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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA

Bacharel publicidade e propaganda

Maria Clara Ribeiro Soares

Resenha crítica acadêmica


Livro “Latim em pó: um passeio pela formação do nosso português”

BELO HORIZONTE
2023
RESENHA

WALDRIGUES, Caetano Galindo. Latim em pó: um passeio pela formação do nosso


português, São Paulo, SP: Editora Companhia das Letras, 2022, 232 p.

Maria Clara Ribeiro Soares

Pontifícia Universidade Católica, Minas Gerais, MG, Brasil

A obra "Latim em Pó: Um Passeio pela Formação do Nosso Português", escrita por
Caetano Waldrigues Galindo e publicada pela Editora Companhia das Letras, oferece
uma perspectiva fascinante e detalhada ao longo de 19 capítulos e 232 páginas sobre a
evolução da língua portuguesa.

No dizer do próprio autor objetivou-se “[...] fundamentalmente expor as etapas do


trajeto de formação da língua que nós falamos todos os dias. Iluminar quanto de um
passado muito antigo às vezes se esconde por trás de algo que, para nós, é tão presente
quanto o ar à nossa volta. Elencar, também as diferentes tradições, culturas e povos que
contribuem para a formação do nosso idioma: a família gigante que possibilitou que
hoje você fala o que fala e como fala” (p.24). O autor, ao articular esses propósitos,
pretende guiar o leitor através do tempo desvendando os enigmas da linguagem que
moldam nossas comunicações diárias.

Ao adentrar nesse livro, é possível compreender não apenas a origem do português,


mas também as influências culturais, sociais e históricas que moldaram sua forma atual.
O renomado autor, linguista, propõe uma imersão que promete desvendar os mistérios e
as transformações da língua ao longo dos séculos. A obra proporciona uma visão
abrangente, desde as raízes do português antigo até sua forma contemporânea. Galindo
destaca momentos cruciais, como a influência essencial e profunda de línguas árabes,
africanas e indígenas em nossa língua.
Além disso, ao longo da história, o autor apresenta diversas citações interessantes,
como trechos da música "Línguas" de Caetano Veloso que se encontra antes do
sumário, e na página 207, a letra em si funciona praticamente como um resumo do livro.
Galindo também menciona escritores renomados, como Machado de Assis, Cecília
Meireles, Fernando Pessoa, Oswald de Andrade, entre outros. Uma característica
notável é a atenção dada à diversidade geográfica e cultural. O autor explora as
influências de diferentes regiões e comunidades, como o tupi, que catequistas jesuítas e
bandeirantes empregavam para se comunicar com os povos locais.
No primeiro capítulo, Latim em pó desperta o leitor para a extensão do português
brasileiro, o autor destaca a singularidade linguística do Brasil, descrevendo-o como um
país “fundamentalmente monolíngue”. Ele compara a extensão geográfica do território
brasileiro com a diversidade linguística observada na África, enfatizando que, ao
percorrer os seis mil quilômetros de Pelotas a Uiramutã, é possível comunicar-se em
português em todo país. No entanto, ele ressalta que essa homogeneidade linguística
teve um custo representado pela extinção de várias línguas indígenas no processo de
construção da uniformidade linguística em território brasileiro.

Galindo destaca dois capítulos às línguas africanas que influenciaram o português


brasileiro. Ele revela que as palavras relacionadas à infância como “caçula” e “cafuné”,
tem origens no banto, tronco linguístico africano. A beleza melancólica reside no fato
de que, apesar da violência da escravidão, essas palavras, tão ligadas ao afeto
doméstico, conseguiram sobreviver e persistir na língua portuguesa brasileira. O autor
destaca a adaptabilidade linguística como um aspecto significativo da herança cultural
africana no contexto brasileiro.

O livro destaca a influência árabe na língua portuguesa que os colonizadores


trouxeram para a América. Palavras como “açúcar” e “salamaleque” foram herdadas
dessa influência. Além disso, ressalta a convivência do português com a língua-geral,
uma variante do tupi, usada por bandeirantes e jesuítas para se comunicar com os povos
locais nas terras tropicais. A peculiaridade brasileira na história do colonialismo
europeu é o uso de uma língua dos povos conquistados.

O estilo narrativo do autor é envolvente, equilibrando a profundidade acadêmica com


uma linguagem acessível. Isso torna a obra atraente para leitores de diferentes níveis de
familiaridade com o tema, proporcionando uma experiência de leitura enriquecedora.
Galindo tem uma escrita leve, divertida e fluida, mas mesmo assim não perde o rigor
científico. Algumas passagens são mais densas nas questões técnicas, mas existe sempre
uma preocupação em se comunicar com qualquer um que saiba falar e ler o português
brasileiro. A capacidade do autor em manter o interesse do leitor é notável, e a seleção
cuidadosa de exemplos é um ponto positivo.

Contexto histórico é sólido, porém alguns conteúdos omitidos para acelerar o início da
história. O autor mesmo reconhece, no capítulo sobre Roma na p.60, que houve um
desvio extenso para explicar a chegada dos romanos em Portugal. Além disso, a
transição entre o contexto histórico poderia ser mais suave para manter o interesse do
leitor. Isso asseguraria que mesmo leitores menos familiarizados com os aspectos
técnicos pudessem acompanhar e apreciar plenamente a narrativa, mantendo o
compromisso de comunicação acessível ao público em geral.

Em síntese, “Latim em pó: Um Passeio Pela Formação Do Nosso Português”


proporciona uma jornada fascinante pelas raízes e transformações da língua portuguesa,
destacando sua diversidade cultural e influências históricas. Galindo, com sua narrativa
envolvente e rigor acadêmico, explora enigmas linguísticos que moldam nossa
comunicação diária. A obra não apenas exibe a origem do português, mas também
ressalta a importância das influências africanas, indígenas e árabes. Apesar de alguns
desafios na transição entre contextos históricos, o autor mantém o interesse do leitor,
proporcionando uma leitura enriquecedora para todos os públicos. Ao explorar a riqueza
e a complexidade da língua, “ Latim em Pó” convida o leitor a compreender não apenas
o que falamos, mas as histórias e tradições que envolvem cada palavra que
pronunciamos.

Referência

WALDRIGUES, Caetano Galindo. Latim em pó: um passeio pela formação do nosso


português, São Paulo, SP: Editora Companhia das Letras, 2022, 232 p.

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