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CEFAC

CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA


CLÍNICA
VOZ

ASPECTOS VOCAIS NO DEFICIENTE AUDITIVO

MADEL VALLE RODRIGUES

SÃO PAULO
1.997
CEFAC
CENTRO DE ESPECIALIZAÇÃO EM FONOAUDIOLOGIA
CLÍNICA
VOZ

ASPECTOS VOCAIS NO DEFICIENTE AUDITIVO

MONOGRAFIA DE CONCLUSÃO DO
CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM VOZ
ORIENTADORA MIRIAN GOLDENBERG

MADEL VALLE RODRIGUES

SÃO PAULO
1.997

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RESUMO

O objetivo deste trabalho é, através de levantamento bibliográfico,


estudar aspectos vocais específicos no deficiente auditivo, estabelecendo assim,
parâmetros para diagnóstico e planejamento de terapia adequados.
O indivíduo com deficiência auditiva tem grande possibilidade de
apresentar desvios do padrão normal de voz. São citados problemas como
ressonância “cul-de-sac”, faríngea ou nasal; no pich elevado ou com variabilidade
excessiva; na respiração que pode apresentar desvios durante o fluxo expiratório
na fala; na qualidade vocal que pode apresentar características como soprosidade
e diplofonia; na articulação imprecisa; na intensidade, ritmo e entonação
inadequados (Boone, 1983; Wilson, 1993; Gilbert, 1975 e Pinho, 1990).
Após o estudo de cada desvio vocal observado em deficientes
auditivos, conclui-se que existindo o monitoramento vocal desde idade precoce e
principalmente durante a muda vocal, associado a outros fatores, obtém-se uma
voz mais próxima dos padrões de normalidade, tendo com resultado uma fala
inteligível e agradável ao ouvinte.

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Sumário

Introdução.............................................................................................4
Discussão Teórica.................................................................................6
Considerações Finais...........................................................................15
Referências Bibliográficas...................................................................18

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INTRODUÇÃO

A comunicação do deficiente auditivo vem sendo alvo de estudos e


discussões por parte de fonoaudiólogos e profissionais de áreas afins. Muito se
tem discutido sobre fala e linguagem, porém, quando nos referimos aos aspectos
vocais, isto acontece em menor escala. No entanto, este é um tema de supra
importância para que exista desenvolvimento pleno da comunicação do deficiente
auditivo.
Prestando serviços na Escola Municipal para Deficientes Auditivos “Helen
Keller”, no setor de fonoaudiologia, temos observado que a voz do deficiente
auditivo muitas vezes se torna impedimento em suas relações, tanto sociais como
profissionais, ou seja, é motivo para traumas e bloqueios emocionais.
A voz é uma extensão da personalidade, mesmo que a fala esteja estruturada
linguisticamente e articulação precisa, se houver alteração na qualidade vocal,
esta extensão será modificada. Para Beutenmiller e Laport (1974), na qualidade
vocal estão presentes três dimensões: biológica, psicológica, e sócioeducacional.
Em nossa sociedade o indivíduo deficiente sofre discriminações de todos os
tipos e uma voz “anormal”, mesmo quando associada à uma boa articulação,
resultará em fala ininteligível e desagradável ao ouvinte gerando assim barreiras
em vários níveis de integração, privando o sujeito de possíveis conquistas
pessoais.
Se criamos subsídios para que haja uma maior proximidade da normalidade
chegamos a novos caminhos e a maiores chances.
O objetivo deste artigo é, através de levantamento bibliográfico, estudar
aspectos vocais específicos no deficiente auditivo estabelecendo assim maiores
possibilidades de um diagnóstico e planejamento de terapia adequados.
O indivíduo com deficiência auditiva tem grande possibilidade de
apresentar desvios do padrão normal de voz. São citados problemas na
ressonância “cul-de-sac”, faríngea ou nasal; no pitch elevado ou com variabilidade
excessiva; na respiração que pode apresentar desvios durante o fluxo expiratório

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na fala; na qualidade vocal que poderá apresentar características como
soprosidade e diplofonia; na articulação imprecisa, na intensidade, ritmo e
entonação inadequados (Boone, 1983; Wilson, 1993; Gilbert, 1975 e Pinho, 1990).
Cada um destes aspectos deve ser abordado individualmente
durante o processo terapêutico para que o resultado final seja o esperado: fala
inteligível e voz agradável ao ouvinte.

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DISCUSSÃO TEÓRICA

Para iniciar este estudo é importante ressaltar que os problemas de


voz no deficiente auditivo podem estar associados ao grau ou tipo de perda
auditiva, e idade em que esta ocorreu. Wilson (1993), exemplifica lembrando que
uma criança com perda auditiva leve a moderada poderá ter apenas dificuldades
no controle da ressonância oral-nasal e uma criança com perda profunda a severa
pode não ter só problemas com a ressonância mas também alterações no pitch,
intensidade e qualidade vocal. Os aspectos vocais do deficiente auditivo são
abordados aqui:

Ressonância
Como é a ressonância na voz de um deficiente auditivo? Geralmente não é
equilibrada, podendo apresentar-se de diversas formas. Wilson (1993) cita
hipernasalidade, hiponasalidade, ressonância “cul-de-sac” e laringo-faríngea. Às
vezes acontecem combinações entre estas duas formas. Estes problemas não se
relacionam à insuficiência velofaríngea, mas sim a falta de condições existentes
para o controle da ressonância através da audição.
Para Dickson (1962), qualquer modificação no trato vocal altera a
ressonância, o grau de abertura da boca, o posicionamento de língua e até mesmo
um pequeno desvio de septo nasal. Tais fatores causam alteração na impedância
das ondas sonoras, modificando assim o grau de nasalidade.
Para Boone(1983) o posicionamento da língua na hipofaringe contribui para
alterações como ressonância nasal, acompanhada por faríngea ou “cul-de-sac”,
pois rebaixa o segundo formante. Esta ressonância posterior assemelha-se a
ressonância observada em indivíduos com paralisia cerebral atetóide ou com
apraxia verbal. Boone também comenta a possibilidade de hiper e
hiponasalidade.

6
Higgins, Carney e Schulte (1994), realizam estudos com grupo de deficiente
auditivos adultos que utilizam a comunicação oral, submetendo-os a avaliação
fisiológica através de eletroglotografia e verificam que o controle velofaríngeo não
é problema significativo para a maioria destes deficientes auditivos, porém
verifica-se ressonância “cul-de-sac” e alta pressão subglótica. Gilbert (1975)
também se preocupa com as características fisiológicas e em pesquisa sobre o
fluxo aéreo nasal e oral em deficientes auditivos com perda auditiva moderada a
profunda, durante emissão das consoantes plosivas /p/,/t/,k/ e /b/,/d/,g/, verifica que
o perfil observado no fluxo aéreo oral é muito similar ao obtido no grupo controle
de ouvintes, enquanto o perfil observado no fluxo aéreo nasal apresenta vários
padrões diferentes, o que leva a crer que o deficiente auditivo é heterogêneo com
relação à função velofaríngea. Gilbert ainda coloca a inabilidade do deficiente
auditivo em coordenar a função velofaríngea com outros articuladores da fala.
Pinho (1990), descreve como principal causa da ressonância faríngea, a
tensão existente em função da posteriorização e abaixamento de base de língua e
a chamada ressonância “cul-de-sac”, citada na pesquisa acima como a um
extremo da faríngea, chegando ao contato entre base de língua e parede posterior
de faringe.
Fletcher e Higgins (1980), realizam uma pesquisa com cinco meninos e sete
meninas com média de idade de 14,3 anos e média de limiar auditivo no melhor
ouvido de 90,2 dB. Eles utilizam um instrumento bioeletrônico (TONAR II), que
fornece feedback visual do grau de ressonância nasal, auxiliando no controle da
qualidade de voz excessivamente nasal e obtém resultados positivos, pois cinco
sujeitos demonstram redução efetiva na ressonância nasal após períodos de
treinamento, quatro demonstram alguma redução e três não demonstram qualquer
redução.
Wilson (1993) também sugere para estabelecimento de equilíbrio da
ressonância oral/nasal que além da abordagem auditiva, seja utilizado aspectos
visuais, tácteis e cinestésicos . A ressonância chamada “abafada” que combina
“cul-de-sac” com faríngea é geralmente observada no deficiente auditivo e poderá

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ser evitada se a criança ainda pequena for protetizada e desde cedo seja dada
devida atenção à sua voz.
Um esquema de terapia vocal para equilíbrio da ressonância é realizado por
Wilson (1993), onde é trabalhada a discriminação das ressonâncias no outro e em
si próprio, sempre utilizando outros canais sensoriais além do auditivo.
Para Boone (1994), se faz necessário a anteriorização da língua. A protrusão
de língua pode trazer melhor qualidade de ressonância oral. Adquirindo melhor
posicionamento de língua, possibilita-se o contraste entre ressonância oral e
faríngea posterior, proporcionando assim, percepção ao deficiente auditivo da
ressonância adequada. Através do nasômetro (sistema utilizado em
microcomputador) pode se analisar a produção acústica da voz, separando fluxo
aéreo oral e nasal simultaneamente, dando assim o feed back necessário ao
paciente da hiper ou hiponasalidade apresentada.

Pitch
O nível de pitch e entonação no deficiente auditivo geralmente estão
alterados. O feedback auditivo tem papel indispensável no controle de pitch, desta
forma a voz é monitorada pelo falante (Kawahara/Willians, 1996). Este é o primeiro
ponto que nos desafia quando falamos na voz do deficiente auditivo, já que o
monitoramento auditivo deste está alterado.
Boone (1995), cita pitch elevado e excessiva variabilidade de pitch como
sintomas vocais comuns nos deficientes auditivos. Para que estes sintomas sejam
sanados, se faz necessária uma orientação externa que substitua o feedback
auditivo. Contrariamente, Horii (1982) compara as vozes de doze mulheres jovens
deficientes auditivas neurossensorias bilaterais moderadas para severas com
doze sujeitos ouvintes, em leitura oral e fala espontânea. Verifica nos ouvintes
grande variação de freqüência fundamental em ambas situações; já nos sujeitos
deficientes auditivos aconteceu o contrário, baixa variação de freqüência
fundamental nas duas situações testadas. Wirz (1992) realiza pesquisa com 40

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deficientes auditivos neurossensoriais bilaterais profundos e verifica que 90% da
população analisada mostra estreita extensão de pitch e 80,5% com pequena
variação de pitch. Estes estudos reforçam o fato de que o deficiente auditivo não
tem percepção auditiva de sua voz tornando-se uma tarefa muito difícil o seu
controle, desta forma sua voz se torna monótona. Para Monsen(1979), é
importante ressaltar que não só a freqüência fundamental esteja numa extensão
apropriada mas que a transição de um formante para outro esteja dentro dos
padrões da normalidade.
Wilson (1993) enfatiza que apesar de algumas variações individuais,
crianças pequenas usam geralmente a freqüência fundamental dentro do registro
normal. Na verdade o nível do pitch deveria ser medido periodicamente
possibilitando assim, que o tom agudo utilizado na infância não persista na idade
adulta. Para Pinho (1990), isto ocorre por manterem a laringe em posição elevada.
O tom grave também não é raro e ocorre em função de tensão excessiva, a qual
provoca abaixamento e posteriorização de língua trazendo assim abaixamento de
laringe.
É muito importante que na adolescência durante a muda vocal, o deficiente
auditivo seja acompanhado por um fonoaudiólogo que lhe dê suporte para que
este perceba os extremos e chegue a um padrão adequado. Angelocci, Kopp,
Holbroock (1964) realizam pesquisa com dois grupos de meninos entre 11 e 14
anos, sendo um grupo de deficientes auditivos e um grupo de ouvintes e percebem
que a média de extensão de freqüência fundamental tem uma maior variação em
ambos os grupos, o que reflete as mudanças fisiológicas que estavam ocorrendo e
a existência de vozes de pré e pós-adolescentes nos dois grupos indistintamente.
Wilson (1993) sugere o treinamento auditivo voltado para adequar o pitch.
Este trabalho deveria ser iniciado na infância e contar com todos os canais
sensoriais e tanto quanto for possível também com o canal auditivo. Serão
trabalhadas desde a discriminação auditiva mais grosseira até a mais fina, se
possível, automatizando o uso correto destes parâmetros ainda na infância ou até
a chegada da adolescência.

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Boone (1994) também prioriza a necessidade da testagem da freqüência
fundamental da criança e de sua comparação a valores normativos para idade e
sexo. Como procedimento terapêutico, Boone sugere que com a confecção de um
gráfico indicativo , demonstre-se para o paciente onde está o seu pitch e onde
deveria estar, valendo-se assim de um reforço visual. Boone cita ainda alguns
instrumentos como: PM 100 Pitch Analizer, Phonatory Function Analyzer e Visi
Pitch que fazem medidas de tempo real de freqüências à medida que o paciente
fala, fornecendo-lhe assim feedback. Outro ponto colocado por Boone é a
percepção do sujeito da excursão da laringe para baixo e para cima.

Intensidade
A intensidade vocal no deficiente auditivo está alterada e segundo Pinho
(1990), pode ser forte, por ser uma forma de se fazer ouvir ou pela excessiva
tensão do tracto vocal; e pode ser fraca, quando existe a consciência de uma
tendência em se falar forte e na tentativa de controle acaba revertendo totalmente a
situação. Wilson
(1993), na terapia vocal para intensidade, sugere correlacionar vários graus de
intensidade como muito forte, forte, correto e muito fraco, com movimentos
musculares, por exemplo, batidas em um tambor, e ainda em situações concretas,
como: chamar alguém do outro lado da rua ou falar com alguém que está próximo,
sem que mais ninguém precise ouvir. Wilson (1993), lembra que quando
planejados cuidadosamente os programas de modificação de intensidade,
ajudam o deficiente auditivo a obter uma comunicação mais eficaz.

Qualidade vocal
A qualidade vocal no deficiente auditivo, demonstra na maioria das vezes
tensão excessiva, mas outras características podem ser citadas. Metz, Whitehead
e Whitehead (1984), pesquisam sobre o mecanismo laríngeo do deficiente

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auditivo e observam que existe controle inadequado da musculatura intrínseca de
laringe e adução irregular das pregas vocais. Spector et al (1979), consideram que
o aumento de tensão global resulta em dificuldade de controle e em ataques
vocais bruscos para iniciar a fonação, gerando qualidade vocal tensa ou áspera.
Outros autores verificam alterações, como Monsen (1979), em análise da
qualidade acústica de crianças de 3 a 6 anos com deficiência auditiva, observou a
ocorrência de diplofonia e soprosidade. Wirz (1992), em
pesquisa realizada com 40 deficientes auditivos adultos, verifica que 87,5%
apresentam constrição faríngea, 95% tensão laríngea e 5 % laringe relaxada. Este
autor detecta ainda que 72,5% dos deficientes auditivos mostram aspereza, o que
provavelmente está ligado a alta incidência de tensão laríngea, e 20% usam
falseto. Wilson (1993), comenta que ao enfocar na terapia vocal os aspectos pitch,
ressonância e intensidade, há mudanças em aspectos de qualidade vocal, como
aspereza, soprosidade e rouquidão. Porém, com a persistência destes problemas,
o fonoaudiólogo deverá submeter o paciente a um programa de eliminação de
abuso e tensão vocal ou, se for o caso, treinamento para soprosidade e escape de
ar.

Velocidade e ritmo
A velocidade e o ritmo de fala no deficiente auditivo geralmente estão
alterados. A velocidade é lenta demais e o padrão de ritmo inapropriado,
prejudicando a inteligibilidade. O tempo de fonação nas sílabas é um problema
freqüente, sendo necessário encurtá-lo ou aumentá-lo, dependendo do caso, para
que a velocidade de fala seja melhorada, (Wilson, 1993). Robb e Pang Ching
(1991), em estudo com 26 deficientes auditivos adultos com perda auditiva severa
e profunda e 13 sujeitos ouvintes, verificam que a média de duração absoluta na
produção de frases do grupo de deficientes auditivos é 900 ms mais longos do
que no grupo de ouvintes. Também observam que no grupo de deficientes
auditivos com perda profunda, a produção de frases é mais longa do que no grupo

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com perda severa. Fletcher e Daly (1976), em
comparação entre 2 grupos: o primeiro de deficientes auditivos entre 7 e 21 anos
e o segundo comparativo de ouvintes, constatam a média de 95 palavras por
minuto para os deficientes auditivos e 173 palavras por minuto para os ouvintes.
Boone (1966), considera que a velocidade de fala é reduzida por duas razões: a
primeira porque prolonga as vogais e a segunda porque fazem pausas longas
entre as palavras. A velocidade lenta de fala pode estar associada a falta de
controle respiratório. Podem acontecer sucessivas inspirações a cada poucas
palavras sem conseguir terminar uma frase.
Como procedimento terapêutico deve-se adequar a respiração à fala
seguida de controle muscular e acentuação. A criança é conscientizada de sua
velocidade e da adequada, percebendo o contraste das situações. É muito
importante a verificação da ocorrência de melhora da inteligibilidade de fala com
aumento da velocidade de fala, o que em alguns casos pode não acontecer
(Wilson, 1993). Boone
(1966), sugere treino da velocidade de fala fixando tempo e número de palavras,
as quais devem ser aumentadas gradativamente. O uso do metrônomo também
pode ser útil para percepção da relação tempo/velocidade.

Articulação
A articulação imprecisa existente no deficiente auditivo, como já foi dito,
interfere diretamente na qualidade vocal e inteligibilidade, (Subtelny et al, 1980).
Para Boone (1966), existe um prolongamento das vogais, devendo lembrar que a
produção das vogais é de suma importância para inteligibilidade, pois funcionam
como ponto de apoio para as palavras. Dagenais e Critz Crosby (1992),
comparam posicionamento de língua na emissão de vogais de ouvintes e
deficientes auditivos através da glossometria, e verificam que os sujeitos ouvintes
apresentam maior extensão de movimentos verticais e distintas configurações de
língua para cada vogal. Nos deficientes auditivos a extensão vertical utilizada

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restringe-se à média da observada nos ouvintes, além de pouca variação para
diferentes vogais, tendendo à posição posteriorizada.
Wirz (1992), também verifica em sua pesquisa em termos de movimentos
articulatórios, que 97,5% dos deficientes auditivos minimizam movimentos de
língua, 60% minimizam movimentos de maxila e 55% minimizam movimentos de
lábios quando comparados com ouvintes. Mason
e Helmick (1976), com estudo cinefluoroscópico, relacionam o grau de fechamento
de esfíncter velo-faríngeo com atividades esfinctéricas na parte anterior da
cavidade oral. Movimentos articulatórios imprecisos podem demonstrar falta de
fechamento completo do esfíncter velo-faríngeo, enquanto que, se há melhora nos
movimentos labiais e mandibulares, há uma melhora proporcional no fechamento
do esfíncter velo-faríngeo. Wilson (1993), coloca
que a maioria dos deficientes auditivos é capaz de, através do uso de traços
distintivos semelhantes, generalizar de características posicionais e fonêmicas.
Podem ser usados como procedimentos, fonemas que diferem apenas no traço de
sonoridade e em seguida apenas pelo ponto de articulação, ou seja, são utilizados
contrastes para percepção tanto da sonoridade, como ponto e modo de
articulação. Estas podem ser as direções gerais utilizadas para aperfeiçoamento
da fala do deficiente auditivo.
Fletcher et al (1991), apresentam treinamento da articulação de crianças com
deficiência auditiva, através da glossometria e palatometria, mostrando as
configurações de língua durante a emissão de vogais e padrões de contato línguo-
palatal durante a emissão de consoantes. Os autores obtém bons resultados após
aproximadamente a realização de 10 sessões. Isto acontece por existir a
possibilidade de feedback visual e táctil-cinestésico.

Respiração
O padrão respiratório no deficiente auditivo apresenta-se geralmente
adequado na função isolada, mas com problemas para coordenar fala-respiração.

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Pinho (1990), comenta que os desvios do padrão respiratório no deficiente
auditivo podem ocorrer da mesma forma que em indivíduos ouvintes. Porém,
mesmo utilizando o padrão costodiafragmático abdominal, (o que proporciona
melhor desempenho), o deficiente auditivo tem dificuldade em administrar o fluxo
aéreo, não sincronizando o início da fonação com início da respiração, tendendo a
expelir ar antes de falar, o que traz prejuízos à coordenação pneumofônica,
existindo uso de ar de reserva e interrupção de frases com pausas em momentos
inadequados.
Forner e Hixon (1977), em estudo com 10 deficientes auditivos entre 19 e 24
anos, constatam que a respiração mantem padrões normais em situação de
repouso, mas durante a fala havia desvios, como desajustes mecânicos de
orientação respiratória da laringe e vias aéreas superiores. Estas dificuldades
geram a necessidade de sucessivas inspirações e escape de ar.
Itoh et al (1982), comentam a dificuldade existente para aprendizagem do
complexo: respiração - fonação - articulação para o sujeito desprovido de
feedback auditivo.
Boone (1994), sugere trabalho direto para suavizar a fase de expiração ao
falar, como aprender a sustentar tanto produções vocalizadas como não
vocalizadas.
Foram comentados os aspectos vocais no deficiente auditivo
individualmente. Desta forma foi possível perceber como um aspecto influencia o
outro. Daí a necessidade de uma abordagem global, para que se possa
proporcionar ao deficiente auditivo uma voz mais próxima do padrão normal.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Neste trabalho visei, através de levantamento bibliográfico, conhecer melhor


os aspectos vocais do deficiente auditivo, tendo assim parâmetros para um
diagnóstico adequado associado à uma terapia melhor dirigida e com resultados
mais eficientes.
Retomando o fato que existe relação direta entre os problemas de
voz encontrados e o grau, tipo de perda auditiva e idade em que esta ocorreu, fica
claro a importância da realização de amplificação adequada, o mais
precocemente possível. Esta, associada à estimulação tanto no âmbito familiar
como terapêutico. Desta forma já se está minimizando a falha no feedback auditivo
que permeia todos os problemas, relacionados aos aspectos da voz do deficiente
auditivo.
A estimulação precoce é, sem dúvida, a chave para o processo
de desenvolvimento mais próximo do padrão de normalidade.
Mesmo para crianças nascidas com perda auditiva profunda,
quando não existe qualquer percepção de voz normal ou da prosódia vocal, a
terapia traz chances para a normalização do som de sua fala e voz, Wilson (1993).
Os aspectos vocais observados encontram-se intimamente ligados,
um interferindo direta ou indiretamente no outro, mas cada um detém sua
singularidade e necessita de atenção especial. Logo, a tendência durante o
tratamento fonoaudiológico é que, quando ocorrem mudanças em um aspecto, o
outro também é modificado.
Um fator importante para que exista uma voz adequada é a
estimulação de todos os canais sensoriais, além do auditivo. Estes atuam como
orientação externa para o canal que apresenta-se debilitado. As sensações táctil-
cinestésicas são de extrema importância para a percepção, por exemplo da
ressonância equilibrada e de melhor posicionamento de língua; assim como a
estimulação visual auxilia na adequação do nível de pitch e articulação.

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Outro ponto que chama atenção dentro dos aspectos relacionados à
voz do deficiente auditivo é que não existe uma regra fixa, mas muita variabilidade.
O nível de pitch pode estar agudo ou grave, assim como passar de um para outro;
a ressonância pode ser hiponasal, hipernasal, “cul-de-sac” ou faríngea e ainda
ocorrer combinação entre duas formas; a intensidade encontrar-se forte ou fraca. A
qualidade vocal pode apresentar características diferentes, como tensão,
soprosidade , aspereza e diplofonia.
Em meio a tantas variáveis existe um coeficiente comum:
sempre existe algum tipo de alteração na fala e voz do deficiente auditivo. Este
fato ressalta o que já mencionei anteriormente quanto à necessidade de
estimulação o mais precocemente possível da fala e da linguagem, não deixando
o trabalho vocal de lado ou para mais tarde. A voz deverá ser monitorada também
precocemente e especialmente durante a muda vocal.
Acredito que muito se tem a pesquisar nesta área de atuação
do fonoaudiólogo, principalmente no Brasil, onde a bibliografia sobre o tema é
escassa.
Pude constatar através do levantamento bibliográfico realizado,
que em outros países existem pesquisas que aprofundam o estudo sobre as
características da voz do deficiente auditivo, o que sem dúvida leva a resultados
terapêuticos mais efetivos.
Devo ressaltar também a importância dos recursos tecnológicos
existentes com resutados satisfatórios, porém fora do alcance da população no
Brasil. Nos EUA, por exemplo, Fletcher utiliza a palatometria e glossometria
(equipamentos ligados a microcomputadores), para instalação de fonemas e
treino de mobilidade de língua na emissão de vogais. Boone também cita o uso do
nasômetro para treino de equilíbrio da ressonância.
Concluindo, a somatória dos seguintes fatores: tratamento
precoce, amplificação adequada, estimulação de todos os canais sensoriais,
monitoramento constante da voz; enfim, o uso de todos os recursos possíveis à

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nossa realidade pode levar a resultados efetivos possibilitando uma melhor
integração do indivíduo à sociedade.

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