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BASES BIOLÓGICAS DO

TRATAMENTO INDUSTRIAL DE
SEMENTES
José da Cruz Machado
Prof. Titular de Patologia de Sementes
Universidade Federal deLavras- MG
machado@dfp.ufla.br
Conceitos e premissas do TS :

“Por tratamento de sementes (TS), subentende-se a aplicação de produtos e


processos às sementes visando à garantia e/ou melhoria de seu potencial de
qualidade e desempenho com agregação de valores.
De maneira pedagógica o TS pode ser, portanto, melhor entendido
com base em três aspectos

● Sanitário (TSS)
♦ Finalidade
●Funcional (TFS)
●On farm
♦Tecnologia do Tratamento
●Industrial
●Químico
♦Modalidades do TS ●Biológico
●Físico
TRATAMENTO SANITARIO DE SEMENTES (TSS)

Benefícios do TS

• Assegurar a germinação das sementes e garantir o estabelecimento


de estande inicial em qualquer circunstância de cultivo;

• Evitar a disseminação, introdução e/ou acúmulo de inóculo de


patógenos e pragas em áreas de cultivo;

• Contribuir para o uso racional de agrotóxicos no controle de doenças


e pragas;

• Compor as estratégias de manejo de doenças e pragas


TRATAMENTO SANITARIO DE SEMENTES (TSS)
______________________________________________
Alvos pontuais:

• Erradicar microrganismos patogênicos e outros agentes danosos


associados às sementes;
• Evitar a ação de microrganismos patogênicos e pragas presentes no
solo ou outro substrato, por ocasião da germinação das sementes;
• Prevenir o estabelecimento de algumas doenças e pragas na parte
aérea das plantas no início do cultivo;
• Impedir, ou retardar, o início de surtos epidêmicos.
POR TRATAMENTO INDUSTRIAL DE SEMENTES (TIS):

Entende-se como a aplicação de produtos químicos e biológicos


às sementes visando ao controle de doenças e pragas e de outros insumos
e processos com finalidades diversas, de maneira a assegurar a
incorporação correta de doses dos produtos e conferindo proteção aos
operadores e ao ambiente e assim maximizar a eficácia do tratamento em
foco.
Em outras palavras, o TIS visa assegurar a qualidade original das
sementes e segurança ao homem, animais e ambiente pelo manuseio correto do
produto até sua destinação final pelo agricultor. Sementes tratadas
industrialmente devem ser acondicionadas em embalagens seguras e portadoras
de informações adequadas sobre o tipo e riscos do tratamento aplicado.
SEMENTES PELICULIZADAS (Soja)

SEMENTES INCRUSTRADAS (Cebola)


SEMENTES PELETIZADAS (Tabaco)

SEMENTES PELETIZADAS (Alface)


Algumas considerações sobre o TIS

precisão de doses dos produtos e quantidades de sementes a serem


utilizados;
cobertura homogênea e melhor retenção dos produtos químicos nas
sementes;
menor risco de intoxicação dos operadores e usuários das sementes;
maior proteção ao ambiente do tratamento e de plantio;
maior rendimento em razão de equipamentos de comprovada
eficácia

*) Aspécto preocupante: comercialização de pacotes tecnológicos pode


interferir no poder de escolha pelo agricultor
Para a exposição (discussão) das Bases Biológicas do TIS, de maneira
simplificada, é importante considerar dois aspectos que qualificam o TS:

1) Bases ou Aspectos Biológicos do TSS, dizem respeito aos fatores


intrínsecos da interação entre “sementes-patógenos/pragas” e o TFS leva
em conta a interação entre sementes e outros insumos de natureza
diversa, todos em um dado ambiente.

2) Bases ou Aspectos Tecnológicos, dizem respeito a aspectos


operacionais do Tratamento, com ênfase em equipamentos, produtos,
embalagens etc

Obs:
Importante ressaltar que a interação “semente x patógeno /pragas”,
pode reagir diferentemente em relação às tecnologias do TS
Sobre bases biológicas do TIS:
é preciso, portanto, considerar, a princípio, que a interação: “sementes x
patógenos/pragas” envolve dois agentes biológicos, ambos sujeitos à
influência de diversos fatores, bióticos e abióticos

Principais fatores abióticos:


Produtos do TS (natureza, formulação, doses), temperatura, umidade do substrato e
do ambiente, composição fisico-química do substrato (solo), tecnologia de
tratamento etc

Principais fatores bióticos :


a) Tipo da semente (genética, variabilidade qualidade físico-fisiológica, morfologia-
tamanho, forma, tipo de superfície), teor de água etc alvos do TS
a) Natureza e características dos patógenos alvos do TS (espécies, variabilidade,
posição e potencial de inóculo, sensibilidade aos produtos etc)
Tamanhos diferenciados de sementes e TS
Demonstração ou desdobramento do problema

Considerando se uma recomendação de 200 g p.c./100Kg sementes


de milho (peneira 2)

100 kg Peneira 1 [400.000 sementes] 400.000 S x 1,80 cm2

Produto 100 kg Peneira 2 [300.000 sementes] 300.000 S x 2,10 cm2


200 g/100 kg S
100 kg Peneira 3 [200.000 sementes] 200.000 S x 2,20 cm2

sub-dose 0,27 mg/cm2 720.000 cm2

dose normal 0,31 mg/cm2 630.000 cm2

excesso 0,45 mg/cm2 440.000 cm2

Área de superfície calculado por software/Embrapa


Implicações de sub-doses dos produtos em TS
Surgimento de populações resistentes aos produtos fungicidas

Fusarium – milho tratado Alternaria zinniae – zinia x iprodione


SINTOMAS DE FITOTOXICIDADE POR PESTICIDAS

• Redução do poder germinativo das sementes


• Morte de plântulas
● Distorções / deformações de plântulas /plantas e folíolos
• Necroses de tecidos suculentos em desenvolvimento
• Nanismo ou desenvolvimento atrasado de plantas
• Bronzeamento de folhas
• Manchas ou pontuações necróticas foliares
• Morte de tecidos marginais das folhas e brotações
• Necroses entre nervuras foliares .
Efeitos fitotóxicos de produtos em doses excessivas no TS
Mario Antonio Bianchi
Pesquisador da CCGL /2009
INJÚRIAS FÍSICAS
NAS SEMENTES
Danos
fisiológicos em
sementes
Em relação ao patógeno:
POTENCIAIS DE INÓCULO DE Fusarium verticillioides EM UM LOTE
DE SEMENTES DE MILHO

75 - 100 % 50 - 75 % 25 - 50 %

12,5 - 25 % 1 - 12,5 % 0%
EFEITOS DE DIFERENTES POTENCIAIS DE INÓCULO DE F.
moniliforme (F. verticillioides) NA GERMINAÇÃO E VIGOR DE
SEMENTES DE MILHO.

Variáveis Potenciais de inóculo de F. moniliforme*


1 2 3
Germinação (%) 96,0 80,0 41,0
Estande (%) 96,0 87,2 42,0
Vigor (IVE) 1,4 1,3 0,7
Peso s.raízes (g) 2,2 1,3 0,5

*) Potencial 1= sementes sem inóculo aparente de F. mn.;


Potencial 2= inóculo cobrindo até 50% da superfície das
sementes; Potencial 3= inóculo cobrindo entre 50 e 100% a
superfície das sementes .
IMPLICAÇÕES DA POSIÇÃO DE INÓCULO DE
Phomopsis sp EM SEMENTES DE SOJA EM
RELAÇÃO AO TS.

Sementes não Sementes


desinfestadas desinfestadas*
Lotes
Incidência (%) Incidência (%)

L1 40,0 3,5

L2 36,0 29,5

L3 6,0 8,5

*)- Sementes submetidas a desinfestação com NaClO 1%/2 mins


Sementes não desinfestadas inóculo (externo + interno)
Sementes desinfestadas inóculo interno
TABELA ___. Incidência e Intensidade de Colletotrichum gossypii var. cephalosporioides nas
sementes inoculadas em diferentes níveis e tratadas com dois produtos fungicidas. UFLA,
Lavras, MG, 2006.

Potencial de inóculo Incidência(%)* Intensidade(%)*


(Tempo de Testemunha Thiram Carbendazim Testemunha Thiram Carbendazim
inoculação(h)

0 (zero h**) 0,50 a 0,00 a 0,00 a 0,50 a 0,00 a 0,00 a

1 (36h) 62,50 a 4,00 b 3,50 b 41,00 a 3,50 b 3,50 b

2 (72h) 70,50 a 9,00 b 6,00 b 41,58 a 8,00 b 4,00 b

3 (108h) 80,00 a 23,00 b 18,00b 66,17 a 19,50 b 16,25 b

4 (144h) 91,00 a 21,00 b 17,00 b 80,67 a 14,83 b 14,50 b


CV(%) 23,45 33,04

*Médias seguidas de mesma letra na linha não diferem entre si pelo teste de Tukey(P≤0,05)
**) Horas de exposição das sementes ao inóculo do fungo
Especificidade de fungicidas em relação aos fungos fitopatogênicos, alvos do tratamento
sanitário de sementes

[Benzimidazóis]
[Dicarboximidas]
Benomyl
Metalaxyl Iprodione Quintozene Carboxin
Carbendazim
Propomocarb Procimidonne Pencycuron
Thiabendazol
Tiofanato metílico

Colletotrichum Alternaria
Pythium Fusarium Drechslera
Phytophthora Verticillium Bipolaris Botrytis Rhizoctonia Ustilago
Plasmopara Phoma Exoerohilum Cercospora Sclerotium Tilletia
Peronospora Phomopsis Curvularia Pyricularia (Puccinia)
Bremia Ascochyta Cladosporium
Sclerospora Aspergillus Nigrospora
Penicillium Stemphylium

Thiram; Captan; Clorotalonil; Triazois, correlatos (triadimenol, difenoconazole, tebuconazole,


Estrobilurinas, Fluazinam triticonazole, fluquinconazole, tetraconazole, Imidazois),
fludioxonil, tolylfluanid, etc.
Alguns exemplos de seletividade de produtos fungicidas a fungos

Fungos Metalaxyl Carbendazim Iprodione carboxin


Fusarium _ + _ _
Drechslera _ _ + _
Peronospora + _ _ _
Rhizoctonia _ +/_ + +
COMPATIBILIDADE ENTRE PRODUTOS DO TS E
SEUS EFEITOS NO DESEMPENHO FINAL DESTE
TRATAMENTO

Fungicidas +

Inseticidas +

Nematicidas +

Nutrientes + + Polímeros
Hormônios +

Nodulantes +

Antagonistas
Alguns mecanismos que conduzem a incompatibilidade e perda de eficácia
entre (e dos) produtos aplicados às sementes

1- Reações químicas entre ingredientes ativos formando sub-


produtos que são tóxicos às sementes ou bloqueiam a
ação biocida dos ingredientes ativos;
2- Interferência de um ou mais dos componentes da
formulação nos processos fisiológicos das sementes;
3- Interferência, ou interação, entre os próprios componentes
da formulação
4- Formação de sub-produtos nocivos à saúde humana, animal
e ambiente;
5- Neutralização do efeito fungicida por exsudatos das
sementes e de esporos dos organismos nas sementes
Recomendação de tratamento químico de sementes para controle de
doenças em relação à qualidade das sementes
Perfil do lote Diagnóstico Recomendação do TS*

Ausência de patógenos e de danos Tratamento condicionado ao histórico da


mecânicos área de destino das sementes
Alta germinação
e alto vigor
Presença endêmica de patógenos e
Tratamento requerido
ausência de danos mecânicos

Tratamento condicionado ao histórico da


Ausência de patógenos e presença de
área de destino das sementes e
danos mecânicos
condições climáticas previstas
Alta germinação
e baixo vigor
Presença de patógenos com presença
Tratamento requerido
ou ausência de danos fisiológicos

Tratamento condicionado ao histórico da


Ausência de patógenos e presença de
área de semeadura e condições
danos mecânicos
Baixa climáticas previstas
germinação e
baixo vigor
Presença de patógenos com presença
Tratamento requerido
ou ausência de danos mecânicos
Alguns desafios da pesquisa no âmbito do TSI
1- Estabelecimento de testes de sanidade adequados e seguros para análises
de sementes tratadas com mistura de produtos sanitários e
funcionais, com foco em sementes peliculizadas, encrustradas e
peletizadas
2- Avaliação de compatibilidade entre componentes das formulações usadas
no TSI em relação aos efeitos de seus ativos, dentro e entre
formulações, na qualidade/desempenho das sementes. (ênfase em
produtos químicos e biológicos).

3- Avaliação da viabilidade de sementes tratadas e armazenadas em


diferentes períodos e condições de ambiente e embalagens

4- Investigação sobre novos polímeros

5- Continuidade de desenvolvimento e aperfeiçoamento de novos


equipamentos de tratamento de sementes
Proteção das plantas

Ciclo do mofo-branco
Ag. Sclerotinia sclerotiorum Sementes
sadias ou
tratadas
Trocar esta foto

Controle
biológico

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