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PROTAGONISTA.
RESUMO
O presente artigo apresenta reflexões acerca da prática da Leitura Fílmica
Criativa proposta por Alain Bergala. Para isto foi realizado na escola o curso
“Drácula Vai à Escola: Leitura Fílmica através do Vampiro como Protagonista,
voltado para alunos do Ensino Médio. Durante aulas do curso foram aplicadas
atividades contidas no caderno pedagógico intitulado: Propostas para Leitura Fílmica
Criativa nas aulas de Arte, realizado, assim como este artigo, como parte da
execução do Projeto apresentado ao Programa de Desenvolvimento Educacional -
PDE (2012-2013). J. Gordon Melton proporcionou as bases teóricas sobre o
personagem vamírico que juntamente com os filmes apresentados demonstraram
aos alunos a oralidade de imagens e sons defendida por Milton José de Almeida. O
resultado final deste trabalho é um relato sobre as doçuras e amarguras da
realização deste projeto que culminou num curta metragem produzido pelos alunos
como conclusão das oficinas realizadas em sala de aula.
1
Graduada em Licenciatura Plena em Educação Artística com Habilitação em Artes Plásticas pela
Faculdade de Artes do Paraná, Especialista em Informática e Educação pelas Faculdades Integradas
Espírita, Especialista em Mídias Integradas à Educação pela Universidade Federal do Paraná. Atua
como docente em Arte no Colégio Estadual Campos Sales, em Artes Visuais na Associação Ricardo
Gadotti Feldmann e em Conteúdos e Metodologia do Ensino de Arte na Faculdade de Campina
Grande do Sul.
2
Graduado em Pedagogia pela Universidade Estadual do Oeste do Paraná, Mestre em Educação,
Conhecimento, Linguagem e Artes pela Universidade Estadual de Campinas, Doutor em Educação,
Conhecimento, Linguagem e artes pela Universidade Estadual de Campinas (2004), Pós Doutorando
em Pesquisa em Memória e documentário. Professor Associado da Universidade Estadual do
Paraná, Campus Faculdade de Artes do Paraná onde atua como coordenador do curso de cinema e
vídeo. Professor convidado da Estadual do Oeste do Paraná no programa de pós graduação
Linguagem e Sociedade. Editor científico da revista eletrônica Travessias e faz parte do conselho
editorial da revistas Línguas e Letras(UNIOESTE), LL Journal - Língua e Literatura (Nova York)
INTRODUÇÃO
Em 1923, Ricciotto Canudo publicou o “Manifesto da Sétima Arte” no qual
defendeu que o cinema é a arte que sintetiza todas as outras.
Novena anos depois, parece ultrapassado mencionar que o Cinema é
arte, e por isto deve ser estudado com objeto artístico durante as aulas de arte da
Educação Básica.
Porém, não é bem isto que se percebe. Em análise de documentos legais
como as Diretrizes Curriculares Nacionais e as Diretrizes Curriculares Estaduais
para o ensino de Arte, pouco se fala sobre o assunto. Nem mesmo o Caderno de
Expectativas de Aprendizagem do Estado do Paraná da disciplina de arte enfatiza a
necessidade da abordagem do cinema como área artística.
Marcos Napolitano afirma em seu livro “Como Usar o Cinema em Sala de
Aula” que o cinema é capaz de auxiliar a escola a “reencontrar a cultura ao mesmo
tempo cotidiana e elevada, pois [...] é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia
e os valores sociais mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte”. (2010,
p. 11)
Para Rosália Duarte é importante que os alunos, em especial os das
escolas públicas possam desenvolver a capacidade de compreender e
apreciar os diferentes gêneros fílmicos, afinal mais do que uma escolha
pessoal, o gosto estético é uma prática social que atua na formação das
pessoas. (2002, p. 14)
1. O CINEMA NA ESCOLA
4 p. 64 a 68.
preparado para lidar tanto com uma turma que o aceite bem, quanto com uma que o
repudie ou ainda seja indiferente a este tipo de atividade. (MORAN, 1995)
Em se tratando da linguagem fílmica, é importante falar também da
relação do cinema com a TV, já que ambas utilizam a linguagem audiovisual. Como
a TV está cotidianamente presente na casa dos alunos, o cinema acaba não sendo
novidade e é muitas vezes visto apenas como entretenimento pelos educandos,
mesmo apresentado em sala de aula.
Desta forma, Moran (1995) sugere que o educador aproveite este
momento de descontração para atrair os alunos para questões pertinentes ao
currículo escolar bem como, segundo Napolitano (2010, p. 29), para desenvolver a
manipulação e decodificação (ou leitura5) da linguagem verbal, gestual, visual e
audiovisual mais facilmente do que sem esta tecnologia.
Moran (1995) e Napolitano (2010, p. 15) comentam em suas obras que o
vídeo pode ser uma boa ferramenta tanto para sensibilizar o aluno quanto à uma
situação ou contexto, quanto para ilustrar um conteúdo, ou ainda para simular
experiências.
Ele também pode ser visto como conteúdo de ensino, quando aborda um
assunto específico presente no currículo escolar, ou no caso da disciplina de arte,
quando é analisado como objeto artístico6.
Apesar de todas as qualidades que o uso do vídeo pode apresentar para
o processo de ensino-aprendizagem, Moran (1995) lembra que o cinema também
pode ser usado inadequadamente na escola.
Para evitar o mau uso, Moran (1995) e Napolitano (2010, p. 15)
argumentam que antes de exibir o vídeo, a aula deve ser muito bem planejada. O
docente deve se informar a respeito do filme e o assistir na íntegra para perceber se
o mesmo é pertinente aos seus objetivos didáticos, à faixa etária do aluno e se serão
necessários cortes durante sua apresentação.
Não que o professor tenha que se ater necessariamente à faixa etária
indicada no filme, já que presumidamente ele é um profissional com senso crítico
capaz de perceber se o filme é adequado ou não, especialmente levando em
5 Nota minha.
6 Nota minha.
consideração que o mesmo estará em sala para facilitar sua compreensão pelo
aluno.
Às vezes, ouvimos dizer que um filme “não pode ser passado para a 6ª.
série”, por exemplo, e no entanto ele é assistido em casa pelo aluno,
juntamente com os pais. O mesmo acontece com diferentes objetos de
conhecimento, novas teorias, novas tecnologias, descobertas históricas e
científicas, assuntos políticos, que todos ficam sabendo através de
diferentes meios de comunicação e que nunca entram na escola, porque ela
está presa àquela pergunta sobre a adequação, à idéia de fases, ao
currículo, ao programa. (ALMEIDA. 2001, p. 07)
7
Nota minha
o da época de sua produção e ainda considerar o contexto atual do aluno.
(NAPOLITANO, 2010, p. 27)
Para Napolitano (2010, p. 29) o professor de arte não precisa centrar sua
abordagem no tema e conteúdo do argumento, roteiro e apresentação, mas deve
propiciar atividades que desenvolvam várias habilidades e competências, com
ligação menor ao problema e conteúdo do filme e maior atenção às formas
narrativas e recursos expressivos que o cinema, como linguagem, possui.
Também é conveniente propor atividades relacionadas aos materiais,
efeitos mecânicos, ópticos, de iluminação, das lentes e filtros utilizados pelas
câmeras e de estúdio (explosões, incêndios, inundações, etc) utilizados na produção
cinematográfica para conseguir os efeitos vistos na tela. (NAPOLITANO, 2010, p.
30)
Napolitano (2010, p. 30 a 96) sugere ainda que a disciplina de arte aborde
elementos essenciais da linguagem fílmica como: sonoplastia e trilha sonora,
técnicas de edição e efeitos de continuidade, decupagem, fotografia, figurino,
argumento e roteiro, bem como informações sobre o impacto da obra no seu tempo,
sua bilheteria, crítica recebida, prêmios, polêmicas, entre outras informações ajudam
no desenvolvimento do olhar crítico do espectador. (NAPOLITANO, 2010, p. 89)
O professor pode fornecer ou pedir que os alunos pesquisem sobre a
biografia artística do diretor do filme, sua obra, formação, influências artísticas,
posições político-ideológicas, filmografia, prêmios recebidos, etc. já que estas
informações podem auxiliar o aluno na análise de sua obra.
Alain Bergala afirma em seu livro “A Hipótese do Cinema” que ensino das
artes, há dois grandes princípios gerais e generosos: reduzir as desigualdades,
revelar nas crianças seu lado intuitivo e sensível, desenvolver seu espírito crítico,
etc.” (2007. p. 30)
Segundo ele, a criança chega à escola pensando sabe fazer a leitura de
um filme e que, portanto, não espera que isto lhes seja ensinado na escola e que
nela possam aprender se tornar expectador, pois já se sentem satisfeitos dentro do
que pensam já saber.
Mas a escola tem que ir além do que o aluno pensa que sabe. Ela tem
a função de qualificar o aluno para sua inserção social e a obrigação de possibilitar
seu encontro com a arte mesmo este encontro seja apenas uma iniciação à
aprendizagem já que sua efetivação não pode ser garantida pela escola. Para ele, a
escola pode auxiliar o indivíduo a aprender, mas não tem como ensinar a se sentir
comovido. (2007, p.64)
Por este motivo o autor afirma que nunca acreditou na teoria “de-
Pokémon8-a-Dreyer9”, segundo a qual as aulas deveriam “começar com o que as
crianças gostam de maneira espontânea para conduzi-los pouco a pouco a filmes
mais difíceis”.
Para ele, os comerciantes já exploram muito o cinema de fácil assimilação
com filmes que utilizam imagens e sons banais e são justamente estes que os
alunos normalmente assistem cotidianamente em seus lares10.
Por este motivo escola deve proporcionar uma “verdadeira cultura
artística” através do choque provocado pelo encontro com a arte que emociona e
que é capaz de marcar profundamente o indivíduo. (BERGALA, 2007 p. 96 - 99)
(...) Hoje em dia, a formação deste gosto, que é o único que permite se
distanciar a respeito dos filmes de má qualidade, é o primeiro problema que
se deve tentar resolver. A melhor resposta hoje à potência de carga do
“cinema de pipocas” é o encontro e a frequentação permanente de outros
filmes. (BERGALA, 2007 p. 50)
por seu perfeccionismo expressivo. Produziu obras notáveis como “O Vampiro”, “Dias de Ira”, “A
palavra”, “Gertrud” e “A Paixão de Joana d’Arc” que foi censurado na época de seu lançamento em
1932. A versão completa se perdeu e só foi reencontrada em 1981 em um armário de uma clínica
psiquiátrica na Noruega. (KEMP, 2011, p. 72-73)
10 [nota minha]
(MORAN, 1995). Mesmo assim, as Diretrizes Curriculares Paranaenses de Arte
ainda não dão o enfoque merecido à área do cinema como faz com as outras áreas
artísticas, conforme segue:
2. OFICINA DE MORTOS-VIVOS
11
Grifo meu.
retornar nele no final da tarde, não dispendendo dinheiro com transporte ou
alimentação.
Com tudo planejado, direção, equipe pedagógica e merendeiras a par do
assunto, o convite foi feito para as quatro turmas, mas contrariamente ao que era
esperado, apenas seis alunos, cinco do período matutino e um do noturno,
compareceram.
Como ainda havia vaga, os segundos anos do período matutino também
foram convidados, porém somente três alunos se somaram ao grupo, sendo que
destes, duas meninas desistiram já no primeiro encontro, quando perceberam que o
curso não era voltado à formação de ator para cinema, mas para leitura fílmica dos
elementos que formam o cinema, inclusive atuação.
No terceiro encontro, um dos alunos do terceiro ano também informou
que não poderia mais comparecer pois iria trabalhar durante o período da tarde e
necessitava do emprego.
Assim, pode se dizer que a oficina contou em todo o seu percurso, até o
início da gravação do Curta Metragem, em que “atores” foram convidados, com a
participação de apenas nove alunos, mencionados daqui por diante como MR, RM,
LC, JP, MS, NT, KF, DP, FC. Destes, apenas três acompanharam as aulas do início
ao fim, participando de todas as atividades: RM, JP e MR e duas destas, RM e JP
realizaram o curta metragem intitulado “Nosferatu” como trabalho de conclusão.
Conhecida a clientela, para compreender por completo as atividades
realizadas e seus resultados, é necessário também conhecer um pouco sobre o
protagonista desta história:
12
Os vampiros “sugadores de energia vital” não são o foco do personagem fílmico pesquisado
durante a implementação do projeto, porém, se faz necessário mencioná-lo para evitar equívocos.
Nota minha.
também a descontar sua fúria em crianças e principalmente bebês, lhes drenando o
sangue. (SEGREDOS..., 2009)
No ocidente, já na civilização grega antiga sabe-se da existência dos
lamiai13 que, segundo o que se acreditava, atacava bebês e crianças muito
pequenas, de modo que caso ocorressem óbitos de parturientes ou crianças, a
responsabilidade era atribuída a estes seres. (MELTON, 1995, p. XXXV)
Ainda com característica semelhante de sorver o sangue de bebês e
crianças está Langsuyar de origem malaia. Diz a lenda que ela teve um bebê
natimorto e, a partir daí, virou um demônio da noite e passou a atacar e beber o
sangue de crianças. (MELTON, 1995, p. XXXV)
Mas o auge dos registros de possíveis vampiros, sem dúvida, provem da
Europa cristã medieval.
13 Os lamiai também podem ser vistos como bruxos ou sacerdotes que praticavam sacrifícios
humanos durante seus rituais de magia, daí também sua estreita relação com as lendas vampíricas.
[nota minha]
O Brasil também possui personagens vampíricos em seus mitos. Os
indígenas Apinajés (de etnia jê), por exemplo, acreditavam no “Cupendipe”, um
indígena de asas como o morcego que saía durante a noite para matar pessoas com
seu machado.
Já na crendice popular nordestina há o “Encourado”, um homem que se
veste com roupas de couro preto e sai à noite para sugar o sangue de pessoas e
animais.
A “Vampira do Amazonas”, como o nome já diz, suga o sangue das
jugulares das pessoas, deixando inclusive a marca de seus dentes. Em seguida, ela
vai para a água, se transforma em sereia e lá desaparece. (LOPES. 2009, p. 17)
Mesmo com tantas e variadas lendas, provavelmente este ser mítico só
foi batizado como “vampiro” (na verdade, vampyre) em 1732 na publicação de dois
periódicos ingleses chamados London Journal e Gentleman’s Magazine.
A ideia de chamá-lo de vampiro ocorreu pela semelhança de hábitos
alimentares entre ele e um morcego bebedor de sangue descoberto no Novo Mundo.
A espécie foi nomeada como vampiro e publicada em 1765 pelo naturalista francês
Louis Lecrerc de Buffon num dos volumes de sua “Histoire Naturelle”.
Por este motivo, a leitura fílmica tem caráter essencial na formação dos
alunos, pois a visão crítica das imagens e sons é o que pode evitar que ele
simplesmente faça parte da massa cultural, sem conhecer para poder exercer suas
escolhas com dignidade.
3.1. Os primórdios
Para iniciar o conhecimento dos alunos sobre o funcionamento do
cinema, o primeiro passo foi construir junto a eles uma câmera escura utilizando
caixa de sapatos, conforme atividade proposta no Caderno Pedagógico produzido
por esta autora com o título: “Propostas para uma Análise Fílmica Criativa nas Aulas
de Arte”, mais especificamente no capítulo “Fotografia: uma verdadeira mãe para o
cinema”14
Os alunos trouxeram as caixas para a oficina que foi realizada no
Laboratório de Ciências, Química, Física, Biologia e Enfermagem do colégio.
Embora não fosse este o local mais adequado para execução de um trabalho em
que seria utilizado recorte, colagem e tinta, era este o espaço disponível na escola
naquele momento.
Depois deles “brincarem” bastante com suas câmeras escuras, todos
retornaram para o laboratório para explicar a eles o motivo pelo qual a imagem se
projetava de ponta cabeça. Foi aproveitado para falar sobre onda luminosa e sua
projeção e ainda sobre o funcionamento da visão humana.
Os alunos gostaram muito de confeccionar a câmera escura, embora dois
deles já a tivessem feito no ano anterior. Foram explicados os ângulos de filmagem
e entregue texto sobre o assunto. Também foi utilizada a projeção de slides para
melhor compreensão. Os alunos observaram imagens coletadas de filmes para
observar nestes o ângulo de filmagem.
Aproveitando o momento, foi explicado aos alunos a diferença entre
fotografia digital e analógica e ainda o significado de pixel e como escolher a
qualidade da câmera digital através da resolução em megapixels das imagens que é
capaz de capitar.
Para melhor compreensão do assunto, foram projetadas imagens
fotográficas para os alunos e assim eles puderam compreender o motivo pelo qual
quando eles ampliam uma imagem ela “estoura”.
Foi perceptível a satisfação dos alunos em compreenderem o significado
dos megapixels em relação à resolução da fotografia, bem como aprenderem a
adequá-la às fotografias que tiram com suas câmeras ou celulares com câmeras de
acordo com o uso que pretendem fazer de suas fotos.
14
EISENBACH, Maysa Nara. Propostas para uma Análise Fílmica Criativa nas Aulas de Arte.
Caderno Pedagógico da Disciplina de Arte referente ao PDE 2012. SEED: 2012. (documento não
publicado)
Como atividade, foi solicitado aos alunos que tirassem fotografias com
suas câmeras (inclua-se aí celulares com câmera) e trouxessem num pendrive para
analisarmos em sala de aula.
Os alunos trouxeram as fotos que tiraram em mídia digital para
observação e discussão em sala de aula. Embora o assunto fosse a fotografia no
cinema, os alunos trouxeram fotos de objetos e não de pessoas.
As fotografias foram mostradas e os alunos foram estimulados a dizer
quais fotos mais gostaram e na opinião de cada um, o motivo pelo qual aquela
imagem era interessante aos seus olhos.
A escolha das melhores imagens não foi difícil, porém, os alunos
tiveram um pouco de dificuldade para explicar sua escolha, mas conseguiam
perceber que não era somente “o que”, mas “como” era fotografado.
Foram lidos e discutidos os textos “Treinando o Olhar: Ângulos de
Filmagem” e “Ângulo dos Objetos de Filmagem” e como os alunos estavam com
dificuldade para conseguir trazer a cena do filme para fazer a decupagem, foram
disponibilizadas algumas sequências do filme “Corra Lola, Corra” (1998).
Os resultados apresentados foram bastante satisfatórios. Os alunos
realizaram a atividade de forma bastante paciente, conseguindo realmente capturar
passo a passo as mudanças de planos e/ou ângulos de filmagem, o que demonstrou
um certo apuramento no olhar sobre o filme.
A descrição dos planos e ângulos de filmagem também foi bastante
acertada, não havendo nenhuma correção a ser feita.
15
Acessado em 17/11/2013.
Aproveitando a técnica de animação de fotografias, os alunos também
realizaram um stop motion utilizando para isto massa de modelar.
16LUMIÈRE, Auguste; LUMIÈRE, Louis. A Saída dos Operários da Fábrica Lumière. Lyon, 1895.
Disponível em <http://www.educadores. diaadia.pr.gov.br/modules/debaser/singlefile.php? id=10045>
acessado em 13/11/13.
(de forma espelhada), mas quem estava vendo o filme não conseguia ver o que
estava do outro lado da tela.
Também foi mostrada a cena em que a personagem Peppy Miller pega o
rolo de filme e vê cada um dos quadros, e a partir daí aparece “o filme dentro do
filme”. Foi pedido para que percebessem a diferença da qualidade desta cena para
as outras. Depois, foi feita novamente referência a qualidade do filme que projeta 16
quadros por minuto do que projeta 24 no mesmo espaço temporal.
MÉLIÈS, Georges. Le Voyage dans a La Lune – A Trip to the Moon. 1902. Disponível em < http://
17
“- Eles não conhecem a história. Não sabem o quanto é difícil fazer um ‘pixilation’
para dar efeito ou como foi que o cinema começou.”
3.7. Roteiro.
Após as exibições destes filmes, chegou a hora de os alunos começarem
a pensar o roteiro do seu filme.
Para desenvolver junto a eles o conceito de roteiro de forma a leva-los a
compreender facilmente seu funcionamento.
Foi lhes apresentada a proposta de Syd Field publicada no livro “Manual
do Roteiro” (2001), que propõe a seguinte organização para composição:
4. O NASCIMENTO DE UM VAMPIRO
Os alunos gostaram muito de saber mais sobre o mito do vampiro e como
o cinema contribuiu para formar este mito. Foram mostradas imagens do Nosferatu
interpretado por Max Schreck (NOSFERATU..., 1922), o Drácula de Bela Lugosi
(DRÁCULA, 1931) e o Drácula de Cristopher Lee (1931). Foram as imagens destes
vampiros que formaram o estereotipo que se mantém até a atualidade.
Também foi falado sobre Drácula o empalador e sobre teorias que
explicam a criação do mito do vampiro. Em vez de começarmos as filmagens do
nosso curta, exibi aos alunos alguns filmes curtas-metragem pois estavam com
dificuldade de concluir o roteiro pois estavam se alongando demais para um curta.
5. RESULTADO
- Vampiro
RM – “Em relação ao vampiro, antes eu não tinha conhecimento real
sobre o Nosferatu. Eu já conhecia um vampiro pronto, entendeu? que era o Edward,
um mocinho e tal...
E algumas características do vampiro antigo para o de hoje foram
mantidas, e outras modificadas. Mas o conhecimento que eu tenho agora, sobre o
vampiro, é muito mais abrangente do que o que eu tinha antes de começar o projeto.
As características que se mantiveram foram os dentões, os caninos.
Evitar a luz solar, o uso do caixão como casa.
Acho que a rapidez modificou, porque antes ele não era tão rápido no
jeito de andar e é basicamente isso!”
- sonoplastia.
JP: “Quando você escuta (o som original do filme) 18, você não acha que
pode fazer melhor. [...] Mas quando você faz (a sonoplastia) 19 e escuta, você
descobre que pode fazer uma coisa diferente e que mesmo assim pode ficar muito
bom.”
RM: “Acho que é muito difícil fugir daquela história de ‘micheymousear’,
porque normalmente você coloca a música pensando naquela ação. Achar uma
sonoplastia adequada também, eu acho que é bem difícil e bem delicado de fazer.
Acho que é mais difícil do que fazer um curta20.
- Técnicas de filmagem
RM: “Eu gostei muito dos ângulos de filmagem, que antes eu não fazia
ideia do que era. Plongée, Contraplonguée, plano americano, plano geral... acho que
isso ajudou bastante na hora de tirar foto. Agora eu penso antes de tirar a foto. De
cima para baixo, de baixo para cima... agora eu já sei o nome e tal. [...] Agora eu sei
o que estou fazendo, sei identificar os ângulos e antes eu não fazia nem ideia.”
JP: “Eu fiquei bem impressionada com o vídeo lá que você mostrou (Corte
de Gastos)21. Eu entendi as profissões quando ele começou a cortar. Cortou o
figurinista, o continuísta, [...] então eu entendi o quanto é importante cada função e
que é tudo muito difícil de fazer, tem muito detalhe para se preocupar.”
- Curta
JP: “Eu achei divertido percebe que quando você está filmando, você não
tem a noção geral de tudo e quando você está editando é que você vê os detalhes,
as partes que ficaram legais, as que não ficaram tão legais [...]. Tem que ter
paciência também, porque as vezes você faz e não dá certo, daí você tem que voltar
e refazer.
É legal porque só de você mexer no tempo da cena, deixando mais
rápido, ela já muda assim. Colocar efeitos deixa bem mais legal. Tirar o colorido e
deixar preto e branco é legal, também.
18
Nota minha.
19
Nota minha.
20
Neste momento, a aluna se referia à filmagem do curta.
21
Nota minha. CORTE de Gastos. Porta dos Fundos. Direção: SBF, Ian. Roteiro: DUVIVIER,
Gregório; FALCÃO, Clarice. Fotografia: MACHADO, Gui. Intérpretes: LOBIANCO, Luiz; INFANTE,
Rafael; MOURA, Ives. Disponível em <http://www.youtube.com/watch?v=SITIFVzSXG8>, acesso em
11/12/13.
Antes de fazer o filme eu não pensava (na parte da organização das
cenas)22, também se tinha algum erro de “continuação”, eu não percebia. Agora eu
percebo. Eu presto atenção nos filmes e fico procurando, [...]
A posição da câmera também. O que ela quer passar quando está mais
em cima, assim, que quer deixar o personagem menor. Agora a gente percebe,
mesmo. Começa a reparar mais nos filmes e pensa: ‘nossa, eles tiveram um
trabalhão para fazer este filme’, então, não vamos falar mal [...]. Talvez a história
não esteja tão legal, mas pelo menos trabalho eles tiveram para fazer.
RM: “Eu achei muito interessante, porque quando você assiste já pronto,
não tem noção de quanto trabalho deu, de quantas vezes teve que repetir para
chegar no resultado que você deseja, né?!
E que também é interessante trabalhar em grupo, porque você discute
com os outros e vai ficando mais interessante.”
22
Nota minha.
23
Nota minha
A primeira e talvez maior dificuldade encontrada durante o processo de
aplicação do projeto, bem como de produção deste artigo foi a conciliação do
trabalho na direção auxiliar do Colégio Estadual Campos Sales e o preparo e
aplicação das oficinas.
De acordo com a resolução 4128/2011 que normatiza a execução do
Programa de Desenvolvimento Educacional na Rede Estadual de Ensino no âmbito
da SEED24, durante o 2º ano de PDE, o professor tem garantido o afastamento de
25% da carga horária prevista no seu cargo para planejamento e implementação de
seu projeto, bem como para construção de um artigo com base no mesmo.
Quando o referido professor está atuando em sala de aula, outro
professor é suprido pelo Estado para assumir as aulas respectivas a estes 25% de
afastamento, não deixando a escola defasada neste sentido.
Porém, quando o professor está atuando como diretor ou diretor auxiliar25,
embora ele seja afastado de 25% de sua carta horaria de trabalho, esta demanda
não é suprida por outro profissional, causando impacto na administração da escola.
O Colégio Estadual Campos Sales se enquadra, possui potencial para 40
horas de direção auxiliar para a escola. Mesmo assim, durante o ano de 2013, em
vez de 40 horas, a escola teve apenas 30 de direção auxiliar.
O problema é que a demanda de trabalho na gestão não diminui em 25%
como a carga horária de vice direção. Assim, ou o diretor auxiliar que está
concluindo o PDE permanece trabalhando as 40 horas, mesmo suprido com 30
nesta função, ou vê seu trabalho acumular.
Sem contar, que o professor de sala de aula tem a possibilidade de
aplicar o projeto em sua própria turma, enquanto o professor em direção auxiliar,
quando cursa o PDE em sua área de formação, só tem a oportunidade de aplicar
seu projeto em oficinas no contraturno dos alunos e fora de seu horário de trabalho
como gestor.
Durante as oficinas, por mais que haja ciência de professores,
funcionários e demais alunos de que a direção auxiliar está em função de professora
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Apesar de todos os percalços causados pela implementação do projeto e
da composição deste artigo concomitantemente com o cargo de direção auxiliar que
não permitiu que as aulas seguissem da maneira planejada por causa das
diferenciadas formas de interferências externas, além do acúmulo de trabalho, mais
um passo se concluiu.
Para os alunos, o vampiro passou de um personagem “bonitinho e cheio
de frescurinhas” (conforme a aluna se referiu ao Edward da Saga Crepúsculo) para
um elemento mítico, presente nas mais variadas culturas que mantém um hábito
comum: beber o sangue das pessoas.
Eles descobriram a oralidade das imagens e sons, pois perceberam que
seu imaginário acerca do assunto foi formado por mais de oitenta anos de uma arte
que mostrou o vampiro primeiramente como um monstro horroroso que aos poucos
foi sendo educado para cuidar da aparência se vestindo bem, arrumando os cabelos
e mostrando seus dentes sugadores de sangue somente quando conveniente.
A análise fílmica criativa proposta por Alain Bergala se mostrou
extremamente funcional e passível de desenvolvimento nas aulas de arte.
As estratégias por ele defendidas que enfatizam colocar o aluno em
contato com o cinema mediando o diálogo entre o aluno e o filme, escolhendo para
isto filmes de qualidade, diversos aos que o aluno assiste fora da escola acabam
criando o hábito não só de assistir, mas de analisar o que estão vendo.
Conhecer o processo de confecção de um filme na prática, desenvolve o
olhar estético da pessoa, reorganiza suas ideias e a leva a realizar a algo que não
poderia ter recebido nome mais correto: a análise fílmica criativa que foi mencionada
inúmeras vezes no texto deste artigo.
A maior prova da real efetivação deste nível de análise foi obtida através
da entrevista realizada com os alunos no último encontro da oficina. Eles deixaram
claro que passaram a olhar de forma diferente os filmes que assistem adotando
critérios de escolha que não faziam parte de seu repertório até então.
Em termos de docência, também foi possível perceber que a proposta de
Bergala se adequa a qualquer nível de ensino e como não exige materiais caros
para ser realizada, também pode ser aplicada em escolas com infraestrutura
precária.
Já quando o professor busca a realização da análise de um filme
enquanto obra de arte, considerando os elementos que caracterizam esta
linguagem, o mesmo deve buscar exibir o filme por inteiro e, preferencialmente,
passar outros filmes com um laço entre si para que os alunos possam fazer as
analogias necessárias à as compreensão.
O maior entrave para sua realização em sala de aula é a falta de
documentos e de aulas disponibilizadas para tal. O fato de as DCE-Arte não terem
previsto o cinema como área artística acaba levando o Estado a não precisar se
comprometer a formação dos professores para tal.
Certamente estes são um problemas mais difíceis de serem resolvidos do
que a falta de infra-estrutura no interior das escolas. Mas este é um assunto para ser
pesquisado com maior profundidade em momento oportuno, possivelmente numa
próxima pesquisa a ser realizada.
REFERÊNCIAS
ALMEIDA, Milton José de. Imagens e Sons: A nova cultura oral. 2 ed. São Paulo:
Cortez, 20011. (Questões da Nossa Época, n. 32)
EISENBACH, Maysa Nara. Propostas para uma Análise Fílmica Criativa nas
Aulas de Arte. Caderno Pedagógico da Disciplina de Arte referente ao PDE 2012.
SEED: 2012. (Documento não publicado)
HER MORNING Elegance. The Opposite Side of The Sea. Direção: Oren Lavie,
Yuval Merav Nathan. Composição de Oren Lavier. EUA, 2009. Disponível em <
http://www.youtube.com/watch?v=2_HXUhShhmY> acesso em 12/12/13.
JAIN, P. C. DALJEET. Kali: a mulher mais poderosa do universo. Shri Yoga Devi.
Disponível em <http://www.shri-yoga-devi.org/Kali/Kali1.html> acesso em
25/11/2013.
NAPOLITANO, Marcos. Como Usar o Cinema em Sala de Aula. 4ª. Ed. 3ª.
reimpressão. SP: Contexto, 2010.
VOLLÚ, Fátima Cristina. Novas Tecnologias e o Ensino de Artes Visuais. UFRJ:
Revista Perspectiva Capiana no. 01, agosto de 2006.
CORRA, Lola, Corra. Direção e Roteiro de Tom Tykwer. Produção: Stefan Arndt.
Alemanha: X-Creative Pool, 1998. DVD, color, 81 min
CORTE de Gastos. Porta dos Fundos. Direção: SBF, Ian. Roteiro: DUVIVIER,
Gregório; FALCÃO, Clarice. Fotografia: MACHADO, Gui. Intérpretes: LOBIANCO,
Luiz; INFANTE, Rafael; MOURA, Ives. Disponível em
<http://www.youtube.com/watch?v=SITIFVzSXG8>, acesso em 11/12/13
DIÁRIOS de Vampiro. Roteiro: Julie Plec, L.J. Smith, Kevin Williamson, Brian Young.
EUA: Warner Channel , 2009. Primeira Temporada. (Baseado no livro de L. J. Smith)
DRÁCULA. Direção: Tod Browning. Roteiro: Garrett Fort. Produção: Carl Laemmle
Jr, Tod Browning. EUA: Universal Pictures, 1931.