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O jovem do Ensino Médio e as representações nos programas de entretenimento na

televisão: uma abordagem a partir do estudo da mídia-educação


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I. Título

O jovem do Ensino Médio e as representações nos programas de entretenimento na televisão:


uma abordagem a partir do estudo da mídia educação

II. Introdução

Diante do entusiasmo de utilizar, na educação, as novas tecnologias da informação e


da comunicação (TICs), principalmente o computador e a internet, nem sempre nos
lembramos de uma que também faz parte deste grupo: a televisão.
A expressão “novas tecnologias da comunicação e da informação” refere-se às
tecnologias mais utilizadas pelas pessoas - como televisão, rádio, computador e internet - e
podem ser um importante recurso no Ensino Formal (KENSKI ,2010).
Levantamento do Comitê Gestor da Internet no Brasil (CGI.br) mostra que, no país,
apesar do aumento do número de domicílios com computadores, a televisão permanece como
o equipamento mais presente nas residências (98%). Em seguida, aparecem o telefone celular
(88%), o rádio (79%) e, juntos, ocupando o quarto lugar (46%), os computadores de mesa, os
portáteis e os tablets (CGI.br, 2012).
Ainda que não seja este o seu objetivo principal, as TICS, através de suas mídias,
ensinam, e este ensino se dá através das representações, que são pontos de vista, recortes da
realidade, mas, não são a realidade. Pela tela da televisão e do computador sabemos de todas
as notícias, somos informados dos livros e músicas de maiores sucesso e interagimos com
pessoas de várias partes do mundo.
Considerando-se que, no Brasil, a mídia predominante, principalmente entre os jovens,
é a televisão e que muito do que é veiculado nela passa a ser copiado por eles ou serve como
orientação para suas vidas, faz-se necessário que, na escola, estes jovens recebam uma
educação também voltada para as mídias (KENSKI, 2010). Com isso, passarão de meros
espectadores e repetidores, para cidadãos mais críticos e reflexivos.
“A área interdisciplinar do conhecimento que se preocupa em desenvolver formas de
ensinar e aprender aspectos relevantes da inserção dos meios de comunicação na sociedade” é
a mídia-educação (SIQUEIRA, 2012).
Vale ressaltar que o ensino da mídia-educação também tem como sinônimos os termos
educação para os meios, educomunicação e literacia midiática.
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Uma das limitações do ensino da mídia-educação é o fato de esse tema ser ainda
desconhecido para a maioria dos professores brasileiros e, consequentemente, para os alunos;
embora já estejam sendo implementadas ações significativas como as desenvolvidas pela
Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), Universidade de São Paulo (USP) e,
recentemente, Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM).
Em 2008, teve início a criação, pela Organização das Nações Unidas para a Educação,
Ciência e Cultura (UNESCO), de um documento denominado Currículo de Alfabetização
Midiática e Informacional para Formação de Professores, que tem como um dos objetivos
ajudar os professores das mais diferentes partes do mundo neste processo de ensinar sobre as
mídias. O uso desse documento é uma possível solução para este problema, haja vista que
quanto mais se aprende sobre o assunto, melhor se conseguirá trabalhar em sala de aula e
melhores resultados serão obtidos.
Segundo a UNESCO o empoderamento das pessoas, através da alfabetização
midiática, provendo-lhes competências para acessar, avaliar e produzir conteúdos de mídia é
um pré-requisito necessário para promover o que estabelece o artigo 19 da Declaração
Universal dos Direitos Humanos:
Todo ser humano tem direito à liberdade de opinião e expressão; este direito inclui a
liberdade de, sem interferência, ter opiniões e de procurar, receber e transmitir
informações e ideias por quaisquer meios e independentemente de fronteiras
(WILSON, 2013, p. 16).
A reformulação curricular do Ensino Médio também está alinhada com a proposta da
UNESCO e está expressa na nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação – Lei 9.394/96. Ela
propõe que, no Ensino Médio, “sejam desenvolvidas as capacidades de pesquisar, buscar
informações, analisá-las e selecioná-las; a capacidade de aprender, criar e formular”
(BRASIL, 2002).
Após participar de oficinas e cursos sobre o ensino de mídia-educação e, diante de
todas essas informações, surgiram os seguintes questionamentos: o que os jovens brasileiros
sabem sobre as mídias? Como se relacionam com elas, mais especificamente, com a
televisão? Como constroem o significado do que assistem na TV e sua identidade como
membro de grupos sociais?
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III. Objetivos

Geral:
• Organizar e testar atividades de mídia-educação que tenham a novela televisiva
como foco, a partir das páginas de novelas no site da TV Globo, para alunos do
Ensino Médio que integram o programa social “Projeto dos meninos e
meninas”.

Específico:
• Criar um ambiente de educação crítica para a televisão usando páginas
corporativas e aplicativos web.
• Analisar as representações de gênero nas novelas e de que modo estas
representações mostram a realidade.
• Analisar o potencial educativo de uma proposta que tenha a novela como
conteúdo de ensino de leitura crítica, atendendo aos princípios que orientaram
a reformulação curricular do Ensino Médio.

IV. Justificativa

Vivemos em um mundo onde as mídias estão por toda parte. Os novos meios de
comunicação não substituíram os antigos. A televisão continua sendo o principal meio de
acesso à informação e de entretimento dos brasileiros.
De acordo com o CGI.br (2012), no Brasil, 40% dos domicílios têm acesso à internet,
contra 98% que possuem aparelho de televisão.
A televisão utiliza-se de vários mecanismos para estabelecer uma relação com o
público e apesar de as pessoas conseguirem ser bem racionais a respeito do que assistem, em
alguns programas de entretenimento ainda podem ser emocionalmente afetadas por isso.
O modo como somos vistos define, parcialmente, como somos tratados. O modo como
tratamos as pessoas é baseado em como as vemos, e este modo de ver vem das representações
(WILSON ,2013).
A representação nas mídias pode assumir diferentes formas. Assim, dependendo do
que será contado, os meios poderão dar mais ênfase a algum aspecto e desprezar outro. Ao
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fazermos a análise do que ficou de fora, é possível constatarmos que o dado desprezado é,
muitas vezes, mais significativo do que aquilo que foi considerado ou enfatizado.
Logo, ao alfabetizar os jovens em mídia-educação, ensinando-os a examinar as
representações, não se detendo apenas às imagens e texto, mas, também, no contexto em torno
da imagem, poderemos equipá-los com habilidades de raciocínio crítico, que os ajudarão a
construir suas opiniões, e não, apenas, a repetir discursos transmitidos pelos meios.

V. Referencial teórico

O ensino de mídia-educação já faz parte do currículo escolar de países como Estados


Unidos, Canadá, Inglaterra, França e Argentina. No Reino Unido, a educação para os meios
existe há mais de sessenta anos, sendo que o Prof. David Buckingham é, atualmente, uma das
principais referências em pesquisas envolvendo educação para os meios de comunicação e as
interações de criança e jovens com a mídia (GIRARDELLO, 1999).
A educação para a mídia preocupa-se com o ensino e a aprendizagem sobre os meios
(rádio, televisão, internet, etc. ), e não deve ser confundida com a aprendizagem através dos
meios (BUCKINGHAM, 2001).
O foco do trabalho de Buckingham sobre a prática do ensino para os meios é voltado
para o quê e como devemos ensinar sobre as mídias no ensino escolar.
Se, no início, a abordagem do ensino sobre a mídia buscou proteger as pessoas,
partindo do princípio de que elas seriam vítimas passivas da influência dos meios e que estes
eram malefícios que deveriam ser combatidos, atualmente, busca-se prepará-las para lidar
com estas experiências.
Esta preparação é feita a partir do conhecimento dos quatro conceitos chaves da mídia-
educação: linguagem, audiência (público), instituição e representação.
Atualmente é comum, pelo fato de os jovens e crianças conseguirem editar filmes e
acessarem com facilidade muitos equipamentos eletrônicos, as pessoas raciocinarem que se
eles estão usando tecnologia, eles estão fazendo educação para a mídia. Mas eles não estão.
De acordo Buckingham (2012, p.45) é um equívoco a “noção de geração digital - a
ideia de que a tecnologia produziu uma mudança geracional absoluta e fundamental e de que
jovens, hoje, em dia, são automaticamente hábeis em tecnologias ou letrados em mídias”.
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Ainda que a mídia seja uma força poderosa entre os jovens, eles estão absorvendo
todos estes meios de comunicação sem que haja uma orientação e reflexão. Para serem
alfabetizados em mídia, os jovens precisam adquirir conhecimentos, habilidades e
competências que os ajude a entender o papel da mídia em uma democracia, em acessar,
avaliar criticamente e produzir conteúdo (WILSON, 2013).
Assim, o emprego de uma “forma coerente e sistemática de educação sobre os meios
de comunicação deve ser vista como um componente essencial - na verdade, um pré-requisito
- da cidadania moderna” (BUCKINGHAM, 2001).

VI. Metodologia

Com base em seus objetivos, esta pesquisa é um estudo de campo, uma vez que será
realizada por observação direta e entrevista com o grupo. Ainda que a pesquisa seja
qualitativa, será usada a entrevista fechada ou questionário, que servirá como complemento
em relação às técnicas de aprofundamento qualitativo (MINAYO, 2008).
É descritiva, pois visa “a descrição das características de determinada população ou,
então o estabelecimento de relações entre variáveis” (GIL, 2009, p.4).
A amostragem desta pesquisa será formada por alunos de Ensino Médio, integrantes
do “Projeto dos meninos e meninas”.
O Projeto dos meninos e meninas existe em Uberaba desde 1993. É um programa para
a formação de crianças e adolescentes e, atualmente, é realizado em dois bairros na cidade de
Uberaba: Gameleira e Residencial 2000.
Para a execução dos objetivos da pesquisa, primeiramente, será feita uma leitura
exploratória sobre a origem da mídia-educação, os precursores, conceitos-chaves,
experiências em outros países e modelos de aprendizagem.
As informações obtidas a partir desta leitura servirão de fundamento para a coleta de
dados, organização, e teste das atividades de mídia-educação.
Para a criação da atividade será utilizado o material disponibilizado no site da TV
Globo, mais especificamente, cenas de novela. A partir destas cenas poderá ser escolhido um
personagem ou uma sequência de acontecimentos para análise.
Tanto o questionário quanto a atividade estarão disponíveis para acesso em um blog.
Deste modo estaremos utilizando as duas mídias mais utilizadas pelos jovens: televisão e
internet.
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Para complementar o questionário, as outras formas de coleta utilizadas serão a


observação direta e a discussão de grupo ou grupo focal. Com a aplicação desta técnica, que é
fundamentada na capacidade humana de formar opiniões e atitudes quando em interação com
outros indivíduos (MINAYO, 2008), será possível fazer uma comparação entre as respostas
individuais e do grupo.
Antes da discussão, os alunos deverão acessar o blog e assistir à cena selecionada. O
uso desta atividade baseia-se no fato de que “se todas as crianças na sua sala viram a mesma
telenovela na noite passada, por que não transformar aquilo em tema de uma discussão, ou de
um exercício dramático na sala no dia seguinte?” (BUCKINGHAM, 1999).

VII. Cronograma

Período de Realização
Atividades previstas
1ºsem. 2015 2ºsem. 2015 1ºsem. 2016 2º sem. 2016
Levantamento bibliográfico ✓ ✓ ✓ ✓
Montagem dos instrumentos de ✓
coleta
Pré-teste dos instrumentos ✓
Aplicação dos instrumentos ✓
Análise dos dados ✓ ✓
Escrita da dissertação ✓ ✓ ✓
Exame de qualificação ✓
Defesa da dissertação ✓
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VIII. Referências Bibliográficas

ANDRADE, Maria Margarida de. Introdução à metodologia do trabalho científico. 10. ed.
São Paulo: Atlas, 2010.

BEVORT, Evelyne; BELLONI, Maria Luiza. Mídia-educação: conceitos, história e


perspectivas. Educ. Soc., Campinas , v. 30, n. 109, Dec. 2009 . Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0101-
73302009000400008&lng=en&nrm=iso>. Acesso em 01 dez. 2013.

BRASIL. Ministério da Educação. Tv Escola / Salto para o futuro. Rio de Janeiro: s.ed.,
2013. Disponível em: <
http://www.tvbrasil.org.br/fotos/salto/series/15022720_MidiaEducacao.pdf>. Acesso em 30
nov. 2013.

BRASIL. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. Parâmetros curriculares nacionais:


ensino médio. Brasília: MEC; SEMTEC, 2002.

BUCKINGHAM, David. Crescer na era das mídias eletrônicas. Disponível em:<


http://books.google.com.br/books?id=24HvrpE1bdMC&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em 05 dez. 2013.

________.Media education: a global strategy for development. [S.l], 2001. Disponível em:<
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BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em 05 dez. 2013.

________. Precisamos realmente de educação para os meios? Revista Comunicação &


Educação, ano XVII, n. 2, jul/dez. 2012.

COMITÊ GESTOR DA INTERNET NO BRASIL (CGI.br). Pesquisa sobre o uso das


tecnologias da informação e da comunicação no Brasil – 2012. Disponível em: <
http://www.cgi.br/publicacoes/pesquisas/index.htm>. Acesso em: 30 nov. 2013.

GIL, Antonio Carlos. Como elaborar projetos de pesquisa 4.ed. São Paulo: Atlas, 2009.

GIRARDELLO, Gilka. Recriando a TV na sala de aula. [S.l.], 1999. Disponível em:<


http://www.nica.ufsc.br/entrevistas/entrevista_Buckingham.htm>. Acesso em 05 dez. 2013.

KENSKI, Vani Moreira. Tecnologias e ensino presencial e a distância. 9. ed. Campinas:


Papirus, 2010.

LOPES, Maria Immacolata Vassallo de. Pesquisas de recepção e educação para os meios.
Revista Comunicação & Educação. São Paulo n.6, p. 41-46, maio/ago. 1996.

MINAYO, Maria Cecília de S. O desenho do conhecimento: pesquisa qualitativa em saúde.


11 . ed. São Paulo: Hucitec, 2008.

SIQUEIRA, A. B. de; CERIGATTO, M. P. Mídia-educação no Ensino Médio: por que e


como fazer. Educar em revista. Curitiba: Editora UFPR, n. 44, June 2012, p. 235-254.
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UNIVERSIDADE FEDERAL DO TRIÂNGULO MINEIRO. BIBLIOTECA


UNIVERSITÁRIA. Manual para elaboração de trabalhos acadêmicos baseado nas
normas de documentação da ABNT. 2. ed. rev. e atual. Uberaba, 2013. 107 f. il.

WILSON, Carolyn. Alfabetização midiática e informacional: currículo para formação de


professores. Brasília: UNESCO, UFTM, 2013.

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