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ESCOLA, MEIOS DE

COMUNICAÇÃO

PROFESSOR-ALUNO

Acabar com o anacronismo da escola requer valorização do professor


e participação da comunidade

A professora doutora Maria Thereza Maria Thereza Fraga Rocco: Quan-


Fraga Rocco, da Faculdade de Educação da do fiz esse trabalho, que terminou em 1981,
Universidade de São Paulo, autora, entre não só os clichês e as frases feitas eram os
outros, de Linguagem autoritária, televisão e grandes problemas desses jovens, mas a fal-
persuasão, é a entrevistada deste número. ta total de domínio da linguagem escrita.
Professora especialista em Língua Portu- Isso não tem nada a ver com aquela história
guesa, sempre se preocupou com a lingua- de geração sem pensamento, simplesmente o
gem dos meios de comunicação, principal- que aconteceu foi que até 1977 não havia re-
mente da televisão, e com a educação de dação no vestibular, ou melhor, a redação
crianças e jovens; sua tese de livre-docência havia sido tirada do vestibular no período da
tratou da Linguagem da TV: uma gramática ditadura, e durante vinte anos, fim da década
da persuasão. A professora é referência obri- de 60 e quase toda a década de 70, não se es-
gatória para aqueles que estudam a inter-re- creveu mais na escola. Além de usar clichês
lação comunicação e educação. Participou e frases feitas, eles tinham uma dificuldade
do projeto TV Escola através da autoria do enorme de usar adequadamente conectivos
caderno e da série de vídeos Viagens de lei- do tipo porque, por isso, embora, no entan-
tura Atualmente, dedica-se a novos projetos, to, porém. As relações que eles estabeleciam
a pesquisa e à pós-graduação. não correspondiam às relações que esses co-
Por Roseli Fígaro nectivos estabelecem. Não foi dada, nessa
época, condição para que esses meninos
Revista Comunicação & Educação: usassem e dominassem a linguagem escrita.
No início da década de 80, um de seus tra- Eles tentavam escrever de forma a impres-
balhos acadêmicos demonstrou a existência sionar o examinador e acabavam criando um
de uma crise na linguagem de jovens vesti- texto com fugas, com desvios semânticos
bulandos. Essa crise foi caracterizada por dos termos, das frases, com contradições 1ó-
você pelo uso excessivo de clichês e frases gicas como, por exemplo: "Na folha em
feitas. Como poderíamos caracterizar a lin- branco, veio escrito o nome do meu amigo
guagem dos jovens dos anos 90? anônimo que assinou a carta".
74 Escola, meios d e comunicação e a relação professor-aluno

Analisei essas redações no vestibular linguagem, daquelas que vi em 78. Não co-
de 1978, havia um ano que a redação tinha mete erros de ortografia, é raro. Mas eles
sido reincluída na pauta do vestibular. têm muita dificuldade de desenvolver um
Depois disso, de tempos em tempos, fui tema. Ficam tangenciando a proposta.
analisando novamente as redações do vesti- Como se diz que os vestibulandos precisam
bular Fuvest. Ou seja, o Último trabalho que mostrar erudição, cultura, de repente pas-
fiz foi há dois anos, analisando as redações sam, esquematicamente, do tema para um
da Fuvest 96. Durante todos esses dezesseis exemplo de uma situação do presente, do
anos vi uma melhoria sensível no texto des- momento, da política, por exemplo. Os jo-
ses jovens recém-saídos da adolescência. vens vestibulandos dominam a modalidade
Isso não quer dizer que sejam bons textos. escrita num nível, que eu diria, que é sufi-
São textos que não se arriscam. Eles escre- ciente para eles se comunicarem por escrito.
vem coisas com começo, meio e fim.
A grande quantidade de, por exem- RCE: Você acha que a criatividade do
plo, clichês que encontrei na primeira vez, aluno é moldada pela fórmula que é dada
não encontrei mais nos anos seguintes. pelo próprio vestibular?
Problemas que aconteciam na ordem de Maria Thereza: São duas coisas.
38%, 39%, caíram para 5% nos anos poste- Primeiro, na medida em que eles melhora-
riores. Problemas de imprecisão por uso ram, percebe-se, por exemplo, que a escola
indevido de conectivos, que eram muito al- funcionou. Isso é uma coisa muito impor-
tos, caíram para 2%, 3%. Os graves proble- tante. Porque antes eles escreviam: "Eu
mas de escrita que encontrei em 78, fui en- gosto muito dele, embora ele seja o meu me-
contrando cada vez menos nos textos de lhor amigo", ao invés de colocarem o por-
85, de 90, de 94 e de 96. Tenho até uma pu- que colocavam o embora. Hoje esse tipo de
blicação da Fundação Carlos Chagas que coisa não acontece mais. A escola ensinou a
estuda comparativamente a escrita desses escrever, a estabelecer relações. Segundo,
jovens. Melhorou muito, mas não são bons um exame vestibular, de uma certa forma,
textos, porque raramente se vê um lance claro que limita, porque não tem como fazer
mais individual, um lance de maior ousa- diferente. Porque se for permitido que todos
dia de um deles. Isto porque, se eles ousa- façam o que quiserem de uma forma total-
rem, eles correm o risco de errar feio e de mente livre, não é possível avaliar. O vesti-
comprometer um texto que serve de avalia- bular tem de ruim essa característica de
ção para o vestibular. exercer, em certa medida, a função de cami-
Atualmente tenho analisado esses diá- sa de força do texto. Tem que ser um texto
rios de meninas adolescentes, esses que cor- dissertativo sobre um tema proposto. Em-
rem pela classe. Nesses diários, vê-se a es- bora o jeito de se fazer esse texto seja con-
crita de um texto muito mais rico. No entan- seqüência do que a escola propõe e do que
to, quando é para o vestibular, eles escrevem os cursinhos fazem.
sob medida para o examinador, para fazer a A escola funciona de duas formas: en-
dissertação. O texto do aluno para o vestibu- sinando o domínio da escrita e ao mesmo
lar não é o texto que corre na vida dele. É tempo cerceando uma escrita mais livre,
um texto produzido numa camisa de força. mais inventiva. Então a própria escola que
Procura fazer com que o texto tenha come- ensinou a escrever, cerceia em função de
ço, meio e fim. Não comete barbaridades de uma exigência do vestibular. A única coisa
Comunicação 82 Educação, São Paulo, [ I

que me preocupa é essa idéia escolar do que tua1 de alunos que, estando no terceiro cole-
seja dissertação. Penso que pode-se disser- gial, querem ir para a universidade. Eles
tar em primeira pessoa, pode-se dissertar querem o texto que o vestibular vai avaliar.
com relação a fenômenos próprios, por que Mas nada impede que a escola trabalhe ou-
não? A dissertação seria um exercício de re- tros textos.
flexão, de julgamento, de argumentação.
Mas, o modelo que se impõe é o modelo que
vai servir ao texto universitário logo mais.
Nesses termos, sem dúvida ela fecha um
pouco a possibilidade de o aluno ser criati-
vo. É preciso que se diga que ser criativo
implica um trabalho diuturno, cotidiano, de
escrever sempre, de escrever livremente. A
escrita livre, mais espontânea, é marginal à
escola, ainda que exista em função da pró-
pria escola. Esses diários de jovens que es-
tou analisando têm coisas magníficas. Profa. Dra. Maria Thereza Fraga Rocco: A TV também
pode educar.
Como têm também muita bobagem. São es-
critos confessionais. Têm muita cópia, rea-
RCE: Você acha que todo esse núme-
propriação de orações, sobretudo de igrejas
ro imenso de estímulos que nós temos hoje
evangélicas. E têm, ao mesmo tempo, a es-
em nossa sociedade, principalmente o dos
crita funcionando como catarse. Numa das meios de comunicação, podem ajudar a es-
agendas, na de uma menina que faz o curso cola? Qual é o papel, então, desses meios
de Magistério, há o registro de que ela es- na batalha pela educação?
crevia ali porque tanto o pai quanto a mãe Maria Thereza: Nunca houve tanta
eram analfabetos e, assim, ela não precisava riqueza com relação aos apelos extra-escola
se preocupar com eles, pois eles nunca le- como os que vêm pelos meios de comunica-
riam seus relatos. Ela estava escrevendo coi- ção. Tenho ouvido e tenho lido algumas crí-
sas muito sérias, muito importantes - do pai ticas ou manifestações preocupadas com o
sempre bêbado, da mãe muito sofrida e de computador, com a Internet. Vejo exatamen-
brigas e tapas na casa - com um texto forte, te o contrário.
vibrante, espontâneo, mas nunca poderia ser
um texto para o vestibular. São essas ques- A Internet trouxe o estímulo que antes es-
tões que não se sabe como resolver. São tava um tanto esquecido, o da necessida-
questões complicadas, não se pode avaliar de da escrita. Inclusive, porque os recur-
um texto como esse no vestibular. sos que o veículo permite usar nos chats,
nas conversas, vão fazendo com que a
RCE: Mas a escola pode abrir espaço. preocupação com a linguagem se torne
Não seria esse o espaço do conhecimento? cada vez maior. Com a linguagem que é,
Maria Thereza: Mas é claro. A esco- por sua vez, uma outra linguagem.
la acaba não fazendo esse tipo de trabalho
com o aluno porque ela tem que prepará-lo Se alguém me perguntar se o texto da Inter-
para o exame vestibular. É enorme o percen- net é escrito, direi que o canal de codificação
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é a linguagem escrita. Basicamente se tem balho. Não dá para comparar televisão com
um texto escrito, porém não é uma escrita escola. Não dá para comparar a atração de
como é a do livro ou do caderno. É um outro um luminoso com mensagens e desenhos e
produto. Diria que a Internet se mantém por um mapa. São coisas absolutamente incom-
meio de uma comunicação que é híbrida, re- paráveis. A escola é feita para um trabalho
sultado da mistura do oral e do escrito, mas sistemático. Mas, independentemente de ela
formatado, formulado sob os parâmetros da ser feita para um trabalho sistemático, a es-
conversação dialogal, que não é face a face. cola é anacrônica. Aí é que está o grande
Na Internet se usam, mais do que nunca, as problema, a escola fica no passado, ela de-
possibilidades das máscaras do verbal, reco- mora muito para incorporar coisas que são
brindo tudo o que se quiser. É um campo importantes, que façam com que fique à al-
muito rico de possibilidades, de desenvolvi- tura de seu próprio tempo. Acaba-se tendo
mento do imaginário, de liberdade, de vonta- uma escola que talvez ainda não tenha che-
de. Ainda que nunca se possa deixar de des- gado ao século XX. Enquanto se tem toda
tacar que a sua realização plena não se dá uma gama de estímulos que não têm nada a
pelo virtual, se dá pela relação pessoa-pes- ver com a escola, que são de outra natureza,
soa. Mas, pensando em termos de texto, mas que estão no século XXI. E isso é fatal.
nunca vi tantos jovens grudados em seus Deixar uma criança fazendo uma coisa
computadores escrevendo como agora. completamente fora do seu interesse e sem
Geralmente os que tenho encontrado são jo- se perceber daquilo é querer matar uma re-
vens de classe média. Lógico que, pensando lação pedagógica. Tem que se manter o que
na realidade mais abrangente de nossos jo- é clássico, o que é importante. Mas ao mes-
vens, não vamos encontrá-los com acesso ao mo tempo, tem que se tirar o ranço das coi-
computador, mas é uma coisa que tende a se sas. As coisas para serem clássicas, impor-
alastrar. O computador vai ser como a televi- tantes, para se manterem, têm que ser reno-
são. Daqui a pouco, por mais simples que se- vadas. Temos que mudar o jeito do trabalho
ja a casa, terá um computador. Tenho a im- da escola, porque senão realmente a escola
pressão de que logo mais o computador vai continuará com o pé no passado, tentando
ter esse tipo de presença. viver no futuro e não dá.
Pensando nos outros apelos, nos out-
doors, nos luminosos e em todas essas men- RCE: Como você acha que seria im-
sagens, o que vejo é que esses apelos são portante utilizar os meios de comunicação,
bonitos, são peças muito bem-feitas. Há um principalmente a televisão, em favor da
certo excesso. Com tanta informação circu- educação ?
lando no espaço urbano, acaba-se por não se Maria Thereza: Costumo dizer com
tomar conhecimento de nada. Porém, não se relação à televisão que seria importante
pode deixar de pensar que esses apelos, ele- pensar nos diferentes gêneros que são vei-
trônicos ou não, são a comunicação escrita culados. Não é qualquer coisa da televisão
que circula no meio social. Neste sentido, que pode ser utilizada na escola, essa é a
existe um anacronismo muito grande entre primeira questão que deve ser discutida.
essa realidade e a escola. Não que se tenha Segundo, pensar na televisão como um ob-
que comparar a escola com essas coisas, jeto, um veículo eletrônico, feito para infor-
porque a escola é o lugar formal da educa- mar, para educar no sentido abrangente do
ção. Ela tem que ser mesmo um lugar de tra- termo e para divertir, para relaxar. Mas tem-
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se que deixar muito claro que não é função perceber como é que se faz a notícia veicu-
precípua da televisão educar. Ainda que a lada pelos meios de comunicação. A teleno-
Constituição diga que ela deve trabalhar vela e até mesmo a publicidade são tipos de
com programas educativos, transmitir a cul- produtos que também podem ser aproveita-
tura local. Tudo isso é importante, mas edu- dos para um trabalho na escola.
car não é a função central da televisão. A es-
cola e a família é que têm essa função. A Televisão Educativa é diferente. Ela é fei-
Mas a televisão também pode educar. ta especificamente para ser acoplada a um
Ao falar de educação na televisão, refiro-me programa de educação. Mas, mesmo os
aos canais comerciais que têm segmentos programas educativos, genéricos ou não,
que produzem programas com alto teor edu- não podem violentar as características da
cativo e informativo, mas que não estão televisão, senão ficam insuportáveis. Ou se-
comprometidos precipuamente com a edu- ja, eles têm que veicular pequenas doses de
cação, como cabe à programação das emis- informação, têm que ter muita novidade e
soras chamadas culturais e educativas. A ter a linguagem do veículo.
Rede Globo, SBT qualquer das redes aber-
tas ou mesmo a televisão por assinatura, não Faço uma diferença entre o educativo peda-
têm o compromisso que a TV Cultura, a gógico, no sentido mais amplo e no sentido
TVE do Rio e as outras TV's educativas têm, didático, que é aquele que ensina, aquele que
ou seja, o de veicular programas educativos ajuda o trabalho em sala de aula; e o outro
como norma. como educativo mais genérico como, por
Há muita coisa na televisão comercial exemplo, o Castelo Rá-Tim-Bum, o X-Tudo
que pode servir à educação. Temos que co- entre outros. Eles educam com os princípios
meçar a saber olhar. Por exemplo, tem tele- maiores: a leitura é importante, o livro é im-
jornais. Se se gravar o Jornal Nacional, o portante, a não degradação do meio ambien-
Jornal da Record, o Jornal da Bandei- te, enfim, eles educam para uma visão macro
rantes, o Jornal da Manchete e se tomar a da vida no mundo. Há outros programas, co-
mesma notícia veiculada na TV e na im- mo O Mundo de Beakman, que trabalham o
prensa escrita, e o professor de História ou que chamo de didático-pedagógico. En-
o professor de Português trouxer para a sala sinam coisas que são feitas na sala de aula,
de aula esse material todo, fazendo com que brincando com a linguagem de televisão. É
os alunos comparem as notícias e percebam nessa direção que vêm os programas especí-
como elas foram enunciadas, eles vão co- ficos de educação na televisão: Um Salto pa-
meçar a fazer relações importantes: a refle- ra o Futuro, Telecurso 2000, todos esses são
tir, por exemplo, por que determinado dia, a específicos para se trabalhar em sala de aula.
Globo deu uma notícia e não falou tal coisa, Assim é toda a proposta da TV Escola, pro-
quando isso era o ponto principal da notícia. jeto desenvolvido pelo MEC e pela Unesco.
Por que o Paulo Henrique Amorim, na Ban- Todos esses programas usam a televisão pa-
deirantes, foi mais fundo na notícia e deu ra serem veiculados, mas têm como meta a
nomes e esclareceu, e em outra emissora is- educação stricto sensu, quer dizer, a educa-
so não aconteceu? Começa-se a trazer para ção na escola.
a escola a realidade do veículo de comuni- É preciso distinguir o que é educação
cação e a trabalhar sobre ele. Não é uma na televisão e o que é programa didático via
questão de leitura crítica, mas de começar a televisão. Vejo que quando se fala em edu-
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cação a distância, lança-se mão da mídia aluno, ou para quem quer que seja, aprender
eletrônica, sobretudo da televisão, para aju- a ler as imagens, a não ser que seja em um
dar a educação. Mas, paradoxalmente, não curso específico. Porque quando alguém fa-
vejo isso se realizando de uma forma muito la da novela e vai se referir ao capítulo do
satisfatória. dia anterior, ele não diz: "primeiro apare-
Porque um projeto de educação só ceu fulana com a roupa assim e de repente
funciona se ele envolver a comunidade. A apareceu o outro que estava com a roupa
comunidade, ou seja, a escola, a famíiia, o tal, e ai os dois entraram num carro de mar-
bairro, a cidade. Se não houver um envolvi- ca x e foram para a festa." As pessoas não
mento desses segmentos no projeto, tudo dizem isso, elas não se reportam diretamen-
pode ser maravilhoso, pode mandar para a te à imagem. Elas comentam as coisas que
escola a parabólica, os kits com vídeos, uma foram ditas: "ontem, na novela, chegou uma
grade de programação acessível com possi- hora em que o fulano disse para o outro tal
bilidade de gravar, de multiplicar, mas se coisa e aí o outro respondeu...". Quando se
não houver o engajamento da comunidade, trabalha uma telenovela, um telejomal, re-
fica tudo perdido. cupera-se a narrativa. A narrativa andou
meio por baixo, na época do Estruturalismo,
RCE: Você estava falando da possibi- e hoje descobriu-se que a narrativa é uma
lidade que a Znternet abre novamente para competência da mente, uma operação men-
a escrita. E a imagem na televisão? Nós, há tal do indivíduo. Então, o que mais fica des-
algum tempo, discutimos como os jovens, se visual (que no caso é diferente do cine-
especialmente as crianças, estão envolvidos ma) é a história que o visual contou. É essa
com a linguagem da imagem, o volume de a história apropriada pelo indivíduo. Ela
horas que eles ficam em frente à televisão não é recontada exatamente como foi feita.
etc. Não estaríamos criando, com esses É reorganizada pela lógica de quem viu, o
meios, novas formas de expressão que não qual reelabora a própria seqüência das coi-
são aproveitadas pela escola? Épreciso sa- sas, fazendo com que aquilo fique organiza-
ber usar esse instrumental que tem como do para ser relembrado, transmissível por
preponderante a imagem? Como é que você meio de textos verbais. Vai se contando o
vê isso? Como é que o professor vai enfren- que se viu, não o que aconteceu de fato.
tar esse problema na sala de aula? Conta-se a forma como se esteve envolvido
Maria Thereza: São muitas as ima- naquela situação. Organiza-se o que se viu e
gens que circulam na coletividade, pensan- ouviu linguisticamente, para relatar, relem-
do desde as que estão nos outdoors até as brar e fixar.
imagens a que as crianças assistem durante Não vejo como negativo o fato de se
três horas e meia por dia na televisão. Só ver tantas imagens. Negativa é a quantida-
que na televisão a imagem está sempre aco- de de tempo que uma criança fica em fren-
plada ao verbal. Têm-se imagens desprovi- te de uma televisão. Ela fica não só porque
das de verbal algumas vezes, por exemplo, gosta, mas por falta de outras opções. Isso
em comerciais, ou tem-se o verbal que des- é o que me irrita muito. Porque a criança
mente a imagem, ou seja, há uma relação não tem espaço para brincar, ela não tem
muito íntima da imagem com o verbal. segurança para ir às praças, às ruas e não
Acho que não dá para o professor, ou para o são só as crianças das cidades grandes, as
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cidades médias e hoje até as cidades me- ça fica vendo televisão e não estuda, a
nores já têm esses problemas. Isso atinge criança fica vendo televisão e não lê. Não
as crianças de classe alta, média e baixa, é bem assim. Aliás, quando falam da leitu-
fica todo mundo trancado dentro de casa ra digo que choram por um leite que nun-
assistindo à televisão. Existe uma falta de ca foi derramado. Porque se se pensar
opção, de contato lúdico com a realidade. quem é que lia tanto assim vai se chegar à
A criança não está perdendo a sua humani- conclusão que, até 1930, 60% ou mais da
dade porque vê televisão. Ela vê televisão população brasileira era analfabeta. Se nós
por falta de opção e sobretudo por falta de fizermos um exame de consciência corre-
consciência dos responsáveis de que se to, sólido, nas nossas próprias famílias,
não houver condição de as crianças terem pensando nos nossos tios, nas amigas das
mais segurança, mais liberdade, realmen- mães, nos avós, veremos que nas nossas
te, elas vão ficar com seu mundo mais fe- famílias não temos figuras de grandes lei-
chado; restrito a poucas escolhas. Tanto is- tores. Não temos essa tradição. Portanto,
so é verdade que hoje as novas praças pú- não podemos lamentar uma coisa que nun-
blicas, os ambientes de estar são os shop- ca tivemos. No caso da televisão, do com-
pings. As pessoas estão fugindo para os putador, eles vieram para resolver proble-
shoppings, porque lá tem lugar para sen- mas que a sociedade já sentia. Tem até
tar, lá se encontra a moçadinha da mesma uma coisa com a qual costumo brincar:
idade. Já se percebem os diferentes shop- que a maior invenção do século não é nem
pings acolhendo segmentos da população o computador, nem a televisão, é o telefo-
dos mais diversos. O shopping está substi- ne, invenção do século passado ainda.
tuindo o espaço público, o espaço aberto -- - -

que era um lugar de segurança, que era o Foi o telefone revisitado que permi-
lugar do encontro, o lugar da conversa. É tiu inclusive a ligação entre as redes, a
um novo espaço cultural que se cria na co- Internet. Quando o conhecimento ficou
munidade. É uma defesa, uma auto-defesa tão amplo, acontecendo ao mesmo tempo
da comunidade. As pessoas têm que se en- em tantos lugares, houve a necessidade de
contrar, têm que dar risada etc. Então, es- ligar tudo isso em redes, para se aprovei-
te tornou-se o espaço físico de produções tar esse conhecimento de alguma forma.
culturais novas, são novos laços culturais As coisas vêm como uma necessidade real
que acabam se estabelecendo. Houve uma e específica do grupo social. São novas re-
profunda mudança na sociedade', isso é lações culturais, são novos espaços cultu-
feito em função de necessidades do grupo rais que estão surgindo e a escola não se
social e não o contrário. Não foi a televi- apropria
- -
deles.
são que mudou os hábitos sociais. A vida
urbana está organizada de um outro modo RCE: Como é essa anacronia a que
e a televisão vem a calhar com esse novo você se referiu no início, da escola em rela-
modo de vida. Costuma-se jogar para a te- ção às necessidades sociais? Como a esco-
levisão os problemas do conjunto da so- la, no Brasil, pode continuar sem se abrir
ciedade. Os professores falam que a crian- para esses novos meios?

1. Ver sobre o assunto: MARTÍN-BARBERO, Jesús. Comunicação plural: alteridade e sociabilidade. Comunicação &
Educação. São Paulo: CCA-ECA-USPI Moderna, n.9, maiolago., 1997. p.39-48.
80 Escola, meios d e comunicação e a relação professor-aluno

Maria Thereza: Em primeiro lugar da não aconteceu o que tinha que acontecer.
acho que existe uma falta de compreensão, Existe uma falta total de definição do pró-
tanto de quem ensina quanto de quem prio espaço, de quem é aquele lugar, de
aprende, sobre as relações que se dão em quem é a escola? Por que ele é tão depreda-
uma instituição como a escola. Não consigo do? Por que ele é tão aniquilado? Seja por
ver a escola enquanto ela não for um proje- pessoas de dentro, seja por pessoas de fora.
to social de um grupo, do qual participem o O que está acontecendo é que não há mais
professor, os alunos; como era antes. Não aquela relação de gostar e de respeitar a es-
era um passado perfeito, mas a memória de cola. As igrejas também perderam isso. As
uma outra relação que já existiu na escola. igrejas têm que ser fechadas, trancafiadas,
Hoje se tem a escola pública e a privada, para não serem depredadas, saqueadas etc.
aquela que é do governo e aquela que não é. Eu não saberia dizer como resolver, porque
O índice de alienação das relações que se os problemas são muitos e muito grandes.
dão na escola são demonstrados pela violên- Mas, que há falta de investimento, isso
cia que vem acontecendo. As escolas são há. Para mim a chave de tudo isso é o pro-
prisões, têm grades em tudo, as escolas são fessor. Se não se investir na formação do
totalmente pichadas. Para ir ao banheiro, professor e não se valorizar a carreira do
tem-se que ter chave, as escolas e as biblio- professor, não tem saída. De algum ponto a
tecas resumem-se a grades, de cima a baixo. coisa tem que começar.
As coisas ficaram tão indefinidas, que as es- Quando digo investir e valorizar, não é
colas públicas viraram território de nin- só a questão financeira, é questão de valores
guém, onde as crianças vão para serem pu- profissionais, éticos etc. Por exemplo, sabe-
nidas; onde os professores vão para serem se de experiências acontecendo nos lugares
mal pagos, mal-aproveitados, para cumprir mais longínquos desse Brasil, em situações
uma tarefa ingrata. precárias. Está havendo, então, um total de-
sencontro. O professor que vai para a esco-
Particularmente no Brasil houve um la não tem formação suficiente. Porque ele
abandono total da relação com a escola. não tem formação, trabalha mal; porque tra-
Não se tem a menor condição de preparo balha mal, ganha muito pouco; porque ga-
do professor. A criança está lá fazendo nha muito pouco, não valoriza o pouco que
coisas que são anacrônicas; esse profes- faz e porque ele não valoriza, quem recebe,
sor, que não está preparado, não tem con- os alunos com quem ele tem que interagir,
dição de fazer diferente. O livro didático estão pouco se lixando, porque aquilo que
é um mito que nunca chega e, se chega, vem também não tem o menor sentido.
vem atrasado. Há um desprestígio de tudo, porque a
escola está anacrônica, e o que fica anacrôni-
No final do mês de maio deste ano estava co fica embolorado, vai apodrecendo. As es-
numa banca examinadora de pós-graduação colas de hoje são cadáveres mantidos vivos.
de uma professora que leciona no Estado do As relações, os espaços culturais já não exis-
Piauí. Ela disse que os livros didáticos ain- tem; ali não se faz nada, a não ser a baderna
da não haviam chegado lá onde ela leciona. total. São ameaças. Agora, estava vendo na
Nós estaríamos quase no meio do ano leti- televisão, as escolas vão ter um ou dois guar-
vo, quando o livro tem que estar na escola das. Pode ser que isso bloqueie um pouco a
em fevereiro. Melhorou um pouco, mas ain- agressividade externa, momentaneamente, e
Comunicação & Educação, São Paulo, [ 131: 7 3 a 88, set./dez. 1998 81

quanto ao fato de o próprio aluno querer que- como lugar que propicia a possibilidade de
brar as coisas que são dele? Por que ele não um futuro melhoc de ascensão social?
faz isso com suas próprias roupas, com o Maria Thereza: Lembro-me de que
shopping? Porque tem uma regra estabeleci- quando estudei na escola pública, era uma
da, existe uma troca: "venho aqui, aqui eu glória estudar lá, final de 50 e começo de 60.
me divirto, é daqui que eu gosto". Tenho a Mas eram poucas as pessoas que íam, por-
impressão de que onde eles dançam, onde que a maior parte dos excluídos continua-
eles se divertem, eles respeitam muito mais; vam na lavoura, trabalhando desde peque-
não por falta de educação, é porque naquele nos. A garantia de escolaridade mínima para
espaço estabelecem-se relações que dialo- todos fez com que, de repente, a escola pú-
gam com eles. E os espaços escolares, de blica não conseguisse manter quadros.
uma forma geral, não interagem mais com Houve um arrombamento.
nada. O professor não interage mais com os
alunos, os alunos entre si não interagem. Há No começo da década de 60, quem ia
uma porção de equívocos, num espaço de para a escola pública tinha ali a possibili-
profundo sofiimento. E, ao mesmo tempo, dade de crescer, "ser alguém na vida", co-
existe aquela necessidade de os pais dizerem mo se diz. Hoje realmente a história do
que seus filhos estão na escola e eles têm que "ser alguém na vida" está muito complica-
estar mesmo. A escola formal é fundamental. da para todo mundo, e para os excluídos,
Mas ela tem que ser repensada. Há um ano então, nem se fala.
mais ou menos houve uma avaliação na
Secretaria de Educação do Estado de São Tenho a impressão de que houve um
Paulo e os projetos escolares que tiveram me- crescimento necessário, mas sem qualquer
lhor pontuação foram aqueles desenvolvidos estrutura. É uma questão quase que de Física.
em cidades pequenas, onde havia um envol- Na Física você diz que dois corpos não ocu-
vimento do grupo e da comunidade. Mãe e pam, ao mesmo tempo, um só lugar no mes-
pai participando, mutirão, porque é preciso mo espaço. Abriu-se a escola para todos, e ti-
envolver as pessoas. Por isso, por exemplo, nha que ser aberta mesmo, mas não se fez a
os projetos e os produtos de ensino a longa contrapartida da preparação de um quadro de
distância, que são de ótima qualidade, só aca- professores, de se manter a coisa numa esca-
bam tendo boa repercussão nas comunidades la minimamente aceitável. Criou-se essa ilu-
onde há participação efetiva. Caso contrário, são, na época era até verdadeira, de que, ten-
não há envolvimento, não há troca, não há do-se acesso à escola pública, tendo acesso à
diálogo. Esse material chega e o pessoal nem universidade, normalmente se teria um lugar
quer saber por que ele está lá. ao sol. Isso hoje acabou, porque há uma cri-
se na educação e nas próprias relações pes-
RCE: Fala-se muito da importância soais. Mas há também uma crise da socieda-
do currículo oculto - realidade socioeconô- de. Afinal, você vai estudar para fazer o quê?
mica, nível de escolaridade dos pais e da fa- Para trabalhar onde? Tenho a impressão de
mília - na formação do aluno. A medida que não é só um problema de fim de século
que a escola pública foi se tornando um es- ou de milênio. Tem que haver um requestio-
paço de segregação só de um nível socioe- namento, não só desses novos espaços so-
conômico (porque os outros níveis foram ciais e culturais, mas também um questiona-
para a escola particular), como pensá-la mento dessa própria coisa chamada escola.
82 Escola, meios d e comunicaçao e a relação professor-aluno

RCE: O governo federal tem tomado to importante. Sou das que não desprezam a
algumas iniciativas na reformulação do en- gramática tradicional, ela foi a única que
sino básico. Uma entre elas é a dos Parâ- sistematizou fenômenos, que deu nome às
metros Curriculares Nacionais. Qual a sua coisas, mas tem-se que colocá-la em seu de-
opinião sobre eles, principalmente no que vido lugar. Os Parâmetros respeitam muito
se refere à Língua Portuguesa? Como eles as variáveis regionais, a geografia linguísti-
enfrentam a diversidade cultural e de reali- ca de cada lugar, inclusive as formas, os fa-
dade dos estudantes e dos professores bra- lares locais. Isso é muito impoi-tante, desde
sileiros? que se garanta na escola o ensino da norma
Maria Thereza: Conheço bem os Pa- culta. Porque, há cerca de vinte anos, houve
râmetros Curriculares Nacionais de Língua aquele equívoco brutal, que todo mundo po-
Portuguesa. Considero que está sendo feito dia falar e escrever da maneira que quisesse
um esforço para se ter, com relação ao estu- e foi uma terra de ninguém. A escola deve
do de língua, uma atitude contemporânea. respeitar a criança que fala nóis vai, nóis fi-
ca, nóis tem e ensinar para ela que deve fa-
Os Parâmetros contêm indicações para se lar de outro jeito, mas que ela deve respeitar
seguir e adaptar. Têm um espaço muito o avô e o pai que continuam falando assim,
grande para que as culturas locais sejam e percebo que nas propostas dos Parâmetros
valorizadas. E isso já começa a repercutir isso existe.
nos livros didáticos. No geral, vejo os Outra coisa que está na proposta, de
Parâmetros como uma proposta boa. que gostei muito, é de trabalhar com todos
Vejo que, apesar de serem parâmetros os textos que circulam no grupo social. O
nacionais, contemplam, no caso do aluno, texto de outdoor, o texto da tabuleta, o tex-
os valores locais. to da bula do remédio, o texto do rótulo da
maizena, o texto da lata de tomate. Assim se
Há propostas de trabalhos muito interessan- começa uma relação de realidade com a es-
tes. Recuperação de memória, entrevistas cola. No entanto, entre a proposta e como
com os mais velhos, por exemplo, sobre mi- ela será implementada há uma distância, e
tos que correm na cidade, sobre lendas, can- isso não sei como se realizará. Os
ções; a recuperação de provérbios, tudo o Parâmetros pegaram o que havia de bom nas
que seja específico de uma região. Enfim, propostas pedagógicas anteriores e impri-
possibilitam uma forma inteligente de se miram a característica de sermos uma na-
trabalhar. Agora, como serão implementa- ção, respeitando sua imensa diversidade. É
dos, não sei dizer. Porque uma coisa é dizer importante que a criança do Nordeste mais
para o professor o que fazer e outra coisa é longínquo conheça um poema, mas que, ao
formar um professor que saiba fazer. As mesmo tempo, conheça a produção do can-
propostas dos Parâmetros são muito satisfa- tador de desafio da cidade dela. É importan-
tórias, só tenho medo de que os temas trans- te que ela ache bonita a história da fada, mas
versais fiquem muito forçados. É necessário é importante também que valorize a história
deixar claro que a transversalidade precisa que o avô contou. Tanto isso é importante
ser espontânea. Uma das coisas boas que vi que até aquela propaganda do McDonalds
é a de não se utilizar poemas para ensinar toma como mote a lenda da mula-sem-cabe-
gramática. Colocaram a gramática tradicio- ça. Veja, como é que de repente uma empre-
nal no seu devido lugar, que é um lugar mui- sa que é super multinacional, da qual você
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come o mesmo sanduíche aqui e em Paris, por exemplo, dos processos de atravessa-
que nivela todos os paladares da mesma for- mento que acontecem na merenda escolar
ma, produz uma peça publicitária dessas? são antigos. Na verdade, existe todo um jo-
Quem criou isso mostrou-nos que é preciso go político que dificulta a resolução dos
integrar na cultura aspectos que são pró- problemas da escola.
prios da cultura local.
RCE: Você citou os vídeos Viagens de
leitura. Queria que você falasse dessa expe-
riência. Como a televisão e a antena para-
bólica vão ajudar a melhorar a qualidade
do ensino? Esses instrumentos podem tam-
bém melhorar a qualidade do trabalho dos
professores? Estou me referindo ao projeto
TV Escola2, que é uma iniciativa do MEC e
que você tem ajudado a desenvolvel:
Maria Thereza: Sem dúvida acho que
a televisão e a antena parabólica podem aju-
dar muito, mas elas sozinhas não podem na-
da. Com a televisão e a parabólica se conse-
:aderno Viagens de leitura mostra as muitas faces do mundo
guem resultados incríveis, infinitamente
leitura. melhores, de melhor qualidade. O projeto
da TVEscola em si é belíssimo. Tive a opor-
É preciso que se estude, caso a caso, as tunidade de participar da série Viagens de
experiências educacionais positivas das pe- leitura e tive a oportunidade de ver também
quenas comunidades no Estado de São as pessoas que fizeram as outras séries. A
Paulo e de todo o Brasil. Eu mesma tenho série de Português, a série de Ciências, de
exemplos, porque quando fizemos Viagens História, enfim, boa parte de todas elas. O
de leitura, fizemos locações em Sergipe, no cuidado, a preocupação e o nível de forma-
Maranhão, na Bahia, no Rio Grande do Sul, ção desses profissionais é excelente. Todos
quer dizer, temos registros de coisas boas têm uma sólida base teórica, pensando nu-
sendo feitas em vários rincões do Brasil. ma situação de sala de aula, sem nunca
Não devemos achar que somos o centro do esquecer a linguagem da televisão. São pro-
país. São Paulo está perdendo a sua hege- dutos de alto nível e é fundamental ter a te-
monia industrial e em termos de cultura ins- levisão, a parabólica e bons produtos para
tituída também. Os centros estão se espa- serem veiculados. Do outro lado temos a
lhando. São muitos centros. Vai-se para questão: esses produtos são adequados aos
Fortaleza e vê-se uma iniciativa linda, vai-se professores, num país enorme como o
para o Rio Grande do Sul e vê-se outra, têm Brasil? São. Tanto são que temos relatos de
iniciativas muito boas acontecendo. As ten- experiências de lugares dos mais longín-
tativas de mudanças existem no país todo, quos, em que o professor resolveu usar e es-
mas é muito difícil mexer com a quantidade tá dando certo. Só que a resposta, do meu
de pessoas que a escola envolve. A questão, ponto de vista, em termos quantitativos, não
2. Ver sobre o assunto: F~GARO,Roseli. Projeto TV Escola. (Entrevista com Isa Grinspum Ferraz). Comunicação &
Educação. São Paulo: CCA-ECA-USPI Moderna, n.6, maiolago., 1996. p.49-62.
84 Escola, meios d e comunicaçáo e a relação professor-aluno

é satisfatóna. Porque penso que um dos pro-


Acredito sim que a parabólica e a televi-
blemas mais graves é a falta de envolvimen-
são são fundamentais, não dá para passar
to das escolas e dos professores no próprio
sem elas, mas para que elas exerçam o
projeto. Eles recebem a parabólica, recebem
papel que podem exercer, para que aju-
a televisão e não sabem bem o que fazer
dem o ensino é preciso sensibilizar a co-
com aquilo. Não sabem usar o vídeo. Há
munidade escolar. O ensino não acontece
uma grade que repete os programas e esses
na fita, na parabólica, na televisão, o en-
programas têm que ser gravados, na escola,
sino acontece é na sala de aula.
para serem usados. Mesmo que você mande
fitas prontas, que a programação não preci-
se ser gravada, essas fitas acabam ficando Essa sensibilização é para isso. Caso
nas gavetas. Há escolas que sequer desen- contrário, fica assim: dever cumprido, fize-
caixotaram todos os materiais. Então, o que mos vinte projetos. Qualquer grupo de ava-
é preciso fazer? Do lado de cá, que seria a liação vai dizer que eles são de alto nível.
produção dos projetos, eles estão sendo fei- Sei que eles são recebidos e são utilizados
tos. Teríamos que ter a contrapartida que se- com sucesso por alguns, mas a escala nacio-
ria a adesão, a movimentação, a interação nal desse uso não corresponde à quantidade
com as comunidades. Acredito muito nesse de professores existentes. A menos que eu
projeto que a Ruth Cardoso, faz do Comu- esteja enganada, a resposta não é satisfató-
nidade Solidária. Pode ser que os resultados ria. Se não houver essa sensibilização no
não sejam em escala enorme, mas são resul- sentido de criar um espaço de participação
tados mais amplos, porque existe envolvi- coletiva, se não se fizer isso, as coisas fica-
mento das duas partes. Não acredito em rão até piores do que estão. Acho que a edu-
projetos unilaterais. Por melhor que tenha cação tem que ser pública sempre. Não su-
sido esse do qual participei, repito, ele é porto o que vem acontecendo com a nossa
muito bem-feito, muito bem-elaborado, universidade pública. Esse descaso total das
muito bem-concebido, mas se paralelamen- entidades governamentais, compostas justa-
te não houver um trabalho junto à escola, o mente por pessoas que são formadoras de
professor que não sabe o que é aquilo, não professores; se fosse um outro tipo de gente
sabe utilizar aquilo pedagogicamente, não que estivesse no governo dava até para en-
sabe gravar e, às vezes, não tem a disponibi- tender, mas do jeito que está acontecendo
lidade do horário para estar ali gravando, não. Mas voltando à pergunta, se não hou-
não vai se engajar. Tem que ter, na escola, ver isso não se consegue nada. Não adianta
alguém encarregado de gravar os programas apenas mandar o computador para a escola
que passam na TV Escola. Tem que ter al- se ninguém sabe mexer. Temos sim que dar
guém, por exemplo, que catalogue as fitas todas as ferramentas mas, sobretudo, esta-
de História, de Matemática, de Português; e belecer o vínculo da co-responsabilidade do
é preciso ter duas, três cópias, porque mais interesse, porque não adianta mandar nada
de um professor pode querer usar ao mesmo se a pessoa não está envolvida. A questão do
tempo. Se não houver um trabalho de infor- envolvimento para mim é fundamental. E
mação, de relação bilateral, se isso não for esse envolvimento se traduz em diálogos,
feito, não adianta nada o projeto. Só dessa em conversas e na troca de interesses.
maneira o professor vai perceber que esse Pessoas se aproximam umas das outras por
material o ajuda a dar as aulas. interesses, no sentido do envolvimento; se
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não se tem isso, divorcia-se do parceiro. Se de ler é alguma coisa trabalhosa. O prazer
não houver uma aproximação das duas par- está justamente no entender as coisas, atri-
tes, nós vamos continuar fazendo projetos, buir significados, desvendar realidades.
sendo um país tecnologicamente, tecnica- Pensamos num esquema em que quase todos
mente adiantado em termos do que produz, os vídeos proporcionassem a impressão de
mas sendo um país retrógrado em termos do uma pequena viagem a momentos imaginá-
que não realiza com o que produz. Jogando rios, contatos com outras realidades efetivas
comida fora, jogando fora projetos bons, fa- e que propiciassem a leitura e a contraparti-
zendo comida apodrecer antes de chegar ao da da escrita, e que tudo se fizesse coletiva-
seu distribuidor, o livro didático chegando mente. Com relação a isso, pensamos nessa
seis meses depois de começado o ano letivo. série de quinze vídeos como um processo de
Sei que é fácil falar e que é muito difícil fa- leitura e escrita.
zer. Sei porque já estive em cargos de dire-
toria de comissões importantes na universi- Ditado ao professor é uma das séries que
dade e para conseguir andar um milímetro, trabalha com crianças que mal sabem ler,
demora-se anos. Mas acho que esses meca- ou que estão começando a ler. Elas contam
nismos têm que começar a ser ativados. uma história para o professor, e o profes-
sor escreve na lousa exatamente como elas
RCE: O que é, na realidade, o proje- ditaram. Aí eles próprios vão lendo e vão
to Viagens de leitura? Em que se constitui, corrigindo, reelaborando o recado coleti-
o que esses vídeos trazem de proposta para vamente. A proposta é que eles transfor-
o professor trabalhar em sala de aula? mem aquele registro do ditado oral num
Maria Thereza: O nome Viagens de texto escrito. Eles próprios vão perceben-
leitura não foi dado por mim, o projeto já do as transformações.
veio batizado pela TV Escola, exatamente
porque se pretendia, primeiro, que abran- Uma outra coisa que se pensou, por
gesse o país inteiro e, segundo, que houves- exemplo, foi trabalhar com provérbios e dita-
se possibilidade de uma viagem do imaginá- dos populares. E aí a proposta exatamente
rio das crianças. E o objetivo da proposta da era essa de a criança recolher na comunida-
série Viagens de leitura é que o material ser- de provérbios que vinham do avô, das pes-
visse como apoio didático ao professor e soas mais velhas e aí destrincar isso. Outra
fosse também um material de envolvimento coisa que foi muito interessante, durante a
das crianças. Eu e o cineasta José Roberto produção do vídeo, foi que diferentes crian-
Torero - um ótimo ficcionista, adorei traba- ças trouxeram os mesmos provérbios de ma-
lhar com ele - começamos a criar a série: eu neiras diferentes. Eles mesmos davam muita
escrevia e ele a pensava como realizar em risada. Depois eles escreviam uma histori-
vídeo aquilo que estava no papel. nha, mas tudo isso com brincadeiras, e liam
Pensamos em várias situações de lei- as historinhas que fizeram a partir dos pro-
tura. Uma primeira seria o contato com a bi- vérbios. O conto de fadas, por exemplo, apa-
blioteca e com o livro. Como é a relação rece para eles em diferentes suportes, ou em
com o livro, como é a biblioteca. Estava livrinhos, ou em CD, fitas, ou em séries co-
muito assustada com essa história de se fa- mo as da TV Cultura, que tinham todos os
lar do prazer de ler, o ler por prazer, que fi- contos de fadas, séries produzidas pela BBC.
cou um negócio muito banalizado. O prazer Propusemos que, no meio de uma situação, a
86 Escola, meios d e comunicação e a relaçao professor-aluno

professora contasse um pedacinho da histó- RCE:O que é o professor hoje e o que


ria, depois que eles lessem no livrinho e ve- era o professor de dez, vinte anos atrás?
rificassem como é que foi, se estava diferen- Guillermo Orozco diz, em entrevista a
te do que a professora havia contado e o que Comunicação & Educação número 12, que
tinha de diferente. Propusemos que eles ou- ele entende que o grande desafio é o de se
vissem o mesmo trecho na fita, no CD e as- construir uma pedagogia para os meios de
sistissem no vídeo àquele mesmo pedaço. Os comunicação. Como você entende esse pro-
pequenininhos faziam comparações lindas, blema da formação do professor e como vo-
entre o que tem de diferente no ouvir uma cê vê a proposta de Orozco?
história, no ler uma história e no ouvir pela Maria Thereza: Concordo sobre a ne-
fita e no ver pela TV. Eles começam a perce- cessidade de se ter uma pedagogia voltada
ber as diferenças, porque eles mexem com para os meios. Sim, o professor tem que sa-
vários produtos culturais, o livro, o disco, ober lidar com os meios. Mas acho que antes
vídeo, a oralidade. Recuperar essa oralidade dessa pedagogia voltada para os meios, é pre-
antiga, da memória da história e de algumas ciso uma ampla relação pedagógica, uma for-
variantes que apareciam na história, foi mui- te relação professor-aluno. Você me pergun-
to importante. Considero esses vídeos, como tou uma coisa muito interessante: será que o
também os das outras séries, muito bonitos, professor de hoje, que forma nas universida-
muito bem-feitos. Há vídeos com inserção des, é o mesmo professor de antes? Digo
de vinhetas com outras linguagens, como que não. Atualmente quem vem para a uni-
quadrinhos, por exemplo. Como produto, versidade para ser professor vem de um nível
considero que o trabalho foi muito bom. Eles socioeconôrnico diferente. Muito mais dos
vêm preencher um espaço que nenhum livro níveis B e C do que A e B, como era antiga-
didático preenche: que é o de utilizar os veí-mente. A função de professor deixou de ser
culos da contemporaneidade. É uma relação exercida por pessoas que tenham mais estofo
com o concreto, pautada em conceitos teóri- cultural, não estou menosprezando, é uma
cos muito sólidos. Mas tudo isso nunca vai realidade a ser constatada. Por outro lado, o
substituir a relação com o professor. professor que se forma acaba não tendo inte-
resse em permanecer na profissão. Está acon-
Todo veículo: a parabólica, a televisão, a tecendo um aviltamento da profissão. Lem-
série Viigens de leitura e qualquer outro bro-me que há um ano ou dois, tínhamos
sempre têm que ser vistos e trabalhados uma moça na turma de Prática de Ensino que
como suportes. Eles nunca podem ser pen- era soldado da Força Pública e estava tenni-
sados para tentar substituir a relação pes- nando Letras. Ela tinha uma dúvida atroz: se
soal, porque essa relação é insubstituível. deixava o emprego como soldado da Força
Pública, ou se continuava dando aula. Um
Vejo o projeto Viagens de leitura e todos os dia ela me disse: "Thereza, eu já me decidi,
outros vídeos das outras séries como auxilia- vou terminar a licenciatura, mas continuarei
res riquíssimos. Eles auxiliam o professor como soldado". O pessoal da classe começou
que quer fazer um trabalho mais dinâmico. a querer saber o porquê e ela explicou:
A aula passa rápido, as crianças se interes- "Porque, por exemplo, se eu tenho alguma
sam. Mas o professor precisa saber que o falha, sou punida, tenho até reclusão. Minha
material existe, ele tem que saber usar e se reclusão é ótima. Tenho boa comida, leio
interessar. Ser mobilizado para saber usar. meus livros da faculdade, então, a minha re-
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clusão é satisfatória. Sou muito mais respei- deve saber produzir um texto criativo, mes-
tada fora e dentro do quartel do que qual- mo que, em seu trabalho, só se exija dele
quer professor que esteja em sala de aula". disciplina e que saiba operar repetitiva-
Tem que ter uma pedagogia para os mente uma máquina?
meios, sim, mas desde que o laço, a relação Maria Thereza: Essa relação que se
pedagógica primeira, original, que é entre acopla à escola, o sucesso e a progressão no
professor e aluno, sala de aula e professores, trabalho, realmente vem da Revolução
exista. Respeito muito o Orozco, mas acho Industrial. Por isso, defendo, com unhas e
uma pedagogia para os meios secundária, dentes, que o primeiro e o segundo graus
no caso do Brasil, quando a primeira rela- têm que ser generalistas. Acho um equívo-
ção já não existe. Como posso ensinar a ex- co o contrário, tanto é que a tentativa de fa-
plorar um vídeo se o futuro professor não zer uma escola de segundo grau profissio-
sabe absolutamente nada de Português? Não nalizante deu no que deu. Há coisa de quin-
tem formação, não conhece a disciplina. ze anos, por aí, o pessoal saía com um di-
Como é que ele vai explorar os meios? Acho ploma de técnico de laboratório e isso nun-
que essa relação com os meios é sempre se- ca adiantou absolutamente nada. Acho que,
gunda. Segunda, não no sentido de que ela ao mesmo tempo, não dá para deixar de se
seja descartável, nunca, ela é fundamental. preocupar com isso. Porque as pessoas fi-
Mas é segunda na medida em que existe cam estudando e, depois de se formar, vão
uma relação primeira, que é uma relação
fazer o quê? Esse pensamento, essa visão
pessoal do professor com seus alunos.
pragmática da vida, essa necessidade de so-
Assim como a escrita é segunda em relação
brevivência acaba falando muito alto.
à oralidade. Não dá para se estabelecer uma
pedagogia para os meios se não tiver uma
A escola não tem que profissionalizar, ela
pedagogia de fato, uma relação entre quem
ensina e quem aprende. Se não houver isso, tem que formar amplamente. Ela tem que
corre-se o risco de se cair numa tecnologia formar para abrir a pessoa para o conhe-
vazia, barata. Acho que nenhum meio de co- cimento. Para as grandes questões episte-
municação social, por mais competente que mológicas de seu tempo, na medida do seu
seja, substitui a relação pessoa-pessoa, crescimento. Não pode ser só profissiona-
aquela que o professor deve ter na escola. lizante. Mas, é muito difícil que se consi-
Da mesma forma que jamais se conseguiu ga, hoje, se dissociar uma coisa da outra.
que uma criança aprenda a falar só ouvindo
e vendo televisão. Porque a relação primei- Com relação à qualidade de escrita de um
ra não foi estabelecida, a criança tem que trabalhador que vai dedicar-se a trabalhos
ver a pessoa, seja ela mãe, seja quem for, a braçais e repetitivos, penso que a escola de-
relação pessoa-pessoa é insubstituível. São ve formá-lo para tentar tornar essa atividade
relações inalienáveis. Ainda que existam os repetitiva menos penosa. Porque na medida
bebês de proveta, o ato primeiro, o ato fun- em que se abre o imaginário de um indiví-
dador, ele está na base de todas as coisas. duo para que ele possa pensar em coisas
RCE: Educar para o trabalho tem si- criativas, vai-se dar a ele a chance de poder,
do um subtexto de muitas iniciativas gover- talvez, escapar desse tipo de emprego repeti-
namentais e dos meios de comunicação. O tivo, do apertar botões, de virar alguma coi-
que você pensa sobre isso? O trabalhador sa para o lado esquerdo. A única chance de
88 Escola, meios d e comunicaçáo e a relação professor-aluno

se fazer com que uma pessoa escape de uma No caso da universidade, é preciso dar
profissão absolutamente degradante é ela ter um tempo maior de reflexão a ela. Nada es-
uma imaginação aberta. É ela poder fazer tá acontecendo para permitir que a universi-
perguntas novas a situações antigas; o gran- dade amplie esses espaços de reflexão. Na
de pulo do gato está nisso. Quando você dá medida em que um professor universitário
uma educação mais ampla, que deixa o indi- fica oprimido por um salário pequeno, tem
víduo sonhar, que deixa voar o seu imaginá- que se subdividir e tem ameaças constantes
rio pessoal, ele pode ser aquela pessoa que à sua integridade de pensamento fica muito
dará os saltos qualitativos para as inovações difícil. Fico muito preocupada com o estado
necessárias. Não digo que todos darão, mas atual das universidades públicas. São gran-
essa possibilidade deve ser dada pela escola. des universidades. Estou vendo coisas irem
Esse trabalhador vai, talvez, fazer as novas embora, assim, de uma forma banal, quando
perguntas que precisam ser feitas. Então, se isso nunca poderia acontecer.
as situações não mudam, nós temos que per- A universidade precisa de um espaço
guntar, inquerir essas situações de um jeito de reflexão que não tem um tempo marcado,
novo. Só se consegue fazer perguntas novas que não tem uma data fixa. Ela precisa ter
com uma mente mais aberta. Com uma men- liberdade e tempo para que se possa especu-
te mais criativa. É essa mentalidade que per- lar. Para poder formular perguntas novas pa-
cebe mais adiante. Todos os saltos qualitati- ra coisas que são ditas tão comumente.
vos, quando ocorrem, são dados por pessoas Portanto, mesmo aquele que faz o trabalho
que tiveram a oportunidade de ser mais li- repetitivo precisa ter o direito a uma forma-
vres no seu pensamento. ção aberta e a escrever um lindo texto.

Resumo: A professora da Faculdade de Abstract: Faculdade de Educação of Universi-


Educação da Universidade de São Paulo Maria dade de São Paulo professor Maria Thereza
Thereza Fraga Rocco fala em sua entrevista so- Fraga Rocco, on interview, talks about the
bre a redação de vestibulandos e os problemas composition of students aplying for college
mais frequentes desses jovens com a Língua and the most frequent mistakes done by those
Portuguesa. Destaca a importância dos meios students o n Portuguese. She emphasizes the
de comunicação na escola e como diferentes ti- irnportance of the means of communication in
pos de programas de televisão podem ser tra- school and h o w different types of TV pro-
balhados pelos professores. Maria Thereza fala grams can be used by the teachers. Maria
também sobre sua experiência na produção da Thereza alço speaks about her experience in
série de vídeos Viagens de leitura, que fazem the production of the video series Reading
parte da grade de programação da TV Escola, trips that are a part of TV Escola's program-
projeto de educação a distância desenvolvido ming, a distance learning project developed
pelo MEC, para professores e alunos do ensino b y MEC, (or the Culture and Education
fundamental. Trata, ainda, do abandono em Ministry) for elementary school teachers and
que se encontra a escola pública e da necessi- students. This is, still, the disregard that the
dade da valorização do professor e da comuni- public school is subjected to and it reflects the
dade como fatores prioritários para se resgatar need t o value t o teacher and the community
a qualidade de ensino e pôr fim ao anacronis- with priority factors in order to make quality of
m o em que se encontra a nossa escola. teaching resurface and t o put an end t o the
anachronism that our schools are in.
Palavras-chave: Maria Thereza Fraga Rocco,
Viagens de leitura, NEscola, educação a distân- Key words: Maria Thereza Fraga Rocco,
cia, programas educativos, relação pedagógica Reading trips, teacher, community, TV Escola

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