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Os meios de comunicação social e a educação: desafios e possibilidades.

A trilogia de ficção científica conhecida como “De volta para o futuro” foi
lançada oficialmente no ano de 1985 e logo se tornará um fenômeno nas telas de cinema
de todo o mundo, além de se tornar um clássico para aqueles que apreciam a sete arte.
Em seu segundo filme a obra apresenta seus personagens principais, Marty McFly e
Doc Brown, se transportando para o ano de 2015 e se maravilhando com carros
voadores, calçados que amarram seus cadarços sozinhos e robôs, não se diferindo muito
da percepção que a população daquele período acreditava se tratar de um futuro
distante. Sabe-se que as coisas não fluíram totalmente da forma retratada no longa,
ainda não se pode ver um automóvel sobrevoando os céus das cidades, mas é certo
afirmar que a tecnologia desenvolvida pelo homem cada vez mais se expande pelo
planeta de maneira vertiginosa, culminando em diversas situações que para a atualidade
são rotineiras e pouco surpreendentes em alguns aspectos, como é o caso das redes
socias.
A primeira rede social da internet foi oficialmente lançada em 1997 sob o nome
de SixDegrees, a intenção principal do site seria a de permitir a experiência de criar um
perfil com seus dados pessoais, convidar amigos e também visitar outros perfis. De
certo, são ilustres as transformações que ocorreram conforme o passar de anos de
inovações oriundas da tecnologia, as redes socias adquiriram um papel ainda maior em
sua influência e reúnem milhões de pessoas logadas ao mesmo tempo mesmo que em
países distintos.
O uso destes meios se tornara benéfico em muitas ocasiões, como por exemplo,
ajudou famílias a se reencontrarem, disponibilizou um espaço para aqueles que
precisam de ajuda a encontrar um meio de receber doações, abrangeu os meios de
aprendizado com suas bibliotecas online e podcasts, além de figurar espaço de
descontração no dia a dia; contudo, quais as consequências para o uso desenfreado que
se faz dessas redes no cotidiano? Como esse meio pode tornar-se uma teia de alienação
e possibilidades? É possível encontrar um paralelo entre os meios de comunicação
social e a educação?
Podemos observar que com a introdução gradual da tecnologia para cada vez
mais pessoas, seu uso pode e deve ser utilizado em apoio as aulas práticas nas unidades
escolares, uma vez que através da internet o acesso à livros de diversos gêneros e
temáticas se torna cada vez mais fácil e rápido, e um amplo acesso a atividades
educacionais é encontrado com facilidade pelos educadores, tornando assim, o uso da
tecnologia um método de apoio ao acesso de materiais para leitura e estudo de maneira
geral. Entretanto, é válido ressaltar que ao se analisar o atual contexto econômico e
social das comunidades brasileiras a probabilidade de total integração do acesso à
internet para fins educacionais não se faz praticável para todos. Tal situação se
demonstrou ainda mais explicita com a eclosão da pandemia de covid-19, que
estabeleceu um regime no qual a população se limitou à esfera das aulas online que não
são acessíveis socialmente á todo indivíduo.
O sistema educacional, no que se refere à educação pública básica, não dispõe
amplamente do meio digital para auxiliar os alunos apesar das inúmeras facilidades que
o mesmo seria capaz de trazer para o cotidiano escolar, visto que é perceptível a falta de
viabilidade para implantação desse sistema nas redes escolares de ensino público, se faz
necessário abordar a problemática e realizar uma discussão em torno da disparidade
aparente quanto educação particular e a gratuita.
As doutrinas utilizadas no sistema educacional público brasileiro que se referem
a modalidade de ensino fundamental e médio, apresentam metodologias por vezes
defasadas e que limitam a criatividade dos alunos inseridos em seu meio. Em virtude da
estruturação de políticas individualistas e voltadas principalmente para o âmbito
econômico e a formação de mão de obra barata, assumisse um sistema de reprodução
baseado em um esquema governamental que prioriza a formação de um senso comum e
sua repetição, o que ocasiona a perpetuação de uma organização educacional com
graves falhas de infraestrutura.
Neste sentido, pode-se estabelecer uma análise alicerçada nas ideias pedagógicas
expressadas por importantes figuras da filosofia, uma vez que a mesma oferece base
para uma reflexão ligada à educação, o estudante e o educador pois ambas podem e
devem caminhar juntas, sendo a filosofia responsável por pensar qual tipo de ser
humano formar e quais os fins a serem atingidos com o processo educativo, e a
educação se preocupa em como atingir os fins propostos e quais instrumentos utilizar
para tal.
Para o filosofo grego Platão, a educação se relaciona diretamente com o bom
funcionamento social que a humanidade deve apresentar, pois a educação seria o meio
por onde o homem aprende a observar e compreender à todas as dimensões dispostas e
não somente a uma única – o senso comum, visando a construção de uma sociedade
justa e um ensino o mais próximo possível da comunidade, toda forma de ensino
deveria ser pública.
Não obstante, os meios de comunicação digital podem se demonstrar perigosos
mecanismos de doutrinação e alienação social, quando utilizados com objetivo de
propagar ideologias políticas em ambiente educacional. O cinema vem sido
frequentemente utilizado por professores durante suas aulas nos dias atuais, na medida
em que o filme, aparece como um bom ilustrador de conteúdo, sobretudo ligados às
humanidades, principalmente, à História. O cinema, se utilizado da maneira correta, se
constitui como um importante auxiliador no processo pedagógico, na medida em que o
filme, por estar presente na vida dos estudantes desde a infância, se mostra como uma
forma de estudo alternativa que permite o acesso ao conhecimento de maneira
descontraída e divertida por parte dos estudantes. A utilização de películas em sala de
aula é capaz de despertar o interesse ao conhecimento por parte dos estudantes, além de
facilitar na compreensão de conteúdos por se tratar de uma narrativa capaz de manter a
atenção do espectador jovem com mais facilidade.
Em síntese, há inúmeras vantagens de se utilizar o cinema em sala de aula, mas
há alguns cuidados a serem tomados quando se pensa em utilizar a sétima arte em
ambiente educacional, pois um filme, com seus elementos cinematográficos e sua
narrativa construída através de interesses pessoais de seus produtores e editores, possui
o poder de doutrinação. De acordo com Marcos Napolitano, historiador brasileiro que
dedica inúmeros trabalhos à relação que se estabelece entre História e Cinema, todo
filme possui uma ideologia a ser defendida ao longo de sua narrativa, e todo diretor e
produtor de cinema possui um objetivo claro ao produzir uma longa-metragem, uma
mensagem que se deseja passar a seu espectador de maneira sútil e não muito explícita.
Elementos cinematográficos como fotografia, iluminação, roteiro, trilha sonora e edição
ajudam neste processo, e são capazes de manipular as emoções e os sentimentos de seus
espectadores, conduzindo-os a pensar de determinada maneira através de uma narrativa
convincente que está sendo construída ao longo de toda a trama.
O nazismo e o fascismo foram justamente os principais regimes políticos da
contemporaneidade que muito se utilizaram do cinema para doutrinar suas massas. Na
Itália fascista da década de 1930, Mussolini fundou uma empresa cinematográfica
voltada à construção de obras cinematográficas repletas de um forte nacionalismo, que
buscava a exaltação de símbolos nacionais e a defesa de uma hegemonia da raça branca
acima de todas as demais, buscando alienar a grande massa e atrair novos adeptos a
ideologia fascista, que vinha experimentando um crescendo cada vez mais notável na
Itália no decorrer da primeira metade do século XX. Os nazistas também produziam
seus próprios filmes com o mesmo intuito da LUCE, e estes filmes eram exibidos em
escolas para se construir a chamada juventude hitlerista, com o intuito de educar as
gerações mais jovens aos ideais nazistas, por intermeio de filmes abertamente racistas e
antissemitas.
O nazismo também se apoderava do uso de noticias falsas, hoje chamadas de
Fake News, para doutrinar sua população, fazendo-os acreditar que aquilo que lhes eram
apresentados era a única verdade existente acerca de determinados assuntos, e
manipulando suas concepções de mundo e moldando a ideologia das grandes massas
por intermeio da propaganda. Quando se pensa em utilizar a internet para o ensino, é
necessário ter cuidado com as Fake News muito presentes na atualidade, pois elas ainda
se constituem como grandes instrumentos de alienação política e ideológica, e os alunos
devem ser instruídos a como identificar essas notícias falsas e formas de combate-las
através da investigação e da apuração dos fatos apresentados.
Apesar do cinema ser utilizado como propaganda política por regime
autoritários, ele ainda se constitui como uma importante ferramenta para o professor em
sala de aula, contudo, há algumas dificuldades que devem ser pensadas e consideradas
ao trabalhar com a sétima arte em ambiente educacional. Não se deve apenas exibir uma
película como mera ilustradora de conteúdo, sem que haja discussões mais
aprofundadas a respeito do que foi assistido. Abrir diálogos com os alunos acerca do
que estes entenderam sobre a mensagem principal que o filme desejou passar é um
caminho essencial, para que o professor possa visualizar como cada estudante em
especial interpretou o filme, na medida em que um mesmo filme pode abrir margens
para diferentes interpretações, algumas que até fogem da real intenção de seus
executores durante os processos de montagem fílmica. É importante também passar um
questionário a respeito do filme após a exibição, abrindo espaço para perguntas do tipo
quem produziu e dirigiu a película, em qual país e período histórico o filme foi
produzido, quais foram os recursos cinematográficos utilizados pela montagem do filme
para passar a mensagem que se pretendia, dentre outros questionamentos que podem
variar conforme os objetivos do professor.
Devemos pensar também nas dificuldades de se exibir um filme em sala de aula,
sobretudo em instituições públicas de ensino, que não possuem os materiais
tecnológicos necessários para a exibição de um filme em sala de aula, sendo que muitas
não possuem Datashow que permita a exibição do filme em sala de aula, além da
indisponibilidade de internet presenciada em muitos ambientes educacionais. Além
destes problemas técnicos, é preciso pensar também se o filme escolhido é longo demais
para ser exibido em apenas uma aula, e caso seja necessário, conversar com outros
professores para pegar uma aula emprestada, e assim, conseguir exibir o filme por
inteiro. É preciso também ficar atento à classificação indicativa do filme que se planeja
exibir em sala de aula, para que não se tenha o problema de trazer conteúdos impróprios
para a idade dos estudantes, evitando assim, conflito com os pais e com a diretoria da
escola.

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