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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ...................................................................................................... 3

2 FONOAUDIOLOGIA ............................................................................................. 4

2.1 AUDIOLOGIA .................................................................................................... 5

2.2 Disfagia ............................................................................................................. 8

2.3 Fonoaudiologia educacional .............................................................................. 9

2.4 Linguagem ....................................................................................................... 10

2.5 Motricidade orofacial ....................................................................................... 12

2.6 Saúde coletiva ................................................................................................. 14

2.7 Voz .................................................................................................................. 15

2.8 Gerontologia .................................................................................................... 17

2.9 Neuropsicologia ............................................................................................... 18

2.10 Fluência........................................................................................................ 18

2.11 Fonoaudiologia Neurofuncional .................................................................... 18

2.12 Fonoaudiologia do trabalho .......................................................................... 18

3 PRAGMÁTICA .................................................................................................... 19

5 MORFOLOGIA E SINTAXE ................................................................................ 20

6 FONOAUDIOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS ............................................... 21

7 FONOAUDIOLOGIA HOSPITALAR .................................................................... 30

7.1 Atuação Fonoaudiológica nos Leitos Adultos .................................................. 32

7.2 Atuação Fonoaudiológica na UTI Adulto ......................................................... 33

7.3 Atuação Fonoaudiológica na UTI Neonatal ..................................................... 34

8 FONOAUDIOLOGIA DO TRABALHO ................................................................. 37

9 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS .................................................................... 39

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1 INTRODUÇÃO

Prezado aluno!
O Grupo Educacional FAVENI, esclarece que o material virtual é semelhante
ao da sala de aula presencial. Em uma sala de aula, é raro – quase improvável -
um aluno se levantar, interromper a exposição, dirigir-se ao professor e fazer uma
pergunta , para que seja esclarecida uma dúvida sobre o tema tratado. O comum
é que esse aluno faça a pergunta em voz alta para todos ouvirem e todos ouvirão a
resposta. No espaço virtual, é a mesma coisa. Não hesite em perguntar, as perguntas
poderão ser direcionadas ao protocolo de atendimento que serão respondidas em
tempo hábil.
Os cursos à distância exigem do aluno tempo e organização. No caso da nossa
disciplina é preciso ter um horário destinado à leitura do texto base e à execução das
avaliações propostas. A vantagem é que poderá reservar o dia da semana e a hora que
lhe convier para isso.
A organização é o quesito indispensável, porque há uma sequência a ser
seguida e prazos definidos para as atividades.

Bons estudos!

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2 FONOAUDIOLOGIA

Fonte: patriciafaro.com.br

Fonoaudiologia é a ciência da área da Saúde que atua na promoção,


prevenção, avaliação e diagnóstico, orientação, terapia (habilitação e reabilitação) e
aperfeiçoamento dos aspectos fonoaudiológicos da função auditiva periférica e
central, da linguagem oral e escrita, da voz, da fluência, da articulação da fala e outros
sistemas.
Conhecida por sua atuação em voz e fala, a Fonoaudiologia não se restringe a
isso. Ela cuida de todos os processos de comunicação humana e seu
desenvolvimento, da sucção do leite materno à deglutição na melhor idade.
São 12 as especialidades reconhecidas pelo Conselho Federal de
Fonoaudiologia.

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2.1 AUDIOLOGIA

Fonte: sintrajud.org.br

A Audiologia é uma especialidade da Fonoaudiologia voltada aos distúrbios de


comunicação oriundos do sistema auditivo. Essa área estuda e trata problemas
relacionados à captação, percepção e interpretação de sons advindos de diversas
origens.

O especialista é responsável pelo diagnóstico e tratamento de tais


disfunções, além de poder atuar com pesquisa e desenvolvimento. No
entanto, os campos de trabalho mais comuns e relevantes dessa profissão
são a Audiologia Clínica e a Ocupacional. (CLARA, 2018, p. 3).

De modo geral, qualquer especialidade pode ser aplicada em mais de um


contexto profissional. E é nisto que reside a diferença entre a Audiologia Clínica e
a Audiologia Ocupacional, ou seja, a ênfase de atuação do especialista.
A Audiologia Clínica, como o nome sugere, abrange a intervenção em clínicas
de Fonoaudiologia e atende pacientes em um contexto bastante abrangente. Inclui
pessoas de todas as idades, do nascimento à velhice, e patologias, tanto congênitas
quanto adquiridas.
Já a Audiologia Ocupacional enfatiza a prática no contexto trabalhista. Nesse
ramo, o especialista é demandado para realizar testes audiométricos admissionais,
periciais e ocupacionais. Portanto, avalia a audição de candidatos em processos
seletivos e possíveis déficits oriundos de atividades laborais.

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É inegável que, apesar de a comunicação humana se dar em diferentes
esferas, a linguagem oral é o sistema mais utilizado e eficiente de troca de
informações da nossa sociedade. Assim, a audição se caracteriza como
importante elo na cadeia de comunicação, e a presença de limitações em
acuidade e precisão poderá acarretar alterações no desenvolvimento do
indivíduo e comprometimento da comunicação. (CARTOLANO, 2018, p. 120).

A acuidade auditiva pode estar comprometida por questões de ordem condutiva


ou neurossensorial. As perdas auditivas do tipo condutivo estão relacionadas à
condução dos sons pela orelha externa e média e podem ser ocasionadas por
situações como rompimento da membrana timpânica, presença de secreção ou cera
em excesso. Já as perdas auditivas do tipo neurossensorial são relacionadas às
alterações em orelha interna ou no nervo auditivo e podem ser causadas por lesões
nessas estruturas ou por condições genéticas. Essas perdas, a depender do grau,
podem afetar a compreensão de linguagem oral e aquisição dos sons da língua para
produção de fala.
O grau da perda auditiva está relacionado com a habilidade de ouvir a fala.
Existem diversas classificações para caracterizar o grau das perdas, mas todas
utilizam a média dos limiares tonais em determinadas frequências, normalmente nas
frequências 500, 1.000 e 2.000 Hz. A classificação mais utilizada é a de Lloyd e Kaplan
(9), apresentada no Quadro 1.
Quadro 1. Classificação do grau da perda auditiva de acordo com Lloyd e
Kaplan (9)

(LLOYD, 2013, apud CARTOLANO, 2018, p. 120).

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Ao pensarmos em perdas auditivas durante o desenvolvimento infantil, é
preciso considerar que a aquisição dos sons da língua ocorre a partir da exposição a
eles no meio, experiência na produção desses sons e do feedback auditivo. Sendo
assim, o déficit na chegada das informações auditivas pode causar alterações na
produção de fala. Por exemplo, uma criança que possui perda auditiva leve ou
moderada pode apresentar dificuldades na diferenciação de fonemas como /f/ e /v/,
/p/ e /b/ ou /s/ e /z/; dessa forma, ela poderá apresentar déficit na compreensão,
alteração na produção desses fonemas durante a fala e, consequentemente, trocas
na escrita.
Existem diversos exames para a verificação da acuidade auditiva, variando de
acordo com a hipótese diagnóstica (alteração condutiva ou neurossensorial), a idade,
habilidade e colaboração do indivíduo para fornecer as respostas.
Desde 2010 é assegurado por lei que todos os bebês nascidos em território
brasileiro sejam submetidos ao Programa de Triagem Auditiva Neonatal Universal
(TANU), que consiste nos exames de Emissões Otoacústicas (EOA) e/ou Potencial
Evocado Auditivo de Tronco Encefálico (PEATE) para rastreio de perdas auditivas
maiores que 35 dBNA. Esses exames fornecem dados objetivos quanto à acuidade
auditiva independentemente da colaboração do indivíduo testado, pois coletam
informações eletrofisiológicas. Esses mesmos exames podem ser realizados com
indivíduos em qualquer faixa etária e são de grande valia para situações em que o
sujeito testado apresenta dificuldades em fornecer respostas aos estímulos.

A avaliação audiológica infantil é o exame mais comumente utilizado para


pesquisa de limiares auditivos em crianças. Baseia-se na correlação do
comportamento da criança frente aos estímulos sonoros apresentados e, por
isso, é considerada um teste subjetivo. A metodologia utilizada dependerá da
idade e do nível de desenvolvimento da criança a ser avaliada. Os métodos
mais utilizados são: Audiometria Comportamental, Audiometria Lúdica
Condicionada, Audiometria de Reforço Visual (VRA) e Audiometria de Campo
Livre. (CARTOLANO, 2018, p. 121).

Outro aspecto importante na avaliação da audição é o processamento auditivo.


Por Processamento Auditivo Central (PAC), entende-se a eficiência e efetividade do
sistema nervoso central em utilizar a informação auditiva (2). Indivíduos com
desordem do processamento auditivo (DPA) apresentam queixas de dificuldade de
compreensão da informação recebida pela via auditiva, apesar de não apresentarem
alterações na acuidade auditiva. Essa desordem tem sido observada em diversas

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populações, incluindo aquelas com suspeita de doença do sistema nervoso central ou
desordens do desenvolvimento do sistema nervoso central e algumas em que o
envolvimento do sistema nervoso central é claro (exemplos: afasia, epilepsia, tumores,
entre outras).
Existem diversos testes para a avaliação do processamento auditivo; muitos
são complementares e avaliam diferentes habilidades do processamento. A seleção
desses testes bem como a quantidade de testes que serão necessários para a
obtenção do diagnóstico variam de acordo com o histórico e a queixa do paciente e
devem ser definidas pelo audiologista responsável para avaliação.
As habilidades avaliadas são: atenção seletiva, fechamento auditivo (completar
a informação quando algumas partes foram omitidas), integração e síntese binaural
(integrar estímulos apresentados simultaneamente ou alternadamente para ambas as
orelhas), figura-fundo (identificar o estímulo-alvo na presença de outros sons
competitivos), separação binaural (escutar com uma orelha e ignorar o estímulo para
a orelha oposta), associação (estabelecer correspondência entre um som e sua fonte
sonora), localização sonora (localizar a fonte sonora a partir da audição binaural),
discriminação (determinar se estímulos são iguais ou diferentes e reconhecer
diferenças sutis) e memória auditiva. Como resultado um indivíduo pode apresentar
comprometimento em uma ou mais habilidades. Tais habilidades podem ser
fortalecidas e a dificuldade superada.
É importante que os profissionais envolvidos no acompanhamento de crianças
tenham atenção às questões ligadas à audição para identificar a necessidade de
avaliação específica e intervenção oportuna, quando houver necessidade, visando à
promoção de facilitadores do desenvolvimento global do indivíduo.

2.2 Disfagia

É uma alteração da deglutição, ou seja, do ato de engolir alimentos ou saliva.


Não se trata de uma doença, mas sim de um sintoma que indica prejuízo no ato de
engolir ocasionado por diversos fatores, dentre eles: trauma em região da cabeça e
pescoço, acidente vascular cerebral, demências, doenças neuromusculares,
intubação orotraqueal prolongada e câncer de cabeça e pescoço. O tratamento das
alterações da deglutição deve envolver uma equipe multidisciplinar, composta no

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mínimo por médicos, enfermeiros, nutricionistas e fonoaudiólogos. Na equipe, o
fonoaudiólogo é o profissional apto para lidar com os distúrbios da deglutição e da
comunicação, sendo o responsável pelo diagnóstico e intervenção da disfagia.

O diagnóstico da disfagia é, em geral, realizado pelo fonoaudiólogo, através


da avaliação funcional da deglutição. Para o diagnóstico e indicação de
tratamento são realizados: anamnese fonoaudiológica, avaliação funcional da
deglutição, avaliação instrumental através da ausculta cervical e definição de
conduta e tratamento através de programas de reabilitação. (FRAGA, 2018,
p.2).

O fonoaudiólogo, ainda, sugere e indica exames complementares para auxiliar


no diagnóstico e tratamento da disfagia e direciona o caso junto à equipe
interdisciplinar. Exames complementares podem ser indicados, como a vídeo
fluoroscopia e a nasolaringofibroscopia.

2.3 Fonoaudiologia educacional

A atuação fonoaudiológica no âmbito educacional, é marcada historicamente


por ações que se preocupavam com o processo de “doença”, no sentido de tratar o
indivíduo em base de avaliações e terapia fonoaudiológica, com o objetivo de
normatizar as alterações da comunicação oral e escrita. Mas, com mudanças
ocorridas nesta conjuntura, na atualidade o Conselho Federal de Fonoaudiologia
determinou que:

“A Fonoaudiologia Educacional é uma área de especialização da


Fonoaudiologia voltada ao estudo e atuação para a promoção da Educação,
em todos os níveis ou modalidade de ensino” (SISTEMAS DE CONSELHO
FEDERAL E REGIONAIS DE FONOAUDIOLOGIA, 2015, apud MAURICIO,
2018, p. 2).

Assim, este profissional deve acrescentar qualidade ao processo educacional,


mas com a diferenciação de na atualidade dar ênfase também a formação de
professores, e pautar-se em promover o processo de aprendizagem, tornando-se um
diferencial na escola em que atua. Nesta atuação dentro da escola e no processo
educativo, o fonoaudiólogo não deve apenas identificar as alterações da linguagem
oral escrita, mas também propiciar o desenvolvimento das mesmas.

Dessa maneira, o fonoaudiólogo deve estabelecer seus atos e objetivos de


educação em conjunto com a escola. Então esse paradigma de que o

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fonoaudiólogo deve atuar na promoção da educação na escola e não na
promoção da saúde precisa ser quebrado (KÜESTER, CASTELEINS, 2001,
apud MAURICIO, 2018, p. 2).

O domínio do especialista em Fonoaudiologia Educacional inclui


aprofundamento em estudos específicos e atuação em situações que contribuam para
a promoção, aprimoramento e prevenção de alterações dos aspectos relacionados à
audição, linguagem (oral e escrita), motricidade oral e voz e que favoreçam e otimizem
o processo de ensino e aprendizagem.

2.4 Linguagem

Fonte: gazeta670.com.br

É a especialidade que trabalha com os aspectos que envolvem a


comunicação oral e escrita. O seu desenvolvimento dá-se desde a infância
até a idade adulta. Pessoas com problemas de comunicação (expressão e
compreensão) podem ter dificuldades na sua integração social e profissional.
(COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL, 2003).

Antes de compreender a totalidade da linguagem, é necessário esclarecer que


linguagem é diferente de comunicação, de fala e de língua. Apesar de todos esses
aspectos estarem interligados, é possível e necessário, em uma avaliação
fonoaudiológica, distinguir e compreender todas essas áreas para identificar de
maneira precisa as áreas deficitárias e as áreas comprometidas de maneira
secundária.

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A comunicação é o ato de “partilhar” ou “tornar comum” algo, sejam
sentimentos, sensações, fatos, ideias etc. Em um processo de comunicação,
é necessário que haja esses seis elementos: o emissor, aquele que envia a
mensagem; o receptor ou destinatário, que é quem recebe, decodifica e
interpreta a mensagem; a mensagem, que carrega o conteúdo, aquilo que se
deseja comunicar; o código, conjunto de signos e regras com os quais a
mensagem é elaborada; e por fim e não menos importante, o contexto, que é
a situação à qual a mensagem está se referindo. (JAKOBSON, 2010, apud
CARTOLANO, 2018, p. 122).

A língua também possui caráter social. O indivíduo, por si só, não pode criá-la
nem a modificar, pois se trata essencialmente de um produto coletivo. A língua é um
sistema de sinais que possui suas próprias regras que permite a comunicação de um
determinado grupo. Já a fala é um ato motor, resultado de um sistema neuromuscular
em que é necessário produzir fonética e fonologicamente os signos de uma
determinada língua. Ou seja, é um dos meios de expressar a língua.
A linguagem é um sistema dinâmico e complexo de códigos e símbolos
convencionais e organizados. Ou seja, é a base do conteúdo da mensagem que um
indivíduo deseja transmitir ao outro e que permite a própria interação. A linguagem,
de maneira simplificada, é a capacidade que o humano possui em atribuir um
significado a tudo com o que interage, desde elementos concretos e observáveis,
como objetos, até elementos subjetivos como sentimentos, teorias etc.
Pensando na avaliação fonoaudiológica em um quadro de Distúrbio do
Desenvolvimento, é preciso realizar uma varredura desde as habilidades sociais e pré-
linguísticas primordiais para o desenvolvimento de linguagem até os aspectos
linguísticos o quanto antes, visando à intervenção oportuna. Para isso, é necessário
que o avaliador tenha conceitos bem definidos, como o processo de aquisição e
desenvolvimento da linguagem e da cognição. A capacidade de identificar com
exatidão as áreas alteradas proporciona a intervenção eficaz e aumenta a
possibilidade de um melhor prognóstico de cada caso.
Em um primeiro momento, sabemos que o bebê conhece o mundo e se
organiza de maneira sensório-motora e que a sua capacidade de interagir se restringe
aos estímulos da situação imediata. Inicialmente, o choro é o seu meio comunicativo,
o qual ainda não é intencional e dirigido. No entanto, é interpretado e significado pelo
(a) cuidador (a), que tem um papel importante no desenvolvimento de linguagem, já
que a relação estabelecida pela díade proporciona experiências primordiais para o
desenvolvimento de aspectos como intencionalidade que, por sua vez, impulsionam

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as trocas. O bebê, já em seu primeiro ano de vida, é capaz de manter a atenção para
o que lhe é solicitado ou até mesmo direcionando a atenção do interlocutor a um objeto
e/ou situação sem a fala. Ou seja, a alteração de linguagem em indivíduos com
Distúrbios do Desenvolvimento pode ser identificada muito antes da aquisição da
linguagem oral.

Após o primeiro ano de vida, é notável que o bebê consegue se comunicar


cada vez melhor e com cada vez mais pessoas. A aquisição e compreensão
dos símbolos, junto com as experiências, faz com que a sua comunicação
seja cada vez mais efetiva. O processo de aquisição de signo linguístico se
baseia na associação entre o significante (imagem acústica) e o significado
(imagem mental ou conceito). (Saussure, 2006, apud CARTOLANO, 2018, p.
122).

Muito mais do que apenas uma associação mental, tal processo depende de
sistemas como o fisiológico, o cognitivo, o social e o cultural.
A avaliação fonoaudiológica precisa, então, compreender desde a forma
linguística (fonologia, morfologia e sintaxe), o conteúdo (semântica) e a funcionalidade
do uso (pragmática).

2.5 Motricidade orofacial

Fonte: t onturasevertigem.com.br

A motricidade orofacial encontra-se frequentemente relacionada com a


produção de fala, pois esta última depende da primeira. O desenvolvimento do
aparelho fonador e articulatório (pulmões, laringe, cordas vocais, faringe, cavidade

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oral, palato mole, palato duro, língua, dentes, lábios, mandíbula e cavidade nasal)
ocorre desde o período embrionário, culminando com as funções de deglutição e
sucção, observadas por volta da 11.ª e 20.ª semanas de idade gestacional

Motricidade Orofacial é uma das áreas da Fonoaudiologia voltada para o


estudo/pesquisa, prevenção, avaliação, diagnóstico e tratamento de
alterações estruturais e funcionais da região da boca (oro) e da face (facial)
bem como da região do pescoço. (COMITÊ DE MOTRICIDADE OROFACIAL,
2003, apud BENANCCHIO, 2019, p. 29).

Como principais problemas relacionados à motricidade orofacial podemos citar


as alterações na respiração, sucção, mastigação, deglutição e fala, assim como na
posição dos lábios, da língua e das bochechas. Estuda também o sistema
estomatognático e as funções a ele relacionadas: respiração, sucção, mastigação,
deglutição e articulação de fala.
O sistema estomatognático é composto por estruturas de tecido duro: maxila,
mandíbula, articulação temporomandibular e dentes, e por tecidos moles como lábios,
língua, bochechas e toda a musculatura da mímica. As funções estomatognáticas de
respiração, sucção e deglutição estão presentes no indivíduo desde o nascimento,
inicialmente como reflexos, e, a partir do desenvolvimento do sistema nervoso,
tornam-se voluntários.
A avaliação desses reflexos nos dá informações sobre a maturidade e a
integridade do sistema nervoso. Nessa fase do desenvolvimento, a fonoaudiologia
atua com as dificuldades ligadas à amamentação, incluindo a efetividade da sucção,
dificuldades em deglutição e coordenação entre respiração, sucção e deglutição, que
podem causar comprometimentos clínicos e nutricionais. Além disso, a execução
adequada das funções estimula o crescimento craniofacial, viabilizando o seu
desenvolvimento ao longo do desenvolvimento global da criança.

A mastigação e a articulação de fala são desenvolvidas a partir da maturação


do sistema nervoso e sofrem grande influência das condições estruturais e
da qualidade da execução das demais funções. Alterações nesse sistema
podem ocorrer por causas mecânicas, como alterações oclusais, aumento de
tonsilas, fissuras palatinas ou câncer de cabeça e pescoço; fisiológicas, como
doenças respiratórias (exemplos: rinite e sinusite); ou neurológicas, como
paralisia cerebral, doenças neurológicas evolutivas ou traumatismos
encefálicos. O tratamento deve variar de acordo com a causa. (CARTOLANO,
2018, p. 127).

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A avaliação completa do sistema estomatognático envolve levantamento da
história pregressa, observação da postura corporal e dos órgãos do sistema
estomatognático durante o repouso, testes de sensibilidade, tônus e mobilidade das
estruturas moles, praxias orofaciais, verificação da situação das estruturas duras
(desvio de septo, oclusão, relação maxila-mandíbula) e funcionalidade.
O desenvolvimento das funções estomatognáticas tem características
específicas nas diferentes idades e nas diferentes patologias e, portanto, é preciso
conhecimento anatomofisiológico das estruturas que participam da função que se
pretenda trabalhar assim como conhecer o seu desenvolvimento. Nesta área, o
fonoaudiólogo pode atuar em parceria com outros profissionais como dentistas,
médicos de diversas especialidades, fisioterapeutas, terapeutas ocupacionais e
nutricionistas.

2.6 Saúde coletiva

Fonte: mundodafono.com.br

É um campo da Fonoaudiologia voltado a construir estratégias de


planejamento e gestão em saúde, no campo fonoaudiológico, com vistas a
intervir nas políticas públicas, bem como atuar na atenção à saúde, nas
esferas de promoção, prevenção, educação e intervenção, a partir do
diagnóstico de grupos populacionais. (COMITÊ DE MOTRICIDADE
OROFACIAL, 2003, apud BENANCCHIO, 2019, p. 29).

Para isto, é preciso conhecer as condições de saúde deste grupo, por meio da
caracterização da população usuária dos serviços coletivos e de estudos

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epidemiológicos, a fim de elaborar políticas adequadas à população. Pesquisas no
campo da Fonoaudiologia comunitária são relevantes, a fim de oferecer contribuição
para definir melhor o papel e lugar do fonoaudiólogo. Inicialmente, esses profissionais
tentaram adotar a estrutura de atendimento clínico-privado no sistema público, sendo
os resultados não satisfatórios.
Na prevenção primária, o fonoaudiólogo deve atuar educando e
conscientizando a população sobre os cuidados básicos para a manutenção da saúde
global da comunicação, identificar e acompanhar as patologias de maior ocorrência
na população, tendo como objetivo diminuir as possibilidades de evolução ou
agravamento, prevenindo contra a necessidade de atendimento aos níveis
secundários e terciários.
Os aspectos envolvidos na habilidade de comunicação do ser humano como a
fala, a voz, a linguagem e a audição são consideradas atributos da saúde, e suas
manifestações patológicas comprometem a qualidade de vida.

2.7 Voz

Fonte: centraldafonoaudiologia.com.br

Voz é o campo da Fonoaudiologia voltado para o estudo e a pesquisa da voz,


a promoção da saúde vocal, a avaliação e o aperfeiçoamento da voz; assim
como a prevenção, o diagnóstico e o tratamento das alterações vocais, quer
sejam na modalidade de voz falada como voz cantada. (COMITÊ DE
MOTRICIDADE OROFACIAL, 2003).

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O fonoaudiólogo deve aplicar técnicas para o aperfeiçoamento da articulação,
respiração, entonação e pronúncia de profissionais que utilizam a voz em suas
atividades. Prevenir e tratar problemas como rouquidão e sequelas de tumor.
A voz, tal como ouvida pelo interlocutor, é resultado da interação entre fatores
anatômicos, fisiológicos, sociais, emocionais e ambientais. O padrão vocal tem a
função de transmitir a mensagem emocional do falante, e variações nesse padrão
devem refletir emoções diversas e situações distintas.
Uma alteração vocal pode interferir na inteligibilidade da mensagem e, portanto,
na eficiência da comunicação. Tal alteração pode ter como causa alterações
estruturais, funcionais (abuso ou mau uso vocal), neurológicas, origem psicogênica,
alguma lesão (tumores, paralisias), ou até mesmo um conjunto desses fatores. A
avaliação fonoaudiológica, nesses casos, inclui compreender a dinâmica
biopsicossocial da voz. É necessário observar os seguintes aspectos:

 Estruturas fisiológicas: Avaliar a integridade e a funcionalidade de todas as


estruturas necessárias para a produção da voz: as estruturas responsáveis
pela respiração, como o diafragma, e a integridade das vias respiratórias; os
responsáveis pela fonação, como as pregas vocais, responsáveis pela
regulação da frequência, até as estruturas responsáveis pela ressonância e
articulação fala.
 Postura corporal: Influencia diretamente no padrão respiratório e no ajuste
dos músculos. A postura pode limitar os movimentos necessários para a
fonação ou até mesmo ser a causa de um desvio de posição de laringe, por
exemplo.
 Qualidade da percepção auditiva: Como já explicado, o feedback auditivo
é uma habilidade importante no processo da comunicação. A falha na
percepção auditiva pode impactar negativamente a produção da voz, como
exagerar na intensidade da voz, por exemplo.
 Sistema respiratório: A efetividade da respiração está diretamente
relacionada à qualidade da projeção de voz e à sua intensidade. Apesar de
parecer algo natural, muitos indivíduos com Distúrbios do Desenvolvimento
apresentam dificuldade em controlar e coordenar a respiração juntamente
com as outras funções estomatognáticas, seja pelo déficit cognitivo ou
neurológico. Avaliar o padrão respiratório e possibilitar o suporte costo-
diafragmático-abdominal permite melhor controle da pressão infraglótica e
previne lesões por mau uso, como no caso da tensão laríngea. 9
CARTOLANO, 2018, p. 128).

Na avaliação da voz, não se pode negligenciar o contexto. É importante


considerar a função, a frequência e o ambiente em que se usa a voz.
Os aspectos a serem avaliados por um profissional fonoaudiólogo relatados i
são os que surgem com mais frequência nos casos de Distúrbios do Desenvolvimento
relacionados à comunicação. Vale lembrar que cada caso necessita de um olhar

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individualizado, e que, em alguns casos, podem surgir questões mais específicas.
Além da avaliação qualificada e especializada, é indicado que os profissionais
envolvidos no caso se articulem visando a um trabalho interdisciplinar, em que os
conhecimentos se agregam em prol do atendimento humanizado e integral do
indivíduo.

2.8 Gerontologia

Dentre as funções do Fonoaudiólogo Especialista em Gerontologia estão as de


realizar promoção da saúde do idoso, prevenção, avaliação, diagnóstico,
habilitação/reabilitação dos distúrbios relacionados à audição, ao equilíbrio, à fala, à
linguagem, à deglutição, à motricidade orofacial e à voz nessa população.
O Fonoaudiólogo Especialista em Gerontologia está apto a:

I - Traçar linhas de atuação fonoaudiológica que possam melhorar as


condições de qualidade de vida do idoso;
II - Atuar junto à equipe profissional de forma interdisciplinar e transdisciplinar
para que suas ações possam beneficiar e melhorar a qualidade de vida do
idoso;
III - Desenvolver ações de natureza social e educacional, formativa e
informativa, visando a prevenir agravos, gerar melhores condições de
qualidade de vida e enfrentar ou superar dificuldades já existentes;
IV - Participar de ações no campo das políticas públicas voltadas para o
segmento populacional idoso, principalmente no que diz respeito à
elaboração, à execução e ao acompanhamento de projetos e propostas que
contribuam para a melhoria do atendimento da pessoa idosa no campo
fonoaudiológico;
V - Realizar diagnóstico identificando e caracterizando os
problemas fonoaudiológicos que possam afetar a qualidade de vida do idoso;
VI - Orientar a equipe e a família em todos os aspectos ligados à
Fonoaudiologia, promovendo a diminuição de fatores de risco para a saúde
do idoso;
VII - Desenvolver ações voltadas à consultoria e à assessoria
fonoaudiológicas;
VIII - Promover processos de formação continuada de profissionais voltados à
assistência à pessoa idosa;
IX - Realizar e divulgar estudos e pesquisas científicas que contribuam para
o crescimento da educação e para a consolidação da atuação
fonoaudiológica no âmbito da Gerontologia;
X - Gerir serviços de atenção ao idoso. (RESOLUÇÃO CFFa nº 463, de 21
de janeiro de 2015).

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2.9 Neuropsicologia

O Fonoaudiólogo Especialista em Neuropsicologia está apto a prevenir, avaliar,


tratar e gerenciar os distúrbios que afetam a comunicação humana e sua interface
com a cognição, relacionando-a com o funcionamento cerebral.

2.10 Fluência

Identificar as tipologias das disfluências típicas e atípicas para o diagnóstico e


intervenção precoce dos transtornos da fluência; orientar as famílias e as equipes de
saúde e educação sobre a identificação de transtornos da fluência; gerenciar
programas de reabilitação dos transtornos da fluência; Atuar como perito ou como
auditor em situações nas quais esteja em questão o processo de fluência normal ou
alterada.

2.11 Fonoaudiologia Neurofuncional

O Fonoaudiólogo Especialista em Fonoaudiologia Neurofuncional realiza


avaliação, diagnóstico, prognóstico, habilitação e reabilitação fonoaudiológicos de
pessoas em diferentes ciclos de vida com alterações neurofuncionais, atuando nas
sequelas resultantes de danos ao sistema nervoso central ou periférico.

2.12 Fonoaudiologia do trabalho

Na especialidade em Fonoaudiologia do Trabalho, o fonoaudiólogo deverá


promover mudanças consecutivas na forma de organização do trabalho levando em
consideração a saúde e aperfeiçoamento da comunicação humana, o
desenvolvimento de programas de prevenção ocupacional, a implantação de
programas de qualidade de vida do trabalho, bem como detecção e diagnóstico dos
riscos fisiológicos em situações reais. A principal meta é possibilitar a permanência no
trabalho sem restrição excessiva da atividade profissional, com conforto e sem riscos.

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3 PRAGMÁTICA

A pragmática é a ciência que estuda a linguagem no seu uso e em seus


contextos sociais. Na perspectiva pragmática, a linguagem é um instrumento para a
realização das intenções do sujeito, ou seja, o recurso linguístico possui uma função
comunicativa.

A função da linguagem pode variar conforme o interlocutor, o ambiente, a


cultura e o contexto em que ocorre, e, além dos aspectos formais da
linguagem, é possível analisar elementos supralinguísticos, como prosódia e
comunicação corporal (contato ocular, gestual, expressão facial). (Bates,
1976, apud CARTOLANO, 2018, p. 126).

Nesse tipo de avaliação, faz-se a análise da efetividade e da adequação da


interação do indivíduo. Mesmo sem a presença da fala, é possível observar elementos
como a ocupação do espaço comunicativo, a iniciativa comunicativa, o meio ou a
forma em que a iniciativa comunicativa ocorre, o nível de interatividade, além de
classificar as funções comunicativas. Todo tipo de ação do indivíduo, seja considerada
mais ou menos interpessoal, é passível de interpretação nessa perspectiva. Enfim, é
possível traçar o perfil de comunicação do indivíduo.
A habilidade pragmática é o primeiro aspecto de comunicação a surgir em um
indivíduo e se mantém em constante desenvolvimento, pois se ajusta conforme a
aquisição dos recursos cognitivos, sociais e linguísticos. Vale lembrar que o
desenvolvimento dessas habilidades não depende exclusivamente de fatores
fisiológicos como a maturação neurobiológica, mas também de aspectos sociais,
emocionais e cognitivos. Por isso, a interpretação isolada do resultado de uma
aplicação de protocolo é enviesada se não levarmos em consideração todas as outras
áreas com que possui afinidade.

4 SEMÂNTICA

O processamento semântico é a compreensão do significado das palavras.


Tal habilidade permite desde a compreensão do conceito em si até mesmo a
capacidade de compreender significados implícitos por meio da associação
de diferentes palavras em um determinado contexto. ( BARRETT, 1997, apud
CARTOLANO, 2018, p. 126).

Os desvios semânticos podem ser classificados em:

19
 Superextensão: Quando o indivíduo substitui o vocabulário por outro do
mesmo campo semântico, mas mais amplo ou genérico. (Exemplo: animal →
rinoceronte).
 Subextensão: Quando o indivíduo substitui o vocabulário por outro do mesmo
campo semântico, mas reduzido. (Exemplo: alface → salada).
Antonímias: Quando o indivíduo substitui o vocabulário pelo seu antônimo
(Exemplo: puxar → empurrar).
 Desvio por relações de contiguidade: Quando o indivíduo substitui o
vocabulário por outro que possui uma relação de sentido (Exemplo: professora →
mulher).
 Desvio por proximidade morfológica: Quando o indivíduo substitui o
vocabulário por outro, criado em um processo de derivação ou composição. (Exemplo:
cabeceiro → travesseiro).
 Desvio por proximidade fonológica: Quando o indivíduo substitui o vocabulário
por outro por semelhança fonológica (Exemplo: enganado → empanado). A avaliação
dessa área pode ser realizada com instrumentos ou situações que permitam observar
a compreensão e a nomeação de conceitos, respeitando a idade cronológica e o
ambiente em que o sujeito está inserido.

5 MORFOLOGIA E SINTAXE

A habilidade morfossintática se refere à organização estrutural da linguagem,


abrangendo a análise conjunta entre a morfologia (estrutura interna das palavras,
regras para a combinação dos morfemas) e a sintaxe (organização das palavras para
produzir uma ideia). A análise morfológica preconiza o estudo isolado das palavras
em diferentes classes gramaticais, enquanto a análise sintática se detém à função que
as palavras desempenham em uma oração.

O desenvolvimento dessa habilidade é gradual, partindo de estruturas


simples para as mais complexas. Em torno dos 5 anos de idade, a criança
consegue dominar o sistema gramatical básico de sua língua e, passada essa
idade, as conquistas mais importantes se referem à consideração
multifuncional das diferentes categorias e estruturas gramaticais. A aquisição
do conteúdo lexical acontece de forma lenta, sendo que, inicialmente, ocorre
a aquisição de palavras mais contextualizadas à criança que, posteriormente,
conseguirá realizar associações entre as palavras, identificando e abstraindo

20
suas similaridades. Dessa forma, o significado das palavras é adquirido pela
combinação dos atributos semânticos percebidos e observados no contexto.
(SIM-SIM, 2008, apud CARTOLANO, 2018, p. 126).

Um indivíduo com Distúrbio do Desenvolvimento pode apresentar sintomas


diversos, que variam desde uma dificuldade de compreensão abstrata e evocação
lexical até de elaboração do discurso. É comum o indivíduo utilizar termos genéricos,
jargões, rupturas na fala produzindo um discurso semelhante ao de um indivíduo com
gagueira, por exemplo. Um dos instrumentos mais utilizados para analisar a amostra
da fala e obter dados quanto ao desempenho dos aspectos morfológicos e sintáticos
é o Mean Length Utterance (MLU), referido em Português como a Extensão Média do
Enunciado (EME). A EME pode ser utilizada para analisar a nível tanto de morfemas
como de palavras. O primeiro apresenta dados quanto ao índice para verificação do
desenvolvimento gramatical, e a segunda medida fornece dados sobre o
desenvolvimento linguístico geral da criança.

6 FONOAUDIOLOGIA: ASPECTOS HISTÓRICOS

Fonte: dm.jor.br

O fonoaudiólogo é o profissional habilitado para atuar em diversas frentes de


cuidado, sendo um profissional de Saúde e Educação, com graduação plena em
Fonoaudiologia, que atua de forma autônoma e independente nos setores público e
privado. A profissão responde pela promoção da saúde, prevenção, avaliação e

21
diagnóstico, orientação, terapia (habilitação e reabilitação) e aperfeiçoamento dos
aspectos fonoaudiológicos da função auditiva periférica e central, da função vestibular,
da linguagem oral e escrita, da voz, da fluência, da articulação da fala e dos sistemas
miofuncional, orofacial, cervical e de deglutição. Exerce também atividades de ensino,
pesquisa e administrativas.
Em documento produzido pelo Conselho Federal de Fonoaudiologia intitulado
“Áreas de competência do Fonoaudiólogo no Brasil” são definidas doze grandes áreas
de competência (GAC) do fonoaudiólogo, listadas na seguinte ordem:

Realizar avaliação fonoaudiológica; estabelecer diagnóstico de


fonoaudiologia; executar terapia (habilitação/reabilitação); orientar pacientes,
clientes internos e externos, familiares e cuidadores; monitorar desempenho
do paciente ou cliente (seguimento); aperfeiçoar a comunicação humana;
efetuar diagnóstico situacional; desenvolver ações de saúde coletiva dos
aspectos fonoaudiológicos; exercer atividades de ensino; desenvolver
pesquisas; administrar recursos humanos, financeiros e materiais e
comunicar-se. (OLIVEIRA 2017, p. 20).

No Brasil, historicamente a prática de atividades relacionadas ao que


posteriormente foi considerado o escopo da profissão de fonoaudiólogo teve seu início
ainda na década de 20, tendo como contexto social a aplicação de políticas de controle
à linguagem, enfocando a padronização da língua. O surgimento da prática de
atuação, portanto, foi marcado pela preocupação com a correção de erros de
linguagem apresentados por escolares.
De acordo com Oliveira (2017), a literatura aponta que em meados de 1920 a
linguagem passou por uma política de controle, que culminou em políticas de
padronização e normatização e por esse motivo as atividades dos profissionais
ligados a linguagem tiveram ligação bastante aproximada à atividade pedagógica e
corretiva do professor.
Inicialmente, portanto, os fonoaudiólogos tinham suas preocupações e
atividades voltadas prioritariamente para a reabilitação e correções de alterações de
linguagem.
Os primeiros cursos, ainda técnicos, regulamentados no país foram os da
Universidade São Paulo (1961) ligado à Faculdade de Medicina e o curso da Pontifícia
Universidade Católica de São Paulo (1962), ligado ao Instituto de Psicologia. Na
década de 70 houve intensa mobilização para o reconhecimento da profissão quando
então se criou o currículo mínimo para o curso de Fonoaudiologia em nível bacharel,

22
tendo sido a Universidade de São Paulo (USP) a primeira a ter o curso autorizado, em
1977.
Em 09 de Dezembro de 1981 a profissão foi reconhecida pela Lei n 6965,
sancionada pelo presidente João Figueiredo e em decorrência do reconhecimento
legal foram criados os Conselhos Regional e Federal de Fonoaudiologia.
Concomitante ao início histórico da atuação da fonoaudiologia, sendo então
uma prática profissional ainda não reconhecida, foi iniciada no Brasil a Medicina
Previdenciária por meio da criação dos Institutos de Aposentadorias e Pensões, o que
possibilitou ao Estado responder às necessidades sociais da população de maneira
mais abrangente.

Em 1953 foi criado o Ministério da Saúde, em resposta às demandas de


saúde surgidas especialmente dentro da população de baixa renda que não
poderiam ser sanadas apenas em ambiente hospitalar, local onde àquela
época estavam centradas as ações da Medicina Previdenciária. (BEFI, 1997,
apud OLIVEIRA 2017, p. 21).

A década de 60 foi marcada inicialmente pela institucionalização do regime


ditatorial, permeado pela mercantilização da saúde aliada à burocratização técnica do
sistema. A partir deste contexto e por meio da unificação dos Institutos de
Aposentadorias e Pensões (IAP´s) cria-se o Instituto Nacional de Previdência Social
(INPS) na década de 60, tendo como principal objetivo o de assistir a todos os
trabalhadores segurados e seus familiares. Essa assistência, porém, era realizada
essencialmente por meio de contratação de serviços privados de assistência médica,
priorizando a lógica do lucro das empresas privadas. Nesse período houve também
grande expansão da medicina de grupo, modalidade em que as empresas deixavam
de contribuir com o INPS e contratavam um serviço privado para prestação de serviços
aos seus trabalhadores.
Na década seguinte, em 1975, discutiu-se a crise do setor de saúde na V
Conferência Nacional de Saúde, onde foi apresentada uma proposta do governo
federal para a criação de um Sistema Nacional de Saúde, por meio da lei 6.229. Essa
proposta foi criticada fortemente pelo setor de empresários ligados à prestação
privada de serviços médicos.
Em 1977, é criado o Instituto Nacional da Assistência Médica da Previdência
Social (INAMPS) cuja ação principal pautava-se na assistência a servidores de

23
autarquias do Distrito Federal, trabalhadores de centros urbanos e servidores da
União.

Ao final dos anos 70 esse modelo de saúde voltado à mercantilização do


cuidado mostra-se em crise, especialmente devido aos altos custos da
assistência, que por sua vez era complexa e pouco resolutiva, além de ser
claramente insuficiente para a demanda. (AGUIAR, 2001, apud OLIVEIRA
2017, p. 22).

Ainda segundo Aguiar (2001), no ano de 1978 ocorreu a Conferência de Alma


Ata, onde iniciou-se a difusão na América Latina do conceito de Atenção Primária à
Saúde e os primórdios da medicina comunitária.
Os movimentos sociais bastante atuantes nesse período pressionaram o
governo para que fossem realizadas mudanças no sistema de assistência
previdenciária visando redução a da escassez de recursos e diminuição dos custos
operacionais do sistema. Por meio dessa pressão social foi criado o CONASP
(Conselho Consultivo de Administração da Saúde Previdenciária) que visava, dentre
outros aspectos, a melhoria da qualidade da atenção, a descentralização e a criação
de um sistema de cuidado em saúde hierarquizado por nível de complexidade. A partir
do CONASP criam-se as Ações Integradas de Saúde (IAS´s) possibilitando a
expansão da cobertura assistencial por meio da construção de Unidades Básicas de
Saúde.
Entre as décadas de 70 e 80 articulou-se o movimento da Reforma Sanitária
sob fortes influências das instituições acadêmicas como CEBES (Centro Brasileiro de
Estudos da Saúde) e ABRASCO (Associação Brasileira de Pós-Graduação em Saúde
Coletiva), com o intuito de reformular o sistema de saúde vigente, universalizando o
direito à saúde e considerando a saúde como qualidade de vida e compreendida como
fruto do cuidado integral.
As reivindicações da Reforma Sanitária tomaram espaço na VIII Conferência
Nacional de Saúde, realizada em 1986. No ano seguinte, instala-se a Assembleia
Nacional Constituinte, com objetivo de elaborar a nova constituição brasileira.
Em 1988 promulga-se a nova Constituição Federal, e por meio dela fora
aprovado o Sistema Único de Saúde, onde muitas das propostas da reforma sanitária
foram incorporadas no arcabouço geral do sistema.
A Constituição Federal de 1988 e a consequente implantação do Sistema Único
de Saúde, foram um marco decisivo para a inclusão da população por meio de

24
políticas públicas e pela universalização do cuidado, promoção, recuperação e
proteção da saúde. Caracterizando o Sistema Único de Saúde, Moreira e Mota
expõem:

“De acordo com esta Constituição [de 1988] o Sistema Único de Saúde (SUS)
foi definido como uma rede regionalizada de ações e serviços que visam “o
acesso universal e igualitário da população para a promoção, proteção e
recuperação de sua saúde”, tendo como princípios fundamentais: a equidade,
a universalidade e a integralidade. A equidade caracteriza-se por oferecer
oportunidades iguais, em termos de tratamento, para necessidades iguais. A
universalidade seria a garantia de atendimento a todo e qualquer cidadão. A
integralidade seria uma atenção integral à saúde (prevenção primária,
secundária e terciária). (MOREIRA, 2009, apud OLIVEIRA 2017, p. 23).

Em 1993, por meio da resolução nº 44 do Conselho Nacional de Saúde o


fonoaudiólogo passa a ser reconhecido como profissional de saúde.
A história da Fonoaudiologia na saúde pública se inicia com os primeiros
concursos públicos para a área, especialmente em São Paulo. Entretanto, alguns
autores demarcam que mesmo antes da regulamentação da profissão, entre a década
de 70 e 80 alguns poucos fonoaudiólogos iniciaram suas atividades no sistema
público, sendo lotados em secretarias municipais de Educação e Saúde. Como efeito
da regulamentação da profissão, os fonoaudiólogos em sua grade maioria iniciaram a
atuação em consultórios particulares e apenas num segundo momento da profissão é
que foram direcionados aos Centros de Saúde, ou seja, para a atenção básica, o que
veio, então, coroar a inserção da Fonoaudiologia na Atenção Primária à saúde.
Partindo-se desse cenário histórico, a atuação do fonoaudiólogo no Sistema
Único de Saúde vem sendo estimulada por meio de diversas políticas públicas, a
exemplo da portaria nº 2.073, de 28 de setembro de 2004 que institui a Política
Nacional de Saúde Auditiva, onde são descritas as principais ações em prol da saúde
auditiva a serem realizadas nos 3 níveis de atenção, de baixa, média e alta
complexidade. Além dessa, outras iniciativas como a lei federal 12.303 que dispõe
sobre a obrigatoriedade de realização do exame de Emissões Otoacústicas Evocadas,
também conhecido como Teste da orelhinha, realizado exclusivamente por
fonoaudiólogos em todas as maternidades do território nacional e também a lei 13.002
de 2014, que dispõe sobre o Protocolo de Avaliação do Frênulo da Língua em Bebês,
chamado Teste da Linguinha, realizado por fonoaudiólogos, em ambiente hospitalar,
impulsionam a inserção do fonoaudiólogo no sistema de saúde brasileiro. Brasil
(2014).
25
Constata-se, portanto, que a Fonoaudiologia está cada vez mais presente nos
diversos equipamentos de cuidado em saúde.
Por meio da Portaria Ministerial 793 que institui a Rede de Cuidados à Pessoa
com Deficiência no âmbito do Sistema Único de Saúde a fonoaudiologia passou a ter
reconhecimento do seu importante papel para a reabilitação e promoção de saúde no
cuidado com as pessoas com deficiência no país. Essa mesma portaria institui a
criação dos Centros Especializados em Reabilitação (CER) e assegura, por suas
características de cuidado, que o fonoaudiólogo integre a equipe de saúde desse
equipamento, como uma das profissões que atuam no atendimento de pessoas com
deficiência visando a reabilitação e também a promoção de saúde nas áreas de
deficiências auditiva, intelectual, física e visual.
Além dos equipamentos de cunho reabilitador, destacam-se aqueles de
Atenção Básica, como as Unidades Básicas de Saúde e as equipes de Núcleo de
apoio à saúde da família (NASF). Em publicação de 2013 dos “Cadernos de Atenção
Básica”, o Ministério da Saúde define o momento atual da atenção básica:

“A atenção básica, enquanto um dos eixos estruturantes do SUS, vive um


momento especial ao ser assumida como uma das prioridades do Ministério
da Saúde e do governo federal. Entre os seus desafios atuais, destacam-se
aqueles relativos ao acesso e acolhimento, à efetividade e resolutividade das
suas práticas, ao recrutamento, provimento e fixação de profissionais, à
capacidade de gestão/coordenação do cuidado e, de modo mais amplo, às
suas bases de sustentação e legitimidade social. ” (BRASIL, 2012, apud
OLIVEIRA 2017, p. 25).

A atenção primária à saúde deve ser realizada prioritariamente em Unidades


Básicas de Saúde tradicionais ou unidades que aderiram a um outro tipo de
organização/estratégia de cuidado, a chamada Estratégia Saúde da Família (ESF).
Segundo o Caderno de Atenção Básica, publicação do Ministério da Saúde, a
Estratégia da Saúde da Família vem sendo priorizada com objetivo de reorganizar a
atenção básica no país, porém, apesar dos esforços ainda há muitas unidades básicas
que não aderiram ao seu funcionamento e que consequentemente não contam como
a Estratégia Saúde da Família (ESF), configuram-se, portanto, enquanto unidades
tradicionais. Muitas vezes a adesão à ESF se faz inviável devido ao quadro de
profissionais concursados nos municípios atuarem em jornadas de trabalho não
compatíveis com as exigidas para a implantação da estratégia ou ainda devido a
adequação do território ao modelo tradicional de assistência à saúde.

26
De acordo com o Departamento de Atenção Básica, as equipes de UBS´s
devem realizar o cuidado em saúde fazendo uso de complexas tecnologias de
cuidado, porém de baixo impacto financeiro. As estratégias de cuidado nesses
equipamentos objetivam o manejo das demandas de saúde mais frequentes no
território adscrito a cada UBS (2016).
De acordo com o Departamento de Atenção Básica (2016), compondo a ESF
encontram-se os Núcleos de Apoio à Saúde da Família (NASF) criados em 2008 pelo
Ministério da Saúde com vistas ao apoio e consolidação da Atenção Básica de
maneira a ampliar as ofertas de cuidado em saúde, bem como a resolutividade e
abrangência das ações.
O NASF está regulamentado pela portaria 2.488 de 2011 e por definição são
equipes compostas por diferentes profissionais que devem atuar de maneira integrada
às equipes de saúde da família, equipes de atenção básica para populações
específicas como pessoas em situação de rua e ribeirinhas, além do programa
academia da saúde. O foco prioritário das ações do NASF, bem como de toda a
atenção primária, é de prevenção e promoção da saúde.
Os conceitos de prevenção de doenças e promoção de saúde, segundo
Westphal (2012), estão diretamente ligados às diferentes concepções político-
ideológicas de saúde e doença a que estão vinculados, tendo modificações, portanto,
de acordo com o período histórico analisado.
Prevenção em saúde, segundo Czeresnia (2009), é definida como;

Conjunto de ações voltadas a evitar o surgimento e progresso de doenças


específicas, com consequente diminuição das taxas de incidência e
prevalência de tais doenças na população, tendo deste modo, forte influência
de dados epidemiológicos. (CZERESNIA, 2009, apud OLIVEIRA 2017, p. 26).

Esse conceito é ampliado quando se fala em promoção de saúde. Buss (2000)


afirma que promoção de saúde está ligada a um conjunto de valores, dentre eles a
saúde, a qualidade de vida, equidade, democracia, solidariedade somados a ações
do Estado, dos indivíduos, da comunidade em que se inserem, dos sistemas de saúde
e das parcerias entre diversos setores envolvidos.
O surgimento formal do termo ‘promoção de saúde’ data de 1974, com a
divulgação do documento conhecido como Informe Lalonde. Buss (2000).

27
Elaborado pelo então ministro da saúde do Canadá, o Informe discutia
maneiras de lidar melhor com os crescentes custos da assistência médica.
Questionava-se também o modelo de saúde vigente à época, que visava o cuidado
medicocêntrico enfatizando as patologias crônicas, sem, contudo, se observar
resultados satisfatórios. Lalonde concluiu em seu informe que a saúde é resultado de
alguns determinantes, quais sejam: a biologia humana, ambiente, estilo de vida e a
organização da assistência à saúde; além disso, pode ser verificado que o país à
época investia grande parte dos recursos em organização da assistência em
detrimento dos demais fatores igualmente importantes.
Lalonde concluiu em seu informe que a saúde é resultado de alguns
determinantes, quais sejam: a biologia humana, ambiente, estilo de vida e a
organização da assistência à saúde; além disso, pode ser verificado que o país à
época investia grande parte dos recursos em organização da assistência em
detrimento dos demais fatores igualmente importantes.
Em 1986 ocorreu a I Conferência Internacional sobre Promoção da Saúde, em
Ottawa, no Canadá. O resultado desse encontro, a Carta de Ottawa, firmou-se como
a referência essencial para o mundo no tocante ao desenvolvimento de ações de
promoção de saúde. Ainda de acordo com o mesmo autor, este documento deu
origem ao conceito atual de promoção de saúde e nesta perspectiva busca capacitar
a comunidade afim de garantir melhoria da qualidade de vida, participando ativamente
deste processo.

“Subjacente a este conceito, o documento assume que a saúde é o maior


recurso para o desenvolvimento social, econômico e pessoal, assim como
uma importante dimensão da qualidade de vida. A saúde é entendida, assim,
não como um objetivo em si, senão como um recurso fundamental para a vida
cotidiana” (BUSS, 2000, apud OLIVEIRA 2017, p. 26).

Apesar do fonoaudiólogo nos dias atuais compor as equipes de atenção básica,


sejam elas nas UBS´s tradicionais ou atualmente em equipes de NASF, o
delineamento da atuação nesse seguimento ainda não está consolidado.
Questões acerca do que se espera desse profissional na atenção básica à
saúde e quais as interfaces da especificidade da fonoaudiologia com a saúde pública
são demandantes para se compreender o contexto do trabalho fonoaudiológico no
SUS.

28
Em publicação da década de noventa, Servilha et. al. (1994) também
mencionam o fato da formação do fonoaudiólogo à época estar voltada à atuação em
âmbito privado, tendo sido priorizado o trabalho de reabilitação em detrimento às
práticas coletivas de promoção de saúde, afirmando que raramente as universidades
propiciavam formação suficiente e adequada no âmbito de Saúde Pública. As autoras
apontavam ainda o recente início da mudança desse paradigma, por meio das
reformulações curriculares e do princípio das contratações de fonoaudiólogos em
serviços públicos de saúde.
O fato do fonoaudiólogo não estar tradicionalmente inserido na equipe mínima
dos Centros de Saúde fazia com que as instituições de ensino superior não se
dedicassem a oferecer formação em Saúde Pública aos alunos de fonoaudiologia,
resultando na falta de preparo na base de ensino desses profissionais.
As diretrizes curriculares atuais do curso de graduação em Fonoaudiologia
deixam claro ser essencial que a formação do fonoaudiólogo esteja pautada na
capacidade de trabalho em atenção à saúde envolvendo ações de prevenção,
promoção, proteção e reabilitação da saúde, tanto em nível individual quanto coletivo
Conselho Regional de Fonoaudiologia (2002).

Não obstante, ainda que inseridos na atenção básica, a organização do


trabalho fonoaudiológico manteve-se a mesma utilizada para atendimentos
em consultórios particulares, ou seja, pautando-se na reabilitação, gerando
dissonância de interesses entre profissionais e a organização do serviço
público. (MOREIRA, 2009, apud OLIVEIRA 2017, p. 28).

Segundo Nicolotti e Da Ros (2009), apesar da inserção do fonoaudiólogo


atualmente nos equipamentos de saúde do SUS, percebe-se a dificuldade quanto à
identificação de sua prática nesse sistema.
Em pesquisa realizada por Santos e Lemos (2011), constatou-se que grande
parte da amostra de estudantes de fonoaudiologia se envolveu muito pouco ao longo
da graduação com temas relacionados à promoção de saúde, sendo que se
aproximaram do tema somente em seu caráter obrigatório e teórico.
Há duas décadas era provável que o fonoaudiólogo concluísse a graduação
não sabendo lidar com o trabalho em atenção básica de saúde, tendo que buscar esse
conhecimento durante a prática cotidiana Eskelsen (2006). Entretanto, nos dias de
hoje não se pode dizer o mesmo. Nas grades curriculares atuais encontram-se
conhecimentos globais como questões culturais, emocionais, físicas, ambientais e

29
econômicas que enriquecem a construção do conhecimento favorecendo a prática
desse profissional em âmbito público com destreza Lipay (2007).
Diniz e Bordin (2011), constataram a importância da formação dos
fonoaudiólogos voltada para a promoção de saúde. Essa mudança de paradigma
garantiria possibilidades de ações coletivas para as alterações fonoaudiológicas de
maior ocorrência, tendo-se em mente que a demanda é frequentemente maior que os
recursos técnicos e humanos disponíveis.
Nesse sentido, é coerente que os profissionais conheçam a população que
demanda atendimentos na atenção básica, com o objetivo de elaborar melhores
estratégias de cuidado. A esse respeito, Tomasi et al. (2011), afirmam que a
caracterização da população é fundamental para se planejar todo o sistema. No
contexto da atenção básica a relevância é ainda maior uma vez que se trata da porta
de entrada da população no sistema de saúde, onde todas as queixas de saúde são
disparadas inicialmente. Além disso, segundo os autores, os serviços de atenção
básica representam cerca de um terço de todos os atendimentos realizados no país,
o que justifica a necessidade de priorizar esse setor de atendimento.
A atuação fonoaudiológica em atenção básica é relevante devido à grande
parcela da população passível de ser beneficiada por programas em que a
fonoaudiologia esteja atuando bem como pela característica essencialmente
preventiva das ações educativas que podem ser realizadas nesse ambiente (21) que
por essência está voltado a políticas de promoção de saúde.

[...] é consenso que inquéritos de base populacional são as ferramentas mais


indicadas para caracterização do perfil de morbidade de uma determinada
população apesar de nem sempre serem exequíveis. Há nesse caso outra
alternativa que são os estudos de demanda, que garantem informações
acerca do perfil dos sujeitos demandantes além dos motivos da busca pelo
atendimento. (MOREIRA, 2009, apud OLIVEIRA 2017, p. 28).

7 FONOAUDIOLOGIA HOSPITALAR

A principal atuação da Fonoaudiologia nos hospitais acontece devido aos


quadros de distúrbios de deglutição, que necessitam de intervenção mais imediata
muitas vezes já na UTI.

Em função dos riscos de broncoaspiração, infecção respiratória,


complicações pulmonares, desnutrição, desidratação e prolongamento do

30
tempo de internação faz-se necessário uma maior precisão diagnóstica e um
tratamento precoce do quadro disfágico (RODRIGUES e FURKIM, 2008;
PETERSON et. al., 2010 apud MARIA, 2016).

No atendimento do paciente internado, a avaliação do fonoaudiólogo é


fundamental para a manutenção da vida do paciente, prevenindo possíveis
complicações, proporcionando ajustes para possíveis alterações de comunicação e
deglutição (BARCELLOS et al., 2009) apud (BARROS et al, 2000).
Além disso, é fundamental trabalhar em prol de uma boa integração da equipe
multidisciplinar, com adequada adesão aos protocolos propostos, comprometimento
e adequação dos recursos com medidas que propiciem benefícios para o paciente,
possibilitando um desfecho adequado satisfatório para todos, a equipe multidisciplinar,
os pacientes e seus familiares (MAZZA, 2014).
A avaliação da deglutição do paciente hospitalizado pode requerer além de uma
avaliação clínica realizada a beira do leito guiada por protocolos padronizados, a
realização de exames complementares com objetivo de compreender melhor as
alterações apresentadas no exame clínico. Atualmente, dois são os exames objetivos
de deglutição mais realizados: a avaliação endoscópica da deglutição e a
videofluoroscopia da deglutição.
Avaliação endoscópica da deglutição é um exame que pode ser realizado na
beira do leito do indivíduo pelo otorrinolaringologista, acompanhado pelo
fonoaudiólogo e tem a missão de avaliar, primeiramente, por meio da
nasolaringofibroscopia, estruturas anatômicas, lesões estruturais, assimetrias,
alterações orgânicas, processos inflamatórios ou infecciosos.

Na avaliação da motricidade, observa-se paresia ou paralisia do palato mole,


das pregas vocais, paralisia ou tremores da base de língua, estase de
secreção salivar em valeculas e seios piriformes, ausência de contração das
paredes da faringe durante a deglutição seca, resíduos salivares após a
deglutição, penetração laríngea, aspiração traqueal com ou sem reflexo de
tosse e os mecanismos de proteção das vias aéreas. A avaliação da
sensibilidade é realizada pela investigação da tosse, do reflexo adutor
laríngeo (RAL) e do reflexo de proteção das vias aéreas (AZZAM; SAKAI,
1997, apud FERREIRA, 2016, p.7).

A Videofluoroscopia da deglutição tem a finalidade de avaliar as fases da


deglutição a inter-relação entre elas, consentindo assim a compreensão da fisiologia
e fisiopatologia da deglutição. As fases da deglutição a serem estudadas são: fase
preparatória oral, oral faríngea e esofágica.

31
O exame é realizado no setor de radiologia, na presença do fonoaudiólogo, do
médico radiologista, do auxiliar de enfermagem e do técnico de radiologia. O contraste
a ser usado é o bário em duas consistências líquidas e pastosas, e os alimentos
conforme a anamnese, nas consistências líquidas, líquida engrossada, cremosa,
semissólida e sólida.
O exame é gravado em vídeo, favorecendo a análise posterior, para então ser
laudado pelo fonoaudiólogo e médico radiologista (AZZAM; SAKAI, 1997).
Apesar da existência dessas tecnologias, diversos trabalhos demonstram que
elas não substituem uma boa avaliação clínica a beira do leito. Sendo o padrão ouro
para o diagnóstico das disfagias orofaríngeas: Avaliação Clínica + Exames Objetivos
(preferencialmente a Videofluroscopia). Além disso, essas tecnologias ainda não são
uma realidade em grande parte dos hospitais brasileiros, fazendo com que os
fonoaudiólogos tenham que basear suas condutas apenas no resultado de avaliações
clínicas realizadas a beira do leito. Por esse motivo, a literatura ressalta a importância
em se estabelecer protocolos padronizados para guiar essas avaliações clínicas
aumentando o seu poder de diagnóstico das disfagias orofaríngeas.

7.1 Atuação Fonoaudiológica nos Leitos Adultos

Quando o paciente se encontra internado no leito, significa que não está com
risco à vida, porém para a realização da avaliação Fonoaudiológica, o paciente
necessita estar dentro de alguns parâmetros pré-estabelecidos para ser realizada a
avaliação da deglutição.
A avaliação no leito tem como objetivo verificar se o paciente apresenta ou não
o quadro de disfagia. Sua realização conta com o uso do oxímetro de que é a medida
da saturação periférica de O2, ausculta cervical na intenção de identificar penetração
laríngea e observações de outros sinais clínicos como cianose, alteração de
frequência cardíaca e respiratória. Quando o paciente possui a disfagia, a saturação
pode cair no momento em que realiza a deglutição, indicando um comprometimento
do sistema respiratório.

Essa queda é observada em pacientes que aspiram com alimentos de


consistência sólida e líquida, antes durante e após a alimentação, quando
comparados aos indivíduos que não aspiram (CARDOSO, 2010, apud
FERREIRA, 2016, p.7).

32
Existem vários protocolos de triagem e de avaliação da deglutição que tem por
finalidade avaliar a segurança da deglutição com variadas consistências,
determinando a partir do desempenho do paciente o grau da disfagia. (BARROS,
2000). A escolha por qual protocolo utilizar deve sempre levar em conta as
peculiaridades dos serviços envolvidos e o perfil de pacientes avaliados.

7.2 Atuação Fonoaudiológica na UTI Adulto

Quanto à atuação da fonoaudiologia na UTI adulto, Moraes et al. (2006)


afirmam que é um trabalho para a manutenção da vida do paciente, prevenindo
complicações e promovendo uma qualidade de vida para ele quando se pode permitir
que o mesmo se alimente por via oral mantendo um suporte nutricional adequado,
porém a disfagia pode acarretar quadros de problemas nutricionais, pulmonares e
desidratação.
Essa intervenção se dá quando o quadro clínico e respiratório do paciente se
encontra estável, pois a disfagia segundo Moraes et al. (2006) ocorre com frequência
nestes casos.
O fonoaudiólogo tem o dever enquanto membro da equipe de UTI adulto,
avaliar a disfagia segundo Moraes et al. (2006) de forma criteriosa e cautelosa, sem
colocar o quadro clinico do paciente em risco e promovendo então um auxílio a
prevenção da redução de complicações como pulmonares, hidratação e nutrição e
ainda auxilia na diminuição do tempo de internação e custos hospitalares.
Desta maneira, faz-se necessária muita atenção às dificuldades expressadas
como:

“[...]desconforto durante a deglutição, tosse, engasgos, múltiplas deglutições


para um pequeno bolo, resíduos orais de alimento, escape oral, sensação de
algo parado na garganta, regurgitação oral e/ou nasal, dificuldade para emitir
sons da fala pós-deglutição com alteração da qualidade vocal, sialorréia,
alteração do ritmo respiratório, sudorese e fadiga após poucas deglutições. ”
(MORAES et al., 2006, apud FERREIRA, 2016, p.8).

Associado a reintrodução da alimentação por via oral e retirada da sonda,


segundo Moraes et al. (2006) o fonoaudiólogo promove o retorno do prazer alimentar.
O indivíduo quando é internado em na UTI, indica risco de vida por instabilidade
das funções dos órgãos vitais (cardiovascular, ventilatória, renal, hepática,

33
neurológica, entre outras). Muitas vezes, sofre falências em múltiplos órgãos e
requerem cuidados médicos contínuos e imediatos, seja por meio de medicações,
adequação e ajuste dos aparelhos de monitorização cardíaca, respiratórias, sondas e
drenos ou outras condutas de emergência. A conservação do paciente na UTI ocorre
enquanto houver instabilidade clínica e risco de morte. O profissional fonoaudiólogo
que trabalha na UTI requer conhecer todo o sistema e funcionamento dos aparelhos
que são utilizados. O indivíduo na maioria dos casos, faz o uso de nutrição alternativa,
seja por via enteral ou parenteral, especialmente por não apresentar disposições
neurológicas que possibilite a oferta de VO. Quanto à questão respiratória, pode estar
em ventilação assistida invasiva (ventilação mecânica) ou não invasiva (BIPAP,
CPAP), intubado por via nasal ou oral, traqueostomizado com cânula plástica, com ou
sem a presença de balonete (cuff), com cânula metálica, usando máscara facial, de
Venturi, ou somente cateter de oxigênio (OLIVEIRA,2003).

7.3 Atuação Fonoaudiológica na UTI Neonatal

Assim como acontece na UTI Adulto, a atuação fonoaudiológica na UTI


Neonatal também busca prevenir complicações referentes à introdução inadequada
de via oral, bem como identificar precocemente alterações auditivas. Para tanto são
realizados: 1) procedimentos de estimulação sensório motora oral para adequar os
padrões de sucção visando o aleitamento materno, uma boa interação mãe-bebê
garantindo segurança da ingestão oral 2) é realizado o “Teste da Orelhinha” por meio
do exame de Emissões Otoacústicas Evocadas que tem como objetivo identificar
precocemente distúrbios auditivos que possam prejudicar o indivíduo.
Desse modo, o fonoaudiólogo apresenta-se na equipe neonatologia com um
profissional essencial uma vez que possui conhecimento otimizado da
anatomofisiologia das funções estomatognáticas (sucção, respiração, deglutição)
(COUTO DE, NEMR K, 2005), tendo como objetivo localizar alterações orofaciais no
recém-nascido (RN), proporcionar a sucção no seio materno e melhorar a interação
mãe/ bebê, aumentando desta forma a qualidade de vida dos mesmos (HERNANDEZ,
A.M, 2003). O recém-nascido pré termo (RNPT) por não ter completado seu
desenvolvimento intrauterino apresenta imaturidade funcional e estrutural de órgãos

34
e sistemas, e como consequência manifesta um padrão de desenvolvimento motor
diferente das crianças nascidas a termo.

As dificuldades de adaptação estão relacionadas à imaturidade global, o que


inclui inabilidades motoras orais para coordenação da sucção - deglutição –
respiração, dificultando a realização da alimentação por via oral e,
consequentemente, prejudicando seu estado nutricional (COSTA, 2007, apud
FERREIRA, 2016, p.10).

Além disso, estudos indicam que em longo prazo, crianças que apresentaram
dificuldades alimentares iniciais podem apresentar problemas na introdução e na
tolerância de alimentos sólidos no período da infância (HAWEON, BEAUREGARD,
KENNEDY, 2000).
A introdução da alimentação via oral nos RNPT na maioria das Unidades de
Cuidados Intensivos Neonatais, já pode ser realizada por volta de 34ª semanas de
idade gestacional, mediante os critérios variáveis e discutíveis.
A idade gestacional é, vista de forma isolada, um critério ruim para a indicação
da transição da alimentação, já que outras variáveis são importantes e devem ser
consideradas como a estabilidade clínica, estado de consciência, habilidade motora-
oral e coordenação das funções de sucção, deglutição e respiração (LEMONS, 1996).
O peso também é um critério ruim para a indicação do início da transição da
alimentação oral, pois não considera a maturidade do prematuro. Os bebês nascidos
de muito baixo peso ou prematuros extremos sofrem uma privação sensorial intensa,
já que eles demoram a atingir o peso e, nem por isso, apresentam atraso no neuro
desenvolvimento e maturidade motora oral (THOYRE.S.M, 2003). Desta forma,
reforça-se a importância de uma avaliação global que antecipe, de forma objetiva,
segura e funcional, a transição da alimentação gástrica para via oral.
Diante disso foi proposto por Fujinaga em 2005 um instrumento de avaliação
da prontidão do prematuro para iniciar a transição da alimentação gástrica para via
oral, e seu guia instrucional.

O instrumento é constituído dos seguintes itens: idade corrigida; estado de


consciência; postura e tônus global; postura dos lábios e língua; reflexo de
procura, sucção, mordida e vômito; movimentação e canolamento de língua;
movimentação de mandíbula; força de sucção; sucções por pausa;
manutenção do ritmo de sucção por pausa; manutenção do estado alerta e
sinais de estresse (FUJINAGA et al, 2009, apud FERREIRA, 2016, p.10).

35
Essa intervenção auxilia no desenvolvimento RNT e de risco, RNPT, RN de
baixo peso (RNBP), pequenos para a idade gestacional (RNPIG), como também no
RN portador de patologias específicas as quais comprometem o sistema sensório
motor oral (SSMO), sendo seu trabalho essencial para a evolução destes quadros
(BROCK, 1998).
Os avanços nos cuidados neonatais e perinatais têm levado a um aumento na
sobrevivência de RN com idade gestacional e peso ao nascer (PN) cada vez mais
reduzido.

Contudo, faz-se necessário o acompanhamento cuidadoso dessas crianças,


uma vez que eles apresentam maior vulnerabilidade em relação às alterações
do desenvolvimento neuropsicomotor (AURÉLIO et al., 2002; MANCINI et al.,
2002, apud FERREIRA, 2016, p.11).

Em relação à importância da Triagem Auditiva Neonatal Universal (TANU),


trata-se do acompanhamento auditivo dos RNs realizando a triagem auditiva antes de
um mês de vida, e no caso de falhas na triagem auditiva inicial e no reteste devem
receber avaliação médica e audiológica apropriada para confirmar a perda auditiva
antes dos 3 meses de idade. Crianças que possuem indicadores de risco para perda
auditiva devem ser acompanhadas a cada seis meses por três anos (MANFREDI,
2002).
Essa identificação precoce de possíveis perdas auditivas é importante para que
antes dos 3 meses de idade já se possa ter o diagnóstico e iniciar uma intervenção
evitando maiores prejuízos para o desenvolvimento dos bebês (GATANU).
Em suma, compreende-se que quando o paciente está no leito, a atuação do
fonoaudiólogo, segundo Leite et al. (2003);

[...] tem um caráter mais preventivo e intensivo, com o objetivo de impedir e


ou diminuir sequelas da comunicação ou deglutição que as patologias de
base possam deixar. Para tanto, a atuação inicia-se logo após o paciente
esteja estável seguindo critérios clínicos pré-estabelecidos garantindo
segurança na avaliação fonoaudiológica, sem horários fixos. (LEITE et al.,
2003, apud FERREIRA, 2016, p.12).

A fonoaudiologia hospitalar é diferente da ambulatorial, além da intervenção


quando os sintomas já estão instalados, caracteriza-se também pela intervenção dos
pacientes precocemente, que não tenham os sintomas instalados, já que os mesmos
estão “disponíveis” para a intervenção (LEITE, 2003).

36
8 FONOAUDIOLOGIA DO TRABALHO

A Saúde do Trabalhador (ST), de acordo com o Ministério da Saúde (2001),


pode ser compreendida como área da Saúde Pública que tem como objeto de estudo
e intervenção as relações entre as condições de trabalho e a saúde da população. As
ações em ST visam à promoção da saúde, o cuidado e a assistência, além de medidas
de vigilância das exposições ocupacionais e dos agravos relacionados ao trabalho.
Dentre esses agravos, dois comprometem o trabalhador em suas habilidades de
comunicação: a Perda Auditiva Induzida por Ruído (PAIR) e os Distúrbios de Voz
Relacionados ao Trabalho (DVRT).
A PAIR decorre da exposição contínua a níveis elevados de pressão sonora e
se manifesta pela diminuição gradual e irreversível da acuidade auditiva1-3, o que
pode comprometer a qualidade de vida do trabalhador e gerar custos para o próprio
indivíduo, família e sociedade. Araújo (2002). A PAIR, porém, é passível de prevenção
através da adoção de medidas de caráter coletivo ou individual. Meira (2012).

Por sua vez, o DVRT pode ser compreendido como qualquer forma de desvio
vocal diretamente relacionado ao uso da voz durante a atividade profissional
que diminua, comprometa ou impeça a atuação e/ou comunicação do
trabalhador, o que pode levar a prejuízos emocionais, na atividade
profissional e socioeconômicos. (FERREIRA, 2011, apud GUSMÃO 2018, p.
2).

Conforme a Lei nº 6.965, de 9 de dezembro de 1981, o fonoaudiólogo é o


profissional que tem como centro de sua formação e missão o cuidado com a saúde
dos indivíduos no que se refere à comunicação humana, em seus diversos aspectos,
atuando em promoção da saúde, prevenção, diagnóstico e reabilitação de distúrbios,
como os de voz e audição. Para o Conselho Federal de Fonoaudiologia, a partir da
Resolução Nº 428 (2013), no âmbito das ações de vigilância em ST, compete ao
fonoaudiólogo: elaborar diagnóstico situacional do ambiente, verificar o perfil
epidemiológico dos agravos, atuar para melhoria das condições ambientais
contribuindo para a prevenção de riscos, indicar equipamentos de proteção individual,
além de monitorar, elaborar e gerenciar ações voltadas para a saúde geral e bem-
estar do trabalhador. Assim, compreende-se que o fonoaudiólogo envolvido com a ST
deve atuar norteado pela integralidade do cuidado, não se restringindo às ações
específicas de assistência ou da sua área de especialidade.

37
Em 2002, foi instituída no Brasil, através da Portaria Nº 1.679, a Rede Nacional
de Atenção Integral à Saúde do Trabalhador (Renast), uma rede de informação e
práticas de saúde cujo objetivo é irradiar as ações de ST no Sistema Único de Saúde
(SUS) e articular as ações intra e intersetoriais, de vigilância e de promoção da saúde
para promover atenção integral a todos os trabalhadores do País10. Segundo a
Portaria de Nº 2.437/2005, o provimento de retaguarda técnica para as ações em ST
no SUS é função dos Centros de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest).
A atuação do fonoaudiólogo em saúde do trabalhador perpassa não apenas os
ambientes com agentes de risco para a saúde como ruído, produtos químicos,
indústrias, mas também as ações de vigilância. Participa de equipes de referência em
saúde do trabalhador (CERESTs), em assessoria, planejamento, programação,
acompanhamento e avaliação das ações, na discussão da organização dos processos
produtivos e suas consequências no meio ambiente (controle social) e no
acompanhamento específico aos profissionais da voz, reduzindo, por exemplo, o
número de afastamento de professores de seu trabalho.

De acordo com a Portaria supracitada e com o Manual de Gestão e


Gerenciamento da Renast (2006), a equipe técnica mínima dos Cerest
estaduais deve ser composta por pelo menos cinco profissionais de nível
médio e dez profissionais de nível superior, enquanto que para os Cerest
regionais são previstos pelo menos quatro profissionais de nível médio e seis
profissionais de nível superior. (GUSMÃO 2018, p. 2).

O fonoaudiólogo está relacionado entre aqueles que podem ser alocados na


equipe, mas não obrigatoriamente, assim como odontólogos, engenheiros,
psicólogos, assistentes sociais, fisioterapeutas, entre outros. Sabe-se, no entanto, que
a Portaria Nº 2.437/2005 foi revogada em 2009 e que a proposta de conformação da
equipe mínima dos Cerest é uma das pautas em discussão para implementação de
mudanças na Renast.

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