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-O caso foi abafado, lógico que o homem morto era outra pessoa
e não aquele homem. Ele é inatingível até para mim. Me acha poderoso, pois
saiba que sou nada perto dele, apenas um sopro de existência.
Meu pai decidiu se fazer presente, precisava de herdeiros. Tomou-me e me
ensinou os bons modos e maneiras. Era uma pessoa tola, irritante e cristã. Com
o passar do tempo me tornei uma pessoa educada, adquirindo expertise em
como encontrar informações. Sabia tudo muito antes de todos. Tinha bons olhos
para negócios, embora considerado moço por muitos eu já havia adquirido muita
experiência nos negócios da família. Eu tinha presença!
Tudo ia bem, embora eu não tivesse conseguido superar a morte
da minha amada. Mantinha seu pequeno chumaço de cabelo trançado dentro de
um medalhão, este que eu mesmo forjei, pendurado em meu pescoço.
Como uma praga eles começaram a aparecer eram cristãos por
todos os lados, desde a maldita ralé até altos cargos, esses claro, em mais
absoluto sigilo. Impelido a defendê-los, fingi boas maneiras a classe cristã. Criei
até um vinhedo, muito usado como fachada para os encontros e pregações.
Achava aquilo tudo patético, como eu disse antes, eu não conseguia negar nada
a eles. Gritava maldições, de nada adiantava. Tentei muito, isso eu posso
garantir a você.
O tempo passou, Roma foi mudou! Guerras locais, guerras civis,
expansão territorial, tudo estava acontecendo. Várias conspirações contra o
governo deixavam Roma cada vez mais mal instruída, perdida…
Certa vez, por um descuido meu, fui visto ao lado de cristãos. Sempre
tomei muito cuidado, muito cauteloso. Tinha álibis espalhados por toda Roma. Ao
menos em questão de influência os cristãos me ajudaram bastante. Uma mão
lava a outra, mesmo que uma das mãos esteja suja de esterco.
Logo começou se espalhar na alta sociedade meu envolvimento com a
ralé.
Tudo aconteceu muito rápido, meu tropeço seria grande demais, mais
uma brecha.
Em uma época de festas para os cristãos desci até a cidade para fazer
negócios e aproveitar disfarçadamente para acompanhar os festejos.
Havia um cliente em especial que sempre fazíamos negócios, este me
convidou para ir até sua residência, por isso o motivo da descida. Confesso que
as músicas me chamavam muito a atenção, toda a animação me contagiava, as
vezes eu me pegava até dando leves sorrisos.
Decidi que iria sozinho, não queria chamar muito a atenção, trajava
roupas normais, mas com tecidos de qualidade. Chegando, fui bem recebido,
lavaram meus pés, me deram o melhor vinho da casa e após uma longa
conversa decidimos ir aos negócios. Eu estava muito bem, poderia dizer que
estava até feliz.
-Digo para você, meu rapaz: -Cautela nunca é demais. Era uma
armadilha. Um grupo de pessoas que hoje vocês chamam de extremistas
tramavam contra mim usando meu cliente como disfarce. Eu sempre dando
brechas, a vida inteira eu caía tropeçando no meu próprio pé.
Fui espancado. Me quebram a mandíbula e alguns ossos, fui largado
numa fossa para morrer.
Pela primeira vez na minha vida eu não conseguia pensar em nada.
Minha morte parecia embalada pelas fanfarras e risadas da cidade.
Chorei.
Como um estalo, veio a minha mente… Os Critãos!
Veio como se fosse uma fonte de energia, minha mente ficou tão confusa, tudo o
que fiz passava como um grande evento teatral diante dos meus olhos.
Tudo parou num momento: -Dou uma ordem a você, protegerá os meus.
Terá uma escolha, seu destino não poderá ser mudado. Apenas seu caminho.
-Começa aqui. Faça o que achar melhor.
Gritei, gritei o mais forte que podia. - Ei, tem alguém aqui! Onde estás?
Alguém me respondeu.
Tive esperanças de ser salvo e assim me vingar desses malditos
traidores. Gritei mais algumas vezes. Já era noite e eu não conseguia falar por
causa da mandíbula quebrada. Eu apenas gritava.
-Achei, meu Deus! Como vou tirar você daí?
Era um camponês, que tentou de todas as formas me puxar, eu quase sem
forças pouco podia ajudá-lo.
O tempo passou, a lua subiu. -Clichê demais, eu sei. Como um abraço
não seria clichê?
Calei-me, meu corpo caíra sob o chão. Não me movia mais. Senti um
cheiro de vinho velho e morte. - Quero te ajudar, meu precioso. Quero te ajudar
a se vingar, quero ver tudo o que Ele preparou para você. Quero ser a sua ironia,
quero te preparar! Quero ver você mostrar seu ódio aos seus inimigos e aos
inimigos deles… Sim, como poderia deixar de ver como vai cuidar da ralé?
Beoto, és interessante demais para morrer aqui.
Tive medo, comecei a chorar. Com suas mãos ensanguentadas ele
limpou meu rosto e com uma força e velocidade colocou minha mandíbula onde
deveria estar originalmente.
Acordei algum tempo depois, percebi que meus ossos pareciam
estar todos no seu local de origem, sentí que era apenas questão de calcificar.
Eu estava sem roupas. Mais uma vez fito o luar e penso. -Que clichê.
Ouço passos e uma voz que dizia: - Jovem senhor Manalipa,
sente-se melhor? Acredito que as dores mais pungentes estejam amenizadas
por hora. Com muito esforço tentei agradecer. - Não precisa se mexer. Consigo
entender o que pensa. Só pense no quer que eu saiba e saberei o que deseja.
- Aliás, que cabecinha suja seu danadinho. Ela era quase uma santa, fez
de tudo para cuidar de você! Gritei em meus pensamentos: - MALDITO! O
homem apenas riu.