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PROFESSORES E MEIOS

DE COMUNICACÃO:
internacionais
DESAFIOS,

Na polêmica televisão versus crianças, mais que proibir, ralhar, ou pior,


consentir pacificamente cabe aos professores e h escola prepararem-se
para assumir o papel de mediadores críticos do processo de recepção

"... perc-~biq u meus


~ alunu.~vêem o vida cotidiana de todos coloca neste fim de
canal pornográj?c» que recebem em sua século um desafio múltiplo, tanto para as
casa viu sarelite arravés da antena instituições sociais quanto para todos os
parahrilica. No outro dia, nada menos que membros da sociedade. A escola e a farnflia,
dois ddes comentavam a maneira de deirar a enquanto instituições especificamente en-
trava que OS pais haviam posto no televisor carregadas da educação das crianças e
poro evitar q ~ p quando
, os deiirassem sozi- jovens, são talvez as mais desafiadas pela
nho.~,eles vissem pornografia. Escutei com presença dos modernos meios e tecnologias
dernlh~ssua conversa, mas lamentei não de informação. Fala-se com certa familiari-
poder intervir: Qrrisem fazê-lo, mas isso .fi- dade que os MCM, e em particular a tele-
ca fora de minhas yunções ' como professo- visão (TV),são uma "escola paralela". Uma
ra nessa escola. Nenhum dos docentes escola "sem licença para ensinar" que se
podemos aconselhar em âmbitos que sejam instalou nas sociedades contemporâneas, de
considerudos 'privados' dos meninos. Isto
me fez pensar muito acerca de meu papel
como professora, que mais parece de em-
p q a d a que de formadora ..." Guillermo Orozco Gomez
Professor Doutor do Departamento de
(Uma professora de educação prim8ria2)
Comunicação da Universidade de Guadalajara,
A presença crescente e expansiva dos México.
meios de comunicação de massa (MCM) na
1. Rlcstra apresentada no Seminicio de Aniilises sobre Política Educativa "Hacia dónde va Ia Rducacidn Publica?", (Para
onde vai u Educiiçári m j b l i c a ~ ) ,em 2.511 1193, m Fundaçao SNTE, Méxim.
2. O exposto acima me foi dito faz quatro anui, por uma professora de uma escola bilíngüe, de orientaçáo Monfe\sori. loca-
lizada em Pedrepl de San A n p l , no Distrito Federal, MCxico, quando foi entrevimda para a pesquisa que realizei h=,-
cnndo conhecer iilguns dos limites e possibilidadcr para uma "Educaçio para os Meio\". a partir das eicolas mexicanas.
58 Professor e meios de çornunicaçao: desafios, estereótipos e pesquisas

maneira definitiva, e que ameaça as funções missão das mensagens. Formas que se origi-
e objetivos de outros agentes e instituições nam nos tipos de conteúdos, e sobretudo no
já legitimados. uso de diferentes linguagens e combinações
A existência e desenvolvimento dos de signos e códigos com recursos tecnológi-
MCM nas sociedades coloca alguns de- cos. A este respeito jií se começa a falar em
safios. Em primeiro lugar, um desafio de um novo tipo de linguagem: a videotec-
contefídos informiticos e, consequenre- nológica, como um conjunto de códigos
mente, de conotações e ideologias. Os distinguíveis das linguagens anteriores -
MCM estão fazendo circular, mas também oral, escrita, visual e audiovisual.
estão criando, uma série de i n f o m a ç k s e Estamos atualmente assistindo ao de-
estão disseminando-as, editadas das mais senvolvimento de elementos e combinações
variadas maneiras. sernióticas novas e distintivas que começam
a ser os sistemas linguíszicos do futuro e que
A "guerra" do significado e do sentido se diferenciam dos anteriores a partir da
que atualmente todas as culturas experi- lhgica de suas articulaç?ies.
mentam não pode ser entendida desvin- Assim, viirios pesquisadores' fizeram
çulada da cirçulaqão informativa e dos notar que a lógica gramatical que permite
significados e sentidos gerados e divulga- articular tanto a linguagem escrita quanto a
dos pelos MCM e propostos a nós todas oral, e que de alguma maneira também se
enquanto membros de uma ampla e eres- encontra na linguagem visual (ainda que es-
tente audiência. sa já se diferencie precisamente por com-
partilhar também a lógica da imagem), de-
Este primeiro desafio não é só guanti- saparece para dar lugar a uma Ilógica
tativo, mas também qualitativo. Ainda que a videotecnológica, na qual a racionalidade
informaç,To que os emissores de mensagens deixa espaço a uma caprichosa justaposição
põem em circulação e fazem significar de de signos de diversos tipos e procedências
modos específicos seja mais ampla e se (visuais, auditivos etc.) com a finalidade de
relacione com uma multipticidade de as- espetáculo.
pectos da vida social, econômica e política, E precisamente o espetkulo e não a in-
ela não é neutra. Carrega matizes e ênfases formação ou o ensino o que predomina co-
particulares que a convenern em um produ- mo objetivo nos MCM modernos, na quase
to cultural, no sentido mais amplo do termo. totalidade dos países ocidentais. Além disso,
Por outro lado, a informaçtção se converteu o espeticuIo é o que motiva, na maioria das
em um bem de consumo, aparentemente ca- vezes, a exploração de novas combinações
da vez mais necessário para os individuos e de códigos, de gêneros mediáticos e de esti-
os grupos em seu esforço por uma existên- los, já que se trata de "conquistar audiên-
cia plena de sucesso, em uma sociedade cias" e niio de prestas serviços. A predomi-
moderna, repleta de interações sociais in- nância do espetgculo continuará aumentan-
fortnatizadas. do enquanto predominar a tendência maior
Outro desafio tem que ver com as for- de privatização das empresas de MCM, co-
mas de construção, apresentação e trans- mo presenciamos no México.
3. PICFINI, M. Lpctirm v. escriela: entre Ias memorias tradicionailes y Ias memorias electrónicah. (Leitura e eicola: entre a\
memõniir tradicionais e as memórias eletmnicas). In: Consumo cultural en Mexico. (Con~urnocultural no México).
Mexico: CNCA. 1993.
Cornunicacáo 8 Eduçacão, São Bulo, []O):57 a 68,set./dez. 1997 59

Outro desafio está nos recursos técni- exemplo, Multivisión), por fibra ótica ou
cos, infomátiços, didáticos, econômicos e por antena parabólica. Além disso, o televi-
de distribuição que os MCM têm e utilizam sor serve como tela cinematográfica (quan-
para alavancar suas redes e suas empresas. do alugamos um vídeo e através dela o apre-
Estes recursos indicam a capacidade de re- ciamos), como tela de videojogos, como
produção e distribuição de suas mensagens, tela de computador e, finalmente, como tela
assim como a capacidade de inovação. Têm para o uso de programas interativos de ensi-
que ver, também, com a capacidade de fi- no programado. Desta maneira, já não é
delidade e rapidez com a qual as novas tec- possível falar de uma única TV ou de um s6
nologias de informação, em especial a TV e tipo de teleaudiência, e sim de vários simul-
seus derivados, podem reproduzir a reali- taneamente.
dade. Capacidade de simulação, de
recreação e de reprodução sem precedentes
na histúria da tecnologia. UMA COMPAMÇAO
O acelerado desenvolvimento que DESFAVORÁVEZ: ESCOLA
contemplamos nos permite, alkm disso, VERSUS MCM
ver como cada aparelho ou instrumento de
comunicação está diferenciando-se intrin- A oportunidade da informação, sua
secamente, ampliando e melhorando suas contextualização e as possibilidades técni-
possibilidades técnicas enquanto instru- cas e lingüísticas para sua apresentação Bs
mentos. Por exemplo, o telefone não só é audiências contrastam com as possibili-
veículo para a voz, quer dizer, para a lin- dades da escola pública no México (e da es-
guagem oral, mas também, com o fax, é cola em geral), na qual o material didático,
linguagem escrita, pode codificar o sinal basicamente os livros de texto, são insufi-
auditivo, convertendo-se em um material cientes e inapropriados para cumprir as
impresso ao chegar ao aparelho receptor; funções a eles destinadas dentro do conjun-
ou, com um modem, o telefone alia-se h to de objetivos educativos buscados.
linguagem digital dos computadores e nos
pãe em contato com informações escritas.
Se a tudo isso acrescentamos as se- As preferências das crianças tampouco
cretarias eletrônicas, as telas do computa- favorecem a educação e os processos de
dor, o telefone celular, o telefone sem fio, Instrução em aula. Este é um fenômeno
então o telefone como instrumento e a muito importante que ultrapassa fron-
telefonia como estratégia de comunicação teiras. Nem no México, nem em outros
tornam-se po! ivalentes, permitindo-nos países existe uma preferência pela escola,
fazer o que antes nem sequer poderíamos por exemplo, frente a TV.
imaginar.
Outro exemplo experimentado já por Isso se manifesta numa crescente re-
muitos de 116s6 a TV. Antes s6 recebíamos cepção de (interação com) os diversos
um tipo de sinal televiçivo, via antena aérea MCM. As crianqas passam mais horas em
comum, a partir de uma fonte emissora. frente ao televisor do que em frente ao
Hoje podemos captar varias tipos de sinais: quadro-negro na aula e, quando concluem
por cabo, por sistemas codificados (por sua educação média básica, viram mais ho-
60 Professor e meios de çomunicaçâor desafios, esterebtipos e pesquisas

ras de TV que as horas em que estiveram na com o que aprendem da escola, constatare-
escola4. mos que estão mais informados de tudo o
Segundo dados de pesquisas recentes que se transmite na TV, desde as fofocas
feitas no México, durante a semana as dos artistas até os produtos e serviços anun-
crianças vêem entre três e cinco horas de ciados, do que sobre os conteúdos dos
TV por dia e até sete aos sábados e domin- livros de texto8. Isso me leva a colocar aqui
gos. Isso varia segundo o estrato social mas, um último desafio importante dos MCM 5
independentemente deste e outros critérios, educação e a nós como educadores. O que
uma criança urbana vê, em média, quatro se oferece nos MCM 2s crianças, indepen-
horas diãrias de TV". Simplesmente em ní- dentemente do que consideremos valioso
vel quantitativo, esses dados são muito reve- ou digno de ser oferecido a elas, est6 per-
ladores da magnitude do problema. Sem mitindo-l hes ter um conjunto de conheci-
díivida, os aspectos relativos 5 quantidade mentos que 1Res são mais adequados para
de horas são os que apresentam os maiores localizar-se e mover-se no mundo, em sua
desafios. Mas eles estão presentes também vida cotidiana.
nos aspectos relativos h qualidade de pro-
gramação, ainda que isto não implique, de
modo nenhum, deixar de dar importância ao Enquanto na escola queremos produzir
elemento quantitativo. uma situação propicia para o ensino-
Em temos de eficácia, ou efetividade aprendizagem, os meios de comunicação
da aprendizagem, a siruagio que se observa estão reproduzindo situações reais, que
também põe a escola em desvantagem. Há já se não têm muito que ver com o ensino,
suficiente pesquisa a partir da qual se pode tGm a ver e muito mais com a facilitação
afirmar que as crianças aprendem mais e mais da aprendizagem.
rapidamente dos diversos meios de çomuni-
cação, e em especial da TV, que do professor Como revelava um estudo nos Estados
na escolah. "Até as toadas dos comerciais Unidos, os MCM motivam uma aprendiza-
pegam - comentava comigo uma professora, gem "antecipatória", quando provêm os re-
surpreendida porque seus alunos sabiam me- ceptores de condutas, atitudes e maneiras de
lhor as melodias e vinhetas dos anúncios da comportar-se em situações novas, não vivi-
TV do que as estrofes do Hino Nacional"'. das antes. Por exemplo, condutas para saber
Se nos aprofundarmos no que as crian- como comportar-se na escola são aprendi-
ças aprendem dos MCM e compararmos das pelas crianças não ao chegar à aula, e

4. MAYA, C . 7V y nirins err Mexrco. (TV e crianqas no Mixico). Informes de investigxión ndurativa. (Inromei sobre
pesquisas educativai) Mexico: Direcci6n de InvcstigaciCin UPN, n.7, 14Y7.
5. OROZCO. Guilherme Gomez. Lcr influencio de In TV en lu ~ U c u c i O ndt nifios~ j c i i u n ~ sopiniones.
: mitos, hechos. ( A in-
fluÈncia da TV na e d u c a ~ k ide crianças e jovens: opiniões. miios e faias). Reporte Ocasional. PROIIÇOM. Mexico:
Unive~idiidFberriamericana. n.3, 1943.
6. CONSFJO N A C I O N A L TEC. DE LA E D U C A C ~ ~(CNTE). N La TV y los estudiantes de tdeserundaria. (A TV e os
estudantes da Telesecundhria). Mexico: Informe Final. 1983.
..
7. GOMEZ. GuilIerino Oroixo. Cuanrln tos ninas ven t ~ l e v i s i h ; (Quando a i crianças vêem televisio) In: UMBRAI. XXI.
Mexico: Universidad Ikmamencana, n.2, 1990.
X . AMIC. h r á m r r u d t Iri inwstijiricidn snhw efecfos de 10s connrenido.~
no didúrtiros de tos MMI.
(Panonrnica da invesiigaçáo iobre os efeitos dos conteúdos nào-didático< dor MCM). Cuaderno de Trabajo. Mexico, n.2.
1986.
Comunicação & Educação, São Paulo, [ 101: 57 a 68,set./dez. 1997 61

sim muito antes. Ao estar na escola, suas ex- e a falta de uma regulação juridica adequada
pectativas se vêem em boa medida e de uma sanção social pertinente -, os de-
fmstrndas9. safios educativos que nos colocam os MCM
Estamos, então, frente ao desafio da nos empurram a um dilema: ou enfrentamos
relevancia entre o que faz a escola e o que os MCM com astúcia, estratégia e métodos
oferecem os MÇM 2s crianças para sua vida ou corremos o risco de perder relevância co-
diária. mo educadores. Isto é* corremos o risco de
Em síntese, é possível assinalar pelo ficar fora da "jogada educativa".
menos seis grandes desafios: informático,
formal, dcniço, preferencial, efetividade
pedag6gica e relevância educativa. JOGAR OU NÃO JOGAR - SER
Contextualizando, estes desafios resultam MEDIADORES, ESSA 6 A QUESTAO
ainda mais estimulantes, já que, junto com
todo o lixo, violencia, antivalores e satu- Considero que não podemos retraçar
raça0 informativa que os MCM nos nossa retomada de posição frente aos
trazem, chega-nos também um conjunto de MCM, ainda que a cancha de jogo não este-
mensagens e programas que constituem ja pronta. Temos que começar a jogar o que
um estímulo para a imaginação, a apren- considero seja o jogo da mediação, entre os
dizagem, a vida. Os MCM oferecem múlti- MCM, as instituições educativas e os
plos contatos que antes não eram possiveis. processos de recepção de mensagens nos
Oferecem uma 'Ijanela para o mundo" e in- quais se envolvem nossos estudantes.
teressantes possibilidades de desenvoivi- Entre os elementos que tornam com-
mento pessoal e social, de distração e es- plexa nossa decisão e que limitam nossa
pairecimento, assim corno de aprendiza- efetividade se encontra a crescente urba-
gem constante. nização da maioria da população do México
E precisamente por todo este acúmzilo e da América Latina e a pauperização de
de elementos positivos que nossa vincu- amplos setores sociais. A urbanização im-
lação com os MCM resulta pelo menos am- plica uma concentração em áreas urbanas
bígua, além de contradizorla. Nós os sem precedentes de nossa história. A con-
rechaçamos em um certo nível, no nível do centragão por sua vez supõe, por uma parte,
"dever ser", e os aceitamos na vida cotidia- uma maior proliferação de opçoes culturais,
na, nesse mundo onde as decisões são mais às quais, paradoxalmente, só podem ter
situacionais ou pragrnãticas, que reflexio- acesso reduzidos setores sociais, e por ou-
nadas e coerentes com o ideal'". tra, uma complexidade do espaço urbano,
Mas além de ambigüidade e con- que impede o adequado trânsito e rnobili-
tradições - de temores, culpas e çomplacên- dade para concorrer e desfrutar de todas es-
cias experimentadas em relação aos MCM, sas opções culturais que as grandes cidades
sua presença expansiva em nossa sociedade nas oferecem.

9. OROZCO,G.h EnJuenciri de lri TV en Ia fducaiion. ( A influbcia da TV na educaç50). op. cit.


. La TV nn edrrca, pem 10s nrfios .ii upwriden de cllrr. ( A TV não d u c a . mas as crianças aprendem com
ela). In: UMBRAL XXI, Mcxico: Univesidad Ibemamericanu. 1989.
10. RENERO. Q. Marta. La mediación fnmiliar en lu consrrucci6n dc /i audienciu. prríctrcus de roniml mnterno en Ila re-
ccpridn I&-viri-vn infantil. (A mediaçiio familiar na constmção da audiência, práticas de controle materno na recepção
telc-vici-va inianiil). Cuadernos de! PROIICOM. Mexico: UIA. n.4. 1993.
62 Professor e meios d e cornuniçac;ão: desafios, estereótipos e pesquisas

Em relação h aguda limitação espacial zação e da competitividade, e um s6 meio, a


que se vive na Cidade do Mkxico, uma mãe TV, irá açambarcar, de maneira monopo-
me dizia: lizada, a atenção da audiência, enquanto di-
" E que não rnp fica outra alternativa versifica intrinsecamente sua oferta.
que não seja a de deixar as crianças ver Como se mostrou: em um estudo re-
tel~visão,porque vivendo no décimo segun- cente sobre o consumo cultural no
do piso de um mulf.$~~milia~; pre$m tê-los ~ é x i c o " ,a freqüência a teatros, cinemas e
aí, quietos, a que andem embaixo, expondo- espetáculos urbanos, exposições, parques e
se a todos os p e r i ~ o sda rua e longe de meu lugares públicos, apresentações de livros
nlhnr"". etc, vai diminuindo notavelmente, enquanto
O resultado final desta concentração vão aumentando as horas ft-ente 5 televisão,
urbana é por sua vez uma concentração nas em qualquer de suas diversas opções.
maneiras de passar o tempo livre e no con- Enquanto mais de uma terceira parte
sumo cultural3'. Esta tendência não esth dos cinemas na cidade do México fecharam
diminuindo, mas sim, pelo contrário, est8 nos ultimas cinco anos, os negócios de
aumentando, aluguel de vídeo multiplicaram-se progres-
siva e geograficamente.
Em parte porque cestas expressks cul- É possível afirmar, então, que a diver-
turais acabam por monopolizar e se ofe- são é cada vez mais uma monodiversão, e
rece "cada vez mais da mesmo", mas so- que estíí relacionada de uma ou outra
bretudo porque há uma crescente prefe- maneira com a videoteçnologia.
rência social por aquelas opçijes de dis-
tração mais baratas e de maior acessihi-
lidade para todos. PARA UMA MUDANÇA
NAS REGRAS DO JOGO
Desta maneira. a TV e seus derivados
vão se convertendo em uma npçfio real de Isso coloca um super desafio educa-
consumo cultural e desfrute do tempo livre tivo a todos os que estamos no jogo e que-
na sociedade moderna. remos continuar dentro da cancha: ou faze-
Isso implica o aumento da nossa inte- mos dos meios aliados ou os MCM
ração com os modernos MCM e, em parti- seguirão sendo nossos inimigos e çom-
cular, com a TV; os estudantes assistirão peiindo conosco, deslealmente, fazendo-
mais h TV, escutario mais o rádio e lerão nos perder relevância na educação das
mais fotonovelas e revistas superficiais. crianças e, finalmente, deixando-nos mar-
Pouco a pouco se reduzir5 não sol a diversi- ginalizados de seu desenvolvimento educa-
dade rnediática, que momentaneamente es- tivo real, ou seja, esse que se d;í fora do es-
tarnos experimentando por razão da privati- paço da escola.

1 I .OROZCO, Guillcrmo Gome/.P r u r t f r ~ zde . ~ rnrd~riririn(IP k 1 Jiiiirilrti ?' / i r erc rrrlri ri?lu mcpci<jn irkci,i.iii~ridc Ios niio).\.
(Wticas de mediação da família e da e~colana rece~noteleririva da\ crtunçaq). PROIICOM. Mexico: Universidad
Ihemamericana. [d] 1Documento Interno de Truhalo). -. Como ipr TV en fomílio. Guia para padm. Mexico:
[ c . R.]. 1W3.
12. CANCLINI. N. G.. PIÇÇINI. M. ÇirErtrms de Irr Ciurlnd dr Merirci: símhiiltis colectivrr. y usos de1 e\picio iirhano. In:
-. (coord.) El consumo rultural en Mexim. Menico: CNCA. 1993. IColeccibn Pcnrar Ia Ciilrirm)
1 3. I(itrn. ihidrm.
Comunicação & Educação, Sáo Paulo, [ 101: 57 a 68,set./dez. 1997 63

Quero mencionar aqui uma idéia do Para isso, como fizeram no Chile, os profes-
grande educador, John Dewey, porque me sores e a escola, como instituiqão educativa,
parece que nos dá a chave para enfrentar o foram assumindo um papel muito mais in-
desafio. Ele dizia: se o que nossos alunos teligente e ativo, mais propositivo como
aprendem fora da aula é relevante para sua agentes mediadores entre os MCM e os es-
aprendizagem dentro da escola, é obrigação tudantes.
nossa, como educadores, tomar em conta É necessário exercer explicitamente
essa a~rendizagem'~. uma mediação que oriente a aprendizagem
E claro que o que as crianças apren- dos estudantes fora da aula, que permita re-
dem fora da classe tem importância em sua contextualiz8-Ia, sancioná-la sob diversos
aprendizagem formal escolar, motivo sufi- criterios éticos e sociais, permitindo
ciente para tal vivência ter importância tam- aproveitar o que de positivo oferecem os
bém para nossa prática docente. MCM, capitalizando para a escola a infor-
. .-- . - mação e as demais possibilidades que esses
São os professores que enfrentam diaria- meios nos trazem.
mente seus alunos de primario e se- Para dizê-lo de maneira simples e em
cundário, aqueles que estão sendo teste- relação ao meio que mais dores de cabeça
munhas das condições e dos limites da nos causa, a TV: de professores repressores
situaqão cultural, econfimica e política (mascom pouca eficácia) dos alunos por ver
na qual se tem que cumprir a função de tanta TV, há que se passar a ser professores
ensinar. mediadores das distintas experiências como
telespectador.
Pode-se seguir tratando de desacredi-
tar as aprendizagens realizadas fora da es-
cola; pode-se desligitimar os meios de co- ESTERE~TIPOSE PRÉ-JUIZOS
municaqãa como fontes reais de aprendiza- QUE SE TEM QUE COMBATER
gem dos alunos; pode-se negar ou d a -
tivizar a influência deles, minimizá-Ia na Ainda há muitos esterehtipos que se
fantasia e no discurso, e pode-se pretender constituem em obstáculos para que te-
ser mais "poderoso" que eles; pode-se, en- nhamos uma ação mais definitiva como me-
fim. repreender os alunos e seus pais por diadores entre os MCM e o desenvolvimen-
serem telespectadores tão adeptos e sa- to educativo das crianças e jovens. Parece-
taniziir a TV, mas cabe perguntar-se se esta me importante destacar alguns, porque são
é a estratégia adequada para recuperar o lu- talvez os que mais predominam no contexto
gar privilegiado (perdido?) na educação das da educação no México.
crianqas e jovens em nosso país. Um primeiro estereétipo é pensar que
A experiencia na Austrália, na os MCM e em particular a TV, são uma
Inglaterra, na Suíça e, mais recentemente, ctiixu idiota e que por conseguinte há que se
em nosso continente, no Chile, mostra jus- mantê-los o mais longe possível da escola e
tamente que é possível ir mudando as jo- dos processos educativos. Agregado a este
gadas a partir do mesmo terreno de jogo. estereotipo se encontra o pré-juizo de que

14. SCHEFFLER, I. F a u r Pragrnatists - a critical intmduction i r ) Pierce. James. Mead iind Dewey. (Quatro pragmiticos -
umi intrtxlut;áci críticd a Pierce, Jamec. Mead e Dewey). New York: Hurnanirics Prcss. 1983.
64 Professor e meios de camunicaçào: desafios, esterebtipos e pesquisas

tudo o que vem dos MCM é pelo menos vam que como educadores não estão sós. A
queçtionável e de que, ainda que hs vezes os aversão aos competidores, particularmente
MCM divirtam, melhor que as crianças e com relação aos MCM, aumenta na medida
jovens se distraiam com coisas mais úteis em que a brecha entre os ganhos educativos
ou de maior proveito. Os meios de comuni- da escola e dos meios se alarga".
cação, então, são vistos como inimigos que A recomendação frente a estas
competem com nossos esforços de instrução posições é a de aprender a coexistir em um
na aula. Portanto, eles se apresentam como cendno cultural plural, no qual as funções
uma influencia nociva para o desenvolvi- educativas não nos pertencem com exclu-
mento educativo de nossos alunos. sividade e no qual as fontes de aprendiza-
Frente a este conjunto de idéias, a re- gem e os educadores espontâneos se multi-
comendação é a de construir um juizo muito plicam. H6 que se relocalizar a função da
menos maniqueísta e muito mais integrado, escola neste cenário infomntizado e cada
menos visceral, que permita pesar os ele- dia mais videofecnologizado,de dimensões
mentos positivos e negativos que oferecem múltiplas para que, sem perder sua própria
os meios e atuar a partir daí; por exemplo, distintividade, ela possa aspirar a alcançar
desenhando estratégias de intervenção para seus objetivos.
tomar as crianças mais autbnornas e críticas Outm estereótipo, também muito ar-
frente a todas as mensagens nocivas dos raigado entre os educadores, é que a edu-
MCM e, ao mesmo tempo, muito mais ca- caçiio deve ser coisa séria. Assim, se crê que
pazes de desfrutar e aproveitar os outros quanto mais esforços se faça, melhores serão
elementos positivos para seus próprios fins. os resultados. Juntamente ao anterior, pensa-
Um segundo estereótipo generalizado se que o aspecto ludico supeficializa a no-
entre educadores é aquele que afirma ser a breza e qualidade da educação e a fiexibili-
escola a dnica instituição legítima para edu- dade faz com que os processos pedagcigicos
car. Conseqiienternente a educação que aí se tornem frouxos/sol tos e ineficienies. Em
tem lugar é a única que vale, em parte relâçh aos MCM, considera-se que só aque-
porque os professores são profissionais da las mensagens culturais ou instrutivas são re-
educação, em parte porque a sociedade de- comendáveis, sem considerar que a pesquisa
positou na escola a responsabilidade de ernpirica nos mostra de maneira contundente
educar as novas gerações e em parte porque, que são precisamente os programas educa-
em comparação com as outras instituições, tivos e culturais os que as crianças não
os objetivos da escola são nobres e legíti- gostam e por isso não os vêem.
mos. A partir desta perspectiva, não se ad-
mite que haja outros educadores, que haja a
Frente a este estereótipo, a recomendação
possibilidade de que aqueles que não pas-
é a de ir compreendendo que se pode
saram por algum cursa Normal ou por al-
"educar entretendo" - Tema da TV
gum curso de Pedagogia, tenham capaci-
Cultura, de São Paulo, Brasil - e que não
dade de facilitar a aprendizagem e, inclu-
necessariamente a compreensão facilita-
sive, ser mais eficientes e efetivos nesse
da implica perda de relevância ou de
processo. Há em muitos docentes um zelo
qualidade.
injusrificado, ainda que real, quando obser-

15. OROXO. G. La infliiencia de la TV. op. cit.


Comunicaçao & Educação, São Paulo, 11 O]: 57 a 68,set./dez. 1997 65

Parece imprescindível abandonar a A recomendação é, em síntese, con-


filiação ao velho lema de que "a letra com siderar que o importante, tanto no processo
sangue entra" que, em diversas doses, está de aprendizagem quanto no de comuni-
ainda presente nos anos 90. cação, é o que sucede não no p61o da emis-
Finalmente, outro estereótipo consiste são e sim no pólo da recepção e isso não de-
em considerar que são as mensagens que pende somente das intenções originais dos
estimulam a aprendizagem, que a influên- emissores, mas de muitos outros fatores.
cia dos meios é forte, monolítica, todo-
poderosa; que os receptores ou membros da
audiência são passivos. estão indefesos ante PERSPECTIVAS DE
as diversas mensagens emanadas dos UMA EDUCAÇÃO PARA OS MEIOS
MCM. Pensa-se, tambkm, que "nascemos"
alunos ou audiência e que não há mais A escola e os professores têm, junto ao
remédio, posto que, uma vez que somos al- enorme desafio que Ihes colocaram os
cançados por uma mensagem, ficaremos MCM, um grande potencial para desen-
"infeçtados" por ela irremediavelmente e v01ver.
para sempre. Em primeiro lugar, existem, desde pe-
Anie esta compreensão errônea do lo menos três décadas, esforços variados
processo da comunicação em geral e da re- para intervir nos processos de recepção dos
cepção dos meios de comunicação em par- meios de distintos setores da audiência, com
ticular. a recomendação começa por lembrar diferentes nomes, tais como Recepção
que os processos de comunicação e apren- Critica, Leitura Crítica dos Meias,
dizagem têm lugar não na emissão ou no en- Recepção Ativa, Educação para a
sino, mas sim na recepçiio ou na resposta Comunicação, Alfabetização Televisiva e
que dão, neste caso as crianças, 5 mensagem Educação para a Recepção. Educadores e
ou estimulo original. A aprendizagem não comunicadores t6rn experimentado, na
se define no professor e sim no aluno e só maioria dos países ocidentais, diversas es-
em parte depende do esforço instrutivo. Nao tratégias e inktodos para aproveitar melhor
hd garantia de que o que se quer ensinar se- os MCM e para potenciar, nos receptores,
ja iiquilo que os alunos aprendem, nem há suas capacidades analiticas, criticas e comu-
gzirantia de que as mensagens dos MCM, nicativas frente 5s e a partir das mensagens
elaboradas segundo os interesses do emis- que recebem.
sor, sejam as que realmente recebem os Cada um dos nomes acima rnenciona-
membros da audiência. A audiência não dos dá ênfase distinta em algum ou alguns
nasce, se faz e se faz de distintas maneiras. dos elementos que são passíveis de sofrer
H1í espaço para a transformaqão e para a intervenção pedagógica. Por exemplo, a
educaçllo para os meios. Os receptores dos Educação para a Recepção sublinha justa-
MCM n5o são recipientes, vítimas, nem se mente o pó10 da recepção como o objeto de
encontram indefesos frente hs mensagens. A análise e se concentra em explorar as mclti-
audiencia está constituída por um conjunto plas mediações de que é objeto o próprio
de sujei tos culturais, historicamente situa- processo, a mensagem e a audiência. A
dos. capazes de negociar as mensagens e, Alfabetização Televisiva, por sua vez, en-
eventualmente, de resistir a elas. fatiza o ensino da linguagem videotecnoló-
66 Professor e meios de comunicação: desafios, estereótipos e pesquisas

gica própria deste meio, enquanto a Leitura - os professores, na escola, têm importancia
Crítica prioriza a análise critica do conteú- para a recepção que os estudantes fazem dos
do das mensagens. A Recepção Ativa diversos meios de comunicaç5o.
destaca o fortalecimento da capacidade dos Por exemplo, os professores que falam
receptores de "ressemantizar suas men- com os seus alunos em classe sobre aq~~ilo
sagens" e a Educação para a Cornuni- que estes viram no dia anterior na TV. ofe-
cação se ocupa de potenciar a capacidade recem a eles urna possibilidade de contar
comunicativa da audiência na construção de com um juizo, qualquer que seja este, para
suas próprias mensagens. ir conformando um critério frente a essas
Como se pode ver, cada uma destas mensagens. Por outro lado, os professores
ênfases pedag6gicas dirige-se a algum ele- que são mais autorit8rios e, em lugar de dia-
mento ou momento do processo de comuni- logar sobre as mensagens dos MCM com
cação; uns mais para os meios e seus çon- seus alunos, quando estes mencionam algo
teúdos, outros mais para a recepção e a au- os calam ou repreendem, contribuem para
diência; uns são preventivos, outros se ins- criar receptores mais submissos, não s6 em
trumentam a posr~riorietc. As possibili- aula, mas também frente h tela televisiva.
dades são bastantes e dependem da maneira Aqueles professores que oferecem al-
como se define o problema. ternativas de ações concretas a suas crianças
. . ..-- - -- - -. para o tempo livre, sugerem-lhes jogos,
Por exemplo, quando o que aparece como deixam-lhes tarefas apropriadas em quanti-
problemático é o conteiido das men- dade e tipo, levando em consideração a
sagens, então o coerente é utilizar-se de própria avaliação que têm seus alunos sobre
diversas estratégias que permitam anali- o que fazem com seu tempo livre, adquirem
sar criticamente esse conteúdo e eviden- maior legitimidade como orientadores do
ciar ante os receptores o tipo de valores e que os professores que s6 proferem insultos
conotaqnes com que foram elaborados. aos meios, i s mães das crianças por serem
Quando o problema se localiza na re- tão relevisivas e, finalmente, acabam des-
cepção e na falta de educação da audiên- concertando as crianças porque estas nunca
cia para interagir mais critica e autono- chegam a saber o que querem dizer seus
mamente com relação às mensagens dos professores quando Ihes ordenam '"fazer al-
MCM, então as estratégias pedagbgicas go Útil", em vez de ver tanta TV ou "fazer
apropriadas são aquelas que se dirigem algo de proveitoso". Muitas crianças se pes-
para os mesmos receptores, questionando guntam: não é mais proveitoso ver a TV do
suas preferências, hábitos de exposição que fazer as aborrecidas tarefas da escola?
aos MCM, maneiras d e interagis com
suas mensagens etc.
POSSIBILIDADES
Independentemente da perspectiva DE INTEWENÇAO PEDAGOGICA
pedagógica que seja escolhida, o denomi- FRENTE AOS MEIOS
nador comum do qual todas participam 6 o
fato comprovado ernpiricamentelfi de que - As observações anteriores e muitas
seja o que for que façam ou deixem de fazer outras sustentam-se no fato de que é pos-
Comunicação & Educaqáo, São Paulo, [ 101: 57 a 68, set./dez. 1997 67

sivel intervir no processo de recepção. É A criança que começa a ver programas


possível não por mero voluntarismo ou
de TV vai, quem sabe sem perceber-se
capricho, e sim porque a recepção - dife-
disso, iniciando sua aprendizagem para
rentemente da crença amplamente predomi- ser telespectador. Se as Únicas opções que
nante - não é somente aquele momento pre- tem a seu alcance são as da Televfsa, é
ciso de estar em contato direto, físico com a
mais provável que se faça um receptor
mensagem. O processo de recepção televisi-
como esta empresa o deseja.
va começa antes de ligar a televisão e não se
conclui uma vez que se tenha desligado a
TV, ou mesmo quando o telespectador se Mas se enquanto vê TV os adultos que
afasta da tela. O impulso para ver TV, a se- o rodeiam vão orientando-os, se na escola
l e ç b de canal elou programa televisivo não recebe comentários de seus professores e
siío atos isolados de uma maneira aprendida vai formando juizos e opiniões diferentes,
de ver TV ou de um modo específico e pelo menos mais pensadas, menos espon-
rotineiro de passar o tempo livre, mas sim tâneas, seguramente em algum momento
justamente são manifestações de uma poderá distinguir a programação de quali-
maneira de ser telespectador. dade da que não o e. Se, além disso, a partir
De outro lado, o fato mesmo de que as da escola lhe vamos dando instrumentos
crianças trocam e comentam suas primeiras mais especializados, como uma educaçao
apropriações do que viram na tarde anterior na linguagem da imagem e a oportunidade
na TV com seus companheiros de classe na de expressar-se e desenvolver suas capaci-
manhã seguinte indica que o "largo" proces- dades comunicativas, seguramente formare-
so de recepção se estende até à escola, paç- mos um telespectador "melhor preparado",
çando às vezes pela sobremesa depois do capaz de tomar melhores decisões frente às
jantar, ou pelas conversas entre irmãos, mensagens programáticas que lhe são ofe-
antes de dormir. Em cada um desses mo- recidas e sair exitoso de seus múltiplos en-
mentos se trocam impressões e significados contros com os MCM. Esta tem sido a apos-
provisionais daquilo que foi visto na tela e ta dos chilenos que em seu plano se estudo
se vão afinando as maneiras de compreen- incorporaram uma Educação para os Meios
der as mensagens. como um dos quatro eixos prioritários da
A recepção televisiva, então, não é um educação escolar. Tem sido também a apos-
processo que só transcorre num lugar ou ta dos australianos e dos britânicos, dos
que se vive em família, ainda que aí certa- habitantes dos países nórdicos, dos suíços e
mente uma parte importante dele aconteça. dos alemães, que há vários anos já vem in-
O outro princípio que sustenta a inter- corporando ao çurrículo da educação formal
venção frente aos MCM é que não nascemos matérias que buscam potenciar as destrezas
receptores, mas vamos nos fazendo em comunicativas das crianças frente aos diver-
grande medida influenciados somente pelas sos MCMI7.
mensagens dos MCM e sem a concorrência No México houve alguns esforços e se
de outras influências efetivas que se con- desenharam materiais de trabalho para a es-
traponham à nossa formação como audiência. cola e a família. Sem diivida não é suíi-

7. ÇHARLES, M.. OROZCO. Guillenno Gomez. FAucación pura Ia recepci6n: hacia una lectura crítica de 10s medios.
(Educação para a rccemão: por uma feitura crítica dos meio< de comunicaçánE. Mexico: Tfllla~,1%).
68 Professor e meios de comuniçaqao: desafios, estereótipos e pesquisas

ciente o que se fez ate agora'! Não s6 fal- que 6 quando o ser humano ainda é pequeno
tam material e muita orientação como, so- que os esforços pedagógicos rendem
bretudo, de um lado, a vontade política para maiores frutos. Não podemos continuar des-
incorporar este tipo de preocupação ao tra- perdiçando a tradição e a formação
balho docente e, de outro, uma sensibiliza- pedagógica dos professores, mantendo os
ção em nível da sociedade em seu conjunto meios de cornunicaçiio fora de seu âmbito
sobre a possibilidade de se intervir, como de trabalho profissional.
mediadores, entre os MCM e o desenvolvi- Pensar que a escola é o lugar onde se
mento educativo das crianças. pode instrumentar uma mediação profis-
sional sistemática frente aos MCM não sig-
nifica descartar outras instsncias. Urna me-
PARA CONCLUIR... diação deste tipo não pode ser unilateral.
por definição. Congrega necessariamente a
Mais do que concluir estas reflexões, concorri5ncia de muitas partes. que devem
quero continuar com a provocação a todos ser organizadas para poder ter alguma efe-
os leitores, enfatizando que é a escola, e em tividade. Tampouco se podem esperar
particular a escola pública, enquanto insti- muitos resultados em curto prazo, mas
tuição historicamente respons;ivel pela edu- aceitar o falo que só a médio prazo é pos-
cação das crianças e jovens, um lugar muito sível verificar-se transformações. Ao invés
apropriado - apesar de todas as suas lirni- de desanimar, deveria se estimular para
tações - para iniciar e estimular uma começar já o desenvolvimento de estraté-
Educaç5o para os Meios. Há que recordar gias de Educaçção para os Meios.

Resumo: O autor discute o papel da escola e Abstract: The author discuçses the role of the
dos professores na formação dos alunos como school and o7 the teacherç in forrning
receptores dos meios de comunicação de students as receptors of the mass communi-
massa. Atribui 5 escola, ao professor e aos cations. He attributes to the school, to the
pais o papel de mediadores no processo de re- teacher and t o parents the role of
cepção, visando ao aproveitamento do apren- mediators in the reception process, aiming at
dizado que os meios proporcionam para a for- absorbing the teaching that the Media render
mação intelectual crítica e ativa das crianças. for the child's intellectual, critical and active
Austrália. Inglaterra, Suíça. Alemanha, Chile e upbringing. Australia, England, Switzerland,
países nórdicos sao citados como exemplos Germany, Chile, and Nordic countries are
de países que incorporaram a Educação para mentioned as exarnples of countries that
os Meios ao currículo educacional. incorporate Education for the Media in their
educational curricula.

PaSavras-chave: Educação para os meios, re- Keywords: Ecation of media, television,


cepção, televisão, escola, aprendizagem. reception, education

18. ÇHARLES, M. OROZCO, G.. Fducacion para 109 rnediw: una estniegiii integral para rnae\iro\. piidrer y niiici\
(FAucaq;ici paru os meios: rima estrdtCgi:i integral par.1 pmfc~$circs.pais e crianças). Mcxico: UNESCOIILCI;. 1993

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