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MEMÓRIA ORAL
DICAS E SUGESTÕES PARA GRAVAR A
HISTÓRIA DA COMUNIDADE
V E R S Ã O 1
A G O S T O 2 0 1 1
M U S E U D A O R A L I D A D E 1
Este guia é um produto do Ponto de Cultura
Museu da Oralidade. Trata-se da primeira versão,
lançada em agosto de 2011. Produzido na sede
da Viraminas Associação Cultural apenas com
software livre.
Contatos
http://museudaoralidade.org.br
http://viraminas.org.br
contato@viraminas.org.br
Pesquisa e produção
Andressa Gonçalves
Redação e arte-final
Paulo Morais
Apoio à produção
Danielle Terra
Esta obra foi licenciada com uma Licença Creative Commons - Atribuição
- Uso Não Comercial - Partilha nos Mesmos Termos 3.0 Brasil.
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INTRODUÇÃO
Esse sentimento leva muitos de nós a querer aprofundar cada vez mais
o conhecimento que temos sobre nossas origens. Assim é que muita
gente embarca no universo da pesquisa de memória. Nos últimos
anos, amadores e profissionais tem se dedicado a vasculhar as
comunidades onde moram em busca de traços da identidade cultural.
Em certa medida, podese dizer que isso se deve à presença cada vez
mais marcante do pósmoderno e da cultura de massa, que trazem a
tendência da uniformização das pessoas. Diante de um mundo cada
vez mais conectado e homogeneizado, que tem olhos e lentes focados
no futuro, é comum querer sair do óbvio, diferenciarse dos demais.
Tentar fortalecer vínculos com nossa identidade cultural é uma forma
de fazer isso acontecer.
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que compartilham o desejo de valorizar a memória da comunidade.
Longe de querer encontrar uma fórmula perfeita para reverter os
efeitos massificantes da era industrial, este tutorial é um pequeno
conjunto de ideias que podem ser aplicadas para quem quer deixar a
inércia de lado e partir para a ação.
A matériaprima do trabalhador
que deseja seguir estes passos é
uma das mais ricas fontes de
conhecimento que o ser humano
conhece: a oralidade. Muitas
vezes ignorada ou mesmo
descartada pela História
acadêmica tradicional, a pesquisa
de memória oral é uma forma
democrática, popular e até mesmo divertida de se conhecer e valorizar
o passado de uma comunidade. Afinal de contas, quem melhor para
contar a história de seu povo do que o próprio povo?
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pesquisas comandadas pelo Museu da Oralidade partem do princípio
de que as tecnologias podem e devem ser aplicadas a serviço da
documentação, da difusão e da preservação das tradições. É preciso
rechaçar a ideia, até certo ponto comum, de que tradição e
modernidade se excluem.
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a tecnologia de gravação de imagens e webcams, possibilita a
cidadãos comuns se apropriarem destas tecnologias para registrar o
cotidiano e botar a voz da comunidade acessível ao mundo. A criação
de produtos audiovisuais por amadores tem sido alvo de numerosos
projetos sociais e culturais, muitos deles tendo como ponto de partida
o registro da memória.
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Do ponto de vista do público, o pesquisador deve levar em
consideração que a opção pelo vídeo pode trazer algum fator de
limitação. Produtos como o DVD são menos elementares do que, por
exemplo, o livro, que pode circular de mão em mão e não depende de
nenhum artefato eletrônico para ter seu conteúdo acessado. O vídeo
costuma, então, ter acesso menos fácil por parte de idosos, uma faixa
etária que normalmente se interessa por projetos de memória. No
entanto, esta limitação pode ser parcialmente contornada por meio de
apresentações em cineclubes, escolas, faculdades e associações
comunitárias.
Eis aqui algumas opções que podem ser levadas a cabo por uma
equipe de pesquisa de memória oral.
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1. Publicação de livro: é uma das alternativas mais
interessantes. O livro é uma das linguagens mais elementares,
circula de mão em mão e é bastante acessível. Os depoimentos
ganham em profundidade, pois podem ser de tamanhos maiores.
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metragem (até 12 minutos).
COMO ESCOLHER OS
ENTREVISTADOS
Tudo bem, você vai em busca de histórias da sua comunidade. Porém,
antes de sair à rua para coletar as memórias, é imprescindível que
exista uma lista prévia de pessoas a serem registradas. É preciso ter
todos os nomes definidos? Não necessariamente. Não é obrigatório ter
todos os entrevistados escolhidos de antemão, e é até saudável que
isso não aconteça, uma vez que a existência de lacunas a serem
preenchidas permite a descoberta de indicações interessantes à medida
em que o trabalho de campo avança.
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entrevistado tenha alguma peculiaridade, algum diferencial que
justifique a inclusão na lista. Isso pode garantir a diversificação das
indicações. Uma dica é pautar a procura de nomes pelos ofícios. O
trabalho realizado pela pessoa costuma influir em sua visão de mundo.
Assim, quanto mais ofícios forem contemplados na lista, maior a
variedade de assuntos registrados nas entrevistas.
Sugestões
Ofícios tradicionais rurais: retireiro, queijeiro, carapina (fazedor de
carro de boi), parteira, trançador de couro, carreiro.
Ofícios tradicionais urbanos: sapateiro, barbeiro, costureira,
alfaiate, lavadeira, artesão, escritor.
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João Siqueira Alfaiate Rua Minas Gerais, 48.
Fone 3555-1280.
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educação, as professoras detinham a predominância no cenário do
ensino fundamental (fato que até hoje se mantém), mas pudemos
encontrar alguns exprofessores homens que trabalharam nos níveis
médio e superior, contrabalançando a lista de indicados.
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O pesquisador não tem necessidade de ir ao encontro de um
entrevistado com todas as perguntas préelaboradas. A melhor maneira
de abordar um entrevistado é a partir de um roteiro semiestruturado,
que comece com perguntas fáceis de serem respondidas e que leve o
entrevistado a se desinibir aos poucos. Para o levantamento de
histórias de vida, a ordem cronológica é o melhor fio condutor. A
conversa deve começar pelas reminiscências da infância: o trabalho
dos pais, a escola, o nome dos irmãos, brincadeiras. O entrevistado
deve estar atento para que se registrem todas as fases da vida do
entrevistado: infância, escola, juventude, casamento, vida adulta,
trabalho e terceira idade.
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ser descartado, na história oral, ela é um elemento a mais a ser
compreendido e valorizado.
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E as festas, quais eram e como eram?
O senhor participou de alguma atividade comunitária ou religiosa?
E hoje, qual a sua rotina? O senhor tem alguma atividade de lazer?
Exerce alguma profissão?
Em relação ao passado, o que mudou na vida do senhor? O senhor
tem saudade dos tempos passados? Faria alguma coisa diferente
do que já fez?
O senhor gostaria de deixar alguma mensagem para as pessoas
que vão conhecer sua história de vida?
O que o senhor achou desta entrevista?
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fotografias. Alguns projetos podem se dar ao luxo de contar com mais
membros de apoio, como um operador de câmera exclusivo e pessoas
para transcrição de depoimentos.
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computador com processador quad-core, 6 GB de memória,
memória de vídeo de 1 GB e 1 TB de HD; impressora
multifuncional laser; HD externo de 1,5 TB para cópias de
segurança. Estimativa de preço: R$ 9.000,00
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deixe claro que tudo o que for falado será gravado.
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a discrição. Enquanto câmeras de vídeo e máquinas fotográficas
chamam muito à atenção e podem tanto inibir quanto distrair o
depoente, o gravador pode passar desapercebido pelo mesmo. A
primeira dica para a gravação de uma entrevista é encontrar um local
silencioso, sem interferência de equipamentos eletrônicos ou de outras
pessoas. Crianças brincando, televisão, rádio ou liquidificadores
ligados devem ser evitados ao máximo numa gravação de memória
oral.
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ou no próprio computador. É interessante que o pesquisador
experimente as alternativas para verificar qual delas oferece mais
conforto e agilidade.
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pode desvirtuar o projeto dos objetivos iniciais, que é valorizar a
identidade cultural de tipos populares. Assim, seria inadequado
apresentar memórias orais registradas em consonância absoluta com a
norma culta da língua portuguesa. Uma dica para atenuar uma
possível aparência de desleixo dos revisores é destacar as formas
coloquais do restante do texto, usando, por exemplo, o itálico em
referência às marcas da oralidade. Exemplo: “a festa da padroeira era
muito bonita, todo ano nós ia lá”.
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do Museu, é possível clicar num tag e encontrar todos os depoimentos
marcados com a mesma etiqueta. Em um conjunto pequeno de
entrevistas, tal iniciativa pode parecer pouco útil, mas à medida em
que se acumula um grande número de memórias, ela se torna um
poderosa ferramenta de categorização e de busca por temas
registrados.
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O processo de edição de um texto deve servir para colocar em ordem
trechos da entrevista que fugiram da cronologia da narrativa. Como já
dissemos, é comum constantes idas e vindas por parte do narrador. Na
hora da transcriação, devese colocar tudo em ordem correspondente.
O tamanho de um depoimento finalizado depende do produto final. Se
pretendese realizar uma exposição de banners, por exemplo, textos
pequenos (de até 30 linhas) são mais adequados. No caso de
publicação de livro, histórias mais compridas são melhores, pois
presumese que o leitor terá tempo de sobra para conhecer as
histórias.
COMO É A GRAVAÇÃO E
EDIÇÃO EM VÍDEO?
A edição de vídeo é comumentte considerada tarefa para profissionais
ou especialistas. Porém, à medida em que a linguagem audiovisual vai
se torna mais presente no cotidiano e a disponibilidade de programas
de edição intuitivos se popularizam, a tendência é de que o trabalho de
montagem de vídeos venha a ser uma atividade corriqueira, mesmo
para amadores. Não é difícil imaginar que, em alguns anos,
adolescentes e jovens criem pequenos filmes digitais de qualidade
com a mesma facilidade com que
escrevem uma redação para a escola.
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audiovisual é o enquadramento, também chamado de plano. Com
o entrevistado sentado, as melhores opções para gravar são o
plano médio (da cintura para cima) ou o meio primeiro plano (do
tórax para cima). Quanto mais próximo do rosto do entrevistado,
maior a sensação de intimidade entre o espectador e a
personagem. Lembrando que o tripé é equipamento básico para
este tipo de projeto.
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entrevista, a entrada da casa, o artesanato produzido pelo
entrevistado (quando for o caso), etc. Para estas cenas, deixe o
tripé de lado e faça com a câmera na mão.
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que achar melhor, graças à interatividade da rede.
O Museu da Oralidade
recomenda o uso de software
livre em todas as etapas de
produção, tanto pela gratuidade
quanto pelo espírito
colaborativo que o envolve.
Sendo assim, para edição de
vídeo, recomendamos o uso de
Kdenlive: editor de vídeos livre dois programas: o PiTiVi, para
edições simples, e o Kdenlive,
para projetos mais completos. Ambos rodam em qualquer máquina
com o sistema operacional Linux.
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programas de computador pagos não garantem a liberdade de
customização e experimentação inerentes ao software livre.
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de um vídeo de memória oral, seguem algumas dicas:
1. Prefira corte seco. Ser simples conta pontos a seu favor. Abra
mão de transições entre uma cena e outra, que podem cansar o
espectador e, em muitos casos, imprimem um certo ar cafona ao
vídeo.
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que pode ser feito com o material que não foi aproveitado?
Embora não tenha sido usado em seu projeto, o material bruto não é
descartável. Ele pode ser interessante para futuras pesquisas ou em
novos projetos. O Museu da Oralidade recomenda que todo o
subproduto de um projeto de memória oral (transcrições, áudios,
fotografias, vídeo) seja catalogado em uma mídia portátil (DVDs, por
exemplo) e doado a instituições públicas ou comunitárias, como
universidades, bibliotecas, arquivos públicos, escolas, museus ou
casas de cultura.
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ONDE PUBLICAR MEU
MATERIAL NA INTERNET?
Publicar na internet é uma boa solução para atingir um público
diversificado. Existem diversas opções para você compartilhar o
conteúdo gerado com outras pessoas. No Museu da Oralidade,
tivemos experiências interessantes de moradores de lugares distantes
que encontraram histórias de parentes e conhecidos em livros
publicados virtualmente e voltaram a entrar contato com suas raízes
culturais. Outra vantagem é a chamada divulgação viral: pessoas que
criam empatia com o produto o recomendam voluntariamente para
amigos por email ou pelas redes sociais.
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Conheça alguns serviços alternativos disponíveis na internet que
podem ser úteis para você compartilhar seu projeto.
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na comunidade virtual.
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ANEXO I
INDICAÇÕES DE LEITURA
Usos e abusos da História Oral, de Janaína Amado e Marieta de
Moraes Ferreira. FGV Editora.
História oral: como fazer, como pensar, de José Carlos Sebe Meihy e
Fabíola Holanda. Editora Contexto.
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ANEXO II
MODELO DE TERMO DE
AUTORIZAÇÃO
Assinatura: ____________________________.
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