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A obra se divide em duas partes, a primeira parte abordando a antiguidade clássica e o chamado

período de transição.

Perry Anderson inicia lembrando que as diferenças culturais, sociais e econômicas entre o leste
e o ocidente europeu, presentes já na historiografia do século XIX, remontam a origens muito
antigas.

Todo esplendor do mundo greco-romano, suas cidades, o desenvolvimento da ciência, da


manufatura e do comercio, ao contrário do que se poderia imaginar, estava basicamente
sustentado por uma economia agraria

Já o comercio, por sua vez, estava confinado, também devido à dificuldade de transporte, a
faixa litorânea do mar mediterrâneo, era, portanto, igualmente, restrito.

Dentro deste contexto, o modo de produção escravista foi uma invenção que possibilitou o
afloramento da cultura greco-romana.

O sistema escravista, ao transformar a força de trabalho em mero instrumento de trabalho,


representou o máximo da degradação humana, tal como ocorreria também, bem mais tarde, no
Brasil Colônia. O escravo era apenas mais um item utilizado na produção, embora
contraditoriamente fosse o trabalho de seu esforço que realmente sustentava todas as
realizações do mundo greco-latino.

Mais tarde, quando, depois da definição das fronteiras romanas, começam a escassear os
escravos, pois com o fim das guerras de conquista não havia mais onde obtê-los, a falta de
equipamentos agrícolas causou grande carência de alimentos, principalmente nas cidades.

Neste período a escravidão era quase inexistente, mesmo os cultivadores de terra viviam nas
cidades, dentro das muralhas, saindo para trabalhar no campo todas as manhãs.

Com o advento dos chamados tiranos (650-510 a.C.), homens que representavam os
proprietários de terra mais novos, o domínio da aristocracia foi rompido em favor dos pequenos
proprietários agrícolas. Cada cidadão passou a ter o dever de servir como militar, devendo
providenciar e custear seu próprio equipamento, o que assegurou a formação de uma classe
média com capacidade de exercer pressão sob o governo.

Assim, nasceu a democracia na Cidade-Estado grega, onde cada cidadão passou a possuir
direitos políticos.
Atenas rapidamente se tornou o modelo de Cidade-Estado democrática, não obstante, as
monarquias hereditárias sobreviveram, tendo em Esparta uma líder natural.

Por algum tempo, o Império conseguiu manter a paz interna, no entanto, a formação dos
grandes latifúndios ainda na República, baseados no trabalho escravo, ou seja, as chamadas
vilas, pouco a pouco, estrangularam a articulação política e social do Império.

A agricultura entrou em crise por falta de mão de obra devido ao declínio do escravismo, pois
a velha formula romana baseada na conquista de terras e escravos esgotou-se, na mesma
medida que se esgotou a expansão romana.

Começaram então as investidas dos bárbaros contra o Império, os quais terminaram por invadir
sua parte ocidental e ocupar Roma.

O Estado, na verdade passou a representar os interesses dos grandes latifundiários, fomentando


o aumento da importância das zonas rurais sobre as urbanas.

Estaria fixada aí a gênese da contradição deste sistema, pois o camponês estava sujeito a
jurisdição de seu senhor, mas, por outro lado, este senhor seria vassalo de outro senhor feudal
superior, formando uma cadeia que se estendia até um monarca.

O que representou uma descentralização do poder em meio a um sistema cuja função era
hierarquizar e, portanto, centralizar.

Sendo assim, a produção feudal era incompatível com a finalidade do próprio feudalismo.

Apesar disto, o sistema feudal representou um avanço, afinal realizou ao mesmo tempo a
síntese e a dissolução do modo de produção comunal e escravo.

Aliás, o feudalismo puro jamais existiu em qualquer parte da Europa, pois, na Idade Média,
coexistiram o trabalho livre e o escravo, independentemente da servidão.

Os ataques vikings contribuíram, assim, para a consolidação do feudalismo, gerando um clima


de insegurança responsável pela descentralização do poder.

Perry Anderson sustenta que a dinâmica feudal surgiu propriamente no século X, expandindo-
se no XI, trazendo inúmeras inovações, tal como o arado de ferro para lavar, os arreios firmes
para tração equina, o moinho de água e o adubo calcário, a despeito da fragmentação da
sociedade.

A usura, o empréstimo a juros aos grandes príncipes desprovidos de valor monetário, ganhou
força, as moedas começaram a serem cunhadas novamente.

Apesar da relativa prosperidade, a sociedade foi apanhada de surpresa por um recuo no


desenvolvimento, foi à chamada grande crise do século XIV, gerada pelo aumento
populacional (devido à melhoria das condições de vida), e a consequente falta de terras férteis
em número suficiente para alimentar toda a população.

Estes fatores associados a safras ruins e umas séries de catástrofes naturais, tal como a peste
negra vinda do Oriente, causou, no século XIV, uma inevitável escassez de dinheiro que afetou
as operações bancarias e o comércio.

Foi visando enfrentar esta crise que, devido à necessidade de um poder fortemente centralizado,
ou seja, de concentração de esforços, o feudalismo entrou em crise, surgiram então às
monarquias nacionais.

A sociedade do leste europeu era muito mais dinâmica que a ocidental, senhores feudais
moravam nas cidades próximos a burgueses, enquanto estes adquiriam feudos.

Contudo, a crise do feudalismo europeu atingiu também o leste, porém, mais tarde que o
ocidente. A resposta à crise foi à extinção das cidades e a perda de direitos dos camponeses do
leste, houve um endurecimento do feudalismo que persistiu até o século XIX.

Segundo Perry Anderson, o mundo medieval terminou em uma crise generalizada tanto no
Ocidente como no Oriente. O que abriu caminho, no século XV, para a ascensão das
monarquias nacionais absolutistas.

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