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RESUMO
Este artigo trata das atividades de avaliação no processo de alfabetização dos primeiros anos do
Ensino Fundamental de escolas da rede municipal de Nossa Senhora do Socorro – SE. A partir da
literatura sobre o tema e das orientações do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC),
analisa a adequação dessas atividades às concepções e práticas defendidas pelas correntes pedagógicas
do Construtivismo e da Ciência Cognitiva da Leitura. Conclui que as práticas avaliativas oscilam entre
as duas correntes, com prevalência do construtivismo por conta das orientações preconizadas no
PNAIC.
ABSTRACT
This article describes evaluation activities in the literacy process with children from schools in the
municipal network of Nossa Senhora do Socorro - SE. From the literature on the subject and the
guidelines of the National Pact of Literacy in the Right Age (PNAIC), it analyzes the adequacy of
these activities to the conceptions and practices defended by the pedagogical currents of
Constructivism and the Cognitive Science of Reading. It concludes that the evaluation practices
oscillate between the two currents, with prevalence of constructivism due to the guidelines
recommended in the PNAIC.
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Concludente do Curso de Pedagogia da UNIT. Professora-estagiária da Rede Municipal de Ensino de Nossa
Senhora do Socorro/Sergipe. E-mail: melissinha_araujo@hotmail.com
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Doutora em Educação pela PUCRS-DINTER. Professora do Curso de Pedagogia da UNIT. E-mail:
tccgraca@ahoo.com.br
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INTRODUÇÃO
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Neste item, apresentaremos suscintamente algumas considerações sobre
alfabetização e avaliação de duas das principais tendências pedagógicas presentes na escola
brasileira hoje. Trata-se da vertente construtivista e da corrente da ciência cognitiva da leitura.
Para a corrente construtivista, a escrita e leitura é algo muito importante e só faz
sentido num contexto de uso real. As crianças vivenciam situações de interação com a cultura
letrada, de modo que ela própria inicia seu aprendizado, independentemente da escola e do
professor. Nesse sentido,
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O professor deve ter suporte necessário para notar o que ficou vago no aluno
sobre determinado tipo de conteúdo trabalhado na sala de aula. A avaliação de aprendizagem
no ambiente alfabetizador de crianças de escola pública pode ser um meio constante de
fornecer suporte ao educando. Assim, torna-se
Conforme Cagliari (1998), nenhum método de ensino garante, por si só, o sucesso
da aprendizagem de todos os alunos. Em suas palavras: “Nenhum método educacional garante
bons resultados sempre e em qualquer lugar; isso só se obtém com a competência e o estudo
ao qual o educador se dedica’’. Esse autor reconhece a má formação dos professores,
especialmente na área da alfabetização, onde todo o restante do processo escolar estará
seriamente comprometido, caso não se consiga alfabetizar as crianças no tempo correto
(CAGLIARI, 2009, p. 36).
A avaliação é inclusiva quando, a partir dela, o professor constata o que não foi
apreendido e busca, junto com o aluno, alternativas para suprir suas dificuldades. Assim, a
atividade de avaliar, no âmbito escolar, caracteriza-se como um meio de ajudar o aluno na
construção de um resultado positivo. Sobre esse tipo de avaliação que não comporta
julgamento, mas acolhimento e colaboração, Luckesi (1999, p. 172) afirma que
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Avaliação, por si, é um ato acolhedor, integrativo, inclusivo. Para
compreender isso, importa distinguir avaliação de julgamento. O julgamento
é um ato que distingue o certo do errado, incluindo o primeiro e excluindo o
segundo. A avaliação tem por base acolher uma situação, para, então (e só
então) ajudar a sua qualidade, tendo em vista dar-lhe suporte de mudança, se
necessário. Podemos entender avaliação escolar como uma ato amoroso, na
medida em que a avaliação tem por objetivo diagnosticar e incluir o
educando, pelos mais variados meios, no curso da aprendizagem satisfatório,
que integre todas as suas experiências de vida.
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funcionalmente adequado. Portanto, se o avaliador não se assegurar, de
forma independente, que o aluno possui competências de produção de texto
– embora saiba escrever no sentido próprio da palavra – ou porque não
possui as competências básicas da escrita. Nesse caso, o teste foi inútil, pois
não avaliou nem uma coisa nem outra. (OLIVEIRA, 2005, p. 380).
O documento indica que para esse diagnóstico a Provinha Brasil, que deve ser
aplicada em turmas do 2º ano do Ensino Fundamental, é um instrumento avaliativo que
pretende diagnosticar o nível de conhecimento da leitura e da apropriação do sistema de
escrita. Entretanto, outros instrumentos podem ser elaborados e aplicados pelos professores
(MEC/PNAIC, 2012, p. 8). Reconhece que os professores têm encontros de formação,
recebendo materiais didáticos para facilitar as aulas, mas que, ainda assim, as crianças estão
sendo avaliadas de forma incorreta pelos seus professores.
Estabelecer relação entre partes do texto, por meio e pistas que retomam
coesivamente o que já foi escrito (pronomes pessoas, sinônimos e
equivalente); compreender o sentido de expressões/palavra do texto e
estabelecer relação e intertextualidade. (MEC/PNAIC, 2012, p. 17).
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ensinar um jogo; ensinar uma comida; divertir as pessoas), pede também que ele marque a
alternativa que diz o tema do texto (Dia da Vacinação). Outra questão apresenta, em letras
maiúsculas, um pequeno texto de duas linhas sobre o Bicho-Preguiça. Depois, faz duas
perguntas; numa delas o aluno escreverá a palavra ‘árvore’. (MEC/PNAIC, 2012, p. 19 e 20).
Para o 2º ano, no que ser refere a avaliação de leitura de textos, o documento
coloca um texto de 10 linhas, escrito em letras maiúsculas, solicitando ao aluno que responda
quatro questões, com perguntas diretas. As questões 5 e 6 são relativas a um cartaz sobre o
comportamento correto com o descarte do lixo que seguem a mesma lógica interpretativa do
texto sobre o Dia da Vacinação. (MEC/PNAIC, 2012, p. 21-22).
Para o 3º ano, é proposto um texto maior e mais complexo, escrito na língua
padrão, com o uso de letras maiúsculas e minúsculas, cuja extensão toma quase uma página
inteira (O Pato Poliglota, de Ronaldo Simões Coelho). Desse texto surgem 5 perguntas, sendo
3 de escrita corrente e 2 objetivas; a última questão permite a livre manifestação do aluno: “Se
você fosse dono(a) do cachorro e do gato, também teria matriculado na Escola do Pato
Poliglota? Por que?” (MEC/PNAIC, 2012, p. 26-27). As páginas seguintes trazem exercícios
interpretativos com textos menores e questões sobre suas utilidades e identificação dos temas.
Sobre atividades de avaliação de produção de textos, o documento apresenta três
exemplos de como o professor pode propor aos alunos que escrevam um texto. No primeiro
ano, se propõe a criança um relato sobre um dia em que esteve doente; no segundo e terceiro
anos, propõe um relato sobre uma coisa engraçada que aconteceu. (MEC/PNAIC, 2012, p.
32).
Para o desenvolvimento e avaliação da oralidade, o documento sugere ao
professor utilizar a contação de história, entrevistas, debates e seminário escolar. Argumenta
que é necessário um roteiro de observação, com registro da turma, para facilitar o
planejamento de situações didáticas que abordem o eixo oral. (MEC/PNAIC, 2012, p. 35 e
36).
Referente avaliação dos conhecimentos sobre o Sistema de Escrita Alfabética
(SEA), o trabalho no eixo da apropriação da escrita alfabética deve ser realizado no ciclo de
alfabetização de forma progressiva. Espera-se que, a cada ano, seja dada ênfase em
conhecimentos diferentes, para que, ao longo dos anos, os alunos venham a se apropriar de
todos os direitos de aprendizagens progressivamente. (MEC/PNAIC, 2012, p. 44).
Para isso, é necessário que saibamos, além do perfil de cada criança, o que fazer
com cada aluno, para que progrida na sua aprendizagem sobre a escrita alfabética, devendo
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esse perfil vir a nortear os conteúdos e atividades que precisam ser priorizados na prática de
alfabetização. As atividades avaliativas precisam buscar, detectar, dentre outros aspectos: se a
criança já conhece as letras; se as identifica e as usa no registro das palavras; se ao escrever
palavras, já faz alguma correspondência entre letras e sons; enfim, precisamos perceber o que
já sabem sobre o Sistema de Escrita Alfabética. (MEC/PNAIC, 2012, p. 45).
Para avaliar tais conhecimentos, o documento nos explica que podemos em nossa
prática cotidiana de alfabetização, usar diferentes atividades, tais como: bingo de letras e
palavras, formação de palavras com alfabeto móvel, escrita espontânea de palavras,
identificação de palavras que rimam ou que começam com o mesmo som, completar palavras
com letras ou sílabas, cruzadinhas etc. A realização de atividades que envolvem a escrita
espontânea de palavras é fundamental, pois por meio dela podemos perceber, por exemplo, se
as crianças usam letras, se há variação no repertório de letras, se há correspondência entre as
letras e a pauta sonora das palavras, se há marcação de sílabas completas e de diferentes
estruturas etc. (MEC/PNAIC, 2012, p.46).
Para avaliar a avaliação, o caderno mostra que o domínio ortográfico do aluno
pode acontecer de várias formas como, por exemplo, na escrita espontânea. A avaliação da
ortografia em atividades de produção de textos precisa ser feita com cautela, de modo não
comparativo. (MEC/PNAIC, 2012, p. 47). O documento mostra outra forma de avaliar
ortografia que é por meio de ditados de textos. Nesse caso, é possível controlar as convenções
ortográficas a serem demonstradas pelas crianças, mas é preciso ter cuidado para não criar
textos artificiais, que impliquem em impor às crianças uma concepção distanciada do que é
um texto e do que é um processo de interação por meio dele (MEC/PNAIC, 2012, p. 47).
Recomenda o ditado de palavras como forma de diagnosticar os conhecimentos
das crianças sobre ortografia, argumentando que essa estratégia permite mapear de forma
precisa as correspondências fonográficas, foco do interesse do professor. A avaliação do
sistema de escrita e da ortografia possibilita rever planos e traçar metas, de acordo com a
realidade da turma. (MEC/PNAIC, 2012, p. 48).
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Senhora do Socorro. O município tem um território de 156,8 km² e contava, em 2010, com
160.829 habitantes e tem como limites os municípios de Laranjeiras, São Cristóvão e a
capital Aracaju, sendo considerado zona metropolitana da Grande Aracaju. O sistema
municipal de educação conta com quarenta escolas que atendem desde o Jardim de infância
até o 9º ano do Ensino Fundamental foi de 13.220 alunos, sendo 7.317 dos primeiros anos do
Fundamental. (MEC/INEP. Matrículas. Consulta).
Na pesquisa de campo, recolhemos junto a professoras de três escolas da rede
municipal atividades e provas nos anos iniciais da alfabetização de 1º ao 3º ano, com intuito
de compatibilizar esses instrumentos com as recomendações dos autores citados neste
trabalho e com as orientações do Pacto Nacional de Alfabetização na Idade Certa (PNAIC).
Sem identificar as escolas ou as professoras que nos cederam esses materiais,
passaremos a discorrer sobre o conteúdo desses instrumentos avaliativos, expondo-os por
ano/série.
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4 AS ATIVIDADES AVALIATIVAS FRENTE À LITERATURA E AO PNAIC
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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No processo inicial da alfabetização (1º ano), as atividades analisadas apontam
para a prevalência da codificação e decodificação muito presente na corrente da Ciência
Cognitiva da Leitura. Não porque os professores optem conscientemente por essa concepção,
mas, porque ela se aproxima do modo tradicional de alfabetização (método analítico-sintético)
que, mesmo partindo de palavras ou pequenas frases, tem no reconhecimento dos grafemas e
fonemas seu mais importante aspecto. Afinal, foi assim que as professoras foram
alfabetizados e essa memória persiste viva na prática docente.
O professor que defende sua autonomia e liberdade de ensino deveria empregar
um maior esforço na elaboração de seus instrumentos avaliativos, evitando a reprodução de
atividades pensadas e propostas por outros colegas, por estudiosos do tema ou por manuais
oficiais. Entretanto, não se trata aqui de culpabilizar apenas o professor, uma vez que isso
também ocorre pela ausência de uma maior e melhor formação do alfabetizador nos cursos de
Pedagogia, assim como pela insuficiência de formações continuadas que deem suporte teórico
e prático ao docente, especialmente aqueles que atuam junto a crianças mais carentes.
Portanto, ainda há um longo caminho a perseguir para que os professores
alfabetizadores dominem teórica e metodologicamente a difícil tarefa de alfabetizar seus
alunos, preparando-os para prosseguirem estudos com competência acadêmica e senso crítico
da realidade em que vivem.
REFERÊNCIAS
CAGLIARI, Luiz Carlos. Alfabetizando sem o Ba, be, bi, bo, bu. São Paulo: SCIPIONE,
1998.
ESTEBAN, Maria Teresa. Ser professora avaliar e ser avaliada. Escola, currículo e
avaliação. São Paulo: Cortez, 2003.
FERREIRO, Emília. Com todas as letras. 7 ed. São Paulo: Cortez, 1999.
FREIRE, Paulo. Pedagogia do oprimido. 13. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1983.
MORAIS, M.A.C. de. (Orgs.). Alfabetização, leitura e escrita. XII Encontro de Pesquisa
Educacional do Norte e Nordeste. Natal: EDUFRN, 1997. P.79-92. (Coleção EPEN,9).
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OLIVEIRA, João Batista e. Avaliação em Alfabetização. Ensaio: avaliação política pública e
educação. Rio de Janeiro, v. 13, n. 48, jul/set, 2005. p. 375-382.
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