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A Crise na Educação de Hannah Arendt

A autora do texto começa por falar da crise geral que se abate sobre o mundo em que
vivemos. Começa por dar destaque especial aos Estados Unidos da América e a sua crise
periódica na educação, que se tornou um problema político, como consequência das
dimensões que tomou.

A autora faz referência aos nossos preconceitos ou ideias feitas como a base de uma crise, o
que vai impedir que se possa reflectir e perceber o porquê da crise, como a faz ficar pior.

Só a partir do século XX se começou a desenvolver um ideal de educação, mesclado com as


ideias de Rosseau, onde a educação se transforma num instrumento da política e a própria
actividade política foi concebida como uma forma de educação.

Baseada nos ideias da educação, desde a Antiguidade até aos nossos dias, mostra que o papel
da educação demonstra a vontade de começar um novo mundo com os novos por nascimento
e por natureza. É por esta razão que na Europa, se instrui as crianças desde cedo ou doutrina,
quando existem regimes tirânicos a governar.

A natureza humana tende a esperar que a nova geração cresça no mundo velho, e daí tenha a
oportunidade de inovar. Visto que se crescesse num mundo novo, preparado já pelas pessoas
mais velhas, não teriam oportunidade de inovar.

As modernas teorias educativas oriundas da Europa Central, vieram colocar em causa o senso
comum que governo o mundo em que vivemos e que nos faz viver e adaptar ao nosso mundo.
O desaparecimento do senso comum conduz à crise actual.

II

As medidas tomadas em virtude das modernas teorias da educação podem ser explicitadas em
três ideias-chave.

A primeira ideia é que a nossa sociedade é, em parte, formada por crianças. As crianças são
seres minimamente autónomas e que devem governar-se por si próprias, dentro do possível. O
papel dos adultos deve ser assistir a esse processo. O grupo das crianças detém a autoridade,
que vai organizar as crianças consoante o que devem ou não fazer (padrões).
Consequentemente, o adulto acaba por ficar privado do contacto com a criança.

Ainda nesta primeira ideia, toma-se em consideração unicamente o grupo e não a criança
como ser individual. A autoridade vem do grupo e o indivíduo fica subordinado à vontade do
grupo.

A criança previamente emancipada dos adultos, fica submetida a uma autoridade maior que a
dos adultos, a autoridade da maioria do grupo. A reação das crianças a esta pressão traduz-se
ou num conformismo ou em delinquência juvenil, ou ainda, na mistura das duas coisas.

A segunda ideia tem a ver com o ensino. A pedagogia tem-se tornado uma ciência do ensino
em geral e não a preocupação de ensinar a matéria (psicologia moderna, doutrinas
pragmáticas). A formação que recebem é em ensino e não no domínio de um assunto
particular.

Consequentemente, os alunos são abandonados aos seus próprios meios e ao professor é


retirada a fonte da sua autoridade legítima.

A terceira ideia é a questão de que só se aprende, fazendo. Ou seja, substituir o aprender pelo
fazer. O professor tem como função inculcar um saber-fazer. Ou seja, as instituições de ensino
geral, seriam transformados em institutos profissionais. Comentário [T1]: Informações, escola
nova

Estes institutos fizeram sucesso ao nível da formação profissional com actividades do


quotidiano, a “arte de viver”, como é chamado, contudo estes alunos não foram capazes de
aprender os conteúdos de um programa normal de estudos.

Nesta teoria da educação considera-se o jogo o modo de expressão mais adequado à


aprendizagem por parte da criança, porque é uma actividade que brota espontaneamente da
criança. Aprender, forçando a criança a uma atitude passiva, abandonando a sua própria
iniciativa, que só se manifesta através do jogo.

O ensino das línguas é um exemplo disso, visto que a criança deve aprender falando e não
estudando a gramática e a sintaxe.

Aquilo que deveria preparar a criança para o mundo dos adultos, adquirir o hábito de trabalho
pouco a pouco em vez de jogar, é suprimido em favor da autonomia do mundo da infância.

A crise actual na América deve-se ao facto de este sistema de ensino, baseado nestas ideias
terem falhado e agora numa tentativa de se reestruturar o sistema de ensino conduzido pela
autoridade.

III

A educação é uma das actividades mais básicas da sociedade humana que se renova pelo
nascimento de novos seres humanos. Esses recém-chegados ao mundo ainda não ganharam
maturidade e estão num processo de transformação. Portanto, são esses seres que são o
objecto de educação.

Portanto os adultos têm a responsabilidade de educar os filhos para o seu desenvolvimento e


no seu relacionamento com o mundo exterior. A criança tem necessidade de ser protegida
contra o mundo, o seu lugar tradicional é no seio da família. Mas a sociedade moderna
emancipou a vida da intimidade do lar ao mundo público a que a criança é exposta. Isto é
prejudicial às crianças porque elas precisam amadurecer sem perturbações ou evasão do
mundo exterior.

O objectivo central de todos os esforços da educação moderna tem sido o bem-estar da


criança.

Normalmente é na escola que a criança faz a sua primeira entrada no mundo. A escola é a
instituição que faz a transição entre a família e o mundo. A escola acaba por representar o
mundo mais próximo da criança, onde os responsáveis pela educação dos filhos são os pais. Ou
seja, eles devem zelar pelo livre desenvolvimento das suas qualidades e características.

Como a criança ainda não conhece o mundo, deve ser introduzida gradualmente. Na educação,
a responsabilidade pelo mundo toma a forma da autoridade. A autoridade e a competência do
professor não são a mesma coisa. A competência do professor consiste em conhecer o mundo
e ser capaz de transmitir esse conhecimento aos outros, já a autoridade funda-se no seu papel
de responsável pelo mundo.

A autora defende que o conservadorismo faz parte da essência mesma da actividade educativa
cuja tarefa é sempre acarinhar e proteger alguma coisa. E isso permite que se conserve o que
de novo e revolucionário a criança traz ao mundo.

IV

A grande dificuldade da educação moderna hoje em dia, é o fato de ser extremamente difícil
garantir o mínimo de conservação e de atitude de conservação sem a qual a educação não é
simplesmente possível

A crise de autoridade está intimamente ligada com a crise da tradição. Para o educando é
muito difícil, visto que ele é o mediador entre o antigo e o novo.

Este texto destaca a atitude romana de considerar o passado modelo, tomar os antepassados
enquanto exemplos e que a velhice é a idade de maior realização humana.

Tudo isto está em contradição com o nosso mundo e com os tempos modernos, a partir do
renascimento, ou com a atitude grega relativamente a vida.

Uma vez que o mundo é velho, ou seja, sempre mais velho que nós, aprender implica voltar-se
para o passado.

A autora defende que não se pode educar adultos, que está intimamente ligado ao seu
conceito de aprendizagem e o de educação. A educação deve ter um termo previsível, por
exemplo, a aquisição de um primeiro diploma de grau superior. E a aprendizagem acontece ao
longo da vida.

Não é possível educar sem ao mesmo tempo ensinar. Mas podemos ensinar sem educar,
podemos aprender até ao fim dos nossos dias, sem nos tornarmos mais educados.

O foco é a relação dos adultos com as crianças e a nossa relação com o facto da natalidade:
todos chegamos ao mundo pelo nascimento e é pelo nascimento que o mundo
constantemente se renova.

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