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3 v AVALIAÇÃO DE VOZ

Apesar de o ataque vocal isccrônico ser considerado o tipo do ataque vocal, deve-se também determinar o grau de
modo ideal de se iniciar a fonação, estudos recentes apon- desvio dos ataques bruscos e soprosos, que podem ser clas-
t,:([11que este não é o modo habitual de se iniciar a sonorida- sificados em: discretos, moderados e severos, de acordo
de glótica na maioria dos indivíduos normais, principalmen- com a magnitude da plosão que identifica o ataque brusco,
te nas crianças, onde predomina o ataque vocal do tipo ou do escape de ar que identifica o ataque soproso. Assim,
brusco, quer tenham vozes consideradas adaptadas ou alte- podemos encontrar ataques vocais bruscos como O ataque
radas (Martins, 1998; Behlau & Martins, 199B). habitual em indivíduos com vozes adaptadas, desde que em
Uma estratégia alternativa na pesquisa do ataque vocal grau discreto de desvio.
é a obtenção de um Índice de freqüência dos diferentes
tipos de ataque, a partir da leitura de um texto especialmen-
Estabilidade da Emissão
te elaborado com esse propósito (Andrade, 1998).
A estabilidade da emissão da vogal prolongada requer
Um texto-padrão, em português, foi desenvolvido pelo
um acurado controle do sistema nervoso central. A simples
CEVe está atualmente em teste. Como pode ocorrer elisão
observação auditiva da qualidade da sustentação de uma
entre as vogais, o texto apresenta dez por cento a mais do
vogal fornece-nos subsídios para avaliar a interrelação das
número de vogais-teste, ou seja, 110 palavras iniciando por
forças mioelásticas da laringe e aerodinâmicas da corrente
vogais. Solicita-se ao indivíduo que inicialmente leia o texto
pulmonar. Uma não-sustentação adequada pode indicar


em silêncio, para se familiarizar com o material, e depois o
desde falta de treinamento vocal e alterações emocionais

-•
repita em voz alta, em sua produção vocal habitual, o que
até uma incipiente manifestação de doenças neurológicas.
deve ser gravado para posterior análise e obtenção das p or-
,.,: centagens dos diferentes tipos de ataques vocais. É impor- Os atributos mais importantes quanto à qualidade da
" tante que sejam classificados o tipo e o grau do ataque vo- duração do som emitido podem ser observados acustica-
cal. Segue-se a transcrição do texto para a obtenção do Índi- mente através das medidas de perturbação (veja "Avaliação
ce de ataque vocal. acústica"), ou auditivamente, quando a instabilidade reflete
alterações a longo prazo, como as quebras de sonoridade


(indicativas de paradas na vibração da mucosa da prega
TEXTO PARA AVALIAÇÃO DO vocal), quebras de freqüência (desvios para o agudo.ou para


p
íNDICE DE ATAQUE VOCAL
Este 8110, eu adoraria fazer uma viagem para algum
o grave, do padrão habitual da freqüência vocal), bitonalida-
de (emissão concornitante de dois diferentes sons), flutua-
ções na freqüência e intensidade durante a sustentação do
lugar exótico e interessante, onde eu possa estar exposto

• a novas experiências. Lugares como a Austrália ou a Indo-


som, modificações globais na qualidade vocal e uso de ar de
reserva.

• nésia me interessam pelos seus aspectos culturais e huma-


nos, além de suas paisagens atípicas. Outras opções seri-
am a África do Sul. a Ásia ou ainda uma ilha no Oceano Registros Vocais '/\
Índico. Na América do Sul, além dos Andes, tenho muita O termo registro deriva cios instrumentos musicais, es-
vontade de ir à Amazônia. pecialmente cio órgão, onde o conceito de registro relacio-
Entre todas as escolhas que posso fazer acho a oportu- na-se a um grupo de tubos controlados por mesmo fole um
nidade de ir à Amazônia a que mais me atrai, pois oferece ou pedal.
uma ênOriTiê quantidade dê experiências, que são inigua-
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láveis. É possível visitar algumas aldeias de índios, dormir 50S modos de emitir os sons da tessitura. Assim, as freqüên-
em ocas e conhecer a arte indígena, que inclui adornos e cias de um registro apresentam qualidade vocal quase idênti-
ornamentos feitos com tintas de urucum. É também possí- ca, com mesma base fisiológica, perceptivo-auditiva e acústi-
vel experimentar alimentos originais e infusões de ervas ca, ou seja, sons de um mesmo registro apresentam um cará-
específicas da área. ter uniforme de emissão que permite distingui-los de sons de
Para ter contato com as inúmeras espécies de animais outros registros.
da região, a viagem não deve ser feita à época das chuvas. A avaliação dos registros vocais é um procedimento de
A beleza das aves, em especial das araras amarelas e azuis, natureza essencialmente auditiva, porém a análise acústica,
das onças em extinção e de enormes antas faz desta aven- em especial a espectrografia, pode oferecer informações di-
tura ecológica uma experiência única e inesquecível. ferenciais. .. ;
Os principais registros vocais são: basal, moda/ e elevaáo,
com zonas de passagem entre eles (Hollien, 1974). As princi-
Os estudos desenvolvidos no Centro de Estudos da Voz pais informações, considerando-se as características auditi-
(CEV) revelaram que a simples determinação do tipo de ata- vas, visuais e acústicas dos diferentes registros, são apresen-
que não é suficiente para caracterizar o desvio do início da tadas a seguir.
sonorização das vogais, não sendo capaz de diferenciar a e Registro basal. o registro basal é o que apresenta as fre-
emissão adaptada da disfônica (Behlau, Madazio &Andrade, qüências mais graves de toda a tessirura, variando de 10 a
1998). Os autores propuseram que, além da identificação do 70 Hz. Recebe também o nome de pulsá til , pois perceptu-

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108 VOZ: O LIVRO DO ESPECIAlisTA

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, aimente é assim caracterizado, chegando-se a ouvir os registro de falsete - e outra menor e de ocorrência rara '--
pulsos de vibração durante a emissão (pequenas explo- o sub-registro de flauta. A maior parte das notas do regis-
sões; som semelhante a ranger de porta, ou motor de bar- tro elevado constitui O sub-registro de falsete. Em relação
co em rotação lenta). A intensidade nesse registro é muito ao registro modal, o registro de falsete apresenta uma
débil e a observação laringoscópica mostra pregas vocais fonação suficientemente distinta para constituir uma
encurtadas, grossas, com uma imagem de "bolha dupla" à categoria diferente, embora, a princípio, possamos fazer
laringoestroboscopia. O registro basal pode e1iciar ou não alguma confusão entre as subcategorias de cabeça e false-
a contração supraglótica mediana. A corrente aérea trans- te, por ambas apresentarem notas agudas. A diferença
glótica é mínima, mas a pressão subglótica é muita eleva- básica é que no registro de falsete as emissões são débeis
da: O uso do registro basal como registro habitual deve e têm uma característica de leveza não observada no
ser evitado, pois a comunicação diária exige maiorvolume registrode cabeça.onde as notas são mais robustas. Do
e projeção, impraticâveisnesse tipo de emissão. Ademais, ponto de vista fisiológico em falsete encontramos apenas
.solicita-se uma forte contração da musculatura tireoarite- a ação do cricotireóideo, o que aparece àlaringoestrobos-
nóidea, que não deve ser empregada habitualmente. copia através de pregas vocais muito delgadas, com míni-
Registro modal: o registro modal é o que utilizamos geral- ma superfície de contato-s-apenas no terço anterior, com
mente em nossa fala habitual. É o maior de todos os vibrações restritas a esta região, havendo sempre 'a pre-
registros, e por sua grande extensão é geralmente subdi- sença de uma fenda anterior, ou seja, não se observa a
vidido' em três categorias: peito, misto e cabeça, tam- coaptação completa do sub-regístro de cabeça. Evidente-
bém chamados. respectivamente, de registro modal gra- mente a .corrente aérea transglótica, embora reduzida,
ve, médio e agudo. As freqüências desse registro estão está sempre presente, o que por vezes reflete-se numa
entre 80 e 560 Hz. Por sua importância, as subcategorias emissão levemente soprosa. O sub-registro de flauta é de
de peito e cabeça são designadas como registro de peito ocorrência muito rara, com configuração glótica não bem
e registro de cabeça, embora não apresentem bases fisi- definida, mas acredita-se que ocorra uma grande transfor-
ológicas, perceptivas e acústicas que permitam diferen- mação global da laringe, que passa a funcionar como um
ciá-los em dois registros propriamente ditos. No registro apito, gerando sons semelhantes a silvos de pássaros, com
produção praticamente passiva, como o ar sonorizado ao '--~-',
de peito encontramos a laringe baixa, as 'pregas vocais
espessas e com grande massa em vibração, superfície de passar por uma fresta numa janela.
contato de mucosa extensa e grande amplitude de excur- Na conversação diária usamos os dois registros básicos
são lateral; portanto tal configuração facilita a emissão da emissão - peito e cabeça - de acordo com a situação e
de tons graves e é o registro principal da voz falada mas- o contexto lingüístico. Para as perguntas, tendemos a usar o
culina. Nesse registro, a ação muscular predominante é a registro de cabeça; e para afirmações, constatações ou refle-
cio tireoaritenóideo. A subcategoria mista, ou média, re- xões, o de peito. Mulheres tendem a usar mais o registro de
presenta uma fase intermediária entre o peito e a cabeça, cabeça, enquanto os homens preferem o de peito. O uso
ecorresponde, fisiologicamente, à contração do músculo balanceado desses dois tipos de emissão indica, em geral.
cricotireóideo, representando a passagem da configura- uma personalidade em equilíbrio.
ção dos ajustes musculares da região do peito para a da Alguns indivíduos apresentam um uso divergente des-
cabeça. Nessa subcategoria geralmente as notas que- ses registros, passando de emissões de peito a emissões de
bram, o que pode ser, mascarado com o treino. As zonas cabeça sem relação com o discurso e sem consciência dessa
de passagens, porém, são situações de base fisiológica, alteração, procedimento que foi qualificado como inabilida-
sempre presentes, em maior ou menor grau ,mais ou me- de funcional de controle fonatório, expressando profundo
nos perceptíveis, na tessitura vocal. No registro de cabe- conflito de identificação, produzindo uma disfonia psicogê-
ça encontramos. a laringe em posição alta no pescoço, nica chamada uso divergente de registros (Moses, 1954; Behlau
com pregas vocais estiradas, com reduzida superfície de & Pontes, 1992a).
contato e vibrações em menor extensão e com excursão
lateral mais restrita. Nesse registro a ação do cricotireói- Sensação de freqüência e de intensidade
deo sobrepuja a ação do tireoaritenóideo, porém esta O pitch é a sensação psicofisica da freqüência funda-
ainda está presente. Tal configuração laríngea facilita a mental e não deve ser confundido com a medida de freqüên-
emissão de tons agudos e' esse registro observa-se pre- cia em si. O termo pitch não apresenta tradução para o por-
dominante em mulheres. tuguês e, portanto, optou-se por empregar o verbete na lín-
• Registro elevado: o registro elevado também recebe o gua original, o inglês.
nome de registro leve e, de modo semelhante ao registro O fato importante é que o pitch não é uma simples per-
basal, quase nunca ocorre na fala habitual. Nesse registro cepção da freqüência fundamental. Ao contrário, a freqüên-
estão as freqüências mais agudas que podemos emitir, de cia, a intensidade e as propriedades espectrais do som inte-
160 a 800 Hz, reflexo da ação do músculo cricotireóideo, ragem de modos muito complexos para levar a uma deter-
com o relaxamento do tireoaritenóideo. Apresenta duas minada percepção do pitch. Além disso, julgamentos per-
subcategorias: uma maior e mais importante - o sub- ceptuais isolados podem levar a um,a avaliacão incorreta.

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