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Autora Alba Luccas

Copyright © 2022 ALBA LUCCAS


Capa: Vitória Maria
Revisão: Leticia Tagliatelli
Diagramação: Bianka Jannuzzi

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e


acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Todos os direitos reservados.
É proibido o armazenamento e/ou a reprodução de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios (tangível ou
intangível) sem o consentimento escrito da autora. A violação dos
direitos autorais é crime estabelecido na lei nº. 9.610/98 e punido
pelo artigo 184 do Código Penal.2018.
Epígrafe
Playlist
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Tá, eu admito.
Não consigo te tirar
da minha cabeça.

Maktub
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@ALBALUCCAS
Quando nasci, minha mãe disse ao meu pai que estava certa
de que não queria ter mais filhos.
Tenho consciência que, como meus irmãos, nasci destinado a
ter uma vida cercada de privilégios, mas o preço a se pagar por
carregar o sobrenome O´Donnell seria grande também.
E isso nunca me intimidou.
Ser um dos três herdeiros da fortuna O’Donnell sempre me
trouxe vantagens e desvantagens.
Uma das desvantagens é nunca saber se quem se aproxima
está fazendo isso por quem você é de fato, como pessoa, ou por
interesse, e confesso que foi desafiador lidar com isso na
adolescência.
Mas aprendi com meus irmãos, Jeremy e Noah, a discernir as
intenções por trás das palavras. E, hoje, me considero capaz de
identificar amizades genuínas, assim como pessoas que querem
somente nos usar. O que inclui mulheres lindas que buscam apenas
holofotes e fama, laçar um otário bilionário, ou apenas alavancar
suas carreiras profissionais.
Meus irmãos aprenderam isso a duras penas e foram
protetores comigo desde que me entendo por gente. Eles, de fato,
são meus melhores amigos, as únicas duas pessoas no mundo em
quem confio cegamente.
Às vezes, acredito que Jeremy e Noah sempre irão me ver
como o irmão caçula que eles precisam proteger do mundo, por
mais que agora esteja quase beirando os trinta e dois anos.
Foi difícil fazê-los entender que me tornei um adulto apto a
tomar as minhas decisões quando concluí a faculdade em Oxford.
Morar quatro anos longe da minha família, voltando somente
nos feriados das festas de fim de ano, foi um divisor de águas para
mim.
Ampliou meus horizontes sobre as infinitas possibilidades do
que poderia fazer da minha vida.
Tomar decisões sozinho, fazer escolhas para o meu futuro e
ter que arcar com as consequências, sejam elas boas ou ruins,
mudou quem eu era. Me fez crescer.
Mudou como eu via a mim mesmo.
E eu quis fazer mais, quis ir além de apenas usufruir do berço
de privilégios que nasci.
Voltei não apenas com um diploma de Engenharia de Redes
nas mãos, mas graduado com louvor como o terceiro melhor da
turma.
Como meu pai sempre dizia para nós três, ainda meninos:
“você tem tudo, mas não é melhor do que ninguém. Não é o dinheiro
que define um O’Donnell, mas a nossa determinação em fazer
sempre o melhor pelos que dependem de nós. Pense sempre nos
filhos dos nossos funcionários quando for tomar uma decisão,
porque o que fizer pode tirar o pão da boca de outros garotos”.
Na faculdade tive contato com pessoas de classes sociais
diferentes da minha, alunos que ingressaram como bolsistas e que
mereceram estar lá por terem se aplicado muito nos estudos.
Confesso que conhecer melhor a realidade deles tão distinta
da minha, e a força que tiveram para crescer e conquistar o que
almejavam, me fez repensar sobre como, para mim, aquele caminho
foi muito mais fácil.
Sempre estudei nas melhores escolas e ser um bom aluno era
o mínimo que podia se esperar de mim, mas meus colegas mais
próximos precisaram lutar e enfrentaram adversidades para estudar
e aprender o máximo que podiam. Precisaram nadar contra a maré.
Martina e Lawrence, se graduaram como o primeiro e segundo
melhor da nossa turma e têm toda minha admiração e respeito,
afinal aprendi muito com eles. Nos tornamos bons amigos.
Hoje gosto de me ver como um homem capaz de impor minha
opinião, fazendo com que os outros ouçam o que tenho a dizer.
Assumi gradativamente a gestão de T.I. da Petrolífera
O’Donnell e é lógico que quis Martina e Lawrence trabalhando ao
meu lado, as mentes mais brilhantes que conheço quando a pauta é
tecnologia e mais cabeças duras quando o assunto são rugby e
futebol, já que torcemos para times rivais.
Meus amigos preferiram trilhar seus caminhos, sem
favorecimento e se saíram muito bem, se tornando profissionais
disputadíssimos no mercado.
Contudo, após algum tempo e muito do meu poder de
persuasão, consegui convencê-los a trabalhar comigo e essa foi
uma das decisões mais acertadas que já tomei profissionalmente.
Aprendi com o tempo a ser inflexível com Noah e Jeremy
quando necessário quanto ao que achava ser uma decisão acertada
para a gestão de T.I.da nossa petrolífera. Foi difícil fazer com que
os dois percebessem que eu não era mais aquele adolescente
inconsequente, que adorava farras, só queria diversão, só pensava
em garotas e em gastar nossa herança com esportes radicais.
Para quem não faz parte da rotina dos O’Donnell, minha vida
toda foi um “conto de fadas”, como a mídia leva quase toda
população da Irlanda e demais países do Reino Unido a acreditar
.
Mas eu nem sequer penso em dizer o contrário, pois não estão
errados.
Lembro de ainda criança, nunca ficar de fora das rodas de
brincadeiras, ou de ter uma vida solitária porque estava sempre
rodeado de amigos
E, ironicamente, hoje em dia sou bem mais seletivo quanto a
isso.
Na minha adolescência, tive a oportunidade de ter muitas
namoradas, mas costumava apenas ficar uma vez e tinha receio de
partir corações.
“Você não sabe o que está perdendo!”
Era o que Noah me dizia com frequência, por eu não
colecionar garotas como era costume dele.
Mas era a minha vida e eu decidia como queria levá-la.
A questão é que mesmo tendo levado uma vida bastante
discreta e quieta, os tabloides sempre fizeram questão de mostrar o
contrário.
Às vezes, em um impulso de revolta, ou estresse, costumo
mesmo me comportar da forma como todos me veem. Só ligoo
foda-se e vou. Esse seria um típico conselho de Noah. Pegar sem
se apegar. Pelo menos, essa era a filosofia do antigo Noah, antes
dele se ver concordando com tudo que a esposa pede a ele agora.
Deve ser por isso que Grace Doyle me vê como esse cara
idiota que só pensa em sexo, festas, mulheres e mais sexo. Mas eu
sou apenas um cara que curte a vida de solteiro.
Eu não costumava ligar para essa merda, até porque ninguém
nunca havia, até então, me julgado por isso.
Mas Grace o fez e na frente dos meus irmãos e das minhas
cunhadas.
Uma mulher me tratar como se eu valesse menos que um
centavo foi, no mínimo, curioso e um tanto ofensivo.
Aquela loira me despreza pelo que ela acha que sabe a meu
respeito. Que irônico! Eu nunca fui rotulado e rejeitado por ser algo
que eu não era e aquilo foi inédito.
Não consigo apagar da memória a indiferença e o desprezo
das poucas vezes que ela se dignou a dirigir o olhar para mim
quando nos cruzamos em alguma situação social. Até porque é raro
Grace me olhar nos olhos e, quando acontece, ela faz desse jeito
que eu detesto.
Porra!
Qual é o problema com essa mulher, de verdade?
Me irrita o quanto me esforço para parar de pensar nela e mais
ainda como eu sempre falho miseravelmente nessas tentativas. É
como se eu precisasse provar pra Grace que está enganada a meu
respeito. Mas por que a opiniãodelatem tantaimportância? Sei que
não sou nenhum santo, mas também não sou um cafajeste que
pega e não se apega.
Eu sempre respeitei as mulheres, nunca as tratei como
descartáveis. E, por mais que meu irmão Noah tenha feito com que
a Irlanda inteira associasse o título de libertinos ao sobrenome O
´Donnell, até isso foi antes dele se apaixonar por Meredith. Ficou no
passado. Então, eu não aceito herdar esse rótulo.
E tudo o que sei sobre Grace, é que ela é assistente pessoal
do implacável Domenico Alfonso, o CEO com a maior frota de
cruzeiros de luxo da Europa. Imagino que trabalhar para ele não
seja nada fácil.
Agora estou de pé ao lado do bar do salão de festas, onde
acontece a cerimônia de casamento de Jeremy e Audrey.
Estou muito feliz por eles!
Meu irmão mais velho finalmente reencontrou a felicidade e a
paz de espírito ao lado dessa moça tão diferente dele em vários
aspectos que chegou à mansão para cuidar do Théo. Quem diria
que aquelecachorro seriaum cupido?Admiro os noivos à distância.
Eles formam uma linda família, assim como Noah e Meredith.
No final das contas, parece que sou o grande lobo solitário da
história.
Fiquei pensando nisso do início ao fim da cerimônia, enquanto
estamos a caminho da Itália.
Penso em Grace. Vejo o toque do trabalho dela nessa
cerimônia. Ela tem muito talento como decoradora, isso era
inquestionável.
Droga! Já estou pensando nela outra vez.
Bem, foda-se o que ela me vê como um sem vergonha ou não.
Eu não deveria me importar com isso.
— Inferno! Esquece de uma vez essa mulher, Ian!Ela não te
suporta. — recrimino a mim mesmo, enquanto levo o drink até os
lábios para mais um gole.
Um braço passa por meu pescoço e é Noah.
— Praguejando sozinho, Ian?
Reviro os olhos para ele, enfiando a mão livre no bolso da
calça social.
— Me deixa quieto. Pode ser? — digo logo, de forma seca.
Quando meu irmão chega como um gato sorrateiro desse jeito,
só significa uma coisa, ele estava me observando.
— De mau humor em uma festa como essa? Bom, isso aí é
novidade.
Solto um suspiro forte e arrumo a postura e tento não ser rude.
Noah não é a causa da minha falta de interesse em me divertir.
— Fim de festa. Acho que meu tempo já deu por aqui — aviso,
dando um único gole no que sobrou da bebida.
— Vir sem uma companhia interessante para esse cruzeiro
não fez bem a você — implica.
— Você sabe que eu não me importo com isso. — Coloco meu
copo sobre o balcão do bar. Dou de ombros.
Quando olho para Noah, ele parece bastante intrigado, me
olhando daquele jeito como se estivesse não só lendo a minha
alma, mas a minha linguagem corporal.
Ele é terrível!
Sempre foi tão observador quanto Jeremy, eu diria, mas
somente para coisas inadequadas, como me provocar simplesmente
por ser um passatempo divertido pra ele, por exemplo.
— Hum, não sei. Mas se quiser um conselho, liga o foda-se.
Independentedo que seja — ele diz de um jeito descontraído, o que
me surpreende.
— Sou bom em fazer isso — respondo.
Dou um pequeno sorriso para ele por eu ter pensando
exatamente que Noah me daria exatamente esse conselho minutos
atrás. Mas não contaria nada e não tem como meu irmão saber o
que foi capaz de me aborrecer em um navio transatlântico incrível
como esse.
Bem, talvez nem eu saiba ao certo!
— Eu sei. Mas se quiser conversar sobre o que está te
aborrecendo. Estou aqui, se precisar.
Sorrio vendo a forma como ele olha para a esposa que dança
agora animadamente se juntando aos noivos.
— Valeu, Noah, mas não vale a pena — Passo pelo meu irmão
e dou um tapinha no seu ombro. — Vejo você amanhã.
— Tente se divertir um pouco a noite ainda é uma criança! —
ele diz com duplo sentido e entendo bem o que significa.
Faço um breve aceno com a mão.
Diversão?
Bom, sou tão o oposto dele que ficar na minha cama enquanto
toco violão, ou leio um livro, já me parece ser diversão o suficiente.
Dou uma última olhada para a pista de dança e vejo meu irmão
mais velho e Audrey dançando com Meredith e outros convidados.
A esta altura, os gêmeos e Julian já estão dormindo, e por isso
eles estão tão tranquilos.
É incrível como Audrey faz com que meu irmão introvertido
acabe se soltando.
Jeremy é CEO executivo da nossa petrolífera e esse tipo de
comportamento descontraído, quase nunca poderia ser associado a
ele.
Mas quando está com Audrey…
Bom, tanto ele como Noah parecem ter realmente encontrado
um novo amor para a vida deles e a partir do momento em que isso
aconteceu, a vida ficou mais fácil para os dois.
Sobre uma mesa vazia, uma garrafa de champanhe gelada
parece tão solitária quanto eu, então a pego e saio do salão com o
pensamento de evitar nutrir algum sentimento de inveja.
Talvez seja isso, um sentimento que todos experimentam uma
vez ou outra na vida, mas que pode ser tóxico se passar dos limites.
Eu gostaria de ter o que os meus irmãos têm, mas do jeito que
mereço, sem afetar a felicidade deles.
Me pergunto se eu quero isso pra mim realmente? Viver esse
tipo de relacionamento? Eu nunca me vi questionando isso e finjo
que essas ideias não tem nada a ver com certa loira.
Acaba que não vou para a minha suíte. Saio para o deque que
existe na parte superior do navio, destinado aos hóspedes mais
exclusivos e é onde minha cabine está localizada.
É como se fosse um terraço, com muitas espreguiçadeiras,
piscina exclusiva, privacidade e uma vista de tirar o fôlego.
Chego à conclusão de que, como já está tarde demais, o lugar
está vazio. E acerto a minha teoria, pois quando me encontro
sozinho ali, chego a respirar fundo.
Eu me aproximo do corrimão e bebo da boca da garrafa o
champanhe suave. Sinto as bolhas explodirem na minha boca, me
causando uma sensação triunfante que delicio de olhos fechados,
respirando fundo, como se estivesse no paraíso.
Está uma noite agradável, bastante estrelada.
Olhar o resto do navio daqui de cima é mais solitário ainda,
pois não há ninguém.
Um cruzeiro com centenas de pessoas e nenhuma delas
aprecia a madrugada estrelada.
Afrouxo a gravata e abro alguns botões da camisa social
branca.
Não faço ideia onde coloquei meu terno, mas para a minha
sorte, não está tão frio.
Dou outro gole, um bem longo dessa vez.
Contemplo a solidão.
Ou ao menos achava estar sozinho.
— Devo chamar um segurança? — A voz suave, mas com tom
sarcástico, soa atrás de mim.
Eu a reconheço de imediato, mas olho por cima do ombro só
para confirmar. Lá está ela. A razão do meu mau humor.
Grace surge lindamente do nada, como se tivesse saído da
noite e chegado aqui tão suave quanto a brisa.
Ela se aproxima em passos lentos com as pernas torneadas e
os braços para trás, indicando uma postura superior e atenta. Então
me olha de cima a baixo indiferente, como se se eu fosse uma mesa
ou uma cadeira sem qualquer. Nada que merecesse sua atenção.
— Por que você se daria esse trabalho? — pergunto de volta.
Ela dá de ombros, fazendo as mechas sedosas do seu cabelo
loiro deslizar pelo seu ombro saliente.
— Para garantir a segurança dos passageiros, ou para que
você não se jogue daqui de cima. Uma pessoa secando uma garrafa
de champanhe solitária e com a expressão que tinha no rosto não
parece um bom sinal. Não que vá fazer muita falta para o mundo,
um riquinho a mais ou um riquinho a menos ... — diz com aquele
nariz empinado e desdém tão evidente que a deixa por incrível que
pareça ainda mais linda.
Mas caralho, ela precisa mesmo querer sempre parecer tão
superior?
Grace anda, fala e se comporta como se o seu salto Louboutin
estivesse pronta para pisar na porra do mundo todo. A começar por
mim.
— Não estou tendo ideias suicidas se é o que te preocupa,
mas que bom saber que se importa comigo, loirinha. — Digo agora
com minha atenção totalmente voltada para essa arrogante linda e
atrevida.
Ela parece respirar fundo.
— Não me importo, mas se me perguntarem no seu enterro,
eu poderei dizer que eu tentei convencê-lo a não fazer isso sem ter
que mentir. Eu nem conheço você, mas um suicida afetaria
negativamente a imagem que desejamos passar. Além disso, faz
parte das medidas de segurança dissuadir gente como você de
fazer uma burrice como essa e me dar horas de papelada. Enfim, há
protocolos a serem seguidos.
— Acho que toda essa armadura que levanta quando está
perto de mim tem um significado óbvio.
A vejo respirar profundamente ao ponto de seu s seios subirem
e descerem no decote discreto do vestido. Confesso que não ouvi
mais nada depois disso.
— Me responde e pare de olhar para os meu peitos, meus
olhos estão aqui no meu rosto.
Ser flagrado, não poder negar que eu estava olhando ou não
ter ouvido o que ela perguntou antes. Nem sei dizer o que é pior.
Grace me olha como se eu fosse um imbecil com quem ela
não quer perder nem mais um segundo de seu tempo.
Porra, qual é a dela?
— Vamos falar como duas pessoas normais, Grace. Me
desculpe. Estava sim admirando seus... você — Digo de forma
menos rude que consegui — Não quis ofendê-la, mas eu não
entendo o porquê de toda essa a hostilidade. Você simplesmente
escolheu não gostar de mim sem motivo algum?
— Não é uma exigência do meu cargo gostar dos passageiros.
— E o seu chefe sabe que você trata os passageiros assim?
— Franzo os olhos para ela, que me olha, imóvel.
— Pode formalizar uma reclamação se desejar. É um direito
seu.
— Eu até faria isso se não tivesse absoluta certeza que me
tirar do sério te dá uma certa satisfação, loirinha. — Dou outro gole
da bebida e ergo a garrafa em sua direção. — Aceita?
Ela parece respirar fundo, fazendo seu suspiro emanar no ar
invisível, quase se condensando, como se a temperatura finalmente
estivesse abaixando.
Grace então arqueia as sobrancelhas, como se a estivesse
insultado.
— Me faça o favor de parar de me chamar de loirinha. Eu não
gosto e sabe bem o meu nome.
— Quer dizer… Você é, não é? — indago, não conseguindo
evitar o olhar na direção da região entre suas pernas. Loiras
naturais tem todos os pelos do corpo no tom de seus cabelos. Isso
me faz minha mente divagar e a imagem de Grace nua na minha
frente é quase tangível.
Posso jurar que a ouço grunhir.
— O que está pensando?! — exclama encurtando o espaço
entre nós, como se ela fosse engolir os meus olhos.
Mesmo de salto, ela não consegue ser mais alto que eu. Ela
provavelmente é mais de um palmo de altura mais baixa que eu,
mas agora, me sinto pequeno diante da fúria em seu olhar.
Como sou capaz de dar tanta mancada seguida quando ela
está por perto?
Ergo as mãos em defesa.
— Foi um comentário inapropriado e novamente peço que me
desculpe. — digo sinceramente. Agora ela tinha munição para me
achar um sacana safado e eu dei essa munição a Grace.
— Então é melhor você se colocar no seu lugar! — ela rosna.
— Não sou uma dessas mulheres que se sentem privilegiadas por
você notar que a existência delas. E esse tipo de comentário sexista
só reforça minha opinião sobre o senhor.
Eu pisei na bola feio outra vez. Parece que perto dela meus
neurônios entram de férias, mas, apesar de tudo, só consigo pensar
agora o quanto ela está linda.
Seus olhos azuis irradiam e a sua pele alva está vermelha.
Eu deveria ficar receoso, porque com certeza, Grace agora
não quer mais impedir um suicídio, mas sim cometer um, me
jogando daqui de cima deste navio, mas fico como um imbecil ainda
mais encantado e interessado pela beleza tão singular de Grace que
ela tenta esconder atrás uma personalidade austera e defensiva.
É como se fosse uma armadura que ela coloca sempre que
estou por perto.
E consegui entender isso nos poucos momentos em que a
tenho observado pelo cruzeiro.
Respiro fundo, porque acho que é inegável que essa mulher
mexe comigo de alguma forma inexplicável.
— Olha, Grace, o que acha de recomeçarmos do zero? Eu
gostaria mesmo de tentar — sugiro, oferecendo uma trégua,
embora duvide que ela considerasse a ideia.
— Não quero recomeçar nada. Apenas vá para sua cabine
para que eu possa fazer o mesmo e ter o meu merecido descanso,
Sr. O´Donnell— Rebate com um falso sorriso, daqueles que a
pessoa precisa forçar para fingir ser simpática.
— Bom, então desça. Mas aí estará perdendo o melhor da
noite.
Ela franze os olhos e então me sinto um máximo quando me
viro e aponto para o horizonte ao leste. Há pequenas pinceladas de
vermelho surgindo atrás do Mediterrâneo, indicando o alvorecer
daqui umas horas. Grossas nuvens se sobressaem no céu escuro
que começa a ficar menos escuro.
Mas as estrelas ainda salpicam a imensidão sobre nós.
— Veja só, não é lindo? — pergunto feito um menino bobo.
Diferente dos meus irmãos que nasceram e cresceram para o
mundo dos negócios, por mais que esteja nesse meio, sempre senti
que nasci para artes e ciência.
A arte e a astronomia sempre me fascinaram.
E apesar de ser um gosto muito pessoal, confesso que usei
muito desse artifício para encantar mulheres, mas elas nunca
ligavam, então, após algumas tentativas frustradas, não queria mais
encantá-las, só achava que finalmente encontraria alguém com algo
em comum.
Mas nunca aconteceu.
E pelo silêncio que se segue, penso que Grace vai dar meia
volta e me deixar falando sozinho, mas então ela surge ao meu lado
e se acomoda na barra de ferro, onde se apoia e seu corpo se
salienta através do belo vestido de seda creme.
Grace fica apenas ali, observando o horizonte junto comigo, o
que é uma surpresa.
— Sabe quantas pessoas vem pra cá e fazem isso? — ela
pergunta e fico mais surpreso ainda por ter soado tão genuíno.
— Não. Eu não sei — respondo.
— Nenhuma. Ninguém vem. Não é que elas devem acordar só
para assistir isso, mas é que nenhuma delas se dá o trabalho.
Porém, quando acordam, a primeira coisa que fazem é tirar fotos do
céu azul, ou do café da manhã. Mas o melhor mesmo, elas perdem.
Pisco sem tirar os olhos dela.
— Isso foi uma crítica social? — pergunto e Grace sorri.
“Ah, aí está, um sorriso.”
O que a deixa mais bonita ainda.
— Também. Mas… É, acho que entendi você, Ian. E só.
— Tenho um ponto com você então. Issojá é algo. — Ofereço
a garrafa de novo para ela que fica encarando como se estivesse
fazendo a soma.
— Está querendo me embebedar? É assim que consegue
fazer uma mulher suportar você?
Dou um sorrisinho e depois mordo o lábio.
— Porra, você é boa nesse negócio!
Grace sorri satisfeita, então pega a garrafa da minha mão e dá
um gole logo em seguida.
— Olha, não sei que negócio é esse que você está falando,
mas é o meu jeito.
— Mas essa atitude não combina muito com você. É como se
estivesse atuando, performando um papel, mas não precisa ser
assim. — Quando termino de falar, percebo que já é tarde demais,
pois, tocou em algo que ela não está pronta para enfrentar. —
Desculpa.
Ela balança a cabeça e volta a olhar o horizonte.
— E é assim que assusto os homens. Essa sou eu.
— Não pode ser verdade. Querer se proteger é uma coisa,
mas abdicar de desfrutar da vida é o preço que está mesmo
disposta a pagar?
— Acha que estou mentindo?
Grace olha bem para a mim, como se me permitisse ver muito
mais do que apenas os olhos podem ver. E ela parece me enxergar
de verdade pela primeira vez, quando diz em tom de desabafo:
— Eu odeio ser vista à luz de um estereótipo. O fato de ter
nascido loira, de olhos azuis significa que devo ser me encaixar para
ser dócil como um anjo? Eu escolho o homem que merece a minha
simpatia como toda mulher tem o direito de escolher. — Ela me
dirige um sorriso genuíno e isso me faz sentir estranhamente bem
Fico sem palavras, o que é raro. — No fim, até que evitar seu
suicídio não foi algo tão ruim, Sr. O´Donnel.
— Estou confuso. Porque minutos atrás eu parecia não
merecer e, agora, estou vendo seu lado simpático.
Grace dá mais um sorriso e outro gole do champanhe antes de
me passar a garrafa.
— Ainda estou pensando sobre isso. Mas ter me convencido a
ficar com a história do alvorecer, funcionou.
— Não… — digo pensativo e concluo: — É mais do que isso.
Desta vez, pareço estar por cima, literalmente, já que Grace
me olha ali de baixo, o que a faz parecer desarmada e sem saber
como se comportar.
Como se ela tivesse receio de eu ter desvendado um segredo
que ela queria manter bem guardado, e bem, acho que consegui.
— Você ficou, Grace. Poderia ter simplesmente ido embora.
Isso me faz pensar que você não me acha tão desagradável assim e
eu admito que estive esperando a viagem toda pelo momento em
que ficaríamos a sós — digo sem interrupções.
E é a mais pura verdade.
Ela estava mais cedo no casamento, nitidamente deslocada e
desconfortável no meio dos O´Donnell, mas precisava se fazer
presente por ser a organizadora de eventos particulares naquele
cruzeiro.
E algumas poucas vezes a notei me observando, o que me
intrigou, foi então que comecei a considerar que ela talvez, só
talvez, eu despertasse algo mais em Grace além de irritação e
indiferença.
De repente, percebo que está completamente desarmada,
como se eu tivesse exposto um lado seu e que agora não terá mais
volta.
Grace então volta a ficar ereta e seu cabelo ondula com o
vento.
— Suas conclusões presunçosas demais — ela rebate,
voltando a se recompor.
— Bem, mas eu não estou fugindo de você igual os outros
homens, estou?
Ela me olha e juro ver algo em sua respiração mudar. Vejo
também quando ela engole em seco e a sua garganta oscila.
— N-não — ela gagueja e fica me olhando, por tempo demais.
— Acho que essa conversa deveria terminar aqui. Boa noite, ou
bom dia, como preferir — diz se despedindo.
Grace faz menção de sair, mas a seguro gentilmente seu
pulso, a mantendo ali perto de mim por mais tempo.
Ela me olha surpresa demais, como se não pudesse conter as
emoções que querem escapar e que ela está tentando fugir.
— Espera... Por favor, fique — digo tranquilo, tentando não
parecer desesperado, ou como o brutamonte que ela pensa que eu
sou. — Por que ir, quando, na verdade, não é o que quer?
Ela solta um suspiro extenuante.
— Você não me conhece, Ian.Não sabe nada sobre mim e é
melhor assim. Para nós dois — retruca, chamando diretamente pelo
meu nome pela primeira vez. E eu percebo que adoro o som de
meu nome saindo de seus lábios.
Largo a garrafa de champanhe já vazia em uma das mesas de
bistrô e me aproximo dela.
— Sabe qual é o problema das pessoas? É que elas tem medo
de fazer aquilo que mais querem. A sorte dos meus irmãos e das
minhas cunhadas é que elas perceberam isso a tempo. Comigo isso
não funciona, não tenho medo de dizer o que quero.
Grace me olha de cima a baixo e faz uma expressão de
esnobe no fim.
— O problema é todo seu.
Ela tenta se esquivar, mas não faz força o suficiente. É como
se ela estivesse me testando, ou querendo brincar comigo.
Sorrio por dentro, gostando desse jogo.
— Eu sei o que você quer, Grace — digo sem mais jogos. Eu a
quero e ela me quer. Sinto isso.
— Ah, é? — Seu tom é de desafio e então, aproxima seu rosto
do meu. — E o que eu quero, Ian?
Seu hálito doce misturado com o frutado do champanhe quase
me leva à loucura.
Olhando agora mais de perto, isso é gloss em seus lábios?
Porra, só consigo pensar em como eles ficariam sexy em torno
do meu pau.
Ela está me provocando, mesmo que esteja se esquivando da
intenção principal.
— Você quer se libertar de algo que não consegue mais
conter. — Não quero soar como um pervertido idiota, então tenho
ser poético, por mais piegas que possa parecer a ideia. — Você está
à procura de algo novo, algo capaz de te fazer sentir tão iluminada
quanto o Sol.
Quando me dou conta, meus lábios já estão tão perto dos seus
que eles já podem se tocar.
— E é você quem vai me apresentar todo isso? — ela
murmura com a voz sexy que faz meu pau ficar tão duro que chega
a pulsar dentro da calça, pedindo por mais espaço.
— Sou capaz de fazer coisas que você nem pode imaginar —
disparo, pousando minhas mãos em sua cintura, mas aguardo para
avançar além disso.
— Não ordenei que me tocasse.
Retiro lentamente minhas mãos.
— Mas também não ordenei que parasse.
— Caralho! — rosno, sentindo meu sangue todo bombear no
meu pau. — Me diga, o que você quer? Porque eu quero você,
loirinha — admito.
Poucas coisas, tenho certeza na vida e essa é uma delas.
Quis Grace desde o momento em que a vi entrando naquele
salão, com Audrey e Meredith. Eu a quis porque dentre todas as
coisas, ela parecia a mais impossível, além de linda.
Passei a noite toda, ou melhor, desde que pus os olhos nela
pela primeira vez, eu a desejo ardentemente e estive frustrado
porque tudo que eu disse ou fiz pareceu afastá-la ainda mais.
Mas aqui estamos nós.
Este é o momento.
Sinto Grace me olhar no fundo dos olhos, e, então,
inesperadamente, agarrar o meu rosto e me afastar.
Chego a pensar que ela irá me enxotar.
— Ouvi muitas coisas sobre os irmãos O’Donnell e a última
coisa que pensei foi desejar estar com um.
— E sobre mim, o que ouviu exatamente? — pergunto
sussurrando em seu ouvido, ainda me segurando. Eu preciso do
consentimento dela para ir além.
— O tamanho do seu pau é algo muito mencionado nas
conversas do público feminino. Vinte e dois centímetros — Ela diz
isso assim tão naturalmente que faz com que eu solte um
gargalhada — E não é verdade?
— Eu nunca medi, mas nunca vai ouvir um O´Donnell reclamar
da generosidade da natureza nesse quesito. Mas me diga o que
mais ouviu falar sobre mim?
— Além do fato de você ser um conquistador que nunca
assumiu um compromisso na vida?
Sou parado por uma mesa, quando meu corpo se encontra
com a massa sólida do metal e mármore.
— Apesar de nunca sair com riquinhos com sua reputação de
cafajeste, eu não posso negar que você é… o cara mais
irritantemente gostoso que eu já conheci na vida — Ela me olha de
cima a baixo, como se estivesse reunindo coragem para dizer o que
tinha em mente — E parece ser mais do que capaz de me oferecer
uma boa diversão por uma noite.
Sorrio, pois, é a mais pura verdade. Vou fazer Grace se divertir
como nunca.
— E você ainda diz que eu sou devasso.
Ela dá de ombros.
— Deve ser contagioso — rebate.
A essa altura, já estou com meu braço atrelado a cintura de
Grace. Tudo que faço é pressioná-la mais ainda contra o meu corpo,
enfiar a mão atrás da sua nuca e então, deslizar a minha língua para
dentro da sua boca, que já está aberta, apenas esperando.
Ela geme no primeiro ato e quando sinto o gosto do seu beijo,
é melhor do que as bolhas de champanhe, estourando no meu
paladar. Me envolvo a ela e a minha respiração fica mais densa,
junto ao meu coração que bate superforte.
Chupo e mordo seus lábios como se fossem comestíveis, e os
sinto inchando na minha boca, ficando cada vez mais gostosos.
As mãos pequenas e delicadas envolvem os músculos dos
meus braços, como se estivesse realizando uma vontade, que era
de tocá-los.
Eu não sou tão forte como Jeremy, ou grandão como Noah,
sou um pouco mais “normal”. Odeio exercícios físicos, mas a minha
genética e a energia que gasto quando estou ensaiando com a
minha banda, já é o suficiente.
Desço os beijos pela extensão do seu pescoço longo, igual a
de um cisne. Ela joga a cabeça para trás e geme com vontade, se
sentindo verdadeiramente tomada por mim.
Chego a me perguntar quantas vezes ela já se entregou desse
jeito a alguém, pois parece estar muito excitada.
— Você é deliciosa, loirinha— digo com os lábios ainda
molhados dos lábios dela, abaixando a mão até a sua bunda.
— Coisas deliciosas geralmente se come na mesa — ela diz e
sinto meu pau tilintar.
CARALHO!
Entendo o recado.
Levanto e giro Grace, invertendo as posições, mas desta vez a
deito sobre a mesa. Ela estica os braços acima da cabeça e seu
corpo fica mais modelado ainda, exibindo as curvas perfeitas e os
traços finos. Seu cabelo cai sobre a mesa como ouro derretido e
seus olhos brilham como quartzo azul.
Parece intocável.
Talvez eu não devesse, mas ela me quer.
— Está certo assim?
Ela sorri.
— Nada parece certo agora, mas a quem estamos querendo
enganar mesmo?
Eu me inclino sobre ela, na mesa e a encaro.
— Você tem razão, não é nada dócil. Mas, vamos ver até onde
isso vai. — Volto a beijá-la.
Começamos uns jogos com as mãos, enquanto Grace agarra a
minha blusa, subindo as mangas e abrindo os botões, vou subindo
seu vestido ainda mais, à medida que passo meus dedos na pele
lisa e hidratada das longas pernas, que já estão envolvidas em mim.
Quando ela inclina o quadril para sentir a minha ereção, pego
sua mão e a levo até o meu pau duro. As pupilas de Grace dilatam e
ela respira fundo.
Ela não age como uma virgem inexperiente. Talvez possa ser,
mas desejo muito que seja, afinal assim a experiência desse
momento será menos tensa.
Grace morde o lábio e é inevitável me sentir um máximo.
— Você gosta?
— É realmente grande pra caramba.
— Isso é um problema para você?
Solto um gemido quando ela começa a me acariciar por cima
da calça de alfaiataria.
— O único problema será se isso tudo não me fizer gozar.
Dou um sorrisinho.
— Vai se arrepender de ter duvidado — sussurro para ela.
Subo a mão e abaixo seu decote, deixando seus seios de fora,
miúdos, mas graciosos, com os bicos tão duros que quando começo
chupá-los, chego a pensar que são o seu grelinho.
Ouço Grace gemer de prazer pela primeira vez e meu pau
vibra.

— É bom que não faça muito barulho, loirinha. Ou vamos atrair


audiência — digo com um sorriso safado a provocando e a olhando
por cima dos seios. — Aliás, podemos ser flagrados a qualquer
momento.
— Isso não seria ainda mais excitante? — pergunta
empolgada.
Será que estou realizando algum fetiche de Grace?
Porra! Eu geralmente me empenho para preservar ao máximo
minhas parceiras, mas se isso dá tesão a Grace, farei com prazer.
Eu me demoro em seu seio.
Ela é tão gostosa!
Seguro a sua perna esquerda, levanto e me esquivo um pouco
do meio dela, então, meus dedos se aproximam da sua calcinha de
renda branca.
Molhada pra caralho!
— Hummm, tão molhadinha e pronta pra mim — comento
enquanto brinco na sua entrada por cima do tecido.
Posso sentir sua bocetinha já inchada e isso me dá água na
boca.
Desço e trato de tirar logo o pedaço de pano.
Suspiro quando vejo a bocetinha brilhando e pulsando à minha
espera.
Ela está depilada e é carnuda.
Salivo.
Eu me aproximo e a primeira coisa que faço é passar a língua
de baixo para cima na entrada da sua boceta.
— Ian… — ela geme.
— Você não pode gritar, lembra? Quietinha.
Os pés de Grace se contorcem quando começo chupá-la como
um gelo. E mesmo em silêncio, ela se entrega lindamente. Gira o
quadril, fazendo o meu rosto ficar melado. Ela geme entredentes de
um jeito sexy e sutil, enquanto seu corpo todo se contorce.
— Bocetinha deliciosa... Queria tê-la o dia todo.
— Essa é a única vez que você a terá, então é bom aproveitar
mesmo.
Malandra!
Ela sabe que isso me deixa louco.
Começo a foder com a língua, para que ela aprenda a não
brincar comigo.
— Ah, meu Deus… Ian!
Tiro a boca dali.
— Calma, loirinha, desse jeito você goza. — Olho para a sua
bocetinha, para a área raspada. — Você vai me dever uma prova. —
Indicoa virilha raspada. — Amo comer uma bocetinha raspada, mas
uma bocetinha com pelos tem seu diferencial.
Grace cora.
— Você fala como se fôssemos fazer isso de novo — ela
pontua, ainda na mesma posição em que a deixei.
— Juro que vou fazer você querer repetir isso.
Levanto, tiro o cinto, desabotoo o botão e abaixo o zíper.
Coloco meu pau para fora e ele dá um salto, apontando para cima,
com as veias salientes e a cabeça rosada e inchada indicando como
estou excitado pra caralho.
Farei Grace chupar o meu pau.
Ouço alguém gritar lá embaixo, chamando outra pessoa, então
Grace olha para mim e descobrimos que não teremos muito tempo.
— É tão grande quanto o que havia sentido — ela comenta
olhando para o meu pau. — Não sei se cabe tudo.
Posiciono a cabeça na sua entrada molhada e deslizo para
cima, me lambuzando dela.
Grace geme.
Volto e então penetro sua boceta apertada e macia.
Ela fica vermelha no mesmo instante, como se eu estivesse a
sufocando, conforme me sente deslizar para dentro, até o fundo.
Não deixo sobrando um centímetro para fora.
— Isso tira as suas dúvidas?
— Apenas faça logo isso, não quero perder o meu emprego.
Saio dela e entro de novo.
Grace engole o gemido.
— Não, mas tem a boceta mais deliciosa, droga! — praguejo,
sem conseguir me conter.
Começo a fodê-la com mais força. Seguro a sua cintura fina e
dou tudo de mim. Os seios de Grace dançam no ritmo dos nossos
movimentos e diversas vezes seus olhos reviram.
Enquanto isso, o dia começa a raiar no horizonte, iluminando o
céu cada vez mais. A costeira da Itáliase aproxima e lá embaixo, no
deque, os funcionários se preparam para o café da manhã.
Porra, como as horas passaram tão rápido?!
— Meu Deus, Ian… Você é tão…
Movimento os quadris de um jeito que a faz perder a voz por
alguns segundos.
— Delicioso.
— Venha, Grace. Quer ver o amanhecer? — pergunto quando
vejo o Sol despontando mais e mais.
Ela apenas acena com a cabeça e a viro.
Coloco Grace deitada de bruços sobre a mesa, com a bunda
redondinha virada para mim.
— Lindo!
Eu a penetro e ela geme gostoso.
Dessa forma, sinto melhor o seu canal apertado e macio, e sei
que a ponta do meu pau toca em lugares mágicos, pois ela começa
ir à loucura.
— Ian, eu vou…
Ela não é capaz de dizer, mas sinto quando Grace vai ficando
mais e mais apertada, e o meu pau também incha dentro dela. Meus
batimentos cardíacos vão além e o suor que escorre de mim, molha
a minha camisa.
Mas não ligo.
Apenas me concentro em gozar, o que acontece
automaticamente. De repente, estou explodindo dentro dela.
Me inclino em sua direção e beijo a sua boca quando percebo
que ela está querendo gritar, enquanto me sinto derramar quente
nela.
Saio dela e procuro por algo para limpá-la. Grace se ergue e
fica sentada na beira da mesa. Ela está se deliciando e, eu, vendo a
linda paisagem com ela ali.
— Não ligue pra isso. Meu quarto fica logo aqui embaixo.
— Deveríamos descer até lá? — pergunto esperançoso e
Grace sorri.
— Foi só sexo, Ian.Um sexo incrível, mas apenas isso e foi só
dessa vez, estamos de acordo?
— Está dizendo isso antes que eu diga? — pergunto incrédulo.
Grace se ergue e pega a sua calcinha que deixei no chão.
— Você está respondendo minhas perguntas com outras
perguntas e dando poucas respostas. Temos uma vida agitada. A
minha casa é na Itália,Ian.Vamos manter isso de forma casual que
é como deve ser. Foi bom ser fodida por você, mas vida que segue.
— E se eu quiser algo mais?
— Para funcionar, eu também teria que querer. Vamos agir
daqui para frente como se nada demais houvesse acontecido. Ok?
Eu não estou querendo um relacionamento e muito menos um
príncipe encantado. Então, apenas me dê sua palavra que vamos
deixar as coisas como sempre foram. Cada um segue com sua vida.
Pisco e pisco.
Ok, isso é novidade. Ela acaba de me dar o fora depois do
sexo.
Pela primeira vez fico com alguém que parecia apenas querer
usar meu corpo.
Compreendo até certo ponto essa praticidade de Grace de
encarar a vida. Ela é uma mulher moderna, independente e segura
de si, mas não posso ignorar a sensação ruim de ser rejeitado assim
na lata.
A minha vida é agitada, sim fazia semanas que não transava, e
ela…
Bem, aparentemente fazia tempo também. Não significa que
iremos misturar as coisas, mas aconteceu alguma coisa ali. E tenho
certeza de que ela sentiu também.
— É claro — digo por fim. — Vamos ancorar na Itáliae tudo
ficará normal.
Ela me olha e parece pensativa…
Arrependida da ideia?
Não sei, mas talvez Grace esteja se pressionando a fazer isso.
As vozes lá embaixo ficam mais próximas e se tornam bem
mais.
— S-sim. Tome. — Ela cola a calcinha contra o meu peito. —
Um presentinho para você se lembrar deste dia.
Pego a calcinha e sorrio.
— Não quer algo meu também, tipo o meu número?
Grace sorri.
— Já tenho muita coisa de você dentro de mim, não acha?
Nesse momento, me sinto desesperado, mas tento não
demonstrar. Parece que Grace ainda não se deu conta e ela está
tão sorridente e radiante.
— Quem sabe, a gente se vê por aí? — ela propõe.
— Seria um encontro muito agradável — afirmo e me inclino
para beijar a sua bochecha. — Então, até esse dia?
— Até lá.
Ela diz sem nem olhar pra trás e desce as escadas. Já eu
continuo ali, sentindo a brisa, demorando para digerir tudo o que
aconteceu.
— Que mulher gostosa do caralho! — me exaspero depois de
um tempo, tentando racionalizar o que aconteceu. — Mas afinal
que
porra foi isso? Ela me deu mesmo o fora depois de transar comigo?
Meses depois...
Lembro de ser criança e do meu pai dizer que eu não era
qualquer garota. Ele dizia que eu era especial, a sua “princesinha
”.
Lembro de tudo na minha infância ser rosa, brilhante, meu
quarto aos cinco anos era como uma nuvem de algodão doce.
Por conta da minha aparência, sempre escutei muito as
pessoas dizerem que deveria ser modelo, mas eu gostava mesmo
de me imaginar vivendo uma vida igual àquelas garotas de filme
moderno, onde elas correm com seu cappuccino enquanto estão
atrasadas para o trabalho.
Isso explica o motivo de preferir ser assistente de um
importante empresário bilionário da Itália, a viver no circuito das
passarelas.
Cheguei a cursar graduação em Moda, mas não me
identifiquei com a carreira. E, foi na área de eventos onde acabei
encontrando meu lugar. Era nisso que eu era realmente boa.
Agora estou aqui, na França, finalizando meu mestrado,
porque quero muito começar o meu negócio.
Acordar todos esses meses em uma cama macia com vista
privilegiada para a Torre Eiffel, quem não adoraria? Eu amo e
parece mesmo nesse sentido que voltei a viver em um mundo
encantado da minha infância.
Tudo parece certo e conforme os planos que fiz para esse
inverno.
Eu tenho certeza de que preciso fazer isso antes do verão de
novo, então curtirei ao máximo, mesmo sabendo que viver isso nas
condições em que me encontro é melhor do que não viver e acabar
arrependida depois.
Quando me levanto e ainda de pijama vou para a cozinha e me
deparo com a mesa farta de café da manhã.
É daqui que vem esse cheiro maravilhoso de queijo gratinado,
bacons e ovos?
Droga, não sei se isso é muito saudável, mas ultimamente não
ando ligando muito para as calorias.
Eu só quero comer, comer e ficar barriguda será inevitável, de
qualquer jeito.
Abro um sorriso quando vejo Vanessa, minha amiga irlandesa,
ruiva, cheia de sardas, olhos cor de mel e tão pequena que parece
uma fadinha.
— Bom dia, flor do dia — ela cantarola enquanto coloca as
xícaras de porcelana sobre a mesa.
— Bom dia, hummm, isso cheira tão bem. Vai mesmo me
acostumar mal durante esses cinco meses? — pergunto ao me
sentar à mesa.
— Você sabe que sim, vai ser meu dever cuidar de você. —
Olha para a minha barriga e abre um sorriso antes de enfatizar: —
Digo, de vocês.
Automaticamente toco a barriga já saliente e olho para ela, um
pouco mais séria e preocupada.
Não é só cinco meses que passaram.
Há cinco meses, venho carregando uma vida em meu ventre,
fruto da diversão que escolhi ter com Ian,um homem que conheço
pouco, que me irrita, mas que é atraente, sedutor e bonito.
Ele conseguiu tirar de mim, algo que nenhum homem até
então havia sido capaz de fazer, meu lado sórdido, que clamava por
prazer, algo que fosse realmente me tirar do eixo.
Por dias fiquei pensando genuinamente no que havia
acontecido, mas depois que descobri a gravidez, tudo mudou.
Eu me sentia envergonhada, burra.
Como pude me entregar de forma tão fácil e sem proteção?!
Jesus!
Fui tão imprudente ao confiar que não estava no meu período
fértil.
Ian estava me tentando e há dias estava com um fogo que
nem se caísse daquele cruzeiro direto no Mediterrâneo, não
resolveria.
Foi só quando eu abri as pernas para Ian, de forma tão
indecente e deliciosa que se acalmou.
Caramba!
Quando foi a última vez que havia gozado tão gostoso daquele
jeito?
Ele me comeu durante o amanhecer e senti que os raios de sol
me invadiam junto a ele, forjando alguma coisa dentro de mim, que
depois explodiria.
Eu não só gosto de lembrar de Ianpor causa da vergonha e da
nossa burrice.
Mas, por que o quero de novo?
Confesso que me sinto uma trouxa por causa desse
sentimento. Mesmo que seja só sexo, pois ainda não o suporto.
A última vez que soube de Ianfoi quando estava estampado
em uma revista de negócios, onde ele era o entrevistado e exaltado
por ter conseguido tornar a sua fortuna bilionária, após várias
inovações tecnológicas para a petrolífera do pai e dos irmãos. Sem
contar que acabou fazendo parceria com outras empresas, o que o
tornou mais rico ainda.
Ele parecia ser tão metido por causa daquilo.
Se eu chegasse com a notícia da gravidez, tenho quase
certeza de que ele me daria um chute na bunda.
— Que bom, pelo menos alguém está cuidando da gente e fico
grata por isso — comento, sentindo um tipo de tristeza estranha e
nunca sentida, me invadir.
Coloco uma mecha de cabelo atrás da orelha e respiro fundo,
acariciando mais um pouco a saliência que já deixa minhas roupas
tão pequenas em mim, o que me faz lembrar que eu preciso a todo
custo renovar o meu guarda-roupa para um número maior…
Algo como de…
Gestante.
Vanessa puxa uma cadeira e se senta de frente para mim. Ela
apoia os cotovelos nos joelhos e tenta me ver por debaixo da mecha
grossa, ondulada e bagunçada que se forma na frente do meu rosto.
Ela pega minha mão com carinho, como faz sempre que me
aconselha.
— Grace, não acha que está na hora de contar a ele alguma
coisa?
Olho para ela de um jeito assustador.
— Não! — exclamo, pois, parece mais uma alfinetada. — Eu,
literalmente, disse que não deveríamos nos ver, sumo e então
apareço dizendo que estou grávida dele? Isso soaria tão…
— Sensato?
— Estúpido! — vocifero.
— Então, por que ficou com ele? — ela pergunta e meu corpo
fica relaxado quando solto um suspiro logo depois.
Olho pela janela, pensando na resposta que não me esquivei
nesses últimos meses, apesar de tudo.
— Ianme fez sentir especial, de alguma forma. Eu fui eu e ele
não se assustou comigo. O momento pareceu tão propenso. Juro
que não pensamos nas consequências. Pelo menos eu não.
A minha amiga solta um suspiro.
— Não vou julgá-la. Mas sabe que este ponto não torna justo
tudo isso que você está fazendo, não é?
— O que é justo, V? Foi apenas sexo casual, engravidei e fiz
uma escolha. Não vou correr o risco de ir atrás de Ian e acabar
sendo magoada, porque, por mais que o deteste, preciso admitir
que não conseguirei aguentar ter o meu bebê rejeitado.
— A bebê — ela me corrige, mostrando um sorrisão. — Não
vamos esquecer que é uma menina linda! — ela faz questão de
ressaltar.
Há uma semana descobrimos que estou esperando uma
menina e Vanessa estava comigo, segurando a minha mão naquele
momento tão importante.
Ela será uma titia muito babona.
Tocando a minha barriga, complementa:
— A Hermione.
Solto um suspiro e reviro os olhos.
— Ela não vai se chamar como a menina do Harry Potter, V —
saliento.
— Considere pelo menos uma homenagem singela ao pai, já
que ele é inglês.
— Irlandês — corrijo.
Aliás, como sei dessa informação?
Parece que Vanessa tem a mesma dúvida e ela me olha,
incrédula.
— Talvez eu tenha pesquisado sobre ele no Wikipedia —
admito.
— Uhum, sei. — Ela me olha com desconfiança, como se não
acreditasse na maioria das coisas que digo sobre não gostar muito
de Ian. — Bom, vamos tomar café, hoje será um longo dia.
Vanessa se levanta e então começo a ajudá-la com as
comidas. Enquanto ela passa geleia de amora nos pães, sirvo o
café, e o adoço do jeito que gostamos.
Quando vim para a França, já sabia que estava grávida. Claro
que quando saí da Itáliae precisei me afastar do trabalho por causa
do mestrado, ainda estava ignorando os sinais da gravidez. Até que
a minha menstruação atrasou e Vanessa começou a achar tudo
muito suspeito.
Tive que fazer o teste e depois marcar uma consulta com a
obstetra.
Nos primeiros meses ainda dava para disfarçar a gravidez,
porque a minha barriga continuava pequena e agia de forma como
se tudo estivesse certo.
Como eu disse, tudo parecia certo, caminhando como
planejado, com o detalhe desta gestação, que a cada dia fica cada
vez mais difícil disfarçar.
Não sei como será quando voltar para a Itália,como ficará o
meu emprego, ou se conseguirei empreender da forma como eu
quero.
Mas isso não torna a gestação um obstáculo.
Não quero tornar a minha filha um empecilho, não quero
jamais que ela pense que tirou tudo de mim.
Vanessa se senta ao meu lado, para o nosso café da manhã, ,
enquanto ficamos recapitulando o que faremos hoje. Teremos de
sair para a aula e, então, fazer algumas pesquisas. Depois iremos
até um evento que reúne grandes empresas de decoração.
Em meio as conversas, meu celular começa a tocar. Dou uma
olhada e fico imóvel. É Domenico, meu chefe, e está fazendo uma
ligação de vídeo.
— Você não vai atender? — Vanessa pergunta.
Pisco, lembrando de respirar direito.
— V-vou. — Posiciono o telefone na horizontal, de modo que
ele não possa ver a minha barriga.
Vanessa bufa e revira os olhos.
— Você vai fazer todos odiarem você por esconder essa
gestação! — ela reclama.
— Não é comigo que estou preocupada, caso Domenico
descubra — declaro, arrastando o meu dedo na bolinha verde.
Exibo um sorriso assim que o homem brota na minha tela. — Ah, oii!
Seu semblante é um tanto calculista, sagaz e intimidante.
Domenico fala primeiro com o corpo.
Ele é um homem muito expressivo, o que, na verdade, não é
nenhum pouco bom, para quem o cerca, já que ele está
constantemente de mau humor e sabe como deixar algo bem claro
com apenas um arquear de sobrancelha.
É o que ele faz nesse instante.
— Oi, Grace. Finalmente, não é? — ele indaga em um tom
sarcástico.
Sorrio sem jeito, pois já sei sobre o que ele está falando.
— Desculpa não ter atendido as suas ligações, eu estava…
Ocupada. — Algo que é relativamente verdade, mas, francamente,
só estava com receio dele acabar descobrindo a minha barriga, de
algum jeito.
Domenico franze o cenho.
— Creio que não esteja atrapalhando nada agora — diz
cordialmente, do jeito que ele sempre soube ser, educado e
cavalheiro.
— Estou de bobeira no café da manhã. Tudo bem, por aí? A
Bárbara está conseguindo dar conta em ser a minha assistente
substituta? — Vou logo mudando de assunto, criando o clima
amigável e íntimo que temos.
— Talvez eu esteja mais propenso a surtar antes dela —
confessa.
— Hummm, então isso é um ponto positivo sobre como eu sou
muito boa no que faço, não é?
— Sim, mas gosto que esteja correndo atrás dos seus sonhos
— ele diz, como sempre me apoiou a fazer isso.
Vanessa se coloca ao meu lado e então acena para Domenico.
— Olá, senhor, Alfonso! — ela o cumprimenta toda animada.
Ele faz apenas um aceno com a cabeça e dá um sorriso de
canto. Percebo que a sua barba está grande demais, pelo menos, o
cabelo de um castanho quase avermelhado está bem escovado.
— Olá, Vanessa. Como está Paris?
— Congelante! Mas Grace e eu aproveitamos para ficarmos
estilosas com nossos novos casacos e as luvas da Chanel.
— Eu não tenho dúvida disso. Você está com a pessoa que
mais entende dessas coisas. — Ele se refere a mim.
Não posso evitar o sorriso e sentir minhas bochechas corarem.
Mas logo mudo, quando percebo que Domenico está estranho, ou
desconfortável com alguma coisa.
Logo quando ele fica sério e tamborila os dedos na superfície
de vidro do seu escritório, eu sei que há algo estranho.
— Aconteceu alguma coisa? — pergunto sentindo a minha
boca seca.
Ele respira fundo e ajeita o terno impecável.
— Bem, você sabe que não ligo com o que você estoura o seu
cartão. Mas sabe que Jonas, quem toma conta das questões
financeiras, me fez um breve resumo das despesas este mês e ele
me contou algo muito curioso.
Gelo.
Por debaixo da mesa, Vanessa me cutuca e quero me
esconder.
— Consultas periódicas em uma clínica destinada a gestantes
— ele sibila a última palavra. — Vanessa?
Ela se espanta.
— Eu? — Seus olhos cor de âmbar ficam arregalados.
— Você não estaria grávida, estaria?
— N-não, senhor, Alfonso.
— Hum.
Eu posso sentir o suor escorrer em minha têmpora.
— Grace?
Pisco e tento demonstrar naturalidade. Mas, Domenico me
conhece melhor do que ninguém, ele vai saber que estarei mentindo
se negar.
Respiro fundo, porque assim como ele me conhece muito bem,
sei exatamente como despistá-lo.
Sempre fui boa nisso.
— Clínicas de gestante também são destinadas a consultas
médicas íntimas. Então… Sabe… Meu Deus! Que vergonha,
estarmos falando sobre isso. Mas, sim, estava fazendo Papanicolau
e essas coisas.
Domenico faz uma careta.
— Ok, já entendi. Mas confesso que fiquei um pouco
assustado achando que você pudesse estar grávida.
Meus ossos poderiam quebrar de tão tensa que estou.
— E se ela estivesse? — Vanessa pergunta inesperadamente
e quero matá-la.
Ficamos em silêncio e Domenico fica me olhando de forma
pensativa.
— Não preciso me preocupar com isso — ele diz e sinto meu
coração querer sair do peito. — Grace tem sonhos a serem
realizados e muito o que viver ainda. Ela não seria tão imprudente a
este ponto, não é, minha querida?
Meu peito se aperta e seguro o choro. A decepção quando
Domenico descobrir será inevitável.
— É, é sim — digo.
— Bom, vejo você em casa daqui alguns meses, certo?
Sorrio, nervosa.
— S-sim.
— Até logo e se comportem, meninas — diz antes de desligar
a ligação.
O clima fica como de um enterro.
Vanessa se senta na cadeira ao lado, como se nem ela
pudesse sentir suas pernas.
Santo Deus, podia sentir que iria parir naquele exato momento,
pois a minha barriga ficou até dura.
— Ele vai matar você. Meu Deus, Grace, você precisa contar
logo! — Vanessa surta.
— Dom não vai me matar, estou grávida.
— Então ele vai deserdar você.
Fecho os olhos com força e balanço a cabeça.
— Vamos parar com esse pessimismo ruim, ok? — sugiro,
tentando não ficar tão aflita quanto meu cérebro está mandando
ficar.
— Pois ele pareceu muito claro.
— Não… — reflito. — Domenico jamais ficaria tão chateado
assim. Ele sabe… Sabe que é errado.
Começo a tocar a barriga, acalmando a minha filha enquanto
respiro fundo e tento fazer o meu batimento cardíaco voltar ao
normal.
— E ele é seu padrinho, merece saber tanto quanto Ian.Ele é
quase seu pai, Grace.
Olho para Vanessa e afirmo:
— Sim, é por isso que sei que ele não vai enlouquecer.
Eu, como afilhada de Domenico Alfonso, sendo que temos
apenas um ao outro, sei que ele jamais soltará a minha mão neste
momento.
••••
Quando era criança, lá pelos meus nove anos de idade, perdi
meus pais em um acidente brutal. Estava na escola e eles indo me
buscar.
Acontece que meus pais e Domenico sempre foram grandes
amigos e quando eles descobriram que iam ter um bebê, meu pai
não titubeou em chamá-lo para ser o meu padrinho.
Ele aceitou de bom grado por amar o amigo e ter seus motivos
pessoais.
Por muito tempo, sempre foi só nós quatro. Éramos uma
família e quando meus pais se foram, o meu padrinho sabia que ele
era tudo o que eu tinha, então ele abraçou a causa e desde então
temos sido inseparáveis.
Vanessa está certa quando diz que é injusto esconder a
gravidez dele.
Depois de três meses e porque o mestrado finalmente acabou,
precisei voltar para Florença e a ocasião parece ser perfeita para
falar o que está acontecendo comigo
Por isso, vou direto para o prédio histórico, onde fica o
escritório do meu padrinho.
A princípio, o lugar parece ser muito velho por conta da sua
parte externa, mas por dentro, parece que entramos em um castelo,
onde a decoração vitoriana prevalece com toda a mobília antiga e
cara. Os vasos da Ásia, bem como a tapeçaria, além dos quadros
que valem milhões de euros.
Aqui é a segunda casa de Domenico.
Na verdade, é uma antiga casa.
Talvez tenha uns nove cômodos e uns treze banheiros.
Mas tudo está destinado para a sua empresa de navios.
Foi aqui que o vi erguer a sua fortuna, garantir o seu sucesso.
Cresci sendo inspirada por ele, recebendo todo o seu amor
paternal que ele jurou ao meu pai, no dia em que fui batizada em
uma capelinha em Roma.
Quando chego à recepção, os olhares de surpresa são
inevitáveis.
A moça por trás do balcão tenta disfarçar o olhar de surpresa e
a tentativa de ficar encarando por muito tempo o barrigão que tentei
esconder em um vestido preto e sobretudo bege, mesmo estando
no fim da primavera.
— Dom está? — pergunto de um jeito informal, já que não
voltei oficialmente para o meu cargo, sou apenas uma visita
informal.
— A-ah, s-sim, senhorita, Doley.
Sorrio para ela, como se não ligasse para a sua reação. E,
talvez, não ligue mesmo.
Não é com isso que estou preocupada.
— Obrigada.
Avanço em direção às escadas, o que é uma merda.
Tantos anos aqui e Domenico se nega a colocar um elevador.
Mas suas razões são óbvias; isso irá distorcer o significado e
importância do prédio, sem contar que seria capaz de levá-lo a
baixo.
— Ajuda, senhorita, Doley? — o segurança pergunta de uma
forma bem-educada e gentil, já que ele vê a minha situação.
— Eu ficaria muito agradecida. — Dou a mão para ele segurar
e então começamos a subir os degraus.
Quando chegamos no terceiro e último andar, posso jurar que
a minha bebê me dará um chute.
— Obrigada — agradeço a ele assim que os degraus
terminam.
Ao fim do corredor a porta de Domenico se revela sendo única.
— Bom, aqui vamos nós. — digo a mim mesma.
Respiro fundo e ando em direção ao “santuário” do meu
padrinho.
Vanessa quis apostar que ele me deixaria sem o meu cartão
que não tem limite, ou que irá me tirar do meu apartamento. De
qualquer forma, ela estava disposta a assumir o meu cargo de
afilhada de Domenico se algo ruim acontecesse comigo.
Inimiga para quê, não é?
Mas é assim que a nossa amizade funciona, brincamos com
coisas sérias. No entanto, desta vez é mais sério do que qualquer
brincadeira.
Bato à porta de Dom duas vezes e então enfio a minha cara
pela fresta quando a abro com cuidado, com receio de estar
atrapalhando alguma coisa.
— Oi? — cantarolo.
Ele está no celular, mas assim que me vê, mostra um sorrisão.
Domenico ainda está muito barbudo.
Rum, ele precisa de uma namorada urgente!
— Olha, falo com você mais tarde. A Grace acabou de chegar
— diz para a pessoa do outro lado da linha.
Entro, sabendo que a primeira coisa que ele verá será o meu
barrigão. Fecho a porta atrás de mim, e mantenho distância, porque
quanto mais perto da porta, mais rápido será a minha fuga.
Quer dizer, só se me jogar pela janela, porque a escada não
facilitará nada.
E tinha razão, a primeira coisa que ele nota em mim, é a minha
barriga.
Fico quietinha, enquanto o deixo absorver bem a situação.
— Pois é… — Eu nem sei por onde começar. — O senhor
estava certo. E-eu… Quer dizer, tinha alguém grávida. E era eu.
Bem, ainda sou eu. Mas… — Começo a ficar mais nervosa,
principalmente à medida que ele se aproxima lentamente, com as
mãos nos bolsos e uma expressão impassível.
Sinto meus lábios tremerem.
— Por favor, não fica decepcionado comigo.
Domenico para e então me olha de cima.
Odeio o fato dele ser alto feito um poste!
Eu não sou nada baixinha, mas ele…
Nossa, chega até mesmo ser um exagero!
De qualquer forma, isso deixa as mulheres loucas por ele.
Seus olhos grudados em mim, me deixam mais tensa ainda,
com o coração batendo na boca.
Droga, o que ele fará?
É impossível de saber!
E juro que quase tenho um treco quando ele começa a dizer
com a voz grossa, e tenho quase certeza de que coisa ruim virá aí:
— A única forma de ficar decepcionado com você, é te ver
subindo essas escadas outra vez enquanto estiver com esse
barrigão.
Um alívio tão forte me preenche que a minha barriga fica dura
e preciso segurá-la para garantir que a minha filha não nasça agora.
— Como é? — Estou confusa.
Como um pai que sabe do seu poder, ele cruza os braços
fortes.
— Achou mesmo que me esconderia uma gravidez, Grace?
Achou mesmo que não veríamos as despesas em lojas de bebê, ou
então, o plano na melhor maternidade de Florença?
Pisco várias vezes.
Ok, talvez, tenha pensado em um plano e que Jonas, o nosso
contador, falava tudo para Domenico. Achei que deixá-lo ir catando
as coisas seria menos impactante quando descobrisse, por mim, a
verdade.
Sei que ele espera o meu pronunciamento.
Mas, há um porém...
— Só não consigo entender o motivo de ter decidido esconder
de mim.
Para a minha surpresa, ele não parece estar decepcionado,
mas, magoado.
De repente, me sinto horrível.
— Tecnicamente, não escondo. Fui deixando as pistas e você
capitou, não foi mesmo? — digo na cara dura.
— O que é isso agora? Um tipo de jogo? Filho é coisa séria.
Quem é o pai?
Essa pergunta...
Eu temia tanto essa pergunta!
Quase assobio para disfarçar. No entanto, sei que não posso
fugir, pois não tenho planos de manter isso alheio a Ian.
— Não importa, já aceitei que sou mãe solteira.
— Então foi de uma relação casual?
— Basicamente. Mas, isso não importa. Só quero saber se o
senhor não está chateado comigo, porque sei que errei, em todos os
sentidos. Mas não estou dizendo que a minha filha seja um erro,
porque o senhor não faz ideia do quanto já a amo.
— Filha? — ele pergunta com os olhos brilhando. — É uma
menina?
Sorrio, sabendo que ele não iria resistir.
— Sim. — Acaricio a barriga. — Estou grávida de oito meses.
Eu sei, escondi por tempo demais. Mas, para você saber, descobri
com quase três meses.
Ele solta um suspiro de desaprovação e mordo o lábio.
— E então? Não vai me falar nada?
— O que eu poderia falar? Você já tem vinte e três anos, é
mestre em moda, tem um trabalho e é uma pessoa incrível. Tenho
certeza de que será uma ótima mãe, Grace, assim como Isabelfoi
para você. Mas… Você sabe como costumo ser tradicional. Sabe
que não vou sossegar até saber quem é o pai dessa criança —
afirma.
Eu tinha certeza de que ele não recuaria quanto a isso.
Bem, ele saberá a verdade mais cedo ou mais tarde, então
que seja agora e por mim.
Respiro fundo e então revelo baixinho:
— Ian.
— Ian? — repete.
— É, o Ian.
Domenico coloca as mãos na cintura e me olha mais de perto.
— Ian O’Donnell? — sibila.
Balanço a cabeça.
— Ian O’Donnell — repete e então se vira. — IanO’Donnell —
repete de novo.
Eu não sei se o seu jeito tranquilo diante dessa informação
deve ser algo positivo ou assustador.
Mas espero.
— Certo. Herdeiro da petrolífera O´Donnel e nosso mais novo
contratado para gerenciar a nossa equipe de T.I.
Paraliso.
— O quê?
Isso é novidade!
Domenico sorri para mim e isso parece um tanto bizarro, como
se ele estivesse à beira de um surto.
— E ele vem trabalhar amanhã, o que parece ser ótimo. Acho
que teremos uma conversinha.
— Vai matá-lo?
— Não. Não quero deixar a sua filha órfã de pai antes mesmo
dela nascer. Sei como isso é horrível, não desejo a ninguém.
Meu coração aperta.
Esse era o motivo que estava completamente firme em contar
tudo a Ian.
— Eu sei — digo suavemente.
Domenico então se aproxima e me abraça. Afundo o rosto
nele, porque senti falta desse carinho e de como ele era sinônimo
de casa para mim.
Sei que esse gesto é sinal de apoio, que ele não me largará,
muito menos a minha filha.
— Fico feliz que a família esteja crescendo. Estou orgulhoso
da mulher que tem se tornado e de tudo o que tem conquistado,
Grace — ele afirma e não posso conter as lágrimas.
Não digo nada, porque sei que se disser qualquer coisa,
começarei a chorar.
Mas tudo o que preciso é do seu abraço, da sua aprovação.
Sei que tendo isso, já terei tudo.
Porém, mesmo assim, ainda falta uma coisa...
Eu sei que falta.
É realmente triste que os dias em Florença estejam contados.
Gosto da cidade antiga, romântica e histórica.
Os dois meses que fiquei por aqui, comecei a compreender o
motivo de Domenico Alfonso denominar o lugar como um refúgio
para os magnatas europeus.
O lugar é tranquilo demais, mesmo com todos os turistas.
A questão é que todos que vêm até aqui, querem apenas uma
coisa, a tranquilidade do lugar.
É certo que a cidade seja uma referência por suas vinícolas,
museus e gastronomia. Há toda uma agitação também sobre a vida
boêmia do lugar, em como tudo que é decadente, tornando-se lindo
e poético.
São exatamente nove da manhã e o Sol de início de verão
está exatamente resplandecente na cidade, iluminando as
construções antigas e as ruas de paralelepípedos.
Quando precisei me mudar para liderar a equipe de T.I. que
agora também trabalhará para Domenico, não quis nada luxuoso.
Optei por um loft no centro de Florença, que me deixasse mais perto
dos melhores bares e restaurante, além de estar perto do trabalho.
Tenho meu carro, uma Mercedes, mas, agora, em dias bonitos
como este, gosto de sair a pé e contemplar a manhã, ouvir as
canções de velhos homens na entrada de um bar, ou, então, as
lindas mulheres que amam usar vestidos esvoaçantes nessa época
do ano na Itália.
É uma dádiva que tudo isso fique a caminho do meu trabalho,
que fica a três quilômetros daqui.
De calça jeans, sapatênis e uma blusa da Burberry, desço as
vielas até chegar ao antigo prédio onde Domenico achou que seria
apropriado ter a sede da sua empresa.
Porra, o lugar pode ser antigo, mas todo mundo reconhece a
moral e seus dígitos na conta bancária só por ele ter conquistado
esse lugar, as margens do rio Arno.
Faltam mais duas semanas para eu ir embora e certamente
aproveitarei a última para curtir.
Mas até lá, preciso finalizar os projetos e deixar alguns acertos
com Domenico, que solicitou uma reunião nesta manhã.
A assistente dele me ligou ontem à noite, no fim do expediente.
E não era a Grace.
Bom, não que esperasse que fosse, mas já havia se passado
oito meses e podia jurar que nos encontraríamos de algum jeito, que
ela estaria ali.
Quando perguntei por ela para a atual assistente de Domenico,
que se chama Bárbara, ela me contou que Grace estava na França
fazendo o mestrado.
Fiquei feliz por ela, mas aceitei que era para ser assim.
Acho que o destino não nos unirá de novo e se for para
acontecer, será bem improvável que tenhamos outra foda
espetacular igual àquela.
Ela está na França há um bom tempo e é o suficiente para
qualquer marmanjo francês cair aos seus pés.
Mas também, quem não ficaria?
Afinal ela é uma loiraça sem igual.
Se eu disser que não pensei nela, nos últimos meses, estaria
mentindo.
Grace, sem saber, foi minha companhia em noites vazias. Eu
amava voltar para aquele amanhecer, a fodendo de frente para o
Sol que nascia no horizonte.
Só de lembrar eu já fico louco.
E, agora, preciso conter os desejos, pois será horrível chegar
no trabalho com uma ereção, porque estou me lembrando da ex-
assistente de Domenico.
Cumprimento as meninas da recepção que costumam jogar
muito charme para mim e retribuo sempre.
Admito que subir as escadas é a única parte chata do lugar e
Domenico não seria louco de mexer na estrutura antiga, então
teremos de nos acostumar.
— Bom dia, Bárbara — cumprimento a nova assistente dele
quando vou me aproximando do escritório. — Cheguei atrasado?
Ela ajeita a armação dos óculos no rosto.
É italiana pura, tem a aparência meio rígida, o tipo de mulher
que seria capaz de capar o saco do homem que a fizesse sofrer.
Mas ela tem uma aliança no dedo e parece ter uma vida tranquila.
— Bom dia, senhor O’Donnell. O senhor Alfonso já o espera no
escritório.
Recuo incrédulo.
— Escritório? O que aconteceu com a sala de reunião?
— É uma reunião intimista, onde requer apenas a sua
presença.
Fico olhando para ela que parece estar um pouco
desconfortável.
— Intimista, é? E como está o humor dele hoje? — pergunto já
me adiantando até a porta dele, enquanto a assistente se dá o
trabalho de responder algo que não fará diferença para mim, de
qualquer jeito:
— Indecifrável. — É tudo o que ela diz antes que eu abra a
porta, sem mais ou menos, e passar por ela.
Bárbara fica agitada com meu comportamento inadequado. Ela
deve achar que rio na cara do perigo, por tratar o seu chefe como
uma pessoa normal. No entanto, ela não faz ideia de quem sou
irmão.
Fui acostumado a lidar com dois caras chatos e, ironicamente,
a melhor forma que encontrei de lidar com os dois foi irritando-os
ainda mais.
Tornou-se a minha diversão, no final das contas.
Mas a verdade é que bajular uma pessoa podre de rica, sendo
também uma, é a coisa mais idiota que se pode fazer.
Não ligo para o Domenico, assim como sei que ele não me
curte muito e que felizmente consegue separar relações pessoais do
trabalho, porque ele só me fez mais rico ainda ao contratar os
serviços da minha empresa de T.I.
— Senhor… Ele… — Ela se atrapalha toda.
Domenico está tomando um café preto, sentado de forma
meditativa em sua cadeira de couro.
Ele faz um gesto qualquer para ela com a mão.
— Tudo bem, Bárbara. Obrigado — diz, mas não me olha,
muito menos me cumprimenta.
Ele consegue ser estranhamente mais sério do que Jeremy!
Ela sai e ficamos a sós.
Eu me sento na cadeira em frente a ele e me sinto confortável,
além do mais, Domenico tomou todas as providências para que eu
fosse bem acolhido e falasse bem da sua empresa de navios pelos
quatro cantos do mundo.
Embora, ele não precise de marketing para isso.
Mas o marketing orgânico é sempre o melhor.
— Uma reunião intimista ? — pergunto achando graça do
termo, que soa mais patético quando dito em voz alta.
— Uma reunião de interesses pessoais, se essa colocação
estiver melhor para você — ele sugere.
— Bem, gosto do termo reunião intimista. — admito dando de
ombros. — Mas não com homens — concluo: — Não com você.
Domenico bebe mais um pouco do seu café e, então,
posiciona a xícara de vidro de forma sistemática na mesa.
Frio e calculista.
Não acho que ele seja isso tudo, mas, as vezes, é inevitável
não o julgar como tal.
— Sei o quanto você e seus irmãos são loucos por mulheres.
Principalmente, aquele tal de Noah — comenta.
— Somos mesmo, mas meus irmãos estão quietos agora, se
casaram e construíram suas famílias. Estão muito bem de vida —
argumento, sentindo a necessidade de não omitir a informação
antiga, mas também de defender os meus irmãos.
— Você não pensa em ter o mesmo que eles? — pergunta me
olhando sério.
Dou uma risada desdenhosa e me remexo na poltrona, me
sentindo estranho, mesmo que essa seja o tipo de pergunta que me
fazem com muita frequência agora.
— Aposto que este não é o assunto da reunião — pontuo.
— Ah, não, Ian. Pode ter certeza de que já estamos falando
sobre o ponto desta reunião, até chegar aonde quero — informa, me
deixando imóvel e sério.
Que estranho.
— Falei que seria uma reunião de interesses pessoais —
acrescenta.
Não contenho a risadinha de incredulidade, mas de puro
humor genuíno também, ao ponto de fazer tal comentário:
— Qual é, Domenico? Quer formar uma família comigo?
Por mais que esteja rindo da ideia louca e levando na
brincadeira, ele permanece sério.
Domenico não me dá medo, mas ele me lembra o Jeremy. E
Jeremy também não me dá medo, mas ele é o meu irmão mais
velho e crescemos juntos, então houve um tempo que adorava
agradá-lo. Consequentemente, até hoje, nutro uma certa
necessidade em dar orgulho a ele.
Por isso, acaba me incomodando um pouco que Domenico
esteja se comportando de tal jeito estranho.
— Então está falando sério. — Mordo o lábio enquanto analiso
a situação um pouco. — Ok. Bom, se quer saber, sempre fui
considerado o mais quieto dos meus irmãos. Eu gostaria de ter uma
família igual a eles, mas não no momento.
— Alguma força maior o impede?
Que merda é essa?
Nunca achei que fosse tratar desse assunto com ele. Não em
uma situação séria em que deveria ser destinada a trabalho.
— Olha, querendo ou não, filhos são como prisões, mas uma
prisão saudável, não me entenda mal. Eu só tenho trinta anos e
quero curtir mais um pouco. — Essa é a verdade nua e crua. —
Mas, se, de repente, recebesse a notícia de que seria pai, eu…
Talvez surtaria um pouco, mas arcaria com as responsabilidades.
De repente, me sinto nervoso.
Essa conversa me deixa desconfortável, pois sei que nada é
impossível, não depois dos meus irmãos terem se tornado pai, como
no caso de Noah, que demorou anos até que viesse a procriar.
Fiquei preocupado quando transei com Grace naquele dia,
sem camisinha. Às vezes, me pergunto se toda aquela confiança
dela era porque já tinha uma pílula do dia seguinte para
emergências.
Mas todos esses meses se passaram e nunca mais soube
nada sobre ela. Caso contrário, ela já teria me procurado assim que
teve oportunidade.
— Issoé interessante — ele diz ao se levantar, arrumando o
terno, encaixando os botões nos buracos. — Me faz lembrar de
como todo homem pode ser canalha, mas de bom caráter, ao
mesmo tempo. O que acho honestamente que você se encaixa nos
dois.
Pisco confuso enquanto o vejo contornar a mesa e se escorar
na beira dela.
— Está querendo me ofender sem parecer que está fazendo
isso? — deduzo e ele dá de ombros.
— Talvez. A questão aqui é que… — Estica o braço até o
monitor do seu iMac, e então vira a tela para mim. — Estou tentando
não fazer você parecer o único responsável por isso.
Sinto meu corpo todo ficar rígido, como se meus músculos
estivessem congelados, fazendo até mesmo o meu sangue correr
ao contrário e a minha respiração perder o controle.
A tela brilha e os pixels formam uma imagem tão nítida que é
possível ver cada detalhe. E por mais que a imagem esteja
congelada, como se tivesse sido apenas uma mera captura de tela,
é possível entender o que estava acontecendo ali.
E com quem.
Era Grace e eu, juntos na manhã em que ficamos. Estávamos
nos beijando, ainda com roupas. O que me faz pensar que
Domenico foi gentil em não ter que mostrar algo mais “pesado”.
Parece até que ele leu a minha mente quando salienta:
— Como você pode ver, isso é a coisa mais leve do que
acontece depois. Temos câmeras de segurança por todo lado nos
meus cruzeiros e me pergunto como Grace foi tola em não ter
lembrado desse detalhe. Para a sorte dela, as filmagens chegaram
até mim, primeiro porque uma noite antes foi o lançamento daquele
espaço e queria saber como aconteceu. Eu queria ver como era o
amanhecer, a vista privilegiada que os meus passageiros teriam e
me deparei com isso.
Ele aparenta estar calmo, mas sei que é uma linha muito tênue
até ele surtar. A razão eu ainda não entendo, não sei onde ele quer
chegar. No entanto, se tratando da sua assistente, talvez tenha o
meu palpite.
— Tratei de congelar e de dar um fim nesta filmagem bem
antes dela nem sequer ter a possibilidade de espalhar. Grace nem
sonha que isso existe.
— Quer que eu cuide disso? Posso fazer essa gravação sumir
de um jeito que não reste nenhum pixel dele para contar história.
Enfurecido, Domenico bate a mão contra a superfície da mesa
e aponta o dedo na minha cara.
— Você é muito cínico! Será que ainda não percebeu do que
isso se trata?!
Respiro fundo e fico o encarando, tentando não ceder as suas
intimidações.
Ele acha que pode me intimidar, mas não sabe o quão já sou
treinado para lidar com pessoas mais velhas, poderosas que se
acham melhor que todo mundo.
E permaneço rígido diante dele, exceto pelo detalhe de quando
rapidamente monto as peças do quebra-cabeças.
A sensação é como ter a minha alma saindo do corpo.
— Todo esse início de conversa sobre gravidez, e agora isso...
É para dizer que engravidei a sua assistente?
Domenico fica me olhando e vejo seus olhos faiscarem em
ódio.
— Eu deveria matar você! — ele ruge, se virando de costas
para mim, para não ter que fazer aquilo realmente.
— Então isso é um sim? — pergunto de novo e me levanto,
pois, agora estou realmente nervoso e preocupado e não
conseguirei ficar quieto até que tudo seja explicado. — Você está
querendo dizer que a Grace está grávida de Domenico e que sou o
pai da criança que ela espera?
Ele para do outro lado da sala, com as mãos nos quadris e a
cabeça abaixada, como se estivesse exausto.
Acho que o ouço bufar, ou talvez seja o meu coração batendo
rápido demais porque essa informação ainda não processa na
minha cabeça.
Mas é fácil de saber e rapidamente faço os cálculos. Só que
não sei se Grace esteve com outros homens, então, será que devo
confiar totalmente?
— Tudo o que você precisa saber é que mexeu com a garota
errada — diz parecendo derrotado, meio triste.
Puta merda!
Eu me sinto horrível, porque acho que cometi um grande erro
ao ter ficado com Grace. Um erro que, ao ver pela forma como ela
se refere a ele, deveria ter percebido desde o início.
— Eu não sabia que ela era a sua amante.
Domenico me olha por cima do ombro tão incrédulo que
percebo que estou entendendo tudo errado, ou que talvez tenha
descoberto o seu segredo.
— Olha, isso não é tão errado. Veja o Noah, ele se casou e
teve um filho com a assistente dele. Desculpa, se acabei ficando
com a Grace, mas ela não me falou que estava com você e nem
tinha como saber disso.
Porra, como estou aflito!
A situação da gravidez me deixou agitado para caramba e não
consigo parar de falar, porque sempre fui o oposto dos meus
irmãos.
Domenico se vira para mim e mais uma vez, aponta o seu
dedo julgador.
— Você não sabe da merda que está falando, O’Donnell.
Grace e eu não temos nada. Quer dizer, temos um laço, sim, mas
não sou um usurpador como você e seus irmãos.
— Eu não usurpei a Grace, ela fez o que queria
— Só que agora ela está grávida! Muito prestes a ter a bebê!
— Então é uma menina? — Arqueio as sobrancelhas,
surpreso, sentindo a boca do meu estômago se apertar.
— Eu só acho bom, Ian, que você faça o seu papel.
— Por que isso é tão importante para você?
Domenico solta um suspiro e balança a cabeça, como se a
resposta pudesse ser ainda pior.
Porra, eleestá me assustando!
Talvez, lidasse com essa coisa de ser pai, mas esse suspense
que Domenico faz me deixava perturbado!
Ele anda até a janela do seu escritório, uma janela pequena,
se comparada as janelas dos escritórios dos meus irmãos, que
tomam uma parede inteira.
Domenico enfia as mãos nos bolsos da calça e fica admirando
o Arno lá embaixo. Percebo que isso está sendo mais difícil para ele
do que para mim. E, de repente, vou ficando com muito medo da
resposta dele.
Mas já é tarde demais, pois vejo quando Domenico puxa o
fôlego e responde:
— Grace é a minha afilhada. Mas cuido dela há tanto tempo
que ela é como se fosse uma filha e eu, o seu pai. Então,
basicamente, você engravidou a minha filha, Ian.— Ele me olha por
cima do ombro.
Eu já nem respiro direito quando ele completa em tom de
ameaça:
— E se você não fizer o que tem de ser feito, pode considerar
que esta é a última vez que você engravida alguém.
Sinto como se o meu cérebro fosse dar curto-circuito e que as
batidas aceleradas do meu coração me causariam um ataque
cardíaco. Mas nada daquilo era significante perto do olhar letal que
Domenico me dava.
Era como se ele fosse me perseguir até mesmo depois da
morte.
Balanço a cabeça, analisando a ameaça e a minha
responsabilidade.
— Entendi. — É tudo o que digo.
Domenico se vira para mim, depois de um tempo, quando ele
já está mais recuperado.
— Grace é uma jovem cheia de sonhos, Ian. Ela acabou de
dar início ao seu maior sonho e apesar de ter certeza de que ela
não precisa de ninguém para conseguir o que quer, não quero que
esteja sozinha.
— Você fala como se eu fosse sumir agora do mapa. Irei
procurá-la e resolveremos isso.
Ele se aproxima de mim e me mantenho na defensiva, caso
ele queira avançar em mim. Domenico tem um jeito um pouco
agressivo, como se tivesse sido criado nas ruas, o que não acho
difícil, já que foi um menino pobre que conseguiu enriquecer
trabalhando pra caramba.
— Eu sei disso, Ian.Mas quero que você faça mais uma coisa
também.
Olho para ele que parece confiante.
— O quê?
Eu não faço tudo o que Domenico me pede, afinal o nosso
contato já está prestes a acabar, mas de um jeito bem inesperado,
isso se estenderá por mais tempo.
— O que você acha desse vaso ficar aqui no canto? —
Vanessa pergunta puxando para o canto esquerdo da sala um vaso
que tem uma enorme e linda Costela-de-Adão.
Inclino a cabeça para o lado e penso.
— Pode ser, gosto dela aí, dá mais vida e enfatiza o vento que
vem lá de fora.
Ela sorri como se tivesse pensado a mesma coisa.
— Bom, então acho que isso é tudo — diz batendo as mãos no
jeans enquanto volta para o meio da sala para ficar ao meu lado.
Juntas, damos uma olhada no meu novo apartamento, agora
que terminamos de organizar tudo.
Vanessa e Domenico insistiram para que eu contratasse uma
empresa decoradora para lidar com tudo, mas queria que cada
cantinho tivesse meu estilo, minhas escolhas.
Eu queria que fosse algo bem cool, moderno, mas também um
pouco rústico.
Então, tem quadros bem legais, como o da Marilyn Monroe
fazendo uma bola de chiclete, por exemplo.
Os móveis são todos modernos e práticos, de cores suaves e
sólida. Há as plantas, as luminárias industriais e alguns objetos de
decoração que dão um aspecto mais clássico.
Estar morando aqui não é só um marco para a minha nova
vida, mas um passo importante para quem sempre sonhou com a
tão esperada independência. E mesmo que eu seja afilhada de um
dos homens mais rico da Itália, se não da Europa, as coisas nunca
foram assim no início.
— Tem certeza de que não quer que fique aqui por mais uns
dias? — ela pergunta pela décima vez.
Na verdade, Vanessa vem fazendo essa proposta muito antes
de sairmos da França, se não, até mesmo quando chegamos em
Paris. Mas ela acatou mais ainda a ideia quando descobri que
estava grávida.
Minha amiga está vestida com uma jardineira e um cropped, e
tem um lenço verde amarrado ao seu cabelo ruivo. Enquanto eu,
venho testando todos os tipos de vestidos desde que fiquei
barriguda e me sinto mais confortável dessa maneira.
Começo a alisar a barriga quando também, pela décima vez,
digo o que acho sobre isso:
— Eu te amo, V, mas consigo me contentar com você morando
três quarteirões daqui. Não quero incomodar e, além do mais,
preciso curtir um pouco essa solitude. — Fecho os olhos e respiro
fundo, como se isso me fizesse bem.
— Sabe que só gosto de ser cautelosa em tudo, não é? Eu fico
tão receosa com você aqui sozinha.
— Eu sei, V. Obrigada por tudo. Fizemos um belo trabalho, não
acha? — Analiso olhando a sala integrada à cozinha.
— Eu até entraria como sócia da sua empresa de decorações,
mas a advocacia é realmente o meu ramo. Inclusive,já pensou o
que fará a respeito do Ian?
Reviro os olhos e coço a cabeça, como se isso fosse um
assunto incômodo.
“E bem, é.”
— Contei tudo ao Domenico, sinto que a minha parte já fiz.
— Uma hora dessas ele já deve ter matado o coitado do
O’Donnell — reflete olhando pela janela.
— Credo, Vanessa! — Viro para ir até à cozinha.
Andar começou a ser realmente uma tarefa bem chatinha
quando se tem um peso desse grudado em si o tempo todo. Minhas
costas já não são mais as mesmas e estou na maior parte do tempo
com pantufas.
A parte ruim de ter que morar sozinha, é que não tem ninguém
para massagear meus pés.
— Mas não estou mentindo! — ela exaspera. — Domenico é
tipo superprotetor com você. Ele é praticamente o seu pai! Lembra
daquela vez que estávamos em Cecília e enquanto comíamos pizza,
ele estava ao telefone super preocupado com alguma coisa do
trabalho, enquanto fumava um charuto e bebia uísque?
— Você é tão detalhista — comento.
— O caso é que Domenico foi confundido com um mafioso
naquela situação. As pessoas dizem que ele é “mal-encarado”, e às
vezes, é mesmo.
Olho para ela perdendo até o rumo do que ia fazer agora.
— Ok, isso o torna mais charmoso ainda e condiz
completamente com a aparência linda e lapidada dele. Mas
Domenico é aquele tipo de homem que faz as pessoas lembrarem
dele, seja de um jeito ruim, ou de um jeito bom.
Arqueio a sobrancelha e fico um pouco mais quieta quando me
vejo concordando com tudo o que Vanessa diz sobre o meu
padrinho.
Olho então para ela de relance.
— Ele não seria capaz de machucar alguém — enfatizo por
fim.
— Sei disso, mas com certeza ele faria Ian ter uma lição.
Penso mais um pouco, afinal aquilo continua parecendo
loucura, de qualquer forma. Volto a andar até a geladeira, onde
pego o pote de sorvete no freezer, o que significa que estou um
pouco tensa com essa história.
Não me preocupo muito com Ian. Consegui lidar todo esse
tempo sem ter uma mísera notícia dele, só que agora as coisas são
diferentes e tem se inclinado cada vez mais a ficar de um jeito que
não esperava. E tenho certeza de que é porque sei que ele está na
mesma cidade que eu, e porque não demorará muito até a minha
filha nascer.
Coloco o pote de sorvete sobre o balcão e dou de ombros.
— Seja o que for, já fiz a minha parte em contar ao Domenico.
— Mas ele não é o pai, Grace — enfatiza.
— O pai da minha bebê, Vanessa, é um dos caras mais
canalhas que já se viu no continente! O sobrenome dele é
comentado e todo mundo sabe da fama deles! Não vou me humilhar
pela atenção dele, muito menos que demonstre o mínimo de
interesse pela minha filha. — Quase estou gritando e quando me
dou conta disso, respiro fundo e vou pegar uma colher.
Droga, esse é o segundo pote de sorvete só nessa semana!
Às vezes, sinto que os hormônios podem me matar!
— Sabia que os irmãos dele são casados e cada um formou a
sua família? Honestamente, tenho certeza de que Iangostaria muito
disso também.
Aponto a colher na direção dela.
— Se ele fizesse isso, seria a mais pura carência e inveja de
não ter o que os irmãos têm. E sabe no que isso resultaria? Um
homem infiel e egoísta, que só quis ter algo porque não queria ficar
para trás. — Enfio a colher no sorvete de chocolate com pedaços de
chocolate mais amargo.
— Que droga, isso faz sentido! — ela lamenta e então se joga
no sofá cinza.
Sorrio me sentindo orgulhosa disso.
Tenho uma certa resistência em ter que me abrir para as
pessoas, em fazê-las enxergar mais do que deveriam, mais do que
apenas um contato imediato pudesse permitir.
Foi por isso que naquela manhã com Ian, fiquei
completamente fascinada pelo fato dele ter me desvendado de
alguma forma. Ao invés de ficar zangada com aquilo, foi
interessante.
Qualquer homem teria corrido de mim, por me achar
problemática, mas ele ficou.
E foi tão sexy e ousado...
Gostei daquilo, mas não sei se faria de novo.
Duas batidas à porta me fazem olhar para Vanessa que
também me olha.
— Está esperando alguém? — ela pergunta.
— Não, e você?
— Por que esperaria alguém no seu apartamento?
Droga, ela tem razão.
— Tudo bem, eu atendo. — Enfio a colher dentro do pote e me
esgueiro até a porta.
Vanessa já trabalhou demais hoje, então ela merece um
descanso.
Quando me aproximo da porta, olho através do olho mágico e
é o mesmo que ver um fantasma.
Eu me afasto da porta como se ela estivesse superquente.
— O que foi? — Vanessa pergunta preocupada.
— Ele tá aqui — sussurro.
— Ele quem? — Ela se levantou, em alerta e assustada.
Olho mais uma vez pelo olho mágico, só para ter certeza.
— Ian— digo contra a superfície de madeira. — IanO’Donnell.
— Puta merda! — ela solta. — Domenico não o matou, mas
certamente o torturou.
Eu me viro para ela, sentindo a frieza do sorvete congelar a
minha garganta e, ao mesmo tempo, querer voltar. Sinto as pernas
fraquejarem também.
Jamais pensei que ficaria tão nervosa ao reencontrá-lo.
Ele bate de novo à porta e travo, encolhendo os dedos dos
meus pés.
— E agora? — pergunto a ela.
— Abra e o receba. Se ele apareceu é porque acabou de
matar todas as suas teorias sobre ele.
Merda!
Ela tem razão e isso me deixa um pouco sem jeito, mas não
sei, ainda não tenho certeza sobre isso.
O fato dele aparecer na minha porta não significa nada!
— Ok — digo corajosamente. — Eu vou abrir.
Ele bate mais uma vez, impaciente.
— JÁ VAI! — grito.
Tiro o ferrolho da porta, seguro a maçaneta e respiro fundo.
Meu coração está super acelerado e dentro da minha barriga, um
serzinho se agita, como se ela soubesse o que está prestes a
acontecer.
Eu a toco.
“Você precisase acalmar”, digo interiormente, mais para mim,
do que para ela.
Giro a maçaneta, puxo a porta e lá do outro lado da soleira
está ele, paradinho como alguém que aprontou, segurando um lindo
buquê de rosas vermelhas, lindas. Como se aquilofosse o símbolo
do seu pedido de desculpas.
Ficamos nos encarando por alguns segundos, até eu perceber
que ele está muito arrumadinho, usando jeans, blusa social escura
com as mangas compridas arregaçadas até o cotovelo, um relógio
magnificamente luxuoso, o cabelo escovado, a barba feita e um
cheiro másculo que me deixa mole por uns segundos.
“Ele veio para impressionar
.”
Ian pigarreia e parece meio sufocado nos primeiros segundos.
O vestido que uso nesse início de noite é vermelho e
folgadinho. E sei que a única vez em que estivemos juntos, foi o
suficiente para Iansaber que não sou desse tamanho e que a minha
barriga grande não indica nenhuma compulsão alimentar.
— Oi — diz firme. — Bom ver você de novo, Grace. — Sorri.
O que faço agora?
Sorrio de volta?
Digo a mesma coisa?
Nem sei o que sinto o reencontrando agora mesmo, além do
estômago embrulhado.
Mas alguma coisa, tenho que fazer!
Aliso a barriga e respiro fundo.
— O-oi, Ian. Quanto tempo.
Ele permanece parado e é nítido que evita olhar para a minha
barriga pontuda. Em contrapartida, Ianvê Vanessa e dá um aceno
de mão, junto a um cumprimento simpático.
— Olá.
— Oi! — ela diz toda animada, pulando do sofá.
“Traidora!”
Quando dou por mim, Vanessa já está estendendo a mão a
ele.
— Me chamo Vanessa, sou a melhor amiga da Grace.
Desculpa a paralisia dela, ela só está cansada, foi um dia e tanto!
— Não estou paralisada! — rebato irritada.
Vanessa pode desconsiderar vários fatores da sua
personalidade por eu estar grávida, mas ela nunca descarta a
possibilidade de me irritar. É o que a diverte e, às vezes, só às
vezes, é engraçado.
— Só estou tentando entender o motivo dessa visita
inesperada e como fui encontrada. — Olho para Iande uma forma
que ele entenda que é uma pergunta para responder de prontidão.
— Prometo contar, mas não quero ficar do lado de fora
enquanto conto tudo.
— Tudo? — Vanessa repete surpresa, cruzando os braços. —
Nossa, então o negócio é interessante.
Bufo, sabendo que não tenho mais para onde correr. É isso ou
então agirei feito uma covarde.
Abro um pouco mais a porta e saio do meio para dar
passagem a Ian.
Meu Deus, não posso acreditar que isso está mesmo
acontecendo!
Ele entra em passos cautelosos na minha sala, como se aqui
fosse um campo minado.
Iansegura o buquê em frente ao peito, como se fosse o seu
escudo.
— Flores? Vai a um velório?
— Eu não sabia se trazia flores ou um berço, então optei por
algo mais romântico.
Vanessa gargalha e lanço um olhar mortal para ela que fica
séria no mesmo segundo.
— Nem foi tão engraçado assim — ela reformula, um pouco
acanhada. — Querem privacidade?
— Por favor — digo.
— Não vá tão longe — Ian diz a ela e franzo o cenho.
— Eu moro três quarteirões daqui — ela comenta enquanto
sai.
— Bom saber.
Ela passa por nós dois, mas da porta avisa para mim:
— Estarei lá embaixo, só por precaução. — Sai, fechando a
porta e me deixando a sós com Ian.
Meu Deus!
Mas como ele veio parar aqui?
Há poucos minutos estávamos falando dele e como um
fantasma que foi invocado, ele simplesmente bate à minha porta!
— Você é tão cínico que estava dando em cima da minha
melhor amiga na minha frente! — acuso.
Ian me olha, incrédulo.
— Eu não estava flertando com ela. Só expressei meu alívio
em saber que ela mora perto, já que não mora com você.
— Por que isso deveria te preocupar? — indago mantendo
ainda distância.
Confesso que a sola dos meus pés já doem. Quero me sentar,
mas não farei isso enquanto ele estiver aqui.
— Porque não é bom uma mulher em nível avançado de
gestação ficar sozinha. Onde deixo isso? — Indico as flores.
Por coincidência, há um vaso vazio sobre a minha mesa de
jantar que ainda pretendia preencher.
Mas parece que Ian me poupou o trabalho.
Indicoo recipiente de vidro e ele mesmo se dá o trabalho de
organizar. Quando termina, pergunto de forma bem direta:
— O que faz aqui, Ian?
Limpando as mãos na calça, responde:
— Vim ver minha velha amiga.
— Somos amigos? — retruco em desdém. — Não deixamos
nada combinado.
Iandá um sorriso descarado, que ele tenta disfarçar com muito
afinco, mas sem sucesso.
— E eu levei a sua calcinha de brinde, já você disse que não
precisava de nada porque já tinha algo meu dentro de você —
relembra.
Algo semelhante ao chão se abre sob meus pés.
Principalmente, quando ele encara a minha barriga e acrescenta:
— E parece que isso evoluiu, oito meses depois, não é?
Olho para o lado, me sentindo incapaz de olhar para ele, tanto
que preciso me segurar no encosto da cadeira da mesa de jantar se
não quiser cair.
— Como descobriu? Foi pelo Domenico?
Ele arqueia as sobrancelhas.
— O cara que também é seu padrasto e que está disposto a
arrancar as minhas bolas se não assumir as minhas
responsabilidades?
Reviro os olhos.
Santo Deus, pelo visto Vanessa estava quase certa sobre o
meu padrinho.
— Olha, Grace, você pode achar muita coisa de mim, mas não
pode pensar que eu sou a pior coisa que apareceu na sua vida.
— O quê? — Olho para ele de cima a baixo.
— Você me detesta, não é? — pergunta e quase fico sentida
pela forma cabisbaixa que ele diz isso.
Suspiro e então coloco a mão atrás do quadril, para sustentar
só mais um pouco o incômodo nas costas.
— Não há nada de ruim que você tenha feito para mim. Mas
não me entenda mal, Ian,de todas as pessoas no mundo, a última
que pensaria para formar uma família seria com você, porque nada
disso faz o seu estilo.
— Como você pode ter tanta certeza disso? — pergunta com
tanta desconfiança que me faz duvidar do que penso.
Cruzo os braços e dou de ombros.
— Pela sua fama — respondo sabendo que isso é totalmente
supérfluo.
— Bem, agora que sei quem você é, não tivemos privilégios
diferentes, não é? Domenico é seu padrinho e imagino que ele deve
ter mimado você bastante, ao ponto de descobrir que você também
tem a fama de ser patricinha.
Algo se agita dentro de mim.
— Como você tem a cara de pau em vir na minha casa e falar
essas coisas de mim? — pergunto, exasperada.
— Talvez essa seja a única forma de fazer você perceber que
não somos tão diferentes. Somos julgados de forma errônea, Grace.
— Dá de ombros.
— Você não precisa se dar esse trabalho, é só dar o fora e não
voltar mais.
Mas Ian não move um músculo. Na verdade, ele cruza os
braços e demonstra que não sairá daqui nem mesmo que eu use as
palavras mais feias com ele.
— Desculpa, Grace. Mas não vou fazer isso, estou aqui pela
minha filha.
Suas palavras fazem o meu coração bater de um jeito
estranho.
Nunca imaginei que ouviria Ian dizer essas palavras...
Minha filha
.
É como se ele já tivesse algum direito sobre ela, como se
soubesse da sua existência há tempos, dizer com tanta propriedade
assim.
Não é possível que ele já tenha criado um vínculo, ou qualquer
coisa afetiva em tão pouco tempo.
Mas é o que parece e está sendo difícil de acreditar.
— Essas flores? São para ela — explica mostrando as rosas
vermelhas que trouxe.
Olho para elas.
— Vão estar murchas quando ela nascer — acrescento de um
jeito amargo.
— Tudo bem, posso trazer um buquê toda semana. Ou todo
dia que eu aparecer.
Balanço a cabeça e começo a gesticular com as mãos porque
estou ficando inquieta com isso.
— Muito bem, me diga o que você quer. Não consigo acreditar
que você aceitou isso de boa.
Ian descruza então os braços, enfia as mãos nos bolsos da
calça e anda até mim, encurtando o espaço entre nós dois.
Seus olhos em mim são flamejantes e, apesar de tudo, tento
bloquear todas as lembranças com ele me possuindo, a sua língua
me molhando, e o seu pa…
“Ah, não, Grace, controle-se!”
— Mas eu sou assim, Grace. Foi você quem aceitou acreditar
nas manchetes sensacionalistas sobre meus irmãos e eu. Mas
parece que apesar de ser ruim o suficiente, você nunca esqueceu,
não é?
Sem recuar, cruzo os braços e respiro fundo.
Sei que isso não é um jogo, mas não deixarei Ianvencer. Ele
não está certo sobre esse assunto e não preciso de muito para fazê-
lo perceber exatamente isso.
— Na verdade, eu nem ligo — digo tirando o sorrisinho
presunçoso do seu rosto. — Fico feliz que esteja aqui pela bebê e
não por mim, porque não preciso de você, Ian.
Ele me encara por uns segundos, como se quisesse ver
qualquer oscilação em minha firmeza. Mas a mantenho intacta até o
final; até ele puxar o fôlego e se afastar.
— Muito bem, então acho que chegamos a um acordo. —
Quando ele chega na outra ponta da mesa, se vira e pontua: — Não
preciso provar nada a você, mas não sou uma pessoa ruim, e irei
criar a… Bem, você ainda não me disse como ela se chama.
— Porque ela não tem um nome. Eu ainda não consegui
escolher.
— Ótimo, podemos escolher juntos. Assim como podemos
escolher juntos o enxoval.
— Já está tudo encaminhado — ressalto.
O quarto da bebê é a única coisa ali nesse apartamento que
não está completo, pois a loja ainda irá mandar todos os móveis que
foram feitos sob encomenda.
— Padrinhos? Aposto que você vai escolher a Vanessa como
madrinha, então nada mais justo do que eu escolher o padrinho.
— Espera aí, vamos com calma. Você não pode simplesmente
chegar aqui do nada e já ir querendo decidir tudo.
— E como acha que descobri que seria pai?
Pisco, sentindo que joguei o balde de água fria em mim
mesma.
— Foi do nada também, Grace. Você deveria me dar uns
créditos por isso. Não faz nem vinte e quatro horas e mesmo assim
estou tentando.
Sinto um nó se formar na minha garganta, queimando.
“Me sinto tão estúpida!
Mas não vou chorar!”
— Você pode pensar que estou sendo exagerada com você,
mas tente se ver no meu lugar. Estava a caminho da França para
realizar o meu sonho, quando descobri a gravidez. Eu não desisti de
nada, Ian,mas foi difícil, porque sabia que isso só me atrasaria. Em
algum momento, vai atrasar tudo.
— É por isso que estou aqui. — Volta a se aproximar e abaixo
a cabeça para que ele não me veja indefesa. — Não quero deixar
você sozinha. Não seria nada justo, não é?
Não digo nada, afinal ainda estou pensando nisso.
— Não estou pedindo que se apaixone por mim, Grace. Mas
que possamos dar uma família completa para essa menina, me
entende?
Olho para ele.
Será que ele sabe da história de Domenico?
Não sei, é bem improvável que ele fosse futricar a vida de
alguém. Mas, agora, parece algo singelo demais vindo dele.
E foi por esse mesmo motivo que ele disse, que escolhi dizer a
Domenico que estava pronta para que Ian soubesse.
Eu só não esperava que no final das contas fosse ficar mais
aborrecida.
Algo em Ian me deixa inquieta e não consigo dizer o que.
Talvez, seja pelo fato dele me tirar do eixo, ou por ser lindo e
terrivelmente charmoso com esse seu jeito de “bad boy”.
Então eu me vejo acenando a cabeça, concordando com essa
ideia porque devo admitir, é algo que sempre sonhei quietinha,
quando não tem ninguém me olhando.
É sobre todos “e se…”.
— Tudo bem, vamos fazer isso juntos — digo por fim e ele
abre um sorriso largo. — Mas eu tenho minhas condições.
— Ok, estou pronto para ouvi-las.
— Certo. Nada de misturar as coisas, você é o pai e não o
meu namorado ou nada do tipo, então sem gracinhas. Não vou
aceitar comportamentos intoleráveis aqui dentro, como você
chegando bêbado, ou então falando das suas noitadas, peço
respeito.
— Isso tudo vai ser fácil.
— Assim espero.
— Só? — Ele parece indiferente.
— Se me lembrar de mais coisas, farei questão de dizer a
você.
Ianentão balança a cabeça, como se tivesse entendido tudo,
contorna a mesa que fica entre a sala e a cozinha, e vai até à porta,
o que me causa um certo alívio.
Eu não queria ter que mandá-lo embora e ele sabe que é a
hora dele ir.
— Fico feliz que tenhamos terminado isso com um acordo e de
forma saudável.
Solto um suspiro, mas tenho que dizer alguma coisa.
— Bom, eu também.
Abro a porta para ele e antes de sair, Ianse inclina e dá um
beijo na minha bochecha.
Não posso recuar, mas fico olhando para ele com surpresa.
Ele se afasta.
— Nada me impede de ser carinhoso com a mãe da minha
filha também. Tchau.
Ele caminha até o final do corredor enquanto continuo ali sem
reação, sentindo o seu beijo quente contra a minha pele que está
fria, fria.
Vejo quando ele pega o elevador e então some.
Volto para a sala e solto um gemido quando finalmente me
sento.
É bem melhor assim.
Depois de uns minutos, Vanessa entra e ainda sinto seus
lábios, lembrando com muito detalhe da sua boca contra a minha.
— Como foi? — ela pergunta afoita.
Vou saindo das nuvens aos poucos.
Fico com dó da Vanessa que ficou esperando um tempo e
depois voltou aqui para cima. Mas por uma fofoca ela faz tudo e
essa ela vai gostar de ouvir.
Honestamente, sinto que me saí melhor do que esperava. Se
bem que, se tratando de Grace, não esperava muita coisa.
Ela é muito imprevisível e isso me deixa um pouco louco.
O nosso segundo encontro não foi nada parecido com o
primeiro, onde conversamos de verdade e trepamos. Porém, desta
vez, foi intenso, e muitas vezes pensei que não sobreviveria àquilo.
A ela.
Mas consegui.
Como se não bastasse ter os últimos meses pensando nela,
agora tudo só ficará mais inevitável.
Grace grudou na minha mente como um parasita e me
consome sem ao menos saber. E agora com essa coisa de termos
um bebê a caminho, tudo fica um pouco mais destoante, incerto,
mas, ao mesmo tempo, interessante.
Não só estou tentando digerir o fato de ter que me ver perto
dela, mas também de que serei pai.
Domenico pode até me convencer a deixar Grace mais
tranquila, como se fôssemos amigos há bastante tempo, sendo que
isso poderia acabar a qualquer momento.
Mas o fato de que tenho uma filha, isto é algo que não dá para
ignorar.
Tenho motivos para ficar um pouco mais em Florença agora.
Precisei cancelar todos os meus planos de curtir as férias na
Austrália e tive que cancelar toda a minha agenda dos próximos
quatro meses, tudo por Grace e a nossa filha que ainda não tem
nome.
Não sei se Grace merecia isso, afinal ela não tem se
comportado bem. Às vezes, me pergunto o tipo de educação e
criação que Domenico deu a ela.
Não estou insinuando que ela é uma pessoa ruim, pois vejo
em seu olhar que está perdida e tento relevar por este lado. No
entanto, Grace é um pouco difícil.
Ela não cede a mim, com facilidade.
E não digo isso porque ela não agiu como da última vez, mas
porque da última vez, foi a únicavez em que realmente parecemos
nos entender; em que ela foi legal comigo.
Como direi à minha família que engravidei a pessoa que
menos me suporta no mundo inteiro?
Tenho certeza de que Audrey comerá o meu fígado, já que ela
e Grace acabaram se aproximando durante o cruzeiro do
casamento e desde então minha cunhada sempre se referiu a Grace
como uma grande amiga.
Mas a melhor amiga mesmo da Grace parece ser a Vanessa,
uma garota de cabelo ruivo, que pode facilmente ser uma irlandesa.
Ela parece ser legal, com um espírito muito parecido com o
meu, pois, riu da minha piada das rosas e do berço.
Mas bastou um olhar de Grace para que ela entendesse que a
amiga não estava gostando.
Parecia ter um nível bem forte de conexão entre as duas.
A questão é que, seja o que for, não conseguiria guardar um
segredo como a Grace.
Faz três dias desde que descobri a novidade da gravidez e
diferente de Grace, não consigo aguentar por mais tempo.
“Vou contar aos meus irmãos!”
Domenico não me falou nada sobre guardar segredo, por mais
que ele nitidamente odiasse o fato de eu ter engravidado a sua
afilhada.
Puta merda!
Nem sei o que pensar ainda sobre esse detalhe.
“Ela é como uma filha para ele”!
Puxo uma mesa bistrô velha que tem por aqui e a coloco na
sacada do meu pequeno loft no centro de Florença. Sento na
cadeira, abro um vinho, me sirvo e tomo um longo gole, enquanto
atrás de mim, começa o lindo alaranjado do famoso entardecer
italiano.
Enquanto meus irmãos adoram exibir luxo quando viajam por
aí, sempre me sinto como um lobo solitário, que se mistura às
pessoas de classe social menos privilegiada do que a minha, porque
de alguma forma, gosto desse ar.
Chamo então meus irmãos para uma videochamada.
Noah e Jeremy surgem, ao mesmo tempo, na tela.
Sei que os dois estão no escritório ainda nesse horário, por
isso aproveito para fazer isso nesse momento.
Percebo quando Noah dá uma boa olhada ao se aproximar da
tela.
— Porra, ele tá vivo mesmo! — comenta exasperado e
aliviado, ao mesmo tempo.
Franzo o cenho.
— O quê?
— Ian, sei que está na Florença a trabalho, mas tem como dar
sinal de vida para sua família pelo menos uma vez na semana? —
Jeremy diz um pouco irritado.
— Eu ando muito ocupado por aqui — me pronuncio.
— Desde quando ir em todas as casas noturnas de Florença é
uma ocupação de tempo decente? — Noah provoca.
— Sabe como descobrimos que você estava bem e vivo? —
Jeremy pergunta e não respondo, mas ele já vem com a resposta:
— Através do seu movimento bancário. Cogitamos que alguém
poderia ter roubado você antes, mas acho que um ladrão não
compraria luvas de frio.
— Eu as perco — justifico.
E isso é uma verdade, gasto muito dinheiro comprando luvas
de frio, mas é verdade também que vivo as perdendo.
Esquiar é um esporte radical, então, as vezes, simplesmente
perco um dos lados depois de uma manobra difícil e perigosa,
principalmente, quando caio.
— Olha, não liguei para que vocês me dessem sermão. Já
tenho trinta anos. Vocês estão loucos, porra?
— Ian, mantenha-se concentrado, ok? — Noah diz como se
tivesse autoridade para falar isso, já que ele é o menos concentrado
de nós três. — Você volta da Itáliadaqui uma semana, então vamos
botar a mão na massa.
Pisco sabendo que isso não será possível.
Esqueci completamente que devido a doença do nosso pai,
teremos que fazer reuniões com os advogados em decorrência a
termos judiciais da herança.
O nosso maior medo é que ele não possa aguentar por mais
tempo, no entanto, papai parece só querer antecipar tudo mais
ainda quando ele faz essa divisão de bens.
Engulo em seco, sabendo que falharei com meus irmãos.
— Issonão será possível, vou acionar o meu advogado para
me represen…
— Que história é essa, Ian?— Jeremy indaga. — É seu dever
estar aqui pelo menos em duas dessas reuniões.
— Eu sei, mas…
— Olha, eu também não dou muita importância para isso, mas
papai se estressou da última vez em que recusamos metade dos
bens. Ele quer que a gente fique com algumas coisas, nada de
doações — Noah explica.
— Eu vou ser pai, porra! — rosno baixinho, já de saco cheio de
tudo aquilo.
Meus irmãos ficam paralisados e então tomo mais um pouco
do vinho, ciente de que finalmente entramos no assunto.
O silêncio deles é o sinal de que não estão acreditando no que
falei.
Pela primeira vez, consegui calar meus irmãos, e ter toda
atenção só para mim, para algo pessoal, que não seja uma das
reuniões.
— Quando saí da festa do casamento no cruzeiro, fiquei com
uma garota. Não nos protegemos e ela não quis me contar nada,
porque me acha um babaca. Só que agora descobri e ela está nas
últimas semanas de gestação, se não nos últimos dias e não vou
deixá-la. — Trato de antecipar a explicação, porque sei que eles
exigirão isso.
Mais um pouco de silêncio.
Cogito a possibilidade deles começarem a rir, porque é muito
da natureza deles quando digo algo sério demais para ser verdade.
O ruim de ser uma pessoa mais extrovertida e descontraída, é
que em momentos sérios, como esse, ninguém liga o suficiente para
você.
Porém, Noah acaba falando:
— Você engravidou a Grace? A assistente do Domenico?
Arregalo os olhos.
— Co-como você sabe?
Noah solta um sorriso presunçoso.
— Eu sempre desconfiei que estava para nascer uma mulher
que não o suportasse, Ian.Mas ela já estava ali, bem debaixo dos
nossos narizes. Grace foi a única mulher que conhecemos que não
vai com a sua cara.
— Sim, e só não consigo entender como você conseguiu ficar
com ela — Jeremy completa.
— Por que sou bonito? Irresistível?— sugiro e Jeremy revira
os olhos.
— Bom, devemos dar os parabéns? Fazer um chá de bebê?
Já sabem o sexo?
— É uma menina e ainda não tem nome. Talvez a gente sente
em algum momento para escolher o nome — explico.
— Santo Deus, ninguém quer falar sobre como essas
mulheres simplesmente conseguem esconder a gravidez de nós?
Será que damos uma impressão tão ruim assim? — Noah exaspera.
Solto um suspiro.
— Bom, pelo menos elas amam vocês. O que Grace e eu
tivemos foi algo meramente casual. Só que ela não me suporta e,
para ser sincero, ela me irrita com esse jeitinho de patricinha
encubada. Mas pelo menos vamos tentar, pela bebê.
Não que me importe que Grace não me ame, mas fizemos o
contrário de tudo.
Jeremy franze o cenho e então parece refletir.
— Audrey é nova nesse universo de grifes, mas ela já
reconhece uma Chanel de longe. Lembro que ela comentou que
durante o cruzeiro, viu Grace usando Chanel demais para quem é
apenas uma assistente.
Solto então um suspiro, bebo mais um pouco do vinho e
mantenho a taça perto porque sei que precisarei de mais quando
ver a reação dos meus irmãos.
— Issomesmo. Mas a bomba vem agora. Grace não é apenas
uma simples assistente de Domenico. Ela é afilhada dele. E parece
que é só eles há tanto tempo, que são quase pai e filha, de fato.
Eu sei que essa informação é sobre a vida de Grace, e que
não há muita coisa para se vangloriar sobre isso, mas me sinto um
máximo ao ver a reação perplexa dos meus irmãos.
Eles sabem que apesar dessa história não ser uma história de
amor igual a deles, é interessante em todos os aspectos.
De repente, Noah se levanta, saindo de cena. Jeremy se
encosta em sua cadeira reclinável, pensativo, com o olhar distante.
Já eu bebo mais vinho.
Cada irmão em seus afazeres, mas compartilhando do mesmo
momento, o que chega a ser cômico, para não dizer trágico diante
da informação que dei.
Não tardando muito, Noah volta, posiciona uma garrafa de
uísque e um copo, se serve de uma dose, e, então, toma de uma só
vez.
— Porra, agora entendo o porquê você tá bebendo! — diz para
mim e Jeremy bufa.
— Vou aí, Noah. Acho que também preciso de um gole, ou
talvez dois.
Precisamos esperar Jeremy chegar no escritório de Noah.
Agora a chamada de vídeo está dividida em apenas duas
telas. Enquanto isso, Noah já serve a dose de Jeremy, que quando
chega já vai logo tomando.
Fico tenso, com o coração batendo na boca.
Porra, será que é tão ruim assim?!
— Como você ainda tá vivo? — Jeremy me pergunta.
— Tenho a mesma dúvida, mas Domenico e eu fizemos um
acordo.
— Que tipo de acordo? — perguntam juntos.
Quando penso em abrir a boca para contar a eles, meu celular
vibra. Peguei o aparelho que está sobre a mesa e dou uma boa
olhada na tela, que mostra a mensagem de Domenico.
— E por falar no diabo — digo.
— O que ele quer? — Noah pergunta.
— Ele me disse que devo passar na casa da Grace, apesar
dela não estar muito feliz com o fato de ter ido lá.
Bem, ela realmente não pareceu muito feliz.
— Essa menina vale ouro, escuta o que estou te falando —
Noah diz.
— Por que ela me odeia? — pergunta.
— Porque ela é verdadeira. E a verdade é difícil de suportar,
Ian. Deixe-a ver que você não é esse playboy que todo mundo fala e
vai descobrir que acabou acertando ao insistir nela.
— Não quero insistir nela. Quero ter uma boa relação com a
mãe da minha filha e estar perto dessa criança — afirmo sentindo
meu coração pulsar, como se isso fosse tudo o que sou e conheço
de mim mesmo.
— É um bom começo. Mas não perca as esperanças —
Jeremy completa.
Balanço a cabeça e então tomo o resto do meu vinho.
— Bem, obrigado pelo conselho e por me ouvirem, mas agora
tenho que visitar a mãe da minha filha e quem sabe levar a ela uns
mimos. É assim que se faz, não é? Ah, é verdade, esqueci que
vocês não tiveram tempo de curtir a gestação da mulher de vocês —
provoco.
Eles merecem, vai. Principalmente depois de terem enchido a
minha paciência.
— Vai se foder! E tente não desmaiar quando Grace estiver
dando à luz — Noah pragueja e Jeremy ri ao fundo, então encerra a
videochamada.
Ele não ficou irritado, muito menos Jeremy. Até porque logo
depois fui alfinetado, então estamos quites.
Desligo o computador, me sentindo um pouco mais aliviado.
Eu não cometerei o mesmo erro de Grace ao ter que manter tudo às
cegas da minha família.
Mas acho que para ela é mais fácil, ou difícil, quando a sua
única família parece ser Domenico.
E por isso preciso ir até ela.
••••
Meus irmãos até que reagiram bem à notícia. Eu sabia que
eles iriam me zoar de alguma forma, mas que, ao mesmo tempo,
não iriam opinar demais sobre isso.
Apesar deles pegarem no meu pé, já sou um adulto, então eles
sabem que irei dar um jeito nisso, de me responsabilizar pelas
coisas que faço.
Preciso sair antes mesmo que anoiteça.
Passo em uma floricultura e desta vez compro lindas tulipas
amarelas. Sigo para o apartamento de Grace, já me preparando
para o primeiro esporro que supostamente levarei dela.
No caminho, penso em coisas que eu poderia fazer para
passar mais tempo com ela, como tentar escolher o nome da bebê,
ou ouvir suas ideias sobre o quarto dela, isso se a esta altura já não
estiver tudo organizado.
Apesar dela não me suportar, confesso que gosto de passar
um tempo ao seu lado.
Grace me faz sentir mais…
Normal.
Como se nem tudo ao meu redor fosse alcançável.
Ela é bonita, esperta e tão enigmática que me faz querer ficar
por mais tempo.
Será que ela percebe que é capaz de fazer alguém sentir tudo
isso em relação à pessoa dela?
Acho que não, pois nem ela mesma acredita em si.
Ela mora em um dos prédios mais “novos” de Florença,
próximo a Galleria Degli Uffizi e me pergunto quanto ela, ou o
Domenico, desembolsaram pelo apartamento.
Está na cara que apenas gente rica pra caramba consegue
morar ali.
Eu poderia ter escolhido um desses apartamentos, mas seria
um exagero para alguém que vive sozinho como eu.
Ela mora no quarto andar.
Bato à sua porta e quando demora a atender bato de novo.
Alguns segundos depois ela abre a porta e surge lindamente,
mesmo que esteja descabelada, com uma calça moletom e suéter.
Grace calça pantufas da Hello Kitty, mas a sua cara não é das
melhores.
— Acordei você? — pergunto e ela resmunga.
— Hoje eu me encontro em um profundo estado vegetativo.
Não quero fazer nada além de existir.
Franzo o cenho para ela quando ouço isso.
— Isso não faz muito bem, não é? Deveria colocar esses
quadris para se movimentar.
Ela faz uma cara feia, como se não gostasse da ideia, e então
olha para as tulipas.
— Mais flores?
— Para a minha garota! — digo animado, dando alguns
passos para dentro indicando que entrarei em seu apartamento,
queira ela ou não.
Grace cede espaço para que eu entre e logo depois fecha a
porta atrás de mim. Viro em sua direção e olho para a barriga que o
suéter mal consegue esconder.
— Como ela está?
Grace fica me olhando e dá de ombros.
— Bem, hoje nós duas resolvemos apenas ficar… Quietas.
— E você?
Ela arqueia as sobrancelhas e aponta o dedo para si:
— Hã, eu? Bem, creio que isso não importa muito.
— É claro que importa, você é a mãe da minha filha. — Ando
até o balcão da cozinha, onde deixo o buquê que já veio com um
suporte.
— Então se não fosse por isso você nem ligaria — ela supõe
de um jeito desleixado.
— Se não fosse por isso, Grace, você nem teria aberto a porta
para mim. Talvez, você nem sequer estivesse em Florença uma
hora dessas.
Apesar deste fato, Grace fica me olhando de um jeito que
chego a duvidar se estou certo sobre isso.
O que ela disse mesmo daquela vez, depois de transarmos?
Que poderíamos nos ver.
Grace não descartou totalmente a possibilidade de nos vermos
de novo e algo acontecer.
Só que agora as circunstâncias são outras.
— Talvez, eu não seja tão cruel assim. Lembro que disse que
poderíamos nos encontrar de novo, não disse?
Abro os braços e depois os largo.
— E aqui estamos nós. Só esperando a nossa filha nascer.
Grace então balança a cabeça, apoia as mãos nas costas e
respira fundo.
— Olha, amo a minha filha, mas o que deu na nossa cabeça
para não nos proteger?
Sim, ela tem razão.
Não ter usado camisinha durante o sexo casual foi erro de
principiante.
— Se serve de consolo, meus irmãos e eu temos, ou
tínhamos, uma dificuldade imensa em engravidar mulheres. Mas, de
repente, a cegonha decidiu que simplesmente era a nossa hora.
— Pode ser, mas não sei se eu serei a pessoa certa para isso.
Ter uma criança para criar é… Assustador — reflete bem sobre qual
palavra usar.
— Você fala como se já tivesse alguma experiência —
comento.
Grace então solta um suspiro e se senta na cadeira alta da
bancada. Ela não ganhou muito peso e não fez um barrigão, mas a
sua barriga está grandinha e redonda, parece até falsa.
Principalmente, quando ela se movimenta desse jeito, como se a
barriga não fosse um problema.
— Bem, porque, talvez, eu tenha — diz dando um sorriso sem
graça com o olhar meio distante.
Qual criança ela pode estar se referindo?
— Mas isso não importa, esqueça — conclui.
— Você não pode fugir de mim, para sempre, Grace —
murmuro como um gato manhoso.
— Pareço estar fugindo de você? — pergunta mordendo o
lábio inferior.
Dizem que grávidas possuem um brilho.
Bom, digo então que Grace é quase o próprio Sol. Ela é
extremamente linda e, mesmo agora, grávida, não está menos
atraente.
Tento me policiar para não pensar nela de quatro, ou do meu
pau deslizando para dentro dela.
“Ela está grávida, porra, respeita!”
Solto um pigarro e então dou uma leve afastada, só para
conter esses pensamentos enquanto digo a ela:
— Não está fugindo, mas sei que também não gosta que eu
esteja aqui.
Há um breve silêncio, quando ela refuta:
— Na verdade, eu gosto sim, Ian.
Eu me viro para ela que cutuca as cutículas como se fosse
algum tique nervoso seu, o que me faz pensar que não esteja sendo
nada fácil revelar isso para mim.
— Por um momento, pensei que as coisas estavam bem sem
contar nada a você, mas, de repente, comecei a me sentir mal por
isso. Eu não sei se você sabe, mas Domenico cresceu sem o pai. E
eu não queria dar à minha filha a mesma infelicidade. E mesmo que
eu quisesse, Domenico ficaria arrasado comigo para sempre.
“Ah!”
Isso explica algumas coisas.
Mas não sei a biografia completa dele, então essa de que ele
não conhece o pai, me pega de jeito.
A urgência de Grace em não o deixar triste e muito menos em
ver a filha triste por crescer sem saber do pai, é outra surpresa.
Então a loira tem coração?
Interessante...
Não que tenha suspeitado disso em algum momento, mas
cheguei a achar que ela fosse tão fria quanto gelo e dura quanto
mármore.
Mas estou enganado.
Aqui está Grace sendo transparente comigo, dizendo o que
está em seu coração.
— Mesmo achando que talvez não fosse dar certo, eu quis
arriscar. Era melhor do que dizer que nunca tentei, independente da
sua reação — completa.
— E o que você sente agora que estou aqui? — pergunto
querendo aproveitar o momento em que as cartas estão sendo
colocadas sobre a mesa.
— Alívio. Claro, ainda não gosto 100% de você, mas…
Começo a rir e ela me acompanha, o que significa que pode
estar apenas brincando, eu acho.
— Fico feliz que esteja aqui.
Meu coração dá umas batidas bem estranhas.
Por um instante, o apartamento dela fica quente demais e
minhas mãos suam como nunca. Tento disfarçar ao tocar no cabelo.
Mas eu preciso dizer alguma coisa.
— Se quer saber, de todas as coisas que já me aconteceu,
essa foi a que mais me deixou em choque — admito. — Mas não
tenho medo, Grace. Irei me jogar de cabeça.
Ela dá um sorriso genuíno e sinto algo faiscar em seus
intensos olhos azuis.
Quando Grace morde o lábio e a perna sacode de forma
ansiosa, percebo que isso pareceu ser uma ideia bastante
tentadora, tanto que por um instante, penso que ela vá se levantar
de supetão da cadeira e vir me beijar.
Eu posso jurar que ela fará isso e estou pronto para fazê-la
não se arrepender da ideia.
Mas, por outro lado, Grace me dá apenas um sorriso.
— Quer ver onde vai ser o quarto da nossa filha? — pergunta
enquanto sai do banco.
“Nossa filha...”
Começo a suspeitar que ela já está começando a aceitar que
estou aqui e que juntos seremos os pais dessa criança.
— Será uma honra — digo com um sorriso tão largo que
quando percebo, já é tarde demais.
Estou mesmo empolgado com a ideia de ver o quarto de uma
criança que nem está mobiliado ainda, ou seja, apenas um cômodo
vazio?
A resposta é sim!
Estou ansioso por isso.
— É por aqui. — Ela me mostra o caminho e a sigo.
Agora que ela está descalça, percebo que ela não é tão alta
assim perto de mim, mas com certeza tem uns centímetros a mais
que Audrey e Meredith.
No corredor, há quatro portas, uma delas é o quarto de Grace
e me pergunto se o seu cômodo é tão sofisticado quanto o resto do
apartamento.
Ela abre a segunda porta e então um cômodo grande e vazio
se revela. A única luz que tem é a da janela, mesmo assim, é
possível notar as paredes pintadas de rosa e branco, com alguns
detalhes de boiserie.
Eu me encosto na parede, cruzo uma perna sobre a outra e
enfio as mãos nos bolsos da calça enquanto a observo detalhar
tudo.
— A luz vamos instalar amanhã, juntos aos móveis que vão
chegar — avisa e então entra mais ainda no quarto. — Aqui vai ficar
o berço, mas também pensei em colocar uma cama de solteiro.
Debaixo da janela vai ter uma estante na horizontal e então uma
poltrona para eu amamentar. O armário dela vai fazer um “L” aqui no
canto esquerdo e aí mais ou menos onde você está, terá o trocador
— descreve animada.
Dou um sorriso ao perceber o quão empolgada ela fica ao falar
sobre isso.
Grace, se não estou enganado, não é só assistente de
Domenico, ela também trabalha como decoradora.
Domenico me contou que ela estava na França para o seu
mestrado porque iria empreender nessa área, só que veio a
gravidez. E, mesmo assim, Grace não desistiu do sonho.
Issoé admirável e não deixa de aquecer meu peito, me fazer
sentir uma coisa boa.
— Estava pensando em contratar algum artista para vir fazer
uns desenhos fofos na parede, mas tenho medo de ficar brega
demais.
— Tenho certeza de que vai ficar lindo. — Alguma coisa me diz
que estou certo sobre isso.
Apesar da baixa luz no cômodo, vejo Grace corar, além do
sorriso sem jeito que me dá, como se não resistisse a um elogio
sincero.
Quando esconde uma mecha atrás da orelha, desvia o olhar,
como para tentar não demonstrar mais do que já está.
— Bem, tenho pensado em deixar pendurado uma pequena
placa com o nome dela na porta, mas ainda não temos um nome,
então… — Morde o lábio inferior e parece meio cabisbaixa.
É como se esse pequeno detalhe fosse a única coisa que falta,
mesmo que o quarto da bebê ainda esteja vazio, mas com tudo
planejado.
Desgrudo da parede, me aproximo, olho para a sua barriga e
faço menção de que vou tocá-la.
Li em algum lugar que grávidas não gostam de pessoas
estranhas tocando a barriga delas por não ser uma atração pública,
mas, o corpo dela. No entanto, não sou nenhum desconhecido para
Grace, mas tenho de ser precavido, caso ela não goste da
aproximação.
Quando olho para ela, percebo que seus olhos estão cheios de
expectativas, como se suplicasse por esse gesto.
Então pouso a mão na sua barriga pontuda e é uma sensação
que me preenche bastante, ao ponto de soltar o fôlego de um jeito
profundo, que eu nem sabia que estava segurando.
— Por que não pensamos em um nome agora mesmo? —
pergunto sem tirar os olhos da barriga, sentindo que há algoali…
Alguém.
Um pequeno coração batendo, vibrando com mesmo DNA que
o meu.
— Você tem algum em mente? — ela pergunta.
Eu me sinto na obrigação de olhar para seu rosto porque sei
que ela está me olhando e parece tão tocada quanto eu nesse
momento.
Seus olhos azuis estão tão tremeluzentes, o que significa que
ela está de certa forma, emocionada.
E posso entender o porquê.
Alguma coisa nos atravessa nesse momento...
Eu sei disso, eu sintoisso.
Uma conexão tão forte que de repente me faz sentir que o
centro de todo o universo está bem aqui.
— Não, mas, por que não me diz suas preferências? —
pergunto tentando disfarçar de algum jeito o que sinto, mesmo
sabendo que está impossível.
Grace fica pensativa, mas não me esconde o que se passa em
sua cabeça.
— Bem, estive pensando em algo fácil e simples. Nada muito
mirabolante, ou inglês demais, tipo Ashley.
Sorrio com a sua exigência.
— Eu gosto de Isabel — ela diz com o olhar agora mais
distante.
— Tem algum motivo?
Grace respira fundo e dá um sorrisinho de lado que é triste.
Então sei o que significa, muito antes dela explicar.
— Era o nome da minha mãe. Isabel.Hoje em dia, para o resto
do mundo, ela pode ser agora apenas um nome, uma estatística,
mas ainda me lembro dela. Isabelsempre será alguém para mim, e
quero continuar a mantendo viva de algum jeito.
Engulo seco, me sentindo meio desconcertado quando sinto
aquele nó se formar na minha garganta.
Eu também havia perdido a minha mãe há muito tempo e
entendia o que Grace estava querendo dizer. O nome era bonito,
mas a história por trás dele tinha um significado maior ainda para
Grace.
E ela merece fazer essa homenagem à mãe.
— Isabel parece perfeito, então — anuncio e sinto algo se
agitar dentro da barriga de Grace. Sorrio maravilhado no mesmo
instante. — Parece que alguém gostou também. — Eu me inclino
até a barriga e me aproximo: — Oi, garota do papai. Seu nome é
Isabel e você agora fez parecer que gostou do nome.
Isabel se movimenta mais uma vez, porém dessa vez, o
movimento parece ser mais longo e mais intenso.
Deixo uma risada escapar.
— Ela adorou.
— Ela nunca se agitou para ninguém assim, muito menos para
Vanessa — Grace revela e volto a posição de antes.
— Me sinto até mais confiante sabendo que a minha filha me
aprovou.
— Você vai se sair bem, Ian.
Fico olhando para ela.
Acho que essa é a primeira vez que Grace e eu não temos
algum desentendimento.
— Você também, Grace — digo, então me inclino e beijo o
topo da sua cabeça. — Seremos bons em ser pais.
— Os pais do ano — ela diz e sorri.
Acho que está apenas fazendo graça.
— Algo parecido.
No meio da penumbra do quarto de Isabel,começamos a rir,
sabendo que, na verdade, somos inexperientes demais para isso, e
que talvez não sejamos tão bons assim, mas faremos dar certo.
— Está com fome? — ela pergunta.
— Quase morrendo! — exaspero, mas é verdade.
Já está de noite e não jantei nada.
— Bom, vamos fazer algo então.
Grace sai na frente e, por um instante, fico ali parado, me
perguntando se isso é o início de uma nova amizade.
Fico me perguntando que tipo de escolha tenho, se não aceitar
que Iané o pai da minha filha e que suas atuais estranhas atitudes
me convenceram a deixá-lo tentar.
Não tive muita certeza sobre como ele sairia, pois, já possui
uns quatro sobrinhos.
Mas de qualquer forma, Ian conseguiu fazer com que
mordesse a minha língua.
Se alguém do futuro viesse me contar no meu passado de que
Ian estaria disposto a qualquer coisa, teria rido daquilo como a
melhor piada já contada.
Eu não acreditava que ele pudesse ser tão atencioso e
participativo.
Às vezes, não sei se ele está fazendo isso apenas para me
impressionar ou qualquer coisa do tipo.
Mas, a verdade, é que gosto.
Gosto que tenha uma imagem masculina presente e que ela
não seja o meu padrinho, porque ele não teve nada a ver com a
situação em que me encontro agora.
Ian tem conseguido tornar as últimas semanas de gestação em
algo menos tedioso.
A esta hora, ele já deveria ter voltado para Londres, mas não.
Ele continua aqui, me fazendo companhia e ficando tão ansioso
quanto eu para a chegada da Isabel.
Morar sozinha já era algo que eu tinha o costume.
Mas, sozinha e grávida?
Há tantas coisas que não tenho tanta energia de fazer com
esse barrigão, sem contar que meus pés e tornozelos mal
conseguem aguentar o peso da barriga.
Vanessa trabalha em um escritório de advocacia aqui perto,
mas sempre que sai do trabalho costuma vir me ver.
Só que faz uns cinco dias que ela não dá as caras devido a
rotina agitada pós-mestrado em Paris.
Mas, agora, no final de semana, ela vem me ver e preciso
fazer um resumo do que aconteceu.
Conto que Ian me ajudou a escolher mais coisas para o
enxoval. Ele também faz massagens em mim, traz flores todos os
dias, para Isabel,assim como toca violão para acalmá-la, o que me
surpreendeu bastante, pois nunca tinha visto Ian tocar
.
Ele não canta, mas não deixa de arriscar algumas letras para
acompanhar a melodia.
Ele está presente em tudo!
Chegou até mesmo a ir em uma das consultas comigo à
obstetra, que apesar de não ter falado nada, pareceu mais aliviada
quando finalmente conheceu o pai da minha bebê.
Mas depois fiquei confusa, não sabia se ela estava apenas
feliz com isso ou dando em cima do Ian,com todos aqueles olhares
e sorrisos.
Mas não ligo para isso.
Conto à Vanessa também que Ianme traz o almoço todos os
dias.
Confesso que nos dois primeiros dias foi estranho, mas no
terceiro dia, já esperava ansiosamente por ele, com uma refeição de
um dos meus restaurantes favoritos de Florença.
— Ele é bilionário, deveria pagar um chefe para cozinhar para
você! — Vanessa exclama quando conto a ela que percebi que Ian
está fazendo isso todo dia por mim.
Eu apenas dou de ombros e justifico com um sorriso
preguiçoso:
— Isso não me surpreenderia. Mas ele traz comida para mim,
algo que ele precisa esperar e me trazer como se fosse… Um
homem comum.
— Grace, Iané um homem comum. Eu não o veria de outra
forma — avisa sentada de pernas cruzadas no chão ao lado do sofá
onde estou.
Olho para ela com firmeza.
— Não, V. Ian é o filho mais novo de Rupert O’Donnell,
herdeiro de uma petrolífera e de uma fortuna bilionária, além de
desempenhar um ótimo trabalho com T.Ique só tem o enriquecido
mais ainda. Ele é considerado um dos solteiros mais cobiçados da
Europa. Tem uma reputação um tanto escandalosa devido a sua
vida agitada e por nunca ter assumido nenhum comprometimento
sério. Então, sim, trazer comida para mim, como se fosse uma
simples marmita o torna um homem comum.
A minha melhor amiga fica me olhando como se não
acreditasse no que ouviu.
E não demora muito para que ela faça qualquer comentário
logo em seguida.
— Caramba, você vai se apaixonar.
Chego a gargalhar.
Ainda bem que já estou deitada no sofá, senão teria me jogado
no chão de tanto que inclino a cabeça para trás.
— Issoé impossível! — exclamo depois de ter recuperado o
fôlego. — Confesso que estou admirada. Mas, se apaixonar parece
algo completamente impossível.
— Por quê? — Ela fica séria. — Ian já demonstra que você
estava errada esse tempo todo sobre o caráter dele. E isso sempre
foi o que te incomodou.
Começo a balançar a cabeça, tentando afastar esses
pensamentos e as possibilidades que Vanessa está trazendo à tona.
— Sabe, nem posso me dar esse luxo. A Isabel vai nascer
daqui uns dias ou semanas e tenho que terminar de planejar o meu
empreendimento, então, a última coisa que quero é ter dor de
cabeça com homem.
— Grace, que modesta! Você já tem, não percebe?
Começamos a rir, não porque a situação é engraçada, mas
desesperadora, no mínimo.
Depois disso ficou um silêncio absoluto. Subitamente me vejo
preocupada, pois depois de tantos anos de amizade, sabia que
Vanessa também estava preocupada com alguma coisa.
— Será que é tudo verdade? — pergunto depois de um tempo,
olhando para o teto, enquanto cenas dos dias anteriores que passei
ao lado de Ian,passavam como um filme na minha cabeça. — Será
que ele está fazendo isso tudo apenas por aparência?
— E se for? — Vanessa pergunta cuidadosamente. — Você
ficaria magoada? Porque era isso o que você queria, não era?
Pisco confusa.
— S-sim, mas… É estranho — gaguejo. — Eu não sabia que
seria tão fácil assim. Achei que facilitaria tudo para mim, dando as
costas. Mas agora que está presente, é uma coisa a mais para
pensar.
— Está com medo de se apaixonar! — ela insiste e jogo uma
almofada nela.
— Estou com medo de acabar gostando dele, é diferente. Você
sabe que nunca perco, sempre estou certa sobre tudo — me
justifico.
— Você parece até o Domenico falando desse jeito. — Ela
aponta e pega a almofada, a colocando debaixo da cabeça. — O
que ele acha sobre o Ian,inclusive? Até onde sei, seu padrinho tem
uma certa aversão a homens, feito o Ian.
— Não tocamos nesse assunto ainda. Na verdade, ele não tem
se metido em muita coisa da minha vida ultimamente, não sei se
está chateado comigo. — Solto um suspiro, sabendo que este é um
dos pontos que vem me incomodando bastante recentemente. —
Mas eu sabia que uma hora isso ia acontecer, sabe? Ele é um
homem muito ocupado e como eu era a sua assistente, vivia na cola
dele. Agora tudo mudou, percebi que tenho uma vida além daquela
grudada a ele.
Sei que se não estivesse em Paris nos últimos meses, teria
continuado mais um pouco na cola de Domenico, mesmo sabendo
que ele teria insistido para eu viver apenas para a gestação.
Uma hora dessas ele deve estar no México, assinando alguma
autorização para que os seus cruzeiros cheguem em águas latinas.
Ele é um homem de negócios, vive para isso, e há tempos
venho dizendo que ele merece umas férias, arranjar uma namorada,
mas nada disso soa tão interessante para ele quanto ter mais e
mais sucesso.
Não posso julgá-lo, pois isso parece a coisa certa a se fazer.
Foi ele quem me ensinou a correr atrás dos meus sonhos, que
eu deveria fazer isso por mim e por mais ninguém.
— Isso se chama independência — V
anessa diz por fim.
E ela tem razão.
— Nem consigo mais me raspar sozinha. Isso não parece
muito com independência — brinco e ela ri.
— Por que você não chama o Ianpara fazer isso? Aposto que
ele já está acostumado com a região em questão.
— Vai se lascar, V! — praguejo e ela ri mais ainda.
Como eu disse, ela ama me provocar.
Por sorte, outra coisa acaba se sobressaindo a isso e preciso
dizer em voz alta:
— Acabei de perceber que quase um dia inteiro se foi e ele
não deu sinal de vida.
— Viu? Já está viciada na companhia dele. É melhor do que a
minha?
— Claro que não, para as duas coisas! — Pego o celular e dou
uma rápida olhada nas últimas mensagens. — É estranho. Ian
desde que pegou o meu contato, me manda mensagens direto e
muitas figurinhas dentro do contexto. É engraçado.
— Bom, então se está tão preocupada assim, mande
mensagem — ela sugere.
— Mas de jeito nenhum! — exaspero e com um pouco de
dificuldade me coloco de pé. — Só estou curiosa. Ele pode ter sido
assaltado por um daqueles moleques de rua já que mora perto do
centro da cidade. Mandar mensagem vai parecer que estou
desesperada por qualquer atenção dele.
Um dos pontos legais da gestação, é que você tem liberdade
para usar roupas largas, ou pijamas o tempo todo, e ninguém
julgará uma grávida por isso.
Estou gesticulando enquanto ando em círculos no meio da
sala, apenas de pijama e pantufas de sapo.
— Além do mais, Isabelprecisa do pai vivo. Então seria bom
saber se ele continua assim — concluo dando de ombros e olho
para Vanessa, que volta a se sentar de novo.
— Acha que ele pode ter desistido? — ela pergunta com os
olhos arregalados.
Por alguma razão, isso embrulha o meu estômago.
— Não, ele não teria essa coragem.
“Ou teria”
Eu nem o conheço bem o suficiente!
— Espere até amanhã — ela sugere.
— Não vou esperar por Ian.A minha vida não pode depender
disso — rebato. — Ah, a bebê vainascer! Oh, Deus, esperem o pai!
— Faço a encenação. — Não acho que combina comigo, muito
menos com ele.
— Se você diz.
E então mudamos de assunto, porque já está chato ficar
falando de Ian, me faz parecer obcecada por ele.
Mas odeio ter que admitir o fato de que, mesmo que esteja
terminado esse assunto, as vozes na minha cabeça, em relação à
ele, não param.
Não gosto nada disso que vai contra tudo o que afirmo sobre
Ian.
Mas não estou preocupada, só curiosa.
A sua ausência, hoje, é uma diferença no que parece ser a sua
nova rotina.
Será que ele pensa que terá de exercer a função de pai
somente aos finais de semana?
Amanhã será domingo, então se ele aparecer descartarei essa
possibilidade.
••••
Mas Iannão apareceu no domingo e nem na segunda. Ele não
me mandou mensagem e nem eu mandarei também.
Talvez, se perguntar a Domenico de forma discreta, ele saiba
alguma coisa, mas o imagino dizer a seguinte frase: “prefiroa morte
a ter que ser babá de um O’Donnell”.
Domenico realmente tem aversão àqueles três irmãos.
Ele acha os três uns playboys e que estão aqui mais pelos
status do que pelo objetivo em si.
Não sei se isso é de tudo verdade, pois já acompanhei muitas
coisas sobre eles e nunca senti que eles estivessem ali apenas
pelas aparências.
Droga, odeio ter que saber, quase, tudo sobre ele.
Não sou fã, mas é consequência de ser assistente de um
magnata e ter que saber tudo sobre os outros podres de rico da
Europa.
Fato é que, aqui estou, preocupada o suficiente com Ian,
porque ele sumiu há três dias.
“Hum, então, talvez,ele se veja mesmo da tarefade pai nos
finais de semana
.”
Mas aí veio a segunda, a terça e não posso mais negar o quão
esse sumiço é preocupante, porque ele não dá sinais e trocamos
todo tipo de mensagem possível.
Será que ele espera que eu tome a primeira atitude?
Mas isso é coisa de quem está em um relacionamento sério, e
nós dois não temos nada além de uma filha a caminho.
E por mais que saiba que ele traz as flores para ela todos os
dias e que o almoço é uma forma saudável de nós alimentar, sinto
falta disso.
Uma semana...
Ian passou uma semana comigo, vindo me visitar todos os dias
e agora pareço estar sofrendo uma abstinência.
Quanta decadência para uma grávida na trigésima sétima
semana!

Na manhã de quarta, acordo até mais tarde do que o normal.


Passei a noite toda sentindo uns incômodos, mas não dei tanta
bola. Imaginei que pudesse ser alguma coisa a respeito do calor,
porque fez muito!
Acordo com uma fome gritante, mas estou sem pique algum
para ir até à cozinha e preparar algo. Então, peço algo ainda da
cama, ciente de que já é quase horário de almoço.
Peço comida chinesa e, então, me espreguiço.
Faço todo o meu alongamento matinal antes de ir até o
banheiro e concluir meus rituais matinais. No entanto, assim que
abaixo a calça e me sento no vaso, dou de cara com uma mancha
vermelha no fundo da minha calcinha.
Meu coração parece descer uma montanha-russa quando vejo
isso. Prendo o ar, mas já é tarde demais.
Fico nervosa e esqueço até de fazer xixi.
Levanto no mesmo instante, pego o celular e ligo para a minha
obstetra.
No segundo toque, ela já atende.
— É normal sair um líquido vermelho? — pergunto em
disparada, dispensando formalidades.
— Hã… Grace?
— Oi, doutora Claudia, é a Grace sim, bom dia — recomeço,
ciente de que fui desesperada demais.
Mas quem não ficaria?!
— Grace, o sangue pode indicar alguns fatores. Você teve
relação sexual ontem?
— O quê? Não! — respondo afoita, lembrando de como ela
olhou para Ian.
Ahg, aquilo me irritou!
Cheguei a me perguntar se ela dava em cima de todos os pais
que acompanhavam as mães.
Mas, que cacete!
Quem estou querendo enganar?
Ianpode ser todo dela, se ainda quiser. Tenho certeza de que
ele não recusaria.
— Pode me relatar alguma coisa anormal que aconteceu,
estou tentando encontrar a raiz da causa — explica.
— Bom, talvez a raiz da causa seja o bebê dentro da minha
barriga. — Preciso conter o tom de desespero e sarcasmo.
Mas não é o suficiente.
Graças a Deus, Claudia possui bom humor.
— Isso não tenho dúvidas. Mas acho que você consegue ser
um pouco mais detalhista. Vamos lá! — Ela me incentiva e então,
lembro.
— Na madrugada, estava sentindo um leve incômodo no pé da
barriga. Pensei que pudesse ser do calor, já que estava suando
tanto.
— Como acha que está a sua pressão?
Tento me concentrar e tentar dar um palpite.
— Boa. Estou nervosa e agitada, mas tenho certeza de que é
porque sinto que a hora é agora!
— Ok. Quero que venha agora até o meu consultório, irei
examinar você e se for isso mesmo, já será encaminhada para a
maternidade. Tudo certo, Grace? Espero que não esteja sozinha.
Mas eu estou...
Ian não está aqui e Vanessa deve estar no trabalho.
Com quem eu posso contar?
— Posso fazer isso — determino. — Vejo você em vinte
minutos. — Sim, é pouco tempo, mas não o pouparei.
Desligo a ligação e vou logo me arrumando. Coloco um vestido
apenas para facilitar os exames e então pego a bolsa de
maternidade, apenas de Isabel porque não tenho ainda tanta
certeza.
Mas ela é prioridade.
Logo depois chamo um Uber e então peço para ele me levar
até a clínica da Claudia.
Antes mesmo de chegar, tento várias vezes avisar alguém,
mas não faço, afinal não quero causar comoção em ninguém.
Tomarei uma atitude apenas quando a resposta da obstetra
indicar que isso é necessário.
Ela me recebe bem, parece ansiosa, mas bem controlada.
Começamos os exames e aí a ansiedade vai afunilando.
Primeiro; descobrimos através de uma ultrassom que Isabel
está mais do que encaixada e inquieta. Segundo; o exame do toque
detectou que já estou com dois centímetros de dilatação.
— Talvez a emoção do momento não permita que você sinta
as contrações, mas elas estão leves, por ora. Depois, quanto mais
dilatados, os intervalos serão curtos. Mas vai dar tudo certo, Grace.
— Então a Isabel está vindo? — pergunto tentando conter a
respiração.
A mulher alarga um sorriso de empolgação.
— Sim, ela está. Irei encaminhar você para a maternidade.
Depois disso quase não ouço mais nada. Apenas pego meu
celular e faço o que tem de ser feito, mesmo depois de ter zoado
com isso e agido como se não importasse.
Eu: Isabel está vindo. A nossa filha. Onde está você?
Começo a suar.
Será que ele lerá?
Estou me dando conta de que odeio estar sozinha e preciso de
alguém aqui segurando a minha mão.
Tipo Ian?
Meu Deus!
Domenico está voltando hoje de viagem, Vanessa no trabalho
de Ian sabe-se lá onde!
Não parece ser um dia bem apropriado, no final das contas. E
tenho certeza de que tenho apenas eles para fazer isso por mim.
Mas, qual deles estava aqui, em Florença, há poucos
quilômetros da clínica?
Começo a escrever então para Vanessa, em outro tom:
Eu: Corre!!! Vou parir!!! Meu Deus, você ainda lembra
daquelas técnicas de respiração que aprendemos no YouTube?!
Estou na clínica da Claudia.
Eu só espero não ter que matar do coração a minha melhor
amiga com essa mensagem desesperadora.
No fim de semana, precisei resolver algumas pendências
relacionadas a herança que nosso pai, em vida, tanto quer já deixar
acertado.
Eu não me conformo com aquilo, com o seu adeus antecipado.
Meus irmãos pareciam tensos também.
Mas da última vez em que não demos ouvidos ao nosso pai,
ele passou bastante mal.
— Ele precisa evitar estresse
— aconselhou o médico.
Então assim fizemos.
Já perdemos a nossa mãe e apesar do nosso pai aparecer
doente e tudo piorar gradativamente, não sei se estarei pronto para
me despedir dele também.
Sofri muito com a morte da minha mãe e tenho certeza de que
com o meu pai nada será diferente.
Não avisei nada para Grace, pois não queria importuná-la com
os meus problemas. Também não contei que ficaria fora, durante
quatro dias.
A verdade é que não sou muito acostumado a estar
justificando tudo o que faço e sei que Grace não liga para o que
faço, ou deixo de fazer.
Mas ela tem o meu número e pensei que sentiria alguma coisa
a respeito da minha ausência.
Mas, nada.
Caramba, ela consegue ser mais fria que Jeremy!
Embora, demonstre totalmente o contrário quando passamos
tempo demais juntos.
Eu conheci um lado que Grace esconde por algum motivo do
resto do mundo.
Alguma coisa a reprime, só não sei o que.
Estou a caminho do aeroporto de Londres quando o celular
vibra no meu bolso. Logo o pego e vejo uma mensagem de Grace,
que faz o meu coração disparar e ter o superpoder de me
teletransportar.
Isabel está a caminho.
Apresso os passos.
Felizmente, pegarei um jatinho e chegarei mais rápido.
Sei que fui mais do que ausente esses dias, pretendia até
mesmo passar em uma floricultura e comprar o buquê para Isabel,
como sempre faço.
Mas desta vez as coisas serão diferentes.
Quando entro no jatinho que pertence à família, já vou logo
ligando para ela e me desespero porque ela não atende de
imediato, então começo a pensar em um monte de coisas.
— Você é um cretino! — a voz agitada e raivosa diz do outro
lado da linha.
Não é Grace, é Vanessa.
— Como ela está? — pergunto ignorando a recepção
definitivamente calorosa dela. — Quero falar com ela.
— Em trabalho de parto e com muita dor, por isso não vai
pegar o celular — responde, mas não parece menos arisca.
Solto uma bufada, impaciente.
Eu não insistirei nisso, porque Vanessa consegue ser tão
teimosa quanto uma criança. Além do mais, ela não está nada feliz
comigo, ao julgar pela forma que me responde.
— Diga a Grace que estou a caminho e que me perdoe.
— Eu até tentei, Ian. Mas acho que ela estava certa sobre
você — Vanessa diz e desliga enquanto fico sozinho na linha muda.
Fico olhando para o celular, como se ele fosse um espelho e
estivesse vendo através dele tudo o que acontecia.
Ok, pelo visto irritei de verdade não só uma, mas duas
mulheres!
Nem sei como sairei dessa com vida, mas o medo de ser
confrontado por garras femininas não é maior do que o medo de
perder o nascimento da minha filha.
O voo irá durar uma hora e meia, contando com a viagem por
terra até chegar em Florença.
Mas posso jurar que farei durar menos, com essa agonia em
que me encontro agora.
Só que, ao mesmo tempo, é como se os ponteiros do relógio
não estivessem correndo e isso me causa uma frustração.
Aviso os meus irmãos, brevemente.
“A minha filha vai nascer.”
E eles respondem animados.
Ter contado ao meu pai que eu seria pai e que ele teria outra
neta, fez seus olhos brilharem em meio ao vazio que o rondava nos
últimos dias, tanto que deixei Londres e ele estava bastante
animado. Então, peço que deixem avisado para ele também.
Depois que aviso meus irmãos e meu pai sobre o nascimento
da Isabel, pesquiso quantas horas mais ou menos dura o tempo de
trabalho de parto. Descubro que as formas são variadas, que podem
ser em pouco tempo, ou até em mais, como doze horas.
Eu não sei quanto tempo irá durar o de Grace, mas estou a
caminho e preciso ver isso com meus olhos.
Chegar em solo italiano me consume, literalmente.
Meredith, como uma boa cunhada que é, já foi assistente de
Noah e resolvia todas essas questões de locomoções dele, acionou
o nosso motorista particular da Itália para me levar até Florença.
Normalmente, recusaria e dirigiria eu mesmo, mas, desta vez,
não posso recusar, não estou em condições de dirigir.
Percebo que o motorista sabe o grau da situação quando ele
acelera.
Fico pensando no que posso fazer em relação ao nascimento
de Isabel. Da última vez quando presenciei o nascimento dos filhos
de Jeremy, de um jeito inesperado, acabei apagando.
Eu não esperava por aquilo e fui alvo de piada entre meus
irmãos por um bom tempo.
Não consigo entender como um cara fascinado por esportes
radicais, como eu, pôde ter dado tanta bola fora nesse quesito.
Já vi alguns amigos se machucarem feio e nunca cheguei a
hesitar.
Mas assistir a um parto?
Definitivamente não era algo que estava preparado.
Só que não quero perder o de Isabel,quero estar lá quando
ela nascer.
Quando chego na maternidade, vou direto a recepção, às
pressas.
Acho que cheguei a tempo, é o que espero.
— Grace Doley! Ela está em trabalho de parto — aviso com
urgência.
A mulher atrás do balcão fica me olhando com desconfiança.
— E o senhor é…
— Ian O’Donnell, sou o pai.
— Oh, é claro. Ela está esperando pelo senhor.
— Está? — Não escondo a surpresa e a mulher apenas sorri.
— Por favor, me acompanhe, posso levá-lo até lá — diz
enquanto sai de trás do balcão.
— O-obrigado. — agradeço ainda incrédulo.
“Grace está me esperando...
Ela sabia que estava vindo.”
Subimos uns três andares no elevador, então chegamos na ala
da maternidade. Escuto alguns gritos e gemidos de dor, e me
pergunto se um deles é o de Grace.
Pensar nisso me faz tremer e suar frio.
Estou nervoso como nunca fiquei antes na minha vida.
Sou conduzido então até uma porta no caminho do corredor.
Paraliso e a recepcionista gentil me informa:
— Ela está aqui. Boa sorte.
Fico encarando a porta branca.
— Obrigado, vou precisar de muita — digo para ela que volta
pela mesma direção que viemos.
Eu só não sei se eu precisarei de sorte para lidar com uma
Grace em trabalho de parto, ou na hora do nascimento da minha
filha, para que não desmaie de novo.
Mas quando a porta se abre antes que me aproxime, descubro
que a sorte mesmo que eu precisarei é com Domenico Alfonso, que
ao sair do quarto, me encara com rigidez.
Percebo que seu corpo fica tenso no mesmo instante.
Ele é alguns centímetros maior que eu e avança na minha
direção apontando o dedo na minha cara.
Não movo um dedo.
— Você quer foder com tudo mesmo? — pergunta
rispidamente. — Acha que pode tirar uma folguinha em Londres e
deixá-la sozinha?
— Você não sabe a merda que tá falando — retruco.
Habilmente e sem me dar tempo de reação, Domenico segura
meus braços e me gira na direção da parede, onde me empurra e
mais uma vez aponta o seu maldito dedo para mim.
— E você não sabe da responsabilidade que se meteu. Eu
disse que mexeu com a garota errada, O’Donnell. Agora lide com as
consequências!
— Parece que a única consequência aqui é você! — Jogo na
sua cara, tomando frente, o fazendo recuar. — Estou aqui, porra!
Estou cumprindo com o meu papel!
Apesar de estarmos murmurando, alguns enfermeiros que
passam já nos olham de modo estranho.
— Não faz mais que a sua obrigação. Juro que se vacilar de
novo, arrebento a sua cara — ele me ameaça.
Que grande filho da puta!
Pois, também sei jogar sujo.
— Aposto que Grace adoraria saber o porquê de você estar
tão irritado assim comigo. Como bem sabemos, isso não é pelo fato
dela estar grávida, não é mesmo?
Na vida de Domenico, ele só tinha Grace e agora a Isabel. O
que me faz pensar que ele não está triste ou chateado pela família
aumentando, mas a grande raiva dele é que fez um acordo com a
pessoa mais improvável que ele poderia contar...
Eu.
Percebo quando Domenico hesita e sinto vontade de rir.
Ele franze o nariz e, então, se afasta, como se dando por
vencido.
— Faça isso direito, Ian. Você pode querer acabar comigo,
mas conheço muitas formas de destruir você também.
— Pode vir, Domenico — digo o confrontando.
O padrinho de Grace apenas me olha e então se afasta.
Cretino, marginal!
É isso o que ele aparenta ser pelo seu comportamento
duvidoso.
Muitas vezes ouvi dizer que Domenico cresceu na cidade mais
carente da Itália, que chegou até mesmo a integrar um grupo de
máfia, talvez, este último seja mentira, pois foi apenas algo baseado
em seu estilo de vida e aparência.
No entanto, seja o que for, Domenico sempre será este italiano
raiz, que fala alto, é impaciente e parece que vai sair no soco com
alguém a qualquer momento.
Parece que me livrei das suas garras por ora.
Me recupero desse encontro inesperado, então dou leves
batidas à porta e aperto a maçaneta. Minha mente e meu corpo já
esquecem este fatídico encontro com Domenico e, agora, se focam
totalmente em Grace.
O coração está batendo na garganta e o que vejo me deixa
desarmado, sem saber muito bem o que fazer, além de sentir.
Grace está deitada de lado, de costas para a porta, ouço o seu
gemido fraquinho, mas fora isso está quieta. Olho para o canto da
sala e lá está Vanessa, de braços cruzados e um semblante
cansado.
Antes que mostre a Grace que estou aqui, Vanessa me conduz
para fora da sala e fecha a porta atrás dela.
— Estou aqui, vim render você. Já pode descansar — informo.
— É bom que você tenha um bom motivo para ter ficado
ausente — ela diz impiedosa.
— Tenho e diz respeito somente a Grace — afirmo sendo mais
rígido com Vanessa.
— Ótimo, não me importo mesmo. Mas fico feliz que esteja
aqui, é importante para ela.
Olho em direção à porta mais uma vez, como se pudesse vê-la
através da madeira.
— E como ela está? Devo me preparar para lidar com algo
grave?
— Diga por si mesmo, O’Donnell — ela diz já voltando para o
quarto, mas antes dá meia volta e completa: — Ah, e só para
constar, estou cansada, mas Grace é a minha melhor amiga, então
ficaria o tempo que fosse preciso com ela.
— Não duvido disso — comento.
Sei que não tenho totalmente a confiança de Grace, Domenico
e Vanessa. E isso não era algo que importava para mim, mas
precisava muito da aprovação de Grace, por ser mãe da minha filha.
Nada, além disso.
Os outros poderiam achar o que quisessem de mim, que não
me importava.
Nunca tive o costume de me importar!
Volto para o quarto e Vanessa já se despede de Grace com
suas coisas nas costas.
Não é permitido que mais de uma pessoa fique no quarto e
com muita sorte consegui chegar na hora da troca de plantão.
Vanessa passa por mim e deu um aceno de cabeça que
retribuo. E então é só Grace e eu.
— Por quanto mais tempo você vai ficar aí enrolando?
Ouço a voz de Grace perguntar como se ela já não tivesse
mais forças.
Enfio as mãos nos bolsos e dou meia volta na cama em que
ela está. É um quarto presidencial, em tons de azul e branco, com
uma decoração clean, sem muita informação. Grande o suficiente
para acomodar uma família inteira, caso quisessem acompanhar
tudo e deixar Grace mais à vontade. Porém, acontece que Grace
não tem tantos conhecidos assim para colocar aqui dentro.
De repente, vê-la desse jeito na cama e “sozinha”, me faz
sentir péssimo.
— Só quero ter certeza de que você não vai me atacar porque
sumi — admito.
Ela solta uma bufada e revira os olhos.
— Pelo amor de Deus, Ian.Estou com contrações, prestes a
ter um bebê e tudo o que pensa é em como irei atacar você?
Comprimo os lábios.
Essa mulher sabe como me deixar acanhado, não de uma
forma ruim, claro, mas ela não tem medo de me enfrentar e ser ela
mesma até estando em trabalho de parto.
— É que sei que fiz algo errado.
— Fez? — Parece ser uma pergunta retórica.
Solto um suspiro, me sentindo menos tenso a medida que
percebo que o que sinto é um medo bobo.
Grace não fará nada a respeito disso, mas ela merece uma
explicação, mesmo que seja meio tarde demais para isso.
Puxo uma cadeira e então me sento de frente para ela, o que
me permite ficar da sua altura e ter uma visão melhor do seu estado.
Fico surpreso ao ver que ela “inchou” um pouco mais no final
de semana. Há olheiras abaixo dos olhos, que parecem pesados de
tão cansada que ela está. Seus lábios estão ressecados, a sua pele
suada e o cabelo um pouco bagunçado.
Grace franze o cenho e faz um pequeno esforço.
Parece ser uma contração.
— Ainda está em grandes intervalos, não é?
— Diminuindo com mais rapidez agora — ela responde
enquanto toca a barriga. — Mas, sei lá. É louco dizer que a dor é
suportável até o momento?
Dou um sorrisinho de lado.
— Não é louco, é poderoso. Você é forte, Grace.
— Meu padrinho também é forte? — ela pergunta um pouco
mais séria. — Ouvi quando ele esbarrou em você aí fora.
Bem, não é de se admirar, já que ele quase garantiu que eu
atravessasse a parede pela recepção calorosa e no melhor estilo
italiano, pouca paciência.
— Ele só ficou chateado. Eu disse a ele que cuidaria de você e
acabei falhando neste final de semana. Me desculpa.
Grace franze o cenho de novo e estico a mão para tocar a sua
barriga através da bata hospitalar que ela já veste. Sei que será
impossível fazer a dor parar, mas quero prestar apoio.
“Estou aqui.”
A mão delicada de Grace pousa sobre a minha e sinto que
está fria.
— O que aconteceu? — ela pergunta olhando para a minha
mão.
— Meu pai está muito mal — digo a verdade.
Não tenho motivo para esconder a verdade, ela é a mãe da
minha filha e acho que isso é só o começo.
— Na verdade, ele está mal há muito tempo, Grace. Mas agora
está definhando aos poucos e quer deixar tudo certo antes do dia
chegar. Fui para Londres, tinha algumas reuniões com os
advogados. Era impossível faltar. Eu não queria te importunar com a
minha vida pessoal.
— E agora aqui está você, me contando tudo — ela enfatiza e
acho que sinto minha pele do rosto queimar.
— Sim, mas é porque pensei que estava fazendo a coisa certa
em deixar você em paz. Me desculpa.
— Tudo bem, você não é obrigado a me dar satisfação.
Fico olhando para ela e penso em como isso não está certo.
Um cara, como eu, libertino, jamais precisou dar satisfação a
ninguém. A única pessoa que sempre teve esse poder, foi a minha
mãe. Depois dela, fiquei mais recluso ainda sobre a minha vida.
Dar satisfação não é algo que faço com facilidade e meus
irmãos sabem disso melhor do que ninguém.
Mas, por que diabos de repente me sinto mal por ter pecado
nesse quesito com Grace?
Eu a respeito, acho até que poderíamos nos dar bem.
Mas existe essa coceirinha, bem lá no fundo, incomodando,
me dizendo que deveria ter dito apenas um olá.
Porque pela cara dela, era o que estava esperando e nunca
poderia imaginar que Grace estaria esperando algo de mim.
Ela sentiu saudade?
Ficou preocupada?
Não sei.
Mas o que sei é que esse não é o momento, principalmente
quando os intervalos entre uma contração e outra vai ficando mais
curtos, e Grace já não consegue mais suportar a dor, fazendo com
que seus gemidos sejam mais frequentes e de muita dor.
Precisamos levá-la para debaixo do chuveiro.
Às vezes, ela fica sentada em uma bola, tudo para aliviar a
tensão que a incomoda tanto.
É horrível a sensação de que não posso fazer nada a respeito.
Tento fazer massagem nela, mas o contato acabou a deixando
irritada.
Ela não quer ser tocada.
— Vai passar, Grace... — digo em um certo momento. Um
pouco depois, repito: — Vai passar.
Grace urra de dor enquanto está em pé e inclinada sobre a
cama quando outra contração ataca.
— Você está dizendo isso há uma hora, Ian!
É então que descubro através de uma enfermeira, muito
atenciosa, que, geralmente, mulheres nessa situação vivem um
momento só delas, ao ponto de dispensar toques e até mesmo
algumas palavras de conforto.
Tenho de me calar e isso é frustrante.
Parece que o sofrimento acontece em ambos os lados, onde a
de Grace é física, e a minha psicológica.
— Talvez seja melhor submetê-la a uma cesárea — sugiro
quando as horas passam e as contrações pioram.
Não aguento mais ver Grace pálida e cansada de tanta dor. A
sensação é de que ela irá desmaiar a qualquer momento.
— Não será possível — a enfermeira obstetra informa na porta
do quarto quando vem ver a dilatação de Grace. — A bebê já está
encaixada, a dilatação dela já está em nove centímetros, é só
questão de tempo agora.
— Mas ela está sentindo dores há horas!
Ela me olha como se eu fosse um tolo e, no momento, nem
percebi que, na verdade, a minha afirmação foi algo óbvio demais,
mas estou desesperado.
— Faz parte, senhor O’Donnell — a enfermeira diz antes de
sair.
Depois de um tempo, Domenico e Vanessa aparecem de novo
na maternidade, mas não passam da recepção.
Conto a eles por celular que a situação está ficando mais tensa
e as horas só passam.
Eles devem ter ficado preocupados e resolveram aparecer.
Mas Grace não quer ninguém ao seu lado, além de mim. Por
alguma razão, ela está confortável com a minha presença.
Não sei dizer se é porque causo esse efeito, ou se a dor está
esgotando todas as suas forças.
De qualquer forma, a obstetra chega para dar mais uma
checada.
Grace atinge a dilatação máxima e, nesse momento, a bolsa
rompe e a dor parece ficar mais intensa, pois ela está se
contorcendo toda.
A equipe começa a se agitar e sai do quarto para se preparar
para o momento do parto.
Meu coração dispara como se ele fosse sair pela boca. No
entanto, por um momento me sinto fraco.
Acho que não vou aguentar.
Estou ao lado da cama dela, de olhos fechados enquanto tento
não desmaiar.
— Ei?
Ouço Grace me chamar em meio as dores e olho para ela.
— Vai ficar tudo bem.
Fico parado, pois certamente não esperava por isso.
— Sou eu quem deveria estar tranquilizando você e não ao
contrário.
Grace tenta sorrir e me aproximo mais um pouco.
— Vai dar tudo certo. Não irei a lugar algum — digo como uma
promessa.
Encosto a cabeça na dela e percebo que Grace tenta ajustar a
sua respiração com a minha.
Quem vê, pode imaginar que somos um casal apaixonados.
No entanto, depois de ver Grace passar por essa situação,
meu respeito, carinho e admiração por ela acabam de atingir um
outro patamar.
Ela parece ser uma heroína, que está passando por tudo isso
para salvar a nossa filha.
— Muito bem, podemos começar agora mesmo — a obstetra
diz.
Eu nem percebi quando eles voltaram.
São umas quatro pessoas, mas elas estão bastante
empenhadas em fazer o parto dar certo.
— Grace, preciso que faça força. Respire fundo três vezes,
empurre e então segure, mantendo a força. Sinta a sua filha, você
precisa fazê-la sair. Ok?
— Ok. — Grace balança a cabeça, parecendo determinada.
— Então vamos lá. Um, dois, três…
Grace respira junto na contagem e então faz força. Ela aperta
a minha mão, chega a doer, mas eu não reclamarei.
Porra, a deixaria quebrar os meus ossos se isso fizesse a dor
passar e Isabel nascesse logo.
Complicações no momento da passagem são inevitáveis.
— De novo — a obstetra diz.
Ela tem várias formas de incentivar Grace a cada tentativa.
Acho que eu lembrarei para sempre dessa voz e dos gritos de
Grace.
“Isso, muito bem. Outra vez...
“Está cada vez melhor
, Grace. Vamos lá.
“Isso, garota, você consegue!
“Respire fundo. Não esqueça de respirar
.
“Isso vai dar a força que você precisa.
“Está quase lá, Grace, muito bem.
“Muito bem...
“Já estou vendo a cabeça dela.
“Vamos, Grace!
“Está vindo...
Está vindo.”
E então, uma agitação generalizada, porém, controlada,
começa.
Juro por Deus que é uma sequência de alívio que toma conta
do quarto.
Quando a bebê sai, Grace joga a cabeça contra o travesseiro.
Vejo Isabel nos braços da obstetra, chorando e envolta de uma
substância esbranquiçada.
Assim que ela é colocada em um lençol branco, Grace a pega
no colo.
Acompanho tudo quieto e maravilhado, enquanto Grace não
para de sorrir.
— Ela é linda… Pequena e escandalosa — comento enquanto
o choro não cessa. — Mas é linda, parece uma boneca.
Estou admirado com a pequena coisinha rosinha que cabe
perfeitamente no colo da mãe.
— Oi, meu amor. Feliz aniversário — Grace diz para ela.
— Acha que ela pode reconhecer nossas vozes? — pergunto
de forma boba, mas não ligo.
Essa é a minha primeira experiência como pai.
Grace sorri, mas ainda está muito exausta.
— Talvez, quem sabe? — Depois de um tempo com Isabelno
colo, Grace diz: — Quer pegá-la um pouco?
Fico tenso no mesmo instante.
— Será que consigo? Sou tio quatro vezes, mas sempre evitei
de pegá-los no colo quando novinhos assim. Medo de fazer algo de
errado.
Ao lado, a obstetra sorri e comenta:
— Acredite, você é o pai agora. Vai saber o que fazer. É como
se todos os seus instintos agora fossem acionados.
— Venha, pegue logo — Grace insiste.
— Tá bom.
Ela coloca Isabel no meu colo e ela ainda chora, está inquieta.
Mas quando vem para mim, as coisas mudam. Fico
aninhando-a no meu colo e começo a andar pelo quarto.
Isso a deixa calma.
Sorrio ao perceber que estou indo melhor do que imaginava.
Ela é ruiva, um detalhe importante para quem nasce um
O’Donnell. Seu nariz afiladinho e o queixo um pouco pontudo.
Parece até que foi desenhada, de tão perfeita.
— Olá, minha garota — sussurro como se fosse apenas um
segredo entre nós dois. — Você veio para mudar tudo, não foi?
Estou animado para o futuro ao seu lado.
Ela faz um movimento com a mão e acredito que tenha
aprovado o que falei, então sorrio.
— Vocês se deram bem aí, não foi? — Grace pergunta da
cama.
— Já está com ciúmes? — pergunto e ela sorriu.
A obstetra se aproxima e então pega Isabel no colo e não
hesito em entregar a bebê.
— Agora precisamos ver o tamanho dela e o peso, se está
tudo certo. São alguns protocolos médicos. Então a traremos de
volta, vestida para amigos e familiares verem, quando for o
momento certo da visita. Ok? — Concordo. Ela leva a Isabel e
confesso que não gostei muito dela ter sido levada para longe. Na
verdade, é apenas um canto do quarto onde já tinha tudo preparado,
mesmo assim, ficamos de fora.
Aproveito para conversar com Grace, que está suada.
— Como se sente?
Santo Deus, ela parece estar renovada!
— Melhor. Sério. A dor simplesmente foi embora.
— Você foi uma guerreira, Grace. Estou muito impressionado
com isso.
— Obrigada. — Ela está toda sorridente. — Bem, é agora que
as coisas realmente começam, Ian. A vida de pais oficialmente
começou.
— Sim, eu sei.
Não sei se ela pensava que eu estaria triste com isso, ou
desesperado. Mas, a verdade, é que estou empolgado e já quero
pegar Isabel de novo no colo. Ficar a admirando.
Sei o que todos pensam de mim. Até eu me conheço. Mas, se
tivessem me dito anos atrás que estaria feliz em me tornar pai, de
que isso preencheria o vazio intrometido dentro de mim, eu não
acreditaria.
Algumas coisas só precisam acontecer para descobrir que o
medo, na verdade, se tornará a sua maior motivação.
— Bom dia, Grace. Torradas? — Ianpergunta do outro lado da
bancada quando saio do corredor e entro na cozinha.
O cheiro delicioso de café da manhã se espalha pelo
apartamento, despertando em mim, um ronco de um ser adormecido
que nem sabia da existência.
Estou quase me arrastando pelo assoalho quando acrescento:
— E um café preto bem forte, por favor. Nada de adoçantes,
ou leite. — Sento em uma das banquetas da bancada da cozinha e
solto um suspiro exaustivo.
Ele tira a sua atenção do fogão para me analisar por um
instante. Me vê pôr debaixo de uma mecha de cabelo escuro que
cai em seus olhos e rapidamente volta a sua atenção para o que
parece ser ovos mexidos que ele faz na frigideira.
— Você precisa dormir em algum momento, sabe? — indaga
de forma retórica.
Apoio os cotovelos sobre a superfície de granito e então
encaixo o rosto nas mãos em formato de concha.
— Eu sei, mas… Eu não sabia que ser mãe era além do que
está ali, explícito. — Solto um bocejo.
Ian espera a minha conclusão.
— Às vezes, quando estou dormindo, acordo assustada e
preciso ver se ela está bem, se está respirando.
Ianme olha incrédulo, pega o cabo da frigideira e se afasta do
fogão enquanto vai para a mesa preparar o meu prato como ele faz
toda manhã.
— A Isabel é uma menina saudável, Grace. Não tem com o
que se preocupar. — Tenta me tranquilizar e então bufo.
— Eu sei. Mas você sabe quantas crianças sofrem de morte
súbita ainda pequenas?
— Isso não é uma conversa nada agradável para o café da
manhã — menciona receoso.
— Desculpa, só estou querendo dizer que agora que sou mãe,
vivo com medo. E o pior é que ouvi dizer que isso é normal, que a
maioria das mães não consegue dormir direito por causa do estado
de alerta que ficam nos primeiros meses.
Ianvai até à máquina de café e dentro do pote de cápsulas ele
escolhe a vermelha, que é a de café puro. Então, coloca dentro da
máquina e a liga, depois disso se aproxima de mim, ficando do outro
lado da bancada.
Ele ainda veste seu pijama.
Nos primeiros dias, acordava e via Ian dormindo no sofá,
exibindo seus músculos, mesmo que de forma genuína, e, então, o
proibi.
Sei que estamos no final da primavera, indo para o verão,
mas…
Às vezes, ver seus gominhos e aqueles músculos perfeitos
logo de manhã parece ser uma provocação.
— Eu diria para você ser mais gentil e otimista com si mesma,
mas preciso admitir que a sua preocupação e entrega a este papel
de mãe é admirável, Grace. Aposto que você vai se orgulhar muito
disso futuramente.
Olho para ele, que me olha com uma certa expectativa e
confiança.
Já faz quatro semanas desde que Iandecidiu se mudar para o
meu apartamento.
Bem, se mudar é uma colocação muito literal. Ele, na verdade,
passa o dia aqui…
E dorme também.
Caramba, ele realmente se mudou e preciso aceitar que é isso!
Desde que Isabel nasceu, Ian assumiu as rédeas e bateu o
martelo ao decidir que deixaria o trabalho de lado, pelo menos a
maior parte dele, por um tempo, enquanto me faz companhia nessa
fase.
Eu disse “tá bom”, o que não foi um empecilho na hora. Eu até
gostei da ideia de ter alguém comigo porque cheguei a pensar que
não conseguiria.
Isabelteve dificuldade para pegar peito e o parto me exauriu
mais que nunca.
Consegui me recuperar depois de duas semanas.
Sem falar das horas surpresas em que Isabel decidia acordar
.
Mas tenho Ian comigo e isso faz toda diferença.
Eu também tenho Vanessa, mas ela está cuidando de um
processo muito importante e não quero atrapalhar as suas
responsabilidades com as minhas responsabilidades.
Domenico ainda sugeriu uma babá, mas tenho o Ian, e
comecei a considerar isso ser uma baita sorte.
Dou um sorrisinho para ele, grata pelas suas palavras, por ele
estar aqui.
— Parece que ter você aqui torna tudo mais fácil. Cuidar da
Isabele até mesmo me manter alimentada — ressalto e franzo as
sobrancelhas. — Tem certeza de que não é uma boa opção
contratarmos um chefe?
— Algum problema com a minha comida? — pergunta e então
volta para a máquina de fazer café, onde pega a xícara fumegante.
— A sua comida é maravilhosa, Ian. Mas não estou
acostumada a vê-lo com a mão na massa, então, às vezes, sinto
que estou abusando de você e a sua inesperada gentileza.
Ele ri e então traz o meu café da manhã, duas torradas, ovos
cozidos, morangos cortadinhos e café.
Chego a prender a respiração.
Ainda é muito louco que ele esteja fazendo essas coisas por
mim.
— Humm, obrigada. Isso parece tão perfeito! — exaspero
assim que a comida já está bem na minha frente e começo a comê-
la.
— Você está só peito — comenta e reviro os olhos. — A
médica disse que você precisa se alimentar bem, que a Isabelvai
sugá-la porque ela é uma máquina de mamar. E se você não fizer
isso direito, vai ser ruim para a saúde de vocês duas.
— Às vezes, você me lembra o Domenico, sabia? Pegando no
meu pé.
— Eu só fico preocupado. Se você está bem, a Isabelfica bem
também — explica, fazendo o morango que engolia no momento
ficar entalado na minha garganta.
Balanço a cabeça veementemente, assim ele não conseguirá
ver o quão acabei me sentindo desapontada agora. Isso me faz
sentir estúpida também.
Por que terei de me importar com isso?
Ian está certo em seus interesses terem que ser totalmente
focados e beneficiados para Isabel.
— É claro — respondo depois que consigo engolir o pedaço do
morango.
— Então, o que teremos para hoje? — pergunta enquanto
ajeita as coisas na pia.
— Mais tarde a Vanessa vai fazer uma visita. Também tenho
que planejar a marca da minha empresa, então acho que vai ser um
dia interessante.
— Fico feliz que não tenha desanimado, Grace — ele diz
conforme volta com o café da manhã dele; bacons, ovos e torradas.
— Mas como afilhada do Domenico, me surpreenderia se você não
fosse tão dedicada.
Sorrio para ele, mas meu sorriso vai morrendo e, então, encaro
a comida no meu prato.
— Ah, merda. O que eu falei de tão horrível? — pergunta
preocupado.
Fico piscando, ciente de que contarei a ele, o que é uma
surpresa para mim, pois não gosto de compartilhar meus problemas
com ninguém.
Às vezes, Vanessa se estressa com isso, mas ninguém
entende quando digo que sinto que as coisas que acontecem na
minha vida são irrelevantes perante os outros problemas que têm no
mundo.
Por um instante, penso que é tudo bobagem, que contar a ele
é vergonhoso. Mas agora, de alguma forma, estou pronta para
desabafar com Ian,como se ele fosse um amigo, o meu confidente
há anos.
— Não é tão fácil quanto parece. Se você quer saber, Dom e
eu não temos os mesmos genes, então crescer com ele foi fácil,
mas complicado, ao mesmo tempo.
“Eu queria ser perfeita para ele, sabe?
“Queria dar a ele orgulho, então tinha que ser a Miss Perfeita
.
“Era tão incrível vê-lo conseguir tudo o que queria, que em
algum momento da minha trajetória, só queria ser a versão feminina
dele.”
Acho que é a primeira vez que digo algo tão pessoal sobre a
minha vida para alguém que não seja a minha melhor amiga. Dou
um gole do meu café e percebo que estou comendo com uma certa
lentidão.
— Sei exatamente como é, Grace — Iandiz, mas diferente de
mim, ele parecia mais tranquilo. — Sou o filho mais novo, carrego
nas costas o dever de trilhar o mesmo caminho do sucesso dos
meus irmãos, porque se não fizer isso, viverei na sombra deles.
Sempre deixei e não me importei com o que as pessoas diziam de
mim, porque enquanto elas estavam achando uma coisa, estava
preparando outra, algo grande, que faria elas morderem a língua.
Franzo o cenho para ele, incrédula.
— Então nunca se importou com a sua fama?
— Quem conhece o seu próprio coração, não precisa se
preocupar com a mente dos outros. O que acha que Domenico
pensa de você? O que está na mente dele, afeta o seu coração?
Pisco várias vezes, como se isso me deixasse confusa, mas, a
verdade, é que estou surpresa pelas suas palavras minuciosas.
Não sabia que podia ser tão bom de conversar com o Ian.
É claro que já havia observado isso nas semanas anteriores,
mas pela primeira vez falamos de algo mais pessoal.
Dou de ombros.
— Sei exatamente o que Domenico pensa de mim e estou feliz
que mesmo com a gravidez inesperada, ele não esteja me vendo
com outros olhos. A não ser de mais respeito, por eu ser mãe agora.
— Isso é ótimo, Grace. Meus irmãos e eu sempre
consideramos o apoio da família como algo primordial. E vendo que
você e o Domenico possuem isso é bem incrível.
Dou um sorriso sem jeito, porque ele tem razão.
— Bom, vamos aproveitar para comer enquanto nos resta um
tempo de folga — digo encerrando o assunto, embora alguma coisa,
lá no fundo, me diga que Ian e eu iremos fazer isso mais vezes.
••••
Quando Isabel nasceu, a nossa conexão foi imediata.
Apesar de já ter Vanessa como melhor amiga, quando coloquei
os olhos naquele serzinho, soube que além de filha, ela seria a
minha melhor amiga.
E desde então somos inseparáveis.
Uma parte minha está feliz por finalmente conhecer a minha
filha, mas a outra também está um pouco triste, porque é estranho
em como em um momento tão importante como esse, as pessoas
que você mais amou nessa vida não estejam presentes.
Já faz muito, muito tempo, de verdade.
Mas é em momentos, como esse, que acabo lembrando deles.
Me pergunto se serei para a Isabela mesma mãe incrível que
a minha foi para mim. Domenico diz que é óbvio, mas, às vezes,
quando acordo tão cansada, me sento na beira da cama e começo a
chorar, pois, sinto que falhei.
A minha médica diz que estou bem, que é normal sentir essa
pressão e, consequentemente, um esgotamento físico e mental.
De acordo com os meus exames após passar pela terapia,
estou longe de estar com uma depressão pós-parto, e,
sinceramente, nem sei quem ficou mais aliviado com isso, se fui eu
ou o Ian.
Ele tem sido tão incrível que, às vezes, me sinto horrível por
ter duvidado tanto dele e ainda continuar surpresa com cada coisa
que ele faça.
Mas, talvez, isso acabe me acostumando mal.
É plena sexta-feira, quatro e meia da tarde e tudo o que tenho
pensado é quando ele irá chegar.
No entanto, é Vanessa que passa pela porta.
Ela já tinha avisado que viria, então deixei a porta aberta.
— Onde está o Ian?— ela pergunta depois de tirar os sapatos
e se acomodar no sofá com a Isabel no colo.
Me sento ao lado delas.
Agora que mais de um mês se passou, Isabelestá um pouco
mais durinha e com as suas feições mais visíveis.
Por exemplo, agora dá para perceber que ela tem o mesmo
nariz que o meu, o cabelo ruivo das raízes irlandesas do pai e os
mesmos olhos azuis que os meus.
— Domenico o chamou para o porto para ver de perto o
projeto que a empresa do Iantrabalhou para o Dom. Acho que ele
está para voltar.
— E ele ainda dorme no sofá? Caramba, tenho quase certeza
de que ele afundou o acolchoado com aquele monte de massa
muscular que ele tem.
Sorrio e não tenho como negar, pois, Iané enorme, musculoso
e toda vez que o vejo dormindo no sofá minúsculo, meu coração se
aperta um pouquinho.
— Sim, ele ainda dorme aqui. Ele se recusa a ir para o único
quarto de hóspedes que sobrou. E, para ser honesta, até agora ele
não me explicou o motivo disso.
— Será que ele sente alguma atração sexual por você? — ela
cochicha como se isso pudesse ser um segredo.
Resmungo, desaprovando a pergunta. Embora, também tenha
tentado disfarçar que algumas vezes me vi perguntando a mesma
coisa.
Já faz quase duas semanas que saí do puerpério e me sinto
praticamente renovada. Consequentemente, tais pensamentos
libidinosos começam a me atormentar na calada da noite.
— O que isso tem a ver com ele dormir no sofá? — pergunto
ainda desdenhosa.
Vanessa dá de ombros.
— Sei lá. Vocês fizeram um bebê juntos e agora ele está
praticamente morando no seu apartamento. Deve rolar alguns
pensamentos sórdidos.
— Acontece que mal temos tempo para isso, Vanessa. Iantem
se empenhado muito no papel de pai e companheiro. Por que é o
que ele é, né? Tem sido um bom companheiro.
— Bom, para ser sincera é tudo muito surpreendente. Nunca
imaginei que veria um cara como Iancuidar de uma casa como se
fosse um ser humano comum — ela admite.
Dou um sorriso para ela.
— Igualquando ele me trazia almoço, falei que isso o tornava
um homem comum e você disse que estava exagerando.
— Eu não disse nada — retruca.
— Não com essas palavras, mas com esse sentido.
Isabel então começa a ficar inquieta e Vanessa trata de me
passar ela.
— Acho que alguém está com gases, ou já fez o que não
quero ver.
Pego minha filha no colo e então dou uma rápida conferida
para confirmar a suposição de Vanessa.
E ela está certa, Isabel fez cocô e a minha melhor amiga já
tirou o dela da reta quando foge para a cozinha.
— Você é uma cagona mesmo! — acuso e ela finge não
escutar.
No mesmo instante, ouço a porta sendo destrancada, então
ela é aberta e um Ian tranquilo passa por ela. Os ombros largos
quase que tomam o espaço todo da porta e a sua cabeça por quase
dez centímetros não bate no limite dela.
— Oi — ele cumprimenta com um sorrisão assim que me vê no
meio da sala com a Isabel, que ainda está inquieta. — O que ela
tem? — Ele se aproxima, como o pai coruja e super preocupado que
é.
— Ainda bem que você chegou, Ian.Pois, isso é uma tarefa
para você mesmo. — Vanessa é mais rápida e acho graça do seu
desespero em não querer trocar a fralda de um bebê.
— Ah, entendi. Mas não tem problema. — Ele se inclina até
Isabelque fica mais calma a ouvir a voz do pai. Então, ele começa a
direcionar a voz mais suave para a filha. — O papai aqui dá um jeito
em tudo, não é, meu amor?
— Dá? — A minha amiga parece tão surpresa que vem até
nós. — Fala sério, cara, você limpa de boas?!
— Não deveria?
O baque nisso, é que Ian está surpreso demais pela
indiferença de Vanessa.
— Nem todo pai curte essa tarefa. Alguns homens costumam
ser mais fracos que as mulheres em relação a isso.
Ian então ajeita a postura e com muito orgulho rebate
enquanto pega Isabel dos meus braços:
— Acontece que não sou esse homem. — Dá um beijo no topo
da minha cabeça. — Deixa que eu cuido disso, tá?
— Tem certeza? Você acabou de chegar — digo.
— Ah, até que não foi tão corrido hoje, então consigo limpar a
minha filha — informa e então some quando entra no corredor dos
quartos.
Um silêncio quase brutal se instala nessa parte da casa
quando Vanessa e eu ficamos sozinhas.
Eu quase posso ver o seu cérebro fritando enquanto tenta
digerir o que acabou de acontecer.
E eu entendo.
É difícil para pessoas como ela e Domenico, por exemplo, que
por não ter a convivência com Iande forma casual, não conhece o
seu verdadeiro ser.
Eu era assim no começo, mas agora, mesmo que, as vezes,
ainda me surpreenda, já estou acostumada com o verdadeiro jeito
dele.
— Que droga! Vocês parecem aqueles casais de filme de
romance, onde tudo tá perfeito demais O que viria depois?
— E você ainda falava de mim, quando não demonstrava nem
um pingo de fé nele — rebato.
Vanessa parece estar derrotada.
— Eu sei. Mas, de qualquer forma, estamos falando de Ian
O’Donnell. Isso não é um choque?
Sorrio.
— Sim, sei como está se sentindo. — Olho em direção à porta
do quarto de Isabel,onde ele está. — Sinto que iremos nos tornar
grandes amigos e que viveremos pela Isabel.
Ela bufa.
— Amigos, Grace? Sério?Você tem um homem desses na sua
casa e tudo o que você quer é a amizade dele? Será que ele te
comeu tão mal assim?!
— Shhhh! — Faço sinal exigindo que ela fale mais baixo. —
Não tem nada a ver, amiga. Só não vou forçar uma coisa que
começou a… Sei lá… Dez semanas?
— Algumas coisas exigem até menos que isso.
— Não é o nosso caso — digo firmemente, mas Vanessa
continua me olhando, como se ela soubesse de algo que nem eu
quero saber.
Bufo, sabendo que ela é a minha única amiga capaz de me
ouvir e seu não falasse para ninguém, tenho a certeza de que
explodiria.
— Mas… Bem, para ser sincera, às vezes penso que somos
um casal, uma família unida e feliz, sabe? É tão fácil pensar e
querer isso com ele, mas, quando lembro do motivo pelo qual não
gostava dele, fico hesitante.
— Achei que você tivesse superado isso ao conhecê-lo melhor
graças a convivência — Vanessa salienta confusa.
— Aí é que tá, ainda não sei se tudo isso que ele tá fazendo é
algo genuíno ou apenas porque é a sua responsabilidade.
— Fazer café da manhã para você e ser carinhoso,
definitivamente, não é uma responsabilidade dele.
Jogo a cabeça para trás e finjo chorar.
— Isso tudo é muito confuso, V. Eu juro que tento tornar tudo
mais fácil ainda, só que, ao mesmo tempo, parece existir um muro
entre nós que contém toda tensão.
— Só, por favor, não vão tacar fogo no prédio todo quando
esse muro de contenção for abaixado — avisa em um tom
provocativo e então sai de perto.
Eu me vejo dando um sorriso quase triste a ela.
Por que mesmo isso me deixa para baixo?
Isso não deveria estar acontecendo. As coisas devem ser
assim e pronto. Daqui uns tempos, Ian vai embora, ele terá de
seguir com a vida dele e eu com a minha.
Provavelmente iremos nos ver apenas nos finais de semana,
isso se for possível ainda.
Não será fácil.
Mas, por que terá de ser difícil também?
Somos apenas os pais da Isabel, não há nada mais além
disso. E juro, quero gritar por pensar dessa forma, mas sentir
totalmente o contrário.
A revista sobre a minha mesa estampa meu rosto, de uma
famosa foto minha tirada para uma entrevista antiga, que dei para a
mesma editora. Só que alteraram, colocaram a minha boca curvada
para baixo, em uma profunda tristeza e adicionaram algumas
lágrimas. Bem embaixo da minha foto, há uma frase dizendo:
"Homens irresponsáveis: ensinamos a vocês seis passos de
como não substituir um bom uísque por mamadeiras nos seus
finais de semana!”
É claro que aqueles idiotas estavam falando de uma forma
indireta sobre mim, afinal de contas, essa não é nem a primeira
matéria a respeito da minha paternidade que vejo nas últimas
semanas.
Eles nem sequer pouparam Grace.
Semanas atrás, havia uma coluna de uma famosa blogueira
em outra revista que dizia o seguinte:
“Quando se trata da elite europeia, alguns costumes
tradicionais não saem de moda, como o seguimento de nomes
e fortunas, por exemplo. Lembra que na história aprendemos
que algumas famílias uniam seus primogênitos para a glória de
seus nomes e um futuro promissor?
Bem, não duvidamos de nada quando vimos o mais novo
casal improvável.
As probabilidades de Ian O’Donnell engatar em um
relacionamento já parecia difícil, mas, com Grace Doley, a
afilhada e protegida do implacável e feroz Domenico Alfonso?
Bem, pelo visto tudo vinha acontecendo há muito tempo,
pois até um bebê tem na história agora.
Essa é a coisa mais bem planejada que vi um O’Donnell
fazendo.”
Mandei a matéria para o meu advogado e não hesitei que este
viesse a processar a blogueira pela sua fala infeliz.
Nunca me importei com nenhuma matéria e sobre o que ela
dizia ao meu respeito. No entanto, desta vez senti uma coisa muito
séria e forte em relação ao que eu li. Não gostei dela ter envolvido
Grace e a minha filha como se aquilo fosse um jogo, onde ganhava
quem tinha mais o que dizer.
Algo repugnante.
Mas se fosse processar cada matéria sensacionalista que
envolvesse Grace e Isabel, enlouqueceria!
Há quem diga que não me reconhece mais, mas continuo
sendo o mesmo. Posso ter mudado em algumas coisas, mas nada
gritante ao ponto que meus irmãos não venham reconhecer.
Sinceramente, acho que posso entendê-los. Afinal de contas, a
minha vida subitamente começou a ser resumida a mamadeiras,
trocas de fraldas, arrotos, idas ao hospital e muito choro.
Se alguém me dissesse que poderia escolher entre o passado
e o meu presente, não mudaria nada.
A conexão que acabei criando com Isabelé algo inexplicável.
Vejo muito de mim, ou de meus irmãos nela, mas também vejo
muito da Grace ali.
Gosto de pensar em como será o futuro e acho que não sei
fazer outra coisa senão nos imaginar juntos.
Olho para a tela do celular e a mensagem de texto brilha, junto
com vários emojis felizes:
Lawrence: Ei, cara! Sei que agora tá super corrido com a
vida doida de papai, mas será que dá para o meu melhor amigo
passar na minha festa hoje à noite?
Vim para Florença para facilitar tudo pra você, então me
faz esse favor, seu canalha!
Filho da puta!
Martina e Lawrence são meus melhores amigos e
recentemente eles chegaram na Itália para curtir a semana de
aniversário deles, pois, Lawrence faz hoje e Martina no domingo.
Eles já estão putos comigo o suficiente por ter furado em todas
as outras saídas que deveríamos estar curtindo, mas muita coisa
mudou.
Então, não posso faltar a essa.
— Oi, Bárbara. Diga ao Domenico que já estou indo, caso ele
decida uma reunião de última hora — digo para a assistente dele
quando saio da minha sala que Domenico conseguiu descolar para
que possa trabalhar enquanto fico em Florença.
— Domenico viajou já faz umas duas horas, senhor O’Donnell
— ela avisa.
Paro no topo da escada, com uma mão dentro do bolso.
— Ah, é?
— Ele foi tirar uma folguinha — explica.
Dou um sorrisinho.
“Ah, as vantagens em ser a porra do chefe.”
Não irei julgá-lo, pois já fiz muito isso. Mas depois que assumi
uma equipe de T.Ie consequentemente nasceu a minha empresa,
tive poucas chances de viajar para curtir. E, agora, acho que isso
será mais difícil ainda.
Essas últimas semanas estão sendo tão agitadas, sem muito
tempo para respirar e dormir direito, que confesso acabar sentindo
uma pontada de inveja por Domenico. Mas logo passa, antes
mesmo que comece a me sentir culpado por esses pensamentos.
Ser pai não é algo do qual me arrependo. Gosto dessa nova
rotina. É desafiador, e me causa uma certa sensação de paz.
— Parece uma boa ideia, não é? Tirar uma folga. Bom, hoje é
sexta, então espero que curta o seu final de semana.
Ela sorri e posso ver o alívio escancarado em sua face.
— Igualmente, senhor.
Começo a descer as escadas, pensando exatamente no que
eu disse. Grace e eu mal nos tornamos pais e já precisamos de um
descanso, mas Isabelestá muito nova ainda para ser deixada com
alguém. Talvez, Vanessa nos renda por algumas horas, mas isso
não é algo que decidimos de uma hora para outra.
Entro no carro, já que agora “moro” um pouco mais longe da
sede administrativa de Domenico.
No meio do caminho, tenho uma ideia. Não é nada
mirabolante, mas pelo menos já é alguma coisa. Pego o celular e
ligo para um dos números favoritos na minha agenda.
No terceiro toque, Noah atende:
— Você ligando para mim. — É a primeira coisa que ele diz,
dispensando cumprimentos formais. — Isso é um pedido de
socorro?
Bufo uma risada, pois, lá no fundo, é sim.
— Talvez, mas não com esse contexto que você está
pensando — explico.
— Eu não estou pensando em nada, apenas deduzi. Como
estão as coisas por aí?
— Vão bem, na medida do possível.
— Sério? — exaspera surpreso.
Por alguma razão, posso ver suas sobrancelhas arqueando.
— Não vou mentir, Ian.Achei que você surtaria. Ser pai não é
uma tarefa muito fácil.
— Eu já entendi essa parte e, acredite, estou tão surpreso
quanto você, Grace também, mas ela é muito educada para admitir
isso.
Noah ri do outro lado da linha.
— Considerando tudo o que aconteceu comigo e o Jeremy,
você não teve muita sorte no quesito mulher. Grace é um furacão e
afilhada do Domenico, boa sorte em tentar qualquer coisa com ela.
Seguro o volante com força, mas, na verdade, queria estar
apertando o pescoço de Noah.
“Idiota!”
— Você fala como se eu realmente quisesse ou devesse tentar
algo — refuto. — Grace e eu estamos empenhados, de verdade, em
ser apenas os pais da Isabel, nada mais.
— Hum, ok. Se está dizendo. Mas, eu só digo que vocês
possuem uma conexão agora, que é a Isabel. Você está
praticamente morando com ela e estão solteiros. As chances disso
dar em algo é de… 99,9%.
Devo confessar que não seria nada ruim me envolver com
Grace, ela é uma mulher linda, dedicada e gostosa. Deve achar que
a maternidade tirou algum brilho dela, mas, na verdade, ela só
ganhou.
Às vezes, Grace está tão cansada, que nem se dá conta de
que está perambulando na minha frente só de shortinho e blusinha.
Quando está sentada e as coxas ficam sufocando o short, imagino
minhas mãos ali, acariciando o inchado entre as suas pernas. Ou
então, quando está apenas tirando leite para eu dar para a nossa
filha, fico com vontade de fazer o serviço por ela, só como uma
desculpa de pegar em seus lindos seios.
Droga, falando desse jeito pareço até um pervertido!
Mas, nem contei o pior ainda, das noites em que a fico
imaginando tão solitária em seu quarto, com aquela roupa
minúscula de dormir. Aí tenho que ir para o banheiro, aprofundar
aqueles pensamentos libidinosos e então, colocar tudo para fora
antes que acabe fazendo algo que me arrependa se não ficar
aliviado.
Por mim, já teria dado qualquer tipo de avanço. Gosto da
Grace, sinto falta de estar dentro dela, mas, às vezes, parece ser
recíproco, outras não.
Dou um sorriso triste, mas solto um suspiro quando paro em
um sinal.
— Que bom que você fez os cálculos, mas não liguei para falar
sobre as probabilidades de dar certo com a mãe da minha filha —
aviso e então assumo um tom mais sério: — Como tá o pai?
— Bem, ele ficou orgulhoso por termos feito a escolha certa.
Ele queria ter certeza de que deixaria as coisas dele para os filhos e
netos, sem exceções.
— Sem exceções? — repito tenso no banco do motorista.
— Isso mesmo, o que inclui a mais nova netinha dele.
Engulo em seco e fico nervoso.
— Caramba, Noah! E ele nem a conheceu ainda.
— Tá esperando o que mesmo para trazê-la até Londres? —
indaga exasperado, como se este fato o deixasse indignado.
É compreensível, pois, além de excelentes pais, meus irmãos
são ótimos como tios. Só não sei se eles pensam o mesmo de mim.
Me dou conta de que o sinal só abriu quando alguns carros
atrás de mim, começam a buzinar. Então dou partida.
— Olha, agora que a Isabelcompletou um mês e que a Grace
saiu do puerpério. A forma mais justa é que vocês venham nos
visitar, mas também entendo a condição do papai, então vou ter que
conversar com ela primeiro. Daqui duas semanas, talvez eu as leve
para Londres.
Ouço meu irmão bufar do outro lado da linha, impaciente.
Não faço ideia de onde ele esteja, mas pelo silêncio, imagino
estar em seu escritório.
— Duas semanas, Ian? Você sabe que o tempo é o nosso
inimigo — Noah salienta.
Dobro a esquina do prédio em que estou vivendo agora, mas
não sei até quando e então estaciono o carro.
— Eu sei, Noah. Só preciso conversar com a Grace, acabei de
chegar, então irei tocar no assunto com ela agora mesmo.
— Tudo bem, qualquer coisa me avise. Estarei aqui.
A ligação acaba e então saio do carro.
Tenho tentado ser cauteloso com Grace. Não escondo nada
dela, mas também a abstenho de coisas que poderá estressá-la.
Tivemos um certo receio dela estar com depressão pós-parto, mas
foi tudo resolvido. Era apenas uma espécie de esgotamento
emocional e físico. Issome fazia ser mais cauteloso, por isso não
fazia comentários desnecessários, ou tirava brincadeiras fora de
hora.
Apesar de não ser nada de mais, lá no fundo, sabia o quanto
aquela conversa sobre Londres poderia irritá-la, de alguma forma.
Além do mais, estaria falando sobre tirar a Isabele ela da zona de
conforto. Sem contar que tem a questão de apresentá-la para a
minha família que pode soar algo mais íntimo do que gostaríamos.
Pego o elevador, algo em meu estômago gela, e tenho certeza
de que não é sobre como elevadores podem causar um certo
redemoinho no estômago.
Quando chego no apartamento, me deparo com uma bunda
empinada na minha direção. Prendo o fôlego no mesmo instante e
fico estático. Não consigo me mover, porque a bunda da Grace está
tão empinada que tudo o que imagino são coisas que me levariam
direto para o limbo.
Sua poupa da bunda está visível e ver seu corpo por esse
ângulo é o que menos preciso para lidar com as minhas vontades
repentinas e reprimidas em ficar com ela de novo.
Mas, porra!
Lá está ela de quatro, se esgueirando, esticando seu braço
para baixo do sofá enquanto geme no seu limite.
— Droga! — ela pragueja quando puxa o braço de volta.
Mesmo que a imagem seja atraente demais e goste, solto um
pigarro. Ela vira a cabeça na minha direção, mas não sai da
posição.
— A visão tá boa daí? — ela pergunta, para a minha surpresa.
Me sinto meio atônito, mas rapidamente recupero a postura.
— Seja lá o que estiver procurando, dou total apoio para que
continue — digo a encorajando.
Grace revira os olhos e rosna, saindo da posição e se
sentando nos calcanhares.
— Esperava que você fosse me oferecer uma ajuda.
— Bom, posso fazer isso daqui. Uma ajuda motivacional,
talvez. Serve?
Ela se levanta com uma certa dificuldade, reclamando das
dores nas pernas e nas costas.
Porra, Grace está praticamente enferrujada aos vinte e três
anos.
— Imagino que a sua ajuda motivacional nessa ocasião não
seria dá mais honesta, pois estava claramente tomando proveito da
situação.
Fecho a porta atrás de mim e levo uma mão ao peito.
— Olha, em minha defesa, você já estava aí, toda empinada.
Eu só fiz chegar — declaro, enquanto tento não olhar para a blusa
de tecido fininho que ela usa, deixando seus seios quase à mostra
de um jeito bem sexy.
Grace apoia uma mão na cintura e a outra na bancada.
— Considerando que este apartamento é meu, tenho a
liberdade para estar nua e de cabeça para baixo, se quiser.
— Por que você estaria nua e de cabeça para baixo? —
pergunto e confesso que a ideia faz o meu pau latejar.
Tento bloquear a cena da minha cabeça, porque se focar
demais nela, acabarei levando essa conversa para outro patamar.
Mas Grace é rápida.
— Esquece. Eu só estava tentando pegar o chocalho da Grace
que saiu rolando lá para baixo do sofá.
— Mas ela deve ter bem uns outros dez — refuto.
— Só não quero esse negócio esquecido aí embaixo — diz
impaciente.
— Tudo bem, então. Deixa que resolvo isso — digo enquanto
tiro o terno e arregaço as mangas da minha camisa.
Começo afastando o sofá da parede, coisa que Grace não
pode fazer. Bem, considerando o fato de que mais de um mês já se
passou, teoricamente, ela pode fazer esforço sim, mas não
queremos arriscar.
Agora, entendo o motivo dela estar de quatro, tentando pegar
da forma mais difícil.
Quando pego o brinquedo, entrego a ela que trata de
esterilizá-lo.
— Obrigada. É por esses e outros motivos que, às vezes, acho
bom você estar aqui.
— Não sei se amo ou se odeio a sua honestidade — digo me
sentando na banqueta da bancada e a vejo sorrindo diante do meu
comentário. — Tudo está tão quieto, Isa está dormindo?
— Bem, não é nenhuma novidade que ela ama o soninho da
tarde. Mas foi um dia tranquilo, em geral. E como foi na empresa?
Abro a boca para falar, mas antes de contar o que tem de ser
dito, não posso evitar de reparar que gosto desse momento, onde
nos juntamos e perguntamos como foi o dia um do outro.
A única pessoa que costumava fazer isso comigo era a minha
mãe e já fazia muito, muito tempo.
Será que Grace percebe a magia desse momento assim como
eu?
Talvez, acho que sim.
Ela está na expectativa da minha resposta, me olhando com
olhos curiosos.
— Foi um dia tranquilo também. A verdade é que Domenico
me mantém lá e só conseguiu uma sala para mim, para que não
tivesse nada para fazer o dia todo. Quer dizer, não que não tenha
nada para fazer aqui, mas, enfim…
— Tudo bem, Ian.Entendo. — Ela me interrompe e sorri sem
jeito, como se eu estivesse tentando me explicar e isso tivesse
soado fofo.
Uhg!
Pulo então para a parte que importa.
— Falei com o meu irmão, Noah, também, e descobri que
papai está bem, mas definhando cada vez mais.
Quando digo isso, observo que suas sobrancelhas se curvam
e ela para tudo o que está fazendo para se aproximar e me dar a
sua máxima atenção.
— Ian, meu Deus. E o que mais ele disse?
Pisco e encaro a superfície de granito da bancada.
— Papai colocou não só os filhos em seu testamento, mas
como todos os netos. Sem exceções.
Percebo quando Grace dá uma hesitada. Quando olho para
ela, parece incrédula.
— Até mesmo a Isabel?
— Até mesmo ela. É neta dele, por que não colocaria?
Grace dá de ombros.
— Não sei, só é meio estranho. Ele nunca a viu.
— Este é o ponto onde eu ia chegar — digo e então ressalto
de forma bem direta: — Grace, meu pai está morrendo. Chegamos
em um ponto onde o filho dele mais novo acabou de se tornar pai e,
sinceramente, parece ser tudo o que faltava para… — Meu
estômago embrulha só de pensar na palavra, mas não concluo. —
Sei que parece mórbido demais falar dessa maneira, mas a forma
como as coisas estão se encaminhando faz parecer que o fim está
cada vez mais próximo.
— Ian! — ela vocifera como se estivesse reprovando a minha
fala.
Isso a deixa nervosa?
Por quê?
Por um momento, pensei que Grace reagiria de forma mais
fria.
— Meus irmãos não conseguem sair de Londres, de perto do
nosso pai. E estou aqui… Sei que é por uma boa razão, mas o que
estou tentando dizer é que não tem como a minha família vir para
Florença conhecer a Isabel. O que nos resta é ter que ir para
Londres, o mais rápido possível.
Eu já estou pronto para qualquer intervenção de Grace. Afinal
de contas, da última vez que brinquei que a levaria para Londres
comigo, ela pirou, disse que não tinha motivo para levá-la, como se
houvesse uma corrente que a prendesse a mim.
Bem, eu pedi por aquilo.
Há algo muito interessante em irritá-la, Grace fica fofa e
Vanessa concorda comigo nesse quesito.
Para a minha surpresa, a mão de Grace pega a minha com
delicadeza e, então, a olho.
— Vamos correndo, Ian.
— Então você está de acordo?
— Por que eu não estaria? É sobre o seu pai, você precisa ter
esse momento com ele, com a Isabel.
Sinto algo arder em meu peito e, ao mesmo tempo, se encher.
Se não tivesse forças o suficiente, juro que poderia ter chorado, mas
sou forte. Em resposta, pego a mão dela que segura a minha e
então a beijo.
— Obrigado, Grace.
Ela sorri e então apoia os cotovelos sobre a bancada.
— Que tal irmos na terça? Será que está muito longe ainda?
Isabel tem que tomar uma vacina na segunda e já está marcado.
Você sabe como sou muito seletiva, vou apenas com o doutor
Ferraz.
— Terça está perfeito! — exclamo animado. — Eu podia jurar
que levaria mais duas semanas, mas quatro dias está ótimo, Grace.
— Perfeito, então está combinado assim. Quer que eu veja as
passagens?
Faço que não.
— Vamos no jatinho da família que ainda está aqui na Itália.
— Que chique! — ela comenta e então volta para o brinquedo
da nossa filha que termina de esterilizar.
Imagino que fico sobrando, mas então lembro de algo:
— Ah, Grace. Hoje é o aniversário de um amigo meu, está a
fim de ir comigo?
Ela fica me olhando, estática, e fico me perguntando se fui
idiota o suficiente por ter feito o convite.
Santo Deus, ela é mãe, tem mais o que fazer.
Bom, eu também tenho, mas por ser aniversário de um dos
meus melhores amigos, pensei que ela cederia.
— Ah… E-eu, bem. — ela gagueja, confusa. — Ainda não me
sinto confortável o bastante para ir a uma festa sabe?
— Claro! Entendo perfeitamente, Lawrence vai entender.
— Espera… O quê? — Ela se aproxima quando pego o celular
do bolso.
— Vou avisar a ele que não iremos — digo como se fosse
óbvio.
Grace fica me olhando.
Seu cabelo está preso, mas uma mecha cai no rosto e ela tira
após um profundo suspiro.
— Para com isso, Ian. É a sua vida, vá viver. Não deixe de
fazer as suas coisas só porque você é pai agora. Isabel e muito
menos eu, não colocamos uma corrente em você para mantê-lo
preso aqui.
— Eu sei, Grace. E digo o mesmo para você.
— Não, Ian. É diferente. — Fecha os olhos e respira fundo.
— Não há diferenças ou oposições quando o assunto é
referente a Grace.
— Claro que não, Ian.Mas estou dizendo que não quero ir, se
você quiser é livre para ir. Se fosse o contrário, você me deixaria ir
por mais que você não quisesse ir também? Não me deixaria ir para
me divertir?
— É óbvio que sim!
— Então? É o que estou fazendo com você nesse exato
momento.
Fico olhando incrédulo para ela.
Por algum motivo, nada disso parece fazer sentido e soa
errado, por mais que ela tenha sido coerente em suas palavras.
— Vá e se divirta. Talvez a Vanessa passe aqui mais tarde e a
gente acabe fazendo um doce. É sério, vou ficar bem — ela frisa,
com um sorriso no rosto.
Será que isso é um teste?
Droga, não sei!
Mas, já fiz tanta coisa certa até aqui e não sei o motivo de me
martirizar por isso.
A festa do meu amigo é importante. Estar aqui com Grace
também é. Mas estou aqui todo dia e quando foi a última vez que vi
Lawrence mesmo?
Porra, mal consigo me lembrar!
Então sinto que já tenho a resposta.
Não chamo Vanessa para passar uma noite comigo e nem
para fazer doces. Fico as horas seguintes, com Isabel, curtindo a
“solitude”.
Não que Ian me incomode, mas faz tempo que não fico
sozinha à noite, curtindo a minha companhia.
Isabel é uma garota muito comportada, gosta de assistir
programas de TV comigo, fica atenta como se estivesse entendendo
praticamente tudo.
É engraçado.
Eu disse que seríamos melhores amigas, então acredito que
esse papel já está se cumprindo.
Confesso que uma parte minha queria ter ido com Ianpara o
aniversário e tenho certeza de que Vanessa não negaria o posto de
babá pelas próximas três horas, no mínimo. No entanto, não foi algo
que realmente me vi tão necessitada a fazer.
Ok, sinto falta de uma noitada, mas também tanto faz para
mim. Sinto que nada pode substituir um momento como esse que
estou vivenciando agora com Isabel.
Com Ian fora, temos o sofá principal só para nós duas.
Olho para os travesseiros e os lençóis que ele já deixou
dobradinho, e toco o pano macio.
Não é preciso chegar muito perto para identificar o cheiro dele,
como um dia chuvoso em pleno acampamento.
É tão incrível que fecho os olhos e suspiro lentamente, o
sentindo.
O que Ian O’Donnell está aprontando uma hora dessas?
Estamos falando de um dos jovens que mais sabia curtir a vida
deste Ocidente.
Era só olhar o Instagramdele para saber o que estava falando.
Festas onde ele sempre estava rodeado de belas mulheres,
fumando charutos, ou, então, curtindo no mar em iates caríssimos,
ou pulando de paraquedas e essas coisas superperigosas que
pareciam suprir de alguma maneira a forma como ele gastava o
dinheiro, já que tinha de tudo.
Às vezes, penso que a vida de pai é algo que ele menos
esperava e tão inovador na sua vida, que deve ser por isso que está
tirando de letra.
É como se ele finalmente tivesse encontrado algo que o
desafiasse todo dia. Porque é isso o que a maternidade
relativamente é: um desafio, uma novidade constante.
— Parece que você deu a sorte grande — digo para Isabel.
O que é um fato.
Ianpodia ser o que for, embora ele esteja demonstrando que é
mais do que o julguei, mas como pai, ele é excelente.
Isso é inegável.
Posso até dizer que estou orgulhosa dele.
Ela balbucia alguma coisa e, então, sorrio para ela que parece
ter concordado comigo.
É uma noite normal, onde as coisas parecem bem...
Issoaté pegar o celular, entrar no Instagrame ver o feed. Meu
dedo começa a rolar na tela, deslizando sem dar tanta importância
ao que os outros estão postando.
É só um jeito de matar o tempo até acabar o comercial e voltar
o programa de culinária.
Mas então meu dedo para de deslizar e volta para cima.
Acho que congelo ao ver a foto de Ian.E não é uma simples
foto, é uma foto que mostrava ele com a mesma roupa que saiu
para a festa, todo sorridente, no escurinho do bar da balada
enquanto uma morena o enchia de papinhos.
Por que ver isso faz o meu coração ficar tão apertado e meu
estômago doer tanto como se eu tivesse levado um soco?
Caramba, tenho certeza de que a sensação é essa.
Um soco bem dado.
Olho a legenda da postagem, vejo que é de um perfil de
fofocas e diz o seguinte:
“Parece que Ian não se deu muito bem com a vida de pai e
namorado arranjado para Grace Doley. Visto agora pouco
curtindo uma noitada com os amigos, com direito a muito
champanhe, charutos e mulheres.
Só me pergunto se ele deixou a Grace e a bebê dormindo
antes de ir farrear.”
Há tanto deboche e veneno destilado na legenda que eu quase
vomito.
Odeio a forma como os tabloides envolvem a minha filha nas
manchetes sensacionalistas, eu já pedi para Ian dar um basta
naquilo, mas parece que o processo que ele moveu contra uma
dessas blogueiras imundas não adiantou muita coisa.
O único medo deles precisa ser o de não ter fofoca o suficiente
para fazer. E Ian está dando um banquete a eles nessa noite.
Eu nem sequer me atentei a isso, porque como disse, tudo
bem em ir se divertir.
Mas agora isso me irrita, porque fui muito boazinha, as coisas
com esses tabloides já não estão bem e ele vai lá e dá mais o que
falarem.
Sinceramente, como ele pôde ser tão ingênuo?!
Nem eu mesma sei o que fazer diante disso, mas sei que algo
tem que ser feito.
Certamente, ler os comentários não é uma solução, mas estou
tão intrigada que nem sequer tenho a chance de pensar melhor, ou
respirar.
“Coitada! De resguardo e já sendo traída.”
“Gente, está claro que esse relacionamento é arranjado!
Não sinto empatia por nenhum dos dois nessa situação!”
“Esse Ian é um idiota! Não sei como qualquer mulher o
suporta!”
“Achei que o pai dele estivesse à beira da morte e tudo o
que ele faz é curtir? Que sinistro.”
“Me admiro que ela tenha acabado com esse aí e não com
o gostoso do Domenico. Meu Deus, será que a vaga de
assistente tá aberta? Hahaha.”
Eu disse que era pior.
Primeiro; todo mundo pensa que estamos em uma relação
amorosa, o que é uma informação equivocada. Ninguém sabe a
verdade e não temos nenhuma vontade de contar. Segundo; é claro
que isso soa desrespeitoso com a situação do pai dele, mas Ian
está em um aniversário e a matéria está distorcendo isso, o
tornando um vilão. Terceiro; quase ninguém sabe que sou afilhada
de Domenico, então por muito tempo há essas especulações
nojentas ao meu respeito.
Ninguém fala de forma direta, mas é perceptível, lógico.
Mesmo assim, é tudo culpa de Ian.
Eu não esperava que aquela festa fosse algo mais formal,
discreto.
Mas esperava que elefosse.
Caramba!
O que custa cooperar?
Não é para sustentar tudo o que falam por aí sobre nós dois,
mas como um sinal de respeito.
E isso me irrita!
Olho para o relógio e percebo que vai dar onze horas. Isabel
não costuma dormir tão tarde, nem eu, mas nenhuma de nós duas
parece se importar com isso, até agora.
Largo o celular no sofá e me levanto.
— Está na hora de nanar, Isa— aviso como se ela pudesse
compreender algo.
E bem, acredito que pode sim.
É a nossa conexão.
Eu a pego e então a levo para o seu quartinho. Chegando no
cômodo, me sento com ela na cadeira de balanço, a ajusto em meu
colo e então balanço até ela dormir.
Isabel já havia mamado há poucos minutos, já estava de
barriga cheia, então não iria forçar aquilo só para ela pegar no sono
mais rápido.
Isso dura uns quinze minutos, até que ela pegue no sono
completo, onde sei que ficaria bem acomodada no berço e fico
olhando para ela.
É incrível como ela consegue me confortar.
Posso estar zangada com o pai dela, mas Isabelconsegue me
trazer uns momentos de glória e de paz.
Só que quando saio do seu quarto e me vejo no corredor,
respirando fundo, então, volto à realidade.
E não gosto nem um pouco da forma que me sinto.
— Ok, Grace, você não vai pirar com isso — aconselho a mim
mesma. — Você agora vai para a cozinha, preparar um bom
overnighte depois irá dormir — digo meu plano em voz alta
enquanto vou para a cozinha.
Ao chegar na cozinha começo a pegar os ingredientes que vou
precisar. Aveia, leite, iogurte, chia, morango e mel. Talvez, pegue
granola também.
Pego um potinho de vidro e começo a preparar as camadas,
de acordo com o que aprendi com a minha nutricionista.
Estou trabalhando em uma alimentação saudável, que me fará
manter o peso, me garantindo uma boa produção de leite.
Fico concentrada no preparo, repassando tudo na minha
cabeça, para tirar de foco Iane a bola fora que ele deu nessa noite.
No entanto, não adianta muita coisa.
Subitamente paro o que estou fazendo quando ouço a porta
sendo destrancada. Olho exasperada em direção à porta, com o
coração batendo superforte.
Ian entra.
Droga, tão cedo!
Estou aqui, só de pijama, ainda zangada com ele e, de
repente, ele aparece…
Às onze?
Está cedo demais.
— Assustei você? — ele pergunta fechando a porta atrás de si.
— Parece até que viu um fantasma.
Pisco atordoada, tentando voltar ao normal, mas sem ignorar a
minha incredulidade.
— Não, mas é assustador vê-lo chegar tão cedo — admito.
Ian dá uma risadinha.
— Pois é. As coisas mudam. Eu também não achava que no
meio de uma festa ia me sentir cansado e desejar tanto o sofá onde
durmo. Nossa, será que é a idade? — ele pergunta bastante
confuso.
Dou de ombros.
Volto para o meu overnight, ou pelo menos tentar terminar o
processo. Tento não acompanhar seus movimentos pelo rabo do
olho, mas é impossível.
Vejo quando ele se aproxima da bancada, ainda do outro lado
da cozinha.
— E a Isabel? Dormindo?
— Faz só alguns minutos que ela dormiu — aviso.
— E a Vanessa? Fizeram os doces? Confesso que cheguei
cedo porque por alguma razão, quis participar desse momento.
Isso é estranho...
Ian trocando festa por noite de doces com as meninas?
Ele nem gosta de doce.
Sempre recusa comer algo do tipo quando tem aqui em casa.
— Vanessa não veio. Na verdade, não quis importuná-la —
revelo ainda concentrada no meu overnight.
Droga, o que vem agora, a granola ou o mel?
Bem, acho que a ordem dos fatores não altera o resultado.
— Ficou sozinha então? — pergunta e alguma coisa em sua
voz revela algo como uma surpresa exacerbada.
— Sozinha, não, a Isabelestava aqui comigo. Ficamos à noite
toda assistindo TV.
Deixo granola cair para fora do pote quando subitamente, em
passos firmes, Ian contorna a bancada e passa para dentro da
cozinha, chegando perto demais, se aprumando ao meu lado
esquerdo, me deixando quase sem saída entre ele e o armário
inferior que forma um L.
Fico paralisada quando sinto sua presença perto demais.
Bem, ele não é de fazer isso, só quando estou com Isabel no
colo e, honestamente, já é bem complicado.
Sinto cheiro de charuto cubano e uísque.
Pensei que estivessem tomando champanhe.
Mas, um homem como Ian,aposto que optaria por algo mais
rústico e sofisticado.
— Por que não me ligou?
Olho para ele, com as sobrancelhas arqueadas.
— Por que eu deveria? — rebato mantendo o olhar.
Ian por um instante parece impaciente.
— Não quero que ninguém pense que sou um pai ruim, ou um
companheiro ruim, que te deixa sozinha, enquanto sai para curtir,
sendo que você não está.
Uau!
Sério isso?
É tão conveniente e irônico que não me aguento e começo a
rir.
Ian me olha, confuso.
— O quê?
Preciso segurar a barriga que começa a doer.
Droga, qual foi a última vez que ri tanto assim?
Nem sou capaz de lembrar.
— Ah, Ian! Falando desse jeito você soa até ingênuo. Mas
você estava em uma boate, quais eram as chances de você não ser
reconhecido e acabar parando nos perfis de fofoca?
É como ter puxado a cordinha da lâmpada dentro dele, pois
seus olhos se iluminam, como se finalmente tivesse entendido a
graça naquilo tudo e como havia soado patético.
— E aconteceu? — pergunta fechando os olhos, já sentindo a
resposta óbvia.
— Sim, e, para piorar, as pessoas estão pensando exatamente
o que você tanto temia — pontuo.
Por um instante, penso que Iannão conseguiria mais respirar.
Então, tento confortá-lo.
— Olha, esquece isso. Dei carta branca para você ir. Na
verdade, você nem precisa disso, porque não temos nada. Não é
como se eu tivesse colocado uma coleira em você.
Eu nem percebo que estou nervosa, principalmente, quando
começo a cortar os morangos de qualquer jeito e a faquinha escapa
o tempo todo da minha mão.
Penso que Ian talvez não note isso.
Mas aí ele me faz parar quando coloca a sua mão grande
sobre a minha e olho para ele.
— Eu juro que se você estiver pronta para isso, Grace, eu
também estarei — diz baixinho, como se as paredes pudessem nos
ouvir.
Seus olhos de um tom quase verde estão tão concentrados e
mim, que me ajuda a ficar mais desestabilizada ainda.
— Pronta para o quê? — pergunto confusa.
— Para um relacionamento.
Não posso evitar o queixo caindo, pois fico perplexa com suas
palavras
— N-nós? Em um… Relacionamento?
— Sim.
— V-você e eu?
Ian desvia o olhar e parece estar pensativo.
— Bom, não sou muito adepto ao poliamor — diz de um jeito
arrogante.
Será que ele está falando sério?
Eu mal consigo respirar direito, mas fico a pensar nisso, por
algum motivo.
Puxo a minha mão e, então, volto a cortar os morangos.
— Como você quer tentar um relacionamento, se não
consegue ficar longe de um rabo de saia qualquer por aí? — indago.
Sinto que ele fica tenso ao meu lado e continuo como se
estivesse totalmente alheia a sua presença.
Mas a verdade é que não estou.
Com a sua proximidade, os ombros largos de Ianparecem um
muro perto de mim. Seu cheiro, a sua voz, sua presença…
Tudo me deixa embriagada.
— Como assim? — questiona, todo perdido.
— É só entrar no Instagrame a sua foto com uma morena se
esfregando em você tá lá pra todo mundo ver! — exaspero. — Já
não basta toda essa conversa de relacionamento arranjado que
estão falando sobre nós, ainda quer que falem que sou corna? Ah,
por favor, Ian!
Estou furiosa.
É certo que já estivesse zangada com tudo o que vem
acontecendo, mas essa história de relacionamento só cooperou
para que nada disso me agradasse.
Estou tão irritada que nem percebo quando Ian sai do meu
campo de visão.
Posso jurar que ele foi embora, mas ainda posso sentir a sua
presença.
“E agora, mais forte do que nunca.”
Meu corpo se enrijece quando o sinto parado atrás de mim e,
então, quando seus braços envolvem a minha cintura em um
abraço, onde ele se inclina e apoia seu queixo em meu ombro.
— Sabe o que eu acho, Grace? — sussurra, fazendo os pelos
do meu corpo se arrepiarem.
Imploro para que ele não tenha percebido essa minha reação.
— Acho que você está se importando demais.
Eu sei que isso é estranho. Não errado, mas incomum, de
qualquer forma. Ainda assim, relaxo os braços, não o afasto, muito
menos o impeço de continuar fazendo isso.
Porque está bom.
Alguma coisa dentro de mim, relaxa quando Ian me abraça
desse jeito, mas também faz meu peito se agitar e o epicentro das
minhas pernas esquentarem.
É preciso me segurar para não deixar transparecer nenhuma
reação excitante. Respiro fundo para não ficar evidente na minha
voz quando pergunto:
— Você não se importa? Porque uns minutos atrás, parecia
que sim.
— Não dessa forma. Continue o que está fazendo.
— O quê?
— Continue cortando os morangos — ordena.
Fico confusa, mas não questiono. Do mesmo jeito, volto a
cortar os morangos, no entanto, de forma mais lenta.
Sinto o toque inesperadamente suave e quente dos seus
lábios na curva do meu ombro, me fazendo gelar.
— Somos os pais da Isabel,nada mais além disso importa —
explica.
— Eu me importaria de estar em um relacionamento onde a
função de pais é a única coisa que os une — declaro.
— Bem, considerando que não sou a sua pessoa favorita, isso
não seria um problema, não é?
— Então, por que diabos teríamos de estar em um
relacionamento? — Largo tudo mais uma vez, espalmando as mãos
na bancada do armário.
Sinto os braços de Ianse apertando envolta de mim, mais uma
vez, e, então, suas mãos começam a gracejar meus flancos,
fazendo o tecido fino da minha camisola ficar roçando contra a
minha pele, causando uma sensação que se instala na minha
boceta.
“Uau!
Pensamentos quentes...
Quentíssimos!”
— Porque aí me comportaria como um esposo comportado —
diz com a voz rouca, que reverbera por toda a minha espinha, me
fazendo cambalear.
Se não fosse por ele estar me segurando, teria caído.
Mas, ainda assim, com Ianatrás de mim, acabo deitada contra
o seu peito, sentindo seu peitoral contra a minha costa.
— Esposo, Ian?Já está pensando em algo mais avançado? —
provoco.
— Não vejo o porquê de ser apenas o namorado.
— Bem, é o mais lógico. Não acha? E como seria ser um
esposo comportado? — Fico curiosa.
— Há muitos jeitos... Posso mostrar. — Suas mãos brincam
mais um pouco com o meu corpo, indo pra cima e baixo, até seus
dedos começarem a colocar mais pressão, de uma forma tão
depravada que preciso me segurar na beira da bancada. — Ou,
então, posso falar. O que prefere?
Fecho os olhos e respiro fundo.
Sua voz está profunda e rouca, o cheiro que ele emana da
festa me deixa excitada, assim como suas palavras e o seu toque.
Iansabe o que está fazendo e o poder que exerce sobre mim,
nesse momento.
E eu, apesar da irritação e de nunca ceder ao seu charme
facilmente, não escondo mais que fui fisgada de algum jeito.
— Às vezes, ações falam mais que palavras — disparo e Ian
quase grunhe em aprovação.
Era a resposta que ele queria, mas isso já estava evidente.
— Eu posso fazer os dois, Grace... Tanto mostrar quanto falar.
E se você quer saber, acho que você quer muito que eu mostre,
mas que fale também.
— Você acha que sabe de muita coisa... — comento o
provocando, entrando na sua onda igual da primeira vez, quando
transamos no cruzeiro.
— Conheço esse corpo, Grace. Podemos ter ficado uma única
vez e ter sido há bastante tempo, mas você não consegue disfarçar
a porra da excitação que está sentindo agora mesmo — murmura
no meu ouvido.
Cada palavra que ele diz, a minha boceta se contrai toda eu já
posso senti-la encharcada.
— E sabe o que mais? Você não quer que eu pare. Está
gostando e quer mais.
O que posso falar, se ele está certo?
Um mês...
Um mês e duas semanas desde que ele está literalmente
morando no meu apartamento, e dizer que durante esse período
não senti nada em relação a ele, seria pura mentira.
Eu quero o Ian.
E, por isso, não o paro quando a sua mão desliza mais para
baixo, até encontrar o ponto úmido entre as minhas pernas,
acariciando a minha boceta por cima do tecido suave.
— Ah... — Solto um gemido, segurando forte na beira da
bancada.
Sinto seu hálito quente contra a minha orelha.
Ian também está adorando isso.
— Sim, você quer mais... — ele continua. — E é assim que me
comportarei como um bom esposo, Grace. Porque um bom esposo,
se preocupa com o bem-estar da sua parceira, principalmente, com
o prazer que ela sente.
Ele começa a brincar com o meu clítoris, esfregando o tecido
contra a minha parte sensível, me tirando do eixo, fazendo o meu
coração bater mais forte.
Conforme ele fala, aumenta o ritmo e já estou completamente
entregue, me segurando nele, apoiando a cabeça contra si,
gemendo baixinho para não acordar a nossa filha.
— Eu não deixaria você, Grace. Iriapara todo canto com você,
porque não suportaria a ideia que você estaria precisando de mim,
assim como estive precisando de você todos esses malditos meses
em que quis estar dentro de você de novo. E, agora, nessas últimas
semanas, com você desfilando pelo apartamento com essas
camisolas de seda... — Puxa o ar pela boca e pressiona seus dedos
mais ainda contra o meu sexo. — Porra, estava prestes a ficar
louco! E aqui estamos nós.
— Ian… — Agarro o seu braço, me segurando firme nele.
— Vamos, Grace. Diga que é isso o que você quer.
— Um relacionamento com você? — pergunto com dificuldade,
sentindo a proposta crescer dentro de mim, junto com a excitação.
— Sim. Não precisamos estar apaixonados, mas, se somos
um casal, vamos começar a nos comportar como um.
Viro o rosto mais um pouco para ele, até alcançar seus olhos e
então sinto que ele afunda sua mão para dentro da minha calcinha,
onde seus dedos deslizam pela minha fenda encharcada.
Ian deixa o ar escapar pela sua boca.
— Prometo que não vai se arrepender, Grace — garante com
firmeza.
— Então me mostre o que você faria como meu esposo de
mentirinha.
Isso é um convite, além de uma proposta, e Ian aceita.
Ele une a sua boca à minha, tomando o meu fôlego, fazendo o
meu coração disparar.
Sentir a maciez dos seus lábios me faz ver estrelas e me sentir
nas nuvens, ao mesmo tempo.
Mas os seus dedos me masturbando, certamente, me deixa
com os pés no chão, envolta do fogo irradiando de mim.
Quando a sua língua desliza para dentro da minha, solto um
gemido. Elas começam a se envolverem em um ritmo afoito de puro
desejo.
Sinto como se precisássemos disso, mais do que o oxigênio e
estou ficando tonta.
Não quero acabar nunca.
A sua boca sai da minha e cola junto a minha orelha para
murmurar com a voz rouca:
— Não vou dar tudo o que você merece essa noite, Grace.
Mas posso mostrar um pouco do que posso fazer.
Sinto a minha pele arrepiar.
— E como sabe o que mereço? — pergunto com a voz quase
sem força.
Nesse instante, seu dedo desliza para dentro de mim e fico
com as pernas bambas.
Caramba, ele sabe realmente o que está fazendo enquanto me
fode com o dedo e roça a palma de sua mão contra o meu clítoris.
— O seu corpo está dizendo, linda. É issoo que você quer —
responde. — Além do mais, sinto você vibrar toda vez que estou por
perto, é como se não pudesse conter algumas… Sensações.
— Muito observador — comento e ele dá uma risadinha.
— Sim, gosto de observar você, Grace. Demais.
Estremeço.
Iané um cara com a típica aparência de playboy. Mas nesse
momento, ele é um homem, o macho alfa.
Um completo dominante.
E é isso o que ele está fazendo comigo.
Toda a minha noção de feminismo vai para o espaço quando
ele me pressiona com rigidez contra o armário, agarra o meu cabelo
e inclina para trás o meu quadril.
Quase choramingo quando Iantira a sua mão de mim. Porém,
logo depois ele aperta a minha bunda, apalpando, gemendo no meu
ouvido como um maldito louco por sexo.
E isso me deixa excitada pra caramba.
— Gosto de ver você andando e checar esse bumbum
rebolando. Gosto de ver suas pernas de fora, ou seus seios
gostosos, que ainda vou mamar neles.
Conforme ele descreve, posso sentir meu clítoris inchar e
implorar por seu toque.
— Eu tenho tido muitos sonhos eróticos com você, linda. E um
deles irei realizar agora mesmo.
Sinto a minha calcinha ser empurrada de lado e, então, por
trás, seus dois dedos deslizam para dentro de mim. E, nessa
posição, eu o sinto e o aperto.
Ian parece gostar
.
— Safada. A próxima vez que você fizer isso, será com o meu
pau dentro de você — avisa.
Vou perguntar o motivo desse dia não ser hoje, agora, mas ele
começa a me foder com os seus dedos.
E está tão gostoso que é o suficiente.
Inclinomais o meu quadril, me curvo mais para a frente, quase
me deitando sobre o armário. Mas Ianme mantém ali, com o seu
rosto colado ao meu, conforme me masturba com força.
— Oh, meu Deus! — exclamo.
— Aah, tão quentinha e macia, Grace — ele geme, como se
me dar prazer estivesse o deixando tão excitado quanto eu. — Mal
vejo a hora de ser o meu pau afundando aqui. Meu Deus, quando
isso acontecer, vou te comer com tanta força e vontade!
— Faça isso agora, Ian — imploro.
— Não. Ainda não.
Solto um grunhido de frustração. No entanto, ao mesmo
tempo, me vejo agitada.
Faz tanto tempo, mas ainda posso reconhecer a chegada de
um orgasmo, a formação de um, espiralando e espiralando em meu
ventre, dobrando os dedos dos meus pés e, então, explodindo como
milhões de átomos.
— OH, MEU DEUS! OH, MEU DEUS! — grito e Ian tapa a
minha boca, enquanto seus dedos ainda pressionam contra mim. —
Caramba! — digo abafado.
— Shhhh.
Meu coração está a mil por hora e meu corpo fervilha inteiro. A
minha respiração não é mais a mesma, mas também preciso
esperar um tempo até ela voltar ao normal.
Sinto que minhas pernas estão anestesiadas, mas Ian me
mantém firme e só me solta quando percebe que estou mais
recuperada. Ainda assim, não é o suficiente para ele sair de perto.
— Se for a minha esposa, terá que segurar esses gritos —
comenta e sorrio.
— Isso me faz pensar melhor sobre essa proposta — digo
ainda com o sorriso idiota no rosto.
Delicadamente, Ian tira uma mecha suada do meu rosto.
“Caramba, eu suei!”
— Pense com carinho. Porque depois disso, não quero menos
de nós dois — avisa e então me viro de frente para ele, surpresa em
como isso parece ser sério.
— Você parece estar bem empenhado.
Ian balança a cabeça.
— Sim, estou — admite. — Será melhor para nós dois e até
mesmo para Isabel.Não quero ter que ficar longe dela, Grace. E até
decidirmos como isso vai ficar, é bom que a gente pareça um casal
de verdade, para que o respeito público entre a nossa família seja
restaurado.
Engulo em seco porque a Grace de antes acharia isso uma
ideia idiota.
Mas Ian está certo.
Sei que isso soa antiquado, mas temos uma imagem a
preservar. Ele já tem a sua empresa de T.I.e a petrolífera da família,
mas estou ainda começando no ramo do empreendimento.
A última coisa que preciso, é de um escândalo.
Ian e eu temos nossos interesses pessoais e isso é uma
questão mútua, que não dá para ser ignorada. Entretanto, para não
ser algo totalmente superficial, Ianparece querer me oferecer sexo
gostoso em troca.
E, sinceramente, parece ser uma ótima oferta.
Respiro fundo, olho para ele, então estendo a mão e digo com
firmeza:
— Muito bem, proposta aceita.
Ele fica olhando para a minha mão, pairando no ar.
— Sério?
— Sim. E bem, acho que você assinou isso de um jeito bem
eficiente — digo olhando para os seus dedos que ainda estão
melados.
Ianolha para eles, depois para mim, sorri e então os leva até a
boca, onde saboreia meu fluido. Minhas pernas pressionam uma
contra a outra, e uma lembrança antiga me ocorre...
Da sua boca me chupando.
Ele então me puxa para perto, muito perto mesmo. Chego até
pensar que ele me beijará.
Mas não, Ian fica apenas me olhando.
— Acordo feito, Grace Doley — diz com uma voz suave e sexy.
— Quer se mudar para o meu quarto? — pergunto, cheia de
intenções, mas querendo também que ele saia de uma vez por
todas do sofá!
— Não, ainda não.
— Por quê?
— Se der tudo de mim hoje, amanhã perde a graça — diz
sério, mas começo a rir.
Eu afasto ainda rindo e volto para o meu overnight.
— Você esquece que já transamos antes, não é?
— Ah, disso não esqueço nunca — diz cheio de arrogância. —
Mas pode ter certeza de que você não viu e sentiu ainda o
suficiente, linda.
— Vou ficar duvidando — digo enquanto o olho com
desconfiança.
Ian se afasta, mantendo seu olhar ainda em mim.
— É bom. Pois posso aparecer quando você menos esperar —
diz, ou ameaça.
Gosto de pensar que é um desafio.
Estamos morando sob o mesmo teto, e agora com essa
relação mais íntima que selamos há pouco minutos, Ianserá capaz
de me surpreender cada vez mais e quando eu menos esperar.
Mordo o lábio, me sentindo travessa e muito animada com
isso.
Faz tempo que não me sinto assim e sei que é por causa dele.
Acordo com uma ereção imensa.
Issoé quase comum, mas estou excitado para caramba depois
do sonho depravado que tive com Grace.
Estou limpo, mas, às vezes, parece que ainda posso sentir o
seu gosto, o seu cheiro, ou ouvir seus gemidos ecoando na minha
cabeça.
Porra, isso é tão nostálgico!
Quando fiz a proposta a ela do relacionamento, sabia que seria
loucura, mas já vinha pensando nisso há muito tempo.
Eu não queria forçá-la a se apaixonar por mim, assim como
não pretendia ver nada sentimental demais. No entanto, do jeito que
os boatos se espalharam sobre nós, podendo assim afetar os
negócios da petrolífera e de Domenico, imaginei que fosse o melhor
por ora.
Ter masturbado Grace não estava dentro dos meus planos ao
ter aquela conversa, mas foi algo impossível de aguentar. Ela estava
só de camisola e eu tinha um pouco de uísque na cabeça. Ela
parecia chateada e só queria garantir a ela que estava tudo bem,
que havia algo que precisávamos tratar urgente.
Grace podia demonstrar nenhum interesse, mas ela não
conseguia me enganar. Estava em um momento em que ela não
seria capaz de recusar aquele simples trato e o prazer que dei a ela.
Ela queria mais e parecia disposta a ter.
O que era bom, porque também não queria parar ali.
Vou preparar o café da manhã. Geralmente, Grace acorda um
pouco depois, então assumo tudo enquanto ela descansa,
principalmente, depois da noite passada, onde tive o privilégio de
sair para curtir um pouco e ela ficou aqui.
Fiquei me sentindo horrível, a minha intenção não era deixá-la
sozinha. Se soubesse que ela não tinha intenções reais de chamar
Vanessa, teria ficado.
Ligo a máquina de fazer café enquanto isso vou dar uma
conferida na Isabel.Seu quarto está quieto e levemente iluminado
pela luz do dia que invade as laterais das cortinas. Vejo bracinhos e
perninhas se agitando, então já sei que ela está acordada.
— Bom dia, princesa do papai.
Seus olhos se arregalam curiosos e, então, ela me procura.
— Como você é boazinha. Está aí acordada, mas quietinha
para não acordar ninguém. — Eu me inclino na sua direção e dou
um cheiro no topo da sua cabeça.
Ela não gosta muito da minha barba, por isso preciso estar
tirando sempre.
Devo lembrar de fazer isso hoje, pois, ela já está grande o
suficiente para incomodar a minha menina.
— Vamos sair um pouco daqui? Pegar um pouco de ar?
E como se Isabel entendesse, ela balança os bracinhos e fica
de olhos bem atentos. Eu a tiro da manta e a pego no colo.
Houve um tempo em que não saberia exatamente o que fazer,
pois, sempre evitei pegar meus sobrinhos nos primeiros meses.
Eles eram pequenos e moles demais, tão frágeis que pareciam
que iriam se desfazer em minhas mãos.
Mas quando chegou a minha vez, foi diferente.
Grace e eu não éramos muito expert nisso, mas tivemos a
ajuda de uma enfermeira que nos auxiliou em tudo. Nos ensinou
como pegar, trocar, arrotar, dar banho.
E aprendemos de primeira.
Coloco Isabeldentro do bebê conforto e a levo para a cozinha
junto comigo. Então, a deixo sobre a mesa, de onde ela pode me
ver e eu a ver.
— Se você fosse maiorzinha, faria um suco de morango para
você, com panquecas, mel e frutas vermelhas por cima. Mas como
você ainda só tem um mês e duas semanas, irei ver se a sua mãe
armazenou algum leite — digo a ela, enquanto vou até à geladeira.
A máquina de café apita e percebo que não há leite
armazenado. Fico olhando para Isabel que está me olhando,
desconfiada.
— Não olhe assim para mim, não posso fazer nada a respeito
disso — aviso tocando no meu peitoral. — Issoaqui é só um monte
de músculo. Suspeito que a sua mãe goste.
— Do que eu gosto? — Grace surge na cozinha, me
assustando.
Ela sorri quando vê o que fez.
— De torradas — omito o que dizia. — Torradas e um bom
café puro para deixá-la bem despertada de manhã.
Mas ainda não havia pegado os pães e nem a manteiga, ou
feito qualquer coisa do tipo. Não, na verdade, fiquei paralisado,
vendo Grace toda bem-vestida, cheirosa e parecendo um pouco
apressada.
Percebo que um dos seios está ocupado pela bombinha, que
tira leite.
— Vai sair? — Quero saber.
Ela pegou Isabel enquanto respondia:
— Ah, sim. Tenho que me encontrar com alguns fornecedores
para a minha empresa. E de lá, ver o lugar que irei alugar para ser o
escritório, por ora. Vou dar de mamar para a Isa e deixar uma
mamadeira abastecida.
— Acha que uma mamadeira dá conta? — pergunto me
aproximando da bancada, onde apoio as mãos.
— Não irei demorar tanto. Na verdade, vou acabar me
atrasando — esclarece enquanto coloca Isabel para se alimentar
.
A bebê parece completamente desesperada quando começou
a mamar. A sucção que Isabelfaz chega a ser satisfatória, como se
o leite a estivesse deixando calma.
Grace sempre diz que é incrível a sensação de amamentar, e
isso é uma coisa que só de ver, já dá para perceber.
— Significa então que não vai ficar para o café? — pergunto e
ela faz uma carinha triste.
— Não. Hoje, não vou comer suas torradas.
— Tudo bem. Posso aproveitar a manhã livre para dar uma
volta com a Isabel. Acho que ainda não tivemos esse momento.
Os olhos azuis de Grace brilham.
— Isso parece ótimo, Ian!
Fico a encarando por um tempo, com um sorriso nos lábios. Ao
perceber o que faço, Grace cora, revira os olhos e então tenta
disfarçar que está sendo intimidada por mim.
— O que está fazendo?
— Lembrando de ontem. Como foi a sua noite?
Ela volta a me olhar, parecendo estar pensativa.
— Mal consegui dormir — admite.
Confesso que suas palavras me desconcerta, pois, achei que
Grace ficaria mais tranquila.
Vendo a minha confusão, ela emenda:
— Eu só ficava pensando no que aconteceu e me sentindo
solitária por causa disso.
— Essa não foi a minha intenção, Grace — explico, ainda do
meu lado da cozinha.
Devo entender que Grace está amamentando Isabel e que
esse momento é somente delas. Se eu me aproximar enquanto ela
revela essas coisas, só ficarei mais louco ainda por ela e a farei
perder seus compromissos.
— Eu seu, Ian. Eu sei... — rebate. — Mas… Droga! —
pragueja, como se tivesse medo de revelar o que aconteceu.
Mas é a Grace e ela não tem medo.
— Teve uma hora que vim atrás de você, aqui na sala, e você
estava dormindo.
Arqueio as sobrancelhas, indignado.
— Por que não me acordou?
— Não, eu não faria isso. Seria tão inconveniente! Você estava
dormindo tão sereno e, além do mais, tive receio que você
esquecesse. Que tudo o que aconteceu foi resultado do uísque, do
charuto ou da festa em que você estava — explica afoita, mas sem
me olhar.
Balanço a cabeça, assentindo enquanto entendo a situação.
Sinto como se tivesse perdido um trem para um encontro muito
importante; uma sensação de frustração me doma e preciso me
virar para que Grace não perceba isso.
Vou até o armário para pegar as coisas para o meu café da
manhã, já que ela não tomará nada.
Pareço indiferente, mas, a verdade, é que estou pensativo
sobre duas coisas; a primeira, é que compreendo a Grace, pois
também não a acordaria se a encontrasse dormindo. Mas a
segunda coisa; é que a ideia dela ter ido me procurar para sexo,
mexe com a porra da minha cabeça.
Grace estava se sentindo solitária e excitada e eu, dormia.
Não parece justo.
No entanto, algo me deixa mais intrigado ainda.
Como ela pode pensar que só falei aquelas coisas e tomei
certa atitude devido as coisas que estava fazendo antes?
Ok, talvez, o álcool tivesse me incentivado.
Mas foi um bom começo.
Fiz o que queria fazer há tempos.
Quando Grace termina de amamentar Isabel e a coloca de
volta no bebê conforto, já havia preparado o meu café da manhã e
feito o café que a Grace gosta, o colocando em um copo de isopor.
Ela está terminando de calçar o sapato, lindamente vestida em
um tubinho preto.
Simples e elegante, com os acessórios e a maquiagem sutil.
Seu cabelo está preso em um coque.
Eu me aproximo, sabendo que enquanto cheiro a café da
manhã, Grace cheira a Chanel N5º.
— Eu me lembro muito bem do que aconteceu na noite
passada, Grace. E mantenho o pensamento. E quanto a você?
Desistiu por achar que estaria arrependido, ou que havia
esquecido?
Grace pisca para mim, meio atordoada, meio envergonhada. E
ali está ela, corada mais uma vez.
— N-não — responde por fim.
— Ótimo.
Percebo que a sua respiração está agitada e que seus ombros
sobem e descem em um ritmo descompassado, como se o seu
coração estivesse prestes a sair pela boca.
Mas acontece que essa não é a primeira vez que Grace reage
à minha aproximação.
Eu me inclino lentamente até ela, para que saiba o que estou
prestes a fazer, sem avisar. Assim, caso ela não queira, pode recuar
a qualquer momento.
No entanto, Grace não recua.
Então, deslizo a mão esquerda em seu pescoço e a beijo.
Nossos lábios se unem de maneira sutil, me provando que isso
é melhor do que acordar e ter um belo café da manhã te esperando.
Sinto como se um frio estivesse percorrendo meu interior.
O que era para ser um simples beijo, se transforma em um
beijo mais profundo, quando ela vem e pede mais, puxando os
meus lábios para si, os provando como se fosse doce.
Seus braços me envolvem e me vejo percorrendo seus ombros
e seu corpo com as mãos.
Fogo começa a irradiar entre nós dois e sei que se não
pararmos agora, não iremos parar tão cedo.
Evito o encontro de línguas, pois não quero que Grace venha a
se atrasar para um momento tão importante para si. Eu me afasto,
percebendo que ela parece meio tonta após o beijo.
— Caramba, Ian!
Dou risada.
— Você acha isso engraçado? — pergunta incrédula.
— Eu só acho engraçado que esse ano esteja sendo a coisa
mais surpreendente para mim. Tudo o que não planejava, está
acontecendo.
Grace me olha de um jeito travesso.
— Bem-vindo à sua nova vida — ela murmura.
De fato, é uma nova vida e preciso me acostumar a ela.
Ela se despede de Isabel e de mim, pega o café que preparei e
então sai rumo a realização de um sonho, me deixando orgulhoso…
E Domenico também.
Não contei nada a ela, mas nessa manhã, quando peguei meu
celular, havia uma mensagem do seu padrinho para mim e ele não
parecia muito feliz.
Domenico: Eu vi a sua foto na noitada. Bem, será que
alguém aqui tá querendo perder a cabeça?
Domenico está doido em dirigir a palavra para mim, nesse tom.
No entanto, fizemos um acordo e entendo o motivo da sua ira.
Mas, se contar a ele como estou me saindo com Grace, talvez,
enfie o rabo entre as pernas e fique manso.
••••
Levo Isabel para passear
, como prometido.
Ela ainda é muito nova e Grace me mataria se a levasse em
um parque público, ou qualquer coisa do tipo. Então, vim passear
com ela no parque do bairro onde Domenico mora, pois é perfeito,
longe de toda agitação, mais privado e bastante arborizado.
Com a Isabel no carrinho, a minha única missão é empurrá-lo.
Não é à toa que decidi vestir uma roupa mais esportiva, afinal
vou suar a camisa.
Pelo menos Isabel parece gostar do passeio.
Eu não sei qual dessas mansões é a de Domenico. Posso ter
trabalhado com ele nos últimos três meses, mas não ficamos tão
próximos ao ponto de me convidar para a sua residência.
— Bom, Isa.Acho que está na hora de irmos para casa — digo
a ela, quando mudo a direção.
Quando viro, me deparo com Domenico andando na nossa
direção. Por uma razão óbvia, não fico tão assustado.
A primeira coisa que ele olha é para o carrinho e depois para
mim, ficando incrédulo pela nossa presença inesperada na sua
área.
— Onde está a Grace? — É a primeira coisa que ele pergunta.
— Cuidando dos negócios dela — digo sem hesitar.
— E o que faz aqui com a Isabel?— Ele parece indiferente,
como se eu tivesse a roubado.
— Bem, decidi levar a minha filha para passear um pouco,
respirar ar fresco.
— Era só abrir a janela do apartamento — diz querendo
bancar o espertinho.
— Ali no centro de Florença? Não mesmo! — Dou uma
risadinha, para que ele perceba que seu interrogatório não me
assusta. — A propósito, gosto da minha cabeça no lugar, se
continuar com as ameaças, posso fazer isso ficar difícil, Domenico.
Ele fica me encarando, até que se aproxima. Dá uma olhada
para a “neta”, mas não diz nada.
E nem é necessário.
Sei que Domenico se importa com a filha de Grace como se
fosse uma parte dele. Porém, ele é implacável e tão duro quanto
Jeremy, meu irmão, já foi um dia.
Não é à toa que as pessoas em Florença, e no resto da Itália,
o temem.
Domenico tem cara de poucos amigos e realmente não é fácil
de ser agradado.
Mas quando se refere a Grace e Isabel,é notável um lado seu
que poucas pessoas podem conhecer.
— Você foi visto curtindo uma noitada e a Grace sai como
chacota, porra! — ele grunhe.
— Olha a boca suja perto da minha filha — digo, o deixando
meio desconcertado, afinal de contas, Isabel nem balbucia direito
ainda.
Mas é engraçado ver o grandão ficar perdido diante da
censura.
— Todos pensam que vocês são um casal. As suas atitudes
agora afetam diretamente a ela.
— Pensei que era isso que você queria, que nos déssemos tão
bem que tornaríamos uma família linda e feliz.
Domenico pisca e vejo a raiva crescer em seu olhar.
— Não ouse encostar mais um dedo na Grace, está
entendido? Já basta a primeira irresponsabilidade que vocês
tiveram.
Por alguma razão, isso me enfurece.
Ele está mesmo pedindo para que eu fique longe da Grace?
Que piada!
— Estamos morando no mesmo apartamento, acha que pode
evitar tudo? — indago o óbvio.
— Você está morando no apartamento dela, é diferente. Em
alguns dias você já pode dar o fora, como o combinado — lembra.
— Não é como se isso fosse doer em você, não é?
Meu coração dá uma palpitação forte e seguro com força o
carrinho, para não ter que descontar na cara do desgraçado as
conclusões precipitadas que está tirando sobre meus laços agora
como pai.
— Da mesma forma que você mostra os dentes, eu também
mostro. Mas, além de latir, eu também mordo, Domenico — aviso.
— A Isabel é minha filha, o elo que une Grace e eu de alguma
forma. E não importa o que você ache disso, Grace e eu sempre
estaremos conectados pela Isabel,a nossa filha. — Sinto a minha
pele formigar.
Eu nunca havia o confrontado desse jeito.
Sempre achei que caras, como ele, precisavam desse artifício
para se manterem no poder. Jeremy sempre foi o líder de nós três e
eu sempre achei que ele havia adotado a personalidade certa para o
cargo de filho mais velho.
Mas perto de Domenico, ele ainda é bom.
Porque meu irmão é bom.
Todo mundo sabe que Domenico começou lá de baixo. Mas
alguma coisa o deixou assim, ao ponto de, às vezes, ter que
esquecer de ser o mesmo homem humilde de quando começou.
E parece que ele se dá conta disso quando seus ombros
relaxam e ele mal consegue me olhar nos olhos, desviando então a
sua atenção para Isabel.
— Elas são tudo o que eu tenho. Na mesma medida que me
preocupo, também receio as perder, mesmo sabendo que não
posso prender ninguém a mim — diz, por fim, e me sinto um idiota
por ter sentido pena dele, nesse momento.
Um lobo solitário, é isso o que Domenico é.
— Talvez, esteja na hora de você ter a sua família também —
reflito, descontraindo um pouco o clima tenso de como havíamos
começado o encontro. — Me surpreende que um homem bilionário,
quarentão e galã italiano como você não tenha conquistado
nenhuma mulher até agora.
Surpreendentemente, Domenico dá um sorrisinho.
É como se me impor como pai de Isabel,o fizesse enxergar
um lado que ele esteve duvidando todo esse tempo. E a forma mais
leve que está levando a situação agora, nada mais é do que alívio
por saber que afinal de contas, sou um homem e não um cara
playboy sem responsabilidade, que os tabloides vivem associando a
mim.
— Quando se tem tudo, você descobre que o amor e a
felicidade é a única coisa difícil de conquistar.
— Sei bem como é — admito e Domenico parece bastante
surpreso.
— Sabe?
— Não estou solteiro até agora por opção, Domenico, estou
solteiro porque quando se tem dinheiro pra caramba, tem mulher pra
caramba também. Só que nenhuma delas querem realmente o que
está no seu coração, mas, na sua conta bancária.
Ele começa rir e o acompanho.
— Não acredito que vou ter que concordar com você.
— A gente sabe como a coisa toda funciona.
Domenico me olha, como se quisesse perguntar alguma coisa.
— Vai logo, pergunta — incentivo.
— Grace nunca me contaria, mas não sei se você também.
Mesmo assim quero saber se estão tendo alguma coisa.
Como imaginei...
Balanço o carrinho para frente e para trás quando Isabel
começa a ficar impaciente pela pausa demorada do passeio.
— Sim e não — respondo e Domenico parece engolir o ar. —
Você sabe que há especulações sobre nós, então decidimos manter
uma relação em que nada possa parecer suspeito ou questionado
de maneira indecente, preservando assim a nossa imagem e os
negócios também.
— Imagino que isso entrou em vigor ainda esta manhã, porque
ainda na noite passada, a relação de vocês foi questionada de
forma bem indecente — salienta.
— Na verdade, decidimos ainda na noite passada. — E a fodi
com os meus dedos, deixando bem claro o que seria capaz de fazer
,
caso ela aceitasse.
Omito a parte de agirmos como marido e mulher, porque aquilo
era apenas a base teórica. A desculpa para fazermos o que
queríamos.
— Entendo. Bom, espero que saibam o que estão fazendo.
— É, nós também.
Domenico assente e então olha para Isabel.
— Ela é linda, parece muito com a mãe. Diga a Grace que ela
pode vir me visitar nos finais de semana. Lembrar que tem um
padrinho, sabe?
— Issovai ser mais fácil agora que ela está recuperada. Foi
até resolver negócios fora de casa — comento com um sorriso débil
no rosto.
O mesmo sorriso se reflete em Domenico.
— Grace é o meu orgulho. Acho que você vai saber o motivo
de pegar tanto no pé dela e ficar preocupado.
— Há mais para concordar do que discordar — completo.
Pelo menos nisso podemos pensar igual.
Grace...
Eu não tenho a mesma relação que ela possui com Domenico,
mas de uma coisa tenho certeza, ela é especial.
Estive em um relacionamento sério somente uma vez na vida.
Lembro de estar apaixonada, experimentar coisas novas e conhecer
todo o círculo social do meu namorado da época, tanto familiar
como as amizades. Lembro de ter ficado nervosa, com receio de
não ser aceita e, no fim, foi melhor do que poderia imaginar.
Tudo ocorreu bem…
Issoaté ter sido traída e sair como a vilã da história, porque o
idiota do meu namorado, naquela época, achou que seria
conveniente me fazer passar de bruxa na frente de todos.
Agora estou aqui, tantos anos depois, me arrumando para
conhecer os amigos de Ian,como se fôssemos de fato um casal e
ele estivesse tão empolgado em me apresentá-los.
O pior é que ele está mesmo.
Ao longo do dia, Ian só soube falar deles, o que deveria
esperar dos seus dois melhores amigos, o que não deveria
estranhar vindo deles e coisas do tipo.
— Lawrence é o mais enxerido de nós três. Ele tem um
espírito festeiro, libertino. Às vezes, é o que mais passa vergonha.
Enquanto Martina é o mais reservado. Ele é o mais velho, talvez,
seja por isso. Ama jogos, então cuidado com ele de qualquer jeito —
ele avisou ainda durante o almoço.
Confesso que fiquei animada também e não sabia dizer se era
porque finalmente iria a uma festa, sair, ou porque conheceria novas
pessoas. Sempre tive um pouco de pânico em conhecer novas
pessoas, o que é extremamente inútil para a minha carreira.
Não é à toa que fiz terapia.
Eu sabia que tinha de lidar com isso, se quisesse alcançar o
sucesso.
Dou uma última checada no meu visual antes de sair do closet.
Vestido preto brilhante, meia-calça escura e sapatos de salto alto da
Louboutin.
Meu cabelo está amarrado em um penteado simples, sem
deixá-lo muito solto e nem muito amarrado. Para finalizar passo meu
perfume.
É, parece estar tudo ok.
Quando estou saindo do meu quarto, ouço conversas vindas
da sala.
É Ian e Vanessa.
— Não iremos demorar. Eu não posso perder esse aniversário,
senão minha cabeça estará em jogo. Além do mais, devo também
uma noite dessas a Grace.
— Olha, se preocupe apenas em fazer a minha amiga se
divertir, ok? — a minha melhor amiga avisa.
Ouço Ian dar uma risadinha.
— Tenho muitos planos para ela, Vanessa.
“Que tipo de planos?!”
Sinto minha pele esquentar.
Já faz dois dias desde a noite em que Ian chegou e me
masturbou na cozinha. Hoje, por alguma razão, se ele não fizer
nada do que estou pensando, eu mesma farei, porque não aguento
mais guardar só para mim, todo esse tesão.
Confiamos a Vanessa o papel de babá, a única pessoa
possibilitada e de confiança para fazer isso.
Quando entro na sala, ela não contém a reação exasperada ao
me ver.
— Oh, meu Deus, como você está gata! Faz tempo que não te
vejo tão arrumada assim!
Maneio a cabeça de lado e dou um sorrisinho.
— Obrigada, eu acho — agradeço, pensando em como aquilo
é verdade.
Eu não me arrumava desse jeito há tempos, principalmente,
depois que Isabel nasceu.
Mas não tinha tempo nem para lavar o cabelo, quem dirá se
produzir toda!
— Está muito bonita, sim — Ian emenda, enquanto me olha de
cima para baixo. — Talvez, nem a leve mais, tenho medo de que
aqueles canalhas a comam com os olhos.
Dou um sorrisinho e sinto a minha face corar. Por alguma
razão, gosto desse Ian ciumento.
— Você se importaria? — Vanessa pergunta, bastante
incrédula.
Reviro os olhos, porque sei o que ela está fazendo.
Ela é a minha melhor amiga, por isso contei a ela o que Iane
eu estamos fazendo com esse relacionamento de mentirinha.
Ian, então, se aproxima de mim e me pega pela cintura, me
puxando para mais perto dele.
Eu quase sinto o ar indo embora quando ele me toma em seus
braços, me colando contra o seu corpo escultural e tão viril.
— É claro que sim, ela é minha e farei questão de mostrar isso
essa noite — avisa com a voz rouca.
Meu coração dá um pulo, um rodopio, e uma energia
condensada e quente desce pelo meu corpo, se instalando no
centro das minhas pernas, que quase falham agora.
Em outras circunstâncias, teria acionado meu lado feminista e
refutado suas palavras. Mas não é o que faço desta vez, porque
gosto do que ele diz.
No entanto, acrescento:
— Por favor, nada de demonstrações exageradas, abusivas.
Não é isso o que queremos, certo?
Seus dedos se apertam contra a minha cintura.
— Não mesmo. Mas não se preocupe, já tenho tudo planejado
— avisa. — Bom, então é isso. Vamos?
Concordo e então nos despedimos de Isa, que ainda está
acordada no bebê conforto, para a alegria de Vanessa, já que todas
as vezes em que aparece, a bebê sempre está dormindo e isso a
deixa frustrada.
Deixo algumas instruções para Vanessa e então partimos no
carro luxuoso de Ian,um Jaguar preto com poltronas vermelhas de
couro.
Saímos do centro da cidade e começamos a nos aproximar do
interior, um pouco mais longe de toda a agitação da cidade, já que a
festa será na fazenda desse amigo de Ian.
No meio do caminho, peço para ele abrir a capota do carro,
para curtirmos a noite e a sensação de liberdade que isso dá.
— Mas e o seu cabelo? — Ian pergunta e começo a rir
.
— Cabelo? Quem se importa com isso?! — exaspero. —
Vamos curtir o nosso vale night!
Uhu!!!
Ianacha graça e aperta um botão do painel. Em questão de
segundos, a capota do carro começa a se afastar e, então, estamos
livres
.
Ergo os braços para o alto e me delicio com o vento que nos
atinge. Fecho os olhos e curto cada segundo.
O carro zarpa pela estrada, Ianaumenta o volume do som, a
música invade o ambiente e me sinto bastante excitada, tanto que
preciso esfregar as pernas para conter a sensação.
Meu Deus, a noite mal começou!
Dou um segundo para olhar para Ianque tem um sorriso que
não se desfaz nunca. Parece estar tão animado quanto eu.
Vez ou outra, ele me olha, se animando com a minha
animação, como se ela fosse contagiante.
Eu amo ser mãe, amo a minha filha mais do que qualquer
coisa nesse mundo e tenho certeza de que Ian deve pensar a
mesma coisa.
Mas é como se eu finalmente tivesse a chance de curtir um
final de semana, e é exatamente o que estou fazendo.
Curtir sem me arrepender por não ter curtido nada o suficiente
depois. Quando voltar, estarei renovada para a minha Isabel.
Ianme explica que a fazenda de Martina, na verdade, era dos
avós dele, que agora vivem em Milão, por conta da saúde. Então,
Martina ficou responsável pela residência, onde sempre aparece
para fazer algumas comemorações, tipo o seu aniversário.
Chegamos no local e há muitos carros de luxo já do lado de
fora.
Será impossível entrar paparazzi aqui, principalmente, quando
percebo que a festa é mais intimista, com poucos convidados, deve
ter umas quarenta pessoas ali.
Fotos?
Só a de celular.
Isso é meio frustrante, pois, apesar de não mencionarmos
nada, Ian e eu pretendíamos ser vistos e lembrados nesta noite.
Não é à toa que estou vestida para causar!
Lâmpadas de jardim enfeitam a área externa e a piscina
iluminada tem bolas brancas que ajudam na decoração simples,
mas sofisticada.
Quando chegamos, Ian é cumprimentado por todos.
Ele sabe que é a estrela ali. No entanto, seu interesse maior
está nos melhores amigos, que estão perto da piscina e assim que o
avistam, dão um largo sorriso.
— Aí está o homem! — o loiro diz.
Ele é alto, moreno e de olhos verdes, parece ter saído de uma
novela latina.
— Pensei que não viria, confesso — o loiro completa.
— Por que faltaria a sua festa de aniversário? — Ian pergunta.
Logo presumo que ele é Martina, o aniversariante.
— Não sei, você saiu correndo da festa do Lawrence.
O segundo homem de cabelo escuro, sorriso charmoso e olhos
claros, talvez, cinzas, se aproxima com um ar carismático e “dono
da festa”, não importa de quem ela seja.
— Isso é porque ele está na coleira, Martina. Não sabia disso?
E desta vez trouxe a sua dona — finaliza olhando para mim. — Você
deve ser a Grace Doley. — Estica a mão para um cumprimento
formal. — Já ouvi falar muito de você.
Dou a ele um sorriso.
Apesar de fazer bastante tempo, não esqueci de como me
comportar diante de homens “para frente”, como Lawrence.
Eu não esqueci de ser a Grace boa, sarcástica e poderosa.
A maternidade não me tirou isso. Ainda bem.
— Não costumo ser dona de ninguém, apenas de negócios —
eu o corrijo e Ian não pôde evitar a risadinha de orgulho.
— Suponho que Domenico a ensinou bem — Lawrence
comenta e Martina o cutuca, não sendo nada discreto. — Aí! Qual o
problema?
Sem jeito, Martina olha para Ian e eu.
Lawrence gargalha.
— Então, você não sabe?! — pergunta com uma surpresa
exacerbada ao amigo loiro.
— O que eu deveria saber? Grace é ex-assistente de
Domenico, não é?
Contenho o suspirar e o revirar de olhos.
Sim, fui assistente de Domenico e muita gente tira conclusões
erradas ao nosso respeito. Chega a ser doentio e tenho certeza de
que Domenico deve ter ficado aliviado quando Iane eu começamos
a parecer um casal. Ou de que os fatos estejam caindo na graça
dos curiosos.
— Domenico Alfonso é meu padrinho — digo, pois, não
preciso de ninguém contando a minha vida por aí, se posso fazer
isso muito bem. — Somos como pai e filha.
Martina parece chocado.
— Puta merda! — ele pragueja. — Isso é tão… Estranho.
— Verdade — Lawrence complementa: — Porque isso faz
praticamente Domenico ser avô e significa que ele é o sogro do Ian.
Os dois então começam a rir e Ian revira os olhos.
— Minha relação não é com o Domenico, mas com a Grace —
ele enfatiza me pegando pela cintura.
— E a única coisa estranha aqui é o fato de não termos sido
servidos ainda — conclui mostrando minhas mãos vazias.
Rapidamente o aniversariante parece inconformado.
— Issocom certeza é imperdoável — ele diz e então assobia
para um dos garçons que traz as bebidas. — Por favor, sirva o meu
casal favorito do momento.
— Não! — Ianexclama e seguro a risada enquanto os amigos
dele olham assustados. — Grace não pode beber! Ela amamenta,
seus idiotas!
Então começo a rir da cara deles.
Parecem estar tão perdidos!
— Ah, entendi! Isso foi uma pegadinha, muito engraçado,
Grace. Já gostei de você — diz Martina, o fanático por jogos.
Ian me puxa mais para si e quando me dou conta, já nos
afastamos.
— Tira o olho — ordena aos amigos e, então, sussurra no meu
ouvido: — Você precisa comer, não posso tê-la fraca pelo resto da
noite.
— Por que você precisa de mim, com energia? — pergunto de
forma retórica.
— Estamos em uma festa, querida. Vamos fazê-la ser
inesquecível.
Sorrio, porque sei que ele não está blefando. Além do mais, é
IanO’Donnell me fazendo aquela promessa. O senhor das festas,
das diversões, um dos caras que mais sabe curtir a vida.
E mesmo agora, ele me mostrará como.
••••
Nunca precisei recorrer a bebidas alcoólicas para me divertir,
ou tomar sérias decisões. Sempre fui a que mais sabia aproveitar
uma festa, mesmo que dirigir estivesse sob a minha
responsabilidade e precisasse ficar apenas na água tônica. Aliás, se
não fizesse por mim, ninguém mais faria.
É por isso que consigo tirar de letra a festa de Martina, e curti-
la mesmo sem precisar de algumas taças de champanhe, o que
deixa Ian fascinado e seus amigos também.
A música está boa e descobri que os amigos de Iannão são
tão ruins assim. Na verdade, eles são legais e trabalham tanto
quanto Ian, pois os dois são os braços dele na empresa de T.I, o
que é bem legal.
Confesso que estou pensando muito em Isabel, afinal é a
primeira vez que fico tanto tempo longe dela, mas Vanessa está
sempre me atualizando sobre tudo e caso for necessário,
voltaremos às pressas.
Deve ser por isso que Ian também se absteve de álcool.
Confesso que é fofo vê-lo ciente de todas as suas
responsabilidades como pai.
Gosto desse Ian que passei a conhecer. Ele é alto astral,
responsável, charmoso, viril…
De tirar o fôlego.
Oh, céus!
Seria isso o efeito que os O’Donnell causam e tanto se fala?
Não consigo nem duvidar, afinal de contas, o único motivo pelo
qual transei com ele, naquele amanhecer, foi porque me causou
sensações nunca antes sentidas.
Por isso não consigo disfarçar a vontade de despertá-lo em
alguma coisa, mesmo que sinta já ser recíproco.
Quero que Iantenha a mesma urgência que senti naquele dia
por ele.
— Fui por muito tempo a assistente do Domenico, então sei
exatamente como aproveitar, sem fazer besteiras — conto a Ian
quando sou ovacionada depois de arrebentar na pista de dança com
uma morena latina, que chegou até mesmo a me elogiar pelo
rebolado europeu, o que foi engraçado.
Ian está rindo enquanto contornamos a enorme residência,
fugindo um pouco da agitação quando o cansaço bate e
começamos a sentir a necessidade de ir embora. Afinal de contas,
Isabel nos espera.
— É incrível. Parece até que por um momento senti uma ponta
de inveja em Lawrence e Martina — Ian diz e paro os passos,
subitamente.
— Por que você está se vangloriando disso? — pergunto
bastante incrédula.
— Porque eu tenho você — ele admite, mas logo recapitula: —
Bom, é o que eles acham. Mas, de certa forma, homens como meus
amigos e eu, no final das contas, só estamos procurando por
alguém que faça isso ter sentido, de uma forma mais saudável
possível.
— Mas… isso o quê?
Ian dá um sorrisinho
— Relacionamentos são complicados, Grace. E estamos em
um, não é? Aparentemente é o que deve aparentar. Mas isso nunca
pareceu algo promissor, para mim, pois a maioria dos
relacionamentos que eu via eram… Desastrosos.
— Acha que somos um desastre? — pergunto e ele sorri de
novo, dando uns passos na minha direção, encurtando a distância.
Meu coração acelera.
Posso negar que fico excitada toda vez que ele chega perto ou
me toca, mas aí estarei mentindo.
— Acho que somos um casal perfeito — ele brinca, mas eu
também não sei dizer se está falando sério ou não.
Só sei que meu peito se enche de uma sensação boa, algo
que muito ouvi falar, mas pouco senti.
É como se as palavras de Iantivessem me amaciado, me feito
esmorecer diante de uma cena que passei a minha vida até aqui
ignorando.
Aqui onde estamos, é razoavelmente escuro. A parte de trás
da propriedade, onde dá para as portas dos fundos. A iluminação é
precária, mas conseguimos fugir da agitação e pensar com mais
clareza.
Eu me escoro na parede, levando as mãos para trás das
costas e cruzo um tornozelo sobre o outro. Estou quase dizendo
nessa posição: “veja só, Ian, estou totalmenteà sua disposição.
Você pode me puxar pela cintura e me beijar!”
Eu quero de certa forma, que Ian encontre qualquer brecha
para algo provocador. E isso é louco, porque estou o desejando,
mas, ao mesmo tempo, reflito sobre os efeitos das suas palavras.
— Sabe, quando disse que não fazia besteira, eu menti, Ian.
Ele franze o cenho, mas logo explico:
— Eu deixei de aproveitar bons momentos da vida justamente
para não fazer besteira. Mas, naquela manhã em que transamos,
sabia que era besteira, uma das grandes, e mesmo assim fiz.
Quando deixei você me dar prazer assim que voltou do aniversário,
fiz besteira de novo, mas eu gostei. Gostei muito e eu sou muito feliz
por termos a Isabel.
Ele parece embasbacado com o que digo. Seus olhos chegam
até mesmo a brilhar diante das minhas palavras.
Por isso, respiro fundo antes de confessar:
— Estou louca para cometer outra besteira, Ian.Das grandes,
daquelas que sei que não irei me arrepender.
— Então você é uma boa garota que quer fazer coisas ruins —
salienta mais para si do que para mim.
Dou de ombros.
— Espero não ser julgada por isso. — Olho para a ponta dos
meus pés quando confesso a minha vontade: — Andei pensando
em sair mais cedo com você dessa festa. Aproveitarmos juntos
enquanto da tempo.
Quando percebo, Ian já está de frente para mim, com uma
mão apoiada na parede atrás de mim, enquanto a outra brinca com
a alcinha do meu vestido.
— Sabe, um fato legal sobre casais? Não importa o local, tudo
parece acessível quando se trata de fazer besteiras. E somos um,
não somos, Grace?
Mordo o lábio quando os dedos descem da alça do meu
vestido e descaradamente a sua mão pousa em meu seio esquerdo.
Ele aperta com vontade e quase gemo. Suspiro ciente de que me
sentiria nervosa, com o peito acelerado e a excitação iminente.
— Sim, somos — respondo com a voz carregada.
Iansorri quando percebe como estou e então se aproxima do
meu ouvido como se fosse me contar um segredo.
— Você está louca para ser comida e vem me dizer isso só
agora? — pergunta como se estivesse inconformado. — Tcs, Tcs.
Tcs. — Ele estala a língua no céu da boca e, então, a desliza em
minha orelha.
Eu me arrepio como se tivesse levado um choque, mas não
recuo.
— Achei que tinha ficado claro naquela noite que o queria —
digo buscando seus olhos, mas é para seus lábios que avanço, só
que não os toco. — Simplesmente não consigo mais evitar isso,
Ian.
Ele agarra a minha nuca, enfiando seus dedos no meu couro
cabeludo, me dominando, fazendo meu clítoris implorar por ele.
Meu Deus, como eu o quero!
— O que você quer, Grace? — pergunta deslizando o seu
polegar por meus lábios.
Eu agarro o seu dedo e o chupo com os olhos grudados nele.
Ian abre a boca e arfa em desejo, o que me leva à loucura, me
deixando bem empolgada, pois começo a chupar o seu dedo como
se fosse um pau e isso me deixa muito excitada.
— Porra! — ele pragueja. — Quero você fazendo isso no meu
pau.
Tiro seu dedo da minha boca.
— Não posso fazer isso aqui. Por isso, deveremos ir embora
agora daqui.
Ian enruga o nariz, como se a ideia o deixasse nervoso.
— Não vou esperar mais um segundo pra te foder, linda.
Ian me beija.
Seus lábios quentes e macios me provam cheios de vontade,
onde mesmo de olhos fechados sinto vontade de revirá-los.
Seu corpo vai para cima do meu com toda a sua
masculinidade e seu perfume me envolve. Quando sinto sua língua
entrando na minha boca, solto um gemido.
Um beijo molhado e tão excitante.
Ian me faz sentir desejada, bonita e gostosa, só pela forma
que beija com tanta vontade e faz suas mãos me tocarem como se
eu fosse um lugar jamais mapeado por qualquer humano.
Como ele me comerá aqui?
Droga, estou tão molhada que me deitaria com ele aqui no
chão.
Mas Ian faz algo melhor.
Ele abre uma porta logo atrás de mim, uma das portas de
fundos.
Olho para ele, surpresa, porque é uma baita conveniência. E
Ian sorri, como se tivesse descoberto a porra do El Dourado.
— Essa casa é do Martina e a conheço muito bem — ele
explica. — Já sei onde irei levá-la.
Mordo o lábio, empolgada.
— Algum lugar que não seja o quarto dos avós dele —
comento e ele ri.
— É algo bem melhor.
Ian me puxa para dentro da casa que está escura, ou pelo
menos esse lado, como um lembrete de que Martina não quer
nenhum convidado ali.
Mas cá estamos nós.
Confesso que conforme Ianme guia, meu coração bate forte e
a ansiedade em ser domada por ele só cresce. No entanto, é
inevitável não pensar nas mulheres que ele já trouxe aqui.
Quer dizer, em algum momento isso deve ter acontecido.
Descemos uma escada que nos leva até uma porta que
quando aberta se revela uma adega antiga e me pergunto se ele e
seus amigos comem outras mulheres aqui. No entanto, ao julgar
pelo comportamento animado de Ian, talvez essa seja a sua
primeira vez.
O ambiente é um pouco frio e úmido. A iluminação é precária,
mas tem algumas luzes amarelas fazendo o seu papel.
É uma adega antiga, mas com o seu charme.
Há barris e mais barris de vinho.
— A família de Martina tem uma vinícola — Ian afirma.
— Ah, agora tudo faz sentido — digo enquanto passo
lentamente, tocando os barris. — E onde você vai me comer,
exatamente?
Ian olhou em volta.
— Da última vez, você estava em cima de uma mesa —
analisa. — Parece que não somos muito fãs do tradicional.
Eu o vejo andando até uma mesa, onde sobre uma cadeira
tem o que parece ser uma blusa velha. Iana pega e a arruma no
chão, perto de um armário de madeira cheio de prateleiras, mas
com enormes gavetas embaixo.
— Vamos continuar mantendo então o nosso estilo — diz se
aproximando, já desabotoando a camisa social. — Mas se não
estiver a fim e preferir o quarto dos avós de Martina, subiremos
agora mesmo.
Ele só pode estar louco!
Jogo os braços ao redor de Iane começo a beijá-lo. Estamos
afoitos, pois agora estamos a sós e iremos foder.
Nosso beijo tem lábios, línguas e dentes.
Ajudo Iana tirar a roupa, estamos muito apressados, como se
dependêssemos disso para respirar.
Quase babo quando o vejo sem blusa.
Seus gominhos são magníficos!
— Tira o seu vestido — ele ordena e não hesito.
Tiro o vestido, ficando apenas de sutiã, calcinha e meia-calça.
Nem tiro o sapato, pois acho que Ian irá gostar disso.
— Porra, você é linda demais! Parece até uma deusa! — ele
exclama com uma fascinação tão exacerbada que parece
indignação. — Encoste-se aí. — Dá outra ordem e obedeço.
Ian quer que me apoie na beira do barril que está virado e
faço.
— Abra as pernas — ele ordena e abro. — Você quer fazer
coisas ruins mesmo, Grace?
Respiro fundo.
— Sei que com você nada será ruim, mas muito excitante —
respondo.
Iansorri, satisfeito, então ele se abaixa e sem que me dê conta
do que ele está fazendo, rasga o fundo da minha meia-calça.
Uma meia-calça da Versace!
Mas tudo bem, tenho outra dessa.
Além de que agora ela parece muito melhor. Tenho certeza de
que Ianpensa o mesmo, pois seu olhar é glorioso, ou, talvez, ele só
esteja fascinado demais com o quão perto está da minha boceta.
Eu o vejo salivar.
— Já faz um ano desde a última vez em que a provei —
comenta.
— E faz um ano desde a última vez em que alguém… Em que
você colocou a boca aí — comento.
Ianentão se agacha diante de mim, enfia a mão por dentro da
minha meia-calça e arranca um dos lados da minha calcinha. Solto
um gritinho e começo a rir. Ele faz o mesmo do outro lado, e, então,
a puxa, jogando para longe.
— Da próxima vez que usar uma dessas, espero que não
esteja de calcinha — avisa.
— Entendido — informo, abrindo minhas pernas mais ainda
enquanto Ian se acomoda no meio delas. — Isso é tão nostálgico.
Sinto a língua áspera e quente de Ian passando na minha
fenda, meu corpo todo fica rígido e engulo um gemido.
— Isso aqui também é nostálgico? — ele pergunta antes de
passar a língua outra vez.
— Si-sim.
Sinto a língua dele brincando no meu grelinho. Meu corpo
estremece e jogo a cabeça para trás. Começo a gemer baixinho.
Está tão bom, quando subitamente Ian para.
— Não tenha medo de gritar aqui embaixo, Grace. — Ele me
olha. — Ninguém vai ouvir você.
Se Ian fosse um estranho, essa informação poderia me dar
medo.
Mas é o Ian.
Quando ele volta a me chupar, apenas me solto.
Solto gemidos exatamente como ele espera que eu faça e
como quero fazer. Porque está gostoso e quero expressar isso bem
alto.
Tiro o sutiã e começo a acariciar meus seios enquanto Ianme
lambe. Os bicos dos meus seios estão rígidos, mas já posso sentir o
leite endurecer, mesmo depois de ter tirado antes de sair.
Eles pesam toneladas, mas eu não ligo.
Esfrego meu quadril na direção de Ianenquanto agarro o seu
cabelo, quero praticamente torná-lo uma parte minha.
A barba dele que já cresce de novo arranha o meu clitóris, o
que me dá mais tesão ainda.
— Boceta deliciosa você tem, loirinha
— ele diz contra mim.
Eu sorrio porque ele gosta de me chamar assim.
— Mas aposto que é melhor ainda quando fodida — ele
complementa ao se levantar.
Me ergo, sabendo que finalmente irei me sentar nele.
Vejo quando Iantira a calça com a cueca e o seu pau grande
pula para fora, com a cabeça rosada e brilhante, de dar água na
boca.
Eu o acompanho se virar de costas para mim, nu…
E então congelo quando vejo.
As costas dele…
— Ian…— chamo baixinho e ele para, como se soubesse o
que está acontecendo
Iantem cicatrizes nas costas. E não é qualquer cicatriz, como
se ele tivesse sido mutilado. São cicatrizes de queimadura, que
percorrem as suas costas, tornando a sua pele meio retorcida.
— O que… O que… — Mal consigo terminar a pergunta.
Ele me olha sobre o ombro.
— Achei que já tinha visto. — É o que ele diz.
— N-não, e-eu…
Soltando um suspiro, Ian se aproxima e pega minhas mãos.
— Olha, tudo bem. Já faz muito tempo e é uma longa história
que posso contar depois. Não vamos estragar este momento.
Começo a balançar a cabeça, me sentindo ficar com o
pensamento longe.
— Tá. — respondo automaticamente.
E com muita dor, vejo algo no olhar de Ian que me quebra.
Algo quase como frustração. E só tenho certeza disso quando ele
diz firmemente:
— Se quiser desistir por aqui, tudo bem, vou entender.
Infelizmente,sabia o que ele estava fazendo, porque conhecia
aquela dor. De ser rejeitado pelo que você é.
Assim como homens já fugiram de mim, por saber de quem
era afilhada, Iansofria a rejeição por causa da marca que tinha nas
costas.
Meu coração se parte.
E quando ele pensa que não quero mais nada e faz menção e
ir embora. Eu faço algo inesperado para a situação. Eu me agacho
na frente dele, seguro a parte externa das suas coxas e coloco o
seu pau na minha boca sem hesitar.
Olho para ele e o vejo bastante surpreso, tanto que parece que
a emoção o atinge.
Mas é uma mistura de emoção com prazer.
Porque ele sabe que não ligo para as marcas que tem e
porque estou o chupando desesperadamente, o enfiando na minha
boca como se fosse um picolé, o provando até o fundo.
Fico chupando até deixar o seu pau bem molhado, enquanto
sinto a minha boceta encharcada, tanto que não aguento e começo
a me tocar.
— Não faça isso — ele pede com a voz arrastada. — Porra!
Isso tá bom pra cacete!
— Poderia me chamar de louca se eu desistisse — digo e
então me levanto. — Porque eu quero que você me coma, Ian.E eu
não vou sair daqui sem que isso tenha acontecido.
Seus olhos ficam vítreos.
De repente, Ian é domado pela lascividade e me guia até o
armário, me colocando de costas para ele.
— Eu amo a sua determinação, Grace — ele diz enquanto
ergue uma perna minha e a segura.
Quase me desfaço quando sinto a cabeça do seu pau roçando
em mim.
— Principalmente quando quer ser fodida. — complementa,
deslizando seu pau para dentro de mim.
Reviro os olhos, sentindo o coração acelerado e o meu corpo
em êxtase.
Porra!
Eu já tinha até esquecido o quanto isso é bom…
Ser penetrada.
Principalmente, pelo pau de Ian que é majestoso, uma delícia.
— Eu nunca poderia imaginar que você ama uma trepada
selvagem, loirinha — ele continua falando, se mantendo imóvel.
Seus dedos agarram o meu rosto e então Ian começa a se
movimentar lentamente dentro de mim.
— AAAAH! — grito, porque ele está me fodendo gostoso e
porque é um pouco dolorido o primeiro sexo após dar à luz.
— Tudo bem aí? — ele pergunta quando se dá conta desse
detalhe.
Sorrio tentando ignorar a ardência.
— Se você não fizer nada deste armário cair, então não estará
tudo bem — declaro e Ian sorri.
— Loirinha fogosa — comenta e então começa a fazer o certo.
Ianjá havia tido o devido cuidado, agora era só uma questão
de ser para valer.
E é isso o que ele faz quando começa a me penetrar com mais
força, enfiando o seu pau até o fundo, todos os deliciosos
centímetros.
Eu me agarro em seus ombros para me manter de pé.
O som dos nossos gemidos, do ato profano e do armário
sendo socado contra a parede ecoam pela adega.
Nossas peles já suam, mesmo que aqui deva estar uns
dezesseis graus.
— Preciso sentir a sensação que é me sentar em você.
Ian sorri.
— Você leu meus pensamentos — ele diz saindo de dentro de
mim.
Ian se senta sobre a blusa alheia e encosta as costas
cicatrizadas na gaveta lisa do armário.
Para as poucas opções que temos, essa foi inteligente.
Eu me acomodo em seu colo e logo me aprumo. Afinal de
contas, estou de salto e isso será um bom aliado.
— Agora você vai entender o porquê mulheres amam salto —
digo a ele.
Iansegura a minha cintura e me conduz conforme o mergulho
para dentro de mim, lentamente, sentindo e me deliciando com cada
centímetro.
Eu suspiro com gosto e ele urra entredentes, como se
estivesse sentindo dor.
Uma dor prazerosa.
— Essa bocetinha esmaga o meu pau, sabia? E eu adoro isso,
Grace. Faz de novo.
Então eu subo, desço de novo, contraindo, apertando o pau de
Ian.
Estabeleço esse ritmo por um tempo até que a necessidade
vai aumentando.
Meus seios estão pulando, a minha boceta está inchada e
animada com Ian aqui, embaixo de mim.
Nem acredito que moramos no mesmo apartamento, o que
significa que vamos repetir isso mais vezes.
Todas as outras coisas que desejei fazer com Ian,finalmente
elas estarão mais perto de acontecer.
A ansiedade desse desejo misturado com todos os prazeres
que estou sentindo, começa então a culminar.
Sei o que está prestes a acontecer.
— Ian… Eu vou gozar. — aviso.
Apesar dele não dizer nada, sei que está próximo,
principalmente quando aperta os olhos e a cor da sua pele vai
mudando para vermelho.
Começamos a gemer alto, afinal ninguém pode nos ouvir.
— CARALHO! — Ian grita ferozmente.
Em questão de segundos estou deitada em seu peito, tentando
equilibrar a respiração. E tudo o que consigo pensar é que quero
mais.
Contudo, como dizer isso sem parecer desesperada?
Olho para Ian que está suado. Eu também estou, mas sorrimos
debilmente. Ele começa a ajeitar o meu cabelo e então tomo uma
decisão:
— Dorme comigo, na minha cama.
Ele parece surpreso.
— Grace, você não precisa…
— Issonão foi um pedido, foi uma ordem — firmo. — Durma
comigo, a partir de hoje. Ou então irei dormir no sofá com você.
Ele começa a sorrir e solta um suspiro, parecendo aliviado.
— Tudo bem, vamos começar a dormir juntos — ele diz.
Se isso não é um acordo real de paz, que finalmente teremos
uma boa relação, eu já não sei mais o que é.
Acordo na cama de Grace.
Tive uma noite muito tranquila de sono, no entanto, ao acordar
e me deparar com ela envolvida nos lençóis, dormindo
serenamente, me vi pensando.
Mas é muito confortável estar aqui, devo admitir.
O cantinho dela é aconchegante e se parece muito com ela.
Decoração sutil, moderna e bem feminina, nada muito exagerado.
Acordar com Grace ao lado parece o sonho de qualquer
homem.
Mas não é qualquer homem que pode desfrutar deste sonho.
Apenas eu.
Mas ela não é minha.
Não oficialmente e isso me faz colocar as pernas para fora da
cama, sentindo a manhã raiar do lado de fora, com os raios solares
querendo invadir através das persianas.
Santo Deus, Grace dorme como uma pedra.
O que é fora do padrão desde que se tornou mãe.
Mas deve ser porque Vanessa acabou dormindo no quarto de
hóspedes e, consequentemente, pedindo para ficar ali.
Durante a madrugada, Isabel foi boazinha e dormiu bastante
também.
Todos descansamos.
Por isso, Grace não hesitou, mas tivemos que não fazer
barulho quando transamos durante o nosso banho.
Porra, aquilo foi maravilhoso!
O sexo com Grace é bom pra cacete.
E eu tinha me esquecido disso, porque se tivesse lembrado
muito antes, só Deus sabe o quanto estaria rastejando por essa
mulher.
A sua ousadia e doçura me encantam, me prendem tanto
quanto a sua boceta maravilhosa.
Respiro fundo.
Mal são sete da manhã e já estou pensando em sexo, em
Grace e todo seu esplendor na hora de se sentar no meu pau.
Ele até fica animado só de pensar, em relembrar cada segundo
da noite passada.
Até mesmo naquele maldito momento em que Grace se deu
conta das minhas cicatrizes.
Foi uma pura surpresa que ela ainda não tivesse percebido.
No entanto, muito tempo depois, antes de dormir, lembrei que nunca
dei a chance para ela perceber. Da primeira vez que transamos, mal
tiramos as roupas. Depois que passei a morar aqui com ela, nunca
me permiti ficar sem blusa porque realmente não queria que ela
visse as minhas costas.
Sim, tive receio de Grace vê-las e me rejeitar de alguma forma,
ter nojo de mim. E sim, pensei que isso aconteceria na noite
passada, mas surpreendentemente, ela se agachou e começou a
me chupar.
Eu poderia dizer que foi um ato de pena, ou que aquilo apenas
a deixou mais excitada. Seja como for, não tocamos mais no
assunto desde então.
A verdade é que Grace vem respeitando o meu espaço, ela
não quer ser inconveniente o suficiente, ou mexer em alguma ferida
do passado.
E a admiro mais ainda por isso.
Preciso olhar para ela mais uma vez, que dorme feito um anjo.
Não vai demorar até que ela acorde.
Talvez, fique aqui a admirando, porque sinto que nunca vi
coisa tão linda. Mas aí ouço chiadinhos vindos da babá eletrônica,
indicando que Isabel acordou.
O dever de pai me chama.
Saio do quarto com cuidado e vou até o quarto da minha filha.
O abajur está ligado, então a vejo mexendo os braços, olhando
ao redor como se soubesse que não está mais sozinha.
Olho para ela dali de cima e sorrio, lembrando como foi ter
contado para os meus amigos a experiência de ser pai. Eles
pareceram assustados, mas sentia que não havia nada de errado, já
era algo que fazia parte de mim.
E eu gosto desse papel.
— Bom dia, princesa do papai — converso com Isabelquando
a pego no colo. — Vamos preparar o café da manhã?
Isabelfica me olhando com seus olhos azuis, do mesmo jeito
que Grace me olha.
Acho que as duas me acham bonito, essa que é a verdade.
Vai demorar para cair a ficha quando Isabel me reconhecer
como pai, talvez, nem esteja preparado emocionalmente para
quando ela me chamar de pai.
Já vi meus irmãos se tornarem uma manteiga derretida quando
isso aconteceu com seus filhos. Eles ficaram tão metidos.
Talvez, agora, entenda o porquê.
Vou para a cozinha com a Isabel. Eu amo levá-la para a
cozinha comigo, assim como tenho certeza de que ela adora me ver
cozinhar.
Para ela, os cheiros parecem despertar o seu sentido apurado,
pois ela fica balbuciando alguns sons só de sentir o aroma das
torradas quando ficam prontas.
Teremos aqui uma segunda fã de torradas?
— Bom dia. — Grace surge e fico surpreso.
— Pode voltar a dormir, estamos bem por aqui — aviso a ela,
já assumindo o posto na cozinha.
Grace sorri.
Ela veste seu roupão felpudo cinza, mas a minha mente logo
imagina seu corpo nu sob a peça de roupa.
Seu cabelo está solto, desarrumado e amassado.
Mas eu gosto.
Ela boceja.
— Mas você já não vai fazer o café da manhã? Acordei
morrendo de fome! — diz como se isso estivesse a consumindo.
— Então, fique à vontade e assista o chefe em ação.
Sorrindo, Grace parece gostar da ideia.
Ela então se inclina até Isabele dá um cheiro na pequena que
agita os bracinhos e começa a balbuciar quando percebe que a mãe
está por perto.
— Oi, meu amor. Está com fome? Está?
Sem precisar responder, Grace pega a Isabelno colo e trata
de amamentá-la assim que se senta no tamborete em frente à
bancada enquanto me assiste preparar o café da manhã.
Eu me sinto meio sem jeito com Grace me observando. Ainda
mais que ela morde o lábio inferior, como se eu fosse o seu café da
manhã.
— Não estou no cardápio, querida — anuncio.
— É uma pena — rebate rapidamente ao perceber ao que me
referi.
— Pensei que a noite passada tivesse a deixado saciada.
— Algumas coisas são bem difíceis de enjoar. Na verdade,
vicia, de um jeito um pouco pior que chocolate — ela explica.
— Cuidado para não ficar diabética, então. — Entro mais ainda
na onda.
— Como disse, sempre fujo de besteiras, mas essa não dá
para escapar.
Quando pego uma espátula no armário, aponto para ela que
tem um sorriso bastante convencido.
— Você está me distraindo. Não quero ter que deixar as coisas
queimarem porque você me desconcentrou. E você sabe que
receberia toda a minha atenção — reclamo como se fosse algo do
meu desagrado, mas a verdade é que estou ficando animado.
Eu não esperava que a companhia de Grace fosse me fazer
bem, no fim das contas. Ela é uma pessoa leve, tem um humor tão
igual ao meu que em vários momentos somos muito semelhantes.
Às vezes me vejo nela, em coisas específicas.
Porém, não é isso que me atrai, mas o fato dela ser tão igual e,
ao mesmo tempo, tão diferente de mim.
— Que dia estranho. — Vanessa aparece também já toda
arrumada, como se estivesse prestes a ir embora. — Ouço risadas e
vocês dois parecem estar tão bem.
A ruiva não disfarça a incredulidade. Ela para ao lado da
melhor amiga e fica nos olhando.
— Além do mais, aconteceu um atentado a sua meia-calça da
Versace.
Grace olha para mim e olho para ela de volta, então
começamos a rir.
— Foi um acidente — Grace omite a verdade.
— Você fez espacate em cima do asfalto?
Rimos alto de novo.
Porra, quase deixo café quente cair em mim!
Vanessa faz cara feia.
— Olha, já entendi e não quero detalhes — especula e então
nos olha de modo desconfiado. — Mas eu já saquei qual é a de
vocês.
— Amiga, relaxa. A meia-calça da Versace já foi superada —
Grace diz.
Vanessa a analisa de cima a baixo, como se fizesse um estudo
da expressão corporal da amiga que está radiante nessa manhã, e
que me acompanha fazer o café da manhã enquanto temos uma
conversa muito agradável.
Não é de se surpreender que Vanessa esteja tão surpresa ao
ponto de achar isso tudo muito estranho.
— Deveríamos almoçar hoje e conversamos, porque faz tempo
que não fazemos isso — ela diz para Grace.
— Aaah, droga! Eu não te contei.
Vanessa arregala os olhos.
— Contou o quê?
— Ian, Isabel e eu vamos para Londres amanhã.
Eu quase paraliso, mas continuo o que estou fazendo, pois,
não quero me meter na conversa delas. Mas confesso que estou
feliz por ela não ter desistido da ideia de irmos para Londres ainda
essa semana, ou amanhã mesmo, como enfatizou.
— A família do Ian vai conhecer a Isabel e o pai dele está
doente, enfim. Podemos almoçar hoje, aí te explicarei melhor.
Pelo jeito, ela não quer falar algo na minha frente e é
compreensível. Vanessa é sua melhor amiga e, certamente, contará
tudo o que andou rolando nesses últimos dias.
Vanessa solta um suspiro.
Acho que já posso imaginar o que esperar, afinal Vanessa é
uma pessoa legal e ajuda Grace em tudo. Ela até se mostrou gostar
de mim, primeiro que Grace, mas sabe que nem tudo é para se
misturar.
Talvez, ela me veja como um cara legal, mas não como um
bom partido para a melhor amiga, o que é péssimo.
Não que busque aprovação das pessoas, mas ela pode estar
certa. Talvez, eu não seja o cara ideal para Grace, se isso for
cogitado em algum momento.
— Tudo bem, então. A gente se vê mais tarde, mas desde já
desejo uma excelente viagem a vocês. Tomem conta da minha
sobrinha barra afilhada! — ela diz e então fica séria, olhando em
minha direção. — Cuida bem da minha amiga também, O’Donnell.
— Ela está em ótimas mãos, Vanessa. Não vai ficar para o
café?
— Bom, hoje é segunda e não nasci herdeira, então tenho que
trabalhar! — Ela se inclina e dá um beijo na testa de Isabel. —
Tchau neném linda. Tchau pra vocês, juízo, hein! — Ela sai e fecha
a porta.
Agora é só nós três de novo.
— Não sei de quem mais ela está com ciúmes — comento e
Grace revira os olhos.
— Não seja ridículo. — Ela tira a Isabel do peito e a coloca
para arrotar.
— Só estou querendo dizer que a Vanessa pareceu chateada.
— Bem, talvez seja o fato de que somos muito amigas e não
falei nada para ela ainda sobre… Hã… Você sabe. Sobre nós.
Coloco o nosso café da manhã na mesa.
— Não acho que seja necessário. Vanessa já sacou, não
precisa entrar em detalhes.
Quando Isabel arrota, Grace a coloca de volta no bebê
conforto e então se senta à mesa. Ela parece estar sem jeito, como
se eu tivesse revelado um desejo seu.
— Não os detalhes, mas sobre o que está acontecendo. É
diferente — Grace explica. — Além do mais, quando algo parece
confuso e fica pairando no ar, as pessoas conversam, Ian.
Eu me sento do outro lado da mesa, de frente para ela. Olho
no fundo dos seus olhos e detecto já o esperado.
É um jeito muito discreto em que Grace consegue dizer que
quer conversar sobre o elefante na sala desde a noite passada.
No entanto, preciso ter certeza, mesmo que seja evidente a
expectativa em si.
— Sinto que você quer me dizer algo. — Dou a chance para
ela se manifestar de um jeito mais transparente.
Grace umedece os lábios e parece estar um pouco receosa.
São poucas as pessoas que têm esse desconforto em
perguntar sobre as minhas cicatrizes. Na verdade, ela é a única,
pois quem já viu não hesitou em perguntar sobre as minhas
cicatrizes como se fossem tatuagens.
Ela pisca os cílios loiros que ficam brilhantes diante dos raios
de sol.
— Co-como você conseguiu essas cicatrizes? — Ela
finalmente pergunta.
Dou um gole em meu cappuccino. Não sou muito fã de café,
mas amo tomar café da manhã. Grace ama café puro, enquanto
coloco leite para tornar mais comestível essa bebida.
— Foi um acidente que quase custou a vida do meu sobrinho
mais velho, o Julian — revelo e ela faz uma carinha como se
tentasse respirar. — Ele era muito pequeno naquela época e
encontrou uma caixa de fotos da falecida mãe. A gente não sabe o
que ele pretendia fazer, o que o impulsionou a fazer aquilo, mas ele
começou a queimar as fotos da mãe dele. — Deixo a xícara de volta
no pires e olho em direção ao clarão do dia, um amarelo tão
destoante do amarelo que irradia do fogo vivo, bruto. — Havia tanta
coisa inflamável no closet, começando pelo tapete. Eu fui o primeiro
a perceber o que estava acontecendo, corri o mais rápido possível
para o quarto dele e antes de entrar no closet não podia ver o clarão
ou sentir o calor. — A minha garganta trava e o meu coração bate
rapidamente de um jeito sufocante que não gosto.
Faz tanto tempo que não toco nesse assunto!
— A única coisa que me fez ter certeza de que o Julian estava
vivo ainda, era o seu choro. Então, não hesitei. Entrei no closet e só
lembro de tê-lo pegado. Eu o larguei na parte segura e caí no chão.
Quando percebi, eram meus irmãos apagando as chamas em
minhas costas. — Sinto uma fisgada na extensão das minhas
cicatrizes.
O que significa ser nas costas toda.
Eu sempre sinto, principalmente, quando está frio demais. Mas
agora sei que isso acontece por causa das lembranças frescas, não
importa o tempo que passa.
Grace está com as mãos cobrindo a boca, horrorizada.
— Conseguimos conter as chamas, mas o alarme de incêndio
já havia acionado automaticamente os bombeiros. Foi na mansão
da família na Irlanda. — Dou os últimos detalhes.
— Você foi um herói. Você sabe disso, não é? — diz assim que
termino meu relato.
— Mas não queria ser. Eu só queria salvar o meu sobrinho que
era só uma criança. E tinha o Jeremy que já vivia bastante
devastado com a morte da ex-esposa. Não consigo imaginar o que
aconteceria se ele perdesse o filho também.
Ela estica a mão e toca a minha, como um gesto de
solidariedade com o ocorrido. Ela a deixa ali, por um tempo,
enquanto ficamos em silêncio, sem tocar na comida porque esse
assunto tira o apetite de qualquer um.
Depois de um tempinho, Grace começa a falar de um jeito
meio recuado, como se fosse proibido o assunto.
Mas sei sobre o que é e me preparo para o que virá.
— O Domenico também foi um herói para mim, sabe? Mas
demorou para que eu tivesse percebido isso. Demorou, mesmo, Ian.
Quando os meus pais sofreram o acidente, até hoje lembro de ficar
no saguão, sentada naquela cadeira azul, vestida de bailarina
porque às terças-feiras tínhamos balé.
“Eu esperei e esperei. Cheguei a me deitar porque estava
cansada.
“Naquele dia, tínhamos aprendido novos passos e estava
empenhada em ser boa na dança, porque a professora me dizia que
podia ser uma bailarina muito famosa.
“Mas era só por isso mesmo.
“Nunca amei o balé, mas a ideia de ser famosa.”
Nesse momento, descubro como a história de Grace é
complexa. Então inverto a posição das mãos. Agora é a minha
sobre a dela e a acaricio enquanto sinto seu corpo tremer.
— As professoras estavam ficando preocupadas e embora não
quisessem demonstrar nada, eu sabia que algo estava muito errado.
Porque eu também estava preocupada e com medo, mesmo tendo
só oito anos de idade.
“Aí comecei a perguntar pelos meus pais e elas não diziam
nada.
“Anoiteceu e então Domenico apareceu.
“Eu já estava tão triste e assustada, era como se o meu
coração sentisse o que aconteceu.
“E quando ele apareceu, o abracei e disse: “Você veio me
salvar.”
“Mas achava que ele só estava me salvando da escola e não
de uma vida solitária e decadente.
“E foi disso que Domenico me salvou.
“Eu percebi isso com meus treze anos, quando o chamei de
pai pela primeira vez.”
Grace está emocionada e não é para menos.
A história dela é dolorosa e me contou, porque parecia ser a
coisa certa a se fazer depois de ter contado sobre a minha cicatriz,
como ela quisesse mostrar que dá para ficar pior e que a sua
história trágica me fará sentir melhor.
Uma grande baboseira!
— Desculpa ter que fazer você contar essas coisas. Deve ser
muito doloroso para você — digo, me sentindo horrível.
— Não, de maneira alguma. Eu só queria dizer com isso que,
bem, é doloroso, mas… Acho que entendo o seu sobrinho. Uma das
fases do luto é a negação e me recusava acreditar que meus pais
haviam morrido.
“Por muito tempo, acreditei que eles tivessem me abandonado,
que a morte não foi algo real. E os culpei por isso, Ian.”
Ela então olha para nossa menina e é quando a sua voz de
fato demonstra o ápice da sua emoção.
— Sou tão grata por você estar aqui, por ter aceitado a Isabel,
a registrado como sua filha. Estou feliz que decidimos dar essa
família a ela.
Pego a sua mão e beijo.
— Estarei sempre aqui, querida, Grace. E é bom que vá se
acostumando, porque não quero mais ir embora — admito e ela
sorri.
Eu deveria ficar por um mês, mas aqui estou, sem nenhuma
coragem de recuar.
O sorriso de Grace diz que ela está contente pela minha
escolha. E a forma como ela me olha, ilumina algo dentro de mim.
Tão brilhante quanto a manhã ou o fogo.
••••
Grace me chama para dormir com ela mais uma vez. Antes
achava que era uma coisa de momento, que, de repente, ela se
sentiu carente e solitária ao ponto de querer minha companhia na
cama dela.
Mas parece ser algo real.
Eu nunca fui de dormir com alguém, já tive umas
namoradinhas, mas elas nem sequer pensavam em dormir na
mesma cama que eu, antes mesmo do casamento. Parecia um
pensamento arcaico demais, porém, sempre achei que era algo
relacionado com as minhas cicatrizes.
Não blefava quando dizia que elas iam simplesmente embora.
Outras ficavam, mas evitavam tocar nas minhas costas e quando
acontecia tiravam como se tivessem pegado no fogo que fez
aquelas cicatrizes.
Mas Grace, não.
Ela me convida mais uma vez para dormir na mesma cama
que ela. Pede para eu ficar à vontade, o que quer dizer que agora
posso dormir sem camisa, sem temer o olhar de reprovação vindo
dela.
Confesso que amo o seu cheiro floral. Bem como descobrir o
quão é bom me enfurnar debaixo das cobertas com ela.
Ainda é um pouco cedo, mas estamos exaustos porque
tivemos que resolver algumas coisas antes da viagem na manhã
seguinte. Grace ainda saiu com Vanessa, ela não me contou como
foi e nem esperava que me contasse, mas ela chegou sorridente,
como se a conversa que teve com a melhor amiga tivesse sido um
deleite.
Passamos o resto do dia nos provocando também.
Ela adora fazer isso e eu também.
Agora que estamos na sua cama, nos encontramos quietos. A
tensão sexual é quase sufocante, mas aí me lembro que não temos
nada sério, então, para o sexo acontecer, precisa ser algo
conversado.
Não quero parecer que no final das contas, estou apenas me
aproveitando disso.
Está tudo escuro e quieto. Por um momento, acredito que
Grace já está dormindo, mas ouço a sua voz me chamando:
— Ian, está acordado?
— Sim, estou.
Silêncio.
Consigo ver um pouco da sua silhueta, pois a luz noturna lá de
fora ilumina um pouco o interior do quarto, já que ela deixou as
persianas abertas.
— O que houve? — pergunto olhando em sua direção.
Estou deitado de barriga para cima, encarando o teto,
enquanto ela está deitada de lado, de costas para mim.
— Por que você gostava de dormir no sofá? — ela pergunta,
mostrando que esse é o problema.
Dou um sorriso, mesmo sabendo que ela não verá, algo
totalmente involuntário.
— Por que isso importuna tanto você? — pergunto de volta,
parece até um jogo de pingue-pongue.
— Bem, considerando que você é um bilionário, tem um quarto
de hóspedes, onde você poderia muito bem dormir na cama, ou
poderia continuar no seu apartamento e vir só de manhã. Ainda
poderia ter contratado um chefe para fazer o nosso café da manhã,
ou uma babá para não ter que limpar cocô de bebê, mesmo assim,
você recusa isso tudo. Por quê?
Então é isso...
A habitual estranheza dos fatos, quando alguém finalmente me
conhece fora dos tabloides, de tudo aquilo que falam ao meu
respeito e dos meus irmãos.
Solto um suspiro, me viro, passo um braço por cima de Grace
que fica estática com o que estou fazendo, mas quando a encaixo
em mim, ela se aninha, demonstrando estar bastante à vontade.
Com o dedo, aponto para o fundo da janela, onde a enorme
propriedade brilha em dourado, dando a impressão de que estamos
presos no passado, onde construções vitorianas fazem lama.
— Para começo de conversa, você tem uma vista linda da
Galleria degli Uffizi — explico baixinho, pois estou perto do seu
ouvido. — Gosto de dormir olhando para ela. Segundo… — Respiro
fundo.
Não dá para ignorar o fato de que sua bunda está roçando em
meu pau. Ela está tão quentinha e macia, que é impossível não me
ver aninhando a ela mais ainda.
— Segundo, o meu apartamento no centro da cidade mal cabe
a mim.
— O quê? — Ela parece bastante surpresa e sorrio. — Você
não pode estar falando sério!
— Sim, estou falando muito sério. — Deslizo a mão em seu
braço, acariciando o local em um vai e vem. — Não pensei que
fosse ficar por muito tempo em Florença. Para ser sincero, no centro
não há muitas opções de luxo e só queria tá perto da agitação da
cidade.
— Mas você é bilionário!
— exaspera ainda indignada.
Dei um beijo em seu ombro, lentamente.
— Eu sei. Mas quanto mais dinheiro se tem, mais se quer levar
uma vida normal.
— Isso soa até grosseiro. Não acho que uma pessoa de renda
baixa pensaria isso — ela comenta.
— Certamente, mas essas são as divergências de viver
realidades opostas. Não estou querendo dizer que gostaria de viver
uma vida miserável, mas, às vezes, o simples é o que parece faltar.
Grace fica me olhando e então envolve o seu braço direito no
meu pescoço. Sem ela pedir, enterro o rosto na curva do seu
pescoço, enquanto sinto sua respiração perto dos meus olhos.
A minha mão que está envolvendo o seu corpo, já acaricia seu
seio esquerdo e posso sentir sua pele esquentando. Com isso, meu
pau se anima.
Ela logo perceberá.
— Desculpa pelas vezes em que fui essas pessoas que te
julgam errado — declara.
— Você não precisa pedir desculpas, Grace. — Levanto o
rosto para esfregar a minha barba em sua mandíbula, onde começo
a mordiscar.
Já está nítido o que estamos fazendo e onde isso irá dar.
— Estava certa em agir na defensiva, afinal não sou o cara
mais perfeito, sabe?
Sua mão agarra os fios de cabelo da minha nuca e, então,
pressiona sua bunda gostosa contra o meu pau duro, a cutucando
como a porra de uma estaca.
— Eu pareço estar na defensiva agora? — pergunta com uma
voz sexy, virando a sua boca mais para o meu lado.
— Nem um pouco. — Seguro com firmeza a sua cintura, até
abaixar minha mão no seu quadril, que pressiono mais ainda contra
mim. — Porra, eu tô durão, Grace! Está vendo como fico empolgado
estando perto de você.
Ela me beija, como se não pudesse aguentar a tentação que
isso está causando.
Grace suga meus lábios, ela adora chupar e morder meu lábio
inferior. Na verdade, morder é sua especialidade.
Seu beijo é suave, mas com um toque erótico e isso me deixa
doido.
Sinto suas unhas passarem em minha barba, trazendo um
arrepio para o meu corpo.
— Em outras circunstâncias, teria chamado você de tarado,
mas amo a forma como você está me desejando agora mesmo. É
tão recíproco.
Enfio a língua dentro da sua boca em um beijo super erótico e
começo a apalpar seus seios, brincar com eles, mas com cuidado.
Eles estão muito sensíveis e por isso evito um pouco tocar na
“comida” de Isabel.
Vou levando a minha mão até a sua bocetinha e tenho uma
baita surpresa quando a minha mão entra em seu short.
— Sem calcinha? — pergunto parando o beijo, a olhando
surpreso.
Grace dá de ombros.
— Sem meia-calça, sem calcinha. Apenas um short frouxo
demais para não atrapalhar em nada.
Puxo seu lábio com o dente e Grace geme.
— Você planejou tudo, não foi?
— Eu imaginei que você fosse fazer algo a respeito. Ou gosta
de uma costelinha na hora de dormir?
Ela parece atrevida.
— Os dois — respondo, deslizando dois dedos em sua
bocetinha, sentindo o melado que me excita tanto. — Ah, porra! —
gemo. — Você é uma safada fogosa mesmo, né? Que Deus me
ajude a te deixar satisfeita todos os dias, porque é o que você e
essa gostosura aqui merecem. — Com o dedo do meio melado,
começo a brincar com seu grelinho inchado.
Grace começa a pirar e geme como se já estivesse sendo
fodida.
Ela coloca a língua para fora, como uma cobra, procurando
pela minha, que sai e começa a se envolver com a dela.
Um beijo molhado, mas não mais que essa boceta
enlouquecedora.
Grace não satisfeita, com o seu braço direito bastante
habilidoso, consegue colocar o meu pau para fora da calça de
moletom e começa a bater uma punheta dos deuses para mim.
A sua mão macia, me aperta e me toca como se quisesse tirar
tudo de mim.
— Ah! — gemo. — Aaah, isso, porra! — murmuro para mim
mesmo de tão gostoso que está.
Enfio dois dedos dentro dela e Grace não consegue disfarçar.
Ela geme junto comigo e aqui estamos nós dois, um masturbando o
outro, e não tenho nem palavras o suficiente para dizer o quanto
isso é excitante pra caralho.
O meu pau já está todo melado de pré-gozo. Meus músculos
ficam retorcidos quando os picos de prazer só aumentam a cada
instante, principalmente, quando Grace começa a rebolar nos meus
dedos dentro dela, como se fosse o meu pau a fodendo.
Não satisfeito, arranco o short dela.
— Quero ver você fazendo isso no meu pau, esfregando essa
bocetinha em mim e depois me engolindo todinho, porque sei que
você adora dar uma trepada gostosa no meu cacete, né? — digo
com a boca colada à orelha dela.
Como uma boa garota, Grace começa a esfregar a cabeça do
meu pau nela.
Quase vou à loucura quando o sinto passando na entrada do
seu cuzinho, então, ela faz isso de novo, melando a sua entradinha
apertada ali atrás.
— Vai querer me dar a bundinha também, Grace, querida?
Ela sorri.
— Não, tenho medo, Ian.Mas, ainda não. Quero ter certeza de
que darei para o cara certo.
Afundo meu pau nela que grita de prazer.
— Sente isso? — pergunto enquanto a penetro
deliciosamente. — Vai ser o pau que vai foder essa bunda virgem,
Grace. Ninguém mais além de mim.
Ela ri de novo, como se duvidasse.
— No momento, prefiro que você fique onde está. Mas, às
vezes, há um jeito de estar em dois lugares ao mesmo tempo — ela
diz e entendo no mesmo instante.
Porra, que mulher perfeita!
Faço o que ela sugeriu.
Enquanto como a sua bocetinha, melo um pouco o meu
polegar do seu fluido e então toco a entrada do seu cuzinho virgem.
Isso só me deixa mais duro e louco ainda.
Não enfio com tudo, vou acariciando e acariciando.
Grace está tão excitada, que ela arqueia a costa mais para a
frente, empinando a bunda na minha direção, me permitindo que dê
a ela prazer.
Movo meu quadril na sua direção e empurro meu polegar cada
vez mais para dentro do seu buraquinho. Ela está tão excitada que
nem se incomoda quando penetro de verdade ali e começo o vaie
vem.
Daí, Grace não é mais a mesma.
Ela geme de um jeito delicioso, como nunca vi antes. De
repente, ela está movendo o quadril com mais intensidade, me
permitindo afundar o polegar mais ainda nela, entrando e saindo no
ritmo que ela quer.
Frenético.
— Oh, meu Deus, Ian! Isso tá gostoso demais! — declara
choramingando.
— Tá mesmo, gostosa. Juro que vou te encher de leitinho
quente — digo quando já sinto o meu sangue todo bombear no meu
pau, o fazendo inchar.
Grace também começa a ficar mais apertada do que o normal
e os seus gemidos, desesperados.
Ela chora.
Puta merda!
Ela está chorando de prazer enquanto goza no meu cacete,
me levando junto.
— PORRA! — grito.
Deixo até a última gota dentro dela que fica caída na cama,
completamente dopada de prazer.
Tiro o meu dedo de dentro dela, então a puxo para mim e dou
um beijo sutil em sua boca.
Grace está ofegante, assim como eu.
Precisaremos de outro banho.
— Você é sensacional! — murmuro para ela.
— E você é a minha mais nova pessoa favorita — ela retribui,
dando um beijo na ponta do meu nariz.
— Só por que fodo gostoso? Por que tenho um pau grande
que te deixa louca?
Ela revira os olhos.
— Arrogante. Mas, sim, por essas coisas também.
Franzo o cenho.
— Então o que mais? — Fico curioso.
Grace sorri e se levanta enquanto diz:
— Não posso contar agora, senão, não terá graça.
Fico a olhando ir para o banheiro, enquanto estou sem
respostas.
— Ah, não, Grace! — protesto, mas ela não muda de ideia.
Logo ela se tranca no banheiro e bufo, frustrado.
Não descobri o que coopera para eu ser a sua pessoa favorita.
Mas, pelo menos, sou a pessoa favorita de alguém, dela…
Isso me faz sorrir.
Não costumo ser a pessoa favorita de ninguém, mas agora sou
da que menos gostava de mim.
Quanta ironia desta vida.
Não lembro a última vez em que estive em Londres. Com
certeza, estava bem mais frio do que agora, pois faz calor, mas não
tanto quanto em Florença.
Não posso esquecer que Londres é a terra das pessoas frias,
nenhum pouco carismáticas, mas os O’Donnell são irlandeses, por
isso recebem uma exceção. Além do mais, eles têm o dia de São
Patrício e realmente sabem como ser pessoas legais.
Não sei o motivo de ficar nervosa em ver a família de Ian. Não
foi assim da última vez no cruzeiro, afinal me dei muito bem com a
Meredith e a Audrey.
Por termos quase a mesma idade, Audrey se aproximou
bastante de mim, e não digo isso só porque ela era a noiva e
ficávamos juntas o tempo todo.
Mas eu realmente gostei dela e foi recíproco.
Os irmãos de Ian também faziam piadinhas. Não de forma
explícita e diretamente a mim, mas sei que faziam.
Eles estavam de alguma forma “fascinados” por finalmente se
depararem com alguém que não bajulasse o irmão mais novo, ou
qualquer um deles.
Acho que eles só não esperavam que eu já fosse da mesma
classe social que eles, graças ao Domenico.
Mas agora…
Agora tudo é diferente.
Eu tenho uma filha com Ian.Logo, eles sabem que transamos,
que não sustentei a minha opinião sobre Iane que acabei agindo
como todas as outras que já abriram as pernas para ele.
Eu falhei.
Fiz besteira, como já disse antes.
Mas já não é mais um segredo de que não há empecilho
algum nisso. Estamos bem, muito bem.
E não será nenhuma surpresa se eles estiverem totalmente
perplexos.
— Deveríamos contar a eles que o nosso relacionamento não
é pra valer? — pergunto enquanto coloco a roupinha de Isabel.
Ela tem que estar bem bonita para encontrar a sua família
paterna pela primeira vez na nova residência de Jeremy.
Ianparece pensar um pouco na resposta enquanto prepara as
mamadeiras dela.
— Ah, não vejo necessidade de tocar muito no assunto —
responde, por fim, dando de ombros.
— Talvez eles fiquem curiosos — insisto um pouco ressentida.
— Eles não terão motivos para isso, Grace.
Fico parada, um pouco chocada com o que ele diz.
— Como não? — exaspero.
Ian me olha, como se tivesse percebido que eu estava
realmente falando sobre isso.
E, por que não estaria?
Ele termina de ajeitar a mamadeira e então se vê mais
concentrado na conversa.
— Sei lá, eles já estão acostumados a esse tipo de situação.
Sabem que ainda estou em Florença por causa da Isabel, eles
reconhecem as mentiras que espalham por aí. E, sinceramente, não
acho que meus irmãos estejam preocupados com a minha vida
amorosa.
Por alguma razão desconhecida, sua fala me deixa cabisbaixa.
Não era o que esperava, mas também não sei dizer o que
espero que ele diga.
Só sei que dói.
Termino de arrumar a Isabel que está deitada no sofá do
apartamento dele e então o encaro.
— Bom, o fato de estar morando com a mãe da sua filha talvez
dê o principal motivo para eles questionarem. Além do mais, você e
eu… — hesito.
Os olhos de Ian ficam vítreos, enquanto ele tenta disfarçar um
sorriso.
— Também não acho que a nossa relação sexual vire pauta
nesse encontro. Mas, se você quiser fazer isso parecer um
relacionamento, como se ainda estivéssemos em Florença, tudo
bem. Vamos fazer isso.
Mais uma vez isso dói.
Droga!
Afinal de contas, o que estou querendo mesmo?
Nem estou me reconhecendo, como se toda essa situação de
fingimentos não fosse mais o suficiente para mim.
Fico tão pensativa, que nem percebo quando Ianse aproxima,
se curva até a minha altura no sofá e me olha fixamente.
— Ei, tudo bem? Parece que tem algo a incomodando.
Oh, céus, e como incomoda!
Mas tudo o que faço é sorrir e negar com a cabeça.
— Estou bem. Só nervosa, eu acho.
Ian sorri.
— Nervosa? Grace, são as mesmas pessoas que você
conheceu naquele cruzeiro.
Balanço a cabeça.
— Agora é diferente, Ian.Já não sou mais a mesma pessoa,
nem você. Talvez a sua família nem o reconheça mais, agora que é
pai e assumiu outras responsabilidades, e estilo de vida.
Ian fica parado de frente para mim, nitidamente pensativo,
como se finalmente percebesse que essa visita não será uma visita
comum, mas bastante atípica, iniciando um novo ciclo, o
oficializando.
E parece que somente agora Ian se dá conta disso.
Ele dá um sorriso sem jeito, não muito seguro.
— Vai dar tudo certo.
Mas, para quem?
— Eu vou ao banheiro e já volto para irmos — ele avisa.
— Ok, estaremos aqui, esperando por você.
É nítido que estamos tensos, ou, talvez, seja apenas eu, já que
não me sinto pronta ainda para mostrar que falhei aos encantos de
Ian.
E, talvez, isso fique bem mais explícito agora.
Além de uma filha que fizemos, Ian e eu acabamos criando
uma conexão nas últimas semanas, e dias, desde que começamos
a transar.
Para ele, talvez, não faça muita diferença, mas sei que será
algo significativo. E está nítido na forma como nos olhamos,
conversamos e gostamos, principalmente, de estar um perto do
outro.
A coisa toda é carnale palpável, palavras de Vanessa, que me
descreveu exatamente a mudança de tratamento entre Ian e eu.
Eu não tinha tanta noção assim, até ela me comunicar.
Fiquei com aquilo na minha cabeça, martelando e, agora,
contribui para que fique ansiosa para qualquer reação de
conhecidos diante de nós dois.
Bem, não tenho como desmentir, a coisa toda entre Iane eu
está intensa. O fato de sermos pais, é o que nos segura na linha. E
se não fosse por isso, não sei do que seríamos capaz de fazer.
Dois jovens, loucos um pelo corpo do outro.
Dou uma olhada no apartamento de Ian.Coisa de primeira, na
cobertura, luxuoso, todo de ébano, vidro e espelhos.
O quarto dele exala a sexo, cama gigante e redonda, com um
espelho bem em cima. Os lençóis são escuros e de seda.
Tudo aqui é bastante sexy e dá um ar bastante atraente, o que
me faz entender que aqui é o seu principal abatedouro.
Eu me sinto um pouco estranha quando tenho esse
pensamento. Começo a detestar pensar no antigo Ian,que pegava
todas.
A única coisa que me agradaria em dormir com ele nesta
cama, é que estaria com ele e que de qualquer forma, não era igual
a todas que ele já levou ali.
Mas, a quem estou querendo enganar?
Não temos nada.
Não posso exigir que ele se mude, ou compre uma nova cama
só por minha causa.
— Vamos?
Sua voz me tira do torpor que me encontrava e concordo.
— Vamos!
É agora ou nunca.
••••
A mansão de Jeremy é duas vezes maior que a de Domenico.
Uma das maiores propriedades que já vi, o que é justo, já que ele
tem três filhos e um cachorro pra lá de brincalhão.
Quando chegamos, somos recebidos por Audrey e Jeremy,
que não escondem a empolgação em nos ver depois de tanto
tempo.
— Grace! Ian! — Audrey é a mais animada.
Ela me abraça com cuidado, pois seguro a Isabel.Em seguida,
não consegue resistir por muito tempo.
— Oh, meu Deus! Aí está a pequena Isabel. Ela é linda! —
Audrey diz.
— Parece com você, mas é ruiva igual a uma O’Donnell —
Jeremy comenta.
— Onde está todo mundo? — Ianpergunta conforme entramos
no vestíbulo enorme e de mármore.
Oh, céus, Audrey se deu muito bem!
Jeremy é lindo e podre de rico. Mas ela também não fica para
trás, é uma mulher extremamente bonita.
— Estão lá atrás — Jeremy comenta. — Julian está na escola,
mas papai está aqui, fez questão.
Ian olha preocupado para o irmão.
— Isso não seria esforço demais para ele? — pergunta.
Jeremy franze as sobrancelhas.
— Ah, sim, mas o papai não faz muita coisa, além de ir ao
banheiro. Então isso é o máximo que ele está fazendo e o médico
dele liberou.
— Ele está muito ansioso para vê-los — Audrey adiciona, o
que faz meu coração bater mais rápido.
Sorrio nervosa, inclusive sinto até meu olho tremer.
De repente, sinto a mão de Ianem meu ombro e ele sorri para
mim, como se tivesse sentido o meu pavor.
Saímos por uma porta enorme que nos leva para os fundos da
casa. Um enorme quintal, uma enorme piscina e uma área de lazer.
E sob a cobertura, diante de uma mesa enorme, estão Noah e
Meredith, brincando com Liam, o filho deles.
O senhor Rupert está sentado na cadeira, um pouco alheio a
nossa chegada, como se estivesse sob efeito de remédios.
— Aí estão eles! — Noah exclama bem antes de nos
aproximar.
— E mais um bebê para a família — a mulher dele comenta.
Quando chegamos perto, os tios de Isabelficam babando nela,
mas não muito. Ela é muito novinha ainda e, por isso, tem todo um
protocolo de higiene que outras pessoas precisam respeitar.
E como todos aqui tem filhos pequenos, sabem exatamente do
que falo.
Depois de admirarem a Isa, Noah comenta:
— Demorou mais do que eu esperava, Ian.
— Achou que eu não sobreviveria? — Ian pergunta.
— Eu apostei dez mil euros.
Ian bufa.
— Só isso? Achei que tinha mais valor para você — Ianrebate
inconformado.
— Do que estão falando? — Meredith pergunta de braços
cruzados enquanto olha de jeito cerrado para o esposo.
É nítido quem manda no O’Donnell mais impiedoso.
Mesmo assim, Noah sorri, orgulhosamente.
— Apostamos por quanto tempo Ianduraria nessa nova rotina
de pai. — Noah é direto.
— E pelo visto você perdeu, cunhado — Audrey diz rindo dele.
— Só para constar, o seu digníssimo esposo também perdeu
— ele relata.
Abismado, Ian balança a cabeça.
— Espera aí, seus idiotas! — ele exaspera. — O que vocês
apostaram exatamente?
Jeremy e Noah parecem sem jeito, mas não intimidados. É
nítido que eles estão desconfortáveis por terem perdido.
— Jeremy apostou dez mil euros que você não duraria um
mês. E eu apostei a mesma quantia, mas achei que você não
duraria mais que duas semanas.
— Mas vocês são uns canalhas mesmo — Ian diz
inconformado.
O irmão mais velho balança a cabeça e pega no ombro de Ian.
— Você tem razão. Fomos idiotas e você nos surpreendeu.
Estamos orgulhosos, Ian — Jeremy diz, me deixando mais aliviada.
Sei que irmãos tem toda uma rixa que só eles podem entender,
mas eu já estou achando tudo isso muito injusto com Ian.
Mesmo assim, acrescento:
— Ele também me surpreendeu bastante. Iantem se mostrado
um pai incrível.
— OUVIU ISSO, PAI? — Noah grita na direção do senhor
Rupert, que está na ponta da mesa.
Andamos até ele.
A situação mudou e agora é um pouco mais delicada, séria.
— Como foi a viagem? — ele pergunta ao filho, com a voz
fraca, intempérie.
E isso mexe com o meu coração.
O patriarca da família está definhando e a qualquer instante,
pode ser o seu final. Mesmo assim, lá está ele com um sorriso no
rosto, feliz com a família toda reunida.
— Foi ótima. Mas a Isabelnão gostou muito de decolar — Ian
diz, fazendo todos rir.
— E onde está a minha netinha?
Estou com a Isabel no colo, por isso todos olham para mim,
esperando que eu faça o que é o esperado.
Eu me aproximo dele e cuidadosamente a coloco em seu colo.
Rupert tem três filhos e quatro netos, ele sabe como fazer isso.
Mas está debilitado, então precisa de uma ajudinha.
Quando está tudo ok e me preparo para me afastar, acontece
o inesperado.
— E você, minha nora, como está a vida de mãe?
Sim, ele me chamou de nora, como se eu fosse a companheira
oficial de Ian.
Olho para os demais, confusa. Audrey levanta as sobrancelhas
para mim, esperando que faça alguma coisa.
Meu coração bate forte.
— Hum, vai bem. Está sendo mais fácil do que imaginava. Mas
acredito que com Ian por perto, tudo fica melhor
.
Ele sorri para mim.
Nesse momento, não importa a veracidade da nossa relação
ou não, o avô de Isabelestá feliz, e a energia de paz que nos cerca
agora é única.
— Fico muito feliz em saber disso. Aposto que o meu filho é
muito sortudo em estar com você também — o senhor Rupert
completa e sinto Ian tocar o meu ombro em um gesto de conforto.
Eu quero chorar, porque isso é triste.
Me afasto antes que ele possa ver minhas lágrimas se
formarem.
— Ah, ela é linda — ele diz ao olhar para a neta. — Eu quase
não enxergo muito bem, é uma sequela da minha doença, mas
consigo ver e sentir o quão perfeita e saudável a pequena Isabel é.
— Pode ter certeza, pai — Ian diz.
Ele fica um pouco em silêncio e tudo o que ouvimos é o
balbuciar das crianças brincando no chão.
— Sabe, tudo o que queria era ver era os meus meninos com
suas famílias. Principalmente, o meu último filho ter a dele, depois
que Jeremy se casou. Viver a vida que ele sempre sonhava como
dizia para a mãe — revela. — É como se tudo estivesse certo
para… Para a minha partida.
— Pai… — Ian murmura e eu choro.
Não consigo mais me segurar, porque diante de mim, está o
mais puro início e fim da vida.
— Não se sintam tristes, porque estou muito feliz! — ele
respalda. — Mas… Ainda falta algo.
— Outro neto? — Noah pergunta e Ian ri.
Rupert não diz nada, apenas me entrega a Isabel de volta.
— Parabéns pela menininha. — É tudo o que ele diz.
Olho para Ian, que ao notar que choro, limpa minhas lágrimas.
— Não trouxe você aqui para ficar triste — Ian diz.
— Eu sei, só é… Tocante. Ainda bem que viemos.
Ian sorri e beija a minha testa.
— Obrigado, Grace. Por tudo.
Seu gesto acaba chamando atenção de Noah, que não deixa
passar nada sem o seu comentário.
— Então, papai estava certo ao chamar você de nora? —
Noah pergunta.
— Achei que só eu tinha escutado — digo tensa.
E então, estou cercada pelos dois casais.
— Ele disse com todas as palavras, gata — Meredith diz.
— Sim, mas tudo bem, Grace. Vocês não precisam nos
explicar nada — Jeremy diz. — No final de tudo, somos uma família
e é isso o que importa.
— E você já faz parte dela — Noah acrescenta.
Iansegura a minha mão, aperta e depois dá um beijo no meu
rosto.
— Viu? Não tinha nada com o que se preocupar — Ian diz.
E ele tinha razão, pois, no final, não fui julgada pelas minhas
mudanças, pelas coisas que fiz ou deixei de fazer. Nada aqui é
sobre mim, mas sobre nós.
Como Jeremy disse, somos uma família e faço parte dela
agora.
No entanto, é inevitável não pensar em Domenico.
A minha vida toda, ele foi a minha única família e, de repente,
ganhei uma gigante.
Mas ele continua sendo a minha família…
Tudo para mim.
Mas é como se ele ficasse de lado, só pelo simples fato de não
poder estar aqui comigo, como sempre esteve.
Sei que não devo, mas me sinto mal por isso.
Assim que voltar para Florença, passarei mais tempo com ele.
Porque não importa o tamanho, família é família.
— Domenico deve estar puto porque você está com a afilhada
dele — Noah diz com um sorriso sagaz no rosto, antes de emborcar
a cerveja na boca.
— Não é como se ele não soubesse o que estamos fazendo.
Ele tem mais dedo nisso do que eu — explico me apoiando na
proteção da sacada do quarto de Jeremy, onde estamos assistindo
ao anoitecer enquanto tomamos algumas cervejas.
— O que quer dizer com isso? — Jeremy pergunta, franzindo o
cenho.
Dou de ombros.
Eu não posso ir muito a fundo nesse assunto, muito menos
com meus irmãos. Só que, na verdade, parando para pensar agora,
isso é tudo uma grande baboseira em que me envolvi.
Dou um longo gole na minha cerveja e o amargo desce quase
me sufocando, o que é raro.
— Vamos dizer que de um jeito ou de outro, Domenico acabou
unindo Grace e eu. Ele queria que eu ficasse por perto e fiquei.
Noah sorri de um jeito quase malicioso.
— Filho da mãe! Aproveitou a oportunidade, não foi?
— Falando desse jeito parece até que sou um canalha
oportunista. Mas existe algo entre Grace e eu. Eu poderia dizer que
faz parte do nosso plano em manter a aparência, mas é algo bem
mais complexo.
— Só não bagunça com os sentimentos da garota, porra —
Jeremy avisa.
Isso faz o meu sangue correr um pouco mais rápido.
— Obrigado pela falta de fé em seu irmão. Podem achar o que
for, mas eu realmente gosto da Grace e não me incomodo se o
papai já a chama de nora. O que mais eu poderia querer com a mãe
da minha filha, senão estar com ela?
— Então é tudo real? — Jeremy pergunta.
Ele conseguiu me deixar pensativo.
Até onde realé real?
Tudo o que posso dizer é que Grace e eu temos algo, mas
ainda não sei como denominar o que temos. Eu não sei dizer se
estamos só levando esse negócio de relacionamento falso a sério
demais, ou se já atingimos um patamar onde a coisa toda começou
a se misturar e não sabemos onde estamos tentando chegar.
— Ainda não paramos para analisar isso — pontuo. — Mas
pode ter certeza de que iremos conversar sobre esse assunto na
hora certa. Por enquanto, obrigado por terem tornado tudo o menos
desconfortável possível para ela.
Três dias se passaram desde que chegamos em Londres.
Grace percebeu que era menos pior do que ela imaginava e que
não tinha nada com o que se preocupar.
— Não somos monstros, mas confesso que foi uma surpresa a
garota que não o suportava, ter uma filha sua e te olhar como se
estivesse caindo de amores agora — Noah diz.
— Ela me olha assim? — desdenho e meus irmãos riem.
— Até você está bobo demais, não tem nem como disfarçar —
Jeremy completa.
Sorrio e bebo mais um pouco.
— Iremosembora amanhã de manhã, mas Londres parece ter
nos feito bem. Ainda mais para ela — ressalto.
— Me diga, Ian. — Noah parece estar muito curioso quando
apoia os cotovelos nos joelhos. — Qual é a sensação de ter aquele
crápula do Domenico como sogro? Bem, tecnicamente falando.
Reviro os olhos e bufo.
— Diga logo que o ama, Noah — rebato e ele faz cara de nojo.
— Nem fodendo. Ele me odeia. Nos odeia. Ele repugna o fato
de termos nascido com privilégios e usufruirmos disso do nosso
jeito. — Noah dá um gole em sua cerveja com o desgosto por
Domenico nítido. — Só porque herdamos o império do papai, acha
que não trabalhamos duro o suficiente. Só porque ele tem uma
história de vida triste e que causa comoção nas palestras que ele
dá. Patético!
Jeremy e eu nos entreolhamos.
— Ok, já entendemos — digo.
— Quando chegar em Florença, diga a ele que mandei um
abraço. Pelo menos tenho mais educação que aquele imbecil.
Dou uma risadinha.
— Eu pagaria muito caro para vê-los no mesmo cômodo —
comento.
— Desde quando você é apto a torturas? — Noah pergunta.
Começo a balançar a cabeça enquanto rio do meu irmão e a
sua antipatia para com quem venha a falar da nossa família.
Eu sempre agradeço por Meredith e Liam terem entrado na
vida do meu irmão, senão, teria receio do tipo de coisa que Noah já
teria se submetido por conta do seu temperamento forte.
— Olha, amanhã partiremos, mas em breve estarei de volta.
Sei que tenho muitas coisas a se fazer em Londres, mas também
não consigo deixar Grace e Isabel só. Elas precisam de mim —
aviso mudando de assunto, referente a nossa partida de volta para
Florença.
— Nós entendemos, Ian — Jeremy diz. — Quando nos
tornamos pais e esposos de família, não há mais nada que
gostaríamos de priorizar, senão o bem-estar de quem mais nos
importamos.
Fico olhando para ele.
Noah se levanta e então me dá um abraço forte, para depois
olhar no fundo dos meus olhos e dizer:
— Estamos orgulhosos. Você pode ser o caçula, mas
oficialmente é um homem feito agora.
Issovindo deles é muito importante para mim. Eu já sou um
homem de trinta anos, tenho a minha empresa e fortuna, mas sou
solteiro e vivia minha vida libertina como se nada mais no mundo
importasse. Por isso, as vezes, tenho a impressão de que meus
irmãos não estão me levando a sério, uma vez que a vida deles já
façam sentido e seguem caminhos firmes.
Eu parecia ser o único perdido.
Mas agora começa a fazer sentido. Para todos nós.
— Sentiremos a sua falta, Ian. Vê se não demora muito, as
vezes, sinto falta de alguém perdendo no bilhar para mim — Noah
diz e Jeremy se aproxima, rindo debochado.
— Diz isso porque não aguenta mais perder para mim, não é,
Noah?
Olho para os dois.
— Quando chegar a Florença, vou perguntar para Domenico
se ele sabe jogar bilhar. Aí você terá o adversário dos sonhos, meu
irmão.
— Faz isso, que o único buraco que a bola de bilhar vai
acertar, será o da sua bunda — ele me ameaça, mas gargalho alto.
Ouvimos uma batida à porta, então ela é aberta e Grace surge.
— Estou atrapalhando alguma coisa? — ela pergunta assim
que percebe que ainda nos recuperamos das risadas.
— Nada muito relevante para uma dama que com certeza tem
coisas mais importantes do que lidar com três machos agindo como
bobões — Noah diz e ela ri.
Meu irmão e ela se deram bem nesses dias. Não lembro de
algo parecido ter acontecido no cruzeiro, mas Grace o acha
engraçado, assim como Audrey me acha muito divertido e Meredith
adora Jeremy.
É como se além de sermos irmãos, nossas esposas tivessem
ganhado amigos. Não somos apenas uma família.
— Não tenho dúvidas disso — ela rebate ainda sorrindo e,
então, complementa: — Mas como não temos babá, está na hora
dele ficar um pouco com a Isa, enquanto me preparo para o jantar
.
— Oh, sim — digo dando então uma última e longa golada da
minha cerveja. — É claro, meu amor.
Grace me olha quando me refiro a ela desse jeito. Issoa deixa
louca, sei disso.
Mas perto dos meus irmãos, Grace fica um pouco sem jeito.
— Hummm, meu amor — Noah repete. — Está vendo isso,
Jeremy? Ian é o último dos românticos.
— Vão atrás de suas esposas — digo fazendo uma careta,
então, pego Grace pelo braço, sorrindo para ela. — Vamos, minha
querida.
Saímos no quarto e já no corredor, Grace pergunta:
— Salvei você?
— Você sempre está me salvando.
Consigo deixá-la ruborizada e isso começa a me dar ideias
para o final dessa noite.
••••
Voltar para Florença me rendeu muito trabalho. Para ser mais
específico, Domenico me deu trabalho.
Querendo aproveitar a minha estadia na cidade por tempo
indeterminado agora, ele quer que a minha equipe e eu trabalhemos
em um novo projeto para um de seus navios.
Claro que aceitei a oferta.
É uma coisa grande e que precisarei de muito foco antes de
colocar em prática todas as pesquisas e estudos que venho
fazendo. Mesmo assim, aqui estou, sempre procurando por
qualquer momento que seja com Grace e Isabel.
Hoje, ela me informou que está na casa de Domenico, então
apareço sem avisar, porque a intenção é fazer uma surpresa.
Consigo passar pelos seguranças, tenho carta branca para
isso desde que Isabelnasceu. Eu posso ter me comovido com este
bom ato de Domenico e perceber que ele estava erguendo uma
bandeira branca.
Mas o cara é difícil de verdade e dou sorte por não o encontrar
aqui neste horário.
A mansão de Domenico é grande, estilo vitoriana. Cheia de
cômodos, mesmo que para um homem solteiro, que leva uma vida
solitária.
Os empregados parecem não estarem aqui.
Mas, para a minha sorte, vejo apenas um movimento na
piscina e me aproximo enquanto vejo uma bela mulher tão distraída
em seu nado.
Eu me aproximo ao ponto de ficar na beira da piscina e cruzo
os braços enquanto a observo nadar em minha direção.
Grace então emerge, lindamente.
Cabelo úmido e tão sedoso, os cílios ressaltados, as
bochechas avermelhadas indicando que ela já está aqui há um bom
tempo.
Porra, ela parece um anjo, e me olhando assim parece até que
quer me enfeitiçar, ou alguma coisa do tipo.
— Olha só quem apareceu — ela diz.
— Sentiu a minha falta?
Ela cerra os olhos, pois logo acima de mim, o Sol também
brilha.
Grace é branquinha e as gotas de água em seu corpo brilham
como pedras de cristais reluzindo contra a luz.
— Tem sido chato com você fora de casa a maior parte do
tempo — revela cruzando os braços na borda da piscina.
— Diz isso por você? — pergunto e Grace sorri.
— Aprendi a me acostumar com a sua presença. Ela é…
Viciante.
— Sei exatamente o que a torna assim.
Grace morde o lábio, parecendo uma menina bastante levada.
Confesso que ela molhada é uma delícia, de tantas maneiras,
e isso já me dá ideias que por enquanto preciso guardar só para
mim.
— Onde está a nossa menina?
— Dormindo. Esse é o horário dela, lembra?
— Verdade — concluo olhando para o relógio de pulso, vendo
que já são umas 18h: 30min. — Mas e os empregados?
— Essa hora já foram dispensados, ficando apenas os
seguranças. Quer tomar banho comigo? — pergunta,
inesperadamente.
— Não tenho roupas adequadas para isso.
— Pula nu — diz como se fosse algo simples.
Olho em volta, estudando o terreno.
— Não parece muito adequado. A última coisa que quero é ser
morto pelo Domenico por tomar banho nu na piscina dele.
Ela começa a rir, o que é muito gostoso de ouvir junto dessa
tarde gloriosa.
— Quer saber? Tive uma ideia — digo me afastando.
Começo a tirar os sapatos e as meias. Arregaço a barra da
calça até os joelhos, deixo tudo que está no meu bolso sobre a
espreguiçadeira, então volto para a beira da piscina e me sento na
borda.
Sorridente e satisfeita com a minha ideia, Grace se posiciona
entre minhas pernas.
Ela está literalmente de cara com o meu pau. Mas é algo que
não comentamos a princípio.
— Agora sim. — Mas seu sorriso logo se desanima. — Escuta,
Ian.Por que acha que Domenico não gosta tanto assim de você?
Achei que vocês tivessem algum tipo de amizade, ou que você não
temesse tanto assim a ele.
Franzo o cenho.
— Não tenho medo dele e somos colegas de trabalho. Nada
de mais. Mas a verdade é que a rixa toda é do Domenico, comigo e
com meus irmãos. E isso não é de agora.
— Juro que às vezes não entendo o motivo dele ser tão rude.
Eu amo o Domenico. Amo como um pai, de verdade. Mas, às vezes,
ele parece tão cego e tudo é culpa desse seu rancor.
— Rancor de quê? — pergunto sabendo que esse assunto faz
parte de uma zona proibida.
Não é nenhuma novidade que Domenico precisou batalhar
muito para ter vencido a vida.
Mas quanto?
— Domenico cresceu como um garoto humilde e levou muita
porrada da vida para garantir o seu sucesso. Por isso, ele se
estressa muito fácil com pessoas da sua classe social que já
nasceram privilegiadas. Ele não tem paciência com aqueles que se
beneficiam e não falam a verdade de suas conquistas, mas que
ficam fazendo falsos discursos de superação.
Balanço o dedo em sua direção.
— É exatamente por isso que ele não curte muito meus irmãos
e eu.
— Acho que vocês são diferentes. Acho que antes eu pensava
da mesma forma, mas agora sei que cada um teve a sua superação
pessoal. Isso não é uma competição sobre quem sofre mais, Ian.
Gostaria que o meu padrinho entendesse isso.
Sorrio para ela, orgulhoso de suas palavras serem discretas e
tão certeiras.
Eu não sabia que era sobre isso o que queria falar, até ouvir
Grace falar.
— Você tem razão.
Ela dá um sorriso triste. Pode estar certa, mas não se orgulha
disso.
Grace e eu não falamos mais nada.
Ela aproveita para dar outro mergulho ao dar um impulso e se
afastar. Ela é uma ótima nadadora, sabe exatamente o que está
fazendo, parece até uma sereia.
De repente, gosto de imaginar como seria vê-la ensinando
Isabel daqui uns anos.
Logo ela volta e se escora na beira da piscina de novo, entre
as minhas pernas. Então lembro porque decidi vê-la mais cedo hoje.
— Recebi uma ligação da minha equipe que fica instalada no
Canadá, precisarei ir até eles.
Grace não consegue disfarçar o semblante triste.
— É tão urgente assim?
— São algumas coisas que precisam da minha análise, Grace.
Passei muito tempo ausente, então a cobrança está chegando.
Tenho que começar a voltar à ativa — explico, sentindo o meu
coração se partir enquanto seu olhar se mantém baixo. — Diga
alguma coisa — peço.
— Ficará por quantos dias?
— Quatro, no máximo.
Ela bufa.
— Acho que dá para sobreviver — confessa.
— Não é como se você fosse morrer de saudade — brinco
relembrando tempos não muito antigos, de quando não fazia
diferença na vida de Grace.
Ela então me olha de um jeito que quase me rouba o fôlego.
Seus olhos azuis estão acesos e, de repente, sei o que isso
significa.
A esta altura, eu já sei.
— Olha só quem fala. Como se não soubesse que você vai
voltar rastejando para Florença à minha procura.
Arqueio as sobrancelhas, impressionado.
— Depois eu que sou o arrogante, não é?
Ela só faz rir.
— Bom, posso provar que estou certa.
Grace começa a tirar as suas peças de biquíni, a começar pela
parte de cima e então depois a calcinha, de forma lenta. Ela larga ao
meu lado as peças azul-marinho, ensopadas.
A água clarinha me permite ver o seu belo corpo despido,
ondulando como uma serpente.
Grace se afasta para que a veja melhor e, então, volta a
mergulhar, agora de peito para cima, exibindo seus seios e a sua
boceta imersa na água.
Mordo o lábio.
A sua pele reluz.
Olho para os lados para ver se nenhum segurança tarado a
observa escondido, mas não avisto nada.
Eu não pularei na piscina e não tem muito o que fazer, senão
observá-la.
E é lindo.
Parece a porra de um sonho, de uma realidade onde você
imagina toda a cena na cabeça, enquanto ouve uma música
certeira.
Mas isso é real, o que me deixa mais excitado.
Dentro da minha calça, o meu pau sofre com o aperto que já
incomoda a ereção.
Estico as mãos no chão ao me apoiar, totalmente relaxado. E
quando Grace surge, ela sabe exatamente o que fazer ao ver que já
estou bem animado.
— Sinto que estou prestes a fazer algo que posso me
arrepender muito se for flagrada. Mas sei que o arrependimento
será maior se não fizer nada.
— É melhor se arrepender por algo que fez, do que por algo
que não fez. Porque, no final, você sabe que vai ter valido à pena —
digo convicto e Grace sorri.
Suas mãos então começaram a trabalhar, molhando a minha
calça toda, mas não me importo. Seus dedos são ágeis na hora de
tirar meu cinto e desabotoar minha calça.
Eu a ajudo ao agarrar o meu pau e o colocar para fora,
tocando nele, mostrando toda a minha potência, completamente
sedento por ela.
E como uma sereia que fisga o seu pescador, Grace desliza
metade do corpo para fora da piscina, completamente nua, agarra o
meu pau e lambe a cabeça, fazendo a gota de pré-gozo diluir na
ponta da sua língua.
Em resposta, arfo.
Ela lambe toda a extensão do meu pau como se eu fosse a
porra de um picolé. E quando ela o engole por completo, jogo a
cabeça para trás, gemendo ao sentir a sua boca quentinha e macia
apertando o meu pau duro.
— Você não tem noção do quanto essa é a paisagem mais
linda que já vi na minha vida, Grace.
E é verdade.
Ao fundo do mirante da mansão de Domenico, há Florença,
que reluz na noite que se aproxima.
A piscina brilha e o bumbum arrebitado de Grace também é
uma provocação sem igual. Sem contar que ela me olha de um
jeitinho safado e piedoso enquanto me chupa.
Além do som dos grilos que invadem o silêncio do anoitecer,
há o som de Grace mandando ver.
Glup... Glup... Glup.
Ela se engasga com o meu pau toda vez que o leva até o
fundo da garganta. Mas ela também geme, porque adora me chupar
e parece que isso a deixa mais excitada do que a mim.
Fecho os olhos, pensando na sua bocetinha e o quanto deve
estar úmida.
Se temia Domenico me matar por nadar nu na sua piscina, não
sei o que ele fará se descobrir o que estamos fazendo aqui.
— Precisamos sair daqui — digo quando sinto que podemos
ser observados a qualquer momento.
Grace me dá uma última sugada, sem hesitar após a minha
ideia.
— Concordo plenamente. — Lambe os lábios. — Já sei onde
podemos terminar isso. Me ajuda.
Então eu me levanto, a pego pelos braços e com apenas um
puxão, a tiro de dentro da piscina.
Grace está toda molhada, mas nem isso parece ser um
incômodo quando ela me guia até uma das portas abertas de um
quarto que dá para a piscina. Vejo algumas coisas por aqui e
deduzo que ela passou por esse local, por isso as portas, vulgo
janelas, estão abertas.
— Aqui é perfeito.
As portas são de vidro e não fará muita diferença fechá-las. As
cortinas sopram para o lado de fora junto com o vento que percorre
pelo quarto, mas nem tenho tempo de pensar em nos dar mais
privacidade. O importante é que agora estamos mais acomodados.
Grace cola seu corpo ao meu, envolve seus braços ao redor
do meu pescoço e começa a me beijar. A sua língua se embola com
a minha.
Eu a deito na beira da cama, encolho as suas pernas e me
ajusto diante dela. Grace fica me olhando ansiosa.
— Amo quando você me come assim — ela diz cheia de
lascividade. — Consigo ver seu pau entrando em mim, lentamente.
Cada centímetro.
Enfio a cabeça na sua entradinha úmida e começo a penetrá-la
lentamente.
— Se você pudesse ver o que eu vejo, Grace… — digo a ela,
com a voz rouca e o coração acelerado.
Saio e logo estou entrando de novo.
— Cada centímetro. É realmente a coisa mais satisfatória,
gostosa e excitante.
— Ah, Ian! Por favor, me coma de verdade! — ela implora,
porque sabe o quão gosto de provocá-la.
Sorrio em resposta, porque Grace sempre fica vermelha e fofa
quando está impaciente.
— Com todo prazer, minha querida afobada.
Ela ri, mas, de repente, está séria quando começo a pegar
com força. Sinto minhas bolas batendo contra a sua bunda.
Grace está vermelha como nunca. Essa é a sua posição
preferida porque é onde ela sente literalmente até o fundo.
A cama e os lençóis estão ensopados, mas isso não importa. A
cama está rangendo e, de repente, parece que estamos dentro da
porra de um forno.
Estico as suas pernas e ela começa a choramingar de tanto
prazer.
— Gosta de quando tô socando com força nessa boceta, não
é? — pergunto, mesmo sabendo que ela mal consegue gemer. —
Porra, Grace! Você tinha que ser tão deliciosa? Como vou saber
ficar longe de você? — Saio de dentro dela.
Nessas horas, é incrível como tenho forças sobre ela, pois,
consigo deixá-la de quatro na cama, com os joelhos perto da
beirada, porque quero algo bem intenso e sei que assim ela vai
gostar.
— Empine essa bunda, querida — ordeno e ela obedece.
Grace empina com tudo e sorrio, satisfeito.
Eu me agacho até ela e dou uma lambida caprichada do seu
grelinho até o cuzinho. Grace estremece, a vejo agarrar os lençóis,
mas não diz nada.
Essa é a minha garota.
Repito o movimento mais uma vez, até vê-la completamente
relaxada. Quando isso acontece, começo a lamber o buraquinho
que tanto gosto de brincar.
Ainda não tivemos a oportunidade de tentar aqui, mas está em
nossos planos.
— Caralho, Ian!— Ela solta um palavrão de tão excitada que
está. — Meu Deus, Oh, meu Deus!
Eu a deixo bem molhadinha e meu pau fica pulsando. Ele está
louco para entrar aqui, mas primeiro, quero que Grace use o
presente que deixei para ela em seu closet antes de aparecer aqui.
Eu me ergo.
— Quando voltar do Canadá, vou comer essa bunda e você
vai saber o que é prazer de verdade, meu bem.
— Como sabe disso?
Dou um sorrisinho.
— Se você já fica assanhada com uma lambida na bunda,
imagine quando tiver um pau socando tudo aqui. — Coloco meu
polegar no seu buraquinho e Grace arfa.
— AAAh.
— Sim, assim mesmo — murmuro, enfiando o dedo todo.
Penetro a sua boceta com meu pau, Grace grita à medida que
a fodo. Eu também resmungo em prazer.
É tão delicioso comê-la assim; ambos ficamos extasiados.
A minha mão livre a agarra pelo cabelo.
Sinto que seria capaz de fazer qualquer loucura com Grace,
nesse momento. Eu a quero para mim, quero nos tornar um só.
— IAN! — ela grita, gemendo. — Isso. Isso.
O som do sexo invade o quarto, enquanto boto forte nela,
como se o mundo fosse acabar.
De repente, uma ânsia me doma, meu estômago gela e um frio
sobe por minhas pernas.
— Vo-vou gozar, linda — aviso.
Um segundo depois, já estou despejando tudo dentro dela.
Percebo que Grace também está prestes a ter um orgasmo,
então a ajudo. Torno as estocadas mais curtas e apressadas. Sinto
seu grelinho contra minhas bolas. Eu a pressiono, a esfrego contra
mim.
— Está vindo! — avisa.
É quando volto a socar nela com mais força, da ponta até a
base.
Grace grita e depois chora quando o alívio instantâneo a
atinge.
Capotamos na cama, completamente exauridos.
Preciso me recuperar bem antes de formar a primeira frase
pós sexo:
— Esses seguranças do Domenico são inúteis. Você aos gritos
e eles nem para ver o que está acontecendo.
Grace começa a rir.
— Aposto que eles perceberam o que estava acontecendo.
Além do mais, nem gritei tão alto assim.
Olho para ela, abismado.
— Você é muito escandalosa quando está transando, Grace.
Não é à toa que seus vizinhos começaram a reclamar disso.
Seus olhos ficam arregalados enquanto rio alto.
— Grace, relaxa. Estou inventando. — Dou um beijo em sua
boca. — Minha escandalosa.
Ela fica olhando para mim e seus dedos penteiam meu cabelo.
— Vou sentir a sua falta — ela confessa.
— Serão só quatro dias — respaldo.
— Eu sei, mas… — Ela bufa. — Com você, tudo parece
completo.
Fico olhando para ela, sentindo a boca do meu estômago
fechar.
Porra, Grace realmente sabe como me deixar assim, como se
mil asas estivessem batendo rapidamente dentro de mim.
Pego a sua mão e beijo.
— Eu volto logo, prometo. Não sei mais viver sem vocês —
admito, puxando Grace para um abraço.
Ficamos assim por um tempo, porque também sentirei muita
falta. Solto um suspiro, pois me vejo completamente dependente de
Grace. Afinal não importa o que aconteça, sempre serei pai da
Isabel.
Mas, Grace…
Posso perdê-la, por qualquer motivo e isso estranhamente me
assusta, pois, sinto que não sou capaz de lidar com uma ideia
dessas.
Ian ainda está fora. Quer dizer, faz dois dias desde que ele
viajou para o Canadá, mas já faz falta e não gosto disso.
Pode parecer fofo como ficamos dizendo isso um para o outro,
como se fôssemos amantes, mas a verdade é que chega a ser um
pouco embaraçoso.
— Será que você está apaixonada? — Vanessa me pergunta
quando conto a ela.
Estamos sentadas na sacada do apartamento dela, pois, me
chamou para um chá da tarde.
Aproveitei para passar o dia todo com ela e botar o papo em
dia.
Apesar de estar aqui, me lamuriando por Ian,ainda tenho uma
vida de empreendedora para cultivar. Então, por isso, não dou tanta
atenção para as coisas que sinto, não tenho tempo para isso.
Mas no final da noite, o lado de Ianem minha cama está frio e
me dói.
Torço o nariz com a pergunta dela.
— Acho que estou apegada. É diferente — respondo sem ter
muita certeza, mas não deixo isso transparecer.
— Então quer dizer que está carente. — Não foi uma pergunta,
mas uma conclusão que me deixa inquieta.
— Você sabe que não, também.
Vanessa bate as mãos, impaciente.
— Amiga, não tem mal algum admitir que está apaixonada, ou
carente. Somos seres humanos, essas coisas acontecem! — Ela
parece indignada, mas não consigo mais levar a sério, quando ela
completa: — Eu sempre estou carente e acho que o único capaz de
dar conta disso, é o seu pai.
Cerro os olhos para ela.
— Pai? — Fico surpresa.
É a primeira vez que a vejo falando desse jeito de Domenico.
Vanessa toma um gole do seu chá e joga o cabelo para trás,
enquanto se estica toda, se exibindo.
— Soa mais excitante quando o encaro como o seu pai. Com
todo respeito, amiga.
Dou um sorriso.
— Você é louca e nitidamente mais tarada do que eu.
Ela dá de ombros.
— Bem, você sabe o que dizem das ruivas. A gente bota fogo!
— exclama, toda orgulhosa.
— Tenho certeza de que não vai ser assim que você
conquistará o meu padrinho, Vanessa — enfatizo, tomando seu chá
de camomila natural que ela fez e está toda orgulhosa por isso.
— Por falar nisso, como vão as coisas entre vocês?
Instantaneamente, mordo o lábio, lembrando do dia em que
chupei Ian na piscina do meu padrinho e depois transamos
loucamente em um dos quartos de hóspedes. Depois disso fiquei
precisando agir como se nada tivesse acontecido, o que era um
pouco difícil. Contudo, felizmente Domenico não ficou sabendo de
nada.
O que me deixou preocupada.
Ian,no final, tinha razão sobre os seguranças do meu padrinho
e fiquei questionando o profissionalismo deles, por não terem tido o
mínimo de preocupação.
Ok, preciso admitir, não sei ficar calada na hora H.
Mas considero isso um ótimo ponto!
— Vai bem. Vamos jantar hoje na casa dele. O que significa
que irei dormir lá.
— E o que ele diz sobre você e Ian… — Ela adota uma
postura cautelosa.
Dou de ombros.
— Ele deveria achar alguma coisa? Ianestá fazendo o que ele
queria desde o início, que fosse presente. Estar se envolvendo
comigo, é uma consequência disso. Espero que ele seja
compreensível. Afinal de contas, não sou mais nenhuma criança.
— Acho que ele não confia no Ian— Vanessa reflete, olhando
para a praça lá embaixo, onde centenas de pessoas passam.
— Não é sobre confiança, Vanessa. É sobre honra. Meu
padrinho é um homem muito orgulhoso de seus feitos, ele odeia a
sua classe.
Vanessa bufa.
— Olha, Domenico é um gostoso que eu adoraria passar
apenas uma noite. Não sei se conseguiria lidar com ele, é um
homem muito complexo! Amiga, não sei resolver nem um cubo
mágico!
Gargalho e gargalho mais um pouco, porque ser amiga da
Vanessa é isso, risadas sem fim.
— Com certeza em algum lugar no mundo existe uma mulher
perfeita para ele, assim como ele será perfeito para essa mulher —
profetizo.
— Talvez seja isso que falta para ele amolecer mais um pouco.
Uma mulher fodona! Mas que também seja delicada, ao ponto de
torná-lo um cachorrinho para ela — pontua.
Fico pensativa.
— Eu fico com pena do seu futuro namorado, Vanessa —
comento e ela ri antes de tomar mais chá. — As pessoas precisam
de um amor leve e não de um amor opressor.
Vanessa balança a cabeça.
— Ah, querida, Grace. Amar é sobre isso, as duas pessoas
ficarem rendidas. Não tem como.
Mexo a colher no meu chá, formando redemoinho de tanto que
enrolo para beber. O meu chá está quente demais e apesar de ser
bom ao consumir fumegante, não estou a fim de queimar a minha
língua.
— Acha que estou rendida ao Ian?— pergunto e depois me
arrependo, mas já é tarde demais.
— Minha querida amiga, você está completamente entregue.
Acho que no final das contas, você só precisa admitir isso a si
mesma. Ou ele também. Tenho certeza de que isso é mútuo.
Dou um sorriso, descrente.
— Qual é, V. Estamos falando do Ian, esqueceu?
— E você não disse que o conheceu o suficiente esses
tempos?
— Só que o caráter dele não muda suas opções abertas de
relacionamento.
— Pois me parece que você só está insegura.
Respiro fundo.
— É, eu estou, Vanessa. Tenho que admitir. Não quero me
machucar, mesmo sabendo que já estou propensa a isso.
Os lábios de Vanessa se curvam para baixo, ela estica a mão
para pegar no meu cabelo e fazer carinho.
— Oh, amiga. Vai dar tudo certo. E quer saber de uma coisa?
Se o Ian fizer você sofrer, eu vou atrás dele e arranco o seu
coração!
— Imaginoque o Domenico tiraria as bolas dele também, só
para ele ter um dedo nisso — complemento.
Vanessa ri.
— Seríamos uma excelente dupla. Para matar.
Começamos a rir juntas, então, terminamos o nosso chá e
conversamos mais um pouco.
Conto para Vanessa como está o processo de organização da
minha empresa de eventos e decoração para a grande inauguração.
Estou muito ansiosa e ela acontecerá em seis semanas, então,
mal posso esperar.

À noite, me junto ao meu padrinho para o jantar. É incrível a


forma como Iandispensa empregados, já Domenico faz questão de
tê-los, um para cada função.
Ele diz que é para empregar mais pessoas, vê-las ganhando
seu salário sem depender do governo.
Domenico sente prazer em empregar pessoas.
Tudo um reflexo da sua vida difícil, antes de se tornar um
magnata.
Apesar de dispensar uma babá para Isabel no dia a dia em
casa, aqui ela tem uma.
Me visto de um jeito simples para o jantar. Coloco apenas um
vestido verde, casual, sem ser muito sexy porque não quero
impressionar ninguém.
O jantar contará com dois colegas de trabalho de Domenico,
Pablo e Ferdinando.
Será um jantar casual, mas de negócios também. E sempre
que possível, Domenico me deixa participar para que assim absorva
o máximo de conhecimento sobre o mundo dos negócios.
Mas sei que será um jantar caprichado e que Domenico gosta
das coisas bem-feitas. Por isso, estou arrumada. Isabel também
está vestida feito uma princesa, embora passe a maior parte do
tempo em sua cadeirinha.
— Não há nenhuma mulher na sua lista de convidados? —
pergunto a ele, enquanto esperamos na sala de estar.
Domenico já beberica seu uísque escocês.
— É claro que tem — diz como se fosse óbvio. — Você e a
Isabel.
Reviro os olhos.
— Assim não vale. Eu deveria me preocupar sobre a sua
empresa não ter nenhuma representação feminina atualmente?
Estamos sentados em sofás diferentes. Isabel dentro do
carrinho, acordada só prestando atenção em toda conversa.
Domenico parece ficar pensativo.
— Mas tem. Elas só não são populares na Itáliacomo você.
Mas esse jantar só tem você de mulher, porque, no final, eu e meus
colegas trataremos de assuntos sérios sobre investimentos em um
outro setor.
Arqueio as sobrancelhas, surpresa pela notícia.
— Hummm, vai aumentar a fortuna. Mas confesso que estou
surpresa pelo fato de você mirar em um outro setor de negócios,
além dos navios.
Meu padrinho gira o copo com cuidado, ele está muito sério, o
que não é incomum. Mas algo me diz que esse assunto é
extremamente sério.
— Você sabe que não costumo esconder as coisas de você,
Grace. Então só vou falar o que está certo até agora, um antigo
amigo que me ajudou muito no início da minha carreira, está
definhando. Não vai demorar muito para que ele bate as botas. Há
boatos de que ele vai colocar a empresa dele em leilão e eu,
sinceramente, não quero que isso aconteça, porque ele tem uma
herdeira.
— Uau!
Ele bufa, demonstrando como o assunto em questão
realmente o tira do sério. O que é uma novidade, pois, os problemas
dos outros não costuma deixá-lo assim.
— Pois é. Pode ser que seja apenas boatos, mas quero
proteger a integridade do nome dele, da filha e tudo o que ele fez
por mim. Faz muito tempo que não falo com ele, mas se for preciso
agora, farei.
— E se ela não quiser ter essa responsabilidade de comandar
os negócios de família? Acho que a opinião dela precisa ser
questionada, antes de mais nada.
Domenico me olha e dá um sorriso.
— Você tem razão, Grace. Sempre tem. Mas temo que essa
questão seja mais delicada do que aparenta ser — enfatiza e então
se levanta, andando até a janela, ficando de costas para mim. — Eu
não quero tomar os negócios dele, mas também não deixarei outras
pessoas colocarem a mão nele. Assim como dei muito duro, este
homem também deu para estar onde está agora.
— Posso perguntar para Ian se ele ouviu algo sobre esse leilão
— sugiro.
— Duvido muito.
— Ah, padrinho, tenha um pouco de fé nele.
— E desde quando um O’Donnell é um santo? — Ele me olha
e sorri enquanto bebe, mostrando ter amado questionar isso. —
Sinceramente, eu nem sei se quebrarei os ossos dele por ter
entrado na minha casa e feito coisas sórdidas.
Eu não bebo nada, mas me engasgo, sentindo meu rosto
ruborizar.
— Por que faz tamanhas acusações? — Ainda tenho a cara de
pau de perguntar.
Domenico vira o uísque de uma vez e nesse instante sei que
virá um sermão.
— Precisei ver meus seguranças me confessando de forma
muito constrangedora de como eles ouviam gritos e gemidos no
rumo da piscina. E, naquela tarde, você ficou em casa para se
refrescar. Consequentemente, tivemos de trocar o colchão do quarto
de hóspedes por estar completamente ensopado.
Porra!
Eu não sabia onde afundar a minha cara de tanta vergonha
que estava. No entanto, ironicamente, também queria rir como
nunca. Estranhamente, me senti um máximo também.
Eu adorava colecionar tais aventuras com Ian.
— Você está rindo, Grace? — ele pergunta, abismado. — Não
acredito que você está achando graça disso!
É aí que rio mais ainda, ao ponto de me contorcer no sofá.
Em outras circunstâncias, como no passado, teria me odiado
por ter sido desmascarada desse jeito.
Mas agora não me importa, estou mais confiante.
— Desculpa! — digo tentando recuperar o fôlego. — Desculpa,
por absolutamente tudo. De verdade.
Ele ficou me olhando, parecendo estar desacreditado. Então
solta um suspiro e se aproxima.
— Olha, você já é uma mulher feita. Tem o direito de viver a
sua vida como quiser, mas esse Ian…Só espero que você saiba o
que está fazendo, Grace.
Engulo em seco.
— Não vou dizer que sei o que estou fazendo, porque não sei
mesmo. Mas gosto de estar com ele, me sinto bem. Me sinto…
Livre.
— Até demais, não acha? — pergunta e rimos.
— Desculpa mais uma vez, padrinho. Prometo que serei mais
tradicional da primeira vez.
Ele revira os olhos.
— Por favor, me poupe dos detalhes da sua vida sexual.
— Bem, considerando que a minha filha não veio de uma
cegonha, posso afirmar que sexo não é um assunto desconfortável
para mim.
— Mas para mim, sim. — Ele eleva o tom de voz, me
impedindo de continuar a falar, estando visivelmente desconfortável.
— Santo Deus, Grace! Para mim, você sempre será uma garotinha.
Não foda com o meu psicológico.
Eu rio ainda mais.
Sempre foi assim, uma diversão o tira do sério!
— Não posso fazer isso, padrinho. O senhor ainda precisa
encontrar a mulher da sua vida — argumento.
— É mais fácil eu ganhar um milhão de euros.
— Claro, o senhor ganha essa quantia toda semana! — rebato
e ele sorri, todo orgulhoso.
Um sorriso que poucos veem.
De repente, a governanta aparece na sala.
— Seus convidados chegaram, senhor.
— Ótimo. Obrigado, Maria,
Solto um suspiro.
— Bem, então vamos lá, Isabel, representar as mulheres desta
corporação — digo a minha filha enquanto empurro o seu carrinho.
••••
O jantar está sendo agradável. Há velas na mesa, muita
comida e consigo me situar nas conversas de Domenico e seus
amigos.
A verdade é que Pablo e Ferdinando são amigos de
Domenico, mas ele é muito orgulhoso para admitir isso em voz alta.
Reconheço que tenho privilégios por, no fim, ser uma das poucas,
senão a única ao lado de Isabel, que conhece o lado mais afetivo de
Domenico.
Na parte da sobremesa, quando todos já estão mais inteirados
sobre assuntos da empresa, Pablo, um homem loiro e bronzeado,
com descendência grega, pergunta:
— E como vão os negócios, Grace?
Engulo o Tiramisu que acabei de colocar na boca. Seus olhos
azuis estão em mim e ele me olha de um jeito como se soubesse a
beleza que possui.
— Estão indo bem — respondo animada, afinal não são tantas
pessoas que me perguntam sobre isso. — Na verdade, faltam só
seis semanas para a inauguração, então estou bem animada.
— Você teve toda experiência possível para embarcar nessa.
Imagino que deve estar tirando de letra — Ferdinando pontua,
tomando uma taça de champanhe e dou um sorriso sem jeito.
Ele tem uma beleza mais elegante, menos bruta que a de
Pablo. Homem da pele alva, olhos acinzentados e cabelo escuro
que está sempre penteado pra trás.
Vanessa também cai de amores por eles, os acham muito
sedutores. No entanto, para ela, nenhum supera o Domenico.
— Na verdade, tirar de letra chega a ser um eufemismo —
rebato. — Quando se está na frente do seu negócio, ainda mais no
começo, tudo parece ser difícil. Há mais motivos para desistir, do
que para continuar.
— Não seria ao contrário? Mais motivos para continuar, do que
desistir? — Pablo pergunta.
— Hã, sim. É claro. Mas como sabem, acabei ficando gestante
e muita coisa aconteceu, tentando me fazer desistir. Mas eu não
desisti, porque sabia que precisava de apenas um motivo para não
fazer isso.
Domenico aplaude.
— Bravo! Essa é a minha garota — diz todo orgulhoso.
Pablo dá um sorriso malicioso.
— E me diz uma coisa, Grace. Ian O’Donnell ensina alguma
coisa para você? — Ele me olha profundamente, parecendo querer
procurar encrenca com a pergunta.
Ok, talvez eu comece a lembrar porque Domenico os
consideram apenas colegas, pelo menos Pablo, mas o fato é que
ele é um imbecil.
E tinha esquecido completamente disso.
— Não coisas que não tenho interesse em aprender — refuto.
— Ah, mas ele é do mundo business também! Não é?
Olho para Domenico, que se mantém alheio a conversa e sei o
que isso significa, ele não irá intervir, até que eu acabe com Pablo.
Uma simples questão de aprendizado, diria.
É como estar aprendendo andar de bicicleta sem as rodinhas.
Primeiro você as tira e então confia que vai dar certo, se não der,
você interfere antes que a queda seja feia.
Isso se der tempo.
— Sim, inclusive é muito bom no que faz quando o assunto é
tecnologia e negócios. Não é à toa que muitas empresas brigam por
ter um selo da companhia de Ian.
— Você parece ter muito orgulho do seu companheiro — ele
insiste. — Vi algumas notícias sobre vocês.
— Notícias são apenas boatos.
— Verdade. Não acho que estejam realmente em um
relacionamento sério.
— Pablo… — Ferdinando tenta chamar a atenção do grego
enxerido.
Como não percebi muito tempo antes este seu
temperamento?!
— Só estou dizendo que essa relação repentina, não me
desce.
Pisco.
Que abusado!
— Bom, Pablo. Acontece que você não precisa engoli-lo, ele
não tem nada a ver com você. Aliás, nem sei o motivo de estar tão
incomodado!
— Não estou incomodado, apenas curioso.
— A curiosidade matou o gato. E até onde sei, você não tem
sete vidas.
Ele sorri de lado, mas parece afetado.
Isso não foi uma ameaça séria, mas ele sabe do que estou
falando. Pablo está se queimando à toa…
E por uma simples curiosidade?
Bom, issorealmente não desce.
— Uau! — Domenico diz depois de um tempo.
Sinto a tensão pesar na mesa.
Ficamos à espera da reação do meu padrinho, mas ele fica em
silêncio.
Domenico acende um charuto, assopra e então o aponta para
Pablo.
— Não sei de onde você tirou toda essa ousadia, mas na
minha casa isso a gente chama de falta de educação. Falte com
educação de novo, que você não vai conseguir acertar o caminho
da sua casa.
Meu corpo gela.
Domenico não é um homem violento, ele abomina qualquer
tipo de agressão. No entanto, brinque com os princípios dele ou com
aqueles que ama, que então você verá o pior lado dele.
Pablo ri, nervoso.
— Eu só estava tentando relembrar os velhos tempos, onde
Grace e eu brincávamos.
Fico olhando para ele, arrasto a cadeira para trás e me
levanto.
— Acontece que agora eu sou mãe e tenho um
relacionamento. Peço que me respeite e que não venha com as
suas gracinhas na intenção de me diminuir, ou questionar a minha
vida como se ela fosse um direito seu.
Ele apenas acena com a cabeça e abaixa em sinal de respeito.
Olho para Domenico e então para Ferdinando.
O que dizer?
Ambos parecem satisfeitos com a minha postura.
Mas não estou tentando impressionar, apenas me defender.
E defender aquilo que acredito.
Não deixarei que falem de Ian dessa forma, e do que temos.
— Boa noite. Espero que tenham uma excelente reunião pós-
janta — digo enquanto me retiro.
Pego a Isabelno colo e dou um beijo na cabeça de Domenico
quando passo por ele.
Não importa o que aconteça, o respeito verbal sempre irá
prevalecer. Tenho pena do que Pablo ainda irá ouvir de Domenico,
mas ele pediu por isso quando começou com seus questionamentos
sem fundamento.
O percurso da minha viagem acaba mudando. Ao invés de
voltar para Florença, na Itália, tenho que ir direto para Londres.
Bastou uma ligação de Noah, tarde da noite, para que
soubesse que havia algo de errado.
Aquilo não era comum.
Eu atendi a ligação e ele foi direto:
“Papai quer a presença dos filhos, seja rápido.”
Ele não me explicou muito bem o que estava acontecendo,
mas também parecia que não sabia de muita coisa.
De qualquer forma, fiquei com o coração a mil.
Precisei tomar um banho frio antes de pegar o próximo voo
para Londres, porque queria tirar de mim as tensões deprimentes
dos músculos.
Porra, mas quem eu queria enganar?
Era como se o passado estivesse batendo à minha porta de
novo. Voltando com tudo, porque não é como se pudesse esquecer
como foi perder a minha mãe.
Naquela época, eu era mais novo, ainda estava aprendendo
sobre a vida, o que significa que a perda doeu demais em mim.
A minha mãe morreu de câncer de mama. Dinheiro nenhum no
mundo foi capaz de salvá-la, mas ela sempre dizia que a sua fé era
a única coisa que a salvaria do outro lado da vida.
Ela estava pronta para o que viesse e quis que a gente se
preparasse também. Eu demorei para aceitar e sinto que falhei com
ela nesse quesito.
E agora é a vez do meu pai.
Desde que o seu quadro de saúde não mostrou melhoras e os
médicos só nos davam notícias ruins, sabíamos que deveríamos
esperar para algo que não queríamos. E assim como mamãe já
preparava todo terreno, papai agora faz a mesma coisa agora.
Quando deixei o hotel em que estava hospedado, fui para o
aeroporto e peguei o voo direto para Londres.
Foi uma viagem rápida.
Aviso aos meus irmãos que já estou na cidade e assim que
chego no meu apartamento, ligo para Grace.
— Oi. — Ela parece espantada, para a minha surpresa, mas
logo descubro o motivo: — Aqui está dizendo que a ligação vem de
Londres. Está tudo bem por aí?
Coço os olhos e bufo.
Eu deveria ter ido para Florença, mas quebrei a rota. É de se
estranhar, mas também, de temer, e Grace sabe disso.
— Ainda vou saber. Tudo o que sei até agora é que o papai
exigiu um encontro com os filhos.
— Meu Deus, Ian. E onde você está?
— No meu apartamento — digo, já sentindo o nó na garganta
queimar. — Estou com medo, Grace. Já perdi a minha mãe, não sei
se estou pronto para perder o meu pai — confesso, porque sei que
estou contando para a pessoa certa isso.
— Nunca estamos, Ian— ela diz com a voz suave, seguido de
um suspiro. — Olha, pode ficar o tempo que for em Londres, não se
sinta apressado para voltar.
— Desculpa, sei que fizemos planos para quando eu
chegasse, mas acho que independente do que acontecer nesse
encontro com o meu pai, sinto que os próximos dias serão
delicados.
— Tudo bem, Ian. De verdade. Não se sinta pressionado, você
tem que estar com a sua família agora.
— Aí é que está, Grace. Você e a Isabelsão a minha família,
quero estar com vocês também.
— Posso ir com ela, caso você não tenha uma data prevista
para voltar — sugere.
Porra, o que estou fazendo?
Grace tem uma inauguração magnífica para dar daqui cinco
semanas e tudo o que estou fazendo, neste momento, é um jeito de
fazê-la vir para ficar perto de mim.
Sinto que um abraço seu resolveria tudo.
— Não se incomode — digo por fim. — Se Deus quiser não vai
ser nada grave. Se fosse, a notícia ruim já tinha chegado.
— Ah! Então tudo bem, se acha melhor assim.
— Em breve estarei aí, ok?
— Tá.
— Tá.
Um silêncio se instala entre nós dois, ainda que em meio a
ligação. Parece que uma lacuna fica entre a nossa despedida, como
se quiséssemos dizer algo, que não temos segurança em falar.
— Então, mais tarde eu te ligo, beijos.
— Tchau.
Grace desliga a ligação e, logo em seguida, eu também. Fico a
pensar, um pouco arrependido por não ter sido verdadeiro com ela.
No entanto, sei que é uma baboseira, quando nem eu conseguia ser
sincero comigo mesmo.
Meu celular vibra.
Olho a tela e vejo uma notificação de mensagem de texto.
É Jeremy e ele quer saber se já estou em Londres.
Eu digo que sim, e ele me pede para ir até à casa do nosso
pai, o quanto antes.
Sou o único que falta.
Quando estou a caminho da saída, vejo o meu capacete na
mesa do hall. Faz tempo, mas muito tempo mesmo que não ando de
moto.
Eu o fazia por esporte, então, nos últimos meses não tive
tempo para fazer qualquer tipo de atividade que goste.
No entanto, diante de tanta coisa acontecendo, não penso
duas vezes. Recuo somente para ir ao meu closet e colocar a minha
roupa de motociclista. A jaqueta e a calça são de couro e há
proteção na parte dos joelhos e cotovelos. Calço meu par de botas
e, então, pego o capacete.
Agora sim, estou pronto e devidamente equipado.
Já na minha garagem, ignoro as máquinas de quatro rodas e
vou até a minha Ducati preta com detalhes vermelhos. Abro a porta
da garagem pelo comando que tenho no relógio de pulso, ligo a
moto e o seu motor ronca como se eu tivesse acordado uma fera há
muito tempo, adormecida.
Saio da garagem, já acionando o comando para fechar a porta.
Quando paro já na rua, coloco o meu capacete que é da mesma cor
da moto.
A nova casa do papai fica a quinze minutos de onde moro,
mas de moto esse tempo diminui consideravelmente.
Chegarei em dez, no mínimo. Senão em menos.
Quando dou partida na moto e começo a correr pelas ruas,
desviar de carros, ônibus e qualquer obstáculo, lembro porque gosto
tanto de me aventurar nesse esporte. E a resposta está aqui, pela
incrível sensação de liberdade.
Não que não tenha a minha liberdade e independência. Mas
sinto que posso ser capaz de tudo, como voar.
A casa do meu pai é uma das caras que fica no bairro de
Belgravia, e é o que mora mais perto de Noah, depois Jeremy. Já
eu, moro um pouco mais afastado deles.
Sou recebido pelo mordomo do meu pai, o senhor Alex. Ele me
recebe com um cumprimento formal.
— Onde ele está, Alex? — Vou logo perguntando.
— Lá em cima, no quarto dele, com seus irmãos, senhor Ian.
— E os médicos? — pergunto olhando em direção à escada.
— Só está a enfermeira de sempre. Ele está bem, dentro do
possível.
Olho incrédulo para ele.
Se papai está bem, o que significa este encontro urgente,
então?
De algum modo, deduzo que o mordomo também não será
capaz de me responder.
— Hum, obrigado, Alex. Irei lá, fique atento para qualquer
coisa — aviso.
— Sim, senhor.
Subo a escada pulando de dois em dois degraus.
A casa do meu pai em Londres é de três andares. Em baixo,
fica a sala e cozinha, no segundo andar, a sala de TV, e um quarto
de hóspedes. Já no terceiro andar, está o seu quarto e mais um
quarto de hóspedes também.
Tem um quintal pequeno lá embaixo.
Nada aqui, nesta cidade, será comparado a paz e ar puro que
ele tem na nossa mansão em Dublin.
Ele sente muita falta de lá e eu também.
A última vez que estivemos lá, foi antes do casamento de
Jeremy e Audrey. Depois papai adoeceu e os médicos indicaram
mantê-lo em Londres, perto dos melhores hospitais e profissionais.
Não conseguimos ir contra isso e estamos fazendo de tudo
para mantê-lo com a gente.
Confesso que, às vezes, me pergunto se não estamos sendo
egoístas por isso.
E se ele quiser partir?
Eu tenho medo de que ele peça para pararmos de tentar. Que
ele não aguenta mais lutar contra algo inevitável.
A morte.
Chego em seu quarto e lá está ele, deitado em sua cama,
coberto até a cintura pelo lençol da cama. No canto dela, no lugar
da mesinha de canto, há uma máquina que detecta batimentos
cardíacos, e os batimentos do nosso pai parecem estar estáveis.
— Ian chegou — Jeremy avisa, sentado em uma cadeira ao
lado direito da cama do nosso pai.
— Acho que agora o suspense pode acabar, não é? — Noah
pergunta em pé, em frente à janela, ao lado esquerdo da cama, mas
logo se aproxima. — Não durmo bem desde ontem.
— Oi, pai — chamo sua atenção, estando preocupado, sendo
o último a chegar. — Como o senhor está?
Ele está debilitado, nada muito diferente da sua aparência dos
últimos meses. Mas, ainda assim, é difícil de se acostumar a este
homem dependente, que mal pode ir ao banheiro.
Ele está mais pálido e parece estar sempre cansado.
E ele ainda é relativamente novo, está na casa dos sessenta
anos. Mas é a prova do que a negligência à saúde pode nos custar,
em algum momento da nossa vida.
— Ian… — diz com a voz fraca. — Eu estou bem. Mas…
Cansado. Eu estou… Muito, muito cansado.
Travo.
Porra, meu coração está batendo quase na boca. É difícil pra
caramba vê-lo assim e não poder fazer nada para ajudar, nada além
de toda assistência médica que ele precisa e já tem.
É como se fosse um cabo de guerra, onde meus irmãos e eu
puxamos de um lado e a morte, do outro.
E a morte é mais forte, ela quer nos vencer, mas não
permitiremos.
— Podemos voltar então outra hora e o senhor descansa um
pouco — sugiro estando no pé da cama, com as mãos enfiadas no
bolso da calça de couro.
— Não — ele diz, tossindo logo em seguida. — Imaginoque
não tenho muito tempo e isso não pode ser mais adiado, então o
momento certo é agora.
Meus irmãos e eu nos entreolhamos, tensos.
Pela primeira vez, não sabemos o que o nosso pai tem a nos
contar. Ele nunca foi um homem de segredos, então isso nos
assusta um pouco.
— Tudo bem, pai — Jeremy diz, com calma. — E o que o
senhor quer nos contar?
Ele aponta o dedo para uma carteira que está sobre a mesinha
de canto do lado esquerdo.
— Dentro da minha carteira, tem uma foto, pegue-a — ele
orienta.
Como Noah está logo ao lado, é ele quem pega a carteira e
caça a foto que parece estar bem escondida, pois, Noah demora
uns bons segundos para encontrá-la.
Por que ele teria que manter uma foto escondida?
— Está rasgada — ele diz enquanto revira a foto, a estudando.
— É uma mulher — conclui incrédulo. — É a mamãe?
Papai olha sério para Noah.
Apesar de estar debilitado, suas expressões parecem bastante
intensas para essa situação. O que não me deixa nem um pouco
confortável.
— Não — ele responde baixinho.
— Quem é então? — Noah pergunta de novo, passando então
a foto para mim.
Ou o que restou dela.
Na foto, uma bela moça de cabelo negro, pele clara, olhos
escuros e lábios carnudos, sorri para a foto em tom sépia. Uma
coisa bem estilo cabine, onde antigamente era o único meio de se
conseguir uma bela foto.
Sobre o ombro dela, um braço a contorna em um afago, mas
não dá para saber quem é. Porém, por alguma razão, eu posso
presumir e, por isso, me vejo mais ansioso do que antes, porque
não consigo prever onde isso vai dar.
— Marta. O nome dela era Marta. Uma mulher linda que
conheci quando estava servindo na marinha irlandesa e viajamos
para a costa da Espanha, onde estávamos atuando em uma ação
de caridade.
Que papai havia servido a marinha antes de assumir os
negócios na petrolífera, isso não era nenhuma novidade para nós.
Mas agora tinha uma mulher, em uma foto cortada e isso parecia um
lado da história que não foi contada...
Ainda.
Ele não pode fazer esforços, mas dá o seu máximo para nos
contar aquele relato.
— Eu a conheci em uma confraternização de agradecimento.
Ela estava lá com as crianças e acho que foi amor à primeira vista.
Meus irmãos e eu nos olhamos de novo, e meu sangue
começa a correr muito rápido.
— Nos apaixonamos em poucos dias e ficamos juntos. Marta
me deu seu endereço, para ir visitá-la quando estivesse de folga, ou
terminasse o meu serviço na marinha, o que estava prestes a
acontecer. Tiramos uma foto, para lembrarmos um do outro, fiquei
com a parte dela, e ela com a minha.
Jeremy estica o braço na minha direção e entrego a foto para
ele.
— Voltei para a Irlanda. Nas minhas férias, voltei para a
Espanha e fui até o endereço que Marta me passou. Ela não estava
lá. Na verdade, ela tinha ido embora. As moças que me receberam
eram suas primas e a tia com muito desgosto afirmou que Marta foi
embora porque engravidou e não sabia quem era o pai.
Meu estômago começa a embrulhar. Além de mim, Jeremy e
Noah começam a ficar inquietos. Já somos adultos e sabemos muito
bem somar 1 + 1. Mas, de alguma forma, não tiramos conclusões
precipitadas enquanto o nosso pai fala.
— Eu voltei muito triste para a pensão onde estava
hospedado, até que desabafei com o garçom de um bar, onde
resolvi afogar as minhas mágoas. Eu tinha só vinte e três anos.
Contei tudo a ele, um sujeito legal. Aí ele disse, “a Martinha, da casa
subindo a colina,onde morava com as primas e as tias?” . Eu
confirmei que era ela e sabem o que ele me contou?
Balançamos a cabeça, em completo silêncio.
Não somos capazes de falar uma palavra enquanto ele nos
conta a nova parte da história, que guardou por muito tempo.
— Todo mundo da cidadezinha estava falando sobre a doce
Marta que foi expulsa de casa pela tia má, por ter engravidado. Ela
tentou impedir que aquilo acontecesse, dizia que o pai estaria
chegando, mas a tia dela não quis saber de desculpas e a colocou
para fora antes que o bebê se tornasse um fardo, uma despesa a
mais. Para não sair mal na história, a tia dizia que Marta era uma…
Uma… — Ele tem dificuldade em falar a palavra, não por ser difícil
de pronunciar, mas porque dói. — Enfim, havia duas histórias e
sempre acreditei na versão do garçom. Eu conhecia muito bem a
Marta. Foi por isso que me apaixonei por ela, na época.
Mantenho a cabeça baixa, olhos fechados enquanto passa um
filme em minha cabeça. O filme do meu pai, que tentava encaixar
nas histórias da sua vida que ele já havia me contado.
De repente, me tirando dos pensamentos, ouço a voz de
Jeremy:
— Acho que o senhor precisa deixar uma coisa bem clara
agora. Algo que tenho certeza de que já está bem evidente, mas
que só se tornará real com a sua palavra.
Sim, é isso.
Os batimentos cardíacos do nosso pai estão normais ainda.
Talvez, seja o efeito dos remédios que o deixam assim, calmo
demais. Porém, não é o que demonstra a sua relutância em dizer
em voz alta a conclusão disso tudo.
Ele escondeu isso por tanto tempo, que agora parece
simplesmente algo difícil de verbalizar.
— Meus filhos, vocês têm um irmão. Um quarto O’Donnell. O
primeiro.
Olho para Jeremy e seu pomo de Adão se movimenta,
intensamente.
— Nossa! — exaspero com as mãos na boca e me afasto da
cama.
Estamos arrasados demais para expressar qualquer reação
verbal. Meus irmãos estão quietos, e eu, inquieto com a mente
explodindo.
Acredito que a mente deles também está assim.
— Mamãe sabia? — Noah pergunta.
Olhamos para o nosso pai, esperando a resposta.
— Sim. Quando conheci a sua mãe, já havia superado Marta.
Mas nunca esquecido a forma como tudo terminou e que ela foi
embora carregando em seu ventre um filho meu. Eu contei isso a
mãe de vocês e ela apenas lamentou. E se querem saber, por muito
tempo estivemos procurando pelo paradeiro da Marta, por causa da
criança. Mas quando o Jeremy veio ao mundo, meio que deixamos
de lado. Mas a ausência desse filho, se tornou uma ferida e ela
nunca foi sarada ou esquecida.
— E, por que o senhor nunca nos contou? — Jeremy pergunta,
se levantando da cadeira.
Alguém aqui não é mais o primogênito, o irmão mais velho. E
sei que isso não está mexendo com a cabeça e o ego de Jeremy,
porque ele não é desses.
Mas posso imaginar que o afeta de algum modo, porque,
agora, Jeremy tem um irmão mais velho.
— Eu não queria que vocês tivessem algo contra mim, por
causa disso. Porque já me julgava o suficiente por não ter tentado
encontrar mais o irmão de vocês.
— O que fez o senhor acreditar que nos contar, agora,
amenizaria toda a situação? — pergunto e ele olha para mim.
— Porque estou morrendo, Ian.
Droga!
Eu quero ficar bravo.
Na verdade, estou e muito.
Mas não quero expressar isso na frente do papai. Ele poderá
ficar muito mal com isso. Então, me seguro o máximo que posso.
— Fico muito feliz em ver que todos vocês estão com suas
famílias, vivendo suas vidas felizes. Mas não consigo ficar em paz
sabendo que posso ir para o túmulo a qualquer momento com este
segredo.
— O senhor tem muito, muito dinheiro. Nunca pensou em usar
uma parte dele para investir na busca do seu filho? — Noah
pergunta. — Iané o mestre da tecnologia e tem uma equipe inteira
que trabalha com ele. Porra, uma empresa. Poderíamos ter dado
um jeito de encontrá-lo.
Papai tosse.
Meus irmãos estão ficando exaltados e isso não é bom.
— Eu sei, Noah. Mas iriam surgir muitos oportunistas. Todo
cuidado é pouco. Então, se forem usar o dom de vocês de
comunicação e a tecnologia para encontrar o irmão perdido,
aconselho que tenham cuidado. O mundo está cheio de vigaristas.
Então é isso.
Ele escondeu por anos esse segredo e, agora, simplesmente o
deixa para que a gente resolva.
— Tomaremos cuidado, pai — Jeremy diz. — Obrigado por ter
nos contado, pois o senhor poderia ter optado por nunca nos contar.
Jeremy parece tranquilo, enquanto Noah e eu ficamos olhando
para ele.
É nítido o que ele está fazendo, limpando a barra, fazendo
parecer que isso não afetou algo em nós, para não atormentar o
nosso pai.
— Ele tem razão, pai. Obrigado por nos confidenciar isso —
digo por fim.
— Não estão bravos comigo? Por favor, meninos. Vocês são
tudo o que tenho.
Olho para Noah e Jeremy faz o mesmo, só falta ele se
pronunciar.
Vejo quando Noah engole em seco e responde:
— Não estamos bravos, pai. Mas, acredito que se tal coisa
tivesse sido nos informado muito antes, talvez esse nosso irmão
perdido pudesse estar aqui conosco, agora.
— Eu sei. Sinto que ainda dá tempo.
— Posso começar por Florença — digo já virando meus
calcanhares em direção à porta.
— Ian? — Meu pai me para.
— Sim?
Ele solta um suspiro.
— Como estão Isabel e Grace? — pergunta.
— Estão bem. Elas me esperam, não posso perder muito
tempo — digo por cima do ombro. — Em breve as trarei de novo
para vê-lo, tudo bem?
— Eu ficarei muito feliz, meu filho.
Saio do quarto.
Issonão foi uma despedida, talvez, em outro momento, volte
para dar um abraço nele, mas agora eu não consigo.
Não com essa informação bombardeando a minha mente.
Porra, não perderei meu tempo procurando por esse irmão
perdido.
Talvez, ele seja real, talvez não.
Mas não sei como lidaria com um cara desconhecido e tê-lo
que chamar de irmão.
Antes de descer a escada, uma mão forte me para e me vira
para encará-lo.
É Jeremy.
— O que está fazendo?
— Estou indo tomar um ar. Você não sente como se o ar de
seus pulmões tivessem sido sugados?
Meu irmão mais velho, ou não, solta um suspiro.
— Olha, Ian,está sendo muito difícil digerir essa informação,
mas peço que fique calmo. Papai está doente, não podemos nos
afastar agora que… Que o fim parece cada vez mais perto.
— Claro que não. Mas não vou mover um dedo para encontrar
esse cara, Jeremy. Um cara que nem conheço e que pode nos
destruir! Algo me diz que nem ele quer ser encontrado.
— Esperava essa reação de Noah, confesso.
— Pois é. Eu também estou bastante surpreso. Agora, só me
deixe ir, por favor.
Antes que eu parta, Jeremy olha minha roupa.
— Está de moto, cuidado.
— Está falando com alguém familiarizado a duas rodas —
retruco e então desço a escada.
Passo direto pelo hall e quando desço a última escada, Alex
me chama, mas finjo não ouvir.
Eu só quero correr e correr.
Jeremy tinha razão, essa reação minha é inesperada, mas
abalou nós três de formas distintas, então, só estava lidando com o
que sentia neste momento.
Subo na moto, dou partida e desligo a minha mente por alguns
segundos quando saio. Fico de olho na rua e em tudo à minha volta.
Tenho que ter cuidado.
Mas quando paro no sinal vermelho, vejo uma mulher grávida
e lembro de Grace.
Quando descobri a gravidez dela, ela disse que não queria que
a nossa filha crescesse sem pai.
Fico pensando nesse meu irmão que deve ter crescido sem
uma imagem paterna. Ou não. Mas de qualquer jeito, deve ter sido
ruim o suficiente.
Se eu contar para Grace o que descobri hoje e que não tenho
a mínima vontade de procurar o meu irmão, ela sentirá nojo de mim.
Porque estarei fazendo algo da qual ela mesma reprova.
Foda-se!
Uma situação não tem nada a ver com a outra.
Fico de olho no sinal e assim que muda para o verde, saio em
disparada. Pego velocidade porque assim a minha mente desligará.
Sinto vento bater contra mim e que nada será capaz de me
alcançar.
Mas uma forma escura se forma à minha frente, uns duzentos
metros. Freio no instante em que vejo o caminhão tomando conta da
rua toda.
Ele buzina alto, reverberando em meus ossos.
Gritos de pessoas ao redor explodem nos meus tímpanos e
sinto o cheiro de borracha queimada esfregando no asfalto.
Estou diminuindo a marcha para não ter que frear com tudo e
ser arremessado. Mas depois vou freando e inclino a moto um
pouco para o lado esquerdo.
Não quero ser arremessado, mas também não quero ter a
minha perna esmagada pela moto. De qualquer forma, a segunda
opção parece ser menos pior, pois se eu for arremessado, ainda
corro risco de bater feio a cabeça, ou quebrar o pescoço.
Quando sinto o chão, a moto logo se solta de mim e sai dando
cambalhotas pelas ruas, fazendo o som de coisas se quebrando
dominar o ambiente. Dou algumas viradas, protegendo a cabeça,
mantendo o meu corpo na posição fetal. Tento ao máximo manter
apoio nas joelheiras e cotoveleiras do meu uniforme de couro.
Finalmente, paro de bolar pela rua. Estou de cabeça para
cima, sentindo que passei por um centrifugador.
Respiro forte, com o coração querendo sair pela boca e o
corpo todo trêmulo. Penso em Isabel e Grace.
Porra!
Penso nelas e como quero abraçá-las.
Quase morro, ou fico numa pior. E apesar de não ter
experimentado nenhum dos dois, tenho certeza de que teria
pensado nelas também.
Tiro o capacete.
O dia está lindo hoje, pessoas estão ao meu redor e, ao fundo,
já posso ouvir o som de uma sirene.
— Moço, você está bem? — uma mulher pergunta.
Respiro fundo. Não sinto nada quebrado, mas a minha perna
dói.
Estou inteiro.
Então sim, fisicamente estou bem.
No entanto, respondo:
— Não. Eu tenho um irmão.
Ianchega de noitinha em casa. Mancando, com um atestado
médico e a história de que se acidentou.
Não consigo processar as informações nos primeiros minutos,
está tudo muito confuso, pois pensei que ele estivesse com o pai.
Nem sequer cogitei que ele voltaria mais cedo para Florença, pensei
que o senhor Rupert estava muito mal, de verdade. Inclusive, tive
medo de receber uma notícia ruim.
Ele chega, pergunta pela Isabel que está no berço, tirando a
soneca da tarde, e vai logo procurando a minha, nossa, cama. Ele
se deita, parecendo cansado, como se andar doesse demais.
— Uau! Por onde devo começar?
— Nem queira. Não vale a pena.
— O que houve com a sua perna, Ian?— Estou sentada na
beira da cama, olhando para ele, preocupada.
— Eu caí de moto. Estava voltando para o meu apartamento e
caí.
Eu o observo tirar a calça jeans, então o ajudo, porque parece
ser algo que dói fazer. A perna direita está enfaixada na altura do
tornozelo, uma torção. Depois, ele tira a blusa, revelando um
hematoma na altura do peito que pega praticamente quase toda a
parte esquerda dele.
Levo as mãos à boca, em choque.
— Meu Deus, Ian. Isso está horrível! Que tipo de queda foi
essa?
— Uma em que precisei fazer uma escolha ruim, mas não
mais do que bater de frente em um caminhão — ele revela com
naturalidade.
Arregalo os olhos, surpresa por ele estar explicando isso de
uma forma banal.
— Um ca-caminhão?!
Ele franze o cenho.
— Verdade. Acho que não era um caminhão, era uma carreta.
— Ian!
Ele ri, nervoso, enquanto tenta ficar relaxado.
— Tudo bem, Grace. Estou bem, está vendo? — Ele abre os
braços para que eu dê uma boa olhada em seu físico, intacto.
Cruzo os braços, ainda sentada de frente para ele. Encaro o
volume em sua cueca cinza e parece bastante tentador.
Estou morrendo de saudades, mas tenho muitas perguntas
ainda.
— Por que já está aqui? Pensei que fosse mais grave.
— Bem, e é. — admite. — Mas não vale à pena.
— O quê? Como assim?
Ian se ajusta na cama, se deita bem no meio dela,
acomodando suas costas nas almofadas fofas. Ele está todo aberto,
mantendo os olhos fechados como se estivesse relaxado demais.
As horas em que passou viajando, na verdade, não são nada
confortáveis e, por isso, não é estranho o fato dele estar tão
cansado.
— Coisa de família.
Arqueio as sobrancelhas e recuo, me sentindo sem jeito.
— Ah, desculpa. Eu n…
Ian abre os olhos, rapidamente.
— Não é isso o que eu quis dizer. Eu só… É um assunto de
família, mas que nem eu consigo digerir, então fica bem difícil de
verbalizar.
— Hum, entendo.
Então a reunião de emergência não foi sobre a saúde do
senhor Rupert, mas uma questão familiar. E isso mexeu tanto com
Ianque o deixou desestabilizado. Estou curiosa sobre o motivo, mas
não quero ser inconveniente. Prefiro respeitar o seu tempo, já que
nem ele consegue lidar com o que aconteceu.
— Você deveria ter ficado em Londres, descansando. Não
precisava vir para Florença no mesmo dia.
Ian fica me olhando.
Sua barba está maior, o deixando mais sexy e com uma
aparência de durão.
— Quando vi o caminhão, ou quando caí da moto, sabe no que
pensei, Grace?
Meus músculos se tencionam e balanço a cabeça, negando.
— Em vocês. Pensei em você e na Isabel.
Meus pelos se arrepiam.
— Dizem que, muito antes de morrermos, temos um vislumbre
da nossa vida como um filme se passando pela cabeça. Mas eu só
via você e a Isabel, como se fossem a coisa mais importante que
surgiu na minha vida toda. E, naquele momento, Grace, eu percebi
que não quero perder vocês jamais, que amo vocês.
Meu coração bate forte.
— Como é? — pergunto meio perplexa e isso o faz sorrir.
Ian se senta, ficando bem perto de mim. Ele segura o meu
queixo e repete:
— Eu amo você, Grace Doley — diz baixinho. — Amo tanto
que nem perto da morte, você saiu dos meus pensamentos. — Ele
se estica um pouco e me beija.
Eu fico toda arrepiada com o seu toque, meu coração acelera
e sinto calor irradiando de mim. Seus lábios se grudam aos meus
em um beijo apaixonante, esclarecedor.
Passo a língua em meu lábio inferior quando me afasto, o
mordo e sorrio. Parece que agora ele facilita tudo para mim, como
se finalmente pudesse ser verdadeira, comigo e com ele.
— Eu também amo você, Ian— digo montando em seu colo,
com suas mãos passeando em minhas coxas lisas. — Será que
levamos esse negócio de relacionamento a sério demais? —
pergunto e ele ri.
— Se for o caso, não me arrependo.
— Eu também não.
Ficamos nos olhando por um tempo.
Ele é lindo e o amo. Eu o detestava e agora tudo o que quero é
fazer parte da vida deste homem.
Passo a mão por seu cabelo escuro e ele parece se desfrutar
dos meus toques singelos. Deixo meus dedos passearem por cada
linha e detalhe do seu rosto.
Estou sentada em seu colo, não consigo mentir, então devo
confessar que ele já está de pau duro, mas não é como se isso
fosse uma agonia. Está acontecendo algo maior no momento e é
algo sobre estarmos nos declarando finalmente um para o outro.
As mãos de Ian passeiam pelo meu corpo. Ele apalpa cada
pedaço e me admira como se eu fosse um ser celestial.
Sua respiração está acelerada e poso ver e sentir a urgência
crescendo dentro dele.
Começo a tocar seus lábios com o meu polegar, os sentindo
de outro jeito. Encosto a testa na dele e em silêncio, o ouço respirar.
— Isso é gostoso, não é? — ele pergunta fascinado e sorrio.
— É sim. Você gosta? — Eu me mantenho na posição.
— Amo. E você?
— Idem. — Eu me inclino então para dar um beijo suave,
demorado e sensual. — Mas acho que prefiro quando isso
acontece. — A minha voz já sai pesada, lasciva.
As mãos de Ian flanqueiam a parte externa dos meus seios,
me arrancando suspiros, então me sento sobre sua ereção,
movendo o meu quadril com vontade.
— Estava morrendo de saudades, sabia?
— Estou vendo, querido. Você está duro como nunca. — A
minha voz é abafada pelo beijo que vem acompanhado de uma
língua ousada, que desliza delicadamente dentro da minha boca,
eroticamente, me seduzindo, arrancando gemidos de mim.
Faço a minha língua se envolver com a dele e, então, a coisa
toda vai ficando tensa, até que seus beijos estejam baixando na
direção do meu pescoço, trilhando com lambidas, mordidas e
chupões, que provocam um frio bem no meio das minhas pernas,
me deixando animada.
— Estou sentindo você esquentar, meu amor. Aqui embaixo. —
Seus dedos encontram a minha intimidade através do short jeans e
ele os pressiona contra, em resposta arfo. — Está precisando de
alguém que lide com esse fogo, hum?
— Sim. O que significa que estou precisando de você.
Com a mão livre, Iandesce o meu decote e começa a lamber
meus seios, enquanto continua a me tocar lá embaixo.
Sua língua ágil está mais quieta, assim como o seu beijo e os
seus dedos. Ele fica lambendo a minha auréola, depois lambe os
bicos com a ponta da língua, fazendo a minha boceta se contrair
todinha.
— A mamãe mais gostosa que existe — comenta e se demora
em meus seios, me levando a loucura do jeito mais erótico possível.
— Viu o presente que deixei para você?
Quando ele pergunta isso, me afasto, ficando um pouco
corada.
— Um plug anal?
— Achei que poderíamos evoluir. Você o usou?
Balanço a cabeça, negando.
— Não. Eu queria esperar por você, para me explicar o que
significava aquilo.
— É para enfiar no…
— Eu sei, Ian! — exclamo e ele ri. Fico olhando para ele e
mordo o lábio inferior. — Quer que eu pegue?
Seus olhos brilham.
Então me levanto, vou até o closet e pego a caixinha
aveludada onde ele guardou o plug e deixou para mim, na bancada
do meu banheiro, com um cartão bem sutil escrito, “treine”.
Mas eu não usei para nada.
Eu já estou voltando para o quarto, quando vejo o tubo de
lubrificante na prateleira. Ele está novo e acho que será útil. Pego o
tubo e quando volto para o quarto, Ianjá está sem a cueca, com o
seu pau grande de uns vinte e três centímetros, apontado para
cima, pulsando e esperando.
Sorrio.
— Você está apressado, meu bem?
— Muito. Quase desesperado para me enterrar em você,
gatinha — confessa com a voz cheia de luxúria. — O que é isso?
— Lubrificante, para mim… Para você.
Ian franze o cenho.
— O plug é seu, Grace.
Gargalho.
— Eu sei. Mas foi um dia tenso, então antes de tudo, vou
relaxar você — digo deixando a caixinha ao lado dele, enquanto tiro
a minha roupa.
Já sem nenhuma peça de roupa, subo na cama e me
posiciono entre as suas pernas. Amarro o cabelo, pego o lubrificante
e derramo uma boa quantidade em seu pau, que se agita.
— Tá gelado.
— Vai já esquentar, meu amor.
Com uma mão, começo a fazer massagem na extensão do seu
pau. Para baixo e para cima, bem lentamente, fazendo todo o
produto se espalhar bem.
As persianas das janelas do quarto estão abertas, trazendo
uma claridade natural do entardecer para o quarto, puro dourado.
Ianestá de olhos fechados, curtindo a punheta que bato pra
ele. O barulho que faz é extremamente sexy e me faz querer sentar
nele logo.
Entendo a urgência de Ian, pois sinto o mesmo.
Fecho a outra mão ao redor dele e então começa a ser um
trabalho em dupla. Aperto meus dedos e aumento o ritmo.
Ian abre os olhos.
— Como você pode fazer isso melhor do que eu?! — pergunta
inconformado e sorrio.
Eu amo fazer isso nele, pois me sinto muito excitada. Meu
clitóris está latejando e, por isso, mordo o lábio e solto gemidos.
— Se você continuar assim, serei obrigado a gozar agora
mesmo — ele alerta.
Vou parando devagar, mas não contente, me abaixo e chupo
suas bolas. Ian grita de prazer, seguido de um tremor pelo corpo.
— Meu Deus, Grace!
Começo a rir, quando noto que Ian já está pegando o plug.
— Minha vez. Fique de quatro e traga essa bunda gostosa pra
cá.
Eu não hesito, afinal não tenho medo de testar algo novo.
Eu me viro para Ian, fico de quatro, do jeito que ele quer e
então viro o tronco na sua direção.
Estou curiosa.
Então o vejo melando o plug com lubrificante.
— Está pronta?
— Para você, sempre estou — confesso animada e muito,
muito excitada.
— Porra, essa boceta tá brilhosa demais — ele comenta e
estremeço quando sinto sua língua.
— AAH! — grito, me agarrando aos lençóis.
Sinto quando Ianposiciona o plug na minha entradinha e então
vai empurrando lentamente, conforme chupa e lambe a minha
boceta.
Sua barba faz cócegas no interior das minhas coxas. O plug
que é mais grosso e pouca coisa maior que o polegar de Ian,
começa a se enterrar em mim. Começo a gemer com vontade
enquanto ele força o plug para dentro.
Sinto tanto prazer, que vou pressionando meu quadril contra
sua boca, contra o plug.
— Você é tão deliciosa.
O objeto liso e meio oval entra em mim, mas não satisfeito, Ian
começa a me foder com ele enquanto lambe o meu clitóris.
— IAN! Isso, mais forte. Mais forte!
Eu não sei dizer o que quero com força, mas ele me obedece.
Sua língua trepida no meu grelo, enquanto ele fode o meu cuzinho
com o plug.
A sensação é incrível, o puro êxtase dos prazeres.
Quando ele para, quase choro.
Mas temos que continuar.
— Deixe-o aí — orienta sobre o plug na minha bunda. — Tem
uns que possuem rabos felpudos e tem de todas as cores. Acho que
vou trazer um desse da próxima vez, para você ser a minha gatinha
manhosa, que adora levar no cuzinho.
Eu me viro para ele, me sentindo muito, muito sexy.
Empurro o seu peito, no lado que não está com o hematoma e
Ian volta a ficar deitado.
— Agora, fique aí. Você não pode fazer esforços, então deixa
que eu faço todo o trabalho.
— Hummm, isso parece interessante.
Fico em pé, desço até parar na ponta do seu membro e
enterrá-lo dentro de mim. Ian e eu gememos, ao mesmo tempo.
Caramba!
É tão bom senti-lo me penetrar, eu amo a sensação e a forma
como consigo colocar tudo para dentro. Àsvezes, sinto que vou ver
estrelas, ou desmaiar…
Mas é incrível!
Começo a quicar nele.
Ian se agarra a cabeceira da cama e fica olhando admirado
para o que acontece entre nós dois. Enquanto isso, o plug continua
intacto, na minha bunda.
Consigo sentir a sensação se intensificar cada vez que Ian
entra em mim.
— Sinto o plug dentro de você — ele comenta. — Porra, isso é
muito excitante! Quero ver duas coisas fodendo você ao mesmo
tempo. E esse é o único jeito. Venha, fique de costas para mim.
Eu me posiciono do jeito que ele pede. Passo minhas pernas
por debaixo das dele e me aproximo até estar bem encaixada.
É como se fosse um Mamãe e Papai invertido.
— Me come, Grace. Bem lentamente — ele orienta.
Desço lentamente nele, que chia enquanto sente o seu pau
sendo engolido por mim.
É gostoso demais.
Fico ereta e então começo a cavalgar no pau dele. Meus seios
pulam e meu cabelo se desprende do coque. Ianagarra meus seios
e posso sentir seu pau gostoso e o plug no meu cuzinho.
Começo a gemer muito alto.
— Isso, amor. Fode o meu pau, Grace. Venha, minha deusa.
Com Ianagarrando a minha cintura e tudo mais, não aguento.
Sinto o orgasmo vindo como uma avalanche e grito, seguido de um
gemido gostoso que me deixa toda arrepiada.
— AAAH! — Ian deixa escapar
. — Caralho!
Seu pau parece dobrar de tamanho quando começa a gozar
dentro de mim. É tanta porra, que me sinto alagada por causa dele.
Minhas pernas falham e desabo na cama, mas logo vou para o
lado dele.
— Essas cortinas abertas… Demos um show para Florença.
Começo a rir.
— Então essa foi a nossa primeira transa pós-declarações? —
pergunto.
— A primeira vez que fazemos amor.
— Se para você isso é fazer amor, não sei o que é uma
trepada selvagem — digo, surpresa.
Ian beija o topo da minha cabeça.
— Grace, tudo o que faço com você é por amor. Até sexo
selvagem.
Essa é uma bela declaração de amor.
Sorrio e me aninho ao lado do peito bom de Ian.
Vanessa tem razão, estou apaixonada e não irei mais
esconder isso.
••••
Esqueço do tempo ao lado de Ian.Em determinado momento,
pedimos o jantar e ficamos no meu quarto, comendo quietos, com a
Isabel nos observando enquanto olha para tudo com muita
curiosidade.
Olho para essa cena e chego a uma conclusão, somos uma
família.
Não importa como Ian e eu terminaremos esse laço, essa
conexão feita por Isabel sempre irá existir
.
Mas graças ao que Ian e eu acabamos colhendo desta
convivência, tudo isso se intensificou mais ainda.
Trouxemos o Moisés de Isapara o quarto. Estamos tão felizes
que dormiremos juntinhos hoje.
Ian ainda está ruim e, por isso, precisa tomar remédio para dor
,
o que o deixa bêbado de sono.
Deve ser por isso que em dado momento, quando volto da
cozinha para pegar água, o vejo com um pedaço de papel nas mãos
que parece estar rasgado.
— O que é isso?
Ian mantém o olhar distante, mas não hesita na hora de
responder:
— É uma foto. Da mãe do meu irmão.
Olho para ele.
— De um irmão… Bastardo.
Quase deixo o copo cair, mas apenas fico paralisada no meio
do quarto.
— O quê?
— Meu pai teve um relacionamento antes de conhecer a minha
mãe. Foi uma paixonite que ele teve quando marinheiro e nunca
mais viu a mulher. Ela sumiu e estava grávida dele. Agora, quase
quarenta anos depois, ele finalmente decide contar sobre esse filho
que nem ele procurava mais. — Larga a foto sobre a cama e me
aproximo para pegá-la e ver melhor.
Trata-se de uma mulher muito bonita e é nítido seus traços de
uma mulher espanhola. Tem belos lábios carnudos e um rosto bem
marcante…
Comum, diria, ao ponto de ser familiar.
— Foi por isso que ele reuniu vocês hoje?
— É a vontade dele. Na verdade, ele não queria levar esse
segredo para o túmulo, porque mamãe também sabia disso. Então,
além de ter nos contado, papai também espera que a gente
encontre esse cara — diz com nítido desgosto.
Deixo o copo na mesinha, vou para o seu lado na cama, me
aninho a ele e posso sentir seu peito bater forte, como se isso o
deixasse nervoso.
— Não gosta da ideia de ter um terceiro irmão? — pergunto
com cautela.
— Não é que não goste, só não é uma informação fácil de
aceitar, Grace. Não posso engolir que um estranho simplesmente se
tornou o meu irmão do dia pra noite.
Solto um suspiro. Talvez, não seja fácil, mesmo.
— E se, quando vocês o encontrá-lo, já estiver mais
familiarizado com a ideia?
— Não consigo pensar em nada, Grace.
Fico olhando para ele.
É uma situação delicada, ainda mais no estado em que o pai
deles se encontra. Agora, entendo o motivo de Iannão querer me
contar isso quando chegou.
— E como o seu pai está?
Ian solta um suspiro.
— Ele se sente culpado pelo meu acidente, por ter escolhido
uma péssima hora para ter feito essa revelação. — Olha para a foto
na minha mão e a pega. — Jeremy pediu para que eu ficasse com
isso. Não fazia mais sentido estar com o papai. Noah está agindo
como se nada tivesse acontecido e Jeremy não esboça muita
reação. É como se eles tivessem empurrado esse fardo para mim.
— Por que eles fariam isso?
Ian me olha profundamente e responde:
— Porque dentre nós três, eu sou o mais propenso a lidar com
essa situação. — Ele então deixa a foto na mesa de canto do seu
lado esquerdo. — Por mais que não pareça, eu saberia o que fazer.
— Talvez isso seja um sinal — comento enquanto ele se ajusta
debaixo das cobertas.
— Não existe sinal algum além dessa foto rasgada. Não serei
capaz de conseguir nada com isso.
— Hum.
Não sei, algo me diz que Ian está errado, que ele precisa
pensar de um jeito aberto, pois sua negação o impede de ver os
meios de conseguir encontrar o seu irmão.
Só que eu sei.
Vejo que Ian já está adormecendo, nitidamente tomado pelo
efeito do remédio. Mas enquanto ele descansa, fico maquinando o
que fazer no dia seguinte, porque sei o que fazer.
Ou pelo menos, há uma pulga coçando atrás da minha orelha.
••••
Acordo primeiro que Iane deixo um bilhete, avisando que tirei
leite para Isabel e que fui chamada urgentemente para o meu
escritório que está recebendo os últimos retoques.
O que é uma grande mentira.
Não aconteceu nada lá, já que está indo tudo perfeitamente
bem. No entanto, parece a desculpa perfeita para ter que acionar
meu modo investigativo.
Saio do meu apartamento antes mesmo que a cidade ganhe
vida. Compro meu café da manhã no caminho e ajo como se
estivesse em uma investigação muito importante.
Quando era criança, precisava me distrair com a vida de
recém-órfã e adotada por um homem que estava se tornando o mais
novo magnata da Itália.Então, brincava de muitas coisas, policial,
casinha, astronauta, apresentadora, detetive…
Foi assim que descobri que não queria ser nada dessas
coisas.
Domenico me levava a muitos lugares fascinantes e sempre
ficava maravilhada. Dizia que queria decorar lugares como aqueles,
seja em hotéis ou festas, gostava daquele cuidado, dos retoques
perfeitos.
Parecia um sonho.
Mas por um bom tempo, fui apenas uma recepcionista, que
trabalhava para Domenico.
O meu tempo era dedicado aos estudos, agendar as próximas
reuniões dele, marcar voos, fazer companhia a ele em festas e
resolver várias questões da sua vida pessoal. Até mesmo arrumar o
seu escritório, quando necessário.
Começo a subir as escadas.
Sei que está muito cedo para estar aqui, mas os seguranças
que são os primeiros a chegarem, não hesitam ao me ver.
Eu não sei o motivo de Domenico ter tantos livros em sua
estante. A maioria deles são livros falsos, com fundos, onde ele
guarda coisas secretas.
Certa vez, lembro que havia uma foto sobre os livros e não
dentro. O que dava a entender que ele queria ver aquela foto, sem
tê-la por perto.
Pensei que fosse apenas um descuido dele, mas o tempo foi
passando e a foto continuava ali. Talvez, ele tivesse esquecido, mas
não peguei. Eu a enquadrei, a coloquei em sua mesa e ele não
gostou, disse que era insignificante, que aquilo não tinha valor
algum.
Mas havia algo em seu semblante que ele não sabia que eu
via e era tristeza, frustração profunda.
A foto daquele homem, por muito tempo, acreditei ser o seu
pai que Domenico nunca chegou a conhecer.
Entro na sala dele.
Sei que o retrato não está mais sobre a mesa, agora ele deixa
na estante, lá no alto, então vou certeira.
Quando Ianme mostrou aquela foto, senti que a reconhecia de
algum lugar e que o rosto da mulher era comum. Fiquei pensando
naquilo por muito tempo, porque ela me lembrava exatamente
alguém.
A ficha demorou para cair e perceber que ela era comum,
porque seu rosto era familiar. E era familiar, porque lembrava o
Domenico.
Tiro a foto da moldura e como peças templárias, esquecidas
pelo tempo, uno as duas partes, então tudo parece fazer sentido.
Sento na cadeira, largo as partes na mesa e começo a me
tremer, sentindo o coração bater na boca.
“Meu Deus! Meu Deus! Meu Deus!”
Esqueço como respirar, me levanto e vou até à janela. Preciso
dar o fora daqui antes que Domenico chegue. Preciso ficar com
essa informação até saber o que fazer com ela.
Porque não sei como Domenico reagirá quando descobrir que
é irmão de Ian, de Jeremy e Noah.
Que ele é um O’Donnell.
Domenico Alfonso é um O’Donnell.
A vida parece normal, se continuar ignorando os novos fatos
que me cercam. E, sinceramente, gostaria muito de ter essa
habilidade, mas não tenho. Por isso, às vezes, consigo me dar ao
luxo de agir como se esses novos problemas não existissem, e isso
acontece quando estou com a Grace e a Isabel.
Elas são meu porto seguro, me fazem manter a cabeça no
lugar, ter fé e outras coisas boas que ando esquecendo desde que
descobri a existência desse irmão perdido.
Por mais que não conheça o cara e ainda esteja me
acostumando com a existência dele que é um bastardo, isso não
interfere em nada, no final, ele é meu irmão.
A verdade é que percebi que odeio a palavra “bastardo”.
Olho para a minha filha em seu novo balanço cor-de-rosa com
vários bichinhos pendurados no arco que pende sobre a sua
cabeça, tocando musiquinha e balançando, a deixando
completamente entretida.
— Gostou do presente da tia Vanessa, Isa? — pergunto
sabendo que ela não responderá, mas é legal conversar com ela. —
Titio Noah disse que daria para você uma bolsa da Louis Vuitton. —
Franzo o cenho, lembrando de como meus irmãos são exagerados
com presentes. — Não vamos transformar você em uma consumista
antes dos quinze, ok?
Ela fica me olhando, como se estivesse reprovando o que digo.
— Tcs, ok. Talvez você ganhe um iPhone aos doze. Mas acho
que a sua mãe me mataria. E por falar nela, está atrasada… De
novo — relato enquanto olho no relógio do celular.
Fico olhando para a janela, pensativo.
Porra, odeio ainda estar meio ruim do tornozelo!
Já faz sete dias, mas o médico me garantiu que na próxima
semana já estarei livre da tornozeleira ortopédica.
Eu só preciso ficar em descanso, como agora.
Meu telefone toca e é Lawrence.
— Fala.
— Oi, chefe. Como anda o tornozelo?
— Bom, só não está melhor porque não tenho meus amigos
aqui, me fazendo massagem.
Ele ri alto.
— Bem, considerando que você tem uma mulher gostosa e
que você é hétero demais para permitir uma coisa dessas, sei que
está muito bem.
— Chame a Grace de gostosa de novo, seu porco, que eu te
capo.
— Calma aí, foi só um elogio — rebate nervoso.
— Esse tipo de elogio só eu posso fazer, entendeu?
— Ok, desculpa. Mas liguei mesmo para saber se a gente vai
fechar com aquela empresa de telefone celular da Turquia. Os caras
são uma fera e querem parceria com a TecNell.
Levanto do sofá resmungando, pois é difícil trabalhar com uma
perna só. Eu me aproximo da sacada e fico escorado no guarda-
corpo enquanto falo ao telefone sobre negócios.
— Odeio tomar decisões improvisadas e afoitas por telefone,
Lawrence.
— Eu sei, mas já adiamos demais uma resposta e se quer
saber, acho que não nos resta mais dúvida sobre esse novo
investimento.
Solto um forte suspiro.
— Bem, acontece que tenho minhas dúvidas ainda —
respondo olhando para a rua, flagrando o carro de Grace chegar. —
Tenho tirado um tempo para a minha família, o trabalho está um
pouco longe da minha realidade agora, então preciso me atualizar.
— Sei bem, mas uma hora você terá que voltar a ter foco no
trabalho, cara. A TecNell só está crescendo, não é um bom
momento para perder o gás.
Eu a vejo saindo do carro e parece estar estressada, como se
toda a sua energia tivesse se exaurido.
Fico incrédulo.
Ultimamente, Grace tem agido mais estranha do que nunca.
Às vezes, penso que é por conta da inauguração da sua empresa
que está cada vez mais próxima e por isso ela tem passado
bastante tempo agilizando tudo.
Eu me sinto péssimo por não fazer muito com o tornozelo ruim,
mas Vanessa tem a ajudado.
Ainda assim, isso não justifica o fato dela mal conseguir me
olhar.
A última vez que transamos foi quando voltei de Londres.
Pensei que ela estivesse naqueles dias, mas não há vestígio algum
do seu período menstrual.
Talvez, seja por causa do anticoncepcional, ou alguma razão
que o corpo feminino dê para isso não acontecer.
Sei que Grace está bem, fisicamente, porém, alguma coisa a
incomoda e ela não compartilha isso comigo.
Lawrence continua a falar, mas eu nem consigo mais
acompanhá-lo. Issosó me mostra que ainda não estou pronto para
voltar cem por cento ao trabalho e que por isso, muitas das vezes,
evitei ter um relacionamento sério.
Estava focado na TecNell e agora que estamos decolando que
nem a porra de um foguete da SpaceX, não consigo me focar em
nada que não seja a Grace e a Isabel.
— Olha, Lawrence — eu o interrompo. — Assim que me
recuperar, ok? Só tenho mais uma semana até meu tornozelo estar
cem por cento, aí apareço para fazer essa reunião, se possível, na
Turquia, com a empresa de telefones.
— Aí, sim. Então posso confirmar a reunião com a sua
assistente?
— Sim, sim. Claro — digo enquanto volto para a sala.
Lawrence dá uma risadinha.
— Tudo bem? Parece até que você está afobado.
— Porque estou, cacete! Tchau!
Antes de desligar a ligação, ouço Lawrence rir.
Filho da mãe!
O novo balanço de Isabel parou de se mexer e ela está
olhando para mim, como se tivesse sentindo a minha inquietação.
Depois de um tempo, Grace chega em casa. Ela entra e força
um sorriso ao nos ver; um sorriso cansado.
Deixa as coisas na mesinha do hall e não parece muito
animada.
— Oi. Estão esperando por mim?
— Oi, e sim, estamos esperando você. Isabelacha que você
chegou atrasada de novo hoje.
Ela me olha desconfiada.
— A Isabel ou você?
— Nós dois. Bem, você sabe que ela precisa muito de você.
Grace vai se aproximando e deixa o celular sobre a mesa de
centro, enquanto me dá um abraço preguiçoso.
— Humm, eu que estou precisando de vocês. Tá tudo tão
estressante. — Passo os braços ao seu redor e beijo o topo da sua
cabeça, onde apoio o queixo depois.
— O que anda acontecendo no seu trabalho?
Ela suspira e balança a cabeça.
— Nem sei por onde começar.
— É tão difícil assim?
— Você nem faz ideia.
Esfrego as mãos em seus braços e então penso em algo:
— Posso preparar a banheira para você, aí você toma um
banho relaxante, enquanto isso peço nosso jantar e depois fazemos
um sexo gostoso. O que acha?
Ela geme.
— Hummm, parece tão convincente.
Talvez ela fique animada agora que fiz a proposta.
O celular de Grace começa a tocar e o nome de Domenico
brilha na tela. Olho e espero, mas Grace continua alheia ao toque.
— Não vai atender?
— Não. Depois eu falo com ele. — Ela se afasta, pega o
celular e então o desliga.
Fico olhando para Grace.
Sei que há algo de errado e que o seu comportamento recente
deve ter algum fundamento, além do trabalho.
— Grace, tem certeza de que está tudo bem?
Grace parece estar perdida. Seus olhos não revelam nada
além de uma confusão ímpar, como se estivesse guardando um
segredo capaz de causar algo muito ruim.
Será que percebeu que os sentimentos que têm por mim, não
são tão verdadeiros assim?
Fico nervoso.
Seu olhar tenta fugir de mim, mas Grace não consegue,
porque fico na expectativa de uma resposta, da verdade.
Mais uma vez, o celular dela começa a tocar e é Domenico de
novo.
O toque é alto e estridente.
Grace respira fundo e consegue sair dos meus braços,
visivelmente incomodada.
— Domenico está ligando de volta.
— Eu sei! Eu sei! — ela exclama.
Fico parado, observando a sua irritação e impaciência diante
da situação.
Grace vira de costas para mim e percebo seus ombros
desabarem, como se ela tivesse se rendido.
— Me desculpa, Ian.De verdade, não queria ter gritado com
você — diz por fim, meio soturna.
— Você pode conversar comigo, Grace. Sobre qualquer coisa
— respaldo.
— Eu sei, Ian.Mas há coisas que são difíceis encontrar uma
forma como dizer.
— Bem, você não precisa ter essa preocupação comigo.
Grace me olha, duvidosa.
A essa altura, o seu celular parou de tocar. No entanto, batidas
à porta começam e nos entreolhamos.
Não esperamos ninguém.
— Grace! — A voz de Domenico é clara do outro lado.
Grace fica pálida.
Me contando ou não, concluo que seu incômodo o envolve. Ela
está sem reação e não sei o grau disso, de qualquer forma, acho
necessário abrir a porta e resolver logo o que seja.
Independente de qualquer coisa, defenderei Grace.
Quando abro a porta, Domenico pula para dentro, passando
como um foguete, mas com os olhos grudados em mim, como se eu
fosse o seu alvo.
Sinto quando Grace fica dura.
O que está acontecendo e não estou sabendo?
Os olhos de Domenico estão duros em mim, sua mandíbula
contraída e seus músculos sob a roupa social parecem prontos para
se aliviarem de forma bruta em mim.
— O que faz aqui? — ele pergunta como se eu fosse um
morador de rua da esquina.
Arqueio as sobrancelhas, surpreso pela pergunta óbvia.
— Estou fazendo o meu papel.
Domenico me olha de cima a baixo.
— Pensei que vocês não estivessem levando esse negócio a
sério, mas ao julgar pela sua comodidade, parece que sim.
— Achei que se orgulharia.
— Eu? Sentir orgulho de você estar com a Grace, grudado
nela como a porra de um sanguessuga?! — exaspera.
— Espera? Você veio mesmo aqui me atacar à toa? —
pergunto incrédulo.
Ele olha para Grace, me ignorando.
— Por que você não me atende? O que está acontecendo?
— Não está acontecendo nada. Vocês dois estão exagerando!
— ela rebate impaciente e olho para ela.
Grace não está normal. Ela está nitidamente incomodada com
algo, mas parece estar ainda mais perturbada com todas essas
perguntas.
— Grace, você está me evitando há dias! Por acaso esse
canalha te falou alguma coisa que a deixou com raiva de mim? —
Domenico pergunta.
— Não! Ian não tem nada a ver…
— Domenico, vai embora — ordeno com a voz grossa,
sentindo o sangue ferver em minhas veias. — Não está certo você
chegar aqui e querer demonstrar algum tipo de autoridade sobre a
Grace, ela já é uma mulher adulta.
— Acha que não sei disso? Por isso quero conversar com ela,
como dois adultos — Domenico diz e enfatiza nervoso: — Grace,
querida. Você precisa ser honesta comigo.
Sinto meu coração dar uma súbita paralisada.
Eu quero defender Grace, quero manter a minha palavra, mas
me sinto hesitar por um momento.
Por que tenho a sensação de que ela esconde algo?
Por que Grace está tão apavorada, tanto que parece querer
chorar?
Porra, isso acaba comigo!
— Que seja — rosno. — Você não vai resolver nada desse
jeito.
— Eu juro que tentei de um jeito melhor, mas Grace resolveu
me ignorar, me deixou no vácuo como se eu fosse… Um qualquer.
— revela com desgosto. — Achei que fôssemos um só, uma família.
Será que esse canalha roubou você de mim, ao ponto nem de
confiar mais em seu pai?
Grace mantém a cabeça baixa, para esconder as lágrimas,
talvez.
— Eu juro que vou arrebentar a sua cara — prometo.
— Parem! — ela exclama e Isabelchoraminga. — Vocês dois,
apenas parem!
Silêncio se forma no apartamento, embora Isabelainda esteja
inquieta com a energia agitada e pesada que rapidamente se
formou no ambiente.
Sou tomado por vergonha, pois não deveria estar agindo
assim, muito menos Domenico, que parece se dar conta do que faz.
Mas já é tarde demais, afinal Grace chora.
No fim, pegamos pesado.
Ela não é obrigada a nos contar nada o que acontece em sua
vida, mas parece que o seu comportamento estranho dos últimos
dias não vem afetando só a mim, mas a Domenico também, que
resolveu tirar a história a limpo.
No entanto, não parece ser motivo o suficiente para ele chegar
desse jeito. Por isso, indago:
— O que aconteceu? — Soo fraco, querendo ignorar a dor em
meu tornozelo, mas a dor é pungente.
Domenico também parece se recuperar das emoções à flor da
pele. No entanto, salienta:
— Grace andou indo ao meu escritório, cedo demais antes do
turno começar. Ela ficou por ali e então foi embora.
— Eu fui lá só uma vez! — ela explica. — Acha que o roubei?
Sério mesmo?
Ele a olha perplexo, tão chocado quanto ela sobre a acusação.
— Jamais em toda a minha vida eu imaginaria isso, Grace.
— Então, qual é a porra do seu problema? — rosno de novo
com os dentes cerrados, sentindo que sou capaz de pular no
pescoço dele.
Domenico me olha como se tivesse provado algo azedo.
— Não é da sua conta. Issoé um assunto entre Grace e eu —
ele afirma.
— Não — Grace diz, com os olhos atentos em nós dois, tão
grandes que seus olhos azuis parecem dois faróis. — Isso é da
conta do Ian também — completa, deixando Domenico
desconcertado e a mim, muito surpreso.
— Não é assunto dele porque vi pelas câmeras de segurança
o que você fazia ali, Grace. O que você estava vendo.
— A foto do seu pai, eu sei — ela diz.
De repente, me sinto tenso demais, o meu corpo querendo sair
do controle, mesmo sem entender o porquê.
— A sua mãe sempre teve aquela foto porque acreditava que o
seu pai apareceria. E eu acho que você também, por isso sempre a
manteve com você.
Olho para Domenico.
O homem de quase dois metros, postura implacável de um
homem poderoso que faria até do animal mais selvagem se curvar a
ele…
Lá está ele, totalmente trêmulo, sem reação com as poucas
palavras de uma mulher de vinte e três anos, que pareces ser
inofensiva.
Só que não.
— Eu não ligo mais pra isso, Grace. — profere com desgosto,
mas com a força para manter o orgulho.
— Mas deveria — ela diz enquanto tira algo da sua bolsa.
Meu coração bate muito forte, nem sinto mais a dor no
tornozelo quando Grace ergue o papel; ou os dois pedaços de papel
que foram unidos, como a peça de um quebra-cabeça.
— Deveria porque o encontrei.
“Não... Não!”
Pisco rapidamente, pois só posso estar vendo coisas.
— Essa é a minha mãe — ele diz secamente.
— E esse é o meu pai — digo, já entendendo tudo, mas ainda
muito abalado.
Domenico sai cambaleando para trás, me olhando como se eu
fosse um fantasma.
Eu também estou surpreso demais, tanto que não sei nem
como reagir.
Mas é engraçado pra caralho!
Logo eu, que não queria me envolver na busca desse irmão
desconhecido, quando, na verdade, o conhecia muito bem e sem
querer, o encontrei.
Por isso, pelas coincidências loucas do destino, me desato a
rir.
— Tá rindo do que, idiota? — Domenico exaspera.
Paro para respirar fundo e olho para ele como se estivesse o
acusando de algo.
— Ah, Domenico, você é o meu irmão mais velho.
— Não… — Ele balança a cabeça.
— Um O’Donnell — insisto.
Enquanto ele parece estar sem chão, eu acho graça.
A vida é uma piada mesmo.
Imaginatal situação, o pai do seu namorado revela que existe
um outro filho de outro relacionamento, algo que deixa todos em
choque, e você vê a única prova que já existiu daquele
envolvimento, a foto de uma mulher. De repente, acha que pode se
encaixar em alguma coisa, deixando um rastro de desconfiança,
como se você pudesse solucionar aquela incógnita. Então, ao dar
uma de Sherlock Holmes, você descobre que esse irmão do seu
namorado, na verdade, é o seu padrinho, que consequentemente
não gosta muito da família do seu namorado. Você fica com esse
segredo, não sabe como contar e, então, toda a sua vida fica só se
resumindo a esse segredo que pode mudar literalmente tudo na vida
das pessoas que você mais ama!
Era assim que me encontrava nos últimos dias.
Meu Deus, eu nem sequer conseguia olhar na cara do Ian,ou
de Domenico.
Tudo o que fazia era ignorar, por puro receio de acabar
contando algo, que me causaria arrependimento.
Eu não conseguia imaginar o grau de afeto que isso poderia
causar neles e por isso, me manter em silêncio e alheia o máximo
possível, parecia ser o mais plausível.
Mas obviamente que em algum momento isso iria se virar
contra mim. Domenico viu pelas câmeras de segurança que estive
em seu escritório, não no mesmo dia, mas viu. Ele ficou intrigado
pelo fato de eu ter ido só para procurar a foto do seu pai.
Ele viu que alguma coisa havia acontecido e com isso, ficado
surpreso demais ao ponto de despertar a sua curiosidade.
Era como se Domenico tivesse percebido que havia
encontrado o Santo Graal e ele queria mais que tudo.
Por mais que não admitisse, ele queria, porque era por isso
que Domenico mantinha a foto do seu pai em seu escritório.
Ele acreditava na existência dele e que algum dia, o
encontraria.
Contudo, de todas as possibilidades que ele pode ter passado
a vida inteira imaginando, a única que ele jamais imaginou, era essa
em que se encontra agora.
— Só pode ser um engano — ele diz por fim, começando a
suar.
— O nome da sua mãe era Marta? — Ianpergunta, mantendo
distância, o olhando de um jeito inesperado, até.
Mas não consigo decifrar se ele está ou não feliz por isso.
— Marta, da Espanha, onde foi expulsa da casa da tia dela e
que tinha primas horríveis?
Os olhos de Domenico estão arregalados, tem um brilho
incomum, quase como predador.
Mas sei que ele não pulará no pescoço de Ian.
— Acredite, Domenico, estou tão em choque quanto você —
Ian argumenta.
Continuo parada ali, olhando para eles, pensando que foi
pouco, que por alguma razão, não será apenas isso.
Até que Domenico reage, pega a foto de mim e olha bem de
perto. Ele se afasta, andando em direção a sacada, deixando Iane
eu a sós.
Ian me olha e parece estar derrotado.
Issome deixa triste por ele, por descobrir assim, por não ter
sido de um jeito mais…
Feliz.
Embora, tivesse minhas dúvidas se ele comemoraria ou não a
respeito.
— Sinto muito. Eu não queria ter escondido de vocês, mas
também não sabia por onde começar.
Olhando para mim, Ian solta um suspiro e acaricia o meu rosto.
— Tudo bem, querida. É uma reação comum, não sei o motivo
de ter ficado tão desconfiado, ou com medo. Mas também não tinha
como saber o que estava acontecendo — Ian diz soando cansado.
Na sacada, meu padrinho ainda parece estar em processo de
aceitação. Ele olha para a foto como se estivesse vendo o reflexo da
sua face pela primeira vez, admirado, ou chocado demais, com o
que vê.
Aponto com o queixo na direção dele e comento:
— Esse momento sempre foi muito importante pra ele, Ian.
Vocês descobriram a existência desse irmão agora, mas Domenico
passou a vida toda imaginando o dia em que veria aquele homem
além de um pedaço de papel.
Ian solta um suspiro pesado.
— Não sei se ele está muito feliz com o resultado. A minha
família não é do agrado dele, deve ser um bom motivo para
começar a nos odiar — supõe e me viro abismada para ele.
— O meu padrinho não é um monstro, Ian.Ele pode ter suas
aversões, mas nunca plantou ódio em seu peito.
Ian então volta a olhar para Domenico, talvez, tentando
encontrar qualquer fio de laço fraternal entre eles, que possa fazê-lo
olhar com mais carinho para a situação e aceitar.
— Como você se sente em relação a isso? — pergunto e Ian
ri, triste.
— Sinceramente? Achei que pudesse ser pior. Eu não me
sentia pronto para começar uma busca, cair em algum golpe ou
então, começar um laço do zero. Mas, Domenico… Já tenho uma
opinião sobre ele, o conheço há um tempo… — Ele pensa mais um
pouco no que acabou de falar, e então puxa o ar para dentro de
seus pulmões. — Não sei, pode ser mais difícil do que imaginava —
admite.
Eu me aproximo e o abraço, apoiando a cabeça em seu peito.
Sinto seu coração bater forte demais e isso me preocupa.
Não quero que ele tenha um ataque cardíaco aqui, porém,
devo dizer que Iannão aparenta nem a metade do que seu corpo
está demonstrando.
Acho que nunca o senti tão tenso assim.
Ele acaricia meu cabelo em um gesto gostoso. Foi um dia
cheio das coisas do trabalho e do segredo que vinha guardando há
uns dias.
Chegar em casa e ter o conforto de Iané uma das melhores
coisas que eu posso ter para me fazer relaxar, junto a Isabel,que
ilumina todos os meus dias, todas as horas.
Seguro sua mão, mas não me afasto.
— Ei? Vai ficar tudo bem. Issopode ser início de algo novo e
bom. — Tento tranquilizá-lo, mas é o que acredito também.
Ian olha para mim e sorri.
— Você é incrível, sabia? Amo ver o mundo e todas as
situações pelos seus olhos, assim me sinto mais em paz, porque
você é pura, Grace.
— Todo ser humano merece uma segunda chance, querido.
No caso de Domenico, a primeira chance.
— Se ele está em fase de negação, não quero saber a fase
que meus irmãos vão ter que passar, Grace. Como direi isso a eles?
Solto um suspiro só de imaginar Noah e Jeremy descobrindo
que o irmão perdido, na verdade, é Domenico, alguém que nunca
escondeu certa depreciação com o estilo de vida dos O’Donnell. No
entanto, eles já não são mais os mesmos e sei que o julgamento de
Domenico, para com eles, não possui mais sentido. Hoje, eles estão
todos casados e com suas famílias, seguindo uma vida mais quieta,
onde não há mais espaço para coisas supérfluas.
— Seja sutil, mas direto. Eu sou a prova viva de que esconder
um segredo não é tão saudável assim. Meu Deus, Dom já estava
ficando louco! Ele sentia que era algo sobre o seu pai… Sobre a
família que ele nunca teve a chance de ter quando jovem. — Olho
para Ian,que me olha com expectativa, benevolência. — Essa é a
chance que ele tem de fazer aquele Dom feliz e mandar embora
todas as suas inseguranças.
Sim, a situação toda é mais complicada ainda para o meu
padrinho, mas não quero dizer também que é mais significativa que
os sentimentos de Ian. Por isso, enfatizo:
— Com o seu pai doente, é bom não perder tempo. Vocês
precisam do Domenico, assim como ele precisa de vocês.
Os olhos de Ian piscam várias vezes.
Contendo um choro, talvez?
Só sei que ele encosta a testa à minha e me dá um beijo na
boca, o primeiro beijo desde que cheguei.
— Eu preciso de você, Grace. Está vendo como é importante
na minha vida? — pergunta com os lábios tão próximos aos meus,
irradiando calor, menta…
Do jeito que gosto, do jeito que sempre me senti atraída pelo
seu toque.
— Sinto que sou capaz de fazer qualquer coisa com você por
perto, como nesse exato momento. Obrigado por estar aqui comigo
nesse momento importante.
Sorrio, sentindo meus olhos ficarem úmidos, feliz por ser boa
para Iane por ele me fazer sentir mais viva. Porque quando ele diz
que sou perfeita, incrível e todas as coisas boas possíveis, sei que
ele está falando a verdade.
— Amo você, meu nerd.
Estou obcecada em chamá-lo de nerd depois que ele, sozinho,
em uma noite inteira, desenvolveu o site da minha empresa.
Uma coisa tão complexa, Ian fez parecer simples.
Ele é um gênio e tenho certeza de que Isabelherdou isso dele,
o que me enche de orgulho.
Não escolhi Ian para ser pai da minha filha, porque não foi
planejado, mas certamente, Isabel o escolheu para ser a sua filha.
Um tempo depois, Ian nos escolheu, porque aqui está ele,
deixando uma séria situação de família de lado, para ser o cara
mais romântico da Itália comigo.
Eu o beijo mais um pouco, com vontade de saber onde isso
terminará mais tarde. Os seus lábios já são um vício sem volta, a
nossa conexão, forte o suficiente para não se intimidar com
Domenico e todos os problemas a frente.
Eu esqueci Domenico por alguns segundos em que me
mantive com Ian. Até ouvi-lo voltar da sacada.
Olho para ele e o meu coração que pulsa ardentemente por
Ian, se amolece, se mostrando triste ao ver o estado do meu
padrinho.
O homem alto, viril e inabalável, parece ter sido amarrado
pelos pés, e colocado de cabeça para baixo. Os ombros estão
caídos, o olhar esmiuçado, junto a uma energia triste que o
acompanha.
Pensei que Domenico pudesse ficar feliz com a notícia, de
algum jeito, mas ele parece estar abalado.
Ficamos olhando para ele, com expectativa.
— A minha mãe dizia que o meu pai tinha grandes sonhos —
diz enquanto encara a foto que remendei. — Ele não mencionou
para ela, mas dizia que viria para buscá-la quando ele os realizasse,
ou quando ele estivesse indo atrás de realizá-lo. Imaginoque essa
deve ser a maior decepção da vida dela, ter esperado tanto,
enquanto ele fazia exatamente o que havia prometido a ela, realizar
seus sonhos, só que sem ela.
— Não é verdade, Domenico — Ianrebate em defesa do pai.
— Papai foi procurá-la, mas a tia fez questão de mentir. Papai foi
descobrir depois a verdade através de um desconhecido, que
contou que Marta havia sido expulsa por estar grávida. Ele os
procurou por anos, até minha mãe o ajudou, porque eles queriam
encontrar você.
— Não deveria ser tão difícil assim — Dom respalda
inconformado. — Olha o tempo em que vivemos, Ian!Você mesmo
sabe melhor do que nós que graças aos avanços da tecnologia,
encontrar a gente não deveria ter sido muito difícil assim para o seu
pai. Além do mais, por qual razão ele manteve isso em segredo por
tanto tempo, se até a sua falecida esposa sabia? Sinceramente, não
acho que Rupert queria nos encontrar… Ou me encontrar. Caso ele
não saiba, fiquei órfão aos quinze anos.
Sinto como se meu coração estivesse afundado bem no fundo
do meu peito.
— Sinto muito, Domenico. Não é fácil para ele, para nenhum
de nós.
Balançando a cabeça e passando a língua nos lábios, como
quem procura controle, Domenico ressalta logo em seguida:
— Vou te dizer o motivo de não ter sido fácil para ele, todos
esses anos, contar que tinha um filho bastardo. Porque vocês eram
esnobes demais para lidar com um fato, que os deixariam
revoltados. Você e seus irmãos sempre viveram em um mundinho
perfeito, onde só entravam pessoas seletivas. Agora, imagina um
cara, como eu, sem muita coisa a oferecer, de repente, me tornar o
irmão de vocês? Aposto que vocês jamais aceitariam.
— É uma acusação muito séria, Dom — eu o alerto.
— Não estou acusando, estou trazendo fatos. É bem diferente.
— Mas você não pode basear o presente no passado. Acha
que será rejeitado só porque adotou uma ideia errada do Iane seus
irmãos? — insisto na defesa de Ian, que sussurra em meu ouvido:
— Tudo bem, Grace. Deixa que cuido disso.
Mas já é tarde demais.
Os olhos de Domenico já estão em mim, surpresos demais
pela minha posição de defesa a favor de Ian.Mas eu não luto por
um só, eu luto por eles e pelo desejo de ver isso acabar bem.
Só que Domenico está ferido e enquanto essa ferida estiver
sangrando, ele não recuará em sua defesa.
— Irônico você dizer isso, Grace. Pensei que
compartilhássemos do mesmo pensamento — ele diz, mas
mantenho a postura.
— Issofoi antes de conhecer o Iane a sua família, muito antes
de ver finalmente como eles realmente são. E por isso não posso
concordar com as coisas que o senhor diz, me desculpa.
— Você fala como se tivesse os escolhido — ele murmura com
a voz afetada de puro choque.
— E se eu tiver? Não há problema algum nisso, meu padrinho.
A gente precisa expandir os horizontes, como o senhor sempre me
diz. Eu tenho a minha família agora e amo o fato de ter ganhado
irmãs e irmãos postiços. Pra completar tudo, com o senhor fazendo
parte, só melhora. Porque começamos pequenos, só você e eu, e
agora olha só o que ganhamos.
Posso sentir as lágrimas rolando para baixo do meu rosto. Mas
não importa porque sei que isso é um sentimento real, algo que
percebi muito antes e aceitei.
No entanto, Domenico continua impassível.
Como disse, ele não é um monstro, mas há feridas abertas
que o tornam…
Insensível.
Ele olha para mim, com pesar.
— Minha querida, não sei se acredito nisso, quando Ianfaz o
que exatamente pedi para que ele fizesse, quando contei que ele
havia engravidado você.
De repente, tudo o que estou sentindo se esmorece a um
completo vazio silencioso.
— O quê? — pergunto séria.
Ian fica paralisado atrás de mim e nesse instante, sei que
descobrirei coisas que não quero.
Domenico solta um suspiro, balança a cabeça e me olha com
dor, como se não quisesse me falar aquelas palavras, mas precisa.
— Me preocupa a veracidade dos sentimentos de Ian por você,
quando, na verdade, pedi para que ele ficasse perto, fazer com que
você se sentisse amada e especial, para que não se sentisse
solitária e sem forças.
Sinto algo dentro em meu interior travar e quase me engasgo,
enquanto engulo as palavras diretas de Domenico.
Meu silêncio mostra a confusão que isso me tornou em
questão de segundos.
— Nada disso impediu que Grace e eu criássemos
sentimentos verdadeiros um pelo outro — Ian se justifica.
— Então é verdade? — Olho para ele, que parece chocado
demais.
Ian olha para Domenico.
Ele sabia que não pode mentir ou omitir qualquer detalhe
dessa informação.
Ele pestaneja e quase perdeu o controle da respiração. No
entanto, admitir a verdade é melhor do apenas fugir dela, e Iansabe
disso.
— E-eu… Sim, Grace. Domenico pediu para que eu ficasse
com você. E eu ficaria, nem que ele me pedisse, porque sou o pai
da Isabel. E foi por isso que fiquei no começo, não foi?
— Eu jamais teria concordado com você morar aqui. Mas isso
aconteceu porque era conveniente — Domenico refuta. — Você
podia continuar sendo o pai da Isabel,mas no seu canto. Eu queria
que você fizesse a Grace se sentir segura e não iludida.
— Não sabe do que está falando, Domenico — Ian rebate
irritado. — Está mentindo. Como pode saber se meus sentimentos
pela Grace são ou não reais?
Ian e eu ficamos esperando uma resposta.
Domenico fica nos olhando, suspira e então responde:
— Porque você é o mesmo cara que aceitou a ideia de que
deveria estar perto de Grace para fazê-la se sentir especial, em
troca de uma oferta que isso ajudaria na sua imagem e que não me
meteria nisso, mostraria apoio.
Meu coração bate forte, é como se todo o ar do meu pulmão
estivesse sendo roubado.
Eu me sinto usada, uma tola, por dois homens adultos
acharem que podem decidir o que fazer comigo, sem me consultar
primeiro, como se eu fosse um troféu que precisa ser cuidado a todo
custo, para jamais criar teias de aranha.
Dói não saber o tipo de coisa que eles tramaram, mas, que
fizeram um acordo às minhas costas, envolvendo a mim e a
vulnerabilidade do meu resguardo.
Não me importa o que Domenico pediu a Ian,mas como eles
arquitetaram aquilo, como se eu fosse uma mera peça do joguinho
de poder deles.
E isso me machuca, porque envolve o homem que
considerava como um pai e Ian, o homem que escolhi para amar
.
— Grace… — Iantenta falar, mas estou tão chateada, que a
sua voz se torna um afronte.
— Não, Ian. Eu já entendi tudo. — Respiro fundo.
Aliás, se eles me veem como uma mulher que não é capaz de
se cuidar sozinha, tomar suas decisões, eles irão ver agora que sei
lidar muito bem com esse tipo de situação.
— Vocês acham que podem fazer escolhas por outras pessoas
porque são homens poderosos, e acham que estão abalando, não
é? Mas saibam que não é bem assim. Issosó mostrou o quão vocês
têm medo das coisas saírem do controle, ao ponto de trabalharem
em dupla.
— Eu sinto muito, Grace — Domenico diz. — Eu não queria
fazer você se sentir assim. A intenção não era afetar você, mas
fazê-los perceber a razão pela qual não consigo aceitar este fato tão
rápido assim — explica mostrando a foto, ao se referir ao seu pai.
Domenico então deixa a foto sobre a mesa e nos olha mais
uma vez.
— Querem me dizer que Rupert é o meu pai? Ok. Mas me
fazer aceitar que sou dessa família? Melhor tentar algo melhor. Já
tenho quase quarenta anos, não preciso recorrer a humilhações
para não morrer sozinho. — Ele sai do meu apartamento, deixando
Ian e eu sozinhos, com uma Isabel muito curiosa, ouvindo tudo
como se fosse a vizinha fofoqueira que está só de ouvido em tudo.
O silêncio que fica entre Ian e eu é ensurdecedor
.
Eu me pergunto para onde foi toda aquela energia boa e
gostosa que estávamos compartilhando minutos atrás, onde seus
beijos me faziam ter devaneios lascivos do resto da noite.
Mas tudo terminou de um jeito diferente.
Aposto que nenhum de nós desejaria isso, mas acho que foi
melhor do que esperava, com o bônus de que me dei muito mal no
final.
— Grace, você não vai acreditar nele, não é? Acha mesmo
que não a amo? Que eu não me importo? — Ele parece estar
exasperado, como se temesse que eu dissesse que sim.
No entanto, tenho uma resposta que não só o surpreenderá,
mas como a mim:
— Eu acredito em você, Ian, nos seus sentimentos — digo
com as emoções entaladas. — Acredito no que temos,
principalmente, porque, para mim, é real. Mas estou decepcionada
com você, tão chateada, que não aguento olhar na sua cara, sem
me sentir uma idiota. Por que é isso o que vocês devem achar de
mim, não é? Que eu sou uma idiota.
— Não, Grace…
Levanto a mão para ele, o parando quando faz menção de se
aproximar.
— Não importa as explicações que você dê agora, Ian.Acho
que está claro que cada um teve a sua verdade revelada. Cada um
precisou contar segredos e ser afetado de alguma forma. Só é
preciso saber agora como lidar com isso.
— Domenico não parece muito feliz — comenta.
— Você está? Está feliz, Ian?
— Não me sinto feliz com o que está acontecendo entre nós
dois agora. Issome preocupa mais que qualquer outra coisa nesse
momento — admite.
— A mim também — revelo, sentindo um aperto no meu
coração. — Mas estou de cabeça quente, Ian. Tudo isso, de um
modo geral, me esgotou.
— Tudo bem — ele diz com a voz fraca.
Em meio à meia-luz da sala, com a escuridão da noite
formando uma penumbra do lado, juro ter visto os olhos de Ian
ficando vermelhos.
— Então você quer que eu vá? — pergunta como se isso
doesse demais nele.
Eu posso imaginar isso, porque dói em mim, quando respondo:
— Sim. E não sei até quando.
Ele respira todo ar da sala e bufa. Esfrega as mãos no rosto,
parecendo perdido. Olha ao redor e se inclina para dar um beijo em
Isabel.
— Papai volta logo, meu amor — diz a ela.
Preciso virar o rosto para não desabar na sua frente.
Respiro fundo.
Eu serei forte.
Eu o ouço pegar as chaves e antes de passar por mim, Ian
para. Não me forço a olhar para ele, porque sei que se olhar, não
manterei a minha palavra.
— Você está certa em ficar sozinha agora. Mas, por favor,
pensa em nós — implora. — Eu sinto muito, Grace. De verdade.
Não queria que nada fosse assim.
Muito menos eu.
Mas não consigo dizer isso a ele.
Ian sai e fico “sozinha”.
É como se abrisse uma lacuna no meu peito, que arde e me
deixa sem chão, em pura queda livre.
Deixo que as lágrimas saiam, porque não quero prendê-las,
igual a esses sentimentos confusos que me sufocam.
E não consigo entender o que, até perceber que estou triste
pelo meu padrinho, por Ian,e por mim, que precisa, no final, lidar
com todos os problemas de uma só vez.
Tenho a inauguração da minha empresa batendo à porta e
agora esses problemas familiares.
Massageio a têmpora e lembro quando me falavam que família
só dava dor de cabeça.
Bem, devo afirmar que isso não precisa ser uma regra, mas
parece que é uma verdade incapaz de se escapar.
— Bem, temos certeza de que a TecNell será indispensável na
colaboração da reprodução de nossos telefones celulares. É por
isso que pensamos primeiro em vocês e não na concorrência — diz
o CEO da nova empreitada de aparelhos que quer surgir na Turquia.
Eles têm de tudo. A empresa, um bom capital, um bom projeto
de lançamento e o investimento ideal para uma empresa
responsável em T.Ificar com a parte mais complexa da construção
de um aparelho celular.
Geralmente, pegamos trabalhos em empresas grandes, com
um histórico já bem apreciável na indústria. Mas, trabalhar para uma
que está engatinhando, é novidade.
Lawrence e Martina estão empolgados com a ideia de
iniciarmos do zero junto com uma empresa, outros estão aflitos,
porque não temos garantia alguma de sucesso.
Mas eu, só consigo pensar em Grace.
— Fez a coisa certa, Hakan — Lawrence diz, mantendo o
espírito otimista. — A nossa tecnologia é a melhor da Europa e
quando a indústria americana investir em nós, seremos os melhores
lá.
O CEO da empresa apresenta um sorriso para Lawrence, mas
é para mim, que ele olha, nervoso.
Estou sentado na ponta do outro lado da mesa, observando a
reunião, calado, tentando manter o foco nela, porque não vim perder
o meu tempo.
Mas é impossível para uma mente agitada, como a minha.
— O que acha, O´Donnell? — Hakan me pergunta cheio de
expectativa.
Olho para meus amigos, puxo o ar com força e então me
ajusto a cadeira antes de dirigir a palavra a ele.
— Bom, primeiro de tudo, você deveria estar mais confiante,
Hakan. Não sei se posso confiar em seu nervosismo, ainda mais
sendo o CEO. O projeto é incrível, mas tenha mais segurança no
que pretende fazer. Não vou gastar milhões e usar a minha equipe
em um projeto fracassado, por isso, preciso ter certeza de que isso
será bastante promissor.
A sala fica em silêncio e o resto das pessoas presentes olham
diretamente para ele, esperando por uma resposta. Ninguém me
opõe, porque sabem que só falei o que vem sendo notado desde o
início, e ninguém teve coragem de falar.
Fico esperando.
A sala inteira fica.
De repente, Hakan apruma os ombros, empina o nariz e
pigarreia, assumindo a verdadeira postura que se deve ter, a de um
CEO!
— Você pode até pensar que se livrará de uma emboscada se
sair daqui recusando a participação neste projeto, mas garanto que
se ficar, vai agradecer a si mesmo por ter aceitado. — Mostra agora
o seu verdadeiro poder aqui.
De CEO, para CEO.
Dou um sorriso, orgulhoso pelo meu feito em sua postura que
estava simplesmente a coisa mais deprimente. Nenhum CEO se
humilha para outro CEO. É tipo uma regra e aprendi isso com os
melhores.
— Muito bem. Isso muda tudo agora.
Ele tenta respirar aliviado, mas faz apenas um ligeiro aceno de
cabeça.
A minha intenção não é que ele fique frio, mas, mais confiante.
E agora, sinto a sua confiança.
Sobre a mesa de vidro, meu celular vibra e a tela ilumina. Um
nome familiar, porém, muito inesperado surge.
Domenico.
— Bem, senhores e senhoras — digo me levantando, com o
celular na mão. — Vamos firmar essa parceria. — Saio da cadeira e
a contorno a mesa.
Hakan se aproxima e estica a mão quando estico a minha
primeiro.
— Vejo um negócio muito promissor aqui, Hakan — admito. —
Ainda mais focado no Oriente Médio.
— Obrigado pela confiança, O´Donnell.
— Preciso ir, mas mantenha a minha equipe atualizada. Nos
comunicaremos sempre a respeito dessa produção.
— Começaremos a criar um protótipo para o projeto —
Lawrence diz surgindo ao nosso lado.
— Imagino também que já possuem um modelo de designer.
Podemos debater agora mesmo a respeito — Martina sugere.
Parece que eles estão aqui para me “salvar”.
Dou a eles um aceno de cabeça, como quem diz obrigado e
vou me retirando da sala.
— Vejo vocês no hotel, rapazes — sugiro, sem olhar para trás
e atendo a ligação assim que saio. — Aconteceu alguma coisa? —
Vou logo perguntando.
É estressante ficar longe da Grace e Isabel, não sei se elas
estão bem.
Grace responde algumas mensagens, mas ainda está
chateada comigo. Confesso eu já pensei em inúmeras coisas para
fazer e tentar fazê-la se sentir melhor em relação a nós dois, mas aí
só estaria sendo um chato inconveniente, que não está respeitando
o seu espaço.
E sei que nesses dias, espaço é tudo o que Grace está
precisando. É como se tivéssemos voltado para a estaca zero, de
quando ela tinha suas desconfianças sobre a minha pessoa.
Isso é frustrante pra caramba.
— Por que acha que aconteceu algo? — pergunta de volta.
— Você está me ligando. Isso não é muito comum nesses
cinco meses que trocamos contato — explico, já que cinco meses
atrás, quando fui para Florença e trocamos contato, Domenico
raramente me ligava.
— Isso é verdade. Desculpa se não estou agindo como um
bom irmão mais velho.
Estou a caminho do elevador e encurto até meus passos com
seu comentário.
— Então já está aceitando? Faz até piadinha — digo incrédulo.
Domenico resmunga.
— Soube que está hospedado no hotel Adali. Estou aqui —
avisa.
Chamo o elevador.
— O que faz aqui? — pergunto curioso.
— Com certeza não vim tratar de negócios como você, mas ter
uma conversa melhor. Espero que não esteja atrapalhando algo.
— Acabei de finalizar uma reunião.
— Vai ficar mais rico, não é?
— Temos esse dom — digo entrando no elevador de vidro. —
Daqui a dez minutos chego aí.
— Estou no bar do hotel — avisa e desliga a ligação.
Guardo o celular no bolso da calça e então me sinto ansioso
pela primeira vez no dia de hoje.
Eu não converso com Domenico desde aquela noite em que
descobrimos sermos irmãos. Era visível que ele ficou mais surpreso
do que eu, e que estava em negação, até hoje, aparentemente.
Não esperava que ele fosse conversar comigo daquele jeito,
como se estivesse tudo bem.
Ainda é tudo uma novidade.
Mas acredito que agora consigo aceitar de um jeito melhor. E,
certamente, alguma coisa aconteceu para que isso seja possível,
para que Domenico esteja aqui.
Saio do elevador apressado.
Esses dias que estou aqui, em Ancara, capital da Turquia, fiz
questão de usufruir dos serviços dos motoristas particulares que
temos. Rápido e eficiente, ainda mais quando estou mexendo no
celular, buscando qualquer atualização sobre Grace.
Uma notícia no perfil oficial da sua empresa de decorações de
eventos me chama atenção. A inauguração foi adiantada para a
semana que vem.
Por quê?
Fico me perguntando se a presença inesperada de Domenico
tem alguma coisa a ver com isso.
Quando chego ao hotel, vou direto ao bar. Um lugar nos
fundos do hotel, com meia-luz, dando um ar misterioso, mas
totalmente focado na decoração turca, muito floral, cores vivas e
olho grego.
Eu me junto a Domenico em uma mesa no canto, desprovido
de muita circulação.
— Como me encontrou na Turquia? — Vou logo perguntando.
— A sua assistente precisa aprender muito com a Grace em
como ser uma assistente firme no trabalho e não ceder facilmente a
um homem charmoso — relata de forma arrogante enquanto
mantém seus olhos em mim, como se eu fosse uma presa.
— Isso é de família, o charme — ressalto.
— Vai me dizer que a arrogância também?
Sorrio, conseguindo me desviar da sua ofensa.
— Isso vem junto com o pacote de ser um homem
extremamente poderoso.
O garçom vem até a mesa e reparo que Domenico bebe
uísque escocês, sem gelo.
— Vou querer o mesmo que ele — digo.
— Sim, senhor. — Ele anota e sai.
— Elas estão bem? — pergunto a Domenico.
Ele franze o cenho.
— Não fala com ela?
Eu o encaro.
Raramente sinto vontade de agredir pessoas, mas, agora,
quero esganá-lo.
— Bom, considerando o fato de que você quase acabou com o
meu relacionamento com a Grace, então, sim. Não estou falando
com ela, e não é porque eu quero, mas porque ela achou que seria
melhor assim.
Ele fica me olhando, como se não pudesse acreditar em
minhas palavras.
— Então terminaram?
Bufo frustrado, me encostando no encosto do banco revestido
de couro.
— Não. Mas ela deve estar considerando essa possibilidade.
Já vai fazer uma semana que não nos falamos direito. Pelo menos
ela me deixa ver a Isabel.
Domenico solta um suspiro profundo.
— Bom, se serve de consolo, ela também não está falando
muito bem comigo. Tudo o que sei, é quando saio perguntando aos
outros.
E não sinto nada a respeito. Na verdade, acho bom e justo que
o tratamento esteja sendo o mesmo.
Depois de um tempo, Domenico admite:
— É tudo culpa minha, passei do limite. Estava de cabeça
quente naquela noite e covardemente descontei nela, contando algo
que não cabia a mim.
Olho para ele, mais uma vez sentindo vontade de esganá-lo.
— É uma pena que tenha percebido isso tarde demais, não é?
Na hora certa, o garçom traz a nossa bebida. Domenico e eu
brindamos, e bebemos. O líquido desce quase rasgando a minha
garganta, mas depois se torna refrescante.
Estive bebendo um pouco mais nos últimos dias, às vezes, só
pra conseguir dormir. Mas me faz mal e não quero ficar dependente
disso para dormir, embora saiba que, para mim, basta ter a
companhia de Grace e saber que está tudo certo e em paz.
— Mas nada está perdido — Domenico diz logo depois. — Sei
de um jeito que pode fazer Grace nos perdoar.
— Estou curioso para saber — admito.
Domenico fica me olhando, pensando mais um pouco. Ele
começa então a bater o seu anel que tem no dedo indicador da mão
direita.
É de ouro com uma pedra de rubi.
— Conte à sua família sobre mim — dispara. — Sei que você
ainda não contou nada, então, conte tudo o que sabe.
— Como posso fazê-los acreditar? Acho que só palavras e
histórias não serão o suficiente.
— Faremos um teste de DNA. E assim será esclarecedor para
nós dois e para Grace.
Pisco atônito, ciente de que apesar de parecer uma boa ideia,
as consequências me deixam com o estômago revirado. Ou meus
irmãos irão surtar, ou então ficarão quietos, em negação para
sempre.
— Olha, não me importo com o que acham de mim. Só estou
fazendo isso pela Grace. Ela ainda muito pequena perdeu os pais e
desde então vem sendo apenas nós dois. Uma família grande é o
sonho dela. Ao ver que está tudo bem entre nós dois,
principalmente, acredito que seja uma forma de nos redimir com ela.
— Entendo.
— Poderíamos fazer um teste amanhã mesmo, na melhor
clínica. Você pega o resultado e se der positivo, o levará para
Londres.
— Você não irá comigo?
Domenico dá um longo gole na sua bebida e a deixa com
rigidez sobre a mesa de mármore.
— E ser esganado pelo Noah? Não, obrigado.
— Verdade, ele não gosta muito de você devido as
declarações que já fez ao nosso respeito. A respeito dele.
Ele revira os olhos e bufa, mostrando exaustão.
— Não posso fazer nada se ele é um rancoroso. Afinal de
contas, se eu for mesmo o irmão mais velho de vocês, é bom que
me respeitem.
Gargalho e pego a minha bebida.
— Muito bom com piadas, para não dizer horrível.
Ao fundo, vozes familiares soam, se aproximando cada vez
mais. Domenico olha incrédulo, mas não me dou o trabalho, já até
sei quem são.
— Tem dois caras vindo na nossa direção.
— Lawrence e Martina, meus amigos. Hoje tem a transmissão
ao vivo de Rugby. Quer ver com a gente?
Ele bebe mais um pouco e afirma:
— Os Lions vão ganhar de lavada.
Olho para ele.
Esperto!
Teremos a nossa primeira programação como irmãos.
Apesar de não ter nenhum teste de DNA ainda, não tenho
dúvidas de que Domenico seja meu irmão. Aquela foto bastou para
que soubesse, além das histórias semelhantes que sua mãe
contava para ele e é tão parecida com a que meu pai contou.
Gosto de Domenico. Nunca tive nada contra ele, mas não sei
dizer se é recíproco.
Agora, acho que poderemos ser bons amigos, afinal temos os
mesmos interesses, principalmente, em conseguir o perdão da
mesma mulher.
••••
Estou com o papel em mãos, lacrado.
De todas as coisas que estou levando para Londres, esse é o
mais importante.
Domenico não quis saber o resultado, ele acha que talvez não
faça diferença, mas tem medo de acabar sendo uma vergonha
constrangedora.
O que pensarão dele?
Que Domenico acha que pode ser um O´Donnell?
Bem, de um jeito ou de outro, sei a resposta. Está tudo
explícito, claro.
Se meus irmãos não acreditarem no teste de DNA, não
acreditarão nas histórias.
Acho melhor não anunciar ao meu pai sobre isso por
enquanto, por isso, pedi apenas para que nos reuníssemos na casa
de Jeremy, como sempre. Disse que era algo sobre o nosso suposto
irmão e que não dava para ser adiado.
Educadamente, meus irmãos concordaram, o que me fez
questionar se não estaria sendo muito pessimista sobre a forma
como eles lidarão com a revelação.
Assim que chego em Londres, vou direto para a mansão de
Jeremy.
Ao entrar na mansão, vejo meus irmãos já me esperando,
enquanto Audrey e Meredith estão na cozinha.
Chego a pensar que passarei despercebido, mas Julian grita:
— E AÍ, TIO!
— JULIAN! QUANT
O TEMPO! — grito de volta.
— Estou de férias! — ele diz parecendo estar apressado.
— Deveria me visitar em Florença qualquer dia desses, ver a
minha filha — sugiro.
— Audrey disse que não era o melhor momento — diz e sai
como se não tivesse dito nada de mais.
Paro e fico confuso, até que Audrey coloca sua carinha para
fora da porta da cozinha.
— Oi, cunhado. Onde está a minha amiga, Grace? — Ela pisca
os olhos, querendo transparecer inocência enquanto espera uma
resposta.
Por que algo me diz que ela já sabe, e que isso é um teste?
— Em Florença. Grace anda muito ocupada com os
preparativos para a inauguração. — O que não é uma completa
mentira. — Tem falado com ela?
Audrey dá de ombros.
— Você tem? — pergunta, se fazendo de sonsa.
Espertinha!
Seja lá o que conversa com Grace, Audrey também quer
arrancar algo de mim.
— Por que não teria? — pergunto já saindo de cena, enquanto
me olha desconfiada.
Definitivamente, ela sabe de algo.
Quando garotas se juntam, elas conspiram contra os homens.
Por isso dizem que quanto mais unidas, mais fortes ficam.
Vou para a sala onde meus irmãos estão. Eles parecem
relaxados, afinal de contas, as férias de verão começaram e Julian
está em casa. Quer dizer, não é como se ele tivesse saído do
colégio interno, pois, agora frequenta a escola comum.
Mas ele faz outros cursos e, agora, tem amigos londrinos,
então, quase não para em casa.
É a primeira vez que o vejo em meses!
— O que aconteceu com a Grace? — Jeremy pergunta. —
Olha, a Audrey andou furiosa com você esses últimos dias e sabe
que elas são amigas.
— Meredith andou comentando umas coisas também — Noah
diz.
Meus irmãos estão sentados no sofá, um de frente para o
outro enquanto analisam o que parece ser a planta de alguma
propriedade. Penso em ser a nossa mansão em Dublin, mas este é
diferente.
— Qual é a fofoca? — Quero saber.
— Grace não falou muito — Noah diz sorrindo, de um jeito
convencido. — Esperaria que você viesse desabafar, mas já sei que
é sobre algo pior.
Enfio as mãos nos bolsos da calça e olho incrédulo para o meu
irmão.
— Não acho que falar do nosso irmão será algo ruim —
argumento.
Jeremy me olha, franzindo o cenho profundamente.
— Ian, você tem certeza? Descobrimos a existência dele há
duas semanas e você diz que já o encontrou.
— Pois é. Eu também não acreditei quando descobri… Ou
quando a informação chegou até mim. Mas de uma coisa tenho
certeza. — Tiro a foto que Grace remendou, antes partida, e, agora,
“inteira”. E a coloco em cima da planta. — Tinha que ser desse jeito.
O que me faz pensar que tudo acontece por um motivo, alguma
razão que depois faz todo sentido.
— É o papai — Jeremy diz surpreso enquanto analisa a foto.
— É nítido que os pedaços se completam.
Cruzo os braços, gostando da sensação de saber o que meus
irmãos não sabem, soltando as informações aos poucos.
— E o que me fez ter mais certeza ainda, foi ouvir o outro lado,
conseguindo encaixar tudo ao que papai nos contou. E podem ter
certeza de que a pessoa não sabia nada ainda sobre essa versão.
Noah me olha, sério.
— Então você já o conheceu?
Dou um sorriso.
— Não precisei ir muito longe. Como disse, a informação veio
até mim… Até nós.
— Para de enrolar, Ian! — Jeremy exclama.
Respiro fundo.
Como eu disse, serei direto, mas também sutil. Eu não quero
que meus irmãos pensem que estou de brincadeira.
— Grace encontrou a foto do nosso pai. Ela já havia visto
outras vezes e percebeu que as duas partes se completavam
quando mostrei a ela. Grace então foi atrás da prova, que era a foto
do nosso pai e estava esse tempo todo no escritório do Domenico.
Meus irmãos me olham lentamente e, então, se encaram.
Jeremy e Noah começam a rir.
É mais cômico do que esperava, mas sei que, na verdade, eles
só não estão acreditando.
Então jogo o envelope lacrado sobre a mesa e eles voltam a
ficarem sérios.
— Fizemos um teste de DNA. E aí está o resultado, lacrado —
aviso.
Há um silêncio por alguns segundos.
— Porra! — Noah pragueja. — Espera, se você não viu, como
já fala com tanta convicção?
Dou de ombros.
— Como eu disse, as informações batem e a foto completa
está aí para você ver. Acredita quem quer.
Jeremy não hesita, pega o envelope e lê, enquanto Noah
espera, tenso. E embora tenha certeza, e transpareça tranquilidade,
também fico ansioso.
Até que Jeremy larga o papel como se o material o estivesse
queimando.
— Merda! — xinga tapando o rosto com as mãos.
Noah então quer ver com seus olhos. Ele fica um bom tempo
olhando o papel e isso já me faz ter noção do resultado.
Inesperadamente, Noah se levanta
— Isso é algum tipo de piada? — ele pergunta para mim.
— Sabe? Domenico perguntou a mesma coisa — digo.
— Isso não faz sentido!
— Não faz, porque, tecnicamente, não gostamos deles. Mas é
a verdade e precisa ser aceita.
— Eu não preciso aceitar nada! — ele exaspera.
— Mas parece que essa é a verdade, Noah — Jeremy diz
voltando a pegar o papel, parecendo exausto, como se aquilo
tivesse lhe dado um mata-leão.
Noah fica nos olhando.
— Bom, o que querem que eu faça agora? Não posso dormir
um dia não gostando do Domenico e acordar no outro sendo o
irmão dele!
— Pra falar a verdade, Domenico sendo o seu irmão mais
velho, você nasceu sendo irmão dele. Desde o seu primeiro suspiro
— reflito e isso faz com que Noah me olhe, chocado.
— Então você já está todo íntimo dele, não é? Irmãos
inseparáveis! — provoca. — Nos poupe, Ian!
Reviro os olhos.
Esse é o tipo de reação que sabia que Noah teria.
— Acha que foi fácil pra mim? — pergunto, mas logo emendo:
— Eu praticamente tive o meu relacionamento com a Grace
destruído por causa disso e mais um pouco! Se estou lidando agora
com esse fato, é porque não tenho pensado no meu nariz, mas
como um todo!
— Pensou que precisávamos saber disso? Desse irmão que
não tem um pingo de afeto por nós?!
— Ele pensou no papai.
Ouço Jeremy falar, como sempre sendo o mais sensato e
pacífico de nós três…
Ou quatro, agora.
Meu irmão se levanta e então se junta a Noah e eu.
— Papai está praticamente morrendo e o seu último desejo era
nos contar sobre esse filho, porque queria que a gente o
encontrasse.
— Não, ele só queria que a gente soubesse. Não lembro dele
pedir para que o procurássemos.
— E precisava ter dito? — Jeremy questiona, calando Noah. —
Olha, seja lá o que sentimos por Domenico… Tá sendo difícil sim,
de processar essa informação, mas papai precisa o conhecer o
quanto antes, não acham?
Nem hesito em concordar.
Venho pensando bastante nisso nos últimos dias, afinal é
nítido que a hora do nosso pai está cada vez mais próxima, e que a
revelação desse irmão de forma instantânea, só nos mostra que não
podemos perder muito tempo.
Ficamos esperando uma resposta de Noah, que respira fundo
e se afasta para pensar melhor. Ele está inquieto, lutando contra o
orgulho.
Meu irmão não é um homem ruim, sei que também não tem
ódio de Domenico. No entanto, eles já se estranharam muitas vezes
devido às farpas que soltavam um para o outro em eventos. Isso
com o passar do tempo, foi virando uma bola de neve.
Tenho certeza de que se não fosse por isso, Noah e Domenico
poderiam ser ótimos amigos.
Quando ele volta, acho que vai dizer um grande FODA-SE. No
entanto, ele diz com firmeza:
— Pelo papai. Não vou forçar simpatia com esse cara, mas
pelo papai, topo fazer esse encontro, topo oficializar logo isso. Mas
não contem comigo para ficar amiguinho dele.
Sorrio e Jeremy fica aliviado.
— Bom, então temos que contar a ele e planejar esse encontro
— Jeremy sugere.
— Você sabe que não é mais o irmão mais velho, não é? —
Noah o provoca.
Jeremy olha para ele daquele jeito que faria qualquer um pedir
demissão.
— Sou oficialmente o seu irmão mais velho — Jeremy o
corrige.
— Diga logo que é por não ser o bastardo — Noah completa.
Jeremy me olha e então olho para ele.
Sabemos que Noah não facilitará muito as coisas para
Domenico. E que Domenico também não deixará de revidar, se
quiser.
Quando descobri que estava grávida, pensei que não
conseguiria realizar os meus sonhos. Não por falta de vontade, mas
porque tinha a incerteza do futuro, sabendo que seria mãe, que
talvez não conseguisse conciliar o tempo de empreendedora com a
maternidade.
Várias vezes pensei em desistir.
Sabia que não estava sozinha, mas me sentia dessa forma.
Ainda assim, fui empurrando todas as minhas tentativas.
Sabia que desistir seria pior do que tentar e fracassar. Além do
mais, como poderia temer o futuro que eu mesma sempre sonhei, e
que com a gravidez só me sentia mais forte ainda para realizá-lo?
Foi assim que, mesmo depois de ter me tornado mãe,
continuei acreditando em meus sonhos e coloquei a mão na massa.
Mesmo de resguardo, vivia de pesquisas e ligações importantes.
Depois, quando recebi sinal verde da minha médica, comecei a
ir ao meu escritório e visitar o ateliê onde seria mantido todas as
peças de decoração. Então fui comprando e fechando negócio com
fornecedores.
Era um trabalho simples, mas para uma mãe de primeira
viagem, como eu, conciliar tudo isso, com o tempo de cuidado com
a minha filha, era realmente muito exaustivo.
Mas, no final do dia, eu me sentia satisfeita.
Para mim, apesar do cansaço, era bem melhor estar sempre
ocupada fazendo alguma coisa, do que está completamente
desocupada e correr o risco de ficar deprimida.
Não era algo que queria pagar para ver, de verdade.
E hoje, aqui estou, na inauguração da minha empresa, onde
oficialmente coloco a minha marca Decorações Doley em jogo.
Vesti o melhor vestido do meu closet, prateado, até os joelhos,
nu nas costas e com um decote que valoriza meus seios. Deixei o
cabelo preso em um coque chique, usei meus melhores acessórios
e calcei um salto elegante.
Estou bonita por fora, mas por dentro, parece que tem um
cavalo galopando dentro de mim.
Meu coração está a mil e por mil e uma razões diferentes.
Parte minha está ansiosa para que tudo ocorra bem na
inauguração e a outra, para que tudo seja promissor depois desta
noite.
Estou ansiosa para encontrar pessoas importantes, que
Domenico chamou para esse evento e porque me pergunto se ele
estará aqui.
O Ian.
Saio do meu carro que estaciono logo em frente ao meu
escritório, que é colado ao ateliê. Luzes iluminam a faixada com o
letreiro grande e moderno. O segurança e a promotora de eventos
me recebem com um sorriso.
— Boa noite, senhorita Doley. Ansiosa? — a mulher me
pergunta.
— Muito! — respondo me encolhendo, como se um frio tivesse
passado por minha espinha. — Estão todos aí?
Ela dá uma breve olhada na prancheta que segura.
— Quase. Mas já tem mais da metade — informa.
— Ok. — Respiro fundo. — Então, vou lá — digo enquanto me
aprumo em direção à porta.
— Boa sorte.
A música já dá para ouvir aqui de fora.
Quando entro, passo pelo corredor onde tem o banheiro e a
salinha do segurança. Como decidi focar em eventos mais
requintados, nossos produtos são de luxo, mas há coisas mais
acessíveis também. Afinal de contas, estamos em Florença e aqui
todo mundo apela para os dois lados.
O cômodo adiante se revela, a sala de espera no final do
corredor, onde meus convidados estão me esperando, todos muito
bem-vestidos, tomando champanhe e comendo canapés.
A música que toca é um jazz tranquilo, deixando tudo mais
aconchegante.
— AÍ ESTÁ A NOSSA NOVA EMPREENDEDORA! — Vanessa
grita assim que me vê, fazendo todos virarem na minha direção.
Sinto que travo no lugar.
Nunca atraí tantos olhares na minha vida. Mas, em
compensação, estes são acompanhados de sorrisos, aplausos e
olhares de admiração e orgulho.
Isso preenche o meu peito e me deixa mais calma.
Faço uma reverência sutil aos meus convidados.
— Obrigada. Obrigada.
Vanessa se aproxima, lindamente em seu vestido verde e,
então, me dá um abraço apertado.
— Estou tão feliz por você, Grace! — ela diz e então me solta.
— Issotudo está muito lindo. Acredita que já tem gente querendo
fechar contrato?!
— Sério? — Olho para ela espantada.
— Decorações para dois aniversários e outro para um
casamento! — informa.
Meu coração quase saltita.
— Não brinca! — Quero dar pulinhos de alegria, mas apenas
escancaro meu sorriso de felicidade.
Preciso me conter em meio a tanta gente.
Olho em volta e reconheço todo mundo, estou feliz em ver
essas pessoas me prestigiando.
E quando vejo Audrey e Meredith vindo em minha direção,
quase não posso me conter.
— Vocês vieram! — exclamo.
Abro os braços para receber o carinho das duas. Nem parece
que já nos conhecemos há um ano, mas depois que as visitei em
Londres, parece que ficamos mais próximas ainda.
— Não perderíamos por nada! — Meredith diz, vestida
lindamente de vermelho, enquanto Audrey está de branco.
— Ah, e já vai logo aceitando as desculpas dos nossos
maridos — Audrey diz. — Eles não puderam vir porque estão nesse
exato momento a caminho da Irlanda.
Lembro de ter feito o convite à eles, antes de descobrir que
Domenico era o filho perdido do senhor Rupert.
Forço um sorriso, porque não sei como me comportarei caso
veja Domenico e os irmãos no mesmo ambiente.
— Além do mais, não que goste de fofocas, longe de mim —
Meredith diz. — Mas deve ser melhor assim, não é? — E então olha
para a minha esquerda, onde Domenico parece dar uma entrevista
para uma bela moça.
Ele está concentrado, afinal leva muito a sério esses
momentos.
— Do que estão sabendo? — pergunto.
Faz dias que não vejo Ian. A gente tem se comunicado por
celular, =e conversamos mais sobre a Isabel.
Ele estava na Turquia até um dia desses e depois em Londres.
A vida dele andou bastante agitada e algo me diz que é para
não ter que ficar em Florença, sabendo que estamos aqui.
Eu não o proibi de ver Isabel. Mas sabemos que dói e,
sinceramente, não estou nem um pouco a fim de sofrer uma
recaída.
Tive tanta coisa para me preocupar nos últimos dias sobre a
inauguração, que consegui manter meus pensamentos alheios.
Mas, agora, é meio que impossível de fugir.
Sempre foi.
Mas agora, estamos aqui e varro a festa com os olhos, na
intenção de encontrar o Ian.
Não há nenhum sinal dele e isso me dói.
— Do Domenico — ela responde, por fim, e a olho, perplexa.
— Jeremy e Noah sa-sabem? — gaguejo.
— Faz uns dias — Audrey diz.
— Aí, meu Deus!
— O que foi? — Audrey pergunta, preocupada. — Não
estragamos tudo, não foi?
Pisco várias vezes enquanto tento me recompor, sem fazer
muito alarde. Até que percebo que está tudo muito estranho, como
se algumas coisas não fizessem muito sentido com a realidade que
conheço.
— Como é que uma terceira guerra mundial ainda não
começou? — pergunto mais para mim do que para elas.
No entanto, Audrey e Meredith entendem o que quero dizer e,
por isso, acabam rindo.
— Olha, também fomos pegas de surpresa — Meredith diz. —
Mas você andou muito ocupada com a inauguração, cuidando da
sua filha, então, acho que muita informação ficou fora do seu
alcance nesses últimos dias.
— É o que parece. — Olho na direção de Domenico e vejo que
ele está terminando a sua entrevista. — Bom, vou procurar me
informar agora.
Antes de ir até o meu padrinho, Audrey me aconselha:
— Olha, a noite é sua, amiga. Não foca muito nisso e aproveite
a sua inauguração.
Sorrio para ela, pois tenho certeza de que farei isso.
— Obrigada, amiga. Obrigada mesmo vocês duas por terem
vindo.
As duas sorriem felizes por mim e, então, se afastam, ao
mesmo tempo, que eu.
Quando Domenico vê que me aproximo, ele tira a mãos dos
bolsos e fica me olhando, totalmente inexpressivo.
Eu não gosto quando ele faz isso, não sei onde geralmente o
humor dele vai parar.
Principalmente depois que ficamos três semanas sem nos ver
ou falar direito. Ele me liga, manda mensagens…
A mesma situação que Ian.
Tenta se comunicar de todo jeito e, no final, apenas falamos
sobre a Isabel.
Estou pronta para um sermão, menos para os braços longos e
musculosos debaixo do terno azul escuro, me envolvendo em
abraço apertado.
Sinto quando a sua cabeça se acomodou à minha, como um
gesto de carinho. Só então sinto que está tudo bem, que isso não é
uma miragem. Então devolvo o abraço e ficamos assim por alguns
segundos.
— Ainda está bravo comigo?
Domenico solta um suspiro e se afasta para declarar, olhando
em meus olhos.
— Você é a minha filha, Grace. Meu mundo. Como posso
continuar bravo com você, quando tudo o que você faz nessa vida é
tornar tudo melhor?
Sorrio instantaneamente, sentindo as lágrimas queimarem
meus olhos, mas não cedo.
Ainda não.
— Desculpa por não ter cooperado também. Tudo estava tão
intenso para mim. Em algum momento, pensei que seria capaz de
apenas explodir.
Ele maneia a cabeça e me olha com desvelo.
— E eu fui um insensível, que além de ter pegado no seu pé,
abalei o seu relacionamento com Ian, coisa que não tinha nada a
ver — admite, seguindo de um suspiro. — É que às vezes, Grace, o
tempo passa, e a gente se pergunta quando algo que
costumávamos conhecer tão bem, cresceu e mudou. Você é uma
mulher e tem a sua vida para cuidar da forma como quiser.
— Quero cuidar da minha vida, tendo a minha família por
perto. Isso é o que importa para mim.
Ele balança a cabeça, me olha e então encara os pés,
parecendo pensar.
Quando me olha de novo, diz com firmeza:
— Sim, família é o que importa para mim também. Por muito
tempo foi só nós dois, e agora, a família aumentou, literalmente. É
estranho, mas estava pensando muito em como não quero
decepcionar aquele Domenico jovem, que só queria ter os pais por
perto, e… Bem, alguns irmãos para fazer companhia.
Imediatamente sorrio.
— Não estou querendo dizer que já aceitei cem por cento —
diz nervoso e de um jeito mais rígido, como se estivesse retomando
a postura de CEO. — Mas, estou pronto para tentar. Por mim, por
você.
Fungo quando o choro quer se esvair de mim, mas o seguro
mais uma vez.
— Obrigada. Vai dar tudo certo, pai — afirmo e ele me abraça
de novo, agora, dando uma olhada no meu negócio.
— Estou muito orgulhoso, Grace. De verdade. Sabia que você
tinha um futuro brilhante pela frente.
— Ouvir isso vindo de você é a maior conquista profissional
que poderia ter. O senhor é a minha inspiração.
— E assim crescemos juntos. Na vida e na carreira.
— No amor… — sugiro.
Ele faz uma cara como se tivesse provado algo azedo e sorrio.
— Olha, desejo toda a sorte do mundo para você e o Ian.Mas
eu? Sinceramente, tá para nascer uma mulher que me prenda
atenção, ao ponto de esquecer até o que faço da vida.
Começo a rir.
Domenico não é um grande romântico, mas tem tendências.
Ele sempre teve um ímã absurdo para mulheres.
Não pelo seu capital, mas pela sua imagem e a sua
personalidade de homem firme, e outras coisas que, pra mim, é bem
constrangedor dizer.
Mas Vanessa sempre adora pontuar.
Além do mais, se ele é um ótimo pai comigo, não duvido que
seja um excelente companheiro.
— Talvez ela já exista, o senhor só não a conhece ainda —
friso e isso o deixa pensativo.
Será que…
Será que essa mulher já existe e só está em um nível
inalcançável para ele?
Quer dizer, que exista algo que dificulta tudo, como já estar em
um relacionamento, morar longe, ou até mesmo alguma indiferença
que os afete.
Não sei.
Mas primeiro preciso pelo menos ter certeza de que Iane eu
teremos toda a sorte no mundo.
E até agora, não o vi na festa.
Mas o nome dele está lá na lista, porque o espero.
Eu sempre o esperei.
••••
Houve noites em que ficava sonhando acordada com esta
inauguração e nem mesmo nos meus sonhos, ela foi tão boa quanto
realmente tem sido agora.
Meus convidados estão se divertindo bastante e como a
parede de vidro que fica entre a sala e o ateliê mostra os corredores
e as estantes com as vastas opções de aluguel e venda que temos,
isso desperta a curiosidade deles mais ainda para que entrem no
ambiente.
Preciso abrir as portas para que eles fiquem mais à vontade.
Confesso que não estava nos meus planos, mas acabou
acontecendo.
As mulheres querem dar uma olhada melhor nos lustres, nos
porcelanatos, e os homens, nas taças. Mas há centenas e centenas
de opções.
Preciso da ajuda de Vanessa para pegar alguns contatos.
Por que diabos ainda não tenho uma assistente?
Quer dizer, nem sabia que seria necessário uma!
Não tinha ideia de que logo na inauguração, a demanda seria
tão grande.
Alguém abre as cortinas do ateliê da nossa fachada e agora as
pessoas que passam na rua não são só curiosos, mas pessoas
querendo se tornarem meus clientes.
Meu Deus!
Isso é Florença!
Todo mundo aqui tem dinheiro pra caramba e tinha me
esquecido disso. Em como são festeiros. Por exemplo, uma mulher
já alugou dez lustres de castiçal que temos, para o casamento da
filha dela. Depois, uma mulher entrou porque viu na vitrine que
temos tulipas pretas artificiais.
Ela nem hesitou em comprar praticamente dois buquês.
E assim a festa acabou se tornando meu primeiro dia de
trabalho na minha loja.
Eu mal inaugurei e já preciso fazer novas encomendas ao
fornecedor.
Por um momento, penso que vou pirar, mas estou feliz à beça
com o resultado.
Já estamos a todo vapor!
Em dado momento, preciso sair do ateliê e volto para a sala de
espera, onde a festa está sendo concentrada.
Agora, todos estão no outro cômodo, admirando o meu bom
gosto, se interessando e fechando contratos.
Não tenho do que reclamar.
— Tem vaga para funcionário?
Ouço alguém perguntar atrás de mim.
Eu me viro rápido, porque reconheço a voz e quase não
acredito.
Quando vejo Ian parado, a poucos metros de mim, com as
mãos enfiadas nos bolsos da calça e vestido lindamente, juro que
quero chorar.
É como se ele fosse o meu alicerce e a sua presença me
desse a força que preciso agora.
No entanto, me seguro.
Respiro fundo, enquanto seus olhos azuis sustentam os meus.
— Umas três vagas e para assistente também — acrescento.
— Vai me indicar alguém?
Ele olha para o relógio no pulso e fez uma careta.
— Está meio tarde para entrevistas de emprego, mas posso
preencher uma das vagas, se quiser — diz com seriedade e dou
uma risada.
— Como se um CEO da área de T.I fosse realmente virar o
meu vendedor — brinco, mas Ian fica me olhando.
— Por que não? — indaga sério. — Na verdade, não estou
vendendo o meu serviço, estou aqui como homem que se importa e
ama a mulher que está diante dele, por isso é o meu dever ajudá-la
nos mínimos detalhes.
Acho que o meu peito vai explodir com as suas palavras.
— Por isso, estou aqui para prestigiá-la, ajudá-la e mostrar o
meu total apoio — continua. — Desculpa a demora, só espero não
ter chegado tarde demais.
Fico olhando para ele.
Ian acaba de se declarar para mim, do seu jeito.
Do nosso jeito.
É o tipo de coisa simples que diríamos um para o outro, como
forma de demonstração de afeto. E há tanta coisa em suas palavras
que foram ditas de um jeito cuidadoso, de quem verdadeiramente se
importa.
— Tudo bem. — Seguro o choro. — Ainda tem bastante
canapé e champanhe, sabe.
Ian ri e então diminui a distância entre nós dois.
A sua aproximação quase me deixa sem ar.
Ele é um homem que me deixa de pernas trêmulas, só pela
sua forte presença, e quando me toca…
Ah, que saudade das suas mãos em mim.
É por isso que sempre me rendo a ele.
Mas já faz um tempinho que nada acontece entre nós dois.
— Bom, de qualquer forma, estou aqui por você. Aposto que
os canapés e o champanhe devem estar uma delícia, mas não há
mais nada que queira tanto nesse momento, quanto estar com você,
Grace.
“Não só para prestigiá-la, porque todos estão aqui para fazer
isso, mas quero estar aqui como o seu homem, que ama você, que
tem uma filha linda com você.
“Daqui dez anos, quero que você olhe para trás e lembre deste
dia, de mim, de nós.
“Não importa o que o futuro nos reserva.
“Mas que seja a melhor coisa.”
Mordo o lábio e fecho os olhos para respirar fundo. Ian me
tocou lá dentro, como já fez há muito tempo, só que agora de um
jeito mais intenso.
Quando dou por mim, Ian já está limpando minhas lágrimas,
com seus dedos aparando as gotinhas.
— Eu não queria fazer você chorar — ele murmura para mim.
— São lágrimas de felicidade, não se preocupe — confesso.
— Ah, são? — pergunta surpreso e balanço a cabeça
afirmando.
Seguro os pulsos de Ianpara me apoiar, sinto a sua pulsação
forte e ele se inclina um pouco mais na minha direção quando
demonstro um sinal verde.
Sou tão pequena diante dele.
Sem muito esforço, Ian pode me envolver em seus ombros
largos, que me abraçam de algum modo, sem me tocar ainda.
— Tudo está tão perfeito hoje. Isabelsó não está aqui porque
o lugar não é adequado para ela, ficou com uma babá. Eu sei que
ela aqui faria toda diferença também, mas estou feliz, Ian.Só que,
havia alguma coisa faltando e soube desde o início o que era. Você.
Ele puxa o ar com força.
— Faltava você, Ian. Você me viu começar esse sonho, me
ouviu falar dele por tantas noites. Você foi uma das pessoas que
mais confiou em mim. E agora mesmo posso dizer que sou uma
mulher realizada, que tenho tudo o que eu queria. Mas quero tanto
você, que agora que está aqui, sinto que está tudo completo.
Ian balança a cabeça concordando e então dá um beijo no
topo da minha cabeça.
— E eu nunca mais sairei do seu lado — salienta. — Tudo o
que eu sinto por você é real, Grace. Amo você, com cada fibra do
meu corpo, fortemente.
Meu coração está batendo muito forte.
Pego a mão de Ian e a beijo.
— Não irei mais questionar a legitimidade de seus sentimentos
por mim, Ian. Eu amo você e consigo ver nos seus olhos que é real.
Ele sorri, parecendo estar aliviado.
— Posso beijar você? É que já faz um tempinho.
Como ele é um cavalheiro!
Sim, aqui estou, completamente apaixonada por IanO’Donnell,
o achando um cavalheiro. Mas ele é isso e muito mais, e me sinto
sortuda por ter o conhecido melhor, o ganhado todo só para mim.
— Você deve!
Então envolvo os braços ao redor do seu pescoço e ele
envolve os braços ao redor da minha cintura, me tomando só para
si.
Os lábios de Ianencontram a minha boca, em um beijo suave,
de promessa e paixão.
A sua boca se envolve com a minha de um jeito lento, onde o
foco principal está nas sensações causadas neste momento, onde
suas mãos passeiam na minha cintura e nos meus braços.
— Posso perguntar uma coisa a você? — pergunto quando
nos afastamos.
— Até duas, meu amor.
Sorrio.
— O que você fez com aquela calcinha que te dei no Cruzeiro?
Ian sorri e nem hesita em responder.
— A mantive sob meu travesseiro por muito tempo, na ânsia
de sonhar com você. Hoje em dia, ela está na minha gaveta de
cuecas, a considero um amuleto da sorte.
— É? — Fico incrédula.
— Sim, porque desde o dia em que me deu a sua calcinha,
soube que queria ter de novo você e continuo querendo até agora,
para sempre — confessa. — Porque tudo faz mais sentido assim,
quando estamos juntos.
Fico olhando para Ian,me sentindo até atrevida com a nossa
súbita conversa sobre a peça íntima que dei a ele há muito tempo.
— Tenho até uma proposta para fazer a você.
— Qual? — pergunto, curiosa.
— De morarmos oficialmente juntos. Vou comprar um
apartamento maior, ou uma casa, seria o melhor para a Isabel,pois
teria mais espaço para correr quando crescer.
— Ian… Ma-mas… Londres? Acabei de inaugurar a minha
loja.
Ele fica me olhando.
— Eu não disse que seria em Londres — refuta.
— Mas a sua família está toda lá.
Percebo quando ele olha por cima da minha cabeça e
concentra o olhar em um ponto.
— Nem toda a minha família. Agora, tenho uma família aqui
também, não é?
Rapidamente procuro para ver o que ele tanto olha e, então,
percebo Domenico nos olhando do ateliê.
Ele sorri e ergue a sua taça em um brinde.
— Meus irmãos não vão achar ruim. Preciso estreitar os laços
familiares aqui em Florença, então, tudo bem ficar por mais um
tempo. Vai ser questão de tempo até que você abra uma filial da sua
empresa em Londres também, não é?
Olho para ele, fascinada.
Está tudo acontecendo de um jeito tão incrivelmente bem, que
estou até surpresa demais.
— O quê? — ele pergunta dando um sorriso sem jeito.
— Você é incrível — digo bastante admirada e me jogo em
seus braços.
Encho o rosto de Ian de beijos e, ao fundo, ouço algo como
assobios.
— Estamos dando um show de romantismo — Ian diz ainda
me mantendo em seus braços, longe do chão.
— Não tem problema, quero que todos vejam que sou a
mulher mais feliz desse mundo!
— Esse é o meu dever, meu amor — Ian frisa, me beijando.
Agora sim, tudo está mais que perfeito.
Sabe quando o dia está indo tão bem que você para e se
questiona se é algum tipo de pegadinha?
Olha para os lados com desconfiança, esperando que algo dê
errado?
Bem, não sinto isso agora e tudo está indo tão bem.
Porém, mesmo que em algum momento algo dê errado, tenho
as pessoas certas ao meu lado. Uma filha para me acalentar e um
homem para me dar forças, de todo o tipo.
A melhor sensação do mundo é amar e ser amada, e estou
feliz em perceber que isso tenho de sobra.
Não estava blefando quando disse a Grace que iríamos nos
mudar para um lugar maior. Mesmo tendo uma excelente vista no
apartamento de Grace, queria ter algo maior.
Sei que poderíamos comprar uma cobertura em qualquer outro
prédio ali, em Florença, ou uma casa histórica, perto de todos os
patrimônios da cidade, mas tinha a clara visão de Isabelcorrendo
pelo gramado aparado e bem cuidado, enquanto Grace relaxava em
uma piscina elegante, curtindo a área externa belíssima de uma
casa.
Por isso, decidi que tínhamos que ter uma mansão, um lugar
grande o suficiente para corrermos atrás de Isabel, quando ela
decidisse brincar de pega-pega.
Gosto de imaginar como será a nossa casa enfeitada no Natal,
ou então, onde esconderemos ovos pintados para Isabelna Páscoa.
Ela terá muito espaço para brincar com os primos.
Isabelnão seria tão nova e nem eles velhos o bastante para
não brincarem com ela.
Será uma diversão.
Sinto que esse lugar nunca ficará tedioso.
Saio dos meus pensamentos quando paro com o carro na
frente da casa.
Grace ainda não viu a propriedade. Sei que deveria ter
escolhido com ela, mas aí deixaria de ser surpresa, porque depois
que contei a ela sobre meu desejo, na inauguração, não toquei mais
no assunto.
Aconteceu tanta coisa naquela noite, que acredito que Grace
acabou esquecendo desse detalhe.
Mas não achei ruim, pelo menos conseguiria trabalhar nos
últimos preparos da compra.
Quando saímos do carro, fico parado com ela em frente à
entrada composta por um jardim bem planejado, com pequenas
árvores flanqueando a passarela de cimento queimado e arbustos
simétricos no rodapé do muro da frente.
Grace parece desconfiada, é como se ela soubesse o que isso
significa, mas tivesse receio de perguntar.
— Gostou? — pergunto a abraçando de lado.
Ela pisca atônita.
— Por que tenho que gostar?
Dou um sorriso e cheiro seu cabelo cheiroso e sedoso.
— Porque essa é a nossa nova casa. Vamos morar aqui, então
é importante que você tenha gostado.
Grace me olha de um jeito com surpresa exacerbada.
— Então aquela conversa sobre morarmos em um lugar maior,
não era coisa da minha cabeça? — ela pergunta e olho para ela,
incrédulo. — Eu bebi tanto champanhe naquela noite que comecei a
cogitar que tinha criado algo do tipo na minha cabeça, porque você
nunca mais tocou no assunto.
Dou um sorriso depois que entendo seu raciocínio.
— Não foi nada da sua cabeça. Eu disse aquilo, mesmo. Mas
era para ser segredo, então fechei a boca até conseguir finalizar a
compra.
— É nossa, de verdade? — Ela arregala os olhos, sem poder
acreditar.
— Cada cantinho. Quer conhecer? — sugiro a soltando e
Grace fica animada.
— Oh, meu Deus! — ela exclama, pulando em meus braços.
— Temos uma casa linda e maravilhosa!
Beijo sua boca e apesar do esforço em corresponder aos meus
lábios, ela não para de sorrir abertamente, tamanha felicidade.
— Bom, se você já está empolgada aqui, imagina quando
conhecer tudo lá dentro.
— Está mobiliada? — Seus olhos azuis brilham.
— Sim. A mobiliária decorou tudo. Ela ficou pronta há uns dois
meses e não tinha recebido nenhum morador até então. — Tiro a
chave do bolso da calça e então a sacudo em meus dedos. — Está
novinha em folha, só esperando por nós.
Grace pega a chave da minha mão, como se ela fosse se
desintegrar com o toque. Talvez a ficha ainda não tenha caído o
suficiente.
— Vamos entrar? — sugiro.
— Vamos!
Pego sua mão e então damos os primeiros passos. Posso
senti-la nervosa e devo confessar que sei bem como é isso.
Quer dizer, sempre morei em apartamento.
Quando mais novo, antes de ir para a faculdade, morava com
os meus pais na mansão em Dublin. Depois que me formei, morei
sozinho em uma cobertura em Londres e desde então tem sido
assim.
Sabia o que era ter um lar grande somente quando ia para
Dublin.
E, agora, aqui estamos nós. Aqui estou, vivendo algo que
planejei há muito tempo.
— Eu sempre sonhei com o dia em que moraria de novo numa
casa grande. E, por alguma razão, sabia que não estaria sozinho —
revelo a Grace.
— Então você sempre quis estar, onde está agora?
Afirmo com a cabeça e confesso:
— Sou um sonhador, Grace. Cresci vendo meus pais em um
relacionamento exemplar, criando os filhos com amor e dedicação.
Os dois cresceram juntos. Para mim, era o que mais queria na vida.
Viver uma vida minimamente parecida com a deles, só que na
minha realidade, claro.
Paramos em frente à porta grande de carvalho.
— Não é legal que estamos realizando todos os nossos
sonhos?
— O sonho sonhado é bom, mas o sonho sonhado em
conjunto, é melhor ainda. — Indicoa fechadura. — Estou feliz que
seja com você, Grace.
Ela dá um sorriso largo e meio sem jeito.
Eu adoro a forma como a deixo sem graça.
Há muito tempo não sei mais quem é aquela Grace que, às
vezes, precisava ser rígida para manter uma distância segura de
mim, como se eu fosse tóxico. Ela queria se manter protegida de um
cara com uma reputação como a minha, mas a convivência foi o
melhor antídoto para que ela tirasse a viseira que a mídia colocou
ao meu respeito nela.
Grace então abre a porta e o interior da mansão se revela.
O vestíbulo já nos recebe com uma mesa redonda onde há um
vaso grande cheio de flores, dando cor a casa que tem o chão de
carvalho mais escuro, as paredes brancas e os móveis se
concentrando nessas duas paletas de cores.
Ela conhece a sala de estar que tem uma lareira grande,
deixando tudo mais aconchegante. Depois a sala de visitas, um
lugar mais concentrado com quadros bonitos. A sala de TV, de
jantar e então a cozinha.
A casa toda é moderna, mas com um toque clássico aqui e ali,
o que a torna perfeita.
Grace parece uma criança que acabou de chegar ao parque
de diversões e ela está fascinada com tudo.
Amo ver o brilho nos olhos dela, o sorriso incansável e a
animação contagiante.
Tive receio dela não gostar, mas ela amou.
— Quer conhecer a parte de cima?
— Sim! — la pega a minha mão e deixa que a guie em direção
à escada.
Subimos e no mezanino temos duas opções de caminho. À
esquerda, temos o corredor dos quartos principais e dois escritórios,
já à direita, os quartos de hóspedes.
Claro que Grace quer começar pelo menos importante, os
quartos de hóspedes.
Ela fica impressionada por achá-los grandes e chiques demais,
mas parece eficiente para qualquer amigo ou familiar que venha
passar um final de semana conosco.
Depois, vamos conhecer o quarto da Isabel.Ele é maior que o
dela no apartamento, tem um closet e banheiro. Não é tão decorado
quanto o outro, mas dá para mexer bastante.
— Já tenho ideias para este quarto. Dá pra colocar até uma
estante maior de livros.
— E comprar muitas roupas — digo enquanto dou uma olhada
no closet de Isabel, grande demais para uma garotinha de quase
três meses. — Quer dizer, não tem como um bebê ter tantas roupas
assim, não é?
Grace sorri.
— Se eu fosse você, não duvidava. Tendo as tias que tem,
Isabel sempre está ganhando alguma peça de roupa. Eu acho
incrível que Meredith e Audrey fazem questão de mandar para o
nosso endereço.
— Bem, acho que aqui cabe a casa de boneca que o Noah
comprou para ela.
— Isabeltem uma casa de boneca? — ela pergunta e rio ao
lembrar desse detalhe a respeito dos meus irmãos.
— Meus irmãos amam dar presentes, Grace. Eu também gosto
muito. E como agora é uma filha minha, é a vez dela. Noah comprou
uma casa de boneca tão grande que Isabelprovavelmente só ficará
do tamanho do brinquedo quando tiver uns oito anos.
— Nossa!
— Pois é. Já estou fazendo de tudo para convencer o Jeremy
a não comprar um pula-pula, agora que temos um quintal com
espaço o suficiente para isso.
— Talvez um pula-pula seja interessante — diz dando de
ombros.
— Sim, quando Isabeltiver uns três anos. Venha. — Eu a pego
pela mão de novo. — Vamos conhecer os outros cômodos, estou
ansioso para chegarmos ao nosso quarto.
Grace não hesita.
Apesar da ansiedade, o deixamos por último.
Depois do quarto da Isabel, a levo para conhecer os
escritórios. Convenientemente, são dois, assim cada um pode
trabalhar do jeito que quiser, no seu canto.
Não há muita diferença entre os dois escritórios, na verdade.
Mas sei que Grace dará um jeito de diferenciar o dela.
Ela tem esse dom.
Certamente, daqui uns tempos, algumas coisas mudarão na
casa, mas, por ora, tudo está mais que perfeito.
Finalmente, ela conhece o nosso quarto. Me encosto ao
batente da porta, cruzo um tornozelo na frente do outro e depois os
braços enquanto analiso cuidadosamente a sua reação.
O quarto, maior que o dela, a cama espaçosa o suficiente para
fazermos o que quiser em cima. Há uma lareira e uma TV também.
Uma poltrona fica perto da janela que dá para a sacada.
Mas ela vai ver o closet, que é praticamente o tamanho da sua
suíte em seu apartamento e então o banheiro, que possui uma
jacuzzi.
Eu já mapiei toda a casa antes mesmo de comprar, então sei o
que ela está vendo.
Será interessante que ela possa ter seus devaneios à vontade,
assim como tive da primeira vez em que vim conhecer a
propriedade.
Vou até à sacada, dou uma olhada no nosso quintal e na vista
que temos. Uma floresta fechada contorna a residência e um pouco
mais no horizonte, é possível ver um feixe de Florença.
Não demora muito, Grace surge logo atrás de mim, me abraça
e admira a piscina verde lá embaixo, a grama bonita e toda a área
externa que é um ótimo ambiente para relaxar.
— Qual a sua opinião final sobre a casa?
— Já podemos nos mudar hoje? — É o que ela diz e isso é
tudo para mim.
Sorrio por ela ter gostado tanto quanto imaginei.
— Ainda não. Mas daqui uns dois ou três dias. Ou, quem sabe,
quando voltarmos de Londres.
— O que vai ter em Londres? — Ela quer saber, ficando então
de frente para mim.
— Meu pai quer conhecer o Domenico. Quer dizer, ele ainda
não sabe que é o Domenico, mas já sabe que encontramos o nosso
irmão.
De repente, os olhos de Grace se enchem de expectativas.
— E os seus irmãos?
— Eles não dizem, mas é notório que estão nervosos também.
Eles já conhecem o Domenico, estão sempre se esbarrando nesses
eventos beneficentes, ou bailes anuais de empresas. Só que agora,
vão se encontrar como irmãos, então é um pouco… Estranho.
— Pelo menos vocês estão tentando — ela diz, encorajada.
Torço o nariz antes de recapitular a fala dela.
— Bom, eles eu não sei. Mas eu, sim. Não é como se já
conseguisse chamá-lo de irmão, mas com certeza meu nível de
respeito e consideração por ele aumentou.
Grace ri, como se isso fosse um caso perdido.
Mas não é.
Ela vira na direção da vista que temos daqui e se apoia no
guarda-corpo.
— Somos vizinhos do meu padrinho?
— Tecnicamente, sim. Mas Domenico tem uma vista mais
privilegiada. Ele mora quase em um mirante, lá em cima. Estamos
algumas ruas mais a baixo.
— Tem muita árvore aqui em volta. — Ela fecha os olhos para
inspirar o ar. — É agradável. Eu amei de verdade essa casa, Ian.
Me posiciono atrás dela, para abraçá-la melhor e envolver seu
corpo ao meu. Acaba que sinto a sua bunda roçando em mim.
Devo confessar que a casa nova, grande e só nós dois aqui,
me deixa animado, com a temperatura corporal aumentando.
Fico me perguntando se isso não a deixa excitada também.
Apesar do outono estar perto, ainda faz calor e Grace adora usar
vestidos soltinhos, como agora, um que tem uma estampa tribal,
dando a ela um ar meio hippie.
Num geral, ela é a minha mulher, não oficialmente ainda, e até
o seu respirar me deixa com tesão.
Ela é tudo o que quero, a única coisa nesse mundo para quem
olho. Sinto como se fosse a minha alma gêmea, mesmo que pareça
clichê dizer isso.
— Mal posso esperar para viver o resto dos meus dias aqui
com você, a Isabel,e quem sabe mais alguns bebês — proponho e
ela me olha, surpresa.
— Mais filhos?
— Por que não? Temos mais duas suítes vazias desse lado,
além dos dois quartos de hóspedes. Acho que cinco é um bom
número.
— Meu Deus, Ian! — Ela ri. — Bom, se esse for o caso,
devemos começar a tentar. Eu paro com os meus remédios, porque
falta de sexo com certeza não vai ser.
Dou um sorriso convencido para ela.
— Estava pensando que poderíamos começar justamente
agora — revelo apertando meus braços ao redor dela, a
pressionando contra mim.
Grace geme como uma gatinha manhosa.
— Já quer estrear o nosso novo quarto? — pergunta e a viro
para mim.
— O quarto, a escada, a cozinha, o gramado. Temos muitas
opções.
Suas mãos apertam o colarinho da minha blusa social branca.
Grace morde o lábio, e me olha de um jeito sacana.
— E essa sacada? — ela sugere.
Olho ao redor.
O guarda-corpo é gradeado, onde Grace pode se segurar. Há
duas espreguiçadeiras aqui e uma pequena mesa redonda com
quatro cadeiras de jardim. É uma sacada grande, e que despertou o
interesse dela.
Sorrio quando percebo que não precisamos sair daqui para
fazer algo.
— Tradicionalmente, as damas ficavam na sacada enquanto
recebiam suas serenatas de amor. E você, quer dar uma trepada na
sacada, é bastante ousada.
Grace sorri e aproxima seus lábios dos meus enquanto
sussurra sensualmente:
— Bem, a verdade é que iremos transar e fazer juras de amor.
— E sabe o que é o melhor nisso tudo? — pergunto e ela nega
com a cabeça. — O vizinho mais próximo está uns dois quilômetros
daqui.
— Não sei se isso me alivia ou me deixa preocupada.
— Você vai conhecer o lado bom, logo, logo — revelo a ela.
Grace então passa a língua nos meus lábios uma vez e depois
de novo.
Ela é atrevida.
Colo a boca a dela, com a minha língua já procurando pela sua
e logo suas mãos se envolvem nos meus ombros.
Ela ama tocar cada músculo do meu corpo, senti-los. Isso a
deixa excitada, além de nossas bocas se encaixando e o fato de
termos agora uma mansão linda.
Posso sentir que ela está excitada pra caramba. Passo minha
mão por baixo de sua nuca e quando toco seu couro cabeludo, puxo
a sua cabeça para trás para que ela deixe mais visível o pescoço,
onde começo a chupar, lamber e morder a pele sensível, mas de um
jeito sutil, sem exagero.
Algo que a deixe excitada, que sinta meus toques crescendo
de forma gradativa.
Seguro sua cintura e vou subindo minhas mãos em seus seios.
Amo a forma como eles cabem perfeitamente em minhas
mãos. Enquanto isso, sinto o meu pau já um aço dentro da calça,
implorando por liberdade e para consumir a sua verdadeira dona.
Roço nela para que me sinta. Grace dá um sorrisinho e sinto a
sua garganta vibrar.
— Você está me convencendo a fazer coisas extremamente
sórdidas aqui e agora, Ian — ela avisa e fico com tesão só de
pensar nas coisas que ela quer fazer.
— Tente — digo com a voz rouca. — Me mostre o que você
quer fazer, meu amor.
Grace me afasta com um leve empurrão e mantém os olhos
em mim, enquanto tira lentamente a alça de seu vestido, deixando o
seio direito aparecer. Depois, quando tira a alça esquerda, o vestido
inteiro desliza no seu corpo gostoso, a revelando completamente.
Como se não bastasse, ela tira a calcinha e fica
completamente nua.
Grace sabe que a sua confiança me deixa louco, não só o
corpo, mas a forma como ela é segura de si e do poder que tem
sobre mim.
A olhando desse jeito, parece que ela se banha no sol das
nove, com a luz refletindo na sua pele, no cabelo e nos seus lábios
rosados, inchados pela minha barba que roçou contra eles.
Grace está se exibindo para mim e amo assisti-la.
Parece uma obra de arte, a pintura de Vênus.
Ela troca as pernas de posição, lentamente, só para que eu
possa ter um vislumbre da sua bocetinha molhada, brilhando sob a
luz do sol. Passo a língua nos lábios, sentindo seu gosto, a textura.
— Você gosta de me provocar, não é?
Ela faz uma carinha como se não compreendesse o que digo.
— Eu já disse que amo o ver vestido com a roupa de trabalho?
— Roupa de trabalho? — Olho para a minha blusa social de
mangas arregaçadas até os cotovelos e, então, para a minha calça
social e o sapato de couro. — Como se fosse um uniforme? —
desdenho no final e ela sorri.
— Você sempre se veste assim para ir trabalhar. Quando está
em casa, ou sem nenhum compromisso aparente, usa roupas mais
folgadas, que não deixam saber que você é um CEO da área de T.I.
Ah, não ser, quando julga pelos relógios, ou os carros que você
dirige.
Sorrindo, me sento na ponta de uma das espreguiçadeiras e
fico a admirando.
— Bem, na verdade, tenho que ir trabalhar mesmo logo
depois, então você está certa sobre essa roupa ser algo mais
profissional.
— Hummm, amo caras trabalhadores, inteligentes e bonitões
— ela pontua. — Me deixa muito excitada.
Ela propositalmente desliza a mão até sua boceta, afunda o
dedo do meio ali, e depois começa a brincar com o seu clítoris.
Grace está se masturbando na minha frente, como se o meu
pau não estivesse aqui latejando por ela, pronto para penetrá-la.
Ao ver essa cena, não consigo resistir à tentação de abrir a
calça e colocar o meu pau em jogo para acompanhá-la nos
deliciosos movimentos.
Começo a me tocar, com meu pau duro como aço, latejando
como nunca.
— Gosto dessa casa. Sinto que posso fazer isso toda manhã,
é terapêutico, bem relaxante. Mas nada melhor do que a sua boca
aqui. — Aumenta o ritmo do dedo, mordendo o lábio enquanto
prende um gemido.
— Você a quer aí?
— Uhum. — Ela apenas geme em afirmação, parece estar
delirando com seus movimentos.
— Grace, abra os olhos — ordeno e ela faz.
Seus olhos ficam vítreos quando vê que estou me
masturbando.
— Tudo fica melhor quando a sua boca está aqui também.
— E agora?
Faço um único gesto com a cabeça para que ela venha na
minha direção e ela vem, lentamente, como se quisesse me torturar.
Eu me ajusto na espreguiçadeira, coloco uma perna de cada
lado, vou mais para cima e me deito.
— Sente-se aqui, de costas para mim. Vamos fazer um 69.
Grace dá um sorrisinho de lado, mas rapidamente entende que
esse é o único jeito de ceder nossas vontades mútuas de dar prazer
um ao outro.
Ela passa uma perna por cima de mim, apoia os joelhos na
espreguiçadeira e então inclina o torso para baixo, em direção ao
meu pau. Admiro a sua bocetinha, coisa mais linda e suculenta,
quando Grace o abocanha, toda gulosa.
— Aah! — Solto um gemido alto, me sentindo meio tonto
quando ela começa a fazer um boquete em mim, com a sua boca
aveludada. — Porra! — Dou um tapa em sua bunda.
Vejo sua vulva se contrair e ficar mais molhada, conforme me
chupa, se enroscando em mim, para cima e para baixo, com força,
com muita vontade de fazer isso.
Ela empina seu bumbum para mim, ciente de que essa
belezinha é toda minha.
Então passo a língua na sua intimidade e Grace estremece.
Fico chupando, como se fosse a entrada do paraíso e para mim é
como se fosse. É uma combinação perfeita, porque fico muito
excitado toda vez que a chupo e com ela me chupando, nem sei
descrever o quão incrivelmente bom isso é.
Quero ouvir Grace dizer alguma coisa safada, mas ouvir o seu
gemido abafado pelo meu pau que fode a sua boca, já é o bastante.
Assim como ela, não deixo passar batido o quanto acho
gostoso tudo isso.
Ora eu a chupo, outrora esfrego a minha barba em suas coxas,
as deixando trêmulas. Começo a sugar o seu clítoris e é quando
Grace me tira da sua boca.
Ela começa a gemer de um jeito louco, como se estivesse
pegando fogo!
Prova disso é quando começa a balançar a bunda, esfregando
a bocetinha no meu rosto, encharcando a minha barba.
Ficamos ali por um tempo e devo confessar que gostei de
fazer isso na sacada. É diferente, ousado, e amamos fazer coisas
ousadas.
— Fica desse jeito aí, meu amor, vamos fazer logo isso —
aviso, enquanto saio debaixo dela e a ajeito para o meu rumo.
— Lembra da primeira vez que transamos? — Grace pergunta.
— Foi no amanhecer, com o Sol nos iluminando.
— Claro que lembro. Desta vez, o Sol está quase nos
queimando, mas está uma delícia, Grace, igual a vez quando você
me chupou na beira da piscina do meu irmão.
Ela dá uma risada nervosa.
Às vezes, isso é meio estranho, pois, apesar de ser afilhada,
Grace é como uma filha para Domenico.
E isso a torna minha sobrinha?
Não!
Definitivamente não!
Mas é estranho, às vezes, e excitante também.
— Pelo amor de Deus. Se fizermos isso de novo, ele não
hesitará em matar você.
Agarro o seu cabelo e sussurro no seu ouvido:
— Gosto que esse seja mais um fetiche nosso. — Passo a
língua nela e Grace geme.
— Bem, você agora é tipo meu tio postiço. E isso é excitante
pra caramba.
— Então vou foder essa sua bocetinha apertadinha e vou
gozar dentro dela, todinha. Você vai querer o meu leite, Grace?
— Vou querer tudo — afirma.
Volto então a posição normal, me encaixo em sua entrada e
lentamente a penetro.
Meu pau vai abrindo, arregaçando a sua bocetinha que me
engole toda gulosa, uma delícia macia e molhada.
Fico louco cada vez que vejo meus centímetros entrando nela,
até o falo.
Vou até o fundo e volto. Faço isso de novo e de novo,
lentamente.
Gosto de ver a luz do sol batendo contra o meu pau rígido e
em como estamos encharcados.
Ela está.
Aumento as estocadas, a trazendo para mim.
Penetro Grace com tanta força que os pés da espreguiçadeira
rangem enquanto se arrasta no chão. Ela se segura pelas dobras e
fecha os olhos com força enquanto me sente.
Não satisfeito, a levanto e então a levo para o guarda-corpo.
— Segure-se firme — aconselho.
Cada mão de Grace segura no ferro e então volto a fodê-la,
indo fundo e forte.
Por um momento, penso que derrubaremos a proteção.
Ela fica nas pontas dos pés para que possa alcançá-la, então,
não ficamos muito tempo nessa posição.
Eu me sento de novo na ponta da espreguiçadeira e como
uma boa menina, Grace se senta no meu colo e envolve os braços
ao meu redor enquanto cavalga em mim.
— Você está tão encharcada que está molhando a minha
calça, querida — aviso.
— Que bom que você não se importa com isso, não é?
— Nem um pouco.
Ela então joga a cabeça para trás e cavalga com mais
vontade. Sinto que Grace está ficando bastante animada quando
seu interior fica apertadinho mais do que o normal, e seu corpo meio
descontrolado.
— Vou gozar, Ian! — avisa.
— Goze pra mim. Eu também vou, amor.
De repente, estamos gozando juntos, explodindo em êxtase,
sentindo tudo ficar eriçado e ativo. Preciso segurar a Grace com
firmeza, porque ela logo fica molenga.
Ideal para pegá-la no colo e colocá-la na cama com desvelo.
Quando faço isso, me deito ao seu lado e ficamos recuperando
as energias.
Transar sob a luz do sol é bastante cansativo, mas gostoso.
Estamos exauridos.
— Grace?
— O que foi? — Ela permanece de olhos fechados.
— O que você acha de se tornar a minha mulher, tipo, a minha
mulher de verdade? Em nos casar?
Automaticamente, ela abre os olhos.
Não sei se isso é bom ou ruim, mas ela parece estar muito
surpresa.
— Vai colocar uma aliança no meu dedo? — pergunta ainda
apoplética e sorrio pela sua reação.
— Sim, como costumam fazer. Mas você pode usar como um
pingente em sua corrente de ouro, se quiser.
— É claro que me casaria com você!
— Não tenho nenhum anel agora. Mas, essas são as minhas
intenções com você — afirmo e, então, confesso: — Desde quando
a conheci, de alguma forma soube que você seria ideal para mim,
só que, ironicamente, eu não parecia ser o ideal para você. Eu não
sabia se era sorte ou azar, mas depois de tudo o que aconteceu,
percebi que não podia deixar esse momento passar.
Ela fica me olhando, então, me monta, ainda nua.
— Eu não preciso de uma aliança agora, apenas da sua
palavra, do seu coração aqui juntinho ao meu. — Pega minha mão
para sentir o seu coração batendo forte. — Eu te amo tanto, Ian, que
viveria qualquer vida ao teu lado.
— Que bom, porque quero que em todas minhas
reencarnações, possa encontrar você, Grace. — Eu me inclino para
dar um beijo lento, sutil e apaixonante, em seus lábios.
— Amo você, Grace. Minha futura mulher — murmuro, me
sentindo altivo.
Lá está eu, duro de novo.
Sem hesitar, Grace me desliza para dentro dela de novo.
— Isso é um sim?
— Para sempre. — É o que ela diz.
E então, fazemos amor novamente.
Hoje é o dia.
Mal consegui dormir a noite passada, fiquei rolando de um lado
para o outro na cama e tinha a plena consciência de que mal deixei
Grace dormir também.
Eu me mexi muito, estava inquieto, praticamente vi o dia
nascer.
Admito que isso não estava em meus planos.
Quando não durmo direito, costumo ficar irritado e, hoje, é um
daqueles dias em que preciso estar de bom humor para lidar com
todas as possibilidades que podem acontecer neste encontro atípico
entre a minha família.
Como já estava acordado, fui preparar o café da manhã. A
minha primeira bebida do dia foi um café quente e puro, porque não
quero precisar sentir sono até tudo isso terminar.
Mas, agora, já posso sentir o peso da noite maldormida
recaindo sobre minhas pálpebras e meus ombros. Meu corpo vem
relaxando de um jeito que não quero, mas também não posso largar
a comida que está no meio do processo.
Tomo outra xícara de café.
Santo Deus, estou querendo ter um dia estressante pelo visto.
No entanto, como um anjo da guarda que está pronto para te
salvar de tudo, Grace aparece na cozinha. Ela está linda, vestindo
uma blusa minha e cabelo bagunçado.
Ainda me lembro do agrado que ela me fez na noite passada
para relaxar. Foi algo muito generoso e serviu nos primeiros
minutos.
Isso tudo parecia ser mais forte do que qualquer coisa que
Grace fizesse por mim, e olha que ela tem um efeito muito poderoso
sobre mim!
— Por favor, me diga que você dormiu alguma coisa. — Ela
chega falando, já percebendo o meu estado de insônia intensa.
— Alguns cochilos. Mas não considero que dormi alguma
coisa, porque não dormi nada.
Ela fica parada na entrada da cozinha, de braços cruzados, me
olhando, preocupada.
— Achei que você estava com tudo sob controle. Quer dizer,
você estava lidando tão bem com tudo isso — enfatiza.
Penteio meu cabelo com os dedos, em um ato de inquietude.
Bufo escorando o quadril no armário inferior.
— Eu sei, também fui pego de surpresa. Mas acho que não
consigo parar de pensar em como o papai vai reagir. Isso nem é
mais sobre meus irmãos, mas, sobre o meu pai. Tenho medo que a
emoção seja tão grande que…
— Ei… — Grace me interrompe, anda apressadamente até me
alcançar e dar amparo. — Vai ficar tudo bem, não fica pensando
nessas coisas. Vai dar certo, Ian.
Fico em silêncio, porque não tenho tanta certeza disso e
sempre detestei ser do tipo pessimista, mas agora parece uma
questão de risco e que fui nocauteado.
Papai está em uma situação que pode ir a qualquer momento.
Mas tenho medo de que as emoções desse dia acabe o afetando de
uma forma que não está em nossos planos.
Grace cola as mãos no meu rosto, para que a olhe bem.
— Ian,o seu pai é um homem forte, corajoso e autêntico. Você
e seus irmãos herdaram isso e muito mais dele. Além do mais, esse
cara que tá aqui agora, não é você. E tudo bem sentir medo. Mas
quando você sente medo, você o encara. É assim que você é.
Fico olhando para ela, sentindo cada palavra me atingir de
uma forma certeira.
— Eu ainda nem acredito que você é a minha noiva. — Preciso
falar do meu orgulho por ser esse homem sortudo. — Está tentando
me fazer sentir melhor, mesmo estando errado.
Grace dá um sorrisinho e faz uma cara engraçada.
— Olha, você não pode acertar sempre, sabe? Além do mais,
você me parece estar com sono. Não quer aproveitar para dormir
um pouco? Só vamos para a casa do seu pai daqui umas seis
horas. Você pode dormir um pouco. Posso comandar as coisas
daqui — diz já assumindo meu posto em frente ao fogão.
— Tomei duas xícaras de café — admito.
— Precisamos parar com o excesso de café agora mesmo —
ela analisa, porque também é uma amante da bebida. — Sorte a
nossa não sermos cirurgiões.
— Mas precisamos ter uma boa estabilidade nas mãos para
assinar cheques, meu amor — digo dando um beijo em sua cabeça.
— Você tem razão. Mas, no máximo o que você vai ter é um
pouco de taquicardia.
— Isso não me alivia, Grace.
Ouço o som da sua risada conforme saio da cozinha, feliz por
ir tentar dormir, em mais uma das centenas tentativas que não fui
bem-sucedido até agora.
Não vou direto para o meu quarto, mas para o quarto de
hóspedes que paguei para transformarem no quarto de Isabel.
Ao chegar no cômodo, vejo que tudo ainda está meio escuro e
quieto demais. Não importa onde Isabel dorme, o lugar em si, é
calmo, como se fosse um lugar sagrado.
Sua paz no sono espalha de certa forma a quietude que todo
adulto necessita.
Então me deito na poltrona em que Grace costuma a
amamentar, a inclino de um modo mais deitado e, então, me
aconchego, com a ajuda de um dos mantos da minha filha.
Não me oponho quando começo a sentir o sono lentamente
vindo. Não reluto contra nada e, surpreendentemente, nem sequer
penso no que acontecerá daqui umas horas.
Todavia, tento manter os pensamentos otimistas.
Grace tem razão, sinto medo, mas o encaro.
E quando decido encará-lo, durmo em paz.
••••
Tive incríveis cinco horas de sono. Não é algo saudável, mas
não costuma ser algo rotineiro.
Acordo com olheiras, mas pelo menos estou mais disposto do
que mais cedo.
Não há sinal de mau humor e estou pronto para me atirar no
meio da briga dos meus irmãos. Isso se tiver uma, não dá para
prometer ação para esse dia. Somos adultos, mas não sei até onde
eles poderão lidar com seus nervos. Afinal de contas, Domenico
vem aí.
E ainda está atrasado.
— Você passou o endereço certinho para ele, não foi? —
Grace me pergunta conforme entramos na casa do meu pai.
— Sim, e se ele ainda não está aqui, é porque sabe o quanto a
sua presença é ilustre hoje. Canalha, está agindo feito uma estrela.
— O momento não é apropriado, então tenho certeza de que
Domenico sabe disso. Além de não ser muito do estilo dele dar
estrelismos com atraso. Ele é a pessoa mais pontual que conheço!
— Grace o defende.
— Sabe o que você falou sobre encarar seus medos, que
Domenico está com medo de acabar se decepcionando?
— Por que você acha que ele se decepcionaria? — ela
pergunta, incrédula.
— Às vezes, é só uma consequência natural do ser humano
em se decepcionar com aquilo que tanto cria expectativa. Domenico
já tem quase quarenta anos, duvido que chore.
— Eu nunca o vi chorar — ela reflete.
— Esse dia pode ser hoje, ou não.
— GRACE! — Audrey grita da cozinha.
Mexo com a Isabel que está no colo de Grace. Aliso seu
cabelo ruivinho, que está crescendo bastante nos últimos tempos.
— Esse momento é de vocês. Ficarei aqui embaixo com as
meninas, então, boa sorte lá em cima.
Dou um beijo nela, pois é o tipo de coisa que preciso para ter
sorte.
Tudo em Grace é como um talismã para mim.
Subo a escada e encontro meus irmãos em frente ao quarto do
nosso pai.
Para a porra da minha surpresa, Domenico já está aqui.
Eu quase caio para trás, mas, por sorte, apenas fico
paralisado, sem acreditar no que meus olhos estão vendo.
Em um sofá, estão sentados Jeremy e Domenico, no outro,
está Noah, um pouco alheio.
Os três parecem surpresos ao me ver também.
Isso significa que o atrasado sou eu?
Que merda!
— Pensei que não estivesse aqui ainda. Nem vi seu carro lá na
frente — digo para Domenico, confuso.
— Vim andando. Estou hospedado aqui perto, achei que dava
para pensar melhor durante a caminhada — Domenico explica.
Fico olhando para Jeremy e Noah, tentando compreender
como isso aconteceu, o fato de tudo parecer…
Bem.
— Pelo visto está tudo em ordem por aqui — comento.
Noah me olha.
— Esperava que estivesse com a mão no pescoço do
Domenico? — Noah pergunta.
— Mais ou menos isso — respondo.
— Domenico não tem culpa de nada disso — Jeremy diz,
sábio como sempre. — Mas entendo a sua surpresa, Ian.Domenico
não é o nosso fã número um.
— Sabem de quem sou fã? Sou fã da minha afilhada —
Domenico ressalta ao se levantar. — Uma garota de vinte e três
anos que é empreendedora e tem conseguido seu lugar ao sol
através do seu esforço.
— Isso não soa estranho para você, Ian?— Noah pergunta. —
Noivo da afilhada do seu irmão.
Eu o encaro.
Noah pode não partir para o confronto físico, mas no confronto
verbal, ele é muito bom...
Tão bom que chega a ser estupidamente irritante!
— Muitas coisas soam estranhas nessa vida, Noah. Com
certeza estar com a mulher que amo, não é uma delas — digo firme
e vejo Domenico sorrindo. — Está pronto para conhecê-lo?
Domenico fica rígido e me olha por alguns segundos.
— Esperei a minha vida inteira por esse momento. Não há
mais nada que esteja pronto do que para este momento.
Olho para meus irmãos.
Isso é uma afirmação, uma comprovação de que apesar de
tudo, temos de ter empatia pela situação de Domenico, nosso irmão.
— Domenico estava nos contando mais sobre a sua mãe, a
Marta. Todas as coisas batem com as coisas que o papai nos
contou — Jeremy resume o encontro entre eles.
— Ele já sabia da presença de vocês? — pergunto a Jeremy
sobre o papai.
— Sim. Acha que estamos esperando você, o que é uma
verdade.
— Agora estou aqui. — Abro os braços. — Vamos lá?
— Sabe? Estou ansioso para ver como isso vai ser — Noah
diz com uma expressão meio sádica. — Quero ver você mostrar um
lado que não seja tão rígido, intimidador ao extremo — diz se
dirigindo a Domenico. — Acho que assim consigo aceitar mais
rápido que você pode ser um cara legal, por ser um O’Donnell. —
Ele ri e então vai na frente.
— Noah fica legal depois de um tempo. Ele só está assim
porque você virou literalmente o irmão mais velho — Jeremy conta a
Domenico.
— Não está com raiva disso também? — Domenico pergunta
ao Jeremy, que dá uma risadinha.
— Fui o irmão mais velho por muito tempo. Boa sorte para
você no seu novo posto — Jeremy diz, dando um tapinha no ombro
de Domenico e então vai para o quarto do nosso pai.
Domenico me olha e dou de ombros.
Uma verdade sobre irmãos, é que a gente sempre se estranha,
mas estamos, principalmente, sempre de bem. Tudo o que falamos,
é para bagunçar e não magoar.
Temos nossas implicâncias, mesmo agora depois de adultos,
mas irmãos são seres que nunca crescem.
Gosto de olhar para os meus irmãos e só lembrar da minha
infância, como temos a mesma relação de antes.
Mas com Domenico, agora, aqui…
Ele está deslocado.
Não é só estranho para nós, para ele, é tudo isso e um pouco
mais. Ele nunca teve ninguém, além de Grace. E precisamos
mostrar para ele como isso funciona.
Acompanho Domenico até o quarto e entramos juntos.
Ao meu lado, Domenico fica bastante espantado quando vê o
nosso pai acamado, tentando sorrir enquanto nos vê chegar.
Os problemas de pressão afetaram a sua visão, por isso, ele
não vê Domenico de imediato e está conversando com Noah que
está ao lado dele.
— Estão todos aí? — papai pergunta a ele.
— Sim, todos.
— E o que vocês queriam falar sobre o irmão de vocês? O
meu filho com a Marta, lembram?
A voz dele está cada vez mais fraca, mas seu esforço é
notório.
— Sim, pai — Jeremy diz. — Queríamos falar sobre ele,
porque o encontramos.
Papai fica olhando na direção da voz de Jeremy, mas tenho
quase certeza de que ele mal pode ver o segundo filho mais velho.
— Vo-vocês… O encontraram?
— Grace o encontrou, pai — digo orgulhoso.
Papai pisca os olhos, com uma surpresa exacerbada.
— Como? — Sua voz quase não sai.
— Foi bem mais simples do que esperávamos. Ele já foi chefe
dela, porque é CEO de uma empresa de navios. Possui uma frota
de cruzeiros, um dos melhores da Europa. E é padrinho dela —
digo.
— Quem? — pergunta, se esforçando para olhar melhor. —
Ele está aí?
Quando vou responder, Domenico é mais rápido.
— Sim, eu estou.
Papai não esconde suas emoções, seus lábios tremem junto
com o queixo quando uma emoção muito forte o afeta. Seu
semblante se contrai, ele contém algo forte para não demonstrar na
frente dos filhos.
Mas ali está, nosso pai mostrando a sua fraqueza e em como
está aliviado.
— Me chamo Domenico Alfonso. — Meu irmão mais velho
continua a falar conforme se aproxima da cama.
Domenico também parece estar bastante abalado, de certa
forma. Acho até que, por um momento, esquece da nossa
existência.
— Você recebeu o segundo nome da sua mãe — papai diz,
sorridente e Domenico também sorri.
Ambos compartilhando a memória da mulher que apenas eles
dois foram capazes de conhecer.
— Sim. E é só isso — Domenico diz.
— Com O’Donnell, ficará bem melhor — papai supõe. — Me
diz, filho, você me odeia?
— Por que odiaria o senhor?
Papai contém outra onda forte de emoção.
— Porque não o encontrei. Porque, em algum momento, parei
de te procurar.
Domenico respira fundo, puxa uma cadeira que há ali perto e
se senta de frente para o nosso pai.
— Mamãe sempre me contou a história real e nunca fui capaz
de culpá-lo por algo. Eu não conseguia, sabia que o senhor não
tinha culpa. Mas vivia me perguntando onde estava, ou o que fazia.
O seu nome era tudo o que tinha, mas nunca fui capaz de ligá-lo a
alguém conhecido e que já admirava.
— Você me admira, filho?
— Sim. Muito.
— Eu também admiro você. Estou tão feliz que esteja aqui. —
Ele deixa escapar um soluço, mas logo se recompõe, olhando na
nossa direção.
— Vocês… Como estão lidando com isso?
— Jeremy não é mais o irmão mais velho — Noah dispara e
papai ri. — Mas ainda é o irmão velho.
— Você é quatro anos mais novo que eu, seja realista —
Jeremy refuta. — Mas não se preocupe, pai. Estamos nos dando
bem. Com o tempo, seremos inseparáveis.
— Tenho certeza disso — papai diz e então vira para mim: —
Ian,soube do seu noivado. Parabéns, meu filho. Fico muito feliz em
ver todos vocês conquistando suas famílias — diz todo orgulhoso, e
então, pergunta a Domenico: — E você, filho, tem a sua família
também?
Domenico nos olha.
Por que ele parece estar nervoso e confuso?
A resposta é clara, ele só tem a Grace. Talvez, fique com medo
do que papai vá pensar da afilhada dele noiva do seu irmão, mas
parece ser outra coisa. Algo que o deixa inquieto.
E eu não sei o que está acontecendo, até Domenico informar:
— Eu vou me casar, pai — ele diz e quase pulo para trás,
tamanha surpresa. — Vou me casar em breve.
— Que beleza! — papai exclama. — Domenico, me faça um
favor?
— Sim.
— Chame a sua futura esposa de O’Donnell. Porque você é
um e logo terá este nome oficialmente.
Domenico fica surpreso com o pedido.
Será que Grace sabe desse casamento?
— Faça isso por mim, por favor. Estou velho e logo não estarei
mais aqui. É meu último desejo. Para que eu possa partir em paz e
verdadeiramente feliz com essa chance de ter meus quatro filhos ao
meu lado no fim da minha vida. Seria maravilhoso receber isso
como um presente. É uma das coisas que poderei levar comigo
quando partir.
Domenico fica em silêncio por um tempo. Ele parece refletir a
respeito, após ser surpreendido com esse pedido de nosso pai.
Ele olha em nossa direção e entendo que busca saber nossa
opinião. Dependeria de nós sua reposta. Em seu olhar há o
questionamento de se o queríamos em nossas vidas dessa forma,
se o aceitaríamos como um membro legítimo da Família O´Donnell.
Ele nos consultava, mesmo sem dizer uma palavra porque essa
decisão tão importante afetaria diretamente as vidas dos seus novos
irmãos e, para a minha surpresa, Noah é o primeiro a assentir, o
encorajando a concordar com aquilo. Depois Jeremy e, por último,
concordo com um sorriso no rosto.
— Sim — Domenico responde, com a voz embargada. — Eu
serei Domenico Alfonso O’Donnell.
— Obrigado — papai diz mais tranquilo, relaxando um pouco
mais.
Eu me aproximo de Domenico e não vejo anel algum de
noivado em seus dedos.
Como assim de repente ele vai se casar?
No entanto, isso não importa no momento. Nada além desse
momento em família, em que nos encontramos totalmente
completos.
E apesar de toda a incerteza que sentimos no início em
relação à existência de outro irmão, com ele aqui, de algum jeito,
parece que tudo faz mais sentido. Como se ele sempre tivesse
pertencido à nossa família e retornasse agora de uma longa viagem.
Uma viagem que ele esteve sozinho.
Mas agora, não mais.
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