Você está na página 1de 3

FICHAMENTO

Suênia Tavares da Silva¹

YOUNG, Michael. Para que servem as escolas?. Educação e Sociedade. Campinas, vol.
28, n. 101, p. 1287-1302, set./dez. 2007.

Ideia central:

Na perspectiva do autor, o papel primordial das escolas é favorecer o desenvolvimento


intelectual dos estudantes através do conhecimento dito poderoso, que, por ser
especializado, não está disponível em nenhum outro ambiente. Contudo, para que a escola
possa cumprir seu papel, é necessário que disponha de um currículo que possa orientar
professores a ensinarem o conhecimento poderoso, ao invés de focar em meios para
estimular alunos sem interesse em aprender ou em possibilidades de empregos no futuro.
Ademais, o autor defende que as áreas de conhecimento, isto é, as disciplinas são os meios
mais eficazes para se apreender conceitos e aprendizados relativos ao conhecimento
poderoso, e, ainda, que esse conhecimento deve ser de acesso de todos os indivíduos,
independente de sua classe social, cultura ou situação econômica.

Períodos expressivos:

“Quanto às escolas, sem elas, cada geração teria que começar do zero ou, como as
sociedades que existiram antes das escolas, permanecer praticamente inalterada durante
séculos” (p. 1288)

“Para Foucault, não havia alternativa para a escolaridade como a vigilância, e a única coisa
que os cientistas sociais e pesquisadores educacionais podiam fazer era criticar” (p.1289)

“Os neoliberais argumentavam que a economia deveria ser deixada para o mercado e que os
governos deveriam desistir de tentar ter políticas econômicas ou industriais. [...] Isso teve
duas consequências que são relevantes à pergunta “Para que servem as escolas?”. Uma
delas foi a tentativa de adequar os resultados das escolas ao que é tido como as
“necessidades da economia”, numa espécie de vocacionalismo em massa. [...] A outra
conseqüência foi transformar a educação em si num mercado (ou pelo menos um
semimercado), no qual as escolas são obrigadas a competir por alunos e fundos. ”
(p.1290-1291)

“As escolas são tratadas como um tipo de agência de entregas, que deve se concentrar em
resultados e prestar pouca atenção ao processo ou ao conteúdo do que é entregue.” (p.1291)

“[...] até os sistemas escolares mais opressivos podem ser usados como instrumentos de
emancipação.” (p.1292)
“A questão do “acesso” começou com a campanha por escolaridade básica gratuita no
século XIX, provocou lutas pelos exames 11+2 e seleção e hoje se expressa em termos de
objetivos de promover a inclusão social e ampliar a participação” (p.293)

“A idéia de que a escola é primordialmente um agente de transmissão cultural ou de


conhecimento nos leva à pergunta “Que conhecimento?” e, em particular, questiona que

¹Graduanda de Licenciatura em Pedagogia pela UFPB


tipo de conhecimento é responsabilidade da escola transmitir.” (p.1293)

“[...] para fins educacionais, alguns tipos de conhecimento são mais valiosos que outros, e
as diferenças formam a base para a diferenciação entre conhecimento curricular ou escolar
e conhecimento não-escolar.” (p.1294)

“[...] minha resposta à pergunta “Para que servem as escolas?” é que elas capacitam ou
podem capacitar jovens a adquirir o conhecimento que, para a maioria deles, não pode ser
adquirido em casa ou em sua comunidade, e para adultos, em seus locais de trabalho.”
(p.1294)

“O “conhecimento dos poderosos” é definido por quem detém o conhecimento. [...] Assim,
precisamos de outro conceito, no enfoque do currículo, que chamarei de “conhecimento
poderoso”. Esse conceito não se refere a quem tem mais acesso ao conhecimento ou quem
o legitima, [...] mas refere-se ao que o conhecimento pode fazer, como, por exemplo,
fornecer explicações confiáveis ou novas formas de se pensar a respeito do mundo.”
(p.1294)

“O conhecimento poderoso nas sociedades modernas, no sentido em que usei o termo, é,


cada vez mais, o conhecimento especializado. Assim, as escolas acabam precisando de
professores com esse conhecimento especializado.” (p.1295)

“[...] alguns tipos de relação de autoridade são intrínsecos à pedagogia e às escolas.”


(p.1295).

“As questões educacionais sobre o conhecimento se referem a como o conhecimento


escolar é e deve ser diferente do não-escolar, assim como a base em que é feita essa
diferenciação.” (p.1295)

“O conhecimento dependente de contexto diz a um indivíduo como fazer coisas específicas.


Ele não explica ou generaliza; ele lida com detalhes. O segundo tipo de conhecimento é o
conhecimento independente de contexto ou conhecimento teórico. É desenvolvido para
fornecer generalizações e busca a universalidade.” (p.1296)

“O sucesso dos alunos depende altamente da cultura que eles trazem para a escola.”
(p.1296)

“Para crianças de lares desfavorecidos, a participação ativa na escola pode ser a única
oportunidade de adquirirem conhecimento poderoso e serem capazes de caminhar, ao
menos intelectualmente, para além de suas circunstâncias locais e particulares. Não há
nenhuma utilidade para os alunos em se construir um currículo em torno da sua experiência,
para que este currículo possa ser validado e, como resultado, deixá-los sempre na mesma
condição.” (p.1297)

“O conceito de diferenciação do conhecimento implica que muito do conhecimento que é


importante que os alunos adquiram não será local e será contrário à sua experiência.”
(p.1299)

“O currículo tem que levar em consideração o conhecimento local e cotidiano que os alunos

¹Graduanda de Licenciatura em Pedagogia pela UFPB


trazem para a escola, mas esse conhecimento nunca poderá ser uma base para o currículo.”
(p.1299)

Análise crítica:

É difícil perceber como o autor considera adequado que o conhecimento próprio do aluno e
os saberes oriundos de seu contexto social sejam dispostos no currículo sem, de fato, se
sobrepor às disciplinas científicas. Contudo, os conceitos de conhecimento poderoso e
conhecimentos dos poderosos mostram-se bastante coerentes com a realidade, levando em
consideração que, muitas vezes, os currículos de escolas públicas priorizam conhecimentos
da comunidade em detrimento dos saberes científicos, enquanto estudantes das camadas
sociais privilegiadas estão em contato com esses conteúdos ao longo de toda a trajetória
escolar. Essa situação influencia, principalmente, nos resultados de exames importantes
para o ingresso em universidades públicas.
Estudantes das classes populares possuem, inegavelmente, mais dificuldades em relação
aos da classe média-alta, e isso reflete nas carreiras que irão escolher para seus futuros.
Com a vantagem de um currículo focado no conhecimento poderoso e uma cultura que
incentiva e facilita o acesso a museus, literatura clássica, viagens, dentre outras situações
pertinentes à construção de um vasto capital cultural, os alunos com privilégios sociais e
econômicos possuem mais chances de conseguirem uma boa profissão, perpetrando suas
boas condições de vida. Enquanto isso, estudantes que não possuem esse acesso, por vezes
nem mesmo ingressam numa universidade e, se o fazem, enfrentam inúmeras limitações e
frustrações.
O autor traz uma reflexão bastante significativa e inquietante, pois estamos rodeados de
pensadores e teóricos que alertam para a importância de construirmos um ambiente de
ensino focado em estimular o aluno a aprender, mais focado em trabalhar o cotidiano desses
alunos do que em, de fato, lhes dar acesso às informações pertinentes para seu futuro.
Evidentemente, é importante que consideremos o contexto do educando e suas
singularidades, consideremos formas de ensinar que não sejam maçantes e conteudistas,
mas também é igualmente importante que possamos, enquanto, docentes, capacitar os
estudantes para as mais diversas situações que vão requerer conhecimentos científicos.
É, portanto, um texto fundamental para a formação dos docentes, porque nem sempre
tem-se claro qual a real função da escola, qual seu papel diante das diversas atribuições que
a sociedade vem lhe impondo ao longo da história. Costuma-se pensar, e isso decorre de
fatores como a cobrança da instituição familiar, que o ambiente escolar deve assumir
responsabilidades que antes eram da família. À escola, como ressalta o autor, cabe fomentar
o aprendizado de conhecimentos que são específicos do ambiente escolar, conhecimentos
que os estudantes não têm acesso na comunidade, na família ou em outros espaços.
Cabe-nos entender, enquanto sociedade, que é principalmente fora da escola que o
estudante vai adquirir valores e condutas que irão influenciar na sua forma de estar no
mundo e agir nele. A escola irá ampliar seus conhecimentos em relação ao que lhes cerca,
em relação ao mundo, para que possa ir além da experiência que já possui.
É através dos conhecimentos obtidos na escola que o sujeito terá, de fato, a oportunidade de
mudar sua condição no mundo, transcender as próprias limitações e compreender o mundo
para agir de forma responsável sobre ele.

¹Graduanda de Licenciatura em Pedagogia pela UFPB

Você também pode gostar