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TRABALHO FINAL

Educação, Cultura e Mídia

Carreira: Seção de Formação Pedagógica


Ano letivo: 2020
Professor da cátedra:
https://azulformacionsuperior.com/diplomaturas/user
/view.php?id=8327&course=1676
Estudante:
Data: 15 de abril de 2020
E-mail:
Levando em conta a hipótese de que "a mudança cultural ocorrida no
final do século XX afetou diretamente o comportamento do processo
educacional e gerou uma profunda crise na escola moderna, que perdura
a partir da irrupção, centralmente no século XXI, das novas tecnologias
aplicadas aos meios de comunicação, contexto usual das novas
gerações", começaremosa fazer nossa análise em torno da mudança cultural
ocorrida com o fim da modernidade (S.XIX) e o início da pós-modernidade
(S.XX). Para abordar essa análise, vamos nos concentrar em qual é a visão
sobre a vida dos sujeitos de cada um desses tempos. Na modernidade, o
homem é o centro da cultura e tudo gira em torno dele. É um homem que se
baseia na razão e é através dela que forma a sua identidade, uma identidade
que lhe confere um carácter ético. Havia, então, na sociedade uma moral
universal marcada pela razão. Para a sociedade moderna, o dever era
fundamental, era uma sociedade organizada, disciplinar, com um olhar
projetado para o futuro e o progresso que proporcionava ao homem segurança,
cortando os limites da liberdade.
O homem pós-moderno deixa de ser um homem universal, para ser um
indivíduo diferenciado. Assume então um valor central, não mais "o homem",
mas a pessoa. A prioridade do eu leva o homem ao narcisismo extremo. A
razão deixa de ser o sustento de seu ser e esse lugar é ocupado pelo desejo.
O homem dionisíaco da pós-modernidade persegue o desejo e sua
consumação instantânea, o futuro deixa de ser visto como progresso e hoje
adquire uma importância fundamental. Olhe para o presente e busque a
realização do próximo desejo. Isso faz com que o tempo perca sentido e se
torne o que Byung Chul Han vai chamar de "tempo atomizado". "Com o tempo
atomizado de hoje todos os momentos são iguais, não há diferenças entre
ontem, hoje e amanhã, vivemos apenas um presente sem direção." 1 Este é o
homem pós-moderno, o habitante e formador de uma nova cultura.
Se durante a modernidade essa cultura, esse modo de vida, foi
transmitido através de dois grandes pilares da sociedade, que foram a família e
a escola, com a pós-modernidade surge um novo e muito poderoso sistema de
transmissão de cultura: os meios de comunicação. Se, durante a modernidade,
com a invenção da imprensa pelas mãos de Gutenberg, a cultura foi
transmitida através do livro e da palavra escrita; Com a introdução da mídia na
era pós-moderna, a forma como a cultura é codificada é modificada. Os meios
de comunicação são o centro do "ecossistema comunicativo" em que vivemos.
Atualmente, a escola não é mais o único canal pelo qual as novas gerações
recebem informações e conhecimentos, devendo saber se adaptar a esse
lugar, explorá-lo e canalizá-lo em seu benefício e em benefício dos alunos,
permitindo uma entrada útil e criativa de novas tecnologias nos processos de
ensino.

1
Extraído do Resumo do livro "O Aroma do Tempo" de Byung Chul-Han. Q.1
O conhecimento agora circula livremente e não aparece trancado dentro
da instituição escolar, qualquer um pode se apropriar dele, vivemos imersos em
um ecossistema de símbolos e nossa capacidade de processá-los aumentou
exponencialmente. O professor não é mais o fiador de nenhum conhecimento.
A "educação industrial" de que fala Ken Robinson e que "se centrava na
produção e no desempenho, na melhoria das notas e no aumento do número
de licenciados2" falha constantemente face aos novos desafios impostos pela
cultura pós-moderna. A subjetividade que domina não é mais a institucional,
mas os meios de comunicação de massa, não se trata mais de regulação e
conhecimento, mas de opinião e imagem; Mas as instituições continuam
operando como se o sujeito fosse constituído por marcas disciplinares, e
quando vão procurá-lo não encontram a subjetividade esperada, o que gera, é
claro, um mal-entendido. Diante desse mal-entendido, é interessante resgatar a
operação realizada por Fanfani apontando que os professores devem
reconhecer a "própria autonomia cultural"3 dos alunos. Essa própria cultura
muitas vezes se choca com a cultura dos professores, que não conseguem
reconhecer essas formas de consumo como "importantes" ou "úteis" ou mesmo
"culturais". As novas gerações são, antes de tudo, consumidoras e leitoras de
imagens, enquanto a escola tradicional se baseia na leitura alfabética. O
professor deve então tornar-se um catalisador da força desse encontro, mas
para isso deve primeiro reconhecer o valor da cultura do "outro" sem
preconceitos. Como aponta Serres, não existe mais aquela noção de ensino
em que "ensinar era uma ação que todos ofereciam que não exigia opinião da
demanda",4 hoje os alunos são sujeitos que exigem: exigem não se aborrecer,
exigem participar, exigem que sua voz seja ouvida e sua criatividade
valorizada.
As novas tecnologias geraram uma mudança no estilo de aluno para o
qual a escola moderna foi preparada, baseada em formas de transmissão de
aprendizagem rote, onde o professor era a fonte do conhecimento e o aluno
era um mero repetidor desses conteúdos. Agora o aluno já tem todas as
informações que precisa na internet e, se o professor insistir em ser aquele
transmissor que exige silêncio para que sua palavra seja ouvida, ele vai
esbarrar em um impossível.
No entanto, não basta simplesmente trazer novas tecnologias para
nossas formas de ensino, pois não são elas que garantem uma melhoria na
aprendizagem, já que velhas práticas podem continuar sendo reproduzidas
com novos formatos, como pode ser visto em muitas das "salas de aula" que
foram desenvolvidas a partir da pandemia do coronavírus e da impossibilidade
de os alunos frequentarem. à escola. O importante é a criatividade, ao serviço
da qual as novas tecnologias devem ser colocadas.

2
Robinson, Ken, Escolas Criativas. A Revolução que está transformando a educação. Grijalbo,
Barcelona, 2015. Q.1
3
Tenti Fanfani, E. (2010). Primeira Parte. O mundo da educação. In Autor (Ed.) Sociologia da
educação. (p.20-39). Buenos Aires: Ministerio de Educación de la Nación (Aportes para el
desarrollo curricular). SNP
4
Serres, Michel, Thumbelina, Barcelona, Gedisa, 2014. SNP
O papel do professor passa a ser o de acompanhar os alunos em seus
processos de aprendizagem, estimular sua criatividade e incentivá-los a
pensar. Com a queda do modelo taylorista/fordista de produção em massa,
hoje a educação deve responder à demanda por trabalhadores mais flexíveis
que possam se adaptar às mudanças e continuar aprendendo a aproveitar ao
máximo as ferramentas que possuem. Para isso, a escola deve treinar
habilidades que permitam aos alunos resolver problemas e enfrentar
mudanças; A escola não pode mais ser fiadora de um savoir faire que serve ao
indivíduo por toda a vida.
Diante da emergência dos meios de comunicação de massa como fator
determinante na formação da cultura e no desenvolvimento de uma nova
sensibilidade muito mais voltada para o audiovisual, a preponderância que a
cultura escrita adquiriu durante a modernidade é quebrada em favor de novas
formas de assimilar o mundo e criar sentidos. Essa mudança deve ter um
impacto inevitável na educação, e uma das principais repercussões que isso
tem é o surgimento de novas formas de "alfabetização" que vão muito além da
mera leitura e escrita. Como defende Dussel, "os conhecimentos considerados
indispensáveis devem ser ampliados para incluir os conhecimentos, as
relações e as tecnologias dominantes em nossa sociedade hoje" 5 e formar
cidadãos que possam se relacionar com essas formas com maior criatividade e
espírito crítico. Para isso, como dito acima, a escola deve estar aberta ao
conhecimento que circula na sociedade. A escrita não deve mais ser aceita
como única forma de construir conhecimento ou representar o mundo: a
imagem, o som, o corpo, hoje são instrumentos tão válidos quanto ele para
esses fins e a escola deve se encarregar dessa mudança. Mesmo a relação
dos nossos alunos com a carta escrita, longe de se assemelhar ao respeito e
veneração que poderiam ser manifestados em tempos anteriores, hoje esse
apoio também pode se tornar um lugar para experimentar a liberdade e
estimular a criatividade dos alunos se conectando com a literatura de uma
forma muito mais produtiva e que os desafia com maior força.
Diante desse novo panorama, parece inescapável que a escola garanta
a possibilidade de que os alunos sejam capazes de aproveitar melhor as
oportunidades oferecidas pelas novas tecnologias e pela linguagem
audiovisual, e que, ao mesmo tempo, lhes permita utilizar essas novas
linguagens de forma produtiva para desenvolver produtos significativos e
relevantes para suas próprias trajetórias. E é aqui que entra uma proposta
importante que Dussel e Southwell fazem ao pensar que é justamente a escola
onde essas aprendizagens devem ser dadas, pois é o lugar de onde pode
surgir uma reflexão crítica sobre isso que seria impossível se deixássemos
essa tarefa para os meios de comunicação de massa. Assim, embora a escola
deva recuperar seu lugar como fator de mudança, isso não significa que muitas
vezes ela não deva atuar como um fator contracultural no sentido de parar para
pensar criticamente e mostrar aos jovens uma realidade diferente daquela que

5
Dussel I. e Southwell, M, Escola e Novos Letramentos Línguas Plurais. Revista El
Monitor de la educación – Nº 13. SNP
a sociedade muitas vezes lhes impõe quase sem que eles percebam. Como
não fazê-lo pressuporia simplesmente que qualquer avanço tecnológico é
inerentemente positivo, deixar essa responsabilidade "ao mercado, ou às
experiências atualmente disponíveis – que são, em sua maioria, organizadas
por padrões comerciais – implica renunciar a incorporar outras lógicas, outros
prazos, outras orientações".6

Bibliografia:

6
Ibidem, SNP.
 Althusser, Louis, Ideologia e Aparelhos Ideológicos do Estado. Nueva Visión,
Buenos Aires, 1988.
 Cobo, Cristóbal. A inovação pendente. Reflexões (e provocações) sobre educação,
tecnologia e conhecimento. Ed. Debate, Buenos Aires, 2016
 Dussel I. e Southwell, M, Escola e Novos Letramentos Línguas Plurais. Revista El
Monitor de la Educación – Nº 13
 Han, Byung-Chul, A Sociedade do Cansaço. Madrid, Herder. 2014
 Han, Byung-Chul, O Aroma do Tempo. Madrid, Herder. 2015
 Lévy, Pierre, Cibercultura. Santiago do Chile, Dólmen Ediciones, 2001.
 Lipovetsky, Gilles, A Era do Vazio. Barcelona, Anagrama, 1986.
 Robinson, Ken, Escolas Criativas. A Revolução que está transformando a
educação. Grijalbo, Barcelona, 2015.
 Serres, Michel, Thumbelina , Barcelona, Gedisa, 2014.
 Tenti Fanfani, E. (2010). Primeira Parte. O mundo da educação. In Autor (Ed.)
Sociologia da educação. (p.20-39). Buenos Aires: Ministerio de Educación de la
Nación (Aportes para el desarrollo curricular).

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