam me paralisando.
— Agora que está conseguindo respirar, relaxa a cabeça, o
pescoço, a nuca. Vamos, mexa a boca, agora os ombros. Isso, já
sinto um progresso. — Faço o que ele vai mandando, sem pensar,
apenas para conseguir dominar o meu corpo outra vez.
Yussef só para de massagear meu peito, meus ombros e meu
pescoço quando nota que consigo respirar mais livremente e estou
mais relaxado. Ele se senta no chão ao meu lado, exaurido pela
situação vivenciada.
— Eu pensei que ia morrer. — Digo a ele.
— Eu não deixaria você morrer.
— Isso é fato, foi você que me salvou. Nunca senti isso antes.
— Ele se levanta do chão, vai até meu quarto e coloca uma taça de
vinho para mim.
— Ajuda a relaxar. — Ele me entrega e senta na cadeira ao meu
lado.
— Tudo isso foi desencadeado pela imagem do seu filho? — ele
me pergunta quando nota que estou totalmente recuperado.
— Nunca senti uma emoção tão grande, Yussef. Acho que o
que desencadeou a crise foi ter me controlado na frente dela. Não
pude agir como deveria, como faria um pai que descobre que seu
filho primogênito nasceu do amor, de uma relação real dentro de um
palácio onde ele tem muitas mulheres. Não foi o momento mais feliz
da minha vida porque junto do nascimento de Mohammed, morre
um lindo amor que só acontece uma vez na vida.
— Está sendo duro demais consigo mesmo, Said.
— Eu preciso ser duro, meu caro. Não posso fraquejar. Não
tenho intenção nenhuma de renunciar ao meu cargo.
— Ela está fraca, perdeu muito sangue, o menino nasceu
grande e ainda terá essa dor para administrar.
— Eu sei, sei de tudo isso, mas se eu me entregasse a emoção
do primeiro olhar, do primeiro toque, o amor venceria mais uma vez,
e eu errei quando derramei o meu sêmen dentro dela, você é
testemunha da minha falha.
— Se me disser que está bem, o deixarei sozinho, uma certa
dama está preparando um jantar para mim. — Seguro seu braço,
agradecendo sua pronta eficiência.
— Vá, meu amigo. Você já salvou a minha vida hoje. Estou bem
agora. Estou feliz que tenha finalmente aceitado o que a vida está te
dando. Lembre-se, o amor é único e quando ele chega, tem que
escolher amar ou viver de sonhos não realizados. — Dessa vez ele
sai sem me reverenciar. Esse momento que vivemos, não éramos
nem rei e nem conselheiro, éramos dois homens tentando
sobreviver ao tsunami que ainda está por vir.
Viro a taça, encho mais uma vez e volto a me sentar na
varanda. Fecho os olhos, pensando em cada detalhe de
Mohammed, seu nariz já sinalizando sua raça, as dobras dos braços
e pernas. Sim, ele é grande e deve ter dado um enorme trabalho
para nascer. Tayla é guerreira, logo ela estará recuperada do parto.
Meu filho é lindo e já nasce pedindo mudanças urgentes. Já que não
posso ter os dois, que ele seja o detentor das mudanças
necessárias nesse país e que num futuro não tão distante, ele possa
amar quem ele desejar.
Viro o restante da garrafa e vou cambaleando para a cama.
Antes de dormir, sinto o cheiro dela e peço para viver em sonho o
que eu gostaria que tivesse sido o dia de hoje.
Acordo com uma dor de cabeça terrível, o que me faz lembrar
de que estive à beira de um colapso emocional.
Saio da cama, tomo um banho e um analgésico.
Encontro minha mãe à mesa do café. Ela vem me abraçar,
parabenizando o primogênito, mas ela é inteligente, sabe que isso
também traz dor e sofrimento. Ela comenta que foi vê-lo logo depois
de mim e confirma que Tayla está feliz com a maternidade.
— Deixe-a se fortalecer, Said. Espere o resguardo, esse é um
tempo muito importante para a mãe e a criança. Me sinto culpada,
de certa forma, eu sabia que ela não era uma boa favorita, mas eu
vi que você sentia algo por ela, então usei o meu poder para colocá-
la em seus braços.
— Você me fez o homem mais feliz do mundo, minha mãe. O
erro foi meu por não ter me protegido com ela. O que está feito está
feito, não temos como mudar a história. Vamos modificar o futuro,
tenho certeza disso. Só espero que não tenha errado no meu
julgamento.
— Dará tudo certo, eu confio em Allah. — Ela sai e Yussef
entra, perguntando apenas se estou bem.
Diante da minha resposta, ele abre a agenda e começa mais um
dia de trabalho.
CAPÍTULO 15
O sentimento de abandono aumenta, à medida que Mohammed
Abdul Al-Maktoun ganha peso e eu recupero o meu vigor feminino.
Mohammed é uma criança tranquila e bastante faminta, recuperar o
meu peso de antes da gravidez é uma questão de tempo.
Bem o oposto da mãe dele que anda impaciente com os
acontecimentos à sua volta.
Não posso dizer que fui negligenciada, o sultão esteve muitas
vezes em meus aposentos nesses primeiros quarenta dias. O ritual
é sempre o mesmo. Chega, beija a minha testa, causando um
incômodo surreal em mim. Senta-se no sofá e Aisha entra com seu
filho. Ele pega o menino no colo, beija sua testa, pergunta sobre o
seu dia, brinca com ele e vai embora rapidamente, pedindo
desculpas por ainda ter um compromisso. Isso vai amargurando a
minha alma, é muito complicado ficar sem saber o que de fato vai
acontecer.
Quando o médico me dá alta do resguardo, ainda acredito que a
minha vida mudará, que ele está esperando apenas isso para voltar
a frequentar a minha cama, mas nunca estive mais errada. A sua
próxima visita acontece nos mesmos moldes das anteriores. Assim
que ele sai, eu amamento e nino Mohammed, e vou até o quarto de
Aisha.
— Ele está muito estranho. Está calado, tem medo de dizer
certas palavras, está pisando em ovos.
— Tenho que concordar com você dessa vez.
— Além disso, Said ainda não me levou para a ala das esposas,
o que me faz crer que isso não acontecerá e por mais que eu seja
esperta, porque sei que um filho homem tem maior prioridade dentro
de um harém, eu estudei muito esse tema na escola, algo está
muito errado.
— O que vai fazer?
— Se dentro de alguns dias ele não se pronunciar, eu o farei.
Não sou mulher de esperar as coisas caírem na minha cabeça. Se
tem algo que eu não saiba, ou que mudará os rumos da minha vida,
não quero esperar mais.
— Estou com você, amiga.
Esse estado apocalíptico potencializa, quando resolvo passear
com Mohammed em meus braços e ouço uma conversa entre duas
favoritas, sem que elas me notem ali no ambiente social.
— Espero que ela tenha aproveitado antes do nascimento da
criança, porque uma hora ela vai saber a verdade e aí, acabou seu
sonho de ser a mais importante.
— Tenho pena dela, vive um amor impossível. — Volto para
casa com a cabeça explodindo. O que eu não sei e que deveria
saber? Por que elas sabem e eu ainda estou no escuro? Hoje, Said
não me escapa...
Me arrumo para esperá-lo, dessa vez vestida como antes,
preparada para agradá-lo e não como uma mãe recém-parida.
Roupas brilhantes, com pedrarias, um hijab ainda mais encantador,
o perfume que eu sei que ele aprecia. Tudo feito para despertar o
homem que eu sei que existe debaixo daquela túnica. Peço para a
Aisha ficar comigo na sala e levar Mohammed quando eu assim o
determinar.
— Fica calma, Tayla. Não faça nada que o seu leite pode secar,
não prejudique seu filho por suposições da sua cabeça.
— Eu só preciso de respostas, Aisha. Pode ficar sossegada que
não pretendo me alterar. Será uma conversa franca, olhando nos
olhos dele. Eu mereço sua sinceridade.
— Quem não te conhece que te compre.
O sultão entra em casa nessa hora e ergue as sobrancelhas,
surpreso com a cena que vê.
— Vocês duas estão com uma cara estranha. — Feliz
observação, ele é perspicaz.
— Para variar a Aisha está aqui me enchendo a cabeça,
dizendo que eu tenho que esperar sua mãe conversar comigo sobre
a nossa mudança de ala. — Said fica pálido e é exatamente o que
preciso para confirmar que as conversas em cochichos que ouvi
pelos corredores têm fundamento.
— Beija o seu filho agora, senhor, porque a Aisha vai colocá-lo
para dormir. Hoje ele ficou muito tempo acordado. — Ele se assusta
com a minha ousadia, pega o garoto, brinca, pergunta sobre a sua
saúde, até que a minha paciência se esgota.
— Chega, Said. Pode levar, Aisha. — Ela sai rapidamente com
o menino e eu os acompanho com o olhar, porque Mohammed é
uma criança linda, tem as características do sultão, será um homem
apaixonante. Agradeço em silêncio ele ter todas as características
da família Al-Maktoun. Viro-me para ele, sentado à minha frente.
— Agora somos só nós dois. — Encaro o sultão de igual para
igual e sei que ele não gosta desse meu jeito desafiador. Mulheres
submissas ele tem aos montes, eu nunca serei como elas. — Eu
sempre fui bem sincera com você, senhor. Acho que sincera até
demais e estou vendo que a recíproca não é verdadeira. Estou
passando vergonha, sendo humilhada, escutando conversas chulas
a meu respeito, e de verdade, pouco me importo com os outros,
mas me importo com você e com a relação que pensei que
tínhamos.
— Você é muito extremista, Tayla. Sempre foi assim. — Said
não move um músculo da face e eu não consigo analisá-lo.
— Então, não há nada errado acontecendo? — Ele engole
saliva, é um sinal de que está nervoso.
— É que você não tem culpa de nada, ninguém tem culpa de
nada a não ser eu. — Meu coração sangra, porque sinto que é algo
que não pode ser mudado, mas que podia ser evitado. Espero ele
organizar os pensamentos e tento não entrar em desespero.
— Eu protelei essa conversa, Tayla, porque gostaria que
houvesse uma maneira de que, no final dela, não ficássemos em
lados opostos. — Como previ, é algo definitivo, que não tem como
remendar. O peito vai estrangulando o coração.
— Acho que nós sempre estivemos assim, Said. Eu sempre
querendo ser sua e você sempre fugindo de mim, só que eu preciso
entender o que acontece, para fazer o meu próprio julgamento.
— Você não entrou nesse palácio à toa, Tayla. Sua família é
quem a trouxe, através de algumas pessoas conhecidas e
influenciáveis.
— Sim, eu sei disso. Meu sonho era morar aqui, ser a mulher do
sultão mais influente do país. — As palavras saem da minha boca e
eu não entendo como tenho isso dentro de mim. Há instantes, eu
não me lembrava disso.
— Esse sonho foi alimentado durante a sua adolescência, você
foi preparada pela sua família para estar aqui e me seduzir, você
comprou essa ideia, assim como esse amor que sente por mim. —
Que disparato... fico lívida, ouvindo-o falar assim de mim.
— Como assim? Agora eu não sei o que sinto? — Altero o tom
da voz, totalmente estarrecida com sua fala. Lembro-me de que
Mohammed dorme em seu quarto e não quero que Aisha escute
tudo que conversamos.
— Eu sei e acredito que você gosta de mim, mas foi algo
plantado dentro de você de maneira orquestrada e eu sabia disso.
Eu sabia que você não podia chegar perto de mim, pois descobri a
sua identidade quando me senti atraído por você, mas você não
respeitou os limites impostos. — Fico mais confusa ainda.
— Por que eu não podia chegar perto do senhor?
— Porque você é filha de um Al-Rashidi e um Al-Maktoun não
pode se relacionar com um inimigo. Nossas famílias são inimigas há
muito tempo, desde uma disputa de poder onde os Al-Maktoun
venceram os Al-Rashidi e retomamos o trono do reinado. Tayla, eu
não consegui manter as mãos longe de você, e pior, ainda fiz um
filho homem na minha inimiga número um. Essa é exatamente a
posição do seu pai no meu país, inimigo número um. — Quando
Said cospe as palavras na minha cara, eu perco o rumo e é a
segunda vez que fico sem palavras desde que o conheci. Então a
minha família já foi tão poderosa quanto a dele.
As peças vão se encaixando, minha posição mais baixa na
estrutura do palácio, sua resistência a minha insistência, sua ira ao
me possuir e sua raiva a cada vez que esteve em minha cama. Isso
tudo só aconteceu por um único motivo, é por ele que eu choro
torrencialmente. Só há uma explicação plausível para um homem
poderoso se relacionar com a sua inimiga plantada dentro do seu
harém.
Tayla Al-Rashidi se apaixonou verdadeiramente por Said Abdul
Al-Maktoun, e ele também se apaixonou por ela, contrariando todas
as suas convicções pessoais e partidárias.
— Não chora, Tayla. Você me quebra chorando assim. — Ele se
levanta, mas eu faço que não com a cabeça e ele senta novamente.
Se ele me tocar, não tenho meios de suportar a sua comiseração.
— Desculpa, é incontrolável. Você tem o que eu mais quero,
Said, mas não é possível receber sem que uma guerra comece.
— Porra... Tayla, sempre foi inconsequente, mas é madura
demais quando se dispõe a ouvir. — Tento controlar as minhas
emoções e vejo nele que também não está sendo fácil essa
conversa. É a primeira vez que vejo o sultão despido da sua
máscara de superioridade. Ele sofre, assim como eu sofro. As
lágrimas que correm livremente em meu rosto são iguais as
lágrimas que correm livremente pelo rosto dele. Somos um o
espelho do outro.
— Eu esperava tudo, tudo mesmo, só não imaginava que fosse
algo sem solução e é isso que dilacera o meu coração, porque eu
sei que vou perder tudo, tudo que um dia achei que podia ser meu.
Senhor, seja direto, quais são as minhas opções, se é que tenho
alguma.
— Espera, espera um pouco que eu preciso me organizar. —
Sinto-o abalado emocionalmente e dou espaço para ele organizar
os pensamentos. Os meus estão em frangalhos, não tenho mais
estrutura psicológica para suportar o que ainda está para vir.
— Tudo bem, quer um Arak?
— Sim, obrigado. — Sirvo um copo para ele, lamentando que eu
não possa beber por conta da amamentação. Acho até que um copo
de veneno seria bem-vindo, eu viraria sem pestanejar, só para
cessar a dor que tenho no peito.
— Bom, vamos lá. Se eu te levar para a ala matrimonial e te
assumir legalmente, os Al-Rashidi tomam o poder, porque
Mohammed cria o que chamamos de hegemonia familiar, a família
Al-Maktoun é dominada e eu perco os meus votos no conselho.
— Entendo, ótimo para a minha família e péssimo para a sua.
Sem chances nenhuma, nunca tive essa intenção. Na verdade, odiei
meu pai assim que o reconheci na televisão, odiei as mentiras que
ele disse sobre o seu reinado. Esse país é próspero por causa do
seu esforço em transformá-lo no melhor país para se viver.
— Obrigado.
— Digo a verdade, doa a quem doer. O que mais...
— Também não posso mantê-la nessa ala, com um filho
homem, porque nenhuma delas ficaria calada e isso seria um tiro no
pé de uma maneira ou de outra. — Levanto-me e começo a andar
pela sala, absorvendo todas as falas do sultão.
— Começo a entender como funciona, o maior problema sou
eu, o meu sobrenome, então se eu desaparecer e você criar o
Mohammed como seu filho e de qualquer uma das suas esposas,
ele terá chances de assumir o seu lugar e manter intacta a
hegemonia da família Al-Maktoun, que é a sua linhagem primária.
— Ouvir você falando assim, me faz sentir o pior dos mortais. —
Olho dentro dos seus olhos.
— É uma ótima comparação.
— Tayla...
— Eu tenho que abrir mão de tudo, senhor. Do meu filho. —
Bato a mão na barriga.
— Fique calma.
— Do meu homem. — Toco o meu coração dolorido. Ele fecha
os olhos em sofrimento.
— Além do meu nome. Isso é foda demais até para mim que
corri atrás de algo que não podia ser meu. — Minhas lágrimas
voltam a rolar com a minha fúria.
— Eu fui o culpado disso tudo, porque fui um fraco e me
apaixonei por você, por sua sagacidade, sua beleza física, enfim,
por tudo que você me faz sentir quando estamos juntos. Eu não
sabia o que era o amor até conhecê-la. — Sento-me e abraço
minhas pernas, sentindo dores em todo o corpo.
— Cala a boca Said, isso me enfraquece. Ahh... desculpe,
senhor. Não tenho mais esse direito. — Na verdade, eu nunca tive
esse direito, só foi mesmo um desejo que não se concretizou. Ele se
ajoelha aos meus pés e tê-lo assim faz tudo ficar ainda pior.
— Temos alguns dias para decidirmos isso. Tayla, você ainda
está amamentando, não quero ver nosso filho prejudicado.
— Tudo bem, eu também não desejo isso. Nós voltamos a
conversar novamente daqui a alguns dias. Eu sinto muito por ter
insistido nesse amor sem futuro, eu nem sonhava que isso pudesse
me destruir de alguma forma e, também, sei que isso não mudaria
meu jeito de ser. Sofro pelo meu filho, mas não pelo que vivi ao seu
lado e agradeço a Allah por ter um amor para recordar, porque todas
as vezes que estivemos juntos foi real. Talvez isso seja mais do que
eu mereça.
— Tayla... — Ele coloca a mão na minha coxa. Estou por um fio.
— Agora vá, senhor. Eu preciso ficar sozinha. — Ver o homem
que eu amo relutar a sair é demais para mim. Corro para o banheiro
e ligo o chuveiro, tentando lavar minha alma pecadora.
Ele não me queria e eu insisti, armei, criei situações que me
fizesse parecer inesquecível e agora eu tenho que voltar ao pó de
onde vim.
Quando vou até o quarto de Mohammed, Aisha me abraça forte
e eu sei que ela também já sabia da minha condição.
— Está foda, amiga.
— Eu disse para você que não ia ser fácil.
— Por que não me disse que ia ser tão difícil?
— Adianta falar com você, Tayla? Você o queria, eu nem
imaginei que a vida tomaria o rumo que tomou, que ele se
apaixonaria por você e que você concebesse um filho homem.
— E agora?
— Você sempre soube tomar a decisão mais certa.
— Acho que vou precisar da sua ajuda mais uma vez.
— Serei sempre sua amiga, Tayla. Já tem algo em mente?
— Eu tenho uma luz no fim do túnel. Preciso amadurecer. —
Abraço minha única amiga de uma vida. Daqui para frente, seremos
eu e Allah. Que Ele me proteja!
CAPÍTULO 16
Apesar da dor que dilacera a minha alma, não entro em
desespero, porque a maturidade que Tayla teve ao ouvir tudo que
eu disse despejado de uma vez só, demonstra que nosso amor é o
mais verdadeiro possível. Tinha muito medo de estar sendo
enganado, de ouvir de sua boca que o poder era exatamente o que
ela queria.
Não, ela queria apenas o meu amor e o teve de todas as
maneiras possíveis. Acho que desde o nosso primeiro olhar. Sei que
devia ter escolhido a ignorância, se eu não tivesse me jogado nessa
loucura, não estaria nessa situação, mas também não teria
conhecido o amor, não teria um fruto desse amor. Não acho que ter
morrido sem conhecer o amor seria um ato de bravura, mesmo que
agora de nada adiantará amar se o meu objeto de desejo não
poderá mais habitar o meu coração.
Olho-me no espelho e o que vejo me assusta. Um homem
totalmente sem vida, sem forças para seguir em frente e com tantos
desafios ainda para vencer. Caminho até a minha janela e olho meu
reino. Por mais que esteja cheio de dores e elas são reais e
dilacerantes, eu não posso fingir que não tenho responsabilidades
com o meu povo. Não posso jogar tudo para o alto, deixar que o mal
entre nesse palácio, para viver um amor que eu nem sei se terá toda
essa potência lá fora.
O amor nos uniu, isso é fato, mas será que esse amor se
manteria forte se tudo fosse diferente, se eu não fosse o sultão e ela
não fosse uma de minhas mulheres? Hoje Tayla é uma mulher
diferente, porque parte de sua vida ruim do passado foi mascarada,
mas agora ela poderá ver e viver de uma maneira mais livre, pensar
com a sua cabeça sobre o que viu e o que sentiu, mas seu pai a
criou para ser outra pessoa e agora que ela está retomando as suas
memórias, pode ser que fique em dúvida quanto as suas escolhas
atuais.
É muito difícil saber qual a melhor decisão a tomar, mas o fato é
que não renunciarei ao meu reinado por nada e nem por ninguém.
Estou nessa cadeira porque sou o herdeiro desse trono e o meu
país precisa das minhas mãos de ferro para comandar e o defender
dos maus e oportunistas. Fico imensamente feliz por ter vivido o
amor, por ter me apaixonado, por ter um filho fruto dessa relação,
porque ele será um pedaço dela sempre, sendo assim, ela sempre
estará ao meu lado de um jeito ou de outro.
Ainda temos algum tempo e eu quero fazer desse tempo
restante, o mais tranquilo possível para nós três. Olho a hora e vejo
que estou atrasado para o jantar. Minha mãe deve estar me
aguardando. Entro no banheiro, lavo os vestígios das lágrimas de
dor que derramei e levanto a cabeça.
Ninguém vai derrubar Said Abdul Al-Maktoun do seu reinado.
Nem mesmo o amor por uma mulher guerreira, adorável e,
excessivamente, atrevida.
Enquanto caminho pelos corredores em direção à sala de jantar,
sorrio, lembrando-me de cada detalhe das nossas noites regadas ao
bom sexo e aos abusos da minha linda odalisca. Tenho certeza de
que nenhuma mulher chegará tão perto do meu coração como ela
chegou, e eu não quero nenhuma outra mulher nesse lugar, até
porque Tayla Al-Rashidi é insubstituível.
— Demorou, meu filho. — Sento-me na cadeira que meu
serviçal me oferece.
— Estava resolvendo alguns problemas.
— Conseguiu?
— Em partes. Tenho certeza de que tudo acabará a contento.
Estou com fome, o que temos para o jantar?
O que não tem remédio, remediado está.
Quinze dias depois desse confronto, ainda sinto as dores da
nossa última conversa. Eu estive com Mohammed praticamente a
cada quatro dias, mas nossa relação se tornou apenas de um pai
visitando seu filho. Algumas vezes ela nem apareceu na sala,
deixando que sua aia me recebesse. Eu sabia que seria assim, só
não sabia que doeria cada dia mais.
Yussef entra na sala e eu disfarço meus sentimentos. Ele me
conhece bem, tentou tocar no assunto, mas se calou quando não
dei abertura. Ainda não estou pronto para dividir com alguém o meu
infortúnio.
— Gostaria que você fosse até a ala das favoritas e levasse
algumas coisas que comprei para Mohammed — digo a ele.
— Mais coisas, senhor? Ele é apenas um bebê.
— Ele é o meu primogênito, tenho apreço maior por ele, você
sabe.
— Levarei agora mesmo. Mais alguma coisa?
— Veja se tudo está bem por lá, se não estão precisando de
alguma coisa. A mãe do garoto está muito quieta, não é do seu feitio
se manter serena.
— Muitas mulheres sofrem em silêncio. — Olho para ele,
espantado.
— Anda conhecedor da mente feminina?
— Malak sofreu calada por muito tempo, senhor. Por isso o meu
modesto conhecimento.
— Compreendi a sua indireta. Pode ir, traga notícias. — Ele se
curva e sai.
Bom, pelo menos um de nós dois está feliz.
Quando volta, Yussef está calado e eu acho muito estranho o
seu comportamento.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não, senhor. Tudo estava tranquilo por lá, porém, é de cortar
o coração a tristeza da senhorita Al-Rashidi. — É só ouvir falar na
sua dor, que eu sinto a minha pungente.
— É o maldito prazo. O tempo está se esgotando.
— Decerto, senhor. Sua mãe mandou avisar que preparou a sua
noite de hoje com muito carinho. Escolheu uma de suas esposas
dessa vez, sabe que será uma noite mais agradável com alguém
que já tenha apreço.
— Tudo bem — respondo por obrigação, mas cada noite com
uma mulher é uma tortura para mim. Não consigo a concentração
necessária e quase falhei com uma delas, conseguindo contornar a
situação a tempo. Meu coração ainda sangra, tudo é muito recente e
saber que temos que resolver o que fazer, deixa as coisas ainda
mais difíceis.
Vou para o quarto dos prazeres, como as mulheres nomearam o
ambiente, disposto a dar uma chance para mim, tentar me
reconectar com as minhas atribuições como sultão. Quando entro
no quarto, acho complicado desmitificar esse momento, mas fico
surpreso quando vejo o ambiente cheio de velas acesas, incenso
queimando, deixando o ambiente perfumado e uma música
instrumental bem típica da nossa região tocando baixinho.
O quarto ainda está vazio, caminho por ele, impressionado com
o capricho dos arranjos e de como tudo isso faz bem para o meu
ego. Escuto a porta abrir e me viro, ansioso para ver quem teve a
sensibilidade de tentar me fazer sentir melhor.
Serpenteio meus olhos por todo o seu corpo e encontro só os
seus olhos extremamente azuis aparentes por trás do lenço. Ela
veio, veio para se despedir de mim em grande estilo. Como
conseguirei viver sem o seu amor, se só de olhá-la, meu corpo todo
se agita. Ela começa a dançar do jeito que aprendeu e que sabe
que deixa os pelos do meu corpo eriçado. Eu me sento na poltrona
a fim de apreciar seu gingado, seus rodopios e noto que seu corpo
consegue estar ainda mais gostoso depois da gravidez.
Ela faz tudo muito lento, aproximando-se como uma felina,
deixando o desejo ir tomando conta do ambiente vagarosamente.
Minha mente traiçoeira grita para eu rechaçá-la, porque isso vai
machucar ainda mais no futuro, mas sou um fraco e pecador, não
abrirei mão desse instante maravilhoso de sua subserviência.
Tayla para na minha frente e faz uma elegante reverência.
— Estou aqui para o que quiser de mim, senhor. — É a primeira
vez que age como minha submissa desde que a conheci e isso é
engraçado, porque odeio saber que ela pode ser assim.
— Ajoelhe-se aos meus pés. — Ela o faz instantaneamente.
— Eu quero sentir a sua boca no meu corpo todo. — Dou
ênfase no todo, definindo que não tem limite algum para o que vai
fazer. Obediente, ela tira as minhas sandálias, agacha-se e beija os
meus pés. Um e depois outro.
Minha respiração fica curta, eu gosto disso, gosto de saber que
ela é humilde a esse ponto. Depois suas mãos sobem pelas minhas
pernas, erguendo a túnica e desamarrando as cordas da minha
calça. Ela não faz nenhum contato visual, mas eu sei que seus
olhos brilham por baixo do hijab. Tayla acaricia meus testículos e ela
sabe onde apertar para provocar em mim uma incitação gostosa
que sobe pela espinha. Minha boca saliva em expectativa quando
sua língua lambe eroticamente minha glande, o suficiente para
lubrificá-la. Para, respira e pergunta:
— Posso ousar mais um pouco, senhor.
— Ouse tudo que conseguir, habiba. — Ela sorve meu pau, e eu
fico sem ar, sentindo toda a sua boca macia me engolindo. Depois
esquece os bons modos e chupa meu pau como se estivesse
devorando um delicioso picolé. Apesar de querer muito sujar todo o
seu rosto aparentemente inocente, ainda tenho outros desejos
proibidos nesse palácio. Seguro seu pescoço e ela para.
— Tire a roupa e deite-se na cama. Fique apenas com o véu.
Abra bem as pernas, eu quero sentir o seu gosto, quero meter a
minha língua bem lá dentro da sua boceta. Quero ver o quanto você
está excitada. — Ela se levanta e desce as vestes, pedindo com o
olhar para que eu faça a honra. Encaixo dois dedos nas laterais da
sua calcinha e a desço pelas suas pernas esguias. Nesse
movimento, sinto o cheiro de fêmea no cio. É estimulante e
afrodisíaco.
Nua, só com o lenço na cabeça ela se deita na minha melhor
seda e abre as pernas, permitindo-me ver sua boceta jorrando
fluidos. Eu me ajoelho, ergo seu pé e beijo a sola dele, provocando
um sinal de espanto com um ato que ela acabou de fazer comigo.
Depois sou abduzido pela sua linda intimidade e ao tocar meus
lábios nela, perco o resquício de controle que ainda tinha.
Sinto que viro um animal irracional nesse momento, consumo
sua boceta, como se ela fosse a minha tábua de salvação. Perco as
estribeiras, faço Tayla gemer, gritar de prazer e acaricio seu clitóris
com os dedos até ela me entregar o seu orgasmo, completamente
alucinada. Só consigo controlar minha loucura quando estou dentro
dela e minha boca agora consome seus lábios, sugados com a
mesma potência das minhas estocadas fortes e cada vez mais
fundas.
O sinal de que agora tudo é diferente acontece na sequência.
Grito que estou chegando ao clímax e ela me empurra, fazendo meu
sêmen jorrar em cima dos lençóis da cama. Isso dói, é como sentir
um punhal sendo enfiado no peito. Ela não quer mais nada que
venha de mim.
Essa ação provoca exatamente o contrário em mim. Meu pau
incha outra vez, apanho o lençol, retiro meu esperma e ordeno para
ela ficar de quatro. Um pouco assustada com a minha reação bruta,
ela se vira, mas preciso que ela seja mais rápida. Empurro sua
bunda para cima, arreganho absurdamente e me afundo em sua
boceta ainda molhada da metida anterior. Dessa vez, eu arranco
seu hijab, grudo em seus cabelos longos, ajudando a amansar a
minha égua, enquanto meto sem dó alguma.
— Não quer mais um filho meu na sua barriga, habiba, então
aguenta a minha vara arrebentando suas entranhas. — Com a mão
livre, esfrego seu clitóris até que ela entre em seu momento
orgástico e, em seguida, enfio meu dedo melado do seu gozo na
sua bunda empinada e aberta para mim. É o meu êxtase final,
enterrado até o talo dentro dela, de todas as maneiras possíveis.
Dessa vez, eu arranco meu pau de dentro dela e gozo outra vez
em cima da cama. Depois perco a força e desabo ao seu lado,
tentando respirar outra vez. Ela me olha nos olhos pela primeira vez
e eu a coloco entre meus braços.
— Eu te amo, Tayla. Amarei até a eternidade.
— Eu também te amo, meu sultão. Amo e respeito. Nunca
duvide disso. — Vejo-a se vestir, arrumar os cabelos e vestir o hijab.
Se curvar e sair porta afora.
Meu grito de dor pode ser ouvido por toda a extensão do
palácio.
CAPÍTULO 17
Sua dor dilacerante quase me faz desistir de ir embora. Mas é
meu último ato como favorita do sultão. Eu não tenho escolha.
Caminho até minha casa, em prantos, porque a despedida
agora será ainda mais dura. Deixar o homem que amo é complexo,
mas deixar o filho que foi gerado em meu ventre com amor é
destruidor. Repasso a minha conversa com o conselheiro, dias
atrás.
— O sultão pediu para eu entregar esses presentes para seu
filho, senhorita. — O conselheiro Yussef bate em minha porta com
um enorme pacote de brinquedos e roupas para Mohammed.
— Claro, entre e fique à vontade. Quer ver Mohammed? Ele
está acordado.
— Se não for incômodo, eu gostaria.
— Incômodo algum. — Ele me acompanha até o quarto e brinca
com o pequeno. Depois olha para mim e diz:
— A primeira vez que o sultão não ouviu meus conselhos foi por
causa da senhorita. — Eu abaixo os olhos, envergonhada.
— Você deveria ter sido mais insistente.
— Ele ficou cego e surdo. Eu o entendo, a senhorita tem
personalidade.
— Espero que isso seja um elogio.
— Sim, é um elogio.
— Yussef...
— Pode dizer.
— Sei que é o homem de confiança do sultão, então eu gostaria
que essa conversa ficasse somente entre nós. Eu sei bem quais são
as minhas chances aqui dentro desse palácio, exatamente zero é
esse número. Sairei daqui e não levarei nada que não me pertença,
mas não tenho para onde ir e não quero voltar para a família que me
criou. Você me ajudaria a ser apenas mais uma na multidão? Uma
pessoa sem nome, sem sobrenome, uma pessoa sem passado e
com um futuro desconhecido, faria isso pelo bem desse reinado? —
Ele abaixa no berço, rindo para Mohammed que gosta de tentar
pegar a sua ghutra. É uma criança muito esperta para sua idade.
— Eu a ajudarei, mas terá que confiar em mim.
— Eu não tenho muita escolha. Só mais uma coisa.
— Diga.
— Eu poderia ter mais uma noite com ele? — Ele fica
encabulado. Achei que devia saber o que fazemos entre quatro
paredes. É o conselheiro do sultão.
— Terá sua noite de despedida. Será o seu último dia como
mulher do sultão. Estarei esperando você quando tudo acabar.
Acontecerá em alguns dias, venho pessoalmente avisar. — Ele faz
um aceno de cabeça e sai.
Sento-me no chão e começo a chorar. O meu fim já tem um
prazo de validade. Foram os dias mais intensos da minha vida
porque eu sabia que seriam os últimos. Absorvi toda a energia de
Aisha, tentando guardar tudo dela para quando estivesse sozinha e
amei, amei muito Mohammed, explicando o que estava acontecendo
e que eu seria sempre sua mãe de sangue, apesar de ele ter que
conviver com uma outra mulher em meu lugar.
Entro em casa e ela está na penumbra. Sinto a presença do
conselheiro em minha sala e sei que o meu tempo esgotou. Uma
angústia toma o meu peito, mas tenho que ser forte para encarar os
próximos desafios. Vou até o meu quarto, faço uma rápida higiene,
lembrando-me de como Said ficou irritado por eu não deixar que ele
continuasse seu ápice dentro de mim. Yussef tem razão, ele fica
cego em alguns momentos. Saio do meu quarto e vou até o quarto
do pequeno, beijo sua testa, cubro suas perninhas que estão
geladas e peço perdão por tê-lo abandonado ainda bebê.
Espero que ele esqueça de mim, assim não sofrerá tanto.
Quando chego à sala, Yussef me manda sentar no sofá.
— Beba isso. — Ele me entrega um cálice com um líquido
dourado e eu me lembro de ter tomado um igual, no dia que fiz
dezesseis anos. A história se repete, eu já sei que não me lembrarei
de nada e, quer saber, talvez seja mais fácil assim.
Antes de beber, entrego uma carta em suas mãos.
— É para Said. — Se a minha ideia funcionar, Mohammed
estará bem-cuidado, eu tenho fé em Allah que o sultão irá atender o
meu clamor. Ele guarda no bolso e eu viro a bebida em um gole só,
dessa vez não achando tão doce o sabor.

SAID
Saio da cama no outro dia disposto a achar uma maneira de
manter mãe e filho juntos de mim. Sei que já elucidei muitas coisas,
sem conseguir alcançar uma maneira que seja apropriada para uma
mulher nas suas condições, mas deve haver um jeito de manter
essa situação menos invasiva.
Assim que coloco os pés para fora do quarto, encontro Yussef
com uma feição preocupada.
— Houve uma explosão na faixa petrolífera no estreito de
Ormuz, pedem a sua presença com urgência, senhor. Temos vítimas
fatais e um derramamento de óleo em nossas reservas naturais
seria péssimo nesse momento.
— Há quanto tempo isso aconteceu?
— Menos de duas horas.
— Prepare o comboio.
Devido à situação de emergência, foram três dias de muita
conversação, especulação do grupo contrário, das ONGs de
preservação ambiental. Por Allah, tudo foi controlado a tempo, pelo
tamanho da explosão e sua magnitude, ter quatro vítimas que
estavam trabalhando próximo do local, eu considero uma vitória.
Dentro do carro, voltando para Mascate, sede do palácio,
Yussef me entrega uma carta.
Apanho de suas mãos, sabendo de quem é, porque seu
perfume invade o veículo. Abro apressadamente e analiso sua
caligrafia antes de ter coragem de ler o que ela me escreveu. Sua
letra é linda, impecável, vê-se que foi alfabetizada em uma boa
escola. Passo meus dedos sobre as palavras, sentindo sua
personalidade no papel.
Said,
Desculpe-me mais uma vez pela minha eterna mania de
desobediência. Talvez essa seja a minha última demonstração
de rebeldia.
Paro, respiro e olho para meu conselheiro.
— Leia, senhor. Leia até o fim. — Como era esperado, ele já leu
o conteúdo da carta. Continuo, ainda sem muita coragem de ir até o
fim.
Escrevo com o meu coração e o senhor sabe, ele é uma
caixinha de surpresas. Uma hora está exultante, outra hora está
acelerado e tem horas que ele sangra, como agora.
O que peço foi uma ideia boba que tive enquanto tentava
achar uma saída para a nossa situação extremamente grave.
De todas as coisas que fiz nessa vida e o senhor sabe bem,
não foram muitas, porque comecei a viver quando te conheci,
abandonar o meu filho está sendo a mais difícil delas. Quase
me sufoca saber que não verei mais Mohammed.
Eu sou muito grata a minha única amiga Aisha, ela esteve
sempre ao meu lado, mesmo sabendo que eu iria quebrar a
cara quando tudo viesse à tona. Por essa lealdade, eu pensei
que ela é a mãe que eu gostaria de ser, uma pessoa centrada,
equilibrada e que não perderá a cabeça por homem nenhum
como aconteceu comigo.
Então, se for do seu agrado, a faça sua esposa, ela
guardará o nosso segredo sem dificuldades alguma e se o
senhor tiver um bom coração, e eu sei que tem, trará Iasmim,
uma de suas candidatas a favorita para ajudá-la a criar nosso
filho Mohammed.
Acredito que o meu pedido seja ínfimo perto das minhas
ações no último ano. Peço desculpas mais uma vez por querer
ser quem eu nunca poderia ser.
Com amor e com pesar,
Tayla
PS: Não tente se deitar com a minha amiga, eu saberei,
mesmo estando distante.
Sorrio, entre lágrimas discretas, ao ler a sua carta. É incrível
como ela consegue se fazer presente até nas letras impressas.
Mesmo que eu tentasse, não conseguiria ficar livre dos seus
encantos.
— Parece que temos uma missão, conselheiro.
— Achei uma atitude louvável e uma saída perfeita, sem
modéstia alguma. Isso também ajuda o senhor a eliminar uma cama
dos seus passeios noturnos.
— Yussef...
— Desculpe-me, senhor. Não foi intencional. — Ele dá um
sorrisinho disfarçado e eu acabo sorrindo também.
A primeira coisa que faço quando chego ao palácio é visitar
Mohammed. Levo um choque ao saber que Tayla sumiu da noite
para o dia.
— Como assim, sumiu, Aisha?
— Ela sumiu, desapareceu. Se arrumou para ir até o quarto dos
prazeres. Ai... me desculpe por isso. Eu coloquei Mohammed para
dormir e acabei cochilando no quarto com ele. Quando acordei, ela
não estava em casa e eu achei que passaria a noite com o senhor.
Ela não apareceu pela manhã e eu comecei a ficar preocupada.
Mohammed não se acalmava, ele queria o leite dela, então vi na
geladeira algumas mamadeiras com o leite que ela tirou e o
alimentei. — Ela se senta no sofá e eu sinto a dor dela. — Ela partiu
e não deixou nada para mim, nem uma palavra, um adeus, um até
logo. Nada...
Caminho até ela, agacho-me aos seus pés e seguro em sua
mão.
— Ela deixou uma carta para mim e nessa carta ela confiou
Mohammed a você. Ela deixou o seu maior tesouro para a
senhorita.
— O senhor jura?
— Acha que eu mentiria para você sobre isso? — Ela se toca
que está falando com o sultão.
— Estou perdida, senhor. Mil perdões, é claro que o senhor não
falaria mentira para mim.
— Você aceita ser a minha esposa? — Ela leva a mão ao peito,
apavorada e eu descubro que não fiz a abordagem correta sobre o
assunto.
— Eu me perdi outra vez, senhor. — Levanto-me do chão e
sento na poltrona na sua frente.
— Eu que peço desculpas, Aisha. Estou atropelando as coisas.
— Explico o conteúdo da carta e ela entende do que eu estou
falando. Seu semblante relaxa e ela chega a abrir um sorriso
quando eu falo sobre a senhorita Iasmim ser a sua acompanhante.
— Agora eu consigo entender o que disse sobre casamento.
Diferente da minha amiga, eu não sou impulsiva, não ajo na
emoção, não faço nada que não tenha pensado e ponderado sobre
o assunto. Salvo em alguns momentos em que fui levada a fazer
algumas coisas vergonhosas para ajudar uma certa mulher, eu sou
bem clara, senhor. Não gosto de homens, não tenho interesse em
manter uma relação sexual com o senhor. Se isso puder ficar fora
do nosso acordo de casamento, eu aceito criar o seu filho com a
Tayla, amá-lo e educá-lo para quando for o governante desse país,
ele seja melhor que... — Ela abaixa o olhar e para de falar.
— Melhor que o seu pai, você iria dizer?
— Que o pai, o avô, o bisavô e todos os Abdul Al-Maktoun e os
Al-Rashidi juntos. Desculpe-me mais uma vez a minha sinceridade.
— Estico a mão para ela.
— Temos um acordo? — Ela aperta a minha mão.
— Temos um acordo.
Depois dessa conversa, Yussef foi escolhido para providenciar a
união matrimonial com a máxima urgência e o máximo decoro.
Quanto mais rápido tudo ficar acertado, mais rápido os boatos e
comentários serão cessados.
Minha vida, dois meses depois do casamento, parece ter
voltado a normalidade. Minha mãe volta a montar a minha agenda
de acordo com as suas considerações políticas, porém, estabeleci
que as candidatas as favoritas seriam solicitadas apenas para um
jantar, um passeio nos jardins, uma conversa sobre assuntos
aleatórios. Em minha cama frequentariam apenas as esposas e as
favoritas que agora já eram em menor número. Eu já tinha um
herdeiro e ele gozava de excelente saúde.
Toda vez que entro nas dependências da agora senhora Aisha
Abdallah, Tayla involuntariamente assume os meus pensamentos.
Eu sinto muita falta da sua sagacidade, da sua juventude, do seu
jeito espontâneo de ser.
Só depois de se passar dois meses, eu faço a minha primeira
tentativa sobre descobrir o paradeiro dela com Yussef. A única
pessoa aqui dentro desse palácio, capaz de sumir com uma mulher
embaixo do meu nariz é ele. Ele não tocou nesse assunto e fugiu
dele todas as vezes em que ameacei fazer algum questionamento.
— Yussef. — Chamo a sua atenção, diante da sua
concentração em seus afazeres matinais.
— Pois não, senhor.
— Preciso respirar ar puro, você pode me acompanhar? — Ele
ergue o olhar e a sobrancelha.
— Agora, senhor?
— Sim, estou sentindo aquele aperto no coração. — Apelo para
o sentimentalismo e desde aquela minha crise de ansiedade, ele
ainda fica preocupado comigo.
— Sim, vamos dar uma volta. O sol ainda está suportável. — Eu
me levanto e ele abre a porta para mim, caminhando ao meu lado
como o costume. Uso desse artifício para ficar a sós com ele, mas
me sinto bem quando recebo o sol em minha face. Até tiro a ghutra,
coisa rara de acontecer em plena luz do dia.
Sento-me no banco da fonte e ele fica em pé ao meu lado.
— Sente-se melhor?
— Muitíssimo melhor e posso me sentir ainda melhor, isso
depende de você.
— Você costumava ser mesmo evidente.
— Se me conhece tão bem assim, por que está vendo o meu
sofrimento e não faz nada?
— Porque eu não sei do que precisa. Aliás, sei exatamente do
que precisa, porém, eu não tenho a resposta para tudo nessa vida.
O sultão aqui é o senhor, então é o senhor que deve ter explicação
para todo e qualquer assunto.
— Eu definharei se não souber onde ela está. Se está passando
necessidade, se está sendo maltratada, se tem fome, tem frio. —
Minha voz no fim da frase é apenas um sussurro. — Você disse que
acabaria com a vida dela se ela ameaçasse meu trono.
— Eu não tive participação na sua fuga, senhor. Ela agiu
sozinha, acredite em mim.
— Saia agora, eu quero ficar sozinho. — Ele vai embora sem
olhar para trás.
Eu sei que está mentindo, Tayla não conseguiria fugir daqui sem
alguém influente. Não passaria do portão com os homens que
guardam esse palácio.
Meu coração para de bater por alguns segundos...
Se ele diz não ter ajudado na fuga dela, então é bem provável
que ela não tenha saído desse lugar. Ela está aqui no palácio, só
pode ser isso. Não seria difícil ela se passar como um reles serviçal.
Ficou escondida por três anos antes de cair nas minhas graças,
pode muito bem fazer isso novamente. Elas vivem cheias de panos,
cobertas demais, eu precisaria olhar nos olhos de todas as mulheres
que vivem nesse palácio para achar ela entre todas.
Olho a fonte e me lembro de ela dizer que esse lugar era a fonte
de energia dela, então, se ela estiver aqui dentro ainda, ela buscará
a sua energia em algum momento. Só preciso descobrir esse
momento e isso é simples para um sultão. Mandarei instalar
câmeras de segurança aqui e monitorarei as pessoas que
frequentam esse lugar.
Um sorriso nasce em meu rosto e eu nem acredito que achei
uma luz no fim do túnel. Sei que é apenas um pequeno vislumbre de
luz, mas isso me permitirá sonhar e sonhar é tudo que preciso
agora.
CAPÍTULO 18
Quando acordo, um alívio toma conta de mim, eu me lembro de
que tomei a bebida que Yussef ordenou e apaguei lá mesmo no sofá
de casa. Agradeço aos céus não ter esquecido de tudo que vivi.
Dessa vez, sei quem eu sou, sei o que fiz e sei que terei que
encarar o que a vida me reserva desse dia em diante.
Estou em um quarto pequeno, deitada em uma cama boa,
levanto-me e abro a porta dele, visualizando um corredor longo.
Analiso minha vestimenta e caminho por ele até encontrar uma área
ampla, com o pé direito enorme e um maquinário gigante
trabalhando, enquanto algumas mulheres estendem lençóis em
muitos varais. Elas falam alto e riem umas das outras. Parecem
felizes.
Uma delas me vê ali parada observando e chama uma outra
serviçal que vem em minha direção com um largo sorriso no rosto.
— Olá, minha jovem. Vejo que acordou bem e disposta. Meu
nome é Iman, eu cuido da ala da lavanderia, que abastece todo o
palácio de Omã. — Um bem-estar toma conta da minha alma, eu
continuo aqui dentro, continuo protegida e peço para Allah
conservar a vida de Yussef. Ele foi muito generoso comigo.
— Você irá trabalhar conosco, sei que foi enviada pelo
conselheiro do sultão e ele escreveu na carta que foi tirada de sua
família por causa de maus tratos. Pobrezinha, tão jovem e tão
injustiçada. — Não sei que história ele contou, mas concordo com o
que ela diz e ela me leva para uma cozinha, nesse ínterim, eu
descubro que faz dois dias que não como nada, ato provocado pelo
nervosismo. Pareço uma louca esfomeada e pelo seu olhar de pena,
deve ter pensado que eu estava passando fome.
Depois disso, ela me leva para tomar um banho, mostra o meu
quarto e me leva para uma delas, avisando que meu cabelo precisa
ser cortado. É proibido ter cabelos longos nessa área, porque na
maior parte do tempo estaremos sem o véu. Eu não nego nada,
aceito tudo que é determinado e passo a trabalhar ali estendendo,
dobrando e alisando roupas de cama, mesa e banho de todo o
palácio. Minha vida dentro do palácio está acabada e esse é um
trabalho digno e honesto, apesar de não receber dinheiro em troca
dele. Somente moradia, alimento e segurança.

SEIS MESES DEPOIS


Os dias vão se seguindo, um após o outro e mesmo eu me
esforçando, uma angústia toma conta de mim. Eu procuro não dar
asas para a minha imaginação, mas sem êxito, ela sempre dominou
a minha mente. Mesmo depois de seis meses, mesmo que eu não
tenha do que me queixar, pois tenho um quarto pequeno só meu,
uma biblioteca cheia de livros e muito trabalho para ocupar a mente,
afinal, manter todas as roupas do palácio em dia é serviço que não
acaba mais, sinto-me depressiva, sozinha, sem ter motivos para
lutar.
Logo pela manhã, a falta da luz do sol provoca em mim uma
crise de ansiedade e eu me conheço, preciso ver a luz do sol
urgente para aplacar esse sufocamento. Seis meses enterrada no
lugar mais distante de tudo dentro desse palácio parece ser o
máximo que consigo ficar. Troco de roupa e aviso minha
supervisora, decidida a correr perigo saindo daqui.
— Vou tomar um pouco de ar, Iman. Mas não me demoro, tenho
uma pilha de lençóis para passar. — Ela não gosta da minha
maneira autoritária, mas percebe que não estou me sentindo bem,
ela confidenciou que ouviu sobre a minha verdadeira identidade.
— Cuidado, Zaya. Não ficou todo esse tempo aqui para colocar
tudo em risco. — Esse é o nome que ganhei entre as minhas novas
companheiras. A grande maioria delas nem sabe quem é o sultão,
por segurança eu disse que gostava de ser chamada desse nome.
Estão aqui e são felizes vivendo assim, nem se importam de onde
eu vim.
— Eu não aguento mais ficar sem ver a luz do dia. Estou bem
escondida nessa roupa escura e com a burca, apenas meus olhos
aparecem.
— Esse é o seu problema, seus olhos dizem muito. — Seguro
em seu braço.
— Fique tranquila, eu não vou me expor e nem vou para os
lados do palácio. Só vou até o jardim, é próximo daqui. — Subo três
andares e caminho por um longo corredor. É lá embaixo que fica a
lavanderia do palácio e onde me escondo de ser reconhecida por
alguém. Ninguém mais lembra de mim, não fui alguém importante
na vida delas, aliás, fui um estorvo porque gerei o filho homem tão
esperado nesse lugar.
Quando saio no pátio que fica em frente ao prédio da
lavanderia, não é o suficiente para mim, eu preciso daquele espaço,
é a fonte dos amores que preciso alcançar. Sinto o sol energizando
todo o meu ser. Isso é algo que me fez muita falta nesses seis
meses e que me trouxe a vida novamente só de sentir seu calor. A
sensação do sol entrando pelos meus poros beira o êxtase.
Apesar de querer muito tirar o véu, não posso correr o risco de
ser vista por alguém do palácio, alguém que possa me reconhecer e
só de estar aqui respirando um ar puro, sinto-me renascer. Agora o
meu nome é Zaya, eu já me acostumei, é melhor assim, para não
correr o risco de ser relacionada a uma das mulheres do sultão.
Eu só queria saber se meu filho está sendo criado pela minha
melhor amiga, isso me traria uma paz interior. Por Allah, eu tenho fé
que Said leu a minha carta, casou-se com Aisha e nomeou Iasmim
como sua aia. Colocou-a na ala matrimonial e ela está feliz, e sei
que Mohammed também será feliz ao lado da mulher mais próxima
de sua mãe.
Sonho em vê-lo, mas é muito cedo, meu coração ainda sangra
de saudades, eu só queria saber que ele está bem. Abandoná-lo
provoca muitos sentimentos ruins em mim, mas eu sei que ele não
era meu e se eu tentasse fugir com um filho do rei, meu fim seria a
morte.
Já o sol, esse não pude ficar longe mais tempo e encosto a
cabeça no banco tentando recebê-lo através das roupas pesadas.
Fico aqui, expirando e inspirando o ar puro por muitos minutos e me
desligo do risco iminente de alguém me ver. Não noto a presença de
alguém chegando na fonte, até que ela fale bem próxima de mim
— Vejo que gosta de sol... — Minha alma gela quando escuto
sua voz e prefiro manter meus olhos longe dele, continuando na
mesma posição.
— Hum...hum... — Escuto-o se sentar ao meu lado e logo aspiro
o seu cheiro enlouquecedor.
— Vem sempre aqui? — O sultão continua a especular, é bem a
cara dele, manter tudo sob controle.
— Não, senhor — respondo baixo e com o véu escondendo a
boca o som é mascarado.
— Sei que diz a verdade, eu monitoro essa fonte há
aproximadamente três meses, desde que algo que me pertencia foi
roubado e, realmente, esse lugar não é ocupado por ninguém.
Minto, existe uma mulher que vem aqui uma vez por semana
passear com seu filho. — Ele estava monitorando a fonte, é um
tremendo filho da puta. Meu coração chega a me sufocar, porque
ele deixa quase explícito que Aisha passeia aqui com nosso filho.
Quem mais faria isso, se não a minha amiga da vida? Decido não
correr mais riscos.
— Preciso voltar a trabalhar, senhor. — Levanto-me em uma
tacada só e caminho apressadamente.
— Eu ordeno que pare. — Eu paro, respiro fundo, viro-me e
encontro seus olhos. Eles me abduzem, seus olhos brilham como
duas turmalinas negras. Está emocionado e eu também sinto a
emoção tomando conta de mim.
— Sim, senhor. — Consegue estar ainda mais bonito e
elegante, apesar do rosto estar mais fino.
— Eu sei de tudo o que acontece no meu palácio. Sei quem sai
e quem fica.
— Isso é algo importante, nunca será pego de surpresa pelo
inimigo. — Merda, eu e minha língua afiada. Eu sou o inimigo nessa
história, que droga...
— Eu sinto muito... — ele diz com uma voz sofrida e eu não
estava preparada para isso, não esperava por um pedido de
desculpas a essa altura, feita nesse tom refreado. Essas palavras
mexem comigo de uma maneira muito intensa e profunda. Ainda
estou muito sensível.
— Eu também sinto, agora com licença, tenho alguns lençóis
para passar, nunca se sabe quando voltarão manchados de sangue.
— Viro-me, mas antes de três passos, ele segura o meu braço.
— Eu te amo, habiba. Nunca me subestime... — Desvencilho-
me dele e ando apressadamente de volta à lavanderia. Esperei
tanto para ouvir essas palavras e choro por escutá-las em um
momento que não posso senti-las dentro de mim.
Passo meus lençóis com capricho, odiando-me por ser pega em
flagrante. Ele disse que sabia que eu estava aqui, mas se soubesse
não teria colocado vigilância na fonte. Tenho certeza de que seu
conselheiro não disse o que fez comigo, porém, ele saberia se eu
tivesse passado pela porta de saída.
Só espero que ele não atrapalhe minha tranquilidade aqui. Não
me importo em ficar enterrada desde que meu filho possa ser
alguém que faça a diferença nessa vida. Agora que sei que ele está
com a Aisha, ele terá valores diferentes do que o pai, porque sua
criação nas mãos dela será pontuada por outros ensinamentos.
Apesar da minha explosão lá na fonte, nunca mais houve
lençóis com manchas de sangue, o que me leva a crer que essa
gestão atual já foi ricamente alterada.
Faço a refeição junto com as meninas, peço licença e vou até a
biblioteca pegar um novo livro. Minhas mãos percorrem a prateleira
e escolho um romance, Dom Quixote. São livros que, ultimamente,
eu estava fugindo. Tomo um banho, deito-me em minha cama e leio
algumas páginas. Fecho-o, pois minha mente viaja e não consigo a
concentração necessária.
Eu não devia ter ido tomar sol, vê-lo, sentir seu calor, seu
cheiro, mexe com a ferida ainda aberta em meu peito. Apago a luz e
tento dormir, tudo está tão silencioso que fico deprimida. Faço uma
oração pedindo serenidade e fecho os olhos.
CAPÍTULO 19
Quando entro em minha sala sorrindo, Yussef está parado,
olhando para mim preocupado.
— Está se sentindo bem, senhor? Disse que ia ao toalete e
demorou demais lá dentro. Precisa de algo, um remédio, quer que
eu chame o médico?
— Estou bem, meu caro. Na verdade, depois do banheiro eu fui
tomar um ar. — Ele me olha desconfiado.
— Não é prudente ficar andando por aí sozinho.
— Por que não? Estou em meu palácio, todos sabem quem eu
sou, acha que alguém pode fazer mal para mim aqui dentro? — Ele
fica ainda mais receoso. Não é comum eu ficar questionando as
suas preocupações.
— Não, claro que não, senhor. É que nunca nega a minha
companhia, achei esquisito, só isso. Desculpe-me pelo
interrogatório.
— Está desculpado. Quero dar uma olhada na minha agenda da
semana. Tenho algum compromisso no sábado? — Ele apanha a
agenda e juntos vamos verificando todas as minhas saídas,
reuniões, viagens dos próximos quinze dias.
— Como sábado eu não tenho nenhum compromisso
profissional, desmarque qualquer coisa que minha mãe tenha em
mente. Eu quero ficar à toa, não quero fazer nada nessa noite.
Quero um tempo só para mim. E você, marque alguma coisa com a
sua odalisca. Não precisa ficar vinte e quatro horas atrás do seu
sultão, estou bem grandinho.
— Está se emancipando, senhor? — ele brinca e sorri,
relaxando um pouco.
— Eu já devia ter feito isso há muito tempo, se quer saber.
Talvez minha história pudesse ser diferente hoje.
— Então quer dizer que não vamos esperar Mohammed crescer
para mudar as regras aqui dentro desse harém? — Ele é esperto o
suficiente para entender os questionamentos da minha vida.
— Mohammed é um bebê, não posso chorar e sofrer até ele ter
idade suficiente para comandar meu império. Eu quero ser feliz
agora e sei que posso ser feliz agora.
— Eu posso saber como será feliz nesse exato momento?
— Você sabe, você sempre sabe tudo que acontece aqui
dentro. Eu achei que eu era o sultão, o homem mais importante do
país, o todo-poderoso de Omã, mas me enganei. O homem capaz
de controlar tudo é você, Yussef. Estou realmente feliz que você,
meu amigo e conselheiro tenha esse poder, só que dessa vez eu
vou fazer tudo do meu jeito. Obrigado por me dar a chance de ser
feliz e eu vou encontrar o melhor caminho.
— Como descobriu? — Ele finalmente assume.
— A fonte é nosso elo. — Ele fecha os olhos em sofrimento.
— Não vai me dizer que...
— Não, claro que não. Apesar de não ter me faltado vontade.
Agora os tempos são outros. Ninguém saberá disso, nem mesmo
você.
— Se precisar de mim, não hesite, estarei ao seu lado sempre.
Vamos, senhor. A reunião começará em alguns minutos.
Saio da minha sala com Yussef bem atrás de mim. É a primeira
vez em meses que eu consigo sorrir, aceitar as obrigações dos
meus ancestrais, saber que terei um momento de felicidade e
ninguém saberá disso.
Ao entrar na sala de reuniões, vejo todos os líderes do governo
me reverenciando e eu sei que estou onde devo estar e, por isso,
vou continuar a fazer o que acho certo, o que traz alegria e
prosperidade para Omã. Tudo isso acontecerá, independentemente
de estar na cama com a filha do inimigo. Um ato nunca vai arruinar
o outro, desde que eu mantenha o foco nas minhas convicções
pessoais, políticas e sociais.
O sábado chega e é a primeira vez que faço algo inconsequente
desde que eu tinha oito anos. Sem a ajuda de Yussef, roubei um
uniforme dos guardas do palácio e nesse exato momento eu me
sinto como um deles. Não é uma posição ruim, posso transitar pelos
jardins do palácio livremente sem ser abordado. Quase me perco
porque o palácio é enorme e eu nem me lembro de ter estado nessa
ala algum dia. Mentalizo o mapa do lugar, que eu estudei pela
manhã, tentando não errar a entrada. Não tenho margem para
erros, se eu acabar em ala errada, todo o meu disfarce e o meu
trabalho terá sido em vão.
O primeiro obstáculo é uma mulher na cozinha da lavanderia.
Ela se assusta com a presença de um guarda do palácio, então
tenho que ser rápido e criar uma história para a minha audácia.
— Recebemos uma informação que um animal felino anda
frequentando essa ala, a senhorita tem ouvido algum barulho
estranho, algum rugido? — Pelo seu olhar de assustada, ela nunca
ouviu falar de tal bicho.
— Bom, para falar a verdade, tudo por aqui anda tranquilo,
porém, uma das serviçais tem acordado quase todas as noites e nos
relatou que não consegue dormir, talvez ela deva estar escutando
esse tal barulho nos telhados. Eu não acredito, acho somente que
como ela é nova aqui, ainda precise se acostumar. Quer que eu a
chame para conversar com o senhor? — Meu coração parece sair
pela boca.
— Não será necessário, só me diga qual é o quarto dela, ficarei
de vigia por algum tempo para descartar qualquer perigo que
porventura advenha. — Ela aponta para um corredor e diz ser a
última porta à direita. Depois faz uma reverência longa e respeitosa,
sai e entra na primeira porta à esquerda.
Ela sabe quem eu sou e o que procuro. Desconfio que tenha o
dedo de Yussef mais uma vez.
Caminho até a porta do quarto que ela indica e abro lentamente.
Tayla está dormindo, um pequeno abajur está aceso e um livro paira
ao seu lado na cama. Aproximo-me mais, observando sua pele alva,
seus cabelos esparramados no travesseiro, curtos demais para o
meu gosto masculino.
Tiro meu lenço, meus sapatos e apesar da cama ser pequena,
eu me deito junto dela com cuidado. Sentir o seu perfume ativa
todas as minhas memórias afetivas e eu gosto de sentir Tayla voltar
a correr na minha corrente sanguínea. Ela acorda com o meu
movimento na cama e eu sou ousado, uso uma mão para tapar a
sua boca, a outra para colar o meu corpo no dela, sussurrando em
seu ouvido:
— É apenas um sonho, habiba. Continue dormindo... — Ela
reconhece a minha voz e consigo escutar as batidas do seu
coração. Está ansiosa, se esfrega em meu corpo, mostrando que
está disponível para mim.
Eu percorro minhas mãos pelo seu corpo, por cima da roupa de
dormir, ansioso para sentir sua pele em contato com a minha. É
muito tempo longe, mesmo que tenha se passado apenas sete
meses.
Dessa vez, ela não faz nenhum movimento, mostrando que sou
eu quem dará as cartas nessa noite. Viro-a na cama e encontro
seus olhos ansiosos na pouca iluminação do quarto.
— Não vou tomar o que é seu, Tayla. Estou aqui essa noite
porque eu te amo e só desejo o que você quiser me dar de livre e
espontânea vontade. Eu sou seu, mas você não é obrigada a ser
minha. Quero sua honestidade acima de tudo.
— Eu sou sua desde o primeiro olhar, nunca estive com o
senhor que assim eu não quisesse, aliás, gostaria de ter estado
muito mais vezes do que estive. Eu te amo, Said. Amo como a
mulher impetuosa que sou, eu nem sabia que meu sobrenome
poderia me atrapalhar, eu só queria ser sua e queria que o senhor
fosse só meu. — Minhas mãos tremem quando eu toco a sua face,
secando as suas lágrimas.
— Eu sei que não tenho esse direito, mas eu posso amá-la
agora?
— Não teve todo esse trabalho para ficar sem tocar o meu
corpo, não é? — Sorrio com a sua espontaneidade.
— Não me importo se você não quiser, estar aqui ao seu lado já
me basta. — Ela balança a cabeça negativamente.
— Não, senhor, estar aqui ao seu lado não me basta. Eu quero
sentir sua pele em contato com a minha, quero sentir todo o seu
poder enterrado em minha carne, ah... Said. Eu quero que você me
foda bem forte e bem fundo.
Enlouqueço com o seu pedido. Arranco lentamente suas vestes,
desnudando seu corpo e sua alma. Considero esse momento como
o primeiro, porque não há mentiras entre nós. Suas mãos também
estão ansiosas e ela sorri quando me tem em suas mãos,
totalmente duro por ela. Tayla continua tateando meus músculos,
beijando a minha pele, deixando um rastro de destruição em todo o
meu corpo, até encontrar o ponto onde meu corpo pulsa
incontrolavelmente. Quando ela me toma em sua boca, engolindo
absurdamente gostoso, temo não conseguir fazer tudo que desejo
com ela. Ela sempre foi abusada. Deixo que se banqueteie,
enquanto brinco com seu clitóris, causando arrepios em sua pele.
Peço silêncio quando seus gemidos rompem a barreira do som,
levados por um orgasmo cheio de luxúria.
Movimento-me na cama, abrindo suas pernas e me encaixo
nela, de uma maneira tão única, tão gostosa, tão visceral...
— Não goze dentro de mim, Said. Não podemos ter outro filho.
— Apesar de sonhar em ver a sua barriga crescendo com outro
filho meu, tenho consciência, habiba. Gozarei em cima de você,
fique tranquila.
Atinjo o ápice e jorro minha excitação toda em cima dela,
mostrando que o amor é o que nos une e não apenas sexo com
objetivo a procriação. Depois me deito ao seu lado, ouço sua
respiração acelerada no meu ouvido e sinto sua boca beijar diversas
vezes o meu pescoço.
— Se eu estiver sonhando, não quero acordar agora.
— Não é um sonho. É real, eu sou real, nosso amor é real e só
não posso prometer que seremos uma família feliz. Sou realista e
quero deixar tudo bem claro entre nós. — Eu me sento na cama,
começando a arrumar minhas vestes. Tiro do bolso uma caixinha.
— Isso é para você. — Ela faz uma cara de quem não gosta do
presente, mesmo sem olhar.
— Não quero joias, Said. Acho que você não aprendeu nada
sobre mim.
— Vamos, Tayla. Abra o presente, não se esqueça, eu ainda
continuo sendo o sultão. — Ela se senta na cama, bufa e abre a
caixa contrariada. Seus lábios abrem em surpresa e ela olha para
mim, deslumbrada.
— Um anel?
— Sim, é o anel que só minhas mulheres oficiais usam. Sei que
não é exclusivo, mas você sabe o quanto é exclusiva para mim.
Antes que reclame, elencarei suas exclusividades: você pode
chupar o seu senhor e eu posso sugar sua boceta até você gozar.
Posso foder você, enquanto cavalga em mim e, também, posso
comer a sua bunda quando vezes desejar. Tens um filho homem, o
primogênito e outros não nascerão nesse reinado, o que a torna a
mais poderosa delas. — Tayla me interrompe.
— Tenho um sobrenome maldito, que me faz ficar enterrada em
um buraco, mendigando atenção do meu senhor, esse poderoso
que você elencou segundos atrás. Não vejo nenhuma vantagem
nisso. — Seguro seu rosto em minha direção, olhando dentro dos
seus olhos.
— Não tenho todas as respostas agora, Tayla. Tenha em mente
que eu a amo, que não sei viver sem você. Nessa vida tudo é
temporário, menos o meu amor e sei que juntos descobriremos
como fazer esse sentimento ultrapassar os portões desse palácio. O
que eu tenho a oferecer são alguns momentos como o que vivemos
hoje. Agora é a hora que você deve fazer sua escolha e eu acatarei
qual decisão quer tomar. — Tenho medo de ela não querer esse
arranjo, mas não posso mentir sobre ser quem eu de fato não posso
ser. Não posso ser um homem de uma mulher só, não posso ser
seu amante todos os dias, não posso prometer algo que não
consiga cumprir. Entre nós dois, tudo será o mais honesto possível.
— Não quero responder e me arrepender da resposta, então,
senhor, eu preciso pensar para não errar mais uma vez.
— Você está certíssima, habiba. Não podemos dar um passo
maior que a perna. Quando eu voltar, espero que tenha a sua
resposta.
— Você voltará?
— Sim, eu voltarei. Eu prometo. Agora me beija, daquele jeito
que me deixa nas nuvens. — Sua boca encosta na minha e eu
enlouqueço quando sua língua roça em mim. Coloco tudo de mim
nesse beijo, mostrando para ela que mesmo sendo o líder desse
país, quando estivermos juntos, somos um só. Meus braços
enlaçam seu corpo e ela vem para o meu colo, entregue ao beijo do
amor. Nunca antes estivemos tão unidos, tão intrínsecos.
Volto para meus aposentos, meio perdido, sem rumo, querendo
ser alguém que não posso ser. Um homem simples, sem poderes,
sem responsabilidades, apenas para viver em função do amor. Sei
que isso não é algo fácil, nem mesmo para os homens do meu país,
mas um sonho é sempre um sonho e eu me dou ao direito de
sonhar, porque nesse lugar ninguém pode invadir e querer
transformar.
Deito-me em minha cama depois de um banho longo e
introspectivo, pensando em qual será a minha próxima aventura.
Sou um louco, inconsequente e acho que esses sentimentos são
contagiosos. A garota conseguiu fazer o sultão Said Abdul Al-
Maktoun virar um homem sem juízo, imprudente e Tayla Al-Rashidi,
aquela... alcançou o seu objetivo.
Ela é a única do coração do sultão.

TAYLA
Enquanto estendo roupas no varal, sorrio sozinha, lembrando-
me da última visita de Said. É estranho tê-lo por aqui a cada vinte ou
trinta dias. Foi como se o tempo não tivesse passado, como se não
estivesse próximo de Mohammed fazer um ano e, ao mesmo tempo,
estar longe dele me parece uma eternidade. Acho que essa é uma
dor que não passará, nem com o tempo.
Não foi exatamente o que sonhei para mim, ficar me
esgueirando pelos cantos, esperando o homem da minha vida
aparecer, porém, sei que dentre as minhas possibilidades, estou
ganhando com esse arranjo. Se o sultão não tivesse se apaixonado
por mim, nem estaria viva para contar história.
Hoje, em particular, estou apreensiva. É o dia do começo do
Ramadã, um dia em que todas as pessoas do palácio se encontram
no pátio principal para orar pelos ancestrais, para fazer seus
pedidos de perdão e conversão. Somos muitos, eu sei, mas mesmo
assim tenho medo de ser vista por alguém que me reconheça.
Vou para o meu quarto, visto a túnica o mais parecida com as
meninas da lavanderia e busco ficar calma com a exposição, depois
de quase um ano escondida nesse fim de mundo. O sultão não
poderá me proteger se algo der errado, tenho total consciência
disso. Alguém bate à minha porta. É Iman.
— Zaya, tem uma pessoa aqui que quer falar com você. —
Acho esquisito, quem será que está me procurando? Quando saio
do quarto e vou em direção ao salão, uma mulher está à minha
espera. Mesmo não me recordando dela, sinto que a conheço, mas
não me lembro exatamente de onde. Ela me olha de uma maneira
carinhosa e, mesmo receosa, eu sorrio para ela. Iman nos deixa a
sós.
— Olá, Zaya. Eu sou Radha, minha função nesse palácio é
dentro dos aposentos reais. O sultão mandou você me acompanhar,
logo após as orações, ele gostaria de trocar umas palavras com a
senhorita. — Aquela sensação de estar sendo enganada atinge meu
peito, mas como ela saberia da nossa ligação? Se ele quisesse falar
comigo, mandaria o seu conselheiro vir me buscar, mas Yussef
ficaria em evidência, porque todos sabem quem ele é. É diferente
dos seus padrões, mas faz sentido. — Fique despreocupada, ele
confia em mim e eu sou muito grata a ele por isso.
— Tudo bem, vou colocar um sapato, ajeitar o véu e podemos ir.
— Ela sorri satisfeita e fica ali me aguardando, enquanto acabo de
me arrumar. Aviso a minha supervisora que vou para a oração com
uma mensageira do sultão, ela me olha desconfiada, olha para a
mulher e fica sem ação, porque é uma ordem do monarca.
Caminho ao seu lado, feliz por estar sob o sol de Omã, que a
essa hora da manhã é agradável e tolerável. Quando vamos
chegando ao pátio, ele já está bem cheio e ela me encaminha para
uma lateral mais afastada das pessoas que trabalham no palácio.
Meu coração acelera, não muito longe daqui, vejo Aisha, em uma
túnica maravilhosa, laranja, tom que combina com sua cor de pele e
meu bebê em seu colo. A mulher indica a minha posição e eu me
ajoelho ali, sem chances de tornar a ver a minha amiga outra vez. O
pátio vai ficando cheio, então me abaixo a fim de começar a minha
oração.
Menos de quinze minutos, a oração comunitária começa,
liderada pelo próprio sultão e é a primeira vez em todos os anos que
estou no palácio que isso acontece. Ouvir sua voz é um acalento
para mim e saber que muito em breve estaremos juntos, aquece a
minha alma. Quem sabe ele tenha alguma surpresa para fazer,
achou algum jeito de me tirar daquele buraco, quer que eu veja
Mohammed.
Quando todos se levantam no fim das orações, a mulher que
me trouxe até aqui, agarra meu braço com força e me leva para
onde estão os líderes da mesquita e uma parte do clero, colocando-
se no meio deles, como se fosse uma serva de Allah. Acho estranho
e pergunto sobre a sua ação.
— Abaixe a cabeça e fique quieta. Você não quer ver o seu
amante? — Exatamente nesse momento, eu descubro que tem algo
de muito errado nessa história. Aquela multidão de estranhos do
palácio vai seguindo para os portões de saída e eu entendo o que a
mulher quer, ela quer me tirar daqui. Paro de andar, sem muito
sucesso, porque as pessoas vão me empurrando.
— Eu não quero sair daqui. — O olhar que ela me lança é
assustador.
— Você não tem escolha, querida. Ou deseja que seu sultão
sofra as consequências do seu ato heroico?
— Você é uma impostora.
— E você ingênua demais. Não aprendeu nada esses anos
todos? Agora ande, precisamos estar bem no meio das pessoas.
Ela está certa, sou mesmo uma pessoa idiota. Said nunca diria
nada sobre nós para qualquer pessoa diferente do seu conselheiro.
Mais uma vez, por amor ao meu filho e ao sultão, faço o que a
mulher manda e sua fuga tem êxito. Em menos de meia hora,
estamos do lado de fora do palácio.
Um carro preto a aguarda, mas ela não entra nele. Abre a porta
e me empurra para dentro. O carro sai e eu vejo a mulher sumindo
da minha visão. Olho para o motorista e não o reconheço.
— Para onde está me levando, senhor?
— Para sua casa, Tayla. — Reconheço sua voz.
— Samir? — Ele olha no retrovisor e seus olhos azuis são
exatamente iguais aos meus.
— Então você lembra que tem família? — Encosto no banco do
carro. Meu pai, ele é o único homem da face da terra capaz de me
colocar e me tirar daquele palácio. Aquela vagabunda é a mesma
mulher que um dia me colocou lá dentro, por isso eu achava que a
conhecia.
— Tenha piedade de mim, Samir. Eu não quero sair do palácio.
— Estou obedecendo ordens, agora fique quieta, eu não sei de
nada. Nosso pai te contará o que ele quer de você. Ah, antes que eu
me esqueça, se você falar alguma coisa para a nossa mãe, ela
morre. Não quer ser culpada pela morte de uma mulher tão boa, não
é? — Pelo jeito, minha família é muito pior do que imaginei.
Chegar em casa é bizarro. Eu me lembro desse lugar, lembro-
me das coisas que passei aqui, mas no momento as minhas
lembranças são todas maléficas. Só fui feliz aqui enquanto não
entendia como funcionava a vida adulta. Olhando do lado de dentro,
tudo parecia normal, porém, agora que vivi do lado de fora, meu pai
sempre foi um homem cruel e vingativo.
Quando coloco os pés na sala, minha mãe está ali e chora ao
me ver, envolvendo-me em seus braços calorosamente. Meu irmão
Hassan, agora com uns sete anos, também vem me abraçar. Sinto
que entre nós o amor ainda perdura com o tempo.
— Nunca pensei que te abraçaria novamente, Tayla. — Sou
honesta com ela.
— Eu não gostaria de estar te abraçando nesse momento, mãe.
— Ela se assusta com a minha honestidade, não está acostumada
com pessoas verdadeiras.
O homem que me trouxe de volta entra na sala e mesmo que eu
o odeie, faço a reverência como manda o costume.
— Não seja amarga, filha. Isso não combina com você.
— Por que fez isso, me tirando de lá? Não era o senhor que me
queria tanto lá dentro? — Levanto o olhar, encarando meu algoz de
frente. Não abaixei a cabeça para o sultão, não abaixarei a cabeça
para um homem que vale bem menos.
— O que você foi treinada para fazer, fez com louvor. O homem
foi buscar você no buraco de merda que você estava. Eu subestimei
a minha filha, mas você é corajosa, destemida, conseguiu atingir
seu objetivo. Faltou apenas um filho para coroar a minha estratégia.
— Por que odeia tanto o sultão, senhor? — Ele ri.
— Por Allah, está caída de amores por ele. Está cega, ele é um
homem vil, ganancioso e desprezível. — Controlo a minha língua
para não dizer tudo que penso dele. Não posso me desesperar,
preciso encontrar um jeito de sair daqui. — Agora vá para o seu
antigo quarto e não saia de lá até eu mandar. Passe a chave,
habiba. Ela é muito esperta. — Minha mãe pega na minha mão e
me leva para o quarto. A imagem que eu tinha dele ao abrir a porta
é exatamente igual. O tempo não passou para o ambiente como
passou para mim.
— Eu mantive do jeitinho que você gostava. Tinha esperança de
que um dia você voltaria. — Sento-me em minha cama, alisando a
colcha colorida dela.
— Acho que não era dessa maneira encarcerada.
— Seu pai está enlouquecendo por causa da política. Não foram
anos fáceis.
— Também não foram anos fáceis para mim. Agora vá, mãe.
Não quero que nada aconteça com a senhora. Pode trancar a porta,
faça como ele determinar. Arrumarei um jeito de sair daqui.
— Ele quer matar o sultão. Planejam te usar como isca. Eu ouvi
sem querer. — Ela fecha a porta e tranca com chave. Eu me jogo na
cama, tentando montar um quebra-cabeça. Minha vida virou do
avesso em um curto espaço de tempo e eu nem sei por onde
começar a desvirar.
Estou entre o bem e o mal, entre o céu e a terra, entre a vida e
a morte. Não quero que o homem que eu amo se machuque e nem
que meu filho sofra as consequências do erro dos seus pais. Meu
pai não sabe sobre Mohammed e isso me deixa mais aliviada.
Acho que viverei a minha vida inteira presa pelas amarras de
ser mulher em um país extremamente machista e intolerante.
CAPÍTULO 20
Abrir o palácio no início do Ramadã sempre foi um perigo,
porém, esse ano estou mais acessível às mudanças e senti uma
energia muito boa ao professar as minhas orações para todos
ouvirem. Como se fosse possível, eu senti Tayla, Mohammed juntos
e unidos comigo mesmo distantes no meio da multidão.
Yussef, não. Ele só descansou quando os portões são fechados
e o clero vai embora.
— Acho esse seu ato muito arriscado.
— De fato, não sabemos quando vai ocorrer um contratempo,
porém, pelo amor as nossas raízes, tudo foi a contento. Achei tudo
perfeito e gostei de ser o orador. Não é uma ação que eu domine.
— O senhor esteve perfeito, essa é a minha opinião de amigo.
— Desde o meu reencontro com Tayla, nossa amizade atravessou
as barreiras governamentais. Somos mais complacentes um com o
outro.
Ele não foi informado do que acontece, mas ele sabe, ele
sempre sabe o que eu faço ou deixo de fazer. Dessa vez, ele não se
intrometeu, nem mesmo fez comentários sarcásticos, ele deixou que
eu conduzisse essa parte da minha vida da forma que eu desejasse.
— Eu pedi com tanta fé para que as atas dos meus problemas
pessoais sejam desfeitas. Eu não posso viver essa vida dupla, não
combina comigo e não me parece ser honesto com o país.
— Não seja extremista, isso nem combina com o senhor.
Espere mais um tempo, acredite, os caminhos muitas vezes são
tortuosos. Eu vou verificar se tudo ficou mesmo dentro dos
protocolos do palácio. Sua reunião hoje será às 16h na cúpula
central, a pauta está em sua mesa.
Ele sai e eu fico pensando mais um pouco na minha vida,
achando que ela demorará para voltar à normalidade, isso se algum
dia isso voltar a acontecer.
Logo após a reunião, decido fazer uma visita para todos os
meus filhos. Começo pela mais velha e deixo por último meu
primogênito. Encontro-o tomando banho, está serelepe, lindo e bem-
cuidado. Aisha é uma mulher surpreendente, carinhosa e enérgica
na mesma intensidade, meu filho está em boas mãos, exatamente
como sua mãe pensou. Mohammed se aquieta no chão, brincando
com seus carrinhos, enquanto eu converso com ela.
— Mohammed fará um ano em dez dias. Faremos uma enorme
festa, toda a minha família estará presente.
— Sim, senhor. Como quiser.
— Yussef cuidará dos detalhes, mas eu gostaria que você
cuidasse da decoração da festa, dos petiscos, afinal, é uma festa de
criança, não temos habilidade suficiente para fazer uma festa
infantil. — Ela balança a cabeça afirmativamente, mas não me
parece feliz.
— Algum problema?
— Nada que possa ser resolvido, é que tenho saudades e esse
momento feliz foi tão discutido entre nós duas que eu sinto como se
estivesse roubando a vida dela. Tirando esse prazer de suas mãos,
se o senhor me entende. — Mesmo uma longe da outra, não
conseguem cortar a conexão que tinham.
— Você não deve se sentir assim, ela determinou que você
seria a tutora dele, isso deve ter sido escolhido porque ela confia no
seu julgamento e nos seus ensinamentos.
— Eu só queria ouvir que ela está bem. — Seu rosto está tão
amargurado, que as palavras saem da minha boca sem enxergar o
risco que corro.
— Ela está bem. — Seus olhos até há pouco retraídos, abrem
em espanto e fixam em mim. Fico desconfortável.
— Como o senhor tem tanta certeza? — desconverso.
— Tenho um palpite.
— Desculpe, senhor, mas sua entonação foi de certeza e se tem
toda essa confiança, no mínimo, a viu. — Eu não devia ter aberto a
minha boca.
— Eu só posso dizer que ela está feliz por você estar
conduzindo a vida do nosso menino. — Aisha sorri entre lágrimas.
— Eu sabia que o senhor é um homem bom e não ia abandoná-
la ao descaso. — Eu me levanto, dando a conversa por encerrada.
— Às vezes eu me sinto um monstro perto de vocês. — Ela faz
uma reverência, apanha Mohammed do chão para eu me despedir
dele e quando fecha a porta, é uma mulher totalmente diferente da
que me recebeu.
Enquanto caminho para os meus aposentos, penso em uma
maneira de unir novamente essas duas mulheres que, de certa
forma, são as mais importantes da minha vida. Uma vive com o meu
coração nas mãos e a outra cuida da pessoinha mais importante da
minha vida.
Cinco dias depois, Yussef adentra o meu escritório como um
louco inconsequente.
— Senhor, precisa ver o que está acontecendo no lado leste. —
Eu desconsidero sua preocupação.
— Acha necessário, Yussef? Essas imagens dos bandoleiros
ofendendo a minha honra e o meu país já nem me afetam mais. —
Ele está lívido e algo não parece tão igual. Vou até a sala adjacente
a minha e ele liga a televisão.
A reportagem está ao vivo, muitos manifestantes gritam
palavras de ofensa ao meu reinado. Muito comum, eles vivem para
me desmerecer perante a sociedade. Comum também é o homem,
líder deles, Vermont Balil Al-Rashidi e só de ver esse homem tenho
vontade de estrangulá-lo com as minhas próprias mãos. O que me
paralisa em frente da tela são algumas mulheres compondo esse
grupo e isso sim é algo incomum. Geralmente, as mulheres ficam do
lado de dentro de suas casas e isso acaba chamando a minha
atenção.
— Mulheres? — digo a ele.
— Elas nunca fizeram isso junto com os homens. — Yussef
também vê uma situação atípica.
— O que estão reivindicando? Aumenta o volume.
— Essas mulheres foram usadas e abandonadas ao relento
pelo homem a quem vocês idolatram. Vocês têm certeza de que
querem esse tipo de homem no poder? Um que possui várias
mulheres enclausuradas, infelizes só para ter filhos homens e
manter sua hegemonia intacta. — Vermont grita e suas palavras não
me atingem. Nunca me atingiram, mas uma imagem em específico
provoca dor extrema no meu peito, uma dor que me faz curvar e me
sentar imediatamente, sendo acudido pelo meu conselheiro.
— Senhor...
— O que ela faz ali? Não é possível, volta a imagem nela, seu
filho da puta. — Como se ouvisse o meu comando, o cinegrafista
focaliza mais uma vez as mulheres e sim, eu reconheceria aqueles
olhos até no escuro.
— É uma miragem, Yussef. Diga que eu estou tendo um
devaneio.
— Não me parece ser uma mentira, senhor. De alguma forma,
ela está junto do seu pai. — Recupero o controle, não posso deixar
que as emoções tomem conta de mim.
— Mande alguém na lavanderia e descubra o que aconteceu.
— Eu mesmo irei até lá, não podemos confiar em ninguém,
temos um traidor entre nós. O senhor ficará bem?
— Irei me arrumar, nós vamos ao leste. — Yussef me encara de
frente.
— Você não vai colocar a sua vida em risco por causa de uma
mulher.
— Não é por causa dela e sim pelo que esse homem anda
fazendo. Eu cansei de ser condescendente, quero-o atrás das
grades. Não posso desejar a morte para ele, mesmo que seja um
inimigo. Vá, te esperarei.
Enquanto ele vai descobrir o que de fato aconteceu para ela ter
conseguido sair do palácio, eu vou para o meu quarto vestir a minha
roupa de gala. Cansei de me fazer invisível, o grupo do leste passou
de todos os limites e eu não posso deixar de punir seus atos, senão
isso virará frequente em todos os grupos extremistas. Não entendo
por que ela está lá, ao lado dele, pedindo punição para mim, o
homem que a ama incondicionalmente.
Algo muito ruim toca a minha alma, talvez ela tenha se
lembrado do seu passado e se unido a eles como era o seu objetivo
aqui dentro. Se for assim, eu caí na sua lábia, caí como um idiota,
deixando que ela me monopolizasse esse tempo todo.
Ah... meu coração sangra em saber que Tayla me enganou,
passo a mão no meu peito, tentando desfazer o nó que aperta o
meu coração. Não, ela não seria capaz disso, sua sinceridade
muitas vezes me comoveu, sua honestidade sempre foi
transparente. Eu tenho que ver com os meus próprios olhos, não me
basta olhar o que acontece pela tela. Eu nunca fui um homem de
correr do inimigo, protejo-me porque sou o monarca, mas não vou
ignorar um chamado e é exatamente isso que Vermont quer, me
atrair para o seu habitat. Ele quer me aniquilar e está muito próximo
de atingir o seu objetivo.
Chamo a minha guarda real, ele não vai me destruir assim tão
fácil.
Yussef volta com as informações que conseguiu e ele estava
certo, o início do Ramadã foi o ponto chave para o traidor tirar a sua
filha daqui de dentro sem deixar rastro. Ordeno que a guarda faça
uma vigilância vinte e quatro horas na ala matrimonial, não quero
que ninguém corra o risco de se machucar por conta de uma
traidora que está a solta, talvez dentro do palácio. Meus filhos
virariam alvo fácil na mão dessa criminosa.
Também ordeno que todas as alas sejam revistadas e que todas
as pessoas sejam sabatinadas, descobrindo se há alguém
desaparecido entre elas. Se essa pessoa não estiver entre nós,
acharemos a culpada.
Estou saindo dos meus aposentos quando sou interpelado pelo
meu conselheiro.
— É meu dever te proteger, senhor.
— Não, é seu dever me aconselhar, me ajudar a reinar. Da
minha vida cuido eu.
— Já que está sendo tão intransigente, eu farei o meu papel e
te aconselharei. O que eu disser pode ser útil, como também pode
ser dispensado. Caberá ao senhor a decisão final.

TAYLA
Ninguém me defendeu dentro da minha própria casa. Claro que
minha mãe gostaria, mas como mulher e submissa, ela fez tudo o
que meu pai mandou. Descobrir depois de anos longe, que o próprio
pai é um monstro fere a alma. Desde as minhas recordações, senti
que ele não era um bom homem, mas um monstro sem coração eu
nunca pensei que fosse.
Assim que minha mãe traz o café da manhã e diz para eu me
arrumar porque sairei com ele, eu sei que Said está correndo risco
de vida e eu não deixarei que nada de mau aconteça com ele. Sei
que meu pai me usará de isca para atrair o sultão para cá, mas ele
não terá êxito, porque eu estarei lá e usarei a minha vida se preciso
for para proteger a dele.
Meu ato não coloca em discussão o sultão homem, porque
desvinculado do poder, o homem foi da maneira que ele é
programado para ser. Atrair a mulher, usar o seu corpo, gerar um
filho nela, nada de especial tem o homem por quem eu me
apaixonei. Já o sultão, esse é irrepreensível, pude ver ele em ação
algumas vezes e em alguns momentos ele me confidenciou seus
atos. É um homem de caráter, de muita visão do presente e do
futuro, que com sua razão e sensibilidade colocou nosso país em
um lugar próspero e em evolução constante. Apenas uma minoria
ainda continua a desferir palavras irreais e deve ter alguma coisa
além de extremismo nas atitudes de meu pai. Esse homem merece
ser defendido com a minha vida se assim for necessário. Meu filho
ainda é muito pequeno e se acontecer algo com o seu pai, pessoas
ruins assumirão o lugar do rei e isso não será benéfico para o meu
país.
Uma mulher não deveria saber de tudo isso, pois sua função é
agradar o homem e cuidar da criação, mas eu sempre fui diferente
delas e agora entendo qual é a minha missão aqui enquanto ser
humano. Sorrio, em meio ao caos, porque passei a minha vida
inteira, vinte e dois anos para ser mais precisa, buscando o meu
verdadeiro papel no mundo e achei, assim sem querer. Eu sou o
divisor de águas desse país e sei que terei que ser forte para agir no
momento certo e na hora certa.
Saio em direção à minha luta interior, temerosa de que Said me
odeie por achar que estou do lado oposto, como muitas vezes ele
pensou. Encontro minha mãe na sala aos prantos e meus braços
envolvem seus ombros, tentando confortá-la de alguma forma.
Nessa hora, enfio duas cartas em seu bolso, uma endereçada a ela
e outra endereçada ao monarca. Se algo me acontecer, ele saberá
que eu sempre estive ao seu lado.
Estar no meio de uma multidão é algo completamente novo para
mim, afinal, fiquei sem sair de dentro do palácio há algum tempo. As
mulheres são minoria nas ruas onde passamos e eu não provoco
mais irritação em meu pai, acompanho seus passos como se
estivesse ali por desejo. Quero estar na posição certa quando for
necessário. Como um ensaio, a imprensa sensacionalista aparece e
meu pai começa o seu discurso de horror, ganhando nas primeiras
palavras o ódio da sua única filha.
Como previsto, ele está me usando de isca para o sultão vir
pessoalmente resolver essa questão. Ele não usa o governo ruim
dessa vez, ele tenta ferir o homem que tem debaixo das vestes de
rei e eu tenho certeza de que a minha imagem ali provocará todos
os demônios dele. Se os meus estão inflados, imagino o orgulho
ferido dele.
Faço um cálculo de quanto tempo essa merda demorará, que é
exatamente o tempo do sultão chegar ao leste da cidade. O medo
toma conta do meu corpo, além disso, estar exposta nessa situação
me envergonha, busco esconder meu rosto, talvez as pessoas nem
descubram que eu sou a filha do homem líder dos extremistas.
Quando os carros do palácio real chegam, há uma comoção
geral. Eles não acreditavam que o monarca viria pessoalmente. Eu
não tinha dúvidas nenhuma. Ele faz mais, sai do carro e avança no
meio do tumulto. Ele se arrisca e eu tenho certeza de que não faria
isso se eu não estivesse do outro lado. Mais uma vez, me sinto
culpada por colocar a vida dele em risco novamente e, por isso, não
ficarei quieta no meu canto, enquanto vejo o homem da minha vida,
o pai do meu filho e o monarca dessa nação, ser morto por
bandoleiros sedentos de poder e da tirania.
Desvencilho-me das mulheres que foram obrigadas a estarem
ali, acho que foram pegas nas ruas e recompensadas com algumas
moedas, e saio na disparada em sua direção. Tudo acontece muito
rápido, um segundo estou no meio da multidão e um segundo estou
entre os extremistas e a guarda do sultão. Vejo a minha vida passar
em câmera lenta, um grito atrás de mim, um grito na minha frente,
um passo, um barulho de tiro, uma dor dilacerante, um tombo.
Depois, antes de descobrir que eu levei o tiro que era do sultão,
escuto um grito mais alto, vejo o sultão sendo empurrado para
dentro do carro real e o conselheiro correndo em minha direção.
Antes de fechar os olhos e deixar que uma sensação de plenitude
alcance a minha alma, mais um tiro e me deparo com seus olhos
arregalados, negros e brilhantes como a noite, fitando-me
desesperado, com seus braços envolvidos ao meu redor enquanto
estou caída na calçada.
O meu fim chega e junto, a certeza de que ele veio, afinal, me
buscar.
CAPÍTULO 21
— Mate-o. — Dou a ordem e corro em direção à Tayla, caída na
rua e ensanguentada. Escondido atrás do conselheiro do sultão,
posso fazer esse movimento sem causar nenhuma estranheza da
multidão, que dispersa desesperada com a retaliação que sabem
que virá.
Ter o amor da minha vida esvaindo em sangue em minhas
mãos, traz um questionamento sobre a vida e sua efemeridade. A
vida é um sopro e um só movimento contrário, ela acaba em um
piscar de olhos. Ergo Tayla em meus braços e corro em direção ao
veículo real, não sem antes ver que Vermont Al-Rashidi está caído
no chão e espero que esteja sem vida. Nunca desejei tão forte o fim
de uma pessoa vil e maligna.
— O senhor está maluco? — Quando entro no carro com ela em
meus braços.
— Não quero perdê-la. Ela não tem culpa de nada. Vamos para
o hospital da realeza, depressa, Salim. — Nesse trajeto, Yussef,
vestido de monarca, assume seu lugar e não deixa que eu faça
absolutamente nada. Entrega Tayla nas mãos dos médicos e eles a
levam para dentro. Tinha pulso quando saiu do carro, mas a
quantidade de sangue em sua túnica é imensa, não sei se resistirá.
Sem poder ficar ali, porque tenho que fazer a minha parte como
líder do país, o carro se põe em direção à sede.
— Uma ambulância já está a caminho do confronto, senhor.
— Espero que não chegue a tempo, pagar com a sua vida ainda
será um preço pequeno pelo que fez. — Yussef nada diz, mas seu
olhar avisa que não devo falar assim na frente dos homens que
lotam o veículo real. Escolho me calar e orar para que ela consiga
sair dessa com vida, eu preciso dela para viver, respirar e ser feliz.
As horas passam, a notícia de que o líder extremista morreu
chega, mas uma notícia do hospital não aparece. Eu me sinto como
se também estivesse à beira da morte, não consigo nem mesmo
executar as ações necessárias para o país não parar. Pelo mesmo
canal televisivo, tudo que aconteceu no leste é exposto e diferente
do que imaginei, o povo está do meu lado. Oram, ajoelhados nas
ruas, pela vida da mulher que recebeu o tiro em meu lugar, fazendo-
a de mártir, sem terem a ideia de que ela é filha do homem que
mandou atirar em mim. Eles não fizeram a correlação, porque ela
não é conhecida, ela não estava do lado de fora do palácio esses
anos todos. Isso me faz pensar, me dá tempo de montar uma
estratégia para quando ela sair dessa.
— Eu não aguento mais esse silêncio, Yussef. Será que terei
que ir até o hospital? — Ando de um lado para o outro na minha
sala, sem conseguir relaxar.
— Essas cirurgias são demoradas, senhor. Assim que o médico
tiver algo a dizer ele vai nos ligar. Ele sabe que é uma ordem sua,
tenha um pouco mais de calma.
— Alguém na ala matrimonial sabe de alguma coisa? — mudo
de assunto.
— Ninguém, a televisão estava desligada e depois do ocorrido
foi retirada da sala comunitária. Elas estão apreensivas porque os
guardas reais estão na ala e isso não é algo comum.
— Assim que eu tiver notícia da Tayla, irei falar com Aisha. As
orações dela para a amiga ajudarão muito se ela continuar entre
nós. — Sento-me no sofá, sentindo aquela dor dilacerante em meu
peito. Ela entrou na frente do tiro destinado a mim e uma mulher não
faria isso se não amasse quem ela protegeu. Seu pai a feriu de
todas as maneiras possíveis, e eu tenho por gratidão consertar esse
erro terrível dele.
Quase morro de angústia quando o telefone toca e Yussef
conversa com o médico. Ele achou mais prudente que fosse ele a
escutar como ela estava. Quando desliga o telefone, seu rosto é
uma incógnita. Odeio essa característica dele.
— Fala logo, homem.
— O tiro por pouco não atingiu um rim e a cirurgia para tirar a
bala de onde estava alojada foi delicada, porém, ela resistiu
bravamente a primeira etapa, e agora temos que esperar as
próximas vinte e quatro horas. — Desabo na cadeira, sem saber se
eu sobreviverei as próximas vinte e quatro horas. Bom, pelo menos
ela está viva e essa é uma grande notícia. Sua gana de viver é
imensa e eu sei que ela vai combater todas as dificuldades.
— Agora vá tomar um banho e tirar essa roupa ensanguentada.
Se sua mãe te vir assim, teremos mais uma hospitalizada. — Dessa
vez, eu acato a decisão dele, preciso mesmo lavar meu corpo
pecador.
O banho restaura as minhas energias, mas me sinto
enfraquecido com esse incidente. Não me sinto enfraquecido como
sultão, esse eu descobri ser forte e resistente, determinante no
momento certo. Sinto a deficiência como homem que não pode
existir para ela em um momento crucial de sua vida.
Eu tenho a obrigação moral de mudar isso definitivamente, por
isso minha cabeça fervilha de perguntas e indagações, tentando
achar uma saída que seja decisiva em nossas vidas. Mesmo
querendo deitar em minha cama e esquecer esse dia, ainda tenho
que explicar o que aconteceu para sua amiga. Não quero que ela
saiba por meio de fofocas, seria muito ruim para ela.
De volta aos meus aposentos, noto que sou o elo mais fraco
dessa corrente. Tenho o poder, sou o homem, isso significa
relevância, mas estou longe de ter a força dessas duas guerreiras.
Aisha, ao contrário de mim, que não paro de me culpar, agiu de uma
maneira surpreendente, dizendo que tudo dará certo, elevando a
sua amiga lá em cima e afirmando que a coragem de Tayla será
lembrada por muito tempo nesse país. Ela foi mesmo uma heroína,
se jogou na frente da bala que era para mim, por isso preciso
mostrar a minha gratidão, mas ainda não sei como.
Tayla consegue sobreviver as primeiras vinte e quatro horas, por
esse motivo tenho esperança de que ela ficará boa, exatamente
como era antes de me conhecer. Uma linda mulher, cheia de
encantos e recheada de um alto astral invejável. Despretensiosa,
como ela mesma diz.
Como monarca do país e sendo o homem a quem ela defendeu,
vou até o hospital, assessorado pelo meu conselheiro, mas não
entro em seus aposentos porque não é de bom-tom. Faço apenas
uma visita política, deixando explícito que eu torço para a sua pronta
recuperação. Quero muito entrar em seu quarto, mas entendo que
isso não fica bem para um líder, porque as pessoas não sabem que
ela é minha amante.
— Odeio estar de mãos atadas — confidencio para Yussef,
dentro do carro, indo de volta para o palácio.
— Não está de mãos atadas, apenas não pode agir fora do
contexto em que está inserido. Ela é uma mulher, jovem e
aparentemente livre, não seria de bom-tom receber um homem
desconhecido, mesmo que ele seja o sultão. Ninguém sabe da sua
história com ela e nem sabem que ela é filha do líder extremista que
morreu. Agora, se o senhor quiser contar que ela faz parte do seu
harém, aí tudo muda de figura. — Paro de falar e penso um pouco
sobre o que ele discorreu.
— O que eu falaria para o povo nesse caso? — especulo.
— Que essa mulher protegeu a sua vida porque ela faz parte do
seu harém.
— Hum... aí haveria especulação sobre como uma mulher que
faz parte do meu harém estava nas mãos daquele homem, no meio
da rua.
— Sim, isso teria mesmo, mas você pode torná-lo ainda mais
vil, dizendo que ele raptou a garota por represália. — Acompanho o
seu raciocínio.
— Sei, eu não gostaria de mostrar uma fragilidade em nosso
palácio. Não acho que esse seja o caminho. — O carro adentra os
portões do palácio e eu desço, pensando em como ser beneficiado
com essa situação.
— O senhor também pode tratá-la como uma desconhecida e
acolhê-la nessa residência. — Aquela luz tão importante e
necessária se acende em um tom resplandecente na minha mente.
Yussef, com as suas divagações, acaba de me dar uma ideia genial,
algo que mudará a minha vida e a dela para sempre. Meu coração
explode no peito, fico emocionado por, enfim, poder tomar as rédeas
do meu coração outra vez. Ele não compreende nada quando o
abraço efusivamente, mas não é bobo de ignorar o meu afeto,
abraçando-me de volta.
— Acabo de achar a solução e você, só para variar, tem uma
grande parcela de culpa.
— Por que eu pressinto que terei trabalho em demasiado para
executar essa sua ideia?
— Porque é verdade, meu caro. Você terá muitos afazeres para
eu concretizar minhas aspirações. — Caminhamos até a entrada,
mas seguro o seu braço. — Aliás, acho que podemos conversar
embaixo das árvores frondosas da fonte. Lá a minha mente funciona
melhor. Yussef, você notou como aquele lugar é mágico? — Meu
conselheiro abaixa a cabeça envergonhado e pelo rubor que seu
rosto assume, ele sabe muito bem do que eu estou falando.
O tempo passa apressadamente, enquanto explico o que pensei
para tornar o meu sonho real. Pelo sorriso que ele tem no rosto,
parece que não existe melhor ideia que a que tive. Dará trabalho,
isso é fato, mas a experiência diz que depois disso tudo, meus
aposentos terão dias melhores.
Tudo dependerá de Tayla ficar boa e pelos prognósticos, sua
recuperação não demorará a acontecer.

TAYLA
Abro os olhos e me assusto com a quantidade de máquinas
ligadas a mim. Tento me movimentar e sinto dor na barriga, levando
à mão ali. Uma mulher se levanta e vem em minha direção
rapidamente, enquanto sinto um monte de pano onde coloquei a
mão.
— Por favor, senhorita, não retire isso, está protegendo o seu
ferimento. — Imediatamente um filme passa na minha cabeça,
fazendo-me me lembrar de como fiquei ferida.
— Eu levei um tiro?
— Sim, a senhorita levou um tiro, mas Allah não quis que fosse
embora. Parece-me que tem uma missão aqui na Terra. Vou chamar
o médico, ele estava esperando a senhorita acordar. — Não presto
atenção ao que ela fala, seguro o seu braço e ela olha para mim.
— O sultão foi ferido? — Ela sorri.
— Não, graças a você. Ele está bem e está preocupado com a
sua recuperação. Já volto. — Eu sinto um alívio imediato, ele está
bem, isso é tudo que importa.
O médico fica feliz em me ver acordada e faz uma imensidão de
perguntas. Eu respondo apenas as que não são tão invasivas. Não
sei bem como está a minha situação.
— O que mais aconteceu naquele dia? — pergunto, quando
descubro que estou acordando depois de três dias do incidente.
— O homem que mandou atirar no sultão foi morto pela guarda.
— Fecho os olhos em sofrimento. Ele era uma pessoa má, mas era
o meu pai e quando criança, ele era o meu herói. Quando o médico
fica satisfeito, sai do quarto junto com a enfermeira, posso chorar e
orar pelo meu genitor. Não sinto nenhum remorso por ter me jogado
na frente do tiro, mas gostaria muito que tudo tivesse sido diferente.
A enfermeira está no quarto quando acordo da soneca que tive.
Ainda sinto meu corpo pesado e descubro que dormi a tarde toda.
Começo a especular.
— Sabe se o tiro afetou algum dos meus órgãos vitais? — Ela
está colocando outro soro na minha veia e está receptiva.
— O tiro quase atingiu seu rim e você perdeu muito sangue,
mas a retirada da bala foi um sucesso e você terá apenas uma
cicatriz. Como é jovem, sua recuperação será rapidinha. Sente
alguma dor?
— Só um desconforto, mas é suportável. Alguém esteve aqui
para me ver? — pergunto como quem não quer nada.
— Que eu me lembre, um mensageiro do sultão fica aí no
corredor durante todo o dia e o sultão veio pessoalmente até o
hospital para saber da senhorita. — Meu coração acelera tanto que
o monitor avisa que houve uma mudança nos batimentos cardíacos.
Ela aumenta o tempo de vazão do soro, achando que foram as
dores que alteraram as pulsações.
Se ela sabe que só de dizer que ele esteve aqui, causou essa
comoção, como será quando ele aparecer na minha frente? Sei que
é um sonho, mas a minha vida daqui para a frente será sonhar,
então já que serei sofredora, sonharei alto. Sonho que o sultão vem
me buscar pessoalmente e me leva para o nosso palácio. Chegando
lá, sou a única mulher de toda a ala, ele me toma nos braços e me
ama do jeito que sabe fazer amor. Depois ordena que eu seja a sua
vadia, me manda ficar de quatro e a cama fica pequena para nós
dois.
— Será que estou com febre? — indago, porque sinto a minha
pele esquentar.
— Sente calafrios? — Ela apanha o termômetro e coloca
embaixo do meu braço.
— Não. — O termômetro apita e acusa temperatura normal.
— Está sem febre, querida. É uma boa notícia. — Então o calor
que senti foi pura safadeza em pensar no sultão me comendo.
Fecho os olhos para ela não ver a luxúria tomando conta de mim.
Estou no hospital, não é hora de sentir essas coisas.
A cada dia vivido dentro do hospital, eu sinto as minhas forças
se reestabelecendo. Nunca precisei de hospital, mas é notável que
estou dentro de um da melhor qualidade. As enfermeiras se
revezam e quase nunca estou sozinha no quarto. Quando posso
andar um pouco, saio do quarto e vejo que é realmente verdade que
um mensageiro do sultão está de prontidão em minha porta e cada
vez que olho para ele, tenho vontade de perguntar de todos do
palácio. Desde o acidente, tenho um desejo insano de pegar meu
menino nos braços e dizer que tudo que eu fiz foi por amor a ele,
pensando no seu futuro, no quando ele pode e vai mudar esse país.
Infelizmente, esse é um sonho impossível. Só ouvi uma
possibilidade de sair do hospital sete dias depois que acordei e,
também, porque a retirada dos pontos teve êxito, estou
perfeitamente bem e sem nenhuma dor. Apesar do hospital ser um
luxo e eu ter aproveitado o máximo do lugar, não quero mais ficar
presa nesse ambiente. É muito triste ver pessoas enfermas e
familiares chorando pelos corredores. Também é muito triste não
receber ninguém da minha família. Como será que minha mãe está
com a morte do meu pai? Espero que meus irmãos se emendem e
enxerguem que quem semeia vento colhe tempestade.
Eu não sei exatamente para onde irei quando sair daqui e,
talvez, seja por isso que ainda não reclamei de ficar no hospital,
mesmo que esteja me sentindo bem há alguns dias.
Um toque à porta me livra dos pensamentos ruins que rondam a
minha cabeça com o prazo do hospital se expirando. Peço para
entrar, certa de que é mais uma mulher de branco para me
examinar.
Não é...
A mulher que entra em meu quarto é a última pessoa da face da
terra que eu esperaria encontrar no meu quarto de hospital.
— Aisha...
— Posso entrar, amiga? — Balanço a cabeça, sem acreditar
que ela está ali na minha frente. Ela entra, fecha a porta e caminha
até mim, elegante em uma túnica rosa, ricamente ornada de pedras
coloridas. Quando estica a mão para pegar a minha, sou mais
rápida e belisco seu braço, fazendo-a gritar de dor.
— Está maluca, garota?
— Não, estou só conferindo se não morri e fui para o céu. Você
parece um anjo lindo em minha vida.
— Ah... Tayla, como eu consegui suportar viver sem você. —
Não sei quem chora mais, acho que sou eu, porque sempre fui mais
mole que ela. Um abraço dela é tudo que eu preciso nesse
momento e demora uma eternidade para nós duas nos
recuperarmos. Vivemos tantas coisas juntas e uma infinidade de
coisas longe uma da outra, sem nunca desfazer nossa conexão de
amizade.
— Gostou da minha visita? — Ela sorri, já recuperada.
— Se gostei? Você é tudo que necessito, Aisha. Eu vi a morte
cara a cara, por um instante pensei que morreria sem dizer que
você é a melhor amiga que uma pessoa pode ter.
— Eu nunca pensei que morreria, nem por um momento, porque
eu tinha certeza de que você não partiria, afinal, ainda não chegou a
sua hora, bandida. Como você está?
— Estou bem, fisicamente falando. Esse lugar é um hotel cinco
estrelas e o sultão fez questão de deixar claro que eram para me
tratar bem. Teve até comida na boca. Como eles estão? — A
pergunta sai e acho que demorou para ser proferida.
— Mohammed é uma criança linda, saudável, e acho que a
genialidade dele conquistará multidões. Não há quem não goste
daquela criança. Já o sultão, quase não o vejo, está atarefado com
os últimos acontecimentos. Não foi fácil para ele todo esse
incidente.
— Eu imagino. Ter que lidar com a ira das pessoas.
— Ao contrário, amiga. As pessoas o amam ainda mais. — Olho
para ela sem acreditar. — É verdade, as pessoas lá fora torceram
muito para a sua recuperação. Você virou uma espécie de
celebridade, todo mundo quer saber quem é a mulher que protegeu
o sultão. Está famosa, Tayla.
— Isso é sério?
— Sim, isso é muito sério. Verá quando sair daqui.
— Agora fiquei com medo de sair daqui.
— Não tenha medo, sairá pela porta da frente e sairá de cabeça
erguida. Sempre foi destemida, não é agora que fraquejará. —
Aisha olha para o relógio e para a porta. — Tem alguma lanchonete
nesse hospital, gostaria de tomar um chá com você antes de ir
embora. Você está realmente muito bem. Sabe que não posso
demorar, o sultão foi generoso quando me deixou sair do palácio
para te ver.
Levanto-me da cama com cuidado..
— Tem uma sala perfeita para conversarmos sossegadas. Ai...
quero que me conte mais do palácio, do Mohammed, de como foi a
repercussão do que aconteceu comigo, de como ele está.
— Te conto tudo, amiga. Onde é essa sala?
Antes dela sair, ergo minha túnica e mostro como está o meu
ferimento, deixando-a admirada de como tudo já está quase
cicatrizado. Apesar de estar bem melhor, enlaço minha mão em seu
braço e caminhamos com uma certa morosidade até a sala de chá.
Não sinto dores nesse momento, mas sou cuidadosa para não
precisar tomar mais uma bolsa de sangue, porque sei que precisei
de bolsas de sangue no dia da cirurgia. Sinto uma alegria tão
grande, como se o tempo não houvesse passado para nós duas e
assim que entramos à sala de chá do hospital, a televisão está
ligada e na tela tem uma mensagem que me deixa ansiosa. O sultão
fará um pronunciamento oficial em instantes. Olho para ela.
— Você sabia que ele iria falar? — Ela olha para a televisão e,
depois, para mim.
— Não, claro que não. Você se esqueceu de como as coisas
funcionam lá dentro. Mulheres são apenas para procriação, o que
não é o meu caso, você bem sabe. — Sentamo-nos na sala.
— Posso ouvir o que ele vai falar e depois conversamos?
— Claro, amiga. Até eu fiquei curiosa, deve ser algo relacionado
com o atentado que sofreu. Ele aumentou o número de guardas
reais, está mais cauteloso.
— Você sabe que o homem que mandou atirar nele é meu pai,
não é? — Ela segura mais forte a minha mão.
— Eu sei, Tayla. O sultão me contou tudo que aconteceu, ele
fez isso preocupado, sabendo que eu oraria com fervor pela sua
recuperação.
— Você orou por mim? — brinco com ela, mas ela me fita bem
séria.
— Com todas as forças do meu coração. Eu não conseguiria
viver sem você, mesmo que estivesse longe. — Uma lágrima
escorre em seu rosto, mas é abafada pela voz do Yussef, o
conselheiro dele, avisando que o pronunciamento começaria. Ela
sorri entre lágrimas e pede para prestarmos atenção ao
comunicado.
Vê-lo mesmo que pela televisão, provoca em mim um misto de
sensações indescritíveis. Todos os meus sentimentos vêm em uma
torrente enorme e, em seguida, todo o meu corpo começa a tremer
quando a sua voz invade a sala do hospital. Minha vontade é
abraçar a televisão para ver se consigo sentir a sua energia. Aisha
segura a minha mão, emocionada com as minhas emoções.
— Boa tarde, caro povo de Omã. Quem vos fala é o sultão Said
Abdul Al-Maktoun, sou o monarca dessa nação. Diante dos últimos
acontecimentos, achei necessário vir até vocês para explicar o que
de fato aconteceu naquele dia fatídico, em que sofri um atentado
contra a minha vida. — O medo me ronda, porque sou parte desse
atentado e não sei o que o povo pensará sobre mim quando souber
a verdade. Ele continua o discurso:
— O nosso governo é próspero e cada vez mais conseguimos
atingir a meta de melhorias significativas para todo o povo de Omã.
Porém, é totalmente compreensível que algumas pessoas não
pensem como a maioria e eu sempre ouvi o clamor de todos que de
alguma maneira se sintam prejudicados, ou mesmo esquecidos pelo
governo. Pois bem, o líder dos extremistas do lado leste, o senhor
Vermont Balil Al-Rashidi era um desses homens e ele sempre teve
voz para expressar os seus pensamentos, nunca o proibi de fazer
isso, mas tudo tem um limite e ele ultrapassou isso quando usou
pessoas inocentes em seu discurso de ódio. Felizmente, uma
mulher louvável teve a bondade de se colocar na frente do perigo,
ela correu um risco imenso e verdadeiro, assumindo o lugar que era
meu, então estou aqui para agradecer, do fundo do meu coração, o
seu gesto de altruísmo feito sem pedir nada em troca, apenas por
acreditar que nosso país é um bom lugar para se viver. Vejam só
como é a vida, essa mulher é filha do líder morto no confronto.
Descobri isso só depois do ocorrido, o nome dela é Tayla Al-Rashidi
e é indiscutível a sua posição sobre o comportamento de seu pai. —
Seu discurso é impecável, sinto suas palavras de carinho
percorrendo a minha corrente sanguínea, mas ele me expôs
totalmente, abrindo para o país que a minha descendência vem
daquele homem maldoso. Aisha cutuca a minha mão e eu volto a
escutar o que ele diz.
— Eu fiquei me perguntando o que será dela, agora que não
corre risco de morte, está bem e se recuperando. Sem o seu pai,
porque mesmo que eles tinham convicções contrárias, eram uma
família e uma família foi feita para ser amada. Eu decidi, diante
desses fatos, como ela me protegeu da morte, eu a protegerei com
a minha lealdade. Tayla Al-Rashidi, essa mulher corajosa, guerreira,
a partir de hoje, terá um lugar importante em meu harém.
— O que ele está dizendo, Aisha? Que loucura Said está
dizendo? — Eu pareço estar em um sonho, tudo fica anuviado, não
consigo raciocinar direito.
— Escuta, criatura.
— Ela será minha esposa oficial e assim que ela tiver alta
médica, eu irei pessoalmente buscá-la e vocês poderão reverenciar
a mulher que salvou a minha vida. Obrigado por me escutar.
Estou perplexa, acho que em choque, quando a televisão volta
a exibir a programação. Não consigo me mexer, meu corpo treme
todo e Aisha corre para buscar um copo de água com açúcar para
mim. Então tem um motivo para ela ter vindo ao hospital me ver
justo hoje. Olho para ela, ainda sem parar de chorar.
— Você sabia disso, cachorra?
— Estou tão perplexa quanto você. Eu sabia que ele iria falar
em cadeia nacional, mas não tinha a mínima ideia do que seria. Ele
só me pediu para estar ao seu lado e eu acatei. Acho que ele queria
saber a sua reação em tempo real.
— Nunca estive com tanto medo, Aisha. Falo a verdade, estou
apavorada, porque agora é um caminho sem volta. Quando eu sair
por aquela porta, serei uma mulher do seu harém, oficialmente. Com
o meu sobrenome ecoando em todo o país.
— Não era isso que você queria? Ser a mulher do sultão?
— Eu nunca sonhei tão alto.
— Mentirosa. — Ela sorri e me abraça.
— Minto só um pouquinho, vai. Sonhei alto, você sabe. Me
ajudou desde o primeiro olhar, mas nunca achei que ele se casaria
comigo, aceitando quem eu sou de verdade.
— Você não merece menos que isso, Tayla. Salvou o homem de
morrer, é mãe do primogênito dele, é a mulher que ele ama. Nunca
aceite menos do que isso. — Aisha toca na minha ferida que não
fecha. O sultão deixou claro em seu discurso que não me conhece e
se, de repente, descobrem que tenho um filho com ele. Toda essa
artimanha que ele montou para me colocar no lugar que eu desejo
não pode correr o risco de não acontecer. Prefiro estar lá dentro,
perto de Mohammed, do que perder a única chance de entrar no
palácio pela porta da frente.
— Já que estamos sozinhas aqui e eu deduzo que isso acabará
quando abrir aquela porta, prefiro que Mohammed continue sendo
seu filho. Não quero que nada atrapalhe esse arranjo maravilhoso
que Said fez para me ter ao seu lado, vendo de perto meu filho
crescer.
— Mas ele é seu filho... — Todos os dias eu choro de saudades
dele, eu sei disso.
— Eu terei outro, na hora certa e no momento certo.
Mohammed sempre será o primogênito, confio mais em você com a
educação dele do que eu mesma. Sou uma desmiolada. — Busco
mostrar para ela a minha convicção sobre esse assunto. Não posso
esmorecer agora. Ela bufa.
— Deu para notar. Está pronta para enfrentar o mundo?
— Não...
— Vai sair assim mesmo, já é hora de o povo conhecer a
salvadora do sultão. — Aisha está cheia de razão. Foi só começar a
caminhar pelo corredor de volta ao meu quarto, para as pessoas me
olharem com curiosidade, algumas até fazendo reverência para
mim.
Minha vida foi imensamente modificada de uma hora para a
outra e, por isso, nem sei como agir daqui para a frente. Aisha vai
embora e eu fico apavorada com o simples fato de falar alguma
besteira na frente das pessoas.
Escolho ficar no meu quarto, assim só tenho que falar com as
enfermeiras quando elas entram. Não me lembro de ter recebido
tantas assim em um mesmo dia. A minha ansiedade agora está no
dia em que o médico me dará alta. Ele terá coragem de me buscar
no hospital pessoalmente?
Ele disse que fará isso em cadeia nacional e eu não sei nem
como agir. Se só de olhar para ele o chá quente foi direto para o seu
peito, não quero nem pensar o que posso fazer dessa vez.

SAID
— Vocês duas juntas são um perigo para a humanidade. —
Aisha me cumprimenta, enquanto a ajudo a descer do veículo real,
desesperado e apavorado com o que ela tem para me contar.
— O senhor não costumava agir assim descontrolado.
— Antes eu não tinha duas pestes para me atormentar. Diga-me
logo, ela está mesmo bem? — Passo a caminhar ao lado dela, que
não para de andar, com pressa de ver se Mohammed está bem.
Está preocupada com o menino.
— Ela está ótima, senhor. É verdade, eu vi a cicatrização do seu
ferimento e mesmo um pouco pálida por causa da excessiva perda
de sangue, andando ainda devagar, nem parece que esteve entre a
vida e a morte.
— Graças a Allah.
— Graças a Allah e ao senhor, porque aquele hospital mais
parece um hotel. — Faço a pergunta que não quer calar.
— E sobre o anúncio? — Ela demora a responder. — Quer me
matar, senhora Abdallah? — Ela ri, bastou um momento com a outra
para voltar a ser igual a ela.
— Ela ficou boquiaberta, foi a primeira vez que a vi sem reação.
Tremia toda, coitada. Fiquei receosa, porque ela ainda está se
restabelecendo. Ela ficou temerosa quando o senhor falou o seu
sobrenome e a ligou ao extremista, e para falar a verdade, eu
também fiquei assustada com essa parte do discurso.
— Eu precisava deixar claro o quando ela está sofrendo. Isso
daria mais valor quando, por questões humanas, eu a colocaria em
meus braços legalmente. O que achou?
— O amor de vocês é único, senhor. Ela está com medo do
futuro, mas ao seu lado ela não tem o que temer, e o senhor será o
homem mais feliz de todos os tempos. Não é porque ela é minha
amiga, mas Tayla é uma mulher adorável e eu superentendo sua
paixão avassaladora por ela. Me perdoe a sinceridade.
— Mohammed é uma criança de sorte, você fará bem para sua
educação. — Dessa vez, quem faz deferência sou eu. — Amanhã
eu vou buscá-la, o médico dará alta para ela. Obrigado mais uma
vez, por estar ao lado dela nos momentos oportunos.
Deixo-a na entrada da ala matrimonial e vou para a sede do
governo cheio de entusiasmo. Então a habiba está cheia de medos?
Ela não terá tempo de pensar bobagem, nós temos um longo jejum
para quebrar. Eu não vejo a hora de poder estar junto dela, de ouvir
a sua voz e as suas interpelações. Fora a saudade de tê-la em
minha cama, porque amar uma mulher que gosta de estar embaixo
de mim não tem sabor igual.
Yussef está na sede e me olha curioso quando entro nela.
— Enfim a senhora Abdallah chegou?
— Chegou e é visível a sua mudança. Realmente esteve com a
senhorita Al-Rashidi, insolente igual. — Ele ri enquanto eu me sento
na minha cadeira.
— Isso é bom, indica que tudo está caminhando nos conformes
no hospital. Sabe, senhor, eu fiquei impressionado com o seu
arranjo. Eu não teria uma ideia tão boa e muito menos, melhor que
essa. O que fará a respeito das suas esposas e favoritas? — Andei
refletindo sobre isso também.
— Primeiro quero instalar Tayla e acompanhar como será a
reação de todas, porém, estou amadurecendo uma ideia que tive e
dividirei com você em um momento mais oportuno.
— Nunca teve tantas meditações.
— Sim, você está coberto de razão. São os novos sentimentos
que habitam a minha pessoa que provocam essas reflexões.
Acredito que tenha passado da hora de tomar as rédeas da minha
vida, os tempos são outros agora e já temos Mohammed, o herdeiro
do trono. Não estou dizendo que vou aniquilar meu harém, não
tenho todo esse poder. Estou dizendo que teremos outros tempos
aqui nesse palácio.
— Ficarei curioso, senhor. Mudando de assunto, o que fará a
respeito da família da senhorita Al-Rashidi? — Encosto na cadeira,
dedilhando a mesa.
— Quero sua mãe aqui amanhã, quando chegarmos do
hospital. Acho que a pequena precisa desse carinho, ela foi tratada
como animal enquanto esteve em sua casa e tenho certeza de que
sua mãe não compactuava com aquele monstro. É a subserviência
que faz as mulheres abaixarem a cabeça para os mando e
desmandos dos homens. Providencia isso para mim?
— Imediatamente, senhor. Com licença.
Com toda essa loucura que aconteceu comigo, deixei que o
aniversário de Mohammed passasse em branco. O garoto fez um
ano em meio ao caos e a iminência de perder sua mãe sem nem
mesmo conhecê-la. Esse também é um assunto muito delicado,
para que as coisas sejam transparentes aqui dentro do palácio,
Tayla, por enquanto, não poderá assumir a maternidade, e eu não
gostaria de ser o portador dessa notícia. Não quero ver mais dor em
seu rosto, quero ver felicidade e encantamento com tudo que ela
ganhará agindo da maneira que agiu.
O fim justifica os meios, seu pai nunca imaginou que seus atos
extremistas pudessem colocar a sua filha em minha cama e eu não
vejo a hora de selar essa parte do acordo. Será uma linda noite e eu
sei, ainda demorará uma eternidade para acontecer porque ela
precisa estar totalmente recuperada. Minha mãe entra na sala sem
avisar porque a porta está aberta. Sorri quando me vê com cara de
bobo apaixonado.
— O sultão parece bem essa manhã. — Peço para ela sentar.
— Eu me sinto muito bem essa manhã, Soraya.
— Eu gosto imensamente de te ver feliz, Said. Me lembra seu
pai quando casou comigo. Eu não era sonhadora igual à Tayla, nem
mesmo era apaixonada por ele, mas ele tinha um dom, nos fazia
sentir especiais. Eu me tornei mesmo muito especial quando fiquei
grávida de você. Nessa época, eu já amava seu pai.
— A senhora nunca me disse que o amava.
— Eu não queria que você sonhasse com um amor verdadeiro.
Nenhuma das suas mulheres sentem isso e eu não queria ver a
decepção em seu rosto. Quando fiquei sabendo que você encobriu
o incidente do chá, passei a observá-la melhor e notei que seus
olhos brilhavam quando ouvia o nome dela. Eu desconfiava que ela
era uma mulher proibida, mas ela queria você e, olhe agora,
conseguiu te fisgar. Fico muito grata por você ter se mostrado um
monarca preocupado com o ser humano, mas cá para nós,
sabemos que o que te motivou a trazer a garota para o seu harém
foi o amor, o mais lindo amor que eu já vi. Estarei ao seu lado
sempre, Said. Fico satisfeita que tenha encontrado o amor e que ele
tenha contribuído para que você seja um homem melhor. Eu te amo,
senhor. — Ela se levanta, faz uma longa reverência e sai da sala,
deixando aqui todo o seu amor e é palpável. O ar fica totalmente
coberto do seu perfume floral.
Quem diria que existe mais de uma odalisca apaixonada pelo
sultão aqui nesse palácio. Fico orgulhoso de ter sido fruto do amor
entre eles. Mohammed também tem essa sorte, apesar de eu ainda
não ter a consciência no momento em que ele foi gerado, ele foi
feito com amor.
CAPÍTULO 22
Desde a hora em que o médico me disse que estava de alta
médica, meu coração não parou mais de bater apressado.
O sultão terá mesmo coragem de vir me buscar no hospital e
sair comigo daqui para as pessoas verem? Olho pela janela uma
enorme movimentação ao lado de fora do hospital e sinto com o
meu coração que isso irá de fato acontecer.
— Ah... por Allah, ainda se a Aisha estivesse aqui comigo. —
Para não enlouquecer, tomo um longo banho, visto uma linda túnica
enviada do palácio. Ela tem tons de rosa e combina perfeitamente
com a cor dos meus olhos hoje. Nunca o vi nesse azul tão cintilante
e com a ajuda das enfermeiras, eu passo um pouco de maquiagem,
apenas para disfarçar a minha palidez que ainda é muito visível.
Quando batem à porta, meu coração parece que vai parar. Ela é
aberta e eu o vejo atrás dela. Abaixo o olhar quando noto que não
estamos sozinhos. Será uma tortura frequente controlar os meus
arroubos de sinceridade e desprendimento. O sultão para mim será
sempre Said, um homem onde a coroa não tem a menor
importância. Faço uma reverência para ele e ele se curva para mim.
— Bom dia, senhorita Al-Rashidi — cumprimento-o, enquanto
ele entra e seu conselheiro entra logo atrás, fechando a porta na
cara dos médicos. Não resisto e levanto meu olhar encontrando sua
íris negra flamejante. Ele sente a mesma emoção que eu sinto.
— Como a senhorita está?
— Eu estou bem, graças ao bom tratamento que tive nesse
lugar. — Não me contenho e aponto o seu conselheiro. — Ele vai
ficar aí?
— Sim, você ainda é uma donzela.
— Ah... Said, preciso saber que tudo isso é real. — Yussef me
olha com cara feia. Não me importo. Said pede para ele olhar para a
parede.
— Mas, senhor...
— É uma ordem, Yussef. — Ele vira e o sultão vem bem
pertinho de mim, tocando suavemente o meu rosto.
— Ainda está pálida, habiba.
— Primeiro o beijo, depois conversamos amenidades.
— Sempre tão abusada. — Ele encosta os lábios nos meus,
mas para mim precisa ser intenso e verdadeiro. Empurro-o...
— Será que o sultão não sabe mais beijar uma mulher? Não
anda treinando? Tem quarenta mulheres à sua disposição. — Ele
me segura firme, mantendo meu rosto à sua mercê.
— O que eu faço com você, senhorita Al-Rashidi?
— O senhor sabe do que eu gosto. — É o suficiente para
ignorar a presença do conselheiro. Sua boca cobre a minha e sua
língua invade todos os espaços possíveis dentro da minha boca. Eu
sinto que o tempo cessa durante alguns instantes, deixando que
nossas bocas façam a conexão que nos foi tirada. Eu agarro seu
pescoço, aliso seu peitoral forte, me contenho para não apertar suas
partes sexuais em minhas mãos. Tenho saudades e necessidades.
Não o faço porque não quero ser possuída por ele com uma pessoa
fingindo não ver o que fazemos. Descolo minha boca da dele,
contrariada.
— Não poderá agir assim a todo momento. Pelo menos ganhou
um rubor adorável. — Ele afasta alguns passos e tira Yussef do
castigo. Ele está sorrindo quando vira para nós.
— Eu irei mesmo para o palácio com você? — pergunto,
curiosa.
— Sim, irá agora mesmo, mas antes preciso perguntar algo
importante. — Eu assinto.
— Como eu disse em cadeia nacional, você irá para o palácio
como uma de minhas mulheres. Já esteve lá, conhece como tudo
funciona, então eu lhe pergunto e preciso que sua resposta seja a
mais honesta possível. Está aqui fora agora, tem liberdade, tem a
sua família, sabe quem você é, então terá que fazer a sua escolha,
porque uma vez minha mulher, tudo que eu disse há pouco ficará
para trás. — Eu não esperava uma pergunta assim tão direta.
Caminho até a janela, deixando-o esperando. Olho a multidão lá
fora que parece ter dobrado de volume. Volto a olhar para ele e me
espanto, porque agora são dois pares de olhos me perscrutando.
— Na verdade, senhor. — Ele respira fundo. — Eu gostaria
mesmo de ser a única do sultão. Sei que isso será impossível, então
preciso me certificar de que serei feliz lá. Quero garantias de que eu
seja uma das esposas oficiais, também quero garantias de ser a
próxima mulher a conceber um filho seu, seja homem ou mulher,
não faço questão de escolher o sexo. — Ele se contorce embaixo da
túnica. Yussef abaixa a cabeça, tentando disfarçar mais uma vez o
riso.
— Você já tem um filho, sabe disso.
— Eu não tenho nenhum filho, senhor. Eu nem conhecia o
senhor antes dessa situação que vivemos.
— Tayla... não brinca com coisa séria.
— Falo sério, senhor. Mohammed continua sendo filho de Aisha.
Eu quero ter o meu filho oficial, Mohammed será sempre o
primogênito. Nada, nem ninguém tirará a coroa dele. Eu sei que ele
é meu filho e isso terá que me bastar. — Não deixo que ele veja o
quando essas palavras me ferem.
— Tudo bem, temos um acordo. Despretensiosa, você disse um
dia. Acho que precisa rever os seus conceitos. — Ele estica a mão
para mim. Eu chego mais perto dele.
— Podemos selar esse acordo com mais um beijo. Sinto tanto a
sua falta.
— Ah...habiba. — Ele me beija mais uma vez, dessa vez
esquecendo de pedir para seu conselheiro virar. Tudo é acordado
nesse beijo. Fim de noites maldormidas, término de choros sem
precedentes, paixão avassaladora, sexo quente e consensual, uma
infinidade de coisas que vivemos e sentimos sem poder sentir, mas
que agora poderá ser realizado.
Quando o sultão abre a porta do quarto, é como se eu me
transformasse em outra mulher. Essa mulher deve ser a pessoa que
meu pai me treinou para ser. Ela sabe respeitar a hierarquia, sabe
acenar para o povo, sabe sorrir e agradecer as orações de pronto
restabelecimento. Sento-me no carro oficial ainda em êxtase com as
primeiras impressões depois de ser finalmente uma mulher do
harém de Said.
— Sente-se bem? Acabou de se recuperar de um tiro, senhorita
— ele pergunta, preocupado.
— Sinto-me viva ao seu lado, senhor. — Não olho em seus
olhos dessa vez. Preciso me policiar para ser a mulher perfeita
quando não estamos sozinhos. Agora, quando chegar a hora de
estarmos sozinhos entre quatro paredes, só existirá a paixão e o
amor que repousam alucinados esperando esse dia acontecer.
Mais uma surpresa me aguarda no palácio, Said realmente me
parece um novo homem. Minha mãe me espera para um chá e estar
junto dela me fortalece e, também, a ajuda a enfrentar a morte do
meu pai, que independentemente de qualquer coisa, era o seu
esposo e eu sei que ela se casou por amor. Depois dessa enxurrada
de emoções, o sultão achou melhor eu descansar antes de
reencontrar com a minha amiga e ele está certo. Rever Mohammed
trará mais uma torrente forte e poderosa de sentimentos, me sinto
um pouco fraca para fazer isso agora.
Ele não mentiu quando disse que tínhamos um acordo, fez
questão de me acompanhar, sempre junto de seu conselheiro, até
as minhas acomodações e eu nunca estive nessa ala, nunca fui
cogitada a ser sua esposa.
— Onde estão as outras? — pergunto, porque não vejo
ninguém, apenas serviçais e guardas reais.
— Aqui é sua ala, senhorita Al-Rashidi. Achamos melhor que
tenha o seu próprio ambiente antes de se juntar com as demais.
Precisará de um tempo de adaptação. — Entro na casa
extremamente de bom gosto. Eu não mudaria nada de lugar, parece
ter sido decorado por mim mesma. Cores, desenhos, estampas.
— Esse lugar tem a minha personalidade, senhor. Obrigada.
— Eu pedi que a senhora Abdallah decorasse, ela sempre tem
bom gosto. Você a conheceu quando ela te visitou no hospital.
— Agradeça a ela por mim, foi muito gentil da parte dela.
— Você a verá, ela te ajudará a escolher uma ou duas aias,
como preferir. — Então é assim, virei madame da noite para o dia.
— Descansarei um pouco, depois caminharei por aí para
conhecer o palácio. É muita gentileza do senhor me receber aqui,
farei o que desejar para agradecer a hospitalidade. — Levanto o
olhar a tempo de ver Said controlando o fogo que arde nele. Para
um homem, ouvir uma mulher dizendo que fará qualquer coisa, deve
ser suficiente para provocar uma onda de quentura por todo o corpo.
Eu imagino como ele está, se o meu corpo arde de saudades dele.
Só de lembrar de que ao contrário de mim, ele exercitou o sexo com
suas mulheres, sinto a raiva me dominar, mas não ouso externar os
meus sentimentos.
— Tem uma linda fonte bem pertinho da sua ala. Tenho certeza
de que gostará de frequentá-la. Já não é mais tão exclusiva quanto
antes, porém, sei que você poderá ficar à vontade lá, não será
perturbada por nenhuma outra mulher do meu harém. Vamos,
Yussef? — Ele acena que sim e saem rapidamente, deixando-me
encantada, abrindo porta por porta, vendo qual ambiente é mais
lindo que o outro.
O meu quarto eu sei qual é, porque a cama é imensa e eu já
vejo Said nu em cima dela, me esperando extremamente excitado.
Sento-me na cama devagar, não quero que nada atrapalhe a minha
recuperação, porque agora é questão de tempo, dessa vez o sultão
virá para a minha cama de livre e espontânea vontade.
— Ele me ama, ai... ele ama Tayla Al-Rashidi. Eu sou dele e ele
é meu. Foda-se suas quarenta mulheres. Amor de verdade, ele terá
apenas comigo.
Preparo-me para o encontro com Mohammed. Sempre fui muito
honesta comigo mesma. Eu amo meu filho, amo como nunca achei
que amaria alguém, mas estou disposta a separar o amor de mãe
pela afeição de tia. Sei que é confuso precisar mascarar o
verdadeiro amor, aquele que atrai, aquele que é pungente, mas
coloquei na minha mente que ele agora é filho da Aisha e eu não
quero que ele tenha dúvidas em sua cabeça quando crescer e
entender de sentimentos.
Entro na ala dela receosa, porque não sei como vou agir e se
vou conseguir desmembrar os meus sentimentos. Quando ela abre
a porta com ele no colo, o mundo para de girar e só existe o garoto
e eu. Para ajudar, a criança sorri para mim e estica as mãos. Aisha
não sabe como agir e bem da verdade, eu também estou paralisada
e insegura.
— Vamos, Tayla, pegue o garoto no colo. É um milagre ele fazer
isso, não sai do colo da sua mãe por nada — Iasmim fala, em pé
atrás de nós, e eu faço o que ela pede, colocando Mohammed em
meus braços e entro na casa delas. Ele encosta a cabeça no meu
peito e depois estica as mãos de volta para Aisha. Ela pega
Mohammed outra vez e o coloca no chão, perto dos seus
brinquedos. Ele fica quietinho ali, brincando.
— É estranho, amiga, mas vamos nos acostumar a essa
situação — ela diz e pega na minha mão, puxando-me para o sofá.
— Você tem certeza?
— Eu fiz a escolha, você terá que cumprir com a sua parte. Se
eu estiver sendo possessiva, será a sua vez de intervir, mas acredito
que não será necessário, hoje é apenas o primeiro contato depois
de uma longa jornada.
Depois desse mal-estar, tudo flui naturalmente e estar ali entre
eles me faz um bem enorme. Sinto como se o tempo não tivesse
ficado esquecido lá atrás e que se Allah ajudar, nós seremos uma
grande e feliz família. Sei que dentro do palácio elas são o meu
porto seguro, mesmo que exista uma represália por conta de tudo o
que aconteceu, Aisha sempre estará do meu lado.
Espantosamente, todas as mulheres com quem eu estive nos
dias que se seguiram, me trataram com educação e com admiração.
Não sei exatamente o que o sultão fez para conseguir essa atenção
toda, mas decerto ele deixou claro que elas deviam me respeitar
como qualquer uma aqui dentro. Pela ausência dele nos últimos
dias, sinto que sou mesmo igual a qualquer uma.
O sultão possui uma infinidade de compromissos políticos e
sociais, viajar por dias é frequente, mas eu esperava que nós
fôssemos conversar sobre o tempo em que ficamos longe um do
outro. Como ele não estava, tudo que consegui arrancar da minha
amiga eu o fiz, mas fico chateada por só agora perceber que as
mulheres do harém sabem muito pouco sobre o que acontece em
nosso próprio país, nem digo no mundo. Eu gostaria de saber mais,
conhecer outras ideologias, outros países, mas ele me perguntou se
eu queria ser livre e de pronto neguei, do jeito que for, essa vida terá
que me bastar.
Algo inesperado me acontece quinze dias depois que retornei
ao palácio. Eu recebo a visita da valide, Soraya, a mãe do sultão.
Convido-a para sentar, tomar um chá e ela aceita. Uma das minhas
aias vai fazer o chá e ela é exigente, pede um sabor que demorará a
ficar pronto. A outra aia se retira da sala.
— Eu vim saber sobre a sua saúde. Não tínhamos estamos
juntas depois do incidente.
— Não tenho do que me queixar, senhora. Fui muito bem
tratada e o pronto atendimento que tive no hospital salvou a minha
vida.
— Que bom, fico feliz que esteja curada. Quero agradecer o seu
gesto de amor, desde a primeira vez que eu coloquei meus olhos
em você, sabia que era diferente das outras. — Abaixo o meu olhar,
envergonhada.
— Você o ama de verdade e isso fez toda a diferença para ele.
Infelizmente, nem tudo são flores aqui dentro e, assim como eu fui
um dia do pai dele, você será uma das mulheres dele. Não temos
como mudar isso, são raízes de um reino passado e ultrapassado.
Não quero que se sinta igual às outras porque não é, sabe disso.
Porém, as dinâmicas serão iguais para todas e por isso hoje é o seu
dia de estar junto de meu amado filho. — Ignoro propositalmente a
primeira parte e foco apenas na segunda parte do monólogo. Hoje é
meu dia de seduzir o sultão.
— Eu entendo perfeitamente o que disse e não estou em
condições de exigir nada dele. Estarei pronta quando a supervisora
vier me buscar.
Ela vai embora e eu vou para o meu quarto, feliz por finalmente
estar junto dele outra vez, mas muito desconfortável por ter que ir
para o quarto dos prazeres como se fosse uma qualquer. Preciso
me concentrar em estar linda, desejável, porque se toda vez for
assim, ao invés de ser feliz eu ficarei sempre nas trevas.
No horário marcado, a supervisora vem me buscar e seu olhar
de surpresa me deixa ainda mais confiante. A roupa azul-celeste,
toda rodada, com o hijab descendo no mesmo tom, deixa a minha
maquiagem em evidência. Quando me pintei, pensei no que Said
gostaria de ter em sua cama e eu acredito que ele queira algo
diferente, algo sensual, que atraia a sua atenção,
independentemente de possuirmos o amor como elo. Eu não quero
que ele me olhe igual olha para as outras, quero que ele se
surpreenda, que sinta um frio na barriga quando souber que irá me
encontrar em sua cama. Como atrativo, além das roupas e da
maquiagem, passei óleo de canela em todo o meu corpo, descobri
que isso atiça os homens.
Sou surpreendida quando tomamos um caminho diferente do
quarto dos prazeres e algo me diz que ela me leva para a ala onde
fica os aposentos reais. Perco o fôlego quando ela entra na área
restrita e segue até uma porta que eu nunca estive, mas imagino
que seja o seu espaço particular. Olho mais uma vez no espelho do
corredor se estou vestida e adornada de acordo com o lugar que
estou. Bato à porta e entro, quando não vejo mais a supervisora. O
suor escorre pelo vale dos meus seios e eu não sei se é de
nervosismo ou de antecipação.
Eu já o vi algumas vezes me esperando, sei do que gosta,
porém, não estou preparada para entrar no seu mundo privado. Seu
olhar encontra o meu e ele sorri, sabe que estou deslumbrada com
tanta ostentação e com sua beleza masculina. O sultão age direto
na minha libido quando faz o seu primeiro pedido.
— Dance para mim, habiba. Não tire a roupa, eu quero ter esse
prazer. — Uma música sensual começa a tocar e em matéria de
sedução, sou boa no que faço.
— É que estou com muita roupa, posso me desfazer de uma
parte dela?
— Tayla... — A primeira camada é retirada e debaixo dela minha
roupa de odalisca segue o mesmo tom azul. Nesse contexto, dançar
fica mais fácil e pela sua expressão de fascínio, ele está louco de
paixão e de tesão. Gostaria muito de dançar por mais tempo para
ele, mostrar com os meus gestos e as minhas reboladas, o quanto
ele é amado.
Eu não possuo esse controle emocional. Paro na sua frente, ele
joga as pernas para fora da cama e arranca a parte de cima da
minha roupa, desnudando meus seios.
— Você é linda, Tayla. A mulher mais linda que eu coloquei os
meus olhos. — Sua boca suga meus mamilos endurecidos. Eu jogo
a cabeça para trás, sentindo cada chupada dele, cada mordida
obscena, cada apertada certeira, querendo que a sua boca desça
até o meu âmago. Diferente de mim, ele não tem pressa, beija
carinhosamente a minha cicatriz, a marca da nossa união eterna.
Todas as minhas roupas se amontoam no chão e eu sinto que
não foram somente as vestes que caíram, foram todas as
intempéries que vivemos juntos ao longo dos anos que eu o amei
em segredo. Seus movimentos são suaves, apesar do fogo que
queima dentro de nós. Ele me deita na cama e sua boca traça um
caminho que aumenta meu ímpeto animal até alcançar o meu eixo
erótico.
— Said... — grito quando sua língua me arrebata e me lambe
em todos os lugares possíveis.
— Quero ouvir você gritar, habiba. Eu gosto de ouvir as suas
lamúrias de amor.
— Quero sentir seus dedos dentro de mim. — Imediatamente
sinto seus dedos penetrando a minha carne, movimentando de
maneira erótica, provocando uma explosão exponencial com efeitos
pirotécnicos. — Assim... Said, você sabe exatamente onde está o
meu ardor. — Ele sabe e faz esse momento o mais desesperador
possível, porque não quer que eu chegue ao orgasmo, ele quer
prolongar o meu prazer. Eu também sei revidar.
Empurro-o na cama, ajoelho-me e abro de maneira bruta a sua
calça, alcançando o meu objeto de desejo. Sorrio, alucinada,
quando noto que ele está melado, que ele sente prazer com o meu
prazer.
— Engole, amor. Engole tudo, faça um esforço, eu preciso sentir
que você é real. — Ele repete a minha frase e eu beijo sua glande
brilhante, afundando até seu membro bater na minha garganta. Said
geme e eu gosto para um caralho de provocar o seu desejo
masculino. Sei que a minha frequência em sua cama já não tem
mais tanto a ver com o sexo, mas sim com um sentimento de amor
e posse que possuímos um pelo outro. Mas eu quero o sultão
arrebatado, quero-o de uma maneira enlouquecedora e se ele gosta
de socar até a garganta, ele terá isso de mim.
— Você é atrevida, garota. Absurdamente gulosa. Chupa forte,
quero gozar na sua cara de safada. — Seu tom de voz ganha uma
energia a mais quando eu acelero meus movimentos e o primeiro
jato do seu prazer vem acompanhado de palavras de incentivo. Um
seguido do outro até que Said decide mudar a posição dos nossos
corpos, mantendo as minhas pernas abertas e se arraigando
sorrateiramente dentro de mim.
— Como o senhor consegue ser tão viril? — Gosto da sua
expressão quando elevo sua masculinidade.
— Seu cheiro de fêmea, habiba, ele ativa pontos em meu corpo
que me faz ficar duro por você. Posso meter mais rápido e virar um
louco inconsequente, ou uso do meu autocontrole para entrar e sair
lentamente, demorando para acabar essa sessão?
— Eu te amo de qualquer forma, Said. Estou inteira aqui, você
pode exercitar o que sentir mais deleite.
— Estar dentro de você é o suficiente para me manter em
imenso prazer. Vou manter essa lentidão gostosa, tenho medo de te
machucar. — Eu aceito o que ele me oferece, porque estar com o
sultão é o meu maior prêmio. Nossos corpos são embalados pela
música sensual, pelo balanço da cintura dele e quando sua boca
encosta na minha, buscando a maior interação entre nós, sinto a
felicidade em todo a sua magnificência.
Tenho tudo que desejo, um lugar para viver, um filho abençoado
que verei crescer, um homem digno, que aprendi a amar sem julgar
a sua vida incomum. Quando Said atinge o ápice, estamos unidos
como nunca estivemos antes e tudo é bem real e verdadeiro. Ele
tomba ao meu lado e me coloca em seus braços. Eu me sinto feliz e
realizada como nunca fui em toda a minha vida.
— Seu quarto é lindo, senhor.
— Aqui será o nosso quarto a partir de hoje. Não dormiremos
juntos todos os dias, mas deixo claro que você é a minha esposa
amada e quando estivermos juntos, poderá ser aqui ou na sua casa.
Você sempre será diferente das outras.
— Como sabe o que eu penso?
— Você sempre foi transparente, eu sempre consegui ler seus
anseios, Tayla. Isso muitas vezes me fez infeliz, porque não podia
sucumbir as suas artimanhas e sabia que você me desejava, além
da segurança financeira.
— Eu tenho medo de não conseguir controlar meus
sentimentos. Odeio pensar em você com outras mulheres. — Ele
me beija na testa carinhosamente, buscando me manter calma.
— As únicas mulheres que eu posso porventura me relacionar
sexualmente, Tayla, são as minhas esposas e você será uma delas,
e as favoritas, porque já estão nomeadas. Não haverá mais
nenhuma candidata a favorita, porque eu a amo, já é a favorita, não
preciso achar mais ninguém. Um harém foi criado para a procriação
e eu já tenho um filho homem, sendo assim não tem muita lógica
manter as coisas assim, mas essas mudanças afetam o todo de
uma maneira efetiva.
— Talvez se você tiver uma conversa com cada uma delas,
descubra que elas odeiam transar com você. — Ele balança a
cabeça, sorrindo. Um lapso de insegurança passa pela sua íris
negra.
— Você está tentando me envenenar, habiba. Isso é muito feio.
— Depois não diga que eu não avisei. É só pensar bem, qual
momento de prazer é mais gostoso para você? Estar aqui comigo
ou pegando qualquer uma delas? Comer a minha bunda, como fez
naquele dia ou transar por obrigação? Elas sentem o mesmo em
relação a você, fazem porque foram colocadas aqui pela família
interesseira.
Odeio ter que mexer com a masculinidade dele, mas é um ponto
de vista de quem vive do outro lado da cerca. Obviamente, ele não
gosta das minhas percepções e usa o sexo dessa vez para
dispersar qualquer assunto que tenha ficado ambíguo.
Nossa primeira noite de amor é regada a um bom sexo, a muito
beijo na boca e a risadas soltas. Nada mais sério é abordado,
porque não é hora de falar sobre certas coisas. Aquela pulga atrás
da orelha eu consegui plantar, tenho a certeza de que ele irá refletir
sobre o que disse.
Infelizmente, a noite chega ao fim e com ela o meu tempo ao
seu lado. Fico depressiva nessa hora, nunca é tempo suficiente para
eu me satisfazer dele. Ele percebe que a minha vitalidade acaba e
conversa comigo na hora que estamos tomando o desjejum.
— Não quero que se aborreça a cada despedida, habiba. Eu te
amo e terá que se apegar ao meu amor para não viver essa
montanha-russa na sua cabecinha.
— Tenho problemas para lidar com a minha possessividade.
Procurei sempre ser honesta com o senhor, isso é incontrolável,
quando vejo já estou mal-humorada.
— Às vezes eu esqueço que tem pouca idade. Vem aqui. — Eu
me levanto da cadeira e vou até ele que me coloca sentada em seu
colo, ajeitando os meus cabelos.
— A sua dor provoca dor em mim, amor. Entenda que eu já fiz o
melhor que pude, eliminando boa parte das minhas atribuições
como homem aqui no palácio. Erradicar uma ação que existe há
muitas gerações é extremamente difícil e complicado.
— Para que o senhor é o rei desse país, se não pode dizer o
que sente ou mesmo o que deseja? — Ele aperta mais a minha
cintura e eu enrosco os braços em seu pescoço.
— A coroa tem um peso gigante, Tayla. Se você fosse a única,
teria que carregar uma em sua cabeça, talvez assim você
entenderia como tudo funciona. Eu não quero que sofra por algo
que ainda não tem solução. Eu me apaixonei pela sua alegria, pela
sua espontaneidade, por ser uma mulher que buscou o que a fazia
feliz. Não quero vê-la amargurada. — Volto a tomar o meu desjejum.
— O senhor está certo, preciso controlar o meu lado assassino.
— Tayla... — Coloco um pedaço de bolo na boca e falo de boca
cheia.
— Me promete que nada de cunilíngua, sodomia, felação, com
nenhuma delas, senhor. — Ele me olha daquele jeito encantador e
eu esqueço de tudo quando vejo o amor brilhando em seu olhar.
— Desde que você me mantenha satisfeito, ninguém será
beneficiada com essas imoralidades, a não ser a minha futura
senhora.
— Adorarei ser a sua senhora, Said.
— Organize tudo, peça ajuda para a minha mãe. Quero uma
festa bem bonita. Agora preciso me arrumar, tenho um compromisso
e já estou atrasado. — Como que por encanto, uma batida à porta
rompe nossa conversa.
— Deve ser Yussef.
— Deixa que eu abro.
— Tayla... — Já era tarde, eu escancaro a porta.
— O que deseja com seu rei? — Primeiro ele assusta, depois
curva o corpo e quando se ergue está sorrindo de orelha a orelha.
— Apresse-o, senhorita Al-Rashidi, está atrasado para uma
reunião.
— Ele não demorará, não quero atrapalhar a vida do sultão.
— Tudo bem, o esperarei na sala adjacente. Você nem imagina
como atrapalhou a vida dele. Com licença. — Eu fecho a porta,
olhando com curiosidade para Said.
— O que ele quis dizer com isso?
— Que você é muito despretensiosa, habiba. Venha me ajudar,
levarei você para sua casa antes de sair.
Corro ajudá-lo com um sorriso real no meu rosto. Tudo que eu
mais quero é fazer parte da sua vida e não ser apenas uma mulher
que serve para procriação. Submissão não é algo indesejável, há
momentos que gosto de estar rendida por ele, mas existem mais
coisas para se partilhar com o amor da minha vida e estou vivendo
um momento desse bem agora.
— Que rufem os tambores, o sultão vai se casar por amor —
digo, enquanto arrumo sua ghutra.
— Depois diz que não entende as palavras de Yussef.
Sua boca mais uma vez toma a minha e é claro que eu sei
exatamente o que fiz para alcançar o meu objetivo. Lavava o chão
desse palácio e agora estou nos aposentos reais, beijando o líder
dessa nação. Não foi um caminho simples, teve muito choro e
ranger de dentes, e acredito que tudo que vem fácil vai fácil.
Sou a única amada do sultão e essa não era a minha meta
inicial.
A esperança é a última que morre, dizia os mais antigos.
CAPÍTULO 23
UM ANO DEPOIS
— Qual é o problema deles, Yussef. Eu não abrirei mão da
segurança em detrimento ao valor monetário. Disse que não vou
assinar essa resolução e não assinarei. Mande de volta para eles e
marque uma reunião extraordinária, acho que terei que dizer isso
cara a cara.
— Está coberto de razão, senhor. Farei isso agora mesmo.
— Antes de ir, peça para chamarem a Tayla, preciso conversar
com ela sobre um assunto pendente. — Ele me olha enviesado.
— Assim, no meio do dia? — Apoio os cotovelos na mesa,
levantando meu nariz.
— Assim, no meio do dia, algum problema? — Ele abaixa o
olhar, envergonhado.
— Não, senhor. Farei isso.
— Enquanto conversamos, não quero ninguém batendo na
minha porta. Fui claro?
— Cristalino.
— Deixe de pensar tolice, Yussef. Eu não irei fazer o que sua
mente pervertida anda pensando. — Ele caminha até a porta e diz
antes de sair.
— Agora além de ser um sem-vergonha, é um tremendo cara de
pau.
Rio com gosto quando ele sai. Ele não está muito longe da
verdade, essa mulher virou completamente a minha vida de cabeça
para baixo. Não é normal um rei ficar se esgueirando pelos
corredores com sua mulher, todas essas situações acabaram
ficando insustentáveis para mim. Tomei algumas decisões e
surpreendentemente foram muito satisfatórias. Tayla irá surtar com
isso e não quero esperar até a noite para contar a ela.
Volto o olhar para o contrato sobre a minha mesa, mas não leio
uma linha, recostando mais uma vez na cadeira e pensando na
minha viagem para Masirah em dois dias. Seria devaneio levar Tayla
comigo? Sei que teria muito mais trabalho para controlar a sua
sagacidade, mas só de pensar em nós dois vivendo uns dias
sozinhos, longe de tudo e de todos, meu corpo se agita. Eu nunca
pensei em viver uma vida normal, sempre soube que seria o
monarca e como isso aconteceu muito cedo, nem tive tempo de
sonhar algo assim.
Amar já foi uma enorme surpresa para mim, nunca tive sonhos
nesse nível. Nem sabia que era amor o que sentia por ela. Descobri
quando uma lágrima escorreu pelo meu rosto e isso me devastou
por inteiro. Chorei por ela, pela dor em meu peito, pelo nosso filho,
por correr o risco de perdê-la naquele incidente. Descobri da pior
maneira que o amor são é feito só de bons momentos, ele sobrevive
mesmo que a angústia esteja presente. Agora não consigo respirar
sem tê-la ao meu lado e precisei externar os meus sentimentos para
ser compreendido.
Volto a focar no contrato, mas em menos de cinco minutos uma
batida à porta me faz outra vez abandonar a leitura. Um raio de sol
adentra a minha sala e ela parece saber exatamente como deixar
todas as células do meu corpo em alerta. Uma túnica branca, um
véu branco, sua pele alva e seus olhos azuis brilhando
perigosamente.
— Não me olhe assim, Said. — Faz sua reverência afetar a
minha mente, porque eu sei quando ela quer ser submissa.
— Não me tente assim, habiba.
— Não faço nada, senhor. Se me visse todos os dias, saberia
que eu me visto assim sempre. — A provocadora dá o ar da graça.
Eu gosto imensamente do seu jeito de ser, vivo em constante
suspense, sem saber quais serão as próximas palavras. Faz isso
com um desprendimento inacreditável. — A propósito, senhor, tenho
uma coisa importante para dizer.
Ela caminha e senta na cadeira na minha frente.
— Eu também tenho algo a dizer, aliás, tenho mais de uma
coisa a dizer, porém, as damas vêm primeiro.
— Said, eu planilhei suas ações. — Por Allah, nunca vi uma
mulher que goste tanto de planilhas.
— E...
— Descobri que dos últimos cento e oitenta dias, o senhor
esteve comigo exatamente cento e vinte e seis dias, o que significa
que esteve sessenta e quatro dias com as suas outras esposas e
suas favoritas. Isso daria quatro dias para cada uma delas, sendo
que os dias da Aisha o senhor teve livre, o que mostra que nem
mesmo tem passado uma vez por mês na cama dessas mulheres.
Não acha que isso deveria mudar, já que está claro que quer estar
comigo todo o tempo? — Na mesma hora eu fico com pena dela,
teve tanto trabalho por nada.
— Será que algum dia conseguirá controlar a sua inquietação,
garota? — Ela cruza os braços e fecha a cara, achando que estou
caçoando das suas atitudes.
— Você vive me tratando como moçoila.
— Engano seu. Eu nunca a trato como mocinha, mocinhas não
fodem gostoso como você fode.
— Said...
— Esquece essa planilha, é uma ordem. — Seu olhar magoado
me diverte, está sempre tentando me pilhar, mas odeia ser
contrariada.
— Fale logo o que vai falar, quero ir para a minha casa.
— Tayla. — Ela me olha e sabe quando a brincadeira acabou.
— Sim, senhor.
— Pare de ficar sofrendo, por favor. Eu não gosto de saber que
vive a controlar a minha vida, porque sabe que a amo com toda a
força do meu ser. Eu não vivo sem você, eu não respiro sem saber
que está bem, todos os dias mesmo sem você saber eu vou verificar
se o que me dizem é verdade. — Gosto de suscitar emoção em
suas feições. Fica linda quando sente o meu amor reverberar. Seus
olhos se enchem de lágrimas, que são rapidamente controladas,
nunca gostou de mostrar as suas emoções mais intensas.
— Por isso, eu direi apenas uma vez e quero que preste
atenção em cada palavra minha. — Dessa vez, ela aceita calada.
— Eu conversei com cada esposa e favorita individualmente.
Uma conversa aberta e esclarecedora, eu me expus, disse a elas
que a amo e que essas relações superficiais não faziam mais
sentido algum em minha vida. Sugeri um acordo que as garantiriam
seguras e descobri que muitas têm medo de perder o que já
conquistaram. O harém é uma coisa cultural e política nos dias de
hoje. — Ela ameaça falar, mas peço que se mantenha quieta. —
Todas elas aceitaram a minha sugestão de um acordo, porém,
existe uma questão que terá que ser resolvida entre nós dois. Você
me fez dois pedidos ainda lá no hospital, se não me engano, e um
deles já foi concretizado. Um lindo casamento, agora o outro
precisará ser realizado para eu poder dar continuidade ao acordo.
— Quer um filho meu, Said? — A maneira como ela simplifica
tudo é o que a faz ser apaixonante.
— Quero mais um filho seu, minha senhora. — Tenho notado
que toda vez que eu insinuo algo sobre Mohammed ser o nosso
primogênito, seu rosto perde um pouco da alegria. Abrir mão da
maternidade ainda machuca minha amada.
— Se eu disser que estou em meu período fértil, acreditaria? —
Entro na sua brincadeira, deixando para refletir sobre esse assunto
mais tarde.
— Acreditaria em qualquer coisa que você disser, não acha isso
extremamente perigoso? — Ela se levanta da cadeira e se apoia na
mesa, ficando em uma posição instigante. Apoiar sobre a mesa, faz
a sua roupa moldar os seus seios cheios e apetitosos, exatamente o
que ela deseja, me hipnotizar.
— Acho isso muito excitante. — Ela recua e volta a sentar na
mesa. Gosta de me ver rijo por ela. — Antes quero saber qual é o
teor do acordo.
Demorou para colocar as garras de fora.
— Cada uma delas terá um filho meu e garantias básicas de
sobrevivência desde que não arredem os pés desse palácio. São
livres para ir embora, mas seus filhos não serão livres para ir junto
com elas. O filho será a garantia de que eu não voltarei atrás em
nosso acordo, porém, nossa interação sexual acabará com o início
da gravidez. As minhas esposas, que já têm seus filhos, assinaram
o acordo há algum tempo. Odeio ter que admitir, mas você tinha
razão, se deitavam comigo apenas por querer ter uma vida melhor.
Eu me senti péssimo depois de saber disso.
— Eu adoro admitir que isso seja verdade, não quero dividir
você com nenhuma delas. Eu aceito ter o nosso filho agora, gosto
do jeito que o senhor conduziu essa situação. Eu nunca quis que
alguém fosse prejudicado por minha causa e fico feliz que cada uma
tenha a sua garantia de estabilidade. Disse que tinha dois assuntos
a tratar.
— Quero que vá comigo para Masirah em dois dias. Não terei
muito tempo livre durante o dia, mas as nossas noites podem ser
quentes e podemos encomendar o nosso filho, visto que está em
seu período fértil. — Seu olhar me assusta. Tayla se transforma em
uma predadora quando gosta das palavras que eu digo.
— Ah... Said. Minha calcinha ficou ensopada depois disso. É
pecado... — Não a deixo falar.
— Se for pecado, vou arder no fogo do inferno, habiba, porque
vou comer você nesse exato momento. — Levanto-me, tranco a
porta e vou até ela. Ajoelho aos seus pés, ergo sua saia e arrasto
sua calcinha até as canelas. De fato, ela está molhada e eu fico a
olhar para sua intimidade em uma mistura de amor e desejo.
— Said, se continuar a me olhar assim, eu terei um orgasmo. —
Aproximo-me da sua coxa, mordendo pedacinho por pedacinho,
abrindo sua fenda e me baqueteando do seu sabor. Como é
deliciosa, minha favorita. Eu apenas deixo-a mais molhada, não
tenho tempo para apreciá-la como um todo. Puxo-a ao encontro da
mesa, empurro seus braços para a frente, deixando-a toda colada
na pedra fria. Abro minha calça apenas um espaço suficiente para
colocar o meu membro duro para fora e vou degustando das suas
entranhas me possuindo.
— Quietinha, amor. Não faça barulho, não quero que saibam
que eu estou comendo a minha favorita em pleno horário de
trabalho.
— Said... — ela sussurra enquanto eu foco cada vez mais na
nossa deliciosa interação. Dessa vez, a minha explosão acontece
dentro dela, porque necessito me livrar de todas as minhas funções
como sultão desse harém e me concentrar em dar prazer para
apenas uma mulher. O amor da minha vida que agora está vertendo
meu sêmen, gozando de prazer com a minha fricção em seu clitóris,
em cima da minha mesa de trabalho.
Eu sou o monarca e decido que posso comer a minha mulher
onde e quando eu quiser aplacar o nosso desejo de amar e ser
amado.
Quando ela vai embora, dessa vez exultante com tudo que foi
dito e feito nessa sala, sei que desde aquele chá derramado eu não
fui mais o mesmo homem. Eu era enérgico, controlador,
extremamente meticuloso, nada podia sair diferente dos meus
anseios. Transformei-me em um homem de riso fácil, bondoso e por
vezes um tolo, influenciável por ela, acho que minha vida fez mais
sentido depois de todas essas considerações.
Yussef entra na sala absorto, mas imediatamente percebe que
tem algo estranho. Vai até a minha mesa e arruma um peso de
papel que por ser muito pesado, quase não sai do lugar em que
sempre está.
— Perdi alguma coisa? — Ele me perscruta com o olhar.
— Contei a ela sobre o acordo. — Ele sorri.
— Hum... a senhora deve ter ficado nas nuvens pelo que
conheço dela.
— Bom, eu não diria nas nuvens, Yussef. Um pecado é sempre
um pecado, não podemos esquecer.
— Amar é pecado? — ele me questiona.
— Amar minha mulher em lugares impróprios talvez seja
pecado. Tayla, na verdade, me fez estar em pecado desde o
primeiro dia, então mais um, menos um, está tudo em casa.
— Antes de voltarmos ao que é realmente necessário, esse
homem que você se transformou ao longo da sua história com ela é
mais que perfeito para esse país. Não precisamos de uma pessoa
dura, intransigente, esse tipo de homem comanda muitos impérios
por aí. Precisamos de um homem que pense com a razão, porém,
deixe que a emoção dite algumas regras. Você é exatamente esse
homem, Said. Um bom amigo, um bom cidadão, um bom marido e o
melhor líder dessa nação.
— Obrigado, eu não estaria nessa posição se não tivesse o
melhor conselheiro desse país ao meu lado.
— Formamos uma boa dupla — ele brinca, quebrando o
instante de emoção que a nossa dedicação a esse país nos permitiu
sentir.
— Sim, sempre seremos uma dupla. Eu levarei Tayla junto
comigo para Masirah, Yussef. Terá trabalho dobrado.
— Eu gosto de desafios, senhor. Já leu esse contrato?
— Como poderia ter lido? Minha manhã foi muito tumultuada.
— Leia agora, por favor. Eu preciso de sua assinatura nele.
Mesmo tentando me concentrar, meu corpo está muito ativo,
porque tenho o cheiro dela para desviar a minha atenção. Sinto seu
gosto na minha boca, a pressão da sua bunda em contato com a
minha pelve, a vontade de repetir tudo outra vez. Jogo a caneta na
mesa.
— Eu não consigo, Yussef. Minha concentração é nula, eu
sempre consegui controlar a minha mente, mas hoje não está
funcionando. — Ele também joga a caneta na mesa.
— Controlar a mente não é o seu problema agora. Está com
dificuldades para controlar o seu coração. — Olho-o admirado. É
real, o problema não é verdadeiramente a minha mente.
— Isso tem cura?
— Sim, senhor. Procure onde está o seu coração, a cura para o
que sente está lá. Acho que podemos adiar essa assinatura até
depois do almoço. Não temos nada agendado para essa tarde.
Ele não precisa dizer duas vezes. Abro a porta, caminhando
apressadamente em direção a casa dela. Não me resta nenhuma
dúvida, coisas malfeitas ficam martelando na minha cabeça. Sempre
foi assim.
Bato em sua porta e sua aia atende, avisando que Tayla está no
banho. Minha pulsação acelera.
— Saiam vocês duas e não voltem antes do fim da tarde. —
Elas saem praticamente correndo. Não sei o que eu provoco nelas
para que tenham medo de mim.
Entro sorrateiramente no banheiro e fico deliciado por ver a
minha garota esfregando seu corpo, descendo as mãos pelos seus
seios, sua barriga linda até o centro do pecado. Ela ainda não me
vê, o que faz com que eu assista a sua maneira de cuidar de seu
corpo. Sua mão invade sua intimidade e sinto meu membro pulsar,
louco para fazer esse mesmo caminho. Saio do escuro.
— Isso, amor, lava bem lavadinho sua boceta gostosa. — Ela se
vira assustada.
— Said? — Começo a arrancar as minhas vestes e ela já sabe
o que eu vim fazer em plena luz do dia. Faz mais, encosta no vidro
que a protege, deixando que eu veja a sua nudez inteira.
— Eu já disse que você é uma mulher espetacular?
— Nunca, senhor.
— Não me chame assim. Agora eu desejo a mulher, não a
minha súdita.
— Então me fode em pé, aqui mesmo no banheiro. — Abro a
porta e entro embaixo do chuveiro com ela.
— Se segura. — Ela enrosca as pernas em mim e desce
deliciosamente no meu pau. Sentir seu coração batendo
apressadamente é tudo que eu desejo nessa vida. Eu quero essa
mulher com todas as forças e amá-la dessa maneira tão íntima e
visceral faz com que aquela vivacidade que me faltava anos atrás
esteja finalmente completa.
Depois de satisfeitos sexualmente, sentamos em sua cama e
Tayla se enrosca em mim, feliz por eu estar aqui em um momento
que nunca estive.
— Não foi pelo sexo que veio aqui.
— Não, não foi. Não pude negar que o seu corpo embaixo da
água me excitou e acabamos fazendo amor.
— Gosto quando diz a palavra amor. Eu me sinto realizada.
— Amor, uma palavra tão pequena com uma infinidade de
sentimentos atrelados a ela. É incrível a força dessa palavra. Eu
estou aqui por ela, por achar que a atenção que te dei pela manhã
não me atendeu completamente.
— Você, às vezes, é muito duro consigo mesmo.
— Tem razão.
— Comigo, Said, você deve ser o que gostaria de ser se não
fosse o rei. Eu nem gosto do rei tanto assim, ele me poda demais.
— Eu não faço isso.
— Faz, sabe que diante da coroa tenho que ser e agir como
outra pessoa. Por sorte, eu sei ser essa pessoa que você precisa
que eu seja. Agora, quando estivermos juntos como casal, deixe
que seus atos sejam de um homem sem o peso real.
— Agi assim a manhã toda.
— Foi ruim?
— Eu larguei os meus deveres como líder.
— Não acontecerá nada porque você não assinou um papel.
Desencana.
— Linda.
— Você que é um homem maravilhoso.
— Eu te amo, habiba. Você me fez ser um homem melhor.
— Eu também te amo muito e não vejo a hora de ser a única do
sultão.
— Eu não vejo a hora de entregar minha coroa para
Mohammed.
— Isso demorará, Said. Ele tem apenas dois anos. Se bem que,
da maneira que fala, será um garoto prodígio.
— Assim espero. — Saio do seu abraço, visto uma roupa e
puxo-o pelas mãos.
— Eu vou cozinhar para você. Vem...
Foi a manhã mais feliz da minha vida. Vivi algo simples, como
um homem sem nenhum dever do que satisfazer a sua parceira.
Almoçamos juntos, dormimos por alguns minutos grudados um no
outro e quando eu volto para a sede, sinto-me outro homem.
Consigo finalizar minhas pendências com resolubilidade.
Quando dou meu dia por encerrado, só tenho um caminho a
percorrer. Vou em direção à minha luz, porque é lá que encontro
amor, carinho e aconchego. Tayla me recebe com um sorriso no
rosto, ainda processa esse novo momento juntos.
— Tem um cantinho para mim nessa casa?
— Sempre teve um lugar reservado ao meu lado, amor. Eu
sempre esperei por você todos os dias desde que o conheci.
— Demorou a chegar, não é? — Entro e ela fecha a porta,
colocando-me encostado nela.
— O tempo é irrelevante, o importante é que, enfim, chegou.
Novos tempos requerem novas atitudes. Como ela mesma
disse, o tempo se torna insignificante diante da grandiosidade que
conquistamos para nós mesmos. Exigiu uma luta árdua, com perdas
significativas pelo caminho, porém, o que alcançamos será
perpetuado e uma nova era surgirá das dores e alegrias que
passamos.
EPÍLOGO
NOVE MESES DEPOIS
Sentir meu segundo filho com Said mexendo dentro da barriga
me faz tão feliz e, ao mesmo tempo, tão saudosa. Lembro-me do
tempo que carregava Mohammed e como aquela gravidez mudou o
rumo da minha história. Em momentos pontuais, como agora, fico
pensativa se fiz a melhor escolha ao renunciar à maternidade, amo
Mohammed como uma mãe ama seu filho, mas eu não gostaria que
sua história fosse abalada pelos erros que seus pais cometeram.
Estou sempre ao seu lado, sei que participo da sua educação,
ele vai completar quatro anos e é uma criança feliz, me questiono se
isso teria alguma relevância na vida dele ou só mudaria a minha
vida. Sei que a vida é feita de escolhas e mesmo que meu coração
sangre longe dele, preciso pensar no contexto todo. Meu esposo é o
sultão de Omã, não é um homem qualquer e seu reinado não pode
correr o risco de ser atingido por uma mancha do passado.
Acaricio minha barriga mais uma vez, pensando também nessa
criança que vai nascer. Said terá mais um filho homem, Samir será
mais um homem para somar nesse reinado, mas que por conta de
algumas escolhas crescerá sem saber que Mohammed é seu irmão
de sangue, será mais uma pessoa prejudicada com essa mentira.
Apanho o livro que está na cabeceira da cama, tentando mudar o
foco dos meus pensamentos, sei que não posso e não vou voltar
atrás nas minhas decisões.
Aisha entra no meu quarto bem nessa hora e ela me conhece,
sente a minha angústia.
— Algum problema, amiga? — Senta-se ao meu lado, olhando
para mim com estranheza.
— Se eu te disser que estou com medo, você acredita?
— Por Allah, você é de carne e osso. Pensei que era uma
deusa ou uma divindade. Ter medo é natural, Tayla. Sua vida mudou
tanto nesses anos que é compreensivo estar com medo. Quer dividir
comigo seus anseios? — Ajeito-me na cama, sentindo aquela
dorzinha chata nas costas.
— Eu nem acredito que o sultão abriu mão de tantas coisas pelo
meu amor. Fico insegura de estar cobrando coisas demais, afinal,
sou uma mulher do seu harém, sou como todas elas, entende.
Nunca quis prejudicá-lo, só queria poder amá-lo. — Ela segura na
minha mão.
— Precisa parar com isso, ele é poderoso demais para deixar
que você comande a sua vida. Tenha em mente que ele só faz o
que realmente deseja, independentemente de quem se beneficie
com seus atos. Ele escolheu viver o amor com você em sua
totalidade e para isso tomou algumas decisões importantes. Não há
uma mulher infeliz nesse palácio, Tayla. Não é possível que você
seja a única. — Aperto a sua mão nas minhas.
— Onde consegue tanta sabedoria, Aisha? Está sempre falando
as palavras certas para mim.
— Sempre fui uma boa conselheira, é só isso. Eu te conheço
bem, são anos convivendo juntas.
— Mohammed é um garoto de sorte. Eu fiz a escolha certa. —
Aisha solta a minha mão e se levanta da cama. Passa a ajeitar o
lençol da cama, desviando o olhar de mim.
— Ele está muito esperto, Tayla. Nem parece uma criança, acho
que será um garoto prodígio. — Ela fala com tanto amor dele que eu
me convenço de que ele ficará bem com esse arranjo.
Quando ela sai, decido tomar um banho, mas uma pontada no
meio das costas e uma aguaceira descendo pelas pernas me avisa
que a hora de parir chegou. Aviso uma das minhas aias, que corre
avisar o soberano. Mesmo com contrações ainda pequenas, tomo
um banho rápido e volto para a cama.
Dessa vez Said entra e fica ao meu lado por todo o tempo,
segurando na minha mão, dizendo palavras de conforto e
perseverança. O choro de Samir é alto, o garoto nasce gritando aos
quatro cantos que é um filho de rei, que será poderoso e muito
amado. Porque eu quero dar a ele o amor que não posso
escancarar para Mohammed. Dessa vez, Said carrega o bebê de
imediato e chora de alegria ao contemplar a sua face.
— Você está bem, habiba? — Said me pergunta assim que o
médico acaba os procedimentos pós-parto.
— Eu estou bem, parece que a maternidade fica mais fácil
quando é o segundo. — Corro os olhos pelo quarto, mas as duas
aias que estão arrumando o ambiente não ouvem as minhas
palavras.
— Você que é uma parideira de mão-cheia. — Ele sorri para
mim, mas seu sorriso não alcança seus olhos.
— Algum problema? Não gosto quando fica sério assim.
— É que eu me lembrei desse mesmo momento há alguns anos
e aquele não foi um dia totalmente feliz. Às vezes as histórias se
misturam.
— Eu sei bem como é, Said. Pegue o Samir para mim, quero
vê-lo mamando, nem consegui decorar suas feições.
Ficamos aqui, nós dois, apreciando o nosso filho recém-
nascido, felizes com o desfecho do nosso amor. Depois eu peço
para chamar a Aisha e para ela trazer o Mohammed, ambos
precisam compartilhar dessa felicidade.
Quando todos saem para eu descansar, estou feliz com o
nascimento de Samir, mas sempre terá uma dorzinha em um
pedaço do meu coração por ter Mohammed longe de mim.
A vida segue seu curso e a cada dia Said me surpreende com
algo novo. Ele me leva em eventos em que a mulher possa
comparecer, ele reúne a minha família a cada dois meses e ter a
minha mãe junto de mim, acompanhando o crescimento do seu
neto, é muito importante para mim.
Nesse período, o harém ainda está em atividade, o sultão ainda
é o mantenedor delas e a cada filho gerado, como foi acordado, a
relação homem e mulher é extinguida. Depois de quatro anos, eu
posso dizer que sim, sou a única do sultão.
Said manda me chamar em seu escritório e o portador do
recado é Yussef.
— O que ele quer comigo a essa hora, Yussef?
— Eu sei e a senhora sabe que não direi uma palavra.
— Como consegue ser tão defensor dele?
— É o meu trabalho.
— Vai puxar o saco dele a vida toda?
— Até ele não precisar mais de mim.
— Então será a vida toda. Ele não dá um passo sem pedir os
seus conselhos.
— Se fosse assim, senhora, não estaria aqui nesse palácio. —
Caminho ao seu lado, com o Samir no carrinho. Ele consegue ser
ainda mais serelepe do que Mohammed. Não tenho a mínima ideia
do que ele quer falar comigo, ainda exigindo a presença do
pequeno.
Yussef abre a porta do gabinete dele e lá dentro já estão Aisha
e Mohammed. Meu coração acelera vertiginosamente quando os
três homens da minha vida estão no mesmo ambiente. Eu tento
disfarçar, mas o amor é tão grande, que meus olhos ficam
marejados.
— Então é uma reunião. Yussef, você podia ter dito isso para
mim.
Assusto quando Mohammed corre em minha direção e agarra a
minha cintura. Eu o envolvo em meus braços, sem entender o que
está acontecendo. Só nessa hora eu vejo que Aisha tem os olhos
cheios de lágrimas e Said também está emocionado.
— Eu gosto de saber que você é minha mãe, Tayla. — Ajoelho-
me no chão, mesmo porque minhas pernas viram gelatinas quando
ele fala isso.
— O que disse, Mohammed? — pergunto ainda sem entender.
— Papai me contou toda a história do meu nascimento. Mamãe
Aisha sempre disse que ela não era a minha mãe de sangue e eu
sempre desejei que fosse você. Sempre foi carinhosa comigo. —
Toco seu rosto, seus cabelos fartos como do pai, seus expressivos
olhos azuis, em um tom mais escuro que o meu. As lágrimas
escorrem em minha face sem pedir licença.
— Você entende que eu nunca quis abandoná-lo? Isso é muito
importante para mim, então responda com a verdade. Sei que é
apenas uma criança, mas é muito inteligente.
— Entendi perfeitamente o que papai me contou e eu sei que
me ama, diz isso praticamente todas as vezes que me vê. Eu até
achava estranho todo esse amor pelo filho da sua amiga, mas agora
entendo seus sentimentos. Eu sou o seu filho de sangue. — Olho
para Aisha e ela chora. De alguma maneira, eu deixei transparecer
essa dor e eles descobriram o que ia em meu íntimo. Abraço
Mohammed com todo o meu amor, mas isso eu sempre fiz, não foi
um abraço diferente agora, porém, o seu abraço foi especial porque
ele sabe que sou a sua mãe e que nunca o abandonaria por
vontade própria.
Aisha se levanta e eu a abraço.
— Nós percebemos que sofria e eu nunca achei certo esse
arranjo que fez, visto que está aqui dentro e na posição que sempre
sonhou. Eu vou levar os dois lá na fonte para brincar, afinal, eles
são irmãos, precisam estar juntos o tempo todo. Depois cuidamos
da parte operacional.
— Obrigada, Aisha. Nem sei como agradecer.
— Agradeça o sultão, foi dele o primeiro passo. — Beijo meus
dois filhos e Aisha os leva para fora. Ela fecha a porta e eu olho
para Said, que está recostado na cadeira, apenas observando o
desenrolar da história.
— Você é maluco.
— Estava sofrendo, habiba. Sua dor foi ficando visível, à medida
que Samir crescia. Até em seus sonhos você sussurrava a ausência
do filho.
— Mas isso pode ser ruim para o seu reinado.
— Uma vez você me disse que eu era o rei, então podia fazer o
que quisesse. É verdade, você estava com a razão e eu decidi que
queria Mohammed dormindo embaixo do mesmo teto que o meu,
que ele crescesse e aprendesse tudo que sabe pelas mãos de sua
linda mãe. Eu nunca aceitei o arranjo que você fez com Aisha
naquele hospital, mas resolvi esperar Mohammed entender o que
aconteceu para você ter agido assim. Foi bom, não acha?
— Ele reagiu bem e me sinto completa nesse instante, acredita?
— Ainda estou em pé, segurando na cadeira à sua frente, sem
acreditar o que vivi em frações de segundos.
— Fico imensamente feliz por ver você se sentindo assim. Não
acha que agora é uma boa hora para me agradecer?
— Said... está pensando nisso, não vê que ainda estou muito
emocionada. — O ar do ambiente muda de densidade. Poucas
vezes fizemos algo dentro do gabinete, agora não precisamos mais
ficar se esfregando em qualquer lugar, porém, ele tem razão, é um
ótimo momento para agradecer tudo que ele fez por nós, para que
nossa felicidade fosse completa.
Caminho até a porta, passo a chave e vou lentamente até a sua
cadeira. Said arrasta a cadeira para trás e eu me ajoelho no meio de
suas pernas.
— Ah... Tayla. Gosto tanto da sua submissão. Chego a pensar
que você pode ser obediente sempre. — Desamarro as fitas da sua
calça, sorrindo para ele, deixando bem claro que a minha submissão
tem dia certo para acontecer. Seu membro nunca está menos que
rijo quando eu dispo a sua roupa, dou beijos pequenos e molhados
na sua glande, mostrando o quanto amo o homem que está duro por
mim. Sinto minha boca engolir cada centímetro do seu membro e
Said é tão quente, gostoso, corro minha boca por todo ele em um
entra e sai maravilhoso.
— É gulosa, minha odalisca. Chupa mais, Tayla, chupa com
fome. —Obedeço aos seus comandos até sentir suas veias
pulsando na minha boca. Paro, abaixo a calcinha e me sento no
meu homem. Ele encaixa seu pau em mim e eu o engulo até não ter
mais o que entrar.
— Gosto quando me engole assim, habiba.
— Eu te amo, Said. Como é possível amar ainda mais? — Ele
geme quando aperto seu membro com a boceta.
— Não faz assim, senão eu gozo.
— Eu não deixo. — Uso a força pélvica para manter seu pau
preso lá no fundo.
— Não deixe... — Solto e prendo várias vezes e sei que ele
aprecia meu jeito de retardar seu ápice. Said aumenta o ritmo das
estocadas, nesse momento quem quer gozar sou eu e ele sabe
exatamente onde está o meu ponto máximo de prazer. Suas mãos
agarram os meus cabelos, porque o véu já está jogado ao chão e
sua boca procura a minha com desespero.
— Amo você, Tayla. Você sempre será a única. — Desfaço a
pressão, deixando que ambos cheguemos ao clímax juntos. Escutar
que atingi o que sempre quis aqui dentro desse palácio, deixa-me
incrivelmente completa.
— Você sempre será o meu sultão. Eu devo a minha vida a
você. — Agarro seu corpo, porque ainda não quero sair do seu colo.
Demoro até conseguir mexer minhas pernas outra vez. A
bagunça que fizemos foi grande e dá um imenso trabalho ficar um
pouco mais apresentável. Depois ele me coloca em seu colo e eu
abraço o seu pescoço.
— Fala sério em trazer Mohammed para morar conosco?
— Sim, ele é nosso filho e entendeu que deve estar do nosso
lado. Eu desconfio que Aisha sempre disse a ele que seu lugar era
ao meu lado. Mohammed será o meu sucessor, Tayla, é natural que
eu o queira junto de mim. Como te disse, esperei o momento certo
para fazer essa transição, espero que não tenha achado que agi
pelas suas costas. — Ele me conhece bem.
— Digamos que eu levei um tremendo susto com essa situação,
mas amei poder abraçar o meu filho como a mãe dele e não a tia.
Você está certo, somos uma família e temos que estar juntos. Talvez
Aisha queira viver outra vida, fora dos muros do palácio.
— Aí é com vocês, habiba. O que conversarem e decidirem, eu
assino embaixo. Agora vá, esse seu cheiro de sexo atrapalha os
meus pensamentos. — Beijo com amor a sua boca e passo em casa
para me lavar antes de encontrar Aisha e os meninos na fonte do
amor.
Estou tão feliz, no lugar que eu amo, com o homem que amo e
com os meus dois filhos.
— Por que fez isso, Aisha? — pergunto a ela, quando os dois
estão correndo em volta da fonte.
— Estava infeliz, desde a gravidez do Samir. Conversei com o
sultão e ele me pediu para esperar o momento certo. Hoje ele me
chamou e disse que era o momento adequado. Depois de tudo que
passou, amiga, você merece a felicidade completa e poderia ter,
então só fiz o que amigos fazem.
— Obrigada, de verdade, sem você nada teria dado certo para
mim. — Corro atrás das crianças, querendo brincar.
— Terá que me ajudar, quero novos desafios. — Balanço a
cabeça em concordância, sem saber aonde ela quer chegar, mas
ciente de que farei de tudo para ela alcançar os seus objetivos.
O FUTURO
— Pai, você enfraqueceu o nosso reinado. Tudo era absoluto e
desistiu de ter várias mulheres pelo amor que sentia por uma só.
Desculpe-me, sei que ainda é o rei, mas quando chegar a minha vez
de comandar, eu adoraria ter umas cinco, talvez seis esposas, isso
deve ser incrivelmente excitante. — Não o interrompo, deixo-o
explanar sobre seus pensamentos. — Cada dia uma, cada uma
delas com uma habilidade. Eu já me imagino transando na hora que
desejar, em qualquer lugar desse palácio. Como é possível o senhor
não gostar disso?
— Mohammed, acabou de completar dezoito anos, ainda pensa
com a cabeça de baixo. Não é bem assim que tudo funciona. — Não
existe uma maneira de frustrar as ideias dos filhos, não sem mostrar
na prática o que eles imaginam apenas na teoria.
— Você assumiu o trono com a minha idade. Não vá me dizer
que também não pensava como eu.
— Olha, no começo eu me senti assim como você, claro que
sexo consensual me atraía, mas essa vida se torna muito vazia.
Com os anos, essa rotatividade deixa de ser prazerosa. — Ele me
olha com seriedade, está sentado bem à vontade na minha frente.
— Eu não me imagino enjoando de foder mulheres, senhor meu
pai. — Como fazê-lo entender que não é só pelo sexo que se deita
em uma cama das mulheres de um harém. Existem
responsabilidades atreladas a esse ato.
— Olha, eu tenho uma ideia. O que acha de viver um pouco da
sua juventude fora desse palácio? Um ano talvez, em algum lugar
que o agrade, vivendo como um simples rapaz, sem o peso da
coroa real. — Imediatamente, os olhos de Mohammed brilham com
intensidade. Seus olhos são de um azul mais escuro e essa é a
única diferença dos olhos de sua mãe. Desde pequeno, os
ensinamentos de sua mãe postiça foram livres e abertos as
descobertas sobre o mundo. Aisha sempre foi autoritária, criou
Mohammed até os oito anos para exercer a soberania quando
chegasse a hora, mas a leveza com que vê o amor e a certeza de
que o amor pode surgir de várias formas, trouxe esse lado curioso
dele mais exacerbado. Tayla só continuou o legado de sua amiga
quando assumiu a maternidade dele.
— O senhor sugere um ano sabático? — ele pergunta, cheio de
dúvidas com a minha sugestão.
— Exatamente isso, um ano para você experimentar a
promiscuidade ou a monogamia, como desejar se relacionar, sem
que necessariamente envolva sentimentos em suas relações. Como
se você estivesse confinado em algum lugar e tivesse várias
mulheres ao seu dispor. — Os olhos começam a brilhar. A semente
da curiosidade é plantada.
— Ouvi falar que o ocidente é mais liberal. Khalil está no Brasil
e diz que as mulheres por lá são lindas e gostam de exercitar a
liberdade feminina. — Deixo bem claro a minha postura masculina.
— Elas conquistaram a liberdade, filho. Podem escolher com
quem quer se relacionar, não confunda suas escolhas. Elas nunca
dirão sim se assim não quiserem, é preciso respeitá-las. Diferente
daqui, as mulheres do meu harém não tiveram escolha, enquanto as
ocidentais sabem bem o que querem.
— O senhor faz parecer complicado.
— Não é. A regra é bem clara e simples: não sempre será não.
— Ele reflete o que eu digo.
— Eu nunca ficaria com uma mulher que não me quisesse, pai.
— Ótima observação, abre margens para as minhas colocações.
— Acha que as mulheres que estariam em seu suposto harém
te desejariam? Seu questionamento de minutos atrás já entra em
conflito pessoal, porque sabe que sua mãe colocaria em sua cama
mulheres influentes e não uma qualquer. Não seria por atração
sexual essa escolha. Nem seria uma escolha sua, para começo de
conversa. — Ele balança a cabeça, afirmando que tem mais
bagagem agora do que a hora que entrou em minha sala.
— Eu vou pensar sobre esse ano sabático e, também, sobre ir
para o ocidente.
— Pense, Mohammed. Conhecer outras culturas ajuda a abrir a
mente. Temos embaixadas em muitos países, arrumo um cargo para
você em qualquer uma delas. O Brasil seria interessante, porque
Khalil está lá há algum tempo e, assim, você teria um amigo para te
ajudar a se ambientar.
— Talvez eu queira ficar por lá sem trabalhar — ele diz para me
pilhar.
— Seria discutível a sua vida boa, mas pense e aja como quiser.
Um ano de escolhas feitas só por você. Acha que é capaz? — Ele
não responde, porque uma batida à porta interrompe nosso diálogo.
Esqueci-me completamente que mandei chamar Tayla e ela entra,
trazendo aquele seu cheiro que me enlouquece. Ela sorri para mim
e, depois, para Mohammed, que a toma em seus braços e ela aceita
o carinho.
— Pai, tudo bem que minha mãe é linda. — Ele cheira seu
pescoço.
— É perfumada. — Também aperta a sua cintura, causando
risadas nela.
— Tem um corpo perfeito, mas uma só, pai? Isso é
inacreditável.
— Do que você está falando, Mohammed?
— Coisas de homens, mãe. Coisas de homens... — Ele se
curva e sai da sala. Ela me olha atravessada.
— O que seriam coisas de homens, Said? — Por Allah, Yussef
bate e entra na sala nesse momento, ajudando-me a fugir da sua
indagação.
Depois que ela vai embora, eu já vejo Tayla ficando irritada
quando esse assunto vir à tona, mas ações desesperadas requerem
atitudes desesperadas. Mohammed querendo retomar um harém
não me deixou outra alternativa.
Não vivi quatorze anos em felicidade completa para o meu
primogênito colocar tudo a perder.
Preciso urgentemente conversar com Samir e descobrir se, às
vésperas de completar quinze anos, pensa igual ao irmão.
— Yussef, quero conversar com Samir assim que ele chegar da
escola militar.
— Algum problema, senhor?
— Por enquanto o problema está controlado, mas não quero
correr o risco duas vezes. — Ele sorri e eu sei que entende bem o
que quis dizer. Tem um filho com quase a idade de Samir e já deve
ter escutado muitas coisas iguais, ou bem parecidas com a que eu
acabei de escutar.
Que Allah tenha misericórdia de nós.
AGRADECIMENTO
Gostaria de expressar minha profunda gratidão a todos os leitores
que caminham ao meu lado nesta jornada literária. Suas leituras
atentas e feedbacks, tanto positivos quanto construtivos, são
verdadeiramente apreciados. É graças a vocês que esse romance,
com a história de Said e Tayla, ganhou vida. Suas argumentações e
críticas me motivaram a continuar escrevendo, sempre em busca de
aprimoramento. Acredito sinceramente que o livro de Said e Tayla é
uma prova de que tudo é possível.

Em seguida, gostaria de agradecer minha família, que é o alicerce


fundamental em tudo o que faço. Mesmo que nem todos tenham o
hábito da leitura, eles sempre me apoiam e me encorajam em todas
as minhas aspirações. Quem sabe, um dia, eles também
embarquem no mundo da leitura junto comigo.

Não posso deixar de mencionar o Sr. Google, cuja ajuda


excepcional tem sido fundamental para obter informações precisas e
relevantes. Sem sua plataforma, seria difícil acessar tantas
informações valiosas. Agradeço também à minha revisora,
PatSueRevisões, cuja atuação no mundo literário tem crescido
constantemente. Ela contribui para a construção cuidadosa dos
meus livros, corrigindo cada detalhe e ajudando a transmitir as
emoções nas cenas, mesmo quando eu não consigo fazê-lo
sozinha. Sou grata também por sua paciência com meus momentos
de estresse e pelo cumprimento de prazos. Você é especial.

Um agradecimento especial vai para Giovanni, da


Kgdesigner.capas, meu talentoso capista. Ele consegue capturar,
muitas vezes sem alterar uma única palavra, os meus desejos e as
minhas visões para que a imagem inicial do livro seja o mais
próximo e perfeito possível dos meus sonhos.

Por fim, agradeço a todos que contribuem para tornar esse sonho
literário possível. Sua dedicação e apoio são inestimáveis. Obrigada
a cada um de vocês por fazerem parte dessa jornada comigo.
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RITA LOPES

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