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O VÍNCULO ENTRE METODOLOGIAS ATIVAS E OS PROJETOS DE


LETRAMENTO1

José da Paixão Ferreira da Silva2

RESUMO: Uma das características de um projeto de Letramento é trabalhar para achar


soluções ou intervenções que amenizem as adversidades enfrentadas por uma comunidade da
qual o estudante faz parte através da leitura e da escrita como práticas sociais. No mesmo
sentido, o emprego de metodologias ativas busca um ensino que desperte no estudante o
interesse e o prazer de vencer os desafios encontrados durante o processo de
ensino/aprendizagem, um sujeito que se envolva mais, que se mantenha motivado através de
problemáticas contextualizadas, demonstrando a preocupação dessa corrente pedagógica por
um ensino individualizado, mas sempre atento às necessidades coletivas, ou seja, pela busca
de soluções para o bem comum. Diante dessa relação, o presente ensaio tem como objetivo
refletir sobre a importância das metodologias ativas nos projetos de Letramento, pois essas
duas práticas apontam para um aprendizado pautado no aprender fazendo, ambas voltadas
para as situações reais que os estudantes encontram e/ou encontrarão em seu cotidiano. Para
tanto, lançaremos mão de teorias de grandes nomes das referidas áreas, tais como, José
Moran, Lilian Bacich, Magda Soares e Ângela Kleiman, dentre outros.

Palavras-chave: Metodologias ativas, projeto de Letramentos, ensino/aprendizagem

INTRODUÇÃO

Atualmente a leitura e a escrita são vistas como fundamentais para a formação de um


sujeito ativo na sociedade, dessa forma, o ensino de Língua Portuguesa deve ter seu foco
voltado para o desenvolvimento dessas duas habilidades/competências de modo que os

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Trabalho referente às atividades do Programa Residência Pedagógica 2022 dos graduandos do Curso de Letras-
Português da Universidade Estadual do Piauí.
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José da Paixão Ferreira da Silva: Residente Pedagógico/UESPI, 2022, sob a orientação da Profª. Dra. Rita
Alves Vieira. E-mail: jpfsilva@aluno.uespi.br
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estudantes as utilizem como práticas sociais (SOARES, 2004). Os especialistas definiram


inicialmente como Letramento no singular, mas devido à globalização que aproximou
rapidamente as diversidades culturais e ainda relacionado às inovações no processo de
comunicação advindas da tecnologia, onde as sociedades utilizam textos cada vez mais férteis
de semioses, textos que juntam a escrita com imagens e sons, por exemplo, fez com que o
NGL, Grupo de Nova Londres, complementasse o termo Letramento no singular para
Letramentos no plural, pois conforme falado, neste contexto a sociedade apresenta duas
dimensões a multiculturalidade e a multimodalidade textual e os objetivos do “Letramento”
não atendiam mais as necessidades da sociedade. Dessa forma, o grupo de estudiosos buscou
inovar as práticas tradicionais de leitura e escrita (NLG, 1996) e assim formar um sujeito
crítico e reflexivo.
Entretanto, ainda é necessário fazer com que os estudantes se interessem pela prática
da leitura e da escrita, que eles vejam a importância dessas duas práticas no dia a dia. Para
isso, o processo ensino/aprendizagem ancorado também em práticas tradicionais, deve
aproveitar das contribuições das novas práticas pedagógicas que as metodologias ativas
proporcionam, pois tais metodologias visam, dentre outros objetivos, fazer com que os
estudantes aprendam na prática através de atividades e desafios contextualizados com as
realidades encontradas fora da escola. Moran (2015) afirma, “a melhor forma de aprender é
combinando equilibradamente atividades, desafios e informação contextualizada”.
Portanto, busca-se um ambiente em que o aprendizado seja significativo para quem
está aprendendo. Os desafios fazem parte da vida das pessoas, logo é interessante desenvolver
nos estudantes habilidades e competências que os tornem capazes de superá-los, assim sendo,
a escola tem esse papel inicial de trazer desafios durante o aprendizado, e os aprendizes
buscarão ativamente as possíveis soluções às problemáticas propostas pelo professor.
Acredita-se que tais práticas serão levadas para o enfrentamento das diversas adversidades do
cotidiano, de modo que se tenha sujeitos capazes de propor intervenções aos problemas
sociais, econômicos e políticos que atingem a sociedade. Segundo Moran, “metodologias
ativas são caminhos para aprender através de problemas, pesquisas e descobertas, essa é ideia
básica.”
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ALGUMAS DIMENSÕES DAS METODOLOGIAS ATIVAS E A RELAÇÃO COM OS


PROJETOS DE LETRAMENTO

“Por meio dos projetos, são trabalhadas também suas habilidades de pensamento
crítico, criativo e a percepção de que existem várias maneiras para a realização de uma tarefa,
tidas como competências necessárias para o século XXI”, (MORAN, 2018, p. 61)
Segundo Mtichel Resnick, as crianças se mantêm ativas e aprendem melhor quando se
trabalha o processo de ensino/aprendizagem através de cinco dimensões (MORAN, 2020). A
primeira delas diz respeito aos projetos, segundo o professor de Pesquisas Educacionais do
Laboratório de Mídia do MIT, ligado à Fundação LEGO, os projetos proporcionam o
aprender fazendo, inicia-se pela prática e depois o professor surge auxiliando os estudantes a
refletir sobre o que foi colocado em prática. Ligado a essa dimensão podemos citar que
durante a aplicação de um projeto de Letramento em que se busca desenvolver habilidades de
escrita de gêneros textuais e conforme a sequência didática proposta por Schneuwly (2004),
um dos primeiros passos para que se atinja tal objetivo é solicitar uma produção inicial dos
estudantes para sondar quais as dificuldades apresentadas por eles e assim nortear as ações do
projeto.
A segunda dimensão está relacionada com atividades que se aproximem da realidade
do aprendiz, dessa forma, ele enxerga um propósito para aprender todo aquele processo. O
que está sendo realizado em sala de aula será utilizado em sua vida fora da escola, logo, se é
útil, ele estará mais motivado a aprender. Mais uma vez observa-se a associação das
metodologias ativas com os projetos de Letramento, ou seja, a leitura e a escrita como práticas
sociais, pois conforme Kleiman (2000) o projeto Letramento é:

um conjunto de atividades que se origina de um interesse real na vida dos


alunos e cuja realização envolve a escrita, isto é, a leitura de textos que, de
fato, circulam na sociedade e a produção de textos que serão realmente lidos,
em um trabalho coletivo de alunos e professor, cada um segundo sua
capacidade. O projeto de letramento é uma prática social em que a escrita é
utilizada para tingir algum outro fim, que vai além da mera aprendizagem da
escrita. (KLEIMAN, 2000, p. 238)

Em terceiro, Resnick afirma que proporcionar um ambiente em que as crianças


interajam entre si, de modo que eles aprendam uns com os outros traz grandes resultados
positivos. Moran acrescenta que a comunicação entre pares é muito importante, pois juntos
podem participar de atividades, resolver desafios, avaliarem-se mutuamente e vivenciarem um
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processo de aprendizagem colaborativa. A tecnologia oferece este ambiente ao proporcionar o


compartilhamento em tempo real de informações, além do mais, os jovens estão se
comunicando cada vez mais através das redes sociais, portanto deve-se aproveitar este
cenário. Para Moran (2018), “O compartilhamento em tempo real é a chave da aprendizagem
hoje.” Os textos que circulam na sociedade estão cada vez mais carregados de múltiplas
linguagens e quando direcionamos nosso olhar para o ambiente virtual, observamos o quanto
os textos multimodais estão presentes, portanto, é necessário preparar os estudantes para
interagirem com esse tipo de material. Nos projetos de Letramento, busca-se o trabalho com
os diversos tipos de gêneros textuais, principalmente os discursivos, como modo de inserção
social do indivíduo e diante dessa perspectiva, concatenado com os objetivos das
metodologias ativas, deve-se dirigir uma atenção especial para inseri-lo em uma sociedade
cada vez mais tecnológica.
A aprendizagem lúdica, diz respeito à quarta dimensão proposta por Resnick. O prazer
em aprender deve ser estimulado na criança através de dinâmicas que divirtam-na, algo que
seja interessante. Assim sendo, o trabalho com os gêneros discursivos dentro de um projeto de
Letramento pode ser grande aliado para atingir esse objetivo, pois cada texto tem sua função
social, inclusive a de entreter, levar divertimento àquele que produz e também ao que lê.
Para Bakhtin (2011):

A riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso são infinitas porque são


inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em
cada campo dessa atividade é integral o repertório de gêneros do discurso,
que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve e se complexifica um
determinado campo. (BAKHTIN, 2011, p. 262).

Por fim, apresentamos a quinta dimensão, esta pensada por Moran. Segundo ele, a
aprendizagem deve ser personalizada, ou seja, deve ser planejada de acordo com a capacidade
de cada indivíduo e que cada um seja envolvido no processo de acordo com suas
necessidades. Tal pensamento é ratificado por Lilian Bacich (2016) que afirma “Em um
ambiente de aprendizagem “personalizado”, o aprendizado começa com o aluno. O estudante
tem oportunidade de identificar como aprende melhor e os objetivos de aprendizagem são
organizados de forma ativa, juntamente com o professor.”
Para Moran (2018)

Trabalhar com desafios hoje é mais complexo, porque cada um dos alunos
envolvidos tem expectativas diferentes, motivações diferentes, atitudes
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diferentes diante da vida. O educador precisa descobrir quais são as


motivações profundas de cada um, o que o mobiliza mais para aprender [...].
(MORAN, 2018, p. 3).

CONSIDERAÇÕES FINAIS

De acordo com o exposto, podemos observar que as metodologias ativas e os projetos


de Letramento comungam dos mesmos objetivos a ponto de adotarem ações que podem ser
consideradas parecidas. Ambas as práticas pedagógicas estão voltadas para um ensino
inovador que venha a somar com algumas práticas tradicionais que apresentam resultados
positivos. Resumidamente, elas buscam durante o processo de ensino/aprendizagem,
estudantes que sejam participativos além dos muros da escola, ou seja, que sejam ativos na
resolução de problemas e desafios encontrados não apenas no contexto escolar, mas também
na vida social. Os projetos exercendo o papel de norte aos estudantes à medida que os orienta
a utilizarem efetivamente a linguagem como instrumento de transformação de suas realidades
e as metodologias ativas como meios para que os motive e torne o aprendizado satisfatório e
prazeroso.
Desta forma, resta-nos aprofundarmos ainda mais sobre essas duas subáreas tão
promissoras para o ensino, já que é através do ensino que transformamos pessoas e
consequentemente transforma-se também o mundo. Pois, um ensino que prepare o sujeito
para o pleno exercício da cidadania é o caminho para termos sociedades menos desiguais e
mais informadas, cientes dos seus direitos e de como reivindicá-los.
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Referências

BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Estética da criação verbal. 6. ed. São Paulo: WMF Martins
Fontes, 2011, p. 261 - 306.

DOLZ, J. SCHNEUWLY, B. Gêneros orais e escritos na escola. Trad. Roxane Rojo e Glaís Sales
Cordeiro. São Paulo: Mercado de Letras, 2004.

KLEIMAN, Ângela B. O processo de aculturação pela escrita: ensino da forma ou aprendizagem da


função? In: KLEIMAN, Ângela B.; SIGNORINI, I. (Org.). O ensino e a formação do professor:
alfabetização de jovens e adultos. Porto Alegre: Artmed, 2000. p. 223-243.

MORAN, José. Metodologias ativas para uma aprendizagem mais profunda. Metodologias ativas
para uma educação inovadora: uma abordagem teórico-prática. Porto Alegre: Penso, p. 02-25, 2018

MORAN, José. GEPEAD. Metodologias Ativas na Educação Básica. YouTube, 04 jun. 2020.
Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=Yyl62cP67Vo. Acesso em: 19 fev. 2023.

SOARES, Magda. Letramento e alfabetização: as múltiplas facetas. Revista Brasileira de Educação,


Rio de Janeiro, n. 25, p. 5-17, jan./abr. 2004.

BACICH, Lilian (org.); MORAN, José (org.). Metodologias ativas para uma educação inovadora:
uma abordagem teórico-prática. Porto alegre: penso, 2018. OLIVEIRA, Paola A. (ed.).

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