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TEMÁTICA DE INVESTIGAÇÃO: A Construção (ou desconstrução) de relações pedagógicas

por meio da língua

TÍTULO DO PROJETO: Abismos ou pontes?: A relação da língua para a construção de


relações pedagógicas entre professores e alunos do Ensino Médio em escolas públicas

Área de Concentração: Educação

Linha de pesquisa: Sociedade,


Cultura, Processos Educativos
Conhecimento e Educação e Formação de Professores
1. APRESENTAÇÃO DO PROBLEMA DE PESQUISA E SUAS QUESTÔES

Um dos grandes obstáculos na educação dos alunos do Ensino Médio são as relações
sociais que estabelecem não apenas com seus colegas, mas com toda a comunidade
pedagógica, principalmente seus professores. Esse projeto considera que a principal mediadora
dessas relações sociais é a língua, instrumento, mutável, adaptável e de empoderamento social
para a transmissão de conhecimentos democraticamente reconhecidos.

Nesse sentido, vale dizer que ela (a língua) pode operar como mediador ou opressor
do processo de conhecimento. Foucault (e sua participação nesse projeto se resume nessa
citação apenas), discorre de maneira interessante sobre processos de censura da língua e
controle dos corpos quando diz que para algo ser dominado “[...] no plano real, tivesse sido
necessário, primeiro, reduzi-lo ao nível da linguagem, controlar sua livre circulação no discurso,
bani-lo das coisas ditas e extinguir as palavras que o tornam presente de maneira demasiado
sensível. [..]” (FOUCAULT, 1999, p.21).

Cada geração, sabe-se, comunica-se de uma maneira e, por isso, pode ser que o
processo de ensino-aprendizagem sofra com esse abismo criado pela falta de comunicação
efetiva entre professores e alunos, no sentido de compreensão. Isto posto, será pesquisado
primeiro qual tipo de linguagem alunos e professores usam; depois, quais termos são usados
em sala de aula; de que maneira essas diferenças de linguagem auxiliam ou prejudicam o
trabalho do professor e, por último, como professores e alunos podem encontrar-se apesar
desse gap geracional, para melhor relacionar-se nos ambientes pedagógicos e,
esperançosamente, melhorar o ensino para o aluno e o trabalho para o professor.

2. JUSTIFICATIVA
Cada geração comunica-se de uma maneira que, no geral, difere da outra. Com os
avanços midiáticos, a educação também precisou adaptar-se, principalmente no período
pandêmico. Durante a pandemia, os meios pedagógicos atualizaram-se, bem como a conduta
dos professores com relação a seus métodos e meios de ensino: fez-se necessário tomar
conhecimento de vários tipos de instrumentos e plataformas tecnológicas, repensar os meios
de avaliação e, principalmente, de repassar os conteúdos para o objeto de ensino – os alunos.

Houveram pesquisas amplas e variadas sobre qual o impacto da tecnologia na


educação, mas o que motiva esse projeto não é a existência de pesquisas educacionais, mas a
falta dela; parece paradoxal, mas não se encontra pesquisas de campo que discorrem sobre a
importância da língua no processo de ensino aprendizagem. Ora, como é possível ensinar sem
usar a língua ou a linguagem? Nesse sentido, é pertinente dizer que, sendo a língua mutável, é
preciso adaptá-la, assim como foram adaptados os métodos e meios de ensino.
A definição dicotômica da língua em culta e informal parece limitadora e insuficiente
para definir tudo aquilo que conhecemos por variedades. A pluralidade da língua é indiscutível
e ela também serviu de instrumento de opressão e domínio de povos, nesse sentido, por que
não a considerar como potencializadora ou limitadora do processo de ensino em sala de aula?
Afinal de contas, se o professor não compreende os alunos e não consegue comunicar-se
efetivamente com eles, como esperar que o objetivo do ensino seja alcançado? Como ensinar
sem se fazer entender?

Esses questionamentos, fazem com que a escolha desse tema de projeto seja, na visão
de quem o escreve, pertinente, atual e de realização positiva para contribuir com o aumento do
trabalho acadêmico intelectual.

3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL


Identificar como o uso da língua se relaciona com o ensino aprendizagem que ocorre
em sala de aula, a fim de compreender se suas variantes podem causar proximidade ou
distanciamento entre alunos e professores, se abismos ou pontes são construídos entre ambos
os lados do processo de ensino. Além disso, também objetiva-se que uma certa espécie de
catarse seja realizada, com o intuito de fazer com que os professores repensem suas práticas,
bem como auxiliar os alunos a adaptar seu discurso e empoderar-se através do uso da língua.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

a) Refletir acerca do uso da língua em sala de aula e suas possíveis adaptação para tornar
o ensino mais efetivo;
b) Compreender, com base nas pesquisas realizadas, qual o real tamanho do afastamento
causado pelo uso diferenciado da língua por estudantes e professores;
c) Investigar, em sala de aula, os processos de ensino e os instrumentos facilitadores deste,
a fim de descobrir se a língua é ou não é considerada instrumento relevante para os
professores e alunos;
d) Descobrir como os professores e alunos se sentem com relação à dinâmica em sala de
aula, no que diz respeito à comunicação estabelecida entre as partes;
e) Encontrar possíveis saídas e meios para melhorar a relação entre professores e alunos,
bem como a democratização e abstração dos conteúdos programáticos, sempre tendo
como foco o uso da língua como instrumento social.

4. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA
A língua é social e histórica, o que significa dizer que ela muda conforme os processos que
ocorrem ao longo dos milênios, séculos, décadas, anos, meses... Sobre esse processo histórico,
Gramsci (1991, p.130) discorre que é necessário valorizar a “[...] soma de esforços e de sacrifícios
que o presente custou ao passado e que o futuro custa ao presente, para a concepção da atualidade
como síntese do passado, de todas as gerações que se projeta no futuro.”

Frigotto (2010, p.250) afirma que a escola trabalha como mediadora da luta de classes e,
nesse processo, “justifica a situação de explorados e, ao impedir o acesso ao saber elaborado,
limita a classe trabalhadora”. Assim também é a língua que, segundo Bakhtin só pode ser ensinada
se for levado em conta o

horizonte espacial comum dos interlocutores, ou seja, de todos aqueles que


participam de alguma forma do ensino de língua na escola; o conhecimento e a
compreensão comum da situação por parte desses interlocutores, que se pode
resumir no fato de que esse ensino enfrenta impasses; a avaliação comum que
requer uma reflexão sobre ensino, escola [...] (BRAIT & MELO, 2005, P.70).

Assim, pode-se dizer que a língua, sendo social, também atua como instrumento mediador
da luta de classes porque, segundo Karl Marx e Friedrich Engels (2002, p.21) “a história da
sociedade até os nossos dias, é a história da luta de classes”. A escola, enquanto instituição que
se relaciona diretamente com a sociedade e é moldada na mesma medida em que a molda, também
reproduz a relação dialógica estabelecida pela luta de classes.

Então, se o objetivo do professor é ensinar e democratizar o conhecimento de modo que


seus alunos tenham acesso a educação de qualidade, agindo como mediadores do processo de
ensino-aprendizagem, é preciso se fazer entender e, mais que isso, compreender seus alunos,
estabelecendo relações pedagógicas válidas em sala de aula. Para isso, há uma barreira a ser
rompida: a língua, que precisa ser usada a favor do professor, a fim de que se comunique melhor e
adequadamente com seus alunos, enquanto, ao mesmo tempo, dá a seu aluno a capacidade de
adaptar sua linguagem de acordo com o contexto ao qual está inserido.

Ora, não era a partir de contextos, afinal, que Paulo Freire ensinava? Ensinou homens e
mulheres a ler e a escrever usando palavras de seu contexto e dia a dia. Por que, então, professores
do Ensino Médio resistem a adaptar seu discurso para criar pontes entre eles e seus alunos? Por
qual motivo acredita-se que apenas a linguagem culta é válida, sendo que convivemos em diversos
contextos sociais? Não seria prudente, então, comunicar-se com seus alunos de modo a mostra-
los que a língua pode ser adaptada e varia conforme os contextos sociais que estamos inseridos?

É compreensível que o professor sinta medo de mudar aquilo que vem sendo feito
historicamente em sala de aula, ou que acredite que uma aproximação linguística com seu aluno
pode causar certa perca de autoridade em sala de aula. Mas, como Paulo Freire uma vez apontou,
“o medo da liberdade, de que necessariamente não tem consciência o seu portador, o faz ver o que
não existe. No fundo, o que teme a liberdade se refugia na segurança vital [...] preferindo-a à
liberdade arriscada” (FREIRE, 1987, p.3).

Cabe, portanto, ao professor mostrar a seus alunos que a aprendizagem não pertence
apenas às elites e, de maneira subjetiva, considera-se e tenta-se provar por meio da pesquisa
proposta neste projeto, que a língua é o pontapé inicial para esse processo, visto que ela é que
constrói e solidifica as relações pedagógicas e que, dentre os adolescentes e professores tende-se
a criar-se um vão social. Desse modo, espera-se conseguir, com base e durante a pesquisa, auxiliar
e compreender o processo de melhoria e eficácia do ensino, que segue sendo bombardeado por
projetos que visam tirar dele o caráter humano.

5. METODOLOGIA DA PESQUISA
A metodologia utilizada neste projeto será variada: ela é, em sua essência, exploratória, já
que, apesar de existir, o problema de pesquisa será delimitado com base nas pesquisas feitas em
salas de aulas públicas do Ensino Médio. Será também constantemente bibliográfica, por meio de
pesquisas em livros, artigos, papers e documentos pertinentes ao assunto aqui pesquisado; além
disso, também tem caráter quali-quanti, porque serão usados questionários, mas a interpretação de
quem os aplica também será lançada mão. Por fim, toda ela será em forma de pesquisa de campo,
porque faz necessário estar em contato com alunos e professores para realiza-la.

6. CRONOGRAMA

MÊS/ANO AÇÕES
MARÇO/2023 Participação em disciplinas e escritura da dissertação (que sempre será feita
em segundo plano).
ABRIL/2023 Elaboração da entrevista para aplicar com professores e alunos.
MAIO A DEZEMBRO/2023 Aplicação das entrevistas.
JANEIRO A MARÇO/2024 Transcrição e análise das respostas e resultados das pesquisas realizadas.
MARÇO AO FIM DO Pesquisa bibliográfica, reuniões com orientador e escritura da dissertação,
PRAZO DE ESCRITURA DA já com os resultados em mão, com a intenção de qualifica-la e defende-la,
DISSERTAÇÃO dentro dos prazos.

7. REFERÊNCIAS
BRAIT, Beth & MELO, Rosineide de. Bakhtin: conceitos-chave. São Paulo: Editora Contexto,
2005.
FOUCAULT, Michel. A história da sexualidade 1: a vontade de saber. Trad. Maria Thereza da
Costa Albuquerque e J. A. Guilhon Albuquerque. 13. ed. Rio de Janeiro: Graal, 1999.

FREIRE, Paulo. Pedagogia do Oprimido. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987.


FRIGOTTO, Gaudêncio. A Produtividade da Escola Improdutiva: um (re)exame das relações
entre educação e estrutura econômico-social capitalista. São Paulo, 2010.
GRAMISC, Antonio. Os Intelectuais e a Organização da Cultura. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira,1991.
MARX, Karl & ENGELS, Friedrich. Manifesto do Partido Comunista. São Paulo: Boitempo, 2002.

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