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NOVAS

TECNOLOGIAS
APLICADAS A
EDUCAÇÃO

Gisele Almeida
Tecnologia Assistiva
Objetivos de aprendizagem
Ao final deste texto, você deve apresentar os seguintes aprendi-
zados:
„„ Identificar o papel da família no uso da tecnologia.
„„ Perceber a importância do Scala: Sistema de Comunicação Al-
ternativa para letramento de pessoas com Autismo.
„„ Diferenciar o papel da escola e da família no uso da tecnologia
assistiva.

Introdução
Você já se questionou como seria sua existência em comu-
nidade se não houvesse um código comum como a linguagem?
Fazemos parte de uma comunidade subdividida em sistemas de
linguagens, mas cada uma dessas formas serve a comunicação e,
consequentemente, à nossa relação interação entre pares. Nesta
Unidade de Aprendizagem você perceberá a importância que a
família tem ao estabelecermos para o aluno com deficiência uma
possibilidade de comunicação e o quanto os recursos da Tecnolo-
gia Assistiva podem auxiliar neste processo.

A tecnologia Assistiva e a família: informando


e capacitando a família para o uso dos recursos
A Tecnologia Asssitiva (TA) mostra-se uma poderosa ferramenta no que diz
respeito ao desenvolvimento da capacidade de comunicação e de promoção à
autonomia dos alunos, mas ainda temos que ver as formas abordadas para au-
tilizá-la em sala de aula. Certamente, uma das grandes vantagens é que a TA
proporciona a possibilidade de interação e comunicação entre os indivíduos
envolvidos no processamento de informações. É essencial que todas as pes-
soas envolvidas, no processo (professor, equipe escolar, terapeutas e família),
tenham acesso as ferramentas de integração para as pessoas com deficiência.
Parece assim, óbvio, que a família possa contribuir para aumentar e melhorar
para o professor e equipe escolar, as habilidades no uso da TA, já que os re-
cursos disponibilizados geram a aprendizagem cooperativa.
A aprendizagem cooperativa se caracteriza como uma estrutura que en-
volve a todos, há portanto, necessariamente a criação de uma reciprocidade
das interações entre aluno-professor-família e consequentemente convida ao
uso de habilidades interpessoais para ações práticas. Entretanto, a chave desta
cooperação está na comunicação.
Dessa forma, segundo o dicionário on-line de português, comunicar sig-
nifica “transmitir informação, dar conhecimento de; fazer saber, participar”,
ou seja colocar o mesmo assunto em questão num diálogo entre um grupo
de pessoas. Se o assunto é recebido e compreendido da mesma forma, então
podemos dizer que a comunicação e o diálogo estão acontecendo. Segundo
Nunes (2003), a comunicação é uma necessidade básica entre os homens. A
comunicação é um dos aspectos fundamentais da sobrevivência humana, logo
de todos nós. Ao nascermos nos comunicamos através choro para que com-
preendam nossas vontades. Nosso contato vai aos poucos sendo refinado na
medida em que aprendemos a falar mantendo assim contato com os demais
e, simbolicamente nos formando humano como os demais. Dessa forma, não
é incorreto afirmamos que a comunicação refere-se a comportamentos sina-
lizadores que ocorrem na interação de duas ou mais pessoas e que propor-
cionam uma forma de criar significados entre elas (BRYYEN; JOICE, 1985,
apud NUNES, 2003).
A linguagem assim é entendida como um sistema composto por símbolos
e códigos arbitrários, construídos e convencionados socialmente e governado
por regras, que representam idéias sobre o mundo e serve primariamente ao
propósito da comunicação (BLOOM; LAHEY, 1978 apud NUNES, 2003).
Vigotsky estabelece uma relação da linguagem em seus aspectos sociais
como a origem das interações que compõem a consciência humana. A lin-
guagem assume um papel importante na formação da consciência, uma vez
que, atravessados por constructos sociais, são ressignificados em sentidos e
servem de elementos para construção de mundo dos sujeitos, de maneira con-
tínua. Através da linguagem, por meio da palavra, surgem significados, que
se transformam em sentidos pessoais a partir das emoções ou necessidades
que estabeleceram o seu uso.
A linguagem transforma os sujeitos, e quando estes não desenvolvem,
estes sujeitos ficam afetados, sem poder se expressar o que reduz suas ma-
nifestações e o circunscreve num universo restrito e individualizado, o que o
afasta de algumas condições básicas para socializar-se e buscar novas expe-
riências.
Nesta circunstancia, se faz primordial que se estabeleça uma comunicação
funcional, desenvolvida a partir da capacidade de transmitir e receber mensa-
gens, com base no contexto sociocultural. Ao se transmitir uma comunicação,
existe uma finalidade, que no caso da educação inclusiva é contribuir para o
êxito do processo inclusivo. Dessa forma, parte deste processo cabe aos pro-
fissionais responsáveis, que devem em parceria com a família do aluno com
deficiência identificar quais fatores influenciam na dificuldade da comuni-
cação dos alunos. Quando o professor se disponibiliza a ajudar e identificar
algum fator que impeça a inclusão, e, ao conversar e interagir busque utilizar
uma linguagem compreensível para a família este diálogo será entendido ge-
rando melhor qualidade deste processo.
Estabelecer com a família um espaço de comunicação e cooperação
possibilitará ao professor, um espaço de compreensão maior quando este ne-
cessitar auxiliar a família na capacitação do recurso que se concordou utilizar.
No caso da Comunicação Aumentativa Alternativa, a família precisa estar
ciente de que mais do que a função comunicativa o processo auxilia no desen-
volvimento das habilidades motoras, cognitivas e afetivas.
A família poderá participar ativamente do processo de escolha do me-
lhor recurso para desenvolver a comunicação se compreender que ao tra-
balhar com o sistema de comunicação, o professor também dará ênfase às
habilidades motoras e as habilidades cognitivas, nos aspectos referentes a
percepção, atenção, memória, raciocínio, conceituação, linguagem e alfabe-
tização. (Nunes, 2003).
Ainda que seja de conhecimento comum que as famílias de alunos
com deficiência buscam orientações, sobretudo com TEA que gera dificul-
dade de relacionamento interpessoal e compreensão da linguagem (quando
desenvolvem), cabe ao professor e equipe capacitar esta família para o pro-
cesso. Faz-se crucial assim, que seja compreendido o que é a Comunicação
Alternativa e Ampliada (C.A.A.), e quais motivos para a adoção de um dos
recursos que ela proporciona.
A família precisa estar informada de que a CAA refere outras formas de
comunicação além da modalidade oral, como o uso de gestos, língua de si-
nais, expressões faciais, o uso de pranchas de alfabeto, símbolos pictográ-
ficos, uso de sistemas sofisticados de computador com voz sintetizada, dentre
outros. Também importa consideravelmente que tenham conhecimento de
que o uso da comunicação alternativa é direcionado para sujeitos com grande
defasagem na comunicação, como autistas, pessoas com deficiência mental
severa, surdos. Nesses casos se faz necessária a comunicação alternativa para
subsidiar essa dificuldade, mas podem optar por recursos de baixa tecno-
logia ou recursos de alta tecnologia, sendo Baixa Tecnologia, recursos mais
acessíveis que possibilitam a comunicação quando inexiste a linguagem oral,
podendo ser representados através de gestos manuais, expressões faciais, có-
digo Morse e signos gráficos como a escrita, desenhos, gravuras, fotogra-
fias. Os recursos de Alta Tecnologia oferecem sistemas de comunicação mais
sofisticados, com utilização do computador como, por exemplo, o software
SCALA. (Nunes, 2003).

Fique atento
Você deve lembrar que a chance de obter sucesso na escolha dos recursos e/ou
metodologias que irá utilizar enquanto professor são maiores quanto mais possibi-
lidades considerar e mais informação tiver sobre o assunto. Assim, em sua prática,
antes de buscar qualquer recurso, busque informações e cooperação da família do
aluno com deficiência, pois a vivência que eles têm muitas vezes traz um insight
para o momento.

A importância da Comunicação Aumentativa


Alternativa: Scala - Sistema de Comunicação
Alternativa para letramento de pessoas com
Autismo.
A relevância da CAA como um recurso da Tecnologia Assistiva, capaz de
promover espaços identitário para alunos com deficiência, oportunizando que
os mesmos tenham uma possibilidade de comunicar-se e assim fazer parte do
contexto é inegável. Entretanto, cada aluno, cada sujeito que faz uso da CAA
apresenta seu próprio nível de linguagem, diferentemente dos demais.
Dessa forma, cabe ao professor, em parceria com a equipe, conhecer as
necessidades do aluno que fará uso deste recurso antes de embrenhar-se num
sistema de CAA, avaliando alguns aspectos, tais como sugere Nunes (2003):
„„ Competências lingüísticas: para que o professor possa investigar a ca-
pacidade de comunicação em diferentes contextos com diferentes pes-
soas;
„„ Formas de expressão: para investigar como o aluno se expressa e se
compreende o que os outros expressam.
„„ Habilidades:

1. Físicas: Avaliar a acuidade auditiva e visual, habilidades motoras


(preensão manual, flexão e extensão dos membros superiores), habi-
lidades perceptivas, dentre outras;
2. Emocionais: Com quem o sistema será utilizado o sistema? pais,
professores, amigos;
3. Cognitivas – local onde o sistema será utilizado, verificar nível de
escolaridade, compreensão, por parte dos alunos dos acontecimentos
cotidianos;

„„ Competências de autonomia pessoal – o que ele já desenvolve com au-


tonomia;
„„ Nível geral de conhecimento - que conhecimentos prévios este alunos
apresenta sobre o que é questionado;
„„ Problemas de comportamento - que tipos de desajustes comportamen-
tais este aluno apresenta.

De posse desta avaliação, caberá a equipe pedagógica e ao professor em


parceria com a família definir que recurso da CAA será utilizado, já que são
muitos recursos, técnicas e estratégias, além de um suporte parcial ou total à
comunicação de sujeitos que apresentem déficits de comunicação dos mais
variados. Podendo assumir diversas formas: pranchas de comunicação, pran-
chas alfabéticas e de palavras, vocalizadores ou o próprio computador. O uso
de um sistema de comunicação alternativa deve ser baseado nas necessidades
do sujeito que apresenta déficit de comunicação, de maneira personalizada,
conforme Sartoretto e Berch (2013).
Baseados nas necessidades dos sujeitos com TEA, alguns softwares são
criados, visando a promoção da autonomia em tarefas que necessitam de co-
municação, um destes softwares utilizados é o SCALA.
Então, afinal o que é o SCALA?
O projeto SCALA – Sistema de Comunicação Alternativa para Letra-
mento de Pessoas com Autismo configura-se como um plano articulado de
investigação, desenvolvimento tecnológico e formação. O desenvolvimento
do Sistema SCALA visa apoiar o processo do desenvolvimento da linguagem
em sujeitos com autismo e com déficits de comunicação, embasado epistemo-
logicamente na teoria sócio histórica. O software é desenvolvido de forma
livre e gratuita com aproximadamente na atualidade uma base pictográfica de
4000 símbolos de Arasaac e alguns desenvolvidos pela equipe para atender a
nossa diversidade cultural. (PASSERINO, 2015).
Na atualidade o SCALA conta com duas versões: Web e Android. A pri-
meira para utilização na Internet a partir de qualquer tipo de dispositivo e a
segunda para dispositivos móveis, do tipo tablet.
O software atualmente encontra-se armazenado num servidor, com um
banco de dados contendo as imagens disponíveis para utilização na cons-
trução das pranchas e das histórias, diretamente em http://scala.ufrgs.br/Sca-
laWeb (PASSERINO, 2015).
Na prática o uso do software possui um módulo para a construção de pran-
chas de comunicação e um de narrativas visuais para construção de histórias.
O módulo prancha possui as seguintes funcionalidades:

„„ Abrir: abre uma prancha salva anteriormente.


„„ Salvar: salva a prancha ou história atual, para ser posteriormente utili-
zada.
„„ Desfazer: desfaz a última operação realizada.
„„ Importar: importa uma imagem da galeria de imagens para a Categoria
“Minhas Imagens”.
„„ Exportar: salva a prancha ou história como arquivo de imagem.
„„ Layout: dá cinco opções de layout para criação de pranchas ou histórias
simples ou mais complexas, conforme a necessidade de uso.
„„ Limpar: limpa todo o conteúdo da prancha ou história aberta.
„„ Imprimir: dá a opção da impressão da prancha.
„„ Visualizar: mostra a prancha de forma mais ampla, e possibilita a re-
produção sonora.
„„ Ajuda: apresenta um tutorial objetivo de todas as funcionalidades do
módulo. (PASSERINO, 2015).
A composição das imagens no SCALA tem as seguintes categorias: Pes-
soas, Objetos, Natureza, Ações, Alimentos, Sentimentos, Qualidades e Mi-
nhas Imagens
O módulo de narrativas visuais possui funcionalidades comuns ao módulo
prancha como: abrir, salvar, imprimir, importar, layouts, visualizar, deletar
e ajuda. A complexidade vai aumentando ou diminuindo de acordo com as
potencialidades e necessidades do usuário.
Há ainda uma categoria que possibilita a inclusão de balões de conver-
sação, onde é possível a escrita de pequenos diálogos.
A história pode ser gravada e pode ser reproduzida por um sintetizador de
voz. Os recursos disponibilizados no texto podem ser utilizados diretamente
com o aluno. O módulo, história, por exemplo, usa requisitos comuns ao mó-
dulo, prancha e outros como: carregar cenário; rotacionar imagem; animar
(PASSERINO, 2015).

Saiba mais
Para saber mais sobre o software Scala busque o site http://scala.ufrgs.br/, lá você
encontrará além do próprio recurso para utilização gratuita, toda informação deta-
lhada e o passo-a-passo para criação de pranchas e narrativas.

Saiba mais
Para você ver um exemplo de como a comunicação alternativa utiliza recursos
como softwares existentes, e outros que são reinventados de acordo com a neces-
sidade específica daquele sujeito com TEA, assista:
https://www.youtube.com/watch?v=gpTyU3njJME
Referência
NUNES, L.R.P. Favorecendo o desenvolvimento da comunicação em crianças e
jovens com necessidades especiais. Rio de Janeiro, Dunya: 2003.

PASSERINO, Maria Liliana, Maria Rosangela Bez (Org.). Comunicação alternativa:


mediação para uma inclusão social a partir do Scala, Passo Fundo, 2015. Editora:
Universidade de Passo Fundo.

Leituras recomendadas
WHITMAN, Thomas L. O desenvolvimento do autismo, São Paulo, 2015. M. Books
do Brasil editora Ltda. Disponível em :<http://www.pessoacomdeficiencia.gov.br/
app/sites/default/files/publicacoes/livro-tecnologia-assistiva.pdf> Acesso em: 26
maio. 2017. .

MANZINI, E. J. Tecnologia assistiva para educação: recursos pedagógicos


adaptados. In: Ensaios pedagógicos: construindo escolas inclusivas. Brasília: SE-
ESP/MEC, p. 82-86, 2005.
Conteúdo:

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