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“Um temor é que essa orientação de unificação passe por cima da autonomia

das escolas, e defina não só o que, mas como ensinar, muito mais do que abrir
espaço para as diversidades aparecerem”.

Para Julia Andrade, este é um ponto nevrálgico, porque talvez


municípios e escolas não tenham forças, também pela falta de
equipe técnica, de se contrapor às decisões e formularem seus
próprios currículos.

Ocimar Alavarse, professor da USP, afirma que o projeto pode


tomar contornos de um “controle descentralizado” por parte
do MEC, sobre a implementação da Base. “A formação de equipes,
as articulações e elaboração de currículos demoram para serem
feitas, e transcendem uma gestão. Por isso, talvez esse projeto seja
mais retórica do que um feito, e isso vai depender do próximo
governo impor com maior ou menor força a BNCC”, conclui o
professor.

Em dezembro de 2017, vivenciamos um momento histórico: a aprovação da


Base Nacional Comum Curricular (BNCC) para todas as escolas do Brasil. 
Em breve retrospectiva, podemos retomar o percurso que esta construção
trilhou até então. Foram quatro versões, cerca de 12 milhões de contribuições
na plataforma do MEC e nos Seminários Regionais, em que professores,
gestores, organizações não governamentais e outros representantes da
sociedade civil puderam analisar o material e opinar. A aprovação final foi feita
pelo Conselho Nacional de Educação (CNE) e a homologação realizada pelo
MEC. Em seguida, as redes de ensino articularam-se para revisar ou construir
seu currículo com base em todas as orientações que constam na BNCC.
São os gestores das escolas (diretores e coordenadores pedagógicos) que vão
garantir e acompanhar o dia a dia desse processo para que, de fato, as
mudanças cheguem à sala de aula.
Os desafios são muitos: o tempo escasso para discutir com os professores
durante a jornada de trabalho, já que muitos deles trabalham em mais de uma
escola, dificultando sua participação nas reuniões coletivas com o grupo ou, em
alguns casos, a rede ainda não dispõe de horários de estudo coletivo dentro da
jornada de trabalho; a falta de apropriação do material por parte dos
professores, que nem sempre conseguem tempo fora da sala de aula para
fazer essa leitura, o descrédito de alguns deles nesse projeto, por não se
sentirem parte do processo, por causa da maneira com que a rede organiza
essas discussões, ou por falta de disponibilidade do próprio professor para
participar, até mesmo quando isso pode ser feito de maneira on-line.

É até possível que o próprio gestor se encontre pouco preparado para liderar o
processo na escola, por não ter se apropriado de maneira aprofundada de todo
o material. Para iniciar a conversa, coordenadores e diretores precisam estar
apropriados do documento. Não é possível enfrentar o desafio de levar a
discussão para a equipe de professores se não compreendermos o que é o
material e como ele está constituído.

Então, caso ainda não tenham feito isso, é muito importante que se debrucem
sobre a Base e procurem entender como ela está organizada:
- quais áreas compõem o documento?

- quais os componentes curriculares de cada área?

- como cada uma delas está organizada, incluindo as diferentes


nomenclaturas?

- que habilidades estão definidas para cada ano?

- quais são as competências gerais e de que maneira se relacionam com as


diferentes áreas?

- o que significam as siglas no início de cada parte do material? 


A área de Linguagem, por exemplo, é formada por vários componentes
curriculares: Educação Física, Língua Portuguesa, Arte e Língua Inglesa. Já a
de Matemática, por um único componente curricular: a própria Matemática.
A equipe gestora pode criar momentos de estudo dentro da própria rotina de
trabalho, para que todos possam estudar o material, discutir as dúvidas, buscar
aprofundamento nos conceitos que despertarem maior dificuldade etc. Desse
modo, poderá se fortalecer para iniciar as discussões com os professores,
trazendo o documento para os momentos de estudo coletivo na escola.
A Base é um documento técnico e, portanto, não é um material simples. Uma
ou duas reuniões não são suficientes para que todos se apropriem e possam
implementá-la. É preciso organizar um plano de formação com uma sequência
de encontros de estudo para que os professores possam analisar o material
referente à sua área e entender conceitos específicos de cada uma delas.
Minha orientação é: inicie os estudos pelas competências gerais,
entendendo de que maneira elas se interrelacionam com os diversos
componentes curriculares.
É igualmente importante planejar o foco de cada momento formativo sobre o
tema na escola para pensar quantos encontros precisam ser desenvolvidos e
quais estratégias serão utilizadas em cada um deles, de modo a engajar os
professores na discussão e ajudá-los a se apropriar de um documento tão
importante para garantir a equidade na Educação, com oportunidades para
todos os alunos e de acordo com as suas necessidades. Esse guia destrincha
os passos da gestão na implementação da Base e busca ser um apoio ao
gestor. Só assim conseguiremos fazer com que a BNCC chegue a cada sala de
aula do Brasil, promovendo a transformação que desejamos.

Características de BNCC

As competências gerais da BNCC se referem a conhecimentos, habilidades


e atitudes que os alunos precisam desenvolver que têm conexão com os
desafios que o mundo contemporâneo oferece.

Conheça a seguir as características das 10 competências gerais da BNCC:


1. Conhecimento

Essa competência se refere a desenvolver um repertório sobre o mundo a


partir dos conhecimentos que a humanidade já produziu. Envolve conhecer o
mundo físico e digital, as ciências humanas e exatas, e utilizar essas
informações para entender e explicar a realidade.

2. Pensamento científico, crítico e criativo

Essa competência busca promover o pensamento científico, ou seja, a


capacidade de elaborar hipóteses, construir teses e investigar. Além disso,
refere-se ao pensamento crítico, pretendendo que os alunos sejam capazes
de argumentar sobre experimentos, e usar a criatividade para que os
estudantes pensem em novas alternativas para resolver problemas já
propostos.

3. Repertório cultural

Conhecer e participar de produções artísticas deve ser valorizado como parte


do currículo escolar. Por meio das experiências artísticas, o aluno poderá ser
capaz de se expressar e atuar, além de explorar as relações entre culturas,
sociedades e artes.

4. Comunicação

Essa competência busca formar alunos capazes de utilizarem diferentes


linguagens (verbal, corporal, visual, sonora e digital) para uma comunicação
objetiva e partilhar informações com os outros. Trata-se de algo essencial para
todas as fases da vida e que contribuirá também para que o aluno desenvolva
tanto a escuta como a capacidade de expressar ideias, opiniões e emoções.

5. Cultura digital
O ensino deve englobar o uso dos recursos digitais de forma ética, crítica e
significativa, desenvolvendo no aluno a compreensão do uso responsável da
tecnologia, seja como consumidor dela ou como produtor de conteúdos digitais.

6. Trabalho e projeto de vida

O foco dessa competência é capacitar o aluno a gerir a própria vida, tanto no


âmbito profissional, como no pessoal. Ela propõe o desenvolvimento de
habilidades como estabelecimento de metas, disciplina e resiliência.

7. Argumentação

Essa competência não aborda somente a prática da formulação, negociação


e defesa de ideias, mas também ressalta a importância do embasamento
dessas opiniões e pontos de vista. Isso deve ser feito tendo em vista aspectos
como os direitos humanos, por exemplo.

8. Autoconhecimento e autocuidado

As competências da BNCC também abordam o bem-estar do aluno, tanto físico


quanto mental. Na de número oito, o foco está no cuidado com a saúde,
conhecimento das emoções, autocrítica e apreciação de si próprio. Essa
competência também visa contribuir para a construção de valores e de uma
identidade.

9. Empatia e cooperação

Essa competência trabalha o desenvolvimento social dos alunos, para que eles
conheçam o mundo em que vivem e sejam agentes de transformação, com
respeito à diversidade e aos direitos humanos, e foca em exercitar a empatia, o
diálogo, a resolução de problemas e a cooperação.
10. Responsabilidade e cidadania

A última das competências da BNCC se concentra nos princípios éticos,


democráticos, inclusivos e sustentáveis de uma sociedade. Envolve o foco em
contribuir para que o aluno desenvolva suas habilidades pensando nesses
elementos.

Tendo em vista cada uma das competências da BNCC, fica clara a intenção de
buscar uma formação mais completa para os alunos. Não é mais o suficiente
se limitar a transmitir um conteúdo teórico a ser decorado, mas sim contribuir
para que o estudante se desenvolva de maneira integral.

A BNCC busca nortear os currículos e propostas pedagógicas de todas as


escolas, públicas e privadas, do Brasil. Conte com uma ajuda extra acessando
a nossa checklist de como fazer o seu planejamento pedagógico.

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