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Revista da SBEnBio - Número 9 - 2016 VI Enebio e VIII Erebio Regional 3

O USO DO CINEMA NO ENSINO DE CIÊNCIAS: UMA PROPOSTA A PARTIR DO


FILME “TÁ CHOVENDO HAMBÚRGUER”

Pedro Henrique Ribeiro de Souza (Laboratório de Divulgação Científica no Ensino de


Ciências LABDEC/CEFET-RJ – Colégio Pedro II )
Roberta Rodrigues da Matta (Secretaria Municipal de Educação – Itaguaí/RJ)
Carlos Alberto Andrade Monerat (LABDEC/CEFET-RJ – Centro Universitário Celso Lisboa)
Marcelo Borges Rocha (Programa de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Educação –
LABDEC/CEFET-RJ)
Marcelo Diniz Monteiro de Barros (Departamento de Ciências Biológicas – PUC/MG)

RESUMO
O uso de filmes em sala de aula configura um valioso recurso pedagógico no processo de
ensino-aprendizagem, ao despertar o interesse dos estudantes. A animação “Tá chovendo
hambúrguer” foi escolhida por abordar questões científicas e tecnológicas, como produção de
alimentos, de lixo e a natureza da ciência. A construção de um guia do filme para utilização
dos professores é um relevante instrumento educativo, pois propicia a discussão de diversos
aspectos científicos, tecnológicos e sociais e problematiza suas potencialidades para aplicação
no Ensino de Ciências e Biologia. Conclui-se que é importante utilizar filmes com este perfil,
pois permitem a construção do pensamento crítico do aluno, habilitando o indivíduo a
argumentar sobre temas abordados no filme que afetam a sociedade atual.
Palavras-chave: Ensino de Ciências, Cinema e Ensino, filme como estratégia de ensino.

Introdução
O cinema, através da sua ótica, a qual costuma retratar personagens, personalidades,
fatos históricos e acontecimentos em geral, cotidianos ou não, está diretamente ligado com a
percepção de mundo que os indivíduos possuem. Estes mesmos fatores sempre foram
retratados em filmes e reproduzidos no imaginário das pessoas (COELHO & VIANA, 2011).
Logo, conforme relata Duarte (2002), a história da humanidade e muito do que as
pessoas têm em termos da sua compreensão está inevitavelmente caracterizada pelo contato
que o público possui com as imagens cinematográficas.
A educação vai ao encontro desses fatores, já que procura ampliar a percepção do
mundo dos indivíduos, mostrando o que é desconhecido e estimulando o aprender. Neste
entendimento, o cinema pode ser um valioso recurso pedagógico para o processo de ensino-
aprendizagem, uma vez que o interesse e o estímulo dos estudantes, sejam crianças ou
adultos, provocados pelos filmes, podem incentivá-los a buscar leituras mais complexas,
desenvolvendo pensamentos críticos e instigando-os à reflexão.

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O educador, por sua vez, deve encontrar nos filmes o processo necessário a uma
adequada escolarização, extraindo deles reflexões que associem suas mensagens ao
conhecimento construído em sala de aula. Desse modo, a seleção das obras cinematográficas
com propósito educativo deve levar em consideração a articulação entre os conteúdos e os
conceitos que serão ou que já foram trabalhados.
Portanto, segundo Coelho e Viana (2011), o ambiente escolar vincula-se facilmente ao
cinema, pois o ato de assistir a filmes é um hábito comum em quase todas as sociedades,
sendo comum encontrar nesses a emergência de questões científicas e tecnológicas de apelo
social e, com isto, contribuir para a atividade de ensino-aprendizagem na contextualização do
conteúdo escolar.

Articulando Cinema e Ciência


Cinema e ciência caminham juntos por muito tempo, havendo registros desta
articulação desde o século XIX, como forma de entretenimento e de divulgar seus propósitos
científicos (OLIVEIRA, 2006). Para este autor:

(...) a vivacidade das imagens e sua reprodutibilidade facilitaram sua


aceitação como pura representação da realidade. Mesmo sabendo que
são montadas, a magia e o encantamento do fluxo de imagens fazem o
espectador reagir como se fosse a própria realidade (OLIVEIRA,
2006, p. 134).

O cinema pode ser encarado como uma das inovações da modernidade, dessa forma
assumindo-se como um meio pelo qual o conhecimento circula, e onde novas experiências e
valores culturais são difundidos (OLIVEIRA, 2006). Por meio do cinema é possível visualizar
cenas do cotidiano, retratações históricas, conhecer a biografia de personalidades e reconhecer
histórias e personagens literários, oriundas de adaptações de obras literárias (BRIDI et al,
2012). Dessa forma percebe-se as múltiplas funções atribuídas a sétima arte. Ainda que seja
reconhecido o importante papel atribuído por si só ao cinema e em atividades que o
incorporem, há dificuldades que são vivenciadas, como a perda da audiência. Oliveira (2006)
destaca que, a respeito do cinema na cultura brasileira:
Perdeu parte do glamour e da preponderância que possuía na vida
social com a difusão da televisão. Porém, ainda detém um poder
enorme e continua mobilizando cifras e audiências monumentais, para
as quais segue vendendo estilos de vida, construindo e legitimando
determinadas identidades sociais e desautorizando outras (OLIVEIRA,
2006, p. 136).
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A sétima arte no Ensino de Ciências


No Brasil, um importante marco para o uso de filmes no ensino ocorreu em 1936,
quando foi criado o Instituto Nacional do Cinema Educativo (INCE), sob a direção do
antropólogo Roquette Pinto. O instituto esteve ativo durante 30 anos e contou com a
colaboração de cineastas como Humberto Mauro, realizando em torno de quatrocentos curtas-
metragens até sua extinção, em 1966. Aproximadamente um terço de sua produção foi voltada
para temas que abordassem a educação científica e divulgação de ciência e tecnologia
(GALVÃO, 2004).
Desde então, filmes comerciais têm sido utilizados como ferramenta de ensino em
diferentes campos do conhecimento. É possível encontrar na literatura relatos a respeito do
uso de filmes comerciais no ensino para abordar temas diversos, incluindo conteúdos
adicionais, além daqueles trazidos pelos currículos tradicionais, como conhecimentos básicos
de genética e fisiologia humana (MAESTRELLI & FERRARI, 2006; NASCIMENTO et al.,
2016); AIDS e homossexualidade (CAMPOS et al., 2015); humanismo na prática médica
(BLASCO et al, 2005); conflitos religiosos (OLIVEIRA, TRINDADE & QUEIROZ, 2013); e
ética (DUIM et al, 2007).
No Ensino Superior, propostas utilizando o cinema foram elaboradas gerando o que os
autores chamam de ação sócio-discursiva, sendo capazes ainda de emocionar, conscientizar e
chocar (BRIDI et al., 2012). Em sua proposta para utilização do cinema como recurso
afetivo/efetivo na educação humanística, Blasco e colaboradores (2005) apontam que através
do uso do cinema na educação pode-se obter o ensino de valores humanos, virtudes e atitudes;
a promoção da reflexão individual, de forma a trabalhá-la educacionalmente e fomentar
atitudes, elementos essenciais na formação de um indivíduo; a criação de uma linguagem de
comunicação rápida e eficaz para educadores e educandos, dessa forma, prolongando o
aprendizado do cotidiano.
O uso de filmes constitui um recurso válido no ensino de Ciências, pois a utilização
deste material com potencial para ser trabalhados em sala de aula contribui para práticas
interculturais críticas e numa perspectiva interdisciplinar (OLIVEIRA, TRINDADE &
QUEIROZ, 2013).
Mediante tais argumentos, Barros, Girasole & Zanella (2013) indicam uma lista com
83 filmes que podem ser utilizados no Ensino de Ciências e Biologia, oferecendo também os
possíveis conteúdos que podem ser trabalhados em cada filme. Esta lista foi elaborada com o
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auxílio de professores que foram entrevistados a respeito da utilização dos filmes em sala de
aula.
Dada esta grande diversidade de filmes que podem ser utilizados no Ensino de
Ciências, além de diferentes abordagens temáticas e problematizadoras que os mesmos
oferecem, a construção de um guia do educador permite que o professor possa adequar a
exibição de uma obra cinematográfica pretendida à sua proposta pedagógica. Desta forma, o
educador é direcionado por pesquisadores da área de Ensino de Ciências a adotar uma
metodologia que o permita discutir e propor atividades com seus alunos, contemplando todas
as possíveis problematizações que relacionam o conteúdo do filme escolhido ao conteúdo
escolar.
Dentre os exemplos de produção de guias do educador, há o projeto pedagógico para a
exibição do filme “As melhores coisas do mundo”, de 2010, cujo objetivo é unir cultura e
educação, cinema e aprendizado, em um filme cuja temática consiste no universo da
adolescência, apresentando diversas discussões sociais a respeito da vida dos jovens (AS
MELHORES COISAS DO MUNDO, 2010). Outro exemplo de guia foi elaborado para a
exibição do filme “Eu Christiane F, treze anos, drogada e prostituída”, que também relaciona-
se com o período da adolescência, mas que está focado em discutir a utilização abusiva de
drogas psicotrópicas e todos os conflitos que isto acarreta na vida dos jovens (CAIXETA,
MARTINS & BARROS, 2010). Outros guias do educador discutem questões que relacionam
aspectos éticos da ciência, sejam eles pertinentes à Genética, conforme destacam Nascimento
e colaboradores (2016), que construíram um guia do educador sobre o filme “X-Men Primeira
Classe”, e pertinentes à Saúde, conforme ilustram Campos e colaboradores (2015) na
construção do guia do educador para o filme “Filadélfia”.
Assim sendo, o objetivo deste trabalho consiste na elaboração de um guia do educador
para o filme “Tá chovendo hambúrguer”, discutindo aspectos científicos, tecnológicos e
sociais que o filme aborda e as suas potencialidades para o Ensino de Ciências e Biologia.

O filme e a construção do guia do educador


A construção do guia do educador foi realizada como proposta de avaliação para a
disciplina “Os recursos audiovisuais como estratégias para a educação em ciências e em
biologia”, ministrada pelos Professores Marcelo Diniz Monteiro de Barros e Marcelo Borges
Rocha, para o curso de Pós-Graduação em Ciência, Tecnologia e Educação do CEFET – RJ.

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Para tal, ficou a cargo dos participantes a escolha de um filme que pudesse ser utilizado para
as aulas de Ciências da Educação Básica ou do Ensino Superior.
A animação “Tá chovendo hambúrguer” (CLOUDY WITH A CHANCE OF
MEATBALLS, 2009) foi selecionada por abordar questões científicas e tecnológicas
pertinentes, como produção de alimentos, de lixo e natureza da ciência. A figura 1 representa
o encarte do filme no Brasil. Baseado no livro homônimo de Judi e Ron Barrett, publicado em
1978, o filme narra a história do cientista Flint Lockwood, morador da pequena ilha Boca da
Maré (Chewandswallow no original), cujo principal alimento é o peixe. Flint concebe projetos
científicos desde sua infância, porém nunca foi reconhecido como deveria pelos seus
conterrâneos e, em especial, pelo seu pai.

Figura 1: Cartaz do filme “Tá chovendo hambúrguer”.


Fonte: http://www.jornaldacapital.com.br/2011/upload/100693.jpg

A partir de então, Flint produz uma máquina que tem a capacidade de transformar
água em alimento, o que garantiria o seu reconhecimento enquanto inventor de algo que pode
mudar a história da produção de alimentos. Porém, devido à ganância do prefeito da cidade,
que tenta se aproveitar do sucesso do invento, Flint acaba perdendo o controle de sua
máquina, que começa a produzir verdadeiras “tempestades de comida”, como chuvas de
almôndegas, furacões de macarrão, dentre outros fenômenos meteorológicos envolvendo
alimentos. Com o auxílio de amigos e de seu pai, o cientista tenta controlar o seu invento para

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que a ilha Boca da Maré não seja completamente soterrada pela comida produzida pela
máquina.
Embora indicado para o público infanto-juvenil, o filme apresenta passagens que
contribuem para a reflexão de diferentes aspectos da Ciência e da Tecnologia, os quais
nortearam a confecção do guia do educador, cujo objetivo almeja promover uma percepção a
respeito da temática abordada no filme, sobre a produção e consumo dos alimentos.
O guia sugere a entrega de um questionário previamente à exibição da animação, para
que os alunos o respondam enquanto assistem ao filme. Em seguida é proposto um debate de
forma a discutir as questões norteadoras, que tratam de diferentes passagens do filme. O guia
também recomenda que os alunos sejam criativos e elaborem perguntas complementares, de
modo a enriquecer o debate com suas concepções acerca das temáticas exibidas no filme
(figuras 2, 3 e 4).

Figura 2: Capa do guia do educador para o filme “Tá chovendo hambúrguer”.


Fonte: Guia do educador para o filme “Tá chovendo hambúrguer”.

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Figura 3: Apresentação do guia do educador para o filme “Tá chovendo hambúrguer”.


Fonte: Guia do educador para o filme “Tá chovendo hambúrguer”.

Figura 4: Sumário do guia do educador para o filme “Tá chovendo hambúrguer”.


Fonte: Guia do educador para o filme “Tá chovendo hambúrguer”.

Em seguida, o guia indica uma série de atividades envolvendo as diversas temáticas


desenvolvidas pela animação, sendo um total de sete atividades, cada uma podendo ser

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desenvolvida em uma aula. Deste modo, o aluno pode transpor o que foi abordado no filme
com diferentes aspectos científicos e tecnológicos (quadro 1).

Quadro 1: Atividades propostas no guia do educador para o filme “Tá chovendo


hambúrguer”.
Objetivo: promover uma percepção a respeito da temática abordada no filme, sobre a
produção e consumo dos alimentos
Procedimentos: Essa atividade pode ser dividida em dois momentos:
1º momento: exibição, em duas aulas de 50 minutos, do filme.
O professor deve entregar o questionário (atividade 1) aos alunos antes da exibição para que
eles fiquem atentos aos elementos a serem discutidos posteriormente.
2º momento: debate, a partir do questionário proposto.
O segundo momento, com uma aula de 50 minutos (sugestão), constitui-se do debate baseado
nas questões do questionário entregue aos alunos.
Conteúdos que podem ser explorados pelo professor: produção de alimentos; alimentos
naturais, industrializados e orgânicos; bioquímica dos alimentos; desperdício e produção de
lixo; e natureza da Ciência e CTS (Ciência, Tecnologia e Sociedade).
Atividade 1: Questionário para o debate – Perguntas sugeridas aos alunos:
- Qual era o sonho do personagem principal?
- Por que a ilha de Boca da Maré era famosa?
- Que problema a ilha enfrentou em relação as sardinhas?
- Qual a solução encontrada por Flint?
- Como Flint é visto por seus conterrâneos?
- O que começa a acontecer com a comida? Por quê?
- Que tipos de alimentos você consegue identificar nesta “chuva”? Há uma ocorrência maior
de alimentos naturais ou industrializados?
- Por que a Sam diz “e se estivermos com os olhos maiores que a barriga”?
- Você acha possível que chova comida como no filme? Por quê?
- Quando o Flint precisa da senha desativadora, o pai dele consegue enviar? Por quê?
- O que o bebê Brant queria?
- De que maneira o prefeito encarou a situação e qual sua postura ao perceber que o desastre
era irreversível?
Nota: estimule os alunos a criarem suas perguntas!
Atividade 2: Produção de alimentos
Nesta atividade, busca-se que o aluno possa relacionar a produção dos alimentos e a
desigualdade na sua distribuição. Propostas de perguntas e tarefas para os alunos:
- Segundo a ONU, a população mundial tem mais de 7 bilhões de habitantes, muitos dos
quais não possuem alimento. De que maneira a situação do filme poderia contribuir nessa
questão?
- Você acha que a solução proposta no filme seria segura?
- Construa um mapa destacando os países de maior população, os maiores produtores de
gêneros alimentícios e os maiores consumidores. O que é possível perceber?
- Relacione, com base no filme, a produção de alimentos com características culturais,
ambientais e comerciais da região geográfica descrita no filme.
Atividade 3: Características dos alimentos
Nesta atividade, propõem-se que os alunos identifiquem as principais características dos
principais gêneros alimentícios que ocorrem no filme, percebendo quais são naturais e quais
passam por processo de industrialização. As seguintes tarefas são propostas nesta atividade:
- Faça uma listagem contendo pelo menos 20 alimentos identificados no filme, diferenciando
os naturais (frutas, legumes, carnes não processadas) dos industrializados (macarrão, carnes

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processadas, pães).
- Cite vantagens e desvantagens de cada tipo de alimento, considerando prazo de validade e
presença ou não de conservantes.
- Pesquise a respeito da agricultura orgânica, identificando suas vantagens e desvantagens (o
professor pode desenvolver um debate adicional neste momento, com a criação de um júri
simulado, por exemplo).
Atividade 4: Bioquímica dos alimentos
Neste momento, os alunos podem identificar a principal composição bioquímica da maioria
dos alimentos que surgem no filme, relacionando com a demanda do organismo humano e
transtornos alimentares. Os alunos podem desenvolver as seguintes tarefas:
- Identificar a constituição bioquímica básica dos alimentos listados na atividade 3,
considerando se são mais ricos em carboidratos, em lipídios ou em proteínas, verificando
também a presença de sais minerais e vitaminas.
- Comparar a ocorrência destas substâncias químicas, relacionando com o que um organismo
humano adulto e saudável necessita e com o surgimento de transtornos alimentares, como a
obesidade, e doenças cardiovasculares, renais e hepáticas.
Atividade 5: Desperdício
Nesta atividade, o intuito é possibilitar que os alunos desenvolvam uma postura crítica em
relação à quantidade de alimentos desperdiçados, desde sua produção até seu consumo nos
grandes centros urbanos, promovendo uma relação com a quantidade de lixo produzida e os
impactos ambiental e social decorrentes deste desperdício. Propostas de perguntas e tarefas
para os alunos:
- Imagine uma cidade com tanta comida produzida. Os habitantes conseguem consumir tudo?
- Como ficam as ruas dessa cidade?
- Compare com a produção de lixo que produzimos. Faça um levantamento da quantidade de
lixo produzida em uma residência e na escola. Os resultados podem ser expressos em
exposições fotográficas, gráficos, tabelas, etc..
- O lixo decorrente do desperdício de alimentos é produzido apenas pelos consumidores?
- Pesquise a respeito do desperdício de alimento ainda em sua produção.
- Observe quanto do lixo é orgânico. Proponha soluções para minimizar o desperdício.
Atividade 6: Natureza da Ciência
Nesta etapa, os alunos podem identificar elementos que ilustram e/ou distorcem a natureza do
trabalho científico, permeada por estereótipos que podem ser corroborados ou refutados pelo
filme. Para isso, sugerem-se as seguintes propostas de tarefas:
- Flint vive vários momentos ao longo do filme. Ele recebe apoio das pessoas? Qual o
principal interesse da população e do prefeito em relação a Flint? Você acha que essas
características são atribuídas a muitos cientistas?
- Realize uma pesquisa a respeito de um dos cientistas brasileiros. Aponte que problemas eles
encontraram ao longo da vida, destacando, também, os avanços e possibilidades que os seus
legados deixaram para a ciência.
Atividade 7: Ciência, Tecnologia e Sociedade (CTS)
Nesta conclusão do trabalho, os alunos podem perceber de que maneira ciência e tecnologia
impactam a sociedade e o ambiente. Considerando o caráter dual do conhecimento científico
e tecnológico – que pode acarretar em consequências boas ou ruins para a vida das pessoas e
dos seres vivos –, os alunos podem desenvolver o senso crítico, criando bases para a
alfabetização científica e tecnológica. São sugeridas as seguintes propostas de atividades:
- De que maneira a máquina de Flint alterou a vida das pessoas na ilha de Boca da Maré?
- Que impactos ambientais podem ser percebidos após as anomalias produzidas pela
máquina?
- Devido ao transtorno gerado, você considera que a ciência e a tecnologia são essencialmente
negativas para as pessoas e para o ambiente?
- O que pode ser feito para reverter a situação na ilha?
Nota: estimule os alunos a criarem suas perguntas!

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Considerações Finais
O cinema, produtor em grande escala dos chamados filmes comerciais, pode se
destacar em muitos momentos como um precioso subsídio pedagógico no contexto
educacional. A prática de articular o cinema ao ensino, ressalta a procura por diferentes
metodologias que possam valorizar o lúdico, tendo nos filmes poderosos recursos
audiovisuais, que por meio da narrativa, dos personagens, do cenário, da trilha sonora e da
história em si, podem, quando utilizados de modo correto, gerar excelentes experiências de
aprendizado, as quais ainda podem envolver as emoções, desenvolvendo a aprendizagem
afetiva.
É importante destacar que a prática da projeção de filmes em instituições de ensino,
seja no ambiente escolar, ou mesmo em universidades, deve estar fundamentada no
planejamento. O professor deve conhecer o conteúdo do filme a ser exibido para que possa, se
necessário, selecionar os trechos, as cenas ou os elementos que expressem o conteúdo
pedagógico proposto, de modo a apontar estes itens durante a execução do filme. Esta parte
também é relevante para que se evitem surpresas desagradáveis devido ao desconhecimento
do conteúdo exibido, evitando-se a perda do planejamento ao projetar um conteúdo
inapropriado a um determinado público ou fora da temática em questão. A preparação dos
alunos para o filme também é parte do planejamento e, assim, a sala de aula deve ser
aproveitada como local para comentários prévios em relação aos temas que serão abordados
no filme em questão e a sua associação com o conteúdo programático. Desse modo, professor
e estudantes podem tirar o melhor proveito da atividade proposta.
O filme “Tá chovendo hambúrguer” foi escolhido devido à sua temática, que mostrou
potencialidades nas diversas abordagens de matérias científicas e tecnológicas pertinentes ao
ensino de ciências e biologia, como os excessos na produção e o desperdício de alimentos, a
geração de lixo, os exageros na ingestão alimentar e as suas implicações na saúde, além da
natureza da ciência. É pertinente registrar a presença de questões que levavam a impasses,
dilemas e dúvidas necessários para o desenvolvimento de uma educação científica. Dessa
maneira, além da aprendizagem dos conteúdos curriculares, a associação dos temas
relacionados no filme com o ensino de ciências poderá favorecer a construção de um
pensamento mais crítico, habilitando-o a argumentar sobre os temas relacionados à
tecnologia, às mudanças ambientais, à produção de alimentos, dentre outros, mostrados no
filme e que afetam substancialmente o modo como vivemos na sociedade atual.
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