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Modernismo

A literatura do Século XX
Antecedente
O Modernismo teve início com a Semana
de Arte Moderna, realizada no Teatro
Municipal de São Paulo nos dias 13 a 18
de fevereiro de 1922.
A Semana de Arte Moderna

• Idealizada por um grupo de artistas, a


Semana pretendia colocar a cultura
brasileira a par das correntes de vanguarda
do pensamento europeu, ao mesmo tempo
que pregava a tomada de consciência da
realidade brasileira.
• Ocorreram, durante esse período,
exposições de artes plásticas e saraus com
conferências, leituras de poemas, dança e
música.
O Japonês, Anita Malfatti. 
• A Semana de Arte Moderna, vista
isoladamente, não deveria merecer
tanta atenção. Seus participantes
não tinham sequer um projeto
artístico comum; unia-os apenas o
sentimento de liberdade de criação
e o desejo de romper com a cultura
tradicional. Foi, portanto, um
acontecimento bastante restrito
aos meios artísticos,
principalmente de São Paulo.
• Apesar disso, a Semana foi aos
poucos ganhando uma enorme
importância histórica.
A estudante russa, Anita Malfatti. 
Características gerais
do Modernismo

o A busca de uma linguagem brasileira:


desprezando o rigor das regras gramaticais,
principalmente aquelas ditadas pela
gramática lusitana mas distante da realidade
brasileira. Os modernistas aproximaram a
linguagem literária da língua falada pelo
povo brasileiro  palavras em liberdade

o Nacionalismo crítico: interesse por temas


brasileiros, buscando valorizar nossa
tradição e cultura, bem como nosso passado
histórico cultural.

O menino morto, de Cândido Portinari


Características gerais
do Modernismo
o Ironia, humor, piada, paródia: os
modernistas procuravam ser bem-
humorados. Zombavam da arte
tradicional e das figuras eminentes de
nosso passado histórico

o Temas extraídos do cotidiano: os


modernistas acreditavam na
possibilidade de a arte ser extraída das
coisas simples da vida e não apenas dos
grandes temas universais. A produção
modernista promove, assim, uma
dessacralização da arte.
Nova Poética (Manuel Bandeira)
Vou lançar a teoria do poeta sórdido.
Poeta sórdido:
Erro de português  Aquele em cuja poesia há a marca suja
da vida.
(Oswald de Andrade) Vai um sujeito,
Saí um sujeito de casa com a roupa de
Quando o português brim branco muito bem engomada, e na
primeira esquina passa um caminhão,
chegou salpica-lhe o paletó ou a calça de uma
Debaixo de uma bruta nódoa de lama:
chuva É a vida
Vestiu o índio
Que pena! O poema deve ser como a nódoa no
brim:
Fosse uma manhã de sol Fazer o leitor satisfeito de si dar o
O índio tinha despido desespero.
O português.
Sei que a poesia é também orvalho.
Mas este fica para as menininhas, as
estrelas alfas, as virgens cem por cento e
as amadas que envelheceram sem
maldade.
 Primeira fase (1922-
1930): a “fase heroica”

 Segunda fase (1930 -


1945): a “fase da
Consolidação”

 Terceira fase (1945 –


1960):
“neoparnasianos”
A primeira fase do Modernismo (1922-1930): a “fase heroica”

Fase mais radical do movimento: necessidade de


definições

Abandono das perspectivas passadistas e liberdade formal

Procura do original e do polêmico

Visão nacionalista, porém crítica, da realidade

Defesa da reconstrução da cultura brasileira sobre bases


nacionais: eliminação definitiva do nosso complexo de
colonizados, apegados a valores estrangeiros.
Primeira Fase do Modernismo
"(...)se alastrou pelo Brasil o espírito destruidor do movimento modernista. Isto é, o
seu sentido verdadeiramente específico. Porque, embora lançando inúmeros
processos e ideias novas, o movimento modernista foi essencialmente destruidor”.
Mário de Andrade.
Primeira fase do
Modernismo (1922-1930)

Revisão crítica de Aproximação


nosso passado entre fala e
histórico e de nossas escrita na
tradições culturais linguagem.

Período rico em Principais poetas:


publicações de obras Oswald de Andrade,
literárias, revistas e Mário de Andrade e
manifestos. Manuel Bandeira.
PRINCIPAIS AUTORES
Há nessa primeira geração um claro predomínio da
poesia sobre a prosa, em volume de produção.
Destacam-se a prosa Mário de Andrade e Alcântara
Machado. 
- Mário de Andrade (1893-1945)
- Oswald de Andrade (1890-1954)
- Manuel Bandeira (1886-1968)
- Alcântara Machado (1901- 1935)
- Cassiano Ricardo (1895-1974)
- Menotti del Picchia (1892-1988)
- Guilherme de Almeida (1890-1969)
O marco cronológico da geração heroica, para efeitos
didáticos, é o ano de 1930, quando Drummond inicia
uma poética de novos elementos modernistas.
Entretanto, é possível surpreender no percurso da
arte brasileira diálogos posteriores com a geração de
22, como, claramente, se vê, décadas depois, na
música, no movimento Tropicália.
Mário de Andrade I. 1921-22. óleo s/ tela (51x41).
Oswald de Andrade (1890-1954)
A obra de Oswald de Andrade representa um dos
cortes mais profundos do Modernismo brasileiro
em relação à cultura do passado. Debochada,
irônica e crítica, estava sempre pronta para satirizar
os meios acadêmicos ou a própria burguesia.

Seu conceito de nacionalismo era diferente daquele


pregado pelos românticos. Oswald defendia a
valorização de nossas origens, de nosso passado
histórico e cultural, mas de forma crítica, isto é,
recuperando, parodiando, ironizando e atualizando
a nossa história da colonização
Oswald de Andrade pintado por Tarsila do Amaral
Oswald de Andrade (1890-1954)
Cidade

Foguetes pipocam o céu quando em quando


Há uma moça magra que entrou no cinema
Vestida pela última fita
Conversas no jardim onde crescem bancos
Sapos
Olha
A iluminação é de hulha branca
Mamães estão chamando
A orquestra rabecoa na mata

Vício na fala

Para dizerem milho dizem mio


Para melhor dizem mió
Para pior pió
Para telha dizem teia
Para telhado dizem teiado
E vão fazendo telhados
Mário de Andrade (1893-1945)
A poesia de Mário de Andrade é marcada pela tentativa do
poeta em romper com as estruturas artísticas do passado.
Mário de Andrade lutou por uma língua brasileira, que
estivesse mais próxima do falar do povo.

Com Macunaíma, o herói sem nenhum caráter, Mário de


Andrade renova a linguagem do herói brasileiro. Fosse o
índio ou o burguês bem comportado, o herói que aparece
nos romances românticos tinha muito de irreal e quase
nada de nacional. Macunaíma é uma personagem que se
transforma a cada instante, assumindo as feições das
diferentes etnias que deram origem ao povo brasileiro.
Mário de Andrade pintado por Tarsila do Amaral
Manuel Bandeira(1886-1968)
Entre as inúmeras contribuições deixadas pela poesia de Manuel Bandeira, duas
se destacam: o seu papel decisivo na solidificação da poesia de orientação
modernista, com todas as suas implicações (verso livre, linguagem coloquial,
irreverência, liberdade criadora, etc.), e o alargamento da lírica nacional pela sua
capacidade de extrair poesia das coisas aparentemente banais do cotidiano.

As fatalidades da vida deixam em sua obra cicatrizes profundas (morte do pai,


da mãe e da irmã, convivência e sofrimento com sua própria doença). Buscou na
própria vida inspiração para os seus grandes temas: de uma lado a família, a
morte, a infância no Recife, o rio Capibaribe; de outro, a constante observação da
rua por onde transitam os mendigos, as prostitutas, os meninos carvoeiros, os
carregadores das feiras, falando o português gostoso do Brasil (humor, ceticismo,
ironia), tristeza e alegria dos homens, idealização de um mundo melhor .

Outro legado é a simplicidade e o despojamento com que são trabalhados certos


temas, como a reflexão existencial, a solidão, o amor, a vida e a natureza.

Manuel Bandeira pintado por Portinari (1931)


Manuel Bandeira(1886-1968)
Desencanto
Os Sapos (trecho do poema)
Eu faço versos como quem chora
Enfunando os papos, Vede como primo De desalento... de desencanto...
Saem da penumbra, Em comer os hiatos! Fecha o meu livro, se por agora
Aos pulos, os sapos. Que arte! E nunca rimo Não tens motivo nenhum de pranto.
A luz os deslumbra. Os termos cognatos. Meu verso é sangue. Volúpia ardente...
Tristeza esparsa... remorso vão...
Em ronco que aterra, O meu verso é bom Dói-me nas veias. Amargo e quente,
Berra o sapo-boi: Frumento sem joio. Cai, gota a gota, do coração.
- "Meu pai foi à guerra!" Faço rimas com E nestes versos de angústia rouca
- "Não foi!" - "Foi!" - "Não Consoantes de apoio. Assim dos lábios a vida corre,
foi!". Deixando um acre sabor na boca.
– Eu faço versos como quem morre.
O sapo-tanoeiro,
Parnasiano aguado,
Diz: - "Meu cancioneiro
É bem martelado.
MANIFESTOS
Os manifestos e revistas foram importante instrumento de divulgação artístico-
ideológica de grupos de escritores modernistas. Os de maior impacto foram: 

• Movimento Pau-Brasil: raiz do movimento antropofágico, alicerçado em


Oswald de Andrade e Tarsila do Amaral, propunha uma postura primitivista e
inovadora na poesia, rejeitando o discurso poético retórico.

• Movimento Verde-Amarelo/ Grupo da Anta: identificado com Cassiano


Ricardo, Menotti del Picchia e Plínio Salgado, constituiu-se como um grupo de
preocupações artísticas patrióticas e ufanistas, propondo-se a uma
contraposição ao Movimento Pau-Brasil. A anta era seu símbolo.

• Movimento Antropofágico: tendo Oswald de Andrade como principal


expoente, aprofunda as proposições do Pau-Brasil, propondo uma língua
literária “não catequizada”.

Houve ainda as revistas Klaxon, veículo de informação geral dos artistas


modernistas, no período subsequente à Semana de Arte Moderna, e
a Antropofágica, ligada ao movimento homônimo.
Movimento Pau-Brasil (1924)
• Idealizadores: Oswald de Andrade e Tarsila do
Amaral.
• Posição primitivista, buscando uma poesia
ingênua, de redescoberta do mundo e do Brasil.
• Intuito: expor ao ridículo as posturas solenes, as
formas gastas, a escrita empolada, a sujeição aos
modelos europeus (explorar assuntos nacionais),
abolir a barreira tradicional entre a poesia e prosa,
valorizar a invenção e a surpresa.

A poesia existe nos fatos. Os casebres de açafrão e de ocre nos


verdes da Favela, sob o azul cabralino, são fatos estéticos. [...]
Contra o gabinetismo, a prática culta da vida. [...] A língua sem
arcaísmo, sem erudição. Natural e neológica. A contribuição
milionária de todos os erros. Como falamos. Como
somos. (Andrade, Oswald de.Obras Completas. Rio de Janeiro, Civilização
Brasileira/MEC. 1972. v.6 p. 5)
Manifesto antropofágico:
a deglutição cultural

• Oswald de Andrade, Tarsila do Amaral e Raul


Bopp lançaram, em 1928, o mais radical de
todos os movimentos do período: a
Antropofagia.

• Os antropófagos baseavam-se na cultura


indígena primitiva de que quando se devora
um inimigo assimila-se suas qualidades; a
proposta era a devoração simbólica da
cultura estrangeira, aproveitando as
inovações sem a perda da identidade cultural
brasileira.
Abapuru (1928), de Tarsila do Amaral.
Manifesto antropofágico: a deglutição cultural

“ [...]
Tupi, or not tupi that is the question. […]
Nunca fomos catequizados. Fizemos foi Carnaval. O índio vestido de senador do
Império. Fingindo de Pitt. Ou figurando nas óperas de Alencar cheio de bons
sentimentos portugueses. [...]
Contra Anchieta cantando as onze mil virgens do céu, na terra de Iracema, – o
patriarca João Ramalho fundador de São Paulo.
A nossa independência ainda não foi proclamada. Frase típica de D. João VI: – Meu
filho, põe essa coroa na tua cabeça, antes que algum aventureiro o faça!
Expulsamos a dinastia. É preciso expulsar o espírito bragantino, as ordenações e
o rapé de Maria da Fonte.
Contra a realidade social, vestida e opressora, cadastrada por Freud – a realidade
sem complexos, sem loucura, sem prostituições e sem penitenciárias do
matriarcado de Pindorama.”
OSWALD DE ANDRADE
Em Piratininga
Ano 374 da Deglutição do Bispo Sardinha
(Revista de Antropofagia, Ano 1, No. 1, maio de 1928.)
VERDE-AMARELISMO
• Surge em 1926, como uma resposta ao
nacionalismo do Pau-Brasil formado por Plínio
Salgado, Menotti del Picchia, Guilherme de
Almeida e Cassiano Ricardo.
• Criticava o "nacionalismo afrancesado" de
Oswald de Andrade e apresentava como
proposta um nacionalismo primitivista,
ufanista e identificado como fascismo.
• Parte-se para a idolatria do tupi e elege-se a
anta como símbolo Nacional.
“A nossa estética é de reação. Como tal, é guerreira. O termo futurista, com que
erradamente a etiquetaram, aceitamo-lo porque era um cartel de desafio. Na
geleira de mármore de Carrara do parnasianismo dominante, a ponta agressiva
dessa proa verbal estilhaçava como aríete.(...) Demais, ao nosso individualismo
estético, repugna a jaula de uma Escola. Procuramos, cada um, atuar de acordo
com nosso temperamento, dentro da mais arrojada sinceridade”. (Trecho do
Manifesto do Verde-Amarelismo ou da Escola da Anta)
Vamos treinar?

(ENEM 2013)
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de
que a brasilidade está relacionada ao futebol.
Quanto à questão da identidade nacional, as
anotações em torno dos versos constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura
crítica de dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no
exercício de leitura poética.
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras
substitutivas das originais.

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de


tudo.
27 set. 2011 a 29 jan. 2012.
Vamos treinar?

(ENEM 2013)
O poema de Oswald de Andrade remonta à ideia de
que a brasilidade está relacionada ao futebol.
Quanto à questão da identidade nacional, as
anotações em torno dos versos constituem
a) direcionamentos possíveis para uma leitura
crítica de dados histórico-culturais.
b) forma clássica da construção poética brasileira.
c) rejeição à ideia do Brasil como o país do futebol.
d) intervenções de um leitor estrangeiro no
exercício de leitura poética.
e) lembretes de palavras tipicamente brasileiras
substitutivas das originais.

MUSEU DA LÍNGUA PORTUGUESA. Oswald de Andrade: o culpado de


tudo.
27 set. 2011 a 29 jan. 2012.
SAMBINHA
Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras. Vamos treinar?
Afobadas braços dados depressinha
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua. (ENEM 2012) Os poetas do Modernismo, sobretudo em
As costureirinhas vão explorando perigos… sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao
Vestido é de seda. fazer poético, como parte de seu projeto de configuração
Roupa-branca é de morim. de uma identidade linguística e nacional. No poema de
Falando conversas fiadas Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois:
As duas costureirinhas passam por mim.
— Você vai? a) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de
— Não vou não! duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o
Parece que a rua parou pra escutá-las. andamento dos versos é truncado, o que faz com que o
Nem trilhos sapecas evento perca a naturalidade.
Jogam mais bondes um pro outro. b) a sensibilidade do eu poético parece captar o
E o Sol da tardinha de abril movimento dançante das costureirinhas — depressinha —
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens. que, em última instância, representam um Brasil de “todas
As nuvens são vermelhas. as cores”.
A tardinha cor-de-rosa. c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao
Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas… desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação,
Fizeram-me peito batendo prejudica a compreensão do poema.
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras! d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista
Isto é… que marcava a sociedade do início do século XX, machismo
Uma era ítalo-brasileira. expresso em “que até dão vontade pros homens da rua”.
Outra era áfrico-brasileira. e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver
Uma era branca. moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de
Outra era preta. afirmar as origens africana e italiana das mesmas.
ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.
SAMBINHA
Vêm duas costureirinhas pela rua das Palmeiras. Vamos treinar?
Afobadas braços dados depressinha
Bonitas, Senhor! que até dão vontade pros homens da rua. (ENEM 2012) Os poetas do Modernismo, sobretudo em
As costureirinhas vão explorando perigos… sua primeira fase, procuraram incorporar a oralidade ao
Vestido é de seda. fazer poético, como parte de seu projeto de configuração
Roupa-branca é de morim. de uma identidade linguística e nacional. No poema de
Falando conversas fiadas Mário de Andrade esse projeto revela-se, pois:
As duas costureirinhas passam por mim.
— Você vai? a) o poema capta uma cena do cotidiano — o caminhar de
— Não vou não! duas costureirinhas pela rua das Palmeiras — mas o
Parece que a rua parou pra escutá-las. andamento dos versos é truncado, o que faz com que o
Nem trilhos sapecas evento perca a naturalidade.
Jogam mais bondes um pro outro. b) a sensibilidade do eu poético parece captar o
E o Sol da tardinha de abril movimento dançante das costureirinhas — depressinha —
Espia entre as pálpebras sapiroquentas de duas nuvens. que, em última instância, representam um Brasil de “todas
As nuvens são vermelhas. as cores”.
A tardinha cor-de-rosa. c) o excesso de liberdade usado pelo poeta ao
Fiquei querendo bem aquelas duas costureirinhas… desrespeitar regras gramaticais, como as de pontuação,
Fizeram-me peito batendo prejudica a compreensão do poema.
Tão bonitas, tão modernas, tão brasileiras! d) a sensibilidade do artista não escapa do viés machista
Isto é… que marcava a sociedade do início do século XX, machismo
Uma era ítalo-brasileira. expresso em “que até dão vontade pros homens da rua”.
Outra era áfrico-brasileira. e) o eu poético usa de ironia ao dizer da emoção de ver
Uma era branca. moças “tão modernas, tão brasileiras”, pois faz questão de
Outra era preta. afirmar as origens africana e italiana das mesmas.
ANDRADE, M. Os melhores poemas. São Paulo: Global, 1988.
Mais uma vez!

(PUC-Campinas)
Assinale a alternativa em que se encontram preocupações estéticas da Primeira Geração
Modernista:
a) “Não entrem no verso culto o calão e solecismo, a sintaxe truncada, o metro cambaio, a
indigência das imagens e do vocabulário do pensar e do dizer.”
b) “Vestir a Ideia de uma forma sensível que, entretanto, não terá seu fim em si mesma,
mas que, servindo para exprimir a Ideia, dela se tornaria submissa.”
c) “Minhas reivindicações? Liberdade. Uso dela; não abuso.” “E não quero discípulos. Em
arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.”
d) “Na exaustão causada pelo sentimentalismo, a alma ainda tremula e ressoante da febre
do sangue, a alma que ama e canta porque sua vida é amor e canto, o que pode senão fazer
o poema dos amores da vida real?”
e) “O poeta deve ter duas qualidades: engenho e juízo; aquele, subordinado à imaginação,
este, seu guia, muito mais importante, decorrente da reflexão. Daí não haver beleza sem
obediência à razão, que aponta o objetivo da arte: a verdade.”
Mais uma vez!

(PUC-Campinas)
Assinale a alternativa em que se encontram preocupações estéticas da Primeira Geração
Modernista:
a) “Não entrem no verso culto o calão e solecismo, a sintaxe truncada, o metro cambaio, a
indigência das imagens e do vocabulário do pensar e do dizer.”
b) “Vestir a Ideia de uma forma sensível que, entretanto, não terá seu fim em si mesma,
mas que, servindo para exprimir a Ideia, dela se tornaria submissa.”
c) “Minhas reivindicações? Liberdade. Uso dela; não abuso.” “E não quero discípulos. Em
arte: escola = imbecilidade de muitos para vaidade dum só.”
d) “Na exaustão causada pelo sentimentalismo, a alma ainda tremula e ressoante da febre
do sangue, a alma que ama e canta porque sua vida é amor e canto, o que pode senão fazer
o poema dos amores da vida real?”
e) “O poeta deve ter duas qualidades: engenho e juízo; aquele, subordinado à imaginação,
este, seu guia, muito mais importante, decorrente da reflexão. Daí não haver beleza sem
obediência à razão, que aponta o objetivo da arte: a verdade.”
Moça linda bem tratada

Moça linda bem tratada,


Três séculos de família,
Burra como uma porta:
Um amor.
Mulher gordaça, filó,
Grã-fino do despudor, De ouro por todos os poros
Esporte, ignorância e sexo, Burra como uma porta:
Burro como uma porta: Paciência...
Um coió.
Plutocrata sem consciência,
Nada porta, terremoto
Que a porta de pobre arromba:
Uma bomba.

Mário de Andrade
 
O BICHO

VI ONTEM um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.

Manuel Bandeira
A Morte Absoluta
Morrer.
Morrer de corpo e de alma.
Completamente.

Morrer sem deixar o triste despojo


da carne,
A exangue máscara de cera,
Cercada de flores,
Que apodrecerão - felizes! - num
dia,
Banhada de lágrimas
Nascidas menos da saudade do que
do espanto da morte.

Morrer sem deixar porventura uma


alma errante...
A caminho do céu?
Mas que céu pode satisfazer teu
sonho de céu?
Morrer sem deixar um sulco, um risco,
uma sombra,
A lembrança de uma sombra
Em nenhum coração, em nenhum
pensamento,
Em nenhuma epiderme.

Morrer tão completamente


Que um dia ao lerem o teu nome num
papel
Perguntem: "Quem foi?..."

Morrer mais completamente ainda,


- Sem deixar sequer esse nome.
Segunda Fase do Modernismo (1930-1945 )
Não faças versos sobre acontecimentos./ Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático, / não aquece nem ilumina.
(Carlos Drummond de Andrade)

Parte do painel “Eu vi o mundo... ele começava no Recife”, Cícero Dias


Momento histórico
1929: A diminuição do consumo de café no mercado
mundial, provocada pela crise desencadeada pela
quebra da bolsa, fez despencar o preço do café
brasileiro no mercado internacional.

1937: estava decretado o Estado Novo. Vargas passou


a exercer o poder de modo autoritário e centralizador.

1939: início da Segunda Guerra Mundial. Ela nos


obrigou a enfrentar a barbárie humana e a reconhecer
que o preconceito e o desejo desmedido de poder
podem levar à perda de milhões de vidas.

Estava criado o contexto para que a arte assumisse uma perspectiva mais intimista e procurasse as respostas
para as muitas dúvidas existenciais desencadeadas por todo esse cenário de horror e destruição.
Poesia: misticismo e
consciência social
• Poesia de questionamento da existência
humana.
• Inquietações sociais, religiosas, filosóficas e
amorosas
• Amadurecimento das conquistas da primeira
geração: versos livres e brancos convivem com
outros rimados e de métrica fixa. Os poetas
submetem a linguagem às suas necessidades,
valendo-se de todos os recursos (formais ou
não) à sua disposição.
• Estrutura sintática dos versos é mais elaborada:
questionar a realidade exige uma elaboração
sintática de complexidade equivalente.
Os Retirantes – 1944, de Portinari 
Mãos Dadas

Não serei o poeta de um mundo caduco.


Também não cantarei o mundo futuro.
Estou preso à vida e olho meus companheiros
Estão taciturnos mas nutrem grandes esperanças.
Entre eles, considere a enorme realidade.
O presente é tão grande, não nos afastemos.
Não nos afastemos muito, vamos de mãos dadas.
Não serei o cantor de uma mulher, de uma história.
não direi suspiros ao anoitecer, a paisagem vista na janela.
não distribuirei entorpecentes ou cartas de suicida.
não fugirei para ilhas nem serei raptado por serafins.
O tempo é a minha matéria, o tempo presente, os homens
presentes, a vida presente.
Carlos Drummond de Andrade
CONSIDERADO O MAIOR
POETA BRASILEIRO DO
SÉCULO XX

•TEMÁTICAS:
 o fazer poético;
 a função social do poeta;
 a dificuldade de
compreender os
sentimentos;
Carlos Drummond de  a importância da
Andrade (1902-1987) família e da reflexão.
Carlos Drummond de Andrade (1902-
1987)
Família e origens: a viagem na memória

O tema da família se confunde com o das origens,


representadas na poesia de Drummond pelas
inúmeras referências à infância, à Itabira e às
Minas Gerais.

A recordação do passado permite que ele seja


reavaliado e que sua importância seja reconhecida
no presente.
Para Sempre 
sem deixar vestígio.
Por que Deus permite Mãe, na sua graça,
que as mães vão-se é eternidade.
embora? Por que Deus se lembra
Mãe não tem limite, - mistério profundo -
é tempo sem hora, de tirá-la um dia?
luz que não apaga Fosse eu Rei do Mundo,
quando sopra o vento baixava uma lei:
e chuva desaba, Mãe não morre nunca,
veludo escondido mãe ficará sempre
na pele enrugada, junto de seu filho
água pura, ar puro, e ele, velho embora,
puro pensamento.  será pequenino
Morrer acontece feito grão de milho.
com o que é breve e passa
Carlos Drummond de Andrade (1902-1987):
“o tempo é a minha matéria presente”

Em inúmeros poemas, Drummond aborda a


função social do poeta: denunciar a opressão e
lutar para a construção de um mundo novo.

O presente se torna o grande tema dessa fase.

A fase social da poesia de Drummond também se


manifesta sob a forma de denúncia da alienação
da elite.
Congresso Internacional do Medo

Provisoriamente não cantaremos o amor,


que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso
companheiro, o medo grande dos sertões, dos
mares, dos desertos, o medo dos soldados, o
medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos
democratas, cantaremos o medo da morte e o
medo de depois da morte, depois morreremos
de medo e sobre nossos túmulos nascerão
flores amarelas e medrosas.

(Carlos Drummond de Andrade, in 'Sentimento do Mundo')


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987):
o exercício incansável da reflexão

Em sua poesia reflexiva, Drummond define-se


por perseguir algumas questões fundamentais
para o poeta: que “coisa” é o ser humano? O
que significa fazer parte da humanidade? Como
combater as injustiças do presente?
JOSÉ

E agora, José?
se você tocasse
A festa acabou,
a valsa vienense,
Se você dormisse,
a luz apagou,
se você cansasse,
o povo sumiu,
se você morresse...
a noite esfriou,
Mas você não morre,
e agora, José? você é duro, José!
e agora, você? Sozinho no escuro
você que é sem nome, qual bicho do mato,
que zomba dos outros, sem teogonia*,
você que faz versos, sem parede nua
que ama, protesta? para se encostar
e agora, José? sem cavalo preto
(...) que fuja a galope,
José, e agora? você marcha, José!
Se você gritasse, José, para onde?
se você gemesse,

* genealogia dos deuses


Carlos Drummond de Andrade (1902-1987):
o fazer poético: ação e transformação

O que se observa é que Drummond, mesmo


nos textos em que declaradamente trata da
criação poética, continua a desenvolver um
tema maior: a poesia em busca de si
mesma. Essa busca assume duas faces: a
“material” (do verso, da escolha das
palavras, da rima) e a do conteúdo, que a
vincula aos outros eixos temáticos da obra
do poeta.
A Flor e a Náusea Crimes suaves, que ajudam a viver.
Preso à minha classe e a algumas roupas, vou de branco pela Ração diária de erro, distribuída em casa.
rua cinzenta. Os ferozes padeiros do mal.
Melancolias, mercadorias, espreitam-me. Os ferozes leiteiros do mal.
Devo seguir até o enjoo? Pôr fogo em tudo, inclusive em mim.
Posso, sem armas, revoltar-me? Ao menino de 1918 chamavam anarquista.
Olhos sujos no relógio da torre: Porém meu ódio é o melhor de mim.
Não, o tempo não chegou de completa justiça. Com ele me salvo
O tempo é ainda de fezes, maus poemas, alucinações e e dou a poucos uma esperança mínima.
espera. Uma flor nasceu na rua!
O tempo pobre, o poeta pobre Passem de longe, bondes, ônibus, rio de aço do tráfego.
fundem-se no mesmo impasse. Uma flor ainda desbotada
Em vão me tento explicar, os muros são surdos. ilude a polícia, rompe o asfalto.
Sob a pele das palavras há cifras e códigos. Façam completo silêncio, paralisem os negócios,
O sol consola os doentes e não os renova. garanto que uma flor nasceu.
As coisas. Que tristes são as coisas, consideradas sem ênfase. Sua cor não se percebe.
Vomitar este tédio sobre a cidade. Suas pétalas não se abrem.
Quarenta anos e nenhum problema Seu nome não está nos livros.
resolvido, sequer colocado. É feia. Mas é realmente uma flor.
Nenhuma carta escrita nem recebida. Sento-me no chão da capital do país às cinco horas da tarde
Todos os homens voltam para casa. e lentamente passo a mão nessa forma insegura.
Estão menos livres mas levam jornais Do lado das montanhas, nuvens maciças avolumam-se.
e soletram o mundo, sabendo que o perdem. Pequenos pontos brancos movem-se no mar, galinhas em
Crimes da terra, como perdoá-los? pânico.
Tomei parte em muitos, outros escondi. É feia. Mas é uma flor. Furou o asfalto, o tédio, o nojo e o
Alguns achei belos, foram publicados. ódio.
Carlos Drummond de Andrade (1902- Tenho apenas duas mãos Quando os corpos passarem, 
1987): e o sentimento do mundo, eu ficarei sozinho 
A “concha vazia” do amor mas estou cheio escravos, desfiando a recordação 
minhas lembranças escorrem do sineiro, da viúva e do
e o corpo transige microcopista 
A obra de Drummond também aborda a na confluência do amor. que habitavam a barraca 
necessidade de compreender o Quando me levantar, o céu e não foram encontrados 
sentimento, que se manifesta tanto no estará morto e saqueado, ao amanhecer
nível pessoal quanto no social (o “estar eu mesmo estarei morto, esse amanhecer 
no mundo”). morto meu desejo, morto mais noite que a noite.
o pântano sem acordes. DRUMMOND, Sentimento do Mundo
Os camaradas não disseram
Mais do que registrar emoções, o que havia uma guerra
poeta de Itabira quer compreendê-los, e era necessário
e isso só é possível por meio da análise. trazer fogo e alimento.
Sinto-me disperso,
anterior a fronteiras,
humildemente vos peço
que me perdoeis.
Vamos treinar?
Verbo ser (ENEM 2016)
QUE VAI SER quando crescer?
A inquietação existencial do autor com a
Vivem perguntando em redor. Que é
ser? É ter um corpo, um jeito, um
autoimagem corporal e a sua corporeidade se
nome? Tenho os três. E sou? Tenho de desdobra em questões existenciais que têm
mudar quando crescer? Usar outro origem
nome, corpo e jeito? Ou a gente só
principia a ser quando cresce? É A) no conflito do padrão corporal imposto contra
terrível, ser? Dói? É bom? É triste? as convicções de ser autêntico e singular.
Ser: pronunciado tão depressa, e cabe B) na aceitação das imposições da sociedade
tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. seguindo a influência de outros.
R. Que vou ser quando crescer? Sou C) na confiança no futuro, ofuscada pelas
obrigado a? Posso escolher? Não dá
tradições e culturas familiares.
para entender. Não vou ser. Não quero
ser. Vou crescer assim mesmo. Sem D) no anseio de divulgar hábitos enraizados,
ser. Esquecer. negligenciados por seus antepassados.
E) na certeza da exclusão, revelada pela
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1992. indiferença de seus pares
Vamos treinar?
Verbo ser (ENEM 2016)
QUE VAI SER quando crescer?
A inquietação existencial do autor com a
Vivem perguntando em redor. Que é
ser? É ter um corpo, um jeito, um
autoimagem corporal e a sua corporeidade se
nome? Tenho os três. E sou? Tenho de desdobra em questões existenciais que têm
mudar quando crescer? Usar outro origem
nome, corpo e jeito? Ou a gente só
principia a ser quando cresce? É A) no conflito do padrão corporal imposto contra
terrível, ser? Dói? É bom? É triste? as convicções de ser autêntico e singular.
Ser: pronunciado tão depressa, e cabe B) na aceitação das imposições da sociedade
tantas coisas? Repito: ser, ser, ser. Er. seguindo a influência de outros.
R. Que vou ser quando crescer? Sou C) na confiança no futuro, ofuscada pelas
obrigado a? Posso escolher? Não dá
tradições e culturas familiares.
para entender. Não vou ser. Não quero
ser. Vou crescer assim mesmo. Sem D) no anseio de divulgar hábitos enraizados,
ser. Esquecer. negligenciados por seus antepassados.
E) na certeza da exclusão, revelada pela
ANDRADE, C. D. Poesia e prosa. Rio de Janeiro: Nova
Aguilar, 1992. indiferença de seus pares
(ENEM 2009) Carlos Drummond de Andrade é um dos

Vamos treinar?
expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus
poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou
poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia
CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular,
como se percebe claramente na construção do poema
Alguns anos vivi em Itabira.
Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de
Principalmente nasci em Itabira.
construção do texto literário e as concepções artísticas
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. modernistas, conclui-se que o poema acima:
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas. a)representa a fase heroica do modernismo, devido ao
E esse alheamento do que na vida é porosidade e tom contestatório e à utilização de expressões e usos
[comunicação. linguísticos típicos da oralidade.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, b) apresenta uma característica importante do gênero
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados
[sem horizontes. históricos.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
é doce herança itabirana.
comunidade, por intermédio de imagens que
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, representam a forma como a sociedade e o mundo
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; colaboram para a constituição do indivíduo.
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
este orgulho, esta cabeça baixa… inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as
Tive ouro, tive gado, tive fazendas. prendas resgatadas de Itabira.
Hoje sou funcionário público. e) apresenta influências românticas, uma vez que trata
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
da individualidade, da saudade da infância e do amor
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. pela terra natal, por meio de recursos retóricos
pomposos.
(ENEM 2009) Carlos Drummond de Andrade é um dos

Vamos treinar?
expoentes do movimento modernista brasileiro. Com seus
poemas, penetrou fundo na alma do Brasil e trabalhou
poeticamente as inquietudes e os dilemas humanos. Sua poesia
CONFIDÊNCIA DO ITABIRANO é feita de uma relação tensa entre o universal e o particular,
como se percebe claramente na construção do poema
Alguns anos vivi em Itabira.
Confidência do Itabirano. Tendo em vista os procedimentos de
Principalmente nasci em Itabira.
construção do texto literário e as concepções artísticas
Por isso sou triste, orgulhoso: de ferro. modernistas, conclui-se que o poema acima:
Noventa por cento de ferro nas calçadas.
Oitenta por cento de ferro nas almas. a)representa a fase heroica do modernismo, devido ao
E esse alheamento do que na vida é porosidade e tom contestatório e à utilização de expressões e usos
[comunicação. linguísticos típicos da oralidade.
A vontade de amar, que me paralisa o trabalho, b) apresenta uma característica importante do gênero
vem de Itabira, de suas noites brancas, sem mulheres e lírico, que é a apresentação objetiva de fatos e dados
[sem horizontes. históricos.
E o hábito de sofrer, que tanto me diverte,
c) evidencia uma tensão histórica entre o “eu” e a sua
é doce herança itabirana.
comunidade, por intermédio de imagens que
De Itabira trouxe prendas diversas que ora te ofereço:
esta pedra de ferro, futuro aço do Brasil, representam a forma como a sociedade e o mundo
este São Benedito do velho santeiro Alfredo Duval; colaboram para a constituição do indivíduo.
este couro de anta, estendido no sofá da sala de visitas; d) critica, por meio de um discurso irônico, a posição de
este orgulho, esta cabeça baixa… inutilidade do poeta e da poesia em comparação com as
Tive ouro, tive gado, tive fazendas. prendas resgatadas de Itabira.
Hoje sou funcionário público. e) apresenta influências românticas, uma vez que trata
Itabira é apenas uma fotografia na parede.
da individualidade, da saudade da infância e do amor
Mas como dói!
ANDRADE, C. D. Poesia completa. Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 2003. pela terra natal, por meio de recursos retóricos
pomposos.
Cecília
Meireles
É preciso “Acordar a criatura humana
dessa espécie de sonambulismo em
que tantos se deixam arrastar.
Mostrar-lhe a vida em profundidade.
Sem pretensão filosófica ou de
salvação – mas por uma contemplação
poética afetuosa e participante.”
Cecília Meireles (1901-
1964) ...a efemeridade do tempo

Cecília Meireles cultivou uma poesia reflexiva, de


fundo filosófico, que aborda, entre outros, temas
como a transitoriedade da vida, o tempo, o amor, o
infinito, a natureza, a criação artística. Mas não se
deve entender sua atitude reflexiva como uma postura
intelectual, racional.
Cecília foi antes de tudo uma escritora intuitiva, que
sempre procurou questionar e compreender o mundo
a partir de suas próprias experiências. Desses temas,
os que mais se destacam são a fugacidade do tempo e
a efemeridade das coisas. Tal preocupação filosófica
dialoga com a tradição, especialmente com o Barroco.
Cecília Meireles (1901-
1964)
A vida efêmera e transitória

•TEMÁTICAS:
Abordou os temas da precariedade da vida, do
amor, da morte e da fugacidade do tempo.

Do ponto de vista formal, a escritora foi uma das


mais habilidosas em nossa poesia moderna, sendo
cuidadosa sua seleção vocabular e forte a
inclinação para a musicalidade, para o verso curto e
para os paralelismos.
Cecília Meireles (1901-1964)
o neossimbolismo

• A frequente presença de elementos como o


vento, a água, o mar, o ar, o tempo, o espaço, a
solidão e a música dá à poesia de Cecília
Meireles um caráter fluido e etéreo, que
confirma a inclinação neossimbolista da autora.

• O espiritualismo, a musicalidade e o
orientalismo, tão prezados pelos simbolistas,
também se fazem presentes na obra da poetisa.
Cecília Meireles (1901-1964)
o neossimbolismo

Raramente a poesia de Cecília Meireles foge à


orientação intimista. Um desses momentos é
representado por Romanceiro da Inconfidência (1953),
que, pelo viés da História, abre importante espaço em
sua obra para a reflexão sobre questões de natureza
política e social, tais como a liberdade, a justiça, a
miséria, a ganância, a traição, o idealismo.

O Romanceiro* da Inconfidência é uma “narrativa rimada”,


segundo a autora, que reconstrói, fundindo história e lenda,
os acontecimentos da Vila Rica à época da Inconfidência
Mineira (1789)

*coleção de poesias ou canções de caráter popular


Fala Inicial
Ó meio-dia confuso,
Não posso mover meus passos, ó vinte-e-um de abril sinistro,
por esse atroz labirinto que intrigas de ouro e de sonho
de esquecimento e cegueira houve em tua formação?
em que amores e ódios vão: Batem patas de cavalos. Quem ordena, julga e pune?
- pois sinto bater os sinos, Suam soldados imóveis. Quem é culpado e inocente?
percebo o roçar das rezas, Na frente dos oratórios, Na mesma cova do tempo
vejo o arrepio da morte, que vale mais a oração? cai o castigo e o perdão.
à voz da condenação; Vale a voz do Brigadeiro Morre a tinta das sentenças
- avisto a negra masmorra sobre o povo e sobre a tropa, e o sangue dos enforcados...
e a sombra do carcereiro louvando a augusta Rainha, - liras, espadas e cruzes
que transita sobre angústias, - já louca e fora do trono - pura cinza agora são.
com chaves no coração; na sua proclamação. Na mesma cova, as palavras,
- descubro as altas madeiras o secreto pensamento,
do excessivo cadafalso as coroas e os machados,
e, por muros e janelas, mentira e verdade estão.
o pasmo da multidão.
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro
Vamos treinar? da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada
no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a
obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla
sobre a seguinte relação entre o homem e a
linguagem:
a) A força e a resistência humanas superam os danos
provocados pelo poder corrosivo das palavras.
b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas,
A liberdade das almas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das
(ENEM – 2012)
ai! Com letras se elabora... palavras.
Ai, palavras, ai, palavras
E dos venenos humanos c) O significado dos nomes não expressa de forma
que estranha potência a vossa!
sois a mais fina retorta: justa e completa a grandeza da luta do homem pela
Todo o sentido da vida
frágil, frágil, como o vidro vida.
principia a vossa porta:
e mais que o aço poderosa! d) Renovando o significado das palavras, o tempo
o mel do amor cristaliza
Reis, impérios, povos, tempos, permite às gerações perpetuar seus valores e suas
seu perfume em vossa rosa;
pelo vosso impulso rodam... crenças.
sois o sonho e sois a audácia, MEIRELES, C. Obra poética. e) Como produto da criatividade humana, a
calúnia, fúria, derrota... Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985
(fragmento). linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções
e gestos.
O fragmento destacado foi transcrito do Romanceiro
Vamos treinar? da Inconfidência, de Cecília Meireles. Centralizada
no episódio histórico da Inconfidência Mineira, a
obra, no entanto, elabora uma reflexão mais ampla
sobre a seguinte relação entre o homem e a
linguagem:
a) A força e a resistência humanas superam os danos
provocados pelo poder corrosivo das palavras.
b) As relações humanas, em suas múltiplas esferas,
A liberdade das almas, têm seu equilíbrio vinculado ao significado das
(ENEM – 2012)
ai! Com letras se elabora... palavras.
Ai, palavras, ai, palavras
E dos venenos humanos c) O significado dos nomes não expressa de forma
que estranha potência a vossa!
sois a mais fina retorta: justa e completa a grandeza da luta do homem pela
Todo o sentido da vida
frágil, frágil, como o vidro vida.
principia a vossa porta:
e mais que o aço poderosa! d) Renovando o significado das palavras, o tempo
o mel do amor cristaliza
Reis, impérios, povos, tempos, permite às gerações perpetuar seus valores e suas
seu perfume em vossa rosa;
pelo vosso impulso rodam... crenças.
sois o sonho e sois a audácia, MEIRELES, C. Obra poética. e) Como produto da criatividade humana, a
calúnia, fúria, derrota... Rio de Janeiro: Nova Aguilar, 1985
(fragmento). linguagem tem seu alcance limitado pelas intenções
e gestos.
(UFSCAR)

Reinvenção
A vida só é possível Podemos dizer que, nesse trecho de um
reinventada. poema de Cecília Meireles, encontramos
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
traços de seu estilo
pelas águas, pelas folhas ... a) sempre marcado pelo momento histórico.
Ah! tudo bolhas b) ligado ao vanguardismo da geração de 22.
que vêm de fundas piscinas c) inspirado em temas genuinamente
de ilusionismo ... - mais nada. brasileiros.
d) vinculado à estética simbolista.
Vamos treinar? Mas a vida, a vida , a vida
a vida só é possível e) de caráter épico, com inspiração
reinventada. […] camoniana.
Cecília Meireles
(UFSCAR)

Reinvenção
A vida só é possível Podemos dizer que, nesse trecho de um
reinventada. poema de Cecília Meireles, encontramos
Anda o sol pelas campinas
e passeia a mão dourada
traços de seu estilo
pelas águas, pelas folhas ... a) sempre marcado pelo momento histórico.
Ah! tudo bolhas b) ligado ao vanguardismo da geração de 22.
que vêm de fundas piscinas c) inspirado em temas genuinamente
de ilusionismo ... - mais nada. brasileiros.
d) vinculado à estética simbolista.
Vamos treinar? Mas a vida, a vida , a vida
a vida só é possível e) de caráter épico, com inspiração
reinventada. […] camoniana.
Cecília Meireles
O projeto literário do romance da
geração de 1930 foi claro: revelar como
uma determinada realidade
socioeconômica, no caso, o
subdesenvolvimento brasileiro,
influenciava a vida dos seres humanos.
Para tratar das questões sociais
regionais, os romances escritos a partir
de 1930 retomaram dois momentos
anteriores da prosa de ficção: o
regionalismo romântico e o Realismo
do século XIX.
Do regionalismo romântico, vem o
interesse pela relação entre os seres
humanos e os espaços que eles

Segunda fase do Modernismo habitam, apresentando agora uma


perspectiva mais determinista.

(1930-1945): PROSA
Do Realismo, é recuperado o interesse
em estudar as relações sociais
O romance de 1930 inova ao
abandonar a idealização romântica e
a impessoalidade realista para
apresentar uma visão crítica das
relações sociais e do impacto do meio
sobre o indivíduo. Essas raízes
literárias fizeram com que os
romances escritos nesse período
fossem conhecidos como regionalistas
ou neorrealistas.
Os escritores pretendiam caracterizar
a vida sacrificada e desumana do
sertanejo e compreender a estrutura
socioeconômica que alimentava a
política do coronelismo nordestino.
Segunda fase do Modernismo Para eles, apontar tais problemas
significava ajudar a TRANSFORMAR
(1930-1945): PROSA essa realidade injusta.
Fragmento de Vidas Secas

(…)
-Fabiano, você é um homem, exclamou em voz
alta.
(…)E, pensando bem, ele não era homem: era
apenas um cabra ocupado em guardar coisas
dos outros. Vermelho, queimado, tinha os olhos
azuis, a barba e os cabelos ruivos; mas como
vivia em terra alheia, cuidava de animais
alheios, descobria-se, encolhia-se na presença
dos brancos e julgava-se cabra.
Olhou em torno, com receio de que, fora os
meninos, alguém tivesse percebido a frase
imprudente. Corrigiu-a, murmurando:
- Você é um bicho, Fabiano.
Isto para ele era motivo de orgulho. Sim senhor,
um bicho. capaz de vencer dificuldades. (…)

Graciliano Ramos
Graciliano Ramos (1892-
1953):
o mestre das palavras secas
O cuidado com as palavras é um dos traços
mais importantes da prosa de Graciliano
Ramos. A economia no uso de adjetivos e
advérbios, a escolha cuidadosa de
substantivos, todos os aspectos da
construção de seus romances colaboram
para a criação do “realismo bruto” que
define o olhar neorrealista do autor.
Como romancista, Graciliano Ramos
alcançou raro equilíbrio ao reunir análise
sociológica e psicológica. Como poucos,
retratou o universo do sertanejo
nordestino, tanto na figura do fazendeiro
autoritário quanto do caboclo comum, o
homem de inteligência limitada, vítima
das condições do meio natural e social,
sem iniciativa, sem consciência de classe,
passivo diante dos poderosos.
Contudo, em Graciliano Ramos o
regional não caminha na direção
do específico, do particular ou do
pitoresco; ao contrário, as
especificidades do regional são um
meio de alcançar o universal. Suas
personagens, em vez de traduzir
experiências isoladas, revelam
uma condição coletiva: a do
homem explorado socialmente ou
brutalizado pelo meio.
O autor de Vidas Secas sobressai entre
os demais de sua época, não só pelas
qualidades universalistas que
apresenta, mas sobretudo pela
linguagem enxuta, rigorosa e
conscientemente trabalhada, no que se
mostra o legítimo continuador de
Machado de Assis na trajetória do
romance brasileiro.
A partir do trecho de Vidas Secas
Texto I (texto I) e das informações do texto II,
Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a relativas às concepções artísticas do
família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando romance social de 1930, avalie as
ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé seguintes afirmativas.
não. (…) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria
continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os
I - O pobre, antes tratado de forma
meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam exótica e folclórica pelo regionalismo
as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, pitoresco, transforma-se em
machucados por um soldado amarelo. protagonista privilegiado do romance
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23. ed., 1969, p. 75. social de 30.
Texto II II - A incorporação do pobre e de
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. outros marginalizados indica a
Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no tendência da ficção brasileira da
campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, década de 30 de tentar superar a
que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma grande distância entre o intelectual e
estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e
as camadas populares.
criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate
acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o III - Graciliano Ramos e os demais
pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é autores da década de 30
visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, conseguiram, com suas obras,
incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos.O que Vidas modificar a posição social do
Secasfaz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a sertanejo na realidade nacional.
narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas
seriam plenamente capazes. É correto apenas o que se afirma em:
(A) I. (B)  II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III.
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n.° 2,
2001, p. 254.
A partir do trecho de Vidas Secas
Texto I (texto I) e das informações do texto II,
Agora Fabiano conseguia arranjar as idéias. O que o segurava era a relativas às concepções artísticas do
família. Vivia preso como um novilho amarrado ao mourão, suportando romance social de 1930, avalie as
ferro quente. Se não fosse isso, um soldado amarelo não lhe pisava o pé seguintes afirmativas.
não. (…) Tinha aqueles cambões pendurados ao pescoço. Deveria
continuar a arrastá-los? Sinha Vitória dormia mal na cama de varas. Os
I - O pobre, antes tratado de forma
meninos eram uns brutos, como o pai. Quando crescessem, guardariam exótica e folclórica pelo regionalismo
as reses de um patrão invisível, seriam pisados, maltratados, pitoresco, transforma-se em
machucados por um soldado amarelo. protagonista privilegiado do romance
Graciliano Ramos. Vidas Secas. São Paulo: Martins, 23. ed., 1969, p. 75. social de 30.
Texto II II - A incorporação do pobre e de
Para Graciliano, o roceiro pobre é um outro, enigmático, impermeável. outros marginalizados indica a
Não há solução fácil para uma tentativa de incorporação dessa figura no tendência da ficção brasileira da
campo da ficção. É lidando com o impasse, ao invés de fáceis soluções, década de 30 de tentar superar a
que Graciliano vai criar Vidas Secas, elaborando uma linguagem, uma grande distância entre o intelectual e
estrutura romanesca, uma constituição de narrador em que narrador e
as camadas populares.
criaturas se tocam, mas não se identificam. Em grande medida, o debate
acontece porque, para a intelectualidade brasileira naquele momento, o III - Graciliano Ramos e os demais
pobre, a despeito de aparecer idealizado em certos aspectos, ainda é autores da década de 30
visto como um ser humano de segunda categoria, simples demais, conseguiram, com suas obras,
incapaz de ter pensamentos demasiadamente complexos.O que Vidas modificar a posição social do
Secasfaz é, com pretenso não envolvimento da voz que controla a sertanejo na realidade nacional.
narrativa, dar conta de uma riqueza humana de que essas pessoas
seriam plenamente capazes. É correto apenas o que se afirma em:
(A) I. (B)  II. (C) III. (D) I e II. (E) II e III.
Luís Bueno. Guimarães, Clarice e antes. In: Teresa. São Paulo: USP, n.° 2,
2001, p. 254.
Jorge Amado(1912-2001):
retrato da diversidade econômica e
cultural

Um dos escritores brasileiros mais


conhecidos e lidos de todos os tempos,
Jorge Amado imprimiu um recorte
particular ao projeto literário de sua
geração: o estudo das relações humanas
que levaram à constituição do perfil
multirracial que caracteriza o povo
brasileiro.
A maior parte das obras do escritor,
principalmente as primeiras que publicou,
apresenta preocupação político-social,
denunciando, num tom direto, lírico e
participante, a miséria e a opressão do
trabalhador rural e das classes populares.

Conforme o autor foi amadurecendo, sua


força poética voltou-se para os pobres,
para a infância abandonada e delinquente,
para a miséria do negro, para o cais e os
pescadores da Bahia, para a seca, o
cangaço, a exploração do trabalhador
urbano e rural e para a denúncia do
coronelismo latifundiário.

Jorge Amado(1912-2001):
retrato da diversidade econômica e cultural
Jorge Amado(1912-2001):
retrato da diversidade econômica e cultural

Autor de obras de cunho regionalista e de


denúncia social no início de sua carreira de
escritor, Jorge Amado passou por diferentes
fases até chegar a última delas, voltada para
a crônica de costumes.

A partir da publicação de Gabriela, cravo e


canela (1958), a ficção de Jorge Amado
afasta-se das questões sociais para
concentrar-se na construção de tipos
humanos, explorando cada vez mais o tema
do amor. Essa nova tendência de suas obras
garantiu ao autor a continuidade de seu
imenso sucesso popular.
“Crianças que estudam para cangaceiro na escola da
miséria e da exploração do homem.” 
“Vestidos de farrapos, sujos, semiesfomeados, agressivos,
soltando palavrões e fumando pontas de cigarro, eram, em
verdade, os donos da cidade, os que a conheciam
totalmente, os que totalmente a amavam, os seus poetas.” 
“Mesmo não sabendo que era amor, sentiam que era bom.”
“Nunca tivera uma alegria de criança. Se fizera
homem antes dos dez anos para lutar pela mais
miserável das vidas: a vida de criança
abandonada. Nunca conseguira amar a
ninguém, a não ser a este cachorro que o
segue. Quando os corações das demais crianças
ainda estão puros de sentimentos, o do Sem-
Pernas já estava cheio de ódio. Odiava a
cidade, a vida, os homens. Amava unicamente
o seu ódio, sentimento que o fazia forte e
corajoso apesar do defeito físico. [...] Nunca,
porém, o tinham amado pelo que ele era,
menino abandonado, aleijado e triste. Muita
gente o tinha odiado. E ele odiara a todos.” 
Jorge Amado, Capitães da Areia
Terceira Fase Modernista (1945-1960)
Questionamento psicológico profundo;
Arte politizada;
“Arte das palavras”;
Psicológica - introspectiva.
Fim da Segunda Guerra Mundial: A Europa começou o lento processo
de reconstrução em meio aos destroços humanos e políticos

Início da Guerra Fria: o Brasil aliou-se aos norte-americanos contra a


expansão do comunismo. O Partido Comunista, abrigo de muitos
intelectuais, entrou na ilegalidade

Pós-Modernismo Fim da ditadura Vargas e início da redemocratização.


(1945-1960):
Contexto histórico
No governo JK, o crescimento industrial acelerado desencadeou um
crescimento urbano equivalente. Massas humanas deslocaram-se do
campo para a cidade à procura de oportunidades, comprometendo a
estrutura dos grandes centros.

1950: Assis Chateaubriand trouxe para o Brasil a televisão, que se


revelou uma máquina de fazer astros instantâneos e modificou de
modo irreversível o perfil da produção cultural brasileira.
Pós-Modernismo(1945-1960):
a arte procura novos rumos
Crise dos valores que vigoravam a partir do século XX. Os
conceitos de classe social, de ideologia, de direita e de esquerda,
de arte, do Estado de bem-estar começam a ruir, afetados pelas
duas guerras mundiais. O Pós-Modernismo nasce da ruptura
com algumas certezas e definições que sustentavam conceitos do
campo social, político, econômico, estético, etc.
O que importa, no mundo contemporâneo, é a individualidade
extrema. A solidariedade e a busca do bem-estar social são
postas em segundo plano. No centro da sociedade, o indivíduo
reina absoluto.
A experimentação torna-se o princípio norteador da estética pós-
moderna
Pós-Modernismo(1945-
1960):POESIA
Os poetas, que desejavam devolver aos poemas o rigor formal
abandonado pelos primeiros modernistas, passam a privilegiar o
trabalho com a materialidade do texto poético. Algumas formas
fixas e modelos poéticos mais “clássicos” foram retomados. Com
isso, os escritores esperavam definir de modo mais claro os limites
que separavam o poético, fundamentado no trabalho com a forma,
do não poético, associado ao mero registro do elemento prosaico
do cotidiano.

Valorização da técnica de composição (diferente da parnasianista)


• Ampliação do poder de significação da palavra e do texto
• Busca da temas relacionados ao social, moral e político
Pós-Modernismo
(1945-1960): 1. 2. 

Ora, nesse catar feijão entra um


Catar feijão se limita com
“Catar Feijão”
risco:
escrever: o de que entre os grãos pesados
joga-se os grãos na água do entre
alguidar um grão qualquer, pedra ou
e as palavras na folha de papel; indigesto,
e depois, joga-se fora o que um grão imastigável, de quebrar
boiar. dente.
Certo, toda palavra boiará no Certo não, quando ao catar
palavras:
papel, a pedra dá à frase seu grão mais
água congelada, por chumbo vivo:
seu verbo: obstrui a leitura fluviante, flutual,
pois para catar esse feijão, açula* a atenção, isca-a como o
soprar nele, risco
e jogar fora o leve e oco, palha e
eco
João Cabral de Melo Neto

* provocar, enfurecer
João Cabral de Melo Neto
Prêmio Camões de Literatura
1920 - 1999

Recife – PE

“Fazer poesia para o povo começaria


por usar formas populares”
João Cabral de Melo Neto (1920-1999):
a linguagem objeto

• João Cabral é um poeta cerebral. Isso significa que


o planejamento do poema e a reflexão sobre o
próprio processo de composição são as bases do
seu fazer literário. Sua preocupação em buscar a
significação máxima de cada palavra e a qualidade
literária de seus poemas foram fatores que o
projetaram como um dos maiores poetas de sua
geração.

• A reflexão sobre o fazer poético é o principal tema


do autor. São frequentes, em sua obra, os
metapoemas
João Cabral de Melo Neto (1920-1999):
a linguagem objeto

Seu universo poético é essencialmente nordestino,


com muitas referências à zona da mata e ao sertão.
Fiel às origens, o autor pernambucano trouxe para o
poema a aridez dos espaços em que se criou.

A linguagem que utiliza aparece despida de


ornamentos, uma “faca só lâmina”, como ele mesmo
definiu. Pela linguagem de seus versos, por não falar
de sentimentos, não abordar estados de espírito, os
críticos o reconhecem como um poeta não-lírico.
João Cabral de Melo Neto (1920-1999):
a linguagem objeto
Morte e vida severina é a obra mais conhecida
de João Cabral. Trata-se de um auto de Natal,
que, seguindo a tradição dos autos medievais,
faz uso da redondilha, do ritmo e da
musicalidade.

Severino, o protagonista, é um nordestino que


sai do interior do sertão em direção ao litoral,
em busca de melhores condições. Na sua fala
inicial, percebe-se o drama da personagem:
incapaz de encontrar características pessoais
ou sociais que o diferenciem de tantos outros
retirantes, Severino torna-se um símbolo do
drama vivido nas regiões assoladas pela seca.
João Cabral de Melo Neto (1920-1999):
a linguagem objeto
O retirante chega ao Recife com uma dúvida:
será que vale a pena uma pessoa como ele
permanecer viva, tendo que enfrentar tanta
dificuldade? No momento em que faz essa
pergunta a José, um carpinteiro com quem
conversa no cais do Capiberibe, é interrompido
por uma mulher, que vem avisar José do
nascimento do filho.
Severino testemunha, então, a solidariedade
dos outros habitantes do manguezal, dispostos
a dividir o pouco que têm com a criança recém-
nascida. Naquele momento, compreende que a
própria vida deu a resposta que procurava:
mesmo sofrida, difícil, a vida merece ser vivida.
Animação “Morte e vida Severina”
https://www.youtube.com/watch?v=clKnAG2Ygyw
Morte e Vida Severina
[...]
E se somos Severinos
iguais em tudo na vida,
morremos de morte igual,
mesma morte severina:
que é a morte de que se morre
de velhice antes dos trinta,
de emboscada antes dos vinte
de fome um pouco por dia
(de fraqueza e de doença
é que a morte severina
ataca em qualquer idade,
e até gente não nascida).
[...]
(João Cabral de Melo Neto)  Animação “Morte e vida Severina”
https://www.youtube.com/watch?v=clKnAG2Ygyw
João Cabral de Melo Neto:
a linguagem objeto
A composição de poemas que
articulam forma e conteúdo fez
com que sua obra
desencadeasse uma revolução
formal na poesia brasileira,
criando a base para novas
propostas estéticas como o
Concretismo, que surgiria
alguns anos mais tarde.
Prosa Pós-Modernista: A reinvenção da
narrativa
•No Brasil, João Guimarães Rosa e Clarice Lispector serão os principais
responsáveis pela transformação da prosa de ficção. Na obra desses autores,
observa-se a essência da literatura pós-moderna: encarar a palavra como um
feixe de significados.
Prosa Pós-Modernista:
A reinvenção da narrativa
Clarice Lispector e Guimarães Rosa trazem assim a
escrita para o primeiro plano, demonstrando a
possibilidade de valorizar a elaboração do texto e o
trabalho com a linguagem como espaços de
construção de mundos específicos.

As obras desses autores desafiam o leitor a entrar


em um mundo próprio, a participar de maneira ativa
da construção do sentido e a dialogar efetivamente
com o texto. No momento em que o leitor aceita o
jogo proposto por esses escritores e se deixa levar
pela linguagem envolvente de sua ficção, mergulha
em um fascinante universo narrativo e, ao
acompanhar a vida e a trajetória das personagens,
muitas vezes percebe-se refletindo sobre a sua
própria vida.
João Guimarães Rosa(1908 –
1967)
Quando escrevo, repito o que já vivi
antes. E para estas duas vidas, um léxico
só não é suficiente. Em outras palavras,
gostaria de ser um crocodilo vivendo no
rio São Francisco. Gostaria de ser um
crocodilo porque amo os grandes rios,
pois são profundos como a alma de um
homem. Na superfície são muito vivazes
e claros, mas nas profundezas são
tranqüilos e escuros como o sofrimento
dos homens.
Guimarães Rosa: o descobridor
do sertão universal

Caráter regionalista de Guimarães Rosa


as marcas regionais são evidentes nos
termos utilizados, na recriação da fala de
jagunços e de vaqueiros do interior de
Minas. As questões tematizadas, porém,
vão muito além de uma perspectiva
regional.
Guimarães Rosa:
o descobridor do sertão universal
• Em suas narrativas, Rosa fala dos grandes dramas
humanos: a dor, a morte, o ódio, o amor, o medo.
Indagações filosóficas aparecem na boca de homens
simples, incultos, deixando claro que os grandes
fantasmas da existência podem ser identificados em
qualquer lugar, desde um grande centro urbano até
um minúsculo vilarejo nos sertões das Gerais.
• Dos contos e novelas de Guimarães Rosa, emerge
Ver Conto um mundo sempre marcado pelo confronto de
“A opostos: o arcaico e o moderno, o rural e o urbano,
terceira o oral e o escrito.
margem
do rio”
Clarice Lispector
(1920 – 1977)

"Eu escrevo sem esperança de que o que eu


escrevo altere qualquer coisa. Não altera em
nada... Porque no fundo a gente não está
querendo alterar as coisas. A gente está
querendo desabrochar de um modo ou de
outro..."
                                                
Clarice Lispector:
a busca incansável da identidade

• Em Clarice Lispector, a experimentação afeta


principalmente a estrutura da narrativa. É o
domínio da técnica do fluxo da consciência,
porém, que se torna a marca registrada da
autora.
• A literatura produzida por Clarice Lispector
não se preocupa com a construção de um
enredo tradicionalmente estruturado, com
começo, meio e fim. Ela busca a compreensão
da consciência individual, marcada sempre
pela grande introspecção das personagens.
Clarice Lispector:
a busca incansável da identidade

• Suas narrativas tratam do momento preciso em


que uma personagem toma consciência da
própria individualidade. Esse momento pode ser
desencadeado por situações corriqueiras, como a
contemplação de rosas ou a visão de um cego
mascando chiclete.

• São situações narrativas complexas, em que as


personagens passam por transformações capazes
de abalar a estrutura prosaica de suas vidas.
Clarice Lispector:
a busca incansável da identidade

Sim, quero a palavra última que também é tão


primeira que já se confunde com a parte intangível do
real, ainda tenho medo de me afastar da lógica
porque caio no instintivo e no direto, e no futuro: a
invenção do hoje é o meu único meio de instaurar o
futuro. Desde já é futuro, e qualquer hora é hora
marcada. Que mal porém tem eu me afastar da
lógica? Estou lidando com a matéria-prima. Estou
atrás do que fica atrás do pensamento. Inútil querer
me classificar: eu simplesmente escapulo não
deixando, gênero não me pega mais. Estou em um
estado muito novo e verdadeiro, curioso de si mesmo,
tão atraente e pessoal a ponto de não poder pintá-lo
ou escrevê-lo.

Água Viva, Clarice Lispector (fragmento)


Clarice Lispector:
a busca incansável da identidade

• Esse processo de descoberta individual por que


passam as personagens de Clarice Lispector é
chamado de epifania. O termo faz referência à
apreensão intuitiva da realidade por algo geralmente
simples e inesperado. Nesse sentido, é a percepção
do significação essencial de alguma coisa.
• Epifania: na obra de Clarice Lispector, significa a
descoberta da própria identidade a partir de um
estímulo externo. As personagens, nesse momento,
descobrem a própria essência, aquilo que as
distingue das demais e as transforma em indivíduos
singulares.
Clarice Lispector:
a busca incansável da identidade
As narrativas apresentam uma estrutura semelhante, que o
crítico Affonso Romano de Sant’Anna definiu em quatro passos:
1. A personagem é disposta numa determinada
situação cotidiana
2. Prepara-se um evento que é pressentido
discretamente pela personagem (algo como uma
inquietação)
3. Ocorre o evento que ilumina a vida (epifania)
4. Apresenta-se o desfecho, no qual a situação
da vida da personagem, após a epifania, é
reexaminada.
Clarice Lispector: a busca
incansável da identidade
• O trabalho com a linguagem é fundamental para que
esse processo de autodescoberta adquira a dimensão
intimista que permite, ao leitor, acompanhar os
efeitos, na personagem, do momento de iluminação.
A autora promove, na forma do texto, uma
desconstrução equivalente àquela vivida pelas
personagens, fazendo com que a própria linguagem
assuma uma função libertária.
• Clarice Lispector trata da condição feminina, da
dificuldade de relacionamento humano, da hipocrisia
dos papéis socialmente definidos, da busca pelo “eu”.
Clarice Lispector: a busca
incansável da identidade

Outra característica recorrente, na ficção


de Clarice, é a presença de animais
(cavalo, galinha, barata, aranha, búfalo,
gato, etc.) que representam o “coração
selvagem” da vida, que pulsa
descontrolada, sem se submeter às regras
e expectativas sociais. Essa é uma forma
também revolucionária de simbolizar a
busca incessante das personagens pela
libertação das amarras sociais e o
mergulho no irreversível processo de
individuação.
*Insólita: inédita
*sensação de desorientação e confusão face a um mundo aparentemente sem sentido e absurdo
Vamos treinar?
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula
disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes (ENEM 2013)A elaboração de uma voz narrativa
da pré-história havia a pré-história da pré-história e peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice
havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o Lispector, culminada com a obra A hora da estrela,
quê, mas sei que o universo jamais começou.
de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento,
[…]
nota-se essa peculiaridade porque o narrador
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta
continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as a) observa os acontecimentos que narra sob uma
coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré- ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às
pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta personagens.
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. b) relata a história sem ter tido a preocupação de
Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o investigar os motivos que levaram aos eventos que a
que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra compõem.
mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões
aí aos montes. existenciais e sobre a construção do discurso.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado
d) admite a dificuldade de escrever uma história em
de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos
razão da complexidade para escolher as palavras
poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência
de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como exatas.
que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica
Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso
registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
Vamos treinar?
Tudo no mundo começou com um sim. Uma molécula
disse sim a outra molécula e nasceu a vida. Mas antes (ENEM 2013)A elaboração de uma voz narrativa
da pré-história havia a pré-história da pré-história e peculiar acompanha a trajetória literária de Clarice
havia o nunca e havia o sim. Sempre houve. Não sei o Lispector, culminada com a obra A hora da estrela,
quê, mas sei que o universo jamais começou.
de 1977, ano da morte da escritora. Nesse fragmento,
[…]
nota-se essa peculiaridade porque o narrador
Enquanto eu tiver perguntas e não houver resposta
continuarei a escrever. Como começar pelo início, se as a) observa os acontecimentos que narra sob uma
coisas acontecem antes de acontecer? Se antes da pré- ótica distante, sendo indiferente aos fatos e às
pré-história já havia os monstros apocalípticos? Se esta personagens.
história não existe, passará a existir. Pensar é um ato. b) relata a história sem ter tido a preocupação de
Sentir é um fato. Os dois juntos — sou eu que escrevo o investigar os motivos que levaram aos eventos que a
que estou escrevendo. […] Felicidade? Nunca vi palavra compõem.
mais doida, inventada pelas nordestinas que andam por c) revela-se um sujeito que reflete sobre questões
aí aos montes. existenciais e sobre a construção do discurso.
Como eu irei dizer agora, esta história será o resultado
d) admite a dificuldade de escrever uma história em
de uma visão gradual — há dois anos e meio venho aos
razão da complexidade para escolher as palavras
poucos descobrindo os porquês. É visão da iminência
de. De quê? Quem sabe se mais tarde saberei. Como exatas.
que estou escrevendo na hora mesma em que sou lido. e) propõe-se a discutir questões de natureza filosófica
Só não inicio pelo fim que justificaria o começo — como e metafísica, incomuns na narrativa de ficção.
a morte parece dizer sobre a vida — porque preciso
registrar os fatos antecedentes.
LISPECTOR, C. A hora da estrela. Rio de Janeiro: Rocco, 1998 (fragmento).
Referências bibliográficas
Passagens integralmente retiradas de:
• ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela; CESILA, Juliana Sylvestre.
O ensino de Literatura. São Paulo: Santillana, 2009.
• ABAURRE, Maria Luiza; PONTARA, Marcela. Literatura: tempos,
leitores e leituras. 2 ed. São Paulo: Moderna, 2010.
• CEREJA, William Roberto; MAGALHÃES, Thereza Cochar. Conecte:
Literatura brasileira. São Paulo: Saraiva, 2011.

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