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C O M U N I CA ÇÃ O
UPLEMENTAR E ALTE
RNATIVA
DANIELLA FORCHETTI
Comunicação
suplementar e alternativa
Daniella Forchetti
IESDE BRASIL
2023
© 2023 – IESDE BRASIL S/A.
É proibida a reprodução, mesmo parcial, por qualquer processo, sem autorização por escrito da autora e do
detentor dos direitos autorais.
Projeto de capa: IESDE BRASIL S/A. Imagem da capa: VictorThemes/Envato Elements
Forchetti, Daniella
Comunicação suplementar e alternativa / Daniella Forchetti. - 1. ed. - Curitiba
[PR] : IESDE, 2023.
Inclui bibliografia
ISBN 978-65-5821-215-7
CDD: 371.9
23-81983 CDU: 376
13/01/2023 18/01/2023
3 Do concreto ao abstrato 43
3.1 Como trabalhar com imagens e símbolos pictográficos? 43
3.2 Recursos de baixa tecnologia 47
3.3 Recursos de alta tecnologia 54
Objetivos de aprendizagem
1.1
Vídeo
O que é comunicação?
A comunicação é um conceito amplo e historicamente construído.
Segundo Vigotski (2000), ela representa a função primordial da fala. Po-
de-se entender, desse modo, que está relacionada diretamente à capaci-
dade de interação interpessoal envolvendo a linguagem natural (idioma)
e a artificial (codificação, signos, sinais de trânsito, notação musical etc.).
Conceitos básicos 9
res, constituindo e transmitindo cultura. Foi por meio da comunicação que
aprendemos a viver em sociedade. O modo como pensamos e agimos é
compartilhado por meio da comunicação, que alimenta essa expressão.
Nesse contexto, podemos citar como exemplo a pintura rupestre, que foi
uma das primeiras maneiras de deixar mensagens e registrar experiên-
cias encontrada pelos humanos, com registros datados desde 40 mil anos
atrás. A arte rupestre permite observar que os hominídeos costumavam
registrar sua vida cotidiana, representando os animais que caçavam e pos-
sivelmente os ritos e as celebrações de suas comunidades.
Conceitos básicos 11
Esses símbolos universais – podemos chamar assim pelo menos den-
tro de países ocidentais – se prestam para uma comunicação efetiva, rá-
pida e que não dependa da língua falada. De longe podemos reconhecer
suas funções e, se estivermos viajando por um país do qual não conhece-
mos a língua local, identificar sozinhos o que eles querem dizer.
Couperfield/Shutterstock
a)
b)
Ihor Bondarenko/Shutterstock
Conceitos básicos 13
muitos alunos, por exemplo, têm na escola pública sua principal refeição
do dia ou o único espaço adequado para se dedicarem aos seus estudos.
Na pandemia, muitas famílias tiveram dificuldade de apoiar seus filhos
em casa, pois não tinham disponíveis celulares ou computadores para
que eles pudessem acessar às aulas à distância. Ainda, muitos desses
alunos eram pessoas com deficiência cujos recursos tecnológicos não
promoviam acessibilidade, o que os levou a ficar sem suporte escolar.
Pensando em construir uma rotina com a criança, para que ela possa
se organizar e compreender que o mundo tem um tempo e uma forma,
podemos utilizar atividades mais concretas inicialmente e, depois, seguir
para atividades mais simbólicas, à medida que ela perceba o processo de
desnaturalização dos objetos. Esse conceito está ligado à possibilidade de
tornar algo mais concreto em algo mais abstrato (símbolos, por exemplo).
Não devemos impor nas crianças nosso tempo e ritmo, mas sim ficar
atentos em como elas vão se interessar por uma determinada atividade
ou ter aversão a outra. Devemos observar seu tempo de concentração em
atividades individuais e dentro do coletivo, ou se preferem um ambiente
fechado a um ambiente aberto – são múltiplos os fatores para ficarmos
atentos ao estruturarmos a aprendizagem quanto à forma e ao conteúdo.
Conceitos básicos 15
e acorda, se tem brinquedos e brincadeiras prediletos, entre outros.
Temos como objetivo sempre focar o potencial, o que lhe é interes-
sante. À medida que a criança cresce e amadurece, poderemos ofere-
cer outras coisas fora do seu interesse individual e compartilhar mais
do que é do interesse do grupo.
Conceitos básicos 17
isso, vamos utilizar uma parte do objeto. Tomando o exemplo do
copo (pensando num material plástico) que primeiro era íntegro,
depois foi colocado no plano bidimensional e agora poderá ser
cortado ao meio e colado no cartão/placa. É interessante que
sempre que possível a criança participe dessa montagem de
material e observe a transformação.
4. No último processo de desnaturalização, encontramos a
possibilidade do uso de objetos em miniatura ou representações
de objetos de maneira visual (contorno do objeto, utilizando
cores que contrastam entre figura/fundo), tátil (a representação
de um animal em miniatura ou o contorno de um objeto pequeno
em baixo-relevo) e auditiva (nomeação do objeto, atividade ou
pessoas). Para as crianças surdas, a nomeação se dará através da
Língua Brasileira de Sinais e, para as crianças surdocegas, uma
das possibilidades é a Libras tátil.
Conceitos básicos 19
partem de um gesto natural – como sorrir, chorar e apontar – para
iniciar o processo de interação social e de nomeação das coisas e pes-
soas. Com o tempo, elas aprendem as expressões faciais para diferen-
ciar seus sentimentos e a fazer movimentos com a cabeça de sim e não,
por exemplo. Os gestos naturais vão se tornando símbolos à medida
que ela consegue compreender e desnaturalizar as coisas, por exem-
plo, quando usam um gesto arbitrário para designar passeio.
Assim acontece com a fala, que pode ser restrita quando se trata
de uma criança com deficiência auditiva, ou quando se tem um quadro
neurológico, em que a criança escuta, mas tem dificuldade de articular
as palavras, ou mesmo por questões ligadas à má formação do cére-
bro. Nesses casos, pode ser interessante que essa criança, à medida
que aprende a desnaturalizar os objetos e pessoas, seja introduzida ao
sistema de comunicação alternativa e suplementar, com pictogramas e
ideogramas – assunto que veremos a seguir.
Conceitos básicos 21
e pelo contexto comunicativo. Os símbolos derivam de formas
geométricas e o quadrado é a referência usada como um guia.
a casa con mamá
2 2
• PIC – Pictogram Ideogram Communication , desenvolvido
Pode ser encontrado em: em 1980 pela terapeuta Subhas Maharaj. É constituído por sím-
http://design-cu.jp/ias-
bolos pictográficos cujas imagens consistem em figuras estiliza-
dr2013/papers/2112-1b.
pdf. Acesso em: 26 dez. das, desenhadas em branco sobre fundo preto, e têm o fim de ser
2022.
acessível às pessoas com deficiência cognitiva ou baixa-visão. O
significado do símbolo é escrito na sua parte inferior e o desenho
em alto contraste.
Man/person Fish
3 3
• PCS – Picture Communication Symbols , criado em 1981 pela
Pode ser encontrado em: Mayer-Johnson. São pictogramas coloridos com categorias que
https://us.tobiidynavox.
representam substantivos, pronomes, verbos e adjetivos forman-
com/products/picture-
-communication-symbol- do um código cromático. Ele funciona por meio de software para
s-pcs. Acesso em: 26 dez. computador que foi desenvolvido especificamente para criação
2022.
de pranchas de comunicação alternativa/aumentativa. Possui
uma biblioteca de símbolos e várias ferramentas que permitem
a construção de recursos de comunicação personalizados, é um
programa de alto custo e sempre que instalado, serve apenas
para um computador, não podendo ser compartilhado. O siste-
ma também tem um programa chamado Speaking Dynamically
Pro, que permite gravar uma voz ou utilizar uma voz sintetizada
em vários idiomas.
COMER PÃO
Para Manzini (2006, p. 4), essas referências visuais podem ser usa-
das pela pessoa com deficiência como uma espécie de tabuleiro de
comunicação que contém símbolos gráficos. Tais símbolos podem se
compor de fotos, ilustrações, figuras, letras, palavras e frases que, ao
serem indicados pela pessoa, constroem sentenças e permitem que a
comunicação seja efetivada nos diversos ambientes de convívio, espe-
cialmente escolar e social. Além do uso de tabuleiros de comunicação
físicos, há tecnologia avançada para a comunicação suplementar e al-
ternativa, como os sistemas computadorizados e softwares específicos.
Conceitos básicos 23
der simultaneamente ao restante da classe. É importante ressaltar que o
uso da CSA e de recursos de tecnologia assistiva exige do estudante um
manuseio que demora um certo tempo para ser apropriado, às vezes os
estudantes levam anos e alguns vão precisar sempre de apoio, devido
principalmente às necessidades motoras. São muitos profissionais que
irão trabalhar em regime de cooperação, portanto, é importante que o
professor de sala de aula se aproprie dos recursos a fim de dialogar com
quem fará os materiais adaptados para sala de aula.
Esses três recursos podem ser combinados à CSA como apoio para
alguns estudantes. Portanto, é fundamental que o professor de sala de
apoio e o especialista em Educação Especial aprendam esses recursos
de maneira efetiva, para poder somar ao trabalho de comunicação su-
plementar e alternativa.
Conceitos básicos 25
mão de uma aprendizagem que parte das necessidades do indivíduo
imerso dentro do coletivo. Cada criança percebe o mundo de uma de-
terminada forma, única. Se uma criança não interage nem encontra
uma via de expressão, poderá viver como numa ilha. Isolada, ela pode
ficar em seu mundinho e não encontrar motivos para se relacionar com
o que tem à sua volta. Outro ponto é estar atento a observar o tempo
de processamento da informação; quanto tempo o estudante demora
entre receber uma informação e realizar uma ação condizente ao que
foi proposto. Dar espaço para que a criança tenha tempo para tomar
iniciativas no diálogo e realizar as atividades faz parte do processo de
aprendizagem. Também é importante oferecer à criança a possibilida-
de de escolha. No início, o ideal é começar com duas atividades e ir
aumentando as opções, até que ela própria possa fazer seu calendário,
dentro do que é proposto em grupo, mas no seu ritmo. A CSA vai auxi-
liar o estudante com deficiência em todos esses aspectos, levando mais
qualidade de vida para a criança e dando oportunidades que desenvol-
vam sua comunicação de maneira autônoma.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O que pretendemos com o uso da comunicação suplementar e alter-
nativa é oferecer uma oportunidade para que os estudantes com defi-
ciência possam fazer parte das atividades de sala de aula de maneira mais
propositiva e autônoma, assim, poderão ser capazes de compreender
os conteúdos utilizando tanto sistemas de comunicação como contando
com o apoio da tecnologia assistiva.
Dessa forma, apontamos para uma educação que:
como cada um de nós, deve escolher a roupa adequada para os
dias frios assim como para os de calor, os alimentos compatíveis
com o horário e/ou clima, os comportamentos para as situações
de alegria ou de tristeza, as expressões emocionais para momen-
tos públicos ou de intimidade... Enfim, escolher o melhor (para
cada um de nós e para aqueles que nos cercam) para um melhor
viver. (AMARAL, 1998, p. 5)
Atividade 2
Qual a diferença entre comunicação suplementar e alternativa?
Atividade 3
Quais são os benefícios da comunicação suplementar e
alternativa?
REFERÊNCIAS
AMARAL, L. A. Sobre crocodilos e avestruzes: falando de diferenças físicas, preconceitos
e sua superação. In: AQUINO, J. G. (org.) Diferenças e preconceitos na escola: alternativas
teóricas e práticas. São Paulo: Summus Editorial, 1998.
ISAAC-BRASIL. International Society for Augmentative and Alternative Communication. O
que é a Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA)? Brasil, 2022. Disponível em: https://
www.isaacbrasil.org.br/comunicaccedilatildeo-alternativa.html. Acesso em: 14 nov. 2022.
MANZINI, E. J. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e material pedagógico
especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com deficiência física –
recursos para comunicação alternativa. 2. ed. Brasília: MEC; SEESP, 2006.
MORETTI, G. Princípios e Significados da Comunicação Alternativa. E se falta a palavra,
qual comunicação, qual linguagem? Discurso sobre comunicação alternativa. São Paulo:
Memnon, 1999.
NASCIMENTO, F. A. A. A. C. Educação Infantil: saberes e práticas da inclusão. Dificuldades
de comunicação e sinalização: surdocegueira/múltipla deficiência sensorial. Brasília, DF:
MEC, 2006. Disponível em: http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/surdosegueira.
pdf. Acesso em: 28 set. 2022.
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância. Impactos Primários e Secundários da
COVID-19 em Crianças e Adolescentes Relatório de análise 3ª Rodada, IPEC - Inteligência e
Conceitos básicos 27
Pesquisa em Consultoria, 19 de julho de 2021. Disponível em: https://www.unicef.org/brazil/
relatorios/impactos-primarios-e-secundarios-da-covid-19-em-criancas-e-adolescentes-
terceira-rodada. Acesso em: 14 nov. 2022.
VIGOTSKI, L. S. Pensamento e linguagem. Martins Fontes: São Paulo, 2000.
WHO – World Health Organization. Relatório mundial sobre a deficiência “The World Bank”.
Trad. de Lexicus Serviços Lingüísticos. São Paulo: SEDPcD, 2012.
Fenômeno de ressonância
https://www.yumpu.com/pt/document view
Imitação
É fundamental frisarmos que a dedicação ao trabalho voltado MASINI, E. F. S. São Paulo: Vetor, 2002.
para a CSA deve ser abraçada por toda a escola. No que se refere aos
símbolos pictográficos, deve ser feita uma reunião com toda a equi-
pe gestora da escola para que eles possam fazer parte do cotidiano
escolar. Esses símbolos devem estar distribuídos por toda a parte,
primeiro como referência de espaço – sala de aula 1º ano; refeitório;
quadra; banheiro; sala da diretoria; sala de reunião –, depois cada um
dos profissionais poderá usar um crachá em que deverá estar escrito
sua principal designação: professor, cuidador, cozinheiro, faxineiro,
porteiro, diretor etc. Todos são parte desse processo. Essa relação vai
se tornando cada vez mais simbólica, o que permite maior autonomia
comunicativa desse estudante.
PredragLasica/Shutterstock
Rawpixel.com/Shutterstock
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Com base no programa de Van Dijk, tenta-se criar um ambiente
com base na sensibilidade do professor em buscar o vínculo com seu
estudante com deficiência, ao oferecer a este segurança. Há a utiliza-
ção do resíduo visual e auditivo (dependendo da criança) com ênfase
no trabalho voltado para o diálogo, a criação de um ambiente coope-
rativo – onde estudante e professor se movem juntos (apoio) –, de um
ambiente coativo que atua em unidade – ao trabalhar com o distancia-
mento – e de um ambiente interativo, que busca trabalhar a iniciativa
própria do estudante (minha vez/sua vez).
Portanto, devem ser utilizadas as mais diversas formas de comuni-
cação com a criança com deficiência como meio de instrumentalizá-la
para que possa desenvolver sua comunicação de maneira mais am-
pla, e não ser tolhida pelos desafios que enfrenta, oferecendo, dessa
forma, a oportunidade de apoiar o potencial comunicativo/expressivo
de cada uma.
Atividade 2
Apresente as características principais da Língua Brasileira de Sinais.
Atividade 3
Explique alguns exemplos de atividades de vida diária (AVD).
REFERÊNCIAS
BOVE, M.; RIGGIO, M. La comunicación pre-linguistica com enfasis en descapacidad severa.
In: 11ª CONFERÊNCIA INTERNACIONAL PARA A EDUCAÇÃO DOS SURDOCEGOS. Anais [...]
Córdoba: IADB, 1993.
FORCHETTI, D. A história de Iago: o menino guerreiro no mundo da comunicação
alternativa. Dissertação ( Mestrado em Distúrbios da Comunicação). São Paulo, PUC/SP,
2000. Disponível em: 20 jan. 2023.
MAIA, S.; NASCIMENTO, F. A. A. A. C. Saberes e práticas da inclusão: dificuldades de
comunicação e sinalização – surdocegueira / múltipla deficiência sensorial. Brasilia: MEC,
SEESP, 2003.
VAN DIJK, J. Movement and communication with rubella children. In: CONFERÊNCIA DA
REUNIÃO GERAL ANUAL DA ORGANIZAÇÃO NACIONAL DE CEGOS DE MADRID. Madrid:
ONCE, 1968.
WINNICOTT, D.W. Preocupação materna primária. In: Textos Selecionados Da Pediatria à
Psicanálise. 4..ed. Rio de Janeiro: Editora Francisco Alves, 1956.
WRITER, J. A movement-based approach to the education of students who are sensory impaired/
multihandicapped. Baltimore: Paul Brooks Publishing Co., 1993.
Do concreto ao abstrato 43
soa com deficiência, oferecendo a ela mais autonomia. Podem ser equi-
pamentos, produtos adaptados ou feitos sob medida para melhorar a
qualidade de vida da pessoa com deficiência.
Figura 1
Exemplos de tecnologia assistiva
zlikovec/Shutterstock
Chansom Pantip/Shutterstock
ChooChin/Shutterstock
mady70/Shutterstock
Vamos nos deter aqui aos recursos de tecnologias assistivas que fa-
vorecem a comunicação suplementar e alternativa de estudantes com
deficiência no ambiente escolar. Para isso, antes de confeccionar o ma-
terial, é importante o professor compreender:
MayoCreative/Shutterstock
Do concreto ao abstrato 45
Dessa forma, fica clara a importância de o interlocutor conhecer e do-
minar o uso do sistema de CSA, principalmente o professor de apoio, que
será o mediador entre os interlocutores e o estudante com deficiência.
Noch/Shutterstock
tiverylucky/Shutterstock
(a) (b)
3.2
Vídeo
Recursos de baixa tecnologia
Os recursos de baixa tecnologia são confeccionados com material
de baixo custo e são construídos geralmente de maneira artesanal
e individual. Para isso, precisamos utilizar o conceito de objeto de
referência, partindo do mais concreto para o mais abstrato. Não há
uma regra: à medida que a criança com deficiência vai conseguindo
perceber o processo de desnaturalização do objeto, ela compreen-
derá a função do símbolo.
Do concreto ao abstrato 47
Vamos iniciar exemplificando com a imagem de uma colher. A
criança que sempre usou a mesma colher, ou colheres iguais, tem
a possibilidade de fazer duas transposições: a de colar a colher num
pedaço de papelão ou placa de MDF, ou a de contornar a colher, por
exemplo, de preferência em um fundo branco com tinta preta. Em al-
gumas exceções pode facilitar se o fundo for azul escuro, contornado
em amarelo, ou um fundo preto, contornado de branco. Vai depender
se a criança tem baixa visão ou alguma outra alteração visual.
Figura 3
Sequência de desnaturalização do objeto
Do concreto ao abstrato 49
1
tock
se referem aos contornos de objetos, dese-
/Shutters
nhos e fotografias. A criança vai se familia-
tterstock grmarc
rizando com os símbolos (bidimensionais)
3
derivados de um objeto (tridimensional).
Como falamos anteriormente, ela pode co-
tockvector/Shu
meçar contornando esse objeto. Podemos
também tentar utilizar desenhos que já es-
erstock Reals
tejam disponíveis nos livros didáticos, por
2
exemplo, e construir as atividades basea-
SasaStock/Shutt
das no mesmo material utilizado em sala
de aula. Também podemos utilizar as fo-
3
2 1 tografias – por exemplo, podemos come-
çar com a fotografia da própria criança.
Esses exemplos se referem diretamente às crianças vi-
dentes ou que tenham bom aproveitamento da visão.
Pressmaster/ Shutterstock
MÃE PAI EU
BOLA
(desenho, foto ou símbolo). Essa nomeação poderá
ser feita por aqueles que conseguem oralizar mini-
mamente, apontando os objetos e associando as fi-
Do concreto ao abstrato 51
guras, como forma de aprender o nome das coisas. Isso irá ajudar na
ampliação do vocabulário da criança.
Do concreto ao abstrato 53
a possibilidade de a criança estar num ambiente na natureza e brincar de
criar sua própria árvore tridimensional; ou pode ser feita no papel/feltro
para fazer a contagem da quantidade das frutas. A árvore pode ser trans-
formada em símbolo e passar para o papel junto ao numeral. Podem ser
feitas inúmeras formas de pareamento com os símbolos associados aos
números. Essa é uma atividade para ser feita ao ar livre, no pátio da escola.
Partindo dessa imagem real ela vai construir com o professor e até junto
aos colegas sua própria árvore, que pode ser também de brinquedo – vai
depender do quanto a criança consegue abstrair.
utterstock
ChiccoDodiFC/Sh
MAÇÃ
Figura 7
Linha braile em um teclado
Reshetnikov_art/Shutterstock
Do concreto ao abstrato 55
Artigo
http://tecnologiaseinclusao.pbworks.com/f/CAA%20escrita.pdf
Reshetnikov_art/Shutterstock
Artigo
https://periodicos.ufsm.br/educacaoespecial/article/view/54666
CONSIDERAÇÕES FINAIS
É muito importante, para a criança desenvolver sua autonomia, que, ao
inserirmos um recurso de tecnologia, ele deva estar contextualizado no am-
biente escolar, pois servirá de apoio para as atividades a serem desenvolvi-
das pelo professor. Essas atividades deverão ser elaboradas pelo professor
de educação em conjunto com o e professor de sala de recurso, no caso de
escolas públicas.
Também devemos pensar que quem será o introdutor desses recursos
na escola é o professor de apoio. Ele será o mediador entre a criança com
deficiência e o professor e colegas de classe, por isso será a peça chave para
que efetivamente se ponha em prática esses recursos, devendo ser instrumen-
talizado pelos profissionais especializados na área de Educação Especial, e o
professor de sala de aula deve ser como um parceiro para tornar o ambiente
escolar mais inclusivo. Caso não tenha um professor de apoio, é importante ter
outro professor disponível em sala de aula para fazer esse papel, de preferên-
cia sempre o mesmo, para que possa entender como funciona esse processo
de adaptação, aplicação nas atividades e apoio na rotina escolar.
A escola por si só deve estar preparada e equipada para receber os
estudantes com deficiência de maneira planejada e antecipada. Esses ma-
teriais e equipamentos devem estar integrados ao ambiente escolar e de-
Do concreto ao abstrato 57
vem ser apresentados para todos os estudantes, com e sem deficiência,
para que compreendam o que cada material de apoio pode proporcionar e,
sempre que possível, para proporcionar uma experiência coletiva. Esses en-
sinamentos não só apoiarão o estudante com deficiência como mostrarão
que, com a convivência, podemos construir um território de diversidade,
em que todos se sintam parte, respeitados em sua individualidade, num
ambiente que preze a equidade.
ATIVIDADES
Atividade 1
Antes de confeccionar o material de apoio para o estudante com
deficiência, o que é importante o professor compreender?
Atividade 2
Diferencie os conceitos de imagem e de pictograma.
Atividade 3
Para a confecção de um livro adaptado, aborde pelo menos duas
possibilidades de criação dessa atividade.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto n. 3298 de 20 dezembro de 1999. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 21 dez. 1999. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/CCivil_03/decreto/
d3298.htm. Acesso em: 3 jan. 2023.
BRASIL. Estatuto da Pessoa com Deficiência 3 ed. Brasília: Senado Federal, Coordenação
de Edições Técnicas, 2019. Disponível em: https://www2.senado.leg.br/bdsf/bitstream/
handle/id/554329/estatuto_da_pessoa_com_deficiencia_3ed.pdf. Acesso em: 20 jan. 2023.
BRASIL. Tecnologia Assistiva. Subsecretaria Nacional de Promoção dos Direitos da Pessoa
com Deficiência. Comitê de Ajudas Técnicas. Brasília: CORDE, 2009. Disponível em: https://
www.assistiva.com.br/Tecnologia%20Assistiva%20CAT.pdf. Acesso em: 3 jan. 2023.
NUNES, L. R. d’ O. P. (org.). Favorecendo o Desenvolvimento da Comunicação em Crianças e
Jovens com Necessidades Educacionais Especiais. Rio de Janeiro: Qualitymark Editora, 2004.
Leitura
Kamyla Soares, na
dissertação Design de
interação e comunicação
aumentativa e alternativa
(CAA): uma análise da
usabilidade de aplicativos
CAA com especialistas em
reabilitação de autistas, tem
como objetivo avaliar a
Fonte: ARASAAC, 2023. usabilidade de aplicativos
de comunicação aumen-
tativa e alternativa (CAA)
na preparação do material
É importante recordarmos que entre os pictogramas temos aqueles
destinado à reabilitação de
com maior ou menor complexidade, dependendo do nível de abstração pessoas autistas feita por
especialistas. Foram ana-
ou convenção, quando a imagem está relacionada à língua de sinais
lisados vários aplicativos,
(gestual). A organização das pranchas de comunicação e a forma como entre eles o LetMe Talk e o
Symbol Talk. Foram encon-
são distribuídos os pictogramas são essenciais para dar maior velocida-
trados vários benefícios do
de à comunicação, permitindo a busca de imagens mais precisas. LetMe Talk em relação aos
outros, como a funcionali-
Muitas vezes as famílias já trazem de casa algum material de apoio, dade e a usabilidade.
que deve ser utilizado na escola para saber se poderá auxiliar também Disponível em: https://
na sala de aula. Geralmente, esses materiais são confeccionados por www.udesc.br/arquivos/
ceart/id_cpmenu/1229/
profissionais das áreas de fonoaudiologia e terapia ocupacional ou in- Disserta__o_Kamyla_Lemes_
dicados pelo professor de sala de recursos. Se o estudante faz uso de Soares_15718347779443_1229.
pdf. Acesso em: 2 jan. 2023.
um aplicativo diferente do sugerido aqui, vale a pena lembrar que o
Disponível em: https://letmetalk. Acesse o link indicado, entre nas configurações do seu tablet/celular
br.aptoide.com/app. Acesso em: 2
jan. 2023.
e dê permissão para instalar (é possível que ele abra direto, vai de-
pender das configurações de segurança do seu aparelho). Você tam-
bém tem a opção de baixar o aplicativo escaneando um QR code.
Você perceberá que as versões são similares.
Pressmaster/ Shutterstock
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1
No início, pode ser difícil para muitas crianças acionar apenas uma
vez o símbolo devido ao peso do dedo na tela – algumas usam mais for-
ça, outras menos. A mediação de um adulto fará toda a diferença, por
isso a importância de um professor de apoio em uma escola pública,
que já tem esse papel designado, uma vez que as crianças podem não
se desenvolver de maneira totalmente autônoma e precisarão sempre
de um mediador no uso do tablet. Outras, com o tempo, ou com os
anos, conseguem chegar a esse patamar de independência. O mais
importante é que elas possam ter a possibilidade de desenvolver sua
comunicação e o aprendizado escolar.
Pressmaster/ Shutterstock
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Fonte: Elaborado pela autora com base em LetMeTalk, 2022.
Pressmaster/ Shutterstock
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Fonte: Elaborado pela autora com base emLetMeTalk, 2022.
LIVRO DO OLFATO
Leitura
Recomendamos a leitura
do fascículo produzido
por Sartoretto e Bersch,
A educação especial na pers-
O mundo feito cheiros bom ruim cheiramos nariz
pectiva da inclusão escolar.
Recursos pedagógicos aces-
síveis e comunicação au-
mentativa e alternativa, que
faz parte de uma coleção
de obras sobre Educação
Especial na escola comum.
A coleção tem por objetivo
repensar o trabalho de
gestores e professores do
atendimento educacional
especializado (AEE) da
escola e instruir como tem cheiro gostoso vontade de comer
utilizar os recursos peda-
gógicos acessíveis como
facilitadores da aprendiza-
gem na escola e fora dela.
Também apresenta os ma-
teriais, desde a seleção até
a confecção e indicação,
que servirão de orientação
aos professores, no intuito feijão hortelã alho cebola pão
de eliminar barreiras
de qualquer natureza e
apoiar a aprendizagem. Fonte: Daniella Forchetti.
ATIVIDADES
Atividade 1
Quais são os benefícios do uso de sistemas de comunicação suple-
mentar e alternativa?
Atividade 2
Qual a diferença na interface do aplicativo LetMeTalk do Android
para o iOS?
Atividade 3
Como a atividade de criação de um calendário pode auxiliar na
escola?
REFERÊNCIAS
ARASAAC – Centro Aragonês de Comunicação Aumentativa e Alternativa. ARASAAC, 2023.
Página inicial. Disponível em: https://arasaac.org/. Acesso em: 3 jan. 2023.
GUILLEN, G. O livro do olfato. São Paulo: Editora Elo, 2020.
PREECE, J.; ROJERS, Y.; SHARP, H. Design de interação: além da interação homem-computador.
São Paulo: Bookman, 2005.
SARTORETTO, M. L.; BERSCH, R. de C. R. A educação especial na perspectiva da inclusão
escolar. Recursos pedagógicos acessíveis e comunicação aumentativa e alternativa.
Brasília: Ministério da Educação; Secretaria de Educação Especial, 2010.
SOARES, K. L.; MAGER, G. B. Pictogramas, categorias e iconotipos: uma análise em
aplicativos de comunicação aumentativa e alternativa (CAA). Revista Brasileira de Design da
Informação, São Paulo, v. 17, n. 1, p. 56-72, 2020.
Artigo
https://www.scielo.br/j/rbee/a/bt5YWJxZBKqkpQMsBSkJrXK/abstract/?lang=pt
(Continua)
MayoCreative/Shutterstock
atendeu o desejo da mudam com o passar
pessoa no contexto do tempo e se há
determinado e verificar se necessidade de fazer
o objeto facilitou a ação do alguma adaptação no
estudante e do educador. objeto/material.
Pode ser que a criança já tenha um material adaptado que veio de casa.
Para isso, devemos ver como ele pode ser utilizado no contexto escolar e
entrar em contato com quem criou – a fonoaudióloga ou terapeuta ocu-
pacional – para apoiar esse desdobramento nas atividades de sala de aula.
É muito importante que o professor que atua com o AEE possa fazer
a ponte entre o professor de sala de aula e os profissionais da área da
saúde. Também pode ocorrer que na sua escola não tenha uma sala de
https://www.revistas.usp.br/rto/article/view/14120
Artigo
https://www.scielo.br/j/rcefac/a/ctkGknQfjGWNFLsDtNp7MJs/?format=pdf&lang=pt
Para mim essa jornada não iniciou hoje, nem termina aqui. Tive a
oportunidade de trabalhar por mais de 25 anos como fonoaudióloga,
especialista em CSA. Pude ver o começo da implantação desse serviço
no Brasil, quando um grupo de brasileiros profissionais da área da saúde
e alguns engenheiros fizeram parte de um congresso de Comunicação
Alternativa na Espanha, e cada qual em sua região foi desenvolvendo
suas pesquisas, que buscaram implantar esse importante trabalho.
Hoje temos a ISAAC-Brasil, um capítulo oficial da Isaac International
Society for Augmentative and Alternative Communication, que reúne mui-
tos profissionais que se dedicam à pesquisa e à disseminação da CSA.
Foram muitas conquistas até então, inclusive a instituição do outubro
como Mês da Conscientização da Comunicação Alternativa.
(Continua)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Neste nosso último capítulo, procuramos compartilhar quais são os
potenciais desafios enfrentados por profissionais da área da educação e
da área da saúde e pelos familiares de pessoas com necessidades com-
plexas de comunicação, além de considerar nesse processo a importância
da CSA nas escolas, o papel da família e o trabalho em equipe. Sabemos
que cada comunidade escolar é uma realidade, mas pudemos acompa-
nhar ao longo desse livro como as considerações de profissionais que
se dedicaram a estudar a comunicação suplementar e alternativa (CSA)
podem contribuir para a criação de uma ambiente escolar mais inclusivo.
Estamos aqui com a intenção de oferecer uma formação com mais
qualidade a fim de que os professores possam se apropriar de conceitos
importantes para atuarem numa escola de educação inclusiva e eman-
cipatória. Essa realidade só será possível com o comprometimento de
todos vocês e o apoio das famílias dos estudantes com necessidades
complexas de comunicação. Segundo Mantoan (2003, p. 8): “estamos
‘ressignificando’ o papel da escola com professores, pais, comunidades
interessadas e instalando, no seu cotidiano, formas mais solidárias e plu-
rais de convivência. É a escola que tem de mudar, e não os alunos, para
terem direito a ela!”. Essa jornada não termina aqui, ela é apenas o início
de um longo trabalho para que possamos oferecer melhores condições
de modo que estudantes com e sem deficiência encontrem uma escola
em que todos sejam bem-vindos!
Atividade 2
Qual a importância da visita dos terapeutas que acompanham o
estudante com deficiência na escola?
Atividade 3
Com quais outras formas podemos nos comunicar que não so-
mente a fala oralizada?
REFERÊNCIAS
BRASIL. Decreto n. 6.949, de 25 de agosto de 2009. Diário Oficial da União, Poder Executivo,
Brasília, DF, 25 ago. 2009. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-
2010/2009/decreto/d6949.htm. Acesso em: 29 dez. 2022.
BRASIL. Lei n. 13.146 de 6 de Julho de 2015. Diário Oficial da União, Poder Executivo, Brasília,
DF, 6 jul. 2015. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2015-2018/2015/
lei/l13146.htm. Acesso em: 29 dez. 2022.
CARNEVALE, L. B. et al. Comunicação Alternativa no contexto educacional: conhecimento
de professores. Rev. bras. educ. espec., v.19, n. 2, jun. 2013.
DELIBERATO, D.; DONATI, G. C. F. Perguntas e Respostas a respeito da Comunicação
Suplementar e Alternativa para familiares de Crianças e Jovens com Necessidades Complexas
de Comunicação. São Paulo: Sociedade Brasileira de Fonoaudiologia, 2020. Disponível em:
https://www.sbfa.org.br/portal2017/campanhas/campanha-comunicacao-suplementar-e-
alternativa/pdf/faq-pdf.pdf. Acesso em: 29 dez. 2022.
FREIRE, P. A importância do Ato de Ler: em três artigos que se completam. São Paulo: Cortez
Editora, 1989.
3 Do concreto ao abstrato
1. Antes de confeccionar o material de apoio para o estudante com
deficiência, o que é importante o professor compreender?
O professor precisa compreender a situação do estudante com
deficiência no contexto escolar, os ambientes que ele frequenta e
quem são seus interlocutores.
I000876
9 786558 212157