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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ............................................................................................ 3
2 COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA/ALTERNATIVA ................................... 4
2.1 Histórico da comunicação alternativa (CA)........................................... 7
2.2 Recursos alternativos ........................................................................... 9
2.2.1 Sistema Makaton .......................................................................... 11
2.2.2 Sistema Bliss ................................................................................ 13
2.2.3 Sistema Pictogram Communication Symbols (PCS) .................... 14
3 TECNOLOGIAS VOLTADAS PARA COMUNICAÇÃO ........................... 16
3.1 Conhecendo o Software Boardmaker................................................. 17
3.2 Características do boardmaker .......................................................... 19
3.3 Prancha Genéricas e Específicas ...................................................... 20
4 CAA PARA LETRAMENTO DE PESSOAS COM AUTISMO .................. 22
4.1 Projeto SCALA ................................................................................... 24
5 CAA PARA PACIENTES INTERNADOS ................................................. 25
5.1 Método Reconecta ............................................................................. 29
5.2 Contato com o paciente...................................................................... 31
5.3 Variáveis a serem consideradas ........................................................ 32
5.4 Forma de aplicação e pranchas ......................................................... 33
5.4.1 Prancha 1 – Sinais ....................................................................... 33
5.4.2 Prancha 2 – Data ......................................................................... 35
5.4.3 Prancha 3 – Ambiente externo ..................................................... 36
5.4.4 Prancha 4 – Notícias .................................................................... 37
5.4.5 Prancha 5 – Emoções .................................................................. 38
5.4.6 Prancha 6 – Formação de frases ................................................. 39
5.4.7 Prancha 7 – Necessidades........................................................... 40
5.4.8 Prancha 8 – Dor ........................................................................... 42
5.4.9 Prancha 9 – Jogo ......................................................................... 43
6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ........................................................ 45

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!

O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante


ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 COMUNICAÇÃO AUMENTATIVA/ALTERNATIVA

Fonte: www.reab.me

Pessoas com paralisia cerebral, deficiência mental, deficiência auditiva,


crianças autistas ou com deficiências múltiplas vão precisar de uma outra forma de
comunicação para poderem mostrar ao professor que conseguiram aprender, falar
sobre suas dúvidas, desejos, sentimentos e brincadeiras com os amigos. Essa outra
maneira de comunicação se chama comunicação alternativa.
Segundo Souza (2000), a comunicação é atividade humana presente em
diversos momentos do dia a dia, através de situações e contextos diferenciados.
Ocorre na troca estabelecida entre pelo menos duas pessoas, que compartilham um
mesmo evento ou interesse.
Também conhecida como Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) é
considerada uma área de estudo e intervenção que utiliza a linguagem gráfica,
associada a outros recursos comunicativos que o indivíduo possui, como gestos,
vocalizações, expressão facial e corporal, oferecendo possibilidades de ampliar a
comunicação e a interação social.

O termo Comunicação Aumentativa e Alternativa foi traduzido do


inglês Augmentative and Alternative Communication - AAC. Além do termo
resumido "Comunicação Alternativa", no Brasil também encontramos as
terminologias "Comunicação Ampliada e Alternativa - CAA" e "Comunicação
Suplementar e Alternativa - CSA" (SARTORETTO; BERSCH, 2022,
documento online).

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Comunicação alternativa (CA) é uma das áreas mais importantes dentro do
que se conhece como Tecnologia Assistiva e aborda as ajudas técnicas para
comunicação, seja para complementar, suplementar, ou oferecer alternativas para
que o processo comunicativo aconteça. A Comunicação Alternativa como área de
conhecimento centra-se na comunicação como processo cognitivo e social e pretende
suplementar, complementar, aumentar ou dar alternativas para efetivar a
comunicação de pessoas com déficits nessa área (SARTORETTO; BERSCH, 2022).
O ideal é buscar compreender o que se adequa para cada pessoa, mas é muito
importante também estarmos sempre atentos aos métodos que sejam baseados em
pesquisas científicas, como é o caso do denominado Picture Exchange
Communication System (PECS). Trata-se de um sistema de comunicação que
ressalta a relação interpessoal, em que ocorre um ato comunicativo entre o indivíduo
com dificuldades de fala e um adulto, por meio de trocas de figuras. Dessa forma, o
PECS pode ser uma boa opção e há muitos estudos que mostram a eficiência do
método. Isso não quer dizer que ele é obrigatório para uma comunicação por figuras.
Esses elementos, ou componentes, são introduzidos pela Comunicação Alternativa,
destinada especificamente a ampliar as habilidades de comunicação para atender
indivíduos sem escrita funcional ou sem fala.
Uma maneira de auxiliar estas pessoas no processo de comunicação é a
Comunicação Alternativa e Ampliada (CAA), a Comunicação Alternativa e
Suplementar (CAS), a Comunicação Suplementar e Alternativa (CSA) ou somente a
Comunicação Alternativa (CA). O fato é que, levando em consideração suas
limitações, é necessário que de alguma maneira se torne possível ensinar a essa
criança a se comunicar. Impedida de se comunicar de alguma forma, a criança com
desenvolvimento atípico não pode ficar. É nesse momento que é necessário decidir
qual tipo de comunicação será utilizado para aumentar o repertório dessa criança em
relação à possibilidade dela se comunicar (SARTORETTO; BERSCH, 2022).
Na Comunicação Alternativa, nós podemos encontrar duas subdivisões:
comunicação apoiada e comunicação não apoiada. A comunicação apoiada
englobaria todas as formas de comunicação que possuem expressão linguística na
forma física e fora do corpo, como objetos reais, miniaturas de objetos, pranchas de
comunicação com fotografias, fotos e outros símbolos gráficos. A comunicação não
apoiada englobaria as expressões próprias da pessoa, tais como os sinais manuais,

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expressões faciais, língua de sinais, movimentos corporais, gestos, piscar de olhos
para indicar “sim” ou “não”.

Já a Comunicação Suplementar e Alternativa, tem propósito duplo: promover


ou suplementar a fala, contribuindo com outra maneira alternativa de
comunicação se o indivíduo não se mostrar capaz de desenvolver a forma
oral. Pode possibilitar uma aprendizagem significativa, fazendo conexão com
os elementos da linguagem e do psiquismo através da mediação. Nesta
mediação a escolha dos programas a serem utilizados pode diferir quanto
aos símbolos e instrumentos utilizados, pois deve se adequar a necessidade
de cada sujeito (SARTORETTO; BERSCH, 2022, documento online).

A Comunicação Alternativa Assistiva é utilizada para identificar todo o arsenal


de recursos e serviços que contribuem para proporcionar ou ampliar habilidades
funcionais de pessoas com deficiência e consequentemente promover vida
independente e inclusão. O computador é uma importante via de acesso aos
símbolos, com ou sem uso de adaptações. Buscando proporcionar à pessoa maior
independência, qualidade de vida e inclusão social, através da ampliação de sua
comunicação, controle de seu ambiente, habilidades de seu aprendizado, trabalho e
integração com a família, amigos e sociedade (SARTORETTO; BERSCH, 2022).
A Comunicação Aumentativa e Alternativa (CAA) busca, através da valorização
de todas as formas expressivas do sujeito e da construção de recursos próprios desta
metodologia, construir e ampliar sua via de expressão. Recursos como as pranchas
de comunicação, construídas com simbologia gráfica (desenhos representativos de
ideias), letras ou palavras escritas, são utilizados pelo usuário da CAA para expressar
suas questões, desejos, sentimentos, entendimentos. Grosko (2016) acrescenta
ainda que:

A alta tecnologia nos permite também a utilização de vocalizadores (pranchas


com produção de voz) ou do computador, com softwares específicos,
garantindo grande eficiência na função comunicativa. Desta forma, o aluno
com deficiência, passa de uma situação de passividade para outra, a de ator
ou de sujeito do seu processo de desenvolvimento (GROSKO, 2016, p. 16).

Sendo assim, os recursos de comunicação de cada pessoa são construídos de


forma totalmente personalizada e levam em consideração várias características que
atendem às necessidades deste usuário. Não existe uma regra fundamental, é
necessário avaliar o método que melhor funciona para cada criança, escolhendo
sempre, com toda a certeza, técnicas que sejam embasadas por conhecimento e
pesquisas científicas.

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2.1 Histórico da comunicação alternativa (CA)

Desde os tempos primórdios que o homem se utilizava de várias formas para


estabelecer sua comunicação por meio de recursos verbais e não verbais, seja
através de gestos, grunhidos, sons, expressões faciais e corporais que foram
evoluindo com suas linguagens próprias e características. As primeiras formas de
expressões comunicativas escritas que surgiram foram os desenhos nas cavernas
que representavam uma relação de significados (GROSKO, 2016, p. 32).
A autora explica que a utilização da linguagem oral e escrita na comunicação e
interação faz parte do processo evolutivo da humanidade. Ela reforça ainda que:

A comunicação não se estabeleceu apenas através da fala, todos os tipos de


comunicação nas relações expressivas foram essenciais, favoráveis e
fundamentais para o desenvolvimento da simbologia na interação
comunicativa. A capacidade de comunicação por meio do código da
linguagem, das representações gráficas ou gestuais é importante na
construção e no estabelecimento das interações sociais. Neste contexto, as
pessoas com deficiências, ou que apresentavam algum prejuízo linguístico
significativo, ficaram historicamente privadas do convívio social (GROSKO,
2016, p.32).

A história relata como a pessoa com deficiência era inabilitada para aceitação
social plena. Essa concepção segregacionista acompanhou as pessoas com algum
tipo de deficiência, muitas vezes lhes sendo negado o direito à vida. A respeito do
tratamento recebido pelas pessoas com deficiência, Grosko (2016) explica que muitas
das vezes, elas eram mortas, abandonadas ou temidas por abrigarem maus espíritos.
Foi por isso que, no final do século XVIII e início do século XIX, quando a sociedade
toma consciência da necessidade de prestar apoio a esse grupo, elas passaram a ser
institucionalizadas.
Essa institucionalização tinha caráter assistencialista e, de certa forma,
segregacionista, complementa o autor mencionado anteriormente que “A
Institucionalização de caráter assistencial e não educacional asilou todos aqueles que,
de alguma maneira, não se encaixavam nos padrões do convívio social” (GROSKO,
p 18, 2016).
Os estudos realizados por Grosko (2016) discutem a dificuldade de realizar
uma revisão histórica e detalhada da Comunicação Suplementar e/ou Alternativa
(CSA), pois envolve diversos países e profissionais, cujas disciplinas, incorrem em
bases teóricas e modelos conceituais distintos. Além dessa dificuldade, os estudiosos

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deste tema deparam-se com a falta de registros formalizados das práticas iniciais. Foi
volta de 1940, que pais de crianças com paralisia cerebral fundaram a New York State
cerebral Palsy Association. A autora nos conta que:

A Educação especializada dessa época tinha caráter assistencialista, e era


fragmentada no atendimento por deficiências, não sendo relevante às
especificidades, necessidades e diferenças individuais de cada aluno. O
maior desafio era dar vez e voz a essas crianças, proporcionando habilidades
para estabelecimento de uma comunicação significativa e eficaz, tornando-
as agentes desse processo comunicativo que deveria e deve ir muito além do
contexto social, assegurando assim o direito pleno de sua cidadania
(GROSKO, 2016, p 19).

Os estudos sobre comunicação alternativa para indivíduos não verbais ou sem


fala funcional são recentes e datam do pós-guerra com a criação do Blissymbolics,
por Charles Bliss. O sistema de símbolos Bliss foi desenvolvido para ser utilizado
como uma comunicação universal (GROSKO, 2016).
A discussão sobre a Comunicação Alternativa começa com a abordagem
oralista que era predominante nas intervenções pedagógicas dos sistemas
educacionais da época, sem uma metodologia específica para crianças com
limitações na fala. Esta forma de se comunicar foi principalmente utilizada com
pessoas surdas. Foi no final da década de 1950 que se implementam estratégias de
comunicação não a oralista. Destaca-se, principalmente, a importância da língua de
sinais para o processo de mudança de paradigma da educação especial. Percebe-se
um avanço na utilização de outras formas de comunicação (GROSKO, 2016).
Em relação ao Brasil, os especialistas apontam que, em 1959, a Educação
Especial se configurou como um sistema paralelo e segregado de ensino com ênfase
na deficiência intrínseca do indivíduo, caracterizando o modelo médico. Somente a
partir da década de 1970, com o surgimento de novas concepções e pesquisas
voltadas ao atendimento de pessoas com deficiência, que estas passam a ser vistas,
além dos seus comprometimentos e limitações, também podem desenvolver suas
potencialidades. Para os avanços na Educação Especial, o compartilhamento de
saberes e inovações foram fundamentais para ruptura desses paradigmas (GROSKO,
2016).
Na década de 1980, trabalhos com Comunicação Alternativa se desenvolveram
principalmente nos Estados Unidos, Inglaterra e Austrália. Em 1981, Roxana Mayer
Johnson (nos EUA) desenvolve o Sistema Pictográfico de Comunicação (Picture

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Communication Symbols). Na década de 90, a Comunicação Alternativa começa a ser
questionada e implementada no campo cientifico, passando a compor a metodologia
utilizada por pesquisadores de programas de pós-graduação em educação especial.
Atualmente, existem inúmeros artigos, trabalhos, pesquisas e teses publicadas
que abordam a Comunicação Alternativa em diferentes contextos. A maioria
apresenta resultados positivos na sua aplicação, fornecendo caminhos e subsídios
para sua implementação, na perspectiva de uma inclusão responsável, numa visão
construtivista, transdisciplinar e multidisciplinar que valoriza a diversidade e busca
romper as barreiras existentes entre as dicotomias: ensino regular x ensino especial
na construção de estabelecimentos de sistemas educacionais com qualidade de
acordo com os preceitos constitucionais (GROSKO, 2016).

2.2 Recursos alternativos

Para transmitir uma mensagem, a pessoa faz uso dos recursos que dispõe.
Esses recursos podem ser gestos, vocalização, choro, sinais manuais, apontar com
os olhos, mãos ou outra parte do corpo, atitude corporal, expressão facial não
dependem de dispositivos adicionais, são recursos do próprio corpo, utilizados na
CAA e estão sempre disponíveis. Outros recursos se associam aos recursos do
próprio corpo, na comunicação alternativa (CA), podem ser usados objetos (reais e
miniaturas), fotografias, desenhos coloridos ou em preto e branco, símbolos gráficos,
letras, palavras, frases, ou combinações desses recursos (SOUZA, 2000).
Podem ser colocados em dispositivos os recursos adicionais à comunicação,
como prancha de comunicação e, sendo assim, determinado vocabulário é
disponibilizado para que o indivíduo possa se expressar. Então, o indivíduo olha ou
aponta para um símbolo que significa a mensagem que ele “quer falar”. Estão
disponíveis uma grande variedade de opções para a organização e disposição dos
símbolos, fotos ou figuras. Podem ser usados um suporte resistente, como álbuns,
fichários, blocos de madeira, pedaços de madeira ou outro tipo de material rígido para
a fixação dos recursos adicionais e confecção das pranchas de comunicação. Outra
possibilidade é colocar os símbolos sobre mesa acoplada à cadeira de rodas (SOUZA,
2000).

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Segundo Souza (2000), para aumentar a durabilidade, os símbolos são
protegidos por capa plástica, contact ou placa de acrílico. As pranchas de
comunicação têm a vantagem de serem relativamente de fácil transporte, dependendo
das condições de locomoção do usuário e do tamanho da prancha. Apresentam,
porém, a desvantagem de limitar o número de símbolos, em função do tamanho dos
próprios símbolos e da prancha ou dispositivo semelhante.
O uso de um avental que o interlocutor (professor, terapeuta, pais) pode ser um
exemplo de outro tipo de suporte para colocação de símbolos. Isso possibilita à
criança olhar ou mesmo tocar no símbolo desejado durante determinada atividade.
Em casos em que crianças que apresentam comprometimento motor mais grave, o
acesso aos símbolos pode ser possibilitado ou facilitado quando estes estão dispostos
em equipamentos eletrônicos, como comunicadores e computadores. O computador
é uma importante via de acesso aos símbolos, com ou sem uso de adaptações, como
protetor de teclado keyboard, teclado expandido, mouse adaptado e acoplado a
acionadores. (SOUZA, 2000).
De acordo com os estudos de Almeida (2015), os meios de comunicação
alternativa e aumentativa são recursos especiais que podem proporcionar
possibilidades de comunicação e interação, através de dispositivos de mensagem
simples e múltiplas, com digitalização de voz, sistemas gráficos, tabelas de
comunicação, comunicadores de diversos tipos e até computadores com softwares,
que permitem a construção de quadros de comunicação e digitalização de voz.
A partir desses estudos, observa-se, então, a existência de dois tipos de
sistemas de Comunicação Alternativa e Aumentativa, como apresentado no Quadro
1.
Quadro 1- Tipos de sistemas de Comunicação Alternativa e Aumentativa
SISTEMA DE CAA DESCRIÇÃO
A CAA ocorre sem auxílios externos e, neste caso, valorizasse
a expressão do sujeito, a partir de outros canais de
comunicação diferentes da fala, utilizados e identificados
socialmente, para manifestar desejos, necessidades, opiniões
e posicionamentos. Não requerem, portanto, o uso de qualquer
Sem ajuda “Unaided”
objeto ou dispositivo físico. Os movimentos da cara, da cabeça,
das mãos, dos braços e de outras partes do corpo são os únicos
mecanismos físicos para a transmissão das mensagens.
Incluem-se, neste grupo, os gestos de uso comum e os

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sistemas de sinais manuais. São exemplos de gestos de uso
comum a afirmação e a negação com movimentos da cabeça,
bem como todos os outros que usamos, que enfatizam a
comunicação oral.
Têm como objetivo de ampliar o repertório comunicativo, que
envolve habilidades de expressão e compreensão e podem ser
organizados e construídos auxílios externos. Portanto, implicam
algum tipo de assistência externa, instrumentos ou ajudas
técnicas para que ocorra a comunicação, como cartões de
comunicação, digitalizadores e sintetizadores de fala, papel e
Com ajuda “Aided”
lápis, livros ou quadros/tabelas de comunicação (com símbolos)
ou o próprio computador que, por meio de software específico,
pode tornar-se uma ferramenta poderosa de voz e
comunicação, particularmente projetados de acordo com
necessidades específicas do utilizador.
Fonte: Adaptado de Almeida (2015)

Uma outra classificação apresentada no estudo de almeida (2015) utiliza a


seguinte divisão:

Quadro 2 - Símbolos utilizados em alguns sistemas CAA


Sistema ACC Símbolos
ACÚSTICOS Fala natural, voz digitalizada e voz sintetizada.
GESTUAIS sinais manuais, línguas de sinais, soletração manual, expressões faciais e
movimentos corporais e/ou táteis.
GRÁFICOS fotografias, desenhos, figuras, logotipos, palavra escrita, etc.
TANGÍVEIS objetos, brinquedos, miniaturas, etc.
Fonte: Adaptado de Almeida (2015)

2.2.1 Sistema Makaton

Os estudos de Almeida (2015) apresentam dentro dessa classificação de


sistemas de CAA, o sistema Makaton. Trata-se de um programa de linguagem
completo, que utiliza gestos, a expressão facial, o contato ocular e a linguagem
corporal, em simultâneo com a fala e tem, por base, uma lista seletiva de palavras
relacionadas com o dia a dia (exemplo de palavras: pai, mãe, comer, dormir, pão,
entre outras) e utiliza a fala simultaneamente com gestos e/ou símbolos. (Figura 1).
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Figura 1 – Exemplos de símbolos do sistema Makaton

Fonte: https://bityli.com/LNRoFR

De acordo com Almeida (2015), no sistema Makaton, enquanto se introduz o


vocábulo, o gesto é treinado com a criança, e ao mesmo tempo o seu olhar e
compreensão. Sendo assim, surge a oportunidade de aprender a respeitar, também,
as regras de um diálogo. Mais tarde, esses símbolos são combinados em pequenas
frases, de forma graduada e poderão permitir a associação da palavra escrita e ser
utilizados na aquisição da leitura. Ao apresentar uma grande evolução a nível da
linguagem na criança, é fundamental a aprendizagem de novos gestos, recorre-se à
língua gestual, para superar as lacunas do sistema Makaton.
O método em questão tem como objetivo principal fornecer um meio de
comunicação a crianças e/ou jovens com deficiência intelectual, auditiva, défice
cognitivo e autistas. Mesmo nos casos em que a capacidade intelectual para a
aprendizagem e a memorização é bastante fraca e, desse modo não se consigam
verificar grandes evoluções para além dos estados iniciais, este sistema permite à
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criança ter um sistema alternativo de comunicação muito útil. Ao recorrer a gestos e a
símbolos, em simultâneo com a fala, permite desenvolver a comunicação funcional, a
estrutura da linguagem oral e da literária, facilitando o acesso aos significados do e
no mundo, com os outros, o que proporciona maior disponibilidade para a relação
social.

2.2.2 Sistema Bliss

Outros sistemas CAA apresentados por Almeida (2015) são: Blissymbolics


(Bliss), Pictogram Ideogram Communication (PIC), Pictogram Communication
Symbols (PCS) e Picture Exchange Communication System (PECS). Em relação ao
istema Bliss, a autora explica que ele é constituído por símbolos, cujos traços são
feitos em negros sobre o fundo branco, com formas essencialmente geométricas,
básicas, de natureza pictográfica e ideográfica, que podem ser organizados,
sintaticamente, em tabelas de comunicação e representam conceitos simples ou
complexos. Os elementos básicos são usados em várias combinações, para
representar milhares de significados. Atualmente, há cerca de 2500 símbolos Bliss
existentes. (Figura 2).

Figura 2 – Exemplos de símbolos Bliss

Fonte: https://bityli.com/YhjBxNQ

Este é um sistema que pode ser utilizado como principal sistema de


comunicação para muitas pessoas não falantes, devido a facilidade que os seus
símbolos são para apreender e fixar. Entretanto, para haver uma boa aquisição deste
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sistema é necessário que haja uma boa capacidade de discriminação visual (de forma
a distinguir o tamanho, a configuração e orientação dos símbolos). Desta forma, este
sistema é considerado adequado a indivíduos que, embora não estejam bem
preparados na ortografia tradicional, possuem potencial para aprender e desenvolver
um extenso vocabulário, com bom desempenho intelectual, mas com dificuldades na
fala e problemas de leitura (ALMEIDA, 2015).

2.2.3 Sistema Pictogram Communication Symbols (PCS)

Um dos sistemas simbólicos amplamente utilizado no Brasil é o PCS, sigla que


em português é traduzida por “Símbolos de Comunicação Pictórica”. Uma
característica importante desse sistema simbólico é a sua transparência, ou seja, a
sua capacidade de apresentar imagens que são facilmente reconhecidas tanto por
crianças quanto por adultos. A grande quantidade de símbolos disponíveis no formato
colorido ou preto e branco e a representação de expressões mais abstratas são
também qualidades desta simbologia. (Figura 4).

Figura 4 – Prancha com símbolos PCS na versão colorida

Fonte: Sartoretto; Bersch (2010)

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A imagem mostra mais um exemplo de prancha de comunicação, com símbolos
PCS coloridos. A prancha apresenta várias expressões sociais utilizadas para
cumprimentar, fazer perguntas e outras que representam sentimentos como: FELIZ,
TRISTE, COM FRIO, CALOR, DOENTE. Na parte inferior da prancha, estão os
símbolos representativos de tempo verbal: PASSADO, PRESENTE e FUTURO.
Associando estes últimos símbolos aos demais, o aluno pode expressar que o
conteúdo da sua comunicação está acontecendo, aconteceu e irá acontecer
(SARTORETTO; BERSCH, 2010).
Uma questão importante a ser considerada na escolha do sistema simbólico
para o recurso de comunicação é a opinião do próprio usuário, que pode manifestar
desinteresse por imagens mais infantis ou de difícil reconhecimento. Outras
alternativas de acesso a banco de imagens podem servir para a criação dos recursos
de CAA personalizados como, por exemplo: fotografias digitais, escaneamento e
digitalização de imagens, biblioteca de figuras ou fotos capturadas em clipartes ou
internet. (Figura 5).

Figura 5 – Prancha de comunicação feita de letras.

Fonte: Sartoretto; Bersch (2010)

As pranchas podem ser feitas sem símbolos, quando esta for a opção do
usuário; nesse caso, utilizam-se letras e palavras escritas (SARTORETTO; BERSCH,
2010).

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3 TECNOLOGIAS VOLTADAS PARA COMUNICAÇÃO

Fonte: https://bityli.com/dGoGIw

Para Manzini (2006) em educação especial, a expressão comunicação


alternativa e/ou suplementar vem sendo utilizada para designar um conjunto de
procedimentos técnicos e metodológicos direcionado a pessoas acometidas por
alguma doença, deficiência, ou alguma outra situação momentânea que impede a
comunicação com as demais pessoas por meio dos recursos usualmente utilizados,
mais especificamente a fala.
Pensando, então, na interação entre professor e aluno com necessidades
especiais na área da comunicação, os sistemas alternativos de comunicação são um
meio eficaz para garantir a inclusão desses alunos. Assim, a criança ou o jovem que
esteja impedido de falar poderá comunicar-se com outras pessoas e expor suas
ideias, pensamentos e sentimentos se puder utilizar recursos especialmente
desenvolvidos e adaptados para o meio no qual está inserido. Vários podem ser os
sistemas alternativos para comunicação (MANZINI, 2006).
A criança ou jovem pode usar um tabuleiro de comunicação que contenha
símbolos gráficos como fotos, figuras, desenhos, letras, palavras e sentenças, e
construir sentenças ao apontar para fotos, desenhos ou figuras estampadas, de modo
a se fazer entender no ambiente escolar e social. Há ainda sistemas que utilizam
tecnologia avançada, como os sistemas computadorizados e softwares específicos.
Ao discutir a comunicação alternativa é preciso ter presente que ao utilizarmos outra

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forma para comunicação, não queremos substituir a fala, mas contribuir para que a
comunicação ocorra (MANZINI, 2006).
A Comunicação tem um impacto na independência, iniciativa, produtividade,
autoestima, integração e aprendizado. Os objetivos para usar a CA são complicações
médicas ou de saúde temporárias, atraso no desenvolvimento da linguagem ou
deficiência neuromotora ou condições associadas com o desenvolvimento da fala. Os
casos que se aplicam o uso da CA referem-se à indivíduos que não possuem fala e/ou
escrita funcional em consequência de paralisia cerebral, deficiência mental, TEA,
traumatismo crânio-encefálico, distrofia muscular progressiva, lesão medular,
deficiência estrutural (MANZINI, 2006).
Assim, a introdução da CAA, deve ser realizada o mais cedo possível, assim
que um gap (dificuldade) entre a linguagem receptiva e expressiva começa a se
apresentar, também quando a fala e/ou escrita começa a se distanciar, em relação a
fala/ escrita dos colegas ou quando a deficiência motora impede o aprendizado. Para
realizar uma introdução adequada, é necessário estabelecer uma avaliação do quadro
do aluno, que consiste em identificar as necessidades do indivíduo de se comunicar,
obter informação geral, entrevistar a família, envolver toda a equipe, observar o
indivíduo, avaliar a linguagem, combinar as habilidades com as características do
sistema, implementar o sistema e avaliar os resultados (MANZINI, 2006).
Para que a avaliação ocorra o professor pode utilizar recursos como,
entrevistas, avaliações padronizadas, questionário sobre a rotina em casa e/ ou na
escola. A avaliação deve ser focada naquilo que o indivíduo tem possibilidade de
realizar, trabalhando potencialidades. A CA oferece alguns recursos de alta
tecnologia, pois utilizam recursos tecnológicos e este é o caso de softwares como o
boardmaker (MANZINI, 2006).

3.1 Conhecendo o Software Boardmaker

Para conhecer o software boardmaker é importante que você entenda seu


significado. Board significa “prancha” e maker significa “produtor”. Assim, o
Boardmaker é um programa de computador que foi desenvolvido especificamente
para criação de pranchas de comunicação alternativa e recursos educacionais
acessíveis. Ele possui uma biblioteca de símbolos gráficos PCS com mais de 4.500

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imagens e ferramentas que permitem a construção de recursos de comunicação
personalizados. No Brasil, o software Boardmaker é comercializado pela Clik
Tecnologia Assistiva, através do site www.clik.com.br (SARTORETTO; BERSCH,
2022).
O Boardmaker pode ainda ser associado a outro programa chamado de
Speaking Dynamically Pro que significa “falar dinamicamente”. Estes dois softwares
em conjunto se tornam uma importante ferramenta para construção pranchas de
comunicação onde, a partir da seleção de um símbolo, acontece a emissão de voz
pré-gravada ou sintetizada representativa da mensagem escolhida. Para comunicar-
se com voz o usuário utilizará seu computador ou um vocalizador portátil
(SARTORETTO; BERSCH, 2022).
O Speaking Dynamically Pro, possui uma série de ferramentas de programação
fáceis de usar e que permitem a criação personalizada de atividades educacionais,
recreativas e de comunicação. Dessa forma, o boardmaker é utilizado por pessoas
com as mais diferentes características cognitivas, sensoriais e motoras. Apresenta
ferramentas para construção de pranchas de comunicação personalizadas e
interligadas. O recurso de escrita com símbolos e os símbolos que associam imagem
e escrita.

Fonte: https://www.assistiva.com.br/BM_SDP_L01.pdf

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O objetivo da CAA, é definir o melhor recurso para que se estabeleça a
comunicação do aluno com deficiência a sua relação com o professor, colegas e
familiares, porém o professor em equipe é o profissional capacitado para o processo
servirão consideravelmente para os processos de alfabetização de alunos com
deficiência intelectual, surdez, dificuldades de comunicação oral e também para
crianças sem deficiência (SARTORETTO; BERSCH, 2022).
A comunicação ilimitada por meio de pranchas interligadas e teclados virtuais
favorecem alfabetização e produção escrita, e possibilita a construção de textos com
símbolos. Pedagogicamente outra importante característica deste software é a
acessibilidade. Um exemplo disso é que a seleção de teclas de mensagens ou de
teclas para escrita poderá acontecer por meio de varredura e acionadores.
Conhecendo os desafios educacionais que os alunos enfrentam no cotidiano escolar
e utilizando-se de muita criatividade, o professor especializado poderá criar os
recursos de comunicação e acessibilidade necessários aos seus alunos por meio das
várias ferramentas de seu Boardmaker (SARTORETTO; BERSCH, 2022).

3.2 Características do boardmaker

O software é utilizado para produção de pranchas dinâmicas e para impressão,


relembrando que:

 São superfícies onde se insere os símbolos, vocabulário que serão utilizados


para expressar sentimentos, situações, fazer solicitações e comentários.
 Podem ser construídas utilizando-se objetos, símbolos pictográficos, letras,
sílabas, palavras, frases ou números.
 As pranchas são personalizadas e devem considerar as possibilidades
cognitivas, visuais e motoras de seu usuário.
 Dependendo de sua condição motora o aluno vai olhar, apontar ou ter a
informação apontada pelo professor.
 A pranchas podem ser genéricas ou específicas.

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3.3 Prancha Genéricas e Específicas

Dividem-se em pranchas genéricas e especificas. (Quadro 2).

Quadro 2 – Tipos de pranchas


Pranchas Genéricas Pranchas específicas

São utilizadas no contexto


Caracterizam-se por um
social, símbolos do
vocabulário organizado a
vocabulário e de ações
partir de uma temática/
cotidianas. Possibilitam o
assunto. Podem abordar
acesso a pranchas
atividades cotidianas ou
específicas. Devem conter
conteúdos pedagógicos
breve apresentação do aluno
(prancha por conteúdo).
e a forma como ele a utiliza.

Fonte: Sartoretto; Bersch (2022)

Veja a seguir os modelos de Prancha Genérica (Figura 5) e Prancha Específica


(Figura 6):

Figura 5 – Modelo de Prancha Genérica

Fonte: Sartoretto; Bersch (2022)

20
Figura 6 – Prancha Específica

Fonte: Sartoretto; Bersch (2022)

Mas como saber o que é relevante no processo de produção de pranchas do


boardmaker? Veremos que no início é a escolha do tipo de prancha/ objetivo do
recurso (social/genérica, específica, por conteúdo). Posteriormente, o levantamento
do vocabulário do aluno, por exemplo, no caso de uma prancha genérica pode-se
solicitar que a família registre o dia-a-dia do aluno a fim de orientar a seleção do
vocabulário necessário.
Devemos selecionar os símbolos que representem: as pessoas com quem ele
se relaciona, as atividades que ele realiza em casa, na escola e na comunidade quais
são seus brinquedos, programas de tv, músicas, alimentos. Também os lugares que
frequenta, as expressões de cunho social levando em conta a faixa etária,
solicitações, entre outros.
A criação de pranchas será de acordo com o perfil de cada aluno, razão esta
da importância de uma boa avaliação por parte do professor sobre os objetivos do uso
do software. É importante lembrar que toda tecnologia só terá sentido se o uso for
adequado e bem desenvolvido. As funcionalidades do software como vimos são
voltadas a construção de pranchas de comunicação que podem ser aprimoradas,

21
utilizando desde ilustrações do próprio software, quanto imagens escolhidas pelo
professor e aluno em conjunto (SARTORETTO; BERSCH, 2022).
Para introdução de figuras selecione a ferramenta localizador de símbolos, no
retângulo branco digite a palavra correspondente ao símbolo desejado. Após a
escolha, clique sob o símbolo desejado, e sob a célula onde deseja inserir o símbolo.
Você pode usar uma imagem que não faz parte da biblioteca boardmaker, salva no
computador ou em algum dispositivo móvel utilizando o localizador de símbolos.
Abra o localizador de símbolos, selecione a opção arquivo e, em seguida clique
em importar imagem. A partir das funções básicas para utilização do software
boardmaker, o professor está preparado para aprimorar as funções buscando a maior
interação possível com o aluno incluído (SARTORETTO; BERSCH, 2022).

4 CAA PARA LETRAMENTO DE PESSOAS COM AUTISMO

Fonte: https://bityli.com/IirZslK

A relevância da CAA como um recurso da Tecnologia Assistiva, capaz de


promover espaços identitário para alunos com deficiência, oportunizando que os
mesmos tenham uma possibilidade de comunicar-se e assim fazer parte do contexto
é inegável. Entretanto, cada aluno, cada sujeito que faz uso da CAA apresenta seu
próprio nível de linguagem, diferentemente dos demais. Dessa forma, cabe ao
professor, em parceria com a equipe, conhecer as necessidades do aluno que fará
uso deste recurso antes de embrenhar-se num sistema de CAA, avaliando alguns
aspectos, tais como sugere Nunes (2003):

22
 Competências linguísticas: para que o professor possa investigar a
capacidade de comunicação em diferentes contextos com diferentes
pessoas;
 Formas de expressão: para investigar como o aluno se expressa e se
compreende o que os outros expressam.
 Habilidades: 1. Físicas: Avaliar a acuidade auditiva e visual, habilidades
motoras (preensão manual, flexão e extensão dos membros superiores),
habilidades perceptivas, dentre outras; 2. Emocionais: Com quem o
sistema será utilizado o sistema? pais, professores, amigos; 3.
Cognitivas – local onde o sistema será utilizado, verificar nível de
escolaridade, compreensão, por parte dos alunos dos acontecimentos
cotidianos;
 Competências de autonomia pessoal – o que ele já desenvolve com
autonomia;
 Nível geral de conhecimento - que conhecimentos prévios estes alunos
apresentam sobre o que é questionado;
 Problemas de comportamento - que tipos de desajustes
comportamentais este aluno apresenta.

De posse desta avaliação, caberá a equipe pedagógica e ao professor em


parceria com a família definir que recurso da CAA será utilizado, já que são muitos
recursos, técnicas e estratégias, além de um suporte parcial ou total à comunicação
de sujeitos que apresentem déficits de comunicação dos mais variados.
Podendo assumir diversas formas: pranchas de comunicação, pranchas
alfabéticas e de palavras, vocalizadores ou o próprio computador. O uso de um
sistema de comunicação alternativa deve ser baseado nas necessidades do sujeito
que apresenta déficit de comunicação, de maneira personalizada, conforme Sartoretto
e Berch (2022).
Baseados nas necessidades dos sujeitos com TEA, alguns softwares são
criados, visando a promoção da autonomia em tarefas que necessitam de
comunicação, um destes softwares utilizados é o SCALA.

23
4.1 Projeto SCALA

O projeto SCALA – Sistema de Comunicação Alternativa para Letramento de


Pessoas com Autismo configura-se como um plano articulado de investigação,
desenvolvimento tecnológico e formação. O desenvolvimento do Sistema SCALA visa
apoiar o processo do desenvolvimento da linguagem em sujeitos com autismo e com
déficits de comunicação, embasado epistemologicamente na teoria sócio histórica.
O software é desenvolvido de forma livre e gratuita com aproximadamente na
atualidade uma base pictográfica de 4000 símbolos de Arasaac e alguns
desenvolvidos pela equipe para atender a nossa diversidade cultural. (PASSERINO,
2015).
Na atualidade o SCALA conta com duas versões: Web e Android. A primeira
para utilização na Internet a partir de qualquer tipo de dispositivo e a segunda para
dispositivos móveis, do tipo tablet. O software atualmente encontra-se armazenado
num servidor, com um banco de dados contendo as imagens disponíveis para
utilização na construção das pranchas e das histórias, diretamente em
http://scala.ufrgs.br/ScalaWeb (PASSERINO, 2015).
Na prática o uso do software possui um módulo para a construção de pranchas
de comunicação e um de narrativas visuais para construção de histórias. O módulo
prancha possui as seguintes funcionalidades:

 Abrir: abre uma prancha salva anteriormente.


 Salvar: salva a prancha ou história atual, para ser posteriormente
utilizada.
 Desfazer: desfaz a última operação realizada.
 Importar: importa uma imagem da galeria de imagens para a Categoria
“Minhas Imagens”.
 Exportar: salva a prancha ou história como arquivo de imagem.
 Layout: dá cinco opções de layout para criação de pranchas ou histórias
simples ou mais complexas, conforme a necessidade de uso.
 Limpar: limpa todo o conteúdo da prancha ou história aberta.
 Imprimir: dá a opção da impressão da prancha.
 Visualizar: mostra a prancha de forma mais ampla, e possibilita a
reprodução sonora.
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 Ajuda: apresenta um tutorial objetivo de todas as funcionalidades do
módulo. (PASSERINO, 2015).

A composição das imagens no SCALA tem as seguintes categorias: Pessoas,


Objetos, Natureza, Ações, Alimentos, Sentimentos, Qualidades e Minhas Imagens O
módulo de narrativas visuais possui funcionalidades comuns ao módulo prancha
como: abrir, salvar, imprimir, importar, layouts, visualizar, deletar e ajuda.
A complexidade vai aumentando ou diminuindo de acordo com as
potencialidades e necessidades do usuário. Há ainda uma categoria que possibilita a
inclusão de balões de conversação, onde é possível a escrita de pequenos diálogos.
A história pode ser gravada e pode ser reproduzida por um sintetizador de voz. Os
recursos disponibilizados no texto podem ser utilizados diretamente com o aluno. O
módulo, história, por exemplo, usa requisitos comuns ao módulo, prancha e outros
como: carregar cenário; rotacionar imagem; animar (PASSERINO, 2015).

5 CAA PARA PACIENTES INTERNADOS

Fonte: https://bityli.com/dsudgc

Conhecer os fatores psicológicos de pacientes em situações de internações


como nas unidades de terapia intensiva (UTI) se reveste de um papel fundamental no
processo de assistência integrada, o que requer habilidades e qualidade de interação.
Neste cenário, especificamente, diferentes comportamentos psicológicos do paciente
e dos profissionais envolvidos no atendimento, como comportamento afetivo, crenças,
empatia, escuta, percepção dos sintomas, decisão, negociação, informação e

25
persuasão etc., proporcionam diferentes tipos de relacionamento. O efetivo sucesso
nestas ações depende da qualidade dos processos de comunicação, entretanto, por
vezes, a impossibilidade de comunicação verbal é a realidade das UTIs (VICENZO,
2020).
A literatura tem ressaltado que situações nas quais a comunicação verbal torna-
se limitada, fatores como ansiedade, irritabilidade e sensação de incapacidade podem
ser vivenciados tanto pelo paciente quanto pela equipe. A ocorrência destes aspectos
associa-se à limitação da comunicação, que é altamente modulada pelo substrato
emocional, o que implica o desenvolvimento de estratégias de enfrentamento. Assim,
profissionais da enfermagem, por exemplo, descreveram que a falta de estratégias
confiáveis para facilitar a comunicação às vezes produzia resultados negativos para
os pacientes, incluindo necessidades psicossociais. Até mesmo enfermeiros
experientes indicaram problemas contínuos na comunicação com pacientes, apesar
de usarem uma infinidade de estratégias, o insucesso suscitava frustração e conflito
de papéis (VICENZO, 2020).
Entre as habilidades humanas, a linguagem destaca-se com notória
significância pois está presente de maneira fundamental nas relações sociais e na
formação que constitui cada indivíduo em si. A partir da adaptação do indivíduo ao
meio, no que tange aos aspectos biológicos e sociais, é possível definir sua linguagem
e, com isso, explicitar seu caráter essencial. A linguagem verbal é uma capacidade
única oriunda do intelecto humano e é entendida como uma das principais atividades
mentais. É por meio dela que o indivíduo consegue elaborar e expressar seus
sentimentos aos seus semelhantes. A partir da linguagem, todas as outras funções
cognitivas superiores se organizam (VICENZO, 2020).
A linguagem não é um simples acompanhante, mas sim um fio profundamente
tecido na trama do pensamento, para o indivíduo, é o tesouro da memória e a
consciência vigilante transmitida de pai para filho. Para o bem e para o mal, a fala é a
marca da personalidade, da terra natal e da nação, é o título de nobreza da
humanidade. A linguagem é compreendida como fundamental em vários aspectos,
contudo, não se pode minimizá-la às possibilidades, única e exclusivamente, de
comunicações verbais. Concomitantemente à comunicação verbal estão as formas
não verbais de comunicação. Formas essas que são compreendidas com o uso de
gestos, toque e olhares, por exemplo, como elementos que, sumarizados à

26
comunicação verbal, efetuam em totalidade uma comunicação plena (VICENZO,
2020).
Alguns pacientes com restrições de linguagem podem utilizar sinais corporais,
balbucias ou movimentos oculares para expressar seu interesse/desejo por algo.
Considerar todas essas formas de comunicação auxilia com precisão única o contato
com os pacientes que sofreram alguma defecção em sua forma de linguagem. Dada
a importância que a linguagem exerce sobre o indivíduo, outorgando a este a
habilidade cognitiva para a comunicação humana, qualquer disfunção contraída que
comprometa negativamente sua autonomia de comunicar-se contribui direta e
demasiadamente nos aspectos sociais, bem como nas expressões de seus interesses
e seus pensamentos (VICENZO, 2020).
Há alterações na linguagem que acometem o indivíduo em decorrência de um
déficit em seu desenvolvimento, ou em decorrência de traumas ou sequelas
associadas a acidentes vasculares cerebrais, tumores cerebrais, acidentes, entre
outras intempéries de ordem semelhantes. Entre tais alterações de linguagem
decorrentes de lesão cerebral encontra-se a afasia. Ela é considerada um distúrbio
de linguagem, que ocorre em decorrência de uma lesão que acontece
majoritariamente no hemisfério esquerdo do cérebro. Ou seja, a afasia surge em
decorrência de uma lesão neurológica e é considerada um transtorno orgânico da
linguagem. Geralmente é causada por acidente vascular cerebral (AVC), mas pode
também acontecer como resultado de algum outro acometimento, como traumatismos
no hemisfério esquerdo, tumores ou hematomas, processos inflamatórios, escleroses
ou encefaloses e doenças degenerativas ou metabólicas (VICENZO, 2020).
A afasia é uma condição que pode causar a perda da capacidade de o indivíduo
afásico utilizar as funções da linguagem relacionadas à comunicação oral, afetando
diretamente a fala, assim como a forma de compreender e a interpretar as informações
recebidas. Portanto, há alterações nas formas de articulação das palavras, expressão
verbal, noção gramatical, interpretação da informação, leitura, escrita, além da
organização dos gestos que acompanham as palavras. Essas desordens causadas
pelo fenômeno afasia manifestam-se de maneiras diferentes, a depender do tipo de
afasia que se apresenta (VICENZO, 2020).
O tipo de afasia e os desajustes decorrentes dela são determinados de acordo
com o local exato da lesão, podendo ser classificada em: afasia de Broca, de Wernick

27
e afasia total. Ademais, outros processos cognitivos relacionados à linguagem, como
por exemplo, a memória, a capacidade de separação, concentração e funções
executivas podem ser maleficiados. Essa ruptura na continuidade da linguagem, que
afeta a comunicação oral, causa a necessidade da realização de ajustes na
comunicação entre o indivíduo afásico e os demais (VICENZO, 2020).
Há outra forma de alteração da linguagem, conhecida como mutismo, que
ocorre quando o indivíduo expressa uma completa não responsividade, ainda que
consiga manter-se com os olhos abertos. A neurologia caracteriza este distúrbio como
mutismo acinético ou vigil. O mutismo é um transtorno relacionado à linguagem no
qual há a ausência de fala e que, diferentemente do que ocorre na afasia, a
capacidade de compreensão do conteúdo se mantém conservada, porém, não há a
utilização da fala como uma forma de resposta.
Existe, ainda, uma apresentação do mutismo, compreendido como mutismo
eletivo ou seletivo. Ele é comumente encontrado em crianças e tem sua origem, na
maioria dos casos, causada por vivência de conflitos interpessoais. Ele é
caracterizado como uma recusa em falar em situações específicas, ou seja, ele é um
comportamento no qual o indivíduo deliberadamente nega-se a entrar em contato
social, por meio da comunicação oral em ambientes e contextos particulares. Esse
comportamento é, por vezes, inicialmente percebido pelos familiares ou professores
como timidez, visto que ele acomete majoritariamente crianças no início da idade
escolar. Ele pode ser a manifestação de um grande sofrimento ou ansiedade
vivenciados pelo indivíduo, que geralmente é uma criança. Ao se deparar com alguma
situação na qual não se sinta segura, a criança pode ter seu desenvolvimento social
e escolar comprometidos (VICENZO, 2020).
É necessário sublinhar que o indivíduo que apresenta mutismo seletivo
mantém suas capacidades linguísticas e de compreensão inalteradas, sendo capaz
de comunicar-se com pessoas às quais se sinta seguro. Inicialmente, essa alteração
da linguagem era denominada afasia voluntária. Em casos de indivíduos que
apresentam o mutismo seletivo, pode haver comunicação não verbal por meio de
gestos, contato visual, além de outros sinais. A compreensão do significado e o
manejo e o tratamento do mutismo seletivo constituem grande desafio para o
profissional, em decorrência da complexidade presente na sua etiologia (VICENZO,
2020).

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Outra forma de alteração de linguagem é a glossolalia. O paciente é
compreendido com essa patologia quando sua comunicação verbal é aturdida por
uma fala gutural, com mínima capacidade de compreensão por parte dos ouvintes.
Essa fala pode ser descrita como um conglomerado indecifrável de sons. Quando da
aplicação de atividades escritas, a glossolalia é observada no paciente, fazendo com
que execute caracteres incompreensíveis. Quanto à fonética de suas elucidações, o
paciente é capaz de reproduzir as falas com o compasso certo (distinção das
palavras), contudo, com sons sem sentido linguístico (VICENZO, 2020).
Ainda sobre as alterações de linguagem, outra forma de designar as
dificuldades de comunicação do paciente é a bradifasia. Esse distúrbio é
caracterizado por influir ao paciente uma fala vagarosa em que as palavras são
pronunciadas numa sequência bastante lenta e com evidente dificuldade. Geralmente,
associa-se esse distúrbio a casos depressivos graves, estados de níveis demenciais
ou esquizofrenia crônica (VICENZO, 2020).

5.1 Método Reconecta

Compreendendo a importância da linguagem para um indivíduo, bem como o


impacto psicológico e psicossocial quando do surgimento de possíveis defecções que
implicam (em caráter parcial ou total) alterações da linguagem, observou-se a
necessidade da criação de instrumentos alternativos que pudessem auxiliar a
comunicação com esses pacientes e, com isso, conceder a devida atenção às suas
necessidades biológicas e emocionais.
Com esse intuito, foi criado o Reconecta, uma ferramenta lúdica que faz uso
de diferentes formas de linguagem e visa oportunizar a tomada de escolha dos
pacientes que sofreram de algum modo alteração da linguagem. Esse material leva
em consideração as características interpessoais do paciente e busca atrelá-las a sua
necessidade de interação social. Este manual tem como objetivo principal propiciar a
comunicação com esses pacientes, por meio de jogos, imagens, notícias, formação
de palavras e reconhecimento de sentimentos e emoções. Viabilizar o benefício de
poder se comunicar confere ao paciente um decurso mais confortável durante o
ínterim do processo de hospitalização, auxiliando no processo de preservação de sua
identidade (VICENZO, 2020).

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O manual é subdividido em páginas que explicam as pranchas. Cada uma
dessas pranchas é concebida visando um objetivo específico. Antes de utilizar o
manual, é necessário verificar se o paciente já exercia previamente algum sinal para
se comunicar, como por exemplo movimento ocular, contração muscular, piscar de
olhos, aperto de mão ou ainda emissão de sons. Essa informação deve ser verificada
com os familiares ou equipe médica responsável pelo caso. Para os casos em que o
paciente não tenha aprendido ou não tenha sido desenvolvido um meio para se
trabalhar com o uso de sinais, faz-se necessário que o profissional se certifique junto
ao paciente de uma forma confortável de comunicação que será estabelecida como a
principal utilizada entre ambos. Cabe ao profissional que irá fazer o uso do manual
exercer uma atenção redobrada no que tange à empatia e sensibilidade, para que
observe com precisão os possíveis sinais de comunicação expressados pelo paciente.
Exemplos de frases que podem ajudar o profissional a estabelecer um modo de
comunicação:

 O (A) senhor (a) consegue piscar os olhos?


 O (A) senhor (a) consegue apertar minha mão?
 O (A) senhor (a) está com frio? Se sim, por favor, aperte a minha mão.

As atividades propostas no manual têm como padrão questões com suas


respectivas opções de respostas. O meio de comunicação estabelecido entre o
profissional e o paciente servirá para que o mesmo indique sua escolha e, com isso,
expresse seu interesse/desejo. Por exemplo, piscar os olhos duas vezes pode indicar
a aceitação da resposta de número dois. Outrossim, para questões em que as
respostas pertinentes serão “sim” e “não”, pode-se praticar um piscar de olhos para o
“sim” e dois piscares de olhos para o “não”. De fundamental importância é que o
profissional indique com o dedo as alternativas ao descrevê-las, isso facilita a
compreensão de cada pergunta bem como de suas respectivas respostas (VICENZO,
2020).
É necessário entender que o paciente em seu estado de hospitalização pode
estar fragilizado emocionalmente ou ter sua capacidade de compreensão reduzida;
essas complicações podem impactar na interação do paciente com o material. Isto

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posto, é fundamental que se aplique as atividades com paciência, visando sempre ser
suscetível (compreender) a demanda peculiar de cada paciente (VICENZO, 2020).

5.2 Contato com o paciente

De acordo com Vicenzo (2020) é muito importante que antes de iniciar o contato
com o paciente, o profissional leia seu prontuário para entender não só o quadro
clínico, mas também as informações pessoais. Essas informações podem facilitar o
contato, como, por exemplo, nacionalidade, idade e dados familiares.
Entendendo a dificuldade de comunicação do paciente, obterá maior sucesso
nesse diálogo. Deve buscar se comunicar de forma clara e atenciosa. Antes de aplicar,
é importante que o profissional tenha uma boa comunicação e se apresente ao
paciente conforme se demonstra a seguir:

 Diálogo com o paciente: O profissional deve apresentar-se para o


paciente, informando seu nome e sua posição junto à equipe:
1. Ex.: “Olá, Sr. Felipe, meu nome é Carlos. Sou o Psicólogo do Hospital
e vim conversar um pouco com o senhor. ” Após se apresentar,
informar que tem conhecimento sobre a dificuldade de comunicação
verbal do paciente.
2. Ex.: “Sei que no momento o sr. não pode falar, mas gostaria de
apresentar algumas alternativas para conseguir se comunicar
comigo. ” Apresentar o manual para o paciente, informando o objetivo
e a utilidade.
3. Ex.: “Como no momento o sr. está com dificuldade de falar, tenho
este material para facilitar sua comunicação não verbal, que poderá
ser feita por alguns sinais que irei lhe ensinar. Gostaria de reconectá-
lo também com o ambiente fora do hospital, realizando algumas
atividades e conhecendo um pouco mais sobre o senhor, se assim
me permitir. ”
4. Após esta apresentação, indagar se o paciente tem interesse e se
sente confortável para tentar utilizar o manual. Nesse
questionamento, recomenda-se buscar as instruções da Prancha 1

31
para conseguir se comunicar com o paciente. É necessário verificar
se o paciente tem utilizado algum sinal para se comunicar até o
momento, como, por exemplo: movimento ocular, contração
muscular, piscada do olho, aperto de mão ou sons. Essa informação
pode ser verificada com os familiares ou com a equipe responsável
pelo caso, se o paciente não conseguir informar. No caso de
pacientes que podem se comunicar com mais de um tipo de sinal,
verificar aquele que o deixa mais confortável.

5.3 Variáveis a serem consideradas

De acordo com as orientações de Vicenzo (2020), é fundamental levar em


consideração as seguintes variáveis presentes no atendimento aos pacientes:

 Pacientes que já utilizam sinais para se comunicar com a equipe:


“Verifiquei que o sr. se comunica com a equipe utilizando sinais.
Podemos tentar isso juntos? ” Ou então: “O senhor gostaria de tentar
conversar usando este material que acabei de apresentar? ” Buscar as
instruções da Prancha 1 para conseguir se comunicar com o paciente.
 Pacientes que não fazem uso de sinais com a equipe: Buscar as
instruções da Prancha 1 para conseguir se comunicar com o paciente.
Após conseguir encontrar o sinal mais confortável para o paciente,
perguntar: “O senhor gostaria de tentar conversar usando este material
que acabei de apresentar? ”Caso o paciente responda que não quer
utilizar o material e nem ao menos conversar com o profissional, é
importante respeitar essa decisão. Entretanto, é recomendável mostrar
as Pranchas 6, 7 e 8:
1. Ex.: “Entendi que não quer conversar no momento. ” “O senhor
pode estar se sentindo cansado, com algum incômodo ou querendo
ficar sozinho. Não tem problema. ” Apresentando a Prancha 6,
informar: “Se o sr. precisar, podemos formar frases para comunicar
alguma necessidade. ” Apresentando a Prancha 7, orientar: “O sr.
pode se comunicar por meio de imagens, solicitando ou informando

32
algo para mim. Por exemplo: se estiver precisando mudar de posição
ou se estiver sentindo algum desconforto. ” Apresentando a Prancha
8, informar: “Também pode me informar se estiver sentindo alguma
dor, bem como sua região e intensidade. ” “Se precisar, podemos
utilizar apenas essas opções hoje. ” (Nesse questionamento, buscar
as instruções da Prancha 1 para conseguir se comunicar com o
paciente).
2. Se o paciente recusar o atendimento, mesmo após a
apresentação e as orientações sobre as Pranchas 6, 7 e 8, sua
decisão deve ser respeitada de forma acolhedora e o profissional
pode tentar esse contato outros dias. No entanto, se responder
positivamente à comunicação, iniciar pelas pranchas indicadas
seguindo suas orientações.
3. É importante ter sensibilidade para perceber se o paciente está se
sentindo cansado com o diálogo. Não há a necessidade de utilizar
todas as pranchas em um único contato. (VICENZO, 2020, p. 8-9).

5.4 Forma de aplicação e pranchas

A seguir apresentamos os modelos de pranchas, conforme Vicenzo (2020).

5.4.1 Prancha 1 – Sinais

O objetivo desta prancha é:

 Orientar e ensinar o paciente sobre o uso dos sinais não verbais. As atividades
propostas têm como padrão questões alternativas que propõem uma resposta
de sim ou não.
 Verificar se o paciente já utiliza algum sinal para se comunicar, por exemplo
movimento ocular, contração muscular, piscada de olho ou aperto de mão.
Essa informação pode ser confirmada com os familiares ou com a equipe
responsável pelo caso quando o paciente não consegue informar por si só.
(Figura 1).

33
Figura 1 – Modelo da Prancha 1

Fonte: VICENZO ( 2020)

Caso o paciente não aprendeu ou não foi estimulado para trabalhar com algum
tipo de sinal, é necessário que o profissional defina formas de comunicação que serão
utilizadas entre eles. Nesse momento, é necessário ter paciência e sensibilidade para
observar os possíveis sinais para se estabelecer esta comunicação. Por exemplo: “O
senhor consegue piscar o olho? ”, “O senhor consegue levantar o polegar? ” Ou “O
senhor consegue movimentar os olhos? Se sim, olhe para cima. ”
Para usar esta prancha orienta-se:

 Mostrar o sinal para o paciente e informar que o verde corresponde ao


sim e o vermelho ao não. Ex.: “Agora vamos utilizar esse sinal que
acabamos de treinar. Para toda pergunta que eu fizer para o senhor, vou
mostrar essa imagem. Com ela, o senhor vai poder me responder sim
ou não. O símbolo verde corresponde à resposta sim e o vermelho ao
não. ”
 Ao perguntar algo para o paciente, apontar com o dedo indicador a
imagem que corresponde ao sim e ao não. Solicitar que o paciente
execute o sinal combinado quando o profissional apontar a resposta que
ele gostaria de dar. Ex.: “Vamos fazer um teste. O senhor gostaria de
tentar conversar com esse material que acabei de apresentar? Para me
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responder, aguarde eu apontar para a imagem que corresponde à sua
resposta. Se for sim, pisque o olho quando meu dedo apontar para a
imagem verde. Se for não, pisque o olho se o meu dedo apontar para a
imagem vermelha. ” (Usar sinal combinado com o paciente).

5.4.2 Prancha 2 – Data

O objetivo desta prancha é orientar o paciente sobre a data atual e o local onde
se encontra. Levando em consideração que alguns pacientes internados podem não
ter acesso a meios de comunicação, janelas ou contato social, esta prancha objetiva
atualizá-los sobre sua localização e data.
Pacientes com esse nível de restrições e/ou alterações no quadro clínico, como
baixa oxigenação em decorrência de síndrome respiratória aguda grave (SARS),
podem perder noção de tempo e espaço. Ao fornecer essas informações, são
consideradas suas necessidades básicas de orientação.
Para utilizar esta prancha, orienta-se que:

1. Se informe ao paciente sua localização e data. Por exemplo: “Agora que


conversamos sobre os sinais e este manual, gostaria de iniciar nossa conversa
o atualizando com algumas informações ou verificando se o sr. já está
atualizado. ” ou “O sr. sabe o nome do hospital em que está internado?”.
2. Após perguntar, apontar para a imagem de sim e não (localizada no canto
superior direito da folha) e com paciência aguardar o sinal do paciente. Se o
paciente informar que não sabe, informar o nome do hospital e a cidade em que
está localizado.
3. Em seguida, perguntar sobre a data: “Agora que o atualizamos sobre sua
localização, o sr. sabe em que dia estamos? ” Após perguntar, apontar para a
imagem de sim e não e, com paciência, aguardar o sinal do paciente. Se o
paciente não souber a data, dizer, por exemplo: “Sem problemas, então vou
informá-lo. ” Informar a data atual para o paciente.
4. Finalizar escrevendo com caneta marcadora de quadro branco (no material
plastificado) a data atual nos espaços da Prancha 2, indicando dia, mês e
ano.(Figura 2).

35
Figura 2 – Modelo da prancha 2

Fonte: VICENZO (2020)

5.4.3 Prancha 3 – Ambiente externo

O objetivo desta prancha é estabelecer o rapport com o paciente, de certa forma,


facilitado pela necessidade de orientá-lo acerca das condições do clima e outras
amenidades. É certo que alguns pacientes em situação de internação perdem a noção
do mundo lá fora, por isso, uma forma de reconectá-los com o ambiente externo é
estabelecendo-se um diálogo. (Figura 3)

Figura 3 – Modelo da prancha 3

Fonte: VICENZO (2020)

36
Para utilizar a Prancha 3 é nessário:
1. Apresentar a Prancha 3 ao paciente.
2. Mostrar as figuras ali desenhadas.
3. Comentar: “Observe que vemos aqui um sol, sol com nuvens, nuvens com
chuva, nuvens com raios e, finalmente, uma lua.”
4. Conversar com o paciente informando-o como está o tempo lá fora e, nessa
ocasião, apontar para alguma alternativa: “Sr. Fulano, o dia está
ensolarado.” Aponte para o ícone do sol. “Qual o tipo de clima o sr. prefere?”
O profissional pode nesse momento expor sua preferência. “O sr. prefere
passear à noite ou em dias ensolarados?” Da mesma forma, o profissional
pode demonstrar o seu próprio interesse. É importante apresentar pausas
para o paciente apontar com o dedo a alternativa que está descrevendo,
facilitando assim a compreensão do diálogo.

5.4.4 Prancha 4 – Notícias

O objetivo desta prancha é atualizar o paciente sobre notícias contemporâneas,


reconectando-o e permitindo a extensão do diálogo. Uma das inevitáveis
consequências durante o processo de isolamento é a desorientação do paciente em
matérias da atualidade. O acesso à informação é um direito inalienável do cidadão,
sendo um dever de quem cuida e, por tais motivos, deve ser respeitado. Mantém-se,
assim, o princípio da humanização na assistência. (Figura 4).

Figura 4 – Modelo da prancha 4

Fonte: VICENZO (2020)

37
Para o uso desta prancha orienta-se que:

1. Antes de apresentar a Prancha 4 ao paciente, selecionar notícias


atualizadas sobre os temas: economia, esportes, boas notícias e assuntos
gerais
2. Apresentar a Prancha 4 para o paciente e informar que por ela serão
apresentadas notícias atuais relacionadas aos seguintes temas: economia,
esportes, boas notícias e assuntos gerais. Neste momento, é necessário
solicitar ao paciente que execute o sinal anteriormente combinado (vide
Prancha 1) e o profissional deve apontar com o dedo sobre os ícones
referentes aos temas que o paciente prefira.
3. Solicitar ao paciente: “Pisque no momento em que eu apontar um tema de
seu interesse.” Caso tenha sido este o sinal previamente combinado.

5.4.5 Prancha 5 – Emoções

O objetivo desta prancha é dar oportunidade para o paciente reconhecer e informar


suas emoções.

Figura 5 – Modelo da prancha 5

Fonte: Vicenzo (2020)

38
Recomenda-se para isso:
 Apresentar a Prancha 5 ao paciente e informar que gostaria de saber como ele
está se sentindo no momento.
 Apontar para as imagens que estão representando as emoções e descrever o
significado de cada uma delas. E
 m seguida, perguntar como ele está se sentindo. Neste momento, é necessário
solicitar ao paciente que execute o sinal anteriormente combinado e o
profissional deve apontar com o dedo sobre as sequências, sugerindo ao
paciente a imagem que melhor represente a sua emoção.
 Trabalhar/acolher junto ao paciente a opção indicada por ele.
 Conversar com o paciente: “Entendo que o senhor está com medo,
imagino que deve ser difícil passar por isso. Todas nossas emoções são
importantes e que bom que o sr. conseguiu falar sobre como está se sentindo.
Estamos aqui para ajudá-lo e gostaria que não se sentisse sozinho para lidar
com essa situação.”

5.4.6 Prancha 6 – Formação de frases

Objetivo: fornecer instruções sobre como o paciente formará as frases com o auxílio
do profissional.
Figura 6 – Modelo da prancha 6

Fonte: Vicenzo (2020)

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A incapacidade de expressar-se pode gerar angústia e ansiedade no paciente,
afetando o seu estado emocional e físico. Por isso, recomenda-se o uso da prancha,
a partir das seguintes orientações:

 Apresentar a Prancha 6 ao paciente, informando que há uma sequência


alfanumérica e que esta propiciará a elaboração de frases, mesmo que
simples, estabelecendo um possível diálogo. Neste momento, é
necessário solicitar ao paciente que execute o sinal anteriormente
combinado (vide Prancha 1) e o profissional deve apontar com o dedo
sobre as sequências, sugerindo que o paciente indique previamente em
qual fileira alfanumérica encontra-se a letra que comporá a palavra.
 Ao confirmar a fileira em que se encontra a letra, o profissional deve ditar
as letras que se encontram na fileira selecionada e aguardar
atentamente o sinal do paciente para conseguir formar as frases.
 Ao obter cada letra referente à palavra a ser formada, o profissional deve
escrevê-la na parte inferior da prancha a fim de formar a frase pretendida
pelo paciente. Perguntar se o paciente entendeu as instruções e dar
exemplos com palavras pequenas para auxiliar na compreensão.
 Dialogar com o paciente: “Por favor, pisque no momento em que eu
apontar uma das fileiras onde se encontra a letra que formará sua
palavra.” Caso tenha sido este o sinal previamente combinado. “Agora
vou apontar e ditar a primeira coluna e gostaria que o senhor
demonstrasse o sinal combinado quando for a linha que se encontra a
letra que gostaria de me informar.” “Em seguida, vou ditar as letras dessa
linha e o senhor pode dar o sinal quando falar a letra que gostaria de me
informar. E vamos seguir deste modo até que formemos nossa frase.”

5.4.7 Prancha 7 – Necessidades

O objetivo do uso desta prancha é obter informações do paciente sobre


algumas necessidades básicas apresentadas no momento do diálogo, com o auxílio
do profissional. A incapacidade para o autocuidado ou para expressar essa
necessidade é outro fator que pode ser estressor e causador de angústia no paciente,

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contribuindo para o agravamento de seu estado emocional e físico. Observe o modelo
desta prancha na Figura 7.

Figura 7 – Modelo da prancha 7

Fonte: Vicenzo (2020)

Para o uso desta prancha, recomenda-se:


 Apresentar a Prancha 7 ao paciente, informando que há uma sequência de
imagens que podem indicar aos membros da equipe médica uma necessidade
que pode ser atendida naquele momento ou em qualquer outro instante no
decorrer do dia. Neste momento, é necessário solicitar ao paciente que
execute o sinal anteriormente combinado (vide Prancha 1) e o profissional
deve apontar com o dedo sobre as sequências, sugerindo que o paciente
indique qual imagem expressa a sua necessidade premente.
 Ao obter a resposta do paciente, informar a necessidade dele à equipe
responsável pelo caso. Esse diálogo com a equipe é importante para não
prejudicar o quadro clínico do paciente.
 Dialogar com o paciente: “Por favor, pisque no momento em que eu apontar
uma das imagens em que se encontra sua necessidade.” Caso tenha sido este
o sinal previamente combinado.

41
5.4.8 Prancha 8 – Dor

O objetivo desta prancha é obter informações do paciente sobre sua


sintomatologia, seu estado de percepção e localização da dor. A restrição ao leito
somada a particularidades do tratamento, como por exemplo o processo de intubação
orotraqueal, confere ao paciente o desenvolvimento de graves desconfortos,
conhecidos como desconfortos ergonômicos.
Esses desconfortos podem agravar o estado emocional e juntamente ao
desconhecimento podem exacerbar essas percepções. Não raro, a terapêutica
recomenda a sedação de muitos pacientes com o intuito de evitar que a ansiedade
agrave a sua estabilidade emocional e cardiorrespiratória. Observer o modelo da
prancha na Figura 8.

Figura 8 – Modelo da prancha 8

Fonte: Vicenzo (2020)

Para o uso desta prancha, recomenda-se:

 Apresentar a Prancha 8 ao paciente, informando que há uma sequência


de imagens que podem indicar aos membros da equipe médica se há
dor e que o paciente poderá ser atendido naquele momento ou em
qualquer outro instante no decorrer do dia. Neste momento, é necessário
solicitar ao paciente que execute o sinal anteriormente combinado (vide

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Prancha 1) e o profissional deve apontar com o dedo sobre as
sequências, sugerindo que o paciente indique qual imagem expressa a
sua necessidade premente.
 Ao obter a resposta do paciente, informar a necessidade dele à equipe
responsável pelo caso. Esse diálogo com a equipe é importante para
não prejudicar o quadro clínico do paciente.
 Dialogar com o paciente: “Por favor, pisque no momento em que eu
apontar uma das imagens em que se encontra sua dor.” Caso tenha sido
este o sinal previamente combinado. Repetir o mesmo diálogo para
captar a percepção da intensidade da dor pelo paciente.

5.4.9 Prancha 9 – Jogo

O objetivo desta prancha é fornecer uma atividade para auxiliar no bem-estar


do paciente e no vínculo com o profissional. Observer o modelo da prancha na Figura
9.

Figura 9 – Modelo da prancha 9

Fonte: Vicenzo (2020)

43
Para o uso desta prancha, recomenda-se:

 Mostrar a Prancha 9 ao paciente e informar que, se ele desejar jogar, o


profissional e o paciente podem desenvolver essa atividade juntos. Perguntar
se já jogou o Jogo da Velha e se o paciente responder negativamente, é
necessário ensiná-lo.
 Explicar as regras do jogo: O tabuleiro é uma matriz de três linhas e três
colunas. Dois jogadores escolhem uma marcação cada um, geralmente um
círculo (O) e um xis (X). Os jogadores jogam alternadamente, uma marcação
por vez, numa lacuna que esteja vazia.
 O objetivo é conseguir três círculos ou três xis em linha, quer horizontal,
vertical ou diagonal e, ao mesmo tempo, quando possível, impedir o adversário
de ganhar na próxima jogada. Quando um jogador conquista o objetivo,
costuma-se riscar os três símbolos. Se os dois jogadores jogarem sempre da
melhor forma, o jogo terminará sempre em empate.
 A lógica do jogo é muito simples, de modo que não é difícil deduzir ou decorar
todas as possibilidades para efetuar a melhor jogada – apesar de o número
total de possibilidades ser muito grande, a maioria delas é simétrica, além de
que as regras são simples.
 Por esse motivo, é muito comum que o jogo empate (ou “dê velha”). Ganhar:
se você tem duas peças numa linha, insira a terceira. Bloquear: se o oponente
tiver duas peças em linha, insira a terceira para bloqueá-lo. Triângulo: crie uma
oportunidade em que você poderá ganhar de duas maneiras. Bloquear o
triângulo do oponente. Centro: jogue no centro. Canto vazio: jogue num canto
vazio.

Encerramos os estudos desta disciplina com este capítulo prático sobre a


aplicação do Sistema de Comunicação Alternativa no âmbito hospitalar, para ampliar
as possibilidades de uso deste recurso de comunicação alternativa.

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6 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ALMEIDA, P. M. A. A Comunicação Alternativa e Aumentativa, com alunos com


Paralisia Cerebral: conceções dos professores dos 2º e 3º Ciclos do Ensino Básico
dos Açores. Porto, 2015.

GROSKO, D.C. Comunicação Alternativa no Contexto Escolar. Paraná, 2016.

MANZINI, E. J. D. D. Portal de ajudas técnicas para educação: equipamento e


material pedagógico especial para educação, capacitação e recreação da pessoa com
deficiência física: recursos para comunicação alternativa. 2. ed. Brasília: [MEC,
SEESP], 2006.

NUNES, L.R.P. Favorecendo o desenvolvimento da comunicação em crianças e


jovens com necessidades especiais. Rio de Janeiro, Dunya: 2003.

PASSERINO, Maria Liliana, Maria Rosangela Bez (Org.). Comunicação alternativa:


mediação para uma inclusão social a partir do Scala, Passo Fundo, 2015. Editora:
Universidade de Passo Fundo.

SARTORETTO, Mara Lúcia; BERSCH, Rita de Cássia Reckziegel. A educação


especial na perspectiva da inclusão escolar. Recursos pedagógicos acessíveis
e comunicação aumentativa e alternativa. Brasília: Ministério da Educação;
Secretaria de Educação Especial, 2010.

SARTORETTO, M. L; BERSCH, R. Comunicação Alternativa. Assistiva Tecnologia


e Educação, 2022. Disponível em: https://www.assistiva.com.br/. Acesso em: 15 ago.
2022.

SOUZA, L.V. Caracterização da comunicação alternativa: um estudo entre


alunos com deficiência física em escolas de uma região do município do Rio de
Janeiro. 2000. Dissertação. (Mestrado em Educação) – Centro de Educação e
Humanidades, Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro.

VINCENZO, D. R et al. Reconecta: atendimento de pacientes sem comunicação


verbal. 1. ed. Barueri [SP]: Manole, 2020.

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