Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Recife
2023
Recife
2023
INTRODUÇÃO
O Censo Escolar 2022 comprova que utilizar os meios tecnológicos para a exibição de tais
filmes hoje pode ser um desafio pois “apesar de possuir o maior número de escolas do ensino
fundamental, a rede municipal é a que menos dispõe de recursos tecnológicos, como lousa digital
(11,3%), projetor multimídia (55,9%), computador de mesa (39,4%) ou portátil (30,2%) para os
alunos ou mesmo internet disponível para uso destes (32,6%).” (INEP, 2022). A situação ameniza
quando se trata do Ensino Médio, mas mesmo assim, encontrar com fácil acesso um datashow em
uma escola pública disponível para utilização em sala de aula é caso raro. A lei permanece sem
efeitos práticos e extremamente mal adaptada com relação às inconsistências do sistema público.
Outra questão que prejudica e muito o trabalho com filmes na escola, é a formação dos profissionais
de educação, pois não se trata apenas de exibir o filme, mas de realizar uma curadoria e análise de
textos cinematográficos que podem auxiliar na aprendizagem dos estudantes, e muitas vezes não há
preparação para isso. Sobre esta problemática, Santos, Barbosa e Lazzareti (2013), nos dizem que
esta formação é essencial para que a lei funcione com eficácia.
Mas será que somente garantir o espaço de exibição na escola é suficiente para a
formação dessas crianças e jovens? Será que a escola e os professores entenderão
esse espaço obrigatório como um momento de aprendizagem para além do ´deixar
passar o tempo´, exibindo um filme que todos já conhecem e que não acrescenta
novas reflexões e aprendizagens? Que filmes privilegiar nesses momentos? Como
trabalhar com o cinema na escola – sem deixar que ele se torne pedagogizante –
mantendo a relação de formação sensível com os filmes? Como possibilitar que a
escola dialogue com os filmes de forma reflexiva? (FERNANDES, 2016, p.99).
OBJETIVO GERAL
● Refletir sobre como a leitura sob uma perspectiva discursiva de obras cinematográficas pode
contribuir para a formação de estudantes.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
● Propor a prática em sala de aula, através de uma análise discursiva e do discurso artístico, de
uma metodologia em que o estudante possa adquirir pelos recursos cinematográficos,
conhecimentos pertinentes para a aprendizagem a ser adquirida tanto cultural quanto
literária no contexto escolar,e sugerir propostas observando como o trabalho com o cinema é
representado pela BNCC e pelo Currículo de Pernambuco.
● Observar que tipo de leitura relacionada ao texto cinematográfico é proposta pelos
documentos com relação ao cinema, diante da problemática de não ou pouca utilização do
cinema nacional no contexto escolar.
JUSTIFICATIVA
Uma obra como “Bacurau” produzida por Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles
possui exímias referências históricas, culturais, e sociais que podem ser destrinchadas e muitas
vezes podem ser percebidas nas suas narrativas, vários fatores que podem contribuir com o trabalho
em sala de aula. Além de produções como o filme Morte e Vida Severina (1977), O Quinze (2004),
Vidas Secas (1963), O Auto da Compadecida (2000), Lisbela e o Prisioneiro (2003), e Capitães de
Areia (2011). Essas obras remetem o caráter cultural e a riqueza de elementos que precisa ser
explorada em cada uma dessas produções brasileiras-nordestinas, e todas as características presentes
vão muito além do simples fato de assistir ao filme. O que o projeto propõe, é estreitar a relação
entre discurso e ensino, seja ele verbal ou não verbal, com metodologias que podem ser eficientes
no contexto escolar, a partir de aspectos observados em textos cinematográficos brasileiros e
especificamente as produções regionais, dotadas de identidade cultural que podem ser absorvidas
integralmente pela perspectiva discursiva.
FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
No final da década de 60, Michel Pêcheux (1938-1983), então pesquisador da École
Normale Supérieure em Paris, propôs a teoria da Análise de Discurso. A proposta surgiu em um
período em que o estruturalismo de Saussure e o gerativismo Chomskyano já ocupavam uma
posição bem significativa com relação aos estudos da linguagem. Na Análise do Discurso os
funcionamentos sintáticos presentes no texto não se esgotam na competência da frase, vai muito
além na leitura dos fenômenos registrados no texto. Assim, para Pêcheux, a análise tem um
objetivo:
Diante da relação fundamental entre ciência e política, Michel Pêcheux, Paul Henry, Denise
Maldidier, JeanJacques Courtine, Michel Plon, Françoise Gadet e outros intelectuais constituíram
um conjunto de saberes voltado à reflexão sobre linguagem, ideologia e história, em meio ao
domínio acadêmico do estruturalismo e das “releituras dos clássicos” (NARZETTI, 2008). Algumas
questões acabaram possibilitando o surgimento da Análise do Discurso como o ativismo político e
também a diversidade de formações científicas do grupo pêcheuxtiano. Constata-se então que foi
originada de um contexto específico que precedeu-lhe diversas características como a relação com o
discurso político além do seu lugar de entremeio em relação às áreas de saber.
A AD trabalha a relação língua-discurso-ideologia. Essa relação se complementa com o fato
de que, como diz Pêcheux (2002), não há discurso sem sujeito e não há sujeito sem ideologia: o
indivíduo é interpelado em sujeito pela ideologia e é assim que a língua faz sentido (ORLANDI,
1999, p. 17). Mariani (1998) nos dá uma visão do que seria a proposta da AD, que seria de
compreender os modos de consignação histórica dos processos de produção dos sentidos.
Para tanto, o fundador da AD, Michel Pêcheux, propôs articular três regiões do
saber: o materialismo histórico, enquanto teoria das formações sociais e suas
transformações; a linguística, enquanto teoria dos processos não subjetivos de
enunciação e a teoria do discurso, como teoria da determinação histórica dos
processos semânticos. Estas três regiões, ainda de acordo com Pêcheux, são
atravessadas e articuladas por uma teoria da subjetividade de natureza psicanalítica
(MARIANI, 1998, p. 23).
A construção discursiva de leitura possui, no processo, além da relação entre sujeitos (autor
e leitor), a relação do inconsciente com a ideologia. E a não transparência da linguagem confronta o
pensamento de que qualquer texto pode ser lido do mesmo jeito por qualquer um. Quando se tem
aspectos históricos e ideológicos, os efeitos de sentido divergem, de acordo com a análise dos
personagens do texto cinematográfico ou escrito, as ideologias dominantes no sujeito-leitor
condicionam a sua forma de pensar e enxergar determinada situação, é desta forma que é favorecido
um tipo de percepção ou sentido em um determinado texto. Pêcheux, diz que não há sentido que
não seja ideológico, isto é, que a própria constituição do sentido (e do sujeito do discurso) se dá pela
via da ideologia. “Portanto, não é a extensão que delimita o que é um texto. É o fato de, ao ser
referido à discursividade, constituir uma unidade em relação à situação.” (ORLANDI, 1999, p. 39).
ASPECTOS METODOLÓGICOS
REFERÊNCIAS
FERNANDES, Adriana Hoffmann.“A professora disse que hoje não vai ter aula e que é filme” – A
obrigatoriedade de ver filmes e o cineclube como acesso formativo aos filmes: um desafio a partir
da legislação.In: FRESQUET, Adriana et al. (Org.). Cinema e educação: a lei 13.006, reflexões,
perspectivas e propostas. Belo Horizonte: UNIVERSO PRODUÇÃO, 2016. 215 p. Disponível em:<
http://www.universoproducao.com.br/cineop/10cineop_2015/Livreto_Educacao10CineOP_W
EB.pdf>. Acesso: em 28 fev. 2023.
GERALDI, J. W. Escrita, uso da escrita e avaliação. Em.(org.) O texto na sala de aula – leitura e
produção. 2.ed., Cascavel: Assoeste, 1985.
Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP). Censo Escolar,
2022. Brasil: MEC, 2023.
NARZETTI, C. N. P. A formação do projeto teórico de Michel Pêcheux: de uma teoria geral das
ideologias à Análise do discurso. Dissertação. Mestrado em Linguística e Língua Portuguesa.
Araraquara, São Paulo: Faculdade de Ciências e Letras – UNESP, 2008.
SANTOS, Maria Angélica dos; BARBOSA, Maria Carmen Silveira; LAZZARETI, Angelene. À
luz da Lei. In: FRESQUET, Adriana et al. (Org.). Cinema e educação: a lei 13.006, reflexões,
perspectivas e propostas. Belo Horizonte:UNIVERSO PRODUÇÃO, 2016. 215 p. Disponível em:<
http://www.universoproducao.com.br/cineop/10cineop_2015/Livreto_Educacao10CineOP_W
EB.pdf>. Acesso: em 28 fev.2023.
TOURINHO, Irene. Educação estética, imagens e discursos: cruzamentos nos caminhos da
prática escolar. In: MARTINS, Raimundo; TOURINHO, Irene. Educação da Cultura Visual:
narrativas de ensino e pesquisa. Santa Maria, UFSM, 2009.