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ESTRATÉGIAS E PROCEDIMENTOS PARA ALFABETIZAÇÃO

Natália da Silva Bugança

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Prezado estudante, é uma satisfação recebê-lo e apresentá-lo a conhecimentos tão


importantes para a sua formação. Poucos se lembram de quando não eram
alfabetizados, mas devemos reconhecer que, a partir do momento em que
compreendemos toda a organização da escrita e da leitura, nossa vida mudou. Isso
porque a maneira como observamos, interpretamos e nos relacionamos com o
mundo foi totalmente modificada.

Para alguns, foi um momento tranquilo, tão suave que não deixou muitas marcas,
enquanto, para outros, esse período pode remeter a lembranças perturbadoras,
marcadas por sucessivos fracassos, sentimento de inferioridade e impotência. De
fato, ser alfabetizado é muito mais do que codificar e decodificar símbolos, a
alfabetização é um período muito importante na trajetória escolar de todas as
pessoas. Um dos primeiros grandes desafios escolares para as crianças e, também,
um dos grandes desafios da trajetória profissional de um professor.

Os índices brasileiros referentes à alfabetização retratam um cenário preocupante,


pois muitas crianças não alcançam plenamente o desempenho previsto na idade
correspondente, e isso compromete o acesso aos conhecimentos das demais
disciplinas, culminando em atraso e, muitas vezes, em fracasso escolar e evasão.
Políticas e programas governamentais propõem a formação continuada dos
professores, buscando diminuir as lacunas entre teoria e prática, a fim de
instrumentalizar a ação docente.

Quais são as estratégias e os procedimentos adequados na condução do trabalho


com uma turma de alfabetização? Essa questão permeia muitas pesquisas sobre o
tema. É sabido que não existem fórmulas prontas ou receitas mágicas, mas
estudos que subsidiam práticas mais assertivas. Nesse contexto, essa disciplina
corresponde a um momento extremamente importante na sua formação, pois, por
meio dela, você será capaz de conduzir com segurança o processo de
alfabetização.

Durante seus estudos, você:

Conhecerá os diferentes métodos de alfabetização e as concepções e funções


da linguagem para utilizar as diversas perspectivas teóricas na prática
educativa de acordo com o público e o contexto.

Compreenderá a alfabetização como um processo longo e complexo que inicia


na primeira infância e está interligado com o uso social da leitura e escrita para
uma prática significativa e inclusiva.

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Identificará a aquisição da leitura e escrita a partir de práticas pedagógicas que
envolvem a brincadeira, os jogos, o uso de tecnologia digital e a arte como
formas de promover diferentes estratégias para o desenvolvimento dos alunos.

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Perceberá a importância da formação inicial e continuada dos professores para
uma prática refletiva e consciente.

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Visando atender aos objetivos mencionados, percorreremos um caminho em que
visitaremos as temáticas divididas em unidades de ensino. Na primeira unidade,
você aprenderá sobre a linguagem como objeto de conhecimento, assim como
sobre a importância de se estudar a linguagem. A segunda unidade tem como
tema a alfabetização, partindo dos fundamentos teóricos, dos métodos e de como
utilizá-los. A terceira unidade discute as estratégias e os procedimentos para o
processo de alfabetização. E, por fim, a leitura, a escrita e a literatura são os
elementos que possibilitam explorar as interações, as histórias, os jogos e as
brincadeiras.

Estudante, ensinar e aprender são facetas de um processo permanente do


trabalho docente, portanto explore esse tema. Lembre-se de que você tem um
papel ativo nesse processo. Organize sua rotina de estudos e embarque em mais
uma viagem rumo ao conhecimento.

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NÃO PODE FALTAR
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM ESCRITA

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Natália da Silva Bugança

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PRÁTICA PEDAGÓGICA
Todas as práticas pedagógicas estão apoiadas em teorias, concepções, formas de entender a
aprendizagem e o objeto de conhecimento.

Fonte: Shutterstock.

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CONVITE AO ESTUDO
Em algum momento, você já parou para pensar sobre a invenção da escrita? Como
é complexa a natureza do signo linguístico! A invenção da escrita foi um processo
histórico de elaboração de um sistema de representação. É possível que alguém
pense que, uma vez elaborado, basta que se aprenda a codificar e decodificar os
códigos, mas não é bem assim. Para aprender, os sujeitos compreendem as suas
regras, reconstruindo esse rico sistema de representação.

Para iniciar os estudos desta unidade sobre esse processo de aprendizagem, você
estudará a linguagem como objeto de conhecimento, a fim de conhecer as
concepções e as funções dela, para utilizar as diversas perspectivas teóricas na
prática educativa de acordo com o público e o contexto.

Na primeira seção, serão apresentadas as concepções de linguagem e o processo


de aquisição da linguagem escrita. Os conhecimentos referentes ao tema
perpassam a linguagem escrita como criação cultural estabelecida nas relações
sociais, logo aprenderemos sobre a aquisição da linguagem escrita desde a
primeira infância, antes do processo de alfabetização; a aquisição da linguagem

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escrita para além do contexto escolar e como necessidade da interação e
comunicação; e a linguagem como expressão do pensamento, instrumento de
comunicação e processo de interação.

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A segunda seção tratará da linguagem como interação e prática pedagógica. Aqui,
trabalharemos com as funções cognitiva, comunicativa, interativa e dialógica, assim

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como com a prática pedagógica como espaço para o diálogo e para os elementos
de sua vida cotidiana, envolvendo a proposta de alfabetização crítica e a
construção da aprendizagem de forma coletiva e colaborativa.

Na última seção, falaremos da escola diante das práticas pedagógicas de


alfabetização, pensando sobre a formação continuada dos professores, o apoio
pedagógico para a alfabetização, a importância dos materiais, do espaço e dos
recursos estruturados para alunos e professores e sobre como garantir uma
proposta para o processo de alfabetização bem estruturada no PPP.

PRATICAR PARA APRENDER


Durante a sua trajetória escolar, você conheceu e aprendeu com vários
professores. Cada um desses profissionais possuía conhecimentos teóricos
distintos, que fizeram parte da formação adquirida. Mas, além dos conhecimentos
oriundos do universo acadêmico, os docentes têm compreensões que partem do
conhecimento de mundo e daquilo que vivenciaram quando eram estudantes.
Nesse sentido, muitos professores alfabetizadores ainda repetem atividades e
metodologias a que foram submetidos. Isso pode ocorrer em virtude de uma
insegurança do profissional sobre quais seriam os procedimentos adequados, o
que de fato fará com que os alunos dominem a escrita alfabética.

Para transpor essa situação, é necessário que o professor compreenda que cada
aluno apresentará um desenvolvimento diferente do outro, portanto ele não deve
esperar que todos dominem os conhecimentos ao mesmo tempo, nem deve
utilizar sempre as mesmas atividades. Assim, atuar na alfabetização demanda que
esse profissional entenda que ela se trata de um processo, um caminho que cada
aluno percorrerá, experimentando desafios e vencendo obstáculos.

Para atuar como alfabetizador, é essencial conhecer as concepções de linguagem e


o processo de aquisição da linguagem escrita. Considerando a importância desses
conhecimentos, os estudos desenvolvidos nesta seção partem da compreensão da
linguagem escrita como criação cultural estabelecida nas relações sociais que está
além do contexto escolar e como necessidade da interação e comunicação.

Partindo dessa ideia, você aprenderá que a aquisição da linguagem escrita tem
início na primeira infância, na educação infantil, mas entenderá que isso não
significa antecipar atividades do ensino fundamental. Por fim, conhecerá três
concepções de linguagem: como expressão do pensamento, como instrumento de
comunicação e como processo de interação.

Vanessa é uma professora recém-formada em Pedagogia. Assim que terminou a


graduação, foi aprovada em um concurso público no município onde mora. Como
foi uma das primeiras colocadas, em pouco tempo foi convocada e já começará a
trabalhar.

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Ao se apresentar na escola em que lecionará, a jovem professora foi informada
pela coordenação pedagógica da instituição que trabalhará com uma turma do
primeiro ano do ensino fundamental. Vanessa está muito feliz e ansiosa para
colocar em prática tudo o que aprendeu na universidade.

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Frente ao desafio de alfabetizar, a professora está insegura quanto aos

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procedimentos que adotará para conduzir o processo de alfabetização. Mas, sabe
que, inicialmente, precisa conhecer os estudantes para definir o seu ponto de
partida. Afinal, o que as crianças sabem sobre a escrita? E se alguma criança já
estiver alfabetizada, o que fazer? Essas são questões que preocupam a docente,
então o que ela deve fazer para definir por onde começar?

Os conhecimentos que compõem esta seção são essenciais para a atuação do


professor alfabetizador em sala de aula. Lembre-se de que para aprender é
necessário comprometimento e dedicação, e você será sempre um modelo para os
alunos, portanto realize atentamente os estudos da seção.

CONCEITO-CHAVE
ESCRITA
A escrita não é uma capacidade inata, ou seja, não nasce com a criança. Ela é uma
criação cultural estabelecida nas relações sociais, resultado da interação humana
com os membros da mesma espécie. A maioria das pessoas nasce em locais em
que a escrita está presente, pois ela está atrelada à necessidade de comunicação.
Assim, o processo de imersão no mundo letrado tem início desde a primeira
infância, antes de iniciar as práticas de alfabetização no ambiente escolar.

Luria (1988) evidenciou que a escrita pode ser definida como uma ação mediada
por instrumentos e signos que são utilizados pela criança antes mesmo de
frequentar a escola. Quando a criança é submetida ao ensino formal, na etapa de
alfabetização, ela já interagiu, elaborou e exercitou técnicas que servem de base
para a aprendizagem da escrita.

[...] se apenas pararmos para pensar na surpreendente rapidez com que uma criança aprende esta técnica
extremamente complexa, que tem milhares de anos de cultura por traz de si, ficará evidente que isto só pode


acontecer porque durante os primeiros anos de seu desenvolvimento, antes de atingir a idade escolar, a criança
já aprendeu e assimilou um certo número de técnicas que prepara o caminho para a escrita, técnicas que a
capacitam e que tornam incomensuravelmente mais fácil de aprender o conceito e a técnica da escrita.

— (LURIA, 1988, p. 143)

Pensando nisso, fica claro que a compreensão da escrita não acontece da mesma
forma para todas as crianças. Cada uma aprende de acordo com o seu contexto, os
materiais que manipula, os ambientes que frequenta e as pessoas com quem se
relaciona. A partir dessas oportunidades de aprendizagem, ela compreende que a
escrita é um sistema de signos que possui função instrumental, que é utilizada
para registrar ideias, e essas percepções infantis são validadas pelas pessoas do
seu convívio.

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Os rabiscos e as garatujas que a criança produz na primeira infância são exercícios
de imitação da escrita realizada pelos adultos. Nessa fase de elaboração, os
rabiscos são apenas desejos, não possuem uma finalidade.

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As crianças imitavam o formato da escrita do adulto, produzindo apenas rabiscos mecânicos, sem nenhuma
função instrumental, isto é, sem nenhuma relação com os conteúdos a serem representados. Obviamente este

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tipo de grafismo não ajudava a criança em seu processo de memorização. Ela não era capaz de utilizar sua
produção escrita como suporte para a recuperação da informação a ser lembrada.

— (OLIVEIRA, 2010, p. 71)

Esses sinais primários não possuem valor simbólico, inclusive a criança pode não
lembrar do significado dos registros que fez, por exemplo, dizendo ora que o
registro gráfico é uma boneca, ora um pássaro. A criança atribuirá significados de
maneira progressiva por meio das vivências, as suas funções psicológicas
superiores se desenvolverão e ocorrerá a apropriação do uso social da escrita na
cultura, isso mesmo sem que ela conheça a organização da escrita alfabética.

O processo de escrita, segundo Luria (1988), passa por duas grandes fases: escrita
pré-instrumental e escrita instrumental. Entre essas duas fases há a escrita
topográfica.

ESCRITA PRÉ-INSTRUMENTAL
Corresponde a escritas em que os sujeitos não recordam os significados dos
registros realizados.

Na Figura 1.1, a imagem corresponde a uma atividade em que foi solicitado à


criança que escrevesse “Os ratos têm rabos compridos”. A criança “escreveu”
inúmeros rabiscos no papel.

Figura 1.1 | Exemplo de escrita pré-instrumental

Fonte: Luria (1988, p. 149).

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ESCRITA TOPOGRÁFICA
Começa a se transformar em signo auxiliar da memória. Na Figura 1.2, a criança
“anotou” várias sentenças ditadas.

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Figura 1.2 | Exemplo de escrita topográfica

Fonte: Luria (1988, p. 158).

ESCRITA PRÉ-INSTRUMENTAL
Corresponde a escritas diferenciadas que levam os sujeitos a se relacionar com os
registros realizados para recordar os significados anotados.

ESCRITA PICTOGRÁFICA

Na Figura 1.3, vemos que as características que a criança queria lembrar estavam
presentes nas imagens, possibilitando a lembrança dos significados anotados.

Figura 1.3 | Exemplo de escrita pictográfica

Fonte: Luria (1988, p. 188).

Pouco a pouco, a criança começa a utilizar outras marcas para representar. Junto
ao desenho, ela incorpora o significado e pode dizer que está escrevendo. Nesse
processo, outros elementos aparecem, como números, cor e letras. Ela dá um salto
qualitativo e, segundo Oliveira (2010), quando percebe a diferença entre escrever e
desenhar, rejeita a escrita pictográfica e escolhe grafar letras.

Nem todas as crianças passam de forma linear por essas fases. A maioria delas,
que está em contato desde muito cedo com o mundo letrado, está sujeita a uma
interação maior, isso possibilita a elaboração de muitas percepções sobre a escrita.

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A partir dos conhecimentos apresentados, é importante considerar que a linguagem é um
marco no desenvolvimento humano, e a escola deve considerar os elementos históricos e
culturais que permeiam as percepções infantis sobre a escrita.

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Nenhuma prática pedagógica é neutra. Todas estão apoiadas em teorias,

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concepções, formas de entender a aprendizagem e o objeto de conhecimento.
Contudo, é importante considerar que a compreensão sobre determinado objeto
de conhecimento muda com o passar do tempo e com o avançar dos estudos, e
essas mudanças estão relacionadas a múltiplos fatores, de ordem cultural, social e
econômica.

Com as concepções de linguagem não foi diferente. As concepções ainda


coexistem na atualidade e subsidiam a compreensão de muitos professores.

CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM
As concepções surgiram em períodos distintos, mas, na atualidade, podem ser
percebidas em muitas práticas e materiais didáticos. Por isso, é tão importante
conhecê-las. De acordo com Geraldi (1984), existem três concepções de linguagem,
conforme veremos a seguir.

LINGUAGEM COMO EXPRESSÃO DO PENSAMENTO


Concepção predominante na tradição gramatical até meados do século XX,
Gonçalves e Baronas (2013, p. 249) afirmam que, na concepção de linguagem como
expressão do pensamento, a língua é percebida como “exteriorização do
pensamento, traduzido por meio de palavras”. Assim, o ensino deveria partir da
análise das partes para compreender o todo.

São características dessa concepção:

Regras do falar e escrever bem.

Lógica organizacional.

Língua: homogênea, estática, invariável.

Domínio do bem falar.

Quem não utiliza as normas é considerado grosseiro e incapaz de aprender.

Antes e ainda na década de 1960, essa concepção orientou muitos professores.


Naquele período, os docentes trabalhavam com práticas focadas na transmissão
de conhecimentos. Consequentemente, cabia ao aluno/leitor captar o conteúdo
apresentado no texto, que é considerado um produto. O texto é a representação
do pensamento do autor, e, dessa forma, a leitura é o ato de extração dos sentidos
do texto. Na atualidade, podemos identificar atividades que têm como foco a
mecanização do texto e a ênfase na oratória, por exemplo, algumas atividades que
exigem a leitura em voz alta. Seguindo a lógica proposta na abordagem da
concepção de linguagem como expressão do pensamento, a pessoa que não se
expressa bem não pensa.

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LINGUAGEM COMO INSTRUMENTO DE COMUNICAÇÃO
Essa concepção ganhou relevância de 1916, com o linguista Saussure, até 1960. Na
concepção de linguagem como instrumento de comunicação, a língua é entendida

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como um sistema de códigos que deve ser aprendido pelas pessoas para que

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possam se comunicar. O falante deseja transmitir uma mensagem a um ouvinte;
para isso, ele utiliza um “código (decodificação) e a remete a outro através de um
canal (ondas sonoras e luminosas). O outro recebe os sinais codificados e os
transforma de novo em mensagens (informações)” (TRAVAGLIA, 1996, p. 22-23).

Note que a linguagem é percebida como uma ferramenta, e sua utilização não está
vinculada ao contexto dos sujeitos, pois diz respeito apenas ao funcionamento
interno da língua. Portanto, nas atividades de leitura, está presente a ideia de que,
se o aluno decodificar as letras e palavras, compreenderá o conteúdo de um texto.

Nos livros didáticos, era comum encontrar atividades de interpretação em que o


estudante deveria responder a questões localizando as informações no texto e
realizando a cópia literal.

Essa concepção de linguagem foi amplamente difundida com a aprovação da LDB nº


5.692/1971. A normativa estava vinculada à perspectiva de educação tecnicista. O discurso
da época difundia que a prática da repetição promoveria a aprendizagem, e ainda era forte
a presença do ensino da gramática tradicional.

São características dessa concepção:

A linguagem é um conjunto de signos que se relacionam.

Função informativa.

Possibilita a transmissão de mensagens do emissor ao receptor, que decodifica


a mensagem.

O código deve ser dominado pelas pessoas para que a comunicação seja
efetiva.

LINGUAGEM COMO PROCESSO DE INTERAÇÃO


Concepção que predomina de 1960 até os dias atuais. A concepção de linguagem
como processo de interação considera a interação dos indivíduos com o contexto
em que estão inseridos. Nela, a escola deve possibilitar que o aluno tenha contato
com práticas de linguagem presentes na sociedade. São características dessa
concepção:

Sujeito ativo.

A linguagem é um lugar de interação humana.

A linguagem é social, histórica e coletiva.

A linguagem é heterogênea e dinâmica.

Interlocutores interagem como sujeitos que ocupam lugares sociais.

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Bakhtin postula que o lócus da linguagem é a interação, portanto não é um
sistema estável. As situações reais, os diálogos e as interações determinam o que
será produzido pelos sujeitos, que são vistos como agentes sociais.
Diferentemente das concepções de linguagem conhecidas anteriormente, a

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importância do ensino reside em desenvolver a capacidade de reflexão, e não

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apenas o conhecimento de regras gramaticais.

O discurso se manifesta por meio dos textos, resultante da reflexão, análise,


interpretação e produção de textos verbais. Leia o que Bakhtin (1997) apresenta
sobre isso:


De fato, o ouvinte que recebe e compreende a significação (lingüística) de um discurso adota simultaneamente,
para com este discurso, uma atitude responsiva ativa: ele concorda ou discorda (total ou parcialmente),
completa, adapta, apronta-se para executar, etc., e esta atitude do ouvinte está em elaboração constante
durante todo o processo de audição e de compreensão desde o início do discurso, às vezes já nas primeiras
palavras emitidas pelo locutor.

— (BAKHTIN, 1997, p. 290, grifos do original)

Bakhtin (1997) demonstra que o significado de um texto não está presente no


texto em si, tampouco na mente do leitor, já que os significados são elaborados na
interação do leitor com o texto. A partir dessa concepção, interpretações incorretas
levaram à ideia de que não era correto ensinar gramática. Porém, Bakhtin deixou
claro que o ensino de gramática deveria ocorrer, mas com atividades que façam
sentido para os estudantes.

REFLITA

Você já teve contato com algum material didático para a alfabetização que
apresentava atividades ou frases totalmente descontextualizadas do
universo infantil?

ATIVIDADES COM GÊNEROS TEXTUAIS


O trabalho com gêneros textuais está diretamente articulado com a compreensão
de linguagem como processo de interação, pois, partindo da premissa do aluno
como sujeito individual que deve desenvolver atividades articuladas ao contexto
histórico, social e afetivo, a escola deve possibilitar que ele tenha contato com
práticas de linguagem presentes na sociedade.

Muitas vezes, equívocos permeiam o trabalho dos professores com os gêneros


textuais. Isso é percebido quando são propostas atividades que demandam que o
aluno apenas identifique o gênero a partir de sua estrutura. Para realizar um bom
trabalho com gêneros textuais, é importante garantir a diversidade deles, pois
cada gênero mobiliza diferentes capacidades de linguagem.

Entretanto, não é necessário trabalhar com todos os gêneros, pois existem


semelhanças entre eles que podem servir como referência para o desenvolvimento
das capacidades. Ao longo do ano letivo, o professor pode organizar um trabalho
com gêneros que possuem características diferentes e desencadeiam diferentes
aprendizagens e habilidades.

Vamos conhecer alguns exemplos (BRASIL, 2012, p. 8-9):

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1. Textos literários ficcionais: contos, lendas, fábulas, crônicas, obras teatrais,
novelas e causos.

2. Textos do patrimônio oral, poemas e letras de músicas: trava-línguas,

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parlendas, quadrinhas, adivinhas e provérbios. Os poemas e as letras de
músicas também fazem parte do segundo agrupamento.

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3. Textos com a finalidade de registrar e analisar as ações humanas
individuais e coletivas e contribuir para que as experiências sejam
guardadas na memória das pessoas: biografias, testemunhos orais e escritos,
obras historiográficas e noticiários.

4. Textos com a finalidade de construir e fazer circular entre as pessoas o


conhecimento escolar/científico: notas de enciclopédia, verbetes de
dicionário, seminários orais, textos didáticos, relatos de experiências científicas
e textos de divulgação científica.

5. Textos com a finalidade de debater temas que suscitam pontos de vista


diferentes, buscando o convencimento do outro: cartas de reclamação,
cartas de leitores, artigos de opinião, editoriais, debates regrados e
reportagens são exemplos de textos com tal finalidade.

6. Textos com a finalidade de divulgar produtos e/ou serviços e promover


campanhas educativas no setor da publicidade: cartazes educativos,
anúncios publicitários, placas e faixas.

7. Textos com a finalidade de orientar e prescrever formas de realizar


atividades diversas ou formas de agir: receitas, manuais de uso de
eletrodomésticos, instruções de jogos, instruções de montagem e
regulamentos.

8. Textos com a finalidade de orientar a organização do tempo e do espaço


nas atividades individuais e coletivas necessárias à vida em sociedade:
agendas, cronogramas, calendários, quadros de horários, folhinhas e mapas.

9. Textos com a finalidade de mediar as ações institucionais. São textos que


fazem parte, principalmente, dos espaços de trabalho: requerimentos,
formulários, ofícios, currículos e avisos.

10. Textos epistolares utilizados para as mais diversas finalidades: cartas


pessoais, bilhetes, e-mails e telegramas medeiam as relações entre as pessoas,
em diferentes tipos de situações de interação.

11. Textos não verbais, que não veiculam a linguagem verbal, escrita, tendo,
portanto, foco na linguagem não-verbal: histórias em quadrinhos só com
imagens, charges, pinturas, esculturas e algumas placas de trânsito compõem
tal agrupamento.

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A BNCC estabelece a centralidade do texto como unidade de trabalho. De acordo
com o documento: “As práticas de linguagem contemporâneas não só envolvem
novos gêneros e textos cada vez mais multissemióticos e multimidiáticos, como
também novas formas de produzir, de configurar, de disponibilizar, de replicar e

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de interagir” (BRASIL, 2017, p. 68).

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POR DENTRO DA BNCC

Na educação infantil, por meio de atividades lúdicas, é possível explorar a


oralidade, exercitar o falar e o ouvir, além de possibilitar o despertar da
curiosidade da criança pelos textos escritos. Na BNCC, isso pode ser
percebido no campo de experiencia escuta, fala, pensamento e imaginação:


Síntese das aprendizagens:

Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios.

Argumentar e relatar fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizando e adequando


sua fala ao contexto em que é produzida.

Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas.

Conhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demonstrando compreensão da função social da


escrita e reconhecendo a leitura como fonte de prazer e informação.

— (BRASIL, 2017, p. 55)

Essas atividades auxiliam a criança a associar a escrita com a fala e


favorecem o gosto pela leitura, a criatividade e o desenvolvimento
progressivo de hipóteses sobre a escrita.

Nesta seção, você aprendeu que a criança começa a construir conhecimentos


referentes à linguagem escrita desde a infância. Compreendeu, ainda, que as
atividades presentes nos livros e as abordagens pedagógicas podem estar
amparadas em diferentes concepções de linguagem, as quais embasam o trabalho
do professor em sala de aula, possibilitando a compreensão da alfabetização como
um processo longo e complexo, que inicia na primeira infância e está interligado
com o uso social da leitura e escrita para uma prática significativa e inclusiva.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
Luria (1988) evidenciou que a escrita pode ser definida como uma ação mediada
por instrumentos e signos que são utilizados pela criança antes mesmo de
frequentar a escola.

Considerando a informação apresentada, analise as afirmações a seguir:

I. Antes de atingir a idade escolar, a criança já aprendeu e assimilou certo


número de técnicas que preparam o caminho para a escrita.

II. Cada criança aprende de acordo com o seu contexto, os materiais que
manipula, os ambientes que frequenta e as pessoas com quem se relaciona.

III. Quando a criança é submetida ao ensino formal, na etapa de alfabetização, ela


não exercitou técnicas que servem de base para a aprendizagem da escrita.

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Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmações corretas:

a. I, apenas.

b. II, apenas.

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c. III, apenas.

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d. I e II, apenas.

e. I, II e III.

Questão 2


As crianças imitavam o formato da escrita do adulto, produzindo apenas rabiscos mecânicos, sem nenhuma
função instrumental, isto é, sem nenhuma relação com os conteúdos a serem representados. Obviamente este
tipo de grafismo não ajudava a criança em seu processo de memorização. Ela não era capaz de utilizar sua
produção escrita como suporte para a recuperação da informação a ser lembrada.

— (OLIVEIRA, 2010, p. 71)

Partindo desse contexto, analise as afirmações a seguir:

I. As crianças pequenas não devem entrar em contato com o mundo letrado, pois
essa interação “queima” as fases.

II. Os sinais primários não possuem valor simbólico, inclusive a criança pode não
lembrar do significado dos registros que fez, por exemplo, dizendo ora que o
registro gráfico é uma boneca, ora um pássaro.

III. Na fase pré-instrumental, a criança dá um salto qualitativo quando percebe a


diferença entre escrever e desenhar, rejeita a escrita pictográfica e escolhe
grafar letras.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmações corretas:

a. I, apenas.

b. II, apenas.

c. III, apenas.

d. I e II, apenas.

e. I, II e III.

Questão 3


O ouvinte que recebe e compreende a significação de um discurso adota para com este discurso uma atitude
responsiva ativa: ele concorda ou discorda, completa, adapta (...). A compreensão de uma fala de um enunciado
é sempre acompanhada de uma atitude responsiva ativa.

— (BAKHTIN, 2003, p. 271)

Tomando como referência a concepção de linguagem como processo de interação,


julgue as afirmativas a seguir em verdadeiras (V) ou falsas (F).

( ) O significado de um texto não está presente no texto em si, tampouco na mente


do leitor.

( ) Interpretações incorretas levaram à ideia de que era correto ensinar gramática.

( ) O discurso se manifesta por meio dos textos, resultante da reflexão, análise,


interpretação e produção de textos verbais
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interpretação e produção de textos verbais.

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Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a. V – V – V.

b. V – F – V.

c. F – V – F.

d. F – F – F.

e. V – V – F.

REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. 2. ed. São Paulo: Martins Fontes, 1997.

BELTRÃO, E. S.; GORDILHO, T. Novo diálogo: língua portuguesa. São Paulo: FTD,
2004.

14
BRASIL. Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa: o trabalho com os
diferentes gêneros textuais em sala de aula: diversidade e progressão escolar
andando juntas. Ano 03. Unidade 05. Brasília, DF: MEC, 2012. Disponível
em: https://bit.ly/3q3PLMh . Acesso em: 6 jun. 2020.

0
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:

seõçatona reV
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 8 jun. 2020. . Acesso
em: 6 jun. 2020.

GERALDI, J. W. (org.). O texto na sala de aula: leitura e produção. 2. ed. Cascavel,


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GONÇALVES, L. A. de A.; BARONAS, J. E. de A. Concepções de linguagem: gramática


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LURIA, A. R. O desenvolvimento da escrita na criança. In: VYGOTSKY, L. S. et al.


Linguagem, desenvolvimento e aprendizagem. São Paulo: Ícone/EDUSP, 1988.

OLIVEIRA, M. K. de. Vygotsky: aprendizado e desenvolvimento um processo


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TRAVAGLIA, L. C. Concepções de linguagem. In: TRAVAGLIA, L. C. Gramática e


interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º e 2º graus. São Paulo:
Cortez, 1996.

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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
CONCEPÇÕES DE LINGUAGEM E PROCESSO DE AQUISIÇÃO DA
LINGUAGEM ESCRITA

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seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

PROFESSOR ALFABETIZADOR
Para atuar como alfabetizador, é essencial conhecer as concepções de linguagem e o processo
de aquisição da linguagem escrita.

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SEM MEDO DE ERRAR


Nesta seção, você conheceu a situação vivenciada pela professora Vanessa, que
vive um momento muito importante: iniciará sua trajetória profissional
trabalhando com uma turma do 1º ano do ensino fundamental. Entretanto,
algumas questões a preocupam e ela não sabe por onde começar, justamente por
não conhecer o que as crianças dessa turma sabem sobre a escrita.

De fato, a professora deve se preparar para essa nova etapa, aprofundando os


conhecimentos sobre a alfabetização. Para isso, poderá retomar as leituras que
realizou na graduação, pesquisar e ler a BNCC e o PPP da escola. Após realizar
essas pesquisas, perceberá que a alfabetização é um processo que se inicia na
primeira infância e que está ligada à percepção sobre o uso social da leitura e
escrita.

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Nesse sentido, as percepções das crianças dependem das oportunidades de
interação com a língua escrita. Assim, é comum que em uma mesma turma
tenhamos crianças com percepções totalmente diferentes, inclusive crianças que já
estão alfabetizadas quando iniciam o ensino fundamental.

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Mas como definir por onde começar? A professora Vanessa pode partir das

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seguintes situações:

Promover atividades lúdicas, jogos e brincadeiras, evitando a ruptura da


educação infantil para o ensino fundamental.

Organizar atividades que possibilitem a sondagem.

Prever momentos para a realização de desenhos e escritas espontâneas.

Evitar atividades prontas que exigem apenas que a criança realize pintura ou
cópia.

Estabelecer o diálogo, permitindo que as crianças se sintam seguras e livres


para falar e fazer perguntas.

Além dessas possibilidades, Vanessa teve uma excelente ideia: conversou sobre as
crianças com a professora que trabalhou com a turma no ano anterior, na
educação infantil, e a partir dessa conversa foi possível se tranquilizar e iniciar o
trabalho sentindo-se segura.

PESQUISE MAIS

Para aprofundar os conhecimentos que você adquiriu nesta seção sobre o


grafismo e a importância do desenho no processo de compreensão da
criança sobre a escrita, consulte o livro disponível na Biblioteca Virtual:

LOTSCH, V. de O. Alfabetização e letramento – Uma visão geral. São


Paulo: Cengage Learning Edições, 2016.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
LIVROS DIDÁTICOS
Foi realizada a escolha dos livros didáticos de Língua Portuguesa pelos professores
do 2º ano da Escola Municipal Saber. Porém, ao receberem os livros, eles
perceberam que não correspondiam à escolha que realizaram. Os livros recebidos
apresentavam apenas atividades descontextualizadas, de cópia e repetição. Os
docentes não querem utilizar esse material, então, como resolver a situação?

RESOLUÇÃO 

Para resolver o problema com os livros didáticos, os professores poderão


elaborar uma solicitação de troca à secretaria municipal de educação. Na
justificativa da solicitação, é importante argumentar porque esse material não
é adequado aos alunos. Embasados pela BNCC, eles poderão justificar que o
documento estabelece a centralidade do texto como unidade de trabalho. O
trabalho com gêneros textuais está diretamente articulado à compreensão de
linguagem como processo de interação, pois, partindo da premissa do aluno

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como sujeito individual que deve desenvolver atividades articuladas ao
contexto histórico, social e afetivo, a escola deve possibilitar que ele tenha
contato com práticas de linguagem presentes na sociedade.

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NÃO PODE FALTAR
LINGUAGEM COMO INTERAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA

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Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
ALFABETIZAÇÃO NA PERSPECTIVA CRÍTICA
A alfabetização na perspectiva crítica pretende garantir o amadurecimento da consciência por
meio da problematização da realidade.

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PRATICAR PARA APRENDER


O modelo de ensino “tradicional”, em que o professor fala e os alunos apenas
executam a tarefa, já foi amplamente questionado. O mundo se transformou,
existem novas demandas sociais e os alunos de hoje já nasceram em um mundo
dinâmico, acelerado. Porém, ainda se faz necessário reforçar o quanto é
fundamental para a aprendizagem valorizar os saberes dos alunos, promovendo
discussões e articulando esses saberes aos conteúdos de forma contextualizada,
crítica e reflexiva.

A escola não pode simplesmente insistir em práticas engessadas que limitem o


pensar e a criatividade desse perfil de aluno nem pode ignorar toda a diversidade
que compõe uma sala de aula. Certamente, você já teve contato com diferentes
práticas pedagógicas e percebeu que as práticas significativas estavam vinculadas
ao respeito, ao afeto e à humanidade. De forma similar, quando você se lembra do
conteúdo ensinado pelo professor que trabalhava com práticas dialógicas, sente
acolhimento e gratidão.

A escola deve despertar sentimentos bons como esses, pois, sem a ação dos sujeitos, ela é
meramente um prédio. Os profissionais da educação são capazes de ressignificar esse
espaço e tudo o que ele representa na vida de uma criança em processo de alfabetização.

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A educação, as interações e a linguagem são elementos articulados que fazem
parte da existência humana. Será que na escola e, em especial, nas práticas
desenvolvidas durante a alfabetização há espaço para o exercício do diálogo, da
expressão e da valorização da linguagem dos alunos?

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Nesta seção, você compreenderá a linguagem enquanto objeto de conhecimento,

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sua função cognitiva, interativa e dialógica. Também aprenderá a importância de
efetivar práticas significativas que acolham os elementos da vida cotidiana dos
alunos e conhecerá a proposta de alfabetização crítica, uma forma muito rica de
condução dos processos formativos.

Vanessa é uma professora recém-formada em Pedagogia. Assim que terminou a


graduação, foi aprovada em um concurso público no município onde mora. Como
foi uma das primeiras colocadas, em pouco tempo foi convocada e já começará a
trabalhar.

Ao se apresentar na escola em que lecionará, Vanessa foi informada pela


coordenação pedagógica da instituição que trabalhará com uma turma do primeiro
ano do ensino fundamental. A professora está muito feliz e ansiosa para colocar
em prática tudo o que aprendeu na universidade.

Com o passar dos dias, Vanessa percebe que os conhecimentos que adquiriu na
universidade não são suficientes para subsidiar a compreensão de todas as
situações conflituosas que permeiam a prática pedagógica. Percebe que é
necessário continuar estudando, pois sua preocupação é desenvolver o
pensamento crítico dos alunos, mas não sabe como realizar esse trabalho com
crianças tão pequenas. Ajude Vanessa a encontrar meios de desenvolver esse
trabalho com as crianças.

Promover práticas pedagógicas humanizadas e humanizadoras exige generosidade


e acolhimento, por isso continue ampliando os seus conhecimentos.

CONCEITO-CHAVE
A linguagem humana é resultado das relações sociais e culturais dos indivíduos.
Pode-se dizer que ela é um instrumento da cognição, de mediação e interação dos
indivíduos com o mundo, e que tem um papel importante na maneira como as
experiências das pessoas são organizadas. Vamos conhecer o conceito de
cognição:


Cognição diz respeito a tudo que possa estar relacionado à aquisição, manutenção, recuperação e uso de
conhecimento. Conhecimento pode ser entendido como produto mental da interação do indivíduo com o que
lhe é exterior, no meio físico e social. A língua é o principal meio de interação entre os seres humanos e varia a
cada grupo social. A língua é, pois, um tipo de conhecimento a ser adquirido pela criança em sua interação com
o mundo.

— (CORRÊA, 2006, p. 1)

Note que o papel da linguagem modifica a relação humana com o mundo, e essa é
uma característica que difere os homens das demais espécies. Isso acontece
porque o sistema linguístico não é apenas um instrumento de reprodução de
ideias, é uma espécie de guia para a atividade mental do indivíduo.

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Então, podemos considerar que linguagem e cognição são conceitos inseparáveis,
isto porque a linguagem é um conhecimento adquirido pelas pessoas a partir de
processos mentais que subsidiam a sua compreensão. Concomitantemente, os
processos mentais executam atividades que dependem desse conhecimento.

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seõçatona reV
[...] Dissecamos a natureza segundo as diretrizes fixadas por nossas línguas nativas. As categorias e os tipos que
isolamos do mundo dos fenômenos não os encontramos ali porque saltam à vista de qualquer observador [...].
Cortamos a natureza em pedaços, organizamo-la em conceitos e atribuímos significação tal como o fazemos
primordialmente porque somos parte um acordo para organizá-la dessa maneira, sendo este um acordo válido
para toda a nossa comunidade linguística e que está codificado na estrutura da nossa língua.

— (WHORF apud SOARES, 1989, p. 24)

Em meados dos anos 1950, as relações entre língua e cognição foram investigadas,
aproximando áreas de conhecimento que culminaram na psicologia cognitiva e na
psicolinguística. Essa aproximação deu origem às ciências cognitivas, impactando
de forma significativa no cenário das ciências, período também denominado
revolução cognitiva.

O PAPEL DA LINGUAGEM E DA INTERAÇÃO VERBAL NO


DESENVOLVIMENTO DE HABILIDADES COGNITIVAS COMPLEXAS
Nas décadas seguintes, as pesquisas desenvolvidas por Vygotsky e Leontiev
demonstraram, a partir de estudos, o papel da linguagem e interação verbal no
desenvolvimento de habilidades cognitivas complexas. Os autores consideraram,
em seus experimentos, fatores relacionados à filogênese e à ontogênese, ou seja,
características da espécie e elementos oriundos da cultura. Para eles, do ponto de
vista do desenvolvimento humano, o desenvolvimento linguístico e cognitivo teria
origens distintas. Entretanto, em determinados momentos, o domínio da língua
atua no desenvolvimento cognitivo.

EXEMPLIFICANDO

Aproximadamente aos dois anos a criança descobre que cada objeto tem
um nome. Para ela, saber que cada objeto tem um nome significa conhecê-
los. Essa atividade desperta a curiosidade e resulta no rápido aumento do
vocabulário.

Vygotsky ainda evidencia a relação entre linguagem e cognição quando ocorre a


internalização da fala, dando origem ao pensamento verbal, que serve como
suporte para o planejamento de ações complexas.

Contudo, a linguagem também possui função interativa e dialógica. Nessa


perspectiva, denota-se que a linguagem verbal estabelece a mediação entre o
individual e o social. Diálogos que acontecem em situações reais de interação
realizada com linguagem verbal e não verbal são dotados de certo “acabamento”.
Entretanto, “dada a tensão dialógica, na convivência de coincidência e não
coincidência entre os dizeres, prevalece seu caráter de inacabamento e destaca-se
o movimento constitutivo do dialogismo como anteposição de palavra e contra
palavra dos interlocutores” (FERNANDES; CARVALHO; CAMPOS, 2012, p. 97).

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PESQUISE MAIS

Amplie seus conhecimentos realizando a leitura do artigo que apresenta as


abordagens teóricas de Bakhtin e Vygotsky sobre a questão da interação

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pela linguagem. Nesse material, a autora destaca que admitir a linguagem

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como interação social é percebê-la como interatividade entre os sujeitos
que com ela praticam ações em seus “diferentes falares”. “Isso requer um
novo paradigma sobre os sujeitos da ação enunciativa que emitem e
organizam vozes buscando efeitos e significados.” (RADAELLI, 2011, p. 1).

RADAELLI, M. E. Contribuições de Vygotsky e Bakhtin para a linguagem:


interação no processo de alfabetização. Thêma et Scientia, Cascavel, v.
1, n. 1, 2011.

A dimensão dialógica constitui as relações sociais, processo rico no contexto


educativo. A mediação estabelecida pela linguagem acontece via interação de
interlocutores, no caso, professor–aluno. A partir dessa interação, ambos se
constituem, formam e são formados na mediação estabelecida pela linguagem.


[...] a construção de linguagem, instituída na mediação educador/educando, é atravessada pela determinação
recíproca da reprodução e da contradição na especificidade constituinte do que é próprio para a construção
dialética, ou dialógica, da educação nos limites estruturantes da organização da sociedade.

— (FERNANDES; CARVALHO; CAMPOS, 2012, p. 100)

Professor e aluno como interlocutores em uma situação de ensino utilizam a


linguagem verbal e não verbal, o que, por sua vez, os aproxima ou os distancia,
constituindo a experiência do discurso e da ação dos interlocutores. Por exemplo,
pensando na linguagem verbal, isso acontece quando o professor, para explicar o
conteúdo, utiliza palavras de difícil entendimento para o aluno ou quando o aluno
utiliza gírias que o professor desconhece.

O processo educacional é atravessado pela perspectiva dialógica de produção de sentidos


que acontece mediante a reprodução de padrões socialmente estabelecidos e suas
contradições, abrindo espaço para a criação, a inovação e o desenvolvimento da
autonomia do aluno.

Contudo, é importante ressaltar que o professor enxerga o aluno a partir de um


lugar e um tempo que determinam a sua conduta. Essas variáveis são
determinantes no tipo de interação que acontecerá. Como demonstrado por
Bakhtin (2010), o educador, ocupando a posição dialógica de um, projeta para o
educando, na posição dialógica de outro, certo deslocamento, que o coloca em
certa exterioridade: um lugar fora, uma extralocalidade.

Essa percepção do professor é inerente ao processo pedagógico, visto que, no


ambiente educativo, as percepções devem sempre ter caráter provisório, imersas
na condição de inacabamento. Essa é uma característica fundamental nos
processos formativos, a dialogicidade que oferece a possibilidade de
aprimoramentos, aprendizagens múltiplas e contínuas envolvendo professores e
alunos. Nada está pronto e acabado, tudo está em movimento.

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FOCO NA BNCC

Dentre as competências específicas de linguagem para o ensino


fundamental, está prevista a necessidade de produzir sentidos que levem

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ao diálogo:

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3. Utilizar diferentes linguagens – verbal (oral ou visual-motora, como Libras, e
escrita), corporal, visual, sonora e digital –, para se expressar e partilhar
informações, experiências, ideias e sentimentos em diferentes contextos e
produzir sentidos que levem ao diálogo, à resolução de conflitos e à cooperação.
(BRASIL, 2017, p. 65)

DIALOGICIDADE E A PRÁTICA PEDAGÓGICA


A partir dessa ideia, convém adentrarmos no âmbito da prática pedagógica, a qual
é espaço para a promoção do diálogo e precisa contemplar elementos da vida
cotidiana, considerando que não educamos para a vida, e sim na vida. As práticas
pedagógicas ocorrem no encontro de pessoas, com o propósito de estabelecer
trocas que subsidiam a elaboração de conhecimentos.

Ao observar algumas salas de aula, infelizmente é comum constatar um clima de


tensão entre professores e alunos. Obviamente, esse clima não é favorável à
aprendizagem. Veja que, nas condições apresentadas, uma linguagem assertiva é
fundamental para estabelecer o diálogo. De fato, as relações humanas são
permeadas por dificuldades, para que o diálogo se estabeleça na prática
pedagógica é primordial acolher a diversidade e as singularidades.

REFLITA

O professor fez a leitura de uma notícia de jornal sobre os benefícios da


reciclagem para o meio ambiente e perguntou se a separação do lixo é
realizada na residência das crianças. Por que isso é importante? Você
considera que essa situação favoreceu a comunicação e o diálogo entre o
professor e a turma?

Como ação que envolve sujeitos em um processo formativo, as práticas


pedagógicas são enriquecidas pelos elementos da vida cotidiana, que dão sentido
a todo o processo. A escola, o professor e os conteúdos não podem estar isolados
da realidade dos estudantes, por isso, na alfabetização, os conhecimentos prévios
são o alicerce para a elaboração das aprendizagens.

Isso foi evidenciado por Paulo Freire ao tratar da alfabetização. O autor reforçou o
fato de que a leitura de mundo precede a leitura da palavra, e isso significa que a
leitura de mundo leva à conscientização, e a escola não deve trabalhar apenas com
atividades repetitivas que não oportunizam ao estudante o exercício do pensar, da
reflexão sobre ele e sobre o objeto de conhecimento e o mundo.

No trabalho que Paulo Freire realizou na alfabetização de adultos, partiu da


realidade concreta dos estudantes, utilizou temas geradores e palavras que faziam
parte do cotidiano daquelas pessoas e valorizou as vivências culturais, utilizando
práticas dialógicas.

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O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando,
portanto, na relação eu-tu. [...] Se é dizendo a palavra com que, ‘pronunciando’ o mundo, os homens o
transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens.
Por isto, o diálogo é uma exigência existencial. E, se ele é o encontro em que se solidariza o refletir e o agir de
seus sujeitos endereçados ao mundo a ser transformado e humanizado, não pode reduzir-se a um ato de

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depositar ideias de um sujeito no outro, nem tampouco tornar-se simples troca das ideias a serem consumidas
pelos permutantes.

seõçatona reV
— (FREIRE, 1996b, p. 54)

EXEMPLIFICANDO

A leitura dialógica é uma atividade que pode ser realizada com as crianças.
Nela, a aprendizagem ocorre de forma coletiva e colaborativa.


Nas salas de aula, muitos centros educacionais superaram com êxito o binômio
professor-aluno, modificando sua organização tradicional e suas dinâmicas. Por
exemplo, incluíram outras pessoas adultas, além dos professores, com a
finalidade de apoiar a aprendizagem da leitura em grupos interativos e nas
atividades de leitura compartilhada. Também transformaram suas bibliotecas
tradicionais em bibliotecas tutoradas, tornando esse espaço flexível e adaptável às
necessidades dos alunos e da comunidade. (AUBERT, 2011, p. 2)

Para o autor, quando a prática dialógica não se realiza, temos uma relação vertical,
na qual o professor se porta como o detentor de todos os saberes. Estabelece-se
um modelo de “educação bancária”, centrada no saber do professor, o qual
“transfere” esse saber para os alunos. Para ensinar é necessário o exercício da
escuta, pois ela “não diminui em mim, em nada, a capacidade de exercer o direito
de discordar, de me opor, de me posicionar. Pelo contrário, é escutando bem que
me preparo para melhor me colocar ou melhor me situar do ponto de vista das
idéias” (FREIRE, 1996a, p. 45).

As práticas pedagógicas não dialógicas foram chamadas de “domesticadoras” por Paulo


Freire, por não possibilitarem a atividade física e cognitiva dos estudantes, inviabilizando o
desenvolvimento da consciência crítica.

Uma proposta de alfabetização crítica parte da análise dos conflitos e das


contradições presentes na realidade vivida, entretanto Freire reconhece que essa
não é uma tarefa simples, é necessário que haja continuidade no processo
formativo. A conscientização é um conceito central no processo pedagógico. Ela
ocorre por meio de um processo que passa por etapas que partem da consciência
ingênua para a consciência crítica.

No caso da consciência ingênua, suas principais características são:


1. Revela uma certa simplicidade, tende a um simplismo, na interpretação dos problemas, isto é, encara um
desafio de maneira simplista ou com simplicidade. Não se aprofunda na casualidade do próprio fato. Suas
conclusões são apressadas, superficiais. [...]. 6. É frágil na discussão dos problemas. O ingênuo parte do
princípio de que sabe tudo. Pretende ganhar a discussão com argumentações frágeis. É polêmico, não pretende
esclarecer. Sua discussão é mais feita de emocionalidades que de criticidades: não procura a verdade; trata de
impô-la e procurar meios históricos para convencer com suas idéias [...]. Trata de brigar mais para ganhar mais.
7. Tem forte conteúdo passional. Pode cair no fanatismo ou sectarismo. 8. Apresenta fortes compreensões
mágicas. 9. Diz que a realidade é estática e não mutável.

— (FREIRE, 1983, p. 40)

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Já na perspectiva da consciência crítica temos:


1. Anseio de profundidade na análise de problemas. Não se satisfaz com as aparências. Pode-se reconhecer
desprovida de meios para a análise do problema. 2. Reconhece que a realidade é mutável. 3. Substitui situações

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ou explicações mágicas por princípios autênticos de causalidade. 4. Procura verificar ou testar as descobertas.
Está sempre disposta a revisões. 5. Ao se deparar com um fato, faz o possível para livrar-se de preconceitos.
Não somente na captação, mas também na análise e na resposta [...]. 8. É indagadora, investiva, força, choca. 9.

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Ama o diálogo, nutre-se dele. 10. Face ao novo, não repele o velho por ser velho, não aceita o novo por ser
novo, mas aceita-os na medida em que são válidos.

— (FREIRE, 1983, p. 41)

A alfabetização na perspectiva crítica pretende garantir o amadurecimento da


consciência por meio da problematização da realidade. O exercício dessa
reflexão crítica, que é realizada através do diálogo, possibilitará que os estudantes
percebam as relações sociais e seu caráter histórico. Por exemplo, em uma
situação cotidiana, o professor pode questionar os alunos sobre a importância de
não desperdiçar água e não deixar as torneiras abertas enquanto escovam os
dentes. A partir disso, o docente permite que as crianças falem sobre o assunto e
articulem a questão do papel da coletividade e do cuidado para que as próximas
gerações não sofram com a falta de água potável.

FOCO NA BNCC

Na BNCC, dentre as competências específicas de linguagens para o ensino


fundamental, está prevista a necessidade de promover reflexões sobre
questões do mundo contemporâneo:


1. Utilizar diferentes linguagens para defender pontos de vista que respeitem o
outro e promovam os direitos humanos, a consciência socioambiental e o
consumo responsável em âmbito local, regional e global, atuando criticamente
frente a questões do mundo contemporâneo. (BRASIL, 2017, p. 65)

O professor deve partir do universo cultural dos estudantes para realizar as


produções textuais. Os temas podem ser sugeridos pelos próprios estudantes, mas
o docente tem um papel muito importante: problematizar e provocar conflitos que
levem à reflexão.

A função social da escrita deve marcar o início dos processos formais da


alfabetização, ou seja, o estudante deve compreender para que serve a leitura, a
escrita e qual lugar essas atividades ocupam na cultura e nas práticas sociais.

Na perspectiva de alfabetização crítica, a produção de textos com função social deve ser o
centro do trabalho, logo o professor deve possibilitar a produção de textos
argumentativos, narrativos, informativos etc.

A revisão textual deve ocorrer, verificando a coerência das ideias e a ortografia.


Segundo Leite e Amaral (2000, p. 26) “em atividades como essas, a criança irá
perceber que um texto verdadeiro exige uma estrutura adequada que permita a
compreensão, primeira condição para uma real interlocução”. O aluno aprende a
norma-padrão durante essa revisão realizada pelo professor e entende o sistema
de escrita como um sistema de convenções. A professora dos anos iniciais pode
fazer realizar essa etapa fazendo a leitura do texto individualmente com o aluno.

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No entanto, a proposta de alfabetização crítica só será efetivada por um professor
crítico em uma escola que também seja acolhedora. Esse profissional possui a
capacidade de refletir sobre as suas ações, olha para o estudante e reconhece a
sua capacidade de aprender. É essencial dar espaço para que os alunos falem,

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contem sobre suas famílias, brincadeiras, comidas favoritas, animais de estimação

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etc. Quando o professor abre espaço para a criança falar, os modos de “perceber,
de sentir, de viver, de conviver, de conhecer e de pensar o mundo” vêm à tona,
emergem e se constituem em sala de aula (SMOLKA, 1988, p. 99).

Por meio do contato com os conhecimentos apresentados, em que buscamos


pensar a linguagem como objeto de conhecimento, você aprendeu que a
linguagem possui função cognitiva, comunicativa, interativa e dialógica. A prática
pedagógica deve propiciar o diálogo e acolher os elementos da vida cotidiana,
aproximando a escola da vida dos estudantes. Você conheceu a proposta de
alfabetização crítica, que parte da promoção do diálogo para possibilitar a
elaboração do pensamento crítico pelos estudantes.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
Com base no que se espera de práticas pedagógicas dialógicas, analise as
afirmações:

I. As práticas pedagógicas são enriquecidas pelos elementos da vida cotidiana.

II. Os conteúdos não podem estar isolados da realidade dos estudantes.

III. Os conhecimentos prévios são o alicerce para a elaboração de novas


aprendizagens.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmações corretas:

a. I, apenas.

b. II, apenas.

c. III, apenas.

d. I e II, apenas.

e. I, II e III.

Questão 2
A conscientização é um conceito central no processo pedagógico. Ela ocorre por
meio de um processo que passa por etapas que partem da consciência ingênua
para a consciência crítica.

Tomando como referência as características da consciência crítica descritas por


Freire (1983), julgue as afirmativas a seguir em verdadeiras (V) ou falsas (F).

( ) Diz que a realidade é estática e não mutável.

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( ) Procura verificar ou testar as descobertas. Está sempre disposta a revisões.

( ) Revela certa simplicidade na interpretação dos problemas.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

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a. V – V – V.

seõçatona reV
b. V – F – V.

c. F – V – F.

d. F – F – F.

e. V – V – F.

Questão 3


O diálogo é este encontro dos homens, mediatizados pelo mundo, para pronunciá-lo, não se esgotando,
portanto, na relação eu-tu. Se é dizendo a palavra com que, ‘pronunciando’ o mundo, os homens o
transformam, o diálogo se impõe como caminho pelo qual os homens ganham significação enquanto homens.

— (FREIRE, 1996b, p. 54)

Considerando o contexto apresentado, analise as afirmações a seguir:

I. A dialogicidade oferece a possibilidade de aprimoramentos, aprendizagens


múltiplas e contínuas envolvendo professores e alunos.

II. Professor e aluno, como interlocutores em uma situação de ensino, utilizam a


linguagem verbal e não verbal, que os aproxima ou os distancia, constituindo a
experiência do discurso da ação dos interlocutores.

III. O processo educacional é atravessado pela perspectiva dialógica de produção


de sentidos, que acontece mediante a reprodução de padrões socialmente
estabelecidos e suas contradições, impedindo o desenvolvimento da
autonomia do aluno.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmações corretas:

a. I, apenas.

b. II, apenas.

c. III, apenas.

d. I e II, apenas.

e. I, II e III.

REFERÊNCIAS
AUBERT, A. Leitura dialógica: mais espaços de leitura com mais pessoas.
Comunidades de aprendizagem, n. 2, p. 1-8, nov. 2011. Disponível em:
https://www.comunidadedeaprendizagem.com/uploads/materials/102/2143f48419
9d463557f2a8f3db6354ea.pdf. Acesso em: 21 jun. 2020.

BAKHTIN, M. Estética da criação verbal. Trad. Paulo Bezerra. 5. ed. São Paulo:
WMF Martins Fontes, 2010.

27
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 22 jun. 2020.

CORREA, L. M. S. Língua e Cognição: antes e depois da revolução cognitiva. In:


GUIMARÃES, E. (ed.). Introdução às ciências da linguagem: linguagem história e

0
conhecimento. Campinas, SP: Editora Pontes, 2006.

seõçatona reV
FERNANDES, J. F.; CARVALHO, M. G.; CAMPOS, E. N. Vigotski e Bakhtin: a ação
educacional como projeto dialógico de produção de sentido. Bakhtiniana, São
Paulo, v. 7, n. 2, p. 95-108, jul./dez. 2012. Disponível em:
https://www.scielo.br/pdf/bak/v7n2/07.pdf. Acesso em: 21 jun. 2020.

FREIRE, P. Educação e mudança. São Paulo: Paz e Terra, 1983.

FREIRE, P. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São


Paulo: Paz e Terra, 1996a.

FREIRE, P. Pedagogia do oprimido. 17. ed. São Paulo: Paz e Terra, 1996b.

LEITE, S. A. S.; AMARAL, C. W. O processo de alfabetização escolar numa


perspectiva crítica. Rev. online Bibl. Prof. Joel Martins, Campinas, v. 2, n. 1, out.
2000. Disponível em: https://dialnet.unirioja.es/descarga/articulo/4856402.pdf.
Acesso em: 23 jun. 2020.

RADAELLI, M. E. Contribuições de Vygotsky e Bakhtin para a linguagem: interação


no processo de alfabetização. Thêma et Scientia, Cascavel, v. 1, n. 1, 2011.
Disponível em: https://www.fag.edu.br/upload/arquivo/1322760690.pdf. Acesso
em: 21 jun. 2020.

SMOLKA, A. L. B. A criança na fase inicial da escrita: a alfabetização como


processo discursivo. São Paulo: Cortez, 1988.. Acesso em: 21 jun. 2020.

SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 7. ed. São Paulo: Ática,
1989.

TONUCCI, F. Com olhos de criança. Trad. Jorge Andrade. Lisboa: Instituto Piaget,
1988.

VIGOTSKI, L. S.; LURIA, A. R.; LEONTIEV, A. N. Linguagem, Desenvolvimento e


Aprendizagem. Trad. Maria da Pena Villalobos. 11. ed. São Paulo: Ícone, 2010.

28
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
LINGUAGEM COMO INTERAÇÃO E PRÁTICA PEDAGÓGICA

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
COMO DESENVOLVER O PENSAMENTO CRÍTICO NOS ALUNOS?
Nesta seção, seu desafio é pensar em estratégias de trabalho que sejam capazes de
desenvolver o pensamento crítico de crianças pequenas.

Fonte: Shutterstock.

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Áudio disponível no material digital.

SEM MEDO DE ERRAR


A professora Vanessa está vivenciando algo muito comum em professores jovens.
Ela sente que precisa estudar mais para conseguir encaminhar da melhor maneira
as situações conflituosas que permeiam a prática pedagógica. A preocupação dela
é desenvolver atividades que possibilitem a comunicação do pensamento crítico
dos alunos, mas não sabe como realizar esse trabalho com crianças tão pequenas.

Para isso, é necessário que se estabeleça uma relação de respeito e confiança


entre a professora Vanessa e seus alunos, para que existam espaços de troca e
interação. O aluno deve sentir-se valorizado enquanto interlocutor, ou seja,
aquele que também é capaz de ensinar e aprender.

As seguintes ações são algumas possibilidades de atividades que oportunizam a


reflexão e a progressiva estruturação do pensamento crítico em crianças:

Perceber-se como autor: um aluno produz o texto ditando para outro aluno
que já escreve ou para o professor, que atua na função de escriba.

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Compartilhar vivências: o aluno tem a possibilidade de falar sobre si e suas
vivências.

Questionar: os alunos podem levantar questionamentos sobre a resolução de

0
um problema apresentado pela professora.

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Contar histórias: a professora organiza momentos em que os alunos contam
histórias e os colegas fazem perguntas.

O aluno participa ativamente dessas atividades, e isso não diminui a importância


do professor, pois este organiza e conduz todos esses momentos, fazendo
mediações e articulando as falas das crianças com o objeto de conhecimento e o
objetivo de aprendizagem proposto.

A professora realizou estudos e aprendeu que deveria possibilitar a interação entre


os seus alunos a partir dos conhecimentos que ela reorganizou em sala de aula.
Em alguns momentos, os alunos desenvolvem atividades em dupla, grupo ou
coletivamente. Ela entendeu que a turma não precisa estar o tempo todo em
silêncio para aprender.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
ELABORANDO TEXTOS COLETIVAMENTE
Karina é professora de uma turma do segundo ano do ensino fundamental, e seus
alunos possuem dificuldades ortográficas e de organização do texto. De que forma
a professora poderá trabalhar, a fim de melhorar as dificuldades dos alunos sem
utilizar atividades repetitivas e sem sentido?

RESOLUÇÃO 

A professora poderá inserir a produção de textos coletivos na rotina da turma.


Os alunos definem qual será o tema da produção; na sequência, cada um cria
uma parte da história e narra para todos. Enquanto os alunos falam, a
professora coordena a atividade e faz o registro das falas no quadro. Ao
mesmo tempo, ela ensina a escrita correta das palavras, a pontuação e a
organização do texto.

Ainda, a docente pode orientar que os alunos copiem a produção nos cadernos
ou em um cartaz, o qual poderá ser exposto na sala de aula ou no pátio da
escola. Quando Karina adotou essa prática, percebeu que, além de retomar
todas as dificuldades enfrentadas pelos alunos, foi possível explorar a
criatividade.

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NÃO PODE FALTAR
A ESCOLA DIANTE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE
ALFABETIZAÇÃO

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Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE ALFABETIZAÇÃO
Escolas que apresentam bons resultados em práticas pedagógicas de alfabetização têm como
característica a atuação de toda a equipe para garantir materiais, espaços e recursos
estruturados para alunos e professores.

Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


A escola é um espaço formativo que nos remete à ideia de movimento e evolução.
De fato, nesse ambiente repleto de falas, gestos, expressões e afeto, a
aprendizagem acontece para além do planejado, ela brota nas situações simples
como uma conversa entre um funcionário e um aluno e ganha densidade nas
situações vividas em sala de aula. É nesse espaço de múltiplas relações que os
professores se apropriam das normativas dos sistemas educativos, interpretam e
dão sentido aos conhecimentos pedagógicos, traduzindo-os em elementos de
suporte para sua prática cotidiana.

Você já reparou que em várias atividades nos sentimos mais seguros quando
sabemos que podemos contar com o apoio de outra pessoa ou de uma equipe? No
trabalho dos professores também é assim. A atuação de toda a equipe é

31
importante para resolver conflitos, planejar, organizar os espaços e materiais ou
para simplesmente proferir palavras de apoio.

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seõçatona reV

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Nesta seção, você perceberá que diante das práticas pedagógicas de alfabetização
a escola constitui-se como espaço formativo organizado para que a aprendizagem
aconteça. Essa temática evidencia que todos os profissionais estão envolvidos na
organização das práticas educativas, não havendo espaço para individualismo,

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rivalidade entre os profissionais, tampouco entre a gestão da escola e o corpo

seõçatona reV
docente.

Para compreender como a organização escolar tem um papel importante nas


práticas de alfabetização, neste estudo você estudará por que é importante
proporcionar formação continuada aos professores alfabetizadores e oferecer
apoio pedagógico para a alfabetização, assim como materiais, espaço e recursos
estruturados para alunos e professores. Por fim, entenderá a importância de uma
proposta para o processo de alfabetização bem estruturada no Projeto Político-
Pedagógico.

Você já conhece a professora Vanessa e está a par dos desafios que ela enfrenta
em seu primeiro trabalho com uma turma de alfabetização. Após um semestre de
trabalho com uma sala de aula com muitos alunos, a professora Vanessa percebe
que, por mais que se esforce, realize pesquisas e trabalhe com atividades
diversificadas, os resultados não são satisfatórios. Parece que os alunos não estão
progredindo, e ela está aflita. Alguns pais também conversaram com Vanessa e
com a coordenadora da escola sobre a dificuldade dos filhos frente às atividades
que a professora propõe. Como a coordenadora pedagógica poderá intervir para
auxiliá-la? Seria o caso de realizar uma sondagem?

Aprender sobre a organização da escola diante das práticas de alfabetização


possibilitará a ampliação da sua percepção sobre a necessidade do envolvimento
profissional e da educação como um projeto social que envolve a coletividade.

CONCEITO-CHAVE
POLÍTICAS PARA ALFABETIZAÇÃO
A escola é o espaço de materialização das políticas para a alfabetização
engendradas no contexto educacional brasileiro. Isso acontece por meio das
práticas pedagógicas que caracterizam o trabalho dos professores em sala de aula.
Assim, a organização e o funcionamento da escola diante das práticas pedagógicas
de alfabetização têm como finalidade possibilitar o avanço das aprendizagens
mediante uma organização pedagógica que subsidie o trabalho do professor
alfabetizador.

Isso significa que as turmas de alfabetização necessitam da atenção de toda a


equipe da escola. As aprendizagens objetivadas para essa etapa sempre foram
uma preocupação no âmbito das políticas educacionais devido ao grande número
de analfabetos ou analfabetos funcionais, pessoas que são capazes de codificar e
decodificar palavras ou frases simples, mas não dominam de forma plena a leitura
e a escrita. Por isso, a alfabetização é uma meta do Plano Nacional de Educação
(PNE), e para alcançá-la foram previstas sete estratégias.

33
A meta cinco do PNE objetiva que as crianças sejam alfabetizadas até o terceiro
ano do ensino fundamental. Pode-se dizer que a Base Nacional Comum
Curricular (BNCC) altera essa meta ao prever que a criança seja alfabetizada até o
segundo ano do ensino fundamental. Algo compatível nos dois documentos é o

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fato de explicitarem que o pleno domínio das capacidades de leitura e escrita

seõçatona reV
continua a ser desenvolvido nos anos seguintes.

FOCO NA BNCC

De acordo com a BNCC:


Embora, desde que nasce e na Educação Infantil, a criança esteja cercada e
participe de diferentes práticas letradas, é nos anos iniciais (1º e 2º anos) do
Ensino Fundamental que se espera que ela se alfabetize.

[...]

Esse processo básico (alfabetização) de construção do conhecimento das relações


fonografêmicas em uma língua específica, que pode se dar em dois anos, é, no
entanto, complementado por outro, bem mais longo, que podemos chamar de
ortografização, que complementará o conhecimento da ortografia do português
do Brasil. (BRASIL, 2017, p. 89-91)

Uma das estratégias para o alcance dessa meta do PNE está relacionada à
formação continuada. A expressão “formação continuada” é compreendida como
uma atualização de conhecimentos; são formações complementares que
acontecem durante a trajetória profissional. A estratégia do PNE destaca que é
necessário “promover e estimular a formação inicial e continuada de
professores(as) para a alfabetização de crianças, com o conhecimento de novas
tecnologias educacionais e práticas pedagógicas inovadoras” (BRASIL, 2014, p. 43).
Para isso está prevista a articulação entre programas de pós-graduação stricto
sensu e ações de formação continuada de professores para a alfabetização.

REFLITA

Cada turma tem uma composição distinta, com alunos oriundos de


contextos diferentes, com conhecimentos diferentes sobre a leitura e a
escrita, portanto não há uma fórmula que funcione para todos. Isso nos
leva a crer que o professor é desafiado a pesquisar e buscar alternativas
para sanar as dificuldades que surgem no dia a dia da sala de aula. A
formação do professor é um dos fatores que contribuem para o sucesso do
aluno durante o processo de alfabetização?

Na formação inicial, na graduação, o futuro professor tem contato com todos os


conhecimentos necessários para o exercício da sua função. Porém, durante a
jornada profissional, ele aprende a utilizar esses conhecimentos para solucionar os
desafios que surgem e a definir quais são as melhores estratégias metodológicas
de acordo com cada contexto e necessidades dos alunos.

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As mudanças não param, e o professor precisa estar atento para acompanhar as
novas pesquisas, teorias, tecnologias e materiais que podem melhorar a qualidade
do seu trabalho. Essa busca por aprimoramento não é apenas da responsabilidade
do profissional. A formação continuada é considerada um direito previsto na Lei

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de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB – Lei nº 9.394/1996). Desse

seõçatona reV
modo, as secretarias de educação e as instituições privadas devem ofertar
momentos de formação continuada aos professores durante o ano letivo.

A partir dessas informações, note que, além de ser um direito de todos os docentes,
proporcionar formação continuada aos professores alfabetizadores é um compromisso
das escolas que está articulado ao compromisso com a educação.

As avaliações nacionais, como o Sistema de Avaliação da Educação Básica (SAEB) e


a Prova Brasil, revelam que os alunos, muitas vezes, chegam ao final do ensino
fundamental sem o domínio adequado da leitura e da escrita. Para reverter esse
quadro, são desenvolvidas pesquisas sobre a alfabetização, políticas e
programas de formação continuada.

POR DENTRO DA BNCC

Para a implementação da BNCC e a revisão/elaboração dos currículos, é


esperado que as escolas realizem formação continuada, para que os
profissionais que atuam na alfabetização se apropriem dos saberes
previstos no documento. De acordo com a BNCC, as escolas devem “criar e
disponibilizar materiais de orientação para os professores, bem como
manter processos permanentes de formação docente que possibilitem
contínuo aperfeiçoamento dos processos de ensino e aprendizagem”
(BRASIL, 2017, p. 17).

FORMAÇÃO CONTINUADA
Conheça alguns programas governamentais de formação continuada para
professores alfabetizadores ao longo do tempo:

Programa de formação de alfabetizadores PROFA (2001): foi


operacionalizado por meio de conteúdos que se dividiram em dois grandes
temas: 1. Leitura, Escrita e Processos de Aprendizagem na Alfabetização; 2.
Conhecimento Didático.

Pró-Letramento (2006): Programa de Formação Continuada de Professores


dos Anos/Séries Iniciais do Ensino Fundamental, proposto na modalidade
semipresencial, utilizando material impresso, vídeos, atividades presenciais e a
distância e o acompanhamento de professores.

Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa – PNAIC (2013): programa


destinado à formação de professores que atuam na educação infantil,
professores alfabetizadores e a um coordenador pedagógico por unidade
escolar; há a participação de universidades.

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Mais Alfabetização (2018): este programa tem como objetivo fortalecer e
apoiar técnica e financeiramente as unidades escolares no processo de
alfabetização de estudantes regularmente matriculados nos dois primeiros
anos do ensino fundamental.

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Tempo de Aprender (2019): destinado à pré-escola e aos 1º e 2º anos do

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ensino fundamental das redes públicas estaduais, municipais e distrital.
Desenvolvido a partir das diretrizes da Política Nacional de Alfabetização (PNA),
oferta apoio pedagógico para a alfabetização, aprimoramento das avaliações
da alfabetização, formação continuada e valorização de profissionais da
alfabetização.

É importante ficar claro que o objetivo da formação continuada é refletir para


melhorar a ação docente. Como proposta para a implementação da estratégia
para a formação de professores, Schön (1992, p. 93-114) apresenta três conceitos
que contribuem para pensar sobre o professor e sua prática:

O “conhecimento na ação”.

A “reflexão na ação”.

A “reflexão sobre a ação”.

Portanto, os momentos formativos só fazem sentido quando articulados ao cotidiano da


prática pedagógica. O professor precisa de momentos para pensar sobre o que ele faz em
sala de aula e para traçar novos caminhos frente aos resultados dos alunos.

Assim, o docente pode, por exemplo, levar atividades dos alunos ou um relatório
ele que fez sobre as atividades para a formação continuada, possibilitando
confrontar teoria e prática e trocar ideias com os pares.

A formação continuada oportuniza conhecer diferentes práticas de sucesso e


indicar materiais e atividades que enriquecem o trabalho. Nas formações, é
importante contar com a participação dos coordenadores pedagógicos, os quais
têm a função de ofertar apoio aos professores alfabetizadores. Os programas
governamentais de formação continuada para os alfabetizadores, em sua maioria,
pressupõem o envolvimento da coordenação pedagógica, responsabilizando-a
pela condução dos encontros formativos. Além dos programas propostos pelo
Ministério da Educação, a escola tem autonomia para organizar grupos de
estudo, reuniões e palestras envolvendo toda a comunidade escolar.

Vale ressaltar que o coordenador pedagógico cuida de toda a articulação da prática


pedagógica da instituição escolar. É ele quem incentiva e promove os momentos reflexivos,
como também é figura central na organização da elaboração do Projeto Político-
Pedagógico (PPP) da escola.

Por exemplo, com a aprovação da BNCC, a coordenação das escolas precisou


organizar momentos para a realização de estudos com os professores para a
elaboração dos currículos.

36

O PPP é um dos documentos de maior importância na escola, pois diz respeito à própria organização do
trabalho pedagógico que está intimamente ligada à concepção, realização e avaliação do projeto educativo. O
PPP vai além de um agrupamento de planos de ensino e atividades, passando a ser uma ação intencional com
um compromisso definido coletivamente, construído e vivenciado em todos os momentos.

— (BORTOLUZZI, 2016, p. 9)

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PESQUISE MAIS

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A escola, diante das práticas de alfabetização, precisa promover a
organização do espaço e dos materiais respeitando a especificidade da
etapa e o desenvolvimento das crianças, as quais, após a mudança para o
ensino fundamental de nove anos, são matriculadas aos 6 anos de idade no
primeiro ano. Amplie os conhecimentos sobre o tema realizando a leitura
da página 127 a 140 do seguinte artigo:

SERODIO, S. C. F.; STEINLE, M. C. B. A importância do espaço para


atender o aluno do 1º ano do ensino fundamental de nove anos. In:
SEMANA DA EDUCAÇÃO, 14., Londrina, 2015. Anais [...]. Londrina, PR:
UEL, 2015.

PROPOSTA PARA O PROCESSO DE ALFABETIZAÇÃO NO PROJETO


POLÍTICO-PEDAGÓGICO
A escola deve apresentar uma proposta para o processo de alfabetização bem
estruturada em seu PPP. Essa proposta precisa contemplar os conteúdos da BNCC,
que é a parte comum, e os conhecimentos oriundos do âmbito da comunidade
local, que são a parte diversificada. Além da organização curricular, é importante
explicitar se o funcionamento dessa etapa será realizado em ciclos, sem
reprovação nos dois primeiros anos do ensino fundamental ou com reprovação.

O documento também deve evidenciar a concepção de sociedade e de homem


que se pretende formar, articulando a tais perspectivas a compreensão de como
os alunos aprendem e se desenvolvem. Para que essas informações não sejam
distantes da realidade concreta da instituição, é esperado que a elaboração do PPP
ocorra de forma coletiva.

EXEMPLIFICANDO

No período de elaboração ou revisão do PPP, os professores que trabalham


com as turmas de alfabetização, acompanhados da coordenação
pedagógica, podem se reunir para realizar estudos, definir os
conhecimentos e elaborar a parte do documento referente à alfabetização.

O papel da coordenação pedagógica é apoiar e incentivar o trabalho dos


professores alfabetizadores na realização de atividades diferenciadas, além de
prestar atendimento e definir ações junto a eles em relação às crianças que estão
com dificuldade de aprendizagem. Segundo Cardoso, Bolzan e Millani (2017, p.
15148):

37

[...] é estritamente necessário que o professor participe efetivamente da organização do trabalho dentro da
instituição em que atua, trocando experiências com seus colegas e, assim, construindo novos conhecimentos
em favor da aprendizagem dos estudantes. As ações de incentivo à leitura e à escrita na escola também
possuem essa característica, uma vez que se configuram como ações conjuntas de interdependência entre a

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gestão escolar e a gestão educacional. A professora expressa: […] a gente faz projetos na escola, a gente
trabalha os professores, coordenação, direção enfim... todos que formam a equipe. [...] as vezes uma turma faz

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uma dramatização, vai lá e apresenta para todo mundo. […] então envolve toda a escola, é um projeto que é de
toda a escola. Não é só um projeto meu, nem da coordenação, é todo mundo envolvido (Professora Helena).

Perceba que, na escola, deve existir um trabalho coletivo de apoio em torno das
práticas pedagógicas de alfabetização, pois isso não é um compromisso exclusivo
do professor da turma. Escolas que apresentam bons resultados têm como
característica a atuação de toda a equipe para garantir materiais, espaços e
recursos estruturados para alunos e professores.


A atividade docente não é exercida sobre um objeto, sobre um fenômeno a ser conhecido ou uma obra a ser
produzida. Ela é realizada concretamente numa rede de interações com outras pessoas, num contexto onde o
elemento humano é determinante e dominante e onde estão presentes símbolos, valores, sentimentos,
atitudes, que são passíveis de interpretação e decisão, interpretação e decisão que possuem, geralmente, um
caráter de urgência. Essas interações são mediadas por diversos canais: discurso, comportamentos, maneiras
de ser, etc. Elas exigem, portanto, dos professores, não só um saber sobre o objeto de conhecimento nem um
saber sobre uma prática e destinado principalmente a objetivá-la, mas a capacidade de se comportarem como
sujeitos, como atores e de serem pessoas em interação com pessoas.

— (TARDIF, 2002, p. 49)

MATERIAIS E RECURSOS PARA A ALFABETIZAÇÃO

O contexto escolar deve ser um espaço alfabetizador, que promove experiências


significativas. Para isso, o professor pode apostar na criatividade, articulando
materiais concretos aos objetos de conhecimento, a fim de desenvolver as
competências e habilidades previstas no seu planejamento.

EXEMPLIFICANDO

Nas salas de aula, é possível disponibilizar uma variedade de itens:

Alfabeto.

Números.

Calendário.

Chamadinha.

Regras da sala.

Livros de literatura.

Materiais manipuláveis de livre acesso, como alfabeto móvel, jogos


confeccionados pela professora, tampinhas de garrafas com letras, etc.

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O acesso aos materiais de apoio, permeado de uma abordagem lúdica realizada
pelo professor, é capaz de despertar o interesse da criança, envolvendo-a nas
atividades de maneira ativa.

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Todo e qualquer espaço em que ocorre a prática alfabetizadora é espaço de múltiplas e diversificadas relações
entre a criança e os objetos portadores da escrita. É, portanto, espaço de mediações entre as crianças e os

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objetos culturais. Entendemos, assim, que é necessário termos na sala de aula: cartaz com os quatro tipos de
alfabetos mais utilizados na escola e fora dela, que deve ser afixado na altura das crianças, para que possam
visualizá-lo e tocá-lo, pois muitas vezes costumam contornar as letras com os dedos para depois escrevê-las no
caderno; alfabeto móvel; calendário; cartazes de aniversariantes do mês e de ajudantes do dia; livros de
literatura; papéis de carta, para incentivar a escrita; cartaz com orientações sobre a convivência na sala de aula;
textos trabalhados, que podem ser afixados na parede; fichas com os nomes das crianças, escritas com letras
cursivas e de forma maiúsculas; materiais como cadernos e livros, que devem ser identificados com os nomes
das crianças; e outros.

— (BRASIL, 2015, p. 16)

Para ampliar esse trabalho com brinquedos e brincadeiras, a utilização de jogos é


uma ótima possibilidade. O jogo é entendido como uma ação humana, logo é um
recurso didático que pode ser inserido facilmente pelo professor em sala de aula,
possibilitando o trabalho interdisciplinar. Cabe ao docente inseri-lo em seu
planejamento, utilizando-o de acordo com os objetivos a serem alcançados. Ele
pode ser criado pelo próprio professor ou coletivamente, com a participação dos
alunos.

Figura 1.4 | Jogo da forca

Fonte: Brasil (2015, p. 65).

JOGO DE ALFABETIZAÇÃO TEMÁTICO

Explora, ao mesmo tempo, aspectos gráficos, vocabulário e o significado das


palavras relacionadas a um tema específico. O jogo é composto por 16 cartões de
imagens de brinquedos e 16 cartões com seus respectivos nomes (bola, boneca,
peteca, balança, etc.). Para brincar, as crianças precisam fazer uso de diferentes
estratégias de leitura, com a finalidade de encontrar o nome correspondente da
imagem sorteada. Algumas fazem a leitura global das palavras, enquanto outras
prestam atenção às sílabas iniciais ou finais.

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Figura 1.5 | Jogo de alfabetização temático

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Fonte: Brasil (2015, p. 64).

Considerando a importância dos jogos, quando a escola dispõe de computadores


que podem ser utilizados pelos alunos, pode ser realizado um trabalho com jogos
virtuais que mobilizam as capacidades de compreensão de leitura e escrita. Essas
atividades podem ser orientadas pelo próprio professor da turma ou
desenvolvidas pelo professor responsável pelo laboratório.


Os jogos virtuais possuem grande caráter lúdico e isso faz com que os alunos apreciem muito esse tipo de aula.
Para vencer o jogo, eles têm que ouvir, clicar, digitar, olhar a palavra com animação na tela que brilha, enfim,
esses são elementos significativos que permeiam o contexto multimodal do computador e que contribuem para
aproximar as crianças da palavra, independente do nível de escrita em que se encontram. Fazem isso com
mediação da professora, mas também com ajuda dos colegas ou sozinhas. Entretanto, ressaltamos que é
preciso encontrar jogos que desafiem as crianças em seus conhecimentos sobre a escrita e que contribuam
para o seu avanço nos direitos de aprendizagem, mas sem deixá-las tensas.

— (BRASIL, 2015, p. 75)

É possível criar um cantinho da leitura, isto é, um espaço na sala de aula em que


os livros são expostos. Na rotina, o professor pode prever momentos para a leitura
de histórias, assim como os livros devem estar acessíveis aos alunos para que em
determinado momento possam escolher, folhear, ler ou até mesmo olhar as
figuras, no caso de crianças que ainda não aprenderam a ler.

Alguns materiais oportunizam a interação com a família durante a alfabetização.


Um exemplo é a sacola viajante ou sacola de leitura. O aluno leva para casa um
livro de literatura dentro da sacola, faz a leitura em casa com o auxílio da família e
depois conta a história para a turma. Essa é uma maneira de estimular a leitura e
de oportunizar a participação dos familiares nesse processo.

EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS

Quando se trata de um contexto de alfabetização de jovens e adultos, os


materiais são igualmente importantes, entretanto é necessário adequá-los à
faixa etária da turma, não se deve trabalhar com os mesmos materiais
utilizados com as crianças, visto que os temas, as atividades, os livros e as
contextualizações realizadas pelo professor devem respeitar a especificidade
da faixa etária. Nesse caso, é importante trazer elementos do cotidiano, como
jornais, revistas, mural, etc.

40
Fica evidenciado que não basta dispor dos materiais, mas saber como utilizá-los de
maneira adequada, e isso requer atenção do professor na preparação da aula. Os
espaços, materiais e jogos são importantes, mas não garantem a aprendizagem
dos alunos, é necessário que ocorra a utilização adequada, atendendo aos

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objetivos de aprendizagem. A organização do o trabalho pedagógico requer

seõçatona reV
atenção do professor em relação ao que os alunos sabem e precisam aprender.

Chegamos ao fim desta seção. Você aprendeu que a escola, diante das práticas de
alfabetização, deve traduzir-se em espaço de formação continuada, no qual o
professor alfabetizador se sinta acolhido e apoiado pela equipe gestora. Nesse
ambiente de aprendizagens, os espaços, equipamentos e materiais devem
possibilitar valiosas experiências, a partir das quais seja possível questionar,
pesquisar, manipular materiais, brincar, se divertir e aprender.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1


O PPP é um dos documentos de maior importância na escola, pois diz respeito à própria organização do
trabalho pedagógico que está intimamente ligada à concepção, realização e avaliação do projeto educativo. O
PPP vai além de um agrupamento de planos de ensino e atividades, passando a ser uma ação intencional com
um compromisso definido coletivamente, construído e vivenciado em todos os momentos.

— (BORTOLUZZI, 2016, p. 9)

A partir do contexto apresentado, analise as afirmações a seguir:

I. É facultativo apresentar uma proposta para o processo de alfabetização


estruturada no PPP.

II. O PPP também deve explicitar a compreensão de como os alunos aprendem e


se desenvolvem.

III. Durante a elaboração do PPP, as professoras alfabetizadoras devem atuar na


organização dos conhecimentos referentes à alfabetização.

Assinale a alternativa que apresenta todas as afirmações corretas:

a. I, apenas.

b. II, apenas.

c. III, apenas.

d. II e III, apenas.

e. I, II e III.

Questão 2


Na formação de professores, há dificuldades para a prática reflexiva, pois a epistemologia acadêmica enfatiza
primeiro os saberes e depois a sua aplicação, ignorando os demais conhecimentos em detrimento dos
princípios da ciência aplicada. Trata-se de um movimento que poderia ser incrementado na formação inicial e
continuada, em um trabalho conjunto entre professores e gestores, de análise sobre o que se está fazendo,
reorganizando as ações presentes.

— (SCHÖN, 1992, p. 93)

Considerando o contexto apresentado, indique qual é o principal objetivo da


formação continuada:

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a. Ampliar os conhecimentos teóricos.

b. Atender às demandas da escola.

c. Avançar na carreira.

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d. Interagir com os demais professores.

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e. Refletir para melhorar a ação docente.

Questão 3


Todo e qualquer espaço em que ocorre a prática alfabetizadora é espaço de múltiplas e diversificadas relações
entre a criança e os objetos portadores da escrita.

— (BRASIL, 2015, p. 75).

Tomando como referência os recursos e materiais que favorecem o trabalho do


professor alfabetizador, julgue as afirmativas a seguir em verdadeiras (V) ou falsas
(F):

( ) Uma abordagem lúdica é capaz de despertar o interesse da criança.

( ) Os espaços, materiais e jogos garantem a aprendizagem dos alunos.

( ) No contexto de alfabetização de jovens e adultos, não se deve utilizar os


mesmos materiais utilizados na alfabetização de crianças.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a. V – V – V.

b. V – F – V.

c. F – V – F.

d. F – F – F.

e. V – V – F.

42
REFERÊNCIAS
BORTOLUZZI, J. S. Projeto político-pedagógico: um estudo sobre desencontros
entre teoria e prática. Curitiba, PR: Secretaria de Estado da Educação, 2016.

0
Disponível em: http://www.diaadiaeducacao.pr.gov.br/portals/pde/arquivos/2311-

seõçatona reV
6.pdf. Acesso em: 6 jul. 2020.

BRASIL. Lei nº 13.005, de 25 de junho de 2014. Aprova o Plano Nacional de


Educação – PNE e dá outras providências. Brasília, DF: Presidência da República,
[2020]. Disponível em: http://pne.mec.gov.br/18-planos-subnacionais-de-
educacao/543-plano-nacional-de-educacao-lei-n-13-005-2014. Acesso em: 3 jul.
2020.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília, DF: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/abase/. Acesso em: 22 jun. 2020.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.


Pacto Nacional pela Alfabetização na Idade Certa. A organização do trabalho
escolar e os recursos didáticos na alfabetização. Caderno 04. Brasília, DF:
MEC/SEB, 2015. Disponível em: file:///C:/Users/natbu/Downloads/04-caderno.pdf.
Acesso em: 4 jul. 2020.

CARDOSO, G. C.; BOLZAN, D. P.; MILLANI, S. M. Ações de incentivo à leitura e à


escrita no ciclo de alfabetização: a organização do trabalho pedagógico. In:
CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO, 13., São Paulo, 2017. Anais [...]. São Paulo:
EDUCERE, 2017. Disponível em:
https://educere.bruc.com.br/arquivo/pdf2017/24982_12660.pdf. Acesso em: 3 jul.
2020.. Acesso em: 4 jul. 2020.

MIZUKAMI, M. G. N. et al. Escola e Aprendizagem da Docência: processos de


investigação e formação. São Carlos: EduUFScar, 2002.

SCHÖN, D. A. Formar professores como profissionais reflexivos. In: NÓVOA, A.


(Org.). Os professores e a sua formação. Lisboa: Instituto de Inovação
Educacional, 1992.

SERODIO, S. C. F.; STEINLE, M. C. B. A importância do espaço para atender o aluno


do 1º ano do ensino fundamental de nove anos. In: SEMANA DA EDUCAÇÃO, 14.,
Londrina, 2015. Anais [...]. Londrina, PR: UEL, 2015. Disponível
em: https://bit.ly/2JebpwR . Acesso em: 6 jul. 2020.

TARDIF, M. Saberes docentes e formação profissional. 3. ed. Trad. F. Pereira.


Petrópolis, RJ: Vozes, 2002.

43
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
A ESCOLA DIANTE DAS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS DE
ALFABETIZAÇÃO

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seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

SONDAGEM
Conheça essa ferramenta fundamental no trabalho do professor alfabetizador.

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Por mais que o professor alfabetizador se esforce, em alguns momentos ele pode
se deparar com situações desafiadoras, nas quais precise de apoio para
redirecionar o seu trabalho. A professora Vanessa está vivenciando um desses
momentos, e ela percebe que, por mais que se esforce, realize pesquisas e
trabalhe com atividades diversificadas, os resultados não são satisfatórios após
seis meses de trabalho.

Parece que os alunos não estão progredindo e não entendem como funciona a
escrita. Diante disso, a professora está desesperada e não sabe se deve continuar
trabalhando com as mesmas atividades ou se modifica tudo o que fez até o
momento. Alguns pais também conversaram com a docente e com a
coordenadora da escola sobre a dificuldade dos filhos, e isso gera mais ansiedade
e insegurança na profissional, a qual, pela primeira vez, atua na alfabetização.

44
Ciente da situação, a coordenadora pedagógica percebeu que Vanessa precisa de
uma atenção especial, de um direcionamento. Existem algumas possibilidades de
encaminhamentos para essa situação envolvendo a professora e a coordenação
pedagógica da escola.

0
A coordenação pedagógica pode analisar as atividades dos alunos junto à

seõçatona reV
professora responsável pela turma e sugerir uma sondagem, que é um elemento
fundamental no trabalho do professor alfabetizador. Para realizar a sondagem, a
docente deve organizar atividades em que os alunos sejam capazes de expressar a
sua real compreensão sobre a escrita. O próximo passo é analisar as atividades. Ao
fazer essa análise, é possível tabular os dados da turma em relação aos níveis de
compreensão da escrita. A partir disso, a coordenação pode auxiliar a professora
na elaboração de um planejamento que atenderá às necessidades dos estudantes.

Após a análise dos resultados dos alunos e a realização de leituras, a coordenadora


e a professora perceberam que os alunos estavam evoluindo e descobriram que a
maioria estava na fase silábica. Nessa fase, é comum a criança utilizar apenas
algumas letras para representar o som da sílaba, e isso significa que o aluno
compreende a organização da escrita. Por exemplo, a palavra formiga pode ser
representada de diferentes formas por alunos no nível silábico: f – i – a, o – i – a, f –
m – g, f – m – a, etc.

Após chegarem a essa conclusão, a coordenadora sugeriu a realização de uma


reunião com os pais, na qual as duas explicaram que, para compreender a
organização da escrita, as crianças passam por diferentes níveis. Na fase em que se
encontram nesse processo, é normal que utilizem apenas algumas letras, e isso
não é considerado um erro, mas uma etapa da compreensão.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
BNC-FORMAÇÃO
O Ministério da Educação (MEC) homologou o Parecer CNE/CP nº 22/2019, do
Conselho Nacional de Educação (CNE), que atualiza as Diretrizes Curriculares
Nacionais para a Formação Inicial de Professores para a Educação Básica e institui
a Base Nacional Comum para a Formação Inicial de Professores da Educação
Básica, denominada BNC-Formação.

O documento prevê que é de competência dos sistemas de ensino da União, dos


estados, do Distrito Federal e dos municípios instituírem políticas e definirem
programas destinados à formação continuada específica para seus docentes, em
consonância com o que está posto na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB).
Tendo por base as citadas dimensões do Conhecimento, da Prática e do
Engajamento Profissionais, suas competências específicas e correspondentes
habilidades, este Parecer define Diretrizes Curriculares Nacionais para a
Formação Continuada de Professores que atuam nas diferentes etapas e
modalidades da Educação Básica, bem como a instituição da Base Nacional
Comum para a Formação Continuada de Professores da Educação Básica (BNC-
Formação Continuada), a qual deve ser implementada em todas as ações e
modalidades de cursos e programas destinados à formação continuada dos

45
docentes desse nível educacional. Frente às competências estabelecidas aos
municípios, como deve ser a atuação das escolas de ensino fundamental anos
iniciais com relação à formação continuada?

0
RESOLUÇÃO 

seõçatona reV
A formação continuada é um momento de reflexão e articulação entre teoria e
prática, portanto é de extrema importância. Com a aprovação da BNC-
Formação, as instituições escolares, em parceria com as secretarias de
educação, precisam realizar um trabalho de formação continuada, para que os
professores já atuantes desenvolvam as competências e habilidades previstas
no documento. A fim de incentivar a participação, a coordenação pedagógica,
junto à direção da escola, poderá realizar uma reunião com os professores e
mostrar o quanto as aprendizagens desenvolvidas nas formações são
importantes para o desenvolvimento profissional de cada um e que os
docentes terão o apoio de toda a equipe gestora.

A coordenação pedagógica pode estudar o documento com os professores e


elaborar cronogramas de formação junto à equipe da secretaria de educação,
fomentando a premissa de como a escola e, principalmente, os alunos têm a
ganhar com a participação dos professores nas formações.

46
NÃO PODE FALTAR
COMPREENSÃO DA ALFABETIZAÇÃO COMO PROCESSO
INTERDISCIPLINAR

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
QUAL A DIFERENÇA ENTRE ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO?
A alfabetização é caracterizada pelo processo de aquisição da língua escrita, enquanto o
letramento está relacionado ao desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em
atividades de leitura e escrita nas práticas sociais que envolvem a língua escrita.

Fonte: Shutterstock.

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CONVITE AO ESTUDO
Olá, estudante, como vai?

Está tudo pronto para iniciar mais uma jornada de aprendizagens? Você sabia que
os estudos sobre um objeto de conhecimento implicam a construção de um
esquema conceitual que permita recuperar conhecimentos prévios e articular
novos dados? Assim, na presente unidade, continuaremos construindo nosso
esquema conceitual sobre as estratégias e os procedimentos para alfabetização,
agora, explorando diretamente o foco da discussão, cujo tema central é a
alfabetização.

Ao prever a abordagem do tema, objetivamos que ao final da unidade você


conheça os diferentes métodos de alfabetização e concepções para utilizar as
diversas perspectivas teóricas na prática educativa de acordo com o público e o
contexto. Compreendemos aqui a alfabetização como um processo longo e
complexo que se inicia na primeira infância e está interligado com o uso social da
leitura e escrita para uma prática significativa e inclusiva.

47
Para isso, os conhecimentos serão explorados em três seções. A primeira seção
tem como tema a compreensão da alfabetização como processo interdisciplinar,
na qual discutiremos a importância da articulação de diferentes perspectivas
teóricas na análise da alfabetização; a aprendizagem da leitura e da escrita além da

0
sala de aula – marcada por variáveis político-econômicas, pelas interações sociais,

seõçatona reV
pelas experiências culturais; a interdependência da alfabetização e do letramento;
e o uso da língua oral e escrita em situações reais de comunicação enquanto, ao
mesmo tempo, a representação dos sons da fala em grafia é apresentada.
Você já notou que as crianças confundem o som de algumas letras? Você já notou que as crianças têm um
percurso parecido de aquisição do sistema alfabético? Já notou que se fala de diferentes maneiras a depender do
contexto social da fala? Na segunda seção, vamos explorar as contribuições da linguística, da psicolinguística e da
sociolinguística, conhecendo sobre o sistema ortográfico, o sistema fonológico, o ponto de vista semântico na
aquisição da linguagem, a maturidade linguística, o desenvolvimento verbal da criança, a concepção da criança
sobre a escrita, as habilidades metalinguísticas da criança, a interferência das diferenças culturais e dos dialetos
no processo de aquisição da leitura e da escrita e as relações entre alfabetização e os usos e funções da língua
escrita.

Para finalizar os estudos desta unidade, na terceira seção, serão apresentados os


diferentes métodos de alfabetização: como e quando utilizá-los, ampliando os
conhecimentos sobre a metodização do ensino da leitura e desmetodização; o
método alfabético ou soletração; o método fônico; o método silábico; o método de
palavração; o método de sentenciação; o método global; e o construtivismo. Tenho
certeza de que esses conhecimentos serão fundamentais para sua formação e
atuação profissional. Bons estudos!

PRATICAR PARA APRENDER


Você já parou para pensar no fato de que os alunos que estão hoje nas turmas de
alfabetização, no futuro, poderão atuar em profissões que ainda não foram
criadas? A dinamicidade na produção de conteúdos e novas tecnologias vem
modificando a relação entre os sujeitos, as demandas do mundo do trabalho e as
relações entre as áreas de conhecimento.

De certa forma, tudo parece estar interligado e, na verdade, está! Imagine só se,
em sala de aula, os conhecimentos ainda forem tratados de forma
compartimentada: ao estudar artes fechamos a “caixa” da língua portuguesa, em
outro momento fechamos a “caixa” de língua portuguesa e abrimos a “caixa” da
educação física. Nas relações sociais, as áreas de conhecimento estão articuladas e
são compreendidas e sintetizadas por sujeitos que mobilizam toda essa
diversidade de conhecimento.

Nesse contexto, faz-se necessário dar ênfase às práticas que fazem parte da
cultura dos aprendizes, focando em estratégias que possibilitem o
desenvolvimento do pensamento crítico e a capacidade de compreender e analisar
situações em diversos contextos. Portanto, as práticas de letramento não estão
condicionadas à entrada da criança no ensino formal, mas cabe à escola acolher e
explorar os multiletramentos, por contemplarem as tecnologias da informação e
comunicação, a diversidade cultural e as questões emergentes na sociedade, tudo
isso sem subestimar a necessidades de dominar as normas do sistema alfabético e
ortográfico.

48
Aprender a ler e escrever oferece aos estudantes algo novo e surpreendente:
amplia suas possibilidades de construir conhecimentos, por sua inserção na
cultura letrada, e de participar com maior autonomia e protagonismo na vida
social. Considerando a relevância de explorar a aprendizagem além da sala de

0
aula, como o uso da língua oral e escrita em situações reais de comunicação, nesta

seõçatona reV
seção você será levado a refletir sobre a importância de articular perspectivas
teóricas na análise da alfabetização, levando em conta a interdependência entre
alfabetização e letramento.

A fim de exercitarmos os conteúdos a serem aprendidos, considere a seguinte


situação-problema: a secretaria municipal da cidade de Primavera propôs a
construção de um referencial orientador para as escolas municipais e tal proposta
partiu da iniciativa da equipe gestora de apresentar às instituições escolares um
direcionamento para a elaboração dos seus currículos. A expectativa da secretaria
de educação é que o documento seja o reflexo de perspectivas, estudos e decisões
tomadas pelos professores de todas as áreas que ali atuam. Pensando nisso, para
elaborar o documento, foram organizados grandes grupos de estudos com os
professores de toda a rede, os quais foram divididos por etapa e ano. É importante
lembrar que o documento deve estar articulado aos conhecimentos propostos
pela Base Nacional Comum Curricular, que norteará a elaboração das propostas
pedagógicas de todas as escolas.

Na primeira reunião, a equipe pedagógica da secretaria de educação apresentou


dados referentes ao desempenho dos estudantes da rede municipal nas últimas
avaliações externas nas turmas de alfabetização. Uma das informações
demonstrou que os alunos sabiam ler, mas não conseguiam interpretar textos
simples. Esse dado gerou discussão sobre o tema e suscitou a necessidade de
aprofundamento teórico sobre o assunto, além de preocupar os professores.

Para contextualizar sua aprendizagem, imagine que você é um professor


alfabetizador da rede e está participando da reunião. Pense sobre o problema
apresentado e tente levantar hipóteses para solucioná-lo a partir do seguinte
questionamento: o que os professores alfabetizadores das escolas municipais de
Primavera podem fazer em sala de aula para que os alunos consigam
compreender plenamente os textos?

Explorando os conhecimentos a serem apresentados você aprenderá a conduzir o


processo de aprendizagem da língua escrita de forma respeitosa, com
conhecimento e segurança nos planos traçados. Pronto para começar?

CONCEITO-CHAVE
A alfabetização é um fenômeno complexo que requer o desenvolvimento de um
conjunto de habilidades, o que explica por que profissionais de diversas áreas de
conhecimento se debruçam para estudar o tema. A compreensão da criança sobre
a escrita é um processo que ocorre na vida cotidiana, ou seja, está situada além da
sala de aula e é marcada por variáveis político-econômicas, interações sociais e
experiências culturais.

49
Segundo Soares (2020, p. 22), quando chega na escola para ser alfabetizada, a
criança já domina um dialeto da língua oral: “esse dialeto pode estar mais próximo
ou mais distante da língua escrita convencional, que se baseia em uma norma
padrão”.

0
seõçatona reV
REFLITA

A natureza do processo de alfabetização de crianças que convivem com


falantes de um dialeto oral mais próximo da norma padrão e que têm
contato com material escrito é diferente da natureza do processo de
alfabetização de crianças que têm pouco acesso a material escrito?

Quem é responsabilizado quando os resultados não são satisfatórios? De quem é a


responsabilidade quando a aprendizagem não acontece? O insucesso na
alfabetização necessita de uma análise ampliada, contemplando inclusive as
expectativas do sistema escolar em relação à criança e seu contexto social. Estudos
desenvolvidos sobre fracasso escolar demonstram que, ao longo da história, as
instituições escolares atribuem à criança diagnósticos como “déficit linguístico” ou
“carência cultural” quando se deparam com o predomínio de particularidades do
dialeto de crianças oriundas das classes populares, desconsiderando a existência
de diferentes práticas linguísticas (PATTO, 1999). Então, quando a criança chega na
escola, a primeira barreira a ser ultrapassada é a própria insegurança para se
expressar. Quando ela resolve ter iniciativa, como quando faz alguma pergunta
sobre a lição e inicia a frase com “nóis vai”, muitas vezes se impõe um outro modo
de falar, sem problematizar o modo como a criança falou.

Em diversas situações, a criança escreve como fala, ou seja, como aprendeu a falar
com sua família ou no meio onde vive. Nesses casos, a escola não deve censurar a
criança e sua cultura, mas possibilitar que ela tenha contato com a norma padrão e
aprenda que existem outras maneiras de dizer a mesma coisa e uma forma aceita
socialmente que deve ser utilizada para registrar, isto é, escrever.

FOCO NA BNCC

Estima-se que mais de 250 línguas são faladas no país – indígenas, de


imigração, de sinais, crioulas e afro-brasileiras, além do português e de suas
variedades. Esse patrimônio cultural e linguístico é desconhecido por
grande parte da população brasileira.

No Brasil com a Lei nº 10.436, de 24 de abril de 2002, oficializou-se também


a Língua Brasileira de Sinais (Libras), tornando possível, em âmbito
nacional, realizar discussões relacionadas à necessidade do respeito às
particularidades linguísticas da comunidade surda e do uso dessa língua
nos ambientes escolares.

Segundo a BNCC, “é relevante no espaço escolar conhecer e valorizar as


realidades nacionais e internacionais da diversidade linguística e analisar
diferentes situações e atitudes humanas implicadas nos usos linguísticos,
como o preconceito linguístico” (BRASIL, 2018, p. 70).

50
Vale pensar em que medida a cultura dominante interfere na construção de
práticas pedagógicas que desconsideram a diversidade, características regionais e
variáveis socioeconômicas, para que não se propaguem em sala de aula
percepções e condutas que levam a análises excludentes por parte do professor.

0
Pensando nisso, se o objetivo do trabalho educativo é a aprendizagem do

seõçatona reV
estudante, se ele não aprende, significa que vários elementos não foram
mobilizados e articulados de maneira adequada. Por isso, frente ao insucesso, não
é prudente culpabilizar o contexto social da criança e sua família.

Cabe questionar: o que pode ser feito para aproximar as expectativas da escola ao
conhecimento das crianças que não têm acesso a materiais diversos? Uma possibilidade é
permitir o uso da língua oral e escrita em situações reais de comunicação, ao mesmo
tempo proporcionar atividades que exigem a representação dos sons da fala em grafia.
Isso pressupõe reconhecer a interdependência da alfabetização e do letramento.

Você sabe definir os termos alfabetização e letramento? Segundo Soares (2020), de


certa maneira, a aprendizagem da língua materna, oral ou escrita, é um processo
permanente, isso porque o seu processo de desenvolvimento não é interrompido.
Porém, a alfabetização é caracterizada pelo processo de aquisição da língua
escrita, enquanto o letramento está relacionado ao processo de desenvolvimento
e utilização dela. Assim, segundo a autora “não parece apropriado nem etimológica
nem pedagogicamente que o termo alfabetização designe tanto o processo de
aquisição da língua escrita quanto o seu desenvolvimento” (SOARES, 2020, p. 16).

EXEMPLIFICANDO

Soares (2020, p. 16) expõe o seguinte:


1. Pedro já sabe ler. Pedro já sabe escrever.

2. Pedro já leu Monteiro Lobato. Pedro escreveu uma redação sobre Monteiro
Lobato.

No exemplo 1. Ler e escrever significam o domínio da “mecânica” da língua escrita;


nessa perspectiva alfabetizar significa adquirir a habilidade de codificar a língua
oral em língua escrita (escrever) e de decodificar a língua escrita em língua oral
(ler). A alfabetização seria um processo de representação de fonemas (sons) em
grafemas (escrever) e de grafemas em fonemas (ler).

No exemplo 2. Ler e escrever significam apreensão e compreensão de significados


expressos em língua escrita (ler) ou expressão de significados por meio da língua
escrita (escrever). Habilidades que continuam em desenvolvimento e estão
articuladas as práticas de letramento.

Por muito tempo, a alfabetização foi definida como um processo de representação


de fonemas em grafemas e de compreensão/expressão de significados por meio
do código escrito. Porém, em diversos países em um mesmo período histórico
surgiu a necessidade de nomear as práticas sociais mais complexas de leitura e
escrita, assim, no final da década de 1970, a Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura (UNESCO) indicou a ampliação do conceito,
passando de literate para funcyionally literate e sugeriu que as avaliações
internacionais direcionadas à alfabetização explorassem as habilidades de uso da
leitura e da escrita.

51
No Brasil, o conceito de letramento surge a partir do questionamento sobre o
conceito de alfabetização, isto porque no contexto brasileiro esses conceitos se
confundiam e se mesclavam – dado evidenciado nos censos demográficos:
situação em que sujeitos com diferentes habilidades de leitura e escrita se

0
autodeclaravam alfabetizados, entretanto sem o pleno domínio das habilidades

seõçatona reV
necessárias para ser classificados como tal.

A mudança conceitual acerca da língua escrita difundida no Brasil


aproximadamente na década de 1980 colocou em xeque as práticas existentes até
o momento que tinham como base o uso de métodos sintéticos e analíticos
(fônico, silábico, global etc.). O paradigma cognitivista se difundiu no Brasil por
meio dos estudos sobre a psicogênese da língua escrita desenvolvidos por Emília
Ferreiro e Ana Teberosky. Esses estudos suscitaram expressivas mudanças para a
alfabetização, por demonstrar que a criança é protagonista no processo de
construção de representação da língua escrita.

ASSIMILE

Como explica Soares (2020, p. 39):


A criança deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos
para aprender o sistema de escrita – concepção presente nos métodos de
alfabetização até então em uso, hoje designados tradicionais – e passa a ser
sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir esse sistema de
representação, interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas
sociais, isto é, interagindo com material “para ler”, não com material
artificialmente produzido para aprender a ler.

A nova maneira de compreender a alfabetização revolucionou as práticas


pedagógicas por direcionar o olhar do professor ao percurso traçado pela criança
em direção ao sistema alfabético, porém conduziu a equívocos que explicam o
abandono das atividades que exploravam a relação grafema-fonema e o ensino do
sistema alfabético e ortográfico.

Retomando Soares (2020, p. 39), “privilegiando a faceta psicológica da


alfabetização, obscureceu-se sua faceta linguística – fonética e fonológica”, isto
porque a utilização de um método foi considerada incompatível com o paradigma
psicogenético. Nessa vertente, de forma equivocada, difundiu-se a ideia de que
apenas com o convívio intenso com material escrito disponibilizado nas práticas
sociais a criança já era capaz de ser alfabetizada. Para Soares (2020, p. 39), “tinha-
se anteriormente um método e nenhuma teoria, com a mudança de concepção
[...], passou-se a ter uma teoria e nenhum método”.

A partir desses equívocos que direcionaram as estratégias e os procedimentos de


alfabetização e letramento para lados extremos, ora privilegiando atividades que
exigiam a representação dos sons da fala em grafia, ora as situações reais de
comunicação, na década de 1990 a alfabetização foi em certa medida obscurecida
pelo letramento.

Agora, veja a seguir um exemplo de um tipo de atividade simples em que é


possível explorar diferentes habilidades.

EXEMPLIFICANDO

52
Atividade realizada no 1º ano

Figura 2.1 | Campanha de vacinação

0
seõçatona reV
Fonte: https://bit.ly/2ZwXNBa. Acesso em: 11 fev. 2021.
Explorando:

Para que serve esse texto?

Qual é o assunto tratado no texto? (ampliar a discussão)

Você reconhece alguma palavra do texto? Qual? Aponte com o dedo o


local onde ela se encontra.

Circule todas as palavras que estão no texto.

Faça um X nos números presentes no texto.

Risque as letras do seu nome.

Atividade adaptada de Batista et al. (2006, p. 22).

Para a concepção tradicional de alfabetização, a aquisição do sistema convencional


de escrita precedia o letramento, ou seja, primeiro o professor deveria realizar a
apresentação das letras, as junções e progressivamente adentrar no trabalho com
textos. Soares (2020, p. 45) aponta que:


Dissociar alfabetização e letramento é um equívoco porque, no quadro das atuais concepções psicológicas,
linguísticas e psicolinguísticas de leitura e escrita, a entrada da criança (e também do adulto analfabeto) no
mundo da escrita decorre simultaneamente por esses dois processos: pela aquisição do sistema convencional
de escrita – a alfabetização – e pelo desenvolvimento de habilidades de uso desse sistema em atividades de
leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem a língua escrita – o letramento.

Como você pode perceber fica claro que privilegiar um tipo de encaminhamento
pedagógico em detrimento do outro pode ser apontado como uma das causas que
levam ao insucesso durante a alfabetização, pois é necessária a articulação de
diferentes perspectivas teóricas na análise da alfabetização de acordo com as
necessidades evidenciadas pelas crianças.

FOCO NA BNCC

De acordo com a Base Nacional Comum Curricular:


[...] é preciso que os estudantes conheçam o alfabeto e a mecânica da
escrita/leitura – processos que visam a que alguém (se) torne alfabetizado, ou seja,
consiga “codificar e decodificar” os sons da língua (fonemas) em material gráfico

53
(grafemas ou letras), o que envolve o desenvolvimento de uma consciência
fonológica (dos fonemas do português do Brasil e de sua organização em


segmentos sonoros maiores como sílabas e palavras) e o conhecimento do
alfabeto do português do Brasil em seus vários formatos (letras imprensa e
cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do estabelecimento de relações

0
grafofônicas entre esses dois sistemas de materialização da língua. (BRASIL, 2018,
p. 89-90)

seõçatona reV
Nesse sentido, deve-se reconhecer que metodologias diversificadas são
necessárias e precisam ser mobilizadas pelo professor de acordo com as
características dos estudantes e com as competências e habilidades que pretende
explorar, integrando práticas de alfabetização e letramento em diversas áreas de
conhecimento.

ASSIMILE

Batista et al. (2006, p. 31) explicam que:


A ação pedagógica para o letramento (valorizar os usos e as funções sociais da língua
escrita) precisa estar articulada ao trabalho específico com o sistema de escrita (processo
de codificação e decodificação). Em outras palavras, cuidar da dimensão linguística,
visando a alfabetização, não implica excluir da sala de aula o trabalho voltado para o
letramento. Consequentemente, as atividades cotidianas precisam possibilitar o contato
com textos escritos, de modo que as crianças formulem hipóteses sobre sua utilidade, seu
funcionamento e sua configuração.

Soares (2020) identificou um movimento no campo cultural e teórico que chamou


de “reinvenção da alfabetização”. Trata-se novamente da proposição de uma
retomada do ensino inicial da aquisição da língua escrita focada na aprendizagem
do código, propondo a “volta ao fônico”, essa pauta ressurge na atualidade
suscitando uma discussão já esgotada sobre a existência de um método ideal.

REFLITA

Retomar a defesa de um único método não seria negar os avanços teóricos


sobre a alfabetização?

Portanto, cabe ressaltar que, mesmo na etapa inicial da aprendizagem da língua


escrita, privilegiar um único procedimento didático-metodológico é desconsiderar
a diversidade dos estudantes e a variedade de conhecimentos a serem explorados
por meio da articulação das práticas de alfabetização e letramento.

Chegamos ao final desta seção, na qual você aprendeu que a alfabetização é um


processo complexo e sua análise deve contemplar diferentes perspectivas. Pelo
caminho percorrido, evidenciamos a importância de aproximar o trabalho
pedagógico das situações reais de comunicação enquanto é realizado um trabalho
de representação gráfica. Nesse sentido, as evidências apontam que as
aprendizagens desenvolvidas nesse período pressupõem letrar alfabetizando e
alfabetizar letrando.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
A mudança conceitual acerca da língua escrita difundida no Brasil aproximadamente na década de 1980 colocou
em xeque as práticas existentes até o momento, as quais tinham como base o uso de métodos sintéticos e
analíticos.

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Com relação à mudança conceitual, analise o excerto a seguir, completando suas
lacunas.
O paradigma _______ também se difundiu no Brasil por meio dos estudos sobre a _______ da língua escrita
desenvolvidos por Emília Ferreiro e Ana Teberosky. Esses estudos suscitaram expressivas mudanças para a

0
alfabetização, por demonstrar que a criança é _______ no processo de construção de representação da língua
escrita.

seõçatona reV
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.

a. tradicional; memorização; imatura.

b. cognitivista; psicogênese; protagonista.

c. construtivista; aprendizagem; incapaz.

d. cognitivista; memorização; imatura.

e. tradicional; psicogênese; capaz.

Questão 2
Estudos desenvolvidos sobre fracasso escolar demonstram que, ao longo da
história, as instituições escolares atribuem à criança diagnósticos como “déficit
linguístico” ou “carência cultural” quando se deparam com o predomínio de
particularidades do dialeto de crianças oriundas das classes populares,
desconsiderando a existência de diferentes práticas linguísticas (PATTO, 1999).

Considerando as informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

I. O insucesso na alfabetização necessita de uma análise ampliada,


contemplando inclusive as expectativas do sistema escolar em relação à criança
e ao seu contexto social.

II. A configuração dos sistemas de escrita é ancorada no contexto social e


econômico, carregando traços da cultura, ou seja, possui neutralidade.

III. Encaminhamentos pedagógicos, frequentemente e de forma equivocada,


censuram a língua oral que se distancia da norma padrão.

IV. Quando chega na escola para ser alfabetizada, a criança já domina um dialeto
da língua oral, o qual pode estar mais próximo ou mais distante da língua
escrita convencional, que se baseia em uma norma padrão.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

Questão 3

Conforme Soares (2020, p. 39):

A criança deixa de ser considerada como dependente de estímulos externos para aprender o sistema de escrita
[...] e passa a ser sujeito ativo capaz de progressivamente (re)construir esse sistema de representação,

55

interagindo com a língua escrita em seus usos e práticas sociais, isto é, interagindo com material “para ler”, não
com material artificialmente produzido para aprender a ler.

Considerando as informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

Estudos suscitaram expressivas mudanças para a alfabetização, por

0
demonstrar que a criança é passiva no processo de construção de

seõçatona reV
representação da língua escrita.

Nessa vertente, de forma equivocada, difundiu-se a ideia de que apenas com o


convívio intenso com material escrito disponibilizado nas práticas sociais a
criança já era capaz de ser alfabetizada.

Nas práticas pedagógicas privilegiando a faceta psicológica da alfabetização,


obscureceu-se sua faceta linguística – fonética e fonológica.

A nova maneira de compreender a alfabetização revolucionou as práticas


pedagógicas por direcionar o olhar do professor ao percurso traçado pela
criança em direção ao sistema alfabético.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3azWCY5 . Acesso em: 27 jul.
2020.

BATISTA, A. A. G. et al. Práticas escolares de alfabetização e letramento. Belo


Horizonte: Ceale, 2006. Disponível em: https://bit.ly/3bptvWC . Acesso em: 28 jul.
2020.

PATTO, M. H. S. A produção do fracasso escolar: histórias de submissão e


rebeldia. São Paulo: T. A. Queiroz, 1999.

SOARES, M. Alfabetização e letramento. São Paulo: Contexto, 2020.

SOARES, M. Novas práticas de leitura e escrita: letramento na cibercultura. Educ.


Soc., Campinas, v. 23, n. 81, p. 143-160, dez. 2002. Disponível em:
https://bit.ly/37rTVWw. Acesso em 30 jul. 2020.

56
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
COMPREENSÃO DA ALFABETIZAÇÃO COMO PROCESSO
INTERDISCIPLINAR

0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

COMO CONTRIBUIR PARA QUE OS ALUNOS DESENVOLVAM AS HABILIDADES DE


ESCRITA E LEITURA?
Para isso, os processos de alfabetização e letramento devem ser integrados e explorados
cotidianamente no contexto de diversas disciplinas.

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Como exposto anteriormente, os dados apresentados referentes às habilidades
dos alunos em processo de alfabetização das escolas de Primavera demonstraram
que as crianças sabiam ler, mas não conseguiam interpretar textos simples. Isso
gerou preocupação entre os professores e a necessidade de pensar em mudanças
no trabalho que vem sendo desenvolvido até aquele momento.

A Base Nacional Comum Curricular prevê que, nos dois primeiros anos do ensino
fundamental, a ação pedagógica deve ter como foco a alfabetização a fim de
garantir amplas oportunidades para que os alunos se apropriem do sistema de
escrita alfabética de modo articulado ao desenvolvimento de outras habilidades de
leitura e de escrita e ao seu envolvimento em práticas diversificadas de
letramentos.

Considerando que o letramento está relacionado à capacidade de mobilizar as


competências leitoras e escritoras a fim de compreender situações reais, após
buscarem alternativas sobre o problema, os professores da rede de ensino podem
propor atividades que possibilitem o desenvolvimento dessas competências

57
utilizando notícia, reportagem, entrevista, artigo de opinião, charge, tirinha,
crônica, conto, verbete de enciclopédia, artigo de divulgação científica,
embalagens, propagandas e mídias digitais.

0
É possível elaborar um quadro para organizar o trabalho que será desenvolvido,
pois esse tipo de atividade não é pontual, deve estar presente em todo o

seõçatona reV
planejamento e pode envolver diferentes disciplinas.

Quadro 2.1 | Frequência do trabalho ao longo da semana

Leitura/compreensão Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Antecipar conteúdos de textos a x x x x x


serem lidos em função do
reconhecimento de seu suporte,
de seu gênero e de sua
contextualização (gêneros:
histórias, canções e poemas).

Produzir compreensão global do x x x x x


texto lido, unificando e inter-
relacionando informações
explícitas: contextualização
(gêneros: histórias, canções e
poemas).

Desenvolver disposições x x x x x
favoráveis à leitura.

Oralidade

Participar das interações x x x x x


cotidianas em sala de aula
escutando com atenção e
compreensão, respondendo às
questões propostas pelo
professor.

Cultura escrita

Saber usar objetos de escrita na x x x x x


cultura escolar, desenvolver
capacidades específicas para
escrever.

Conhecer, utilizar e valorizar os x x


modos de manifestação e
circulação da escrita na
sociedade.

58
Leitura/compreensão Segunda Terça Quarta Quinta Sexta

Produção de texto

0
Planejar coletivamente um texto x

seõçatona reV
escrito considerando o tema
central e seus desdobramentos.

Fonte: adaptado de Batista et al. (2006).

Esse momento vivenciado pelos professores alfabetizadores proporcionou a


reflexão sobre as práticas desenvolvidas a partir de dados reais, permitiu a
interação entre os docentes e a compreensão de que as práticas pedagógicas na
alfabetização ocorrem simultaneamente por dois processos: pela aquisição do
sistema convencional de escrita e pelo desenvolvimento de habilidades de uso
desse sistema em atividades de leitura e escrita, nas práticas sociais que envolvem
a língua escrita, o letramento.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
A MECÂNICA DA ESCRITA NA BNCC
João Paulo é uma criança de 6 anos matriculada no primeiro ano do ensino
fundamental. Ele é um aluno curioso e participativo que demostra interesse em
todas as atividades propostas por Marta, sua professora. Mesmo com esse perfil
de aluno autorregulado e proativo, João Paulo, assim como outros alunos da
turma, tem dificuldade nas atividades de escrita propostas pela professora. Marta
trabalha com textos contextualizados, explorando a função da escrita em situações
reais de comunicação, sempre partindo da perspectiva de que gradualmente os
alunos irão elaborar hipóteses, direcionando-os à compreensão sobre a mecânica
da escrita. Mas, como os alunos estão demorando para apresentar avanços, Marta
tem questionado se deve modificar a sua forma de trabalhar. A BNCC pode indicar
à professora Marta o que deve ser acrescentado no trabalho que ela realiza?

RESOLUÇÃO 

Diferentes perspectivas teóricas podem ser utilizadas pela professora Marta


para analisar a aprendizagem dos alunos. É possível notar que a professora
tem desenvolvido um trabalho com ênfase nas práticas de letramento, no
entanto, sem explorar a apresentação das letras, composição das sílabas e
irregularidades morfológico-gramaticais (R/RR, S/SS, GU+E), por exemplo. Ela
precisa alinhar o seu trabalho à BNCC, visto que o documento indica as
habilidades e competências a serem desenvolvidas em cada etapa de ensino.

Para subsidiar esse processo de aprendizagem, os processos de alfabetização


e letramento devem ser integrados e explorados cotidianamente no contexto
de diversas disciplinas. De acordo com a BNCC:

59

[...] é preciso que os estudantes conheçam o alfabeto e a mecânica da escrita/leitura – processos que
visam a que alguém (se) torne alfabetizado, ou seja, consiga “codificar e decodificar” os sons da língua
(fonemas) em material gráfico (grafemas ou letras), o que envolve o desenvolvimento de uma consciência
fonológica (dos fonemas do português do Brasil e de sua organização em segmentos sonoros maiores
como sílabas e palavras) e o conhecimento do alfabeto do português do Brasil em seus vários formatos

0
(letras imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do estabelecimento de relações grafofônicas
entre esses dois sistemas de materialização da língua.

seõçatona reV
— (BRASIL, 2018, p. 89-90)

As seguintes habilidades previstas na BNCC indicam estratégias que podem ser adotadas pela professora
Marta:


(EF01LP08) Relacionar elementos sonoros (sílabas, fonemas, partes de palavras) com sua representação
escrita. [...]

(EF01LP10) Nomear as letras do alfabeto e recitá-lo na ordem das letras. [...]

(EF01LD13) Comparar palavras identificando semelhanças e diferenças entre sons de sílabas medias e
finais.

— (BRASIL, 2018, p. 101)

Após analisar a dificuldade apresentada pelos alunos e realizar a leitura da BNCC, a professora Marta
percebeu que precisava explorar diretamente a mecânica da escrita e leitura e assim o fez: modificou a
forma de trabalhar com textos integrando atividades que favorecem o desenvolvimento das relações
grafofônicas.

60
NÃO PODE FALTAR
CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA, DA PSICOLINGUÍSTICA E DA
SOCIOLINGUÍSTICA

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
QUAL É A IMPORTÂNCIA DA LINGUÍSTICA, PSICOLINGUÍSTICA E SOCIOLINGUÍSTICA
PARA A ALFABETIZAÇÃO?
As contribuições da linguística, psicolinguística e sociolinguística abrangem temas que
permitem elucidar problemáticas da sala de aula e articular as melhores estratégias para a
condução da alfabetização.

Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Olá, estudante, seja bem-vindo!

Vamos iniciar mais uma seção de estudos com algumas perguntas: você já notou
que as crianças confundem o som de algumas letras? E que elas têm um percurso
parecido de aquisição do sistema alfabético? Já notou que se fala de diferentes
maneiras a depender do contexto social em que se está inserido? Todas essas
questões são facilmente percebidas quando observamos uma turma de
alfabetização e elas representam desafios para as crianças e para os professores,
pois o que deu certo com uma turma pode não dar certo com outra, o que exige
que o professor tenha um perfil de pesquisador.

Paulo Freire pontuou que a escola é feita por gente, gente que ensina, aprende, trabalha e
a escola é apenas um prédio sem as pessoas. Retomamos a fala de Freire para destacar a
humanidade presente nas relações educativas e consideramos os professores como seres
que se alegram, choram, sentem dor e medo e também podem passar por momentos em
que se sentem inseguros, principalmente quando não dominam plenamente determinada
área de conhecimento.

61
É possível inferir que alguns conhecimentos desta seção ainda não foram
amplamente assimilados por muitos professores que atuam na alfabetização e em
equipes gestoras. Isso é demonstrado nas falas desses profissionais quando
expressam suas dificuldades para trabalhar ortografia, fonologia e semântica, por

0
exemplo. As contribuições da linguística, psicolinguística e sociolinguística

seõçatona reV
abrangem temas que permitem elucidar problemáticas da sala de aula e articular
as melhores estratégias para a condução da alfabetização. Você, enquanto
estudante, terá a possibilidade de explorar todos esses temas.

Os conhecimentos foram organizados objetivando que você:

Entenda o processo de alfabetização de forma ampla.

Identifique todas as variáveis que interferem na aquisição e no


desenvolvimento da leitura e escrita.

Saiba selecionar diferentes estratégias e recursos para um trabalho pedagógico


significativo e inclusivo.

Reconheça as variações linguísticas como parte da construção social e cultural.

Você já sabe que a secretaria municipal da cidade de Primavera propôs a


construção de um referencial orientador para as escolas municipais e a proposta
partiu da iniciativa da equipe gestora de apresentar às instituições escolares um
direcionamento para a elaboração dos currículos e propostas pedagógicas. A partir
dessa proposta, a expectativa da secretaria de educação é que o documento seja o
reflexo de perspectivas, estudos e decisões tomadas pelos professores de todas as
áreas que ali atuam.

Para elaborar o documento foram organizados grandes grupos de estudos com os


professores de toda a rede, os quais foram divididos por etapa e ano. A intenção é
que o documento esteja articulado aos conhecimentos propostos pela Base
Nacional Comum Curricular, pois ele irá nortear a elaboração das propostas
pedagógicas de todas as escolas.

Durante uma das reuniões, a professora Clara expõe ao grupo de professores que
tem dificuldade em intervir nas situações em que as crianças trocam letras e
apresentou alguns exemplos de trocas de letras, como: v por f (o aluno escreve
faca no lugar de vaca), d por t (o aluno escreve tela no lugar de dela), b por p (o
aluno escreve pato no lugar de bato e g por c (o aluno escreve cata no lugar de
gata).

Após exemplificar, Clara relatou que utiliza vários recursos com os alunos que
fazem essas trocas, entretanto, elas persistem. A professora acredita que pode ser
algo relacionado à metodologia e aos recursos usados, por isso pede sugestões
para os colegas. Se você fosse um dos professores que está participando desse
momento de estudo, o que iria sugerir a Clara?

Aproveite ao máximo todo o conteúdo, lembre-se de que a cada seção você


desenvolve mais habilidades e constrói novas competências sobre as estratégias e
os procedimentos para alfabetização.

CONCEITO-CHAVE

62
Estamos estudando e observando desde o início desta unidade de ensino as
questões que envolvem a alfabetização a fim de entender o processo de forma
ampla, identificando todas as variáveis que interferem na aquisição e no
desenvolvimento da leitura e da escrita. Pensando nisso, é fundamental que você

0
conheça as contribuições da linguística, psicolinguística e sociolinguística.

seõçatona reV
Iniciaremos conhecendo a natureza linguística do processo de alfabetização.

LINGUÍSTICA
Conforme Soares (1985, p. 22), “do ponto de vista propriamente linguístico, o
processo de alfabetização é, fundamentalmente, um processo de transferência da
sequência temporal da fala para a sequência espaço-direcional da escrita, e de
transferência da forma sonora da fala para a forma gráfica da escrita (cf. Silva,
1981)”.

ASSIMILE

A faceta linguística focaliza a conversão da cadeia sonora da fala em escrita.

O sistema ortográfico, o sistema fonológico e o ponto de vista semântico na


aquisição da linguagem fazem parte dos estudos linguísticos. Vamos explorar cada
um deles? Iniciaremos pela ortografia, a qual sistematiza a maneira de escrever
cada palavra, assim elas podem ser pronunciadas de diversas maneiras, mas com
apenas um padrão para a escrita. A ortografia foi criada para evitar os efeitos da
variação linguística.

EXEMPLIFICANDO

Massini-Cagliari (2001, p. 124) explica que:


Eu posso falar “BAUDGI”, meu vizinho “BAUDI”, um conhecido “BARDGI”, e um
amigo do Sul, “BALDE”, mas todos escrevemos “BALDE”, não porque essa forma
representa uma pronúncia correta, mas porque houve um consenso na sociedade,
de que todos devem escrever essa palavra assim. Não adianta ficar se
perguntando o porquê de se ter escolhido esta forma e não outra (por exemplo,
“BAUDE”), já que esta escolha esbarra em questões históricas, que nos escapam
com o passar dos anos.

A fala é atualizada diariamente pelos falantes, que criam palavras e expressões, o


que expande o afastamento entre a fala e a escrita. A aprendizagem da ortografia
conduz a um trabalho reflexivo sobre a escrita favorecendo uma aprendizagem
consciente sobre a representação gráfica. Observe a seguir a quantidade de
aspectos que estão envolvidos quando exploramos o trabalho com a ortografia:

A relação entre letras e sons, ou seja, as letras representam sons: um som pode
ser representado por uma letra, a mesma letra pode representar vários sons e
um mesmo som pode ser escrito por várias letras;

A correspondência quantitativa entre letras e sons: cada palavra se escreve


com um certo número de letras [...];

As variações entre o modo de pronunciar as palavras e a maneira de escrevê-


las;

63
A posição de cada letra no espaço gráfico e a direção da escrita [...];

A linearidade, que corresponde ao fato de uma letra ser escrita após a outra;

A segmentação, que se define pela ocorrência de pausas ou separações.

0
(ZORZI, 1997, p. 13).

seõçatona reV
REFLITA

É possível que a criança confronte sua própria escrita com outras escritas e,
a partir dessa ação, elabore hipóteses que modificam a sua escrita?

A criança precisa entender a relação entre letras e sons. O sistema fonológico


representa a construção da consciência fonológica pela criança, que é definida
como a “capacidade de focalizar os sons das palavras, dissociando-as de seu
significado e de segmentar as palavras nos sons que as constituem” (SOARES, 2017,
p. 166).

Soares (2017) aponta que independente da metodologia utilizada, o processo de


alfabetização que parte da consciência fonológica influencia a aquisição da leitura
e escrita de maneira positiva. A consciência fonológica possui níveis de
desenvolvimento, iniciando com a aprendizagem de rimas e aliterações
(semelhanças entre os sons de palavras), na sequência à consciência das sílabas e
por fim se concentrando nos fonemas, esta última é chamada de consciência
fonêmica (SOARES, 2017).

EXEMPLIFICANDO

A percepção e comparação com rimas e aliterações impacta o início da


alfabetização que leva a criança a dirigir atenção para a cadeia sonora das
palavras. Desse modo, o professor pode explorar atividades que exigem
esse tipo de percepção dos estudantes de forma lúdica, utilizando trava-
línguas e cantigas de roda, por exemplo:

Trava-línguas

Três pratos de trigo para três tigres tristes.

O rato roeu a roupa do rei de Roma e a rainha com raiva resolveu


remendar.

Cantigas

Borboletinha tá na cozinha

fazendo chocolate

para a madrinha

Poti, poti

perna de pau

olho de vidro

e nariz de pica-pau pau pau

64
Como no exemplo apresentado, o trabalho que prevê a percepção da consciência
fonológica pode ser amplamente explorado pelos professores, integrando ainda
outros aspectos como a oralidade, a interação e a brincadeira, que são ricas
possibilidades de aprendizagem e desenvolvimento.

0
seõçatona reV
Quadro 2.2 | Sub-habilidades da consciência fonológica

Consciência de
Capacidade de segmentar a frase em palavras.
palavras

Consciência de Capacidade de reconhecer a correspondência fonêmica a


rimas partir da vogal da sílaba tônica.

Consciência de Capacidade de reconhecer a repetição de consoantes ou de


aliterações sílabas tônicas no mesmo verso.

Consciência Capacidade de segmentar as palavras em sílabas.


silábica

Consciência Capacidade de analisar os fonemas que compõem as


fonêmica palavras.

Fonte: elaborado pela autora.

A semântica é a parte da linguística que estuda as significações. No processo de


alfabetização deve-se explorar com as crianças que as palavras ou conceitos
formam teias temáticas.


Quando se fala em campo semântico [pensa-se na representação de] conceitos próximos e fortemente
relacionados, como ensinamento, aprendizado e educação. Entende-se que esses conceitos repartem entre si
uma área de conhecimento mais ampla (às vezes chamada de campo nocional), justapondo-se uns aos outros
como numa espécie de mosaico.

— (ILARI, 2014, [s.p.], grifos do autor)

DITADO DE PALAVRAS

Sobre sondagem utilizando palavras do mesmo campo semântico, veja o


exemplo:

Material escolar:

Apontador (polissílaba)

Caderno (trissílaba)

Régua (dissílaba)

Giz (monossílaba)

Depois de ditar as palavras, é ditada uma frase utilizando uma delas:

O meu apontador é muito bom.

Enquanto o professor dita as palavras, ele observa de que maneira cada


estudante opta pela escolha das letras que vai utilizar.

PSICOLINGUÍSTICA

65
Você já notou que as crianças têm um percurso parecido de aquisição do sistema
alfabético? A psicolinguística está direcionada a estudar os processos psicológicos
por meio dos quais os sujeitos aprendem a ler e escrever, considerando a
existência de pré-requisitos necessários. De acordo com Soares (1985), nessa

0
perspectiva considerou-se a relação entre aspectos neurológicos e psicológicos da

seõçatona reV
alfabetização que direcionou a adoção das atividades de percepção do “esquema
corporal, discriminação visual e auditiva, psicomotricidade e estruturação espacial
e temporal” (SOARES, 1985, p. 22).

Essa compreensão inicial relaciona o sucesso ou fracasso na escrita ao QI ou a


ideia de que a criança possui aptidões específicas que facilitaram esse
aprendizado, com isso realizaram-se testes psicológicos ou de “prontidão”. Além
disso, nessa perspectiva está presente a análise das “disfunções psiconeurológicas
da aprendizagem da leitura e da escrita, afasia, dislexia, disgrafia, disortografia”
etc. (SOARES, 1985, p. 22).

Posteriormente, o trabalho de Emília Ferreiro evidenciando as etapas de


compreensão da língua escrita, fundamentado na perspectiva cognitiva, também
direcionou a análise para problemas como a maturidade linguística e demonstrou
que as crianças passam por percursos parecidos durante a alfabetização. Segundo
Poersch (1992), a alfabetização exige determinado estágio de desenvolvimento
global, que ocorre por volta dos 7 anos, idade que corresponde ao
amadurecimento linguístico e mental. Antes desse período não é adequado forçar
a criança para uma habilidade que ela ainda não está preparada. Isso indica que os
conteúdos devem ser explorados de forma gradativa.


A descrição e a narrativa exigem da criança o domínio das operações espaciais, o estágio das operações
concretas. A produção de uma dissertação expositiva e, com maior razão ainda, de uma dissertação
argumentativa, requer que a criança já tenha atingido o nível das operações formais.

— (PIAGET, 1972, p. 47)

Pensando nisso, a organização dos currículos escolares e dos livros didáticos deve
levar em consideração a complexidade linguística, atendendo ao nível de
desenvolvimento mental da criança. Também é importante mencionar que estudos
desenvolvidos por Vigotski e Luria, citados na obra de Luria (1979), denotam a
relação entre o desenvolvimento da linguagem e a formação dos processos
mentais complexos, evidenciando grandes mudanças nas estruturas mentais com
o desenvolvimento da linguagem.

ASSIMILE

Segundo Luria (1979, p. 211):


A linguagem não somente permite entrar mais profundamente nos fenômenos da
realidade, nas relações entre as coisas, ações e qualidades, e possui um sistema
de construções sintáticas que permitem formular ideia, expressar um julgamento,
mas também dispõe de formações mais complexas que possibilitam o
pensamento teórico, o que permite ao homem sair dos limites da experiência
imediata e tirar conclusões por um caminho abstrato lógico-verbal.

66
Como você pode notar, a escrita exige o desenvolvimento de processos mentais
específicos e, com base em uma análise psicolinguística, os problemas
relacionados à aprendizagem na alfabetização podem indicar a necessidade de
observar a maturidade linguística.

0
seõçatona reV
FOCO NA BNCC

De acordo com a BNCC:


[...] sistematiza-se a alfabetização, particularmente nos dois primeiros anos, e
desenvolvem-se, ao longo dos três anos seguintes, a observação das regularidades
e a análise do funcionamento da língua e de outras linguagens e seus efeitos nos
discursos. (BRASIL, 2018, p. 89)

O desenvolvimento verbal e as demais capacidades humanas se desenvolvem nas


relações humanas e o desenvolvimento da linguagem é um processo diretamente
ligado à maturação do organismo humano e às interações sociais, por isso a
criança vai, progressivamente, tornando-se capaz de estabelecer associações
simples entre as palavras e os objetos e situações.

A comunicação do bebê e da criança pequena é situacional. Isso significa que tem


como principal objeto as relações materiais, imediatas, aquilo que eles podem ver
e pegar. Como resultado da dinâmica da atividade comunicativa, com o passar do
tempo, a criança vai se tornando capaz de estabelecer relações mediadas pelas
palavras:


Os significados das palavras se desenvolvem: a linguagem oral se complexifica e se torna intelectual. O
pensamento torna-se verbal. Nos três primeiros anos de vida, a atividade comunicativa que a criança estabelece
com os adultos e, também, com outras crianças tem importância fundamental nesse processo: quanto mais
ricas forem as oportunidades de diálogo com as crianças, tanto maiores serão as possibilidades de
complexificação da linguagem oral e do pensamento infantis.

— (BISSOLI, 2014, p. 839)

Outro aspecto relacionado à psicolinguística são as habilidades metalinguísticas:


você já ouviu falar em metalinguagem? O termo refere-se à cognição acerca da
linguagem, especificamente à capacidade do indivíduo de tratar a linguagem como
objeto de análise e reflexão e à capacidade de controlar e planejar seus próprios
processos linguísticos.

Quadro 2.3 | Diferença entre habilidade metacognitiva e metalinguística

Metacognitiva Metalinguística

Quando o indivíduo analisa e monitora Reflexão consciente sobre a linguagem


o seu raciocínio de forma consciente. oral e escrita.

Fonte: elaborado pela autora.

Será que as habilidades metalinguísticas podem ser desenvolvidas por meio de


atividades que levem à reflexão sobre a língua? A resposta a essa questão é
positiva, uma vez que as atividades que levam à reflexão são necessárias no
processo de alfabetização. Como exemplo temos as habilidades para “segmentar a
linguagem em palavras, sílabas e fonemas; para identificar os signos linguísticos

67
diferenciando significante e significado; para perceber e identificar sons em
palavras diferentes, para apreciar a coerência sintática e semântica dos
enunciados, entre outras” (SANTOS, 2014, [s.p.]).

0
Portanto, é importante considerar o papel ativo dos estudantes, levando-os a
pensar sobre a própria aprendizagem e isso ocorrerá mediante a organização de

seõçatona reV
atividades desafiadoras. A percepção da criança sobre a escrita deve ser ampliada
pela escola, mesmo que por vezes a criança já identifique a importância da escrita
em outras situações sociais. No ambiente escolar escrever significa meramente um
ato mecânico de reprodução. Esse fato nos direciona a explorar as contribuições
da sociolinguística para a alfabetização.

SOCIOLINGUÍSTICA
Você sabia que a sociolinguística considera que a alfabetização é um processo
relacionado aos usos sociais da língua? Essa área postula que as crianças quando
chegam na escola dominam um dialeto próprio e quanto mais esse dialeto se
aproxima do padrão formal da língua escrita, mais é considerado apropriado pela
escola. No entanto, deve-se observar que entre os dialetos orais e a língua escrita
há diferenças relativas ao sistema fonológico e ortográfico, além de “diferenças de
léxico, morfologia e sintaxe” (SOARES, 1985, p. 22).

Essas diferenças repercutem no processo de alfabetização, principalmente quando


não são consideradas as variedades nos dialetos nas diferentes regiões do país. Os
encaminhamentos pedagógicos devem prever estas especificidades e a Base
Nacional Comum Curricular possibilita que as características regionais sejam
contempladas, ao reforçar a necessidade de inserção da parte diversificada no
currículo escolar.

A percepção dos estudantes sobre os usos e funções atribuídos à língua escrita é


um fator que também modifica o desempenho dos estudantes. A língua oral e
escrita têm finalidades distintas e são utilizadas em diferentes situações de
comunicação. De acordo com Soares (1985, p. 22), “as funções e objetivos
atribuídos à leitura e à escrita pelas classes populares, e a utilização dessas
habilidades por estas classes, são inegavelmente diferentes” e esse aspecto
demonstra que o processo de alfabetização não é neutro em relação ao contexto
cultural e social em que ocorre.

POR DENTRO DA BNCC

Na Base Nacional Comum Curricular, no conteúdo introdutório referente à


língua portuguesa, indica-se que:


O Eixo da Análise Linguística/Semiótica envolve os procedimentos e estratégias
(meta)cognitivas de análise e avaliação consciente, durante os processos de leitura
e de produção de textos (orais, escritos e multissemióticos), das materialidades
dos textos, responsáveis por seus efeitos de sentido, seja no que se refere às
formas de composição dos textos, determinadas pelos gêneros (orais, escritos e
multissemióticos) e pela situação de produção, seja no que se refere aos estilos
adotados nos textos, com forte impacto nos efeitos de sentido. (BRASIL, 2018, p.
80)

68
Nesse componente, encontram-se, por exemplo, a semântica e a variação
linguística:


Semântica

0
• Conhecer e perceber os efeitos de sentido nos textos decorrentes de fenômenos léxico-

seõçatona reV
semânticos, tais como aumentativo/diminutivo; sinonímia/antonímia; polissemia ou
homonímia; figuras de linguagem; modalizações epistêmicas, deônticas, apreciativas;
modos e aspectos verbais.

Variação linguística

• Conhecer algumas das variedades linguísticas do português do Brasil e suas diferenças


fonológicas, prosódicas, lexicais e sintáticas, avaliando seus efeitos semânticos.

• Discutir, no fenômeno da variação linguística, variedades prestigiadas e estigmatizadas e


o preconceito linguístico que as cerca, questionando suas bases de maneira crítica.
(BRASIL, 2018, p. 83)

Após conhecer todas essas contribuições que nos ajudam a olhar as diferentes
naturezas do processo de alfabetização, é possível reafirmar o quanto é
importante que professor alfabetizador compreenda e mobilize os conhecimentos
relativos à linguística, psicolinguística e sociolinguística para organizar o ensino,
tomando decisões assertivas na condução da aprendizagem dos estudantes
durante a alfabetização.

PESQUISE MAIS

Para aprender mais sobre fonologia e variedade linguística, sugere-se a


leitura do artigo:

ANDRÉ, T. C. Princípios básicos de fonética e fonologia para a compreensão


do processo de alfabetização em contexto de variedade linguística. In:
CONGRESSO NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 12., 2015, [S.l.]. Anais
[...]. [S.l.], PUCPR, 26 a 29 out. 2015. p. 41745-41757.

Nesse material, são apresentados princípios básicos de fonética, fonologia e


alfabetização linguística. A alfabetização linguística é importante para a
compreensão leitora e o desenvolvimento da escrita.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1


“[...] o processo de alfabetização é, fundamentalmente, um processo de transferência da sequência temporal da
fala para a sequência espaço-direcional da escrita”.

— (SOARES, 1985, p. 22)

O excerto se refere a uma faceta do processo de alfabetização, assinale a


alternativa correspondente:

a. Psicolinguística.

b. Linguística.

c. Prontidão.

d. Sociolinguística.

e. Maturidade.

69
Questão 2
A fala é atualizada diariamente pelos falantes, que criam novas palavras e
expressões, o que expande o afastamento entre a fala e a escrita. A aprendizagem
da ortografia conduz a um trabalho reflexivo sobre a escrita favorecendo uma

0
aprendizagem consciente sobre a representação gráfica (ZORZI, 1997).

seõçatona reV
Tomando como referência os aspectos envolvidos na compreensão ortográfica,
julgue as afirmativas a seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas.

( ) Segmentação: ocorrência de pausas e separações.

( ) Disfunções psiconeurológicas da aprendizagem da leitura e da escrita, afasia,


dislexia, disgrafia, disortografia.

( ) Posição de cada letra no espaço gráfico e a direção da escrita.

( ) Variações entre o modo de pronunciar as palavras e a maneira de escrevê-las.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta:

a. V – V – F – F.

b. F – F – V – V.

c. V – F – V – F.

d. V – F – V – V.

e. V – V – V – F.

Questão 3
Para Piaget (1972, p. 47):


A descrição e a narrativa exigem da criança o domínio das operações espaciais, o estágio das operações
concretas. A produção de uma dissertação expositiva e, com maior razão ainda, de uma dissertação
argumentativa, requer que a criança já tenha atingido o nível das operações formais.

Considerando as informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

A organização dos currículos escolares e dos livros didáticos deve levar em


consideração a complexidade linguística, deslocada do nível de
desenvolvimento mental da criança.

Os problemas relacionados à aprendizagem na alfabetização podem indicar a


necessidade de observar a maturidade linguística.

A criança vai, progressivamente, tornando-se capaz de estabelecer associações


simples entre as palavras e os objetos e situações.

O desenvolvimento da linguagem é um processo diretamente ligado à


maturação do organismo humano e às interações sociais, por isso a criança vai,
progressivamente, tornando-se capaz de estabelecer associações.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

70
e. I, II, III e IV.

REFERÊNCIAS

0
ANDRÉ, T. C. Princípios básicos de fonética e fonologia para a compreensão do

seõçatona reV
processo de alfabetização em contexto de variedade linguística. In: CONGRESSO
NACIONAL DE EDUCAÇÃO – EDUCERE, 12., 2015, [S.l.]. Anais [...]. [S.l.], PUCPR, 26 a
29 out. 2015. p. 41745-41757. Disponível em: https://bit.ly/3ueCL8N. Acesso em: 12
ago. 2020.

BISSOLI, M. F. O desenvolvimento da linguagem oral da criança: contribuições da


Teoria Histórico-Cultural para a prática pedagógica na creche. Perspectiva,
Florianópolis, v. 32, n. 3, p. 829 - 854, set./dez. 2014. Disponível em:
https://bit.ly/3dnT39o. Acesso em: 9 ago. 2020.

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LURIA, A. R. Curso de psicologia geral. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 1979.

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PIAGET, J. A epistemologia genética. Petrópolis: Vozes, 1972.

POERSCH, J. M. A maturidade linguística e a aquisição do código escrito. Letras De


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SOARES, M. B. As muitas facetas da alfabetização. Cad. Pesq., São Paulo, v. 52, p.


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Acesso em: 12 fev. 2021.

71
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
CONTRIBUIÇÕES DA LINGUÍSTICA, DA PSICOLINGUÍSTICA E DA
SOCIOLINGUÍSTICA

0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

COMO PROCEDER QUANDO AS CRIANÇAS TROCAM AS LETRAS AO ESCREVER?


Utilize seus conhecimentos sobre o sistema fonológico para solucionar esse desafio.

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Você deve se lembrar que, na situação-problema apresentada anteriormente, a
professora Clara está com dificuldades em intervir nas situações em que as
crianças trocam as letras ao escrever e pede sugestões aos seus colegas.

O questionamento feito por ela expõe a importância de realizar um trabalho


relacionado à fonologia. Isso porque a criança precisa entender a relação entre
letras e sons: o sistema fonológico representa a construção da consciência
fonológica pela criança, que é definida como a capacidade de focalizar os sons das
palavras (dissociando-as de seu significado) e de segmentar as palavras nos sons
que as constituem.

Independentemente da metodologia utilizada pelo professor, o processo de


alfabetização que parte da consciência fonológica influencia a aquisição da leitura
e escrita de maneira positiva e é bastante “comum a troca de letras para a

72
produção de sons com o mesmo lugar de articulação. Geralmente o alfabetizando
troca, na escrita, as letras que representam sons sonoros, por letras que
representam sons surdos com o mesmo lugar de articulação” (ANDRÉ, 2015, p.
41750).

0
Frente ao problema relatado pela professora, Maria, que também atua no segundo

seõçatona reV
ano, sugeriu que Clara explore a consciência fonêmica, capacidade de analisar os
fonemas que compõem as palavras. Ela apresentou os seguintes
encaminhamentos possíveis:

Recitar o trava-língua O rato:


O rato roeu a roupa do rei de Roma.

A rainha com raiva resolveu remendar.

Circular a letra R no trava-língua.

Apresentar desenhos que representem os personagens ou objetos que


aparecem no texto para que a criança escreva os nomes: rei, roupa, rato etc.

Brincar com as palavras trocando os sons: \R \ por \P\


O rato roeu a roupa do rei de Roma.

O __ato __oeu a __oupa do __ei de __oma.

A rainha com raiva rasgou o resto.

A __ainha com __aiva __asgou o __esto.

Escrever palavras com R no início, no meio e no final.

Clara percebeu que não havia realizado atividades em que as crianças poderiam
perceber os sons, ficou grata com as orientações que recebeu da professora Maria
e já está com muitas ideias para desenvolver com seus alunos.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
CICLO DE ALFABETIZAÇÃO
A diretora da escola Sol Nascente recebeu um questionamento do conselho
escolar indagando o porquê da não reprovação da criança no primeiro ano do
ensino fundamental. Uma mãe de aluno que também é presidente do conselho
disse que muitos pais já perguntaram sobre isso, pois entendem que a escola deve
ser mais exigente, retendo as crianças que não aprenderam a ler e escrever no
primeiro ano. Imagine-se no lugar da diretora para responder ao questionamento
do conselho.

RESOLUÇÃO 

A diretora pode iniciar a explicação mostrando que a Base Nacional Comum


Curricular prevê um ciclo de dois anos com foco na alfabetização, mas que as
habilidades continuarão a ser exploradas ao longo do ensino fundamental.
Outro argumento que poderá ser apresentado tem relação com a maturidade
da criança.

73
De acordo com a psicolinguística, a escrita exige o desenvolvimento de
processos mentais específicos. Segundo Poersch (1992), a alfabetização exige
determinado estágio de desenvolvimento global, que ocorre por volta dos 7
anos, idade que corresponde ao amadurecimento linguístico e mental. Isso

0
indica que os conteúdos devem ser explorados de forma gradativa.

seõçatona reV
Aos 6 anos, idade em que é matriculada no ensino fundamental, a criança está
compreendendo a organização da nova escola, os conhecimentos, formulando
suas primeiras hipóteses sobre a escrita e tudo isso precisa ser explorado de
forma gradativa e lúdica. A partir da fala da diretora, a presidente do conselho
compreendeu que a reprovação não é sinônimo de aprendizagem: a criança
tem tempo para explorar as aprendizagens sem a cobrança excessiva
relacionada à reprovação.

74
NÃO PODE FALTAR
OS DIFERENTES MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO: COMO E
QUANDO UTILIZÁ-LOS

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
QUAIS SÃO OS MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO?
Nesta seção, você aprenderá sobre os métodos sintéticos e os métodos analíticos. Também
entenderá quais foram as contribuições do construtivismo para a alfabetização.

Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Caro estudante, seja bem-vindo à terceira seção desta unidade de estudos em que
estamos discutindo a alfabetização. Por meio dos conhecimentos apresentados,
pretende-se que você conheça o processo de alfabetização de forma ampla,
identifique todas as variáveis que interferem na aquisição e desenvolvimento da
leitura e escrita, conheça os diferentes métodos de alfabetização e saiba utilizá-los
de acordo com o contexto.

Você já viu alguma cartilha para a alfabetização? Durante um tempo considerável,


elas exerceram um papel muito importante e, de modo geral, elas traziam certo
conforto aos professores. Essas cartilhas estavam organizadas como se o
estudante partisse do zero e ele progredia estudando ponto a ponto, do mais fácil
para o mais difícil, o que passava uma ideia de organização, facilitando a avaliação,
pois bastaria identificar aquele que não estava conseguindo acompanhar as
atividades da cartilha.

As práticas pedagógicas evoluem em função das circunstâncias e necessidades sociais.


Como as características dos aprendizes são totalmente diferentes na atualidade, é preciso
repensar a escola, as metodologias e a avaliação. As dificuldades na alfabetização, para
quem ensina e para quem aprende, continuam presentes como um abismo que separa as
pesquisas científicas da sala de aula.

75
Atualmente, sabe-se muito sobre a alfabetização, mas o que falta para que todos
os aprendizes passem por essa etapa desenvolvendo as habilidades e
competências previstas nas políticas educacionais para essa fase? É possível
afirmar que a resposta para essa questão não reside em um único fator, porém

0
existe algo determinante, capaz de transformar esse percurso: o conhecimento do

seõçatona reV
professor.

Durante os estudos que você fará nesta seção, será possível conhecer e
compreender os métodos de alfabetização e saber como utilizá-los. Um ponto
muito importante nesse estudo é perceber que a criança tem conhecimento sobre
a escrita antes mesmo de entrar na escola. A relevância dos temas abordados
reside na importância do professor alfabetizador saber articular teoria e prática,
realizando a análise constante daquilo que é elaborado pelo aprendiz, mobilizando
elementos do contexto social e cultural com temas do interesse dos alunos, sem
deixar de contemplar os aspectos linguísticos e ortográficos implicados nessa
prática.

Nessa dinâmica, cada professor constrói a sua receita, mas ela é intransferível e
personalizada, elaborada individualmente para cada aprendiz, considerando os
encaminhamentos metodológicos que o professor dispõe e o que aquele aluno
necessita em cada momento da trajetória.

Você tem acompanhado que a secretaria municipal da cidade de Primavera propôs


a construção de um referencial orientador para as escolas municipais, partindo de
uma proposta da iniciativa da equipe gestora de apresentar às instituições
escolares um direcionamento para a elaboração dos currículos. A expectativa da
secretaria de educação é que o documento seja o reflexo de perspectivas, estudos
e decisões tomadas pelos professores de todas as áreas que ali atuam.

Pensando nisso, para elaborar o documento foram organizados grandes grupos de


estudos com os professores de toda a rede, os quais foram divididos por etapa e
ano. É importante lembrar que o documento deve estar articulado aos
conhecimentos propostos pela Base Nacional Comum Curricular, pois irá nortear a
elaboração das propostas pedagógicas de todas as escolas

Durante a elaboração do referencial, uma coordenadora pedagógica sugeriu a


definição de um método de alfabetização que seria utilizado em todas as turmas
para facilitar o trabalho dos professores. Essa sugestão gerou a seguinte discussão:
será que a escolha de um método considerado eficaz é capaz de garantir que
todos os alunos aprendam?

Novos desafios ampliam horizontes, abrindo portas para a elaboração de novos


conhecimentos. Esta é mais uma oportunidade para aprender, pensar, questionar
e criar, vamos começar?

CONCEITO-CHAVE
Uma nova proposta metodológica está sempre vinculada às condições materiais,
históricas, culturais e em algumas situações ela se liga à ruptura com o que é
realizado até aquele momento. Os métodos de alfabetização sempre estiveram no
centro das discussões sobre a alfabetização, entretanto, mesmo sendo

76
amplamente explorado, na atualidade, o tema ainda está em pauta. Embora o
método não seja uma receita, o professor alfabetizador precisa conhecer e saber
quando e como utilizá-lo. Você concorda?

0
Vamos conhecer os métodos de alfabetização, demarcando o seu predomínio no
tempo histórico. Ao retomar os métodos de alfabetização na história, Mortatti

seõçatona reV
(2006), apresenta a existência de quatro momentos:

Quadro 2.4 | História dos métodos de alfabetização no Brasil

1º 1876 – A metodização

Antes de 1889: ensino leitura/escrita – transmissão


assistemática em casa ou “aulas régias”.

1889: Proclamação da República. Inicia-se a universalização


da escola.

A partir de 1889: prática organizada nas escolas.

Até final do Império: métodos sintáticos (alfabético e


silábico).

1880: método João de Deus – ‘Palavração’.

Funda-se nova tradição: ensino da leitura envolve questão


do método.

2º 1890 – A institucionalização do método analítico

Método analítico: influência da pedagogia norte-americana


– “criança apreende o mundo de forma sincrética”.

Adaptação do ensino à nova concepção de criança.

Ensino começa do TODO para as partes constituintes


(TODO = palavra/sentença/história).

3º 1920-1970 – A alfabetização sob medida

Cartilhas métodos mistos (Caminho Suave em 1948-1990).

Período preparatório: exercícios de discriminação


visomotora, auditivomotora, posição corpo e membros,
coordenação motora grossa e fina.

4º 1980 – A desmetodização

A prática e tradição anterior são questionadas.

Introduz-se no Brasil a concepção construtivista (1986).

Nova teoria se apresenta como revolução conceitual, há


abandono das práticas consideradas tradicionais.

Fonte: adaptado de Mortatti (2006, p. 4).

77
Nos quatro momentos apresentados por Mortatti (2006), ocorreu a presença
hegemônica de determinada abordagem metodológica e concepção de
aprendizagem, no caso do construtivismo. O panorama apresentado por Mortatti
(2006) evidencia a mudança na maneira de conceber os encaminhamentos

0
didático-metodológicos na alfabetização. Que tal explorar as características dos

seõçatona reV
métodos de alfabetização para compreender como e por que as práticas de
alfabetização foram da metodização a desmetodização?

Quase no final do Império brasileiro, as aulas régias aconteciam em ambientes


precários, com materiais precários e turmas multisseriadas. Nesse contexto, a
alfabetização era realizada com as “Cartas de ABC”. As primeiras cartilhas foram
produzidas no final do século XIX, e assim como as Cartas de ABC, utilizavam
método de marcha sintética: de soletração, fônico e de silabação. Nesse período há
o consenso com relação à importância de seguir o método presente nas cartilhas.

ASSIMILE

O caminho sintético tem mais de 2000 anos e é considerado o mais antigo


de todos. Obras da avançada civilização grega e romana apresentam que
inicialmente eram ensinados os nomes das letras, depois as formas, as
sílabas e, só então, as palavras.

MÉTODOS SINTÉTICOS
Os métodos de marcha sintética partem da parte para o todo, ou seja, da letra
para a sílaba, da sílaba para a palavra, da palavra para a frase até chegar no texto.
Além disso, a escrita estava vinculada à caligrafia e ortografia, realização de
exercícios de cópia e ditado. O método alfabético ou soletração, o método fônico e
o método silábico são de marcha sintética, vamos conhecê-los?

No método alfabético ou soletração, o trabalho é iniciado apresentando o nome


da letra, depois sua forma, valor sonoro, sílabas e suas modificações e as palavras.
Os estudantes aprendem memorizando as letras do alfabeto e as combinações
possíveis com duas ou três letras usando a soletração. O foco não está no
significado das palavras e, por isso, o método pode ser cansativo para os
estudantes, pelo fato de as palavras não terem relação com situações
significativas.

O método fônico consiste no ensino da leitura partindo do som da letra, desse


modo aprender a ler obedece às seguintes etapas: som da letra – representação
gráfica – palavra e frase. A técnica tem início com o ensino do som das vogais,
posteriormente a junção das vogais e logo após a junção com as consoantes.

EXEMPLIFICANDO

1º) A – E – I – O – U.

2º) Ai, Ei, Oi, Eu.

Existem materiais que relacionam essa apresentação aos personagens de


uma história, por exemplo: Eva segurou a mão do Urso, juntos fizeram um
som, qual foi? EU

78
Exemplo de atividade de revisão:

Olhem o quadro, vamos dizer o som de cada letra. Agora vamos completar
o quadro, unindo as letras e escrevendo as sílabas correspondentes:

0
A E I O U ÃO

seõçatona reV
F

Para ensinar as consoantes, o professor apresenta o som da letra e o repete com


os estudantes, por exemplo: o vento faz v v v v v. Na sequência, é realizada a
ligação da consoante aprendida com cada vogal: va, ve, vi, vo, vu, momento em
que o professor evidencia que se trata da junção de sons e, posteriormente, ocorre
a composição de palavras: viva – vive – vovó e frases: vovó viu a uva. Depois são
realizados os encontros consonantais e dígrafos.

A silabação ou processo silábico foi criado pelo pedagogo alemão Samuel de


Heinicke, que atuava como professor de surdos e ensinava leitura labial. Durante
esse trabalho, Heinicke concluiu que seus alunos:

[...] aprendiam mais depressa quando mostrava as sílabas escritas e ao mesmo tempo as pronunciava, para
poderem lê-las nos lábios. A silabação foi considerada um grande passo no ensino da leitura por ter a sílaba


resistência real na linguagem falada. As sílabas constituíam unidades sonoras que os ouvidos percebiam e
discriminavam claramente. Esse processo foi aprovado em todas as crianças, notando-se que se aprendia mais
depressa quando se escrevia a sílaba que seria pronunciada pelo professor e repetida pelo aluno.

— (OLIVEIRA, 1983, p. 68)

As combinações de vogais e consoantes são introduzidas em atividades separadas


e com elas novas palavras são formadas por meio de exercícios de junção, por
exemplo: “ca” de “casa”, “ma” de “mala” para formar a palavra “cama”. Note que a
ênfase é na mecânica da leitura, a escrita é secundária e só ocorre após a fixação
do vocabulário. Atualmente, a silabação ainda está presente, não como um
método único, mas em atividades desenvolvidas por professores a fim de
favorecer a sistematização da compreensão da escrita alfabética pela criança.

REFLITA

A utilização exclusiva de métodos de marcha sintética pode conduzir ao


afastamento da realidade social, o que provocaria o desinteresse da criança
pela ênfase na decodificação automática de palavras?

Retomando a história dos métodos de alfabetização no Brasil, Mortatti (2006)


menciona a institucionalização dos métodos analíticos. A partir de 1890, o estado
de São Paulo implementou a reforma da instrução pública que serviria como
modelo para os demais estados brasileiros. A base da reforma estava nos métodos
de ensino e as professoras formadas pela Escola Normal de São Paulo difundiram
a nova proposta metodológica.

ASSIMILE

79
Mortatti (2006, p. 7) explica que:


Diferentemente dos métodos de marcha sintética até então utilizados, o método
analítico, sob forte influência da pedagogia norte-americana, baseava-se em
princípios didáticos derivados de uma nova concepção – de caráter

0
biopsicofisiológico – da criança, cuja forma de apreensão do mundo era entendida
como sincrética. A despeito das disputas sobre as diferentes formas de
processuação do método analítico, o ponto em comum entre seus defensores

seõçatona reV
consistia na necessidade de se adaptar o ensino da leitura a essa nova concepção
de criança.

MÉTODOS ANALÍTICOS
Os métodos analíticos, também conhecidos como métodos globais, fazem o
caminho inverso dos métodos sintéticos, iniciando do todo para as partes, ou
seja, partindo de unidades maiores para unidades menores.


Quando se quer mostrar um casaco para a criança, não se começa dizendo e mostrando separadamente a gola,
depois os bolsos, os botões, a manga do casaco. O que se faz é mostrar o casaco para dizer para a criança: ―
isto é um casaco.

— (BARBOSA, 1994, p. 50 apud MOREIRA, 2013, p. 35)

Nicolas Adams (1780) foi um dos precursores dessa metodologia, que em meados
do século XVIII traçou as principais ideias que sustentam a proposição dessa
abordagem. Para ele, a aprendizagem precisava estar relacionada à realidade dos
alunos, pois apresentando fragmentos “perderia todo o sentido da leitura da
palavra. Porém se mostrasse do todo para as partes, a criança desde o início
assimilaria o sentido, não tornando superficial a aprendizagem, que se restringia
apenas para a decodificação alfabética” (MOREIRA, 2013, p. 36).

Para explorar os métodos analíticos, vamos conhecer o método de palavração, o


método de sentenciação e o método Global. O método de palavração consiste na
apresentação de palavras, para isso podem ser utilizados diversos recursos,
desenhos, músicas, histórias, curiosidades. Quando foi criado apresentava-se
apenas a palavra aos estudantes, com a evolução, englobou-se o processo
ideovisual, mostrando palavras ligadas ao desenho. A palavra é apresentada com a
representação por meio de imagem ou desenho acompanhado da escrita e os
alunos aprendem a reconhecer pelo formato gráfico.

EXEMPLIFICANDO

1º Apresentação do desenho mais a palavra escrita.

Figura 2.2 | Vaca

VACA
Fonte: Shutterstock.

80
2º Ensino simultâneo: leitura e escrita da palavra, reconhecimento gráfico
da palavra.

3º Decomposição da palavra em sílabas: as crianças repetem a palavra

0
para perceber que é formada por pedacinhos (corte da palavra em sílabas e
junção). Isso pode ser feito com alfabeto móvel, sílabas recortadas de

seõçatona reV
revistas etc.

4º Reconhecimento de sons (fonemas, vogais, consoantes): atividades


em que o aluno precisa identificar palavras que comecem ou terminem com
o mesmo som.

5º Formação de palavras novas com sílabas já conhecidas.

Observação: também é possível usar listas de palavras.

No método de sentenciação, o trabalho é iniciado pela frase, a unidade de


pensamento, para isso é importante que as sentenças apresentadas pelo
professor tenham significado, despertando o interesse da criança. Considerando
essa característica, as frases devem estar relacionadas às experiências das
crianças, adotando um vocabulário familiar, e não devem ser muito longas, o
trabalho segue a lógica: 1º frase, 2º palavras, 3º sílabas e 4º letras.

Você já ouviu falar sobre o método global de contos/historietas? Segundo Frade


(2007), esse método foi divulgado por Lucia Casasanta e existem variações quanto
aos encaminhamentos propostos para o método, entretanto, eles podem ser
sintetizados da seguinte maneira:

Quadro 2.5 | Método global

Fase da história Reconhecimento global de um texto (feito juntamente com


as crianças ou produzido por um autor), que é memorizado
e “lido” durante um período.

Fase da sentença Reconhecimento e identificação rápida de sentenças do


mesmo texto.

Fase de porção Reconhecimento de expressões em sentenças conhecidas.


de sentido

Fase de Reconhecimento de palavras nas sentenças e depois


palavração decomposição/recorte de sentenças em palavras.

Fase da Ocorre quando a criança já fez vários exercícios de


silabação observação de semelhanças e diferenças entre as palavras.

Fonte: adaptado de Frade (2007, p. 21-40).

CONSTRUTIVISMO

81
A partir de 1980 o foco da alfabetização é direcionado para a criança, sujeito
cognoscente, centro do processo de aprendizagem. A partir dos estudos
construtivistas, as práticas educacionais são modificadas, porém não se tratava de
um novo método, mas de um aporte teórico que evidenciou o papel ativo do

0
aprendiz. Com base nos estudos de Jean Piaget, foi elaborada a psicogênese da

seõçatona reV
língua escrita, evidenciando a construção de hipóteses e respostas das crianças a
partir de suas experiências com a leitura e a escrita.

O termo psicogênese pode ser compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos
e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o desenvolvimento, desde os


anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer objeto ou campo de conhecimento. No campo da aquisição da
escrita, esta concepção se associa aos estudos psicogenéticos de Emília Ferreiro, Ana Teberosky e vários
colaboradores, originalmente divulgados em países de língua espanhola, na década de 1970, com forte impacto
no Brasil, a partir da década seguinte, sobretudo na Educação Infantil e nos anos iniciais destinados à
alfabetização.

— (BREGUNCI, 2014, [s.p.], grifos da autora)

A psicogênese representou uma revolução para a área da alfabetização, trazendo à


tona a compreensão da trajetória da criança em direção à escrita alfabética, a
interpretação da criança e a formulação de hipóteses sobre o que é ler e escrever.
Assim, a alfabetização foi classificada pela autora nos seguintes níveis: pré-silábico,
silábico, silábico-alfabético e alfabético. Como identificar em que nível a criança
está? Vamos conhecer as principais características!

Quadro 2.6 | Níveis de alfabetização de acordo com a psicogênese da língua escrita

Características
Nível

Pré-silábico Não relaciona as letras com o som. Passa pelo nível icônico
e garatuja.eleifend

Silábico Já inicia uma representação da escrita.

Sem valor sonoro: utiliza uma letra qualquer para cada


sílaba.

Com valor sonoro: cada sílaba é representada por uma


vogal ou consoante que expressa o seu som
correspondente.

Silábico-alfabético O aprendiz constrói sozinho hipóteses silábicas e


compreende a relação entre letras e sons.

Alfabético Já está alfabetizado, alguns erros ainda irão aparecer, mas


devem ser considerados como erros construtivos.

Fonte: elaborado pela autora.

No nível pré-silábico, inicialmente, o aprendiz pensa que pode escrever com


desenhos, rabiscos, letras ou outros sinais gráficos, imaginando que a palavra
representa o objeto a que se refere. Há um avanço quando se percebe que a

82
palavra escrita não representa o objeto, mas o seu nome. Ao aprender as letras
que compõem o próprio nome, o aprendiz percebe que se escreve com letras que
são diferentes de desenhos. Entretanto, “mesmo após tomar consciência de que se
escreve com letras, o aprendiz tenderá a grafar um número de letras,

0
indiscriminado, sem antecipar quantos e quais caracteres precisará usar para

seõçatona reV
registrar palavras” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

No nível silábico, inicialmente, não há valor sonoro, ou seja, a criança poderá


representar uma letra qualquer para cada sílaba de uma palavra, por exemplo,
COPO – AOI. Essa passagem do nível pré-silábico para o silábico pode ser
explorada com atividades que vinculam a fala com a escrita. Assim,
progressivamente, os alunos descobrem:


[...] que a palavra escrita representa a palavra falada, acredita que basta grafar uma letra para se poder
pronunciar uma sílaba oral, mas só entrará para o nível silábico, com correspondência sonora, à medida que
seus registros apresentarem esta relação, por exemplo, para MENINO grafar, MIO (M=me, I=ni, O=no), para
GATO, GO (G=ga, O=to), BEA (B=bo, E=ne, A=ca) para BO-NE-CA, e assim por diante.

— (MENDONÇA e MENDONÇA, 2011, p. 40)

É importante destacar que não existe uma ruptura brusca entre as hipóteses
silábicas e alfabéticas, as situações de erros e sucessivas tentativas conduzem a
criança à compreensão do sistema alfabético. Nesse sentido, as trocas de letras
revelam a compreensão da criança sobre a escrita naquele momento, fazendo
parte do processo, e são chamados erros construtivos, que possibilitam ao
professor intervir.

No nível silábico alfabético, o aprendiz está em transição entre níveis


psicogenéticos e pode representar sílabas completas como representações
parciais da sílaba por uma só letra: por exemplo, para bicicleta: BCICETA, BICEA,
BIIETA etc.

Quando o aprendiz alcança o nível alfabético, já é capaz de analisar na palavra


suas vogais e consoantes. Acredita que as palavras escritas devem representar as
palavras faladas, com correspondência absoluta de letras e sons. “Já estão
alfabetizados, porém terão conflitos sérios, ao comparar sua escrita alfabética e
espontânea com a escrita ortográfica, em que se fala de um jeito e se escreve de
outro” (MENDONÇA; MENDONÇA, 2011, p. 40).

FOCO NA BNCC

A BNCC não direciona para um método específico. Na abordagem referente


à materialização do currículo, propõe que cabe ao contexto local:


Selecionar e aplicar metodologias e estratégias didático-pedagógicas
diversificadas, recorrendo a ritmos diferenciados e a conteúdos complementares,
se necessário, para trabalhar com as necessidades de diferentes grupos de
alunos, suas famílias e cultura de origem, suas comunidades, seus grupos de
socialização etc. (BRASIL, 2018, p. 16)

Observe que cada aluno irá avançar nas hipóteses em um ritmo próprio e a
construção pela criança depende de diversos fatores como suas interações sociais,
seu conhecimento prévio e as generalizações que ele realiza. Soares (2020) destaca

83
que se derivou da concepção construtivista uma ideia equivocada de que seria
incompatível com o paradigma psicogenético o uso de métodos de alfabetização.
Isto porque, quando se fala em método, se relaciona imediatamente aos modelos
considerados tradicionais, de marcha sintética.

0
O período de expansão da psicogênese da língua escrita, culminou na chamada

seõçatona reV
“desinvenção da alfabetização”, em virtude do entendimento equivocado de que
não era necessário um método, pois as práticas de letramento poderiam garantir
que a criança alcançasse a escrita alfabética, “tinha-se anteriormente, um método
e nenhuma teoria; com a mudança de concepção sobre o processo de
aprendizagem da língua escrita, passou-se a ter uma teoria e nenhum método”, é
preciso não ter medo do método, um método que seja o resultado de objetivos
claros, “numa perspectiva psicológica, linguística, social e política” (SOARES, 2020,
p. 40).

Nesse sentido, Soares (2020) ressalta a necessidade da reinvenção da alfabetização


integrando o letramento, o trabalho com a consciência fonológica e fonêmica e o
reconhecimento dos processos de codificação e decodificação da língua. Assim, é
necessário reconhecer que existem “muitas facetas” e a natureza de cada uma,
tanto na alfabetização quanto no letramento, demandam a adoção de
metodologias distintas.

PESQUISE MAIS

Amplie seus conhecimentos sobre a psicogênese da língua escrita


realizando a leitura do seguinte artigo:

MENDONÇA, O. S; MENDONÇA, O. C. Psicogênese da língua escrita:


contribuições, equívocos e consequências para a alfabetização. In:
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação.

Caderno de formação: formação de professores: Bloco 02: Didática dos


conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011, v. 2, p. 36-57.

Durante este estudo, você aprendeu que não há um método ideal para a
aprendizagem inicial da língua escrita. Vimos que existem múltiplos métodos que
podem ser mobilizados pelo professor durante a condução do percurso,
considerando a heterogeneidade da turma, as competências a serem
desenvolvidas e as percepções da criança sobre a escrita em situações de
letramento.

POR DENTRO DA BNCC

A BNCC prevê que ao final do segundo ano a criança tenha alcançado a


escrita alfabética:


Nos dois primeiros anos do Ensino Fundamental, a ação pedagógica deve ter
como foco a alfabetização, a fim de garantir amplas oportunidades para que os
alunos se apropriem do sistema de escrita alfabética de modo articulado ao
desenvolvimento de outras habilidades de leitura e de escrita e ao seu
envolvimento em práticas diversificadas de letramentos. Como aponta o Parecer
CNE/CEB nº 11/2010, “os conteúdos dos diversos componentes curriculares [...], ao

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descortinarem às crianças o conhecimento do mundo por meio de novos olhares,
lhes oferecem oportunidades de exercitar a leitura e a escrita de um modo mais
significativo” (BRASIL, 2010). (BRASIL, 2018, p. 59).

FAÇA VALER A PENA

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Questão 1

seõçatona reV
O caminho sintético tem mais de 2000 anos e é o mais antigo de todos. Obras da
avançada civilização grega e romana apresentam que inicialmente eram ensinados
os nomes das letras, suas formas, as sílabas e depois as palavras.

Considerando as características dos métodos sintéticos, julgue as afirmativas a


seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas.

( ) O foco não está no significado das palavras, desse modo pode se tornar
cansativo para os estudantes, pelo fato das palavras não terem relação com
situações significativas.

( ) A silabação ou processo silábico foi criado por Emília Ferreiro tomando por base
a teoria construtivista.

( ) O método fônico é um método sintético, o ensino parte do som das letras.

( ) A silabação foi considerada um grande passo no ensino da leitura por ter a


sílaba resistência real na linguagem falada.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

a. V – V – F – F.

b. F – F – V – V.

c. V – F – V – F.

d. V – F – V – V.

e. V – V – V – F.

Questão 2


“Quando se quer mostrar um casaco para a criança, não se começa dizendo e mostrando separadamente a
gola, depois os bolsos, os botões, a manga do casaco. O que se faz é mostrar o casaco para dizer para a criança:
― isto é um casaco” .

— (BARBOSA, 1994, p. 50 apud MOREIRA, 2013, p. 35)

Considerando o contexto apresentado, analise as afirmativas a seguir:

I. Os métodos analíticos, também conhecidos como métodos globais, fazem o


caminho inverso dos métodos sintéticos, iniciando do todo para as partes.

II. Na sentenciação, as combinações de vogais e consoantes são introduzidas em


atividades separadas e com elas novas palavras são formadas por meio de
exercícios de junção, por exemplo: “ca” de “casa”, “ma” de “mala” para formar a
palavra “cama”.

III. Os métodos analíticos foram difundidos nas escolas de São Paulo e serviram
como modelo para outros estados.
IV. O método de palavração consiste na apresentação de palavras e podem ser
utilizados diversos recursos, desenhos, músicas, histórias, curiosidades e apoio

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ideovisual.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

0
b. I, III e IV apenas.

seõçatona reV
c. I, II e III apenas.

d. I, II e IV apenas.

e. I, II, III e IV.

Questão 3


“O termo psicogênese pode ser compreendido como origem, gênese ou história da aquisição de conhecimentos
e funções psicológicas de cada pessoa, processo que ocorre ao longo de todo o desenvolvimento, desde os
anos iniciais da infância, e aplica-se a qualquer objeto ou campo de conhecimento”.

— (BREGUNCI, 2014, [s.p.], grifo da autora)

Considerando as características da psicogênese da língua escrita, julgue as


afirmativas a seguir em (V) verdadeiras ou (F) falsas.

( ) No nível pré-silábico, mesmo após tomar consciência de que se escreve com


letras, o aprendiz tenderá a grafar um número de letras, indiscriminado, sem
antecipar quantos e quais caracteres.

( ) A psicogênese é um método que apresenta a trajetória da criança em direção à


escrita alfabética, a interpretação da criança e a formulação de hipóteses sobre o
que é ler e escrever.

( ) As trocas de letras revelam a compreensão da criança sobre a escrita naquele


momento, fazendo parte do processo, são os chamados erros construtivos.

( ) As trocas de letras revelam a compreensão da criança sobre a escrita naquele


momento, fazendo parte do processo, são os chamados erros construtivos.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta.

a. V – V – F – F.

b. F – F – V – V.

c. V – F – V – F.

d. V – F – V – V.

e. V – V – V – F.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/2ZDmyf3. Acesso em: 27 jul.
2020.

BREGUNCI, M. G. C. Glossário Ceale de termos de alfabetização, leitura e


escrita para educadores. Belo Horizonte, CEALE/Faculdade de Educação da
UFMG, 2014. Disponível em: https://bit.ly/3qCjbkC. Acesso em: 26 ago. 2020.

86
FRADE, I. C. A. S. Métodos de alfabetização, métodos de ensino e conteúdos da
alfabetização: perspectivas históricas e desafios atuais. Educação (UFSM), v. 32, p.
21-40, 200

0
MENDONÇA, O. S; MENDONÇA, O. C. Psicogênese da língua escrita: contribuições,
equívocos e consequências para a alfabetização. In: UNIVERSIDADE ESTADUAL

seõçatona reV
PAULISTA. Pró-Reitoria de Graduação. Caderno de formação: formação de
professores: Bloco 02: didática dos conteúdos. São Paulo: Cultura Acadêmica, 2011,
v. 2, p. 36-57. Disponível em: https://bit.ly/3pvC1sg . Acesso em: 27 ago. 2020.

MOREIRA, A. R. M. Considerações sobre o método global de alfabetização.


Universidade de Brasília: Brasília. Faculdade de Educação (Trabalho Final de Curso),
2013. Disponível em: https://bit.ly/3pwIKC9 . Acesso em: 27 ago. 2020.

MORTATTI, M. R. L. História dos métodos de alfabetização no Brasil. Disponível


em: https://bit.ly/3dsqjML. Acesso em: 24 ago. 2020.

OLIVEIRA, M. H. C.; MONTEIRO, C. P. Metodologia da linguagem. 4. ed. São Paulo:


Saraiva, 1993.

SOARES, M. Alfabetização e letramento. 7. ed. São Paulo: Contexto, 2020.

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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
OS DIFERENTES MÉTODOS DE ALFABETIZAÇÃO: COMO E
QUANDO UTILIZÁ-LOS

0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

HÁ UM MÉTODO IDEAL PARA A ALFABETIZAÇÃO?


Com base nos conhecimentos adquiridos até o momento, reflita sobre esse questionamento
considerando a realidade das crianças.

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Em resposta à situação-problema apresentada, podemos afirmar que a
possibilidade de imposição de um único método a ser implementado em todas as
turmas de alfabetização da rede de ensino de Primavera é uma proposta
equivocada, que pode, inclusive, piorar os resultados da aprendizagem. Isto
porque as turmas não são homogêneas, pelo contrário, são compostas por alunos
com diferentes conhecimentos acerca da escrita.

A Base Nacional Comum Curricular não explicita a defesa de um método,


justamente por se tratar de uma particularidade do trabalho docente. A
psicogênese representou uma revolução para a área da alfabetização, trazendo à
tona a compreensão da trajetória da criança em direção à escrita alfabética e a
interpretação da criança e formulação de hipóteses sobre o que é ler e escrever.
Assim, a alfabetização foi classificada nos níveis pré-silábico, silábico, silábico-
alfabético e alfabético.

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Esses níveis podem ser observados pelo professor durante a alfabetização,
entretanto não há um prazo padrão para que a criança passe de um nível para
outro. Durante o desenvolvimento das atividades, o professor pode recorrer a
metodologias, projetos, sequências didáticas que possibilitem à criança generalizar

0
determinadas regras de organização da escrita.

seõçatona reV
Como mencionado por Soares (2020), é importante saber o que pretende e qual
será o caminho traçado para chegar ao objetivo, mas não se deve fugir dos
métodos. Se o professor não determina essa trajetória, é possível que o aluno
fique caminhando em círculos e não supere determinada dificuldade. Mas o
docente deve ter a liberdade para elaborar propostas metodológicas a partir dos
conhecimentos que possui sobre a teoria e sobre a turma. Frente à necessidade de
mudança, é possível que o docente replaneje a rota, mas sempre sabendo aonde
pretende chegar.

Quando se trabalha com único método, o ensino é direcionado a um grupo restrito


de alunos, isto é, apenas àqueles que conseguiram compreender a partir desse
método. E os demais? Serão rotulados como estudantes com dificuldade de
aprendizagem? Estarão fadados à reprovação? É fundamental dar aos estudantes
múltiplas possibilidades para aprender, questionando se em situações de
insucesso enfrentamos um problema na aprendizagem ou na “ensinagem”.

Após a realização de estudos sobre a proposta da coordenadora em estabelecer o


uso de um método único em todas as turmas de alfabetização, o método fônico, o
grupo e a própria coordenadora concluíram que não era uma proposta viável, pois
certamente algumas crianças teriam dificuldades. Assim, nesse caso, os
professores podem adotar diferentes percursos metodológicos.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
ESCRITAS ESPONTÂNEAS
No início da aula, a professora Mônica propôs que as crianças escrevessem em
seus cadernos o nome da escola e o dia da semana. Ela não apresentou um
modelo para as crianças, desse modo, as escritas são espontâneas. Vitor é um
aluno que foi matriculado recentemente, por meio de transferência de outra
escola. Ao olhar o caderno de Vitor, sua mãe não entendeu por que estavam
faltando algumas letras e foi conversar com a professora, pois imagina que se trata
de uma dificuldade de aprendizagem de seu filho. Como explicar para a mãe que a
característica da escrita de Vitor retrata as hipóteses elaboradas pela criança?

RESOLUÇÃO 

É fundamental que o professor alfabetizador domine a teoria e tenha


segurança para expor aos pais, em conversas particulares ou em reuniões, que
as escritas espontâneas são essenciais para analisar as hipóteses formuladas
pela criança. Quando o professor só trabalha com atividades prontas, muitas
vezes retiradas da internet, ele realiza um trabalho semelhante ao período de
utilização das cartilhas, pois tais atividades são mecânicas e preenchidas uma
após a outra. Na situação apresentada, a professora Mônica poderá explicar à
mãe como é a organização do seu trabalho, esclarecendo que os “erros”

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estavam presentes na atividade de Vitor por se tratar de uma escrita
espontânea, que mostrou que ele já está na fase de hipótese silábico-
alfabética.

0
seõçatona reV

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NÃO PODE FALTAR
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E A VARIEDADE LINGUÍSTICA

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Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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CONVITE AO ESTUDO
Olá, aluno, seja bem-vindo à terceira unidade!

Até agora você já explorou muitos conhecimentos sobre a alfabetização. Aliás,


diante das reflexões propostas, você compreendeu que devemos sempre
considerar o caráter processual das aprendizagens, isso porque aprender a ler e
escrever demanda a elaboração de hipóteses. Desse modo, você concorda que as
estratégias e os procedimentos adotados pelos docentes são fundamentais nesse
processo?

Na abordagem dos conhecimentos dessa unidade, trataremos das estratégias e


dos procedimentos para o processo de alfabetização, buscando compreender a
alfabetização como um processo longo e complexo que inicia na primeira infância
e está interligado com o uso social da leitura e escrita para uma prática significativa
e inclusiva. Nessa perspectiva, reside a importância da formação inicial e
continuada dos professores para uma prática refletiva e consciente. Também é
fundamental reconhecer as variações linguísticas como parte da construção social
e cultural e selecionar práticas pedagógicas que considerem estas diferenças.

Iniciaremos os estudos abordando a questão das práticas pedagógicas e a


variedade linguística, explorando a variação linguística (fonológica, lexical e
sintática), a distância entre a linguagem padrão e a linguagem não padrão,
associada ao fracasso escolar, desfazendo o mito da "deficiência linguística" das

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crianças provenientes das classes populares e as várias formas de linguagem
observadas em uma mesma comunidade linguística e a prática pedagógica em
uma perspectiva inclusiva.

0
Na sequência, serão retomados os conhecimentos sobre a psicogênese da língua
escrita e, nesse momento, você conhecerá as características de todos os níveis de

seõçatona reV
elaboração da escrita evidenciados nos estudos de Emília Ferreiro ao tratar das
hipóteses infantis e as estratégias para aquisição da leitura e escrita.

Como foi demonstrado em outros momentos, o professor é extremamente


importante nesse processo e, por isso, finalizaremos a unidade abordando a
importância das intervenções pedagógicas no processo de desenvolvimento da
criança, compreendendo como o professor atua como mediador. Também serão
tratados: a Zona de Desenvolvimento Proximal de Vygotsky, a abordagem
formativa, Bandura e a autorregulação da aprendizagem, estratégias cognitivas e
metacognitivas.

Vamos começar?

PRATICAR PARA APRENDER


Olá, estudante, como vai?

Nessa seção, vamos refletir sobre as práticas pedagógicas e a variedade linguística.


Nesse contexto, como as práticas escolares estão organizadas com relação ao
aluno que utiliza uma linguagem diferente da norma culta? Quando temos a
possibilidade de conviver com nossos avós ou ler um livro antigo, por exemplo,
percebemos o quanto a língua se modifica com o passar do tempo. Por vezes,
entramos em contato com palavras que não fazem parte do nosso vocabulário e o
mesmo acontece quando conversamos com alguém de outra região do país.

Os comportamentos, as vestimentas, a cultura e a tecnologia mudam. A língua, não


ficaria de fora e, por isso, acompanha também todas essas mudanças. Vamos,
então, propor algumas reflexões: como isso é compreendido pela escola? A escola
acompanha as mudanças sociais, reconhece a diversidade e acolhe a variação
linguística? Entretanto, é importante pensar que a escola é simplesmente um
prédio sem a ação das pessoas, assim, nos parece adequado mudar as perguntas:
como isso é compreendido pelos educadores? Os educadores acompanham as
mudanças sociais, reconhecem a diversidade e acolhem a variação linguística?

Estas e outras questões que conduzem a reflexão sobre a ação devem permear a
formação de professores, pois estes são os grandes formuladores de propostas e
promotores de práticas que tornam a educação inclusiva. Por isso, a presente
temática objetiva explicitar que todos são capazes de aprender, mas para que isso
ocorra, é fundamental se desfazer do mito da deficiência linguística das crianças
provenientes das camadas populares.

O domínio dos conhecimentos contemplados nesse material viabiliza a proposição


de um trabalho educacional emancipador, pautado no saber histórico, que
reconhece as inúmeras possibilidades educativas que se apresentam no contexto

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social e cultural de cada aluno, independentemente de sua classe social. Assim,
nos cabe pensar sobre o que é considerado certo ou errado e reconhecer que
todos têm algo a ensinar e que sempre há algo a ser aprendido.

0
Imagine se você atuasse em uma turma inteiramente composta por alunos que
enfrentam dificuldades para aprender? Essa é a realidade da professora Patrícia,

seõçatona reV
que já trabalhou em diferentes etapas da educação básica e, nesse ano, está
trabalhando com uma turma de reforço escolar, que funciona no contraturno da
turma regular em que os alunos estão matriculados.

A turma de reforço é frequentada por alunos que estão com dificuldade em língua
portuguesa e matemática. Muitos são alunos mais velhos que passaram por
sucessivas reprovações, mas como a professora trabalha com um número menor
de alunos, consegue fazer um trabalho mais individualizado.

Patrícia é uma professora muito dedicada, elabora o seu planejamento pensando


sempre em todas as competências e habilidades que pretende desenvolver com os
alunos, dentre elas a oralidade e o desenvolvimento do pensamento reflexivo, por
isso, procura inserir atividades que explorem a oralidade.

As aulas sempre começam com uma roda de conversa, as crianças devem contar
alguma novidade, algo que leram ou uma situação que vivenciaram em casa,
porém, alguns alunos não gostam de participar, não querem falar, e Pedro é um
deles. Certo dia, a professora o questionou e Pedro revelou que na outra turma as
crianças zombaram do seu jeito de falar. Será que a dificuldade de Pedro com
relação à fala teria ligação com sua reprovação? Como você resolveria essa
situação?

Estudar é fazer acontecer, vá em direção a sua meta!

Preparado? Bons estudos!

CONCEITO-CHAVE
Será que a língua é um código de comunicação pronto que será ensinado pelo
professor e aprendido de forma inalterada pelos estudantes? A resposta para essa
questão é facilmente observada quando pensamos em palavras ou expressões
muito comuns na atualidade, que não existiam há pouco tempo, como: stalkear,
meme, spoiler, crush, que surgiram com o advento da utilização da internet.

Isso demonstra o desenvolvimento histórico da atividade comunicativa dos


falantes na interação verbal. Os falantes agem sobre a língua, “em duas direções:
por um lado, mantêm o sistema e o transmitem às gerações vindouras, porque
isso é necessário à comunicação; por outro lado, modificam-no e o reconstroem,
por exemplo, mudando a pronúncia de algumas palavras, criando novas palavras e
novos modos de combinar as palavras” (MARINHO, 2006, p. 15).

93
A língua está a serviço da interação humana e os diferentes grupos atribuem a ela
novos valores sociolinguísticos que estão ligados aos usos sociais, ou seja, a língua
sempre está passando por mudanças que podem envolver o vocabulário, a
estrutura das sentenças, a pronúncia das palavras e a utilização dos elementos

0
linguísticos.

seõçatona reV

[...] vão surgindo usos diferentes no tempo e nos diversos grupos sociais, o que contribui para a existência, na
língua, de falares diferentes. A sociolinguística contemporânea chama esses falares de dialetos e considera que
eles têm regras e usos próprios, mas se mantêm muito próximos entre si, de modo que não chegam a ser
considerados línguas diferentes e sim variedades dialetais de uma mesma língua. Os diferentes dialetos devem
ser vistos como legítimos e devem ser respeitados.

— (MARINHO, 2006, p. 15)

Dialeto é o termo adotado para designar um determinado tipo de variedade


linguística, nesse sentido, a língua pode ser composta por diferentes dialetos.
Observe no quadro:

Quadro 3.1 | Tipos de variação linguística

Variação Ocorre em função da região onde os usuários vivem, dos grupos e da


dialetal classe social a que pertencem, de sua geração, de seu sexo, seu grau
de escolaridade e ainda da função que exercem na sociedade.

Dimensões:

Variedades geográficas.

Variedades sociais.

Variedades históricas.

Variedades devidas à idade.

Variedades devidas ao sexo.

Variedades devidas ao grau de escolaridade.

Variação Ocorrem em função do uso que um mesmo falante faz da língua nas
de diversas situações em que produz uma atividade verbal. Conforme
registro as circunstâncias em que a interação verbal se realiza, o falante
buscará a forma de expressão que julgar mais adequada.

Pode ser formal ou informa.

Fonte: Elaborado pela autora a partir de Marinho (2006).

Os tipos de variação presentes no quadro podem apresentar características


articuladas aos aspectos fonológico, lexical e sintático. A variação fonética ocorre
quando a mesma palavra é pronunciada de forma diferente, na variação lexical a
mesma palavra é designada por vocábulos diferentes e na variação sintática são
alteradas as regras de estrutura da frase, que podem afetar, por exemplo, a
concordância.

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EXEMPLIFICANDO

Variação de natureza fonológica:

Diferenças na pronúncia das palavras.

0
Tábua – tauba

seõçatona reV
Problema – pobrema/poblema

Blusa – brusa

Variação de natureza lexical (regional):

O mesmo objeto é reconhecido com nomenclaturas diferentes.

Guria – Menina - mina

Vina – salsicha

Bergamota – tangerina

Mandioca – aipim – macaxeira

Variação de natureza sintática:

Diferenças nas relações entre os elementos da frase.

Nós vamos – a gente vamos

Eu a vi – eu vi ela

Você percebeu como a variação linguística também reflete a diversidade do Brasil?


O saber linguístico que é produzido nas mais variadas situações de interlocução
permite que o falante participe de interações sociais criando frases e textos, ao
mesmo tempo tendo a possibilidade de avaliar se o tipo de comunicação
empregada é adequado para aquele contexto.

Então, o que é certo e o que é errado? De acordo com Marinho (2006, p. 19), “para
os seguidores e defensores da gramática normativa, aquela que considera que
falar e escrever corretamente resultam da obediência às regras da variedade
padrão (escrita ou oral), o erro consiste na transgressão dessas regras”, dessa
forma, a fala utilizada em situações informais, cotidianas, seria considerada
incorreta. Entretanto, essa é considerada apenas uma forma de expressão que não
coincide com a norma padrão.

Portanto, é esperado que os falantes conheçam a existência de diferenças


linguísticas, compreendo que não é em todas as situações que se pode utilizar
formas de expressão muito distantes da norma padrão. Observe:

EXEMPLIFICANDO


atividade de produção linguística na escola, o aluno deve conhecer uma série de
alternativas para expressar uma mesma ideia de modo a melhor se adequar à
tarefa solicitada. Assim, ele poderia, por exemplo, dizer “O poeta venceu o
concurso e pôde assim se casar com a princesa” ou então “O poeta ganhou o
concurso e se casou com a princesa”, ou ainda “O apaixonado poeta triunfou
no concurso e se uniu à sua amada princesa em matrimônio”, mas não seria
muito apropriado nessa situação dizer “O cara ganhou o concurso e juntou os
trapo com a princesa”, já que essa situação exige um estilo menos coloquial.

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— (MARINHO, 2006, p. 21)

FOCO NA BNCC

A BNCC, no eixo referente à oralidade, destaca como o trabalho pedagógico

0
deve contemplar as práticas de linguagem, considerando as características
da oralidade, sendo necessário:

seõçatona reV

Estabelecer relação entre fala e escrita, levando-se em conta o modo como as
duas modalidades se articulam em diferentes gêneros e práticas de linguagem
(como jornal de TV, programa de rádio, apresentação de seminário, mensagem
instantânea etc.), as semelhanças e as diferenças entre modos de falar e de
registrar o escrito e os aspectos sociodiscursivos, composicionais e linguísticos de
cada modalidade sempre relacionados com os gêneros em questão. • Oralizar o
texto escrito, considerando-se as situações sociais em que tal tipo de atividade
acontece, seus elementos paralinguísticos e cinésicos, dentre outros. • Refletir
sobre as variedades linguísticas, adequando sua produção a esse contexto.

— (BRASIL, 2018, p. 79)

No contexto educacional, principalmente no contexto das escolas públicas


brasileiras, emerge a distância entre a linguagem culta e a linguagem das camadas
populares quando, por exemplo, o sotaque do aluno gera uma situação de bullying
por parte dos demais estudantes ou quando esse “jeito” de falar, próprio da
cultura, é corrigido pelo professor, dando a ideia de que é inadequado. Esse tipo
de situação está associado ao fracasso escolar, conforme se dão os apontamentos,
as piadas e as correções, o aluno alvo, muitas vezes, prefere não participar das
atividades. O fracasso escolar designa o insucesso do aluno no processo
educacional, assim, fracasso não se configura apenas quando o aprendiz reprova
ou evade da escola, o fracasso também está presente quando a aprendizagem não
acontece.

REFLITA

Os resultados da avaliação Nacional pela Alfabetização (ANA) e da Prova


Brasil têm demonstrado o alcance pelas crianças de menos de 50% das
habilidades previstas para língua portuguesa e matemática. A maneira
como a escola acolhe o contexto cultural dos alunos e o acomoda em suas
práticas teria alguma relação com os resultados apresentados nessas
avaliações?

Pesquisas sobre o fracasso escolar já demonstraram que o fracasso dos


estudantes na escola é consequência de fracasso da escola, políticas educacionais
ineficientes, condições precárias de trabalho, formação inicial e continuada
insuficiente, dentre outros fatores que inviabilizam o alcance de competências e
habilidades pelos estudantes.

Magda Soares (2020), ao tratar o estigma das variedades linguísticas, pouco


valorizadas do ponto de vista da hierarquia social presente na sociedade
capitalista, descreve a existência da ideologia do dom, pautada em vertentes da
psicologia que atribui as causas do fracasso ou sucesso às características dos
indivíduos, como a inteligência e o talento, ou seja, desigualdades naturais,
pautadas em características individuais.

96
A partir da ideologia do dom surge a ideologia da deficiência cultural, constatando
que as diferenças sociais teriam sua origem em diferenças de aptidão. Assim, “os
mais inteligentes constituiriam, exatamente por serem possuidores dessas
características, as classes socioeconomicamente favorecidas, [...] os menos

0
inteligentes constituiriam as camadas populares” (SOARES, 2020, p. 19). A partir da

seõçatona reV
ideologia da deficiência cultural é naturalizada a percepção de que os alunos
oriundos das camadas populares tivessem maior probabilidade de fracasso na
escola.

ASSIMILE

Soares (2020, p. 20) constata ainda que:


É obvio que tal concepção não reside à mais elementar análise social, política ou
econômica. Nas sociedades capitalistas, a divisão de classes é resultado não das
características dos indivíduos, mas de um sistema econômico em que os meios de
produção pertencem, em sua maior parte, a grupos privados que pagam os
trabalhadores pela produção de bens. Os donos do capital e, por isso, donos
também dos meios de produção, constituem as classes que gozam de condições
de vida privilegiadas; grande parte dos grupos que vendem sua força de trabalho é
composta pelas classes social e economicamente desfavorecidas, ou seja, pelas
camadas populares.

Será que as desigualdades sociais seriam as verdadeiras responsáveis pela


diferença do desempenho dos alunos? Por que os alunos provenientes das
camadas populares continuam no topo dos scores quando o assunto é o fracasso
escolar? Os adeptos da explicação de que desigualdades sociais seriam as
verdadeiras responsáveis pela diferença do desempenho dos alunos
desconsideram os antagonismos, propondo que o fracasso seria, portanto, o
resultado da carência cultural, que faz desse aluno alguém carente, deficiente.

A ideologia das diferenças culturais reforça que a carência ou deficiência no


sentido de escassez, está relacionada à falta de cultura, ou que as classes
populares possuem uma subcultura.


A escola, quando inserida em sociedades capitalistas, assume a valoriza a cultura das classes favorecidas; assim,
o aluno proveniente das camadas populares encontra nela padrões culturais que não são os seus, e que são
apresentados como “certos”, enquanto os seus próprios padrões são ignorados como inexistentes ou
desprezados como “errados”.

— (SOARES, 2020, p. 24)

Você pode presumir o que acontece a partir dessa dinâmica? O comportamento


desse aluno cuja cultura foi ignorada é avaliado a partir de um modelo presente no
campo cultural das classes favorecidas, passando por um processo de
marginalização, não porque é deficiente, mas porque é diferente. A teoria da
deficiência cultural surgiu nos Estados Unidos na década de 1960 e chega ao Brasil
na década de 1970. Ela parte do argumento que as camadas populares possuem
deficiência linguística e essa característica explicaria o fracasso das camadas
desfavorecidas.

REFLITA

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Você concorda que a responsabilidade pelo fracasso dos alunos oriundos
das camadas populares é da escola?

A escola trata de forma discriminativa a diversidade cultural?

0
A ideia de que a criança proveniente das classes populares possui um vocabulário

seõçatona reV
pobre está relacionada aos erros de organização da fala, à concordância,
pronúncia, elaboração de frases curtas. A partir desse entendimento, para aqueles
que se alinham a esta teoria, a deficiência linguística é vinculada à existência de
uma deficiência cognitiva, que brotou no contexto familiar com pouca interação
verbal. Afinal, como desfazer o mito da "deficiência linguística" das crianças
provenientes das classes populares?

Considerando os estudos da antropologia, Soares (2020) aponta que não se pode


considerar uma cultura superior a outra, tampouco uma língua superior a outra
uma vez que as línguas são apenas diferentes e por isso não deve haver espaço
para o preconceito linguístico nas práticas pedagógicas.

A fim de valorizar as várias formas de linguagem observadas em uma mesma


comunidade linguística com vistas a promover uma prática pedagógica na
perspectiva inclusiva, a escola precisa adotar uma prática transformadora,
comprometida com o direito à educação.


Os alunos que chegam à escola falando “nós cheguemu”, “abrido” e “ele drome”, por exemplo, têm que ser
respeitados e ver valorizadas as suas peculiaridades linguístico-culturais, mas têm o direito inalienável de
aprender as variantes do prestígio dessas expressões. Não se lhes pode negar esse conhecimento, sob pena de
se fecharem para eles as portas, já estreitas, da ascensão social. O caminho para a democracia é a distribuição
justa de bens culturais, entre os quais a língua é o mais importante.

— (BORTONI-RICARDO, 2005, p. 15 apud GABLER, 2009, p. 46)

Não cabe à escola estigmatizar o aluno ou simplesmente atribuir-lhe um


diagnóstico, mas apresentar-lhe à cultura mais elaborada, às diferentes formas de
expressão, à riqueza cultural e à norma culta como uma das formas de emprego
oral e escrito da língua a fim de desenvolver a competência discursiva. Para
efetivar esse tipo de abordagem pedagógica, cabe ao professor lançar mão de
atividades diversificadas a partir de suporte textual que explore gêneros e
variedades linguísticas.

FOCO NA BNCC

É uma competência específica de língua portuguesa para o ensino


fundamental:

Compreender o fenômeno da variação linguística, demonstrando atitude


respeitosa diante de variedades linguísticas e rejeitando preconceitos
linguísticos. (BRASIL, 2018, p. 87)

Ao trabalhar e reconhecer a riqueza da diversidade, o professor tem a


possibilidade de desenvolver a sensibilidade no trato com o outro, respeitando o
aluno, sua família, cultura e atuando como um modelo para os estudantes, o que
afasta avaliações subjetivas baseadas em teorias elitistas.

98
Os conhecimentos apresentados nessa seção demonstraram que as práticas
pedagógicas devem contemplar os conhecimentos relativos à variedade linguística
e o reconhecimento da diversidade cultural que viabiliza o respeito à diferença em
prol da educação transformadora e a construção de uma escola plural e inclusiva.

0
seõçatona reV
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
Por meio da língua “aos outros, nossas experiências, estabelecemos por ela, com
os outros, laços ‘contratuais’ pelos quais interagimos e nos compreendemos,
influenciamos os outros com nossas opções relativas ao modo peculiar de ver e
sentir o mundo, com decisões consequentes sobre o modo de atuar nele”
(FRANCHI, 1977, p. 19).

Analise o excerto a seguir, completando suas lacunas.

É esperado que os _______ conheçam a existência de _______ linguísticas,


compreendo que não é em todas as situações que se pode utilizar formas de
expressão muito distantes da norma _______.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.

a. falantes; diferenças; culta.

b. professores; hierarquias; culta.

c. alunos; hierarquias; coloquial.

d. falantes; diferenças; coloquial.

e. avaliadores; hierarquias; culta.

Questão 2
“Na escola se ensina o uso das modalidades oral e escrita da linguagem em
instâncias públicas e, junto com ele, a chamada variedade linguística padrão. A
criança chega à escola já sabendo usar a linguagem em diferentes situações,
evidenciando o conhecimento das regras de uso da língua em instâncias privadas.
E vai buscar aprender a falar, a ler e a escrever, a partir desse conhecimento que já
possui, em outras situações que requerem o domínio da chamada língua padrão.”
(MARINHO, 2006, p. 9)

Considerando as informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

I. É esperado que os falantes conheçam a existência de diferenças linguísticas.

II. Não deve haver espaço para o preconceito linguístico nas práticas pedagógicas.

III. O professor tem a possibilidade de desenvolver a sensibilidade no trato com o


outro, respeitando o aluno, sua família e cultura.

IV. Cabe à escola estigmatizar o aluno atribuir-lhe um diagnóstico.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

99
d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

Questão 3

0
Os alunos que chegam à escola falando “nós cheguemu”, “abrido” e “ele drome”,

seõçatona reV
por exemplo, têm que ser respeitados e ver valorizadas as suas peculiaridades
linguístico-culturais, mas têm o direito inalienável de aprender as variantes do
prestígio dessas expressões. Não se lhes pode negar esse conhecimento, sob pena
de se fecharem para eles as portas, já estreitas, da ascensão social. O caminho
para a democracia é a distribuição justa de bens culturais, entre os quais a língua é
o mais importante.

(GABLER, I. Práticas de linguagem: contexto social, diferenças e preconceitos. In:


AMARAL, N. F. G. (Org.). Multiculturalismo na Amazônia – o singular e o plural em
reflexões e ações. Curitiba: Editora CRV, 2009, p. 43-54.)

Assinale a alternativa que apresenta a variação evidenciada:

a. Variação histórica.

b. Variação lexical.

c. Variação morfológica.

d. Variação sintática.

e. Variação fonética.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3cdocLC. Acesso em: 27 jul.
2020.

GABLER, I. Práticas de linguagem: contexto social, diferenças e preconceitos. In:


AMARAL, N. F. G. (Org.). Multiculturalismo na Amazônia – o singular e o plural em
reflexões e ações. Curitiba: Editora CRV, 2009, p. 43-54.

MARINHO, J. H. C. Variação linguística e ensino: caderno do professor. Belo


Horizonte: Ceale, 2006.

SOARES, M. Linguagem e escola: uma perspectiva social. 18 ed. São Paulo:


Contexto, 2020.

ROCHA, S. T. Variação linguística nos gêneros textuais (trabalhados) em sala


de aula. 2013. Disponível em:

https://bit.ly/3f7mYDy. Acesso em: 21 set. 2020.

100
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
AS PRÁTICAS PEDAGÓGICAS E A VARIEDADE LINGUÍSTICA

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Na situação-problema apresentada, você conheceu o trabalho desenvolvido pela
professora Patrícia na turma de reforço escolar, frequentada por alunos com
dificuldade em língua portuguesa e matemática. Pedro, um dos alunos, já passou
por reprovação e não gosta de participar de atividades em precisa se expressar
oralmente, revelando à professora que, na outra turma, as crianças zombaram do
seu jeito de falar.

A partir desse contexto é possível perceber a importância da escola em considerar


a diversidade linguística e refletir se os parâmetros utilizados para avaliar o aluno
partiram de um padrão que rejeita e estigmatiza as características linguísticas e a
cultura das camadas populares.

Pensando na superação da dificuldade apresentada pelo aluno, a professora


poderá trabalhar com atividades que promovam a reflexão sobre a variação
linguística, utilizando charges, músicas, poemas etc. Além de explorar os
elementos próprios da norma padrão e as situações em que deve ser empregada.

Além desse tipo de prática pedagógica, é importante que a professora Patrícia


compartilhe com os demais professores e equipe gestora a questão de como a
escola recebe a comunidade, quais são os parâmetros utilizados para avaliar as
crianças, pois, não cabe à escola estigmatizar o aluno ou simplesmente atribuir-lhe

101
um diagnóstico, mas apresentar-lhe à cultura mais elaborada, às diferentes formas
de expressão, à riqueza cultural e à norma culta como uma das formas de
emprego oral e escrito da língua.

0
AVANÇANDO NA PRÁTICA

seõçatona reV
O VOCABULÁRIO TECNOLÓGICO
A professora Ester está corrigindo a redação, de tema livre, dos alunos. Durante a
leitura, ela percebe um elemento comum na escrita dos alunos: expressões que ela
desconhece. Realizando uma pesquisa mais aprofundada, Ester descobriu que os
termos stalkear e shippar estão presentes nas redes sociais e foram utilizadas em
duas redações. Como você faria a correção se você ocupasse o lugar da professora
Ester?

RESOLUÇÃO 

É importante que o professor compreenda que os falantes agem sobre a


língua, mantendo o sistema e transmitindo-o às gerações, porque isso é
necessário à comunicação, modificando-o e o reconstruindo, seja mudando a
pronúncia de algumas palavras, criando palavras e novos modos de combinar
as palavras, por exemplo.

A língua está a serviço da interação humana, os diferentes grupos atribuem a


ela novos valores sociolinguísticos que estão ligados aos usos sociais, ou seja, a
língua sempre está passando por mudanças que podem envolver o
vocabulário, a estrutura das sentenças, a pronúncia das palavras e a utilização
dos elementos linguísticos.

Desse modo, a professora não deve considerar que a utilização das expressões
stalkear e shippar seja incorreta, pois são expressões frequentemente
utilizadas no contexto das redes sociais, entretanto, é valido explicar para os
alunos que algumas situações exigem a utilização da norma culta. A professora
Ester conversou com os alunos após a correção e eles ficaram surpresos em
saber que a professora desconhecia os termos tão comuns para eles.

102
NÃO PODE FALTAR
AS HIPÓTESES INFANTIS E AS ESTRATÉGIAS PARA AQUISIÇÃO DA
LEITURA E ESCRITA

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Olá estudante!

As discussões sobre quando se deve iniciar a alfabetização são antigas, o que é


compreensível, afinal, a sociedade demorou muito tempo para reconhecer a
brincadeira como eixo estruturante das aprendizagens na educação infantil,
portanto, falar em alfabetização na educação infantil é algo que provoca grandes
discussões. Mas, de que alfabetização estamos falando? Será que os adultos têm o
poder de definir quando a alfabetização deve iniciar?

Já que a escrita está por toda parte, por que ela não poderia estar na educação
infantil? Estas provocações têm por objetivo levá-lo a seguinte constatação: as
crianças constroem conhecimento! Ao começar a frequentar os bancos escolares,
as crianças já elaboraram hipóteses sobre a escrita. Estas hipóteses precisam ser
identificadas e consideradas durante toda a alfabetização.

Assim, retomando a questão, por que a escrita não pode estar presente na
educação infantil? Entendemos que a interação com os textos e a escrita
espontânea pode estar presente na educação infantil, como um elemento que faz
parte da sociedade, objeto de interação presente na cultura. Sem cópias
obrigatórias e atividades descontextualizadas, simplesmente pelo prazer de
brincar com a escrita.

103
A psicogênese da língua escrita é uma teoria que demonstrou que o processo de
aquisição passa por etapas/níveis em que a criança elabora hipóteses sobre como
funciona a escrita, são elas: hipótese pré-silábica, hipótese silábica, hipótese
silábico-alfabética e hipótese alfabética. Nessa seção, você conhecerá como

0
acontece a evolução da escrita e quais são as características apresentadas em cada

seõçatona reV
etapa. Nesse material, você irá compreender cada uma dessas hipóteses. A partir
desses conhecimentos você será capaz de elaborar estratégias de trabalho
favorecendo o desenvolvimento das hipóteses infantis.

Já pensou se você atuasse em uma turma totalmente composta por alunos que
enfrentaram dificuldades para aprender? Esse é o contexto de trabalho da
professora Patrícia, que já trabalhou em diferentes etapas da educação básica
e, nesse ano, está trabalhando com uma turma de reforço escolar, que funciona no
contraturno da turma regular em que os alunos estão matriculados.

A turma de reforço é frequentada por alunos que estão com dificuldade em língua
portuguesa e matemática. Muitos são alunos mais velhos que passaram por
sucessivas reprovações,mas como a professora trabalha com menos alunos,
consegue fazer um trabalho mais individualizado.

As dificuldades no processo de alfabetização são um dos principais fatores que


direcionam a criança para o atendimento no contraturno. João é aluno desta
turma, todas as vezes que precisa escrever, ele utiliza poucas letras para escrever o
nome de objetos pequenos e muitas letras para escrever os nomes de objetos
grandes, utiliza letras aleatórias, mesmo após um árduo trabalho da professora
com atividades de leitura e cópia de sílabas. A professora percebe que há algo
errado e irá encaminhar o aluno para uma avaliação da equipe multidisciplinar.
Será que João possui algum distúrbio de aprendizagem? Como conduzir essa
situação? Quais conhecimentos a professora poderia mobilizar para compreender
a situação de João?

Todos os pontos desta seção foram organizados pensando em você. Bons estudos!

CONCEITO-CHAVE
Buscando entender o desenvolvimento da inteligência, Jean Piaget identificou
períodos evolutivos, entretanto, essa evolução não acorre apenas com o passar
dos anos e esses avanços dependem da construção de esquemas mentais que se
dá a partir da interação da criança com os objetos de conhecimento, da maturação
biológica, das interações e transmissões sociais resultando em processos de
constantes desequilíbrios e equilibração.

A teoria genética não teve por objetivo repensar as práticas educacionais,


tampouco propor metodologias para a educação, mas serviu de base para o
desenvolvimento de estudos posteriores, revolucionando as práticas educativas, a
partir da perspectiva que recebeu o nome de construtivista. O aprendiz mudou de
lugar, de sujeito passivo para protagonista, percebido como sujeito ativo na
construção do conhecimento. A partir desses conhecimentos emerge a
necessidade de revisão das práticas educacionais “tradicionais” centradas

104
repetição e memorização. As atividades propostas aos alunos precisam instigar a
curiosidade, lançar desafios, desequilibrar os esquemas mentais existentes, dando
a eles a oportunidade de fazer novas assimilações e acomodações.

0
Piaget identificou que todos passam pelos mesmos estágios de desenvolvimento,
períodos em que estão presentes determinadas características de

seõçatona reV
desenvolvimento, porém, os estágios não são fixos, uma criança pode demorar um
pouco mais para avançar para o próximo estágio ou antecipar a entrada no estágio
seguinte, isso depende das oportunidades de exploração e interação com os
objetos de conhecimento.

ASSIMILE

Piaget classificou o desenvolvimento da inteligência nos seguintes estágios:

Período sensório-motor (0 – 2 anos, aproximadamente).

Período pré-operacional (2 – 7 anos, aproximadamente).

Período operacional concreto (7 – 11/12 anos).

Período das operações formais (a partir dos 12 anos).

Em linhas gerais, no período sensório-motor, a criança empiricamente se percebe


no mundo, tendo seu próprio corpo como eixo central. Ela explora tacitamente os
objetos que estão ao seu redor. No período pré-operacional, a função simbólica da
linguagem surge, o que promove modificações significativas nos aspectos
cognitivos, afetivos e sociais da criança. No período operacional concreto, a criança
começa a ter a capacidade de se colocar no lugar do outro, desenvolve o raciocínio
logico e operacional. No período das operações formais, a criança já é capaz de
desenvolver operações formais e se acentuam as capacidades de abstração.

Piaget não pesquisou sobre a construção da escrita, mas desenvolveu seus


estudos no centro de epistemologia em Genebra, onde reuniu vários
pesquisadores, dentre eles, Emília Ferrero, que decidiu, mais tarde, explorar o
desenvolvimento da escrita em suas pesquisas. Em 1974, Ferreiro organizou um
trabalho experimental em parceria com Ana Teberosky, Susana Fernándes, Ana
Maria Kaufman, Alicia Lenzi e Liliana Tolchinsky partindo do seguinte
questionamento: “será que no caso da língua escrita essa criança piagetiana não
existe?”

A partir dessa questão, se propôs a verificar a existência ou não dessa criança


piagetiana, que elabora hipóteses sobre o objeto de conhecimento, que nesse
caso, seria a língua escrita. Para isso, Ferreiro e seus colaboradores utilizaram,
além do referencial piagetiano, os pressupostos da psicolinguística no que se
refere à competência linguística da criança (SILVA, 2016).

Os estudos avançaram e Ferreiro e Teberosky publicaram o livro Psicogênese da


língua escrita. A proposição dessa teoria exerceu forte impacto para a educação
nos países da América Latina por apresentar uma mudança radical no
entendimento sobre como a aprendizagem da escrita é construída pela criança,
seus estudos chegaram ao Brasil na década de 1980.

105
Conforme os princípios da psicogênese da língua escrita, a aprendizagem se
processa mediante a interação do aprendiz com a escrita, mediada pela ação
mental e por experimentações de ler e escrever. A teoria aponta que, por meio das
interações e experimentações, o aprendiz constrói hipóteses sobre a escrita, sua

0
natureza e seu funcionamento, mesmo que ainda não escreva dentro das normas

seõçatona reV
convencionais naquele momento.

Aquilo que o aprendiz já sabe, o conhecimento prévio, é importante nas novas


aprendizagens, por isso o professor mapeia esses conhecimentos. Como os
conflitos cognitivos estão sempre presentes, a evolução da escrita não é linear,
podendo haver discrepâncias entre a hipótese da criança e os desafios do meio
que movem as aprendizagens. O foco do trabalho consiste em possibilitar que o
aprendiz pense em como se escreve e como se lê. Assim, nessa perspectiva, os
erros de construção da escrita fazem parte do processo e demonstram como a
criança está elaborando suas hipóteses.


No processo em questão, de assimilação alfabética e da produção escrita, a criança, em sua aprendizagem e
desenvolvimento dessa linguagem, elabora sistemas. Sistemas esses que, para Piaget (1977), agem como
esquemas de assimilação. Assim, através desses sistemas é que as informações serão interpretadas, fazendo
com que a criança atribua sentido à escrita, durante um processo de desenvolvimento. Esses esquemas serão
bases de conhecimentos para os próximos conhecimentos e aprendizagem que irão surgindo.

— (SILVA, 2016, p. 8)

Portanto, a alfabetização não se processa por meio da repetição mecânica de


letras e famílias silábicas, ao contrário, ela é um processo de construção e
representação da linguagem que pressupõe a atividade cognitiva do aprendiz.

REFLITA

Considerando estes conhecimentos, reflita:

Por se tratar de um processo de construção individual, é possível que os


alunos da mesma turma estejam sempre na mesma etapa de
desenvolvimento das hipóteses sobre a escrita?

Para Ferreiro (1995) a apropriação da escrita passa por três grandes níveis:

Quadro 3.2 | Divisão geral dos níveis de apropriação da escrita

Primeiro nível Segundo nível Terceiro nível

Distinção entre o Construção de formas de Fonetização da escrita,


modo de diferenciação interfigural, quando a criança
representação variações qualitativas compreende a relação
icônica (imagens) (variedade de grafias) e entre fala e escrita. Esse
ou não icônica quantitativas (quantidade de nível abrange três
(letras, números, grafias); nesses dois primeiros hipóteses: silábica,
sinais) e níveis, predomina a hipótese silábico-alfabética e
diferenciação pré-silábica. alfabética.
intrafigural.

Fonte: elaborado pela autora a partir de Ferreiro (1995).

106
Os estudos desenvolvidos por Emília Ferreiro partiram da análise de textos
espontâneos, construções da criança elaboradas a partir de sua lógica. É
importante considerar que por muito tempo as construções das crianças foram
desconsideradas pela escola, isso porque a análise dessas produções partia da

0
lógica do adulto e as hipóteses iniciais eram totalmente desconsideradas,

seõçatona reV
percebidas como simples desenhos ou rabiscos.

De acordo com Ferreiro e Teberosky (1995), as hipóteses de desenvolvimento da


escrita são: pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética. Que tal conhecer
as características de cada etapa?

HIPÓTESE PRÉ-SILÁBICA
A hipótese pré-silábica é verificada quando o aprendiz ainda não relaciona as letras
aos sons da fala. O desenvolvimento da escrita já é percebido nessa etapa e passa
por três momentos com características distintas, suas hipóteses iniciais estão
divididas em icônica e não icônica, e neste momento a hipótese central é a busca
na diferenciação entre desenhar e escrever.

Na hipótese icônica, escrever é o mesmo que desenhar, assim, as formas dos


grafismos devem reproduzir as formas dos objetos, as escritas são formadas por
grafias não convencionais, garatujas ordenadas e desordenadas. Na hipótese não
icônica, a criança compreende que a escrita é uma representação linear e não
pode ser representada com o desenho, estão presentes grafismos separados,
linhas curvas e retas, assim como linhas onduladas que representam letra cursiva.

É importante lembrar que há uma intencionalidade na ação da criança, portanto é


essencial perguntar a ela o que está escrevendo/representando.

107
Figura 3.1 | Hipótese icônica

0
seõçatona reV
Desenho de Luana interpretado como “mamãe”.

Escrita de Luana interpretada como seu nome.

Fonte: Peterle (2018, p. 45).

Figura 3.2 | Garatuja

Menina macaca
Fonte: Peterle (2018, p. 46).

Na figura 3.2, observe que a criança escreveu o nome do desenho ao lado,


demonstrando que, para ela, a representação da escrita não é mais realizada por
meio do desenho, ou seja, ela compreendeu que escrever é registrar o nome do
objeto e não o próprio objeto.

Ao aprender, por exemplo, as letras que compõem o próprio nome, o aprendiz


começa a utilizar essas letras para escrever, inicialmente misturando números, e
estabelecendo algumas regras como: a intenção quanto ao significado atribuído à

108
escrita, existência de uma quantidade mínima de letras para escrever algo, escritas
iguais para palavras diferentes com significados diferentes, correspondência da
escrita com o tamanho do objeto.

0
Figura 3.3 | Hipótese pré-silábica

seõçatona reV
VMAIUAEPX

Leão

UFIL

Borboleta
Fonte: Peterle (2018, p. 46).

Também é possível observar o predomínio da escrita no formato de imprensa


maiúscula, isso ocorre por influência do meio: o aprendiz utiliza aquilo o que
visualiza com mais frequência. Com o avançar nessa hipótese, a criança
compreende a diferença entre letras e números.

REFLITA

Será que as metodologias adotadas em sala de aula possibilitam que os


aprendizes tenham a possibilidade de testar as suas hipóteses? Quando as
hipóteses sobre a escrita começam a ser construídas?

Pouco a pouco se estabelece um nível intermediário e o aprendiz começa a


antecipar a quantidade de letras que irá utilizar para escrever. Por exemplo,
quando é questionado sobre quantas vezes abre a boca para pronunciar
determinada palavra, elaborando novas hipóteses e avançando para o próximo
nível de escrita.

HIPÓTESE SILÁBICA
Nessa etapa, a criança inicia a representação da grafia correspondente a cada
sílaba da palavra e ocorre a representação gráfica sem valor sonoro e com valor
sonoro. Quando a hipótese é sem valor sonoro, o aprendiz representa cada silaba
por meio de uma letra qualquer (podem ser utilizadas letras que não fazem parte

109
da palavra), já na hipótese silábica com valor sonoro, o aprendiz utiliza para cada
sílaba, vogal ou consoante, que corresponde diretamente aos sons presentes na
palavra, conforme as seguintes figuras:

0
Figura 3.4 | Escrita silábica sem valor sonoro

seõçatona reV
Fonte: Peterle (2018, p. 47).

Figura 3.5 | Escrita silábica com valor sonoro

Fonte: Peterle (2018, p. 48).

Estabelecida essa relação, a criança entrará na hipótese silábico-alfabética, na qual


irá representar uma letra (ou mais de uma) para cada sílaba escrita, “mas dessa vez
a letra terá relação com o som (relação grafema-fonema). A criança poderá utilizar
uma letra para cada fonema, não sendo de forma avulsa, de forma que realmente
tenha o som semelhante, assim sendo com valor sonoro convencional” (SILVA,
2016, p. 11).

HIPÓTESE SILÁBICO-ALFABÉTICA
110
Nessa etapa, a criança já formula hipóteses mais avançadas, passando a entender
que não basta apenas uma letra para representar cada sílaba, estabelecendo
relação entre grafemas e fonemas. Em alguns momentos irá utilizar uma letra para
representar cada sílaba e em outros as letras correspondentes a cada som.

0
seõçatona reV
Figura 3.6 | Hipótese silábico-alfabética

Fonte: Peterle (2018, p. 48).

HIPÓTESE ALFABÉTICA
Na hipótese alfabética, há a compreensão de que cada som (fonema) corresponde
a uma letra, que combinadas formam sílabas e palavras. O aprendiz já é capaz de
escrever frases e textos, porém, embora esta seja a última etapa, ela não
corresponde exatamente ao final da alfabetização, pois ainda pode não ocorrer o
domínio de todas as propriedades da escrita ortográfica.

EXEMPLIFICANDO

O aprendiz ainda troca letras como ss, ça, lh, ch, rr, enfrentando problemas
ortográficos. Portanto, os erros apresentados representam oportunidades
para trabalhar as regras com os alunos.

111
Figura 3.7 | Hipótese alfabética

0
seõçatona reV
HOJE É SÁBADO PORISO QUE É UM DIA MUIDO BOM PARA O SUPERGATO MAS
DEREPENTE

NÃO ACREDITO! POLUISÃO


Fonte: Peterle (2018, p. 48).

Perceba que a elaboração das hipóteses tem início na primeira infância a partir do
contato da criança com a cultura letrada, nesse sentido, as práticas de letramento
favorecem a compreensão da criança sobre a escrita. Portanto, quando iniciam o
primeiro ano do ensino fundamental, mesmo àquelas que por algum motivo não
frequentaram a pré-escola, possuem algum nível de conhecimento sobre a escrita.
Como sujeitos da própria aprendizagem, suas construções precisam ser
devidamente apreciadas pelo professor, sendo objeto de reflexão e reformulação
pela própria criança.

CARACTERÍSTICAS DAS HIPÓTESES


Pré-silábica (intermediário): O aprendiz ainda não relaciona as letras aos
sons da fala. Passa pela etapa icônica e não icônica, Ao aprender, por exemplo,
as letras que compõem o próprio nome, o aprendiz começa a utilizar essas
letras para escrever, inicialmente misturando números. Quando entra em uma
etapa intermediária, o aprendiz começa a antecipar a quantidade de letras que
irá utilizar para escrever, por exemplo, quando é questionado sobre quantas
vezes abre a boca para pronunciar determinada palavra, elaborando novas
hipóteses e avançando para o próximo nível de escrita.

Silábica: Começa a representar a grafia correspondente a cada sílaba da


palavra, na hipótese silábica ocorre a representação gráfica sem valor sonoro e
com valor sonoro. Quando a hipótese é sem valor sonoro, o aprendiz
representa cada sílaba por meio de uma letra qualquer e podem ser utilizadas
letras que não fazem parte da palavra, já na hipótese silábica com valor sonoro,

112
o aprendiz utiliza para cada sílaba, vogal ou consoante, que corresponde
diretamente aos sons presentes na palavra.

Silábico-alfabética: Formula hipóteses mais avançadas, passando a entender

0
que não basta apenas uma letra para representar cada sílaba, estabelecendo
relação entre grafemas e fonemas. Em alguns momentos irá utilizar uma letra

seõçatona reV
para representar cada sílaba e em outros as letras correspondentes a cada
som.

Alfabética: Compreensão de que cada som (fonema) corresponde a uma letra,


que combinadas formam sílabas e palavras. O aprendiz já é capaz de escrever
frases e textos. Por meio do trabalho com leitura e escrita, o aprendiz avança
para a escrita ortográfica.

FOCO NA BNCC

No campo de experiência “Escuta, fala, pensamento e imaginação” (BRASIL,


2018), presente na BNCC para a educação infantil, estão previstos os
seguintes objetivos de aprendizagem e desenvolvimento para a pré-escola
(Crianças pequenas - 4 anos a 5 anos e 11 meses):

(EI03EF06) Produzir suas próprias histórias orais e escritas (escrita


espontânea), em situações com função social significativa.

(EI03EF07) Levantar hipóteses sobre gêneros textuais veiculados em


portadores conhecidos, recorrendo a estratégias de observação gráfica
e/ou de leitura.

(EI03EF09) Levantar hipóteses em relação à linguagem escrita, realizando


registros de palavras e textos, por meio de escrita espontânea. (BRASIL,
2018, p. 50)

Como saber se o meu aluno está evoluindo? É fundamental realizar sondagens


periódicas a fim de identificar as hipóteses, melhorando as possibilidades de
aprendizagens ofertadas. Nessa perspectiva, a avaliação realizada pelo professor
está pautada no percurso apresentado por cada aluno, visto que em uma sala de
aula é comum que existam alunos em diferentes níveis.


A alfabetização não é uma questão de sondar as letras, repetindo-se mais e mais as mesmas cadeias de letras
numa página, ou aplicando testes de leitura para assegurar-se de que a alfabetização comece com todas as
garantias de sucesso. Com esse entendimento, os professores começam a pensar de outra maneira e
respondem de maneira diferente às respostas das crianças, às questões das crianças, às interações das crianças
e às produções das crianças. Os professores passam a descobrir que as crianças são tão inteligentes, ativas e
criativas no campo da escrita/leitura quanto na matemática.

— (FERREIRO, 1995, p. 33)

A psicogênese demonstrou que as crianças não são meras receptoras. Assim,


observar as hipóteses dos aprendizes é algo extremamente motivador, conversar
com os alunos e perceber toda a sua capacidade, inteligência e criatividade, faz da
alfabetização uma das etapas mais ricas da escolarização. A docência nessa etapa
é um verdadeiro privilégio, a rotina não se faz presente, os desafios e as conquistas
de cada aprendiz são o combustível para o alfabetizador.

113
FAÇA VALER A PENA
Questão 1
“As crianças aprendem por meio da interação com a linguagem, nas práticas
sociais, e os sentidos construídos por elas sobre a linguagem e, em especial, sobre

0
o funcionamento do sistema de escrita são resultados de uma elaboração
conceitual da escrita.” (FERREIRO; TEBEROSKY, 1995, p. 49)

seõçatona reV
Considerando a construção de hipóteses pela criança, analise o excerto a seguir,
completando suas lacunas.

Um dos maiores desafios das crianças nessa etapa é ________ como o que se diz e o
que se escreve se ________.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.

a. decorar; relacionam.

b. respeitar; complementam.

c. memorizar; opõe.

d. compreender; contradiz.

e. compreender; relacionam.

Questão 2
De acordo com a psicogênese, os aprendizes passam por processos pelos quais as
crianças aprendem a ler e a escrever, compreendem como constroem suas
próprias ideias da relação entre o que é dito e o que está escrito, como entendem
o que a escrita representa e como esse sistema se organiza.

Em relação a aquisição da língua escrita, analise as afirmativas a seguir:

I. Os aprendizes pensam, analisam, testam, interpretam, encontram respostas e


validam suas hipóteses.

II. Os aprendizes precisam de situações que possibilitem questionamentos e


interpretações.

III. Os aprendizes diariamente precisam fazer cópias de famílias silábicas.

IV. A escola deve ser um espaço privilegiado de trocas e descobertas.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

Questão 3
A alfabetização não é uma questão de sondar as letras, repetindo-se mais e mais
as mesmas cadeias de letras numa página, ou aplicando testes de leitura para
assegurar-se de que a alfabetização comece com todas as garantias de sucesso.

114
Com esse entendimento, os professores começam a pensar de outra maneira e
respondem de maneira diferente às respostas das crianças, às questões das
crianças, às interações das crianças e às produções das crianças. Os professores
passam a descobrir que as crianças são tão inteligentes, ativas e criativas no

0
campo da escrita/leitura quanto na matemática. (FERREIRO; TEBEROSKY, 1985, p.

seõçatona reV
33).

Em relação aos níveis de alfabetização, analise as afirmativas a seguir:

I. Cada aluno precisa de um tempo para transpor as etapas.

II. As práticas de letramento favorecem a compreensão da criança sobre a escrita.

III. A elaboração das hipóteses tem início na primeira infância a partir do contato
da criança com a cultura letrada.

IV. As atividades de escrita devem contemplar tarefas de diferentes


complexidades, favorecendo a participação de todos.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV apenas.

c. I, II e III apenas.

d. I, II e IV apenas.

e. I, II, III e IV.

REFERÊNCIAS
BRANCO, V. As condições psicogenéticas na aprendizagem da leitura e da escrita:
um processo de educação permanente. Educ. rev., Curitiba, n. 8, p. 35-41, dez.
1989. Disponível em: https://goo.gl/bkyHzt. Acesso em: 5 out. 2020.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3rqV48h. Acesso em: 27 jul.
2020.

FERREIRO, E. Desenvolvimento da alfabetização: psicogênese. In: GOODMAN, Y. M.


(Org.). Como as crianças constroem a leitura e a escrita: perspectivas
piagetianas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1995, p. 22-35.

FERREIRO, E.; TEBEROSKY, A. Psicogênese da língua escrita. Porto Alegre: Artes


Médicas, 1985.

PETERLE, T. G. S. Letramentos e alfabetização. Londrina: Editora e Distribuidora


Educacional S.A., 2018.

SILVA, E. A. R. Psicogênese da língua escrita: construção das crianças e trabalho


pedagógico da professora de uma turma do 1º ano do Ensino Fundamental.
Universidade Federal do Rio Grande do Norte – Trabalho de Conclusão de Curso.
Natal, 2016.

115
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
AS HIPÓTESES INFANTIS E AS ESTRATÉGIAS PARA AQUISIÇÃO DA
LEITURA E ESCRITA

0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Você conheceu a situação-problema vivenciada pela professora Patrícia, que
trabalha em uma turma de contraturno que atende crianças que apresentam
alguma dificuldade de aprendizagem. Entretanto, Patrícia tem observado que
mesmo com as atividades de alfabetização que ela desenvolve com João, ele
parece não avançar e considera que o aluno tenha algum transtorno de
aprendizagem sendo necessário passar pela equipe multidisciplinar para uma
avaliação mais apurada.

Entretanto, pela descrição da professora sobre o padrão de escrita de João é


possível perceber que não se trata de uma dificuldade de aprendizagem. Ele utiliza
poucas letras para escrever o nome de objetos pequenos e muitas letras para
escrever os nomes de objetos grandes, utiliza letras aleatórias e essas
características demonstram que João está elaborando hipóteses pré-silábicas, ou
seja, ele ainda não percebeu que a escrita representa os sons da fala.

A professora está desenvolvendo um trabalho com leitura e cópia de famílias


silábicas, porém esse não é o melhor caminho. Existem outras maneiras de
conduzir essa situação favorecendo o avançar das hipóteses pelo aluno, como
fazer o ditado e fazer perguntas para o aluno, levando-o a pensar sobre aquilo que

116
ele registrou. Esse trabalho também pode ser feito com brincadeiras cantadas,
parlendas, quadrinhas, trava-línguas e poemas, analisando os aspectos sonoros e
gráficos das palavras.

0
Situações em que a criança tem a possibilidade de brincar com os sons das
palavras, a partir das rimas, articulando-as com situações de leitura e de escrita,

seõçatona reV
facilitam a compreensão do aluno de que as letras representam os sons,
avançando com naturalidade na elaboração de hipóteses da escrita.

Após conversar com a pedagoga que faz parte da equipe multidisciplinar e relatar
sua preocupação com o aluno João, a pedagoga orientou a professora Patrícia
sugerindo que retome a leitura sobre a psicogênese da língua escrita, pois não
demonstra ser um caso para encaminhamento psicopedagógico. Após realizar os
estudos, a professora modificou totalmente a forma como avalia e conduz a
alfabetização de seus alunos.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
ACOMPANHAMENTO


A BNCC estabelece que a criança seja alfabetizada até o segundo ano do ensino fundamental, entretanto, nos
anos seguintes, esse estudante ainda irá ampliar todas as suas competências e habilidades de leitura e escrita
dominando amplamente a escrita ortográfica. Dentre as habilidades a serem desenvolvidas no primeiro ano
estão presentes: Reconhecer que textos são lidos e escritos da esquerda para a direita e de cima para baixo da
página; Distinguir as letras do alfabeto de outros sinais gráficos; Reconhecer o sistema de escrita alfabética
como representação dos sons da fala; Identificar fonemas e sua representação por letras; Segmentar oralmente
palavras em sílabas

— (BRASIL, 2018, [s.p.]).

O que você faria para acompanhar o desenvolvimento dessas habilidades, se


atuasse como professora no primeiro ano do ensino fundamental?

RESOLUÇÃO 

Para que os alunos alcancem as habilidades, atingindo os objetivos de


aprendizagem previstos para o primeiro ano, o professor precisa acompanhar
a evolução de todos, identificando os que já estão alfabetizados e os que
precisam de um pouco mais de atenção. Isso também é importante para
organizar grupos de atividades, os que já estão alfabetizados necessitam de
conteúdos que explorem a ortografia.

O professor deve registrar tudo, pois a observação das produções é capaz de


demonstrar com clareza como o aluno avançou. É possível construir uma
tabela em que o professor irá registrar a evolução das hipóteses de cada um,
estabelecendo determinada periodicidade para a realização de sondagens.
Dessa forma, o professor também tem a possibilidade de se autoavaliar e, se
necessário, modificar os percursos metodológicos adotados.

117
NÃO PODE FALTAR
IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NO
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Olá, estudante.

Até agora você já aprendeu muito sobre a alfabetização, concorda? Mas, ainda há
muito a ser explorado, como os conhecimentos desenvolvidos no campo da
psicologia da educação e do desenvolvimento que são importantes aliados do
professor alfabetizador no momento de planejar todas as ações e os
encaminhamentos pedagógicos adotados em sala de aula. Quando o professor
está preparado para conduzir esse processo ofertando as melhores oportunidades
de aprendizagem, a alfabetização se torna um período de grandes descobertas e
de desenvolvimento da criatividade e, para isso, é importante ter domínio teórico.

O pensamento infantil é fascinante e o segredo da grande capacidade imaginativa


e criativa da criança está em não ter medo de errar e não se prender aos possíveis
julgamentos. No entanto, convém lembrar que, de certa forma, práticas
pedagógicas inadequadas são capazes de instalar o medo e a insegurança sobre as
nossas criações. Pouco a pouco, vamos tentando nos encaixar ao modelo de
“aluno ideal”, obediente, silencioso, que não questiona, nem se movimenta na
escola.

O conhecimento do professor e as intervenções pedagógicas adequadas são


capazes de modificar esse tipo de direcionamento e, pensando nisso, os
conhecimentos que serão abordados nesta unidade de estudos objetivam conduzi-
lo ao entendimento do processo de alfabetização de forma ampla, identificando

118
todas as variáveis que interferem na aquisição e no desenvolvimento da leitura e
escrita, sabendo selecionar diferentes estratégias e recursos para um trabalho
pedagógico significativo.

0
Para tratar da importância das intervenções pedagógicas no processo de
desenvolvimento da criança, caminharemos por uma abordagem formativa,

seõçatona reV
compreendendo o que significa ser um professor mediador no processo de
alfabetização, você conhecerá um conceito muito importante na teoria histórico-
cultural, a zona de desenvolvimento proximal. Além disso, você irá compreender o
que é autorregulação da aprendizagem e a utilização de estratégias cognitivas e
metacognitivas.

Imagine se você atuasse em uma turma inteiramente composta por alunos que
enfrentam dificuldades para aprender. Essa é a realidade da professora Patrícia,
que já trabalhou em diferentes etapas da educação básica e, nesse ano, está
trabalhando com uma turma de reforço escolar, que funciona no contraturno da
turma regular em que os alunos estão matriculados.

A turma de reforço é frequentada por alunos que estão com dificuldade em língua
portuguesa e matemática. Muitos são alunos mais velhos que passaram por
sucessivas reprovações, mas como a professora trabalha com menos alunos,
consegue fazer um trabalho mais individualizado.

Na turma do reforço escolar existem crianças com diferentes níveis de


aprendizagem em áreas de conhecimento distintas. Alguns alunos apresentam
desempenho superior aos demais e isso acaba exigindo que a professora saiba
como gerir o tempo e organizar as atividades adequadas. Mesmo assim, alguns
terminam muito rápido e acabam atrapalhando os demais. Quais estratégias
podem ser utilizadas para organizar melhor o encaminhamento das atividades, de
modo que os alunos mais adiantados não prejudiquem os demais?

A partir destes conhecimentos você será capaz de promover intervenções


pedagógicas eficazes, para que seus alunos desenvolvam todas as competências e
habilidades objetivadas, sejam proativos, motivados e felizes. Pronto para
começar?

CONCEITO-CHAVE
Certamente você já ouviu a expressão “professor mediador”, mas você sabe de fato
que faz do professor um mediador? A teoria histórico-cultural desenvolvida pelo
psicólogo Lev Vygotsky aponta que a humanidade é construída e as pessoas se
tornam humanas mediante interações e mediante a cultura (internalização dos
instrumentos e signos elaborados pelos homens). Partindo de uma abordagem
formativa acerca do papel da escola e das intervenções pedagógicas para o
processo de desenvolvimento da criança, vamos ampliar os conhecimentos sobre
o professor mediador.

A concepção Vigotskiana pressupõe que a escrita é um sistema simbólico de


representação da realidade e, este fato está associado a outros conceitos da teoria
histórico-cultural, como o desenvolvimento da linguagem, a mediação simbólica e
o uso de instrumentos.

119

O comportamento do homem moderno, cultural, não é só produto da evolução biológica, ou resultado do
desenvolvimento infantil, mas também produto do desenvolvimento histórico. No processo do
desenvolvimento histórico da humanidade, ocorreram mudança e desenvolvimento não só nas relações
externas entre pessoas e no relacionamento do homem com a natureza; o próprio homem, sua natureza
mesma, mudou e se desenvolveu.

0
— (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 95)

seõçatona reV
Para o teórico, a relação dos sujeitos com os objetos do conhecimento presentes
na cultura é uma relação mediada. Seus pressupostos contribuem para o repensar
das práticas educacionais e o papel do professor, isto porque a prática docente
mediadora é um elemento essencial para que o estudante tenha pleno acesso à
cultura mais elaborada. Imagine se não existissem as trocas culturais e a
interação? Cada geração teria que inventar tudo novamente!

Por entender que os conhecimentos são elaborados pelos homens, com e na


cultura, Vygotsky considera que para compreender o desenvolvimento da escrita é
necessário retomar o que acontece com a criança antes de ser submetida às
situações sistemáticas da alfabetização, ou seja, existe uma pré-história da
linguagem escrita que tem início na primeira infância.

FOCO NA BNCC

Embora, desde que nasce e na Educação Infantil, a criança esteja cercada e


participe de diferentes práticas letradas, é nos anos iniciais (1º e 2º anos) do
Ensino Fundamental que se espera que ela se alfabetize. Isso significa que a
alfabetização deve ser o foco da ação pedagógica. (BRASIL, 2018, p. 89)

A prática mediadora é fundamental durante toda a vida escolar do estudante e sua


importância ganha maior destaque quando consideramos o papel do professor
alfabetizador. Por isto, é importante perceber que a dinâmica das atividades
propostas nas salas de alfabetização necessita de abordagens que consideram o
protagonismo e as características individuais de cada criança, já que quando
adentram o cenário educacional fazem parte de uma sociedade letrada. Aí você
pode se perguntar: como mediar as aprendizagens dos meus alunos se cada
criança possui particularidades especificas?

É preciso entender que o aprendizado e o desenvolvimento estão inter-


relacionados desde o nascimento da criança, sendo que o primeiro impulsiona o
segundo. Assim, neste sentido, o bom ensino é aquele que está à frente do
desenvolvimento. Vamos entender melhor: isso quer dizer que o professor não
deve trabalhar apenas com atividades que os estudantes conseguem fazer com
facilidade, visto que, desta maneira, a criança não irá avançar. Por outro lado, não
é adequado que o professor elabore atividades que estão muito além da
capacidade da criança, porque devido ao elevado grau de dificuldade, ela não
dispõe de conhecimentos que sustentam a resolução.

Pois bem, como alfabetizadores, se não podemos trabalhar com atividades que a
criança já realiza com facilidade, tampouco com atividades excessivamente
complexas, o que deve ser feito? O alfabetizador deve estar apto a reconhecer
quais aprendizagens fazem parte do nível de desenvolvimento real, aquilo que a
criança já consegue fazer sem ajuda, quais atividades estão no nível de

120
desenvolvimento potencial, aquilo que a criança é capaz de aprender, para
identificar a zona de desenvolvimento proximal. A mediação do professor ou de
parceiros mais hábeis, aqueles que já dominam determinado conhecimento, deve
incidir na zona de desenvolvimento proximal. Por exemplo, uma criança em nível

0
silábico-alfabético trabalhando em dupla com uma criança que já elabora

seõçatona reV
hipóteses alfabéticas.

Quadro 3.3 | Zona de desenvolvimento proximal/próximo

Nível de Nível de
desenvolvimento Zona de Desenvolvimento desenvolvimento
real proximal potencial

Etapas que a criança A distância entre o nível de Aquilo que a


já alcançou, desenvolvimento real e o nível de criança é capaz de
conhecimentos que desenvolvimento potencial. Envolve aprender.
já foram a capacidade de desenvolver tarefas
consolidadas por ela. com a mediação.

Fonte: elaborado pela autora a partir de Oliveira (1997).

ASSIMILE

As considerações de Vygotsky sobre a escrita possuem muitas


aproximações com a teoria de Emília Ferreiro. O aspecto mais importante é
a consideração da escrita como um processo de representação da
realidade, que acontece mediante o domínio progressivo do sistema, não
pelo domínio mecânico da correspondência letra-som (OLIVEIRA, 1997).

Portanto, a mediação entre as hipóteses que a criança já domina sobre a


construção da escrita devem ser identificadas pelo professor que irá organizar
intervenções pedagógicas com mediadores ou com a ação dele como o mediador
para que a criança alcance hipóteses mais avançadas. O trabalho em duplas ou
grupos é capaz de promover a interação entre crianças em diferentes níveis de
aprendizagem e este tipo de organização possibilita que um colega de turma,
como parceiro mais hábil atue na zona de desenvolvimento proximal da criança
que ainda não consegue realizar determinada tarefa sem ajuda.

[...] O conceito de zona de desenvolvimento próximo aponta essencialmente para o trabalho colaborativo entre
educador e criança e entre criança e criança. [...] primeiro porque é a partir das experiências vividas, social e


coletivamente, que a criança forma para si as ações internas e, em segundo lugar, porque o sujeito que aprende
é ativo no processo: não é ouvinte apenas, nem executor de tarefas fragmentadas, mas é o sujeito das
necessidades de conhecimento às quais a atividade proposta na escola deve responder [...].

— (MELO, 2010, p. 194)

Fica claro que “como na escola o aprendizado é um resultado desejável, é o próprio


objetivo do processo escolar, a intervenção é um processo pedagógico
privilegiado” (OLIVEIRA, 1997, p. 62). O professor tem o papel explícito de inferir na
zona de desenvolvimento proximal dos alunos, provocando avanços que não
ocorreriam espontaneamente, o ponto de partida para as intervenções

121
pedagógicas que o professor irá realizar é aquilo que a criança já sabe e o ponto de
chegada são os objetivos educacionais previstos nas diretrizes curriculares, no
projeto político pedagógico e no planejamento do professor.

0
É importante frisar que quando ocorre a mediação e a criança alcança o
desempenho naquela atividade que anteriormente conseguia realizar apenas com

seõçatona reV
a ajuda de um parceiro mais hábil, significa que a aprendizagem desse
conhecimento ou habilidade não está mais no nível de desenvolvimento potencial,
ou seja, já se tornou um conhecimento situado no nível real, visto que, agora, a
criança consegue realizá-lo sem ajuda. Portanto, cada aluno possui diversos
conhecimentos em níveis diferentes, que demandam diferentes tipos de
intervenção.

REFLITA

Considerando a teoria histórico-cultural, o objetivo da educação formal é


promover a aprendizagem e consequentemente o desenvolvimento
humano?

Com a entrada da criança aos seis anos no primeiro ano do ensino fundamental,
dúvidas quanto ao trabalho com os conceitos científicos surgiram entre os
professores: será que as crianças conseguiriam compreender a estrutura da
escrita, as normas? Com isso, é preciso ter cuidado para não ficar apenas
trabalhando com o conhecimento cotidiano dos estudantes, é necessário que a
escola cumpra o seu papel contextualizando os conhecimentos prévios e
cotidianos, articulando-os aos conhecimentos científicos.

EXEMPLIFICANDO

O professor na função de mediador do conhecimento precisa promover


intervenções didáticas que levam a criança a compreender que utilizamos a
escrita para representar a realidade, que a escrita tem uma função social,
que escrevemos para anotar um recado, lemos uma receita para que
possamos preparar um prato de culinária, e assim por diante. Então é
preciso levá-los a descobrir “[...] que se pode desenhar não somente
objetos, mas também a fala. [...]” (OLIVEIRA, 1997, p. 72).

Além das possibilidades de realização de trabalhos em grupo ou duplas, outro


elemento que incide sobre a zona de desenvolvimento proximal é o jogo ou a
brincadeira, inclusive o faz de conta. Será que a ludicidade tem espaço nas turmas
de alfabetização?

Essa é uma questão que nos direciona a refletir sobre a principal linguagem da
criança: a brincadeira! As intervenções pedagógicas na alfabetização precisam
contemplar a expressão da criatividade e o potencial imaginativo da criança.
Portanto, entende-se que não deve ocorrer um rompimento com o lúdico com o
ingresso da criança no ensino fundamental e aprender a escrever é algo que
precisa fazer sentido para a criança.

122
Essas reflexões tecidas a partir dos pressupostos da teoria histórico-cultural
demonstram a importância da escola e do papel do professor como o grande
mediador, capaz de ampliar as oportunidades de aprendizagem e o processo de
humanização, isso pode ocorrer de forma leve e lúdica. Por exemplo: brincando de

0
jogo da forca ou bingo de palavras, a criança é capaz de pensar sobre a escrita e o

seõçatona reV
professor faz as mediações lançando questionamentos e apresentando modelos.
Além disso, é possível perceber o papel ativo do aluno uma vez que outras teorias
da psicologia da aprendizagem já identificaram que quando o aluno pensa sobre a
sua própria aprendizagem e adota estratégias mais eficazes os resultados são
positivos e em um tempo menor. Nessa perspectiva, vamos explorar os elementos
referentes a autorregulação da aprendizagem.

BANDURA E AUTORREGULAÇÃO
Albert Bandura é um psicólogo canadense, professor de psicologia social da
Universidade de Stanford. Os seus trabalhos promoveram contribuições no campo
da psicologia social, cognitiva, psicoterapia e pedagogia. Dentre os estudos
realizados, no campo educacional, a autorregulação da aprendizagem ganhou
destaque pelas evidências apresentadas quanto ao desempenho dos estudantes.

Segundo Ganda e Boruchovitch (2018, p. 72), nas últimas décadas, diante do


fracasso escolar vivenciado por alunos em todas as etapas de ensino, “inúmeros
pesquisadores das áreas da Psicologia e Educação têm buscado compreender as
causas desse problema e a propor formas de revertê-lo e mesmo preveni-lo”. A
partir desses fatores, defendem que estimular o desenvolvimento da
autorregulação seria uma forma eficiente de minimizar parte das dificuldades
enfrentadas por alunos durante sua aprendizagem. Mas o que significa
autorregulação? Vamos explorar esta definição:


A autorregulação da aprendizagem é definida como o processo no qual o aluno estrutura, monitora e avalia o
seu próprio aprendizado. Esse processo envolve fatores como autoconhecimento, autorreflexão, controle de
pensamentos e domínio emocional, além de uma mudança comportamental por parte do estudante.

— (BEMBENUTTY, 2008; WOLTERS; BENZON, 2013 apud GANDA; BORUCHOVITCH, 2018, p. 72)

É importante compreender que não nascemos autorregulados, ou seja, essa não é


uma capacidade inata, mas é possível adquiri-la ao longo da vida a partir de suas
próprias experiências, do ensinamento de outras pessoas e da interferência do
ambiente em que se está inserido. A autorregulação pressupõe ações conscientes,
reflexivas e proativas, e o estudante autorregulado tem comportamentos, “crenças
pessoais, emoções, orientações motivacionais e formas de relacionamento
interpessoal que favorecem um aprendizado de maior qualidade, ou seja, com
maior domínio do conteúdo e rendimento acadêmico” (GANDA; BORUCHOVITCH,
2018, p. 72).

REFLITA

Você se considera um estudante autorregulado?

123
Bandura desenvolveu o primeiro modelo teórico sobre autorregulação,
demonstrando que a autorregulação passa por três processos de gerenciamento: a
auto-observação, o processo de julgamento e a autorreação.

0
Quadro 3.4 | Autorregulação da aprendizagem: processos

seõçatona reV
Auto-observação Processo de julgamento Autorreação

Monitoramento do Momento no qual a Envolve as respostas afetivas,


indivíduo sobre o pessoa avalia seu cognitivas e espontâneas
seu desempenho desempenho a partir de diante da avaliação do
em aspectos como seus padrões e valores desempenho, podendo ser
qualidade, ritmo, pessoais, de suas positivas ou negativas. Alguns
quantidade, experiências prévias, das exemplos dessas respostas
originalidade, normas sociais, das seriam: autocorreções,
autenticidade, comparações com os punições, recompensas,
consequências, outros e das condições na incentivos motivacionais e
desvio e qual executou a atividade. afetivos, entre outras.
moralidade.

Fonte: elaborado pela autora a partir de Ganda e Boruchovitch (2018, p. 74).

ASSIMILE

Bandura também abordou as crenças de autoeficácia, demonstrando que


as expectativas de resultado de uma pessoa dependem dos seus próprios
julgamentos, sobre quão bem eles acreditam que podem realizar uma
determinada tarefa, ou seja, se são autoeficazes. De acordo com
Zimmerman & Schunk (2011), a crença de autoeficácia exerce um papel
fundamental na motivação e no comportamento diante da aprendizagem,
uma vez que alunos mais autoeficazes são mais motivados e persistentes
durante a realização das tarefas.

Será que o professor alfabetizador pode ensinar os estudantes a serem alunos


autorregulados? Sim! Considerando sempre as especificidades da faixa etária é
possível promover diálogos auxiliando-os inicialmente na organização da sua
rotina e execução das tarefas propostas, ensinando estratégias de aprendizagem
que desempenham um importante papel para a autorregulação

ESTRATÉGIAS COGNITIVAS E METACOGNITIVAS


Para ser um bom aluno é preciso ter consciência dos seus próprios processos
mentais. Pesquisas relacionadas às estratégias de aprendizagem sugerem que é
possível ajudar os alunos a refletir sobre a própria aprendizagem. A teoria do
processamento da informação aponta que o objetivo do ensino é ajudar o
estudante a adquirir estratégias para aprender.

124

As estratégias de aprendizagem podem estar mais voltadas para ajudar o aprendiz a organizar, elaborar e
integrar a informação (estratégias cognitivas ou primárias) ou ser mais orientadas para o planejamento,
monitoramento, regulação do próprio pensamento e manutenção de um estado interno satisfatório que facilite
a aprendizagem (estratégias metacognitivas ou de apoio).

0
— (BORUCHOVITCH, 2001, p. 20)

seõçatona reV
A aprendizagem autorregulada pressupõe a combinação de habilidades e
estratégias de aprendizagem cognitivas, metacognitivas e de autocontrole. Ou seja,
as estratégias cognitivas são os procedimentos que podem ser adotados pelos
estudantes, como sublinhar pontos importantes de um texto, grifar, elaborar
resumos, bem como organizar o seu material para a realização de uma tarefa. Já as
estratégias metacognitivas envolvem planejamento, monitoramento e controle, a
reflexão sobre a ação desempenhada, como monitorar a compreensão na hora da
leitura. Durante a alfabetização, as crianças já podem aprender como e quando
utilizá-las a partir da orientação frequente do professor.

EXEMPLIFICANDO

Estratégias de compreensão leitora:

Para antes da leitura: antecipação do tema ou ideia principal a partir de


elementos paratextuais, como título, subtítulo, do exame de imagens, de
saliências gráficas, outros. Levantamento do conhecimento prévio sobre o
assunto; expectativas em função do suporte; expectativas em função da
formatação do gênero; expectativas em função do autor ou instituição
responsável pela publicação.

Atividades durante a leitura: confirmação, rejeição ou retificação das


antecipações ou expectativas criadas antes da leitura; localização ou
construção do tema ou da ideia principal; esclarecimentos de palavras
desconhecidas a partir da inferência ou consulta do dicionário; formulação
de conclusões implícitas no texto, com base em outras leituras,
experiências de vida, crenças, valores; formulação de hipóteses a respeito
da sequência do enredo; identificação de palavras-chave; busca de
informações complementares; construção do sentido global do texto;
identificação das pistas que mostram a posição do autor; relação de novas
informações ao conhecimento prévio; identificação de referências a outros
textos.

Atividades para depois da leitura: construção da síntese semântica do


texto; utilização do registro escrito para melhor compreensão; troca de
impressões a respeito do texto lido; relação de informações para tirar
conclusões; avaliação das informações ou opiniões emitidas no texto;
avaliação crítica do texto (SOLÉ, 1998).

Mais do que ensinar o conteúdo, o professor irá obter resultados positivos


ensinando a criança a estudar, orientando-a sobre como pode se organizar ou
ensinando ferramentas para que ela consiga resgatar determinada informação.

125
Pensando nisso, é importante que o professor também trabalhe para o
desenvolvimento da sua capacidade de autorregulação e aprenda a utilizar as
melhores estratégias de aprendizagem.

0
Os conhecimentos explorados nessa seção resgatam diferentes perspectivas de
desenvolvimento e aprendizagem que oferecem subsídios para a realização de

seõçatona reV
intervenções pedagógicas. Durante os estudos você percebeu quão importante é a
ação do professor para a aprendizagem e o desenvolvimento da criança, a
abordagem formativa deve orientar o trabalho do professor alfabetizador,
direcionando o seu olhar para a trajetória de cada criança, considerando as
singularidades e necessidades que exigem do professor um olhar cuidadoso e
afetivo.

FAÇA VALER A PENA


Questão 1
“O comportamento do homem moderno, cultural, não é só produto da evolução
biológica, ou resultado do desenvolvimento infantil, mas também produto do
desenvolvimento histórico. No processo do desenvolvimento histórico da
humanidade, ocorreram mudança e desenvolvimento não só nas relações externas
entre pessoas e no relacionamento do homem com a natureza; o próprio homem,
sua natureza mesma, mudou e se desenvolveu.” (VYGOTSKY; LURIA, 1996, p. 95)

Com relação ao aprendizado e desenvolvimento para a teoria histórico-cultural,


analise o excerto a seguir, completando suas lacunas.

O aprendizado e o desenvolvimento estão ________ desde o nascimento da criança,


sendo que o primeiro ________ o segundo. Neste sentido, o bom ensino é aquele
que está à frente do _______.

Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.

a. separados; suprime; processo.

b. afastados; estimula; desenvolvimento.

c. separados; impulsiona; crescimento.

d. inter-relacionados; impulsiona; desenvolvimento.

e. inter-relacionados; suprime; / processo.

Questão 2

[...] O conceito de zona de desenvolvimento próximo aponta essencialmente para o trabalho colaborativo entre
educador e criança e entre criança e criança. [...] primeiro porque é a partir das experiências vividas, social e


coletivamente, que a criança forma para si as ações internas e, em segundo lugar, porque o sujeito que aprende
é ativo no processo: não é ouvinte apenas, nem executor de tarefas fragmentadas, mas é o sujeito das
necessidades de conhecimento às quais a atividade proposta na escola deve responder [...].

— (MELO, 2010, p.194)

A partir das informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

I. A mediação do professor ou de parceiros mais hábeis, aqueles que já dominam


determinado conhecimento, deve incidir na zona de desenvolvimento proximal.

126
II. O professor deve trabalhar com atividades que os estudantes conseguem
realizar com facilidade.

III. O nível de desenvolvimento real corresponde aos conhecimentos que já foram

0
consolidadas pela criança.

IV. A aprendizado da escrita é um processo de representação da realidade, que

seõçatona reV
acontece mediante o domínio progressivo do sistema.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

Questão 3
“A autorregulação da aprendizagem é definida como o processo no qual o aluno
estrutura, monitora e avalia o seu próprio aprendizado. Esse processo envolve
fatores como autoconhecimento, autorreflexão, controle de pensamentos e
domínio emocional, além de uma mudança comportamental por parte do
estudante.” (BEMBENUTTY, 2008; WOLTERS & BENZON, 2013 apud GANDA;
BORUCHOVITCH, 2018, p. 72)

Com base nos conhecimentos referentes ao desenvolvimento da linguagem, avalie


as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.

I. Nascemos autorregulados, ou seja, é uma capacidade inata, que é transmitida


biologicamente, por isso é natural que existam pessoas mais autorreguladas.

PORQUE

II. A autorregulação pressupõe ações conscientes, reflexivas e pró-ativas, sendo


que, o estudante autorregulado tem comportamentos, crenças pessoais,
emoções, orientações motivacionais e formas de relacionamento interpessoal
que favorecem um aprendizado de maior qualidade.

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta.

a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.

b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.

c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.

d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.

e. As asserções I e II são proposições falsas.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/2PnqkaT. Acesso em: 27 jul.
2020.

127
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0
GANDA, D. R. BORUCHOVITCH, E. A autorregulação da aprendizagem: principais
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seõçatona reV
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MELLO, S. A. Contribuições de Vigotsky para a Educação Infantil. In: MENDONÇA,


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histórico. São Paulo: Scipione, 1997.

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aprender: concepções e conhecimento de professores. Psicologia: Ciência e
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PERASSIMOTO, M. G. BORUCHOVITCH, E. BZUNECK, J. A. Estratégias de


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SOLÉ, I. Estratégias de leitura. Porto alegre: Artes médicas, 1998.

VYGOTSKY, L. S.; LURIA, A. R. Estudos sobre a história do comportamento:


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ZIMMERMAN B. J., & SCHUNK D. H. Handbook of Self-Regulation of Learning and


Performance. Nova York: Routledge, 2011.

128
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
IMPORTÂNCIA DAS INTERVENÇÕES PEDAGÓGICAS NO
PROCESSO DE DESENVOLVIMENTO DA CRIANÇA

0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Assim como acorre nas turmas do ensino regular, na turma de reforço escolar
alguns alunos apresentam desempenho superior aos demais, ou seja, não há um
grupo totalmente homogêneo. Isso exige que o professor saiba como gerir o
tempo e organizar as atividades adequadas. Mesmo assim, alguns alunos
terminam muito rápido suas atividades e acabam atrapalhando os demais. Quais
estratégias podem ser utilizadas para organizar melhor o encaminhamento das
atividades, de modo que os alunos mais adiantados não prejudiquem os demais?

Para que os alunos da professora Patrícia possam continuar avançando, as


atividades não podem ser muito fáceis para os que já alcançaram o pleno domínio
da escrita. Pensando nisso, é importante que a professora conheça as hipóteses de
cada criança sobre a escrita, desse modo, ela saberá qual é o nível real e o nível
potencial para que possa fazer a mediação correta.

É fundamental que a professora organize momentos de interação para que as


crianças tenham a possibilidade de realizar trocas durante a realização da
atividade. Para que isso ocorra, a professora pode organizar duplas ou pequenos
grupos de trabalho compostos por crianças com diferentes níveis de

129
aprendizagem. As crianças mais avançadas irão atuar como parceiros mais hábeis
auxiliando as demais na compreensão e resolução das tarefas, inclusive em jogos e
demais atividades lúdicas.

0
Como é um grupo pequeno, a professora também pode apostar em atividades
extras, elaboradas especialmente para os alunos que já dominam as hipóteses.

seõçatona reV
Quando este aluno terminar a atividade que foi direcionada a todo o grupo, ele
recebe sua atividade extra. Também é possível reservar esse momento para a
leitura deleite: o aluno que termina primeiro pode escolher um livro para ler
enquanto os demais continuam realizando a atividade proposta a todos.

Após conhecer estas alternativas, a professora Patrícia percebeu como a


organização do trabalho pedagógico melhorou e as crianças estão sendo
direcionadas dentro das suas especificidades em uma abordagem formativa,
voltada para a superação das dificuldades. A partir desse trabalho de adequação
das intervenções pedagógicas, a professora já percebeu que os alunos
apresentaram grandes progressos.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
ESTRATÉGIAS METACOGNITIVAS
Considerar que as crianças são ativas no processo de aprendizagem é um
importante passo para modificar os encaminhamentos pedagógicos baseados na
mera transmissão de conteúdo que deva ser memorizado. As estratégias
metacognitivas são ações que possibilitam ao aprendiz pensar sobre a
aprendizagem e avaliar a sua própria aprendizagem e a adoção de estratégias
cognitivas e metacognitivas comprovadamente melhora os resultados dos
estudantes. Imagine um estudante do primeiro ano que está com muita
dificuldade concentração no momento da leitura: ele “se perde”, dispersa
facilmente e não se lembra do conteúdo que acabou de ler. Como estimular a
adoção de estratégias metacognitivas em crianças durante a alfabetização? Como
auxiliar este estudante a superar a dificuldade de concentração durante a leitura?

RESOLUÇÃO 

O monitoramento metacognitivo abrange o conhecimento que a criança possui


sobre o tipo e os critérios para a resolução de uma tarefa. A criança consegue
reconhecer se a tarefa é ou não familiar, se é difícil ou não. A partir dessas
percepções iniciais, ela se esforça para a resolução e este esforço envolve o
uso de estratégias para a efetivação da referida tarefa. Para dirigir e regular a
sua própria cognição, a criança precisa ter consciência das suas características.
Ela pode, por exemplo, saber que aprende melhor se ler em voz alta ou
quando conhece as exigências da tarefa. Porém, isso é bastante complexo no
início da alfabetização, pois as crianças ainda estão construindo a sua
identidade, se percebendo enquanto sujeitos individuais.

Desse modo, o professor pode direcionar a percepção da criança, fazendo


questionamentos, levando-a a refletir sobre as tarefas e sobre como ela
aprende melhor. Durante um jogo, por exemplo, cabe ao professor estimular o
pensamento, fazer questionamentos à criança frente à decisão tomada, induzir

130
desafios. Uma hipótese é propor pequenas situações-problema, reservando
um tempo para realizar intervenções individuais a fim de que a criança pense
inclusive sobre como foi fazer determinada tarefa e quais foram os resultados
obtidos.

0
seõçatona reV

131
NÃO PODE FALTAR
PRÁTICAS DE LEITURA E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS COM
A LEITURA E ESCRITA

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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CONVITE AO ESTUDO
Querido aluno,

Chegamos à última unidade de estudos da disciplina Estratégias e Procedimentos


para a Alfabetização. Nesta unidade, vamos nos dedicar às reflexões inerentes às
práticas relativas a leitura, escrita e literatura, ou seja, buscaremos identificar a
aquisição da leitura e escrita a partir de práticas pedagógicas que envolvem a
brincadeira, os jogos, o uso de tecnologia digital e a arte como formas de promover
diferentes estratégias para o desenvolvimento dos alunos.

É importante considerar que a seleção da metodologia, das atividades, da


organização da turma, dos materiais e os procedimentos didáticos são elementos
fundamentais para que os estudantes possam desenvolver todas as habilidades e
competências previstas pela Base Nacional Comum Curricular durante o ciclo de
alfabetização.

Pensando nisso, na primeira seção desta unidade vamos explorar as práticas de


leitura e desenvolvimento de projetos com a leitura e escrita. Iniciaremos
buscando entender o uso da leitura e da escrita no cotidiano proporcionando a
oportunidade de ouvir histórias e manusear livros, a leitura e as conversas em
torno dos textos como situações férteis para o desenvolvimento da linguagem, a
aprendizagem inicial da leitura e da escrita a partir das palavras de seus contextos
cultural, social e econômico e projetos interdisciplinares para aquisição e
desenvolvimento da leitura e escrita.

132
Na sequência, iremos compreender o papel das interações, a contação de
histórias, os jogos e brincadeiras com a leitura e escrita, observado a riqueza de
elementos presentes em situações didáticas como: a leitura feita em voz alta pelo
professor para a progressiva construção de intimidade com a cultura escrita, as

0
atividades para a consciência fonológica e o conhecimento das letras: jogos de

seõçatona reV
linguagem, brincadeiras cantadas, trabalho com parlendas, quadrinhas, trava-
línguas e poemas, a brincadeira com os sons das palavras, articulando-as com
situações de leitura e de escrita e os jogos e brincadeiras utilizando tecnologias
digitais.

Para finalizar, você é convidado a refletir sobre o ensino da escrita como uma arte,
propiciando o conhecimento da linguagem que levará à habilidade de decifrar
códigos, a leitura de imagens; análises e conexões; alunos reflexivos e críticos, a
arte possibilitando novos caminhos, novos olhares para uma nova percepção do
mundo e aquisição da linguagem escrita e a escrita da arte nas imagens e obras;
sistema de representação; símbolos visuais e sensoriais.

PRATICAR PARA APRENDER


Olá, estudante, seja bem-vindo!

“A leitura de mundo precede a leitura da palavra”. Você, provavelmente, conhece


essa frase do professor Paulo Freire e entende que ler o mundo é importante para
o aprendizado da leitura da palavra e ler a palavra é ampliar as possibilidades de
interação com o mundo. No entanto, formar leitores é um desafio, pois não basta
ofertar o acesso aos livros, é necessário planejar um percurso de trabalho que
possibilite a construção permanente de novos conhecimentos.

Trabalhar com a alfabetização é estar sempre disposto a aprender, a redefinir a


rota, sem perder de vista o que esperamos que cada um de nossos alunos
aprenda, lembrando sempre que nesse caminho não há competição, mas
cooperação. Nesse processo, a alfabetização e o letramento são elementos
indissociáveis que permitem ao aprendiz perceber sobre si, sobre a escrita e sobre
a relação dos homens com a escrita na sociedade.

Nesta seção, você irá aprender sobre as práticas de leitura e desenvolvimento de


projetos com a leitura e escrita. Para isso, iremos explorar o uso da leitura e da
escrita no cotidiano, proporcionando a oportunidade de ouvir histórias e manusear
livros, a leitura e as conversas em torno dos textos como situações férteis para o
desenvolvimento da linguagem, a aprendizagem inicial da leitura e da escrita a
partir das palavras e de seus contextos cultural, social e econômico e os projetos
interdisciplinares para aquisição e desenvolvimento da leitura e escrita. A partir
desses conhecimentos, você será capaz de organizar práticas significativas
contemplando amplas experiências de leitura.

A coordenadora pedagógica Mariana atua em uma escola de ensino fundamental


em um bairro periférico. Por atuar há muito tempo nessa escola, conhece as
famílias dos estudantes e sabe que as crianças não têm no âmbito familiar o
contato com livros, internet, tampouco modelos de leitores. Frente ao contexto, ela
entende a importância de explorar o trabalho com a leitura na escola.

133
Pensando nisso, Mariana fez uma reunião com os professores para tratar da
utilização da biblioteca. Entretanto, percebeu que os alunos não frequentam o
espaço e não levam livros para casa. Para incentivar os estudantes, a escola
comprou muitos livros, ampliou o espaço e conta com a colaboração dos

0
professores nesse incentivo.

seõçatona reV
A professora Flávia decidiu levar os alunos do segundo ano à biblioteca para
mostrar o espaço e os novos livros. Após a visita, contou uma história utilizando
fantoches e propôs um desafio para as crianças: cada um deveria emprestar no
mínimo um livro por semana e aqueles que ainda não conseguem ler deverão
pedir que os pais ou responsáveis leiam para eles. Na reunião pedagógica, a
professora deveria elaborar argumentos identificando as razões que fazem com
essa atividade seja capaz de auxiliar na alfabetização e desenvolver a capacidade
leitora. Ela também deveria explorar outras possibilidades para utilizar o espaço da
biblioteca. Vamos ajudar a professora indicando para ela as potencialidades da
atividade e possibilidades de utilização do espaço da biblioteca.

O professor leitor é um modelo para seus alunos! Amplie seus conhecimentos por
meio da leitura, pronto para começar?

CONCEITO-CHAVE
A leitura está presente no cotidiano das pessoas, desde a execução de tarefas
simples como receber uma correspondência ou usar um serviço bancário até
atividades mais complexas. Nesse contexto, não basta saber decifrar o código
linguístico, é necessário compreender as informações e saber quais são as
características e finalidades de determinado gênero textual – por exemplo, não
lemos uma bula de remédio como lemos um poema, certo? As estratégias que
utilizamos para fazer as leituras também foram aprendidas durante nosso
processo formativo.


A leitura é basicamente um processo de representação. Como esse processo envolve o sentido da visão, ler é,
na sua essência, olhar para uma coisa e ver outra. A leitura não se dá por acesso direto à realidade, mas por
intermediação de outros elementos da realidade. Nessa triangulação da leitura o elemento intermediário
funciona como um espelho; mostra um segmento do mundo que normalmente nada tem a ver com sua própria
consistência física. Ler é, portanto, reconhecer o mundo através de espelhos. Como esses espelhos oferecem
imagens fragmentadas do mundo, a verdadeira leitura só é possível quando se tem um conhecimento prévio
desse mundo.

— LEFFA, 1996, p. 10.

O uso da leitura e da escrita no cotidiano da sala de aula proporciona aos


estudantes a possibilidade de ouvir histórias e manipular livros, a oralidade
também é um elemento extremamente rico a ser contemplado desde a educação
infantil. Você concorda que as práticas de desenvolvimento da competência leitora
precisam ser planejadas pelo professor alfabetizador contemplando a
preocupação com a organização do ambiente, dos recursos e do domínio didático?

EXEMPLIFICANDO

No processo inicial de alfabetização, também trabalhamos com a produção


de textos, orais e escritos, que desencadeiam atividades de leitura. Estes
textos, quando transcritos pelo professor, podem se transformar em

134
material de leitura e de análise. Situações em que as crianças produzam
textos orais que podem ser transcritos e relidos pelo professor, no quadro
ou em cartazes, como um jornal mural. Estas são algumas possibilidades de
trabalho:

0
As crianças relatam um fato do dia a dia e ditam para que o professor

seõçatona reV
escreva. A frase ditada será naturalmente mais curta e organizada que o
relato espontâneo.

As crianças descrevem uma rotina e ditam uma lista para que o


professor escreva, por exemplo:
Todos os dias o que eu faço?

Qual é a nossa rotina em sala de aula?

A partir da lista, a criança elabora, em grupo, um pequeno texto para a


leitura.

Situações de produção de texto. Registrar no quadro ou em um mural


os acontecimentos do cotidiano das crianças, tais como:
Muitas crianças estavam vindo para a escola.

Angélica encontrou João perto da escola.

Mário chegou atrasado à escola porque acordou tarde.

O professor lê as frases com as crianças para que elas percebam que


podem registrar, por meio da escrita, os acontecimentos da vida diária.

Quando o professor lê para a criança, ele atua como um modelo, incentivando o


gosto pela leitura. Por vezes, o estudante não tem uma referência de leitor no
contexto familiar e a escola é a porta de entrada para esta aprendizagem que
envolve o campo de elaboração cognitiva, conceitual e o campo comportamental,
com a ressignificação e apropriação do comportamento leitor pela criança.
Segundo Carvalho (2005, p. 81):


A intervenção inteligente do professor no processo de formação de leitores passaria por diversos pontos,
incluindo a escolha de textos que reunissem condições de coerência, alto grau de legibilidade e interesse dos
pequenos leitores; o ensino de estratégias de predição de significados; a adaptação do modo de ler (leitura oral
ou silenciosa, leitura intensiva e detalhada ou leitura superficial, rápida, etc.) aos objetivos do leitor em
determinada ocasião. Neste ponto, esbarramos no problema, já bastante debatido, da precária formação do
professor, de sua escassa familiaridade com a leitura, da sua descrença em relação a propostas didáticas que
estão na contramão de sua própria experiência de leitores “escolares”.

ASSIMILE

O ato de ler para a criança pode ser iniciado na educação infantil, etapa
creche (0-3 anos). Os bebês podem manusear livros confeccionados com
material apropriado, inclusive livros que podem ser manuseados até
durante o banho. Veja alguns exemplos de livros de banho:

135
Fonte: reprodução.

As experiências com a literatura infantil na educação infantil, propostas


pelo educador, mediador entre os textos e as crianças, contribuem para o

0
desenvolvimento do gosto pela leitura, do estímulo à imaginação e da

seõçatona reV
ampliação do conhecimento de mundo. (BRASIL, 2018, p. 42)

O trabalho com atividades descontextualizadas, mecânicas e repetitivas se


distância da proposta de formação de leitores competentes, visto que o
desenvolvimento das habilidades leitoras acontece a partir da inserção do aprendiz
em atividades de leitura. Em outras palavras, não se deve aprender a ler primeiro,
mediante uma abordagem metodológica sintética, para depois ter contato com os
livros. A alfabetização na perspectiva do letramento pressupõe a leitura de textos
interessantes para as crianças desde o início da alfabetização.


Ler é uma operação inteligente, difícil, exigente, mas gratificante [...] Ler é procurar ou buscar criar a
compreensão do lido [...]. Ler é engajar-se numa experiência criativa em torno da compreensão. Da
compreensão e da comunicação. E a experiência da compreensão será tão mais profunda quanto sejamos nela
capaz de associar, jamais dicotomizar, os conceitos emergentes na experiência escolar aos que resultam do
mundo no cotidiano.

— FREIRE, 1993, p. 30,

Você sabe contar histórias? Quais são os elementos necessários para esta prática?
Contar uma história não é simplesmente abrir o livro e fazer a leitura, para que
esse momento desperte a atenção da criança é preciso que o professor se
preocupe com a entonação, fluidez, expressão corporal e organização na turma.
Esses elementos garantem o envolvimento dos estudantes e um verdadeiro
mergulho no mundo da fantasia e da imaginação.

A leitura em voz alta possibilita aos alunos a memorização da pronúncia das


palavras, a ampliação do vocabulário, a interpretação das imagens e da história.
Assim, ao finalizar a leitura o professor pode explorar a história a partir de
questões a serem respondidas oralmente pelo grupo, por exemplo: você gostou do
final da história? Este final poderia ser diferente? Como? Que tal criarmos um
desfecho para essa história? As conversas em torno dos textos são situações
férteis para o desenvolvimento da linguagem.

ASSIMILE

No início da alfabetização, a leitura tem por objetivos (BRASIL, 2007):

Viver uma experiência prazerosa;

Interpretar o texto;

Identificar elementos constituintes do texto;

Buscar informações; desenvolver habilidades relativas à atenção e à


memória;

Comparar textos novos com textos já conhecidos;

Formar leitores críticos;

136
Perceber os sons da língua; distinguir alguns sons, como, por exemplo:
t/d, f/v, p/b que são muito parecidos;

Estimular a pronúncia clara dos sons;

0
Reconhecer as correspondências entre som e escrita.

seõçatona reV
Os objetivos apresentados podem ser trabalhados a partir da diversificação dos
encaminhamentos pedagógicos que o professor organiza, por exemplo, ao
trabalhar com a leitura de um texto curto, um pequeno poema, cantiga ou trava-
língua, o professor pode escrever o texto na lousa, na cartolina ou projetá-lo e a
turma terá a possibilidade de acompanhar a leitura. O objetivo dessa leitura é levar
os aprendizes a elaborar a correspondência entre a fala e a escrita, demonstrando
inclusive que muitas vezes pronunciamos as palavras de uma maneira e
escrevemos de outra.

A leitura e as conversas em torno dos textos são situações férteis para o


desenvolvimento da linguagem e pensando nisso é possível organizar todos os dias
um momento bem prazeroso para ler histórias para as crianças. Mostrando o livro,
as ilustrações, falando do autor e do ilustrador, elaborando perguntas sobre a
história e até pedindo para a criança recontar. Quando os estudantes já estão
alfabetizados é possível propor que a cada dia um deles seja o responsável por
escolher o livro e contar a história para a turma.

Ouvindo e conversando sobre as histórias lidas pelo professor, a criança


desenvolve muitas habilidades necessárias à aprendizagem da leitura e da escrita
como: atenção voluntária e a concentração, antecipação de fatos, curiosidade,
compreensão de que a língua escrita pode ser lida, que podemos ler e reler o
mesmo texto identificando informações e interpretando-o de maneira diferente.

FOCO NA BNCC

Os processos de alfabetização e ortografização terão impacto nos textos


em gêneros abordados nos anos iniciais. Em que pese a leitura e a
produção compartilhadas com o docente e os colegas, ainda assim, os
gêneros propostos para leitura/escuta e produção oral, escrita e
multissemiótica, nos primeiros anos iniciais, serão mais simples, tais como
listas (de chamada, de ingredientes, de compras), bilhetes, convites,
fotolegenda, manchetes e lides, listas de regras da turma etc., pois
favorecem um foco maior na grafia, complexificando-se conforme se
avança nos anos iniciais. Nesse sentido, ganha destaque o campo da vida
cotidiana, em que circulam gêneros mais familiares aos alunos, como as
cantigas de roda, as receitas, as regras de jogo etc. Do mesmo modo, os
conhecimentos e a análise linguística e multissemiótica avançarão em
outros aspectos notacionais da escrita, como pontuação e acentuação e
introdução das classes morfológicas de palavras a partir do 3º ano. (BRASIL,
2018, p. 93)

137
No trecho da Base Nacional Comum Curricular que você acabou de ler é
evidenciada a importância de contemplar os elementos do campo da vida
cotidiana e essa perspectiva pressupõe conduzir a aprendizagem inicial da leitura e
da escrita a partir das palavras do contexto cultural, social e econômico dos

0
estudantes. Acolher as características e as expressões próprias do vocabulário do

seõçatona reV
aluno é reconhecê-lo, aceitá-lo como sujeito e, a partir deste ponto, apresentar
outras formas de expressão e ampliação do vocabulário por meio das leituras
feitas. A norma culta deve ser apresentada como um elemento importante que
deve estar presente em situações formais.

REFLITA

O uso da tecnologia modificou a relação da sociedade com a leitura?

De modo geral as novas gerações não têm o hábito de frequentar as bibliotecas


públicas como no passado. Porém, isso não significa que houve um abandono das
práticas de leitura, mas que existem outras formas de acesso, por exemplo, a
leitura de e-books. E por falar em biblioteca, este é um dos espaços mais
importantes da escola para incentivar a leitura.

As bibliotecas das instituições de educação infantil e ensino fundamental precisam


ser organizadas de modo a se tornarem ambientes atrativos e aconchegantes para
o aluno, um lugar onde ele gostaria de passar o tempo. Pensando nisso, a gestão
escolar deve investir em acervo, mobiliário adequado, computadores, projetores,
fantoches, fantasias e cantos temáticos, além de profissionais capacitados para a
organização e manutenção este ambiente.

Segundo Pimentel (2007, 23), a biblioteca “[...] funciona como um centro de


recursos educativos, integrado ao processo de ensino-aprendizagem, tendo como
objetivo primordial desenvolver e fomentar a leitura e a informação”. O professor
deve apresentar este espaço aos estudantes, demonstrando que a leitura é tão
importante que temos até um lugar especial, exclusivo, para a sua ampla
realização.

EXEMPLIFICANDO

A escola pode organizar uma rotina de horários para que as crianças de


cada turma frequentem a biblioteca, explorem todo o acervo e escolham
livros para emprestar. Além disso, o profissional responsável pela biblioteca
pode desenvolver atividades de contação de histórias e projetos
permanentes para atrair os estudantes ao longo do ano letivo.

O professor regente ainda pode organizar atividades a serem desenvolvidas


no espaço da biblioteca.

O trabalho pedagógico com a leitura também poderá ser feito mediante a


organização de projetos interdisciplinares para aquisição e desenvolvimento da
leitura e escrita. Mesmo com objetivos distintos nas diversas áreas de
conhecimento, o trabalho pedagógico não precisa ser compartimentado e seus

138
objetivos podem estar articulados em torno de uma mesma temática
proporcionando ao aluno maior capacidade de estabelecer relações, o que leva à
aprendizagem significativa.

0
O trabalho com projetos proposto por Jolibert (1994) e Kaufman e Rodrigues (1995) consistem em
planejamentos que incluem prática da leitura e escrita de textos reais para destinatários reais com integração

seõçatona reV

entre diversas áreas de conhecimento. O projeto não só se mostra apropriado para esse trabalho integrado,
mas também possui características de organização que auxiliam o professor do 1º ano no atendimento às
necessidades das crianças de seis anos de idade.

— BRASIL, 2012, p. 13.

O aluno exerce seu protagonismo buscando respostas a resolução de problemas,


assim, o bom projeto é aquele que possibilita às crianças interagirem entre elas,
discutindo, decidindo, dialogando, resolvendo conflitos e estabelecendo regras e
metas. Por meio de um trabalho com um “currículo aberto, que abrange qualquer
área de conhecimento” (BRASIL, 2012, p. 14), a criança é levada a perceber e
representar o mundo natural e cultural em que vive.

Você já ouviu falar em sequência didática? Sequência didática é outro tipo de


organização do trabalho diferente do projeto que também possibilita o trabalho
interdisciplinar sendo amplamente utilizada na alfabetização.

Quadro 4.1 | Elementos caracterizadores do projeto e da sequência didática

Instrumentos
de trabalho Elementos
docente caracterizadores Função organizadora

139
Instrumentos
de trabalho Elementos
docente caracterizadores Função organizadora

0
Projeto de Aulas centradas Por meio desse conjunto de elementos,

seõçatona reV
letramento nos alunos os PL são capazes de promover um
ensino que venha considerar os
Desenvolvimento
interesses dos alunos (em relação à
de tarefas
sociedade ou a aspectos de sua própria
Resolução de
aprendizagem). Com esse objetivo, os PL
problemas
podem trazer uma aproximação de
Interação entre diferentes áreas de conhecimento,
agentes além de “transformar objetos circulares
como ‘escrever para aprender a escrever’
Aluno como sujeito
e ‘ler para aprender a ler’ em ler para
do conhecimento
compreender e aprender aquilo que foi
Leitura e escrita
relevante para o desenvolvimento e a
como prática
realização do projeto” (KLEIMAN, 2000
social
apud TINOCO, 2008, p. 162).
Atividades
contextualizadas

Desterritorialização
dos lugares de
aprendizagem

Tempo escolar

Distribuição de
tarefas

Inserção em uma
rede de
comunicação

140
Instrumentos
de trabalho Elementos
docente caracterizadores Função organizadora

0
Sequência Apresentação da A partir da apresentação de um problema

seõçatona reV
didática situação de comunicação bem definido (com
indicações sobre o gênero, sua produção
Produção inicial
e circulação), o professor solicita aos
Módulos
alunos uma produção inicial (oral ou
Produção final escrita), com o intuito de verificar os
conhecimentos prévios e pensar no que
precisa ser ensinado para aquela turma a
respeito do gênero escolhido. Elaboram-
se, desta forma, os módulos: conjunto de
atividades propostas para suprir as
dificuldades encontradas na primeira
produção e chegar, assim, a uma boa
produção final. Nesta última etapa, há
uma dupla possibilidade: aos alunos, por
em prática os conhecimentos adquiridos
ao longo do processo do trabalho com a
SD e, ao professor, a oportunidade de
fazer uma avaliação somativa (DOLZ;
NOVERRAZ, SCHNEUWLY, 2004).

Fonte: Adaptado de Félix e Zorindi (2014, p. 514).

ASSIMILE

Independentemente da(s) área(s) de conhecimento que venha(m) a ser


prioritariamente enfocadas(s) no projeto (Ciências Naturais, Artes, História,
Língua Portuguesa etc.), a leitura de textos de diferentes gêneros está
frequentemente presente em projetos didáticos de qualquer natureza
(BRANDÃO; SELVA; COUTINHO, 2006, p. 117).

A partir da organização didática do projeto, os alunos irão fazer a leitura de textos


para obter informações sobre um tema que está sendo pesquisado, o professor
poderá inserir gêneros de diferentes esferas sociais – como ciência, jornalístico, de
literatura, dentre outros. A escrita também será explorada, pois será preciso
produzir textos, elaborando registros de leituras, como esquemas, resumos,
tabelas, gráficos etc.

FOCO NA BNCC

A BNCC ao tratar da organização curricular evidencia a necessidade de:


[...] decidir sobre formas de organização interdisciplinar dos componentes
curriculares e fortalecer a competência pedagógica das equipes escolares para
adotar estratégias mais dinâmicas, interativas e colaborativas em relação à gestão
do ensino e da aprendizagem.

— BRASIL, 2018, p. 16.

141
A partir das características do trabalho com projetos, finalizamos esta seção
compreendendo que este tipo de organização do trabalho pedagógico possibilita o
letramento na escola, permitindo ainda a estruturação de situações de ensino que
favorecem a apropriação do sistema de escrita alfabética. Portanto, são

0
contempladas as vertentes do ensino do componente curricular Língua

seõçatona reV
Portuguesa: o alfabetizar e o letrar.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
O trabalho pedagógico com a leitura também poderá ser realizado mediante a
organização de projetos interdisciplinares. Mesmo com objetivos distintos nas
diversas áreas de conhecimento, o trabalho pedagógico não precisa ser
compartimentado e seus objetivos podem estar articulados em torno de uma
mesma temática, proporcionando ao aluno maior capacidade de estabelecer
relações, o que leva a aprendizagem significativa.

Considerando o trabalho com projetos, analise as afirmativas a seguir:

I. Projeto e sequência didática contemplam os mesmos encaminhamentos


pedagógicos.

II. O aluno exerce seu protagonismo buscando respostas a resolução de


problemas.

III. O bom projeto é aquele que possibilita às crianças interagirem entre elas,
discutindo, decidindo, dialogando, resolvendo conflitos e estabelecendo regras
e metas.

IV. É possível elaborar projetos envolvendo a utilização da biblioteca.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III, IV.

Questão 2
“A língua materna – sua composição vocabular e sua estrutura gramatical – não
chega ao nosso conhecimento a partir de dicionários e gramáticas, mas de
enunciações concretas que nós mesmos ouvimos e nós mesmos reproduzimos na
comunicação discursiva viva com as pessoas que nos rodeiam” (BAKHTIN, 2003, p.
283).

Com base no contexto apresentado, avalie as seguintes asserções e a relação


proposta entre elas.

I. É importante conduzir a aprendizagem inicial da leitura e da escrita a partir das


palavras do contexto cultural, social e econômico dos alunos.

142
PORQUE

II. É importante conduzir a aprendizagem inicial da leitura e da escrita a partir das


palavras do contexto cultural, social e econômico dos alunos.

0
A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta.

seõçatona reV
a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.

b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.

c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.

d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.

e. As asserções I e II são proposições falsas.

Questão 3
“É importante que, na sala de aula, o trabalho com a leitura não seja uma atividade
secundária, que ocupe apenas o tempo que sobrou no finalzinho da aula ou antes
do recreio. A leitura precisa ser planejada, como atividade cotidiana, não só entre
os alunos, mas também entre os professores” (RESENDE, 2018, p. 94).

Considerando as estratégias que podem ser utilizadas para aproximar os alunos da


leitura, analise as afirmativas a seguir:

I. Adequação da biblioteca como sendo um ambiente agradável, de função


própria e com atendimento especializado.

II. Inserção dos alunos nos programas de leitura da escola, estímulo para os
alunos lerem além das necessidades específicas das disciplinas.

III. O exercício é o ponto de partida para o texto lido, a organização do trabalho na


BNCC pressupõe que o texto é um elemento secundário.

IV. Podemos ter atividades de leitura que não sejam acompanhadas de exercício
algum, porque a leitura já é, em si, uma atividade importante, enriquecedora e
produtiva.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III, IV.

REFERÊNCIAS
BAKHTIN, M. Os gêneros do discurso. In: Estética da criação verbal. 4. ed. São
Paulo: Martins Fontes, 2003, p. 261-306.

BRANDÃO, A. C. P.; SELVA, A. C. V.; COUTINHO, M. L. C. O trabalho com projetos


didáticos: integrando a leitura e a produção de textos. In: SOUZA, I. P.; BABOSA, M.
L. F. F. (orgs.) Práticas de leitura no ensino fundamental. Belo Horizonte:
Autêntica, 2006.

143
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/3a2A0yX. Acesso em: 19 nov.
2020.

0
BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.
Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: planejando a alfabetização;

seõçatona reV
integrando diferentes áreas do conhecimento: projetos didáticos e sequências
didáticas: ano 01, unidade 06 / Ministério da Educação, Secretaria de Educação
Básica, Diretoria de Apoio à Gestão Educacional. Brasília: MEC, SEB, 2012.

BRASIL. Programa de apoio a leitura e escrita. Praler. Caderno de teoria e


prática: a descoberta da leitura e da escrita, 2007.

CARVALHO, M. Guia prático do alfabetizador. 5.ed. São Paulo: Ática, 2005.

CARROLL, L. Alice no país das maravilhas. Rio de Janeiro: Editora Bibliomundi


Serviços Digitais LTDA, 2020.

FÉLIX, T. R; ZIRONDI, M. I. Projetos de letramento, sequências didáticas e


práticas de letramento: instrumentos (inter)mediadores para a organização do
trabalho do professor. Disponível em: https://bit.ly/3g7BDyY. Acesso em: 16 nov.
2020.

FREIRE, P. A importância do ato de ler. São Paulo: Cortez, 1993.

LEFFA, V. J. Aspectos da leitura. Porto Alegre: Sagra DC Luzzatto Editores, 1996.

PIMENTEL, G; BERNARDES, L; SANTANA, M. Biblioteca escolar. Brasília:


Universidade de Brasília, 2007. Disponível em: https://bit.ly/327VwxF. Acesso em:
15 nov. 2020.

RESENDE, V. B. Leitura e produção de textos na alfabetização: a formação


continuada no PNAIC 2017/2018. Belo Horizonte: FaE/ UFMG, 2018. Disponível
em: https://bit.ly/3dZ58QX. Acesso em: 16 nov. 2020.

144
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
PRÁTICAS DE LEITURA E DESENVOLVIMENTO DE PROJETOS COM
A LEITURA E ESCRITA

0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

Fonte: Shutterstock.

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SEM MEDO DE ERRAR


Você conheceu a professora Flávia que decidiu incentivar a utilização da biblioteca
pelos alunos da sua turma do segundo ano. Levou os alunos ao espaço, contou
uma história utilizando fantoches e propôs um desafio às crianças: cada um deve
emprestar no mínimo um livro por semana, aqueles que ainda não conseguem ler
deverão pedir que os pais ou responsáveis leiam para eles. Esta atividade é capaz
de auxiliar na alfabetização e desenvolver a capacidade leitora? Existem outras
possibilidades para explorar este espaço?

A orientação da professora referente ao empréstimo de livros proporciona um


contato maior com o novo acervo e aumenta a frequência à biblioteca. Assim, a
professora pode propor que as crianças após a leitura do livro recontem a história
para a turma. Essa é uma maneira de trabalhar o desenvolvimento da oralidade. A
professora também poderá construir uma rotina em que o momento para a leitura
faça parte do dia a dia, por exemplo, em uma turma em que os alunos já estão
alfabetizados, é possível sortear no início da semana quem fará a leitura diária. A
criança escolhe o livro livremente e faz a leitura para a turma.

O trabalho pedagógico com a leitura também poderá ser realizado mediante a


organização de projetos interdisciplinares, envolvendo inclusive o profissional
responsável pela biblioteca. Em um trabalho de parceria, a professora pode, a

145
partir de um problema, articular os encaminhamentos pedagógicos envolvendo
práticas de leitura que perpassam todas as áreas de conhecimento. As crianças
poderão utilizar a biblioteca para fazer pesquisas durante as várias etapas de
realização do projeto.

0
Os estudantes não devem sentirem-se forçados a participar de leituras, mas

seõçatona reV
incentivados e mobilizados pela curiosidade, atraídos pelo modelo de leitor
apresentado pelo professor e pelas inúmeras possibilidades de acesso à cultura e
a informação que o universo da leitura é capaz de proporcionar. Tudo isso é
construído mediante a organização de atividades que fazem sentido para os
alunos.

Após a primeira semana em que os alunos da professora Flávia começaram a fazer


a leitura semanal, a professora percebeu que a fluência durante a leitura
melhorou, além disso, as crianças demonstraram avanço na escrita, ampliação do
vocabulário, pontuação e coerência na organização das ideias durante as
produções de texto.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
ATIVIDADES PARA OS ALUNOS QUE JÁ SABEM LER
A professora Marta trabalha com uma turma do segundo ano. Nessa turma, há
alunos com diferentes níveis de conhecimento, alguns lendo de forma fluente
enquanto outros ainda estão compreendendo o sistema de escrita alfabética. A
professora tem conhecimento de que precisa preparar atividades diversas,
atendendo a necessidade de seus alunos, para isso poderá dividir a turma em
grupos. Enquanto o grupo que está aprendendo as características do sistema de
escrita alfabética faz atividades específicas, imagine e sistematize atividades de
leitura que possam ser feitas com os alunos que já sabem ler.

RESOLUÇÃO 

O professor precisa proporcionar atividades que permitam que todos os


estudantes continuem avançando. Estes são exemplos de atividades que
podem ser realizadas com os alunos que já sabem ler. A seguir, são citados
dois exemplos de atividades que podem ser feitas com estudantes que já
sabem ler.

CRIAÇÃO DE FRASES
A professora confecciona frase, conforme o exemplo a seguir, e recorta cada
palavra de modo que elas fiquem separadas:

Cada criança ou dupla recebe uma frase dentro de um envelope e precisa


colocá-la na ordem correta. Uma estratégia de leitura que a criança pode
utilizar é encontrar a palavra que contém o ponto final e já saber que ela é a
última palavra da frase.

146
ORDENANDO FRASES DE UM TEXTO
A professora pode escolher um diálogo, imprimi-lo, recortá-lo e colocá-lo
dentro de um envelope.

0
Por exemplo, um dos diálogos de Alice no país das Maravilhas (2020):

seõçatona reV
– Quem é você? - disse a Lagarta.

Não era um começo de conversa muito estimulante. Alice respondeu um


pouco tímida:

– Eu… eu… no momento não sei, minha senhora… pelo menos sei quem eu era
quando me levantei hoje de manhã, mas acho que devo ter mudado várias
vezes desde então.

– O que você quer dizer? - disse a Lagarta ríspida. Explique-se!

– Acho que infelizmente não posso me explicar, minha senhora - disse Alice -,
porque já não sou eu, entende?

– Não entendo - disse a Lagarta.

– Receio não poder me expressar mais claramente, respondeu Alice muito


polida, pois, para começo de conversa, não entendo a mim mesma. Ter muitos
tamanhos num mesmo dia é muito confuso.

Cada frase estará separada e a criança ou a dupla precisa colocar o diálogo na


ordem correta.

147
NÃO PODE FALTAR
O PAPEL DAS INTERAÇÕES, A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, JOGOS
E BRINCADEIRAS COM A LEITURA E ESCRITA

0
Natália da Silva Bugança

seõçatona reV
Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Olá estudante, como vai?

É quase impossível falar de infância sem falar do brincar. Podemos inclusive dizer
que esta é uma das principais linguagens da criança. Contemplando a brincadeira,
a escola respeita a infância e torna mais positivo o vínculo da escola com a vida.
Jogos e brincadeiras são vistos como vitais para o desenvolvimento global da
criança, pois estimulam a consciência corporal, a concentração e a criatividade e,
em grupo, ensinam a cooperar, assumir responsabilidades, supor as
consequências de uma conduta e respeitar regras.

Os jogos e brincadeiras também são importantes para o aprendizado da língua.


Alguns jogos auxiliam na memorização do alfabeto, no desenvolvimento da
consciência fonológica e tornam mais claras as relações letra-som. Permitem
mergulhar no interior das palavras, evidenciando a variedade de letras e de
sílabas, a ordem entre elas e suas repetições. Nessa seção, vamos explorar sobre o
papel das interações, a contação de histórias, jogos e brincadeiras com a leitura e
escrita.

Para percorrer a temática proposta, que tal aprofundar os conhecimentos acerca


das atividades para a consciência fonológica e o conhecimento das letras? Vamos
conhecer a importância dos jogos de linguagem, brincadeiras cantadas, trabalho
com parlendas, quadrinhas, trava-línguas e poemas. A brincadeira com os sons das

148
palavras, articulando-as com situações de leitura e de escrita, jogos e brincadeiras
utilizando tecnologias digitais e a leitura feita em voz alta pelo professor para a
progressiva construção de intimidade com a cultura escrita.

0
A coordenadora pedagógica Mariana atua em uma escola de ensino fundamental
em um bairro periférico. Por atuar a muito tempo nessa escola, conhece as

seõçatona reV
famílias dos estudantes e sabe que as crianças não têm no âmbito familiar o
contato com livros, internet, tampouco modelos de leitores. Frente ao contexto, ela
entende a importância de explorar o trabalho com a leitura na escola.

Pensando nisso, Mariana fez uma reunião com os professores para tratar da
utilização da biblioteca. Entretanto, percebeu que os alunos não frequentam o
espaço e não levam livros para casa. Para incentivar os estudantes, a escola
comprou muitos livros, ampliou o espaço e conta com a colaboração dos
professores nesse incentivo.

A professora Dulce atua há muitos anos nesta escola e, recentemente, participou


de uma formação continuada, cujo tema tratava da importância da abordagem
lúdica para a aprendizagem. Nesse curso ficou evidente o papel das interações,
jogos e brincadeiras com a leitura para a ampliação da consciência fonológica.

Atualmente, Dulce é professora do primeiro ano. Após o incentivo da coordenação,


ela está pensando em como utilizar os novos materiais da biblioteca para tornar
mais atraente as atividades que realiza. Porém, frente a todas as demandas que
precisa dar conta, essa não sido uma tarefa simples e ela precisa da sua ajuda para
pensar em como poderá relacionar os conhecimentos aprendidos na capacitação
sobre ludicidade com as habilidades e competências previstas para esta etapa,
dentre elas o desenvolvimento da consciência fonológica. Lembre-se que ela
também precisa utilizar o espaço da biblioteca.

Ah, nada melhor do que possibilitar que a escola se torne um lugar onde se pode
cantar e brincar!

CONCEITO-CHAVE
A consciência fonológica é a capacidade de focalizar os sons das palavras
dissociando-os de seu significado e de segmentar as palavras nos sons que as
constituem (SOARES, 2016, p.166). Mas como desenvolver esta capacidade com os
aprendizes? Brincando com os sons das palavras!

No primeiro ano do ensino fundamental, os estudantes precisam compreender


muitas características do sistema de escrita alfabética, tais como perceber as
palavras, compreender que há variação na sua ordem, contar oralmente as sílabas
das palavras e compará-las quanto ao tamanho, perceber as semelhanças sonoras
iniciais e finais, reconhecer que as sílabas variam quanto a sua composição, além
de perceber que as vogais estão presentes em todas as sílabas.

Durante a leitura em voz alta, feita pelo professor, os aprendizes já são capazes de
estabelecer relações entre a fala e a escrita, familiarizando-se e construindo uma
progressiva intimidade com as práticas de leitura e escrita. Entretanto, para que a

149
criança seja alfabetizada, é necessário explorar a percepção de forma mais
ampliada, favorecendo o desenvolvimento da consciência fonológica.


[...] as habilidades de consciência fonológica se diferenciam não só quanto ao tipo de operação que o sujeito

0
realiza em sua mente (separar, contar, comparar quanto ao tamanho ou quanto à semelhança sonora etc.), mas
também quanto ao tipo de segmento sonoro envolvido (rimas, fonemas, sílabas, segmentos maiores que um

seõçatona reV
fonema e menores que uma sílaba, segmentos compostos por mais de uma sílaba – como a sequência final das
palavras janela e panela). E variam, ainda, quanto à posição (início, meio, fim) em que aquelas “partes sonoras”
ocorrem no interior das palavras.

— (BRASIL, 2012, p. 20)

Os professores precisam atentar-se para quais habilidades de consciência


fonológica o aprendiz precisa desenvolver à medida que vai se apropriando do
sistema de escrita alfabética (SEA).

POR DENTRO DA BNCC

Embora, desde que nasce e na Educação Infantil, a criança esteja cercada e


participe de diferentes práticas letradas, é nos anos iniciais (1º e 2º anos) do
Ensino Fundamental que se espera que ela se alfabetize. Isso significa que a
alfabetização deve ser o foco da ação pedagógica. Nesse processo, é
preciso que os estudantes conheçam o alfabeto e a mecânica da
escrita/leitura – processos que visam a que alguém (se) torne alfabetizado,
ou seja, consiga “codificar e decodificar” os sons da língua (fonemas) em
material gráfico (grafemas ou letras), o que envolve o desenvolvimento de
uma consciência fonológica (dos fonemas do português do Brasil e de sua
organização em segmentos sonoros maiores como sílabas e palavras) e o
conhecimento do alfabeto do português do Brasil em seus vários formatos
(letras imprensa e cursiva, maiúsculas e minúsculas), além do
estabelecimento de relações grafofônicas entre esses dois sistemas de
materialização da língua. (BRASIL, 2018, p. 90)

Estudos que acompanharam crianças do último ano da educação infantil ao


primeiro ano do ciclo ensino fundamental demonstraram que conforme
avançavam em direção a uma hipótese alfabética de escrita, as crianças também
tendem a avançar em suas capacidades de refletir sobre as partes sonoras das
palavras (BRASIL, 2012). Nesse sentido, observe estas habilidades fonológicas
importantes durante o desenvolvimento das hipóteses:

Quadro 4.2 | Habilidades fonológicas importantes

1 Para chegar a uma hipótese silábica quantitativa (sem valor sonoro), as


crianças precisariam ter habilidades de não só separar e contar as sílabas
orais das palavras, mas também de comparar palavras quanto ao tamanho, o
que pressupõe raciocinar apenas sobre a sequência de partes sonoras,
esquecendo as características dos objetos a que as palavras se referem.

150
2 Para usar uma hipótese silábica qualitativa ou hipóteses silábico-alfabéticas e
alfabéticas, as crianças precisam avançar em suas habilidades de identificar e
produzir palavras que começam com a mesma sílaba ou que rimam. Isto fica
evidente quando pensamos que a criança que escreveu A U I para jabuti

0
precisou não só contar as sílabas da palavra, mas, também, examinar cada

seõçatona reV
sílaba na ordem em que aparece no todo-palavra e analisar “sonzinhos” que
aparecem no interior de cada sílaba.

3 Para escrever segundo uma hipótese alfabética, as crianças precisam


identificar palavras que começam com o mesmo fonema (mesmo que não
saibam pronunciá-lo isoladamente).

4 As habilidades de consciência fonológica importantes para uma criança se


alfabetizar não aparecem com a maturação biológica, como parte do
desenvolvimento corporal. Elas dependem de oportunidades para refletir
sobre as palavras em sua dimensão sonora e, portanto, a escola tem um
papel essencial em fomentar seu desenvolvimento no final da educação
infantil e no começo do ensino fundamental.

Fonte: Adaptado de Brasil (2012, p. 22).

É imprescindível que o professor inicie na educação infantil atividades envolvendo


brincadeiras cantadas, parlendas, trava-línguas e quadrinhas. Aliás, por meio
dessas atividades, a criança é capaz de identificar e compreender o que é uma
palavra, quantas sílabas a palavra tem e quais são os fonemas presentes, fazendo
a correspondência entre os fonemas e as letras que os representam (grafemas).

EXEMPLIFICANDO

O professor pode brincar com as palavras com seus alunos, como no


exemplo abaixo:

O professor orienta a criança que ela deve falar uma palavra que
representa o que comprou no mercado.

Iniciando, o professor diz:

1. Fui ao mercado e comprei.... (a criança fala, por exemplo, BANANA);

2. O professor escreve a palavra BANANA na lousa e sugere:

– Vamos contar os pedacinhos desta palavra?

3. É possível pedir para que as crianças marquem a quantidade de


“pedacinhos” com os dedos ou batendo uma palma para cada pedaço
da palavra.

4. O professor pode continuar explorando, perguntando qual é o primeiro


pedacinho dessa palavra? Qual é o segundo e o terceiro? O primeiro é
igual ao segundo?

EXEMPLOS DE BRINCADEIRAS ORIENTADAS PELO PROFESSOR


PARA CRIANÇAS DO SEGUNDO ANO:

151
1. Nome da brincadeira: Alfândega

A professora começa:

Eu me chamo Natália, fui a Noruega e trouxe um navio.... (a professora não

0
diz o segredo da brincadeira, que é encontrar um país, estado ou cidade e

seõçatona reV
um objeto que começa com a mesma letra do nome da criança). Quem
mais viajou?

2. Nome da brincadeira: Trem das silabas

A professora diz:

Eu vou falar uma palavra e a última silaba vai começar a próxima... (Na
sequência, um aluno por vez deve pensar em palavras que se encaixam na
regra estabelecida. Veja os exemplos:

A professora fala: 1º GATA... o aluno fala 2º TATU... outro aluno 3º


TUCANO... 4º NOVELA... 5º LARANJA...

A consciência fonológica, ou o conhecimento acerca da estrutura sonora da


linguagem, desenvolve-se nas crianças ouvintes no contato com a linguagem oral
de sua comunidade. É na relação dela com diferentes formas de expressão oral
que essa habilidade se constitui. Diferentes formas linguísticas a que qualquer
criança é exposta dentro de uma cultura vão formando sua consciência fonológica,
entre elas as músicas, cantigas de roda, poesias, parlendas, jogos orais, e a fala
(BRASIL, 2012).

Por meio destas atividades, o professor pode explorar as sub-habilidades da


consciência fonológica, vamos conhecê-las? Observe o quadro:

Quadro 4.3 | Sub-habilidades para o desenvolvimento da consciência fonológica

Consciência de palavras

Consciência silábica

Rimas e aliterações

Consciência fonêmica

Fonte: elaborado pela autora.

A consciência de palavras representa a capacidade de segmentar a frase em


palavras e, além disso, perceber a relação entre elas e organizá-las numa
sequência que dê sentido (BRASIL, 2013).

A consciência silábica consiste na capacidade de segmentar as palavras em sílabas.


Esta habilidade depende da capacidade de realizar análise e síntese vocabular. O
professor pode explorar ludicamente utilizando advinhas e cantigas.

ASSIMILE

Atividades que exploram a consciência silábica:

152
1. observar que a palavra janela tem 3 pedaços” (sílabas), que a palavra
casa tem 2 “pedaços” e que, portanto, a primeira palavra é maior;

2. identificar, ao mostrarmos 4 figuras (gato, bode, galho e mola), que as

0
palavras gato e galho são as que “começam parecido”, porque começam
com /ga/; - falar cavalo, quando pedimos que diga uma palavra

seõçatona reV
começada com o mesmo pedaço que aparece no início da palavra casa;

3. identificar que no interior das palavras serpente e camaleão há outras


palavras (pente, leão, cama);

4. identificar, ao mostrarmos 4 figuras (chupeta, galinha, panela, varinha),


que as palavras galinha e varinha terminam parecido, isto é, rimam;

5. falar palavras como caminhão ou macarrão, quando pedimos que diga


uma palavra que rime com feijão;

6. identificar, ao mostrarmos 4 figuras (vestido, martelo, vampiro, coruja),


que as palavras vestido e vampiro são as que começam parecido,
porque começam “com o mesmo sonzinho”. (BRASIL, 2012, p. 22)

A rima representa a correspondência fonêmica entre duas palavras a partir da


vogal da sílaba tônica. As rimas podem ser da palavra, da sílaba ou sonoras. Já as
aliterações estão presentes por meio de sons semelhantes, não de letras. De modo
que a aliteração consiste na repetição de consoantes ou de sílabas, especialmente
as sílabas tônicas, em duas (ou mais) palavras, dentro do mesmo verso, estrofe ou
em uma frase.

EXEMPLIFICANDO

TRAVA-LÍNGUA
TRÊS TIGRES EU VI TRÊS TIGRES TRIGÊMEOS

COM TRÊS PRATINHOS DE TRIGO

E TRÊS CROQUETES DE TRIPA,

TRAGANDO UM POBRE GALETO.

TRÊS TIGRES NUM BANCO BRANCO

DENTRO DE UM BARCO BRANCO DE TRÊS MASTROS,

ATRACADO BEM PERTO DO PORTO PRETO.

Mostrar às crianças que existem várias palavras que começam com o


mesmo som. TRIGÊMEOS – TRIGO – TRIPA – TRAGANDO – TRÊS ...

Atividades adaptadas de Brasil (2013, p. 19).

Por fim, vamos conhecer a consciência fonêmica. A correspondência letra-som é a


mais complexa, portanto, a última a ser adquirida pela criança. As atividades que
exploram a consciência fonêmica são desafiadoras, sobretudo porque quando o
professor fala uma palavra, a criança precisa descobrir quais letras ela precisa
utilizar para escrever.

153
EXEMPLIFICANDO

1. Brinque com as palavras trocando os sons: \R \ por \P\:

O RATO ROEU A ROUPA DO REI DE ROMA.

0
O __ATO __OEU A __OUPA DO __EI DE __OMA.

seõçatona reV
A RAINHA COM RAIVA RASGOU O RESTO.

A __AINHA COM __AIVA __ASGOU O __ESTO.

2. Quais letras posso colocar no início da palavra?

___ATO

(pato, mato, tato etc...)

Todas as atividades exemplificadas são excelentes alternativas pedagógicas se o


professor valoriza as interações. Esses são momentos em que a criança observa as
contribuições dos demais, percebendo as características das palavras. Todos os
espaços da escola podem ser utilizados para fazer leituras, jogos e brincadeiras. A
diferença do jogo para a brincadeira é que os jogos possuem regras, muitos jogos
podem ser adquiridos pela instituição ou elaborados pelo professor, inclusive
envolvendo toda a turma.

Esta é a caixa de Jogos do Pacto Nacional pela alfabetização na idade certa – PNAIC.
O PNAIC já foi encerrado, mas os jogos foram recebidos pelas escolas públicas.

Fonte: https://bit.ly/2Q2DNVY. Acesso em 30 nov. 2020.

Os jogos foram elaborados pelo Centro de estudos em Educação e Linguagem da


Universidade Federal de Pernambuco (CEEL/UFPE).

A produção do material, desenvolvido com apoio do Ministério da Educação (MEC),


foi um trabalho conjunto entre os formadores do CEEL/UFPE, os professores dos
municípios atendidos pelos cursos de formação continuada, além de estudantes
da Pós-Graduação em Educação da UFPE.


Na alfabetização os jogos podem ser poderosos aliados para que os alunos possam refletir sobre o sistema de
escrita, sem, necessariamente, serem obrigados a realizar treinos enfadonhos e sem sentido. Nos momentos de
jogo, as crianças mobilizam saberes acerca da lógica de funcionamento da escrita, consolidando aprendizagens
já realizadas ou se apropriando de novos conhecimentos nessa área. Brincando, elas podem compreender os
princípios de funcionamento do sistema alfabético e podem socializar seus saberes com os colegas.

— BRASIL, 2009 p. 8.

REFLITA

Além das brincadeiras com cantigas, trava-línguas, parlendas e os jogos, é


possível utilizar jogos que envolvem as tecnologias digitais?

154
As práticas de leitura e escrita na tela digital fazem parte da contemporaneidade,
neste contexto da cultura digital, entende-se por alfabetização digital o domínio
das diferentes técnicas relacionadas ao que se chama de usabilidade, saber ligar e
manusear as máquinas. Ao usar a tela, os alunos ou usuários da escrita em

0
suporte digital têm de lidar com novos gestos envolvidos no ato de ler e escrever.

seõçatona reV
Durante as aulas com os jogos digitais, por exemplo, “eles lidam com desafios
relacionados ao ritmo e uso do tempo que são determinados pelo próprio jogo e
precisam dominar elementos da usabilidade como clicar, usar mouse ou teclado,
por mais simples que seja o jogo em suporte digital” (FRADE et al., 2018, p. 22).

O Ministério da Educação lançou no âmbito do programa Tempo de Aprender, que


envolve o último ano da pré-escola e os dois primeiros anos do ensino
fundamental, o aplicativo GraphoGame, que tem como objetivo ajudar os
estudantes da pré-escola e dos anos iniciais do ensino fundamental a aprender a
ler as primeiras letras, sílabas e palavras. O jogo é especialmente eficaz para
crianças que estão aprendendo as relações entre letras e sons.

O aplicativo apresenta uma dinâmica de jogo a fim de desenvolver, por exemplo, a


ortografia e as habilidades de leitura.

ASSIMILE

O aplicativo GraphoGame pode ser utilizado pelos professores nos


laboratórios de informática e bibliotecas das escolas. As famílias que têm
acesso a computador ou smartphone também podem instalar e a criança
irá jogar em casa.

O aplicativo pode ser baixado gratuitamente pelo link:

https://bit.ly/3wKViL4

Outros sites com jogos de alfabetização para jogar online:

Escola Games, disponível em: http://www.escolagames.com.br/

Racha Cuca, disponível em: https://rachacuca.com.br/palavras/

Todos os acessos foram feitos em 22 jan. 2021.

Os jogos utilizando tecnologias digitais são ótimas estratégias para ampliar as


possibilidades de aprendizagem, o professor pode selecionar jogos relacionados às
competências e habilidades que pretende explorar em determinado momento do
processo de ensino. Além disso, é possível organizar duplas compostas por
crianças em níveis de aprendizagens distintos, porém próximos, que realizem
trocas durante o jogo.

Chagamos ao final desta seção e, durante a leitura, você compreendeu como os


jogos e as brincadeiras são elementos essenciais na alfabetização. As interações
possibilitam às crianças conhecer o mundo, lidar com as dificuldades e construir
laços afetivos, tudo isso integrado a aprendizagem da leitura e da escrita.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1

155
“Na aprendizagem é necessário permitir, proporcionar e incentivar o indivíduo; nas
suas relações, a criança aprende aquilo que interessa, o que lhe é necessário, e,
por isso, o que lhe dá prazer. Sendo assim, a assimilação e a acomodação da
criança ao meio devem ocorrer através do jogo, da aprendizagem lúdica” (CALLAI,

0
1991, p. 74).

seõçatona reV
Considerando os estudos realizados sobre jogos e brincadeiras na alfabetização,
analise as afirmativas a seguir:

I. Na alfabetização os jogos podem ser poderosos aliados para que os alunos


possam refletir sobre o sistema de escrita, sem serem obrigados a realizar
treinos enfadonhos e sem sentido.

II. Nos momentos de jogo, as crianças mobilizam saberes acerca da lógica de


funcionamento da escrita, consolidando aprendizagens já realizadas ou se
apropriando de novos conhecimentos nessa área.

III. Os jogos importantes para a aprendizagem das crianças são elaborados por
empresas ou universidades, os jogos elaborados pelo professor não são
capazes de promover aprendizagem.

IV. Brincando em duplas ou grupos as crianças podem compreender os princípios


de funcionamento do sistema alfabético e podem socializar seus saberes com
os colegas.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

Questão 2
“[...] as habilidades de consciência fonológica se diferenciam não só quanto ao tipo
de operação que o sujeito realiza em sua mente (separar, contar, comparar quanto
ao tamanho ou quanto à semelhança sonora etc.), mas também quanto ao tipo de
segmento sonoro envolvido (rimas, fonemas, sílabas, segmentos maiores que um
fonema e menores que uma sílaba, segmentos compostos por mais de uma sílaba
– como a sequência final das palavras janela e panela). E variam, ainda, quanto à
posição (início, meio, fim) em que aquelas “partes sonoras” ocorrem no interior das
palavras.” (BRASIL, 2012, p. 20)

Assinale a alternativa que apresenta as sub-habilidades para o desenvolvimento da


consciência fonológica.

a. Consciência de espaços, consciência silábica, trava-línguas e parlendas e consciência fonêmica.

b. Consciência de palavras, consciência silábica, rimas e aliterações e consciência fonêmica.

c. Consciência de letramento, consciência silábica, rimas e aliterações e consciência fonêmica.

d. Consciência de palavras, consciência de rimas e aliterações, consciência fonêmica e consciência de trava-


línguas e cantigas.

156
e. Consciência de espaços, consciência silábica, rimas e aliterações e consciência fonêmica.

Questão 3
“Na escolha e produção de atividades em ambiente digital, o professor pode

0
dialogar com várias teorias de ensino e aprendizagem e precisa refletir sobre o

seõçatona reV
alcance dessas teorias em suas intervenções didáticas” (FRADE et al., 2018, p. 33).

Com base nos conhecimentos referentes aos jogos utilizando tecnologias digitais,
avalie as seguintes asserções e a relação proposta entre elas.

I. Entende-se por alfabetização digital o domínio das diferentes técnicas


relacionadas ao que se chama de usabilidade, saber ligar e manusear as
máquinas.

PORQUE

II. Entende-se por alfabetização digital o domínio das diferentes técnicas


relacionadas ao que se chama de usabilidade, saber ligar e manusear as
máquinas.

A respeito dessas asserções, assinale a alternativa correta.

a. As asserções I e II são proposições verdadeiras, mas a II não justifica a I.

b. As asserções I e II são proposições verdadeiras e a II justifica a I.

c. A asserção I é uma proposição verdadeira e a II, falsa.

d. A asserção I é uma proposição falsa e a II, verdadeira.

e. As asserções I e II são proposições falsas.

REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/32bZe9C. Acesso em: 19 nov.
2020.

BRASIL. Secretaria de Educação Básica. Diretoria de Apoio à Gestão Educacional.


Pacto nacional pela alfabetização na idade certa: A aprendizagem do sistema de
escrita alfabética: ano 1: unidade 3/ Ministério da Educação, Brasília: MEC, SEB,
2012.

BRASIL. Jogos de alfabetização. Ministério da Educação. Centro de Estudos em


Educação e Linguagem: Universidade Federal de Pernambuco, 2009. Disponível
em: https://bit.ly/3s8Q48w. Acesso em: 29 nov. 2020.

BRASIL. Pacto Nacional pela Alfabetização. Consciência fonológica. Centro de


Educação Aberta e a Distância. 2013. Disponível em: https://bit.ly/3a5SE8U. Acesso
em: 30 nov. 2020.

CALLAI, H. C. (Org.). O ensino em estudos sociais. Ijuí: Edunijuí, 1991.

FRADE, I. C. A. S et al. Tecnologias digitais na alfabetização [recurso eletrônico]: o


trabalho com jogos e atividades digitais para aquisição do sistema alfabético e
ortográfico de escrita. Belo Horizonte: UFMG / FaE / Ceale, 2018. Disponível em:

157
https://bit.ly/3g8C2kH. Acesso em: 30 nov. 2020.

SOARES, M. B. Alfabetização: a questão dos métodos. São Paulo: Contexto, 2016.

0
seõçatona reV

158
FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
O PAPEL DAS INTERAÇÕES, A CONTAÇÃO DE HISTÓRIAS, JOGOS
E BRINCADEIRAS COM A LEITURA E ESCRITA

0
seõçatona reV
Natália da Silva Bugança

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SEM MEDO DE ERRAR


A professora Dulce pretende relacionar os conhecimentos aprendidos na
capacitação sobre ludicidade com o que precisa trabalhar com os alunos no que
diz respeito às habilidades e competências previstas para o primeiro ano. É
importante considerar que durante a alfabetização os professores precisam
contemplar diferentes formas de interação oral e interação com a leitura e a
escrita.

A consciência fonológica é uma habilidade essencial para que os aprendizes


dominem o sistema de escrita alfabética e para desenvolver esta habilidade a
professora pode utilizar o espaço da biblioteca para pesquisar com os alunos livros
que apresentam poemas, advinhas, trava-línguas e para ampliar o contato da
criança com as práticas de leitura. De volta à sala de aula, a professora poderá
explorar a leitura em voz alta e levar os alunos a pensar sobre os sons das palavras
de forma lúdica por meio de brincadeiras.

Outra possibilidade é organizar um livro de rimas, com as rimas e os respectivos


desenhos elaborados pela turma. Uma boa prática é deixar um exemplar deste
livro na biblioteca para que toda a escola conheça.

159
Pensando na preocupação da professora em tornar as aprendizagens lúdicas, ela
poderá utilizar jogos como caça rimas, troca letras, jogos utilizando tecnologias
digitais etc. para levar a criança a observar que a palavra é composta por
segmentos sonoros e que esses podem se repetir em palavras diferentes.

0
A preocupação de Dulce em ofertar as melhores oportunidades de aprendizagem

seõçatona reV
aos seus alunos foi um elemento motivador que promoveu a busca por formação
continuada e a pesquisa sobre as aprendizagens essenciais. Seu
comprometimento também possibilitou que ela construísse jogos com os alunos –
o que, além de promover a aprendizagem da leitura e da escrita, inspirou as outras
professoras da escola.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
PENSANDO SOBRE AS PALAVRAS
Em um dia normal de aula na turma do primeiro ano da professora Mara, como de
costume, ela explora a oralidade dos seus alunos e propõe questões fazendo-os
pensar sobre a escrita das palavras. Em uma das aulas, a professora perguntou:

– Qual palavra começa com o primeiro som de cachorro?

As crianças ficaram caladas e, após algum tempo, Pedro resolveu arriscar:

– Ah professora, o primeiro som de cachorro é auau, eu não sei qual palavra


começa com auau!

Então, a professora percebeu que deveria mudar a pergunta:

– O que vem primeiro no cachorro? Cachorro começa com o quê?

Thaís respondeu:

– Essa é fácil, cachorro começa com fo, tem o focinho, depois tem a boca, depois
tem o corpo e por último o rabo!

A professora riu muito da resposta de Thaís, mas ficou pensando sobre a lógica
utilizada na resposta. Ajude a professora Mara a entender qual é a lógica
apresentada na resposta de Thaís.

RESOLUÇÃO 

Você percebeu na situação apresentada que a professora estava tentando


trabalhar com o desenvolvimento da consciência fonológica com seus alunos a
partir do som inicial das palavras. Porém, parece que a forma como a
professora elabora as perguntas não possibilita que os alunos compreendam
aonde ela quer chegar. As respostas apresentadas pelos estudantes são
engraçadas, mas a resposta de Thaís demonstra que ela está associando a
palavra com o objeto.

Frente à situação, a professora deve enfatizar a consciência silábica. Para


ensiná-los a perceber as palavras o professor pode fazer brincadeiras e esse
trabalho pode ser desenvolvido a partir dos nomes das crianças. A professora

160
Mara decidiu explorar atividades orais, parlendas, bingo de sílabas e as
crianças apresentaram evolução, visto que já compreendem que as palavras
possuem “pedacinhos”, ou seja, as sílabas.

0
seõçatona reV

161
NÃO PODE FALTAR
O ENSINO DA ESCRITA COMO UMA ARTE

0
Natália da Silva Bugança

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Fonte: Shutterstock.

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PRATICAR PARA APRENDER


Olá, estudante! Com vai?

Seja bem-vindo à última seção deste material. Nós estamos quase finalizando os
estudos acerca das estratégias e dos procedimentos para alfabetização. Durante as
discussões e reflexões feitas até aqui, ficou claro que os professores
alfabetizadores precisam direcionar o trabalho durante a aprendizagem da leitura
e da escrita de forma contextualizada, de modo que a escola esteja integrada à
vida. Até porque a escola não prepara para a vida, pois a vida já está acontecendo,
no aqui e agora dos nossos alunos, nas vivências possibilitadas no espaço escolar.
Na escola temos a energia vital pulsando, em cada fala, em cada gesto e em cada
olhar.

A arte é uma das principais formas de expressão da humanidade, promovendo o


refinamento das nossas percepções. E por se tratar de algo tão importante, não
poderíamos deixar de explorar sua relação com a alfabetização. Nessa seção,
vamos tratar sobre o ensino da escrita como uma arte.

Pensando nisso, vamos estudar sobre a arte propiciando o conhecimento da


linguagem que levará à habilidade de decifrar códigos, ler imagens, fazer análises e
conexões, encontrar novos caminhos e olhares para uma nova percepção do
mundo e aquisição da linguagem escrita, além da escrita da arte nas imagens e
obras. Objetivamos que ao finalizar este estudo você seja capaz de planejar ações
de ensino que resultem em efetivas aprendizagens, criando e sabendo gerir
situações de aprendizagem no contexto da alfabetização.

162
A coordenadora pedagógica Mariana atua em uma escola de ensino fundamental
em um bairro periférico. Por atuar a muito tempo nessa escola, conhece as
famílias dos estudantes e sabe que as crianças não têm no âmbito familiar, o
contato com livros, internet, tampouco modelos de leitores. Frente ao contexto, ela

0
entende a importância de explorar o trabalho com a leitura na escola.

seõçatona reV
Pensando nisso, Mariana fez uma reunião com os professores para tratar da
utilização da biblioteca. Entretanto, percebeu que os alunos não frequentam o
espaço e não levam livros para casa. Para incentivar os estudantes, a escola
comprou muitos livros, ampliou o espaço e conta com a colaboração dos
professores nesse incentivo.

Manuseando o novo acervo da biblioteca, a professora Dulce encontrou um livro


com muitas obras de arte. Ela pensou em utilizar o material com as crianças, mas
não sabe bem como fazê-lo, então decidiu procurar a coordenação da escola para
pedir sugestões. Seria possível trabalhar com imagens de obra de arte com uma
turma de alfabetização? Imagine que você leciona na turma da professora Dulce e
pense em uma maneira de conduzir os trabalhos a partir das seguintes questões:
as crianças do primeiro ano seriam capazes de compreender as obras de arte
apresentadas no livro? Essa atividade será significativa para esta etapa?

O seu conhecimento é um bem precioso. Não somos sempre a nossa mesma


versão e isso é ótimo! Aprender é sempre uma oportunidade de reconstrução e
renascimento.

Bons estudos!

CONCEITO-CHAVE
A arte condensa formas de expressão que de maneira interdisciplinar pode
permear outras áreas de conhecimento. Assim, qual papel a arte tem ocupado no
ensino fundamental? Seria possível relacionar arte e alfabetização?

Para iniciar essa reflexão, vamos pensar sobre as percepções infantis.


[...] é na cotidianidade que os conceitos sociais e culturais são construídos pela criança, por exemplo, os de
gostar, desgostar, de beleza, feiúra, entre outros. Esta elaboração se faz de maneira ativa, a criança interagindo
vivamente com pessoas e sua ambiência.

— FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 42.

Os sentidos atribuídos a esse universo simbólico, à disposição das crianças, fazer


parte de um ato criador individual e coletivo. Ao reconstruir os sentidos das
experiências para si, a criança articula as experiências externas às suas
possibilidades de percepção e leitura de mundo. Desse modo, “não apenas
reproduz o que percebe, mas cria outros sentidos, usa a imaginação para
preencher os vazios de sua leitura de mundo, articulando significados próprios
para o que observa e percebe” (SANTOS; COSTA, 2020, p. 2).

A linguagem artística se faz presente nas práticas cotidianas da educação infantil,


sendo contemplada nas diretrizes, no currículo e na sala de aula. Entretanto,
mesmo com os direcionamentos legais que preveem a articulação entre a
educação infantil e o ensino fundamental, ainda há uma ruptura entre essas

163
etapas, incorrendo na adoção de condutas pedagógicas que se distanciam da
ludicidade e da expressão por meio de múltiplas linguagens. Por vezes, no ensino
fundamental, as práticas pedagógicas limitam-se ao trabalho com a leitura, escrita
e matemática.

0
seõçatona reV
FOCO NA BNCC

Conforme a BNCC:


Tendo em vista o compromisso de assegurar aos alunos o desenvolvimento das
competências relacionadas à alfabetização e ao letramento, o componente Arte,
ao possibilitar o acesso à leitura, à criação e à produção nas diversas linguagens
artísticas, contribui para o desenvolvimento de habilidades relacionadas tanto à
linguagem verbal quanto às linguagens não verbais.

— BRASIL, 2018, p. 199.

A arte é componente curricular obrigatório previsto pela Base Nacional Comum


Curricular. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o trabalho com a arte objetiva
assegurar aos alunos a possibilidade de se expressar de forma criativa em seu
fazer investigativo, por meio da ludicidade, propiciando uma experiência de
continuidade em relação à educação infantil. Dessa maneira, é “importante que,
nas quatro linguagens da Arte – integradas pelas seis dimensões do conhecimento
artístico –, as experiências e vivências artísticas estejam centradas nos interesses
das crianças e nas culturas infantis” (BRASIL, 2018, p. 199).

O componente apresenta as seguintes unidades temáticas: artes visuais, dança,


música, teatro e artes integradas. Cada uma das unidades mencionadas prevê o
desenvolvimento de habilidades que, de modo geral, propõem o experimentar,
conhecer, descobrir, explorar, perceber, criar e improvisar. Ações que possibilitam
ricas experiências com as linguagens e com o mundo, essenciais durante a
alfabetização.

Assim, de forma simples, já percebemos o quanto é evidente que a arte pode


contribuir de modo efetivo com o processo de alfabetização. Ao trabalhar com a
arte, despertamos nos alunos a criatividade, a percepção, a observação, entre
outros aspectos relevantes para os indivíduos. Ao ouvir música e cantar, a criança
constrói um repertório amplo e passa a interessar-se pelo processo de escrita de
palavras presentes nas canções. Ao dançar, os alunos desenvolvem a expressão e
a coordenação motora que será necessária para a escrita. Ao desenhar, é
necessário perceber as semelhanças e diferenças nas representações visuais e
essa habilidade pode contribuir com a observação presente na aprendizagem da
grafia. Os jogos teatrais podem ajudar os alunos a prestarem atenção no som das
palavras, na interpretação da frase, no sentido do texto.

ASSIMILE


[...] durante as criações ou fazendo atividades de seu dia a dia, as crianças vão
aprendendo a perceber os atributos constitutivos dos objetos ou fenômenos à sua
volta. Aprendem a nomear esses objetos, sua utilidade seus aspectos formais (tais
como linha, volume, cor, tamanho, textura, entre outros) ou qualidades, funções,
entre outros... Para que isso ocorra é necessário a colaboração do outro – pais,
professoras, entre outros – sozinha ela nem sempre consegue atingir as
diferenciações, muitas vezes sua atenção é dirigida às características não
essenciais e sim às mais destacadas dos objetos ou imagens, como por exemplo,
as mais brilhantes, mais coloridas, mais estranhas...

164
— FERRAZ; FUSARI, 1993, p. 49.

Ao vivenciarem situações de sensibilização e experimentação, os alunos entram


em contato consigo mesmos e aprendem a lidar com o outro. A arte pode deixar o

0
processo de alfabetização mais interessante e divertido e, assim, a criança tem a
oportunidade de perceber que aprender é bom. É válido lembrar que, de forma

seõçatona reV
equivocada, a criança, por vezes é conduzida a reproduzir modelos estereotipados
e a executar ações que exigem dela apenas a capacidade de cópia e memorização.
O resultado disso são os varais de trabalhos, todos muito semelhantes em forma e
cores, sem aquela particularidade, aquela força expressiva individual que se pode
perceber nos desenhos anteriores a esta fase de escolarização. (PILLOTTO;
SCHRAMM, 2001).

REFLITA

Quais são as características de um bom aluno?

Quais são as oportunidades de aprendizagem ofertadas pelas instituições


escolares?

A capacidade de criação e imaginação de acordo com a teoria histórico-cultural


depende das vivências às quais os sujeitos foram submetidos. Pensando nisso, e
considerando os desafios da alfabetização para o estudante, é possível concluir
que o acesso às múltiplas linguagens é um elemento fundamental por ampliar o
repertório criativo, consequentemente, a capacidade para articular ideias, elaborar
hipóteses, realizar análises e conexões em prol da formação de alunos reflexivos e
críticos.

Oliveira e Sopelsa (2011) enfatizam ser fundamental que os professores percebam


que suas representações visuais influenciam no modo como as crianças produzem
sua visualidade. Portanto, para que as crianças tenham possibilidades de
desenvolverem-se na área expressiva, é imprescindível que o professor rompa
seus próprios estereótipos, a fim de que consiga realizar intervenções pedagógicas
no sentido de trazer à tona o universo expressivo infantil.

ASSIMILE

Uma das maneiras de o professor romper com suas percepções de


representações artísticas estereotipadas é resgatar seu próprio processo
expressivo. Nesse sentido, é importante que as equipes gestoras ofertem
aos professores capacitações voltadas à exploração das diferentes
linguagens, possibilitando a reflexão sobre a prática, a expressão e a
interação entre os docentes.

Articular a alfabetização às artes requer destinar um espaço na organização do


currículo, do planejamento e da rotina da sala de aula. Segundo Pessoa (2018,
[s.p.]), o ensino da arte propicia o conhecimento da linguagem que levará à
habilidade de decifrar códigos. A autora chama de alfabetização do olhar o

165
conhecimento que será construído a cada ano, “aumentando o repertório de
informações e a possibilidade da leitura mais consciente do mundo”. Vamos
explorar alguns caminhos para a alfabetização do olhar na escola.

0
EXEMPLIFICANDO

seõçatona reV

A escrita da arte nas imagens e obras é feita através de um sistema de representação que utiliza
principalmente: cor, luz, sombra, forma, som, gestos, silêncio, movimento etc., que são símbolos com
os quais o aluno, com alguma intenção, faz uma leitura e cria uma obra, dando novos significados a
todos estes elementos que foram citados. Ao usar diariamente esta linguagem para se expressar, o
aluno vai iniciando a alfabetização do seu olhar, construindo e aprimorando um repertório de
símbolos visuais e sensoriais que o ajudará a ler o mundo que está ao seu redor de forma simbólica.

— PESSOA, 2018, [s.p.].

“Uma imagem vale mais do que mil palavras” é uma frase do senso comum que
você, certamente, já ouviu. A leitura de imagens é uma das possibilidades de
trabalho em arte, que explora a capacidade crítico-reflexiva. É importante lembrar
que desfrutar da experiência visual não significa que os alunos estejam
compreendendo o que está sendo observado, mas ainda assim, os professores
devem apresentar o caminho para a alfabetização visual por meio da sensibilização
e do contato frequente com as obras.

Ao longo da história, o homem sempre produziu imagens e essa produção esteve


associada à arte através do desenho, da pintura, da escultura e da arquitetura,
mas atualmente com a criação de outras tecnologias de produção de imagens
como a fotografia, o cinema, a televisão e mais recentemente o computador, a
imagem praticamente substituiu a palavra e a escrita como meio de comunicação
(LIMA, 2008).

REFLITA

O suporte visual na escola é utilizado como mera ilustração do


conhecimento sistematicamente explorado pelo professor?

A arte ainda é vista como uma atividade prática pouco valorizada pelo senso
comum, um saber informal. Pensando no ensino de arte, o termo leitura de
imagens começou a ser utilizado aproximadamente na década de 1970 com a
introdução de novos sistemas audiovisuais. Esta nova tendência se fundamentou
nos estudos da psicologia da forma Gestalt e da semiótica. A imagem passa a ser
compreendida como signo e é necessário que haja uma compreensão de seus
códigos. Outra corrente está voltada para aspectos mais estéticos das imagens, “o
que mais favorece o desenvolvimento estético é a familiaridade que o sujeito tem
com as imagens, sejam obras de arte ou imagens da publicidade por exemplo”
(LIMA, 2008, p. 9).

O estudo da leitura de imagens começa a fazer parte dos currículos no Brasil,


principalmente a partir dos anos 1990, com a Metodologia Triangular por meio da
proposta de Ana Mae Barbosa que influenciou a elaboração dos Parâmetros
Curriculares Nacionais.

166

O principal objetivo desta proposta não é ler uma imagem identificando apenas seus elementos formais
isoladamente, mas reconhecer as manifestações e expressões de cada cultura. Relacionando com outras
disciplinas seria o mesmo que, por exemplo, na Língua Portuguesa compreender e comunicar-se, não só
identificar questões ortográficas. [...] uma aprendizagem voltada para o desenvolvimento do senso crítico,
partindo das imagens que fazem parte da cultura, da história e do cotidiano dos alunos.

0
— LIMA, 2008, p. 8.

seõçatona reV
Perceba que a leitura de imagens permite que o alfabetizador explore a percepção
dos seus alunos, o professor deve explorar a leitura de imagens desde a educação
infantil a partir de diferentes propostas, desde a exploração das ilustrações de um
livro de histórias à exploração de obras de arte. Ao solicitar que os estudantes
descrevam o que estão observando em uma obra de arte, por exemplo, os alunos
estão na verdade interpretando. Essa interpretação é algo particular, pois cada um
mobiliza seus conhecimentos prévios para atribuir significado ao que é observado.

De acordo com Pessoa (2018, [s.p.]), a leitura de imagens pode ser utilizada pelo
professor de arte como uma ferramenta didática, que lhe abre um leque de
possibilidades:


Existem muitas formas de conduzir este tipo de trabalho, apresentamos a seguir um roteiro que poderá ser
utilizado, de acordo com as seguintes etapas:

• Aquecimento: momento no início da aula, onde o professor prepara seus alunos para a experiência de
observar a obra;

• Descrever: perceber a obra e verbalizar todas as características que serão observadas, fazendo uma lista de
tudo que for sendo falado pelos alunos;

• Analisar: verificar a forma como a obra foi feita e o que pode ser percebido ao verificar os elementos da
composição e as técnicas utilizadas, as ideias intrínsecas à obra de arte;

• Interpretar: as respostas pessoais e sensoriais à obra; como o aluno se sente em relação à obra;

• Fundamentar: relacionar o que está se vendo com os dados históricos da obra e do artista que a produziu;

• Revelar: momento de criação onde os alunos dão um novo significado a obra que foi analisada em grupo.

— PESSOA, 2018, [s.p.].

Na contemporaneidade, saber ler e interpretar imagens é fundamental uma vez


que, as informações são apresentadas a cada dia de forma mais acelerada a partir
de suportes diversos, exigindo que os leitores façam uma análise rápida, extraindo
as principais informações. Desse modo, um estudante que vivencia a alfabetização
do olhar por meio da arte terá maior capacidade de identificação de informações,
raciocínio rápido e senso crítico. “A leitura de imagens durante as aulas, levará os
alunos a fazerem mais tarde a leitura do próprio meio social” (PESSOA, 2018, [s.p.]).

Você deve ter percebido que para contemplar a arte em trabalhos


interdisciplinares não se deve considerá-la como algo complementar ou
secundário, por exemplo, em um projeto envolvendo geografia, solicitar que ao
final os alunos desenhem um mapa. O trabalho com arte pode ser percebido como
um guarda-chuva que é capaz de integrar as demais áreas de conhecimento. Ou
seja, vivenciando a arte os alunos aprendem de forma contextualizada e dinâmica.

Agora, vamos nos atentar para o fato de que em algumas instituições é o professor
alfabetizador, regente da turma, que ministra todos os componentes curriculares,
em outras, existe um professor específico para arte. Nesse caso, para que acorra a

167
integração entre o trabalho da professora regente com a professora de arte, é
importante que ocorra um planejamento integrado e o compromisso dos
profissionais com as aprendizagens dos estudantes.

0
A arte possibilita novos caminhos, novos olhares para uma nova percepção do
mundo e aquisição da linguagem escrita. A aquisição da linguagem escrita não

seõçatona reV
deve ocorrer por meio de um processo mecânico, até porque alfabetização e
letramento devem caminhar juntos. Os múltiplos letramentos, possíveis no contato
com a diversidade e pluralidade cultural dependem da cultura escolar que
estrutura as relações dos sujeitos com os saberes científicos. Assim, mais do que
saber decifrar códigos é preciso saber manifestar-se, interpretar situações e
contextos, habilidades construídas no trabalho com a arte. Arte é ampliação das
experiências humanas.


Todo ser humano é artista, está sempre a criar novas formas para expressar o mundo e abrindo novos
caminhos. Para ele a solução única, óbvia, não satisfaz. Ele vai usar sua possibilidade natural de explorar o
mundo, o pensamento divergente. Ele necessita marcar como sua cada ação e está sempre pronto e atento às
possibilidades de renovação, renovando-se a cada instante. É sua forma de participar do movimento do
universo, movendo-se ele próprio e, muitas vezes, contribuindo para orientar o movimento.

— FERRAZ; FUSSARI, 1993, p. 89.

As possibilidades de acesso à arte e a oportunidade de manifestação artística


partem de uma nova compreensão de educação e de escola. A partir desse novo
olhar para a educação, a criança aprende a admirar suas produções espontâneas,
percebendo-se como sujeito ativo, produtor de conhecimento, condição essencial
para a alfabetização e o letramento.

Durante os estudos realizados, você percebeu que os espaços e os fazeres


pedagógicos precisam proporcionar aos estudantes as maiores e melhores
possibilidades para a apropriação do conhecimento. Retomando o título desta
seção: “o ensino da escrita como uma arte”, como se pode notar, a arte pressupõe
a exploração das máximas elaborações humanas como lócus de experimentação e
ponto de partida para a criação. O ensino da escrita permeado pela arte favorece
um novo olhar do professor para o aprendiz, neste processo, o professor também
é o artista que cria as mais ricas experiências e oportunidades para a alfabetização
e o desenvolvimento humano.

FAÇA A VALER A PENA


Questão 1
A arte é componente curricular obrigatório previsto pela Base Nacional Comum
Curricular. Nos anos iniciais do ensino fundamental, o trabalho com a arte objetiva
assegurar aos alunos a possibilidade de se expressar de forma criativa em seu
fazer investigativo, por meio da ludicidade, propiciando uma experiência de
continuidade em relação à educação infantil.

Com relação ao ensino de arte na BNCC, analise o excerto a seguir, completando


suas lacunas.

O componente apresenta as seguintes ______ temáticas: artes visuais, _____, música,


teatro e artes _______.

168
Assinale a alternativa que preenche corretamente as lacunas.

a. disciplinas; pintura; mistas.

b. abordagens; cópia; culturais.

0
c. unidades; dança; integradas.

seõçatona reV
d. disciplinas; pintura; mistas.

e. unidades; cópia; integradas.

Questão 2
“O principal objetivo desta proposta é reconhecer as manifestações e expressões
de cada cultura. Relacionando com outras disciplinas seria o mesmo que por
exemplo, na Língua Portuguesa compreender e comunicar-se, não só identificar
questões ortográficas. [...] uma aprendizagem voltada para o desenvolvimento do
senso crítico” (LIMA, 2008, p. 8)

Assinale a alternativa que apresenta o item correspondente à descrição.

a. Alfabetização do olhar.

b. Apreciação musical.

c. Jogos teatrais.

d. Desenho.

e. Leitura de imagem.

Questão 3
Todo ser humano é artista, está sempre a criar formas para expressar o mundo e
abrindo novos caminhos. Para ele a solução única, óbvia, não satisfaz. Ele vai usar
sua possibilidade natural de explorar o mundo, o pensamento divergente. Ele
necessita marcar como sua cada ação e está sempre pronto e atento às
possibilidades de renovação, renovando-se a cada instante. É sua forma de
participar do movimento do universo, movendo-se ele próprio e, muitas vezes,
contribuindo para orientar o movimento (FERRAZ; FUSSARI, 1993, p. 89).

Considerando as informações apresentadas, analise as afirmativas a seguir:

I. As possibilidades de acesso à arte e a oportunidade de manifestação artística


partem de uma velha compreensão de educação e de escola.

II. A aquisição da linguagem escrita não deve ocorrer por meio de um processo
mecânico, até porque alfabetização e letramento devem caminhar juntos.

III. Articular a alfabetização às artes requer destinar um espaço na organização do


currículo, do planejamento e da rotina da sala de aula.

IV. O ensino da arte propicia o conhecimento da linguagem que levará à


habilidade de decifrar códigos.

Considerando o contexto apresentado, é correto o que se afirma em:

a. II, III e IV, apenas.

b. I, III e IV, apenas.

c I II e III apenas
169
c. I, II e III, apenas.

d. I, II e IV, apenas.

e. I, II, III e IV.

0
REFERÊNCIAS

seõçatona reV
AVELINO, A. Quatro razões valiosas para usar a música na alfabetização.
Disponível em:https://bit.ly/3uEAEum. Acesso em: 14 dez. 2020.

BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC. Versão entregue ao CNE
em 3 de abril de 2018. Disponível em: https://bit.ly/32cTKM2. Acesso em: 19 nov.
2020.

FERRAZ, H.; FUSARI, M. F. R. Arte na educação escolar. São Paulo: Cortez, 1993.

LIMA, C. R. O uso da leitura de imagens como instrumento para a


alfabetização visual. 2008. Disponível em: https://bit.ly/3mKX9Ly. Acesso em: 10
dez. 2020.

OLIVEIRA, A. M. P.; SOPELSA, O. A alfabetização nos anos iniciais mediada pelo


ensino da arte. 2011. Disponível em: https://bit.ly/3e1Togr. Acesso em: 9 dez.
2020.

PESSOA, E. R. A alfabetização do olhar no ensino da arte. 2018. Disponível em:


https://bit.ly/3g7Mglx. Acesso em: 10 dez. 2020.

PILLOTTO, S. D.; SCHRAMM, M. L. K. Reflexões sobre o ensino das artes. Joinvile:


Univalle, 2001.

SANTOS, M. A.; COSTA, Z. A arte na educação infantil: sua contribuição para o


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TORRES, M. R. L. A importância da leitura de imagens para o ensino e


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VILHAÇA, I. C. Arte-educação: a arte como metodologia educativa. Cairu em


Revista. Jul/Ago 2014, Ano 3, n. 4, p. 74-85. Disponível em: https://bit.ly/3dcjChi.
Acesso em: 14 dez. 2020.

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FOCO NO MERCADO DE TRABALHO
O ENSINO DA ESCRITA COMO UMA ARTE

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SEM MEDO DE ERRAR


Você foi desafiado a se colocar no lugar da professora Dulce: ela encontrou um
livro que faz parte do novo acervo da biblioteca da escola. Trata-se de um livro
sobre arte, que tem imagens de muitas obras famosas. Inicialmente, a professora
pensou em utilizar o material com sua turma de alfabetização, mas está
apreensiva. As crianças do primeiro ano seriam capazes de compreender as obras
de arte apresentadas no livro? Essa atividade será significativa para esta etapa?

A partir dos estudos realizados é esperado que você conclua que é possível utilizar
as obras apresentadas no livro, ampliando o repertório cultural dos alunos e
fazendo a leitura de imagens que é uma excelente ferramenta pedagógica. Isto
porque, quando exploramos uma imagem com os alunos, eles estão descrevendo-
a a partir da sua interpretação, a partir do conhecimento de mundo que possuem,
não é uma simples cópia.

Saber ler e interpretar imagens é fundamental: as informações são apresentadas a


cada dia de forma mais acelerada a partir de suportes diversos, exigindo que os
leitores façam uma análise rápida, extraindo as principais informações. Um
estudante que vivencia a alfabetização do olhar por meio da arte terá maior

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capacidade de identificação de informações, raciocínio rápido e senso crítico. “A
leitura de imagens durante as aulas, levará os alunos a fazerem mais tarde a
leitura do próprio meio social” (PESSOA, 2018, [s.p.]).

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Certamente, estas atividades envolvendo arte e leitura de imagens serão
extremamente significativas para os alunos, favorecendo sua leitura de mundo,

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interpretação e pensamento crítico. Após conversar com a coordenadora da
escola, a professora Dulce recebeu orientações e fez um projeto interdisciplinar
em que utilizou diversas obras apresentadas no livro. Seus alunos participaram
ativamente e demonstraram evolução nas habilidades de leitura e escrita.

AVANÇANDO NA PRÁTICA
MÚSICA PARA ALFABETIZAR
A linguagem musical é uma linguagem universal. Aprendemos desde cedo a
contemplar os sons e, desde que sejamos capazes de ouvir, começamos a
movimentar o corpo no ritmo do som, a atribuir significado e interpretar. A música
como um elemento da arte favorece o trabalho do professor alfabetizador?
Imagine-se na condição de professor do primeiro ano do ensino fundamental para
responder: como você utilizaria a música no trabalho pedagógico?

RESOLUÇÃO 

A música está presente no cotidiano da educação infantil e deve continuar a


fazer parte das atividades no ensino fundamental. De acordo com Avelino
(2018), as músicas expõem as crianças aos padrões de linguagem, incluindo
padrões básicos de ortografia, rimas, padrões de frases e partes do discurso,
extensão de conhecimento e vocabulário de fundo; e desenvolver um senso de
história e sequência. O trabalho com músicas é capaz de promover um
ambiente positivo, propiciando a criação de laços afetivos. Além disso,
conhecer diferentes estilos, cantar, tocar e dançar acompanhando a música
favorece o trabalho com a atenção e a memória.

Nesse sentido, respondendo ao primeiro questionamento proposto, a música


como um elemento da arte favorece o trabalho do professor alfabetizador.
Existem muitas maneiras de inserir a música nas atividades feitas como
realizando projetos interdisciplinares a partir de uma música ou estilo musical,
cantando diariamente e analisando as expressões presentes na música,
criando paródias etc.

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