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I Educom Sul Desafios e Perspectivas

Organização de Eventos e a Prática de Relações Públicas pelo viés da


Educomunicação: uma ação de extensão universitária1

Gabriela ASSMANN2
Kalliandra Quevedo CONRAD3

Universidade Federal de Santa Maria, Santa Maria, RS

Resumo

Este artigo se propõe a abordar o processo desenvolvido e apresentar os resultados


alcançados com a oficina de Organização de Eventos, integrante do projeto de extensão
Educação Com & Para Mídia: uma prática de sustentabilidade social e política,
realizada na Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi4 durante os meses de
maio, junho e julho de 2010. A oficina foi ministrada pelas acadêmicas do 5º semestre
do curso de Relações Públicas da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM). A
metodologia utilizada é análise da oficina de Organização de Eventos Comunitários e a
revisão bibliográfica sobre educomunicação.

Palavras-chave

Relações Públicas; educomunicação; extensão universitária.

Considerações iniciais

Este trabalho pretende abordar o processo desenvolvido, bem como apresentar


os resultados alcançados com a oficina de Organização de Eventos ministrada por
acadêmicos do 5º semestre do curso de Relações Públicas da Universidade Federal de
Santa Maria (UFSM) na Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi durante
os meses de maio, junho e julho de 2010.
A referida oficina integrou o projeto de extensão Educação Com & Para Mídia:
uma prática de sustentabilidade social e política desenvolvido na Biblioteca Pública de
1
Trabalho apresentado no GT Artigos Científicos do I Educom Sul: Desafios e Perspectivas realizado nos
dias 24 e 25 de maio na Universidade Federal de Santa Maria.
2
Graduada em Relações Públicas e Mestranda em Comunicação Midiática na Universidade Federal de
Santa Maria (RS). E-mail: gabiassmann@gmail.com.
3
Graduada em Relações Públicas e Mestranda em Comunicação Midiática na Universidade Federal de
Santa Maria (RS). E-mail: kalliandraconrad@yahoo.com.br.
4
A Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi situa-se no bairro Santa Marta, na cidade de
Santa Maria – RS e pertence à Oitava Coordenadoria de Educação. A Escola dispõe de Ensino
Fundamental e Médio e aos finais de semana participa do projeto Escola Aberta.

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Santa Maria e na Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi sob a


coordenação do Prof. Valmor Rhoden e da Prof.ª Rosane Rosa, respectivamente.
Os objetivos do projeto eram: (1) proporcionar uma vivência de política pública
social e educomunicacional aos alunos da Faculdade de Comunicação Social (FACOS)
da UFSM ligados às disciplinas Mídia e Políticas Públicas e Comunicação e Cidadania;
(2) proporcionar o empoderamento comunicacional dos sujeitos envolvidos e; (3)
integrar a Comunicação como uma ferramenta interdisciplinar capaz de estimular não só
a aprendizagem dos sujeitos, como também sua participação social e política na
comunidade. A metodologia utilizada na oficina foi a Educomunicação que consiste em
uma proposta pedagógica que utiliza os meios de comunicação a serviço da educação,
sempre buscando, por meio da ação, tornar os indivíduos capazes de desenvolverem
uma comunicação dialógica com base na gestão comunicativa.
Neste artigo buscaremos, então, por meio da análise da oficina de Organização
de Eventos Comunitários da Escola Augusto Ruschi e de uma revisão bibliográfica
sobre educomunicação apresentar o processo desenvolvido durante a oficina. Nos
propomos ainda a verificar se este processo levou ao cumprimento dos objetivos do
projeto, proporcionando uma vivência educomunicacional aos alunos da FACOS
envolvidos no projeto e também, emancipando comunicacionalmente os alunos da
Escola Augusto Ruschi. Ou seja, proporcionando a eles um saber que auxiliasse na
organização dos eventos comunitários e escolares.
Ao cumprir com esses objetivos estamos nos encarregando também da extensão
universitária - um dos tripés da Universidade - e que é responsável por ultrapassar as
barreiras da sala de aula, proporcionando um contato com a comunidade local e
disponibilizando a esta o conhecimento adquirido com ensino e pesquisa.

A educomunicação e sua aplicação na prática

A Educomunicação é um campo de pesquisa, de reflexão e de intervenção social


relativamente novo e que busca utilizar os meios de comunicação a serviço da educação,
tornando os indivíduos capazes de desenvolver uma comunicação dialógica com base na
gestão comunicativa, sempre por meio da ação.

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(...) se há – ou tem de haver – algo que particulariza, caracteriza ou é


específico desse campo chamado de Educomunicação é a sua
capacidade de entrecruzar saberes, promovendo a interlocução ou a
conversa entre os que constroem e/ou se utilizam desses saberes.
(SOARES, 2006, p. 3)

Embora em um primeiro momento possa parecer que a Educomunicação se trata


simplesmente da junção entre Educação e Comunicação, é necessário entender que este
conceito ultrapassa esses limites. A educomunicação se fundamenta, principalmente na
ação, pois é por meio da participação dos indivíduos envolvidos que o processo será
otimizado.
Como podemos ver em Soares (2002), a relação entre comunicação, tecnologias
da informação e educação pressupõe três diferentes abordagens: mediação tecnológica
na educação; educação para a comunicação; gestão comunicativa. Sobre a mediação
tecnológica na educação podemos dizer:
Este campo de estudo contempla o estudo das mudanças decorrentes
da incidência das inovações tecnológicas no cotidiano das pessoas e
grupos sociais, assim como o uso das ferramentas da informação nos
processos educativos, sejam os presenciais sejam os a distância.
(SOARES, 2002, p. 18)

Outra abordagem possível é a Educação para a Comunicação, esta com um viés


menos técnico e mais voltado a analisar a instância da recepção. O que importa aqui é a
análise do que o autor chama de pólos vivos da comunicação, ou seja, produtores –
processo produtivo – recepção das mensagens, buscando educar o indivíduo que se
encontra na instância da recepção. Assim, faz com que ele receba o conteúdo
comunicacional, especialmente o dos meios de comunicação de massa, de uma maneira
mais crítica. É através da mídia que as políticas públicas chegam ao conhecimento dos
cidadãos, são fiscalizadas e avaliadas. Entretanto, a mídia possui suas convicções e
ideologias próprias. Os jornalistas possuem seus pontos de vista e é através deles que os
cidadãos vão perceber o mundo. Cada fato transmitido ao público é moldado de acordo
com um olhar específico e, cada indivíduo, interpreta as informações que recebe de
acordo com seu repertório, suas experiências, seus valores. Entretanto, além de saber
analisar o que a mídia nos diz, é preciso saber ser crítico em relação aquilo que ela não
nos diz – os silenciamentos do discurso midiático.

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[...] Pois a maior influência que a mídia exerce sobre a política não é
proveniente do que é publicado, mas do que não o é, de tudo o que
permanece oculto, que passa despercebido. A atividade midiática
repousa sobre uma dicotomia: algo existe no pensamento do público
se está presente na mídia. O seu poder fundamental reside, portanto,
na sua capacidade de ocultar, de mascarar, de omitir (RAMONET; et.
al., 2007, p. 21).

E por fim, uma abordagem proposta pelos estudiosos da América Latina que
trata da gestão comunicativa, ou seja, a gestão da comunicação em espaços educativos.
Trata-se de um campo voltado para o planejamento e execução de
políticas de comunicação educativa, tendo como objetivo a criação e o
desenvolvimento de ecossistemas comunicativos mediados pelos
processos de comunicação e suas tecnologias. (SOARES, 2002, p. 24)

Este é um dos pressupostos básicos para os teóricos de educomunicação latino-


americanos, pois se procura convergir as ações para ampliar o coeficiente comunicativo
das ações humanas, ou seja, em termos mais simples, melhorar a comunicação humana.
Com base nestes conceitos e sabendo que pela perspectiva educomunicacional o
processo é muito mais importante do que os resultados definimos algumas metodologias
para ministrar a oficina, sempre procurando estar de acordo com a metodologia do
projeto: a educomunicação.

A prática de Relações Públicas: Organização de Eventos

Em 1955 a Associação Brasileira de Relações Públicas (ABRP) propôs o


seguinte conceito para a profissão: "Relações Públicas é a atividade e o esforço
deliberado, planejado e contínuo para estabelecer e manter a compreensão mútua entre
uma instituição pública ou privada e os grupos de pessoas a que esteja, direta ou
indiretamente, ligada". (ABRP, 1955)
A profissão é regulamentada no Brasil por uma legislação5 que estabelece as
diretrizes de atuação e as funções de Relações Públicas. Segundo estas leis, as
atividades básicas específicas de um profissional da área estão contidas em cinco
grandes segmentos: Pesquisa; Assessoria e Consultoria; Planejamento; Execução;
5
A lei nº 5.377 de 11/12/1967, o decreto-lei nº 860, de 11/09/1969, e os decretos nºs 63.283, de
26/09/1968, todos de âmbito federal, compõem a legislação que regulamenta a profissão de Relações
Públicas e seu exercício.

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Avaliação. No segmento de Execução, uma das funções específicas propostas consiste


em planejar e organizar eventos e promoções especiais. Ou seja, segundo a legislação
vigente no país, é ao profissional de Relações Públicas que cabe realizar este trabalho.
Sabendo disso identificamos planejamento e organização de eventos como uma
disciplina que mereceria destaque no projeto Educação Com & Para Mídia: uma
prática de sustentabilidade social e política. Identificamos também que os eventos
locais eram de grande importância para a comunidade escolar.
Com base na legislação e nos conhecimentos que adquirimos durante a
graduação nos sentíamos aptas a ministrar uma oficina com esta temática. Além disso, a
proposta parecia dar conta de atingir os objetivos do projeto, desde que fosse conduzida
da maneira correta.
Porém, para atingí-los não poderíamos abordar esta temática de maneira
tradicional, desconsiderando a realidade local. Por conta disso, todo processo de
construção da oficina se deu juntamente com os alunos envolvidos, buscando reforçar
sempre o conceito da ABRP, segundo o qual os Relações Públicas devem buscar manter
a compreensão mútua entre os envolvidos, e uma das premissas básicas da comunicação
comunitária, que reforça o exercício da participação direta, tornando os (antes)
receptores agora também produtores e emissores de conteúdo.
Está aí o âmago da questão da educação para a cidadania nos
movimentos sociais[7]6: na inserção das pessoas num processo de
comunicação, onde ela pode tornar-se sujeito do seu processo de
conhecimento, onde ela pode educar-se através de seu engajamento
em atividades concretas no seio de novas relações de sociabilidade
que tal ambiente permite que sejam construídas. (PERUZZO, 2002)

É neste sentido que a oficina de organização de eventos tinha a ideia de


empoderar comunicacionalmente os sujeitos participantes, possibilitando que
posteriormente organizassem eventos comunitários, como as festas da escola. Poderiam,
assim, deixar de ser meros participantes delas e tornarem-se produtores e atuantes do
processo com vistas a intervir na realidade local. Neste sentido, entra em questão o
conceito de políticas públicas sociais.
Segundo Demo (2007), política social pode ser conceituada do ponto de vista do
Estado como uma proposta planejada de enfrentamento das desigualdades sociais. E,
6
Nota da autora. Como também em outros espaços. Assim, estamos adotando esta perspectiva ao tratar da
educação para a cidadania no ambiente escolar.

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para Oliveira (2001), este conceito está relacionado ao conceito de cidadania. Esta, só
pode ser construída pela educação dos sujeitos que, ao se conscientizem de seus direitos
e deveres podem participar dos processos comunicativos do qual fazem parte.
O papel de relações públicas diante das políticas públicas e da construção da
cidadania encontra-se nesse aspecto, já que as relações públicas adquirem
“uma função estratégica no assessoramento da integração de ações
voltadas a uma política social capaz de resolver e/ou amenizar os
alarmantes problemas de fome, miséria, discriminação, violência,
corrupção, desigualdade social, entre outros” (OLIVEIRA, 2001, p.
2).

Como forma de discutir o papel da mídia e as formas de comunicação no mundo,


as políticas públicas são um mecanismo de regulação das práticas dos meios de
comunicação. É uma forma de torná-los públicos no sentido de servir ao interesse
público e não exclusivamente aos interesses mercadológicos. Ou seja,
se constituem em um conjunto de princípios e dispositivos processuais
consubstanciados, em última instância, em leis, normas e demais
mecanismos regulatórios que orientam o funcionamento dos meios de
comunicação, das tecnologias a eles associados e de seu papel público
na sociedade (PERUZZO, 2009, P.1).

Dessa forma, podemos observar dois aspectos. O primeiro, relacionado ao papel


da mídia e, o segundo, relacionado à postura dos profissionais de comunicação na
sociedade. Embora, o papel da mídia seja informar com qualidade, o que acontece é
uma concentração dos meios de comunicação de massa que impõe sua ideologia sob a
lógica do mercado e sob o pensamento neoliberal: o verdadeiro poder está atualmente
nas mãos de um punhado de grupos econômicos planetários e de empresas globais cujo
peso nos negócios do mundo inteiro parece, às vezes, mais importante do que o dos
governos e dos Estados (id., 2007).
Um dos caminhos para uma comunicação democrática foi apontado por Ignacio
Ramonet et. al.(2007), ao falar sobre a criação de um “quinto poder”. O “quinto poder”
tem por objetivo denunciar os superpoderes do monopólio dos meios de comunicação
que deixaram de defender os cidadãos no sentido de dar a eles informações éticas e de
qualidade.
A comunicação comunitária, não, necessariamente, visa à fiscalização/denúncia
dos monopólios de comunicação. Todavia, a trajetória e o desenvolvimento de políticas

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públicas comunicacionais e da comunicação comunitária modificaram as relações


existentes entre o campo midiático e a esfera social.
Assim, ao proporcionarmos o empoderamento comunicacional dos sujeitos,
podemos fazê-los cientes do seu direito à comunicação e à reivindicação de políticas
públicas sociais. Uma forma de provocarmos o desenvolvimento deste desafio aos
sujeitos é integrando o conhecimento acadêmico ao âmbito comunitário, através de
ações universitárias, como a oficina de organização de eventos.

A oficina de organização de eventos: uma ação de extensão universitária

As Universidades estão organizadas sobre três pilares: ensino, pesquisa e


extensão. A extensão foi o último pilar a integrar a o tripé e ainda carece de
investigações.
Segundo a Pró-Reitoria de Extensão da UFSM7: “Extensão universitária é o
processo de interação, intercâmbio e transformação mútua entre a Universidade e a
comunidade. Direciona as práticas acadêmicas para questões sociais, políticas,
econômicas e ambientais da sociedade”. A extensão é a responsável por aproximar a
Universidade da comunidade, disponibilizando que o conhecimento construído dentro
dos muros da Universidade seja transposto para fora deles.
Uma das maiores potencialidades da extensão é seu caráter emancipador, que vai
ao encontro do que Santos (2001) considera como conhecimento-emancipação. Segundo
o autor, o rigor científico não possibilita com que o indivíduo participe dos processos de
construção de conhecimento. Assim, a extensão tem como proposta aproximar esse
conhecimento científico e rigoroso do senso comum, possibilitando a participação dos
indivíduos com vistas a emancipá-lo.
Assim, os objetivos da extensão universitária vão ao encontro dos objetivos da
educomunicação e também dos objetivos específicos do projeto Educação Com & Para
Mídia: uma prática de sustentabilidade social e política. Com isto posto, detalharemos
a seguir a oficina de Organização de Eventos.

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Conceito disponível no site da Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Federal de Santa Maria
www.ufsm.br/pre. Acessado em 10/05/2012.

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A oficina foi realizada nos meses de maio, junho e julho de 2010 na Escola
Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi, localizada em Santa Maria – RS, no
bairro Santa Marta. Foi ministrada por Gabriela Assmann, Kalliandra Quevedo Conrad,
Rosiane Saldanha Rorato e Vanessa Carvalho de Silveira Guterres, acadêmicas do
quinto semestre do curso de Relações Públicas da UFSM.
A oficina é parte integrante do projeto de extensão Educação Com & Para
Mídia: uma prática de sustentabilidade social e política desenvolvido na Biblioteca
Pública de Santa Maria e na Escola Estadual de Educação Básica Augusto Ruschi sob a
coordenação da Prof.ª Rosane Rosa e Prof. Valmor Rhoden.
Havíamos estabelecido um cronograma e um plano de atividades que acabou
sendo todo readequado no momento em que chegamos à escola e encontramos somente
quatro alunos8. Nossa previsão era de trabalhar com cerca de quinze alunos. Em um
primeiro momento nos assustamos com a baixa procura da oficina, porém, discutimos a
proposta com os alunos participantes e percebemos que poderíamos adequar as
atividades e trabalhar de forma mais aproximativa.
Os encontros foram planejados com o objetivo não somente de desenvolver o
conhecimento sobre eventos e habilidades técnicas para a produção de eventos culturais,
mas, principalmente, desenvolver habilidades pessoais, como responsabilidade,
comprometimento, planejamento, organização, flexibilidade e criatividade. Para tanto,
as aulas foram planejadas visando atingir tais habilidades através de discussão do
conteúdo apresentado, abertura para questionamentos, distribuição de tarefas relativas à
Mostra das Oficinas, atividades práticas de cerimonial e protocolo e exercícios de
revisão, produção de release e avaliação.
Em conversas com os quatro alunos participantes discutimos sobre a
possibilidade de ao final da oficina realizarmos um evento para que eles pudessem
aplicar o que aprenderam. A partir do momento em que a ideia foi aprovada por eles
procuramos os Professores Coordenadores do projeto e também a Direção da escola
para tratar sobre essa possibilidade. Ficou definido, então, que seríamos responsáveis

8
Havia cinco alunos inscritos. Quatro alunos participaram da oficina, sendo três deles – Carolina, Bruno e
Edileusa – da oitava série do Ensino Fundamental. A aluna Luana, estava na sexta série do Ensino
Fundamental e não compareceu na maior parte das atividades propostas.

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por organizar a Mostra das Oficinas, evento que teria por objetivo mostrar a
comunidade o que havia sido feito nas oficinas do projeto.
Sentimos que no momento em que definimos que a realização deste evento seria
nossa responsabilidade os alunos tiveram um aumento na motivação e no
comprometimento. Havia um mês e quinze dias para organizar o evento e eles se
sentiam responsáveis pelo sucesso da Mostra. Podíamos sentir, por meio das conversas
com eles, que não queriam decepcionar os professores e a comunidade local.
Desta maneira cada encontro era dividido em duas partes. Na primeira parte
passávamos um pouco de teoria sobre planejamento e organização de eventos e após o
intervalo repassávamos uma das etapas que precisavam ser organizadas para o evento.
Após determinarmos tudo que precisava ser organizado explicamos para eles
como cada coisa deveria ser feita e deixávamos com eles a tarefa de fazer, organizando
um checklist que continha os itens – tarefa; responsável e prazo. Nos dispomos a ajudar
com tudo que fosse necessário e ao final do prazo conferíamos o que estava feito.
Por termos pouco prazo algumas das ideias iniciais acabaram não dando certo,
como a ideia de buscar patrocínio para financiar algumas necessidades. Ainda assim,
fizemos junto com os alunos um plano de patrocínio, para que eles soubessem fazer
quando fosse necessário.
Pudemos por meio dessa oficina passar por todas as fases de um evento: pré-
evento; evento; pós-evento. No pré-evento ocorreu o contato com músicos, com os
colegas das outras oficinas, a busca de equipamento técnico, de decoração, o envio de
convites, plano de patrocínio, releases de divulgação para a imprensa, elaboração do
cerimonial dentre outros. Já no evento estávamos registrando os acontecimentos e
preparados para agir caso qualquer imprevisto acontecesse. Além disso, a aluna
Carolina foi a mestre de cerimônias. No pós-evento cuidamos da desmontagem do
palco, de devolver o equipamento técnico aos responsáveis e de agradecer aos músicos
que haviam tocado gratuitamente.
Enfrentamos algumas dificuldades como a intervenção de terceiros na
organização do evento, ainda que com intuito de ajudar, porém com a união da equipe
todas as dificuldades foram superadas e o evento teve um grande público que
permaneceu na escola por período de tempo maior que o previsto, o que nos permite

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avaliar que o evento agradou, principalmente pelas bandas que foram convidadas para
se apresentar.
Um dos nossos maiores trunfos durante o processo de organização do evento foi
os contatos que os alunos tinham com os membros da comunidade local. Por conta
destes contatos conseguimos equipamentos emprestados sem nenhum custo, bandas que
se apresentaram sem cobrar cachê e impressão dos convites a custo zero. Isto foi
fundamental tanto para a realização do evento quanto para os o cumprimento dos
objetivos do projeto. O fato de se sentirem úteis e importantes fez crescer a autoestima
dos alunos envolvidos.
Na conclusão da oficina foi realizada uma avaliação de maneira informal. Nos
reunimos com os alunos e demos espaço para que eles falassem o que haviam
aprendido, o que a oficina havia agregado a eles. Foi extremamente gratificante ouvir
que o retorno havia sido muito positivo e podia até ser notado no dia a dia deles, como
do aluno Bruno, por exemplo, que era muito tímido e após a oficina já estava mais
sociável.
Depois também pudemos relatar a eles nossa experiência e fazer uma auto-
avaliação, destacando como isso havia transformado nossa vivência e nosso olhar sobre
a profissão que escolhemos, atuando agora de uma maneira mais global e que valoriza a
questão comunitária.
Dessa forma, analisando o planejamento dos encontros, percebemos que, embora
tenhamos passado por dificuldades e adaptações, os objetivos de cronograma e conteúdo
foram cumpridos com sucesso e se refletem no aprendizado dos alunos e nos resultados
apresentados.

Resultados alcançados

Como propusemos anteriormente, buscaremos verificar neste artigo, por meio da


análise da oficina, se com ela conseguimos alcançar os objetivos do projeto.
Os objetivos do projeto eram:
- Proporcionar uma vivência de política pública social e educomunicacional aos alunos
da Faculdade de Comunicação Social (FACOS) da UFSM ligados às disciplinas Mídia e
Políticas Públicas e Comunicação e Cidadania: no nosso caso especificamente podemos

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dizer que esse objetivo foi cumprido com êxito. Propiciar o aprendizado a alunos de
escola pública foi uma experiência única e diferente que fez com que saíssemos da
teoria para partilhar do conhecimento adquirido na prática. Assumir o papel ativo, de
produtores de conhecimento nos possibilitou ir além da técnica em planejar e organizar
eventos, mas também assumir uma postura madura, construindo o conhecimento e o
aprendizado juntos a cada aula, a capacidade crítica, a responsabilidade e o
comprometimento. Assim, a oficina foi uma oportunidade de superar desafios,
preconceitos e medos, e nos sentimos realizadas com o desenvolvimento e os resultados
do trabalho. Enfim, a Oficina de Eventos foi enriquecedora nos aspectos profissionais e
pessoais, atingindo os principais objetivos da profissão de Relações Públicas: construir
relacionamentos e buscar a compreensão mútua.
- Proporcionar o empoderamento comunicacional dos sujeitos envolvidos: pelos
relatos dos alunos e pelos resultado do evento realizado pela equipe entendemos que
conseguimos cumprir este objetivo. Os alunos sempre contavam com nossa ajuda, mas
grande parte das tarefas foram realizadas exclusivamente por eles. Conseguiram realizar
um evento bem sucedido, cumprindo as tarefas propostas em sua maioria com
resultados positivos. Além disso, pudemos perceber que ao final do processo eles
estavam mais pró-ativos, mais confiantes e mais responsáveis do que no início das
atividades. Por tudo isso entendemos que eles estão sim empoderados
comunicacionalmente.
- Integrar a Comunicação como uma ferramenta interdisciplinar capaz de
estimular não só a aprendizagem dos sujeitos, como também sua participação social e
política na comunidade: A organização da Mostra das Oficinas com o objetivo de
apresentar para a comunidade o trabalho realizado na Escola Augusto Ruschi foi
fundamental para o cumprimento deste objetivo. Ao proporcionar que os alunos
organizassem um evento comunitário utilizamos a comunicação como uma ferramenta
interdisciplinar com vistas a estimular a aprendizagem dos alunos e proporcionar a eles
uma participação real na comunidade em que residem e estudam.

Considerações finais

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O presente artigo se destinou a analisar a oficina de Organização de Eventos


comunitários ministrada pelas alunas de Relações Públicas da UFSM na Escola Augusto
Ruschi.
Por meio do detalhamento do processo e da revisão bibliográfica sobre os
conceitos chave deste artigo acreditamos que conseguimos apresentar um exemplo bem
sucedido do uso da educomunicação para o empoderamento de indivíduos.
Por ser uma iniciativa pioneira no Curso de Comunicação Social da UFSM,
enfrentamos algumas dificuldades e em alguns momentos algumas situações não saíram
como planejado, porém, consideramos que ainda assim o resultado foi positivo.
Este artigo não pretende estabelecer um modelo a ser seguido, pois acreditamos
que em educomunicação não existem modelos. É necessário analisar a realidade local
para então poder saber a melhor maneira de intervir nela e cumprir assim os preceitos da
educomunicação. O que pretendemos é contribuir com as discussões sobre os desafios e
as perspectivas de trabalhar com educomunicação no Brasil e acreditamos que por meio
das reflexões aqui colocadas conseguimos contribuir neste sentido.

Referências bibliográficas

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OLIVEIRA, M. J. C. O papel das relações públicas diante das políticas públicas. Disponível
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