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LINGUAGENS AUDIOVISUAIS
E CIDADANIA
Abandonar preconceitos e procurar compreender as formas de
expressão audiovisual é um exercício de cidadania necessário na escola
jetos mal realizados de utilização das lin- superficiais trata-os como apoios pedagógi-
guagens audiovisuais na educação. Quem cos ao professor, sem desenvolver, de forma
quiser desenvolver, hoje, uma atividade pro- mais detalhada, as possíveis mudanças
dutiva e bem-sucedida com vídeos em sala qualitativas que tais recursos podem trazer h
de aula, precisa buscar resposta a essa deter- prática da construção do conhecimento.
minação histórica não só entre os colegas Vem ainda da década de TO uma
resistentes, mas também no fundo de si tendência, que resultou num temor com-
mesmo, pois com certeza ainda restam algu- preensível entre professores, de que a tec-
mas dessas dúvidas no coraçáo de cada nologia pudesse reduzir ou mesmo subszi-
professor. tuir o docente como transmissor principal
6 preciso reconhecer que as difiçul- do conhecimento aos alunos.
dades são genuinas e historicamente Herdeira mais direta de um pensamen-
constniídas, nilo cabendo espaço para senti- to educacional que, na década de 20, orien-
mentos individuais de incapacidade ou tou, no mundo todo, a criação das chamadas
culpa. "Cinemazografias Educativas", desen-
Para o professor poder formar sua volveu-se, na década de 80, a chamada
cidadania audiovisrial docente 6 preciso Leitura Critica dos Meios.
discutir os medos e preconceitos, reco- Nos anos 20 as instituições educa-
nhecer suas competências enquanto espec- cionais, religiosas e familiares promoveram
tador/telespectador e pAr em foco essa pes- o que chamo de julgamento moral do cine-
soa social que gosta de TV e de cinema e o ma comercial, do cinema de lazer que se
profissional-professor que pode levar essa produzia e que seduzia definitivamente
competência para a sala de aula como apoio grandes massas da população, principat-
h atividade didática. mente crianças e jovens. O julgamento re-
Somente reconhecendo os vícios de sultou numa condenação. ao mesmo tempo
origem e respondendo com sinceridade em que consagrava o reconhecimento de
àquelas frases acima relembradas, será pos- que, realmente, o cinema era capaz de flazer
sível reverter o peso das experiências a mbeça do publico.
frustradas. A produção de um cinema educativa
passou, então, n ser desenvolvida em todo o
mundo. Desde as versões mais genéricas -
CIDADANIA E PRÁTIÇA como filmes de lazer produzidos especial-
PEDAGQGICA mente para crianças e jovens dentro de
padrões aceitáveis pelas instituições - até
Linhas de pensamento diferentes po- filmes didáticos realizados dentro de rígidas
dem ser identificadas na abordagem das re- normas pedagógico-cinematográficas.
lações das linguagens audiovisuais com a Não vou ser radical dizendo que tudo
educação no Brasil. isso era muito chato, mas devo reconhecer
A Tecnologia Educacional, desen- que esse foi o terreno fertil onde cresceu o
volvida principalmente durante a década de preconceito de que falei acima.
70, nomeia hoje como recursos audiovi- Ainda que sem a radicalização da pos-
suais: cinema. video, TV. slides sonoriza- tura antiga, a Leitura Crítica dos Meios
dos. multimídia. Nas suas abordagens mais não tem ido muito além dos limites de uma
Linguagens audiovisuais e cidadania
anilise de conteúdo das emissões audiovi- gatar a alegria do contato humano entre pro-
suais em geral, deixando sempre no ar a in- fessores e alunos. E gostoso desvendar jun-
c6moda dúvida de se a TV, o cinema e o tos o sentido dos vídeos. Os profes~oresque
video não são um mal necessário para o já definiram essa metodologia sabem com
mundo contemporineo. que renovado interesse são saboreados al-
guns conteúdos antes apenas tolerados co-
Não podemos nos esquecer, no en- mo ineviiiiveis.
tanto, de que, enquanto a educação se de- Mas a verdadeira lição de cidadania
bate nesses terrenos, os meios audiovi- que a exploração renovada do audiovisual
suais continuam sendo consumidos larga- pode trazer aos estudantes é a partir da com-
mente pelas pessoas, pniporcionanda um preensão dos aspectos mais relevantes dessa
derrame de informação que, mesmo sem linguagem: o desenvolvimento da leitura
tratamento pedagógico, transforma-se das formas de expressão audiovisual.
em fermaçáo. O aspecto mais importante para iniciar
esse procesqo de leitura é o entendimento de
Modos de ver o mundo, de sentir. de atuar que cada peça audiovisual expressa "um
s2o orientados pela rnídia e aceitos como ponto de vista" - o do autor. Esse ponto de
modelos. E a contemporaneidade se cons- vista deve confrontar-se com aquele do
tr6i não pejo passe de rnAgica da tecnologia, leitor/espectador. A compreensão mais pm-
mas pela sedução da linguagem carregada funda do sentido da comunicação se dará
pelas tecnologias diversas, 5s quais o públi- exatamente na mescla, no confronto entre
co é indiferente. Tanto faz ver Rambo no essas opiniões. Os par,?metros de verdade e
cinema, na TV ou no vídeo. O bom é ver mentira d5o lugar a uma vis50 mais ampla.
Rambo, de preferéncia várias vezes, nos três orientada por matrizes culturais, históricas,
suportes. científicas, populares.
Esse exercicio se fará naturalmente, na
medida em que a mesma peça audiovisual
CIDADANIA: UM PRESENTE pode e deve ser usada por vários profes-
PARA O FUTURO sores, que farão dela suas interpretações es-
pecializada~a partir de sua área de conheci-
O bom é ver, espectar. E definitiva- mento e da sua bagagem cultural e pessoal.
mente o prazer de verlouvir a grande mági- Também a bagagem pessoal e cultural
ca sedutora das linguagens audiovisuais. do aluno precisa ser explorada nos debates
Por isso mesmo tão persuasiva e pedagági- que se promovem a partir das motivações
ca. Não creio que tenha mais nenhuma audiovisuais. O conhecimento já não é mais
eficicia tentar negar ou minimizar esse fes- o do professor, repetido pelo aluno, mas sim
tival dioniçíaco. Um século de cinema plas- toma-se algo a ser adquirido e manipulado
mou esse hábito psicossocial de buscar ale- no jogo do raciocínio, da criação de re-
gria no jogo de verlouvir. A TV invadiu com lações de saberes vários, no desenvolvimen-
esse prazer os espaços pessoais da casa e o to da competência de interpretar as fontes
vídeo resgatou o rever, o (rejsentir. de informação reconhecendo, antes dos
A escola precisa encontrar, na parceria contetidos, as linguagens próprias de cada
com o prazer audiovisual, a forma de res- mídia.
ComunicaçAo & Educação, Sào Paulo, (91:3 2 a 35,maio/aqo. 1 997 35
Resumo: A linguagem audiovisual do cinema Abstract The audio-visual language of, cin-
e da televisao tem formado a visao de mundo ema and television has formed lhe new gen-
das novas gerações. Daí a necessidade de se erations'view of the world. Hence it is irnport-
abandonar os preconceitos e trabalhar com ant to abandon prejudices and to deal with it
elas no espaço pedagiigico da escola. Esse B within the pedagogical space of school. This
um exercicio de cidadania que se impóe, pos- exercise of citizenship is absolutely necessary
sibilitando que professores e estudantes de- in order to enable teachers and students t o
senvolvam a compreensáo das formas de ex- develop a comprehension of the different
pressão audfovisual e o respeito as dife- formç of audio-visual expression.
renças.
Key-words: audio-visual, citizenship, educa-
Palavras-chave: audiovisual, cidadania, edu- tion, cinema
caçao, cinema