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Para alguns, foi um momento tranquilo, tão suave que não deixou muitas marcas,
enquanto, para outros, esse período pode remeter a lembranças perturbadoras,
marcadas por sucessivos fracassos, sentimento de inferioridade e impotência. De
fato, ser alfabetizado é muito mais do que codificar e decodificar símbolos, a
alfabetização é um período muito importante na trajetória escolar de todas as
pessoas. Um dos primeiros grandes desafios escolares para as crianças e, também,
um dos grandes desafios da trajetória profissional de um professor.
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Identificará a aquisição da leitura e escrita a partir de práticas pedagógicas que
envolvem a brincadeira, os jogos, o uso de tecnologia digital e a arte como
formas de promover diferentes estratégias para o desenvolvimento dos alunos.
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Perceberá a importância da formação inicial e continuada dos professores para
uma prática refletiva e consciente.
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Visando atender aos objetivos mencionados, percorreremos um caminho em que
visitaremos as temáticas divididas em unidades de ensino. Na primeira unidade,
você aprenderá sobre a linguagem como objeto de conhecimento, assim como
sobre a importância de se estudar a linguagem. A segunda unidade tem como
tema a alfabetização, partindo dos fundamentos teóricos, dos métodos e de como
utilizá-los. A terceira unidade discute as estratégias e os procedimentos para o
processo de alfabetização. E, por fim, a leitura, a escrita e a literatura são os
elementos que possibilitam explorar as interações, as histórias, os jogos e as
brincadeiras.
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NÃO PODE FALTAR
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM ESCRITA
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Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
PRÁTICA PEDAGÓGICA
Todas as práticas pedagógicas estão apoiadas em teorias, concepções, formas de entender a
aprendizagem e o objeto de conhecimento.
Fonte: Shutterstock.
CONVITE AO ESTUDO
Em algum momento, você já parou para pensar sobre a invenção da escrita? Como
é complexa a natureza do signo linguístico! A invenção da escrita foi um processo
histórico de elaboração de um sistema de representação. É possível que alguém
pense que, uma vez elaborado, basta que se aprenda a codificar e decodificar os
códigos, mas não é bem assim. Para aprender, os sujeitos compreendem as suas
regras, reconstruindo esse rico sistema de representação.
Para iniciar os estudos desta unidade sobre esse processo de aprendizagem, você
estudará a linguagem como objeto de conhecimento, a fim de conhecer as
concepções e as funções dela, para utilizar as diversas perspectivas teóricas na
prática educativa de acordo com o público e o contexto.
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escrita para além do contexto escolar e como necessidade da interação e
comunicação; e a linguagem como expressão do pensamento, instrumento de
comunicação e processo de interação.
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A segunda seção tratará da linguagem como interação e prática pedagógica. Aqui,
trabalharemos com as funções cognitiva, comunicativa, interativa e dialógica, assim
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como com a prática pedagógica como espaço para o diálogo e para os elementos
de sua vida cotidiana, envolvendo a proposta de alfabetização crítica e a
construção da aprendizagem de forma coletiva e colaborativa.
Para transpor essa situação, é necessário que o professor compreenda que cada
aluno apresentará um desenvolvimento diferente do outro, portanto ele não deve
esperar que todos dominem os conhecimentos ao mesmo tempo, nem deve
utilizar sempre as mesmas atividades. Assim, atuar na alfabetização demanda que
esse profissional entenda que ela se trata de um processo, um caminho que cada
aluno percorrerá, experimentando desafios e vencendo obstáculos.
Partindo dessa ideia, você aprenderá que a aquisição da linguagem escrita tem
início na primeira infância, na educação infantil, mas entenderá que isso não
significa antecipar atividades do ensino fundamental. Por fim, conhecerá três
concepções de linguagem: como expressão do pensamento, como instrumento de
comunicação e como processo de interação.
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Ao se apresentar na escola em que lecionará, a jovem professora foi informada
pela coordenação pedagógica da instituição que trabalhará com uma turma do
primeiro ano do ensino fundamental. Vanessa está muito feliz e ansiosa para
colocar em prática tudo o que aprendeu na universidade.
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Frente ao desafio de alfabetizar, a professora está insegura quanto aos
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procedimentos que adotará para conduzir o processo de alfabetização. Mas, sabe
que, inicialmente, precisa conhecer os estudantes para definir o seu ponto de
partida. Afinal, o que as crianças sabem sobre a escrita? E se alguma criança já
estiver alfabetizada, o que fazer? Essas são questões que preocupam a docente,
então o que ela deve fazer para definir por onde começar?
CONCEITO-CHAVE
ESCRITA
A escrita não é uma capacidade inata, ou seja, não nasce com a criança. Ela é uma
criação cultural estabelecida nas relações sociais, resultado da interação humana
com os membros da mesma espécie. A maioria das pessoas nasce em locais em
que a escrita está presente, pois ela está atrelada à necessidade de comunicação.
Assim, o processo de imersão no mundo letrado tem início desde a primeira
infância, antes de iniciar as práticas de alfabetização no ambiente escolar.
Luria (1988) evidenciou que a escrita pode ser definida como uma ação mediada
por instrumentos e signos que são utilizados pela criança antes mesmo de
frequentar a escola. Quando a criança é submetida ao ensino formal, na etapa de
alfabetização, ela já interagiu, elaborou e exercitou técnicas que servem de base
para a aprendizagem da escrita.
[...] se apenas pararmos para pensar na surpreendente rapidez com que uma criança aprende esta técnica
extremamente complexa, que tem milhares de anos de cultura por traz de si, ficará evidente que isto só pode
“
acontecer porque durante os primeiros anos de seu desenvolvimento, antes de atingir a idade escolar, a criança
já aprendeu e assimilou um certo número de técnicas que prepara o caminho para a escrita, técnicas que a
capacitam e que tornam incomensuravelmente mais fácil de aprender o conceito e a técnica da escrita.
Pensando nisso, fica claro que a compreensão da escrita não acontece da mesma
forma para todas as crianças. Cada uma aprende de acordo com o seu contexto, os
materiais que manipula, os ambientes que frequenta e as pessoas com quem se
relaciona. A partir dessas oportunidades de aprendizagem, ela compreende que a
escrita é um sistema de signos que possui função instrumental, que é utilizada
para registrar ideias, e essas percepções infantis são validadas pelas pessoas do
seu convívio.
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Os rabiscos e as garatujas que a criança produz na primeira infância são exercícios
de imitação da escrita realizada pelos adultos. Nessa fase de elaboração, os
rabiscos são apenas desejos, não possuem uma finalidade.
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“
As crianças imitavam o formato da escrita do adulto, produzindo apenas rabiscos mecânicos, sem nenhuma
função instrumental, isto é, sem nenhuma relação com os conteúdos a serem representados. Obviamente este
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tipo de grafismo não ajudava a criança em seu processo de memorização. Ela não era capaz de utilizar sua
produção escrita como suporte para a recuperação da informação a ser lembrada.
Esses sinais primários não possuem valor simbólico, inclusive a criança pode não
lembrar do significado dos registros que fez, por exemplo, dizendo ora que o
registro gráfico é uma boneca, ora um pássaro. A criança atribuirá significados de
maneira progressiva por meio das vivências, as suas funções psicológicas
superiores se desenvolverão e ocorrerá a apropriação do uso social da escrita na
cultura, isso mesmo sem que ela conheça a organização da escrita alfabética.
O processo de escrita, segundo Luria (1988), passa por duas grandes fases: escrita
pré-instrumental e escrita instrumental. Entre essas duas fases há a escrita
topográfica.
ESCRITA PRÉ-INSTRUMENTAL
Corresponde a escritas em que os sujeitos não recordam os significados dos
registros realizados.
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ESCRITA TOPOGRÁFICA
Começa a se transformar em signo auxiliar da memória. Na Figura 1.2, a criança
“anotou” várias sentenças ditadas.
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Figura 1.2 | Exemplo de escrita topográfica
ESCRITA PRÉ-INSTRUMENTAL
Corresponde a escritas diferenciadas que levam os sujeitos a se relacionar com os
registros realizados para recordar os significados anotados.
ESCRITA PICTOGRÁFICA
Na Figura 1.3, vemos que as características que a criança queria lembrar estavam
presentes nas imagens, possibilitando a lembrança dos significados anotados.
Pouco a pouco, a criança começa a utilizar outras marcas para representar. Junto
ao desenho, ela incorpora o significado e pode dizer que está escrevendo. Nesse
processo, outros elementos aparecem, como números, cor e letras. Ela dá um salto
qualitativo e, segundo Oliveira (2010), quando percebe a diferença entre escrever e
desenhar, rejeita a escrita pictográfica e escolhe grafar letras.
Nem todas as crianças passam de forma linear por essas fases. A maioria delas,
que está em contato desde muito cedo com o mundo letrado, está sujeita a uma
interação maior, isso possibilita a elaboração de muitas percepções sobre a escrita.
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A partir dos conhecimentos apresentados, é importante considerar que a linguagem é um
marco no desenvolvimento humano, e a escola deve considerar os elementos históricos e
culturais que permeiam as percepções infantis sobre a escrita.
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Nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em teorias,
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concepções, formas de entender a aprendizagem e o objeto de conhecimento.
Contudo, é importante considerar que a compreensão sobre determinado objeto
de conhecimento muda com o passar do tempo e com o avançar dos estudos, e
essas mudanças estão relacionadas a múltiplos fatores, de ordem cultural, social e
econômica.
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
As concepções surgiram em períodos distintos, mas, na atualidade, podem ser
percebidas em muitas práticas e materiais didáticos. Por isso, é tão importante
conhecê-las. De acordo com Geraldi (1984), existem três concepções de linguagem,
conforme veremos a seguir.
Lógica organizacional.
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LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO
Essa concepção ganhou relevância de 1916, com o linguista Saussure, até 1960. Na
concepção de linguagem como instrumento de comunicação, a língua é entendida
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como um sistema de códigos que deve ser aprendido pelas pessoas para que
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possam se comunicar. O falante deseja transmitir uma mensagem a um ouvinte;
para isso, ele utiliza um “código (decodificação) e a remete a outro através de um
canal (ondas sonoras e luminosas). O outro recebe os sinais codificados e os
transforma de novo em mensagens (informações)” (TRAVAGLIA, 1996, p. 22-23).
Note que a linguagem é percebida como uma ferramenta, e sua utilização não está
vinculada ao contexto dos sujeitos, pois diz respeito apenas ao funcionamento
interno da língua. Portanto, nas atividades de leitura, está presente a ideia de que,
se o aluno decodificar as letras e palavras, compreenderá o conteúdo de um texto.
Função informativa.
O código deve ser dominado pelas pessoas para que a comunicação seja
efetiva.
Sujeito ativo.
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Bakhtin postula que o lócus da linguagem é a interação, portanto não é um
sistema estável. As situações reais, os diálogos e as interações determinam o que
será produzido pelos sujeitos, que são vistos como agentes sociais.
Diferentemente das concepções de linguagem conhecidas anteriormente, a
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importância do ensino reside em desenvolver a capacidade de reflexão, e não
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apenas o conhecimento de regras gramaticais.
“
De fato, o ouvinte que recebe e compreende a significação (lingüística) de um discurso adota simultaneamente,
para com este discurso, uma atitude responsiva ativa: ele concorda ou discorda (total ou parcialmente),
completa, adapta, apronta-se para executar, etc., e esta atitude do ouvinte está em elaboração constante
durante todo o processo de audição e de compreensão desde o início do discurso, às vezes já nas primeiras
palavras emitidas pelo locutor.
REFLITA
Você já teve contato com algum material didático para a alfabetização que
apresentava atividades ou frases totalmente descontextualizadas do
universo infantil?
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1. Textos literários ficcionais: contos, lendas, fábulas, crônicas, obras teatrais,
novelas e causos.
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parlendas, quadrinhas, adivinhas e provérbios. Os poemas e as letras de
músicas também fazem parte do segundo agrupamento.
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3. Textos com a finalidade de registrar e analisar as ações humanas
individuais e coletivas e contribuir para que as experiências sejam
guardadas na memória das pessoas: biografias, testemunhos orais e escritos,
obras historiográficas e noticiários.
11. Textos não verbais, que não veiculam a linguagem verbal, escrita, tendo,
portanto, foco na linguagem não-verbal: histórias em quadrinhos só com
imagens, charges, pinturas, esculturas e algumas placas de trânsito compõem
tal agrupamento.
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A BNCC estabelece a centralidade do texto como unidade de trabalho. De acordo
com o documento: “As práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem
novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos, como
também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e
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de interagir” (BRASIL, 2017, p. 68).
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POR DENTRO DA BNCC
“
Síntese das aprendizagens:
Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios.
II. Cada criança aprende de acordo com o seu contexto, os materiais que
manipula, os ambientes que frequenta e as pessoas com quem se relaciona.
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Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmações corretas:
a. I, apenas.
b. II, apenas.
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c. III, apenas.
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d. I e II, apenas.
e. I, II e III.
Questão 2
“
As crianças imitavam o formato da escrita do adulto, produzindo apenas rabiscos mecânicos, sem nenhuma
função instrumental, isto é, sem nenhuma relação com os conteúdos a serem representados. Obviamente este
tipo de grafismo não ajudava a criança em seu processo de memorização. Ela não era capaz de utilizar sua
produção escrita como suporte para a recuperação da informação a ser lembrada.
I. As crianças pequenas não devem entrar em contato com o mundo letrado, pois
essa interação “queima” as fases.
II. Os sinais primários não possuem valor simbólico, inclusive a criança pode não
lembrar do significado dos registros que fez, por exemplo, dizendo ora que o
registro gráfico é uma boneca, ora um pássaro.
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. I, II e III.
Questão 3
“
O ouvinte que recebe e compreende a significação de um discurso adota para com este discurso uma atitude
responsiva ativa: ele concorda ou discorda, completa, adapta (...). A compreensão de uma fala de um enunciado
é sempre acompanhada de uma atitude responsiva ativa.
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Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:
a. V – V – V.
b. V – F – V.
c. F – V – F.
d. F – F – F.
e. V – V – F.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.
BELTRÃO, E. S.; GORDILHO, T. Novo diálogo: língua portuguesa. São Paulo: FTD,
2004.
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BRASIL. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: o trabalho com os
diferentes gêneros textuais em sala de aula: diversidade e progressão escolar
andando juntas. Ano 03. Unidade 05. Brasília, DF: MEC, 2012. Disponível
em: https://bit.ly/3q3PLMh . Acesso em: 6 jun. 2020.
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BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
seõçatona reV
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 8 jun. 2020. . Acesso
em: 6 jun. 2020.
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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM ESCRITA
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Natália da Silva Bugança
PROFESSOR ALFABETIZADOR
Para atuar como alfabetizador, é essencial conhecer as concepções de linguagem e o processo
de aquisição da linguagem escrita.
Fonte: Shutterstock.
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Nesse sentido, as percepções das crianças dependem das oportunidades de
interação com a língua escrita. Assim, é comum que em uma mesma turma
tenhamos crianças com percepções totalmente diferentes, inclusive crianças que já
estão alfabetizadas quando iniciam o ensino fundamental.
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Mas como definir por onde começar? A professora Vanessa pode partir das
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seguintes situações:
Evitar atividades prontas que exigem apenas que a criança realize pintura ou
cópia.
Além dessas possibilidades, Vanessa teve uma excelente ideia: conversou sobre as
crianças com a professora que trabalhou com a turma no ano anterior, na
educação infantil, e a partir dessa conversa foi possível se tranquilizar e iniciar o
trabalho sentindo-se segura.
PESQUISE MAIS
AVANÇANDO NA PRÁTICA
LIVROS DIDÁTICOS
Foi realizada a escolha dos livros didáticos de Língua Portuguesa pelos professores
do 2º ano da Escola Municipal Saber. Porém, ao receberem os livros, eles
perceberam que não correspondiam à escolha que realizaram. Os livros recebidos
apresentavam apenas atividades descontextualizadas, de cópia e repetição. Os
docentes não querem utilizar esse material, então, como resolver a situação?
RESOLUÇÃO
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como sujeito individual que deve desenvolver atividades articuladas ao
contexto histórico, social e afetivo, a escola deve possibilitar que ele tenha
contato com práticas de linguagem presentes na sociedade.
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NÃO PODE FALTAR
LINGUAGEM COMO INTERAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA
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Natália da Silva Bugança
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ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA CRÍTICA
A alfabetização na perspectiva crítica pretende garantir o amadurecimento da consciência por
meio da problematização da realidade.
Fonte: Shutterstock.
A escola deve despertar sentimentos bons como esses, pois, sem a ação dos sujeitos, ela é
meramente um prédio. Os profissionais da educação são capazes de ressignificar esse
espaço e tudo o que ele representa na vida de uma criança em processo de alfabetização.
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A educação, as interações e a linguagem são elementos articulados que fazem
parte da existência humana. Será que na escola e, em especial, nas práticas
desenvolvidas durante a alfabetização há espaço para o exercício do diálogo, da
expressão e da valorização da linguagem dos alunos?
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Nesta seção, você compreenderá a linguagem enquanto objeto de conhecimento,
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sua função cognitiva, interativa e dialógica. Também aprenderá a importância de
efetivar práticas significativas que acolham os elementos da vida cotidiana dos
alunos e conhecerá a proposta de alfabetização crítica, uma forma muito rica de
condução dos processos formativos.
Com o passar dos dias, Vanessa percebe que os conhecimentos que adquiriu na
universidade não são suficientes para subsidiar a compreensão de todas as
situações conflituosas que permeiam a prática pedagógica. Percebe que é
necessário continuar estudando, pois sua preocupação é desenvolver o
pensamento crítico dos alunos, mas não sabe como realizar esse trabalho com
crianças tão pequenas. Ajude Vanessa a encontrar meios de desenvolver esse
trabalho com as crianças.
CONCEITO-CHAVE
A linguagem humana é resultado das relações sociais e culturais dos indivíduos.
Pode-se dizer que ela é um instrumento da cognição, de mediação e interação dos
indivíduos com o mundo, e que tem um papel importante na maneira como as
experiências das pessoas são organizadas. Vamos conhecer o conceito de
cognição:
“
Cognição diz respeito a tudo que possa estar relacionado à aquisição, manutenção, recuperação e uso de
conhecimento. Conhecimento pode ser entendido como produto mental da interação do indivíduo com o que
lhe é exterior, no meio físico e social. A língua é o principal meio de interação entre os seres humanos e varia a
cada grupo social. A língua é, pois, um tipo de conhecimento a ser adquirido pela criança em sua interação com
o mundo.
— (CORRÊA, 2006, p. 1)
Note que o papel da linguagem modifica a relação humana com o mundo, e essa é
uma característica que difere os homens das demais espécies. Isso acontece
porque o sistema linguístico não é apenas um instrumento de reprodução de
ideias, é uma espécie de guia para a atividade mental do indivíduo.
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Então, podemos considerar que linguagem e cognição são conceitos inseparáveis,
isto porque a linguagem é um conhecimento adquirido pelas pessoas a partir de
processos mentais que subsidiam a sua compreensão. Concomitantemente, os
processos mentais executam atividades que dependem desse conhecimento.
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“
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[...] Dissecamos a natureza segundo as diretrizes fixadas por nossas línguas nativas. As categorias e os tipos que
isolamos do mundo dos fenômenos não os encontramos ali porque saltam à vista de qualquer observador [...].
Cortamos a natureza em pedaços, organizamo-la em conceitos e atribuímos significação tal como o fazemos
primordialmente porque somos parte um acordo para organizá-la dessa maneira, sendo este um acordo válido
para toda a nossa comunidade linguística e que está codificado na estrutura da nossa língua.
Em meados dos anos 1950, as relações entre língua e cognição foram investigadas,
aproximando áreas de conhecimento que culminaram na psicologia cognitiva e na
psicolinguística. Essa aproximação deu origem às ciências cognitivas, impactando
de forma significativa no cenário das ciências, período também denominado
revolução cognitiva.
EXEMPLIFICANDO
Aproximadamente aos dois anos a criança descobre que cada objeto tem
um nome. Para ela, saber que cada objeto tem um nome significa conhecê-
los. Essa atividade desperta a curiosidade e resulta no rápido aumento do
vocabulário.
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PESQUISE MAIS
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pela linguagem. Nesse material, a autora destaca que admitir a linguagem
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como interação social é percebê-la como interatividade entre os sujeitos
que com ela praticam ações em seus “diferentes falares”. “Isso requer um
novo paradigma sobre os sujeitos da ação enunciativa que emitem e
organizam vozes buscando efeitos e significados.” (RADAELLI, 2011, p. 1).
“
[...] a construção de linguagem, instituída na mediação educador/educando, é atravessada pela determinação
recíproca da reprodução e da contradição na especificidade constituinte do que é próprio para a construção
dialética, ou dialógica, da educação nos limites estruturantes da organização da sociedade.
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FOCO NA BNCC
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ao diálogo:
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3. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressar e partilhar
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e
produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação.
(BRASIL, 2017, p. 65)
REFLITA
Isso foi evidenciado por Paulo Freire ao tratar da alfabetização. O autor reforçou o
fato de que a leitura de mundo precede a leitura da palavra, e isso significa que a
leitura de mundo leva à conscientização, e a escola não deve trabalhar apenas com
atividades repetitivas que não oportunizam ao estudante o exercício do pensar, da
reflexão sobre ele e sobre o objeto de conhecimento e o mundo.
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“
O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando,
portanto, na relação eu-tu. [...] Se é dizendo a palavra com que, ‘pronunciando’ o mundo, os homens o
transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens.
Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de
seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de
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depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca das ideias a serem consumidas
pelos permutantes.
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— (FREIRE, 1996b, p. 54)
EXEMPLIFICANDO
A leitura dialógica é uma atividade que pode ser realizada com as crianças.
Nela, a aprendizagem ocorre de forma coletiva e colaborativa.
“
Nas salas de aula, muitos centros educacionais superaram com êxito o binômio
professor-aluno, modificando sua organização tradicional e suas dinâmicas. Por
exemplo, incluíram outras pessoas adultas, além dos professores, com a
finalidade de apoiar a aprendizagem da leitura em grupos interativos e nas
atividades de leitura compartilhada. Também transformaram suas bibliotecas
tradicionais em bibliotecas tutoradas, tornando esse espaço flexível e adaptável às
necessidades dos alunos e da comunidade. (AUBERT, 2011, p. 2)
Para o autor, quando a prática dialógica não se realiza, temos uma relação vertical,
na qual o professor se porta como o detentor de todos os saberes. Estabelece-se
um modelo de “educação bancária”, centrada no saber do professor, o qual
“transfere” esse saber para os alunos. Para ensinar é necessário o exercício da
escuta, pois ela “não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito
de discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que
me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das
idéias” (FREIRE, 1996a, p. 45).
“
1. Revela uma certa simplicidade, tende a um simplismo, na interpretação dos problemas, isto é, encara um
desafio de maneira simplista ou com simplicidade. Não se aprofunda na casualidade do próprio fato. Suas
conclusões são apressadas, superficiais. [...]. 6. É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do
princípio de que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentações frágeis. É polêmico, não pretende
esclarecer. Sua discussão é mais feita de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade; trata de
impô-la e procurar meios históricos para convencer com suas idéias [...]. Trata de brigar mais para ganhar mais.
7. Tem forte conteúdo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo. 8. Apresenta fortes compreensões
mágicas. 9. Diz que a realidade é estática e não mutável.
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Já na perspectiva da consciência crítica temos:
“
1. Anseio de profundidade na análise de problemas. Não se satisfaz com as aparências. Pode-se reconhecer
desprovida de meios para a análise do problema. 2. Reconhece que a realidade é mutável. 3. Substitui situações
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ou explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade. 4. Procura verificar ou testar as descobertas.
Está sempre disposta a revisões. 5. Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de preconceitos.
Não somente na captação, mas também na análise e na resposta [...]. 8. É indagadora, investiva, força, choca. 9.
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Ama o diálogo, nutre-se dele. 10. Face ao novo, não repele o velho por ser velho, não aceita o novo por ser
novo, mas aceita-os na medida em que são válidos.
FOCO NA BNCC
“
1. Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o
outro e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o
consumo responsável em âmbito local, regional e global, atuando criticamente
frente a questões do mundo contemporâneo. (BRASIL, 2017, p. 65)
Na perspectiva de alfabetização crítica, a produção de textos com função social deve ser o
centro do trabalho, logo o professor deve possibilitar a produção de textos
argumentativos, narrativos, informativos etc.
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No entanto, a proposta de alfabetização crítica só será efetivada por um professor
crítico em uma escola que também seja acolhedora. Esse profissional possui a
capacidade de refletir sobre as suas ações, olha para o estudante e reconhece a
sua capacidade de aprender. É essencial dar espaço para que os alunos falem,
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contem sobre suas famílias, brincadeiras, comidas favoritas, animais de estimação
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etc. Quando o professor abre espaço para a criança falar, os modos de “perceber,
de sentir, de viver, de conviver, de conhecer e de pensar o mundo” vêm à tona,
emergem e se constituem em sala de aula (SMOLKA, 1988, p. 99).
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. I, II e III.
Questão 2
A conscientização é um conceito central no processo pedagógico. Ela ocorre por
meio de um processo que passa por etapas que partem da consciência ingênua
para a consciência crítica.
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( ) Procura verificar ou testar as descobertas. Está sempre disposta a revisões.
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a. V – V – V.
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b. V – F – V.
c. F – V – F.
d. F – F – F.
e. V – V – F.
Questão 3
“
O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando,
portanto, na relação eu-tu. Se é dizendo a palavra com que, ‘pronunciando’ o mundo, os homens o
transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens.
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. I e II, apenas.
e. I, II e III.
REFERÊNCIAS
AUBERT, A. Leitura dialógica: mais espaços de leitura com mais pessoas.
Comunidades de aprendizagem, n. 2, p. 1-8, nov. 2011. Disponível em:
https://www.comunidadedeaprendizagem.com/uploads/materials/102/2143f48419
9d463557f2a8f3db6354ea.pdf. Acesso em: 21 jun. 2020.
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2010.
27
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 22 jun. 2020.
0
conhecimento. Campinas, SP: Editora Pontes, 2006.
seõçatona reV
FERNANDES, J. F.; CARVALHO, M. G.; CAMPOS, E. N. Vigotski e Bakhtin: a ação
educacional como projeto dialógico de produção de sentido. Bakhtiniana, São
Paulo, v. 7, n. 2, p. 95-108, jul./dez. 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/bak/v7n2/07.pdf. Acesso em: 21 jun. 2020.
FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996b.
SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 7. ed. São Paulo: Ática,
1989.
TONUCCI, F. Com olhos de criança. Trad. Jorge Andrade. Lisboa: Instituto Piaget,
1988.
28
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
LINGUAGEM COMO INTERAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
COMO DESENVOLVER O PENSAMENTO CRÍTICO NOS ALUNOS?
Nesta seção, seu desafio é pensar em estratégias de trabalho que sejam capazes de
desenvolver o pensamento crítico de crianças pequenas.
Fonte: Shutterstock.
Perceber-se como autor: um aluno produz o texto ditando para outro aluno
que já escreve ou para o professor, que atua na função de escriba.
29
Compartilhar vivências: o aluno tem a possibilidade de falar sobre si e suas
vivências.
0
um problema apresentado pela professora.
seõçatona reV
Contar histórias: a professora organiza momentos em que os alunos contam
histórias e os colegas fazem perguntas.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
ELABORANDO TEXTOS COLETIVAMENTE
Karina é professora de uma turma do segundo ano do ensino fundamental, e seus
alunos possuem dificuldades ortográficas e de organização do texto. De que forma
a professora poderá trabalhar, a fim de melhorar as dificuldades dos alunos sem
utilizar atividades repetitivas e sem sentido?
RESOLUÇÃO
Ainda, a docente pode orientar que os alunos copiem a produção nos cadernos
ou em um cartaz, o qual poderá ser exposto na sala de aula ou no pátio da
escola. Quando Karina adotou essa prática, percebeu que, além de retomar
todas as dificuldades enfrentadas pelos alunos, foi possível explorar a
criatividade.
30
NÃO PODE FALTAR
A ESCOLA DIANTE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE
ALFABETIZAÇÃO
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE ALFABETIZAÇÃO
Escolas que apresentam bons resultados em práticas pedagógicas de alfabetização têm como
característica a atuação de toda a equipe para garantir materiais, espaços e recursos
estruturados para alunos e professores.
Fonte: Shutterstock.
Você já reparou que em várias atividades nos sentimos mais seguros quando
sabemos que podemos contar com o apoio de outra pessoa ou de uma equipe? No
trabalho dos professores também é assim. A atuação de toda a equipe é
31
importante para resolver conflitos, planejar, organizar os espaços e materiais ou
para simplesmente proferir palavras de apoio.
0
seõçatona reV
32
Nesta seção, você perceberá que diante das práticas pedagógicas de alfabetização
a escola constitui-se como espaço formativo organizado para que a aprendizagem
aconteça. Essa temática evidencia que todos os profissionais estão envolvidos na
organização das práticas educativas, não havendo espaço para individualismo,
0
rivalidade entre os profissionais, tampouco entre a gestão da escola e o corpo
seõçatona reV
docente.
Você já conhece a professora Vanessa e está a par dos desafios que ela enfrenta
em seu primeiro trabalho com uma turma de alfabetização. Após um semestre de
trabalho com uma sala de aula com muitos alunos, a professora Vanessa percebe
que, por mais que se esforce, realize pesquisas e trabalhe com atividades
diversificadas, os resultados não são satisfatórios. Parece que os alunos não estão
progredindo, e ela está aflita. Alguns pais também conversaram com Vanessa e
com a coordenadora da escola sobre a dificuldade dos filhos frente às atividades
que a professora propõe. Como a coordenadora pedagógica poderá intervir para
auxiliá-la? Seria o caso de realizar uma sondagem?
CONCEITO-CHAVE
POLÍTICAS PARA ALFABETIZAÇÃO
A escola é o espaço de materialização das políticas para a alfabetização
engendradas no contexto educacional brasileiro. Isso acontece por meio das
práticas pedagógicas que caracterizam o trabalho dos professores em sala de aula.
Assim, a organização e o funcionamento da escola diante das práticas pedagógicas
de alfabetização têm como finalidade possibilitar o avanço das aprendizagens
mediante uma organização pedagógica que subsidie o trabalho do professor
alfabetizador.
33
A meta cinco do PNE objetiva que as crianças sejam alfabetizadas até o terceiro
ano do ensino fundamental. Pode-se dizer que a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) altera essa meta ao prever que a criança seja alfabetizada até o
segundo ano do ensino fundamental. Algo compatível nos dois documentos é o
0
fato de explicitarem que o pleno domínio das capacidades de leitura e escrita
seõçatona reV
continua a ser desenvolvido nos anos seguintes.
FOCO NA BNCC
“
Embora, desde que nasce e na Educação Infantil, a criança esteja cercada e
participe de diferentes práticas letradas, é nos anos iniciais (1º e 2º anos) do
Ensino Fundamental que se espera que ela se alfabetize.
[...]
Uma das estratégias para o alcance dessa meta do PNE está relacionada à
formação continuada. A expressão “formação continuada” é compreendida como
uma atualização de conhecimentos; são formações complementares que
acontecem durante a trajetória profissional. A estratégia do PNE destaca que é
necessário “promover e estimular a formação inicial e continuada de
professores(as) para a alfabetização de crianças, com o conhecimento de novas
tecnologias educacionais e práticas pedagógicas inovadoras” (BRASIL, 2014, p. 43).
Para isso está prevista a articulação entre programas de pós-graduação stricto
sensu e ações de formação continuada de professores para a alfabetização.
REFLITA
34
As mudanças não param, e o professor precisa estar atento para acompanhar as
novas pesquisas, teorias, tecnologias e materiais que podem melhorar a qualidade
do seu trabalho. Essa busca por aprimoramento não é apenas da responsabilidade
do profissional. A formação continuada é considerada um direito previsto na Lei
0
de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/1996). Desse
seõçatona reV
modo, as secretarias de educação e as instituições privadas devem ofertar
momentos de formação continuada aos professores durante o ano letivo.
A partir dessas informações, note que, além de ser um direito de todos os docentes,
proporcionar formação continuada aos professores alfabetizadores é um compromisso
das escolas que está articulado ao compromisso com a educação.
FORMAÇÃO CONTINUADA
Conheça alguns programas governamentais de formação continuada para
professores alfabetizadores ao longo do tempo:
35
Mais Alfabetização (2018): este programa tem como objetivo fortalecer e
apoiar técnica e financeiramente as unidades escolares no processo de
alfabetização de estudantes regularmente matriculados nos dois primeiros
anos do ensino fundamental.
0
Tempo de Aprender (2019): destinado à pré-escola e aos 1º e 2º anos do
seõçatona reV
ensino fundamental das redes públicas estaduais, municipais e distrital.
Desenvolvido a partir das diretrizes da Política Nacional de Alfabetização (PNA),
oferta apoio pedagógico para a alfabetização, aprimoramento das avaliações
da alfabetização, formação continuada e valorização de profissionais da
alfabetização.
O “conhecimento na ação”.
A “reflexão na ação”.
Assim, o docente pode, por exemplo, levar atividades dos alunos ou um relatório
ele que fez sobre as atividades para a formação continuada, possibilitando
confrontar teoria e prática e trocar ideias com os pares.
36
“
O PPP é um dos documentos de maior importância na escola, pois diz respeito à própria organização do
trabalho pedagógico que está intimamente ligada à concepção, realização e avaliação do projeto educativo. O
PPP vai além de um agrupamento de planos de ensino e atividades, passando a ser uma ação intencional com
um compromisso definido coletivamente, construído e vivenciado em todos os momentos.
— (BORTOLUZZI, 2016, p. 9)
0
PESQUISE MAIS
seõçatona reV
A escola, diante das práticas de alfabetização, precisa promover a
organização do espaço e dos materiais respeitando a especificidade da
etapa e o desenvolvimento das crianças, as quais, após a mudança para o
ensino fundamental de nove anos, são matriculadas aos 6 anos de idade no
primeiro ano. Amplie os conhecimentos sobre o tema realizando a leitura
da página 127 a 140 do seguinte artigo:
EXEMPLIFICANDO
37
“
[...] é estritamente necessário que o professor participe efetivamente da organização do trabalho dentro da
instituição em que atua, trocando experiências com seus colegas e, assim, construindo novos conhecimentos
em favor da aprendizagem dos estudantes. As ações de incentivo à leitura e à escrita na escola também
possuem essa característica, uma vez que se configuram como ações conjuntas de interdependência entre a
0
gestão escolar e a gestão educacional. A professora expressa: […] a gente faz projetos na escola, a gente
trabalha os professores, coordenação, direção enfim... todos que formam a equipe. [...] as vezes uma turma faz
seõçatona reV
uma dramatização, vai lá e apresenta para todo mundo. […] então envolve toda a escola, é um projeto que é de
toda a escola. Não é só um projeto meu, nem da coordenação, é todo mundo envolvido (Professora Helena).
Perceba que, na escola, deve existir um trabalho coletivo de apoio em torno das
práticas pedagógicas de alfabetização, pois isso não é um compromisso exclusivo
do professor da turma. Escolas que apresentam bons resultados têm como
característica a atuação de toda a equipe para garantir materiais, espaços e
recursos estruturados para alunos e professores.
“
A atividade docente não é exercida sobre um objeto, sobre um fenômeno a ser conhecido ou uma obra a ser
produzida. Ela é realizada concretamente numa rede de interações com outras pessoas, num contexto onde o
elemento humano é determinante e dominante e onde estão presentes símbolos, valores, sentimentos,
atitudes, que são passíveis de interpretação e decisão, interpretação e decisão que possuem, geralmente, um
caráter de urgência. Essas interações são mediadas por diversos canais: discurso, comportamentos, maneiras
de ser, etc. Elas exigem, portanto, dos professores, não só um saber sobre o objeto de conhecimento nem um
saber sobre uma prática e destinado principalmente a objetivá-la, mas a capacidade de se comportarem como
sujeitos, como atores e de serem pessoas em interação com pessoas.
EXEMPLIFICANDO
Alfabeto.
Números.
Calendário.
Chamadinha.
Regras da sala.
Livros de literatura.
38
O acesso aos materiais de apoio, permeado de uma abordagem lúdica realizada
pelo professor, é capaz de despertar o interesse da criança, envolvendo-a nas
atividades de maneira ativa.
0
“
Todo e qualquer espaço em que ocorre a prática alfabetizadora é espaço de múltiplas e diversificadas relações
entre a criança e os objetos portadores da escrita. É, portanto, espaço de mediações entre as crianças e os
seõçatona reV
objetos culturais. Entendemos, assim, que é necessário termos na sala de aula: cartaz com os quatro tipos de
alfabetos mais utilizados na escola e fora dela, que deve ser afixado na altura das crianças, para que possam
visualizá-lo e tocá-lo, pois muitas vezes costumam contornar as letras com os dedos para depois escrevê-las no
caderno; alfabeto móvel; calendário; cartazes de aniversariantes do mês e de ajudantes do dia; livros de
literatura; papéis de carta, para incentivar a escrita; cartaz com orientações sobre a convivência na sala de aula;
textos trabalhados, que podem ser afixados na parede; fichas com os nomes das crianças, escritas com letras
cursivas e de forma maiúsculas; materiais como cadernos e livros, que devem ser identificados com os nomes
das crianças; e outros.
39
Figura 1.5 | Jogo de alfabetização temático
0
seõçatona reV
Fonte: Brasil (2015, p. 64).
“
Os jogos virtuais possuem grande caráter lúdico e isso faz com que os alunos apreciem muito esse tipo de aula.
Para vencer o jogo, eles têm que ouvir, clicar, digitar, olhar a palavra com animação na tela que brilha, enfim,
esses são elementos significativos que permeiam o contexto multimodal do computador e que contribuem para
aproximar as crianças da palavra, independente do nível de escrita em que se encontram. Fazem isso com
mediação da professora, mas também com ajuda dos colegas ou sozinhas. Entretanto, ressaltamos que é
preciso encontrar jogos que desafiem as crianças em seus conhecimentos sobre a escrita e que contribuam
para o seu avanço nos direitos de aprendizagem, mas sem deixá-las tensas.
40
Fica evidenciado que não basta dispor dos materiais, mas saber como utilizá-los de
maneira adequada, e isso requer atenção do professor na preparação da aula. Os
espaços, materiais e jogos são importantes, mas não garantem a aprendizagem
dos alunos, é necessário que ocorra a utilização adequada, atendendo aos
0
objetivos de aprendizagem. A organização do o trabalho pedagógico requer
seõçatona reV
atenção do professor em relação ao que os alunos sabem e precisam aprender.
Chegamos ao fim desta seção. Você aprendeu que a escola, diante das práticas de
alfabetização, deve traduzir-se em espaço de formação continuada, no qual o
professor alfabetizador se sinta acolhido e apoiado pela equipe gestora. Nesse
ambiente de aprendizagens, os espaços, equipamentos e materiais devem
possibilitar valiosas experiências, a partir das quais seja possível questionar,
pesquisar, manipular materiais, brincar, se divertir e aprender.
“
O PPP é um dos documentos de maior importância na escola, pois diz respeito à própria organização do
trabalho pedagógico que está intimamente ligada à concepção, realização e avaliação do projeto educativo. O
PPP vai além de um agrupamento de planos de ensino e atividades, passando a ser uma ação intencional com
um compromisso definido coletivamente, construído e vivenciado em todos os momentos.
— (BORTOLUZZI, 2016, p. 9)
a. I, apenas.
b. II, apenas.
c. III, apenas.
d. II e III, apenas.
e. I, II e III.
Questão 2
“
Na formação de professores, há dificuldades para a prática reflexiva, pois a epistemologia acadêmica enfatiza
primeiro os saberes e depois a sua aplicação, ignorando os demais conhecimentos em detrimento dos
princípios da ciência aplicada. Trata-se de um movimento que poderia ser incrementado na formação inicial e
continuada, em um trabalho conjunto entre professores e gestores, de análise sobre o que se está fazendo,
reorganizando as ações presentes.
41
a. Ampliar os conhecimentos teóricos.
c. Avançar na carreira.
0
d. Interagir com os demais professores.
seõçatona reV
e. Refletir para melhorar a ação docente.
Questão 3
“
Todo e qualquer espaço em que ocorre a prática alfabetizadora é espaço de múltiplas e diversificadas relações
entre a criança e os objetos portadores da escrita.
a. V – V – V.
b. V – F – V.
c. F – V – F.
d. F – F – F.
e. V – V – F.
42
REFERÊNCIAS
BORTOLUZZI, J. S. Projeto político-pedagógico: um estudo sobre desencontros
entre teoria e prática. Curitiba, PR: Secretaria de Estado da Educação, 2016.
0
Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2311-
seõçatona reV
6.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 22 jun. 2020.
43
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
A ESCOLA DIANTE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE
ALFABETIZAÇÃO
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
SONDAGEM
Conheça essa ferramenta fundamental no trabalho do professor alfabetizador.
Fonte: Shutterstock.
Parece que os alunos não estão progredindo e não entendem como funciona a
escrita. Diante disso, a professora está desesperada e não sabe se deve continuar
trabalhando com as mesmas atividades ou se modifica tudo o que fez até o
momento. Alguns pais também conversaram com a docente e com a
coordenadora da escola sobre a dificuldade dos filhos, e isso gera mais ansiedade
e insegurança na profissional, a qual, pela primeira vez, atua na alfabetização.
44
Ciente da situação, a coordenadora pedagógica percebeu que Vanessa precisa de
uma atenção especial, de um direcionamento. Existem algumas possibilidades de
encaminhamentos para essa situação envolvendo a professora e a coordenação
pedagógica da escola.
0
A coordenação pedagógica pode analisar as atividades dos alunos junto à
seõçatona reV
professora responsável pela turma e sugerir uma sondagem, que é um elemento
fundamental no trabalho do professor alfabetizador. Para realizar a sondagem, a
docente deve organizar atividades em que os alunos sejam capazes de expressar a
sua real compreensão sobre a escrita. O próximo passo é analisar as atividades. Ao
fazer essa análise, é possível tabular os dados da turma em relação aos níveis de
compreensão da escrita. A partir disso, a coordenação pode auxiliar a professora
na elaboração de um planejamento que atenderá às necessidades dos estudantes.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
BNC-FORMAÇÃO
O Ministério da Educação (MEC) homologou o Parecer CNE/CP nº 22/2019, do
Conselho Nacional de Educação (CNE), que atualiza as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui
a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação
Básica, denominada BNC-Formação.
45
docentes desse nível educacional. Frente às competências estabelecidas aos
municípios, como deve ser a atuação das escolas de ensino fundamental anos
iniciais com relação à formação continuada?
0
RESOLUÇÃO
seõçatona reV
A formação continuada é um momento de reflexão e articulação entre teoria e
prática, portanto é de extrema importância. Com a aprovação da BNC-
Formação, as instituições escolares, em parceria com as secretarias de
educação, precisam realizar um trabalho de formação continuada, para que os
professores já atuantes desenvolvam as competências e habilidades previstas
no documento. A fim de incentivar a participação, a coordenação pedagógica,
junto à direção da escola, poderá realizar uma reunião com os professores e
mostrar o quanto as aprendizagens desenvolvidas nas formações são
importantes para o desenvolvimento profissional de cada um e que os
docentes terão o apoio de toda a equipe gestora.
46
NÃO PODE FALTAR
COMPREENSÃO DA ALFABETIZAÇÃO COMO PROCESSO
INTERDISCIPLINAR
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO?
A alfabetização é caracterizada pelo processo de aquisição da língua escrita, enquanto o
letramento está relacionado ao desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em
atividades de leitura e escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita.
Fonte: Shutterstock.
CONVITE AO ESTUDO
Olá, estudante, como vai?
Está tudo pronto para iniciar mais uma jornada de aprendizagens? Você sabia que
os estudos sobre um objeto de conhecimento implicam a construção de um
esquema conceitual que permita recuperar conhecimentos prévios e articular
novos dados? Assim, na presente unidade, continuaremos construindo nosso
esquema conceitual sobre as estratégias e os procedimentos para alfabetização,
agora, explorando diretamente o foco da discussão, cujo tema central é a
alfabetização.
47
Para isso, os conhecimentos serão explorados em três seções. A primeira seção
tem como tema a compreensão da alfabetização como processo interdisciplinar,
na qual discutiremos a importância da articulação de diferentes perspectivas
teóricas na análise da alfabetização; a aprendizagem da leitura e da escrita além da
0
sala de aula – marcada por variáveis político-econômicas, pelas interações sociais,
seõçatona reV
pelas experiências culturais; a interdependência da alfabetização e do letramento;
e o uso da língua oral e escrita em situações reais de comunicação enquanto, ao
mesmo tempo, a representação dos sons da fala em grafia é apresentada.
Você já notou que as crianças confundem o som de algumas letras? Você já notou que as crianças têm um
percurso parecido de aquisição do sistema alfabético? Já notou que se fala de diferentes maneiras a depender do
contexto social da fala? Na segunda seção, vamos explorar as contribuições da linguística, da psicolinguística e da
sociolinguística, conhecendo sobre o sistema ortográfico, o sistema fonológico, o ponto de vista semântico na
aquisição da linguagem, a maturidade linguística, o desenvolvimento verbal da criança, a concepção da criança
sobre a escrita, as habilidades metalinguísticas da criança, a interferência das diferenças culturais e dos dialetos
no processo de aquisição da leitura e da escrita e as relações entre alfabetização e os usos e funções da língua
escrita.
De certa forma, tudo parece estar interligado e, na verdade, está! Imagine só se,
em sala de aula, os conhecimentos ainda forem tratados de forma
compartimentada: ao estudar artes fechamos a “caixa” da língua portuguesa, em
outro momento fechamos a “caixa” de língua portuguesa e abrimos a “caixa” da
educação física. Nas relações sociais, as áreas de conhecimento estão articuladas e
são compreendidas e sintetizadas por sujeitos que mobilizam toda essa
diversidade de conhecimento.
Nesse contexto, faz-se necessário dar ênfase às práticas que fazem parte da
cultura dos aprendizes, focando em estratégias que possibilitem o
desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de compreender e analisar
situações em diversos contextos. Portanto, as práticas de letramento não estão
condicionadas à entrada da criança no ensino formal, mas cabe à escola acolher e
explorar os multiletramentos, por contemplarem as tecnologias da informação e
comunicação, a diversidade cultural e as questões emergentes na sociedade, tudo
isso sem subestimar a necessidades de dominar as normas do sistema alfabético e
ortográfico.
48
Aprender a ler e escrever oferece aos estudantes algo novo e surpreendente:
amplia suas possibilidades de construir conhecimentos, por sua inserção na
cultura letrada, e de participar com maior autonomia e protagonismo na vida
social. Considerando a relevância de explorar a aprendizagem além da sala de
0
aula, como o uso da língua oral e escrita em situações reais de comunicação, nesta
seõçatona reV
seção você será levado a refletir sobre a importância de articular perspectivas
teóricas na análise da alfabetização, levando em conta a interdependência entre
alfabetização e letramento.
CONCEITO-CHAVE
A alfabetização é um fenômeno complexo que requer o desenvolvimento de um
conjunto de habilidades, o que explica por que profissionais de diversas áreas de
conhecimento se debruçam para estudar o tema. A compreensão da criança sobre
a escrita é um processo que ocorre na vida cotidiana, ou seja, está situada além da
sala de aula e é marcada por variáveis político-econômicas, interações sociais e
experiências culturais.
49
Segundo Soares (2020, p. 22), quando chega na escola para ser alfabetizada, a
criança já domina um dialeto da língua oral: “esse dialeto pode estar mais próximo
ou mais distante da língua escrita convencional, que se baseia em uma norma
padrão”.
0
seõçatona reV
REFLITA
Em diversas situações, a criança escreve como fala, ou seja, como aprendeu a falar
com sua família ou no meio onde vive. Nesses casos, a escola não deve censurar a
criança e sua cultura, mas possibilitar que ela tenha contato com a norma padrão e
aprenda que existem outras maneiras de dizer a mesma coisa e uma forma aceita
socialmente que deve ser utilizada para registrar, isto é, escrever.
FOCO NA BNCC
50
Vale pensar em que medida a cultura dominante interfere na construção de
práticas pedagógicas que desconsideram a diversidade, características regionais e
variáveis socioeconômicas, para que não se propaguem em sala de aula
percepções e condutas que levam a análises excludentes por parte do professor.
0
Pensando nisso, se o objetivo do trabalho educativo é a aprendizagem do
seõçatona reV
estudante, se ele não aprende, significa que vários elementos não foram
mobilizados e articulados de maneira adequada. Por isso, frente ao insucesso, não
é prudente culpabilizar o contexto social da criança e sua família.
Cabe questionar: o que pode ser feito para aproximar as expectativas da escola ao
conhecimento das crianças que não têm acesso a materiais diversos? Uma possibilidade é
permitir o uso da língua oral e escrita em situações reais de comunicação, ao mesmo
tempo proporcionar atividades que exigem a representação dos sons da fala em grafia.
Isso pressupõe reconhecer a interdependência da alfabetização e do letramento.
EXEMPLIFICANDO
“
1. Pedro já sabe ler. Pedro já sabe escrever.
2. Pedro já leu Monteiro Lobato. Pedro escreveu uma redação sobre Monteiro
Lobato.
51
No Brasil, o conceito de letramento surge a partir do questionamento sobre o
conceito de alfabetização, isto porque no contexto brasileiro esses conceitos se
confundiam e se mesclavam – dado evidenciado nos censos demográficos:
situação em que sujeitos com diferentes habilidades de leitura e escrita se
0
autodeclaravam alfabetizados, entretanto sem o pleno domínio das habilidades
seõçatona reV
necessárias para ser classificados como tal.
ASSIMILE
“
A criança deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos
para aprender o sistema de escrita – concepção presente nos métodos de
alfabetização até então em uso, hoje designados tradicionais – e passa a ser
sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir esse sistema de
representação, interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas
sociais, isto é, interagindo com material “para ler”, não com material
artificialmente produzido para aprender a ler.
EXEMPLIFICANDO
52
Atividade realizada no 1º ano
0
seõçatona reV
Fonte: https://bit.ly/2ZwXNBa. Acesso em: 11 fev. 2021.
Explorando:
“
Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas,
linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no
mundo da escrita decorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional
de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de
leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento.
Como você pode perceber fica claro que privilegiar um tipo de encaminhamento
pedagógico em detrimento do outro pode ser apontado como uma das causas que
levam ao insucesso durante a alfabetização, pois é necessária a articulação de
diferentes perspectivas teóricas na análise da alfabetização de acordo com as
necessidades evidenciadas pelas crianças.
FOCO NA BNCC
53
(grafemas ou letras), o que envolve o desenvolvimento de uma consciência
fonológica (dos fonemas do português do Brasil e de sua organização em
“
segmentos sonoros maiores como sílabas e palavras) e o conhecimento do
alfabeto do português do Brasil em seus vários formatos (letras imprensa e
cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do estabelecimento de relações
0
grafofônicas entre esses dois sistemas de materialização da língua. (BRASIL, 2018,
p. 89-90)
seõçatona reV
Nesse sentido, deve-se reconhecer que metodologias diversificadas são
necessárias e precisam ser mobilizadas pelo professor de acordo com as
características dos estudantes e com as competências e habilidades que pretende
explorar, integrando práticas de alfabetização e letramento em diversas áreas de
conhecimento.
ASSIMILE
“
A ação pedagógica para o letramento (valorizar os usos e as funções sociais da língua
escrita) precisa estar articulada ao trabalho específico com o sistema de escrita (processo
de codificação e decodificação). Em outras palavras, cuidar da dimensão linguística,
visando a alfabetização, não implica excluir da sala de aula o trabalho voltado para o
letramento. Consequentemente, as atividades cotidianas precisam possibilitar o contato
com textos escritos, de modo que as crianças formulem hipóteses sobre sua utilidade, seu
funcionamento e sua configuração.
REFLITA
54
Com relação à mudança conceitual, analise o excerto a seguir, completando suas
lacunas.
O paradigma _______ também se difundiu no Brasil por meio dos estudos sobre a _______ da língua escrita
desenvolvidos por Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Esses estudos suscitaram expressivas mudanças para a
0
alfabetização, por demonstrar que a criança é _______ no processo de construção de representação da língua
escrita.
seõçatona reV
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
Questão 2
Estudos desenvolvidos sobre fracasso escolar demonstram que, ao longo da
história, as instituições escolares atribuem à criança diagnósticos como “déficit
linguístico” ou “carência cultural” quando se deparam com o predomínio de
particularidades do dialeto de crianças oriundas das classes populares,
desconsiderando a existência de diferentes práticas linguísticas (PATTO, 1999).
IV. Quando chega na escola para ser alfabetizada, a criança já domina um dialeto
da língua oral, o qual pode estar mais próximo ou mais distante da língua
escrita convencional, que se baseia em uma norma padrão.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
Questão 3
A criança deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos para aprender o sistema de escrita
[...] e passa a ser sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir esse sistema de representação,
55
“
interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas sociais, isto é, interagindo com material “para ler”, não
com material artificialmente produzido para aprender a ler.
0
demonstrar que a criança é passiva no processo de construção de
seõçatona reV
representação da língua escrita.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3azWCY5 . Acesso em: 27 jul.
2020.
56
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
COMPREENSÃO DA ALFABETIZAÇÃO COMO PROCESSO
INTERDISCIPLINAR
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
Fonte: Shutterstock.
A Base Nacional Comum Curricular prevê que, nos dois primeiros anos do ensino
fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização a fim de
garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de
escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de
leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de
letramentos.
57
utilizando notícia, reportagem, entrevista, artigo de opinião, charge, tirinha,
crônica, conto, verbete de enciclopédia, artigo de divulgação científica,
embalagens, propagandas e mídias digitais.
0
É possível elaborar um quadro para organizar o trabalho que será desenvolvido,
pois esse tipo de atividade não é pontual, deve estar presente em todo o
seõçatona reV
planejamento e pode envolver diferentes disciplinas.
Desenvolver disposições x x x x x
favoráveis à leitura.
Oralidade
Cultura escrita
58
Leitura/compreensão Segunda Terça Quarta Quinta Sexta
Produção de texto
0
Planejar coletivamente um texto x
seõçatona reV
escrito considerando o tema
central e seus desdobramentos.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
A MECÂNICA DA ESCRITA NA BNCC
João Paulo é uma criança de 6 anos matriculada no primeiro ano do ensino
fundamental. Ele é um aluno curioso e participativo que demostra interesse em
todas as atividades propostas por Marta, sua professora. Mesmo com esse perfil
de aluno autorregulado e proativo, João Paulo, assim como outros alunos da
turma, tem dificuldade nas atividades de escrita propostas pela professora. Marta
trabalha com textos contextualizados, explorando a função da escrita em situações
reais de comunicação, sempre partindo da perspectiva de que gradualmente os
alunos irão elaborar hipóteses, direcionando-os à compreensão sobre a mecânica
da escrita. Mas, como os alunos estão demorando para apresentar avanços, Marta
tem questionado se deve modificar a sua forma de trabalhar. A BNCC pode indicar
à professora Marta o que deve ser acrescentado no trabalho que ela realiza?
RESOLUÇÃO
59
“
[...] é preciso que os estudantes conheçam o alfabeto e a mecânica da escrita/leitura – processos que
visam a que alguém (se) torne alfabetizado, ou seja, consiga “codificar e decodificar” os sons da língua
(fonemas) em material gráfico (grafemas ou letras), o que envolve o desenvolvimento de uma consciência
fonológica (dos fonemas do português do Brasil e de sua organização em segmentos sonoros maiores
como sílabas e palavras) e o conhecimento do alfabeto do português do Brasil em seus vários formatos
0
(letras imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do estabelecimento de relações grafofônicas
entre esses dois sistemas de materialização da língua.
seõçatona reV
— (BRASIL, 2018, p. 89-90)
As seguintes habilidades previstas na BNCC indicam estratégias que podem ser adotadas pela professora
Marta:
“
(EF01LP08) Relacionar elementos sonoros (sílabas, fonemas, partes de palavras) com sua representação
escrita. [...]
(EF01LD13) Comparar palavras identificando semelhanças e diferenças entre sons de sílabas medias e
finais.
Após analisar a dificuldade apresentada pelos alunos e realizar a leitura da BNCC, a professora Marta
percebeu que precisava explorar diretamente a mecânica da escrita e leitura e assim o fez: modificou a
forma de trabalhar com textos integrando atividades que favorecem o desenvolvimento das relações
grafofônicas.
60
NÃO PODE FALTAR
CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA, DA PSICOLINGUÍSTICA E DA
SOCIOLINGUÍSTICA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
QUAL É A IMPORTÂNCIA DA LINGUÍSTICA, PSICOLINGUÍSTICA E SOCIOLINGUÍSTICA
PARA A ALFABETIZAÇÃO?
As contribuições da linguística, psicolinguística e sociolinguística abrangem temas que
permitem elucidar problemáticas da sala de aula e articular as melhores estratégias para a
condução da alfabetização.
Fonte: Shutterstock.
Vamos iniciar mais uma seção de estudos com algumas perguntas: você já notou
que as crianças confundem o som de algumas letras? E que elas têm um percurso
parecido de aquisição do sistema alfabético? Já notou que se fala de diferentes
maneiras a depender do contexto social em que se está inserido? Todas essas
questões são facilmente percebidas quando observamos uma turma de
alfabetização e elas representam desafios para as crianças e para os professores,
pois o que deu certo com uma turma pode não dar certo com outra, o que exige
que o professor tenha um perfil de pesquisador.
Paulo Freire pontuou que a escola é feita por gente, gente que ensina, aprende, trabalha e
a escola é apenas um prédio sem as pessoas. Retomamos a fala de Freire para destacar a
humanidade presente nas relações educativas e consideramos os professores como seres
que se alegram, choram, sentem dor e medo e também podem passar por momentos em
que se sentem inseguros, principalmente quando não dominam plenamente determinada
área de conhecimento.
61
É possível inferir que alguns conhecimentos desta seção ainda não foram
amplamente assimilados por muitos professores que atuam na alfabetização e em
equipes gestoras. Isso é demonstrado nas falas desses profissionais quando
expressam suas dificuldades para trabalhar ortografia, fonologia e semântica, por
0
exemplo. As contribuições da linguística, psicolinguística e sociolinguística
seõçatona reV
abrangem temas que permitem elucidar problemáticas da sala de aula e articular
as melhores estratégias para a condução da alfabetização. Você, enquanto
estudante, terá a possibilidade de explorar todos esses temas.
Durante uma das reuniões, a professora Clara expõe ao grupo de professores que
tem dificuldade em intervir nas situações em que as crianças trocam letras e
apresentou alguns exemplos de trocas de letras, como: v por f (o aluno escreve
faca no lugar de vaca), d por t (o aluno escreve tela no lugar de dela), b por p (o
aluno escreve pato no lugar de bato e g por c (o aluno escreve cata no lugar de
gata).
Após exemplificar, Clara relatou que utiliza vários recursos com os alunos que
fazem essas trocas, entretanto, elas persistem. A professora acredita que pode ser
algo relacionado à metodologia e aos recursos usados, por isso pede sugestões
para os colegas. Se você fosse um dos professores que está participando desse
momento de estudo, o que iria sugerir a Clara?
CONCEITO-CHAVE
62
Estamos estudando e observando desde o início desta unidade de ensino as
questões que envolvem a alfabetização a fim de entender o processo de forma
ampla, identificando todas as variáveis que interferem na aquisição e no
desenvolvimento da leitura e da escrita. Pensando nisso, é fundamental que você
0
conheça as contribuições da linguística, psicolinguística e sociolinguística.
seõçatona reV
Iniciaremos conhecendo a natureza linguística do processo de alfabetização.
LINGUÍSTICA
Conforme Soares (1985, p. 22), “do ponto de vista propriamente linguístico, o
processo de alfabetização é, fundamentalmente, um processo de transferência da
sequência temporal da fala para a sequência espaço-direcional da escrita, e de
transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita (cf. Silva,
1981)”.
ASSIMILE
EXEMPLIFICANDO
“
Eu posso falar “BAUDGI”, meu vizinho “BAUDI”, um conhecido “BARDGI”, e um
amigo do Sul, “BALDE”, mas todos escrevemos “BALDE”, não porque essa forma
representa uma pronúncia correta, mas porque houve um consenso na sociedade,
de que todos devem escrever essa palavra assim. Não adianta ficar se
perguntando o porquê de se ter escolhido esta forma e não outra (por exemplo,
“BAUDE”), já que esta escolha esbarra em questões históricas, que nos escapam
com o passar dos anos.
A relação entre letras e sons, ou seja, as letras representam sons: um som pode
ser representado por uma letra, a mesma letra pode representar vários sons e
um mesmo som pode ser escrito por várias letras;
63
A posição de cada letra no espaço gráfico e a direção da escrita [...];
A linearidade, que corresponde ao fato de uma letra ser escrita após a outra;
0
(ZORZI, 1997, p. 13).
seõçatona reV
REFLITA
É possível que a criança confronte sua própria escrita com outras escritas e,
a partir dessa ação, elabore hipóteses que modificam a sua escrita?
EXEMPLIFICANDO
Trava-línguas
Cantigas
Borboletinha tá na cozinha
fazendo chocolate
para a madrinha
Poti, poti
perna de pau
olho de vidro
64
Como no exemplo apresentado, o trabalho que prevê a percepção da consciência
fonológica pode ser amplamente explorado pelos professores, integrando ainda
outros aspectos como a oralidade, a interação e a brincadeira, que são ricas
possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento.
0
seõçatona reV
Quadro 2.2 | Sub-habilidades da consciência fonológica
Consciência de
Capacidade de segmentar a frase em palavras.
palavras
“
Quando se fala em campo semântico [pensa-se na representação de] conceitos próximos e fortemente
relacionados, como ensinamento, aprendizado e educação. Entende-se que esses conceitos repartem entre si
uma área de conhecimento mais ampla (às vezes chamada de campo nocional), justapondo-se uns aos outros
como numa espécie de mosaico.
DITADO DE PALAVRAS
Material escolar:
Apontador (polissílaba)
Caderno (trissílaba)
Régua (dissílaba)
Giz (monossílaba)
PSICOLINGUÍSTICA
65
Você já notou que as crianças têm um percurso parecido de aquisição do sistema
alfabético? A psicolinguística está direcionada a estudar os processos psicológicos
por meio dos quais os sujeitos aprendem a ler e escrever, considerando a
existência de pré-requisitos necessários. De acordo com Soares (1985), nessa
0
perspectiva considerou-se a relação entre aspectos neurológicos e psicológicos da
seõçatona reV
alfabetização que direcionou a adoção das atividades de percepção do “esquema
corporal, discriminação visual e auditiva, psicomotricidade e estruturação espacial
e temporal” (SOARES, 1985, p. 22).
“
A descrição e a narrativa exigem da criança o domínio das operações espaciais, o estágio das operações
concretas. A produção de uma dissertação expositiva e, com maior razão ainda, de uma dissertação
argumentativa, requer que a criança já tenha atingido o nível das operações formais.
Pensando nisso, a organização dos currículos escolares e dos livros didáticos deve
levar em consideração a complexidade linguística, atendendo ao nível de
desenvolvimento mental da criança. Também é importante mencionar que estudos
desenvolvidos por Vigotski e Luria, citados na obra de Luria (1979), denotam a
relação entre o desenvolvimento da linguagem e a formação dos processos
mentais complexos, evidenciando grandes mudanças nas estruturas mentais com
o desenvolvimento da linguagem.
ASSIMILE
“
A linguagem não somente permite entrar mais profundamente nos fenômenos da
realidade, nas relações entre as coisas, ações e qualidades, e possui um sistema
de construções sintáticas que permitem formular ideia, expressar um julgamento,
mas também dispõe de formações mais complexas que possibilitam o
pensamento teórico, o que permite ao homem sair dos limites da experiência
imediata e tirar conclusões por um caminho abstrato lógico-verbal.
66
Como você pode notar, a escrita exige o desenvolvimento de processos mentais
específicos e, com base em uma análise psicolinguística, os problemas
relacionados à aprendizagem na alfabetização podem indicar a necessidade de
observar a maturidade linguística.
0
seõçatona reV
FOCO NA BNCC
“
[...] sistematiza-se a alfabetização, particularmente nos dois primeiros anos, e
desenvolvem-se, ao longo dos três anos seguintes, a observação das regularidades
e a análise do funcionamento da língua e de outras linguagens e seus efeitos nos
discursos. (BRASIL, 2018, p. 89)
“
Os significados das palavras se desenvolvem: a linguagem oral se complexifica e se torna intelectual. O
pensamento torna-se verbal. Nos três primeiros anos de vida, a atividade comunicativa que a criança estabelece
com os adultos e, também, com outras crianças tem importância fundamental nesse processo: quanto mais
ricas forem as oportunidades de diálogo com as crianças, tanto maiores serão as possibilidades de
complexificação da linguagem oral e do pensamento infantis.
Metacognitiva Metalinguística
67
diferenciando significante e significado; para perceber e identificar sons em
palavras diferentes, para apreciar a coerência sintática e semântica dos
enunciados, entre outras” (SANTOS, 2014, [s.p.]).
0
Portanto, é importante considerar o papel ativo dos estudantes, levando-os a
pensar sobre a própria aprendizagem e isso ocorrerá mediante a organização de
seõçatona reV
atividades desafiadoras. A percepção da criança sobre a escrita deve ser ampliada
pela escola, mesmo que por vezes a criança já identifique a importância da escrita
em outras situações sociais. No ambiente escolar escrever significa meramente um
ato mecânico de reprodução. Esse fato nos direciona a explorar as contribuições
da sociolinguística para a alfabetização.
SOCIOLINGUÍSTICA
Você sabia que a sociolinguística considera que a alfabetização é um processo
relacionado aos usos sociais da língua? Essa área postula que as crianças quando
chegam na escola dominam um dialeto próprio e quanto mais esse dialeto se
aproxima do padrão formal da língua escrita, mais é considerado apropriado pela
escola. No entanto, deve-se observar que entre os dialetos orais e a língua escrita
há diferenças relativas ao sistema fonológico e ortográfico, além de “diferenças de
léxico, morfologia e sintaxe” (SOARES, 1985, p. 22).
“
O Eixo da Análise Linguística/Semiótica envolve os procedimentos e estratégias
(meta)cognitivas de análise e avaliação consciente, durante os processos de leitura
e de produção de textos (orais, escritos e multissemióticos), das materialidades
dos textos, responsáveis por seus efeitos de sentido, seja no que se refere às
formas de composição dos textos, determinadas pelos gêneros (orais, escritos e
multissemióticos) e pela situação de produção, seja no que se refere aos estilos
adotados nos textos, com forte impacto nos efeitos de sentido. (BRASIL, 2018, p.
80)
68
Nesse componente, encontram-se, por exemplo, a semântica e a variação
linguística:
“
Semântica
0
• Conhecer e perceber os efeitos de sentido nos textos decorrentes de fenômenos léxico-
seõçatona reV
semânticos, tais como aumentativo/diminutivo; sinonímia/antonímia; polissemia ou
homonímia; figuras de linguagem; modalizações epistêmicas, deônticas, apreciativas;
modos e aspectos verbais.
Variação linguística
Após conhecer todas essas contribuições que nos ajudam a olhar as diferentes
naturezas do processo de alfabetização, é possível reafirmar o quanto é
importante que professor alfabetizador compreenda e mobilize os conhecimentos
relativos à linguística, psicolinguística e sociolinguística para organizar o ensino,
tomando decisões assertivas na condução da aprendizagem dos estudantes
durante a alfabetização.
PESQUISE MAIS
“
“[...] o processo de alfabetização é, fundamentalmente, um processo de transferência da sequência temporal da
fala para a sequência espaço-direcional da escrita”.
a. Psicolinguística.
b. Linguística.
c. Prontidão.
d. Sociolinguística.
e. Maturidade.
69
Questão 2
A fala é atualizada diariamente pelos falantes, que criam novas palavras e
expressões, o que expande o afastamento entre a fala e a escrita. A aprendizagem
da ortografia conduz a um trabalho reflexivo sobre a escrita favorecendo uma
0
aprendizagem consciente sobre a representação gráfica (ZORZI, 1997).
seõçatona reV
Tomando como referência os aspectos envolvidos na compreensão ortográfica,
julgue as afirmativas a seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas.
a. V – V – F – F.
b. F – F – V – V.
c. V – F – V – F.
d. V – F – V – V.
e. V – V – V – F.
Questão 3
Para Piaget (1972, p. 47):
“
A descrição e a narrativa exigem da criança o domínio das operações espaciais, o estágio das operações
concretas. A produção de uma dissertação expositiva e, com maior razão ainda, de uma dissertação
argumentativa, requer que a criança já tenha atingido o nível das operações formais.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
70
e. I, II, III e IV.
REFERÊNCIAS
0
ANDRÉ, T. C. Princípios básicos de fonética e fonologia para a compreensão do
seõçatona reV
processo de alfabetização em contexto de variedade linguística. In: CONGRESSO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 12., 2015, [S.l.]. Anais [...]. [S.l.], PUCPR, 26 a
29 out. 2015. p. 41745-41757. Disponível em: https://bit.ly/3ueCL8N. Acesso em: 12
ago. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3dpZBo1. Acesso em: 27 jul.
2020.
71
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA, DA PSICOLINGUÍSTICA E DA
SOCIOLINGUÍSTICA
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
Fonte: Shutterstock.
72
produção de sons com o mesmo lugar de articulação. Geralmente o alfabetizando
troca, na escrita, as letras que representam sons sonoros, por letras que
representam sons surdos com o mesmo lugar de articulação” (ANDRÉ, 2015, p.
41750).
0
Frente ao problema relatado pela professora, Maria, que também atua no segundo
seõçatona reV
ano, sugeriu que Clara explore a consciência fonêmica, capacidade de analisar os
fonemas que compõem as palavras. Ela apresentou os seguintes
encaminhamentos possíveis:
Clara percebeu que não havia realizado atividades em que as crianças poderiam
perceber os sons, ficou grata com as orientações que recebeu da professora Maria
e já está com muitas ideias para desenvolver com seus alunos.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
CICLO DE ALFABETIZAÇÃO
A diretora da escola Sol Nascente recebeu um questionamento do conselho
escolar indagando o porquê da não reprovação da criança no primeiro ano do
ensino fundamental. Uma mãe de aluno que também é presidente do conselho
disse que muitos pais já perguntaram sobre isso, pois entendem que a escola deve
ser mais exigente, retendo as crianças que não aprenderam a ler e escrever no
primeiro ano. Imagine-se no lugar da diretora para responder ao questionamento
do conselho.
RESOLUÇÃO
73
De acordo com a psicolinguística, a escrita exige o desenvolvimento de
processos mentais específicos. Segundo Poersch (1992), a alfabetização exige
determinado estágio de desenvolvimento global, que ocorre por volta dos 7
anos, idade que corresponde ao amadurecimento linguístico e mental. Isso
0
indica que os conteúdos devem ser explorados de forma gradativa.
seõçatona reV
Aos 6 anos, idade em que é matriculada no ensino fundamental, a criança está
compreendendo a organização da nova escola, os conhecimentos, formulando
suas primeiras hipóteses sobre a escrita e tudo isso precisa ser explorado de
forma gradativa e lúdica. A partir da fala da diretora, a presidente do conselho
compreendeu que a reprovação não é sinônimo de aprendizagem: a criança
tem tempo para explorar as aprendizagens sem a cobrança excessiva
relacionada à reprovação.
74
NÃO PODE FALTAR
OS DIFERENTES MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO: COMO E
QUANDO UTILIZÁ-LOS
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
QUAIS SÃO OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO?
Nesta seção, você aprenderá sobre os métodos sintéticos e os métodos analíticos. Também
entenderá quais foram as contribuições do construtivismo para a alfabetização.
Fonte: Shutterstock.
75
Atualmente, sabe-se muito sobre a alfabetização, mas o que falta para que todos
os aprendizes passem por essa etapa desenvolvendo as habilidades e
competências previstas nas políticas educacionais para essa fase? É possível
afirmar que a resposta para essa questão não reside em um único fator, porém
0
existe algo determinante, capaz de transformar esse percurso: o conhecimento do
seõçatona reV
professor.
Durante os estudos que você fará nesta seção, será possível conhecer e
compreender os métodos de alfabetização e saber como utilizá-los. Um ponto
muito importante nesse estudo é perceber que a criança tem conhecimento sobre
a escrita antes mesmo de entrar na escola. A relevância dos temas abordados
reside na importância do professor alfabetizador saber articular teoria e prática,
realizando a análise constante daquilo que é elaborado pelo aprendiz, mobilizando
elementos do contexto social e cultural com temas do interesse dos alunos, sem
deixar de contemplar os aspectos linguísticos e ortográficos implicados nessa
prática.
Nessa dinâmica, cada professor constrói a sua receita, mas ela é intransferível e
personalizada, elaborada individualmente para cada aprendiz, considerando os
encaminhamentos metodológicos que o professor dispõe e o que aquele aluno
necessita em cada momento da trajetória.
CONCEITO-CHAVE
Uma nova proposta metodológica está sempre vinculada às condições materiais,
históricas, culturais e em algumas situações ela se liga à ruptura com o que é
realizado até aquele momento. Os métodos de alfabetização sempre estiveram no
centro das discussões sobre a alfabetização, entretanto, mesmo sendo
76
amplamente explorado, na atualidade, o tema ainda está em pauta. Embora o
método não seja uma receita, o professor alfabetizador precisa conhecer e saber
quando e como utilizá-lo. Você concorda?
0
Vamos conhecer os métodos de alfabetização, demarcando o seu predomínio no
tempo histórico. Ao retomar os métodos de alfabetização na história, Mortatti
seõçatona reV
(2006), apresenta a existência de quatro momentos:
1º 1876 – A metodização
4º 1980 – A desmetodização
77
Nos quatro momentos apresentados por Mortatti (2006), ocorreu a presença
hegemônica de determinada abordagem metodológica e concepção de
aprendizagem, no caso do construtivismo. O panorama apresentado por Mortatti
(2006) evidencia a mudança na maneira de conceber os encaminhamentos
0
didático-metodológicos na alfabetização. Que tal explorar as características dos
seõçatona reV
métodos de alfabetização para compreender como e por que as práticas de
alfabetização foram da metodização a desmetodização?
ASSIMILE
MÉTODOS SINTÉTICOS
Os métodos de marcha sintética partem da parte para o todo, ou seja, da letra
para a sílaba, da sílaba para a palavra, da palavra para a frase até chegar no texto.
Além disso, a escrita estava vinculada à caligrafia e ortografia, realização de
exercícios de cópia e ditado. O método alfabético ou soletração, o método fônico e
o método silábico são de marcha sintética, vamos conhecê-los?
EXEMPLIFICANDO
1º) A – E – I – O – U.
78
Exemplo de atividade de revisão:
Olhem o quadro, vamos dizer o som de cada letra. Agora vamos completar
o quadro, unindo as letras e escrevendo as sílabas correspondentes:
0
A E I O U ÃO
seõçatona reV
F
[...] aprendiam mais depressa quando mostrava as sílabas escritas e ao mesmo tempo as pronunciava, para
poderem lê-las nos lábios. A silabação foi considerada um grande passo no ensino da leitura por ter a sílaba
“
resistência real na linguagem falada. As sílabas constituíam unidades sonoras que os ouvidos percebiam e
discriminavam claramente. Esse processo foi aprovado em todas as crianças, notando-se que se aprendia mais
depressa quando se escrevia a sílaba que seria pronunciada pelo professor e repetida pelo aluno.
REFLITA
ASSIMILE
79
Mortatti (2006, p. 7) explica que:
“
Diferentemente dos métodos de marcha sintética até então utilizados, o método
analítico, sob forte influência da pedagogia norte-americana, baseava-se em
princípios didáticos derivados de uma nova concepção – de caráter
0
biopsicofisiológico – da criança, cuja forma de apreensão do mundo era entendida
como sincrética. A despeito das disputas sobre as diferentes formas de
processuação do método analítico, o ponto em comum entre seus defensores
seõçatona reV
consistia na necessidade de se adaptar o ensino da leitura a essa nova concepção
de criança.
MÉTODOS ANALÍTICOS
Os métodos analíticos, também conhecidos como métodos globais, fazem o
caminho inverso dos métodos sintéticos, iniciando do todo para as partes, ou
seja, partindo de unidades maiores para unidades menores.
“
Quando se quer mostrar um casaco para a criança, não se começa dizendo e mostrando separadamente a gola,
depois os bolsos, os botões, a manga do casaco. O que se faz é mostrar o casaco para dizer para a criança: ―
isto é um casaco.
Nicolas Adams (1780) foi um dos precursores dessa metodologia, que em meados
do século XVIII traçou as principais ideias que sustentam a proposição dessa
abordagem. Para ele, a aprendizagem precisava estar relacionada à realidade dos
alunos, pois apresentando fragmentos “perderia todo o sentido da leitura da
palavra. Porém se mostrasse do todo para as partes, a criança desde o início
assimilaria o sentido, não tornando superficial a aprendizagem, que se restringia
apenas para a decodificação alfabética” (MOREIRA, 2013, p. 36).
EXEMPLIFICANDO
VACA
Fonte: Shutterstock.
80
2º Ensino simultâneo: leitura e escrita da palavra, reconhecimento gráfico
da palavra.
0
para perceber que é formada por pedacinhos (corte da palavra em sílabas e
junção). Isso pode ser feito com alfabeto móvel, sílabas recortadas de
seõçatona reV
revistas etc.
CONSTRUTIVISMO
81
A partir de 1980 o foco da alfabetização é direcionado para a criança, sujeito
cognoscente, centro do processo de aprendizagem. A partir dos estudos
construtivistas, as práticas educacionais são modificadas, porém não se tratava de
um novo método, mas de um aporte teórico que evidenciou o papel ativo do
0
aprendiz. Com base nos estudos de Jean Piaget, foi elaborada a psicogênese da
seõçatona reV
língua escrita, evidenciando a construção de hipóteses e respostas das crianças a
partir de suas experiências com a leitura e a escrita.
O termo psicogênese pode ser compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos
e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o desenvolvimento, desde os
“
anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer objeto ou campo de conhecimento. No campo da aquisição da
escrita, esta concepção se associa aos estudos psicogenéticos de Emília Ferreiro, Ana Teberosky e vários
colaboradores, originalmente divulgados em países de língua espanhola, na década de 1970, com forte impacto
no Brasil, a partir da década seguinte, sobretudo na Educação Infantil e nos anos iniciais destinados à
alfabetização.
Características
Nível
Pré-silábico Não relaciona as letras com o som. Passa pelo nível icônico
e garatuja.eleifend
82
palavra escrita não representa o objeto, mas o seu nome. Ao aprender as letras
que compõem o próprio nome, o aprendiz percebe que se escreve com letras que
são diferentes de desenhos. Entretanto, “mesmo após tomar consciência de que se
escreve com letras, o aprendiz tenderá a grafar um número de letras,
0
indiscriminado, sem antecipar quantos e quais caracteres precisará usar para
seõçatona reV
registrar palavras” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).
“
[...] que a palavra escrita representa a palavra falada, acredita que basta grafar uma letra para se poder
pronunciar uma sílaba oral, mas só entrará para o nível silábico, com correspondência sonora, à medida que
seus registros apresentarem esta relação, por exemplo, para MENINO grafar, MIO (M=me, I=ni, O=no), para
GATO, GO (G=ga, O=to), BEA (B=bo, E=ne, A=ca) para BO-NE-CA, e assim por diante.
É importante destacar que não existe uma ruptura brusca entre as hipóteses
silábicas e alfabéticas, as situações de erros e sucessivas tentativas conduzem a
criança à compreensão do sistema alfabético. Nesse sentido, as trocas de letras
revelam a compreensão da criança sobre a escrita naquele momento, fazendo
parte do processo, e são chamados erros construtivos, que possibilitam ao
professor intervir.
FOCO NA BNCC
“
Selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas
diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares,
se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de
alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de
socialização etc. (BRASIL, 2018, p. 16)
Observe que cada aluno irá avançar nas hipóteses em um ritmo próprio e a
construção pela criança depende de diversos fatores como suas interações sociais,
seu conhecimento prévio e as generalizações que ele realiza. Soares (2020) destaca
83
que se derivou da concepção construtivista uma ideia equivocada de que seria
incompatível com o paradigma psicogenético o uso de métodos de alfabetização.
Isto porque, quando se fala em método, se relaciona imediatamente aos modelos
considerados tradicionais, de marcha sintética.
0
O período de expansão da psicogênese da língua escrita, culminou na chamada
seõçatona reV
“desinvenção da alfabetização”, em virtude do entendimento equivocado de que
não era necessário um método, pois as práticas de letramento poderiam garantir
que a criança alcançasse a escrita alfabética, “tinha-se anteriormente, um método
e nenhuma teoria; com a mudança de concepção sobre o processo de
aprendizagem da língua escrita, passou-se a ter uma teoria e nenhum método”, é
preciso não ter medo do método, um método que seja o resultado de objetivos
claros, “numa perspectiva psicológica, linguística, social e política” (SOARES, 2020,
p. 40).
PESQUISE MAIS
Durante este estudo, você aprendeu que não há um método ideal para a
aprendizagem inicial da língua escrita. Vimos que existem múltiplos métodos que
podem ser mobilizados pelo professor durante a condução do percurso,
considerando a heterogeneidade da turma, as competências a serem
desenvolvidas e as percepções da criança sobre a escrita em situações de
letramento.
“
Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter
como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os
alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao
desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu
envolvimento em práticas diversificadas de letramentos. Como aponta o Parecer
CNE/CEB nº 11/2010, “os conteúdos dos diversos componentes curriculares [...], ao
84
descortinarem às crianças o conhecimento do mundo por meio de novos olhares,
lhes oferecem oportunidades de exercitar a leitura e a escrita de um modo mais
significativo” (BRASIL, 2010). (BRASIL, 2018, p. 59).
0
Questão 1
seõçatona reV
O caminho sintético tem mais de 2000 anos e é o mais antigo de todos. Obras da
avançada civilização grega e romana apresentam que inicialmente eram ensinados
os nomes das letras, suas formas, as sílabas e depois as palavras.
( ) O foco não está no significado das palavras, desse modo pode se tornar
cansativo para os estudantes, pelo fato das palavras não terem relação com
situações significativas.
( ) A silabação ou processo silábico foi criado por Emília Ferreiro tomando por base
a teoria construtivista.
a. V – V – F – F.
b. F – F – V – V.
c. V – F – V – F.
d. V – F – V – V.
e. V – V – V – F.
Questão 2
“
“Quando se quer mostrar um casaco para a criança, não se começa dizendo e mostrando separadamente a
gola, depois os bolsos, os botões, a manga do casaco. O que se faz é mostrar o casaco para dizer para a criança:
― isto é um casaco” .
III. Os métodos analíticos foram difundidos nas escolas de São Paulo e serviram
como modelo para outros estados.
IV. O método de palavração consiste na apresentação de palavras e podem ser
utilizados diversos recursos, desenhos, músicas, histórias, curiosidades e apoio
85
ideovisual.
0
b. I, III e IV apenas.
seõçatona reV
c. I, II e III apenas.
d. I, II e IV apenas.
Questão 3
“
“O termo psicogênese pode ser compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos
e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o desenvolvimento, desde os
anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer objeto ou campo de conhecimento”.
a. V – V – F – F.
b. F – F – V – V.
c. V – F – V – F.
d. V – F – V – V.
e. V – V – V – F.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/2ZDmyf3. Acesso em: 27 jul.
2020.
86
FRADE, I. C. A. S. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da
alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Educação (UFSM), v. 32, p.
21-40, 200
0
MENDONÇA, O. S; MENDONÇA, O. C. Psicogênese da língua escrita: contribuições,
equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL
seõçatona reV
PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de
professores: Bloco 02: didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011,
v. 2, p. 36-57. Disponível em: https://bit.ly/3pvC1sg . Acesso em: 27 ago. 2020.
87
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
OS DIFERENTES MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO: COMO E
QUANDO UTILIZÁ-LOS
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
Fonte: Shutterstock.
88
Esses níveis podem ser observados pelo professor durante a alfabetização,
entretanto não há um prazo padrão para que a criança passe de um nível para
outro. Durante o desenvolvimento das atividades, o professor pode recorrer a
metodologias, projetos, sequências didáticas que possibilitem à criança generalizar
0
determinadas regras de organização da escrita.
seõçatona reV
Como mencionado por Soares (2020), é importante saber o que pretende e qual
será o caminho traçado para chegar ao objetivo, mas não se deve fugir dos
métodos. Se o professor não determina essa trajetória, é possível que o aluno
fique caminhando em círculos e não supere determinada dificuldade. Mas o
docente deve ter a liberdade para elaborar propostas metodológicas a partir dos
conhecimentos que possui sobre a teoria e sobre a turma. Frente à necessidade de
mudança, é possível que o docente replaneje a rota, mas sempre sabendo aonde
pretende chegar.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
ESCRITAS ESPONTÂNEAS
No início da aula, a professora Mônica propôs que as crianças escrevessem em
seus cadernos o nome da escola e o dia da semana. Ela não apresentou um
modelo para as crianças, desse modo, as escritas são espontâneas. Vitor é um
aluno que foi matriculado recentemente, por meio de transferência de outra
escola. Ao olhar o caderno de Vitor, sua mãe não entendeu por que estavam
faltando algumas letras e foi conversar com a professora, pois imagina que se trata
de uma dificuldade de aprendizagem de seu filho. Como explicar para a mãe que a
característica da escrita de Vitor retrata as hipóteses elaboradas pela criança?
RESOLUÇÃO
89
estavam presentes na atividade de Vitor por se tratar de uma escrita
espontânea, que mostrou que ele já está na fase de hipótese silábico-
alfabética.
0
seõçatona reV
90
NÃO PODE FALTAR
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E A VARIEDADE LINGUÍSTICA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
CONVITE AO ESTUDO
Olá, aluno, seja bem-vindo à terceira unidade!
91
crianças provenientes das classes populares e as várias formas de linguagem
observadas em uma mesma comunidade linguística e a prática pedagógica em
uma perspectiva inclusiva.
0
Na sequência, serão retomados os conhecimentos sobre a psicogênese da língua
escrita e, nesse momento, você conhecerá as características de todos os níveis de
seõçatona reV
elaboração da escrita evidenciados nos estudos de Emília Ferreiro ao tratar das
hipóteses infantis e as estratégias para aquisição da leitura e escrita.
Vamos começar?
Estas e outras questões que conduzem a reflexão sobre a ação devem permear a
formação de professores, pois estes são os grandes formuladores de propostas e
promotores de práticas que tornam a educação inclusiva. Por isso, a presente
temática objetiva explicitar que todos são capazes de aprender, mas para que isso
ocorra, é fundamental se desfazer do mito da deficiência linguística das crianças
provenientes das camadas populares.
92
social e cultural de cada aluno, independentemente de sua classe social. Assim,
nos cabe pensar sobre o que é considerado certo ou errado e reconhecer que
todos têm algo a ensinar e que sempre há algo a ser aprendido.
0
Imagine se você atuasse em uma turma inteiramente composta por alunos que
enfrentam dificuldades para aprender? Essa é a realidade da professora Patrícia,
seõçatona reV
que já trabalhou em diferentes etapas da educação básica e, nesse ano, está
trabalhando com uma turma de reforço escolar, que funciona no contraturno da
turma regular em que os alunos estão matriculados.
A turma de reforço é frequentada por alunos que estão com dificuldade em língua
portuguesa e matemática. Muitos são alunos mais velhos que passaram por
sucessivas reprovações, mas como a professora trabalha com um número menor
de alunos, consegue fazer um trabalho mais individualizado.
As aulas sempre começam com uma roda de conversa, as crianças devem contar
alguma novidade, algo que leram ou uma situação que vivenciaram em casa,
porém, alguns alunos não gostam de participar, não querem falar, e Pedro é um
deles. Certo dia, a professora o questionou e Pedro revelou que na outra turma as
crianças zombaram do seu jeito de falar. Será que a dificuldade de Pedro com
relação à fala teria ligação com sua reprovação? Como você resolveria essa
situação?
CONCEITO-CHAVE
Será que a língua é um código de comunicação pronto que será ensinado pelo
professor e aprendido de forma inalterada pelos estudantes? A resposta para essa
questão é facilmente observada quando pensamos em palavras ou expressões
muito comuns na atualidade, que não existiam há pouco tempo, como: stalkear,
meme, spoiler, crush, que surgiram com o advento da utilização da internet.
93
A língua está a serviço da interação humana e os diferentes grupos atribuem a ela
novos valores sociolinguísticos que estão ligados aos usos sociais, ou seja, a língua
sempre está passando por mudanças que podem envolver o vocabulário, a
estrutura das sentenças, a pronúncia das palavras e a utilização dos elementos
0
linguísticos.
seõçatona reV
“
[...] vão surgindo usos diferentes no tempo e nos diversos grupos sociais, o que contribui para a existência, na
língua, de falares diferentes. A sociolinguística contemporânea chama esses falares de dialetos e considera que
eles têm regras e usos próprios, mas se mantêm muito próximos entre si, de modo que não chegam a ser
considerados línguas diferentes e sim variedades dialetais de uma mesma língua. Os diferentes dialetos devem
ser vistos como legítimos e devem ser respeitados.
Dimensões:
Variedades geográficas.
Variedades sociais.
Variedades históricas.
Variação Ocorrem em função do uso que um mesmo falante faz da língua nas
de diversas situações em que produz uma atividade verbal. Conforme
registro as circunstâncias em que a interação verbal se realiza, o falante
buscará a forma de expressão que julgar mais adequada.
94
EXEMPLIFICANDO
0
Tábua – tauba
seõçatona reV
Problema – pobrema/poblema
Blusa – brusa
Vina – salsicha
Bergamota – tangerina
Eu a vi – eu vi ela
Então, o que é certo e o que é errado? De acordo com Marinho (2006, p. 19), “para
os seguidores e defensores da gramática normativa, aquela que considera que
falar e escrever corretamente resultam da obediência às regras da variedade
padrão (escrita ou oral), o erro consiste na transgressão dessas regras”, dessa
forma, a fala utilizada em situações informais, cotidianas, seria considerada
incorreta. Entretanto, essa é considerada apenas uma forma de expressão que não
coincide com a norma padrão.
EXEMPLIFICANDO
“
atividade de produção linguística na escola, o aluno deve conhecer uma série de
alternativas para expressar uma mesma ideia de modo a melhor se adequar à
tarefa solicitada. Assim, ele poderia, por exemplo, dizer “O poeta venceu o
concurso e pôde assim se casar com a princesa” ou então “O poeta ganhou o
concurso e se casou com a princesa”, ou ainda “O apaixonado poeta triunfou
no concurso e se uniu à sua amada princesa em matrimônio”, mas não seria
muito apropriado nessa situação dizer “O cara ganhou o concurso e juntou os
trapo com a princesa”, já que essa situação exige um estilo menos coloquial.
95
— (MARINHO, 2006, p. 21)
FOCO NA BNCC
0
deve contemplar as práticas de linguagem, considerando as características
da oralidade, sendo necessário:
seõçatona reV
“
Estabelecer relação entre fala e escrita, levando-se em conta o modo como as
duas modalidades se articulam em diferentes gêneros e práticas de linguagem
(como jornal de TV, programa de rádio, apresentação de seminário, mensagem
instantânea etc.), as semelhanças e as diferenças entre modos de falar e de
registrar o escrito e os aspectos sociodiscursivos, composicionais e linguísticos de
cada modalidade sempre relacionados com os gêneros em questão. • Oralizar o
texto escrito, considerando-se as situações sociais em que tal tipo de atividade
acontece, seus elementos paralinguísticos e cinésicos, dentre outros. • Refletir
sobre as variedades linguísticas, adequando sua produção a esse contexto.
REFLITA
96
A partir da ideologia do dom surge a ideologia da deficiência cultural, constatando
que as diferenças sociais teriam sua origem em diferenças de aptidão. Assim, “os
mais inteligentes constituiriam, exatamente por serem possuidores dessas
características, as classes socioeconomicamente favorecidas, [...] os menos
0
inteligentes constituiriam as camadas populares” (SOARES, 2020, p. 19). A partir da
seõçatona reV
ideologia da deficiência cultural é naturalizada a percepção de que os alunos
oriundos das camadas populares tivessem maior probabilidade de fracasso na
escola.
ASSIMILE
“
É obvio que tal concepção não reside à mais elementar análise social, política ou
econômica. Nas sociedades capitalistas, a divisão de classes é resultado não das
características dos indivíduos, mas de um sistema econômico em que os meios de
produção pertencem, em sua maior parte, a grupos privados que pagam os
trabalhadores pela produção de bens. Os donos do capital e, por isso, donos
também dos meios de produção, constituem as classes que gozam de condições
de vida privilegiadas; grande parte dos grupos que vendem sua força de trabalho é
composta pelas classes social e economicamente desfavorecidas, ou seja, pelas
camadas populares.
“
A escola, quando inserida em sociedades capitalistas, assume a valoriza a cultura das classes favorecidas; assim,
o aluno proveniente das camadas populares encontra nela padrões culturais que não são os seus, e que são
apresentados como “certos”, enquanto os seus próprios padrões são ignorados como inexistentes ou
desprezados como “errados”.
REFLITA
97
Você concorda que a responsabilidade pelo fracasso dos alunos oriundos
das camadas populares é da escola?
0
A ideia de que a criança proveniente das classes populares possui um vocabulário
seõçatona reV
pobre está relacionada aos erros de organização da fala, à concordância,
pronúncia, elaboração de frases curtas. A partir desse entendimento, para aqueles
que se alinham a esta teoria, a deficiência linguística é vinculada à existência de
uma deficiência cognitiva, que brotou no contexto familiar com pouca interação
verbal. Afinal, como desfazer o mito da "deficiência linguística" das crianças
provenientes das classes populares?
“
Os alunos que chegam à escola falando “nós cheguemu”, “abrido” e “ele drome”, por exemplo, têm que ser
respeitados e ver valorizadas as suas peculiaridades linguístico-culturais, mas têm o direito inalienável de
aprender as variantes do prestígio dessas expressões. Não se lhes pode negar esse conhecimento, sob pena de
se fecharem para eles as portas, já estreitas, da ascensão social. O caminho para a democracia é a distribuição
justa de bens culturais, entre os quais a língua é o mais importante.
FOCO NA BNCC
98
Os conhecimentos apresentados nessa seção demonstraram que as práticas
pedagógicas devem contemplar os conhecimentos relativos à variedade linguística
e o reconhecimento da diversidade cultural que viabiliza o respeito à diferença em
prol da educação transformadora e a construção de uma escola plural e inclusiva.
0
seõçatona reV
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
Por meio da língua “aos outros, nossas experiências, estabelecemos por ela, com
os outros, laços ‘contratuais’ pelos quais interagimos e nos compreendemos,
influenciamos os outros com nossas opções relativas ao modo peculiar de ver e
sentir o mundo, com decisões consequentes sobre o modo de atuar nele”
(FRANCHI, 1977, p. 19).
Questão 2
“Na escola se ensina o uso das modalidades oral e escrita da linguagem em
instâncias públicas e, junto com ele, a chamada variedade linguística padrão. A
criança chega à escola já sabendo usar a linguagem em diferentes situações,
evidenciando o conhecimento das regras de uso da língua em instâncias privadas.
E vai buscar aprender a falar, a ler e a escrever, a partir desse conhecimento que já
possui, em outras situações que requerem o domínio da chamada língua padrão.”
(MARINHO, 2006, p. 9)
II. Não deve haver espaço para o preconceito linguístico nas práticas pedagógicas.
c. I, II e III, apenas.
99
d. I, II e IV, apenas.
Questão 3
0
Os alunos que chegam à escola falando “nós cheguemu”, “abrido” e “ele drome”,
seõçatona reV
por exemplo, têm que ser respeitados e ver valorizadas as suas peculiaridades
linguístico-culturais, mas têm o direito inalienável de aprender as variantes do
prestígio dessas expressões. Não se lhes pode negar esse conhecimento, sob pena
de se fecharem para eles as portas, já estreitas, da ascensão social. O caminho
para a democracia é a distribuição justa de bens culturais, entre os quais a língua é
o mais importante.
a. Variação histórica.
b. Variação lexical.
c. Variação morfológica.
d. Variação sintática.
e. Variação fonética.
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3cdocLC. Acesso em: 27 jul.
2020.
100
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E A VARIEDADE LINGUÍSTICA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
101
um diagnóstico, mas apresentar-lhe à cultura mais elaborada, às diferentes formas
de expressão, à riqueza cultural e à norma culta como uma das formas de
emprego oral e escrito da língua.
0
AVANÇANDO NA PRÁTICA
seõçatona reV
O VOCABULÁRIO TECNOLÓGICO
A professora Ester está corrigindo a redação, de tema livre, dos alunos. Durante a
leitura, ela percebe um elemento comum na escrita dos alunos: expressões que ela
desconhece. Realizando uma pesquisa mais aprofundada, Ester descobriu que os
termos stalkear e shippar estão presentes nas redes sociais e foram utilizadas em
duas redações. Como você faria a correção se você ocupasse o lugar da professora
Ester?
RESOLUÇÃO
Desse modo, a professora não deve considerar que a utilização das expressões
stalkear e shippar seja incorreta, pois são expressões frequentemente
utilizadas no contexto das redes sociais, entretanto, é valido explicar para os
alunos que algumas situações exigem a utilização da norma culta. A professora
Ester conversou com os alunos após a correção e eles ficaram surpresos em
saber que a professora desconhecia os termos tão comuns para eles.
102
NÃO PODE FALTAR
AS HIPÓTESES INFANTIS E AS ESTRATÉGIAS PARA AQUISIÇÃO DA
LEITURA E ESCRITA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Já que a escrita está por toda parte, por que ela não poderia estar na educação
infantil? Estas provocações têm por objetivo levá-lo a seguinte constatação: as
crianças constroem conhecimento! Ao começar a frequentar os bancos escolares,
as crianças já elaboraram hipóteses sobre a escrita. Estas hipóteses precisam ser
identificadas e consideradas durante toda a alfabetização.
Assim, retomando a questão, por que a escrita não pode estar presente na
educação infantil? Entendemos que a interação com os textos e a escrita
espontânea pode estar presente na educação infantil, como um elemento que faz
parte da sociedade, objeto de interação presente na cultura. Sem cópias
obrigatórias e atividades descontextualizadas, simplesmente pelo prazer de
brincar com a escrita.
103
A psicogênese da língua escrita é uma teoria que demonstrou que o processo de
aquisição passa por etapas/níveis em que a criança elabora hipóteses sobre como
funciona a escrita, são elas: hipótese pré-silábica, hipótese silábica, hipótese
silábico-alfabética e hipótese alfabética. Nessa seção, você conhecerá como
0
acontece a evolução da escrita e quais são as características apresentadas em cada
seõçatona reV
etapa. Nesse material, você irá compreender cada uma dessas hipóteses. A partir
desses conhecimentos você será capaz de elaborar estratégias de trabalho
favorecendo o desenvolvimento das hipóteses infantis.
Já pensou se você atuasse em uma turma totalmente composta por alunos que
enfrentaram dificuldades para aprender? Esse é o contexto de trabalho da
professora Patrícia, que já trabalhou em diferentes etapas da educação básica
e, nesse ano, está trabalhando com uma turma de reforço escolar, que funciona no
contraturno da turma regular em que os alunos estão matriculados.
A turma de reforço é frequentada por alunos que estão com dificuldade em língua
portuguesa e matemática. Muitos são alunos mais velhos que passaram por
sucessivas reprovações,mas como a professora trabalha com menos alunos,
consegue fazer um trabalho mais individualizado.
Todos os pontos desta seção foram organizados pensando em você. Bons estudos!
CONCEITO-CHAVE
Buscando entender o desenvolvimento da inteligência, Jean Piaget identificou
períodos evolutivos, entretanto, essa evolução não acorre apenas com o passar
dos anos e esses avanços dependem da construção de esquemas mentais que se
dá a partir da interação da criança com os objetos de conhecimento, da maturação
biológica, das interações e transmissões sociais resultando em processos de
constantes desequilíbrios e equilibração.
104
repetição e memorização. As atividades propostas aos alunos precisam instigar a
curiosidade, lançar desafios, desequilibrar os esquemas mentais existentes, dando
a eles a oportunidade de fazer novas assimilações e acomodações.
0
Piaget identificou que todos passam pelos mesmos estágios de desenvolvimento,
períodos em que estão presentes determinadas características de
seõçatona reV
desenvolvimento, porém, os estágios não são fixos, uma criança pode demorar um
pouco mais para avançar para o próximo estágio ou antecipar a entrada no estágio
seguinte, isso depende das oportunidades de exploração e interação com os
objetos de conhecimento.
ASSIMILE
105
Conforme os princípios da psicogênese da língua escrita, a aprendizagem se
processa mediante a interação do aprendiz com a escrita, mediada pela ação
mental e por experimentações de ler e escrever. A teoria aponta que, por meio das
interações e experimentações, o aprendiz constrói hipóteses sobre a escrita, sua
0
natureza e seu funcionamento, mesmo que ainda não escreva dentro das normas
seõçatona reV
convencionais naquele momento.
“
No processo em questão, de assimilação alfabética e da produção escrita, a criança, em sua aprendizagem e
desenvolvimento dessa linguagem, elabora sistemas. Sistemas esses que, para Piaget (1977), agem como
esquemas de assimilação. Assim, através desses sistemas é que as informações serão interpretadas, fazendo
com que a criança atribua sentido à escrita, durante um processo de desenvolvimento. Esses esquemas serão
bases de conhecimentos para os próximos conhecimentos e aprendizagem que irão surgindo.
— (SILVA, 2016, p. 8)
REFLITA
Para Ferreiro (1995) a apropriação da escrita passa por três grandes níveis:
106
Os estudos desenvolvidos por Emília Ferreiro partiram da análise de textos
espontâneos, construções da criança elaboradas a partir de sua lógica. É
importante considerar que por muito tempo as construções das crianças foram
desconsideradas pela escola, isso porque a análise dessas produções partia da
0
lógica do adulto e as hipóteses iniciais eram totalmente desconsideradas,
seõçatona reV
percebidas como simples desenhos ou rabiscos.
HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA
A hipótese pré-silábica é verificada quando o aprendiz ainda não relaciona as letras
aos sons da fala. O desenvolvimento da escrita já é percebido nessa etapa e passa
por três momentos com características distintas, suas hipóteses iniciais estão
divididas em icônica e não icônica, e neste momento a hipótese central é a busca
na diferenciação entre desenhar e escrever.
107
Figura 3.1 | Hipótese icônica
0
seõçatona reV
Desenho de Luana interpretado como “mamãe”.
Menina macaca
Fonte: Peterle (2018, p. 46).
108
escrita, existência de uma quantidade mínima de letras para escrever algo, escritas
iguais para palavras diferentes com significados diferentes, correspondência da
escrita com o tamanho do objeto.
0
Figura 3.3 | Hipótese pré-silábica
seõçatona reV
VMAIUAEPX
Leão
UFIL
Borboleta
Fonte: Peterle (2018, p. 46).
REFLITA
HIPÓTESE SILÁBICA
Nessa etapa, a criança inicia a representação da grafia correspondente a cada
sílaba da palavra e ocorre a representação gráfica sem valor sonoro e com valor
sonoro. Quando a hipótese é sem valor sonoro, o aprendiz representa cada silaba
por meio de uma letra qualquer (podem ser utilizadas letras que não fazem parte
109
da palavra), já na hipótese silábica com valor sonoro, o aprendiz utiliza para cada
sílaba, vogal ou consoante, que corresponde diretamente aos sons presentes na
palavra, conforme as seguintes figuras:
0
Figura 3.4 | Escrita silábica sem valor sonoro
seõçatona reV
Fonte: Peterle (2018, p. 47).
HIPÓTESE SILÁBICO-ALFABÉTICA
110
Nessa etapa, a criança já formula hipóteses mais avançadas, passando a entender
que não basta apenas uma letra para representar cada sílaba, estabelecendo
relação entre grafemas e fonemas. Em alguns momentos irá utilizar uma letra para
representar cada sílaba e em outros as letras correspondentes a cada som.
0
seõçatona reV
Figura 3.6 | Hipótese silábico-alfabética
HIPÓTESE ALFABÉTICA
Na hipótese alfabética, há a compreensão de que cada som (fonema) corresponde
a uma letra, que combinadas formam sílabas e palavras. O aprendiz já é capaz de
escrever frases e textos, porém, embora esta seja a última etapa, ela não
corresponde exatamente ao final da alfabetização, pois ainda pode não ocorrer o
domínio de todas as propriedades da escrita ortográfica.
EXEMPLIFICANDO
O aprendiz ainda troca letras como ss, ça, lh, ch, rr, enfrentando problemas
ortográficos. Portanto, os erros apresentados representam oportunidades
para trabalhar as regras com os alunos.
111
Figura 3.7 | Hipótese alfabética
0
seõçatona reV
HOJE É SÁBADO PORISO QUE É UM DIA MUIDO BOM PARA O SUPERGATO MAS
DEREPENTE
Perceba que a elaboração das hipóteses tem início na primeira infância a partir do
contato da criança com a cultura letrada, nesse sentido, as práticas de letramento
favorecem a compreensão da criança sobre a escrita. Portanto, quando iniciam o
primeiro ano do ensino fundamental, mesmo àquelas que por algum motivo não
frequentaram a pré-escola, possuem algum nível de conhecimento sobre a escrita.
Como sujeitos da própria aprendizagem, suas construções precisam ser
devidamente apreciadas pelo professor, sendo objeto de reflexão e reformulação
pela própria criança.
112
o aprendiz utiliza para cada sílaba, vogal ou consoante, que corresponde
diretamente aos sons presentes na palavra.
0
que não basta apenas uma letra para representar cada sílaba, estabelecendo
relação entre grafemas e fonemas. Em alguns momentos irá utilizar uma letra
seõçatona reV
para representar cada sílaba e em outros as letras correspondentes a cada
som.
FOCO NA BNCC
“
A alfabetização não é uma questão de sondar as letras, repetindo-se mais e mais as mesmas cadeias de letras
numa página, ou aplicando testes de leitura para assegurar-se de que a alfabetização comece com todas as
garantias de sucesso. Com esse entendimento, os professores começam a pensar de outra maneira e
respondem de maneira diferente às respostas das crianças, às questões das crianças, às interações das crianças
e às produções das crianças. Os professores passam a descobrir que as crianças são tão inteligentes, ativas e
criativas no campo da escrita/leitura quanto na matemática.
113
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
“As crianças aprendem por meio da interação com a linguagem, nas práticas
sociais, e os sentidos construídos por elas sobre a linguagem e, em especial, sobre
0
o funcionamento do sistema de escrita são resultados de uma elaboração
conceitual da escrita.” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1995, p. 49)
seõçatona reV
Considerando a construção de hipóteses pela criança, analise o excerto a seguir,
completando suas lacunas.
Um dos maiores desafios das crianças nessa etapa é ________ como o que se diz e o
que se escreve se ________.
a. decorar; relacionam.
b. respeitar; complementam.
c. memorizar; opõe.
d. compreender; contradiz.
e. compreender; relacionam.
Questão 2
De acordo com a psicogênese, os aprendizes passam por processos pelos quais as
crianças aprendem a ler e a escrever, compreendem como constroem suas
próprias ideias da relação entre o que é dito e o que está escrito, como entendem
o que a escrita representa e como esse sistema se organiza.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
Questão 3
A alfabetização não é uma questão de sondar as letras, repetindo-se mais e mais
as mesmas cadeias de letras numa página, ou aplicando testes de leitura para
assegurar-se de que a alfabetização comece com todas as garantias de sucesso.
114
Com esse entendimento, os professores começam a pensar de outra maneira e
respondem de maneira diferente às respostas das crianças, às questões das
crianças, às interações das crianças e às produções das crianças. Os professores
passam a descobrir que as crianças são tão inteligentes, ativas e criativas no
0
campo da escrita/leitura quanto na matemática. (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p.
seõçatona reV
33).
III. A elaboração das hipóteses tem início na primeira infância a partir do contato
da criança com a cultura letrada.
b. I, III e IV apenas.
c. I, II e III apenas.
d. I, II e IV apenas.
REFERÊNCIAS
BRANCO, V. As condições psicogenéticas na aprendizagem da leitura e da escrita:
um processo de educação permanente. Educ. rev., Curitiba, n. 8, p. 35-41, dez.
1989. Disponível em: https://goo.gl/bkyHzt. Acesso em: 5 out. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3rqV48h. Acesso em: 27 jul.
2020.
115
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
AS HIPÓTESES INFANTIS E AS ESTRATÉGIAS PARA AQUISIÇÃO DA
LEITURA E ESCRITA
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
Fonte: Shutterstock.
116
ele registrou. Esse trabalho também pode ser feito com brincadeiras cantadas,
parlendas, quadrinhas, trava-línguas e poemas, analisando os aspectos sonoros e
gráficos das palavras.
0
Situações em que a criança tem a possibilidade de brincar com os sons das
palavras, a partir das rimas, articulando-as com situações de leitura e de escrita,
seõçatona reV
facilitam a compreensão do aluno de que as letras representam os sons,
avançando com naturalidade na elaboração de hipóteses da escrita.
Após conversar com a pedagoga que faz parte da equipe multidisciplinar e relatar
sua preocupação com o aluno João, a pedagoga orientou a professora Patrícia
sugerindo que retome a leitura sobre a psicogênese da língua escrita, pois não
demonstra ser um caso para encaminhamento psicopedagógico. Após realizar os
estudos, a professora modificou totalmente a forma como avalia e conduz a
alfabetização de seus alunos.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
ACOMPANHAMENTO
“
A BNCC estabelece que a criança seja alfabetizada até o segundo ano do ensino fundamental, entretanto, nos
anos seguintes, esse estudante ainda irá ampliar todas as suas competências e habilidades de leitura e escrita
dominando amplamente a escrita ortográfica. Dentre as habilidades a serem desenvolvidas no primeiro ano
estão presentes: Reconhecer que textos são lidos e escritos da esquerda para a direita e de cima para baixo da
página; Distinguir as letras do alfabeto de outros sinais gráficos; Reconhecer o sistema de escrita alfabética
como representação dos sons da fala; Identificar fonemas e sua representação por letras; Segmentar oralmente
palavras em sílabas
RESOLUÇÃO
117
NÃO PODE FALTAR
IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NO
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Até agora você já aprendeu muito sobre a alfabetização, concorda? Mas, ainda há
muito a ser explorado, como os conhecimentos desenvolvidos no campo da
psicologia da educação e do desenvolvimento que são importantes aliados do
professor alfabetizador no momento de planejar todas as ações e os
encaminhamentos pedagógicos adotados em sala de aula. Quando o professor
está preparado para conduzir esse processo ofertando as melhores oportunidades
de aprendizagem, a alfabetização se torna um período de grandes descobertas e
de desenvolvimento da criatividade e, para isso, é importante ter domínio teórico.
118
todas as variáveis que interferem na aquisição e no desenvolvimento da leitura e
escrita, sabendo selecionar diferentes estratégias e recursos para um trabalho
pedagógico significativo.
0
Para tratar da importância das intervenções pedagógicas no processo de
desenvolvimento da criança, caminharemos por uma abordagem formativa,
seõçatona reV
compreendendo o que significa ser um professor mediador no processo de
alfabetização, você conhecerá um conceito muito importante na teoria histórico-
cultural, a zona de desenvolvimento proximal. Além disso, você irá compreender o
que é autorregulação da aprendizagem e a utilização de estratégias cognitivas e
metacognitivas.
Imagine se você atuasse em uma turma inteiramente composta por alunos que
enfrentam dificuldades para aprender. Essa é a realidade da professora Patrícia,
que já trabalhou em diferentes etapas da educação básica e, nesse ano, está
trabalhando com uma turma de reforço escolar, que funciona no contraturno da
turma regular em que os alunos estão matriculados.
A turma de reforço é frequentada por alunos que estão com dificuldade em língua
portuguesa e matemática. Muitos são alunos mais velhos que passaram por
sucessivas reprovações, mas como a professora trabalha com menos alunos,
consegue fazer um trabalho mais individualizado.
CONCEITO-CHAVE
Certamente você já ouviu a expressão “professor mediador”, mas você sabe de fato
que faz do professor um mediador? A teoria histórico-cultural desenvolvida pelo
psicólogo Lev Vygotsky aponta que a humanidade é construída e as pessoas se
tornam humanas mediante interações e mediante a cultura (internalização dos
instrumentos e signos elaborados pelos homens). Partindo de uma abordagem
formativa acerca do papel da escola e das intervenções pedagógicas para o
processo de desenvolvimento da criança, vamos ampliar os conhecimentos sobre
o professor mediador.
119
“
O comportamento do homem moderno, cultural, não é só produto da evolução biológica, ou resultado do
desenvolvimento infantil, mas também produto do desenvolvimento histórico. No processo do
desenvolvimento histórico da humanidade, ocorreram mudança e desenvolvimento não só nas relações
externas entre pessoas e no relacionamento do homem com a natureza; o próprio homem, sua natureza
mesma, mudou e se desenvolveu.
0
— (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 95)
seõçatona reV
Para o teórico, a relação dos sujeitos com os objetos do conhecimento presentes
na cultura é uma relação mediada. Seus pressupostos contribuem para o repensar
das práticas educacionais e o papel do professor, isto porque a prática docente
mediadora é um elemento essencial para que o estudante tenha pleno acesso à
cultura mais elaborada. Imagine se não existissem as trocas culturais e a
interação? Cada geração teria que inventar tudo novamente!
FOCO NA BNCC
Pois bem, como alfabetizadores, se não podemos trabalhar com atividades que a
criança já realiza com facilidade, tampouco com atividades excessivamente
complexas, o que deve ser feito? O alfabetizador deve estar apto a reconhecer
quais aprendizagens fazem parte do nível de desenvolvimento real, aquilo que a
criança já consegue fazer sem ajuda, quais atividades estão no nível de
120
desenvolvimento potencial, aquilo que a criança é capaz de aprender, para
identificar a zona de desenvolvimento proximal. A mediação do professor ou de
parceiros mais hábeis, aqueles que já dominam determinado conhecimento, deve
incidir na zona de desenvolvimento proximal. Por exemplo, uma criança em nível
0
silábico-alfabético trabalhando em dupla com uma criança que já elabora
seõçatona reV
hipóteses alfabéticas.
Nível de Nível de
desenvolvimento Zona de Desenvolvimento desenvolvimento
real proximal potencial
ASSIMILE
[...] O conceito de zona de desenvolvimento próximo aponta essencialmente para o trabalho colaborativo entre
educador e criança e entre criança e criança. [...] primeiro porque é a partir das experiências vividas, social e
“
coletivamente, que a criança forma para si as ações internas e, em segundo lugar, porque o sujeito que aprende
é ativo no processo: não é ouvinte apenas, nem executor de tarefas fragmentadas, mas é o sujeito das
necessidades de conhecimento às quais a atividade proposta na escola deve responder [...].
121
pedagógicas que o professor irá realizar é aquilo que a criança já sabe e o ponto de
chegada são os objetivos educacionais previstos nas diretrizes curriculares, no
projeto político pedagógico e no planejamento do professor.
0
É importante frisar que quando ocorre a mediação e a criança alcança o
desempenho naquela atividade que anteriormente conseguia realizar apenas com
seõçatona reV
a ajuda de um parceiro mais hábil, significa que a aprendizagem desse
conhecimento ou habilidade não está mais no nível de desenvolvimento potencial,
ou seja, já se tornou um conhecimento situado no nível real, visto que, agora, a
criança consegue realizá-lo sem ajuda. Portanto, cada aluno possui diversos
conhecimentos em níveis diferentes, que demandam diferentes tipos de
intervenção.
REFLITA
Com a entrada da criança aos seis anos no primeiro ano do ensino fundamental,
dúvidas quanto ao trabalho com os conceitos científicos surgiram entre os
professores: será que as crianças conseguiriam compreender a estrutura da
escrita, as normas? Com isso, é preciso ter cuidado para não ficar apenas
trabalhando com o conhecimento cotidiano dos estudantes, é necessário que a
escola cumpra o seu papel contextualizando os conhecimentos prévios e
cotidianos, articulando-os aos conhecimentos científicos.
EXEMPLIFICANDO
Essa é uma questão que nos direciona a refletir sobre a principal linguagem da
criança: a brincadeira! As intervenções pedagógicas na alfabetização precisam
contemplar a expressão da criatividade e o potencial imaginativo da criança.
Portanto, entende-se que não deve ocorrer um rompimento com o lúdico com o
ingresso da criança no ensino fundamental e aprender a escrever é algo que
precisa fazer sentido para a criança.
122
Essas reflexões tecidas a partir dos pressupostos da teoria histórico-cultural
demonstram a importância da escola e do papel do professor como o grande
mediador, capaz de ampliar as oportunidades de aprendizagem e o processo de
humanização, isso pode ocorrer de forma leve e lúdica. Por exemplo: brincando de
0
jogo da forca ou bingo de palavras, a criança é capaz de pensar sobre a escrita e o
seõçatona reV
professor faz as mediações lançando questionamentos e apresentando modelos.
Além disso, é possível perceber o papel ativo do aluno uma vez que outras teorias
da psicologia da aprendizagem já identificaram que quando o aluno pensa sobre a
sua própria aprendizagem e adota estratégias mais eficazes os resultados são
positivos e em um tempo menor. Nessa perspectiva, vamos explorar os elementos
referentes a autorregulação da aprendizagem.
BANDURA E AUTORREGULAÇÃO
Albert Bandura é um psicólogo canadense, professor de psicologia social da
Universidade de Stanford. Os seus trabalhos promoveram contribuições no campo
da psicologia social, cognitiva, psicoterapia e pedagogia. Dentre os estudos
realizados, no campo educacional, a autorregulação da aprendizagem ganhou
destaque pelas evidências apresentadas quanto ao desempenho dos estudantes.
“
A autorregulação da aprendizagem é definida como o processo no qual o aluno estrutura, monitora e avalia o
seu próprio aprendizado. Esse processo envolve fatores como autoconhecimento, autorreflexão, controle de
pensamentos e domínio emocional, além de uma mudança comportamental por parte do estudante.
— (BEMBENUTTY, 2008; WOLTERS; BENZON, 2013 apud GANDA; BORUCHOVITCH, 2018, p. 72)
REFLITA
123
Bandura desenvolveu o primeiro modelo teórico sobre autorregulação,
demonstrando que a autorregulação passa por três processos de gerenciamento: a
auto-observação, o processo de julgamento e a autorreação.
0
Quadro 3.4 | Autorregulação da aprendizagem: processos
seõçatona reV
Auto-observação Processo de julgamento Autorreação
ASSIMILE
124
“
As estratégias de aprendizagem podem estar mais voltadas para ajudar o aprendiz a organizar, elaborar e
integrar a informação (estratégias cognitivas ou primárias) ou ser mais orientadas para o planejamento,
monitoramento, regulação do próprio pensamento e manutenção de um estado interno satisfatório que facilite
a aprendizagem (estratégias metacognitivas ou de apoio).
0
— (BORUCHOVITCH, 2001, p. 20)
seõçatona reV
A aprendizagem autorregulada pressupõe a combinação de habilidades e
estratégias de aprendizagem cognitivas, metacognitivas e de autocontrole. Ou seja,
as estratégias cognitivas são os procedimentos que podem ser adotados pelos
estudantes, como sublinhar pontos importantes de um texto, grifar, elaborar
resumos, bem como organizar o seu material para a realização de uma tarefa. Já as
estratégias metacognitivas envolvem planejamento, monitoramento e controle, a
reflexão sobre a ação desempenhada, como monitorar a compreensão na hora da
leitura. Durante a alfabetização, as crianças já podem aprender como e quando
utilizá-las a partir da orientação frequente do professor.
EXEMPLIFICANDO
125
Pensando nisso, é importante que o professor também trabalhe para o
desenvolvimento da sua capacidade de autorregulação e aprenda a utilizar as
melhores estratégias de aprendizagem.
0
Os conhecimentos explorados nessa seção resgatam diferentes perspectivas de
desenvolvimento e aprendizagem que oferecem subsídios para a realização de
seõçatona reV
intervenções pedagógicas. Durante os estudos você percebeu quão importante é a
ação do professor para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, a
abordagem formativa deve orientar o trabalho do professor alfabetizador,
direcionando o seu olhar para a trajetória de cada criança, considerando as
singularidades e necessidades que exigem do professor um olhar cuidadoso e
afetivo.
Questão 2
[...] O conceito de zona de desenvolvimento próximo aponta essencialmente para o trabalho colaborativo entre
educador e criança e entre criança e criança. [...] primeiro porque é a partir das experiências vividas, social e
“
coletivamente, que a criança forma para si as ações internas e, em segundo lugar, porque o sujeito que aprende
é ativo no processo: não é ouvinte apenas, nem executor de tarefas fragmentadas, mas é o sujeito das
necessidades de conhecimento às quais a atividade proposta na escola deve responder [...].
126
II. O professor deve trabalhar com atividades que os estudantes conseguem
realizar com facilidade.
0
consolidadas pela criança.
seõçatona reV
acontece mediante o domínio progressivo do sistema.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
Questão 3
“A autorregulação da aprendizagem é definida como o processo no qual o aluno
estrutura, monitora e avalia o seu próprio aprendizado. Esse processo envolve
fatores como autoconhecimento, autorreflexão, controle de pensamentos e
domínio emocional, além de uma mudança comportamental por parte do
estudante.” (BEMBENUTTY, 2008; WOLTERS & BENZON, 2013 apud GANDA;
BORUCHOVITCH, 2018, p. 72)
PORQUE
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/2PnqkaT. Acesso em: 27 jul.
2020.
127
BORUCHOVITCH, E. Algumas estratégias de compreensão em leitura de alunos do
ensino fundamental. Psicologia Escolar e Educacional, 2001. V. 5, n. 1, p. 19-25.
Disponível em: https://bit.ly/2PmKhi2. Acesso em: 14 dez. 2020.
0
GANDA, D. R. BORUCHOVITCH, E. A autorregulação da aprendizagem: principais
conceitos e modelos teóricos. Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Psic.
seõçatona reV
da Ed., São Paulo, 46, 1 sem. 2018, p. 71-80. Disponível em: https://bit.ly/3tQ11gn.
Acesso em: 20 out. 2020.
128
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NO
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
Fonte: Shutterstock.
129
aprendizagem. As crianças mais avançadas irão atuar como parceiros mais hábeis
auxiliando as demais na compreensão e resolução das tarefas, inclusive em jogos e
demais atividades lúdicas.
0
Como é um grupo pequeno, a professora também pode apostar em atividades
extras, elaboradas especialmente para os alunos que já dominam as hipóteses.
seõçatona reV
Quando este aluno terminar a atividade que foi direcionada a todo o grupo, ele
recebe sua atividade extra. Também é possível reservar esse momento para a
leitura deleite: o aluno que termina primeiro pode escolher um livro para ler
enquanto os demais continuam realizando a atividade proposta a todos.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS
Considerar que as crianças são ativas no processo de aprendizagem é um
importante passo para modificar os encaminhamentos pedagógicos baseados na
mera transmissão de conteúdo que deva ser memorizado. As estratégias
metacognitivas são ações que possibilitam ao aprendiz pensar sobre a
aprendizagem e avaliar a sua própria aprendizagem e a adoção de estratégias
cognitivas e metacognitivas comprovadamente melhora os resultados dos
estudantes. Imagine um estudante do primeiro ano que está com muita
dificuldade concentração no momento da leitura: ele “se perde”, dispersa
facilmente e não se lembra do conteúdo que acabou de ler. Como estimular a
adoção de estratégias metacognitivas em crianças durante a alfabetização? Como
auxiliar este estudante a superar a dificuldade de concentração durante a leitura?
RESOLUÇÃO
130
desafios. Uma hipótese é propor pequenas situações-problema, reservando
um tempo para realizar intervenções individuais a fim de que a criança pense
inclusive sobre como foi fazer determinada tarefa e quais foram os resultados
obtidos.
0
seõçatona reV
131
NÃO PODE FALTAR
PRÁTICAS DE LEITURA E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS COM
A LEITURA E ESCRITA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
CONVITE AO ESTUDO
Querido aluno,
132
Na sequência, iremos compreender o papel das interações, a contação de
histórias, os jogos e brincadeiras com a leitura e escrita, observado a riqueza de
elementos presentes em situações didáticas como: a leitura feita em voz alta pelo
professor para a progressiva construção de intimidade com a cultura escrita, as
0
atividades para a consciência fonológica e o conhecimento das letras: jogos de
seõçatona reV
linguagem, brincadeiras cantadas, trabalho com parlendas, quadrinhas, trava-
línguas e poemas, a brincadeira com os sons das palavras, articulando-as com
situações de leitura e de escrita e os jogos e brincadeiras utilizando tecnologias
digitais.
Para finalizar, você é convidado a refletir sobre o ensino da escrita como uma arte,
propiciando o conhecimento da linguagem que levará à habilidade de decifrar
códigos, a leitura de imagens; análises e conexões; alunos reflexivos e críticos, a
arte possibilitando novos caminhos, novos olhares para uma nova percepção do
mundo e aquisição da linguagem escrita e a escrita da arte nas imagens e obras;
sistema de representação; símbolos visuais e sensoriais.
133
Pensando nisso, Mariana fez uma reunião com os professores para tratar da
utilização da biblioteca. Entretanto, percebeu que os alunos não frequentam o
espaço e não levam livros para casa. Para incentivar os estudantes, a escola
comprou muitos livros, ampliou o espaço e conta com a colaboração dos
0
professores nesse incentivo.
seõçatona reV
A professora Flávia decidiu levar os alunos do segundo ano à biblioteca para
mostrar o espaço e os novos livros. Após a visita, contou uma história utilizando
fantoches e propôs um desafio para as crianças: cada um deveria emprestar no
mínimo um livro por semana e aqueles que ainda não conseguem ler deverão
pedir que os pais ou responsáveis leiam para eles. Na reunião pedagógica, a
professora deveria elaborar argumentos identificando as razões que fazem com
essa atividade seja capaz de auxiliar na alfabetização e desenvolver a capacidade
leitora. Ela também deveria explorar outras possibilidades para utilizar o espaço da
biblioteca. Vamos ajudar a professora indicando para ela as potencialidades da
atividade e possibilidades de utilização do espaço da biblioteca.
O professor leitor é um modelo para seus alunos! Amplie seus conhecimentos por
meio da leitura, pronto para começar?
CONCEITO-CHAVE
A leitura está presente no cotidiano das pessoas, desde a execução de tarefas
simples como receber uma correspondência ou usar um serviço bancário até
atividades mais complexas. Nesse contexto, não basta saber decifrar o código
linguístico, é necessário compreender as informações e saber quais são as
características e finalidades de determinado gênero textual – por exemplo, não
lemos uma bula de remédio como lemos um poema, certo? As estratégias que
utilizamos para fazer as leituras também foram aprendidas durante nosso
processo formativo.
“
A leitura é basicamente um processo de representação. Como esse processo envolve o sentido da visão, ler é,
na sua essência, olhar para uma coisa e ver outra. A leitura não se dá por acesso direto à realidade, mas por
intermediação de outros elementos da realidade. Nessa triangulação da leitura o elemento intermediário
funciona como um espelho; mostra um segmento do mundo que normalmente nada tem a ver com sua própria
consistência física. Ler é, portanto, reconhecer o mundo através de espelhos. Como esses espelhos oferecem
imagens fragmentadas do mundo, a verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio
desse mundo.
EXEMPLIFICANDO
134
material de leitura e de análise. Situações em que as crianças produzam
textos orais que podem ser transcritos e relidos pelo professor, no quadro
ou em cartazes, como um jornal mural. Estas são algumas possibilidades de
trabalho:
0
As crianças relatam um fato do dia a dia e ditam para que o professor
seõçatona reV
escreva. A frase ditada será naturalmente mais curta e organizada que o
relato espontâneo.
“
A intervenção inteligente do professor no processo de formação de leitores passaria por diversos pontos,
incluindo a escolha de textos que reunissem condições de coerência, alto grau de legibilidade e interesse dos
pequenos leitores; o ensino de estratégias de predição de significados; a adaptação do modo de ler (leitura oral
ou silenciosa, leitura intensiva e detalhada ou leitura superficial, rápida, etc.) aos objetivos do leitor em
determinada ocasião. Neste ponto, esbarramos no problema, já bastante debatido, da precária formação do
professor, de sua escassa familiaridade com a leitura, da sua descrença em relação a propostas didáticas que
estão na contramão de sua própria experiência de leitores “escolares”.
ASSIMILE
O ato de ler para a criança pode ser iniciado na educação infantil, etapa
creche (0-3 anos). Os bebês podem manusear livros confeccionados com
material apropriado, inclusive livros que podem ser manuseados até
durante o banho. Veja alguns exemplos de livros de banho:
135
Fonte: reprodução.
0
desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da
seõçatona reV
ampliação do conhecimento de mundo. (BRASIL, 2018, p. 42)
“
Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante [...] Ler é procurar ou buscar criar a
compreensão do lido [...]. Ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da
compreensão e da comunicação. E a experiência da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela
capaz de associar, jamais dicotomizar, os conceitos emergentes na experiência escolar aos que resultam do
mundo no cotidiano.
Você sabe contar histórias? Quais são os elementos necessários para esta prática?
Contar uma história não é simplesmente abrir o livro e fazer a leitura, para que
esse momento desperte a atenção da criança é preciso que o professor se
preocupe com a entonação, fluidez, expressão corporal e organização na turma.
Esses elementos garantem o envolvimento dos estudantes e um verdadeiro
mergulho no mundo da fantasia e da imaginação.
ASSIMILE
Interpretar o texto;
136
Perceber os sons da língua; distinguir alguns sons, como, por exemplo:
t/d, f/v, p/b que são muito parecidos;
0
Reconhecer as correspondências entre som e escrita.
seõçatona reV
Os objetivos apresentados podem ser trabalhados a partir da diversificação dos
encaminhamentos pedagógicos que o professor organiza, por exemplo, ao
trabalhar com a leitura de um texto curto, um pequeno poema, cantiga ou trava-
língua, o professor pode escrever o texto na lousa, na cartolina ou projetá-lo e a
turma terá a possibilidade de acompanhar a leitura. O objetivo dessa leitura é levar
os aprendizes a elaborar a correspondência entre a fala e a escrita, demonstrando
inclusive que muitas vezes pronunciamos as palavras de uma maneira e
escrevemos de outra.
FOCO NA BNCC
137
No trecho da Base Nacional Comum Curricular que você acabou de ler é
evidenciada a importância de contemplar os elementos do campo da vida
cotidiana e essa perspectiva pressupõe conduzir a aprendizagem inicial da leitura e
da escrita a partir das palavras do contexto cultural, social e econômico dos
0
estudantes. Acolher as características e as expressões próprias do vocabulário do
seõçatona reV
aluno é reconhecê-lo, aceitá-lo como sujeito e, a partir deste ponto, apresentar
outras formas de expressão e ampliação do vocabulário por meio das leituras
feitas. A norma culta deve ser apresentada como um elemento importante que
deve estar presente em situações formais.
REFLITA
EXEMPLIFICANDO
138
objetivos podem estar articulados em torno de uma mesma temática
proporcionando ao aluno maior capacidade de estabelecer relações, o que leva à
aprendizagem significativa.
0
O trabalho com projetos proposto por Jolibert (1994) e Kaufman e Rodrigues (1995) consistem em
planejamentos que incluem prática da leitura e escrita de textos reais para destinatários reais com integração
seõçatona reV
“
entre diversas áreas de conhecimento. O projeto não só se mostra apropriado para esse trabalho integrado,
mas também possui características de organização que auxiliam o professor do 1º ano no atendimento às
necessidades das crianças de seis anos de idade.
Instrumentos
de trabalho Elementos
docente caracterizadores Função organizadora
139
Instrumentos
de trabalho Elementos
docente caracterizadores Função organizadora
0
Projeto de Aulas centradas Por meio desse conjunto de elementos,
seõçatona reV
letramento nos alunos os PL são capazes de promover um
ensino que venha considerar os
Desenvolvimento
interesses dos alunos (em relação à
de tarefas
sociedade ou a aspectos de sua própria
Resolução de
aprendizagem). Com esse objetivo, os PL
problemas
podem trazer uma aproximação de
Interação entre diferentes áreas de conhecimento,
agentes além de “transformar objetos circulares
como ‘escrever para aprender a escrever’
Aluno como sujeito
e ‘ler para aprender a ler’ em ler para
do conhecimento
compreender e aprender aquilo que foi
Leitura e escrita
relevante para o desenvolvimento e a
como prática
realização do projeto” (KLEIMAN, 2000
social
apud TINOCO, 2008, p. 162).
Atividades
contextualizadas
Desterritorialização
dos lugares de
aprendizagem
Tempo escolar
Distribuição de
tarefas
Inserção em uma
rede de
comunicação
140
Instrumentos
de trabalho Elementos
docente caracterizadores Função organizadora
0
Sequência Apresentação da A partir da apresentação de um problema
seõçatona reV
didática situação de comunicação bem definido (com
indicações sobre o gênero, sua produção
Produção inicial
e circulação), o professor solicita aos
Módulos
alunos uma produção inicial (oral ou
Produção final escrita), com o intuito de verificar os
conhecimentos prévios e pensar no que
precisa ser ensinado para aquela turma a
respeito do gênero escolhido. Elaboram-
se, desta forma, os módulos: conjunto de
atividades propostas para suprir as
dificuldades encontradas na primeira
produção e chegar, assim, a uma boa
produção final. Nesta última etapa, há
uma dupla possibilidade: aos alunos, por
em prática os conhecimentos adquiridos
ao longo do processo do trabalho com a
SD e, ao professor, a oportunidade de
fazer uma avaliação somativa (DOLZ;
NOVERRAZ, SCHNEUWLY, 2004).
ASSIMILE
FOCO NA BNCC
“
[...] decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes
curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para
adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão
do ensino e da aprendizagem.
141
A partir das características do trabalho com projetos, finalizamos esta seção
compreendendo que este tipo de organização do trabalho pedagógico possibilita o
letramento na escola, permitindo ainda a estruturação de situações de ensino que
favorecem a apropriação do sistema de escrita alfabética. Portanto, são
0
contempladas as vertentes do ensino do componente curricular Língua
seõçatona reV
Portuguesa: o alfabetizar e o letrar.
III. O bom projeto é aquele que possibilita às crianças interagirem entre elas,
discutindo, decidindo, dialogando, resolvendo conflitos e estabelecendo regras
e metas.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
Questão 2
“A língua materna – sua composição vocabular e sua estrutura gramatical – não
chega ao nosso conhecimento a partir de dicionários e gramáticas, mas de
enunciações concretas que nós mesmos ouvimos e nós mesmos reproduzimos na
comunicação discursiva viva com as pessoas que nos rodeiam” (BAKHTIN, 2003, p.
283).
142
PORQUE
0
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta.
seõçatona reV
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.
Questão 3
“É importante que, na sala de aula, o trabalho com a leitura não seja uma atividade
secundária, que ocupe apenas o tempo que sobrou no finalzinho da aula ou antes
do recreio. A leitura precisa ser planejada, como atividade cotidiana, não só entre
os alunos, mas também entre os professores” (RESENDE, 2018, p. 94).
II. Inserção dos alunos nos programas de leitura da escola, estímulo para os
alunos lerem além das necessidades específicas das disciplinas.
IV. Podemos ter atividades de leitura que não sejam acompanhadas de exercício
algum, porque a leitura já é, em si, uma atividade importante, enriquecedora e
produtiva.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 261-306.
143
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3a2A0yX. Acesso em: 19 nov.
2020.
0
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.
Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: planejando a alfabetização;
seõçatona reV
integrando diferentes áreas do conhecimento: projetos didáticos e sequências
didáticas: ano 01, unidade 06 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2012.
144
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
PRÁTICAS DE LEITURA E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS COM
A LEITURA E ESCRITA
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
Fonte: Shutterstock.
145
partir de um problema, articular os encaminhamentos pedagógicos envolvendo
práticas de leitura que perpassam todas as áreas de conhecimento. As crianças
poderão utilizar a biblioteca para fazer pesquisas durante as várias etapas de
realização do projeto.
0
Os estudantes não devem sentirem-se forçados a participar de leituras, mas
seõçatona reV
incentivados e mobilizados pela curiosidade, atraídos pelo modelo de leitor
apresentado pelo professor e pelas inúmeras possibilidades de acesso à cultura e
a informação que o universo da leitura é capaz de proporcionar. Tudo isso é
construído mediante a organização de atividades que fazem sentido para os
alunos.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
ATIVIDADES PARA OS ALUNOS QUE JÁ SABEM LER
A professora Marta trabalha com uma turma do segundo ano. Nessa turma, há
alunos com diferentes níveis de conhecimento, alguns lendo de forma fluente
enquanto outros ainda estão compreendendo o sistema de escrita alfabética. A
professora tem conhecimento de que precisa preparar atividades diversas,
atendendo a necessidade de seus alunos, para isso poderá dividir a turma em
grupos. Enquanto o grupo que está aprendendo as características do sistema de
escrita alfabética faz atividades específicas, imagine e sistematize atividades de
leitura que possam ser feitas com os alunos que já sabem ler.
RESOLUÇÃO
CRIAÇÃO DE FRASES
A professora confecciona frase, conforme o exemplo a seguir, e recorta cada
palavra de modo que elas fiquem separadas:
146
ORDENANDO FRASES DE UM TEXTO
A professora pode escolher um diálogo, imprimi-lo, recortá-lo e colocá-lo
dentro de um envelope.
0
Por exemplo, um dos diálogos de Alice no país das Maravilhas (2020):
seõçatona reV
– Quem é você? - disse a Lagarta.
– Eu… eu… no momento não sei, minha senhora… pelo menos sei quem eu era
quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias
vezes desde então.
– Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora - disse Alice -,
porque já não sou eu, entende?
147
NÃO PODE FALTAR
O PAPEL DAS INTERAÇÕES, A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, JOGOS
E BRINCADEIRAS COM A LEITURA E ESCRITA
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
É quase impossível falar de infância sem falar do brincar. Podemos inclusive dizer
que esta é uma das principais linguagens da criança. Contemplando a brincadeira,
a escola respeita a infância e torna mais positivo o vínculo da escola com a vida.
Jogos e brincadeiras são vistos como vitais para o desenvolvimento global da
criança, pois estimulam a consciência corporal, a concentração e a criatividade e,
em grupo, ensinam a cooperar, assumir responsabilidades, supor as
consequências de uma conduta e respeitar regras.
148
palavras, articulando-as com situações de leitura e de escrita, jogos e brincadeiras
utilizando tecnologias digitais e a leitura feita em voz alta pelo professor para a
progressiva construção de intimidade com a cultura escrita.
0
A coordenadora pedagógica Mariana atua em uma escola de ensino fundamental
em um bairro periférico. Por atuar a muito tempo nessa escola, conhece as
seõçatona reV
famílias dos estudantes e sabe que as crianças não têm no âmbito familiar o
contato com livros, internet, tampouco modelos de leitores. Frente ao contexto, ela
entende a importância de explorar o trabalho com a leitura na escola.
Pensando nisso, Mariana fez uma reunião com os professores para tratar da
utilização da biblioteca. Entretanto, percebeu que os alunos não frequentam o
espaço e não levam livros para casa. Para incentivar os estudantes, a escola
comprou muitos livros, ampliou o espaço e conta com a colaboração dos
professores nesse incentivo.
Ah, nada melhor do que possibilitar que a escola se torne um lugar onde se pode
cantar e brincar!
CONCEITO-CHAVE
A consciência fonológica é a capacidade de focalizar os sons das palavras
dissociando-os de seu significado e de segmentar as palavras nos sons que as
constituem (SOARES, 2016, p.166). Mas como desenvolver esta capacidade com os
aprendizes? Brincando com os sons das palavras!
Durante a leitura em voz alta, feita pelo professor, os aprendizes já são capazes de
estabelecer relações entre a fala e a escrita, familiarizando-se e construindo uma
progressiva intimidade com as práticas de leitura e escrita. Entretanto, para que a
149
criança seja alfabetizada, é necessário explorar a percepção de forma mais
ampliada, favorecendo o desenvolvimento da consciência fonológica.
“
[...] as habilidades de consciência fonológica se diferenciam não só quanto ao tipo de operação que o sujeito
0
realiza em sua mente (separar, contar, comparar quanto ao tamanho ou quanto à semelhança sonora etc.), mas
também quanto ao tipo de segmento sonoro envolvido (rimas, fonemas, sílabas, segmentos maiores que um
seõçatona reV
fonema e menores que uma sílaba, segmentos compostos por mais de uma sílaba – como a sequência final das
palavras janela e panela). E variam, ainda, quanto à posição (início, meio, fim) em que aquelas “partes sonoras”
ocorrem no interior das palavras.
150
2 Para usar uma hipótese silábica qualitativa ou hipóteses silábico-alfabéticas e
alfabéticas, as crianças precisam avançar em suas habilidades de identificar e
produzir palavras que começam com a mesma sílaba ou que rimam. Isto fica
evidente quando pensamos que a criança que escreveu A U I para jabuti
0
precisou não só contar as sílabas da palavra, mas, também, examinar cada
seõçatona reV
sílaba na ordem em que aparece no todo-palavra e analisar “sonzinhos” que
aparecem no interior de cada sílaba.
EXEMPLIFICANDO
O professor orienta a criança que ela deve falar uma palavra que
representa o que comprou no mercado.
151
1. Nome da brincadeira: Alfândega
A professora começa:
0
diz o segredo da brincadeira, que é encontrar um país, estado ou cidade e
seõçatona reV
um objeto que começa com a mesma letra do nome da criança). Quem
mais viajou?
A professora diz:
Eu vou falar uma palavra e a última silaba vai começar a próxima... (Na
sequência, um aluno por vez deve pensar em palavras que se encaixam na
regra estabelecida. Veja os exemplos:
Consciência de palavras
Consciência silábica
Rimas e aliterações
Consciência fonêmica
ASSIMILE
152
1. observar que a palavra janela tem 3 pedaços” (sílabas), que a palavra
casa tem 2 “pedaços” e que, portanto, a primeira palavra é maior;
0
palavras gato e galho são as que “começam parecido”, porque começam
com /ga/; - falar cavalo, quando pedimos que diga uma palavra
seõçatona reV
começada com o mesmo pedaço que aparece no início da palavra casa;
EXEMPLIFICANDO
TRAVA-LÍNGUA
TRÊS TIGRES EU VI TRÊS TIGRES TRIGÊMEOS
153
EXEMPLIFICANDO
0
O __ATO __OEU A __OUPA DO __EI DE __OMA.
seõçatona reV
A RAINHA COM RAIVA RASGOU O RESTO.
___ATO
Esta é a caixa de Jogos do Pacto Nacional pela alfabetização na idade certa – PNAIC.
O PNAIC já foi encerrado, mas os jogos foram recebidos pelas escolas públicas.
“
Na alfabetização os jogos podem ser poderosos aliados para que os alunos possam refletir sobre o sistema de
escrita, sem, necessariamente, serem obrigados a realizar treinos enfadonhos e sem sentido. Nos momentos de
jogo, as crianças mobilizam saberes acerca da lógica de funcionamento da escrita, consolidando aprendizagens
já realizadas ou se apropriando de novos conhecimentos nessa área. Brincando, elas podem compreender os
princípios de funcionamento do sistema alfabético e podem socializar seus saberes com os colegas.
— BRASIL, 2009 p. 8.
REFLITA
154
As práticas de leitura e escrita na tela digital fazem parte da contemporaneidade,
neste contexto da cultura digital, entende-se por alfabetização digital o domínio
das diferentes técnicas relacionadas ao que se chama de usabilidade, saber ligar e
manusear as máquinas. Ao usar a tela, os alunos ou usuários da escrita em
0
suporte digital têm de lidar com novos gestos envolvidos no ato de ler e escrever.
seõçatona reV
Durante as aulas com os jogos digitais, por exemplo, “eles lidam com desafios
relacionados ao ritmo e uso do tempo que são determinados pelo próprio jogo e
precisam dominar elementos da usabilidade como clicar, usar mouse ou teclado,
por mais simples que seja o jogo em suporte digital” (FRADE et al., 2018, p. 22).
ASSIMILE
https://bit.ly/3wKViL4
155
“Na aprendizagem é necessário permitir, proporcionar e incentivar o indivíduo; nas
suas relações, a criança aprende aquilo que interessa, o que lhe é necessário, e,
por isso, o que lhe dá prazer. Sendo assim, a assimilação e a acomodação da
criança ao meio devem ocorrer através do jogo, da aprendizagem lúdica” (CALLAI,
0
1991, p. 74).
seõçatona reV
Considerando os estudos realizados sobre jogos e brincadeiras na alfabetização,
analise as afirmativas a seguir:
III. Os jogos importantes para a aprendizagem das crianças são elaborados por
empresas ou universidades, os jogos elaborados pelo professor não são
capazes de promover aprendizagem.
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
Questão 2
“[...] as habilidades de consciência fonológica se diferenciam não só quanto ao tipo
de operação que o sujeito realiza em sua mente (separar, contar, comparar quanto
ao tamanho ou quanto à semelhança sonora etc.), mas também quanto ao tipo de
segmento sonoro envolvido (rimas, fonemas, sílabas, segmentos maiores que um
fonema e menores que uma sílaba, segmentos compostos por mais de uma sílaba
– como a sequência final das palavras janela e panela). E variam, ainda, quanto à
posição (início, meio, fim) em que aquelas “partes sonoras” ocorrem no interior das
palavras.” (BRASIL, 2012, p. 20)
156
e. Consciência de espaços, consciência silábica, rimas e aliterações e consciência fonêmica.
Questão 3
“Na escolha e produção de atividades em ambiente digital, o professor pode
0
dialogar com várias teorias de ensino e aprendizagem e precisa refletir sobre o
seõçatona reV
alcance dessas teorias em suas intervenções didáticas” (FRADE et al., 2018, p. 33).
Com base nos conhecimentos referentes aos jogos utilizando tecnologias digitais,
avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.
PORQUE
REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/32bZe9C. Acesso em: 19 nov.
2020.
157
https://bit.ly/3g8C2kH. Acesso em: 30 nov. 2020.
0
seõçatona reV
158
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
O PAPEL DAS INTERAÇÕES, A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, JOGOS
E BRINCADEIRAS COM A LEITURA E ESCRITA
0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança
Fonte: Shutterstock.
159
Pensando na preocupação da professora em tornar as aprendizagens lúdicas, ela
poderá utilizar jogos como caça rimas, troca letras, jogos utilizando tecnologias
digitais etc. para levar a criança a observar que a palavra é composta por
segmentos sonoros e que esses podem se repetir em palavras diferentes.
0
A preocupação de Dulce em ofertar as melhores oportunidades de aprendizagem
seõçatona reV
aos seus alunos foi um elemento motivador que promoveu a busca por formação
continuada e a pesquisa sobre as aprendizagens essenciais. Seu
comprometimento também possibilitou que ela construísse jogos com os alunos –
o que, além de promover a aprendizagem da leitura e da escrita, inspirou as outras
professoras da escola.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
PENSANDO SOBRE AS PALAVRAS
Em um dia normal de aula na turma do primeiro ano da professora Mara, como de
costume, ela explora a oralidade dos seus alunos e propõe questões fazendo-os
pensar sobre a escrita das palavras. Em uma das aulas, a professora perguntou:
Thaís respondeu:
– Essa é fácil, cachorro começa com fo, tem o focinho, depois tem a boca, depois
tem o corpo e por último o rabo!
A professora riu muito da resposta de Thaís, mas ficou pensando sobre a lógica
utilizada na resposta. Ajude a professora Mara a entender qual é a lógica
apresentada na resposta de Thaís.
RESOLUÇÃO
160
Mara decidiu explorar atividades orais, parlendas, bingo de sílabas e as
crianças apresentaram evolução, visto que já compreendem que as palavras
possuem “pedacinhos”, ou seja, as sílabas.
0
seõçatona reV
161
NÃO PODE FALTAR
O ENSINO DA ESCRITA COMO UMA ARTE
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
Seja bem-vindo à última seção deste material. Nós estamos quase finalizando os
estudos acerca das estratégias e dos procedimentos para alfabetização. Durante as
discussões e reflexões feitas até aqui, ficou claro que os professores
alfabetizadores precisam direcionar o trabalho durante a aprendizagem da leitura
e da escrita de forma contextualizada, de modo que a escola esteja integrada à
vida. Até porque a escola não prepara para a vida, pois a vida já está acontecendo,
no aqui e agora dos nossos alunos, nas vivências possibilitadas no espaço escolar.
Na escola temos a energia vital pulsando, em cada fala, em cada gesto e em cada
olhar.
162
A coordenadora pedagógica Mariana atua em uma escola de ensino fundamental
em um bairro periférico. Por atuar a muito tempo nessa escola, conhece as
famílias dos estudantes e sabe que as crianças não têm no âmbito familiar, o
contato com livros, internet, tampouco modelos de leitores. Frente ao contexto, ela
0
entende a importância de explorar o trabalho com a leitura na escola.
seõçatona reV
Pensando nisso, Mariana fez uma reunião com os professores para tratar da
utilização da biblioteca. Entretanto, percebeu que os alunos não frequentam o
espaço e não levam livros para casa. Para incentivar os estudantes, a escola
comprou muitos livros, ampliou o espaço e conta com a colaboração dos
professores nesse incentivo.
Bons estudos!
CONCEITO-CHAVE
A arte condensa formas de expressão que de maneira interdisciplinar pode
permear outras áreas de conhecimento. Assim, qual papel a arte tem ocupado no
ensino fundamental? Seria possível relacionar arte e alfabetização?
“
[...] é na cotidianidade que os conceitos sociais e culturais são construídos pela criança, por exemplo, os de
gostar, desgostar, de beleza, feiúra, entre outros. Esta elaboração se faz de maneira ativa, a criança interagindo
vivamente com pessoas e sua ambiência.
163
etapas, incorrendo na adoção de condutas pedagógicas que se distanciam da
ludicidade e da expressão por meio de múltiplas linguagens. Por vezes, no ensino
fundamental, as práticas pedagógicas limitam-se ao trabalho com a leitura, escrita
e matemática.
0
seõçatona reV
FOCO NA BNCC
Conforme a BNCC:
“
Tendo em vista o compromisso de assegurar aos alunos o desenvolvimento das
competências relacionadas à alfabetização e ao letramento, o componente Arte,
ao possibilitar o acesso à leitura, à criação e à produção nas diversas linguagens
artísticas, contribui para o desenvolvimento de habilidades relacionadas tanto à
linguagem verbal quanto às linguagens não verbais.
ASSIMILE
“
[...] durante as criações ou fazendo atividades de seu dia a dia, as crianças vão
aprendendo a perceber os atributos constitutivos dos objetos ou fenômenos à sua
volta. Aprendem a nomear esses objetos, sua utilidade seus aspectos formais (tais
como linha, volume, cor, tamanho, textura, entre outros) ou qualidades, funções,
entre outros... Para que isso ocorra é necessário a colaboração do outro – pais,
professoras, entre outros – sozinha ela nem sempre consegue atingir as
diferenciações, muitas vezes sua atenção é dirigida às características não
essenciais e sim às mais destacadas dos objetos ou imagens, como por exemplo,
as mais brilhantes, mais coloridas, mais estranhas...
164
— FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 49.
0
processo de alfabetização mais interessante e divertido e, assim, a criança tem a
oportunidade de perceber que aprender é bom. É válido lembrar que, de forma
seõçatona reV
equivocada, a criança, por vezes é conduzida a reproduzir modelos estereotipados
e a executar ações que exigem dela apenas a capacidade de cópia e memorização.
O resultado disso são os varais de trabalhos, todos muito semelhantes em forma e
cores, sem aquela particularidade, aquela força expressiva individual que se pode
perceber nos desenhos anteriores a esta fase de escolarização. (PILLOTTO;
SCHRAMM, 2001).
REFLITA
ASSIMILE
165
conhecimento que será construído a cada ano, “aumentando o repertório de
informações e a possibilidade da leitura mais consciente do mundo”. Vamos
explorar alguns caminhos para a alfabetização do olhar na escola.
0
EXEMPLIFICANDO
seõçatona reV
“
A escrita da arte nas imagens e obras é feita através de um sistema de representação que utiliza
principalmente: cor, luz, sombra, forma, som, gestos, silêncio, movimento etc., que são símbolos com
os quais o aluno, com alguma intenção, faz uma leitura e cria uma obra, dando novos significados a
todos estes elementos que foram citados. Ao usar diariamente esta linguagem para se expressar, o
aluno vai iniciando a alfabetização do seu olhar, construindo e aprimorando um repertório de
símbolos visuais e sensoriais que o ajudará a ler o mundo que está ao seu redor de forma simbólica.
“Uma imagem vale mais do que mil palavras” é uma frase do senso comum que
você, certamente, já ouviu. A leitura de imagens é uma das possibilidades de
trabalho em arte, que explora a capacidade crítico-reflexiva. É importante lembrar
que desfrutar da experiência visual não significa que os alunos estejam
compreendendo o que está sendo observado, mas ainda assim, os professores
devem apresentar o caminho para a alfabetização visual por meio da sensibilização
e do contato frequente com as obras.
REFLITA
A arte ainda é vista como uma atividade prática pouco valorizada pelo senso
comum, um saber informal. Pensando no ensino de arte, o termo leitura de
imagens começou a ser utilizado aproximadamente na década de 1970 com a
introdução de novos sistemas audiovisuais. Esta nova tendência se fundamentou
nos estudos da psicologia da forma Gestalt e da semiótica. A imagem passa a ser
compreendida como signo e é necessário que haja uma compreensão de seus
códigos. Outra corrente está voltada para aspectos mais estéticos das imagens, “o
que mais favorece o desenvolvimento estético é a familiaridade que o sujeito tem
com as imagens, sejam obras de arte ou imagens da publicidade por exemplo”
(LIMA, 2008, p. 9).
166
“
O principal objetivo desta proposta não é ler uma imagem identificando apenas seus elementos formais
isoladamente, mas reconhecer as manifestações e expressões de cada cultura. Relacionando com outras
disciplinas seria o mesmo que, por exemplo, na Língua Portuguesa compreender e comunicar-se, não só
identificar questões ortográficas. [...] uma aprendizagem voltada para o desenvolvimento do senso crítico,
partindo das imagens que fazem parte da cultura, da história e do cotidiano dos alunos.
0
— LIMA, 2008, p. 8.
seõçatona reV
Perceba que a leitura de imagens permite que o alfabetizador explore a percepção
dos seus alunos, o professor deve explorar a leitura de imagens desde a educação
infantil a partir de diferentes propostas, desde a exploração das ilustrações de um
livro de histórias à exploração de obras de arte. Ao solicitar que os estudantes
descrevam o que estão observando em uma obra de arte, por exemplo, os alunos
estão na verdade interpretando. Essa interpretação é algo particular, pois cada um
mobiliza seus conhecimentos prévios para atribuir significado ao que é observado.
De acordo com Pessoa (2018, [s.p.]), a leitura de imagens pode ser utilizada pelo
professor de arte como uma ferramenta didática, que lhe abre um leque de
possibilidades:
“
Existem muitas formas de conduzir este tipo de trabalho, apresentamos a seguir um roteiro que poderá ser
utilizado, de acordo com as seguintes etapas:
• Aquecimento: momento no início da aula, onde o professor prepara seus alunos para a experiência de
observar a obra;
• Descrever: perceber a obra e verbalizar todas as características que serão observadas, fazendo uma lista de
tudo que for sendo falado pelos alunos;
• Analisar: verificar a forma como a obra foi feita e o que pode ser percebido ao verificar os elementos da
composição e as técnicas utilizadas, as ideias intrínsecas à obra de arte;
• Interpretar: as respostas pessoais e sensoriais à obra; como o aluno se sente em relação à obra;
• Fundamentar: relacionar o que está se vendo com os dados históricos da obra e do artista que a produziu;
• Revelar: momento de criação onde os alunos dão um novo significado a obra que foi analisada em grupo.
Agora, vamos nos atentar para o fato de que em algumas instituições é o professor
alfabetizador, regente da turma, que ministra todos os componentes curriculares,
em outras, existe um professor específico para arte. Nesse caso, para que acorra a
167
integração entre o trabalho da professora regente com a professora de arte, é
importante que ocorra um planejamento integrado e o compromisso dos
profissionais com as aprendizagens dos estudantes.
0
A arte possibilita novos caminhos, novos olhares para uma nova percepção do
mundo e aquisição da linguagem escrita. A aquisição da linguagem escrita não
seõçatona reV
deve ocorrer por meio de um processo mecânico, até porque alfabetização e
letramento devem caminhar juntos. Os múltiplos letramentos, possíveis no contato
com a diversidade e pluralidade cultural dependem da cultura escolar que
estrutura as relações dos sujeitos com os saberes científicos. Assim, mais do que
saber decifrar códigos é preciso saber manifestar-se, interpretar situações e
contextos, habilidades construídas no trabalho com a arte. Arte é ampliação das
experiências humanas.
“
Todo ser humano é artista, está sempre a criar novas formas para expressar o mundo e abrindo novos
caminhos. Para ele a solução única, óbvia, não satisfaz. Ele vai usar sua possibilidade natural de explorar o
mundo, o pensamento divergente. Ele necessita marcar como sua cada ação e está sempre pronto e atento às
possibilidades de renovação, renovando-se a cada instante. É sua forma de participar do movimento do
universo, movendo-se ele próprio e, muitas vezes, contribuindo para orientar o movimento.
168
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.
0
c. unidades; dança; integradas.
seõçatona reV
d. disciplinas; pintura; mistas.
Questão 2
“O principal objetivo desta proposta é reconhecer as manifestações e expressões
de cada cultura. Relacionando com outras disciplinas seria o mesmo que por
exemplo, na Língua Portuguesa compreender e comunicar-se, não só identificar
questões ortográficas. [...] uma aprendizagem voltada para o desenvolvimento do
senso crítico” (LIMA, 2008, p. 8)
a. Alfabetização do olhar.
b. Apreciação musical.
c. Jogos teatrais.
d. Desenho.
e. Leitura de imagem.
Questão 3
Todo ser humano é artista, está sempre a criar formas para expressar o mundo e
abrindo novos caminhos. Para ele a solução única, óbvia, não satisfaz. Ele vai usar
sua possibilidade natural de explorar o mundo, o pensamento divergente. Ele
necessita marcar como sua cada ação e está sempre pronto e atento às
possibilidades de renovação, renovando-se a cada instante. É sua forma de
participar do movimento do universo, movendo-se ele próprio e, muitas vezes,
contribuindo para orientar o movimento (FERRAZ; FUSSARI, 1993, p. 89).
II. A aquisição da linguagem escrita não deve ocorrer por meio de um processo
mecânico, até porque alfabetização e letramento devem caminhar juntos.
c I II e III apenas
169
c. I, II e III, apenas.
d. I, II e IV, apenas.
0
REFERÊNCIAS
seõçatona reV
AVELINO, A. Quatro razões valiosas para usar a música na alfabetização.
Disponível em:https://bit.ly/3uEAEum. Acesso em: 14 dez. 2020.
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/32cTKM2. Acesso em: 19 nov.
2020.
FERRAZ, H.; FUSARI, M. F. R. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993.
170
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
O ENSINO DA ESCRITA COMO UMA ARTE
0
Natália da Silva Bugança
seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.
A partir dos estudos realizados é esperado que você conclua que é possível utilizar
as obras apresentadas no livro, ampliando o repertório cultural dos alunos e
fazendo a leitura de imagens que é uma excelente ferramenta pedagógica. Isto
porque, quando exploramos uma imagem com os alunos, eles estão descrevendo-
a a partir da sua interpretação, a partir do conhecimento de mundo que possuem,
não é uma simples cópia.
171
capacidade de identificação de informações, raciocínio rápido e senso crítico. “A
leitura de imagens durante as aulas, levará os alunos a fazerem mais tarde a
leitura do próprio meio social” (PESSOA, 2018, [s.p.]).
0
Certamente, estas atividades envolvendo arte e leitura de imagens serão
extremamente significativas para os alunos, favorecendo sua leitura de mundo,
seõçatona reV
interpretação e pensamento crítico. Após conversar com a coordenadora da
escola, a professora Dulce recebeu orientações e fez um projeto interdisciplinar
em que utilizou diversas obras apresentadas no livro. Seus alunos participaram
ativamente e demonstraram evolução nas habilidades de leitura e escrita.
AVANÇANDO NA PRÁTICA
MÚSICA PARA ALFABETIZAR
A linguagem musical é uma linguagem universal. Aprendemos desde cedo a
contemplar os sons e, desde que sejamos capazes de ouvir, começamos a
movimentar o corpo no ritmo do som, a atribuir significado e interpretar. A música
como um elemento da arte favorece o trabalho do professor alfabetizador?
Imagine-se na condição de professor do primeiro ano do ensino fundamental para
responder: como você utilizaria a música no trabalho pedagógico?
RESOLUÇÃO
172