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UNIVERSIDADE CATÓLICA DE PERNAMBUCO

FRANCYELLEN KAILANY PEREIRA DA SILVA


GUILHERME GOMES SANTOS
GIOVANA HOOVER QUEIROGA
MIRELA SILVA PINHEIRO
THAMYRES PEREIRA DA SILVA
VICTORIA REGIA GIMINO APOLINARIO

LIBRAS
Processos Psicológicos III

RECIFE
2021
LIBRAS E O SURDO COMO SUJEITO NA SOCIEDADE.

Texto redigido referente ao seminário


apresentado em sala de aula como parte dos
requisitos necessários para avaliação.

Professor: Carlos Gomes de Brito

Disciplina: Processos psicológicos 3

Turma: Psicologia 2021.2


SUMÁRIO

1. Introdução: A surdez do ponto de vista fisiológico;


1.1. O caminho do som e a perda auditiva
1.2. Os graus de perda auditiva
1.3. Diferença entre o deficiente auditivo e o surdo

2. O surdo na sociedade (questões discursivas);


2.1. O surdo e a sociedade ao longo da história
2.2. O sujeito surdo e a perspectiva de Lacan
2.3. Discriminação/ isolamento
2.4. O desenvolvimento da linguagem nos surdos a luz de Vygotsky

3. A libras como uma língua e Como ela garante ao Surdo que ele seja sujeito;
3.1. A história da libras
3.2. A oralização e suas problemáticas
3.3. Libras e a formação do sujeito
3.4. Libras como segundo idioma
3.5. Cego e surdo, e agora? (O milagre de Anne Sullivan)
3.6. Leis da inclusão
3.7. Surdo na escola

4. Psicologia e a clínica no contexto da pessoa surda


5. Referências
1. Introdução: A surdez do ponto de vista fisiológico.

1.1 O caminho do som e a perda auditiva

Para introduzir o tema, o primeiro tópico tem como finalidade abordar a


surdez do ponto de vista fisiológico, explicando tanto o caminho do som quanto
questões referentes ao senso comum, graus de surdez e aparelhos auditivos. Dito
isto, o som é recebido pela orelha, encaminhado pelo conduto auditivo, fazendo
vibrar a membrana do tímpano e os minúsculos ossos do ouvido médio (martelo,
bigorna e estribo), amplificando o som; A vibração chega à cóclea, estimulando as
células sensoriais e convertendo o som em sinais elétricos que são enviados ao
nervo auditivo; Os sinais elétricos recebidos de ambos os ouvidos são
encaminhados pelos dois nervos auditivos ao cérebro; O sinal elétrico viaja pelo
cérebro sendo decodificado em informação ao longo do caminho; O córtex auditivo
então, processa a informação sonora.
A perda auditiva, portanto, acontece quando há um problema com uma ou
mais partes do ouvido, nos nervos dos ouvidos ou na parte do cérebro que controla
a audição. Ela é frequentemente associada ao avanço da idade, mas, embora a
condição apareça mais frequentemente após os 65 anos de idade, pode atingir
pessoas de qualquer idade, tendo em vista que pode ser causada por infecções,
lesões ou deficiências de nascença.
Ademais, considerando todo o caminho que a informação sonora precisa
percorrer em nosso sistema auditivo, fica mais fácil compreender a importância da
audição binaural (nos dois ouvidos) e as limitações de quem possui perda auditiva
de variados tipos e graus, pois, nesses casos, a informação sonora não chega ou
chega de forma incompleta ao cérebro. Fica mais fácil entendermos também o
porquê que o uso de próteses, aparelhos auditivos ou próteses implantáveis, podem
não ser a única medida a ser tomada para melhor reabilitação auditiva possível.
Dependendo das características da surdez podem ser necessárias outras
intervenções propostas pelo médico e fonoaudiólogo, por exemplo, o treinamento
auditivo. Enquanto as próteses auditivas podem auxiliar no envio de informações
sonoras tratadas ao cérebro, o treinamento auditivo pode ajudar na estimulação de
habilidades auditivas que ainda não foram adquiridas ou que foram perdidas devido
à privação sensorial.
No que tange ao senso comum, é comum que as pessoas achem que o
surdo é mudo. Entretanto, a verdade é que a falta de informação os fazem pensar
que os surdos também têm problemas na fala, porém, não existe nenhum
comprometimento nas cordas vocais e nem em suas regiões; o problema é que no
decorrer da infância a maioria dos pais e familiares ao identificarem o problema não
procuram profissionais especializados para obterem os cuidados e informações
precisas para lidar com o seu desenvolvimento. Dessa forma, a maioria dos surdos
têm as cordas vocais em perfeito funcionamento, portanto, são minorias os surdos
que também são mudos. Muitas pessoas surdas não falam porque não aprenderam
a falar. Pessoa Muda é aquela que não faz uso do seu aparelho fonador (conjunto
de órgãos e estruturas que produzem os sons de nossa fala) para fala ou qualquer
outra manifestação vocal. O ponto é que a “Mudez" não está relacionada com a
"surdez". São minoria os surdos que também são Mudos. O fato é que qualquer
surdo que tenha seu aparelho fonador em perfeito estado, pode desenvolver a fala,
claro que com certa dificuldade, e é preciso esforço e acompanhamento de um bom
especialista. Então, a ideia de que todo surdo é mudo deve ser completamente
extinta de nossas mentes. É importante ressaltar que mesmo que o surdo não
consiga falar de forma oral, ele fala com as mãos. A linguagem de sinais é também
um tipo de fala, pois é através dela que se comunicam os deficientes, sendo eles
surdos, mudos ou os dois.

1.2 Os graus de perda auditiva e aparelhos auditivos

A audição quando livre de problemas ou ruídos é considerada perfeita. Já


quando existe perda auditiva total pode se considerar como surdez. Entre esses
dois extremos existem graus de perda auditiva. Eles são utilizados para classificar
os pacientes que possuem dificuldades na audição, a fim de oferecer tratamentos
mais adequados para cada caso.

Surdez periférica ou leve:


É caracterizada por crianças que tendem a ser mais sociáveis e por terem
interesse comunicativo. Nesse tipo de surdez é perceptível que haja poucas falhas
na captação sonora, ausência consistente de respostas auditivas e mais facilidade
na interação. No ponto de vista pedagógico, mostra um bom aproveitamento com o
uso do aparelho de amplificação sonora individual (AASI), uma vez que ele substitui
o amplificador natural da cóclea (CCE) e executa bom prognóstico para aquisição
da linguagem oral, desde que o diagnóstico e atendimento especializado sejam
iniciados em tempo (SENNEY, 2007). A perda auditiva é de até quarenta decibéis, é
a menos grave; sua delimitação não impede que o indivíduo perceba linguagem
oral, embora possa ter pequenas falhas articulatórias que tange a comunicação e
dificuldades na manipulação da escrita (ARAUJO: LACERDA, 2010).

Surdez moderada:

Esta é caracterizada por dificuldades maiores em compreender frases e em


geral o indivíduo identifica apenas as palavras mais significativas. Sua compreensão
verbal está intimamente ligada a sua aptidão individual para percepção visual. Esse
tipo de perda auditiva está comprometida cerca de quarenta a setenta decibéis
(ARAUJO; LACERDA, 2010). Ou seja, há um comprometimento maior na captação
auditiva.

Surdez severa:

Nesse caso mais grave, a compreensão verbal dependerá, principalmente,


das habilidades que o surdo tem para percepção visual e para observar o contexto
das situações cotidianas. A perda auditiva está entre setenta a noventa decibéis;
este tipo de perda auditiva compromete quase toda capacidade de ouvir, apenas,
permite que o indivíduo percebe sons fortes e conhecidos, chegando a atingir a
idade de quatro a cinco anos sem aprender a falar (DESSEN; BRITO, 1997).

Surdez profunda ou central:

É caracterizada por alterações do funcionamento auditivo e dificuldades para


aquisição da linguagem bastantes severos decorrente ao comprometimento das vias
auditivas do tronco cerebral (SENNEY, et al, 2007). A perda auditiva é superior a
noventa decibéis, ou seja, ela impede totalmente que o indivíduo perceba e
identifique a voz humana, ele é impossibilitando de adquirir a linguagem oral
(DESSEN; BRITO, 1997). Neste caso, mesmo que o indivíduo seja submetido a
orientações, onde o leva a obter excelentes resultados na interação, ele não terá a
possibilidade de falar, mesmo não tendo nenhum problema nas cordas vocais, por
não conseguir ouvir e decodificar as palavras verbalizadas. Deixando como
observação: É apenas nesse tipo de audiopatia que o surdo não consegue
verbalizar (ARAUJO: LACERDA, 2010).

Aparelhos auditivos

Hoje em dia, os aparelhos auditivos estão cada vez menores, apresentam


maior capacidade de conexão, são mais resistentes a água e poeira e contam com
baterias de longa duração. Entretanto, a escolha dos aparelhos auditivos depende
também do grau de deficiência auditiva. Ademais, há vários disponíveis no mercado
hoje, porém convencionou-se pontuar brevemente apenas alguns que atendem a
maioria dos graus de perda auditiva:

Intracanal (ITC):

Também conhecido pela sigla ITC (In-the-canal), o aparelho auditivo


intracanal tem esse nome devido ao local onde se localiza: parte dele é colocado no
conduto auditivo. Logo, esse modelo é bem diferente dos dispositivos CIC, que
ficam somente no canal auditivo. Ele atende às necessidades para a perda auditiva
leve, moderada ou severa.

Intra-auricular (ITE)

O modelo intra-auricular apresenta uma grande potência, sendo indicado


para perdas auditivas de leves a severas. Esse dispositivo é um pouco maior,
confeccionado sob medida é formado por uma única cápsula que preenche toda a
concha da orelha. Ele é considerado, entre os modelos “intra”, o de maior potência
de amplificação do som. O dispositivo pode incluir um botão para controle manual
de volume e programação. Também apresenta a vantagem de facilitar o encaixe na
orelha, auxiliando os pacientes com habilidades manuais comprometidas,
entretanto, é mais visível que os modelos microcanal (CIC) e intracanal (ITC).

Retroauricular (BTE)

Esse aparelho auditivo é um dos mais utilizados, pois conseguimos com ele
todos os tipos de recursos e potência. Portanto, pode ser adaptado para a maioria
das perdas auditivas. Ele fica posicionado atrás da orelha e transmite um som até
próximo ao tímpano. Pode ser indicado para pessoas com perda auditiva leve à
profunda.

1.3 Diferença entre deficiente auditivo e o surdo

Diante de tudo que foi falado a respeito dos graus de surdez e dos aparelhos
auditivos indicados para a maioria dos graus, torna-se válido ressaltar também a
diferença entre o surdo e o deficiente auditivo. De acordo com os critérios
estabelecidos pela OMS, deficiência auditiva equivale à redução na capacidade de
ouvir sons em uma ou ambos os ouvidos. Assim, pessoas com perda auditiva que
varia de leve a severa se enquadram no grupo com deficiência auditiva.
Normalmente quem se inclui nesse espectro se comunica pela linguagem oral e faz
uso de aparelhos auditivos ou implantes cocleares – dispositivos eletrônicos
parcialmente implantados capazes de transformar sons em estímulos elétricos
enviados diretamente ao nervo auditivo. A surdez, por sua vez, é definida como a
ausência ou perda total da capacidade de ouvir em uma ou ambos os ouvidos. Já
de acordo com a Lei 13.146/2015, mais conhecida como Lei Brasileira de Inclusão,
desenvolvida com base na Convenção da ONU sobre os Direitos das pessoas com
Deficiência, o correto é usar pessoa com deficiência auditiva, seja ela oralizada (que
se comunica através da língua falada) ou sinalizada (que se comunica por uma
Língua de Sinais). Segundo o próprio Ministério da Saúde (2017), surdez é a
impossibilidade ou a dificuldade de ouvir, ou seja, sob uma perspectiva jurídica não
existe nada, no Brasil, que indique diferença entre esses dois termos.
2. O surdo na sociedade

2.1 Um passeio pela história do surdo

Por muitos séculos, os surdos foram privados de educação e de vários outros


direitos, entre exclusão, conquistas, retrocessos e reconquistas, se entrelaça a
história de toda uma comunidade, que foi privada de tudo, principalmente a
educação até o séc. XVI. Muitas civilizações viam os surdos como seres que não
mereciam a vida e que por não terem a fala, não seriam capazes de pensar.
Na antiguidade, quando a surdez era identificada eles eram sacrificados.Em
Roma e na Grécia não perdoavam os surdos porque achavam que eram pessoas
castigadas ou enfeitiçadas, a questão era resolvida por abandono ou com a
eliminação física. A única forma de sobrevivência era ser escravos ou viver
escondido em casa. Já no Egito e Pérsia, os surdos eram considerados como
criaturas privilegiadas, enviados dos deuses, porque acreditavam que eles
comunicavam em segredo com os deuses. Havia um forte sentimento humanitário e
respeito, protegiam e tributavam aos surdos a adoração, no entanto, os surdos
tinham vida inativa e não eram educados.
Num ponto de vista filosófico, se destacam dois grandes filosóficos com
ideias opostas umas das outras. Sócrates em um diálogo com Hermógenes
pergunta :

“Suponha que nós não tenhamos voz ou língua, e


queiramos indicar objetos um ao outro. Não deveríamos
nós, como os surdos-mudos, fazer sinais com as mãos, a
cabeça e o resto do corpo?” Hermógenes respondeu:
“Como poderia ser de outra maneira, Sócrates?” (Cratylus
de Plato, discípulo e cronista, 368 a.C.).

Já Aristóteles acreditava que quando não se falavam, consequentemente não


possuíam linguagem e tampouco pensamento, dizia que: “... de todas as sensações,
é a audição que contribuiu mais para a inteligência e o conhecimento..., portanto, os
nascidos surdo-mudo se tornam insensatos e naturalmente incapazes de razão”, ele
achava absurdo a intenção de ensinar o surdo a falar.
Com isso a gente percebe como toda a trajetória da comunidade surda, foi
baseada em cima de exclusão e de dúvidas em cima da sua capacidade cognitiva.
A situação melhora um pouco com o Código de Justiniano, que recebeu uma
reformulação no século VI, forneceu base para a maioria dos sistemas legais da
Europa, determinando, em relação aos surdos, aqueles que não desenvolvessem
uma língua oral não poderiam herdar fortunas, ter propriedades nem escrever
testamentos mas aqueles que conseguissem oralizar poderiam ser considerados
cidadãos com direito, assim como qualquer outro.
Entretanto é somente a partir do século XVI que se observa o esboço de
pequenos esforços para educá-los de forma a entendermos os caminhos
educacionais pautados para a educação formal da pessoa surda; De acordo com
Silva (2009), um primeiro argumento para educar surdos foi sustentado na idéia de
que os surdos tinham capacidade intelectual e eram aptos para o aprendizado. Para
isso, foi feita uma investigação com pessoas surdas. O idealizador dessa pesquisa
foi Girolamo Cardano. Ele queria descobrir se havia diferença entre surdos e
ouvintes diante da aprendizagem. Sua pesquisa foi considerada de cunho
importantíssimo à época.

Cardano, para avaliar o grau de aprendizagem dos


surdos, fez sua investigação a partir dos que haviam
nascido surdos, dos que adquiriram a surdez antes de
aprender a falar e, finalmente, dos que adquiriram depois
de aprender a falar e a escrever. Sua conclusão, após
esses estudos, era a de que a surdez não trazia prejuízos
para o desenvolvimento da inteligência e que a educação
dessas pessoas poderia ser feita pelo ensino da leitura,
que era a forma dos surdos ouvirem, e da escrita, que era
a forma deles falarem (SOARES, 1999 apud SILVA, 2006,
p.17).

A partir da pesquisa de Cardano vários outros estudiosos e professores


investiram numa educação para o surdo, entretanto nem tudo são flores aconteceu
o congresso de Milão, entre 6 e 11 de setembro de 1880, foi na verdade a primeira
conferência internacional de educadores de surdos. Mais de 160 educadores e
especialistas reuniram-se para discutir os rumos da educação das pessoas surdas.
Esse grupo de pessoas era na maioria ouvinte. Era uma época onde acreditava-se
na superioridade da língua falada, considerando as línguas gestuais um retrocesso
na evolução da linguagem. Durante o congresso foram ouvidos doze especialistas
no assunto. Apenas três se manifestaram a favor do uso das línguas gestuais como
a melhor forma de educar e inserir as pessoas surdas na sociedade, garantindo
assim a hegemonia do oralismo. Os impactos do Congresso de Milão foram terríveis
na comunidade surda em todo o mundo. Estima-se que já na primeira década após
o Congresso de Milão o ensino das línguas de sinais já estava quase
completamente erradicado das escolas. Privadas das línguas de sinais, crianças
surdas no mundo inteiro deixavam as escolas com qualificações e comunicação
inferiores.
Apenas 100 anos depois iniciou-se o árduo processo de rejeição das
resoluções do Congresso de Milão e a reestruturação da educação das pessoas
surdas. Somente em julho de 2010, no 21º Congresso Internacional de Educação de
Surdos (sediado em Vancouver, Canadá) houve uma votação formal e todas as
resoluções do Congresso de Milão foram rejeitadas.

2.2 O sujeito surdo a luz de Lacan

A questão do “grande outro” para Lacan se constituiria “ na ordem simbólica,


a constituição não escrita da sociedade, é a segunda natureza de todo ser falante:
ela está aqui, dirigindo e controlando os meus atos; é o mar que nado, mas
permanece essencialmente impenetrável - nunca posso pô-la diante de mim e
segurá-la. É como nós, sujeitos de linguagem, falássemos e interagimos com
fantoches.” Zizek, Slavoj. Como ler lacan. Lacan mostra que esse “grande sujeito”
estaria numa linha limiar quando se trata do entendimento desse “Grande outro”, e
talvez como um espelho de si mesmo. O diferentemente acontece na sociedade na
sociedade surda em que esse sujeito se constituiu a partir da linguagem gestual, ou
seja, não é por meio das palavras que vão construir a sua subjetividade o conceito
do grande outro, e sim, os gestos e expressões faciais.
“O grande outro opera num nível simbólico,..., quando interagimos com o
outro; nossa atividade de fala é fundada em nossa aceitação e dependência de uma
complexa rede de regras.”Zizek, Slavoj. Como ler lacan. Essa função do simbólico é
uma cadeia complexa" apresenta-se como um duplo movimento no sujeito: o
homem faz de sua ação um objeto, mas para a ela devolver em tempo hábil seu
lugar fundador. Nesse equívoco que opera a todo instante, reside o progresso de
uma função em que se alternam a ação e o conhecimento"Jacques Lacan,
Escritos,op.cit., p.286, na qual perpassa entre o significante e o significado. Refletir
essa questão no sujeito surdo, poderia inferir o mesmo pensamento em que lacan
tem? Isso porque a construção da linguagem dos surdos é baseada na expressão
gestual e facial. Nesse sentido, trago uma pequena parte da entrevista que fizemos
que foi mencionado “ A professora perguntou a uma surda como ela estava
dançando o forró. A mulher que tinha surdez comentou que esta tinha a sua
compressão do que era o forró mesmo que não conseguisse escutar os sons que
tinha naquele momento. A reflexão que fica é que esse sujeito surdo constrói
também a sua subjetividade nessa linguagem e constrói o seu símbolo poderíamos
dizer que seria a partir de sua percepção

2.3 Discriminação/ isolamento

As pessoas quando nascem já se encontram presentes em um determinado


grupo social, como a família, com isso elas começam a socializar com seus
familiares e vão ampliando esses grupos, existindo os amigos, colegas de escola,
colegas de trabalho, entre outros. Individualmente os sujeitos vão aprendendo sobre
as normas, valores, conceitos, comportamentos na sociedade que se encontram. É
de fundamental importância que os sujeitos surdos e ouvintes possam ampliar suas
compreensões sobre si mesmos e o mundo que os cerca. No entanto, se uma
pessoa surda se encontra em uma família que não sabe a linguagem de sinais, essa
pessoa irá ter uma perda significativa socialmente falando, visto que ela só irá
começar a ter contato com a cultura e com a comunidade surda quando estiver mais
crescida, pais de bebês surdos geralmente não procuram fazer uso da linguagem de
sinais, isso afeta a construção de identidade desse sujeito que passa a sofrer um
processo de imposição de uma cultura baseada numa realidade diferente da dele.
Ser surdo é fazer parte de um mundo com experiências visuais.
Por conta das diferenciações, o sujeito tende a se isolar de um grupo que não
se identifica e não possui as mesmas experiências que ele e o mesmo ocorre na
visão do grupo, passando a excluir um indivíduo pelos mesmos motivos. Essas
atitudes surgem pela falta do conhecimento e/ou por um preconceito que na maioria
das vezes é recheado de estereótipos. A libras por mais que seja algo que ajude a
comunidade surda ela também os deixa reclusos a eles próprios, já que eles fazem
uso de uma língua que é desconhecida pelo grupo majoritário da sociedade. As
pessoas surdas sofrem bastante as consequências de uma política educacional que
não se encaixa com a necessidade deles, com isso, acabam sofrendo um
preconceito duplo, primeiro por enxergarem essa pessoa como deficientes e
segundo como incapazes, visto que, não se encontram similares às exigências do
mercado de trabalho. A língua de sinais é fundamental para o processo educacional
das pessoas surdas, ela oferece uma educação de qualidade que reconhece o
surdo e sua diferença. É ela que proporciona a funcionalidade da linguagem,
fazendo assim com que desenvolva pensamentos mais profundos.
O preconceito ocorre também muito por conta da libras ser uma língua
gestual, a sociedade não conhece ela e como ela funciona, a própria sociedade não
contribui para que a língua possa ser valorizada. Muitas pessoas fazem piadas por
conta dos gestos da libras, isso devido ao fato que mesmo existindo a lei 10.436,
que reconhece a libras como meio legal de comunicação e expressão dos surdos,
falta conhecimento da sociedade, com a pandemia houve uma aceleração da
divulgação e uso da libras porque foi uma necessidade, então ocorreu uma melhora
significativa sobre esse assunto, tanto que notava-se que na maioria das
transmissões ao vivo que foram realizadas de músicas, havia uma pessoa interprete
de libras presente. O surdo também é um cidadão e também precisava de
informações sobre o que estava acontecendo na sociedade. Outro fator que auxilia
na discriminação é o de que a maioria de empresas que oferecem serviços ao
público deveria buscar fazer uso da linguagem de sinais, por mais que seja uma lei,
nem sempre se uma pessoa surda chegar em um hospital vai conseguir se
comunicar, num cartório, numa loja, entre diversos outros exemplos. Isso mostra
como os serviços que são oferecidos são tão restritos que fazem com que as
pessoas que precisam dele se sintam completamente à margem de tudo aquilo.

2.4 O desenvolvimento da linguagem dos surdos a luz de Vygotsky

Esse tópico tem como objetivo discutir sobre aspectos importantes da relação
entre a aquisição da língua de sinais e o desenvolvimento da linguagem em surdos,
e para fundamentar a discussão proposta, convencionou-se apoiá-la na perspectiva
sócio-histórica da linguagem, um dos assuntos abordados em aula, estabelecendo
assim uma relação entre os surdos e a perspectiva de Vygotsky, e também
considerando questões referentes à importância da língua de sinais para o
desenvolvimento linguístico, cognitivo e social do surdo.
Vygotsky em sua abordagem sócio-histórica buscou compreender os
mecanismos psicológicos mais complexos, como percepção e atenção, e dentre
esses mecanismos ele estudou o pensamento e a linguagem. O pensamento
subjacente à linguagem andam agrupados e constroem uma cadeia de símbolos
que dão origem aos significantes e significados, tanto internos: sensações,
sentimentos e opiniões, quanto externos, onde, simbolizamos os objetos reais:
cadeiras, lápis, escola e etc. Esses sistemas de códigos linguísticos são essenciais
para a expressão e comunicação. O processo que envolve a não separação do
pensamento e linguagem acontece simultaneamente de acordo com as práticas
estabelecidas pelo meio, e é pertinente para o desenvolvimento da interação
intersubjetiva, ou seja, a linguagem como um produto é fundamental para
identificação e organização do sistema endógeno e exógeno do homem, sua
aquisição é primordial à socialização do indivíduo.
Sabendo portanto que a linguagem é um processo que se desenvolve no
plano das interações sociais e que a mesma é essencial para identificação e
organização do sistema endógeno e exógeno do indivíduo, compreende-se que a
criança ouvinte desde seu nascimento, é exposta à língua oral, e que tal língua
propiciará as trocas comunicativas, a interação social e o desenvolvimento da
cognição. Porém, e a criança surda? Como se dá o desenvolvimento de sua
cognição se a mesma não escuta? No que se refere à audição como um dos
importantes fatores para a aquisição da linguagem, habilidades cognitivas e
interação, o homem sem ela tem suas capacidades delimitadas, porém, existem
outras formas para que o surdo obtenha um bom desenvolvimento cognitivo. Na
realidade “a surdez não torna a pessoa com menos possibilidades ou
impossibilitada, mas com possibilidades diferentes” (RODRIGUERO, 2000, p.1). No
caso da criança surda, o processo de desenvolvimento cognitivo pode ser efetivado
mediante a aquisição da língua de sinais, que constitui a língua natural dos surdos,
na qual prevalece o campo gesto-visual, em detrimento do oral-auditivo. Portanto, a
linguagem que o surdo obtém é uma forma definida ao pensamento possibilitando o
aparecimento da imaginação, uso de memória e planejamento de ação.
Diante disso, a verbalização é de fato um instrumento orálico que
proporciona praticidade mediadora para uma comunicação mais prática, porém,
existem outras formas de comunicação sem usar a fala, como é a comunicação da
pessoa surda, que é feita, basicamente, por sinais. Pesquisadores interessados na
área de neurolinguística e neuropsicologia afirmam que o surdo tem todas as
condições para o desenvolvimento cognitivo e intelectual, ou seja, embora não haja
o intercâmbio oral entre os surdos, isso não os incapacitam de viverem
normalmente em sociedade. Embora a audição seja de grande importância para o
desenvolvimento humano, principalmente nos processos que envolvem pensamento
intelectual e da linguagem, o surdo não deixa de ter outras maneiras de viver em
sociedade sem objeções com a comunicação.
Portanto a língua de sinais, assim como a verbal propicia a comunicação e
praticidade para qualquer que seja o objetivo do indivíduo e da comunidade em que
se vive; porém como a linguagem verbal é tida como legítima, no sentido
transcultural, muitas vezes não dá espaço para outras formas de comunicação, e
essa falta de espaço, não apresentar a língua de sinais como língua mãe a criança
surda traz consequências para sua constituição enquanto sujeito, tendo em vista
que quando a língua de sinais é adquirida aos primeiros anos de vida, tal ação
fornece a criança surda um desenvolvimento pleno como sujeito, garantindo uma
boa abstração simbólica, graças à plasticidade do cérebro, que ainda está em
desenvolvimento quando criança. Porém quando essa aquisição é tardia o surdo
encontra algumas dificuldades, tanto cerebral, tanto psíquica, não que seja
impossível a sua desenvoltura na aprendizagem, mas suas estruturas
neuropsíquicas estarão sedimentadas devido à falta de atividades nas regiões
cerebrais responsáveis pela linguagem no período propício (DALGALARRONDO,
2008).
Dessa forma, é imprescindível que a criança surda seja exposta à língua de
sinais identificando-a como sua língua “natural”; a criança surda deve aprender a
língua da sua comunidade ouvinte, mas deve ter como originária a linguagem de
sinais, pois a língua de sinais traz consigo significados específicos, sua forma de
significação e interação, proporcionando assim a formação da linguagem,da
subjetividade, identidade e do seu desenvolvimento em sociedade. É a partir do
momento que o sujeito surdo começa a ter participação integral entre o oralismo e a
LIBRAS, língua de sinais Brasileira, tornando-se bilíngue, estará sendo capacitado
ulteriormente, como qualquer sujeito, interagindo diretamente com o meio de forma
totalmente individualizada, sem a dependência de um responsável, tornando-o de
fato um indivíduo inserido no mundo da linguagem, um indivíduo que tem
consciência de si enquanto sujeito social e enquanto detentor de direitos, enquanto
cidadão, tendo acesso a cultura. Nader (2011), uma das autoras contribuintes do
artigo que o grupo usou como base para esse tópico referente a perspectiva sócio
histórica, afirma que é preciso existir políticas linguísticas educacionais que
garantam a língua o quanto antes para obtenção de emergência no seu
engajamento ao âmbito social. Um dos depoimentos registrados por ela diz o
seguinte: "depois que aprendi a língua de sinais, percebi que eu podia ter o meu
próprio pensamento”. Descreve uma entrevistada. “Ela quer dizer que não precisa
mais só repetir pensamentos, ideais, criatividade. A dissertação me permitiu fazer
este tipo de reflexão e ver a gravidade e as implicações de uma pessoa não ter uma
língua’’ (NADER, 2011)
Diante do exposto, conclui-se que a língua de sinais assume um papel
expressivo na vida do sujeito surdo. A referida língua propicia à criança surda a
interação com o outro, a troca comunicativa, a elaboração do pensamento, a
expressão de ideias e sentimentos, o planejamento das ações, o conhecimento do
mundo físico e simbólico. Assim sendo, compreende-se que a língua de sinais
exerce para os surdos as mesmas funções que a língua oral exerce para os
ouvintes, conduzindo-os ao desenvolvimento pleno.

3. A libras como uma língua e como ela garante ao Surdo que ele seja
sujeito

3.1 A história da LIBRAS

A Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS é considerada desde 2002 uma das


línguas brasileiras pela Lei 10.436/2002. Ela consiste em uma língua natural que
utiliza a combinação da configuração das mãos, ponto de articulação, movimento,
orientação e expressão corporal e facial para formar palavras e frases. Assim como
as línguas orais, a língua de sinais utiliza de unidades mínimas para construção de
unidades complexas, além de também possuir diversificações de acordo com
região, idade, classe social e outros fatores.
Apesar do aparecimento crescente de estudo e interesse pela LIBRAS e
pelas línguas de sinais em geral, a história mostra que houve um caminho
complicado para sua consolidação muito recente e que enfrenta ainda muitos
desafios. Sabe-se que a questão da comunicação dos indivíduos surdos já vem de
muitos séculos e no Brasil essa temática começa a aparecer mais oficialmente em
1857, quando D. Pedro II possibilitou a fundação do Instituto Nacional de
Surdos-Mudos (INSM) no Rio de Janeiro, que desde 1957 se tornou o Instituto
Nacional de Educação de Surdos (INES). O INSM era como um internato, onde só
homens de qualquer lugar do Brasil podiam participar. As mulheres só começaram a
ser aceitas no ano de 1931 e de forma limitada. É interessante citar que foram os
primeiros grupos de alunos que acabavam seus ensinos e retornavam às suas
casas que foram responsáveis por difundir a língua de sinais nesse início.
Um dos alunos da instituição, Flausino José da Gama, realizou uma das
primeiras obras sobre a Língua Brasileira de Sinais, a Iconographia dos Signaes dos
Surdos-Mudos, datado de 1873, que possuía o intuito de orientação para surdos
mudos, contendo influência de livros franceses sobre o assunto. Inclusive, diferente
da língua oral falada pelos brasileiros, o português, a língua de sinais no brasil foi
altamente influenciada pela Língua de Sinais Francesa. Isso pela vinda do professor
E. Huet da França, que ajudou na fundação do antigo Instituto Nacional de Surdos
Mudos. Outra contribuição, poucos anos depois, foi do ex-diretor do INSM, Tobias
Rabello Leite, que realizou publicações que permitiram comprovar que os sinais e o
alfabeto datilológico eram utilizados e aceitos, principalmente na educação de
surdos e na comunicação estabelecida entre professores e alunos.
Contudo, as línguas de sinais passaram por um momento turbulento, pois
foram proibidas na educação dos surdos no Congresso de Milão de 1880. Esse
acontecimento gera um impacto no Brasil logo após, quando em 1911 os sinais
brasileiros também sofrem uma limitação, fazendo com que o Instituto Nacional de
Surdos-Mudos passasse a adotar somente a oralização como a forma correta de
ensinar e de comunicar. Entretanto, professores, alunos, funcionários e ex-alunos
frequentadores da instituição mantiveram o hábito de continuar a usar a língua de
sinais, preservando-a e resistindo às imposições. Até que, em 1957, a LIBRAS foi
oficialmente proibida no INSM e foram criadas medidas dentro do Instituto para que
ela não fosse utilizada e nem passada adiante para as novas gerações.
Como consequência, a nível mundial, o processo de escolarização e de
aprendizado, que antes se apoiava na comunicação através de sinais, sofreu efeitos
negativos. Durante esse período, os surdos que não fossem capazes de avançar na
oralização eram tidos como doentes mentais. Aos poucos, percebeu-se que
somente o uso da oralização, descartando a língua de sinais era prejudicial ao
ensino. Felizmente, ao longo do tempo de proibição da LIBRAS na educação de
pessoas surdas no Brasil nunca houve um sucesso absoluto e a língua de sinais foi
capaz de resistir.
O entendimento da importância da língua de sinais começou a surgir
novamente e de forma mais intensa após a relevante publicação do linguista
americano Stokoe sobre o tópico, na década de 1960. Através dos seus estudos
sobre como os filhos surdos de pais também surdos tinham um melhor
desenvolvimento acadêmico do que indivíduos surdos de pais ouvintes, a língua de
sinais começou a ser melhor recebida ao redor do mundo e entendida como uma
língua com características a níveis fonológico, morfológico, sintático, semântico e
pragmático, assim como as outras. No contexto brasileiro, apenas em meados dos
anos de 1990 a língua de sinais volta a ser utilizada na educação de pessoas
surdas, deixando para trás a tentativa imposta do modelo oral.
O primeiro Dicionário Enciclopédico Ilustrado de LIBRAS, organizado pelo
professor do Instituto de Psicologia da USP Fernando Capovilla, foi publicado em
São Paulo em 2001. No ano seguinte, a versão do dicionário em CD-ROM foi
lançada pelo INES e houve o reconhecimento oficial pelo governo da Língua
Brasileira de Sinais. Atualmente, o Instituto Nacional de Educação de Surdos têm
sua apresentação no portal do MEC como um “órgão do Ministério da Educação que
tem como missão institucional a produção, o desenvolvimento e a divulgação de
conhecimentos científicos e tecnológicos na área da surdez em todo o território
nacional, bem como subsidiar a Política Nacional de Educação, na perspectiva de
promover e assegurar o desenvolvimento global da pessoa surda, sua plena
socialização e o respeito às suas diferenças.”

3.2 Oralização e suas problemáticas

A oralização de surdos é uma temática bastante discutida. Ela se dá através


de exercícios orofaciais que exercitam os órgãos responsáveis pela fala (músculos
dos lábios, mandíbulas, língua, entre outros) para “possibilitar” o desenvolvimento,
compreensão e articulação dos fonemas. Os métodos orais compreendem duas
abordagens: a primeira sendo o método Unissensorial, que prioriza a audição como
principal via a ser estimulada; e a segunda sendo o Método Multissensorial, que faz
uso de todas as vias sensoriais como recurso a ser explorado para obtenção de
êxito na oralidade.
O oralismo é uma corrente comunicativa muito utilizada na educação dos
surdos no século XIX que perdurou predominantemente até os anos 70. Nela, o
surdo deveria utilizar a fala, os vestígios de audição remanescentes, e um
comportamento semelhante ao do ouvinte para ser aceito socialmente e finalmente
ser “curado” da surdez através da prática da fala. Hoje, a predominância do oralismo
já foi superada com a criação da Língua de Sinais, porém ainda existem muitos
surdos que passam pelo processo de oralização, o que acende a discussão acerca
de seus possíveis prós e contras.
A forma como se dava o processo de oralização, nessa época em que os
surdos eram obrigados a submeter-se a fim de serem incluídos na sociedade,
deixou marcas negativas, pois constituía uma experiência bastante árdua e
dolorosa. Devido às experiências passadas e traumas decorridos disso, parte da
comunidade surda hoje não é a favor da oralização, mas sim defendem e priorizam
o uso da língua de sinais defendendo a educação Bilíngue.
Contudo, ainda existem famílias de crianças surdas e surdos que optam pela
oralização, ao questionarmos a nossa entrevistada Professora Dra Izabelly sobre os
prós e contras ela mencionou: “depende muito de pessoa para pessoa, há vários
aspectos e técnicas para o desenvolvimento da fala que estão envolvidos, e além de
tudo isso também tem o contexto, familiar, escolar etc. É preciso pensar o que esses
contextos contribuem para o desenvolvimento da criança. Além disso, os tipos de
surdez também são extremamente importantes na hora de considerar o processo de
oralização. Se temos uma pessoa surda com uma surdez moderada, ele é um
excelente candidato para a oralidade, mas já um surdo com uma surdez
severo-profunda ele não é um bom candidato para a oralidade, então dentro do
número de pessoas surdas com surdez severo-profunda, o processo de oralização é
muito árduo, longo e não depende só da tecnologia, além do aparelho há outros
fatores que precisam ser levados em consideração. Nesse sentido, a maioria dos
surdos que possuem a surdez severo-profunda possui uma dificuldade muito grande
de desenvolvimento da fala, e por outro lado possuem uma facilidade enorme na
aquisição da língua de sinais porque é uma língua natural para ele”. Diante disso,
infere-se que muitas coisas precisam ser levadas em consideração, e não pode-se
generalizar os contextos e características dos surdos, há uma pluralidade que
também precisa ser reconhecida.
Ademais, nesta mesma entrevista, a Professora Dra. Isabelly defende que a
escolha linguística é uma questão muito pessoal e precisa ser da pessoa surda, isto
é, quando a criança chegar na idade de poder conhecer bem escolher qual meio ela
vai se comunicar, assim deve ser feito. Muitas crianças são interpeladas pelo desejo
de seus pais de que elas oralizem, mas essa precisa ser uma questão própria do
surdo. Geralmente, eles tendem a preferir a Língua de sinais, pois como bem afirma
a professora, a oralidade é bastante difícil, não é algo simples englobando
diferentes funções.

3.3 Libras e a constituição do surdo como sujeito

A Libras é um dos componentes fundamentais na construção da identidade


surda na formação do sujeito surdo.

“[...] a identidade surda é construída numa forma de


representação naturalmente edificada na comunidade ou
nas comunidades surdas. Além disso, a identidade surda é
construída a partir do contato com o surdo com os artefatos
da cultura do povo surdo. Quando privado desse contato, o
surdo torna-se um sujeito sem possibilidade de
auto-identificar-se como diferente e como surdo, como
determinada identidade cultural (PERLIN, 2000, p.1)”

Nessa conjuntura, a Libras representa muito mais que apenas um modo de


comunicação. É válido ressaltar que a linguagem possibilita ao homem vários
aspectos, tais como: Passar seu modo de agir, sua cultura, sua forma de expressão;
Estruturar seus pensamentos; Registrar seu conhecimento adquirido; Traduzir
sentimentos, entre outros e com a Libras não é diferente! Assim como para o
ouvinte, a língua de sinais, considerada a língua natural dos surdos, também se
apresenta como um aspecto da cultura dessa comunidade.

“Cultura surda é o jeito de o surdo entender o mundo e de


modificá-lo a fim de se torná-lo acessível e habitável
ajustando-os com as suas percepções visuais, que
contribuem para a definição das identidades surdas e das
almas das comunidades surdas. Isto significa que a abrange
a língua, as ideias, as crenças, os costumes e os hábitos do
povo surdo” (STROBEL, 2008, P.24)
Através da língua um povo consegue passar seu modo de agir, de pensar e
ver o mundo. Na libras é possível expressar os sentimentos que atravessam a
subjetividade do surdo, nessa cultura as formas de expressão através do teatro, de
poemas e piadas são muito fortes, por exemplo.
Nessa conjuntura, é válido ressaltar a importância do surdo estar inserido na
comunidade surda e consequentemente conhecer e apropriar-se de sua cultura.
De acordo com Góes (2000), a comunidade dos surdos possibilita à criança
significar-se como surdo, assim como faz com que ela se veja como sujeito
pertencente a uma língua efetiva, que apresenta características próprias e que se
configura como fonte de identidade. Na comunidade surda, a Libras ocorre de forma
espontânea e efetiva, por isso é tão importante permitir que o surdo possa ter
contato com outros surdos, conhecendo sua cultura que é tão própria e
consequentemente construindo uma percepção de si próprio.
Ademais, quando uma criança é diagnosticada com surdez é essencial que
ela receba o apoio da família e de seu círculo social próximo, que eles aprendam e
comecem a usar a língua de sinais, além de buscar inseri-la na comunidade surda.
Uma criança surda que cresce sem saber a língua de sinais acaba se sentindo
como um “ouvinte com defeito”, já o surdo que faz uso da língua de sinais se sente
empoderado, se sente um diferente e não um deficiente.
Diante dessa conjuntura, é fundamental ter em mente o que diz o psiquiatra
surdo norueguês Terje Basilier, citado por Ferreira Brito (1993, p. 75):“[...] quando eu
aceito a língua de outra pessoa, eu aceito a pessoa [...]. Quando eu rejeito a língua,
eu rejeitei a pessoa, porque a língua é parte de nós mesmos [...] Quando eu aceito a
língua de sinais, eu aceito o surdo, e é importante ter sempre em mente que o surdo
tem o direito de ser surdo.”

3.4 Libras como segundo idioma

Durante a entrevista com a professora de LIBRAS da UNICAP, ao falar do


processo de oralização e aquisição de linguagem, Izabelly Brayner explica que para
o indivíduo com uma surdez severa a oralização se torna muito mais complexa e a
língua de sinais é natural. Dessa forma, ela compara a aquisição da língua de sinais
de uma criança surda com a aquisição de qualquer língua oral para um criança que
escuta, sendo os dois processos similares. A partir do vídeo do canal Quem Somos
Nós? com a convidada Cristina Altman sobre o que é linguagem, é possível refletir
ao redor do impacto de se compreender uma nova língua. Isso porque, desse modo,
ocorre a ampliação da perspectiva de mundo do indivíduo, já que cada língua traz
consigo um universo, uma cultura e novas possibilidades de visões. Levando em
consideração esses aspectos, o aprendizado e ensinamento da Língua Brasileira de
Sinais já mostra um ponto positivo em expandir a comunicação e,
consequentemente, o ponto de vista daquele que desenvolve a língua.
Além disso, muitas pessoas aprendem a língua de sinais por possuir
parentes surdos ou deficientes auditivos e ter contato com ela desde cedo. Nessas
situações, pode-se ocorrer um desenvolvimento simultâneo da língua oral e gestual,
principalmente quando se trata de crianças que possuem responsáveis que se
comunicam através da LIBRAS, ocasionando um input linguístico para aquisição
dessa língua na idade ideal. Ainda, existe a possibilidade do aprendizado da língua
de sinais ser um pouco depois como o caso de haver uma conexão emocional e
uma convivência com indivíduos surdos. Nesse sentido torna-se mais fácil e rápida
a fluência.
Verifica-se também a aprendizagem da língua de sinais por pessoas ouvintes
através de cursos, promovidos nas graduações de universidades, por curiosidade
própria ou outras razões. Normalmente, são esses indivíduos que apresentam uma
maior dificuldade no estudo da LIBRAS, porque, além do desafio de aprender uma
nova língua, se trata de uma língua espaço-visual da qual tem-se um estranhamento
maior. Assim como no aprendizado de outros idiomas orais, nas aulas de LIBRAS é
comum que se comece realizando gestos de forma não natural e confundindo
alguns sinais até sentir-se mais à vontade. Outra característica parecida é que o
desenvolvimento da língua é melhorado quando se pratica com indivíduos que a
tenham como língua materna. Desse modo, os ouvintes que tem um contato direto
com pessoas surdas têm o potencial de
A Professora Dra. Izabelly também falou, em depoimento ao grupo, que ainda
existe um preconceito sobre a língua de sinais muito forte por parte da sociedade.
Essa é uma questão importante porque esse pensamento está incrustado na cultura
dos ouvintes que estão acostumados a uma língua oral, que não possuem muito
contato com a LIBRAS. Izabelly chega também a mencionar a respeito de memes e
piadas, que são comumente vistos e compartilhados nas redes sociais, sobre
intérpretes e sinais que recebem uma conotação diferente por pessoas não surdas.
Apesar de parecerem inofensivos, esse conjunto de fatores cria um estigma acerca
da língua de sinais que dificulta seu ensinamento. Dessa maneira, a falta de
reconhecimento ocasiona a ideia de que somente um grupo específico (parentes
com familiares surdos, profissionais de áreas que têm mais contato com pessoas
surdas, etc.) devem procurar aprender LIBRAS. Por esses fatores, o número de
sujeitos que buscam a língua de sinais como segunda língua ainda é baixo.
Entretanto, ressaltar a importância da busca pela língua de sinais por
cidadãos ouvintes é urgente. Entender que as pessoas surdas têm o direito de
conseguir se comunicar, entender e ser entendido quando frequentam lugares
públicos, eventos, instituições de ensino, espaços comerciais e tantos outros é
extremamente relevante enquanto sociedade. E é a partir do desenvolvimento da
LIBRAS como segunda língua que esse direito torna-se possível e cada vez mais
assegurado.

3.5 Cego e surdo, e agora?

Referência mundial na surdo-cegueira é impossível falar sobre o assunto sem


comentar sobre Ann Sullivan e Helen Keller. Helen Adams Keller com 19 meses de
idade contraiu uma doença desconhecida diagnosticada como febre cerebral, que a
deixou cega e surda. Embora de família influente, teve uma infância complicada,
pois não teve inicialmente uma orientação adequada que lhe preparasse para
aprender e relacionar-se com o mundo em sua volta. Ela desenvolveu muitos de
seus próprios sinais para comunicar suas necessidades com os pais. Durante esse
período, Keller também se tornou muito rebelde e indisciplinada. Ela chutava e
gritava quando zangada, e ria incontrolavelmente quando feliz. Além disso, infligiu
birras furiosas aos pais. Antes de completar sete anos de idade, passou a contar
com a ajuda da professora Anne Sullivan, que foi contratada pela família e passou a
morar em sua casa. A professora, que aos cinco anos perdera parte da visão e aos
dez ficou órfã de mãe, foi abandonada pelo pai e colocada em um albergue. Em
1886 graduou-se na Perkins School for the Blind, uma escola para cegos, e
começou a procurar um emprego. Sullivan imediatamente começou a ensinar Helen
a se comunicar, soletrando palavras na mão, começando com "boneca", para ajudar
Keller a entender o presente de uma boneca que ela havia trazido. A princípio,
Keller ficou curiosa, depois desafiadora, recusando-se a cooperar com as instruções
de Sullivan. Quando Keller cooperou, Sullivan percebeu que ela não estava fazendo
a conexão entre os objetos e as letras soletradas em sua mão. Sullivan continuou
trabalhando nisso, forçando Keller a passar pelo aprendizado. Em uma luta
dramática, Sullivan ensinou a Keller a palavra "água"; ela a ajudou a fazer a
conexão entre o objeto e as cartas, levando Keller para a bomba de água e
colocando a mão de Keller sob o bico. Enquanto Sullivan movia a alavanca para
liberar água fria sobre a mão de Keller, ela soletrou a palavra água na outra mão de
Keller. Keller entendeu e repetiu a palavra na mão de Sullivan. Keller mudou-se para
outros objetos com Sullivan acompanhando. Assim vemos que a Linguagem de
Sinais, é algo que pode ir além do visual, pode ser algo tátil e que ao contrário do
que muitos filósofos antigos pensavam o surdo pode sim pensar e adquirir a
linguagem.

3.6 Leis de inclusão

A legislação assegura o surdo acesso à educação e ao mercado de trabalho.


Olhando a constituição podemos perceber que antes da LIBRAS ser reconhecida
como uma língua, ela já era um direito garantido pois no “Art. 205. A educação,
direito de todos e dever do Estado e da família;” e no “Art. 208: Refere ao
atendimento educacional especializado aos portadores de deficiência,
preferencialmente, na rede regular de ensino”. Porém as coisas só começam a
caminhar quando a lei federal 10.436 foi homologada, garantindo o direito da
pessoa surda de usar a LIBRAS em qualquer ambiente que ele frequente, tanto na
escola, quanto na sociedade.

Art. 1o É reconhecida como meio legal de comunicação e expressão


a Língua Brasileira de Sinais - Libras e outros recursos de expressão
a ela associados. Parágrafo único.
Entende-se como Língua Brasileira de Sinais - Libras a forma de
comunicação e expressão, em que o sistema linguístico de natureza
visual-motora, com estrutura gramatical própria, constitui um sistema
linguístico de transmissão de ideias e fatos, oriundo de comunidades
de pessoas surdas do Brasil.

O Art. 2 da Lei 10.436/2002 refere que o poder público deverá apoiar o uso e
difusão da LIBRAS. No entanto, o que mudou a partir daí? Após a publicação da
desta lei, os profissionais da educação ficaram confusos, por não saberem como
viabilizar a comunicação em LIBRAS e quem seriam os profissionais que atuariam
na educação dos surdos. De forma a regulamentar a Lei 10.436/2002, foi
sancionado o Decreto governamental 5.626/2005, tornando obrigatória a LIBRAS
não só para a comunidade surda, mas também para os professores e presença do
intérprete em sala de aulas inclusivas. Com base no decreto, todas os currículos
precisaram ser alterados, de forma a inserir a disciplina LIBRAS, obrigatória para
alguns cursos e optativas para outros. O importante é que essa língua de
modalidade visuoespacial ganha espaço dentro da academia e, a longo prazo,
formará profissionais que entendam o que é a surdez, as singularidades da pessoa
surda e dominem o básico da LIBRAS.
Os para os cargos de professor de LIBRAS e intérprete de LIBRAS- Língua
Portuguesa, no nível médio e superior. A proficiência foi criada no decreto
5.626/2005 e deveria ter a vigência do mesmo, ou seja, dez (10) anos. No entanto,
tivemos sete (7) edições e o número de aprovados foi muito abaixo do esperado,
enquanto o mercado de trabalho crescia gradativamente. Atualmente, para você
trabalhar como professor de LIBRAS precisa da formação no ensino superior, a
graduação na licenciatura em Letras/LIBRAS. Para o cargo de intérprete, o estado
de Pernambuco conta com o curso técnico oferecido pelo governo do Estado.
Lei n° 8069/1990 – Estatuto da criança e do adolescente – Educação
especial. Lei n° 10.098/1994 – Estabelece normas gerais e critérios básicos para a
promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com
mobilidade reduzida. Decreto n° 5. 296/2004 – Regulamenta a lei n° 10.098/1994 –
com ênfase na promoção da acessibilidade. Decreto n° 6.571/2008 – Dispõe sobre
o atendimento educacional especializado. Portarias Portaria n° 976/2006 –
Determina critérios de acessibilidade a eventos do MEC.
Com o fracasso do Oralismo, surge a Comunicação Total, abordagem
educativa que durou por volta de dez (10) anos. Também não obteve sucesso, pois
como seu princípio era o uso de qualquer recurso linguístico, não focou na aquisição
de uma língua, por isso, o seu princípio também foi o motivo do seu fracasso. A
Comunicação Total teve dois pontos positivos: a mudança de visão da pessoa surda
de “deficiente” para “diferente” e o uso das Línguas de Sinais como um dos recursos
linguísticos.
O uso das Línguas de Sinais na Comunicação Total serviu para que a
sociedade pudesse perceber a importância de uma língua sinalizada no
desenvolvimento cognitivo e educacional da pessoa surda. Assim, surge o
bilinguismo, orientando o uso da LIBRAS, como primeira língua e a língua
portuguesa como segunda língua. Com isso, temos o reconhecimento da LIBRAS
como meio de comunicação e expressão das comunidades surdas brasileiras,
através da Lei n° 10.436/2002 e a regulamentação com o Decreto n° 5.626/2005. O
decreto apresenta pontos importantes que fortalecem a inclusão educacional da
pessoa surda, como: inserir a disciplina LIBRAS no ensino superior; a
obrigatoriedade do intérprete/tradutor de LIBRAS; professores bilíngues; formação
dos professores de LIBRAS através do Letras/LIBRAS.
Ter leis que significa reconhecer a libras como uma língua e que precisa ter
um reconhecimento para que se der a devida prioridade para os sujeitos surdos

3.7 O surdo na escola

Quando se pensa em pessoa com deficiência e a reconhece como sujeito de


direito, principalmente o direito à educação, entende-se, portanto que, o que foi
instituído pelas leis da educação inclusiva envolve todos os sujeitos e a estes
devem atender conforme suas singularidades. Atualmente, a comunidade surda
está protegida pelas políticas públicas que garantem o acesso e a permanência
dentro das escolas regulares de ensino, muito embora, na prática, saibamos das
dificuldades de identificar e desenvolver práticas inclusivas eficazes.
A Declaração de Salamanca, documento que surgiu de um encontro
realizado na Espanha em 1994, teve por objetivo promover a educação para todos
na abordagem da educação inclusiva e trouxe para o universo surdo uma vitória;
uma educação que atendesse suas especificidades, incentivando o reconhecimento
da língua de sinais, referida no texto como linguagem gestual.
As políticas educativas devem ter em conta as diferenças
individuais e as situações distintas. A importância da
linguagem gestual como o meio de comunicação entre os
surdos, por exemplo, deverá ser reconhecida, e garantir-se-á
que os surdos tenham acesso à educação na linguagem
gestual do seu país. Devido às necessidades particulares
dos surdos e dos surdos/cegos, é possível que a sua
educação possa ser ministrada de forma mais adequada em
escolas especiais ou em unidades ou classes especiais nas
escolas regulares (SALAMANCA,1994, P.18)

A organização da educação dos surdos dentro dos parâmetros dos moldes


inclusivos, apresenta o Bilinguismo como abordagem norteadora das ações
pedagógicas. Essas mudanças causaram mudanças radicais na vida da pessoa
surda e das instituições de ensino. Os espaços escolares tiveram a
responsabilidade de implementar e adaptar as propostas educacionais, com a
finalidade de acolher e proporcionar uma educação efetiva para a comunidade
surda. Em 1996, foi sancionada a Lei de Diretrizes e Bases da Educação - LDB, que
define e regulariza a organização da educação brasileira com base nos princípios
previstos na Constituição de 1988.

Lei 9394/1996:
Art. 26-B: Será garantida às pessoas surdas em todas as
etapas e modalidades da educação básica, nas redes
públicas e privadas de ensino, a oferta da Língua Brasileira
de Sinais – LIBRAS, na condição nativa das pessoas
surdas.

Apesar da LDB trazer a LIBRAS para dentro das escolas garantindo o acesso
aos conteúdos da comunidade surda, a partir da sua língua materna, na prática, sua
implementação foi muito difícil, pois se tratava de uma língua que não era
reconhecida e desconhecida por parte da comunidade escolar. Assim, em 24 de
abril de 2002, a lei federal 10.436 foi homologada,garantindo o direito da pessoa
surda de usar a LIBRAS em qualquer ambiente que ele frequente, tanto na escola,
quanto na sociedade. Que na realidade é uma conquista da comunidade surda que
sofreu no período Oralista, pela proibição do uso das Línguas de Sinais e a falta de
representatividade de uma identidade e cultura surda.
O Art. 2 da Lei 10.436/2002 refere que o poder público deverá apoiar o uso e
difusão da LIBRAS. No entanto, o que mudou a partir daí?
Após a publicação da desta lei, os profissionais da educação ficaram
confusos, por não saberem como viabilizar a comunicação em LIBRAS e quem
seriam os profissionais que atuariam na educação dos surdos. De forma a
regulamentar a Lei 10.436/2002, foi sancionado o Decreto governamental
5.626/2005, tornando obrigatória a LIBRAS não só para a comunidade surda, mas
também para os professores e presença do intérprete em sala de aulas inclusivas.

4. Psicologia e a clínica no contexto da pessoa surda

A psicologia inclusiva é um conjunto de ações que possui uma natureza


política, cultural, social e terapêutica, voltada para os direitos humanos, ela procura
inserir as pessoas que possuem qualquer dificuldade no atendimento terapêutico.
Tem também como objetivo realizar a inserção desse público nas clínicas
psicológicas. As pessoas surdas necessitam de profissionais que possam
entendê-las e adentrar em sua realidade, ajudando na percepção de como ele é,
não levando apenas em consideração as suas diferenças. Visto que existe uma
dificuldade enorme no acesso dessas pessoas em relação à saúde, quase nunca
existe alguém que possa se comunicar com elas. É necessário que haja uma
atenção para com esse público que precisa também ser compreendido e atendido,
isso vai para todos, alunos e profissionais, é algo que era pra ser básico para todos.
Inclusive até na entrevista realizada, a entrevistada cita como ela teria diversas
pessoas para indicar ir pra clínica, no entanto ela questiona quem iria realmente
atender essas pessoas, visto que a libras é algo opcional e desconhecida para a
maior parte das pessoas.
Deveria ser criadas estratégias para se estimular tanto profissionais como
futuros profissionais a se qualificarem de forma que sejam capazes de ajudar
pessoas surdas que nasceram ou não sem audição, visto que, pessoas que tiveram
uma perda auditiva ao longo da vida acabam encontrando bastante obstáculos em
se aceitar e reingressar na sociedade. A sociedade atual ainda tem muito a
melhorar para que possamos viver em comunidade, respeitando as diferenças de
cada indivíduo, de uma forma geral, aceitando ele e se adaptando para a realidade
que o mesmo se encontra.
Cabe ao psicólogo se adaptar para acolher corretamente a pessoa surda,
utilizar uma psicologia específica iria acarretar em estereótipos contribuintes para
deficientiza-los, fazendo com que os mesmos se sentissem excluídos do processo.
Usando algo específico só iria trazer mais enfoque ainda na disfunção do paciente
quando o objetivo da terapia é acolher o sujeito sem nenhum preconceito ou
estereótipos estabelecidos pelo terapeuta ou pela sociedade.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:

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MACÊDO, Ludmilla. Psicologia inclusiva: a importância do atendimento psicoterapêutico a


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ZIZEK, Slavoj. Como Ler Lacan. [S. l.: s. n.], 2010.

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Conheça o COMUNICAR E APARELHOS AUDITIVOS.Disponível em: <


https://comunicareaparelhosauditivos.com/modelos-de-aparelhos-auditivos>.Acesso em: 01 dez.2021

Conheça o OTICON .Disponível em:


<https://www.oticon.com.br/hearing-aid-users/hearing-loss/understand-hearing-loss/what-is-hearings>
-los.Acesso em 01 dez. 2021.

Conheça o GUIADERODAS .Disponível em:


<https://guiaderodas.com/surdo-e-deficiente-auditivo-e-a-mesma-coisa-entenda-a-diferenca/>.Acesso
em 02 dez. 2021.

Conheça o PORTAL EDUCAÇÃO .Disponível em:


<https://siteantigo.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/fonoaudiologia/todo-surdo-e-mudo/58721
>.Acesso em 31 Nov. 2021.

Conheça o Libras. Disponível em:< https://www.libras.com.br/surdos-famosos-helen-keller > Acesso


em: 02 dez.2021.

Conheça o Libras. Disponível em:< https://www.libras.com.br/congresso-de-milao > Acesso em: 02


dez.2021

LINGUAGEM: Introdução – o que é linguagem?, com Cristina Altman. [S. l.: s. n.], 2019.
Disponível em: https://youtu.be/ulvQKZn95yg. Acesso em: 2 dez. 2021.

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