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Diga a eles que não me matem!

Deixe me viver uma vida que não mais tenho

Em Paris é uma festa, livro de Ernest Hemingway, no capítulo ‘’O


homem marcado para morrer’’, observa-se uma dualidade. Hemingway caracteriza o poeta
Ernest Walsh com um ‘’ar de marcado para morrer’’, devido a tuberculose que afligia Walsh
e não deixava se passar despercebida. Ao mesmo tempo, Walsh afirma que Hemingway está
marcado para viver, por não ter problema algum.
Ao pensar na dualidade, é possível dizer que Juvêncio Nava estava
marcado para morrer. O mesmo já sabia disso, porém ao pairar o ar de morte sobre ele, mais
que nunca desejou que pudesse viver. Não tinha mais vontade de nada, mas tinha vontade de
viver. Vontade de viver uma vida que não tinha mais, já que passou a maior parte do restante
de sua vida fugindo para ‘’preservar a sua vida’’. ‘’Não foi um ano nem dois. Foi a vida
toda’’. E para isso teve que se abdicar de tudo que tinha, até de sua mulher.
O medo é um dos instintos mais básicos do ser humano. Sente-se o
medo por uma questão de proteção. E durante o texto corrido, do início ao fim, nota-se que
Juvêncio é movido pelo medo. A religião é algo ligado a emoção, especificamente ao medo.
E ao necessitar de proteção, Juvêncio pendura-se no divino, faz apelações de misericórdia.
‘’Diga a eles que não me matem, Justino! [...] Diga que o faça pela caridade de Deus’’. E ao
final: ‘’[...] Deixa que, pelo menos, o Senhor me perdoe. Não me mates! Diga que não me
matem!’’. A essas últimas palavras, após anestesiado, Juvêncio Nava morre de ‘’tanto tiro de
misericórdia que o deram’’.

Caio Felipe Pascoal dos Santos – Letras UNITAU 2º Semestre – Teoria Literária

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