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COMO FAZER A AUDIODESCRIÇÃO DE PESSOAS E A SUA PRÓPRIA

AUDIODESCRIÇÃO EM PALESTRAS PRESENCIAIS


OU APRESENTAÇÕES VIRTUAIS

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Lívia Maria Villela de Mello Motta

A necessidade de tornar os eventos presenciais ou virtuais acessíveis às pessoas


com deficiência visual, tem contribuído para o uso cada vez maior da
audiodescrição, recurso de acessibilidade comunicacional que transforma
imagens em palavras, um tipo de tradução intersemiótica. Apresentar-se fazendo
a sua própria audiodescrição é uma atitude respeitosa que demonstra
preocupação com o acesso para todos. Seja em uma palestra presencial ou em
uma apresentação virtual, podemos ter entre os presentes ou entre as pessoas
que estão assistindo online ou que assistirão posteriormente, pessoas com
deficiência visual que têm o direito de conhecer os palestrantes, saber como são
e como estão vestidos. Além da apresentação pessoal, também os slides e outros
recursos visuais que são utilizados pelos palestrantes precisam contar com a
audiodescrição.

Em alguns congressos, seminários, ciclos de palestras e outros eventos


acadêmicos, presenciais ou a distância, a audiodescrição já vem sendo utilizada
por audiodescritores profissionais. Isso demonstra a preocupação com o direito
das pessoas com deficiência de acesso à comunicação e à informação. Nestes
eventos, são audiodescritas imagens de slides, vídeos, a caracterização dos
palestrantes, o auditório e o registro da presença de convidados e autoridades.

Os audiodescritores ficam em cabines acústicas com um roteiro previamente


elaborado sobre o local do evento, logomarcas, banners e posters, vídeos que
serão apresentados e tudo o que é possível adiantar, como o conhecimento
prévio de terminologia, nomes dos palestrantes e suas apresentações. As pessoas
com deficiência visual recebem receptores e fones de ouvido e podem, dessa
maneira, escutar a audiodescrição que é inserida, preferencialmente, em
momentos de pausa do palestrante ou em momentos em que a sobreposição de
falas não comprometa o entendimento.

Quando os palestrantes sabem que no evento haverá audiodescrição, eles


poderão disponibilizar suas apresentações e vídeos com antecedência para que
os audiodescritores possam ter acesso ao material. Outro ponto importante é dar
uma pausa entre um slide e outro para que o audiodescritor possa descrever as

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Lívia Maria Villela de Mello Motta é audiodescritora e formadora de audiodescritores desde 2004,
com mestrado e doutorado em Linguística Aplicada e Estudos da Linguagem pela PUC de São
Paulo. Desde então vem implementando a audiodescrição em todos os tipos de espetáculos,
produtos audiovisuais, além de eventos religiosos, acadêmicos e sociais. Já publicou dois livros
sobre o tema: AUDIODESCRIÇÃO: TRANSFORMANDO IMAGENS EM PALAVRAS e
AUDIODESCRIÇÃO NA ESCOLA: ABRINDO CAMINHOS PARA LEITURA DE MUNDO. Coordena a
VER COM PALAVRAS AUDIODESCRIÇÃO.

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imagens sem interferir na fala do palestrante. No caso de uma palestra virtual ou
uma live, a audiodescrição é geralmente aberta, ou Eseja poderá ser escutada
por todos. Tem sido, preferencialmente, disponibilizada em outro link, para ser
acessada pelas pessoas usuárias do recurso.

Se os palestrantes, por outro lado, souberem da necessidade de tornar suas


apresentações acessíveis, eles mesmos poderão fazer a sua própria
audiodescrição e a audiodescrição dos recursos visuais que utilizarão. Conhecer
o palestrante, como ele está vestido e o local onde se encontra, são informações
importantes e que, como já mencionado anteriormente, demonstram o respeito
com o acesso para todos. Também a audiodescrição das imagens escolhidas para
ilustrar slides ou a audiodescrição de vídeos serão importantes não somente para
as pessoas com deficiência visual, mas também para a contextualização das
pessoas que enxergam, para que todos tenham acesso às informações visuais.
Isto faz parte de uma postura cidadã e inclusiva.

O termo autodescrição tem sido utilizado referindo-se à audiodescrição da própria


pessoa. Embora o termo não seja errado, o uso tem levado a um entendimento
equivocado do recurso de acessibilidade comunicacional que amplia o
entendimento das pessoas com deficiência visual em diversos tipos de
espetáculos e eventos. As pessoas passar a considerar tudo como autodescrição.
Melhor evitar.

Para fazer a audiodescrição de pessoas, recomendamos seguir a seguinte ordem


de elementos, o que facilita a compreensão e a organização das informações:
Gênero e faixa etária: homem, mulher, jovem, criança, garoto, garota,
menino, menina, senhor, senhora, homem idoso, mulher idosa, homem de meia
idade, mulher de meia idade.
Cor de pele/etnia: branco (de pele clara, de pele morena, de pele bronzeada)
negro (de pele clara, de pele escura), oriental, indígena.
Estatura: alto, baixo, estatura mediana.
Peso: corpulento, esquelético, magro, musculoso, corpo atlético, obeso, gordo.
Olhos: cores (azuis, pretos, castanhos, verdes, cor de mel); formato
(amendoados, grandes, puxados, pequenos).
Cabelos: cores (pretos, castanhos, louros, vermelhos, brancos, grisalhos);
comprimento (longos, curtos, curtíssimos, na altura dos ombros) tipo/textura
(encaracolados, lisos, anelados, ondulados, cacheados, espetados, armados,
fartos, ralos).
Boca: lábios finos, lábios grossos, carnuda, desenhada.
Sobrancelhas: espessas, finas, grossas, arqueadas
Nariz: afilado, arrebitado, grande, largo, adunco.
Trajes: vestido, saia, calça, blazer, terno, bermuda, shorts, colete, camiseta,
jeans, vestido longo, capa, casaco, sobretudo, camisa de manga longa, cueca,
calção de banho. Atenção para os trajes de época.
(tabela publicada nas normas de audiodescrição da ABNT)
 Não será necessário mencionar todas as características físicas, somente
as mais marcantes, como se estivéssemos diante da caricatura da pessoa.
 Os trajes devem vir depois das características físicas.

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 Localizar onde a pessoa está e caracterizar o lugar.

Eu sou Lívia Motta, uma mulher branca, de pele clara, alta, tenho cabelos louros,
curtos e lisos, com mechas mais claras, olhos verdes. Uso óculos de armação
quadrada azul marinho e cinza. Uso túnica estampada com flores pretas, rosa e
azul e calça preta. Estou aqui no meu escritório, ao fundo estantes com livros e
pequenos objetos de decoração. (online)

Meu nome é João Carlos, sou um homem negro, alto e corpulento, tenho cabelos
pretos bem curtos, olhos pequenos. Uso camisa azul claro de mangas longas e
calça caqui. Estou à esquerdo do palco, atrás de um púlpito de acrílico
transparente. (presencial)

Também em vídeos, as próprias pessoas podem se apresentar, o que já facilita


o trabalho de audiodescrição do produto audiovisual.

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