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RESUMO
O cinema educativo, na década de 1920, foi assunto dos mais importantes, tratado
pelos dirigentes educacionais, vindo a ser tema de exposição no Rio de Janeiro
organizada por Cecília Meirelles, que ocupava então a função de subdiretora técnica
da Instrução Pública. Para ela, os métodos são caminhos que levam às finalidades
educativas, são meios – no caso específico, a cinematografia educativa. Neste
sentido, Meirelles relata em entrevistas jornalísticas da época, as vantagens deste
equipamento no processo de ensino/aprendizagem no que tange aos valores
culturais, bem como às vantagens da leitura da imagem, passíveis de ser
aproveitadas pelo recurso que os filmes potencialmente dispõem para o ensino. A
problemática central tem como objetivo circunscrever a relação dos conceitos da
linguagem cinematográfica no cinema educativo sob o peso da escritura do
cientificismo/positivismo, a qual influenciou os aspectos centrais desta linguagem.
No início do século XX, a tentativa das oligarquias cafeeiras de revalorizar o seu produto
principal com a ajuda de dinheiro do Estado acarretou a deterioração e decadência do ensino
público, processo que culminou no final da República Velha (1930), pois faltaram verbas para
manter e difundir a estrutura escolar que os republicanos organizaram em prol do
desenvolvimento nacional.
Assim, os cafeicultores, sem mudar a constituição e as leis,fizeram arrochar a política salarial
dos professores, resultando na saída de profissionais qualificados e na substituição destes por
outros, de baixa qualificação. Esta situação ocasionou aumento no índice de reprovação e
evasão escolar e “a escola deteriorada não mais habilita para a cidadania; reduzida à
alfabetização a Escola perdeu sua função política”. E acrescenta:
O ideal democrático sempre teve na Escola pública a habilitação do cidadão para a
livre escolha de seus representantes. Encontrou um obstáculo intransponível que foi
a política salarial dos reacionários, que ao manterem os baixos salários tornou
impossível a Escola pública de boa qualidade. (FILHO, 1964:2)
Ainda hoje a política do arrocho salarial impera em nossas escolas públicas, o que,
conseqüentemente, reflete-se nas privadas.
Com o declínio da oligarquia do café, em 1930, ascende ao governo uma burguesia urbana,
surgindo uma nova aristocracia no Estado de São Paulo sem nenhum programa educacional.
Neste viés, os decretos-lei, bem como as determinações destes que deveriam ser
rigorosamente cumpridas, ficaram “esquecidos”. As escolas-modelo não proliferaram nos
moldes previstos e as vultosas verbas dirigidas a esta infra-estrutura, bem como os aparatos
tecnológicos que os métodos demandavam, tornaram-se um capítulo utópico em nossa
história.
Mas se pretendeu uma revalorização cultural das escolas com o Decreto nº 5828 de 4 de
fevereiro de 1933, que criou uma escola com bibliotecas e filmotecas.Neste sentido, o cinema
educativo foi um importante e poderoso instrumento educacional.
O cinema educativo, na década de 1920, foi assunto dos mais importantes, tratado pelos
dirigentes educacionais, vindo a ser tema de exposição no Rio de Janeiro organizada por
Cecília Meirelles, que ocupava então a função de subdiretora técnica da Instrução Pública.
Jonathas Serrano, personagem importante na defesa e sistematização do cinema educativo em
nosso país, foi quem promoveu a referida exposição, conforme explica a organizadora em
entrevista ao Jornal do Comércio uma semana antes da abertura da referida Exposição:
A subdiretora técnica da Instrução, tomando a iniciativa de promover uma exposição
de cinema educativo, que será inaugurada na próxima semana, ocupando várias salas
da Escola “José de Alencar”, no largo do Machado, pôs em foco um dos problemas
mais interessantes dos novos métodos de ensino e educação, cujo emprego,
entretanto, por motivos mais de ordem econômica, não tem sido ainda, mesmo na
Europa e nos Estados Unidos, desenvolvido na amplitude permitida pelo atual
progresso da cinematografia.
A exposição, promovida pelo Sr. Jonathas Serrano, além de reunir elementos de
todas as procedências a serem observados pelo professorado, vai também
proporcionar ao público uma oportunidade para compreender a importância desse
poderoso instrumento educativo que já está sendo introduzido, com vantajosos
resultados, nas escolas primárias cariocas, apesar da escassez de recursos da
municipalidade.
O JORNAL, completando as informações que já tem publicado a respeito desse
certame, entrevistou ontem a senhora Cecília Meirelles, professora da Escola de
Aplicação e membro da comissão encarregada da propaganda da exposição.
_ “A reforma Fernando de Azevedo – disse, de início, a professora – empresta ao
Distrito Federal o prestígio de poder colocar-se ao lado dos países evoluídos que,
vendo na criança o valor da civilização futura, fazem a sua renovação social,
cultural, filosófica, por intermédio e antecipação do processo educativo.
Esta reforma não é, internacionalmente, uma reforma de métodos. É uma reforma
daquilo que, no ensino, é a própria essência. Como, porém, os métodos são os
caminhos que conduzem a essa alta finalidade, é natural que esses caminhos sejam
também diferentes dos das rotinas antigas, como o obriga o ambiente de constante
atualidade que a reforma espontaneamente requer. (JORNAL DO COMÉRCIO,
28/8/1929)
Para Cecília Meirelles os métodos são caminhos que levam às finalidades educativas, são
meios – no caso específico, a cinematografia educativa. Neste sentido, relata primeiro as
vantagens deste equipamento no processo de ensino/aprendizagem no que tange aos valores
culturais, bem como às vantagens da leitura da imagem, passíveis de ser aproveitadas pelo
recurso que os filmes potencialmente dispõem para o ensino:
Um dos elementos de mais imediata importância nas escolas de hoje – continuou a
Sr.ª Cecilia Meirelles – é o cinema educativo. Ao lado do “learning by doing” das
escolas americanas, poder-se-ia inscrever também o “learning by seeing”. Porque,
na verdade, nós, e as crianças, também aprendemos vendo. Há uma generalizada
cultura popular que em grande parte se deve a essa difusão de conhecimento que o
cinema-diversão insensível mas progressivamente faz.
O cinema nos mostra paisagens de todas as zonas, animais de todas as faunas,
costumes de todos os tempos e regiões. O espírito das épocas e das raças se faz
evidente através dos filmes históricos. E os tempos atuais, com os mais recentes
inventos, com as mais arrojadas aventuras, podem ser vividos e compreendidos em
toda a sua intensidade dentro de poucos minutos sobre uma tela próxima”.
Além de instrutivo, o cinema pode ser considerado até curativo, quando projeta um
Buster Keaton, e filosófico, quando apresenta Chaplin.
Mas o que interessa ao professor, em primeiro lugar, é que a criança, como o adulto,
ou mais que ele, aprecia via mente o cinema. Isso, não mais, seria suficiente para
afirmar que o cinema é uma necessidade das escolas.
Todos que já tiveram oportunidade de fazer uma projeção luminosa numa escola,
qualquer que fosse o assunto, hão de ter observado o seguinte: que o simples fato de
pôr ao alcance da criança o cinema ou a simples projeção fixa tem para a criança
uma realidade tão grande que as menorzinhas tentam pegar com as mãos as figuras
projetadas: que, após uma projeção, a lembrança das imagens vistas é mais nítida e
mais duradoura que a das mesmas imagens oferecidas por meio de uma lição falada,
e mesmo pela simples apresentação de figuras. Chego a crer que as coisas vistas por
esse meio sejam mais bem observadas que na natureza .
E um dos fatores básicos é talvez que a criança vai para a sala de projeções com
alegria. E a alegria é uma condição favorável para aprender bem, porque é um
estado orgânico de superatividade em que, com todas as energias elevadas ao mais
alto grau, o indivíduo fica com a sua capacidade elevada também ao máximo.
(Idem)
Desta maneira, Cecília Meirelles coloca a inserção do cinema educativo como necessidade
oriunda da própria relação evolutiva do homem e das vantagens desta tecnologia no ensino,
tornando-se uma necessidade natural, capaz de aproximar distâncias em tempos recordes,
ressaltando a riqueza do ensino pela imagem:
A introdução do cinema nas escolas não obedece, pois, a um capricho da moda ou a
qualquer intenção apenas decorativa. Obedece a uma necessidade natural a que as
circunstâncias do progresso humano podem atender.
Se a nossa vida se resumisse no lugar que habitamos e nas coisas que estão mais
perto de nós. (...) Mas a vida se desenvolve em campos mais vastos. Nós temos de
conhecer todo o mundo, e todos os homens, para compreendermos certas coisas
universais. E o cinema, o cinema bem orientado, bem organizado e bem dirigido
(orientado nas seleções, organizado de acordo com as capacidades a que se destina,
e dirigido conforme as oportunidades), pode ser como um grande livro ilustrado, que
a criança interessadamente lê, metade nas legendas, metade nas figuras. Sem
esquecer que o cinema falando completará ainda mais o ideal pedagógico
transportando a criança, como num sonho, para ambientes, como se o fizesse
realmente, dentro da vida. (MEIRELLES, apud idem)
Nesta entrevista, Cecília Meirelles comenta que algumas escolas no Rio de Janeiro já estavam
fazendo uso de alguns aparelhos de cinematografia e de projeção. E acrescenta que ainda não
estavam sendo utilizados filmes, dado que ainda não eram completamente adequados, mas
que não era possível exigir mais em tão pouco tempo. Entretanto, a Exposição
Cinematográfica que ela organizava possibilitaria ao professorado se atualizar acerca de
aparelhos cinematográficos, bem como do seu funcionamento e outras informações.
A Escola José de Alencar, no Largo do Machado, foi o local que sediou a Exposição. Foi
escolhida esta escola porque nela também seria abrigado o Museu Pedagógico Central. A
Exposição Cinematográfica exibiria ainda equipamentos diversos que poderiam ser utilizados
no ensino, como descreve Meirelles:
os aparelhos existentes nas escolas primárias, fotografias de escolas, aspectos de
aulas, reuniões de Circuito de Pais, sopa escolar, copo de leite, gabinetes médico e
dentário, enfim, todos os melhoramentos que, em benefício das crianças, foram e
estão sendo introduzidos nas escolas. Além disso, deverão os inspetores apresentar
gráficos estatísticos ou informações sugestivas de qualquer obra de iniciativa do
distrito. (Idem)
Vai abaixo a listagem dos expositores, bem como os objetos que apresentaram:
Vestíbulo – Escola Visconde de Mauá: - Expõe modelagens em gesso, mecânica,
mecânica agrícola, trabalhos em madeira (entalhação, torneira etc.), produtos de
apicultura e avicultura. Laticínios.
Escola Riyadavia Correia: (profissional feminina) – Modelagem de frutas, legumes
etc. Flores artificiais.
Escola Orsina de Fonseca (profissional feminina) – Uma grande cesta de rosas.
Narcisos.
Escola Paulo de Frontin (profissional feminina) – Além de rendas, chapéus etc.,
expõe interessantes fotografias de alunas copiando, no Jardim Zoológico, atitudes de
graças, para a confecção de um painel, também exposto.
Escola Visconde de Cayru: (profissional masculina) – Uma vitrine, e trabalhos de
tornearia.
Escola Bento Ribeiro (profissional feminina) – Flores.
Instituto João Alfredo (profissional masculina) – Apresenta instrumentos de
eletrotécnica e fotografias de interiores das suas oficinas, com aspectos de alunos
trabalhando.
Escola de Comércio (Amaro Cavalcanti) – Catalogação de produtos agrícolas e
industriais.
Escola de Aplicação (primária) – Desenhos – contribuição infantil.
Escola Álvaro Baptista (profissional masculina) – Apresenta a edição da Lei e
Regulamento do Ensino, em vitrines também executadas nessa escola.
O professor Delgado de Carvalho expõe estereogramas para o estudo da geografia
física.
Primeira sala – Aparelhos de projeção fixa – Expositores: Luiz Ferrando: 3
aparelhos tipos 5F, 5C, 4B. Epidioscópio Leitz.
Meister Irmãos: 2 epidioscópios, 1 episcópio, 1 microprojetor, 1 banco óptico.
Casa Lohner: 1 epidiascópio, 1 aparelho para filme fixo e dispositivos de vidro, 1
aparelho para dispositivos de vidro, 1 aparelho Zeiss.
Theodoro Wille: 1 epidiascópio, 1 aparelho para filmes fixos.
A subdiretoria Técnica expõe 1 fenaticópio de Plateau (...) e 1 plenakásticor.
Segunda sala - A Segunda sala foi reservada para a exposição de plantas, fotografias
e maquetes das novas edificações escolares e encerra projetos da Escola Normal
quase concluída, grupos escolares de Copacabana e “Estados Unidos”, Escola
Debeis, quase pronta, e o novo prédio da escola Rivadávia Corrêa, e maquetes desta
mesma escola e da “Paulo de Frontrin”. Estão também expostas fotografias dos
grupos escolares. “Argentina”e “Uruguai”, mostrando aspectos de quase todas as
dependências. Há um esboço de grande painel, para ser executado em azulejos, que
será colocado no grupo escolar “Estados Unidos”.
Terceira sala – Nesta sala, acham-se os seguintes aparelhos e acessórios do tipo
Pathé Baby: um aparelho para filmes de 10 a 20 metros, com corrente elétrica, com
um dispositivo super-Baby para filmes de 100 metros; com um magneto, produzindo
a própria luz, uma moto-câmera para filmar, um aparelho super-Baby com motor,
um aparelho completo e moto-câmera, pertencentes ao 2º distrito escolar, e mais
condensador Pathex, lentes Hermagis, vitrolas portáteis etc.
Quarta sala – Na quarta sala as casas Lutz, Ferrando e Hermany instalaram na
primeira um gabinete médico e na segunda um gabinete dentário, de acordo com os
tipos adaptados pela Diretoria de Instrução.
Uma cadeira para otorrino, estojo para exame de vista, perímetro do contorno visual,
instrumental cirúrgico e quadro anatômico.
No gabinete dentário figuram um armário vestiário, um autoclave, um esterilizador
de água, gaze e curativos, um lavatório-modelo, aparelhos de diathermia e raios
ultravioleta.
Quinta sala – A Quinta sala está ocupada pela casa Lutz Ferrando com um gabinete
de esterilização, em que figuram tipos modernos de aparelhos dessa especialidade.
Nesta sala encontram-se ainda a instalação de “Copo de Leite” da Escola “José de
Alencar” e nas suas paredes, como nas da anterior, acham-se expostos quadros
murais reproduzindo aplicações de “centros de interesses” e fotografias relativas a
círculos de pais, aspectos de gabinetes médico e dentário, já instalados nas escolas
municipais.
Sexta sala – A Sexta sala, que é a mais vasta, foi reservada para os aparelhos de
projeção animada, tipos de maior alcance. Expositores: Urania-Film, com dois
aparelhos para grande metragem, dois de tipo médio, próprios para escola e um
portátil “Lehmania Kenetsch-Breslau; “A . E. G.”, com quatro aparelhos grandes
comportando 800 metros de filme, um portátil para 400 e um tipo médio; Óptica
Inglesa, com um projetor portátil De Vry, um aparelho pequeno da mesma marca,
projeção falada, do sistema Vitafone aparelhos da Kodak, de que a casa é
representante no Brasil e uma vitrola elétrica “Sonata”, de fabricação nacional,
acompanhada de discos reproduzindo peças cívicas; Pathé Fréres, com um aparelho
portátil de medida universal; Theodoro Willw, com um projetor portátil de medida
universal, marca “Monopol”, especial para escolas, um outro de medida universal
"H“hnu-Zeiss", um Kinobox para projeção fixa de filmes e um aparelho Kinox.
Figuram nessa mesma sala os seguintes aparelhos pertencentes a escolas municipais;
um “Magister”, da Escola “Nilo Peçanha”, e outro da Escola Normal, um Debrie,
pertencente à Sub-Diretoria Técnica, e outro da Escola “Amaro Cavalcanti”, um
Kinobox, da Sub-Diretoria Técnica que serviu durante a campanha contra a febre
amarela, ilustrando conferências médicas por todo o Distrito Federal; um Kinox
manual da Escola “General Mitre”, um Path’r Freires, da Escola “Quintino
Bocayuva”, um Kinox elétrico da Escola “Cesário Motta”; outro da Escola “Floriano
Peixoto”; dois kinoxes manuais, um da Escola “Prudente de Moraes” e outro
pertencente ao 16º distrito escolar; dois aparelhos “simplex”, um do Instituto
“Ferreira Vianna” e outro da Escola “Visconde de Mauá”.
A Embaixada Italiana expõe um aparelho de projeção animada “Impianto Littorio”.
A iluminação – A iluminação externa do edifício e das salas foi instalada pela
General Electric, empregando os sistemas de “luz direta difusa” e “semi-direta” com
o propósito de mostrar as vantagens de uma boa iluminação. A General Electric
contribuiu também com uma radiola, uma geladeira elétrica e um bebedouro
higiênico de água gelada, próprios para serviços de assistência escolar.
Material para secretaria – a casa Pratt cedeu, por todo o tempo de funcionamento da
Exposição os seguintes objetos da sua especialidade para os serviços de secretaria:
um bureau, um arquivo de aço, um duplicador “Gestetner”, uma máquina de
escrever. Além disso, pôs à disposição da Sub-Diretoria Técnica um especialista
para duas horas por dia, manejar o duplicador atendendo a qualquer serviço
necessário.
Programa para hoje – A Sub-Diretoria Técnica organizou para hoje o seguinte
programa:
Madeiras do Pará, filme do Museu Agrícola e Comercial, reduzido na metragem e
adquirido a Filmoteca da Sub-Diretoria Técnica. (Idem)
1
Fotografia positiva em filme para projeção (slide).
mediante subvenção irradiações de áreas dos seus programas informativos e
educativos.
Art. 138 – Anexo à filmoteca central existirá um pequeno laboratório para o serviço
de filmagem, revisão e restauração de filmes, e construção e reparos de receptores
de rádio. (Coleção das Leis e Decretos de 1890 a 1945, Tomo I a Tomo LV,
1933:317-8)
Marília Franco, professora doutora em cinema educativo na ECA/USP, aponta e explica este
fato:
Alguns compêndios propunham modelos de filmes educativos determinando desde
duração, uso do som, divisões no tratamento dos temas, até disposições
arquitetônicas de salas escolares audiovisuais. Todas essas regras, no entanto, longe
de sugerir à criatividade cinematográfica parâmetros produtivos, tornavam-se
“camisas-de-força” empobrecedoras e determinantes da “chatice” do cinema
educativo. (FRANCO, 1988:46)
Neste viés, Marília Franco, ao se indagar acerca das características do cinema educativo,
responde: filme educativo é chato (Idem, ibidem). Para concordar com Franco, basta assistir a
um destes filmes. E, se porventura apreciar mais de um, ficará notório que a estrutura
envereda para uma produção repetitiva, com pouca possibilidade de desprender-se deste
padrão.
O maior problema deste tipo de filme é “pouco cinema e muita educação”. Um bom filme é
aquele que respeita as linguagens cinematográficas, devendo os valores pedagógicos estar
associados às linguagens audiovisuais. Entretanto, a ausência de um produto mais elaborado,
criativo e sedutor, capaz de instruir sem abandonar a poesia intrínseca à linguagem
audiovisual, deveu-se ao empobrecimento e definhamento do seu projeto inicial, como aponta
Franco:
Incrível é o fato do movimento que começou há anos, dentro de um processo mais
amplo que definiu os rumos da educação brasileira, ter ficado tão completamente
atrofiado e inoperante. (Idem, ibidem)
Some-se a este produto cansativo para a sala de aula e à falta de uma política adequada (que
atuasse efetivamente) a falta de preparo do professor para usar o produto audiovisual. Apesar
de aceitá-lo na teoria, na prática “havia um grande preconceito contra o filme educativo e
contra o cinema e a TV de um modo geral”.
Este preconceito se dava pelo fato de os educadores conceberem como um perigo o encanto
que o cinema emana, situação esta que culmina com o afastamento da educação formal em
relação aos meios audiovisuais:
Esta postura determinou o enclausuramento do universo da educação formal à
influência das linguagens audiovisuais e à construção de um modelo próprio de fazer
mover-se o mundo, de mentirinha, numa sala escura com uma tela iluminada, estava
criado pois, o CINEMA EDUCATIVO. (Idem, ibidem)
Referências Bibliográficas
ALMEIDA, Joaquim Canuto Mendes de. Cinema contra cinema. Bases gerais para um
esboço de organização do cinema no Brasil. São Paulo: Limitada, 1931.
ANDRIES, André. O cinema de Humberto Mauro. Rio de Janeiro: Funarte, 2001.
BARBOSA, Ana Mae T. Bastos. Arte-educação no Brasil. São Paulo: Perspectiva, 1999.
____________(org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo: Cortez, 2001.
FARIA FILHO, Luciano Mendes de (org.). Arquivos, fontes e novas tecnologias: questões
para a história da educação. São Paulo: Autores Associados, 2000.
FRANCO, Marília da Silva. Escola audiovisual. 1988. Tese de doutorado apresentada à
Escola de Comunicação e Artes. São Paulo: Universidade de São Paulo.
FRANCO, Marília da Silva. Cinema e educação, p. 46.