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EDUCAÇÃO EM TRANSFORMAÇÃO:
UMA APOLOGIA À ESCOLA VELHA
SÃO PAULO
2023
“A fim de evitar mal-entendidos: parece-me que o conservadorismo,
no sentido de conservação, faz parte da essência educacional, cuja
tarefa é sempre abrigar e proteger alguma coisa – a criança contra o
mundo, o mundo contra a criança, o novo contra o velho, o velho
contra o novo [...]. Mas isso permanece válido apenas no âmbito da
educação, ou melhor, nas relações entre adultos e crianças, e não
no âmbito da política, onde agimos em meio a adultos e com iguais.
Tal atitude conservadora, em política – aceitando o mundo como ele
é, procurando somente preservar o status quo –, não pode senão
levar à destruição, visto que o mundo, tanto no todo como em parte,
é irrevogavelmente fadado à ruína pelo tempo, a menos que existam
seres humanos determinados a intervir, a alterar, a criar aquilo que é
novo”.
Hannah Arendt
INTRODUÇÃO
É claro que essa postura é adotada pelas novas escolas na mais boa
intenção de zelar pelo bem estar da criança. Ela contempla a crítica emergente a
um mundo “adultocêntrico”, onde a criança é vista como um ser incompleto, e a
infância, como um período de transição. Isso repercute diretamente nos propósitos
assumidas pela escola, que se afasta da função de preparar o infante para a
maturidade para se tornar um lugar destinado à permanência e ao pleno exercício
da própria infância:
Nessa escola que se configura não como uma formação para a vida, mas sim
como a vida per se, as crianças exercem seu modo de viver infantil, sem que haja
interferência dos adultos no sentido de condicioná-las a um vir a ser adulto.
Admitindo-se o pressuposto montessoriano de que a criança tende ao aprendizado,
essa educação permite que as crianças explorem seus interesses
espontaneamente, libertas das obrigações impostas por uma escola outrora
autoritária. Segundo Dufour, ao contrário de endossar a democracia, isso resulta em
sujeitos suscetíveis justamente ao autoritarismo. (2005, p.137). Nesse ponto ele
novamente converge com Arendt, que argumenta que a formação de uma
sociedade infantil autônoma na escola resulta em uma tirania da maioria (2000, p.
229-230).
E qual a postura esperada do educador diante do autogoverno da infância na
escola? Resta a ele a incumbência de ensinar a aprender, mostrar aos alunos como
o conhecimento é produzido e incentivá-los a buscá-lo por conta própria, em lugar
de transmiti-lo. Assim, torna-se dispensável a expertise em qualquer assunto que
não a própria ciência da educação. Essa circunstância chega mesmo ao âmbito da
formação de professores, provocando a defasagem do domínio das disciplinas
curriculares e formando professores que não são mestres em seus campos.
(DUFOUR, 2005, p.231).
O abuso das “próteses sensoriais”