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Caçador de Mim

Uma análise da letra (a caça e o caçador).


A letra acima descreve numa linguagem simples, mas igualmente profunda, o grande paradoxo da
condição humana.

A precisão da letra em poucas palavras supera tratados de vários pensadores na área de humanas. A
relação caça e caçador como tensão interna de toda angústia existencial representa bem os
sentimentos e sintomas do homem a procura de si mesmo.

A distância (longe do meu lugar).


Quando o homem a procura de si mesmo escolhe seu próprio eixo como sentido da vida, é semelhante
à uma bailarina de caixinha de música, gira, mas não sai do lugar. Cada movimento, o afasta mais de
onde queria chegar, cada passo-não-passo aumenta proporcionalmente a angústia que queria se
libertar.

O medo (as armadilhas da mata escura).


A busca permanece viva, mas caminha sobre um campo minado. Por “saber” que só existe um caminho
correto, a alma teme “apostar” na porta errada, fato que lhe comprometeria todo o destino. Cada
porta que se abre pode ser uma cilada dos homens ou do “inimigo”. Entrar ou não entrar, eis a
questão, o risco é grande,
não há “test-drive” para a existência, no filme da vida só se diz câmera... ação uma vez.

A busca (abrir o peito à força numa procura).


A busca de si mesmo tem alta dose de adrenalina, não acontece sem paixão, sem a compressão das
vísceras. O tato, a sensibilidade precisa se incorporar a uma coragem de ser.

Viver e existir é um “auto-parto”, alma é “parida” nas entranhas da vida sem anestesia geral ou
pelidural, onde o “fórceps” é o padrão. A dor é a via da vida, não se nasce sem a “dilatação” do si
mesmo. Esse é o sentido da palavra “ek-sistir”, que literalmente significa sair de si mesmo, menos que
isso a única certeza seria um aborto existencial.

A dúvida (longe se vai... onde se chega assim).


A alma se preocupa com o percurso, porque é ele que define o destino. A matéria-prima da eternidade
é a vida, ninguém vai para um “lá”, sem passar por um “cá”.

Embora a dúvida esteja presente durante a caminhada, trazendo certa insegurança, ela também tem
seu valor positivo. A dúvida faz o contraponto necessário de uma segurança equivocada. Ela mantém a
alma sempre em tensão para que a mesma não se engane pela ilusão de que já chegou lá.

O porto-destino não é meramente o alcance de uma resposta, mas ser a resposta. Lembre-se: o
homem é caça e caçador, a caçada consiste justamente na posse de uma única recompensa, ser-si-
mesmo no aqui-agora da vida.

Conforme dito anteriormente, a letra reflete de modo singular o drama da existência humana. É uma
mini tragédia grega com traços tupiniquim. Mas, ao mesmo tempo que elabora bem a crise de todo
homem debaixo do sol não apresenta as causas de tal desordem, nem o remédio para curá-la.

O texto comete o mesmo equívoco de Pitágoras (480 a.C), que dizia que o homem é a medida de todas
as coisas. Ninguém pode
encontrar em si mesmo a razão de sua existência. Somos tão complexos e limitados que imaginar
simplesmente que nos “bastamos”, já por si só é motivo de frustração.
Como disse um sábio do passado, Agostinho: Deus, te conhecer e me conhecer. A sabedoria da alma e
o auto-conhecimento é sempre derivado do conhecimento de Deus. Vejamos tais argumentos numa
análise do texto de Provérbios.

A ausência da sabedoria e angústia existencial. (Provérbios 30:1).


A expressão homem aqui, não refere-se somente a um indivíduo específico da raça humana, é um
drama de todo gênero. Os sintomas do homem tipificado são expressos através da fadiga e exaustão.
A mente e o corpo perguntam os porquês e quando as respostas não chegam, a dor do existir
influência e compromete as estruturas .
A fadiga psico-física e a exaustão “batem o cartão” no relógio da vida sem faltar nenhum dia, cada
hoje e amanhã se transforma num tédio de tudo, presente na mais obscura dimensão de cada ser.

A busca de sabedoria e o sentido de pessoa. (Provérbios 30:2).


A grande e única questão da vida, é responder o que significa ser homem, ser pessoa. O mistério da
vida só pode ser encontrado na intensidade da busca que se acentua ou diminui à proporção da
coragem do ser.

Quando a “passagem” do tempo não escancara de imediato as respostas, a alma “questiona” a si mesma
e o existir, desqualificando seu próprio sentido de pessoa.

Há um “prazo de validade” para se encontrar a “razão” de ser homem (gênero), parece que nenhum
prazer se compara ao próprio 
prazer de ser si mesmo diante de um Outro, no caso, Deus.

A relação entre a sabedoria e o conhecimento de Deus.


Li certa vez num livro de antropologia que a raiz da palavra homem (antropos) na língua grega significa
alguém que olha para o alto. O homem só é, quando olha para o alto, para um outro que não ele mesmo,
a quem chamamos de Deus.

Ser homem é desvendar o sentido do que se é. Tal sentido não pode ser encontrado em si mesmo pelo
fato do homem ser criatura e não Criador. Como diziam os antigos, do nada não pode surgir o ser.

A sabedoria não é uma virtude neutra destacada de um ser que não seja Deus. Da mesma forma que o
perfume é um atributo da rosa, a sabedoria é um atributo de Deus.

Para lidar com os conflitos da vida, o homem precisa não de auto ajuda, mas de ajuda do alto. Tal
sabedoria derramada são milagres cotidianos que transformam aqueles que os recebem em “gigantes”
espirituais, não mais refém das circunstâncias ou tragédias pessoais.
Se na raiz de antropos está o conceito de alguém que olha para o alto, é também do alto que vem a
verdadeira sabedoria. (Tiago 1:5). 

A criatura pergunta “como”, o Criador responde “assim”. A carência do homem, levanta seu olhar até
Deus, a bondade de Deus “baixa” seu olhar até o homem, ambos olhares se entrecruzam no espaço,
que pela “relatividade” do Espírito se transforma em tempo, entre o homem e Deus, Deus e o homem
no horizonte do ser.

Embora esse homem emblemático tenha citado várias vezes a expressão Deus, torna-se evidente que
a distância entre ambos é considerável. Tal paradoxo pode ser explicado pela compreensão
equivocada de parte da humanidade sobre a essência do que significa “conhecer” Deus.

Para muitos “conhecer” Deus é “saber” sobre Ele. Crê-se que algumas informações e conceitos a cerca
de Deus é o suficiente para alcançá-lo. Deus não é uma idéia ou aspiração humana, é uma pessoa, e
como tal só pode ser “conhecido” e encontrado na esfera do relacionamento.
Como bem disse W. Tozer: Nos levantamos pela manhã e imaginamos. – Deus “deve” existir. Ao invés
de ir em busca do Deus que existe, vamos a procura do Deus que “deve” existir. Esta é uma das
causas da angústia e fadiga existencial.

A sabedoria e o intermediário entre Deus e o homem. (Provérbios 30:4).


A sabedoria para a vida não pode ser encontrada num manual de passos, livros de auto-ajuda ou
agentes humanos. A vida é complexa, cada experiência tem variáveis e conseqüências impossíveis de
se predizer. Só Deus estará no “ali” e no “aqui” de cada ser humano. Só ele consegue observar o
“making of” da vida, justamente por ser o diretor e produtor da mesma.

No “drama” do homem citado, consciente de que não tem “acesso” direto a Deus, ele procura um
intermediário, alguém que represente seus negócios na “coisa” pública de Deus.

O homem em questão pergunta: Quem foi ao céu e desceu? Ele tem nome? Ele tem um Filho? São as
respostas a essas três perguntas que diferem o cristianismo de uma mera religião ou seita espiritual.

Imagine um edifício de 50 andares com apenas dois moradores, Deus e o homem, o primeiro mora no
último andar e o segundo no térreo. Toda religião ensina que o homem que aciona o elevador e “sobe”
até o último para encontrar Deus. O cristianismo afirma o contrário, por causa do pecado esse
elevador tem um defeito não pode subir, só desce. É isso que Deus faz em Cristo, é Ele que desce
para buscar o homem, consertar o defeito (pecado) e levar o homem até o céu.

Só uma pessoa veio do céu, era Filho de Deus, e seu nome é Jesus, resposta exata... sem o auxílio dos
universitários...

A sabedoria e o controle das leis que regem o universo.


Há, por parte de muitos que vivem debaixo do sol certo estranhamento sobre o estar-no-mundo,
principalmente no que concerne o controle da natureza e as leis que criaram e mantém o universo.

A síndrome de “estranho no ninho” não é da intromissão de um invasor, mas do ser chamado homem
que ainda vê o mundo como não-lugar, mesmo que seja apenas temporariamente.

Na crise do homem sem Deus o temor alcança não somente o subjetivo, mas também o objetivo. A
dúvida agora se manifesta na ordem do cosmos; Quem controla o vento, o mar e os limites da terra?
(Provérbios 30:4).

Não é suficiente ordenar o interior, é necessário fechar os olhos todos os dias e dormir com a
consciência de que o mundo é sustentado por um “Quem” que sabe o que está fazendo, e, que qualquer
intercorrência é somente uma “alteração” visível de algo maior ocorrendo no campo do invisível para o
melhor de sua criação e criaturas.

É notável que no texto de nossa análise, o homem sem Deus é cheio de questionamentos e
negatividade. Só no verso quatro há seis perguntas essenciais (“Quem”) e em apenas três versículos,
três vezes o advérbio de negação aparece (não).

Conclusão:
A sabedoria não acontece por acaso, é sempre produto de uma procura constante e interminável, seu
princípio é sua própria busca (Provérbios 4:7). Quando a sabedoria é buscada como uma virtude mais
valiosa que qualquer jóia preciosa, (Provérbios 2:4) ela produzirá um encontro espetacular entre a
alma e Deus, (Provérbios 2:5), pois só d´Ele vem o verdadeiro saber para se conduzir a vida com
qualidade e iluminação espiritual (Provérbios 2:6). Portanto, é o conhecimento de Deus que produz
sabedoria, é um “andar” com Ele que modifica a vida, esse é o sentido da palavra conhecer,
(cognoscere) ter uma noção com Alguém, é um Com-Ele-Ser.
 1) O intéprete

Toda vez que escuto o timbre da voz de Milton Nascimento chego a ficar paralisado. Ouvi-lo é
garantia de conforto, é símbolo de pausa necessária para respirar tranquilamente em tempos de
relações tão líquidas. Cultivá-lo na “playlist” cotidiana é arte sagrada.  Não é à toa que Elis Regina
dizia que “Se Deus cantasse, seria com a voz de Milton”.  

     Nascido no Rio, o cantor foi adotado por uma família mineira após a morte de sua mãe biológica. O
estado de Minas Gerais foi o terreno fértil da obra do cantor que na adolescência “queimou a
inscrição para o vestibular de economia e decidiu que a música seria o seu futuro, essa era a única
garantia. De lá para cá, conseguiu não apenas viver da música, como viver a música na sua plenitude.”
         Ano passado realizei um sonhei de consumo: fui para o show da sua turnê “50 anos de voz nas
estradas” em Porto Alegre. Presenciei uma performance contida pelos poucos movimentos no palco
devido o seu estado de saúde. Mas essa situação não retirou o brilho daquela noite marcada por
arrepios (e algumas lágrimas). Anestesia pura!

2)História da composição 

        Caçador de mim tornou-se conhecida do público em 1981, resultado da parceria entre Sergio
Magrão e Luiz Carlos Sá. O primeiro apresentou a melodia e o segundo escreveu a letra que teve como
inspiração o livro “O apanhador no campo de centeios” que conta a história de um jovem que é expulso
da escola por seu mau desempenho e no regresso para casa passa a refletir sobre sua curta vida,
decidindo procurar pessoas importantes para entender a confusão que passa pela sua cabeça antes de
uma conversa com seus pais. O que marcou o compositor?:  “O cara se procurando e tentando achar a
personalidade dele”, disse Luiz Carlos. Um parêntese curioso: O mesmo livro que baseou a concepção
desta música tão viva foi alvo de “inspiração” para Mark Chapman assassinar John Lennon, em 1980.
Teria sido o personagem do livro – segundo ele – que inspirou-lhe a cometer o crime.
      Sergio Magrão conta os bastidores de Caçador de mim: Milton Nascimento conheceu a música na
condição de produtor de um LP da Banda 14 Bis. A paixão foi tão arrebatadora que decidiu não apenas
gravar a música, mas colocá-la como título do seu álbum. Ele ainda lembra a primeira vez que escutou
a música na voz do ícone: “Eu estava na arquibancada do palco. De repente começou um solo e eu falei:
'Conheço essa harmonia'. Ele virou para mim e começou a cantar, eu desabei. Comecei a chorar. Eu
estava com um amigo meu que falou ‘Cara, é a tua música!’. E ficou lindíssima!”

Caçador de Mim

Queridos leitores. Que vocês estejam em paz! Hoje vamos nos ater a uma música de Milton
Nascimento que no dia 23 de agosto fez show em Criciúma. Pela primeira vez este ícone da Música
Popular Brasileira vem a Criciúma, nos brindando com um espetáculo a altura do nosso desejo e
merecimento.

Refiro-me a “Caçador de Mim”, cujo nome do álbum leva o mesmo que da música e é datado de 1981.
Cantor, violonista e compositor, Milton Nascimento nasceu no Rio de Janeiro em 26 de outubro de
1942. Mineiro de coração, tornou-se conhecido nacionalmente quando a canção "Travessia", composta
por ele e Fernando Brant, ocupou a segunda posição no Festival Internacional da Canção, de 1967.

Feitas estas indispensáveis apresentações, mas às vezes o obvio tem que ser dito vamos, então, ao
nosso artigo propriamente dito. E o faço, atentando-me à Filosofia Clínica. De acordo com esta é
possível ressaltar na música Caçador de Mim, pelo menos cinco tópicos da Estrutura de Pensamento.
Falo dos tópicos Um - Como o Mudo me Parece, Dois - O que Acho de Mim Mesmo, Quatro – Emoções,
Onze – Buscas, Doze - Paixões Dominantes e Dezessete - Armadilhas Conceituais.

“Por tanto amor, por tanta emoção”, canta a música, denunciando aqui a forte influência do tópico
emoções. Vamos a frase completa da música desde o início: “Por tanto amor, por tanta emoção, a vida
me fez assim. Doce ou atroz, manso ou feroz, eu caçador de mim”. Perceba que para ele o mundo tem
grande influência no que vive, porque segundo ele a vida o fez assim.

A segunda estrofe não é diferente e ficam evidenciadas as paixões dominante pela música, e que
possivelmente tornou-se numa armadilha conceitual. “Preso a canções, entregue a paixões, que nunca
tiveram fim”. A partir daqui surge a busca: “Abrir o peito a força, numa procura”.

Já o que ele acha de si mesmo permeia todo o texto, desde quando diz: “A vida me fez assim”, até
quando diz: “Eu, caçador de mim”. Durante toda a música Milton se apresenta de diversas formas a
partir do mundo que o fez assim.

A última, de quatro estrofes, desta linda canção, diz: “Longe se vai, sonhando demais, mas onde se
chega assim?”. E finaliza na mesma busca emocionante que iniciou: “Vou descobrir o que me faz sentir,
Eu caçador de mim”.

É assim como o mundo é para Milton Nascimento nesta canção, “Caçador de Mim”. E para você, como é
a canção da sua vida?

Beto Colombo

Sá & Magrão: Por tanto amor, por tanta emoção, a vida me fez assim

Márcia: Entendo-vos tão bem! Reconheço em minha história de vida cada emoção vivida,
boas e ruins, como marcos que me fizeram ser quem sou! Partes de mim que aceito,
compreendo bem, outras que não aceito, rejeito e tantas que ainda desconheço… Sei que fui
amada, sei que amei, sei que amo e sou correspondida! Entretanto são tantas as emoções
vividas que por vezes me sinto também esquecida, preterida, não amada e não possuidora de
amor para oferecer… Mas aqui e agora, entendendo que a vida me fez assim, vou tentando
fazer às pazes com quem sou de forma mais plena e integral!
Sá & Magrão:  Doce ou atroz, manso ou feroz
Márcia: Isso mesmo! Vocês traduzem exatamente o que eu estava tentando falar:
ambivalências! São esses antagonismos que habitam em mim que por vezes me deixam
confusa! Como posso ser pessoas tão diferentes: doce e atroz, mansa e feroz?!? Quantas
vezes sou considerada louca, desequilibrada, ou tantas outros adjetivos nada
encorajadores, mas fico pensando – ‘serei eu a única no mundo a viver sentimentos tão
opostos? Será um caso de dupla personalidade ou de transtorno bipolar?!’ – e por aí se vão
os autodiagnósticos que em nada me apoiam! Mas é isso mesmo! Alguém me entende! (ou é
maluco na mesma proporção que eu !!! kkkkkkk) Quando estou doce e mansa, esta sou eu,
mas quando estou atroz e feroz, igualmente sou eu, e em ambos os lados da moeda eu sou
livre para fazer de mim, por mim e para mim, o que for melhor para minha construção em
busca de inteireza e de saúde! Eu tenho permissão para ter dentro de mim as cores de
todas as emoções!

[1] Iniciado no Brasil pelo CVV (Centro de Valorização da Vida), CFM (Conselho Federal de


Medicina)e ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria), o Setembro Amarelo realizou as
primeiras atividades em 2014 concentradas em Brasília. Em 2015 já conseguiu uma maior
exposição com ações em todas as regiões do país. Mundialmente, o IASP – Associação
Internacional para Prevenção do Suicídio estimula a divulgação da causa, vinculado ao dia 10
do mesmo mês no qual se comemora o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio.
Sá & Magrão: Eu, caçador de mim.
Márcia: Ah!!! Este é o caminho então! Este é o segredo! Tornar-me uma audaz caçadora de
mim mesma! Todos os caçadores possuem instintos extraordinários. Vejam os felinos por
exemplo (Sempre penso em um grande felino quando me imagino caçadora de mim mesma!
Talvez você queira se ver como um pequeno roedor, que também tem instintos aguçados
para caçar suas presas, afinal, cada um tem a liberdade de se projetar como quiser!
Rsrsrsr) Seus instintos incluem alta perspicácia, atenção aguçada, capacidade de foco,
ligeireza em correr, destreza em se lançar para a presa, dentre tantos outros atributos!
Nossa!!! EU TENHO INSTINTOS EXTRAORDINÁRIOS que me favorecem ser uma exímia
caçadora! Caçar a mim mesma, conhecer minha essência, para então poder ser leal às
minhas verdades!

 Sá & Magrão: Preso a canções.


Márcia: Fico pesando no canto das sereias[1] que inebriam, entorpecem os marinheiros e
assim, sem consciência de si mesmos e dos perigos à sua volta, se entregam à morte! É
preciso ficar alerta para não nos prendermos a canções de morte, vozes que tumultuam
nossa mente nos dando indicações incorretas sobre o que devemos fazer, para onde
devemos ir, ou em quem devemos confiar!

 Sá & Magrão: Entregue a paixões que nunca tiveram fim.


Márcia: Realmente, ficamos tempo demais aprisionados a certas paixões! Talvez por
termos a tendência de sempre traduzir ‘Paixão’ por algo positivo (em especial no ocidente
pensamos assim, e não que ela não tenha também este lado que pode eliciar e energizar o
amor). Entretanto ficamos desatentos (talvez devido ao canto hipnótico das sereias) ao
outro lado da paixão, que está muito bem expresso no entendimento da origem da palavra
no latim: PAIXÃO = passio, cuja tradução seria algo como “sofrimento, ato de suportar”, de
pati, “sofrer, aguentar”. Paixão por pessoas, paixão por objetos, paixão por situações,
circunstâncias… Conectados emocionalmente e aprisionados nesta energia que nos faz
sofrer. Como é difícil quebrar o encanto de uma paixão! Como é difícil voltar a ver a
realidade tal qual ela é quando nos entregamos a este sentimento aprisionador! Bem diz o
ditado popular ‘a paixão é cega’, ao qual eu acrescentaria: ela cega, ensurdece, entorpece. A
paixão pode nos despersonalizar! É um perigo ao qual precisamos estar atentos!

 Sá & Magrão: Vou me encontrar longe do meu lugar. Eu, caçador de mim
Márcia:  Como assim, ‘longe do meu lugar’? Que conversa doida é essa? Preciso de um
tempo pra pensar… espere… parece que faz sentido! Se hoje estou aprisionada, para me
encontrar de verdade, e me reconectar com minha essência preciso ‘me encontrar longe do
meu lugar’. Mas que confuso! Eu existo para além deste espaço que hoje me parece único?!
Existe um outro ‘eu’ para além deste Eu-sofredor que conheço neste tempo e nesse
espaço?!!! Aqui sim, precisarei de TODOS os meus instintos mais primitivos de caçadora
para encontrar o meu Eu-verdadeiro! Sair da zona de conforto que nem é assim
confortável, mas que é a única realidade que conheço! Me aventurar… ir além dos muros da
ilusão… acreditar que posso me encontrar!!!

 Sá & Magrão: Nada a temer, senão o correr da luta


Márcia: Êita que agora complicou! Mas eu tenho medo!!! Temo tantas coisas! Parece
impraticável esta ordem! Mas sei que não posso fugir da luta! E esta luta é por mim mesma!
A luta por minha vida e por minhas verdades!!! Vou tentar!
Sá & Magrão: Nada a fazer, senão esquecer o medo
Márcia: Ah! Entendi! Não se trata de não ter medo, mas de esquecer o medo! Coragem não
é ausência de medo, mas simplesmente a atitude de continuar caminhando independente do
quanto este temor possa gritar dentro de mim! Minha ação ‘número 1’: ignorar os medos e
seguir em minha busca!!!

 Sá & Magrão: Abrir o peito à força numa procura


Márcia: De fato é deste desejo de encontrar, de conhecer, de romper, que nasce toda a
força! Aqui e agora já posso senti-la dentro de mim! Estou pronta! Bem… não sei direito se
estou pronta, mas como dizia ao brincar de pique-esconde ‘prontos ou não aí vou eu!!!’.
Quero sair correndo à procura de mim mesma e de minhas verdades, porque em meu peito
explode a caçadora com todos os seus instintos! Estou pronta!!!

 Sá & Magrão: Fugir às armadilhas da mata escura


Márcia: Agora você falou como fala uma mãe (rsrsr) mas entendo sua recomendação, e
terei cuidado! A mata escura são as nuvens de minhas próprias emoções que por vezes me
dificultam ter uma visão racional e clara da realidade. Assim como é escura a sombra[2] que
permeia meu eu, sobre a qual de fato não tenho nenhum poder, sendo o autoconhecimento e
a autoanálise constantes minhas únicas garantias ao atravessar este espaço das sombras do
inconsciente! Às vezes as armadilhas são construídas por outros que, por estarem tomados
por suas sombras deliberam o mal! Bem… um caçador deve não apenas ter foco em sua caça,
mas saber olhar atentamente ao redor: visão 360˚, olhar sistêmico! Se somos caçadores,
por vezes somos também caça! Pode deixar, estarei atenta enquanto caço! Não posso fazer
do ato de caçar uma nova paixão que me aprisiona e me deixa míope!

 Sá & Magrão: Longe se vai sonhando demais


Márcia: Ah!!! Como são poderosos os sonhos! Eles não só alimentam nossa alma, como
renovam o sentido de viver, criando em nós uma energia impulsionadora mais potente que se
possa mensurar! E como eu sonho!!! Sonho que sou uma grande felina, forte, capaz, cheia de
instintos que me tornam hábil para qualquer busca e resolução! Que alegria saber que irei
longe. Quero ir além! Me entregar à jornada para a qual meu Self[3] tem me convidado!
Realizar aquilo para o qual nasci e viver minha existência com uma caminhada capaz de
gerar completude!

 Sá & Magrão: Mas onde se chega assim?

Márcia: Sei que me entregar para a imensidão do Self gera muito medo! E deste medo vem
a dúvida: ‘Mas onde se chega assim?!’ Esta dúvida e este medo que já paralisaram a muitos,
também paralisaram a mim muitas vezes! A própria depressão às vezes funciona como uma
caverna de esconderijo, um momento de recolhimento quando o desejo de fuga se torna
maior que o desejo de enfrentamento! E de novo é hora de ‘Esquecer o Medo’, e ‘Não correr
da luta’! Mas ‘onde  chegarei assim’, seguindo meus instintos de caçadora de mim mesma?!
Bem, creio que chegarei ao caminho da minha individuação[4], um caminho de busca de
completude, de autoaceitação, de reconhecimento de minhas fragilidades e meus
potenciais, mas principalmente, chegarei a espaços e tempo onde seja possível construir
saúde integral!

  Sá & Magrão: Vou descobrir o que me faz sentir: Eu, caçador de mim!
Márcia: Mesmo?! É uma promessa?! Você tem certeza de que um dia eu vou descobrir o que
desperta em mim este instinto de caçadora, de buscadora incansável de mim mesma?!!! Que
bom! EU ACREDITO!!! Na verdade, depois desta nossa conversa tão terapêutica vejo e
sinto que já entendo um pouco melhor este processo! Sei que sou uma caçadora e que com
estes instintos que recebi de presente da natureza poderei fazer meus caminhos! Serão
sempre desafiadores, porém sinto-me instigada a continuar! Comprometo-me a não fugir da
luta. Desejo não ficar estagnada nas paixões que impactam negativamente minha percepção
de realidade. Quero e vou fazer todos os dias as pazes como os vários ‘Eu(s)’ que habitam
em mim, mesmo que sejam eles antagônicos e estranhos, até mesmo às vezes indesejáveis!
Vou me aceitar mais e buscar conhecer cada vez melhor quem eu realmente sou, e quem eu
quero ser nesta existência tão extraordinária que me foi dada de presente! EU PROMETO!

1981
1981 A Bomba do Riocentro e a Farsa dos Militares Brasileiros
Atentado no prédio de convenções Riocentro (RJ), durante show do Dia do Trabalho. Bomba
explode no colo de um militar, ainda no carro. As apurações tentam responsabilizar
supostos “terroristas de esquerda”. O caso desmoraliza em profundidade a lenta abertura
do general Figueiredo. Militar sobrevivente será condecorado (!)

1981 O PIB fecha o ano com retração de 4,3%. Começa um ciclo de estagnação da economia
brasileira que perduraria por quase toda a década.

1981 “Pacote Figueiredo” para as eleições obriga a vinculação total de votos, com
lançamento de candidatos próprios a todos os cargos, e proíbe coligação de partidos.

1981 Superior Tribunal Militar anula condenação de sindicalistas do ABCD por greve em
1980.

1981 Superior Tribunal Militar arquiva IPM do Riocentro após 04 meses de investi¬gações;
almirante Júlio Bierrenbach vota contra e declara que “a verdade permaneceu submissa”.

1981 Joaquim Neves Norte, advogado do Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Naviraí
(Paraná), é assassinado.

1981 Carta Africana dos Direitos Humanos e dos Direitos dos Povos adotada pela
Organização da Unidade Africana em Nairobi, Quênia. Entrou em vigor apenas em 1986.

1981 O coronel Luís Antonio Prado Ribeiro, nomeado para a presidência do IPM do
Riocentro, tem a coragem e a decência de deixar o cargo, convicto sobre a farsa.

1981 A Polícia Federal apreende a edição da Tribuna Operária sobre o Caso Riocentro,
devido à matéria intitulada “Figueiredo engole a bomba”.

1981 Sindicalistas da greve do ABCD do ano anterior são julgados e condenados pela
Justiça Militar a três anos de prisão.

1981 Sebastião Mearin, líder rural no Pará, assassinado por grileiros.

1981 Série de artigos sobre a FEBEM, iniciada com Iris Arié. 1981 É editada a Lei 6.938,
que estabelece a Política Nacional de Meio Ambiente.

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